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Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...

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<strong>de</strong>sta relação, diferenciando o artista do místico, p. ex., <strong>em</strong> seu isolamento e<br />

introversão. Deste capítulo, o estudioso do seqüestro anota um comentário ao lado do<br />

trecho:<br />

Haveriam, pois, tantas belezas possíveis quantas tendências t<strong>em</strong>os, e estas, por<br />

sua vez, são as complicações e florescências das pulsões; toda beleza po<strong>de</strong>ria<br />

vincular-se a alguma pulsão, mas s<strong>em</strong>pre a uma pulsão que renuncia à sua<br />

satisfação específica ou aceita diferi-la. 103<br />

Verifica-se que algumas das diretrizes que orientam as posições <strong>de</strong> <strong>Mário</strong> <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong><br />

sobre estética e sublimação se apoiam nas reflexões <strong>de</strong>ste capítulo <strong>de</strong> Baudouin.<br />

Percebe-se, operando nas idéias <strong>de</strong> <strong>Mário</strong> ligadas à sublimação, uma<br />

vinculação <strong>de</strong>stas com a concepção mesma do sublime nas artes, que sugere gran<strong>de</strong>za<br />

e elevação ao mesmo t<strong>em</strong>po que um distanciamento do apetite das pulsões sexuais.<br />

Apontando nesta direção, Ítalo Moriconi assim caracteriza o sublime: “movimento <strong>de</strong><br />

elevação espiritual, movimento <strong>de</strong> ascese, afastamento <strong>de</strong>liberado das condições<br />

corporais”, que contrasta com a <strong>de</strong>ssublimação como “força rebaixadora,<br />

<strong>de</strong>sespiritualizadora, direcionada para a reintrodução da corporalida<strong>de</strong> nos discursos e<br />

nas práticas, movimento enfim <strong>de</strong> vinculação radical da estética à contingência e à<br />

pura materialida<strong>de</strong>”. 104 O autor indica, na mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, uma constante tensão entre os<br />

discursos do sublime e da <strong>de</strong>ssublimação. Negar, ou absorver a negativida<strong>de</strong> do nãosublime,<br />

é o modo <strong>em</strong> que se afirmam os discursos sobre o sublime na mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>.<br />

Faz referência ao sublime Kantiano na Crítica da faculda<strong>de</strong> do juízo, que aparece<br />

como movimento apaziguador, prazeiroso, que protegeria o hom<strong>em</strong> da perturbação<br />

das <strong>em</strong>oções, das ameaças da natureza com as suas catástrofes e a sua<br />

corporalida<strong>de</strong>. 105 . Deste modo, a razão iluminista subjugaria a animalida<strong>de</strong> no<br />

103 C. Baudouin, Psicoanálises <strong>de</strong>l arte, p. 273. Substituímos o termo instinto pelo <strong>de</strong> pulsão, tradução<br />

mais a<strong>de</strong>quada ao Trieb al<strong>em</strong>ão.<br />

104 I. Moriconi, “Quatro (2+2) notas sobre o sublime e a <strong>de</strong>ssublimação ”, Revista Brasileira <strong>de</strong><br />

Literatura Comparada nº 4, p. 106.<br />

105 Susan Buck-Morss no conhecido artigo “Estética e anestética: o Ensaio sobre a obra <strong>de</strong> arte <strong>de</strong><br />

Walter Benjamin reconsi<strong>de</strong>rado”, retoma o sentido etimológico da palavra estética ( Aistitikos, <strong>em</strong> grego<br />

– aquilo que é percebido através do tato) como uma forma <strong>de</strong> conhecimento que envolve os sentidos<br />

corporais, a experiência sensorial da percepção, contrapondo-se assim ao sublime kantiano. Segundo a<br />

autora, o campo primeiro da estética é a natureza corpórea, e não a arte. A partir <strong>de</strong> Freud po<strong>de</strong>r-se-ia<br />

dizer que, se a sublimação t<strong>em</strong> como fonte as pulsões sexuais, a arte mesma, como produto, seria <strong>de</strong><br />

orig<strong>em</strong> corporal, <strong>de</strong> modo que já não haveria uma separação <strong>em</strong> relação à <strong>de</strong>ssublimação. Moriconi<br />

equipara a <strong>de</strong>ssublimação ao que W. Benjamin chamou <strong>de</strong> perda da aura da obra <strong>de</strong> arte, a partir da<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua reprodução. Os ensaios <strong>de</strong> Moriconi e Buck-Morss ligam-se ao clássico texto<br />

Benjaminiano “A obra <strong>de</strong> arte na era <strong>de</strong> sua reprodutibilida<strong>de</strong> técnica”(1936).<br />

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