26.02.2014 Views

Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...

Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...

Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

dirigidos, e os fins que confessamos aberta e conscient<strong>em</strong>ente perseguir,<br />

apenas a máscara que escon<strong>de</strong> aquelas mesquinhas aspirações inferiores. 100<br />

Pois b<strong>em</strong>, <strong>Mário</strong> como humanista, argüirá, neste momento (afinal, quase vinte anos se<br />

passaram <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o “Prefácio interessantíssimo”), a favor da máscara, como idéiasfinalida<strong>de</strong>s<br />

que nos dirig<strong>em</strong>, sobrepondo-se às idéias-orig<strong>em</strong> que também nos mov<strong>em</strong>,<br />

os nossos “cabotinismos”. A estes, contrapõe um cabotinismo nobre e fecundo,<br />

gerador <strong>de</strong> beleza, a partir <strong>de</strong> forças líricas do ser moral, <strong>de</strong> humanida<strong>de</strong> “cujo <strong>de</strong>stino<br />

é realmente caridoso e nobilitador”.<br />

Nessa mesma linha <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ais, <strong>Mário</strong> abre uma conferência literária sobre<br />

música <strong>em</strong> 1924 dizendo que a arte nasce do amor, do amor cristão que profere o<br />

“am<strong>em</strong>o-nos uns aos outros”. E nisto discorda do criador da psicanálise: “O erro <strong>de</strong><br />

Freud, <strong>de</strong>scobrindo aquela tão bonita verda<strong>de</strong> da arte como sublimação <strong>de</strong> gestos<br />

reprimidos <strong>de</strong> amor, foi compreen<strong>de</strong>r essa sublimação sob o ponto <strong>de</strong> vista sexual”. 101<br />

No entanto, a sua posição diferencia-se do artigo supracitado <strong>de</strong> 1939, no que tange ao<br />

aspecto daqueles chamados móveis secretos, pois aqui <strong>de</strong>staca a face do artista como<br />

“ser inferiorizado”:<br />

uma tal ou qual pobreza <strong>de</strong> corag<strong>em</strong>, uma timi<strong>de</strong>z latente que o faz sublimar a<br />

ativida<strong>de</strong> amorosa, pela qual o hom<strong>em</strong> comum na vida diária ganha dinheiro<br />

como chauffer, como baixista <strong>de</strong> café, ou como acadêmico (...) <strong>em</strong> vez <strong>de</strong><br />

realizá-los – os <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong> amor – praticamente, vai nas picadas sombrias do<br />

espírito buscar o abraço por tabela <strong>de</strong>sses humanos. 102<br />

Ressalta, neste artigo, a necessária participação do espectador para que haja<br />

manifestação artística. Ele seria a gasolina que faz andar a máquina frágil e s<strong>em</strong><br />

essência criada pelo artista. Neste sentido, é o espectador “que vai animar a<br />

mensag<strong>em</strong> morta <strong>de</strong> amor lançada pelo artista”. Os ingleses chamam <strong>de</strong> <strong>em</strong>patia a<br />

i<strong>de</strong>ntificação imediata entre a obra <strong>de</strong> arte e o espectador, e os al<strong>em</strong>ães Einfuehlung,<br />

essa fusão, esse sentir <strong>em</strong> uníssono, que os transforma <strong>em</strong> uma “coisa absoluta e<br />

única, regra da liturgia do amor”. No capítulo “Beleza e sublimação”, Charles<br />

Baudouin também <strong>em</strong>prega o referido termo al<strong>em</strong>ão, aludindo à i<strong>de</strong>ntificação do<br />

artista com o objeto <strong>de</strong> arte, o que mostraria, segundo Jung, o caráter extrovertido<br />

100 Id<strong>em</strong>, p. 79.<br />

101 M. <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>. Conferência literária (1924), in: Marco Antonio <strong>de</strong> Moraes (org.), Correspondência<br />

MA & MB, p.693.<br />

102 Id<strong>em</strong>, ibid<strong>em</strong>.<br />

47

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!