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Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...

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nesta pulsão, <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>slocar o seu fim s<strong>em</strong> per<strong>de</strong>r <strong>em</strong> essência intensida<strong>de</strong>.<br />

Esta capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> substituir a meta sexual originária por outro fim, que já não<br />

é sexual mas se encontra psiquicamente relacionado com ele, <strong>de</strong>nominamo-la<br />

sublimação. 97<br />

Record<strong>em</strong>os que o fim <strong>de</strong> toda pulsão é a satisfação, mas uma satisfação que<br />

não coinci<strong>de</strong> com a finalida<strong>de</strong> biológica da sexualida<strong>de</strong>, i.e., a reprodução.<br />

Diferent<strong>em</strong>ente do instinto, ela não t<strong>em</strong> um objeto fixo, n<strong>em</strong> tampouco consegue<br />

atingi-lo: ela o contorna. “A sublimação que aporta ao Trieb uma satisfação diferente<br />

da sua meta – s<strong>em</strong>pre <strong>de</strong>finida como meta natural – é precisamente o que revela a<br />

natureza do Trieb, na medida <strong>em</strong> que este não é o instinto”. 98 Lacan situa-a como uma<br />

montag<strong>em</strong> acefálica, na qual tudo se articula <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> tensão. Mas ela <strong>de</strong>senha<br />

um traçado, um trajeto que parte da zona erógena, circunda o objeto e retorna ao<br />

próprio corpo. Vão contorno da pesca, o seu alvo não é outra coisa que este retorno<br />

<strong>em</strong> circuito, a sua reversão fundamental. Como diz Freud, não é tão simples, tão fácil<br />

que uma pulsão obtenha satisfação; ela passa por caminhos, vicissitu<strong>de</strong>s, n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre<br />

chega ao seu fim <strong>de</strong> forma não modificada. No artigo “As pulsões e suas vicissitu<strong>de</strong>s”<br />

(1915), Freud afirma que as pulsões sexuais são capazes <strong>de</strong> funções que se encontram<br />

muito distantes das suas ações originais, ou seja, capazes <strong>de</strong> sublimação.<br />

Primeiramente, Freud, no artigo citado, e posteriormente Lacan, asseveram<br />

que a sublimação é um <strong>de</strong>stino da pulsão que não envolve recalcamento. Na<br />

sublimação articula-se um modo <strong>de</strong> satisfação diferente daquele produzido pelo<br />

sintoma, por ex<strong>em</strong>plo, que se dá via substituição significante, maneira pela qual a<br />

pulsão se satisfaz na medida <strong>em</strong> que os seus representantes estão reprimidos. É um<br />

modo muito particular e paradoxal <strong>de</strong> satisfação das pulsões, na medida <strong>em</strong> que não<br />

há ativida<strong>de</strong> sexual n<strong>em</strong> repressão. A sexualida<strong>de</strong>, no sentido freudiano, po<strong>de</strong> ser<br />

sublimada s<strong>em</strong> envolver repressão.<br />

Freud <strong>de</strong>screveu como sublimação principalmente a ativida<strong>de</strong> artística e a<br />

investigação intelectual, apontando esta para objetos socialmente valorizados. Porém,<br />

<strong>em</strong> nota <strong>de</strong> rodapé a “O mal-estar na civilização” (1930), consi<strong>de</strong>ra que o trabalho<br />

profissional comum, aberto a todos, po<strong>de</strong> constituir-se numa fonte <strong>de</strong> satisfação<br />

especial, se livr<strong>em</strong>ente escolhido, <strong>de</strong>slocando para si gran<strong>de</strong>s quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

componentes libidinais – narcísicos, agressivos ou eróticos –, tornando possível o<br />

97 S. Freud, “La moral sexual ‘cultural’ y la nervosidad mo<strong>de</strong>rna (1908), Obras completas, vol. IX, p.<br />

173.<br />

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