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Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...

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inca<strong>de</strong>ira da “Viuvinha das bandas d’além”, o impedimento se revela <strong>de</strong> modo<br />

gracioso e enigmático, pois a viúva quer casar, oferec<strong>em</strong>-lhe marido e ela o recusa,<br />

s<strong>em</strong> sabermos porquê:<br />

Forma-se um grupo <strong>de</strong> crianças e uma, <strong>de</strong>stacada, v<strong>em</strong> cantando:<br />

Sou uma viuvinha,<br />

das bandas <strong>de</strong> além<br />

quero me casar<br />

e não acho com qu<strong>em</strong>.<br />

As do grupo<br />

A viúva<br />

Diga senhora viúva,<br />

com qu<strong>em</strong> quer se casá<br />

si é com o filho do con<strong>de</strong>,<br />

ou si é com o ‘seu’ generá<br />

Nenhum <strong>de</strong>sses dois não me ‘serve’,<br />

porque não são para mim,<br />

eu sou uma pobre viúva,<br />

triste coitada <strong>de</strong> mim. 96<br />

Outro ciclo t<strong>em</strong>ático no qual se revela o impedimento é aquele <strong>em</strong> que a dona<br />

ausente pe<strong>de</strong> ao amante que “man<strong>de</strong> ladrilhar o mar”. Esclarece <strong>Mário</strong> <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, no<br />

resumo <strong>de</strong> uma das conferências proferidas sobre o t<strong>em</strong>a <strong>em</strong> questão, que a<br />

sublimação da dona ausente provocou vários ciclos <strong>de</strong> cantigas, como estes, versando<br />

sobre os mesmos t<strong>em</strong>as. A noção <strong>de</strong> impedimento estaria s<strong>em</strong>pre presente, <strong>de</strong> forma<br />

que os amantes não chegam a se unir, s<strong>em</strong> que para tal haja uma razão clara; pois esta<br />

razão, segundo o conferencista, “foi seqüestrada pelo que sofria a ausência da<br />

mulher”.<br />

Dado o uso do termo sublimação, faz-se necessário uma breve retomada <strong>de</strong>sta<br />

que é mais uma das vicissitu<strong>de</strong>s ou aventuras (Triebschicksale) da pulsão. Freud<br />

recorre a este conceito para explicar, <strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> vista econômico e dinâmico,<br />

certos tipos <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> sustentadas por um <strong>de</strong>sejo que não aponta, <strong>de</strong> forma<br />

manifesta, para um fim sexual. Neste processo, a pulsão dirige-se para uma finalida<strong>de</strong><br />

diferente e afastada da satisfação sexual. Assim a <strong>de</strong>fine o psicanalista:<br />

A pulsão sexual põe à disposição do trabalho cultural quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> força<br />

extr<strong>em</strong>amente gran<strong>de</strong>s <strong>em</strong> virtu<strong>de</strong> da particularida<strong>de</strong>, singularmente marcada<br />

96 Notas <strong>de</strong> <strong>Mário</strong> <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> no manuscrito sobre o seqüestro( Cf R. S. <strong>de</strong> Carvalho, op. cit. , p. 180).<br />

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