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Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...

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e eventualmente <strong>em</strong> excesso), b<strong>em</strong> como apontar para uma ação <strong>de</strong> ‘ir ou ser levado<br />

<strong>em</strong>bora’, ‘ir ou ser levado a outro lugar’. Dräng correspon<strong>de</strong> ao verbo drängen, que<br />

<strong>de</strong>signa o ato <strong>de</strong> ‘<strong>em</strong>purrar’, ‘forçar’, também significando ‘urgir’”.<br />

84 Várias palavras<br />

al<strong>em</strong>ãs que <strong>de</strong>signam atos falhos ou outros tipos <strong>de</strong> erros iniciam-se com o prefixo<br />

ver: das Vergessen (esquecimento), das Versprechen (lapsus linguae), das Verlesen<br />

(erro <strong>de</strong> leitura), das Verschreiben (erro <strong>de</strong> escrita), das Vergreifen (erro <strong>de</strong> ação), etc.<br />

Há também toda uma classe <strong>de</strong> fenômenos correlatos ao recalcamento, estudados pela<br />

psicanálise, que iniciam com o prefixo ver, como: Verleugnung (negação),<br />

Verneinung (<strong>de</strong>negação) e Verwerfung (forclusão). De acordo com Hanns, o prefixo<br />

ver <strong>de</strong>riva da raiz indo-européia per, equivalente a “conduzir para fora passando por<br />

sobre”. Outros prefixos, preposições e advérbios do al<strong>em</strong>ão atual <strong>de</strong>rivam <strong>de</strong>sta<br />

mesma raiz, como por ex<strong>em</strong>plo für (por, para, no lugar <strong>de</strong>), Frau (mulher), fort (algo<br />

que se foi), como no conhecido ex<strong>em</strong>plo freudiano do Fort-Da, fahren (ir, conduzir,<br />

guiar). Ainda segundo o autor, todos esses casos r<strong>em</strong>et<strong>em</strong> ao conceito <strong>de</strong> “ir adiante”<br />

e “freqüent<strong>em</strong>ente <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r contato com a orig<strong>em</strong>”.<br />

O verbo al<strong>em</strong>ão verdrängen significa, genericamente, “<strong>em</strong>purrar para o lado”,<br />

“<strong>de</strong>salojar”. Conotativamente a palavra implica livrar-se <strong>de</strong> um incômodo que<br />

permanece junto ao sujeito, pressionando pela volta, <strong>de</strong> modo a exigir esforços no<br />

sentido <strong>de</strong> mantê-lo afastado. Como pud<strong>em</strong>os observar, este sentido está presente na<br />

conceituação do termo psicanalítico, quando Freud se refere a afastar algo da<br />

consciência, pôr <strong>de</strong> lado, mantendo-o à distância. E também a idéia <strong>de</strong> que o<br />

reprimido, <strong>de</strong>salojado do centro da cena, pressiona pelo retorno, d<strong>em</strong>andando um<br />

permanente gasto <strong>de</strong> energia para mantê-lo longe. Po<strong>de</strong>ríamos perguntar por que, num<br />

certo sentido, a repressão é s<strong>em</strong>pre falha? L<strong>em</strong>br<strong>em</strong>os primeiramente que Drang<br />

significa pressão ou impulso e é, para Freud, um dos quatro termos da pulsão (Trieb),<br />

além <strong>de</strong> Quelle (a fonte ou a zona erógena), do Objekt (o objeto) e <strong>de</strong> Ziel (o alvo). O<br />

representante reprimido é um representante pulsional e, neste sentido, a repressão não<br />

po<strong>de</strong> eliminar a fonte pulsional, pois a pulsão é uma força constante, uma Konstante<br />

Kraft. Como diz Lacan: “ela não t<strong>em</strong> dia n<strong>em</strong> noite, não t<strong>em</strong> primavera n<strong>em</strong> outono,<br />

não t<strong>em</strong> subida n<strong>em</strong> <strong>de</strong>scida”. E por isto “a constância do impulso proíbe qualquer<br />

assimilação da pulsão a uma função biológica, a qual t<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre um ritmo”. 85<br />

84 L. Hanns, op. cit., p. 355.<br />

85 J. Lacan, O s<strong>em</strong>inário, livro XI, op. cit., p. 157.<br />

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