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Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...

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sociais, filosóficas, envolvendo “as mais altas regiões do espírito”, no sonho,<br />

entrariam <strong>em</strong> cena quase exclusivamente el<strong>em</strong>entos impulsivos e primitivos. 72<br />

A respeito da relação entre símbolo e inconsciente, levantar<strong>em</strong>os alguns<br />

aspectos da teorização <strong>de</strong> Jacques Lacan. A partir <strong>de</strong> 1953, início do seu ensino,<br />

Lacan propõe a distinção <strong>de</strong> três registros: o simbólico, o imaginário e o real. Nestes<br />

primeiros anos, a partir do conhecido “Informe <strong>de</strong> Roma” – o escrito Função e campo<br />

da fala e da linguag<strong>em</strong> <strong>em</strong> psicanálise –, o simbólico constitui-se como a dimensão<br />

primordial da experiência analítica. Ele apresenta-se teoricamente por meio <strong>de</strong> duas<br />

vertentes: a vertente da palavra e a da linguag<strong>em</strong>. No primeiro caso, a palavra é<br />

evocada numa função <strong>de</strong> mediação, <strong>de</strong> pacto entre os sujeitos, que se constitu<strong>em</strong> no<br />

ato mesmo da fala. É a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Lacan da fala plena, posta <strong>em</strong> causa na<br />

experiência analítica. Essa interlocução implica que o sujeito não se <strong>de</strong>signa a si<br />

mesmo, mas encontra o seu estatuto através daquele que o escuta, o Outro sujeito. A<br />

vertente da linguag<strong>em</strong>, envolve as referências tomadas da lingüística estrutural <strong>de</strong><br />

Ferdinand <strong>de</strong> Saussure e do binarismo <strong>de</strong> Roman Jakobson. Em seu Curso <strong>de</strong><br />

lingüística geral, Saussure <strong>de</strong>fine a língua como um conjunto <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos<br />

diacríticos, isto é, um sist<strong>em</strong>a cujos termos se <strong>de</strong>fin<strong>em</strong> uns <strong>em</strong> relação aos outros. É<br />

uma <strong>de</strong>finição relacional, fundada num princípio <strong>de</strong> oposição, <strong>de</strong> puras diferenças. A<br />

conjunção <strong>de</strong>sses el<strong>em</strong>entos forma “uma estrutura articulada, combinatória e<br />

autônoma”. 73 Jakobson levará esta concepção às suas últimas conseqüências,<br />

formulando uma mínima oposição simbólica binária, <strong>de</strong> modo que a estrutura da<br />

linguag<strong>em</strong> po<strong>de</strong> ser pensada a partir <strong>de</strong> um código reduzido a dois termos que se<br />

opõ<strong>em</strong>. Lacan, mantendo esta concepção, teoriza a ord<strong>em</strong> simbólica, “uma lei que<br />

dispõe as relações entre os seus el<strong>em</strong>entos”, como conjunto diacrítico <strong>de</strong> significantes,<br />

cujo mínimo é dois. Nessa direção, reconhecerá uma estrutura simbólica que nos<br />

antece<strong>de</strong> como sujeitos, a que chamará <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> Outro, lugar do tesouro do<br />

significante. Esta herança estruturalista permitirá que Lacan proponha a hipótese <strong>de</strong><br />

que o inconsciente está estruturado como uma linguag<strong>em</strong>. Esta hipótese antisubstancialista<br />

tira o inconsciente das profun<strong>de</strong>zas, do mistério, ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong><br />

que este último <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser um reservatório <strong>de</strong> imagens e representações. Como b<strong>em</strong><br />

72 Este trecho aparece marcado à marg<strong>em</strong> no livro <strong>de</strong> <strong>Mário</strong> <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>. Com relação ao método <strong>de</strong><br />

interpretar obras <strong>de</strong> arte como se foss<strong>em</strong> formações do inconsciente, Jacques-Alain Miller afirma que<br />

tal esforço, às vezes um intento <strong>de</strong> Freud, fracassaria na medida <strong>em</strong> que a arte como ativida<strong>de</strong><br />

sublimatória seria fruto <strong>de</strong> um <strong>de</strong>stino pulsional s<strong>em</strong> recalcamento. Ver Los signos <strong>de</strong>l goce, pp 320-<br />

322.<br />

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