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Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...

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ealização amorosa para os navegadores, e à dissociação entre sexo e sentimento<br />

amoroso nos poetas românticos. Para não endurecer a pena do poeta, que exerce o seu<br />

ofício graças à poliss<strong>em</strong>ia das palavras, ou seja, graças à possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> jogar com<br />

os seus múltiplos sentidos, l<strong>em</strong>br<strong>em</strong>os que o termo seqüestro, <strong>em</strong> sua terminologia,<br />

cont<strong>em</strong>pla algumas operações que <strong>em</strong> psicanálise se <strong>de</strong>fin<strong>em</strong> por termos diferentes,<br />

como sublimação, recalque, <strong>de</strong>slocamento, con<strong>de</strong>nsação.<br />

Em “Jaburú malandro”(1924), o contista refere-se à personag<strong>em</strong> Carmela<br />

como alguém que estava seqüestrada da vida. Da mesma forma, Nilza, Paulino, a<br />

“menina <strong>de</strong> olho no fundo”, personagens <strong>de</strong> Os contos <strong>de</strong> Belazarte, eram também<br />

seqüestrados da vida, mais pela pobreza <strong>de</strong> suas existências – qu<strong>em</strong> os<br />

<strong>de</strong>sejava/amava? – que pela pobreza material. Destes contos, escritos entre 1923 e<br />

1926, vários terminam com a seguinte frase: fulana “foi muito infeliz”. Tratam <strong>de</strong><br />

amores infelizes, pessoas tristes, esquecidas (seqüestradas) pela vida. Neste sentido,<br />

contrastam com as personagens das histórias água-com-açúcar que, após enfrentar<strong>em</strong><br />

uma série <strong>de</strong> obstáculos, terminam vitoriosas, levadas ao conhecido “e viveram felizes<br />

para s<strong>em</strong>pre”.<br />

Em Na ilha <strong>de</strong> Marapatá, obra que aborda as leituras feitas por <strong>Mário</strong> <strong>de</strong><br />

escritores hispano-americanos a partir <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> artigos críticos sobre literatura<br />

argentina para o Diário Nacional <strong>de</strong> São Paulo, e da marginália dos livros <strong>de</strong>stes<br />

escritores, extraímos um trecho <strong>de</strong> anotação marginal acerca <strong>de</strong> Ricardo Guiral<strong>de</strong>s:<br />

Se t<strong>em</strong> a impressão que <strong>de</strong>ntro do hom<strong>em</strong> civilizado que foi a constância da<br />

psicologia literária <strong>de</strong> Guiral<strong>de</strong>s, explodia <strong>de</strong> sopetão, às vezes, um ser<br />

diferente, seqüestrado <strong>de</strong> intrepi<strong>de</strong>z formidável e potência bárbara, ‘uma alma<br />

impetuosa <strong>de</strong> dios salvaje’. 54<br />

O autor da obra, Raúl Antelo, observa que seria possível inferir que a leitura <strong>de</strong><br />

Guiral<strong>de</strong>s é cont<strong>em</strong>porânea do conhecimento, por parte <strong>de</strong> <strong>Mário</strong>, <strong>de</strong> Georges<br />

Politzer, <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> teria tomado a noção <strong>de</strong> sublimação, traduzida aqui como seqüestro.<br />

A Critique <strong>de</strong>s fond<strong>em</strong>ents <strong>de</strong> la psychologie, <strong>de</strong> Politzer, fazia parte da Biblioteca <strong>de</strong><br />

<strong>Mário</strong> <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, e continha as suas anotações marginais. Destas, <strong>de</strong>stacamos duas<br />

nas quais o leitor <strong>de</strong> Politzer se r<strong>em</strong>ete ao “Seqüestro da Dona Ausente”. As linhas<br />

sublinhadas, tratam <strong>de</strong> explicar que para Freud os sonhos dramatizam o pensamento,<br />

53 J. Derrida, Mal <strong>de</strong> arquivo – Uma impressão freudina, p. 42-43.<br />

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