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Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...

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conceitos teóricos mais precisos. 39 Pod<strong>em</strong>os supor que o <strong>em</strong>prego foi mantido para o<br />

complexo <strong>de</strong> Édipo justamente pela re<strong>de</strong> <strong>de</strong> relações e representações envolvidas, e<br />

pela sua função no <strong>de</strong>senvolvimento do sujeito, que a partir <strong>de</strong> então encontra o seu<br />

lugar nesta re<strong>de</strong>, cujas manifestações seriam expressão <strong>de</strong> uma estrutura invariável.<br />

<strong>Mário</strong>, ao <strong>de</strong>signar o seqüestro da dona ausente como um complexo, aponta<br />

para as características <strong>de</strong> tecido <strong>de</strong> representações simbólico-imaginárias imbricadas<br />

umas às outras, <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> inconsciente, que se repet<strong>em</strong> aqui e acolá (<strong>em</strong> Portugal e no<br />

Brasil, na terra e no mar), expressando um “estado <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong>”, ao mesmo<br />

t<strong>em</strong>po individual e coletivo.<br />

Mulher-peixe, Mulher-sereia<br />

No excerto da conferência sobre o seqüestro da dona ausente <strong>de</strong>nominado “De<br />

um país s<strong>em</strong> mulheres” 40 , como indica o próprio título, a ênfase é dada à falta <strong>de</strong><br />

mulheres na colônia, o que teria gerado o pedido <strong>de</strong> que as enviass<strong>em</strong> para cá. Relata<br />

a chegada <strong>de</strong> casais, <strong>de</strong> mulheres solteiras, órfãs, ciganas, as recadistas <strong>de</strong> freiras<br />

punidas com <strong>de</strong>gredo, as “quaisquer”, assim chamadas por Manoel da Nóbrega.<br />

Iniciou-se o que <strong>Mário</strong> chama <strong>de</strong> “avanço às Índias”, as uniões feitas às pressas, os<br />

amancebamentos e casamentos legais. Porém, tudo isto, acabava pondo ainda <strong>em</strong><br />

evidência a Dona Ausente, “que se aqui estivesse tudo pacificaria”. 41<br />

A ausência da mulher entre os marujos e colonos manifesta-se, por ex<strong>em</strong>plo,<br />

nos nomes dados aos navios, como “Nau Catarineta” 42 , e na analogia<br />

mulheres/<strong>em</strong>barcações, como nesta quadrinha:<br />

39 Cf. J. Laplanche; J.-B. Pontalis, Diccionário <strong>de</strong> Psicoanálisis, p.58.<br />

40 Publicado <strong>em</strong> Mensag<strong>em</strong>, Quinzenário <strong>de</strong> Arte e Literatura, a. 1, nº 12. Belo Horizonte, jan./1940.<br />

41 Mais além da falta concreta da mulher, seja no mar ou na terra recém-conquistada, a expressão “A<br />

Dona Ausente” nos r<strong>em</strong>ete para a questão da mulher i<strong>de</strong>alizada, impossível <strong>de</strong> alcançar, e por isto<br />

distante: a mulher do romance <strong>de</strong> cavalaria, a dama do amor cortês como nos indica Denis <strong>de</strong><br />

Roug<strong>em</strong>ont <strong>em</strong> O amor e o Oci<strong>de</strong>nte. Nesta linha, no s<strong>em</strong>inário VII A ética da psicanálise, Lacan<br />

refere-se à poética do amor cortês que, numa exaltação sublimatória da mulher, eleva-a à dignida<strong>de</strong> da<br />

Coisa, das Ding, situando a dama como única e absoluta. Em Mais Ainda, o s<strong>em</strong>inário XX, o<br />

psicanalista dirá que “ A mulher, isto só se po<strong>de</strong> escrever barrando-se o A. Não há A mulher pois (...) por<br />

sua essência ela não é toda” (p.99). Não existe A mulher enquanto um universal, mas exist<strong>em</strong> mulheres<br />

no plural.<br />

42 Em 1983, ano com<strong>em</strong>orativo do nonagésimo aniversário <strong>de</strong> nascimento <strong>de</strong> <strong>Mário</strong> <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, a<br />

FUNARTE lança um LP gravado pela cantora Teca Calazans com cantigas que o musicólogo e<br />

folclorista recolheu e que constam do livro Danças Dramáticas do Brasil. Dentre estas, várias falam da<br />

“nau catarineta”. Outra curiosida<strong>de</strong> do disco, reeditado <strong>em</strong> CD, é a música “Viola quebrada” <strong>de</strong> <strong>Mário</strong><br />

<strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>. Segundo Túlio Feliciano, que assina o texto do encarte do CD, <strong>Mário</strong> preferia que não se<br />

soubesse ser <strong>de</strong>le a composição, para que fizesse parte do acervo folclórico brasileiro, sendo<br />

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