Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...
Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...
Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Febrônio (Cendrars) e sua poesia mística less<strong>em</strong> o texto e sua história <strong>de</strong> um modo<br />
menos preconceituoso e <strong>de</strong>terminista, procurando <strong>de</strong>cifrar os signos <strong>de</strong>ixados pelo<br />
Índio do Brasil.<br />
Foi possível ler nos textos <strong>de</strong> <strong>Mário</strong> <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> diferentes modos <strong>de</strong><br />
apresentação do inconsciente. O subconsciente profundo, imagético, como eldorado,<br />
potência criadora, fonte <strong>de</strong> lirismo, do “Prefácio interessantíssimo” ou <strong>de</strong> A escrava<br />
que não é Isaura, aproxima-se muito mais das concepções <strong>de</strong> inconsciente<br />
prece<strong>de</strong>ntes a Freud. Numa leitura freudiana do inconsciente, este surge<br />
fragmentariamente através <strong>de</strong> resíduos <strong>de</strong> l<strong>em</strong>branças, restos arqueológicos que<br />
saltam do passado do narrador dos Contos novos (aqueles escritos <strong>em</strong> primeira<br />
pessoa), como “Vestida <strong>de</strong> preto”, “O peru <strong>de</strong> natal”, “Fre<strong>de</strong>rico paciência” e “T<strong>em</strong>po<br />
da camisolinha”. Como observa Daré Rabello, “no ir-e-vir das l<strong>em</strong>branças, Juca<br />
atravessa dos cinco aos vinte e cinco anos”, <strong>de</strong> um conto a outro; reunindo os<br />
fragmentos das r<strong>em</strong>iniscências, o narrador dá-lhes um or<strong>de</strong>namento t<strong>em</strong>poral, constrói<br />
significados tecendo sua história. Dentre as formações do inconsciente, recolh<strong>em</strong>os<br />
com <strong>de</strong>staque os atos falhos, seja através <strong>de</strong> uma troca <strong>de</strong> nomes próprios, <strong>de</strong> um<br />
lapso, dos atos falhos <strong>de</strong> um cronista, <strong>de</strong> um narrador ou os sintomáticos atos falhos<br />
<strong>de</strong> uma Mad<strong>em</strong>oiselle. Com estes ex<strong>em</strong>plos, surpreend<strong>em</strong>os um inconsciente que<br />
irrompe como <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong>, tropeço, ruptura do discurso consciente, corte. Por<br />
último, <strong>de</strong>stacamos um inconsciente como s<strong>em</strong>-sentido, através da cantiguinha/po<strong>em</strong>a<br />
que foge às tentativas do poeta <strong>de</strong> encontrar uma significação, provocando-lhe<br />
perplexida<strong>de</strong>. O jogo fônico-verbal do “po<strong>em</strong>inha” evoca o inconsciente “no que ele é<br />
feito <strong>de</strong> lalíngua”, reconduzindo ao particular <strong>de</strong> cada língua, servindo para coisas<br />
diferentes da comunicação.<br />
O leitor dos Três ensaios sobre a teoria da sexualida<strong>de</strong>, apesar <strong>de</strong> <strong>em</strong> alguns<br />
momentos tecer críticas ao Freud da teoria da sexualida<strong>de</strong>, trata do t<strong>em</strong>a <strong>em</strong> várias<br />
passagens <strong>de</strong> sua obra. Tomamos o termo libido da teoria das pulsões, e o abordamos<br />
– tanto <strong>em</strong> sua vertente <strong>de</strong> ternura como na vertente sexual – como pulsão <strong>de</strong> vida e<br />
pulsão <strong>de</strong> morte, como o objeto pequeno a. A relação libidinal com a mãe, o <strong>de</strong>spertar<br />
da sexualida<strong>de</strong>, o amor na adolescência, o amor e medo dos poetas românticos, foram<br />
algumas das maneiras com as quais articulamos a libido aos textos <strong>de</strong> <strong>Mário</strong> <strong>de</strong><br />
420 Estes, são dois dos cinco paradoxos da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> enunciados por Antoine Compagnon. Os outros<br />
três são: o apelo à cultura <strong>de</strong> massa, a mania teórica e a paixão da negação (cf A. Compagnon, Os cinco<br />
paradoxos da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1996).<br />
173