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Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...

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mas <strong>em</strong> relação a algo único ou singular, que não possui s<strong>em</strong>elhante ou equivalente<br />

(...) Não é acrescentar uma segunda e uma terceira vez à primeira, mas conduzir a<br />

primeira à enésima potência”. 417 Quando se repete uma palavra ou um acontecimento,<br />

estes já não são os mesmos, não traz<strong>em</strong> consigo a permanência <strong>de</strong> um sentido. Para<br />

Deleuze, repetir envolveria s<strong>em</strong>pre algo novo, implicando o ato, que não é<br />

cont<strong>em</strong>plação n<strong>em</strong> recordação. Não há um primeiro termo da repetição, um<br />

referencial absoluto, mas apenas máscaras, recobrindo outras máscaras. Assim sendo,<br />

não existe a verda<strong>de</strong> como el<strong>em</strong>ento primeiro sob o disfarce, mas apenas a repetição<br />

como máscara.<br />

Com esta pesquisa, vimos que <strong>Mário</strong> soube tirar partido da psicanálise,<br />

reinterpretando-a, dando-lhe um plus, como verificamos com as traduções<br />

marioandradinas para recalcamento e fantasia, como seqüestro e assombração, numa<br />

verda<strong>de</strong>ira operação antropofágica, <strong>de</strong>vorando o europeu e misturando-o com<br />

“sensações <strong>de</strong> tantãs no fundo do mato”. Com o termo seqüestro, que tantas vezes<br />

aparece <strong>em</strong> sua literatura, o escritor evoca o recalcamento freudiano; contudo, po<strong>de</strong><br />

abarcar, também, toda uma série <strong>de</strong> termos psicanalíticos correlacionados ao recalque.<br />

Nas palavras <strong>de</strong> Telê A. Lopez,<br />

aquilo que ficou reprimido, que a impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realização do <strong>de</strong>sejo<br />

sufoca, s<strong>em</strong> conseguir apagar no ritmo da vida mental, tudo o que se refugia<br />

no inconsciente, retorna, assoma: torna-se sublimação, <strong>de</strong>slocamento,<br />

projeção, racionalização, os mecanismos enfim que a sensibilida<strong>de</strong> institui e o<br />

folclore sabe guardar. 418<br />

A palavra seqüestro, mais do que a idéia <strong>de</strong> afastar algo da consciência – que,<br />

<strong>de</strong>salojado do centro da cena, pressiona pelo retorno, conforme a <strong>de</strong>finição freudiana<br />

da repressão ou recalcamento –, aponta para o sentido <strong>de</strong> “tirar do caminho usando a<br />

força (ou a sedução)”, implicando uma experiência que conota violência. Po<strong>de</strong>ríamos,<br />

assim, pensar o seqüestro como um saber <strong>de</strong>salojado, arrancado da cena<br />

violentamente. Como afirmamos no primeiro capítulo, com o termo seqüestro, no<br />

caso do navegador e da dona ausente, <strong>Mário</strong> traduz a violência da experiência <strong>de</strong><br />

separação dos amantes, que passa a expressar-se indiretamente, lateralmente, através<br />

das quadrinhas e cantigas do folclore luso-brasileiro. Um s<strong>em</strong>i-dizer, um dizer ao<br />

417 G. Deleuze apud A. Garcia-Rosa, Acaso e repetição <strong>em</strong> psicanálise: uma introdução à teoria<br />

daspulsõesp. 44.<br />

418 T. A. Lopez, Mario<strong>de</strong>andradiando, p. 120.<br />

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