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Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...

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diz Lacan, asseverando que este <strong>de</strong> modo algum é o inconsciente freudiano; um<br />

inconsciente-m<strong>em</strong>ória, r<strong>em</strong>iniscência, que vai buscar uma verda<strong>de</strong> inscrita <strong>em</strong> algum<br />

monumento: suas l<strong>em</strong>branças, o próprio corpo, na tradição cultural, nos objetos, nas<br />

estátuas, etc. A idéia do inconsciente como um significado recalcado a ser liberado<br />

numa “palavra plena”, verda<strong>de</strong>ira, é uma das possíveis visões do inconsciente,<br />

encontradas <strong>em</strong> Freud e Lacan. No entanto, encontramos também, <strong>em</strong> Freud, Lacan e<br />

<strong>Mário</strong>, um inconsciente vazio <strong>de</strong> sentido, como tropeço, <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong>: “hiância,<br />

pulsação, uma alternância <strong>de</strong> sucção, para seguirmos certas indicações <strong>de</strong> Freud”, 405<br />

sublinha Lacan, acerca da pulsação do inconsciente, que não sendo um interior, um<br />

<strong>de</strong>ntro, implica movimentos <strong>de</strong> abertura e fechamento. No s<strong>em</strong>inário sobre Os quatro<br />

conceitos fundamentais da psicanálise, Lacan, tomando o termo al<strong>em</strong>ão Unbewusste,<br />

faz nele uma escanção, separando o Un – “uma forma <strong>de</strong>sconhecida do um”, ao dizer<br />

que não há uma unida<strong>de</strong> anterior à <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong>, pois o “ um que é introduzido pela<br />

experiência do inconsciente é o um da fenda, do traço, da ruptura”. 406 Outra maneira<br />

que t<strong>em</strong> Lacan para falar do inconsciente como <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong> é afirmar que, entre o<br />

sujeito e o Outro, o inconsciente é o “seu corte <strong>em</strong> ato”. 407 Os ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> atos falhos<br />

trazidos por <strong>Mário</strong>, como um esquecimento <strong>de</strong> nome próprio ou uma troca <strong>de</strong> nomes,<br />

abr<strong>em</strong> para ele a dimensão da causa, como pergunta sobre o que irrompeu<br />

surpreen<strong>de</strong>ndo o sujeito:<br />

Assim, o inconsciente se manifesta s<strong>em</strong>pre como algo que vacila num corte do<br />

sujeito – don<strong>de</strong> ressurge um achado que Freud assimila ao <strong>de</strong>sejo – <strong>de</strong>sejo que<br />

situar<strong>em</strong>os provisoriamente na metonímia do discurso <strong>em</strong> causa, <strong>em</strong> que o<br />

sujeito se saca <strong>em</strong> algum ponto inesperado. 408<br />

A partir da falha, então, se produz um achado, <strong>de</strong> valor único, surpreen<strong>de</strong>nte. <strong>Mário</strong>,<br />

ao modo <strong>de</strong> um analisante, “associa livr<strong>em</strong>ente”, encontrando um saber sobre sua<br />

vacilação, sobre o que lhe colocou <strong>em</strong> questão. Ao invés <strong>de</strong> pensarmos que este saber<br />

já estava lá, à espera do intérprete, parece-nos mais interessante pôr a hipótese <strong>de</strong> que,<br />

a partir <strong>de</strong> um significante ou um traço que d<strong>em</strong>arca um buraco – po<strong>de</strong>ríamos<br />

404 Id<strong>em</strong>, “Posição do inconsciente”, p. 856.<br />

405 Id<strong>em</strong>, p. 852.<br />

406 Id<strong>em</strong>, O s<strong>em</strong>inário, livro XI, p. 30.<br />

407 Pod<strong>em</strong>os dizer que um analista, ao escandir o discurso <strong>de</strong> um paciente, por ex<strong>em</strong>plo, nos pontos<br />

on<strong>de</strong> surge um significante mestre (S1), opera como o inconsciente, como um corte <strong>em</strong> ato.<br />

408 J. Lacan, O s<strong>em</strong>inário, livro XI, p. 32.<br />

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