Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...
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adjetivações. Pensamos que <strong>Mário</strong>, diferent<strong>em</strong>ente <strong>de</strong> outros mo<strong>de</strong>rnistas que pod<strong>em</strong><br />
ter tido um contato superficial com a psicanálise, como uma teoria cujas idéias estava<br />
<strong>em</strong> plena circulação naquela época, estudou seriamente a psicanálise, indo além dos<br />
modismos e logrando incorporá-la à sua produção <strong>de</strong> modo n<strong>em</strong> simplista, n<strong>em</strong><br />
artificial. Interessou-nos verificar, também, quais autores, psicanalistas, informaram<br />
<strong>Mário</strong> <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> acerca da psicanálise, constituindo suas referências e formando as<br />
suas idéias sobre a psicanálise.<br />
Numa primeira aproximação com a obra <strong>de</strong> <strong>Mário</strong> <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, buscou-se<br />
levantar referências diretas e indiretas à psicanálise. Por referências diretas enten<strong>de</strong>-se<br />
aquela nas quais conceitos e noções psicanalíticas são mencionados, b<strong>em</strong> como o<br />
nome Freud; referências indiretas são alusões a t<strong>em</strong>as ou questões tratados pela<br />
psicanálise, ou que permit<strong>em</strong> uma articulação com ela. Desta leitura resultou o<br />
encontro com quatro t<strong>em</strong>as psicanalíticos, que ao nosso olhar sobressaíram. São eles:<br />
a libido, o recalcamento, o inconsciente e a loucura. 21 O recorte <strong>de</strong> tais noções<br />
funcionou como balizamento para a pesquisa, e serviu como critério <strong>de</strong> elaboração<br />
dos capítulos da tese. Com Benjamin, é possível pensar que estas quatro t<strong>em</strong>áticas<br />
saltam do contínuo da obra, estilhaçando a linha do t<strong>em</strong>po, como “uma construção<br />
cujo lugar não é t<strong>em</strong>po homogêneo e vazio, mas um t<strong>em</strong>po saturado <strong>de</strong> ‘agoras’”. 22 O<br />
termo orig<strong>em</strong>(Ursprung), no sentido filosófico <strong>de</strong> Walter Benjamin, não r<strong>em</strong>eteria a<br />
um começo <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento cronológico, mas “o que <strong>em</strong>erge do<br />
processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>vir e <strong>de</strong>saparecer”. Benjamin joga com o sentido literal do termo<br />
Ursprung (salto primeiro), para <strong>de</strong>signar “ a orig<strong>em</strong> como salto para fora da sucessão<br />
cronológica niveladora (...) interrupções que quer<strong>em</strong>, também, fazer parar este t<strong>em</strong>po<br />
infinito e in<strong>de</strong>finido”. 23<br />
Neste sentido, não foi um recorte cronológico da obra o que nos orientou,<br />
tampouco a concepção <strong>de</strong> gêneros literários, questão que t<strong>em</strong> provocado discussões<br />
21 Numa alusão ao s<strong>em</strong>inário XI <strong>de</strong> Jacques Lacan, Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise,<br />
po<strong>de</strong>ríamos falar dos quatro conceitos psicanalíticos fundamentais <strong>em</strong> <strong>Mário</strong> <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>. No primeiro<br />
caso, os conceitos fundamentais são o inconsciente, a repetição, a transferência e a pulsão. L<strong>em</strong>bramos,<br />
também, que dos quatro t<strong>em</strong>as que intitulam os capítulos, três <strong>de</strong>les, o inconsciente, a libido – tomada a<br />
partir da teoria das pulsões – e o recalcamento, faz<strong>em</strong> parte da metapsicologia freudiana. Referimo-nos<br />
àqueles textos mais teóricos, que não tratam diretamente da prática ou da técnica psicanalíticas, mas<br />
que propõ<strong>em</strong>, por ex<strong>em</strong>plo, a ficção <strong>de</strong> um aparelho psíquico dividido <strong>em</strong> instâncias, o processo <strong>de</strong><br />
repressão, o inconsciente, etc.<br />
22 W. Benjamin, “Sobre o conceito da história”, Obras escolhidas – Magia e técnica, arte e política, p.<br />
229.<br />
23 J.-M. Gagnebin, “Orig<strong>em</strong>, original, tradução”, História e narração <strong>em</strong> Walter Benjamin, p. 10. A<br />
autora propõe traduzir o termo Jetztzeit por “t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> agora”.<br />
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