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Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...

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Rabello, “o espaço da escrita significa voltar-se para, relendo e interpretando o que<br />

po<strong>de</strong>ria ter se dissolvido na seqüência dos dias e dos fatos”. 394<br />

O inconsciente como s<strong>em</strong>-sentido<br />

Fiorí <strong>de</strong>-la-pá!<br />

Jení-transféli gúidi nus-pigórdi,<br />

Jení-trans...féli-güinórdi,<br />

Jení! 395<br />

<strong>Mário</strong> consi<strong>de</strong>ra ser este seu primeiro po<strong>em</strong>a, escrito aos <strong>de</strong>z anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. As<br />

palavras, s<strong>em</strong> sentido algum, seguiram ecoando <strong>em</strong> sua cabeça, como uma marca<br />

in<strong>de</strong>lével. A impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> amarrar um significado, <strong>de</strong> encontrar uma<br />

interpretação a partir do “do jogo fônico-verbal” cantarolado, inquietava o poeta, que,<br />

ao tentar encontrar alguma referência para a “cantiguinha”, transforma uma palavra<br />

<strong>em</strong> nome próprio:<br />

Esta foi a nota lírica <strong>de</strong> toda a minha infância. Só iria escrever versos<br />

‘conscientes’ muito <strong>de</strong>pois, certamente com mais <strong>de</strong> <strong>de</strong>zoito anos. Este po<strong>em</strong>a<br />

foi escrito mais ou menos pelos <strong>de</strong>z, como lhe diz o título. Cantarolava-o<br />

s<strong>em</strong>pre, e ficou imperecível <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> mim. Não sei o que quer dizer, e<br />

sobretudo me assusta muito esse “Jení”, pela coincidência das sílabas, pois que<br />

é absolutamente certo jamais ter passado alguma Genny na minha vida.<br />

Po<strong>em</strong>a, cantiga, quadrinha; o singular escrito parece resistir às tentativas <strong>de</strong><br />

classificação, não fazendo conjunto. Contudo, algo <strong>de</strong>sta insignificância se inscreveu<br />

para o poeta, ao modo do susto, do “não compreendi”. Partindo da cantiguinha <strong>de</strong><br />

<strong>Mário</strong>, procurar<strong>em</strong>os <strong>de</strong>senvolver uma perspectiva do inconsciente, diferente não só<br />

do subconsciente e suas imagens, mas <strong>de</strong> certa visão do inconsciente como significado<br />

a interpretar, verda<strong>de</strong> já escrita, à espera do intérprete analista.<br />

Quando Lacan propõe no s<strong>em</strong>inário XI e no escrito “Posição do inconsciente”<br />

as duas operações <strong>de</strong> causação do sujeito – alienação e separação, no que diz respeito<br />

à primeira <strong>de</strong>las ele faz um percurso que vai do sentido ao s<strong>em</strong>-sentido. Como já foi<br />

dito, é no campo do Outro, morada do significante, que o sujeito se constitui como<br />

393 Id<strong>em</strong>, p.224.<br />

394 I. D. Rabello, op. cit., p. 97.<br />

395 M. <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> apud E. Kossovitch, “Po<strong>em</strong>a escrito aos <strong>de</strong>z anos”, op. cit., p. 13.<br />

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