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Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...

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por ex<strong>em</strong>plo, numa das interpretações <strong>de</strong> Freud relativas ao hom<strong>em</strong> dos lobos: “o<br />

psicanalista, como o arqueólogo <strong>em</strong> suas escavações, <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>scobrir camada após<br />

camada <strong>de</strong> psique do paciente, antes <strong>de</strong> chegar aos tesouros mais profundos e<br />

preciosos”. 379<br />

Roudinesco afirma que no final do século XIX “os <strong>de</strong>scobrimentos<br />

fundamentais do pensamento mo<strong>de</strong>rno <strong>em</strong> matéria das ciências chamadas humanas se<br />

articulam <strong>em</strong> torno da probl<strong>em</strong>ática da marca, do indício, do signo ou da pista”. 380 É<br />

neste contexto, <strong>de</strong> <strong>em</strong>ergência do “paradigma da marca”, que a psicanálise se<br />

<strong>de</strong>senvolve. Na mesma época, o historiador da arte Giovanni Morelli cria um método<br />

para distinguir as obras originais das imitações, buscando as marcas <strong>de</strong> <strong>de</strong>dos e unhas,<br />

minuciosos <strong>de</strong>talhes que estariam presentes nos originais e não nas cópias.<br />

Aproximando-se do método morelliano, o <strong>de</strong>tetive <strong>de</strong> Arthur C. Doyle, Sherlock<br />

Holmes, 381 persegue vestígios <strong>de</strong>ixados pelos criminosos, não evi<strong>de</strong>ntes aos olhos da<br />

polícia. Cinzas <strong>de</strong> cigarro, pegadas no chão, fios <strong>de</strong> cabelo, secreções corpóreas,<br />

enfim, tudo o que se configurar como pista que leve à reconstituição do crime e ao<br />

criminoso, será interpretado.<br />

Jacques Derrida, <strong>em</strong> Mal <strong>de</strong> arquivo – Uma impressão freudiana, l<strong>em</strong>bra que a<br />

psicanálise privilegiou as figuras da marca e da tipografia. “Instalando-se<br />

freqüent<strong>em</strong>ente na cena da escavação arqueológica, o seu discurso aborda<br />

primeiramente a estocag<strong>em</strong> das ‘impressões’ e a cifrag<strong>em</strong> das inscrições, mas também<br />

a censura e o recalcamento, a repressão e a leitura dos registros”. 382 O filósofo<br />

diferencia o arquivo <strong>de</strong> uma experiência espontânea da m<strong>em</strong>ória viva e interior, que<br />

levaria a uma redução do arquivo, a um retorno à orig<strong>em</strong> (Arkhê), ao arcaico, à<br />

l<strong>em</strong>brança, “<strong>em</strong> suma, a busca do t<strong>em</strong>po perdido”. É justamente no lugar “da falta<br />

originária e estrutural da m<strong>em</strong>ória”, assinala Derrida, que o arquivo t<strong>em</strong> lugar. A<br />

378 P. Gay, op. cit., p.168.<br />

379 Id<strong>em</strong>, p.169.<br />

380 E. Roudinesco, “El inconsciente ‘a la francesa’”, Historia <strong>de</strong>l psicoanálisis en Francia, vol. I, p.<br />

163.<br />

381 Em 1932, José Joaquim <strong>de</strong> Campos da Costa Me<strong>de</strong>iros e Albuquerque publica o primeiro romance<br />

policial brasileiro: Se eu fosse Sherlock Holmes. O jornalista, segundo Cyro Martins (“Contribuições ao<br />

estudo da história da psicanálise no Brasil”, Revista brasileira <strong>de</strong> psicanálise), teria sido qu<strong>em</strong> fez a<br />

primeira conferência <strong>de</strong> divulgação <strong>de</strong> Freud no Brasil, <strong>em</strong> 19/11/1919, intitulada “Psicologia <strong>de</strong> um<br />

neurologista – Freud e suas teorias sexuais”. Marialzira Perestrello diverge <strong>de</strong>sta informação,<br />

afirmando que, <strong>em</strong> março do mesmo ano, o Dr. Franco da Rocha publicou uma palestra por ele<br />

proferida <strong>de</strong> conteúdo psicanalítico. Tudo indica que se refere ao artigo “Do <strong>de</strong>lírio <strong>em</strong> geral”,<br />

publicado no jornal O Estado <strong>de</strong> São Paulo <strong>em</strong> 20/03/1919, <strong>de</strong> modo que Franco da Rocha <strong>em</strong> São<br />

Paulo teria precedido a Me<strong>de</strong>iros e Albuquerque no Rio <strong>de</strong> Janeiro (Cf M. Perestrello, História da<br />

Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Psicanálise do Rio <strong>de</strong> Janeiro – Suas origens e fundação, p. 17).<br />

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