Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...
Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...
Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
inconsciente. Benjamin olhava para os objetos industriais como fósseis que permitiam<br />
que a história viva fosse lida através <strong>de</strong> sua superfície. Theodor W. Adorno, ao<br />
caracterizar o pensamento <strong>de</strong> Benjamin como “natural-histórico”, afirma que este teria<br />
como ninguém a habilida<strong>de</strong> para consi<strong>de</strong>rar as coisas históricas, as<br />
manifestações do espírito objetivado, a ‘cultura’ como se fosse natureza (...). O<br />
inventário <strong>de</strong> fragmentos culturais petrificados, congelados ou obsoletos lhe<br />
falava (...) como os fósseis ou as plantas no herbário ao seu colecionador. 375<br />
Este modo benjaminiano <strong>de</strong> conceber os objetos históricos r<strong>em</strong>ete-nos às<br />
metáforas arqueológicas usadas por Freud, <strong>em</strong> vários momentos <strong>de</strong> sua obra, como<br />
figuras centrais para a explicitação <strong>de</strong> conceitos. Em parte, isto <strong>de</strong>ve estar relacionado<br />
com o êxito da arqueologia na sua época, com o <strong>de</strong>scobrimento <strong>de</strong> Tróia e outras<br />
cida<strong>de</strong>s, com a verificação das origens <strong>de</strong> textos que até então não haviam sido<br />
comprovadas. 376 No entanto, como d<strong>em</strong>onstram algumas fotos do consultório <strong>de</strong><br />
Freud e algumas <strong>de</strong>clarações suas, havia da parte <strong>de</strong>ste último um interesse especial<br />
pelos objetos antigos, tais como estatuetas, placas, tapetes orientais, além <strong>de</strong><br />
fotografias e fragmentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobertas do antigo Egito. Benjamin também lançou<br />
mão da analogia arqueológica, como pod<strong>em</strong>os observar <strong>em</strong> fragmentos como<br />
“Trabalhos <strong>de</strong> subsolo” e “Escavando e recordando”, ambos incluídos <strong>em</strong> “Rua <strong>de</strong><br />
mão única”. Do segundo, cito:<br />
Qu<strong>em</strong> preten<strong>de</strong> aproximar-se do próprio passado soterrado <strong>de</strong>ve agir como o<br />
hom<strong>em</strong> que escava. Antes <strong>de</strong> tudo, não <strong>de</strong>ve t<strong>em</strong>er voltar s<strong>em</strong>pre ao mesmo<br />
fato, espalhá-lo como se espalha a terra, revolvê-lo como se revolve o solo.<br />
Pois ‘fatos’ nada são além <strong>de</strong> camadas que apenas à exploração mais<br />
cuidadosa entregam aquilo que recompensa a escavação. 377<br />
Na sua biografia <strong>de</strong> Freud, Peter gay cita o paciente <strong>de</strong> um dos seus “casos”<br />
clássicos, o “Hom<strong>em</strong> dos lobos”, a qu<strong>em</strong> o consultório do psicanalista l<strong>em</strong>braria “não<br />
o consultório <strong>de</strong> um médico, mas o gabinete <strong>de</strong> um arqueólogo.” 378 Freud lia o que<br />
pu<strong>de</strong>sse sobre o assunto como um aficcionado, e ouvia as histórias <strong>de</strong>sse universo<br />
contadas por um amigo seu, professor <strong>de</strong> arqueologia. A figura do sedimento aparece,<br />
374 S. Freud, “ Construcciones en análisis”, Obras completas, vol. XXIII, p. 261.<br />
375 T. Adorno apud S. Buck-Morss, op. cit., p. 87.<br />
376 E. Laurent, “Parejas <strong>de</strong> hoy y consecuencias para sus hijos”, Carretel, p.10.<br />
377 W. Benjamin, op. cit., p.239.<br />
156