Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...
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ou sobre o colecionador d<strong>em</strong>onstram o interesse <strong>de</strong> Benjamin pelo diminuto, pelo<br />
invisível, pelos t<strong>em</strong>as consi<strong>de</strong>rados <strong>de</strong> menor importância. Também é possível<br />
observar um entrecruzamento da história pessoal com a história social e cultural, <strong>em</strong><br />
obras como “Rua <strong>de</strong> mão única”. L<strong>em</strong>branças infantis carregadas <strong>de</strong> significado e<br />
afeto aparec<strong>em</strong> <strong>em</strong> fragmentos como “A febre”, “O <strong>de</strong>spertar do sexo” e “O<br />
corcundinha”, todos agrupados sob o título “Infância <strong>em</strong> Berlim por volta <strong>de</strong> 1900”.<br />
Tal interesse o <strong>de</strong>sloca da posição tradicional do filósofo, do historiador, informando<br />
um pensamento que<br />
pressupõe uma abertura à proposição <strong>de</strong> que os objetos cotidianos e comuns da<br />
indústria cultural possu<strong>em</strong> tanto valor a ser ensinado quanto o cânone dos<br />
“tesouros” culturais que, por tanto t<strong>em</strong>po, t<strong>em</strong>os aprendido a reverenciar. 358<br />
alerta:<br />
No seu livro <strong>de</strong> fragmentos intitulado Rua <strong>de</strong> mão única, 359 já <strong>de</strong> início nos<br />
A atuação literária significativa só po<strong>de</strong> instituir-se <strong>em</strong> rigorosa alternância<br />
entre agir e escrever; t<strong>em</strong> <strong>de</strong> cultivar as formas mo<strong>de</strong>stas, que correspond<strong>em</strong><br />
melhor à sua influência <strong>em</strong> comunida<strong>de</strong>s ativas do que o pretensioso gesto do<br />
livro, <strong>em</strong> folhas volantes, brochuras, artigos <strong>de</strong> jornal e cartazes. 360<br />
Precisamente por isto, <strong>em</strong> suas teses sobre a História, Benjamin privilegia o<br />
cronista <strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento do historiador clássico, a<strong>de</strong>pto <strong>de</strong> um sist<strong>em</strong>a global <strong>de</strong><br />
explicação e interpretação. Atento justamente ao que foi excluído, negligenciado pela<br />
historiografia, diz Benjamin: “O cronista que narra os acontecimentos, s<strong>em</strong> distinguir<br />
entre os gran<strong>de</strong>s e os pequenos, leva <strong>em</strong> conta a verda<strong>de</strong> <strong>de</strong> que nada do que um dia<br />
aconteceu po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado perdido para a história”. 361 Neste sentido, para<br />
compreen<strong>de</strong>r o presente, o historiador <strong>de</strong>ve constituir uma experiência (Erfahrung)<br />
com o passado, permitindo que o que foi esquecido possa surgir <strong>de</strong> novo, sendo<br />
retomado no presente. Os objetos congelados, petrificados no passado, saltam do<br />
contínuo histórico, interrompendo a linha do t<strong>em</strong>po para ser<strong>em</strong> ressignificados.<br />
Assim, um álbum <strong>de</strong> retratos, um ornamento, uma porcelana, pod<strong>em</strong> ser reinseridos<br />
358 S. Buck-Morss, Dialética do olhar: W. Benjamin e o Projeto das Passagens, p.21<br />
359 Buck-Morss, referindo-se a este livro, informa: “ Rua <strong>de</strong> mão única representa uma estética<br />
mo<strong>de</strong>rnista avant-gar<strong>de</strong>”. O livro toma a forma <strong>de</strong> fragmentos, aforismos, mosaico <strong>de</strong> textos.<br />
360 W. Benjamin, Rua <strong>de</strong> mão única, p.11.<br />
361 Id<strong>em</strong>, “Sobre o conceito <strong>de</strong> história”, Obras escolhidas – Magia e Técnica, Arte e Política, p. 223.<br />
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