26.02.2014 Views

Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...

Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...

Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Múltiplo (...) insubordinado ao enunciador Um”. O <strong>Mário</strong> que se procura Um é<br />

também fragmentado, como os outros, num trabalho textual s<strong>em</strong> enunciador fixo.<br />

De uma perspectiva psicanalítica, pensamos que a multiplicida<strong>de</strong> dos trezentos<br />

e cinqüenta aponta para a pluralida<strong>de</strong> das i<strong>de</strong>ntificações ou s<strong>em</strong>blantes que pod<strong>em</strong>os<br />

assumir ao longo <strong>de</strong> uma história <strong>de</strong> vida e mesmo na cont<strong>em</strong>poraneida<strong>de</strong> das<br />

diferentes relações do sujeito com o Outro. O que aprend<strong>em</strong>os com Lacan é que se o<br />

sujeito po<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar-se é porque ele é vazio, s<strong>em</strong> substância e nenhuma <strong>de</strong>ssas<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s coinci<strong>de</strong> com o ele. Esclarecendo sua concepção <strong>de</strong> sujeito, Lacan chama<br />

atenção para a segunda das meditações cartesianas, afirmando nela encontrar o sujeito<br />

da psicanálise. Descartes, ao operar com a dúvida hiperbólica, esvazia o sujeito <strong>de</strong><br />

todos os saberes, representações, imagens, ace<strong>de</strong>ndo a um ponto <strong>de</strong> certeza no pensar.<br />

É o célebre Cogito ergo sum, “Penso, logo existo”. No instante do pensar sua<br />

existência é autentificada, não mais que isso. A leitura mais conhecida do cogito<br />

cartesiano ten<strong>de</strong> a i<strong>de</strong>ntificar o sujeito com o eu, entendê-lo como uno e substancial.<br />

No entanto, o que Lacan <strong>de</strong>cifrou da leitura das primeiras meditações implica o<br />

sujeito como um ponto <strong>de</strong>svanecente, <strong>de</strong>ssubstancializado, por essa operação <strong>de</strong><br />

esvaziamento que leva ao cogito.<br />

com o termo sujeito não <strong>de</strong>signamos o substrato vivo <strong>de</strong> que precisa o<br />

fenômeno subjetivo, n<strong>em</strong> qualquer espécie <strong>de</strong> substância, n<strong>em</strong> qualquer ser do<br />

conhecimento <strong>em</strong> sua patia, segunda ou primitiva, n<strong>em</strong> mesmo o logos que se<br />

encarnaria <strong>em</strong> alguma parte, mas o sujeito cartesiano, que aparece no momento<br />

<strong>em</strong> que a dúvida se reconhece como certeza (...) 349<br />

Porém, o sujeito advém tributário do significante; pois é no campo do Outro<br />

que ele po<strong>de</strong>rá surgir como efeito da ação do significante sobre o vivente. Lacan parte<br />

da pré-existência da linguag<strong>em</strong>, do Outro <strong>em</strong> relação ao sujeito, que irá ce<strong>de</strong>r os<br />

significantes disponíveis numa cultura e numa época, para que o sujeito se i<strong>de</strong>ntifique.<br />

Retomando uma expressão <strong>de</strong> Daniel Lagache, dirá Lacan que o sujeito é um “pólo <strong>de</strong><br />

atributos”, sublinhando que estes atributos são significantes. É como um pólo <strong>de</strong><br />

atributos, com nome e sobrenome, por ex<strong>em</strong>plo, que o infans por nascer se situa no<br />

discurso dos pais. Deste modo, o sujeito é falado pelo Outro, inscrito numa ca<strong>de</strong>ia<br />

simbólica que lhe oferece a única possibilida<strong>de</strong> para advir sujeito. Com a entrada na<br />

via do sentido, virão outros significantes, propondo novas i<strong>de</strong>ntificações, significando<br />

349 J. Lacan, O s<strong>em</strong>inário, livro XI, p. 122.<br />

144

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!