Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...
Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...
Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Freud pô<strong>de</strong> “esten<strong>de</strong>r à vida anímica normal seus <strong>de</strong>scobrimentos <strong>em</strong> relação às<br />
neuroses”. 344 Deste modo, o criador da psicanálise contribuiu para borrar as rígidas<br />
fronteiras entre o normal e o patológico.<br />
Distinguindo o inconsciente freudiano <strong>de</strong> todos os inconscientes que o<br />
prece<strong>de</strong>ram, assevera Lacan:<br />
A todos esses inconscientes s<strong>em</strong>pre mais ou menos afiliados a uma vonta<strong>de</strong><br />
obscura consi<strong>de</strong>rada como primordial, a algo antes da consciência, o que Freud<br />
opõe é a revelação <strong>de</strong> que, no nível do inconsciente, há algo homólogo <strong>em</strong><br />
todos os pontos ao que se passa no nível do sujeito – isso fala e funciona <strong>de</strong><br />
modo tão elaborado quanto o do nível consciente, que per<strong>de</strong> assim o que<br />
parecia seu privilégio. 345<br />
Lacan, na via <strong>de</strong> seu retorno a Freud e no encontro com a lingüística estrutural, irá<br />
propor a sua concepção do sujeito como falta <strong>em</strong> ser, como o que assinala a hiância da<br />
ca<strong>de</strong>ia significante; um sujeito <strong>de</strong>ssubstancializado que surge nos tropeços do<br />
discurso, enfim, o sujeito do inconsciente freudiano ($). Desfalecimento, rachadura,<br />
<strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong>, são os termos usados por Lacan para <strong>de</strong>signar o modo <strong>de</strong> surgimento<br />
do inconsciente. O sujeito inscreve-se na ca<strong>de</strong>ia significante quando nela se produz<strong>em</strong><br />
dissimetrias, <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong>s; inscreve-se fazendo um furo na combinatória<br />
significante, ou seja, como uma falta. O tropeço, a fenda, a <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong>. Foi com<br />
eles que Freud se <strong>de</strong>parou no discurso <strong>de</strong> seus pacientes, através dos sonhos, dos atos<br />
falhos, dos chistes e dos sintomas. A partir <strong>de</strong>sta hiância, o que se produz se apresenta<br />
como um achado <strong>de</strong> valor único, surpreen<strong>de</strong>nte. Por estas formações ele fica atraído,<br />
imantado, e nelas vai buscar o inconsciente. É como um corte, uma lacuna, um<br />
<strong>de</strong>sfalecimento, que o inconsciente se inscreve - é o momento <strong>de</strong> abertura. Mas isto<br />
que se produziu como um achado, <strong>em</strong> seguida escapa novamente. Como diz Lacan:<br />
“Para me <strong>de</strong>ixar levar por uma metáfora, Eurídice duas vezes perdida, esta é a<br />
imag<strong>em</strong> mais sensível que po<strong>de</strong>ríamos dar, no mito, do que é a relação do Orfeu<br />
analista com o inconsciente”. 346 Isto quer dizer que o inconsciente se abre, produz um<br />
efeito <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> para o analisante, e num ponto do enunciado volta a se fechar. É a<br />
estrutura t<strong>em</strong>poral na qual se inscreve, numa pulsação entre abertura e fechamento.<br />
Esta é a pulsação <strong>em</strong> eclipse do sujeito, que surge nas formações do inconsciente.<br />
343 S. Freud, “La escisión <strong>de</strong>l yo en el proceso <strong>de</strong>fensivo”, Obras Completas, vol.XXIII, p.276.<br />
344 S. Freud. “Psicopatología <strong>de</strong> la vida cotidiana”, Obras Completas, vol. VI, p.7.<br />
345 J. Lacan, “O inconsciente freudiano e o nosso”, O s<strong>em</strong>inário, livro XI, p. 29.<br />
142