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Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...

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salvado”. 321 Até aí já surgiram as palavras Bósnia, Herzegovina e Herr, que se<br />

interpõ<strong>em</strong> numa série associativa com os fragmentos Signor(elli), Bo <strong>de</strong> Boltrafio e<br />

Botticelli e Her(zegovina). O que Freud não revelou ao companheiro foi que estes<br />

turcos valorizam muito o gozo sexual, e que teriam dito ainda a seu colega médico:<br />

“Sabe Herr, quando isto já não funcione, a vida per<strong>de</strong>rá todo valor”. Freud afirma que<br />

sufocou a informação por não querer tocar neste “<strong>de</strong>licado t<strong>em</strong>a”. 322 No entanto, havia<br />

mais um motivo que o <strong>de</strong>sviava e ao mesmo t<strong>em</strong>po o aproximava do t<strong>em</strong>a “morte e<br />

sexualida<strong>de</strong>”; um paciente seu que lhe importava muito e morava <strong>em</strong> Trafoi, uma<br />

al<strong>de</strong>ia do Tirol, se havia suicidado por causa <strong>de</strong> uma perturbação sexual incurável.<br />

Durante a viag<strong>em</strong> à Herzegovina, <strong>em</strong> nenhum momento lhe veio à consciência este<br />

triste acontecimento. O significante Trafoi, recalcado, retornou <strong>em</strong> Boltrafio. Conclui<br />

este capítulo sobre o esquecimento <strong>de</strong> nomes próprios afirmando, o que para a época<br />

era novo, que “junto ao simples esquecimento <strong>de</strong> nomes próprios, se apresenta<br />

também um esquecimento que está motivado por repressão”. 323 Lacan, retomando este<br />

clássico ex<strong>em</strong>plo, dirá que v<strong>em</strong>os<br />

surgir do texto mesmo, e se impor, não a metáfora, mas a realida<strong>de</strong> do<br />

<strong>de</strong>saparecimento, da supressão, da Unterdrückung, da passag<strong>em</strong> por baixo. A<br />

palavra Signor, Herr, passa por baixo – o senhor absoluto, eu disse uma vez, a<br />

morte, para dizer tudo, <strong>de</strong>saparece ali”. 324<br />

A outra crônica a que nos referimos, O dom da voz, nos brinda com um<br />

esquecimento <strong>de</strong> nome próprio, que não é qualquer um, mostrando o espanto<br />

provocado pelo lapso. Inicia a crônica tecendo críticas à oratória, à arte <strong>de</strong> fazer<br />

discursos, ao dom da voz. Segundo os cursos <strong>de</strong> oratória, saber falar <strong>em</strong> público<br />

“permite convencer os outros e aumenta a confiança <strong>em</strong> nós mesmos”, escreve <strong>Mário</strong><br />

<strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>. E é disso mesmo que ele se lamenta, ao rel<strong>em</strong>brar o fato com ele<br />

sucedido <strong>em</strong> sua viag<strong>em</strong> à Amazônia. Conta que, acompanhado por D. Olívia Gue<strong>de</strong>s<br />

Penteado, chamada naquela região <strong>de</strong> “rainha do café”, a conhecida mecenas das artes<br />

<strong>em</strong> São Paulo, teriam participado <strong>de</strong> um almoço na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Belém, com a presença<br />

<strong>de</strong> alguns políticos ilustres.<br />

321 S. Freud, “Psicopatología <strong>de</strong> la vida cotidiana”, Obras completas, vol. VI, p.11.<br />

322 Id<strong>em</strong>, ibid<strong>em</strong>.<br />

323 Id<strong>em</strong>, p.15.<br />

324 J. Lacan, “Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise”, O s<strong>em</strong>inário, livro 11, p.31.<br />

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