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Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...

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<strong>de</strong> uma função específica, limita-se a impor leis estruturais a el<strong>em</strong>entos<br />

<strong>de</strong>sarticulados”. 313<br />

Tal ponto <strong>de</strong> vista, absolutamente original, do inconsciente, impõe uma distinção<br />

entre o que é da ord<strong>em</strong> simbólica e o que seria próprio à dimensão do imaginário.<br />

Em O banquete <strong>de</strong> <strong>Mário</strong> <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, a personag<strong>em</strong> Siomara Ponga, numa<br />

discussão sobre o verso livre, diz não gostar <strong>de</strong> falar <strong>em</strong> subconsciente, pois <strong>de</strong>le se<br />

fez uso abusivo. Apesar da crítica ao uso do termo, a personag<strong>em</strong> acaba utilizando-o<br />

para se referir à “espontaneida<strong>de</strong> para-lógica” dos estados <strong>de</strong> poesia livres da<br />

consciência, que “exig<strong>em</strong> a não pre<strong>de</strong>terminação métrica pra se valorizar<br />

esteticamente”. Como já registramos <strong>em</strong> outro capítulo, nos anos 40, e aqui n’ O<br />

banquete, <strong>Mário</strong> já estava mais crítico <strong>em</strong> relação à psicanálise e à própria experiência<br />

dos mo<strong>de</strong>rnistas com o “subconsciente”. No artigo “A volta do condor”, o autor <strong>de</strong><br />

Macunaíma, ao comentar a poesia <strong>de</strong> Augusto Fre<strong>de</strong>rico Schmidt, afirma que ele<br />

solucionou as suas idiossincrasias e tendências pessoais por meio da sua poesia e que,<br />

nisto, não po<strong>de</strong>ria ter existido s<strong>em</strong> a antecedência dos mo<strong>de</strong>rnistas. Diz, então,<br />

estabelecendo uma distância crítica com relação a certas experiências:<br />

Os chamados ‘mo<strong>de</strong>rnistas’ foram os primeiros, no Brasil, a se utilizar<strong>em</strong> do<br />

subconsciente <strong>em</strong> sua poesia (...). Ao invés das escolas anteriores, não só se<br />

preocuparam <strong>de</strong> mudar os processos psicológicos, estéticos e técnicos <strong>de</strong><br />

‘fazer’ poesia, como especialmente <strong>em</strong> saber o que é poesia (...). Ora os<br />

mo<strong>de</strong>rnistas, vítimas <strong>de</strong> suas próprias ou <strong>de</strong> alheias teorizações necessárias, se<br />

aplicaram muito mais a pesquisar sobre o subconsciente <strong>em</strong> experiências<br />

múltiplas, fazendo assim, muitas vezes, uma poesia que, <strong>em</strong>bora <strong>de</strong> muita<br />

essencialida<strong>de</strong> poética, era <strong>em</strong> especial uma exploração <strong>de</strong>scritiva, crítica e até<br />

mesmo científica da subconsciência. É incontestável que <strong>em</strong> vários dos seus<br />

aspectos e obras, a poesia mo<strong>de</strong>rnista do Brasil e do mundo não passa <strong>de</strong> uma<br />

verificação experimental do subconsciente. 314<br />

Atos Falhos<br />

Com a noção <strong>de</strong> subconsciente, <strong>Mário</strong> estava mais próximo das teorias<br />

psicológicas que não cont<strong>em</strong>plavam o inconsciente, tal como possibilitou o caminho<br />

aberto por Freud. Por sua vez, nas crônicas “O dom da voz” (1939) e “Na sombra do<br />

313 C. Lévi-Strauss, “ La eficacia simbólica”, Antropología Estructural, p. 184.<br />

314 M. <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, “A volta do condor” (1940-41), Aspectos da literatura brasileira, p. 143.<br />

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