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Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...

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(1895). Já <strong>em</strong> A interpretação dos sonhos (1900), Freud alerta para o uso dos termos<br />

subconsciência e supraconsciência, tão ao gosto da literatura da época sobre as<br />

psiconeuroses, na medida <strong>em</strong> que esta distinção insistiria na equivalência entre<br />

psiquismo e consciência. Nesta direção, no artigo sobre a análise leiga <strong>de</strong> 1926, o<br />

psicanalista afirma:<br />

Quando alguém fala <strong>de</strong> subconsciência, não sei se a enten<strong>de</strong> no sentido tópico:<br />

algo que se encontra por <strong>de</strong>baixo da consciência, ou no sentido qualitativo:<br />

outra consciência, subterrânea por assim dizê-lo. É provável que n<strong>em</strong> ele<br />

mesmo tenha uma idéia clara. A única oposição admissível é aquela existente<br />

entre consciente e inconsciente. 308<br />

A rejeição freudiana da palavra subconsciente <strong>de</strong>ve-se ao fato <strong>de</strong> que ten<strong>de</strong> a sugerir a<br />

idéia <strong>de</strong> uma segunda consciência, <strong>de</strong> uma linha <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> entre os processos <strong>de</strong><br />

ambos os registros. Somente o termo inconsciente pareceria indicar com a negação<br />

que contém a separação tópica dos territórios e a diferença qualitativa dos seus<br />

processos. 309 <strong>Mário</strong> <strong>de</strong>ve ter retido o uso do termo, a partir das suas leituras <strong>de</strong><br />

psicologia, como as <strong>de</strong> Ribot e Janet, assim como da leitura indireta <strong>de</strong> Freud, como<br />

po<strong>de</strong> ser verificado <strong>em</strong> Psychanalyse <strong>de</strong> l’art <strong>de</strong> Charles Baudouin.<br />

Elisa Kossovitch, <strong>em</strong> <strong>Mário</strong> <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> plural, ao referir-se à obra A escrava<br />

que não é Isaura, e ao trecho do “Prefácio” no qual é citado Ribot, atentará para o fato<br />

<strong>de</strong> que o subconsciente, ao enviar mensagens traduzíveis para a consciência, através<br />

<strong>de</strong> telegrama cifrado, não é opaco a esta. A consciência formadora, através da vonta<strong>de</strong><br />

or<strong>de</strong>nadora, elabora o material poético provindo do subconsciente. Segundo a autora,<br />

<strong>em</strong> A escrava “o subconsciente constitui-se como núcleo energético, transformador <strong>de</strong><br />

intensida<strong>de</strong>s, e como profundida<strong>de</strong>”, enquanto a vonta<strong>de</strong> exprime energia não<br />

profunda. Neste sentido, <strong>Mário</strong> <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, no que concerne à criação, ao relacionar<br />

o subconsciente (profundo) com a vonta<strong>de</strong> (superficial, intencional), encontrar-se-ia<br />

mais próximo <strong>de</strong> Ribot do que <strong>de</strong> Freud. Em A escrava que não é Isaura, o autor<br />

<strong>de</strong>staca ser subconsciente a inspiração, e não a criação, que é <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> um<br />

esforço <strong>de</strong> atenção e vonta<strong>de</strong>, “<strong>em</strong>bora a atenção para o poeta mo<strong>de</strong>rnista se sujeite<br />

curiosa ao borboletear do subconsciente – asa trépida que se <strong>de</strong>ixa levar pelas brisas<br />

das associações”. 310 Parece-nos que, no momento vanguardista <strong>de</strong> sua produção<br />

308 S. Freud. “Pue<strong>de</strong>n los legos ejercer el análisis?”. Obras Completas, vol. XX, p.185<br />

309 Cf J. Laplanche e J. B. Pontalis, Diccionario <strong>de</strong> Psicoanálisis, pp. 434-435.<br />

310 M. <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, “A Escrava que não é Isaura”, Obra imatura, p.243.<br />

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