Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...
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loucos <strong>de</strong> Febrônio, na contra-mão das significações, dos i<strong>de</strong>ais <strong>de</strong> um Estado<br />
mo<strong>de</strong>rno, higienizador, trabalham como a pulsão <strong>de</strong> morte, silenciadora, <strong>de</strong>struidora.<br />
Jacques Derrida, retomando a pulsão <strong>de</strong> morte como o além do princípio do prazer,<br />
<strong>de</strong>stacado por Freud nos anos 20, a situa na “aneconomia psíquica” como a “parte<br />
maldita <strong>de</strong>sta <strong>de</strong>spesa <strong>em</strong> pura perda”. O mal-estar que introduz a pulsão <strong>de</strong> morte<br />
resi<strong>de</strong> no fato <strong>de</strong> que ela é <strong>de</strong>struidora do arquivo, arquiviolítica, ameaçando “todo<br />
<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> arquivo”. O arquivo não coinci<strong>de</strong> com a m<strong>em</strong>ória espontânea como mn<strong>em</strong>e<br />
ou anamnesis, mas com uma hipomnesis, um lugar exterior <strong>de</strong> acumulação e<br />
capitalização da m<strong>em</strong>ória. A pulsão <strong>de</strong> morte, enquanto um mal <strong>de</strong> arquivo,<br />
leva não somente ao esquecimento, à amnésia, à aniquilação da m<strong>em</strong>ória como<br />
mn<strong>em</strong>e ou anamnesis, mas comanda também o apagamento radical (...)<br />
daquilo que não se reduz jamais à mn<strong>em</strong>e ou à anamnesis; a saber, o arquivo, a<br />
consignação, o dispositivo documental ou monumental como hipomn<strong>em</strong>a,<br />
supl<strong>em</strong>ento ou representante mn<strong>em</strong>otécnico, auxiliar ou m<strong>em</strong>ento. 276<br />
Jorge Al<strong>em</strong>án sublinha que a experiência que Freud nos transmitiu com<br />
relação aos i<strong>de</strong>ais da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> foi a <strong>de</strong> uma crítica severa a várias <strong>de</strong>ntre as suas<br />
categorias, como a metafísica da <strong>em</strong>ancipação e o advento <strong>de</strong> um hom<strong>em</strong> novo. O<br />
pensamento <strong>de</strong> Freud é “o pensamento da marca e do retorno, e não o do progresso<br />
<strong>em</strong> direção a um objetivo superior”. Ao “hom<strong>em</strong> novo”, opôs “a permanência do<br />
resto, a in<strong>de</strong>strutibilida<strong>de</strong> da marca, o retorno do trabalho da pulsão”. 277<br />
Psicose e escritura<br />
Como nos anos vinte e trinta a psicose ainda era pensada <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> déficit,<br />
tornava-se impossível reconhecer que nela houvesse algum po<strong>de</strong>r criador ou “valor<br />
espiritual positivo”, nos l<strong>em</strong>bra Alain Grosrichard. 278 O médico Jacques Lacan,<br />
diferenciando-se do pensamento psiquiátrico vigente na época, assinala a fecundida<strong>de</strong><br />
das produções plásticas e poéticas <strong>de</strong> sujeitos psicóticos. Mesmo estando presentes os<br />
t<strong>em</strong>as i<strong>de</strong>acionais e significativos do <strong>de</strong>lírio <strong>de</strong>sses sujeitos nas suas produções, os<br />
276 J. Derrida, Mal <strong>de</strong> arquivo – Uma impressão freudiana, p. 22.<br />
277 J. Al<strong>em</strong>án, Introdução à anti-filosofia, p.26. Freud, <strong>em</strong> “O mal-estar na civilização”, argumenta:<br />
“tiv<strong>em</strong>os o cuidado <strong>de</strong> não concordar com o preconceito <strong>de</strong> que civilização é sinônimo <strong>de</strong><br />
aperfeiçoamento, <strong>de</strong> que constitui a estrada para a perfeição, pré-or<strong>de</strong>nada para os homens”( Os<br />
pensadores, 1978, p.156).<br />
278 A. Grosrichard, “Preambulo”, La psicosis en el texto, p. 14.<br />
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