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Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...

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se no terreno da linguag<strong>em</strong> e dos seres falantes, pois “toda a loucura é vivida no<br />

registro do sentido”. Diz ainda o psicanalista, que “o fenômeno da loucura não é<br />

separável do probl<strong>em</strong>a da significação para o ser <strong>em</strong> geral, i. é, da linguag<strong>em</strong> para o<br />

hom<strong>em</strong>”. 260<br />

No referido escrito, Lacan, apesar <strong>de</strong> já ter uma teorização que implique a<br />

ord<strong>em</strong> simbólica, está <strong>de</strong>senvolvendo sua teoria do imaginário. Assim, ao referir-se ao<br />

“<strong>de</strong>sconhecimento essencial da loucura”, enten<strong>de</strong>-se que se trata da função <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sconhecimento do eu, sua ilusão <strong>de</strong> autonomia, evi<strong>de</strong>nciada no famoso estágio do<br />

espelho. 261 A criança, com seu corpo claudicante caracterizado pela imaturida<strong>de</strong> do<br />

sist<strong>em</strong>a nervoso, ao olhar para a imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> unida<strong>de</strong> corporal refletida pelo espelho,<br />

reconhece tal imag<strong>em</strong> como sua. É o primeiro esboço do eu, i<strong>de</strong>ntificação inaugural a<br />

partir da assunção <strong>de</strong> uma imag<strong>em</strong> “momentânea e precária da mestria”, dirá Lacan.<br />

Mas é o olhar do Outro que, autentificando a <strong>de</strong>scoberta da criança, num gesto <strong>de</strong><br />

reconhecimento dirá: “sim, és tu, meu filho”. Havendo um hiato entre o sujeito que vê<br />

e a imag<strong>em</strong> refletida no espelho, é enquanto outro que ele se vê pela primeira vez e se<br />

reconhece. O transitivismo infantil test<strong>em</strong>unha a captação pela imag<strong>em</strong> do outro, a<br />

confusão entre o sujeito e o outro, reconhecendo-se aqui a instância do imaginário. Eis<br />

a alienação primordial, que faz com que o sujeito se creia um outro que ele não é.<br />

Deste modo, a estrutura geral do <strong>de</strong>sconhecimento se revela no <strong>de</strong>lírio do louco que se<br />

crê outro, levando-nos ao t<strong>em</strong>a das i<strong>de</strong>ntificações e dos i<strong>de</strong>ais. Para Lacan, “se um<br />

hom<strong>em</strong> que se acredita rei é louco, não o é menos um rei que se acredita rei”.<br />

Recorrendo ao ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> algumas personagens reais, sublinha a diferença entre<br />

<strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhar b<strong>em</strong> um papel e acreditar nisso efetivamente. Trata-se da mediação do<br />

Outro, dimensão simbólica do I<strong>de</strong>al, ou do imediatismo da i<strong>de</strong>ntificação, pura captura<br />

no imaginário, que Lacan qualifica como a enfatuação do sujeito. No segundo caso,<br />

diz ele, o sujeito presunçosamente “se acha”, como diz<strong>em</strong>os <strong>em</strong> português, ou il se<br />

croît, <strong>em</strong> francês. Rabinovich cita a fórmula geral da loucura <strong>em</strong> Hegel, aproximandoa<br />

da experiência articulada por Lacan neste escrito: “estase do ser <strong>em</strong> uma<br />

i<strong>de</strong>ntificação i<strong>de</strong>al”.<br />

259 D. Rabinovich. “Locura y psicoses en la enseñanza <strong>de</strong> Lacan”, La angustia y el <strong>de</strong>seo <strong>de</strong>l Outro, p.<br />

122.<br />

260 J. Lacan, “Formulações sobre a causalida<strong>de</strong> psíquica”, Escritos, p.166.<br />

261 Ver: “O estádio do espelho como formador da função do eu” (1949), Escritos, pp. 96-103.<br />

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