26.02.2014 Views

Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...

Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...

Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

uma operação <strong>de</strong> substituição metafórica, no qual um significante fica reprimido; na<br />

psicose, por sua vez, há uma falta radical <strong>de</strong> um significante, o nome-do-pai,<br />

produzindo ali uma falha, um buraco no campo simbólico. No âmbito do Outro, diz<br />

Lacan, o nome-do-pai é um significante essencial, pois que promulga a lei, autoriza o<br />

texto da lei. É o nome-do-pai o significante metafórico que v<strong>em</strong> a substituir o <strong>de</strong>sejo<br />

da mãe, que permite ao sujeito ace<strong>de</strong>r à significação fálica. A ausência <strong>de</strong> significação<br />

fálica é correlativa, no imaginário, da falta no simbólico, <strong>de</strong>ixando o sujeito<br />

fundamentalmente inseguro quanto ao seu sexo. Em momentos especiais da vida, nos<br />

quais este significante da lei seria convocado, como a assunção pelo sujeito <strong>de</strong> um<br />

posto importante, a maternida<strong>de</strong> ou paternida<strong>de</strong>, o casamento, etc., po<strong>de</strong>ria se dar,<br />

como <strong>em</strong> Schreber, o <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>amento da psicose. O sujeito se encontra aí<br />

absolutamente <strong>de</strong>sarmado, frente a alguma coisa que não havia sido previamente<br />

simbolizada, não po<strong>de</strong>ndo respon<strong>de</strong>r com um sintoma neurótico, por não se tratar do<br />

retorno do reprimido.<br />

Tal falha simbólica traz consigo, também, efeitos ao nível do gozo,<br />

centralmente no tocante ao efeito castração, que na neurose é responsável por uma<br />

subtração da satisfação pulsional. Em contrapartida, na psicose, aparec<strong>em</strong> fenômenos<br />

<strong>de</strong> excesso <strong>de</strong> gozo, experimentados num gozo invasivo, <strong>de</strong>sregulado, que po<strong>de</strong> surgir<br />

<strong>em</strong> sua face <strong>de</strong>strutiva ou como volúpia consentida. No primeiro caso, t<strong>em</strong>os os<br />

fenômenos <strong>de</strong> mortificação do corpo, que aparec<strong>em</strong> tanto <strong>em</strong> Schreber quanto <strong>em</strong><br />

Febrônio, como sensações <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição <strong>de</strong> órgãos e <strong>de</strong>spedaçamento corporal.<br />

Ilustra-se o segundo caso com o relato <strong>de</strong> Schreber <strong>de</strong> sua transformação <strong>em</strong> mulher, a<br />

volúpia experimentada na sua atitu<strong>de</strong> f<strong>em</strong>inina para com Deus “que exige um estado<br />

constante <strong>de</strong> prazer”.<br />

No artigo já referido <strong>de</strong> Freud, este caracteriza a projeção como um<br />

mecanismo básico da paranóia, aqui entendida, fundamentalmente, como “aquilo que<br />

foi internamente abolido [e] retorna <strong>de</strong>s<strong>de</strong> fora”. É inevitável a aproximação com o<br />

princípio básico lacaniano <strong>de</strong> que “tudo o que é recusado na ord<strong>em</strong> simbólica, no<br />

sentido da Verwerfung, reaparece no real”. 256 Isso que o sujeito jamais integrou à<br />

ca<strong>de</strong>ia simbólica irrompe no fenômeno psicótico das alucinações auditivas, por<br />

ex<strong>em</strong>plo, sob a forma <strong>de</strong> uma voz imperativa que lhe v<strong>em</strong> <strong>de</strong> fora, exigindo atitu<strong>de</strong>s e<br />

mesmo, e pelo fato <strong>de</strong> que tudo isso que está sendo discutido é muito novo, escolhi trabalhar, neste<br />

momento, com a teoria da forclusão do nome-do-pai.<br />

256 J. Lacan, As psicoses - O S<strong>em</strong>inário, livro III, p. 21.<br />

107

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!