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Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...

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particulares, manchas. A <strong>de</strong>scrição do exame físico <strong>de</strong> Febrônio <strong>de</strong>stacava a sua<br />

ginecomastia, a bacia larga e a presença das tatuagens, “l<strong>em</strong>brando o tipo f<strong>em</strong>inino”,<br />

<strong>de</strong> acordo com a tipologia <strong>de</strong> Kretschmer. Sugeria-se <strong>de</strong>ste modo, que a<br />

homossexualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Febrônio teria fundamentos biológicos.<br />

Se por um lado Cendrars busca dar simbolismo aos atos <strong>de</strong> Febrônio, vendo<br />

nele uma espécie <strong>de</strong> primitivo submetido à civilização mo<strong>de</strong>rna, uma alma <strong>de</strong>sgarrada<br />

<strong>de</strong> suas tradições, por outro lado, informado pelas teorias médico-psiquiátricas da<br />

época, no ensaio sobre Febrônio, invoca os signos corporais da loucura :<br />

esse sádico <strong>de</strong>sumano não trazia nenhuma marca exterior <strong>de</strong> bestialida<strong>de</strong>,<br />

nenhum indício <strong>de</strong> tara, a não ser, talvez, o lóbulo da orelha esquerda que era<br />

a<strong>de</strong>rente, e talvez ainda seus <strong>de</strong>ntes cariados, o que é muito repugnante num<br />

negro e que tornava sua boca irr<strong>em</strong>ediavelmente murcha, obscena.. 243<br />

Às vezes, pelo contrário, podia enxergar <strong>em</strong> Febrônio uma certa candura, alguma<br />

ingenuida<strong>de</strong>.<br />

Observando as suas maneiras <strong>de</strong> gato, os seus gestos ágeis (...), o seu sorriso,<br />

que a uma palavra vinha iluminar ingenuamente o seu rosto e clarear aquilo<br />

que seus olhos tinham <strong>de</strong> tristes d<strong>em</strong>ais, <strong>de</strong> profundo d<strong>em</strong>ais, <strong>de</strong> negro d<strong>em</strong>ais,<br />

como acreditar que eu me encontrava cara a cara com um louco<br />

sanguinário...? 244<br />

Na verda<strong>de</strong>, parece que Blaise traduzia seu espanto <strong>de</strong> estar frente a frente com o<br />

“maníaco sanguinário” que conhecera através dos jornais e, apesar disso, não<br />

encontrar nele nenhum vestígio <strong>de</strong> seus crimes e seu comportamento assassino.<br />

243 B. Cendrars, op. cit., p. 168.<br />

244 Id<strong>em</strong>, ibid<strong>em</strong>.<br />

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