Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...
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automatismo da repetição. Através <strong>de</strong>sse olhar, talvez se pu<strong>de</strong>sse reunir o<br />
comportamento doido <strong>de</strong> Juca com o <strong>de</strong>svairismo <strong>de</strong> Paulicéia.<br />
Contextualizando: <strong>Mário</strong>, Febrônio, Blaise, etc., etc.<br />
Não <strong>de</strong>ve ser por acaso que <strong>Mário</strong> possuía <strong>em</strong> sua biblioteca um ex<strong>em</strong>plar <strong>de</strong><br />
um livro impresso numa tipografia <strong>de</strong> bairro, custeado pelo próprio autor, intitulado<br />
As revelações do príncipe do fogo <strong>de</strong> Febrônio Índio do Brasil. 223 Este ficou famoso<br />
na década <strong>de</strong> 20 pelos crimes que cometeu e pelas suas características: arrancava os<br />
<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> suas vítimas e as tatuava com um sinal cabalístico. Os jornais da época<br />
trataram do caso durante vários meses, tornando a figura <strong>de</strong> Febrônio conhecida por<br />
todo o país e apavorando muita gente; alguns pais ameaçavam as crianças<br />
<strong>de</strong>sobedientes dizendo: “cuidado que o Febrônio v<strong>em</strong> te pegar!”. Chegou a ser t<strong>em</strong>a<br />
<strong>de</strong> músicas <strong>de</strong> carnaval entre 1928 e 1935. 224<br />
Em 1930, o psiquiatra Durval Marcon<strong>de</strong>s, pioneiro da prática psicanalítica no<br />
Brasil, publica dois artigos no Boletim da Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina e Cirurgia <strong>de</strong> São<br />
Paulo que versavam, respectivamente, sobre dois casos clínicos <strong>de</strong> pacientes<br />
submetidos ao método psicanalítico. Na transcrição <strong>de</strong> trecho da fala <strong>de</strong> um dos<br />
pacientes surge o nome <strong>de</strong> Febrônio ligado a uma fantasia <strong>de</strong> violação sexual e a uma<br />
comparação: “Se não tivesse educação e cultura, talvez eu fosse um Febrônio ou um<br />
Amaral”. 225<br />
Além <strong>de</strong> <strong>Mário</strong> <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, outro mo<strong>de</strong>rnista se interessou por Febrônio, o<br />
poeta francês Blaise Cendrars, que já havia <strong>de</strong>scoberto o Brasil com seus amigos<br />
mo<strong>de</strong>rnistas. Numa <strong>de</strong> suas vindas ao país, visita o t<strong>em</strong>ido assassino na penitenciária<br />
223 Além dos livros já citados sobre psicologia e psicanálise, <strong>Mário</strong> acompanhava as publicações <strong>de</strong><br />
artigos <strong>de</strong> psiquiatras brasileiros. Havia também na sua biblioteca obras que tratavam mais diretamente<br />
do t<strong>em</strong>a da loucura, como Poésie et folie: essai <strong>de</strong> psychologie et critique <strong>de</strong> A. Anteaume (1908),<br />
Estudos <strong>de</strong> psicanálise (1931) e Primitivo e loucura (1926) <strong>de</strong> Artur Ramos, todos com anotações<br />
marginais.<br />
224 Catálogo da exposição BRASIL – Psicanálise e mo<strong>de</strong>rnismo. Museu <strong>de</strong> arte <strong>de</strong> São Paulo Assis<br />
Chateaubriand. São Paulo, 2000. Eis uma das letras <strong>de</strong> música <strong>de</strong> carnaval: “Eu fui no mato/ crioula!/<br />
buscar cipó/ crioula!/ Eu vi um bicho/ crioula!/ d’um olho só!// Não era bicho,/ não era nada/ era o<br />
Febrônio/ <strong>de</strong> calças largas...”. O nome <strong>de</strong> Febrônio aparece citado pelos escritores brasileiros Alcântra<br />
Machado, Aníbal Machado, Pedro Nava, Rub<strong>em</strong> Fonseca e Ruy Castro. Sobre ele, foi também<br />
realizado um curta metrag<strong>em</strong>, na década <strong>de</strong> 80, “O príncipe do fogo” <strong>de</strong> Silvio Da-Rin. (Cf Gláucia<br />
Soares Bastos. Como se escreve Febrônio, dissertação <strong>de</strong> mestrado, UNICAMP, 1994).<br />
225 R. Sagawa, Os inconscientes no divã da história, dissertação <strong>de</strong> mestrado, UNICAMP, 1989. Os<br />
artigos referidos <strong>de</strong> Durval Marcon<strong>de</strong>s são: “A therapeutica psychanalytica da impotência sexual” e<br />
“Sobre a ejaculação precoce”, ambos publicados no volume XIV, números 4 e 10 respectivamente.<br />
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