Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...
Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...
Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
econhecendo o valor e a originalida<strong>de</strong> da psicanálise, e diferenciando-a da psicologia<br />
que consi<strong>de</strong>rava os atos falhos como “aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>sprovidos <strong>de</strong> significação”.<br />
Cedo se fez sentir no Brasil a presença da psicanálise nos meios intelectuais,<br />
atentos ao que se passava do outro lado do Atlântico. Como nos diz Antonio Candido,<br />
os nossos mo<strong>de</strong>rnistas se informaram pois rapidamente da arte européia <strong>de</strong><br />
vanguarda, apren<strong>de</strong>ram a psicanálise e plasmaram um tipo ao mesmo t<strong>em</strong>po<br />
local e universal <strong>de</strong> expressão, reencontrando a influência européia por um<br />
mergulho no <strong>de</strong>talhe brasileiro. 2<br />
Ao lado da plena liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> criação, da valorização do cotidiano e do mecânico,<br />
contra a poesia metrificada e seus velhos recursos, está a valorização do inconsciente,<br />
lugar do “primitivo, nativo, geográfico e telúrico” 3 . Não se tratava <strong>de</strong> uma mera<br />
importação atrasada <strong>de</strong> modas estrangeiras, ainda que esse aspecto possa estar<br />
presente <strong>em</strong> alguns casos, mas <strong>de</strong> uma reivenção própria das teorias e tendências<br />
surgidas na Europa. A psicanálise é interpretada, fagocitada, a partir <strong>de</strong> recortes<br />
locais, das peculiarida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> nosso mo<strong>de</strong>rnismo e das singulares leituras dos seus<br />
a<strong>de</strong>ptos. Foi uma época, segundo Candido, <strong>em</strong> que o Brasil esteve sincronizado com a<br />
Europa <strong>em</strong> vários aspectos, fundamentalmente pela força artística recriadora do<br />
mo<strong>de</strong>rnismo brasileiro. A teoria psicanalítica configurava-se como uma fonte fecunda<br />
<strong>de</strong> informações que vinha ao encontro dos i<strong>de</strong>ais estéticos do movimento,<br />
possibilitando um novo olhar sobre o processo <strong>de</strong> criação artística e os conflitos<br />
psicológicos das personagens, além <strong>de</strong> prover uma nova ferramenta à crítica literária.<br />
Além disso, <strong>de</strong> acordo com a psicanalista Marialzira Perestrello,<br />
nos anos 20, quando <strong>em</strong> nossa terra fervilhavam idéias <strong>de</strong> renovação; quando<br />
se <strong>de</strong>u a S<strong>em</strong>ana <strong>de</strong> Arte Mo<strong>de</strong>rna (1922); quando houve a fundação <strong>de</strong><br />
algumas revistas <strong>de</strong> cunho mo<strong>de</strong>rnista; quando a atmosfera era <strong>de</strong> certa<br />
2 A. Candido, Literatura e socieda<strong>de</strong>, p. 111-112<br />
3 O. <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, “Informe sobre o mo<strong>de</strong>rnismo”, Estética e política, Obras completas, p. 99. Oswald<br />
<strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, no “Manifesto Antropófágo”, cita Freud <strong>em</strong> momentos como este: “Contra a realida<strong>de</strong><br />
social, vestida e opressora, cadastrada por Freud – a realida<strong>de</strong> s<strong>em</strong> complexos, s<strong>em</strong> loucura, s<strong>em</strong><br />
prostituições e s<strong>em</strong> penitenciárias do matriarcado <strong>de</strong> Pindorama” ( Do pau Brasil à antropofagia e às<br />
utopias, Obras completas, p. 19) . Numa resenha <strong>de</strong> 1929 sobre o livro <strong>de</strong> Paulo Prado Retrato do<br />
Brasil (1928), no qual este se reporta às livres relações sexuais na América portuguesa, con<strong>de</strong>nando o<br />
“pecado sexual”, Oswald qualifica o livro <strong>de</strong> “pré-freudiano”. No ano <strong>de</strong> 1938, participará do I<br />
Congresso paulista <strong>de</strong> Psiquatria e Psicologia, apresentando uma “Análise <strong>de</strong> dois tipos <strong>de</strong> ficção”,<br />
referindo-se à neurose, esquizofrenia e paranóia dos personagens, e lançando mão <strong>de</strong> símbolos<br />
freudianos.<br />
3