Trabalhando com Mulheres Jovens: Empoderamento ... - Promundo
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Histórico e culturalmente associamos<br />
a imagem da mulher a de mãe, <strong>com</strong>o<br />
se as duas coisas fossem naturalmente<br />
inseparáveis. É <strong>com</strong>um inclusive ouvir<br />
a frase “uma mulher sem filhos é <strong>com</strong>o<br />
uma árvore sem frutos”, fazendo analogia<br />
a uma função biológica que necessita ser<br />
assumida. Ao brincarem <strong>com</strong> bonecas<br />
na infância, por exemplo, as mulheres já<br />
“ensaiam” suas funções de mãe e cuidadora,<br />
contribuindo para o reforço desse<br />
modelo e a construção dessas expectativas.<br />
No entanto, nem toda mulher deseja<br />
ser mãe, nem necessariamente terá filhos,<br />
ainda que estejam preservadas todas as<br />
suas capacidades reprodutivas. A decisão<br />
pela maternidade, inclusive a época de ser<br />
mãe, precisa estar atrelada ao desejo de<br />
cada mulher e não às construções sociais<br />
sobre o que é ser mãe.<br />
Gravidez e maternidade na adolescência<br />
A despeito da crescente atenção, a gravidez na adolescência,<br />
ou seja, até os 19 anos, não é um fenômeno<br />
novo. O que tem acontecido nas últimas décadas, internacionalmente,<br />
é a classificação deste evento <strong>com</strong>o<br />
um problema social. Isto se deve a transformações em<br />
relação às expectativas e ao papel da mulher. Por muito<br />
tempo, a faixa etária que abriga o termo “gravidez na<br />
adolescência” foi considerada idade ideal para ter filhos.<br />
Com a inserção cada vez mais frequente da mulher no<br />
mercado de trabalho, uma maior preocupação <strong>com</strong> o<br />
nível educacional feminino e disponibilização de métodos<br />
contraceptivos (pílula, diafragma, camisinha) houve transformações<br />
no que se considera idade ideal para ter filhos.<br />
Neste contexto, a gravidez na adolescência passou a ser<br />
associada ao desperdício de oportunidades profissionais<br />
e de educação femininas.<br />
A preocupação atual <strong>com</strong> a gravidez na adolescência<br />
também se deve à criação do próprio conceito de<br />
adolescência que, principalmente a partir da segunda<br />
metade do século 20, foi classificada <strong>com</strong>o fase intermediária<br />
entre a infância e a vida adulta, em que ocorre<br />
o processo de maturação do corpo, <strong>com</strong> aumento dos<br />
pelos e mudanças hormonais. Esta nova classificação<br />
das fases de desenvolvimento humano, oriunda do processo<br />
de industrialização e aumento da especialização<br />
do mercado de trabalho, mudou a situação dos jovens.<br />
Apesar de possuírem todas as condições cognitivas e<br />
afetivas para a entrada no mundo adulto, devem se<br />
preparar melhor para adquirir sucesso na fase seguinte.<br />
Com isto, a passagem para a vida adulta tornou-se mais<br />
<strong>com</strong>plexa, aumenta-se o tempo de dependência dos<br />
pais e, conseqüentemente, o que se considera idade<br />
ideal para a reprodução.<br />
Com a classificação da adolescência <strong>com</strong>o uma fase<br />
de transição entre a infância e a vida adulta, ao adolescente<br />
foram atribuídas características tais <strong>com</strong>o, rebeldia<br />
e impulsividade sexual (Bock 2001). Com isto, muitas<br />
vezes, uma gravidez nesta fase é associada à irresponsabilidade,<br />
impulsividade, desestruturação familiar, falta<br />
de informação e pobreza.<br />
Uma gravidez na adolescência sem dúvida desencadeia<br />
fatores que representam um <strong>com</strong>prometimento<br />
individual <strong>com</strong> questões de diferentes ordens. Medo,<br />
insegurança, desespero, desorientação, solidão são reações<br />
muito <strong>com</strong>uns, principalmente no momento da<br />
descoberta da gravidez, em qualquer idade. No entanto,<br />
não se pode ter uma falsa idéia de que toda gravidez na<br />
adolescência seja sempre inconseqüente, desastrosa e<br />
indesejada. Isto é, lançar um olhar parcial e equivocado<br />
sobre a questão. Pode-se observar que muitas mulheres<br />
que engravidaram na adolescência fizeram-no porque<br />
desejavam um filho nesse período da vida. Além disso,<br />
embora a gravidez na adolescência possa trazer uma<br />
série de problemas para um projeto de desenvolvimento<br />
profissional, poucas são oportunidades de crescimento<br />
para aquelas jovens que vivem em <strong>com</strong>unidades de baixa<br />
renda. Não se pode negar ainda, os benefícios sociais e<br />
emocionais que essa maternidade pode gerar.<br />
Entretanto, as razões para uma gravidez na adolescência<br />
são variadas e <strong>com</strong>plexas. Tanto a gravidez pode ser<br />
fruto da vontade, principalmente entre jovens cujos planos<br />
não incluem formação educacional alta ou carreiras<br />
formais, quanto da falta de informação sobre sexualidade,<br />
saúde reprodutiva e métodos contraceptivos. Pode estar<br />
relacionada <strong>com</strong> aspectos <strong>com</strong>portamentais, <strong>com</strong>o a inabilidade,<br />
inibição, bem <strong>com</strong>o medo, questões de poder e<br />
outras razões que dificultam ou impedem a negociação<br />
do uso do preservativo <strong>com</strong> o seu parceiro.<br />
Não podemos esquecer que a contracepção e a<br />
prevenção das DST/AIDS não são responsabilidades<br />
apenas femininas: em um relacionamento, as decisões<br />
e a responsabilidade sobre a saúde sexual e reprodutiva<br />
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<strong>Trabalhando</strong> <strong>com</strong> <strong>Mulheres</strong> <strong>Jovens</strong>:<br />
<strong>Empoderamento</strong>, Cidadania e Saúde