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Tese de Mestrado<br />
Oscilação de Neutrinos no Formalismo de Pacotes de On<strong>da</strong><br />
por<br />
Fer<strong>na</strong>ndo Rossi Torres<br />
Orientador: Prof. Dr. Marcelo Moraes Guzzo<br />
Instituto de Física “Gleb Wataghin”<br />
Universi<strong>da</strong>de Estadual de Campi<strong>na</strong>s<br />
Julho 2006
RESUMO<br />
Em geral, estu<strong>da</strong>mos o fenômeno de oscilação de neutrinos através do formalismo<br />
de on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s, que consegue, com muito sucesso, tratar os casos dos neutrinos solares, de<br />
reatores e aceleradores. No entanto, uma descrição física mais <strong>completa</strong> deve considerar a<br />
interpretação do fenômeno oscilatório usando pacotes de on<strong>da</strong>. Neste trabalho, a<strong>na</strong>lisamos<br />
o formalismo <strong>da</strong>s on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s e dos pacotes de on<strong>da</strong> <strong>na</strong> oscilação, tanto no vácuo quanto<br />
<strong>na</strong> matéria. Calculamos os comprimentos de coerência e oscilação para discutir a<br />
necessi<strong>da</strong>de ou não <strong>da</strong> utilização de pacotes de on<strong>da</strong> para neutrinos solares, neutrinos de<br />
reatores e de aceleradores, neutrinos de supernovas e neutrinos de altíssima energia.<br />
Discutimos também o mecanismo de formação de supernovas e o papel dos<br />
neutrinos <strong>na</strong> dinâmica de sua evolução. Como t<strong>em</strong>os poucas informações sobre neutrinos<br />
de supernova, ape<strong>na</strong>s 11 eventos detectados por Kamiokande e 8 eventos pelo detector<br />
IMB, confrontamos o formalismo de on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s com o formalismo de pacotes de on<strong>da</strong><br />
para a oscilação de neutrinos dentro de uma supernova de 15 massas solares, com o intuito<br />
de saber a relevância dos pacotes de on<strong>da</strong> e verificar se este formalismo pode fornecer<br />
alguma informação adicio<strong>na</strong>l sobre a oscilação de neutrinos <strong>em</strong> supernovas..<br />
i
ABSTRACT<br />
Generally, we study neutrino oscillation phenomenon using the plane wave<br />
formalism, which successfully treats the solar neutrino case, the reactor and accelerator<br />
cases. However, a more complete description of neutrino oscillation must consider a wave<br />
packet approach. This work a<strong>na</strong>lyses both formalisms: the plane wave and the wave packet<br />
in vacuum and matter. We have calculated the oscillation and coherence length to discuss if<br />
wave packets are or are not necessary for solar neutrinos, reactor and accelerators<br />
neutrinos, supernova neutrinos and ultra-high energy neutrinos.<br />
We also have discussed the formation mechanism of supernova and the role of<br />
neutrinos in its evolution dy<strong>na</strong>mics. As we have little information about supernova<br />
neutrinos, only 11 events detected by Kamiokande and 8 events by IMB detector, we have<br />
confronted the plane wave formalism with the wave packet formalism of neutrino<br />
oscillation inside a supernova with 15 solar masses, because we desire to know the<br />
relevance of the wave packet treatment and verify if this formalism will provide any<br />
additio<strong>na</strong>l information about neutrino oscillation in supernova.<br />
ii
“A única razão para a existência do t<strong>em</strong>po é evitar que<br />
tudo aconteça de uma vez.”<br />
Albert Einstein<br />
iii
Dedicatória<br />
Dedico este trabalho a minha mãe Vera, modelo de pessoa, caráter e de raça, com<br />
qu<strong>em</strong> aprendi o valor <strong>da</strong> família e que s<strong>em</strong>pre foi minha principal incentivadora, nunca me<br />
deixando desistir e s<strong>em</strong>pre apoiando meus estudos e minha carreira profissio<strong>na</strong>l. Obrigado<br />
também pelos valiosos ensi<strong>na</strong>mentos sobre a vi<strong>da</strong>, sobre a moral e a ética e de, como<br />
superar, principalmente, as adversi<strong>da</strong>des nos momento mais difíceis.<br />
iv
Agradecimentos<br />
A CAPES, pelo apoio fi<strong>na</strong>nceiro e científico a este projeto.<br />
Ao professor Marcelo Guzzo, pela orientação e pela oportuni<strong>da</strong>de concedi<strong>da</strong> para o<br />
desenvolvimento deste projeto. Também ao professor Orlando Peres, por ter sido o<br />
professor responsável por me iniciar ao intrigante e estimulante universo dos neutrinos. Ao<br />
professor Ernesto K<strong>em</strong>p, pela colaboração e aju<strong>da</strong> ao meu trabalho.<br />
Ao Betão, eterno amigo, juntos desde a graduação, pelas diverti<strong>da</strong>s horas de almoço e pelo<br />
apoio. Aos colegas <strong>da</strong> graduação: Felipe, Emiliano, Danilo, Bruno e Lua<strong>na</strong>.<br />
Ao meu irmão Fábio pelos importantes conselhos e ensi<strong>na</strong>mentos sobre as alegrias e<br />
frustrações que a ciência pode proporcio<strong>na</strong>r.<br />
A Elaine, minha <strong>na</strong>mora<strong>da</strong>, pelo carinho, apoio constante e companheirismo.<br />
Ao Paulo, Mia e Bestetti pela amizade e pelas horas de di<strong>versão</strong>.<br />
À turma <strong>da</strong> sala 206 do DRCC, <strong>em</strong> especial ao Célio, ao Pedro e ao ex-m<strong>em</strong>bro Diego,<br />
pelas diverti<strong>da</strong>s horas compartilha<strong>da</strong>s e pelas discussões produtivas sobre a física dos<br />
neutrinos.<br />
Ao professor Tadeu, lá de Jundiaí, por ser uma <strong>da</strong>s minhas principais referência desde a<br />
minha infância.<br />
v
Índice<br />
Introdução................................................................................................................... 1<br />
Referências – Introdução............................................... ................................................. 4<br />
Capítulo 1<br />
Neutrinos no Vácuo..................................................................................................... 5<br />
1.1 On<strong>da</strong>s Pla<strong>na</strong>s de Neutrinos no Vácuo ................................................................ 6<br />
1.2 Pacotes de On<strong>da</strong> de Neutrinos no Vácuo............................................................ 8<br />
1.2.1. Tamanho dos pacotes de on<strong>da</strong> ................................................................. 10<br />
1.2.2. O formalismo de pacotes de on<strong>da</strong> no vácuo ............................................. 13<br />
1.3 Quando os neutrinos irão oscilar? .................................................................... 20<br />
1.4 O “Spreading” dos Pacotes de On<strong>da</strong> ................................................................ 24<br />
Referências - Capítulo 1.............................................................................................. 27<br />
Capítulo 2<br />
Neutrinos <strong>na</strong> Matéria................................................................................................ 29<br />
2.1 On<strong>da</strong>s Pla<strong>na</strong>s de Neutrinos <strong>na</strong> Matéria............................................................. 30<br />
2.1.1. Oscilação de Neutrinos <strong>na</strong> Matéria Uniforme.......................................... 30<br />
2.1.2. Neutrinos <strong>na</strong> Matéria não-uniforme......................................................... 32<br />
2.2 Pacotes de On<strong>da</strong> de Neutrinos <strong>na</strong> Matéria........................................................ 37<br />
Referências - Capítulo 2.............................................................................................. 40<br />
Capítulo 3<br />
As supernovas e os neutrinos.................................................................................... 42<br />
3.1 Evolução Pós-Sequência Principal................................................................... 43<br />
3.2 Colapso Gravitacio<strong>na</strong>l ..................................................................................... 47<br />
3.2.1. Neutronização ......................................................................................... 48<br />
3.2.2. Foto-dissociação ..................................................................................... 48<br />
3.2.3. Aniquilação dePares................................................................................ 49<br />
3.3 Dinâmica do Colapso ...................................................................................... 49<br />
3.4 Explosão ......................................................................................................... 50<br />
3.4.1. Aprisio<strong>na</strong>mento de neutrinos ................................................................... 50<br />
3.4.2. Transição de fase <strong>da</strong> matéria nuclear ...................................................... 51<br />
3.4.3. Explosão Imediata ................................................................................... 52<br />
3.4.4. Explosão Atrasa<strong>da</strong>................................................................................... 53<br />
3.5 Neutrinos de colapsos estelares........................................................................ 55<br />
3.6 SN1987A ........................................................................................................ 57<br />
Referências - Capítulo 3.............................................................................................. 61<br />
vi
Capítulo 4<br />
On<strong>da</strong>s Pla<strong>na</strong>s versus Pacotes de On<strong>da</strong>..................................................................... 63<br />
4.1 A densi<strong>da</strong>de eletrônica <strong>da</strong> supernova ............................................................... 63<br />
4.2 A análise <strong>da</strong> adiabatici<strong>da</strong>de <strong>na</strong> supernova ........................................................ 65<br />
4.3 Probabili<strong>da</strong>des................................................................................................. 67<br />
Referências - Capítulo 4.............................................................................................. 75<br />
Conclusões................................................................................................................. 76<br />
Apêndice-A................................................................................................................ 78<br />
Apêndice-B................................................................................................................ 81<br />
Apêndice-C................................................................................................................ 87<br />
Apêndice-D.............................................................................................................. 106<br />
vii
Lista de Tabelas<br />
Tabela 1.1: Tamanho dos Pacotes de On<strong>da</strong>......................................................................... .13<br />
Tabela 1.2: Tamanho dos Pacotes de On<strong>da</strong> no espaço dos momentos.................................19<br />
Tabela 1.3: Diferenças de Energia entre os autoestados de massa........................................20<br />
Tabela 1.4: Comprimento de coerência e oscilação para neutrinos solares,<br />
Reatores e aceleradores.........................................................................................................21<br />
Tabela 1.5: Comprimento de oscilação e coerência para neutrinos de altíssima energia.....22<br />
Tabela 1.6: Comprimento de coerência e oscilação para neutrinos de supernova................23<br />
Tabela 3.1: Energia e T<strong>em</strong>peratura para os neutrinos <strong>em</strong> Kamiokande-II e IMB................59<br />
Tabela 4.1: Valores <strong>da</strong>s densi<strong>da</strong>des eletrônicas para ressonância e<br />
parâmetros de oscilação........................................................................................................66<br />
viii
Lista de Figuras<br />
Figura 1.1: Comprimento de coerência e de oscilação <strong>em</strong> função <strong>da</strong> energia......................23<br />
Figura 1.2: Probabili<strong>da</strong>de de con<strong>versão</strong> no vácuo para neutrino de supernova....................24<br />
Figura 1.3: Desacoplamento e Alargamento dos Pacotes de On<strong>da</strong>......................................26<br />
Figura 1.4: O fenômeno de Desacoplamento conjunto ao Alargamento..............................26<br />
Figura 3.1: Combustão dos El<strong>em</strong>entos numa estrela de 25M.............................................45<br />
Figura 3.2: Energia de Ligação por nucleon.........................................................................45<br />
Figura 3.3: Perfil de densi<strong>da</strong>de de matéria e composição química de uma estrela de<br />
15 M....................................................................................................................................47<br />
Figura 3.4: Veloci<strong>da</strong>de de que<strong>da</strong> <strong>da</strong> matéria e veloci<strong>da</strong>de do som <strong>em</strong> função do raio.........50<br />
Figura 3.5: Luminosi<strong>da</strong>de dos neutrinos...............................................................................57<br />
Figura 3.6: Seqüência t<strong>em</strong>poral e energia dos eventos de SN1987A <strong>em</strong><br />
Kamiokande-II e IMB...........................................................................................................58<br />
Figura 4.1: Densi<strong>da</strong>de eletrônica <strong>em</strong> função do raio <strong>da</strong> supernova......................................64<br />
Figura 4.2: Probabili<strong>da</strong>de de sobrevivência (caso solar, neutrinos com 5 MeV)..................67<br />
Figura 4.3: Comprimento de Coerência e Oscilação<br />
(caso solar, neutrinos com 5 MeV).......................................................................................68<br />
Figura 4.4: Probabili<strong>da</strong>de de sobrevivência (caso solar, neutrinos com 40 MeV)................69<br />
Figura 4.5: Comprimento de Coerência e Oscilação<br />
(caso solar, neutrinos com 40 MeV).....................................................................................69<br />
Figura 4.6: Probabili<strong>da</strong>de de sobrevivência (caso atmosférico, neutrinos com 5 MeV)......70<br />
Figura 4.7: Comprimento de Coerência e Oscilação (caso atmosférico,<br />
neutrinos com 5 MeV)...........................................................................................................70<br />
ix
Figura 4.8: Probabili<strong>da</strong>de de sobrevivência (caso atmosférico,<br />
neutrinos com 40 MeV).........................................................................................................71<br />
Figura 4.9: Comprimento de Coerência e Oscilação (caso atmosférico,<br />
neutrinos com 40 MeV).........................................................................................................71<br />
Figura 4.10: Probabili<strong>da</strong>de de sobrevivência (caso LSND, neutrinos com 5 MeV).............72<br />
Figura 4.11: Comprimento de Coerência e Oscilação (caso LSND,<br />
neutrinos com 5 MeV)...........................................................................................................72<br />
Figura 4.12: Probabili<strong>da</strong>de de sobrevivência (caso LSND, neutrinos com 40 MeV)...........73<br />
Figura 4.13: Comprimento de Coerência e Oscilação (caso LSND,<br />
neutrinos com 40 MeV)........................................................................................................73<br />
Figura C.1: Emissivi<strong>da</strong>de do neutrino <strong>em</strong> função <strong>da</strong> t<strong>em</strong>peratura........................................89<br />
Figura C.2: Livre caminho médio dos neutrinos eletrônicos <strong>em</strong> função<br />
<strong>da</strong> t<strong>em</strong>peratura.......................................................................................................................93<br />
Figura C.3: Livre caminho médio dos neutrinos muônicos e taônicos<br />
<strong>em</strong> função <strong>da</strong> t<strong>em</strong>peratura.....................................................................................................94<br />
Figura C.4: Gráfico de espaço de parâmetros.......................................................................95<br />
Figura C.5: Potencial efetivo <strong>em</strong> função <strong>da</strong> t<strong>em</strong>peratura (neutrinos)...................................98<br />
Figura C.6: Potencial efetivo <strong>em</strong> função <strong>da</strong> t<strong>em</strong>peratura (anti-neutrinos)............................98<br />
Figura C.7: Probabili<strong>da</strong>de de Oscilação - neutrinos (parâmetros solares)............................99<br />
Figura C.8: Regiões de ressonância para neutrinos (parâmetros solares)...........................100<br />
Figura C.9: Probabili<strong>da</strong>de de Oscilação - antineutrinos (parâmetros solares)....................101<br />
Figura C.10: Regiões de Ressonância para antineutrinos (parâmetros solares)..................101<br />
Figura C.11: Probabili<strong>da</strong>de de Oscilação (parâmetros LSND)...........................................102<br />
Figura C.12: Probabili<strong>da</strong>de de Oscilação (parâmetros LSND)...........................................102<br />
Figura C.13: Probabili<strong>da</strong>de de Oscilação (parâmetros LSND)...........................................103<br />
Figura C.14: Probabili<strong>da</strong>de de Oscilação (parâmetros LSND)...........................................103<br />
Figura C.15: Probabili<strong>da</strong>de de Oscilação (parâmetros LSND)...........................................104<br />
x
INTRODUÇÃO<br />
Nossa compreensão sobre os neutrinos mudou muito nos últimos anos. Graças<br />
aos esforços de muitos estudos sobre oscilação de neutrinos solares, de neutrinos<br />
atmosféricos e também de reatores, aprend<strong>em</strong>os que um neutrino produzido como um<br />
determi<strong>na</strong>do autoestado de sabor pode ser detectado, depois de propagar uma distância<br />
finita, como um diferente autoestado de sabor. A interpretação mais simples é que, como<br />
todos os férmions carregados, os neutrinos possu<strong>em</strong> massa e que, a<strong>na</strong>logamente aos quarks,<br />
os autoestados de sabor (autoestados fracos) são diferentes dos autoestados de massa, isto é,<br />
neutrinos se misturam [1].<br />
Saber as proprie<strong>da</strong>des dos neutrinos de maneira profun<strong>da</strong> pode esclarecer uma<br />
nova física além do conhecido Modelo Padrão. Poderíamos pensar que, além <strong>da</strong>s três<br />
espécies de neutrinos ( ν e<br />
, ν µ , ν<br />
τ<br />
), existiriam mais outros tipos de neutrinos. Se os<br />
experimento de MiniBooNE confirmar os <strong>da</strong>dos de LSND, uma nova família de neutrinos<br />
será necessária (neutrinos estéreis). Novas forças, além <strong>da</strong>quelas conheci<strong>da</strong>s no Modelo<br />
Padrão, sejam talvez necessárias. Mistérios <strong>da</strong> cosmologia e <strong>da</strong> astrofísica, como a orig<strong>em</strong><br />
<strong>da</strong> matéria, a orig<strong>em</strong> de el<strong>em</strong>entos pesados e talvez a <strong>na</strong>tureza <strong>da</strong> energia escura, poderiam<br />
ser desven<strong>da</strong>dos com a aju<strong>da</strong> dos neutrinos. Muitas proprie<strong>da</strong>des que estão sendo hoje <strong>em</strong><br />
dia investiga<strong>da</strong>s - como o momento magnético diferente de zero dos neutrinos; neutrinos<br />
mais pesados poder<strong>em</strong> decair <strong>em</strong> neutrinos mais leves; e o neutrino pode ser uma partícula<br />
de Dirac ou Majora<strong>na</strong> – constitu<strong>em</strong> um amplo campo de pesquisa científica <strong>da</strong> física de<br />
partículas el<strong>em</strong>entares.<br />
Talvez Pauli, nos dias de hoje, ficaria feliz <strong>em</strong> saber que sua proposição <strong>da</strong><br />
existência de uma “partícula fantasma” para salvar a conservação de energia seria alvo de<br />
tanta especulação e estudo e que possui um potencial enorme, apesar de sua difícil<br />
detecção, de desven<strong>da</strong>r grandes questio<strong>na</strong>mentos que t<strong>em</strong>os sobre o universo.<br />
1
Este trabalho, no entanto, não cui<strong>da</strong> de tais questio<strong>na</strong>mentos, mas sim se<br />
preocupa <strong>em</strong> a<strong>na</strong>lisar dois tipos de formalismo, o de on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s e o de pacotes de on<strong>da</strong>s,<br />
<strong>da</strong> propagação de neutrinos, implicando <strong>em</strong> possíveis distinções fenomenológicas entre os<br />
dois, <strong>em</strong> especial numa possível diferença entre as respectivas probabili<strong>da</strong>des de oscilação.<br />
Sab<strong>em</strong>os que as on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s <strong>na</strong> mecânica quântica não descrev<strong>em</strong><br />
<strong>completa</strong>mente um sist<strong>em</strong>a físico. A probabili<strong>da</strong>de de encontrarmos uma partícula descrita<br />
através de uma on<strong>da</strong> pla<strong>na</strong> é infinita, algo que passa a ter um sentido um tanto quanto<br />
abstrato. Um tratamento mais completo e mais correto se dá quando associamos a uma<br />
partícula um pacote de on<strong>da</strong>. O mesmo dev<strong>em</strong>os fazer ao neutrino, que agora passará a ser<br />
formado por uma superposição de pacotes de on<strong>da</strong>. Nos perguntamos: será que o<br />
formalismo mais completo e amplo dos pacotes de on<strong>da</strong> trará alterações <strong>na</strong> física <strong>da</strong>s<br />
oscilações dos neutrinos? Buscar<strong>em</strong>os esta resposta constant<strong>em</strong>ente neste trabalho.<br />
No Capítulo 1, vamos discutir os neutrinos se propagando no vácuo.<br />
Resumimos o formalismo de oscilação de neutrinos <strong>em</strong> on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s e desenvolv<strong>em</strong>os de<br />
maneira mais abrangente o formalismo de oscilação dos neutrinos <strong>em</strong> pacotes de on<strong>da</strong>,<br />
discutindo ca<strong>da</strong> termo presente <strong>na</strong> expressão de probabili<strong>da</strong>de de oscilação. Comparamos o<br />
comprimento de coerência e o comprimento de oscilação para as mais diversas situações<br />
(solar, reatores, aceleradores, supernovas e neutrinos de altíssima energia) para verificar a<br />
presença ou não <strong>da</strong> oscilação. Chamar<strong>em</strong>os atenção para o caso <strong>da</strong> supernova, visto que<br />
exist<strong>em</strong> poucos <strong>da</strong>dos - ape<strong>na</strong>s 19 eventos - destes neutrinos detectados e quer<strong>em</strong>os<br />
verificar se nosso formalismo pode contribuir para uma melhor compreensão sobre a<br />
oscilação de neutrinos oriundos destas fontes astrofísicas. Descrev<strong>em</strong>os também o<br />
fenômeno de alargamento (“spreading”) dos pacotes de on<strong>da</strong>, que pode manter a coerência<br />
entre os autoestados de massa.<br />
No Capítulo 2 propagar<strong>em</strong>os o neutrino <strong>na</strong> matéria, tanto <strong>na</strong> sua forma <strong>em</strong><br />
on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s como <strong>em</strong> pacotes de on<strong>da</strong>. A<strong>na</strong>lisar<strong>em</strong>os as condições exigi<strong>da</strong>s para a<br />
propagação ser adiabática. Estu<strong>da</strong>r<strong>em</strong>os o caso não-adiabático também. Tais regimes de<br />
propagação independ<strong>em</strong> do formalismo que usamos, mas <strong>da</strong>r<strong>em</strong>os ênfase <strong>em</strong> suas deduções<br />
a partir <strong>da</strong>s on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s. Apresentar<strong>em</strong>os a propagação adiabática para os pacotes de on<strong>da</strong>,<br />
mostrando as mu<strong>da</strong>nças ocorri<strong>da</strong>s nos comprimento de oscilação e comprimentos de<br />
coerência.<br />
No Capítulo 3 discutir<strong>em</strong>os a fenomenologia de colapsos gravitacio<strong>na</strong>is e<br />
supernovas, destacando os dois principais modelos de explosão de supernovas.<br />
Realçar<strong>em</strong>os com a participação dos neutrinos, encerrando a descrição com a observação e<br />
a descrição sucinta de SN1987A.<br />
No Capítulo 4 confrontar<strong>em</strong>os o formalismo de pacotes de on<strong>da</strong> com o<br />
formalismo de on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s para a oscilação de neutrinos <strong>em</strong> uma supernova de 15 massas<br />
solares, já que as supernovas são os únicos meios duvidosos para os quais não se sabe ao<br />
certo se a oscilação de neutrinos ocorrerá. Usar<strong>em</strong>os os parâmetros conhecidos de oscilação<br />
solar, atmosférico e de LSND para nossa análise.<br />
Por fim, apresentar<strong>em</strong>os as conclusões gerais deste trabalho.<br />
Anexados ao fi<strong>na</strong>l, encontram-se quatro apêndices. O Apêndice A compl<strong>em</strong>enta<br />
a dedução <strong>da</strong> expressão de probabili<strong>da</strong>de de oscilação <strong>em</strong> pacotes de on<strong>da</strong> apresenta<strong>da</strong> no<br />
Capítulo 1. O Apêndice B traz as correções dos pacotes de on<strong>da</strong> à expressão de<br />
2
probabili<strong>da</strong>de “level crossing” quando t<strong>em</strong>os propagações não-adiabáticas. O Apêndice C,<br />
que trata <strong>da</strong> influência <strong>da</strong> oscilação de neutrinos <strong>na</strong> evolução de um “fireball” de um<br />
“gamma-ray burst” (GRB), descreve o trabalho paralelo realizado a esta <strong>dissertação</strong>,<br />
apresentado no Exame de Qualificação de Mestrado (EQM). O Apêndice D traz o artigo a<br />
ser publicado no Brazilian Jour<strong>na</strong>l of Physics - Proceedings of the I LAWHEP (Latin<br />
American Workshop in High Energy Physics), ocorrido <strong>em</strong> Porto Alegre, com minha<br />
participação no trabalho de Alex Ber<strong>na</strong>rdini e do Prof. Dr. Marcelo M. Guzzo. O artigo<br />
trata de correções de segun<strong>da</strong> ord<strong>em</strong> <strong>na</strong> probabili<strong>da</strong>de de oscilação usando pacotes de on<strong>da</strong>.<br />
3
Referências - Introdução<br />
1. B. Pontecorvo, Zh. Eksp. Teor. Fiz. 33 (1957) 549 e 34 (1958) 247; Z. Maki, N.<br />
Nakagawa e S. Sakata, Prog. Theor. Phys. 28 (1962) 870; B. Pontecorvo, Zh. Eksp.<br />
Teor. Fiz. 53 (1967) 1717.<br />
4
CAPÍTULO 1<br />
Neutrinos no Vácuo<br />
A oscilação de neutrinos foi proposta por Bruno Pontecorvo no fi<strong>na</strong>l dos anos 50<br />
[1,2]. Sab<strong>em</strong>os que o fenômeno de oscilação ocorre devido à interferência de diferentes<br />
neutrinos massivos, com uma diferença de massa muito peque<strong>na</strong> entre eles, e são<br />
produzidos e detectados de forma coerente. Nos últimos anos experimentos parec<strong>em</strong><br />
confirmar que o fenômeno de oscilação é a melhor explicação para o chamado probl<strong>em</strong>a do<br />
neutrino solar [3], percebido pelo experimento de Homestake <strong>em</strong> 1968, e também para o<br />
probl<strong>em</strong>a do neutrino atmosférico [4].<br />
Em 1962, Maki, Nakagawa e Sakata [5] consideraram um primeiro modelo de<br />
mistura para diferentes sabores de neutrinos. Em 1967, Pontecorvo propôs a possibili<strong>da</strong>de<br />
de que os neutrinos solares oscilass<strong>em</strong> [6]. Em 1969, Pontecorvo e Gribov buscaram <strong>na</strong><br />
oscilação ν e<br />
→ν µ a possível explicação para o probl<strong>em</strong>a do neutrino solar [7].<br />
Na metade dos anos 70, Eliezer e Swift [8], Fritzsch e Minkowski [9], Bilenky e<br />
Pontecorvo [10] e uma ótima revisão por Bilenky e Pontecorvo [11] trataram <strong>da</strong> teoria de<br />
oscilação de neutrinos usando a aproximação por on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s.<br />
Em 1976, Nussinov [12] pela primeira vez considerou a propagação de neutrinos<br />
usando pacotes de on<strong>da</strong>. Ele também inferiu a existência de um comprimento de coerência,<br />
acima do qual a interferência de diferentes neutrinos massivos não é observa<strong>da</strong>. Isto ocorre<br />
devido à diferença de veloci<strong>da</strong>des de grupo dos diferentes neutrinos massivos, ocasio<strong>na</strong>ndo,<br />
por conseqüência, a separação de seus respectivos pacotes de on<strong>da</strong>.<br />
Em 1981, Kayser [13] apresentou as primeira discussões detalha<strong>da</strong>s dos probl<strong>em</strong>as<br />
mecânico quânticos <strong>da</strong> oscilação de neutrinos, destacando a necessi<strong>da</strong>de do tratamento por<br />
pacotes de on<strong>da</strong>.<br />
Modelos de oscilação de neutrinos <strong>em</strong> pacotes de on<strong>da</strong> foram desenvolvidos usando<br />
o formalismo <strong>da</strong> mecânica quântica [14, 15, 16, 17, 18, 19, 20] e também <strong>da</strong> teoria quântica<br />
de campos [21, 22, 23, 24, 25, 26], sendo revisados pelas referências [27], [28] e [29].<br />
5
1.1) On<strong>da</strong>s Pla<strong>na</strong>s de Neutrinos no Vácuo [30]<br />
O neutrino do elétron, ν e<br />
, é o estado produzido <strong>em</strong> um decaimento beta, sendo que<br />
um pósitron também é produzido. O neutrino muônico, ν µ , é o estado produzido <strong>em</strong> um<br />
decaimento de um píon π + , acompanhado por um µ + . Chamamos os neutrinos<br />
eletrônicos ( ν e<br />
), os neutrinos muônicos ( ν µ ), assim como os neutrinos tauônicos ( ν τ<br />
), de<br />
“estados de sabores” de neutrinos. Mas será que estes estados de sabores são partículas<br />
físicas ou pod<strong>em</strong> ser formados por uma superposição de diferentes partículas físicas, por<br />
ex<strong>em</strong>plo ν<br />
1<br />
e ν<br />
2<br />
?<br />
Vamos então, partindo <strong>da</strong> hipótese, por ex<strong>em</strong>plo, que ν e<br />
e ν µ são formados pela<br />
superposição <strong>da</strong>s partículas físicas ν 1<br />
e ν 2<br />
, a<strong>na</strong>lisar as conseqüências físicas deste fato.<br />
Introduzimos a seguinte notação<br />
(<br />
ν<br />
f )<br />
⎛ν<br />
e ⎞ ⎛ν<br />
( ) 1<br />
= ⎜ ⎟<br />
,<br />
⎝ν ⎟ ⎞<br />
ν p =<br />
⎜ e (1.1)<br />
µ ⎠ ⎝ν<br />
2 ⎠<br />
( f )<br />
vamos considerar que o estado de sabor ν é diferente do estado ν<br />
seguinte maneira:<br />
( p)<br />
, relacio<strong>na</strong>ndo-os <strong>da</strong><br />
( f ) ( p)<br />
ν = Uν . (1.2)<br />
( f ) ( p)<br />
U é chamado de matriz de mistura. Por convenção, os estados <strong>em</strong> ν e ν são<br />
ortonormais e, portanto, U deve ser unitária. Nossa matriz de mistura é 2x2, pois estamos<br />
usando somente duas famílias de neutrinos. Se incluíss<strong>em</strong>os o neutrino tauônico ( ν τ<br />
) <strong>em</strong><br />
( f )<br />
ν , deveríamos adicio<strong>na</strong>r 3<br />
( p)<br />
ν <strong>em</strong> ν , sendo que U seria uma matriz agora 3x3. Vamos<br />
nos restringir aqui a ape<strong>na</strong>s duas famílias por questão de simplici<strong>da</strong>de e por acharmos<br />
suficiente para a compreensão do fenômeno por enquanto.<br />
( p)<br />
A equação de evolução t<strong>em</strong>poral escrita <strong>na</strong> base ν é:<br />
<strong>em</strong> que H é o Hamiltoniano, diago<strong>na</strong>l <strong>na</strong> base escolhi<strong>da</strong>:<br />
d ( p)<br />
( p)<br />
i ν ( t)<br />
= Hν<br />
( t)<br />
, (1.3)<br />
dt<br />
⎛ E1<br />
0 ⎞<br />
H =<br />
⎜<br />
⎟ , (1.4)<br />
⎝ 0 E2<br />
⎠<br />
com E 1 e E 2 sendo a energia dos respectivos autoestados de massa. Sab<strong>em</strong>os que<br />
m<br />
α<br />
E<br />
2<br />
r 2 2 r mα<br />
≡ p + mα<br />
≅ p r . (1.5)<br />
2 p<br />
α<br />
+<br />
O Hamiltoniano, usando (1.5) e considerando que pod<strong>em</strong>os usar a distância x ao<br />
invés do t<strong>em</strong>po t, pode ser escrito agora <strong>da</strong> seguinte maneira:<br />
H<br />
2<br />
2 2<br />
r 1 ⎛m1<br />
0 ⎞ ⎛ r m m ⎞<br />
1 2<br />
p r<br />
⎜<br />
+ ∆<br />
= + ⎜ ⎟ p<br />
σ<br />
2<br />
r ⎟ − r 3<br />
2 p<br />
0 m<br />
=<br />
+<br />
4 p<br />
, (1.6)<br />
⎝<br />
4 p<br />
2 ⎠ ⎝<br />
⎠<br />
2<br />
sendo que σ<br />
3<br />
é a matriz diago<strong>na</strong>l de Pauli e que ∆ ≡ m −<br />
equação de evolução <strong>na</strong> base de sabores. L<strong>em</strong>brando que<br />
ter<strong>em</strong>os, <strong>na</strong> base dos sabores,<br />
i<br />
d<br />
dx<br />
2<br />
2<br />
m1<br />
. Vamos agora escrever a<br />
( p ) † ( f )<br />
ν = U ν , (1.7)<br />
† ( f )<br />
† ( f )<br />
( U ) HU ν<br />
que, com algumas manipulações, pode ser reescrita como<br />
Para dois neutrinos de Dirac<br />
d<br />
i<br />
dx<br />
O Hamiltoniano <strong>na</strong> base dos sabores será <strong>da</strong>do por<br />
ν = , (1.8)<br />
( f )<br />
† ( f )<br />
ν = UHU ν . (1.9)<br />
⎛ cosθ<br />
senθ<br />
⎞<br />
U =<br />
⎜<br />
⎟ . (1.10)<br />
⎝−<br />
senθ<br />
cosθ<br />
⎠<br />
H ′ = UHU<br />
†<br />
=<br />
r<br />
p<br />
2<br />
m1<br />
+<br />
+ r<br />
m<br />
4 p<br />
2<br />
2<br />
∆<br />
+ r<br />
4 p<br />
⎛− cos 2θ<br />
⎜<br />
⎝ sen2θ<br />
sen2θ<br />
⎞<br />
⎟ . (1.11)<br />
cos 2θ<br />
⎠<br />
A partir disto, deduzimos a relação entre o ângulo diago<strong>na</strong>lizado θ e os el<strong>em</strong>entos<br />
<strong>da</strong> matriz H’:<br />
tg2<br />
2H<br />
′<br />
12<br />
θ = . (1.12)<br />
H ′<br />
22<br />
− H ′<br />
11<br />
A solução <strong>da</strong> equação de movimento <strong>na</strong> base de sabores será<br />
7
ν<br />
( )<br />
( x)<br />
= exp( −iHx)<br />
ν (0). (1.13)<br />
( f )<br />
f<br />
r<br />
Fazendo a aproximação de que p = E e notando que no Hamiltoniano H’ t<strong>em</strong>os<br />
um termo proporcio<strong>na</strong>l à matriz de mistura unitária, o que dá uma fase global à solução e<br />
que também não mu<strong>da</strong> o ângulo de mistura, escrev<strong>em</strong>os o Hamiltoniano como:<br />
Portanto,<br />
( f ) ⎡ ∆<br />
ν ( x)<br />
= exp⎢−<br />
i x<br />
⎣ 4E<br />
⎡ ∆<br />
= ⎢cos<br />
x − i<br />
1<br />
⎣ 4E<br />
∆<br />
H ′ = ( σ<br />
1sen2θ<br />
− σ<br />
3<br />
cos 2θ<br />
). (1.14)<br />
4E<br />
⎤ (<br />
⎥ν<br />
⎦<br />
∆ ⎤<br />
4E<br />
⎥<br />
⎦<br />
( σ sen2θ<br />
− σ cos 2θ<br />
)<br />
1<br />
( f )<br />
( σ sen2θ<br />
− σ cos 2θ<br />
) sen x ν (0)<br />
3<br />
3<br />
f )<br />
(0) =<br />
. (1.15)<br />
Considerando um feixe inicial ν e<br />
, as probabili<strong>da</strong>des de transição e sobrevivência<br />
serão <strong>da</strong><strong>da</strong>s, respectivamente, por:<br />
2<br />
2 2 ⎛ ∆ ⎞<br />
P ν ( x)<br />
=<br />
e<br />
( x)<br />
= sen 2 sen ⎜ x⎟<br />
e ν µ<br />
ν µ ν<br />
θ<br />
e (1.16)<br />
⎝ 4E<br />
⎠<br />
P<br />
ν ν<br />
( x)<br />
= 1−<br />
P ( x)<br />
. (1.17)<br />
ν ν<br />
e e<br />
e µ<br />
1.2) Pacotes de On<strong>da</strong> de Neutrinos no Vácuo<br />
Em geral tratamos a oscilação de neutrinos <strong>da</strong> seguinte maneira [27]:<br />
• Neutrino é uma partícula extr<strong>em</strong>amente relativística, isto é, seu momento é muito<br />
maior que sua massa.<br />
• Um <strong>da</strong>do sabor de neutrino possui um momento b<strong>em</strong> definido que será comum para<br />
todos os autoestados de massa.<br />
• Diferentes autoestados de massa possu<strong>em</strong> diferentes energias b<strong>em</strong> defini<strong>da</strong>s e <strong>da</strong><strong>da</strong>s<br />
pelas relações de dispersão de energia-momento.<br />
• A on<strong>da</strong> do neutrino é forma<strong>da</strong> por uma superposição de on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s, ca<strong>da</strong> uma<br />
correspondendo a um certo autoestado de massa.<br />
O formalismo de on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s, tanto no vácuo quanto <strong>na</strong> matéria, é b<strong>em</strong> atrativo por sua<br />
simplici<strong>da</strong>de, mas não dá a <strong>completa</strong> base de compreensão <strong>da</strong> oscilação de neutrinos.<br />
Sendo não completo o tratamento por on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s, poderíamos nos in<strong>da</strong>gar o que está<br />
8
faltando? Nossa resposta seria com duas perguntas: e se os neutrinos não for<strong>em</strong><br />
relativísticos? E quanto à coerência entre os autoestados de massa? A resposta para a<br />
primeira <strong>da</strong>s duas perguntas não será respondi<strong>da</strong> por esta <strong>dissertação</strong>, uma vez que existe<br />
a necessi<strong>da</strong>de de fazermos um tratamento por teoria quântica de campos. Neutrinos nãorelativísticos<br />
pod<strong>em</strong> ser produzidos <strong>em</strong> experimentos de oscilação se a massa de ν µ ou<br />
ν<br />
τ<br />
se tor<strong>na</strong>r maior que os limites superiores do experimento permitir.<br />
Mas vamos, de forma mais efetiva, nos preocupar com a segun<strong>da</strong> pergunta sobre a<br />
coerência dos autoestados de massa e discutir o conceito do comprimento de coerência e<br />
sua importância para o fenômeno de oscilação dos neutrinos. Esta análise depende<br />
somente de características cin<strong>em</strong>áticas <strong>da</strong> propagação dos pacotes de on<strong>da</strong>, sendo<br />
satisfatoriamente satisfeita por neutrinos relativísticos usando a usual e tradicio<strong>na</strong>l<br />
mecânica quântica.<br />
Para uma análise <strong>completa</strong> <strong>da</strong> oscilação de neutrinos precisamos:<br />
• A fonte de neutrino e o detector precisam ser localizados separa<strong>da</strong>mente dentro de<br />
uma região muito maior que o comprimento de oscilação. O espalhamento do<br />
momento do neutrino é <strong>da</strong>do pelo princípio <strong>da</strong> incerteza [13].<br />
• A conservação de energia-momento no processo de produção do neutrino implica<br />
que diferentes componentes do autoestado de massa possu<strong>em</strong> momentos diferentes,<br />
assim como energias diferentes.<br />
• O autoestado de massa deve ser produzido e detectado coerent<strong>em</strong>ente. Só é possível<br />
isto ocorrer se as partículas associa<strong>da</strong>s aos processos de produção e detecção<br />
possu<strong>em</strong> espalhamentos energia-momento maiores que as diferenças de energiamomento<br />
dos autoestados de massa.<br />
• A on<strong>da</strong> de propagação do neutrino deverá ser uma superposição de on<strong>da</strong>s de<br />
autoestados de massa com coeficientes próprios <strong>da</strong>do pela amplitude dos processos<br />
nos quais os autoestados de massa dos neutrinos são produzidos.<br />
A localização <strong>da</strong> fonte de neutrinos e o espalhamento do momento do neutrino – as<br />
primeiras duas condições acima cita<strong>da</strong>s – implicam que a propagação do neutrino deve ser<br />
descrita não por uma superposição de on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s, mas sim por uma superposição de<br />
pacotes de on<strong>da</strong> localizados.<br />
Tratar<strong>em</strong>os, portanto, o neutrino como uma superposição de pacotes de on<strong>da</strong>, ca<strong>da</strong><br />
qual representando um autoestado de massa e satisfazendo as suposições feitas acima, mas<br />
s<strong>em</strong> calcular as amplitudes dos processos de interação pelos quais os neutrinos são<br />
produzidos e detectados. Assumir<strong>em</strong>os que tais pacotes de on<strong>da</strong> terão forma gaussia<strong>na</strong> com<br />
tamanho σ x e os coeficientes de superposição são <strong>da</strong>dos pelos el<strong>em</strong>entos <strong>da</strong> matriz de<br />
mistura U que conectam a base de sabor fraca com a base dos autoestados de massa.<br />
Para neutrinos relativísticos, as amplitudes dos processos de produção e de detecção<br />
pod<strong>em</strong> ser aproxima<strong>da</strong>s pela menor ord<strong>em</strong> <strong>da</strong>s amplitudes dos neutrinos s<strong>em</strong> massa. Como<br />
de costume, a seção de choque observa<strong>da</strong> pode ser fatora<strong>da</strong> como um produto <strong>da</strong><br />
probabili<strong>da</strong>de de oscilação pela seção de choque calcula<strong>da</strong> a partir de neutrinos s<strong>em</strong> massa.<br />
A probabili<strong>da</strong>de de oscilação depende dos el<strong>em</strong>entos <strong>da</strong> matriz de mistura e <strong>da</strong> interferência<br />
9
quanto-mecânica espaço-t<strong>em</strong>poral entre os autoestados de massa como conseqüência <strong>da</strong><br />
propagação do neutrino.<br />
Como mostrar<strong>em</strong>os mais adiante, uma <strong>da</strong>s conseqüências do tratamento de pacotes<br />
de on<strong>da</strong> é a existência de um comprimento de coerência para a oscilação de neutrinos.<br />
Autoestados de massa de pacotes de on<strong>da</strong> propagam com diferentes veloci<strong>da</strong>des,<br />
sobrepõ<strong>em</strong>-se e interfer<strong>em</strong> somente por uma distância finita. Deduzimos o comprimento de<br />
coerência fazendo a média sobre o t<strong>em</strong>po <strong>na</strong> probabili<strong>da</strong>de de oscilação. Isto é consistente,<br />
já que nos experimentos o que se sabe é a distância entre produção e detecção, enquanto<br />
que o t<strong>em</strong>po é uma quanti<strong>da</strong>de desconheci<strong>da</strong>.<br />
Quando falamos <strong>em</strong> pacotes de on<strong>da</strong> se propagando no espaço-t<strong>em</strong>po, dev<strong>em</strong>os nos<br />
perguntar o tamanho destes pacotes, assunto a ser discutido agora.<br />
1.2.1) Tamanho dos pacotes de on<strong>da</strong> [27]<br />
O tamanho de um pacote de on<strong>da</strong>, σ<br />
x<br />
, é determi<strong>na</strong>do pela região onde ocorre o<br />
processo de produção do neutrino. No caso de um plasma, o tamanho de um pacote de on<strong>da</strong><br />
é determi<strong>na</strong>do pelo processo chamado de “pressure broadening” e é <strong>da</strong>do por:<br />
2<br />
T<br />
σ<br />
x<br />
≅ , (1.18)<br />
N<br />
<strong>em</strong> que T e N são, respectivamente, a t<strong>em</strong>peratura e a densi<strong>da</strong>de do plasma. (1.18) é válido<br />
para um plasma com partículas que são relativísticas.<br />
Vamos tomar como ex<strong>em</strong>plo o centro solar. Nele a <strong>em</strong>issão coerente, por ex<strong>em</strong>plo<br />
de ν<br />
e<br />
, é constant<strong>em</strong>ente interrompi<strong>da</strong> pela interação eletromagnética entre as partículas que<br />
produz<strong>em</strong> ν<br />
e<br />
e as partículas <strong>da</strong> vizinhança, que possu<strong>em</strong> um t<strong>em</strong>po de escala muito menor<br />
que o t<strong>em</strong>po de escala de interação fraca. Neste caso, σ<br />
x<br />
é <strong>da</strong>do por<br />
σ ≅ l<br />
x<br />
v<br />
, (1.19)<br />
<strong>em</strong> que l é o livre caminho médio <strong>da</strong> partícula que produz ν e<br />
e v é sua veloci<strong>da</strong>de média<br />
térmica.<br />
Por definição, l é <strong>da</strong>do por<br />
1<br />
≅ , (1.20)<br />
πb<br />
N<br />
l<br />
2<br />
sendo N a densi<strong>da</strong>de de partículas do meio e b o parâmetro de impacto, que no campo<br />
Coulombiano, é <strong>da</strong>do por<br />
2<br />
3 Z1Z<br />
2e<br />
T ≅ , (1.21)<br />
2 b<br />
10
com Z 1 e Z 2 sendo as cargas <strong>em</strong> uni<strong>da</strong>des de e <strong>da</strong>s partículas que estão interagindo.<br />
2<br />
10 −1<br />
Relacio<strong>na</strong>ndo (1.20) e (1.21) e sabendo que e 4π<br />
= 1 137 e 1MeV = 5,06×<br />
10 cm ,<br />
t<strong>em</strong>os que<br />
2<br />
23 T<br />
≅ 2 ,18×<br />
10 cm . (1.22)<br />
2<br />
Z Z N<br />
l 2<br />
1 2<br />
L<strong>em</strong>brando que T e N são <strong>da</strong>dos <strong>em</strong> MeV e cm -3 , respectivamente. Para uma fonte de<br />
partículas não-relativística com massa m a relação<br />
permite que escrevamos<br />
Para uma fonte de partículas relativística, a relação<br />
1 3<br />
mv<br />
2 = T<br />
(1.23)<br />
2 2<br />
3T<br />
v = . (1.24)<br />
m<br />
3<br />
E = T + 2<br />
m<br />
(1.25)<br />
permite que escrevamos<br />
3T<br />
(3T<br />
+ 4m)<br />
v = . (1.26)<br />
2<br />
(3T<br />
+ 2m)<br />
Para os nossos casos de interesse, vamos usar fontes de partículas onde a relação<br />
(1.24) é váli<strong>da</strong>. Obt<strong>em</strong>os portanto<br />
Escrevendo (1.27) usando (1.22) e (1.24) t<strong>em</strong>os<br />
3 2<br />
l T<br />
σ<br />
x<br />
≅ ≅ . (1.27)<br />
v N<br />
3 2<br />
23 mT<br />
σ<br />
x<br />
≅ 1 ,26×<br />
10 cm . (1.28)<br />
2 2<br />
Z Z N<br />
Vamos agora para diversas situações e meios calcular o tamanhos dos pacotes de<br />
on<strong>da</strong> dos neutrinos usando a equação (1.28) acima.<br />
1<br />
2<br />
11
a-) neutrinos do Sol<br />
Para ν<br />
e<br />
origi<strong>na</strong>dos no processo<br />
3<br />
ρ ≅ 120 g cm ,<br />
8<br />
B→<br />
8<br />
Be + e<br />
+<br />
+ ν , com T ≅ 1, 3keV<br />
e<br />
e<br />
−7<br />
σ ≅ 3,15×<br />
10 cm . (1.29)<br />
x<br />
ν<br />
e<br />
solares produzidos pela reação<br />
T<strong>em</strong>os também<br />
processo ocorre a uma t<strong>em</strong>peratura de T ≅ 1, 1keV<br />
e<br />
ρ ≅ 100 g cm<br />
p + p→<br />
3<br />
2<br />
. Logo,<br />
H + e<br />
+<br />
+ ν . Este<br />
e<br />
−6<br />
σ ≅ 2,34×<br />
10 cm . (1.30)<br />
x<br />
b-) neutrinos de supernova<br />
ρ ≅<br />
intervalo<br />
Para neutrinos do centro <strong>da</strong> supernova ( R ≤ 20km)<br />
, t<strong>em</strong>os T = 10 −100MeV<br />
e<br />
14 3<br />
10 g cm<br />
. Então o tamanho do pacote de on<strong>da</strong> para estes neutrinos pertence ao<br />
−14<br />
−12<br />
σ ≅ 4,74 × 10 −1,49<br />
× 10 cm . (1.31)<br />
x<br />
O tamanho dos pacotes de neutrinos oriundos <strong>da</strong> neutrinosfera é<br />
Em (1.32) usamos os parâmetros<br />
c-) neutrinos de reatores<br />
−10<br />
σ ≅ 1,67 × 10 cm . (1.32)<br />
x<br />
10 3<br />
T ≅ 5MeV<br />
e ρ ≅ 10 g cm para o cálculo.<br />
Neutrinos de reatores não são produzidos <strong>em</strong> um plasma, portanto, dev<strong>em</strong>os estimar<br />
σ<br />
x<br />
de uma maneira diferente. Vamos listar abaixo as seguintes considerações:<br />
• Neutrinos de reatores são produzidos a partir do decaimento de um material<br />
sólido;<br />
• O movimento dos elétrons determi<strong>na</strong> a t<strong>em</strong>peratura do material <strong>em</strong> questão;<br />
• Os núcleos se mov<strong>em</strong> lentamente num meio cheio de elétrons. O t<strong>em</strong>po de<br />
<strong>em</strong>issão coerente do decaimento deste núcleo é grande;<br />
• O elétron produzido no decaimento se move rapi<strong>da</strong>mente e t<strong>em</strong> sua trajetória<br />
altera<strong>da</strong> devido à interação com o núcleo. Como conseqüência, a <strong>em</strong>issão<br />
dos produtos do decaimento irá perder coerência.<br />
Tomando T ≅ 1MeV<br />
(energia cinética do elétron), número de massa A ≅ 238 (um<br />
3<br />
dos possíveis isótopos do urânio), ρ ≅ 20 g cm , calculamos o livre caminho médio que é<br />
aproxima<strong>da</strong>mente o tamanho do pacote de on<strong>da</strong>:<br />
12
−4<br />
l ≅ σ = 5,10 × 10 cm . (1.33)<br />
x<br />
d-) neutrinos de aceleradores<br />
Em neutrinos de aceleradores, σ ≅ x<br />
ct , <strong>em</strong> que t é um t<strong>em</strong>po típico de escala de<br />
interações fracas que produz<strong>em</strong> neutrinos nos laboratórios. Por ex<strong>em</strong>plo, t ≅ 10 −8 s quando<br />
os neutrinos são produtos de decaimento de π e K.<br />
Logo, o tamanho dos pacotes de on<strong>da</strong> é<br />
2<br />
σ ≅ 1 ,0 × 10 cm . (1.34)<br />
x<br />
Na Tabela 1.1, resumimos todos os tamanhos dos pacotes e parâmetros usados para<br />
os cálculos acima apresentados <strong>na</strong>s diversas situações.<br />
Experimento Parâmetros σ x (cm)<br />
3,15 ×10 -7<br />
2,40 ×10 -6<br />
Solar T=1,3keV<br />
ρ =120g/cm 3<br />
N=7,22 ×10 25 cm -3<br />
T=1,1keV<br />
ρ =100g/cm 3<br />
N=6,02 ×10 25 cm -3<br />
Acelerador t = 10 -8 s 1,00 ×10 2<br />
Reator<br />
Supernova<br />
T = 1MeV<br />
5,1 ×10 -4<br />
ρ = 20g/cm 3<br />
A=238 (Urânio)<br />
T=10 – 100 MeV 4,74 ×10 -14 – 1,49 ×10 -12<br />
ρ =10 14 g/cm 3<br />
N=6,02 ×10 37 cm -3<br />
T=5MeV<br />
1,674 ×10 -10<br />
ρ =10 10 g/cm 3<br />
N=6,02 ×10 33 cm 3<br />
Tabela 1.1: Tamanho dos pacotes de on<strong>da</strong><br />
1.2.2) O formalismo de pacotes de on<strong>da</strong> no vácuo.<br />
Para construirmos os pacotes de on<strong>da</strong> para nossos autoestados de massa, faz<strong>em</strong>os as<br />
seguintes considerações:<br />
• O probl<strong>em</strong>a será tratado de maneira unidimensio<strong>na</strong>l, portanto pod<strong>em</strong>os<br />
negligenciar o espalhamento do momento ortogo<strong>na</strong>l à direção de propagação<br />
x;<br />
13
• Os pacotes de on<strong>da</strong> dos autoestados de massa possu<strong>em</strong> um formato<br />
gaussiano com largura σ<br />
p<br />
no espaço dos momentos;<br />
• Os pacotes gaussianos dos autoestados de massa são centrados ao redor do<br />
valor médio de momento p<br />
a<br />
, determi<strong>na</strong>do pela cin<strong>em</strong>ática do processo de<br />
produção (conservação energia-momento).<br />
Nosso pacote de on<strong>da</strong> no espaço dos momentos terá a seguinte forma <strong>em</strong> sua<br />
respectiva função de on<strong>da</strong>:<br />
[ 2πσ<br />
p<br />
]<br />
( p − p )<br />
2<br />
−1<br />
2 ⎪⎧<br />
⎪⎫<br />
a<br />
ψ<br />
a<br />
( p)<br />
=<br />
exp⎨−<br />
2 ⎬ . (1.35)<br />
4σ<br />
⎪⎩<br />
p ⎪⎭<br />
Pod<strong>em</strong>os fazer a evolução t<strong>em</strong>poral do pacote de on<strong>da</strong> no espaço <strong>da</strong>s coorde<strong>na</strong><strong>da</strong>s,<br />
que <strong>na</strong> prática é o que nos interessa. A função de on<strong>da</strong> de nossos autoestados de massa será<br />
representa<strong>da</strong> por<br />
De (1.35) e (1.36) tiramos<br />
dp<br />
ψ<br />
a<br />
( x,<br />
t)<br />
= ∫ ψ<br />
a<br />
( p)<br />
exp{ ipx − Eat}<br />
. (1.36)<br />
2<br />
−1<br />
2 ⎪⎧<br />
[ 2πσ<br />
] exp i( p x − E t )<br />
( x − v t)<br />
2<br />
⎪⎫<br />
a<br />
ψ<br />
a<br />
( x,<br />
t)<br />
=<br />
x ⎨ a<br />
a<br />
−<br />
2 ⎬. (1.37)<br />
⎪⎩<br />
4σ<br />
x ⎪⎭<br />
por<br />
Na expressão (1.37) acima, a energia<br />
E<br />
a<br />
e a veloci<strong>da</strong>de de grupo v a<br />
são <strong>da</strong><strong>da</strong>s<br />
a<br />
a<br />
2<br />
E = p + m e (1.38)<br />
2<br />
a<br />
p<br />
a<br />
v<br />
a<br />
= . (1.39)<br />
Ea<br />
As larguras σ<br />
x<br />
e σ<br />
p<br />
estão relacio<strong>na</strong><strong>da</strong>s pela relação de incerteza σ xσ p<br />
= 1 2 .<br />
Munido de to<strong>da</strong>s as informações relevantes, t<strong>em</strong>os agora como objetivo encontrar a<br />
expressão de probabili<strong>da</strong>de de con<strong>versão</strong> de sabores neste formalismo de pacotes de on<strong>da</strong>.<br />
Vamos fazer para a propagação no vácuo, isto é, s<strong>em</strong> a presença de um potencial efetivo de<br />
matéria.<br />
Consider<strong>em</strong>os inicialmente um neutrino ν α<br />
(de sabor α) criado por um processo<br />
fraco <strong>na</strong>s coorde<strong>na</strong><strong>da</strong>s x = 0 e t = 0 e detectado <strong>em</strong> x = X e no t<strong>em</strong>po t = T. Quando ν<br />
α<br />
chega <strong>em</strong> x = X e t = T, ele pode ser descrito como um estado<br />
14
ψ<br />
*<br />
α<br />
( X , T)<br />
αaψ<br />
a<br />
( X , T)<br />
a<br />
= ∑U<br />
ν<br />
a<br />
. (1.40)<br />
O operador densi<strong>da</strong>de correspondente, com<br />
p = p a<br />
= p é <strong>da</strong>do por<br />
b<br />
*<br />
*<br />
ρ ( X , T)<br />
≡ ψ<br />
α<br />
( X , T)<br />
ψ<br />
α<br />
( X , T ) = ∑U<br />
αaψ<br />
a<br />
( X , T ) ν<br />
a<br />
ν<br />
b<br />
ψ<br />
b<br />
( X , T ) U<br />
αb<br />
. (1.41)<br />
Usando a definição (1.40) e desenvolvendo o operador densi<strong>da</strong>de t<strong>em</strong>os:<br />
a,<br />
b<br />
ρ(<br />
X , T)<br />
=<br />
−1<br />
*<br />
[ 2πσ<br />
] U U exp( − i(<br />
E − E ) T )<br />
x<br />
∑<br />
αa<br />
αb<br />
a<br />
b<br />
ν<br />
a<br />
ν<br />
b<br />
⎛<br />
exp⎜<br />
−<br />
⎝<br />
2<br />
( X − v T ) ⎞ ⎛ ( X − v T )<br />
4σ<br />
a<br />
2<br />
x<br />
⎟ ⎜<br />
exp<br />
−<br />
⎠ ⎝<br />
4σ<br />
b<br />
2<br />
x<br />
2<br />
⎟ ⎞<br />
⎠<br />
. (1.42)<br />
A probabili<strong>da</strong>de de encontrarmos um estado de sabor ν β no ponto X e no t<strong>em</strong>po T é<br />
obti<strong>da</strong> usando (1.42). Portanto,<br />
P(<br />
ν<br />
α<br />
α<br />
⎧ ( X − vaT<br />
)<br />
× exp⎨−<br />
2<br />
⎩ 4σ<br />
x<br />
β<br />
{ ρ(<br />
X , T ) ν β ν α<br />
} ν β ρ(<br />
X , ν β<br />
P ( ν → ν ; X , T ) = Tr<br />
= T )<br />
→ν<br />
; X , T ) =<br />
β<br />
2<br />
1<br />
2πσ<br />
∑<br />
x a,<br />
b<br />
( X − vbT<br />
)<br />
−<br />
2<br />
4σ<br />
x<br />
U<br />
2<br />
βa<br />
⎫<br />
⎬<br />
⎭<br />
U<br />
*<br />
αa<br />
U<br />
*<br />
βb<br />
U<br />
αb<br />
× exp<br />
{ i( p − p ) X − i( E − E ) T}<br />
Na prática, sab<strong>em</strong>os a distância X, enquanto que o t<strong>em</strong>po T não é medido. Portanto,<br />
a probabili<strong>da</strong>de <strong>em</strong> uma distância X é <strong>da</strong><strong>da</strong> pela média t<strong>em</strong>poral <strong>da</strong> expressão (1.43). A<br />
integração no t<strong>em</strong>po será feita <strong>completa</strong>ndo-se os quadrados <strong>na</strong> exponencial de (1.43). A<br />
probabili<strong>da</strong>de de con<strong>versão</strong> pode ser escrita como (sua expressão está deduzi<strong>da</strong> por<br />
completo no Apêndice A deste trabalho):<br />
P<br />
×<br />
α→<br />
2<br />
⎡ U ⎤<br />
αa'<br />
β ( X ) = ⎢∑<br />
⎥∑U<br />
⎢ a'<br />
v<br />
⎣<br />
a'<br />
⎥ a,<br />
b<br />
⎦<br />
⎪⎧<br />
2<br />
2 X<br />
exp⎨−<br />
2 2<br />
2<br />
va<br />
+ vb<br />
4σ<br />
⎪⎩<br />
x a<br />
βa<br />
U<br />
*<br />
αa<br />
*<br />
βb<br />
⎪⎧<br />
⎡<br />
× exp⎨i⎢<br />
⎪⎩ ⎢⎣<br />
2<br />
2<br />
( v ) ( − ) ⎪⎫<br />
a<br />
− v Ea<br />
E<br />
b<br />
b<br />
−<br />
2 2<br />
2 2 2<br />
( ) ⎬<br />
v + v 4σ<br />
v + v ⎪⎭<br />
b<br />
U<br />
U<br />
αb<br />
p<br />
a<br />
b<br />
a<br />
( p − p ) − ( E − E )<br />
a<br />
b<br />
b<br />
a<br />
b<br />
a<br />
⎛ v<br />
⎜<br />
⎝ v<br />
a<br />
2<br />
a<br />
b<br />
+ v<br />
+ v<br />
b<br />
2<br />
b<br />
. (1.43)<br />
⎞⎤<br />
⎪⎫<br />
⎟⎥X<br />
⎬<br />
⎠⎥⎦<br />
⎪⎭<br />
(1.44)<br />
L<strong>em</strong>brando que a expressão acima indica a probabili<strong>da</strong>de de um neutrino ν<br />
α<br />
criado<br />
<strong>em</strong> x = 0 ser detectado como ν β <strong>em</strong> x = X.<br />
15
Vamos a<strong>na</strong>lisar ca<strong>da</strong> termo de (1.44).<br />
⎧ ⎡<br />
⎨ ⎢<br />
⎪⎩ ⎢⎣<br />
⎪<br />
a-) Termo fator de fase: exp i ( p − p ) − ( E − E )<br />
⎛ v<br />
⎜<br />
⎝ v<br />
+ v<br />
a b<br />
a b<br />
a b 2 2<br />
a<br />
+ vb<br />
⎞⎤<br />
⎪⎫<br />
⎟⎥X<br />
⎬<br />
⎠⎥⎦<br />
⎪⎭<br />
Este termo fornece a oscilação do neutrino <strong>em</strong> função <strong>da</strong> distância X percorri<strong>da</strong> a<br />
partir <strong>da</strong> fonte produtora.<br />
O comprimento de oscilação é quando o termo <strong>da</strong> exponencial acima se iguala a 2π.<br />
Pode ser escrito, portanto, como:<br />
L<br />
osc<br />
=<br />
E<br />
a<br />
2π<br />
− E<br />
b<br />
⎡ v<br />
⎢<br />
⎢⎣<br />
v<br />
a<br />
2<br />
a<br />
+ v<br />
+ v<br />
b<br />
2<br />
b<br />
−<br />
p<br />
E<br />
a<br />
a<br />
−<br />
−<br />
p<br />
E<br />
b<br />
b<br />
⎤<br />
⎥<br />
⎥⎦<br />
−1<br />
. (1.45)<br />
Para neutrinos extr<strong>em</strong>amente relativísticos pod<strong>em</strong>os escrever que<br />
L<br />
osc<br />
=<br />
E<br />
a<br />
2π<br />
− E<br />
b<br />
⎡<br />
⎢1<br />
−<br />
⎢⎣<br />
p<br />
E<br />
a<br />
a<br />
−<br />
−<br />
p<br />
E<br />
b<br />
b<br />
⎤<br />
⎥<br />
⎥⎦<br />
−1<br />
⎡<br />
= 2π<br />
⎣<br />
1<br />
⎤<br />
⎢<br />
⎥<br />
⎢( Ea<br />
− Eb<br />
) − ( pa<br />
− pb<br />
) ⎥⎦ .<br />
Mas<br />
1 2<br />
2<br />
2<br />
2<br />
⎛ ⎞ ⎛<br />
⎟ ⎞<br />
= 2 +<br />
2<br />
m<br />
m<br />
E p m → E = p<br />
⎜1<br />
+<br />
⎟ ≅ p<br />
⎜1<br />
2 + .<br />
⎝ p ⎠ ⎝ 2 p<br />
2<br />
⎠<br />
Usando a aproximação acima para ca<strong>da</strong> autoestado de massa chegamos a seguinte<br />
expressão:<br />
⎡ ⎛<br />
2<br />
2<br />
1 ⎞ ⎛ 1 ⎞<br />
⎤<br />
2 ⎢ ⎜ ma<br />
1 ⎟ ⎜ mb<br />
L 1 ⎟ − ( + ) ⎥<br />
osc<br />
= π pa<br />
+ − p +<br />
2<br />
b<br />
p<br />
2<br />
a<br />
pb<br />
.<br />
⎢ ⎜ 2 ⎟ ⎜ 2 ⎟<br />
⎥<br />
⎣ ⎝<br />
pa<br />
⎠ ⎝<br />
pb<br />
⎠<br />
⎦<br />
−1<br />
Se usarmos a aproximação E ≅<br />
comprimento de oscilação pode ser <strong>da</strong>do por:<br />
p a<br />
≅ p<br />
b<br />
, então chegamos que fi<strong>na</strong>lmente o<br />
L osc<br />
4 E<br />
= π . (1.46)<br />
2<br />
∆m<br />
b-) termo fator de amortecimento:<br />
⎪⎧<br />
exp⎨<br />
⎪⎩<br />
( v − v )<br />
2<br />
2<br />
X a b<br />
−<br />
2 2 2<br />
4σ<br />
x<br />
va<br />
+ vb<br />
⎪⎫<br />
⎬<br />
⎪⎭<br />
Este termo mede a coerência <strong>da</strong>s contribuições dos pacotes de on<strong>da</strong>s dos diferentes<br />
autoestados de massa. O comprimento de coerência é <strong>da</strong>do por<br />
16
L<br />
coh<br />
2 2<br />
va<br />
+ vb<br />
≡ 2σ . (1.47)<br />
x<br />
( v − v ) 2<br />
a<br />
b<br />
Notamos que a expressão indica que é a distância percorri<strong>da</strong> para que a<br />
probabili<strong>da</strong>de caia com 1/e.<br />
Usando as mesmas aproximações para o cálculo do comprimento de oscilação e<br />
usando (1.39), isto é, considerando neutrinos extr<strong>em</strong>amente relativísticos, t<strong>em</strong>os<br />
−1<br />
L<br />
coh<br />
=<br />
2<br />
v<br />
a<br />
2σ<br />
x<br />
−v<br />
b<br />
= 2<br />
2σ<br />
x<br />
p<br />
E<br />
a<br />
a<br />
1<br />
−<br />
p<br />
E<br />
b<br />
b<br />
= 2<br />
2σ<br />
x<br />
⎛<br />
⎜1+<br />
⎜<br />
⎝<br />
1<br />
m<br />
p<br />
2<br />
a<br />
2<br />
a<br />
⎞<br />
⎟<br />
⎟<br />
⎠<br />
1 2<br />
−<br />
⎛<br />
⎜1+<br />
⎜<br />
⎝<br />
1<br />
m<br />
p<br />
2<br />
b<br />
2<br />
b<br />
⎞<br />
⎟<br />
⎟<br />
⎠<br />
1 2<br />
L<br />
coh<br />
= 2<br />
2<br />
1<br />
4 2E<br />
σ<br />
x<br />
2σ x<br />
= . (1.48)<br />
2<br />
m m ∆m<br />
1−<br />
−1+<br />
2 p 2 p<br />
2<br />
a<br />
2<br />
a<br />
2<br />
b<br />
2<br />
b<br />
c-) termo fator exponencial:<br />
⎪⎧<br />
exp⎨<br />
⎪⎩<br />
2<br />
( E ) ⎪⎫<br />
a<br />
− Eb<br />
2 2<br />
( ) ⎬<br />
4σ<br />
v + v ⎪⎭<br />
− 2<br />
p a b<br />
Este termo surge devido à integração t<strong>em</strong>poral (ver Apêndice A) e garante a<br />
conservação de energia dentro <strong>da</strong> incerteza <strong>da</strong><strong>da</strong> pelo comprimento σ<br />
p<br />
. Notamos que este<br />
fator não depende <strong>da</strong> distância X e sua presença significa que, se<br />
2 2<br />
( E E ) ≥ v + v<br />
a<br />
− σ , a integração t<strong>em</strong>poral suprime a interferência dos autoestados<br />
b<br />
p<br />
a<br />
b<br />
de massa.<br />
O cálculo de σ<br />
p<br />
se dá simplesmente usando a relação de incerteza σ xσ p<br />
= 1 2 .<br />
Vamos apresentar os mais diversos valores dos tamanhos dos pacotes de on<strong>da</strong> no espaço<br />
dos momentos ( σ ):<br />
a-) neutrinos do Sol<br />
p<br />
Para ν<br />
e<br />
origi<strong>na</strong>dos no processo<br />
8<br />
8<br />
B→<br />
Be + e<br />
+<br />
+ ν , usando (1.29), t<strong>em</strong>os<br />
e<br />
−5<br />
σ ≅ 3,14×<br />
10 MeV . (1.49)<br />
p<br />
Para ν<br />
e<br />
solares produzidos pela reação<br />
p + p→<br />
2<br />
H + e<br />
+<br />
+ ν , resulta <strong>em</strong><br />
e<br />
17
−6<br />
σ ≅ 4,22×<br />
10 MeV . (1.50)<br />
p<br />
b-) neutrinos de supernova<br />
Para neutrinos do centro <strong>da</strong> supernova, o tamanho dos pacotes no espaço dos<br />
momentos estará <strong>em</strong> um intervalo<br />
σ<br />
p<br />
≅ 6,72<br />
− 208MeV . (1.51)<br />
O tamanho destes pacotes de neutrinos oriundos <strong>da</strong> neutrinosfera é<br />
c-) neutrinos de reatores<br />
σ<br />
p<br />
≅ 0, 060MeV . (1.52)<br />
Para o valor apresentado abaixo, usamos (1.33)) e obtiv<strong>em</strong>os, portanto,<br />
d-) neutrinos de aceleradores<br />
Usando o valor encontrado <strong>em</strong> (1.34), ter<strong>em</strong>os<br />
−8<br />
σ = 1,90×<br />
10 MeV . (1.53)<br />
p<br />
−14<br />
σ ≅ 9,87 × 10 MeV . (1.54)<br />
p<br />
Na Tabela 1.2, resumimos todos os tamanhos dos pacotes no espaço dos momentos<br />
( σ<br />
p<br />
) e parâmetros usados e apresentados também <strong>na</strong> Tabela 1.1 para os cálculos acima<br />
apresentados <strong>na</strong>s diversas situações.<br />
18
Experimento Parâmetros σ p (MeV)<br />
3,14×10 -5<br />
4,22×10 -6<br />
Solar T=1,3keV<br />
Ρ =120g/cm 3<br />
N=7,22×10 25 cm -3<br />
T=1,1keV<br />
Ρ =100g/cm 3<br />
N=6,02×10 25 cm -3<br />
Acelerador T = 10 -8 s 9,87×10 -14<br />
Reator<br />
Supernova<br />
T = 1MeV<br />
1,90×10 -8<br />
ρ = 20g/cm 3<br />
A=238 (Urânio)<br />
T=10 – 100 MeV 6,72 – 208<br />
ρ =10 14 g/cm 3<br />
N=6,02×10 37 cm -3<br />
T=5MeV<br />
0,060<br />
ρ =10 10 g/cm 3<br />
N=6,02×10 33 cm 3<br />
Tabela 1.2: Tamanho dos pacotes de on<strong>da</strong> no espaço dos momentos<br />
Para sabermos se o termo exponencial é efetivo, isto é, suprime a oscilação,<br />
dev<strong>em</strong>os calcular ( Ea − E b<br />
). L<strong>em</strong>brando que a energia de um autoestado de massa pode<br />
2<br />
⎛ m<br />
ser <strong>da</strong><strong>da</strong> por<br />
⎟ ⎞<br />
E ≅ p<br />
⎜1<br />
+ , faz<strong>em</strong>os<br />
2<br />
⎝ 2 p ⎠<br />
E<br />
a<br />
2<br />
2<br />
2<br />
ma<br />
mb<br />
∆m<br />
− Eb<br />
≅ pa<br />
− pb<br />
+ − ≅ . (1.55)<br />
2 p 2 p 2E<br />
a<br />
b<br />
Apresentamos <strong>na</strong> Tabela 1.3 abaixo os valores de Ea<br />
− Eb<br />
para as situações<br />
2<br />
−5<br />
2 2<br />
−3<br />
2<br />
cita<strong>da</strong>s. Estamos usando ∆ m ≅ 7,1<br />
× 10 eV e ∆ m ≅ 1,0<br />
× 10 eV . Para o caso solar, a<br />
energia usa<strong>da</strong> foi de 10 MeV, para aceleradores, 1 GeV e para reatores, 1 MeV. Para o<br />
centro <strong>da</strong> supernova, usamos uma energia máxima de 100 MeV, e para a região <strong>da</strong><br />
neutrinosfera, uma energia de 10 MeV. Os três valores de diferença de energia entre os<br />
autoestados de massa, <strong>na</strong>s regiões do centro e neutrinosfera <strong>da</strong> supernova, se refer<strong>em</strong>, de<br />
2<br />
cima para baixo, a diferentes ∆ m .<br />
19
Experimento<br />
Ea − E b<br />
(MeV)<br />
Solar 3,65×10 -18<br />
Acelerador 5,00×10 -19<br />
Reator 3,65×10 -17<br />
Supernova<br />
(Centro)<br />
Supernova<br />
(Neutrinosfera)<br />
3,65×10 -19 2<br />
−5<br />
2<br />
( ∆ m ≅ 7,1<br />
× 10 eV )<br />
5,00×10 -18 2<br />
−3<br />
2<br />
( ∆ m ≅ 1,0<br />
× 10 eV )<br />
0,5×10 -6 2<br />
8 2<br />
( ∆ m ≅ 1,0<br />
× 10 eV )<br />
3,55×10 -18 2<br />
−5<br />
2<br />
( ∆ m ≅ 7,1<br />
× 10 eV )<br />
5,0×10 -17 2<br />
−3<br />
2<br />
( ∆ m ≅ 1,0<br />
× 10 eV )<br />
5,0×10 -10 2<br />
6 2<br />
( ∆ m ≅ 1,0<br />
× 10 eV )<br />
Tabela 1.3: Diferenças de energia entre os autoestados de massa.<br />
Notamos que, comparando os valores dos<br />
2 2<br />
situações ( )<br />
σ p<br />
com<br />
E − E , <strong>em</strong> to<strong>da</strong>s as<br />
E<br />
a<br />
− Eb<br />
que os pacotes de on<strong>da</strong> dos autoestados de massa percorram a distância X acoplados entre<br />
si para que a oscilação ocorra. Logo, o comprimento de coerência, que se refere ao<br />
comprimento no qual os pacotes estão acoplados e interferindo entre si, deve ser maior que<br />
a distância percorri<strong>da</strong>, que, por sua vez, deve ser maior que o comprimento de oscilação.<br />
Logo, de maneira genérica, esperamos que ocorra o fenômeno de oscilação para<br />
L<br />
coh<br />
> L osc<br />
. (1.56)<br />
Vamos verificar (1.56) para os diversos tipos de situação. A<strong>na</strong>lisar<strong>em</strong>os a situação<br />
solar, de aceleradores e reatores, de neutrinos de altíssima energia, e de supernovas.<br />
L<strong>em</strong>brando que para tal usar<strong>em</strong>os as expressões (1.46) e (1.48) e os valores dos tamanhos<br />
dos pacotes de on<strong>da</strong> encontrados e resumidos <strong>na</strong> Tabela 1.1.<br />
2<br />
−5<br />
2<br />
i) No caso dos neutrinos solares, com ∆ m ≅ 7,1<br />
× 10 eV e energia típica de 10<br />
7<br />
2<br />
MeV dos neutrinos, L coh<br />
= 2 ,44×<br />
10 km e L osc<br />
= 3 ,40×<br />
10 km . Notamos que<br />
(1.56) é satisfeito, portanto, dev<strong>em</strong>os notar o padrão oscilatório dos neutrinos.<br />
2<br />
−5<br />
2<br />
ii) No caso dos neutrinos de reatores, com ∆ m ≅ 7,1<br />
× 10 eV e 1 MeV de<br />
8<br />
1<br />
energia, L coh<br />
= 3 ,95×<br />
10 km e L osc<br />
= 3 ,40×<br />
10 km . Notamos que (1.56) também<br />
é satisfeito, portanto, o fenômeno de oscilação também deverá ocorrer.<br />
iii) Os neutrinos de aceleradores também irão oscilar, uma vez que (1.56) é<br />
2<br />
−3<br />
2<br />
respeitado. Usou-se ∆ m ≅ 1,0<br />
× 10 eV e neutrinos com energia típica de 1<br />
18<br />
3<br />
GeV. L coh<br />
= 5 ,65×<br />
10 km e L osc<br />
= 2 ,48×<br />
10 km .<br />
Resumimos as informações obti<strong>da</strong>s acima <strong>na</strong> Tabela 1.4 logo abaixo.<br />
Energia (MeV) ∆m 2 (eV 2 ) Lcoh (km) Losc(km)<br />
Solar 10 7,1×10 -5 2,44×10 7<br />
Reator 1 7,1×10 -5 3,95×10 8<br />
Acelerador 1000 1,0×10 -3 5,65×10 18<br />
3,40×10 2<br />
3,40×10 1<br />
2,48×10 3<br />
Tabela 1.4: comprimento de coerência e comprimento de oscilação para os casos solares, de reatores e<br />
aceleradores.<br />
Os neutrinos de altíssima energia são neutrinos oriundos, por ex<strong>em</strong>plo, de núcleos<br />
ativos de galáxia (AGNs), que são formados por buracos negros supermassivos capazes de<br />
profuzir fótons e raios cósmicos altamente energéticos. Por mecanismos de Fermi, tais raios<br />
cósmicos pod<strong>em</strong> ser acelerados até energias <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> de TeV. Os prótons pod<strong>em</strong> interagir<br />
com os fótons de “background” produzindo partículas ∆. Estas pod<strong>em</strong> decair <strong>da</strong> seguinte<br />
maneira:<br />
∆<br />
∆<br />
+<br />
+<br />
0<br />
→ p + π<br />
. (1.57)<br />
+<br />
→ n + π<br />
21
Os píons produzidos pod<strong>em</strong>, por sua vez, decaír<strong>em</strong> nos respectivos neutrinos, cuja<br />
reação, por ex<strong>em</strong>plo, é:<br />
π + → µ<br />
+ + . (1.58)<br />
ν µ<br />
Pela equação (1.58), v<strong>em</strong>os como os neutrinos são produzidos nos AGNs. Usar<strong>em</strong>os<br />
o tamanho dos pacotes de on<strong>da</strong> considerado nos aceleradores para tratar estes neutrinos de<br />
altíssima energia, já que pod<strong>em</strong>os imagi<strong>na</strong>r os núcleos ativos de galáxia como aceleradores<br />
capazes de fazer as partículas atingir<strong>em</strong> altíssimas energias. Consideramos duas energias<br />
típicas: 10 15 eV e 10 18 eV. Usamos também os dois valores de diferença de massa ao<br />
quadrado usado anteriormente. Apresentamos os resultados <strong>na</strong> Tabela 1.5 abaixo:<br />
Energia ∆m 2 (eV 2 ) Lcoh (cm) Losc (cm)<br />
10 15 eV 7,1×10 -5 7,75×10 36<br />
1,0×10 -3 5,66×10 35<br />
10 18 eV 7,1×10 -5 7,75×10 42<br />
1,0×10 -3 5,66×10 41<br />
3,40×10 15<br />
2,48×10 14<br />
3,40×10 18<br />
2,48×10 17<br />
Tabela 1.5: comprimento de oscilação e comprimento de coerência para o caso de neutrinos de<br />
altíssima energia.<br />
Notamos claramente pelos valores encontrados do comprimento de coerência e do<br />
comprimento de oscilação que os neutrinos de altíssima energia parec<strong>em</strong> oscilar.<br />
Os neutrinos de supernova, que serão descritos no Capítulo 3, foram divididos <strong>em</strong><br />
duas regiões típicas: os neutrinos do “core” estelar e os neutrinos <strong>da</strong> região <strong>da</strong><br />
neutrinosfera. Para o “core”, com neutrinos de energia <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> de 100 MeV:<br />
2<br />
−5<br />
2<br />
9<br />
8<br />
• ∆ m ≅ 7,1<br />
× 10 eV - L coh<br />
= 1 ,15×<br />
10 cm e L osc<br />
= 3 ,40×<br />
10 cm ;<br />
2<br />
−3<br />
2<br />
7<br />
7<br />
• ∆ m ≅ 1,0<br />
× 10 eV - L coh<br />
= 8 ,43×<br />
10 cm e L osc<br />
= 2 ,50 × 10 cm e<br />
2<br />
8 2<br />
• ∆ m ≅ 1,0<br />
× 10 eV (diferença de massa ao quadrado efetiva estima<strong>da</strong> <strong>na</strong><br />
−4<br />
−4<br />
matéria) - L coh<br />
= 8,43×<br />
10 cm e L osc<br />
= 2,48×<br />
10 cm .<br />
Notamos que os valores encontrados para o comprimento de coerência e para o<br />
comprimento de oscilação estão muito próximos. Seria precipitado falar que os neutrinos<br />
realmente oscilam, já que (1.56) não é ple<strong>na</strong>mente satisfeita, principalmente para<br />
2<br />
−3<br />
2 2<br />
8 2<br />
∆ m ≅ 1,0<br />
× 10 eV e ∆ m ≅ 1,0<br />
× 10 eV .<br />
Para a neutrinosfera, usando neutrinos com valor de energia de 10 MeV:<br />
2<br />
−5<br />
2<br />
9<br />
7<br />
• ∆ m ≅ 7,1<br />
× 10 eV - L coh<br />
= 1 ,30×<br />
10 cm e L osc<br />
= 3 ,40×<br />
10 cm ;<br />
2<br />
−3<br />
2<br />
7<br />
6<br />
• ∆ m ≅ 1,0<br />
× 10 eV - L coh<br />
= 9 ,47 × 10 cm e L osc<br />
= 2 ,50×<br />
10 cm e<br />
2<br />
4 2<br />
• ∆ m ≅ 1,0<br />
× 10 eV (diferença de massa ao quadrado efetiva estima<strong>da</strong> <strong>na</strong><br />
matéria) - L coh<br />
= 9, 47cm<br />
e L osc<br />
= 0, 25cm<br />
.<br />
22
Os valores apresentados para a neutrinosfera satisfaz<strong>em</strong> à condição (1.56), mas não<br />
<strong>em</strong> tantas ordens de grandeza acima. Consideramos que o caso <strong>da</strong> supernova deve ser<br />
a<strong>na</strong>lisado com uma acui<strong>da</strong>de maior. Não pod<strong>em</strong>os, s<strong>em</strong> uma análise mais precisa, afirmar<br />
com firmeza que os neutrinos de supernova realmente oscilam. Resumimos a situação <strong>da</strong>s<br />
supernovas <strong>na</strong> Tabela 1.6.<br />
E(MeV) ∆m 2 (eV 2 ) Lcoh(cm) Losc(cm)<br />
“Core” 100 7,1×10 -5 1,15×10 9<br />
100 1,0×10 -3 8,43×10 7<br />
100 1,0×10 8 8,43×10 -4<br />
ν "esfera" 10 7,1×10 -5 1,30×10 9<br />
10 1,0×10 -3 9,47×10 7<br />
3,40×10 8<br />
2,50×10 7<br />
2,48×10 -4<br />
3,40×10 7<br />
2,50×10 6<br />
10 1,0×10 4 9,47 0,25<br />
Tabela 1.6 – comprimento de coerência e comprimento de oscilação para o caso de supernovas<br />
Usando as relações (1.46) e (1.48), obt<strong>em</strong>os o gráfico abaixo, que indica que, para<br />
neutrinos com energia acima de 30 MeV aproxima<strong>da</strong>mente, os neutrinos dev<strong>em</strong> oscilar. No<br />
entanto, dev<strong>em</strong>os notar que o gráfico mostra que a ord<strong>em</strong> de grandeza do comprimento de<br />
oscilação e do comprimento de coerência está muito próxima. Portanto, seria também<br />
precipitado falar que para neutrinos acima de 30 MeV ocorrerá certamente oscilação.<br />
Figura 1.1 – Apresentamos o comprimento de coerência e o comprimento de oscilação <strong>em</strong> função <strong>da</strong><br />
energia <strong>em</strong> MeV.<br />
23
Pela equação (1.44), elimi<strong>na</strong>ndo o termo exponencial e usando a solução solar (ver<br />
Tabela 4.1), pod<strong>em</strong>os calcular a probabili<strong>da</strong>de de con<strong>versão</strong> para os neutrinos oriundos de<br />
supernova se propagando no vácuo (Figura 1.2). T<strong>em</strong>os que o termo de amortecimento<br />
“mata” o padrão oscilatório, indicando que os pacotes de on<strong>da</strong> dos autoestados de massa se<br />
desacoplam. A probabili<strong>da</strong>de média mostra<strong>da</strong> de con<strong>versão</strong>, considerando o ca<strong>na</strong>l<br />
ν<br />
e<br />
↔ν µ , τ e energia de cerca de 100 MeV, é cerca de 0,4.<br />
0.8<br />
0.6<br />
0.4<br />
0.2<br />
10 20 30 40 50 60<br />
Figura 1.2 – o eixo y é a probabili<strong>da</strong>de e o eixo x é a distância <strong>em</strong> Mpc para uma supernova.<br />
Notamos que os neutrinos solares, de reatores, de aceleradores, assim como os<br />
neutrinos de altíssima energia, parec<strong>em</strong> todos oscilar. Os neutrinos de supernova, no vácuo,<br />
têm sua oscilação congela<strong>da</strong>, porque os autoestados de massa perd<strong>em</strong> a coerência.<br />
1.4) O “Spreading” dos Pacotes de On<strong>da</strong> [27]<br />
Nesta seção vamos discutir os dois diferentes mecanismos que causam a separação<br />
dos pacotes de on<strong>da</strong>. O primeiro é a separação dos centros dos pacotes (“splitting”),<br />
(∆ X ) ij<br />
, devido à diferença de massa entre os autoestados de massa ν<br />
1, ν<br />
2<br />
e ν<br />
3<br />
. O segundo<br />
mecanismo é o alargamento dos pacotes (“spreading”), ( ∆ X ) ∆ p<br />
, que se origi<strong>na</strong> <strong>da</strong> dispersão<br />
inicial do momento associado aos pacotes de on<strong>da</strong>. O “spread” do momento inicial é uma<br />
conseqüência do princípio de incerteza.<br />
Vamos primeiro ignorar o “spread” ( ∆ X ) ∆ p<br />
. Tratar<strong>em</strong>os somente de (∆ X )<br />
ij<br />
. Depois<br />
de uma distância L, considerando dois pacotes de on<strong>da</strong> ν i<br />
e ν<br />
j<br />
inicialmente justapostos,<br />
este dois pacotes irão se separar por<br />
24
2<br />
∆m<br />
( vi<br />
− v<br />
j<br />
) ≅ L<br />
2<br />
onde usamos (1.38) e (1.39), além <strong>da</strong> aproximação<br />
Então, se a seguinte condição<br />
( ∆ X )<br />
ij<br />
≡ L<br />
, (1.59)<br />
2E<br />
t ≅ L .<br />
L∆m<br />
2<br />
2E<br />
2<br />
> σ , (1.60)<br />
x<br />
que diz se o “splitting” (∆ X )<br />
ij<br />
é maior que o tamanho do pacote de on<strong>da</strong> σ<br />
x<br />
, então o<br />
autoestados de massa não irão mais se justapor depois de viajar<strong>em</strong> uma distância L. Em<br />
outras palavras, estes pacotes de on<strong>da</strong> se desacoplarão devido ao “splitting” (1.59). Se<br />
usarmos os parâmetros de tamanho de pacote de on<strong>da</strong>, energia e diferença de massa ao<br />
quadrado <strong>da</strong>s seções anteriores, verificamos que ocorrerá término <strong>da</strong> justaposição dos<br />
autoestados de massa para os neutrinos de supernova. Não deverá ocorrer, ou seja, a<br />
coerência será manti<strong>da</strong> para neutrinos de aceleradores. No caso dos reatores, o detector<br />
deveria estar a uma distância maior que 10 12 cm para que os pacotes de on<strong>da</strong> se<br />
desacopl<strong>em</strong>. Este valor é maior que o diâmetro terrestre, logo, o desacoplamento<br />
(“splitting”) para reatores não deve ocorrer. No caso dos neutrinos solares, o<br />
−6<br />
desacoplamento deve acontecer para pacotes de on<strong>da</strong> muito menores que 5,0 × 10 cm , o<br />
que não ocorre considerando os valores apresentados <strong>na</strong> Tabela 1.1. Para neutrinos de<br />
AGN, apesar de distâncias <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> de Mparsec, o desacoplamento dos pacotes não<br />
ocorrerão devido às altíssimas energias, que são <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> de 10 15 eV e 10 18 eV.<br />
No entanto, t<strong>em</strong>os que a<strong>na</strong>lisar o “spreading” (ou dispersão) devido às incertezas<br />
associa<strong>da</strong>s ao momento p. Considerando durante a propagação que ∆ p ≡ σ , sab<strong>em</strong>os que<br />
−1<br />
σ<br />
xσ<br />
p<br />
≅ 1 ⇒ σ<br />
p<br />
≅ σ<br />
x<br />
para ca<strong>da</strong> pacote de on<strong>da</strong>. O “spread”, ∆ X ) ∆ p<br />
<strong>da</strong>do por<br />
p<br />
( , devido ao ∆ p , é<br />
2<br />
2<br />
⎛ ∆p<br />
⎞ mi<br />
Lmi<br />
( ∆X<br />
) ∆ p<br />
≅ L⎜<br />
⎟ ≅ . (1.61)<br />
2 3<br />
⎝ p ⎠ p E σ<br />
x<br />
Dev<strong>em</strong>os comparar (1.59) com (1.61). Se tivermos<br />
( ∆X ) ∆<br />
< ( ∆X<br />
) ou (1.62)<br />
p<br />
ij<br />
Lm<br />
2<br />
ij<br />
3<br />
E σ<br />
x<br />
<<br />
L∆m<br />
2E<br />
2<br />
2<br />
, (1.63)<br />
2 2 2<br />
<strong>em</strong> que m ( m + m ) 2<br />
ij<br />
= , os pacotes não serão justapostos, portanto, irão se desacoplar.<br />
i<br />
j<br />
Notamos que tal fato independe <strong>da</strong> distância L. A condição (1.62) é satisfeita para a<br />
supernova, a não ser para a situação degenera<strong>da</strong>. Logo o “spread” devido a ∆ p não é tão<br />
25
efetivo quanto o “splitting” entre os pacotes de on<strong>da</strong>, o que implica que os pacotes chegam<br />
desacoplados <strong>na</strong> Terra.<br />
As figuras 1.3 e 1.4 resum<strong>em</strong> os fenômenos de desacoplamento e alargamento entre<br />
os pacotes de on<strong>da</strong> dos autoestados de massa que compõ<strong>em</strong> a on<strong>da</strong> do neutrino.<br />
Figura 1.3: (a) O desacoplamento de dois pacotes de on<strong>da</strong> devido a (1.59); (b) O alargamento devido ao<br />
princípio <strong>da</strong> incerteza (1.61)<br />
Figura 1.4: (a) Condição (1.62) satisfeita, logo ocorre o fim <strong>da</strong> coerência; (b) Condição (1.62) não<br />
satisfeita, portanto coerência manti<strong>da</strong>.<br />
26
Referências – Capítulo 1<br />
[1] B. Pontecorvo, Sov. Phys. JETP, 6, 429 (1957), [Zh. Eksp. Teor. Fiz. 33, 549 (1957)].<br />
[2] B. Pontecorvo, Zh. Eksp. Teor. Fiz. 34, 247 (1957), [Sov. Phys. JETP, 7, 172, (1958)].<br />
[3] J. Davis, Raymond, D. S. Harmer, e K. C. Hoffman, Phys, Rev. Lett. 20, 1205-1209<br />
(1968).<br />
[4] SuperKamiokande Collaboration, S. Fuku<strong>da</strong> et. al., Phys. Rev. Lett. 85, 3999 (2000); C.<br />
MacGrew, Talk presented at Inter<strong>na</strong>tio<strong>na</strong>l Workshop on “Neutrino Telescopes”, Venice,<br />
Italy, March 6-9, 2001; Sou<strong>da</strong>n Collaboration, T. Mann et. al., Nucl. Phys. (Proc. Suppl.)<br />
91, 134 (2001); MACRO Collaboration, B. Barish et. al., Nucl. Phys. (Proc. Suppl.) 91,<br />
141 (2001).<br />
[5] Z. Maki, M. Nakagawa, e S. Sakata, Prog. Theor. Phys. 28, 870 (1962).<br />
[6] B. Pontecorvo, Sov. Phys. JETP 26, 984 (1968).<br />
[7] V. N. Gribov e B. Pontecorvo, Phys. Lett. B28, 493 (1969).<br />
[8] S. Eliezer e A. R. Swift, Nucl. Phys. B105, 45 (1976).<br />
[9] H. Fritzsch e P. Minkowski, Phys. Lett. B62, 72 (1976).<br />
[10] S. M. Bilenky e B. Pontecorvo, Nuovo Cim. Lett. 17, 569 (1976).<br />
[11] S. M. Bilenky e B. Pontecorvo, Phys. Rept. 41, 225 (1978).<br />
[12] S. Nussinov, Phys. Lett. B63, 201 (1976).<br />
[13] B. Kayser, Phys. Rev. D24, 110 (1981).<br />
[14] C. Giunti, C. W. Kim, e U. W. Lee, Phys. Rev. D44, 3635 (1991).<br />
[15] C. Giunti, C. W. Kim, e U. W. Lee, Phys. Lett. B274, 87 (1992).<br />
[16] A. D. Dolgov, A. Y. Morozov, L. B. Okun, e M. G. Shchepkin, Nucl. Phys. B502, 3<br />
(1997), hep-ph/9703241.<br />
[17] C. Giunti e C. W. Kim, Phys. Rev. D58, 017301 (1998), hep-ph/9711363.<br />
[18] A. D. Dolgov, “Neutrino oscillation and cosmology”, 2000, hep-ph/0004032,<br />
Inter<strong>na</strong>tio<strong>na</strong>l School of Astrophysics, Daniel Chalonge: 7 th Course: Current Topics in<br />
27
Astrofun<strong>da</strong>mental Physics (A NATO Advanced Study Institute EuroConference), Erice,<br />
Italy, 5-16 Dec. 1999.<br />
[19] A. D. Dolgov, Phys. Rept. 370, 333 (2002), hep-ph/0202122.<br />
[20] C. Giunti, Physica Scripta 67, 29 (2003), hep-ph/0202063.<br />
[21] C. Giunti, C. W. Kim, J. A. Lee, e U. W. Lee, Phys. Rev. D48, 4310 (1993), hepph/9305276.<br />
[22] C. Giunti, C. W. Kim, e U. W. Lee, Phys. Lett. B421, 237 (1998), hep-ph/9709494.<br />
[23] K. Kiers e W. Weiss, Phys. Rev. D57, 3091 (1998), hep-ph/9710289.<br />
[24] C. Y. Car<strong>da</strong>ll, Phys. Rev. D61, 073006 (2000), hep-ph/9909332.<br />
[25] M. Beuthe, Phys. Rev. D66, 013003 (2002), hep-ph/0202068.<br />
[26] C. Giunti, JHEP 11, 017 (2002), hep-ph/0205014.<br />
[27] C. W. Kim e A. Pevsner, Neutrinos in physics and astrophysics, Harwood Acad<strong>em</strong>ic<br />
Press, Chur, Switzerland, 1993, Cont<strong>em</strong>porary Concepts in Physics, Vol.8.<br />
[28] M. Zralek, Acta Phys. Polon. B29, 3925 (1998), hep-ph/9810543.<br />
[29] M. Beuthe, Phys. Rept. 375, 105 (2003), hep-ph/0109119.<br />
[30] P. Pal, Inter<strong>na</strong>tio<strong>na</strong>l Jour<strong>na</strong>l of Modern Physics A7, 22 (1992).<br />
28
CAPÍTULO 2<br />
Neutrinos <strong>na</strong><br />
Matéria<br />
O fenômeno de oscilação <strong>em</strong> um meio material, como no sol ou <strong>em</strong> uma supernova,<br />
pode ser b<strong>em</strong> diferente <strong>da</strong> oscilação que ocorre no vácuo. Isto acontece porque as<br />
interações no meio modificam as relações de dispersão <strong>da</strong>s partículas que viajam através<br />
dele [1]. Relações de dispersão fornec<strong>em</strong> a energia de uma partícula <strong>em</strong> termos de seu<br />
momento. Logo, uma relação de dispersão <strong>na</strong> matéria diferente <strong>da</strong> tradicio<strong>na</strong>l relação de<br />
dispersão do vácuo significa um Hamiltoniano modificado e, portanto, uma evolução<br />
t<strong>em</strong>poral <strong>da</strong> função de on<strong>da</strong> associa<strong>da</strong> diferente. Em suma, um feixe de neutrinos viajando<br />
através <strong>da</strong> matéria evolui de maneira diferente que o mesmo feixe viajando no vácuo.<br />
Pod<strong>em</strong>os considerar que tanto o meio solar quanto o meio de uma supernova é<br />
constituído de um plasma de primeira geração – os neutrinos eletrônicos interag<strong>em</strong> via<br />
corrente carrega<strong>da</strong> e corrente neutra, enquanto que os outros autoestados de sabor<br />
interag<strong>em</strong> somente por corrente neutra. Do ponto de vista macroscópico, as modificações<br />
<strong>da</strong> relação de dispersão do neutrino pod<strong>em</strong> ser representa<strong>da</strong>s <strong>em</strong> termos de um índice de<br />
refração ou de um potencial efetivo. No nível microscópico, usando a abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> de teoria<br />
de campos a t<strong>em</strong>peraturas e densi<strong>da</strong>des finitas (ver Apêndice C), as modificações surg<strong>em</strong><br />
<strong>da</strong>s correções dependentes de t<strong>em</strong>peratura e densi<strong>da</strong>de dos diagramas de Feynmann autoenergia<br />
do neutrino [2, 3, 4, 5]. Aqui explorar<strong>em</strong>os somente a visão macroscópica, <strong>em</strong> que<br />
os neutrinos a baixas energias sofr<strong>em</strong> espalhamento coerente (refração) descritos pelo<br />
potencial<br />
V = 2GFne , (2.1)<br />
<strong>em</strong> que G F é a constante de Fermi e n e é a densi<strong>da</strong>de eletrônica do meio.<br />
29
2.1) On<strong>da</strong>s Pla<strong>na</strong>s de Neutrinos <strong>na</strong> Matéria<br />
2.1.1) Oscilação de Neutrinos <strong>na</strong> Matéria Uniforme<br />
A equação de evolução <strong>na</strong> matéria é <strong>da</strong><strong>da</strong> por<br />
d<br />
i<br />
dx<br />
( f ) ~ H<br />
( f )<br />
ν = ν , (2.2)<br />
( f )<br />
onde ν é o autoestado de sabor e H ~ é o Hamiltoniano efetivo, que pode ser escrito para<br />
duas famílias de uma forma conveniente [6, 7, 8, 9, 10, 11] apresenta<strong>da</strong> abaixo.<br />
~<br />
H<br />
⎛ ⎛ 1 ⎞<br />
⎞<br />
⎜ 2GF⎜<br />
ne<br />
− nn⎟<br />
0 ⎟<br />
= H + ⎜ ⎝ 2 ⎠<br />
⎟<br />
0<br />
. (2.3)<br />
⎜<br />
1 ⎟<br />
⎜ 0 − GFnn<br />
⎟<br />
⎝<br />
2 ⎠<br />
Na matriz (2.3) H<br />
0<br />
é o Hamiltoniano do vácuo e pod<strong>em</strong>os escrevê-la como<br />
~<br />
H<br />
2 2<br />
m1 + m2<br />
1 1 ~ 2<br />
= E + − GF nn<br />
+ M , (2.4)<br />
4E<br />
2 2E<br />
<strong>em</strong> que<br />
por conveniência definimos<br />
~ 2 1 ⎛− ∆ cos 2θ<br />
+ 2A<br />
∆sen2θ<br />
⎞<br />
M = ⎜<br />
⎟ e (2.5)<br />
2 ⎝ ∆sen2θ<br />
∆ cos 2θ<br />
⎠<br />
A = 2 2GFneE<br />
. (2.6)<br />
2<br />
E é a energia do neutrino e nn<br />
é a densi<strong>da</strong>de de nêutrons. ∆ = ∆m e θ são,<br />
respectivamente, a diferença de massa ao quadrado e o ângulo de mistura no vácuo. Estes<br />
dois últimos parâmetros serão alterados <strong>na</strong> matéria e irão depender <strong>da</strong> configuração<br />
eletrônica do meio onde os neutrinos estão se propagando.<br />
O ângulo de mistura efetivo pode ser <strong>da</strong>do por<br />
~<br />
tg2θ<br />
=<br />
~<br />
2H12 ∆sen2θ<br />
~ ~ =<br />
e (2.7)<br />
H − H ∆ cos 2θ<br />
− A<br />
22<br />
11<br />
os autoestados estacionários são<br />
30
~ ~ ~<br />
1<br />
= ν<br />
e<br />
cosθ<br />
−ν<br />
senθ<br />
e (2.8.a)<br />
ν µ<br />
~ ~ ~<br />
= ν<br />
e<br />
senθ<br />
ν cosθ<br />
, (2.8.b)<br />
ν<br />
2<br />
+ µ<br />
com autovalores iguais a<br />
~<br />
E<br />
m~<br />
2<br />
1<br />
α<br />
= E − GFnn<br />
, (2.9)<br />
2 2E<br />
α +<br />
<strong>em</strong> que<br />
2 2<br />
2 2<br />
( m + + ) ( ∆ cos 2θ − ) + ∆ 2 ⎤<br />
1<br />
m2<br />
A<br />
A<br />
⎥⎦<br />
~ 2 1<br />
= ⎡<br />
2<br />
m1 ,2<br />
m sen θ . (2.10)<br />
2 ⎢⎣<br />
Pod<strong>em</strong>os destacar alguns fatos interessantes. Consider<strong>em</strong>os o ângulo de mistura do<br />
vácuo θ pequeno. Então, para n e → 0 , ~ θ → θ , então ~ ν<br />
1<br />
≈ν<br />
e<br />
. Em outras palavras, o<br />
menor autoestado de massa é praticamente ν e<br />
se a densi<strong>da</strong>de de matéria é quase zero. Já<br />
~ π<br />
para n e → ∞ , θ → , então ~ ν<br />
1<br />
≈ν µ . Isto é o que ocorre para a densi<strong>da</strong>de de matéria<br />
2<br />
tendendo ao infinito, tor<strong>na</strong>ndo o autoestado puramente ν µ .<br />
Notamos por (2.7) ou pela expressão abaixo deduzi<strong>da</strong> a partir de (2.7),<br />
2 2<br />
2 ~ ∆ sen 2θ<br />
sen 2θ<br />
= , (2.11)<br />
2 2 2<br />
( ∆cos 2θ<br />
− A) + ∆ sen 2θ<br />
que quando<br />
π<br />
A = ∆ cos 2θ<br />
o ângulo de mistura efetivo é e os termos <strong>da</strong> diago<strong>na</strong>l<br />
4<br />
principal <strong>em</strong> (2.5) são idênticos, portanto os estados ν e<br />
e ν µ apresentam misturas<br />
máximas. Este é o efeito MSW [12], que nos possibilita achar pontos de densi<strong>da</strong>de<br />
eletrônica onde ocorre ressonância ( n R ),<br />
∆cos 2θ<br />
nR<br />
= . (2.12)<br />
2 2GFE<br />
31
2.1.2) Neutrinos <strong>na</strong> matéria não-uniforme<br />
Sab<strong>em</strong>os que, no sol e <strong>em</strong> outras fontes astrofísicas como supernovas, os neutrinos<br />
passam por regiões de densi<strong>da</strong>de resso<strong>na</strong>nte, mas se propagando numa região nãouniforme.<br />
A<strong>na</strong>logamente à equação (2.2), mas desprezando os termos <strong>da</strong> matriz unitária<br />
que não influenciam nos cálculos <strong>da</strong> probabili<strong>da</strong>de, pod<strong>em</strong>os escrever a equação de estados<br />
de sabor<br />
Neste caso, nossa base pode ser escrita como<br />
d 1 ( f ) ~ 2 ( f )<br />
i ν = M ν . (2.13)<br />
dx 2E<br />
( f ) ~ ~ ( p )<br />
ν = Uν . (2.14)<br />
U ~ é a matriz unitária de mistura <strong>na</strong> matéria, construí<strong>da</strong> pela substituição de θ por θ ~ <strong>na</strong><br />
matriz unitária de mistura do vácuo.<br />
A equação de evolução pode ser reescrita como:<br />
i<br />
d<br />
dx<br />
~ ( )<br />
2 ( )<br />
(<br />
~ p 1 ~ ~<br />
)<br />
~ p<br />
U M Uν<br />
ν = . (2.15)<br />
2E<br />
T<strong>em</strong>os que tomar cui<strong>da</strong>do ao aplicar a deriva<strong>da</strong> porque nossa matriz de mistura<br />
mu<strong>da</strong> para diferentes pontos. Então,<br />
~ d ~ ( p)<br />
⎛ d ~ ⎞~<br />
( p)<br />
1 ~ 2 ~ ~ ( p)<br />
iU<br />
ν + i⎜<br />
U ⎟ν<br />
= M Uν<br />
. (2.16)<br />
dx ⎝ dx ⎠ 2E<br />
Multiplicando a expressão acima por<br />
d<br />
i ν<br />
dx<br />
(<br />
que é a equação de evolução <strong>na</strong> base ν<br />
~ †<br />
U achamos a expressão<br />
⎛ 1 ~ ~ ~ ~ d ~ ⎞<br />
= ⎜ U M U − iU U ⎟ν<br />
, (2.17)<br />
⎝ 2E<br />
dx ⎠<br />
~ ( p)<br />
† 2<br />
† ~ ( p)<br />
~ p)<br />
. A solução <strong>da</strong> equação acima [13] resulta <strong>em</strong><br />
2 ~<br />
⎛ m~<br />
⎞<br />
1 dθ<br />
⎜<br />
⎟<br />
⎛<br />
~<br />
⎞ ⎜<br />
⎟⎛<br />
~<br />
d ν<br />
i<br />
1<br />
⎞<br />
⎜ ⎟ = 2<br />
ν<br />
1<br />
i E<br />
~<br />
dx<br />
~<br />
⎜ ⎟<br />
2<br />
⎝ ⎠ ⎜ ~ ⎟ ~ . (2.18)<br />
dx ν<br />
2 dθ<br />
m2<br />
⎝ν<br />
2 ⎠<br />
⎜−<br />
i ⎟<br />
⎝ dx 2E<br />
⎠<br />
32
dθ<br />
~<br />
Se = 0 , ~ν<br />
1<br />
e ~ν<br />
2<br />
são autoestados estacionários, exatamente como <strong>em</strong> um meio<br />
dx<br />
uniforme. Para um meio não-uniforme ter<strong>em</strong>os de resolver a equação acima e far<strong>em</strong>os para<br />
dois casos: adiabático e não-adiabático.<br />
2.1.2a) O caso adiabático<br />
dθ ~ Quando é pequeno, pod<strong>em</strong>os resolver a equação (2.18) usando a aproximação<br />
dx<br />
adiabática. Mas, antes de introduzirmos qualquer tipo de cálculo, dev<strong>em</strong>os nos perguntar<br />
quando realmente ocorrerá uma propagação adiabática. Falar de condição adiabática é dizer<br />
que os termos fora <strong>da</strong> diago<strong>na</strong>l principal são muito menores que os termos <strong>da</strong> diago<strong>na</strong>l<br />
principal. Logo pod<strong>em</strong>os escrever que a condição de adiabatici<strong>da</strong>de<br />
~ m~<br />
2<br />
− m~<br />
2<br />
1 2<br />
dθ<br />
1.<br />
<strong>Faça</strong>mos algumas considerações: se a densi<strong>da</strong>de é alta <strong>em</strong> algum ponto, então<br />
~<br />
θ → π 2 , e o parâmetro de adiabatici<strong>da</strong>de é alto. Agora, se a densi<strong>da</strong>de é muito baixa para<br />
algum outro ponto de propagação,<br />
~ θ → θ , e novamente o parâmetro de adiabatici<strong>da</strong>de<br />
pode ser alto, a não ser que o ângulo esteja próximo de π 4 . A equação acima mostra que a<br />
condição de adiabatici<strong>da</strong>de é difícil de ser satisfeita no ponto de ressonância, uma vez que<br />
33
sen 2θ ~ é máximo nesse ponto. A referência [14] mostra que longe do ponto de ressonância<br />
a propagação s<strong>em</strong>pre pode ser trata<strong>da</strong> adiabaticamente. Mesmo assim, pod<strong>em</strong>os ter<br />
adiabatici<strong>da</strong>de também no ponto de ressonância. Por (2.12) sab<strong>em</strong>os os pontos onde pode<br />
ocorrer ressonância e tomando para tal situação sen 2 ~ θ = 1 <strong>na</strong> equação (2.22), encontramos<br />
o valor do parâmetro de adiabatici<strong>da</strong>de <strong>na</strong> ressonância γ R :<br />
∆<br />
E<br />
sen 2θ<br />
cos 2θ<br />
1<br />
d<br />
ln n<br />
dx<br />
2<br />
γ R = × × . (2.23)<br />
Se γ R >>1, a propagação será adiabática <strong>em</strong> qualquer lugar! Caso contrário, seγ R for<br />
próximo ou menor que um, dev<strong>em</strong>os fazer uma análise de não-adiabatici<strong>da</strong>de.<br />
2.1.2b) As probabili<strong>da</strong>des no caso adiabático [15, 16]<br />
Vamos fazer as considerações para duas famílias, sendo que usar<strong>em</strong>os de ex<strong>em</strong>plo<br />
os neutrinos eletrônicos e os neutrinos muônicos.<br />
Quando a propagação é adiabática, ~ν 1<br />
se mantém como ~ν 1<br />
durante to<strong>da</strong> a<br />
propagação, o mesmo ocorrendo para ~ν 2<br />
. Desta maneira ter<strong>em</strong>os para ca<strong>da</strong> ponto uma<br />
diferente superposição de ~ ν<br />
e<br />
e ~ ν µ .<br />
Usando (2.8a) e (2.8b) pod<strong>em</strong>os escrever o neutrino eletrônico como uma<br />
superposição dos autoestados de massa ~ν<br />
1<br />
e ~ν<br />
2<br />
:<br />
e<br />
ν<br />
1<br />
cosθ<br />
0<br />
+<br />
2<br />
0<br />
e<br />
R<br />
~ ~ ~ ~<br />
ν = ν sen θ . (2.24)<br />
Na fórmula acima, o índice “0” indica que estamos tratando do ângulo de mistura no<br />
ponto de criação do neutrino. Se ocorre criação de neutrinos eletrônicos, existe uma<br />
2 ~<br />
probabili<strong>da</strong>de cos θ<br />
0<br />
do neutrino ser produzido como ~ν e uma probabili<strong>da</strong>de de 2 θ<br />
1<br />
cos<br />
2 ~ 2<br />
de ser detectado como ν<br />
e<br />
. Isto contribui com um termo cos θ<br />
0<br />
cos θ para a probabili<strong>da</strong>de<br />
de sobrevivência numa propagação adiabática. Por outro lado, o neutrino pode ser<br />
produzido como ~ν com probabili<strong>da</strong>de 2 ~<br />
2<br />
sen θ , propagar-se e ser detectado como ν 0<br />
e<br />
com<br />
probabili<strong>da</strong>de<br />
2<br />
2 ~ 2<br />
sen θ . Isto contribui com um termo sen θ<br />
0 sen θ para a probabili<strong>da</strong>de de<br />
sobrevivência numa propagação adiabática. Logo a probabili<strong>da</strong>de de sobrevivência clássica<br />
total para propagação adiabática é:<br />
( )<br />
P ad ν eν<br />
e<br />
1<br />
=<br />
2<br />
2 ~ 2<br />
2 ~ 2 1<br />
= cos θ<br />
0<br />
cos θ + sen θ<br />
0sen<br />
θ =<br />
4<br />
~<br />
[ 1+<br />
cos 2θ<br />
cos 2θ<br />
]<br />
0<br />
~<br />
1 ~<br />
( 1+<br />
cos 2θ<br />
)( 1+<br />
cos2θ<br />
) + ( 1−<br />
cos 2θ<br />
)( 1−<br />
cos2θ<br />
)<br />
0<br />
. (2.25)<br />
4<br />
0<br />
=<br />
34
A probabili<strong>da</strong>de de con<strong>versão</strong> para neutrino muônico será<br />
~<br />
[ 1−<br />
cos 2θ<br />
cos θ ]<br />
( ad )<br />
( ad ) 1<br />
P<br />
ν ν<br />
= 1−<br />
P<br />
µ ν ν µ<br />
=<br />
0<br />
2 . (2.26)<br />
e<br />
e<br />
2<br />
Em (2.25) e (2.26), P (ad) é a probabili<strong>da</strong>de, seja de sobrevivência ou con<strong>versão</strong>,<br />
considerando propagação adiabática.<br />
As probabili<strong>da</strong>des apresenta<strong>da</strong>s acima ain<strong>da</strong> estão in<strong>completa</strong>s. Vamos escrevê-las<br />
de uma maneira mais <strong>completa</strong>. A probabili<strong>da</strong>de de detectar ν<br />
e<br />
numa distância x a partir do<br />
ponto de produção pode ser escrita como abaixo.<br />
P<br />
e<br />
( ad )<br />
ν ν<br />
2<br />
e<br />
( x)<br />
ν<br />
e<br />
(0) = ∑<br />
α<br />
e<br />
= ν<br />
ν<br />
e<br />
( x)<br />
ν α ( x)<br />
ν α ( x)<br />
ν α (0) ν α (0) ν<br />
e<br />
(0) . (2.27)<br />
2<br />
Note que introduzimos o conjunto completo dos estados ν α<br />
. Os produtos escalares<br />
<strong>na</strong> extr<strong>em</strong>a esquer<strong>da</strong> e <strong>na</strong> extr<strong>em</strong>a direita fornec<strong>em</strong> os el<strong>em</strong>entos <strong>da</strong> matriz de mistura nos<br />
pontos de produção e detecção. Os el<strong>em</strong>entos de matriz do produto escalar central origi<strong>na</strong>m<br />
uma fase que corresponde à propagação adiabática dos estados ν<br />
α<br />
. Esta fase é<br />
Então escrev<strong>em</strong>os (2.27)<br />
( x ) ⎤<br />
⎥ ⎦<br />
⎢⎣<br />
⎡ ∫ x ~<br />
exp i dx′<br />
E ′<br />
0<br />
α<br />
. (2.28)<br />
~<br />
( E − E ) ⎤<br />
⎬ ⎫<br />
⎭<br />
( ad ) 1 ⎧ ~<br />
~<br />
x = ⎡<br />
⎨ +<br />
+ sen sen ′<br />
⎩<br />
⎢⎣ ∫ x ~<br />
ν e ν ( ) 1 cos 2θ<br />
0<br />
cos 2θ<br />
2θ<br />
0<br />
2θ<br />
cos dx<br />
2 1<br />
, (2.29)<br />
2<br />
0 ⎥⎦<br />
P<br />
e<br />
Que é a expressão para probabili<strong>da</strong>de de sobrevivência para um autoestado de sabor no<br />
caso adiabático. Vamos passar agora para o caso de não-adiabatici<strong>da</strong>de.<br />
2.1.2c) O caso não-adiabático<br />
Efeitos não-adiabáticos induz<strong>em</strong> transições entre os estados ~ν<br />
1<br />
e ~ν<br />
2<br />
. Já falamos que<br />
os efeitos não-adiabáticos são importantes <strong>na</strong>s regiões onde há ressonância. Para outras<br />
regiões, a aproximação adiabática pode ser usa<strong>da</strong>. Na região de ressonância, tentamos<br />
resolver a equação de propagação de maneira exata, assumindo algumas formas<br />
simplifica<strong>da</strong>s de variação <strong>da</strong> densi<strong>da</strong>de que pod<strong>em</strong> ser aproxima<strong>da</strong>mente váli<strong>da</strong>s para<br />
aquela região específica. A partir disto, encontramos a probabili<strong>da</strong>de X nesta região de ter<br />
ocorrido transição de um autoestado para o outro.<br />
Vamos supor um neutrino eletrônico produzido <strong>em</strong> um determi<strong>na</strong>do ponto e que irá<br />
sobreviver durante sua propagação se as condições são adiabáticas, ou seja, não t<strong>em</strong>os<br />
transição entre os estados ~ν 1<br />
e ~ν<br />
2<br />
. Isto também pode ocorrer no caso não-adiabático, <strong>em</strong><br />
que não há transição entre os estados ~ν 1<br />
e ~ν 2<br />
com probabili<strong>da</strong>de 1-X. Por outro lado,<br />
35
pod<strong>em</strong>os ter, no caso adiabático, uma situação <strong>em</strong> que o neutrino eletrônico se converteu<br />
<strong>em</strong> neutrino muônico. No entanto, pode existir conservação do sabor eletrônico no caso<br />
não-adiabático se tivermos transição entre os autoestados ~ν<br />
1<br />
e ~ν<br />
2<br />
.<br />
Levando <strong>em</strong> conta todos os efeitos não-adiabáticos, pod<strong>em</strong>os escrever a<br />
probabili<strong>da</strong>de de sobrevivência do neutrino eletrônico [17]:<br />
( ad ) ( ad )<br />
( 1−<br />
X ) P XP<br />
P ν eν<br />
e<br />
ν eν<br />
+<br />
e ν eν<br />
µ<br />
= . (2.30)<br />
T<strong>em</strong>os de saber calcular X, que é a probabili<strong>da</strong>de de transição não-adiabática para<br />
dois estados. Este trabalho, feito no contexto de física atômica, foi feito independent<strong>em</strong>ente<br />
por Lan<strong>da</strong>u [18], Zener [19] e Stückelberg [20]. Este cálculo foi aplicado para o contexto<br />
dos neutrinos por Parke [17] e Haxton [21]. Vamos fazer isto usando uma aproximação<br />
s<strong>em</strong>i-clássica pelo método <strong>da</strong> trajetória complexa de Lan<strong>da</strong>u [22]. Este método nos fornece<br />
[ S ( t , t ) S ( t t )]<br />
ln X = −2Im<br />
+ , (2.31)<br />
1 1 * 2 *,<br />
sendo S<br />
1( t1,<br />
t*<br />
) a ação para o movimento do feixe de neutrino no estado ~ν 1<br />
de um t<strong>em</strong>po<br />
inicial t 1<br />
para o t<strong>em</strong>po de transição t *<br />
. Passado o t<strong>em</strong>po de transição t *<br />
, usamos a ação no<br />
estado ~ν<br />
2<br />
até o t<strong>em</strong>po t 2<br />
quando o neutrino sai <strong>da</strong> região não-adiabática. As partes<br />
imaginárias <strong>da</strong> ação permanec<strong>em</strong> i<strong>na</strong>ltera<strong>da</strong>s se tomarmos t 1<br />
= t 2<br />
= t<br />
R<br />
, sendo o t<strong>em</strong>po <strong>em</strong><br />
que o neutrino atravessa a região de ressonância. Logo,<br />
∫<br />
t<br />
~ ~<br />
( E − E )<br />
2<br />
*<br />
ln X = −2Im<br />
dt . (2.32)<br />
Mu<strong>da</strong>ndo a variável de integração de t para A, ter<strong>em</strong>os<br />
t R<br />
2<br />
1<br />
ln X<br />
1<br />
= − Im<br />
E<br />
∫<br />
A*<br />
A R<br />
dA<br />
dA<br />
( dx)<br />
( ∆ cos − A)<br />
2<br />
2 2<br />
θ + ∆ sen 2θ<br />
. (2.33)<br />
O limite inferior <strong>da</strong> integral é A<br />
R<br />
= ∆ cos2θ<br />
. O limite superior A<br />
*<br />
é o valor de A no<br />
ponto de transição. No método de Lan<strong>da</strong>u, este é o valor de A para o qual os dois<br />
~ ~<br />
autovalores coincid<strong>em</strong> ( E<br />
1<br />
= E2<br />
), resultando <strong>em</strong><br />
[ ]<br />
A = ∆ exp 2iθ , (2.34)<br />
*<br />
±<br />
que é um número complexo. Portanto, a integração <strong>da</strong> equação (2.33) deve ser feita para<br />
números complexos de A, justificando o porquê do método ser chamado de método <strong>da</strong>s<br />
trajetórias complexas.<br />
Para resolvermos a integral dev<strong>em</strong>os primeiro saber como A se comporta <strong>na</strong> região<br />
de ressonância. Se a variação é linear, dA dx é constante e pod<strong>em</strong>os deixá-lo fora <strong>da</strong><br />
integral. Se seu valor é positivo, usamos o valor positivo do expoente de A *<br />
, sendo,<br />
36
portanto, ln X negativo. Se dA dx é negativo, usamos o expoente negativo de A<br />
*<br />
. Para as<br />
duas situações, vamos mu<strong>da</strong>r a variável de integração de A para<br />
a = A − ∆ cos2θ ∆sen2<br />
. Agora escrev<strong>em</strong>os<br />
( ) θ<br />
2 2<br />
2 2<br />
∆ sen 2θ<br />
i<br />
2 ∆ sen 2θ<br />
π<br />
ln X = − Im∫<br />
<strong>da</strong> 1+<br />
a = − × . (2.35)<br />
E dA dx 0<br />
E dA dx 4<br />
R<br />
R<br />
Rel<strong>em</strong>brando que<br />
A<br />
R<br />
= ∆ cos2θ<br />
, pod<strong>em</strong>os reescrever a expressão acima como:<br />
2<br />
∆ sen 2θ<br />
1 π<br />
ln X = − × × × . (2.36)<br />
E cos2θ<br />
d 4<br />
ln A<br />
dx<br />
R<br />
Logo<br />
X<br />
⎛ π ⎞<br />
exp ⎜ − γ ⎟ . (2.37)<br />
⎝ 4 ⎠<br />
=<br />
R<br />
Vale à pe<strong>na</strong> l<strong>em</strong>brar que o cálculo foi feito para uma variação linear de A. Se<br />
tivéss<strong>em</strong>os uma variação exponencial próximo à região de ressonância, deveríamos usar<br />
[23]<br />
X<br />
⎞<br />
( 1−<br />
tg θ ) γ ⎟<br />
⎠<br />
= π 2<br />
R<br />
⎛<br />
exp ⎜−<br />
. (2.38)<br />
⎝ 4<br />
No entanto, a aproximação linear e exponencial, <strong>na</strong> maioria dos casos, são muito<br />
s<strong>em</strong>elhantes, ocasio<strong>na</strong>ndo diferenças insignificantes.<br />
2.2) Pacotes de on<strong>da</strong> de neutrinos <strong>na</strong> Matéria [24]<br />
Desenvolv<strong>em</strong>os acima o formalismo <strong>em</strong> on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s para a propagação do neutrino<br />
<strong>na</strong> matéria envolvendo os casos adiabáticos e não adiabáticos. Agora, vamos fazer o<br />
mesmo, mas usando o formalismo de pacotes de on<strong>da</strong>. Para melhor compreensão e<br />
entendimento, vamos repetir algumas expressões. Além do mais estamos seguindo a<br />
referência [24], que usa uma abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> diferente, no espaço <strong>da</strong>s energias, para o<br />
desenvolvimento <strong>da</strong> expressão de probabili<strong>da</strong>de de oscilação <strong>na</strong> matéria para pacotes de<br />
on<strong>da</strong>.<br />
Vamos rel<strong>em</strong>brar o Hamiltoniano efetivo para o neutrino <strong>na</strong> matéria pode ser escrito<br />
como:<br />
ˆ 2 2<br />
1 2 −1<br />
H = pˆ<br />
+ m + V ( xˆ,<br />
t)<br />
≅ pˆ<br />
+ m pˆ<br />
+ V ( xˆ,<br />
t)<br />
, (2.39)<br />
2<br />
37
<strong>em</strong> que pˆ é o operador momento, m é a matriz de massa do neutrino e V ( xˆ,<br />
t)<br />
é o potencial<br />
sentido pelo neutrino devido à presença do meio.<br />
A propagação dos neutrinos é tradicio<strong>na</strong>lmente resolvi<strong>da</strong> pela equação de<br />
Schrödinger, que no limite relativístico a assumindo que E>>V escrev<strong>em</strong>os:<br />
2<br />
4 2<br />
⎛ m ⎞ ⎛ m + m EV<br />
ψ ( x,<br />
E)<br />
E V ( x)<br />
ψ ( x,<br />
E)<br />
O<br />
ψ ( x,<br />
E)<br />
3<br />
2E<br />
E<br />
⎟ ⎞<br />
∂ =<br />
⎜−<br />
+ +<br />
⎟ +<br />
⎜<br />
, (2.40)<br />
⎝<br />
⎠ ⎝<br />
⎠<br />
i<br />
x<br />
sendo que ∂<br />
x<br />
= ∂ ∂<br />
x<br />
.<br />
Os respectivos autovetores <strong>da</strong> equação acima são os próprios autoestados <strong>da</strong><br />
matéria, enquanto que os autovalores pod<strong>em</strong> ser escritos como<br />
2<br />
µ<br />
a<br />
( x,<br />
E)<br />
pa<br />
( x,<br />
E)<br />
≡ E − , (2.41)<br />
2E<br />
<strong>em</strong> que µ<br />
a<br />
( x,<br />
E)<br />
é a massa efetiva do neutrino.<br />
Se quisermos a função de on<strong>da</strong> do neutrino no espaço <strong>da</strong>s coorde<strong>na</strong><strong>da</strong>s se<br />
propagando pelo t<strong>em</strong>po, dev<strong>em</strong>os tomar a transforma<strong>da</strong> de Fourier:<br />
1<br />
ψ ( x,<br />
t)<br />
= ∫ dE exp[ − iEt]<br />
ψ ( x,<br />
E)<br />
. (2.42)<br />
2<br />
A equação (2.40), para o limite adiabático, pode ser reescrita, para um autoestado de<br />
sabor, <strong>na</strong> matéria como<br />
2<br />
⎛ µ ( x,<br />
E)<br />
⎞<br />
a<br />
i∂ xψ<br />
a<br />
( x,<br />
E)<br />
= ⎜ E ⎟<br />
− + ψ<br />
a<br />
( x,<br />
E)<br />
= − pa<br />
( x,<br />
E)<br />
ψ<br />
a<br />
( x,<br />
E)<br />
2E<br />
. (2.43)<br />
⎝<br />
⎠<br />
A equação (2.43) acima t<strong>em</strong> fácil solução, que apresentamos abaixo:<br />
1<br />
x<br />
⎡ ' '<br />
ψ = ⎤<br />
a<br />
( x,<br />
t)<br />
∫dE<br />
exp i<br />
⎢⎣ ∫ dx pa<br />
( x , E)<br />
− iEt ψ<br />
a<br />
(0, E)<br />
. (2.44)<br />
0<br />
2π<br />
⎥⎦<br />
Notamos que <strong>na</strong> equação (2.44) usamos a equação (2.42) para escrevê-la. Como<br />
fiz<strong>em</strong>os no Capítulo 1, a função de on<strong>da</strong> do neutrino será uma combi<strong>na</strong>ção linear dos<br />
autoestados <strong>da</strong> matéria,<br />
ψ ( 0, E ) = ∑Ca<br />
( E)<br />
ψ<br />
a<br />
(0, E)<br />
. (2.45)<br />
a<br />
38
*<br />
No limite relativístico, Ca<br />
( x,<br />
E)<br />
= U<br />
αa<br />
( x,<br />
E)<br />
. No entanto, para neutrinos não tão<br />
relativísticos fatores relacio<strong>na</strong>dos à conservação de energia dev<strong>em</strong> ser levados <strong>em</strong><br />
consideração.<br />
Assumimos o mesmo formato gaussiano para os autoestados <strong>da</strong> matéria, que no<br />
espaço dos momentos pode ser escrito como.<br />
( E − E )<br />
2<br />
⎡ ⎤<br />
2 −1<br />
4<br />
a<br />
ψ<br />
a<br />
(0, E)<br />
= ( 2πσ<br />
E<br />
) exp⎢−<br />
2 ⎥ . (2.46)<br />
⎣ 4σ<br />
E<br />
⎦<br />
Na expressão acima σ<br />
E<br />
é o tamanho do pacote de on<strong>da</strong> no espaço <strong>da</strong>s energias e a<br />
relação de incerteza domi<strong>na</strong>nte é σ Eσ t<br />
= 1 2 . O caminho para chegarmos à expressão de<br />
probabili<strong>da</strong>de de oscilação <strong>na</strong> matéria, usando o limite adiabático, para nossos pacotes de<br />
on<strong>da</strong> é o mesmo que fiz<strong>em</strong>os <strong>na</strong> seção 1.2 do Capítulo 1 para os pacotes de on<strong>da</strong> no vácuo.<br />
Não ir<strong>em</strong>os aqui repetir todos os cálculos para que este texto não se torne d<strong>em</strong>asia<strong>da</strong>mente<br />
enfadonho para o leitor. A única preocupação que t<strong>em</strong>os é colocar a função de on<strong>da</strong> do<br />
neutrino no espaço <strong>da</strong>s coorde<strong>na</strong><strong>da</strong>s e que ela propague à medi<strong>da</strong> que o t<strong>em</strong>po progri<strong>da</strong>.<br />
Logo, substituímos (2.46) <strong>em</strong> (2.44), e o resultado desta substituição <strong>em</strong> (2.45). L<strong>em</strong>brando<br />
que dev<strong>em</strong>os usar a aproximação σ<br />
E<br />
≅ vaσ<br />
p<br />
= va<br />
2σ<br />
x<br />
- para maiores detalhes, ver<br />
referência [24]. L<strong>em</strong>brando que integramos no t<strong>em</strong>po para encontrar a probabili<strong>da</strong>de de<br />
oscilação, t<strong>em</strong>os que<br />
( E − E )<br />
2<br />
⎡<br />
2 ⎤<br />
*<br />
*<br />
x ⎛ x ⎞<br />
a b<br />
P = ∑<br />
× ⎢−<br />
−<br />
⎜<br />
⎟<br />
α →β<br />
( x)<br />
U αaU<br />
βaU<br />
αbU<br />
βb<br />
exp 2πi<br />
− ⎥ . (2.47)<br />
2<br />
⎢ Losc<br />
( x)<br />
⎣<br />
⎝ Lcoh<br />
( x)<br />
⎠ 8σ<br />
p ⎥⎦<br />
Na expressão (2.47) descrita, as matrizes U são os el<strong>em</strong>entos <strong>da</strong> matriz unitária de<br />
mistura agora descrita <strong>na</strong> matéria e o comprimento de oscilação e o comprimento de<br />
coerência depend<strong>em</strong> <strong>da</strong> posição e são escritos como<br />
L<br />
osc<br />
4πEx<br />
( x)<br />
≡ x<br />
2<br />
dx∆µ<br />
ab<br />
( x)<br />
∫0<br />
e (2.48)<br />
L<br />
coh<br />
( x)<br />
≡<br />
∫<br />
0<br />
x<br />
2<br />
2σ<br />
x<br />
dx∆v<br />
x<br />
ab<br />
( x)<br />
=<br />
2<br />
∫<br />
0<br />
x<br />
2σ<br />
2E<br />
x<br />
2<br />
dx∆µ<br />
( x)<br />
ab<br />
2<br />
x<br />
. (2.49)<br />
O caso não-adiabático para os pacotes de on<strong>da</strong> é apresentado no Apêndice B deste<br />
trabalho. Não o colocamos aqui, porque <strong>em</strong> nenhum momento vamos nos utilizar de seu<br />
formalismo para nossos cálculos.<br />
39
Referências – Capítulo 2<br />
[1] L. Wolfenstein, Phys. Rev. D17, 2369 (1978).<br />
[2] P. B. Pal e T. N. Pham, Phys. Rev. D40, 259 (1989).<br />
[3] D. Nötzold e G. Raffelt, Nucl. Phys. B307, 924 (1988).<br />
[4] J. F. Nieves, Phys. Rev. D40, 866 (1989).<br />
[5] J. F. Nieves, <strong>em</strong> Proceedings of the IV Mexican School of Particles and Fields, editado<br />
por J. Lucio e A. Zepe<strong>da</strong> (World Scientific, Singapore, 1992), p. 283-319.<br />
[6] S. P. Mikheyev e A. Y. Smirnov, Reso<strong>na</strong>nce enhanc<strong>em</strong>ent of oscillations in matter and<br />
solar neutrino spectroscopy, Sov. Jour. Nucl. Phys. 42 (1985) 913.<br />
[7] S. P. Mikheyev e A. Y. Smirnov, Neutrino oscillations in matter with varying density,<br />
Proc. of the 6 th Moriond Workshop on Massive Neutrinos in Astrophysics and Particle<br />
Physics, eds. O. Fackler e J. Tran Than Van (Editions Frontières 1986), p. 355.<br />
[8] A. Messiah, Treatment of electron-neutrino oscillations in solar matter: the MSW<br />
Effect, Proc. of the 6 th Moriond Workshop on Massive Neutrinos in Astrophysics and<br />
Particle Physics, eds. O. Fackler e J. Tran Than Van (Editions Frontières 1986), p. 373.<br />
[9] J. N. Bahcall, Neutrino Astrophysics, Cambridge University Press, Cambridge, 1989.<br />
[10] M. C. Gonzalez-Garcia e Y. Nir, Neutrino masses and mixing: evidence and<br />
implications, Rev. Mod. Phys. 75 (2003) 345 [hep-ph/0202058].<br />
[11] M. Maltoni, T. Schwetz, M. A. Tórtola e J. W. F. Valle, hep-ph/0309130v2.<br />
[12] S. P. Mikheyev e A. Y. Smirnov, Nuovo Cimento C9, 17 (1986).<br />
[13] V. Barger, R. J. N. Phillips e K. Whis<strong>na</strong>nt, Phys. Rev. Lett. 65, 3084 (1990).<br />
[14] A. Messiah, <strong>em</strong> Massive Neutrinos in Astrophysics and Particle Physics ’86, eds. O.<br />
Fackler e J. Tran Than Van (Éditions Frontières, 1986) p. 373.<br />
[15] V. Barger, R. J. N. Phillips, e K. Whis<strong>na</strong>nt, Phys. Rev. D34, 980 (1986).<br />
[16] H. Bethe, Phys. Rev. Lett. 56, 1305 (1986).<br />
[17] S.J. Parke, Phys. Rev. Lett. 57, 1275 (1986).<br />
40
[18] L. Lan<strong>da</strong>u, Phys. Z. Sowjetunion 2, 46 (1932).<br />
[19] C. Zener, Proc. Roy. Soc. 137, 696 (1932).<br />
[20] E. C. G. Stückelberg, Helv. Phys. Acta 5, 369 (1932).<br />
[21] W. C. Haxton, Phys. Rev. Lett. 57, 1271 (1986).<br />
[22] L. D. Lan<strong>da</strong>u e L. M. Lifshitz, Quantum Mechanics, 3ªed. (Pergamon Press, 1977).<br />
[23] P. Pizzochero, Phys. Rev. D36, 2293 (1987).<br />
[24] J. T. Peltoni<strong>em</strong>i e V. Sipiläinen, JHEP 0006, 011 (2000), hep-ph/0004162.<br />
41
CAPÍTULO 3<br />
Supernova e os<br />
Neutrinos<br />
Em nov<strong>em</strong>bro de 1572, uma nova estrela, ou nova, apareceu <strong>na</strong> constelação de<br />
Cassiopéia e foi observa<strong>da</strong> pelo notável Tycho Brahe, que considerou esta nova estrela<br />
como um novo objeto <strong>na</strong> imutável região celestial. Este novo objeto observado é chamado<br />
hoje de supernova de Tycho. Em outubro de 1604, uma nova estrela apareceu no céu e foi<br />
observa<strong>da</strong> por Johannes Kepler, cujo modelo de disposição dos planetas superou o modelo<br />
de Ptolomeu do sist<strong>em</strong>a solar. Professor <strong>em</strong> Padova, Galileo Galilei observou também estas<br />
“novas” estrelas que surgiam no céu. Alguns registros chineses do século II, sobre as<br />
chama<strong>da</strong>s “estrelas visitantes”, que apareciam no céu repenti<strong>na</strong>mente, permaneciam por um<br />
<strong>da</strong>do t<strong>em</strong>po e sumiam repenti<strong>na</strong>mente, são provavelmente os primeiros indícios e relatos de<br />
supernovas.<br />
As explosões de supernova <strong>em</strong> nossa galáxia são eventos raros, sendo que a última<br />
ocorri<strong>da</strong> <strong>em</strong> fevereiro de 1987 foi denomi<strong>na</strong><strong>da</strong> SN1987A, advento <strong>da</strong> explosão de uma<br />
supergigante azul, Sanduleak -69° 202, localiza<strong>da</strong> <strong>na</strong> Grande Nuv<strong>em</strong> de Magalhães.<br />
Entretanto, muitas supernovas são observa<strong>da</strong>s a ca<strong>da</strong> ano <strong>em</strong> outras galáxias, como a<br />
SN1993J, que ocorreu <strong>na</strong> galáxia próxima M81. Cerca de cinco eventos de supernovas <strong>em</strong><br />
nossa galáxia foram registrados [1].<br />
Afi<strong>na</strong>l, qual o motivo <strong>da</strong> existência desses fenômenos extr<strong>em</strong>amente brilhantes e<br />
intensos? Estrelas de grande massa evolu<strong>em</strong> por deze<strong>na</strong>s de milhões de anos queimando<br />
seu combustível nuclear e gerando uma pressão de dentro para fora que contrabalança a<br />
força gravitacio<strong>na</strong>l. Um desequilíbrio dessas forças, resultante de queimas de núcleos ca<strong>da</strong><br />
vez menos eficientes, gera o colapso gravitacio<strong>na</strong>l do centro estelar, podendo ocorrer uma<br />
explosão. O resultado fi<strong>na</strong>l é o surgimento ou de uma estrela de nêutrons ou de um buraco<br />
42
negro. A formação de núcleos pesados e seu conseqüente espalhamento para o meio<br />
intergalático pós-explosão nutre o universo para a possível formação de objetos celestes<br />
como planetas e estruturas biológicas complexas.<br />
As primeiras observações sist<strong>em</strong>áticas de supernovas foram feitas <strong>na</strong> déca<strong>da</strong> de 30<br />
através de chapas fotográficas por Baade & Zwicky, quando identificaram que 50% dos<br />
eventos seguiam um padrão de luminosi<strong>da</strong>de consistente: crescimento rápido <strong>na</strong>s primeiras<br />
s<strong>em</strong>a<strong>na</strong>s seguido de diminuição gradual <strong>em</strong> alguns meses. Minkowski através de medi<strong>da</strong>s<br />
espectroscópicas não identificou a presença de hidrogênio, classificando-as como<br />
supernovas do tipo I. As d<strong>em</strong>ais, com diferentes padrões de luminosi<strong>da</strong>de e presença de<br />
linhas de hidrogênio, são atualmente classifica<strong>da</strong>s como supernovas do tipo II, que serão<br />
objeto de nossa descrição.<br />
Nas supernovas do tipo I, a explosão é deflagra<strong>da</strong> por reações termonucleares.<br />
Numa anã branca, constituí<strong>da</strong> por C e O, sua massa é acresci<strong>da</strong> por uma estrela<br />
companheira. Portanto o sist<strong>em</strong>a é binário e foi descrito primeiramente por Hoyle e Fowler<br />
<strong>na</strong> déca<strong>da</strong> de 60. O aumento <strong>da</strong> massa provoca o aumento <strong>da</strong> pressão e as reações<br />
termonucleares com síntese de el<strong>em</strong>entos mais pesados se reiniciam de maneira abrupta e<br />
descontrola<strong>da</strong>, ocasio<strong>na</strong>ndo a explosão. A referência [2] traz um estudo detalhado deste tipo<br />
de supernova.<br />
Colgate, também <strong>na</strong> déca<strong>da</strong> de 60, descreve o mecanismo de supernovas do tipo II.<br />
A explosão é provoca<strong>da</strong> pela formação de uma on<strong>da</strong> de choque no centro estelar devido ao<br />
colapso gravitacio<strong>na</strong>l. Os neutrinos teriam o papel de aumentar a energia dessa on<strong>da</strong> de<br />
choque, num mecanismo descrito como “explosão atrasa<strong>da</strong>”. O colapso faz com que o<br />
centro estelar se contraia e atinja densi<strong>da</strong>des supra-nucleares, o que interrompe a<br />
compressão. A matéria que continua sendo atraí<strong>da</strong> pela força gravitacio<strong>na</strong>l, que é s<strong>em</strong>pre<br />
mais intensa, “rebate” no caroço central devido à resistência que ali encontra e inverte seu<br />
sentido de movimento. A energia mecânica acumula<strong>da</strong> nesse processo inicia a formação <strong>da</strong><br />
on<strong>da</strong> de choque. A descompressão repenti<strong>na</strong> do caroço central fornece o impulso adicio<strong>na</strong>l<br />
e decisivo ao choque, que adquire energia suficiente para desagregar e expelir de forma<br />
explosiva as cama<strong>da</strong>s mais exter<strong>na</strong>s <strong>da</strong> estrela. A potência do choque é manti<strong>da</strong> com<br />
energia extra deposita<strong>da</strong> <strong>na</strong> matéria pelo fluxo de neutrinos <strong>em</strong>ergentes que permaneceram<br />
<strong>em</strong> difusão pelo centro estelar.<br />
3.1) Evolução Pós-Sequência Principal<br />
As estrelas são palcos de um confronto de duas forças: a gravi<strong>da</strong>de (de fora para<br />
dentro), que comprime a estrela, e a de pressão (de dentro para fora), que resiste ao<br />
colapso. A primeira é oriun<strong>da</strong> <strong>da</strong> massa <strong>da</strong> estrela, enquanto a segun<strong>da</strong> é oriun<strong>da</strong> <strong>da</strong>s<br />
reações de fusão nuclear, considera<strong>da</strong>s como o combustível <strong>da</strong> estrela. As estrelas, portanto,<br />
estão <strong>em</strong> um estado de equilíbrio hidrostático, descrito pela equação<br />
dP(<br />
r)<br />
dr<br />
GM ( r)<br />
= ρg<br />
= −ρ , (3.1)<br />
2<br />
r<br />
<strong>em</strong> que M(r) é a massa inter<strong>na</strong> ao raio r, ρ é a densi<strong>da</strong>de e P(r) é a pressão.<br />
43
A primeira séria de reações de fusão agrega 4 prótons formando um núcleo de He:<br />
+<br />
4 p → α + 2e<br />
+ 2ν<br />
e<br />
, liberando aproxima<strong>da</strong>mente uma energia de 7MeV/nucleon. Este<br />
processo e os d<strong>em</strong>ais do ciclo p-p continuam no centro <strong>da</strong> estrela por cerca de 10 7 anos. Em<br />
1942, Mário Schenberg, físico brasileiro, e seu colega indiano, Chandrashekar, mostraram<br />
que o Sol não consegue lançar mão de todo estoque de hidrogênio. O caroço de energia,<br />
depois desses 10 bilhões de anos, entrará <strong>em</strong> crise, exigindo outro mecanismo para que não<br />
haja um colapso. Neste momento, t<strong>em</strong>os uma contração do centro estelar, <strong>da</strong>do que a<br />
atração gravitacio<strong>na</strong>l não encontra mais a oposição <strong>da</strong> pressão inter<strong>na</strong>. Por conseguinte, o<br />
centro se aquece, assim como as cama<strong>da</strong>s exter<strong>na</strong>s de matéria. O mecanismo proposto por<br />
Helmholtz indica que ocorrerá expansão dessas cama<strong>da</strong>s exter<strong>na</strong>s para ocorrer diminuição<br />
do gradiente de t<strong>em</strong>peratura. A t<strong>em</strong>peratura <strong>em</strong> torno do caroço de hélio, ao crescer, inicia a<br />
fusão do hidrogênio r<strong>em</strong>anescente (casca <strong>em</strong> volta do caroço central), enquanto que o<br />
centro vai se aquecendo para iniciar a fusão do hélio, que se transformará <strong>em</strong> carbono.<br />
Depois desta transformação, o hélio também passará a ser queimado numa casca, só que<br />
mais inter<strong>na</strong> à casca de hidrogênio. No Sol, a t<strong>em</strong>peratura do núcleo não subirá o suficiente<br />
para fundir o carbono.<br />
As duas cascas vão se deslocando para fora, fazendo a estrela se expandir para o<br />
chamado ramo assintótico, <strong>em</strong> que as trajetórias evolutivas <strong>da</strong>s estrelas de peque<strong>na</strong> massa<br />
se afunilam <strong>na</strong>s proximi<strong>da</strong>des dos ramos <strong>da</strong>s gigantes vermelhas. As instabili<strong>da</strong>des, devi<strong>da</strong>s<br />
às cama<strong>da</strong>s de queima nuclear, acabam expulsando a atmosfera <strong>da</strong> estrela, formando uma<br />
nebulosa planetária.<br />
Quanto mais massiva a estrela, el<strong>em</strong>entos químicos mais pesados consegu<strong>em</strong> ser<br />
sintetizados. Acima de 300 milhões K, o carbono e o hélio se fund<strong>em</strong>, gerando oxigênio e<br />
neônio. Estrelas que ating<strong>em</strong> 500 milhões K produz<strong>em</strong> o sódio. Acima de 1 bilhão K, a<br />
partir do oxigênio, a estrela fabrica o fósforo, o silício e o magnésio. Acima de 1,5 bilhão<br />
K, são gerados fótons energéticos que desintegram o neônio, transformando-os <strong>em</strong> oxigênio<br />
e magnésio. A t<strong>em</strong>peraturas pouco menores que 5 bilhões K, o silício se funde, formando<br />
ferro. Os chamados processos r (rápidos) de fusão não consegu<strong>em</strong> produzir el<strong>em</strong>entos mais<br />
pesados que o ferro. O núcleo desse el<strong>em</strong>ento químico t<strong>em</strong> alto grau de estabili<strong>da</strong>de e, ao se<br />
fundir com outro, ao invés de gerar energia, absorve. Tal processo endotérmico<br />
desequilibra a estrela, levando-a para o colapso. A figura 3.2 aponta o ferro como possível<br />
último el<strong>em</strong>ento <strong>da</strong> fusão e mostra a energia de ligação por nucleon <strong>em</strong> função do número<br />
de massa.<br />
Na figura 3.1 mostramos, para uma estrela de 25 M, a duração <strong>da</strong> queima de ca<strong>da</strong><br />
el<strong>em</strong>ento químico à medi<strong>da</strong> que a estrela evolui, com o conseqüente crescimento de<br />
t<strong>em</strong>peratura e densi<strong>da</strong>de do centro <strong>da</strong> estrela.<br />
44
Figura 3.1: El<strong>em</strong>entos <strong>em</strong> combustão <strong>em</strong> uma estrela de 25 M, com a duração de ca<strong>da</strong> etapa.<br />
Fe<br />
Figura 3.2: Energia de ligação por nucleon <strong>em</strong> função do número de massa [3].<br />
Estrelas de massa peque<strong>na</strong> (0,1M ≤ M ≤ 1M) ou de massa intermediária<br />
(1M ≤ M ≤ 8M) não consegu<strong>em</strong> queimar além do hélio e formam um centro de carbonooxigênio,<br />
termi<strong>na</strong>ndo sua vi<strong>da</strong> <strong>na</strong> forma de anã-branca. A pressão inter<strong>na</strong> diminui já que o<br />
combustível termonuclear se encerra, contraindo assim a estrela. Sendo assim, a densi<strong>da</strong>de<br />
aumenta e a distância média entre os elétrons fica próxima ao comprimento de de Broglie, o<br />
que tor<strong>na</strong> este gás de elétrons <strong>em</strong> sua forma degenera<strong>da</strong> – as partículas não se mov<strong>em</strong> mais<br />
livr<strong>em</strong>ente e o espaço de fase se restringe a estados com energias ca<strong>da</strong> vez mais altas.<br />
4 4 3<br />
L<strong>em</strong>brando que num gás degenerado de elétrons, a pressão eletrônica P e<br />
∝ p f<br />
∝ ρ , <strong>em</strong><br />
que p<br />
f<br />
corresponde ao momento de Fermi. Como já diss<strong>em</strong>os, ocorre contração e,<br />
portanto, aumento de densi<strong>da</strong>de. Logo, a pressão inter<strong>na</strong> aumenta, estabelecendo<br />
novamente o equilíbrio hidrostático. A estrela permanece como um objeto muito compacto<br />
(ρ/ρ ~10 4 -10 6 , R/R ~10 -2 ) e de luminosi<strong>da</strong>de baixa (L/L~10 -1 -10 -6 ) [4].<br />
45
Estrelas com massas maiores (8M ≤ M ≤ 60 M) consegu<strong>em</strong> fundir núcleos mais<br />
pesados, chegando a formar centros de ferro, onde t<strong>em</strong>os um gás degenerado de elétrons<br />
responsável pela pressão inter<strong>na</strong>. A condição que a distância entre os elétrons é próxima ao<br />
2<br />
comprimento de de Broglie estabelece uma densi<strong>da</strong>de crítica, ρ ∝ m 3<br />
c<br />
(m é a massa <strong>da</strong><br />
partícula que compõe o gás), acima <strong>da</strong> qual t<strong>em</strong>os degenerescência. No fi<strong>na</strong>l <strong>da</strong> etapa de<br />
formação do ferro, o centro <strong>da</strong> estrela t<strong>em</strong> uma t<strong>em</strong>peratura de cerca de 0,7 MeV e<br />
10 3<br />
6 3<br />
densi<strong>da</strong>de ρ ≅ 10 g cm [8]. Nesse caso, ρ >> ρc<br />
para os elétrons ( ρ ≅ c<br />
10 g cm ),<br />
11 3<br />
mas não para os nucleons ( ρ ≅ c<br />
10 g cm ). Estes últimos continuam a constituir um gás<br />
perfeito, com pressão parcial P<br />
n<br />
Figura 3. 3: Perfil de densi<strong>da</strong>de, t<strong>em</strong>peratura e composição química de uma estrela de 15 M <strong>em</strong><br />
função <strong>da</strong> massa interior M(r)/ M [2].<br />
3.2) Colapso Gravitacio<strong>na</strong>l<br />
Como já diss<strong>em</strong>os anteriormente, a formação de ferro no centro estelar interrompe<br />
as reações de fusão. Mesmo assim, reações pod<strong>em</strong> continuar <strong>na</strong> fronteira com a cama<strong>da</strong> de<br />
silício, devido às altíssimas t<strong>em</strong>peraturas, adicio<strong>na</strong>ndo ain<strong>da</strong> mais ferro no centro. Se a<br />
massa central superar o limite de Chandrasekhar, o equilíbrio hidrostático é rompido. S<strong>em</strong><br />
oposição ao peso <strong>da</strong>s cama<strong>da</strong>s exter<strong>na</strong>s, ocorrerá o colapso gravitacio<strong>na</strong>l de uma maneira<br />
implosiva. Quando se inicia o colapso, uma on<strong>da</strong> de “rarefação” se propaga <strong>em</strong> direção ao<br />
exterior <strong>da</strong> estrela, porém com veloci<strong>da</strong>de muito menor que a do colapso. Sendo assim, o<br />
envelope permanece estático. Daí sabe-se que é o centro estelar que colapsa, e não a estrela<br />
to<strong>da</strong>.<br />
47
Mecanismos de resfriamento do centro estelar de ferro, como a neutronização, fotodissociação<br />
e aniquilação de pares vão causar a diminuição <strong>da</strong> pressão inter<strong>na</strong> –<br />
esfriamento de centro estelar, devido às reações endotérmicas.<br />
3.2.1) Neutronização<br />
Em uma anã-branca, como já comentado anteriormente, o equilíbrio hidrostático era<br />
atingido novamente quando ocorria um aumento <strong>da</strong> pressão eletrônica P e<br />
, devido ao<br />
aumento <strong>da</strong> densi<strong>da</strong>de central, equilibrando assim a força gravitacio<strong>na</strong>l de colapso. No<br />
entanto, antes que o equilíbrio seja restabelecido, o aumento <strong>da</strong> densi<strong>da</strong>de faz com que a<br />
energia de Fermi atinja um valor comparável à diferença de massa nêutron-próton<br />
∆<br />
np<br />
= 1, 3MeV (<strong>na</strong> fase pré-colapso, E f < 1MeV), possibilitando o processo de captura<br />
eletrônica ou neutronização:<br />
e<br />
−<br />
+ p → n + ν<br />
e<br />
ou (3.4)<br />
e<br />
−<br />
+ ( A,<br />
Z)<br />
→ ( A,<br />
Z −1)<br />
+ ν , (3.5)<br />
e<br />
<strong>em</strong> que (A, Z) representa especialmente os nuclídeos do grupo do ferro, que é o el<strong>em</strong>ento<br />
mais abun<strong>da</strong>nte do centro estelar. A captura reduz a concentração de léptons, uma vez que<br />
os neutrinos escapam livr<strong>em</strong>ente <strong>da</strong> estrela. O escape dos neutrinos diminui a energia<br />
disponível e também a quanti<strong>da</strong>de de férmions, aumentando o número de estados<br />
disponíveis no espaço de fase e reduzindo a pressão.<br />
3.2.2) Foto-dissociação<br />
Depois <strong>da</strong> queima dos núcleos mais leves, o centro estelar possui uma concentração<br />
maior de núcleos pesados, como ferro e níquel, tor<strong>na</strong>ndo-se impossível a fusão. Tais<br />
núcleos pod<strong>em</strong> ser dissociados por fótons de alta energia, pertencentes à parte alta <strong>da</strong><br />
distribuição de Maxwell, <strong>em</strong> equilíbrio termodinâmico com o gás degenerado. Pode<br />
ocorrer:<br />
O hélio também pode foto-dissociar:<br />
56<br />
4<br />
γ+ Fe → 13 He + 4n , (3.6)<br />
56<br />
54<br />
Ni→ Fe + 2p e (3.7)<br />
54<br />
4<br />
γ+ Fe → 13 He + 2n . (3.8)<br />
4<br />
γ + He → 2n + 2p . (3.9)<br />
48
Estas reações mostra<strong>da</strong>s acima são endotérmicas e faz<strong>em</strong> com que o plasma volte às<br />
condições de nucleons e elétrons livres, absorvendo uma energia do meio comparável à<br />
18<br />
energia libera<strong>da</strong> pelas fusões que criaram os el<strong>em</strong>entos pesados (~ 5× 10 erg / g ).<br />
3.2.3) Aniquilação de Pares<br />
Os fótons de mais alta energia pod<strong>em</strong> criar pares elétron-pósitron:<br />
− +<br />
γ + γ → e + e →ν<br />
+ ν e . (3.10)<br />
e<br />
Os elétrons e os pósitrons produzidos pod<strong>em</strong>, por sua vez, se aniquilar e formar um<br />
par de neutrino-antineutrino eletrônico, o que acarreta uma sensível per<strong>da</strong> de energia pela<br />
saí<strong>da</strong> destes neutrinos do centro estelar.<br />
Para t<strong>em</strong>peraturas pouco maiores que a do limiar de produção elétron-pósitron<br />
(1,022 MeV), a energia dos fótons é quase to<strong>da</strong> utiliza<strong>da</strong> para a formação <strong>da</strong>s massas <strong>da</strong>s<br />
partículas, restando pouca energia cinética. Isto equivale a subtrair energia térmica do meio<br />
e reduzir a pressão que balanceia a contração gravitacio<strong>na</strong>l. Em t<strong>em</strong>peraturas mais<br />
eleva<strong>da</strong>s, esse processo transforma a energia de radiação <strong>em</strong> agitação térmica <strong>da</strong>s<br />
partículas, s<strong>em</strong> ocorrer redução <strong>na</strong> pressão, o que mantém a estrela <strong>em</strong> seu equilíbrio.<br />
Acabamos de descrever os fatores que colaboram para o colapso de centro estelar. A<br />
seguir começamos a descrição <strong>da</strong> dinâmica e de que maneira o colapso vai ocorrer.<br />
3.3) Dinâmica do colapso<br />
O centro estelar pode ser dividido <strong>em</strong> duas regiões quanto às veloci<strong>da</strong>des de atração<br />
<strong>da</strong> matéria: a região homóloga e a casca exter<strong>na</strong>. Havendo tal divisão, t<strong>em</strong>os acúmulo de<br />
energia mecânica <strong>na</strong> fronteira entre as regiões, podendo ocorrer formação de on<strong>da</strong>s de<br />
choque que pod<strong>em</strong> provocar a explosão <strong>da</strong> estrela.<br />
i) região homóloga: é a parte mais inter<strong>na</strong>, onde as distribuições de t<strong>em</strong>peratura e<br />
densi<strong>da</strong>de só são altera<strong>da</strong>s por um fator de escala no colapso (autosimilari<strong>da</strong>de).<br />
A partir desse instante, o limite de Chandrasekhar passa a ser útil<br />
para definir a fronteira <strong>da</strong> região homóloga. Vamos supor uma esfera de raio R h<br />
com massa igual a massa de Chandrasekhar. O fenômeno de captura eletrônica<br />
reduz o valor <strong>da</strong> fração Ye até 0,36 [6]. Logo, por (3.2), a massa de<br />
Chandrasekhar é reduzi<strong>da</strong> para 0,75 M. Sab<strong>em</strong>os que o colapso faz com que<br />
ρ (r) cresça. Portanto, o volume <strong>da</strong> esfera diminui durante o colapso. Por outro<br />
lado, o perfil de densi<strong>da</strong>de dentro <strong>da</strong> esfera não se modifica, isto é, ρ ( r Rh<br />
) é<br />
constante, o que caracteriza a homologia do colapso nessa região [7]. Uma<br />
proprie<strong>da</strong>de importante <strong>da</strong> região homóloga é que a veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> matéria <strong>em</strong><br />
colapso é subsônica e proporcio<strong>na</strong>l à distância do centro <strong>da</strong> estrela.<br />
ii) Casca exter<strong>na</strong>: região limita<strong>da</strong> inter<strong>na</strong>mente pela região homóloga e<br />
exter<strong>na</strong>mente pela bor<strong>da</strong> do centro <strong>em</strong> colapso. A matéria é atraí<strong>da</strong> com<br />
veloci<strong>da</strong>de supersônica. O máximo <strong>da</strong> veloci<strong>da</strong>de é atingido <strong>em</strong> um raio<br />
intermediário do centro do colapso, que é um pouco maior que R h .<br />
49
A densi<strong>da</strong>de, assim como a veloci<strong>da</strong>de local do som v s<br />
, são funções decrescentes<br />
do raio. Ponto sônico, que coincide com R h e se move <strong>em</strong> direção ao centro estelar durante<br />
o colapso, é o raio <strong>em</strong> que v = vs<br />
e d<strong>em</strong>arca a fronteira entre a região homóloga e a casca<br />
exter<strong>na</strong>.<br />
A figura 3.4 mostra os perfis <strong>da</strong>s veloci<strong>da</strong>des <strong>em</strong> t=1ms após o início do colapso<br />
[8], onde o ponto sônico está <strong>em</strong> um raio de aproxima<strong>da</strong>mente 25 km. Qualquer<br />
perturbação <strong>na</strong> região homóloga não se propaga além do ponto sônico, onde se acumula<br />
to<strong>da</strong> a energia transporta<strong>da</strong> pelas on<strong>da</strong>s sonoras.<br />
ponto sônico<br />
Figura 3.4: veloci<strong>da</strong>de de que<strong>da</strong> <strong>da</strong> matéria (v) e veloci<strong>da</strong>de local do som (v s ) <strong>em</strong> função do raio <strong>da</strong><br />
estrela, no instante t=1ms após o início do colapso [8]. O cruzamento <strong>da</strong>s duas curvas é o ponto sônico,<br />
que delimita a região homóloga do colapso.<br />
O impacto <strong>da</strong> matéria <strong>em</strong> que<strong>da</strong> sobre o centro estelar produz variações de pressão<br />
que se propagam rumo ao exterior como on<strong>da</strong>s sonoras. No entanto, a matéria <strong>em</strong> colapso<br />
se move <strong>em</strong> sentido contrário.<br />
3.4) Explosão<br />
Além <strong>da</strong> homologia, o aumento contínuo <strong>da</strong> densi<strong>da</strong>de no centro estelar traz<br />
implicações consideráveis para a in<strong>versão</strong> do movimento <strong>da</strong> matéria <strong>em</strong> colapso: o<br />
aprisio<strong>na</strong>mento de neutrinos e a transição de fase <strong>da</strong> matéria nuclear.<br />
3.4.1) Aprisio<strong>na</strong>mento de neutrinos<br />
11 3<br />
Em regiões onde a densi<strong>da</strong>de atinge ρ<br />
a<br />
≅ 6,0<br />
× 10 g cm , a matéria tor<strong>na</strong>-se opaca<br />
aos neutrinos, pois o livre caminho médio, cerca de 1 km, é muito menor que o raio do<br />
centro estelar, cerca de 100 km. A opaci<strong>da</strong>de é causa<strong>da</strong> principalmente pelo espalhamento<br />
elástico (via corrente neutra) com os núcleos presentes no meio [9]. O t<strong>em</strong>po de difusão<br />
supera a escala de t<strong>em</strong>po de colapso, portanto os neutrinos pod<strong>em</strong> ser considerados presos<br />
<strong>na</strong> região central. A difusão faz com que os processos de captura/ re-<strong>em</strong>issão pass<strong>em</strong> a<br />
50
ocorrer <strong>em</strong> taxas praticamente iguais, sendo que os neutrinos eletrônicos passam a entrar<br />
<strong>em</strong> equilíbrio com os elétrons via reação<br />
−<br />
ν + n → e p . (3.11)<br />
e<br />
+<br />
Este equilíbrio interrompe a redução <strong>da</strong> fração leptônica (Y e ), que se estabiliza<br />
próxima ao valor de 0,36. Como conseqüência, também se estabiliza a pressão dos elétrons,<br />
e pode-se determi<strong>na</strong>r um limite inferior para a massa <strong>da</strong> região homóloga. Tanto a redução<br />
<strong>da</strong> pressão eletrônica, quanto a determi<strong>na</strong>ção de um limite de massa inferior <strong>da</strong> região<br />
homóloga, são fatores contrários à contração estelar.<br />
Os neutrinos aprisio<strong>na</strong>dos formarão uma região chama<strong>da</strong> neutrinosfera, que pode<br />
ser defini<strong>da</strong> como a superfície onde ocorre a última interação antes de eles escapar<strong>em</strong>. Em<br />
outras palavras, é a superfície <strong>da</strong> qual <strong>em</strong>a<strong>na</strong>m os neutrinos.<br />
O raio <strong>da</strong> neutrinosfera é obtido tomando-se a profundi<strong>da</strong>de óptica τ ( R<br />
ν<br />
) = 2 3 [6].<br />
Esta profundi<strong>da</strong>de é calcula<strong>da</strong> levando <strong>em</strong> conta a fração de neutrinos que escapam <strong>em</strong> um<br />
ângulo com direção radial. A profundi<strong>da</strong>de óptica é <strong>da</strong><strong>da</strong> por:<br />
2<br />
( ) = ∫ ∞ dr<br />
τ R<br />
ν<br />
= , (3.12)<br />
Rν<br />
λ 3<br />
<strong>em</strong> que λ ν<br />
é o livre caminho médio dos neutrinos. É importante comentar que a<br />
neutrinosfera depende <strong>da</strong> energia dos neutrinos ( λ ν<br />
contém a seção de choque para o<br />
processo considerado), logo seu raio não é único. Como primeira aproximação, para os<br />
neutrinos e antineutrinos eletrônicos, pod<strong>em</strong>os utilizar [6]<br />
ν<br />
Rν = 11Eν<br />
km , (13)<br />
<strong>em</strong> que E<br />
ν<br />
é a energia do neutrino <strong>em</strong> MeV. Durante esta etapa do colapso, os neutrinos<br />
possu<strong>em</strong> energia no intervalo entre 6 a 22 MeV (dependendo <strong>da</strong> região de produção: menor<br />
o raio, maior a energia). Na região onde ρ ≅ ρa<br />
, Eν<br />
≅ 10MeV<br />
, o raio <strong>da</strong> neutrinosfera<br />
2<br />
será de Rν<br />
≅ 10 km . Assim, o raio <strong>da</strong> neutrinosfera se localiza exter<strong>na</strong>mente à esfera de<br />
aprisio<strong>na</strong>mento, o que significa que antes do escape os neutrinos ain<strong>da</strong> difund<strong>em</strong> por longas<br />
distâncias. Estes neutrinos aprisio<strong>na</strong>dos <strong>na</strong> neutrinosfera possu<strong>em</strong> um papel muito<br />
importante para a explosão <strong>da</strong> supernova, atuando como fontes de energia para a on<strong>da</strong> de<br />
choque que expele a matéria estelar.<br />
3.4.2) Transição de fase <strong>da</strong> matéria nuclear<br />
Vimos que a pressão exerci<strong>da</strong> pelos núcleos é b<strong>em</strong> menor que a pressão exerci<strong>da</strong><br />
pelos elétrons ( P<br />
n<br />
acarreta um grande acréscimo <strong>em</strong> P n . A força de repulsão de curto alcance nucleon-nucleon<br />
γ<br />
passa a prevalecer. Na equação de estado do plasma P = kρ , γ mu<strong>da</strong> de valor, uma vez<br />
que inicialmente tínhamos um gás degenerado de elétrons relativísticos ( γ = 4 3 ) e<br />
passamos para um gás degenerado de nucleons não-relativísticos ( γ = 5 3). Este<br />
crescimento do expoente <strong>da</strong> equação de estado faz com que o centro estelar subitamente<br />
enrijeça, oferecendo grande resistência à compressão contínua. Esta resistência provoca um<br />
acúmulo <strong>da</strong> energia no ponto sônico, já que mais on<strong>da</strong>s sonoras são produzi<strong>da</strong>s, e principia<br />
a formação de uma on<strong>da</strong> de choque, que difere <strong>da</strong> on<strong>da</strong> sonora porque modifica o meio de<br />
maneira “permanente” e sua veloci<strong>da</strong>de é supersônica.<br />
Apesar de peque<strong>na</strong> a compressibili<strong>da</strong>de nuclear, ela é não nula. Alguns cálculos<br />
indicam que ρ pode superar ρ n <strong>em</strong> até 50% [5]. Quando isto ocorre, o centro estelar não<br />
pode ser mais comprimido, tor<strong>na</strong>ndo-se uma barreira e rebate a contração, causando uma<br />
abrupta e violenta variação de pressão rumo ao exterior. Forma-se então uma on<strong>da</strong> de<br />
choque que rompe o confi<strong>na</strong>mento do ponto sônico e se propaga fora <strong>da</strong> estrela, revertendo<br />
o colapso gravitacio<strong>na</strong>l <strong>em</strong> uma explosão de supernova.<br />
O mecanismo que possibilita a explosão ain<strong>da</strong> não é claro, porém pod<strong>em</strong> ser<br />
descritos dois tipos de cenário: a explosão imediata, com caráter puramente hidrodinâmico,<br />
<strong>em</strong> que o choque consegue expelir o envelope estelar; e a explosão atrasa<strong>da</strong>, <strong>em</strong> que o<br />
choque perde energia <strong>na</strong> dissociação de núcleos <strong>da</strong> casca exter<strong>na</strong>, sendo porém revitalizado<br />
pelos neutrinos <strong>em</strong> difusão.<br />
3.4.3) Explosão Imediata<br />
A rebati<strong>da</strong> <strong>da</strong> parte homóloga, após o momento de máxima compressão, cede<br />
energia suficiente para que a on<strong>da</strong> de choque propague-se por to<strong>da</strong> a estrela <strong>em</strong> direção a<br />
superfície, expelindo a maior parte <strong>da</strong> sua massa, resultando ou <strong>em</strong> uma estrela de nêutrons<br />
ou <strong>em</strong> um buraco negro.<br />
Os resultados mostram que o choque dissipa sua energia dissociando núcleos <strong>em</strong><br />
nucleons ao passar pela matéria <strong>da</strong> casca exter<strong>na</strong>. A dissociação do ferro, por ex<strong>em</strong>plo,<br />
requer cerca de 8,7 MeV/nucleon. Estima-se que para ca<strong>da</strong> 0,1 M de matéria dissocia<strong>da</strong><br />
51<br />
<strong>em</strong> nêutrons e prótons, a energia dissipa<strong>da</strong> é de aproxima<strong>da</strong>mente 1 ,7 × 10 erg [10], que é<br />
comparável à energia cinética <strong>da</strong> matéria <strong>na</strong> explosão <strong>da</strong> SN1987A.<br />
A parte homóloga contém cerca de 0,7 M. Portanto, 0,5 M a 0,8 M de casca<br />
exter<strong>na</strong> dev<strong>em</strong> ser atravessados pelo choque com energia suficiente para ejetar o envelope<br />
<strong>da</strong> estrela. Os prótons liberados com a dissociação aumentam a taxa de captura eletrônica,<br />
reduzindo a pressão. Quando o choque atinge regiões ρ < ρ<br />
a<br />
, os neutrinos de captura<br />
eletrônica pod<strong>em</strong> escapar livr<strong>em</strong>ente, levando grandes quanti<strong>da</strong>des de energia.<br />
O sucesso <strong>da</strong> explosão imediata t<strong>em</strong> forte dependência com a massa total <strong>da</strong> estrela<br />
e com a equação de estado <strong>da</strong> matéria nuclear. Estrelas de massa menor formam centros de<br />
ferro de menor dimensão. Desta maneira t<strong>em</strong>os menos material a ser atravessado, com<br />
menores per<strong>da</strong>s de energia. Equações de estado para compressibili<strong>da</strong>des maiores <strong>da</strong> matéria<br />
nuclear conduz<strong>em</strong> a rebati<strong>da</strong>s mais intensas, formando on<strong>da</strong>s de choque com maior energia.<br />
Estrelas com massa entre 8 M e 12 M pod<strong>em</strong> não formar ferro, termi<strong>na</strong>ndo a<br />
evolução pré-supernova com um centro composto por oxigênio, neônio, magnésio e silício.<br />
Pod<strong>em</strong>os ter uma explosão também nesse caso [5] pela on<strong>da</strong> de choque, que é auxiliado por<br />
52
dois fatores: a energia dissipa<strong>da</strong> <strong>na</strong> dissociação <strong>da</strong> matéria do centro <strong>da</strong> estrela é menor e<br />
existe uma grande descontinui<strong>da</strong>de de densi<strong>da</strong>de entre as cama<strong>da</strong>s de carbono e hélio,<br />
facilitando a propagação do choque. Exist<strong>em</strong> grandes discussões e simulações sobre<br />
explosões de estrelas desse porte [5, 11, 12].<br />
Explosões de estrelas com massa entre 12 M e 16 M são discuti<strong>da</strong>s por Baron,<br />
Cooperstein e Kaha<strong>na</strong> [13]. Em geral o sucesso de tais explosões se deve a equações de<br />
estado “suaves” e ao uso de centros de ferro menores [5]. Wilson [14], usando equações de<br />
estado mais “conservadoras”, não obteve explosões.<br />
3.4.4) Explosão Atrasa<strong>da</strong><br />
O modelo de Baron et. al. falha para estrelas massas maiores que 18 M. Por<br />
ex<strong>em</strong>plo: uma estrela de 25 M produz um centro de ferro de 2 M, logo o choque deve<br />
atravessar aproxima<strong>da</strong>mente 1,3 M. Isto implica <strong>em</strong> imensas per<strong>da</strong>s de energia <strong>na</strong><br />
dissociação nuclear.<br />
Um possível modelo que explicaria a explosão destas estrelas mais massivas é o<br />
modelo <strong>da</strong> explosão atrasa<strong>da</strong>. Ele se baseia <strong>na</strong> possibili<strong>da</strong>de que, algumas cente<strong>na</strong>s de ms<br />
após a rebati<strong>da</strong>, o choque seja reativado por neutrinos <strong>em</strong>itidos <strong>da</strong> recém forma<strong>da</strong> e ain<strong>da</strong><br />
quente estrela de nêutrons. O choque diminui a densi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> matéria por onde passa,<br />
facilitando a difusão dos neutrinos <strong>da</strong> região homóloga. O fluxo de neutrinos vindo de<br />
regiões mais quentes desagrega núcleos <strong>em</strong> nucleons. O aumento do número de partículas<br />
com alta energia cinética faz crescer a pressão P n e aquece a matéria, revigorando o choque<br />
[5]. É importante observar que a dissociação, que tinha um papel de amortecer o choque,<br />
agora t<strong>em</strong> um papel inverso. O motivo é que <strong>na</strong> fase de amortecimento, a energia de<br />
dissociação era absorvi<strong>da</strong> pelo próprio choque. Agora, nesse modelo, a energia é cedi<strong>da</strong><br />
pelos neutrinos que se difund<strong>em</strong> <strong>na</strong> região de aprisio<strong>na</strong>mento.<br />
O fluxo de neutrinos, nessa fase, é gerado no interior <strong>da</strong> neutrinosfera por<br />
aniquilação de pares:<br />
e<br />
− + e<br />
+ →ν + ν . (3.14)<br />
x<br />
x<br />
A maior fração <strong>da</strong> energia deposita<strong>da</strong> (80% [15]) v<strong>em</strong> dos processos de absorção:<br />
−<br />
ν + n → e p e (3.15)<br />
e<br />
+<br />
+<br />
ν + p → e n . (3.16)<br />
e<br />
+<br />
O fluxo <strong>em</strong>ergente t<strong>em</strong> como componente domi<strong>na</strong>nte os neutrinos eletrônicos de<br />
captura (3.4) e (3.5), copiosamente produzidos <strong>na</strong> região homóloga durante sua fase de<br />
compressão. Adicio<strong>na</strong>lmente, visto que a captura provoca a neutronização <strong>da</strong> matéria, a<br />
reação (3.15) acima descrita é mais freqüente, e espera-se que no fluxo <strong>em</strong>itido pela estrela<br />
Eν < E .<br />
e ν e<br />
T<strong>em</strong>os também uma menor contribuição, com participação também dos neutrinos<br />
muônicos e taônicos, oriundos do espalhamento com nucleons ou elétrons (pósitrons) [16]:<br />
53
⎧ p⎫<br />
⎧ p⎫<br />
ν<br />
x<br />
+ ⎨ ⎬ →ν<br />
x<br />
+ ⎨ ⎬<br />
⎩n<br />
⎭ ⎩n<br />
⎭<br />
⎧e<br />
ν<br />
x<br />
+ ⎨<br />
⎩e<br />
−<br />
+<br />
⎫ ⎧e<br />
⎬ →ν<br />
x<br />
+ ⎨<br />
⎭ ⎩e<br />
−<br />
+<br />
⎫<br />
⎬<br />
⎭<br />
. (3.17)<br />
[15]:<br />
A potência por grama de matéria estelar absorvi<strong>da</strong> do fluxo de neutrinos é <strong>da</strong><strong>da</strong> por<br />
dE&<br />
dm<br />
2<br />
⎡ L T ⎤<br />
ν<br />
⎛<br />
m<br />
⎞<br />
4 erg<br />
= K(<br />
T ⎢<br />
aTm<br />
c⎥<br />
⎢ R<br />
⎜<br />
m<br />
T<br />
⎟<br />
ν ) −<br />
, (3.18)<br />
2<br />
4π<br />
⎥ g × s<br />
⎣ ⎝ ν ⎠ ⎦<br />
<strong>em</strong> que o índice m refere-se ao el<strong>em</strong>ento de matéria e ν refere-se à neutrinosfera. R é a<br />
distância do centro e T é a t<strong>em</strong>peratura <strong>em</strong> MeV. K ( T ν<br />
) = λ v<br />
ρ é o coeficiente de absorção<br />
de neutrinos (cm 2 /g) para uma <strong>da</strong><strong>da</strong> t<strong>em</strong>peratura <strong>da</strong> neutrinosfera. L ν é a luminosi<strong>da</strong>de do<br />
52<br />
fluxo de ν<br />
e<br />
+ ν<br />
e<br />
( ≅ 4×10 erg s ). O primeiro termo <strong>da</strong> expressão (3.18) se refere ao<br />
ganho de energia à distância R; o segundo termo descreve a <strong>em</strong>issão de neutrinos de<br />
4<br />
captura à t<strong>em</strong>peratura T, sendo que a grandeza aT<br />
m<br />
é a densi<strong>da</strong>de de energia dos neutrinos<br />
<strong>na</strong> captura.<br />
Quando o primeiro termo é maior que o segundo, t<strong>em</strong>os um ganho de energia. Isto<br />
ocorre para um raio com cerca de 150 km, chamado de “ponto de bifurcação”. Nessa região<br />
a probabili<strong>da</strong>de de absorção de neutrinos, proporcio<strong>na</strong>l a densi<strong>da</strong>de, é considerável e pode<br />
chegar a 10 -3 . Já a t<strong>em</strong>peratura <strong>da</strong> matéria é baixa, <strong>em</strong> torno de alguns MeV, para que a<br />
própria <strong>em</strong>issão seja despreza<strong>da</strong>. A potência cedi<strong>da</strong> pelos neutrinos para ca<strong>da</strong> nucleon é<br />
−1<br />
E & = 50MeV.<br />
s , suficiente para revitalizar o choque após aproxima<strong>da</strong>mente 250 ms [6].<br />
53<br />
A luminosi<strong>da</strong>de dos neutrinos é eleva<strong>da</strong> ( Lν<br />
≅ 10 erg s ) e existe grande fluxo.<br />
Apesar <strong>da</strong> seção de choque ser muito baixa, isto é, <strong>em</strong> cerca de 5% dos neutrinos que<br />
interag<strong>em</strong> com a matéria, a energia deposita<strong>da</strong> seria suficiente para reavivar o choque [2].<br />
Ocorrendo o aquecimento, a pressão cresce consideravelmente e <strong>em</strong>purra a matéria<br />
estelar para o exterior. O choque pode avançar pelo manto até chegar a regiões com baixa<br />
densi<strong>da</strong>de, provocando a explosão. A massa inter<strong>na</strong> ao ponto de bifurcação colapsa, esfria<br />
lentamente por cerca de 20 s através <strong>da</strong> difusão e <strong>em</strong>issão de ν x<br />
e ν x<br />
, <strong>da</strong>ndo orig<strong>em</strong> ao<br />
objeto r<strong>em</strong>anescente: uma estrela de nêutrons com raio aproxima<strong>da</strong>mente de 10 km, massa<br />
próxima a massa de Chandrashekar e baixa concentração leptônica ( Y l<br />
≅ Y e<br />
≅ 0, 04 ), já que<br />
os neutrinos foram <strong>em</strong>itidos <strong>em</strong> quase sua totali<strong>da</strong>de. A estrela de nêutrons pode sofrer<br />
mais um colapso e se transformar <strong>em</strong> um buraco negro.<br />
Wilson, com o mecanismo de atraso, obteve explosões para estrelas entre 25 e 50<br />
M [14]. Fatores como convecção, a rotação <strong>da</strong> estrela e quebras <strong>na</strong> simetria esférica dev<strong>em</strong><br />
ser considerados nos mecanismos de explosão. A convecção, por ex<strong>em</strong>plo, parece reforçar<br />
que o mecanismo de atraso é mais eficaz para explicar o fenômeno <strong>da</strong> explosão. Janka [16]<br />
54
obteve resultados interessantes sobre o modelo de atraso incluindo a quebra <strong>da</strong> simetria<br />
esférica. Bethe mostrou que os <strong>da</strong>dos de SN1987A são mais consistentes com o modelo de<br />
explosão atrasa<strong>da</strong> [30].<br />
3.5) Neutrinos de colapsos estelares<br />
Independente do mecanismo de explosão, a formação <strong>da</strong> estrela de nêutrons requer<br />
liberação de uma grande quanti<strong>da</strong>de de energia gravitacio<strong>na</strong>l, que é <strong>da</strong><strong>da</strong> por:<br />
2 2<br />
⎛ M M ⎞<br />
53<br />
∆ E = −G<br />
⎜ − ≅ ( 2 − 4) × 10 erg<br />
R0<br />
R<br />
⎟<br />
. (3.19)<br />
⎝<br />
N ⎠<br />
Os índices 0 e N <strong>da</strong> expressão acima se refer<strong>em</strong>, respectivamente, ao raio inicial <strong>da</strong><br />
estrela e ao raio <strong>da</strong> estrela de nêutrons.<br />
Observações de supernova mostram que a radiação de fótons soma<br />
49<br />
aproxima<strong>da</strong>mente 10 erg e a energia cinética <strong>da</strong> matéria ejeta<strong>da</strong> aproxima<strong>da</strong>mente<br />
51<br />
10 erg [17]. Uma grande fração, “invisível” por assim dizer, deve ser <strong>em</strong>iti<strong>da</strong> pelos<br />
neutrinos ou on<strong>da</strong>s gravitacio<strong>na</strong>is. Estima-se que as on<strong>da</strong>s gravitacio<strong>na</strong>is portariam no<br />
máximo 1% desse total [18]. Portanto, 99% <strong>da</strong> energia libera<strong>da</strong> dev<strong>em</strong> ser carrega<strong>da</strong>s pelos<br />
neutrinos.<br />
T<strong>em</strong>os três momentos ou estágios <strong>da</strong> <strong>em</strong>issão de neutrinos <strong>em</strong> supernovas: i) o flash<br />
inicial (do disparo inicial até irrupção do choque); ii) pulsação intermediária (período entre<br />
o amortecimento do choque e a explosão, com acréscimo de matéria à região homóloga);<br />
iii) o resfriamento fi<strong>na</strong>l (<strong>da</strong> proestrela de nêutrons recém forma<strong>da</strong>).<br />
1. flash neutrínico: começando o colapso, a captura eletrônica produz ν<br />
e<br />
, que pod<strong>em</strong><br />
escapar livr<strong>em</strong>ente até o momento do aprisio<strong>na</strong>mento. Tais ν e<br />
vão ser usados no<br />
processo de neutronização <strong>da</strong> matéria do centro estelar. Durante a implosão, de<br />
51<br />
duração média de 5 ms, são liberados ≅ 2×10 erg <strong>em</strong> ν e<br />
com energia média<br />
53<br />
E ≅ 15MeV e luminosi<strong>da</strong>de L e<br />
≅ 4 ×10 erg s . Ocorre a irrupção <strong>da</strong> on<strong>da</strong> de<br />
choque, que ao se propagar, aquece a matéria e dissocia os núcleos. Como resultado<br />
mais neutrinos eletrônicos são produzidos já que mais elétrons são capturados pelos<br />
prótons livres. Ao mesmo t<strong>em</strong>po, ocorre uma distribuição térmica de todos os tipos<br />
de neutrinos com t<strong>em</strong>peraturas de alguns MeV. Os espectros mu<strong>da</strong>m para ca<strong>da</strong><br />
espécie de neutrino porque apresentam diferentes livres caminhos médios.<br />
Neutrinos muônicos e taônicos interag<strong>em</strong> somente por corrente neutra, uma vez que<br />
a t<strong>em</strong>peratura não é suficiente para produzir múons e taos. Isto gera uma menor<br />
seção de choque e, portanto, um espectro de t<strong>em</strong>peraturas (e energias)<br />
características mais altas. Quando o choque atinge a neutrinosfera, todos estes<br />
51<br />
neutrinos escapam <strong>em</strong> aproxima<strong>da</strong>mente 5 ms. Cerca de 10 erg são <strong>em</strong>itidos com<br />
51<br />
os ν<br />
e<br />
de captura, enquanto que os ν µ , τ carregam 0 ,5× 10 erg , resultando <strong>na</strong>s<br />
53<br />
53<br />
seguintes luminosi<strong>da</strong>des: L e<br />
≅ 2 ×10 erg s e Lµ , τ ≅ 10 erg s .<br />
55
53<br />
L e<br />
≅ 6 ×10 erg s é o valor de pico <strong>da</strong> luminosi<strong>da</strong>de para o neutrino eletrônico,<br />
soma<strong>da</strong> as contribuições de implosão e irrupção.<br />
2. pulsação: depois de 10 a 30 ms, o choque é interrompido e a matéria retoma o<br />
movimento para o centro estelar (acréscimo). As neutrinosferas também se<br />
contra<strong>em</strong> <strong>em</strong> direção ao centro, devido à diminuição <strong>da</strong> espessura <strong>da</strong> matéria inter<strong>na</strong><br />
ao ponto de bifurcação, o que aumenta a t<strong>em</strong>peratura desta região e a energia dos<br />
neutrinos. Durante o acréscimo, a instabili<strong>da</strong>de do centro estelar causa pulsação <strong>da</strong><br />
luminosi<strong>da</strong>de, interrompi<strong>da</strong> com a retoma<strong>da</strong> <strong>da</strong> potência do choque e o sucesso <strong>da</strong><br />
explosão. A identificação dessa estrutura <strong>na</strong> curva de luminosi<strong>da</strong>de pelos<br />
telescópios de neutrinos é fun<strong>da</strong>mental para determi<strong>na</strong>r o mecanismo de explosão,<br />
sendo que o mecanismo de pulsação só acontece para a explosão do tipo atrasa<strong>da</strong>.<br />
No momento <strong>da</strong> explosão o manto é expelido e ocorre um aumento muito rápido <strong>na</strong><br />
luminosi<strong>da</strong>de e <strong>na</strong> energia média.<br />
3. resfriamento: até o instante <strong>da</strong> explosão, a quanti<strong>da</strong>de de energia libera<strong>da</strong><br />
(3 − 5×<br />
10<br />
52 erg)<br />
representa ape<strong>na</strong>s 10-20% <strong>da</strong> energia de formação <strong>da</strong> estrela de<br />
nêutron. A fração mais significativa é libera<strong>da</strong> após explosão, com a deleptonização<br />
e resfriamento <strong>da</strong> estrela de nêutrons. Nesta etapa todos os tipos de neutrinos sofr<strong>em</strong><br />
espalhamento e somente os neutrinos eletrônicos são absorvidos. O livre caminho<br />
médio dos neutrinos eletrônicos é de 0,1-1m e é dez vezes maior para os neutrinos<br />
muônicos e taônicos. A duração do resfriamento é controla<strong>da</strong> pela escala de t<strong>em</strong>po<br />
de difusão dos neutrinos, estima<strong>da</strong> entre 10 e 100 s. No fi<strong>na</strong>l <strong>da</strong> etapa de<br />
resfriamento, <strong>em</strong> algumas deze<strong>na</strong>s de segundo, a protoestrela de nêutrons tor<strong>na</strong>-se<br />
transparente aos neutrinos e sua luminosi<strong>da</strong>de se acaba.<br />
56
Figura 3.5: (a) Luminosi<strong>da</strong>de e energia média dos neutrinos durante o primeiro segundo após irrupção<br />
do choque e (b) luminosi<strong>da</strong>de e energia média dos neutrinos durante a explosão <strong>da</strong> supernova [19].<br />
A energia total <strong>em</strong>iti<strong>da</strong> pelos neutrinos <strong>na</strong>s duas primeiras etapas, denomi<strong>na</strong><strong>da</strong>s por<br />
52<br />
muitos autores de “burst” de neutronização [20,21], é de aproxima<strong>da</strong>mente 10 erg . O<br />
fluxo correspondente a estas duas etapas é pequeno e composto praticamente por neutrinos<br />
eletrônicos. A fase de resfriamento totaliza 90% <strong>da</strong> energia <strong>em</strong>iti<strong>da</strong> <strong>na</strong> forma de neutrinos<br />
de todos os sabores. A figura 3.5(a) mostra a luminosi<strong>da</strong>de e a energia média para todos os<br />
sabores de neutrinos no primeiro segundo após irrupção do choque, enquanto que a figura<br />
3.5(b) mostra o comportamento <strong>da</strong> luminosi<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> energia média dos neutrinos durante a<br />
explosão <strong>da</strong> supernova.<br />
3.6) SN1987A<br />
Fiz<strong>em</strong>os até então uma descrição <strong>da</strong> formação e do mecanismo de explosão de<br />
supernovas do tipo II. O panorama desses tipos de supernova foi confirmado pela detecção<br />
de neutrinos <strong>da</strong> explosão de uma supernova <strong>na</strong> Grande Nuv<strong>em</strong> de Magalhães, a SN1987A,<br />
que fica a uma distância de 51,8 kpc <strong>da</strong> Terra. Foi a primeira vez que se detectaram<br />
neutrinos de uma fonte galáctica diferente do Sol. Vale à pe<strong>na</strong> l<strong>em</strong>brar que existe outra<br />
classe de supernovas classifica<strong>da</strong>s como tipo I. Acredita-se que estas são forma<strong>da</strong>s a partir<br />
<strong>da</strong> captura de massa por uma estrela de um sist<strong>em</strong>a binário.<br />
O “burst” de neutrinos <strong>da</strong> SN1987A foi detectado pelos experimentos Kamiokande-<br />
II, com 11 eventos [22], e IMB, com 8 eventos [23], ambos usando a técnica por luz<br />
±<br />
Cherenkov <strong>na</strong> água, sendo sensíveis aos e <strong>da</strong>s seguintes reações:<br />
57
+<br />
ν + p → e n e (3.20)<br />
e<br />
+<br />
−<br />
−<br />
ν + e →ν<br />
+ e , x e, µ , τ (e antipartículas). (3.21)<br />
x x<br />
=<br />
A reação (3.20) acima possui uma seção de choque duas ordens de grandeza maior<br />
que a reação (3.21), portanto, admite-se que os eventos de Kamiokande-II e IMB tenham<br />
sido produzidos pela reação (3.20). Ain<strong>da</strong> consistente com a reação (3.20), a distribuição<br />
angular dos eventos é quase isotrópica. Os elétrons <strong>da</strong> reação (3.21) são espalhados<br />
primordialmente <strong>na</strong> mesma direção que os neutrinos incidentes.<br />
A figura abaixo mostra a seqüência t<strong>em</strong>poral e a energia dos eventos de SN1987A<br />
registrado nos detectores de Kamiokande-II e IMB [10]. Além destes dois detectores,<br />
usando a técnica de cintilador, Baksan [24] detectou 6 eventos e LSD [25] detectou 5<br />
eventos. Este último apresenta algumas controvérsias por ter detectado os eventos muito<br />
anteriormente ao Kamiokande-II e ao IMB (4h e 42min) e por ter achado um valor de<br />
54<br />
energia total muito alto ( E t<br />
≅ 2 − 4 × 10 erg ) e incomum para o colapso.<br />
Figura 3.6: Seqüência t<strong>em</strong>poral e energia dos eventos <strong>da</strong> SN1987A nos detectores de Kamiokande-II e<br />
IMB [10].<br />
Para explicar as anomalias observa<strong>da</strong>s pelo experimento LSD, Haxton [26] propõe<br />
que um “burst” rico <strong>em</strong> neutrinos muônicos e pobre <strong>em</strong> neutrinos eletrônicos e<br />
antineutrinos eletrônicos produziria interações media<strong>da</strong>s por corrente neutra no carbono do<br />
cintilador, enquanto que nos experimento por luz Cherenkov haveria alta sensibili<strong>da</strong>de<br />
somente para os neutrinos eletrônicos. A discrepância t<strong>em</strong>poral é explica<strong>da</strong> por Rujula [27]<br />
através de um “burst” duplo. Um primeiro si<strong>na</strong>l do colapso <strong>da</strong> formação <strong>da</strong> estrela de<br />
nêutrons, que após algumas horas colapsa <strong>em</strong> um buraco negro, <strong>da</strong>ndo orig<strong>em</strong> ao segundo<br />
58
si<strong>na</strong>l. Essa hipótese pode ser descarta<strong>da</strong> se houver um pulsar como r<strong>em</strong>anescente de<br />
SN1987A.<br />
A duração do “burst” ( ∆ t ≅ 12s<br />
) é consistente com a ord<strong>em</strong> de grandeza estima<strong>da</strong><br />
para o t<strong>em</strong>po de difusão dos neutrinos <strong>na</strong> estrela de nêutrons (1-10s) [10]. No entanto, para<br />
a distribuição t<strong>em</strong>poral dos eventos, os <strong>da</strong>dos de K-II apresentam um intervalo silencioso<br />
de 7,3 s entre o sétimo e o nono evento. Alguns autores especularam modelos de<br />
resfriamento com ocorrência de dois pulsos de neutrinos, porém é mais provável que esta<br />
lacu<strong>na</strong> tenha orig<strong>em</strong> estatística, pois esse tipo de comportamento aparece com razoável<br />
freqüência <strong>em</strong> simulações feitas com <strong>da</strong>dos esparsos [6].<br />
Lattimer e Yahill [28], considerando a <strong>em</strong>issão como termicamente perfeita,<br />
obtiveram os valores <strong>da</strong> tabela abaixo:<br />
Parâmetro K-II IMB K-II + IMB<br />
E e<br />
ν (erg) + 4,0<br />
( 6,3<br />
− 3,1<br />
)×10 52 + 12,0<br />
( 4,5<br />
− 3,4<br />
)×10 52 + 2,1<br />
( 4,8<br />
− 1,8<br />
)×10 52<br />
Tν (MeV) e<br />
2,8 ± 0,4 4,2 ± 1,0 3,7 ± 0,4<br />
Tabela 3.1 – Resultados [37] de Kamiokande-II e IMB<br />
Se admitirmos eqüipartição de energia entre os neutrinos, o resultado <strong>da</strong> análise de<br />
Lattimer e Yahill leva ao seguinte valor para a energia total:<br />
E 53 t<br />
= ( 2,7 − 3,8) × 10 erg , (3.22)<br />
que está de acordo com a expressão (3.19).<br />
O número de eventos N pela interação nos detectores é <strong>da</strong>do por [29]:<br />
ν<br />
N<br />
1 ∆E(1<br />
− f ) 1<br />
= × × σ n , (3.23)<br />
n<br />
ν<br />
2n<br />
Eν<br />
4πD<br />
2<br />
p<br />
<strong>em</strong> que n é o número de famílias de neutrinos, ∆ E é a energia de formação <strong>da</strong> estrela de<br />
nêutrons <strong>da</strong><strong>da</strong> <strong>em</strong> (3.19), f ≅ 1 é a fração de energia do “burst” de neutronização, D é a<br />
n<br />
distância Terra-SN e n<br />
p<br />
é o número de prótons-alvo no detector. A seção de choque média<br />
σ é <strong>da</strong><strong>da</strong> por:<br />
2 2<br />
( 10MeV<br />
)<br />
−42<br />
9,75×<br />
10 E ν cm<br />
σ = . (3.24)<br />
53<br />
Usando ∆E<br />
= 3×10 erg e uma energia média dos neutrinos <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> de 10 MeV,<br />
as estimativas para os números de eventos calculados a partir de (3.23) são:<br />
K-II: N = 12 −14<br />
eventos e (3.25)<br />
ν<br />
59
IMB: N = 16 − ν<br />
18 eventos. (3.26)<br />
A estimativa para K-II é muito boa. No entanto para IMB t<strong>em</strong>os o dobro do<br />
observado (8 eventos), porque a seção de choque (3.24) é feita sobre todo o espectro de<br />
<strong>em</strong>issão, não levando <strong>em</strong> conta o corte <strong>em</strong> energia imposto pelo limiar de detecção (20<br />
MeV). O efeito do corte é menor <strong>na</strong> estimativa para K-II devido ao seu limiar mais baixo (7<br />
MeV).<br />
T<strong>em</strong>os um número relativamente pequeno de <strong>da</strong>dos sobre SN1987A. No entanto,<br />
esta peque<strong>na</strong> quanti<strong>da</strong>de de <strong>da</strong>dos fornece várias características gerais sobre este evento<br />
astrofísico tão complexo. Pelos <strong>da</strong>dos de supernova pod<strong>em</strong>os ter informações, por ex<strong>em</strong>plo,<br />
sobre a hierarquia dos neutrinos, sobre acoplamentos de neutrinos com majorons, neutrinos<br />
instáveis e sobre o valor do el<strong>em</strong>ento <strong>da</strong> matriz de mistura U 13 . Experimentos, como o de<br />
AMANDA, se preparam para detectar neutrinos de uma futura explosão de supernova para<br />
que a quanti<strong>da</strong>de de <strong>da</strong>dos aumente e mais informações serão trazi<strong>da</strong>s sobre a física dos<br />
neutrinos.<br />
60
Referências – Capítulo 3<br />
[1] P. Galeotti, Lezioni di Astrofisica Neutrinica, Università di Torino - CLU, Itália, ano<br />
acadêmico 1996-1997.<br />
[2] E. Woosley e T. A. Weaver, Ann. Rev. Astron. Astrophys., 24, 205 (1986).<br />
[3] M. A. Preston, Physics of the Nucleus, Addison-Wesley, E.U.A. (1962).<br />
[4] M. Harwit, Astrophysical Concepts,Springer-Verlag, E.U.A. (1982).<br />
[5] H.A. Bethe e G. Brown, Sci. Am., 252 , 40 (1985).<br />
[6] H.A. Bethe, Rev. of Mod. Physics, 62, 801 (1990).<br />
[7] P. Goldreich e S.V. Weber, Astrophys. J., 238, 991 (1980).<br />
[8] W.D. Arnett, Astrophys. J., 218, 815 (1977).<br />
[9] W.S.C. Willians, Nuclear and Particle Physics, Oxford University Press, E.U.A.<br />
(1995).<br />
[10] W.D. Arnett et al., Annu. Rev. Astr. Astrophys., 27, 629 (1989).<br />
[11] W. Hillebrandt, Astron. Astrophys., L3, 110 (1982).<br />
[12] A. Burrows e J.M. Lattimer, Astrophys. J., L19, 299 (1985).<br />
[13] E. Baron, J. Cooperstein e S. Kaha<strong>na</strong>, Phys. Rev. Lett., 55, 126 (1985).<br />
[14] J.R. Wilson, Numeric Astrophysics, Jones & Bartlett, E.U.A. (1985).<br />
[15] H.A. Bethe e J.R. Wilson, Astrophys. J., 295, 14 (1985).<br />
[16] H.-T. Janka, in “Frontier Objects in Astrophysics and Particle Physics”, Ed. F.<br />
Giovannelli e G. Mannocchi, Società Italia<strong>na</strong> di Fisica (SIF), Bolonha – Itália (1993).<br />
[17] A. Burrows, Annu. Rev. Nucl. Part. Sci., 40, 181 (1990).<br />
[18] S. Shapiro, in “Gravitatio<strong>na</strong>l Radiation”, Ed. L. Smarr - Oxford University Press,<br />
E.U.A. (1978); apud R. Mayle et al., Astrophys. J., 318, 288 (1987).<br />
[19] E. K<strong>em</strong>p, Tese de Doutorado (UNICAMP), Cap.1, pág. 9 (2000).<br />
[20] D.K. Nadëzhin e I.V. Ostroshchenko, Sov. Astron., 24, 47 (1980).<br />
[21] R. Mayle, J.R. Wilson e D.N. Schramm, Astrophys. J., 318, 288 (1987).<br />
[22] K.S. Hirata et al., Phys. Rev. Lett., 58, 1490 (1987).<br />
[23] R.M. Bionta et al., Phys. Rev. Lett., 58, 1494 (1987).<br />
[24] E.N. Alexeyev et al., JETP Lett., 45, 589 (1987).<br />
[25] M. Aglietta et al., Europhys. Lett., 3, L1315 (1987).<br />
61
[26] W.C. Haxton, Phys. Rev., 36D, 2283 (1987).<br />
[27] A. De Rujula, Phys. Lett., 193B, 514 (1987).<br />
[28] J.M. Lattimer e A. Yahill, Astrophys. J., 340, 426 (1989);<br />
[29] C.W. Kim e A. Pevsner, Neutrinos in Physics and Astrophysics – Cont<strong>em</strong>porary<br />
Concepts in Physics – vol. 8, Harwood Acad<strong>em</strong>ic Publishers, Suíça (1993).<br />
[30] H.A. Bethe, Astrophys. J., 412, 192 (1993).<br />
62
CAPÍTULO 4<br />
On<strong>da</strong>s Pla<strong>na</strong>s versus<br />
Pacotes de On<strong>da</strong><br />
No Capítulo 1 concluímos que os neutrinos de supernova apresentam uma peque<strong>na</strong><br />
diferença entre o comprimento de oscilação e o comprimento de coerência no vácuo, o que<br />
nos leva a inferir se o fenômeno de oscilação ocorrerá ou não. A pergunta que colocamos<br />
agora é se os neutrinos de supernova irão oscilar dentro <strong>da</strong> matéria <strong>da</strong> estrela <strong>em</strong> précolapso.<br />
Outra pergunta é se o formalismo de pacotes de on<strong>da</strong> irá introduzir diferenças<br />
significativas <strong>na</strong> oscilação destes neutrinos <strong>em</strong> relação ao formalismo de on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s. Para<br />
responder a tais perguntas nos val<strong>em</strong>os do formalismo lançado e discutido no Capítulo 2.<br />
Mas antes de tudo, dev<strong>em</strong>os saber qual é o perfil <strong>da</strong> supernova com que estamos<br />
trabalhando. Saber o perfil é saber como a densi<strong>da</strong>de de matéria <strong>em</strong> função <strong>da</strong> distância<br />
radial ao centro <strong>da</strong> estrela está distribuí<strong>da</strong>. É saber qual é a composição de el<strong>em</strong>entos<br />
químicos que a formam. De posse destas informações, somos capazes de extrair a<br />
densi<strong>da</strong>de eletrônica <strong>da</strong> supernova para diversos pontos. Qual o motivo de saber a<br />
densi<strong>da</strong>de eletrônica? A resposta é simples: o potencial efetivo sentido pelo neutrino <strong>em</strong> um<br />
meio depende <strong>da</strong> densi<strong>da</strong>de eletrônica (expressão (2.1)). É com esse potencial que ser<strong>em</strong>os<br />
capazes de calcular as probabili<strong>da</strong>des de con<strong>versão</strong> dos neutrinos para os mais diversos<br />
casos. Além do mais, a densi<strong>da</strong>de eletrônica conheci<strong>da</strong> e calcula<strong>da</strong> nos permite saber se a<br />
propagação do neutrino é adiabática ou não.<br />
Concluímos então que ter conhecimento sobre a densi<strong>da</strong>de eletrônica nos permite<br />
fazer a análise que nos propus<strong>em</strong>os.<br />
4.1) A densi<strong>da</strong>de eletrônica <strong>da</strong> supernova<br />
Como descrev<strong>em</strong>os no Capítulo 3, a formação de uma supernova é um assunto b<strong>em</strong><br />
complexo e envolve mu<strong>da</strong>nças de composição química e formações de novos el<strong>em</strong>entos <strong>em</strong><br />
vários instantes de sua evolução. Não levar<strong>em</strong>os <strong>em</strong> consideração as mu<strong>da</strong>nças t<strong>em</strong>porais<br />
63
que ocorr<strong>em</strong> <strong>em</strong> tal estrela, mas sim seu estágio pré-explosão, já com to<strong>da</strong> síntese de<br />
el<strong>em</strong>entos realiza<strong>da</strong> e estando a um passo <strong>da</strong> explosão. Usar<strong>em</strong>os uma supernova de 15<br />
massas solares como modelo, cujos <strong>da</strong>dos foram gentilmente fornecidos pelo professor Stan<br />
Woosley e pod<strong>em</strong> ser encontrados no site www.supersci.org. A tabela de <strong>da</strong>dos apresenta<br />
uma quanti<strong>da</strong>de diversifica<strong>da</strong> de <strong>da</strong>dos, mas estamos interessados ape<strong>na</strong>s <strong>na</strong> distância radial<br />
(cm), <strong>na</strong> densi<strong>da</strong>de de matéria (g/cm 3 ) e <strong>na</strong> composição química, com as respectivas<br />
porcentagens dos isótopos de ca<strong>da</strong> el<strong>em</strong>ento químico num <strong>da</strong>do raio. Dessa maneira, somos<br />
capazes de calcular a densi<strong>da</strong>de eletrônica num <strong>da</strong>do raio.<br />
Tendo estes pontos de densi<strong>da</strong>de eletrônica para os diversos valores de distância<br />
radial, buscamos uma função a<strong>na</strong>lítica que se ajuste <strong>da</strong> melhor maneira possível a estes<br />
pontos. Usamos dois tipos de ajuste: um visual, <strong>em</strong> que olhando para os pontos inferimos<br />
um formato de curva; o outro realizado pelo programa Math<strong>em</strong>atica. Abaixo mostramos os<br />
pontos de densi<strong>da</strong>de eletrônica <strong>em</strong> função <strong>da</strong> distância radial, com as duas curvas de ajuste<br />
<strong>em</strong> vermelho e verde.<br />
Figura 4.1 – Densi<strong>da</strong>de eletrônica <strong>em</strong> função do raio.<br />
A curva <strong>em</strong> vermelho é o ajuste de curva realizado “manualmente”, sendo sua<br />
função densi<strong>da</strong>de eletrônica ( n e<br />
) <strong>da</strong><strong>da</strong> por:<br />
−0,<br />
045<br />
( ) = 25,50×<br />
( r r )<br />
log n e<br />
. (4.1)<br />
A curva <strong>em</strong> verde é o ajuste realizado “automaticamente” pelo programa<br />
Math<strong>em</strong>atica. Sua função densi<strong>da</strong>de eletrônica é:<br />
−0,<br />
051<br />
( ) = 27,73×<br />
( r r )<br />
0<br />
log n e<br />
. (4.2)<br />
0<br />
64
L<strong>em</strong>brando que a densi<strong>da</strong>de eletrônica está <strong>em</strong> cm -3 e o raio r 0 é igual a 10 4 km. O<br />
melhor ajuste entre as duas curvas foi a verde. Portanto, usar<strong>em</strong>os a função<br />
−0,<br />
045<br />
log( n e<br />
) = 25,50×<br />
( r r0<br />
) para a densi<strong>da</strong>de eletrônica <strong>da</strong> supernova que estamos<br />
trabalhando.<br />
4.2) A análise <strong>da</strong> adiabatici<strong>da</strong>de <strong>na</strong> supernova<br />
Na seção anterior, encontramos uma função para a densi<strong>da</strong>de eletrônica <strong>da</strong><br />
supernova, que será usa<strong>da</strong> para calcular se a propagação do neutrino nessa região será ou<br />
não adiabática, com o auxílio do “parâmetro de adiabatici<strong>da</strong>de”, que foi discutido no<br />
Capítulo 2. Rel<strong>em</strong>bramos dele abaixo:<br />
( ∆ E)<br />
2<br />
2<br />
sen 2θ<br />
1<br />
γ ( x)<br />
≡ × ~ ×<br />
3<br />
2 2GF<br />
sen 2θ<br />
dne<br />
. (2.22)<br />
dx<br />
Vamos tentar encontrar se exist<strong>em</strong> regiões de ressonância <strong>na</strong> propagação de<br />
neutrino <strong>em</strong> uma supernova de 15 massas solares. Dev<strong>em</strong>os l<strong>em</strong>brar que as densi<strong>da</strong>des<br />
eletrônicas para ressonância (expressão (2.12)) pod<strong>em</strong> ser calcula<strong>da</strong>s usando a seguinte<br />
expressão:<br />
n<br />
R<br />
∆ cos 2θ<br />
= . (2.12)<br />
2 2GFE<br />
Notamos que a densi<strong>da</strong>de eletrônica de ressonância ocorre para valores de<br />
parâmetros conhecidos no vácuo, como a diferença de massa ao quadrado (∆), o ângulo de<br />
mistura (θ) e a energia E do neutrino.<br />
As recentes análises de <strong>da</strong>dos de SNO [1] combi<strong>na</strong>dos com os resultados do<br />
experimento de reator de KamLAND [2] nos fornec<strong>em</strong> os seguintes valores:<br />
−5<br />
2<br />
−4<br />
2<br />
6,0<br />
× 10 eV < ∆ < 1,0 × 10 eV e 0 .8 < sen 2θ<br />
< 0. 98 , com 99% de nível de confiança. O<br />
5 2<br />
melhor ajuste para tais parâmetros resulta <strong>em</strong> sen 2θ<br />
≅ 0. 83 e ∆ ≅ 7,1<br />
× 10<br />
− eV .<br />
Usando os valores citados anteriormente de melhor ajuste <strong>da</strong> solução solar, o valor<br />
<strong>da</strong> densi<strong>da</strong>de eletrônica de ressonância para neutrinos com energia E <strong>em</strong> MeV será:<br />
26<br />
1,56×<br />
10 −3<br />
nR = cm . (4.3)<br />
E(<br />
MeV )<br />
25 −3<br />
Para neutrinos de supernova com 5 MeV de energia, ter<strong>em</strong>os n R<br />
= 3,12×<br />
10 cm .<br />
Já para neutrinos com 40 MeV de energia, a densi<strong>da</strong>de de ressonância será<br />
24 −3<br />
n R<br />
= 3,89×<br />
10 cm .<br />
A colaboração SuperKamiokande [3] recent<strong>em</strong>ente divulgou os resultados dos<br />
parâmetros de oscilação para os neutrinos atmosféricos com 90% de nível de confiança:<br />
65
1,9<br />
eV<br />
−3<br />
2<br />
−3<br />
2<br />
2<br />
× 10 eV < ∆ < 3,0 × 10 e 0,9 < 2θ<br />
< 1, 0<br />
sen , com o melhor ajuste<br />
3 2<br />
∆ ≅ 2,5<br />
× 10<br />
− eV e sen<br />
2 2θ<br />
≅ 0, 9 . Usando estes parâmetros calculamos a densi<strong>da</strong>de<br />
eletrônica de ressonância <strong>em</strong> função <strong>da</strong> energia do neutrino <strong>em</strong> MeV:<br />
27<br />
3,11×<br />
10 −3<br />
n = cm<br />
R<br />
E(<br />
MeV )<br />
. (4.4)<br />
Para neutrinos com 5 MeV de energia, ter<strong>em</strong>os<br />
6,22<br />
10<br />
n R<br />
= ×<br />
26 −3<br />
cm<br />
25 −3<br />
. Para neutrinos<br />
de 40 MeV, a densi<strong>da</strong>de eletrônica resso<strong>na</strong>nte será n R<br />
= 7,78×<br />
10 cm .<br />
Os parâmetros calculados por LSND combi<strong>na</strong>dos com KARMEN [4] são, para 90%<br />
2<br />
2<br />
−3<br />
2<br />
−3<br />
de nível de confiança, 0,45eV < ∆ < 1eV<br />
e 2,0 × 10 < sen 2θ<br />
< 7,0×<br />
10 . O melhor<br />
2<br />
ajuste fornece ∆ ≅ 0,5eV<br />
e sen 2 θ = 0, 07 . Usando-os para o cálculo <strong>da</strong> densi<strong>da</strong>de<br />
eletrônica de ressonância <strong>em</strong> função <strong>da</strong> energia do neutrino <strong>em</strong> MeV t<strong>em</strong>os<br />
30<br />
1,96<br />
× 10 −3<br />
n = cm<br />
R<br />
E(<br />
MeV )<br />
. (4.5)<br />
Para 5 MeV e 40 MeV de energia ter<strong>em</strong>os, respectivamente,<br />
28 −3<br />
n R<br />
= 4,91×<br />
10 cm .<br />
29 −3<br />
n R<br />
= 3,93×<br />
10 cm e<br />
O resumo <strong>da</strong> descrição acima está <strong>na</strong> Tabela 4.1, que indica os melhores ajustes para<br />
a diferença de massa ao quadrado e o ângulo de mistura para os experimentos solar,<br />
atmosférico e LSND. A tabela também mostra os respectivos valores de densi<strong>da</strong>de<br />
eletrônica para as regiões de ressonância.<br />
∆ (eV 2 ) sen2θ n R para 5 MeV <strong>em</strong> cm -3 n R para 40 MeV <strong>em</strong> cm -3<br />
Solar 7,1x10 -5 0,83 3,12x10 25 3,89x10 24<br />
Atmosférico 2,5x10 -3 0,95 6,22x10 26 7,78x10 25<br />
LSND 0,5 0,07 3,93x10 29 4,91x10 28<br />
Tabela 4.1: melhor ajuste dos parâmetros para os experimentos solar, atmosférico e LSND com os<br />
valores de densi<strong>da</strong>de eletrônica <strong>na</strong> ressonância para 5 MeV e 40 MeV.<br />
Acabamos de encontrar os valores de densi<strong>da</strong>de eletrônica para os quais t<strong>em</strong>os<br />
ressonância. Tendo os valores de densi<strong>da</strong>de eletrônica <strong>da</strong> ressonância para os parâmetros<br />
solares, atmosféricos e de LSND, pod<strong>em</strong>os saber <strong>em</strong> que região <strong>da</strong> supernova está<br />
ocorrendo, ou seja, <strong>em</strong> que ponto (raio) existe ressonância. Se o parâmetro de<br />
adiabatici<strong>da</strong>de <strong>na</strong> ressonância for muito maior que um, pod<strong>em</strong>os concluir que a propagação<br />
será adiabática <strong>em</strong> todo lugar. Usando a fórmula (2.23), que se refere ao valor do parâmetro<br />
de adiabatici<strong>da</strong>de <strong>na</strong> ressonância, e os <strong>da</strong>dos fornecidos <strong>na</strong> referência [5], concluímos que,<br />
para a propagação dos neutrinos nesse meio com densi<strong>da</strong>de eletrônica <strong>da</strong><strong>da</strong> por (4.2),<br />
ter<strong>em</strong>os adiabatici<strong>da</strong>de.<br />
Logo, para os cálculos <strong>da</strong>s probabili<strong>da</strong>des usar<strong>em</strong>os (2.29) para o tratamento <strong>em</strong><br />
on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s e (2.47) para o tratamento <strong>em</strong> pacotes de on<strong>da</strong>. Usar<strong>em</strong>os os mesmos<br />
parâmetros e energias apresenta<strong>da</strong>s <strong>na</strong> Tabela 4.1.<br />
66
4.3) Probabili<strong>da</strong>des<br />
Vamos apresentar as probabili<strong>da</strong>des de sobrevivência. L<strong>em</strong>brando que a<br />
probabili<strong>da</strong>de de sobrevivência para pacotes de on<strong>da</strong> é <strong>da</strong><strong>da</strong> por um menos a probabili<strong>da</strong>de<br />
de con<strong>versão</strong>, que é <strong>da</strong>do pela equação (2.47), enquanto que (2.29) já é a probabili<strong>da</strong>de de<br />
sobrevivência para on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s.<br />
4.3.1a) O caso solar para neutrinos com energia de 5 MeV<br />
A Figura 4.2 abaixo apresenta as probabili<strong>da</strong>des de sobrevivência. Vale a pe<strong>na</strong><br />
l<strong>em</strong>brar que o eixo x representa o logaritmo <strong>na</strong> base 10 <strong>da</strong> distância radial medido <strong>em</strong><br />
termos de um valor múltiplo de um raio r 0 igual a 10000 km. A curva <strong>em</strong> preto é para on<strong>da</strong>s<br />
pla<strong>na</strong>s e a curva pontilha<strong>da</strong> é para pacotes de on<strong>da</strong>. Notamos que à medi<strong>da</strong> que o neutrino<br />
se propaga, não t<strong>em</strong>os mais diferenças entre os dois “tipos” de probabili<strong>da</strong>de.<br />
Figura 4.2: Probabili<strong>da</strong>de de sobrevivência <strong>em</strong> on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s (preto) e pacotes de on<strong>da</strong> (pontilhado)<br />
para neutrinos com 5 MeV (caso solar).<br />
Mostramos também o comprimento de oscilação e o comprimento de coerência<br />
calculados, respectivamente, por (2.48) e (2.49), <strong>na</strong> Figura 4.3, <strong>em</strong> que L 0 é igual a 10000<br />
km. Notamos que rapi<strong>da</strong>mente o comprimento de oscilação supera o comprimento de<br />
coerência, o que significa que a coerência entre os autoestados de massa é perdi<strong>da</strong><br />
rapi<strong>da</strong>mente. Isto ocasio<strong>na</strong> o congelamento <strong>da</strong> oscilação dos neutrinos, como pod<strong>em</strong>os ver<br />
<strong>na</strong> Figura 4.2. Vimos que para termos oscilação é necessário que a condição (1.56) seja<br />
satisfeita, o que não acontece neste caso.<br />
67
Figura 4.3: Comprimento de Oscilação (preto) e Comprimento de coerência (pontilhado) para<br />
neutrinos com 5 MeV (caso solar).<br />
4.3.1b) O caso solar para neutrinos com 40 MeV de energia<br />
A Figura 4.4 apresenta a probabili<strong>da</strong>de de sobrevivência e a Figura 4.5 mostra os<br />
comprimentos de oscilação e comprimentos de coerência. A mesma análise feita <strong>na</strong> seção<br />
4.3.1a pode ser feita uma vez que os pacotes de on<strong>da</strong> não introduz<strong>em</strong> diferença <strong>na</strong><br />
probabili<strong>da</strong>de e também ocorre um congelamento <strong>na</strong> oscilação, já que o comprimento de<br />
oscilação supera o comprimento de coerência rapi<strong>da</strong>mente.<br />
68
Figura 4.4: Probabili<strong>da</strong>de de sobrevivência <strong>em</strong> on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s (preto) e pacotes de on<strong>da</strong> (pontilhado)<br />
para neutrinos de 40 MeV (caso solar).<br />
Figura 4.5: Comprimento de oscilação (preto) e comprimento de coerência (pontilhado) para neutrinos<br />
de 40 MeV (caso solar).<br />
O padrão exibido no caso solar será repetido para os casos atmosféricos e de LSND,<br />
que ir<strong>em</strong>os mostrar <strong>na</strong>s seções 4.3.2a, 4.3.2b, 4.3.3a, 4.3.3b. Parece que os pacotes de on<strong>da</strong><br />
não traz<strong>em</strong> nenhuma informação nova para as probabili<strong>da</strong>des <strong>em</strong> nenhuma <strong>da</strong>s situações<br />
mostra<strong>da</strong>s, isto é, o formalismo de on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s parece ser suficiente para descrever a<br />
oscilação de neutrinos dentro de uma supernova. Vale l<strong>em</strong>brar que a coerência é perdi<strong>da</strong><br />
69
api<strong>da</strong>mente e, portanto, os autoestados de massa se desacoplam, ocasio<strong>na</strong>ndo o<br />
congelamento <strong>da</strong> oscilação.<br />
4.3.2a) O caso atmosférico para neutrinos com 5 MeV de energia<br />
Figura 4.6: Probabili<strong>da</strong>de de sobrevivência <strong>em</strong> on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s (preto) e pacotes de on<strong>da</strong> (pontilhado)<br />
para neutrinos de 5 MeV (caso atmosférico).<br />
Figura 4.7: Comprimento de Oscilação (preto) e Comprimento de coerência (pontilhado) para<br />
neutrinos de 5 MeV (caso atmosférico).<br />
70
4.3.2b) O caso atmosférico para neutrinos com 40 MeV de energia<br />
Figura 4.8: Probabili<strong>da</strong>de de sobrevivência <strong>em</strong> on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s (preto) e pacotes de on<strong>da</strong> (pontilhado)<br />
para neutrinos de 40 MeV (caso atmosférico).<br />
Figura 4.9: Comprimento de Oscilação (preto) e Comprimento de coerência (pontilhado) para<br />
neutrinos de 40 MeV (caso atmosférico).<br />
71
4.3.3a) O caso LSND para neutrinos com 5 MeV de energia<br />
Neste caso, houve coincidência <strong>completa</strong> <strong>da</strong>s probabili<strong>da</strong>des, como v<strong>em</strong>os <strong>na</strong> Figura<br />
4.10 abaixo:<br />
Figura 4.10: Probabili<strong>da</strong>de de sobrevivência <strong>em</strong> on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s (preto) e pacotes de on<strong>da</strong> (pontilhado)<br />
para neutrinos de 5 MeV (caso LSND).<br />
Figura 4.11: Comprimento de Oscilação (preto) e Comprimento de coerência (pontilhado) para<br />
neutrinos de 5 MeV (caso LSND).<br />
72
4.3.3b) O caso LSND para neutrinos com 40 MeV de energia<br />
Figura 4.12: Probabili<strong>da</strong>de de sobrevivência <strong>em</strong> on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s (preto) e pacotes de on<strong>da</strong> (pontilhado)<br />
para neutrinos de 40 MeV (caso LSND).<br />
Figura 4.13: Comprimento de Oscilação (preto) e Comprimento de coerência (pontilhado) para<br />
neutrinos de 40 MeV (caso LSND).<br />
73
Notamos que <strong>em</strong> nenhum dos casos apresentados houve diferença entre a<br />
probabili<strong>da</strong>de de sobrevivência entre on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s e pacotes de on<strong>da</strong>. Verificamos também<br />
a presença de uma probabili<strong>da</strong>de que fica constante, uma vez que <strong>em</strong> todos os casos o<br />
comprimento de oscilação é maior que o comprimento de coerência.<br />
74
Referências – Capítulo 4<br />
[1] The SNO Collaboration, Phys. Rev. Lett. 92, 181301-1 (2004).<br />
[2] The KamLAND Collaboration, Phys. Rev. Lett. 94, 081801 (2005), hep-exp/0406035.<br />
[3] The SuperKamiokande Collaboration, Phys. Rev. Lett. 93, 10180-1 (2004).<br />
[4] E. D. Church, K. Eitel, G. B. Mills, e M. Steidl, Phys. Rev. D66, 013001 (2004).<br />
[5] Dados de uma supernova de 15 massas solares forneci<strong>da</strong>s pelo professor S. Woosley –<br />
www.supersci.org<br />
75
CONCLUSÕES<br />
Discutimos neste trabalho a oscilação de neutrinos <strong>em</strong> pacotes de on<strong>da</strong>,<br />
identificando as principais diferenças <strong>em</strong> relação ao formalismo de on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s.<br />
Procuramos identificar <strong>em</strong> que situações os pacotes de on<strong>da</strong> eram necessários e o único<br />
caso que nos <strong>da</strong>va indício de uma possível necessi<strong>da</strong>de eram os neutrinos de supernova. É<br />
neste contexto que resumimos as principais conclusões deste trabalho.<br />
• O formalismo de pacotes de on<strong>da</strong> introduz <strong>na</strong> expressão de probabili<strong>da</strong>de de<br />
con<strong>versão</strong> um termo de amortecimento e outro termo exponencial. O termo<br />
de amortecimento apresenta grande importância já que traz consigo a<br />
coerência entre os autoestados de massa. O termo exponencial, de acordo<br />
com nossos cálculos, pode ser desprezado, pelo menos <strong>em</strong> primeira<br />
aproximação;<br />
• Para neutrinos solares, neutrinos de reatores e aceleradores e neutrinos de<br />
altíssima energia, oriundos de AGNs por ex<strong>em</strong>plo, verificamos que o<br />
comprimento de coerência é s<strong>em</strong>pre muito maior que o comprimento de<br />
oscilação. É de se esperar que a oscilação ocorra, sendo, portanto, o<br />
formalismo de on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s suficiente para tratar o fenômeno de oscilação<br />
de neutrinos.<br />
• Os neutrinos de supernova, como vimos no Capítulo 1, apresentavam,<br />
principalmente para os neutrinos oriundos do “core”, um comprimento de<br />
coerência muito próximo ao comprimento de oscilação. Levando <strong>em</strong> conta<br />
que o tamanho dos pacotes de on<strong>da</strong> para supernova assume algum dos<br />
valores apresentados no intervalo de (1.31), inferimos que os pacotes de<br />
on<strong>da</strong> poderiam trazer alguma diferença <strong>em</strong> relação à probabili<strong>da</strong>de calcula<strong>da</strong><br />
por on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s. Verificamos que, durante a propagação no vácuo, a<br />
probabili<strong>da</strong>de congela (Figura 1.1), o que significa que existe o<br />
76
desacoplamento dos autoestados de massa, encerrando a coerência entre<br />
eles. Na matéria, usando uma supernova de 15 massas solares, com os <strong>da</strong>dos<br />
fornecidos pelo professor Stan Woosley, notamos que, usando as soluções<br />
solar, atmosférica e de LSND, a probabili<strong>da</strong>de de con<strong>versão</strong> <strong>em</strong> pacotes de<br />
on<strong>da</strong> acaba sendo igual à de on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s. Isto significa que não t<strong>em</strong>os<br />
necessi<strong>da</strong>de do uso de pacotes de on<strong>da</strong> <strong>na</strong> propagação dos neutrinos dentro<br />
<strong>da</strong> supernova. Notamos também, que a coerência é perdi<strong>da</strong> rapi<strong>da</strong>mente, isto<br />
é, os neutrinos se propagam como autoestados de massa s<strong>em</strong> interferência<br />
mútua. Defend<strong>em</strong>os a idéia de que o formalismo de pacotes de on<strong>da</strong> não<br />
introduz nenhuma diferença significativa para o fenômeno de oscilação de<br />
neutrinos.<br />
É importante destacar que usamos um formalismo para ape<strong>na</strong>s duas famílias.<br />
Talvez, usando-se um Hamiltoniano que envolva três famílias <strong>na</strong> equação de evolução,<br />
pod<strong>em</strong>os ter alguma diferença significativa. No entanto, isto é algo que necessita ser<br />
verificado com maior cui<strong>da</strong>do.<br />
77
APÊNDICE A<br />
Dedução <strong>da</strong><br />
Probabili<strong>da</strong>de <strong>em</strong><br />
Pacotes de On<strong>da</strong><br />
(Vácuo)<br />
A expressão (1.44) do Capítulo 1 é deduzi<strong>da</strong> a partir <strong>da</strong> expressão (1.43) tomando<br />
sua média t<strong>em</strong>poral.<br />
Vamos rel<strong>em</strong>brar (1.43):<br />
.<br />
P(<br />
ν<br />
α<br />
→ν<br />
; X , T ) =<br />
β<br />
⎧ ( X − vaT<br />
)<br />
× exp⎨−<br />
2<br />
⎩ 4σ<br />
x<br />
2<br />
1<br />
2πσ<br />
∑<br />
x a,<br />
b<br />
( X − vbT<br />
)<br />
−<br />
2<br />
4σ<br />
x<br />
U<br />
2<br />
βa<br />
⎫<br />
⎬<br />
⎭<br />
U<br />
*<br />
αa<br />
U<br />
*<br />
βb<br />
U<br />
αb<br />
× exp<br />
{ i( p − p ) X − i( E − E ) T}<br />
a<br />
b<br />
a<br />
b<br />
Tomando o argumento <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> exponencial, t<strong>em</strong>os:<br />
−<br />
2<br />
( X − v T ) ( X − v T )<br />
a<br />
2<br />
4σ<br />
x<br />
−<br />
b<br />
2<br />
4σ<br />
x<br />
2<br />
1<br />
= −<br />
2<br />
4σ<br />
x<br />
2<br />
2 2 2<br />
{ 2X<br />
− 2TX<br />
( v + v ) + T ( v + v )}<br />
a<br />
b<br />
a<br />
b<br />
. (A.1)<br />
Rearranjando os termos <strong>da</strong>s exponenciais pod<strong>em</strong>os escrevê-las como:<br />
78
⎧<br />
exp⎨i<br />
⎩<br />
(A.2)<br />
2<br />
2X<br />
⎫ ⎧<br />
1<br />
2 2 2<br />
( p − p ) X − exp − i( E − E ) T − [ − 2TX<br />
( v + v ) + T ( v + v )]<br />
a<br />
b<br />
2<br />
4σ<br />
x<br />
⎬<br />
⎭<br />
⎨<br />
⎩<br />
2<br />
⎧<br />
2X<br />
= ⎨ a b<br />
X −<br />
2<br />
⎩<br />
4σ<br />
x<br />
Chamando A exp i( p − p )<br />
⎪⎧<br />
⎡<br />
2<br />
T<br />
exp⎨−<br />
⎢ 2<br />
⎪⎩ ⎢⎣<br />
4σ<br />
x<br />
a<br />
⎛<br />
⎜<br />
⎝<br />
b<br />
2<br />
4σ<br />
x<br />
⎫<br />
⎬ , reescrev<strong>em</strong>os (A.2) como<br />
⎭<br />
2 2<br />
2X<br />
( v + v ) + T⎜i( E − E ) − ( v + v )<br />
A<br />
a b<br />
a b<br />
2<br />
4σ<br />
x<br />
a<br />
a<br />
b<br />
b<br />
a<br />
b<br />
⎫<br />
⎬ .<br />
⎭<br />
⎞⎤⎪⎫<br />
⎟⎥⎬<br />
. (A.3)<br />
⎠⎥⎦<br />
⎪⎭<br />
Vamos <strong>completa</strong>r quadrados <strong>na</strong> expressão (A.3), usando uma variável α que ir<strong>em</strong>os<br />
descobrir. Dev<strong>em</strong>os notar o seguinte:<br />
(A.4)<br />
⎛ T<br />
⎜<br />
⎝ 2σ<br />
x<br />
Usando (A.3)<br />
2<br />
2<br />
2 2<br />
( ) 1 2 ⎞ T 2 2 2 2T<br />
2 2 2<br />
v + v + α ⎟ = ( v + v ) + α + ( v + v ) 1<br />
α .<br />
a<br />
b<br />
⎟<br />
⎠<br />
2<br />
4σ<br />
x<br />
a<br />
b<br />
2σ<br />
σ ⎡<br />
⎤<br />
x<br />
2X<br />
α = ⎢i( Ea<br />
− Eb<br />
) − ( va<br />
+ vb<br />
)<br />
( )<br />
⎥⎦ .<br />
2 2 2<br />
2<br />
va<br />
+ v<br />
1<br />
b ⎣<br />
4σ<br />
x<br />
(A.5)<br />
x<br />
a<br />
b<br />
Agora, com (A.5), pod<strong>em</strong>os reescrever (A.3) como:<br />
⎧<br />
⎪ ⎡ T<br />
Aexp⎨−<br />
⎢<br />
⎪ ⎢<br />
⎩ ⎣<br />
2σ<br />
x<br />
⎪<br />
⎧ 2<br />
σ ⎡<br />
x<br />
exp⎨<br />
2 2 ⎢i<br />
( va<br />
+ vb<br />
) ⎪⎩ ⎣<br />
2 2<br />
( v + v )<br />
a<br />
1 2<br />
+<br />
2 2<br />
( v + v )<br />
2X<br />
4σ<br />
⎛<br />
⎜i<br />
⎝<br />
( E − E ) − ( v + v )<br />
⎪<br />
⎧ 2<br />
σ ⎡<br />
x<br />
Chamando C = Aexp⎨<br />
2 2 ⎢i<br />
a b<br />
( va<br />
+ vb<br />
) ⎪⎩ ⎣<br />
integral no t<strong>em</strong>po de (A.6) para achar a probabili<strong>da</strong>de.<br />
a<br />
b<br />
b<br />
a<br />
σ<br />
x<br />
b<br />
2<br />
x<br />
1 2<br />
a<br />
( E − E ) − ( v + v )<br />
b<br />
a<br />
⎤<br />
⎥<br />
⎦<br />
2<br />
⎪<br />
⎫<br />
⎬<br />
⎪⎭<br />
b<br />
2X<br />
4σ<br />
2X<br />
4σ<br />
2<br />
x<br />
( E − E ) − ( v + v )<br />
2<br />
x<br />
a<br />
b<br />
⎤<br />
⎥<br />
⎦<br />
2<br />
a<br />
b<br />
⎞⎤<br />
⎟⎥<br />
⎠⎥⎦<br />
2<br />
⎫<br />
⎪<br />
⎬×<br />
⎪<br />
⎭ . (A.6)<br />
⎪<br />
⎫<br />
⎬, resolver<strong>em</strong>os a<br />
⎪⎭<br />
79
C<br />
∫<br />
⎧<br />
⎪ ⎡ T<br />
exp⎨−<br />
⎢<br />
⎪ ⎢<br />
⎩ ⎣<br />
2σ<br />
x<br />
2 2<br />
( v + v )<br />
a<br />
b<br />
1 2<br />
+<br />
2 2<br />
( v + v )<br />
a<br />
σ<br />
x<br />
b<br />
1 2<br />
⎛<br />
⎜<br />
i<br />
⎝<br />
2X<br />
2<br />
4σ<br />
( E − E ) − ( v + v )<br />
a<br />
b<br />
x<br />
a<br />
b<br />
⎞⎤<br />
⎟<br />
⎥<br />
⎠⎥⎦<br />
2<br />
⎫<br />
⎪<br />
⎬dT<br />
. (A.7)<br />
⎪<br />
⎭<br />
<strong>Faça</strong>mos uma troca de variável, chamando<br />
(A.8)<br />
2 2<br />
( v + v )<br />
T<br />
1 2 σ ⎛<br />
x<br />
2X<br />
+<br />
⎜<br />
a b<br />
i<br />
1 2 a b<br />
2σ<br />
x<br />
⎝<br />
4σ<br />
x<br />
2 2<br />
( v + v )<br />
⎞<br />
.<br />
⎠<br />
( E − E ) − ( v + v ) ⎟ u = 2 a b<br />
a<br />
b<br />
Portanto<br />
dT<br />
=<br />
2 2<br />
( v + v )<br />
a<br />
2σ<br />
x<br />
b<br />
1 2<br />
du<br />
Voltando a resolver a integral (A.7) com as mu<strong>da</strong>nças de variável (A.8) feitas,<br />
t<strong>em</strong>os que<br />
(A.9)<br />
C<br />
∫<br />
exp<br />
2 2σ<br />
x<br />
C2σ<br />
x<br />
( u ) du ≅ π<br />
(<br />
2 2<br />
+ )<br />
1 2<br />
(<br />
2 2<br />
v v<br />
v + v )<br />
−<br />
1 2<br />
a<br />
b<br />
a<br />
b<br />
.<br />
Agrupando os termos t<strong>em</strong>os e desenvolvendo quadrados t<strong>em</strong>os que – aqui<br />
retomamos a expressão atribuí<strong>da</strong> à constante C:<br />
2<br />
σ ⎧<br />
x<br />
⎨−<br />
2 2 a<br />
va<br />
+ vb<br />
⎩<br />
+ iX ( p − p )=<br />
a<br />
2<br />
2<br />
2<br />
( E − E ) + ( v + v ) − 2i( E − E ) ( v + v )<br />
b<br />
2<br />
( Ea<br />
− Eb<br />
)<br />
2 2 2<br />
σ ( v + v )<br />
2<br />
X ⎡<br />
−<br />
2 ⎢<br />
4<br />
p a b<br />
4σ<br />
x<br />
⎣<br />
b<br />
4X<br />
16σ<br />
4<br />
x<br />
a<br />
( v − v )<br />
b<br />
⎤ ⎪⎧<br />
⎥ + i⎨<br />
⎦ ⎪⎩<br />
a<br />
b<br />
2X<br />
4σ<br />
2<br />
x<br />
a<br />
b<br />
⎛ v<br />
⎜<br />
⎝ v<br />
2<br />
⎫ 2X<br />
⎬ −<br />
2<br />
⎭ 4σ<br />
x<br />
2<br />
= a b<br />
+ v<br />
−<br />
2 2<br />
a b<br />
a b 2<br />
va<br />
+ vb<br />
a<br />
+ v<br />
2<br />
b<br />
⎞⎫<br />
⎟⎬<br />
⎠⎪⎭<br />
a b ⎪<br />
( p − p ) − ( E − E ) ⎜ ⎟ X<br />
Portanto, tomando (A.10) e voltando a expressão (1.43) usando (A.10) e<br />
normalizando, chegamos a (1.44):<br />
P<br />
×<br />
α →<br />
2<br />
⎡ U ⎤<br />
αa'<br />
β ( X ) = ⎢∑<br />
⎥∑U<br />
⎢ a'<br />
v<br />
⎣<br />
a'<br />
⎥ a,<br />
b<br />
⎦<br />
⎪⎧<br />
2<br />
2 X<br />
exp⎨−<br />
2 2<br />
2<br />
va<br />
+ vb<br />
4σ<br />
⎪⎩<br />
x a<br />
βa<br />
U<br />
*<br />
αa<br />
*<br />
βb<br />
⎪⎧<br />
⎡<br />
× exp⎨i⎢<br />
⎪⎩ ⎢⎣<br />
2<br />
2<br />
( v ) ( − ) ⎪⎫<br />
a<br />
− v Ea<br />
E<br />
b<br />
b<br />
−<br />
2 2<br />
2 2 2<br />
( ) ⎬<br />
v + v 4σ<br />
v + v ⎪⎭<br />
b<br />
U<br />
U<br />
αb<br />
p<br />
a<br />
b<br />
( p − p ) − ( E − E )<br />
a<br />
b<br />
a<br />
b<br />
⎛ v<br />
⎜<br />
⎝ v<br />
a<br />
2<br />
a<br />
+ v<br />
+ v<br />
b<br />
2<br />
b<br />
⎞⎤<br />
⎪⎫<br />
⎟<br />
⎥X<br />
⎬<br />
⎠⎥⎦<br />
⎪⎭<br />
.<br />
.(A.10)<br />
80
APÊNDICE B<br />
A solução nãoadiabática<br />
para<br />
pacotes de on<strong>da</strong><br />
No Capítulo 2 descrev<strong>em</strong>os a propagação do neutrino <strong>na</strong> matéria de maneira<br />
adiabática. Como discutido anteriormente, a densi<strong>da</strong>de de matéria pode mu<strong>da</strong>r tão<br />
rapi<strong>da</strong>mente que os autoestados <strong>da</strong> matéria pod<strong>em</strong> se “misturar”, ocorrendo transições entre<br />
eles – propagação não-adiabática. Vamos buscar uma solução formal para a equação de<br />
movimento para dois sabores escrita abaixo [1, 2, 3, 4, 5]<br />
i∂<br />
x<br />
⎛ ∆<br />
~ ( x)<br />
⎜<br />
⎛ψ<br />
−<br />
1(<br />
x,<br />
E)<br />
⎞<br />
⎜ ⎟ = ⎜ 4E<br />
⎝ψ<br />
2<br />
( x,<br />
E)<br />
⎠ ⎜<br />
⎜ iθ<br />
′<br />
m<br />
( x)<br />
⎝<br />
⎞<br />
− iθ<br />
′ ⎟<br />
m<br />
( x)<br />
⎟<br />
⎛ψ<br />
1(<br />
x,<br />
E)<br />
⎞<br />
~ ⎜ ⎟ , (B.1)<br />
∆(<br />
x)<br />
⎟⎝ψ<br />
2<br />
( x,<br />
E)<br />
⎠<br />
⎟<br />
4E<br />
⎠<br />
<strong>em</strong> que ∆ ~ é a diferença de massa ao quadrado <strong>na</strong> matéria, θ ′<br />
m<br />
( x)<br />
= ∂<br />
xθ<br />
m<br />
( x)<br />
, θ (x m<br />
) é o<br />
ângulo de mistura <strong>na</strong> matéria. L<strong>em</strong>bramos que a condição adiabática ocorre quando o termo<br />
~<br />
não-diago<strong>na</strong>l é muito menor que o termo diago<strong>na</strong>l, resultando <strong>em</strong> 4E θ m<br />
′ ( x)<br />
isto é, G F<br />
N( x)<br />
⎛ ∆<br />
~<br />
x ( x)<br />
⎞<br />
ψ = Ξ =<br />
⎜ ⎟<br />
1( x,<br />
E)<br />
ψ<br />
1(<br />
x0<br />
, E)<br />
−<br />
( B,<br />
B)<br />
ψ<br />
1(<br />
x0<br />
, E) exp<br />
i∫<br />
dx ′<br />
x<br />
, (B.7)<br />
0<br />
⎝ 4E<br />
⎠<br />
assim como<br />
⎛ ∆<br />
~ ⎞<br />
= ⎜<br />
⎟<br />
− ∫ x ( x)<br />
ψ<br />
2<br />
( x,<br />
E)<br />
ψ 2<br />
( x0<br />
, E) exp i dx ′<br />
x<br />
. (B.8)<br />
0<br />
⎝ 4E<br />
⎠<br />
No limite extr<strong>em</strong>o não-adiabático, por outro lado, B(<br />
x)<br />
≅ −iθ ′ ( x)<br />
B * m<br />
≅ − ( x)<br />
(<strong>na</strong><br />
região de ressonância). Então,<br />
( + B B + ...) −ψ<br />
( x , E)<br />
( i B + i B B ...)<br />
ψ<br />
1( x,<br />
E)<br />
= ψ<br />
1(<br />
x0<br />
, E) 1 ∫ ∫ 2 0 ∫ ∫ ∫ ∫ B + e (B.9)<br />
( i B + i B B B + ...) + ψ ( x , E) ( 1+<br />
B ...)<br />
ψ<br />
2<br />
( x,<br />
E)<br />
= ψ<br />
1(<br />
x0<br />
, E)<br />
∫ ∫ ∫ ∫ 2 0 ∫ ∫ B + . (B.10)<br />
Vamos assumir que θ (x m<br />
) mu<strong>da</strong> abruptamente de π 2 para θ (ângulo de mistura<br />
do vácuo) <strong>na</strong> ressonância, isto é,<br />
se x 0 é antes (depois) <strong>da</strong> ressonância. Logo,<br />
x ⎛ π ⎞<br />
∫ B ≅ −i⎜θ<br />
− ⎟ , (B.11)<br />
x0<br />
⎝ 2 ⎠<br />
⎛ π ⎞<br />
ψ<br />
1(<br />
x,<br />
E)<br />
= ψ<br />
1(<br />
x0<br />
, E) cos⎜θ<br />
− ⎟ −ψ<br />
2<br />
( x<br />
⎝ 2 ⎠<br />
⎛ π ⎞<br />
ψ<br />
2<br />
( x,<br />
E)<br />
= ψ<br />
1(<br />
x0<br />
, E)<br />
sen⎜θ<br />
− ⎟ + ψ<br />
2<br />
( x<br />
⎝ 2 ⎠<br />
0<br />
0<br />
⎛ π ⎞<br />
, E)<br />
sen⎜θ<br />
− ⎟,<br />
⎝ 2 ⎠<br />
⎛ π ⎞<br />
, E)cos⎜θ<br />
− ⎟<br />
⎝ 2 ⎠<br />
. (B.12)<br />
Colocando ψ x , E)<br />
= 0, ψ ( x , E)<br />
1, a probabili<strong>da</strong>de “level crossing” é:<br />
1<br />
(<br />
0<br />
2 0<br />
=<br />
2 2 ⎛ π ⎞ 2<br />
ψ<br />
1( x , E)<br />
= sen ⎜θ<br />
− ⎟ = cos θ [3]. (B.13)<br />
⎝ 2 ⎠<br />
B.1) Probabili<strong>da</strong>des “Level Crossing” e os Pacotes de<br />
On<strong>da</strong><br />
Nesta seção vamos apresentar os resultados <strong>na</strong> probabili<strong>da</strong>de “level crossing”<br />
verificando a contribuição dos pacotes de on<strong>da</strong>.<br />
Considere um neutrino que se propaga inicialmente como ψ<br />
2<br />
( ψ 1<br />
( x 0<br />
, E)<br />
= 0) e t<strong>em</strong><br />
a forma gaussia<strong>na</strong> usual descrita abaixo:<br />
83
2<br />
<strong>em</strong> que ( 2 )<br />
−1<br />
4<br />
N = πσ<br />
E<br />
.<br />
Da equação (B.6), t<strong>em</strong>os que<br />
2<br />
( E − E ) ⎤<br />
⎥⎦<br />
⎡<br />
2<br />
ψ<br />
2<br />
( x0<br />
, E)<br />
= N exp⎢−<br />
, (B.14)<br />
2<br />
⎣ 4σ<br />
E<br />
( E − E )<br />
2<br />
N ⎡ ⎤<br />
2<br />
ψ<br />
1( x,<br />
E)<br />
= − exp⎢−<br />
f ( x,<br />
x0<br />
, E)<br />
2 ⎥ e (B.15)<br />
2 ⎣ 4σ<br />
E ⎦<br />
( E − E )<br />
2<br />
N ⎡ ⎤<br />
2<br />
ψ<br />
2<br />
( x,<br />
E)<br />
= exp⎢−<br />
h(<br />
x,<br />
x0<br />
, E)<br />
2 ⎥ , (B.16)<br />
2 ⎣ 4σ<br />
E ⎦<br />
sendo que f ( x , x 0<br />
, E ) e h ( x,<br />
x , E)<br />
0<br />
são as expansões respectivas <strong>da</strong> equação (B.6).<br />
Portanto,<br />
( E − E )<br />
2<br />
ψ N ⎡<br />
⎤<br />
2<br />
1( x,<br />
t)<br />
= − ∫ dE exp⎢−<br />
iEt − f ( x,<br />
x0<br />
, E)<br />
2 ⎥<br />
2 2π<br />
⎣ 4σ<br />
. (B.17)<br />
E ⎦<br />
Pod<strong>em</strong>os definir<br />
( E − E )<br />
2<br />
exp ⎡ ⎤<br />
⎢−<br />
f ( x,<br />
x0<br />
, E)<br />
≡ g(<br />
x,<br />
x ,<br />
2 ⎥<br />
⎣ 4σ<br />
0<br />
E ⎦<br />
2 E<br />
) . Logo,<br />
N<br />
ψ<br />
1( x,<br />
t)<br />
= − gˆ(<br />
x0<br />
, x,<br />
t)<br />
, (B.18)<br />
2<br />
sendo que ĝ é a transforma<strong>da</strong> de Fourier de g. A probabili<strong>da</strong>de “level crossing” é<br />
ψ<br />
2<br />
1<br />
( x,<br />
t)<br />
, mas integramos sobre o t<strong>em</strong>po, t<strong>em</strong>os:<br />
2<br />
2<br />
2<br />
2 N<br />
2 N<br />
2<br />
ψ<br />
1<br />
( x)<br />
= ∫ dtψ<br />
1(<br />
x,<br />
t)<br />
= ∫ dt gˆ(<br />
x,<br />
x0<br />
, t)<br />
= ∫ dE g(<br />
x,<br />
x0<br />
, t)<br />
, (B.19)<br />
4<br />
4<br />
onde usamos a identi<strong>da</strong>de de Parseval. Pod<strong>em</strong>os expressar a probabili<strong>da</strong>de “level crossing”<br />
1<br />
2<br />
para os pacotes de on<strong>da</strong> usando a probabili<strong>da</strong>de de on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s, P lc<br />
( E)<br />
= f ( x,<br />
x0 , E)<br />
.<br />
4<br />
Então,<br />
( E − E )<br />
2<br />
2<br />
⎡ ⎤<br />
2<br />
2<br />
Plc ( E2 , σ<br />
E<br />
) ≡ ψ<br />
1(<br />
x)<br />
= N ∫ dE exp⎢−<br />
P ( E)<br />
2 ⎥ lc<br />
, (B.20)<br />
⎣ 2σ<br />
E ⎦<br />
84
onde Plc<br />
( E2 , σ<br />
E<br />
) é a probabili<strong>da</strong>de “level crossing” generaliza<strong>da</strong> que leva <strong>em</strong> conta o<br />
tamanho do pacote de on<strong>da</strong> no espaço <strong>da</strong>s energias.<br />
O efeito dos pacotes de on<strong>da</strong> nessa probabili<strong>da</strong>de pode ser visto melhor fazendo-se a<br />
expansão de P lc<br />
(E)<br />
<strong>em</strong> série. Assumindo σ E<br />
pequeno, pegamos os termos de ord<strong>em</strong><br />
menor, a equação (B.20) resulta ( E → E<br />
P<br />
2<br />
)<br />
2 2<br />
σ<br />
E<br />
∂ Plc<br />
( E)<br />
E,<br />
σ<br />
E<br />
) = Plc<br />
( E)<br />
+<br />
+ .... (B.21)<br />
2 ∂E<br />
lc<br />
(<br />
2<br />
Notamos <strong>na</strong> expressão acima que o formalismo de pacotes de on<strong>da</strong> introduz uma<br />
correção <strong>na</strong> probabili<strong>da</strong>de “level crossing”. Se sab<strong>em</strong>os a expressão <strong>em</strong> on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s,<br />
pod<strong>em</strong>os saber a correção <strong>em</strong> pacotes de on<strong>da</strong>.<br />
85
Referências – Apêndice B<br />
[1] C. W. Kim e A. Pevsner, Neutrinos in Physics and Astrophysics (Harwood Acad<strong>em</strong>ic,<br />
Chur, 1993).<br />
[2] A. B. Balantekin, Phys. Rev. D58, 013001 (1998).<br />
[3] C. W. Kim, S. Nussinov e W. K. Sze, Phys. Lett. B184, 403 (1987).<br />
[4] T. K. Kuo e J. Pantaleone, Phys. Rev. D39, 1930 (1989).<br />
[5] A. B. Balantekin e J. F. Beacom, Phys. Rev. D54, 6323 (1996).<br />
[6] C. Giunti, C. W. Kim e U. W. Lee, Phys. Lett. B274, 87 (1992).<br />
[7] D. Nötzold, Phys. Rev. D36, 1625 (1987).<br />
[8] S. Toshev, Phys. Lett. B196, 170 (1987).<br />
[9] S. T. Petcov, Phys. Lett. B200, 373 (1988).<br />
[10] L. Lan<strong>da</strong>u, Phys. Z. Sovjetunion 2, 46 (1932).<br />
[11] C. Zener, Proc. R. Soc. London, Ser. A137, 696 (1932).<br />
[12] S. P. Rosen e J. M. Gelb, Phys. Rev. D34, 969 (1986).<br />
[13] V. Barger, R. J. N. Phillips e K. Whis<strong>na</strong>nt, Phys. Rev. D34, 980 (1986).<br />
[14] S. J. Parke, Phys. Rev. Lett. 57, 1275 (1986).<br />
[15] P. Pizzochero, Phys. Rev. D36, 2293 (1987).<br />
[16] A. B. Balantekin, S. H. Fricke e P. J. Hatchell, Phys. Rev. D38, 935 (1988).<br />
[17] J. C. D’Olivo, Phys. Rev. D45, 924 (1992).<br />
[18] M. Bruggen, W. C. Haxton e Y. Z. Qian, Phys. Rev. D51, 4028 (1995).<br />
[19] A. B. Balantekin, J. C. Beacon e J. M. Fetter, Phys. Lett. B427, 317 (1998).<br />
86
APÊNDICE C<br />
Neutrinos <strong>em</strong> um<br />
“fireball” de um<br />
“Gamma-ray Burst”<br />
Gamma Ray Bursts” (GRB) são explosões curtas e não-térmicas de fótons de baixa<br />
energia (100keV-1MeV) e liberam cerca de 10 51 -10 53 ergs de energia <strong>em</strong> poucos segundos,<br />
sendo portanto os objetos mais luminosos do universo. Observações indicam que os GRBs<br />
se origi<strong>na</strong>m de fontes cosmológicas [veja 8, entretanto 9] e que os principais candi<strong>da</strong>tos são<br />
a fusão de uma estrela de nêutrons com outra estrela de nêutrons (NS-NS), binárias buraco<br />
negro e estrela de nêutrons (BH-NS), modelos de hipernova/colapso envolvendo estrelas<br />
progenitoras massivas [10, 11, 12, 13, 14, 15]. Observações recentes de GRB030329 são<br />
mais favoráveis aos modelos de colapso para iniciar o GRB [16]. Em quase todos os<br />
modelos, a energia gravitacio<strong>na</strong>l é libera<strong>da</strong> quase to<strong>da</strong> <strong>na</strong> forma de par neutrinoantineutrino,<br />
radiação gravitacio<strong>na</strong>l e uma peque<strong>na</strong> fração é responsável para iniciar o<br />
GRB.<br />
Provavelmente, tais eventos são origi<strong>na</strong>dos quando algumas massas solares<br />
colapsam ao redor do raio de Schwarzschild [1]. Depois disto, uma fração <strong>da</strong> energia<br />
gravitacio<strong>na</strong>l libera<strong>da</strong> com o colapso é deposita<strong>da</strong> num volume um pouco maior que o<br />
horizonte do raio onde ocorreu tal colapso. Este volume com alta concentração de energia é<br />
chama<strong>da</strong> de “termed fireball” e sua evolução foi explora<strong>da</strong> por [2]. Este volume é<br />
constituído basicamente por um plasma formado por bárions - principalmente prótons e<br />
nêutrons <strong>em</strong> quanti<strong>da</strong>des iguais [6,7], porém relativamente peque<strong>na</strong>s, senão a expansão<br />
seria newtonia<strong>na</strong>, o que não corresponde às observações atuais -, fótons, elétrons e<br />
pósitrons, termalizados numa t<strong>em</strong>peratura entre 3MeV e 10MeV. Os fótons do “fireball”<br />
87
estão presos à região devido à grande profundi<strong>da</strong>de óptica, <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> de 10 13 , escapando<br />
somente quando a profundi<strong>da</strong>de óptica atinge o valor unitário.<br />
O “fireball” se expande de maneira relativística com um fator de Lorentz<br />
Γ ≅ 100 −1000 , e o “burst”, segundo considerações fenomenológicas, pode ocorrer pela<br />
dissipação <strong>da</strong> energia cinética do “fireball” <strong>em</strong> expansão (veja [17] para revisão). As<br />
condições físicas <strong>na</strong> região de dissipação implicam que [18] os prótons dev<strong>em</strong> ser<br />
acelerados (mecanismo de Fermi) a energias maiores que 10 20 eV. Ain<strong>da</strong> mais, o espectro e<br />
o fluxo dos raios cósmicos com energia acima de 10 19 eV são consistentes com aqueles<br />
esperados pela aceleração dos prótons de GRBs cosmológicos [19].<br />
C.1) Produção de Neutrinos<br />
A produção de neutrinos <strong>em</strong> um “fireball” pode ocorrer de uma maneira direta e de<br />
uma maneira indireta através do decaimento de píons produzidos no meio. Vamos começar<br />
nossa descrição através <strong>da</strong> produção de neutrinos de maneira direta, cujos principais<br />
processos são:<br />
±<br />
±<br />
• Processo foto-neutrino: e + γ → e + ν<br />
i<br />
+ ν<br />
i<br />
;<br />
• Processo de plasma: γ → ν i<br />
+ ν<br />
i<br />
;<br />
• Aniquilação de pares: e<br />
− + e<br />
+ →ν i<br />
+ ν<br />
i<br />
;<br />
−<br />
• Captura eletrônica: e + p → n + ν<br />
e<br />
;<br />
+<br />
• Captura positrônica: e + n → p + ν<br />
e<br />
.<br />
Os últimos dois processos constitu<strong>em</strong> o não-degenerado processo URCA, que é o<br />
processo domi<strong>na</strong>nte para baixas densi<strong>da</strong>des nucleônicas.<br />
88
Figura C.1 - [3] Emissivi<strong>da</strong>de do neutrino no plasma <strong>em</strong> função <strong>da</strong> t<strong>em</strong>peratura. As linhas pontilha<strong>da</strong>s<br />
indicam as contribuições individuais e a linha cheia mostra a <strong>em</strong>issivi<strong>da</strong>de total. Foi usado uma<br />
8 −3<br />
densi<strong>da</strong>de bariônica de 10 g × cm .<br />
Notamos pela figura C.1 que a <strong>em</strong>issivi<strong>da</strong>de Q dos processos foto-neutrino e de<br />
plasma é b<strong>em</strong> menor que a <strong>em</strong>issivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> aniquilação de pares elétron-pósitron. Esta<br />
última, compara<strong>da</strong> com o processo URCA, que depende <strong>da</strong> densi<strong>da</strong>de bariônica e também<br />
possui um comportamento diferente ao <strong>da</strong> aniquilação frente a mu<strong>da</strong>nças de t<strong>em</strong>peratura,<br />
pelo gráfico acima, será considera<strong>da</strong> como processo domi<strong>na</strong>nte.<br />
Expressamos a taxa de criação de neutrino <strong>em</strong> termos do parâmetro χ , que pode ser<br />
expresso <strong>em</strong> termos de t c<br />
, o t<strong>em</strong>po de escala de “cooling” e t e<br />
, o t<strong>em</strong>po de escala de<br />
expansão, como<br />
t<br />
=<br />
c<br />
χ , (C.1)<br />
te<br />
<strong>em</strong> que,<br />
E<br />
t c<br />
= e (C.2)<br />
VQ<br />
R<br />
t<br />
e<br />
= . (C.3)<br />
c<br />
s<br />
89
E é energia, V e R são, respectivamente, o volume e o raio do “fireball” e c s é a veloci<strong>da</strong>de<br />
do som no “fireball”. O parâmetro de taxa de criação não considera a transparência dos<br />
neutrinos do plasma, que deve ser considerado se é levado <strong>em</strong> conta o mecanismo de<br />
“cooling” dos neutrinos.<br />
Considerando somente a <strong>em</strong>issivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> aniquilação de pares escrev<strong>em</strong>os:<br />
33 9<br />
1 −3<br />
Q = 3,6 × 10 ( T11)<br />
erg × s<br />
− × cm . (C.4)<br />
Logo a taxa de criação de neutrinos será <strong>da</strong><strong>da</strong> por:<br />
9 5<br />
−3<br />
−<br />
4 4<br />
3,7<br />
× 10 g ( E)<br />
( R6,5<br />
11<br />
4<br />
χ =<br />
) . (C.5)<br />
Neutrinos também pod<strong>em</strong> ser produzidos pelo decaimento de píons carregados:<br />
_ _<br />
π → µ + ν<br />
+<br />
−<br />
µ → e + ν<br />
e<br />
+ ν µ ν µ<br />
+<br />
Para π é só tomarmos o conjugado de carga <strong>da</strong> reação acima. Tais píons são<br />
oriundos de dois processos:<br />
_<br />
γ + n → p + π<br />
• Produção foto-píon:<br />
+<br />
γ + p → n + π<br />
• Colisão N-N:<br />
n + p → p +<br />
p + p → n +<br />
_<br />
p + π<br />
+<br />
p + π<br />
A seção de choque <strong>da</strong> produção de píons por colisões nucleon-nucleon<br />
26 2<br />
( 3 10<br />
−<br />
−28<br />
2<br />
σ ≅ × cm ) é maior que a do processo foto-piônico ( σ ≅ 10 cm ), no entanto a<br />
densi<strong>da</strong>de de fótons no plasma é quase que quatro ordens de magnitude maior. Logo, o<br />
processo de produção foto-píon é domi<strong>na</strong>nte <strong>na</strong> produção de píons. A produção foto-píon<br />
pode criar um “burst” de neutrinos com energia de 10 14 eV (mecanismos de aceleração de<br />
Fermi). A colisão N-N pode gerar neutrinos com 30 GeV de energia. Aqui não<br />
considerar<strong>em</strong>os os neutrinos produzidos pelos píons.<br />
Os neutrinos produzidos terão uma energia média típica entre 5MeV e 20MeV e o<br />
meio é inicialmente opaco aos neutrinos de todos os sabores. À medi<strong>da</strong> que o “fireball”<br />
evolui, os neutrinos pod<strong>em</strong> ser distribuídos <strong>em</strong> três regiões: a região I contém neutrinos de<br />
todos os sabores; a região II contém ape<strong>na</strong>s neutrinos eletrônicos, sendo transparente aos<br />
neutrinos muônicos e tauônicos; <strong>na</strong> região III todos os neutrinos já estão desacoplados. Os<br />
neutrinos produzidos pod<strong>em</strong> escapar também <strong>em</strong> regiões onde a taxa de produção é alta e a<br />
profundi<strong>da</strong>de ótica é peque<strong>na</strong> – menor que um. Logo, neutrinos escapam por “bursts” de<br />
desacoplamento do “fireball” e também por <strong>em</strong>issão contínua.<br />
Vamos descrever algumas proprie<strong>da</strong>des gerais de um “fireball” a seguir.<br />
90
C.2) Proprie<strong>da</strong>des do “fireball”<br />
Em um equilíbrio termodinâmico, a densi<strong>da</strong>de de energia ( ε V ) e a t<strong>em</strong>peratura (T)<br />
são relacio<strong>na</strong>dos por, para um volume V,<br />
ε<br />
V =<br />
gaT<br />
4<br />
, (C.6)<br />
<strong>em</strong> que a é a constante de radiação e g é um fator que depende <strong>da</strong> composição do sist<strong>em</strong>a.<br />
Para as três regiões comenta<strong>da</strong>s de neutrinos t<strong>em</strong>os que:<br />
g<br />
g<br />
g<br />
I<br />
II<br />
III<br />
43<br />
=<br />
8<br />
29<br />
=<br />
8<br />
22<br />
=<br />
8<br />
. (C.7)<br />
Assumindo uma configuração esférica, a t<strong>em</strong>peratura do plasma pode ser expressa<br />
<strong>em</strong> termos <strong>da</strong> energia e do raio.<br />
100 −<br />
T11<br />
ε<br />
52 6,5<br />
, (C.8)<br />
g<br />
4<br />
( ) = ( )( R ) 3<br />
11<br />
52<br />
6,5<br />
para T = T11 × 10 K , ε = ε<br />
52<br />
× 10 erg e R = R6,5<br />
× 10 cm .<br />
Os valores iniciais de t<strong>em</strong>peratura, densi<strong>da</strong>de de energia e raio, representados com<br />
um asterisco são:<br />
T<br />
52<br />
ε<br />
*<br />
= 10 erg , (C.9)<br />
6,5<br />
R* = 10 cm e (C.10)<br />
11<br />
= 2,1 × 10 K 17,9 k MeV , (C.11)<br />
*<br />
=<br />
sendo k<br />
B<br />
a constante de Boltzmann.<br />
Usando os valores iniciais <strong>da</strong>do por (C.9), (C.10) e (C.11), t<strong>em</strong>os que χ<br />
I<br />
= 0, 16 . Os<br />
neutrinos são criados relativamente rápidos <strong>em</strong> comparação com o t<strong>em</strong>po de escala de<br />
expansão. Aqui consideramos que a criação <strong>da</strong> quanti<strong>da</strong>de de antineutrinos e neutrinos é<br />
igual, uma vez que consideramos uma simetria inicial entre eles.<br />
Como a t<strong>em</strong>peratura é maior que as típicas energias de ligação, os núcleos estão<br />
quebrados <strong>em</strong> seus nucleons. Estima-se que deve existir 10 TeV de energia disponível para<br />
estes bárions, conseqüent<strong>em</strong>ente a densi<strong>da</strong>de bariônica máxima é<br />
B<br />
91
31 −3<br />
n B ;*<br />
= 4,7 × 10 cm , (C.12)<br />
que é o valor de referência para os cálculos. Isto implica que a densi<strong>da</strong>de de massa<br />
7 −3<br />
bariônica é ρ<br />
B;* = 9,4×<br />
10 g × cm , o que corresponde a uma massa bariônica total <strong>em</strong><br />
−6<br />
torno de 6,2 × 10 massas solares conti<strong>da</strong>s num volume inicial V<br />
*<br />
.<br />
Devido à neutrali<strong>da</strong>de de carga global, a razão de prótons <strong>em</strong> relação aos nêutrons<br />
pode ser escrita <strong>em</strong> termos <strong>da</strong> fração eletrônica Y<br />
e<br />
. Desta maneira,<br />
n = n + n e (C.13)<br />
B<br />
n<br />
p<br />
n . (C.14)<br />
p<br />
= Yen<br />
B<br />
= ∆ne<br />
= n − − n +<br />
e e<br />
∆n e<br />
é denomi<strong>na</strong>do densi<strong>da</strong>de eletrônica de rede.<br />
2<br />
Sabendo que T* >> mec<br />
, os elétrons e pósitrons são extr<strong>em</strong>amente relativísticos<br />
( E = pc ). A densi<strong>da</strong>de eletrônica de rede e a densi<strong>da</strong>de combi<strong>na</strong><strong>da</strong> elétron-pósitron<br />
n<br />
e<br />
n − + n + pod<strong>em</strong> ser expressas, sendo µ<br />
e<br />
o potencial químico, por<br />
=<br />
e e<br />
3<br />
1 ⎛ 2 µ<br />
( )<br />
⎟ ⎞<br />
e<br />
∆n<br />
= ⎜<br />
e<br />
k +<br />
3 3 BT<br />
µ<br />
e<br />
, (C.15)<br />
2<br />
3h<br />
c ⎝ π ⎠<br />
( k T )<br />
3<br />
B<br />
0,37<br />
+ O<br />
3 3<br />
e<br />
( ) 2<br />
n<br />
e<br />
=<br />
µ<br />
h c<br />
. (C.16)<br />
Por definição, Y<br />
e<br />
< 1, então ∆ ne<br />
≤ nB<br />
. T<strong>em</strong>os um limite superior para a densi<strong>da</strong>de<br />
eletrônica de rede e, por conseguinte, para o potencial químico. Sab<strong>em</strong>os a densi<strong>da</strong>de<br />
−4<br />
bariônica, portanto, µ k B<br />
T* ≅ 2×<br />
10
considera<strong>da</strong>s [4, 20, 21, 22]. Estas correções surg<strong>em</strong> a partir dos termos dependentes do<br />
momento nos propagadores bosônicos nos diagramas de auto-energia.<br />
Neutrinos eletrônicos interag<strong>em</strong> tanto por corrente carrega<strong>da</strong> quanto por corrente<br />
neutra, enquanto que os neutrinos tauônicos e muônicos interag<strong>em</strong> somente por corrente<br />
neutra. Até primeira ord<strong>em</strong>, o potencial efetivo sentido pelos neutrinos é proporcio<strong>na</strong>l à<br />
diferença entre o número de partículas e antipartículas. Se um sist<strong>em</strong>a apresenta um número<br />
igual de partículas e antipartículas, o termo de primeira ord<strong>em</strong> some. Por outro lado, o<br />
próximo termo de contribuição (proporcio<strong>na</strong>l a 1/M 4 , <strong>em</strong> que M é a massa do propagador<br />
bosônico) é proporcio<strong>na</strong>l à soma do número de densi<strong>da</strong>de de partículas e antipartículas.<br />
Os neutrinos <strong>na</strong> região de plasma pod<strong>em</strong> sofrer absorção e processo de<br />
espalhamento, resumidos a seguir:<br />
±<br />
±<br />
• Espalhamento elétron (pósitron)-neutrino: ν<br />
i<br />
+ e →ν<br />
i<br />
+ e ;<br />
• Espalhamento nucleon-neutrino: ν<br />
i<br />
+ N →ν<br />
i<br />
+ N ;<br />
−<br />
• Captura elétron-neutrino: ν<br />
e<br />
+ n → e + p ;<br />
+<br />
• Captura elétron-antineutrino: ν + p → n + e .<br />
Para as condições iniciais, (C.9), (C.10) e (C.11), o comprimento de livre caminho<br />
médio (mfp) é determi<strong>na</strong>do pelo espalhamento elétron (pósitron)-neutrino, como<br />
verificamos pela figura C.2 abaixo:<br />
e<br />
Figura C.2 – [3] Comprimento de livre caminho médio (cm) dos neutrinos eletrônicos <strong>em</strong> função <strong>da</strong><br />
t<strong>em</strong>peratura <strong>em</strong> K. A linha pontilha<strong>da</strong> representa as contribuições individuais, enquanto que a cheia<br />
representa o mpf total.<br />
93
Figura C.3 – [3] Comprimento de livre caminho médio (cm) dos neutrinos muônicos e tauônicos <strong>em</strong><br />
função <strong>da</strong> t<strong>em</strong>peratura <strong>em</strong> K. A linha pontilha<strong>da</strong> representa as contribuições individuais, enquanto que<br />
a cheia representa o mpf total.<br />
O livre caminho médio (λ) é importante para o cálculo <strong>da</strong> profundi<strong>da</strong>de óptica, que<br />
é <strong>da</strong><strong>da</strong> por τ = R λ , sendo R o comprimento de escala. S<strong>em</strong>pre que a profundi<strong>da</strong>de óptica é<br />
igual a 1, então ocorre desacoplamento instantâneo de algum sabor de neutrino do plasma.<br />
Enquanto o valor <strong>da</strong> profundi<strong>da</strong>de óptica for maior que um, diz<strong>em</strong>os que este plasma é<br />
opaco aos neutrinos.<br />
λ possui diferentes valores para o neutrino eletrônico e para os outros neutrinos,<br />
uma vez que o primeiro também interage por corrente carrega<strong>da</strong>, mas é o mesmo para os<br />
neutrinos e antineutrinos de mesmo sabor, já que a quanti<strong>da</strong>de de elétrons é igual a de<br />
pósitrons. Logo, o desacoplamento de neutrinos e antineutrinos irá ocorrer ao mesmo<br />
t<strong>em</strong>po. λ para os neutrinos eletrônicos e para os neutrinos muônicos ou tauônicos é <strong>da</strong>do<br />
por, respectivamente,<br />
Usando os valores de<br />
muônicos e tauônicos, <strong>na</strong> região I, e<br />
neutrinos eletrônicos, t<strong>em</strong>os:<br />
−<br />
( T ) cm<br />
( e)<br />
6 5<br />
= 3,7 × 10<br />
11<br />
λ , (C.18)<br />
−5<br />
( T ) cm<br />
( µ , τ )<br />
7<br />
λ = 1,6 × 10<br />
11<br />
. (C.19)<br />
g = g<br />
I<br />
para encontrar a profundi<strong>da</strong>de óptica para os neutrinos<br />
g = g<br />
II<br />
para encontrar a profundi<strong>da</strong>de óptica para os<br />
( ) 5 −11<br />
ε 4 ( ) 4<br />
( e)<br />
τ = 54×<br />
52<br />
R6,5<br />
, (C.20)<br />
94
τ<br />
( µ , τ )<br />
( ) 5 −11<br />
ε 4 ( ) 4<br />
= 7,4×<br />
R<br />
52<br />
6,5<br />
. (C.21)<br />
( , µ , τ )<br />
Para as condições iniciais, τ e > 1, portanto a “fireball” é opaca aos neutrinos de<br />
todos os sabores.<br />
A figura C.4 é um espaço de parâmetros que mostras as três regiões de plasma,<br />
mostrando as profundi<strong>da</strong>des ópticas e a taxa de criação de neutrinos. A linha sóli<strong>da</strong> mostra<br />
( e)<br />
( µ , ν )<br />
os contornos χ<br />
I<br />
= 1, χ<br />
II<br />
= 1, χ<br />
III<br />
= 1, τ = 1 e τ = 1; as linhas pontilha<strong>da</strong>s são as<br />
isotérmicas. O * denota os pontos de valor inicial <strong>da</strong>do pelas equações (C.9), (C.10),<br />
(C.11). A trajetória construí<strong>da</strong> de “0” até “4” corresponde à evolução hidrodinâmica do<br />
“fireball”. Não estamos aqui interessados <strong>na</strong> região de buracos negros indica<strong>da</strong>.<br />
Figura C.4 – [3] Gráfico de espaço de parâmetros que mostra as três fases do plasma.<br />
C.4) A evolução do “fireball”<br />
Enquanto os componentes do plasma estão fort<strong>em</strong>ente acoplados, isto é, o<br />
comprimento de interação é muito menor que o tamanho do sist<strong>em</strong>a, o plasma pode ser<br />
descrito como uma esfera homogênea <strong>em</strong> equilíbrio termodinâmico com uma única<br />
t<strong>em</strong>peratura. O plasma irá expandir, de maneira adiabática, por pressão de radiação,<br />
convertendo esta energia <strong>em</strong> energia cinética dos bárions. Vamos assumir que a evolução<br />
do “fireball” é um processo reversível, isto é, a entropia se conserva, a relação raiot<strong>em</strong>peratura<br />
é <strong>da</strong><strong>da</strong> por<br />
95
3<br />
3<br />
( RT ) g ( R T ) const.<br />
g = = , (C.22)<br />
sendo que a energia radiativa e a entropia são <strong>da</strong><strong>da</strong>s, respectivamente, por<br />
0<br />
4π<br />
3<br />
0<br />
0<br />
3 4<br />
ε = gaR T e (C.23)<br />
S<br />
16π<br />
= ga( RT ) 3<br />
. (C.24)<br />
9<br />
Enquanto não houver mu<strong>da</strong>nça <strong>na</strong> composição do plasma pod<strong>em</strong>os escrever:<br />
( R ) = ( ε R ) = .<br />
ε e (C.25)<br />
0 0<br />
const<br />
ε 0<br />
= ε = const.<br />
T T<br />
. (C.26)<br />
0<br />
Se ocorrer aniquilação, a relação t<strong>em</strong>peratura-energia irá se manter já que a entropia<br />
se conserva. Esta só diminui quando ocorre algum desacoplamento. Da relação (C.22),<br />
notamos que a relação durante o desacoplamento pode ser <strong>da</strong><strong>da</strong> por:<br />
RT = R T 0 0<br />
. (C.27)<br />
Agora vamos discutir o que ocorre com a evolução do “fireball” com energia inicial<br />
genérica ε<br />
0<br />
e tamanho R<br />
0<br />
. À medi<strong>da</strong> que ocorr<strong>em</strong> expansão e esfriamento do “fireball”,<br />
ele irá de opaco à transparente para os neutrinos, que é quando os neutrinos se desacoplam<br />
do plasma.<br />
Além dos “bursts” de neutrinos, também há <strong>em</strong>issão contínua onde a taxa de criação<br />
é suficient<strong>em</strong>ente alta e o plasma é transparente para os neutrinos.<br />
Partindo do ponto “0” <strong>da</strong> figura C.4, o plasma expande ao longo de ( ε R ) = ( ε R 0 0<br />
)<br />
( µ , τ )<br />
até atingir o contorno τ = 1, numa t<strong>em</strong>peratura menor, próxima a 10,3 MeV. Pod<strong>em</strong>os<br />
achar o valor <strong>da</strong> energia radiativa e <strong>da</strong> t<strong>em</strong>peratura antes de ocorrer o desacoplamento<br />
usando (C.22):<br />
(1)<br />
52<br />
. 61<br />
(0) (0)<br />
( ε ) 11 16<br />
ε = 0 R , (C.28)<br />
(1)<br />
11<br />
1. 26<br />
52<br />
6.5<br />
(0) (0)<br />
( )<br />
52<br />
6.5<br />
−1 16<br />
T = ε R . (C.29)<br />
A t<strong>em</strong>peratura de 10,3 MeV permanecerá com esse valor durante o primeiro “burst”<br />
de neutrinos muônicos e tauônicos, o que corresponde ao trecho do ponto “1” até “2” <strong>na</strong><br />
figura C.4.<br />
96
( e)<br />
Para o “burst” de neutrinos eletrônicos, τ = 1 (ponto “3” até o “4”),<br />
imediatamente antes, t<strong>em</strong>os:<br />
(3)<br />
52<br />
, 28<br />
(0) (0)<br />
( ε ) 11 16<br />
ε = 0 R e (C.30)<br />
(3)<br />
11<br />
0. 87<br />
52<br />
6,5<br />
(0) (0) −<br />
( ) 1 16<br />
T = ε R . (C.31)<br />
Usando os valores iniciais, t<strong>em</strong>os que a t<strong>em</strong>peratura antes do desacoplamento dos<br />
neutrinos eletrônicos será 7,4 MeV.<br />
Durante o primeiro “burst”, de neutrinos muônicos e tauônicos, ocorre uma<br />
diminuição <strong>da</strong> energia do “fireball” de cerca de 36%. Para o segundo “burst”, de neutrinos<br />
eletrônicos, ocorre uma diminuição de cerca de 21%.<br />
Pod<strong>em</strong>os questio<strong>na</strong>r se ocorrer oscilação de neutrinos irá ou não influenciar a<br />
evolução do “fireball”. Abaixo discutimos resumi<strong>da</strong>mente a oscilação de neutrinos num<br />
“fireball”.<br />
C.5) A Oscilação de neutrinos<br />
Discutimos <strong>na</strong> seção C.3 que o potencial efetivo deverá ser modificado devido a<br />
assimetria peque<strong>na</strong> do meio. Em um plasma relativístico, não-degenerado de elétrons,<br />
prótons e nêutrons, o potencial efetivo sentido pelo neutrino eletrônico é [4,21]:<br />
52<br />
6,5<br />
2<br />
⎡<br />
2<br />
⎛ 7ξ<br />
(4) ⎞ T ⎤<br />
ν ≅ 2GF<br />
N γ ⎢L e<br />
− ⎜ ⎟ ⎥ e (C.32)<br />
2<br />
⎢⎣<br />
⎝ ξ (3) ⎠ M<br />
W ⎥⎦<br />
V<br />
e<br />
o potencial efetivo para os neutrinos muônicos e tauônicos é <strong>da</strong>do por<br />
V<br />
ν µ τ<br />
2G<br />
, F<br />
Nγ<br />
Lµ<br />
, τ<br />
≅ , (C.33)<br />
<strong>em</strong> que<br />
⎛ 1 2 ⎞ ⎛ 1<br />
2<br />
2<br />
2 ⎞ Ln<br />
L<br />
e<br />
= ⎜ + sen θW<br />
⎟Le<br />
+ ⎜ − sen θW<br />
⎟L<br />
p<br />
− e (C.34)<br />
⎝ 2 ⎠ ⎝ 2 ⎠ 2<br />
⎛ 1 2<br />
2 ⎞ Ln<br />
L µ , τ = ⎜−<br />
+ sen θW<br />
⎟(<br />
Le<br />
− L<br />
p<br />
) − . (C.35)<br />
⎝ 2 ⎠<br />
2<br />
A assimetria <strong>da</strong> partícula é defini<strong>da</strong> como<br />
N − N a<br />
L = , (C.36)<br />
a<br />
a<br />
N γ<br />
97
sendo<br />
N γ a densi<strong>da</strong>de de fótons e é <strong>da</strong><strong>da</strong> por<br />
N<br />
2<br />
π<br />
3<br />
γ<br />
= ξ (3)<br />
T . (C.37)<br />
2<br />
Para antineutrinos, o potencial efetivo deve ser <strong>da</strong>do pela mu<strong>da</strong>nça La<br />
→ −La<br />
.<br />
Tal trabalho só irá considerar a oscilação de neutrinos para duas famílias, usando os<br />
parâmetros solares, para os ca<strong>na</strong>is ν e<br />
↔ν µ e ν e ↔ν µ , cujos potenciais efetivos são<br />
<strong>da</strong>dos, respectivamente, por:<br />
V<br />
V<br />
−9<br />
2<br />
( L − 8,18×<br />
10 T )<br />
−12<br />
3<br />
3,93×<br />
10 TMeV<br />
e<br />
MeV<br />
= , (C.38)<br />
−9<br />
2<br />
( − L − 8,18×<br />
10 T )<br />
−12<br />
3<br />
3,93×<br />
10 TMeV<br />
e<br />
MeV<br />
= . (C.39)<br />
Para diferentes valores de assimetria mostramos a figura C.5 (neutrinos) e figura<br />
C.6( antineutrinos) que indicam o valor do potencial <strong>em</strong> função <strong>da</strong> t<strong>em</strong>peratura do<br />
“fireball”.<br />
Figura C.5: Neutrino - Potencial <strong>em</strong> função <strong>da</strong> t<strong>em</strong>peratura para várias assimetrias<br />
Figura C.6: Antineutrino – Potencial <strong>em</strong> função <strong>da</strong> t<strong>em</strong>peratura para várias assimetrias (1,5×10-4;<br />
1,0×10-4; 1,0×10-5; 1,0×10-6)<br />
98
A probabili<strong>da</strong>de de con<strong>versão</strong> é <strong>da</strong><strong>da</strong> por<br />
2<br />
∆ sen<br />
P(<br />
t)<br />
=<br />
2<br />
ω<br />
2<br />
2θ<br />
2 ⎛ ωt<br />
⎞<br />
sen ⎜ ⎟ , (C.40)<br />
⎝ 2 ⎠<br />
com<br />
2 2 2<br />
ω = ( V − ∆ cos 2θ<br />
) + ∆ sen 2θ<br />
, (C.41)<br />
2<br />
∆m<br />
sendo ∆ = . Para o cálculo <strong>da</strong> probabili<strong>da</strong>de aproximamos x ≅ t .<br />
2E<br />
2<br />
−5<br />
2<br />
Os parâmetros solares usados foram ∆m<br />
= 7,1 × 10 eV , sen2θ<br />
= 0, 83 . Nossa<br />
expressão de probabili<strong>da</strong>de de con<strong>versão</strong> depende <strong>da</strong> energia do neutrino, <strong>da</strong> t<strong>em</strong>peratura,<br />
do ângulo de mistura no vácuo, <strong>da</strong> diferença de massa ao quadrado e <strong>da</strong> assimetria matériaantimatéria.<br />
Esta última possui um valor mínimo ( L<br />
min.<br />
−5<br />
−3<br />
−3<br />
e<br />
≅ 4,47 × 10 R7<br />
TMeV<br />
) e um valor<br />
max.<br />
−2<br />
−3<br />
−3<br />
máximo ( L<br />
e<br />
≅ 4.47 × 10 R7<br />
TMeV<br />
) que depend<strong>em</strong> do raio e <strong>da</strong> t<strong>em</strong>peratura do “fireball”.<br />
Para a região <strong>completa</strong>mente opaca a todos os sabores de neutrinos, para qualquer<br />
valor de assimetria entre o máximo e o mínimo, as probabili<strong>da</strong>des de con<strong>versão</strong> são muito<br />
peque<strong>na</strong>s. Portanto, pod<strong>em</strong>os dizer que não esperamos que ocorra oscilação de neutrinos <strong>na</strong><br />
região do ponto “0” até o ponto “1” <strong>da</strong> figura C.4. O mesmo ocorre para a região onde<br />
somente os neutrinos eletrônicos estão opacos. A probabili<strong>da</strong>de de con<strong>versão</strong> nesta região –<br />
ponto “2” até ponto “3” <strong>da</strong> figura C.4 – parece ser insignificante para afetar qualquer tipo<br />
de evolução do “fireball”. Probabili<strong>da</strong>de significante ter<strong>em</strong>os somente quando a<br />
t<strong>em</strong>peratura atingir o valor de 3 MeV e para uma assimetria de cerca de 10 -7 , com neutrinos<br />
de energia 5 MeV, como mostramos <strong>na</strong> figura C. 7 abaixo:<br />
Figura C.7 – Probabili<strong>da</strong>de de oscilação para os parâmetros solares, com T=3MeV, L e =10 -7 e E=5MeV.<br />
99
A conclusão é simples: notamos que, para parâmetros solares e considerando o<br />
ca<strong>na</strong>l ν e<br />
↔ν µ , ocorrerá oscilação somente depois dos desacoplamentos dos neutrinos, isto<br />
é, quando o “fireball” é transparente aos mesmos. Isto significa que a oscilação não afetará<br />
de maneira significativa a evolução do “fireball”. Vale l<strong>em</strong>brar também que a con<strong>versão</strong><br />
mais significativa ocorre quando os neutrinos possu<strong>em</strong> baixas energias, como 5 MeV.<br />
Na figura C.8, logo abaixo, mostramos as regiões onde a ressonância pode ocorrer.<br />
0.00001<br />
8´ 10 -6<br />
6´ 10 -6<br />
4´ 10 -6<br />
2´ 10 -6<br />
1 2 5 10 20 50 100<br />
Figura C. 8– Regiões de ressonância (parâmetros solar e neutrinos). Eixo x é t<strong>em</strong>peratura <strong>em</strong> MeV e o<br />
eixo y é a assimetria L e .<br />
Se considerarmos a con<strong>versão</strong> no ca<strong>na</strong>l ν µ ↔ ν τ , usando os parâmetros<br />
atmosféricos, a probabili<strong>da</strong>de média de con<strong>versão</strong> será 0,5. No entanto, esta contribuição<br />
não afetará a evolução do “fireball”, uma vez que os neutrinos muônicos e tauônicos são os<br />
primeiros a escapar e a con<strong>versão</strong> ocorre entre estes sabores. Creio que tal con<strong>versão</strong> não<br />
afetará a evolução <strong>em</strong> qualquer momento, já que para tal, deveríamos ter a formação de<br />
neutrinos eletrônicos a partir dos dois outros sabores. Além do mais, o número total de<br />
neutrinos muônicos e tauônicos não se alterará e isto não afetará o “burst”, uma vez que<br />
eles sa<strong>em</strong> ao mesmo t<strong>em</strong>po do plasma.<br />
Considerando agora a con<strong>versão</strong> no ca<strong>na</strong>l ν e ↔ν µ , t<strong>em</strong>os que para a primeira<br />
região não existe con<strong>versão</strong> significativa. Para a segun<strong>da</strong> região, não t<strong>em</strong>os probabili<strong>da</strong>de<br />
de con<strong>versão</strong> significativa para os antineutrinos. Isto significa que a evolução do “fireball”<br />
não sofrerá influência <strong>da</strong> oscilação dos antineutrinos também. Abaixo mostramos a<br />
probabili<strong>da</strong>de mais efetiva encontra<strong>da</strong> para quando já tivermos transparência <strong>em</strong> nosso<br />
plasma.<br />
100
Figura C. 9– Probabili<strong>da</strong>de de oscilação para antineutrinos usando solução solar e também L e =10 -7 ,<br />
T=3MeV e E=5MeV.<br />
Aqui mostramos as regiões de ressonância para o ca<strong>na</strong>l ν e ↔ν µ :<br />
-2 ´ 10 -6<br />
-4 ´ 10 -6<br />
-6 ´ 10 -6<br />
-8 ´ 10 -6<br />
-0.00001<br />
1 2 5 10 20 50 100<br />
Figura C.10 - Regiões de ressonância (parâmetros solar e antineutrinos). Eixo x é t<strong>em</strong>peratura <strong>em</strong> MeV<br />
e o eixo y é a assimetria L e .<br />
Concluímos que a solução solar não modifica a evolução do “fireball”, já que<br />
conversões significativas só ocorr<strong>em</strong> quando o plasma fica transparente aos neutrinos.<br />
2<br />
2<br />
Pod<strong>em</strong>os testar os parâmetros de LSND ( ∆ m ≅ 0,5eV<br />
e sen 2 θ = 0, 07 ) para o<br />
ca<strong>na</strong>l ν µ ↔ ν<br />
e<br />
. A figura C.11 apresenta uma probabili<strong>da</strong>de de con<strong>versão</strong> de cerca de 5%<br />
<strong>na</strong> <strong>em</strong>inência do primeiro “burst” de neutrinos. Isto poderia transformar neutrinos muônicos<br />
<strong>em</strong> eletrônicos que ain<strong>da</strong> estão opacos no plasma do “fireball”, diminuindo a quanti<strong>da</strong>de de<br />
energia sendo libera<strong>da</strong> no “burst” dos neutrinos muônicos e tauônicos. A questão a se<br />
colocar se isto seria ou não significativo para a evolução.<br />
101
Figura C.11 – Probabili<strong>da</strong>de de con<strong>versão</strong> usando os parâmetros de LSND. T=10,3MeV, E=5MeV e<br />
L e =1,0.10 -5 .<br />
As figuras C.12, C.13 e C.14 mostram a probabili<strong>da</strong>de de con<strong>versão</strong> para a região<br />
entre os pontos “2” e “3” <strong>da</strong> figura C.4. Notamos que esta con<strong>versão</strong> ocorre para neutrinos<br />
muônicos que já estão transparentes ao plasma do “fireball”.<br />
Figura C.12 – Probabili<strong>da</strong>de de con<strong>versão</strong> usando os parâmetros de LSND. L e =1,0.10 -5 , T=9,4MeV e<br />
E=5 MeV.<br />
102
Figura C.13 – Probabili<strong>da</strong>de de con<strong>versão</strong> usando os parâmetros de LSND. L e =2,0.10 -5 , T=8,4 MeV e<br />
E=5MeV.<br />
Figura C.14 – Probabili<strong>da</strong>de de con<strong>versão</strong> usando os parâmetros de LSND. L e =1,0x10 -5 , T=7,4MeV,<br />
E=10MeV.<br />
Abaixo mostramos um ex<strong>em</strong>plo de probabili<strong>da</strong>de de con<strong>versão</strong> significativa após o<br />
segundo “burst”, quando t<strong>em</strong>os transparência a todos os tipos de neutrinos.<br />
103
Figura C.15 - Probabili<strong>da</strong>de de con<strong>versão</strong> usando os parâmetros de LSND. L e =1,0x10 -4 , T=3,0MeV,<br />
E=15MeV.<br />
Para a oscilação de antineutrinos, no ca<strong>na</strong>l ν µ → ν e , usando a solução LSND,<br />
parece que não ocorre con<strong>versão</strong> efetiva <strong>em</strong> nenhuma <strong>da</strong>s regiões, n<strong>em</strong> quando há<br />
transparência para os neutrinos.<br />
104
Referências – Apêndice C<br />
[1] J. Hjorth, el. al., Nature 423, 847 (2003).<br />
[2] Cavallo, G., Rees, M. J., 1978, MNRAS, 183, 359.<br />
[3] Koers, H. B. J., Wijers, R. A. M. J., astro-ph/0505533.<br />
[4] J. C. D’Olivo, Manuel Torres, J. F. Nieves, Phys. Rev. D 46, 1172, (1992).<br />
[5] S. Sahu e J. C. D’Olivo, hep-ph/0502043.<br />
[6] E. V. Derishev, V. V. Kocharovsky, e VI. Kocharovsky, Astron. Astrophys. 345, L51<br />
(1999).<br />
[7] E. V. Derishev, V. V. Kocharovsky, e VI. Kocharovsky, Astrophys. J. 521, 640 (1999).<br />
[8] C. A. Meegan et. al., Nature 355, 143 (1992), B. Paczyński, Nature 355, 521 (1992); T.<br />
Piran, Astrophys. J. 389, L45 (1992); J. P. Norris et. al., Astrophys. J. 423, 432 (1994).<br />
[9] P. Podsiadlowski, M. Rees, e M. Ruderman, Mon. Not. Roy. Astron. Soc. 273, 755<br />
(1995).<br />
[10] T. Piran, Phys. Rep. 314, 575 (1999).<br />
[11] E. Waxman, Lect. Notes in Phys. 598, 393 (2003).<br />
[12] T. Piran, Phys. Rep. 333-334, 529 (2000).<br />
[13] P. Mészáros, Nucl. Phys. B (proc. Suppl.) 80, 63 (2000).<br />
[14] P. Meszáros, Annu. Rev. Astron. Astrophys. 40, 137 (2002).<br />
[15] M. Ruffert, e H. Th. Janka, Astron. Astrophys. 344, 573 (1999).<br />
[16] J. Hjorth, et. al., Nature 423, 847 (2003).<br />
[17] T. Piran, <strong>em</strong> Gamma-ray Bursts, eds. G. Fishman et. al. (AIP 307, NY1994); P.<br />
Mészáros, Proc. 17th Texas Conf. Relativistic Astrophysics, NY. Acad. Sci. 1995.<br />
[18] E. Waxman, Phys. Rev. Lett. 75, 386 (1995); M. Vietri, Astrophys. J. 453, 883 (1995).<br />
[19] E. Waxman, Astrophys. J. 452, L1 (1995).<br />
[20] D. Notzöld, e G. Raffelt, Nucl. Phys. B 307, 924 (1988).<br />
[21] K. Enqvist, K. Kainulaien, e J. Maalampi, Nucl. Phys. B 349, 754 (1991).<br />
[22] S. Sahu, Phys. Rev. D 61,023003 (1999).<br />
105
106
107
108
109
110
111