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Tese de Mestrado<br />

Oscilação de Neutrinos no Formalismo de Pacotes de On<strong>da</strong><br />

por<br />

Fer<strong>na</strong>ndo Rossi Torres<br />

Orientador: Prof. Dr. Marcelo Moraes Guzzo<br />

Instituto de Física “Gleb Wataghin”<br />

Universi<strong>da</strong>de Estadual de Campi<strong>na</strong>s<br />

Julho 2006


RESUMO<br />

Em geral, estu<strong>da</strong>mos o fenômeno de oscilação de neutrinos através do formalismo<br />

de on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s, que consegue, com muito sucesso, tratar os casos dos neutrinos solares, de<br />

reatores e aceleradores. No entanto, uma descrição física mais <strong>completa</strong> deve considerar a<br />

interpretação do fenômeno oscilatório usando pacotes de on<strong>da</strong>. Neste trabalho, a<strong>na</strong>lisamos<br />

o formalismo <strong>da</strong>s on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s e dos pacotes de on<strong>da</strong> <strong>na</strong> oscilação, tanto no vácuo quanto<br />

<strong>na</strong> matéria. Calculamos os comprimentos de coerência e oscilação para discutir a<br />

necessi<strong>da</strong>de ou não <strong>da</strong> utilização de pacotes de on<strong>da</strong> para neutrinos solares, neutrinos de<br />

reatores e de aceleradores, neutrinos de supernovas e neutrinos de altíssima energia.<br />

Discutimos também o mecanismo de formação de supernovas e o papel dos<br />

neutrinos <strong>na</strong> dinâmica de sua evolução. Como t<strong>em</strong>os poucas informações sobre neutrinos<br />

de supernova, ape<strong>na</strong>s 11 eventos detectados por Kamiokande e 8 eventos pelo detector<br />

IMB, confrontamos o formalismo de on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s com o formalismo de pacotes de on<strong>da</strong><br />

para a oscilação de neutrinos dentro de uma supernova de 15 massas solares, com o intuito<br />

de saber a relevância dos pacotes de on<strong>da</strong> e verificar se este formalismo pode fornecer<br />

alguma informação adicio<strong>na</strong>l sobre a oscilação de neutrinos <strong>em</strong> supernovas..<br />

i


ABSTRACT<br />

Generally, we study neutrino oscillation phenomenon using the plane wave<br />

formalism, which successfully treats the solar neutrino case, the reactor and accelerator<br />

cases. However, a more complete description of neutrino oscillation must consider a wave<br />

packet approach. This work a<strong>na</strong>lyses both formalisms: the plane wave and the wave packet<br />

in vacuum and matter. We have calculated the oscillation and coherence length to discuss if<br />

wave packets are or are not necessary for solar neutrinos, reactor and accelerators<br />

neutrinos, supernova neutrinos and ultra-high energy neutrinos.<br />

We also have discussed the formation mechanism of supernova and the role of<br />

neutrinos in its evolution dy<strong>na</strong>mics. As we have little information about supernova<br />

neutrinos, only 11 events detected by Kamiokande and 8 events by IMB detector, we have<br />

confronted the plane wave formalism with the wave packet formalism of neutrino<br />

oscillation inside a supernova with 15 solar masses, because we desire to know the<br />

relevance of the wave packet treatment and verify if this formalism will provide any<br />

additio<strong>na</strong>l information about neutrino oscillation in supernova.<br />

ii


“A única razão para a existência do t<strong>em</strong>po é evitar que<br />

tudo aconteça de uma vez.”<br />

Albert Einstein<br />

iii


Dedicatória<br />

Dedico este trabalho a minha mãe Vera, modelo de pessoa, caráter e de raça, com<br />

qu<strong>em</strong> aprendi o valor <strong>da</strong> família e que s<strong>em</strong>pre foi minha principal incentivadora, nunca me<br />

deixando desistir e s<strong>em</strong>pre apoiando meus estudos e minha carreira profissio<strong>na</strong>l. Obrigado<br />

também pelos valiosos ensi<strong>na</strong>mentos sobre a vi<strong>da</strong>, sobre a moral e a ética e de, como<br />

superar, principalmente, as adversi<strong>da</strong>des nos momento mais difíceis.<br />

iv


Agradecimentos<br />

A CAPES, pelo apoio fi<strong>na</strong>nceiro e científico a este projeto.<br />

Ao professor Marcelo Guzzo, pela orientação e pela oportuni<strong>da</strong>de concedi<strong>da</strong> para o<br />

desenvolvimento deste projeto. Também ao professor Orlando Peres, por ter sido o<br />

professor responsável por me iniciar ao intrigante e estimulante universo dos neutrinos. Ao<br />

professor Ernesto K<strong>em</strong>p, pela colaboração e aju<strong>da</strong> ao meu trabalho.<br />

Ao Betão, eterno amigo, juntos desde a graduação, pelas diverti<strong>da</strong>s horas de almoço e pelo<br />

apoio. Aos colegas <strong>da</strong> graduação: Felipe, Emiliano, Danilo, Bruno e Lua<strong>na</strong>.<br />

Ao meu irmão Fábio pelos importantes conselhos e ensi<strong>na</strong>mentos sobre as alegrias e<br />

frustrações que a ciência pode proporcio<strong>na</strong>r.<br />

A Elaine, minha <strong>na</strong>mora<strong>da</strong>, pelo carinho, apoio constante e companheirismo.<br />

Ao Paulo, Mia e Bestetti pela amizade e pelas horas de di<strong>versão</strong>.<br />

À turma <strong>da</strong> sala 206 do DRCC, <strong>em</strong> especial ao Célio, ao Pedro e ao ex-m<strong>em</strong>bro Diego,<br />

pelas diverti<strong>da</strong>s horas compartilha<strong>da</strong>s e pelas discussões produtivas sobre a física dos<br />

neutrinos.<br />

Ao professor Tadeu, lá de Jundiaí, por ser uma <strong>da</strong>s minhas principais referência desde a<br />

minha infância.<br />

v


Índice<br />

Introdução................................................................................................................... 1<br />

Referências – Introdução............................................... ................................................. 4<br />

Capítulo 1<br />

Neutrinos no Vácuo..................................................................................................... 5<br />

1.1 On<strong>da</strong>s Pla<strong>na</strong>s de Neutrinos no Vácuo ................................................................ 6<br />

1.2 Pacotes de On<strong>da</strong> de Neutrinos no Vácuo............................................................ 8<br />

1.2.1. Tamanho dos pacotes de on<strong>da</strong> ................................................................. 10<br />

1.2.2. O formalismo de pacotes de on<strong>da</strong> no vácuo ............................................. 13<br />

1.3 Quando os neutrinos irão oscilar? .................................................................... 20<br />

1.4 O “Spreading” dos Pacotes de On<strong>da</strong> ................................................................ 24<br />

Referências - Capítulo 1.............................................................................................. 27<br />

Capítulo 2<br />

Neutrinos <strong>na</strong> Matéria................................................................................................ 29<br />

2.1 On<strong>da</strong>s Pla<strong>na</strong>s de Neutrinos <strong>na</strong> Matéria............................................................. 30<br />

2.1.1. Oscilação de Neutrinos <strong>na</strong> Matéria Uniforme.......................................... 30<br />

2.1.2. Neutrinos <strong>na</strong> Matéria não-uniforme......................................................... 32<br />

2.2 Pacotes de On<strong>da</strong> de Neutrinos <strong>na</strong> Matéria........................................................ 37<br />

Referências - Capítulo 2.............................................................................................. 40<br />

Capítulo 3<br />

As supernovas e os neutrinos.................................................................................... 42<br />

3.1 Evolução Pós-Sequência Principal................................................................... 43<br />

3.2 Colapso Gravitacio<strong>na</strong>l ..................................................................................... 47<br />

3.2.1. Neutronização ......................................................................................... 48<br />

3.2.2. Foto-dissociação ..................................................................................... 48<br />

3.2.3. Aniquilação dePares................................................................................ 49<br />

3.3 Dinâmica do Colapso ...................................................................................... 49<br />

3.4 Explosão ......................................................................................................... 50<br />

3.4.1. Aprisio<strong>na</strong>mento de neutrinos ................................................................... 50<br />

3.4.2. Transição de fase <strong>da</strong> matéria nuclear ...................................................... 51<br />

3.4.3. Explosão Imediata ................................................................................... 52<br />

3.4.4. Explosão Atrasa<strong>da</strong>................................................................................... 53<br />

3.5 Neutrinos de colapsos estelares........................................................................ 55<br />

3.6 SN1987A ........................................................................................................ 57<br />

Referências - Capítulo 3.............................................................................................. 61<br />

vi


Capítulo 4<br />

On<strong>da</strong>s Pla<strong>na</strong>s versus Pacotes de On<strong>da</strong>..................................................................... 63<br />

4.1 A densi<strong>da</strong>de eletrônica <strong>da</strong> supernova ............................................................... 63<br />

4.2 A análise <strong>da</strong> adiabatici<strong>da</strong>de <strong>na</strong> supernova ........................................................ 65<br />

4.3 Probabili<strong>da</strong>des................................................................................................. 67<br />

Referências - Capítulo 4.............................................................................................. 75<br />

Conclusões................................................................................................................. 76<br />

Apêndice-A................................................................................................................ 78<br />

Apêndice-B................................................................................................................ 81<br />

Apêndice-C................................................................................................................ 87<br />

Apêndice-D.............................................................................................................. 106<br />

vii


Lista de Tabelas<br />

Tabela 1.1: Tamanho dos Pacotes de On<strong>da</strong>......................................................................... .13<br />

Tabela 1.2: Tamanho dos Pacotes de On<strong>da</strong> no espaço dos momentos.................................19<br />

Tabela 1.3: Diferenças de Energia entre os autoestados de massa........................................20<br />

Tabela 1.4: Comprimento de coerência e oscilação para neutrinos solares,<br />

Reatores e aceleradores.........................................................................................................21<br />

Tabela 1.5: Comprimento de oscilação e coerência para neutrinos de altíssima energia.....22<br />

Tabela 1.6: Comprimento de coerência e oscilação para neutrinos de supernova................23<br />

Tabela 3.1: Energia e T<strong>em</strong>peratura para os neutrinos <strong>em</strong> Kamiokande-II e IMB................59<br />

Tabela 4.1: Valores <strong>da</strong>s densi<strong>da</strong>des eletrônicas para ressonância e<br />

parâmetros de oscilação........................................................................................................66<br />

viii


Lista de Figuras<br />

Figura 1.1: Comprimento de coerência e de oscilação <strong>em</strong> função <strong>da</strong> energia......................23<br />

Figura 1.2: Probabili<strong>da</strong>de de con<strong>versão</strong> no vácuo para neutrino de supernova....................24<br />

Figura 1.3: Desacoplamento e Alargamento dos Pacotes de On<strong>da</strong>......................................26<br />

Figura 1.4: O fenômeno de Desacoplamento conjunto ao Alargamento..............................26<br />

Figura 3.1: Combustão dos El<strong>em</strong>entos numa estrela de 25M.............................................45<br />

Figura 3.2: Energia de Ligação por nucleon.........................................................................45<br />

Figura 3.3: Perfil de densi<strong>da</strong>de de matéria e composição química de uma estrela de<br />

15 M....................................................................................................................................47<br />

Figura 3.4: Veloci<strong>da</strong>de de que<strong>da</strong> <strong>da</strong> matéria e veloci<strong>da</strong>de do som <strong>em</strong> função do raio.........50<br />

Figura 3.5: Luminosi<strong>da</strong>de dos neutrinos...............................................................................57<br />

Figura 3.6: Seqüência t<strong>em</strong>poral e energia dos eventos de SN1987A <strong>em</strong><br />

Kamiokande-II e IMB...........................................................................................................58<br />

Figura 4.1: Densi<strong>da</strong>de eletrônica <strong>em</strong> função do raio <strong>da</strong> supernova......................................64<br />

Figura 4.2: Probabili<strong>da</strong>de de sobrevivência (caso solar, neutrinos com 5 MeV)..................67<br />

Figura 4.3: Comprimento de Coerência e Oscilação<br />

(caso solar, neutrinos com 5 MeV).......................................................................................68<br />

Figura 4.4: Probabili<strong>da</strong>de de sobrevivência (caso solar, neutrinos com 40 MeV)................69<br />

Figura 4.5: Comprimento de Coerência e Oscilação<br />

(caso solar, neutrinos com 40 MeV).....................................................................................69<br />

Figura 4.6: Probabili<strong>da</strong>de de sobrevivência (caso atmosférico, neutrinos com 5 MeV)......70<br />

Figura 4.7: Comprimento de Coerência e Oscilação (caso atmosférico,<br />

neutrinos com 5 MeV)...........................................................................................................70<br />

ix


Figura 4.8: Probabili<strong>da</strong>de de sobrevivência (caso atmosférico,<br />

neutrinos com 40 MeV).........................................................................................................71<br />

Figura 4.9: Comprimento de Coerência e Oscilação (caso atmosférico,<br />

neutrinos com 40 MeV).........................................................................................................71<br />

Figura 4.10: Probabili<strong>da</strong>de de sobrevivência (caso LSND, neutrinos com 5 MeV).............72<br />

Figura 4.11: Comprimento de Coerência e Oscilação (caso LSND,<br />

neutrinos com 5 MeV)...........................................................................................................72<br />

Figura 4.12: Probabili<strong>da</strong>de de sobrevivência (caso LSND, neutrinos com 40 MeV)...........73<br />

Figura 4.13: Comprimento de Coerência e Oscilação (caso LSND,<br />

neutrinos com 40 MeV)........................................................................................................73<br />

Figura C.1: Emissivi<strong>da</strong>de do neutrino <strong>em</strong> função <strong>da</strong> t<strong>em</strong>peratura........................................89<br />

Figura C.2: Livre caminho médio dos neutrinos eletrônicos <strong>em</strong> função<br />

<strong>da</strong> t<strong>em</strong>peratura.......................................................................................................................93<br />

Figura C.3: Livre caminho médio dos neutrinos muônicos e taônicos<br />

<strong>em</strong> função <strong>da</strong> t<strong>em</strong>peratura.....................................................................................................94<br />

Figura C.4: Gráfico de espaço de parâmetros.......................................................................95<br />

Figura C.5: Potencial efetivo <strong>em</strong> função <strong>da</strong> t<strong>em</strong>peratura (neutrinos)...................................98<br />

Figura C.6: Potencial efetivo <strong>em</strong> função <strong>da</strong> t<strong>em</strong>peratura (anti-neutrinos)............................98<br />

Figura C.7: Probabili<strong>da</strong>de de Oscilação - neutrinos (parâmetros solares)............................99<br />

Figura C.8: Regiões de ressonância para neutrinos (parâmetros solares)...........................100<br />

Figura C.9: Probabili<strong>da</strong>de de Oscilação - antineutrinos (parâmetros solares)....................101<br />

Figura C.10: Regiões de Ressonância para antineutrinos (parâmetros solares)..................101<br />

Figura C.11: Probabili<strong>da</strong>de de Oscilação (parâmetros LSND)...........................................102<br />

Figura C.12: Probabili<strong>da</strong>de de Oscilação (parâmetros LSND)...........................................102<br />

Figura C.13: Probabili<strong>da</strong>de de Oscilação (parâmetros LSND)...........................................103<br />

Figura C.14: Probabili<strong>da</strong>de de Oscilação (parâmetros LSND)...........................................103<br />

Figura C.15: Probabili<strong>da</strong>de de Oscilação (parâmetros LSND)...........................................104<br />

x


INTRODUÇÃO<br />

Nossa compreensão sobre os neutrinos mudou muito nos últimos anos. Graças<br />

aos esforços de muitos estudos sobre oscilação de neutrinos solares, de neutrinos<br />

atmosféricos e também de reatores, aprend<strong>em</strong>os que um neutrino produzido como um<br />

determi<strong>na</strong>do autoestado de sabor pode ser detectado, depois de propagar uma distância<br />

finita, como um diferente autoestado de sabor. A interpretação mais simples é que, como<br />

todos os férmions carregados, os neutrinos possu<strong>em</strong> massa e que, a<strong>na</strong>logamente aos quarks,<br />

os autoestados de sabor (autoestados fracos) são diferentes dos autoestados de massa, isto é,<br />

neutrinos se misturam [1].<br />

Saber as proprie<strong>da</strong>des dos neutrinos de maneira profun<strong>da</strong> pode esclarecer uma<br />

nova física além do conhecido Modelo Padrão. Poderíamos pensar que, além <strong>da</strong>s três<br />

espécies de neutrinos ( ν e<br />

, ν µ , ν<br />

τ<br />

), existiriam mais outros tipos de neutrinos. Se os<br />

experimento de MiniBooNE confirmar os <strong>da</strong>dos de LSND, uma nova família de neutrinos<br />

será necessária (neutrinos estéreis). Novas forças, além <strong>da</strong>quelas conheci<strong>da</strong>s no Modelo<br />

Padrão, sejam talvez necessárias. Mistérios <strong>da</strong> cosmologia e <strong>da</strong> astrofísica, como a orig<strong>em</strong><br />

<strong>da</strong> matéria, a orig<strong>em</strong> de el<strong>em</strong>entos pesados e talvez a <strong>na</strong>tureza <strong>da</strong> energia escura, poderiam<br />

ser desven<strong>da</strong>dos com a aju<strong>da</strong> dos neutrinos. Muitas proprie<strong>da</strong>des que estão sendo hoje <strong>em</strong><br />

dia investiga<strong>da</strong>s - como o momento magnético diferente de zero dos neutrinos; neutrinos<br />

mais pesados poder<strong>em</strong> decair <strong>em</strong> neutrinos mais leves; e o neutrino pode ser uma partícula<br />

de Dirac ou Majora<strong>na</strong> – constitu<strong>em</strong> um amplo campo de pesquisa científica <strong>da</strong> física de<br />

partículas el<strong>em</strong>entares.<br />

Talvez Pauli, nos dias de hoje, ficaria feliz <strong>em</strong> saber que sua proposição <strong>da</strong><br />

existência de uma “partícula fantasma” para salvar a conservação de energia seria alvo de<br />

tanta especulação e estudo e que possui um potencial enorme, apesar de sua difícil<br />

detecção, de desven<strong>da</strong>r grandes questio<strong>na</strong>mentos que t<strong>em</strong>os sobre o universo.<br />

1


Este trabalho, no entanto, não cui<strong>da</strong> de tais questio<strong>na</strong>mentos, mas sim se<br />

preocupa <strong>em</strong> a<strong>na</strong>lisar dois tipos de formalismo, o de on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s e o de pacotes de on<strong>da</strong>s,<br />

<strong>da</strong> propagação de neutrinos, implicando <strong>em</strong> possíveis distinções fenomenológicas entre os<br />

dois, <strong>em</strong> especial numa possível diferença entre as respectivas probabili<strong>da</strong>des de oscilação.<br />

Sab<strong>em</strong>os que as on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s <strong>na</strong> mecânica quântica não descrev<strong>em</strong><br />

<strong>completa</strong>mente um sist<strong>em</strong>a físico. A probabili<strong>da</strong>de de encontrarmos uma partícula descrita<br />

através de uma on<strong>da</strong> pla<strong>na</strong> é infinita, algo que passa a ter um sentido um tanto quanto<br />

abstrato. Um tratamento mais completo e mais correto se dá quando associamos a uma<br />

partícula um pacote de on<strong>da</strong>. O mesmo dev<strong>em</strong>os fazer ao neutrino, que agora passará a ser<br />

formado por uma superposição de pacotes de on<strong>da</strong>. Nos perguntamos: será que o<br />

formalismo mais completo e amplo dos pacotes de on<strong>da</strong> trará alterações <strong>na</strong> física <strong>da</strong>s<br />

oscilações dos neutrinos? Buscar<strong>em</strong>os esta resposta constant<strong>em</strong>ente neste trabalho.<br />

No Capítulo 1, vamos discutir os neutrinos se propagando no vácuo.<br />

Resumimos o formalismo de oscilação de neutrinos <strong>em</strong> on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s e desenvolv<strong>em</strong>os de<br />

maneira mais abrangente o formalismo de oscilação dos neutrinos <strong>em</strong> pacotes de on<strong>da</strong>,<br />

discutindo ca<strong>da</strong> termo presente <strong>na</strong> expressão de probabili<strong>da</strong>de de oscilação. Comparamos o<br />

comprimento de coerência e o comprimento de oscilação para as mais diversas situações<br />

(solar, reatores, aceleradores, supernovas e neutrinos de altíssima energia) para verificar a<br />

presença ou não <strong>da</strong> oscilação. Chamar<strong>em</strong>os atenção para o caso <strong>da</strong> supernova, visto que<br />

exist<strong>em</strong> poucos <strong>da</strong>dos - ape<strong>na</strong>s 19 eventos - destes neutrinos detectados e quer<strong>em</strong>os<br />

verificar se nosso formalismo pode contribuir para uma melhor compreensão sobre a<br />

oscilação de neutrinos oriundos destas fontes astrofísicas. Descrev<strong>em</strong>os também o<br />

fenômeno de alargamento (“spreading”) dos pacotes de on<strong>da</strong>, que pode manter a coerência<br />

entre os autoestados de massa.<br />

No Capítulo 2 propagar<strong>em</strong>os o neutrino <strong>na</strong> matéria, tanto <strong>na</strong> sua forma <strong>em</strong><br />

on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s como <strong>em</strong> pacotes de on<strong>da</strong>. A<strong>na</strong>lisar<strong>em</strong>os as condições exigi<strong>da</strong>s para a<br />

propagação ser adiabática. Estu<strong>da</strong>r<strong>em</strong>os o caso não-adiabático também. Tais regimes de<br />

propagação independ<strong>em</strong> do formalismo que usamos, mas <strong>da</strong>r<strong>em</strong>os ênfase <strong>em</strong> suas deduções<br />

a partir <strong>da</strong>s on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s. Apresentar<strong>em</strong>os a propagação adiabática para os pacotes de on<strong>da</strong>,<br />

mostrando as mu<strong>da</strong>nças ocorri<strong>da</strong>s nos comprimento de oscilação e comprimentos de<br />

coerência.<br />

No Capítulo 3 discutir<strong>em</strong>os a fenomenologia de colapsos gravitacio<strong>na</strong>is e<br />

supernovas, destacando os dois principais modelos de explosão de supernovas.<br />

Realçar<strong>em</strong>os com a participação dos neutrinos, encerrando a descrição com a observação e<br />

a descrição sucinta de SN1987A.<br />

No Capítulo 4 confrontar<strong>em</strong>os o formalismo de pacotes de on<strong>da</strong> com o<br />

formalismo de on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s para a oscilação de neutrinos <strong>em</strong> uma supernova de 15 massas<br />

solares, já que as supernovas são os únicos meios duvidosos para os quais não se sabe ao<br />

certo se a oscilação de neutrinos ocorrerá. Usar<strong>em</strong>os os parâmetros conhecidos de oscilação<br />

solar, atmosférico e de LSND para nossa análise.<br />

Por fim, apresentar<strong>em</strong>os as conclusões gerais deste trabalho.<br />

Anexados ao fi<strong>na</strong>l, encontram-se quatro apêndices. O Apêndice A compl<strong>em</strong>enta<br />

a dedução <strong>da</strong> expressão de probabili<strong>da</strong>de de oscilação <strong>em</strong> pacotes de on<strong>da</strong> apresenta<strong>da</strong> no<br />

Capítulo 1. O Apêndice B traz as correções dos pacotes de on<strong>da</strong> à expressão de<br />

2


probabili<strong>da</strong>de “level crossing” quando t<strong>em</strong>os propagações não-adiabáticas. O Apêndice C,<br />

que trata <strong>da</strong> influência <strong>da</strong> oscilação de neutrinos <strong>na</strong> evolução de um “fireball” de um<br />

“gamma-ray burst” (GRB), descreve o trabalho paralelo realizado a esta <strong>dissertação</strong>,<br />

apresentado no Exame de Qualificação de Mestrado (EQM). O Apêndice D traz o artigo a<br />

ser publicado no Brazilian Jour<strong>na</strong>l of Physics - Proceedings of the I LAWHEP (Latin<br />

American Workshop in High Energy Physics), ocorrido <strong>em</strong> Porto Alegre, com minha<br />

participação no trabalho de Alex Ber<strong>na</strong>rdini e do Prof. Dr. Marcelo M. Guzzo. O artigo<br />

trata de correções de segun<strong>da</strong> ord<strong>em</strong> <strong>na</strong> probabili<strong>da</strong>de de oscilação usando pacotes de on<strong>da</strong>.<br />

3


Referências - Introdução<br />

1. B. Pontecorvo, Zh. Eksp. Teor. Fiz. 33 (1957) 549 e 34 (1958) 247; Z. Maki, N.<br />

Nakagawa e S. Sakata, Prog. Theor. Phys. 28 (1962) 870; B. Pontecorvo, Zh. Eksp.<br />

Teor. Fiz. 53 (1967) 1717.<br />

4


CAPÍTULO 1<br />

Neutrinos no Vácuo<br />

A oscilação de neutrinos foi proposta por Bruno Pontecorvo no fi<strong>na</strong>l dos anos 50<br />

[1,2]. Sab<strong>em</strong>os que o fenômeno de oscilação ocorre devido à interferência de diferentes<br />

neutrinos massivos, com uma diferença de massa muito peque<strong>na</strong> entre eles, e são<br />

produzidos e detectados de forma coerente. Nos últimos anos experimentos parec<strong>em</strong><br />

confirmar que o fenômeno de oscilação é a melhor explicação para o chamado probl<strong>em</strong>a do<br />

neutrino solar [3], percebido pelo experimento de Homestake <strong>em</strong> 1968, e também para o<br />

probl<strong>em</strong>a do neutrino atmosférico [4].<br />

Em 1962, Maki, Nakagawa e Sakata [5] consideraram um primeiro modelo de<br />

mistura para diferentes sabores de neutrinos. Em 1967, Pontecorvo propôs a possibili<strong>da</strong>de<br />

de que os neutrinos solares oscilass<strong>em</strong> [6]. Em 1969, Pontecorvo e Gribov buscaram <strong>na</strong><br />

oscilação ν e<br />

→ν µ a possível explicação para o probl<strong>em</strong>a do neutrino solar [7].<br />

Na metade dos anos 70, Eliezer e Swift [8], Fritzsch e Minkowski [9], Bilenky e<br />

Pontecorvo [10] e uma ótima revisão por Bilenky e Pontecorvo [11] trataram <strong>da</strong> teoria de<br />

oscilação de neutrinos usando a aproximação por on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s.<br />

Em 1976, Nussinov [12] pela primeira vez considerou a propagação de neutrinos<br />

usando pacotes de on<strong>da</strong>. Ele também inferiu a existência de um comprimento de coerência,<br />

acima do qual a interferência de diferentes neutrinos massivos não é observa<strong>da</strong>. Isto ocorre<br />

devido à diferença de veloci<strong>da</strong>des de grupo dos diferentes neutrinos massivos, ocasio<strong>na</strong>ndo,<br />

por conseqüência, a separação de seus respectivos pacotes de on<strong>da</strong>.<br />

Em 1981, Kayser [13] apresentou as primeira discussões detalha<strong>da</strong>s dos probl<strong>em</strong>as<br />

mecânico quânticos <strong>da</strong> oscilação de neutrinos, destacando a necessi<strong>da</strong>de do tratamento por<br />

pacotes de on<strong>da</strong>.<br />

Modelos de oscilação de neutrinos <strong>em</strong> pacotes de on<strong>da</strong> foram desenvolvidos usando<br />

o formalismo <strong>da</strong> mecânica quântica [14, 15, 16, 17, 18, 19, 20] e também <strong>da</strong> teoria quântica<br />

de campos [21, 22, 23, 24, 25, 26], sendo revisados pelas referências [27], [28] e [29].<br />

5


1.1) On<strong>da</strong>s Pla<strong>na</strong>s de Neutrinos no Vácuo [30]<br />

O neutrino do elétron, ν e<br />

, é o estado produzido <strong>em</strong> um decaimento beta, sendo que<br />

um pósitron também é produzido. O neutrino muônico, ν µ , é o estado produzido <strong>em</strong> um<br />

decaimento de um píon π + , acompanhado por um µ + . Chamamos os neutrinos<br />

eletrônicos ( ν e<br />

), os neutrinos muônicos ( ν µ ), assim como os neutrinos tauônicos ( ν τ<br />

), de<br />

“estados de sabores” de neutrinos. Mas será que estes estados de sabores são partículas<br />

físicas ou pod<strong>em</strong> ser formados por uma superposição de diferentes partículas físicas, por<br />

ex<strong>em</strong>plo ν<br />

1<br />

e ν<br />

2<br />

?<br />

Vamos então, partindo <strong>da</strong> hipótese, por ex<strong>em</strong>plo, que ν e<br />

e ν µ são formados pela<br />

superposição <strong>da</strong>s partículas físicas ν 1<br />

e ν 2<br />

, a<strong>na</strong>lisar as conseqüências físicas deste fato.<br />

Introduzimos a seguinte notação<br />

(<br />

ν<br />

f )<br />

⎛ν<br />

e ⎞ ⎛ν<br />

( ) 1<br />

= ⎜ ⎟<br />

,<br />

⎝ν ⎟ ⎞<br />

ν p =<br />

⎜ e (1.1)<br />

µ ⎠ ⎝ν<br />

2 ⎠<br />

( f )<br />

vamos considerar que o estado de sabor ν é diferente do estado ν<br />

seguinte maneira:<br />

( p)<br />

, relacio<strong>na</strong>ndo-os <strong>da</strong><br />

( f ) ( p)<br />

ν = Uν . (1.2)<br />

( f ) ( p)<br />

U é chamado de matriz de mistura. Por convenção, os estados <strong>em</strong> ν e ν são<br />

ortonormais e, portanto, U deve ser unitária. Nossa matriz de mistura é 2x2, pois estamos<br />

usando somente duas famílias de neutrinos. Se incluíss<strong>em</strong>os o neutrino tauônico ( ν τ<br />

) <strong>em</strong><br />

( f )<br />

ν , deveríamos adicio<strong>na</strong>r 3<br />

( p)<br />

ν <strong>em</strong> ν , sendo que U seria uma matriz agora 3x3. Vamos<br />

nos restringir aqui a ape<strong>na</strong>s duas famílias por questão de simplici<strong>da</strong>de e por acharmos<br />

suficiente para a compreensão do fenômeno por enquanto.<br />

( p)<br />

A equação de evolução t<strong>em</strong>poral escrita <strong>na</strong> base ν é:<br />

<strong>em</strong> que H é o Hamiltoniano, diago<strong>na</strong>l <strong>na</strong> base escolhi<strong>da</strong>:<br />

d ( p)<br />

( p)<br />

i ν ( t)<br />

= Hν<br />

( t)<br />

, (1.3)<br />

dt<br />

⎛ E1<br />

0 ⎞<br />

H =<br />

⎜<br />

⎟ , (1.4)<br />

⎝ 0 E2<br />

⎠<br />

com E 1 e E 2 sendo a energia dos respectivos autoestados de massa. Sab<strong>em</strong>os que<br />

m<br />

α<br />


E<br />

2<br />

r 2 2 r mα<br />

≡ p + mα<br />

≅ p r . (1.5)<br />

2 p<br />

α<br />

+<br />

O Hamiltoniano, usando (1.5) e considerando que pod<strong>em</strong>os usar a distância x ao<br />

invés do t<strong>em</strong>po t, pode ser escrito agora <strong>da</strong> seguinte maneira:<br />

H<br />

2<br />

2 2<br />

r 1 ⎛m1<br />

0 ⎞ ⎛ r m m ⎞<br />

1 2<br />

p r<br />

⎜<br />

+ ∆<br />

= + ⎜ ⎟ p<br />

σ<br />

2<br />

r ⎟ − r 3<br />

2 p<br />

0 m<br />

=<br />

+<br />

4 p<br />

, (1.6)<br />

⎝<br />

4 p<br />

2 ⎠ ⎝<br />

⎠<br />

2<br />

sendo que σ<br />

3<br />

é a matriz diago<strong>na</strong>l de Pauli e que ∆ ≡ m −<br />

equação de evolução <strong>na</strong> base de sabores. L<strong>em</strong>brando que<br />

ter<strong>em</strong>os, <strong>na</strong> base dos sabores,<br />

i<br />

d<br />

dx<br />

2<br />

2<br />

m1<br />

. Vamos agora escrever a<br />

( p ) † ( f )<br />

ν = U ν , (1.7)<br />

† ( f )<br />

† ( f )<br />

( U ) HU ν<br />

que, com algumas manipulações, pode ser reescrita como<br />

Para dois neutrinos de Dirac<br />

d<br />

i<br />

dx<br />

O Hamiltoniano <strong>na</strong> base dos sabores será <strong>da</strong>do por<br />

ν = , (1.8)<br />

( f )<br />

† ( f )<br />

ν = UHU ν . (1.9)<br />

⎛ cosθ<br />

senθ<br />

⎞<br />

U =<br />

⎜<br />

⎟ . (1.10)<br />

⎝−<br />

senθ<br />

cosθ<br />

⎠<br />

H ′ = UHU<br />

†<br />

=<br />

r<br />

p<br />

2<br />

m1<br />

+<br />

+ r<br />

m<br />

4 p<br />

2<br />

2<br />

∆<br />

+ r<br />

4 p<br />

⎛− cos 2θ<br />

⎜<br />

⎝ sen2θ<br />

sen2θ<br />

⎞<br />

⎟ . (1.11)<br />

cos 2θ<br />

⎠<br />

A partir disto, deduzimos a relação entre o ângulo diago<strong>na</strong>lizado θ e os el<strong>em</strong>entos<br />

<strong>da</strong> matriz H’:<br />

tg2<br />

2H<br />

′<br />

12<br />

θ = . (1.12)<br />

H ′<br />

22<br />

− H ′<br />

11<br />

A solução <strong>da</strong> equação de movimento <strong>na</strong> base de sabores será<br />

7


ν<br />

( )<br />

( x)<br />

= exp( −iHx)<br />

ν (0). (1.13)<br />

( f )<br />

f<br />

r<br />

Fazendo a aproximação de que p = E e notando que no Hamiltoniano H’ t<strong>em</strong>os<br />

um termo proporcio<strong>na</strong>l à matriz de mistura unitária, o que dá uma fase global à solução e<br />

que também não mu<strong>da</strong> o ângulo de mistura, escrev<strong>em</strong>os o Hamiltoniano como:<br />

Portanto,<br />

( f ) ⎡ ∆<br />

ν ( x)<br />

= exp⎢−<br />

i x<br />

⎣ 4E<br />

⎡ ∆<br />

= ⎢cos<br />

x − i<br />

1<br />

⎣ 4E<br />

∆<br />

H ′ = ( σ<br />

1sen2θ<br />

− σ<br />

3<br />

cos 2θ<br />

). (1.14)<br />

4E<br />

⎤ (<br />

⎥ν<br />

⎦<br />

∆ ⎤<br />

4E<br />

⎥<br />

⎦<br />

( σ sen2θ<br />

− σ cos 2θ<br />

)<br />

1<br />

( f )<br />

( σ sen2θ<br />

− σ cos 2θ<br />

) sen x ν (0)<br />

3<br />

3<br />

f )<br />

(0) =<br />

. (1.15)<br />

Considerando um feixe inicial ν e<br />

, as probabili<strong>da</strong>des de transição e sobrevivência<br />

serão <strong>da</strong><strong>da</strong>s, respectivamente, por:<br />

2<br />

2 2 ⎛ ∆ ⎞<br />

P ν ( x)<br />

=<br />

e<br />

( x)<br />

= sen 2 sen ⎜ x⎟<br />

e ν µ<br />

ν µ ν<br />

θ<br />

e (1.16)<br />

⎝ 4E<br />

⎠<br />

P<br />

ν ν<br />

( x)<br />

= 1−<br />

P ( x)<br />

. (1.17)<br />

ν ν<br />

e e<br />

e µ<br />

1.2) Pacotes de On<strong>da</strong> de Neutrinos no Vácuo<br />

Em geral tratamos a oscilação de neutrinos <strong>da</strong> seguinte maneira [27]:<br />

• Neutrino é uma partícula extr<strong>em</strong>amente relativística, isto é, seu momento é muito<br />

maior que sua massa.<br />

• Um <strong>da</strong>do sabor de neutrino possui um momento b<strong>em</strong> definido que será comum para<br />

todos os autoestados de massa.<br />

• Diferentes autoestados de massa possu<strong>em</strong> diferentes energias b<strong>em</strong> defini<strong>da</strong>s e <strong>da</strong><strong>da</strong>s<br />

pelas relações de dispersão de energia-momento.<br />

• A on<strong>da</strong> do neutrino é forma<strong>da</strong> por uma superposição de on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s, ca<strong>da</strong> uma<br />

correspondendo a um certo autoestado de massa.<br />

O formalismo de on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s, tanto no vácuo quanto <strong>na</strong> matéria, é b<strong>em</strong> atrativo por sua<br />

simplici<strong>da</strong>de, mas não dá a <strong>completa</strong> base de compreensão <strong>da</strong> oscilação de neutrinos.<br />

Sendo não completo o tratamento por on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s, poderíamos nos in<strong>da</strong>gar o que está<br />

8


faltando? Nossa resposta seria com duas perguntas: e se os neutrinos não for<strong>em</strong><br />

relativísticos? E quanto à coerência entre os autoestados de massa? A resposta para a<br />

primeira <strong>da</strong>s duas perguntas não será respondi<strong>da</strong> por esta <strong>dissertação</strong>, uma vez que existe<br />

a necessi<strong>da</strong>de de fazermos um tratamento por teoria quântica de campos. Neutrinos nãorelativísticos<br />

pod<strong>em</strong> ser produzidos <strong>em</strong> experimentos de oscilação se a massa de ν µ ou<br />

ν<br />

τ<br />

se tor<strong>na</strong>r maior que os limites superiores do experimento permitir.<br />

Mas vamos, de forma mais efetiva, nos preocupar com a segun<strong>da</strong> pergunta sobre a<br />

coerência dos autoestados de massa e discutir o conceito do comprimento de coerência e<br />

sua importância para o fenômeno de oscilação dos neutrinos. Esta análise depende<br />

somente de características cin<strong>em</strong>áticas <strong>da</strong> propagação dos pacotes de on<strong>da</strong>, sendo<br />

satisfatoriamente satisfeita por neutrinos relativísticos usando a usual e tradicio<strong>na</strong>l<br />

mecânica quântica.<br />

Para uma análise <strong>completa</strong> <strong>da</strong> oscilação de neutrinos precisamos:<br />

• A fonte de neutrino e o detector precisam ser localizados separa<strong>da</strong>mente dentro de<br />

uma região muito maior que o comprimento de oscilação. O espalhamento do<br />

momento do neutrino é <strong>da</strong>do pelo princípio <strong>da</strong> incerteza [13].<br />

• A conservação de energia-momento no processo de produção do neutrino implica<br />

que diferentes componentes do autoestado de massa possu<strong>em</strong> momentos diferentes,<br />

assim como energias diferentes.<br />

• O autoestado de massa deve ser produzido e detectado coerent<strong>em</strong>ente. Só é possível<br />

isto ocorrer se as partículas associa<strong>da</strong>s aos processos de produção e detecção<br />

possu<strong>em</strong> espalhamentos energia-momento maiores que as diferenças de energiamomento<br />

dos autoestados de massa.<br />

• A on<strong>da</strong> de propagação do neutrino deverá ser uma superposição de on<strong>da</strong>s de<br />

autoestados de massa com coeficientes próprios <strong>da</strong>do pela amplitude dos processos<br />

nos quais os autoestados de massa dos neutrinos são produzidos.<br />

A localização <strong>da</strong> fonte de neutrinos e o espalhamento do momento do neutrino – as<br />

primeiras duas condições acima cita<strong>da</strong>s – implicam que a propagação do neutrino deve ser<br />

descrita não por uma superposição de on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s, mas sim por uma superposição de<br />

pacotes de on<strong>da</strong> localizados.<br />

Tratar<strong>em</strong>os, portanto, o neutrino como uma superposição de pacotes de on<strong>da</strong>, ca<strong>da</strong><br />

qual representando um autoestado de massa e satisfazendo as suposições feitas acima, mas<br />

s<strong>em</strong> calcular as amplitudes dos processos de interação pelos quais os neutrinos são<br />

produzidos e detectados. Assumir<strong>em</strong>os que tais pacotes de on<strong>da</strong> terão forma gaussia<strong>na</strong> com<br />

tamanho σ x e os coeficientes de superposição são <strong>da</strong>dos pelos el<strong>em</strong>entos <strong>da</strong> matriz de<br />

mistura U que conectam a base de sabor fraca com a base dos autoestados de massa.<br />

Para neutrinos relativísticos, as amplitudes dos processos de produção e de detecção<br />

pod<strong>em</strong> ser aproxima<strong>da</strong>s pela menor ord<strong>em</strong> <strong>da</strong>s amplitudes dos neutrinos s<strong>em</strong> massa. Como<br />

de costume, a seção de choque observa<strong>da</strong> pode ser fatora<strong>da</strong> como um produto <strong>da</strong><br />

probabili<strong>da</strong>de de oscilação pela seção de choque calcula<strong>da</strong> a partir de neutrinos s<strong>em</strong> massa.<br />

A probabili<strong>da</strong>de de oscilação depende dos el<strong>em</strong>entos <strong>da</strong> matriz de mistura e <strong>da</strong> interferência<br />

9


quanto-mecânica espaço-t<strong>em</strong>poral entre os autoestados de massa como conseqüência <strong>da</strong><br />

propagação do neutrino.<br />

Como mostrar<strong>em</strong>os mais adiante, uma <strong>da</strong>s conseqüências do tratamento de pacotes<br />

de on<strong>da</strong> é a existência de um comprimento de coerência para a oscilação de neutrinos.<br />

Autoestados de massa de pacotes de on<strong>da</strong> propagam com diferentes veloci<strong>da</strong>des,<br />

sobrepõ<strong>em</strong>-se e interfer<strong>em</strong> somente por uma distância finita. Deduzimos o comprimento de<br />

coerência fazendo a média sobre o t<strong>em</strong>po <strong>na</strong> probabili<strong>da</strong>de de oscilação. Isto é consistente,<br />

já que nos experimentos o que se sabe é a distância entre produção e detecção, enquanto<br />

que o t<strong>em</strong>po é uma quanti<strong>da</strong>de desconheci<strong>da</strong>.<br />

Quando falamos <strong>em</strong> pacotes de on<strong>da</strong> se propagando no espaço-t<strong>em</strong>po, dev<strong>em</strong>os nos<br />

perguntar o tamanho destes pacotes, assunto a ser discutido agora.<br />

1.2.1) Tamanho dos pacotes de on<strong>da</strong> [27]<br />

O tamanho de um pacote de on<strong>da</strong>, σ<br />

x<br />

, é determi<strong>na</strong>do pela região onde ocorre o<br />

processo de produção do neutrino. No caso de um plasma, o tamanho de um pacote de on<strong>da</strong><br />

é determi<strong>na</strong>do pelo processo chamado de “pressure broadening” e é <strong>da</strong>do por:<br />

2<br />

T<br />

σ<br />

x<br />

≅ , (1.18)<br />

N<br />

<strong>em</strong> que T e N são, respectivamente, a t<strong>em</strong>peratura e a densi<strong>da</strong>de do plasma. (1.18) é válido<br />

para um plasma com partículas que são relativísticas.<br />

Vamos tomar como ex<strong>em</strong>plo o centro solar. Nele a <strong>em</strong>issão coerente, por ex<strong>em</strong>plo<br />

de ν<br />

e<br />

, é constant<strong>em</strong>ente interrompi<strong>da</strong> pela interação eletromagnética entre as partículas que<br />

produz<strong>em</strong> ν<br />

e<br />

e as partículas <strong>da</strong> vizinhança, que possu<strong>em</strong> um t<strong>em</strong>po de escala muito menor<br />

que o t<strong>em</strong>po de escala de interação fraca. Neste caso, σ<br />

x<br />

é <strong>da</strong>do por<br />

σ ≅ l<br />

x<br />

v<br />

, (1.19)<br />

<strong>em</strong> que l é o livre caminho médio <strong>da</strong> partícula que produz ν e<br />

e v é sua veloci<strong>da</strong>de média<br />

térmica.<br />

Por definição, l é <strong>da</strong>do por<br />

1<br />

≅ , (1.20)<br />

πb<br />

N<br />

l<br />

2<br />

sendo N a densi<strong>da</strong>de de partículas do meio e b o parâmetro de impacto, que no campo<br />

Coulombiano, é <strong>da</strong>do por<br />

2<br />

3 Z1Z<br />

2e<br />

T ≅ , (1.21)<br />

2 b<br />

10


com Z 1 e Z 2 sendo as cargas <strong>em</strong> uni<strong>da</strong>des de e <strong>da</strong>s partículas que estão interagindo.<br />

2<br />

10 −1<br />

Relacio<strong>na</strong>ndo (1.20) e (1.21) e sabendo que e 4π<br />

= 1 137 e 1MeV = 5,06×<br />

10 cm ,<br />

t<strong>em</strong>os que<br />

2<br />

23 T<br />

≅ 2 ,18×<br />

10 cm . (1.22)<br />

2<br />

Z Z N<br />

l 2<br />

1 2<br />

L<strong>em</strong>brando que T e N são <strong>da</strong>dos <strong>em</strong> MeV e cm -3 , respectivamente. Para uma fonte de<br />

partículas não-relativística com massa m a relação<br />

permite que escrevamos<br />

Para uma fonte de partículas relativística, a relação<br />

1 3<br />

mv<br />

2 = T<br />

(1.23)<br />

2 2<br />

3T<br />

v = . (1.24)<br />

m<br />

3<br />

E = T + 2<br />

m<br />

(1.25)<br />

permite que escrevamos<br />

3T<br />

(3T<br />

+ 4m)<br />

v = . (1.26)<br />

2<br />

(3T<br />

+ 2m)<br />

Para os nossos casos de interesse, vamos usar fontes de partículas onde a relação<br />

(1.24) é váli<strong>da</strong>. Obt<strong>em</strong>os portanto<br />

Escrevendo (1.27) usando (1.22) e (1.24) t<strong>em</strong>os<br />

3 2<br />

l T<br />

σ<br />

x<br />

≅ ≅ . (1.27)<br />

v N<br />

3 2<br />

23 mT<br />

σ<br />

x<br />

≅ 1 ,26×<br />

10 cm . (1.28)<br />

2 2<br />

Z Z N<br />

Vamos agora para diversas situações e meios calcular o tamanhos dos pacotes de<br />

on<strong>da</strong> dos neutrinos usando a equação (1.28) acima.<br />

1<br />

2<br />

11


a-) neutrinos do Sol<br />

Para ν<br />

e<br />

origi<strong>na</strong>dos no processo<br />

3<br />

ρ ≅ 120 g cm ,<br />

8<br />

B→<br />

8<br />

Be + e<br />

+<br />

+ ν , com T ≅ 1, 3keV<br />

e<br />

e<br />

−7<br />

σ ≅ 3,15×<br />

10 cm . (1.29)<br />

x<br />

ν<br />

e<br />

solares produzidos pela reação<br />

T<strong>em</strong>os também<br />

processo ocorre a uma t<strong>em</strong>peratura de T ≅ 1, 1keV<br />

e<br />

ρ ≅ 100 g cm<br />

p + p→<br />

3<br />

2<br />

. Logo,<br />

H + e<br />

+<br />

+ ν . Este<br />

e<br />

−6<br />

σ ≅ 2,34×<br />

10 cm . (1.30)<br />

x<br />

b-) neutrinos de supernova<br />

ρ ≅<br />

intervalo<br />

Para neutrinos do centro <strong>da</strong> supernova ( R ≤ 20km)<br />

, t<strong>em</strong>os T = 10 −100MeV<br />

e<br />

14 3<br />

10 g cm<br />

. Então o tamanho do pacote de on<strong>da</strong> para estes neutrinos pertence ao<br />

−14<br />

−12<br />

σ ≅ 4,74 × 10 −1,49<br />

× 10 cm . (1.31)<br />

x<br />

O tamanho dos pacotes de neutrinos oriundos <strong>da</strong> neutrinosfera é<br />

Em (1.32) usamos os parâmetros<br />

c-) neutrinos de reatores<br />

−10<br />

σ ≅ 1,67 × 10 cm . (1.32)<br />

x<br />

10 3<br />

T ≅ 5MeV<br />

e ρ ≅ 10 g cm para o cálculo.<br />

Neutrinos de reatores não são produzidos <strong>em</strong> um plasma, portanto, dev<strong>em</strong>os estimar<br />

σ<br />

x<br />

de uma maneira diferente. Vamos listar abaixo as seguintes considerações:<br />

• Neutrinos de reatores são produzidos a partir do decaimento de um material<br />

sólido;<br />

• O movimento dos elétrons determi<strong>na</strong> a t<strong>em</strong>peratura do material <strong>em</strong> questão;<br />

• Os núcleos se mov<strong>em</strong> lentamente num meio cheio de elétrons. O t<strong>em</strong>po de<br />

<strong>em</strong>issão coerente do decaimento deste núcleo é grande;<br />

• O elétron produzido no decaimento se move rapi<strong>da</strong>mente e t<strong>em</strong> sua trajetória<br />

altera<strong>da</strong> devido à interação com o núcleo. Como conseqüência, a <strong>em</strong>issão<br />

dos produtos do decaimento irá perder coerência.<br />

Tomando T ≅ 1MeV<br />

(energia cinética do elétron), número de massa A ≅ 238 (um<br />

3<br />

dos possíveis isótopos do urânio), ρ ≅ 20 g cm , calculamos o livre caminho médio que é<br />

aproxima<strong>da</strong>mente o tamanho do pacote de on<strong>da</strong>:<br />

12


−4<br />

l ≅ σ = 5,10 × 10 cm . (1.33)<br />

x<br />

d-) neutrinos de aceleradores<br />

Em neutrinos de aceleradores, σ ≅ x<br />

ct , <strong>em</strong> que t é um t<strong>em</strong>po típico de escala de<br />

interações fracas que produz<strong>em</strong> neutrinos nos laboratórios. Por ex<strong>em</strong>plo, t ≅ 10 −8 s quando<br />

os neutrinos são produtos de decaimento de π e K.<br />

Logo, o tamanho dos pacotes de on<strong>da</strong> é<br />

2<br />

σ ≅ 1 ,0 × 10 cm . (1.34)<br />

x<br />

Na Tabela 1.1, resumimos todos os tamanhos dos pacotes e parâmetros usados para<br />

os cálculos acima apresentados <strong>na</strong>s diversas situações.<br />

Experimento Parâmetros σ x (cm)<br />

3,15 ×10 -7<br />

2,40 ×10 -6<br />

Solar T=1,3keV<br />

ρ =120g/cm 3<br />

N=7,22 ×10 25 cm -3<br />

T=1,1keV<br />

ρ =100g/cm 3<br />

N=6,02 ×10 25 cm -3<br />

Acelerador t = 10 -8 s 1,00 ×10 2<br />

Reator<br />

Supernova<br />

T = 1MeV<br />

5,1 ×10 -4<br />

ρ = 20g/cm 3<br />

A=238 (Urânio)<br />

T=10 – 100 MeV 4,74 ×10 -14 – 1,49 ×10 -12<br />

ρ =10 14 g/cm 3<br />

N=6,02 ×10 37 cm -3<br />

T=5MeV<br />

1,674 ×10 -10<br />

ρ =10 10 g/cm 3<br />

N=6,02 ×10 33 cm 3<br />

Tabela 1.1: Tamanho dos pacotes de on<strong>da</strong><br />

1.2.2) O formalismo de pacotes de on<strong>da</strong> no vácuo.<br />

Para construirmos os pacotes de on<strong>da</strong> para nossos autoestados de massa, faz<strong>em</strong>os as<br />

seguintes considerações:<br />

• O probl<strong>em</strong>a será tratado de maneira unidimensio<strong>na</strong>l, portanto pod<strong>em</strong>os<br />

negligenciar o espalhamento do momento ortogo<strong>na</strong>l à direção de propagação<br />

x;<br />

13


• Os pacotes de on<strong>da</strong> dos autoestados de massa possu<strong>em</strong> um formato<br />

gaussiano com largura σ<br />

p<br />

no espaço dos momentos;<br />

• Os pacotes gaussianos dos autoestados de massa são centrados ao redor do<br />

valor médio de momento p<br />

a<br />

, determi<strong>na</strong>do pela cin<strong>em</strong>ática do processo de<br />

produção (conservação energia-momento).<br />

Nosso pacote de on<strong>da</strong> no espaço dos momentos terá a seguinte forma <strong>em</strong> sua<br />

respectiva função de on<strong>da</strong>:<br />

[ 2πσ<br />

p<br />

]<br />

( p − p )<br />

2<br />

−1<br />

2 ⎪⎧<br />

⎪⎫<br />

a<br />

ψ<br />

a<br />

( p)<br />

=<br />

exp⎨−<br />

2 ⎬ . (1.35)<br />

4σ<br />

⎪⎩<br />

p ⎪⎭<br />

Pod<strong>em</strong>os fazer a evolução t<strong>em</strong>poral do pacote de on<strong>da</strong> no espaço <strong>da</strong>s coorde<strong>na</strong><strong>da</strong>s,<br />

que <strong>na</strong> prática é o que nos interessa. A função de on<strong>da</strong> de nossos autoestados de massa será<br />

representa<strong>da</strong> por<br />

De (1.35) e (1.36) tiramos<br />

dp<br />

ψ<br />

a<br />

( x,<br />

t)<br />

= ∫ ψ<br />

a<br />

( p)<br />

exp{ ipx − Eat}<br />

. (1.36)<br />

2<br />

−1<br />

2 ⎪⎧<br />

[ 2πσ<br />

] exp i( p x − E t )<br />

( x − v t)<br />

2<br />

⎪⎫<br />

a<br />

ψ<br />

a<br />

( x,<br />

t)<br />

=<br />

x ⎨ a<br />

a<br />

−<br />

2 ⎬. (1.37)<br />

⎪⎩<br />

4σ<br />

x ⎪⎭<br />

por<br />

Na expressão (1.37) acima, a energia<br />

E<br />

a<br />

e a veloci<strong>da</strong>de de grupo v a<br />

são <strong>da</strong><strong>da</strong>s<br />

a<br />

a<br />

2<br />

E = p + m e (1.38)<br />

2<br />

a<br />

p<br />

a<br />

v<br />

a<br />

= . (1.39)<br />

Ea<br />

As larguras σ<br />

x<br />

e σ<br />

p<br />

estão relacio<strong>na</strong><strong>da</strong>s pela relação de incerteza σ xσ p<br />

= 1 2 .<br />

Munido de to<strong>da</strong>s as informações relevantes, t<strong>em</strong>os agora como objetivo encontrar a<br />

expressão de probabili<strong>da</strong>de de con<strong>versão</strong> de sabores neste formalismo de pacotes de on<strong>da</strong>.<br />

Vamos fazer para a propagação no vácuo, isto é, s<strong>em</strong> a presença de um potencial efetivo de<br />

matéria.<br />

Consider<strong>em</strong>os inicialmente um neutrino ν α<br />

(de sabor α) criado por um processo<br />

fraco <strong>na</strong>s coorde<strong>na</strong><strong>da</strong>s x = 0 e t = 0 e detectado <strong>em</strong> x = X e no t<strong>em</strong>po t = T. Quando ν<br />

α<br />

chega <strong>em</strong> x = X e t = T, ele pode ser descrito como um estado<br />

14


ψ<br />

*<br />

α<br />

( X , T)<br />

αaψ<br />

a<br />

( X , T)<br />

a<br />

= ∑U<br />

ν<br />

a<br />

. (1.40)<br />

O operador densi<strong>da</strong>de correspondente, com<br />

p = p a<br />

= p é <strong>da</strong>do por<br />

b<br />

*<br />

*<br />

ρ ( X , T)<br />

≡ ψ<br />

α<br />

( X , T)<br />

ψ<br />

α<br />

( X , T ) = ∑U<br />

αaψ<br />

a<br />

( X , T ) ν<br />

a<br />

ν<br />

b<br />

ψ<br />

b<br />

( X , T ) U<br />

αb<br />

. (1.41)<br />

Usando a definição (1.40) e desenvolvendo o operador densi<strong>da</strong>de t<strong>em</strong>os:<br />

a,<br />

b<br />

ρ(<br />

X , T)<br />

=<br />

−1<br />

*<br />

[ 2πσ<br />

] U U exp( − i(<br />

E − E ) T )<br />

x<br />

∑<br />

αa<br />

αb<br />

a<br />

b<br />

ν<br />

a<br />

ν<br />

b<br />

⎛<br />

exp⎜<br />

−<br />

⎝<br />

2<br />

( X − v T ) ⎞ ⎛ ( X − v T )<br />

4σ<br />

a<br />

2<br />

x<br />

⎟ ⎜<br />

exp<br />

−<br />

⎠ ⎝<br />

4σ<br />

b<br />

2<br />

x<br />

2<br />

⎟ ⎞<br />

⎠<br />

. (1.42)<br />

A probabili<strong>da</strong>de de encontrarmos um estado de sabor ν β no ponto X e no t<strong>em</strong>po T é<br />

obti<strong>da</strong> usando (1.42). Portanto,<br />

P(<br />

ν<br />

α<br />

α<br />

⎧ ( X − vaT<br />

)<br />

× exp⎨−<br />

2<br />

⎩ 4σ<br />

x<br />

β<br />

{ ρ(<br />

X , T ) ν β ν α<br />

} ν β ρ(<br />

X , ν β<br />

P ( ν → ν ; X , T ) = Tr<br />

= T )<br />

→ν<br />

; X , T ) =<br />

β<br />

2<br />

1<br />

2πσ<br />

∑<br />

x a,<br />

b<br />

( X − vbT<br />

)<br />

−<br />

2<br />

4σ<br />

x<br />

U<br />

2<br />

βa<br />

⎫<br />

⎬<br />

⎭<br />

U<br />

*<br />

αa<br />

U<br />

*<br />

βb<br />

U<br />

αb<br />

× exp<br />

{ i( p − p ) X − i( E − E ) T}<br />

Na prática, sab<strong>em</strong>os a distância X, enquanto que o t<strong>em</strong>po T não é medido. Portanto,<br />

a probabili<strong>da</strong>de <strong>em</strong> uma distância X é <strong>da</strong><strong>da</strong> pela média t<strong>em</strong>poral <strong>da</strong> expressão (1.43). A<br />

integração no t<strong>em</strong>po será feita <strong>completa</strong>ndo-se os quadrados <strong>na</strong> exponencial de (1.43). A<br />

probabili<strong>da</strong>de de con<strong>versão</strong> pode ser escrita como (sua expressão está deduzi<strong>da</strong> por<br />

completo no Apêndice A deste trabalho):<br />

P<br />

×<br />

α→<br />

2<br />

⎡ U ⎤<br />

αa'<br />

β ( X ) = ⎢∑<br />

⎥∑U<br />

⎢ a'<br />

v<br />

⎣<br />

a'<br />

⎥ a,<br />

b<br />

⎦<br />

⎪⎧<br />

2<br />

2 X<br />

exp⎨−<br />

2 2<br />

2<br />

va<br />

+ vb<br />

4σ<br />

⎪⎩<br />

x a<br />

βa<br />

U<br />

*<br />

αa<br />

*<br />

βb<br />

⎪⎧<br />

⎡<br />

× exp⎨i⎢<br />

⎪⎩ ⎢⎣<br />

2<br />

2<br />

( v ) ( − ) ⎪⎫<br />

a<br />

− v Ea<br />

E<br />

b<br />

b<br />

−<br />

2 2<br />

2 2 2<br />

( ) ⎬<br />

v + v 4σ<br />

v + v ⎪⎭<br />

b<br />

U<br />

U<br />

αb<br />

p<br />

a<br />

b<br />

a<br />

( p − p ) − ( E − E )<br />

a<br />

b<br />

b<br />

a<br />

b<br />

a<br />

⎛ v<br />

⎜<br />

⎝ v<br />

a<br />

2<br />

a<br />

b<br />

+ v<br />

+ v<br />

b<br />

2<br />

b<br />

. (1.43)<br />

⎞⎤<br />

⎪⎫<br />

⎟⎥X<br />

⎬<br />

⎠⎥⎦<br />

⎪⎭<br />

(1.44)<br />

L<strong>em</strong>brando que a expressão acima indica a probabili<strong>da</strong>de de um neutrino ν<br />

α<br />

criado<br />

<strong>em</strong> x = 0 ser detectado como ν β <strong>em</strong> x = X.<br />

15


Vamos a<strong>na</strong>lisar ca<strong>da</strong> termo de (1.44).<br />

⎧ ⎡<br />

⎨ ⎢<br />

⎪⎩ ⎢⎣<br />

⎪<br />

a-) Termo fator de fase: exp i ( p − p ) − ( E − E )<br />

⎛ v<br />

⎜<br />

⎝ v<br />

+ v<br />

a b<br />

a b<br />

a b 2 2<br />

a<br />

+ vb<br />

⎞⎤<br />

⎪⎫<br />

⎟⎥X<br />

⎬<br />

⎠⎥⎦<br />

⎪⎭<br />

Este termo fornece a oscilação do neutrino <strong>em</strong> função <strong>da</strong> distância X percorri<strong>da</strong> a<br />

partir <strong>da</strong> fonte produtora.<br />

O comprimento de oscilação é quando o termo <strong>da</strong> exponencial acima se iguala a 2π.<br />

Pode ser escrito, portanto, como:<br />

L<br />

osc<br />

=<br />

E<br />

a<br />

2π<br />

− E<br />

b<br />

⎡ v<br />

⎢<br />

⎢⎣<br />

v<br />

a<br />

2<br />

a<br />

+ v<br />

+ v<br />

b<br />

2<br />

b<br />

−<br />

p<br />

E<br />

a<br />

a<br />

−<br />

−<br />

p<br />

E<br />

b<br />

b<br />

⎤<br />

⎥<br />

⎥⎦<br />

−1<br />

. (1.45)<br />

Para neutrinos extr<strong>em</strong>amente relativísticos pod<strong>em</strong>os escrever que<br />

L<br />

osc<br />

=<br />

E<br />

a<br />

2π<br />

− E<br />

b<br />

⎡<br />

⎢1<br />

−<br />

⎢⎣<br />

p<br />

E<br />

a<br />

a<br />

−<br />

−<br />

p<br />

E<br />

b<br />

b<br />

⎤<br />

⎥<br />

⎥⎦<br />

−1<br />

⎡<br />

= 2π<br />

⎣<br />

1<br />

⎤<br />

⎢<br />

⎥<br />

⎢( Ea<br />

− Eb<br />

) − ( pa<br />

− pb<br />

) ⎥⎦ .<br />

Mas<br />

1 2<br />

2<br />

2<br />

2<br />

⎛ ⎞ ⎛<br />

⎟ ⎞<br />

= 2 +<br />

2<br />

m<br />

m<br />

E p m → E = p<br />

⎜1<br />

+<br />

⎟ ≅ p<br />

⎜1<br />

2 + .<br />

⎝ p ⎠ ⎝ 2 p<br />

2<br />

⎠<br />

Usando a aproximação acima para ca<strong>da</strong> autoestado de massa chegamos a seguinte<br />

expressão:<br />

⎡ ⎛<br />

2<br />

2<br />

1 ⎞ ⎛ 1 ⎞<br />

⎤<br />

2 ⎢ ⎜ ma<br />

1 ⎟ ⎜ mb<br />

L 1 ⎟ − ( + ) ⎥<br />

osc<br />

= π pa<br />

+ − p +<br />

2<br />

b<br />

p<br />

2<br />

a<br />

pb<br />

.<br />

⎢ ⎜ 2 ⎟ ⎜ 2 ⎟<br />

⎥<br />

⎣ ⎝<br />

pa<br />

⎠ ⎝<br />

pb<br />

⎠<br />

⎦<br />

−1<br />

Se usarmos a aproximação E ≅<br />

comprimento de oscilação pode ser <strong>da</strong>do por:<br />

p a<br />

≅ p<br />

b<br />

, então chegamos que fi<strong>na</strong>lmente o<br />

L osc<br />

4 E<br />

= π . (1.46)<br />

2<br />

∆m<br />

b-) termo fator de amortecimento:<br />

⎪⎧<br />

exp⎨<br />

⎪⎩<br />

( v − v )<br />

2<br />

2<br />

X a b<br />

−<br />

2 2 2<br />

4σ<br />

x<br />

va<br />

+ vb<br />

⎪⎫<br />

⎬<br />

⎪⎭<br />

Este termo mede a coerência <strong>da</strong>s contribuições dos pacotes de on<strong>da</strong>s dos diferentes<br />

autoestados de massa. O comprimento de coerência é <strong>da</strong>do por<br />

16


L<br />

coh<br />

2 2<br />

va<br />

+ vb<br />

≡ 2σ . (1.47)<br />

x<br />

( v − v ) 2<br />

a<br />

b<br />

Notamos que a expressão indica que é a distância percorri<strong>da</strong> para que a<br />

probabili<strong>da</strong>de caia com 1/e.<br />

Usando as mesmas aproximações para o cálculo do comprimento de oscilação e<br />

usando (1.39), isto é, considerando neutrinos extr<strong>em</strong>amente relativísticos, t<strong>em</strong>os<br />

−1<br />

L<br />

coh<br />

=<br />

2<br />

v<br />

a<br />

2σ<br />

x<br />

−v<br />

b<br />

= 2<br />

2σ<br />

x<br />

p<br />

E<br />

a<br />

a<br />

1<br />

−<br />

p<br />

E<br />

b<br />

b<br />

= 2<br />

2σ<br />

x<br />

⎛<br />

⎜1+<br />

⎜<br />

⎝<br />

1<br />

m<br />

p<br />

2<br />

a<br />

2<br />

a<br />

⎞<br />

⎟<br />

⎟<br />

⎠<br />

1 2<br />

−<br />

⎛<br />

⎜1+<br />

⎜<br />

⎝<br />

1<br />

m<br />

p<br />

2<br />

b<br />

2<br />

b<br />

⎞<br />

⎟<br />

⎟<br />

⎠<br />

1 2<br />

L<br />

coh<br />

= 2<br />

2<br />

1<br />

4 2E<br />

σ<br />

x<br />

2σ x<br />

= . (1.48)<br />

2<br />

m m ∆m<br />

1−<br />

−1+<br />

2 p 2 p<br />

2<br />

a<br />

2<br />

a<br />

2<br />

b<br />

2<br />

b<br />

c-) termo fator exponencial:<br />

⎪⎧<br />

exp⎨<br />

⎪⎩<br />

2<br />

( E ) ⎪⎫<br />

a<br />

− Eb<br />

2 2<br />

( ) ⎬<br />

4σ<br />

v + v ⎪⎭<br />

− 2<br />

p a b<br />

Este termo surge devido à integração t<strong>em</strong>poral (ver Apêndice A) e garante a<br />

conservação de energia dentro <strong>da</strong> incerteza <strong>da</strong><strong>da</strong> pelo comprimento σ<br />

p<br />

. Notamos que este<br />

fator não depende <strong>da</strong> distância X e sua presença significa que, se<br />

2 2<br />

( E E ) ≥ v + v<br />

a<br />

− σ , a integração t<strong>em</strong>poral suprime a interferência dos autoestados<br />

b<br />

p<br />

a<br />

b<br />

de massa.<br />

O cálculo de σ<br />

p<br />

se dá simplesmente usando a relação de incerteza σ xσ p<br />

= 1 2 .<br />

Vamos apresentar os mais diversos valores dos tamanhos dos pacotes de on<strong>da</strong> no espaço<br />

dos momentos ( σ ):<br />

a-) neutrinos do Sol<br />

p<br />

Para ν<br />

e<br />

origi<strong>na</strong>dos no processo<br />

8<br />

8<br />

B→<br />

Be + e<br />

+<br />

+ ν , usando (1.29), t<strong>em</strong>os<br />

e<br />

−5<br />

σ ≅ 3,14×<br />

10 MeV . (1.49)<br />

p<br />

Para ν<br />

e<br />

solares produzidos pela reação<br />

p + p→<br />

2<br />

H + e<br />

+<br />

+ ν , resulta <strong>em</strong><br />

e<br />

17


−6<br />

σ ≅ 4,22×<br />

10 MeV . (1.50)<br />

p<br />

b-) neutrinos de supernova<br />

Para neutrinos do centro <strong>da</strong> supernova, o tamanho dos pacotes no espaço dos<br />

momentos estará <strong>em</strong> um intervalo<br />

σ<br />

p<br />

≅ 6,72<br />

− 208MeV . (1.51)<br />

O tamanho destes pacotes de neutrinos oriundos <strong>da</strong> neutrinosfera é<br />

c-) neutrinos de reatores<br />

σ<br />

p<br />

≅ 0, 060MeV . (1.52)<br />

Para o valor apresentado abaixo, usamos (1.33)) e obtiv<strong>em</strong>os, portanto,<br />

d-) neutrinos de aceleradores<br />

Usando o valor encontrado <strong>em</strong> (1.34), ter<strong>em</strong>os<br />

−8<br />

σ = 1,90×<br />

10 MeV . (1.53)<br />

p<br />

−14<br />

σ ≅ 9,87 × 10 MeV . (1.54)<br />

p<br />

Na Tabela 1.2, resumimos todos os tamanhos dos pacotes no espaço dos momentos<br />

( σ<br />

p<br />

) e parâmetros usados e apresentados também <strong>na</strong> Tabela 1.1 para os cálculos acima<br />

apresentados <strong>na</strong>s diversas situações.<br />

18


Experimento Parâmetros σ p (MeV)<br />

3,14×10 -5<br />

4,22×10 -6<br />

Solar T=1,3keV<br />

Ρ =120g/cm 3<br />

N=7,22×10 25 cm -3<br />

T=1,1keV<br />

Ρ =100g/cm 3<br />

N=6,02×10 25 cm -3<br />

Acelerador T = 10 -8 s 9,87×10 -14<br />

Reator<br />

Supernova<br />

T = 1MeV<br />

1,90×10 -8<br />

ρ = 20g/cm 3<br />

A=238 (Urânio)<br />

T=10 – 100 MeV 6,72 – 208<br />

ρ =10 14 g/cm 3<br />

N=6,02×10 37 cm -3<br />

T=5MeV<br />

0,060<br />

ρ =10 10 g/cm 3<br />

N=6,02×10 33 cm 3<br />

Tabela 1.2: Tamanho dos pacotes de on<strong>da</strong> no espaço dos momentos<br />

Para sabermos se o termo exponencial é efetivo, isto é, suprime a oscilação,<br />

dev<strong>em</strong>os calcular ( Ea − E b<br />

). L<strong>em</strong>brando que a energia de um autoestado de massa pode<br />

2<br />

⎛ m<br />

ser <strong>da</strong><strong>da</strong> por<br />

⎟ ⎞<br />

E ≅ p<br />

⎜1<br />

+ , faz<strong>em</strong>os<br />

2<br />

⎝ 2 p ⎠<br />

E<br />

a<br />

2<br />

2<br />

2<br />

ma<br />

mb<br />

∆m<br />

− Eb<br />

≅ pa<br />

− pb<br />

+ − ≅ . (1.55)<br />

2 p 2 p 2E<br />

a<br />

b<br />

Apresentamos <strong>na</strong> Tabela 1.3 abaixo os valores de Ea<br />

− Eb<br />

para as situações<br />

2<br />

−5<br />

2 2<br />

−3<br />

2<br />

cita<strong>da</strong>s. Estamos usando ∆ m ≅ 7,1<br />

× 10 eV e ∆ m ≅ 1,0<br />

× 10 eV . Para o caso solar, a<br />

energia usa<strong>da</strong> foi de 10 MeV, para aceleradores, 1 GeV e para reatores, 1 MeV. Para o<br />

centro <strong>da</strong> supernova, usamos uma energia máxima de 100 MeV, e para a região <strong>da</strong><br />

neutrinosfera, uma energia de 10 MeV. Os três valores de diferença de energia entre os<br />

autoestados de massa, <strong>na</strong>s regiões do centro e neutrinosfera <strong>da</strong> supernova, se refer<strong>em</strong>, de<br />

2<br />

cima para baixo, a diferentes ∆ m .<br />

19


Experimento<br />

Ea − E b<br />

(MeV)<br />

Solar 3,65×10 -18<br />

Acelerador 5,00×10 -19<br />

Reator 3,65×10 -17<br />

Supernova<br />

(Centro)<br />

Supernova<br />

(Neutrinosfera)<br />

3,65×10 -19 2<br />

−5<br />

2<br />

( ∆ m ≅ 7,1<br />

× 10 eV )<br />

5,00×10 -18 2<br />

−3<br />

2<br />

( ∆ m ≅ 1,0<br />

× 10 eV )<br />

0,5×10 -6 2<br />

8 2<br />

( ∆ m ≅ 1,0<br />

× 10 eV )<br />

3,55×10 -18 2<br />

−5<br />

2<br />

( ∆ m ≅ 7,1<br />

× 10 eV )<br />

5,0×10 -17 2<br />

−3<br />

2<br />

( ∆ m ≅ 1,0<br />

× 10 eV )<br />

5,0×10 -10 2<br />

6 2<br />

( ∆ m ≅ 1,0<br />

× 10 eV )<br />

Tabela 1.3: Diferenças de energia entre os autoestados de massa.<br />

Notamos que, comparando os valores dos<br />

2 2<br />

situações ( )<br />

σ p<br />

com<br />

E − E , <strong>em</strong> to<strong>da</strong>s as<br />

E<br />

a<br />

− Eb<br />


que os pacotes de on<strong>da</strong> dos autoestados de massa percorram a distância X acoplados entre<br />

si para que a oscilação ocorra. Logo, o comprimento de coerência, que se refere ao<br />

comprimento no qual os pacotes estão acoplados e interferindo entre si, deve ser maior que<br />

a distância percorri<strong>da</strong>, que, por sua vez, deve ser maior que o comprimento de oscilação.<br />

Logo, de maneira genérica, esperamos que ocorra o fenômeno de oscilação para<br />

L<br />

coh<br />

> L osc<br />

. (1.56)<br />

Vamos verificar (1.56) para os diversos tipos de situação. A<strong>na</strong>lisar<strong>em</strong>os a situação<br />

solar, de aceleradores e reatores, de neutrinos de altíssima energia, e de supernovas.<br />

L<strong>em</strong>brando que para tal usar<strong>em</strong>os as expressões (1.46) e (1.48) e os valores dos tamanhos<br />

dos pacotes de on<strong>da</strong> encontrados e resumidos <strong>na</strong> Tabela 1.1.<br />

2<br />

−5<br />

2<br />

i) No caso dos neutrinos solares, com ∆ m ≅ 7,1<br />

× 10 eV e energia típica de 10<br />

7<br />

2<br />

MeV dos neutrinos, L coh<br />

= 2 ,44×<br />

10 km e L osc<br />

= 3 ,40×<br />

10 km . Notamos que<br />

(1.56) é satisfeito, portanto, dev<strong>em</strong>os notar o padrão oscilatório dos neutrinos.<br />

2<br />

−5<br />

2<br />

ii) No caso dos neutrinos de reatores, com ∆ m ≅ 7,1<br />

× 10 eV e 1 MeV de<br />

8<br />

1<br />

energia, L coh<br />

= 3 ,95×<br />

10 km e L osc<br />

= 3 ,40×<br />

10 km . Notamos que (1.56) também<br />

é satisfeito, portanto, o fenômeno de oscilação também deverá ocorrer.<br />

iii) Os neutrinos de aceleradores também irão oscilar, uma vez que (1.56) é<br />

2<br />

−3<br />

2<br />

respeitado. Usou-se ∆ m ≅ 1,0<br />

× 10 eV e neutrinos com energia típica de 1<br />

18<br />

3<br />

GeV. L coh<br />

= 5 ,65×<br />

10 km e L osc<br />

= 2 ,48×<br />

10 km .<br />

Resumimos as informações obti<strong>da</strong>s acima <strong>na</strong> Tabela 1.4 logo abaixo.<br />

Energia (MeV) ∆m 2 (eV 2 ) Lcoh (km) Losc(km)<br />

Solar 10 7,1×10 -5 2,44×10 7<br />

Reator 1 7,1×10 -5 3,95×10 8<br />

Acelerador 1000 1,0×10 -3 5,65×10 18<br />

3,40×10 2<br />

3,40×10 1<br />

2,48×10 3<br />

Tabela 1.4: comprimento de coerência e comprimento de oscilação para os casos solares, de reatores e<br />

aceleradores.<br />

Os neutrinos de altíssima energia são neutrinos oriundos, por ex<strong>em</strong>plo, de núcleos<br />

ativos de galáxia (AGNs), que são formados por buracos negros supermassivos capazes de<br />

profuzir fótons e raios cósmicos altamente energéticos. Por mecanismos de Fermi, tais raios<br />

cósmicos pod<strong>em</strong> ser acelerados até energias <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> de TeV. Os prótons pod<strong>em</strong> interagir<br />

com os fótons de “background” produzindo partículas ∆. Estas pod<strong>em</strong> decair <strong>da</strong> seguinte<br />

maneira:<br />

∆<br />

∆<br />

+<br />

+<br />

0<br />

→ p + π<br />

. (1.57)<br />

+<br />

→ n + π<br />

21


Os píons produzidos pod<strong>em</strong>, por sua vez, decaír<strong>em</strong> nos respectivos neutrinos, cuja<br />

reação, por ex<strong>em</strong>plo, é:<br />

π + → µ<br />

+ + . (1.58)<br />

ν µ<br />

Pela equação (1.58), v<strong>em</strong>os como os neutrinos são produzidos nos AGNs. Usar<strong>em</strong>os<br />

o tamanho dos pacotes de on<strong>da</strong> considerado nos aceleradores para tratar estes neutrinos de<br />

altíssima energia, já que pod<strong>em</strong>os imagi<strong>na</strong>r os núcleos ativos de galáxia como aceleradores<br />

capazes de fazer as partículas atingir<strong>em</strong> altíssimas energias. Consideramos duas energias<br />

típicas: 10 15 eV e 10 18 eV. Usamos também os dois valores de diferença de massa ao<br />

quadrado usado anteriormente. Apresentamos os resultados <strong>na</strong> Tabela 1.5 abaixo:<br />

Energia ∆m 2 (eV 2 ) Lcoh (cm) Losc (cm)<br />

10 15 eV 7,1×10 -5 7,75×10 36<br />

1,0×10 -3 5,66×10 35<br />

10 18 eV 7,1×10 -5 7,75×10 42<br />

1,0×10 -3 5,66×10 41<br />

3,40×10 15<br />

2,48×10 14<br />

3,40×10 18<br />

2,48×10 17<br />

Tabela 1.5: comprimento de oscilação e comprimento de coerência para o caso de neutrinos de<br />

altíssima energia.<br />

Notamos claramente pelos valores encontrados do comprimento de coerência e do<br />

comprimento de oscilação que os neutrinos de altíssima energia parec<strong>em</strong> oscilar.<br />

Os neutrinos de supernova, que serão descritos no Capítulo 3, foram divididos <strong>em</strong><br />

duas regiões típicas: os neutrinos do “core” estelar e os neutrinos <strong>da</strong> região <strong>da</strong><br />

neutrinosfera. Para o “core”, com neutrinos de energia <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> de 100 MeV:<br />

2<br />

−5<br />

2<br />

9<br />

8<br />

• ∆ m ≅ 7,1<br />

× 10 eV - L coh<br />

= 1 ,15×<br />

10 cm e L osc<br />

= 3 ,40×<br />

10 cm ;<br />

2<br />

−3<br />

2<br />

7<br />

7<br />

• ∆ m ≅ 1,0<br />

× 10 eV - L coh<br />

= 8 ,43×<br />

10 cm e L osc<br />

= 2 ,50 × 10 cm e<br />

2<br />

8 2<br />

• ∆ m ≅ 1,0<br />

× 10 eV (diferença de massa ao quadrado efetiva estima<strong>da</strong> <strong>na</strong><br />

−4<br />

−4<br />

matéria) - L coh<br />

= 8,43×<br />

10 cm e L osc<br />

= 2,48×<br />

10 cm .<br />

Notamos que os valores encontrados para o comprimento de coerência e para o<br />

comprimento de oscilação estão muito próximos. Seria precipitado falar que os neutrinos<br />

realmente oscilam, já que (1.56) não é ple<strong>na</strong>mente satisfeita, principalmente para<br />

2<br />

−3<br />

2 2<br />

8 2<br />

∆ m ≅ 1,0<br />

× 10 eV e ∆ m ≅ 1,0<br />

× 10 eV .<br />

Para a neutrinosfera, usando neutrinos com valor de energia de 10 MeV:<br />

2<br />

−5<br />

2<br />

9<br />

7<br />

• ∆ m ≅ 7,1<br />

× 10 eV - L coh<br />

= 1 ,30×<br />

10 cm e L osc<br />

= 3 ,40×<br />

10 cm ;<br />

2<br />

−3<br />

2<br />

7<br />

6<br />

• ∆ m ≅ 1,0<br />

× 10 eV - L coh<br />

= 9 ,47 × 10 cm e L osc<br />

= 2 ,50×<br />

10 cm e<br />

2<br />

4 2<br />

• ∆ m ≅ 1,0<br />

× 10 eV (diferença de massa ao quadrado efetiva estima<strong>da</strong> <strong>na</strong><br />

matéria) - L coh<br />

= 9, 47cm<br />

e L osc<br />

= 0, 25cm<br />

.<br />

22


Os valores apresentados para a neutrinosfera satisfaz<strong>em</strong> à condição (1.56), mas não<br />

<strong>em</strong> tantas ordens de grandeza acima. Consideramos que o caso <strong>da</strong> supernova deve ser<br />

a<strong>na</strong>lisado com uma acui<strong>da</strong>de maior. Não pod<strong>em</strong>os, s<strong>em</strong> uma análise mais precisa, afirmar<br />

com firmeza que os neutrinos de supernova realmente oscilam. Resumimos a situação <strong>da</strong>s<br />

supernovas <strong>na</strong> Tabela 1.6.<br />

E(MeV) ∆m 2 (eV 2 ) Lcoh(cm) Losc(cm)<br />

“Core” 100 7,1×10 -5 1,15×10 9<br />

100 1,0×10 -3 8,43×10 7<br />

100 1,0×10 8 8,43×10 -4<br />

ν "esfera" 10 7,1×10 -5 1,30×10 9<br />

10 1,0×10 -3 9,47×10 7<br />

3,40×10 8<br />

2,50×10 7<br />

2,48×10 -4<br />

3,40×10 7<br />

2,50×10 6<br />

10 1,0×10 4 9,47 0,25<br />

Tabela 1.6 – comprimento de coerência e comprimento de oscilação para o caso de supernovas<br />

Usando as relações (1.46) e (1.48), obt<strong>em</strong>os o gráfico abaixo, que indica que, para<br />

neutrinos com energia acima de 30 MeV aproxima<strong>da</strong>mente, os neutrinos dev<strong>em</strong> oscilar. No<br />

entanto, dev<strong>em</strong>os notar que o gráfico mostra que a ord<strong>em</strong> de grandeza do comprimento de<br />

oscilação e do comprimento de coerência está muito próxima. Portanto, seria também<br />

precipitado falar que para neutrinos acima de 30 MeV ocorrerá certamente oscilação.<br />

Figura 1.1 – Apresentamos o comprimento de coerência e o comprimento de oscilação <strong>em</strong> função <strong>da</strong><br />

energia <strong>em</strong> MeV.<br />

23


Pela equação (1.44), elimi<strong>na</strong>ndo o termo exponencial e usando a solução solar (ver<br />

Tabela 4.1), pod<strong>em</strong>os calcular a probabili<strong>da</strong>de de con<strong>versão</strong> para os neutrinos oriundos de<br />

supernova se propagando no vácuo (Figura 1.2). T<strong>em</strong>os que o termo de amortecimento<br />

“mata” o padrão oscilatório, indicando que os pacotes de on<strong>da</strong> dos autoestados de massa se<br />

desacoplam. A probabili<strong>da</strong>de média mostra<strong>da</strong> de con<strong>versão</strong>, considerando o ca<strong>na</strong>l<br />

ν<br />

e<br />

↔ν µ , τ e energia de cerca de 100 MeV, é cerca de 0,4.<br />

0.8<br />

0.6<br />

0.4<br />

0.2<br />

10 20 30 40 50 60<br />

Figura 1.2 – o eixo y é a probabili<strong>da</strong>de e o eixo x é a distância <strong>em</strong> Mpc para uma supernova.<br />

Notamos que os neutrinos solares, de reatores, de aceleradores, assim como os<br />

neutrinos de altíssima energia, parec<strong>em</strong> todos oscilar. Os neutrinos de supernova, no vácuo,<br />

têm sua oscilação congela<strong>da</strong>, porque os autoestados de massa perd<strong>em</strong> a coerência.<br />

1.4) O “Spreading” dos Pacotes de On<strong>da</strong> [27]<br />

Nesta seção vamos discutir os dois diferentes mecanismos que causam a separação<br />

dos pacotes de on<strong>da</strong>. O primeiro é a separação dos centros dos pacotes (“splitting”),<br />

(∆ X ) ij<br />

, devido à diferença de massa entre os autoestados de massa ν<br />

1, ν<br />

2<br />

e ν<br />

3<br />

. O segundo<br />

mecanismo é o alargamento dos pacotes (“spreading”), ( ∆ X ) ∆ p<br />

, que se origi<strong>na</strong> <strong>da</strong> dispersão<br />

inicial do momento associado aos pacotes de on<strong>da</strong>. O “spread” do momento inicial é uma<br />

conseqüência do princípio de incerteza.<br />

Vamos primeiro ignorar o “spread” ( ∆ X ) ∆ p<br />

. Tratar<strong>em</strong>os somente de (∆ X )<br />

ij<br />

. Depois<br />

de uma distância L, considerando dois pacotes de on<strong>da</strong> ν i<br />

e ν<br />

j<br />

inicialmente justapostos,<br />

este dois pacotes irão se separar por<br />

24


2<br />

∆m<br />

( vi<br />

− v<br />

j<br />

) ≅ L<br />

2<br />

onde usamos (1.38) e (1.39), além <strong>da</strong> aproximação<br />

Então, se a seguinte condição<br />

( ∆ X )<br />

ij<br />

≡ L<br />

, (1.59)<br />

2E<br />

t ≅ L .<br />

L∆m<br />

2<br />

2E<br />

2<br />

> σ , (1.60)<br />

x<br />

que diz se o “splitting” (∆ X )<br />

ij<br />

é maior que o tamanho do pacote de on<strong>da</strong> σ<br />

x<br />

, então o<br />

autoestados de massa não irão mais se justapor depois de viajar<strong>em</strong> uma distância L. Em<br />

outras palavras, estes pacotes de on<strong>da</strong> se desacoplarão devido ao “splitting” (1.59). Se<br />

usarmos os parâmetros de tamanho de pacote de on<strong>da</strong>, energia e diferença de massa ao<br />

quadrado <strong>da</strong>s seções anteriores, verificamos que ocorrerá término <strong>da</strong> justaposição dos<br />

autoestados de massa para os neutrinos de supernova. Não deverá ocorrer, ou seja, a<br />

coerência será manti<strong>da</strong> para neutrinos de aceleradores. No caso dos reatores, o detector<br />

deveria estar a uma distância maior que 10 12 cm para que os pacotes de on<strong>da</strong> se<br />

desacopl<strong>em</strong>. Este valor é maior que o diâmetro terrestre, logo, o desacoplamento<br />

(“splitting”) para reatores não deve ocorrer. No caso dos neutrinos solares, o<br />

−6<br />

desacoplamento deve acontecer para pacotes de on<strong>da</strong> muito menores que 5,0 × 10 cm , o<br />

que não ocorre considerando os valores apresentados <strong>na</strong> Tabela 1.1. Para neutrinos de<br />

AGN, apesar de distâncias <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> de Mparsec, o desacoplamento dos pacotes não<br />

ocorrerão devido às altíssimas energias, que são <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> de 10 15 eV e 10 18 eV.<br />

No entanto, t<strong>em</strong>os que a<strong>na</strong>lisar o “spreading” (ou dispersão) devido às incertezas<br />

associa<strong>da</strong>s ao momento p. Considerando durante a propagação que ∆ p ≡ σ , sab<strong>em</strong>os que<br />

−1<br />

σ<br />

xσ<br />

p<br />

≅ 1 ⇒ σ<br />

p<br />

≅ σ<br />

x<br />

para ca<strong>da</strong> pacote de on<strong>da</strong>. O “spread”, ∆ X ) ∆ p<br />

<strong>da</strong>do por<br />

p<br />

( , devido ao ∆ p , é<br />

2<br />

2<br />

⎛ ∆p<br />

⎞ mi<br />

Lmi<br />

( ∆X<br />

) ∆ p<br />

≅ L⎜<br />

⎟ ≅ . (1.61)<br />

2 3<br />

⎝ p ⎠ p E σ<br />

x<br />

Dev<strong>em</strong>os comparar (1.59) com (1.61). Se tivermos<br />

( ∆X ) ∆<br />

< ( ∆X<br />

) ou (1.62)<br />

p<br />

ij<br />

Lm<br />

2<br />

ij<br />

3<br />

E σ<br />

x<br />

<<br />

L∆m<br />

2E<br />

2<br />

2<br />

, (1.63)<br />

2 2 2<br />

<strong>em</strong> que m ( m + m ) 2<br />

ij<br />

= , os pacotes não serão justapostos, portanto, irão se desacoplar.<br />

i<br />

j<br />

Notamos que tal fato independe <strong>da</strong> distância L. A condição (1.62) é satisfeita para a<br />

supernova, a não ser para a situação degenera<strong>da</strong>. Logo o “spread” devido a ∆ p não é tão<br />

25


efetivo quanto o “splitting” entre os pacotes de on<strong>da</strong>, o que implica que os pacotes chegam<br />

desacoplados <strong>na</strong> Terra.<br />

As figuras 1.3 e 1.4 resum<strong>em</strong> os fenômenos de desacoplamento e alargamento entre<br />

os pacotes de on<strong>da</strong> dos autoestados de massa que compõ<strong>em</strong> a on<strong>da</strong> do neutrino.<br />

Figura 1.3: (a) O desacoplamento de dois pacotes de on<strong>da</strong> devido a (1.59); (b) O alargamento devido ao<br />

princípio <strong>da</strong> incerteza (1.61)<br />

Figura 1.4: (a) Condição (1.62) satisfeita, logo ocorre o fim <strong>da</strong> coerência; (b) Condição (1.62) não<br />

satisfeita, portanto coerência manti<strong>da</strong>.<br />

26


Referências – Capítulo 1<br />

[1] B. Pontecorvo, Sov. Phys. JETP, 6, 429 (1957), [Zh. Eksp. Teor. Fiz. 33, 549 (1957)].<br />

[2] B. Pontecorvo, Zh. Eksp. Teor. Fiz. 34, 247 (1957), [Sov. Phys. JETP, 7, 172, (1958)].<br />

[3] J. Davis, Raymond, D. S. Harmer, e K. C. Hoffman, Phys, Rev. Lett. 20, 1205-1209<br />

(1968).<br />

[4] SuperKamiokande Collaboration, S. Fuku<strong>da</strong> et. al., Phys. Rev. Lett. 85, 3999 (2000); C.<br />

MacGrew, Talk presented at Inter<strong>na</strong>tio<strong>na</strong>l Workshop on “Neutrino Telescopes”, Venice,<br />

Italy, March 6-9, 2001; Sou<strong>da</strong>n Collaboration, T. Mann et. al., Nucl. Phys. (Proc. Suppl.)<br />

91, 134 (2001); MACRO Collaboration, B. Barish et. al., Nucl. Phys. (Proc. Suppl.) 91,<br />

141 (2001).<br />

[5] Z. Maki, M. Nakagawa, e S. Sakata, Prog. Theor. Phys. 28, 870 (1962).<br />

[6] B. Pontecorvo, Sov. Phys. JETP 26, 984 (1968).<br />

[7] V. N. Gribov e B. Pontecorvo, Phys. Lett. B28, 493 (1969).<br />

[8] S. Eliezer e A. R. Swift, Nucl. Phys. B105, 45 (1976).<br />

[9] H. Fritzsch e P. Minkowski, Phys. Lett. B62, 72 (1976).<br />

[10] S. M. Bilenky e B. Pontecorvo, Nuovo Cim. Lett. 17, 569 (1976).<br />

[11] S. M. Bilenky e B. Pontecorvo, Phys. Rept. 41, 225 (1978).<br />

[12] S. Nussinov, Phys. Lett. B63, 201 (1976).<br />

[13] B. Kayser, Phys. Rev. D24, 110 (1981).<br />

[14] C. Giunti, C. W. Kim, e U. W. Lee, Phys. Rev. D44, 3635 (1991).<br />

[15] C. Giunti, C. W. Kim, e U. W. Lee, Phys. Lett. B274, 87 (1992).<br />

[16] A. D. Dolgov, A. Y. Morozov, L. B. Okun, e M. G. Shchepkin, Nucl. Phys. B502, 3<br />

(1997), hep-ph/9703241.<br />

[17] C. Giunti e C. W. Kim, Phys. Rev. D58, 017301 (1998), hep-ph/9711363.<br />

[18] A. D. Dolgov, “Neutrino oscillation and cosmology”, 2000, hep-ph/0004032,<br />

Inter<strong>na</strong>tio<strong>na</strong>l School of Astrophysics, Daniel Chalonge: 7 th Course: Current Topics in<br />

27


Astrofun<strong>da</strong>mental Physics (A NATO Advanced Study Institute EuroConference), Erice,<br />

Italy, 5-16 Dec. 1999.<br />

[19] A. D. Dolgov, Phys. Rept. 370, 333 (2002), hep-ph/0202122.<br />

[20] C. Giunti, Physica Scripta 67, 29 (2003), hep-ph/0202063.<br />

[21] C. Giunti, C. W. Kim, J. A. Lee, e U. W. Lee, Phys. Rev. D48, 4310 (1993), hepph/9305276.<br />

[22] C. Giunti, C. W. Kim, e U. W. Lee, Phys. Lett. B421, 237 (1998), hep-ph/9709494.<br />

[23] K. Kiers e W. Weiss, Phys. Rev. D57, 3091 (1998), hep-ph/9710289.<br />

[24] C. Y. Car<strong>da</strong>ll, Phys. Rev. D61, 073006 (2000), hep-ph/9909332.<br />

[25] M. Beuthe, Phys. Rev. D66, 013003 (2002), hep-ph/0202068.<br />

[26] C. Giunti, JHEP 11, 017 (2002), hep-ph/0205014.<br />

[27] C. W. Kim e A. Pevsner, Neutrinos in physics and astrophysics, Harwood Acad<strong>em</strong>ic<br />

Press, Chur, Switzerland, 1993, Cont<strong>em</strong>porary Concepts in Physics, Vol.8.<br />

[28] M. Zralek, Acta Phys. Polon. B29, 3925 (1998), hep-ph/9810543.<br />

[29] M. Beuthe, Phys. Rept. 375, 105 (2003), hep-ph/0109119.<br />

[30] P. Pal, Inter<strong>na</strong>tio<strong>na</strong>l Jour<strong>na</strong>l of Modern Physics A7, 22 (1992).<br />

28


CAPÍTULO 2<br />

Neutrinos <strong>na</strong><br />

Matéria<br />

O fenômeno de oscilação <strong>em</strong> um meio material, como no sol ou <strong>em</strong> uma supernova,<br />

pode ser b<strong>em</strong> diferente <strong>da</strong> oscilação que ocorre no vácuo. Isto acontece porque as<br />

interações no meio modificam as relações de dispersão <strong>da</strong>s partículas que viajam através<br />

dele [1]. Relações de dispersão fornec<strong>em</strong> a energia de uma partícula <strong>em</strong> termos de seu<br />

momento. Logo, uma relação de dispersão <strong>na</strong> matéria diferente <strong>da</strong> tradicio<strong>na</strong>l relação de<br />

dispersão do vácuo significa um Hamiltoniano modificado e, portanto, uma evolução<br />

t<strong>em</strong>poral <strong>da</strong> função de on<strong>da</strong> associa<strong>da</strong> diferente. Em suma, um feixe de neutrinos viajando<br />

através <strong>da</strong> matéria evolui de maneira diferente que o mesmo feixe viajando no vácuo.<br />

Pod<strong>em</strong>os considerar que tanto o meio solar quanto o meio de uma supernova é<br />

constituído de um plasma de primeira geração – os neutrinos eletrônicos interag<strong>em</strong> via<br />

corrente carrega<strong>da</strong> e corrente neutra, enquanto que os outros autoestados de sabor<br />

interag<strong>em</strong> somente por corrente neutra. Do ponto de vista macroscópico, as modificações<br />

<strong>da</strong> relação de dispersão do neutrino pod<strong>em</strong> ser representa<strong>da</strong>s <strong>em</strong> termos de um índice de<br />

refração ou de um potencial efetivo. No nível microscópico, usando a abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> de teoria<br />

de campos a t<strong>em</strong>peraturas e densi<strong>da</strong>des finitas (ver Apêndice C), as modificações surg<strong>em</strong><br />

<strong>da</strong>s correções dependentes de t<strong>em</strong>peratura e densi<strong>da</strong>de dos diagramas de Feynmann autoenergia<br />

do neutrino [2, 3, 4, 5]. Aqui explorar<strong>em</strong>os somente a visão macroscópica, <strong>em</strong> que<br />

os neutrinos a baixas energias sofr<strong>em</strong> espalhamento coerente (refração) descritos pelo<br />

potencial<br />

V = 2GFne , (2.1)<br />

<strong>em</strong> que G F é a constante de Fermi e n e é a densi<strong>da</strong>de eletrônica do meio.<br />

29


2.1) On<strong>da</strong>s Pla<strong>na</strong>s de Neutrinos <strong>na</strong> Matéria<br />

2.1.1) Oscilação de Neutrinos <strong>na</strong> Matéria Uniforme<br />

A equação de evolução <strong>na</strong> matéria é <strong>da</strong><strong>da</strong> por<br />

d<br />

i<br />

dx<br />

( f ) ~ H<br />

( f )<br />

ν = ν , (2.2)<br />

( f )<br />

onde ν é o autoestado de sabor e H ~ é o Hamiltoniano efetivo, que pode ser escrito para<br />

duas famílias de uma forma conveniente [6, 7, 8, 9, 10, 11] apresenta<strong>da</strong> abaixo.<br />

~<br />

H<br />

⎛ ⎛ 1 ⎞<br />

⎞<br />

⎜ 2GF⎜<br />

ne<br />

− nn⎟<br />

0 ⎟<br />

= H + ⎜ ⎝ 2 ⎠<br />

⎟<br />

0<br />

. (2.3)<br />

⎜<br />

1 ⎟<br />

⎜ 0 − GFnn<br />

⎟<br />

⎝<br />

2 ⎠<br />

Na matriz (2.3) H<br />

0<br />

é o Hamiltoniano do vácuo e pod<strong>em</strong>os escrevê-la como<br />

~<br />

H<br />

2 2<br />

m1 + m2<br />

1 1 ~ 2<br />

= E + − GF nn<br />

+ M , (2.4)<br />

4E<br />

2 2E<br />

<strong>em</strong> que<br />

por conveniência definimos<br />

~ 2 1 ⎛− ∆ cos 2θ<br />

+ 2A<br />

∆sen2θ<br />

⎞<br />

M = ⎜<br />

⎟ e (2.5)<br />

2 ⎝ ∆sen2θ<br />

∆ cos 2θ<br />

⎠<br />

A = 2 2GFneE<br />

. (2.6)<br />

2<br />

E é a energia do neutrino e nn<br />

é a densi<strong>da</strong>de de nêutrons. ∆ = ∆m e θ são,<br />

respectivamente, a diferença de massa ao quadrado e o ângulo de mistura no vácuo. Estes<br />

dois últimos parâmetros serão alterados <strong>na</strong> matéria e irão depender <strong>da</strong> configuração<br />

eletrônica do meio onde os neutrinos estão se propagando.<br />

O ângulo de mistura efetivo pode ser <strong>da</strong>do por<br />

~<br />

tg2θ<br />

=<br />

~<br />

2H12 ∆sen2θ<br />

~ ~ =<br />

e (2.7)<br />

H − H ∆ cos 2θ<br />

− A<br />

22<br />

11<br />

os autoestados estacionários são<br />

30


~ ~ ~<br />

1<br />

= ν<br />

e<br />

cosθ<br />

−ν<br />

senθ<br />

e (2.8.a)<br />

ν µ<br />

~ ~ ~<br />

= ν<br />

e<br />

senθ<br />

ν cosθ<br />

, (2.8.b)<br />

ν<br />

2<br />

+ µ<br />

com autovalores iguais a<br />

~<br />

E<br />

m~<br />

2<br />

1<br />

α<br />

= E − GFnn<br />

, (2.9)<br />

2 2E<br />

α +<br />

<strong>em</strong> que<br />

2 2<br />

2 2<br />

( m + + ) ( ∆ cos 2θ − ) + ∆ 2 ⎤<br />

1<br />

m2<br />

A<br />

A<br />

⎥⎦<br />

~ 2 1<br />

= ⎡<br />

2<br />

m1 ,2<br />

m sen θ . (2.10)<br />

2 ⎢⎣<br />

Pod<strong>em</strong>os destacar alguns fatos interessantes. Consider<strong>em</strong>os o ângulo de mistura do<br />

vácuo θ pequeno. Então, para n e → 0 , ~ θ → θ , então ~ ν<br />

1<br />

≈ν<br />

e<br />

. Em outras palavras, o<br />

menor autoestado de massa é praticamente ν e<br />

se a densi<strong>da</strong>de de matéria é quase zero. Já<br />

~ π<br />

para n e → ∞ , θ → , então ~ ν<br />

1<br />

≈ν µ . Isto é o que ocorre para a densi<strong>da</strong>de de matéria<br />

2<br />

tendendo ao infinito, tor<strong>na</strong>ndo o autoestado puramente ν µ .<br />

Notamos por (2.7) ou pela expressão abaixo deduzi<strong>da</strong> a partir de (2.7),<br />

2 2<br />

2 ~ ∆ sen 2θ<br />

sen 2θ<br />

= , (2.11)<br />

2 2 2<br />

( ∆cos 2θ<br />

− A) + ∆ sen 2θ<br />

que quando<br />

π<br />

A = ∆ cos 2θ<br />

o ângulo de mistura efetivo é e os termos <strong>da</strong> diago<strong>na</strong>l<br />

4<br />

principal <strong>em</strong> (2.5) são idênticos, portanto os estados ν e<br />

e ν µ apresentam misturas<br />

máximas. Este é o efeito MSW [12], que nos possibilita achar pontos de densi<strong>da</strong>de<br />

eletrônica onde ocorre ressonância ( n R ),<br />

∆cos 2θ<br />

nR<br />

= . (2.12)<br />

2 2GFE<br />

31


2.1.2) Neutrinos <strong>na</strong> matéria não-uniforme<br />

Sab<strong>em</strong>os que, no sol e <strong>em</strong> outras fontes astrofísicas como supernovas, os neutrinos<br />

passam por regiões de densi<strong>da</strong>de resso<strong>na</strong>nte, mas se propagando numa região nãouniforme.<br />

A<strong>na</strong>logamente à equação (2.2), mas desprezando os termos <strong>da</strong> matriz unitária<br />

que não influenciam nos cálculos <strong>da</strong> probabili<strong>da</strong>de, pod<strong>em</strong>os escrever a equação de estados<br />

de sabor<br />

Neste caso, nossa base pode ser escrita como<br />

d 1 ( f ) ~ 2 ( f )<br />

i ν = M ν . (2.13)<br />

dx 2E<br />

( f ) ~ ~ ( p )<br />

ν = Uν . (2.14)<br />

U ~ é a matriz unitária de mistura <strong>na</strong> matéria, construí<strong>da</strong> pela substituição de θ por θ ~ <strong>na</strong><br />

matriz unitária de mistura do vácuo.<br />

A equação de evolução pode ser reescrita como:<br />

i<br />

d<br />

dx<br />

~ ( )<br />

2 ( )<br />

(<br />

~ p 1 ~ ~<br />

)<br />

~ p<br />

U M Uν<br />

ν = . (2.15)<br />

2E<br />

T<strong>em</strong>os que tomar cui<strong>da</strong>do ao aplicar a deriva<strong>da</strong> porque nossa matriz de mistura<br />

mu<strong>da</strong> para diferentes pontos. Então,<br />

~ d ~ ( p)<br />

⎛ d ~ ⎞~<br />

( p)<br />

1 ~ 2 ~ ~ ( p)<br />

iU<br />

ν + i⎜<br />

U ⎟ν<br />

= M Uν<br />

. (2.16)<br />

dx ⎝ dx ⎠ 2E<br />

Multiplicando a expressão acima por<br />

d<br />

i ν<br />

dx<br />

(<br />

que é a equação de evolução <strong>na</strong> base ν<br />

~ †<br />

U achamos a expressão<br />

⎛ 1 ~ ~ ~ ~ d ~ ⎞<br />

= ⎜ U M U − iU U ⎟ν<br />

, (2.17)<br />

⎝ 2E<br />

dx ⎠<br />

~ ( p)<br />

† 2<br />

† ~ ( p)<br />

~ p)<br />

. A solução <strong>da</strong> equação acima [13] resulta <strong>em</strong><br />

2 ~<br />

⎛ m~<br />

⎞<br />

1 dθ<br />

⎜<br />

⎟<br />

⎛<br />

~<br />

⎞ ⎜<br />

⎟⎛<br />

~<br />

d ν<br />

i<br />

1<br />

⎞<br />

⎜ ⎟ = 2<br />

ν<br />

1<br />

i E<br />

~<br />

dx<br />

~<br />

⎜ ⎟<br />

2<br />

⎝ ⎠ ⎜ ~ ⎟ ~ . (2.18)<br />

dx ν<br />

2 dθ<br />

m2<br />

⎝ν<br />

2 ⎠<br />

⎜−<br />

i ⎟<br />

⎝ dx 2E<br />

⎠<br />

32


dθ<br />

~<br />

Se = 0 , ~ν<br />

1<br />

e ~ν<br />

2<br />

são autoestados estacionários, exatamente como <strong>em</strong> um meio<br />

dx<br />

uniforme. Para um meio não-uniforme ter<strong>em</strong>os de resolver a equação acima e far<strong>em</strong>os para<br />

dois casos: adiabático e não-adiabático.<br />

2.1.2a) O caso adiabático<br />

dθ ~ Quando é pequeno, pod<strong>em</strong>os resolver a equação (2.18) usando a aproximação<br />

dx<br />

adiabática. Mas, antes de introduzirmos qualquer tipo de cálculo, dev<strong>em</strong>os nos perguntar<br />

quando realmente ocorrerá uma propagação adiabática. Falar de condição adiabática é dizer<br />

que os termos fora <strong>da</strong> diago<strong>na</strong>l principal são muito menores que os termos <strong>da</strong> diago<strong>na</strong>l<br />

principal. Logo pod<strong>em</strong>os escrever que a condição de adiabatici<strong>da</strong>de<br />

~ m~<br />

2<br />

− m~<br />

2<br />

1 2<br />

dθ<br />

1.<br />

<strong>Faça</strong>mos algumas considerações: se a densi<strong>da</strong>de é alta <strong>em</strong> algum ponto, então<br />

~<br />

θ → π 2 , e o parâmetro de adiabatici<strong>da</strong>de é alto. Agora, se a densi<strong>da</strong>de é muito baixa para<br />

algum outro ponto de propagação,<br />

~ θ → θ , e novamente o parâmetro de adiabatici<strong>da</strong>de<br />

pode ser alto, a não ser que o ângulo esteja próximo de π 4 . A equação acima mostra que a<br />

condição de adiabatici<strong>da</strong>de é difícil de ser satisfeita no ponto de ressonância, uma vez que<br />

33


sen 2θ ~ é máximo nesse ponto. A referência [14] mostra que longe do ponto de ressonância<br />

a propagação s<strong>em</strong>pre pode ser trata<strong>da</strong> adiabaticamente. Mesmo assim, pod<strong>em</strong>os ter<br />

adiabatici<strong>da</strong>de também no ponto de ressonância. Por (2.12) sab<strong>em</strong>os os pontos onde pode<br />

ocorrer ressonância e tomando para tal situação sen 2 ~ θ = 1 <strong>na</strong> equação (2.22), encontramos<br />

o valor do parâmetro de adiabatici<strong>da</strong>de <strong>na</strong> ressonância γ R :<br />

∆<br />

E<br />

sen 2θ<br />

cos 2θ<br />

1<br />

d<br />

ln n<br />

dx<br />

2<br />

γ R = × × . (2.23)<br />

Se γ R >>1, a propagação será adiabática <strong>em</strong> qualquer lugar! Caso contrário, seγ R for<br />

próximo ou menor que um, dev<strong>em</strong>os fazer uma análise de não-adiabatici<strong>da</strong>de.<br />

2.1.2b) As probabili<strong>da</strong>des no caso adiabático [15, 16]<br />

Vamos fazer as considerações para duas famílias, sendo que usar<strong>em</strong>os de ex<strong>em</strong>plo<br />

os neutrinos eletrônicos e os neutrinos muônicos.<br />

Quando a propagação é adiabática, ~ν 1<br />

se mantém como ~ν 1<br />

durante to<strong>da</strong> a<br />

propagação, o mesmo ocorrendo para ~ν 2<br />

. Desta maneira ter<strong>em</strong>os para ca<strong>da</strong> ponto uma<br />

diferente superposição de ~ ν<br />

e<br />

e ~ ν µ .<br />

Usando (2.8a) e (2.8b) pod<strong>em</strong>os escrever o neutrino eletrônico como uma<br />

superposição dos autoestados de massa ~ν<br />

1<br />

e ~ν<br />

2<br />

:<br />

e<br />

ν<br />

1<br />

cosθ<br />

0<br />

+<br />

2<br />

0<br />

e<br />

R<br />

~ ~ ~ ~<br />

ν = ν sen θ . (2.24)<br />

Na fórmula acima, o índice “0” indica que estamos tratando do ângulo de mistura no<br />

ponto de criação do neutrino. Se ocorre criação de neutrinos eletrônicos, existe uma<br />

2 ~<br />

probabili<strong>da</strong>de cos θ<br />

0<br />

do neutrino ser produzido como ~ν e uma probabili<strong>da</strong>de de 2 θ<br />

1<br />

cos<br />

2 ~ 2<br />

de ser detectado como ν<br />

e<br />

. Isto contribui com um termo cos θ<br />

0<br />

cos θ para a probabili<strong>da</strong>de<br />

de sobrevivência numa propagação adiabática. Por outro lado, o neutrino pode ser<br />

produzido como ~ν com probabili<strong>da</strong>de 2 ~<br />

2<br />

sen θ , propagar-se e ser detectado como ν 0<br />

e<br />

com<br />

probabili<strong>da</strong>de<br />

2<br />

2 ~ 2<br />

sen θ . Isto contribui com um termo sen θ<br />

0 sen θ para a probabili<strong>da</strong>de de<br />

sobrevivência numa propagação adiabática. Logo a probabili<strong>da</strong>de de sobrevivência clássica<br />

total para propagação adiabática é:<br />

( )<br />

P ad ν eν<br />

e<br />

1<br />

=<br />

2<br />

2 ~ 2<br />

2 ~ 2 1<br />

= cos θ<br />

0<br />

cos θ + sen θ<br />

0sen<br />

θ =<br />

4<br />

~<br />

[ 1+<br />

cos 2θ<br />

cos 2θ<br />

]<br />

0<br />

~<br />

1 ~<br />

( 1+<br />

cos 2θ<br />

)( 1+<br />

cos2θ<br />

) + ( 1−<br />

cos 2θ<br />

)( 1−<br />

cos2θ<br />

)<br />

0<br />

. (2.25)<br />

4<br />

0<br />

=<br />

34


A probabili<strong>da</strong>de de con<strong>versão</strong> para neutrino muônico será<br />

~<br />

[ 1−<br />

cos 2θ<br />

cos θ ]<br />

( ad )<br />

( ad ) 1<br />

P<br />

ν ν<br />

= 1−<br />

P<br />

µ ν ν µ<br />

=<br />

0<br />

2 . (2.26)<br />

e<br />

e<br />

2<br />

Em (2.25) e (2.26), P (ad) é a probabili<strong>da</strong>de, seja de sobrevivência ou con<strong>versão</strong>,<br />

considerando propagação adiabática.<br />

As probabili<strong>da</strong>des apresenta<strong>da</strong>s acima ain<strong>da</strong> estão in<strong>completa</strong>s. Vamos escrevê-las<br />

de uma maneira mais <strong>completa</strong>. A probabili<strong>da</strong>de de detectar ν<br />

e<br />

numa distância x a partir do<br />

ponto de produção pode ser escrita como abaixo.<br />

P<br />

e<br />

( ad )<br />

ν ν<br />

2<br />

e<br />

( x)<br />

ν<br />

e<br />

(0) = ∑<br />

α<br />

e<br />

= ν<br />

ν<br />

e<br />

( x)<br />

ν α ( x)<br />

ν α ( x)<br />

ν α (0) ν α (0) ν<br />

e<br />

(0) . (2.27)<br />

2<br />

Note que introduzimos o conjunto completo dos estados ν α<br />

. Os produtos escalares<br />

<strong>na</strong> extr<strong>em</strong>a esquer<strong>da</strong> e <strong>na</strong> extr<strong>em</strong>a direita fornec<strong>em</strong> os el<strong>em</strong>entos <strong>da</strong> matriz de mistura nos<br />

pontos de produção e detecção. Os el<strong>em</strong>entos de matriz do produto escalar central origi<strong>na</strong>m<br />

uma fase que corresponde à propagação adiabática dos estados ν<br />

α<br />

. Esta fase é<br />

Então escrev<strong>em</strong>os (2.27)<br />

( x ) ⎤<br />

⎥ ⎦<br />

⎢⎣<br />

⎡ ∫ x ~<br />

exp i dx′<br />

E ′<br />

0<br />

α<br />

. (2.28)<br />

~<br />

( E − E ) ⎤<br />

⎬ ⎫<br />

⎭<br />

( ad ) 1 ⎧ ~<br />

~<br />

x = ⎡<br />

⎨ +<br />

+ sen sen ′<br />

⎩<br />

⎢⎣ ∫ x ~<br />

ν e ν ( ) 1 cos 2θ<br />

0<br />

cos 2θ<br />

2θ<br />

0<br />

2θ<br />

cos dx<br />

2 1<br />

, (2.29)<br />

2<br />

0 ⎥⎦<br />

P<br />

e<br />

Que é a expressão para probabili<strong>da</strong>de de sobrevivência para um autoestado de sabor no<br />

caso adiabático. Vamos passar agora para o caso de não-adiabatici<strong>da</strong>de.<br />

2.1.2c) O caso não-adiabático<br />

Efeitos não-adiabáticos induz<strong>em</strong> transições entre os estados ~ν<br />

1<br />

e ~ν<br />

2<br />

. Já falamos que<br />

os efeitos não-adiabáticos são importantes <strong>na</strong>s regiões onde há ressonância. Para outras<br />

regiões, a aproximação adiabática pode ser usa<strong>da</strong>. Na região de ressonância, tentamos<br />

resolver a equação de propagação de maneira exata, assumindo algumas formas<br />

simplifica<strong>da</strong>s de variação <strong>da</strong> densi<strong>da</strong>de que pod<strong>em</strong> ser aproxima<strong>da</strong>mente váli<strong>da</strong>s para<br />

aquela região específica. A partir disto, encontramos a probabili<strong>da</strong>de X nesta região de ter<br />

ocorrido transição de um autoestado para o outro.<br />

Vamos supor um neutrino eletrônico produzido <strong>em</strong> um determi<strong>na</strong>do ponto e que irá<br />

sobreviver durante sua propagação se as condições são adiabáticas, ou seja, não t<strong>em</strong>os<br />

transição entre os estados ~ν 1<br />

e ~ν<br />

2<br />

. Isto também pode ocorrer no caso não-adiabático, <strong>em</strong><br />

que não há transição entre os estados ~ν 1<br />

e ~ν 2<br />

com probabili<strong>da</strong>de 1-X. Por outro lado,<br />

35


pod<strong>em</strong>os ter, no caso adiabático, uma situação <strong>em</strong> que o neutrino eletrônico se converteu<br />

<strong>em</strong> neutrino muônico. No entanto, pode existir conservação do sabor eletrônico no caso<br />

não-adiabático se tivermos transição entre os autoestados ~ν<br />

1<br />

e ~ν<br />

2<br />

.<br />

Levando <strong>em</strong> conta todos os efeitos não-adiabáticos, pod<strong>em</strong>os escrever a<br />

probabili<strong>da</strong>de de sobrevivência do neutrino eletrônico [17]:<br />

( ad ) ( ad )<br />

( 1−<br />

X ) P XP<br />

P ν eν<br />

e<br />

ν eν<br />

+<br />

e ν eν<br />

µ<br />

= . (2.30)<br />

T<strong>em</strong>os de saber calcular X, que é a probabili<strong>da</strong>de de transição não-adiabática para<br />

dois estados. Este trabalho, feito no contexto de física atômica, foi feito independent<strong>em</strong>ente<br />

por Lan<strong>da</strong>u [18], Zener [19] e Stückelberg [20]. Este cálculo foi aplicado para o contexto<br />

dos neutrinos por Parke [17] e Haxton [21]. Vamos fazer isto usando uma aproximação<br />

s<strong>em</strong>i-clássica pelo método <strong>da</strong> trajetória complexa de Lan<strong>da</strong>u [22]. Este método nos fornece<br />

[ S ( t , t ) S ( t t )]<br />

ln X = −2Im<br />

+ , (2.31)<br />

1 1 * 2 *,<br />

sendo S<br />

1( t1,<br />

t*<br />

) a ação para o movimento do feixe de neutrino no estado ~ν 1<br />

de um t<strong>em</strong>po<br />

inicial t 1<br />

para o t<strong>em</strong>po de transição t *<br />

. Passado o t<strong>em</strong>po de transição t *<br />

, usamos a ação no<br />

estado ~ν<br />

2<br />

até o t<strong>em</strong>po t 2<br />

quando o neutrino sai <strong>da</strong> região não-adiabática. As partes<br />

imaginárias <strong>da</strong> ação permanec<strong>em</strong> i<strong>na</strong>ltera<strong>da</strong>s se tomarmos t 1<br />

= t 2<br />

= t<br />

R<br />

, sendo o t<strong>em</strong>po <strong>em</strong><br />

que o neutrino atravessa a região de ressonância. Logo,<br />

∫<br />

t<br />

~ ~<br />

( E − E )<br />

2<br />

*<br />

ln X = −2Im<br />

dt . (2.32)<br />

Mu<strong>da</strong>ndo a variável de integração de t para A, ter<strong>em</strong>os<br />

t R<br />

2<br />

1<br />

ln X<br />

1<br />

= − Im<br />

E<br />

∫<br />

A*<br />

A R<br />

dA<br />

dA<br />

( dx)<br />

( ∆ cos − A)<br />

2<br />

2 2<br />

θ + ∆ sen 2θ<br />

. (2.33)<br />

O limite inferior <strong>da</strong> integral é A<br />

R<br />

= ∆ cos2θ<br />

. O limite superior A<br />

*<br />

é o valor de A no<br />

ponto de transição. No método de Lan<strong>da</strong>u, este é o valor de A para o qual os dois<br />

~ ~<br />

autovalores coincid<strong>em</strong> ( E<br />

1<br />

= E2<br />

), resultando <strong>em</strong><br />

[ ]<br />

A = ∆ exp 2iθ , (2.34)<br />

*<br />

±<br />

que é um número complexo. Portanto, a integração <strong>da</strong> equação (2.33) deve ser feita para<br />

números complexos de A, justificando o porquê do método ser chamado de método <strong>da</strong>s<br />

trajetórias complexas.<br />

Para resolvermos a integral dev<strong>em</strong>os primeiro saber como A se comporta <strong>na</strong> região<br />

de ressonância. Se a variação é linear, dA dx é constante e pod<strong>em</strong>os deixá-lo fora <strong>da</strong><br />

integral. Se seu valor é positivo, usamos o valor positivo do expoente de A *<br />

, sendo,<br />

36


portanto, ln X negativo. Se dA dx é negativo, usamos o expoente negativo de A<br />

*<br />

. Para as<br />

duas situações, vamos mu<strong>da</strong>r a variável de integração de A para<br />

a = A − ∆ cos2θ ∆sen2<br />

. Agora escrev<strong>em</strong>os<br />

( ) θ<br />

2 2<br />

2 2<br />

∆ sen 2θ<br />

i<br />

2 ∆ sen 2θ<br />

π<br />

ln X = − Im∫<br />

<strong>da</strong> 1+<br />

a = − × . (2.35)<br />

E dA dx 0<br />

E dA dx 4<br />

R<br />

R<br />

Rel<strong>em</strong>brando que<br />

A<br />

R<br />

= ∆ cos2θ<br />

, pod<strong>em</strong>os reescrever a expressão acima como:<br />

2<br />

∆ sen 2θ<br />

1 π<br />

ln X = − × × × . (2.36)<br />

E cos2θ<br />

d 4<br />

ln A<br />

dx<br />

R<br />

Logo<br />

X<br />

⎛ π ⎞<br />

exp ⎜ − γ ⎟ . (2.37)<br />

⎝ 4 ⎠<br />

=<br />

R<br />

Vale à pe<strong>na</strong> l<strong>em</strong>brar que o cálculo foi feito para uma variação linear de A. Se<br />

tivéss<strong>em</strong>os uma variação exponencial próximo à região de ressonância, deveríamos usar<br />

[23]<br />

X<br />

⎞<br />

( 1−<br />

tg θ ) γ ⎟<br />

⎠<br />

= π 2<br />

R<br />

⎛<br />

exp ⎜−<br />

. (2.38)<br />

⎝ 4<br />

No entanto, a aproximação linear e exponencial, <strong>na</strong> maioria dos casos, são muito<br />

s<strong>em</strong>elhantes, ocasio<strong>na</strong>ndo diferenças insignificantes.<br />

2.2) Pacotes de on<strong>da</strong> de neutrinos <strong>na</strong> Matéria [24]<br />

Desenvolv<strong>em</strong>os acima o formalismo <strong>em</strong> on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s para a propagação do neutrino<br />

<strong>na</strong> matéria envolvendo os casos adiabáticos e não adiabáticos. Agora, vamos fazer o<br />

mesmo, mas usando o formalismo de pacotes de on<strong>da</strong>. Para melhor compreensão e<br />

entendimento, vamos repetir algumas expressões. Além do mais estamos seguindo a<br />

referência [24], que usa uma abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> diferente, no espaço <strong>da</strong>s energias, para o<br />

desenvolvimento <strong>da</strong> expressão de probabili<strong>da</strong>de de oscilação <strong>na</strong> matéria para pacotes de<br />

on<strong>da</strong>.<br />

Vamos rel<strong>em</strong>brar o Hamiltoniano efetivo para o neutrino <strong>na</strong> matéria pode ser escrito<br />

como:<br />

ˆ 2 2<br />

1 2 −1<br />

H = pˆ<br />

+ m + V ( xˆ,<br />

t)<br />

≅ pˆ<br />

+ m pˆ<br />

+ V ( xˆ,<br />

t)<br />

, (2.39)<br />

2<br />

37


<strong>em</strong> que pˆ é o operador momento, m é a matriz de massa do neutrino e V ( xˆ,<br />

t)<br />

é o potencial<br />

sentido pelo neutrino devido à presença do meio.<br />

A propagação dos neutrinos é tradicio<strong>na</strong>lmente resolvi<strong>da</strong> pela equação de<br />

Schrödinger, que no limite relativístico a assumindo que E>>V escrev<strong>em</strong>os:<br />

2<br />

4 2<br />

⎛ m ⎞ ⎛ m + m EV<br />

ψ ( x,<br />

E)<br />

E V ( x)<br />

ψ ( x,<br />

E)<br />

O<br />

ψ ( x,<br />

E)<br />

3<br />

2E<br />

E<br />

⎟ ⎞<br />

∂ =<br />

⎜−<br />

+ +<br />

⎟ +<br />

⎜<br />

, (2.40)<br />

⎝<br />

⎠ ⎝<br />

⎠<br />

i<br />

x<br />

sendo que ∂<br />

x<br />

= ∂ ∂<br />

x<br />

.<br />

Os respectivos autovetores <strong>da</strong> equação acima são os próprios autoestados <strong>da</strong><br />

matéria, enquanto que os autovalores pod<strong>em</strong> ser escritos como<br />

2<br />

µ<br />

a<br />

( x,<br />

E)<br />

pa<br />

( x,<br />

E)<br />

≡ E − , (2.41)<br />

2E<br />

<strong>em</strong> que µ<br />

a<br />

( x,<br />

E)<br />

é a massa efetiva do neutrino.<br />

Se quisermos a função de on<strong>da</strong> do neutrino no espaço <strong>da</strong>s coorde<strong>na</strong><strong>da</strong>s se<br />

propagando pelo t<strong>em</strong>po, dev<strong>em</strong>os tomar a transforma<strong>da</strong> de Fourier:<br />

1<br />

ψ ( x,<br />

t)<br />

= ∫ dE exp[ − iEt]<br />

ψ ( x,<br />

E)<br />

. (2.42)<br />

2<br />

A equação (2.40), para o limite adiabático, pode ser reescrita, para um autoestado de<br />

sabor, <strong>na</strong> matéria como<br />

2<br />

⎛ µ ( x,<br />

E)<br />

⎞<br />

a<br />

i∂ xψ<br />

a<br />

( x,<br />

E)<br />

= ⎜ E ⎟<br />

− + ψ<br />

a<br />

( x,<br />

E)<br />

= − pa<br />

( x,<br />

E)<br />

ψ<br />

a<br />

( x,<br />

E)<br />

2E<br />

. (2.43)<br />

⎝<br />

⎠<br />

A equação (2.43) acima t<strong>em</strong> fácil solução, que apresentamos abaixo:<br />

1<br />

x<br />

⎡ ' '<br />

ψ = ⎤<br />

a<br />

( x,<br />

t)<br />

∫dE<br />

exp i<br />

⎢⎣ ∫ dx pa<br />

( x , E)<br />

− iEt ψ<br />

a<br />

(0, E)<br />

. (2.44)<br />

0<br />

2π<br />

⎥⎦<br />

Notamos que <strong>na</strong> equação (2.44) usamos a equação (2.42) para escrevê-la. Como<br />

fiz<strong>em</strong>os no Capítulo 1, a função de on<strong>da</strong> do neutrino será uma combi<strong>na</strong>ção linear dos<br />

autoestados <strong>da</strong> matéria,<br />

ψ ( 0, E ) = ∑Ca<br />

( E)<br />

ψ<br />

a<br />

(0, E)<br />

. (2.45)<br />

a<br />

38


*<br />

No limite relativístico, Ca<br />

( x,<br />

E)<br />

= U<br />

αa<br />

( x,<br />

E)<br />

. No entanto, para neutrinos não tão<br />

relativísticos fatores relacio<strong>na</strong>dos à conservação de energia dev<strong>em</strong> ser levados <strong>em</strong><br />

consideração.<br />

Assumimos o mesmo formato gaussiano para os autoestados <strong>da</strong> matéria, que no<br />

espaço dos momentos pode ser escrito como.<br />

( E − E )<br />

2<br />

⎡ ⎤<br />

2 −1<br />

4<br />

a<br />

ψ<br />

a<br />

(0, E)<br />

= ( 2πσ<br />

E<br />

) exp⎢−<br />

2 ⎥ . (2.46)<br />

⎣ 4σ<br />

E<br />

⎦<br />

Na expressão acima σ<br />

E<br />

é o tamanho do pacote de on<strong>da</strong> no espaço <strong>da</strong>s energias e a<br />

relação de incerteza domi<strong>na</strong>nte é σ Eσ t<br />

= 1 2 . O caminho para chegarmos à expressão de<br />

probabili<strong>da</strong>de de oscilação <strong>na</strong> matéria, usando o limite adiabático, para nossos pacotes de<br />

on<strong>da</strong> é o mesmo que fiz<strong>em</strong>os <strong>na</strong> seção 1.2 do Capítulo 1 para os pacotes de on<strong>da</strong> no vácuo.<br />

Não ir<strong>em</strong>os aqui repetir todos os cálculos para que este texto não se torne d<strong>em</strong>asia<strong>da</strong>mente<br />

enfadonho para o leitor. A única preocupação que t<strong>em</strong>os é colocar a função de on<strong>da</strong> do<br />

neutrino no espaço <strong>da</strong>s coorde<strong>na</strong><strong>da</strong>s e que ela propague à medi<strong>da</strong> que o t<strong>em</strong>po progri<strong>da</strong>.<br />

Logo, substituímos (2.46) <strong>em</strong> (2.44), e o resultado desta substituição <strong>em</strong> (2.45). L<strong>em</strong>brando<br />

que dev<strong>em</strong>os usar a aproximação σ<br />

E<br />

≅ vaσ<br />

p<br />

= va<br />

2σ<br />

x<br />

- para maiores detalhes, ver<br />

referência [24]. L<strong>em</strong>brando que integramos no t<strong>em</strong>po para encontrar a probabili<strong>da</strong>de de<br />

oscilação, t<strong>em</strong>os que<br />

( E − E )<br />

2<br />

⎡<br />

2 ⎤<br />

*<br />

*<br />

x ⎛ x ⎞<br />

a b<br />

P = ∑<br />

× ⎢−<br />

−<br />

⎜<br />

⎟<br />

α →β<br />

( x)<br />

U αaU<br />

βaU<br />

αbU<br />

βb<br />

exp 2πi<br />

− ⎥ . (2.47)<br />

2<br />

⎢ Losc<br />

( x)<br />

⎣<br />

⎝ Lcoh<br />

( x)<br />

⎠ 8σ<br />

p ⎥⎦<br />

Na expressão (2.47) descrita, as matrizes U são os el<strong>em</strong>entos <strong>da</strong> matriz unitária de<br />

mistura agora descrita <strong>na</strong> matéria e o comprimento de oscilação e o comprimento de<br />

coerência depend<strong>em</strong> <strong>da</strong> posição e são escritos como<br />

L<br />

osc<br />

4πEx<br />

( x)<br />

≡ x<br />

2<br />

dx∆µ<br />

ab<br />

( x)<br />

∫0<br />

e (2.48)<br />

L<br />

coh<br />

( x)<br />

≡<br />

∫<br />

0<br />

x<br />

2<br />

2σ<br />

x<br />

dx∆v<br />

x<br />

ab<br />

( x)<br />

=<br />

2<br />

∫<br />

0<br />

x<br />

2σ<br />

2E<br />

x<br />

2<br />

dx∆µ<br />

( x)<br />

ab<br />

2<br />

x<br />

. (2.49)<br />

O caso não-adiabático para os pacotes de on<strong>da</strong> é apresentado no Apêndice B deste<br />

trabalho. Não o colocamos aqui, porque <strong>em</strong> nenhum momento vamos nos utilizar de seu<br />

formalismo para nossos cálculos.<br />

39


Referências – Capítulo 2<br />

[1] L. Wolfenstein, Phys. Rev. D17, 2369 (1978).<br />

[2] P. B. Pal e T. N. Pham, Phys. Rev. D40, 259 (1989).<br />

[3] D. Nötzold e G. Raffelt, Nucl. Phys. B307, 924 (1988).<br />

[4] J. F. Nieves, Phys. Rev. D40, 866 (1989).<br />

[5] J. F. Nieves, <strong>em</strong> Proceedings of the IV Mexican School of Particles and Fields, editado<br />

por J. Lucio e A. Zepe<strong>da</strong> (World Scientific, Singapore, 1992), p. 283-319.<br />

[6] S. P. Mikheyev e A. Y. Smirnov, Reso<strong>na</strong>nce enhanc<strong>em</strong>ent of oscillations in matter and<br />

solar neutrino spectroscopy, Sov. Jour. Nucl. Phys. 42 (1985) 913.<br />

[7] S. P. Mikheyev e A. Y. Smirnov, Neutrino oscillations in matter with varying density,<br />

Proc. of the 6 th Moriond Workshop on Massive Neutrinos in Astrophysics and Particle<br />

Physics, eds. O. Fackler e J. Tran Than Van (Editions Frontières 1986), p. 355.<br />

[8] A. Messiah, Treatment of electron-neutrino oscillations in solar matter: the MSW<br />

Effect, Proc. of the 6 th Moriond Workshop on Massive Neutrinos in Astrophysics and<br />

Particle Physics, eds. O. Fackler e J. Tran Than Van (Editions Frontières 1986), p. 373.<br />

[9] J. N. Bahcall, Neutrino Astrophysics, Cambridge University Press, Cambridge, 1989.<br />

[10] M. C. Gonzalez-Garcia e Y. Nir, Neutrino masses and mixing: evidence and<br />

implications, Rev. Mod. Phys. 75 (2003) 345 [hep-ph/0202058].<br />

[11] M. Maltoni, T. Schwetz, M. A. Tórtola e J. W. F. Valle, hep-ph/0309130v2.<br />

[12] S. P. Mikheyev e A. Y. Smirnov, Nuovo Cimento C9, 17 (1986).<br />

[13] V. Barger, R. J. N. Phillips e K. Whis<strong>na</strong>nt, Phys. Rev. Lett. 65, 3084 (1990).<br />

[14] A. Messiah, <strong>em</strong> Massive Neutrinos in Astrophysics and Particle Physics ’86, eds. O.<br />

Fackler e J. Tran Than Van (Éditions Frontières, 1986) p. 373.<br />

[15] V. Barger, R. J. N. Phillips, e K. Whis<strong>na</strong>nt, Phys. Rev. D34, 980 (1986).<br />

[16] H. Bethe, Phys. Rev. Lett. 56, 1305 (1986).<br />

[17] S.J. Parke, Phys. Rev. Lett. 57, 1275 (1986).<br />

40


[18] L. Lan<strong>da</strong>u, Phys. Z. Sowjetunion 2, 46 (1932).<br />

[19] C. Zener, Proc. Roy. Soc. 137, 696 (1932).<br />

[20] E. C. G. Stückelberg, Helv. Phys. Acta 5, 369 (1932).<br />

[21] W. C. Haxton, Phys. Rev. Lett. 57, 1271 (1986).<br />

[22] L. D. Lan<strong>da</strong>u e L. M. Lifshitz, Quantum Mechanics, 3ªed. (Pergamon Press, 1977).<br />

[23] P. Pizzochero, Phys. Rev. D36, 2293 (1987).<br />

[24] J. T. Peltoni<strong>em</strong>i e V. Sipiläinen, JHEP 0006, 011 (2000), hep-ph/0004162.<br />

41


CAPÍTULO 3<br />

Supernova e os<br />

Neutrinos<br />

Em nov<strong>em</strong>bro de 1572, uma nova estrela, ou nova, apareceu <strong>na</strong> constelação de<br />

Cassiopéia e foi observa<strong>da</strong> pelo notável Tycho Brahe, que considerou esta nova estrela<br />

como um novo objeto <strong>na</strong> imutável região celestial. Este novo objeto observado é chamado<br />

hoje de supernova de Tycho. Em outubro de 1604, uma nova estrela apareceu no céu e foi<br />

observa<strong>da</strong> por Johannes Kepler, cujo modelo de disposição dos planetas superou o modelo<br />

de Ptolomeu do sist<strong>em</strong>a solar. Professor <strong>em</strong> Padova, Galileo Galilei observou também estas<br />

“novas” estrelas que surgiam no céu. Alguns registros chineses do século II, sobre as<br />

chama<strong>da</strong>s “estrelas visitantes”, que apareciam no céu repenti<strong>na</strong>mente, permaneciam por um<br />

<strong>da</strong>do t<strong>em</strong>po e sumiam repenti<strong>na</strong>mente, são provavelmente os primeiros indícios e relatos de<br />

supernovas.<br />

As explosões de supernova <strong>em</strong> nossa galáxia são eventos raros, sendo que a última<br />

ocorri<strong>da</strong> <strong>em</strong> fevereiro de 1987 foi denomi<strong>na</strong><strong>da</strong> SN1987A, advento <strong>da</strong> explosão de uma<br />

supergigante azul, Sanduleak -69° 202, localiza<strong>da</strong> <strong>na</strong> Grande Nuv<strong>em</strong> de Magalhães.<br />

Entretanto, muitas supernovas são observa<strong>da</strong>s a ca<strong>da</strong> ano <strong>em</strong> outras galáxias, como a<br />

SN1993J, que ocorreu <strong>na</strong> galáxia próxima M81. Cerca de cinco eventos de supernovas <strong>em</strong><br />

nossa galáxia foram registrados [1].<br />

Afi<strong>na</strong>l, qual o motivo <strong>da</strong> existência desses fenômenos extr<strong>em</strong>amente brilhantes e<br />

intensos? Estrelas de grande massa evolu<strong>em</strong> por deze<strong>na</strong>s de milhões de anos queimando<br />

seu combustível nuclear e gerando uma pressão de dentro para fora que contrabalança a<br />

força gravitacio<strong>na</strong>l. Um desequilíbrio dessas forças, resultante de queimas de núcleos ca<strong>da</strong><br />

vez menos eficientes, gera o colapso gravitacio<strong>na</strong>l do centro estelar, podendo ocorrer uma<br />

explosão. O resultado fi<strong>na</strong>l é o surgimento ou de uma estrela de nêutrons ou de um buraco<br />

42


negro. A formação de núcleos pesados e seu conseqüente espalhamento para o meio<br />

intergalático pós-explosão nutre o universo para a possível formação de objetos celestes<br />

como planetas e estruturas biológicas complexas.<br />

As primeiras observações sist<strong>em</strong>áticas de supernovas foram feitas <strong>na</strong> déca<strong>da</strong> de 30<br />

através de chapas fotográficas por Baade & Zwicky, quando identificaram que 50% dos<br />

eventos seguiam um padrão de luminosi<strong>da</strong>de consistente: crescimento rápido <strong>na</strong>s primeiras<br />

s<strong>em</strong>a<strong>na</strong>s seguido de diminuição gradual <strong>em</strong> alguns meses. Minkowski através de medi<strong>da</strong>s<br />

espectroscópicas não identificou a presença de hidrogênio, classificando-as como<br />

supernovas do tipo I. As d<strong>em</strong>ais, com diferentes padrões de luminosi<strong>da</strong>de e presença de<br />

linhas de hidrogênio, são atualmente classifica<strong>da</strong>s como supernovas do tipo II, que serão<br />

objeto de nossa descrição.<br />

Nas supernovas do tipo I, a explosão é deflagra<strong>da</strong> por reações termonucleares.<br />

Numa anã branca, constituí<strong>da</strong> por C e O, sua massa é acresci<strong>da</strong> por uma estrela<br />

companheira. Portanto o sist<strong>em</strong>a é binário e foi descrito primeiramente por Hoyle e Fowler<br />

<strong>na</strong> déca<strong>da</strong> de 60. O aumento <strong>da</strong> massa provoca o aumento <strong>da</strong> pressão e as reações<br />

termonucleares com síntese de el<strong>em</strong>entos mais pesados se reiniciam de maneira abrupta e<br />

descontrola<strong>da</strong>, ocasio<strong>na</strong>ndo a explosão. A referência [2] traz um estudo detalhado deste tipo<br />

de supernova.<br />

Colgate, também <strong>na</strong> déca<strong>da</strong> de 60, descreve o mecanismo de supernovas do tipo II.<br />

A explosão é provoca<strong>da</strong> pela formação de uma on<strong>da</strong> de choque no centro estelar devido ao<br />

colapso gravitacio<strong>na</strong>l. Os neutrinos teriam o papel de aumentar a energia dessa on<strong>da</strong> de<br />

choque, num mecanismo descrito como “explosão atrasa<strong>da</strong>”. O colapso faz com que o<br />

centro estelar se contraia e atinja densi<strong>da</strong>des supra-nucleares, o que interrompe a<br />

compressão. A matéria que continua sendo atraí<strong>da</strong> pela força gravitacio<strong>na</strong>l, que é s<strong>em</strong>pre<br />

mais intensa, “rebate” no caroço central devido à resistência que ali encontra e inverte seu<br />

sentido de movimento. A energia mecânica acumula<strong>da</strong> nesse processo inicia a formação <strong>da</strong><br />

on<strong>da</strong> de choque. A descompressão repenti<strong>na</strong> do caroço central fornece o impulso adicio<strong>na</strong>l<br />

e decisivo ao choque, que adquire energia suficiente para desagregar e expelir de forma<br />

explosiva as cama<strong>da</strong>s mais exter<strong>na</strong>s <strong>da</strong> estrela. A potência do choque é manti<strong>da</strong> com<br />

energia extra deposita<strong>da</strong> <strong>na</strong> matéria pelo fluxo de neutrinos <strong>em</strong>ergentes que permaneceram<br />

<strong>em</strong> difusão pelo centro estelar.<br />

3.1) Evolução Pós-Sequência Principal<br />

As estrelas são palcos de um confronto de duas forças: a gravi<strong>da</strong>de (de fora para<br />

dentro), que comprime a estrela, e a de pressão (de dentro para fora), que resiste ao<br />

colapso. A primeira é oriun<strong>da</strong> <strong>da</strong> massa <strong>da</strong> estrela, enquanto a segun<strong>da</strong> é oriun<strong>da</strong> <strong>da</strong>s<br />

reações de fusão nuclear, considera<strong>da</strong>s como o combustível <strong>da</strong> estrela. As estrelas, portanto,<br />

estão <strong>em</strong> um estado de equilíbrio hidrostático, descrito pela equação<br />

dP(<br />

r)<br />

dr<br />

GM ( r)<br />

= ρg<br />

= −ρ , (3.1)<br />

2<br />

r<br />

<strong>em</strong> que M(r) é a massa inter<strong>na</strong> ao raio r, ρ é a densi<strong>da</strong>de e P(r) é a pressão.<br />

43


A primeira séria de reações de fusão agrega 4 prótons formando um núcleo de He:<br />

+<br />

4 p → α + 2e<br />

+ 2ν<br />

e<br />

, liberando aproxima<strong>da</strong>mente uma energia de 7MeV/nucleon. Este<br />

processo e os d<strong>em</strong>ais do ciclo p-p continuam no centro <strong>da</strong> estrela por cerca de 10 7 anos. Em<br />

1942, Mário Schenberg, físico brasileiro, e seu colega indiano, Chandrashekar, mostraram<br />

que o Sol não consegue lançar mão de todo estoque de hidrogênio. O caroço de energia,<br />

depois desses 10 bilhões de anos, entrará <strong>em</strong> crise, exigindo outro mecanismo para que não<br />

haja um colapso. Neste momento, t<strong>em</strong>os uma contração do centro estelar, <strong>da</strong>do que a<br />

atração gravitacio<strong>na</strong>l não encontra mais a oposição <strong>da</strong> pressão inter<strong>na</strong>. Por conseguinte, o<br />

centro se aquece, assim como as cama<strong>da</strong>s exter<strong>na</strong>s de matéria. O mecanismo proposto por<br />

Helmholtz indica que ocorrerá expansão dessas cama<strong>da</strong>s exter<strong>na</strong>s para ocorrer diminuição<br />

do gradiente de t<strong>em</strong>peratura. A t<strong>em</strong>peratura <strong>em</strong> torno do caroço de hélio, ao crescer, inicia a<br />

fusão do hidrogênio r<strong>em</strong>anescente (casca <strong>em</strong> volta do caroço central), enquanto que o<br />

centro vai se aquecendo para iniciar a fusão do hélio, que se transformará <strong>em</strong> carbono.<br />

Depois desta transformação, o hélio também passará a ser queimado numa casca, só que<br />

mais inter<strong>na</strong> à casca de hidrogênio. No Sol, a t<strong>em</strong>peratura do núcleo não subirá o suficiente<br />

para fundir o carbono.<br />

As duas cascas vão se deslocando para fora, fazendo a estrela se expandir para o<br />

chamado ramo assintótico, <strong>em</strong> que as trajetórias evolutivas <strong>da</strong>s estrelas de peque<strong>na</strong> massa<br />

se afunilam <strong>na</strong>s proximi<strong>da</strong>des dos ramos <strong>da</strong>s gigantes vermelhas. As instabili<strong>da</strong>des, devi<strong>da</strong>s<br />

às cama<strong>da</strong>s de queima nuclear, acabam expulsando a atmosfera <strong>da</strong> estrela, formando uma<br />

nebulosa planetária.<br />

Quanto mais massiva a estrela, el<strong>em</strong>entos químicos mais pesados consegu<strong>em</strong> ser<br />

sintetizados. Acima de 300 milhões K, o carbono e o hélio se fund<strong>em</strong>, gerando oxigênio e<br />

neônio. Estrelas que ating<strong>em</strong> 500 milhões K produz<strong>em</strong> o sódio. Acima de 1 bilhão K, a<br />

partir do oxigênio, a estrela fabrica o fósforo, o silício e o magnésio. Acima de 1,5 bilhão<br />

K, são gerados fótons energéticos que desintegram o neônio, transformando-os <strong>em</strong> oxigênio<br />

e magnésio. A t<strong>em</strong>peraturas pouco menores que 5 bilhões K, o silício se funde, formando<br />

ferro. Os chamados processos r (rápidos) de fusão não consegu<strong>em</strong> produzir el<strong>em</strong>entos mais<br />

pesados que o ferro. O núcleo desse el<strong>em</strong>ento químico t<strong>em</strong> alto grau de estabili<strong>da</strong>de e, ao se<br />

fundir com outro, ao invés de gerar energia, absorve. Tal processo endotérmico<br />

desequilibra a estrela, levando-a para o colapso. A figura 3.2 aponta o ferro como possível<br />

último el<strong>em</strong>ento <strong>da</strong> fusão e mostra a energia de ligação por nucleon <strong>em</strong> função do número<br />

de massa.<br />

Na figura 3.1 mostramos, para uma estrela de 25 M, a duração <strong>da</strong> queima de ca<strong>da</strong><br />

el<strong>em</strong>ento químico à medi<strong>da</strong> que a estrela evolui, com o conseqüente crescimento de<br />

t<strong>em</strong>peratura e densi<strong>da</strong>de do centro <strong>da</strong> estrela.<br />

44


Figura 3.1: El<strong>em</strong>entos <strong>em</strong> combustão <strong>em</strong> uma estrela de 25 M, com a duração de ca<strong>da</strong> etapa.<br />

Fe<br />

Figura 3.2: Energia de ligação por nucleon <strong>em</strong> função do número de massa [3].<br />

Estrelas de massa peque<strong>na</strong> (0,1M ≤ M ≤ 1M) ou de massa intermediária<br />

(1M ≤ M ≤ 8M) não consegu<strong>em</strong> queimar além do hélio e formam um centro de carbonooxigênio,<br />

termi<strong>na</strong>ndo sua vi<strong>da</strong> <strong>na</strong> forma de anã-branca. A pressão inter<strong>na</strong> diminui já que o<br />

combustível termonuclear se encerra, contraindo assim a estrela. Sendo assim, a densi<strong>da</strong>de<br />

aumenta e a distância média entre os elétrons fica próxima ao comprimento de de Broglie, o<br />

que tor<strong>na</strong> este gás de elétrons <strong>em</strong> sua forma degenera<strong>da</strong> – as partículas não se mov<strong>em</strong> mais<br />

livr<strong>em</strong>ente e o espaço de fase se restringe a estados com energias ca<strong>da</strong> vez mais altas.<br />

4 4 3<br />

L<strong>em</strong>brando que num gás degenerado de elétrons, a pressão eletrônica P e<br />

∝ p f<br />

∝ ρ , <strong>em</strong><br />

que p<br />

f<br />

corresponde ao momento de Fermi. Como já diss<strong>em</strong>os, ocorre contração e,<br />

portanto, aumento de densi<strong>da</strong>de. Logo, a pressão inter<strong>na</strong> aumenta, estabelecendo<br />

novamente o equilíbrio hidrostático. A estrela permanece como um objeto muito compacto<br />

(ρ/ρ ~10 4 -10 6 , R/R ~10 -2 ) e de luminosi<strong>da</strong>de baixa (L/L~10 -1 -10 -6 ) [4].<br />

45


Estrelas com massas maiores (8M ≤ M ≤ 60 M) consegu<strong>em</strong> fundir núcleos mais<br />

pesados, chegando a formar centros de ferro, onde t<strong>em</strong>os um gás degenerado de elétrons<br />

responsável pela pressão inter<strong>na</strong>. A condição que a distância entre os elétrons é próxima ao<br />

2<br />

comprimento de de Broglie estabelece uma densi<strong>da</strong>de crítica, ρ ∝ m 3<br />

c<br />

(m é a massa <strong>da</strong><br />

partícula que compõe o gás), acima <strong>da</strong> qual t<strong>em</strong>os degenerescência. No fi<strong>na</strong>l <strong>da</strong> etapa de<br />

formação do ferro, o centro <strong>da</strong> estrela t<strong>em</strong> uma t<strong>em</strong>peratura de cerca de 0,7 MeV e<br />

10 3<br />

6 3<br />

densi<strong>da</strong>de ρ ≅ 10 g cm [8]. Nesse caso, ρ >> ρc<br />

para os elétrons ( ρ ≅ c<br />

10 g cm ),<br />

11 3<br />

mas não para os nucleons ( ρ ≅ c<br />

10 g cm ). Estes últimos continuam a constituir um gás<br />

perfeito, com pressão parcial P<br />

n<br />


Figura 3. 3: Perfil de densi<strong>da</strong>de, t<strong>em</strong>peratura e composição química de uma estrela de 15 M <strong>em</strong><br />

função <strong>da</strong> massa interior M(r)/ M [2].<br />

3.2) Colapso Gravitacio<strong>na</strong>l<br />

Como já diss<strong>em</strong>os anteriormente, a formação de ferro no centro estelar interrompe<br />

as reações de fusão. Mesmo assim, reações pod<strong>em</strong> continuar <strong>na</strong> fronteira com a cama<strong>da</strong> de<br />

silício, devido às altíssimas t<strong>em</strong>peraturas, adicio<strong>na</strong>ndo ain<strong>da</strong> mais ferro no centro. Se a<br />

massa central superar o limite de Chandrasekhar, o equilíbrio hidrostático é rompido. S<strong>em</strong><br />

oposição ao peso <strong>da</strong>s cama<strong>da</strong>s exter<strong>na</strong>s, ocorrerá o colapso gravitacio<strong>na</strong>l de uma maneira<br />

implosiva. Quando se inicia o colapso, uma on<strong>da</strong> de “rarefação” se propaga <strong>em</strong> direção ao<br />

exterior <strong>da</strong> estrela, porém com veloci<strong>da</strong>de muito menor que a do colapso. Sendo assim, o<br />

envelope permanece estático. Daí sabe-se que é o centro estelar que colapsa, e não a estrela<br />

to<strong>da</strong>.<br />

47


Mecanismos de resfriamento do centro estelar de ferro, como a neutronização, fotodissociação<br />

e aniquilação de pares vão causar a diminuição <strong>da</strong> pressão inter<strong>na</strong> –<br />

esfriamento de centro estelar, devido às reações endotérmicas.<br />

3.2.1) Neutronização<br />

Em uma anã-branca, como já comentado anteriormente, o equilíbrio hidrostático era<br />

atingido novamente quando ocorria um aumento <strong>da</strong> pressão eletrônica P e<br />

, devido ao<br />

aumento <strong>da</strong> densi<strong>da</strong>de central, equilibrando assim a força gravitacio<strong>na</strong>l de colapso. No<br />

entanto, antes que o equilíbrio seja restabelecido, o aumento <strong>da</strong> densi<strong>da</strong>de faz com que a<br />

energia de Fermi atinja um valor comparável à diferença de massa nêutron-próton<br />

∆<br />

np<br />

= 1, 3MeV (<strong>na</strong> fase pré-colapso, E f < 1MeV), possibilitando o processo de captura<br />

eletrônica ou neutronização:<br />

e<br />

−<br />

+ p → n + ν<br />

e<br />

ou (3.4)<br />

e<br />

−<br />

+ ( A,<br />

Z)<br />

→ ( A,<br />

Z −1)<br />

+ ν , (3.5)<br />

e<br />

<strong>em</strong> que (A, Z) representa especialmente os nuclídeos do grupo do ferro, que é o el<strong>em</strong>ento<br />

mais abun<strong>da</strong>nte do centro estelar. A captura reduz a concentração de léptons, uma vez que<br />

os neutrinos escapam livr<strong>em</strong>ente <strong>da</strong> estrela. O escape dos neutrinos diminui a energia<br />

disponível e também a quanti<strong>da</strong>de de férmions, aumentando o número de estados<br />

disponíveis no espaço de fase e reduzindo a pressão.<br />

3.2.2) Foto-dissociação<br />

Depois <strong>da</strong> queima dos núcleos mais leves, o centro estelar possui uma concentração<br />

maior de núcleos pesados, como ferro e níquel, tor<strong>na</strong>ndo-se impossível a fusão. Tais<br />

núcleos pod<strong>em</strong> ser dissociados por fótons de alta energia, pertencentes à parte alta <strong>da</strong><br />

distribuição de Maxwell, <strong>em</strong> equilíbrio termodinâmico com o gás degenerado. Pode<br />

ocorrer:<br />

O hélio também pode foto-dissociar:<br />

56<br />

4<br />

γ+ Fe → 13 He + 4n , (3.6)<br />

56<br />

54<br />

Ni→ Fe + 2p e (3.7)<br />

54<br />

4<br />

γ+ Fe → 13 He + 2n . (3.8)<br />

4<br />

γ + He → 2n + 2p . (3.9)<br />

48


Estas reações mostra<strong>da</strong>s acima são endotérmicas e faz<strong>em</strong> com que o plasma volte às<br />

condições de nucleons e elétrons livres, absorvendo uma energia do meio comparável à<br />

18<br />

energia libera<strong>da</strong> pelas fusões que criaram os el<strong>em</strong>entos pesados (~ 5× 10 erg / g ).<br />

3.2.3) Aniquilação de Pares<br />

Os fótons de mais alta energia pod<strong>em</strong> criar pares elétron-pósitron:<br />

− +<br />

γ + γ → e + e →ν<br />

+ ν e . (3.10)<br />

e<br />

Os elétrons e os pósitrons produzidos pod<strong>em</strong>, por sua vez, se aniquilar e formar um<br />

par de neutrino-antineutrino eletrônico, o que acarreta uma sensível per<strong>da</strong> de energia pela<br />

saí<strong>da</strong> destes neutrinos do centro estelar.<br />

Para t<strong>em</strong>peraturas pouco maiores que a do limiar de produção elétron-pósitron<br />

(1,022 MeV), a energia dos fótons é quase to<strong>da</strong> utiliza<strong>da</strong> para a formação <strong>da</strong>s massas <strong>da</strong>s<br />

partículas, restando pouca energia cinética. Isto equivale a subtrair energia térmica do meio<br />

e reduzir a pressão que balanceia a contração gravitacio<strong>na</strong>l. Em t<strong>em</strong>peraturas mais<br />

eleva<strong>da</strong>s, esse processo transforma a energia de radiação <strong>em</strong> agitação térmica <strong>da</strong>s<br />

partículas, s<strong>em</strong> ocorrer redução <strong>na</strong> pressão, o que mantém a estrela <strong>em</strong> seu equilíbrio.<br />

Acabamos de descrever os fatores que colaboram para o colapso de centro estelar. A<br />

seguir começamos a descrição <strong>da</strong> dinâmica e de que maneira o colapso vai ocorrer.<br />

3.3) Dinâmica do colapso<br />

O centro estelar pode ser dividido <strong>em</strong> duas regiões quanto às veloci<strong>da</strong>des de atração<br />

<strong>da</strong> matéria: a região homóloga e a casca exter<strong>na</strong>. Havendo tal divisão, t<strong>em</strong>os acúmulo de<br />

energia mecânica <strong>na</strong> fronteira entre as regiões, podendo ocorrer formação de on<strong>da</strong>s de<br />

choque que pod<strong>em</strong> provocar a explosão <strong>da</strong> estrela.<br />

i) região homóloga: é a parte mais inter<strong>na</strong>, onde as distribuições de t<strong>em</strong>peratura e<br />

densi<strong>da</strong>de só são altera<strong>da</strong>s por um fator de escala no colapso (autosimilari<strong>da</strong>de).<br />

A partir desse instante, o limite de Chandrasekhar passa a ser útil<br />

para definir a fronteira <strong>da</strong> região homóloga. Vamos supor uma esfera de raio R h<br />

com massa igual a massa de Chandrasekhar. O fenômeno de captura eletrônica<br />

reduz o valor <strong>da</strong> fração Ye até 0,36 [6]. Logo, por (3.2), a massa de<br />

Chandrasekhar é reduzi<strong>da</strong> para 0,75 M. Sab<strong>em</strong>os que o colapso faz com que<br />

ρ (r) cresça. Portanto, o volume <strong>da</strong> esfera diminui durante o colapso. Por outro<br />

lado, o perfil de densi<strong>da</strong>de dentro <strong>da</strong> esfera não se modifica, isto é, ρ ( r Rh<br />

) é<br />

constante, o que caracteriza a homologia do colapso nessa região [7]. Uma<br />

proprie<strong>da</strong>de importante <strong>da</strong> região homóloga é que a veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> matéria <strong>em</strong><br />

colapso é subsônica e proporcio<strong>na</strong>l à distância do centro <strong>da</strong> estrela.<br />

ii) Casca exter<strong>na</strong>: região limita<strong>da</strong> inter<strong>na</strong>mente pela região homóloga e<br />

exter<strong>na</strong>mente pela bor<strong>da</strong> do centro <strong>em</strong> colapso. A matéria é atraí<strong>da</strong> com<br />

veloci<strong>da</strong>de supersônica. O máximo <strong>da</strong> veloci<strong>da</strong>de é atingido <strong>em</strong> um raio<br />

intermediário do centro do colapso, que é um pouco maior que R h .<br />

49


A densi<strong>da</strong>de, assim como a veloci<strong>da</strong>de local do som v s<br />

, são funções decrescentes<br />

do raio. Ponto sônico, que coincide com R h e se move <strong>em</strong> direção ao centro estelar durante<br />

o colapso, é o raio <strong>em</strong> que v = vs<br />

e d<strong>em</strong>arca a fronteira entre a região homóloga e a casca<br />

exter<strong>na</strong>.<br />

A figura 3.4 mostra os perfis <strong>da</strong>s veloci<strong>da</strong>des <strong>em</strong> t=1ms após o início do colapso<br />

[8], onde o ponto sônico está <strong>em</strong> um raio de aproxima<strong>da</strong>mente 25 km. Qualquer<br />

perturbação <strong>na</strong> região homóloga não se propaga além do ponto sônico, onde se acumula<br />

to<strong>da</strong> a energia transporta<strong>da</strong> pelas on<strong>da</strong>s sonoras.<br />

ponto sônico<br />

Figura 3.4: veloci<strong>da</strong>de de que<strong>da</strong> <strong>da</strong> matéria (v) e veloci<strong>da</strong>de local do som (v s ) <strong>em</strong> função do raio <strong>da</strong><br />

estrela, no instante t=1ms após o início do colapso [8]. O cruzamento <strong>da</strong>s duas curvas é o ponto sônico,<br />

que delimita a região homóloga do colapso.<br />

O impacto <strong>da</strong> matéria <strong>em</strong> que<strong>da</strong> sobre o centro estelar produz variações de pressão<br />

que se propagam rumo ao exterior como on<strong>da</strong>s sonoras. No entanto, a matéria <strong>em</strong> colapso<br />

se move <strong>em</strong> sentido contrário.<br />

3.4) Explosão<br />

Além <strong>da</strong> homologia, o aumento contínuo <strong>da</strong> densi<strong>da</strong>de no centro estelar traz<br />

implicações consideráveis para a in<strong>versão</strong> do movimento <strong>da</strong> matéria <strong>em</strong> colapso: o<br />

aprisio<strong>na</strong>mento de neutrinos e a transição de fase <strong>da</strong> matéria nuclear.<br />

3.4.1) Aprisio<strong>na</strong>mento de neutrinos<br />

11 3<br />

Em regiões onde a densi<strong>da</strong>de atinge ρ<br />

a<br />

≅ 6,0<br />

× 10 g cm , a matéria tor<strong>na</strong>-se opaca<br />

aos neutrinos, pois o livre caminho médio, cerca de 1 km, é muito menor que o raio do<br />

centro estelar, cerca de 100 km. A opaci<strong>da</strong>de é causa<strong>da</strong> principalmente pelo espalhamento<br />

elástico (via corrente neutra) com os núcleos presentes no meio [9]. O t<strong>em</strong>po de difusão<br />

supera a escala de t<strong>em</strong>po de colapso, portanto os neutrinos pod<strong>em</strong> ser considerados presos<br />

<strong>na</strong> região central. A difusão faz com que os processos de captura/ re-<strong>em</strong>issão pass<strong>em</strong> a<br />

50


ocorrer <strong>em</strong> taxas praticamente iguais, sendo que os neutrinos eletrônicos passam a entrar<br />

<strong>em</strong> equilíbrio com os elétrons via reação<br />

−<br />

ν + n → e p . (3.11)<br />

e<br />

+<br />

Este equilíbrio interrompe a redução <strong>da</strong> fração leptônica (Y e ), que se estabiliza<br />

próxima ao valor de 0,36. Como conseqüência, também se estabiliza a pressão dos elétrons,<br />

e pode-se determi<strong>na</strong>r um limite inferior para a massa <strong>da</strong> região homóloga. Tanto a redução<br />

<strong>da</strong> pressão eletrônica, quanto a determi<strong>na</strong>ção de um limite de massa inferior <strong>da</strong> região<br />

homóloga, são fatores contrários à contração estelar.<br />

Os neutrinos aprisio<strong>na</strong>dos formarão uma região chama<strong>da</strong> neutrinosfera, que pode<br />

ser defini<strong>da</strong> como a superfície onde ocorre a última interação antes de eles escapar<strong>em</strong>. Em<br />

outras palavras, é a superfície <strong>da</strong> qual <strong>em</strong>a<strong>na</strong>m os neutrinos.<br />

O raio <strong>da</strong> neutrinosfera é obtido tomando-se a profundi<strong>da</strong>de óptica τ ( R<br />

ν<br />

) = 2 3 [6].<br />

Esta profundi<strong>da</strong>de é calcula<strong>da</strong> levando <strong>em</strong> conta a fração de neutrinos que escapam <strong>em</strong> um<br />

ângulo com direção radial. A profundi<strong>da</strong>de óptica é <strong>da</strong><strong>da</strong> por:<br />

2<br />

( ) = ∫ ∞ dr<br />

τ R<br />

ν<br />

= , (3.12)<br />

Rν<br />

λ 3<br />

<strong>em</strong> que λ ν<br />

é o livre caminho médio dos neutrinos. É importante comentar que a<br />

neutrinosfera depende <strong>da</strong> energia dos neutrinos ( λ ν<br />

contém a seção de choque para o<br />

processo considerado), logo seu raio não é único. Como primeira aproximação, para os<br />

neutrinos e antineutrinos eletrônicos, pod<strong>em</strong>os utilizar [6]<br />

ν<br />

Rν = 11Eν<br />

km , (13)<br />

<strong>em</strong> que E<br />

ν<br />

é a energia do neutrino <strong>em</strong> MeV. Durante esta etapa do colapso, os neutrinos<br />

possu<strong>em</strong> energia no intervalo entre 6 a 22 MeV (dependendo <strong>da</strong> região de produção: menor<br />

o raio, maior a energia). Na região onde ρ ≅ ρa<br />

, Eν<br />

≅ 10MeV<br />

, o raio <strong>da</strong> neutrinosfera<br />

2<br />

será de Rν<br />

≅ 10 km . Assim, o raio <strong>da</strong> neutrinosfera se localiza exter<strong>na</strong>mente à esfera de<br />

aprisio<strong>na</strong>mento, o que significa que antes do escape os neutrinos ain<strong>da</strong> difund<strong>em</strong> por longas<br />

distâncias. Estes neutrinos aprisio<strong>na</strong>dos <strong>na</strong> neutrinosfera possu<strong>em</strong> um papel muito<br />

importante para a explosão <strong>da</strong> supernova, atuando como fontes de energia para a on<strong>da</strong> de<br />

choque que expele a matéria estelar.<br />

3.4.2) Transição de fase <strong>da</strong> matéria nuclear<br />

Vimos que a pressão exerci<strong>da</strong> pelos núcleos é b<strong>em</strong> menor que a pressão exerci<strong>da</strong><br />

pelos elétrons ( P<br />

n<br />


acarreta um grande acréscimo <strong>em</strong> P n . A força de repulsão de curto alcance nucleon-nucleon<br />

γ<br />

passa a prevalecer. Na equação de estado do plasma P = kρ , γ mu<strong>da</strong> de valor, uma vez<br />

que inicialmente tínhamos um gás degenerado de elétrons relativísticos ( γ = 4 3 ) e<br />

passamos para um gás degenerado de nucleons não-relativísticos ( γ = 5 3). Este<br />

crescimento do expoente <strong>da</strong> equação de estado faz com que o centro estelar subitamente<br />

enrijeça, oferecendo grande resistência à compressão contínua. Esta resistência provoca um<br />

acúmulo <strong>da</strong> energia no ponto sônico, já que mais on<strong>da</strong>s sonoras são produzi<strong>da</strong>s, e principia<br />

a formação de uma on<strong>da</strong> de choque, que difere <strong>da</strong> on<strong>da</strong> sonora porque modifica o meio de<br />

maneira “permanente” e sua veloci<strong>da</strong>de é supersônica.<br />

Apesar de peque<strong>na</strong> a compressibili<strong>da</strong>de nuclear, ela é não nula. Alguns cálculos<br />

indicam que ρ pode superar ρ n <strong>em</strong> até 50% [5]. Quando isto ocorre, o centro estelar não<br />

pode ser mais comprimido, tor<strong>na</strong>ndo-se uma barreira e rebate a contração, causando uma<br />

abrupta e violenta variação de pressão rumo ao exterior. Forma-se então uma on<strong>da</strong> de<br />

choque que rompe o confi<strong>na</strong>mento do ponto sônico e se propaga fora <strong>da</strong> estrela, revertendo<br />

o colapso gravitacio<strong>na</strong>l <strong>em</strong> uma explosão de supernova.<br />

O mecanismo que possibilita a explosão ain<strong>da</strong> não é claro, porém pod<strong>em</strong> ser<br />

descritos dois tipos de cenário: a explosão imediata, com caráter puramente hidrodinâmico,<br />

<strong>em</strong> que o choque consegue expelir o envelope estelar; e a explosão atrasa<strong>da</strong>, <strong>em</strong> que o<br />

choque perde energia <strong>na</strong> dissociação de núcleos <strong>da</strong> casca exter<strong>na</strong>, sendo porém revitalizado<br />

pelos neutrinos <strong>em</strong> difusão.<br />

3.4.3) Explosão Imediata<br />

A rebati<strong>da</strong> <strong>da</strong> parte homóloga, após o momento de máxima compressão, cede<br />

energia suficiente para que a on<strong>da</strong> de choque propague-se por to<strong>da</strong> a estrela <strong>em</strong> direção a<br />

superfície, expelindo a maior parte <strong>da</strong> sua massa, resultando ou <strong>em</strong> uma estrela de nêutrons<br />

ou <strong>em</strong> um buraco negro.<br />

Os resultados mostram que o choque dissipa sua energia dissociando núcleos <strong>em</strong><br />

nucleons ao passar pela matéria <strong>da</strong> casca exter<strong>na</strong>. A dissociação do ferro, por ex<strong>em</strong>plo,<br />

requer cerca de 8,7 MeV/nucleon. Estima-se que para ca<strong>da</strong> 0,1 M de matéria dissocia<strong>da</strong><br />

51<br />

<strong>em</strong> nêutrons e prótons, a energia dissipa<strong>da</strong> é de aproxima<strong>da</strong>mente 1 ,7 × 10 erg [10], que é<br />

comparável à energia cinética <strong>da</strong> matéria <strong>na</strong> explosão <strong>da</strong> SN1987A.<br />

A parte homóloga contém cerca de 0,7 M. Portanto, 0,5 M a 0,8 M de casca<br />

exter<strong>na</strong> dev<strong>em</strong> ser atravessados pelo choque com energia suficiente para ejetar o envelope<br />

<strong>da</strong> estrela. Os prótons liberados com a dissociação aumentam a taxa de captura eletrônica,<br />

reduzindo a pressão. Quando o choque atinge regiões ρ < ρ<br />

a<br />

, os neutrinos de captura<br />

eletrônica pod<strong>em</strong> escapar livr<strong>em</strong>ente, levando grandes quanti<strong>da</strong>des de energia.<br />

O sucesso <strong>da</strong> explosão imediata t<strong>em</strong> forte dependência com a massa total <strong>da</strong> estrela<br />

e com a equação de estado <strong>da</strong> matéria nuclear. Estrelas de massa menor formam centros de<br />

ferro de menor dimensão. Desta maneira t<strong>em</strong>os menos material a ser atravessado, com<br />

menores per<strong>da</strong>s de energia. Equações de estado para compressibili<strong>da</strong>des maiores <strong>da</strong> matéria<br />

nuclear conduz<strong>em</strong> a rebati<strong>da</strong>s mais intensas, formando on<strong>da</strong>s de choque com maior energia.<br />

Estrelas com massa entre 8 M e 12 M pod<strong>em</strong> não formar ferro, termi<strong>na</strong>ndo a<br />

evolução pré-supernova com um centro composto por oxigênio, neônio, magnésio e silício.<br />

Pod<strong>em</strong>os ter uma explosão também nesse caso [5] pela on<strong>da</strong> de choque, que é auxiliado por<br />

52


dois fatores: a energia dissipa<strong>da</strong> <strong>na</strong> dissociação <strong>da</strong> matéria do centro <strong>da</strong> estrela é menor e<br />

existe uma grande descontinui<strong>da</strong>de de densi<strong>da</strong>de entre as cama<strong>da</strong>s de carbono e hélio,<br />

facilitando a propagação do choque. Exist<strong>em</strong> grandes discussões e simulações sobre<br />

explosões de estrelas desse porte [5, 11, 12].<br />

Explosões de estrelas com massa entre 12 M e 16 M são discuti<strong>da</strong>s por Baron,<br />

Cooperstein e Kaha<strong>na</strong> [13]. Em geral o sucesso de tais explosões se deve a equações de<br />

estado “suaves” e ao uso de centros de ferro menores [5]. Wilson [14], usando equações de<br />

estado mais “conservadoras”, não obteve explosões.<br />

3.4.4) Explosão Atrasa<strong>da</strong><br />

O modelo de Baron et. al. falha para estrelas massas maiores que 18 M. Por<br />

ex<strong>em</strong>plo: uma estrela de 25 M produz um centro de ferro de 2 M, logo o choque deve<br />

atravessar aproxima<strong>da</strong>mente 1,3 M. Isto implica <strong>em</strong> imensas per<strong>da</strong>s de energia <strong>na</strong><br />

dissociação nuclear.<br />

Um possível modelo que explicaria a explosão destas estrelas mais massivas é o<br />

modelo <strong>da</strong> explosão atrasa<strong>da</strong>. Ele se baseia <strong>na</strong> possibili<strong>da</strong>de que, algumas cente<strong>na</strong>s de ms<br />

após a rebati<strong>da</strong>, o choque seja reativado por neutrinos <strong>em</strong>itidos <strong>da</strong> recém forma<strong>da</strong> e ain<strong>da</strong><br />

quente estrela de nêutrons. O choque diminui a densi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> matéria por onde passa,<br />

facilitando a difusão dos neutrinos <strong>da</strong> região homóloga. O fluxo de neutrinos vindo de<br />

regiões mais quentes desagrega núcleos <strong>em</strong> nucleons. O aumento do número de partículas<br />

com alta energia cinética faz crescer a pressão P n e aquece a matéria, revigorando o choque<br />

[5]. É importante observar que a dissociação, que tinha um papel de amortecer o choque,<br />

agora t<strong>em</strong> um papel inverso. O motivo é que <strong>na</strong> fase de amortecimento, a energia de<br />

dissociação era absorvi<strong>da</strong> pelo próprio choque. Agora, nesse modelo, a energia é cedi<strong>da</strong><br />

pelos neutrinos que se difund<strong>em</strong> <strong>na</strong> região de aprisio<strong>na</strong>mento.<br />

O fluxo de neutrinos, nessa fase, é gerado no interior <strong>da</strong> neutrinosfera por<br />

aniquilação de pares:<br />

e<br />

− + e<br />

+ →ν + ν . (3.14)<br />

x<br />

x<br />

A maior fração <strong>da</strong> energia deposita<strong>da</strong> (80% [15]) v<strong>em</strong> dos processos de absorção:<br />

−<br />

ν + n → e p e (3.15)<br />

e<br />

+<br />

+<br />

ν + p → e n . (3.16)<br />

e<br />

+<br />

O fluxo <strong>em</strong>ergente t<strong>em</strong> como componente domi<strong>na</strong>nte os neutrinos eletrônicos de<br />

captura (3.4) e (3.5), copiosamente produzidos <strong>na</strong> região homóloga durante sua fase de<br />

compressão. Adicio<strong>na</strong>lmente, visto que a captura provoca a neutronização <strong>da</strong> matéria, a<br />

reação (3.15) acima descrita é mais freqüente, e espera-se que no fluxo <strong>em</strong>itido pela estrela<br />

Eν < E .<br />

e ν e<br />

T<strong>em</strong>os também uma menor contribuição, com participação também dos neutrinos<br />

muônicos e taônicos, oriundos do espalhamento com nucleons ou elétrons (pósitrons) [16]:<br />

53


⎧ p⎫<br />

⎧ p⎫<br />

ν<br />

x<br />

+ ⎨ ⎬ →ν<br />

x<br />

+ ⎨ ⎬<br />

⎩n<br />

⎭ ⎩n<br />

⎭<br />

⎧e<br />

ν<br />

x<br />

+ ⎨<br />

⎩e<br />

−<br />

+<br />

⎫ ⎧e<br />

⎬ →ν<br />

x<br />

+ ⎨<br />

⎭ ⎩e<br />

−<br />

+<br />

⎫<br />

⎬<br />

⎭<br />

. (3.17)<br />

[15]:<br />

A potência por grama de matéria estelar absorvi<strong>da</strong> do fluxo de neutrinos é <strong>da</strong><strong>da</strong> por<br />

dE&<br />

dm<br />

2<br />

⎡ L T ⎤<br />

ν<br />

⎛<br />

m<br />

⎞<br />

4 erg<br />

= K(<br />

T ⎢<br />

aTm<br />

c⎥<br />

⎢ R<br />

⎜<br />

m<br />

T<br />

⎟<br />

ν ) −<br />

, (3.18)<br />

2<br />

4π<br />

⎥ g × s<br />

⎣ ⎝ ν ⎠ ⎦<br />

<strong>em</strong> que o índice m refere-se ao el<strong>em</strong>ento de matéria e ν refere-se à neutrinosfera. R é a<br />

distância do centro e T é a t<strong>em</strong>peratura <strong>em</strong> MeV. K ( T ν<br />

) = λ v<br />

ρ é o coeficiente de absorção<br />

de neutrinos (cm 2 /g) para uma <strong>da</strong><strong>da</strong> t<strong>em</strong>peratura <strong>da</strong> neutrinosfera. L ν é a luminosi<strong>da</strong>de do<br />

52<br />

fluxo de ν<br />

e<br />

+ ν<br />

e<br />

( ≅ 4×10 erg s ). O primeiro termo <strong>da</strong> expressão (3.18) se refere ao<br />

ganho de energia à distância R; o segundo termo descreve a <strong>em</strong>issão de neutrinos de<br />

4<br />

captura à t<strong>em</strong>peratura T, sendo que a grandeza aT<br />

m<br />

é a densi<strong>da</strong>de de energia dos neutrinos<br />

<strong>na</strong> captura.<br />

Quando o primeiro termo é maior que o segundo, t<strong>em</strong>os um ganho de energia. Isto<br />

ocorre para um raio com cerca de 150 km, chamado de “ponto de bifurcação”. Nessa região<br />

a probabili<strong>da</strong>de de absorção de neutrinos, proporcio<strong>na</strong>l a densi<strong>da</strong>de, é considerável e pode<br />

chegar a 10 -3 . Já a t<strong>em</strong>peratura <strong>da</strong> matéria é baixa, <strong>em</strong> torno de alguns MeV, para que a<br />

própria <strong>em</strong>issão seja despreza<strong>da</strong>. A potência cedi<strong>da</strong> pelos neutrinos para ca<strong>da</strong> nucleon é<br />

−1<br />

E & = 50MeV.<br />

s , suficiente para revitalizar o choque após aproxima<strong>da</strong>mente 250 ms [6].<br />

53<br />

A luminosi<strong>da</strong>de dos neutrinos é eleva<strong>da</strong> ( Lν<br />

≅ 10 erg s ) e existe grande fluxo.<br />

Apesar <strong>da</strong> seção de choque ser muito baixa, isto é, <strong>em</strong> cerca de 5% dos neutrinos que<br />

interag<strong>em</strong> com a matéria, a energia deposita<strong>da</strong> seria suficiente para reavivar o choque [2].<br />

Ocorrendo o aquecimento, a pressão cresce consideravelmente e <strong>em</strong>purra a matéria<br />

estelar para o exterior. O choque pode avançar pelo manto até chegar a regiões com baixa<br />

densi<strong>da</strong>de, provocando a explosão. A massa inter<strong>na</strong> ao ponto de bifurcação colapsa, esfria<br />

lentamente por cerca de 20 s através <strong>da</strong> difusão e <strong>em</strong>issão de ν x<br />

e ν x<br />

, <strong>da</strong>ndo orig<strong>em</strong> ao<br />

objeto r<strong>em</strong>anescente: uma estrela de nêutrons com raio aproxima<strong>da</strong>mente de 10 km, massa<br />

próxima a massa de Chandrashekar e baixa concentração leptônica ( Y l<br />

≅ Y e<br />

≅ 0, 04 ), já que<br />

os neutrinos foram <strong>em</strong>itidos <strong>em</strong> quase sua totali<strong>da</strong>de. A estrela de nêutrons pode sofrer<br />

mais um colapso e se transformar <strong>em</strong> um buraco negro.<br />

Wilson, com o mecanismo de atraso, obteve explosões para estrelas entre 25 e 50<br />

M [14]. Fatores como convecção, a rotação <strong>da</strong> estrela e quebras <strong>na</strong> simetria esférica dev<strong>em</strong><br />

ser considerados nos mecanismos de explosão. A convecção, por ex<strong>em</strong>plo, parece reforçar<br />

que o mecanismo de atraso é mais eficaz para explicar o fenômeno <strong>da</strong> explosão. Janka [16]<br />

54


obteve resultados interessantes sobre o modelo de atraso incluindo a quebra <strong>da</strong> simetria<br />

esférica. Bethe mostrou que os <strong>da</strong>dos de SN1987A são mais consistentes com o modelo de<br />

explosão atrasa<strong>da</strong> [30].<br />

3.5) Neutrinos de colapsos estelares<br />

Independente do mecanismo de explosão, a formação <strong>da</strong> estrela de nêutrons requer<br />

liberação de uma grande quanti<strong>da</strong>de de energia gravitacio<strong>na</strong>l, que é <strong>da</strong><strong>da</strong> por:<br />

2 2<br />

⎛ M M ⎞<br />

53<br />

∆ E = −G<br />

⎜ − ≅ ( 2 − 4) × 10 erg<br />

R0<br />

R<br />

⎟<br />

. (3.19)<br />

⎝<br />

N ⎠<br />

Os índices 0 e N <strong>da</strong> expressão acima se refer<strong>em</strong>, respectivamente, ao raio inicial <strong>da</strong><br />

estrela e ao raio <strong>da</strong> estrela de nêutrons.<br />

Observações de supernova mostram que a radiação de fótons soma<br />

49<br />

aproxima<strong>da</strong>mente 10 erg e a energia cinética <strong>da</strong> matéria ejeta<strong>da</strong> aproxima<strong>da</strong>mente<br />

51<br />

10 erg [17]. Uma grande fração, “invisível” por assim dizer, deve ser <strong>em</strong>iti<strong>da</strong> pelos<br />

neutrinos ou on<strong>da</strong>s gravitacio<strong>na</strong>is. Estima-se que as on<strong>da</strong>s gravitacio<strong>na</strong>is portariam no<br />

máximo 1% desse total [18]. Portanto, 99% <strong>da</strong> energia libera<strong>da</strong> dev<strong>em</strong> ser carrega<strong>da</strong>s pelos<br />

neutrinos.<br />

T<strong>em</strong>os três momentos ou estágios <strong>da</strong> <strong>em</strong>issão de neutrinos <strong>em</strong> supernovas: i) o flash<br />

inicial (do disparo inicial até irrupção do choque); ii) pulsação intermediária (período entre<br />

o amortecimento do choque e a explosão, com acréscimo de matéria à região homóloga);<br />

iii) o resfriamento fi<strong>na</strong>l (<strong>da</strong> proestrela de nêutrons recém forma<strong>da</strong>).<br />

1. flash neutrínico: começando o colapso, a captura eletrônica produz ν<br />

e<br />

, que pod<strong>em</strong><br />

escapar livr<strong>em</strong>ente até o momento do aprisio<strong>na</strong>mento. Tais ν e<br />

vão ser usados no<br />

processo de neutronização <strong>da</strong> matéria do centro estelar. Durante a implosão, de<br />

51<br />

duração média de 5 ms, são liberados ≅ 2×10 erg <strong>em</strong> ν e<br />

com energia média<br />

53<br />

E ≅ 15MeV e luminosi<strong>da</strong>de L e<br />

≅ 4 ×10 erg s . Ocorre a irrupção <strong>da</strong> on<strong>da</strong> de<br />

choque, que ao se propagar, aquece a matéria e dissocia os núcleos. Como resultado<br />

mais neutrinos eletrônicos são produzidos já que mais elétrons são capturados pelos<br />

prótons livres. Ao mesmo t<strong>em</strong>po, ocorre uma distribuição térmica de todos os tipos<br />

de neutrinos com t<strong>em</strong>peraturas de alguns MeV. Os espectros mu<strong>da</strong>m para ca<strong>da</strong><br />

espécie de neutrino porque apresentam diferentes livres caminhos médios.<br />

Neutrinos muônicos e taônicos interag<strong>em</strong> somente por corrente neutra, uma vez que<br />

a t<strong>em</strong>peratura não é suficiente para produzir múons e taos. Isto gera uma menor<br />

seção de choque e, portanto, um espectro de t<strong>em</strong>peraturas (e energias)<br />

características mais altas. Quando o choque atinge a neutrinosfera, todos estes<br />

51<br />

neutrinos escapam <strong>em</strong> aproxima<strong>da</strong>mente 5 ms. Cerca de 10 erg são <strong>em</strong>itidos com<br />

51<br />

os ν<br />

e<br />

de captura, enquanto que os ν µ , τ carregam 0 ,5× 10 erg , resultando <strong>na</strong>s<br />

53<br />

53<br />

seguintes luminosi<strong>da</strong>des: L e<br />

≅ 2 ×10 erg s e Lµ , τ ≅ 10 erg s .<br />

55


53<br />

L e<br />

≅ 6 ×10 erg s é o valor de pico <strong>da</strong> luminosi<strong>da</strong>de para o neutrino eletrônico,<br />

soma<strong>da</strong> as contribuições de implosão e irrupção.<br />

2. pulsação: depois de 10 a 30 ms, o choque é interrompido e a matéria retoma o<br />

movimento para o centro estelar (acréscimo). As neutrinosferas também se<br />

contra<strong>em</strong> <strong>em</strong> direção ao centro, devido à diminuição <strong>da</strong> espessura <strong>da</strong> matéria inter<strong>na</strong><br />

ao ponto de bifurcação, o que aumenta a t<strong>em</strong>peratura desta região e a energia dos<br />

neutrinos. Durante o acréscimo, a instabili<strong>da</strong>de do centro estelar causa pulsação <strong>da</strong><br />

luminosi<strong>da</strong>de, interrompi<strong>da</strong> com a retoma<strong>da</strong> <strong>da</strong> potência do choque e o sucesso <strong>da</strong><br />

explosão. A identificação dessa estrutura <strong>na</strong> curva de luminosi<strong>da</strong>de pelos<br />

telescópios de neutrinos é fun<strong>da</strong>mental para determi<strong>na</strong>r o mecanismo de explosão,<br />

sendo que o mecanismo de pulsação só acontece para a explosão do tipo atrasa<strong>da</strong>.<br />

No momento <strong>da</strong> explosão o manto é expelido e ocorre um aumento muito rápido <strong>na</strong><br />

luminosi<strong>da</strong>de e <strong>na</strong> energia média.<br />

3. resfriamento: até o instante <strong>da</strong> explosão, a quanti<strong>da</strong>de de energia libera<strong>da</strong><br />

(3 − 5×<br />

10<br />

52 erg)<br />

representa ape<strong>na</strong>s 10-20% <strong>da</strong> energia de formação <strong>da</strong> estrela de<br />

nêutron. A fração mais significativa é libera<strong>da</strong> após explosão, com a deleptonização<br />

e resfriamento <strong>da</strong> estrela de nêutrons. Nesta etapa todos os tipos de neutrinos sofr<strong>em</strong><br />

espalhamento e somente os neutrinos eletrônicos são absorvidos. O livre caminho<br />

médio dos neutrinos eletrônicos é de 0,1-1m e é dez vezes maior para os neutrinos<br />

muônicos e taônicos. A duração do resfriamento é controla<strong>da</strong> pela escala de t<strong>em</strong>po<br />

de difusão dos neutrinos, estima<strong>da</strong> entre 10 e 100 s. No fi<strong>na</strong>l <strong>da</strong> etapa de<br />

resfriamento, <strong>em</strong> algumas deze<strong>na</strong>s de segundo, a protoestrela de nêutrons tor<strong>na</strong>-se<br />

transparente aos neutrinos e sua luminosi<strong>da</strong>de se acaba.<br />

56


Figura 3.5: (a) Luminosi<strong>da</strong>de e energia média dos neutrinos durante o primeiro segundo após irrupção<br />

do choque e (b) luminosi<strong>da</strong>de e energia média dos neutrinos durante a explosão <strong>da</strong> supernova [19].<br />

A energia total <strong>em</strong>iti<strong>da</strong> pelos neutrinos <strong>na</strong>s duas primeiras etapas, denomi<strong>na</strong><strong>da</strong>s por<br />

52<br />

muitos autores de “burst” de neutronização [20,21], é de aproxima<strong>da</strong>mente 10 erg . O<br />

fluxo correspondente a estas duas etapas é pequeno e composto praticamente por neutrinos<br />

eletrônicos. A fase de resfriamento totaliza 90% <strong>da</strong> energia <strong>em</strong>iti<strong>da</strong> <strong>na</strong> forma de neutrinos<br />

de todos os sabores. A figura 3.5(a) mostra a luminosi<strong>da</strong>de e a energia média para todos os<br />

sabores de neutrinos no primeiro segundo após irrupção do choque, enquanto que a figura<br />

3.5(b) mostra o comportamento <strong>da</strong> luminosi<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> energia média dos neutrinos durante a<br />

explosão <strong>da</strong> supernova.<br />

3.6) SN1987A<br />

Fiz<strong>em</strong>os até então uma descrição <strong>da</strong> formação e do mecanismo de explosão de<br />

supernovas do tipo II. O panorama desses tipos de supernova foi confirmado pela detecção<br />

de neutrinos <strong>da</strong> explosão de uma supernova <strong>na</strong> Grande Nuv<strong>em</strong> de Magalhães, a SN1987A,<br />

que fica a uma distância de 51,8 kpc <strong>da</strong> Terra. Foi a primeira vez que se detectaram<br />

neutrinos de uma fonte galáctica diferente do Sol. Vale à pe<strong>na</strong> l<strong>em</strong>brar que existe outra<br />

classe de supernovas classifica<strong>da</strong>s como tipo I. Acredita-se que estas são forma<strong>da</strong>s a partir<br />

<strong>da</strong> captura de massa por uma estrela de um sist<strong>em</strong>a binário.<br />

O “burst” de neutrinos <strong>da</strong> SN1987A foi detectado pelos experimentos Kamiokande-<br />

II, com 11 eventos [22], e IMB, com 8 eventos [23], ambos usando a técnica por luz<br />

±<br />

Cherenkov <strong>na</strong> água, sendo sensíveis aos e <strong>da</strong>s seguintes reações:<br />

57


+<br />

ν + p → e n e (3.20)<br />

e<br />

+<br />

−<br />

−<br />

ν + e →ν<br />

+ e , x e, µ , τ (e antipartículas). (3.21)<br />

x x<br />

=<br />

A reação (3.20) acima possui uma seção de choque duas ordens de grandeza maior<br />

que a reação (3.21), portanto, admite-se que os eventos de Kamiokande-II e IMB tenham<br />

sido produzidos pela reação (3.20). Ain<strong>da</strong> consistente com a reação (3.20), a distribuição<br />

angular dos eventos é quase isotrópica. Os elétrons <strong>da</strong> reação (3.21) são espalhados<br />

primordialmente <strong>na</strong> mesma direção que os neutrinos incidentes.<br />

A figura abaixo mostra a seqüência t<strong>em</strong>poral e a energia dos eventos de SN1987A<br />

registrado nos detectores de Kamiokande-II e IMB [10]. Além destes dois detectores,<br />

usando a técnica de cintilador, Baksan [24] detectou 6 eventos e LSD [25] detectou 5<br />

eventos. Este último apresenta algumas controvérsias por ter detectado os eventos muito<br />

anteriormente ao Kamiokande-II e ao IMB (4h e 42min) e por ter achado um valor de<br />

54<br />

energia total muito alto ( E t<br />

≅ 2 − 4 × 10 erg ) e incomum para o colapso.<br />

Figura 3.6: Seqüência t<strong>em</strong>poral e energia dos eventos <strong>da</strong> SN1987A nos detectores de Kamiokande-II e<br />

IMB [10].<br />

Para explicar as anomalias observa<strong>da</strong>s pelo experimento LSD, Haxton [26] propõe<br />

que um “burst” rico <strong>em</strong> neutrinos muônicos e pobre <strong>em</strong> neutrinos eletrônicos e<br />

antineutrinos eletrônicos produziria interações media<strong>da</strong>s por corrente neutra no carbono do<br />

cintilador, enquanto que nos experimento por luz Cherenkov haveria alta sensibili<strong>da</strong>de<br />

somente para os neutrinos eletrônicos. A discrepância t<strong>em</strong>poral é explica<strong>da</strong> por Rujula [27]<br />

através de um “burst” duplo. Um primeiro si<strong>na</strong>l do colapso <strong>da</strong> formação <strong>da</strong> estrela de<br />

nêutrons, que após algumas horas colapsa <strong>em</strong> um buraco negro, <strong>da</strong>ndo orig<strong>em</strong> ao segundo<br />

58


si<strong>na</strong>l. Essa hipótese pode ser descarta<strong>da</strong> se houver um pulsar como r<strong>em</strong>anescente de<br />

SN1987A.<br />

A duração do “burst” ( ∆ t ≅ 12s<br />

) é consistente com a ord<strong>em</strong> de grandeza estima<strong>da</strong><br />

para o t<strong>em</strong>po de difusão dos neutrinos <strong>na</strong> estrela de nêutrons (1-10s) [10]. No entanto, para<br />

a distribuição t<strong>em</strong>poral dos eventos, os <strong>da</strong>dos de K-II apresentam um intervalo silencioso<br />

de 7,3 s entre o sétimo e o nono evento. Alguns autores especularam modelos de<br />

resfriamento com ocorrência de dois pulsos de neutrinos, porém é mais provável que esta<br />

lacu<strong>na</strong> tenha orig<strong>em</strong> estatística, pois esse tipo de comportamento aparece com razoável<br />

freqüência <strong>em</strong> simulações feitas com <strong>da</strong>dos esparsos [6].<br />

Lattimer e Yahill [28], considerando a <strong>em</strong>issão como termicamente perfeita,<br />

obtiveram os valores <strong>da</strong> tabela abaixo:<br />

Parâmetro K-II IMB K-II + IMB<br />

E e<br />

ν (erg) + 4,0<br />

( 6,3<br />

− 3,1<br />

)×10 52 + 12,0<br />

( 4,5<br />

− 3,4<br />

)×10 52 + 2,1<br />

( 4,8<br />

− 1,8<br />

)×10 52<br />

Tν (MeV) e<br />

2,8 ± 0,4 4,2 ± 1,0 3,7 ± 0,4<br />

Tabela 3.1 – Resultados [37] de Kamiokande-II e IMB<br />

Se admitirmos eqüipartição de energia entre os neutrinos, o resultado <strong>da</strong> análise de<br />

Lattimer e Yahill leva ao seguinte valor para a energia total:<br />

E 53 t<br />

= ( 2,7 − 3,8) × 10 erg , (3.22)<br />

que está de acordo com a expressão (3.19).<br />

O número de eventos N pela interação nos detectores é <strong>da</strong>do por [29]:<br />

ν<br />

N<br />

1 ∆E(1<br />

− f ) 1<br />

= × × σ n , (3.23)<br />

n<br />

ν<br />

2n<br />

Eν<br />

4πD<br />

2<br />

p<br />

<strong>em</strong> que n é o número de famílias de neutrinos, ∆ E é a energia de formação <strong>da</strong> estrela de<br />

nêutrons <strong>da</strong><strong>da</strong> <strong>em</strong> (3.19), f ≅ 1 é a fração de energia do “burst” de neutronização, D é a<br />

n<br />

distância Terra-SN e n<br />

p<br />

é o número de prótons-alvo no detector. A seção de choque média<br />

σ é <strong>da</strong><strong>da</strong> por:<br />

2 2<br />

( 10MeV<br />

)<br />

−42<br />

9,75×<br />

10 E ν cm<br />

σ = . (3.24)<br />

53<br />

Usando ∆E<br />

= 3×10 erg e uma energia média dos neutrinos <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> de 10 MeV,<br />

as estimativas para os números de eventos calculados a partir de (3.23) são:<br />

K-II: N = 12 −14<br />

eventos e (3.25)<br />

ν<br />

59


IMB: N = 16 − ν<br />

18 eventos. (3.26)<br />

A estimativa para K-II é muito boa. No entanto para IMB t<strong>em</strong>os o dobro do<br />

observado (8 eventos), porque a seção de choque (3.24) é feita sobre todo o espectro de<br />

<strong>em</strong>issão, não levando <strong>em</strong> conta o corte <strong>em</strong> energia imposto pelo limiar de detecção (20<br />

MeV). O efeito do corte é menor <strong>na</strong> estimativa para K-II devido ao seu limiar mais baixo (7<br />

MeV).<br />

T<strong>em</strong>os um número relativamente pequeno de <strong>da</strong>dos sobre SN1987A. No entanto,<br />

esta peque<strong>na</strong> quanti<strong>da</strong>de de <strong>da</strong>dos fornece várias características gerais sobre este evento<br />

astrofísico tão complexo. Pelos <strong>da</strong>dos de supernova pod<strong>em</strong>os ter informações, por ex<strong>em</strong>plo,<br />

sobre a hierarquia dos neutrinos, sobre acoplamentos de neutrinos com majorons, neutrinos<br />

instáveis e sobre o valor do el<strong>em</strong>ento <strong>da</strong> matriz de mistura U 13 . Experimentos, como o de<br />

AMANDA, se preparam para detectar neutrinos de uma futura explosão de supernova para<br />

que a quanti<strong>da</strong>de de <strong>da</strong>dos aumente e mais informações serão trazi<strong>da</strong>s sobre a física dos<br />

neutrinos.<br />

60


Referências – Capítulo 3<br />

[1] P. Galeotti, Lezioni di Astrofisica Neutrinica, Università di Torino - CLU, Itália, ano<br />

acadêmico 1996-1997.<br />

[2] E. Woosley e T. A. Weaver, Ann. Rev. Astron. Astrophys., 24, 205 (1986).<br />

[3] M. A. Preston, Physics of the Nucleus, Addison-Wesley, E.U.A. (1962).<br />

[4] M. Harwit, Astrophysical Concepts,Springer-Verlag, E.U.A. (1982).<br />

[5] H.A. Bethe e G. Brown, Sci. Am., 252 , 40 (1985).<br />

[6] H.A. Bethe, Rev. of Mod. Physics, 62, 801 (1990).<br />

[7] P. Goldreich e S.V. Weber, Astrophys. J., 238, 991 (1980).<br />

[8] W.D. Arnett, Astrophys. J., 218, 815 (1977).<br />

[9] W.S.C. Willians, Nuclear and Particle Physics, Oxford University Press, E.U.A.<br />

(1995).<br />

[10] W.D. Arnett et al., Annu. Rev. Astr. Astrophys., 27, 629 (1989).<br />

[11] W. Hillebrandt, Astron. Astrophys., L3, 110 (1982).<br />

[12] A. Burrows e J.M. Lattimer, Astrophys. J., L19, 299 (1985).<br />

[13] E. Baron, J. Cooperstein e S. Kaha<strong>na</strong>, Phys. Rev. Lett., 55, 126 (1985).<br />

[14] J.R. Wilson, Numeric Astrophysics, Jones & Bartlett, E.U.A. (1985).<br />

[15] H.A. Bethe e J.R. Wilson, Astrophys. J., 295, 14 (1985).<br />

[16] H.-T. Janka, in “Frontier Objects in Astrophysics and Particle Physics”, Ed. F.<br />

Giovannelli e G. Mannocchi, Società Italia<strong>na</strong> di Fisica (SIF), Bolonha – Itália (1993).<br />

[17] A. Burrows, Annu. Rev. Nucl. Part. Sci., 40, 181 (1990).<br />

[18] S. Shapiro, in “Gravitatio<strong>na</strong>l Radiation”, Ed. L. Smarr - Oxford University Press,<br />

E.U.A. (1978); apud R. Mayle et al., Astrophys. J., 318, 288 (1987).<br />

[19] E. K<strong>em</strong>p, Tese de Doutorado (UNICAMP), Cap.1, pág. 9 (2000).<br />

[20] D.K. Nadëzhin e I.V. Ostroshchenko, Sov. Astron., 24, 47 (1980).<br />

[21] R. Mayle, J.R. Wilson e D.N. Schramm, Astrophys. J., 318, 288 (1987).<br />

[22] K.S. Hirata et al., Phys. Rev. Lett., 58, 1490 (1987).<br />

[23] R.M. Bionta et al., Phys. Rev. Lett., 58, 1494 (1987).<br />

[24] E.N. Alexeyev et al., JETP Lett., 45, 589 (1987).<br />

[25] M. Aglietta et al., Europhys. Lett., 3, L1315 (1987).<br />

61


[26] W.C. Haxton, Phys. Rev., 36D, 2283 (1987).<br />

[27] A. De Rujula, Phys. Lett., 193B, 514 (1987).<br />

[28] J.M. Lattimer e A. Yahill, Astrophys. J., 340, 426 (1989);<br />

[29] C.W. Kim e A. Pevsner, Neutrinos in Physics and Astrophysics – Cont<strong>em</strong>porary<br />

Concepts in Physics – vol. 8, Harwood Acad<strong>em</strong>ic Publishers, Suíça (1993).<br />

[30] H.A. Bethe, Astrophys. J., 412, 192 (1993).<br />

62


CAPÍTULO 4<br />

On<strong>da</strong>s Pla<strong>na</strong>s versus<br />

Pacotes de On<strong>da</strong><br />

No Capítulo 1 concluímos que os neutrinos de supernova apresentam uma peque<strong>na</strong><br />

diferença entre o comprimento de oscilação e o comprimento de coerência no vácuo, o que<br />

nos leva a inferir se o fenômeno de oscilação ocorrerá ou não. A pergunta que colocamos<br />

agora é se os neutrinos de supernova irão oscilar dentro <strong>da</strong> matéria <strong>da</strong> estrela <strong>em</strong> précolapso.<br />

Outra pergunta é se o formalismo de pacotes de on<strong>da</strong> irá introduzir diferenças<br />

significativas <strong>na</strong> oscilação destes neutrinos <strong>em</strong> relação ao formalismo de on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s. Para<br />

responder a tais perguntas nos val<strong>em</strong>os do formalismo lançado e discutido no Capítulo 2.<br />

Mas antes de tudo, dev<strong>em</strong>os saber qual é o perfil <strong>da</strong> supernova com que estamos<br />

trabalhando. Saber o perfil é saber como a densi<strong>da</strong>de de matéria <strong>em</strong> função <strong>da</strong> distância<br />

radial ao centro <strong>da</strong> estrela está distribuí<strong>da</strong>. É saber qual é a composição de el<strong>em</strong>entos<br />

químicos que a formam. De posse destas informações, somos capazes de extrair a<br />

densi<strong>da</strong>de eletrônica <strong>da</strong> supernova para diversos pontos. Qual o motivo de saber a<br />

densi<strong>da</strong>de eletrônica? A resposta é simples: o potencial efetivo sentido pelo neutrino <strong>em</strong> um<br />

meio depende <strong>da</strong> densi<strong>da</strong>de eletrônica (expressão (2.1)). É com esse potencial que ser<strong>em</strong>os<br />

capazes de calcular as probabili<strong>da</strong>des de con<strong>versão</strong> dos neutrinos para os mais diversos<br />

casos. Além do mais, a densi<strong>da</strong>de eletrônica conheci<strong>da</strong> e calcula<strong>da</strong> nos permite saber se a<br />

propagação do neutrino é adiabática ou não.<br />

Concluímos então que ter conhecimento sobre a densi<strong>da</strong>de eletrônica nos permite<br />

fazer a análise que nos propus<strong>em</strong>os.<br />

4.1) A densi<strong>da</strong>de eletrônica <strong>da</strong> supernova<br />

Como descrev<strong>em</strong>os no Capítulo 3, a formação de uma supernova é um assunto b<strong>em</strong><br />

complexo e envolve mu<strong>da</strong>nças de composição química e formações de novos el<strong>em</strong>entos <strong>em</strong><br />

vários instantes de sua evolução. Não levar<strong>em</strong>os <strong>em</strong> consideração as mu<strong>da</strong>nças t<strong>em</strong>porais<br />

63


que ocorr<strong>em</strong> <strong>em</strong> tal estrela, mas sim seu estágio pré-explosão, já com to<strong>da</strong> síntese de<br />

el<strong>em</strong>entos realiza<strong>da</strong> e estando a um passo <strong>da</strong> explosão. Usar<strong>em</strong>os uma supernova de 15<br />

massas solares como modelo, cujos <strong>da</strong>dos foram gentilmente fornecidos pelo professor Stan<br />

Woosley e pod<strong>em</strong> ser encontrados no site www.supersci.org. A tabela de <strong>da</strong>dos apresenta<br />

uma quanti<strong>da</strong>de diversifica<strong>da</strong> de <strong>da</strong>dos, mas estamos interessados ape<strong>na</strong>s <strong>na</strong> distância radial<br />

(cm), <strong>na</strong> densi<strong>da</strong>de de matéria (g/cm 3 ) e <strong>na</strong> composição química, com as respectivas<br />

porcentagens dos isótopos de ca<strong>da</strong> el<strong>em</strong>ento químico num <strong>da</strong>do raio. Dessa maneira, somos<br />

capazes de calcular a densi<strong>da</strong>de eletrônica num <strong>da</strong>do raio.<br />

Tendo estes pontos de densi<strong>da</strong>de eletrônica para os diversos valores de distância<br />

radial, buscamos uma função a<strong>na</strong>lítica que se ajuste <strong>da</strong> melhor maneira possível a estes<br />

pontos. Usamos dois tipos de ajuste: um visual, <strong>em</strong> que olhando para os pontos inferimos<br />

um formato de curva; o outro realizado pelo programa Math<strong>em</strong>atica. Abaixo mostramos os<br />

pontos de densi<strong>da</strong>de eletrônica <strong>em</strong> função <strong>da</strong> distância radial, com as duas curvas de ajuste<br />

<strong>em</strong> vermelho e verde.<br />

Figura 4.1 – Densi<strong>da</strong>de eletrônica <strong>em</strong> função do raio.<br />

A curva <strong>em</strong> vermelho é o ajuste de curva realizado “manualmente”, sendo sua<br />

função densi<strong>da</strong>de eletrônica ( n e<br />

) <strong>da</strong><strong>da</strong> por:<br />

−0,<br />

045<br />

( ) = 25,50×<br />

( r r )<br />

log n e<br />

. (4.1)<br />

A curva <strong>em</strong> verde é o ajuste realizado “automaticamente” pelo programa<br />

Math<strong>em</strong>atica. Sua função densi<strong>da</strong>de eletrônica é:<br />

−0,<br />

051<br />

( ) = 27,73×<br />

( r r )<br />

0<br />

log n e<br />

. (4.2)<br />

0<br />

64


L<strong>em</strong>brando que a densi<strong>da</strong>de eletrônica está <strong>em</strong> cm -3 e o raio r 0 é igual a 10 4 km. O<br />

melhor ajuste entre as duas curvas foi a verde. Portanto, usar<strong>em</strong>os a função<br />

−0,<br />

045<br />

log( n e<br />

) = 25,50×<br />

( r r0<br />

) para a densi<strong>da</strong>de eletrônica <strong>da</strong> supernova que estamos<br />

trabalhando.<br />

4.2) A análise <strong>da</strong> adiabatici<strong>da</strong>de <strong>na</strong> supernova<br />

Na seção anterior, encontramos uma função para a densi<strong>da</strong>de eletrônica <strong>da</strong><br />

supernova, que será usa<strong>da</strong> para calcular se a propagação do neutrino nessa região será ou<br />

não adiabática, com o auxílio do “parâmetro de adiabatici<strong>da</strong>de”, que foi discutido no<br />

Capítulo 2. Rel<strong>em</strong>bramos dele abaixo:<br />

( ∆ E)<br />

2<br />

2<br />

sen 2θ<br />

1<br />

γ ( x)<br />

≡ × ~ ×<br />

3<br />

2 2GF<br />

sen 2θ<br />

dne<br />

. (2.22)<br />

dx<br />

Vamos tentar encontrar se exist<strong>em</strong> regiões de ressonância <strong>na</strong> propagação de<br />

neutrino <strong>em</strong> uma supernova de 15 massas solares. Dev<strong>em</strong>os l<strong>em</strong>brar que as densi<strong>da</strong>des<br />

eletrônicas para ressonância (expressão (2.12)) pod<strong>em</strong> ser calcula<strong>da</strong>s usando a seguinte<br />

expressão:<br />

n<br />

R<br />

∆ cos 2θ<br />

= . (2.12)<br />

2 2GFE<br />

Notamos que a densi<strong>da</strong>de eletrônica de ressonância ocorre para valores de<br />

parâmetros conhecidos no vácuo, como a diferença de massa ao quadrado (∆), o ângulo de<br />

mistura (θ) e a energia E do neutrino.<br />

As recentes análises de <strong>da</strong>dos de SNO [1] combi<strong>na</strong>dos com os resultados do<br />

experimento de reator de KamLAND [2] nos fornec<strong>em</strong> os seguintes valores:<br />

−5<br />

2<br />

−4<br />

2<br />

6,0<br />

× 10 eV < ∆ < 1,0 × 10 eV e 0 .8 < sen 2θ<br />

< 0. 98 , com 99% de nível de confiança. O<br />

5 2<br />

melhor ajuste para tais parâmetros resulta <strong>em</strong> sen 2θ<br />

≅ 0. 83 e ∆ ≅ 7,1<br />

× 10<br />

− eV .<br />

Usando os valores citados anteriormente de melhor ajuste <strong>da</strong> solução solar, o valor<br />

<strong>da</strong> densi<strong>da</strong>de eletrônica de ressonância para neutrinos com energia E <strong>em</strong> MeV será:<br />

26<br />

1,56×<br />

10 −3<br />

nR = cm . (4.3)<br />

E(<br />

MeV )<br />

25 −3<br />

Para neutrinos de supernova com 5 MeV de energia, ter<strong>em</strong>os n R<br />

= 3,12×<br />

10 cm .<br />

Já para neutrinos com 40 MeV de energia, a densi<strong>da</strong>de de ressonância será<br />

24 −3<br />

n R<br />

= 3,89×<br />

10 cm .<br />

A colaboração SuperKamiokande [3] recent<strong>em</strong>ente divulgou os resultados dos<br />

parâmetros de oscilação para os neutrinos atmosféricos com 90% de nível de confiança:<br />

65


1,9<br />

eV<br />

−3<br />

2<br />

−3<br />

2<br />

2<br />

× 10 eV < ∆ < 3,0 × 10 e 0,9 < 2θ<br />

< 1, 0<br />

sen , com o melhor ajuste<br />

3 2<br />

∆ ≅ 2,5<br />

× 10<br />

− eV e sen<br />

2 2θ<br />

≅ 0, 9 . Usando estes parâmetros calculamos a densi<strong>da</strong>de<br />

eletrônica de ressonância <strong>em</strong> função <strong>da</strong> energia do neutrino <strong>em</strong> MeV:<br />

27<br />

3,11×<br />

10 −3<br />

n = cm<br />

R<br />

E(<br />

MeV )<br />

. (4.4)<br />

Para neutrinos com 5 MeV de energia, ter<strong>em</strong>os<br />

6,22<br />

10<br />

n R<br />

= ×<br />

26 −3<br />

cm<br />

25 −3<br />

. Para neutrinos<br />

de 40 MeV, a densi<strong>da</strong>de eletrônica resso<strong>na</strong>nte será n R<br />

= 7,78×<br />

10 cm .<br />

Os parâmetros calculados por LSND combi<strong>na</strong>dos com KARMEN [4] são, para 90%<br />

2<br />

2<br />

−3<br />

2<br />

−3<br />

de nível de confiança, 0,45eV < ∆ < 1eV<br />

e 2,0 × 10 < sen 2θ<br />

< 7,0×<br />

10 . O melhor<br />

2<br />

ajuste fornece ∆ ≅ 0,5eV<br />

e sen 2 θ = 0, 07 . Usando-os para o cálculo <strong>da</strong> densi<strong>da</strong>de<br />

eletrônica de ressonância <strong>em</strong> função <strong>da</strong> energia do neutrino <strong>em</strong> MeV t<strong>em</strong>os<br />

30<br />

1,96<br />

× 10 −3<br />

n = cm<br />

R<br />

E(<br />

MeV )<br />

. (4.5)<br />

Para 5 MeV e 40 MeV de energia ter<strong>em</strong>os, respectivamente,<br />

28 −3<br />

n R<br />

= 4,91×<br />

10 cm .<br />

29 −3<br />

n R<br />

= 3,93×<br />

10 cm e<br />

O resumo <strong>da</strong> descrição acima está <strong>na</strong> Tabela 4.1, que indica os melhores ajustes para<br />

a diferença de massa ao quadrado e o ângulo de mistura para os experimentos solar,<br />

atmosférico e LSND. A tabela também mostra os respectivos valores de densi<strong>da</strong>de<br />

eletrônica para as regiões de ressonância.<br />

∆ (eV 2 ) sen2θ n R para 5 MeV <strong>em</strong> cm -3 n R para 40 MeV <strong>em</strong> cm -3<br />

Solar 7,1x10 -5 0,83 3,12x10 25 3,89x10 24<br />

Atmosférico 2,5x10 -3 0,95 6,22x10 26 7,78x10 25<br />

LSND 0,5 0,07 3,93x10 29 4,91x10 28<br />

Tabela 4.1: melhor ajuste dos parâmetros para os experimentos solar, atmosférico e LSND com os<br />

valores de densi<strong>da</strong>de eletrônica <strong>na</strong> ressonância para 5 MeV e 40 MeV.<br />

Acabamos de encontrar os valores de densi<strong>da</strong>de eletrônica para os quais t<strong>em</strong>os<br />

ressonância. Tendo os valores de densi<strong>da</strong>de eletrônica <strong>da</strong> ressonância para os parâmetros<br />

solares, atmosféricos e de LSND, pod<strong>em</strong>os saber <strong>em</strong> que região <strong>da</strong> supernova está<br />

ocorrendo, ou seja, <strong>em</strong> que ponto (raio) existe ressonância. Se o parâmetro de<br />

adiabatici<strong>da</strong>de <strong>na</strong> ressonância for muito maior que um, pod<strong>em</strong>os concluir que a propagação<br />

será adiabática <strong>em</strong> todo lugar. Usando a fórmula (2.23), que se refere ao valor do parâmetro<br />

de adiabatici<strong>da</strong>de <strong>na</strong> ressonância, e os <strong>da</strong>dos fornecidos <strong>na</strong> referência [5], concluímos que,<br />

para a propagação dos neutrinos nesse meio com densi<strong>da</strong>de eletrônica <strong>da</strong><strong>da</strong> por (4.2),<br />

ter<strong>em</strong>os adiabatici<strong>da</strong>de.<br />

Logo, para os cálculos <strong>da</strong>s probabili<strong>da</strong>des usar<strong>em</strong>os (2.29) para o tratamento <strong>em</strong><br />

on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s e (2.47) para o tratamento <strong>em</strong> pacotes de on<strong>da</strong>. Usar<strong>em</strong>os os mesmos<br />

parâmetros e energias apresenta<strong>da</strong>s <strong>na</strong> Tabela 4.1.<br />

66


4.3) Probabili<strong>da</strong>des<br />

Vamos apresentar as probabili<strong>da</strong>des de sobrevivência. L<strong>em</strong>brando que a<br />

probabili<strong>da</strong>de de sobrevivência para pacotes de on<strong>da</strong> é <strong>da</strong><strong>da</strong> por um menos a probabili<strong>da</strong>de<br />

de con<strong>versão</strong>, que é <strong>da</strong>do pela equação (2.47), enquanto que (2.29) já é a probabili<strong>da</strong>de de<br />

sobrevivência para on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s.<br />

4.3.1a) O caso solar para neutrinos com energia de 5 MeV<br />

A Figura 4.2 abaixo apresenta as probabili<strong>da</strong>des de sobrevivência. Vale a pe<strong>na</strong><br />

l<strong>em</strong>brar que o eixo x representa o logaritmo <strong>na</strong> base 10 <strong>da</strong> distância radial medido <strong>em</strong><br />

termos de um valor múltiplo de um raio r 0 igual a 10000 km. A curva <strong>em</strong> preto é para on<strong>da</strong>s<br />

pla<strong>na</strong>s e a curva pontilha<strong>da</strong> é para pacotes de on<strong>da</strong>. Notamos que à medi<strong>da</strong> que o neutrino<br />

se propaga, não t<strong>em</strong>os mais diferenças entre os dois “tipos” de probabili<strong>da</strong>de.<br />

Figura 4.2: Probabili<strong>da</strong>de de sobrevivência <strong>em</strong> on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s (preto) e pacotes de on<strong>da</strong> (pontilhado)<br />

para neutrinos com 5 MeV (caso solar).<br />

Mostramos também o comprimento de oscilação e o comprimento de coerência<br />

calculados, respectivamente, por (2.48) e (2.49), <strong>na</strong> Figura 4.3, <strong>em</strong> que L 0 é igual a 10000<br />

km. Notamos que rapi<strong>da</strong>mente o comprimento de oscilação supera o comprimento de<br />

coerência, o que significa que a coerência entre os autoestados de massa é perdi<strong>da</strong><br />

rapi<strong>da</strong>mente. Isto ocasio<strong>na</strong> o congelamento <strong>da</strong> oscilação dos neutrinos, como pod<strong>em</strong>os ver<br />

<strong>na</strong> Figura 4.2. Vimos que para termos oscilação é necessário que a condição (1.56) seja<br />

satisfeita, o que não acontece neste caso.<br />

67


Figura 4.3: Comprimento de Oscilação (preto) e Comprimento de coerência (pontilhado) para<br />

neutrinos com 5 MeV (caso solar).<br />

4.3.1b) O caso solar para neutrinos com 40 MeV de energia<br />

A Figura 4.4 apresenta a probabili<strong>da</strong>de de sobrevivência e a Figura 4.5 mostra os<br />

comprimentos de oscilação e comprimentos de coerência. A mesma análise feita <strong>na</strong> seção<br />

4.3.1a pode ser feita uma vez que os pacotes de on<strong>da</strong> não introduz<strong>em</strong> diferença <strong>na</strong><br />

probabili<strong>da</strong>de e também ocorre um congelamento <strong>na</strong> oscilação, já que o comprimento de<br />

oscilação supera o comprimento de coerência rapi<strong>da</strong>mente.<br />

68


Figura 4.4: Probabili<strong>da</strong>de de sobrevivência <strong>em</strong> on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s (preto) e pacotes de on<strong>da</strong> (pontilhado)<br />

para neutrinos de 40 MeV (caso solar).<br />

Figura 4.5: Comprimento de oscilação (preto) e comprimento de coerência (pontilhado) para neutrinos<br />

de 40 MeV (caso solar).<br />

O padrão exibido no caso solar será repetido para os casos atmosféricos e de LSND,<br />

que ir<strong>em</strong>os mostrar <strong>na</strong>s seções 4.3.2a, 4.3.2b, 4.3.3a, 4.3.3b. Parece que os pacotes de on<strong>da</strong><br />

não traz<strong>em</strong> nenhuma informação nova para as probabili<strong>da</strong>des <strong>em</strong> nenhuma <strong>da</strong>s situações<br />

mostra<strong>da</strong>s, isto é, o formalismo de on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s parece ser suficiente para descrever a<br />

oscilação de neutrinos dentro de uma supernova. Vale l<strong>em</strong>brar que a coerência é perdi<strong>da</strong><br />

69


api<strong>da</strong>mente e, portanto, os autoestados de massa se desacoplam, ocasio<strong>na</strong>ndo o<br />

congelamento <strong>da</strong> oscilação.<br />

4.3.2a) O caso atmosférico para neutrinos com 5 MeV de energia<br />

Figura 4.6: Probabili<strong>da</strong>de de sobrevivência <strong>em</strong> on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s (preto) e pacotes de on<strong>da</strong> (pontilhado)<br />

para neutrinos de 5 MeV (caso atmosférico).<br />

Figura 4.7: Comprimento de Oscilação (preto) e Comprimento de coerência (pontilhado) para<br />

neutrinos de 5 MeV (caso atmosférico).<br />

70


4.3.2b) O caso atmosférico para neutrinos com 40 MeV de energia<br />

Figura 4.8: Probabili<strong>da</strong>de de sobrevivência <strong>em</strong> on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s (preto) e pacotes de on<strong>da</strong> (pontilhado)<br />

para neutrinos de 40 MeV (caso atmosférico).<br />

Figura 4.9: Comprimento de Oscilação (preto) e Comprimento de coerência (pontilhado) para<br />

neutrinos de 40 MeV (caso atmosférico).<br />

71


4.3.3a) O caso LSND para neutrinos com 5 MeV de energia<br />

Neste caso, houve coincidência <strong>completa</strong> <strong>da</strong>s probabili<strong>da</strong>des, como v<strong>em</strong>os <strong>na</strong> Figura<br />

4.10 abaixo:<br />

Figura 4.10: Probabili<strong>da</strong>de de sobrevivência <strong>em</strong> on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s (preto) e pacotes de on<strong>da</strong> (pontilhado)<br />

para neutrinos de 5 MeV (caso LSND).<br />

Figura 4.11: Comprimento de Oscilação (preto) e Comprimento de coerência (pontilhado) para<br />

neutrinos de 5 MeV (caso LSND).<br />

72


4.3.3b) O caso LSND para neutrinos com 40 MeV de energia<br />

Figura 4.12: Probabili<strong>da</strong>de de sobrevivência <strong>em</strong> on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s (preto) e pacotes de on<strong>da</strong> (pontilhado)<br />

para neutrinos de 40 MeV (caso LSND).<br />

Figura 4.13: Comprimento de Oscilação (preto) e Comprimento de coerência (pontilhado) para<br />

neutrinos de 40 MeV (caso LSND).<br />

73


Notamos que <strong>em</strong> nenhum dos casos apresentados houve diferença entre a<br />

probabili<strong>da</strong>de de sobrevivência entre on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s e pacotes de on<strong>da</strong>. Verificamos também<br />

a presença de uma probabili<strong>da</strong>de que fica constante, uma vez que <strong>em</strong> todos os casos o<br />

comprimento de oscilação é maior que o comprimento de coerência.<br />

74


Referências – Capítulo 4<br />

[1] The SNO Collaboration, Phys. Rev. Lett. 92, 181301-1 (2004).<br />

[2] The KamLAND Collaboration, Phys. Rev. Lett. 94, 081801 (2005), hep-exp/0406035.<br />

[3] The SuperKamiokande Collaboration, Phys. Rev. Lett. 93, 10180-1 (2004).<br />

[4] E. D. Church, K. Eitel, G. B. Mills, e M. Steidl, Phys. Rev. D66, 013001 (2004).<br />

[5] Dados de uma supernova de 15 massas solares forneci<strong>da</strong>s pelo professor S. Woosley –<br />

www.supersci.org<br />

75


CONCLUSÕES<br />

Discutimos neste trabalho a oscilação de neutrinos <strong>em</strong> pacotes de on<strong>da</strong>,<br />

identificando as principais diferenças <strong>em</strong> relação ao formalismo de on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s.<br />

Procuramos identificar <strong>em</strong> que situações os pacotes de on<strong>da</strong> eram necessários e o único<br />

caso que nos <strong>da</strong>va indício de uma possível necessi<strong>da</strong>de eram os neutrinos de supernova. É<br />

neste contexto que resumimos as principais conclusões deste trabalho.<br />

• O formalismo de pacotes de on<strong>da</strong> introduz <strong>na</strong> expressão de probabili<strong>da</strong>de de<br />

con<strong>versão</strong> um termo de amortecimento e outro termo exponencial. O termo<br />

de amortecimento apresenta grande importância já que traz consigo a<br />

coerência entre os autoestados de massa. O termo exponencial, de acordo<br />

com nossos cálculos, pode ser desprezado, pelo menos <strong>em</strong> primeira<br />

aproximação;<br />

• Para neutrinos solares, neutrinos de reatores e aceleradores e neutrinos de<br />

altíssima energia, oriundos de AGNs por ex<strong>em</strong>plo, verificamos que o<br />

comprimento de coerência é s<strong>em</strong>pre muito maior que o comprimento de<br />

oscilação. É de se esperar que a oscilação ocorra, sendo, portanto, o<br />

formalismo de on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s suficiente para tratar o fenômeno de oscilação<br />

de neutrinos.<br />

• Os neutrinos de supernova, como vimos no Capítulo 1, apresentavam,<br />

principalmente para os neutrinos oriundos do “core”, um comprimento de<br />

coerência muito próximo ao comprimento de oscilação. Levando <strong>em</strong> conta<br />

que o tamanho dos pacotes de on<strong>da</strong> para supernova assume algum dos<br />

valores apresentados no intervalo de (1.31), inferimos que os pacotes de<br />

on<strong>da</strong> poderiam trazer alguma diferença <strong>em</strong> relação à probabili<strong>da</strong>de calcula<strong>da</strong><br />

por on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s. Verificamos que, durante a propagação no vácuo, a<br />

probabili<strong>da</strong>de congela (Figura 1.1), o que significa que existe o<br />

76


desacoplamento dos autoestados de massa, encerrando a coerência entre<br />

eles. Na matéria, usando uma supernova de 15 massas solares, com os <strong>da</strong>dos<br />

fornecidos pelo professor Stan Woosley, notamos que, usando as soluções<br />

solar, atmosférica e de LSND, a probabili<strong>da</strong>de de con<strong>versão</strong> <strong>em</strong> pacotes de<br />

on<strong>da</strong> acaba sendo igual à de on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s. Isto significa que não t<strong>em</strong>os<br />

necessi<strong>da</strong>de do uso de pacotes de on<strong>da</strong> <strong>na</strong> propagação dos neutrinos dentro<br />

<strong>da</strong> supernova. Notamos também, que a coerência é perdi<strong>da</strong> rapi<strong>da</strong>mente, isto<br />

é, os neutrinos se propagam como autoestados de massa s<strong>em</strong> interferência<br />

mútua. Defend<strong>em</strong>os a idéia de que o formalismo de pacotes de on<strong>da</strong> não<br />

introduz nenhuma diferença significativa para o fenômeno de oscilação de<br />

neutrinos.<br />

É importante destacar que usamos um formalismo para ape<strong>na</strong>s duas famílias.<br />

Talvez, usando-se um Hamiltoniano que envolva três famílias <strong>na</strong> equação de evolução,<br />

pod<strong>em</strong>os ter alguma diferença significativa. No entanto, isto é algo que necessita ser<br />

verificado com maior cui<strong>da</strong>do.<br />

77


APÊNDICE A<br />

Dedução <strong>da</strong><br />

Probabili<strong>da</strong>de <strong>em</strong><br />

Pacotes de On<strong>da</strong><br />

(Vácuo)<br />

A expressão (1.44) do Capítulo 1 é deduzi<strong>da</strong> a partir <strong>da</strong> expressão (1.43) tomando<br />

sua média t<strong>em</strong>poral.<br />

Vamos rel<strong>em</strong>brar (1.43):<br />

.<br />

P(<br />

ν<br />

α<br />

→ν<br />

; X , T ) =<br />

β<br />

⎧ ( X − vaT<br />

)<br />

× exp⎨−<br />

2<br />

⎩ 4σ<br />

x<br />

2<br />

1<br />

2πσ<br />

∑<br />

x a,<br />

b<br />

( X − vbT<br />

)<br />

−<br />

2<br />

4σ<br />

x<br />

U<br />

2<br />

βa<br />

⎫<br />

⎬<br />

⎭<br />

U<br />

*<br />

αa<br />

U<br />

*<br />

βb<br />

U<br />

αb<br />

× exp<br />

{ i( p − p ) X − i( E − E ) T}<br />

a<br />

b<br />

a<br />

b<br />

Tomando o argumento <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> exponencial, t<strong>em</strong>os:<br />

−<br />

2<br />

( X − v T ) ( X − v T )<br />

a<br />

2<br />

4σ<br />

x<br />

−<br />

b<br />

2<br />

4σ<br />

x<br />

2<br />

1<br />

= −<br />

2<br />

4σ<br />

x<br />

2<br />

2 2 2<br />

{ 2X<br />

− 2TX<br />

( v + v ) + T ( v + v )}<br />

a<br />

b<br />

a<br />

b<br />

. (A.1)<br />

Rearranjando os termos <strong>da</strong>s exponenciais pod<strong>em</strong>os escrevê-las como:<br />

78


⎧<br />

exp⎨i<br />

⎩<br />

(A.2)<br />

2<br />

2X<br />

⎫ ⎧<br />

1<br />

2 2 2<br />

( p − p ) X − exp − i( E − E ) T − [ − 2TX<br />

( v + v ) + T ( v + v )]<br />

a<br />

b<br />

2<br />

4σ<br />

x<br />

⎬<br />

⎭<br />

⎨<br />

⎩<br />

2<br />

⎧<br />

2X<br />

= ⎨ a b<br />

X −<br />

2<br />

⎩<br />

4σ<br />

x<br />

Chamando A exp i( p − p )<br />

⎪⎧<br />

⎡<br />

2<br />

T<br />

exp⎨−<br />

⎢ 2<br />

⎪⎩ ⎢⎣<br />

4σ<br />

x<br />

a<br />

⎛<br />

⎜<br />

⎝<br />

b<br />

2<br />

4σ<br />

x<br />

⎫<br />

⎬ , reescrev<strong>em</strong>os (A.2) como<br />

⎭<br />

2 2<br />

2X<br />

( v + v ) + T⎜i( E − E ) − ( v + v )<br />

A<br />

a b<br />

a b<br />

2<br />

4σ<br />

x<br />

a<br />

a<br />

b<br />

b<br />

a<br />

b<br />

⎫<br />

⎬ .<br />

⎭<br />

⎞⎤⎪⎫<br />

⎟⎥⎬<br />

. (A.3)<br />

⎠⎥⎦<br />

⎪⎭<br />

Vamos <strong>completa</strong>r quadrados <strong>na</strong> expressão (A.3), usando uma variável α que ir<strong>em</strong>os<br />

descobrir. Dev<strong>em</strong>os notar o seguinte:<br />

(A.4)<br />

⎛ T<br />

⎜<br />

⎝ 2σ<br />

x<br />

Usando (A.3)<br />

2<br />

2<br />

2 2<br />

( ) 1 2 ⎞ T 2 2 2 2T<br />

2 2 2<br />

v + v + α ⎟ = ( v + v ) + α + ( v + v ) 1<br />

α .<br />

a<br />

b<br />

⎟<br />

⎠<br />

2<br />

4σ<br />

x<br />

a<br />

b<br />

2σ<br />

σ ⎡<br />

⎤<br />

x<br />

2X<br />

α = ⎢i( Ea<br />

− Eb<br />

) − ( va<br />

+ vb<br />

)<br />

( )<br />

⎥⎦ .<br />

2 2 2<br />

2<br />

va<br />

+ v<br />

1<br />

b ⎣<br />

4σ<br />

x<br />

(A.5)<br />

x<br />

a<br />

b<br />

Agora, com (A.5), pod<strong>em</strong>os reescrever (A.3) como:<br />

⎧<br />

⎪ ⎡ T<br />

Aexp⎨−<br />

⎢<br />

⎪ ⎢<br />

⎩ ⎣<br />

2σ<br />

x<br />

⎪<br />

⎧ 2<br />

σ ⎡<br />

x<br />

exp⎨<br />

2 2 ⎢i<br />

( va<br />

+ vb<br />

) ⎪⎩ ⎣<br />

2 2<br />

( v + v )<br />

a<br />

1 2<br />

+<br />

2 2<br />

( v + v )<br />

2X<br />

4σ<br />

⎛<br />

⎜i<br />

⎝<br />

( E − E ) − ( v + v )<br />

⎪<br />

⎧ 2<br />

σ ⎡<br />

x<br />

Chamando C = Aexp⎨<br />

2 2 ⎢i<br />

a b<br />

( va<br />

+ vb<br />

) ⎪⎩ ⎣<br />

integral no t<strong>em</strong>po de (A.6) para achar a probabili<strong>da</strong>de.<br />

a<br />

b<br />

b<br />

a<br />

σ<br />

x<br />

b<br />

2<br />

x<br />

1 2<br />

a<br />

( E − E ) − ( v + v )<br />

b<br />

a<br />

⎤<br />

⎥<br />

⎦<br />

2<br />

⎪<br />

⎫<br />

⎬<br />

⎪⎭<br />

b<br />

2X<br />

4σ<br />

2X<br />

4σ<br />

2<br />

x<br />

( E − E ) − ( v + v )<br />

2<br />

x<br />

a<br />

b<br />

⎤<br />

⎥<br />

⎦<br />

2<br />

a<br />

b<br />

⎞⎤<br />

⎟⎥<br />

⎠⎥⎦<br />

2<br />

⎫<br />

⎪<br />

⎬×<br />

⎪<br />

⎭ . (A.6)<br />

⎪<br />

⎫<br />

⎬, resolver<strong>em</strong>os a<br />

⎪⎭<br />

79


C<br />

∫<br />

⎧<br />

⎪ ⎡ T<br />

exp⎨−<br />

⎢<br />

⎪ ⎢<br />

⎩ ⎣<br />

2σ<br />

x<br />

2 2<br />

( v + v )<br />

a<br />

b<br />

1 2<br />

+<br />

2 2<br />

( v + v )<br />

a<br />

σ<br />

x<br />

b<br />

1 2<br />

⎛<br />

⎜<br />

i<br />

⎝<br />

2X<br />

2<br />

4σ<br />

( E − E ) − ( v + v )<br />

a<br />

b<br />

x<br />

a<br />

b<br />

⎞⎤<br />

⎟<br />

⎥<br />

⎠⎥⎦<br />

2<br />

⎫<br />

⎪<br />

⎬dT<br />

. (A.7)<br />

⎪<br />

⎭<br />

<strong>Faça</strong>mos uma troca de variável, chamando<br />

(A.8)<br />

2 2<br />

( v + v )<br />

T<br />

1 2 σ ⎛<br />

x<br />

2X<br />

+<br />

⎜<br />

a b<br />

i<br />

1 2 a b<br />

2σ<br />

x<br />

⎝<br />

4σ<br />

x<br />

2 2<br />

( v + v )<br />

⎞<br />

.<br />

⎠<br />

( E − E ) − ( v + v ) ⎟ u = 2 a b<br />

a<br />

b<br />

Portanto<br />

dT<br />

=<br />

2 2<br />

( v + v )<br />

a<br />

2σ<br />

x<br />

b<br />

1 2<br />

du<br />

Voltando a resolver a integral (A.7) com as mu<strong>da</strong>nças de variável (A.8) feitas,<br />

t<strong>em</strong>os que<br />

(A.9)<br />

C<br />

∫<br />

exp<br />

2 2σ<br />

x<br />

C2σ<br />

x<br />

( u ) du ≅ π<br />

(<br />

2 2<br />

+ )<br />

1 2<br />

(<br />

2 2<br />

v v<br />

v + v )<br />

−<br />

1 2<br />

a<br />

b<br />

a<br />

b<br />

.<br />

Agrupando os termos t<strong>em</strong>os e desenvolvendo quadrados t<strong>em</strong>os que – aqui<br />

retomamos a expressão atribuí<strong>da</strong> à constante C:<br />

2<br />

σ ⎧<br />

x<br />

⎨−<br />

2 2 a<br />

va<br />

+ vb<br />

⎩<br />

+ iX ( p − p )=<br />

a<br />

2<br />

2<br />

2<br />

( E − E ) + ( v + v ) − 2i( E − E ) ( v + v )<br />

b<br />

2<br />

( Ea<br />

− Eb<br />

)<br />

2 2 2<br />

σ ( v + v )<br />

2<br />

X ⎡<br />

−<br />

2 ⎢<br />

4<br />

p a b<br />

4σ<br />

x<br />

⎣<br />

b<br />

4X<br />

16σ<br />

4<br />

x<br />

a<br />

( v − v )<br />

b<br />

⎤ ⎪⎧<br />

⎥ + i⎨<br />

⎦ ⎪⎩<br />

a<br />

b<br />

2X<br />

4σ<br />

2<br />

x<br />

a<br />

b<br />

⎛ v<br />

⎜<br />

⎝ v<br />

2<br />

⎫ 2X<br />

⎬ −<br />

2<br />

⎭ 4σ<br />

x<br />

2<br />

= a b<br />

+ v<br />

−<br />

2 2<br />

a b<br />

a b 2<br />

va<br />

+ vb<br />

a<br />

+ v<br />

2<br />

b<br />

⎞⎫<br />

⎟⎬<br />

⎠⎪⎭<br />

a b ⎪<br />

( p − p ) − ( E − E ) ⎜ ⎟ X<br />

Portanto, tomando (A.10) e voltando a expressão (1.43) usando (A.10) e<br />

normalizando, chegamos a (1.44):<br />

P<br />

×<br />

α →<br />

2<br />

⎡ U ⎤<br />

αa'<br />

β ( X ) = ⎢∑<br />

⎥∑U<br />

⎢ a'<br />

v<br />

⎣<br />

a'<br />

⎥ a,<br />

b<br />

⎦<br />

⎪⎧<br />

2<br />

2 X<br />

exp⎨−<br />

2 2<br />

2<br />

va<br />

+ vb<br />

4σ<br />

⎪⎩<br />

x a<br />

βa<br />

U<br />

*<br />

αa<br />

*<br />

βb<br />

⎪⎧<br />

⎡<br />

× exp⎨i⎢<br />

⎪⎩ ⎢⎣<br />

2<br />

2<br />

( v ) ( − ) ⎪⎫<br />

a<br />

− v Ea<br />

E<br />

b<br />

b<br />

−<br />

2 2<br />

2 2 2<br />

( ) ⎬<br />

v + v 4σ<br />

v + v ⎪⎭<br />

b<br />

U<br />

U<br />

αb<br />

p<br />

a<br />

b<br />

( p − p ) − ( E − E )<br />

a<br />

b<br />

a<br />

b<br />

⎛ v<br />

⎜<br />

⎝ v<br />

a<br />

2<br />

a<br />

+ v<br />

+ v<br />

b<br />

2<br />

b<br />

⎞⎤<br />

⎪⎫<br />

⎟<br />

⎥X<br />

⎬<br />

⎠⎥⎦<br />

⎪⎭<br />

.<br />

.(A.10)<br />

80


APÊNDICE B<br />

A solução nãoadiabática<br />

para<br />

pacotes de on<strong>da</strong><br />

No Capítulo 2 descrev<strong>em</strong>os a propagação do neutrino <strong>na</strong> matéria de maneira<br />

adiabática. Como discutido anteriormente, a densi<strong>da</strong>de de matéria pode mu<strong>da</strong>r tão<br />

rapi<strong>da</strong>mente que os autoestados <strong>da</strong> matéria pod<strong>em</strong> se “misturar”, ocorrendo transições entre<br />

eles – propagação não-adiabática. Vamos buscar uma solução formal para a equação de<br />

movimento para dois sabores escrita abaixo [1, 2, 3, 4, 5]<br />

i∂<br />

x<br />

⎛ ∆<br />

~ ( x)<br />

⎜<br />

⎛ψ<br />

−<br />

1(<br />

x,<br />

E)<br />

⎞<br />

⎜ ⎟ = ⎜ 4E<br />

⎝ψ<br />

2<br />

( x,<br />

E)<br />

⎠ ⎜<br />

⎜ iθ<br />

′<br />

m<br />

( x)<br />

⎝<br />

⎞<br />

− iθ<br />

′ ⎟<br />

m<br />

( x)<br />

⎟<br />

⎛ψ<br />

1(<br />

x,<br />

E)<br />

⎞<br />

~ ⎜ ⎟ , (B.1)<br />

∆(<br />

x)<br />

⎟⎝ψ<br />

2<br />

( x,<br />

E)<br />

⎠<br />

⎟<br />

4E<br />

⎠<br />

<strong>em</strong> que ∆ ~ é a diferença de massa ao quadrado <strong>na</strong> matéria, θ ′<br />

m<br />

( x)<br />

= ∂<br />

xθ<br />

m<br />

( x)<br />

, θ (x m<br />

) é o<br />

ângulo de mistura <strong>na</strong> matéria. L<strong>em</strong>bramos que a condição adiabática ocorre quando o termo<br />

~<br />

não-diago<strong>na</strong>l é muito menor que o termo diago<strong>na</strong>l, resultando <strong>em</strong> 4E θ m<br />

′ ( x)<br />


isto é, G F<br />

N( x)<br />


⎛ ∆<br />

~<br />

x ( x)<br />

⎞<br />

ψ = Ξ =<br />

⎜ ⎟<br />

1( x,<br />

E)<br />

ψ<br />

1(<br />

x0<br />

, E)<br />

−<br />

( B,<br />

B)<br />

ψ<br />

1(<br />

x0<br />

, E) exp<br />

i∫<br />

dx ′<br />

x<br />

, (B.7)<br />

0<br />

⎝ 4E<br />

⎠<br />

assim como<br />

⎛ ∆<br />

~ ⎞<br />

= ⎜<br />

⎟<br />

− ∫ x ( x)<br />

ψ<br />

2<br />

( x,<br />

E)<br />

ψ 2<br />

( x0<br />

, E) exp i dx ′<br />

x<br />

. (B.8)<br />

0<br />

⎝ 4E<br />

⎠<br />

No limite extr<strong>em</strong>o não-adiabático, por outro lado, B(<br />

x)<br />

≅ −iθ ′ ( x)<br />

B * m<br />

≅ − ( x)<br />

(<strong>na</strong><br />

região de ressonância). Então,<br />

( + B B + ...) −ψ<br />

( x , E)<br />

( i B + i B B ...)<br />

ψ<br />

1( x,<br />

E)<br />

= ψ<br />

1(<br />

x0<br />

, E) 1 ∫ ∫ 2 0 ∫ ∫ ∫ ∫ B + e (B.9)<br />

( i B + i B B B + ...) + ψ ( x , E) ( 1+<br />

B ...)<br />

ψ<br />

2<br />

( x,<br />

E)<br />

= ψ<br />

1(<br />

x0<br />

, E)<br />

∫ ∫ ∫ ∫ 2 0 ∫ ∫ B + . (B.10)<br />

Vamos assumir que θ (x m<br />

) mu<strong>da</strong> abruptamente de π 2 para θ (ângulo de mistura<br />

do vácuo) <strong>na</strong> ressonância, isto é,<br />

se x 0 é antes (depois) <strong>da</strong> ressonância. Logo,<br />

x ⎛ π ⎞<br />

∫ B ≅ −i⎜θ<br />

− ⎟ , (B.11)<br />

x0<br />

⎝ 2 ⎠<br />

⎛ π ⎞<br />

ψ<br />

1(<br />

x,<br />

E)<br />

= ψ<br />

1(<br />

x0<br />

, E) cos⎜θ<br />

− ⎟ −ψ<br />

2<br />

( x<br />

⎝ 2 ⎠<br />

⎛ π ⎞<br />

ψ<br />

2<br />

( x,<br />

E)<br />

= ψ<br />

1(<br />

x0<br />

, E)<br />

sen⎜θ<br />

− ⎟ + ψ<br />

2<br />

( x<br />

⎝ 2 ⎠<br />

0<br />

0<br />

⎛ π ⎞<br />

, E)<br />

sen⎜θ<br />

− ⎟,<br />

⎝ 2 ⎠<br />

⎛ π ⎞<br />

, E)cos⎜θ<br />

− ⎟<br />

⎝ 2 ⎠<br />

. (B.12)<br />

Colocando ψ x , E)<br />

= 0, ψ ( x , E)<br />

1, a probabili<strong>da</strong>de “level crossing” é:<br />

1<br />

(<br />

0<br />

2 0<br />

=<br />

2 2 ⎛ π ⎞ 2<br />

ψ<br />

1( x , E)<br />

= sen ⎜θ<br />

− ⎟ = cos θ [3]. (B.13)<br />

⎝ 2 ⎠<br />

B.1) Probabili<strong>da</strong>des “Level Crossing” e os Pacotes de<br />

On<strong>da</strong><br />

Nesta seção vamos apresentar os resultados <strong>na</strong> probabili<strong>da</strong>de “level crossing”<br />

verificando a contribuição dos pacotes de on<strong>da</strong>.<br />

Considere um neutrino que se propaga inicialmente como ψ<br />

2<br />

( ψ 1<br />

( x 0<br />

, E)<br />

= 0) e t<strong>em</strong><br />

a forma gaussia<strong>na</strong> usual descrita abaixo:<br />

83


2<br />

<strong>em</strong> que ( 2 )<br />

−1<br />

4<br />

N = πσ<br />

E<br />

.<br />

Da equação (B.6), t<strong>em</strong>os que<br />

2<br />

( E − E ) ⎤<br />

⎥⎦<br />

⎡<br />

2<br />

ψ<br />

2<br />

( x0<br />

, E)<br />

= N exp⎢−<br />

, (B.14)<br />

2<br />

⎣ 4σ<br />

E<br />

( E − E )<br />

2<br />

N ⎡ ⎤<br />

2<br />

ψ<br />

1( x,<br />

E)<br />

= − exp⎢−<br />

f ( x,<br />

x0<br />

, E)<br />

2 ⎥ e (B.15)<br />

2 ⎣ 4σ<br />

E ⎦<br />

( E − E )<br />

2<br />

N ⎡ ⎤<br />

2<br />

ψ<br />

2<br />

( x,<br />

E)<br />

= exp⎢−<br />

h(<br />

x,<br />

x0<br />

, E)<br />

2 ⎥ , (B.16)<br />

2 ⎣ 4σ<br />

E ⎦<br />

sendo que f ( x , x 0<br />

, E ) e h ( x,<br />

x , E)<br />

0<br />

são as expansões respectivas <strong>da</strong> equação (B.6).<br />

Portanto,<br />

( E − E )<br />

2<br />

ψ N ⎡<br />

⎤<br />

2<br />

1( x,<br />

t)<br />

= − ∫ dE exp⎢−<br />

iEt − f ( x,<br />

x0<br />

, E)<br />

2 ⎥<br />

2 2π<br />

⎣ 4σ<br />

. (B.17)<br />

E ⎦<br />

Pod<strong>em</strong>os definir<br />

( E − E )<br />

2<br />

exp ⎡ ⎤<br />

⎢−<br />

f ( x,<br />

x0<br />

, E)<br />

≡ g(<br />

x,<br />

x ,<br />

2 ⎥<br />

⎣ 4σ<br />

0<br />

E ⎦<br />

2 E<br />

) . Logo,<br />

N<br />

ψ<br />

1( x,<br />

t)<br />

= − gˆ(<br />

x0<br />

, x,<br />

t)<br />

, (B.18)<br />

2<br />

sendo que ĝ é a transforma<strong>da</strong> de Fourier de g. A probabili<strong>da</strong>de “level crossing” é<br />

ψ<br />

2<br />

1<br />

( x,<br />

t)<br />

, mas integramos sobre o t<strong>em</strong>po, t<strong>em</strong>os:<br />

2<br />

2<br />

2<br />

2 N<br />

2 N<br />

2<br />

ψ<br />

1<br />

( x)<br />

= ∫ dtψ<br />

1(<br />

x,<br />

t)<br />

= ∫ dt gˆ(<br />

x,<br />

x0<br />

, t)<br />

= ∫ dE g(<br />

x,<br />

x0<br />

, t)<br />

, (B.19)<br />

4<br />

4<br />

onde usamos a identi<strong>da</strong>de de Parseval. Pod<strong>em</strong>os expressar a probabili<strong>da</strong>de “level crossing”<br />

1<br />

2<br />

para os pacotes de on<strong>da</strong> usando a probabili<strong>da</strong>de de on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s, P lc<br />

( E)<br />

= f ( x,<br />

x0 , E)<br />

.<br />

4<br />

Então,<br />

( E − E )<br />

2<br />

2<br />

⎡ ⎤<br />

2<br />

2<br />

Plc ( E2 , σ<br />

E<br />

) ≡ ψ<br />

1(<br />

x)<br />

= N ∫ dE exp⎢−<br />

P ( E)<br />

2 ⎥ lc<br />

, (B.20)<br />

⎣ 2σ<br />

E ⎦<br />

84


onde Plc<br />

( E2 , σ<br />

E<br />

) é a probabili<strong>da</strong>de “level crossing” generaliza<strong>da</strong> que leva <strong>em</strong> conta o<br />

tamanho do pacote de on<strong>da</strong> no espaço <strong>da</strong>s energias.<br />

O efeito dos pacotes de on<strong>da</strong> nessa probabili<strong>da</strong>de pode ser visto melhor fazendo-se a<br />

expansão de P lc<br />

(E)<br />

<strong>em</strong> série. Assumindo σ E<br />

pequeno, pegamos os termos de ord<strong>em</strong><br />

menor, a equação (B.20) resulta ( E → E<br />

P<br />

2<br />

)<br />

2 2<br />

σ<br />

E<br />

∂ Plc<br />

( E)<br />

E,<br />

σ<br />

E<br />

) = Plc<br />

( E)<br />

+<br />

+ .... (B.21)<br />

2 ∂E<br />

lc<br />

(<br />

2<br />

Notamos <strong>na</strong> expressão acima que o formalismo de pacotes de on<strong>da</strong> introduz uma<br />

correção <strong>na</strong> probabili<strong>da</strong>de “level crossing”. Se sab<strong>em</strong>os a expressão <strong>em</strong> on<strong>da</strong>s pla<strong>na</strong>s,<br />

pod<strong>em</strong>os saber a correção <strong>em</strong> pacotes de on<strong>da</strong>.<br />

85


Referências – Apêndice B<br />

[1] C. W. Kim e A. Pevsner, Neutrinos in Physics and Astrophysics (Harwood Acad<strong>em</strong>ic,<br />

Chur, 1993).<br />

[2] A. B. Balantekin, Phys. Rev. D58, 013001 (1998).<br />

[3] C. W. Kim, S. Nussinov e W. K. Sze, Phys. Lett. B184, 403 (1987).<br />

[4] T. K. Kuo e J. Pantaleone, Phys. Rev. D39, 1930 (1989).<br />

[5] A. B. Balantekin e J. F. Beacom, Phys. Rev. D54, 6323 (1996).<br />

[6] C. Giunti, C. W. Kim e U. W. Lee, Phys. Lett. B274, 87 (1992).<br />

[7] D. Nötzold, Phys. Rev. D36, 1625 (1987).<br />

[8] S. Toshev, Phys. Lett. B196, 170 (1987).<br />

[9] S. T. Petcov, Phys. Lett. B200, 373 (1988).<br />

[10] L. Lan<strong>da</strong>u, Phys. Z. Sovjetunion 2, 46 (1932).<br />

[11] C. Zener, Proc. R. Soc. London, Ser. A137, 696 (1932).<br />

[12] S. P. Rosen e J. M. Gelb, Phys. Rev. D34, 969 (1986).<br />

[13] V. Barger, R. J. N. Phillips e K. Whis<strong>na</strong>nt, Phys. Rev. D34, 980 (1986).<br />

[14] S. J. Parke, Phys. Rev. Lett. 57, 1275 (1986).<br />

[15] P. Pizzochero, Phys. Rev. D36, 2293 (1987).<br />

[16] A. B. Balantekin, S. H. Fricke e P. J. Hatchell, Phys. Rev. D38, 935 (1988).<br />

[17] J. C. D’Olivo, Phys. Rev. D45, 924 (1992).<br />

[18] M. Bruggen, W. C. Haxton e Y. Z. Qian, Phys. Rev. D51, 4028 (1995).<br />

[19] A. B. Balantekin, J. C. Beacon e J. M. Fetter, Phys. Lett. B427, 317 (1998).<br />

86


APÊNDICE C<br />

Neutrinos <strong>em</strong> um<br />

“fireball” de um<br />

“Gamma-ray Burst”<br />

Gamma Ray Bursts” (GRB) são explosões curtas e não-térmicas de fótons de baixa<br />

energia (100keV-1MeV) e liberam cerca de 10 51 -10 53 ergs de energia <strong>em</strong> poucos segundos,<br />

sendo portanto os objetos mais luminosos do universo. Observações indicam que os GRBs<br />

se origi<strong>na</strong>m de fontes cosmológicas [veja 8, entretanto 9] e que os principais candi<strong>da</strong>tos são<br />

a fusão de uma estrela de nêutrons com outra estrela de nêutrons (NS-NS), binárias buraco<br />

negro e estrela de nêutrons (BH-NS), modelos de hipernova/colapso envolvendo estrelas<br />

progenitoras massivas [10, 11, 12, 13, 14, 15]. Observações recentes de GRB030329 são<br />

mais favoráveis aos modelos de colapso para iniciar o GRB [16]. Em quase todos os<br />

modelos, a energia gravitacio<strong>na</strong>l é libera<strong>da</strong> quase to<strong>da</strong> <strong>na</strong> forma de par neutrinoantineutrino,<br />

radiação gravitacio<strong>na</strong>l e uma peque<strong>na</strong> fração é responsável para iniciar o<br />

GRB.<br />

Provavelmente, tais eventos são origi<strong>na</strong>dos quando algumas massas solares<br />

colapsam ao redor do raio de Schwarzschild [1]. Depois disto, uma fração <strong>da</strong> energia<br />

gravitacio<strong>na</strong>l libera<strong>da</strong> com o colapso é deposita<strong>da</strong> num volume um pouco maior que o<br />

horizonte do raio onde ocorreu tal colapso. Este volume com alta concentração de energia é<br />

chama<strong>da</strong> de “termed fireball” e sua evolução foi explora<strong>da</strong> por [2]. Este volume é<br />

constituído basicamente por um plasma formado por bárions - principalmente prótons e<br />

nêutrons <strong>em</strong> quanti<strong>da</strong>des iguais [6,7], porém relativamente peque<strong>na</strong>s, senão a expansão<br />

seria newtonia<strong>na</strong>, o que não corresponde às observações atuais -, fótons, elétrons e<br />

pósitrons, termalizados numa t<strong>em</strong>peratura entre 3MeV e 10MeV. Os fótons do “fireball”<br />

87


estão presos à região devido à grande profundi<strong>da</strong>de óptica, <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> de 10 13 , escapando<br />

somente quando a profundi<strong>da</strong>de óptica atinge o valor unitário.<br />

O “fireball” se expande de maneira relativística com um fator de Lorentz<br />

Γ ≅ 100 −1000 , e o “burst”, segundo considerações fenomenológicas, pode ocorrer pela<br />

dissipação <strong>da</strong> energia cinética do “fireball” <strong>em</strong> expansão (veja [17] para revisão). As<br />

condições físicas <strong>na</strong> região de dissipação implicam que [18] os prótons dev<strong>em</strong> ser<br />

acelerados (mecanismo de Fermi) a energias maiores que 10 20 eV. Ain<strong>da</strong> mais, o espectro e<br />

o fluxo dos raios cósmicos com energia acima de 10 19 eV são consistentes com aqueles<br />

esperados pela aceleração dos prótons de GRBs cosmológicos [19].<br />

C.1) Produção de Neutrinos<br />

A produção de neutrinos <strong>em</strong> um “fireball” pode ocorrer de uma maneira direta e de<br />

uma maneira indireta através do decaimento de píons produzidos no meio. Vamos começar<br />

nossa descrição através <strong>da</strong> produção de neutrinos de maneira direta, cujos principais<br />

processos são:<br />

±<br />

±<br />

• Processo foto-neutrino: e + γ → e + ν<br />

i<br />

+ ν<br />

i<br />

;<br />

• Processo de plasma: γ → ν i<br />

+ ν<br />

i<br />

;<br />

• Aniquilação de pares: e<br />

− + e<br />

+ →ν i<br />

+ ν<br />

i<br />

;<br />

−<br />

• Captura eletrônica: e + p → n + ν<br />

e<br />

;<br />

+<br />

• Captura positrônica: e + n → p + ν<br />

e<br />

.<br />

Os últimos dois processos constitu<strong>em</strong> o não-degenerado processo URCA, que é o<br />

processo domi<strong>na</strong>nte para baixas densi<strong>da</strong>des nucleônicas.<br />

88


Figura C.1 - [3] Emissivi<strong>da</strong>de do neutrino no plasma <strong>em</strong> função <strong>da</strong> t<strong>em</strong>peratura. As linhas pontilha<strong>da</strong>s<br />

indicam as contribuições individuais e a linha cheia mostra a <strong>em</strong>issivi<strong>da</strong>de total. Foi usado uma<br />

8 −3<br />

densi<strong>da</strong>de bariônica de 10 g × cm .<br />

Notamos pela figura C.1 que a <strong>em</strong>issivi<strong>da</strong>de Q dos processos foto-neutrino e de<br />

plasma é b<strong>em</strong> menor que a <strong>em</strong>issivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> aniquilação de pares elétron-pósitron. Esta<br />

última, compara<strong>da</strong> com o processo URCA, que depende <strong>da</strong> densi<strong>da</strong>de bariônica e também<br />

possui um comportamento diferente ao <strong>da</strong> aniquilação frente a mu<strong>da</strong>nças de t<strong>em</strong>peratura,<br />

pelo gráfico acima, será considera<strong>da</strong> como processo domi<strong>na</strong>nte.<br />

Expressamos a taxa de criação de neutrino <strong>em</strong> termos do parâmetro χ , que pode ser<br />

expresso <strong>em</strong> termos de t c<br />

, o t<strong>em</strong>po de escala de “cooling” e t e<br />

, o t<strong>em</strong>po de escala de<br />

expansão, como<br />

t<br />

=<br />

c<br />

χ , (C.1)<br />

te<br />

<strong>em</strong> que,<br />

E<br />

t c<br />

= e (C.2)<br />

VQ<br />

R<br />

t<br />

e<br />

= . (C.3)<br />

c<br />

s<br />

89


E é energia, V e R são, respectivamente, o volume e o raio do “fireball” e c s é a veloci<strong>da</strong>de<br />

do som no “fireball”. O parâmetro de taxa de criação não considera a transparência dos<br />

neutrinos do plasma, que deve ser considerado se é levado <strong>em</strong> conta o mecanismo de<br />

“cooling” dos neutrinos.<br />

Considerando somente a <strong>em</strong>issivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> aniquilação de pares escrev<strong>em</strong>os:<br />

33 9<br />

1 −3<br />

Q = 3,6 × 10 ( T11)<br />

erg × s<br />

− × cm . (C.4)<br />

Logo a taxa de criação de neutrinos será <strong>da</strong><strong>da</strong> por:<br />

9 5<br />

−3<br />

−<br />

4 4<br />

3,7<br />

× 10 g ( E)<br />

( R6,5<br />

11<br />

4<br />

χ =<br />

) . (C.5)<br />

Neutrinos também pod<strong>em</strong> ser produzidos pelo decaimento de píons carregados:<br />

_ _<br />

π → µ + ν<br />

+<br />

−<br />

µ → e + ν<br />

e<br />

+ ν µ ν µ<br />

+<br />

Para π é só tomarmos o conjugado de carga <strong>da</strong> reação acima. Tais píons são<br />

oriundos de dois processos:<br />

_<br />

γ + n → p + π<br />

• Produção foto-píon:<br />

+<br />

γ + p → n + π<br />

• Colisão N-N:<br />

n + p → p +<br />

p + p → n +<br />

_<br />

p + π<br />

+<br />

p + π<br />

A seção de choque <strong>da</strong> produção de píons por colisões nucleon-nucleon<br />

26 2<br />

( 3 10<br />

−<br />

−28<br />

2<br />

σ ≅ × cm ) é maior que a do processo foto-piônico ( σ ≅ 10 cm ), no entanto a<br />

densi<strong>da</strong>de de fótons no plasma é quase que quatro ordens de magnitude maior. Logo, o<br />

processo de produção foto-píon é domi<strong>na</strong>nte <strong>na</strong> produção de píons. A produção foto-píon<br />

pode criar um “burst” de neutrinos com energia de 10 14 eV (mecanismos de aceleração de<br />

Fermi). A colisão N-N pode gerar neutrinos com 30 GeV de energia. Aqui não<br />

considerar<strong>em</strong>os os neutrinos produzidos pelos píons.<br />

Os neutrinos produzidos terão uma energia média típica entre 5MeV e 20MeV e o<br />

meio é inicialmente opaco aos neutrinos de todos os sabores. À medi<strong>da</strong> que o “fireball”<br />

evolui, os neutrinos pod<strong>em</strong> ser distribuídos <strong>em</strong> três regiões: a região I contém neutrinos de<br />

todos os sabores; a região II contém ape<strong>na</strong>s neutrinos eletrônicos, sendo transparente aos<br />

neutrinos muônicos e tauônicos; <strong>na</strong> região III todos os neutrinos já estão desacoplados. Os<br />

neutrinos produzidos pod<strong>em</strong> escapar também <strong>em</strong> regiões onde a taxa de produção é alta e a<br />

profundi<strong>da</strong>de ótica é peque<strong>na</strong> – menor que um. Logo, neutrinos escapam por “bursts” de<br />

desacoplamento do “fireball” e também por <strong>em</strong>issão contínua.<br />

Vamos descrever algumas proprie<strong>da</strong>des gerais de um “fireball” a seguir.<br />

90


C.2) Proprie<strong>da</strong>des do “fireball”<br />

Em um equilíbrio termodinâmico, a densi<strong>da</strong>de de energia ( ε V ) e a t<strong>em</strong>peratura (T)<br />

são relacio<strong>na</strong>dos por, para um volume V,<br />

ε<br />

V =<br />

gaT<br />

4<br />

, (C.6)<br />

<strong>em</strong> que a é a constante de radiação e g é um fator que depende <strong>da</strong> composição do sist<strong>em</strong>a.<br />

Para as três regiões comenta<strong>da</strong>s de neutrinos t<strong>em</strong>os que:<br />

g<br />

g<br />

g<br />

I<br />

II<br />

III<br />

43<br />

=<br />

8<br />

29<br />

=<br />

8<br />

22<br />

=<br />

8<br />

. (C.7)<br />

Assumindo uma configuração esférica, a t<strong>em</strong>peratura do plasma pode ser expressa<br />

<strong>em</strong> termos <strong>da</strong> energia e do raio.<br />

100 −<br />

T11<br />

ε<br />

52 6,5<br />

, (C.8)<br />

g<br />

4<br />

( ) = ( )( R ) 3<br />

11<br />

52<br />

6,5<br />

para T = T11 × 10 K , ε = ε<br />

52<br />

× 10 erg e R = R6,5<br />

× 10 cm .<br />

Os valores iniciais de t<strong>em</strong>peratura, densi<strong>da</strong>de de energia e raio, representados com<br />

um asterisco são:<br />

T<br />

52<br />

ε<br />

*<br />

= 10 erg , (C.9)<br />

6,5<br />

R* = 10 cm e (C.10)<br />

11<br />

= 2,1 × 10 K 17,9 k MeV , (C.11)<br />

*<br />

=<br />

sendo k<br />

B<br />

a constante de Boltzmann.<br />

Usando os valores iniciais <strong>da</strong>do por (C.9), (C.10) e (C.11), t<strong>em</strong>os que χ<br />

I<br />

= 0, 16 . Os<br />

neutrinos são criados relativamente rápidos <strong>em</strong> comparação com o t<strong>em</strong>po de escala de<br />

expansão. Aqui consideramos que a criação <strong>da</strong> quanti<strong>da</strong>de de antineutrinos e neutrinos é<br />

igual, uma vez que consideramos uma simetria inicial entre eles.<br />

Como a t<strong>em</strong>peratura é maior que as típicas energias de ligação, os núcleos estão<br />

quebrados <strong>em</strong> seus nucleons. Estima-se que deve existir 10 TeV de energia disponível para<br />

estes bárions, conseqüent<strong>em</strong>ente a densi<strong>da</strong>de bariônica máxima é<br />

B<br />

91


31 −3<br />

n B ;*<br />

= 4,7 × 10 cm , (C.12)<br />

que é o valor de referência para os cálculos. Isto implica que a densi<strong>da</strong>de de massa<br />

7 −3<br />

bariônica é ρ<br />

B;* = 9,4×<br />

10 g × cm , o que corresponde a uma massa bariônica total <strong>em</strong><br />

−6<br />

torno de 6,2 × 10 massas solares conti<strong>da</strong>s num volume inicial V<br />

*<br />

.<br />

Devido à neutrali<strong>da</strong>de de carga global, a razão de prótons <strong>em</strong> relação aos nêutrons<br />

pode ser escrita <strong>em</strong> termos <strong>da</strong> fração eletrônica Y<br />

e<br />

. Desta maneira,<br />

n = n + n e (C.13)<br />

B<br />

n<br />

p<br />

n . (C.14)<br />

p<br />

= Yen<br />

B<br />

= ∆ne<br />

= n − − n +<br />

e e<br />

∆n e<br />

é denomi<strong>na</strong>do densi<strong>da</strong>de eletrônica de rede.<br />

2<br />

Sabendo que T* >> mec<br />

, os elétrons e pósitrons são extr<strong>em</strong>amente relativísticos<br />

( E = pc ). A densi<strong>da</strong>de eletrônica de rede e a densi<strong>da</strong>de combi<strong>na</strong><strong>da</strong> elétron-pósitron<br />

n<br />

e<br />

n − + n + pod<strong>em</strong> ser expressas, sendo µ<br />

e<br />

o potencial químico, por<br />

=<br />

e e<br />

3<br />

1 ⎛ 2 µ<br />

( )<br />

⎟ ⎞<br />

e<br />

∆n<br />

= ⎜<br />

e<br />

k +<br />

3 3 BT<br />

µ<br />

e<br />

, (C.15)<br />

2<br />

3h<br />

c ⎝ π ⎠<br />

( k T )<br />

3<br />

B<br />

0,37<br />

+ O<br />

3 3<br />

e<br />

( ) 2<br />

n<br />

e<br />

=<br />

µ<br />

h c<br />

. (C.16)<br />

Por definição, Y<br />

e<br />

< 1, então ∆ ne<br />

≤ nB<br />

. T<strong>em</strong>os um limite superior para a densi<strong>da</strong>de<br />

eletrônica de rede e, por conseguinte, para o potencial químico. Sab<strong>em</strong>os a densi<strong>da</strong>de<br />

−4<br />

bariônica, portanto, µ k B<br />

T* ≅ 2×<br />

10


considera<strong>da</strong>s [4, 20, 21, 22]. Estas correções surg<strong>em</strong> a partir dos termos dependentes do<br />

momento nos propagadores bosônicos nos diagramas de auto-energia.<br />

Neutrinos eletrônicos interag<strong>em</strong> tanto por corrente carrega<strong>da</strong> quanto por corrente<br />

neutra, enquanto que os neutrinos tauônicos e muônicos interag<strong>em</strong> somente por corrente<br />

neutra. Até primeira ord<strong>em</strong>, o potencial efetivo sentido pelos neutrinos é proporcio<strong>na</strong>l à<br />

diferença entre o número de partículas e antipartículas. Se um sist<strong>em</strong>a apresenta um número<br />

igual de partículas e antipartículas, o termo de primeira ord<strong>em</strong> some. Por outro lado, o<br />

próximo termo de contribuição (proporcio<strong>na</strong>l a 1/M 4 , <strong>em</strong> que M é a massa do propagador<br />

bosônico) é proporcio<strong>na</strong>l à soma do número de densi<strong>da</strong>de de partículas e antipartículas.<br />

Os neutrinos <strong>na</strong> região de plasma pod<strong>em</strong> sofrer absorção e processo de<br />

espalhamento, resumidos a seguir:<br />

±<br />

±<br />

• Espalhamento elétron (pósitron)-neutrino: ν<br />

i<br />

+ e →ν<br />

i<br />

+ e ;<br />

• Espalhamento nucleon-neutrino: ν<br />

i<br />

+ N →ν<br />

i<br />

+ N ;<br />

−<br />

• Captura elétron-neutrino: ν<br />

e<br />

+ n → e + p ;<br />

+<br />

• Captura elétron-antineutrino: ν + p → n + e .<br />

Para as condições iniciais, (C.9), (C.10) e (C.11), o comprimento de livre caminho<br />

médio (mfp) é determi<strong>na</strong>do pelo espalhamento elétron (pósitron)-neutrino, como<br />

verificamos pela figura C.2 abaixo:<br />

e<br />

Figura C.2 – [3] Comprimento de livre caminho médio (cm) dos neutrinos eletrônicos <strong>em</strong> função <strong>da</strong><br />

t<strong>em</strong>peratura <strong>em</strong> K. A linha pontilha<strong>da</strong> representa as contribuições individuais, enquanto que a cheia<br />

representa o mpf total.<br />

93


Figura C.3 – [3] Comprimento de livre caminho médio (cm) dos neutrinos muônicos e tauônicos <strong>em</strong><br />

função <strong>da</strong> t<strong>em</strong>peratura <strong>em</strong> K. A linha pontilha<strong>da</strong> representa as contribuições individuais, enquanto que<br />

a cheia representa o mpf total.<br />

O livre caminho médio (λ) é importante para o cálculo <strong>da</strong> profundi<strong>da</strong>de óptica, que<br />

é <strong>da</strong><strong>da</strong> por τ = R λ , sendo R o comprimento de escala. S<strong>em</strong>pre que a profundi<strong>da</strong>de óptica é<br />

igual a 1, então ocorre desacoplamento instantâneo de algum sabor de neutrino do plasma.<br />

Enquanto o valor <strong>da</strong> profundi<strong>da</strong>de óptica for maior que um, diz<strong>em</strong>os que este plasma é<br />

opaco aos neutrinos.<br />

λ possui diferentes valores para o neutrino eletrônico e para os outros neutrinos,<br />

uma vez que o primeiro também interage por corrente carrega<strong>da</strong>, mas é o mesmo para os<br />

neutrinos e antineutrinos de mesmo sabor, já que a quanti<strong>da</strong>de de elétrons é igual a de<br />

pósitrons. Logo, o desacoplamento de neutrinos e antineutrinos irá ocorrer ao mesmo<br />

t<strong>em</strong>po. λ para os neutrinos eletrônicos e para os neutrinos muônicos ou tauônicos é <strong>da</strong>do<br />

por, respectivamente,<br />

Usando os valores de<br />

muônicos e tauônicos, <strong>na</strong> região I, e<br />

neutrinos eletrônicos, t<strong>em</strong>os:<br />

−<br />

( T ) cm<br />

( e)<br />

6 5<br />

= 3,7 × 10<br />

11<br />

λ , (C.18)<br />

−5<br />

( T ) cm<br />

( µ , τ )<br />

7<br />

λ = 1,6 × 10<br />

11<br />

. (C.19)<br />

g = g<br />

I<br />

para encontrar a profundi<strong>da</strong>de óptica para os neutrinos<br />

g = g<br />

II<br />

para encontrar a profundi<strong>da</strong>de óptica para os<br />

( ) 5 −11<br />

ε 4 ( ) 4<br />

( e)<br />

τ = 54×<br />

52<br />

R6,5<br />

, (C.20)<br />

94


τ<br />

( µ , τ )<br />

( ) 5 −11<br />

ε 4 ( ) 4<br />

= 7,4×<br />

R<br />

52<br />

6,5<br />

. (C.21)<br />

( , µ , τ )<br />

Para as condições iniciais, τ e > 1, portanto a “fireball” é opaca aos neutrinos de<br />

todos os sabores.<br />

A figura C.4 é um espaço de parâmetros que mostras as três regiões de plasma,<br />

mostrando as profundi<strong>da</strong>des ópticas e a taxa de criação de neutrinos. A linha sóli<strong>da</strong> mostra<br />

( e)<br />

( µ , ν )<br />

os contornos χ<br />

I<br />

= 1, χ<br />

II<br />

= 1, χ<br />

III<br />

= 1, τ = 1 e τ = 1; as linhas pontilha<strong>da</strong>s são as<br />

isotérmicas. O * denota os pontos de valor inicial <strong>da</strong>do pelas equações (C.9), (C.10),<br />

(C.11). A trajetória construí<strong>da</strong> de “0” até “4” corresponde à evolução hidrodinâmica do<br />

“fireball”. Não estamos aqui interessados <strong>na</strong> região de buracos negros indica<strong>da</strong>.<br />

Figura C.4 – [3] Gráfico de espaço de parâmetros que mostra as três fases do plasma.<br />

C.4) A evolução do “fireball”<br />

Enquanto os componentes do plasma estão fort<strong>em</strong>ente acoplados, isto é, o<br />

comprimento de interação é muito menor que o tamanho do sist<strong>em</strong>a, o plasma pode ser<br />

descrito como uma esfera homogênea <strong>em</strong> equilíbrio termodinâmico com uma única<br />

t<strong>em</strong>peratura. O plasma irá expandir, de maneira adiabática, por pressão de radiação,<br />

convertendo esta energia <strong>em</strong> energia cinética dos bárions. Vamos assumir que a evolução<br />

do “fireball” é um processo reversível, isto é, a entropia se conserva, a relação raiot<strong>em</strong>peratura<br />

é <strong>da</strong><strong>da</strong> por<br />

95


3<br />

3<br />

( RT ) g ( R T ) const.<br />

g = = , (C.22)<br />

sendo que a energia radiativa e a entropia são <strong>da</strong><strong>da</strong>s, respectivamente, por<br />

0<br />

4π<br />

3<br />

0<br />

0<br />

3 4<br />

ε = gaR T e (C.23)<br />

S<br />

16π<br />

= ga( RT ) 3<br />

. (C.24)<br />

9<br />

Enquanto não houver mu<strong>da</strong>nça <strong>na</strong> composição do plasma pod<strong>em</strong>os escrever:<br />

( R ) = ( ε R ) = .<br />

ε e (C.25)<br />

0 0<br />

const<br />

ε 0<br />

= ε = const.<br />

T T<br />

. (C.26)<br />

0<br />

Se ocorrer aniquilação, a relação t<strong>em</strong>peratura-energia irá se manter já que a entropia<br />

se conserva. Esta só diminui quando ocorre algum desacoplamento. Da relação (C.22),<br />

notamos que a relação durante o desacoplamento pode ser <strong>da</strong><strong>da</strong> por:<br />

RT = R T 0 0<br />

. (C.27)<br />

Agora vamos discutir o que ocorre com a evolução do “fireball” com energia inicial<br />

genérica ε<br />

0<br />

e tamanho R<br />

0<br />

. À medi<strong>da</strong> que ocorr<strong>em</strong> expansão e esfriamento do “fireball”,<br />

ele irá de opaco à transparente para os neutrinos, que é quando os neutrinos se desacoplam<br />

do plasma.<br />

Além dos “bursts” de neutrinos, também há <strong>em</strong>issão contínua onde a taxa de criação<br />

é suficient<strong>em</strong>ente alta e o plasma é transparente para os neutrinos.<br />

Partindo do ponto “0” <strong>da</strong> figura C.4, o plasma expande ao longo de ( ε R ) = ( ε R 0 0<br />

)<br />

( µ , τ )<br />

até atingir o contorno τ = 1, numa t<strong>em</strong>peratura menor, próxima a 10,3 MeV. Pod<strong>em</strong>os<br />

achar o valor <strong>da</strong> energia radiativa e <strong>da</strong> t<strong>em</strong>peratura antes de ocorrer o desacoplamento<br />

usando (C.22):<br />

(1)<br />

52<br />

. 61<br />

(0) (0)<br />

( ε ) 11 16<br />

ε = 0 R , (C.28)<br />

(1)<br />

11<br />

1. 26<br />

52<br />

6.5<br />

(0) (0)<br />

( )<br />

52<br />

6.5<br />

−1 16<br />

T = ε R . (C.29)<br />

A t<strong>em</strong>peratura de 10,3 MeV permanecerá com esse valor durante o primeiro “burst”<br />

de neutrinos muônicos e tauônicos, o que corresponde ao trecho do ponto “1” até “2” <strong>na</strong><br />

figura C.4.<br />

96


( e)<br />

Para o “burst” de neutrinos eletrônicos, τ = 1 (ponto “3” até o “4”),<br />

imediatamente antes, t<strong>em</strong>os:<br />

(3)<br />

52<br />

, 28<br />

(0) (0)<br />

( ε ) 11 16<br />

ε = 0 R e (C.30)<br />

(3)<br />

11<br />

0. 87<br />

52<br />

6,5<br />

(0) (0) −<br />

( ) 1 16<br />

T = ε R . (C.31)<br />

Usando os valores iniciais, t<strong>em</strong>os que a t<strong>em</strong>peratura antes do desacoplamento dos<br />

neutrinos eletrônicos será 7,4 MeV.<br />

Durante o primeiro “burst”, de neutrinos muônicos e tauônicos, ocorre uma<br />

diminuição <strong>da</strong> energia do “fireball” de cerca de 36%. Para o segundo “burst”, de neutrinos<br />

eletrônicos, ocorre uma diminuição de cerca de 21%.<br />

Pod<strong>em</strong>os questio<strong>na</strong>r se ocorrer oscilação de neutrinos irá ou não influenciar a<br />

evolução do “fireball”. Abaixo discutimos resumi<strong>da</strong>mente a oscilação de neutrinos num<br />

“fireball”.<br />

C.5) A Oscilação de neutrinos<br />

Discutimos <strong>na</strong> seção C.3 que o potencial efetivo deverá ser modificado devido a<br />

assimetria peque<strong>na</strong> do meio. Em um plasma relativístico, não-degenerado de elétrons,<br />

prótons e nêutrons, o potencial efetivo sentido pelo neutrino eletrônico é [4,21]:<br />

52<br />

6,5<br />

2<br />

⎡<br />

2<br />

⎛ 7ξ<br />

(4) ⎞ T ⎤<br />

ν ≅ 2GF<br />

N γ ⎢L e<br />

− ⎜ ⎟ ⎥ e (C.32)<br />

2<br />

⎢⎣<br />

⎝ ξ (3) ⎠ M<br />

W ⎥⎦<br />

V<br />

e<br />

o potencial efetivo para os neutrinos muônicos e tauônicos é <strong>da</strong>do por<br />

V<br />

ν µ τ<br />

2G<br />

, F<br />

Nγ<br />

Lµ<br />

, τ<br />

≅ , (C.33)<br />

<strong>em</strong> que<br />

⎛ 1 2 ⎞ ⎛ 1<br />

2<br />

2<br />

2 ⎞ Ln<br />

L<br />

e<br />

= ⎜ + sen θW<br />

⎟Le<br />

+ ⎜ − sen θW<br />

⎟L<br />

p<br />

− e (C.34)<br />

⎝ 2 ⎠ ⎝ 2 ⎠ 2<br />

⎛ 1 2<br />

2 ⎞ Ln<br />

L µ , τ = ⎜−<br />

+ sen θW<br />

⎟(<br />

Le<br />

− L<br />

p<br />

) − . (C.35)<br />

⎝ 2 ⎠<br />

2<br />

A assimetria <strong>da</strong> partícula é defini<strong>da</strong> como<br />

N − N a<br />

L = , (C.36)<br />

a<br />

a<br />

N γ<br />

97


sendo<br />

N γ a densi<strong>da</strong>de de fótons e é <strong>da</strong><strong>da</strong> por<br />

N<br />

2<br />

π<br />

3<br />

γ<br />

= ξ (3)<br />

T . (C.37)<br />

2<br />

Para antineutrinos, o potencial efetivo deve ser <strong>da</strong>do pela mu<strong>da</strong>nça La<br />

→ −La<br />

.<br />

Tal trabalho só irá considerar a oscilação de neutrinos para duas famílias, usando os<br />

parâmetros solares, para os ca<strong>na</strong>is ν e<br />

↔ν µ e ν e ↔ν µ , cujos potenciais efetivos são<br />

<strong>da</strong>dos, respectivamente, por:<br />

V<br />

V<br />

−9<br />

2<br />

( L − 8,18×<br />

10 T )<br />

−12<br />

3<br />

3,93×<br />

10 TMeV<br />

e<br />

MeV<br />

= , (C.38)<br />

−9<br />

2<br />

( − L − 8,18×<br />

10 T )<br />

−12<br />

3<br />

3,93×<br />

10 TMeV<br />

e<br />

MeV<br />

= . (C.39)<br />

Para diferentes valores de assimetria mostramos a figura C.5 (neutrinos) e figura<br />

C.6( antineutrinos) que indicam o valor do potencial <strong>em</strong> função <strong>da</strong> t<strong>em</strong>peratura do<br />

“fireball”.<br />

Figura C.5: Neutrino - Potencial <strong>em</strong> função <strong>da</strong> t<strong>em</strong>peratura para várias assimetrias<br />

Figura C.6: Antineutrino – Potencial <strong>em</strong> função <strong>da</strong> t<strong>em</strong>peratura para várias assimetrias (1,5×10-4;<br />

1,0×10-4; 1,0×10-5; 1,0×10-6)<br />

98


A probabili<strong>da</strong>de de con<strong>versão</strong> é <strong>da</strong><strong>da</strong> por<br />

2<br />

∆ sen<br />

P(<br />

t)<br />

=<br />

2<br />

ω<br />

2<br />

2θ<br />

2 ⎛ ωt<br />

⎞<br />

sen ⎜ ⎟ , (C.40)<br />

⎝ 2 ⎠<br />

com<br />

2 2 2<br />

ω = ( V − ∆ cos 2θ<br />

) + ∆ sen 2θ<br />

, (C.41)<br />

2<br />

∆m<br />

sendo ∆ = . Para o cálculo <strong>da</strong> probabili<strong>da</strong>de aproximamos x ≅ t .<br />

2E<br />

2<br />

−5<br />

2<br />

Os parâmetros solares usados foram ∆m<br />

= 7,1 × 10 eV , sen2θ<br />

= 0, 83 . Nossa<br />

expressão de probabili<strong>da</strong>de de con<strong>versão</strong> depende <strong>da</strong> energia do neutrino, <strong>da</strong> t<strong>em</strong>peratura,<br />

do ângulo de mistura no vácuo, <strong>da</strong> diferença de massa ao quadrado e <strong>da</strong> assimetria matériaantimatéria.<br />

Esta última possui um valor mínimo ( L<br />

min.<br />

−5<br />

−3<br />

−3<br />

e<br />

≅ 4,47 × 10 R7<br />

TMeV<br />

) e um valor<br />

max.<br />

−2<br />

−3<br />

−3<br />

máximo ( L<br />

e<br />

≅ 4.47 × 10 R7<br />

TMeV<br />

) que depend<strong>em</strong> do raio e <strong>da</strong> t<strong>em</strong>peratura do “fireball”.<br />

Para a região <strong>completa</strong>mente opaca a todos os sabores de neutrinos, para qualquer<br />

valor de assimetria entre o máximo e o mínimo, as probabili<strong>da</strong>des de con<strong>versão</strong> são muito<br />

peque<strong>na</strong>s. Portanto, pod<strong>em</strong>os dizer que não esperamos que ocorra oscilação de neutrinos <strong>na</strong><br />

região do ponto “0” até o ponto “1” <strong>da</strong> figura C.4. O mesmo ocorre para a região onde<br />

somente os neutrinos eletrônicos estão opacos. A probabili<strong>da</strong>de de con<strong>versão</strong> nesta região –<br />

ponto “2” até ponto “3” <strong>da</strong> figura C.4 – parece ser insignificante para afetar qualquer tipo<br />

de evolução do “fireball”. Probabili<strong>da</strong>de significante ter<strong>em</strong>os somente quando a<br />

t<strong>em</strong>peratura atingir o valor de 3 MeV e para uma assimetria de cerca de 10 -7 , com neutrinos<br />

de energia 5 MeV, como mostramos <strong>na</strong> figura C. 7 abaixo:<br />

Figura C.7 – Probabili<strong>da</strong>de de oscilação para os parâmetros solares, com T=3MeV, L e =10 -7 e E=5MeV.<br />

99


A conclusão é simples: notamos que, para parâmetros solares e considerando o<br />

ca<strong>na</strong>l ν e<br />

↔ν µ , ocorrerá oscilação somente depois dos desacoplamentos dos neutrinos, isto<br />

é, quando o “fireball” é transparente aos mesmos. Isto significa que a oscilação não afetará<br />

de maneira significativa a evolução do “fireball”. Vale l<strong>em</strong>brar também que a con<strong>versão</strong><br />

mais significativa ocorre quando os neutrinos possu<strong>em</strong> baixas energias, como 5 MeV.<br />

Na figura C.8, logo abaixo, mostramos as regiões onde a ressonância pode ocorrer.<br />

0.00001<br />

8´ 10 -6<br />

6´ 10 -6<br />

4´ 10 -6<br />

2´ 10 -6<br />

1 2 5 10 20 50 100<br />

Figura C. 8– Regiões de ressonância (parâmetros solar e neutrinos). Eixo x é t<strong>em</strong>peratura <strong>em</strong> MeV e o<br />

eixo y é a assimetria L e .<br />

Se considerarmos a con<strong>versão</strong> no ca<strong>na</strong>l ν µ ↔ ν τ , usando os parâmetros<br />

atmosféricos, a probabili<strong>da</strong>de média de con<strong>versão</strong> será 0,5. No entanto, esta contribuição<br />

não afetará a evolução do “fireball”, uma vez que os neutrinos muônicos e tauônicos são os<br />

primeiros a escapar e a con<strong>versão</strong> ocorre entre estes sabores. Creio que tal con<strong>versão</strong> não<br />

afetará a evolução <strong>em</strong> qualquer momento, já que para tal, deveríamos ter a formação de<br />

neutrinos eletrônicos a partir dos dois outros sabores. Além do mais, o número total de<br />

neutrinos muônicos e tauônicos não se alterará e isto não afetará o “burst”, uma vez que<br />

eles sa<strong>em</strong> ao mesmo t<strong>em</strong>po do plasma.<br />

Considerando agora a con<strong>versão</strong> no ca<strong>na</strong>l ν e ↔ν µ , t<strong>em</strong>os que para a primeira<br />

região não existe con<strong>versão</strong> significativa. Para a segun<strong>da</strong> região, não t<strong>em</strong>os probabili<strong>da</strong>de<br />

de con<strong>versão</strong> significativa para os antineutrinos. Isto significa que a evolução do “fireball”<br />

não sofrerá influência <strong>da</strong> oscilação dos antineutrinos também. Abaixo mostramos a<br />

probabili<strong>da</strong>de mais efetiva encontra<strong>da</strong> para quando já tivermos transparência <strong>em</strong> nosso<br />

plasma.<br />

100


Figura C. 9– Probabili<strong>da</strong>de de oscilação para antineutrinos usando solução solar e também L e =10 -7 ,<br />

T=3MeV e E=5MeV.<br />

Aqui mostramos as regiões de ressonância para o ca<strong>na</strong>l ν e ↔ν µ :<br />

-2 ´ 10 -6<br />

-4 ´ 10 -6<br />

-6 ´ 10 -6<br />

-8 ´ 10 -6<br />

-0.00001<br />

1 2 5 10 20 50 100<br />

Figura C.10 - Regiões de ressonância (parâmetros solar e antineutrinos). Eixo x é t<strong>em</strong>peratura <strong>em</strong> MeV<br />

e o eixo y é a assimetria L e .<br />

Concluímos que a solução solar não modifica a evolução do “fireball”, já que<br />

conversões significativas só ocorr<strong>em</strong> quando o plasma fica transparente aos neutrinos.<br />

2<br />

2<br />

Pod<strong>em</strong>os testar os parâmetros de LSND ( ∆ m ≅ 0,5eV<br />

e sen 2 θ = 0, 07 ) para o<br />

ca<strong>na</strong>l ν µ ↔ ν<br />

e<br />

. A figura C.11 apresenta uma probabili<strong>da</strong>de de con<strong>versão</strong> de cerca de 5%<br />

<strong>na</strong> <strong>em</strong>inência do primeiro “burst” de neutrinos. Isto poderia transformar neutrinos muônicos<br />

<strong>em</strong> eletrônicos que ain<strong>da</strong> estão opacos no plasma do “fireball”, diminuindo a quanti<strong>da</strong>de de<br />

energia sendo libera<strong>da</strong> no “burst” dos neutrinos muônicos e tauônicos. A questão a se<br />

colocar se isto seria ou não significativo para a evolução.<br />

101


Figura C.11 – Probabili<strong>da</strong>de de con<strong>versão</strong> usando os parâmetros de LSND. T=10,3MeV, E=5MeV e<br />

L e =1,0.10 -5 .<br />

As figuras C.12, C.13 e C.14 mostram a probabili<strong>da</strong>de de con<strong>versão</strong> para a região<br />

entre os pontos “2” e “3” <strong>da</strong> figura C.4. Notamos que esta con<strong>versão</strong> ocorre para neutrinos<br />

muônicos que já estão transparentes ao plasma do “fireball”.<br />

Figura C.12 – Probabili<strong>da</strong>de de con<strong>versão</strong> usando os parâmetros de LSND. L e =1,0.10 -5 , T=9,4MeV e<br />

E=5 MeV.<br />

102


Figura C.13 – Probabili<strong>da</strong>de de con<strong>versão</strong> usando os parâmetros de LSND. L e =2,0.10 -5 , T=8,4 MeV e<br />

E=5MeV.<br />

Figura C.14 – Probabili<strong>da</strong>de de con<strong>versão</strong> usando os parâmetros de LSND. L e =1,0x10 -5 , T=7,4MeV,<br />

E=10MeV.<br />

Abaixo mostramos um ex<strong>em</strong>plo de probabili<strong>da</strong>de de con<strong>versão</strong> significativa após o<br />

segundo “burst”, quando t<strong>em</strong>os transparência a todos os tipos de neutrinos.<br />

103


Figura C.15 - Probabili<strong>da</strong>de de con<strong>versão</strong> usando os parâmetros de LSND. L e =1,0x10 -4 , T=3,0MeV,<br />

E=15MeV.<br />

Para a oscilação de antineutrinos, no ca<strong>na</strong>l ν µ → ν e , usando a solução LSND,<br />

parece que não ocorre con<strong>versão</strong> efetiva <strong>em</strong> nenhuma <strong>da</strong>s regiões, n<strong>em</strong> quando há<br />

transparência para os neutrinos.<br />

104


Referências – Apêndice C<br />

[1] J. Hjorth, el. al., Nature 423, 847 (2003).<br />

[2] Cavallo, G., Rees, M. J., 1978, MNRAS, 183, 359.<br />

[3] Koers, H. B. J., Wijers, R. A. M. J., astro-ph/0505533.<br />

[4] J. C. D’Olivo, Manuel Torres, J. F. Nieves, Phys. Rev. D 46, 1172, (1992).<br />

[5] S. Sahu e J. C. D’Olivo, hep-ph/0502043.<br />

[6] E. V. Derishev, V. V. Kocharovsky, e VI. Kocharovsky, Astron. Astrophys. 345, L51<br />

(1999).<br />

[7] E. V. Derishev, V. V. Kocharovsky, e VI. Kocharovsky, Astrophys. J. 521, 640 (1999).<br />

[8] C. A. Meegan et. al., Nature 355, 143 (1992), B. Paczyński, Nature 355, 521 (1992); T.<br />

Piran, Astrophys. J. 389, L45 (1992); J. P. Norris et. al., Astrophys. J. 423, 432 (1994).<br />

[9] P. Podsiadlowski, M. Rees, e M. Ruderman, Mon. Not. Roy. Astron. Soc. 273, 755<br />

(1995).<br />

[10] T. Piran, Phys. Rep. 314, 575 (1999).<br />

[11] E. Waxman, Lect. Notes in Phys. 598, 393 (2003).<br />

[12] T. Piran, Phys. Rep. 333-334, 529 (2000).<br />

[13] P. Mészáros, Nucl. Phys. B (proc. Suppl.) 80, 63 (2000).<br />

[14] P. Meszáros, Annu. Rev. Astron. Astrophys. 40, 137 (2002).<br />

[15] M. Ruffert, e H. Th. Janka, Astron. Astrophys. 344, 573 (1999).<br />

[16] J. Hjorth, et. al., Nature 423, 847 (2003).<br />

[17] T. Piran, <strong>em</strong> Gamma-ray Bursts, eds. G. Fishman et. al. (AIP 307, NY1994); P.<br />

Mészáros, Proc. 17th Texas Conf. Relativistic Astrophysics, NY. Acad. Sci. 1995.<br />

[18] E. Waxman, Phys. Rev. Lett. 75, 386 (1995); M. Vietri, Astrophys. J. 453, 883 (1995).<br />

[19] E. Waxman, Astrophys. J. 452, L1 (1995).<br />

[20] D. Notzöld, e G. Raffelt, Nucl. Phys. B 307, 924 (1988).<br />

[21] K. Enqvist, K. Kainulaien, e J. Maalampi, Nucl. Phys. B 349, 754 (1991).<br />

[22] S. Sahu, Phys. Rev. D 61,023003 (1999).<br />

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