1 Impactos de Seleção Adversa e Risco Moral sobre a ... - Anpad
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<strong>Impactos</strong> <strong>de</strong> <strong>Seleção</strong> <strong>Adversa</strong> e <strong>Risco</strong> <strong>Moral</strong> <strong>sobre</strong> a Contratação e o Desempenho dos<br />
Servidores Públicos: uma análise do Estado <strong>de</strong> Minas Gerais<br />
Autoria: Fábio Augusto Reis Gomes, Tiago Cançado Diniz<br />
Resumo<br />
Este artigo analisa em que medida os problemas <strong>de</strong> seleção adversa e risco moral afetam a<br />
contratação e a performance dos servidores públicos. Além disso, especial ênfase é dada ao<br />
Estado <strong>de</strong> MG, dada a recém criada Avaliação <strong>de</strong> Desempenho Individual (ADI) e o Acordo<br />
<strong>de</strong> Resultados (AR). Os resultados indicam que um concurso público não é capaz <strong>de</strong> sanar o<br />
problema <strong>de</strong> seleção adversa enquanto a criação da ADI e do AR po<strong>de</strong>m constituir-se em um<br />
importante passo na direção <strong>de</strong> mitigar o problema <strong>de</strong> risco moral.<br />
1 Introdução<br />
O Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado <strong>de</strong> 1995, bem como diversos<br />
artigos e estudos acerca da reforma gerencial da Administração Pública brasileira, apontam<br />
para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma reformulação da política <strong>de</strong> Recursos Humanos como subsídio<br />
fundamental para o alcance <strong>de</strong> uma maior eficiência no setor público. De fato, segundo<br />
Abrucio “menor atenção foi dada ao peso do elemento humano e à gestão <strong>de</strong> pessoal nos<br />
processos <strong>de</strong> reforma do Estado na América Latina ao longo das últimas décadas. O retrato da<br />
área <strong>de</strong> recursos humanos dos estados brasileiros revela que, sem enfrentar esta questão, a<br />
mo<strong>de</strong>rnização <strong>de</strong> seus governos está fadada ao fracasso” (Abrucio, 2005:412).<br />
Abrucio (2005), ao estabelecer os cinco <strong>de</strong>safios estratégicos para o Programa<br />
Nacional <strong>de</strong> Apoio à Mo<strong>de</strong>rnização da Gestão e do Planejamento dos Estados e do Distrito<br />
Fe<strong>de</strong>ral (Pnage), enfatiza que “O primeiro e mais importante é, sem dúvida alguma, o tema<br />
dos recursos humanos. É a questão com maior transversalida<strong>de</strong>, afetando todas as variáveis, e<br />
que, como agravante fulcral, foi a que menos avançou nos últimos 10 anos em praticamente<br />
todos os governos estaduais. Transformações na área <strong>de</strong> recursos humanos são essenciais para<br />
a mo<strong>de</strong>rnização do Estado, alavancando projetos inovadores como o PPA e atacando o maior<br />
problema das políticas públicas estaduais: a ina<strong>de</strong>quação da estrutura <strong>de</strong> pessoal, em termos<br />
<strong>de</strong> tamanho e, <strong>sobre</strong>tudo, qualificação e cultura gerencial “(Abrucio, 2005:416).<br />
O presente artigo busca cobrir parte <strong>de</strong>sta lacuna, discutindo como os problemas <strong>de</strong><br />
informação assimétrica no mercado <strong>de</strong> trabalho afetam o Estado e quais medidas po<strong>de</strong>riam ser<br />
tomadas para mitigá-los. Neste mercado existem duas situações nas quais ocorre um problema<br />
<strong>de</strong> informação assimétrica. Primeiro, no momento da contratação, pois o empregado conhece<br />
sua produtivida<strong>de</strong> melhor do que o empregador, o que po<strong>de</strong> causar um problema <strong>de</strong> seleção<br />
adversa. Segundo, após a contratação, como, em geral, o empregador não po<strong>de</strong> monitorar<br />
perfeitamente o empregado, o último po<strong>de</strong> não se esforçar tanto quanto o primeiro gostaria.<br />
Tal problema é <strong>de</strong>nominado <strong>de</strong> risco moral.<br />
O problema <strong>de</strong> seleção adversa no mercado <strong>de</strong> trabalho é notório, bem como o<br />
mecanismo <strong>de</strong> solução via sinalização. Como o empregador <strong>de</strong>sconhece a produtivida<strong>de</strong> dos<br />
potenciais trabalhadores, resta à opção <strong>de</strong> oferecer uma espécie <strong>de</strong> salário médio. Porém, a<br />
este salário os trabalhadores mais produtivos provavelmente não ofertarão sua mão-<strong>de</strong>-obra.<br />
O salário médio é compensador apenas no caso dos menos produtivos, ocorrendo uma seleção<br />
adversa do ponto <strong>de</strong> vista do empregador. Se o empregador conhecesse a produtivida<strong>de</strong> do<br />
trabalhador, o salário refletiria tal produtivida<strong>de</strong> e o problema <strong>de</strong>scrito não ocorreria. De todo<br />
modo, uma forma <strong>de</strong> minimizar o problema é criar um mecanismo que permita ao trabalhador<br />
mais produtivo revelar sua capacida<strong>de</strong>, diferenciando-se dos <strong>de</strong>mais trabalhadores. Spence<br />
1
(1973, 1974) propôs um mo<strong>de</strong>lo no qual os trabalhadores mais eficientes sinalizam sua<br />
produtivida<strong>de</strong> via nível <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>, o que explica a prática <strong>de</strong> se exigir em processos<br />
seletivos a realização <strong>de</strong> provas e apresentação <strong>de</strong> currículo e histórico escolar.<br />
O problema <strong>de</strong> risco moral, por sua vez, surge quando não é possível monitorar o<br />
trabalhador. A pergunta natural neste caso é <strong>sobre</strong> a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se criar algum esquema<br />
<strong>de</strong> incentivos que induza o trabalhador a se esforçar. Tal esquema foi <strong>de</strong>senvolvido no âmbito<br />
do mo<strong>de</strong>lo Principal-Agente e se dá via premiação da produção. A intuição é a seguinte:<br />
apesar <strong>de</strong> o esforço não ser observável, ele é positivamente correlacionado com a produção<br />
que é observável.<br />
Consi<strong>de</strong>rando estas questões, o presente trabalho preten<strong>de</strong> discutir como estes<br />
problemas <strong>de</strong> informação assimétrica afetam o mecanismo <strong>de</strong> contratação e a política <strong>de</strong><br />
recursos humanos do Estado. Em última instância, queremos discutir como estes problemas<br />
afetam a qualida<strong>de</strong> da prestação do serviço público. Em especial, vamos analisar o Estado <strong>de</strong><br />
Minas Gerais, discutindo os possíveis impactos da recém criada Avaliação <strong>de</strong> Desempenho<br />
Individual (ADI) e Acordo <strong>de</strong> Resultados (AR) <strong>sobre</strong> o problema <strong>de</strong> risco moral.<br />
A análise teórica indica que apesar <strong>de</strong> a contratação no serviço público se dar via<br />
concurso, como o salário é <strong>de</strong>finido a priori, os indivíduos com produtivida<strong>de</strong> mais elevada<br />
provavelmente não se inscrevem e, neste caso, a seleção se daria apenas entre os indivíduos<br />
com salário <strong>de</strong> reserva abaixo <strong>de</strong>ste salário. Portanto, em larga medida, o problema <strong>de</strong> seleção<br />
adversa persiste. Quanto ao problema <strong>de</strong> risco moral, a ADI e o AR po<strong>de</strong>m ter um efeito<br />
consi<strong>de</strong>rável na sua mitigação, pois parte da remuneração do servidor <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da ADI<br />
diretamente ou indiretamente via AR, existindo um incentivo ao esforço. Porém, é<br />
fundamental que a ADI seja rigorosa, do contrário tal incentivo <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> existir.<br />
Além <strong>de</strong>sta introdução, o artigo é organizado do seguinte modo. A segunda seção<br />
apresenta sucintamente os problemas <strong>de</strong> seleção adversa e risco moral, bem como as soluções<br />
clássicas para os mesmos. A terceira seção <strong>de</strong>screve o mecanismo <strong>de</strong> contratação do Estado<br />
bem como a ADI e o AR do Estado <strong>de</strong> Minas Gerais. A partir <strong>de</strong>sta <strong>de</strong>scrição, a quarta seção<br />
faz uma aplicação das teorias apresentadas. A quinta seção sumariza as conclusões.<br />
2 Informação Assimétrica 1<br />
O problema <strong>de</strong> informação assimétrica surge quando as características do bem<br />
negociado não são observadas por todos os participantes do mercado. Neste caso, os mercados<br />
tornam-se incompletos, pois não é possível criar um mercado para cada um dos distintos bens.<br />
Por conseguinte, a alocação do mercado <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser eficiente, no sentido <strong>de</strong> Pareto. 2<br />
No mercado <strong>de</strong> trabalho a informação assimétrica po<strong>de</strong> ocorrer em dois momentos<br />
distintos. No instante da contratação, pois o trabalhador conhece suas habilida<strong>de</strong>s melhor do<br />
que o empregador, e isto dá origem ao problema <strong>de</strong> seleção adversa. 3 Após a contratação,<br />
<strong>de</strong>vido ao monitoramento imperfeito, o contratado po<strong>de</strong> não se esforçar ou po<strong>de</strong> não exercer o<br />
tipo <strong>de</strong> esforço preferido pelo empregador, existindo um problema <strong>de</strong> risco moral.<br />
2.1 <strong>Seleção</strong> <strong>Adversa</strong><br />
Suponha que a produtivida<strong>de</strong> do trabalhador seja igual a θ e que θ ∈ [ θ , θ ] ∈ R em<br />
que 0 < θ < θ < ∞ . A proporção <strong>de</strong> trabalhadores com produtivida<strong>de</strong> menor do que θ é dada<br />
pela função <strong>de</strong> distribuição acumulada F ( θ ) não-<strong>de</strong>generada, cuja função <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
probabilida<strong>de</strong> é f ( θ ).<br />
Os trabalhadores escolhem trabalhar ou não, haja vista que eles possuem um valor<br />
r θ , com as seguintes proprieda<strong>de</strong>s: r ( θ ) < θ e r '( θ ) > 0 . 4 O trabalhador<br />
(salário) <strong>de</strong> reserva ( )<br />
2
aceita a oferta <strong>de</strong> emprego se r( θ )<br />
w ≥ . 5 Note que, trabalhadores mais produtivos exigem<br />
salários mais altos.<br />
Suponha ainda que o mercado é competitivo, a firma é neutra ao risco - o que implica<br />
que sua função objetivo é o lucro esperado-, e a tecnologia apresenta retornos constantes <strong>de</strong><br />
escala, tendo como único insumo o trabalho. Por simplicida<strong>de</strong>, assumimos que o preço <strong>de</strong><br />
cada unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produto é igual a um. Então, se o empregador conhece a produtivida<strong>de</strong> do<br />
*<br />
trabalhador, em equilíbrio, o salário vai ser igual a tal produtivida<strong>de</strong>, isto é, ( θ ) = θ<br />
w .<br />
Porém, o que ocorre se a produtivida<strong>de</strong> não é conhecida? Resta ao empregador a opção <strong>de</strong><br />
oferecer um salário constante w , que não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> θ . Então, Θ = { θ : r( θ ) ≤ w}<br />
agrupa os<br />
trabalhadores que aceitam a oferta <strong>de</strong> emprego.<br />
Se o empregador possui expectativas racionais, suas expectativas refletem a<br />
*<br />
distribuição <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> θ e o salário proposto, w , vai levar em conta que apenas os<br />
trabalhadores i<strong>de</strong>ntificados pelo conjunto Θ<br />
* = { θ : r( θ ) ≤ w * } vão ofertar sua força <strong>de</strong><br />
trabalho. Assim, o salário é tal que,<br />
*<br />
( | ∈ Θ )<br />
*<br />
w = E θ θ (1)<br />
E, em equilíbrio:<br />
w<br />
*<br />
*<br />
( | r( ) ≤ w )<br />
= E θ θ (2)<br />
À medida que a produtivida<strong>de</strong> aumenta, a chance <strong>de</strong> r ( θ ) ser menor do que ou igual a<br />
*<br />
r é crescente. Como w é a média (condicional) da produtivida<strong>de</strong>, o<br />
resultado esperado é que os indivíduos mais produtivos sejam “expulsos” do mercado pelos<br />
menos produtivos. Ao contrário do caso no qual as produtivida<strong>de</strong>s são conhecidas e cada<br />
empregado recebe a sua produtivida<strong>de</strong>, neste caso o empregador se vê obrigado a ofertar um<br />
salário médio e, como conseqüência, os trabalhadores mais produtivos não aceitam a oferta <strong>de</strong><br />
emprego. Em outras palavras, o salário médio é alto para os indivíduos menos produtivos e<br />
baixo para os mais produtivos. Do ponto <strong>de</strong> vista da firma, há uma seleção adversa, pois a<br />
ausência <strong>de</strong> informação <strong>sobre</strong> a produtivida<strong>de</strong> dos trabalhadores afeta a firma adversamente.<br />
*<br />
w diminui, pois ( θ )<br />
Exemplo 1: (Mas-Collel et alli, 1995, p.442) Seja θ ∈U[ 0,2]<br />
e r ( θ ) = αθ<br />
. Então,<br />
⎛ w ⎞ w<br />
E ( θ | r( θ ) ≤ w)<br />
= E⎜θ<br />
| θ ≤ ⎟ =<br />
⎝ 2 ⎠ 2α<br />
Portanto, se α > 1/ 2 , a produtivida<strong>de</strong> é menor do que o salário e ninguém é contratado.<br />
Como resolver o problema <strong>de</strong> seleção adversa? A solução passa por <strong>de</strong>senvolver um<br />
mecanismo que permite ao empregador inferir a produtivida<strong>de</strong> do trabalhador. De fato, é do<br />
interesse do trabalhador mais produtivo sinalizar sua produtivida<strong>de</strong>, pois com isso ele obterá<br />
uma proposta salarial melhor. O mecanismo <strong>de</strong> sinalização a ser examinado foi proposto por<br />
Spence (1973, 1974) e sua concepção é bastante simples: indivíduos mais produtivos po<strong>de</strong>m<br />
realizar algumas ações observáveis que os <strong>de</strong>mais indivíduos não realizam, no caso, estudar e<br />
se qualificar.<br />
Por simplicida<strong>de</strong>, suponha que θ ∈ { θ 1<br />
,θ 2<br />
}, em que θ<br />
1<br />
< θ<br />
2<br />
e p = Prob( θ = θ 2<br />
) ∈ ( 0,1)<br />
.<br />
Antes <strong>de</strong> entrar no mercado <strong>de</strong> trabalho as pessoas se educam e esta informação é,<br />
2<br />
obviamente, observável. Seja c( θ , s) ∈ C o custo <strong>de</strong> estudar em que s é o nível educacional.<br />
Assumimos que<br />
3
c<br />
( 0, θ )<br />
= 0,<br />
2<br />
2<br />
( s,<br />
θ ) ∂ c( s,<br />
θ ) ∂c( s,<br />
θ ) ∂ c( s,<br />
θ )<br />
∂c<br />
∂s<br />
> 0,<br />
∂s<br />
2<br />
> 0,<br />
∂θ<br />
< 0 para todo s > 0,<br />
∂s∂θ<br />
< 0<br />
Portanto, o custo e o custo marginal <strong>de</strong> estudar são menores para indivíduos mais<br />
habilidosos. Além do salário, o bem-estar do trabalhador <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do custo associado ao nível<br />
educacional escolhido e <strong>de</strong> sua produtivida<strong>de</strong>, sendo representado pela seguinte função<br />
utilida<strong>de</strong>:<br />
u<br />
( w, s | θ ) = w − c( s,θ<br />
)<br />
Mantemos a hipótese que o trabalhador tem o valor <strong>de</strong> reserva r ( θ ) e, por isso,<br />
escolhe trabalhar pelo salário w quando w − c( s, θ ) ≥ r( θ ). Para que o grau <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong><br />
* *<br />
diferencie os trabalhadores é preciso que eles escolham níveis diferentes, <strong>de</strong> fato, s<br />
2<br />
> s1<br />
.<br />
Para discutir qual é o nível <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> escolhido por cada trabalhador, vamos analisar<br />
primeiramente o custo total: g ( s, θ ) ≡ c( s,<br />
θ ) + r( θ ). Como c ( 0 , θ ) = 0 e r '( θ ) > 0 ocorre que<br />
g ( 0,<br />
θ<br />
2<br />
) > g( 0,<br />
θ1<br />
). Além disso, como o custo <strong>de</strong> se educar é crescente em s, o mesmo<br />
acontece com a função g ( s,θ ), isto é, ∂g( s, θ )/<br />
∂s<br />
= ∂c( s,<br />
θ )/<br />
∂s<br />
> 0 . Porém, esta taxa <strong>de</strong><br />
crescimento reduz com o aumento <strong>de</strong> θ e, por conseguinte, ∂g( s, θ<br />
1<br />
)/<br />
∂s<br />
> ∂g( s,<br />
θ<br />
2<br />
)/<br />
∂s<br />
> 0 .<br />
O individuo mais produtivo tem uma curva <strong>de</strong> custo total com maior intercepto e menor<br />
inclinação. O Gráfico 1 apresenta o resultado.<br />
O beneficio do trabalhador <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do salário. Com o intuito <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar a<br />
produtivida<strong>de</strong> do trabalhador via nível <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>, o empregador oferece o seguinte<br />
esquema <strong>de</strong> remuneração:<br />
()<br />
w s<br />
⎧w2<br />
,<br />
⎨<br />
⎩w1<br />
,<br />
se s ≥ s<br />
se s < s<br />
=<br />
o<br />
em que w<br />
2<br />
> w1<br />
> 0 . Se o empregador escolher s o a<strong>de</strong>quadamente po<strong>de</strong> ocorrer um<br />
equilíbrio separador no qual a produtivida<strong>de</strong> dos indivíduos é revelada. Neste equilíbrio,<br />
* *<br />
w s θ = θ para i = 1, 2 , uma vez i<strong>de</strong>ntificados os indivíduos<br />
( )<br />
i<br />
valem duas proprieda<strong>de</strong>s: i) (<br />
i<br />
)<br />
*<br />
passam a receber sua produtivida<strong>de</strong>, ii) s ( ) = 0<br />
θ1<br />
, se o indivíduo menos produtivo é<br />
i<strong>de</strong>ntificado não faz sentido se qualificar. 6 O Gráfico 1 também reporta estas informações.<br />
o a<br />
Consi<strong>de</strong>rando o Gráfico 1, vamos analisar o que ocorre se s < s . Nesta região<br />
o<br />
o<br />
o<br />
w<br />
2<br />
> g( s = s ,θ 2<br />
) e w<br />
2<br />
> g( s = s ,θ 1<br />
), com isso, os dois agentes po<strong>de</strong>m escolher o s = s ,<br />
não ocorrendo um equilíbrio separador. 7 Neste caso, a exigência do empregador é muito<br />
reduzida e, mesmo os indivíduos menos produtivos se qualificam para se passarem por mais<br />
produtivos. Nesta situação o indivíduo menos produtivo extrai uma renda informacional: ao<br />
se passar por mais produtivo ele recebe uma renda advinda do fato <strong>de</strong> que a informação <strong>sobre</strong><br />
o b<br />
sua produtivida<strong>de</strong> é <strong>de</strong> cunho privado. O caso oposto ocorre quando s > s , pois a exigência<br />
do empregador é tão elevada que mesmo o salário w 2<br />
não é alto o bastante para levar<br />
a o b<br />
o<br />
qualquer trabalhador a se qualificar. Porém, se s < s < s note que w2 > g( s = s , θ<br />
2<br />
) > w1<br />
,<br />
o<br />
g s = s , θ > w , o individuo menos<br />
logo o indivíduo mais produtivo se qualifica. Como (<br />
1<br />
)<br />
2<br />
*<br />
produtivo não se qualifica, sendo revelada a sua produtivida<strong>de</strong>, daí ele escolhe ( ) = 0<br />
o<br />
s θ . 8<br />
1<br />
4
g ( s,θ 1<br />
)<br />
g ( s,θ 2<br />
)<br />
w<br />
2<br />
= θ 2<br />
r ( θ 2<br />
)<br />
w<br />
1<br />
= θ 1<br />
r<br />
( )<br />
θ 1<br />
a<br />
s<br />
b<br />
s<br />
s<br />
Gráfico 1 – Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Sinalização<br />
Portanto, para que o equilíbrio separador ocorra é necessário que as seguintes<br />
restrições sejam atendidas:<br />
w<br />
w<br />
( s ) g( s , θ ) > w( s ) − g( s θ )<br />
− (3)<br />
1 1 1 2 2,<br />
( s ) g( s , θ ) > w( s ) − g( s θ )<br />
− (4)<br />
2 2 2 1 1,<br />
A equação (3) diz que não vale a pena para o individuo menos produtivo estudar tanto<br />
quanto o indivíduo mais produtivo. Analogamente, a equação (4) diz que não é vantajoso para<br />
o indivíduo mais produtivo se fazer passar por um individuo com baixa produtivida<strong>de</strong>. Estas<br />
equações são <strong>de</strong>nominadas restrições <strong>de</strong> auto-seleção e não são atendidas fora do intervalo<br />
a o b<br />
s < s < s .<br />
2.2 <strong>Risco</strong> <strong>Moral</strong><br />
Consi<strong>de</strong>re que o proprietário <strong>de</strong> uma firma – o Principal - <strong>de</strong>seja contratar um<br />
funcionário – o Agente - e que o lucro da firma <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> das ações tomadas por tal<br />
funcionário. Se estas ações são observáveis, é possível elaborar um contrato que especifica as<br />
tarefas e o pagamento do funcionário. 9 Porém, o que ocorre se pelo menos em parte as ações<br />
do funcionário não são observáveis? Como elaborar um contrato que induza o funcionário a<br />
tomar as ações corretas, do ponto <strong>de</strong> vista do proprietário? Ora, uma forma <strong>de</strong> fazê-lo seria<br />
alinhar os interesses do funcionário com os interesses da firma, ou seja, o lucro. Neste caso, o<br />
agente internalizaria os impactos <strong>de</strong> suas ações <strong>sobre</strong> o lucro, pois ao escolher não se esforçar,<br />
além <strong>de</strong> reduzir o lucro, o seu salário é reduzido. No que segue reproduziremos uma versão do<br />
mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>vido a Homstrom e Milgrom (1987) que formaliza esta questão.<br />
Consi<strong>de</strong>re uma firma que produz o bem x cujo preço (numerário) é unitário. A<br />
produção é observável e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do esforço do funcionário, e, além <strong>de</strong> uma variável aleatória<br />
2<br />
normal, ε ~ N ( 0, σ ), <strong>de</strong> modo que x = e + ε . Se a variável aleatória não for introduzida, a<br />
produção é igual ao esforço e o comportamento do funcionário passa a ser completamente<br />
observável e o problema <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> existir.<br />
1<br />
1<br />
5
Nos restringimos ao caso <strong>de</strong> contratos <strong>de</strong> salário lineares: w( x) δ + γx<br />
= . Se a<br />
produção aumenta, o salário também aumenta e este aumento é tão maior quanto maior for γ .<br />
Por outro lado, δ garante ao funcionário um piso salarial. A medida que δ diminui e γ<br />
aumenta o risco para o funcionário, pois sua remuneração passa a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r cada vez mais da<br />
produção que, por sua vez, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do fator estocástico ε . Porém, maior o incentivo ao<br />
esforço, uma vez que o funcionário recebe uma parcela maior da produção a cada unida<strong>de</strong><br />
adicional produzida. Analogamente, à medida que δ aumenta e γ diminui, o risco do<br />
funcionário diminui e o incentivo ao esforço também. Ao compartilhar o risco com o<br />
funcionário, o incentivo se reduz, havendo um tra<strong>de</strong>-off entre risco e incentivo.<br />
O objetivo da firma (neutra ao risco) é maximizar o seu lucro esperado. Supondo que o<br />
trabalho é o único insumo, o lucro esperado é o seguinte:<br />
[ x − w( x)<br />
] = E[ ( 1 − γ ) x − δ ] = E[ ( 1−<br />
γ )( e + ε ) − δ ] = ( − γ ) e − δ<br />
E 1<br />
−rw<br />
As preferências do funcionário são representadas pela função utilida<strong>de</strong> u( w)<br />
−e<br />
r > é o coeficiente <strong>de</strong> aversão ao risco absoluto. Como ( x) = δ + γx<br />
= δ + γ ( e + ε )<br />
em que 0<br />
o valor esperado da função utilida<strong>de</strong> é:<br />
[ u( w)<br />
] = −E{ [ − r( δ + γe<br />
+ γε )]}<br />
E exp<br />
( )<br />
= ,<br />
w ,<br />
2 2 2<br />
Como z −r( δ + γe<br />
+ γε ) ~ N − r( δ + γe)<br />
, r γ σ<br />
variável log-normal, possuindo a seguinte proprieda<strong>de</strong>: E { exp( z)<br />
} exp[ E( z) + Var( z)<br />
/ 2]<br />
conseguinte<br />
E<br />
= , o termo entre chaves é uma<br />
= , por<br />
⎡<br />
1 2 2 2 ⎤ ⎡ ⎛ 1 2 2 ⎞⎤<br />
[ u( w)<br />
] = −exp<br />
− r( δ + γe) + r γ σ = −exp<br />
− r δ + γe<br />
− rγ<br />
σ ⎥ ⎦<br />
⎢<br />
⎣<br />
2<br />
Como uma transformação monotonica não altera as preferências do funcionário e o<br />
valor esperado da utilida<strong>de</strong> é crescente no termo entre parênteses, po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar a<br />
seguinte função utilida<strong>de</strong>:<br />
u<br />
⎥<br />
⎦<br />
1<br />
2<br />
2 2<br />
() e = δ + γe<br />
− rγ<br />
σ<br />
Ao escolher o nível <strong>de</strong> esforço, o funcionário maximiza a utilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu salário<br />
esperado subtraída do custo do esforço, c ( e)<br />
, em que c '( e) > 0 e c ''() e > 0 . Assim, o<br />
problema do funcionário é dado por:<br />
⎢<br />
⎣<br />
⎡ 1 2 2 ⎤<br />
max<br />
⎢δ<br />
+ γe<br />
− rγ<br />
σ − c() e<br />
e<br />
⎣ 2<br />
⎥⎦<br />
⎜<br />
⎝<br />
2<br />
⎟<br />
⎠<br />
Condição <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m: 10<br />
γ − c '( e) = 0 ⇒ γ = c'<br />
( )<br />
e<br />
6
Note que, quanto maior γ , maior o esforço do funcionário, como esperado. Por este<br />
motivo γ é chamado <strong>de</strong> força (power) do contrato. Este resultado é fundamental, pois diz que<br />
o funcionário se esforça quando seu esforço afeta seu bem-estar: a medida que γ aumenta,<br />
maior é o impacto da produção <strong>sobre</strong> o salário do funcionário. Portanto, o funcionário se<br />
esforça quando os incentivos são bem <strong>de</strong>senhados. Se γ = 0 , o salário é fixo e, por<br />
conseguinte, não há incentivo ao esforço.<br />
Por sua vez, a firma propõe um contrato escolhendo e, δ e γ <strong>de</strong> modo a maximizar<br />
seu lucro esperado. A firma respeita duas restrições. Primeiro, a firma leva em conta que o<br />
funcionário escolhe a ação que lhe proporciona maior bem-estar, ou seja, que γ = c' ( e)<br />
. Esta<br />
restrição é chamada restrição <strong>de</strong> compatibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> incentivos. Portanto, ao Principal cabe<br />
<strong>de</strong>senhar um mecanismo tal que sua ação preferida também seja preferida pelo funcionário.<br />
Segundo, o funcionário aceita a proposta salarial apenas se o salário esperado menos o custo<br />
do esforço for maior do que seu valor <strong>de</strong> reserva, u , que é a restrição <strong>de</strong> participação. De fato,<br />
como o proprietário não pagará além do necessário esta restrição é atendida com igualda<strong>de</strong>:<br />
1 2 2<br />
δ + γe − rγ<br />
σ − c =<br />
2<br />
() e u<br />
Substituindo as duas restrições na função objetivo da firma eliminamos δ e γ e o<br />
problema torna-se:<br />
Condição <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m: 11<br />
1−<br />
c'<br />
⎡ 1<br />
max<br />
⎢<br />
e − c'<br />
σ<br />
e<br />
⎣ 2<br />
2 2 ⎤<br />
() e r − c() e − u<br />
⎥ ⎦<br />
2 2<br />
() e c'<br />
'() e rσ<br />
− c'<br />
() e = 0 ⇒ γ = c'<br />
() e<br />
1<br />
=<br />
1+<br />
c'<br />
'<br />
2<br />
() e rσ<br />
A medida que σ 2 aumenta, γ diminui e o risco do negócio é compartilhado entre<br />
proprietário e funcionário. γ também diminui com a aversão ao risco do funcionário. Enfim,<br />
2<br />
o incentivo criado pelo proprietário <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> das características da produção ( σ ) e das<br />
características do funcionário (r e, também, c ''( e)<br />
). De todo modo, a questão importante é que<br />
o Principal escolhe γ > 0 .<br />
3 Concurso, Avaliação <strong>de</strong> Desempenho e Acordo <strong>de</strong> Resultados<br />
Como é <strong>de</strong> amplo conhecimento, a forma <strong>de</strong> ingresso às carreiras estáveis da estrutura<br />
governamental se dá mediante a realização <strong>de</strong> concurso público. Segundo Carvalho Filho<br />
“Concurso público é o procedimento administrativo que tem por fim aferir as aptidões<br />
pessoais e selecionar os melhores candidatos ao provimento <strong>de</strong> cargos e funções públicas. Na<br />
aferição pessoal, o Estado verifica a capacida<strong>de</strong> intelectual, física e psíquica <strong>de</strong> interessados<br />
em ocupar funções públicas e no aspecto seletivo são escolhidos aqueles que ultrapassam as<br />
barreiras postas no procedimento, obe<strong>de</strong>cida sempre à or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> classificação” (Carvalho<br />
Filho, 2005:502). No edital dos concursos públicos estão <strong>de</strong>finidas as competências do<br />
ocupante do cargo público, sua respectiva remuneração bem como os requisitos necessários<br />
7
para que tal seleção ocorra segundo os princípios <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong>, moralida<strong>de</strong>, competição e<br />
mérito. Após o concurso, os candidatos selecionados passam por um período <strong>de</strong> estágio<br />
probatório e, se bem sucedidos, tornam-se servidores públicos estáveis. De acordo com<br />
Carvalho Filho, o “Estágio probatório é o período <strong>de</strong>ntro do qual o servidor é aferido quanto<br />
aos requisitos necessários para o <strong>de</strong>sempenho do cargo, relativos ao interesse no serviço,<br />
a<strong>de</strong>quação, disciplina, assiduida<strong>de</strong> e outros do mesmo gênero”(Carvalho Filho, 2005:530).<br />
Com o objetivo <strong>de</strong> melhorar a qualida<strong>de</strong> do serviço público, o Governo do Estado <strong>de</strong><br />
Minas Gerais, através da Lei Complementar nº 71 <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 2003 instituiu a avaliação<br />
periódica <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho dos servidores públicos do Estado <strong>de</strong> Minas Gerais, estabelecendo<br />
as diretrizes e os critérios para sua aplicação. Tal avaliação é conhecida como Avaliação <strong>de</strong><br />
Desempenho Individual (ADI). O artigo 2º da referida lei ressalta que a ADI obe<strong>de</strong>cerá aos<br />
princípios da legalida<strong>de</strong>, impessoalida<strong>de</strong>, moralida<strong>de</strong>, publicida<strong>de</strong>, eficiência, contraditório e<br />
a ampla <strong>de</strong>fesa. O mesmo artigo apresenta os critérios <strong>de</strong>sta avaliação, a saber: qualida<strong>de</strong> do<br />
trabalho, produtivida<strong>de</strong> no trabalho, iniciativa, presteza, aproveitamento em programa <strong>de</strong><br />
capacitação, assiduida<strong>de</strong>, pontualida<strong>de</strong>, administração do tempo e tempestivida<strong>de</strong>, uso<br />
a<strong>de</strong>quado dos equipamentos e instalações <strong>de</strong> serviço, aproveitamento dos recursos e<br />
racionalização <strong>de</strong> processos e, por fim, capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalho em equipe.<br />
O conceito excelente é atribuído ao funcionário que obter resultado igual ou superior a<br />
90%; o conceito bom refere-se a uma avaliação igual ou superior a 70% e inferior a 90%;<br />
regular <strong>de</strong>ve-se a uma avaliação igual ou superior a 50% e inferior a 70%; e insatisfatório se<br />
for inferior a 50% da pontuação máxima. Sofrerá a pena <strong>de</strong> <strong>de</strong>missão do serviço público com<br />
base na ADI o funcionário que receber:<br />
1. Dois conceitos sucessivos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho insatisfatório;<br />
2. Três conceitos interpolados <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho insatisfatório em cinco avaliações<br />
consecutivas; ou,<br />
3. Quatro conceitos interpolados <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho insatisfatório em <strong>de</strong>z avaliações<br />
consecutivas.<br />
Ressalta-se que somente mediante processo administrativo que assegure ao servidor o<br />
contraditório e a ampla <strong>de</strong>fesa na forma dos artigos 218 a 243 da Lei nº 869, <strong>de</strong> 5 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong><br />
1952 é que o afastamento do servidor po<strong>de</strong> se efetivar.<br />
Além <strong>de</strong> uma possível <strong>de</strong>missão, a ADI tem outros impactos <strong>sobre</strong> a remuneração do<br />
servidor. Com base na Lei 15788 <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2005, através <strong>de</strong> seu Artigo 52 fica<br />
estabelecido que a ADI satisfatória é um dos requisitos para a progressão e a promoção em<br />
todas as carreiras do Po<strong>de</strong>r Executivo. Além disso, a Lei nº 14693 <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2003<br />
instituiu o Adicional <strong>de</strong> Desempenho (ADE), no âmbito da administração pública direta,<br />
autárquica e fundacional do po<strong>de</strong>r executivo do Estado <strong>de</strong> Minas Gerais. O ADE possui<br />
periodicida<strong>de</strong> mensal e atinge a remuneração dos ocupantes <strong>de</strong> cargo efetivo e dos <strong>de</strong>tentores<br />
<strong>de</strong> função pública. O valor máximo a ser recebido é <strong>de</strong> 70% do vencimento básico do servidor<br />
<strong>de</strong> acordo com os seguintes critérios:<br />
1. Até 40% correspon<strong>de</strong>rão ao atendimento das metas institucionais <strong>de</strong>finidas na forma<br />
da lei;<br />
2. Até 50% correspon<strong>de</strong>rão ao <strong>de</strong>sempenho do servidor, com base na avaliação anual <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>sempenho do período anterior, realizada <strong>de</strong> acordo com os critérios estabelecidos<br />
em lei;<br />
3. Até 10% correspon<strong>de</strong>rão à formação e ao aperfeiçoamento individual do servidor.<br />
Fica claro que a ADI tem um potencial consi<strong>de</strong>rável para afetar a remuneração do<br />
servidor, pois a promoção, a progressão, o ADE <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da ADI e há ainda o caso extremo<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>missão. Porém, os servidores públicos que já integravam o quadro <strong>de</strong> pessoal do Po<strong>de</strong>r<br />
Executivo Estadual em 16 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2003 - data <strong>de</strong> publicação da emenda à Constituição<br />
Estadual nº 57/2003 -, e que tiveram suas carreiras reformuladas, po<strong>de</strong>m escolher entre a<br />
8
permanência na carreira antiga ou o enquadramento na nova. Outra opção a ser realizada por<br />
estes servidores é quanto ao recebimento dos tradicionais adicionais por tempo <strong>de</strong> serviço ou<br />
pela adoção do ADE. As escolhas são in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, po<strong>de</strong>ndo o servidor público:<br />
1. Optar por permanecer na carreira antiga e receber os adicionais por tempo <strong>de</strong> serviço;<br />
2. Ser enquadrado na nova carreira e receber os adicionais por tempo <strong>de</strong> serviço;<br />
3. Optar por permanecer na carreira antiga e receber o ADE;<br />
4. Optar pelo novo enquadramento e receber o ADE.<br />
O servidor que ingressou em uma carreira após o dia 16 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2003, cuja<br />
proposta <strong>de</strong> reformulação ainda está em tramitação, po<strong>de</strong> escolher ainda entre a permanência<br />
ou não na carreira antiga, mas o ADE não é mais objeto <strong>de</strong> opção.<br />
Durante o estágio probatório, que compreen<strong>de</strong> o período <strong>de</strong> três anos após o efetivo<br />
exercício, o servidor será avaliado por agentes públicos para aferição <strong>de</strong> sua aptidão para<br />
<strong>de</strong>terminado cargo. Cabe ressaltar que durante esse período o servidor ainda não possui<br />
estabilida<strong>de</strong>, contudo sua exoneração só po<strong>de</strong> ser realizada por meio <strong>de</strong> instauração <strong>de</strong><br />
processo administrativo. Durante este período o servidor será submetido à Avaliação Especial<br />
<strong>de</strong> Desempenho (AED). Esta tem como propósito avaliar a aptidão do funcionário para o<br />
exercício das funções referentes a seu cargo e conferir ao servidor aprovado a estabilida<strong>de</strong> no<br />
serviço público. Durante o estágio probatório o servidor não recebe ADE, nem tão pouco<br />
progressão ou promoção, porém o <strong>de</strong>sempenho na AED durante estes 3 anos vai influenciar o<br />
recebimento <strong>de</strong> ADE quando o servidor se tornar estável , daí concluí-se que já no estágio<br />
probatório há um incentivo ao esforço.<br />
Por fim, cabe discutir o Acordo <strong>de</strong> Resultados (AR), uma vez que este acordo também<br />
tem um impacto <strong>sobre</strong> o salário do trabalhador com vistas a promover uma maior <strong>de</strong>dicação<br />
por parte do mesmo. O AR é simplesmente um instrumento <strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho<br />
institucional que <strong>de</strong>fine metas institucionais a serem cumpridas e resultados a serem<br />
alcançados. Os servidores dos órgãos que celebrarem o AR po<strong>de</strong>m receber um prêmio <strong>de</strong><br />
produtivida<strong>de</strong>, caso se alcance uma redução das <strong>de</strong>spesas correntes <strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s. Além<br />
da geração <strong>de</strong> recursos, o prêmio <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> três fatores: 1) da pontuação do<br />
servidor na ADI; 2) da freqüência do servidor ao trabalho no período no qual a economia foi<br />
gerada; 3) do salário do servidor. Portanto, além <strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r do resultado geral do órgão, o<br />
prêmio <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> resultados específicos <strong>de</strong> cada servidor. Caso o órgão<br />
tenha um bom <strong>de</strong>sempenho, a premiação <strong>de</strong> cada funcionário é tão maior quanto maior for seu<br />
salário, sua nota na ADI e sua freqüência no período em questão. Inclusive, até servidores em<br />
estágio probatório po<strong>de</strong>m receber este prêmio, sendo observado, no caso, o seu <strong>de</strong>sempenho<br />
na AED.<br />
4 <strong>Seleção</strong> <strong>Adversa</strong> e <strong>Risco</strong> <strong>Moral</strong> no Serviço Público<br />
4.1 <strong>Seleção</strong> <strong>Adversa</strong><br />
A fim <strong>de</strong> solucionar o problema <strong>de</strong> seleção adversa, Spence propôs um mecanismo que<br />
revela a habilida<strong>de</strong> do trabalhador, permitindo ao proprietário pagar-lhe a sua produtivida<strong>de</strong>.<br />
Observe que a idéia central <strong>de</strong>ste mecanismo é a seguinte: primeiro o trabalhador revela sua<br />
produtivida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>pois o salário é <strong>de</strong>finido. Mas isto não se dá no mecanismo <strong>de</strong> contratação<br />
do Estado. O concurso público <strong>de</strong>fine o salário a priori e o <strong>de</strong>sempenho do trabalhador no<br />
concurso <strong>de</strong>fine sua aprovação ou não, porém, não permite uma diferenciação <strong>de</strong> salário entre<br />
os aprovados.<br />
Consi<strong>de</strong>re um concurso cujo salário é w . Somente os trabalhadores com salário <strong>de</strong><br />
reserva inferior a este salário se inscrevem. Isto é, <strong>de</strong>ntre os trabalhadores, somente os que<br />
Θ = E θ | r θ ≤ w se inscrevem no concurso. Entre estes o concurso seleciona<br />
pertencem a ( ( ) )<br />
9
os mais capazes, mas note que os indivíduos mais produtivos não se inscrevem - como<br />
r θ como função <strong>de</strong> θ . 12 É fácil ver<br />
exemplificado no Gráfico 2, no qual reportamos w, θ e ( )<br />
w<br />
que somente os trabalhadores com valor <strong>de</strong> reserva igual ou inferior a r( θ ) se inscrevem no<br />
w<br />
w<br />
concurso, em que ( )<br />
r θ = w < θ . Neste caso se inscreveriam no concurso os agentes cuja<br />
w<br />
0 ,θ . Isto por si só já caracteriza a seleção adversa,<br />
w<br />
θ ∈ θ , θ não se inscrevem.<br />
produtivida<strong>de</strong> se encontre no intervalo [ ]<br />
visto que os agentes com maior produtivida<strong>de</strong> [ ]<br />
w, θ , r ( θ )<br />
θ<br />
w<br />
r ( θ )<br />
θ<br />
w<br />
θ<br />
Gráfico 2 – Salário Fixado À Priori<br />
Duas informações <strong>de</strong>vem ser acrescidas á análise. Primeiro, o concurso po<strong>de</strong> eliminar<br />
c<br />
os candidatos menos capazes. Suponha então que os indivíduos com produtivida<strong>de</strong> θ < θ<br />
são eliminados, como representado no Gráfico 3. Segundo, no caso em questão é <strong>de</strong> se esperar<br />
que r ( θ ) seja o valor que este indivíduo receberia no mercado privado. Tal mercado po<strong>de</strong><br />
implementar o mecanismo <strong>de</strong> sinalização <strong>de</strong> Spence, pois não está preso às estruturas rígidas<br />
do setor público. Supondo que os agentes são neutros ao risco r ( θ ) se tornaria o próprio θ e,<br />
somente quando θ = r( θ ) ≤ w haverá inscritos no concurso. Portanto, como reportado no<br />
Gráfico 3, os inscritos aprovados tem produtivida<strong>de</strong> entre θ c w<br />
e θ<br />
r<br />
= w e o problema <strong>de</strong><br />
seleção adversa é acentuado.<br />
Por fim, note que os agentes inscritos e aprovados no concurso recebem um valor<br />
superior a sua produtivida<strong>de</strong>, 13 w<br />
á exceção do caso em que θ = θ r<br />
, um conjunto <strong>de</strong> medida<br />
nula no caso <strong>de</strong> uma distribuição contínua. Esta análise sustenta a afirmação <strong>de</strong> Longo (2004)<br />
segundo a qual a política <strong>de</strong> recursos humanos necessária para gerar um alto <strong>de</strong>sempenho<br />
<strong>de</strong>ntro das organizações públicas requer - além <strong>de</strong> ingresso por concurso e promoção pelo<br />
mérito - uma política salarial com remunerações compatíveis às do mercado privado.<br />
Assim, apesar <strong>de</strong> o concurso público revelar a produtivida<strong>de</strong> dos inscritos, não há<br />
qualquer diferenciação salarial com base nesta produtivida<strong>de</strong>, ao contrário do proposto pelo<br />
mecanismo <strong>de</strong> sinalização. Portanto, além <strong>de</strong> não resolver o problema <strong>de</strong> seleção adversa, é<br />
possível que muitos servidores tenham seus salários inflacionados.<br />
A este ponto, uma pergunta precisa ser respondida. Como em alguns momentos o<br />
Estado contou com quadros melhores do que a iniciativa privada? Como é possível<br />
racionalizar esta situação? É simples, basta que w > θ , neste caso, todos os indivíduos se<br />
inscrevem no concurso, porém, todos aprovados recebem um valor superior a sua<br />
produtivida<strong>de</strong>, um resultado in<strong>de</strong>sejável. Portanto, os excelentes quadros que as instituições<br />
10
do Estado possuíram no passado foram obtidos a um preço muito alto: a inviabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
aumentos consi<strong>de</strong>ráveis <strong>de</strong> salário hoje po<strong>de</strong> estar ligada ao exagero do passado.<br />
w, θ , r ( θ )<br />
θ = r( θ )<br />
w<br />
θ<br />
c<br />
θ<br />
w<br />
θ<br />
Gráfico 3 – Salário <strong>de</strong> Reserva Igual à Produtivida<strong>de</strong><br />
Uma última palavra. Ocorrem ao mesmo tempo vários concursos no governo Fe<strong>de</strong>ral,<br />
Estadual e Municipal. Assim, provavelmente, ocorre uma seleção entre os concursos, haja<br />
vista que estes apresentam salários com gran<strong>de</strong> variabilida<strong>de</strong>. De fato, como o governo fe<strong>de</strong>ral<br />
oferta, em geral, salários maiores, é possível que os maiores prejudicados pela seleção adversa<br />
sejam as esferas Estaduais e Municipais. No Gráfico 4 reportamos a situação na qual θ = r( θ )<br />
E<br />
F<br />
e consi<strong>de</strong>ramos dois salários: o Estadual, w , e o Fe<strong>de</strong>ral, w , sendo o primeiro inferior ao<br />
segundo. O concurso Estadual atrai pessoas com produtivida<strong>de</strong> igual ou inferior a θ<br />
E<br />
enquanto o Fe<strong>de</strong>ral atrai pessoas com produtivida<strong>de</strong> igual ou menor do que θ F em que<br />
E F<br />
θ < θ . Além disso, aqueles que forem aprovados em ambos optam pelo Fe<strong>de</strong>ral,<br />
esvaziando ainda mais o concurso Estadual. O que corrobora a análise <strong>de</strong> Bresser-Pereira <strong>de</strong><br />
que “o governo fe<strong>de</strong>ral já conta, em linhas gerais, com uma burocracia bem selecionada por<br />
concursos públicos, bem treinada, e, portanto, competente. Sem ela não po<strong>de</strong>ria ter pensado<br />
na reforma” (Bresser-Pereira, 2004:15).<br />
w, θ , r ( θ )<br />
θ = r( θ )<br />
F<br />
w<br />
E<br />
w<br />
θ<br />
E<br />
θ<br />
F<br />
θ<br />
Gráfico 4 – Concursos Públicos Simultâneos<br />
11
Em suma, <strong>de</strong> um modo geral, o Estado não implementa o mecanismo <strong>de</strong> sinalização e<br />
as conseqüências são estas: seleção adversa e, possivelmente, salários superiores à<br />
produtivida<strong>de</strong>. Assim, o pressuposto <strong>de</strong> que os aprovados no concurso público são os mais<br />
aptos para o <strong>de</strong>senvolvimento das funções correspon<strong>de</strong>ntes ao cargo, pois foram submetidos a<br />
avaliações e obtiveram <strong>de</strong>sempenho superior aos <strong>de</strong>mais concorrentes não se aplica. Como<br />
resolver este problema? Não propomos a eliminação do concurso público enquanto<br />
instrumento <strong>de</strong> seleção, visto que tal procedimento é garantidor do direito à isonomia, aten<strong>de</strong><br />
ao sistema <strong>de</strong> mérito e aos princípios <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong>, moralida<strong>de</strong> e competição, argumentamos<br />
apenas que a informação revelada no concurso <strong>sobre</strong> a produtivida<strong>de</strong> do indivíduo <strong>de</strong>veria ter<br />
impactos <strong>sobre</strong> o salário. Por exemplo, os melhores colocados po<strong>de</strong>riam receber algum bônus,<br />
assim o salário torna-se <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da produtivida<strong>de</strong>. No momento esta solução não é<br />
factível, pois servidores na mesma função não po<strong>de</strong>m ter salários diferentes. Porém, a<br />
reformulação <strong>de</strong> qualquer lei também é objeto <strong>de</strong> ação do Estado.<br />
4.2 <strong>Risco</strong> moral<br />
Como discutido previamente, a solução do problema <strong>de</strong> risco moral passa pela criação<br />
<strong>de</strong> uma estrutura <strong>de</strong> remuneração que premia a produção, pois assim, indiretamente o esforço<br />
é premiado. Esta é a proposta da ADI. Tal avaliação possui critérios que estão diretamente<br />
ligados à produção, por exemplo, qualida<strong>de</strong> do trabalho, produtivida<strong>de</strong> no trabalho,<br />
administração do tempo e tempestivida<strong>de</strong> e racionalização <strong>de</strong> processos. Discutiremos, então,<br />
se a troca do pagamento por tempo <strong>de</strong> serviço, como o qüinqüênio, pelo ADE tem respaldo<br />
teórico, acrescentando ao mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Homstrom e Milgrom (1987) um adicional por tempo <strong>de</strong><br />
serviço.<br />
Suponha, então, que o salário incorpore um adicional por tempo <strong>de</strong> serviço, ϕ t<br />
,<br />
w x = δ + γx<br />
+ ϕ . Com isto o lucro esperado torna-se:<br />
tornando-se ( )<br />
t<br />
E<br />
[ x − w( x)<br />
] = E[ ( 1 − γ ) x − δ −ϕ<br />
t<br />
] = E[ ( 1−<br />
γ )( e + ε ) − δ − ϕ<br />
t<br />
] = ( 1−<br />
γ ) e − δ −<br />
t<br />
Não supomos aqui que o Governo maximiza um lucro monetário, mas, obviamente,<br />
qualquer Governo possui uma função objetivo e esta <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do produto que ele gera – o<br />
serviço público – do seu gasto e do esforço dos funcionários públicos.<br />
Por sua vez, o valor esperado da função utilida<strong>de</strong> é:<br />
E<br />
[ u( w)<br />
] = −E{ exp [ − r( δ + γe<br />
+ γε + ϕ )]}<br />
2 2 2<br />
( , r γ )<br />
Como z −r( δ + γe<br />
+ γε + ϕ ) N − r( δ + γe<br />
ϕ )<br />
E<br />
= ~ σ , é possível mostra que<br />
t<br />
+<br />
⎡<br />
1 2 2 2 ⎤ ⎡ ⎛<br />
1 2 2 ⎞⎤<br />
[ u( w)<br />
] = −exp<br />
− r( δ + γe<br />
+ ϕ ) + r γ σ = −exp<br />
− r δ + γe<br />
+ ϕ − rγ<br />
σ ⎥ ⎦<br />
⎢<br />
⎣<br />
t<br />
2<br />
Como uma transformação monotonica não altera as preferências e o valor esperado é<br />
crescente no termo entre parênteses, po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar a seguinte função utilida<strong>de</strong>:<br />
u<br />
⎥<br />
⎦<br />
1<br />
2<br />
t<br />
⎢<br />
⎣<br />
2 2<br />
() e = δ + γe<br />
+ ϕ rγ<br />
σ<br />
Agregando o custo do esforço, c ( e)<br />
, o problema do funcionário é dado por:<br />
t<br />
−<br />
t<br />
⎜<br />
⎝<br />
t<br />
2<br />
ϕ<br />
⎟<br />
⎠<br />
12
⎡<br />
1 2 2 ⎤<br />
max<br />
⎢δ<br />
+ γe<br />
+ ϕ<br />
t<br />
− rγ<br />
σ − c() e<br />
e<br />
⎣<br />
2<br />
⎥⎦<br />
Condição <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m: 14<br />
γ − c '( e) = 0 ⇒ γ = c'<br />
( )<br />
e<br />
Portanto, obtemos o mesmo resultado da Seção 2.2, o que nos leva a concluir que o<br />
adicional por tempo <strong>de</strong> serviço não leva o funcionário a se esforçar mais.<br />
Por sua vez, a firma escolhe e, δ , γ e ϕt<br />
<strong>de</strong> modo a maximizar seu lucro esperado,<br />
respeitando a restrição <strong>de</strong> compatibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> incentivos e a restrição <strong>de</strong> participação, que é<br />
atendida com igualda<strong>de</strong>:<br />
1 2 2<br />
δ + γe + ϕ<br />
t<br />
− rγ<br />
σ − c =<br />
2<br />
() e u<br />
Substituindo as restrições na função objetivo da firma, obtemos o mesmo problema da<br />
seção 2.2.:<br />
⎡ 1<br />
max<br />
⎢<br />
e − c'<br />
σ<br />
e<br />
⎣ 2<br />
2 2 ⎤<br />
() e r − c() e − u<br />
⎥ ⎦<br />
A sua condição <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m não se altera e, por conseguinte, a escolha do<br />
Principal <strong>sobre</strong> o grau ótimo <strong>de</strong> esforço não se modifica com o pagamento por tempo <strong>de</strong><br />
serviço. Já que a atuação do Agente e do Principal não se alteram, concluí-se que o aumento<br />
<strong>de</strong> salário <strong>de</strong>vido à criação do adicional por tempo <strong>de</strong> serviço não gera maior produtivida<strong>de</strong>,<br />
não sendo justificada.<br />
Assim, os resultados indicam que a mudança na direção <strong>de</strong> um esquema que premia a<br />
produtivida<strong>de</strong>, como a ADI que substitui o qüinqüênio pelo ADE, é pertinente. Contudo,<br />
alguns pontos específicos da ADI e, também, do AR precisam ser qualificados.<br />
A ADI afeta o esforço do agente na medida em que aumentos <strong>de</strong> esforço causam<br />
aumento <strong>de</strong> salário. Como mencionado, o resultado na ADI gera uma premiação, pois se<br />
constitui em um requisito para progressão e promoção em todas as carreiras do Po<strong>de</strong>r<br />
Executivo e, além disso, foi criado o ADE cujo prêmio máximo po<strong>de</strong> chegar a 70% do<br />
vencimento básico do servidor. Inclusive, a ADI po<strong>de</strong> levar à <strong>de</strong>missão e, neste caso, o<br />
impacto <strong>sobre</strong> o salário é máximo, reduzindo-o a zero. Dois pontos <strong>de</strong>vem ser observados.<br />
Primeiro, os servidores que entraram no Estado em data anterior à criação da ADI po<strong>de</strong>m<br />
optar por receber os adicionais por tempo <strong>de</strong> serviço. Ou seja, o impacto da ADI é menor<br />
neste caso. Assim, somente no longo prazo, com a renovação dos servidores que o impacto da<br />
ADI será totalmente amplificado. Segundo, é fundamental que a ADI consiga efetivamente<br />
medir a produtivida<strong>de</strong> do indivíduo. Se esta avaliação capta alguma dimensão que não está<br />
ligada à produtivida<strong>de</strong>, gera-se um incentivo para os funcionários se <strong>de</strong>dicarem a ações não<br />
prioritárias.<br />
O AR possui uma interação com a ADI, no seguinte sentido. Ao celebrar o AR, os<br />
órgãos buscam atingir metas específicas e gerar recursos via redução <strong>de</strong> gastos. Tal economia<br />
é distribuída aos seus funcionários, sendo respeitado a ADI, entre outros fatores. Há um<br />
incentivo duplo para se obter uma boa pontuação na ADI, além <strong>de</strong> tudo que já foi citado, se o<br />
órgão celebrar o AR, ao se esforçar o funcionário po<strong>de</strong> obter mais uma premiação. Em outras<br />
palavras, como a geração <strong>de</strong> recursos se dá via esforço, o AR geraria uma estrutura <strong>de</strong><br />
13
incentivos a<strong>de</strong>quada. O ponto problemático é que a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> recursos é muito<br />
diferenciada entre os órgãos. Logo, nos órgãos com capacida<strong>de</strong> reduzida não há, <strong>de</strong> fato, um<br />
estímulo adicional com o estabelecimento do AR, pois o adicional salarial é muito reduzido.<br />
Por fim, cabe discutir uma última questão. Qual <strong>de</strong>ve ser o impacto da ADI <strong>sobre</strong> o<br />
salário? Como vimos à força do contrato, γ , escolhida pelo Principal é tão maior quanto<br />
menor a variância da variável aleatória que afeta o produto. Como no Estado a maioria dos<br />
serviços é bem padronizado, excetuando-se as instituições <strong>de</strong> pesquisa, há um indicativo <strong>de</strong><br />
que a força do contrato <strong>de</strong>ve ser bem elevada. Lembrando que, o aumento <strong>de</strong>sta força gera um<br />
maior esforço. Porém, tal força só é crível, refletindo-se em maior esforço, se a ADI for<br />
rigorosa. Se a avaliação for leniente, todos os envolvidos recebem uma pontuação elevada<br />
sem realizarem um nível condizente <strong>de</strong> esforço. Neste caso, a ADI não resolveria o problema<br />
<strong>de</strong> risco moral porque não seria preciso se esforçar para ter um aumento <strong>de</strong> salário. Quais são<br />
os incentivos para que os avaliadores sejam rigorosos? Ao atribuir uma nota ruim a um<br />
funcionário, a chefia imediata tem três custos: o custo pessoal, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r um<br />
funcionário e a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>teriorar a imagem da instituição e, consequentemente, a<br />
sua. O benefício seria induzir a pessoa a se esforçar mais. Caso os custos superem o<br />
benefício, a ADI per<strong>de</strong> sentido e cria um problema adicional: um aumento do gasto com a<br />
folha salarial não justificado, pois o esforço não se elevou.<br />
Apesar <strong>de</strong> não se referir a ADI, Carvalho Filho atesta que “Lamentavelmente, o<br />
estágio probatório até agora só existiu na teoria, pois que, ressalvadas raríssimas exceções,<br />
jamais se conseguiu verificar qualquer sistema <strong>de</strong> comprovação adotado pela administração<br />
que permitisse concluir por uma avaliação honesta e efetiva <strong>sobre</strong> os requisitos para o<br />
<strong>de</strong>sempenho dos cargos públicos. Como é lógico, acabam ultrapassando esse período<br />
servidores ineptos, <strong>de</strong>sidiosos e <strong>de</strong>sinteressados, que, em conseqüência, adquirem a<br />
estabilida<strong>de</strong> e ficam praticamente insuscetíveis <strong>de</strong> qualquer forma <strong>de</strong> exclusão” (Carvalho<br />
Filho, 2005:531). Ou seja, mesmo no estágio probatório, situação na qual o servidor está em<br />
constante avaliação, não há indício <strong>de</strong> que servidores ineptos são <strong>de</strong>mitidos. Por sua vez,<br />
Bresser-Pereira e Pacheco alertam que “Na política salarial, o governo tem feito ajustes,<br />
utilizando em muitos casos o aumento do percentual da gratificação por <strong>de</strong>sempenho <strong>sobre</strong> o<br />
vencimento básico (que, em vários casos, chega atualmente a 50%). A conseqüência disto é o<br />
agravamento <strong>de</strong> uma tendência perversa na administração pública burocrática – a <strong>de</strong> tornar as<br />
avaliações <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho meramente formais, igualando todos os avaliados nos níveis mais<br />
altos. Esta tendência já é forte quando o percentual da gratificação é pequeno, e se torna maior<br />
quando esse percentual aumenta” (Bresser-Pereira e Pacheco, 2005:12). Obviamente, neste<br />
caso a ADI <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> cumprir o seu papel.<br />
5 Conclusão<br />
O objetivo <strong>de</strong>ste artigo foi analisar como os problemas <strong>de</strong> seleção adversa e risco<br />
moral, provenientes <strong>de</strong> uma situação <strong>de</strong> informação assimétrica, impactam a contratação <strong>de</strong><br />
servidores públicos. Para tanto foram analisados dois mo<strong>de</strong>los, o primeiro <strong>de</strong> seleção adversa<br />
e posteriormente, um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Principal-Agente para discutir o problema <strong>de</strong> risco moral.<br />
Além disso, analisamos mais <strong>de</strong>tidamente o caso do Estado <strong>de</strong> MG uma vez que tal Estado<br />
foi bastante inovador ao estabelecer a ADI.<br />
Os resultados dos mo<strong>de</strong>los teóricos sugerem que um concurso público por si só não é<br />
capaz <strong>de</strong> resolver o problema <strong>de</strong> seleção adversa, pois tal concurso não implementa o<br />
mecanismo <strong>de</strong> sinalização sugerido por Spence. Obviamente, no caso geral, existem outras<br />
formas <strong>de</strong> resolver o problema <strong>de</strong> seleção adversa, além <strong>de</strong> sinalização, são elas:<br />
padronização e reputação. Mas estas soluções não são aplicáveis no caso do concurso<br />
14
público, dada a sua impessoalida<strong>de</strong>. Por outro lado, há um indicativo <strong>de</strong> que a criação da ADI<br />
e do AR foi um importante passo na direção <strong>de</strong> mitigar o problema <strong>de</strong> risco moral. Falta<br />
ainda discutir dois pontos: 1) se os critérios da ADI conseguem mensurar a produtivida<strong>de</strong> do<br />
trabalhador, uma hipótese feita aqui, e 2) se a ADI é rigorosa o bastante para induzir um<br />
nível <strong>de</strong> esforço a<strong>de</strong>quado. Estes pontos serão <strong>de</strong>ixados como tópicos <strong>de</strong> pesquisa futura.<br />
Bibliografia<br />
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Revista do Serviço Público, 50(4), 5-30.<br />
Bresser-Pereira, L. C (2004) “Instituições, Bom Estado e Reforma da Gestão Pública”, in Ciro<br />
Bi<strong>de</strong>rman e Paulo Arvate (orgs.), Economia do Setor Público no Brasil. São<br />
Paulo:Campus Elsevier, 2004: 3-15.<br />
Bresser-Pereira, L. C. e Pacheco, R. Silva (2005) “A Reforma do estado Brasileiro e o<br />
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brasileiro – Executivo, Legislativo e Judiciário, org. Instituto Nacional <strong>de</strong> Altos Estudos.<br />
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Janeiro: Editora Lumen Juris.<br />
Di Pietro, M. S. Z. (2002) Direito Administrativo. São Paulo: Atlas.<br />
Homstrong, B and Milgron (1987). “Aggregation and Linearity in the Provision of<br />
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Mas-Collel, A., Whinston, M.D. e Green, J.R. (1995) Microeconomic Theory. New York:<br />
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Varian, H. R. (1992). Microeconomic Analysis, New York: W. W. Norton & Company.<br />
Leis<br />
Emenda à Constituição Estadual nº 57/2003.<br />
Lei nº 869, <strong>de</strong> 5 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 1952.<br />
Lei 14693 <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 2003.<br />
Lei Complementar nº 71 <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 2003.<br />
Lei 15788 <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 2005.<br />
1 Para maiores <strong>de</strong>talhes ver Mas-Collel et alli (1995), Varian (1992) e Kreps (1990).<br />
2 A ineficiência é <strong>de</strong>vida ao fato <strong>de</strong> que trocas mutuamente benéficas <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> serem realizadas.<br />
3 Para a intervenção <strong>de</strong> o governo sanar esta falha <strong>de</strong> mercado, aumentando o bem-estar, é necessário que o<br />
mesmo conhecesse a produtivida<strong>de</strong> do agente. Porém, obviamente, o governo não tem acesso a esta informação.<br />
Ou, dito <strong>de</strong> outra forma, o governo não está em uma posição melhor do que a firma e ao contratar também está<br />
sujeito a este problema.<br />
4 O valor <strong>de</strong> reserva po<strong>de</strong> ter duas origens. Primeira, representa a <strong>de</strong>sutilida<strong>de</strong> do trabalho. Segunda, representa<br />
o salário que o trabalhador teria se trabalhasse em casa (ou, por conta própria), por isso, assumimos que ele<br />
cresce com a produtivida<strong>de</strong>. Na seção 4 uma das interpretações possíveis é que este termo seja o salário na<br />
iniciativa privada.<br />
15
5 Por simplicida<strong>de</strong>, assumimos que no caso <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> o trabalhador aceita a oferta <strong>de</strong> emprego.<br />
6 Isto ocorre porque estudar revela a produtivida<strong>de</strong> do indivíduo, mas não afeta a mesma. Logo, como estudar é<br />
custoso e as produtivida<strong>de</strong>s já foram i<strong>de</strong>ntificadas, não faz sentido se qualificar.<br />
7 Para que isto ocorra é necessário ainda que: i) o benefício líquido do indivíduo menos produtivo seja maior<br />
quando ele se qualifica do que no caso em que ele revela sua produtivida<strong>de</strong>; ii) o indivíduo mais produtivo não<br />
tem incentivo a se fazer passar por menos produtivo.<br />
8 Vale notar que, quanto menor a distância entre 2<br />
a b<br />
θ 2 , menor é o intervalo entre s e s . Em outras<br />
o<br />
palavras, maior a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> se encontrar s que gere um equilíbrio separador. O que é bastante intuitivo,<br />
θ − r menor o espaço para o individuo arcar com o custo <strong>de</strong> se qualificar e revelar<br />
θ e r ( )<br />
pois quanto menor for 2 ( θ 2 )<br />
sua produtivida<strong>de</strong>. Outra possibilida<strong>de</strong> que po<strong>de</strong> inviabilizar o equilíbrio separador é a seguinte: a curva g ( s,θ 1 )<br />
θ a direita <strong>de</strong> g ( ) . Isto po<strong>de</strong> ocorrer se a curva g ( ) não crescer suficientemente rápido, ou seja,<br />
cruza 2<br />
s,θ 2<br />
s,θ 1<br />
se o custo marginal <strong>de</strong> se qualificar não for suficientemente maior para o indivíduo menos produtivo.<br />
9 Supomos que neste caso o contrato é crível.<br />
10 A condição <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m é assegurada pela convexida<strong>de</strong> da função custo do esforço.<br />
11 Uma condição suficiente, mas não necessária, para a condição <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m é c '''<br />
() e ≥ 0 .<br />
12 Por simplicida<strong>de</strong>, assumimos que o valor <strong>de</strong> reserva <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da produtivida<strong>de</strong> linearmente. Mas, os resultados<br />
qualitativos que seguem não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong>sta forma particular.<br />
13 c w<br />
Este efeito não ocorre apenas se θ → θ r , o que <strong>de</strong>ve ocorrer com uma freqüência bastante baixa, pois<br />
raramente um concurso não preenche todas as vagas.<br />
14 A condição <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m é assegurada pela convexida<strong>de</strong> da função custo do esforço. Note que tal função<br />
é multiplicada por menos um.<br />
16