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A influência da literatura de massa na formação do leitor ... - pucrs

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A <strong>influência</strong> <strong>da</strong> <strong>literatura</strong> <strong>de</strong> <strong>massa</strong> <strong>na</strong> <strong>formação</strong> <strong>do</strong> <strong>leitor</strong> a<strong>do</strong>lescente<br />

Danilo Fer<strong>na</strong>n<strong>de</strong>s Sampaio <strong>de</strong> Souza (graduan<strong>do</strong> Letras/UNEB)<br />

É notável que uma <strong>da</strong>s gran<strong>de</strong>s discussões que se tem no ambiente escolar, diz<br />

respeito ao crescente <strong>de</strong>sinteresse <strong>do</strong>s jovens pela leitura e <strong>literatura</strong>. Congressos,<br />

seminários, cursos, <strong>de</strong>ntre outros, exploram ca<strong>da</strong> vez mais temáticas relacio<strong>na</strong><strong>da</strong>s à<br />

<strong>formação</strong> <strong>do</strong> <strong>leitor</strong> no intuito <strong>de</strong> encontrar meios <strong>de</strong> estimular a juventu<strong>de</strong> <strong>do</strong> século<br />

XXI, <strong>do</strong>mi<strong>na</strong><strong>da</strong> pela rapi<strong>de</strong>z e imersa no mun<strong>do</strong> virtual e tecnológico a <strong>de</strong>senvolver o<br />

hábito e o gosto pela leitura.<br />

Para muitos a<strong>do</strong>lescentes a leitura <strong>na</strong> escola tornou-se sinônimo <strong>de</strong> tarefa árdua,<br />

chata e obrigatória. Na maioria <strong>da</strong>s vezes, os alunos ain<strong>da</strong> não se constituíram <strong>leitor</strong>es,<br />

estão inician<strong>do</strong>. Leem os livros literários “cânones” (ou parte <strong>de</strong>les) <strong>de</strong>termi<strong>na</strong><strong>do</strong>s pelo<br />

professor ape<strong>na</strong>s para realizarem as tarefas e avaliações escolares e não serem<br />

reprova<strong>do</strong>s no fi<strong>na</strong>l <strong>do</strong> ano letivo. Dessa forma, o que muitos alunos veem <strong>na</strong>s aulas <strong>de</strong><br />

<strong>literatura</strong> são simplesmente <strong>da</strong>tas, perío<strong>do</strong>s literários e nomes <strong>de</strong> autores.<br />

Percebe-se, porém que muitos jovens consomem fora <strong>do</strong>s muros <strong>da</strong> escola uma<br />

<strong>literatura</strong> não-legitima<strong>da</strong>: a chama<strong>da</strong> <strong>literatura</strong> <strong>de</strong> <strong>massa</strong>, representa<strong>da</strong> principalmente<br />

pelos best-sellers, que acabam seduzin<strong>do</strong> seus <strong>leitor</strong>es através <strong>de</strong> composição simples,<br />

linguagem acessível e enre<strong>do</strong> envolvente. To<strong>da</strong>via, essa <strong>literatura</strong> é repudia<strong>da</strong> no meio<br />

acadêmico e por muitos professores que a consi<strong>de</strong>ram como baixa-<strong>literatura</strong> ou<br />

<strong>literatura</strong> <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>, não sen<strong>do</strong> nem mencio<strong>na</strong><strong>da</strong>s no contexto.<br />

Neste senti<strong>do</strong>, a intenção <strong>de</strong>ste artigo não é entrar em questões conceituais ou <strong>de</strong><br />

julgamento <strong>de</strong> valor, mas sim, tentar mostrar que a chama<strong>da</strong> <strong>literatura</strong> <strong>de</strong> <strong>massa</strong>, po<strong>de</strong> se<br />

bem trabalha<strong>da</strong>, incentivar e <strong>da</strong>r prazer ao a<strong>do</strong>lescente <strong>na</strong> leitura literária, além <strong>de</strong><br />

constituir um grau <strong>na</strong> <strong>formação</strong> <strong>do</strong> <strong>leitor</strong>, visto que os jovens geralmente não se<br />

interessam pela leitura <strong>de</strong> obras canônicas e eruditas.<br />

1. A Leitura entre os jovens<br />

A leitura tem um po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> trans<strong>formação</strong> muito gran<strong>de</strong> em nossa socie<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Através <strong>de</strong>la o ser humano tor<strong>na</strong>-se um sujeito critico e reflexivo, capaz <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r<br />

a si mesmo e o mun<strong>do</strong> que está ao seu re<strong>do</strong>r.


Ler é em ultima instância, não só uma ponte para a toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> consciência,<br />

mas também um mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> existir no qual o individuo compreen<strong>de</strong> e interpreta<br />

a expressão registra<strong>da</strong> pela escrita e passa a compreen<strong>de</strong>r-se no mun<strong>do</strong>.<br />

(SILVA, 2011: 51)<br />

No que se refere ao universo <strong>da</strong> leitura literária, as múltiplas interpretações <strong>de</strong><br />

um texto e a plurissignificação <strong>de</strong> uma palavra permitem ao <strong>leitor</strong> viajar em um<br />

universo infinito <strong>de</strong> possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s, sonhos e <strong>de</strong>sejos, permitin<strong>do</strong> sua interação com<br />

épocas, socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s e culturas diferentes.<br />

A <strong>literatura</strong> abre ao infinito essa possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> interação com os outros e,<br />

por isso, nos enriquece infinitamente. Ela nos proporcio<strong>na</strong> sensações<br />

insubstituíveis que fazem o mun<strong>do</strong> real se tor<strong>na</strong>r mais pleno <strong>de</strong> senti<strong>do</strong> e<br />

mais belo (TODOROV, 2009:23).<br />

A leitura também é mecanismo <strong>de</strong> trans<strong>formação</strong> <strong>na</strong>s relações entre os seres<br />

humanos. No momento em que o indivíduo começa, através <strong>da</strong> leitura, transformar sua<br />

relação com as pessoas que o cercam, ele exercita a ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia. Daí a intrínseca relação<br />

entre leitura e ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia. Um ci<strong>da</strong>dão-<strong>leitor</strong> é consciente <strong>de</strong> seu papel <strong>na</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, bem<br />

como seus direitos e <strong>de</strong>veres. Já dizia Monteiro Lobato que “um país se faz com<br />

homens e com livros”. Para Jorge Werthein:<br />

A ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia <strong>de</strong>corre <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> educação. O homem e a mulher<br />

alfabetiza<strong>do</strong>s conhecem seus direitos e <strong>de</strong>veres. Vão transmiti-los aos filhos e<br />

<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes. Vão aju<strong>da</strong>r a escolher melhor os gover<strong>na</strong>ntes e a julgá-los nos<br />

momentos a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s. Isso é ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia. (Werthein, 2008:47)<br />

Contu<strong>do</strong>, apesar <strong>do</strong>s incontáveis benefícios proporcio<strong>na</strong><strong>do</strong>s pela leitura, são<br />

várias as pesquisas que apontam para o baixo número <strong>de</strong> <strong>leitor</strong>es no país. A exemplo<br />

tem-se a pesquisa Retratos <strong>da</strong> leitura no Brasil, realiza<strong>da</strong> pelo instituto Pró-livro, que<br />

constitui, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua primeira edição em 2001 uma <strong>da</strong>s principais fontes no que diz<br />

respeito ao conhecimento <strong>do</strong> perfil <strong>do</strong> <strong>leitor</strong> brasileiro, bem como suas preferências e<br />

motivações para a leitura. Os resulta<strong>do</strong>s <strong>da</strong> terceira edição, divulga<strong>do</strong>s em março <strong>de</strong><br />

2012, revelam que 88,2 milhões <strong>de</strong> brasileiros (50% <strong>da</strong> população) são <strong>leitor</strong>es, ou seja,<br />

leram pelo menos um livro nos últimos três meses que antece<strong>de</strong>ram a pesquisa. O índice<br />

é menor <strong>do</strong> que o apresenta<strong>do</strong> pela segun<strong>da</strong> edição em 2007, no qual tínhamos 95,6<br />

milhões <strong>de</strong> <strong>leitor</strong>es (55% <strong>da</strong> população).<br />

Além <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>do</strong> Retratos <strong>da</strong> leitura no Brasil, outras avaliações apontam<br />

também para o baixo grau <strong>de</strong> leitura entre os brasileiros, o Programa Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l <strong>de</strong>


Avaliação <strong>do</strong>s Estu<strong>da</strong>ntes (Pisa) mostrou em 2009 que o Brasil ocupa a 53º no quesito<br />

leitura em um ranking <strong>de</strong> 65º países. 1<br />

Avaliações realiza<strong>da</strong>s pelo MEC, como o Sistema Nacio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Avaliação <strong>da</strong><br />

Educação Básica (Saeb), Exame Nacio<strong>na</strong>l <strong>do</strong> Ensino Médio (Enem) mostram que os<br />

resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s pelos estu<strong>da</strong>ntes em leitura, <strong>literatura</strong> e interpretação <strong>de</strong> textos estão<br />

muito aquém <strong>do</strong>s espera<strong>do</strong>s. Para Tavela:<br />

Nove anos <strong>de</strong> ensino fun<strong>da</strong>mental e três anos <strong>de</strong> ensino médio não têm<br />

proporcio<strong>na</strong><strong>do</strong> aos jovens estu<strong>da</strong>ntes a competência necessária para serem<br />

consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s <strong>leitor</strong>es literários, como po<strong>de</strong> ser comprova<strong>do</strong> nos exames<br />

vestibulares, em que a média <strong>da</strong>s provas <strong>de</strong> <strong>literatura</strong> tem si<strong>do</strong> bem inferior<br />

àquela que se esperava atingir (TAVELA, 2010:03)<br />

Diante <strong>do</strong>s <strong>da</strong><strong>do</strong>s apresenta<strong>do</strong>s, qual tem si<strong>do</strong> a posição <strong>da</strong> escola no<br />

incentivo à <strong>formação</strong> <strong>de</strong> <strong>leitor</strong>es? Ou será que estamos diante <strong>da</strong> triste reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong><br />

escola que não forma <strong>leitor</strong>es?<br />

Retratos <strong>da</strong> leitura no Brasil mostrou ain<strong>da</strong> que a média livros li<strong>do</strong>s por<br />

a<strong>do</strong>lescentes 6,9 (a<strong>do</strong>lescentes <strong>de</strong> 11 a 13 anos) e 5,9 (a<strong>do</strong>lescentes <strong>de</strong> 14 a 17 anos) é<br />

maior <strong>do</strong> que a média <strong>da</strong> população em geral que é <strong>de</strong> 4,0 livros ao ano, sen<strong>do</strong> que<br />

ape<strong>na</strong>s 2,0 são li<strong>do</strong>s inteiramente.<br />

Número <strong>de</strong> livros li<strong>do</strong>s por ano<br />

(a<strong>do</strong>lescentes leem mais que adultos)<br />

5 a 10<br />

5,4<br />

11 a 13<br />

6,9<br />

14 a 17<br />

5,9<br />

18 a 24<br />

25 a 29<br />

30 a 39<br />

3,6<br />

3,5<br />

3,6<br />

40 a 49<br />

2,6<br />

50 a 59<br />

2<br />

60 a 69<br />

1,5<br />

70 anos ou mais<br />

1,1<br />

Fonte: Pesquisa Retratos <strong>da</strong> leitura no Brasil<br />

1 Pesquisa disponível em: < http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/pisa-2009/>


Os <strong>da</strong><strong>do</strong>s po<strong>de</strong>m ser justifica<strong>do</strong>s compreen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> que essa faixa etária<br />

geralmente está <strong>na</strong> escola. Po<strong>de</strong>-se ressaltar esse valor positivo, visto que a escola tem<br />

proporcio<strong>na</strong><strong>do</strong> aos a<strong>do</strong>lescentes o contato com a leitura. To<strong>da</strong>via, percebeu-se que ao se<br />

distanciarem <strong>da</strong> escola a média <strong>de</strong> leitura cai muito, principalmente entre os adultos.<br />

Para Amorim “a escola está falhan<strong>do</strong> <strong>na</strong> tarefa <strong>de</strong> formar <strong>leitor</strong>es que, além <strong>de</strong> <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>r<br />

as habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> leitura, também gostem <strong>de</strong> ler e continuem a fazer isso <strong>de</strong>pois que<br />

estiverem longe <strong>de</strong>la” (AMORIM, 2008:16). Nesse senti<strong>do</strong>, po<strong>de</strong>-se inferir que a escola<br />

tem possibilita<strong>do</strong> o acesso <strong>de</strong> seus alunos à leitura, to<strong>da</strong>via, não está forman<strong>do</strong> <strong>leitor</strong>es<br />

para to<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong>.<br />

Sen<strong>do</strong> assim, como os alunos estão sen<strong>do</strong> apresenta<strong>do</strong>s à leitura, em especial a<br />

literária? Os livros trabalha<strong>do</strong>s pela escola chamam a atenção <strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes e<br />

<strong>de</strong>spertam neles o prazer pela leitura? Na hora <strong>da</strong> escolha, o gosto <strong>do</strong>s alunos é leva<strong>do</strong><br />

em consi<strong>de</strong>ração?<br />

Verifica-se que boa parte <strong>do</strong>s alunos, em geral <strong>leitor</strong>es iniciantes, rejeitam os<br />

livros indica<strong>do</strong>s pela escola, os cânones e clássicos <strong>da</strong> <strong>literatura</strong> por consi<strong>de</strong>rarem<br />

difíceis <strong>de</strong> ler e distantes <strong>de</strong> sua reali<strong>da</strong><strong>de</strong>. As aulas que <strong>de</strong>veriam servir para aproximar<br />

esses alunos <strong>da</strong> obra literária, geralmente tem seu enfoque <strong>na</strong> expla<strong>na</strong>ção <strong>de</strong> nomes e<br />

obras consagra<strong>da</strong>s, bem como <strong>na</strong>s características e contextualização histórica, com isso<br />

“o que quase to<strong>do</strong>s apren<strong>de</strong>m é o que <strong>de</strong>vem dizer sobre <strong>de</strong>termi<strong>na</strong><strong>do</strong>s livros e autores,<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> seu ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro gosto pessoal” (ABREU, 2006:19). Como<br />

resulta<strong>do</strong>, tem-se o efeito inverso: o que seria para aproximar os jovens <strong>da</strong> <strong>literatura</strong><br />

acaba por afastá-los.<br />

Sen<strong>do</strong> assim, a leitura literária que agra<strong>da</strong> aos jovens, encontra<strong>da</strong> fora <strong>do</strong>s<br />

muros, a chama<strong>da</strong> <strong>literatura</strong> <strong>de</strong> <strong>massa</strong> é <strong>de</strong>spreza<strong>da</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> escola e por boa parte <strong>do</strong>s<br />

professores e críticos literários. Porém, será realmente que essas obras, não possuem<br />

nenhum valor e <strong>de</strong>vem continuar excluí<strong>do</strong>s <strong>da</strong>s salas <strong>de</strong> aula? Será que elas não<br />

representariam o início <strong>da</strong> caminha<strong>da</strong> <strong>na</strong> <strong>formação</strong> <strong>do</strong> <strong>leitor</strong>? Tentar-se-á refletir sobre<br />

essas questões a seguir.<br />

2. Literatura <strong>de</strong> <strong>massa</strong>: Um caminho <strong>na</strong> <strong>formação</strong> <strong>do</strong> <strong>leitor</strong><br />

O trabalho com a leitura e <strong>literatura</strong> no Ensino Fun<strong>da</strong>mental e Médio beira a<br />

sombra <strong>da</strong> <strong>de</strong>cadência. Pesquisas como a <strong>de</strong> Mafra (1996) apontam para a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> construção <strong>de</strong> bons projetos <strong>na</strong> escola que incentivem à leitura e visem à <strong>formação</strong> <strong>de</strong>


<strong>leitor</strong>es a<strong>do</strong>lescentes, para tanto, faz-se necessário ter como objeto central <strong>de</strong> leitura e<br />

estu<strong>do</strong> o texto literário. Segun<strong>do</strong> Zilberman e Silva:<br />

Compete hoje ao ensino <strong>da</strong> <strong>literatura</strong> não mais a transmissão <strong>de</strong> um<br />

patrimônio já constituí<strong>do</strong> e consagra<strong>do</strong>, mas a responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> pela<br />

<strong>formação</strong> <strong>do</strong> <strong>leitor</strong>. A execução <strong>de</strong>ssa tarefa <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> se conceber a leitura<br />

não como o resulta<strong>do</strong> satisfatório <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> alfabetização e<br />

<strong>de</strong>codificação <strong>de</strong> matéria escrita, mas como ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> propicia<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> uma<br />

experiência única com o texto literário. (ZILBERMAN, 2008: 22-23)<br />

Dessa forma, a leitura <strong>do</strong> texto literário é uma experiência rica e<br />

indispensável <strong>na</strong> <strong>formação</strong> <strong>do</strong> <strong>leitor</strong>, Ain<strong>da</strong> <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com Zilberman (2008) é uma<br />

ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> completa, estimula<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> diálogo, alarga<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> conhecimento e que induz<br />

às práticas socializantes. To<strong>da</strong>via, percebe-se que <strong>na</strong> escola o potencial <strong>do</strong> texto literário<br />

tem si<strong>do</strong> minimiza<strong>do</strong> e por vezes menospreza<strong>do</strong> através <strong>de</strong> práticas equivoca<strong>da</strong>s e<br />

reducionistas, para Ril<strong>do</strong> Cosson:<br />

No ensino fun<strong>da</strong>mental, a <strong>literatura</strong> tem senti<strong>do</strong> tão extenso que engloba<br />

qualquer texto escrito que apresente parentesco com ficção ou poesia. O<br />

limite, <strong>na</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, não é <strong>da</strong><strong>do</strong> por esse parentesco, mas sim pela temática e<br />

pela linguagem: ambas <strong>de</strong>vem ser compatíveis com os interesses <strong>da</strong> criança,<br />

<strong>do</strong> professor e <strong>da</strong> escola, preferencialmente <strong>na</strong> or<strong>de</strong>m inversa. (COSSON,<br />

2011: 21)<br />

Pensan<strong>do</strong> assim, o texto literário é trabalha<strong>do</strong> com a fi<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> aquisição<br />

<strong>da</strong> norma-padrão, não é a toa que boa parte <strong>do</strong>s livros didáticos utiliza o texto literário<br />

como artifício para expor regras e conceitos gramaticais e em outros momentos para<br />

aten<strong>de</strong>r a objetivos pe<strong>da</strong>gógicos e moralizantes, com isso, experiências com o prazer, o<br />

“saborear” e a <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong>sse mun<strong>do</strong> cheio <strong>de</strong> possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s e interpretações<br />

proporcio<strong>na</strong><strong>do</strong> pela <strong>literatura</strong>, tão importantes para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> gosto pela<br />

leitura não é vivencia<strong>do</strong> pelos a<strong>do</strong>lescentes <strong>na</strong> escola.<br />

No Ensino Médio, com o status que a <strong>literatura</strong> ganha <strong>de</strong> discipli<strong>na</strong> escolar, a<br />

<strong>literatura</strong> brasileira canônica é a única apresenta<strong>da</strong> e ain<strong>da</strong> sob forma <strong>de</strong> estilos<br />

distribuí<strong>do</strong>s cronologicamente no tempo. Mafra faz uma critica contun<strong>de</strong>nte a essa<br />

meto<strong>do</strong>logia:<br />

O ensino <strong>de</strong> <strong>literatura</strong> <strong>na</strong>s escolas <strong>de</strong> ensino médio vive hoje um gran<strong>de</strong><br />

impasse. Her<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> uma visão clássica <strong>de</strong> <strong>literatura</strong>, é prisioneiro hoje <strong>de</strong><br />

um a<strong>na</strong>cronismo que o distancia <strong>do</strong> aluno. A sequência historicizante <strong>do</strong>s<br />

estilos literários e enfa<strong>do</strong>nha: assemelha-se às antigas aulas <strong>de</strong> História <strong>da</strong><strong>da</strong>s<br />

através <strong>do</strong>s apontamentos colhi<strong>do</strong>s juntos às fichas amarela<strong>da</strong>s <strong>do</strong> professor.<br />

Ain<strong>da</strong> que sejam observa<strong>do</strong>s <strong>de</strong>smembramentos futuros, os fatos históricos<br />

apresentam-se circunscritos a um tempo. A arte expressa <strong>na</strong> <strong>literatura</strong>, ao<br />

contrário, só existe como possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamento <strong>de</strong> uma contem-


poranei<strong>da</strong><strong>de</strong> em que é produzi<strong>da</strong>. Nestes termos, as antigas aulas <strong>de</strong> História<br />

conseguiam ser mais coerentes que as <strong>de</strong> Literatura atuais (MAFRA,<br />

2003:04)<br />

Sen<strong>do</strong> assim, o trabalho com a <strong>literatura</strong> <strong>de</strong>scomprometi<strong>da</strong> com a <strong>formação</strong><br />

<strong>do</strong> <strong>leitor</strong> e que nega a participação <strong>do</strong>s estu<strong>da</strong>ntes <strong>na</strong> escolha <strong>do</strong>s textos e obras<br />

trabalha<strong>da</strong>s gera um <strong>de</strong>sinteresse quase total pela leitura e <strong>literatura</strong> a ponto <strong>de</strong> ser<br />

comum a situação:<br />

Ao fi<strong>na</strong>l <strong>do</strong> processo escolar, após cerca <strong>de</strong> uma déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> contato quase<br />

diário com autores, obras e textos <strong>do</strong>s mais sorti<strong>do</strong>s gêneros, trabalha<strong>do</strong>s<br />

segun<strong>do</strong> as abor<strong>da</strong>gens <strong>de</strong> leitura e <strong>literatura</strong> eleitas pela escola […] milhares<br />

<strong>de</strong> alunos <strong>da</strong> escola pública concluam o primeiro ou o segun<strong>do</strong> grau a<br />

<strong>de</strong>clararem seu ódio e sua repulsa pela leitura ou […] o bizarro espetáculo <strong>de</strong><br />

livros e ca<strong>de</strong>rnos sen<strong>do</strong> rasga<strong>do</strong>s e pisotea<strong>do</strong>s nos corre<strong>do</strong>res e portões <strong>da</strong>s<br />

escolas ao cabo <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> ano letivo. (KLEBIS, 2008:37)<br />

Atitu<strong>de</strong>s como essa revelam que a escola, principal instituição responsável<br />

pela <strong>formação</strong> <strong>do</strong> <strong>leitor</strong> tem falha<strong>do</strong> nessa tarefa. A partir <strong>de</strong>ssa reali<strong>da</strong><strong>de</strong> surge uma<br />

pergunta inquietante: Quais seriam as causas para a aversão <strong>do</strong>s alunos às aulas <strong>de</strong><br />

leitura e <strong>literatura</strong>? Enten<strong>de</strong>mos que esse ensino enfa<strong>do</strong>nho e hierarquiza<strong>do</strong>, que não dá<br />

voz ao aluno a<strong>do</strong>lescente, nem aceita suas leituras, suas preferências e gostos po<strong>de</strong>riam<br />

ser algumas possíveis causas <strong>de</strong>sse gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sinteresse pela leitura literária trabalha<strong>da</strong><br />

<strong>na</strong> escola.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, uma consi<strong>de</strong>rável parcela <strong>de</strong> a<strong>do</strong>lescentes consome<br />

avi<strong>da</strong>mente uma <strong>literatura</strong> encontra<strong>da</strong> <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong> <strong>da</strong> escola, mas que não é respal<strong>da</strong><strong>da</strong><br />

por ela, rotula<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>literatura</strong> <strong>de</strong> <strong>massa</strong>. Livros como Harry Potter, Jogos vorazes e<br />

Crepúsculo, através <strong>de</strong> enre<strong>do</strong>s cativantes e exposições midiáticas e cinematográficas<br />

levam milhares <strong>de</strong> jovens a se entregarem facilmente à leitura <strong>de</strong> 200, 300, 400 pági<strong>na</strong>s<br />

sem reclamações. Esse seria o sonho <strong>de</strong> to<strong>do</strong> professor, se não fosse uma polêmica que<br />

tem gera<strong>do</strong> inúmeras discussões no ambiente acadêmico: esses livros, consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s<br />

<strong>literatura</strong> <strong>de</strong> <strong>massa</strong> não são aprova<strong>do</strong>s por boa parte <strong>do</strong>s intelectuais e críticos literários<br />

que alegam que essas obras são <strong>de</strong>stituí<strong>da</strong>s <strong>de</strong> valor literário e que estão ape<strong>na</strong>s a<br />

serviço <strong>da</strong>s i<strong>de</strong>ologias <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>, não levan<strong>do</strong> seus <strong>leitor</strong>es à reflexão. Contu<strong>do</strong>, é<br />

impossível <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar que essas obras compõem as listas <strong>do</strong>s mais vendi<strong>do</strong>s e<br />

atingem um número assusta<strong>do</strong>r <strong>de</strong> ven<strong>da</strong>gem porque estão sen<strong>do</strong> li<strong>do</strong>s, para Eliane Paz:<br />

Se o Best-seller é resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> industrialização e efeito <strong>da</strong> ação<br />

capitalista sobre a cultura, é preciso levar em conta também que esse tipo <strong>de</strong><br />

<strong>na</strong>rrativa ten<strong>de</strong> a constituir-se em “campeão <strong>de</strong> ven<strong>da</strong>s” porque se configura


uma po<strong>de</strong>rosa estimula<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> leitura, isto é, tem o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> mobilizar o<br />

olhar e estimular a imagi<strong>na</strong>ção <strong>do</strong> <strong>leitor</strong>-consumi<strong>do</strong>r. O fascínio dura<strong>do</strong>uro<br />

<strong>de</strong>ssa <strong>literatura</strong> indica que não se po<strong>de</strong> a<strong>na</strong>lisá-la com uma visão simplista e<br />

redutora, limitan<strong>do</strong>-a ao campo <strong>de</strong> efeito <strong>de</strong> estratagemas merca<strong>do</strong>lógicos ou<br />

como subproduto <strong>da</strong> <strong>literatura</strong> culta. (PAZ, 2004:02)<br />

Diante <strong>de</strong>ssa recepção mais acolhe<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> best-seller por parte <strong>do</strong>s jovens,<br />

essas obras po<strong>de</strong>m servir <strong>de</strong> iniciação à leitura literária. To<strong>da</strong>via, enquanto a escola<br />

fechar as portas para as leituras <strong>de</strong> entretenimento, mais livres <strong>de</strong> reflexões profun<strong>da</strong>s e<br />

que estimula o gosto pela <strong>literatura</strong>, ela estará fechan<strong>do</strong> as portas para que mais tar<strong>de</strong> os<br />

a<strong>do</strong>lescentes <strong>de</strong>em saltos mais longes e precisos “on<strong>de</strong> o entretenimento não se esgota<br />

em si, mas traz consigo um alargamento <strong>da</strong> percepção e um aprofun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong><br />

compreensão <strong>da</strong>s coisas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>” (PAES, 2000:28).<br />

Por isso faz-se necessário que seja revisto, refleti<strong>do</strong> e principalmente seja<br />

<strong>da</strong><strong>da</strong> voz ao aluno no que se refere às obras e textos trabalha<strong>do</strong>s em sala <strong>de</strong> aula. Sen<strong>do</strong><br />

o cânone literário a âncora <strong>do</strong> trabalho <strong>de</strong> <strong>literatura</strong> <strong>na</strong> escola, além <strong>de</strong> ser respal<strong>da</strong><strong>da</strong><br />

pelos <strong>do</strong>cumentos legais, sua apresentação <strong>de</strong>ve ser preserva<strong>da</strong>, mas por outro la<strong>do</strong>, o<br />

trabalho com a <strong>literatura</strong> <strong>de</strong> <strong>massa</strong> po<strong>de</strong> ser benéfico, visto que alguns estudiosos <strong>da</strong><br />

<strong>literatura</strong>, já reconheceram que os best-sellers são po<strong>de</strong>rosos propaga<strong>do</strong>res <strong>de</strong> leitura:<br />

(...) Estou convenci<strong>do</strong> <strong>de</strong> que, para ace<strong>de</strong>r à gran<strong>de</strong> <strong>literatura</strong>, <strong>de</strong>ve-se<br />

primeiro apren<strong>de</strong>r a amar a leitura. (...) Eu mesmo, há muito tempo, comecei<br />

a ler versões simplifica<strong>da</strong>s <strong>do</strong>s clássicos em búlgaro. (...) Isso não me<br />

impediu <strong>de</strong> abor<strong>da</strong>r o texto completo <strong>do</strong> romance alguns anos mais tar<strong>de</strong>.<br />

Desse ponto <strong>de</strong> vista, eu recomen<strong>do</strong> sempre „O Con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Monte Cristo‟ [<strong>de</strong><br />

Alexandre Dumas] ou, por que não?, As aventuras <strong>de</strong> Harry Potter.<br />

(TODOROV, 2007)<br />

É impossível fechar os olhos para os novos estilos e temas <strong>da</strong> <strong>literatura</strong> que<br />

agra<strong>da</strong>m ao a<strong>do</strong>lescente e que por vezes são encontra<strong>do</strong>s no acervo <strong>da</strong> <strong>literatura</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>massa</strong>. Sen<strong>do</strong> assim, o professor é o media<strong>do</strong>r que incentiva a leitura <strong>de</strong> forma prazerosa<br />

e bela, ele é peça fun<strong>da</strong>mental <strong>na</strong> mediação entre a<strong>do</strong>lescentes e <strong>literatura</strong>. Para tanto,<br />

<strong>de</strong>ve apresentar-se sem preconceitos e aberto às novas leituras e possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

literárias, perpassan<strong>do</strong> entre o antigo e o atual, entre o cânone e o massivo,<br />

possibilitan<strong>do</strong> uma convivência saudável entre elas.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

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2006.


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COSSON, Ril<strong>do</strong>. Letramento Literário: teoria e prática. 2ª ed. São Paulo: Contexto,<br />

2011.<br />

KLEBIS, Carlos Eduar<strong>do</strong> <strong>de</strong> Oliveira. Leitura <strong>na</strong> escola: problemas e tentativas <strong>de</strong><br />

solução In: SILVA, Ezequiel Theo<strong>do</strong>ro <strong>da</strong>. (org). Leitura <strong>na</strong> escola. São Paulo/<br />

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MAFRA, Núbio Delanne Ferraz. Leituras à revelia <strong>da</strong> escola. Londri<strong>na</strong>: Eduel, 2003.<br />

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PAES, José Paulo. Aventura Literária: Ensaio sobre ficção e ficções. São Paulo:<br />

Companhia <strong>da</strong>s Letras, 1990.<br />

PAZ, Eliane H. Massa <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong>. In: I Seminário Brasileiro sobre o Livro e História<br />

Editorial, 2004, Casa <strong>de</strong> Rui Barbosa. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Casa <strong>de</strong> Rui Barbosa. Disponivel<br />

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