Análise comparativa dos serviços públicos de ... - IEE/USP
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66 O modelo de reestruturação aplicado, além da energia elétrica, a outros setores da infra-estrutura, como transporte rodo e ferroviário e telecomunicações, vem apresentando falhas que merecem avaliação - em relação ao desempenho quanto ao próprio setor elétrico, e em relação à sua adoção, nos mesmos moldes, para o saneamento. Por outro lado, a peculiaridade do sistema elétrico brasileiro, representada pela origem essencialmente hidráulica da energia (mais de 90%), traz à tona a necessidade de exercer a gestão dos recursos hídricos de forma sistêmica e solidária pelos dois setores, entre outros, sobretudo diante da atual legislação brasileira sobre o tema e sob a perspectiva da privatização do segmento de geração de energia elétrica que se refletirá, necessariamente, sobre a gestão das águas. Decorridos cerca de seis anos desde o início da reestruturação dos serviços mencionados, os resultados, pode-se afirmar, ficaram muito aquém das expectativas criadas junto à sociedade. Se em alguns casos, como o das telecomunicações, a conexão aos sistemas de fornecimento do serviço foi ampliada, por outro lado, o consumo, em si, foi paulatinamente sendo “confiscado” pelas tarifas cada vez mais altas (Lobato & Petri, 2001). O montante de investimentos e o retorno financeiro esperado da venda das empresas estatais também foram extremamente frustrantes, para as contas nacionais e para a gestão dos setores reestruturados. A crise de desabastecimento de energia elétrica é, atualmente, o exemplo mais notório das limitações dos pressupostos dos modelos de reforma aplicados. Na verdade, mais de uma década após a gênese do Consenso de Washington, os próprios organismos fomentadores da reforma, entre outros, já admitem essas limitações (Rossi, 2001). Entrementes, a gestão estatal tradicional não se revelou, também ela, capaz de atender de forma plena as demandas da sociedade. Problemas ocorreram, inevitável reconhecer, com a aplicação dos recursos financeiros dos setores, com a gestão empresarial e manutenção da qualidade e, até mesmo, com a superação do déficit de atendimento. Entretanto, a principal qualidade deste modelo residiu na orientação
67 voltada para a promoção de desenvolvimento, e não para a obtenção de lucro, forçando a que os interesses dos usuários, razão de ser da prestação desses serviços, devessem ser, ao menos em tese, priorizados. Com uma gestão pública, de fato, aliada a outros fatores, em última instância, o resultado poderia chegar a ser a extensão da cidadania e do progresso a todos os segmentos da sociedade brasileira, até os recônditos do país. O pensamento ultraliberal em curso é incompatível, em certa medida, com a manutenção de um welfare state (Estache et al., 2000; Dupas, 1998), entretanto, a realidade tem demonstrado que as políticas sociais não podem ser extintas no Brasil: condições de desigualdade exacerbada, crescente concentração de renda e grande contingente de pobreza não o permitem (Roque & Correa, 1999). Exatamente por não se ter atendido mesmo às condições de sobrevivência dessa parcela da população, potencializa-se o risco, para a sociedade, de que essas condições tornem-se insuperáveis, ao forçar a passagem a um estágio totalmente distinto e mais complexo de desenvolvimento econômico, calcado majoritariamente na manutenção de uma economia de mercado. Nesse sentido, rever os modelos de gestão, regulação e controle exercidos sobre os setores de infra-estrutura assume importância fundamental. 2.4.3.2. DESAFIOS Após mais de uma década de liberalização econômica de âmbito global, os resultados alcançados nos países de economia madura, bem como nos países em desenvolvimento explicitaram uma gama de resultados e problemas similares, intrínsecos ao próprio ambiente de mercado livre e mínima intervenção do Estado na economia e às características das indústrias liberalizadas, em sua maior parte, setores da infra-estrutura, monopólios naturais desverticalizados, com segmentos constituídos por serviços de redes. No caso das economias em desenvolvimento, há a agravante
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O mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> reestruturação aplicado, além da energia elétrica, a outros setores<br />
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apresentando falhas que merecem avaliação - em relação ao <strong>de</strong>sempenho quanto ao<br />
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representada pela origem essencialmente hidráulica da energia (mais <strong>de</strong> 90%), traz à<br />
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solidária pelos dois setores, entre outros, sobretudo diante da atual legislação<br />
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<strong>de</strong> energia elétrica que se refletirá, necessariamente, sobre a gestão das águas.<br />
Decorri<strong>dos</strong> cerca <strong>de</strong> seis anos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início da reestruturação <strong>dos</strong> <strong>serviços</strong><br />
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consumo, em si, foi paulatinamente sendo “confiscado” pelas tarifas cada vez mais<br />
altas (Lobato & Petri, 2001). O montante <strong>de</strong> investimentos e o retorno financeiro<br />
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limitações <strong>dos</strong> pressupostos <strong>dos</strong> mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> reforma aplica<strong>dos</strong>. Na verda<strong>de</strong>, mais <strong>de</strong><br />
uma década após a gênese do Consenso <strong>de</strong> Washington, os próprios organismos<br />
fomentadores da reforma, entre outros, já admitem essas limitações (Rossi, 2001).<br />
Entrementes, a gestão estatal tradicional não se revelou, também ela, capaz <strong>de</strong><br />
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reconhecer, com a aplicação <strong>dos</strong> recursos financeiros <strong>dos</strong> setores, com a gestão<br />
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