Análise comparativa dos serviços públicos de ... - IEE/USP

Análise comparativa dos serviços públicos de ... - IEE/USP Análise comparativa dos serviços públicos de ... - IEE/USP

21.12.2013 Views

40 para investimentos e repasse de custos. Pires & Piccinini (1998) relatam que, como forma de compensar estes problemas, Joskow e Schmalensee idealizaram o método do sliding scale plane 22 , difundido nos EUA, cuja formulação levaria usuários e concessionários a socializar a diferença entre a taxa de retorno desejada (regulada) e a taxa de retorno efetiva (observada na prática). Entretanto, esta variação revelou-se tão complexa e custosa quanto a original. 2.3.2.2. REGULAÇÃO PELO CUSTO MARGINAL A tarifação pelo custo marginal, inaugurada na Eletricité de France na década de 1950 para superar as limitações do modelo anterior, do custo do serviço, é oriunda do pensamento neoclássico da Economia do Bem Estar, que diz que, se não há distorções na economia, em situação de concorrência perfeita, o máximo excedente social é obtido quando os preços igualam os custos marginais de produção numa indústria. Sob regulação, a fixação dos preços do monopólio nesse patamar reproduziria condições de mercado concorrencial, atingindo maior eficiência econômica (aderência entre preços e custos, maximização do excedente social) (Pires & Piccinini, 1998; Araújo, 1997). Conceitualmente, custo marginal é o custo incremental de fornecer um bem ou serviço. No caso dos serviços sujeitos a variação de demanda no tempo, caso da energia e saneamento, o custo marginal é decomposto em custo de curto prazo, relacionado ao custo operacional da produção de uma unidade adicional do bem ou serviço, e custo de longo prazo, relacionado ao custo incremental ótimo de expansão da indústria, utilizando-se este último como critério para tarifação, a fim de tornar os preços mais estáveis e previsíveis (Araújo, 1997). A determinação desses custos exige um conhecimento aprofundado, qualitativo e quantitativo, da demanda e do consumo, dos hábitos de uso, bem como a evolução desses parâmetros, assumindo especial 22 r e = r i + h (r* - r), onde: re - taxa de retorno efetiva, a preços atuais; ri - taxa de retorno inicial; r* - taxa de retorno desejada; h -

41 importância no caso dos serviços aqui tratados (energia e saneamento). Nesses casos, a demanda apresenta comportamento cíclico, produzindo os chamados picos ou períodos de ponta, em que é muito superior aos períodos ditos fora de ponta, podendo congestionar o sistema se houver restrições de capacidade de oferta. Este modelo introduz os conceitos e visa estimular a prática do gerenciamento pelo lado da demanda, uso racional do recurso e eficiência no uso final (Pires & Piccinini, 1998; Araújo, 1997), pois custos distintos, balizados pela escassez do recurso, geram tarifas diferenciadas. A renda é outro critério importante do estabelecimento de custos, pois as demandas são bastante diferenciadas em segmentos sociais distintos, sobretudo em situações de acentuada desigualdade. Nesse caso, a tarifa pode vir a ser um instrumento de redistribuição de renda (tarifa social) (Araújo, 1997). Pires & Piccinini (1998) e Araújo (1997) salientam que uma das principais dificuldades apontadas para a aplicação deste método aos setores de infra-estrutura consiste em compensar custos fixos altos (investimentos na estrutura de fornecimento e acesso) diante de custos marginais decrescentes, o que poderia tornar o serviço deficitário. Como alternativa para reduzir as distorções criadas, a literatura sugere a aplicação de taxações e transferências (taxas neutras, taxas “de acesso” setoriais, “enxugamento” e redistribuição de lucros) ou a aplicação da Regra de Ramsey- Boîteux, buscando o “second best” (segundo ótimo), em que os preços igualam os custos unitários de produção. A solução de Ramsey-Boîteux consiste em distribuir os custos fixos entre os vários produtos oferecidos, atribuindo-lhes aumentos relativos em proporção inversa às elasticidades das demandas dos usuários por cada um deles 23 . O problema com a aplicação das regras compensatórias é a introdução de subsídios cruzados dos menores para os maiores consumidores, e mesmo a exclusão dos segmentos de varia entre 0 e 1 (Pires & Piccinini, 1998). 23 Ver Fiúza & Néri (1998).

40<br />

para investimentos e repasse <strong>de</strong> custos. Pires & Piccinini (1998) relatam que, como<br />

forma <strong>de</strong> compensar estes problemas, Joskow e Schmalensee i<strong>de</strong>alizaram o método<br />

do sliding scale plane 22 , difundido nos EUA, cuja formulação levaria usuários e<br />

concessionários a socializar a diferença entre a taxa <strong>de</strong> retorno <strong>de</strong>sejada (regulada) e<br />

a taxa <strong>de</strong> retorno efetiva (observada na prática). Entretanto, esta variação revelou-se<br />

tão complexa e custosa quanto a original.<br />

2.3.2.2. REGULAÇÃO PELO CUSTO MARGINAL<br />

A tarifação pelo custo marginal, inaugurada na Eletricité <strong>de</strong> France na década<br />

<strong>de</strong> 1950 para superar as limitações do mo<strong>de</strong>lo anterior, do custo do serviço, é oriunda<br />

do pensamento neoclássico da Economia do Bem Estar, que diz que, se não<br />

há distorções na economia, em situação <strong>de</strong> concorrência perfeita, o máximo<br />

exce<strong>de</strong>nte social é obtido quando os preços igualam os custos marginais <strong>de</strong> produção<br />

numa indústria. Sob regulação, a fixação <strong>dos</strong> preços do monopólio nesse patamar<br />

reproduziria condições <strong>de</strong> mercado concorrencial, atingindo maior eficiência<br />

econômica (a<strong>de</strong>rência entre preços e custos, maximização do exce<strong>de</strong>nte social) (Pires<br />

& Piccinini, 1998; Araújo, 1997).<br />

Conceitualmente, custo marginal é o custo incremental <strong>de</strong> fornecer um bem ou<br />

serviço. No caso <strong>dos</strong> <strong>serviços</strong> sujeitos a variação <strong>de</strong> <strong>de</strong>manda no tempo, caso da<br />

energia e saneamento, o custo marginal é <strong>de</strong>composto em custo <strong>de</strong> curto prazo,<br />

relacionado ao custo operacional da produção <strong>de</strong> uma unida<strong>de</strong> adicional do bem ou<br />

serviço, e custo <strong>de</strong> longo prazo, relacionado ao custo incremental ótimo <strong>de</strong> expansão<br />

da indústria, utilizando-se este último como critério para tarifação, a fim <strong>de</strong> tornar os<br />

preços mais estáveis e previsíveis (Araújo, 1997). A <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong>sses custos exige<br />

um conhecimento aprofundado, qualitativo e quantitativo, da <strong>de</strong>manda e do consumo,<br />

<strong>dos</strong> hábitos <strong>de</strong> uso, bem como a evolução <strong>de</strong>sses parâmetros, assumindo especial<br />

22 r e = r i + h (r* - r), on<strong>de</strong>: re - taxa <strong>de</strong> retorno efetiva, a preços atuais; ri - taxa <strong>de</strong> retorno inicial; r* - taxa <strong>de</strong> retorno <strong>de</strong>sejada; h -

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!