Análise comparativa dos serviços públicos de ... - IEE/USP

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21.12.2013 Views

305 justificativas técnicas que ocultem a causa real, bastante prosaica, que é o fato de a provisão de energia elétrica no Brasil, atualmente, nada mais representar que um negócio, e, como tal, vincular-se prioritariamente a interesses financeiros, não se pautando mais pelas demandas da sociedade. Assim é que, segundo Pires et al. (2001), o governo teria alimentado expectativas excessivamente otimistas quanto à entrada de capitais privados no setor elétrico, dimensionando um período de transição insuficiente para coibir a intranqüilidade de investidores. Oliveira et al.(1997), por sua vez, reconhece que os investimentos em geração hidrelétrica não são atraentes bastante para as modalidades de financiamento à disposição, sobretudo o project finance, por suas características de longo tempo de maturação, externalidades ambientais e peculiaridades inerentes a cada empreendimento, que dificultariam a padronização dos contratos. Os projetos em geração termelétrica, que seriam a opção mais atrativa, apresentaram, de imediato, suscetibilidade ao risco cambial, uma vez que a maior parte do combustível, gás natural, é importada e negociada em dólares, de sorte que, também neste caso, os investidores se retraíram (Informe Infra-estrutura, 2001), mas não sem antes pressionar o regulador na tentativa de indexação das tarifas à moeda americana. Enquanto o setor público vem, desde o início da década de 1990, até o presente, sofrendo contingenciamento de recursos (Pires et al., 2001), ficando impedido de realizar os investimentos necessários em função da opção do governo pelas diretrizes do FMI, o BNDES, um banco público, passou a financiar maciçamente os grupos privados, “livres das restrições legais” (Informe Infra-estrutura, 2001). A tabela 3.101 mostra o reflexo das políticas adotadas quando do início dos ajustes econômicos: priorização absoluta do pagamento de juros e abatimento de dívidas e restrição de investimentos ao setor produtivo estatal. 81 Remessa de dividendos, importações de insumos do país de origem, negócios preferenciais com a matriz ou dentro do próprio

306 À guisa de fomento ao investimento privado (que deveria, entusiasticamente, procurar o mercado brasileiro, de acordo com as expectativas do modelo liberal), na segunda etapa do programa de desestatização (governo FHC), foram estabelecidas condições bastante razoáveis para acesso aos financiamentos do BNDES, bem como foi criada uma área específica de energia no Banco para cuidar da carteira de investimentos. Com o advento da crise de escassez de energia em 2001, essas condições foram ainda mais facilitadas, incluindo a ampliação do limite máximo de financiamento pelo BNDES subindo de 35% para 70% (Informe Infra-estrutura, 2001). A figura 3.52 mostra a participação relativa dos segmentos público e privado no volume total de investimentos do setor entre 1995 e 2000. Nota-se que, a despeito de todo estímulo recebido, a soma integral da participação privada chega, no máximo, a 35%, já no final do período registrado. Evidencia-se, também, a queda do volume de investimentos a partir de 1997, como um reflexo da redução da participação do setor público no total. Em 1999, o equilíbrio foi mantido pelo fato de que a queda dos investimentos públicos foi igual ao aumento da participação de produtores independentes de energia (PIE). Entretanto, convém lembrar que parcela significativa do financiamento desses empreendimentos é pública, e efetuada com condições especiais. Segundo Informe Infra-estrutura (2001) e Bicalho & Pinheiro (1999) o BNDES exerce, de fato, a função de principal agente financiador do setor, tanto no âmbito da reforma patrimonial, quanto de novos investimentos realizados pelas empresas privatizadas. A tabela 3.102 apresenta a participação do Banco nos projetos contratados entre 1995 e 2000. Nota-se que o limite de participação de 35% foi respeitado em apenas dois anos, 1996 e 2000. A tabela 3.103 mostra os investimentos realizados apenas pelo grupo Eletrobrás, permitindo verificar que o montante investido é bastante próximo do investimento “privado”, em cada ano. Conclui-se que, ainda que grupo empresarial (Batista, 1994).

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justificativas técnicas que ocultem a causa real, bastante prosaica, que é o fato <strong>de</strong> a<br />

provisão <strong>de</strong> energia elétrica no Brasil, atualmente, nada mais representar que um<br />

negócio, e, como tal, vincular-se prioritariamente a interesses financeiros, não se<br />

pautando mais pelas <strong>de</strong>mandas da socieda<strong>de</strong>.<br />

Assim é que, segundo Pires et al. (2001), o governo teria alimentado<br />

expectativas excessivamente otimistas quanto à entrada <strong>de</strong> capitais priva<strong>dos</strong> no setor<br />

elétrico, dimensionando um período <strong>de</strong> transição insuficiente para coibir a<br />

intranqüilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> investidores. Oliveira et al.(1997), por sua vez, reconhece que os<br />

investimentos em geração hidrelétrica não são atraentes bastante para as<br />

modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> financiamento à disposição, sobretudo o project finance, por suas<br />

características <strong>de</strong> longo tempo <strong>de</strong> maturação, externalida<strong>de</strong>s ambientais e<br />

peculiarida<strong>de</strong>s inerentes a cada empreendimento, que dificultariam a padronização<br />

<strong>dos</strong> contratos. Os projetos em geração termelétrica, que seriam a opção mais atrativa,<br />

apresentaram, <strong>de</strong> imediato, suscetibilida<strong>de</strong> ao risco cambial, uma vez que a maior<br />

parte do combustível, gás natural, é importada e negociada em dólares, <strong>de</strong> sorte que,<br />

também neste caso, os investidores se retraíram (Informe Infra-estrutura, 2001), mas<br />

não sem antes pressionar o regulador na tentativa <strong>de</strong> in<strong>de</strong>xação das tarifas à moeda<br />

americana.<br />

Enquanto o setor público vem, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início da década <strong>de</strong> 1990, até o<br />

presente, sofrendo contingenciamento <strong>de</strong> recursos (Pires et al., 2001), ficando<br />

impedido <strong>de</strong> realizar os investimentos necessários em função da opção do governo<br />

pelas diretrizes do FMI, o BNDES, um banco público, passou a financiar maciçamente<br />

os grupos priva<strong>dos</strong>, “livres das restrições legais” (Informe Infra-estrutura, 2001). A<br />

tabela 3.101 mostra o reflexo das políticas adotadas quando do início <strong>dos</strong> ajustes<br />

econômicos: priorização absoluta do pagamento <strong>de</strong> juros e abatimento <strong>de</strong> dívidas e<br />

restrição <strong>de</strong> investimentos ao setor produtivo estatal.<br />

81 Remessa <strong>de</strong> divi<strong>de</strong>n<strong>dos</strong>, importações <strong>de</strong> insumos do país <strong>de</strong> origem, negócios preferenciais com a matriz ou <strong>de</strong>ntro do próprio

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