Análise comparativa dos serviços públicos de ... - IEE/USP

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21.12.2013 Views

14 causadas pelo atual padrão de consumo, que compromete a existência das gerações futuras, além da necessidade premente de combate à pobreza, levaram à reavaliação e ampliação do significado do termo desenvolvimento. Assim é que hoje se discutem novas teorias e indicadores que expliquem as características e permitam antecipar causas e efeitos do desenvolvimento humano, desenvolvimento social, desenvolvimento sustentável, os quais consideram que a realização de consumo não é a única, nem a prioritária, necessidade humana. No entanto, o consenso está longe de ser alcançado. Segundo Jacobs (1997), o processo de desenvolvimento poderia ocorrer tanto de maneira “natural”, quanto “planejada”. Nesta última categoria, em decorrência, sobretudo, de ações de governo. Os setores de infra-estrutura têm exercido papel estratégico na indução e manutenção do desenvolvimento macroeconômico, planejado, como demonstra a história recente, seja como fornecedores de fatores de produção, como grandes empregadores ou como propulsores das cadeias produtivas e tecnológicas em muitos países. Concomitantemente, a função social de setores como o de transportes, telecomunicações, energia e saneamento básico 1 é inegável, na medida em que criam condições, essenciais, no sentido de valorizar, adequar, e, mesmo, assegurar a existência individual, pela interferência direta sobre o meio e as atividades humanas. O caráter essencial de alguns desses serviços tem determinado sua inclusão na formulação de políticas sociais, que se pretendam amplas, mantidas pelo Estado, de forma a garantir a satisfação das necessidades mínimas das populações, em especial as de baixa renda, promovendo o chamado Welfare State ou, Estado de Bem Estar 2 . 1 Define-se saneamento básico como a prestação dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário, podendo incluir coleta e destinação final de lixo. O conceito atual de saneamento ambiental incorpora, além dos três segmentos mencionados, o controle de vetores e a implementação da drenagem urbana. Neste trabalho, estudar-se-á o saneamento básico (Brasil, 2001; BNDES, 1996, Lei 5.318/67). No setor energético, o objeto de estudo é o segmento de energia elétrica. 2 Ver conceitos e abordagens teóricas em Silva (1999) e Souza (1999)

15 O duplo caráter – econômico e social – dos setores de infra-estrutura, em especial da energia elétrica e do saneamento básico, merece, por si, extenso trabalho de pesquisa. Contudo, características intrínsecas agregam complexidade ao estudo da prestação desses serviços, pelo fato de que constituem indústrias de rede, monopólios naturais em alguns de seus segmentos, e são passíveis de criar externalidades, tanto positivas quanto negativas. Segundo preconiza o próprio pensamento liberal, essas características representam falhas de mercado, donde decorre que, submetê-los unicamente a tais forças resultaria em prejuízos à eficiência da economia e à sociedade como um todo (Mc Cain, 2000; Fiani, 1998). O paradigma econômico disseminado globalmente pelos países desenvolvidos, a partir dos anos 1970 até o momento atual, retoma o pensamento liberal, caracterizando-se pela exacerbação do papel do mercado, em detrimento do Estado, na promoção do desenvolvimento econômico. Por força de processos históricos e das pressões exercidas por relações de comércio internacional, países em desenvolvimento, especialmente os da América Latina, e sobretudo o Brasil, têm-se pautado por princípios semelhantes, pelo menos nos últimos dez anos. Dentre esses princípios destaca-se, por seu interesse para os objetivos desta tese, a redução do papel do Estado na economia a um mínimo, através, entre outras medidas, da privatização dos serviços públicos de infra-estrutura. Entretanto, as condições resultantes das características estruturais do processo de crescimento econômico do Brasil trazem inquietação acerca das conseqüências da adoção das medidas liberais sobre a promoção do Desenvolvimento no país, hoje e para o futuro. 2.1.1. A INFLUÊNCIA DO CONTEXTO ECONÔMICO E INTERNACIONAL Os países que ficaram à margem dos processos de industrialização e expansão de mercados no início do capitalismo industrial, hoje permanecem

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causadas pelo atual padrão <strong>de</strong> consumo, que compromete a existência das gerações<br />

futuras, além da necessida<strong>de</strong> premente <strong>de</strong> combate à pobreza, levaram à<br />

reavaliação e ampliação do significado do termo <strong>de</strong>senvolvimento. Assim é que hoje<br />

se discutem novas teorias e indicadores que expliquem as características e permitam<br />

antecipar causas e efeitos do <strong>de</strong>senvolvimento humano, <strong>de</strong>senvolvimento social,<br />

<strong>de</strong>senvolvimento sustentável, os quais consi<strong>de</strong>ram que a realização <strong>de</strong> consumo<br />

não é a única, nem a prioritária, necessida<strong>de</strong> humana. No entanto, o consenso está<br />

longe <strong>de</strong> ser alcançado.<br />

Segundo Jacobs (1997), o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento po<strong>de</strong>ria ocorrer tanto<br />

<strong>de</strong> maneira “natural”, quanto “planejada”. Nesta última categoria, em <strong>de</strong>corrência,<br />

sobretudo, <strong>de</strong> ações <strong>de</strong> governo. Os setores <strong>de</strong> infra-estrutura têm exercido papel<br />

estratégico na indução e manutenção do <strong>de</strong>senvolvimento macroeconômico,<br />

planejado, como <strong>de</strong>monstra a história recente, seja como fornecedores <strong>de</strong> fatores <strong>de</strong><br />

produção, como gran<strong>de</strong>s empregadores ou como propulsores das ca<strong>de</strong>ias produtivas<br />

e tecnológicas em muitos países. Concomitantemente, a função social <strong>de</strong> setores<br />

como o <strong>de</strong> transportes, telecomunicações, energia e saneamento básico 1 é inegável,<br />

na medida em que criam condições, essenciais, no sentido <strong>de</strong> valorizar, a<strong>de</strong>quar, e,<br />

mesmo, assegurar a existência individual, pela interferência direta sobre o meio e as<br />

ativida<strong>de</strong>s humanas. O caráter essencial <strong>de</strong> alguns <strong>de</strong>sses <strong>serviços</strong> tem <strong>de</strong>terminado<br />

sua inclusão na formulação <strong>de</strong> políticas sociais, que se pretendam amplas, mantidas<br />

pelo Estado, <strong>de</strong> forma a garantir a satisfação das necessida<strong>de</strong>s mínimas das<br />

populações, em especial as <strong>de</strong> baixa renda, promovendo o chamado Welfare State<br />

ou, Estado <strong>de</strong> Bem Estar 2 .<br />

1 Define-se saneamento básico como a prestação <strong>dos</strong> <strong>serviços</strong> <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong> água e esgotamento sanitário, po<strong>de</strong>ndo incluir<br />

coleta e <strong>de</strong>stinação final <strong>de</strong> lixo. O conceito atual <strong>de</strong> saneamento ambiental incorpora, além <strong>dos</strong> três segmentos menciona<strong>dos</strong>, o<br />

controle <strong>de</strong> vetores e a implementação da drenagem urbana. Neste trabalho, estudar-se-á o saneamento básico (Brasil, 2001;<br />

BNDES, 1996, Lei 5.318/67). No setor energético, o objeto <strong>de</strong> estudo é o segmento <strong>de</strong> energia elétrica.<br />

2 Ver conceitos e abordagens teóricas em Silva (1999) e Souza (1999)

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