Análise comparativa dos serviços públicos de ... - IEE/USP

Análise comparativa dos serviços públicos de ... - IEE/USP Análise comparativa dos serviços públicos de ... - IEE/USP

21.12.2013 Views

115 abastecimento de Henrique e Saturnino. No entanto, em 1927, em meio a expedientes que incluíram o afastamento de Henrique Novais das obras, já iniciadas, de represamento do Tietê para fins de abastecimento, a Light impôs suas pretensões 18 e determinou o uso dado àqueles recursos. E “nunca mais se falou no assunto” (Branco, 1975). 3.2.5.4. PARTICIPAÇÃO POPULAR E PODER LOCAL Do ponto de vista do capital estrangeiro que se estabeleceu nos setores de energia e saneamento, havia pouca razão para queixas, uma vez que a gestão dos serviços lhes foi entregue de maneira bastante despojada pelo Estado brasileiro, sob a forma de contratos de concessão, cujos termos eram por eles estabelecidos. Durante todo o Segundo Reinado até, praticamente, o fim da República Velha, os concessionários exerceram suas prerrogativas sem nenhum controle, em virtude da inexistência de uma infra-estrutura legal e institucional que amparasse as necessidades da sociedade brasileira. Os conflitos emergiram da insatisfação da população com este estado de coisas, agravado pelo contexto social, econômico e político que culminou à época da I guerra mundial. Como mencionado, a prestação dos serviços dava-se aos que pudessem pagar e as “políticas” de expansão eram determinadas pelos interesses da burguesia local (industrial e agrícola) e do capital estrangeiro, na maioria das vezes, em comum acordo. Períodos de escassez de água de abastecimento e energia com subseqüentes racionamentos, preços determinados pelos capitalistas e ajustados pelo valor do ouro e falta de acesso universal, levaram, pouco a pouco, a uma reação, inicialmente, das 18 Deve-se ressaltar que mesmo entre os sanitaristas houve um acirrado debate nas tribunas e na imprensa, com árduos defensores do

116 parcelas mais esclarecidas da sociedade, sobretudo de uma classe local de cientistas que começava a ganhar corpo e influência. Porém, em função da truculência do Estado sobre as classes baixas, em razão das primeiras reformas sanitárias, que à falta de condições em que viviam atribuíam a permanente situação de “imundície” e proliferação de doenças das áreas centrais das cidades, expulsando-as para as periferias, destruindo-lhes as habitações e impondo-lhes a vacinação, também gerou reações populares intensas, que culminaram na Revolta da Vacina. A apatia das classes baixas diante de uma situação de crescente exclusão foi finalmente rompida. Do somatório das reações de indignação e ações da sociedade civil, foram-se criando condições para que se formassem, finalmente, instituições municipais, estaduais e federais, que se responsabilizaram pela condução das políticas de energia e de saneamento, assimilando, pouco a pouco, as necessidades coletivas. O ápice desse processo foi o encampamento paulatino de muitas das companhias privadas de água pelo Estado, a promulgação do Código de Águas, que viria a ter grande importância na ordenação da gestão do setor elétrico, cuja concepção e elaboração, permeada por intensos debates, datava de 1907, por Alfredo Valadão. Um resultado adverso desse processo foi a perda gradual da autonomia municipal na gestão dos serviços de saneamento básico e de energia elétrica, pelo menos no que tange aos empreendimentos locais, em face dos parcos recursos institucionais, legais, técnicos, econômicos e financeiros, frente aos graves problemas que exigiam vultosos recursos e ação coordenada, ou frente aos capitalistas gigantes, em flagrante vantagem. Dessa forma, este período inicial, de formação dos setores de energia e saneamento, findou com a decadência, ou o questionamento, do modelo privatista e extremamente capitalista que caracterizou esta origem, e com o clamor social por maior participação do governo na condução das políticas de gestão, regulação e tratamento de águas poluídas e defensores da captação distante. Para detalhes, ver Vargas (1994).

116<br />

parcelas mais esclarecidas da socieda<strong>de</strong>, sobretudo <strong>de</strong> uma classe local <strong>de</strong> cientistas<br />

que começava a ganhar corpo e influência. Porém, em função da truculência do<br />

Estado sobre as classes baixas, em razão das primeiras reformas sanitárias, que à<br />

falta <strong>de</strong> condições em que viviam atribuíam a permanente situação <strong>de</strong> “imundície” e<br />

proliferação <strong>de</strong> doenças das áreas centrais das cida<strong>de</strong>s, expulsando-as para as<br />

periferias, <strong>de</strong>struindo-lhes as habitações e impondo-lhes a vacinação, também gerou<br />

reações populares intensas, que culminaram na Revolta da Vacina. A apatia das<br />

classes baixas diante <strong>de</strong> uma situação <strong>de</strong> crescente exclusão foi finalmente rompida.<br />

Do somatório das reações <strong>de</strong> indignação e ações da socieda<strong>de</strong> civil, foram-se<br />

criando condições para que se formassem, finalmente, instituições municipais,<br />

estaduais e fe<strong>de</strong>rais, que se responsabilizaram pela condução das políticas <strong>de</strong> energia<br />

e <strong>de</strong> saneamento, assimilando, pouco a pouco, as necessida<strong>de</strong>s coletivas. O ápice<br />

<strong>de</strong>sse processo foi o encampamento paulatino <strong>de</strong> muitas das companhias privadas <strong>de</strong><br />

água pelo Estado, a promulgação do Código <strong>de</strong> Águas, que viria a ter gran<strong>de</strong><br />

importância na or<strong>de</strong>nação da gestão do setor elétrico, cuja concepção e elaboração,<br />

permeada por intensos <strong>de</strong>bates, datava <strong>de</strong> 1907, por Alfredo Valadão.<br />

Um resultado adverso <strong>de</strong>sse processo foi a perda gradual da autonomia<br />

municipal na gestão <strong>dos</strong> <strong>serviços</strong> <strong>de</strong> saneamento básico e <strong>de</strong> energia elétrica, pelo<br />

menos no que tange aos empreendimentos locais, em face <strong>dos</strong> parcos recursos<br />

institucionais, legais, técnicos, econômicos e financeiros, frente aos graves problemas<br />

que exigiam vultosos recursos e ação coor<strong>de</strong>nada, ou frente aos capitalistas gigantes,<br />

em flagrante vantagem.<br />

Dessa forma, este período inicial, <strong>de</strong> formação <strong>dos</strong> setores <strong>de</strong> energia e<br />

saneamento, findou com a <strong>de</strong>cadência, ou o questionamento, do mo<strong>de</strong>lo privatista e<br />

extremamente capitalista que caracterizou esta origem, e com o clamor social por<br />

maior participação do governo na condução das políticas <strong>de</strong> gestão, regulação e<br />

tratamento <strong>de</strong> águas poluídas e <strong>de</strong>fensores da captação distante. Para <strong>de</strong>talhes, ver Vargas (1994).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!