Análise comparativa dos serviços públicos de ... - IEE/USP

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111 Nos períodos mais prósperos da cafeicultura e início da industrialização, a mão-de-obra do imigrante era preferida à do trabalhador local, por sua capacitação técnica. Eles predominaram em praticamente todos os setores econômicos em expansão, da construção civil à indústria, onde rapidamente, por seu know-how, passaram, eles mesmos, a constituir, em função de seus hábitos e estilo de vida, manufaturas de bens que o Brasil não produzia, tornando-se, assim, industriais. Após os anos de 1930, a mão-de-obra imigrante foi substituída pela migrante, num êxodo rural resultante da combinação perversa entre o crescimento e “prosperidade” das metrópoles e a miséria do interior. Destarte, a qualificação permanecia baixa, bem como a produtividade (Katinsky, 1994; Nagamini, 1994). Esse processo foi característico do período, bem como a execução das tarefas de responsabilidade técnica e gerencial por estrangeiros: americanos, canadenses, ingleses, até que, por uma série de fatores, o saber nacional fosse se constituindo. De certa forma, o processo de industrialização impulsionou o sistema público de educação, pois requeria mão de obra qualificada e o operário brasileiro caracterizavase por uma baixa produtividade, sobretudo pelo elevadíssimo índice de analfabetismo (Katinsky, 1994). O benefício da renda indireta, reconhecidamente proporcionado às camadas de baixa renda pela provisão pública de serviços de infra-estrutura, não existia nesse período, uma vez que a exploração era comercial e, portanto, destinada às áreas e classes que pudessem adquiri-los. Ao contrário, o que se deu foi uma ampliação da exclusão social, pois a modernização urbana restringiu-se aos bairros nobres que começavam a se formar, ocupados pela elite burguesa agrícola e industrial, e aos centros das cidades, áreas de comércio e indústria. A massa de ex-escravos e imigrantes proletários, acrescida dos migrantes que saíam das áreas agrícolas em decadência rumo ao “progresso” urbano, era cada vez mais intensamente expulsa para as periferias e morros, numa verdadeira favelização (Rezende, 2000; Silva, 1998;

112 Nagamini, 1994). 3.2.5.2. SAÚDE Rezende (2000), em sua detalhada reconstituição histórica das origens do setor de saneamento e saúde pública, relata que as condições de insalubridade e ausência de um sistema de saúde pública que caracterizavam o período levaram a uma situação tal que as epidemias de cólera, varíola, febre amarela, ancilostomíase, malária, ocorriam em praticamente todo o território, fazendo número elevado de vítimas. Observações importantes destacadas pela autora dizem respeito à mudança gradativa de paradigma sobre a forma como se dava o contágio, creditada, anteriormente, aos miasmas, ao meio, evoluindo em direção à teoria do contágio direto. Esta evolução deu-se no âmbito científico e tecnológico, com as descobertas da bacteriologia e microbiologia, trazidas do estrangeiro para o Brasil pelos médicos e engenheiros formados fora, bem como no âmbito social, pois as doenças não privilegiavam classe social ou região do país. Essa constatação, da interdependência social explicitada pela doença, levou, obviamente num processo socialmente construído, com vários interesses em jogo, a uma completa reestruturação da posição do Estado e das elites que o comandavam, em direção ao seu papel na garantia dos direitos coletivos e na instituição de um poder público de fato. A saúde pública catalisou, assim, o nascimento de uma nova estrutura de poder no Estado brasileiro, centralizada, nacionalista e transcendendo a realização de ações pontuais, motivadas exclusivamente pelo interesse econômico. 3.2.5.3. GESTÃO DOS RECURSOS E CONFLITOS Desde o reconhecimento do potencial hídrico detido pelo Brasil, suas quedas d’água e sobretudo com a emergência do processo de industrialização e da

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Nos perío<strong>dos</strong> mais prósperos da cafeicultura e início da industrialização, a<br />

mão-<strong>de</strong>-obra do imigrante era preferida à do trabalhador local, por sua capacitação<br />

técnica. Eles predominaram em praticamente to<strong>dos</strong> os setores econômicos em<br />

expansão, da construção civil à indústria, on<strong>de</strong> rapidamente, por seu know-how,<br />

passaram, eles mesmos, a constituir, em função <strong>de</strong> seus hábitos e estilo <strong>de</strong> vida,<br />

manufaturas <strong>de</strong> bens que o Brasil não produzia, tornando-se, assim, industriais. Após<br />

os anos <strong>de</strong> 1930, a mão-<strong>de</strong>-obra imigrante foi substituída pela migrante, num êxodo<br />

rural resultante da combinação perversa entre o crescimento e “prosperida<strong>de</strong>” das<br />

metrópoles e a miséria do interior. Destarte, a qualificação permanecia baixa, bem<br />

como a produtivida<strong>de</strong> (Katinsky, 1994; Nagamini, 1994).<br />

Esse processo foi característico do período, bem como a execução das tarefas<br />

<strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> técnica e gerencial por estrangeiros: americanos, cana<strong>de</strong>nses,<br />

ingleses, até que, por uma série <strong>de</strong> fatores, o saber nacional fosse se constituindo. De<br />

certa forma, o processo <strong>de</strong> industrialização impulsionou o sistema público <strong>de</strong><br />

educação, pois requeria mão <strong>de</strong> obra qualificada e o operário brasileiro caracterizavase<br />

por uma baixa produtivida<strong>de</strong>, sobretudo pelo elevadíssimo índice <strong>de</strong><br />

analfabetismo (Katinsky, 1994).<br />

O benefício da renda indireta, reconhecidamente proporcionado às camadas<br />

<strong>de</strong> baixa renda pela provisão pública <strong>de</strong> <strong>serviços</strong> <strong>de</strong> infra-estrutura, não existia nesse<br />

período, uma vez que a exploração era comercial e, portanto, <strong>de</strong>stinada às áreas e<br />

classes que pu<strong>de</strong>ssem adquiri-los. Ao contrário, o que se <strong>de</strong>u foi uma ampliação da<br />

exclusão social, pois a mo<strong>de</strong>rnização urbana restringiu-se aos bairros nobres que<br />

começavam a se formar, ocupa<strong>dos</strong> pela elite burguesa agrícola e industrial, e aos<br />

centros das cida<strong>de</strong>s, áreas <strong>de</strong> comércio e indústria. A massa <strong>de</strong> ex-escravos e<br />

imigrantes proletários, acrescida <strong>dos</strong> migrantes que saíam das áreas agrícolas em<br />

<strong>de</strong>cadência rumo ao “progresso” urbano, era cada vez mais intensamente expulsa<br />

para as periferias e morros, numa verda<strong>de</strong>ira favelização (Rezen<strong>de</strong>, 2000; Silva, 1998;

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