Avaliação e reparação do dano patrimonial e não patrimonial (no ...
Avaliação e reparação do dano patrimonial e não patrimonial (no ...
Avaliação e reparação do dano patrimonial e não patrimonial (no ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
J oa qui m J os é de S ous a Di ni s 56<br />
sexual ou mesmo a impotência só haverá lugar a indemnização por <strong>da<strong>no</strong></strong>s<br />
<strong>não</strong> patrimoniais?<br />
Foi precisamente para obviar a situações destas que o grupo de trabalho<br />
atrás referi<strong>do</strong> procurou que o <strong>da<strong>no</strong></strong> corporal, susceptível de uma tripla avaliação,<br />
se tornasse independente e saísse da gaveta para onde o legisla<strong>do</strong>r o remeteu<br />
e onde permanecia envergonhadamente escondi<strong>do</strong>. É que o <strong>da<strong>no</strong></strong> corporal<br />
deve ser visto: 1) como <strong>da<strong>no</strong></strong> <strong>não</strong> <strong>patrimonial</strong>, na sua vertente de <strong>da<strong>no</strong></strong> moral<br />
e estético ou enquanto gera<strong>do</strong>r de esforços acresci<strong>do</strong>s para manutenção <strong>do</strong><br />
mesmo rendimento; 2) ou como <strong>da<strong>no</strong></strong> <strong>patrimonial</strong> futuro, sempre que seja<br />
gera<strong>do</strong>r de rebate profissional concreto, ocasionan<strong>do</strong> perda <strong>do</strong>s rendimentos<br />
<strong>do</strong> trabalho; 3) ou como <strong>da<strong>no</strong></strong> a se, biológico, enquanto violação <strong>do</strong> direito<br />
ou ofensa à integridade físio-psíquica.<br />
Ora o <strong>da<strong>no</strong></strong> corporal é trata<strong>do</strong> na legislação civil portuguesa, em primeira<br />
linha na esfera <strong>do</strong>s <strong>da<strong>no</strong></strong>s <strong>não</strong> patrimoniais e depois em parte e apenas<br />
reflexamente <strong>no</strong> campo <strong>patrimonial</strong>. Pois bem. Manten<strong>do</strong>-se embora estas<br />
vertentes <strong>patrimonial</strong> e <strong>não</strong> <strong>patrimonial</strong>, claramente indemnizáveis, o que<br />
se fez foi auto<strong>no</strong>mizar o <strong>da<strong>no</strong></strong> corporal também naquele aponta<strong>do</strong> tertium<br />
genus biológico, logo também indemnizável.<br />
Países como Espanha, França e Itália resolveram o problema recorren<strong>do</strong> a<br />
tabelas ou barèmes, como atrás referi, onde são escalpeliza<strong>do</strong>s to<strong>do</strong>s os <strong>da<strong>no</strong></strong>s<br />
corporais, e alguns marcadamente <strong>não</strong> patrimoniais mas que se podem quantificar<br />
(ex. o quantum <strong>do</strong>loris e o prejuízo estético), outros absolutamente <strong>não</strong><br />
patrimoniais (ex. perda <strong>do</strong> direito à vida, sofrimento sofri<strong>do</strong> pela vítima antes<br />
de falecer, sofrimento <strong>do</strong>s familiares). Ficam de fora os <strong>da<strong>no</strong></strong>s patrimoniais<br />
que, por serem avalia<strong>do</strong>s em concreto, <strong>não</strong> são baremizáveis (permita-se-me<br />
o neologismo) e os restantes <strong>da<strong>no</strong></strong>s <strong>não</strong> patrimoniais. 6<br />
Hoje, a problemática da avaliação e indemnização <strong>do</strong> <strong>da<strong>no</strong></strong> corporal, na<br />
sua tripla vertente, está resolvida (em minha opinião mal resolvida), à luz<br />
das tabelas constantes <strong>do</strong>s diplomas legais atrás cita<strong>do</strong>s e que, mais adiante,<br />
veremos em porme<strong>no</strong>r.<br />
Note-se que a Portaria nº 377/2008 na conjugação <strong>do</strong>s arts. 2º als. c) e<br />
d), 3º als. b), c) e d) e 10º nº 1 já estabelece que a proposta razoável relativamente<br />
aos <strong>da<strong>no</strong></strong>s patrimoniais emergentes deve contemplar o pagamento<br />
integral <strong>do</strong>s rendimentos perdi<strong>do</strong>s, decorrentes da incapacidade temporária<br />
<strong>do</strong> lesa<strong>do</strong> e que sejam fiscalmente <strong>do</strong>cumentáveis, bem como das despesas<br />
médicas e medicamentosas, refeições, estadas e transportes, desde que sejam<br />
apresenta<strong>do</strong>s os originais <strong>do</strong>s respectivos comprovativos, o <strong>da<strong>no</strong></strong> biológico<br />
e as perdas salariais.<br />
6<br />
O Parlamento Europeu aprovou em Junho de 2004 o “Barème médical européen d’évaluation<br />
des atteintes à l’intégrité physique et psyquique”.