DÂS RELAÇÕES FAMILIÄRES DOS ESCRAVOS NO ... - DSpace

"E. Os escravos eram casados, no civil, na Igreja?
"M.C. Não. Aquele tempo não havia casamento. Aquele
tempo havia, muntá [...]
"E. Cada escravo só tinha uma mulher?
"M.C. Não! Ué! Os escravos tinha [...] as negras [...]
as mulhé dos escravo e era mulhé de quem o senhor
quisesse, sabe? o menos lá na fazenda do Barão
Salgado da Rocha era assim. Eu nunca vi casamento
lá enquanto, di idade, di três mês que eu fui pra
lá c'a minha mãe [...] até dezoito anos e meio
[...]".ao (Maria Chatinha)
"E. A criança era separada dos pais?
"M. [...] o pai e a mãe via quando era pequeno. Depois
eles tiravam, traziam. E o pai não tinha direito
mais. Nem o pai, nem a mãe, porque os pai não
governava nem o que tinha [...].
"E. Qual era a re 1 igião dos escravos? Eles eram
católicos?
"M. Catól icos? Ah! eu não tô contando pro senhor
qu'era mesmo c'uma boiada do campo. Não tinha
nenhuma re 1igião. Tinham, mas era a religião de
Assatã [...]
"E. Se algum escravo qui sesse casar com uma escrava,
da mesma fazenda, podia?
"M. Não tinha casamento, naquele tempo! Não tinha. O
chefe. Não era casado. Porque é mesmo que u'a
criação que o senhor vê, aí". 31 (Mariano Pereira
dos Santos)
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O controle sobre essas vidas era exercido de forma
cabal: "uma boiada do campo". Mas um filho, a mãe, um irmão são
provas de que os escravos quase sempre tinham alguém por perto.
E, apesar de lhes ter sido tão difícil conseguir uma família
legalizada, se por família se entender o mais simples
grupamento humano - mãe e filho; companheira e companheiro -, a
família escrava persistia em existir, ainda que na forma
"juntá, muntá"...