Sociologia
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Antonio Carlos Banzato A. Santos<br />
Rafael Lopes Sousa<br />
<strong>Sociologia</strong><br />
Revisada por Rafael Lopes Sousa (setembro/2012)
APRESENTAÇÃO<br />
É com satisfação que a Unisa Digital oferece a você, aluno(a), esta apostila de <strong>Sociologia</strong>, parte integrante<br />
de um conjunto de materiais de pesquisa voltado ao aprendizado dinâmico e autônomo que a<br />
educação a distância exige. O principal objetivo desta apostila é propiciar aos(às) alunos(as) uma apresentação<br />
do conteúdo básico da disciplina.<br />
A Unisa Digital oferece outras formas de solidificar seu aprendizado, por meio de recursos multidisciplinares,<br />
como chats, fóruns, aulas web, material de apoio e e-mail.<br />
Para enriquecer o seu aprendizado, você ainda pode contar com a Biblioteca Virtual: www.unisa.br,<br />
a Biblioteca Central da Unisa, juntamente às bibliotecas setoriais, que fornecem acervo digital e impresso,<br />
bem como acesso a redes de informação e documentação.<br />
Nesse contexto, os recursos disponíveis e necessários para apoiá-lo(a) no seu estudo são o suplemento<br />
que a Unisa Digital oferece, tornando seu aprendizado eficiente e prazeroso, concorrendo para<br />
uma formação completa, na qual o conteúdo aprendido influencia sua vida profissional e pessoal.<br />
A Unisa Digital é assim para você: Universidade a qualquer hora e em qualquer lugar!<br />
Unisa Digital
SUMÁRIO<br />
INTRODUÇÃO................................................................................................................................................ 5<br />
1 INTRODUÇÃO À SOCIOLOGIA...................................................................................................... 7<br />
1.1 O Nascimento da <strong>Sociologia</strong>........................................................................................................................................8<br />
1.2 O Contexto do Pensamento Positivista....................................................................................................................8<br />
1.3 Os Fundamentos do Positivismo................................................................................................................................9<br />
1.4 Estratificação da Sociedade Positivista....................................................................................................................9<br />
1.5 Resumo do Capítulo.....................................................................................................................................................11<br />
1.6 Atividades Propostas....................................................................................................................................................11<br />
2 A SOCIOLOGIA DE DURKHEIM................................................................................................... 13<br />
2.1 A Objetividade do Fato Social...................................................................................................................................14<br />
2.2 A Consciência Coletiva................................................................................................................................................14<br />
2.3 A Escola de Frankfurt....................................................................................................................................................15<br />
2.4 A Indústria Cultural.......................................................................................................................................................15<br />
2.5 Cultura de Massa............................................................................................................................................................16<br />
2.6 Resumo do Capítulo.....................................................................................................................................................18<br />
2.7 Atividades Propostas....................................................................................................................................................18<br />
3 ESCOLAS SOCIOLÓGICAS.............................................................................................................. 19<br />
3.1 Escola Sociológica Europeia......................................................................................................................................19<br />
3.2 <strong>Sociologia</strong> Alemã: a Contribuição de Max Weber.............................................................................................21<br />
3.3 Resumo do Capítulo.....................................................................................................................................................22<br />
3.4 Atividades Propostas....................................................................................................................................................22<br />
4 A SOCIEDADE SOB UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA................................................... 23<br />
4.1 Resumo do Capítulo.....................................................................................................................................................24<br />
4.2 Atividades Propostas....................................................................................................................................................24<br />
5 KARL MARX E A HISTÓRIA DA EXPLORAÇÃO DO HOMEM.................................... 25<br />
5.1 O Método do Pensamento Marxista......................................................................................................................26<br />
5.2 A Práxis..............................................................................................................................................................................26<br />
5.3 A Mais-Valia......................................................................................................................................................................27<br />
5.4 Modos de Produção.....................................................................................................................................................28<br />
5.5 Resumo do Capítulo.....................................................................................................................................................30<br />
5.6 Atividades Propostas....................................................................................................................................................30<br />
6 CONCEITOS DE SOCIOLOGIA....................................................................................................... 31<br />
6.1 Estrutura Social...............................................................................................................................................................31<br />
6.2 Status e Papéis................................................................................................................................................................32<br />
6.3 Relações Sociais.............................................................................................................................................................32<br />
6.4 Grupos...............................................................................................................................................................................33<br />
6.5 Fenômenos Sociais.......................................................................................................................................................34
6.6 Relações Sociais.............................................................................................................................................................35<br />
6.7 Fim ou Objetivos da <strong>Sociologia</strong>...............................................................................................................................35<br />
6.8 Teoria Sociológica Geral..............................................................................................................................................36<br />
6.9 Teorias Sociológicas Especiais..................................................................................................................................38<br />
6.10 Pesquisas Sociológicas Concretas........................................................................................................................38<br />
6.11 Leis Sociais.....................................................................................................................................................................39<br />
6.12 Processo Social.............................................................................................................................................................40<br />
6.13 Teoria do Indivíduo Social........................................................................................................................................41<br />
6.14 Fato Social......................................................................................................................................................................41<br />
6.15 Ideologia.........................................................................................................................................................................42<br />
6.16 Alienação........................................................................................................................................................................43<br />
6.17 Resumo do Capítulo..................................................................................................................................................45<br />
6.18 Atividades Propostas.................................................................................................................................................45<br />
7 GLOBALIZAÇÃO.................................................................................................................................... 47<br />
7.1 Histórico............................................................................................................................................................................47<br />
7.2 Globalização e/ou Mundialização...........................................................................................................................48<br />
7.3 Meio Ambiente...............................................................................................................................................................50<br />
7.4 Resumo do Capítulo.....................................................................................................................................................52<br />
7.5 Atividades Propostas....................................................................................................................................................52<br />
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................................ 53<br />
RESPOSTAS COMENTADAS DAS ATIVIDADES PROPOSTAS...................................... 55<br />
REFERÊNCIAS.............................................................................................................................................. 57
INTRODUÇÃO<br />
Caro(a) aluno(a),<br />
Bem-vindo(a) a esta nova modalidade de aprendizado.<br />
A <strong>Sociologia</strong> possui uma quantidade enorme de pensadores. O objetivo geral de nosso estudo é<br />
problematizar e confrontar as ideias, conceitos e teorias de alguns importantes pensadores que contribuíram<br />
para a afirmação da Ciência Sociológica. Esperamos, dessa maneira, fornecer a você um panorama<br />
do pensamento sociológico desde o seu surgimento até os nossos dias.<br />
Esta apostila e a disciplina, como um todo, buscam detalhar o contexto em que surgiu a disciplina<br />
<strong>Sociologia</strong> e o legado que ela deixou para o mundo contemporâneo, repercutida na obra de seus principais<br />
teóricos: Comte, Durkheim, Weber e Marx. Em seguida, analisaremos o desdobramento dos conceitos<br />
das obras de cada um desses pensadores. A importância, a influência e que tipo de interferência<br />
exerceu no modo de ser, pensar e agir do homem contemporâneo.<br />
Nesse sentido, a apostila está organizada de forma a promover sempre um debate sobre, e com, os<br />
autores, além de mostrar as transformações metodológicas e teóricas que as mesmas sofreram ao longo<br />
do tempo. O assunto por ela abordado tem, assim, uma relevante importância para a compressão das relações<br />
humanas em diferentes momentos históricos. Desde o século XIX, quando o projeto de sociedade<br />
burguesa estava sendo engendrado, até o início do século XXI, quando esse projeto foi definitivamente<br />
consolidado, nós temos o auxílio teórico dos mais diferentes segmentos da sociologia para pensar relações<br />
e o convívio do homem em sociedade. Nesse percurso, as contribuições de Augusto Comte, buscando<br />
fundamentar a importância da técnica e da ciência nos primórdios do mundo urbano-industrial,<br />
foram fundamentais. Em seguida, as análises críticas que Karl Marx faz desse mundo urbano-industrial<br />
apontam para uma nova conformação social: a hegemonia burguesa. Max Weber é outro importante<br />
autor que procura também estender o alcance das análises sobre o mundo burguês. Introduz, assim, no<br />
campo sociológico uma análise inovadora que relaciona o desenvolvimento do capitalismo à religião<br />
protestante. Émile Durkheim é outro importante autor que, com suas análises sobre os fenômenos dos<br />
fatos sociais, lançou luz também para uma melhor compreensão das relações do homem em sociedade.<br />
O estudo aprofundado desses autores subsidiará as nossas investigações sobre os temas mais urgentes<br />
do mundo contemporâneo, como, por exemplo, o neoliberalismo e suas consequências humanas<br />
e econômicas.<br />
Será um prazer acompanhá-lo(a) ao longo deste percurso. Esperamos que, ao final dele, você seja<br />
um cidadão mais pleno de seus direitos e mais consciente de seus deveres, só assim construiremos uma<br />
sociedade mais plural e democrática onde a diversidade e as diferenças sociais, étnicas, culturais e religiosas<br />
serão respeitadas.<br />
Antonio Carlos Banzato A. Santos<br />
Rafael Lopes de Sousa<br />
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />
5
1<br />
INTRODUÇÃO À SOCIOLOGIA<br />
Caro(a) aluno(a),<br />
Neste capítulo abordaremos o tema do<br />
positivismo e a sua importância para as ciências<br />
humanas. Esperamos que ao final dele você compreenda<br />
a importância desse sistema de pensamento<br />
para a afirmação das ciências humanas e<br />
a influência que exerceu sobre a organização das<br />
sociedades ocidentais. Vejamos então as suas<br />
principais contribuições.<br />
A <strong>Sociologia</strong> é uma ciência da observação.<br />
Durante milhares de anos, os homens vêm refletindo<br />
e tentando compreender o comportamento<br />
de seus semelhantes. As primeiras tentativas<br />
de compreender a ação humana esbarraram-se,<br />
todavia, em interpretações teológicas, mitológicas<br />
e muitas vezes fantasiosas. Assim, para os<br />
gregos, os fenômenos “sociais” tinham uma base<br />
de explicação mitológica, isto é, Zeus, senhor dos<br />
homens e dos deuses, era quem mantinha a ordem<br />
do mundo moral e físico. Na Idade Média,<br />
os acontecimentos sociais estavam, por sua vez,<br />
relacionados a um princípio teológico que cingia<br />
a liberdade do indivíduo, visto que as explicações<br />
para todas as mazelas sociais estavam fundamentadas<br />
no discurso da vontade “divina”. Obviamente,<br />
o homem sempre buscou escapar desses pensamentos<br />
totalizantes. Foi essa inquietação, aliás,<br />
que fez o homem avançar no caminho da ciência.<br />
De tal sorte que no século XVIII, aproveitando-se<br />
do capital cultural das gerações anteriores, o homem<br />
inaugura uma nova fase do pensamento crítico<br />
e estabelece novos parâmetros para explicar<br />
os fenômenos sociais.<br />
Nessa nova conjuntura, merece destaque<br />
Giambattista Vico, que escreve a obra: A Nova<br />
Ciência. Nessa obra, Vico afirma que a sociedade<br />
subordina-se a leis definidas, que podem ser descobertas<br />
pelo estudo e pela observação objetiva.<br />
Entre outras contribuições, afirma: “o mundo social<br />
é obra do homem”. Podemos entrever nessa<br />
afirmação certo distanciamento das questões<br />
mitológicas e o aprofundamento das reflexões<br />
contra a interferência divina sobre a vida e o cotidiano<br />
do homem. Tempos depois, Jean-Jacques<br />
Rousseau reconhece que a sociedade tem uma<br />
influência decisiva sobre a vida do indivíduo. Em<br />
sua obra O Contrato Social afirma: “O homem nasce<br />
puro, a sociedade é que o corrompe”. Em outras<br />
palavras, Rousseau estabelece que o homem<br />
é um ser social.<br />
Conforme você pode perceber, as bases<br />
para a constituição do pensamento sociológico<br />
estavam, portanto, dadas. O fundamental agora<br />
era organizar para, em seguida, oferecer um status<br />
científico para essa nova maneira de pensar as<br />
relações humanas. Essa preocupação intensificar-<br />
-se-ia no século XIX, quando autores, como Augusto<br />
Comte, Émile Durkheim, Max Weber e Karl<br />
Marx, estabelecem critérios mais objetivos para<br />
investigar os fenômenos sociais, emprestando a<br />
estes um caráter verdadeiramente científico. Esses<br />
quatro pensadores são considerados os principais<br />
representantes da <strong>Sociologia</strong> Clássica. O<br />
objetivo deste curso é oferecer ao aluno elementos<br />
para a compreensão de alguns dos conceitos<br />
criados por esses autores. Em seguida, pretendemos<br />
verificar os desdobramentos desses conceitos<br />
e a interferência que eles exercem na organização<br />
da sociedade contemporânea.<br />
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />
7
Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa<br />
1.1 O Nascimento da <strong>Sociologia</strong><br />
Você verá, agora, como teve início a <strong>Sociologia</strong>.<br />
Preparado(a)? Então, ao trabalho!<br />
Pode-se dizer que o positivismo foi nas<br />
ciências humanas a primeira tentativa verdadeiramente<br />
sistematizada de conhecer a realidade<br />
social. Seus métodos pretendiam substituir as<br />
explicações metafísicas e as crenças do senso comum<br />
por meio das quais o homem buscava, até<br />
então, explicar a realidade social.<br />
O principal representante do positivismo<br />
foi Augusto Comte (1798-1857). Comte nasceu<br />
na França, numa família católica e monarquista,<br />
talvez esteja aí uma das explicações para sua concepção<br />
de mundo. Estudou em Paris, na Escola<br />
Politécnica, e testemunhou os turbulentos tempos<br />
da era napoleônica. Tornou-se discípulo de<br />
Saint-Simon, de quem sofreu enorme influência.<br />
Devotou seus estudos à filosofia positivista, considerada<br />
por ele uma religião, da qual era o seu<br />
principal pregador. De acordo com sua filosofia<br />
política, a história da humanidade era composta<br />
por três estados: um teológico, outro metafísico<br />
e finalmente o positivo. Este último representava<br />
o apogeu do progresso da humanidade. Para<br />
Comte, a sociologia era a ciência mais profunda e<br />
a que mais contribuições poderia oferecer para a<br />
humanidade.<br />
1.2 O Contexto do Pensamento Positivista<br />
O século XVIII havia consagrado o poder da<br />
burguesia, que impôs o uso da ciência e da técnica<br />
como metas para a nova sociedade, provocando,<br />
assim, modificações sociais, políticas e econômicas<br />
jamais vistas. A consagração desse novo<br />
saber, isto é, da ciência e da técnica, leva para um<br />
novo entendimento das questões humanas, que<br />
passam, agora, pela concepção do cientificismo,<br />
ou seja, a ciência é o único conhecimento possível<br />
para a humanidade.<br />
O idealismo, pensamento predominante<br />
até a primeira metade do século XIX, passa a ser<br />
combatido e o positivismo é que primeiro leva<br />
esse combate adiante. O positivismo representa,<br />
então, uma reação contra o idealismo. Veja a diferença<br />
fundamental entre idealismo e positivismo:<br />
o primeiro procura uma interpretação, uma<br />
unificação da experiência mediante a razão; o segundo,<br />
ao contrário, quer limitar-se à experiência<br />
imediata. Além de ser uma reação contra o idealismo,<br />
o positivismo é ainda tributário do grande<br />
progresso das ciências naturais, particularmente<br />
das biológicas e fisiológicas do século XIX.<br />
Saiba mais<br />
Para os idealistas, a filosofia é o estudo dos processos<br />
pelos qual a realidade deriva dos princípios constitutivos<br />
do espírito, sendo o mundo o produto de um movimento<br />
do pensamento. Entre os principais idealistas<br />
podemos destacar: Schelling e Hegel.<br />
Pode-se dizer que a filosofia de Comte defende<br />
alguns princípios consagrados da sociedade,<br />
como a propriedade, a família, o trabalho e a<br />
religião. Com esses princípios rigidamente seguidos,<br />
a sociedade alcançaria, segundo Comte, o<br />
progresso e a ordem. A ideia de ordem está, neste<br />
caso, associada à ideia de hierarquia, que gera<br />
consequentemente uma disciplina para a sociedade.<br />
É importante dizer que, para Comte ou para<br />
o positivismo, o entendimento da história se dá<br />
por meio de documentos oficiais, isto é, a história<br />
só se explica e se justifica com a visão predominante<br />
de sua época.<br />
8<br />
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
<strong>Sociologia</strong><br />
1.3 Os Fundamentos do Positivismo<br />
Observe de que forma Comte estabelece no<br />
livro Curso de Filosofia Positiva os três princípios<br />
básicos do estado positivista. De acordo com esse<br />
princípio, a vida da humanidade compreende em<br />
três estágios, sendo o atual, isto é, aquele no qual<br />
vivia Comte, o principal deles. O primeiro estágio<br />
está relacionado à maneira de a humanidade<br />
explicar o mundo, uma explicação que sempre<br />
provinha dos mitos e das crenças religiosas. Esse<br />
estágio é chamado de teológico e Comte assim o<br />
descreve:<br />
No estágio teológico, o espírito humano<br />
dirige essencialmente suas investigações<br />
para a natureza intima dos seres, as causas<br />
primeiras e finais de todos os efeitos que<br />
o tocam, numa palavra para o conhecimento<br />
absoluto; apresenta os fenômenos<br />
como ação direta e contínua de agentes<br />
sobrenaturais. (COMTE, 1973, p. 9).<br />
O segundo estágio, dito metafísico, uma<br />
cresça em Deus, mas sem fundamentação científica,<br />
é assim descrito: “No fundo nada mais é que<br />
a modificação geral do primeiro, os agentes sobrenaturais<br />
são substituídos por forças abstratas,<br />
concebidas como capazes de engendrar por elas<br />
próprias todos os fenômenos observados”. Final-<br />
mente o estado positivo é o terceiro estágio e é<br />
marcado pelo triunfo da ciência. A vida da humanidade<br />
passa agora a ser explicada pela razão em<br />
contraponto às explicações mitológicas e religiosas<br />
das fases anteriores.<br />
No estado positivo, o espírito humano, reconhecendo<br />
a impossibilidade de obter<br />
noções absolutas, renuncia de procurar a<br />
origem e o destino do universo, [...] para<br />
preocupar-se unicamente em descobrir,<br />
graças ao uso bem combinado do raciocínio<br />
e da observação, suas leis efetivas<br />
que regem a vida humana”. O positivismo<br />
representa, então, o real frente ao quimérico,<br />
o útil frente ao inútil, a segurança<br />
frente à insegurança, o preciso frente ao<br />
vago, o relativo frente ao absoluto. (RIBEI-<br />
RO JR., 1987, p. 18).<br />
Saiba que o positivismo combate também a<br />
sociedade individualista e liberal, divulgando que<br />
o homem como individualidade não existe; aliás,<br />
para esse pensamento, o homem só pode existir<br />
como membro de outros grupos, desde o familiar,<br />
que é núcleo fundador de toda sociedade, até outros<br />
grupos mais complexos, como, por exemplo,<br />
o político.<br />
1.4 Estratificação da Sociedade Positivista<br />
Dicionário<br />
Estratificação: é o processo social que leva à superposição<br />
de camadas sociais, isto é, à formação de<br />
um sistema social mais ou menos fixo e rígido, de<br />
estados, classes ou castas.<br />
Perceba que para o positivismo, a humanidade<br />
é formada só de homens. Nessa ordem social,<br />
as mulheres estão condenadas à inferioridade,<br />
é claro, pelas leis irrevogáveis da natureza.<br />
Na sociedade positivista, a classe dos sacerdotes<br />
é a mais importante. Ela está dividida em<br />
três classes, a saber:<br />
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />
9
Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa<br />
a) Os aspirantes: estes precisam ter ao<br />
menos 28 anos, pois só com essa idade<br />
alcançam a cultura enciclopédica exigida<br />
pelo estado positivista;<br />
b) Os vigários: estes precisam ter ao menos<br />
35 anos e exercem a função superior<br />
de ensinar;<br />
c) Os sacerdotes: precisam ter uma idade<br />
superior aos 42 anos; são os maiores sacerdotes<br />
da humanidade, uma espécie<br />
de conselheiros para arbitrar as causas<br />
do estado positivista.<br />
O patriciado é a classe detentora do poder<br />
temporal. Essa classe é composta pelos segmentos<br />
que controlam os meios de produção:<br />
banqueiros, fabricantes, comerciantes; sempre<br />
colocados em escala hierárquica. Os banqueiros,<br />
portanto, nessa sociedade, são investidos de<br />
maior autoridade.<br />
Ao se apresentar como a religião da humanidade,<br />
o positivismo defende a existência de<br />
nove sacramentos para os membros de sua sociedade.<br />
Vejamos alguns deles:<br />
a) Apresentação, quando a família apresenta<br />
o recém-nascido;<br />
b) Iniciação, quando a criança, com catorze<br />
anos, passa da educação materna à<br />
instrução sacerdotal;<br />
c) Admissão, aos vinte e um anos, quando<br />
está pronto para servir a humanidade,<br />
retribuindo tudo que recebeu dela;<br />
d) Destinação, momento em que recebe<br />
dos sacerdotes o seu ofício;<br />
e) Casamento, sacramento obrigatório, já<br />
que no estado positivista o celibato é<br />
condenado.<br />
Você sabia que no Brasil, o positivismo teve<br />
uma importância decisiva no Império e na instalação<br />
da República, influenciando a ideologia da<br />
nova sociedade? Suas primeiras manifestações<br />
em território nacional acorreram em 1844 na academia,<br />
isto é, na Faculdade de Medicina da Bahia.<br />
Contudo, sua primeira manifestação social acontece<br />
anos mais tarde. Inicialmente, o positivismo<br />
brasileiro é composto por dois grupos: um defendendo,<br />
como proposto por Comte, o positivismo<br />
como religião da humanidade; havia, por outro<br />
lado, um grupo que desprezava o movimento da<br />
religião da humanidade e defendia apenas a metodologia<br />
científica de observação, experimentação<br />
e comparação proposta por Comte.<br />
Esse segundo grupo constituirá a base do<br />
movimento republicano aglutinado em torno do<br />
jovem oficial Benjamin Constant. O positivismo<br />
enfrenta, porém, a resistência de um grupo de<br />
republicanos que, diferentemente dos princípios<br />
rígidos do positivismo, defendiam os preceitos<br />
democráticos do liberalismo constitucional norte-americano.<br />
De qualquer forma, perpetuou suas<br />
marcas na vida e no cotidiano do homem brasileiro,<br />
sendo que a principal dessas marcas está registrada<br />
em nosso símbolo maior. Ou seja, a nossa<br />
bandeira, com seu Ordem e Progresso, mostra de<br />
maneira inquestionável o quanto a doutrina positivista<br />
influenciou os nossos republicanos 1 .<br />
Finalmente é preciso insistir que para o positivismo<br />
aquilo que não pode ser verificado como<br />
“algo dado” é metafísica estéril. Daí a importância<br />
dada ao documento escrito, sobretudo aos documentos<br />
oficiais, como prova histórica de determinado<br />
fato. Assim, para os positivistas, apreender<br />
o real seria conhecer os fatos e conhecer os fatos<br />
significa acesso a documentos, que são, na perspectiva<br />
positivista, quase sempre, institucionais.<br />
Reflita, agora, sobre o positivismo e posicione-se<br />
em relação a essa filosofia.<br />
1<br />
Mais elementos sobre essa discussão ver Ribeiro Jr. (1987).<br />
10<br />
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
<strong>Sociologia</strong><br />
1.5 Resumo do Capítulo<br />
Caro(a) aluno(a), neste capítulo observamos que a <strong>Sociologia</strong> é observação, reflexão a fim de compreender<br />
o comportamento de seus semelhantes. Giambattista Vico afirma que a sociedade subordina-<br />
-se a leis definidas e que: “o mundo social é obra do homem.” Pode-se dizer que o positivismo foi nas<br />
ciências humanas a primeira tentativa verdadeiramente sistematizada de conhecer a realidade social.<br />
Seus métodos pretendiam substituir as explicações metafísicas e as crenças do senso comum, por meio<br />
das quais o homem buscava, até então, explicar a realidade social. No Brasil, o positivismo teve uma importância<br />
decisiva no Império e na instalação da República, influenciando a ideologia da nova sociedade.<br />
1.6 Atividades Propostas<br />
1. Quais as diferenças fundamentais entre o idealismo e o positivismo?<br />
2. Cite e comente dois sacramentos do positivismo.<br />
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />
11
2<br />
A SOCIOLOGIA DE DURKHEIM<br />
Você entrará em contato com um autor que<br />
contribuiu para que a sociologia se estabelecesse<br />
como ciência autônoma.<br />
David Émile Durkheim presenciou em sua<br />
juventude uma série de acontecimentos que<br />
marcou decisivamente a sua vida e sua obra. Na<br />
década de 1880, a França aprovou a chamada Lei<br />
Naquet, que instituiu o divórcio em seu território.<br />
Nessa mesma época, o ensino público tornou-<br />
-se gratuito e obrigatório para todos dos 6 aos<br />
13 anos; além disso, ficava proibido formalmente<br />
o ensino da religião. O vazio correspondente à<br />
ausência do ensino de religião na escola pública<br />
tenta-se preencher com uma pregação patriótica<br />
representada pela que ficou conhecida como<br />
“Instrução Moral e Cívica”.<br />
Ao mesmo tempo que essas questões políticas<br />
e sociais balizavam o seu tempo, as contradições<br />
do trabalho traziam também preocupações<br />
continuadas para sua militância intelectual. Uma<br />
repercussão decisiva dessas contradições ficou<br />
conhecida como questão social, ou seja, as disputas<br />
e conflitos decorrentes da oposição entre o<br />
capital e o trabalho, vale dizer, entre patrão e empregado,<br />
entre burguesia e proletariado, seriam<br />
doravante objetos de intervenção dos estudos<br />
sociológicos.<br />
No final do século XIX, Durkheim reuniu um<br />
grupo de colaboradores que se esforçaram para<br />
emancipar a sociologia das demais teorias sobre<br />
a sociedade e constituí-la como disciplina rigorosamente<br />
científica. Buscou sempre definir com<br />
precisão o objeto, o método e as aplicações dessa<br />
nova ciência. Respondendo, assim, as preocupações<br />
da sociedade e da <strong>Sociologia</strong> de sua época,<br />
elegeu os fatos sociais como o principal objeto da<br />
sociologia.<br />
De acordo com suas análises, o fato social<br />
é experimentado pelo indivíduo como uma realidade<br />
independente dele, que ele não criou e<br />
não pode rejeitar, como as regras morais, as leis,<br />
os costumes, os rituais e as práticas burocráticas,<br />
por exemplo.<br />
É importante você saber que para Durkheim,<br />
os fatos sociais são atravessados por três<br />
características fundamentais. A primeira delas é a<br />
coerção social, ou seja, a força que os fatos exercem<br />
sobre os indivíduos, levando-os a aceitar as<br />
regras da sociedade em que vivem, independentemente<br />
da sua vontade e escolha. Essa força manifesta-se,<br />
por exemplo, quando o indivíduo adota<br />
determinado idioma, ou quando se submete a<br />
um código de leis.<br />
A segunda característica dos fatos sociais<br />
é que eles existem e atuam sobre os indivíduos<br />
independentemente de sua vontade ou de sua<br />
adesão consciente, ou seja, são exteriores aos indivíduos<br />
e existem antes da chegada do indivíduo<br />
na sociedade.<br />
A terceira característica apontada por Durkheim<br />
é a generalidade, isto é, aquilo que se repete<br />
em todos os indivíduos, o ritual do banho, por<br />
exemplo. Portanto, nem tudo que uma pessoa faz<br />
é um fato social, para ser um fato social tem de<br />
atender a três características: generalidade, exterioridade<br />
e coercitividade. Isto é, o que as pessoas<br />
sentem, pensam ou fazem, independentemente<br />
de suas vontades individuais, é um comportamento<br />
estabelecido pela sociedade. Não é algo<br />
que seja imposto especificamente a alguém, é<br />
algo que já estava lá antes e que continua depois<br />
e que não dá margem a escolhas 2 .<br />
2<br />
Mais elementos sobre as características do fato social ver Costa (1997).<br />
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />
13
Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa<br />
Assim, você pode observar que, com essa<br />
caracterização feita por Durkheim dos fatos sociais,<br />
encontramos elementos para compreendermos<br />
melhor os grupos sociais que estão distribuídos<br />
na sociedade. Da infância até a maturidade, o<br />
indivíduo participa de vários grupos sociais, pois<br />
em cada fase ou etapa de sua vida ele busca apoio<br />
de um determinado grupo. Temos assim, o grupo<br />
familial (família); o grupo educativo (escola) e o<br />
grupo religioso (igreja). O primeiro pode ser definido<br />
como grupo primário, pois é aquele onde os<br />
contatos pessoais são mais constantes, como a família<br />
e os vizinhos; o segundo grupo é chamado<br />
de secundário e manifesta-se na igreja e no trabalho<br />
e é geralmente constituído por uma rede<br />
de relações mais complexa em que os contatos<br />
são mais formais, sem a intimidade verificada no<br />
primeiro; o terceiro grupo, também chamado de<br />
intermediário, combina elementos do primeiro e<br />
do segundo grupo e cria outros rituais de pertencimento<br />
para sua identidade social. Um exemplo<br />
são as coletividades juvenis.<br />
2.1 A Objetividade do Fato Social<br />
Você verá, agora, como Durkheim definiu o<br />
método de conhecimento da <strong>Sociologia</strong>. Segundo<br />
Durkheim, o sociólogo precisa deixar de lado<br />
seus valores e sentimentos pessoais em relação<br />
ao acontecimento a ser estudado, pois só assim<br />
alcançaria a objetividade de sua análise.<br />
Procurando garantir à <strong>Sociologia</strong> um método<br />
tão eficiente quanto o desenvolvido pelas<br />
ciências naturais, Durkheim desenvolve métodos<br />
para fugir do “senso comum”, que analisava de<br />
maneira superficial a realidade social. Sentenciava,<br />
assim, que para compreender os fatos sociais<br />
o cientista precisa ter visão ampla e identificar os<br />
acontecimentos que apresentavam características<br />
exteriores comuns na sociedade. O suicídio,<br />
por exemplo, apesar de ser resultado de razões<br />
particulares, apresenta em todas as sociedades<br />
características comuns e certa regularidade e, por<br />
isso, é um fato social.<br />
Saiba mais<br />
Chamamos senso comum ao conhecimento adquirido<br />
por tradição, herdado dos antepassados e ao qual<br />
acrescentamos os resultados da experiência vivida na<br />
coletividade a que pertencemos. Trata-se de um conjunto<br />
de ideias que nos permite interpretar a realidade,<br />
bem como um corpo de valores que nos ajuda a avaliar,<br />
julgar e, portanto, agir.<br />
2.2 A Consciência Coletiva<br />
Observe como se pode entender a ideia de<br />
consciência coletiva. A consciência coletiva está<br />
espalhada pela sociedade e, em certo sentido, revela<br />
o “tipo psíquico da sociedade”, definindo, por<br />
exemplo, o que numa sociedade é considerado<br />
“imoral”, “reprovável” ou “criminoso”. A consciência<br />
coletiva inibe e controla os impulsos do indivíduo<br />
na sociedade, padronizando o comportamento.<br />
Mas a consciência coletiva pode servir também<br />
de máscara para o indivíduo esconder sua perso-<br />
nalidade no jogo do teatro social. Por exemplo, ao<br />
tripudiar sobre um juiz no estádio de futebol, o<br />
indivíduo só o faz porque está protegido por uma<br />
consciência coletiva, que o impede de ser prontamente<br />
identificado, ou seja, responsabilizado.<br />
Quando sai do estádio e vai embora sozinho para<br />
sua casa sem a proteção do grupo, isto é, da consciência<br />
coletiva, ele adota uma outra postura, pois<br />
agora ele responde sozinho por seus atos.<br />
14<br />
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
<strong>Sociologia</strong><br />
Entre os muitos desdobramentos que as reflexões<br />
de Durkheim abriram para os estudos sociológicos,<br />
merecem destaque aqueles derivados<br />
da escola de Frankfurt, os quais trouxeram contribuições<br />
para se pensar os caminhos da sociedade<br />
contemporânea. É sobre essa escola que você refletirá<br />
a seguir.<br />
2.3 A Escola de Frankfurt<br />
Denominada teoria crítica apresentou-se<br />
como um contraponto às simplificações que determinadas<br />
correntes sociológicas vinham fazendo<br />
dos estudos da sociedade. Os principais investigadores<br />
da Escola de Frankfurt – Adorno, Walter<br />
Benjamim, Marcuse e Horkheimer, entre outros<br />
– caracterizavam-se por serem mais acadêmicos,<br />
envolvidos com uma concepção teórica global da<br />
sociedade e nitidamente influenciados por Marx<br />
e Freud.<br />
A identidade da Teoria Crítica liga-se à utilização<br />
dos pressupostos marxistas e de alguns<br />
elementos da psicanálise, na análise das temáticas<br />
novas que as dinâmicas sociais da época configuravam<br />
– o totalitarismo, a indústria cultural,<br />
entre outros – numa preocupação com a superestrutura<br />
ideológica e a cultura. Assim, não pense<br />
que o tema dessa corrente seja apenas os meios<br />
de comunicação de massa, mas que, entre os vários<br />
assuntos abordados por essa Escola, os mais<br />
próximos a este tema seriam aqueles relativos à<br />
indústria cultural – marcados pelo enfoque da<br />
manipulação do agente social.<br />
Você também não pode perder de vista<br />
todo o contexto histórico no qual os estudos de<br />
Frankfurt se desenvolvem. A Alemanha vivendo a<br />
crise do pós-guerra, a Revolução Russa vitoriosa,<br />
o movimento operário alemão rechaçado, e o nazismo,<br />
que começava a se firmar. Tudo isso incidia<br />
de forma decisiva nas ideias dos jovens judeus<br />
marxistas Adorno, Marcuse e Horkheimer.<br />
2.4 A Indústria Cultural<br />
Conforme você pode observar, com o avanço<br />
tecnológico e industrial, mais o crescimento<br />
econômico e urbanístico, sobretudo a partir das<br />
primeiras décadas do século XX, os meios de comunicação<br />
reorganizaram sua produção artística<br />
e cultural, sob o ponto de vista mercadológico,<br />
utilizando as novas linguagens do marketing. Em<br />
meio a esse processo, surge um grupo de teóricos<br />
em Frankfurt na Alemanha. Preocupados com a<br />
postura e interferência dos meios de comunicação<br />
na sociedade, esses teóricos começaram a<br />
analisar de forma crítica o que eles denominaram<br />
de “Indústria Cultural”. Impulsionada pelo incessante<br />
desenvolvimento da tecnologia e a inevitável<br />
popularização dos aparelhos eletroeletrônicos,<br />
a indústria cultural ampliou a participação e<br />
a interferência do indivíduo – principalmente dos<br />
jovens – no meio circundante. Edgar Morin (1969)<br />
chama esse fenômeno de Terceira Cultura.<br />
Saiba mais<br />
Para Morin, a Terceira Cultura é decorrência do boom<br />
tecnológico que o mundo viveu depois da Segunda<br />
Guerra Mundial e que levou a uma popularização do<br />
cinema, da imprensa, do rádio, da televisão etc.<br />
Pode-se dizer, então, que o século XX trouxe<br />
novos meios de sociabilidade e integração social<br />
– o rádio, o cinema, a indústria fonográfica etc. –,<br />
tornando decisivas suas influências sobre a vida<br />
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />
15
Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa<br />
da juventude. Essas novas técnicas logo serão incorporadas<br />
pelos jovens como forma mais cotidiana<br />
de interferência em um mundo social para<br />
eles amplificado. A juventude deixa, assim, de ser<br />
apenas receptora de cultura; suas manifestações<br />
ganham notoriedade, e, de receptora, ela passa a<br />
criadora de uma nova maneira de ser e viver.<br />
Saiba que essa nova configuração cultural<br />
da juventude ganha vulto, de maneira mais específica<br />
no pós-guerra devido ao aquecimento<br />
ocorrido no setor industrial; ele possibilitou um<br />
aumento da demanda de empregos e, concomitantemente,<br />
levou mais recursos financeiros para<br />
um número cada vez maior de famílias, que passam<br />
a investir seu tempo livre em diversão e lazer.<br />
Edgar Morin, ao analisar essas novas características<br />
da sociedade moderna, pondera que a<br />
ampliação do tempo de lazer, combinada com a<br />
popularização das novas técnicas de integração<br />
social, possibilitou o surgimento de uma cultura<br />
de massas na sociedade moderna.<br />
Você pode perceber, portanto, que foi no<br />
compasso dessa terceira cultura que o fulcro do<br />
que era uma subcultura juvenil cede espaço para<br />
o surgimento de uma ampla cultura juvenil, que<br />
no decorrer dos anos 50 articula-se em torno de<br />
novos referenciais (principalmente cinema e música<br />
rock’n roll) para granjear uma posição de destaque<br />
na sociedade.<br />
Temos aí uma nova problematização no cenário<br />
juvenil, que, estimulado pelo aumento do<br />
poder aquisitivo e pelo tempo livre, cria espaços<br />
específicos para suas reuniões. As praças já não<br />
lhes são suficientes; agora eles querem o cinema,<br />
as lanchonetes, enfim, eles querem visibilidade<br />
e atenção. Morin, ao analisar os problemas comportamentais<br />
dos jovens numa sociedade pautada<br />
pela massificação cultural, alerta que:<br />
O desenvolvimento dessa cultura está<br />
ligado a uma conquista da autonomia<br />
dos adolescentes no seio da família e da<br />
sociedade. A aquisição de relativa autonomia<br />
monetária (dinheiro para o gasto<br />
diário dado pelos pais nas sociedades<br />
avançadas e, alhures, dinheiro para o<br />
diário conservado pelos adolescentes<br />
que ganham a vida e entregam o que ganham<br />
aos pais) e de relativa liberdade no<br />
seio da família (o que nos conduz ao problema<br />
da liberalização aqui, da desestruturação<br />
acolá, da família) permitem aos<br />
adolescentes adquirir material que lhes<br />
insuflará sua cultura (transistor, toca-discos<br />
e mesmo violão), que lhes dá sua liberdade<br />
de fuga e de encontro (bicicleta,<br />
motocicleta, automóvel) e lhes permitirá<br />
viver sua vida autônoma no lazer e pelo<br />
lazer. Essa cultura, essa vida, aceleram em<br />
contrapartida as reivindicações dos adolescentes<br />
que não se satisfazem com a<br />
semi-liberdade adquirida e fazem crescer<br />
sua contestação a propósito de um mundo<br />
adulto cada vez menos semelhante ao<br />
deles. (MORIN, 1969, p. 140).<br />
2.5 Cultura de Massa<br />
Você sabe o que é cultura de massa? Certamente,<br />
já ouviu falar disso. Então, convido você a<br />
refletir um pouco e tentar estabelecer algumas<br />
hipóteses que a definam.<br />
O termo ‘Indústria Cultural’ foi utilizado pela<br />
primeira vez em 1947, por Theodor Adorno, para<br />
substituir a expressão “Cultura de Massa”, pois<br />
esta induz ao engodo de que são satisfeitos os interesses<br />
dos detentores dos veículos de comunicação<br />
de massa. Os defensores da cultura de massa<br />
acreditam que esta surge espontaneamente<br />
das próprias massas em ressonância com a arte<br />
popular, enquanto a indústria cultural diferencia-<br />
-se totalmente, pois vem atribuída de vários elementos,<br />
conceituando um novo estilo e qualidade.<br />
“A indústria cultural é a integração deliberada,<br />
a partir do alto, de seus consumidores” (ADORNO,<br />
1977, p. 287).<br />
16<br />
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
<strong>Sociologia</strong><br />
A prioridade da Indústria Cultural é explorar<br />
o gosto popular, e não os anseios do povo; por<br />
isso, seu objetivo não está voltado para a educação<br />
e a cultura em si, mas para a obtenção de lucro.<br />
Waldenyr Caldas, em seu livro, O que todo<br />
cidadão precisa saber sobre cultura, conceitua a<br />
cultura de massa dessa forma:<br />
A cultura de massa consiste na produção<br />
industrial de um universo muito grande<br />
de produtos que abrangem setores como<br />
moda, o lazer no sentido mais amplo, incluindo<br />
os esportes, o cinema, a imprensa<br />
escrita e falada, a música, a literatura,<br />
enfim... tudo o que envolve a vida do<br />
homem contemporâneo [...]. (CALDAS,<br />
1986, p. 83).<br />
A cultura de massa, portanto, não tem a ver<br />
com a cultura popular, pois a cultura de massa<br />
tem por meta a fantasia e o consumo compulsivo.<br />
Ela apropria-se dos meios de comunicação – sobretudo<br />
do rádio, por este ser um veículo de grande<br />
influência e penetração na classe trabalhadora<br />
periférica. Além de destacar outros locais com<br />
penetração restrita, como: casas noturnas, shows,<br />
boates, circos, festivais, de música regional, que<br />
são realizados nos bairros da periferia das grandes<br />
cidades.<br />
A espetacularização dos produtos culturais<br />
não se encontra apenas nos conteúdos ou nos<br />
meios de comunicação, está presente também na<br />
recepção. O consumidor da cultura de massa faz<br />
a leitura, decodifica a mensagem de acordo com<br />
seu interesse, sua vivência, sua expectativa. Não<br />
há, portanto, uma dominação e um controle rígido<br />
por parte dos meios de comunicação, pois as<br />
produções culturais de massa, de elite ou popular,<br />
apesar de serem produtos culturais de natureza<br />
diferente, ocupam os mesmos espaços.<br />
A cultura popular, então, é produzida a partir<br />
das manifestações das classes populares, que<br />
recebem influências das culturas de massa e de<br />
elite, e pode até ser difundida nos espaços típicos<br />
dos segmentos da cultura de massa. Em se tratando<br />
da música popular, esta toma conta praticamente<br />
de todo o mercado, pois abrange desde as<br />
manifestações folclóricas até as manifestações de<br />
contexto urbano.<br />
Certamente, você deve concordar com o<br />
fato de que os meios de comunicação de massa<br />
têm um forte poder a curto prazo para construir<br />
ou destruir a imagem de um ídolo popular, seja na<br />
política, seja em qualquer outra atividade profissional.<br />
Em se tratando da persuasão de consumo,<br />
presenciaram-se nos últimos anos, aqui no Brasil,<br />
vários fenômenos criados pela indústria cultural.<br />
No campo da música foram reinventados: a lambada,<br />
o “axé music”, a música sertaneja, o samba<br />
e o pagode, o funk carioca, o forró eletrônico, o<br />
“calypso” paraense e, inclusive, músicas religiosas,<br />
como a “Aeróbica do Senhor”, bastante difundida<br />
pelo padre Marcelo Rossi.<br />
Diante disso, podemos destacar dois aspectos<br />
importantes da cultura de massa:<br />
a) Saber a quem são dirigidos seus produtos;<br />
b) Identificar quais as repercussões sociais<br />
desse consumo e as informações ideológicas<br />
e políticas da cultura de massa.<br />
A cultura de massa é conservadora, pois<br />
jamais abre questões, apenas vulgariza<br />
ou repete conceitos estabelecidos nas camadas<br />
superiores da sociedade, fazendo<br />
valer os conceitos e o poder da ideologia<br />
dominante. (CALDAS, 1999, p. 56).<br />
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />
17
Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa<br />
2.6 Resumo do Capítulo<br />
Caro(a) aluno(a), notamos que, no final do século XIX, Durkheim procurou emancipar a sociologia<br />
das demais teorias e constituí-la como disciplina científica; elegeu os fatos sociais como o principal objeto<br />
da sociologia. Os fatos sociais são atravessados por três características fundamentais. A primeira delas é<br />
a coerção social, ou seja, a força que os fatos exercem sobre os indivíduos. A segunda característica dos<br />
fatos sociais é que eles existem e atuam sobre os indivíduos independentemente de sua vontade, ou<br />
seja, são exteriores aos indivíduos e existem antes da chegada do indivíduo na sociedade. A terceira é a<br />
generalidade, aquilo que se repete em todos os indivíduos, como tomar banho. Durkheim levantou a<br />
ideia da consciência coletiva que busca revelar o “tipo psíquico da sociedade”, definindo, por exemplo, o<br />
que numa sociedade é considerado “imoral”, “reprovável” ou “criminoso”. O mesmo trouxe contribuições<br />
da escola de Frankfurt, no sentido de pensar os caminhos da sociedade contemporânea. Os teóricos em<br />
Frankfurt, preocupados com a interferência dos meios de comunicação na sociedade, começaram a analisar<br />
de forma crítica o que eles denominaram de “Indústria Cultural”.<br />
2.7 Atividades Propostas<br />
1. Na perspectiva de Durkheim, como o fato social participa da vida do indivíduo?<br />
2. Faça um breve comentário do contexto histórico em que foi criada a Escola de Frankfurt.<br />
18<br />
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
3<br />
ESCOLAS SOCIOLÓGICAS<br />
3.1 Escola Sociológica Europeia<br />
Na década de 1960, surge na Itália e na<br />
França um grupo de pesquisadores que penetraram<br />
nos estudos de comunicação de massa pelo<br />
viés da mensagem, utilizando a técnica da análise<br />
de conteúdo. Tratava-se de um grupo de estruturalistas,<br />
formado por Umberto Eco, Edgar Morin,<br />
Roland Barthes, Jean Baudrillard, entre outros.<br />
Seus estudos estavam centrados no entorno dos<br />
meios acadêmicos, artísticos, em peças publicitárias,<br />
histórias em quadrinhos e “estrelas de cinema<br />
pela pop art” (SANTOS, 2003, p. 93).<br />
Os produtos culturais veiculados pelos<br />
meios de comunicação de massa passaram, no<br />
início da década de 1960, a receber atenção da<br />
intelectualidade, por meio de estudos feitos em<br />
centros universitários ou por obras de artistas,<br />
como Andy Warhol, Roy Lichtennstein e Richard<br />
Hamilton (próceres do movimento da Pop Art,<br />
que sacralizaram, em seus trabalhos artísticos, peças<br />
publicitárias, histórias em quadrinhos e estrelas<br />
de cinema). Suas obras exploraram o potencial<br />
formal dos signos da cultura de massa, transformando-os<br />
em ícones da arte.<br />
Nesse contexto, diversos teóricos europeus<br />
lançaram-se a estudar e analisar o conteúdo das<br />
mensagens da cultura de massa. Esses intelectuais<br />
tinham em comum uma postura crítica – mas não<br />
preconceituosa – em relação a esses produtos<br />
culturais, utilizavam os princípios da semiologia e<br />
aplicavam a análise estrutural em seus trabalhos.<br />
Todos divergiam tanto das posturas funcionalistas<br />
quanto das frankfurtianas.<br />
Assim, você pode observar que essa visão<br />
da comunicação e da cultura de massa era compartilhada<br />
por intelectuais franceses ou que desenvolviam<br />
suas pesquisas na França, como Roland<br />
Barthes, Edgar Morin, Jean Baudrillard, Julia<br />
Kristeva, Chistian Metz, entre outros, e pelo italiano<br />
Umberto Eco. “Seus trabalhos teóricos passaram<br />
a ser publicados a partir de 1968 na revista<br />
Communnications e editados pelo Centro de estudos<br />
da comunicação de Massa (CECMAS), criado<br />
em 1960 no interior da Escola Prática de Altos Estudos<br />
e dirigido Por Georges Friedman.” (SANTOS,<br />
2003, p. 94).<br />
Em consequência disso, em Apocalípticos e<br />
Integrados 3 , Umberto Eco faz críticas aos “integrados”<br />
(funcionalistas) pela passividade com que se<br />
colocavam “diante das questões relativas à cultura<br />
de massa”. Quanto à teoria crítica de Frankfurt,<br />
a crítica de Eco estava centrada no “pessimismo<br />
diante da sociedade de massa por negar a cultura<br />
de massa sem realmente analisá-la”. Dessa<br />
maneira, Eco apontava a utilização de “conceitos-<br />
-fetiche (massa, indústria cultural)”, por parte das<br />
duas teorias, para fazer proposições de maneira<br />
genérica sobre “um fenômeno complexo como a<br />
cultura de massa”.<br />
3<br />
Principal obra publicada por Umberto Eco. Faz crítica ao modelo funcionalista – Escola norte-americana e aos Frankfurtianos<br />
– Escola Alemã.<br />
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />
19
Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa<br />
Umberto Eco parte do pressuposto de que<br />
a cultura de massa é a cultura do homem contemporâneo<br />
e aponta o momento histórico de seu<br />
aparecimento “no momento em que a presença<br />
das massas, na vida associada, se torna o fenômeno<br />
mais evidente de um contexto histórico” (ECO<br />
apud SANTOS, 2003, p. 94). Assim, Eco manifesta<br />
seu pensamento e afirma que nem mesmo os<br />
frankfurtianos como críticos da cultura de massa<br />
poderiam estar fora da abrangência dela. Ainda,<br />
nessa abordagem, Eco complementa que a cultura<br />
de massa passa a ser “uma definição de ordem”.<br />
Os meios de comunicação de massa, na<br />
visão de Umberto Eco, ajustam o gosto<br />
e a linguagem dos produtos culturais<br />
que veiculam as capacidades receptivas<br />
da média do público. Para ele, as características<br />
fundamentais dos produtos da<br />
cultura de massa são a efemeridade e a<br />
reprodutibilidade em série. Seu conteúdo<br />
é produzido para agradar o público,<br />
constituindo-se em material de evasão,<br />
mas pode também informar e educar.<br />
(SANTOS, 2003, p. 94).<br />
Saiba que outro expoente dessa Escola é<br />
Edgar Morin, que identificou dois métodos de<br />
estudar a cultura na sociedade: o da “totalidade<br />
que encerra o fenômeno em suas interdependências<br />
e inclui o próprio pesquisador no sistema<br />
de relações” (SANTOS, 1992, p. 18); e o método<br />
“autocrítico – em que o pesquisador despe-se de<br />
preconceitos, acompanhando e apreciando seu<br />
objeto de estudos”. A cultura, para ele, é um sistema<br />
constituído de valores, símbolos, imagens e<br />
mitos, que dizem respeito à vida prática e ao imaginário<br />
coletivo, compondo uma dimensão simbólica<br />
que permite aos indivíduos se localizarem<br />
no grupo. A sociedade não pode ser conhecida a<br />
partir de indivíduos e grupos isolados. É necessário<br />
juntar as partes ao todo e o todo às partes.<br />
Desde então, Morin elaborou outras ideias<br />
desse modo: a ideia de circularidade, que expõe o<br />
caráter retroativo do sistema; o efeito volta à causa<br />
e a causalidade circula em espiral, onde o efeito<br />
é, ao mesmo tempo, causa; os indivíduos produzem<br />
a sociedade, mas ela própria retroage sobre<br />
os indivíduos, com sua cultura e sua linguagem: o<br />
indivíduo é produto e produtor ao mesmo tempo<br />
(WOLF, 1999).<br />
Para Morin, a sociedade de consumo é um<br />
substrato da cultura de massa: é o novo público<br />
que consome. Assim, a cultura massificada pressupõe<br />
“o único terreno de troca e de comunicação<br />
para a classe [...] a nova camada de assalariados”<br />
(WOLF, 1999, p. 103), uma vez que esta vai adquirindo<br />
valores cada vez maiores da classe anterior.<br />
Dessa maneira, para além da diversidade<br />
de “prestígio, hierarquia, conversações etc.”, é demarcada<br />
uma zona comum, uma “identidade dos<br />
valores de consumo”. Nesse viés, esses valores da<br />
cultura de massa põem em comunicação os diferentes<br />
estratos sociais. Esse diálogo contém em<br />
seu interior a ética do consumo; a lei fundamental<br />
da cultura de massa é do mercado e sua dinâmica,<br />
produção e consumo. Sobre essa dinâmica ou<br />
continuidade dialógica entre o produtor e o consumidor,<br />
Edgar Morin assim a define:<br />
[...] um diálogo desigual. E, a priori, um<br />
diálogo entre o prolixo e um mudo. A<br />
produção (o jornal, o filme, a transmissão<br />
etc.) distribui relatos, histórias, exprime-<br />
-se através de uma linguagem. O consumidor<br />
– o espectador – responde apenas<br />
com reações pavlovianas, com um sim ou<br />
com um não, que determinam o sucesso<br />
ou o insucesso. (MORIN, 1962, p. 39 apud<br />
WOLF, 1999, p. 103).<br />
Outra de suas contribuições é quanto ao<br />
estudo dos paradigmas. Nesse viés moriniano,<br />
paradigmas são estruturas de pensamento que<br />
comandam nosso discurso de maneira inconsciente.<br />
O paradigma da separação, por exemplo,<br />
reina, sobretudo, desde a Renascença, no mundo<br />
ocidental (mágica/lógica, arte/ciência etc.). Separou-se<br />
o sujeito do conhecimento, do objeto do<br />
conhecimento e ficou cada vez mais difícil de se<br />
estabelecer ligações. Edgar Morin também destaca<br />
o valor da solidariedade para o equilíbrio e a<br />
sobrevivência de uma dada cultura:<br />
20<br />
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
<strong>Sociologia</strong><br />
A única maneira de salvaguardar a liberdade<br />
é que haja o sentimento vivido de<br />
comunidade e solidariedade, no interior<br />
de cada membro, e é isso que dá uma<br />
realidade de existência a uma sociedade<br />
complexa. A solidariedade é constituinte<br />
dessa sociedade. (MORIN, 1983, p. 22).<br />
E você, caro(a) aluno(a), o que pensa sobre a<br />
indústria cultural? Reflita e posicione-se.<br />
3.2 <strong>Sociologia</strong> Alemã: a Contribuição de Max Weber<br />
Weber é considerado, junto com Karl Marx<br />
e Émile Durkheim, um dos fundadores da <strong>Sociologia</strong><br />
e dos estudos comparados sobre cultura e<br />
religião, disciplinas às quais deu um impulso decisivo.<br />
A sua abordagem diferia da de Marx (que<br />
utilizou o materialismo dialético como método<br />
para explicar a evolução histórica das relações de<br />
produção e das forças produtivas). Contrastava<br />
igualmente com as propostas de Durkheim (que<br />
considerava ser a religião a chave para entender<br />
as relações entre o indivíduo e a sociedade). Para<br />
Weber, o núcleo da análise social consistia na interdependência<br />
entre religião, economia e sociedade.<br />
Max Weber (1864-1920) participou da comissão<br />
redatora da Constituição da República de<br />
Weimar. Sua maior influência nos ramos especializados<br />
da sociologia foi no estudo das religiões,<br />
estabelecendo relações entre formações políticas<br />
e crenças religiosas. Suas principais obras foram:<br />
Artigos Reunidos de Teoria da Ciência; Economia e<br />
Sociedade (obra póstuma) e A ética Protestante e o<br />
Espírito do Capitalismo.<br />
Saiba mais<br />
A República de Weimar foi instaurada na Alemanha<br />
logo após a Primeira Guerra Mundial, tendo como sistema<br />
de governo o modelo parlamentarista democrático.<br />
O Presidente da República nomeava um chanceler<br />
que seria responsável pelo Poder Executivo.<br />
Segundo Weber, cada indivíduo age levado<br />
por motivos que resultam da influência da tradição,<br />
dos interesses racionais e da emotividade.<br />
Cada formação social adquiriu, para Weber, especificidade<br />
e importância próprias. Mas o ponto<br />
de partida da sociologia de Weber não estava nas<br />
entidades coletivas, grupos ou instituições. Seu<br />
objeto de investigação é a ação social, a conduta<br />
humana dotada de sentido, isto é, de uma justificativa<br />
subjetivamente elaborada. Assim, o homem<br />
passou a ter, enquanto indivíduo, na teoria<br />
weberiana, significado e especificidade. É ele que<br />
dá sentido à sua ação social: estabelece a conexão<br />
entre o motivo da ação, a ação propriamente dita<br />
e seus efeitos.<br />
Você se lembra de que para a sociologia<br />
positivista, a ordem social submete os indivíduos<br />
como força exterior a eles? Entretanto, para Weber<br />
não existe oposição entre indivíduo e sociedade:<br />
as normas sociais só se tornam concretas quando<br />
se manifestam em cada indivíduo sob a forma de<br />
motivação. Assim, cada sujeito age levado por um<br />
motivo que é dado pela tradição.<br />
Nos séculos XVII e XVIII, A França e a Inglaterra<br />
contribuíram decisivamente para a consolidação<br />
do pensamento burguês. A Inglaterra foi<br />
a sede do desenvolvimento industrial; a França,<br />
por sua vez, difundiu para o mundo uma outra<br />
possibilidade de sistema político. Paralelamente a<br />
esses acontecimentos, o desenvolvimento da indústria<br />
e a expansão marítima e comercial colocaram<br />
esses países em contato com outras culturas<br />
e outras sociedades, obrigando seus pensadores<br />
a um esforço interpretativo da diversidade social.<br />
O sucesso alcançado pelas ciências físicas e biológicas,<br />
impulsionadas pela indústria e pelo desenvolvimento<br />
tecnológico, fizeram com que as<br />
primeiras escolas sociológicas fossem fortemente<br />
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />
21
Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa<br />
influenciadas pela adaptação dos princípios e da<br />
metodologia dessas ciências à realidade social.<br />
Na Alemanha, em decorrência de sua descentralização<br />
política, o pensamento burguês<br />
organiza-se tardiamente, prejudicando o desenvolvimento<br />
e a modernização da sociedade, que<br />
só vai ser concretizada na etapa do capitalismo<br />
concorrencial, no século XIX. Por essa razão, as<br />
preocupações dos alemães com a sociedade fundamentam-se<br />
de modo diferente daquelas preocupações<br />
encontradas nas sociedades francesa e<br />
inglesa.<br />
3.3 Resumo do Capítulo<br />
Caro(a) aluno(a), nesse período, Weber, Karl Marx e Émile Durkheim são considerados os fundadores<br />
da <strong>Sociologia</strong> e dos estudos comparados sobre cultura e religião. Marx utilizou o materialismo dialético<br />
como método para explicar a evolução histórica das relações de produção e das forças produtivas.<br />
Durkheim considerava ser a religião a chave para entender as relações entre o indivíduo e a sociedade.<br />
Para Weber, o núcleo da análise social consistia na interdependência entre religião, economia e sociedade.<br />
Surge nesse momento na Itália e na França estudos referentes à análise de conteúdo dos meios de<br />
comunicação de massa, realizados por um grupo de estruturalistas, como Umberto Eco, Edgar Morin,<br />
Roland Barthes, Jean Baudrillard, entre outros. Para Morin, a sociedade de consumo é um substrato da<br />
cultura de massa: é o novo público que consome.<br />
3.4 Atividades Propostas<br />
1. Localize o campo de maior influência nos ramos especializados da sociologia de Max Weber.<br />
2. Por qual motivo o pensamento burguês organizou-se na Alemanha tardiamente?<br />
22<br />
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
4<br />
A SOCIEDADE SOB UMA PERSPECTIVA<br />
HISTÓRICA<br />
Conforme você estudou em capítulo anterior,<br />
para Weber, os indivíduos agem motivados<br />
por uma tradição; o resultado dessa ação permite<br />
estabelecer parâmetros para descobrir os sentidos<br />
da ação humana.<br />
Em seu conhecido ensaio A Ética Protestante<br />
e o Espírito do Capitalismo (1904-1905), Weber expunha<br />
porque haviam surgido no âmbito ocidental,<br />
e só aí, fenômenos culturais que iriam assumir<br />
um significado e uma validade universais. Para<br />
Weber, o protestantismo carregava uma proeminente<br />
tendência ao racionalismo econômico. Essa<br />
tendência estava, por sua vez, ausente no catolicismo.<br />
De acordo com seu raciocínio, a natureza<br />
ascética do catolicismo o distanciava do mundo,<br />
ao passo que o caráter obreiro do protestantismo<br />
deixava-o cada vez mais ligado aos problemas<br />
mundanos. Talvez por isso, nas famílias protestantes,<br />
os filhos eram criados para o ensino especializado<br />
e para o trabalho fabril, optando sempre por<br />
atividades mais adequadas à obtenção do lucro.<br />
Por isso o protestantismo, especialmente a sua<br />
vertente calvinista, é constantemente associado<br />
ao sucesso econômico e à racionalização da sociedade<br />
ocidental e do desenvolvimento do capitalismo.<br />
Saiba mais<br />
O racionalismo é a corrente filosófica que iniciou<br />
com a definição do raciocínio, que é a operação mental,<br />
discursiva e lógica. Este usa uma ou mais proposições<br />
para extrair conclusões se uma ou outra proposição<br />
é verdadeira, falsa ou provável. Essa era a ideia<br />
central comum ao conjunto de doutrinas conhecidas<br />
tradicionalmente como racionalismo.<br />
Para Weber, as investigações sociológicas<br />
só eram possíveis quando se utilizavam de uma<br />
multiplicidade de casos individuais. Assim, sua<br />
concepção de sociologia era abrangente e partia<br />
do conceito de conduta social, segundo o qual a<br />
Ciência devia explicar o fenômeno social a partir<br />
da investigação do comportamento subjetivo,<br />
que vincula o indivíduo a seus atos. Weber argumenta<br />
que a sociedade pode ser compreendida<br />
a partir do conjunto das ações individuais. Estas<br />
são todo tipo de ação que o indivíduo pratica,<br />
orientando-se pela ação de outros. Portanto, só<br />
existe ação social quando o indivíduo tenta estabelecer<br />
algum tipo de comunicação, a partir de<br />
suas ações com os demais.<br />
A partir desses pressupostos, Weber estabeleceu<br />
quatro tipos de ação social. Estes são conceitos<br />
que explicam a realidade social, mas não<br />
são a realidade social. Veja quais os quatro tipos<br />
de ação social:<br />
a) Ação tradicional: aquela determinada<br />
por um costume ou um hábito arraigado;<br />
b) Ação afetiva: aquela determinada por<br />
afetos ou estados sentimentais;<br />
c) Racional com relação a valores: determinada<br />
pela crença consciente num<br />
valor considerado importante, independentemente<br />
do êxito desse valor na<br />
realidade;<br />
d) Racional com relação a fins: determinada<br />
pelo cálculo racional que coloca<br />
fins e organiza os meios necessários.<br />
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />
23
Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa<br />
Nos conceitos de ação social e definição de<br />
seus diferentes tipos, Weber não analisa as regras<br />
e normas sociais como exteriores aos indivíduos.<br />
Para ele, as normas e regras sociais são o resultado<br />
do conjunto de ações individuais.<br />
Outra particularidade da sociologia de Weber<br />
é que ele rejeita a maioria das proposições<br />
positivistas. Weber argumenta que o cientista age<br />
influenciado pelo seu tempo, sendo, portanto,<br />
impossível ao cientista agir com total imparcialidade<br />
dos fatos como propunha Durkheim. Os fatos<br />
sociais não são coisas, eles estão carregados<br />
de sentimentos e emoções, o que contagia as intervenções<br />
do cientista. O estudo e a pesquisa devem,<br />
de qualquer maneira, ser conduzidos com<br />
objetividade em suas análises, impondo, assim,<br />
limites para as crenças e ideias pessoais, ou seja,<br />
evitando uma tomada de posição pessoal do pesquisador<br />
frente ao fato estudado. E você, o que<br />
pensa sobre essa questão? Será que o cientista<br />
consegue mesmo a total neutralidade diante dos<br />
fatos que analisa?<br />
Na busca de uma melhor adequação para<br />
as análises dos fatos sociais, Weber propôs um<br />
instrumento de análise denominado por ele de<br />
tipo ideal. Partindo de pressupostos do estudo<br />
das mais distintas manifestações culturais, o cientista<br />
constrói um modelo com os traços característicos<br />
dessa ou daquela manifestação e elege<br />
um tipo ideal para suas análises. Nesse sentido, o<br />
capitalismo ocidental constitui um tipo ideal de<br />
capitalismo por ser uma organização econômica<br />
racional voltada para o trabalho livre e para o lucro<br />
independentemente de sua localização.<br />
4.1 Resumo do Capítulo<br />
Caro(a) aluno(a), segundo Weber, os indivíduos agem motivados por uma tradição que nos permite<br />
estabelecer parâmetros para descobrir os sentidos da ação humana. Para Weber, o protestantismo carregava<br />
uma proeminente tendência ao racionalismo econômico. O autor argumenta ainda que a sociedade<br />
pode ser compreendida a partir do conjunto das ações individuais. Outra particularidade da sociologia<br />
de Weber é que ele rejeita a maioria das proposições positivistas. Weber argumenta que o cientista age<br />
influenciado pelo seu tempo, sendo, portanto, impossível ao cientista agir com total imparcialidade dos<br />
fatos, como propunha Durkheim.<br />
4.2 Atividades Propostas<br />
1. Quem escreveu e do que trata a obra A ética protestante e o espírito do capitalismo?<br />
2. Weber estabeleceu quatro tipos de ação social. Indique e explique dois.<br />
24<br />
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
5<br />
KARL MARX E A HISTÓRIA DA<br />
EXPLORAÇÃO DO HOMEM<br />
Você estudará agora um dos mais significativos<br />
nomes das ciências sociais: Karl Marx, de<br />
quem, possivelmente já ouviu falar. Pronto(a)? Então,<br />
vamos lá!<br />
Karl Marx (1818-1883) nasceu na cidade de<br />
Treves, na Alemanha. Em 1842, mudou-se para<br />
Paris, onde conheceu Friedrich Engels (1820-<br />
1895), seu companheiro de ideias. Em 1845, foi<br />
expulso da França, deslocando-se para Bruxelas e<br />
lá participando da recém-fundada liga dos comunistas.<br />
Em 1848, escreveu com Engels O manifesto<br />
do Partido Comunista. Estabeleceu-se em Londres<br />
a partir de 1848 e lá deu continuidade aos seus<br />
estudos. Suas principais obras são: O Manifesto do<br />
Partido Comunista, A ideologia Alemã e O capital.<br />
O marxismo surgiu com a sociedade moderna,<br />
com a grande indústria e com o proletariado<br />
industrial. Aparece como a concepção de mundo<br />
que expressa esse mundo moderno, suas contradições<br />
e seus problemas, para os quais aponta soluções<br />
racionais em contraposição às alternativas<br />
metafísicas.<br />
Com o objetivo de entender o capitalismo,<br />
Marx produziu obras de filosofia, economia e sociologia.<br />
Não se limitou, porém, em interpretar o<br />
mundo, queria antes de tudo transformá-lo. Podemos<br />
apontar algumas influências básicas no<br />
desenvolvimento do pensamento de Marx. Em<br />
primeiro lugar, coloca-se a leitura crítica da filosofia<br />
de Hegel, de quem Marx absorveu e aplicou<br />
de modo peculiar, o método dialético. Também<br />
significativo foi seu contato com o pensamento<br />
socialista francês e inglês do século XIX, sobretudo<br />
com Saint-Simon (1760-1825), Charles Fourier<br />
(1772-1837) e Robert Owen (1771-1858). Marx<br />
destacava o pioneirismo desses críticos da socie-<br />
dade burguesa, mas reprovava o “utopismo” de<br />
suas propostas de mudança social.<br />
Saiba mais<br />
‘Utopia’ tem como significado mais comum a ideia<br />
de civilização ideal. Pode referir-se a uma cidade ou a<br />
um mundo, sendo possível tanto no futuro quanto no<br />
presente. A palavra significa literalmente “não lugar” ou<br />
“lugar que não existe”. Foi inventada por Thomas More,<br />
servindo de título para uma de suas obras por volta de<br />
1516. O utopismo é um modo absurdamente otimista<br />
de ver as coisas do jeito que gostaríamos que elas<br />
fossem.<br />
Para Marx, as três teorias desenvolvidas tinham<br />
por traço comum o desejo de impor de uma<br />
só vez uma transformação social total, implantando,<br />
assim, o império da razão e da justiça eterna.<br />
Nos três sistemas elaborados, havia a eliminação<br />
do individualismo, da competição e da influência<br />
da propriedade privada. Tratava-se, por isso, de<br />
descobrir um sistema novo e perfeito de ordem<br />
social, vindo de fora, para implantá-lo na sociedade,<br />
por meio da propaganda e, sendo possível,<br />
com o exemplo, mediante experiências que servissem<br />
de modelo. Com essa formulação, os três<br />
desconsideravam a necessidade da luta política<br />
entre as classes sociais e o papel revolucionário<br />
do proletariado na realização dessa transição. Finalmente,<br />
há toda a crítica da obra dos economistas<br />
clássicos ingleses, em particular Adam Smith e<br />
David Ricardo. Esse trabalho tomou a atenção de<br />
Marx até o final da vida e resultou na maior parte<br />
de sua obra teórica. Essa trajetória é marcada<br />
pelo desenvolvimento de conceitos importantes,<br />
como alienação, ideologia valor, mercadoria, trabalho,<br />
mais-valia, infraestrutura e práxis.<br />
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />
25
Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa<br />
5.1 O Método do Pensamento Marxista<br />
É um pensamento materialista, que parte do<br />
objetivo para o subjetivo. A realidade é o campo<br />
de ação do homem. A realidade social é, porém,<br />
obra dos próprios homens. A história é, pois, feita<br />
pelos homens, não a partir das condições que<br />
desejariam, mas a partir da herança deixada pelas<br />
gerações passadas. É um pensamento dialético,<br />
que busca nas intervenções humanas e em suas<br />
contradições as explicações para a sociedade.<br />
Pode-se dizer, então, que é um pensamento<br />
que não se limita a interpretar o mundo, mas<br />
busca também transformá-lo. Até o advento do<br />
marxismo, não havia nenhuma descrição nem explicação<br />
científica da divisão social que acompanhava<br />
a humanidade desde os primórdios.<br />
Perceba que para Marx, a sociedade estrutura-se<br />
em níveis. O primeiro é a infraestrutura,<br />
que é constituída pela base econômica, aliás, esse<br />
é, segundo Marx, o aspecto fundamental de toda<br />
sociedade, isto é, transformar matérias-primas e<br />
fontes de energia em riqueza. Assim, a infraestrutura<br />
engloba a relação do homem com a natureza,<br />
no esforço de produzir a própria existência.<br />
Condiciona, assim, as relações dos homens entre<br />
si e o desenvolvimento das forças produtivas.<br />
Assim, cada grande etapa do desenvolvimento<br />
das forças produtivas corresponde a uma<br />
forma diferente de organização da sociedade. Por<br />
exemplo, no século XVIII, os agentes daquela sociedade<br />
fizeram uma mudança na técnica: com<br />
as mesmas matérias-primas e ferramentas que<br />
usavam os artesãos individualmente, agruparam<br />
operários em grandes oficinas, onde cada grupo<br />
fazia uma parte da produção total, que até então<br />
era feita separadamente por cada artesão. Essa<br />
nova técnica ficou conhecida como manufatura e<br />
substituiu a fase doméstica da produção.<br />
O segundo nível é chamado de superestrutura<br />
e é constituído de uma base jurídico-política,<br />
que é representada pelo estado que repercute as<br />
ideias da classe dominante. É composto também<br />
por uma estrutura ideológica repercutida nas formas<br />
de consciência social, entre as quais se destacam:<br />
a religião, a educação, a arte e as leis. Por<br />
esses mecanismos, a classe dominada acaba sendo<br />
sujeitada ideologicamente e seus valores de<br />
vida passam a refletir as ideias e valores da classe<br />
dominante.<br />
Observe a força da ideologia na produção<br />
dos discursos sociais. O que você pensa sobre<br />
isso?<br />
5.2 A Práxis<br />
Para Marx não existe uma “natureza humana”<br />
idêntica em todo tempo e lugar. O existir<br />
humano decorre do agir, pois o homem se autoproduz<br />
à medida que transforma a natureza<br />
pelo trabalho. O trabalho é um projeto humano<br />
e como tal depende da consciência que antecipa<br />
a ação humana pelo pensamento. Marx chama<br />
essa ação humana, de transformar a realidade, de<br />
práxis.<br />
Atenção<br />
O conceito de práxis é muito anterior à filosofia<br />
marxista, com raízes no pensamento de Aristóteles,<br />
mas foi por intermédio do pensador alemão<br />
Karl Marx que tal conceito, progressivamente, se<br />
aprofundou, passando a ser o elemento central<br />
do materialismo histórico. Marx concebe a práxis<br />
como atividade humana prático-crítica, que<br />
nasce da relação entre o homem e a natureza.<br />
A natureza só adquire sentido para o homem à<br />
medida que é modificada por ele, para servir aos<br />
fins associados à satisfação das necessidades do<br />
gênero humano.<br />
26<br />
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
<strong>Sociologia</strong><br />
5.3 A Mais-Valia<br />
Você verá agora um conceito-chave do pensamento<br />
marxista: a questão da mais-valia.<br />
Para Marx, tudo no sistema capitalista está<br />
vinculado à produção de mercadoria. Mercadoria<br />
é tudo aquilo que é produzido não tendo em<br />
vista o valor de uso (por exemplo, o cachecol que<br />
a vovó faz para o próprio uso), mas que tem por<br />
objetivo o valor de troca, isto é, a comercialização<br />
do produto.<br />
Como o operário não detém os meios de<br />
produção nem é dono das matérias-primas, precisa<br />
necessariamente vender seu trabalho para<br />
sobreviver. O capitalista compra essa mercadoria,<br />
isto é, a força de trabalho do operário, que passa a<br />
trabalhar para o capitalista num regime de trabalho<br />
aparentemente livre. Como vendeu sua força<br />
de trabalho ao capitalista, todo produto por ele<br />
criado pertence ao capitalista, que o paga pelo<br />
trabalho realizado. Ocorre que o pagamento nunca<br />
corresponde ao tempo trabalhado, por exemplo,<br />
se o operário gastou quatro horas para fazer<br />
uma cadeira, o capitalista lhe paga apenas duas,<br />
as outras duas horas ficam para o capitalista. Chama-se<br />
mais-valia, portanto, aquilo que o operário<br />
cria além do valor de sua força de trabalho, e que<br />
é apropriado pelo capitalista.<br />
Analisando as consequências da mais-valia<br />
para a vida do trabalhador, Chauí (1984) argumenta:<br />
O preço da mercadoria no comércio é<br />
uma aparência, pois a determinação<br />
do valor dessa mercadoria depende do<br />
tempo de trabalho de sua produção e<br />
esse tempo o dos demais trabalhadores<br />
que tornaram possível a fabricação dessa<br />
mercadoria. (...) o produtor da mercadoria<br />
recebe um salário, que é o preço de seu<br />
tempo trabalho, pois este é também uma<br />
mercadoria. Suponhamos, então, que,<br />
para fabricar um metro de linho e para<br />
extrair um quilo de ferro, os trabalhadores<br />
precisem de 8 horas de trabalho. Suponhamos<br />
que o preço desses produtos<br />
no mercado seja de R$ 16,00. Diremos,<br />
então, que cada hora de trabalho equivale<br />
a R$ 2,00. Porém, quando vamos verificar<br />
qual é o salário desses trabalhadores,<br />
descobrimos que não recebem R$ 16,00,<br />
mas sim R$ 8,00. Há, portanto, 4 horas de<br />
trabalho que não foram pagas, apesar de<br />
estarem incluídas no preço final da mercadoria.<br />
Essas 4 horas de trabalho não<br />
pagas constituem a mais-valia, o lucro do<br />
proprietário da fábrica de linho. Formam<br />
seu capital. A origem do capital, portanto,<br />
é o trabalho não pago. Graças à mais-valia,<br />
a mercadoria não é um valor de uso e<br />
um valor de troca qualquer, mas um valor<br />
capitalista. (CHAUÍ, 1984, p. 50-51).<br />
Marx sistematizou essas reflexões em sua<br />
obra máxima, O capital, onde analisa detalhadamente<br />
o funcionamento do sistema capitalista e<br />
mostra como suas próprias contradições produziriam<br />
a sua crise estrutural.<br />
Através do conceito da mais-valia, Marx<br />
demonstrou que o capitalismo baseia-se na exploração<br />
do trabalho. Como verificamos anteriormente<br />
e que agora exemplificaremos com outra<br />
ordem de pensamento:<br />
O sistema capitalista se ocupa da produção<br />
de artigos para a venda, isto é, de<br />
mercadorias. O valor de uma mercadoria<br />
é determinado pelo tempo de trabalho<br />
socialmente encerrado na sua produção.<br />
O trabalhador não possui os meios de<br />
produção (terras, ferramentas, fábricas<br />
etc.), que pertencem ao capitalista. O valor<br />
de sua força de trabalho, como o de<br />
qualquer mercadoria, é o total necessário<br />
a sua reprodução – no caso, a soma necessária<br />
para mantê-lo vivo. Os salários<br />
que lhe são pagos, portanto, serão iguais<br />
apenas ao necessário a sua manutenção.<br />
Mas esse total que recebe o trabalhador<br />
pode produzir em parte de um dia de trabalho.<br />
Isso significa que apenas parte do<br />
dia de trabalho o trabalhador estará trabalhando<br />
para si. O resto do dia ele está<br />
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />
27
Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa<br />
trabalhando para o patrão. A diferença<br />
entre o que o trabalhador recebe de salário<br />
e o valor da mercadoria que produz é a<br />
mais-valia. A mais-valia fica com o empregador<br />
- o dono dos meios de produção. É<br />
a fonte do lucro, dos juros, das rendas - as<br />
rendas das classes que são proprietárias.<br />
A mais-valia é também a medida da exploração<br />
do trabalhador no sistema capitalista.<br />
(HUBERMAN, 1972, p. 232-233).<br />
Ao patrão o que interessa é o aumento<br />
constante da mais-valia, porque assim seus lucros<br />
também aumentam. Para fazer isso, o capitalista<br />
usa algumas formas básicas: aumentando ao máximo<br />
a jornada de trabalho, mais-valia absoluta,<br />
de modo que depois de o operário ter produzido<br />
o valor equivalente ao de sua força de trabalho,<br />
possa continuar trabalhando muito tempo mais;<br />
essa forma de obter maior quantidade de mais-<br />
-valia é muito conveniente ao capitalista, porque<br />
ele não aumenta seus gastos nem em máquinas<br />
nem em locais, e consegue um rendimento muito<br />
maior da força de trabalho. Era o método mais<br />
utilizado no começo do capitalismo. Mas não se<br />
pode prolongar indefinidamente a jornada de<br />
trabalho. Existem limites para isso: limites físicos<br />
– porque se o operário trabalha durante muito<br />
tempo, não pode descansar o suficiente para refazer<br />
sua força de trabalho na forma devida, o que<br />
irá produzindo um esgotamento intensivo, logo,<br />
uma baixa no rendimento, o que não interessa<br />
ao patrão; limites históricos – porque, à medida<br />
que o capitalismo foi se desenvolvendo, a classe<br />
operária também se desenvolveu, se organizou<br />
e começou a lutar contra a exploração capitalista.<br />
Através de árduas lutas, a classe operária foi<br />
conseguindo reduzir a jornada de trabalho, obrigando<br />
o capitalista a buscar outras medidas para<br />
aumentar a mais-valia. Então, para isso, o patrão<br />
teve de lançar mão de outras formas para fazer<br />
com que o operário produzisse mais, reduzindo o<br />
tempo de trabalho necessário (mais-valia relativa)<br />
sem reduzir a jornada de trabalho: introduzindo<br />
máquinas mais modernas, incentivando a produtividade<br />
etc.<br />
Portanto, segundo Marx, a exploração do<br />
trabalhador não decorre do fato de o patrão ser<br />
bom ou mau, e sim da lógica do sistema: para o<br />
empresário vencer a concorrência entre os demais<br />
produtores e obter lucros para novos investimentos,<br />
ele utiliza-se da mais-valia, que constitui a<br />
verdadeira essência do capitalismo. Sem ela, este<br />
não existe. Mas a exploração do trabalho acabaria<br />
por levar, por efeito da tendência decrescente da<br />
taxa de lucro, ao colapso do sistema capitalista.<br />
5.4 Modos de Produção<br />
A mais-valia só existe no mundo do trabalho,<br />
sobretudo, do trabalho capitalista. Trabalho<br />
é toda atividade desenvolvida pelo homem, seja<br />
ela física ou mental, da qual resultam bens de<br />
consumo para a humanidade. Karl Marx afirmou<br />
alhures que foi o trabalho o primeiro responsável<br />
pela educação do homem. Trabalho aqui compreendido<br />
como a atividade manual e intelectual<br />
que visa produzir bens de serviços para o uso diário<br />
do homem. Há que se considerar, porém, que<br />
o peso de cada atividade é diferente. O trabalho<br />
do operário da construção civil é mais manual,<br />
apesar de exigir um mínimo de esforço mental.<br />
O trabalho do arquiteto e do engenheiro oferece<br />
a concepção de uma forma para o objeto que se<br />
quer produzir. Há ainda o trabalho que é feito por<br />
imitação, por exemplo, o trabalho de um feirante<br />
que vende frutas não exige aprendizagem anterior:<br />
ele é capaz de executá-lo por meio da imitação.<br />
Observe a esse respeito, a pergunta de Marx:<br />
o que diferencia o trabalho do mais brilhante arquiteto<br />
do trabalho da abelha? A diferença está,<br />
segundo ele, no projeto, ou seja, o arquiteto ao<br />
executar qualquer projeto o concebe antes em<br />
sua imaginação. A abelha, diferentemente, faz<br />
tudo pela intuição sem projeto concebido a priori.<br />
28<br />
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
<strong>Sociologia</strong><br />
Dicionário<br />
A priori, do latim, significa aquilo que vem antes. É<br />
uma expressão filosófica que designa uma etapa<br />
para se chegar ao conhecimento, que consiste no<br />
pensamento dedutivo. O conhecimento a priori se<br />
complementa com o conhecimento a posteriori,<br />
ou seja, o que vem depois como resultado da experiência.<br />
A humanidade passou por diversas fases de<br />
desenvolvimento de produção. Durante toda a<br />
sua história, o homem transformou e foi transformado<br />
pela natureza. A comunidade primitiva foi a<br />
primeira forma de organização humana. O modo<br />
de produção primitivo indica uma formação econômica<br />
ainda pouco estruturada. Tinha como<br />
característica a propriedade coletiva e não havia,<br />
portanto, a oposição proprietários e não proprietários,<br />
a terra era o principal meio de produção e<br />
não existia Estado.<br />
O modo de produção escravista predominou<br />
na Antiguidade, mas esteve presente também<br />
no Brasil e nos EUA durante o período colonial.<br />
Nas sociedades escravistas, todos os meios<br />
de produção, incluindo aí os escravos, eram<br />
propriedade do senhor. O escravo era considerado<br />
uma coisa, por isso, podia ser vendido como<br />
uma ferramenta ou um animal. As relações de<br />
produção na sociedade escravista eram relações<br />
de domínio e de oposição senhor versus escravo.<br />
Nesse modo de produção, já temos a presença do<br />
Estado, criado pelos senhores para defender seus<br />
interesses.<br />
O modo de produção asiático predominou<br />
no Egito antigo, na China e na Índia. Nesse modo<br />
de produção, as terras pertenciam ao Estado, que<br />
controlava a produção e a distribuía segundo<br />
seus interesses e conveniências. O Estado egípcio,<br />
dominado pelos Faraós, é um exemplo típico e<br />
mais conhecido desse modo de produção.<br />
O modo de produção feudal predominou<br />
na Europa Ocidental do século VI ao século XVI.<br />
A sociedade feudal estava baseada nas relações<br />
servis, isto é, senhores versus servos. Os servos<br />
estavam presos ao trabalho da terra. Eles cultivavam<br />
um pedaço de terra cedido pelo senhor<br />
e em troca pagavam impostos, cediam parte da<br />
produção para o senhor e ainda eram obrigados<br />
a trabalhar e cuidar das terras do senhor. Apesar<br />
disso, não eram escravos, pois o servo não era<br />
propriedade do senhor, portanto, não podia ser<br />
negociado como uma mercadoria, como ocorria<br />
com os escravos.<br />
O modo de produção capitalista institui o<br />
trabalho assalariado, suas relações de produção<br />
estão ancoradas na propriedade privada e no domínio<br />
dos meios de produção pela burguesia. A<br />
burguesia possui as fábricas, os meios de transporte,<br />
os bancos, as terras, os meios de comunicações<br />
e os dispositivos de controle social. Apesar<br />
disso, seus empregados não são escravos, nem<br />
servos. O trabalhador não é obrigado a ficar sempre<br />
no mesmo emprego; ele é livre para negociar<br />
com o capitalista o trabalho de seu interesse.<br />
Como os trabalhadores não são proprietários dos<br />
meios de produção, eles são obrigados a vender a<br />
força de trabalho para o capitalista, que paga pelos<br />
serviços prestados 4 . Essas duas classes, isto é, a<br />
burguesia e o proletariado, são rivais. A burguesia<br />
luta para conservar os privilégios e o proletariado<br />
para tomar o poder da burguesia.<br />
No modo de produção socialista, a finalidade<br />
da sociedade socialista é a satisfação completa<br />
das necessidades materiais e culturais da população.<br />
Nessa sociedade, não há separação entre<br />
proprietários (os donos dos meios de produção) e<br />
não proprietários (todos aqueles que têm apenas<br />
a força de trabalho para tirar o sustento de suas<br />
vidas). O Estado é quem administra e distribui a<br />
produção, e não há divisão de classes, isto é, não<br />
há separação entre ricos e pobres, proprietários e<br />
não proprietário, intelectuais e não intelectuais.<br />
Pode-se dizer, então, que um sentimento de<br />
igualdade permeia as relações socioculturais da<br />
sociedade socialista.<br />
4<br />
Obviamente que o capitalista se utiliza de todos os mecanismos para tornar o trabalhador cada vez mais dependente. Conferir<br />
a esse respeito os conceitos de alienação, ideologia e mais-valia da presente apostila.<br />
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />
29
Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa<br />
5.5 Resumo do Capítulo<br />
Caro(a) aluno(a), o marxismo surgiu como a concepção que expressa esse mundo moderno, surge<br />
com a indústria e com o proletariado industrial. O pensamento materialista, que parte do objetivo para<br />
o subjetivo, é um pensamento dialético, que busca nas intervenções humanas e em suas contradições as<br />
explicações para a sociedade. Para Marx não existe uma “natureza humana”, pois o homem se autoproduz<br />
à medida que transforma a natureza pelo trabalho. O trabalho é um projeto humano e como tal depende<br />
da consciência que antecipa a ação humana pelo pensamento. Para Marx, tudo no sistema capitalista<br />
está vinculado à produção de mercadoria; a mais-valia só existe no mundo do trabalho, sobretudo do trabalho<br />
capitalista. No modo de produção socialista, a finalidade é a satisfação completa das necessidades<br />
materiais e culturais da população.<br />
5.6 Atividades Propostas<br />
1. Para Marx, a sociedade estrutura-se em níveis. Explique o nível da infraestrutura.<br />
2. Caracterize o modo de produção feudal.<br />
30<br />
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
6<br />
CONCEITOS DE SOCIOLOGIA<br />
Você estudará os diferentes conceitos utilizados<br />
na <strong>Sociologia</strong>. Veja como alguns autores<br />
concebem esses objetos de estudo.<br />
Para Lakatos e Marconi (1999, p. 38), é “o estudo<br />
sistemático dos grupos e sociedades em que<br />
vivem os indivíduos, como são criadas e mantidas<br />
ou modificadas as estruturas sociais e as culturas<br />
e como estas afetam nosso comportamento.”<br />
Para Scuro (2004), é o estudo da realidade social,<br />
quanto à sua constituição, suas estruturas e seu<br />
funcionamento. Lemos Filho (2004) entendem<br />
que a <strong>Sociologia</strong> é a Ciência que estuda o desen-<br />
volvimento, a estrutura e a função da sociedade.<br />
Conforme alerta-nos Martins (1987),<br />
a <strong>Sociologia</strong> começa com a observação<br />
de que os humanos são criaturas imensamente<br />
sociais, tudo o que fazemos, desde<br />
fazer amor até fazer uma guerra, o fazemos<br />
em companhia de outros e é imperativo<br />
fazê-lo com os demais. Nunca um<br />
indivíduo solitário poderá realizar estas<br />
atividades. Estamos em constante construção<br />
e reconstrução de grupos, desde<br />
famílias e grupos em almoços ou em corporações<br />
multinacionais. (p. 9).<br />
6.1 Estrutura Social<br />
Numa escola trabalham o diretor, o coordenador<br />
pedagógico, os professores, o secretário e<br />
diversos funcionários, além dos alunos. Cada um<br />
desses elementos ocupa uma posição social, um<br />
status no grupo. Cada posição está relacionada<br />
com as demais, e todas elas, em conjunto, formam<br />
a estrutura da escola. Esse mesmo raciocínio<br />
pode ser aplicado a outras estruturas, como,<br />
por exemplo, a um clube de futebol, que tem o<br />
presidente, o técnico, o massagista, os jogadores,<br />
enfim, tem um conjunto humano que forma uma<br />
estrutura social.<br />
Observe, pois, que estrutura social é um<br />
conjunto ordenado de partes encadeadas que<br />
formam um todo. Dito de outro modo, a estrutura<br />
social integra os indivíduos dentro de uma ordem<br />
e aí define, por exemplo, o papel de cada um de<br />
seus membros. Assim, o diretor de escola e o professor<br />
sabem de suas funções sem a necessidade<br />
de orientações diárias. O mesmo pode ser dito da<br />
estrutura de uma empresa ou de um clube de futebol.<br />
Nessas organizações, o papel de cada um já<br />
está dado previamente de modo que eles podem<br />
compartilhar sem animosidade o mesmo espaço<br />
social.<br />
Estrutura social funciona também como<br />
uma orientação teórica, um sistema de crenças<br />
e interesses que medeia as relações sociais. Os<br />
membros de uma sociedade tendem geralmente<br />
a compartilhar a crença na importância dos<br />
valores definidos consensualmente. A religião, a<br />
liberdade política e a crença nas leis para mediar<br />
as relações humanas são, por exemplo, como valores<br />
intrínsecos e universais que permeiam as estruturas<br />
sociais.<br />
A estrutura social inclui grandes grupos,<br />
como as sociedades, comunidades, e pe-<br />
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />
31
Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa<br />
quenos grupos, como as famílias e os amigos,<br />
mas o conceito de estrutura social<br />
inclui também os modelos ou padrões de<br />
interação social e relações sociais. Abarca<br />
fenômenos que são tangíveis ou visíveis,<br />
como o de quem se relaciona e com<br />
quem: idéias ou crenças e objetivos ou interesses;<br />
podem observar-se as relações<br />
sociais, as idéias que os indivíduos sustentam<br />
em comum e qualquer coisa que<br />
apreciem ou estimem, a estrutura não é<br />
estática, mas está em mudança constante.<br />
(LAKATOS; MARCONI, 1999, p. 83).<br />
Os elementos básicos da estrutura social<br />
são status e papéis, relações sociais, grupos e organizações.<br />
6.2 Status e Papéis<br />
Para Lakatos e Marconi (1999), status e papéis<br />
são elementos opostos e complementares,<br />
um não poderia existir sem o outro. Um papel é a<br />
coleção de direitos culturalmente definidos, obrigações<br />
e expectativas que acompanham um status<br />
num sistema social. Numa empresa, por exemplo,<br />
o patrão possui direitos, deveres e privilégios<br />
diferentes dos empregados. Numa escola, diretor<br />
e professor possuem direitos e deveres diferentes<br />
dos alunos. Num clube de futebol, o técnico possui<br />
também direitos e deveres diferenciados dos<br />
jogadores. O que estamos querendo demonstrar<br />
é que a posição ocupada pelo indivíduo no grupo<br />
social denomina-se status social. O status social<br />
indica, então, a posição do indivíduo no grupo<br />
social.<br />
O status pode ser atribuído ou adquirido.<br />
Status atribuído é aquele que não é escolhido voluntariamente<br />
pelo indivíduo e não depende de<br />
suas ações e qualidades. Por exemplo, o status de<br />
“primogênito” ou de “filho de operário”. Já o status<br />
adquirido é obtido de acordo com as qualidades<br />
pessoais do indivíduo. Esse status confere ao indivíduo<br />
uma posição de destaque entre os membros<br />
do grupo de pertencimento, pois seu status é<br />
fruto do reconhecimento de sua capacidade. Por<br />
exemplo, Pelé tem status adquirido pelas qualidades<br />
de seu futebol. O status adquirido está, então,<br />
associado à capacidade profissional, intelectual e<br />
de liderança do indivíduo na sociedade.<br />
Nas sociedades mais antigas, o status era<br />
quase sempre atribuído. Assim foi na Idade Média,<br />
com a Igreja atribuindo status religiosos para<br />
os indivíduos. Assim foi nas sociedades escravocratas,<br />
quando o status era também atribuído e<br />
assim permaneceu em algumas sociedades modernas,<br />
com o rei atribuindo status para seus súditos.<br />
Na sociedade contemporânea, predomina<br />
o status adquirido pelo destaque intelectual, liderança<br />
e habilidades pessoais.<br />
6.3 Relações Sociais<br />
Para Scuro (2004), os status e os papéis<br />
dão as bases para as relações sociais, as relações<br />
tomam muitas formas diferentes. Para Martins<br />
(1987), algumas são multifacetadas: duas pessoas<br />
que vivem no mesmo bairro, trabalham para<br />
a mesma companhia e têm os mesmos amigos.<br />
Outras são simples propósitos: o dono de um<br />
cachorro com o qual alguém se encontra quase<br />
todos os dias. Para Lakatos e Marconi (1999),<br />
cada interação social é uma situação em que o<br />
comportamento de um participante influi no do<br />
outro, os indivíduos definem, negociam suas relações,<br />
algumas envolvem a relação direta cara a<br />
cara, outras são indiretas.<br />
32<br />
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
<strong>Sociologia</strong><br />
6.4 Grupos<br />
Grupo social é a reunião de duas ou mais<br />
pessoas, associadas por interesses comuns. Ao<br />
longo da vida, o indivíduo participa de vários grupos<br />
sociais, entre os quais, destacamos:<br />
• Grupo Educativo – escola;<br />
• Grupo Religioso – igreja;<br />
• Grupo Familial – família;<br />
• Grupo Profissional – empresa;<br />
• Grupo Político – partidos políticos;<br />
• Grupo Sindical – sindicatos.<br />
Atenção<br />
Em sociologia, grupo é um sistema de relações<br />
sociais, de interações recorrentes entre pessoas.<br />
Também pode ser definido como uma coleção<br />
de várias pessoas que compartilham certas características,<br />
que interajam uns com os outros,<br />
aceitem direitos e obrigações como sócios do<br />
grupo e compartilhem uma identidade comum.<br />
Em cada fase da vida, um desses grupos estará<br />
presente na vida do indivíduo. Para melhor<br />
compreendê-los, podemos dividi-los em dois<br />
grupos:<br />
1. Grupo Primário: predominam os contatos<br />
pessoais, isto é, como a família e os<br />
vizinhos. Os contatos são estabelecidos<br />
mais diretamente, sem formalidade.<br />
2. Grupo Secundário: são grupos mais<br />
complexos, como a Igreja e o Estado.<br />
Os contatos aqui são mediados pela<br />
formalidade, respeitando-se a liturgia<br />
do cargo e da ocasião.<br />
Para Lakatos e Marconi (1999), há outros<br />
níveis da estrutura social que podem compartilhar<br />
certas características sociais. As pessoas que<br />
trabalham num consultório são um grupo social,<br />
veem-se frequentemente, o “trabalhar juntos”<br />
lhes dá um propósito e metas comuns e um sentido<br />
compartilhado de identidade. Além disso, suas<br />
interações são estruturadas por seus papéis e diferentes<br />
posições hierárquicas.<br />
Organizações Formais<br />
Para Scuro (2004), organização formal é um<br />
grupo planejado e criado para seguir suas metas<br />
e manter-se unido por regras explícitas e regulamentos.<br />
Diferenciam-se os grupos pelo equilíbrio,<br />
escala, estrutura e ênfase em fazer as coisas ou<br />
nas orientações de suas metas. Como coloca Martins<br />
(1987, p. 15):<br />
Instituições Sociais<br />
Em sua acepção original a palavra estrutura<br />
faz referência à construção de edifícios,<br />
mas no século XVI foi empregada<br />
para denotar as relações entre as partes<br />
de um todo. Era uma palavra utilizada<br />
normalmente nos estudos anatômicos<br />
que nesta época começavam a florescer.<br />
O passo do termo da anatomia à <strong>Sociologia</strong>,<br />
produziu-se vários séculos depois, foi<br />
uma conseqüência lógica das analogias<br />
orgânicas por parte dos pensadores políticos.<br />
Para Lakatos e Marconi (1999), o elemento<br />
estrutural mais importante dos elementos reunidos<br />
são as instituições sociais, conjuntos estáveis<br />
e perduráveis de normas e valores, status, papéis,<br />
grupos e organizações com uma estrutura para a<br />
conduta social numa área particular da vida.<br />
Todas as sociedades de grande escala têm<br />
cinco Instituições Sociais principais, segundo Scuro<br />
(2004):<br />
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />
33
Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa<br />
1. A familiar, que é a responsável pelo<br />
crescimento e cuidado para com as<br />
crianças de modo a substituir os membros<br />
da sociedade que morreram ou se<br />
foram;<br />
2. A educacional, que assegura que as<br />
normas e valores culturais passem de<br />
uma geração à seguinte e que as pessoas<br />
jovens tenham conhecimento e<br />
habilidade para realizar papéis adultos;<br />
3. A religiosa, que reforça os valores, dá<br />
significado e propósito à vida;<br />
4. A política, que mantém a ordem social<br />
e protege os membros da sociedade<br />
das invasões, controla os delitos e desordens<br />
internas, resolve conflitos de<br />
interesse;<br />
5. A econômica, que organiza a produção<br />
e distribuição de bens e serviços.<br />
A ciência, as artes, o cuidado com a saúde, o<br />
sistema legal, o exercício e o tempo livre são elementos<br />
que também foram institucionalizados<br />
nas sociedades modernas.<br />
6.5 Fenômenos Sociais<br />
Para Lakatos e Marconi (1999), os grandes<br />
acontecimentos históricos não se produzem sem<br />
razão; determinadas causas sociais de caráter<br />
complexo precisam ocorrer e, muitas vezes, são<br />
previsíveis, para que esses acontecimentos ocorram.<br />
O mesmo se pode dizer dos fenômenos que<br />
se suscitaram com o decorrer dos tempos. A seguir,<br />
alguns de grande importância para a <strong>Sociologia</strong>,<br />
em Lakatos e Marconi (1999):<br />
1. A Revolução Francesa de 1789 e a Revolução<br />
Industrial produziram um desmoronamento<br />
das estruturas sociais de<br />
tal maneira que passaram a ser motivo<br />
de preocupação coletiva; o que ocorre<br />
na sociedade, o que provoca essas mudanças<br />
e como se podem solucionar<br />
essas desigualdades e desequilíbrios<br />
que se apresentam na sociedade;<br />
2. Os avanços científicos e tecnológicos;<br />
3. Desenvolvimento de uma nova economia<br />
industrial, já que ocorreu uma<br />
mudança na sociedade: deixou-se de<br />
produzir a terra (cultivável), abandonou-se<br />
a forma de produção artesanal<br />
e passou-se à produção em grandes<br />
fábricas, ao mesmo tempo que os trabalhadores<br />
deixaram de trabalhar em<br />
suas casas para trabalhar sob as ordens<br />
de um supervisor. Isso teve como consequência<br />
grandes mudanças na família,<br />
que deixou de consumir o que<br />
ela mesma produzia, de forma que se<br />
produziu uma dissociação: de um lado<br />
trabalhadores e de outro, consumidores,<br />
ao mesmo tempo que a família foi<br />
mudando seu sistema de valores;<br />
4. O crescimento das cidades: os camponeses<br />
abandonaram o campo,<br />
trasladando-se à cidade em busca de<br />
trabalho, de tal forma que os núcleos<br />
industriais converteram-se em grandes<br />
cidades, surgiu a emigração, o<br />
aglomerado da população, a pobreza,<br />
o desemprego, a criminalidade, sendo<br />
esses problemas frequentes nessas<br />
grandes cidades, o que deixou antever<br />
34<br />
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
<strong>Sociologia</strong><br />
o quanto esses são problemas de difícil<br />
solução;<br />
5. Mudanças políticas: o direito divino<br />
dos reis foi abandonado, de forma que<br />
a autoridade já não se legitimava por<br />
um caráter divino, nem a sociedade era<br />
produto de um plano guiado por Deus,<br />
e se começava a ver tanto a autoridade<br />
quanto a sociedade, um produto dos<br />
seres humanos, orientados a satisfazer<br />
suas necessidades e seus interesses;<br />
ressurgiu, então, o interesse pelo indivíduo<br />
e um reconhecimento de seus<br />
direitos por sua condição de pessoa<br />
humana.<br />
Esses cinco pontos formam o contexto que<br />
levou uma série de pensadores 5 a propor a questão<br />
da sociedade e, consequentemente, da <strong>Sociologia</strong>.<br />
De acordo com Scuro (2004), outros dos fenômenos<br />
sociais que se apresentaram com maior<br />
frequência em nossa moderna sociedade são: o<br />
delito, a violência, as drogas, o divórcio e a aculturação<br />
dos imigrantes.<br />
6.6 Relações Sociais<br />
Saiba que o conceito da relação deve entender-se<br />
como uma conduta plural pelo sentido<br />
que encerra: apresenta-se como reciprocamente<br />
referida ou orientando-se por essa reciprocidade.<br />
Consiste na probabilidade de comportamento<br />
social numa forma indicada, sendo indiferente<br />
àquilo em que a probabilidade prediz. À relação<br />
social temos que vincular o processo social (WE-<br />
BER, 1982).<br />
Segundo Scuro (2004, p. 107), “observando<br />
uma conduta plural, ou seja, conduta de vários<br />
atores que criam uma interação ao agir e, além<br />
disto, orientam sua conduta pela idéia da reciprocidade.”<br />
Para que a interação ocorra, é preciso pluralidade,<br />
no entanto, o conteúdo da relação pode<br />
ser, segundo Martins (1987):<br />
a) Relações Dissociativas:<br />
• inimizade;<br />
• conflito;<br />
• concorrência.<br />
b) Relações Associativas:<br />
• amor sexual;<br />
• amizade;<br />
• associação comercial.<br />
6.7 Fim ou Objetivos da <strong>Sociologia</strong><br />
Entenda que o objetivo da <strong>Sociologia</strong> é<br />
o estudo científico dos fatos sociais (LAKATOS;<br />
MARCONI, 1999). Seu objetivo principal inicial era<br />
descrever e quantificar os fatos; pelo contrário, se<br />
queria dar à <strong>Sociologia</strong> um papel explicativo, e<br />
houve um grande esforço em organizar um amplo<br />
aparelho conceitual (SCURO, 2004).<br />
Segundo Rodrigues (2003, p. 127):<br />
O objetivo da <strong>Sociologia</strong> na consciência<br />
coletiva, o da psicologia a consciência<br />
individual, e as diferenças entre ambas<br />
as ciências é o que estuda a <strong>Sociologia</strong>,<br />
é o fato social que tem caráter externo e<br />
5<br />
Entre os quais se destacam: Saint-Simon, Comte, Karl Marx, Durkheim e Max Weber.<br />
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />
35
Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa<br />
coercivo enquanto o fato psíquico é de<br />
natureza interna e de significado mimético.<br />
A <strong>Sociologia</strong> consiste no estudo dos processos<br />
sociais ou inter-humanos e deve se dividir em<br />
três grandes tarefas (LEMOS FILHO, 2004):<br />
1. Abstrair o social ou inter-humano do<br />
resto pertencente à vida humana;<br />
2. Constatar os efeitos do social e o modo<br />
como se produzem;<br />
3. Restituir o social ao conjunto da vida<br />
humana para fazer compreensíveis<br />
suas relações com esta.<br />
6.8 Teoria Sociológica Geral<br />
Você tem ideia do que seja a Teoria Sociológica<br />
Geral? É sobre isso que falaremos a seguir.<br />
Trata-se de uma teoria que pretende atribuir<br />
um valor explicativo à doutrina estrutural<br />
funcional, e que tem uma intenção consistente,<br />
não exatamente de destruir, negando veementemente<br />
a verdade das teorias sociológicas do passado,<br />
mas assinalando suas insuficiências, a partir<br />
dos pontos de vista teóricos e prático (LAKATOS;<br />
MARCONI, 1999).<br />
Segundo Martins (1987), essa corrente sociológica<br />
estimava que a <strong>Sociologia</strong> devesse abarcar<br />
todo o campo das ciências, de tal modo que a<br />
<strong>Sociologia</strong> seria uma espécie de enciclopédia do<br />
saber, de tal sorte que de alguma forma a <strong>Sociologia</strong><br />
estudaria o objeto das matemáticas, astronomia,<br />
física, química e, ao fazer isso, a <strong>Sociologia</strong> se<br />
converteria numa ciência de importância primordial.<br />
Martins (1987, p. 14) afirma ainda que,<br />
como muitas palavras excessivamente<br />
usadas, o termo ‘teoria sociológica’ ameaça<br />
ficar vazio de sentido. A mesma diversidade<br />
de coisas a que se aplica, a partir<br />
de pequenas hipóteses de trabalho,<br />
passando por especulações gerais mais<br />
vagas e desordenadas, até os sistemas<br />
axiomáticos do pensamento, o emprego<br />
da palavra com freqüência atrapalha o<br />
entendimento em vez de aclará-lo.<br />
O termo ‘teoria sociológica’ refere-se a grupos<br />
de proposições logicamente interconectadas,<br />
dos quais podem se derivar uniformidades<br />
empíricas. Constantemente é enfocado o que se<br />
denomina de “teorias de alcance intermediário”.<br />
Nos dizeres de Scuro (2004):<br />
[...] teorias intermediárias entre essas<br />
hipóteses de trabalhos menores, mas<br />
necessários, que se produzem abundantemente<br />
durante as rotinas diárias da<br />
pesquisa e dos esforços sistemáticos totalizadores<br />
para desenvolver uma teoria<br />
unificada, que explique todas as uniformidades<br />
observadas na conduta, na organização<br />
e nas mudanças sociais. (p. 73).<br />
A teoria intermediária é utilizada na <strong>Sociologia</strong><br />
principalmente para guiar a pesquisa empírica.<br />
É uma teoria intermediária às teorias gerais<br />
dos sistemas sociais, que estão demasiado distantes<br />
dos tipos particulares de conduta, de organização<br />
e de mudança sociais para levá-las em<br />
conta no que se observa e nas descrições ordenadamente<br />
detalhadas de particularidades que<br />
não estão ainda generalizadas. A teoria de alcance<br />
intermediário inclui abstrações, por óbvio, mas<br />
estão próximas o bastante dos dados observados<br />
para incorporá-las em proposições que permitam<br />
a prova empírica (LAKATOS; MARCONI, 1999).<br />
Martins (1987) explica que as teorias de<br />
alcance intermediário tratam dos aspectos delimitados<br />
dos fenômenos sociais, como o indicam<br />
seus próprios procedimentos. Fala-se de uma teoria<br />
dos grupos de referência, da mobilidade social<br />
ou de conflito de papéis e da formação de normas<br />
sociais, da mesma forma que se fala de uma teoria<br />
36<br />
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
<strong>Sociologia</strong><br />
dos preços, de uma teoria dos germes ou de uma<br />
doença, ou de uma teoria cinética dos gases.<br />
A busca de teorias de alcance intermediário<br />
exige do sociólogo um compromisso<br />
diferente que a busca de uma teoria totalizadora.<br />
As observações de cada aspecto<br />
da conduta, organização e mudanças<br />
sociais, encontram-se prefixadas, implicando<br />
no mesmo desafio e na mesma<br />
pequena promessa dos grandes sistemas<br />
filosóficos totalizadores que caíram em<br />
merecido desuso. (LEMOS FILHO, 2004, p.<br />
143).<br />
Nesse caso, segundo Martins (1987), a formulação<br />
de uma teoria sociológica geral, ampla<br />
o bastante para abarcar grandes quantidades de<br />
detalhes minuciosamente observados da conduta<br />
e organização sociais, não seria frutífera o<br />
bastante para chamar a atenção de milhares de<br />
pesquisadores para os problemas da pesquisa<br />
empírica.<br />
Para Martins (1987), um sentido histórico<br />
dos contextos intelectuais mutáveis da <strong>Sociologia</strong><br />
deve ser humilde o bastante para liberar aqueles<br />
otimistas desta esperança extravagante.<br />
Por um lado, alguns aspectos de nosso passado<br />
histórico ainda permanecem em grande<br />
parte conosco. Devemos recordar que primeiramente<br />
a <strong>Sociologia</strong> desenvolveu-se numa atmosfera<br />
intelectual na qual se introduziam por todos<br />
os lados sistemas filosóficos gerais. Qualquer filósofo<br />
do século XVIII e do início do século XIX que<br />
se prezasse tinha que desenvolver seu próprio sistema<br />
filosófico, sendo os mais conhecidos excepcionalmente:<br />
Kant, Fichte, Schelling e Hegel. Cada<br />
sistema era uma aposta pessoal pela concepção<br />
definitiva do universo, do material, da natureza e<br />
do homem. Essas tentativas dos filósofos em criar<br />
sistemas totais serviram de modelo aos primeiros<br />
sociólogos, e assim o século XIX foi um século de<br />
sistemas sociológicos. Tendo como pais fundadores<br />
Comte e Spencer (BENOIT, 1999).<br />
Nesse contexto, Benoit (1999) afirma que<br />
quase todos os pioneiros da <strong>Sociologia</strong> trataram<br />
de criar um modelo de seu próprio sistema. A<br />
multiplicidade de sistemas, cada um deles com<br />
pretensões de ser genuína <strong>Sociologia</strong>, levou,<br />
muito naturalmente, à formação de escolas, cada<br />
uma delas com seu grupo de mestres e discípulos.<br />
A sociologia não só se diferenciou de outras<br />
disciplinas, mas se diferenciou internamente. Essa<br />
diferenciação não era, no entanto, questão de especialização,<br />
como nas ciências; era mais, como<br />
em filosofia, questão de sistemas completos, tipicamente<br />
sustentados como mutuamente excludentes<br />
e díspares.<br />
Como observou Bertrand Russell (apud LE-<br />
MOS FILHO, 2004) a respeito da Filosofia, esta <strong>Sociologia</strong><br />
total não captou a vantagem, comparada<br />
com as sociologias dos construtores de sistemas,<br />
de ser capaz de resolver problemas, um de cada<br />
vez e ao mesmo tempo, em lugar de ter que inventar<br />
de uma só vez um bloco teórico de todo o<br />
universo sociológico. Nos dizeres de Lemos Filho<br />
(2004):<br />
os sociólogos intelectuais de sua disciplina<br />
tomaram seu protótipo de sistemas<br />
da teoria científica em lugar de sistemas<br />
filosóficos. Esta via também levou às vezes<br />
à tentativa de criar sistemas totais de<br />
<strong>Sociologia</strong>, meta que freqüentemente se<br />
baseia numa ou mais de três concepções<br />
básicas errôneas sobre seguiram outro<br />
caminho em seu desejo de estabelecer a<br />
legitimidade às ciências. (p. 147).<br />
Para Martins (1987), a primeira concepção<br />
errônea supõe que os sistemas de pensamento<br />
podem desenvolver-se efetivamente ante uma<br />
grande massa de observações básicas que se acumularam.<br />
De acordo com essa opinião, Einstein<br />
poderia ter seguido de imediato Kepler, sem necessidade<br />
dos séculos de pesquisa e pensamento<br />
sistemático a respeito dos resultados da pesquisa<br />
que foram necessários para preparar o terreno.<br />
Os sistemas de <strong>Sociologia</strong> que partem<br />
desta pressuposição tácita são muito parecidos<br />
aos introduzidos pelos criadores<br />
de sistemas em medicina num lapso de<br />
150 anos: os sistemas de Stahl, Boissier<br />
de Sauvages, Broussais, John Brown e<br />
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />
37
Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa<br />
Benjamin Rush. Até meados do século<br />
XIX, personagens eminentes da medicina<br />
pensaram que era necessário desenvolver<br />
um sistema teórico da doença muito<br />
antes que a anterior pesquisa empírica se<br />
tivesse desenvolvido adequadamente.<br />
(MARTINS, 1987, p. 22).<br />
Esses caminhos já se fecharam na Medicina,<br />
mas esse tipo de esforço ainda ressurge na <strong>Sociologia</strong>.<br />
6.9 Teorias Sociológicas Especiais<br />
Caro(a) aluno(a), você verá agora as teorias<br />
sociológicas denominadas especiais.<br />
Para Martins (1987), essas teorias entendem<br />
que ideias, conceitos ou julgamentos provisórios<br />
a respeito da natureza da realidade ou a respeito<br />
do modo de se resolver um problema podem ser<br />
simples hipóteses, conceitos ou juízos aplicados a<br />
algum fenômeno específico e são as que a seguir<br />
se relacionam:<br />
• A teoria da Gemeinschaft;<br />
• A Gesellschaft;<br />
• A teoria da relatividade linguística;<br />
• A teoria do etnocentrismo;<br />
• A teoria da socialização;<br />
• A teoria do eu que se vê num espelho;<br />
• A teoria da conduta conformista.<br />
Tendem a agrupar-se em várias correntes<br />
teóricas principais ou perspectivas que vinculam<br />
uma ampla quantidade de conceitos hipóteses e<br />
teorias (LAKATOS; MARCONI, 1999).<br />
6.10 Pesquisas Sociológicas Concretas<br />
São orientações teóricas que dão ênfase à<br />
oposição ente os indivíduos, os grupos ou as estruturas<br />
sociais. Essa oposição é a existência da<br />
escassez ou limitações nos recursos para conseguir<br />
objetivos ou realizar os valores. Os recursos<br />
referem-se tanto aos fatores não materiais, como<br />
poder e prestígio, quanto a fatores utilizados para<br />
conseguir objetivos. A <strong>Sociologia</strong> considera a escassez<br />
como algo que é parcialmente um senso<br />
comum por parte da sociedade (WEBER, 2003).<br />
O Funcionalismo Estrutural é uma orientação<br />
teórica que acentua as funções ou contribuições<br />
feitas à sociedade pelas estruturas sociais<br />
existentes (SCURO, 2004):<br />
a) Etnometodologia;<br />
b) Teoria da mudança;<br />
c) Teoria do intercâmbio;<br />
d) Interacionismo simbólico;<br />
e) Teoria do conflito.<br />
38<br />
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
<strong>Sociologia</strong><br />
6.11 Leis Sociais<br />
Você sabe o que são leis sociais?<br />
Segundo Lemos Filho (2004), são os regulamentos<br />
que regem a conduta do indivíduo na<br />
sociedade, conforme o Direito.<br />
a) A LEI é uma norma de direito ditada, promulgada<br />
e sancionada pela autoridade<br />
pública, ainda sem o consentimento<br />
dos indivíduos, e que têm como fim regular<br />
a conduta externa dos homens.<br />
b) O COSTUME é a observância uniforme<br />
e constante de regras de conduta obrigatórias<br />
elaboradas por uma comunidade,<br />
é um uso implantado numa coletividade<br />
e considerado por esta como<br />
juridicamente obrigatória, é o direito<br />
costumário.<br />
c) A JURISPRUDÊNCIA é a correta interpretação<br />
da lei feita pelos Ministros da Suprema<br />
Corte de Justiça Plena ou pelos<br />
Magistrados dos Tribunais Colegiados.<br />
Havendo vários casos concretos, sem<br />
objeções, acaba por se converter em<br />
obrigatória, já que cobre as lacunas da<br />
lei.<br />
d) A DOUTRINA é o conjunto de estudos<br />
e opiniões que os tratadistas de direito<br />
emitem em suas obras. Estudos de<br />
caráter científico que os juristas fazem<br />
sobre temas de direito, munidos de propósitos<br />
teóricos sistematizados de seus<br />
preceitos, com a finalidade de interpretar<br />
suas normas e assinalar as regras de<br />
aplicação.<br />
e) OS PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO são<br />
os que determinam uma controvérsia<br />
judicial, como a equidade, a justiça, o<br />
bem comum.<br />
f) A EQUIDADE é considerada por alguns<br />
autores também como fonte formal do<br />
Direito.<br />
Assim, atente para a definição de lei: a Lei<br />
é o conjunto de normas jurídicas de observância<br />
geral por parte da população de um Estado num<br />
regime de direito e que é sua principal fonte. A Jurisprudência<br />
é realizada pelos grandes Jurisconsultos<br />
da Suprema Corte de Justiça da nação, que<br />
têm a faculdade de interpretação das normas jurídicas<br />
de um Estado, através de suas resoluções,<br />
que interpretam e uniformizam direito ao cobrir<br />
as lacunas da lei. O Costume, por sua vez, são<br />
normas de conduta criadas por uma comunidade<br />
e que vão sendo aceitas de forma obrigatória;<br />
surgem pela uniformidade do comportamento:<br />
“o costume se faz lei”. Por outro lado, a doutrina<br />
é constituída pelos estudos que realizam os pesquisadores<br />
do direito, sobre variados aspectos e,<br />
por último, os Princípios Gerais do Direito são os<br />
axiomas ditados pela razão, a sabedoria que serve<br />
de inspiração e fundamento ao direito positivo<br />
como frases doutrinárias com as quais se formam<br />
máximas de caráter axiomático como as que se<br />
seguem:<br />
1. Ninguém deve ser condenado somente<br />
por suspeitas;<br />
2. É preferível absolver um culpado a condenar<br />
um inocente;<br />
3. A boa-fé se presume, a má-fé se prova;<br />
4. Onde a lei não distingue, não é lícito<br />
distinguir.<br />
Sobre essas questões, Lemos Filho (2004)<br />
assinala:<br />
As fontes do direito são os procedimentos<br />
por meio dos quais se concretiza a<br />
norma jurídica e se assinala sua força<br />
obrigatória, já que a lei é a norma jurídica<br />
emanada do poder público. O Costume<br />
é o conjunto de hábitos que levam o homem<br />
a agir de maneira determinada ao<br />
qual a sociedade dá caráter obrigatório.<br />
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />
39
Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa<br />
A Jurisprudência por sua vez, sustentada<br />
em sentenças ou decisões, dadas pela<br />
autoridade judicial federal, aplica o direito<br />
corretamente, cobre suas falhas e a faz<br />
obrigatória [...] a Doutrina é o conjunto de<br />
princípios que dão os juristas com o fim<br />
de interpretar e comentar o direito, mas<br />
suas conclusões não podem ser juridicamente<br />
obrigatórias, por provir de particulares<br />
[...] e os Princípios Gerais do Direito<br />
determinam uma controvérsia judicial, já<br />
que se decide a favor do que trate de evitar<br />
prejuízo, não do que pretenda obter<br />
um lucro, de conformidade com o Código<br />
Civil, já que, na falta da legislação escrita,<br />
se resolverá conforme estes princípios. (p.<br />
133).<br />
Sobre isso, Benoit (1999) hierarquiza as fontes<br />
formais do direito: em primeiro lugar a lei, em<br />
segundo lugar a jurisprudência, seguido pelos<br />
princípios gerais do direito, o costume e a equidade,<br />
pois nos indica que a lei, como norma de<br />
direito escrita, busca o bem comum da atividade<br />
social, enquanto a jurisprudência só interpreta<br />
a lei quando tem falhas e se faz obrigatória depois<br />
de alguns casos concretos. A doutrina, como<br />
conjunto de estudos e opiniões que os tratadistas<br />
do direito fazem, só pode tomar-se um ponto de<br />
referência, assim como os costumes pelos quais<br />
os princípios são obrigatórios, mais do que essas<br />
duas fontes.<br />
Segundo as análises de Lemos Filho (2004),<br />
e a tradição a reconhece como um meio<br />
de criação do direito (direito costumário).<br />
A Jurisprudência, como resoluções da<br />
suprema Corte de Justiça e os Tribunais<br />
Colegiados, tem como fim determinar o<br />
verdadeiro sentido e alcance das disposições<br />
existentes da lei, e a doutrina, como<br />
opiniões dos juristas, leva em conta a regulação<br />
normativa que fazem de diversos<br />
temas jurídicos, bem como os princípios<br />
gerais do direito que derivam do conteúdo<br />
das próprias normas como verdades<br />
fundamentais. Além disso, é preciso levar<br />
em consideração como outra fonte<br />
normal, os Tratados Internacionais, que<br />
de conformidade com a Constituição Federal,<br />
têm força de lei federal ordinária e<br />
fazem parte do Direito Positivo Brasileiro.<br />
(p. 135).<br />
O Costume é a mais antiga das fontes formais<br />
do direito, desde a época dos sistemas primitivos<br />
jurídicos. Na atualidade, perdeu seu papel<br />
transcendental, pois é considerado uma fonte<br />
secundária subordinada à legislação (MARTINS,<br />
1987). Lakatos e Marconi (1999, p. 109) explicam<br />
que: “Costume é direito ou foro que não é escrito,<br />
que foram usados pelos homens por um longo<br />
tempo, ajudando nas coisas ou nas razões sobre<br />
as quais usaram” e, por sua vez, Scuro (2004, p. 53)<br />
o definia como: “Uso existente num grupo social,<br />
que expressa um sentimento jurídico dos indivíduos<br />
que compõem este grupo.”<br />
o Costume, como repetição constante<br />
de uma conduta, conduz a um momento<br />
em que a sociedade a torna obrigatória<br />
6.12 Processo Social<br />
Entende-se por processo social um avanço,<br />
um caminhar adiante, um aproximar-se de uma<br />
meta considerada como socialmente valiosa.<br />
Também é considerado mudança ou movimento<br />
social na direção de um objeto reconhecido ou<br />
aprovado (SCURO, 2004).<br />
Martins (1987) explica que quando se quer<br />
determinar em que momento existe o processo<br />
social é preciso avaliar quais são os valores que<br />
se assentaram numa determinada sociedade, o<br />
progresso social consiste na realização de um determinado<br />
sistema de valores. O processo social<br />
do cristianismo, por exemplo, consistirá na rea-<br />
40<br />
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
<strong>Sociologia</strong><br />
lização dos valores postulados pela moral cristã,<br />
cujo principal pilar é o “valor supremo do amor”.<br />
O processo material será a realização de valores<br />
materiais, encarnados nos equipamentos como a<br />
indústria e o maquinário em geral, objetos representativos<br />
da civilização.<br />
Nem toda mudança social implica progresso,<br />
já que poderia dar-se uma mudança regressiva,<br />
um retrocesso. Para Scuro (2004), processo<br />
social é equivalente à interação.<br />
6.13 Teoria do Indivíduo Social<br />
Você já pensou que o homem utiliza sua<br />
inteligência para suas necessidades e o animal o<br />
faz intuitivamente? Em outras palavras, o homem<br />
produz seus próprios bens materiais e para isso é<br />
necessário associar-se a outros homens para conseguir<br />
sua subsistência. Mas não apenas produz<br />
bens materiais, como também seus modos de<br />
vida, que são um reflexo da produção dos bens<br />
materiais. O modo de vida dos povos coincide<br />
com sua produção, tanto com o que produzem<br />
quanto com o modo de produzir, o que também<br />
condiciona as relações entre uma comunidade e<br />
outra (WEBER, 1982).<br />
Marx e Engels (apud SCURO, 2004) assinalam<br />
que toda subsistência humana pressupõe<br />
condições para poder viver e, para sobreviver, é<br />
necessário haver comida e bebida, moradia, roupa<br />
etc. Por isso, como coloca Martins (1987), o primeiro<br />
fato histórico, a produção dos meios para<br />
satisfazer essas necessidades, ocorreu há milhares<br />
de anos e, ainda na atualidade, precisa se cumprir<br />
todos os dias como condição indispensável para<br />
a existência do ser humano.<br />
Dessa maneira, perceba que o homem, ao<br />
mesmo tempo que produz, também se reproduz;<br />
dessa forma, ao procriar, conserva a espécie humana.<br />
Tanto na procriação quanto na produção<br />
de bens para satisfazer suas necessidades, há<br />
uma dupla relação: uma natural e outra social<br />
(MARTINS,1987).<br />
A existência social implica uma cooperação,<br />
onde os meios de produção conformam<br />
a força produtiva, e a soma de<br />
relações das forças produtivas determina<br />
o modo de vida da sociedade. (WEBER,<br />
2003, p. 36).<br />
A partir do momento em que o homem<br />
existiu como tal, recorreu a outros para tentar<br />
seu alimento, suas vestes, sua moradia e também<br />
para reproduzir-se. Para produzir, além de relacionar-se<br />
com outros homens, cria instrumentos de<br />
trabalho que lhe permitem obter e elaborar com<br />
maior facilidade suas fontes de satisfação. O homem<br />
em sociedade vai incorporando cada vez<br />
mais conhecimentos, inventos e descobertas a<br />
seu trabalho, fazendo com que a sociedade avance<br />
constantemente.<br />
6.14 Fato Social<br />
São fatos realizados pelo homem na sociedade<br />
da qual faz parte. Incluem relações inter-humanas,<br />
situações de relação e influência recíproca<br />
entre os homens, processos sociais ou movimentos<br />
entre os homens, uns com relação aos outros,<br />
complexos, grupos ou formações (LAKATOS;<br />
MARCONI, 1999).<br />
Martins (1987, p. 31) salienta que<br />
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />
41
Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa<br />
os fatos sociais demandam o entendimento<br />
do sentido que estes têm: o entendimento<br />
destes é um elemento essencial<br />
e indispensável de seu estudo, também é<br />
a explicação pela qual os fatos humanos<br />
ainda que não façam sentido, não são puramente<br />
abstratos, mas realidades concretas<br />
no espaço e no tempo.<br />
Através das pesquisas em <strong>Sociologia</strong>, vai se<br />
definindo o fato social, bem como as reflexões<br />
que hão de ser conduzidas para realizar um tratamento<br />
científico para o que será feito (LAKATOS;<br />
MARCONI, 1999).<br />
• Como observar os fatos sociais;<br />
• Como distinguir os fatos normais daqueles<br />
outros que podem ter uma natureza<br />
patológica;<br />
• Como construir os tipos sociais;<br />
• Como explicar os fatos sociais;<br />
• Como estudar as provas.<br />
Tudo isso para conseguir a distinção entre a<br />
especulação filosófica e a especulação científica<br />
ou explicativa, de maneira que seja possível descobrir<br />
as regularidades ou uniformidades da conduta<br />
humana (SCURO, 2004).<br />
Como define Durkheim (2000, p. 41): “Os Fatos<br />
sociais consistem uma maneira de pensar, de<br />
fazer e de sentir, externas ao indivíduo e dotadas<br />
de um poder coercivo em cuja virtude se impõe.”<br />
O fato social o leva a distinguir entre consciência<br />
coletiva e consciência individual, que<br />
precisamente vai delimitar os campos da <strong>Sociologia</strong><br />
e da Psicologia; assim, a consciência coletiva<br />
refere-se a modos de pensar, sentir e fazer que<br />
constituem a herança comum de uma sociedade<br />
(DURKHEIM, 2000).<br />
Para Martins (1987, p. 29), isso será “[...] a<br />
cultura que atribui a cada sociedade seus traços<br />
distintivos, frente a esta consciência coletiva, situa-se<br />
a consciência individual, definida como o<br />
universo privado de cada um.”<br />
As sociedades vão variar em função do diferente<br />
grau de coerção que as consciências coletivas<br />
exercem sobre as consciências individuais,<br />
o que se traduz na possibilidade de que exista<br />
maior número de condutas desviadas (DUR-<br />
KHEIM, 2000).<br />
6.15 Ideologia<br />
A palavra ‘ideologia’ carrega vários significados<br />
e é usada para diferentes finalidades. “A ideologia<br />
é – de qualquer maneira – o processo pelo<br />
qual as ideias da classe dominante tornam-se<br />
ideias de todas as classes sociais, tornam-se ideias<br />
dominantes.” (CHAUÍ, 1984, p. 92).<br />
A ideologia tem, então, influência marcante<br />
na conformação social da sociedade capitalista,<br />
pois ajuda a ocultar suas contradições. Ela tem,<br />
pois, a função de apagar as diferenças, como as<br />
de classe, oferecendo referenciais universais para<br />
a unificação da sociedade. Nesse sentido, é interessante<br />
notar que a ideologia trabalha para a naturalização<br />
das contradições sociais, justificando e<br />
criando condições para a aceitação de determinadas<br />
situações aparentemente naturais, mas que<br />
na verdade são produtos da intervenção humana.<br />
Um exemplo disso é a ideia que está na divisão de<br />
classes da sociedade capitalista, isto é, de que o<br />
rico já nasceu rico e o pobre já nasceu pobre; ou a<br />
ideia criminalizante de que o pobre é inclinado à<br />
marginalidade.<br />
Segundo Chauí (1984), isso significa que:<br />
• as ideias da classe dominante, na sociedade<br />
capitalista, prevalecem sempre<br />
sobre as ideias das classes subalternas;<br />
• para tanto, os membros da sociedade<br />
não se percebem como categorias diferentes,<br />
ou seja, como classes sociais<br />
distintas;<br />
42<br />
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
<strong>Sociologia</strong><br />
• o mecanismo para unificação passa<br />
pelo discurso que a classe dominante<br />
cria e depois distribui para as classes<br />
subalternas por meio da educação, da<br />
arte e dos meios de comunicações;<br />
• essas ideias não exprimem a realidade<br />
real, contrariamente a isso, elas apenas<br />
representam a aparência social, ocultando<br />
dos indivíduos as contradições<br />
do mundo real.<br />
6.16 Alienação<br />
Dicionário<br />
Alienação: processo em que o ser humano se afasta<br />
de sua real natureza, tornando-se estranho a si<br />
mesmo na medida em que já não controla sua atividade<br />
essencial (o trabalho), pois os objetos que<br />
produz, as mercadorias, passam a adquirir existência<br />
independente do seu poder e antagônica aos<br />
seus interesses.<br />
Depois de conceituar mais-valia, Marx compreende<br />
que o trabalhador não poderia perceber<br />
a exploração da qual era vítima, pois se encontrava<br />
alienado. Alienado é o que está fora, o que<br />
não lhe pertence e a mercadoria que é produzida<br />
pelo operário no mundo capitalista não pertence<br />
a ele. Costuma-se afirmar que o poder do povo é<br />
inalienável, se ele é inalienável é porque ele não<br />
pode ser vendido. Por outro lado, costumam-se<br />
encontrar nas ruas da cidade placas com os seguintes<br />
dizeres: “Compro seu carro, mesmo alienado”.<br />
O que isso quer dizer? Simplesmente que<br />
o carro não pertence ao seu condutor e sim a alguma<br />
financiadora de que o indivíduo comprou<br />
o carro em 24, 36, ou em 48 prestações. Portanto,<br />
enquanto ele não acabar de pagar o carro, o carro<br />
estará alienado à financiadora.<br />
A alienação manifesta-se, então, na vida real<br />
do homem, sobretudo a partir da divisão do trabalho,<br />
pois quando isso acontece o produto de<br />
seu trabalho deixa de lhe pertencer. Na medida<br />
em que ele não tem mais domínio sobre aquilo<br />
que faz, ele está resolutamente alienado: não escolhe<br />
o salário, não escolhe o horário nem o ritmo<br />
do trabalho, sendo, portando, comandado de<br />
fora por forças exteriores a ele. Ocorre, então, o<br />
que Marx chama de fetichismo da mercadoria. O<br />
fetichismo leva a crer que a mercadoria tem vida<br />
própria, isto é, como se não houvesse nela a intervenção<br />
humana.<br />
Nos dizeres de Chauí (1984, p. 57),<br />
as coisas-mercadorias começam, pois, a<br />
se relacionar umas com as outras como<br />
se fossem sujeitos sociais dotados de vida<br />
própria (um apartamento estilo ‘mediterrâneo’<br />
vale um ‘modo de viver’, um cigarro<br />
vale ‘um estilo de vida’, um automóvel<br />
zero Km. vale ‘um jeito de viver’ uma bebida<br />
vale ‘a alegria de viver’, uma calça vale<br />
‘uma vida jovem’). E os homens-mercadorias<br />
aparecem como coisas (um nordestino<br />
vale R$ 20,00 à hora na construção<br />
civil, um médico vale R$ 2.000,00 à hora<br />
no seu consultório). A mercadoria passa<br />
a ter vida própria indo da fábrica à loja,<br />
da loja à casa, como se caminhasse sobre<br />
seus próprios pé.<br />
E continua sua argumentação.<br />
O primeiro momento do fetichismo é<br />
este: a mercadoria é um fetiche (no sentido<br />
religioso da palavra), uma coisa que<br />
existe em si e por si. O segundo momento<br />
do fetichismo, mais importante é o<br />
seguinte: assim como o fetiche religioso<br />
(deuses, objetos, símbolos, gestos) tem<br />
poder sobre seus crentes ou adoradores,<br />
os domina como uma força estranha, assim<br />
também a mercadoria. O mundo se<br />
transforma numa imensa fantasmagoria.<br />
(CHAUÍ, 1984, p. 56-57).<br />
A mercadoria adquire, portanto, na sociedade<br />
capitalista valor superior ao homem, pois<br />
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />
43
Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa<br />
se privilegiam as relações entre coisas e são essas<br />
coisas que vão intermediar as relações entre as<br />
pessoas.<br />
Com o advento da Revolução Bochevique,<br />
a aceitação dos ideais marxistas ganhou impulso<br />
renovado; no século XX, difundiam-se pelos quatro<br />
continentes. Os ideais marxistas serviram de<br />
estímulo na luta pela independência que surgia<br />
nas colônias europeias da África e da Ásia, após<br />
a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, assim<br />
como a luta por soberania e autonomia, existente<br />
nos países latino-americanos.<br />
Em 1919, surgiram partidos comunistas<br />
na América do Norte, na China e no México. Em<br />
1920, no Uruguai; em 1922, no Brasil e no Chile;<br />
e, em 1925, em Cuba. O movimento revolucionário<br />
tornava-se mais forte à medida que os Estados<br />
Unidos e a URSS emergiam como potências<br />
mundiais e passavam a disputar sua influência<br />
no mundo. Várias revoluções, como a chinesa, a<br />
cubana, a vietnamita e a coreana, instauraram<br />
regimes operários, que, apesar das suas diferenças,<br />
organizavam um sistema político com algumas<br />
características comuns – forte centralização,<br />
economia altamente planejada, coletivização dos<br />
meios de produção, fiscalismo e uso intenso de<br />
propaganda ideológica e do culto ao dirigente.<br />
Intensificava-se, nos anos 50 e 60, a oposição<br />
entre os dois blocos mundiais – o capitalista,<br />
liderado pelos Estados Unidos, e o socialista, liderado<br />
pela URSS. A polarização política e ideológica<br />
é transferida para o conjunto do método e da<br />
teoria marxista, que passam a ser usados sob o<br />
peso da direção do stalinismo na URSS e dos partidos<br />
comunistas a ele filiados, como um corpo<br />
doutrinário fechado para legitimar a tese do “socialismo<br />
em um só país”, preconizada pela liderança<br />
soviética e da gestão burocrática dos estados<br />
socialistas. O marxismo deixou de ser um método<br />
de análise da realidade social para transformar-<br />
-se em ideologia, perdendo, assim, parte de sua<br />
capacidade de elucidar os homens em relação ao<br />
seu momento histórico e mobilizá-los para uma<br />
tomada consciente de posição.<br />
Entre 1989 e 1991, desfazia-se o bloco soviético<br />
após uma crise interna e externa bastante<br />
intensa – dificuldade em conciliar as diferenças<br />
regionais e étnicas, falta de recursos para manter<br />
um estado de permanente beligerância, atraso<br />
tecnológico, excesso de burocracia, baixa produtividade,<br />
escassez de produtos, inflação e corrupção,<br />
entre outros fatores. O fim da União Soviética<br />
provocou um abalo nos partidos de esquerda do<br />
mundo todo e o redimensionamento das forças<br />
internacionais.<br />
Toda essa explicação a respeito do marxismo<br />
faz-se necessária por diversas razões. Em<br />
primeiro lugar, porque a sociologia confundiu-se<br />
com socialismo em muitos países, em especial<br />
nos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento<br />
– como são hoje chamados os países dependentes<br />
da América Latina e da Ásia, surgidos<br />
das antigas colônias europeias. Nesses países, intelectuais<br />
e líderes políticos associaram de maneira<br />
categórica o desenvolvimento da sociologia ao<br />
desenvolvimento da luta política e dos partidos<br />
marxistas.<br />
A repercussão do pensamento sociológico<br />
desses três autores influenciou decisivamente os<br />
rumos da sociedade contemporânea. Pode-se dizer<br />
mesmo que há para a organização social um<br />
antes e um depois, estabelecido a partir das reflexões<br />
desses autores.<br />
44<br />
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
<strong>Sociologia</strong><br />
6.17 Resumo do Capítulo<br />
Caro(a) aluno(a), a estrutura social é um conjunto ordenado que forma um todo e integra os indivíduos<br />
dentro de uma ordem que define o papel de cada um de seus membros, e funciona também como<br />
um sistema de crenças e interesses que media as relações sociais. Numa estrutura social, temos status e<br />
papéis que são elementos opostos e complementares, um não poderia existir sem o outro. Um papel é a<br />
coleção de direitos culturalmente definidos, obrigações e expectativas que acompanham um status num<br />
sistema social. O Status atribuído é aquele que não é escolhido voluntariamente pelo indivíduo e não depende<br />
de suas ações e qualidades. Por exemplo, o status de “primogênito”. O Status adquirido está, então,<br />
associado à capacidade profissional, intelectual e de liderança do indivíduo na sociedade, é fruto do reconhecimento<br />
de sua capacidade; por exemplo, Pelé tem status adquirido pelas qualidades de seu futebol.<br />
6.18 Atividades Propostas<br />
1. Caracterize o status atribuído e adquirido.<br />
2. Todas as sociedades de grande escala têm cinco Instituições Sociais principais. Indique e caracterize<br />
duas.<br />
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />
45
7<br />
GLOBALIZAÇÃO<br />
A parte final desta apostila analisa as mudanças<br />
ocor ridas nas últimas décadas do século<br />
XX, que alteraram subs tancialmente o panorama<br />
político, econômico e ideológico mundial. Essas<br />
mudanças ficaram conhecidas como globalização<br />
econômica, estendendo-se posteriormente<br />
para outras áreas de influência à cultura principalmente.<br />
Saiba mais<br />
Globalização é um dos processos de aprofundamento<br />
da integração econômica, social, cultural e política que<br />
teria sido impulsionado pelo barateamento dos meios<br />
de transporte e comunicação dos países do mundo<br />
no final do século XX e início do século XXI.<br />
7.1 Histórico<br />
Após a Segunda Guerra Mundial, o mundo<br />
viveu um período conhecido como Guerra Fria.<br />
Os protagonistas dessa guerra foram EUA e URSS.<br />
Visando aumentar a influência e a participação<br />
nas decisões globais, essas potências formaram<br />
alianças com outros países e dividiram o mundo<br />
em dois blocos ideologicamente distintos. De um<br />
lado, estavam os países partidários da economia<br />
de mercado e da democracia política. Do outro,<br />
encontravam-se os países alinhados com a economia<br />
planificada e com a hegemonia de um partido<br />
único.<br />
Essa divisão do mundo em dois blocos ficou<br />
conhecida como período do Sistema Bipolar, isto<br />
é, Sistema de Estados, cujo núcleo é constituído<br />
por duas superpotências que coexistem em relativo<br />
equilíbrio de poder, sobretudo militar. O sistema<br />
da Guerra Fria, que durou de 1947 a 1989, é<br />
o exemplo clássico do equilíbrio bipolar.<br />
Vejamos algumas das principais consequências<br />
da Guerra Fria:<br />
• A Europa deixou de ser o centro das decisões<br />
internacionais, condição de que<br />
desfrutava desde o início dos tempos<br />
modernos. Esse status de centro operador<br />
das decisões internacionais foi assumido<br />
pelos EUA.<br />
• A Europa foi dividida em duas áreas de<br />
influência, a parte ocidental do continente<br />
aliou-se aos EUA e a parte oriental<br />
aliou-se à União Soviética.<br />
• A Alemanha foi dividida em duas nações.<br />
De um lado, ficou a República<br />
Federal da Alemanha (Alemanha Ocidental),<br />
com capital em Bonn, sob influência<br />
dos EUA; do outro ficou a República<br />
Democrática Alemã (Alemanha<br />
Oriental), com capital em Berlim, sob a<br />
influência da União Soviética.<br />
• Criação, em 1949, da Organização do<br />
Tratado do Atlântico Norte (OTAN). A<br />
OTAN foi uma aliança militar que os EUA<br />
fizeram com a Europa Ocidental. Em<br />
resposta a essa aliança, a União Sovié-<br />
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />
47
Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa<br />
tica criou, em 1955, o Pacto de Varsóvia.<br />
Aliança militar com os países da Europa<br />
Oriental.<br />
Saiba mais<br />
Guerra Fria é a designação atribuída ao período histórico<br />
de disputas estratégicas e conflitos indiretos entre<br />
os Estados Unidos e a União Soviética, compreendendo<br />
o período entre o final da Segunda Guerra Mundial<br />
(1945) e a extinção da União Soviética (1991). Em<br />
resumo, foi um conflito de ordem política, militar, tecnológica,<br />
econômica, social e ideológica entre as duas<br />
nações e suas zonas de influência.<br />
A Guerra Fria manifestou-se também na rivalidade<br />
técnico-científica entre EUA e União Soviética.<br />
A corrida espacial foi, possivelmente, o lance<br />
mais espetacular dessa disputa. A União Soviética<br />
saiu na frente, quando, em 1957, Yuri Gagarin<br />
tornou-se o primeiro astronauta a fazer o voo em<br />
torno da Terra, anunciando do espaço sideral: “A<br />
Terra é azul”. Em 1969, os EUA responderam a essa<br />
investida e criaram a missão Apollo 11. Nela, Neil<br />
Armstrong tornou-se o primeiro homem a pisar<br />
no solo lunar. Essa disputa foi vivenciada também<br />
em outros campos; nos esporte principalmente,<br />
nas Olimpíadas, quando os representantes desses<br />
dois blocos travavam uma ferrenha disputa para<br />
conquistar a hegemonia do quadro de medalhas.<br />
7.2 Globalização e/ou Mundialização<br />
A década de 1980 foi caracterizada por uma<br />
série de transformações na União Soviética. As<br />
transformações vivenciadas naquele território<br />
atingiram como um vendaval os países socialistas.<br />
Nessa década, Mikhail Gorbatchev implantou<br />
a Perestroika (reforma) e, logo em seguida, a<br />
Glasnost (transparência). Essas medidas visavam<br />
a promover uma reforma política e uma abertura<br />
econômica para a União Soviética. Os países alinhados<br />
com a União Soviética sentiram os efeitos<br />
desses acontecimentos. A queda do Muro de<br />
Berlim, em 1989, e a consequente unificação das<br />
duas Alemanhas simbolizam a importância que<br />
essas transformações tiveram para os países socialistas,<br />
além de marcar o fim da Guerra Fria.<br />
A globalização surge, ou melhor, intensifica-<br />
-se, na esteira desses acontecimentos. Assim, da<br />
competição militar passou-se para a competição<br />
econômica e cultural. A globalização caracteriza-<br />
-se por um conjunto de mudanças no processo<br />
de produção de riquezas, nas relações de trabalho,<br />
no papel do Estado e nas formas de dominação<br />
sociocultural. A partir da década de 1970, o<br />
capital começou a circular mais livremente e as<br />
empresas buscaram uma maior participação no<br />
mercado mundial. Uma das maiores transformações<br />
operadas pelo fenômeno da globalização<br />
foi a exportação dos hábitos de consumo e do<br />
modo de vida dos países desenvolvidos para os<br />
países subdesenvolvidos. Marcas mundialmente<br />
conhecidas, redes de fast food e grandes redes<br />
de supermercados passaram a fazer parte da vida<br />
cotidiana de todos.<br />
Se, por um lado, essa nova realidade trouxe<br />
acessibilidade a um número considerável de produtos<br />
e bens de consumo para o indivíduo, não<br />
podemos desconsiderar que, por outro, contribuiu<br />
para descaracterizar as culturas locais, como<br />
nos alerta Silva (2004).<br />
[...] é no decorrer do século XX que o<br />
movimento da mundialização forma-se<br />
completamente. No campo da cultura, tal<br />
movimento engendra ‘diásporas culturais’.<br />
Há uma produção de gostos, crenças<br />
e hábitos que transcendem as fronteiras<br />
nacionais. As feições culturais diaspóricas<br />
apresentam aspectos estandardizados,<br />
que são em larga medida fortalecidos<br />
pela manifestação midiática. Um exemplo<br />
emblemático é o que estudiosos começam<br />
a definir como internacionalização<br />
dos comportamentos alimentares.<br />
Esse processo traduz-se em dois pontos:<br />
primeiro, a pluralização dos produtos, ou<br />
48<br />
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
<strong>Sociologia</strong><br />
seja, uma área não se caracteriza mais por<br />
uma quantidade restrita de alimentos<br />
cultivados localmente; segundo, a transformação<br />
da cozinha tradicional (pratos<br />
típicos) para uma outra, industrializada,<br />
cujos alicerces estão na produção em alta<br />
escala. Isso não significa que pratos reconhecidos<br />
tradicionalmente deixem de<br />
existir; porém, assumem uma nova conotação.<br />
A sofisticação que requer uma verdadeira<br />
pizza italiana torna-se inadequada<br />
à valorização do tempo pelos vorazes<br />
consumidores que freqüentam Shopping<br />
Center. Na verdade, os alimentos perdem<br />
sua territorialidade e são deslocalizados<br />
em proporções globais. A esse respeito, é<br />
sugestivo a caso da empresa McDonald’s.<br />
(SILVIA, 2004, p. 594).<br />
A globalização pode, então, ser vista como<br />
o esvaziamento de culturas locais em benefício<br />
de culturas globais. Em outras palavras, comunidades<br />
locais, até então fechadas em suas próprias<br />
idiossincrasias, passam a receber influências de<br />
outras culturas, que vão dos hábitos alimentares,<br />
passando pelo uso da língua, para, finalmente,<br />
atingir e modificar as tradições e costumes das<br />
comunidades com menos poder de influência e<br />
comunicação. Nesse cenário, tornar-se “igual” ou<br />
“semelhante” à cultura hegemônica é uma meta a<br />
ser alcançada pelas culturas regionais.<br />
A cultura regional vai, assim, neste mundo<br />
globalizado, paulatinamente diminuindo a influência<br />
e a participação na vida dos indivíduos.<br />
Em outras palavras, as culturas com menos poder<br />
de participação e influência na vida das pessoas<br />
e no mercado mundial se descaracterizando e<br />
cedendo espaço para uma cultura cada vez mais<br />
estranha à realidade local, mas, apesar disso, vendável<br />
e lucrativa. É, por isso, exatamente por isso,<br />
que a história ou o mito do saci pererê, da mula<br />
sem cabeça e do currupira tem menos impacto<br />
na vida dos jovens do que o pastiche do halloween.<br />
Assim, em meio à mundialização 6 cultural,<br />
passa a existir uma ativação das relações sociais<br />
num circuito aberto, no qual as diferentes localidades<br />
aproximam-se e assemelham-se, moldadas<br />
por transformações sociais que ultrapassam as<br />
fronteiras de convivência regional.<br />
Conforme você pode observar, um exemplo<br />
emblemático dessa situação é a presença<br />
das multinacionais no mundo. Na visão do norte-<br />
-americano Behrman 7 (1984), as multinacionais<br />
são divididas em três tipos: as que buscam recursos<br />
em outros países, ou seja, companhias que<br />
buscam recursos naturais ou humanos em países<br />
hospedeiros; as que buscam mercados, isto é,<br />
companhias que investem no exterior, para servir<br />
ao mercado do país hospedeiro; e as que buscam<br />
eficiência, ou seja, dirigem investimentos externos<br />
a fim de criar a rede de produção mais eficiente<br />
para servir a múltiplos mercados padronizados<br />
mundialmente.<br />
Todos esses aspectos, além da presença das<br />
multinacionais nos países subdesenvolvidos, contribuíram<br />
para reordenar o modo de ser e viver do<br />
indivíduo nessas localidades. Portanto, no centro<br />
da vida cotidiana, que exige dos indivíduos novas<br />
e constantes identidades sociais, o encontro com<br />
a uniformização cultural é uma saída cômoda, já<br />
que permite ao indivíduo despir-se de sua cultura<br />
(considerada inferior) para associar-se a uma<br />
cultura (considerada superior), a de “todos”. O cultivo<br />
da língua inglesa em escala planetária é um<br />
exemplo que salta aos olhos, pois essa língua, e<br />
somente ela, é capaz de lhe conectar aos símbolos<br />
globalizados. A emergência da indústria cultural<br />
nos países do capitalismo central e popularização<br />
dos novos meios de comunicação e informação<br />
contribuíram decisivamente para a consolidação<br />
desse fenômeno, como defende Silva (2004).<br />
O modo de produção industrial retrabalhado<br />
no campo da cultura tem a capacidade<br />
de desenvolvê-la em escala<br />
6<br />
Mundialização é outra maneira que os franceses encontraram para definir a integração dos mercados econômicos. Assim, o<br />
que os ingleses chamam de globalização os franceses chamam de mundialização.<br />
7<br />
Behrman – Professor Emérito da Cátedra Luther Hodges, da Escola de Pós-Graduação de Administração de Empresas da<br />
Universidade da Carolina do Norte, Estados Unidos.<br />
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />
49
Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa<br />
mundial. As manifestações culturais, que<br />
antes se limitavam à esfera local, agora<br />
se espraiam globalmente. Um exemplo<br />
significativo desse movimento é o da indústria<br />
fonográfica. A característica central<br />
dessas empresas é a adoção de uma<br />
estratégia de ação mundial. [...] A indústria<br />
de publicidade também integra o<br />
processo de mundialização. Não é lícito<br />
asseverar que as indústrias fonográfica<br />
e publicitária já estejam, no alvorecer do<br />
século XX, definitivamente estruturadas.<br />
No entanto, elas constituem um esteio<br />
fundamental que possibilita intercâmbios<br />
culturais de proporções mundiais.<br />
Tais trocas seriam fortalecidas ainda mais<br />
com a difusão do rádio e da televisão.<br />
Se inicialmente esses aparelhos ganham<br />
força entre as nações ricas, num segundo<br />
momento pode-se notar sua presença<br />
nos países terceiro-mundistas. [...] É notória<br />
a influência do avanço tecnológico na<br />
globalização da cultura. Há toda uma estrutura<br />
material – computador, fax, satélites<br />
– que torna possível a comunicação<br />
à distância, entre partes afastadas. [...] O<br />
mundo tornou-se uma cadeia comunicacional<br />
em que os espaços estão interconectados.<br />
(SILVIA, 2004, p. 595).<br />
A indústria cultural teve, então, entre outros,<br />
o mérito de difundir para o mundo as inovações<br />
tecnológicas. Essas novas técnicas – o rádio, o cinema,<br />
a indústria fonográfica e a televisão – foram<br />
incorporadas pelos jovens como forma mais<br />
cotidiana de interferência em um mundo social<br />
para eles agora, cada vez mais, amplificado. Em<br />
outras palavras, dentro dessa indústria cultural, a<br />
publicidade fez emergir e proliferar um novo estilo<br />
de vida. Esse novo estilo de vida foi impulsionado<br />
pela música, pelos filmes e pela publicidade,<br />
sobretudo de língua inglesa. Há, em tudo isso,<br />
uma face legitimadora da cultura hegemônica,<br />
que consegue impor para os países periféricos a<br />
sua visão de mundo. Tendo uma infraestrutura de<br />
dependência, os países periféricos passam também<br />
a ter uma cultura dependente. Assim, pode<br />
ocorrer que, “através da propaganda de massa, o<br />
desprotegido homem do Terceiro Mundo caia na<br />
armadilha do consumismo e mude seu comportamento<br />
para adaptar-se aos propósitos e objetivos<br />
da indústria estrangeira.” (GUARESCHI, 1983,<br />
p. 65).<br />
7.3 Meio Ambiente<br />
Os problemas ambientais são antigos, mas<br />
foi somente nas últimas décadas do século XX<br />
que essa questão ganhou relevo. As atividades<br />
humanas começaram a causar maior impacto na<br />
natureza com o advento da Revolução Industrial,<br />
que iniciou a produção em massa e a substituição<br />
das fontes de energia limpas pelo carvão e pelo<br />
petróleo.<br />
A concentração da população nas áreas urbanas<br />
colaborou também para essa situação. A<br />
cidade é a expressão mais acabada da alteração<br />
do espaço natural. Rios canalizados, quando não<br />
desviados de seu curso natural, e impermeabilização<br />
dos solos, com o asfalto entre outras interferências<br />
humanas, colaboraram para o quadro de<br />
calamidade ambiental que estamos vivendo.<br />
Em 1972, em Estocolmo, na Suécia, representantes<br />
de 113 países reuniram-se para debater<br />
os problemas do meio ambiente. Nesse encontro,<br />
duas posições eram defendidas. A primeira,<br />
da qual o Brasil era signatário, defendia o crescimento<br />
a qualquer custo, isto é, não importava<br />
se a indústria poluía, o que importava eram os<br />
“benefícios” que ela possivelmente traria para o<br />
Brasil. A segunda posição alertava que o planeta<br />
poderia exaurir suas fontes de energia em apenas<br />
um século se mantivesse a tendência de aumento<br />
da produção, consumo e poluição. Essa proposta<br />
foi, ironicamente, batizada como política do crescimento<br />
zero, sendo amplamente rejeitada pela<br />
maioria dos países.<br />
A Conferência de Estocolmo foi de qualquer<br />
forma um marco na tomada de posição e cons-<br />
50<br />
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
<strong>Sociologia</strong><br />
ciência para o homem contemporâneo sobre as<br />
questões ambientais. Um ano depois da Conferência<br />
de Estocolmo foi lançada a ideia de Desenvolvimento<br />
Sustentável. A ideia básica desse<br />
conceito é que o atendimento às necessidades<br />
básicas das populações, no presente, não deve<br />
comprometer a vida das gerações futuras. Daí a<br />
consciência e necessidade de que os produtos<br />
podem e devem ser reaproveitados por meio da<br />
reciclagem.<br />
Em 1992, o Rio de Janeiro abrigou a Conferência<br />
das Nações Unidas sobre o Ambiente e o<br />
Desenvolvimento, também chamada de Eco-92.<br />
A novidade desse encontro foi a grande presença<br />
de Organizações não Governamentais (ONGs). Entre<br />
outros benefícios, essa conferência elaborou<br />
a Agenda 21, que se responsabilizou a fornecer<br />
recomendações de como alcançar o desenvolvimento<br />
sustentável no século XXI. Um dos pontos<br />
centrais desse documento está no princípio<br />
de que a conservação ambiental do planeta não<br />
pode ser alcançada sem a erradicação da pobreza<br />
e das desigualdades sociais. Essa conferência estabeleceu<br />
ainda a Convenção do Clima, que elaborou<br />
metas e estratégias de combate ao efeito<br />
estufa. Criou também a Declaração de Princípios<br />
sobre a Floresta, que garantiu aos Estados o direito<br />
soberano de aproveitar as florestas de acordo<br />
com suas necessidades de desenvolvimento, desde<br />
que isso ocorra de modo sustentável.<br />
Em 2002, ocorreu a Cúpula Mundial sobre<br />
Desenvolvimento Sustentável em Joanesburgo,<br />
capital da África do Sul, conhecida também como<br />
Rio +10. Uma das principais discussões dessa cúpula<br />
girou em torno da mudança da matriz energética<br />
do mundo (petróleo) por fontes de energia<br />
renováveis. Os EUA e a OPEP (Organização dos<br />
Países Exportadores de Petróleo) recusaram-se a<br />
assinar esse compromisso.<br />
Como se vê, a questão do meio ambiente<br />
está cercada de interesses comerciais, industriais<br />
e também regionais. Nesse clima de disputa,<br />
quem perde são os países subdesenvolvidos, que<br />
são constrangidos a acatar determinações que<br />
não são seguidas pelos países desenvolvidos. Um<br />
exemplo notório foi a recusa dos EUA em assinar<br />
o Protocolo de Kyoto, alegando que a ratificação<br />
desse documento travaria o desenvolvimento daquela<br />
sociedade.<br />
Saiba mais<br />
Concluído em 1997 em Kyoto, no Japão, o protocolo<br />
de Kyoto impõe a redução de seis gases causadores<br />
de efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento do<br />
planeta. Entre esses gases, está o CO2 (dióxido de carbono<br />
ou gás carbônico) e o CH4 (metano).<br />
O fato é que o dióxido de carbono e o gás<br />
metano emitidos pelas fábricas e pelos veículos<br />
são os principais responsáveis pelo efeito estufa.<br />
Os EUA são os maiores produtores e têm a maior<br />
frota de veículos do mundo; ainda assim recusaram-se<br />
a assinar o Protocolo de Kyoto e tentaram,<br />
com isso, transferir responsabilidade pelo efeito<br />
estufa para os países subdesenvolvidos, alegando,<br />
entre outras coisas, que as queimadas das<br />
florestas tropicais emitem mais gás carbônico do<br />
que as fábricas e veículos.<br />
Frente a esse impasse, todos nós pagamos,<br />
pois somos obrigados a respirar um ar de baixa<br />
qualidade, beber água em condições duvidosas e<br />
ainda sofrer as consequências de um clima descontrolado.<br />
Por isso, impõe-se a todos nós a urgente<br />
necessidade de empunhar a bandeira do<br />
meio ambiente sob pena de legarmos aos nossos<br />
descendentes um planeta sem condições de ser<br />
habitado.<br />
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />
51
Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa<br />
7.4 Resumo do Capítulo<br />
Caro(a) aluno(a), neste capítulo final, foi possível observar as mudanças ocor ridas nas últimas<br />
décadas do século XX, que ficaram conhecidas como globalização econômica. Após a Segunda Guerra<br />
Mundial, o mundo viveu um período conhecido como Guerra Fria. Durante essa guerra a rivalidade<br />
técnico-científica entre EUA e União Soviética ficou marcada pela corrida espacial. Já a década de 1980<br />
foi caracterizada por uma série de transformações na União Soviética, Mikhail Gorbatchev implantou a<br />
Perestroika (reforma) e, logo em seguida, a Glasnost (transparência). Essas medidas visavam a promover<br />
uma reforma política e uma abertura econômica para a União Soviética. A queda do Muro de Berlim, em<br />
1989, e a consequente unificação das duas Alemanhas simbolizam a importância que essas transformações<br />
tiveram para os países socialistas, além de marcar o fim da Guerra Fria.<br />
7.5 Atividades Propostas<br />
1. Explique o que é sistema bipolar.<br />
2. A Conferência de Estocolmo ocorrida em 1972, na Suécia, reuniu representantes de 113 países<br />
para debater os problemas do meio ambiente. Quais propostas resultaram desse encontro?<br />
52<br />
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
8<br />
CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
Considerando o que você estudou nesta apostila, você pode perceber que as primeiras tentativas<br />
de compreender a ação humana esbarraram em interpretações teológicas, mitológicas e muitas vezes<br />
fantasiosas. Assim, para os gregos, os fenômenos “sociais” tinham uma base de explicação mitológica,<br />
isto é, Zeus, senhor dos homens e dos deuses, era quem mantinha a ordem do mundo moral e físico. Na<br />
Idade Média, os acontecimentos sociais estavam, por sua vez, relacionados a um princípio teológico que<br />
cingia a liberdade do indivíduo, visto que as explicações para todas as mazelas sociais estavam fundamentadas<br />
no discurso da vontade “divina”. Com toda essa transformação social que ocorreu no mundo,<br />
os problemas ambientais surgiram com intensidade e somente nas últimas décadas do século XX que<br />
essa questão ganhou relevo. A cidade é a expressão mais acabada da alteração do espaço natural. Rios<br />
canalizados, impermeabilização dos solos, com o asfalto, entre outras interferências humanas colaboraram<br />
para o quadro de calamidade ambiental que estamos vivendo. Para amenizar esses problemas, a<br />
Conferência de Estocolmo foi um marco na tomada de posição e consciência do homem contemporâneo<br />
sobre as questões ambientais.<br />
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />
53
RESPOSTAS COMENTADAS DAS<br />
ATIVIDADES PROPOSTAS<br />
Capítulo 1<br />
1. Conforme estudamos, o primeiro procura uma interpretação e o consequente entendimento<br />
dos fatos e dos fenômenos por meio da experiência e comprovação da razão; o segundo, ao<br />
contrário, limita-se à experiência imediata sem preocupações e comprovações empíricas.<br />
2. Espera-se que você tenha respondido algo semelhante ao que segue:<br />
a) Iniciação – quando a criança, com catorze anos, passa da educação materna à instrução<br />
sacerdotal.<br />
b) Admissão – quando o indivíduo aos vinte e um anos está preparado para servir à humanidade,<br />
retribuindo tudo que recebeu da sociedade.<br />
Capítulo 2<br />
1. Você deve ter respondido que ele é, segundo Durkheim, experimentado pelo indivíduo como<br />
uma realidade independente dele, que ele não criou e não pode rejeitar como as regras morais,<br />
as leis, os costumes, os rituais e as práticas burocráticas, por exemplo.<br />
2. Esperamos que você tenha percebido que foi logo após a Primeira Guerra Mundial, momento<br />
em que a Alemanha vivia uma grande crise econômica e convivia ainda com as retaliações do<br />
Tratado de Versalhes; em decorrência disso, o nazismo firmava-se como realidade. Concomitantemente<br />
a esses acontecimentos, a Revolução Russa acabara de triunfar e sinalizava para<br />
o mundo uma nova possibilidade de sociedade. Tudo isso incidia de forma decisiva nas ideias<br />
dos jovens judeus marxistas Adorno, Marcuse e Horkheimer.<br />
Capítulo 3<br />
1. Você deve ter respondido que foi no estudo das religiões, estabelecendo relações entre formações<br />
políticas e crenças religiosas.<br />
2. Conforme você estudou, isso aconteceu em decorrência de sua descentralização política.<br />
Capítulo 4<br />
1. Espera-se que você tenha respondido que foi escrita por Max Weber e sua temática versa sobre<br />
as contribuições da religião protestante para o desenvolvimento do capitalismo.<br />
2. Você deve ter identificado que a Ação afetiva é aquela determinada por afetos ou estados sentimentais;<br />
e Ação tradicional é aquela determinada por um costume ou um hábito arraigado.<br />
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />
55
Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa<br />
Capítulo 5<br />
1. Conforme você estudou, o nível da infraestrutura é constituído pela base econômica, que é,<br />
segundo Marx, o aspecto fundamental de toda sociedade, isto é, transformar matérias-primas<br />
e fontes de energia em riqueza.<br />
2. Espera-se que sua resposta aponte que o modo de produção feudal predominou na Europa<br />
Ocidental do século VI ao século XVI. A sociedade feudal estava baseada nas relações servis,<br />
isto é, senhores versus servos. Os servos estavam presos ao trabalho da terra. Eles cultivavam<br />
um pedaço de terra cedido pelo senhor e em troca pagavam impostos, cedia parte da produção<br />
para o senhor e ainda eram obrigados a trabalhar e cuidar das terras do senhor. Apesar<br />
disso, não eram escravos, pois o servo não era propriedade do senhor, portanto não podia ser<br />
negociado como uma mercadoria, como ocorria com os escravos.<br />
Capítulo 6<br />
1. Você deve ter distinguido as duas formas de status, como segue: status atribuído é aquele que<br />
não é escolhido voluntariamente pelo indivíduo e não depende de suas ações e qualidades.<br />
Por exemplo, o status de “primogênito” ou de “filho de operário”. Já o status adquirido é obtido<br />
de acordo com as qualidades pessoais do indivíduo. Esse status confere ao indivíduo uma<br />
posição de destaque entre os membros do grupo de pertencimento, pois seu status é fruto do<br />
reconhecimento de sua capacidade.<br />
2. Espera-se que você aponte as diferenças que seguem:<br />
a) Religiosa – que reforça os valores; dá significado e propósito à vida;<br />
b) Econômica – que organiza a produção e distribuição de bens e serviços.<br />
Capítulo 7<br />
1. Segundo o que você estudou, esperamos que tenha pontuado em sua resposta que é um<br />
Sistema de Estados, cujo núcleo é constituído por duas superpotências que coexistem em<br />
relativo equilíbrio de poder, sobretudo militar.<br />
2. Você deve ter respondido que surgiram duas propostas, a primeira foi defendida pelo Brasil e<br />
defendia o crescimento a qualquer custo, isto é, não importava se a indústria poluía. A segunda<br />
posição, defendida por alguns ambientalistas, alertava que o planeta poderia exaurir suas<br />
fontes de energia em apenas um século se mantivesse a tendência de aumento da produção,<br />
consumo e poluição.<br />
56<br />
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br
REFERÊNCIAS<br />
ADORNO, T. Indústria cultural. In: COHN, G. (Org.). Comunicação e indústria cultural. São Paulo:<br />
Nacional, 1977.<br />
BENOIT, L. O. <strong>Sociologia</strong> comteana. São Paulo: Discurso Editorial, 1999.<br />
CALDAS, W. O que todo cidadão precisa saber sobre cultura de massa. São Paulo: Global, 1999.<br />
CHAUÍ, M. O que é ideologia. 14. ed. São Paulo: Brasiliense, 1984.<br />
COMTE, A. Discurso sobre o espírito positivo. São Paulo: Martins Fontes, 1990.<br />
COSTA, C. <strong>Sociologia</strong> – Introdução à ciência da sociedade. São Paulo: Moderna, 1997.<br />
DURKHEIM, E. Lições de sociologia: a moral, o direito e o Estado. São Paulo: Martins Fontes, 2000.<br />
______. As regras do método sociológico. São Paulo: Martin Claret, 2004.<br />
GUARESCHI, P. A. Comunicação e poder: a presença e o papel dos meios de comunicação de massa<br />
estrangeiros na América Latina. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 1983.<br />
HUBERMAN, L. História da riqueza do homem. Rio de Janeiro: Zahar, 1972.<br />
LAKATOS, E. M; MARCONI, M. de A. <strong>Sociologia</strong> geral. São Paulo: Atlas, 1999.<br />
LEMOS FILHO, A. (Coord.). <strong>Sociologia</strong> geral e do direito. São Paulo: Alínea, 2004.<br />
MARTINS, C. B. O que é sociologia? São Paulo: Brasiliense, 1987.<br />
MORIN, E. Cultura de massa no século XX: neurose. Rio de Janeiro: Universitária, 1997.<br />
NETTO, J. P. O que é marxismo. 4. ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.<br />
RIBEIRO JR., J. O que é positivismo. 6. ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.<br />
RODRIGUES, J. A. Durkheim. São Paulo: Ática, 2003.<br />
SANTOS, R. As teorias da comunicação: da fala à internet. São Paulo: Global, 2003.<br />
SCURO, P. <strong>Sociologia</strong>: ativa e didática. São Paulo: Saraiva, 2004.<br />
SILVA, J. M. da. A autonomia da escola pública: a re-humanização da escola. Campinas: Papirus, 2004.<br />
WEBER, M. Ensaios de sociologia. Rio de Janeiro: Guanabara, 1982.<br />
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br<br />
57
Antonio Carlos Banzato A. Santos e Rafael Lopes Sousa<br />
______. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Martin Claret, 2003.<br />
WOLF, M. Teorias da comunicação. Lisboa: Presença, 1987.<br />
58<br />
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br