Antropocosmologia do Jovem Kant - LusoSofia
Antropocosmologia do Jovem Kant - LusoSofia
Antropocosmologia do Jovem Kant - LusoSofia
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
✐<br />
✐<br />
✐<br />
✐<br />
24 Leonel Ribeiro <strong>do</strong>s Santos<br />
É este conflito entre forças antagónicas de atracção (o princípio de<br />
universalidade, expresso na lei) de repulsão (o princípio de individualidade,<br />
expresso na máxima) que está dito na concisão da primeira<br />
formulação <strong>do</strong> imperativo categórico. Tal como acontece no sistema<br />
solar, cada membro gira em torno de si próprio graças à persistência<br />
nele das forças repulsivas ou centrífugas; mas ao mesmo tempo gira,<br />
com to<strong>do</strong>s os outros, em torno <strong>do</strong> centro comum de atracção. Se só<br />
houvesse forças de atracção, toda a individualidade seria absorvida no<br />
corpo central; mas se só houvesse forças repulsivas, tu<strong>do</strong> se desintegraria,<br />
e nem sequer a individualidade subsistiria. Só no equilíbrio tensorial<br />
das duas forças antagónicas subsiste o mun<strong>do</strong> físico e, por analogia<br />
com este, também o mun<strong>do</strong> moral, o mun<strong>do</strong> jurídico e o inun<strong>do</strong><br />
político.<br />
De tal mo<strong>do</strong> é conatural ao espírito de <strong>Kant</strong> esta analogia que a<br />
reencontramos numa das últimas obras que o filósofo publicou, a Doutrina<br />
da Virtude (II Parte da Metafísica <strong>do</strong>s Costumes). As duas forças<br />
antinómicas da cosmologia newtoniana são de novo invocadas para permitir<br />
um vislumbre da polaridade estrutural e dinâmica que preside à<br />
relação entre os homens no Esta<strong>do</strong>, expressa nos princípios <strong>do</strong> amor e<br />
<strong>do</strong> respeito. Termino, dan<strong>do</strong> a palavra a <strong>Kant</strong>:<br />
Se se fala das leis <strong>do</strong> dever [. . . ] e isso na relação externa <strong>do</strong>s<br />
homens entre si, então consideramo-nos num mun<strong>do</strong> moral (inteligível),<br />
no qual, segun<strong>do</strong> a analogia com o [mun<strong>do</strong>] físico, a<br />
união <strong>do</strong>s seres racionais (sobre a Terra) é efectuada mediante<br />
atracção e repulsão. Em virtude <strong>do</strong> principio <strong>do</strong> amor recíproco<br />
são eles leva<strong>do</strong>s a aproximar-se uns <strong>do</strong>s outros constantemente,<br />
mediante o [princípio] <strong>do</strong> respeito, que mutuamente se devem,<br />
[são leva<strong>do</strong>s] a manter-se à distância uns <strong>do</strong>s outros. 33<br />
33 Ak, VI, 449.<br />
www.lusosofia.net<br />
✐<br />
✐<br />
✐<br />
✐