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Antropocosmologia do Jovem Kant - LusoSofia

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10 Leonel Ribeiro <strong>do</strong>s Santos<br />

Estas declarações e outras <strong>do</strong> mesmo teor só se entendem em to<strong>do</strong><br />

o seu alcance se tivermos em conta a importância que as questões cosmológicas<br />

desde muito ce<strong>do</strong> tiveram na formação e até na formatação<br />

<strong>do</strong> pensamento kantiano. A obra de 1755, Allgemeine Naturgeschichte<br />

und Theorie des Himmele, de que aqui me ocupo, longe de representar<br />

apenas a assimilação e ampliação <strong>do</strong> campo de aplicação <strong>do</strong>s princípios<br />

da cosmologia newtoniana, deve considerar-se como sen<strong>do</strong> efectivamente<br />

a primeira síntese original <strong>do</strong> pensamento kantiano, moldada<br />

por certo em matéria cosmológica, na qual, porém, o jovem filósofo<br />

(deixa enuncia<strong>do</strong>s temas e problemas não só de natureza cosmológica,<br />

mas também de ín<strong>do</strong>le epistemológica, teológica e antropológica, cujos<br />

desenvolvimentos, modulações e orquestração se deixarão ouvir nos<br />

grandes escritos das décadas de 80 e 90 e ainda nas reflexões tardias <strong>do</strong><br />

chama<strong>do</strong> Opus postumum.<br />

Mas a obra de 1755 não é apenas interessante como <strong>do</strong>cumento<br />

especulativo. Ela <strong>do</strong>cumenta também que a vivência e a consciência<br />

cósmica constituem para <strong>Kant</strong> uma verdadeira proto-experiência da<br />

condição humana, com acentos de sublimidade e de trágico. No colossal<br />

quadro cosmogónico que o autor traça no cap. VII da II Parte,<br />

apresenta-se o cosmos em processo de criação contínua. A Terra enquanto<br />

lugar de habitação <strong>do</strong> homem e o sistema onde ela se integra<br />

é apenas uma precária ilha de ordem num universo em que as forças<br />

<strong>do</strong> caos continuam em luta incessante com as forças da ordem e onde<br />

sempre novos mun<strong>do</strong>s nascem para de novo serem engoli<strong>do</strong>s nos turbilhões<br />

<strong>do</strong> caos, dan<strong>do</strong> assim matéria para o surgimento de outros. E<br />

“entre ruínas assusta<strong>do</strong>ras de mun<strong>do</strong>s perdi<strong>do</strong>s que nós habitamos”,<br />

como se lê numa passagem das Lições de Geografia Física. 4 Nesta<br />

incessante mudança de cenário da colossal cosmotragédia, o homem é<br />

chama<strong>do</strong> a desempenhar um breve papel e ver-se-á arreda<strong>do</strong> da peça<br />

e dela expulso pelo autor <strong>do</strong> drama, assim que tenha acaba<strong>do</strong> o seu<br />

desempenho. Mas nem mesmo a magnitude da tragédia cósmica – na<br />

qual o especta<strong>do</strong>r humano ao mesmo tempo se vê submeti<strong>do</strong> à comum<br />

4 Ak, IX, 270.<br />

www.lusosofia.net<br />

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