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Emily Dickinson: a irmã de Shakespeare - Universidade Tuiuti do ...

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Dossiê especial: Reflexões shakesperianas<br />

HALL, Alcina. <strong>Emily</strong> <strong>Dickinson</strong>: a <strong>irmã</strong> <strong>de</strong> <strong>Shakespeare</strong>. Eletras, vol. 18, n.18, jul.2009.<br />

www.utp.br/eletras<br />

Da perspectiva religiosa, essa aproximação po<strong>de</strong> também se referir às<br />

pregações ministradas por pastores que pretendiam elucidar questões da vida e da morte<br />

com absoluta certeza. Quan<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s já se achavam envolvi<strong>do</strong>s pela atmosfera <strong>de</strong> fé<br />

criada pela fala comovida, os ministros subiam <strong>de</strong> tom, e, com to<strong>do</strong>s os argumentos<br />

convincentes, aterrorizavam os fiéis para que se convertessem, utilizan<strong>do</strong>-se, muitas<br />

vezes, das imagens <strong>de</strong> um Deus ciumento e vingativo.<br />

Depois <strong>de</strong> longa pausa, separa<strong>do</strong> <strong>do</strong> restante <strong>do</strong> poema, o fechamento sugere<br />

um quadro <strong>de</strong> proporções catastróficas e bestiais. Os homens, ou seus sermões, são<br />

compara<strong>do</strong>s a ventos com patas, tempestuosos, violentos, que se assenhoreiam das<br />

florestas ver<strong>de</strong>s, passivas e férteis das mulheres, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> para trás <strong>de</strong>struição e<br />

lágrimas. A única testemunha é o Universo, que permanece indiferente. <strong>Dickinson</strong><br />

retrata assim a brutalida<strong>de</strong> <strong>do</strong> império <strong>do</strong>s homens sobre as mulheres, numa sucessão <strong>de</strong><br />

imagens <strong>de</strong> tirar o fôlego.<br />

Adrienne Rich consi<strong>de</strong>ra que <strong>Dickinson</strong> tenha si<strong>do</strong> uma gran<strong>de</strong> psicóloga que,<br />

como to<strong>do</strong> gran<strong>de</strong> psicólogo, começou com o material que tinha mais facilmente ao seu<br />

dispor: ela mesma 15 . <strong>Dickinson</strong>, <strong>de</strong> fato, parece ter lança<strong>do</strong> mão <strong>de</strong> uma linguagem<br />

experimental para penetrar os esta<strong>do</strong>s extremos da mente quan<strong>do</strong> em contato com as<br />

barreiras da repressão.<br />

No poema seguinte, recorren<strong>do</strong> à imagem das bandagens, <strong>Dickinson</strong> <strong>de</strong>screve<br />

outra violação sem possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reação.<br />

A alma tem momentos Ata<strong>do</strong>s –<br />

Quan<strong>do</strong> amedrontada <strong>de</strong>mais para se mexer –<br />

Ela sente um Pavor me<strong>do</strong>nho surgir<br />

E parar para olhar para ela –<br />

Cumprimenta-a – com <strong>de</strong><strong>do</strong>s longos –<br />

Acaricia seus cabelos congela<strong>do</strong>s –<br />

Sorva, Duen<strong>de</strong>, <strong>do</strong>s mesmos lábios<br />

Sobre os quais pairou o Amante –<br />

Indigno, que um pensamento tão mal<strong>do</strong>so<br />

Abor<strong>de</strong> um Tema – tão bonito –<br />

A alma tem momentos <strong>de</strong> Fuga –<br />

Quan<strong>do</strong> arrebentan<strong>do</strong> todas as portas –<br />

Ela dança como uma Bomba, lá fora,<br />

E se balança nas Horas,<br />

Como a Abelha – <strong>de</strong>lirante suportou –<br />

Longamente encarcerada sem sua Rosa –<br />

Toque a Liberda<strong>de</strong> – então não conheça mais,<br />

Eletras, vol. 18, n.18, jul.2009 6

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