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Emily Dickinson: a irmã de Shakespeare - Universidade Tuiuti do ...

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Dossiê especial: Reflexões shakesperianas<br />

HALL, Alcina. <strong>Emily</strong> <strong>Dickinson</strong>: a <strong>irmã</strong> <strong>de</strong> <strong>Shakespeare</strong>. Eletras, vol. 18, n.18, jul.2009.<br />

www.utp.br/eletras<br />

sweetest...” (1859) fosse publica<strong>do</strong> no Masque of Poets, uma coletânea <strong>de</strong> poemas sem<br />

i<strong>de</strong>ntificação <strong>do</strong>s autores. O poema teve sua autoria atribuída ao poeta Ralph Wal<strong>do</strong><br />

Emerson (1803-1882) e recebeu a seguinte crítica no influente Literary World em 1878:<br />

“Se Emerson contribuiu com qualquer coisa nesse volume, <strong>de</strong>veríamos atribuir essas<br />

linhas sob ‘Sucesso’ provavelmente a ele.” 11<br />

Na falta <strong>de</strong> uma tradição em que pu<strong>de</strong>ssem situar seu poema, julgaram-no<br />

como sen<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s poemas <strong>do</strong> já conheci<strong>do</strong> poeta transcen<strong>de</strong>ntalista, que pregava o<br />

individualismo, a in<strong>de</strong>pendência e a auto-confiança, afirman<strong>do</strong> que “quem quer que seja<br />

um homem <strong>de</strong>ve ser um inconformista” 12 . Porém, embora <strong>Dickinson</strong> tomasse<br />

conhecimento das produções <strong>de</strong> Emerson, ela não se interessava pela poesia<br />

transcen<strong>de</strong>ntalista, haven<strong>do</strong>, inclusive, recusa<strong>do</strong>-se a conhecê-lo pessoalmente.<br />

<strong>Dickinson</strong> não era homem, mas não <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser inconformista.<br />

Adrienne Rich (1979), por outro la<strong>do</strong>, afirma, em seu ensaio “Vesuvius at<br />

home: the power of <strong>Emily</strong> <strong>Dickinson</strong>”, que as pessoas, incluin<strong>do</strong> alguns poetas, ainda<br />

não tiveram contato com a total dimensão <strong>do</strong> seu trabalho: “Fico surpresa quão pouco<br />

seu trabalho, ainda, é conheci<strong>do</strong> pelas mulheres que estão escreven<strong>do</strong> poesia, o quanto<br />

sua lenda atrapalha o seu resgate, como fonte e precursora” 13<br />

Ao proce<strong>de</strong>rmos, portanto, a um estu<strong>do</strong> comparativo com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

caracterizar a estética que <strong>Dickinson</strong> praticava em relação à <strong>de</strong> suas contemporâneas,<br />

verificamos que <strong>de</strong>fendia uma poesia que se constituísse <strong>de</strong> muitas portas e janelas a<br />

fim <strong>de</strong> se permitir alcançar sua tão <strong>de</strong>sejada circunferência, para além <strong>do</strong> mun<strong>do</strong><br />

material e temporal, e nela se refugiar.<br />

Italo Calvino, ao preocupar-se com o <strong>de</strong>stino da literatura na era tecnológica<br />

pós-industrial, buscou valores da literatura passada a título <strong>de</strong> elaborar as qualida<strong>de</strong>s<br />

que julgava essenciais para uma boa perspectiva <strong>de</strong> uma literatura futura. Em Seis<br />

propostas para o próximo milênio, consi<strong>de</strong>ra <strong>Emily</strong> <strong>Dickinson</strong> como uma poeta<br />

bastante representativa da leveza, acrescentan<strong>do</strong> que ela se utiliza <strong>de</strong> “um <strong>de</strong>spojamento<br />

da linguagem por meio <strong>do</strong> qual os significa<strong>do</strong>s são canaliza<strong>do</strong>s por um teci<strong>do</strong> verbal<br />

quase impon<strong>de</strong>rável até assumirem essa mesma rarefeita consistência” 14 .<br />

A precisão em tornar suas elaborações imprecisas, as inversões <strong>de</strong> significa<strong>do</strong>,<br />

a leveza e a concisão <strong>de</strong> idéias, as alternâncias <strong>de</strong> perspectiva <strong>de</strong> um mesmo objeto, as<br />

imagens encanta<strong>do</strong>ras e, por vezes, chocantes, a linguagem abrasiva e as afirmações<br />

ambíguas foram alguns <strong>do</strong>s ingredientes que transformaram sua poesia em fonte <strong>de</strong><br />

Eletras, vol. 18, n.18, jul.2009 4

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