Emily Dickinson: a irmã de Shakespeare - Universidade Tuiuti do ...
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Dossiê especial: Reflexões shakesperianas<br />
HALL, Alcina. <strong>Emily</strong> <strong>Dickinson</strong>: a <strong>irmã</strong> <strong>de</strong> <strong>Shakespeare</strong>. Eletras, vol. 18, n.18, jul.2009.<br />
www.utp.br/eletras<br />
também a levou a se recusar a publicar conforme os padrões exigi<strong>do</strong>s para as mulheres<br />
escritoras.<br />
Do seu isolamento, entretanto, <strong>Dickinson</strong> se correspondia intensamente com<br />
seus familiares e amigos. Helen Hunt Jackson 3<br />
também lhe escrevia, mas,<br />
diferentemente <strong>de</strong> <strong>Dickinson</strong>, ela se <strong>de</strong>stacou na cena literária feminina <strong>do</strong> século XIX<br />
por especializar-se no estilo sentimental em voga. Contu<strong>do</strong>, ao entrar em contato com<br />
sua poesia, Jackson imediatamente reconheceu o gênio da colega <strong>de</strong> infância. Em<br />
carta que lhe escreveu em<br />
1875, comenta: “Tenho um pequeno volume manuscrito com alguns <strong>de</strong> seus versos – e<br />
os leio com freqüência – Você é uma gran<strong>de</strong> poeta – e está erra<strong>do</strong> que até hoje em sua<br />
vida, você não os queira cantar alto. Quan<strong>do</strong> você estiver o que os homens chamam<br />
morta, lamentará ter si<strong>do</strong> tão avarenta.” 4<br />
<strong>Dickinson</strong> não publicou porque rejeitou as correções que lhe foram propostas<br />
pelo crítico literário Thomas Higginson. Ele julgava que sua poesia era indisciplinada e<br />
necessitava <strong>de</strong> revisão ortográfica e gramatical e <strong>de</strong> melhor elaboração nos ritmos<br />
drásticos e rimas imperfeitas.<br />
Ao referir-se a <strong>Emily</strong> <strong>Dickinson</strong> como “minha poetisa parcialmente louca <strong>de</strong><br />
Amherst” e consi<strong>de</strong>rar que seus versos eram “notáveis, contu<strong>do</strong> estranhos ... <strong>de</strong>lica<strong>do</strong>s<br />
<strong>de</strong>mais – não vigorosos o suficiente para publicação" 5 , Higginson <strong>de</strong>monstrou estar<br />
habitua<strong>do</strong> às fórmulas poéticas convencionais e não estar em condições <strong>de</strong> apreciar suas<br />
inovações. Ignorou-lhe, portanto, as idéias libertas no plano da arte, o senti<strong>do</strong> filosóficoreligioso<br />
inusita<strong>do</strong> e o combate à tradição social.<br />
Um ano após agra<strong>de</strong>cer a Thomas Higginson pelas alterações realizadas em<br />
quatro poemas que lhe havia envia<strong>do</strong> – “Obrigada pela cirurgia – não foi tão <strong>do</strong>lorosa<br />
como supus” 6 , às quais não se <strong>do</strong>brou, em seu poema <strong>de</strong> nº 709 (1863) 7 , <strong>Dickinson</strong><br />
justificaria o porquê <strong>de</strong> não querer publicar:<br />
Publicação – é o Leilão<br />
Da Mente Humana –<br />
Seja a Pobreza a justificativa<br />
Para tamanha torpeza<br />
---------------------------<br />
No Pacote – Seja o Negociante<br />
Da Graça Celestial –<br />
Mas não se reduza qualquer Espírito Humano<br />
À Desgraça <strong>do</strong> Preço.<br />
Eletras, vol. 18, n.18, jul.2009 2