Emily Dickinson: a irmã de Shakespeare - Universidade Tuiuti do ...
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Dossiê especial: Reflexões shakesperianas<br />
HALL, Alcina. <strong>Emily</strong> <strong>Dickinson</strong>: a <strong>irmã</strong> <strong>de</strong> <strong>Shakespeare</strong>. Eletras, vol. 18, n.18, jul.2009.<br />
www.utp.br/eletras<br />
Porque não pu<strong>de</strong> parar para o Senhor Morte –<br />
Ele gentilmente parou para mim –<br />
Na Carruagem estavam apenas nós Dois –<br />
E a Imortalida<strong>de</strong>.<br />
Vagarosamente percorremos – Ele não tinha qualquer pressa<br />
E eu havia coloca<strong>do</strong> <strong>de</strong> la<strong>do</strong><br />
Meu trabalho e também o meu lazer,<br />
Por Sua Cortesia –<br />
Passamos a escola, on<strong>de</strong> Crianças brincavam<br />
No Recreio – <strong>de</strong> Roda –<br />
Passamos os Campos <strong>de</strong> Grãos Contemplativos –<br />
Passamos pelo Sol Poente –<br />
Ou melhor – Ele passou por Nós –<br />
O Orvalho aproximou-se trêmulo e gela<strong>do</strong> –<br />
Pois apenas <strong>de</strong> fina gaze, meu Vesti<strong>do</strong> –<br />
Minha capa – apenas filó –<br />
Paramos diante <strong>de</strong> uma Casa que parecia<br />
Uma intumescência <strong>do</strong> Chão –<br />
O Telha<strong>do</strong> quase não se via –<br />
A Cornija – ao Chão<br />
Des<strong>de</strong> então – faz Séculos – e no entanto<br />
Parece menos que um Dia<br />
Em que percebi que as Cabeças <strong>do</strong>s Cavalos<br />
Dirigiam-se para a Eternida<strong>de</strong> –<br />
(Tradução livre) (P 712, c. 1863)<br />
Em movimentos contínuos <strong>de</strong> dúvida e visualização <strong>de</strong> novas possibilida<strong>de</strong>s,<br />
vemo-nos diante <strong>de</strong> um cenário que foge ao tempo cronológico. A persona lírica,<br />
feminina nesse poema, visita momentos felizes da infância no passa<strong>do</strong> e logo a seguir<br />
percebe que o futuro já se tornou presente. A dicotomia existente entre o tempo linear e<br />
o tempo cíclico faz par com a mortalida<strong>de</strong> e a imortalida<strong>de</strong>.<br />
A persona está tão ocupada com os afazeres diários que não po<strong>de</strong>ria sequer<br />
parar para o senhor morte 16 , mas aceita o convite diante <strong>do</strong> galanteio e entra na<br />
carruagem. A morte, agora assemelhan<strong>do</strong>-se ao noivo, permite-lhe terminar seu trabalho<br />
e lhe proporciona visitar o seu próprio passa<strong>do</strong>, como a rever os episódios <strong>de</strong> sua vida,<br />
em especial quan<strong>do</strong> criança a brincar <strong>de</strong> roda na hora <strong>do</strong> recreio escolar. Os Campos <strong>de</strong><br />
Grãos Contemplativos e o Sol Poente <strong>de</strong>screvem a continuida<strong>de</strong> das cenas a se<br />
<strong>de</strong>senrolar. A sensualida<strong>de</strong> da vestimenta da noiva, feita <strong>de</strong> teci<strong>do</strong>s transparentes, entra<br />
em contradição com o frio <strong>do</strong> sereno que treme e gela. Por outro la<strong>do</strong>, a fina gaze e o<br />
filó constituem também a vestimenta da morta.<br />
Eletras, vol. 18, n.18, jul.2009 10