Comentário de Salmos - Vol. 2

Salmo 68
Era o propósito de Davi, neste Salmo, celebrar as vitórias que, por
intermédio das bênçãos divinas, granjeara sobre seus inimigos; 1 nos
versículos iniciais, porém, ele enaltece o poder e munificência de Deus
em termos gerais, como vistos no governo do mundo como um todo.
Disto ele passa à consideração do que Deus fizera ao redimir seu povo
eleito, e das contínuas provas do paternal cuidado que ele manifestara
à posteridade de Abraão. Ele, pois, prossegue em direção ao tema
1 Quanto ao tempo e ocasião da composição deste Salmo, a maioria dos intérpretes situa-a
durante a trasladação da arca da casa de Obede-Edom para o Monte Sião, e com isso a grande
parte dele indubitavelmente se harmoniza. Outros críticos, porém, como Drs. Geddes, Boothroyd
e Morrison, pensam (e a opinião de Calvino parece ser a mesma) que ele foi escrito depois de alguma
grande vitória; provavelmente depois da magistral vitória sobre os amonitas e sírios, quando
a arca foi reconduzida com triunfo a Jerusalém [1Cr 19.10-19]. Que a arca acompanhou o exército
nessas guerras, descobrimos à luz das palavras de Urias a Davi, em 2 Samuel 11.11, comparado
com 12.31. Visto que muita coisa sob essa dispensação era típica e profética, é muito natural considerar
a forma triunfante na qual a arca subiu o santo monte, como um emblema da mais triunfante
e gloriosa ascensão do Senhor Jesus Cristo (de quem a arca e o tabernáculo, e bem assim o
próprio templo, eram todos figuras) aos mais altos céus, depois de haver vencido os inimigos seus
e de seu povo; e nesta aplicação o versículo 18 deste Salmo é citado pelo apóstolo Paulo [Ef 4.8, 9].
Esta composição inspirada, ainda que em extremo sublime e bela, é universalmente reconhecida
pelos críticos como sendo de dificílima interpretação. Dr. Adam Clarke declara que ele é “o
mais difícil Salmo de todo o Saltério”; e, depois de citar as palavras de Simão de Muis – o qual
observa que “não há como denominar impropriamente a tortura dos críticos e a abordagem dos
comentaristas” –, diz ele: “Há costumes aqui referidos que não consigo compreender plenamente;
há palavras cujo significado não posso, para minha própria satisfação, apreender; e alusões que
são-me inexplicáveis. Todavia, da composição em si mesma tenho a mais elevada opinião: é sublime
além de toda comparação; é construída com uma arte verdadeiramente admirável; possui
toda a dignidade da linguagem sacra; ninguém, senão Davi, poderia tê-la composto; e, neste lapso
de tempo, não requereria pequena porção da influência do Espírito, o qual estava sobre ele para
imprimir sua genuína interpretação.”