Comentário de Salmos - Vol. 2

Salmo 65 • 597
do verbo ‏,שוק shuk, no sentido de desejar; e é neste sentido que Deus
visita a terra depois de se tornar seca e sedenta pela longa estiagem. 13
Outros o derivam do verbo ‏,שקה shakah, significando dar a beber. Esta
parece ser a interpretação mais provável – Tu visitas a terra, regando-a.
Ela se acomoda melhor à conexão, pois segue-se: tu a enriqueces fartamente,
expressão esta obviamente adicionada à guisa de ampliação.
Quer o salmista fale só da Judéia, quer do mundo conjuntamente, é um
ponto acerca do qual têm-se sustentado diferentes opiniões. Eu mesmo
inclino-me a pensar que, embora o que ele diz se aplique à terra em
termos gerais, sua referência mais especificamente é à Judéia, como a
primeira parte do Salmo se ocupa, relatando a bondade de Deus mais
especialmente para com sua própria Igreja. Este ponto de vista é confirmado
pelo que se adiciona: o manancial ou rio de Deus está cheio
de água. Alguns tomam o rio de Deus no sentido de um rio maior ou
mais volumoso, 14 mas tal tradução é abrupta e muito tacanha; e, nesse
pressuposto, rios, no plural, teria sido a forma de expressão usada.
Considero que ele destaca o pequeno ribeiro de Siloah 15 e o põe em
oposição aos rios naturais que enriquecem outros países, tendo em
mente uma alusão à palavra de Moisés [Dt 11.10], de que a terra que o
Senhor seu Deus daria a seu povo não seria como a terra do Egito, fertilizada
pelas inundações do Nilo, mas uma terra regada pelas chuvas
do céu. Ou podemos presumir que ele chame metaforicamente a própria
chuva de o rio de Deus. 16 As palavras devem, em qualquer caso,
13 Este é o sentido preferido por Aben Ezra e Kimchi. Tu tens visitado com misericórdia; isto
é, abençoado a terra, depois de a tornares seca ou sedenta; tu a tens (ou a fizeste) enriquecido
grandemente; isto é, o mesmo Deus que tem castigado e provocado sede, novamente voltou com
misericórdia, enriquecendo a terra e restaurando-lhe a fartura. Assim se deu depois de três anos
de fome, como registrado em 2 Samuel 21.1. Mas as versões Septuaginta, Arábica, Caldaica e Siríaca
interpretam as palavras no sentido de regar.
14 Alguns pensam que a referência é ao transbordar do Jordão depois de longo estio.
15 Este rio corria por Jerusalém, a cidade de Deus. O bispo Hare, seguindo Simeão de Muis, é
de opinião que este é o rio pretendido.
16 “O manancial de Deus; isto é, copiosa chuva, segundo o idioma oriental.” – Dr. Geddes. E
sem pressupor este hebraísmo, os tesouros de água que descem das nuvens podem, com grande
beleza poética, ser denominados o rio de Deus. Ele os junta ali pelo maravilhoso processo de
evaporação, e os derrama. Estão inteiramente em suas mãos e absolutamente fora do controle