Comentário de Salmos - Vol. 2

Salmo 65 • 591
4. Bem-aventurado é o homem a quem escolheste. Havendo já
reconhecido que o povo se havia afastado de Deus em decorrência
de seus pecados, bem como perdido todo e qualquer direito a ser
ouvido, o salmista então busca refúgio na soberana graça de Deus,
a qual garante a remissão de pecado dentre outras bênçãos. E assim
ele lança luz adicional sobre o que dissera na questão de a culpa
ser expurgada, ao apontar para a causa de ser Deus favorável aos
pobres pecadores, favor este que só pode ser encontrado em seu
amor paternal que o leva a recebê-los bem em sua presença, por
mais indignos que sejam. Esse perdão que diariamente recebemos
flui de nossa adoção, e nela se acham também fundadas todas as
nossas orações. Como poderia o pecador aventurar-se a comparecer
na presença de Deus, obter sua reconciliação, porventura não
estivesse persuadido de ser ele um Pai? Nas palavras que se acham
diante de nossos olhos, Davi não fala da graça de Deus estendendo
as mãos para os gentios (o que ele fizera numa parte precedente
do Salmo), mas em termos que só se aplicam aos tempos em que
ele escreveu. A Igreja de Deus se confinava nos judeus, e somente
eles eram admitidos no santuário; enquanto que agora, quando a
distinção já foi abolida e as demais nações chamadas ao mesmo
privilégio, estamos todos livres para ousar acesso a ele com familiaridade.
Cristo é nossa paz [Ef 2.14], o qual uniu em um aqueles que
outrora estavam longe e aqueles que estavam perto.
O que até aqui foi expresso é suficiente para revelar o escopo do
salmista. Uma vez havendo a Igreja, o povo escolhido de Deus, tomado
posse da promessa da remissão dos pecados, ele chama bem-aventurados
aqueles a quem Deus incluiu nesse corpo e os introduziu no
desfruto desse privilégio tão distinto. Sua linguagem informa que a
eleição, naquele tempo, não havia se concretizado em todos; pois insiste
nela como a prerrogativa especial dos judeus, ou seja, que foram
escolhidos por Deus em preferência às demais nações. Caso pudesse o
homem fazer algo para antecipar a graça de Deus, e a eleição cessaria
de ser um apanágio divino, ainda que o direito e o poder dela sejam-lhe