Untitled - Einsteen 10
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COMPETÊNCIA DE ÁREA 1<br />
H1 - Identificar as diferentes<br />
linguagens e seus recursos<br />
expressivos como elementos<br />
de caracterização dos<br />
sistemas de comunicação<br />
01) (2001) O mundo é grande<br />
O mundo é grande e cabe<br />
Nesta janela sobre o mar.<br />
O mar é grande e cabe<br />
Na cama e no colchão de amar.<br />
O amor é grande e cabe<br />
No breve espaço de beijar.<br />
ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e prosa.<br />
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983.<br />
Neste poema, o poeta realizou uma opção<br />
estilística: a reiteração de determinadas<br />
construções e expressões lingüísticas,<br />
como o uso da mesma conjunção para<br />
estabelecer a relação entre as frases.<br />
Essa conjunção estabelece, entre as<br />
idéias relacionadas, um sentido de<br />
A) oposição.<br />
B) comparação.<br />
C) conclusão.<br />
D) alternância.<br />
E) finalidade.<br />
Comentário<br />
Há três elementos repetidos neste trecho:<br />
o verbo ser, o artigo definido o e a conjunção<br />
aditiva e. A conjunção e estabelece uma<br />
relação entre idéias que, concretamente, são<br />
opostas (ex.: "O mundo é grande e cabe<br />
nesta janela sobre o mar"). A alternativa<br />
correta é a letra A.<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão apresenta, para leitura e<br />
análise, o poema "O mundo é grande", onde<br />
os recursos lingüísticos expressivos<br />
utilizados geram um efeito de oposição entre<br />
as idéias. A análise sintático-semântica é<br />
necessária para a compreensão do valor de<br />
oposição assumido pela conjunção "e":<br />
imagens justapostas estão relacionadas,<br />
contrapondo-se em planos diferentes. Um<br />
percentual significativo (46%) de<br />
participantes considerou que o valor da<br />
conjunção "e", nesse poema, é de<br />
comparação, o que não reflete o sentido<br />
estilístico proposto pelo poeta, mas<br />
corresponde apenas à primeira operação que<br />
se realiza para estabelecer o sentido de<br />
oposição. De maneira análoga, pode-se<br />
analisar os equívocos daqueles que optaram<br />
pelas alternativas C e D.<br />
02) (1999) SONETO DE FIDELIDADE<br />
De tudo, ao meu amor serei atento<br />
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto<br />
Que mesmo em face do maior encanto<br />
Dele se encante mais meu pensamento.<br />
Quero vivê-lo em cada vão momento<br />
E em seu louvor hei de espalhar meu<br />
canto<br />
E rir meu riso e derramar meu pranto<br />
Ao seu pesar ou seu contentamento.<br />
E assim, quando mais tarde me procure<br />
Quem sabe a morte, angústia de quem<br />
vive<br />
Quem sabe a solidão, fim de quem ama.<br />
Eu possa dizer do meu amor (que tive):<br />
Que não seja imortal, posto que é chama<br />
Mas que seja infinito enquanto dure.<br />
(MORAES, Vinícius de. Antologia poética. São Paulo: Cia<br />
das Letras, 1992).<br />
A palavra mesmo pode assumir diferentes<br />
significados, de acordo com a sua função<br />
na frase. Assinale a alternativa em que o<br />
sentido de mesmo equivale ao que se<br />
verifica no 3º verso da 1ª estrofe do<br />
poema de Vinícius de Moraes.<br />
A) "Pai, para onde fores, / irei também<br />
trilhando as mesmas ruas..." (Augusto<br />
dos Anjos)<br />
B) "Agora, como outrora, há aqui o<br />
mesmo contraste da vida interior, que<br />
é modesta, com a exterior, que é<br />
ruidosa." (Machado de Assis)<br />
C) "Havia o mal, profundo e persistente,<br />
para o qual o remédio não surtiu efeito,<br />
mesmo em doses variáveis."<br />
(Raimundo Faoro)<br />
D) "Mas, olhe cá, Mana Glória, há<br />
mesmo necessidade de fazê-lo<br />
padre?" (Machado de Assis)<br />
E) "Vamos de qualquer maneira, mas<br />
vamos mesmo." (Aurélio)<br />
Comentário<br />
Nessa questão, uma pequena análise<br />
sintática se faz necessária: mesmo, em<br />
ambos os casos, é conjunção subordinativa<br />
concessiva, introduzindo, portanto, uma<br />
oração subordinada cujo fato expresso é<br />
contrário ao da oração principal. Deve-se,<br />
então, recorrer à oração anterior para se ter<br />
certeza quanto à classificação. Grau<br />
moderado de dificuldade.<br />
1
Comentário do INEP<br />
Este problema buscou colocar o<br />
participante diante de uma situação que<br />
exigia a mobilização de seus mecanismos de<br />
reflexão sobre os processos lingüísticos em<br />
que um significante (uma palavra) assume<br />
diferentes significados, no enunciado, de<br />
acordo com a intenção do enunciador. Neste<br />
caso, além da compreensão da<br />
transformação de significado, é necessária a<br />
alteração de função morfossintática.<br />
Verifica-se que 62% dos participantes<br />
conseguiram identificar e analisar esse<br />
processo lingüístico, comparando a função<br />
do significante em diferentes enunciados.<br />
Isso demonstrou um domínio parcial da<br />
reflexão sobre a Língua Portuguesa, em<br />
diferentes contextos e textos.<br />
Os 18% dos participantes que<br />
assinalaram a alternativa B identificaram a<br />
diferença de significados mas,<br />
provavelmente, têm dificuldades em analisar<br />
estas mudanças em nível morfossintático<br />
(alternativa B).<br />
03) ( 2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />
poema.<br />
A DANÇA E A ALMA<br />
A DANÇA? Não é movimento,<br />
súbito gesto musical.<br />
É concentração, num momento,<br />
da humana graça natural.<br />
No solo não, no éter pairamos,<br />
nele amaríamos ficar.<br />
A dança – não vento nos ramos:<br />
seiva, força, perene estar.<br />
Um estar entre céu e chão,<br />
novo domínio conquistado,<br />
onde busque nossa paixão<br />
libertar-se por todo lado...<br />
Onde a alma possa descrever<br />
suas mais divinas parábolas<br />
sem fugir à forma do ser,<br />
por sobre o mistério das fábulas.<br />
(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />
Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />
A definição de dança, em linguagem de<br />
dicionário, que mais se aproxima do que<br />
está expresso no poema é<br />
A) a mais antiga das artes, servindo como<br />
elemento de comunicação e afirmação<br />
do homem em todos os momentos de<br />
sua existência.<br />
B) a forma de expressão corporal que<br />
ultrapassa os limites físicos,<br />
possibilitando ao homem a liberação de<br />
seu espírito.<br />
C) a manifestação do ser humano,<br />
formada por uma seqüência de gestos,<br />
passos e movimentos desconcertados.<br />
D) o conjunto organizado de movimentos<br />
do corpo, com ritmo determinado por<br />
instrumentos musicais, ruídos, cantos,<br />
emoções etc.<br />
E) o movimento diretamente ligado ao<br />
psiquismo do indivíduo e, por<br />
conseqüência, ao seu desenvolvimento<br />
intelectual e à sua cultura.<br />
Comentário<br />
A pergunta busca a aplicação do conceito<br />
de "estado de dicionário" (que também foi<br />
desenvolvido por Drummond no poema "A<br />
Procura da Poesia"). A literatura busca partir<br />
de palavras em estado de dicionário para,<br />
pelo aprofundamento do sentido delas, criar<br />
um mundo mais denso e particular. Em<br />
estado de dicionário, a dança, conforme é<br />
tratada nesse poema, apareceria na<br />
alternativa B: uma justaposição entre<br />
aspectos físicos e espirituais da expressão<br />
humana. Questão complexa.<br />
04) (2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />
poema.<br />
A DANÇA E A ALMA<br />
A DANÇA? Não é movimento,<br />
súbito gesto musical.<br />
É concentração, num momento,<br />
da humana graça natural.<br />
No solo não, no éter pairamos,<br />
nele amaríamos ficar.<br />
A dança – não vento nos ramos:<br />
seiva, força, perene estar.<br />
Um estar entre céu e chão,<br />
novo domínio conquistado,<br />
onde busque nossa paixão<br />
libertar-se por todo lado...<br />
Onde a alma possa descrever<br />
suas mais divinas parábolas<br />
sem fugir à forma do ser,<br />
por sobre o mistério das fábulas.<br />
(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />
Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />
O poema “A Dança e a Alma” é construído<br />
com base em contrastes, como<br />
“movimento” e “concentração”. Em uma<br />
das estrofes, o termo que estabelece<br />
contraste com solo é:<br />
A) éter. D) paixão.<br />
B) seiva. E) ser.<br />
C) chão.<br />
2
Comentário<br />
O elemento que contrasta com "solo"<br />
(físico, tangível, perene) é "éter" (espiritual,<br />
intangível, volátil). Questão de nível médio de<br />
dificuldade.<br />
05) ( 2008) O surgimento da figura da Ema<br />
no céu, ao leste, no anoitecer, na segunda<br />
quinzena de junho, indica o início do<br />
inverno para os índios do sul do Brasil e o<br />
começo da estação seca para os do norte.<br />
É limitada pelas constelações de<br />
Escorpião e do Cruzeiro do Sul, ou<br />
Cut'uxu. Segundo o mito guarani, o<br />
Cut’uxu segura a cabeça da ave para<br />
garantir a vida na Terra, porque, se ela se<br />
soltar, beberá toda a água do nosso<br />
planeta. Os tupisguaranis utilizam o<br />
Cut'uxu para se orientar e determinar a<br />
duração das noites e as estações do ano.<br />
A ilustração a seguir é uma representação<br />
dos corpos celestes que constituem a<br />
constelação da Ema, na percepção<br />
indígena.<br />
A) A palavra Cut’uxu é um regionalismo<br />
utilizado pelas populações próximas às<br />
aldeias indígenas.<br />
B) O autor se expressa em linguagem<br />
formal em todos os períodos do texto.<br />
C) A ausência da palavra Ema no início do<br />
período “É limitada (...)” caracteriza<br />
registro oral.<br />
D) A palavra Cut’uxu está destacada em<br />
itálico porque integra o vocabulário da<br />
linguagem informal.<br />
E) No texto, predomina a linguagem<br />
coloquial porque ele consta de um<br />
almanaque.<br />
Comentário<br />
A questão é simples, mas requer cuidados<br />
quanto aos conceitos de linguagem<br />
“informal”, “formal” e de “língua”. Se o aluno<br />
tiver noção desses conceitos,<br />
chegará facilmente à resposta. A linguagem<br />
formal ou culta prevalece no texto, e o termo<br />
“Cut’uxu’ não é um termo informal, mas, sim,<br />
uma expressão que pertence a uma língua<br />
indígena — o que justifica o emprego da<br />
palavra em itálico. A resposta correta é,<br />
portanto, a letra "B".<br />
Almanaque BRASIL, maio/2007 (com adaptações).<br />
A próxima figura mostra, em campo de<br />
visão ampliado, como povos de culturas<br />
não-indígenas percebem o espaço estelar<br />
em que a Ema é vista.<br />
Internet: (com adaptações).<br />
Assinale a opção correta a respeito da<br />
linguagem empregada no texto A Ema.<br />
06) (2008) Calcula-se que 78% do<br />
desmatamento na Amazônia tenha sido<br />
motivado pela pecuária — cerca de 35%<br />
do rebanho nacional está na região — e<br />
que pelo menos 50 milhões de hectares<br />
de pastos são pouco produtivos. Enquanto<br />
o custo médio para aumentar a<br />
produtividade de 1 hectare de pastagem é<br />
de 2 mil reais, o custo para derrubar igual<br />
área de floresta é estimado em 800 reais,<br />
o que estimula novos desmatamentos.<br />
Adicionalmente, madeireiras retiram as<br />
árvores de valor comercial que foram<br />
abatidas para a criação de pastagens. Os<br />
pecuaristas sabem que problemas<br />
ambientais como esses podem provocar<br />
restrições à pecuária nessas áreas, a<br />
exemplo do que ocorreu em 2006 com o<br />
plantio da soja, o qual, posteriormente, foi<br />
proibido em áreas de floresta.<br />
Época, 3/3/2008 e 9/6/2008 (com adaptações).<br />
A partir da situação-problema descrita,<br />
conclui-se que<br />
A) o desmatamento na Amazônia decorre<br />
principalmente da exploração ilegal de<br />
árvores de valor comercial.<br />
B) um dos problemas que os pecuaristas<br />
vêm enfrentando na Amazônia é a<br />
proibição do plantio de soja.<br />
3
4<br />
C) a mobilização de máquinas e de força<br />
humana torna o desmatamento mais<br />
caro que o aumento da produtividade<br />
de pastagens.<br />
D) o superavit comercial decorrente da<br />
exportação de carne produzida na<br />
Amazônia compensa a possível<br />
degradação ambiental.<br />
E) a recuperação de áreas desmatadas<br />
e o aumento de produtividade das<br />
pastagens podem contribuir para a<br />
redução do desmatamento na<br />
Amazônia.<br />
Comentário do portal<br />
Essa questão retrata o problema do<br />
desmatamento da Amazônia, relacionado<br />
principalmente com o desenvolvimento da<br />
pecuária na região. Para resolvê-la, foram<br />
necessários a leitura atenta do texto e o<br />
conhecimento sobre os problemas<br />
ambientais da atualidade. A alternativa<br />
correta é a letra E, pois é mais caro para os<br />
pecuaristas aumentar a produtividade do que<br />
as áreas de pasto, o que acarreta o aumento<br />
do desmatamento da Amazônia.<br />
07) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />
preciso, além de conhecer o padrão<br />
formal da Língua Portuguesa, saber<br />
adequar o uso da linguagem ao contexto<br />
discursivo. Para exemplificar este fato,<br />
seu professor de Língua Portuguesa<br />
convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />
Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />
brinca com situações de discurso oral que<br />
fogem à expectativa do ouvinte.<br />
Aí, Galera<br />
Jogadores de futebol podem ser<br />
vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />
você pode imaginar um jogador de futebol<br />
dizendo "estereotipação"? E, no<br />
entanto, por que não?<br />
- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />
galera.<br />
- Minha saudação aos aficionados do<br />
clube e aos demais esportistas, aqui<br />
presentes ou no recesso dos seus lares.<br />
- Como é?<br />
- Aí, galera.<br />
- Quais são as instruções do técnico?<br />
- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />
trabalho de contenção coordenada, com<br />
energia otimizada, na zona de<br />
preparação, aumentam as<br />
probabilidades de, recuperado o<br />
esférico, concatenarmos um contragolpe<br />
agudo com parcimônia de meios e<br />
extrema objetividade, valendo-nos da<br />
desestruturação momentânea do<br />
sistema oposto, surpreendido pela<br />
reversão inesperada do fluxo da ação:<br />
- Ahn?<br />
- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />
pegá eles sem calça.<br />
- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />
coisa?<br />
- Posso dirigir uma mensagem de<br />
caráter sentimental, algo banal, talvez<br />
mesmo previsível e piegas, a uma<br />
pessoa à qual sou ligado por razões,<br />
inclusive, genéticas?<br />
- Pode.<br />
- Uma saudação para a minha<br />
progenitora.<br />
- Como é?<br />
- Alô, mamãe!<br />
- Estou vendo que você é um, um...<br />
- Um jogador que confunde o<br />
entrevistador, pois não corresponde à<br />
expectativa de que o atleta seja um ser<br />
algo primitivo com dificuldade de<br />
expressão e assim sabota a<br />
estereotipação?<br />
- Estereoquê?<br />
- Um chato?<br />
- Isso.<br />
Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />
O texto retrata duas situações<br />
relacionadas que fogem à expectativa do<br />
público. São elas:<br />
A) a saudação do jogador aos fãs do<br />
clube, no início da entrevista, e a<br />
saudação final dirigida à sua mãe.<br />
B) a linguagem muito formal do jogador,<br />
inadequada à situação da entrevista, e<br />
um jogador que fala, com desenvoltura,<br />
de modo muito rebuscado.<br />
C) o uso da expressão "galera", por parte<br />
do entrevistador, e da expressão<br />
"progenitora", por parte do jogador.<br />
D) o desconhecimento, por parte do<br />
entrevistador, da palavra<br />
"estereotipação", e a fala do jogador<br />
em "é pra dividir no meio e ir pra cima<br />
pra pegá eles sem calça".<br />
E) o fato de os jogadores de futebol serem<br />
vítimas de estereotipação e o jogador<br />
entrevistado não corresponder ao<br />
estereótipo.<br />
Comentário<br />
Quando pensamos em certas profissões,<br />
imaginamos qual seria o padrão de<br />
comportamento de quem as exerce. O texto
está trabalhando uma divergência entre o<br />
que esperamos de um jogador de futebol (o<br />
estereótipo que temos dele) e um jogador<br />
que não se enquadra em nossas<br />
expectativas. Levando isso em consideração,<br />
as duas coisas que destoam do que<br />
esperamos encontrar nessa situação são: 1)<br />
alguém, ao dar uma entrevista de alto<br />
alcance popular, fala de maneira<br />
extremamente rebuscada; 2) um jogador que,<br />
ao falar de maneira rebuscada, acaba por<br />
fugir do estereótipo do jogador de futebol, de<br />
quem sempre é esperado algo menos<br />
rebuscado e mais popular.<br />
08) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />
preciso, além de conhecer o padrão<br />
formal da Língua Portuguesa, saber<br />
adequar o uso da linguagem ao contexto<br />
discursivo. Para exemplificar este fato,<br />
seu professor de Língua Portuguesa<br />
convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />
Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />
brinca com situações de discurso oral que<br />
fogem à expectativa do ouvinte.<br />
Aí, Galera<br />
Jogadores de futebol podem ser<br />
vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />
você pode imaginar um jogador de futebol<br />
dizendo "estereotipação"? E, no<br />
entanto, por que não?<br />
- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />
galera.<br />
- Minha saudação aos aficionados do<br />
clube e aos demais esportistas, aqui<br />
presentes ou no recesso dos seus lares.<br />
- Como é?<br />
- Aí, galera.<br />
- Quais são as instruções do técnico?<br />
- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />
trabalho de contenção coordenada, com<br />
energia otimizada, na zona de<br />
preparação, aumentam as<br />
probabilidades de, recuperado o<br />
esférico, concatenarmos um contragolpe<br />
agudo com parcimônia de meios e<br />
extrema objetividade, valendo-nos da<br />
desestruturação momentânea do<br />
sistema oposto, surpreendido pela<br />
reversão inesperada do fluxo da ação:<br />
- Ahn?<br />
- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />
pegá eles sem calça.<br />
- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />
coisa?<br />
- Posso dirigir uma mensagem de<br />
caráter sentimental, algo banal, talvez<br />
mesmo previsível e piegas, a uma<br />
pessoa à qual sou ligado por razões,<br />
inclusive, genéticas?<br />
- Pode.<br />
- Uma saudação para a minha<br />
progenitora.<br />
- Como é?<br />
- Alô, mamãe!<br />
- Estou vendo que você é um, um...<br />
- Um jogador que confunde o<br />
entrevistador, pois não corresponde à<br />
expectativa de que o atleta seja um ser<br />
algo primitivo com dificuldade de<br />
expressão e assim sabota a<br />
estereotipação?<br />
- Estereoquê?<br />
- Um chato?<br />
- Isso.<br />
Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />
O texto mostra uma situação em que a<br />
linguagem usada é inadequada ao<br />
contexto. Considerando as diferenças<br />
entre língua oral e língua escrita, assinale<br />
a opção que representa também uma<br />
inadequação da linguagem usada ao<br />
contexto:<br />
A) "o carro bateu e capotô, mas num deu<br />
pra vê direito" - um pedestre que<br />
assistiu ao acidente comenta com o<br />
outro que vai passando.<br />
B) "E aí, ô meu! Como vai essa força?" -<br />
um jovem que fala para um amigo.<br />
C) "Só um instante, por favor. Eu<br />
gostaria de fazer uma observação" -<br />
alguém comenta em uma reunião de<br />
trabalho.<br />
D) "Venho manifestar meu interesse em<br />
candidatar-me ao cargo de Secretária<br />
Executiva desta conceituada empresa"<br />
- alguém que escreve uma carta<br />
candidatando-se a um emprego.<br />
E) "Porque se a gente não resolve as<br />
coisas como têm que ser, a gente corre<br />
o risco de termos, num futuro próximo,<br />
muito pouca comida nos lares<br />
brasileiros" - um professor universitário<br />
em um congresso internacional.<br />
Comentário<br />
Essa questão está trabalhando com as<br />
nossas expectativas. Esperamos encontrar,<br />
nas diferentes situações, linguagens que<br />
correspondam à formalidade (ou à<br />
informalidade) delas. Na alternativa E, como<br />
o professor universitário está falando em um<br />
congresso internacional, espera-se que ele<br />
utilize uma linguagem mais formal e não uma<br />
linguagem coloquial como a que usou. Em<br />
5
todas as outras situações, a linguagem está<br />
de acordo com a situação em que está sendo<br />
empregada.<br />
pela alternativa "B" caso não desse o devido<br />
valor ao sentido da palavra “desvaloriza”, que<br />
a elimina.<br />
09) (2006) Depois de um bom jantar: feijão<br />
com carne-seca, orelha de porco e couve<br />
com angu, arroz-mole engordurado, carne<br />
de vento assada no espeto, torresmo<br />
enxuto de toicinho da barriga, viradinho de<br />
milho verde e um prato de caldo de couve,<br />
jantar encerrado por um prato fundo de<br />
canjica com torrões de açúcar, Nhô Tomé<br />
saboreou o café forte e se estendeu na<br />
rede. A mão direita sob a cabeça, à guisa<br />
de travesseiro, o indefectível cigarro de<br />
palha entre as pontas do indicador e do<br />
polegar, envernizados pela fumaça, de<br />
unhas encanoadas e longas, ficou-se de<br />
pança para o ar, modorrento, a olhar para<br />
as ripas do telhado.<br />
Quem come e não deita, a comida não<br />
aproveita, pensava Nhô Tomé... E pôs-se<br />
a cochilar. A sua modorra durou pouco;<br />
Tia Policena, ao passar pela sala, bradou<br />
assombrada:<br />
— Êêh! Sinhô! Vai drumi agora? Não!<br />
Num presta... Dá pisadêra e póde morrê<br />
de ataque de cabeça! Despois do armoço<br />
num far-má... mais despois da janta?!”<br />
Cornélio Pires. Conversas ao pé do fogo. São Paulo:<br />
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1987.<br />
Nesse trecho, extraído de texto publicado<br />
originalmente em 1921, o narrador<br />
A) apresenta, sem explicitar juízos de<br />
valor, costumes da epoca, descrevendo<br />
os pratos servidos no jantar e a atitude<br />
de Nhô Tomé e de Tia Policena.<br />
B) desvaloriza a norma culta da língua<br />
porque incorpora à narrativa usos<br />
próprios da linguagem regional das<br />
personagens.<br />
C) condena os hábitos descritos, dando<br />
voz a Tia Policena, que tenta impedir<br />
Nhô Tomé de deitar-se após as<br />
refeições.<br />
D) utiliza a diversidade sociocultural e<br />
lingüística para demonstrar seu<br />
desrespeito às populações das zonas<br />
rurais do início do século XX.<br />
E) manifesta preconceito em relação a Tia<br />
Policena ao transcrever a fala dela com<br />
os erros próprios da região.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil, pois a alternativa<br />
"A" deixa clara a intencionalidade do<br />
narrador. Entretanto, o aluno poderia optar<br />
<strong>10</strong>) (2007) Texto I<br />
Agora Fabiano conseguia arranjar as<br />
idéias. O que o segurava era a família.<br />
Vivia preso como um novilho amarrado ao<br />
mourão, suportando ferro quente. Se não<br />
fosse isso, um soldado amarelo não lhe<br />
pisava o pé não. (...) Tinha aqueles<br />
cambões pendurados ao pescoço.<br />
Deveria continuar a arrastá-los? Sinha<br />
Vitória dormia mal na cama de varas. Os<br />
meninos eram uns brutos, como o pai.<br />
Quando crescessem, guardariam as reses<br />
de um patrão invisível, seriam pisados,<br />
maltratados, machucados por um soldado<br />
amarelo.<br />
Graciliano Ramos. Vidas Secas. São Paulo:<br />
Martins, 23.ª ed., 1969, p. 75.<br />
Texto II<br />
Para Graciliano, o roceiro pobre é um<br />
outro, enigmático, impermeável. Não há<br />
solução fácil para uma tentativa de<br />
incorporação dessa figura no campo da<br />
ficção. É lidando com o impasse, ao invés<br />
de fáceis soluções, que Graciliano vai<br />
criar Vidas Secas, elaborando uma<br />
linguagem, uma estrutura romanesca,<br />
uma constituição de narrador em que<br />
narrador e criaturas se tocam, mas não se<br />
identificam. Em grande medida, o debate<br />
acontece porque, para a intelectualidade<br />
brasileira naquele momento, o pobre, a<br />
despeito de aparecer idealizado em certos<br />
aspectos, ainda é visto como um ser<br />
humano de segunda categoria, simples<br />
demais, incapaz de ter pensamentos<br />
demasiadamente complexos. O que Vidas<br />
Secas faz é, com pretenso não<br />
envolvimento da voz que controla a<br />
narrativa, dar conta de uma riqueza<br />
humana de que essas pessoas seriam<br />
plenamente capazes.<br />
Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes. In:<br />
Teresa. São Paulo: USP, n.° 2, 2001, p. 254.<br />
No texto II, verifica-se que o autor utiliza<br />
A) linguagem predominantemente<br />
formal, para problematizar, na<br />
composição de Vidas Secas, a relação<br />
entre o escritor e o personagem<br />
popular.<br />
B) linguagem inovadora, visto que, sem<br />
abandonar a linguagem formal, dirigese<br />
diretamente ao leitor.<br />
6
C) linguagem coloquial, para narrar<br />
coerentemente uma história que<br />
apresenta o roceiro pobre de forma<br />
pitoresca.<br />
D) linguagem formal com recursos<br />
retóricos próprios do texto literário em<br />
prosa, para analisar determinado<br />
momento da literatura brasileira.<br />
E) linguagem regionalista, para transmitir<br />
informações sobre literatura, valendose<br />
de coloquialismo, para facilitar o<br />
entendimento do texto.<br />
Comentário<br />
Questão de nível médio. Algumas<br />
alternativas poderiam levar o candidato a<br />
pensar que o texto de Vidas Secas utiliza<br />
uma linguagem predominantemente coloquial<br />
e regionalista. Entretanto, é na alternativa A<br />
que se encontra o real estilo da linguagem<br />
utilizada por Graciliano Ramos. A linguagem<br />
é, portanto, predominantemente formal e<br />
problematiza a relação do escritor com o<br />
personagem popular. Esta acaba sendo uma<br />
das grandes características do autor, pois ele<br />
buscava sempre dar uma grande densidade<br />
psicológica aos seus romances.<br />
11) (2006) Aula de português<br />
Explorando a função emotiva da<br />
linguagem, o poeta expressa o contraste<br />
entre marcas de variação de usos da<br />
linguagem em<br />
A) situações formais e informais.<br />
B) diferentes regiões do país.<br />
C) escolas literárias distintas.<br />
D) textos técnicos e poéticos.<br />
E) diferentes épocas.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil, pois o próprio título<br />
nos dá uma noção da dificuldade de<br />
transformar a linguagem coloquial e de uso<br />
cotidiano em uma linguagem formal,<br />
expressa no poema como “a misteriosa”.<br />
Drummond foi muito feliz em conseguir<br />
demonstrar a dificuldade em entender como<br />
estruturas simples da língua se tornam tão<br />
complexas ao se iniciar o processo de<br />
compreensão da estrutura lingüística.<br />
12) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />
preciso, além de conhecer o padrão<br />
formal da Língua Portuguesa, saber<br />
adequar o uso da linguagem ao contexto<br />
discursivo. Para exemplificar este fato,<br />
seu professor de Língua Portuguesa<br />
convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />
Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />
brinca com situações de discurso oral que<br />
fogem à expectativa do ouvinte.<br />
Aí, Galera<br />
Jogadores de futebol podem ser<br />
vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />
você pode imaginar um jogador de futebol<br />
dizendo "estereotipação"? E, no<br />
entanto, por que não?<br />
- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />
galera.<br />
- Minha saudação aos aficionados do<br />
clube e aos demais esportistas, aqui<br />
presentes ou no recesso dos seus lares.<br />
- Como é?<br />
- Aí, galera.<br />
- Quais são as instruções do técnico?<br />
- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />
trabalho de contenção coordenada, com<br />
energia otimizada, na zona de<br />
preparação, aumentam as<br />
probabilidades de, recuperado o<br />
esférico, concatenarmos um contragolpe<br />
agudo com parcimônia de meios e<br />
extrema objetividade, valendo-nos da<br />
desestruturação momentânea do<br />
sistema oposto, surpreendido pela<br />
reversão inesperada do fluxo da ação:<br />
- Ahn?<br />
- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />
pegá eles sem calça.<br />
7
- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />
coisa?<br />
- Posso dirigir uma mensagem de<br />
caráter sentimental, algo banal, talvez<br />
mesmo previsível e piegas, a uma<br />
pessoa à qual sou ligado por razões,<br />
inclusive, genéticas?<br />
- Pode.<br />
- Uma saudação para a minha<br />
progenitora.<br />
- Como é?<br />
- Alô, mamãe!<br />
- Estou vendo que você é um, um...<br />
- Um jogador que confunde o<br />
entrevistador, pois não corresponde à<br />
expectativa de que o atleta seja um ser<br />
algo primitivo com dificuldade de<br />
expressão e assim sabota a<br />
estereotipação?<br />
- Estereoquê?<br />
- Um chato?<br />
- Isso.<br />
Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />
A expressão "pegá eles sem calça"<br />
poderia ser substituída, sem<br />
comprometimento de sentido, em língua<br />
culta, formal, por:<br />
A) pegá-los na mentira.<br />
B) pegá-los desprevenidos.<br />
C) pegá-los em flagrante.<br />
D) pegá-los rapidamente.<br />
E) pegá-los momentaneamente<br />
Comentário<br />
O trabalho que temos aqui é de<br />
compreensão de sentido. Se você nunca<br />
ouviu a expressão "de calças na mão", terá<br />
de imaginar o que acontece quando<br />
pegamos alguém nessa situação. Mas isso<br />
não basta. Se usar somente situações que<br />
pode imaginar, restarão as alternativas B e<br />
C. Esse problema só será solucionado se<br />
você entender bem o texto a que ele se<br />
refere. Como o jogador está falando em<br />
roubar a bola e partir para cima do adversário<br />
rapidamente, imagina-se que o adversário<br />
não esperava perder a bola naquele<br />
momento e, quando isso ocorreu, ele não<br />
estava preparado para receber um contraataque.<br />
Utilizando essa análise, somente a<br />
alternativa B está correta.<br />
13) (2000) Em uma conversa ou leitura de<br />
um texto, corre-se o risco de atribuir um<br />
significado inadequado a um termo ou<br />
expressão, e isso pode levar a certos<br />
resultados inesperados, como se vê nos<br />
quadrinhos abaixo.<br />
(SOUZA, Maurício de. Chico Bento.<br />
Rio de Janeiro: Ed. Globo, n o 335, Nov./99 )<br />
Nessa historinha, o efeito humorístico<br />
origina-se de uma situação criada pela<br />
fala da Rosinha no primeiro quadrinho,<br />
que é:<br />
A) Faz uma pose bonita!<br />
B) Quer tirar um retrato?<br />
C) Sua barriga está aparecendo!<br />
D) Olha o passarinho!<br />
E) Cuidado com o flash!<br />
Comentário<br />
Quem não se lembra de expressões<br />
humorísticas usadas quando se deseja tirar<br />
uma foto, como "Olha o passarinho" ou "Fale<br />
xis"?<br />
Pois é, essa é uma questão fácil e a<br />
interpretação do texto é simples, e não há<br />
por que ter dúvidas quanto à resposta, a não<br />
ser que não se leia a proposta da questão.<br />
Comentário do INEP<br />
Essa questão procurou avaliar se o<br />
participante conseguia inferir, a partir de uma<br />
seqüência narrativa de imagens, a expressão<br />
lingüística adequada à situação de<br />
interlocução, no caso a fala da personagem,<br />
no primeiro quadrinho. A expressão de uso<br />
coloquial 'olha o passarinho!', dependendo do<br />
contexto, tem diferentes significados, que<br />
nesse caso foram associados pelo cartunista<br />
para produzir o efeito de humor. A grande<br />
maioria - 89% - dos participantes realizou a<br />
inferência solicitada, analisando a função da<br />
linguagem e identificando a variante<br />
lingüística adequada à situação de<br />
interlocução, com base na leitura da<br />
seqüência das imagens e da fala da<br />
personagem no terceiro quadrinho. É<br />
interessante notar a abrangência dessa<br />
expressão metafórica no Brasil, criada no<br />
contexto informal da fala com seus<br />
significados correspondentes. Mesmo assim,<br />
11% dos participantes, possivelmente,<br />
desconhecem essa expressão ou não<br />
conseguiram realizar a transposição do<br />
significado humorístico da fala do último<br />
quadrinho.<br />
8
14) (2005) Leia com atenção o texto:<br />
[Em Portugal], você poderá ter alguns<br />
probleminhas se entrar numa loja de<br />
roupas desconhecendo certas sutilezas da<br />
língua. Por exemplo, não adianta pedir<br />
para ver os ternos — peça para ver os<br />
fatos. Paletó é casaco. Meias são<br />
peúgas. Suéter é camisola — mas não<br />
se assuste, porque calcinhas femininas<br />
são cuecas. (Não é uma delícia?)<br />
(Ruy Castro. Viaje Bem. Ano VIII, no 3, 78.)<br />
O texto destaca a diferença entre o<br />
português do Brasil e o de Portugal<br />
quanto<br />
A) ao vocabulário.<br />
B) à derivação.<br />
C) à pronúncia.<br />
D) ao gênero.<br />
E) à sintaxe.<br />
Comentário<br />
Questão de entendimento muito fácil, pois<br />
o próprio enunciado deixa claro que se trata<br />
das diferenças de vocabulário entre o<br />
português brasileiro e o lusitano.<br />
15) (2006) Aula de português<br />
No poema, a referência à variedade<br />
padrão da língua está expressa no<br />
seguinte trecho:<br />
A) “A linguagem / na ponta da língua” (v.1<br />
e 2).<br />
B) “A linguagem / na superfície<br />
estrelada de letras” (v.5 e 6).<br />
C) “[a língua] em que pedia para ir lá<br />
fora” (v.14).<br />
D) “[a língua] em que levava e dava<br />
pontapé” (v.15).<br />
E) “[a língua] do namoro com a priminha”<br />
(v.17).<br />
Comentário<br />
Questão fácil, pois a alternativa "B" é a<br />
única que faz menção à norma-padrão da<br />
língua. As demais alternativas fogem a essa<br />
norma.<br />
16) (2008) A Lei Federal n.º 9.985/2000, que<br />
instituiu o sistema nacional de unidades<br />
de conservação, define dois tipos de<br />
áreas protegidas. O primeiro, as unidades<br />
de proteção integral, tem por objetivo<br />
preservar a natureza, admitindo-se<br />
apenas o uso indireto dos seus recursos<br />
naturais, isto é, aquele que não envolve<br />
consumo, coleta, dano ou destruição dos<br />
recursos naturais. O segundo, as<br />
unidades de uso sustentável, tem por<br />
função compatibilizar a conservação da<br />
natureza com o uso sustentável de<br />
parcela dos recursos naturais. Nesse<br />
caso, permite-se a exploração do<br />
ambiente de maneira a garantir a<br />
perenidade dos recursos ambientais<br />
renováveis e dos processos ecológicos,<br />
mantendo-se a biodiversidade e os<br />
demais atributos ecológicos, de forma<br />
socialmente justa e economicamente<br />
viável.<br />
Considerando essas informações, analise<br />
a seguinte situação hipotética.<br />
Ao discutir a aplicação de recursos<br />
disponíveis para o desenvolvimento de<br />
determinada região, organizações civis,<br />
universidade e governo resolveram<br />
investir na utilização de uma unidade de<br />
proteção integral, o Parque Nacional do<br />
Morro do Pindaré, e de uma unidade de<br />
uso sustentável, a Floresta Nacional do<br />
Sabiá. Depois das discussões, a equipe<br />
resolveu levar adiante três projetos:<br />
— o projeto I consiste de pesquisas<br />
científicas embasadas exclusivamente<br />
na observação de animais;<br />
— o projeto II inclui a construção de uma<br />
escola e de um centro de vivência;<br />
— o projeto III promove a organização de<br />
uma comunidade extrativista que<br />
poderá coletar e explorar<br />
9
comercialmente frutas e sementes<br />
nativas.<br />
Nessa situação hipotética, atendendo-se à<br />
lei mencionada acima, é possível<br />
desenvolver tanto na unidade de proteção<br />
integral quanto na de uso sustentável<br />
A) apenas o projeto I.<br />
B) apenas o projeto III.<br />
C) apenas os projetos I e II.<br />
D) apenas os projetos II e III.<br />
E) todos os três projetos.<br />
Comentário do portal<br />
A alternativa correta é a letra "A", pois,<br />
analisando-se a situação hipotética sugerida<br />
no enunciado, percebe-se que ela deverá<br />
atender os requisitos tanto da unidade de<br />
proteção integral quanto da unidade de uso<br />
sustentável. Portanto, apenas o projeto I<br />
poderá ser desenvolvido nessas duas<br />
propostas de unidades.<br />
17) (2006) No romance Vidas Secas, de<br />
Graciliano Ramos, o vaqueiro Fabiano<br />
encontra-se com o patrão para receber o<br />
salário. Eis parte da cena:<br />
Graciliano Ramos. Vidas Secas. 91.ª ed.<br />
Rio de Janeiro: Record, 2003.<br />
No fragmento transcrito, o padrão formal<br />
da linguagem convive com marcas de<br />
regionalismo e de coloquialismo no<br />
vocabulário. Pertence à variedade do<br />
padrão formal da linguagem o seguinte<br />
trecho:<br />
A) Não se conformou: devia haver<br />
engano (l.1).<br />
B) Fabiano perdeu os estribos (l.3).<br />
C) Passar a vida inteira assim no toco<br />
(l.4).<br />
D) Entregando o que era dele de mao<br />
beijada! (l.4-5).<br />
E) Aí Fabiano baixou a pancada e<br />
amunhecou (l.11).<br />
Comentário do portal<br />
Questão de nível fácil. Bastaria que o<br />
candidato conhecesse o padrão formal da<br />
linguagem e distinguisse-o do regionalismo e<br />
do coloquialismo.<br />
18) (2001) Os provérbios constituem um<br />
produto da sabedoria popular e, em geral,<br />
pretendem transmitir um ensinamento. A<br />
alternativa em que os dois provérbios<br />
remetem a ensinamentos semelhantes é:<br />
A) “Quem diz o que quer, ouve o que não<br />
quer” e “Quem ama o feio, bonito lhe<br />
parece”.<br />
B) “Devagar se vai ao longe” e “De grão<br />
em grão, a galinha enche o papo”.<br />
C) “Mais vale um pássaro na mão do que<br />
dois voando” e “Não se deve atirar<br />
pérolas aos porcos”.<br />
D) “Quem casa quer casa” e “Santo de<br />
casa não faz milagre”.<br />
E) “Quem com ferro fere, com ferro será<br />
ferido” e “Casa de ferreiro, espeto de<br />
pau”.<br />
Comentário<br />
Questão fácil. A alternativa B apresenta<br />
dois provérbios que tratam de paciência,<br />
perseverança. A mensagem é a mesma em<br />
ambos.<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão propõe uma série de<br />
provérbios agrupados aos pares, para que o<br />
participante demonstre compreender e<br />
comparar os provérbios de modo a identificar<br />
aqueles que traduzem ensinamentos<br />
semelhantes. A organização sintáticosemântica<br />
dos provérbios cria um efeito de<br />
sentido metafórico que deve ser recuperado,<br />
analisado e comparado, o que foi<br />
corretamente feito por cerca de 80% dos<br />
participantes.<br />
19) (1999)<br />
(QUINO. Mafalda inédita. São Paulo: Martins Fontes, 1993)<br />
Observando as falas das personagens,<br />
analise o emprego do pronome SE e o<br />
sentido que adquire no contexto. No<br />
contexto da narrativa, é correto afirmar<br />
que o pronome SE:<br />
<strong>10</strong>
A) em I, indica reflexividade e equivale a<br />
"a si mesmas".<br />
B) em II, indica reciprocidade e equivale a<br />
"a si mesma".<br />
C) em III, indica reciprocidade e equivale<br />
a "umas às outras".<br />
D) em I e III, indica reciprocidade e<br />
equivale a "umas às outras".<br />
E) em II e III, indica reflexividade e<br />
equivale a "a si mesma " e "a si<br />
mesmas", respectivamente.<br />
Comentário<br />
Mais uma questão que fala por si própria.<br />
Lendo o segundo quadrinho — "Quer dizer<br />
que você também se ama muito mais no<br />
Natal?" —, é fácil de se identificar o pronome<br />
reflexivo. Basta que se troque se ama por<br />
ama a si mesma. O mesmo ocorre no<br />
terceiro quadrinho em "Por que será que as<br />
pessoas se amam muito mais no Natal?" —<br />
Por que será que as pessoas amam a si<br />
mesmas? Questão de grau fácil.<br />
Comentário do INEP<br />
Este problema requeria que o participante<br />
mobilizasse conhecimentos sobre os<br />
significados de "reciprocidade e<br />
"reflexividade" e o associasse à<br />
compreensão de linguagem iconográfica.<br />
Cerca de metade dos participantes<br />
demonstrou essa capacidade. A opção de<br />
30% dos participantes pela alternativa D<br />
pode indicar que eles utilizaram as imagens<br />
apenas como ilustração do texto e não como<br />
linguagem capaz de instituir novos<br />
significados.<br />
20) (202) "Narizinho correu os olhos pela<br />
assistência. Não podia haver nada mais<br />
curioso. Besourinhos de fraque e flores na<br />
lapela conversavam com baratinhas de<br />
mantilha e miosótis nos cabelos. Abelhas<br />
douradas, verdes e azuis, falavam mal<br />
das vespas de cintura fina — achando que<br />
era exagero usarem coletes tão<br />
apertados. Sardinhas aos centos<br />
criticavam os cuidados excessivos que as<br />
borboletas de toucados de gaze tinham<br />
com o pó das suas asas. Mamangavas de<br />
ferrões amarrados para não morderem. E<br />
canários cantando, e beija-flores beijando<br />
flores, e camarões camaronando, e<br />
caranguejos caranguejando, tudo que é<br />
pequenino e não morde, pequeninando e<br />
não mordendo."<br />
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. São Paulo:<br />
Brasiliense, 1947.<br />
No último período do trecho, há uma série<br />
de verbos no gerúndio que contribuem<br />
para caracterizar o ambiente fantástico<br />
descrito. Expressões como<br />
"camaronando", "caranguejando" e<br />
"pequeninando e não mordendo" criam,<br />
principalmente, efeitos de<br />
A) esvaziamento de sentido.<br />
B) monotonia do ambiente.<br />
C) estaticidade dos animais.<br />
D) interrupção dos movimentos.<br />
E) dinamicidade do cenário.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. O dinamismo dos<br />
verbos no gerúndio tem como função<br />
principal dar vida às personagens do mundo<br />
fantástico. Não há estagnação. Cada animal<br />
faz o que lhe cabe.<br />
Comentário do INEP<br />
Essa questão apresenta para leitura e<br />
análise um trecho da obra Reinações de<br />
Narizinho, de Monteiro Lobato, e, nele, a<br />
descrição reflete as fantasias do mundo<br />
infantil. A questão propõe que seja resolvido<br />
um problema de linguagem, que é a<br />
identificação dos sentidos criados no texto<br />
pelo emprego de vários verbos no gerúndio,<br />
alguns dos quais, neologismos criados pelo<br />
autor. Como o texto é uma descrição, temos<br />
o relato de um ambiente que se agita com as<br />
ações simultâneas dos muitos seres que o<br />
habitam. Cabe ao participante perceber que<br />
o efeito dinâmico é criado pelos verbos de<br />
ação no gerúndio, que é a forma verbal da<br />
ação se fazendo. Ou seja, é função típica do<br />
gerúndio traduzir a noção de uma ação que<br />
se desenvolve de modo simultâneo à sua<br />
enunciação. Nesse ambiente retratado por<br />
Monteiro Lobato, os bichinhos humanizados<br />
se agitam, lembrando um burburinho de<br />
crianças. Apenas a alternativa E, assinalada<br />
por 36% dos participantes, responde<br />
corretamente a questão. As outras<br />
alternativas contemplam efeitos ou<br />
significados que, apesar de eventualmente<br />
serem transmitidos pelo emprego do<br />
gerúndio, não se verificam no texto.<br />
21) (2005) As dimensões continentais do<br />
Brasil são objeto de reflexões expressas<br />
em diferentes linguagens. Esse tema<br />
aparece no seguinte p"Narizinho correu os<br />
olhos pela assistência. Não podia haver nada<br />
mais curioso. Besourinhos de oema:<br />
11
“(....)<br />
Que importa que uns falem mole<br />
descansado<br />
Que os cariocas arranhem os erres na<br />
garganta<br />
Que os capixabas e paroaras escancarem<br />
as vogais?<br />
Que tem se o quinhentos réis meridional<br />
Vira cinco tostões do Rio pro Norte?<br />
Junto formamos este assombro de<br />
misérias e grandezas,<br />
Brasil, nome de vegetal! (....)”<br />
(Mário de Andrade. Poesias completas. 6. ed. São Paulo:<br />
Martins Editora, 1980.)<br />
O texto poético ora reproduzido trata das<br />
diferenças brasileiras no âmbito<br />
A) étnico e religioso.<br />
B) lingüístico e econômico.<br />
C) racial e folclórico.<br />
D) histórico e geográfico.<br />
E) literário e popular.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil, pois a primeira<br />
estrofe, ao enunciar os erres arranhados dos<br />
cariocas e as vogais abertas dos capixabas,<br />
evidencia a diferença lingüística entre duas<br />
regiões distintas do Brasil, dando noção da<br />
variedade. Já na segunda estrofe, as<br />
diferenças econômicas são evidenciadas ao<br />
se mostrarem os réis e tostões variando da<br />
Região Meridional para a Norte.<br />
22) (2008) Assinale a opção que apresenta<br />
um verso do soneto de Cláudio Manoel da<br />
Costa em que o poeta se dirige ao seu<br />
interlocutor.<br />
A) “Torno a ver-vos, ó montes; o<br />
destino” (v.1)<br />
B) “Aqui estou entre Almendro, entre<br />
Corino,” (v.5)<br />
C) “Os meus fiéis, meus doces<br />
companheiros,” (v.6)<br />
D) “Vendo correr os míseros vaqueiros”<br />
(v.7)<br />
E) “Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto,”<br />
(v.11)<br />
23) (2008)<br />
Dick Browne. O melhor de Hagar, o horrível, v. 2. L&PM<br />
pocket, p.55-6 (com adaptações).<br />
Assinale o trecho do diálogo que<br />
apresenta um registro informal, ou<br />
coloquial, da linguagem.<br />
A) “Tá legal, espertinho! Onde é que<br />
você esteve?!”<br />
B) “E lembre-se: se você disser uma<br />
mentira, os seus chifres cairão!”<br />
C) “Estou atrasado porque ajudei uma<br />
velhinha a atravessar a rua...”<br />
D) “...e ela me deu um anel mágico que<br />
me levou a um tesouro”<br />
E) “mas bandidos o roubaram e os<br />
persegui até a Etiópia, onde um<br />
dragão...”<br />
Comentário<br />
Linguagem coloquial é aquela usada no<br />
cotidiano, que tem como característica<br />
principal a oralidade, ou seja, aquela que não<br />
segue o rigor da norma culta.<br />
Entre as alternativas da questão, apenas<br />
a letra "A" apresenta esses traços.<br />
24) (2004) O poema abaixo pertence à<br />
poesia concreta brasileira. O termo latino<br />
de seu título significa "epitalâmio", poema<br />
ou canto em homenagem aos que se<br />
casam.<br />
Comentário<br />
Nesta questão, basta que o aluno<br />
identifique o pronome oblíquo, presente no<br />
verso um, que chama o leitor para o texto.<br />
Sendo assim, a resposta correta é a letra "A".<br />
12
Considerando que símbolos e sinais são<br />
utilizados geralmente para demonstrações<br />
objetivas, ao serem incorporados no<br />
poema "Epithalamium - II".<br />
A) adquirem novo potencial de<br />
significação.<br />
B) eliminam a subjetividade do poema.<br />
C) opõem-se ao tema principal do poema.<br />
D) invertem seu sentido original.<br />
E) tornam-se confusos e equivocados.<br />
Comentário<br />
Diferentemente, por exemplo, da<br />
aplicação matemática dos símbolos, em que<br />
sinais como "=", "+", "-", "x", etc. servem<br />
como convenções internacionais de<br />
significação objetiva e invariável, em um<br />
poema como "Epithalamium – II" foram<br />
usados símbolos que não são convenções<br />
internacionais, mas, sim, convencionados<br />
apenas para esse texto. No caso, letras do<br />
alfabeto deixam de ser representações de<br />
sons (fonemas) para ganharem nova<br />
significação, principalmente pela construção<br />
visual do poema: unem homem (h) e mulher<br />
(e) pela ação da serpente (s) — libido,<br />
atração — em uma entidade única.<br />
Uma das tendências poéticas da segunda<br />
metade do século XX, resultado de um<br />
diálogo com estéticas já presentes no final do<br />
século XIX, trabalha com a construção de<br />
seu próprio referente, fazendo do poema um<br />
objeto autônomo.<br />
25) (2000) “Precisa-se nacionais sem<br />
nacionalismo, (...) movidos pelo presente<br />
mas estalando naquele cio racial que só<br />
as tradições maduram! (...). Precisa-se<br />
gentes com bastante meiguice no<br />
sentimento, bastante força na peitaria,<br />
bastante paciência no entusiasmo e<br />
sobretudo, oh! sobretudo bastante<br />
vergonha na cara!<br />
(...) Enfim: precisa-se brasileiros! Assim<br />
está escrito no anúncio vistoso de cores<br />
desesperadas pintado sobre o corpo do<br />
nosso Brasil, camaradas.”<br />
(Jornal A Noite, São Paulo, 18/12/1925 apud LOPES, Telê<br />
Porto Ancona. Mário<br />
de Andrade: ramais e caminhos. São Paulo: Duas<br />
Cidades, 1972)<br />
No trecho acima, Mário de Andrade dá<br />
forma a um dos itens do ideário<br />
modernista, que é o de firmar a feição de<br />
uma língua mais autêntica, “brasileira”, ao<br />
expressar-se numa variante de linguagem<br />
popular identificada pela (o):<br />
A) escolha de palavras como cio, peitaria,<br />
vergonha.<br />
B) emprego da pontuação.<br />
C) repetição do adjetivo bastante.<br />
D) concordância empregada em Assim<br />
está escrito.<br />
E) escolha de construção do tipo<br />
precisa-se gentes.<br />
Comentário<br />
Apesar de essa questão misturar vários<br />
tipos de informação, se você se lembra um<br />
pouquinho dos usos da partícula se, com<br />
certeza não encontrará grande dificuldade.<br />
Segundo a regra gramatical, o verbo<br />
"precisa-se" deveria ir para o plural<br />
(precisam-se), mas essa noção de verbo<br />
concordante com o sujeito há muito<br />
desapareceu na variante popular brasileira.<br />
Mas, caso você não se lembre muito bem<br />
desse assunto ou ficou meio confuso com o<br />
texto e as outras alternativas, o caminho é<br />
responder por eliminação.<br />
A primeira alternativa apresenta palavras<br />
comuns no português brasileiro, mas<br />
nenhuma "invenção" nacional. Na dúvida,<br />
pense em "vergonha": não é uma invenção<br />
brasileira. Todos os que falam português no<br />
mundo conhecem bem essa palavra. A<br />
pontuação no texto não chama nenhuma<br />
atenção. Você provavelmente não viu nada<br />
de estranho nela. Da mesma forma, o<br />
"bastante" da terceira alternativa não é nada<br />
mais que um mecanismo de retórica, usado<br />
para dar ênfase à idéia. Com o "Assim está<br />
escrito", encontramos a mesma situação: um<br />
trecho litúrgico é usado para maior ênfase.<br />
Comentário do INEP<br />
A questão procurou avaliar se o<br />
participante era capaz de, a partir da leitura<br />
de um texto de Mário de Andrade , identificar<br />
e analisar uma variante lingüística de uso<br />
coloquial, utilizadas estilisticamente pelo<br />
autor. O uso estilístico das variantes marcou<br />
a primeira fase da literatura brasileira<br />
modernista. O trecho destaca em seu todo<br />
esse uso da linguagem popular. A escolha da<br />
construção 'precisa-se gentes' é marca desse<br />
uso estilístico. O índice de 37% na alternativa<br />
(A) demonstra, possivelmente, que os<br />
participantes não consideraram a escolha<br />
dos vocábulos, dentro do contexto do texto,<br />
confundindo as palavras que aparecem na<br />
alternativa com '...a feição de uma língua<br />
mais autêntica...'.O percentual de acertos foi<br />
da ordem de 40%.<br />
13
26) (2001) Oxímoro (ou paradoxo) é uma<br />
construção textual que agrupa significados<br />
que se excluem mutuamente. Para<br />
Garfield, a frase de saudação de Jon<br />
(tirinha abaixo) expressa o maior de todos<br />
os oxímoros.<br />
27) (2005) Cândido Portinari (1903-1962), um<br />
dos mais importantes artistas brasileiros<br />
do século XX, tratou de diferentes<br />
aspectos da nossa realidade em seus<br />
quadros.<br />
Folha de S. Paulo. 31 de julho de 2000.<br />
Nas alternativas abaixo, estão transcritos<br />
versos retirados do poema “O operário em<br />
construção”. Pode-se afirmar que ocorre<br />
um oxímoro em<br />
A) "Era ele que erguia casas<br />
Onde antes só havia chão."<br />
B) "... a casa que ele fazia<br />
Sendo a sua liberdade<br />
Era a sua escravidão."<br />
C) "Naquela casa vazia<br />
Que ele mesmo levantara<br />
Um mundo novo nascia<br />
De que sequer suspeitava."<br />
D) "... o operário faz a coisa<br />
E a coisa faz o operário."<br />
E) "Ele, um humilde operário<br />
Um operário que sabia<br />
Exercer a profissão."<br />
MORAES, Vinícius de. Antologia Poética. São Paulo:<br />
Companhia das Letras, 1992.<br />
Comentário<br />
Idéias que se completam e se excluem<br />
mutuamente são encontradas na alternativa<br />
B: a casa que ele construía era, ao mesmo<br />
tempo, sua liberdade e sua escravidão.<br />
A casa é um símbolo de liberdade para o<br />
homem. Para o homem operário, é também<br />
símbolo de escravidão, pois ele está<br />
"condenado" a jamais usufruir do resultado<br />
do seu trabalho (a casa que faz não é para<br />
ele).<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão propõe ao participante que<br />
estabeleça uma relação entre linguagens,<br />
associando a compreensão de um efeito<br />
semântico produzido pelo uso do oxímoro<br />
nos quadrinhos com o mesmo efeito num<br />
texto poético. O índice (18%) de escolhas da<br />
alternativa D deve-se, possivelmente, a uma<br />
análise parcial da noção de paradoxo,<br />
confundida com inversão.<br />
Sobre a temática dos “Retirantes”,<br />
Portinari também escreveu o seguinte<br />
poema:<br />
(....)<br />
Os retirantes vêm vindo com trouxas e<br />
embrulhos<br />
Vêm das terras secas e escuras;<br />
pedregulhos<br />
Doloridos como fagulhas de carvão aceso<br />
Corpos disformes, uns panos sujos,<br />
Rasgados e sem cor, dependurados<br />
Homens de enorme ventre bojudo<br />
Mulheres com trouxas caídas para o lado<br />
Pançudas, carregando ao colo um garoto<br />
Choramingando, remelento<br />
(....)<br />
(Cândido Portinari. Poemas. Rio de Janeiro:<br />
J. Olympio, 1964.)<br />
Das quatro obras reproduzidas, assinale<br />
aquelas que abordam a problemática que<br />
é tema do poema.<br />
A) 1 e 2 D) 3 e 4<br />
B) 1 e 3 E) 2 e 4<br />
C) 2 e 3<br />
Comentário<br />
O poema apresenta correspondência com<br />
as imagens ao descrever com detalhes a<br />
figura do retirante: pobre, mal vestido,<br />
carregando trouxas e embrulhos.<br />
28) (2004)<br />
14
A polifonia, variedade de vozes, presente<br />
no poema resulta da manifestação do<br />
A) poeta e do colonizador apenas.<br />
B) colonizador e do negro apenas.<br />
C) negro e do índio apenas.<br />
D) colonizador, do poeta e do negro<br />
apenas.<br />
E) poeta, do colonizador, do índio e do<br />
negro.<br />
Comentário<br />
A questão apresenta uma certa<br />
dificuldade, pois, à primeira vista, parecem<br />
confundir-se as vozes do colonizador, do<br />
negro e do índio. Entretanto, os<br />
travessões existentes no poema explicitam<br />
as falas das personagens ao mostrar que<br />
não são apenas as vozes do poeta e do<br />
colonizador que estão presentes. As falas do<br />
índio e do negro são proferidas por eles,<br />
marca expressa pelo discurso direto. A<br />
presença dessa modalidade de discurso<br />
indica a reprodução literal do que as<br />
personagens disseram.<br />
Um ponto interessante em relação a essa<br />
questão é a intertextualidade. O índio<br />
aparece no poema pela remissão a um texto<br />
poético do nosso Romantismo, em um<br />
processo intertextual com “I-Juca-Pirama”, de<br />
Gonçalves Dias; e a presença do negro se dá<br />
pela ligação com Mário de Andrade, em<br />
Macunaíma. Entende-se, portanto, que a<br />
alternativa correta é a letra E.<br />
29) (2003) No ano passado, o governo<br />
promoveu uma campanha a fim de reduzir<br />
os índices de violência. Noticiando o fato,<br />
um jornal publicou a seguinte manchete:<br />
CAMPANHA CONTRA A VIOLÊNCIA DO<br />
GOVERNO DO ESTADO ENTRA EM NOVA<br />
FASE<br />
A manchete tem um duplo sentido, e isso<br />
dificulta o entendimento. Considerando o<br />
objetivo da notícia, esse problema poderia<br />
ter sido evitado com a seguinte redação:<br />
A) Campanha contra o governo do Estado<br />
e a violência entram em nova fase.<br />
B) A violência do governo do Estado entra<br />
em nova fase de Campanha.<br />
C) Campanha contra o governo do Estado<br />
entra em nova fase de violência.<br />
D) A violência da campanha do governo<br />
do Estado entra em nova fase.<br />
E) Campanha do governo do Estado<br />
contra a violência entra em nova fase.<br />
Comentário<br />
O objetivo da questão é eliminar a<br />
ambigüidade da notícia de jornal, que,<br />
originalmente, trazia duas idéias: de acordo<br />
com a primeira, o governo queria combater a<br />
violência, e a segunda ressaltava que o<br />
governo era violento. Nessa questão,<br />
era preciso eliminar a segunda possibilidade<br />
de leitura.<br />
30) (2004)<br />
Nesta tirinha, a personagem faz referência<br />
a uma das mais conhecidas figuras de<br />
linguagem para<br />
A) condenar a prática de exercícios físicos<br />
B) valorizar aspectos da vida moderna.<br />
C) desestimular o uso das bicicletas.<br />
D) caracterizar o diálogo entre as<br />
gerações.<br />
E) criticar a falta de perspectiva do pai.<br />
Comentário<br />
A construção indica a falta de perspectiva<br />
na vida do pai do personagem. “Pedalar sem<br />
sair do lugar” é uma metáfora muito usada na<br />
cultura brasileira para expressar como é a<br />
vida de uma pessoa que age de forma a não<br />
conseguir qualquer mudança — para melhor<br />
ou para pior — na vida.<br />
31) (2004) As questões de números 26 e 27<br />
referem-se ao poema abaixo.<br />
Entre os recursos expressivos<br />
empregados no texto, destaca-se a<br />
15
16<br />
A) metalinguagem, que consiste em fazer<br />
a linguagem referir-se à própria<br />
linguagem.<br />
B) intertextualidade, na qual o texto<br />
retoma e reelabora outros textos.<br />
C) ironia, que consiste em se dizer o<br />
contrário do que se pensa, com<br />
intenção crítica.<br />
D) denotação, caracterizada pelo uso das<br />
palavras em seu sentido próprio e<br />
objetivo.<br />
E) prosopopéia, que consiste em<br />
personificar coisas inanimadas,<br />
atribuindo-lhes vida.<br />
Comentário<br />
A questão trata de um texto de Carlos<br />
Drummond de Andrade em que ele fala sobre<br />
o crescimento urbano e a pobreza que esse<br />
processo traz. Para tanto, o poeta utiliza uma<br />
linguagem irônica, revelando o lado oculto do<br />
desenvolvimento. Dessa forma, temos como<br />
correta a alternativa C.<br />
32) (2007) Antigamente<br />
Acontecia o indivíduo apanhar<br />
constipação; ficando perrengue, mandava<br />
o próprio chamar o doutor e, depois, ir à<br />
botica para aviar a receita, de cápsulas ou<br />
pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />
phtísica, feia era o gálico. Antigamente, os<br />
sobrados tinham assombrações, os<br />
meninos, lombrigas (...)<br />
Carlos Drummond de Andrade. Poesia completa e prosa.<br />
Rio de Janeiro: Companhia José Aguilar, p. 1.184.<br />
O texto acima está escrito em linguagem<br />
de uma época passada. Observe uma<br />
outra versão, em linguagem atual.<br />
Antigamente<br />
Acontecia o indivíduo apanhar um<br />
resfriado; ficando mal, mandava o próprio<br />
chamar o doutor e, depois, ir à farmácia<br />
para aviar a receita, de cápsulas ou<br />
pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />
tuberculose, feia era a sífilis. Antigamente,<br />
os sobrados tinham assombrações, os<br />
meninos, vermes (...)<br />
Comparando-se esses dois textos,<br />
verifica-se que, na segunda versão, houve<br />
mudanças relativas a<br />
A) vocabulário.<br />
B) construções sintáticas.<br />
C) pontuação.<br />
D) fonética.<br />
E) regência verbal.<br />
Comentário<br />
Questão fácil. O aluno deveria comparar<br />
os dois textos e verificar as alterações<br />
realizadas na segunda versão apresentada.<br />
Nesse momento, fica evidente a mudança de<br />
vocabulário, o que indica a alternativa A<br />
como a correta.<br />
33) (2001) Nas conversas diárias, utiliza-se<br />
freqüentemente a palavra “próprio” e ela<br />
se ajusta a várias situações. Leia os<br />
exemplos de diálogos:<br />
I - A Vera se veste diferente!<br />
- É mesmo, é que ela tem um estilo<br />
próprio.<br />
II - A Lena já viu esse filme uma dezena<br />
de vezes! Eu não consigo ver o<br />
que ele tem de tão maravilhoso assim.<br />
- É que ele é próprio para adolescente.<br />
III - Dora, o que eu faço? Ando tão<br />
preocupada com o Fabinho! Meu filho<br />
está impossível!<br />
- Relaxa, Tânia! É próprio da idade.<br />
Com o tempo, ele se acomoda.<br />
Nas ocorrências I, II e III, “próprio” é<br />
sinônimo de, respectivamente,<br />
A) adequado, particular, típico.<br />
B) peculiar, adequado, característico.<br />
C) conveniente, adequado, particular.<br />
D) adequado, exclusivo, conveniente.<br />
E) peculiar, exclusivo, característico.<br />
Comentário<br />
Para responder a essa pergunta,<br />
substitua, nos trechos, a palavra próprio<br />
pelos possíveis equivalentes apresentados<br />
nas alternativas. Questão simples que pode<br />
ser resolvida por eliminação.<br />
Comentário do INEP<br />
Nesta questão são apresentados três<br />
textos em que uma mesma palavra é<br />
utilizada com sentidos diferentes. O problema<br />
consiste em observar a variedade de uso de<br />
um mesmo termo e as possibilidades de sua<br />
compreensão, estabelecendo uma relação<br />
comparativa com base em uma análise<br />
semântica. Cerca de metade (49%) dos<br />
participantes estabeleceu essa relação de<br />
maneira correta. Os participantes que<br />
assinalaram a alternativa D (21%),<br />
possivelmente isolaram o termo do contexto,<br />
gerando um equívoco entre "adequado" e<br />
"exclusivo".
34) (2003) Do pedacinho de papel ao livro<br />
impresso vai uma longa distância. Mas o<br />
que o escritor quer, mesmo, é isso: ver o<br />
seu texto em letra de forma. A gaveta é<br />
ótima para aplacar a fúria criativa; ela faz<br />
amadurecer o texto da mesma forma que<br />
a adega faz amadurecer o vinho. Em<br />
certos casos, a cesta de papel é melhor<br />
ainda.<br />
O período de maturação na gaveta é<br />
necessário, mas não deve se prolongar<br />
muito. ‘Textos guardados acabam<br />
cheirando mal’, disse Silvia Plath, (...) que,<br />
com esta frase, deu testemunho das<br />
dúvidas que atormentam o escritor:<br />
publicar ou não publicar? guardar ou jogar<br />
fora?<br />
(Moacyr Scliar. O escritor e seus desafios.)<br />
Nesse texto, o escritor Moacyr Scliar usa<br />
imagens para refletir sobre uma etapa da<br />
criação literária. A idéia de que o processo<br />
de maturação do texto nem sempre é o<br />
que garante bons resultados está sugerida<br />
na seguinte frase:<br />
A) "A gaveta é ótima para aplacar a fúria<br />
criativa."<br />
B) "Em certos casos, a cesta de papel é<br />
melhor ainda."<br />
C) "O período de maturação na gaveta é<br />
necessário, (...)."<br />
D) "Mas o que o escritor quer, mesmo, é<br />
isso: ver o seu texto em letra de forma."<br />
E) "ela (a gaveta) faz amadurecer o texto<br />
da mesma forma que a adega faz<br />
amadurecer o vinho."<br />
Comentário<br />
Essa questão exigia a interpretação das<br />
frases. A palavra NEM no enunciado exclui<br />
todas as alternativas que tratam do<br />
amadurecimento ou da importância da gaveta<br />
para o bom sucesso da produção literária.<br />
A alternativa B é a única que apresenta um<br />
procedimento alternativo para a produção<br />
textual, ou seja, o lixo, e significa a liberdade do<br />
escritor em começar, interromper, recomeçar<br />
ou simplesmente abandonar a obra, permitindo<br />
a ele exercer seu livre-arbítrio.<br />
35) (2007)<br />
Aqui na floresta<br />
Dos ventos batida,<br />
Façanhas de bravos<br />
Não geram escravos,<br />
Que estimem a vida<br />
Sem guerra e lidar.<br />
— Ouvi-me, Guerreiros,<br />
— Ouvi meu cantar.<br />
O canto do guerreiro<br />
Valente na guerra,<br />
Quem há, como eu sou?<br />
Quem vibra o tacape<br />
Com mais valentia?<br />
Quem golpes daria<br />
Fatais, como eu dou?<br />
— Guerreiros, ouvi-me;<br />
— Quem há, como eu sou?<br />
Gonçalves Dias.<br />
Macunaíma<br />
(Epílogo)<br />
Acabou-se a história e morreu a vitória.<br />
Não havia mais ninguém lá. Dera<br />
tangolomângolo na tribo Tapanhumas e<br />
os filhos dela se acabaram de um em um.<br />
Não havia mais ninguém lá. Aqueles<br />
lugares, aqueles campos, furos<br />
puxadouros arrastadouros meiosbarrancos,<br />
aqueles matos misteriosos,<br />
tudo era solidão do deserto... Um silêncio<br />
imenso dormia à beira do rio Uraricoera.<br />
Nenhum conhecido sobre a terra não<br />
sabia nem falar da tribo nem contar<br />
aqueles casos tão pançudos. Quem podia<br />
saber do Herói?<br />
Mário de Andrade.<br />
Considerando-se a linguagem desses dois<br />
textos, verifica-se que<br />
A) a função da linguagem centrada no<br />
receptor está ausente tanto no primeiro<br />
quanto no segundo texto.<br />
B) a linguagem utilizada no primeiro texto<br />
é coloquial, enquanto, no segundo,<br />
predomina a linguagem formal.<br />
C) há, em cada um dos textos, a<br />
utilização de pelo menos uma palavra<br />
de origem indígena.<br />
D) a função da linguagem, no primeiro<br />
texto, centra-se na forma de<br />
organização da linguagem e, no<br />
segundo, no relato de informações<br />
reais.<br />
E) a função da linguagem centrada na<br />
primeira pessoa, predominante no<br />
segundo texto, está ausente no<br />
primeiro.<br />
Comentário<br />
Questão de nível médio. Essa é uma<br />
questão que foca a linguagem dos textos, e<br />
cada qual em seu gênero (poesia e prosa,<br />
respectivamente). O aluno chega à<br />
conclusão que a alternativa correta é a C por<br />
meio da exclusão das demais alternativas.<br />
A resposta correta não é a A, pois há um<br />
receptor que pode ser percebido nas<br />
seguintes perguntas contidas no texto:<br />
Texto 1 – “Guerreiros, ouvi-me;/Quem há,<br />
como eu sou?”<br />
Texto 2 – “Quem podia saber do herói?”<br />
Também não é a alternativa B, pois o<br />
conteúdo dos textos não é discriminatório. No<br />
primeiro texto, há uma idealização do índio e,<br />
no segundo, há uma realidade crítica e<br />
satírica da sociedade.<br />
A alternativa D é excluída, porque o<br />
segundo texto não fala de uma realidade, já<br />
17
que Macunaíma é um herói fictício e nãoreal.<br />
Por fim, também está errada a alternativa<br />
E. Isso porque não temos no epílogo do texto<br />
de Macunaíma a linguagem centrada na<br />
primeira pessoa, mas sim, na terceira.<br />
36) (2003) Eu começaria dizendo que poesia<br />
é uma questão de linguagem. A<br />
importância do poeta é que ele torna mais<br />
viva a linguagem. Carlos Drummond de<br />
Andrade escreveu um dos mais belos<br />
versos da língua portuguesa com duas<br />
palavras comuns: cão e cheirando.<br />
Um cão cheirando o futuro<br />
(Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP, 24/05/1988.<br />
adaptação)<br />
O que deu ao verso de Drummond o<br />
caráter de inovador da língua foi<br />
A) o modo raro como foi tratado o<br />
"futuro".<br />
B) a referência ao cão como "animal de<br />
estimação".<br />
C) a flexão pouco comum do verbo<br />
"cheirar" (gerúndio).<br />
D) a aproximação não usual do agente<br />
citado e a ação de "cheirar".<br />
E) o emprego do artigo indefinido "um" e<br />
do artigo definido "o" na mesma frase.<br />
Comentário<br />
O fato de Drummond identificar o futuro<br />
como algo que pode ser percebido por um<br />
animal irracional por meio do olfato foi<br />
inovador. A figura de linguagem foi<br />
construída metaforicamente: o futuro torna-se<br />
uma coisa que tem cheiro, contrariamente à<br />
imagem pela qual ele normalmente é<br />
representado: como algo que não se vê e<br />
não se pode pressentir ou tocar.<br />
37) (2002) Só falta o Senado aprovar o<br />
projeto de lei [sobre o uso de termos<br />
estrangeiros no Brasil] para que palavras<br />
como shopping center , delivery e drivethrough<br />
sejam proibidas em nomes de<br />
estabelecimentos e marcas. Engajado<br />
nessa valorosa luta contra o inimigo<br />
ianque, que quer fazer área de livre<br />
comércio com nosso inculto e belo idioma,<br />
venho sugerir algumas outras medidas<br />
que serão de extrema importância para a<br />
preservação da soberania nacional, a<br />
saber:<br />
........<br />
Nenhum cidadão carioca ou gaúcho<br />
poderá dizer "Tu vai" em espaços públicos<br />
do território nacional;<br />
Nenhum cidadão paulista poderá dizer "Eu<br />
lhe amo" e retirar ou acrescentar o plural<br />
em sentenças como "Me vê um chopps e<br />
dois pastel";<br />
..........<br />
Nenhum dono de borracharia poderá<br />
escrever cartaz com a palavra "borraxaria"<br />
e nenhum dono de banca de jornal<br />
anunciará "Vende-se cigarros";<br />
..........<br />
Nenhum livro de gramática obrigará os<br />
alunos a utilizar colocações pronominais<br />
como "casar-me-ei" ou "ver-se-ão".<br />
PIZA, Daniel. Uma proposta imodesta. O Estado de<br />
S. Paulo, São Paulo, 8/04/2001.<br />
No texto acima, o autor:<br />
A) mostra-se favorável ao teor da<br />
proposta por entender que a língua<br />
portuguesa deve ser protegida contra<br />
deturpações de uso.<br />
B) ironiza o projeto de lei ao sugerir<br />
medidas que inibam determinados usos<br />
regionais e socioculturais da língua.<br />
C) denuncia o desconhecimento de regras<br />
elementares de concordância verbal e<br />
nominal pelo falante brasileiro.<br />
D) revela-se preconceituoso em relação a<br />
certos registros lingüísticos ao propor<br />
medidas que os controlem.<br />
E) defende o ensino rigoroso da gramática<br />
para que todos aprendam a empregar<br />
corretamente os pronomes.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. O autor ironiza o<br />
projeto de lei que proíbe o uso de<br />
estrangeirismos no Brasil. Não adianta criarse<br />
uma expectativa ou preocupação em<br />
relação ao uso de termos estrangeiros na<br />
língua e esquecer-se de que a língua é um<br />
organismo vivo, mutável. A dinâmica de uma<br />
língua não pode ser regida por preceitos<br />
legais como quer o projeto.<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão reproduz trechos de um<br />
texto que aborda o polêmico projeto de<br />
proibição de uso de termos estrangeiros no<br />
Brasil. A partir da leitura atenta do texto de<br />
Daniel Piza, o participante é levado a refletir<br />
sobre a postura adotada pelo autor em<br />
relação ao referido projeto. Para<br />
compreender esse texto, o participante<br />
precisa reconhecer o tom irônico que marca<br />
as observações e sugestões feitas por seu<br />
18
autor. Assim, Daniel Piza, "engajado nessa<br />
valorosa luta contra o inimigo ianque", sugere<br />
a proibição de algumas formas lingüísticas de<br />
uso corrente que contrariam recomendações<br />
da gramática normativa. O participante deve<br />
reconhecer que, com sugestões como essas,<br />
Daniel Piza deixa implícita uma crítica à<br />
utilidade do projeto de proibição dos<br />
estrangeirismos como forma de proteger a<br />
Língua Portuguesa. Nesse contexto, a ironia<br />
torna-se mais clara, bem como o mecanismo<br />
textual que a constrói. Feito tal<br />
reconhecimento, o aluno encontra a resposta<br />
correta na alternativa B, assinalada por cerca<br />
da metade dos participantes. Nenhuma outra<br />
alternativa contempla o aspecto irônico,<br />
essencial para a compreensão do texto.<br />
38) (2005) O termo (ou expressão)<br />
destacado que está empregado em seu<br />
sentido próprio, denotativo ocorre em:<br />
A) “(....)<br />
É de laço e de nó<br />
De gibeira o jiló<br />
Dessa vida, cumprida a sol (....)”<br />
(Renato Teixeira. Romaria. Kuarup Discos.<br />
setembro de 1992.)<br />
B) “Protegendo os inocentes<br />
é que Deus, sábio demais,<br />
põe cenários diferentes<br />
nas impressões digitais.”<br />
(Maria N. S. Carvalho. Evangelho da Trova. /s.n.b.)<br />
C) “O dicionário-padrão da língua e os<br />
dicionários unilíngües são os tipos mais<br />
comuns de dicionários. Em nossos<br />
dias, eles se tornaram um objeto de<br />
consumo obrigatório para as nações<br />
civilizadas e desenvolvidas.”<br />
(Maria T. Camargo Biderman.<br />
O dicionário-padrão da língua. Alfa (28), 2743, 1974 Supl.)<br />
D)<br />
E) “Humorismo é a arte de fazer cócegas<br />
no raciocínio dos outros. Há duas<br />
espécies de humorismo: o trágico e o<br />
cômico. O trágico é o que não<br />
consegue fazer rir; o cômico é o que é<br />
verdadeiramente trágico para se fazer.”<br />
(Leon Eliachar. www.mercadolivre.com.br.<br />
acessado em julho de 2005.)<br />
Comentário<br />
A definição do dicionário-padrão da língua<br />
utiliza o sentido denotativo da palavra para<br />
explicar o uso de determinado tipo de<br />
dicionário. Em todas as outras alternativas,<br />
as palavras estão sendo empregadas em<br />
sentido metafórico. Na letra A, "cumprida a<br />
sol" pode mostrar o sofrimento e a solidão.<br />
Na alternativa B, "cenários diferentes" são as<br />
diferenças físicas encontradas nas<br />
impressões digitais. Na letra D, "bateria" é o<br />
termo usado para expressar a "energia" do<br />
Menino Maluquinho, que nunca acaba. Por<br />
fim, na alternativa E, "fazer cócegas no<br />
raciocínio" significa expressar graça por meio<br />
de idéias, fazendo com que o cérebro ache<br />
um fato divertido e, por conseguinte, faça<br />
com que a pessoa ria como se sofresse um<br />
ataque de cócegas.<br />
39) (2003) Pequenos tormentos da vida<br />
De cada lado da sala de aula, pelas janelas<br />
altas, o azul convida os meninos,<br />
as nuvens desenrolam-se, lentas como quem<br />
vai inventando<br />
preguiçosamente uma história sem fim...Sem<br />
fim é a aula: e nada acontece,<br />
nada...Bocejos e moscas. Se ao menos,<br />
pensa Margarida, se ao menos um<br />
avião entrasse por uma janela e saísse por<br />
outra!<br />
(Mário Quintana. Poesias)<br />
Na cena retratada no texto, o sentimento<br />
do tédio<br />
A) provoca que os meninos fiquem<br />
contando histórias.<br />
B) leva os alunos a simularem bocejos,<br />
em protesto contra a monotonia da<br />
aula.<br />
C) acaba estimulando a fantasia,<br />
criando a expectativa de algum<br />
imprevisto mágico.<br />
D) prevalece de modo absoluto,<br />
impedindo até mesmo a distração ou o<br />
exercício do pensamento.<br />
E) decorre da morosidade da aula, em<br />
contraste com o movimento acelerado<br />
das nuvens e das moscas.<br />
Comentário<br />
Essa questão aborda o imaginário<br />
decorrente do marasmo trazido pela escola.<br />
O texto enfatiza o arrastar do tempo na<br />
mente de uma aluna, Margarida, que se põe<br />
a pensar em fatos mágicos ou imaginários<br />
que pudessem romper com a lentidão da<br />
aula.<br />
19
40) (1999)<br />
Diante da visão de um prédio com uma<br />
placa indicando SAPATARIA PAPALIA,<br />
um jovem deparou com a dúvida: como<br />
pronunciar a palavra PAPALIA?<br />
Levado o problema à sala de aula, a<br />
discussão girou em torno da utilidade de<br />
conhecer as regras de acentuação e,<br />
especialmente, do auxílio que elas podem<br />
dar à correta pronúncia de palavras.<br />
Após discutirem pronúncia, regras de<br />
acentuação e escrita, três alunos<br />
apresentaram as seguintes conclusões a<br />
respeito da palavra PAPALIA:<br />
I. Se a sílaba tônica for o segundo PA, a<br />
escrita deveria ser PAPÁLIA, pois a<br />
palavra seria paroxítona terminada em<br />
ditongo crescente.<br />
II. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />
deveria ser PAPALÍA, pois "i" e "a"<br />
estariam formando hiato.<br />
III. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />
deveria ser PAPALIA, pois não haveria<br />
razão para o uso de acento gráfico.<br />
A conclusão está correta apenas em:<br />
A) III D) I<br />
B) I e II E) II<br />
C) I e III<br />
Comentário<br />
Essa questão exige bom conhecimento<br />
das regras de acentuação. A alternativa A diz<br />
que apenas a afirmação I é verdadeira. De<br />
fato ela é, mas não é a única. Nela, temos a<br />
hipótese de a palavra ser grafada como se a<br />
sílaba forte fosse a penúltima — papália —,<br />
justificando seu acento gráfico. Vejamos o<br />
que dizem as regras de acentuação.<br />
Acentuam-se as palavras paroxítonas<br />
terminadas em: i, is, us, um, uns, l, n, r, x,<br />
ps, ã, ãs, ão, ãos, ditongos orais,<br />
crescentes ou decrescentes, seguidos ou<br />
não de S. Isso valida, portanto, a afirmação I.<br />
A afirmação II pressupõe que a sílaba<br />
tônica seja LI, em hiato com A: no caso de<br />
essa ser a tonicidade da palavra, a sílaba LI<br />
não poderia ser acentuada, pois I, mesmo<br />
sendo a tônica do hiato, não é a última vogal,<br />
portanto, essa afirmativa é falsa.<br />
A afirmação III considera que a sílaba<br />
tônica é LI, não havendo acento por ser o I a<br />
primeira vogal do hiato. Portanto, essa<br />
afirmação é verdadeira.<br />
Concluindo, temos como verdadeiras as<br />
afirmações I e III. Então, a alternativa E é a<br />
correta. Questão de nível difícil.<br />
Comentário do INEP<br />
Dentre os participantes, somente pouco<br />
mais de um terço (35%) demonstrou possuir<br />
a habilidade para identificar as regras de<br />
acentuação corretas, enunciadas na questão.<br />
Chama a atenção o fato de que 73% dos<br />
participantes (alternativas A, D e E)<br />
reconheceram corretamente, pelo menos, a<br />
regra contida no item I, sendo que cerca de<br />
40% desses, contudo, tiveram dificuldades<br />
em analisar as regras II e III.<br />
Em se tratando de palavra não-usual, é,<br />
sobretudo, o domínio do conhecimento das<br />
regras e não a possível pronúncia correta,<br />
pelo uso, o que parece ter sido revelado.<br />
41) (2008)<br />
Exame, 28/9/2007.<br />
Entre os seguintes ditos populares, qual<br />
deles melhor corresponde à figura<br />
acima?<br />
A) Com perseverança, tudo se alcança.<br />
B) Cada macaco no seu galho.<br />
C) Nem tudo que balança cai.<br />
D) Quem tudo quer, tudo perde.<br />
E) Deus ajuda quem cedo madruga.<br />
Comentário<br />
Assim como a questão 37, esta também<br />
envolve interpretação de signos, ou seja, o<br />
aluno precisa estar atento à imagem e<br />
relacioná-la ao dito popular correspondente.<br />
20
A alternativa "A" é a correta, pois, para<br />
uma lesma “grudenta” e vagarosa conseguir<br />
pular numa cama elástica, é necessária<br />
muita perseverança.<br />
42) (2002) A crônica muitas vezes constitui<br />
um espaço para reflexão sobre aspectos<br />
da sociedade em que vivemos.<br />
"Eu, na rua, com pressa, e o menino<br />
segurou no meu braço, falou qualquer<br />
coisa que não entendi. Fui logo dizendo<br />
que não tinha, certa de que ele estava<br />
pedindo dinheiro. Não estava. Queria<br />
saber a hora.<br />
Talvez não fosse um Menino De<br />
Família, mas também não era um Menino<br />
De Rua. É assim que a gente divide.<br />
Menino De Família é aquele bem-vestido<br />
com tênis da moda e camiseta de marca,<br />
que usa relógio e a mãe dá outro se o<br />
dele for roubado por um Menino De Rua.<br />
Menino De Rua é aquele que quando a<br />
gente passa perto segura a bolsa com<br />
força porque pensa que ele é pivete,<br />
trombadinha, ladrão. (...) Na verdade não<br />
existem meninos De rua.<br />
Existem meninos NA rua. E toda vez<br />
que um menino está NA rua é porque<br />
alguém o botou lá. Os meninos não vão<br />
sozinhos aos lugares. Assim como são<br />
postos no mundo, durante muitos anos<br />
também são postos onde quer que<br />
estejam. Resta ver quem os põe na rua. E<br />
por quê."<br />
COLASSANTI, Marina. In: Eu sei, mas não devia. Rio de<br />
Janeiro: Rocco, 1999.<br />
Comentário do INEP<br />
A reprodução de um trecho de uma<br />
crônica de Marina Colassanti tematiza uma<br />
importante questão social brasileira: a<br />
presença de milhões de crianças nas ruas do<br />
País. A autora, ao tratar desse problema,<br />
vale-se de recursos lingüísticos específicos.<br />
O objetivo desta questão é justamente<br />
chamar a atenção do participante leitor para<br />
esses recursos e os efeitos de sentido que<br />
eles desencadeiam no texto. Na raiz da<br />
questão destaca-se a troca de "De" por "NA"<br />
e pede-se que se determine qual relação de<br />
sentido essa substituição estabelece entre os<br />
termos "menino" e "rua". Analisar a relação,<br />
nesse caso, significa perguntar-se sobre o<br />
sentido de dois sintagmas criados no texto:<br />
"meninos NA rua" por oposição a "meninos<br />
De rua". O que a autora pretende negar, com<br />
a troca do termo de relação, é a possibilidade<br />
de que existam meninos de rua diferentes de<br />
outros meninos, que não têm na rua a sua<br />
origem. O destaque para a preposição na<br />
nos leva a refletir que a relação dos meninos<br />
com a rua é de localização: eles estão ali por<br />
alguma razão, não porque essa seja a sua<br />
qualificação. Essa reflexão levaria o aluno a<br />
escolher, como correta, a resposta<br />
apresentada na alternativa A, assinalada por<br />
cerca de metade dos participantes.<br />
43) (2005) Leia estes textos.<br />
Texto 1<br />
No terceiro parágrafo em "... não existem<br />
meninos De rua. Existem meninos NA<br />
rua.", a troca de De pelo Na determina<br />
que a relação de sentido entre "menino" e<br />
"rua" seja<br />
A) de localização e não de qualidade.<br />
B) de origem e não de posse.<br />
C) de origem e não de localização.<br />
D) de qualidade e não de origem.<br />
E) de posse e não de localização.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Apesar de não<br />
haver um terceiro parágrafo neste texto, a<br />
troca das preposições ao final do SEGUNDO<br />
parágrafo indica claramente que não há um<br />
menino DE (proveniente de) rua, mas um<br />
menino que está NA (foi levado à) rua.<br />
Portanto, a relação é unicamente de<br />
localização (onde ele está) e não de<br />
qualidade (o que ele é).<br />
Texto 2<br />
Sonhar<br />
Mais um sonho impossível<br />
Lutar<br />
Quando é fácil ceder<br />
Vencer o inimigo invencível<br />
Negar quando a regra é vender<br />
Sofrer a tortura implacável<br />
Romper a incabível prisão<br />
Voar num limite improvável<br />
Tocar o inacessível chão<br />
É minha lei, é minha questão<br />
Virar esse mundo<br />
Cravar esse chão<br />
Não me importa saber<br />
Se é terrível demais<br />
Quantas guerras terei que vencer<br />
Por um pouco de paz<br />
21
22<br />
E amanhã se esse chão que eu beijei<br />
For meu leito e perdão<br />
Vou saber que valeu delirar<br />
E morrer de paixão<br />
E assim, seja lá como for<br />
Vai ter fim a infinita aflição<br />
E o mundo vai ver uma flor<br />
Brotar do impossível chão.<br />
(J. Darione – M. Leigh – Versão de Chico Buarque de<br />
Hollanda e Ruy Guerra, 1972.)<br />
A tirinha e a canção apresentam uma<br />
reflexão sobre o futuro da humanidade. É<br />
correto concluir que os dois textos<br />
A) afirmam que o homem é capaz de<br />
alcançar a paz.<br />
B) concordam que o desarmamento é<br />
inatingível.<br />
C) julgam que o sonho é um desafio<br />
invencível.<br />
D) têm visões diferentes sobre um<br />
possível mundo melhor.<br />
E) transmitem uma mensagem de<br />
otimismo sobre a paz.<br />
Comentário<br />
Enquanto o primeiro texto é ácido em<br />
relação à possibilidade de desarmamento da<br />
população (ou seja, à criação de uma<br />
sociedade mais pacífica), o segundo mostra<br />
a capacidade que a humanidade tem de crer<br />
e, por isso, tentar fazer até o que a princípio<br />
parece impossível. Para os autores da<br />
canção, nada é intrinsecamente impossível.<br />
A relação entre eles é de oposição:<br />
descrença x crença. Questão de nível de<br />
dificuldade médio.<br />
44) (2000) O uso do pronome átono no início<br />
das frases é destacado por um poeta e<br />
por um gramático nos textos abaixo.<br />
Pronominais<br />
Dê-me um cigarro<br />
Diz a gramática<br />
Do professor e do aluno<br />
E do mulato sabido<br />
Mas o bom negro e o bom branco<br />
da Nação Brasileira<br />
Dizem todos os dias<br />
Deixa disso camarada<br />
Me dá um cigarro<br />
(ANDRADE, Oswald de. Seleção de textos.<br />
São Paulo: Nova Cultural, 1988)<br />
“Iniciar a frase com pronome átono só<br />
é lícito na conversação familiar,<br />
despreocupada, ou na língua escrita<br />
quando se deseja reproduzir a fala dos<br />
personagens (...).”<br />
(CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da<br />
língua portuguesa.<br />
São Paulo: Nacional, 1980)<br />
Comparando a explicação dada pelos<br />
autores sobre essa regra, pode-se afirmar<br />
que ambos:<br />
A) condenam essa regra gramatical.<br />
B) acreditam que apenas os esclarecidos<br />
sabem essa regra.<br />
C) criticam a presença de regras na<br />
gramática.<br />
D) afirmam que não há regras para uso de<br />
pronomes.<br />
E) relativizam essa regra gramatical.<br />
Comentário<br />
Questão que requer conhecimento básico<br />
de colocação pronominal, em relação ao uso<br />
de pronomes átonos no início de frases, uma<br />
regra muito pouco respeitada pelo brasileiro,<br />
da qual Oswald de Andrade faz questão de<br />
falar em seu poema. Porém, a questão pode<br />
ser resolvida simplesmente por meio de uma<br />
leitura bem atenta dos textos. Se formos<br />
analisando alternativa por alternativa, a<br />
eliminação é clara e lógica: a alternativa a<br />
fica totalmente descartada devido à<br />
transparência da colocação dos dois autores<br />
(Me dá um cigarro...) e (iniciar frases com o<br />
pronome átono é "lícito" na conversação<br />
familiar ou despreocupada). Já a alternativa b<br />
pode até mesmo gerar um pouco de dúvida a<br />
quem não se atém bem à pergunta. Quanto<br />
às alternativas c e d, ficam descartadas, pois,<br />
em momento nenhum, os autores criticaram<br />
o uso de regras gramaticais em seus textos,<br />
cabendo perfeitamente a alternativa e para<br />
as afirmações do gramático e do poeta.<br />
Comentário do INEP<br />
Essa questão pretendia verificar como o<br />
participante analisa um fato lingüístico,<br />
mediante a comparação da descrição desse<br />
fato em dois textos. Sabe-se que,<br />
normalmente em situação escolar, o uso do<br />
pronome átono no início da frase é julgado<br />
como grave desvio gramatical, e pouco se<br />
analisa esse uso na fala ou escrita informal.<br />
Os dois autores dos textos, com intenções<br />
diferentes, relativizam essa regra gramatical,<br />
destacando e descrevendo o seu uso<br />
coloquial. A maioria dos participantes (52%)<br />
analisou e comparou corretamente as<br />
posições dos autores sobre o uso do
pronome átono, e 24% deles reafirmaram a<br />
posição discriminatória da regra, deslocandoa<br />
de seu uso.<br />
história de Van Gogh, ou apropriaram-se<br />
corretamente da informação sobre esse<br />
pintor, fornecida no enunciado.<br />
45) (2000) As histórias em quadrinhos, por<br />
vezes, utilizam animais como<br />
personagens e a eles atribuem<br />
comportamento humano. O gato Garfield<br />
é exemplo desse fato.<br />
46) (2004)<br />
Fonte: Caderno Vida e Arte, Jornal do Povo, Fortaleza<br />
Van Gogh, pintor holandês nascido em<br />
1853, é um dos principais nomes da<br />
pintura mundial. É dele o quadro abaixo.<br />
Auto-retrato de orelha cortada<br />
O 3º quadrinho sugere que Garfield:<br />
A) desconhece tudo sobre arte, por isso<br />
faz a sugestão.<br />
B) acredita que todo pintor deve fazer algo<br />
diferente.<br />
C) defende que para ser pintor a pessoa<br />
tem de sofrer.<br />
D) conhece a história de um pintor<br />
famoso e faz uso da ironia.<br />
E) acredita que seu dono tenha tendência<br />
artística e, por isso, faz a sugestão.<br />
Comentário<br />
Outra questão de interpretação de texto.<br />
Muito simples para quem um dia ouviu falar<br />
de Van Gogh, e simplíssima para aqueles<br />
que prestam atenção em todos os elementos<br />
do enunciado. Afinal, quem deu uma<br />
espiadinha na legenda do quadro de Van<br />
Gogh matou na hora a questão.<br />
Esta questão é daquelas rápidas de serem<br />
resolvidas, associando-se os elementos<br />
apresentados.<br />
Comentário do INEP<br />
A significativa maioria (81%) dos<br />
participantes soube perceber o caráter<br />
irônico da fala do Garfield, expressa no<br />
terceiro quadrinho porque, ou conheciam a<br />
A tira "Hagar" e o poema de Alberto<br />
Caeiro (um dos heterônimos de Fernando<br />
Pessoa) expressam, com linguagens<br />
diferentes, uma mesma idéia: a de que a<br />
compreensão que temos do mundo é<br />
condicionada, essencialmente,<br />
A) pelo alcance de cada cultura.<br />
B) pela capacidade visual do observador.<br />
C) pelo senso de humor de cada um.<br />
D) pela idade do observador.<br />
E) pela altura do ponto de observação.<br />
Comentário<br />
Questão reflexiva sobre a forma como<br />
cada cultura vê o mundo sob a ótica dos<br />
limites dados pelos seus costumes e<br />
possibilidades de pensamento inerentes a<br />
cada modelo cultural. A mistura de uma tira e<br />
de um poema amplia a possibilidade de<br />
pensamento por trabalhar com linguagens<br />
diferentes. A alternativa correta é a letra A,<br />
pois ambos (tira e poema) utilizam figuras de<br />
linguagem (metáfora e ironia) para expressar<br />
as diferentes visões de mundo.<br />
47) (2003)<br />
O humor presente na tirinha decorre<br />
principalmente do fato de a personagem<br />
Mafalda<br />
A) atribuir, no primeiro quadrinho, poder<br />
ilimitado ao dedo indicador.<br />
B) considerar seu dedo indicador tão<br />
importante quanto o dos patrões.<br />
23
C) atribuir, no primeiro e no último<br />
quadrinhos, um mesmo sentido ao<br />
vocábulo "indicador".<br />
D) usar corretamente a expressão<br />
"indicador de desemprego", mesmo<br />
sendo criança.<br />
E) atribuir, no último quadrinho, fama<br />
exagerada ao dedo indicador dos<br />
patrões.<br />
Comentário<br />
A questão pede a interpretação de uma<br />
charge da personagem Mafalda, em que ela<br />
faz referência a seu dedo indicador, que é<br />
usado como substantivo primitivo e que<br />
possibilita a analogia com “indicador de<br />
desemprego”. Dessa forma, ela ironiza os<br />
indicadores sociais. Na charge, porém, não<br />
há menção explícita aos índices<br />
“indicadores”, permanecendo o raciocínio<br />
preso apenas ao dedo indicador. Assim, ela<br />
utiliza, tanto no primeiro quanto no último<br />
quadrinho, a palavra “indicador” como<br />
referência ao dedo, não dando abertura a<br />
outro tipo de interpretação.<br />
H2 - Recorrer aos conhecimentos<br />
sobre as linguagens dos<br />
sistemas de comunicação e<br />
informação para resolver<br />
problemas sociais<br />
01) (2008) Calcula-se que 78% do<br />
desmatamento na Amazônia tenha sido<br />
motivado pela pecuária — cerca de 35%<br />
do rebanho nacional está na região — e<br />
que pelo menos 50 milhões de hectares<br />
de pastos são pouco produtivos. Enquanto<br />
o custo médio para aumentar a<br />
produtividade de 1 hectare de pastagem é<br />
de 2 mil reais, o custo para derrubar igual<br />
área de floresta é estimado em 800 reais,<br />
o que estimula novos desmatamentos.<br />
Adicionalmente, madeireiras retiram as<br />
árvores de valor comercial que foram<br />
abatidas para a criação de pastagens. Os<br />
pecuaristas sabem que problemas<br />
ambientais como esses podem provocar<br />
restrições à pecuária nessas áreas, a<br />
exemplo do que ocorreu em 2006 com o<br />
plantio da soja, o qual, posteriormente, foi<br />
proibido em áreas de floresta.<br />
Época, 3/3/2008 e 9/6/2008 (com adaptações).<br />
A partir da situação-problema descrita,<br />
conclui-se que<br />
A) o desmatamento na Amazônia decorre<br />
principalmente da exploração ilegal de<br />
árvores de valor comercial.<br />
B) um dos problemas que os pecuaristas<br />
vêm enfrentando na Amazônia é a<br />
proibição do plantio de soja.<br />
C) a mobilização de máquinas e de força<br />
humana torna o desmatamento mais<br />
caro que o aumento da produtividade<br />
de pastagens.<br />
D) o superavit comercial decorrente da<br />
exportação de carne produzida na<br />
Amazônia compensa a possível<br />
degradação ambiental.<br />
E) a recuperação de áreas desmatadas<br />
e o aumento de produtividade das<br />
pastagens podem contribuir para a<br />
redução do desmatamento na<br />
Amazônia.<br />
Comentário do portal<br />
Essa questão retrata o problema do<br />
desmatamento da Amazônia, relacionado<br />
principalmente com o desenvolvimento da<br />
pecuária na região. Para resolvê-la, foram<br />
necessários a leitura atenta do texto e o<br />
conhecimento sobre os problemas<br />
ambientais da atualidade. A alternativa<br />
correta é a letra E, pois é mais caro para os<br />
pecuaristas aumentar a produtividade do que<br />
as áreas de pasto, o que acarreta o aumento<br />
do desmatamento da Amazônia.<br />
02) (2008) A Lei Federal n.º 9.985/2000, que<br />
instituiu o sistema nacional de unidades<br />
de conservação, define dois tipos de<br />
áreas protegidas. O primeiro, as unidades<br />
de proteção integral, tem por objetivo<br />
preservar a natureza, admitindo-se<br />
apenas o uso indireto dos seus recursos<br />
naturais, isto é, aquele que não envolve<br />
consumo, coleta, dano ou destruição dos<br />
recursos naturais. O segundo, as<br />
unidades de uso sustentável, tem por<br />
função compatibilizar a conservação da<br />
natureza com o uso sustentável de<br />
parcela dos recursos naturais. Nesse<br />
caso, permite-se a exploração do<br />
ambiente de maneira a garantir a<br />
perenidade dos recursos ambientais<br />
renováveis e dos processos ecológicos,<br />
mantendo-se a biodiversidade e os<br />
demais atributos ecológicos, de forma<br />
socialmente justa e economicamente<br />
viável.<br />
Considerando essas informações, analise<br />
a seguinte situação hipotética.<br />
24
Ao discutir a aplicação de recursos<br />
disponíveis para o desenvolvimento de<br />
determinada região, organizações civis,<br />
universidade e governo resolveram<br />
investir na utilização de uma unidade de<br />
proteção integral, o Parque Nacional do<br />
Morro do Pindaré, e de uma unidade de<br />
uso sustentável, a Floresta Nacional do<br />
Sabiá. Depois das discussões, a equipe<br />
resolveu levar adiante três projetos:<br />
— o projeto I consiste de pesquisas<br />
científicas embasadas exclusivamente<br />
na observação de animais;<br />
— o projeto II inclui a construção de uma<br />
escola e de um centro de vivência;<br />
— o projeto III promove a organização de<br />
uma comunidade extrativista que<br />
poderá coletar e explorar<br />
comercialmente frutas e sementes<br />
nativas.<br />
Nessa situação hipotética, atendendo-se à<br />
lei mencionada acima, é possível<br />
desenvolver tanto na unidade de proteção<br />
integral quanto na de uso sustentável<br />
A) apenas o projeto I.<br />
B) apenas o projeto III.<br />
C) apenas os projetos I e II.<br />
D) apenas os projetos II e III.<br />
E) todos os três projetos.<br />
Comentário do portal<br />
A alternativa correta é a letra "A", pois,<br />
analisando-se a situação hipotética sugerida<br />
no enunciado, percebe-se que ela deverá<br />
atender os requisitos tanto da unidade de<br />
proteção integral quanto da unidade de uso<br />
sustentável. Portanto, apenas o projeto I<br />
poderá ser desenvolvido nessas duas<br />
propostas de unidades.<br />
03) (1999) Leia o texto abaixo.<br />
Cabelos longos, brinco na orelha<br />
esquerda, físico de skatista. Na aparência,<br />
o estudante brasiliense Rui Lopes Viana<br />
Filho, de 16 anos, não lembra em nada o<br />
estereótipo dos gênios. Ele não usa<br />
pesados óculos de grau e está longe de<br />
ter um ar introspectivo. No final do mês<br />
passado, Rui retornou de Taiwan, onde<br />
enfrentou 419 competidores de todo o<br />
mundo na 39ª Olimpíada Internacional de<br />
Matemática. A reluzente medalha de ouro<br />
que ele trouxe na bagagem está<br />
dependurada sobre a cama de seu quarto,<br />
atulhado de rascunhos dos problemas<br />
matemáticos que aprendeu a decifrar nos<br />
últimos cinco anos.<br />
Veja – Vencer uma olimpíada serve de<br />
passaporte para uma carreira profissional<br />
meteórica?<br />
Rui – Nada disso. Decidi me dedicar à<br />
Olimpíada porque sei que a concorrência<br />
por um emprego é cada vez mais<br />
selvagem e cruel. Agora tenho algo a mais<br />
para oferecer. O problema é que as coisas<br />
estão mudando muito rápido e não sei<br />
qual será minha profissão. Além de ser<br />
muito novo para decidir sobre o meu<br />
futuro profissional, sei que esse conceito<br />
de carreira mudou muito.<br />
(Entrevista de Rui Lopes Viana Filho à Veja,<br />
05/08/1998, n.31, p. 9-<strong>10</strong>)<br />
Na pergunta, o repórter estabelece uma<br />
relação entre a entrada do estudante no<br />
mercado de trabalho e a vitória na<br />
Olimpíada. O estudante<br />
A) concorda com a relação e afirma que o<br />
desempenho na Olimpíada é<br />
fundamental para sua entrada no<br />
mercado.<br />
B) discorda da relação e complementa<br />
que é fácil se fazer previsões sobre o<br />
mercado de trabalho.<br />
C) discorda da relação e afirma que seu<br />
futuro profissional independe de<br />
dedicação aos estudos.<br />
D) discorda da relação e afirma que seu<br />
desempenho só é relevante se<br />
escolher uma profissão relacionada à<br />
matemática.<br />
E) concorda em parte com a relação e<br />
complementa que é complexo fazer<br />
previsões sobre o mercado de trabalho.<br />
Comentário<br />
Não é difícil de se chegar à resposta<br />
correta ao se ler a reportagem. Ao final do<br />
último parágrafo — (...) Além de ser muito<br />
novo para decidir sobre o meu futuro<br />
profissional, sei que esse conceito de carreira<br />
mudou muito. —, o estudante praticamente<br />
fornece a resposta à questão, declarando-se<br />
realista ao não tentar prever seu futuro<br />
profissional devido à pouca idade e às<br />
mudanças no mercado de trabalho. Quanto a<br />
concordar parcialmente com o repórter, veja<br />
que ele, apesar de negar que o prêmio fosse<br />
uma garantia de sucesso profissional, logo<br />
depois afirma que, com ele, terá algo mais a<br />
oferecer ao mercado. Questão de nível fácil.<br />
Comentário do INEP<br />
Nesta situação-problema, o participante<br />
deveria demonstrar que compreendeu as<br />
premissas de um discurso, distinguindo a<br />
25
diferença de significado de palavras isoladas<br />
ou no contexto em que estão inseridas.<br />
Verificou-se que mais da metade dos<br />
participantes demonstrou possuir essa<br />
compreensão. Aqueles que optaram pelas<br />
alternativas C e D podem ter sido atraídos<br />
pelo significado negativo da expressão inicial<br />
"Nada disso".<br />
04) (1998) Texto 1<br />
"Mulher, Irmã, escuta-me: não ames,<br />
Quando a teus pés um homem terno e<br />
curvo<br />
jurar amor, chorar pranto de sangue,<br />
Não creias, não, mulher: ele te engana!<br />
As lágrimas são gotas da mentira<br />
E o juramento manto da perfídia."<br />
(Joaquim Manoel de Macedo)<br />
26<br />
Texto 2<br />
"Teresa, se algum sujeito bancar o<br />
sentimental em cima de você<br />
E te jurar uma paixão do tamanho de um<br />
bonde<br />
Se ele chorar<br />
Se ele ajoelhar<br />
Se ele se rasgar todo<br />
Não acredite não Teresa<br />
É lágrima de cinema<br />
É tapeação<br />
Mentira<br />
CAI FORA"<br />
(Manuel Bandeira)<br />
Os autores, ao fazerem alusão às<br />
imagens da lágrima sugerem que:<br />
A) há um tratamento idealizado da<br />
relação homem/mulher.<br />
B) há um tratamento realista da relação<br />
homem/mulher.<br />
C) a relação familiar é idealizada.<br />
D) a mulher é superior ao homem.<br />
E) a mulher é igual ao homem.<br />
Comentário<br />
Ambos os autores, ao utilizarem a<br />
imagem da lágrima, estão na realidade<br />
mostrando que a figura do homem que é<br />
romântico a ponto de chorar ao jurar amor<br />
não existe. Tanto Macedo quanto<br />
Bandeira alertam as mulheres dizendo,<br />
com palavras e estilos diferentes, que não<br />
há homem que chore por amor (portanto,<br />
essa figura é uma idealização — e, por<br />
conseguinte, toda imagem que se tem<br />
sobre os relacionamentos<br />
demasiadamente românticos). Note que<br />
Bandeira chega até mesmo a chamar tal<br />
"chorão" de ator ("...É lágrima de cinema /<br />
É tapeação..."). Macedo dá uma imagem<br />
pesada às lágrimas ("...são gotas da<br />
mentira...").<br />
05) (1999) Considere os textos abaixo.<br />
(...) de modo particular, quero encorajar os<br />
crentes empenhados no campo da<br />
filosofia para que iluminem os diversos<br />
âmbitos da atividade humana, graças ao<br />
exercício de uma razão que se torna mais<br />
segura e perspicaz com o apoio que<br />
recebe da fé.<br />
(Papa João Paulo II. Carta Encíclica Fides<br />
et Ratio aos bispos da igreja católica sobre as relações<br />
entre fé e razão, 1998)<br />
As verdades da razão natural não<br />
contradizem as verdades da fé cristã.<br />
(São Tomás de Aquino<br />
–pensador medieval)<br />
Refletindo sobre os textos, pode-se<br />
concluir que:<br />
A) a encíclica papal está em contradição<br />
com o pensamento de São Tomás de<br />
Aquino, refletindo a diferença de<br />
épocas.<br />
B) a encíclica papal procura<br />
complementar São Tomás de Aquino,<br />
pois este colocava a razão natural<br />
acima da fé.<br />
C) a Igreja medieval valorizava a razão<br />
mais do que a encíclica de João Paulo<br />
II.<br />
D) o pensamento teológico teve sua<br />
importância na Idade Média, mas, em<br />
nossos dias, não tem relação com o<br />
pensamento filosófico.<br />
E) tanto a encíclica papal como a frase<br />
de São Tomás de Aquino procuram<br />
conciliar os pensamentos sobre fé e<br />
razão.<br />
Comentário<br />
Nessa questão, é necessária uma<br />
releitura do texto para que se tenha uma<br />
melhor compreensão do tema. Tanto a<br />
citação do Papa quanto a de São Tomás de<br />
Aquino tentam criar uma interdependência<br />
entre a ciência e a fé, a religião. O Papa<br />
incentiva aqueles que exercem a pesquisa<br />
científica ou filosófica a manter a fé cristã.<br />
São Tomás de Aquino, por sua vez, equipara<br />
o avanço da ciência ao aumento da própria<br />
fé, afirmando que a razão natural não<br />
contradiz a fé cristã. Se um cresce, cresce<br />
também o outro, em harmonia e sem<br />
contradições. Questão de grau médio.<br />
(Português)
Nessa questão, encontramos dois textos:<br />
o primeiro, do século XX, foi elaborado pelo<br />
Papa João Paulo II; o segundo, do século<br />
XIII, pelo teólogo e filósofo cristão São<br />
Tomás de Aquino. O conteúdo de ambos se<br />
refere à ligação entre fé e razão, a qual<br />
esteve presente na filosofia escolástica da<br />
Idade Média. Esse campo de reflexão buscou<br />
conciliar o cristianismo com o pensamento de<br />
Aristóteles e teve em São Tomás de Aquino<br />
seu maior representante.<br />
Mesmo sem ter todas essas informações,<br />
você poderia responder tranqüilamente à<br />
questão por meio de uma leitura atenta dos<br />
dois textos, chegando à conclusão de que<br />
"tanto a encíclica papal como a frase de São<br />
Tomás de Aquino procuram conciliar os<br />
pensamentos sobre fé e razão". Resposta<br />
correta: alternativa E. (História)<br />
Comentário do INEP<br />
Para resolver esta situação-problema, o<br />
participante deveria mostrar que, além de<br />
interpretar textos, sabe relacioná-los sendo<br />
que, nesse item, essas operações referem-se<br />
a um texto escrito na época medieval e a<br />
outro escrito recentemente.<br />
Mais de 70% dos participantes<br />
demonstraram facilidade em estabelecer esta<br />
relação.<br />
06) (1999) Leia um texto publicado no jornal<br />
Gazeta Mercantil. Esse texto é parte de<br />
um artigo que analisa algumas situações<br />
de crise no mundo, entre elas, a quebra<br />
da Bolsa de Nova Iorque em 1929, e foi<br />
publicado na época de uma iminente crise<br />
financeira no Brasil.<br />
Deu no que deu. No dia 29 de outubro de<br />
1929, uma terça-feira, praticamente não<br />
havia compradores no pregão de Nova<br />
Iorque, só vendedores. Seguiu-se uma<br />
crise incomparável: o Produto Interno<br />
Bruto dos Estados Unidos caiu de <strong>10</strong>4<br />
bilhões de dólares em 1929, para 56<br />
bilhões em 1933, coisa inimaginável em<br />
nossos dias. O valor do dólar caiu a quase<br />
metade. O desemprego elevou-se de 1,5<br />
milhão para 12,5 milhões de trabalhadores<br />
– cerca de 25% da população ativa –<br />
entre 1929 e 1933. A construção civil caiu<br />
90%. Nove milhões de aplicações, tipo<br />
caderneta de poupança, perderam-se com<br />
o fechamento dos bancos. Oitenta e cinco<br />
mil firmas faliram. Houve saques e norteamericanos<br />
que passaram fome.<br />
(Gazeta Mercantil, 05/01/1999)<br />
Ao citar dados referentes à crise ocorrida<br />
em 1929, em um artigo jornalístico atual,<br />
pode-se atribuir ao jornalista a seguinte<br />
intenção:<br />
A) questionar a interpretação da crise.<br />
B) comunicar sobre o desemprego.<br />
C) instruir o leitor sobre aplicações em<br />
bolsa de valores.<br />
D) relacionar os fatos passados e<br />
presentes.<br />
E) analisar dados financeiros americanos.<br />
Comentário<br />
Nessa questão, o que se tem de fazer é<br />
prestar atenção às alternativas das<br />
respostas. Nenhuma delas se apresenta tão<br />
bem contextualizada a uma possível<br />
interpretação quanto a letra D. Partindo-se da<br />
análise do texto, fica claro que a intenção do<br />
artigo é remeter o leitor ao passado para<br />
tentar conduzi-lo a uma reflexão sobre uma<br />
situação presente, não mencionada na<br />
questão. Após a leitura e utilizando-se a já<br />
citada eliminação de questões, torna-se clara<br />
a resposta. Questão de nível médio.<br />
(Português)<br />
Muitas vezes, quando procuramos<br />
entender uma crise econômica ou financeira<br />
de grandes proporções, buscamos<br />
estabelecer relações com crises passadas. O<br />
mesmo ocorre no jornalismo, como prova o<br />
texto encontrado nessa questão. Buscando<br />
entender uma crise ocorrida no início de<br />
1999, o jornalista da Gazeta Mercantil<br />
buscou relacionar a situação dessa época<br />
com a grande crise de 1929 que afetou o<br />
mundo, trazendo desemprego e recessão,<br />
entre tantos outros problemas econômicos e<br />
sociais.<br />
Para responder a essa questão, era<br />
necessário ler atentamente o enunciado, em<br />
que está destacado que "o texto é parte de<br />
um artigo que analisa algumas situações de<br />
crise no mundo" e "foi publicado na época de<br />
uma iminente crise financeira no Brasil". Era<br />
importante também observar a data em que o<br />
artigo foi publicado: 05/01/1999. A partir<br />
dessas constatações, facilmente você<br />
chegaria a conclusão de que a intenção do<br />
jornalista era "relacionar os fatos passados e<br />
presentes". Resposta correta: alternativa D.<br />
(História)<br />
Comentário do INEP<br />
A resolução da questão demandava a<br />
capacidade dos participantes de relacionar<br />
eventos históricos envolvendo crises<br />
econômicas ocorridas em épocas e lugares<br />
distintos. Aproximadamente 2/3 deles<br />
27
demonstraram essa capacidade. Os demais,<br />
provavelmente, não compreenderam a<br />
exigência expressa no enunciado do<br />
problema – apontar as razões pelas quais um<br />
jornalista traz à tona eventos ocorridos<br />
setenta anos antes –, e apenas interpretaram<br />
o sentido do texto citado, que descreve a<br />
crise mundial de 1929.<br />
D)<br />
07) (2002) O autor da tira utilizou os<br />
princípios de composição de um<br />
conhecido movimento artístico para<br />
representar a necessidade de um mesmo<br />
observador aprender a considerar,<br />
simultaneamente, diferentes pontos de<br />
vista.<br />
E)<br />
Das obras reproduzidas, todas de autoria<br />
do pintor espanhol Pablo Picasso, aquela<br />
em cuja composição foi adotado um<br />
procedimento semelhante é:<br />
A)<br />
B)<br />
C)<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. O movimento<br />
artístico que previa considerar<br />
simultaneamente diversos pontos de vista<br />
era o Cubismo. Havia a desconstrução da<br />
forma para que se pudesse ver todos os<br />
ângulos concomitantemente. O único quadro<br />
que apresenta essas características é o da<br />
alternativa E. As outras quatro alternativas<br />
pressupõem a manutenção da forma.<br />
Comentário do INEP<br />
O objetivo desta questão é levar o<br />
participante a refletir sobre características<br />
fundamentais de um movimento artístico – o<br />
cubismo – a partir de dados visuais:<br />
quadrinhos e pinturas. A reprodução de dois<br />
quadrinhos da personagem Calvin forneceu<br />
para o participante informações básicas para<br />
a análise que deveria fazer das alternativas<br />
apresentadas. Segundo os quadrinhos, o<br />
movimento artístico abordado pela questão<br />
tinha como procedimento de composição<br />
representar, para um mesmo observador,<br />
diferentes pontos de vista, fazendo com que<br />
"o tradicional único ponto de vista" fosse<br />
abandonado e com que a perspectiva fosse<br />
fraturada. A análise das obras de Picasso<br />
reproduzidas nas alternativas permite que o<br />
participante reconheça a adoção desse<br />
procedimento no quadro "Marie-Thérèse<br />
apoiada no cotovelo" (alternativa E, com 46%<br />
de registros), no qual se pode reconhecer a<br />
representação de diferentes pontos de vista<br />
28
a partir dos quais é apresentado o rosto da<br />
mulher retratada.<br />
análise parcial da noção de paradoxo,<br />
confundida com inversão.<br />
08) (2001) Oxímoro (ou paradoxo) é uma<br />
construção textual que agrupa significados<br />
que se excluem mutuamente. Para<br />
Garfield, a frase de saudação de Jon<br />
(tirinha abaixo) expressa o maior de todos<br />
os oxímoros.<br />
09) (2005) Cândido Portinari (1903-1962), um<br />
dos mais importantes artistas brasileiros<br />
do século XX, tratou de diferentes<br />
aspectos da nossa realidade em seus<br />
quadros.<br />
Folha de S. Paulo. 31 de julho de 2000.<br />
Nas alternativas abaixo, estão transcritos<br />
versos retirados do poema “O operário em<br />
construção”. Pode-se afirmar que ocorre<br />
um oxímoro em<br />
A) "Era ele que erguia casas<br />
Onde antes só havia chão."<br />
B) "... a casa que ele fazia<br />
Sendo a sua liberdade<br />
Era a sua escravidão."<br />
C) "Naquela casa vazia<br />
Que ele mesmo levantara<br />
Um mundo novo nascia<br />
De que sequer suspeitava."<br />
D) "... o operário faz a coisa<br />
E a coisa faz o operário."<br />
E) "Ele, um humilde operário<br />
Um operário que sabia<br />
Exercer a profissão."<br />
MORAES, Vinícius de. Antologia Poética. São Paulo:<br />
Companhia das Letras, 1992.<br />
Comentário<br />
Idéias que se completam e se excluem<br />
mutuamente são encontradas na alternativa<br />
B: a casa que ele construía era, ao mesmo<br />
tempo, sua liberdade e sua escravidão.<br />
A casa é um símbolo de liberdade para o<br />
homem. Para o homem operário, é também<br />
símbolo de escravidão, pois ele está<br />
"condenado" a jamais usufruir do resultado<br />
do seu trabalho (a casa que faz não é para<br />
ele).<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão propõe ao participante que<br />
estabeleça uma relação entre linguagens,<br />
associando a compreensão de um efeito<br />
semântico produzido pelo uso do oxímoro<br />
nos quadrinhos com o mesmo efeito num<br />
texto poético. O índice (18%) de escolhas da<br />
alternativa D deve-se, possivelmente, a uma<br />
Sobre a temática dos “Retirantes”,<br />
Portinari também escreveu o seguinte<br />
poema:<br />
(....)<br />
Os retirantes vêm vindo com trouxas e<br />
embrulhos<br />
Vêm das terras secas e escuras;<br />
pedregulhos<br />
Doloridos como fagulhas de carvão aceso<br />
Corpos disformes, uns panos sujos,<br />
Rasgados e sem cor, dependurados<br />
Homens de enorme ventre bojudo<br />
Mulheres com trouxas caídas para o lado<br />
Pançudas, carregando ao colo um garoto<br />
Choramingando, remelento<br />
(....)<br />
(Cândido Portinari. Poemas. Rio de Janeiro:<br />
J. Olympio, 1964.)<br />
Das quatro obras reproduzidas, assinale<br />
aquelas que abordam a problemática que<br />
é tema do poema.<br />
A) 1 e 2 D) 3 e 4<br />
B) 1 e 3 E) 2 e 4<br />
C) 2 e 3<br />
Comentário<br />
O poema apresenta correspondência com<br />
as imagens ao descrever com detalhes a<br />
figura do retirante: pobre, mal vestido,<br />
carregando trouxas e embrulhos.<br />
29
<strong>10</strong>) (2002) "A palavra tatuagem é<br />
relativamente recente. Toda a gente sabe<br />
que foi o navegador Cook que a introduziu<br />
no Ocidente, e esse escrevia tattou, termo<br />
da Polinésia de tatou ou tu tahou,<br />
'desenho'.<br />
(...) Desde os mais remotos tempos,<br />
vemo-la a transformar-se: distintivo<br />
honorífico entre uns homens, ferrete de<br />
ignomínia entre outros, meio de assustar o<br />
adversário para os bretões, marca de uma<br />
classe de selvagens das ilhas marquesas<br />
(...) sinal de amor, de desprezo, de ódio<br />
(...). Há três casos de tatuagem no Rio,<br />
completamente diversos na sua<br />
significação moral: os negros,os turcos<br />
com o fundo religioso e o bando de<br />
meretrizes, dos rufiões e dos humildes,<br />
que se marcam por crime ou por<br />
ociosidade".<br />
RIO, João do. Os Tatuadores. Revista Kosmos.<br />
1904, apud: A alma encantadora das ruas,<br />
SP: Cia das Letras, 1999.<br />
Com base no texto são feitas as seguintes<br />
afirmações:<br />
I. João do Rio revela como a tatuagem já<br />
estava presente na cidade do Rio de<br />
Janeiro, pelo menos desde o início do<br />
século XX, e era mais utilizada por<br />
alguns setores da população.<br />
II. A tatuagem, de origem polinésia,<br />
difundiu-se no ocidente com a<br />
característica que permanece até hoje:<br />
utilização entre os jovens com função<br />
estritamente estética.<br />
III. O texto mostra como a tatuagem é<br />
uma prática que se transforma no<br />
tempo e que alcança inúmeros sentidos<br />
nos diversos setores das sociedades e<br />
para as diferentes culturas.<br />
Está correto o que se afirma apenas em<br />
A) I D) I e II<br />
B) II E) I e III<br />
C) III<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Constata-se o<br />
seguinte: a tatuagem já existia no Brasil no<br />
início do século XX (o texto é de 1904 e parte<br />
dele se refere ao Rio do Janeiro) e era<br />
utilizada em diferentes setores da sociedade.<br />
A afirmação de que as tatuagens possuem<br />
apenas finalidade estética entre os jovens<br />
elimina a segunda alternativa. Já a última<br />
alternativa confirma as transformações das<br />
funções da tatuagem ao longo do tempo nas<br />
mais diversas sociedades e culturas.<br />
Comentário do INEP<br />
O texto estabelece uma relação entre a<br />
atualidade da palavra "tatuagem" e a<br />
antiguidade do uso de desenhos como<br />
pintura corporal. Focaliza uma prática social<br />
bastante difundida que adquiriu aspectos e<br />
conotações diversos nos diferentes contextos<br />
históricos e geográficos em que ela pode ser<br />
descrita. Fazendo a descrição da prática da<br />
tatuagem, como uma manifestação comum a<br />
diferentes culturas, e que adquire, inclusive,<br />
significados diferentes dentro de uma mesma<br />
cultura, induz o participante a refletir sobre a<br />
"diversidade dos patrimônios etnoculturais e<br />
artísticos", contextualizando ao mesmo<br />
tempo seus significados "em diferentes<br />
sociedades, épocas e lugares". Ao retomar<br />
as várias origens e usos da tatuagem, o<br />
participante é levado a compreender e<br />
respeitar uma gramática histórica dos<br />
costumes marcada sempre por semelhanças<br />
e diferenças. A questão não exigia, portanto,<br />
nenhum conhecimento prévio sobre as<br />
diferentes formas de manifestação dessa<br />
prática, mas simplesmente constatar, com o<br />
autor do texto citado, a historicidade e a<br />
diversidade das práticas sociais. Os<br />
participantes que assinalaram a alternativa C<br />
(36%), possivelmente, não levaram em<br />
consideração informações do texto. A<br />
questão foi corretamente respondida por 37%<br />
dos participantes.<br />
11) (2003) Eu começaria dizendo que poesia<br />
é uma questão de linguagem. A<br />
importância do poeta é que ele torna mais<br />
viva a linguagem. Carlos Drummond de<br />
Andrade escreveu um dos mais belos<br />
versos da língua portuguesa com duas<br />
palavras comuns: cão e cheirando.<br />
Um cão cheirando o futuro<br />
(Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP, 24/05/1988.<br />
adaptação)<br />
O que deu ao verso de Drummond o<br />
caráter de inovador da língua foi<br />
A) o modo raro como foi tratado o<br />
"futuro".<br />
B) a referência ao cão como "animal de<br />
estimação".<br />
C) a flexão pouco comum do verbo<br />
"cheirar" (gerúndio).<br />
D) a aproximação não usual do agente<br />
citado e a ação de "cheirar".<br />
E) o emprego do artigo indefinido "um" e<br />
do artigo definido "o" na mesma frase.<br />
30
Comentário<br />
O fato de Drummond identificar o futuro<br />
como algo que pode ser percebido por um<br />
animal irracional por meio do olfato foi<br />
inovador. A figura de linguagem foi<br />
construída metaforicamente: o futuro torna-se<br />
uma coisa que tem cheiro, contrariamente à<br />
imagem pela qual ele normalmente é<br />
representado: como algo que não se vê e<br />
não se pode pressentir ou tocar.<br />
12) (2003) Pequenos tormentos da vida<br />
De cada lado da sala de aula, pelas janelas<br />
altas, o azul convida os meninos,<br />
as nuvens desenrolam-se, lentas como quem<br />
vai inventando<br />
preguiçosamente uma história sem fim...Sem<br />
fim é a aula: e nada acontece,<br />
nada...Bocejos e moscas. Se ao menos,<br />
pensa Margarida, se ao menos um<br />
avião entrasse por uma janela e saísse por<br />
outra!<br />
(Mário Quintana. Poesias)<br />
Na cena retratada no texto, o sentimento<br />
do tédio<br />
A) provoca que os meninos fiquem<br />
contando histórias.<br />
B) leva os alunos a simularem bocejos,<br />
em protesto contra a monotonia da<br />
aula.<br />
C) acaba estimulando a fantasia,<br />
criando a expectativa de algum<br />
imprevisto mágico.<br />
D) prevalece de modo absoluto,<br />
impedindo até mesmo a distração ou o<br />
exercício do pensamento.<br />
E) decorre da morosidade da aula, em<br />
contraste com o movimento acelerado<br />
das nuvens e das moscas.<br />
Comentário<br />
Essa questão aborda o imaginário<br />
decorrente do marasmo trazido pela escola.<br />
O texto enfatiza o arrastar do tempo na<br />
mente de uma aluna, Margarida, que se põe<br />
a pensar em fatos mágicos ou imaginários<br />
que pudessem romper com a lentidão da<br />
aula.<br />
13) (2000) O autor do texto abaixo critica,<br />
ainda que em linguagem metafórica, a<br />
sociedade contemporânea em relação aos<br />
seus hábitos alimentares.<br />
“Vocês que têm mais de 15 anos, se<br />
lembram quando a gente comprava leite<br />
em garrafa, na leiteria da esquina? (...)<br />
Mas vocês não se lembram de nada,<br />
pô! Vai ver nem sabem o que é vaca. Nem<br />
o que é leite. Estou falando isso porque<br />
agora mesmo peguei um pacote de leite –<br />
leite em pacote, imagina, Tereza! – na<br />
porta dos fundos e estava escrito que é<br />
pasterizado, ou pasteurizado, sei lá, tem<br />
vitamina, é garantido pela<br />
embromatologia, foi enriquecido e o<br />
escambau. Será que isso é mesmo leite?<br />
No dicionário diz que leite é outra coisa:<br />
‘Líquido branco, contendo água,<br />
proteína, açúcar e sais minerais’. Um<br />
alimento pra ninguém botar defeito. O ser<br />
humano o usa há mais de 5.000 anos. É o<br />
único alimento só alimento. A carne serve<br />
pro animal andar, a fruta serve pra fazer<br />
outra fruta, o ovo serve pra fazer outra<br />
galinha (...) O leite é só leite. Ou toma ou<br />
bota fora. Esse aqui examinando bem, é<br />
só pra botar fora. Tem chumbo, tem<br />
benzina, tem mais água do que leite, tem<br />
serragem, sou capaz de jurar que nem<br />
vaca tem por trás desse negócio. Depois o<br />
pessoal ainda acha estranho que os<br />
meninos não gostem de leite.<br />
Mas, como não gostam? Não gostam<br />
como? Nunca tomaram! Múúúúúúú!”<br />
(FERNANDES, Millôr. O Estado de S. Paulo ,<br />
22 de agosto de 1999)<br />
A palavra embromatologia usada pelo<br />
autor é:<br />
A) um termo científico que significa estudo<br />
dos bromatos.<br />
B) uma composição do termo de gíria<br />
“embromação” (enganação) com<br />
bromatologia, que é o estudo dos<br />
alimentos.<br />
C) uma junção do termo de gíria<br />
“embromação” (enganação) com<br />
lactologia, que é o estudo das<br />
embalagens para leite.<br />
D) um neologismo da química orgânica<br />
que significa a técnica de retirar<br />
bromatos dos laticínios.<br />
E) uma corruptela de termo da<br />
agropecuária que significa a ordenha<br />
mecânica.<br />
Comentário<br />
É necessário para a resolução desta<br />
questão:<br />
- perceber que o texto critica o exagerado<br />
uso de substâncias artificiais nos<br />
alimentos;<br />
- conhecer o significado da gíria embromar e<br />
da palavra bromatologia.<br />
31
Conhecendo esses significados, você<br />
elimina todas as alternativas erradas: a, c, d<br />
e e.<br />
Você poderá ter dúvida quanto à<br />
alternativa c, que também será eliminada se<br />
souber o significado da palavra lactologia,<br />
que é o estudo do leite e produtos lácteos e<br />
não das embalagens para leite.<br />
Nesta questão, são trabalhados os<br />
conceitos de interpretação de texto, formação<br />
de palavras e conhecimentos gerais.<br />
Comentário do INEP<br />
A resolução da questão requeria que o<br />
participante, ao ler o texto vinculasse o<br />
significado de um termo de gíria -<br />
"embromação" - com o da palavra<br />
bromatologia. A resposta correta exigia que o<br />
participante não abrisse mão do sabor<br />
picante contido na linguagem metafórica,<br />
sabor vinculado ao conhecimento específico<br />
contido na palavra bromatologia. Cerca da<br />
metade dos participantes (51%) optou pela<br />
alternativa correta e, os 20% que escolheram<br />
a alternativa C, provavelmente associaram a<br />
referência feita no texto à leite em pacote.<br />
C)<br />
D)<br />
E)<br />
14) (2008) Os signos visuais, como meios de<br />
comunicação, são classificados em<br />
categorias de acordo com seus<br />
significados.<br />
A categoria denominada indício<br />
corresponde aos signos visuais que têm<br />
origem em formas ou situações naturais<br />
ou casuais, as quais, devido à ocorrência<br />
em circunstâncias idênticas, muitas vezes<br />
repetidas, indicam algo e adquirem<br />
significado. Por exemplo, nuvens negras<br />
indicam tempestade. Com base nesse<br />
conceito, escolha a opção que representa<br />
um signo da categoria dos indícios.<br />
A)<br />
Comentário<br />
Trata-se de uma questão interpretativa. O<br />
aluno precisa entender o que é “indício” para<br />
respondê-la. Segundo o dicionário Aurélio,<br />
indício é o mesmo que “sinal, vestígio,<br />
indicação”. Das figuras apresentadas,<br />
apenas a alternativa B indica algo: a<br />
passagem de alguém por algum lugar —<br />
pegada.<br />
15) (2008)<br />
B)<br />
Exame, 28/9/2007.<br />
Entre os seguintes ditos populares, qual<br />
deles melhor corresponde à figura<br />
acima?<br />
32
A) Com perseverança, tudo se alcança.<br />
B) Cada macaco no seu galho.<br />
C) Nem tudo que balança cai.<br />
D) Quem tudo quer, tudo perde.<br />
E) Deus ajuda quem cedo madruga.<br />
Comentário<br />
Assim como a questão 37, esta também<br />
envolve interpretação de signos, ou seja, o<br />
aluno precisa estar atento à imagem e<br />
relacioná-la ao dito popular correspondente.<br />
A alternativa "A" é a correta, pois, para<br />
uma lesma “grudenta” e vagarosa conseguir<br />
pular numa cama elástica, é necessária<br />
muita perseverança.<br />
16) (2005) Leia estes textos.<br />
Texto 1<br />
B) concordam que o desarmamento é<br />
inatingível.<br />
C) julgam que o sonho é um desafio<br />
invencível.<br />
D) têm visões diferentes sobre um<br />
possível mundo melhor.<br />
E) transmitem uma mensagem de<br />
otimismo sobre a paz.<br />
Comentário<br />
Enquanto o primeiro texto é ácido em<br />
relação à possibilidade de desarmamento da<br />
população (ou seja, à criação de uma<br />
sociedade mais pacífica), o segundo mostra<br />
a capacidade que a humanidade tem de crer<br />
e, por isso, tentar fazer até o que a princípio<br />
parece impossível. Para os autores da<br />
canção, nada é intrinsecamente impossível.<br />
A relação entre eles é de oposição:<br />
descrença x crença. Questão de nível de<br />
dificuldade médio.<br />
17) (2004)<br />
Texto 2<br />
Sonhar<br />
Mais um sonho impossível<br />
Lutar<br />
Quando é fácil ceder<br />
Vencer o inimigo invencível<br />
Negar quando a regra é vender<br />
Sofrer a tortura implacável<br />
Romper a incabível prisão<br />
Voar num limite improvável<br />
Tocar o inacessível chão<br />
É minha lei, é minha questão<br />
Virar esse mundo<br />
Cravar esse chão<br />
Não me importa saber<br />
Se é terrível demais<br />
Quantas guerras terei que vencer<br />
Por um pouco de paz<br />
E amanhã se esse chão que eu beijei<br />
For meu leito e perdão<br />
Vou saber que valeu delirar<br />
E morrer de paixão<br />
E assim, seja lá como for<br />
Vai ter fim a infinita aflição<br />
E o mundo vai ver uma flor<br />
Brotar do impossível chão.<br />
(J. Darione – M. Leigh – Versão de Chico Buarque de<br />
Hollanda e Ruy Guerra, 1972.)<br />
A tirinha e a canção apresentam uma<br />
reflexão sobre o futuro da humanidade. É<br />
correto concluir que os dois textos<br />
A) afirmam que o homem é capaz de<br />
alcançar a paz.<br />
A tira "Hagar" e o poema de Alberto<br />
Caeiro (um dos heterônimos de Fernando<br />
Pessoa) expressam, com linguagens<br />
diferentes, uma mesma idéia: a de que a<br />
compreensão que temos do mundo é<br />
condicionada, essencialmente,<br />
A) pelo alcance de cada cultura.<br />
B) pela capacidade visual do observador.<br />
C) pelo senso de humor de cada um.<br />
D) pela idade do observador.<br />
E) pela altura do ponto de observação.<br />
Comentário<br />
Questão reflexiva sobre a forma como<br />
cada cultura vê o mundo sob a ótica dos<br />
limites dados pelos seus costumes e<br />
possibilidades de pensamento inerentes a<br />
cada modelo cultural. A mistura de uma tira e<br />
de um poema amplia a possibilidade de<br />
pensamento por trabalhar com linguagens<br />
diferentes. A alternativa correta é a letra A,<br />
pois ambos (tira e poema) utilizam figuras de<br />
linguagem (metáfora e ironia) para expressar<br />
as diferentes visões de mundo.<br />
33
18) (2000) As histórias em quadrinhos, por<br />
vezes, utilizam animais como personagens e<br />
a eles atribuem comportamento humano. O<br />
gato Garfield é exemplo desse fato.<br />
Fonte: Caderno Vida e Arte, Jornal do Povo,<br />
Fortaleza<br />
Van Gogh, pintor holandês nascido em<br />
1853, é um dos principais nomes da pintura<br />
mundial. É dele o quadro abaixo.<br />
Auto-retrato de orelha cortada<br />
O 3º quadrinho sugere que Garfield:<br />
A) desconhece tudo sobre arte, por isso faz<br />
a sugestão.<br />
B) acredita que todo pintor deve fazer algo<br />
diferente.<br />
C) defende que para ser pintor a pessoa tem<br />
de sofrer.<br />
D) conhece a história de um pintor famoso<br />
e faz uso da ironia.<br />
E) acredita que seu dono tenha tendência<br />
artística e, por isso, faz a sugestão.<br />
Comentário<br />
Outra questão de interpretação de texto.<br />
Muito simples para quem um dia ouviu falar de<br />
Van Gogh, e simplíssima para aqueles que<br />
prestam atenção em todos os elementos do<br />
enunciado. Afinal, quem deu uma espiadinha<br />
na legenda do quadro de Van Gogh matou na<br />
hora a questão.<br />
Esta questão é daquelas rápidas de serem<br />
resolvidas, associando-se os elementos<br />
apresentados.<br />
Comentário do INEP<br />
A significativa maioria (81%) dos<br />
participantes soube perceber o caráter irônico<br />
da fala do Garfield, expressa no terceiro<br />
quadrinho porque, ou conheciam a história de<br />
Van Gogh, ou apropriaram-se corretamente da<br />
informação sobre esse pintor, fornecida no<br />
enunciado.<br />
19) (2002)<br />
De acordo com a história em quadrinhos<br />
protagonizada por Hagar e seu filho<br />
Hamlet, pode-se afirmar que a postura de<br />
Hagar<br />
A) valoriza a existência da diversidade<br />
social e de culturas, e as várias<br />
representações e explicações desse<br />
universo.<br />
B) desvaloriza a existência da<br />
diversidade social e as várias culturas,<br />
e determina uma única explicação para<br />
esse universo.<br />
C) valoriza a possibilidade de explicar as<br />
sociedades e as culturas a partir de<br />
várias visões de mundo.<br />
D) valoriza a pluralidade cultural e social<br />
ao aproximar a visão de mundo de<br />
navegantes e não-navegantes.<br />
E) desvaloriza a pluralidade cultural e<br />
social, ao considerar o mundo habitado<br />
apenas pelos navegantes.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Hagar reduz o mundo<br />
a dois tipos de pessoas: navegantes e nãonavegantes.<br />
No último quadrinho, diz que são<br />
os navegantes que estabelecem esses dois<br />
grupos. Portanto, quem é diferente dos<br />
navegantes (que estabelecem o padrão)<br />
simplesmente é incluído na massa única dos<br />
não-navegantes. Não importa quem ou quantos<br />
sejam, sua diversidade social ou cultural em<br />
relação aos navegantes ou entre si. Vemos aí a<br />
desvalorização de outras culturas.<br />
Comentário do INEP<br />
Dentre as habilidades básicas para a<br />
compreensão de um texto destaca-se a<br />
capacidade do leitor de identificar os<br />
pressupostos de cada afirmação que lhe é<br />
apresentada. Nesta questão o participante<br />
deve identificar a posição tanto de Hagar como<br />
de seu filho Hamlet e, em seguida, avaliar<br />
quais os argumentos que justificam a opinião<br />
de Hagar ao definir que no mundo só existem<br />
dois tipos de pessoas. A pergunta de Hamlet a<br />
seu pai explicita a importância do ato de narrar<br />
através do diálogo e do efeito humorístico<br />
contido no episódio representado na tira. O<br />
resultado da compreensão acertada do diálogo<br />
é que o narrador torna inteligível, para si e para<br />
os outros, a lógica do seu pensamento através<br />
do diálogo entre os dois personagens. É<br />
importante observar que o humor do<br />
personagem Hagar é identificado na postura<br />
simetricamente oposta à de Michel de<br />
Montaigne, por exemplo (ver questão 58): a<br />
sua visão de mundo apresenta-se<br />
autocentrada, isto é, centrada nos seus<br />
próprios valores (vikings). A habilidade<br />
34
equerida do participante nessa questão, qual<br />
seja, "valorizar a diversidade dos patrimônios<br />
etnoculturais", é mobilizada aqui na sua<br />
dimensão negativa: é criticando a postura<br />
chauvinista de Hagar que o participante é<br />
capaz de responder corretamente a questão. A<br />
última alternativa (E) funciona como um<br />
distrator, pois neste caso não está suposta a<br />
crítica do discurso do personagem. Cerca de<br />
um terço dos participantes assinalou a<br />
alternativa correta B. As demais opções são<br />
devidas, possivelmente, a uma leitura pouco<br />
compreensiva das alternativas associadas a<br />
história em quadrinhos.<br />
20) (2009) Como se assistisse à<br />
demonstração de um espetáculo mágico,<br />
ia revendo aquele ambiente tão<br />
característico de família, com seus<br />
pesados móveis de vinhático ou de<br />
jacarandá, de qualidade antiga, e que<br />
denunciavam um passado ilustre,<br />
gerações de Meneses talvez mais<br />
singelos e mais calmos; agora, uma<br />
espécie de desordem, de relaxamento,<br />
abastardava aquelas qualidades<br />
primaciais. Mesmo assim era fácil<br />
perceber o que haviam sido, esses nobres<br />
da roça, com seus cristais que brilhavam<br />
mansamente na sombra, suas pratas<br />
semiempoeiradas que atestavam o<br />
esplendor esvanecido, seus marfins e<br />
suas opalinas — ah, respirava-se ali<br />
conforto, não havia dúvida, mas era<br />
apenas uma sobrevivência de coisas idas.<br />
Dir-se-ia, ante esse mundo que se ia<br />
desagregando, que um mal oculto o roía,<br />
como um tumor latente em suas<br />
entranhas.<br />
CARDOSO, L. Crônica da casa assassinada. Rio de<br />
Janeiro: Civilização Brasileira, 2002 (adaptado).<br />
O mundo narrado nesse trecho do<br />
romance de Lúcio Cardoso, acerca da<br />
vida dos Meneses, família da aristocracia<br />
rural de Minas Gerais, apresenta não<br />
apenas a história da decadência dessa<br />
família, mas é, ainda, a representação<br />
literária de uma fase de desagregação<br />
política, social e econômica do país. O<br />
recurso expressivo que formula<br />
literariamente essa desagregação<br />
histórica é o de descrever a casa dos<br />
Meneses como<br />
A) O ambiente de pobreza e privação,<br />
que carece de conforto mínimo para a<br />
sobrevivência da família<br />
B) O mundo mágico, capaz de recuperar o<br />
encantamento perdido durante o<br />
período de decadência da aristocracia<br />
rural mineira.<br />
C) cena familiar, na qual o calor humano<br />
dos habitantes da casa ocupa o<br />
primeiro plano, compensando a frieza e<br />
austeridade dos objetos antigos.<br />
D) O símbolo de um passado ilustre que,<br />
apesar de superado, ainda resiste à<br />
sua total dissolução graças ao cuidado<br />
e asseio que a família dispensa à<br />
conservação da casa.<br />
E) O espaço arruinado, onde os objetos<br />
perderam seu esplendor e sobre os<br />
quais a vida repousa como lembrança<br />
de um passado que está em vias de<br />
desaparecer completamente.<br />
Comentário<br />
(QUESTÃO: AZUL 69, BRANCA 69, ROSA<br />
69)<br />
Esta questão de interpretação de<br />
texto relaciona Literatura com História. A leitura<br />
atenta do texto mostrará que a desagregação<br />
histórica dos Menezes está descrita na<br />
alternativa E como um espaço arruinado, onde<br />
os objetos perderam seu esplendor.<br />
Alternativa correta: E<br />
H3 - Relacionar informações<br />
geradas nos sistemas de<br />
comunicação e informação,<br />
considerando a função social<br />
desses sistemas<br />
01) (2009)<br />
BRASIL. Ministério da Saúde. Revista Nordeste, João<br />
Pessoa, ano 3, n. 35, maio/jun.2009.<br />
35
O texto exemplifica um gênero textual<br />
híbrido entre carta e publicidade oficial.<br />
Em seu conteúdo, é possível perceber<br />
aspectos relacionados a gêneros digitais.<br />
Considerando-se a função social das<br />
informações geradas nos sistemas de<br />
comunicação e informação presentes no<br />
texto, infere-se que<br />
A) a utilização do termo download indica<br />
restrição de leitura de informações a<br />
respeito de formas de combate à<br />
dengue.<br />
B) a diversidade dos sistemas de<br />
comunicação empregados e<br />
mencionados reduz a possibilidade de<br />
acesso às informações a respeito do<br />
combate à dengue.<br />
C) a utilização do material disponibilizado<br />
para download no site<br />
www.combatadengue.com.br restringese<br />
ao receptor da publicidade.<br />
D) a necessidade de atingir públicos<br />
distintos se revela por meio da<br />
estratégia de disponibilização de<br />
informações empregada pelo emissor.<br />
E) a utilização desse gênero textual<br />
compreende, no próprio texto, o<br />
detalhamento de informações a<br />
respeito de formas de combate à<br />
dengue.<br />
Comentário<br />
(QUESTÃO: AZUL 126, BRANCA 126,<br />
ROSA 1)<br />
Questão de difícil resolução. O texto,<br />
dirigido a prefeitos de todo o Brasil, informa<br />
que, no site citado, há material<br />
para download livre. O candidato deve inferir,<br />
fundamentado na função social das<br />
informações disponibilizadas na Internet, que<br />
há a necessidade de se atingir públicos<br />
distintos.<br />
Dessa forma, a resposta correta é a<br />
alternativa D.<br />
H4 - Reconhecer posições<br />
críticas aos usos sociais que<br />
são feitos das linguagens e<br />
dos sistemas de<br />
comunicação e informação<br />
01) (2001) O mundo é grande<br />
O mundo é grande e cabe<br />
Nesta janela sobre o mar.<br />
O mar é grande e cabe<br />
36<br />
Na cama e no colchão de amar.<br />
O amor é grande e cabe<br />
No breve espaço de beijar.<br />
ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e prosa.<br />
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983.<br />
Neste poema, o poeta realizou uma opção<br />
estilística: a reiteração de determinadas<br />
construções e expressões lingüísticas,<br />
como o uso da mesma conjunção para<br />
estabelecer a relação entre as frases.<br />
Essa conjunção estabelece, entre as<br />
idéias relacionadas, um sentido de<br />
A) oposição.<br />
B) comparação.<br />
C) conclusão.<br />
D) alternância.<br />
E) finalidade.<br />
Comentário<br />
Há três elementos repetidos neste trecho:<br />
o verbo ser, o artigo definido o e a conjunção<br />
aditiva e. A conjunção e estabelece uma<br />
relação entre idéias que, concretamente, são<br />
opostas (ex.: "O mundo é grande e cabe<br />
nesta janela sobre o mar"). A alternativa<br />
correta é a letra A.<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão apresenta, para leitura e<br />
análise, o poema "O mundo é grande", onde<br />
os recursos lingüísticos expressivos<br />
utilizados geram um efeito de oposição entre<br />
as idéias. A análise sintático-semântica é<br />
necessária para a compreensão do valor de<br />
oposição assumido pela conjunção "e":<br />
imagens justapostas estão relacionadas,<br />
contrapondo-se em planos diferentes. Um<br />
percentual significativo (46%) de<br />
participantes considerou que o valor da<br />
conjunção "e", nesse poema, é de<br />
comparação, o que não reflete o sentido<br />
estilístico proposto pelo poeta, mas<br />
corresponde apenas à primeira operação que<br />
se realiza para estabelecer o sentido de<br />
oposição. De maneira análoga, pode-se<br />
analisar os equívocos daqueles que optaram<br />
pelas alternativas C e D.<br />
02) (1999) SONETO DE FIDELIDADE<br />
De tudo, ao meu amor serei atento<br />
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto<br />
Que mesmo em face do maior encanto<br />
Dele se encante mais meu pensamento.<br />
Quero vivê-lo em cada vão momento<br />
E em seu louvor hei de espalhar meu<br />
canto<br />
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.<br />
E assim, quando mais tarde me procure<br />
Quem sabe a morte, angústia de quem<br />
vive<br />
Quem sabe a solidão, fim de quem ama.<br />
Eu possa dizer do meu amor (que tive):<br />
Que não seja imortal, posto que é chama<br />
Mas que seja infinito enquanto dure.<br />
(MORAES, Vinícius de. Antologia poética. São Paulo: Cia<br />
das Letras, 1992).<br />
A palavra mesmo pode assumir diferentes<br />
significados, de acordo com a sua função<br />
na frase. Assinale a alternativa em que o<br />
sentido de mesmo equivale ao que se<br />
verifica no 3º verso da 1ª estrofe do<br />
poema de Vinícius de Moraes.<br />
A) "Pai, para onde fores, / irei também<br />
trilhando as mesmas ruas..." (Augusto<br />
dos Anjos)<br />
B) "Agora, como outrora, há aqui o<br />
mesmo contraste da vida interior, que<br />
é modesta, com a exterior, que é<br />
ruidosa." (Machado de Assis)<br />
C) "Havia o mal, profundo e persistente,<br />
para o qual o remédio não surtiu efeito,<br />
mesmo em doses variáveis."<br />
(Raimundo Faoro)<br />
D) "Mas, olhe cá, Mana Glória, há<br />
mesmo necessidade de fazê-lo<br />
padre?" (Machado de Assis)<br />
E) "Vamos de qualquer maneira, mas<br />
vamos mesmo." (Aurélio)<br />
Comentário<br />
Nessa questão, uma pequena análise<br />
sintática se faz necessária: mesmo, em<br />
ambos os casos, é conjunção subordinativa<br />
concessiva, introduzindo, portanto, uma<br />
oração subordinada cujo fato expresso é<br />
contrário ao da oração principal. Deve-se,<br />
então, recorrer à oração anterior para se ter<br />
certeza quanto à classificação. Grau<br />
moderado de dificuldade.<br />
Comentário do INEP<br />
Este problema buscou colocar o<br />
participante diante de uma situação que<br />
exigia a mobilização de seus mecanismos de<br />
reflexão sobre os processos lingüísticos em<br />
que um significante (uma palavra) assume<br />
diferentes significados, no enunciado, de<br />
acordo com a intenção do enunciador. Neste<br />
caso, além da compreensão da<br />
transformação de significado, é necessária a<br />
alteração de função morfossintática.<br />
Verifica-se que 62% dos participantes<br />
conseguiram identificar e analisar esse<br />
processo lingüístico, comparando a função<br />
do significante em diferentes enunciados.<br />
Isso demonstrou um domínio parcial da<br />
reflexão sobre a Língua Portuguesa, em<br />
diferentes contextos e textos.<br />
Os 18% dos participantes que<br />
assinalaram a alternativa B identificaram a<br />
diferença de significados mas,<br />
provavelmente, têm dificuldades em analisar<br />
estas mudanças em nível morfossintático<br />
(alternativa B).<br />
03) ( 2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />
poema.<br />
A DANÇA E A ALMA<br />
A DANÇA? Não é movimento,<br />
súbito gesto musical.<br />
É concentração, num momento,<br />
da humana graça natural.<br />
No solo não, no éter pairamos,<br />
nele amaríamos ficar.<br />
A dança – não vento nos ramos:<br />
seiva, força, perene estar.<br />
Um estar entre céu e chão,<br />
novo domínio conquistado,<br />
onde busque nossa paixão<br />
libertar-se por todo lado...<br />
Onde a alma possa descrever<br />
suas mais divinas parábolas<br />
sem fugir à forma do ser,<br />
por sobre o mistério das fábulas.<br />
(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />
Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />
A definição de dança, em linguagem de<br />
dicionário, que mais se aproxima do que<br />
está expresso no poema é<br />
A) a mais antiga das artes, servindo como<br />
elemento de comunicação e afirmação<br />
do homem em todos os momentos de<br />
sua existência.<br />
B) a forma de expressão corporal que<br />
ultrapassa os limites físicos,<br />
possibilitando ao homem a liberação de<br />
seu espírito.<br />
C) a manifestação do ser humano,<br />
formada por uma seqüência de gestos,<br />
passos e movimentos desconcertados.<br />
D) o conjunto organizado de movimentos<br />
do corpo, com ritmo determinado por<br />
instrumentos musicais, ruídos, cantos,<br />
emoções etc.<br />
E) o movimento diretamente ligado ao<br />
psiquismo do indivíduo e, por<br />
conseqüência, ao seu desenvolvimento<br />
intelectual e à sua cultura.<br />
37
Comentário<br />
A pergunta busca a aplicação do conceito<br />
de "estado de dicionário" (que também foi<br />
desenvolvido por Drummond no poema "A<br />
Procura da Poesia"). A literatura busca partir<br />
de palavras em estado de dicionário para,<br />
pelo aprofundamento do sentido delas, criar<br />
um mundo mais denso e particular. Em<br />
estado de dicionário, a dança, conforme é<br />
tratada nesse poema, apareceria na<br />
alternativa B: uma justaposição entre<br />
aspectos físicos e espirituais da expressão<br />
humana. Questão complexa.<br />
Escorpião e do Cruzeiro do Sul, ou<br />
Cut'uxu. Segundo o mito guarani, o<br />
Cut’uxu segura a cabeça da ave para<br />
garantir a vida na Terra, porque, se ela se<br />
soltar, beberá toda a água do nosso<br />
planeta. Os tupisguaranis utilizam o<br />
Cut'uxu para se orientar e determinar a<br />
duração das noites e as estações do ano.<br />
A ilustração a seguir é uma representação<br />
dos corpos celestes que constituem a<br />
constelação da Ema, na percepção<br />
indígena.<br />
04) (2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />
poema.<br />
A DANÇA E A ALMA<br />
A DANÇA? Não é movimento,<br />
súbito gesto musical.<br />
É concentração, num momento,<br />
da humana graça natural.<br />
No solo não, no éter pairamos,<br />
nele amaríamos ficar.<br />
A dança – não vento nos ramos:<br />
seiva, força, perene estar.<br />
Um estar entre céu e chão,<br />
novo domínio conquistado,<br />
onde busque nossa paixão<br />
libertar-se por todo lado...<br />
Onde a alma possa descrever<br />
suas mais divinas parábolas<br />
sem fugir à forma do ser,<br />
por sobre o mistério das fábulas.<br />
(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />
Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />
O poema “A Dança e a Alma” é construído<br />
com base em contrastes, como<br />
“movimento” e “concentração”. Em uma<br />
das estrofes, o termo que estabelece<br />
contraste com solo é:<br />
A) éter. D) paixão.<br />
B) seiva. E) ser.<br />
C) chão.<br />
Comentário<br />
O elemento que contrasta com "solo"<br />
(físico, tangível, perene) é "éter" (espiritual,<br />
intangível, volátil). Questão de nível médio de<br />
dificuldade.<br />
05) ( 2008) O surgimento da figura da Ema<br />
no céu, ao leste, no anoitecer, na segunda<br />
quinzena de junho, indica o início do<br />
inverno para os índios do sul do Brasil e o<br />
começo da estação seca para os do norte.<br />
É limitada pelas constelações de<br />
Almanaque BRASIL, maio/2007 (com adaptações).<br />
A próxima figura mostra, em campo de<br />
visão ampliado, como povos de culturas<br />
não-indígenas percebem o espaço estelar<br />
em que a Ema é vista.<br />
Internet: (com adaptações).<br />
Assinale a opção correta a respeito da<br />
linguagem empregada no texto A Ema.<br />
A) A palavra Cut’uxu é um regionalismo<br />
utilizado pelas populações próximas às<br />
aldeias indígenas.<br />
B) O autor se expressa em linguagem<br />
formal em todos os períodos do texto.<br />
C) A ausência da palavra Ema no início do<br />
período “É limitada (...)” caracteriza<br />
registro oral.<br />
D) A palavra Cut’uxu está destacada em<br />
itálico porque integra o vocabulário da<br />
linguagem informal.<br />
E) No texto, predomina a linguagem<br />
coloquial porque ele consta de um<br />
almanaque.<br />
38
Comentário<br />
A questão é simples, mas requer cuidados<br />
quanto aos conceitos de linguagem<br />
“informal”, “formal” e de “língua”. Se o aluno<br />
tiver noção desses conceitos,<br />
chegará facilmente à resposta. A linguagem<br />
formal ou culta prevalece no texto, e o termo<br />
“Cut’uxu’ não é um termo informal, mas, sim,<br />
uma expressão que pertence a uma língua<br />
indígena — o que justifica o emprego da<br />
palavra em itálico. A resposta correta é,<br />
portanto, a letra "B".<br />
06) (2008) Calcula-se que 78% do<br />
desmatamento na Amazônia tenha sido<br />
motivado pela pecuária — cerca de 35%<br />
do rebanho nacional está na região — e<br />
que pelo menos 50 milhões de hectares<br />
de pastos são pouco produtivos. Enquanto<br />
o custo médio para aumentar a<br />
produtividade de 1 hectare de pastagem é<br />
de 2 mil reais, o custo para derrubar igual<br />
área de floresta é estimado em 800 reais,<br />
o que estimula novos desmatamentos.<br />
Adicionalmente, madeireiras retiram as<br />
árvores de valor comercial que foram<br />
abatidas para a criação de pastagens. Os<br />
pecuaristas sabem que problemas<br />
ambientais como esses podem provocar<br />
restrições à pecuária nessas áreas, a<br />
exemplo do que ocorreu em 2006 com o<br />
plantio da soja, o qual, posteriormente, foi<br />
proibido em áreas de floresta.<br />
Época, 3/3/2008 e 9/6/2008 (com adaptações).<br />
A partir da situação-problema descrita,<br />
conclui-se que<br />
A) o desmatamento na Amazônia decorre<br />
principalmente da exploração ilegal de<br />
árvores de valor comercial.<br />
B) um dos problemas que os pecuaristas<br />
vêm enfrentando na Amazônia é a<br />
proibição do plantio de soja.<br />
C) a mobilização de máquinas e de força<br />
humana torna o desmatamento mais<br />
caro que o aumento da produtividade<br />
de pastagens.<br />
D) o superavit comercial decorrente da<br />
exportação de carne produzida na<br />
Amazônia compensa a possível<br />
degradação ambiental.<br />
E) a recuperação de áreas desmatadas<br />
e o aumento de produtividade das<br />
pastagens podem contribuir para a<br />
redução do desmatamento na<br />
Amazônia.<br />
Comentário<br />
Essa questão retrata o problema do<br />
desmatamento da Amazônia, relacionado<br />
principalmente com o desenvolvimento da<br />
pecuária na região. Para resolvê-la, foram<br />
necessários a leitura atenta do texto e o<br />
conhecimento sobre os problemas<br />
ambientais da atualidade. A alternativa<br />
correta é a letra E, pois é mais caro para os<br />
pecuaristas aumentar a produtividade do que<br />
as áreas de pasto, o que acarreta o aumento<br />
do desmatamento da Amazônia.<br />
07) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />
preciso, além de conhecer o padrão<br />
formal da Língua Portuguesa, saber<br />
adequar o uso da linguagem ao contexto<br />
discursivo. Para exemplificar este fato,<br />
seu professor de Língua Portuguesa<br />
convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />
Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />
brinca com situações de discurso oral que<br />
fogem à expectativa do ouvinte.<br />
Aí, Galera<br />
Jogadores de futebol podem ser<br />
vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />
você pode imaginar um jogador de futebol<br />
dizendo "estereotipação"? E, no<br />
entanto, por que não?<br />
- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />
galera.<br />
- Minha saudação aos aficionados do<br />
clube e aos demais esportistas, aqui<br />
presentes ou no recesso dos seus lares.<br />
- Como é?<br />
- Aí, galera.<br />
- Quais são as instruções do técnico?<br />
- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />
trabalho de contenção coordenada, com<br />
energia otimizada, na zona de<br />
preparação, aumentam as<br />
probabilidades de, recuperado o<br />
esférico, concatenarmos um contragolpe<br />
agudo com parcimônia de meios e<br />
extrema objetividade, valendo-nos da<br />
desestruturação momentânea do<br />
sistema oposto, surpreendido pela<br />
reversão inesperada do fluxo da ação:<br />
- Ahn?<br />
- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />
pegá eles sem calça.<br />
- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />
coisa?<br />
- Posso dirigir uma mensagem de<br />
caráter sentimental, algo banal, talvez<br />
mesmo previsível e piegas, a uma<br />
pessoa à qual sou ligado por razões,<br />
inclusive, genéticas?<br />
39
40<br />
- Pode.<br />
- Uma saudação para a minha<br />
progenitora.<br />
- Como é?<br />
- Alô, mamãe!<br />
- Estou vendo que você é um, um...<br />
- Um jogador que confunde o<br />
entrevistador, pois não corresponde à<br />
expectativa de que o atleta seja um ser<br />
algo primitivo com dificuldade de<br />
expressão e assim sabota a<br />
estereotipação?<br />
- Estereoquê?<br />
- Um chato?<br />
- Isso.<br />
Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />
O texto retrata duas situações<br />
relacionadas que fogem à expectativa do<br />
público. São elas:<br />
A) a saudação do jogador aos fãs do<br />
clube, no início da entrevista, e a<br />
saudação final dirigida à sua mãe.<br />
B) a linguagem muito formal do jogador,<br />
inadequada à situação da entrevista, e<br />
um jogador que fala, com desenvoltura,<br />
de modo muito rebuscado.<br />
C) o uso da expressão "galera", por parte<br />
do entrevistador, e da expressão<br />
"progenitora", por parte do jogador.<br />
D) o desconhecimento, por parte do<br />
entrevistador, da palavra<br />
"estereotipação", e a fala do jogador<br />
em "é pra dividir no meio e ir pra cima<br />
pra pegá eles sem calça".<br />
E) o fato de os jogadores de futebol serem<br />
vítimas de estereotipação e o jogador<br />
entrevistado não corresponder ao<br />
estereótipo.<br />
Comentário<br />
Quando pensamos em certas profissões,<br />
imaginamos qual seria o padrão de<br />
comportamento de quem as exerce. O texto<br />
está trabalhando uma divergência entre o<br />
que esperamos de um jogador de futebol (o<br />
estereótipo que temos dele) e um jogador<br />
que não se enquadra em nossas<br />
expectativas. Levando isso em consideração,<br />
as duas coisas que destoam do que<br />
esperamos encontrar nessa situação são: 1)<br />
alguém, ao dar uma entrevista de alto<br />
alcance popular, fala de maneira<br />
extremamente rebuscada; 2) um jogador que,<br />
ao falar de maneira rebuscada, acaba por<br />
fugir do estereótipo do jogador de futebol, de<br />
quem sempre é esperado algo menos<br />
rebuscado e mais popular.<br />
08) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />
preciso, além de conhecer o padrão<br />
formal da Língua Portuguesa, saber<br />
adequar o uso da linguagem ao contexto<br />
discursivo. Para exemplificar este fato,<br />
seu professor de Língua Portuguesa<br />
convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />
Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />
brinca com situações de discurso oral que<br />
fogem à expectativa do ouvinte.<br />
Aí, Galera<br />
Jogadores de futebol podem ser<br />
vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />
você pode imaginar um jogador de futebol<br />
dizendo "estereotipação"? E, no<br />
entanto, por que não?<br />
- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />
galera.<br />
- Minha saudação aos aficionados do<br />
clube e aos demais esportistas, aqui<br />
presentes ou no recesso dos seus lares.<br />
- Como é?<br />
- Aí, galera.<br />
- Quais são as instruções do técnico?<br />
- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />
trabalho de contenção coordenada, com<br />
energia otimizada, na zona de<br />
preparação, aumentam as<br />
probabilidades de, recuperado o<br />
esférico, concatenarmos um contragolpe<br />
agudo com parcimônia de meios e<br />
extrema objetividade, valendo-nos da<br />
desestruturação momentânea do<br />
sistema oposto, surpreendido pela<br />
reversão inesperada do fluxo da ação:<br />
- Ahn?<br />
- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />
pegá eles sem calça.<br />
- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />
coisa?<br />
- Posso dirigir uma mensagem de<br />
caráter sentimental, algo banal, talvez<br />
mesmo previsível e piegas, a uma<br />
pessoa à qual sou ligado por razões,<br />
inclusive, genéticas?<br />
- Pode.<br />
- Uma saudação para a minha<br />
progenitora.<br />
- Como é?<br />
- Alô, mamãe!<br />
- Estou vendo que você é um, um...<br />
- Um jogador que confunde o<br />
entrevistador, pois não corresponde à<br />
expectativa de que o atleta seja um ser<br />
algo primitivo com dificuldade de<br />
expressão e assim sabota a<br />
estereotipação?<br />
- Estereoquê?
- Um chato?<br />
- Isso.<br />
Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />
O texto mostra uma situação em que a<br />
linguagem usada é inadequada ao<br />
contexto. Considerando as diferenças<br />
entre língua oral e língua escrita, assinale<br />
a opção que representa também uma<br />
inadequação da linguagem usada ao<br />
contexto:<br />
A) "o carro bateu e capotô, mas num deu<br />
pra vê direito" - um pedestre que<br />
assistiu ao acidente comenta com o<br />
outro que vai passando.<br />
B) "E aí, ô meu! Como vai essa força?" -<br />
um jovem que fala para um amigo.<br />
C) "Só um instante, por favor. Eu<br />
gostaria de fazer uma observação" -<br />
alguém comenta em uma reunião de<br />
trabalho.<br />
D) "Venho manifestar meu interesse em<br />
candidatar-me ao cargo de Secretária<br />
Executiva desta conceituada empresa"<br />
- alguém que escreve uma carta<br />
candidatando-se a um emprego.<br />
E) "Porque se a gente não resolve as<br />
coisas como têm que ser, a gente corre<br />
o risco de termos, num futuro próximo,<br />
muito pouca comida nos lares<br />
brasileiros" - um professor universitário<br />
em um congresso internacional.<br />
Comentário<br />
Essa questão está trabalhando com as<br />
nossas expectativas. Esperamos encontrar,<br />
nas diferentes situações, linguagens que<br />
correspondam à formalidade (ou à<br />
informalidade) delas. Na alternativa E, como<br />
o professor universitário está falando em um<br />
congresso internacional, espera-se que ele<br />
utilize uma linguagem mais formal e não uma<br />
linguagem coloquial como a que usou. Em<br />
todas as outras situações, a linguagem está<br />
de acordo com a situação em que está sendo<br />
empregada.<br />
09) (2007) Texto I<br />
Agora Fabiano conseguia arranjar as<br />
idéias. O que o segurava era a família.<br />
Vivia preso como um novilho amarrado ao<br />
mourão, suportando ferro quente. Se não<br />
fosse isso, um soldado amarelo não lhe<br />
pisava o pé não. (...) Tinha aqueles<br />
cambões pendurados ao pescoço.<br />
Deveria continuar a arrastá-los? Sinha<br />
Vitória dormia mal na cama de varas. Os<br />
meninos eram uns brutos, como o pai.<br />
Quando crescessem, guardariam as reses<br />
de um patrão invisível, seriam pisados,<br />
maltratados, machucados por um soldado<br />
amarelo.<br />
Graciliano Ramos. Vidas Secas. São Paulo:<br />
Martins, 23.ª ed., 1969, p. 75.<br />
Texto II<br />
Para Graciliano, o roceiro pobre é um<br />
outro, enigmático, impermeável. Não há<br />
solução fácil para uma tentativa de<br />
incorporação dessa figura no campo da<br />
ficção. É lidando com o impasse, ao invés<br />
de fáceis soluções, que Graciliano vai<br />
criar Vidas Secas, elaborando uma<br />
linguagem, uma estrutura romanesca,<br />
uma constituição de narrador em que<br />
narrador e criaturas se tocam, mas não se<br />
identificam. Em grande medida, o debate<br />
acontece porque, para a intelectualidade<br />
brasileira naquele momento, o pobre, a<br />
despeito de aparecer idealizado em certos<br />
aspectos, ainda é visto como um ser<br />
humano de segunda categoria, simples<br />
demais, incapaz de ter pensamentos<br />
demasiadamente complexos. O que Vidas<br />
Secas faz é, com pretenso não<br />
envolvimento da voz que controla a<br />
narrativa, dar conta de uma riqueza<br />
humana de que essas pessoas seriam<br />
plenamente capazes.<br />
Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes. In:<br />
Teresa. São Paulo: USP, n.° 2, 2001, p. 254.<br />
No texto II, verifica-se que o autor utiliza<br />
A) linguagem predominantemente<br />
formal, para problematizar, na<br />
composição de Vidas Secas, a relação<br />
entre o escritor e o personagem<br />
popular.<br />
B) linguagem inovadora, visto que, sem<br />
abandonar a linguagem formal, dirigese<br />
diretamente ao leitor.<br />
C) linguagem coloquial, para narrar<br />
coerentemente uma história que<br />
apresenta o roceiro pobre de forma<br />
pitoresca.<br />
D) linguagem formal com recursos<br />
retóricos próprios do texto literário em<br />
prosa, para analisar determinado<br />
momento da literatura brasileira.<br />
E) linguagem regionalista, para transmitir<br />
informações sobre literatura, valendose<br />
de coloquialismo, para facilitar o<br />
entendimento do texto.<br />
Comentário<br />
Questão de nível médio. Algumas<br />
alternativas poderiam levar o candidato a<br />
pensar que o texto de Vidas Secas utiliza<br />
41
uma linguagem predominantemente coloquial<br />
e regionalista. Entretanto, é na alternativa A<br />
que se encontra o real estilo da linguagem<br />
utilizada por Graciliano Ramos. A linguagem<br />
é, portanto, predominantemente formal e<br />
problematiza a relação do escritor com o<br />
personagem popular. Esta acaba sendo uma<br />
das grandes características do autor, pois ele<br />
buscava sempre dar uma grande densidade<br />
psicológica aos seus romances.<br />
<strong>10</strong>) (2006) Depois de um bom jantar: feijão<br />
com carne-seca, orelha de porco e couve<br />
com angu, arroz-mole engordurado, carne<br />
de vento assada no espeto, torresmo<br />
enxuto de toicinho da barriga, viradinho de<br />
milho verde e um prato de caldo de couve,<br />
jantar encerrado por um prato fundo de<br />
canjica com torrões de açúcar, Nhô Tomé<br />
saboreou o café forte e se estendeu na<br />
rede. A mão direita sob a cabeça, à guisa<br />
de travesseiro, o indefectível cigarro de<br />
palha entre as pontas do indicador e do<br />
polegar, envernizados pela fumaça, de<br />
unhas encanoadas e longas, ficou-se de<br />
pança para o ar, modorrento, a olhar para<br />
as ripas do telhado.<br />
Quem come e não deita, a comida não<br />
aproveita, pensava Nhô Tomé... E pôs-se<br />
a cochilar. A sua modorra durou pouco;<br />
Tia Policena, ao passar pela sala, bradou<br />
assombrada:<br />
— Êêh! Sinhô! Vai drumi agora? Não!<br />
Num presta... Dá pisadêra e póde morrê<br />
de ataque de cabeça! Despois do armoço<br />
num far-má... mais despois da janta?!”<br />
Cornélio Pires. Conversas ao pé do fogo. São Paulo:<br />
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1987.<br />
Nesse trecho, extraído de texto publicado<br />
originalmente em 1921, o narrador<br />
A) apresenta, sem explicitar juízos de<br />
valor, costumes da epoca, descrevendo<br />
os pratos servidos no jantar e a atitude<br />
de Nhô Tomé e de Tia Policena.<br />
B) desvaloriza a norma culta da língua<br />
porque incorpora à narrativa usos<br />
próprios da linguagem regional das<br />
personagens.<br />
C) condena os hábitos descritos, dando<br />
voz a Tia Policena, que tenta impedir<br />
Nhô Tomé de deitar-se após as<br />
refeições.<br />
D) utiliza a diversidade sociocultural e<br />
lingüística para demonstrar seu<br />
desrespeito às populações das zonas<br />
rurais do início do século XX.<br />
E) manifesta preconceito em relação a Tia<br />
Policena ao transcrever a fala dela com<br />
os erros próprios da região.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil, pois a alternativa<br />
"A" deixa clara a intencionalidade do<br />
narrador. Entretanto, o aluno poderia optar<br />
pela alternativa "B" caso não desse o devido<br />
valor ao sentido da palavra “desvaloriza”, que<br />
a elimina.<br />
11) (2006) Aula de português<br />
Explorando a função emotiva da<br />
linguagem, o poeta expressa o contraste<br />
entre marcas de variação de usos da<br />
linguagem em<br />
A) situações formais e informais.<br />
B) diferentes regiões do país.<br />
C) escolas literárias distintas.<br />
D) textos técnicos e poéticos.<br />
E) diferentes épocas.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil, pois o próprio título<br />
nos dá uma noção da dificuldade de<br />
transformar a linguagem coloquial e de uso<br />
cotidiano em uma linguagem formal,<br />
expressa no poema como “a misteriosa”.<br />
Drummond foi muito feliz em conseguir<br />
demonstrar a dificuldade em entender como<br />
estruturas simples da língua se tornam tão<br />
42
complexas ao se iniciar o processo de<br />
compreensão da estrutura lingüística.<br />
12) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />
preciso, além de conhecer o padrão<br />
formal da Língua Portuguesa, saber<br />
adequar o uso da linguagem ao contexto<br />
discursivo. Para exemplificar este fato,<br />
seu professor de Língua Portuguesa<br />
convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />
Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />
brinca com situações de discurso oral que<br />
fogem à expectativa do ouvinte.<br />
Aí, Galera<br />
Jogadores de futebol podem ser<br />
vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />
você pode imaginar um jogador de futebol<br />
dizendo "estereotipação"? E, no<br />
entanto, por que não?<br />
- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />
galera.<br />
- Minha saudação aos aficionados do<br />
clube e aos demais esportistas, aqui<br />
presentes ou no recesso dos seus lares.<br />
- Como é?<br />
- Aí, galera.<br />
- Quais são as instruções do técnico?<br />
- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />
trabalho de contenção coordenada, com<br />
energia otimizada, na zona de<br />
preparação, aumentam as<br />
probabilidades de, recuperado o<br />
esférico, concatenarmos um contragolpe<br />
agudo com parcimônia de meios e<br />
extrema objetividade, valendo-nos da<br />
desestruturação momentânea do<br />
sistema oposto, surpreendido pela<br />
reversão inesperada do fluxo da ação:<br />
- Ahn?<br />
- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />
pegá eles sem calça.<br />
- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />
coisa?<br />
- Posso dirigir uma mensagem de<br />
caráter sentimental, algo banal, talvez<br />
mesmo previsível e piegas, a uma<br />
pessoa à qual sou ligado por razões,<br />
inclusive, genéticas?<br />
- Pode.<br />
- Uma saudação para a minha<br />
progenitora.<br />
- Como é?<br />
- Alô, mamãe!<br />
- Estou vendo que você é um, um...<br />
- Um jogador que confunde o<br />
entrevistador, pois não corresponde à<br />
expectativa de que o atleta seja um ser<br />
algo primitivo com dificuldade de<br />
expressão e assim sabota a<br />
estereotipação?<br />
- Estereoquê?<br />
- Um chato?<br />
- Isso.<br />
Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />
A expressão "pegá eles sem calça"<br />
poderia ser substituída, sem<br />
comprometimento de sentido, em língua<br />
culta, formal, por:<br />
A) pegá-los na mentira.<br />
B) pegá-los desprevenidos.<br />
C) pegá-los em flagrante.<br />
D) pegá-los rapidamente.<br />
E) pegá-los momentaneamente<br />
Comentário<br />
O trabalho que temos aqui é de<br />
compreensão de sentido. Se você nunca<br />
ouviu a expressão "de calças na mão", terá<br />
de imaginar o que acontece quando<br />
pegamos alguém nessa situação. Mas isso<br />
não basta. Se usar somente situações que<br />
pode imaginar, restarão as alternativas B e<br />
C. Esse problema só será solucionado se<br />
você entender bem o texto a que ele se<br />
refere. Como o jogador está falando em<br />
roubar a bola e partir para cima do adversário<br />
rapidamente, imagina-se que o adversário<br />
não esperava perder a bola naquele<br />
momento e, quando isso ocorreu, ele não<br />
estava preparado para receber um contraataque.<br />
Utilizando essa análise, somente a<br />
alternativa B está correta.<br />
13) (2000) Em uma conversa ou leitura de<br />
um texto, corre-se o risco de atribuir um<br />
significado inadequado a um termo ou<br />
expressão, e isso pode levar a certos<br />
resultados inesperados, como se vê nos<br />
quadrinhos abaixo.<br />
(SOUZA, Maurício de. Chico Bento.<br />
Rio de Janeiro: Ed. Globo, n o 335, Nov./99 )<br />
Nessa historinha, o efeito humorístico<br />
origina-se de uma situação criada pela<br />
fala da Rosinha no primeiro quadrinho,<br />
que é:<br />
43
A) Faz uma pose bonita!<br />
B) Quer tirar um retrato?<br />
C) Sua barriga está aparecendo!<br />
D) Olha o passarinho!<br />
E) Cuidado com o flash!<br />
Comentário<br />
Quem não se lembra de expressões<br />
humorísticas usadas quando se deseja tirar<br />
uma foto, como "Olha o passarinho" ou "Fale<br />
xis"?<br />
Pois é, essa é uma questão fácil e a<br />
interpretação do texto é simples, e não há<br />
por que ter dúvidas quanto à resposta, a não<br />
ser que não se leia a proposta da questão.<br />
Comentário do INEP<br />
Essa questão procurou avaliar se o<br />
participante conseguia inferir, a partir de uma<br />
seqüência narrativa de imagens, a expressão<br />
lingüística adequada à situação de<br />
interlocução, no caso a fala da personagem,<br />
no primeiro quadrinho. A expressão de uso<br />
coloquial 'olha o passarinho!', dependendo do<br />
contexto, tem diferentes significados, que<br />
nesse caso foram associados pelo cartunista<br />
para produzir o efeito de humor. A grande<br />
maioria - 89% - dos participantes realizou a<br />
inferência solicitada, analisando a função da<br />
linguagem e identificando a variante<br />
lingüística adequada à situação de<br />
interlocução, com base na leitura da<br />
seqüência das imagens e da fala da<br />
personagem no terceiro quadrinho. É<br />
interessante notar a abrangência dessa<br />
expressão metafórica no Brasil, criada no<br />
contexto informal da fala com seus<br />
significados correspondentes. Mesmo assim,<br />
11% dos participantes, possivelmente,<br />
desconhecem essa expressão ou não<br />
conseguiram realizar a transposição do<br />
significado humorístico da fala do último<br />
quadrinho.<br />
14) (2005) Leia com atenção o texto:<br />
[Em Portugal], você poderá ter alguns<br />
probleminhas se entrar numa loja de<br />
roupas desconhecendo certas sutilezas da<br />
língua. Por exemplo, não adianta pedir<br />
para ver os ternos — peça para ver os<br />
fatos. Paletó é casaco. Meias são<br />
peúgas. Suéter é camisola — mas não<br />
se assuste, porque calcinhas femininas<br />
são cuecas. (Não é uma delícia?)<br />
(Ruy Castro. Viaje Bem. Ano VIII, no 3, 78.)<br />
O texto destaca a diferença entre o<br />
português do Brasil e o de Portugal<br />
quanto<br />
A) ao vocabulário.<br />
B) à derivação.<br />
C) à pronúncia.<br />
D) ao gênero.<br />
E) à sintaxe.<br />
Comentário<br />
Questão de entendimento muito fácil, pois<br />
o próprio enunciado deixa claro que se trata<br />
das diferenças de vocabulário entre o<br />
português brasileiro e o lusitano.<br />
15) (2006) Aula de português<br />
No poema, a referência à variedade<br />
padrão da língua está expressa no<br />
seguinte trecho:<br />
A) “A linguagem / na ponta da língua” (v.1<br />
e 2).<br />
B) “A linguagem / na superfície<br />
estrelada de letras” (v.5 e 6).<br />
C) “[a língua] em que pedia para ir lá<br />
fora” (v.14).<br />
D) “[a língua] em que levava e dava<br />
pontapé” (v.15).<br />
E) “[a língua] do namoro com a priminha”<br />
(v.17).<br />
44
Comentário<br />
Questão fácil, pois a alternativa "B" é a<br />
única que faz menção à norma-padrão da<br />
língua. As demais alternativas fogem a essa<br />
norma.<br />
16) (2005) Leia com atenção o texto:<br />
[Em Portugal], você poderá ter alguns<br />
probleminhas se entrar numa loja de<br />
roupas desconhecendo certas sutilezas da<br />
língua. Por exemplo, não adianta pedir<br />
para ver os ternos — peça para ver os<br />
fatos. Paletó é casaco. Meias são<br />
peúgas. Suéter é camisola — mas não<br />
se assuste, porque calcinhas femininas<br />
são cuecas. (Não é uma delícia?)<br />
(Ruy Castro. Viaje Bem. Ano VIII, no 3, 78.)<br />
O texto destaca a diferença entre o<br />
português do Brasil e o de Portugal<br />
quanto<br />
A) ao vocabulário.<br />
B) à derivação.<br />
C) à pronúncia.<br />
D) ao gênero.<br />
E) à sintaxe.<br />
Comentário<br />
Questão de entendimento muito fácil, pois<br />
o próprio enunciado deixa claro que se trata<br />
das diferenças de vocabulário entre o<br />
português brasileiro e o lusitano.<br />
17) (2008) A Lei Federal n.º 9.985/2000, que<br />
instituiu o sistema nacional de unidades<br />
de conservação, define dois tipos de<br />
áreas protegidas. O primeiro, as unidades<br />
de proteção integral, tem por objetivo<br />
preservar a natureza, admitindo-se<br />
apenas o uso indireto dos seus recursos<br />
naturais, isto é, aquele que não envolve<br />
consumo, coleta, dano ou destruição dos<br />
recursos naturais. O segundo, as<br />
unidades de uso sustentável, tem por<br />
função compatibilizar a conservação da<br />
natureza com o uso sustentável de<br />
parcela dos recursos naturais. Nesse<br />
caso, permite-se a exploração do<br />
ambiente de maneira a garantir a<br />
perenidade dos recursos ambientais<br />
renováveis e dos processos ecológicos,<br />
mantendo-se a biodiversidade e os<br />
demais atributos ecológicos, de forma<br />
socialmente justa e economicamente<br />
viável.<br />
Considerando essas informações, analise<br />
a seguinte situação hipotética.<br />
Ao discutir a aplicação de recursos<br />
disponíveis para o desenvolvimento de<br />
determinada região, organizações civis,<br />
universidade e governo resolveram<br />
investir na utilização de uma unidade de<br />
proteção integral, o Parque Nacional do<br />
Morro do Pindaré, e de uma unidade de<br />
uso sustentável, a Floresta Nacional do<br />
Sabiá. Depois das discussões, a equipe<br />
resolveu levar adiante três projetos:<br />
— o projeto I consiste de pesquisas<br />
científicas embasadas exclusivamente<br />
na observação de animais;<br />
— o projeto II inclui a construção de uma<br />
escola e de um centro de vivência;<br />
— o projeto III promove a organização de<br />
uma comunidade extrativista que<br />
poderá coletar e explorar<br />
comercialmente frutas e sementes<br />
nativas.<br />
Nessa situação hipotética, atendendo-se à<br />
lei mencionada acima, é possível<br />
desenvolver tanto na unidade de proteção<br />
integral quanto na de uso sustentável<br />
A) apenas o projeto I.<br />
B) apenas o projeto III.<br />
C) apenas os projetos I e II.<br />
D) apenas os projetos II e III.<br />
E) todos os três projetos.<br />
Comentário do portal<br />
A alternativa correta é a letra "A", pois,<br />
analisando-se a situação hipotética sugerida<br />
no enunciado, percebe-se que ela deverá<br />
atender os requisitos tanto da unidade de<br />
proteção integral quanto da unidade de uso<br />
sustentável. Portanto, apenas o projeto I<br />
poderá ser desenvolvido nessas duas<br />
propostas de unidades.<br />
18) (1999) Leia o texto abaixo.<br />
Cabelos longos, brinco na orelha<br />
esquerda, físico de skatista. Na aparência,<br />
o estudante brasiliense Rui Lopes Viana<br />
Filho, de 16 anos, não lembra em nada o<br />
estereótipo dos gênios. Ele não usa<br />
pesados óculos de grau e está longe de<br />
ter um ar introspectivo. No final do mês<br />
passado, Rui retornou de Taiwan, onde<br />
enfrentou 419 competidores de todo o<br />
mundo na 39ª Olimpíada Internacional de<br />
Matemática. A reluzente medalha de ouro<br />
que ele trouxe na bagagem está<br />
dependurada sobre a cama de seu quarto,<br />
atulhado de rascunhos dos problemas<br />
matemáticos que aprendeu a decifrar nos<br />
últimos cinco anos.<br />
45
46<br />
Veja – Vencer uma olimpíada serve de<br />
passaporte para uma carreira profissional<br />
meteórica?<br />
Rui – Nada disso. Decidi me dedicar à<br />
Olimpíada porque sei que a concorrência<br />
por um emprego é cada vez mais<br />
selvagem e cruel. Agora tenho algo a mais<br />
para oferecer. O problema é que as coisas<br />
estão mudando muito rápido e não sei<br />
qual será minha profissão. Além de ser<br />
muito novo para decidir sobre o meu<br />
futuro profissional, sei que esse conceito<br />
de carreira mudou muito.<br />
(Entrevista de Rui Lopes Viana Filho à Veja,<br />
05/08/1998, n.31, p. 9-<strong>10</strong>)<br />
Na pergunta, o repórter estabelece uma<br />
relação entre a entrada do estudante no<br />
mercado de trabalho e a vitória na<br />
Olimpíada. O estudante<br />
A) concorda com a relação e afirma que o<br />
desempenho na Olimpíada é<br />
fundamental para sua entrada no<br />
mercado.<br />
B) discorda da relação e complementa<br />
que é fácil se fazer previsões sobre o<br />
mercado de trabalho.<br />
C) discorda da relação e afirma que seu<br />
futuro profissional independe de<br />
dedicação aos estudos.<br />
D) discorda da relação e afirma que seu<br />
desempenho só é relevante se<br />
escolher uma profissão relacionada à<br />
matemática.<br />
E) concorda em parte com a relação e<br />
complementa que é complexo fazer<br />
previsões sobre o mercado de trabalho.<br />
Comentário<br />
Não é difícil de se chegar à resposta<br />
correta ao se ler a reportagem. Ao final do<br />
último parágrafo — (...) Além de ser muito<br />
novo para decidir sobre o meu futuro<br />
profissional, sei que esse conceito de carreira<br />
mudou muito. —, o estudante praticamente<br />
fornece a resposta à questão, declarando-se<br />
realista ao não tentar prever seu futuro<br />
profissional devido à pouca idade e às<br />
mudanças no mercado de trabalho. Quanto a<br />
concordar parcialmente com o repórter, veja<br />
que ele, apesar de negar que o prêmio fosse<br />
uma garantia de sucesso profissional, logo<br />
depois afirma que, com ele, terá algo mais a<br />
oferecer ao mercado. Questão de nível fácil.<br />
Comentário do INEP<br />
Nesta situação-problema, o participante<br />
deveria demonstrar que compreendeu as<br />
premissas de um discurso, distinguindo a<br />
diferença de significado de palavras isoladas<br />
ou no contexto em que estão inseridas.<br />
Verificou-se que mais da metade dos<br />
participantes demonstrou possuir essa<br />
compreensão. Aqueles que optaram pelas<br />
alternativas C e D podem ter sido atraídos<br />
pelo significado negativo da expressão inicial<br />
"Nada disso".<br />
19) (1998) Texto 1<br />
"Mulher, Irmã, escuta-me: não ames,<br />
Quando a teus pés um homem terno e<br />
curvo<br />
jurar amor, chorar pranto de sangue,<br />
Não creias, não, mulher: ele te engana!<br />
As lágrimas são gotas da mentira<br />
E o juramento manto da perfídia."<br />
(Joaquim Manoel de Macedo)<br />
Texto 2<br />
"Teresa, se algum sujeito bancar o<br />
sentimental em cima de você<br />
E te jurar uma paixão do tamanho de um<br />
bonde<br />
Se ele chorar<br />
Se ele ajoelhar<br />
Se ele se rasgar todo<br />
Não acredite não Teresa<br />
É lágrima de cinema<br />
É tapeação<br />
Mentira<br />
CAI FORA"<br />
(Manuel Bandeira)<br />
Os autores, ao fazerem alusão às<br />
imagens da lágrima sugerem que:<br />
A) há um tratamento idealizado da<br />
relação homem/mulher.<br />
B) há um tratamento realista da relação<br />
homem/mulher.<br />
C) a relação familiar é idealizada.<br />
D) a mulher é superior ao homem.<br />
E) a mulher é igual ao homem.<br />
Comentário<br />
Ambos os autores, ao utilizarem a<br />
imagem da lágrima, estão na realidade<br />
mostrando que a figura do homem que é<br />
romântico a ponto de chorar ao jurar amor<br />
não existe. Tanto Macedo quanto<br />
Bandeira alertam as mulheres dizendo,<br />
com palavras e estilos diferentes, que não<br />
há homem que chore por amor (portanto,<br />
essa figura é uma idealização — e, por<br />
conseguinte, toda imagem que se tem<br />
sobre os relacionamentos<br />
demasiadamente românticos). Note que<br />
Bandeira chega até mesmo a chamar tal<br />
"chorão" de ator ("...É lágrima de cinema /
É tapeação..."). Macedo dá uma imagem<br />
pesada às lágrimas ("...são gotas da<br />
mentira...").<br />
20) (1999)<br />
(QUINO. Mafalda inédita. São Paulo: Martins Fontes, 1993)<br />
Observando as falas das personagens,<br />
analise o emprego do pronome SE e o<br />
sentido que adquire no contexto. No<br />
contexto da narrativa, é correto afirmar<br />
que o pronome SE:<br />
A) em I, indica reflexividade e equivale a<br />
"a si mesmas".<br />
B) em II, indica reciprocidade e equivale a<br />
"a si mesma".<br />
C) em III, indica reciprocidade e equivale<br />
a "umas às outras".<br />
D) em I e III, indica reciprocidade e<br />
equivale a "umas às outras".<br />
E) em II e III, indica reflexividade e<br />
equivale a "a si mesma " e "a si<br />
mesmas", respectivamente.<br />
Comentário<br />
Mais uma questão que fala por si própria.<br />
Lendo o segundo quadrinho — "Quer dizer<br />
que você também se ama muito mais no<br />
Natal?" —, é fácil de se identificar o pronome<br />
reflexivo. Basta que se troque se ama por<br />
ama a si mesma. O mesmo ocorre no<br />
terceiro quadrinho em "Por que será que as<br />
pessoas se amam muito mais no Natal?" —<br />
Por que será que as pessoas amam a si<br />
mesmas? Questão de grau fácil.<br />
Comentário do INEP<br />
Este problema requeria que o participante<br />
mobilizasse conhecimentos sobre os<br />
significados de "reciprocidade e<br />
"reflexividade" e o associasse à<br />
compreensão de linguagem iconográfica.<br />
Cerca de metade dos participantes<br />
demonstrou essa capacidade. A opção de<br />
30% dos participantes pela alternativa D<br />
pode indicar que eles utilizaram as imagens<br />
apenas como ilustração do texto e não como<br />
linguagem capaz de instituir novos<br />
significados.<br />
21) (2001) Os provérbios constituem um<br />
produto da sabedoria popular e, em geral,<br />
pretendem transmitir um ensinamento. A<br />
alternativa em que os dois provérbios<br />
remetem a ensinamentos semelhantes é:<br />
A) “Quem diz o que quer, ouve o que não<br />
quer” e “Quem ama o feio, bonito lhe<br />
parece”.<br />
B) “Devagar se vai ao longe” e “De grão<br />
em grão, a galinha enche o papo”.<br />
C) “Mais vale um pássaro na mão do que<br />
dois voando” e “Não se deve atirar<br />
pérolas aos porcos”.<br />
D) “Quem casa quer casa” e “Santo de<br />
casa não faz milagre”.<br />
E) “Quem com ferro fere, com ferro será<br />
ferido” e “Casa de ferreiro, espeto de<br />
pau”.<br />
Comentário<br />
Questão fácil. A alternativa B apresenta<br />
dois provérbios que tratam de paciência,<br />
perseverança. A mensagem é a mesma em<br />
ambos.<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão propõe uma série de<br />
provérbios agrupados aos pares, para que o<br />
participante demonstre compreender e<br />
comparar os provérbios de modo a identificar<br />
aqueles que traduzem ensinamentos<br />
semelhantes. A organização sintáticosemântica<br />
dos provérbios cria um efeito de<br />
sentido metafórico que deve ser recuperado,<br />
analisado e comparado, o que foi<br />
corretamente feito por cerca de 80% dos<br />
participantes.<br />
22) (2006) No romance Vidas Secas, de<br />
Graciliano Ramos, o vaqueiro Fabiano<br />
encontra-se com o patrão para receber o<br />
salário. Eis parte da cena:<br />
Graciliano Ramos. Vidas Secas. 91.ª ed.<br />
Rio de Janeiro: Record, 2003.<br />
No fragmento transcrito, o padrão formal<br />
da linguagem convive com marcas de<br />
regionalismo e de coloquialismo no<br />
47
vocabulário. Pertence à variedade do<br />
padrão formal da linguagem o seguinte<br />
trecho:<br />
A) Não se conformou: devia haver<br />
engano (l.1).<br />
B) Fabiano perdeu os estribos (l.3).<br />
C) Passar a vida inteira assim no toco<br />
(l.4).<br />
D) Entregando o que era dele de mao<br />
beijada! (l.4-5).<br />
E) Aí Fabiano baixou a pancada e<br />
amunhecou (l.11).<br />
Comentário do portal<br />
Questão de nível fácil. Bastaria que o<br />
candidato conhecesse o padrão formal da<br />
linguagem e distinguisse-o do regionalismo e<br />
do coloquialismo.<br />
23) (2005) As dimensões continentais do<br />
Brasil são objeto de reflexões expressas<br />
em diferentes linguagens. Esse tema<br />
aparece no seguinte poema:<br />
“(....)<br />
Que importa que uns falem mole<br />
descansado<br />
Que os cariocas arranhem os erres na<br />
garganta<br />
Que os capixabas e paroaras escancarem<br />
as vogais?<br />
Que tem se o quinhentos réis meridional<br />
Vira cinco tostões do Rio pro Norte?<br />
Junto formamos este assombro de<br />
misérias e grandezas,<br />
Brasil, nome de vegetal! (....)”<br />
(Mário de Andrade. Poesias completas. 6. ed. São Paulo:<br />
Martins Editora, 1980.)<br />
O texto poético ora reproduzido trata das<br />
diferenças brasileiras no âmbito<br />
A) étnico e religioso.<br />
B) lingüístico e econômico.<br />
C) racial e folclórico.<br />
D) histórico e geográfico.<br />
E) literário e popular.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil, pois a primeira<br />
estrofe, ao enunciar os erres arranhados dos<br />
cariocas e as vogais abertas dos capixabas,<br />
evidencia a diferença lingüística entre duas<br />
regiões distintas do Brasil, dando noção da<br />
variedade. Já na segunda estrofe, as<br />
diferenças econômicas são evidenciadas ao<br />
se mostrarem os réis e tostões variando da<br />
Região Meridional para a Norte.<br />
24) (202) "Narizinho correu os olhos pela<br />
assistência. Não podia haver nada mais<br />
curioso. Besourinhos de fraque e flores na<br />
lapela conversavam com baratinhas de<br />
mantilha e miosótis nos cabelos. Abelhas<br />
douradas, verdes e azuis, falavam mal<br />
das vespas de cintura fina — achando que<br />
era exagero usarem coletes tão<br />
apertados. Sardinhas aos centos<br />
criticavam os cuidados excessivos que as<br />
borboletas de toucados de gaze tinham<br />
com o pó das suas asas. Mamangavas de<br />
ferrões amarrados para não morderem. E<br />
canários cantando, e beija-flores beijando<br />
flores, e camarões camaronando, e<br />
caranguejos caranguejando, tudo que é<br />
pequenino e não morde, pequeninando e<br />
não mordendo."<br />
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. São Paulo:<br />
Brasiliense, 1947.<br />
No último período do trecho, há uma série<br />
de verbos no gerúndio que contribuem<br />
para caracterizar o ambiente fantástico<br />
descrito. Expressões como<br />
"camaronando", "caranguejando" e<br />
"pequeninando e não mordendo" criam,<br />
principalmente, efeitos de<br />
A) esvaziamento de sentido.<br />
B) monotonia do ambiente.<br />
C) estaticidade dos animais.<br />
D) interrupção dos movimentos.<br />
E) dinamicidade do cenário.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. O dinamismo dos<br />
verbos no gerúndio tem como função<br />
principal dar vida às personagens do mundo<br />
fantástico. Não há estagnação. Cada animal<br />
faz o que lhe cabe.<br />
Comentário do INEP<br />
Essa questão apresenta para leitura e<br />
análise um trecho da obra Reinações de<br />
Narizinho, de Monteiro Lobato, e, nele, a<br />
descrição reflete as fantasias do mundo<br />
infantil. A questão propõe que seja resolvido<br />
um problema de linguagem, que é a<br />
identificação dos sentidos criados no texto<br />
pelo emprego de vários verbos no gerúndio,<br />
alguns dos quais, neologismos criados pelo<br />
autor. Como o texto é uma descrição, temos<br />
o relato de um ambiente que se agita com as<br />
ações simultâneas dos muitos seres que o<br />
habitam. Cabe ao participante perceber que<br />
o efeito dinâmico é criado pelos verbos de<br />
ação no gerúndio, que é a forma verbal da<br />
ação se fazendo. Ou seja, é função típica do<br />
gerúndio traduzir a noção de uma ação que<br />
48
se desenvolve de modo simultâneo à sua<br />
enunciação. Nesse ambiente retratado por<br />
Monteiro Lobato, os bichinhos humanizados<br />
se agitam, lembrando um burburinho de<br />
crianças. Apenas a alternativa E, assinalada<br />
por 36% dos participantes, responde<br />
corretamente a questão. As outras<br />
alternativas contemplam efeitos ou<br />
significados que, apesar de eventualmente<br />
serem transmitidos pelo emprego do<br />
gerúndio, não se verificam no texto.<br />
25) (1999) Considere os textos abaixo.<br />
(...) de modo particular, quero encorajar os<br />
crentes empenhados no campo da<br />
filosofia para que iluminem os diversos<br />
âmbitos da atividade humana, graças ao<br />
exercício de uma razão que se torna mais<br />
segura e perspicaz com o apoio que<br />
recebe da fé.<br />
(Papa João Paulo II. Carta Encíclica Fides<br />
et Ratio aos bispos da igreja católica sobre as relações<br />
entre fé e razão, 1998)<br />
As verdades da razão natural não<br />
contradizem as verdades da fé cristã.<br />
(São Tomás de Aquino<br />
–pensador medieval)<br />
Refletindo sobre os textos, pode-se<br />
concluir que:<br />
A) a encíclica papal está em contradição<br />
com o pensamento de São Tomás de<br />
Aquino, refletindo a diferença de<br />
épocas.<br />
B) a encíclica papal procura<br />
complementar São Tomás de Aquino,<br />
pois este colocava a razão natural<br />
acima da fé.<br />
C) a Igreja medieval valorizava a razão<br />
mais do que a encíclica de João Paulo<br />
II.<br />
D) o pensamento teológico teve sua<br />
importância na Idade Média, mas, em<br />
nossos dias, não tem relação com o<br />
pensamento filosófico.<br />
E) tanto a encíclica papal como a frase<br />
de São Tomás de Aquino procuram<br />
conciliar os pensamentos sobre fé e<br />
razão.<br />
Comentário<br />
Nessa questão, é necessária uma<br />
releitura do texto para que se tenha uma<br />
melhor compreensão do tema. Tanto a<br />
citação do Papa quanto a de São Tomás de<br />
Aquino tentam criar uma interdependência<br />
entre a ciência e a fé, a religião. O Papa<br />
incentiva aqueles que exercem a pesquisa<br />
científica ou filosófica a manter a fé cristã.<br />
São Tomás de Aquino, por sua vez, equipara<br />
o avanço da ciência ao aumento da própria<br />
fé, afirmando que a razão natural não<br />
contradiz a fé cristã. Se um cresce, cresce<br />
também o outro, em harmonia e sem<br />
contradições. Questão de grau médio.<br />
(Português)<br />
Nessa questão, encontramos dois textos:<br />
o primeiro, do século XX, foi elaborado pelo<br />
Papa João Paulo II; o segundo, do século<br />
XIII, pelo teólogo e filósofo cristão São<br />
Tomás de Aquino. O conteúdo de ambos se<br />
refere à ligação entre fé e razão, a qual<br />
esteve presente na filosofia escolástica da<br />
Idade Média. Esse campo de reflexão buscou<br />
conciliar o cristianismo com o pensamento de<br />
Aristóteles e teve em São Tomás de Aquino<br />
seu maior representante.<br />
Mesmo sem ter todas essas informações,<br />
você poderia responder tranqüilamente à<br />
questão por meio de uma leitura atenta dos<br />
dois textos, chegando à conclusão de que<br />
"tanto a encíclica papal como a frase de São<br />
Tomás de Aquino procuram conciliar os<br />
pensamentos sobre fé e razão". Resposta<br />
correta: alternativa E. (História)<br />
Comentário do INEP<br />
Para resolver esta situação-problema, o<br />
participante deveria mostrar que, além de<br />
interpretar textos, sabe relacioná-los sendo<br />
que, nesse item, essas operações referem-se<br />
a um texto escrito na época medieval e a<br />
outro escrito recentemente.<br />
Mais de 70% dos participantes<br />
demonstraram facilidade em estabelecer esta<br />
relação.<br />
26) (2008) Assinale a opção que apresenta<br />
um verso do soneto de Cláudio Manoel da<br />
Costa em que o poeta se dirige ao seu<br />
interlocutor.<br />
A) “Torno a ver-vos, ó montes; o<br />
destino” (v.1)<br />
B) “Aqui estou entre Almendro, entre<br />
Corino,” (v.5)<br />
C) “Os meus fiéis, meus doces<br />
companheiros,” (v.6)<br />
D) “Vendo correr os míseros vaqueiros”<br />
(v.7)<br />
E) “Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto,”<br />
(v.11)<br />
Comentário<br />
Nesta questão, basta que o aluno<br />
identifique o pronome oblíquo, presente no<br />
verso um, que chama o leitor para o texto.<br />
Sendo assim, a resposta correta é a letra "A".<br />
49
27) (2008)<br />
Dick Browne. O melhor de Hagar, o horrível, v. 2. L&PM<br />
pocket, p.55-6 (com adaptações).<br />
Assinale o trecho do diálogo que<br />
apresenta um registro informal, ou<br />
coloquial, da linguagem.<br />
A) “Tá legal, espertinho! Onde é que<br />
você esteve?!”<br />
B) “E lembre-se: se você disser uma<br />
mentira, os seus chifres cairão!”<br />
C) “Estou atrasado porque ajudei uma<br />
velhinha a atravessar a rua...”<br />
D) “...e ela me deu um anel mágico que<br />
me levou a um tesouro”<br />
E) “mas bandidos o roubaram e os<br />
persegui até a Etiópia, onde um<br />
dragão...”<br />
Comentário<br />
Linguagem coloquial é aquela usada no<br />
cotidiano, que tem como característica<br />
principal a oralidade, ou seja, aquela que não<br />
segue o rigor da norma culta.<br />
Entre as alternativas da questão, apenas<br />
a letra "A" apresenta esses traços.<br />
28) (1999) Leia um texto publicado no jornal<br />
Gazeta Mercantil. Esse texto é parte de<br />
um artigo que analisa algumas situações<br />
de crise no mundo, entre elas, a quebra<br />
da Bolsa de Nova Iorque em 1929, e foi<br />
publicado na época de uma iminente crise<br />
financeira no Brasil.<br />
Deu no que deu. No dia 29 de outubro de<br />
1929, uma terça-feira, praticamente não<br />
havia compradores no pregão de Nova<br />
Iorque, só vendedores. Seguiu-se uma<br />
crise incomparável: o Produto Interno<br />
Bruto dos Estados Unidos caiu de <strong>10</strong>4<br />
bilhões de dólares em 1929, para 56<br />
bilhões em 1933, coisa inimaginável em<br />
nossos dias. O valor do dólar caiu a quase<br />
metade. O desemprego elevou-se de 1,5<br />
milhão para 12,5 milhões de trabalhadores<br />
– cerca de 25% da população ativa –<br />
entre 1929 e 1933. A construção civil caiu<br />
90%. Nove milhões de aplicações, tipo<br />
caderneta de poupança, perderam-se com<br />
o fechamento dos bancos. Oitenta e cinco<br />
mil firmas faliram. Houve saques e norteamericanos<br />
que passaram fome.<br />
(Gazeta Mercantil, 05/01/1999)<br />
Ao citar dados referentes à crise ocorrida<br />
em 1929, em um artigo jornalístico atual,<br />
pode-se atribuir ao jornalista a seguinte<br />
intenção:<br />
A) questionar a interpretação da crise.<br />
B) comunicar sobre o desemprego.<br />
C) instruir o leitor sobre aplicações em<br />
bolsa de valores.<br />
D) relacionar os fatos passados e<br />
presentes.<br />
E) analisar dados financeiros americanos.<br />
Comentário<br />
Nessa questão, o que se tem de fazer é<br />
prestar atenção às alternativas das<br />
respostas. Nenhuma delas se apresenta tão<br />
bem contextualizada a uma possível<br />
interpretação quanto a letra D. Partindo-se da<br />
análise do texto, fica claro que a intenção do<br />
artigo é remeter o leitor ao passado para<br />
tentar conduzi-lo a uma reflexão sobre uma<br />
situação presente, não mencionada na<br />
questão. Após a leitura e utilizando-se a já<br />
citada eliminação de questões, torna-se clara<br />
a resposta. Questão de nível médio.<br />
(Português)<br />
Muitas vezes, quando procuramos<br />
entender uma crise econômica ou financeira<br />
de grandes proporções, buscamos<br />
estabelecer relações com crises passadas. O<br />
mesmo ocorre no jornalismo, como prova o<br />
texto encontrado nessa questão. Buscando<br />
entender uma crise ocorrida no início de<br />
1999, o jornalista da Gazeta Mercantil<br />
buscou relacionar a situação dessa época<br />
com a grande crise de 1929 que afetou o<br />
mundo, trazendo desemprego e recessão,<br />
entre tantos outros problemas econômicos e<br />
sociais.<br />
Para responder a essa questão, era<br />
necessário ler atentamente o enunciado, em<br />
que está destacado que "o texto é parte de<br />
um artigo que analisa algumas situações de<br />
crise no mundo" e "foi publicado na época de<br />
uma iminente crise financeira no Brasil". Era<br />
importante também observar a data em que o<br />
artigo foi publicado: 05/01/1999. A partir<br />
dessas constatações, facilmente você<br />
50
chegaria a conclusão de que a intenção do<br />
jornalista era "relacionar os fatos passados e<br />
presentes". Resposta correta: alternativa D.<br />
(História)<br />
Comentário do INEP<br />
A resolução da questão demandava a<br />
capacidade dos participantes de relacionar<br />
eventos históricos envolvendo crises<br />
econômicas ocorridas em épocas e lugares<br />
distintos. Aproximadamente 2/3 deles<br />
demonstraram essa capacidade. Os demais,<br />
provavelmente, não compreenderam a<br />
exigência expressa no enunciado do<br />
problema – apontar as razões pelas quais um<br />
jornalista traz à tona eventos ocorridos<br />
setenta anos antes –, e apenas interpretaram<br />
o sentido do texto citado, que descreve a<br />
crise mundial de 1929.<br />
29) (2000) “Precisa-se nacionais sem<br />
nacionalismo, (...) movidos pelo presente<br />
mas estalando naquele cio racial que só<br />
as tradições maduram! (...). Precisa-se<br />
gentes com bastante meiguice no<br />
sentimento, bastante força na peitaria,<br />
bastante paciência no entusiasmo e<br />
sobretudo, oh! sobretudo bastante<br />
vergonha na cara!<br />
(...) Enfim: precisa-se brasileiros! Assim<br />
está escrito no anúncio vistoso de cores<br />
desesperadas pintado sobre o corpo do<br />
nosso Brasil, camaradas.”<br />
(Jornal A Noite, São Paulo, 18/12/1925 apud LOPES, Telê<br />
Porto Ancona. Mário<br />
de Andrade: ramais e caminhos. São Paulo: Duas<br />
Cidades, 1972)<br />
No trecho acima, Mário de Andrade dá<br />
forma a um dos itens do ideário<br />
modernista, que é o de firmar a feição de<br />
uma língua mais autêntica, “brasileira”, ao<br />
expressar-se numa variante de linguagem<br />
popular identificada pela (o):<br />
A) escolha de palavras como cio, peitaria,<br />
vergonha.<br />
B) emprego da pontuação.<br />
C) repetição do adjetivo bastante.<br />
D) concordância empregada em Assim<br />
está escrito.<br />
E) escolha de construção do tipo<br />
precisa-se gentes.<br />
Comentário<br />
Apesar de essa questão misturar vários<br />
tipos de informação, se você se lembra um<br />
pouquinho dos usos da partícula se, com<br />
certeza não encontrará grande dificuldade.<br />
Segundo a regra gramatical, o verbo<br />
"precisa-se" deveria ir para o plural<br />
(precisam-se), mas essa noção de verbo<br />
concordante com o sujeito há muito<br />
desapareceu na variante popular brasileira.<br />
Mas, caso você não se lembre muito bem<br />
desse assunto ou ficou meio confuso com o<br />
texto e as outras alternativas, o caminho é<br />
responder por eliminação.<br />
A primeira alternativa apresenta palavras<br />
comuns no português brasileiro, mas<br />
nenhuma "invenção" nacional. Na dúvida,<br />
pense em "vergonha": não é uma invenção<br />
brasileira. Todos os que falam português no<br />
mundo conhecem bem essa palavra. A<br />
pontuação no texto não chama nenhuma<br />
atenção. Você provavelmente não viu nada<br />
de estranho nela. Da mesma forma, o<br />
"bastante" da terceira alternativa não é nada<br />
mais que um mecanismo de retórica, usado<br />
para dar ênfase à idéia. Com o "Assim está<br />
escrito", encontramos a mesma situação: um<br />
trecho litúrgico é usado para maior ênfase.<br />
Comentário do INEP<br />
A questão procurou avaliar se o<br />
participante era capaz de, a partir da leitura<br />
de um texto de Mário de Andrade , identificar<br />
e analisar uma variante lingüística de uso<br />
coloquial, utilizadas estilisticamente pelo<br />
autor. O uso estilístico das variantes marcou<br />
a primeira fase da literatura brasileira<br />
modernista. O trecho destaca em seu todo<br />
esse uso da linguagem popular. A escolha da<br />
construção 'precisa-se gentes' é marca desse<br />
uso estilístico. O índice de 37% na alternativa<br />
(A) demonstra, possivelmente, que os<br />
participantes não consideraram a escolha<br />
dos vocábulos, dentro do contexto do texto,<br />
confundindo as palavras que aparecem na<br />
alternativa com '...a feição de uma língua<br />
mais autêntica...'.O percentual de acertos foi<br />
da ordem de 40%.<br />
30) (2004) O poema abaixo pertence à<br />
poesia concreta brasileira. O termo latino<br />
de seu título significa "epitalâmio", poema<br />
ou canto em homenagem aos que se<br />
casam.<br />
51
Considerando que símbolos e sinais são<br />
utilizados geralmente para demonstrações<br />
objetivas, ao serem incorporados no<br />
poema "Epithalamium - II".<br />
A) adquirem novo potencial de<br />
significação.<br />
B) eliminam a subjetividade do poema.<br />
C) opõem-se ao tema principal do poema.<br />
D) invertem seu sentido original.<br />
E) tornam-se confusos e equivocados.<br />
Comentário<br />
Diferentemente, por exemplo, da<br />
aplicação matemática dos símbolos, em que<br />
sinais como "=", "+", "-", "x", etc. servem<br />
como convenções internacionais de<br />
significação objetiva e invariável, em um<br />
poema como "Epithalamium – II" foram<br />
usados símbolos que não são convenções<br />
internacionais, mas, sim, convencionados<br />
apenas para esse texto. No caso, letras do<br />
alfabeto deixam de ser representações de<br />
sons (fonemas) para ganharem nova<br />
significação, principalmente pela construção<br />
visual do poema: unem homem (h) e mulher<br />
(e) pela ação da serpente (s) — libido,<br />
atração — em uma entidade única.<br />
Uma das tendências poéticas da segunda<br />
metade do século XX, resultado de um<br />
diálogo com estéticas já presentes no final do<br />
século XIX, trabalha com a construção de<br />
seu próprio referente, fazendo do poema um<br />
objeto autônomo.<br />
A)<br />
B)<br />
C)<br />
31) (2002) O autor da tira utilizou os<br />
princípios de composição de um<br />
conhecido movimento artístico para<br />
representar a necessidade de um mesmo<br />
observador aprender a considerar,<br />
simultaneamente, diferentes pontos de<br />
vista.<br />
D)<br />
E)<br />
Das obras reproduzidas, todas de autoria<br />
do pintor espanhol Pablo Picasso, aquela<br />
em cuja composição foi adotado um<br />
procedimento semelhante é:<br />
52
Comentário<br />
Questão de nível fácil. O movimento<br />
artístico que previa considerar<br />
simultaneamente diversos pontos de vista<br />
era o Cubismo. Havia a desconstrução da<br />
forma para que se pudesse ver todos os<br />
ângulos concomitantemente. O único quadro<br />
que apresenta essas características é o da<br />
alternativa E. As outras quatro alternativas<br />
pressupõem a manutenção da forma.<br />
Comentário do INEP<br />
O objetivo desta questão é levar o<br />
participante a refletir sobre características<br />
fundamentais de um movimento artístico – o<br />
cubismo – a partir de dados visuais:<br />
quadrinhos e pinturas. A reprodução de dois<br />
quadrinhos da personagem Calvin forneceu<br />
para o participante informações básicas para<br />
a análise que deveria fazer das alternativas<br />
apresentadas. Segundo os quadrinhos, o<br />
movimento artístico abordado pela questão<br />
tinha como procedimento de composição<br />
representar, para um mesmo observador,<br />
diferentes pontos de vista, fazendo com que<br />
"o tradicional único ponto de vista" fosse<br />
abandonado e com que a perspectiva fosse<br />
fraturada. A análise das obras de Picasso<br />
reproduzidas nas alternativas permite que o<br />
participante reconheça a adoção desse<br />
procedimento no quadro "Marie-Thérèse<br />
apoiada no cotovelo" (alternativa E, com 46%<br />
de registros), no qual se pode reconhecer a<br />
representação de diferentes pontos de vista<br />
a partir dos quais é apresentado o rosto da<br />
mulher retratada.<br />
B) "... a casa que ele fazia<br />
Sendo a sua liberdade<br />
Era a sua escravidão."<br />
C) "Naquela casa vazia<br />
Que ele mesmo levantara<br />
Um mundo novo nascia<br />
De que sequer suspeitava."<br />
D) "... o operário faz a coisa<br />
E a coisa faz o operário."<br />
E) "Ele, um humilde operário<br />
Um operário que sabia<br />
Exercer a profissão."<br />
MORAES, Vinícius de. Antologia Poética. São Paulo:<br />
Companhia das Letras, 1992.<br />
Comentário<br />
Idéias que se completam e se excluem<br />
mutuamente são encontradas na alternativa<br />
B: a casa que ele construía era, ao mesmo<br />
tempo, sua liberdade e sua escravidão.<br />
A casa é um símbolo de liberdade para o<br />
homem. Para o homem operário, é também<br />
símbolo de escravidão, pois ele está<br />
"condenado" a jamais usufruir do resultado<br />
do seu trabalho (a casa que faz não é para<br />
ele).<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão propõe ao participante que<br />
estabeleça uma relação entre linguagens,<br />
associando a compreensão de um efeito<br />
semântico produzido pelo uso do oxímoro<br />
nos quadrinhos com o mesmo efeito num<br />
texto poético. O índice (18%) de escolhas da<br />
alternativa D deve-se, possivelmente, a uma<br />
análise parcial da noção de paradoxo,<br />
confundida com inversão.<br />
32) (2001) Oxímoro (ou paradoxo) é uma<br />
construção textual que agrupa significados<br />
que se excluem mutuamente. Para<br />
Garfield, a frase de saudação de Jon<br />
(tirinha abaixo) expressa o maior de todos<br />
os oxímoros.<br />
33) (2005) Cândido Portinari (1903-1962), um<br />
dos mais importantes artistas brasileiros<br />
do século XX, tratou de diferentes<br />
aspectos da nossa realidade em seus<br />
quadros.<br />
Folha de S. Paulo. 31 de julho de 2000.<br />
Nas alternativas abaixo, estão transcritos<br />
versos retirados do poema “O operário em<br />
construção”. Pode-se afirmar que ocorre<br />
um oxímoro em<br />
A) "Era ele que erguia casas<br />
Onde antes só havia chão."<br />
53
Sobre a temática dos “Retirantes”,<br />
Portinari também escreveu o seguinte<br />
poema:<br />
(....)<br />
Os retirantes vêm vindo com trouxas e<br />
embrulhos<br />
Vêm das terras secas e escuras;<br />
pedregulhos<br />
Doloridos como fagulhas de carvão aceso<br />
Corpos disformes, uns panos sujos,<br />
Rasgados e sem cor, dependurados<br />
Homens de enorme ventre bojudo<br />
Mulheres com trouxas caídas para o lado<br />
Pançudas, carregando ao colo um garoto<br />
Choramingando, remelento<br />
(....)<br />
(Cândido Portinari. Poemas. Rio de Janeiro:<br />
J. Olympio, 1964.)<br />
Das quatro obras reproduzidas, assinale<br />
aquelas que abordam a problemática que<br />
é tema do poema.<br />
A) 1 e 2 D) 3 e 4<br />
B) 1 e 3 E) 2 e 4<br />
C) 2 e 3<br />
Comentário<br />
O poema apresenta correspondência com<br />
as imagens ao descrever com detalhes a<br />
figura do retirante: pobre, mal vestido,<br />
carregando trouxas e embrulhos.<br />
34) (2003) No ano passado, o governo<br />
promoveu uma campanha a fim de reduzir<br />
os índices de violência. Noticiando o fato,<br />
um jornal publicou a seguinte manchete:<br />
CAMPANHA CONTRA A VIOLÊNCIA DO<br />
GOVERNO DO ESTADO ENTRA EM NOVA<br />
FASE<br />
A manchete tem um duplo sentido, e isso<br />
dificulta o entendimento. Considerando o<br />
objetivo da notícia, esse problema poderia<br />
ter sido evitado com a seguinte redação:<br />
A) Campanha contra o governo do Estado<br />
e a violência entram em nova fase.<br />
B) A violência do governo do Estado entra<br />
em nova fase de Campanha.<br />
C) Campanha contra o governo do Estado<br />
entra em nova fase de violência.<br />
D) A violência da campanha do governo<br />
do Estado entra em nova fase.<br />
E) Campanha do governo do Estado<br />
contra a violência entra em nova fase.<br />
Comentário<br />
O objetivo da questão é eliminar a<br />
ambigüidade da notícia de jornal, que,<br />
originalmente, trazia duas idéias: de acordo<br />
com a primeira, o governo queria combater a<br />
violência, e a segunda ressaltava que o<br />
governo era violento. Nessa questão,<br />
era preciso eliminar a segunda possibilidade<br />
de leitura.<br />
35) (2004)<br />
A polifonia, variedade de vozes, presente<br />
no poema resulta da manifestação do<br />
A) poeta e do colonizador apenas.<br />
B) colonizador e do negro apenas.<br />
C) negro e do índio apenas.<br />
D) colonizador, do poeta e do negro<br />
apenas.<br />
E) poeta, do colonizador, do índio e do<br />
negro.<br />
Comentário<br />
A questão apresenta uma certa<br />
dificuldade, pois, à primeira vista, parecem<br />
confundir-se as vozes do colonizador, do<br />
negro e do índio. Entretanto, os<br />
travessões existentes no poema explicitam<br />
as falas das personagens ao mostrar que<br />
não são apenas as vozes do poeta e do<br />
colonizador que estão presentes. As falas do<br />
índio e do negro são proferidas por eles,<br />
marca expressa pelo discurso direto. A<br />
presença dessa modalidade de discurso<br />
indica a reprodução literal do que as<br />
personagens disseram.<br />
Um ponto interessante em relação a essa<br />
questão é a intertextualidade. O índio<br />
aparece no poema pela remissão a um texto<br />
poético do nosso Romantismo, em um<br />
processo intertextual com “I-Juca-Pirama”, de<br />
Gonçalves Dias; e a presença do negro se dá<br />
pela ligação com Mário de Andrade, em<br />
Macunaíma. Entende-se, portanto, que a<br />
alternativa correta é a letra E.<br />
54
36) (2002) "A palavra tatuagem é<br />
relativamente recente. Toda a gente sabe<br />
que foi o navegador Cook que a introduziu<br />
no Ocidente, e esse escrevia tattou, termo<br />
da Polinésia de tatou ou tu tahou,<br />
'desenho'.<br />
(...) Desde os mais remotos tempos,<br />
vemo-la a transformar-se: distintivo<br />
honorífico entre uns homens, ferrete de<br />
ignomínia entre outros, meio de assustar o<br />
adversário para os bretões, marca de uma<br />
classe de selvagens das ilhas marquesas<br />
(...) sinal de amor, de desprezo, de ódio<br />
(...). Há três casos de tatuagem no Rio,<br />
completamente diversos na sua<br />
significação moral: os negros,os turcos<br />
com o fundo religioso e o bando de<br />
meretrizes, dos rufiões e dos humildes,<br />
que se marcam por crime ou por<br />
ociosidade".<br />
RIO, João do. Os Tatuadores. Revista Kosmos.<br />
1904, apud: A alma encantadora das ruas,<br />
SP: Cia das Letras, 1999.<br />
Com base no texto são feitas as seguintes<br />
afirmações:<br />
I. João do Rio revela como a tatuagem já<br />
estava presente na cidade do Rio de<br />
Janeiro, pelo menos desde o início do<br />
século XX, e era mais utilizada por<br />
alguns setores da população.<br />
II. A tatuagem, de origem polinésia,<br />
difundiu-se no ocidente com a<br />
característica que permanece até hoje:<br />
utilização entre os jovens com função<br />
estritamente estética.<br />
III. O texto mostra como a tatuagem é<br />
uma prática que se transforma no<br />
tempo e que alcança inúmeros sentidos<br />
nos diversos setores das sociedades e<br />
para as diferentes culturas.<br />
Está correto o que se afirma apenas em<br />
A) I D) I e II<br />
B) II E) I e III<br />
C) III<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Constata-se o<br />
seguinte: a tatuagem já existia no Brasil no<br />
início do século XX (o texto é de 1904 e parte<br />
dele se refere ao Rio do Janeiro) e era<br />
utilizada em diferentes setores da sociedade.<br />
A afirmação de que as tatuagens possuem<br />
apenas finalidade estética entre os jovens<br />
elimina a segunda alternativa. Já a última<br />
alternativa confirma as transformações das<br />
funções da tatuagem ao longo do tempo nas<br />
mais diversas sociedades e culturas.<br />
Comentário do INEP<br />
O texto estabelece uma relação entre a<br />
atualidade da palavra "tatuagem" e a<br />
antiguidade do uso de desenhos como<br />
pintura corporal. Focaliza uma prática social<br />
bastante difundida que adquiriu aspectos e<br />
conotações diversos nos diferentes contextos<br />
históricos e geográficos em que ela pode ser<br />
descrita. Fazendo a descrição da prática da<br />
tatuagem, como uma manifestação comum a<br />
diferentes culturas, e que adquire, inclusive,<br />
significados diferentes dentro de uma mesma<br />
cultura, induz o participante a refletir sobre a<br />
"diversidade dos patrimônios etnoculturais e<br />
artísticos", contextualizando ao mesmo<br />
tempo seus significados "em diferentes<br />
sociedades, épocas e lugares". Ao retomar<br />
as várias origens e usos da tatuagem, o<br />
participante é levado a compreender e<br />
respeitar uma gramática histórica dos<br />
costumes marcada sempre por semelhanças<br />
e diferenças. A questão não exigia, portanto,<br />
nenhum conhecimento prévio sobre as<br />
diferentes formas de manifestação dessa<br />
prática, mas simplesmente constatar, com o<br />
autor do texto citado, a historicidade e a<br />
diversidade das práticas sociais. Os<br />
participantes que assinalaram a alternativa C<br />
(36%), possivelmente, não levaram em<br />
consideração informações do texto. A<br />
questão foi corretamente respondida por 37%<br />
dos participantes.<br />
37) (2004)<br />
Nesta tirinha, a personagem faz referência<br />
a uma das mais conhecidas figuras de<br />
linguagem para<br />
A) condenar a prática de exercícios físicos<br />
B) valorizar aspectos da vida moderna.<br />
C) desestimular o uso das bicicletas.<br />
D) caracterizar o diálogo entre as<br />
gerações.<br />
E) criticar a falta de perspectiva do pai.<br />
Comentário<br />
A construção indica a falta de perspectiva<br />
na vida do pai do personagem. “Pedalar sem<br />
sair do lugar” é uma metáfora muito usada na<br />
cultura brasileira para expressar como é a<br />
vida de uma pessoa que age de forma a não<br />
55
conseguir qualquer mudança — para melhor<br />
ou para pior — na vida.<br />
38) (2004) As questões de números 26 e 27<br />
referem-se ao poema abaixo.<br />
56<br />
Entre os recursos expressivos<br />
empregados no texto, destaca-se a<br />
A) metalinguagem, que consiste em fazer<br />
a linguagem referir-se à própria<br />
linguagem.<br />
B) intertextualidade, na qual o texto<br />
retoma e reelabora outros textos.<br />
C) ironia, que consiste em se dizer o<br />
contrário do que se pensa, com<br />
intenção crítica.<br />
D) denotação, caracterizada pelo uso das<br />
palavras em seu sentido próprio e<br />
objetivo.<br />
E) prosopopéia, que consiste em<br />
personificar coisas inanimadas,<br />
atribuindo-lhes vida.<br />
Comentário<br />
A questão trata de um texto de Carlos<br />
Drummond de Andrade em que ele fala sobre<br />
o crescimento urbano e a pobreza que esse<br />
processo traz. Para tanto, o poeta utiliza uma<br />
linguagem irônica, revelando o lado oculto do<br />
desenvolvimento. Dessa forma, temos como<br />
correta a alternativa C.<br />
39) (2007) Antigamente<br />
Acontecia o indivíduo apanhar<br />
constipação; ficando perrengue, mandava<br />
o próprio chamar o doutor e, depois, ir à<br />
botica para aviar a receita, de cápsulas ou<br />
pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />
phtísica, feia era o gálico. Antigamente, os<br />
sobrados tinham assombrações, os<br />
meninos, lombrigas (...)<br />
Carlos Drummond de Andrade. Poesia completa e prosa.<br />
Rio de Janeiro: Companhia José Aguilar, p. 1.184.<br />
O texto acima está escrito em linguagem<br />
de uma época passada. Observe uma<br />
outra versão, em linguagem atual.<br />
Antigamente<br />
Acontecia o indivíduo apanhar um<br />
resfriado; ficando mal, mandava o próprio<br />
chamar o doutor e, depois, ir à farmácia<br />
para aviar a receita, de cápsulas ou<br />
pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />
tuberculose, feia era a sífilis. Antigamente,<br />
os sobrados tinham assombrações, os<br />
meninos, vermes (...)<br />
Comparando-se esses dois textos,<br />
verifica-se que, na segunda versão, houve<br />
mudanças relativas a<br />
A) vocabulário.<br />
B) construções sintáticas.<br />
C) pontuação.<br />
D) fonética.<br />
E) regência verbal.<br />
Comentário<br />
Questão fácil. O aluno deveria comparar<br />
os dois textos e verificar as alterações<br />
realizadas na segunda versão apresentada.<br />
Nesse momento, fica evidente a mudança de<br />
vocabulário, o que indica a alternativa A<br />
como a correta.<br />
40) (2001) Nas conversas diárias, utiliza-se<br />
freqüentemente a palavra “próprio” e ela<br />
se ajusta a várias situações. Leia os<br />
exemplos de diálogos:<br />
I - A Vera se veste diferente!<br />
- É mesmo, é que ela tem um estilo<br />
próprio.<br />
II - A Lena já viu esse filme uma dezena<br />
de vezes! Eu não consigo ver o<br />
que ele tem de tão maravilhoso assim.<br />
- É que ele é próprio para adolescente.<br />
III - Dora, o que eu faço? Ando tão<br />
preocupada com o Fabinho! Meu filho<br />
está impossível!<br />
- Relaxa, Tânia! É próprio da idade.<br />
Com o tempo, ele se acomoda.<br />
Nas ocorrências I, II e III, “próprio” é<br />
sinônimo de, respectivamente,<br />
A) adequado, particular, típico.<br />
B) peculiar, adequado, característico.<br />
C) conveniente, adequado, particular.<br />
D) adequado, exclusivo, conveniente.<br />
E) peculiar, exclusivo, característico.
Comentário<br />
Para responder a essa pergunta,<br />
substitua, nos trechos, a palavra próprio<br />
pelos possíveis equivalentes apresentados<br />
nas alternativas. Questão simples que pode<br />
ser resolvida por eliminação.<br />
Comentário do INEP<br />
Nesta questão são apresentados três<br />
textos em que uma mesma palavra é<br />
utilizada com sentidos diferentes. O problema<br />
consiste em observar a variedade de uso de<br />
um mesmo termo e as possibilidades de sua<br />
compreensão, estabelecendo uma relação<br />
comparativa com base em uma análise<br />
semântica. Cerca de metade (49%) dos<br />
participantes estabeleceu essa relação de<br />
maneira correta. Os participantes que<br />
assinalaram a alternativa D (21%),<br />
possivelmente isolaram o termo do contexto,<br />
gerando um equívoco entre "adequado" e<br />
"exclusivo".<br />
41) (2003) Do pedacinho de papel ao livro<br />
impresso vai uma longa distância. Mas o<br />
que o escritor quer, mesmo, é isso: ver o<br />
seu texto em letra de forma. A gaveta é<br />
ótima para aplacar a fúria criativa; ela faz<br />
amadurecer o texto da mesma forma que<br />
a adega faz amadurecer o vinho. Em<br />
certos casos, a cesta de papel é melhor<br />
ainda.<br />
O período de maturação na gaveta é<br />
necessário, mas não deve se prolongar<br />
muito. ‘Textos guardados acabam<br />
cheirando mal’, disse Silvia Plath, (...) que,<br />
com esta frase, deu testemunho das<br />
dúvidas que atormentam o escritor:<br />
publicar ou não publicar? guardar ou jogar<br />
fora?<br />
(Moacyr Scliar. O escritor e seus desafios.)<br />
Nesse texto, o escritor Moacyr Scliar usa<br />
imagens para refletir sobre uma etapa da<br />
criação literária. A idéia de que o processo<br />
de maturação do texto nem sempre é o<br />
que garante bons resultados está sugerida<br />
na seguinte frase:<br />
A) "A gaveta é ótima para aplacar a fúria<br />
criativa."<br />
B) "Em certos casos, a cesta de papel é<br />
melhor ainda."<br />
C) "O período de maturação na gaveta é<br />
necessário, (...)."<br />
D) "Mas o que o escritor quer, mesmo, é<br />
isso: ver o seu texto em letra de forma."<br />
E) "ela (a gaveta) faz amadurecer o texto<br />
da mesma forma que a adega faz<br />
amadurecer o vinho."<br />
Comentário<br />
Essa questão exigia a interpretação das<br />
frases. A palavra NEM no enunciado exclui<br />
todas as alternativas que tratam do<br />
amadurecimento ou da importância da<br />
gaveta para o bom sucesso da produção<br />
literária.<br />
A alternativa B é a única que apresenta<br />
um procedimento alternativo para a produção<br />
textual, ou seja, o lixo, e significa a liberdade<br />
do escritor em começar,<br />
interromper, recomeçar ou simplesmente<br />
abandonar a obra, permitindo a ele exercer<br />
seu livre-arbítrio.<br />
42) (2007)<br />
Aqui na floresta<br />
Dos ventos batida,<br />
Façanhas de bravos<br />
Não geram escravos,<br />
Que estimem a vida<br />
Sem guerra e lidar.<br />
— Ouvi-me, Guerreiros,<br />
— Ouvi meu cantar.<br />
O canto do guerreiro<br />
Valente na guerra,<br />
Quem há, como eu sou?<br />
Quem vibra o tacape<br />
Com mais valentia?<br />
Quem golpes daria<br />
Fatais, como eu dou?<br />
— Guerreiros, ouvi-me;<br />
— Quem há, como eu sou?<br />
Gonçalves Dias.<br />
Macunaíma<br />
(Epílogo)<br />
Acabou-se a história e morreu a vitória.<br />
Não havia mais ninguém lá. Dera<br />
tangolomângolo na tribo Tapanhumas e<br />
os filhos dela se acabaram de um em um.<br />
Não havia mais ninguém lá. Aqueles<br />
lugares, aqueles campos, furos<br />
puxadouros arrastadouros meiosbarrancos,<br />
aqueles matos misteriosos,<br />
tudo era solidão do deserto... Um silêncio<br />
imenso dormia à beira do rio Uraricoera.<br />
Nenhum conhecido sobre a terra não<br />
sabia nem falar da tribo nem contar<br />
aqueles casos tão pançudos. Quem podia<br />
saber do Herói?<br />
Mário de Andrade.<br />
Considerando-se a linguagem desses dois<br />
textos, verifica-se que<br />
A) a função da linguagem centrada no<br />
receptor está ausente tanto no primeiro<br />
quanto no segundo texto.<br />
B) a linguagem utilizada no primeiro texto<br />
é coloquial, enquanto, no segundo,<br />
predomina a linguagem formal.<br />
C) há, em cada um dos textos, a<br />
utilização de pelo menos uma palavra<br />
de origem indígena.<br />
57
D) a função da linguagem, no primeiro<br />
texto, centra-se na forma de<br />
organização da linguagem e, no<br />
segundo, no relato de informações<br />
reais.<br />
E) a função da linguagem centrada na<br />
primeira pessoa, predominante no<br />
segundo texto, está ausente no<br />
primeiro.<br />
Comentário<br />
Questão de nível médio. Essa é uma<br />
questão que foca a linguagem dos textos, e<br />
cada qual em seu gênero (poesia e prosa,<br />
respectivamente). O aluno chega à<br />
conclusão que a alternativa correta é a C por<br />
meio da exclusão das demais alternativas.<br />
A resposta correta não é a A, pois há um<br />
receptor que pode ser percebido nas<br />
seguintes perguntas contidas no texto:<br />
Texto 1 – “Guerreiros, ouvi-me;/Quem há,<br />
como eu sou?”<br />
Texto 2 – “Quem podia saber do herói?”<br />
Também não é a alternativa B, pois o<br />
conteúdo dos textos não é discriminatório. No<br />
primeiro texto, há uma idealização do índio e,<br />
no segundo, há uma realidade crítica e<br />
satírica da sociedade.<br />
A alternativa D é excluída, porque o<br />
segundo texto não fala de uma realidade, já<br />
que Macunaíma é um herói fictício e nãoreal.<br />
Por fim, também está errada a alternativa<br />
E. Isso porque não temos no epílogo do texto<br />
de Macunaíma a linguagem centrada na<br />
primeira pessoa, mas sim, na terceira.<br />
43) (2003) Eu começaria dizendo que poesia<br />
é uma questão de linguagem. A<br />
importância do poeta é que ele torna mais<br />
viva a linguagem. Carlos Drummond de<br />
Andrade escreveu um dos mais belos<br />
versos da língua portuguesa com duas<br />
palavras comuns: cão e cheirando.<br />
Um cão cheirando o futuro<br />
(Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP, 24/05/1988.<br />
adaptação)<br />
O que deu ao verso de Drummond o<br />
caráter de inovador da língua foi<br />
A) o modo raro como foi tratado o<br />
"futuro".<br />
B) a referência ao cão como "animal de<br />
estimação".<br />
C) a flexão pouco comum do verbo<br />
"cheirar" (gerúndio).<br />
D) a aproximação não usual do agente<br />
citado e a ação de "cheirar".<br />
E) o emprego do artigo indefinido "um" e<br />
do artigo definido "o" na mesma frase.<br />
Comentário<br />
O fato de Drummond identificar o futuro<br />
como algo que pode ser percebido por um<br />
animal irracional por meio do olfato foi<br />
inovador. A figura de linguagem foi<br />
construída metaforicamente: o futuro torna-se<br />
uma coisa que tem cheiro, contrariamente à<br />
imagem pela qual ele normalmente é<br />
representado: como algo que não se vê e<br />
não se pode pressentir ou tocar.<br />
44) (2002) Só falta o Senado aprovar o<br />
projeto de lei [sobre o uso de termos<br />
estrangeiros no Brasil] para que palavras<br />
como shopping center , delivery e drivethrough<br />
sejam proibidas em nomes de<br />
estabelecimentos e marcas. Engajado<br />
nessa valorosa luta contra o inimigo<br />
ianque, que quer fazer área de livre<br />
comércio com nosso inculto e belo idioma,<br />
venho sugerir algumas outras medidas<br />
que serão de extrema importância para a<br />
preservação da soberania nacional, a<br />
saber:<br />
........<br />
Nenhum cidadão carioca ou gaúcho<br />
poderá dizer "Tu vai" em espaços públicos<br />
do território nacional;<br />
Nenhum cidadão paulista poderá dizer "Eu<br />
lhe amo" e retirar ou acrescentar o plural<br />
em sentenças como "Me vê um chopps e<br />
dois pastel";<br />
..........<br />
Nenhum dono de borracharia poderá<br />
escrever cartaz com a palavra "borraxaria"<br />
e nenhum dono de banca de jornal<br />
anunciará "Vende-se cigarros";<br />
..........<br />
Nenhum livro de gramática obrigará os<br />
alunos a utilizar colocações pronominais<br />
como "casar-me-ei" ou "ver-se-ão".<br />
PIZA, Daniel. Uma proposta imodesta. O Estado de<br />
S. Paulo, São Paulo, 8/04/2001.<br />
No texto acima, o autor:<br />
A) mostra-se favorável ao teor da<br />
proposta por entender que a língua<br />
portuguesa deve ser protegida contra<br />
deturpações de uso.<br />
B) ironiza o projeto de lei ao sugerir<br />
medidas que inibam determinados usos<br />
regionais e socioculturais da língua.<br />
C) denuncia o desconhecimento de regras<br />
elementares de concordância verbal e<br />
nominal pelo falante brasileiro.<br />
58
D) revela-se preconceituoso em relação a<br />
certos registros lingüísticos ao propor<br />
medidas que os controlem.<br />
E) defende o ensino rigoroso da gramática<br />
para que todos aprendam a empregar<br />
corretamente os pronomes.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. O autor ironiza o<br />
projeto de lei que proíbe o uso de<br />
estrangeirismos no Brasil. Não adianta criarse<br />
uma expectativa ou preocupação em<br />
relação ao uso de termos estrangeiros na<br />
língua e esquecer-se de que a língua é um<br />
organismo vivo, mutável. A dinâmica de uma<br />
língua não pode ser regida por preceitos<br />
legais como quer o projeto.<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão reproduz trechos de um<br />
texto que aborda o polêmico projeto de<br />
proibição de uso de termos estrangeiros no<br />
Brasil. A partir da leitura atenta do texto de<br />
Daniel Piza, o participante é levado a refletir<br />
sobre a postura adotada pelo autor em<br />
relação ao referido projeto. Para<br />
compreender esse texto, o participante<br />
precisa reconhecer o tom irônico que marca<br />
as observações e sugestões feitas por seu<br />
autor. Assim, Daniel Piza, "engajado nessa<br />
valorosa luta contra o inimigo ianque", sugere<br />
a proibição de algumas formas lingüísticas de<br />
uso corrente que contrariam recomendações<br />
da gramática normativa. O participante deve<br />
reconhecer que, com sugestões como essas,<br />
Daniel Piza deixa implícita uma crítica à<br />
utilidade do projeto de proibição dos<br />
estrangeirismos como forma de proteger a<br />
Língua Portuguesa. Nesse contexto, a ironia<br />
torna-se mais clara, bem como o mecanismo<br />
textual que a constrói. Feito tal<br />
reconhecimento, o aluno encontra a resposta<br />
correta na alternativa B, assinalada por cerca<br />
da metade dos participantes. Nenhuma outra<br />
alternativa contempla o aspecto irônico,<br />
essencial para a compreensão do texto.<br />
45) (2003) Pequenos tormentos da vida<br />
De cada lado da sala de aula, pelas janelas<br />
altas, o azul convida os meninos,<br />
as nuvens desenrolam-se, lentas como quem<br />
vai inventando<br />
preguiçosamente uma história sem fim...Sem<br />
fim é a aula: e nada acontece,<br />
nada...Bocejos e moscas. Se ao menos,<br />
pensa Margarida, se ao menos um<br />
avião entrasse por uma janela e saísse por<br />
outra!<br />
(Mário Quintana. Poesias)<br />
Na cena retratada no texto, o sentimento<br />
do tédio<br />
A) provoca que os meninos fiquem<br />
contando histórias.<br />
B) leva os alunos a simularem bocejos,<br />
em protesto contra a monotonia da<br />
aula.<br />
C) acaba estimulando a fantasia,<br />
criando a expectativa de algum<br />
imprevisto mágico.<br />
D) prevalece de modo absoluto,<br />
impedindo até mesmo a distração ou o<br />
exercício do pensamento.<br />
E) decorre da morosidade da aula, em<br />
contraste com o movimento acelerado<br />
das nuvens e das moscas.<br />
Comentário<br />
Essa questão aborda o imaginário<br />
decorrente do marasmo trazido pela escola.<br />
O texto enfatiza o arrastar do tempo na<br />
mente de uma aluna, Margarida, que se põe<br />
a pensar em fatos mágicos ou imaginários<br />
que pudessem romper com a lentidão da<br />
aula.<br />
46) (200) O autor do texto abaixo critica,<br />
ainda que em linguagem metafórica, a<br />
sociedade contemporânea em relação aos<br />
seus hábitos alimentares.<br />
“Vocês que têm mais de 15 anos, se<br />
lembram quando a gente comprava leite<br />
em garrafa, na leiteria da esquina? (...)<br />
Mas vocês não se lembram de nada,<br />
pô! Vai ver nem sabem o que é vaca. Nem<br />
o que é leite. Estou falando isso porque<br />
agora mesmo peguei um pacote de leite –<br />
leite em pacote, imagina, Tereza! – na<br />
porta dos fundos e estava escrito que é<br />
pasterizado, ou pasteurizado, sei lá, tem<br />
vitamina, é garantido pela<br />
embromatologia, foi enriquecido e o<br />
escambau. Será que isso é mesmo leite?<br />
No dicionário diz que leite é outra coisa:<br />
‘Líquido branco, contendo água,<br />
proteína, açúcar e sais minerais’. Um<br />
alimento pra ninguém botar defeito. O ser<br />
humano o usa há mais de 5.000 anos. É o<br />
único alimento só alimento. A carne serve<br />
pro animal andar, a fruta serve pra fazer<br />
outra fruta, o ovo serve pra fazer outra<br />
galinha (...) O leite é só leite. Ou toma ou<br />
bota fora. Esse aqui examinando bem, é<br />
só pra botar fora. Tem chumbo, tem<br />
benzina, tem mais água do que leite, tem<br />
serragem, sou capaz de jurar que nem<br />
vaca tem por trás desse negócio. Depois o<br />
59
pessoal ainda acha estranho que os<br />
meninos não gostem de leite.<br />
Mas, como não gostam? Não gostam<br />
como? Nunca tomaram! Múúúúúúú!”<br />
(FERNANDES, Millôr. O Estado de S. Paulo ,<br />
22 de agosto de 1999)<br />
A palavra embromatologia usada pelo<br />
autor é:<br />
A) um termo científico que significa estudo<br />
dos bromatos.<br />
B) uma composição do termo de gíria<br />
“embromação” (enganação) com<br />
bromatologia, que é o estudo dos<br />
alimentos.<br />
C) uma junção do termo de gíria<br />
“embromação” (enganação) com<br />
lactologia, que é o estudo das<br />
embalagens para leite.<br />
D) um neologismo da química orgânica<br />
que significa a técnica de retirar<br />
bromatos dos laticínios.<br />
E) uma corruptela de termo da<br />
agropecuária que significa a ordenha<br />
mecânica.<br />
Comentário<br />
É necessário para a resolução desta<br />
questão:<br />
- perceber que o texto critica o exagerado<br />
uso de substâncias artificiais nos<br />
alimentos;<br />
- conhecer o significado da gíria embromar e<br />
da palavra bromatologia.<br />
Conhecendo esses significados, você<br />
elimina todas as alternativas erradas: a, c, d<br />
e e.<br />
Você poderá ter dúvida quanto à<br />
alternativa c, que também será eliminada se<br />
souber o significado da palavra lactologia,<br />
que é o estudo do leite e produtos lácteos e<br />
não das embalagens para leite.<br />
Nesta questão, são trabalhados os<br />
conceitos de interpretação de texto, formação<br />
de palavras e conhecimentos gerais.<br />
Comentário do INEP<br />
A resolução da questão requeria que o<br />
participante, ao ler o texto vinculasse o<br />
significado de um termo de gíria -<br />
"embromação" - com o da palavra<br />
bromatologia. A resposta correta exigia que o<br />
participante não abrisse mão do sabor<br />
picante contido na linguagem metafórica,<br />
sabor vinculado ao conhecimento específico<br />
contido na palavra bromatologia. Cerca da<br />
metade dos participantes (51%) optou pela<br />
alternativa correta e, os 20% que escolheram<br />
a alternativa C, provavelmente associaram a<br />
referência feita no texto à leite em pacote.<br />
47) (2005) O termo (ou expressão)<br />
destacado que está empregado em seu<br />
sentido próprio, denotativo ocorre em:<br />
A) “(....)<br />
É de laço e de nó<br />
De gibeira o jiló<br />
Dessa vida, cumprida a sol (....)”<br />
(Renato Teixeira. Romaria. Kuarup Discos.<br />
setembro de 1992.)<br />
B) “Protegendo os inocentes<br />
é que Deus, sábio demais,<br />
põe cenários diferentes<br />
nas impressões digitais.”<br />
(Maria N. S. Carvalho. Evangelho da Trova. /s.n.b.)<br />
C) “O dicionário-padrão da língua e os<br />
dicionários unilíngües são os tipos mais<br />
comuns de dicionários. Em nossos<br />
dias, eles se tornaram um objeto de<br />
consumo obrigatório para as nações<br />
civilizadas e desenvolvidas.”<br />
(Maria T. Camargo Biderman.<br />
O dicionário-padrão da língua. Alfa (28), 2743, 1974 Supl.)<br />
D)<br />
E) “Humorismo é a arte de fazer cócegas<br />
no raciocínio dos outros. Há duas<br />
espécies de humorismo: o trágico e o<br />
cômico. O trágico é o que não<br />
consegue fazer rir; o cômico é o que é<br />
verdadeiramente trágico para se fazer.”<br />
(Leon Eliachar. www.mercadolivre.com.br.<br />
acessado em julho de 2005.)<br />
Comentário<br />
A definição do dicionário-padrão da língua<br />
utiliza o sentido denotativo da palavra para<br />
explicar o uso de determinado tipo de<br />
dicionário. Em todas as outras alternativas,<br />
as palavras estão sendo empregadas em<br />
sentido metafórico. Na letra A, "cumprida a<br />
sol" pode mostrar o sofrimento e a solidão.<br />
Na alternativa B, "cenários diferentes" são as<br />
diferenças físicas encontradas nas<br />
60
impressões digitais. Na letra D, "bateria" é o<br />
termo usado para expressar a "energia" do<br />
Menino Maluquinho, que nunca acaba. Por<br />
fim, na alternativa E, "fazer cócegas no<br />
raciocínio" significa expressar graça por meio<br />
de idéias, fazendo com que o cérebro ache<br />
um fato divertido e, por conseguinte, faça<br />
com que a pessoa ria como se sofresse um<br />
ataque de cócegas.<br />
em circunstâncias idênticas, muitas vezes<br />
repetidas, indicam algo e adquirem<br />
significado. Por exemplo, nuvens negras<br />
indicam tempestade. Com base nesse<br />
conceito, escolha a opção que representa<br />
um signo da categoria dos indícios.<br />
A)<br />
48) (2003) Pequenos tormentos da vida<br />
De cada lado da sala de aula, pelas janelas<br />
altas, o azul convida os meninos,<br />
as nuvens desenrolam-se, lentas como quem<br />
vai inventando<br />
preguiçosamente uma história sem fim...Sem<br />
fim é a aula: e nada acontece,<br />
nada...Bocejos e moscas. Se ao menos,<br />
pensa Margarida, se ao menos um<br />
avião entrasse por uma janela e saísse por<br />
outra!<br />
(Mário Quintana. Poesias)<br />
Na cena retratada no texto, o sentimento<br />
do tédio<br />
A) provoca que os meninos fiquem<br />
contando histórias.<br />
B) leva os alunos a simularem bocejos,<br />
em protesto contra a monotonia da<br />
aula.<br />
C) acaba estimulando a fantasia,<br />
criando a expectativa de algum<br />
imprevisto mágico.<br />
D) prevalece de modo absoluto,<br />
impedindo até mesmo a distração ou o<br />
exercício do pensamento.<br />
E) decorre da morosidade da aula, em<br />
contraste com o movimento acelerado<br />
das nuvens e das moscas.<br />
Comentário<br />
Essa questão aborda o imaginário<br />
decorrente do marasmo trazido pela escola.<br />
O texto enfatiza o arrastar do tempo na<br />
mente de uma aluna, Margarida, que se põe<br />
a pensar em fatos mágicos ou imaginários<br />
que pudessem romper com a lentidão da<br />
aula.<br />
B)<br />
C)<br />
D)<br />
E)<br />
49) (2008) Os signos visuais, como meios de<br />
comunicação, são classificados em<br />
categorias de acordo com seus<br />
significados.<br />
A categoria denominada indício<br />
corresponde aos signos visuais que têm<br />
origem em formas ou situações naturais<br />
ou casuais, as quais, devido à ocorrência<br />
Comentário<br />
Trata-se de uma questão interpretativa. O<br />
aluno precisa entender o que é “indício” para<br />
respondê-la. Segundo o dicionário Aurélio,<br />
indício é o mesmo que “sinal, vestígio,<br />
indicação”. Das figuras apresentadas,<br />
61
apenas a alternativa B indica algo: a<br />
passagem de alguém por algum lugar —<br />
pegada.<br />
50) (1999)<br />
Diante da visão de um prédio com uma<br />
placa indicando SAPATARIA PAPALIA,<br />
um jovem deparou com a dúvida: como<br />
pronunciar a palavra PAPALIA?<br />
Levado o problema à sala de aula, a<br />
discussão girou em torno da utilidade de<br />
conhecer as regras de acentuação e,<br />
especialmente, do auxílio que elas podem<br />
dar à correta pronúncia de palavras.<br />
Após discutirem pronúncia, regras de<br />
acentuação e escrita, três alunos<br />
apresentaram as seguintes conclusões a<br />
respeito da palavra PAPALIA:<br />
I. Se a sílaba tônica for o segundo PA, a<br />
escrita deveria ser PAPÁLIA, pois a<br />
palavra seria paroxítona terminada em<br />
ditongo crescente.<br />
II. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />
deveria ser PAPALÍA, pois "i" e "a"<br />
estariam formando hiato.<br />
III. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />
deveria ser PAPALIA, pois não haveria<br />
razão para o uso de acento gráfico.<br />
A conclusão está correta apenas em:<br />
A) III D) I<br />
B) I e II E) II<br />
C) I e III<br />
Comentário<br />
Essa questão exige bom conhecimento<br />
das regras de acentuação. A alternativa A diz<br />
que apenas a afirmação I é verdadeira. De<br />
fato ela é, mas não é a única. Nela, temos a<br />
hipótese de a palavra ser grafada como se a<br />
sílaba forte fosse a penúltima — papália —,<br />
justificando seu acento gráfico. Vejamos o<br />
que dizem as regras de acentuação.<br />
Acentuam-se as palavras paroxítonas<br />
terminadas em: i, is, us, um, uns, l, n, r, x,<br />
ps, ã, ãs, ão, ãos, ditongos orais,<br />
crescentes ou decrescentes, seguidos ou<br />
não de S. Isso valida, portanto, a afirmação I.<br />
A afirmação II pressupõe que a sílaba<br />
tônica seja LI, em hiato com A: no caso de<br />
essa ser a tonicidade da palavra, a sílaba LI<br />
não poderia ser acentuada, pois I, mesmo<br />
sendo a tônica do hiato, não é a última vogal,<br />
portanto, essa afirmativa é falsa.<br />
A afirmação III considera que a sílaba<br />
tônica é LI, não havendo acento por ser o I a<br />
primeira vogal do hiato. Portanto, essa<br />
afirmação é verdadeira.<br />
Concluindo, temos como verdadeiras as<br />
afirmações I e III. Então, a alternativa E é a<br />
correta. Questão de nível difícil.<br />
Comentário do INEP<br />
Dentre os participantes, somente pouco<br />
mais de um terço (35%) demonstrou possuir<br />
a habilidade para identificar as regras de<br />
acentuação corretas, enunciadas na questão.<br />
Chama a atenção o fato de que 73% dos<br />
participantes (alternativas A, D e E)<br />
reconheceram corretamente, pelo menos, a<br />
regra contida no item I, sendo que cerca de<br />
40% desses, contudo, tiveram dificuldades<br />
em analisar as regras II e III.<br />
Em se tratando de palavra não-usual, é,<br />
sobretudo, o domínio do conhecimento das<br />
regras e não a possível pronúncia correta,<br />
pelo uso, o que parece ter sido revelado.<br />
51) (2008)<br />
Exame, 28/9/2007.<br />
Entre os seguintes ditos populares, qual<br />
deles melhor corresponde à figura<br />
acima?<br />
A) Com perseverança, tudo se alcança.<br />
B) Cada macaco no seu galho.<br />
C) Nem tudo que balança cai.<br />
D) Quem tudo quer, tudo perde.<br />
E) Deus ajuda quem cedo madruga.<br />
62
Comentário<br />
Assim como a questão 37, esta também<br />
envolve interpretação de signos, ou seja, o<br />
aluno precisa estar atento à imagem e<br />
relacioná-la ao dito popular correspondente.<br />
A alternativa "A" é a correta, pois, para<br />
uma lesma “grudenta” e vagarosa conseguir<br />
pular numa cama elástica, é necessária<br />
muita perseverança.<br />
52) (2005) Leia estes textos.<br />
Texto 1<br />
E) transmitem uma mensagem de<br />
otimismo sobre a paz.<br />
Comentário<br />
Enquanto o primeiro texto é ácido em<br />
relação à possibilidade de desarmamento da<br />
população (ou seja, à criação de uma<br />
sociedade mais pacífica), o segundo mostra<br />
a capacidade que a humanidade tem de crer<br />
e, por isso, tentar fazer até o que a princípio<br />
parece impossível. Para os autores da<br />
canção, nada é intrinsecamente impossível.<br />
A relação entre eles é de oposição:<br />
descrença x crença. Questão de nível de<br />
dificuldade médio.<br />
Texto 2<br />
Sonhar<br />
Mais um sonho impossível<br />
Lutar<br />
Quando é fácil ceder<br />
Vencer o inimigo invencível<br />
Negar quando a regra é vender<br />
Sofrer a tortura implacável<br />
Romper a incabível prisão<br />
Voar num limite improvável<br />
Tocar o inacessível chão<br />
É minha lei, é minha questão<br />
Virar esse mundo<br />
Cravar esse chão<br />
Não me importa saber<br />
Se é terrível demais<br />
Quantas guerras terei que vencer<br />
Por um pouco de paz<br />
E amanhã se esse chão que eu beijei<br />
For meu leito e perdão<br />
Vou saber que valeu delirar<br />
E morrer de paixão<br />
E assim, seja lá como for<br />
Vai ter fim a infinita aflição<br />
E o mundo vai ver uma flor<br />
Brotar do impossível chão.<br />
(J. Darione – M. Leigh – Versão de Chico Buarque de<br />
Hollanda e Ruy Guerra, 1972.)<br />
A tirinha e a canção apresentam uma<br />
reflexão sobre o futuro da humanidade. É<br />
correto concluir que os dois textos<br />
A) afirmam que o homem é capaz de<br />
alcançar a paz.<br />
B) concordam que o desarmamento é<br />
inatingível.<br />
C) julgam que o sonho é um desafio<br />
invencível.<br />
D) têm visões diferentes sobre um<br />
possível mundo melhor.<br />
53) (2002) A crônica muitas vezes constitui<br />
um espaço para reflexão sobre aspectos<br />
da sociedade em que vivemos.<br />
"Eu, na rua, com pressa, e o menino<br />
segurou no meu braço, falou qualquer<br />
coisa que não entendi. Fui logo dizendo<br />
que não tinha, certa de que ele estava<br />
pedindo dinheiro. Não estava. Queria<br />
saber a hora.<br />
Talvez não fosse um Menino De<br />
Família, mas também não era um Menino<br />
De Rua. É assim que a gente divide.<br />
Menino De Família é aquele bem-vestido<br />
com tênis da moda e camiseta de marca,<br />
que usa relógio e a mãe dá outro se o<br />
dele for roubado por um Menino De Rua.<br />
Menino De Rua é aquele que quando a<br />
gente passa perto segura a bolsa com<br />
força porque pensa que ele é pivete,<br />
trombadinha, ladrão. (...) Na verdade não<br />
existem meninos De rua.<br />
Existem meninos NA rua. E toda vez<br />
que um menino está NA rua é porque<br />
alguém o botou lá. Os meninos não vão<br />
sozinhos aos lugares. Assim como são<br />
postos no mundo, durante muitos anos<br />
também são postos onde quer que<br />
estejam. Resta ver quem os põe na rua. E<br />
por quê."<br />
COLASSANTI, Marina. In: Eu sei, mas não devia. Rio de<br />
Janeiro: Rocco, 1999.<br />
No terceiro parágrafo em "... não existem<br />
meninos De rua. Existem meninos NA<br />
rua.", a troca de De pelo Na determina<br />
que a relação de sentido entre "menino" e<br />
"rua" seja<br />
A) de localização e não de qualidade.<br />
B) de origem e não de posse.<br />
C) de origem e não de localização.<br />
D) de qualidade e não de origem.<br />
E) de posse e não de localização.<br />
63
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Apesar de não haver<br />
um terceiro parágrafo neste texto, a troca das<br />
preposições ao final do SEGUNDO parágrafo<br />
indica claramente que não há um menino DE<br />
(proveniente de) rua, mas um menino que está<br />
NA (foi levado à) rua. Portanto, a relação é<br />
unicamente de localização (onde ele está) e<br />
não de qualidade (o que ele é).<br />
Comentário do INEP<br />
A reprodução de um trecho de uma crônica<br />
de Marina Colassanti tematiza uma importante<br />
questão social brasileira: a presença de<br />
milhões de crianças nas ruas do País. A autora,<br />
ao tratar desse problema, vale-se de recursos<br />
lingüísticos específicos. O objetivo desta<br />
questão é justamente chamar a atenção do<br />
participante leitor para esses recursos e os<br />
efeitos de sentido que eles desencadeiam no<br />
texto. Na raiz da questão destaca-se a troca de<br />
"De" por "NA" e pede-se que se determine qual<br />
relação de sentido essa substituição estabelece<br />
entre os termos "menino" e "rua". Analisar a<br />
relação, nesse caso, significa perguntar-se<br />
sobre o sentido de dois sintagmas criados no<br />
texto: "meninos NA rua" por oposição a<br />
"meninos De rua". O que a autora pretende<br />
negar, com a troca do termo de relação, é a<br />
possibilidade de que existam meninos de rua<br />
diferentes de outros meninos, que não têm na<br />
rua a sua origem. O destaque para a<br />
preposição na nos leva a refletir que a relação<br />
dos meninos com a rua é de localização: eles<br />
estão ali por alguma razão, não porque essa<br />
seja a sua qualificação. Essa reflexão levaria o<br />
aluno a escolher, como correta, a resposta<br />
apresentada na alternativa A, assinalada por<br />
cerca de metade dos participantes.<br />
54) (2000) O uso do pronome átono no início<br />
das frases é destacado por um poeta e<br />
por um gramático nos textos abaixo.<br />
64<br />
Pronominais<br />
Dê-me um cigarro<br />
Diz a gramática<br />
Do professor e do aluno<br />
E do mulato sabido<br />
Mas o bom negro e o bom branco<br />
da Nação Brasileira<br />
Dizem todos os dias<br />
Deixa disso camarada<br />
Me dá um cigarro<br />
(ANDRADE, Oswald de. Seleção de textos.<br />
São Paulo: Nova Cultural, 1988)<br />
“Iniciar a frase com pronome átono só<br />
é lícito na conversação familiar,<br />
despreocupada, ou na língua escrita<br />
quando se deseja reproduzir a fala dos<br />
personagens (...).”<br />
(CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da<br />
língua portuguesa.<br />
São Paulo: Nacional, 1980)<br />
Comparando a explicação dada pelos<br />
autores sobre essa regra, pode-se afirmar<br />
que ambos:<br />
A) condenam essa regra gramatical.<br />
B) acreditam que apenas os esclarecidos<br />
sabem essa regra.<br />
C) criticam a presença de regras na<br />
gramática.<br />
D) afirmam que não há regras para uso de<br />
pronomes.<br />
E) relativizam essa regra gramatical.<br />
Comentário<br />
Questão que requer conhecimento básico<br />
de colocação pronominal, em relação ao uso<br />
de pronomes átonos no início de frases, uma<br />
regra muito pouco respeitada pelo brasileiro,<br />
da qual Oswald de Andrade faz questão de<br />
falar em seu poema. Porém, a questão pode<br />
ser resolvida simplesmente por meio de uma<br />
leitura bem atenta dos textos. Se formos<br />
analisando alternativa por alternativa, a<br />
eliminação é clara e lógica: a alternativa a<br />
fica totalmente descartada devido à<br />
transparência da colocação dos dois autores<br />
(Me dá um cigarro...) e (iniciar frases com o<br />
pronome átono é "lícito" na conversação<br />
familiar ou despreocupada). Já a alternativa b<br />
pode até mesmo gerar um pouco de dúvida a<br />
quem não se atém bem à pergunta. Quanto<br />
às alternativas c e d, ficam descartadas, pois,<br />
em momento nenhum, os autores criticaram<br />
o uso de regras gramaticais em seus textos,<br />
cabendo perfeitamente a alternativa e para<br />
as afirmações do gramático e do poeta.<br />
Comentário do INEP<br />
Essa questão pretendia verificar como o<br />
participante analisa um fato lingüístico,<br />
mediante a comparação da descrição desse<br />
fato em dois textos. Sabe-se que,<br />
normalmente em situação escolar, o uso do<br />
pronome átono no início da frase é julgado<br />
como grave desvio gramatical, e pouco se<br />
analisa esse uso na fala ou escrita informal.<br />
Os dois autores dos textos, com intenções<br />
diferentes, relativizam essa regra gramatical,<br />
destacando e descrevendo o seu uso<br />
coloquial. A maioria dos participantes (52%)<br />
analisou e comparou corretamente as<br />
posições dos autores sobre o uso do
pronome átono, e 24% deles reafirmaram a<br />
posição discriminatória da regra, deslocandoa<br />
de seu uso.<br />
história de Van Gogh, ou apropriaram-se<br />
corretamente da informação sobre esse<br />
pintor, fornecida no enunciado.<br />
55) (2000) As histórias em quadrinhos, por<br />
vezes, utilizam animais como<br />
personagens e a eles atribuem<br />
comportamento humano. O gato Garfield<br />
é exemplo desse fato.<br />
56) (2004)<br />
Fonte: Caderno Vida e Arte, Jornal do Povo, Fortaleza<br />
Van Gogh, pintor holandês nascido em<br />
1853, é um dos principais nomes da<br />
pintura mundial. É dele o quadro abaixo.<br />
Auto-retrato de orelha cortada<br />
O 3º quadrinho sugere que Garfield:<br />
A) desconhece tudo sobre arte, por isso<br />
faz a sugestão.<br />
B) acredita que todo pintor deve fazer algo<br />
diferente.<br />
C) defende que para ser pintor a pessoa<br />
tem de sofrer.<br />
D) conhece a história de um pintor<br />
famoso e faz uso da ironia.<br />
E) acredita que seu dono tenha tendência<br />
artística e, por isso, faz a sugestão.<br />
Comentário<br />
Outra questão de interpretação de texto.<br />
Muito simples para quem um dia ouviu falar<br />
de Van Gogh, e simplíssima para aqueles<br />
que prestam atenção em todos os elementos<br />
do enunciado. Afinal, quem deu uma<br />
espiadinha na legenda do quadro de Van<br />
Gogh matou na hora a questão.<br />
Esta questão é daquelas rápidas de serem<br />
resolvidas, associando-se os elementos<br />
apresentados.<br />
Comentário do INEP<br />
A significativa maioria (81%) dos<br />
participantes soube perceber o caráter<br />
irônico da fala do Garfield, expressa no<br />
terceiro quadrinho porque, ou conheciam a<br />
A tira "Hagar" e o poema de Alberto<br />
Caeiro (um dos heterônimos de Fernando<br />
Pessoa) expressam, com linguagens<br />
diferentes, uma mesma idéia: a de que a<br />
compreensão que temos do mundo é<br />
condicionada, essencialmente,<br />
A) pelo alcance de cada cultura.<br />
B) pela capacidade visual do observador.<br />
C) pelo senso de humor de cada um.<br />
D) pela idade do observador.<br />
E) pela altura do ponto de observação.<br />
Comentário<br />
Questão reflexiva sobre a forma como<br />
cada cultura vê o mundo sob a ótica dos<br />
limites dados pelos seus costumes e<br />
possibilidades de pensamento inerentes a<br />
cada modelo cultural. A mistura de uma tira e<br />
de um poema amplia a possibilidade de<br />
pensamento por trabalhar com linguagens<br />
diferentes. A alternativa correta é a letra A,<br />
pois ambos (tira e poema) utilizam figuras de<br />
linguagem (metáfora e ironia) para expressar<br />
as diferentes visões de mundo.<br />
57) (2003)<br />
O humor presente na tirinha decorre<br />
principalmente do fato de a personagem<br />
Mafalda<br />
A) atribuir, no primeiro quadrinho, poder<br />
ilimitado ao dedo indicador.<br />
B) considerar seu dedo indicador tão<br />
importante quanto o dos patrões.<br />
65
C) atribuir, no primeiro e no último<br />
quadrinhos, um mesmo sentido ao<br />
vocábulo "indicador".<br />
D) usar corretamente a expressão<br />
"indicador de desemprego", mesmo<br />
sendo criança.<br />
E) atribuir, no último quadrinho, fama<br />
exagerada ao dedo indicador dos<br />
patrões.<br />
Comentário<br />
A questão pede a interpretação de uma<br />
charge da personagem Mafalda, em que ela<br />
faz referência a seu dedo indicador, que é<br />
usado como substantivo primitivo e que<br />
possibilita a analogia com “indicador de<br />
desemprego”. Dessa forma, ela ironiza os<br />
indicadores sociais. Na charge, porém, não<br />
há menção explícita aos índices<br />
“indicadores”, permanecendo o raciocínio<br />
preso apenas ao dedo indicador. Assim, ela<br />
utiliza, tanto no primeiro quanto no último<br />
quadrinho, a palavra “indicador” como<br />
referência ao dedo, não dando abertura a<br />
outro tipo de interpretação.<br />
58) (2002)<br />
De acordo com a história em quadrinhos<br />
protagonizada por Hagar e seu filho<br />
Hamlet, pode-se afirmar que a postura de<br />
Hagar<br />
A) valoriza a existência da diversidade<br />
social e de culturas, e as várias<br />
representações e explicações desse<br />
universo.<br />
B) desvaloriza a existência da<br />
diversidade social e as várias culturas,<br />
e determina uma única explicação para<br />
esse universo.<br />
C) valoriza a possibilidade de explicar as<br />
sociedades e as culturas a partir de<br />
várias visões de mundo.<br />
D) valoriza a pluralidade cultural e social<br />
ao aproximar a visão de mundo de<br />
navegantes e não-navegantes.<br />
E) desvaloriza a pluralidade cultural e<br />
social, ao considerar o mundo habitado<br />
apenas pelos navegantes.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Hagar reduz o<br />
mundo a dois tipos de pessoas: navegantes<br />
e não-navegantes. No último quadrinho, diz<br />
que são os navegantes que estabelecem<br />
esses dois grupos. Portanto, quem é<br />
diferente dos navegantes (que estabelecem<br />
o padrão) simplesmente é incluído na massa<br />
única dos não-navegantes. Não importa<br />
quem ou quantos sejam, sua diversidade<br />
social ou cultural em relação aos navegantes<br />
ou entre si. Vemos aí a desvalorização de<br />
outras culturas.<br />
Comentário do INEP<br />
Dentre as habilidades básicas para a<br />
compreensão de um texto destaca-se a<br />
capacidade do leitor de identificar os<br />
pressupostos de cada afirmação que lhe é<br />
apresentada. Nesta questão o participante<br />
deve identificar a posição tanto de Hagar<br />
como de seu filho Hamlet e, em seguida,<br />
avaliar quais os argumentos que justificam a<br />
opinião de Hagar ao definir que no mundo só<br />
existem dois tipos de pessoas. A pergunta de<br />
Hamlet a seu pai explicita a importância do<br />
ato de narrar através do diálogo e do efeito<br />
humorístico contido no episódio representado<br />
na tira. O resultado da compreensão<br />
acertada do diálogo é que o narrador torna<br />
inteligível, para si e para os outros, a lógica<br />
do seu pensamento através do diálogo entre<br />
os dois personagens. É importante observar<br />
que o humor do personagem Hagar é<br />
identificado na postura simetricamente<br />
oposta à de Michel de Montaigne, por<br />
exemplo (ver questão 58): a sua visão de<br />
mundo apresenta-se autocentrada, isto é,<br />
centrada nos seus próprios valores (vikings).<br />
A habilidade requerida do participante nessa<br />
questão, qual seja, "valorizar a diversidade<br />
dos patrimônios etnoculturais", é mobilizada<br />
aqui na sua dimensão negativa: é criticando<br />
a postura chauvinista de Hagar que o<br />
participante é capaz de responder<br />
corretamente a questão. A última alternativa<br />
(E) funciona como um distrator, pois neste<br />
caso não está suposta a crítica do discurso<br />
do personagem. Cerca de um terço dos<br />
participantes assinalou a alternativa correta<br />
B. As demais opções são devidas,<br />
possivelmente, a uma leitura pouco<br />
compreensiva das alternativas associadas a<br />
história em quadrinhos.<br />
66
59) (2009) Analise as seguintes avaliações<br />
de possíveis resultados de um teste na<br />
lnternet.<br />
H6 - Utilizar os conhecimentos da<br />
LEM e de seus mecanismos<br />
como meio de ampliar as<br />
possibilidades de acesso a<br />
informações, tecnologias e<br />
culturas.<br />
Veja. 8 jul. 2009. p.<strong>10</strong>2 (adaptado).<br />
Depreende-se, a partir desse conjunto de<br />
informações, que o teste que deu origem<br />
a esses resultados, além de estabelecer<br />
um perfil para o usuário de sites de<br />
relacionamento, apresenta preocupação<br />
com hábitos e propõe mudanças de<br />
comportamento direcionadas<br />
A) ao adolescente que acessa sites de<br />
entretenimento.<br />
B) ao profissional interessado em<br />
aperfeiçoamento tecnológico.<br />
C) à pessoa que usa os sites de<br />
relacionamento para complementar seu<br />
círculo de amizades.<br />
D) ao usuário que reserva mais tempo<br />
aos sites de relacionamento do que ao<br />
convívio pessoal com os amigos.<br />
E) ao leitor que se interessa em aprender<br />
sobre o funcionamento de diversos<br />
tipos de sites de relacionamento.<br />
Comentário<br />
(QUESTÃO: AZUL 93, BRANCA 92,<br />
ROSA 92)<br />
Questão bastante fácil, pois pede que se<br />
indique a que público se dirige a<br />
preocupação com o hábito de se relacionar<br />
com outras pessoas muito mais pela internet<br />
do que pessoalmente, alertando para a<br />
necessidade da mudança de tal<br />
comportamento. Dessa forma, a resposta<br />
correta é a alternativa D.<br />
COMPETÊNCIA DE ÁREA 2<br />
H5 - Associar vocábulos e<br />
expressões de um texto em<br />
LEM ao seu tema.<br />
H7 - Relacionar um texto em<br />
LEM, as estruturas<br />
linguísticas, sua função e<br />
seu uso social.<br />
H8 - Reconhecer a importância<br />
da produção cultural em LEM<br />
como representação da<br />
diversidade cultural e<br />
linguística.<br />
COMPETÊNCIA DE ÁREA 3<br />
H9 - Reconhecer as<br />
manifestações corporais de<br />
movimento como originárias<br />
de necessidades cotidianas<br />
de um grupo social<br />
01) (2008) Calcula-se que 78% do<br />
desmatamento na Amazônia tenha sido<br />
motivado pela pecuária — cerca de 35%<br />
do rebanho nacional está na região — e<br />
que pelo menos 50 milhões de hectares<br />
de pastos são pouco produtivos. Enquanto<br />
o custo médio para aumentar a<br />
produtividade de 1 hectare de pastagem é<br />
de 2 mil reais, o custo para derrubar igual<br />
área de floresta é estimado em 800 reais,<br />
o que estimula novos desmatamentos.<br />
Adicionalmente, madeireiras retiram as<br />
árvores de valor comercial que foram<br />
abatidas para a criação de pastagens. Os<br />
pecuaristas sabem que problemas<br />
ambientais como esses podem provocar<br />
restrições à pecuária nessas áreas, a<br />
exemplo do que ocorreu em 2006 com o<br />
plantio da soja, o qual, posteriormente, foi<br />
proibido em áreas de floresta.<br />
Época, 3/3/2008 e 9/6/2008 (com adaptações).<br />
A partir da situação-problema descrita,<br />
conclui-se que<br />
67
A) o desmatamento na Amazônia decorre<br />
principalmente da exploração ilegal de<br />
árvores de valor comercial.<br />
B) um dos problemas que os pecuaristas<br />
vêm enfrentando na Amazônia é a<br />
proibição do plantio de soja.<br />
C) a mobilização de máquinas e de força<br />
humana torna o desmatamento mais<br />
caro que o aumento da produtividade<br />
de pastagens.<br />
D) o superavit comercial decorrente da<br />
exportação de carne produzida na<br />
Amazônia compensa a possível<br />
degradação ambiental.<br />
E) a recuperação de áreas desmatadas<br />
e o aumento de produtividade das<br />
pastagens podem contribuir para a<br />
redução do desmatamento na<br />
Amazônia.<br />
Comentário do portal<br />
Essa questão retrata o problema do<br />
desmatamento da Amazônia, relacionado<br />
principalmente com o desenvolvimento da<br />
pecuária na região. Para resolvê-la, foram<br />
necessários a leitura atenta do texto e o<br />
conhecimento sobre os problemas<br />
ambientais da atualidade. A alternativa<br />
correta é a letra E, pois é mais caro para os<br />
pecuaristas aumentar a produtividade do que<br />
as áreas de pasto, o que acarreta o aumento<br />
do desmatamento da Amazônia.<br />
02) (2008) A Lei Federal n.º 9.985/2000, que<br />
instituiu o sistema nacional de unidades<br />
de conservação, define dois tipos de<br />
áreas protegidas. O primeiro, as unidades<br />
de proteção integral, tem por objetivo<br />
preservar a natureza, admitindo-se<br />
apenas o uso indireto dos seus recursos<br />
naturais, isto é, aquele que não envolve<br />
consumo, coleta, dano ou destruição dos<br />
recursos naturais. O segundo, as<br />
unidades de uso sustentável, tem por<br />
função compatibilizar a conservação da<br />
natureza com o uso sustentável de<br />
parcela dos recursos naturais. Nesse<br />
caso, permite-se a exploração do<br />
ambiente de maneira a garantir a<br />
perenidade dos recursos ambientais<br />
renováveis e dos processos ecológicos,<br />
mantendo-se a biodiversidade e os<br />
demais atributos ecológicos, de forma<br />
socialmente justa e economicamente<br />
viável.<br />
Considerando essas informações, analise<br />
a seguinte situação hipotética.<br />
Ao discutir a aplicação de recursos<br />
disponíveis para o desenvolvimento de<br />
determinada região, organizações civis,<br />
universidade e governo resolveram<br />
investir na utilização de uma unidade de<br />
proteção integral, o Parque Nacional do<br />
Morro do Pindaré, e de uma unidade de<br />
uso sustentável, a Floresta Nacional do<br />
Sabiá. Depois das discussões, a equipe<br />
resolveu levar adiante três projetos:<br />
— o projeto I consiste de pesquisas<br />
científicas embasadas exclusivamente<br />
na observação de animais;<br />
— o projeto II inclui a construção de uma<br />
escola e de um centro de vivência;<br />
— o projeto III promove a organização de<br />
uma comunidade extrativista que<br />
poderá coletar e explorar<br />
comercialmente frutas e sementes<br />
nativas.<br />
Nessa situação hipotética, atendendo-se à<br />
lei mencionada acima, é possível<br />
desenvolver tanto na unidade de proteção<br />
integral quanto na de uso sustentável<br />
A) apenas o projeto I.<br />
B) apenas o projeto III.<br />
C) apenas os projetos I e II.<br />
D) apenas os projetos II e III.<br />
E) todos os três projetos.<br />
Comentário do portal<br />
A alternativa correta é a letra "A", pois,<br />
analisando-se a situação hipotética sugerida<br />
no enunciado, percebe-se que ela deverá<br />
atender os requisitos tanto da unidade de<br />
proteção integral quanto da unidade de uso<br />
sustentável. Portanto, apenas o projeto I<br />
poderá ser desenvolvido nessas duas<br />
propostas de unidades.<br />
03) (1999) Leia o texto abaixo.<br />
Cabelos longos, brinco na orelha<br />
esquerda, físico de skatista. Na aparência,<br />
o estudante brasiliense Rui Lopes Viana<br />
Filho, de 16 anos, não lembra em nada o<br />
estereótipo dos gênios. Ele não usa<br />
pesados óculos de grau e está longe de<br />
ter um ar introspectivo. No final do mês<br />
passado, Rui retornou de Taiwan, onde<br />
enfrentou 419 competidores de todo o<br />
mundo na 39ª Olimpíada Internacional de<br />
Matemática. A reluzente medalha de ouro<br />
que ele trouxe na bagagem está<br />
dependurada sobre a cama de seu quarto,<br />
atulhado de rascunhos dos problemas<br />
matemáticos que aprendeu a decifrar nos<br />
últimos cinco anos.<br />
68
Veja – Vencer uma olimpíada serve de<br />
passaporte para uma carreira profissional<br />
meteórica?<br />
Rui – Nada disso. Decidi me dedicar à<br />
Olimpíada porque sei que a concorrência<br />
por um emprego é cada vez mais<br />
selvagem e cruel. Agora tenho algo a mais<br />
para oferecer. O problema é que as coisas<br />
estão mudando muito rápido e não sei<br />
qual será minha profissão. Além de ser<br />
muito novo para decidir sobre o meu<br />
futuro profissional, sei que esse conceito<br />
de carreira mudou muito.<br />
(Entrevista de Rui Lopes Viana Filho à Veja,<br />
05/08/1998, n.31, p. 9-<strong>10</strong>)<br />
Na pergunta, o repórter estabelece uma<br />
relação entre a entrada do estudante no<br />
mercado de trabalho e a vitória na<br />
Olimpíada. O estudante<br />
A) concorda com a relação e afirma que o<br />
desempenho na Olimpíada é<br />
fundamental para sua entrada no<br />
mercado.<br />
B) discorda da relação e complementa<br />
que é fácil se fazer previsões sobre o<br />
mercado de trabalho.<br />
C) discorda da relação e afirma que seu<br />
futuro profissional independe de<br />
dedicação aos estudos.<br />
D) discorda da relação e afirma que seu<br />
desempenho só é relevante se<br />
escolher uma profissão relacionada à<br />
matemática.<br />
E) concorda em parte com a relação e<br />
complementa que é complexo fazer<br />
previsões sobre o mercado de trabalho.<br />
Comentário<br />
Não é difícil de se chegar à resposta<br />
correta ao se ler a reportagem. Ao final do<br />
último parágrafo — (...) Além de ser muito<br />
novo para decidir sobre o meu futuro<br />
profissional, sei que esse conceito de carreira<br />
mudou muito. —, o estudante praticamente<br />
fornece a resposta à questão, declarando-se<br />
realista ao não tentar prever seu futuro<br />
profissional devido à pouca idade e às<br />
mudanças no mercado de trabalho. Quanto a<br />
concordar parcialmente com o repórter, veja<br />
que ele, apesar de negar que o prêmio fosse<br />
uma garantia de sucesso profissional, logo<br />
depois afirma que, com ele, terá algo mais a<br />
oferecer ao mercado. Questão de nível fácil.<br />
Comentário do INEP<br />
Nesta situação-problema, o participante<br />
deveria demonstrar que compreendeu as<br />
premissas de um discurso, distinguindo a<br />
diferença de significado de palavras isoladas<br />
ou no contexto em que estão inseridas.<br />
Verificou-se que mais da metade dos<br />
participantes demonstrou possuir essa<br />
compreensão. Aqueles que optaram pelas<br />
alternativas C e D podem ter sido atraídos<br />
pelo significado negativo da expressão inicial<br />
"Nada disso".<br />
04) (1998) Texto 1<br />
"Mulher, Irmã, escuta-me: não ames,<br />
Quando a teus pés um homem terno e<br />
curvo<br />
jurar amor, chorar pranto de sangue,<br />
Não creias, não, mulher: ele te engana!<br />
As lágrimas são gotas da mentira<br />
E o juramento manto da perfídia."<br />
(Joaquim Manoel de Macedo)<br />
Texto 2<br />
"Teresa, se algum sujeito bancar o<br />
sentimental em cima de você<br />
E te jurar uma paixão do tamanho de um<br />
bonde<br />
Se ele chorar<br />
Se ele ajoelhar<br />
Se ele se rasgar todo<br />
Não acredite não Teresa<br />
É lágrima de cinema<br />
É tapeação<br />
Mentira<br />
CAI FORA"<br />
(Manuel Bandeira)<br />
Os autores, ao fazerem alusão às<br />
imagens da lágrima sugerem que:<br />
A) há um tratamento idealizado da<br />
relação homem/mulher.<br />
B) há um tratamento realista da relação<br />
homem/mulher.<br />
C) a relação familiar é idealizada.<br />
D) a mulher é superior ao homem.<br />
E) a mulher é igual ao homem.<br />
Comentário<br />
Ambos os autores, ao utilizarem a<br />
imagem da lágrima, estão na realidade<br />
mostrando que a figura do homem que é<br />
romântico a ponto de chorar ao jurar amor<br />
não existe. Tanto Macedo quanto<br />
Bandeira alertam as mulheres dizendo,<br />
com palavras e estilos diferentes, que não<br />
há homem que chore por amor (portanto,<br />
essa figura é uma idealização — e, por<br />
conseguinte, toda imagem que se tem<br />
sobre os relacionamentos<br />
demasiadamente românticos). Note que<br />
Bandeira chega até mesmo a chamar tal<br />
"chorão" de ator ("...É lágrima de cinema /<br />
69
É tapeação..."). Macedo dá uma imagem<br />
pesada às lágrimas ("...são gotas da<br />
mentira...").<br />
05) (1999) Considere os textos abaixo.<br />
(...) de modo particular, quero encorajar os<br />
crentes empenhados no campo da<br />
filosofia para que iluminem os diversos<br />
âmbitos da atividade humana, graças ao<br />
exercício de uma razão que se torna mais<br />
segura e perspicaz com o apoio que<br />
recebe da fé.<br />
(Papa João Paulo II. Carta Encíclica Fides<br />
et Ratio aos bispos da igreja católica sobre as relações<br />
entre fé e razão, 1998)<br />
As verdades da razão natural não<br />
contradizem as verdades da fé cristã.<br />
(São Tomás de Aquino<br />
–pensador medieval)<br />
Refletindo sobre os textos, pode-se<br />
concluir que:<br />
A) a encíclica papal está em contradição<br />
com o pensamento de São Tomás de<br />
Aquino, refletindo a diferença de<br />
épocas.<br />
B) a encíclica papal procura<br />
complementar São Tomás de Aquino,<br />
pois este colocava a razão natural<br />
acima da fé.<br />
C) a Igreja medieval valorizava a razão<br />
mais do que a encíclica de João Paulo<br />
II.<br />
D) o pensamento teológico teve sua<br />
importância na Idade Média, mas, em<br />
nossos dias, não tem relação com o<br />
pensamento filosófico.<br />
E) tanto a encíclica papal como a frase<br />
de São Tomás de Aquino procuram<br />
conciliar os pensamentos sobre fé e<br />
razão.<br />
Comentário<br />
Nessa questão, é necessária uma<br />
releitura do texto para que se tenha uma<br />
melhor compreensão do tema. Tanto a<br />
citação do Papa quanto a de São Tomás de<br />
Aquino tentam criar uma interdependência<br />
entre a ciência e a fé, a religião. O Papa<br />
incentiva aqueles que exercem a pesquisa<br />
científica ou filosófica a manter a fé cristã.<br />
São Tomás de Aquino, por sua vez, equipara<br />
o avanço da ciência ao aumento da própria<br />
fé, afirmando que a razão natural não<br />
contradiz a fé cristã. Se um cresce, cresce<br />
também o outro, em harmonia e sem<br />
contradições. Questão de grau médio.<br />
(Português)<br />
Nessa questão, encontramos dois textos:<br />
o primeiro, do século XX, foi elaborado pelo<br />
Papa João Paulo II; o segundo, do século<br />
XIII, pelo teólogo e filósofo cristão São<br />
Tomás de Aquino. O conteúdo de ambos se<br />
refere à ligação entre fé e razão, a qual<br />
esteve presente na filosofia escolástica da<br />
Idade Média. Esse campo de reflexão buscou<br />
conciliar o cristianismo com o pensamento de<br />
Aristóteles e teve em São Tomás de Aquino<br />
seu maior representante.<br />
Mesmo sem ter todas essas informações,<br />
você poderia responder tranqüilamente à<br />
questão por meio de uma leitura atenta dos<br />
dois textos, chegando à conclusão de que<br />
"tanto a encíclica papal como a frase de São<br />
Tomás de Aquino procuram conciliar os<br />
pensamentos sobre fé e razão". Resposta<br />
correta: alternativa E. (História)<br />
Comentário do INEP<br />
Para resolver esta situação-problema, o<br />
participante deveria mostrar que, além de<br />
interpretar textos, sabe relacioná-los sendo<br />
que, nesse item, essas operações referem-se<br />
a um texto escrito na época medieval e a<br />
outro escrito recentemente.<br />
Mais de 70% dos participantes<br />
demonstraram facilidade em estabelecer esta<br />
relação.<br />
06) (1999) Leia um texto publicado no jornal<br />
Gazeta Mercantil. Esse texto é parte de<br />
um artigo que analisa algumas situações<br />
de crise no mundo, entre elas, a quebra<br />
da Bolsa de Nova Iorque em 1929, e foi<br />
publicado na época de uma iminente crise<br />
financeira no Brasil.<br />
Deu no que deu. No dia 29 de outubro de<br />
1929, uma terça-feira, praticamente não<br />
havia compradores no pregão de Nova<br />
Iorque, só vendedores. Seguiu-se uma<br />
crise incomparável: o Produto Interno<br />
Bruto dos Estados Unidos caiu de <strong>10</strong>4<br />
bilhões de dólares em 1929, para 56<br />
bilhões em 1933, coisa inimaginável em<br />
nossos dias. O valor do dólar caiu a quase<br />
metade. O desemprego elevou-se de 1,5<br />
milhão para 12,5 milhões de trabalhadores<br />
– cerca de 25% da população ativa –<br />
entre 1929 e 1933. A construção civil caiu<br />
90%. Nove milhões de aplicações, tipo<br />
caderneta de poupança, perderam-se com<br />
o fechamento dos bancos. Oitenta e cinco<br />
mil firmas faliram. Houve saques e norteamericanos<br />
que passaram fome.<br />
(Gazeta Mercantil, 05/01/1999)<br />
70
Ao citar dados referentes à crise ocorrida<br />
em 1929, em um artigo jornalístico atual,<br />
pode-se atribuir ao jornalista a seguinte<br />
intenção:<br />
A) questionar a interpretação da crise.<br />
B) comunicar sobre o desemprego.<br />
C) instruir o leitor sobre aplicações em<br />
bolsa de valores.<br />
D) relacionar os fatos passados e<br />
presentes.<br />
E) analisar dados financeiros americanos.<br />
Comentário<br />
Nessa questão, o que se tem de fazer é<br />
prestar atenção às alternativas das<br />
respostas. Nenhuma delas se apresenta tão<br />
bem contextualizada a uma possível<br />
interpretação quanto a letra D. Partindo-se da<br />
análise do texto, fica claro que a intenção do<br />
artigo é remeter o leitor ao passado para<br />
tentar conduzi-lo a uma reflexão sobre uma<br />
situação presente, não mencionada na<br />
questão. Após a leitura e utilizando-se a já<br />
citada eliminação de questões, torna-se clara<br />
a resposta. Questão de nível médio.<br />
(Português)<br />
Muitas vezes, quando procuramos<br />
entender uma crise econômica ou financeira<br />
de grandes proporções, buscamos<br />
estabelecer relações com crises passadas. O<br />
mesmo ocorre no jornalismo, como prova o<br />
texto encontrado nessa questão. Buscando<br />
entender uma crise ocorrida no início de<br />
1999, o jornalista da Gazeta Mercantil<br />
buscou relacionar a situação dessa época<br />
com a grande crise de 1929 que afetou o<br />
mundo, trazendo desemprego e recessão,<br />
entre tantos outros problemas econômicos e<br />
sociais.<br />
Para responder a essa questão, era<br />
necessário ler atentamente o enunciado, em<br />
que está destacado que "o texto é parte de<br />
um artigo que analisa algumas situações de<br />
crise no mundo" e "foi publicado na época de<br />
uma iminente crise financeira no Brasil". Era<br />
importante também observar a data em que o<br />
artigo foi publicado: 05/01/1999. A partir<br />
dessas constatações, facilmente você<br />
chegaria a conclusão de que a intenção do<br />
jornalista era "relacionar os fatos passados e<br />
presentes". Resposta correta: alternativa D.<br />
(História)<br />
Comentário do INEP<br />
A resolução da questão demandava a<br />
capacidade dos participantes de relacionar<br />
eventos históricos envolvendo crises<br />
econômicas ocorridas em épocas e lugares<br />
distintos. Aproximadamente 2/3 deles<br />
demonstraram essa capacidade. Os demais,<br />
provavelmente, não compreenderam a<br />
exigência expressa no enunciado do<br />
problema – apontar as razões pelas quais um<br />
jornalista traz à tona eventos ocorridos<br />
setenta anos antes –, e apenas interpretaram<br />
o sentido do texto citado, que descreve a<br />
crise mundial de 1929.<br />
07) (2002) O autor da tira utilizou os<br />
princípios de composição de um<br />
conhecido movimento artístico para<br />
representar a necessidade de um mesmo<br />
observador aprender a considerar,<br />
simultaneamente, diferentes pontos de<br />
vista.<br />
Das obras reproduzidas, todas de autoria<br />
do pintor espanhol Pablo Picasso, aquela<br />
em cuja composição foi adotado um<br />
procedimento semelhante é:<br />
A)<br />
B)<br />
C)<br />
71
D)<br />
08) (2001) Oxímoro (ou paradoxo) é uma<br />
construção textual que agrupa significados<br />
que se excluem mutuamente. Para<br />
Garfield, a frase de saudação de Jon<br />
(tirinha abaixo) expressa o maior de todos<br />
os oxímoros.<br />
E)<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. O movimento<br />
artístico que previa considerar<br />
simultaneamente diversos pontos de vista<br />
era o Cubismo. Havia a desconstrução da<br />
forma para que se pudesse ver todos os<br />
ângulos concomitantemente. O único quadro<br />
que apresenta essas características é o da<br />
alternativa E. As outras quatro alternativas<br />
pressupõem a manutenção da forma.<br />
Comentário do INEP<br />
O objetivo desta questão é levar o<br />
participante a refletir sobre características<br />
fundamentais de um movimento artístico – o<br />
cubismo – a partir de dados visuais:<br />
quadrinhos e pinturas. A reprodução de dois<br />
quadrinhos da personagem Calvin forneceu<br />
para o participante informações básicas para<br />
a análise que deveria fazer das alternativas<br />
apresentadas. Segundo os quadrinhos, o<br />
movimento artístico abordado pela questão<br />
tinha como procedimento de composição<br />
representar, para um mesmo observador,<br />
diferentes pontos de vista, fazendo com que<br />
"o tradicional único ponto de vista" fosse<br />
abandonado e com que a perspectiva fosse<br />
fraturada. A análise das obras de Picasso<br />
reproduzidas nas alternativas permite que o<br />
participante reconheça a adoção desse<br />
procedimento no quadro "Marie-Thérèse<br />
apoiada no cotovelo" (alternativa E, com 46%<br />
de registros), no qual se pode reconhecer a<br />
representação de diferentes pontos de vista<br />
a partir dos quais é apresentado o rosto da<br />
mulher retratada.<br />
Folha de S. Paulo. 31 de julho de 2000.<br />
Nas alternativas abaixo, estão transcritos<br />
versos retirados do poema “O operário em<br />
construção”. Pode-se afirmar que ocorre<br />
um oxímoro em<br />
A) "Era ele que erguia casas<br />
Onde antes só havia chão."<br />
B) "... a casa que ele fazia<br />
Sendo a sua liberdade<br />
Era a sua escravidão."<br />
C) "Naquela casa vazia<br />
Que ele mesmo levantara<br />
Um mundo novo nascia<br />
De que sequer suspeitava."<br />
D) "... o operário faz a coisa<br />
E a coisa faz o operário."<br />
E) "Ele, um humilde operário<br />
Um operário que sabia<br />
Exercer a profissão."<br />
MORAES, Vinícius de. Antologia Poética. São Paulo:<br />
Companhia das Letras, 1992.<br />
Comentário<br />
Idéias que se completam e se excluem<br />
mutuamente são encontradas na alternativa<br />
B: a casa que ele construía era, ao mesmo<br />
tempo, sua liberdade e sua escravidão.<br />
A casa é um símbolo de liberdade para o<br />
homem. Para o homem operário, é também<br />
símbolo de escravidão, pois ele está<br />
"condenado" a jamais usufruir do resultado<br />
do seu trabalho (a casa que faz não é para<br />
ele).<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão propõe ao participante que<br />
estabeleça uma relação entre linguagens,<br />
associando a compreensão de um efeito<br />
semântico produzido pelo uso do oxímoro<br />
nos quadrinhos com o mesmo efeito num<br />
texto poético. O índice (18%) de escolhas da<br />
alternativa D deve-se, possivelmente, a uma<br />
análise parcial da noção de paradoxo,<br />
confundida com inversão.<br />
72
09) (2005) Cândido Portinari (1903-1962), um<br />
dos mais importantes artistas brasileiros<br />
do século XX, tratou de diferentes<br />
aspectos da nossa realidade em seus<br />
quadros.<br />
Sobre a temática dos “Retirantes”,<br />
Portinari também escreveu o seguinte<br />
poema:<br />
(....)<br />
Os retirantes vêm vindo com trouxas e<br />
embrulhos<br />
Vêm das terras secas e escuras;<br />
pedregulhos<br />
Doloridos como fagulhas de carvão aceso<br />
Corpos disformes, uns panos sujos,<br />
Rasgados e sem cor, dependurados<br />
Homens de enorme ventre bojudo<br />
Mulheres com trouxas caídas para o lado<br />
Pançudas, carregando ao colo um garoto<br />
Choramingando, remelento<br />
(....)<br />
(Cândido Portinari. Poemas. Rio de Janeiro:<br />
J. Olympio, 1964.)<br />
Das quatro obras reproduzidas, assinale<br />
aquelas que abordam a problemática que<br />
é tema do poema.<br />
A) 1 e 2 D) 3 e 4<br />
B) 1 e 3 E) 2 e 4<br />
C) 2 e 3<br />
Comentário<br />
O poema apresenta correspondência com<br />
as imagens ao descrever com detalhes a<br />
figura do retirante: pobre, mal vestido,<br />
carregando trouxas e embrulhos.<br />
<strong>10</strong>) (2002) "A palavra tatuagem é<br />
relativamente recente. Toda a gente sabe<br />
que foi o navegador Cook que a introduziu<br />
no Ocidente, e esse escrevia tattou, termo<br />
da Polinésia de tatou ou tu tahou,<br />
'desenho'.<br />
(...) Desde os mais remotos tempos,<br />
vemo-la a transformar-se: distintivo<br />
honorífico entre uns homens, ferrete de<br />
ignomínia entre outros, meio de assustar o<br />
adversário para os bretões, marca de uma<br />
classe de selvagens das ilhas marquesas<br />
(...) sinal de amor, de desprezo, de ódio<br />
(...). Há três casos de tatuagem no Rio,<br />
completamente diversos na sua<br />
significação moral: os negros,os turcos<br />
com o fundo religioso e o bando de<br />
meretrizes, dos rufiões e dos humildes,<br />
que se marcam por crime ou por<br />
ociosidade".<br />
RIO, João do. Os Tatuadores. Revista Kosmos.<br />
1904, apud: A alma encantadora das ruas,<br />
SP: Cia das Letras, 1999.<br />
Com base no texto são feitas as seguintes<br />
afirmações:<br />
I. João do Rio revela como a tatuagem já<br />
estava presente na cidade do Rio de<br />
Janeiro, pelo menos desde o início do<br />
século XX, e era mais utilizada por<br />
alguns setores da população.<br />
II. A tatuagem, de origem polinésia,<br />
difundiu-se no ocidente com a<br />
característica que permanece até hoje:<br />
utilização entre os jovens com função<br />
estritamente estética.<br />
III. O texto mostra como a tatuagem é<br />
uma prática que se transforma no<br />
tempo e que alcança inúmeros sentidos<br />
nos diversos setores das sociedades e<br />
para as diferentes culturas.<br />
Está correto o que se afirma apenas em<br />
A) I D) I e II<br />
B) II E) I e III<br />
C) III<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Constata-se o<br />
seguinte: a tatuagem já existia no Brasil no<br />
início do século XX (o texto é de 1904 e parte<br />
dele se refere ao Rio do Janeiro) e era<br />
utilizada em diferentes setores da sociedade.<br />
A afirmação de que as tatuagens possuem<br />
apenas finalidade estética entre os jovens<br />
elimina a segunda alternativa. Já a última<br />
alternativa confirma as transformações das<br />
funções da tatuagem ao longo do tempo nas<br />
mais diversas sociedades e culturas.<br />
Comentário do INEP<br />
O texto estabelece uma relação entre a<br />
atualidade da palavra "tatuagem" e a<br />
antiguidade do uso de desenhos como<br />
pintura corporal. Focaliza uma prática social<br />
bastante difundida que adquiriu aspectos e<br />
conotações diversos nos diferentes contextos<br />
73
históricos e geográficos em que ela pode ser<br />
descrita. Fazendo a descrição da prática da<br />
tatuagem, como uma manifestação comum a<br />
diferentes culturas, e que adquire, inclusive,<br />
significados diferentes dentro de uma mesma<br />
cultura, induz o participante a refletir sobre a<br />
"diversidade dos patrimônios etnoculturais e<br />
artísticos", contextualizando ao mesmo<br />
tempo seus significados "em diferentes<br />
sociedades, épocas e lugares". Ao retomar<br />
as várias origens e usos da tatuagem, o<br />
participante é levado a compreender e<br />
respeitar uma gramática histórica dos<br />
costumes marcada sempre por semelhanças<br />
e diferenças. A questão não exigia, portanto,<br />
nenhum conhecimento prévio sobre as<br />
diferentes formas de manifestação dessa<br />
prática, mas simplesmente constatar, com o<br />
autor do texto citado, a historicidade e a<br />
diversidade das práticas sociais. Os<br />
participantes que assinalaram a alternativa C<br />
(36%), possivelmente, não levaram em<br />
consideração informações do texto. A<br />
questão foi corretamente respondida por 37%<br />
dos participantes.<br />
11) (2003) Eu começaria dizendo que poesia<br />
é uma questão de linguagem. A<br />
importância do poeta é que ele torna mais<br />
viva a linguagem. Carlos Drummond de<br />
Andrade escreveu um dos mais belos<br />
versos da língua portuguesa com duas<br />
palavras comuns: cão e cheirando.<br />
Um cão cheirando o futuro<br />
(Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP, 24/05/1988.<br />
adaptação)<br />
74<br />
O que deu ao verso de Drummond o<br />
caráter de inovador da língua foi<br />
A) o modo raro como foi tratado o<br />
"futuro".<br />
B) a referência ao cão como "animal de<br />
estimação".<br />
C) a flexão pouco comum do verbo<br />
"cheirar" (gerúndio).<br />
D) a aproximação não usual do agente<br />
citado e a ação de "cheirar".<br />
E) o emprego do artigo indefinido "um" e<br />
do artigo definido "o" na mesma frase.<br />
Comentário<br />
O fato de Drummond identificar o futuro<br />
como algo que pode ser percebido por um<br />
animal irracional por meio do olfato foi<br />
inovador. A figura de linguagem foi<br />
construída metaforicamente: o futuro torna-se<br />
uma coisa que tem cheiro, contrariamente à<br />
imagem pela qual ele normalmente é<br />
representado: como algo que não se vê e<br />
não se pode pressentir ou tocar.<br />
12) (2003) Pequenos tormentos da vida<br />
De cada lado da sala de aula, pelas janelas<br />
altas, o azul convida os meninos,<br />
as nuvens desenrolam-se, lentas como quem<br />
vai inventando<br />
preguiçosamente uma história sem fim...Sem<br />
fim é a aula: e nada acontece,<br />
nada...Bocejos e moscas. Se ao menos,<br />
pensa Margarida, se ao menos um<br />
avião entrasse por uma janela e saísse por<br />
outra!<br />
(Mário Quintana. Poesias)<br />
Na cena retratada no texto, o sentimento<br />
do tédio<br />
A) provoca que os meninos fiquem<br />
contando histórias.<br />
B) leva os alunos a simularem bocejos,<br />
em protesto contra a monotonia da<br />
aula.<br />
C) acaba estimulando a fantasia,<br />
criando a expectativa de algum<br />
imprevisto mágico.<br />
D) prevalece de modo absoluto,<br />
impedindo até mesmo a distração ou o<br />
exercício do pensamento.<br />
E) decorre da morosidade da aula, em<br />
contraste com o movimento acelerado<br />
das nuvens e das moscas.<br />
Comentário<br />
Essa questão aborda o imaginário<br />
decorrente do marasmo trazido pela escola.<br />
O texto enfatiza o arrastar do tempo na<br />
mente de uma aluna, Margarida, que se põe<br />
a pensar em fatos mágicos ou imaginários<br />
que pudessem romper com a lentidão da<br />
aula.<br />
13) (2000) O autor do texto abaixo critica,<br />
ainda que em linguagem metafórica, a<br />
sociedade contemporânea em relação aos<br />
seus hábitos alimentares.<br />
“Vocês que têm mais de 15 anos, se<br />
lembram quando a gente comprava leite<br />
em garrafa, na leiteria da esquina? (...)<br />
Mas vocês não se lembram de nada,<br />
pô! Vai ver nem sabem o que é vaca. Nem<br />
o que é leite. Estou falando isso porque<br />
agora mesmo peguei um pacote de leite –<br />
leite em pacote, imagina, Tereza! – na<br />
porta dos fundos e estava escrito que é<br />
pasterizado, ou pasteurizado, sei lá, tem<br />
vitamina, é garantido pela<br />
embromatologia, foi enriquecido e o<br />
escambau. Será que isso é mesmo leite?<br />
No dicionário diz que leite é outra coisa:
‘Líquido branco, contendo água,<br />
proteína, açúcar e sais minerais’. Um<br />
alimento pra ninguém botar defeito. O ser<br />
humano o usa há mais de 5.000 anos. É o<br />
único alimento só alimento. A carne serve<br />
pro animal andar, a fruta serve pra fazer<br />
outra fruta, o ovo serve pra fazer outra<br />
galinha (...) O leite é só leite. Ou toma ou<br />
bota fora. Esse aqui examinando bem, é<br />
só pra botar fora. Tem chumbo, tem<br />
benzina, tem mais água do que leite, tem<br />
serragem, sou capaz de jurar que nem<br />
vaca tem por trás desse negócio. Depois o<br />
pessoal ainda acha estranho que os<br />
meninos não gostem de leite.<br />
Mas, como não gostam? Não gostam<br />
como? Nunca tomaram! Múúúúúúú!”<br />
(FERNANDES, Millôr. O Estado de S. Paulo ,<br />
22 de agosto de 1999)<br />
A palavra embromatologia usada pelo<br />
autor é:<br />
A) um termo científico que significa estudo<br />
dos bromatos.<br />
B) uma composição do termo de gíria<br />
“embromação” (enganação) com<br />
bromatologia, que é o estudo dos<br />
alimentos.<br />
C) uma junção do termo de gíria<br />
“embromação” (enganação) com<br />
lactologia, que é o estudo das<br />
embalagens para leite.<br />
D) um neologismo da química orgânica<br />
que significa a técnica de retirar<br />
bromatos dos laticínios.<br />
E) uma corruptela de termo da<br />
agropecuária que significa a ordenha<br />
mecânica.<br />
Comentário<br />
É necessário para a resolução desta<br />
questão:<br />
- perceber que o texto critica o exagerado<br />
uso de substâncias artificiais nos<br />
alimentos;<br />
- conhecer o significado da gíria embromar e<br />
da palavra bromatologia.<br />
Conhecendo esses significados, você<br />
elimina todas as alternativas erradas: a, c, d<br />
e e.<br />
Você poderá ter dúvida quanto à<br />
alternativa c, que também será eliminada se<br />
souber o significado da palavra lactologia,<br />
que é o estudo do leite e produtos lácteos e<br />
não das embalagens para leite.<br />
Nesta questão, são trabalhados os<br />
conceitos de interpretação de texto, formação<br />
de palavras e conhecimentos gerais.<br />
Comentário do INEP<br />
A resolução da questão requeria que o<br />
participante, ao ler o texto vinculasse o<br />
significado de um termo de gíria -<br />
"embromação" - com o da palavra<br />
bromatologia. A resposta correta exigia que o<br />
participante não abrisse mão do sabor<br />
picante contido na linguagem metafórica,<br />
sabor vinculado ao conhecimento específico<br />
contido na palavra bromatologia. Cerca da<br />
metade dos participantes (51%) optou pela<br />
alternativa correta e, os 20% que escolheram<br />
a alternativa C, provavelmente associaram a<br />
referência feita no texto à leite em pacote.<br />
14) (2008) Os signos visuais, como meios de<br />
comunicação, são classificados em<br />
categorias de acordo com seus<br />
significados.<br />
A categoria denominada indício<br />
corresponde aos signos visuais que têm<br />
origem em formas ou situações naturais<br />
ou casuais, as quais, devido à ocorrência<br />
em circunstâncias idênticas, muitas vezes<br />
repetidas, indicam algo e adquirem<br />
significado. Por exemplo, nuvens negras<br />
indicam tempestade. Com base nesse<br />
conceito, escolha a opção que representa<br />
um signo da categoria dos indícios.<br />
A)<br />
B)<br />
C)<br />
D)<br />
75
E)<br />
16) (2005) Leia estes textos.<br />
Texto 1<br />
Comentário<br />
Trata-se de uma questão interpretativa. O<br />
aluno precisa entender o que é “indício” para<br />
respondê-la. Segundo o dicionário Aurélio,<br />
indício é o mesmo que “sinal, vestígio,<br />
indicação”. Das figuras apresentadas,<br />
apenas a alternativa B indica algo: a<br />
passagem de alguém por algum lugar —<br />
pegada.<br />
15) (2008)<br />
76<br />
Exame, 28/9/2007.<br />
Entre os seguintes ditos populares, qual<br />
deles melhor corresponde à figura<br />
acima?<br />
A) Com perseverança, tudo se alcança.<br />
B) Cada macaco no seu galho.<br />
C) Nem tudo que balança cai.<br />
D) Quem tudo quer, tudo perde.<br />
E) Deus ajuda quem cedo madruga.<br />
Comentário<br />
Assim como a questão 37, esta também<br />
envolve interpretação de signos, ou seja, o<br />
aluno precisa estar atento à imagem e<br />
relacioná-la ao dito popular correspondente.<br />
A alternativa "A" é a correta, pois, para<br />
uma lesma “grudenta” e vagarosa conseguir<br />
pular numa cama elástica, é necessária<br />
muita perseverança.<br />
Texto 2<br />
Sonhar<br />
Mais um sonho impossível<br />
Lutar<br />
Quando é fácil ceder<br />
Vencer o inimigo invencível<br />
Negar quando a regra é vender<br />
Sofrer a tortura implacável<br />
Romper a incabível prisão<br />
Voar num limite improvável<br />
Tocar o inacessível chão<br />
É minha lei, é minha questão<br />
Virar esse mundo<br />
Cravar esse chão<br />
Não me importa saber<br />
Se é terrível demais<br />
Quantas guerras terei que vencer<br />
Por um pouco de paz<br />
E amanhã se esse chão que eu beijei<br />
For meu leito e perdão<br />
Vou saber que valeu delirar<br />
E morrer de paixão<br />
E assim, seja lá como for<br />
Vai ter fim a infinita aflição<br />
E o mundo vai ver uma flor<br />
Brotar do impossível chão.<br />
(J. Darione – M. Leigh – Versão de Chico Buarque de<br />
Hollanda e Ruy Guerra, 1972.)<br />
A tirinha e a canção apresentam uma<br />
reflexão sobre o futuro da humanidade. É<br />
correto concluir que os dois textos<br />
A) afirmam que o homem é capaz de<br />
alcançar a paz.<br />
B) concordam que o desarmamento é<br />
inatingível.<br />
C) julgam que o sonho é um desafio<br />
invencível.<br />
D) têm visões diferentes sobre um<br />
possível mundo melhor.<br />
E) transmitem uma mensagem de<br />
otimismo sobre a paz.<br />
Comentário<br />
Enquanto o primeiro texto é ácido em<br />
relação à possibilidade de desarmamento da<br />
população (ou seja, à criação de uma<br />
sociedade mais pacífica), o segundo mostra<br />
a capacidade que a humanidade tem de crer<br />
e, por isso, tentar fazer até o que a princípio<br />
parece impossível. Para os autores da
canção, nada é intrinsecamente impossível.<br />
A relação entre eles é de oposição:<br />
descrença x crença. Questão de nível de<br />
dificuldade médio.<br />
terceiro quadrinho porque, ou conheciam a<br />
história de Van Gogh, ou apropriaram-se<br />
corretamente da informação sobre esse<br />
pintor, fornecida no enunciado.<br />
17) (2000) As histórias em quadrinhos, por<br />
vezes, utilizam animais como<br />
personagens e a eles atribuem<br />
comportamento humano. O gato Garfield<br />
é exemplo desse fato.<br />
18) (2004)<br />
Fonte: Caderno Vida e Arte, Jornal do Povo, Fortaleza<br />
Van Gogh, pintor holandês nascido em<br />
1853, é um dos principais nomes da<br />
pintura mundial. É dele o quadro abaixo.<br />
Auto-retrato de orelha cortada<br />
O 3º quadrinho sugere que Garfield:<br />
A) desconhece tudo sobre arte, por isso<br />
faz a sugestão.<br />
B) acredita que todo pintor deve fazer algo<br />
diferente.<br />
C) defende que para ser pintor a pessoa<br />
tem de sofrer.<br />
D) conhece a história de um pintor<br />
famoso e faz uso da ironia.<br />
E) acredita que seu dono tenha tendência<br />
artística e, por isso, faz a sugestão.<br />
Comentário<br />
Outra questão de interpretação de texto.<br />
Muito simples para quem um dia ouviu falar<br />
de Van Gogh, e simplíssima para aqueles<br />
que prestam atenção em todos os elementos<br />
do enunciado. Afinal, quem deu uma<br />
espiadinha na legenda do quadro de Van<br />
Gogh matou na hora a questão.<br />
Esta questão é daquelas rápidas de serem<br />
resolvidas, associando-se os elementos<br />
apresentados.<br />
Comentário do INEP<br />
A significativa maioria (81%) dos<br />
participantes soube perceber o caráter<br />
irônico da fala do Garfield, expressa no<br />
A tira "Hagar" e o poema de Alberto<br />
Caeiro (um dos heterônimos de Fernando<br />
Pessoa) expressam, com linguagens<br />
diferentes, uma mesma idéia: a de que a<br />
compreensão que temos do mundo é<br />
condicionada, essencialmente,<br />
A) pelo alcance de cada cultura.<br />
B) pela capacidade visual do observador.<br />
C) pelo senso de humor de cada um.<br />
D) pela idade do observador.<br />
E) pela altura do ponto de observação.<br />
Comentário<br />
Questão reflexiva sobre a forma como<br />
cada cultura vê o mundo sob a ótica dos<br />
limites dados pelos seus costumes e<br />
possibilidades de pensamento inerentes a<br />
cada modelo cultural. A mistura de uma tira e<br />
de um poema amplia a possibilidade de<br />
pensamento por trabalhar com linguagens<br />
diferentes. A alternativa correta é a letra A,<br />
pois ambos (tira e poema) utilizam figuras de<br />
linguagem (metáfora e ironia) para expressar<br />
as diferentes visões de mundo.<br />
19) (2002)<br />
De acordo com a história em quadrinhos<br />
protagonizada por Hagar e seu filho<br />
Hamlet, pode-se afirmar que a postura de<br />
Hagar<br />
A) valoriza a existência da diversidade<br />
social e de culturas, e as várias<br />
representações e explicações desse<br />
universo.<br />
77
B) desvaloriza a existência da<br />
diversidade social e as várias culturas,<br />
e determina uma única explicação para<br />
esse universo.<br />
C) valoriza a possibilidade de explicar as<br />
sociedades e as culturas a partir de<br />
várias visões de mundo.<br />
D) valoriza a pluralidade cultural e social<br />
ao aproximar a visão de mundo de<br />
navegantes e não-navegantes.<br />
E) desvaloriza a pluralidade cultural e<br />
social, ao considerar o mundo habitado<br />
apenas pelos navegantes.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Hagar reduz o mundo<br />
a dois tipos de pessoas: navegantes e nãonavegantes.<br />
No último quadrinho, diz que são<br />
os navegantes que estabelecem esses dois<br />
grupos. Portanto, quem é diferente dos<br />
navegantes (que estabelecem o padrão)<br />
simplesmente é incluído na massa única dos<br />
não-navegantes. Não importa quem ou quantos<br />
sejam, sua diversidade social ou cultural em<br />
relação aos navegantes ou entre si. Vemos aí a<br />
desvalorização de outras culturas.<br />
Comentário do INEP<br />
Dentre as habilidades básicas para a<br />
compreensão de um texto destaca-se a<br />
capacidade do leitor de identificar os<br />
pressupostos de cada afirmação que lhe é<br />
apresentada. Nesta questão o participante<br />
deve identificar a posição tanto de Hagar<br />
como de seu filho Hamlet e, em seguida,<br />
avaliar quais os argumentos que justificam a<br />
opinião de Hagar ao definir que no mundo só<br />
existem dois tipos de pessoas. A pergunta de<br />
Hamlet a seu pai explicita a importância do<br />
ato de narrar através do diálogo e do efeito<br />
humorístico contido no episódio representado<br />
na tira. O resultado da compreensão<br />
acertada do diálogo é que o narrador torna<br />
inteligível, para si e para os outros, a lógica<br />
do seu pensamento através do diálogo entre<br />
os dois personagens. É importante observar<br />
que o humor do personagem Hagar é<br />
identificado na postura simetricamente<br />
oposta à de Michel de Montaigne, por<br />
exemplo (ver questão 58): a sua visão de<br />
mundo apresenta-se autocentrada, isto é,<br />
centrada nos seus próprios valores (vikings).<br />
A habilidade requerida do participante nessa<br />
questão, qual seja, "valorizar a diversidade<br />
dos patrimônios etnoculturais", é mobilizada<br />
aqui na sua dimensão negativa: é criticando<br />
a postura chauvinista de Hagar que o<br />
participante é capaz de responder<br />
corretamente a questão. A última alternativa<br />
(E) funciona como um distrator, pois neste<br />
caso não está suposta a crítica do discurso<br />
do personagem. Cerca de um terço dos<br />
participantes assinalou a alternativa correta<br />
B. As demais opções são devidas,<br />
possivelmente, a uma leitura pouco<br />
compreensiva das alternativas associadas a<br />
história em quadrinhos.<br />
H<strong>10</strong> - Reconhecer a necessidade<br />
de transformação de hábitos<br />
corporais em função das<br />
necessidades cinestésicas<br />
01) (2008) Calcula-se que 78% do<br />
desmatamento na Amazônia tenha sido<br />
motivado pela pecuária — cerca de 35%<br />
do rebanho nacional está na região — e<br />
que pelo menos 50 milhões de hectares<br />
de pastos são pouco produtivos. Enquanto<br />
o custo médio para aumentar a<br />
produtividade de 1 hectare de pastagem é<br />
de 2 mil reais, o custo para derrubar igual<br />
área de floresta é estimado em 800 reais,<br />
o que estimula novos desmatamentos.<br />
Adicionalmente, madeireiras retiram as<br />
árvores de valor comercial que foram<br />
abatidas para a criação de pastagens. Os<br />
pecuaristas sabem que problemas<br />
ambientais como esses podem provocar<br />
restrições à pecuária nessas áreas, a<br />
exemplo do que ocorreu em 2006 com o<br />
plantio da soja, o qual, posteriormente, foi<br />
proibido em áreas de floresta.<br />
Época, 3/3/2008 e 9/6/2008 (com adaptações).<br />
A partir da situação-problema descrita,<br />
conclui-se que<br />
A) o desmatamento na Amazônia decorre<br />
principalmente da exploração ilegal de<br />
árvores de valor comercial.<br />
B) um dos problemas que os pecuaristas<br />
vêm enfrentando na Amazônia é a<br />
proibição do plantio de soja.<br />
C) a mobilização de máquinas e de força<br />
humana torna o desmatamento mais<br />
caro que o aumento da produtividade<br />
de pastagens.<br />
D) o superavit comercial decorrente da<br />
exportação de carne produzida na<br />
Amazônia compensa a possível<br />
degradação ambiental.<br />
E) a recuperação de áreas desmatadas<br />
e o aumento de produtividade das<br />
pastagens podem contribuir para a<br />
redução do desmatamento na<br />
Amazônia.<br />
78
Comentário do portal<br />
Essa questão retrata o problema do<br />
desmatamento da Amazônia, relacionado<br />
principalmente com o desenvolvimento da<br />
pecuária na região. Para resolvê-la, foram<br />
necessários a leitura atenta do texto e o<br />
conhecimento sobre os problemas<br />
ambientais da atualidade. A alternativa<br />
correta é a letra E, pois é mais caro para os<br />
pecuaristas aumentar a produtividade do que<br />
as áreas de pasto, o que acarreta o aumento<br />
do desmatamento da Amazônia.<br />
02) (2008) A Lei Federal n.º 9.985/2000, que<br />
instituiu o sistema nacional de unidades<br />
de conservação, define dois tipos de<br />
áreas protegidas. O primeiro, as unidades<br />
de proteção integral, tem por objetivo<br />
preservar a natureza, admitindo-se<br />
apenas o uso indireto dos seus recursos<br />
naturais, isto é, aquele que não envolve<br />
consumo, coleta, dano ou destruição dos<br />
recursos naturais. O segundo, as<br />
unidades de uso sustentável, tem por<br />
função compatibilizar a conservação da<br />
natureza com o uso sustentável de<br />
parcela dos recursos naturais. Nesse<br />
caso, permite-se a exploração do<br />
ambiente de maneira a garantir a<br />
perenidade dos recursos ambientais<br />
renováveis e dos processos ecológicos,<br />
mantendo-se a biodiversidade e os<br />
demais atributos ecológicos, de forma<br />
socialmente justa e economicamente<br />
viável.<br />
Considerando essas informações, analise<br />
a seguinte situação hipotética.<br />
Ao discutir a aplicação de recursos<br />
disponíveis para o desenvolvimento de<br />
determinada região, organizações civis,<br />
universidade e governo resolveram<br />
investir na utilização de uma unidade de<br />
proteção integral, o Parque Nacional do<br />
Morro do Pindaré, e de uma unidade de<br />
uso sustentável, a Floresta Nacional do<br />
Sabiá. Depois das discussões, a equipe<br />
resolveu levar adiante três projetos:<br />
— o projeto I consiste de pesquisas<br />
científicas embasadas exclusivamente<br />
na observação de animais;<br />
— o projeto II inclui a construção de uma<br />
escola e de um centro de vivência;<br />
— o projeto III promove a organização de<br />
uma comunidade extrativista que<br />
poderá coletar e explorar<br />
comercialmente frutas e sementes<br />
nativas.<br />
Nessa situação hipotética, atendendo-se à<br />
lei mencionada acima, é possível<br />
desenvolver tanto na unidade de proteção<br />
integral quanto na de uso sustentável<br />
A) apenas o projeto I.<br />
B) apenas o projeto III.<br />
C) apenas os projetos I e II.<br />
D) apenas os projetos II e III.<br />
E) todos os três projetos.<br />
Comentário do portal<br />
A alternativa correta é a letra "A", pois,<br />
analisando-se a situação hipotética sugerida<br />
no enunciado, percebe-se que ela deverá<br />
atender os requisitos tanto da unidade de<br />
proteção integral quanto da unidade de uso<br />
sustentável. Portanto, apenas o projeto I<br />
poderá ser desenvolvido nessas duas<br />
propostas de unidades.<br />
03) (1999) Leia o texto abaixo.<br />
Cabelos longos, brinco na orelha<br />
esquerda, físico de skatista. Na aparência,<br />
o estudante brasiliense Rui Lopes Viana<br />
Filho, de 16 anos, não lembra em nada o<br />
estereótipo dos gênios. Ele não usa<br />
pesados óculos de grau e está longe de<br />
ter um ar introspectivo. No final do mês<br />
passado, Rui retornou de Taiwan, onde<br />
enfrentou 419 competidores de todo o<br />
mundo na 39ª Olimpíada Internacional de<br />
Matemática. A reluzente medalha de ouro<br />
que ele trouxe na bagagem está<br />
dependurada sobre a cama de seu quarto,<br />
atulhado de rascunhos dos problemas<br />
matemáticos que aprendeu a decifrar nos<br />
últimos cinco anos.<br />
Veja – Vencer uma olimpíada serve de<br />
passaporte para uma carreira profissional<br />
meteórica?<br />
Rui – Nada disso. Decidi me dedicar à<br />
Olimpíada porque sei que a concorrência<br />
por um emprego é cada vez mais<br />
selvagem e cruel. Agora tenho algo a mais<br />
para oferecer. O problema é que as coisas<br />
estão mudando muito rápido e não sei<br />
qual será minha profissão. Além de ser<br />
muito novo para decidir sobre o meu<br />
futuro profissional, sei que esse conceito<br />
de carreira mudou muito.<br />
(Entrevista de Rui Lopes Viana Filho à Veja,<br />
05/08/1998, n.31, p. 9-<strong>10</strong>)<br />
Na pergunta, o repórter estabelece uma<br />
relação entre a entrada do estudante no<br />
mercado de trabalho e a vitória na<br />
Olimpíada. O estudante<br />
79
80<br />
A) concorda com a relação e afirma que o<br />
desempenho na Olimpíada é<br />
fundamental para sua entrada no<br />
mercado.<br />
B) discorda da relação e complementa<br />
que é fácil se fazer previsões sobre o<br />
mercado de trabalho.<br />
C) discorda da relação e afirma que seu<br />
futuro profissional independe de<br />
dedicação aos estudos.<br />
D) discorda da relação e afirma que seu<br />
desempenho só é relevante se<br />
escolher uma profissão relacionada à<br />
matemática.<br />
E) concorda em parte com a relação e<br />
complementa que é complexo fazer<br />
previsões sobre o mercado de trabalho.<br />
Comentário<br />
Não é difícil de se chegar à resposta<br />
correta ao se ler a reportagem. Ao final do<br />
último parágrafo — (...) Além de ser muito<br />
novo para decidir sobre o meu futuro<br />
profissional, sei que esse conceito de carreira<br />
mudou muito. —, o estudante praticamente<br />
fornece a resposta à questão, declarando-se<br />
realista ao não tentar prever seu futuro<br />
profissional devido à pouca idade e às<br />
mudanças no mercado de trabalho. Quanto a<br />
concordar parcialmente com o repórter, veja<br />
que ele, apesar de negar que o prêmio fosse<br />
uma garantia de sucesso profissional, logo<br />
depois afirma que, com ele, terá algo mais a<br />
oferecer ao mercado. Questão de nível fácil.<br />
Comentário do INEP<br />
Nesta situação-problema, o participante<br />
deveria demonstrar que compreendeu as<br />
premissas de um discurso, distinguindo a<br />
diferença de significado de palavras isoladas<br />
ou no contexto em que estão inseridas.<br />
Verificou-se que mais da metade dos<br />
participantes demonstrou possuir essa<br />
compreensão. Aqueles que optaram pelas<br />
alternativas C e D podem ter sido atraídos<br />
pelo significado negativo da expressão inicial<br />
"Nada disso".<br />
04) (1998) Texto 1<br />
"Mulher, Irmã, escuta-me: não ames,<br />
Quando a teus pés um homem terno e<br />
curvo<br />
jurar amor, chorar pranto de sangue,<br />
Não creias, não, mulher: ele te engana!<br />
As lágrimas são gotas da mentira<br />
E o juramento manto da perfídia."<br />
(Joaquim Manoel de Macedo)<br />
Texto 2<br />
"Teresa, se algum sujeito bancar o<br />
sentimental em cima de você<br />
E te jurar uma paixão do tamanho de um<br />
bonde<br />
Se ele chorar<br />
Se ele ajoelhar<br />
Se ele se rasgar todo<br />
Não acredite não Teresa<br />
É lágrima de cinema<br />
É tapeação<br />
Mentira<br />
CAI FORA"<br />
(Manuel Bandeira)<br />
Os autores, ao fazerem alusão às<br />
imagens da lágrima sugerem que:<br />
A) há um tratamento idealizado da<br />
relação homem/mulher.<br />
B) há um tratamento realista da relação<br />
homem/mulher.<br />
C) a relação familiar é idealizada.<br />
D) a mulher é superior ao homem.<br />
E) a mulher é igual ao homem.<br />
Comentário<br />
Ambos os autores, ao utilizarem a<br />
imagem da lágrima, estão na realidade<br />
mostrando que a figura do homem que é<br />
romântico a ponto de chorar ao jurar amor<br />
não existe. Tanto Macedo quanto<br />
Bandeira alertam as mulheres dizendo,<br />
com palavras e estilos diferentes, que não<br />
há homem que chore por amor (portanto,<br />
essa figura é uma idealização — e, por<br />
conseguinte, toda imagem que se tem<br />
sobre os relacionamentos<br />
demasiadamente românticos). Note que<br />
Bandeira chega até mesmo a chamar tal<br />
"chorão" de ator ("...É lágrima de cinema /<br />
É tapeação..."). Macedo dá uma imagem<br />
pesada às lágrimas ("...são gotas da<br />
mentira...").<br />
05) (1999) Considere os textos abaixo.<br />
(...) de modo particular, quero encorajar os<br />
crentes empenhados no campo da<br />
filosofia para que iluminem os diversos<br />
âmbitos da atividade humana, graças ao<br />
exercício de uma razão que se torna mais<br />
segura e perspicaz com o apoio que<br />
recebe da fé.<br />
(Papa João Paulo II. Carta Encíclica Fides<br />
et Ratio aos bispos da igreja católica sobre as relações<br />
entre fé e razão, 1998)<br />
As verdades da razão natural não<br />
contradizem as verdades da fé cristã.<br />
(São Tomás de Aquino<br />
–pensador medieval)
Refletindo sobre os textos, pode-se<br />
concluir que:<br />
A) a encíclica papal está em contradição<br />
com o pensamento de São Tomás de<br />
Aquino, refletindo a diferença de<br />
épocas.<br />
B) a encíclica papal procura<br />
complementar São Tomás de Aquino,<br />
pois este colocava a razão natural<br />
acima da fé.<br />
C) a Igreja medieval valorizava a razão<br />
mais do que a encíclica de João Paulo<br />
II.<br />
D) o pensamento teológico teve sua<br />
importância na Idade Média, mas, em<br />
nossos dias, não tem relação com o<br />
pensamento filosófico.<br />
E) tanto a encíclica papal como a frase<br />
de São Tomás de Aquino procuram<br />
conciliar os pensamentos sobre fé e<br />
razão.<br />
Comentário<br />
Nessa questão, é necessária uma<br />
releitura do texto para que se tenha uma<br />
melhor compreensão do tema. Tanto a<br />
citação do Papa quanto a de São Tomás de<br />
Aquino tentam criar uma interdependência<br />
entre a ciência e a fé, a religião. O Papa<br />
incentiva aqueles que exercem a pesquisa<br />
científica ou filosófica a manter a fé cristã.<br />
São Tomás de Aquino, por sua vez, equipara<br />
o avanço da ciência ao aumento da própria<br />
fé, afirmando que a razão natural não<br />
contradiz a fé cristã. Se um cresce, cresce<br />
também o outro, em harmonia e sem<br />
contradições. Questão de grau médio.<br />
(Português)<br />
Nessa questão, encontramos dois textos:<br />
o primeiro, do século XX, foi elaborado pelo<br />
Papa João Paulo II; o segundo, do século<br />
XIII, pelo teólogo e filósofo cristão São<br />
Tomás de Aquino. O conteúdo de ambos se<br />
refere à ligação entre fé e razão, a qual<br />
esteve presente na filosofia escolástica da<br />
Idade Média. Esse campo de reflexão buscou<br />
conciliar o cristianismo com o pensamento de<br />
Aristóteles e teve em São Tomás de Aquino<br />
seu maior representante.<br />
Mesmo sem ter todas essas informações,<br />
você poderia responder tranqüilamente à<br />
questão por meio de uma leitura atenta dos<br />
dois textos, chegando à conclusão de que<br />
"tanto a encíclica papal como a frase de São<br />
Tomás de Aquino procuram conciliar os<br />
pensamentos sobre fé e razão". Resposta<br />
correta: alternativa E. (História)<br />
Comentário do INEP<br />
Para resolver esta situação-problema, o<br />
participante deveria mostrar que, além de<br />
interpretar textos, sabe relacioná-los sendo<br />
que, nesse item, essas operações referem-se<br />
a um texto escrito na época medieval e a<br />
outro escrito recentemente.<br />
Mais de 70% dos participantes<br />
demonstraram facilidade em estabelecer esta<br />
relação.<br />
06) (1999) Leia um texto publicado no jornal<br />
Gazeta Mercantil. Esse texto é parte de<br />
um artigo que analisa algumas situações<br />
de crise no mundo, entre elas, a quebra<br />
da Bolsa de Nova Iorque em 1929, e foi<br />
publicado na época de uma iminente crise<br />
financeira no Brasil.<br />
Deu no que deu. No dia 29 de outubro de<br />
1929, uma terça-feira, praticamente não<br />
havia compradores no pregão de Nova<br />
Iorque, só vendedores. Seguiu-se uma<br />
crise incomparável: o Produto Interno<br />
Bruto dos Estados Unidos caiu de <strong>10</strong>4<br />
bilhões de dólares em 1929, para 56<br />
bilhões em 1933, coisa inimaginável em<br />
nossos dias. O valor do dólar caiu a quase<br />
metade. O desemprego elevou-se de 1,5<br />
milhão para 12,5 milhões de trabalhadores<br />
– cerca de 25% da população ativa –<br />
entre 1929 e 1933. A construção civil caiu<br />
90%. Nove milhões de aplicações, tipo<br />
caderneta de poupança, perderam-se com<br />
o fechamento dos bancos. Oitenta e cinco<br />
mil firmas faliram. Houve saques e norteamericanos<br />
que passaram fome.<br />
(Gazeta Mercantil, 05/01/1999)<br />
Ao citar dados referentes à crise ocorrida<br />
em 1929, em um artigo jornalístico atual,<br />
pode-se atribuir ao jornalista a seguinte<br />
intenção:<br />
A) questionar a interpretação da crise.<br />
B) comunicar sobre o desemprego.<br />
C) instruir o leitor sobre aplicações em<br />
bolsa de valores.<br />
D) relacionar os fatos passados e<br />
presentes.<br />
E) analisar dados financeiros americanos.<br />
Comentário<br />
Nessa questão, o que se tem de fazer é<br />
prestar atenção às alternativas das<br />
respostas. Nenhuma delas se apresenta tão<br />
bem contextualizada a uma possível<br />
interpretação quanto a letra D. Partindo-se da<br />
análise do texto, fica claro que a intenção do<br />
artigo é remeter o leitor ao passado para<br />
81
tentar conduzi-lo a uma reflexão sobre uma<br />
situação presente, não mencionada na<br />
questão. Após a leitura e utilizando-se a já<br />
citada eliminação de questões, torna-se clara<br />
a resposta. Questão de nível médio.<br />
(Português)<br />
Muitas vezes, quando procuramos<br />
entender uma crise econômica ou financeira<br />
de grandes proporções, buscamos<br />
estabelecer relações com crises passadas. O<br />
mesmo ocorre no jornalismo, como prova o<br />
texto encontrado nessa questão. Buscando<br />
entender uma crise ocorrida no início de<br />
1999, o jornalista da Gazeta Mercantil<br />
buscou relacionar a situação dessa época<br />
com a grande crise de 1929 que afetou o<br />
mundo, trazendo desemprego e recessão,<br />
entre tantos outros problemas econômicos e<br />
sociais.<br />
Para responder a essa questão, era<br />
necessário ler atentamente o enunciado, em<br />
que está destacado que "o texto é parte de<br />
um artigo que analisa algumas situações de<br />
crise no mundo" e "foi publicado na época de<br />
uma iminente crise financeira no Brasil". Era<br />
importante também observar a data em que o<br />
artigo foi publicado: 05/01/1999. A partir<br />
dessas constatações, facilmente você<br />
chegaria a conclusão de que a intenção do<br />
jornalista era "relacionar os fatos passados e<br />
presentes". Resposta correta: alternativa D.<br />
(História)<br />
Comentário do INEP<br />
A resolução da questão demandava a<br />
capacidade dos participantes de relacionar<br />
eventos históricos envolvendo crises<br />
econômicas ocorridas em épocas e lugares<br />
distintos. Aproximadamente 2/3 deles<br />
demonstraram essa capacidade. Os demais,<br />
provavelmente, não compreenderam a<br />
exigência expressa no enunciado do<br />
problema – apontar as razões pelas quais um<br />
jornalista traz à tona eventos ocorridos<br />
setenta anos antes –, e apenas interpretaram<br />
o sentido do texto citado, que descreve a<br />
crise mundial de 1929.<br />
Das obras reproduzidas, todas de autoria<br />
do pintor espanhol Pablo Picasso, aquela<br />
em cuja composição foi adotado um<br />
procedimento semelhante é:<br />
A)<br />
B)<br />
C)<br />
D)<br />
07) (2002) O autor da tira utilizou os<br />
princípios de composição de um<br />
conhecido movimento artístico para<br />
representar a necessidade de um mesmo<br />
observador aprender a considerar,<br />
simultaneamente, diferentes pontos de<br />
vista.<br />
82
E)<br />
Folha de S. Paulo. 31 de julho de 2000.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. O movimento<br />
artístico que previa considerar<br />
simultaneamente diversos pontos de vista<br />
era o Cubismo. Havia a desconstrução da<br />
forma para que se pudesse ver todos os<br />
ângulos concomitantemente. O único quadro<br />
que apresenta essas características é o da<br />
alternativa E. As outras quatro alternativas<br />
pressupõem a manutenção da forma.<br />
Comentário do INEP<br />
O objetivo desta questão é levar o<br />
participante a refletir sobre características<br />
fundamentais de um movimento artístico – o<br />
cubismo – a partir de dados visuais:<br />
quadrinhos e pinturas. A reprodução de dois<br />
quadrinhos da personagem Calvin forneceu<br />
para o participante informações básicas para<br />
a análise que deveria fazer das alternativas<br />
apresentadas. Segundo os quadrinhos, o<br />
movimento artístico abordado pela questão<br />
tinha como procedimento de composição<br />
representar, para um mesmo observador,<br />
diferentes pontos de vista, fazendo com que<br />
"o tradicional único ponto de vista" fosse<br />
abandonado e com que a perspectiva fosse<br />
fraturada. A análise das obras de Picasso<br />
reproduzidas nas alternativas permite que o<br />
participante reconheça a adoção desse<br />
procedimento no quadro "Marie-Thérèse<br />
apoiada no cotovelo" (alternativa E, com 46%<br />
de registros), no qual se pode reconhecer a<br />
representação de diferentes pontos de vista<br />
a partir dos quais é apresentado o rosto da<br />
mulher retratada.<br />
08) (2001) Oxímoro (ou paradoxo) é uma<br />
construção textual que agrupa significados<br />
que se excluem mutuamente. Para<br />
Garfield, a frase de saudação de Jon<br />
(tirinha abaixo) expressa o maior de todos<br />
os oxímoros.<br />
Nas alternativas abaixo, estão transcritos<br />
versos retirados do poema “O operário em<br />
construção”. Pode-se afirmar que ocorre<br />
um oxímoro em<br />
A) "Era ele que erguia casas<br />
Onde antes só havia chão."<br />
B) "... a casa que ele fazia<br />
Sendo a sua liberdade<br />
Era a sua escravidão."<br />
C) "Naquela casa vazia<br />
Que ele mesmo levantara<br />
Um mundo novo nascia<br />
De que sequer suspeitava."<br />
D) "... o operário faz a coisa<br />
E a coisa faz o operário."<br />
E) "Ele, um humilde operário<br />
Um operário que sabia<br />
Exercer a profissão."<br />
MORAES, Vinícius de. Antologia Poética. São Paulo:<br />
Companhia das Letras, 1992.<br />
Comentário<br />
Idéias que se completam e se excluem<br />
mutuamente são encontradas na alternativa<br />
B: a casa que ele construía era, ao mesmo<br />
tempo, sua liberdade e sua escravidão.<br />
A casa é um símbolo de liberdade para o<br />
homem. Para o homem operário, é também<br />
símbolo de escravidão, pois ele está<br />
"condenado" a jamais usufruir do resultado<br />
do seu trabalho (a casa que faz não é para<br />
ele).<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão propõe ao participante que<br />
estabeleça uma relação entre linguagens,<br />
associando a compreensão de um efeito<br />
semântico produzido pelo uso do oxímoro<br />
nos quadrinhos com o mesmo efeito num<br />
texto poético. O índice (18%) de escolhas da<br />
alternativa D deve-se, possivelmente, a uma<br />
análise parcial da noção de paradoxo,<br />
confundida com inversão.<br />
09) (2005) Cândido Portinari (1903-1962), um<br />
dos mais importantes artistas brasileiros<br />
do século XX, tratou de diferentes<br />
aspectos da nossa realidade em seus<br />
quadros.<br />
83
classe de selvagens das ilhas marquesas<br />
(...) sinal de amor, de desprezo, de ódio<br />
(...). Há três casos de tatuagem no Rio,<br />
completamente diversos na sua<br />
significação moral: os negros,os turcos<br />
com o fundo religioso e o bando de<br />
meretrizes, dos rufiões e dos humildes,<br />
que se marcam por crime ou por<br />
ociosidade".<br />
RIO, João do. Os Tatuadores. Revista Kosmos.<br />
1904, apud: A alma encantadora das ruas,<br />
SP: Cia das Letras, 1999.<br />
84<br />
Sobre a temática dos “Retirantes”,<br />
Portinari também escreveu o seguinte<br />
poema:<br />
(....)<br />
Os retirantes vêm vindo com trouxas e<br />
embrulhos<br />
Vêm das terras secas e escuras;<br />
pedregulhos<br />
Doloridos como fagulhas de carvão aceso<br />
Corpos disformes, uns panos sujos,<br />
Rasgados e sem cor, dependurados<br />
Homens de enorme ventre bojudo<br />
Mulheres com trouxas caídas para o lado<br />
Pançudas, carregando ao colo um garoto<br />
Choramingando, remelento<br />
(....)<br />
(Cândido Portinari. Poemas. Rio de Janeiro:<br />
J. Olympio, 1964.)<br />
Das quatro obras reproduzidas, assinale<br />
aquelas que abordam a problemática que<br />
é tema do poema.<br />
A) 1 e 2 D) 3 e 4<br />
B) 1 e 3 E) 2 e 4<br />
C) 2 e 3<br />
Comentário<br />
O poema apresenta correspondência com<br />
as imagens ao descrever com detalhes a<br />
figura do retirante: pobre, mal vestido,<br />
carregando trouxas e embrulhos.<br />
<strong>10</strong>) (2002) "A palavra tatuagem é<br />
relativamente recente. Toda a gente sabe<br />
que foi o navegador Cook que a introduziu<br />
no Ocidente, e esse escrevia tattou, termo<br />
da Polinésia de tatou ou tu tahou,<br />
'desenho'.<br />
(...) Desde os mais remotos tempos,<br />
vemo-la a transformar-se: distintivo<br />
honorífico entre uns homens, ferrete de<br />
ignomínia entre outros, meio de assustar o<br />
adversário para os bretões, marca de uma<br />
Com base no texto são feitas as seguintes<br />
afirmações:<br />
I. João do Rio revela como a tatuagem já<br />
estava presente na cidade do Rio de<br />
Janeiro, pelo menos desde o início do<br />
século XX, e era mais utilizada por<br />
alguns setores da população.<br />
II. A tatuagem, de origem polinésia,<br />
difundiu-se no ocidente com a<br />
característica que permanece até hoje:<br />
utilização entre os jovens com função<br />
estritamente estética.<br />
III. O texto mostra como a tatuagem é<br />
uma prática que se transforma no<br />
tempo e que alcança inúmeros sentidos<br />
nos diversos setores das sociedades e<br />
para as diferentes culturas.<br />
Está correto o que se afirma apenas em<br />
A) I D) I e II<br />
B) II E) I e III<br />
C) III<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Constata-se o<br />
seguinte: a tatuagem já existia no Brasil no<br />
início do século XX (o texto é de 1904 e parte<br />
dele se refere ao Rio do Janeiro) e era<br />
utilizada em diferentes setores da sociedade.<br />
A afirmação de que as tatuagens possuem<br />
apenas finalidade estética entre os jovens<br />
elimina a segunda alternativa. Já a última<br />
alternativa confirma as transformações das<br />
funções da tatuagem ao longo do tempo nas<br />
mais diversas sociedades e culturas.<br />
Comentário do INEP<br />
O texto estabelece uma relação entre a<br />
atualidade da palavra "tatuagem" e a<br />
antiguidade do uso de desenhos como<br />
pintura corporal. Focaliza uma prática social<br />
bastante difundida que adquiriu aspectos e<br />
conotações diversos nos diferentes contextos<br />
históricos e geográficos em que ela pode ser<br />
descrita. Fazendo a descrição da prática da<br />
tatuagem, como uma manifestação comum a<br />
diferentes culturas, e que adquire, inclusive,
significados diferentes dentro de uma mesma<br />
cultura, induz o participante a refletir sobre a<br />
"diversidade dos patrimônios etnoculturais e<br />
artísticos", contextualizando ao mesmo<br />
tempo seus significados "em diferentes<br />
sociedades, épocas e lugares". Ao retomar<br />
as várias origens e usos da tatuagem, o<br />
participante é levado a compreender e<br />
respeitar uma gramática histórica dos<br />
costumes marcada sempre por semelhanças<br />
e diferenças. A questão não exigia, portanto,<br />
nenhum conhecimento prévio sobre as<br />
diferentes formas de manifestação dessa<br />
prática, mas simplesmente constatar, com o<br />
autor do texto citado, a historicidade e a<br />
diversidade das práticas sociais. Os<br />
participantes que assinalaram a alternativa C<br />
(36%), possivelmente, não levaram em<br />
consideração informações do texto. A<br />
questão foi corretamente respondida por 37%<br />
dos participantes.<br />
11) (2003) Eu começaria dizendo que poesia<br />
é uma questão de linguagem. A<br />
importância do poeta é que ele torna mais<br />
viva a linguagem. Carlos Drummond de<br />
Andrade escreveu um dos mais belos<br />
versos da língua portuguesa com duas<br />
palavras comuns: cão e cheirando.<br />
Um cão cheirando o futuro<br />
(Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP, 24/05/1988.<br />
adaptação)<br />
O que deu ao verso de Drummond o<br />
caráter de inovador da língua foi<br />
A) o modo raro como foi tratado o<br />
"futuro".<br />
B) a referência ao cão como "animal de<br />
estimação".<br />
C) a flexão pouco comum do verbo<br />
"cheirar" (gerúndio).<br />
D) a aproximação não usual do agente<br />
citado e a ação de "cheirar".<br />
E) o emprego do artigo indefinido "um" e<br />
do artigo definido "o" na mesma frase.<br />
Comentário<br />
O fato de Drummond identificar o futuro<br />
como algo que pode ser percebido por um<br />
animal irracional por meio do olfato foi<br />
inovador. A figura de linguagem foi<br />
construída metaforicamente: o futuro torna-se<br />
uma coisa que tem cheiro, contrariamente à<br />
imagem pela qual ele normalmente é<br />
representado: como algo que não se vê e<br />
não se pode pressentir ou tocar.<br />
12) (2003) Pequenos tormentos da vida<br />
De cada lado da sala de aula, pelas janelas<br />
altas, o azul convida os meninos,<br />
as nuvens desenrolam-se, lentas como quem<br />
vai inventando<br />
preguiçosamente uma história sem fim...Sem<br />
fim é a aula: e nada acontece,<br />
nada...Bocejos e moscas. Se ao menos,<br />
pensa Margarida, se ao menos um<br />
avião entrasse por uma janela e saísse por<br />
outra!<br />
(Mário Quintana. Poesias)<br />
Na cena retratada no texto, o sentimento<br />
do tédio<br />
A) provoca que os meninos fiquem<br />
contando histórias.<br />
B) leva os alunos a simularem bocejos,<br />
em protesto contra a monotonia da<br />
aula.<br />
C) acaba estimulando a fantasia,<br />
criando a expectativa de algum<br />
imprevisto mágico.<br />
D) prevalece de modo absoluto,<br />
impedindo até mesmo a distração ou o<br />
exercício do pensamento.<br />
E) decorre da morosidade da aula, em<br />
contraste com o movimento acelerado<br />
das nuvens e das moscas.<br />
Comentário<br />
Essa questão aborda o imaginário<br />
decorrente do marasmo trazido pela escola.<br />
O texto enfatiza o arrastar do tempo na<br />
mente de uma aluna, Margarida, que se põe<br />
a pensar em fatos mágicos ou imaginários<br />
que pudessem romper com a lentidão da<br />
aula.<br />
13) (2000) O autor do texto abaixo critica,<br />
ainda que em linguagem metafórica, a<br />
sociedade contemporânea em relação aos<br />
seus hábitos alimentares.<br />
“Vocês que têm mais de 15 anos, se<br />
lembram quando a gente comprava leite<br />
em garrafa, na leiteria da esquina? (...)<br />
Mas vocês não se lembram de nada,<br />
pô! Vai ver nem sabem o que é vaca. Nem<br />
o que é leite. Estou falando isso porque<br />
agora mesmo peguei um pacote de leite –<br />
leite em pacote, imagina, Tereza! – na<br />
porta dos fundos e estava escrito que é<br />
pasterizado, ou pasteurizado, sei lá, tem<br />
vitamina, é garantido pela<br />
embromatologia, foi enriquecido e o<br />
escambau. Será que isso é mesmo leite?<br />
No dicionário diz que leite é outra coisa:<br />
85
‘Líquido branco, contendo água,<br />
proteína, açúcar e sais minerais’. Um<br />
alimento pra ninguém botar defeito. O ser<br />
humano o usa há mais de 5.000 anos. É o<br />
único alimento só alimento. A carne serve<br />
pro animal andar, a fruta serve pra fazer<br />
outra fruta, o ovo serve pra fazer outra<br />
galinha (...) O leite é só leite. Ou toma ou<br />
bota fora. Esse aqui examinando bem, é<br />
só pra botar fora. Tem chumbo, tem<br />
benzina, tem mais água do que leite, tem<br />
serragem, sou capaz de jurar que nem<br />
vaca tem por trás desse negócio. Depois o<br />
pessoal ainda acha estranho que os<br />
meninos não gostem de leite.<br />
Mas, como não gostam? Não gostam<br />
como? Nunca tomaram! Múúúúúúú!”<br />
(FERNANDES, Millôr. O Estado de S. Paulo ,<br />
22 de agosto de 1999)<br />
A palavra embromatologia usada pelo<br />
autor é:<br />
A) um termo científico que significa estudo<br />
dos bromatos.<br />
B) uma composição do termo de gíria<br />
“embromação” (enganação) com<br />
bromatologia, que é o estudo dos<br />
alimentos.<br />
C) uma junção do termo de gíria<br />
“embromação” (enganação) com<br />
lactologia, que é o estudo das<br />
embalagens para leite.<br />
D) um neologismo da química orgânica<br />
que significa a técnica de retirar<br />
bromatos dos laticínios.<br />
E) uma corruptela de termo da<br />
agropecuária que significa a ordenha<br />
mecânica.<br />
Comentário<br />
É necessário para a resolução desta<br />
questão:<br />
- perceber que o texto critica o exagerado<br />
uso de substâncias artificiais nos<br />
alimentos;<br />
- conhecer o significado da gíria embromar e<br />
da palavra bromatologia.<br />
Comentário do INEP<br />
A resolução da questão requeria que o<br />
participante, ao ler o texto vinculasse o<br />
significado de um termo de gíria -<br />
"embromação" - com o da palavra<br />
bromatologia. A resposta correta exigia que o<br />
participante não abrisse mão do sabor<br />
picante contido na linguagem metafórica,<br />
sabor vinculado ao conhecimento específico<br />
contido na palavra bromatologia. Cerca da<br />
metade dos participantes (51%) optou pela<br />
alternativa correta e, os 20% que escolheram<br />
a alternativa C, provavelmente associaram a<br />
referência feita no texto à leite em pacote.<br />
14) (2008) Os signos visuais, como meios de<br />
comunicação, são classificados em<br />
categorias de acordo com seus<br />
significados.<br />
A categoria denominada indício<br />
corresponde aos signos visuais que têm<br />
origem em formas ou situações naturais<br />
ou casuais, as quais, devido à ocorrência<br />
em circunstâncias idênticas, muitas vezes<br />
repetidas, indicam algo e adquirem<br />
significado. Por exemplo, nuvens negras<br />
indicam tempestade. Com base nesse<br />
conceito, escolha a opção que representa<br />
um signo da categoria dos indícios.<br />
A)<br />
B)<br />
C)<br />
Conhecendo esses significados, você<br />
elimina todas as alternativas erradas: a, c, d<br />
e e.<br />
Você poderá ter dúvida quanto à<br />
alternativa c, que também será eliminada se<br />
souber o significado da palavra lactologia,<br />
que é o estudo do leite e produtos lácteos e<br />
não das embalagens para leite.<br />
Nesta questão, são trabalhados os<br />
conceitos de interpretação de texto, formação<br />
de palavras e conhecimentos gerais.<br />
86
D)<br />
aluno precisa estar atento à imagem e<br />
relacioná-la ao dito popular correspondente.<br />
A alternativa "A" é a correta, pois, para<br />
uma lesma “grudenta” e vagarosa conseguir<br />
pular numa cama elástica, é necessária<br />
muita perseverança.<br />
16) (2005) Leia estes textos.<br />
Texto 1<br />
E)<br />
Comentário<br />
Trata-se de uma questão interpretativa. O<br />
aluno precisa entender o que é “indício” para<br />
respondê-la. Segundo o dicionário Aurélio,<br />
indício é o mesmo que “sinal, vestígio,<br />
indicação”. Das figuras apresentadas,<br />
apenas a alternativa B indica algo: a<br />
passagem de alguém por algum lugar —<br />
pegada.<br />
15) (2008)<br />
Exame, 28/9/2007.<br />
Entre os seguintes ditos populares, qual<br />
deles melhor corresponde à figura<br />
acima?<br />
A) Com perseverança, tudo se alcança.<br />
B) Cada macaco no seu galho.<br />
C) Nem tudo que balança cai.<br />
D) Quem tudo quer, tudo perde.<br />
E) Deus ajuda quem cedo madruga.<br />
Comentário<br />
Assim como a questão 37, esta também<br />
envolve interpretação de signos, ou seja, o<br />
Texto 2<br />
Sonhar<br />
Mais um sonho impossível<br />
Lutar<br />
Quando é fácil ceder<br />
Vencer o inimigo invencível<br />
Negar quando a regra é vender<br />
Sofrer a tortura implacável<br />
Romper a incabível prisão<br />
Voar num limite improvável<br />
Tocar o inacessível chão<br />
É minha lei, é minha questão<br />
Virar esse mundo<br />
Cravar esse chão<br />
Não me importa saber<br />
Se é terrível demais<br />
Quantas guerras terei que vencer<br />
Por um pouco de paz<br />
E amanhã se esse chão que eu beijei<br />
For meu leito e perdão<br />
Vou saber que valeu delirar<br />
E morrer de paixão<br />
E assim, seja lá como for<br />
Vai ter fim a infinita aflição<br />
E o mundo vai ver uma flor<br />
Brotar do impossível chão.<br />
(J. Darione – M. Leigh – Versão de Chico Buarque de<br />
Hollanda e Ruy Guerra, 1972.)<br />
A tirinha e a canção apresentam uma<br />
reflexão sobre o futuro da humanidade. É<br />
correto concluir que os dois textos<br />
A) afirmam que o homem é capaz de<br />
alcançar a paz.<br />
B) concordam que o desarmamento é<br />
inatingível.<br />
C) julgam que o sonho é um desafio<br />
invencível.<br />
D) têm visões diferentes sobre um<br />
possível mundo melhor.<br />
E) transmitem uma mensagem de<br />
otimismo sobre a paz.<br />
87
Comentário<br />
Enquanto o primeiro texto é ácido em<br />
relação à possibilidade de desarmamento da<br />
população (ou seja, à criação de uma<br />
sociedade mais pacífica), o segundo mostra<br />
a capacidade que a humanidade tem de crer<br />
e, por isso, tentar fazer até o que a princípio<br />
parece impossível. Para os autores da<br />
canção, nada é intrinsecamente impossível.<br />
A relação entre eles é de oposição:<br />
descrença x crença. Questão de nível de<br />
dificuldade médio.<br />
17) (2004)<br />
A tira "Hagar" e o poema de Alberto<br />
Caeiro (um dos heterônimos de Fernando<br />
Pessoa) expressam, com linguagens<br />
diferentes, uma mesma idéia: a de que a<br />
compreensão que temos do mundo é<br />
condicionada, essencialmente,<br />
A) pelo alcance de cada cultura.<br />
B) pela capacidade visual do observador.<br />
C) pelo senso de humor de cada um.<br />
D) pela idade do observador.<br />
E) pela altura do ponto de observação.<br />
Comentário<br />
Questão reflexiva sobre a forma como<br />
cada cultura vê o mundo sob a ótica dos<br />
limites dados pelos seus costumes e<br />
possibilidades de pensamento inerentes a<br />
cada modelo cultural. A mistura de uma tira e<br />
de um poema amplia a possibilidade de<br />
pensamento por trabalhar com linguagens<br />
diferentes. A alternativa correta é a letra A,<br />
pois ambos (tira e poema) utilizam figuras de<br />
linguagem (metáfora e ironia) para expressar<br />
as diferentes visões de mundo.<br />
18) (2000) As histórias em quadrinhos, por<br />
vezes, utilizam animais como<br />
personagens e a eles atribuem<br />
comportamento humano. O gato Garfield<br />
é exemplo desse fato.<br />
Van Gogh, pintor holandês nascido em<br />
1853, é um dos principais nomes da<br />
pintura mundial. É dele o quadro abaixo.<br />
Auto-retrato de orelha cortada<br />
O 3º quadrinho sugere que Garfield:<br />
A) desconhece tudo sobre arte, por isso<br />
faz a sugestão.<br />
B) acredita que todo pintor deve fazer algo<br />
diferente.<br />
C) defende que para ser pintor a pessoa<br />
tem de sofrer.<br />
D) conhece a história de um pintor<br />
famoso e faz uso da ironia.<br />
E) acredita que seu dono tenha tendência<br />
artística e, por isso, faz a sugestão.<br />
Comentário<br />
Outra questão de interpretação de texto.<br />
Muito simples para quem um dia ouviu falar<br />
de Van Gogh, e simplíssima para aqueles<br />
que prestam atenção em todos os elementos<br />
do enunciado. Afinal, quem deu uma<br />
espiadinha na legenda do quadro de Van<br />
Gogh matou na hora a questão.<br />
Esta questão é daquelas rápidas de serem<br />
resolvidas, associando-se os elementos<br />
apresentados.<br />
Comentário do INEP<br />
A significativa maioria (81%) dos<br />
participantes soube perceber o caráter<br />
irônico da fala do Garfield, expressa no<br />
terceiro quadrinho porque, ou conheciam a<br />
história de Van Gogh, ou apropriaram-se<br />
corretamente da informação sobre esse<br />
pintor, fornecida no enunciado.<br />
19) (2002)<br />
88<br />
Fonte: Caderno Vida e Arte, Jornal do Povo, Fortaleza<br />
De acordo com a história em quadrinhos<br />
protagonizada por Hagar e seu filho<br />
Hamlet, pode-se afirmar que a postura de<br />
Hagar
A) valoriza a existência da diversidade<br />
social e de culturas, e as várias<br />
representações e explicações desse<br />
universo.<br />
B) desvaloriza a existência da<br />
diversidade social e as várias culturas,<br />
e determina uma única explicação para<br />
esse universo.<br />
C) valoriza a possibilidade de explicar as<br />
sociedades e as culturas a partir de<br />
várias visões de mundo.<br />
D) valoriza a pluralidade cultural e social<br />
ao aproximar a visão de mundo de<br />
navegantes e não-navegantes.<br />
E) desvaloriza a pluralidade cultural e<br />
social, ao considerar o mundo habitado<br />
apenas pelos navegantes.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Hagar reduz o<br />
mundo a dois tipos de pessoas: navegantes<br />
e não-navegantes. No último quadrinho, diz<br />
que são os navegantes que estabelecem<br />
esses dois grupos. Portanto, quem é<br />
diferente dos navegantes (que estabelecem<br />
o padrão) simplesmente é incluído na massa<br />
única dos não-navegantes. Não importa<br />
quem ou quantos sejam, sua diversidade<br />
social ou cultural em relação aos navegantes<br />
ou entre si. Vemos aí a desvalorização de<br />
outras culturas.<br />
Comentário do INEP<br />
Dentre as habilidades básicas para a<br />
compreensão de um texto destaca-se a<br />
capacidade do leitor de identificar os<br />
pressupostos de cada afirmação que lhe é<br />
apresentada. Nesta questão o participante<br />
deve identificar a posição tanto de Hagar<br />
como de seu filho Hamlet e, em seguida,<br />
avaliar quais os argumentos que justificam a<br />
opinião de Hagar ao definir que no mundo só<br />
existem dois tipos de pessoas. A pergunta de<br />
Hamlet a seu pai explicita a importância do<br />
ato de narrar através do diálogo e do efeito<br />
humorístico contido no episódio representado<br />
na tira. O resultado da compreensão<br />
acertada do diálogo é que o narrador torna<br />
inteligível, para si e para os outros, a lógica<br />
do seu pensamento através do diálogo entre<br />
os dois personagens. É importante observar<br />
que o humor do personagem Hagar é<br />
identificado na postura simetricamente<br />
oposta à de Michel de Montaigne, por<br />
exemplo (ver questão 58): a sua visão de<br />
mundo apresenta-se autocentrada, isto é,<br />
centrada nos seus próprios valores (vikings).<br />
A habilidade requerida do participante nessa<br />
questão, qual seja, "valorizar a diversidade<br />
dos patrimônios etnoculturais", é mobilizada<br />
aqui na sua dimensão negativa: é criticando<br />
a postura chauvinista de Hagar que o<br />
participante é capaz de responder<br />
corretamente a questão. A última alternativa<br />
(E) funciona como um distrator, pois neste<br />
caso não está suposta a crítica do discurso<br />
do personagem. Cerca de um terço dos<br />
participantes assinalou a alternativa correta<br />
B. As demais opções são devidas,<br />
possivelmente, a uma leitura pouco<br />
compreensiva das alternativas associadas a<br />
história em quadrinhos.<br />
20) (2009) No programa do balé Parade,<br />
apresentado em 18 de maio de 1917, foi<br />
empregada publicamente, pela primeira<br />
vez, a palavra sur-realisme. Pablo Picasso<br />
desenhou o cenário e a indumentária, cujo<br />
efeito foi tão surpreendente que se<br />
sobrepôs à coreografia. A música de Erik<br />
Satie era uma mistura de jazz, música<br />
popular e sons reais tais como tiros de<br />
pistola, combinados com as imagens do<br />
balé de Charlie Chaplin, caubóis e vilões,<br />
mágica chinesa e Ragtime. Os tempos<br />
não eram propícios para receber a nova<br />
mensagem cênica demasiado provocativa<br />
devido ao repicar da máquina de escrever,<br />
aos zumbidos de sirene e dínamo e aos<br />
rumores de aeroplano previstos por<br />
Cocteau para a partitura de Satie. Já a<br />
ação coreográfica confirmava a tendência<br />
marcadamente teatral da gestualidade<br />
cênica, dada pela justaposição, colagem<br />
de ações isoladas seguindo um estímulo<br />
musical.<br />
SILVA, 5. M. O surrealismo e a dança. GUINSBURG, J.;<br />
LEIRNER (org.). O surrealismo. São Paulo: Perspectiva,<br />
2008 (adaptado).<br />
As manifestações corporais na história<br />
das artes da cena muitas vezes<br />
demonstram as condições cotidianas de<br />
um determinado grupo social, como se<br />
pode observar na descrição acima do balé<br />
Parade, o qual reflete<br />
A) a falta de diversidade cultural na sua<br />
proposta estética.<br />
B) a alienação dos artistas em relação às<br />
tensões da Segunda Guerra Mundial.<br />
C) uma disputa cênica entre as linguagens<br />
das artes visuais, do figurino e da<br />
música.<br />
D) as inovações tecnológicas nas partes<br />
cênicas, musicais, coreográficas e de<br />
figurino.<br />
E) uma narrativa com encadeamentos<br />
claramente lógicos e lineares.<br />
89
Comentário<br />
(QUESTÃO: AZUL 95, BRANCA 94,<br />
ROSA 95)<br />
As inovações tecnológicas nas partes<br />
cênicas, musicais, coreográficas e de figurino<br />
trazidas à tona pelo balé Parede – que serviu<br />
como marco de um novo momento – ao<br />
mesmo tempo em que promoviam surpresa<br />
ao público, acabavam por alimentar um<br />
esforço entre cada uma dessas linguagens,<br />
para que suas novidades individuais se<br />
tornassem claras no todo.<br />
Por conta dessa avaliação e considerando<br />
as opções de resposta dessa questão, podese<br />
considerar a alternativas D como correta.<br />
21) (2009) A dança é importante para o índio<br />
preparar o corpo e a garganta e significa<br />
energia para o corpo, que fica robusto. Na<br />
aldeia, para preparo físico, dançamos<br />
desde cinco horas da manhã até seis<br />
horas da tarde, passa-se o dia inteiro<br />
dançando quando os padrinhos planejam<br />
a dança dos adolescentes. O padrinho é<br />
como um professor, um preparador físico<br />
dos adolescentes. Por exemplo, o<br />
padrinho sonha com um determinado<br />
canto e planeja para todos entoarem.<br />
Todos os tipos de dança vêm dos<br />
primeiros<br />
xavantes:<br />
Wamaridzadadzeiwawê, Butséwawê,<br />
Tseretomodzatsewawê, que foram<br />
descobrindo através da sabedoria como<br />
iria ser a cultura Xavante. Até hoje existe<br />
essa cultura, essa celebração. Quando o<br />
adolescente fura a orelha é obrigatório ele<br />
dançar toda a noite, tem de acordar meianoite<br />
para dançar e cantar, é obrigatório,<br />
eles vão chamando um ao outro com um<br />
grito especial.<br />
WÉRÉ'É TSI'RÓBÓ, E. A dança e o canto-celebração da<br />
existência xavante. VIS-Revista do Programa de Pós-<br />
Graduação em Arte da UnB. V. 5, n. 2, dez. 2006.<br />
A partir das informações sobre a dança<br />
Xavante, conclui-se que o valor a<br />
diversidade artística e da tradição cultural<br />
apresentados originam-se da<br />
A) iniciativa individual do indígena para a<br />
prática da dança e do canto.<br />
B) excelente forma física apresentada<br />
pelo povo Xavante.<br />
C) multiculturalidade presente na sua<br />
manifestação cênica.<br />
D) inexistência de um planejamento da<br />
estética da dança, caracterizada pelo<br />
ineditismo.<br />
E) preservação de uma identidade entre<br />
a gestualidade ancestral e a novidade<br />
dos cantos a serem entoados.<br />
Comentário<br />
(QUESTÃO: AZUL 115, BRANCA 115,<br />
ROSA 117)<br />
Para o povo Xavante, é fundamental<br />
manter suas tradições, pois isso assegura<br />
sua identidade e fortalece seus costumes. A<br />
novidade do canto (imaginado, sonhado ou<br />
inventado pelo padrinho), embora modifique<br />
cada ritual, é uma questão fundamental na<br />
manutenção desses valores. É a<br />
confirmação da gestualidade ancestral e a<br />
inserção do novo.<br />
Alternativa correta letra E<br />
H11 - Reconhecer a linguagem<br />
corporal como meio de<br />
interação social,<br />
considerando o limites de<br />
desempenho e as<br />
alternativas de adaptação<br />
para diferentes indivíduos<br />
01) (2008) Calcula-se que 78% do<br />
desmatamento na Amazônia tenha sido<br />
motivado pela pecuária — cerca de 35%<br />
do rebanho nacional está na região — e<br />
que pelo menos 50 milhões de hectares<br />
de pastos são pouco produtivos. Enquanto<br />
o custo médio para aumentar a<br />
produtividade de 1 hectare de pastagem é<br />
de 2 mil reais, o custo para derrubar igual<br />
área de floresta é estimado em 800 reais,<br />
o que estimula novos desmatamentos.<br />
Adicionalmente, madeireiras retiram as<br />
árvores de valor comercial que foram<br />
abatidas para a criação de pastagens. Os<br />
pecuaristas sabem que problemas<br />
ambientais como esses podem provocar<br />
restrições à pecuária nessas áreas, a<br />
exemplo do que ocorreu em 2006 com o<br />
plantio da soja, o qual, posteriormente, foi<br />
proibido em áreas de floresta.<br />
Época, 3/3/2008 e 9/6/2008 (com adaptações).<br />
A partir da situação-problema descrita,<br />
conclui-se que<br />
A) o desmatamento na Amazônia decorre<br />
principalmente da exploração ilegal de<br />
árvores de valor comercial.<br />
90
B) um dos problemas que os pecuaristas<br />
vêm enfrentando na Amazônia é a<br />
proibição do plantio de soja.<br />
C) a mobilização de máquinas e de força<br />
humana torna o desmatamento mais<br />
caro que o aumento da produtividade<br />
de pastagens.<br />
D) o superavit comercial decorrente da<br />
exportação de carne produzida na<br />
Amazônia compensa a possível<br />
degradação ambiental.<br />
E) a recuperação de áreas desmatadas<br />
e o aumento de produtividade das<br />
pastagens podem contribuir para a<br />
redução do desmatamento na<br />
Amazônia.<br />
Comentário do portal<br />
Essa questão retrata o problema do<br />
desmatamento da Amazônia, relacionado<br />
principalmente com o desenvolvimento da<br />
pecuária na região. Para resolvê-la, foram<br />
necessários a leitura atenta do texto e o<br />
conhecimento sobre os problemas<br />
ambientais da atualidade. A alternativa<br />
correta é a letra E, pois é mais caro para os<br />
pecuaristas aumentar a produtividade do que<br />
as áreas de pasto, o que acarreta o aumento<br />
do desmatamento da Amazônia.<br />
02) (2008) A Lei Federal n.º 9.985/2000, que<br />
instituiu o sistema nacional de unidades<br />
de conservação, define dois tipos de<br />
áreas protegidas. O primeiro, as unidades<br />
de proteção integral, tem por objetivo<br />
preservar a natureza, admitindo-se<br />
apenas o uso indireto dos seus recursos<br />
naturais, isto é, aquele que não envolve<br />
consumo, coleta, dano ou destruição dos<br />
recursos naturais. O segundo, as<br />
unidades de uso sustentável, tem por<br />
função compatibilizar a conservação da<br />
natureza com o uso sustentável de<br />
parcela dos recursos naturais. Nesse<br />
caso, permite-se a exploração do<br />
ambiente de maneira a garantir a<br />
perenidade dos recursos ambientais<br />
renováveis e dos processos ecológicos,<br />
mantendo-se a biodiversidade e os<br />
demais atributos ecológicos, de forma<br />
socialmente justa e economicamente<br />
viável.<br />
Considerando essas informações, analise<br />
a seguinte situação hipotética.<br />
Ao discutir a aplicação de recursos<br />
disponíveis para o desenvolvimento de<br />
determinada região, organizações civis,<br />
universidade e governo resolveram<br />
investir na utilização de uma unidade de<br />
proteção integral, o Parque Nacional do<br />
Morro do Pindaré, e de uma unidade de<br />
uso sustentável, a Floresta Nacional do<br />
Sabiá. Depois das discussões, a equipe<br />
resolveu levar adiante três projetos:<br />
— o projeto I consiste de pesquisas<br />
científicas embasadas exclusivamente<br />
na observação de animais;<br />
— o projeto II inclui a construção de uma<br />
escola e de um centro de vivência;<br />
— o projeto III promove a organização de<br />
uma comunidade extrativista que<br />
poderá coletar e explorar<br />
comercialmente frutas e sementes<br />
nativas.<br />
Nessa situação hipotética, atendendo-se à<br />
lei mencionada acima, é possível<br />
desenvolver tanto na unidade de proteção<br />
integral quanto na de uso sustentável<br />
A) apenas o projeto I.<br />
B) apenas o projeto III.<br />
C) apenas os projetos I e II.<br />
D) apenas os projetos II e III.<br />
E) todos os três projetos.<br />
Comentário do portal<br />
A alternativa correta é a letra "A", pois,<br />
analisando-se a situação hipotética sugerida<br />
no enunciado, percebe-se que ela deverá<br />
atender os requisitos tanto da unidade de<br />
proteção integral quanto da unidade de uso<br />
sustentável. Portanto, apenas o projeto I<br />
poderá ser desenvolvido nessas duas<br />
propostas de unidades.<br />
03) (1999) Leia o texto abaixo.<br />
Cabelos longos, brinco na orelha<br />
esquerda, físico de skatista. Na aparência,<br />
o estudante brasiliense Rui Lopes Viana<br />
Filho, de 16 anos, não lembra em nada o<br />
estereótipo dos gênios. Ele não usa<br />
pesados óculos de grau e está longe de<br />
ter um ar introspectivo. No final do mês<br />
passado, Rui retornou de Taiwan, onde<br />
enfrentou 419 competidores de todo o<br />
mundo na 39ª Olimpíada Internacional de<br />
Matemática. A reluzente medalha de ouro<br />
que ele trouxe na bagagem está<br />
dependurada sobre a cama de seu quarto,<br />
atulhado de rascunhos dos problemas<br />
matemáticos que aprendeu a decifrar nos<br />
últimos cinco anos.<br />
Veja – Vencer uma olimpíada serve de<br />
passaporte para uma carreira profissional<br />
meteórica?<br />
Rui – Nada disso. Decidi me dedicar à<br />
Olimpíada porque sei que a concorrência<br />
91
por um emprego é cada vez mais<br />
selvagem e cruel. Agora tenho algo a mais<br />
para oferecer. O problema é que as coisas<br />
estão mudando muito rápido e não sei<br />
qual será minha profissão. Além de ser<br />
muito novo para decidir sobre o meu<br />
futuro profissional, sei que esse conceito<br />
de carreira mudou muito.<br />
(Entrevista de Rui Lopes Viana Filho à Veja,<br />
05/08/1998, n.31, p. 9-<strong>10</strong>)<br />
Na pergunta, o repórter estabelece uma<br />
relação entre a entrada do estudante no<br />
mercado de trabalho e a vitória na<br />
Olimpíada. O estudante<br />
A) concorda com a relação e afirma que o<br />
desempenho na Olimpíada é<br />
fundamental para sua entrada no<br />
mercado.<br />
B) discorda da relação e complementa<br />
que é fácil se fazer previsões sobre o<br />
mercado de trabalho.<br />
C) discorda da relação e afirma que seu<br />
futuro profissional independe de<br />
dedicação aos estudos.<br />
D) discorda da relação e afirma que seu<br />
desempenho só é relevante se<br />
escolher uma profissão relacionada à<br />
matemática.<br />
E) concorda em parte com a relação e<br />
complementa que é complexo fazer<br />
previsões sobre o mercado de trabalho.<br />
Comentário<br />
Não é difícil de se chegar à resposta<br />
correta ao se ler a reportagem. Ao final do<br />
último parágrafo — (...) Além de ser muito<br />
novo para decidir sobre o meu futuro<br />
profissional, sei que esse conceito de carreira<br />
mudou muito. —, o estudante praticamente<br />
fornece a resposta à questão, declarando-se<br />
realista ao não tentar prever seu futuro<br />
profissional devido à pouca idade e às<br />
mudanças no mercado de trabalho. Quanto a<br />
concordar parcialmente com o repórter, veja<br />
que ele, apesar de negar que o prêmio fosse<br />
uma garantia de sucesso profissional, logo<br />
depois afirma que, com ele, terá algo mais a<br />
oferecer ao mercado. Questão de nível fácil.<br />
Comentário do INEP<br />
Nesta situação-problema, o participante<br />
deveria demonstrar que compreendeu as<br />
premissas de um discurso, distinguindo a<br />
diferença de significado de palavras isoladas<br />
ou no contexto em que estão inseridas.<br />
Verificou-se que mais da metade dos<br />
participantes demonstrou possuir essa<br />
compreensão. Aqueles que optaram pelas<br />
alternativas C e D podem ter sido atraídos<br />
pelo significado negativo da expressão inicial<br />
"Nada disso".<br />
04) (1998) Texto 1<br />
"Mulher, Irmã, escuta-me: não ames,<br />
Quando a teus pés um homem terno e<br />
curvo<br />
jurar amor, chorar pranto de sangue,<br />
Não creias, não, mulher: ele te engana!<br />
As lágrimas são gotas da mentira<br />
E o juramento manto da perfídia."<br />
(Joaquim Manoel de Macedo)<br />
Texto 2<br />
"Teresa, se algum sujeito bancar o<br />
sentimental em cima de você<br />
E te jurar uma paixão do tamanho de um<br />
bonde<br />
Se ele chorar<br />
Se ele ajoelhar<br />
Se ele se rasgar todo<br />
Não acredite não Teresa<br />
É lágrima de cinema<br />
É tapeação<br />
Mentira<br />
CAI FORA"<br />
(Manuel Bandeira)<br />
Os autores, ao fazerem alusão às<br />
imagens da lágrima sugerem que:<br />
A) há um tratamento idealizado da<br />
relação homem/mulher.<br />
B) há um tratamento realista da relação<br />
homem/mulher.<br />
C) a relação familiar é idealizada.<br />
D) a mulher é superior ao homem.<br />
E) a mulher é igual ao homem.<br />
Comentário<br />
Ambos os autores, ao utilizarem a<br />
imagem da lágrima, estão na realidade<br />
mostrando que a figura do homem que é<br />
romântico a ponto de chorar ao jurar amor<br />
não existe. Tanto Macedo quanto<br />
Bandeira alertam as mulheres dizendo,<br />
com palavras e estilos diferentes, que não<br />
há homem que chore por amor (portanto,<br />
essa figura é uma idealização — e, por<br />
conseguinte, toda imagem que se tem<br />
sobre os relacionamentos<br />
demasiadamente românticos). Note que<br />
Bandeira chega até mesmo a chamar tal<br />
"chorão" de ator ("...É lágrima de cinema /<br />
É tapeação..."). Macedo dá uma imagem<br />
pesada às lágrimas ("...são gotas da<br />
mentira...").<br />
92
05) (1999) Considere os textos abaixo.<br />
(...) de modo particular, quero encorajar os<br />
crentes empenhados no campo da<br />
filosofia para que iluminem os diversos<br />
âmbitos da atividade humana, graças ao<br />
exercício de uma razão que se torna mais<br />
segura e perspicaz com o apoio que<br />
recebe da fé.<br />
(Papa João Paulo II. Carta Encíclica Fides<br />
et Ratio aos bispos da igreja católica sobre as relações<br />
entre fé e razão, 1998)<br />
As verdades da razão natural não<br />
contradizem as verdades da fé cristã.<br />
(São Tomás de Aquino<br />
–pensador medieval)<br />
Refletindo sobre os textos, pode-se<br />
concluir que:<br />
A) a encíclica papal está em contradição<br />
com o pensamento de São Tomás de<br />
Aquino, refletindo a diferença de<br />
épocas.<br />
B) a encíclica papal procura<br />
complementar São Tomás de Aquino,<br />
pois este colocava a razão natural<br />
acima da fé.<br />
C) a Igreja medieval valorizava a razão<br />
mais do que a encíclica de João Paulo<br />
II.<br />
D) o pensamento teológico teve sua<br />
importância na Idade Média, mas, em<br />
nossos dias, não tem relação com o<br />
pensamento filosófico.<br />
E) tanto a encíclica papal como a frase<br />
de São Tomás de Aquino procuram<br />
conciliar os pensamentos sobre fé e<br />
razão.<br />
Comentário<br />
Nessa questão, é necessária uma<br />
releitura do texto para que se tenha uma<br />
melhor compreensão do tema. Tanto a<br />
citação do Papa quanto a de São Tomás de<br />
Aquino tentam criar uma interdependência<br />
entre a ciência e a fé, a religião. O Papa<br />
incentiva aqueles que exercem a pesquisa<br />
científica ou filosófica a manter a fé cristã.<br />
São Tomás de Aquino, por sua vez, equipara<br />
o avanço da ciência ao aumento da própria<br />
fé, afirmando que a razão natural não<br />
contradiz a fé cristã. Se um cresce, cresce<br />
também o outro, em harmonia e sem<br />
contradições. Questão de grau médio.<br />
(Português)<br />
Nessa questão, encontramos dois textos:<br />
o primeiro, do século XX, foi elaborado pelo<br />
Papa João Paulo II; o segundo, do século<br />
XIII, pelo teólogo e filósofo cristão São<br />
Tomás de Aquino. O conteúdo de ambos se<br />
refere à ligação entre fé e razão, a qual<br />
esteve presente na filosofia escolástica da<br />
Idade Média. Esse campo de reflexão buscou<br />
conciliar o cristianismo com o pensamento de<br />
Aristóteles e teve em São Tomás de Aquino<br />
seu maior representante.<br />
Mesmo sem ter todas essas informações,<br />
você poderia responder tranqüilamente à<br />
questão por meio de uma leitura atenta dos<br />
dois textos, chegando à conclusão de que<br />
"tanto a encíclica papal como a frase de São<br />
Tomás de Aquino procuram conciliar os<br />
pensamentos sobre fé e razão". Resposta<br />
correta: alternativa E. (História)<br />
Comentário do INEP<br />
Para resolver esta situação-problema, o<br />
participante deveria mostrar que, além de<br />
interpretar textos, sabe relacioná-los sendo<br />
que, nesse item, essas operações referem-se<br />
a um texto escrito na época medieval e a<br />
outro escrito recentemente.<br />
Mais de 70% dos participantes<br />
demonstraram facilidade em estabelecer esta<br />
relação.<br />
06) (1999) Leia um texto publicado no jornal<br />
Gazeta Mercantil. Esse texto é parte de<br />
um artigo que analisa algumas situações<br />
de crise no mundo, entre elas, a quebra<br />
da Bolsa de Nova Iorque em 1929, e foi<br />
publicado na época de uma iminente crise<br />
financeira no Brasil.<br />
Deu no que deu. No dia 29 de outubro de<br />
1929, uma terça-feira, praticamente não<br />
havia compradores no pregão de Nova<br />
Iorque, só vendedores. Seguiu-se uma<br />
crise incomparável: o Produto Interno<br />
Bruto dos Estados Unidos caiu de <strong>10</strong>4<br />
bilhões de dólares em 1929, para 56<br />
bilhões em 1933, coisa inimaginável em<br />
nossos dias. O valor do dólar caiu a quase<br />
metade. O desemprego elevou-se de 1,5<br />
milhão para 12,5 milhões de trabalhadores<br />
– cerca de 25% da população ativa –<br />
entre 1929 e 1933. A construção civil caiu<br />
90%. Nove milhões de aplicações, tipo<br />
caderneta de poupança, perderam-se com<br />
o fechamento dos bancos. Oitenta e cinco<br />
mil firmas faliram. Houve saques e norteamericanos<br />
que passaram fome.<br />
(Gazeta Mercantil, 05/01/1999)<br />
Ao citar dados referentes à crise ocorrida<br />
em 1929, em um artigo jornalístico atual,<br />
pode-se atribuir ao jornalista a seguinte<br />
intenção:<br />
93
A) questionar a interpretação da crise.<br />
B) comunicar sobre o desemprego.<br />
C) instruir o leitor sobre aplicações em<br />
bolsa de valores.<br />
D) relacionar os fatos passados e<br />
presentes.<br />
E) analisar dados financeiros americanos.<br />
Comentário<br />
Nessa questão, o que se tem de fazer é<br />
prestar atenção às alternativas das<br />
respostas. Nenhuma delas se apresenta tão<br />
bem contextualizada a uma possível<br />
interpretação quanto a letra D. Partindo-se da<br />
análise do texto, fica claro que a intenção do<br />
artigo é remeter o leitor ao passado para<br />
tentar conduzi-lo a uma reflexão sobre uma<br />
situação presente, não mencionada na<br />
questão. Após a leitura e utilizando-se a já<br />
citada eliminação de questões, torna-se clara<br />
a resposta. Questão de nível médio.<br />
(Português)<br />
Muitas vezes, quando procuramos<br />
entender uma crise econômica ou financeira<br />
de grandes proporções, buscamos<br />
estabelecer relações com crises passadas. O<br />
mesmo ocorre no jornalismo, como prova o<br />
texto encontrado nessa questão. Buscando<br />
entender uma crise ocorrida no início de<br />
1999, o jornalista da Gazeta Mercantil<br />
buscou relacionar a situação dessa época<br />
com a grande crise de 1929 que afetou o<br />
mundo, trazendo desemprego e recessão,<br />
entre tantos outros problemas econômicos e<br />
sociais.<br />
Para responder a essa questão, era<br />
necessário ler atentamente o enunciado, em<br />
que está destacado que "o texto é parte de<br />
um artigo que analisa algumas situações de<br />
crise no mundo" e "foi publicado na época de<br />
uma iminente crise financeira no Brasil". Era<br />
importante também observar a data em que o<br />
artigo foi publicado: 05/01/1999. A partir<br />
dessas constatações, facilmente você<br />
chegaria a conclusão de que a intenção do<br />
jornalista era "relacionar os fatos passados e<br />
presentes". Resposta correta: alternativa D.<br />
(História)<br />
jornalista traz à tona eventos ocorridos<br />
setenta anos antes –, e apenas interpretaram<br />
o sentido do texto citado, que descreve a<br />
crise mundial de 1929.<br />
07) (2002) O autor da tira utilizou os<br />
princípios de composição de um<br />
conhecido movimento artístico para<br />
representar a necessidade de um mesmo<br />
observador aprender a considerar,<br />
simultaneamente, diferentes pontos de<br />
vista.<br />
Das obras reproduzidas, todas de autoria<br />
do pintor espanhol Pablo Picasso, aquela<br />
em cuja composição foi adotado um<br />
procedimento semelhante é:<br />
A)<br />
B)<br />
C)<br />
Comentário do INEP<br />
A resolução da questão demandava a<br />
capacidade dos participantes de relacionar<br />
eventos históricos envolvendo crises<br />
econômicas ocorridas em épocas e lugares<br />
distintos. Aproximadamente 2/3 deles<br />
demonstraram essa capacidade. Os demais,<br />
provavelmente, não compreenderam a<br />
exigência expressa no enunciado do<br />
problema – apontar as razões pelas quais um<br />
94
D)<br />
08) (2001) Oxímoro (ou paradoxo) é uma<br />
construção textual que agrupa significados<br />
que se excluem mutuamente. Para<br />
Garfield, a frase de saudação de Jon<br />
(tirinha abaixo) expressa o maior de todos<br />
os oxímoros.<br />
E)<br />
Folha de S. Paulo. 31 de julho de 2000.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. O movimento<br />
artístico que previa considerar<br />
simultaneamente diversos pontos de vista<br />
era o Cubismo. Havia a desconstrução da<br />
forma para que se pudesse ver todos os<br />
ângulos concomitantemente. O único quadro<br />
que apresenta essas características é o da<br />
alternativa E. As outras quatro alternativas<br />
pressupõem a manutenção da forma.<br />
Comentário do INEP<br />
O objetivo desta questão é levar o<br />
participante a refletir sobre características<br />
fundamentais de um movimento artístico – o<br />
cubismo – a partir de dados visuais:<br />
quadrinhos e pinturas. A reprodução de dois<br />
quadrinhos da personagem Calvin forneceu<br />
para o participante informações básicas para<br />
a análise que deveria fazer das alternativas<br />
apresentadas. Segundo os quadrinhos, o<br />
movimento artístico abordado pela questão<br />
tinha como procedimento de composição<br />
representar, para um mesmo observador,<br />
diferentes pontos de vista, fazendo com que<br />
"o tradicional único ponto de vista" fosse<br />
abandonado e com que a perspectiva fosse<br />
fraturada. A análise das obras de Picasso<br />
reproduzidas nas alternativas permite que o<br />
participante reconheça a adoção desse<br />
procedimento no quadro "Marie-Thérèse<br />
apoiada no cotovelo" (alternativa E, com 46%<br />
de registros), no qual se pode reconhecer a<br />
representação de diferentes pontos de vista<br />
a partir dos quais é apresentado o rosto da<br />
mulher retratada.<br />
Nas alternativas abaixo, estão transcritos<br />
versos retirados do poema “O operário em<br />
construção”. Pode-se afirmar que ocorre<br />
um oxímoro em<br />
A) "Era ele que erguia casas<br />
Onde antes só havia chão."<br />
B) "... a casa que ele fazia<br />
Sendo a sua liberdade<br />
Era a sua escravidão."<br />
C) "Naquela casa vazia<br />
Que ele mesmo levantara<br />
Um mundo novo nascia<br />
De que sequer suspeitava."<br />
D) "... o operário faz a coisa<br />
E a coisa faz o operário."<br />
E) "Ele, um humilde operário<br />
Um operário que sabia<br />
Exercer a profissão."<br />
MORAES, Vinícius de. Antologia Poética. São Paulo:<br />
Companhia das Letras, 1992.<br />
Comentário<br />
Idéias que se completam e se excluem<br />
mutuamente são encontradas na alternativa<br />
B: a casa que ele construía era, ao mesmo<br />
tempo, sua liberdade e sua escravidão.<br />
A casa é um símbolo de liberdade para o<br />
homem. Para o homem operário, é também<br />
símbolo de escravidão, pois ele está<br />
"condenado" a jamais usufruir do resultado<br />
do seu trabalho (a casa que faz não é para<br />
ele).<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão propõe ao participante que<br />
estabeleça uma relação entre linguagens,<br />
associando a compreensão de um efeito<br />
semântico produzido pelo uso do oxímoro<br />
nos quadrinhos com o mesmo efeito num<br />
texto poético. O índice (18%) de escolhas da<br />
alternativa D deve-se, possivelmente, a uma<br />
análise parcial da noção de paradoxo,<br />
confundida com inversão.<br />
95
09) (2005) Cândido Portinari (1903-1962), um<br />
dos mais importantes artistas brasileiros<br />
do século XX, tratou de diferentes<br />
aspectos da nossa realidade em seus<br />
quadros.<br />
96<br />
Sobre a temática dos “Retirantes”,<br />
Portinari também escreveu o seguinte<br />
poema:<br />
(....)<br />
Os retirantes vêm vindo com trouxas e<br />
embrulhos<br />
Vêm das terras secas e escuras;<br />
pedregulhos<br />
Doloridos como fagulhas de carvão aceso<br />
Corpos disformes, uns panos sujos,<br />
Rasgados e sem cor, dependurados<br />
Homens de enorme ventre bojudo<br />
Mulheres com trouxas caídas para o lado<br />
Pançudas, carregando ao colo um garoto<br />
Choramingando, remelento<br />
(....)<br />
(Cândido Portinari. Poemas. Rio de Janeiro:<br />
J. Olympio, 1964.)<br />
Das quatro obras reproduzidas, assinale<br />
aquelas que abordam a problemática que<br />
é tema do poema.<br />
A) 1 e 2 D) 3 e 4<br />
B) 1 e 3 E) 2 e 4<br />
C) 2 e 3<br />
Comentário<br />
O poema apresenta correspondência com<br />
as imagens ao descrever com detalhes a<br />
figura do retirante: pobre, mal vestido,<br />
carregando trouxas e embrulhos.<br />
<strong>10</strong>) (2002) "A palavra tatuagem é<br />
relativamente recente. Toda a gente sabe<br />
que foi o navegador Cook que a introduziu<br />
no Ocidente, e esse escrevia tattou, termo<br />
da Polinésia de tatou ou tu tahou,<br />
'desenho'.<br />
(...) Desde os mais remotos tempos,<br />
vemo-la a transformar-se: distintivo<br />
honorífico entre uns homens, ferrete de<br />
ignomínia entre outros, meio de assustar o<br />
adversário para os bretões, marca de uma<br />
classe de selvagens das ilhas marquesas<br />
(...) sinal de amor, de desprezo, de ódio<br />
(...). Há três casos de tatuagem no Rio,<br />
completamente diversos na sua<br />
significação moral: os negros,os turcos<br />
com o fundo religioso e o bando de<br />
meretrizes, dos rufiões e dos humildes,<br />
que se marcam por crime ou por<br />
ociosidade".<br />
RIO, João do. Os Tatuadores. Revista Kosmos.<br />
1904, apud: A alma encantadora das ruas,<br />
SP: Cia das Letras, 1999.<br />
Com base no texto são feitas as seguintes<br />
afirmações:<br />
I. João do Rio revela como a tatuagem já<br />
estava presente na cidade do Rio de<br />
Janeiro, pelo menos desde o início do<br />
século XX, e era mais utilizada por<br />
alguns setores da população.<br />
II. A tatuagem, de origem polinésia,<br />
difundiu-se no ocidente com a<br />
característica que permanece até hoje:<br />
utilização entre os jovens com função<br />
estritamente estética.<br />
III. O texto mostra como a tatuagem é<br />
uma prática que se transforma no<br />
tempo e que alcança inúmeros sentidos<br />
nos diversos setores das sociedades e<br />
para as diferentes culturas.<br />
Está correto o que se afirma apenas em<br />
A) I D) I e II<br />
B) II E) I e III<br />
C) III<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Constata-se o<br />
seguinte: a tatuagem já existia no Brasil no<br />
início do século XX (o texto é de 1904 e parte<br />
dele se refere ao Rio do Janeiro) e era<br />
utilizada em diferentes setores da sociedade.<br />
A afirmação de que as tatuagens possuem<br />
apenas finalidade estética entre os jovens<br />
elimina a segunda alternativa. Já a última<br />
alternativa confirma as transformações das<br />
funções da tatuagem ao longo do tempo nas<br />
mais diversas sociedades e culturas.<br />
Comentário do INEP<br />
O texto estabelece uma relação entre a<br />
atualidade da palavra "tatuagem" e a<br />
antiguidade do uso de desenhos como<br />
pintura corporal. Focaliza uma prática social<br />
bastante difundida que adquiriu aspectos e<br />
conotações diversos nos diferentes contextos<br />
históricos e geográficos em que ela pode ser
descrita. Fazendo a descrição da prática da<br />
tatuagem, como uma manifestação comum a<br />
diferentes culturas, e que adquire, inclusive,<br />
significados diferentes dentro de uma mesma<br />
cultura, induz o participante a refletir sobre a<br />
"diversidade dos patrimônios etnoculturais e<br />
artísticos", contextualizando ao mesmo<br />
tempo seus significados "em diferentes<br />
sociedades, épocas e lugares". Ao retomar<br />
as várias origens e usos da tatuagem, o<br />
participante é levado a compreender e<br />
respeitar uma gramática histórica dos<br />
costumes marcada sempre por semelhanças<br />
e diferenças. A questão não exigia, portanto,<br />
nenhum conhecimento prévio sobre as<br />
diferentes formas de manifestação dessa<br />
prática, mas simplesmente constatar, com o<br />
autor do texto citado, a historicidade e a<br />
diversidade das práticas sociais. Os<br />
participantes que assinalaram a alternativa C<br />
(36%), possivelmente, não levaram em<br />
consideração informações do texto. A<br />
questão foi corretamente respondida por 37%<br />
dos participantes.<br />
11) (2003) Eu começaria dizendo que poesia<br />
é uma questão de linguagem. A<br />
importância do poeta é que ele torna mais<br />
viva a linguagem. Carlos Drummond de<br />
Andrade escreveu um dos mais belos<br />
versos da língua portuguesa com duas<br />
palavras comuns: cão e cheirando.<br />
Um cão cheirando o futuro<br />
(Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP, 24/05/1988.<br />
adaptação)<br />
O que deu ao verso de Drummond o<br />
caráter de inovador da língua foi<br />
A) o modo raro como foi tratado o<br />
"futuro".<br />
B) a referência ao cão como "animal de<br />
estimação".<br />
C) a flexão pouco comum do verbo<br />
"cheirar" (gerúndio).<br />
D) a aproximação não usual do agente<br />
citado e a ação de "cheirar".<br />
E) o emprego do artigo indefinido "um" e<br />
do artigo definido "o" na mesma frase.<br />
Comentário<br />
O fato de Drummond identificar o futuro<br />
como algo que pode ser percebido por um<br />
animal irracional por meio do olfato foi<br />
inovador. A figura de linguagem foi<br />
construída metaforicamente: o futuro torna-se<br />
uma coisa que tem cheiro, contrariamente à<br />
imagem pela qual ele normalmente é<br />
representado: como algo que não se vê e<br />
não se pode pressentir ou tocar.<br />
12) (2003) Pequenos tormentos da vida<br />
De cada lado da sala de aula, pelas janelas<br />
altas, o azul convida os meninos,<br />
as nuvens desenrolam-se, lentas como quem<br />
vai inventando<br />
preguiçosamente uma história sem fim...Sem<br />
fim é a aula: e nada acontece,<br />
nada...Bocejos e moscas. Se ao menos,<br />
pensa Margarida, se ao menos um<br />
avião entrasse por uma janela e saísse por<br />
outra!<br />
(Mário Quintana. Poesias)<br />
Na cena retratada no texto, o sentimento<br />
do tédio<br />
A) provoca que os meninos fiquem<br />
contando histórias.<br />
B) leva os alunos a simularem bocejos,<br />
em protesto contra a monotonia da<br />
aula.<br />
C) acaba estimulando a fantasia,<br />
criando a expectativa de algum<br />
imprevisto mágico.<br />
D) prevalece de modo absoluto,<br />
impedindo até mesmo a distração ou o<br />
exercício do pensamento.<br />
E) decorre da morosidade da aula, em<br />
contraste com o movimento acelerado<br />
das nuvens e das moscas.<br />
Comentário<br />
Essa questão aborda o imaginário<br />
decorrente do marasmo trazido pela escola.<br />
O texto enfatiza o arrastar do tempo na<br />
mente de uma aluna, Margarida, que se põe<br />
a pensar em fatos mágicos ou imaginários<br />
que pudessem romper com a lentidão da<br />
aula.<br />
13) (2000) O autor do texto abaixo critica,<br />
ainda que em linguagem metafórica, a<br />
sociedade contemporânea em relação aos<br />
seus hábitos alimentares.<br />
“Vocês que têm mais de 15 anos, se<br />
lembram quando a gente comprava leite<br />
em garrafa, na leiteria da esquina? (...)<br />
Mas vocês não se lembram de nada,<br />
pô! Vai ver nem sabem o que é vaca. Nem<br />
o que é leite. Estou falando isso porque<br />
agora mesmo peguei um pacote de leite –<br />
leite em pacote, imagina, Tereza! – na<br />
porta dos fundos e estava escrito que é<br />
pasterizado, ou pasteurizado, sei lá, tem<br />
vitamina, é garantido pela<br />
embromatologia, foi enriquecido e o<br />
escambau. Será que isso é mesmo leite?<br />
No dicionário diz que leite é outra coisa:<br />
97
‘Líquido branco, contendo água,<br />
proteína, açúcar e sais minerais’. Um<br />
alimento pra ninguém botar defeito. O ser<br />
humano o usa há mais de 5.000 anos. É o<br />
único alimento só alimento. A carne serve<br />
pro animal andar, a fruta serve pra fazer<br />
outra fruta, o ovo serve pra fazer outra<br />
galinha (...) O leite é só leite. Ou toma ou<br />
bota fora. Esse aqui examinando bem, é<br />
só pra botar fora. Tem chumbo, tem<br />
benzina, tem mais água do que leite, tem<br />
serragem, sou capaz de jurar que nem<br />
vaca tem por trás desse negócio. Depois o<br />
pessoal ainda acha estranho que os<br />
meninos não gostem de leite.<br />
Mas, como não gostam? Não gostam<br />
como? Nunca tomaram! Múúúúúúú!”<br />
(FERNANDES, Millôr. O Estado de S. Paulo ,<br />
22 de agosto de 1999)<br />
A palavra embromatologia usada pelo<br />
autor é:<br />
A) um termo científico que significa estudo<br />
dos bromatos.<br />
B) uma composição do termo de gíria<br />
“embromação” (enganação) com<br />
bromatologia, que é o estudo dos<br />
alimentos.<br />
C) uma junção do termo de gíria<br />
“embromação” (enganação) com<br />
lactologia, que é o estudo das<br />
embalagens para leite.<br />
D) um neologismo da química orgânica<br />
que significa a técnica de retirar<br />
bromatos dos laticínios.<br />
E) uma corruptela de termo da<br />
agropecuária que significa a ordenha<br />
mecânica.<br />
Comentário<br />
É necessário para a resolução desta<br />
questão:<br />
- perceber que o texto critica o exagerado<br />
uso de substâncias artificiais nos<br />
alimentos;<br />
- conhecer o significado da gíria embromar e<br />
da palavra bromatologia.<br />
Comentário do INEP<br />
A resolução da questão requeria que o<br />
participante, ao ler o texto vinculasse o<br />
significado de um termo de gíria -<br />
"embromação" - com o da palavra<br />
bromatologia. A resposta correta exigia que o<br />
participante não abrisse mão do sabor<br />
picante contido na linguagem metafórica,<br />
sabor vinculado ao conhecimento específico<br />
contido na palavra bromatologia. Cerca da<br />
metade dos participantes (51%) optou pela<br />
alternativa correta e, os 20% que escolheram<br />
a alternativa C, provavelmente associaram a<br />
referência feita no texto à leite em pacote.<br />
14) (2008) Os signos visuais, como meios de<br />
comunicação, são classificados em<br />
categorias de acordo com seus<br />
significados.<br />
A categoria denominada indício<br />
corresponde aos signos visuais que têm<br />
origem em formas ou situações naturais<br />
ou casuais, as quais, devido à ocorrência<br />
em circunstâncias idênticas, muitas vezes<br />
repetidas, indicam algo e adquirem<br />
significado. Por exemplo, nuvens negras<br />
indicam tempestade. Com base nesse<br />
conceito, escolha a opção que representa<br />
um signo da categoria dos indícios.<br />
A)<br />
B)<br />
C)<br />
Conhecendo esses significados, você<br />
elimina todas as alternativas erradas: a, c, d<br />
e e.<br />
Você poderá ter dúvida quanto à<br />
alternativa c, que também será eliminada se<br />
souber o significado da palavra lactologia,<br />
que é o estudo do leite e produtos lácteos e<br />
não das embalagens para leite.<br />
Nesta questão, são trabalhados os<br />
conceitos de interpretação de texto, formação<br />
de palavras e conhecimentos gerais.<br />
98
D)<br />
aluno precisa estar atento à imagem e<br />
relacioná-la ao dito popular correspondente.<br />
A alternativa "A" é a correta, pois, para<br />
uma lesma “grudenta” e vagarosa conseguir<br />
pular numa cama elástica, é necessária<br />
muita perseverança.<br />
16) (2005) Leia estes textos.<br />
Texto 1<br />
E)<br />
Comentário<br />
Trata-se de uma questão interpretativa. O<br />
aluno precisa entender o que é “indício” para<br />
respondê-la. Segundo o dicionário Aurélio,<br />
indício é o mesmo que “sinal, vestígio,<br />
indicação”. Das figuras apresentadas,<br />
apenas a alternativa B indica algo: a<br />
passagem de alguém por algum lugar —<br />
pegada.<br />
15) (2008)<br />
Exame, 28/9/2007.<br />
Entre os seguintes ditos populares, qual<br />
deles melhor corresponde à figura<br />
acima?<br />
A) Com perseverança, tudo se alcança.<br />
B) Cada macaco no seu galho.<br />
C) Nem tudo que balança cai.<br />
D) Quem tudo quer, tudo perde.<br />
E) Deus ajuda quem cedo madruga.<br />
Comentário<br />
Assim como a questão 37, esta também<br />
envolve interpretação de signos, ou seja, o<br />
Texto 2<br />
Sonhar<br />
Mais um sonho impossível<br />
Lutar<br />
Quando é fácil ceder<br />
Vencer o inimigo invencível<br />
Negar quando a regra é vender<br />
Sofrer a tortura implacável<br />
Romper a incabível prisão<br />
Voar num limite improvável<br />
Tocar o inacessível chão<br />
É minha lei, é minha questão<br />
Virar esse mundo<br />
Cravar esse chão<br />
Não me importa saber<br />
Se é terrível demais<br />
Quantas guerras terei que vencer<br />
Por um pouco de paz<br />
E amanhã se esse chão que eu beijei<br />
For meu leito e perdão<br />
Vou saber que valeu delirar<br />
E morrer de paixão<br />
E assim, seja lá como for<br />
Vai ter fim a infinita aflição<br />
E o mundo vai ver uma flor<br />
Brotar do impossível chão.<br />
(J. Darione – M. Leigh – Versão de Chico Buarque de<br />
Hollanda e Ruy Guerra, 1972.)<br />
A tirinha e a canção apresentam uma<br />
reflexão sobre o futuro da humanidade. É<br />
correto concluir que os dois textos<br />
A) afirmam que o homem é capaz de<br />
alcançar a paz.<br />
B) concordam que o desarmamento é<br />
inatingível.<br />
C) julgam que o sonho é um desafio<br />
invencível.<br />
D) têm visões diferentes sobre um<br />
possível mundo melhor.<br />
E) transmitem uma mensagem de<br />
otimismo sobre a paz.<br />
99
Comentário<br />
Enquanto o primeiro texto é ácido em<br />
relação à possibilidade de desarmamento da<br />
população (ou seja, à criação de uma<br />
sociedade mais pacífica), o segundo mostra<br />
a capacidade que a humanidade tem de crer<br />
e, por isso, tentar fazer até o que a princípio<br />
parece impossível. Para os autores da<br />
canção, nada é intrinsecamente impossível.<br />
A relação entre eles é de oposição:<br />
descrença x crença. Questão de nível de<br />
dificuldade médio.<br />
Esta questão é daquelas rápidas de serem<br />
resolvidas, associando-se os elementos<br />
apresentados.<br />
Comentário do INEP<br />
A significativa maioria (81%) dos<br />
participantes soube perceber o caráter<br />
irônico da fala do Garfield, expressa no<br />
terceiro quadrinho porque, ou conheciam a<br />
história de Van Gogh, ou apropriaram-se<br />
corretamente da informação sobre esse<br />
pintor, fornecida no enunciado.<br />
17) (2000) As histórias em quadrinhos, por<br />
vezes, utilizam animais como<br />
personagens e a eles atribuem<br />
comportamento humano. O gato Garfield<br />
é exemplo desse fato.<br />
18) (2004)<br />
Fonte: Caderno Vida e Arte, Jornal do Povo, Fortaleza<br />
Van Gogh, pintor holandês nascido em<br />
1853, é um dos principais nomes da<br />
pintura mundial. É dele o quadro abaixo.<br />
Auto-retrato de orelha cortada<br />
O 3º quadrinho sugere que Garfield:<br />
A) desconhece tudo sobre arte, por isso<br />
faz a sugestão.<br />
B) acredita que todo pintor deve fazer algo<br />
diferente.<br />
C) defende que para ser pintor a pessoa<br />
tem de sofrer.<br />
D) conhece a história de um pintor<br />
famoso e faz uso da ironia.<br />
E) acredita que seu dono tenha tendência<br />
artística e, por isso, faz a sugestão.<br />
Comentário<br />
Outra questão de interpretação de texto.<br />
Muito simples para quem um dia ouviu falar<br />
de Van Gogh, e simplíssima para aqueles<br />
que prestam atenção em todos os elementos<br />
do enunciado. Afinal, quem deu uma<br />
espiadinha na legenda do quadro de Van<br />
Gogh matou na hora a questão.<br />
A tira "Hagar" e o poema de Alberto<br />
Caeiro (um dos heterônimos de Fernando<br />
Pessoa) expressam, com linguagens<br />
diferentes, uma mesma idéia: a de que a<br />
compreensão que temos do mundo é<br />
condicionada, essencialmente,<br />
A) pelo alcance de cada cultura.<br />
B) pela capacidade visual do observador.<br />
C) pelo senso de humor de cada um.<br />
D) pela idade do observador.<br />
E) pela altura do ponto de observação.<br />
Comentário<br />
Questão reflexiva sobre a forma como<br />
cada cultura vê o mundo sob a ótica dos<br />
limites dados pelos seus costumes e<br />
possibilidades de pensamento inerentes a<br />
cada modelo cultural. A mistura de uma tira e<br />
de um poema amplia a possibilidade de<br />
pensamento por trabalhar com linguagens<br />
diferentes. A alternativa correta é a letra A,<br />
pois ambos (tira e poema) utilizam figuras de<br />
linguagem (metáfora e ironia) para expressar<br />
as diferentes visões de mundo.<br />
19) (2002)<br />
<strong>10</strong>0
De acordo com a história em quadrinhos<br />
protagonizada por Hagar e seu filho<br />
Hamlet, pode-se afirmar que a postura de<br />
Hagar<br />
A) valoriza a existência da diversidade<br />
social e de culturas, e as várias<br />
representações e explicações desse<br />
universo.<br />
B) desvaloriza a existência da<br />
diversidade social e as várias culturas,<br />
e determina uma única explicação para<br />
esse universo.<br />
C) valoriza a possibilidade de explicar as<br />
sociedades e as culturas a partir de<br />
várias visões de mundo.<br />
D) valoriza a pluralidade cultural e social<br />
ao aproximar a visão de mundo de<br />
navegantes e não-navegantes.<br />
E) desvaloriza a pluralidade cultural e<br />
social, ao considerar o mundo habitado<br />
apenas pelos navegantes.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Hagar reduz o<br />
mundo a dois tipos de pessoas: navegantes<br />
e não-navegantes. No último quadrinho, diz<br />
que são os navegantes que estabelecem<br />
esses dois grupos. Portanto, quem é<br />
diferente dos navegantes (que estabelecem<br />
o padrão) simplesmente é incluído na massa<br />
única dos não-navegantes. Não importa<br />
quem ou quantos sejam, sua diversidade<br />
social ou cultural em relação aos navegantes<br />
ou entre si. Vemos aí a desvalorização de<br />
outras culturas.<br />
Comentário do INEP<br />
Dentre as habilidades básicas para a<br />
compreensão de um texto destaca-se a<br />
capacidade do leitor de identificar os<br />
pressupostos de cada afirmação que lhe é<br />
apresentada. Nesta questão o participante<br />
deve identificar a posição tanto de Hagar<br />
como de seu filho Hamlet e, em seguida,<br />
avaliar quais os argumentos que justificam a<br />
opinião de Hagar ao definir que no mundo só<br />
existem dois tipos de pessoas. A pergunta de<br />
Hamlet a seu pai explicita a importância do<br />
ato de narrar através do diálogo e do efeito<br />
humorístico contido no episódio representado<br />
na tira. O resultado da compreensão<br />
acertada do diálogo é que o narrador torna<br />
inteligível, para si e para os outros, a lógica<br />
do seu pensamento através do diálogo entre<br />
os dois personagens. É importante observar<br />
que o humor do personagem Hagar é<br />
identificado na postura simetricamente<br />
oposta à de Michel de Montaigne, por<br />
exemplo (ver questão 58): a sua visão de<br />
mundo apresenta-se autocentrada, isto é,<br />
centrada nos seus próprios valores (vikings).<br />
A habilidade requerida do participante nessa<br />
questão, qual seja, "valorizar a diversidade<br />
dos patrimônios etnoculturais", é mobilizada<br />
aqui na sua dimensão negativa: é criticando<br />
a postura chauvinista de Hagar que o<br />
participante é capaz de responder<br />
corretamente a questão. A última alternativa<br />
(E) funciona como um distrator, pois neste<br />
caso não está suposta a crítica do discurso<br />
do personagem. Cerca de um terço dos<br />
participantes assinalou a alternativa correta<br />
B. As demais opções são devidas,<br />
possivelmente, a uma leitura pouco<br />
compreensiva das alternativas associadas a<br />
história em quadrinhos.<br />
COMPETÊNCIA DE ÁREA 4<br />
H12 - Reconhecer diferentes<br />
funções da arte, do trabalho<br />
da produção dos artistas em<br />
seus meios culturais.<br />
01) (2000) Ferreira Gullar, um dos grandes<br />
poetas brasileiros da atualidade, é autor<br />
de “Bicho urbano”, poema sobre a sua<br />
relação com as pequenas e grandes<br />
cidades.<br />
Bicho urbano<br />
Se disser que prefiro morar em Pirapemas<br />
ou em outra qualquer pequena cidade do<br />
país<br />
estou mentindo<br />
ainda que lá se possa de manhã<br />
lavar o rosto no orvalho<br />
e o pão preserve aquele branco<br />
sabor de alvorada.<br />
....................................................................<br />
A natureza me assusta.<br />
Com seus matos sombrios suas águas<br />
suas aves que são como aparições<br />
me assusta quase tanto quanto<br />
esse abismo<br />
de gases e de estrelas<br />
aberto sob minha cabeça.<br />
(GULLAR, Ferreira. Toda poesia. Rio de Janeiro:<br />
José Olympio Editora, 1991)<br />
Embora não opte por viver numa pequena<br />
cidade, o poeta reconhece elementos de<br />
valor no cotidiano das pequenas<br />
comunidades. Para expressar a relação<br />
<strong>10</strong>1
do homem com alguns desses elementos,<br />
ele recorre à sinestesia, construção de<br />
linguagem em que se mesclam<br />
impressões sensoriais diversas. Assinale<br />
a opção em que se observa esse recurso.<br />
A) "e o pão preserve aquele branco /<br />
sabor de alvorada."<br />
B) "ainda que lá se possa de manhã /<br />
lavar o rosto no orvalho"<br />
C) "A natureza me assusta. / Com seus<br />
matos sombrios suas águas"<br />
D) "suas aves que são como aparições /<br />
me assusta quase tanto quanto"<br />
E) "me assusta quase tanto quanto / esse<br />
abismo / de gases e de estrelas"<br />
Comentário<br />
Para responder a esta questão, leia com<br />
muita atenção o enunciado. Nele encontra-se<br />
o conceito de sinestesia: construção de<br />
linguagem em que se mesclam impressões<br />
sensoriais diversas, ou seja, a associação de<br />
sensações diferentes numa mesma<br />
expressão.<br />
Você deve compreender o conceito de<br />
sinestesia e, pela lógica, encontrar o exemplo<br />
dessa figura de linguagem.<br />
A alternativa correta é a letra a, pois a<br />
expressão "branco sabor" associa o sentido<br />
da visão (branco) com o do paladar (sabor).<br />
Comentário do INEP<br />
A questão procurou verificar a capacidade<br />
do participante de construir o sentido de<br />
elementos textuais. A partir da noção de<br />
sinestesia, que lhe foi dada de maneira<br />
sucinta, ele teve de transpor para o texto<br />
essa mesma noção, manifestando sua<br />
competência textual. Pode-se classificar de<br />
'bom', o índice de acerto (53%), se<br />
considerarmos que a questão trabalhou com<br />
a função conotativa da linguagem, o que<br />
requer uma capacidade de leitura sempre<br />
mais desenvolvida. Os desvios, de forma<br />
mais acentuada na alternativa B, são<br />
explicáveis: as alternativas incorretas (e, de<br />
resto, todo o poema) também se referem à<br />
manifestações sensoriais, embora sem a<br />
necessária 'mescla', que é o que distingue a<br />
sinestesia.<br />
02) (2002) "De repente lá vinha um homem a<br />
cavalo. Eram dois. Um senhor de fora, o<br />
claro de roupa. Miguilim saudou, pedindo<br />
a bênção. O homem trouxe o cavalo cá<br />
bem junto. Ele era de óculos, corado, alto,<br />
com um chapéu diferente, mesmo.<br />
— Deus te abençoe, pequenino. Como é<br />
teu nome?<br />
— Miguilim. Eu sou irmão do Dito.<br />
— E o seu irmão Dito é o dono daqui?<br />
— Não, meu senhor. O Ditinho está em<br />
glória.<br />
O homem esbarrava o avanço do<br />
cavalo, que era zelado, manteúdo,<br />
formoso como nenhum outro. Redizia:<br />
— Ah, não sabia, não. Deus o tenha em<br />
sua guarda... Mas que é que há, Miguilim?<br />
Miguilim queria ver se o homem estava<br />
mesmo sorrindo para ele, por isso é que o<br />
encarava.<br />
— Por que você aperta os olhos assim?<br />
Você não é limpo de vista? Vamos até lá.<br />
Quem é que está em tua casa?<br />
— É Mãe, e os meninos...<br />
Estava Mãe, estava tio Terez, estavam<br />
todos. O senhor alto e claro se apeou. O<br />
outro, que vinha com ele, era um<br />
camarada.<br />
O senhor perguntava à Mãe muitas<br />
coisas do Miguilim. Depois perguntava a<br />
ele mesmo: — 'Miguilim, espia daí:<br />
quantos dedos da minha mão você está<br />
enxergando? E agora?"<br />
ROSA, João Guimarães. Manuelzão e Miguilim. 9ª ed. Rio de<br />
Janeiro: Nova Fronteira, 1984.<br />
Esta história, com narrador observador em<br />
terceira pessoa, apresenta os<br />
acontecimentos da perspectiva de<br />
Miguilim. O fato de o ponto de vista do<br />
narrador ter Miguilim como referência,<br />
inclusive espacial, fica explicitado em:<br />
A) "O homem trouxe o cavalo cá bem<br />
junto."<br />
B) "Ele era de óculos, corado, alto (...)"<br />
C) "O homem esbarrava o avanço do<br />
cavalo, (...)"<br />
D) "Miguilim queria ver se o homem<br />
estava mesmo sorrindo para ele, (...)"<br />
E) "Estava Mãe, estava tio Terez, estavam<br />
todos"<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. A única alternativa<br />
que apresenta, ao mesmo tempo, o narrador<br />
e o ponto de referência espacial é a letra A, o<br />
que pode ser comprovado pela expressão<br />
"cá bem junto".<br />
<strong>10</strong>2
Comentário do INEP<br />
Essa questão apresenta para leitura e<br />
análise um trecho da novela Campo Geral,<br />
da obra Manuelzão e Miguilim, de Guimarães<br />
Rosa, em que um narrador em terceira<br />
pessoa relata o momento do encontro entre<br />
Miguilim e o médico, que percebe, logo ao<br />
chegar, que o garoto tem problemas de<br />
visão. A questão propõe a análise do ponto<br />
de vista narrativo, que, no texto literário, não<br />
necessariamente, como no texto em questão,<br />
será sempre o do narrador.<br />
A cena narrativa presente nesse texto é<br />
contada por um narrador adulto, mas é o<br />
sentimento de Miguilim a respeito dos<br />
acontecimentos que orienta esse contar.<br />
Esse efeito de sentido é resultado do<br />
trabalho do autor com a linguagem. Segundo<br />
a gramática da norma culta, "cá" e "aqui"<br />
indicam o lugar do sujeito, ou seja, daquele<br />
que fala. Algo semelhante ocorre com o<br />
verbo "trazer", que indica um movimento para<br />
o lugar onde se encontra o sujeito. Tanto "cá"<br />
como "trazer" indicam proximidade espacial<br />
daquele que fala.<br />
A narração pertence a um narrador que<br />
não participa da historia como personagem,<br />
portanto ele fala dos outros, nunca de si<br />
mesmo. No trecho "o homem trouxe o cavalo<br />
cá bem junto", o narrador indica que o<br />
homem a cavalo aproxima-se de Miguilim.<br />
Esse jogo de linguagem cria no leitor a<br />
imagem de um narrador adulto que, colandose<br />
à criança, vê pelos olhos desta.<br />
Embora todas as alternativas apresentem<br />
a percepção da criança naquele contexto da<br />
chegada de um desconhecido, apenas a<br />
alternativa A responde o que foi solicitado,<br />
pois só ela apresenta o aspecto da<br />
localização espacial presente no advérbio de<br />
lugar "cá". Quase metade dos participantes<br />
assinalou a alternativa D, única que contem a<br />
palavra Miguilim, possivelmente porque<br />
interpretaram erroneamente o<br />
encaminhamento da questão, no trecho "...<br />
narrador ter Miguilim como referência, ...".<br />
03) (2006) Namorados<br />
O rapaz chegou-se para junto da moça<br />
e disse:<br />
— Antônia, ainda não me acostumei com<br />
o seu corpo, com a sua cara.<br />
A moça olhou de lado e esperou.<br />
— Você não sabe quando a gente é<br />
criança e de repente vê uma lagarta<br />
listrada?<br />
A moça se lembrava:<br />
— A gente fica olhando...<br />
A meninice brincou de novo nos olhos<br />
dela.<br />
O rapaz prosseguiu com muita doçura:<br />
— Antônia, você parece uma lagarta<br />
listrada.<br />
A moça arregalou os olhos, fez<br />
exclamações.<br />
O rapaz concluiu:<br />
— Antônia, você é engraçada! Você<br />
parece louca.<br />
No poema de Bandeira, importante<br />
representante da poesia modernista,<br />
destaca-se como característica da escola<br />
literária dessa época<br />
Manuel Bandeira. Poesia completa & prosa.<br />
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985.<br />
A) a reiteração de palavras como recurso<br />
de construção de rimas ricas.<br />
B) a utilização expressiva da linguagem<br />
falada em situações do cotidiano.<br />
C) a criativa simetria de versos para<br />
reproduzir o ritmo do tema abordado.<br />
D) a escolha do tema do amor romântico,<br />
caracterizador do estilo literário dessa<br />
época.<br />
E) o recurso ao diálogo, gênero discursivo<br />
típico do Realismo.<br />
04) (2008) Calcula-se que 78% do<br />
desmatamento na Amazônia tenha sido<br />
motivado pela pecuária — cerca de 35%<br />
do rebanho nacional está na região — e<br />
que pelo menos 50 milhões de hectares<br />
de pastos são pouco produtivos. Enquanto<br />
o custo médio para aumentar a<br />
produtividade de 1 hectare de pastagem é<br />
de 2 mil reais, o custo para derrubar igual<br />
área de floresta é estimado em 800 reais,<br />
o que estimula novos desmatamentos.<br />
Adicionalmente, madeireiras retiram as<br />
árvores de valor comercial que foram<br />
abatidas para a criação de pastagens. Os<br />
pecuaristas sabem que problemas<br />
ambientais como esses podem provocar<br />
restrições à pecuária nessas áreas, a<br />
exemplo do que ocorreu em 2006 com o<br />
plantio da soja, o qual, posteriormente, foi<br />
proibido em áreas de floresta.<br />
Época, 3/3/2008 e 9/6/2008 (com adaptações).<br />
A partir da situação-problema descrita,<br />
conclui-se que<br />
A) o desmatamento na Amazônia decorre<br />
principalmente da exploração ilegal de<br />
árvores de valor comercial.<br />
<strong>10</strong>3
B) um dos problemas que os pecuaristas<br />
vêm enfrentando na Amazônia é a<br />
proibição do plantio de soja.<br />
C) a mobilização de máquinas e de força<br />
humana torna o desmatamento mais<br />
caro que o aumento da produtividade<br />
de pastagens.<br />
D) o superavit comercial decorrente da<br />
exportação de carne produzida na<br />
Amazônia compensa a possível<br />
degradação ambiental.<br />
E) a recuperação de áreas desmatadas<br />
e o aumento de produtividade das<br />
pastagens podem contribuir para a<br />
redução do desmatamento na<br />
Amazônia.<br />
Comentário<br />
Essa questão retrata o problema do<br />
desmatamento da Amazônia, relacionado<br />
principalmente com o desenvolvimento da<br />
pecuária na região. Para resolvê-la, foram<br />
necessários a leitura atenta do texto e o<br />
conhecimento sobre os problemas<br />
ambientais da atualidade. A alternativa<br />
correta é a letra E, pois é mais caro para os<br />
pecuaristas aumentar a produtividade do que<br />
as áreas de pasto, o que acarreta o aumento<br />
do desmatamento da Amazônia.<br />
05) (2006) Erro de Português<br />
Quando o português chegou<br />
Debaixo de uma bruta chuva<br />
Vestiu o índio<br />
Que pena!<br />
Fosse uma manhã de Sol<br />
O índio tinha despido<br />
O português.<br />
Oswald de Andrade. Poesias reunidas.<br />
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.<br />
O primitivismo observável no poema<br />
acima, de Oswald de Andrade, caracteriza<br />
de forma marcante<br />
A) o regionalismo do Nordeste.<br />
B) o concretismo paulista.<br />
C) a poesia Pau-Brasil.<br />
D) o simbolismo pre-modernista.<br />
E) o tropicalismo baiano.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil, pois bastaria que o<br />
aluno fizesse a relação do nome do autor,<br />
Oswald de Andrade, à alternativa "C", poesia<br />
Pau-Brasil. Com isso, ele já eliminaria as<br />
demais alternativas. Contudo, mesmo que o<br />
aluno não tivesse se lembrado desse<br />
detalhe, o próprio poema Erro de Português<br />
remete a uma das características da poesia<br />
Pau-Brasil, a retomada e a valorização das<br />
riquezas do Brasil primitivo.<br />
06) (2007) Texto I<br />
Agora Fabiano conseguia arranjar as<br />
idéias. O que o segurava era a família.<br />
Vivia preso como um novilho amarrado ao<br />
mourão, suportando ferro quente. Se não<br />
fosse isso, um soldado amarelo não lhe<br />
pisava o pé não. (...) Tinha aqueles<br />
cambões pendurados ao pescoço.<br />
Deveria continuar a arrastá-los? Sinha<br />
Vitória dormia mal na cama de varas. Os<br />
meninos eram uns brutos, como o pai.<br />
Quando crescessem, guardariam as reses<br />
de um patrão invisível, seriam pisados,<br />
maltratados, machucados por um soldado<br />
amarelo.<br />
Graciliano Ramos. Vidas Secas.<br />
São Paulo: Martins, 23.ª ed., 1969, p. 75.<br />
Texto II<br />
Para Graciliano, o roceiro pobre é um<br />
outro, enigmático, impermeável. Não há<br />
solução fácil para uma tentativa de<br />
incorporação dessa figura no campo da<br />
ficção. É lidando com o impasse, ao invés<br />
de fáceis soluções, que Graciliano vai<br />
criar Vidas Secas, elaborando uma<br />
linguagem, uma estrutura romanesca,<br />
uma constituição de narrador em que<br />
narrador e criaturas se tocam, mas não se<br />
identificam. Em grande medida, o debate<br />
acontece porque, para a intelectualidade<br />
brasileira naquele momento, o pobre, a<br />
despeito de aparecer idealizado em certos<br />
aspectos, ainda é visto como um ser<br />
humano de segunda categoria, simples<br />
demais, incapaz de ter pensamentos<br />
demasiadamente complexos. O que Vidas<br />
Secas faz é, com pretenso não<br />
envolvimento da voz que controla a<br />
narrativa, dar conta de uma riqueza<br />
humana de que essas pessoas seriam<br />
plenamente capazes.<br />
Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes. In:<br />
Teresa. São Paulo: USP, n.° 2, 2001, p. 254.<br />
A partir do trecho de Vidas Secas (texto I)<br />
e das informações do texto II, relativas às<br />
concepções artísticas do romance social<br />
de 1930, avalie as seguintes afirmativas.<br />
I - O pobre, antes tratado de forma exótica<br />
e folclórica pelo regionalismo pitoresco,<br />
transforma-se em protagonista<br />
privilegiado do romance social de 30.<br />
II - A incorporação do pobre e de outros<br />
marginalizados indica a tendência da<br />
<strong>10</strong>4
ficção brasileira da década de 30 de<br />
tentar superar a grande distância entre<br />
o intelectual e as camadas populares.<br />
III - Graciliano Ramos e os demais autores<br />
da década de 30 conseguiram, com<br />
suas obras, modificar a posição social<br />
do sertanejo na realidade nacional.<br />
É correto apenas o que se afirma em<br />
A) I. D) I e II.<br />
B) II. E) II e III.<br />
C) III.<br />
Comentário<br />
Questão de nível médio. O aluno deveria<br />
perceber que, no texto de Vidas Secas, o<br />
protagonista de sua obra é o "Pobre<br />
Sertanejo", aqui tratado de forma realista,<br />
sem idealizações e fantasias, e com total<br />
destaque em sua narrativa. Ele também deve<br />
fazer um comparativo entre o trecho da obra<br />
com o comentário de Luís Bueno, além de<br />
demonstrar seus conhecimentos sobre o<br />
Romance Regionalista de 30, para chegar à<br />
conclusão de que a resposta correta é a D.<br />
07) (2008) A Lei Federal n.º 9.985/2000, que<br />
instituiu o sistema nacional de unidades<br />
de conservação, define dois tipos de<br />
áreas protegidas. O primeiro, as unidades<br />
de proteção integral, tem por objetivo<br />
preservar a natureza, admitindo-se<br />
apenas o uso indireto dos seus recursos<br />
naturais, isto é, aquele que não envolve<br />
consumo, coleta, dano ou destruição dos<br />
recursos naturais. O segundo, as<br />
unidades de uso sustentável, tem por<br />
função compatibilizar a conservação da<br />
natureza com o uso sustentável de<br />
parcela dos recursos naturais. Nesse<br />
caso, permite-se a exploração do<br />
ambiente de maneira a garantir a<br />
perenidade dos recursos ambientais<br />
renováveis e dos processos ecológicos,<br />
mantendo-se a biodiversidade e os<br />
demais atributos ecológicos, de forma<br />
socialmente justa e economicamente<br />
viável.<br />
Considerando essas informações, analise<br />
a seguinte situação hipotética.<br />
Ao discutir a aplicação de recursos<br />
disponíveis para o desenvolvimento de<br />
determinada região, organizações civis,<br />
universidade e governo resolveram<br />
investir na utilização de uma unidade de<br />
proteção integral, o Parque Nacional do<br />
Morro do Pindaré, e de uma unidade de<br />
uso sustentável, a Floresta Nacional do<br />
Sabiá. Depois das discussões, a equipe<br />
resolveu levar adiante três projetos:<br />
— o projeto I consiste de pesquisas<br />
científicas embasadas exclusivamente<br />
na observação de animais;<br />
— o projeto II inclui a construção de uma<br />
escola e de um centro de vivência;<br />
— o projeto III promove a organização de<br />
uma comunidade extrativista que<br />
poderá coletar e explorar<br />
comercialmente frutas e sementes<br />
nativas.<br />
Nessa situação hipotética, atendendo-se à<br />
lei mencionada acima, é possível<br />
desenvolver tanto na unidade de proteção<br />
integral quanto na de uso sustentável<br />
A) apenas o projeto I.<br />
B) apenas o projeto III.<br />
C) apenas os projetos I e II.<br />
D) apenas os projetos II e III.<br />
E) todos os três projetos.<br />
Comentário do portal<br />
A alternativa correta é a letra "A", pois,<br />
analisando-se a situação hipotética sugerida<br />
no enunciado, percebe-se que ela deverá<br />
atender os requisitos tanto da unidade de<br />
proteção integral quanto da unidade de uso<br />
sustentável. Portanto, apenas o projeto I<br />
poderá ser desenvolvido nessas duas<br />
propostas de unidades.<br />
08) (2006) No poema Procura da poesia,<br />
Carlos Drummond de Andrade expressa a<br />
concepção estética de se fazer com<br />
palavras o que o escultor Michelângelo<br />
fazia com mármore. O fragmento abaixo<br />
exemplifica essa afirmação.<br />
(...)<br />
Penetra surdamente no reino das<br />
palavras.<br />
Lá estão os poemas que esperam ser<br />
escritos.<br />
(...)<br />
Chega mais perto e contempla as<br />
palavras.<br />
Cada uma<br />
tem mil faces secretas sob a face neutra<br />
e te pergunta, sem interesse pela<br />
resposta,<br />
pobre ou terrível, que lhe deres:<br />
trouxeste a chave?<br />
Carlos Drummond de Andrade. A rosa do povo.<br />
Rio de Janeiro: Record, 1997, p. 13-14.<br />
<strong>10</strong>5
Esse fragmento poético ilustra o seguinte<br />
tema constante entre autores<br />
modernistas:<br />
A) a nostalgia do passado colonialista<br />
revisitado.<br />
B) a preocupação com o engajamento<br />
político e social da literatura.<br />
C) o trabalho quase artesanal com as<br />
palavras, despertando sentidos novos.<br />
D) a produção de sentidos herméticos na<br />
busca da perfeição poética.<br />
E) a contemplação da natureza brasileira<br />
na perspectiva ufanista da pátria.<br />
Comentário<br />
Questão de nível difícil, pois o candidato<br />
deveria, além de interpretar o poema,<br />
conhecer o verdadeiro sentido de arte<br />
segundo Michelângelo, que achava que um<br />
bloco de mármore já tinha sua figura dentro<br />
dele e que seu trabalho seria somente<br />
lapidá-la. Dessa forma, o candidato deveria<br />
relacionar a estrutura de um bloco de<br />
mármore ao segundo verso do poema: “Lá<br />
estão os poemas que esperam ser escritos<br />
(...)”. Ou seja, esperava-se que o candidato<br />
fizesse a relação do bloco de mármore com<br />
as palavras, o que justifica a alternativa “C”<br />
como correta.<br />
09) (2002) Érico Veríssimo relata, em suas<br />
memórias, um episódio da adolescência<br />
que teve influência significativa em sua<br />
carreira de escritor.<br />
"Lembro-me de que certa noite — eu<br />
teria uns quatorze anos, quando muito —<br />
encarregaram-me de segurar uma<br />
lâmpada elétrica à cabeceira da mesa de<br />
operações, enquanto um médico fazia os<br />
primeiros curativos num pobre-diabo que<br />
soldados da Polícia Municipal haviam<br />
"carneado". (...) Apesar do horror e da<br />
náusea, continuei firme onde estava,<br />
talvez pensando assim: se esse caboclo<br />
pode agüentar tudo isso sem gemer, por<br />
que não hei de poder ficar segurando esta<br />
lâmpada para ajudar o doutor a costurar<br />
esses talhos e salvar essa vida? (...)<br />
Desde que, adulto, comecei a escrever<br />
romances, tem-me animado até hoje a<br />
idéia de que o menos que o escritor pode<br />
fazer, numa época de atrocidades e<br />
injustiças como a nossa, é acender a sua<br />
lâmpada, fazer luz sobre a realidade de<br />
seu mundo, evitando que sobre ele caia a<br />
escuridão, propícia aos ladrões, aos<br />
assassinos e aos tiranos. Sim, segurar a<br />
lâmpada, a despeito da náusea e do<br />
horror. Se não tivermos uma lâmpada<br />
elétrica, acendamos o nosso toco de vela<br />
ou, em último caso, risquemos fósforos<br />
repetidamente, como um sinal de que não<br />
desertamos nosso posto."<br />
VERÍSSIMO, Érico. Solo de Clarineta. Tomo I.<br />
Porto Alegre: Editora Globo, 1978.<br />
Neste texto, por meio da metáfora da<br />
lâmpada que ilumina a escuridão, Érico<br />
Veríssimo define como uma das funções<br />
do escritor e, por extensão, da literatura,<br />
A) criar a fantasia.<br />
B) permitir o sonho.<br />
C) denunciar o real.<br />
D) criar o belo.<br />
E) fugir da náusea.<br />
Comentário<br />
Temos aqui um dos pontos mais comuns<br />
abordados na obra de Veríssimo: a denúncia<br />
social. “(...) o menos que o escritor pode<br />
fazer, numa época de atrocidades e<br />
injustiças como a nossa, é acender sua<br />
lâmpada, fazer luz sobre a realidade de seu<br />
mundo, evitando que sobre ele caia a<br />
escuridão, propícia aos ladrões, aos<br />
assassinos e aos tiranos.”<br />
A literatura deve, como a luz, mostrar não<br />
só as belezas, mas também as feridas da<br />
sociedade, para que as tentemos sanar.<br />
Comentário do INEP<br />
Essa questão apresenta para leitura e<br />
análise um trecho de Solo de Clarineta, em<br />
que Érico Veríssimo relata uma experiência<br />
de juventude e dela constrói uma metáfora<br />
para revelar o que ele entende ser uma das<br />
funções essenciais da literatura. "Lâmpada",<br />
"vela", "fósforos" devem ser lidos como a<br />
palavra comprometida em traduzir a<br />
realidade do mundo. Ou seja, afirmar que o<br />
escritor deve "fazer luz sobre a realidade de<br />
seu mundo", nesse contexto, equivale a<br />
afirmar que um papel da literatura é<br />
denunciar o real. Todas as alternativas<br />
propostas referem-se a eventuais funções da<br />
literatura. Apenas a alternativa C é pertinente<br />
ao contexto e foi escolhida por cerca de<br />
metade dos participantes.<br />
<strong>10</strong>) (1999) Leia o texto abaixo.<br />
Cabelos longos, brinco na orelha<br />
esquerda, físico de skatista. Na aparência,<br />
o estudante brasiliense Rui Lopes Viana<br />
Filho, de 16 anos, não lembra em nada o<br />
estereótipo dos gênios. Ele não usa<br />
<strong>10</strong>6
pesados óculos de grau e está longe de<br />
ter um ar introspectivo. No final do mês<br />
passado, Rui retornou de Taiwan, onde<br />
enfrentou 419 competidores de todo o<br />
mundo na 39ª Olimpíada Internacional de<br />
Matemática. A reluzente medalha de ouro<br />
que ele trouxe na bagagem está<br />
dependurada sobre a cama de seu quarto,<br />
atulhado de rascunhos dos problemas<br />
matemáticos que aprendeu a decifrar nos<br />
últimos cinco anos.<br />
Veja – Vencer uma olimpíada serve de<br />
passaporte para uma carreira profissional<br />
meteórica?<br />
Rui – Nada disso. Decidi me dedicar à<br />
Olimpíada porque sei que a concorrência<br />
por um emprego é cada vez mais<br />
selvagem e cruel. Agora tenho algo a mais<br />
para oferecer. O problema é que as coisas<br />
estão mudando muito rápido e não sei<br />
qual será minha profissão. Além de ser<br />
muito novo para decidir sobre o meu<br />
futuro profissional, sei que esse conceito<br />
de carreira mudou muito.<br />
(Entrevista de Rui Lopes Viana Filho à Veja,<br />
05/08/1998, n.31, p. 9-<strong>10</strong>)<br />
Na pergunta, o repórter estabelece uma<br />
relação entre a entrada do estudante no<br />
mercado de trabalho e a vitória na<br />
Olimpíada. O estudante<br />
A) concorda com a relação e afirma que o<br />
desempenho na Olimpíada é<br />
fundamental para sua entrada no<br />
mercado.<br />
B) discorda da relação e complementa<br />
que é fácil se fazer previsões sobre o<br />
mercado de trabalho.<br />
C) discorda da relação e afirma que seu<br />
futuro profissional independe de<br />
dedicação aos estudos.<br />
D) discorda da relação e afirma que seu<br />
desempenho só é relevante se<br />
escolher uma profissão relacionada à<br />
matemática.<br />
E) concorda em parte com a relação e<br />
complementa que é complexo fazer<br />
previsões sobre o mercado de trabalho.<br />
Comentário<br />
Não é difícil de se chegar à resposta<br />
correta ao se ler a reportagem. Ao final do<br />
último parágrafo — (...) Além de ser muito<br />
novo para decidir sobre o meu futuro<br />
profissional, sei que esse conceito de carreira<br />
mudou muito. —, o estudante praticamente<br />
fornece a resposta à questão, declarando-se<br />
realista ao não tentar prever seu futuro<br />
profissional devido à pouca idade e às<br />
mudanças no mercado de trabalho. Quanto a<br />
concordar parcialmente com o repórter, veja<br />
que ele, apesar de negar que o prêmio fosse<br />
uma garantia de sucesso profissional, logo<br />
depois afirma que, com ele, terá algo mais a<br />
oferecer ao mercado. Questão de nível fácil.<br />
Comentário do INEP<br />
Nesta situação-problema, o participante<br />
deveria demonstrar que compreendeu as<br />
premissas de um discurso, distinguindo a<br />
diferença de significado de palavras isoladas<br />
ou no contexto em que estão inseridas.<br />
Verificou-se que mais da metade dos<br />
participantes demonstrou possuir essa<br />
compreensão. Aqueles que optaram pelas<br />
alternativas C e D podem ter sido atraídos<br />
pelo significado negativo da expressão inicial<br />
"Nada disso".<br />
11) (1998) Texto 1<br />
"Mulher, Irmã, escuta-me: não ames,<br />
Quando a teus pés um homem terno e<br />
curvo<br />
jurar amor, chorar pranto de sangue,<br />
Não creias, não, mulher: ele te engana!<br />
As lágrimas são gotas da mentira<br />
E o juramento manto da perfídia."<br />
(Joaquim Manoel de Macedo)<br />
Texto 2<br />
"Teresa, se algum sujeito bancar o<br />
sentimental em cima de você<br />
E te jurar uma paixão do tamanho de um<br />
bonde<br />
Se ele chorar<br />
Se ele ajoelhar<br />
Se ele se rasgar todo<br />
Não acredite não Teresa<br />
É lágrima de cinema<br />
É tapeação<br />
Mentira<br />
CAI FORA"<br />
(Manuel Bandeira)<br />
Os autores, ao fazerem alusão às<br />
imagens da lágrima sugerem que:<br />
A) há um tratamento idealizado da<br />
relação homem/mulher.<br />
B) há um tratamento realista da relação<br />
homem/mulher.<br />
C) a relação familiar é idealizada.<br />
D) a mulher é superior ao homem.<br />
E) a mulher é igual ao homem.<br />
Comentário<br />
Ambos os autores, ao utilizarem a<br />
imagem da lágrima, estão na realidade<br />
mostrando que a figura do homem que é<br />
<strong>10</strong>7
<strong>10</strong>8<br />
romântico a ponto de chorar ao jurar amor<br />
não existe. Tanto Macedo quanto<br />
Bandeira alertam as mulheres dizendo,<br />
com palavras e estilos diferentes, que não<br />
há homem que chore por amor (portanto,<br />
essa figura é uma idealização — e, por<br />
conseguinte, toda imagem que se tem<br />
sobre os relacionamentos<br />
demasiadamente românticos). Note que<br />
Bandeira chega até mesmo a chamar tal<br />
"chorão" de ator ("...É lágrima de cinema /<br />
É tapeação..."). Macedo dá uma imagem<br />
pesada às lágrimas ("...são gotas da<br />
mentira...").<br />
12) (1999) Considere os textos abaixo.<br />
(...) de modo particular, quero encorajar os<br />
crentes empenhados no campo da<br />
filosofia para que iluminem os diversos<br />
âmbitos da atividade humana, graças ao<br />
exercício de uma razão que se torna mais<br />
segura e perspicaz com o apoio que<br />
recebe da fé.<br />
(Papa João Paulo II. Carta Encíclica Fides<br />
et Ratio aos bispos da igreja católica sobre as relações<br />
entre fé e razão, 1998)<br />
As verdades da razão natural não<br />
contradizem as verdades da fé cristã.<br />
(São Tomás de Aquino<br />
–pensador medieval)<br />
Refletindo sobre os textos, pode-se<br />
concluir que:<br />
A) a encíclica papal está em contradição<br />
com o pensamento de São Tomás de<br />
Aquino, refletindo a diferença de<br />
épocas.<br />
B) a encíclica papal procura<br />
complementar São Tomás de Aquino,<br />
pois este colocava a razão natural<br />
acima da fé.<br />
C) a Igreja medieval valorizava a razão<br />
mais do que a encíclica de João Paulo<br />
II.<br />
D) o pensamento teológico teve sua<br />
importância na Idade Média, mas, em<br />
nossos dias, não tem relação com o<br />
pensamento filosófico.<br />
E) tanto a encíclica papal como a frase<br />
de São Tomás de Aquino procuram<br />
conciliar os pensamentos sobre fé e<br />
razão.<br />
Comentário<br />
Nessa questão, é necessária uma<br />
releitura do texto para que se tenha uma<br />
melhor compreensão do tema. Tanto a<br />
citação do Papa quanto a de São Tomás de<br />
Aquino tentam criar uma interdependência<br />
entre a ciência e a fé, a religião. O Papa<br />
incentiva aqueles que exercem a pesquisa<br />
científica ou filosófica a manter a fé cristã.<br />
São Tomás de Aquino, por sua vez, equipara<br />
o avanço da ciência ao aumento da própria<br />
fé, afirmando que a razão natural não<br />
contradiz a fé cristã. Se um cresce, cresce<br />
também o outro, em harmonia e sem<br />
contradições. Questão de grau médio.<br />
(Português)<br />
Nessa questão, encontramos dois textos:<br />
o primeiro, do século XX, foi elaborado pelo<br />
Papa João Paulo II; o segundo, do século<br />
XIII, pelo teólogo e filósofo cristão São<br />
Tomás de Aquino. O conteúdo de ambos se<br />
refere à ligação entre fé e razão, a qual<br />
esteve presente na filosofia escolástica da<br />
Idade Média. Esse campo de reflexão buscou<br />
conciliar o cristianismo com o pensamento de<br />
Aristóteles e teve em São Tomás de Aquino<br />
seu maior representante.<br />
Mesmo sem ter todas essas informações,<br />
você poderia responder tranqüilamente à<br />
questão por meio de uma leitura atenta dos<br />
dois textos, chegando à conclusão de que<br />
"tanto a encíclica papal como a frase de São<br />
Tomás de Aquino procuram conciliar os<br />
pensamentos sobre fé e razão". Resposta<br />
correta: alternativa E. (História)<br />
Comentário do INEP<br />
Para resolver esta situação-problema, o<br />
participante deveria mostrar que, além de<br />
interpretar textos, sabe relacioná-los sendo<br />
que, nesse item, essas operações referem-se<br />
a um texto escrito na época medieval e a<br />
outro escrito recentemente.<br />
Mais de 70% dos participantes<br />
demonstraram facilidade em estabelecer esta<br />
relação.<br />
13) (2001) Murilo Mendes, em um de seus<br />
poemas, dialoga com a carta de Pero Vaz<br />
de Caminha:<br />
“A terra é mui graciosa,<br />
Tão fértil eu nunca vi.<br />
A gente vai passear,<br />
No chão espeta um caniço,<br />
No dia seguinte nasce<br />
Bengala de castão de oiro.<br />
Tem goiabas, melancias,<br />
Banana que nem chuchu.<br />
Quanto aos bichos, tem-nos muito,<br />
De plumagens mui vistosas.<br />
Tem macaco até demais<br />
Diamantes tem à vontade<br />
Esmeralda é para os trouxas.
Reforçai, Senhor, a arca,<br />
Cruzados não faltarão,<br />
Vossa perna encanareis,<br />
Salvo o devido respeito.<br />
Ficarei muito saudoso<br />
Se for embora daqui”.<br />
MENDES, Murilo. Murilo Mendes —<br />
poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.<br />
Arcaísmos e termos coloquiais misturamse<br />
nesse poema, criando um efeito de<br />
contraste, como ocorre em:<br />
A) A terra é mui graciosa / Tem macaco<br />
até demais.<br />
B) Salvo o devido respeito / Reforçai,<br />
Senhor, a arca<br />
C) A gente vai passear / Ficarei muito<br />
saudoso<br />
D) De plumagens mui vistosas / Bengala<br />
de castão de oiro<br />
E) No chão espeta um caniço / Diamantes<br />
tem à vontade<br />
Comentário<br />
Aqui, procuramos uma alternativa que<br />
apresente um trecho em linguagem coloquial<br />
e outro em linguagem arcaica.<br />
As alternativas B, C e E apresentam<br />
apenas a linguagem coloquial. A D, somente<br />
a arcaica.<br />
Sobra-nos a primeira alternativa: "A terra é<br />
mui graciosa" (mui é um arcaísmo); "tem<br />
macaco até demais" (linguagem coloquial).<br />
Comentário do INEP<br />
O efeito de paródia, explorado como<br />
recurso estilístico pelo autor desse poema,<br />
apresenta-se na utilização de expressões<br />
retomadas ora da carta de Pero Vaz de<br />
Caminha ora da linguagem coloquial corrente<br />
de época, gerando um efeito de humor<br />
crítico. Uma condição essencial para<br />
compreender o problema proposto nessa<br />
questão – identificar os arcaísmos e os<br />
coloquialismos existentes no poema – é<br />
conhecer o contexto de produção do texto e<br />
sua relação intratextual. Se o participante<br />
desconhece ou não considera o contexto<br />
histórico do poema, a identificação será<br />
parcial, já que o enunciado indica como<br />
pressuposto "a criação de um efeito de<br />
contraste" na utilização das expressões.<br />
Possivelmente a utilização de "contraste"<br />
como critério de interpretação justifica os<br />
percentuais de escolhas dos distratores. Uma<br />
outra possível explicação para esses<br />
percentuais deve-se ao fato de os<br />
participantes terem considerado apenas os<br />
termos "arcaísmo" e "coloquialismo" e, não<br />
tendo elementos para analisá-los,<br />
provavelmente deslocaram o texto do<br />
contexto e apoiaram-se em outros elementos<br />
para resolver a questão.<br />
14) (2008) Considerando o soneto de<br />
Cláudio Manoel da Costa e os elementos<br />
constitutivos do Arcadismo brasileiro,<br />
assinale a opção correta acerca da<br />
relação entre o poema e o momento<br />
histórico de sua produção.<br />
A) Os “montes” e “outeiros”, mencionados<br />
na primeira estrofe, são imagens<br />
relacionadas à Metrópole, ou seja, ao<br />
lugar onde o poeta se vestiu com traje<br />
“rico e fino”.<br />
B) A oposição entre a Colônia e a<br />
Metrópole, como núcleo do poema,<br />
revela uma contradição vivenciada pelo<br />
poeta, dividido entre a civilidade do<br />
mundo urbano da Metrópole e a<br />
rusticidade da terra da Colônia.<br />
C) O bucolismo presente nas imagens do<br />
poema é elemento estético do<br />
Arcadismo que evidencia a<br />
preocupação do poeta árcade em<br />
realizar uma representação literária<br />
realista da vida nacional.<br />
D) A relação de vantagem da “choupana”<br />
sobre a “Cidade”, na terceira estrofe, é<br />
formulação literária que reproduz a<br />
condição histórica paradoxalmente<br />
vantajosa da Colônia sobre a<br />
Metrópole.<br />
E) A realidade de atraso social, político e<br />
econômico do Brasil Colônia está<br />
representada esteticamente no poema<br />
pela referência, na última estrofe, à<br />
transformação do pranto em alegria.<br />
Comentário<br />
A questão exige conhecimento das<br />
características do Arcadismo. A principal<br />
delas, presente no texto, é o bucolismo,<br />
representado pela paisagem da colônia. Esta<br />
é apresentada em oposição à paisagem da<br />
cidade ou metrópole. O poeta, que participou<br />
da Inconfidência Mineira, viveu em Lisboa.<br />
Dessa forma, o termo “vivenciado” da<br />
alternativa "B" justifica a oposição campo x<br />
cidade apresentada no poema. Logo, só<br />
pode ser essa a alternativa correta.<br />
<strong>10</strong>9
15) (2007)<br />
16) (1998) A discussão sobre gramática na<br />
classe está "quente". Será que os<br />
brasileiros sabem gramática? A<br />
professora de Português propõe para<br />
debate o seguinte texto:<br />
PRA MIM BRINCAR<br />
Não há nada mais gostoso do que o<br />
mim sujeito de verbo no infinito. Pra mim<br />
brincar. As cariocas que não sabem<br />
gramática falam assim. Todos os<br />
brasileiros deviam de querer falar como as<br />
cariocas que não sabem gramática.<br />
- As palavras mais feias da língua<br />
portuguesa são quiçá, alhures e miúde.<br />
(BANDEIRA, Manuel. Seleta em prosa e verso. Org:<br />
Emanuel de Moraes.4ª ed. Rio de Janeiro,<br />
José Olympio, 1986. Pág. 19)<br />
1<strong>10</strong><br />
A antítese que configura uma imagem da<br />
divisão social do trabalho na sociedade<br />
brasileira é expressa poeticamente na<br />
oposição entre a doçura do branco açúcar<br />
e<br />
A) o trabalho do dono da mercearia de<br />
onde veio o açúcar.<br />
B) o beijo de moça, a água na pele e a flor<br />
que se dissolve na boca.<br />
C) o trabalho do dono do engenho em<br />
Pernambuco, onde se produz o açúcar.<br />
D) a beleza dos extensos canaviais que<br />
nascem no regaço do vale.<br />
E) o trabalho dos homens de vida<br />
amarga em usinas escuras.<br />
Comentário<br />
Questão de nível médio. O aluno deve<br />
perceber, na leitura do poema, várias<br />
antíteses. Entre elas, destaca-se a doçura do<br />
açúcar com a amargura da vida dos<br />
trabalhadores e a brancura dele com a<br />
escuridão das usinas. Porém, o grande<br />
destaque que o autor quer dar é o valor do<br />
trabalho do homem das usinas, que é o<br />
verdadeiro responsável pela produção do<br />
açúcar. Portanto, a alternativa E é a correta.<br />
Com a orientação da professora e após o<br />
debate sobre o texto de Manuel Bandeira,<br />
os alunos chegaram à seguinte conclusão:<br />
A) uma das propostas mais ousadas do<br />
Modernismo foi a busca da identidade<br />
do povo brasileiro e o registro, no texto<br />
literário, da diversidade das falas<br />
brasileiras.<br />
B) apesar de os modernistas registrarem<br />
as falas regionais do Brasil, ainda<br />
foram preconceituosos em relação às<br />
cariocas.<br />
C) a tradição dos valores portugueses foi<br />
a pauta temática do movimento<br />
modernista.<br />
D) Manuel Bandeira e os modernistas<br />
brasileiros exaltaram em seus textos o<br />
primitivismo da nação brasileira.<br />
E) Manuel Bandeira considera a<br />
diversidade dos falares brasileiros uma<br />
agressão à Língua Portuguesa.<br />
Comentário<br />
Para resolver essa questão, é<br />
importantíssimo dar atenção a quem foi o<br />
autor do texto do enunciado — Manuel<br />
Bandeira. Ele participou da primeira fase do<br />
Modernismo brasileiro, conhecida como<br />
geração de 22. Ela tinha, dentre diversas<br />
propostas, uma de fundamental importância<br />
para essa questão: a busca da identidade do<br />
povo brasileiro, valorizando a cultura, a<br />
intelectualidade e a sociedade do país. Entre<br />
essas questões, encontrava-se, com realce,<br />
a da língua brasileira. Buscava-se uma<br />
aproximação entre a língua escrita, herdada<br />
dos portugueses, e a nossa língua falada,<br />
dando-se preferência à linguagem oral. Com<br />
isso em mente, teremos a alternativa A como<br />
correta.
17) (1999) Leia um texto publicado no jornal<br />
Gazeta Mercantil. Esse texto é parte de<br />
um artigo que analisa algumas situações<br />
de crise no mundo, entre elas, a quebra<br />
da Bolsa de Nova Iorque em 1929, e foi<br />
publicado na época de uma iminente crise<br />
financeira no Brasil.<br />
Deu no que deu. No dia 29 de outubro de<br />
1929, uma terça-feira, praticamente não<br />
havia compradores no pregão de Nova<br />
Iorque, só vendedores. Seguiu-se uma<br />
crise incomparável: o Produto Interno<br />
Bruto dos Estados Unidos caiu de <strong>10</strong>4<br />
bilhões de dólares em 1929, para 56<br />
bilhões em 1933, coisa inimaginável em<br />
nossos dias. O valor do dólar caiu a quase<br />
metade. O desemprego elevou-se de 1,5<br />
milhão para 12,5 milhões de trabalhadores<br />
– cerca de 25% da população ativa –<br />
entre 1929 e 1933. A construção civil caiu<br />
90%. Nove milhões de aplicações, tipo<br />
caderneta de poupança, perderam-se com<br />
o fechamento dos bancos. Oitenta e cinco<br />
mil firmas faliram. Houve saques e norteamericanos<br />
que passaram fome.<br />
(Gazeta Mercantil, 05/01/1999)<br />
Ao citar dados referentes à crise ocorrida<br />
em 1929, em um artigo jornalístico atual,<br />
pode-se atribuir ao jornalista a seguinte<br />
intenção:<br />
A) questionar a interpretação da crise.<br />
B) comunicar sobre o desemprego.<br />
C) instruir o leitor sobre aplicações em<br />
bolsa de valores.<br />
D) relacionar os fatos passados e<br />
presentes.<br />
E) analisar dados financeiros americanos.<br />
dessa época com a grande crise de 1929 que<br />
afetou o mundo, trazendo desemprego e<br />
recessão, entre tantos outros problemas<br />
econômicos e sociais.<br />
Para responder a essa questão, era<br />
necessário ler atentamente o enunciado, em<br />
que está destacado que "o texto é parte de um<br />
artigo que analisa algumas situações de crise<br />
no mundo" e "foi publicado na época de uma<br />
iminente crise financeira no Brasil". Era<br />
importante também observar a data em que o<br />
artigo foi publicado: 05/01/1999. A partir dessas<br />
constatações, facilmente você chegaria a<br />
conclusão de que a intenção do jornalista era<br />
"relacionar os fatos passados e presentes".<br />
Resposta correta: alternativa D. (História)<br />
Comentário do INEP<br />
A resolução da questão demandava a<br />
capacidade dos participantes de relacionar<br />
eventos históricos envolvendo crises<br />
econômicas ocorridas em épocas e lugares<br />
distintos. Aproximadamente 2/3 deles<br />
demonstraram essa capacidade. Os demais,<br />
provavelmente, não compreenderam a<br />
exigência expressa no enunciado do problema<br />
– apontar as razões pelas quais um jornalista<br />
traz à tona eventos ocorridos setenta anos<br />
antes –, e apenas interpretaram o sentido do<br />
texto citado, que descreve a crise mundial de<br />
1929.<br />
18) (2007)<br />
Comentário<br />
Nessa questão, o que se tem de fazer é<br />
prestar atenção às alternativas das respostas.<br />
Nenhuma delas se apresenta tão bem<br />
contextualizada a uma possível interpretação<br />
quanto a letra D. Partindo-se da análise do<br />
texto, fica claro que a intenção do artigo é<br />
remeter o leitor ao passado para tentar<br />
conduzi-lo a uma reflexão sobre uma situação<br />
presente, não mencionada na questão. Após a<br />
leitura e utilizando-se a já citada eliminação de<br />
questões, torna-se clara a resposta. Questão<br />
de nível médio. (Português)<br />
Muitas vezes, quando procuramos entender<br />
uma crise econômica ou financeira de grandes<br />
proporções, buscamos estabelecer relações<br />
com crises passadas. O mesmo ocorre no<br />
jornalismo, como prova o texto encontrado<br />
nessa questão. Buscando entender uma crise<br />
ocorrida no início de 1999, o jornalista da<br />
Gazeta Mercantil buscou relacionar a situação<br />
111
Levando-se em consideração o texto de<br />
Oswald de Andrade e a pintura de Antonio<br />
Rocco reproduzida acima, relativos à<br />
imigração européia para o Brasil, é correto<br />
afirmar que<br />
A) a visão da imigração presente na<br />
pintura é trágica e, no texto, otimista.<br />
B) a pintura confirma a visão do texto<br />
quanto à imigração de argentinos para<br />
o Brasil.<br />
C) os dois autores retratam dificuldades<br />
dos imigrantes na chegada ao Brasil.<br />
D) Antonio Rocco retrata de forma otimista<br />
a imigração, destacando o pioneirismo<br />
do imigrante.<br />
E) Oswald de Andrade mostra que a<br />
condição de vida do imigrante era<br />
melhor que a dos ex-escravos.<br />
Comentário<br />
Questão fácil. Pela comparação entre dois<br />
textos com linguagens diferentes, chega-se à<br />
conclusão de que os imigrantes enfrentaram<br />
uma realidade bastante dura no momento de<br />
sua chegada ao Brasil. Portanto, a alternativa<br />
correta é a letra C.<br />
19) (2005) Cândido Portinari (1903-1962), um<br />
dos mais importantes artistas brasileiros<br />
do século XX, tratou de diferentes<br />
aspectos da nossa realidade em seus<br />
quadros.<br />
Rasgados e sem cor, dependurados<br />
Homens de enorme ventre bojudo<br />
Mulheres com trouxas caídas para o lado<br />
Pançudas, carregando ao colo um garoto<br />
Choramingando, remelento<br />
(....)<br />
(Cândido Portinari. Poemas. Rio de Janeiro:<br />
J. Olympio, 1964.)<br />
Das quatro obras reproduzidas, assinale<br />
aquelas que abordam a problemática que<br />
é tema do poema.<br />
A) 1 e 2 D) 3 e 4<br />
B) 1 e 3 E) 2 e 4<br />
C) 2 e 3<br />
Comentário<br />
O poema apresenta correspondência com<br />
as imagens ao descrever com detalhes a figura<br />
do retirante: pobre, mal vestido, carregando<br />
trouxas e embrulhos.<br />
20) (2002) O autor da tira utilizou os<br />
princípios de composição de um<br />
conhecido movimento artístico para<br />
representar a necessidade de um mesmo<br />
observador aprender a considerar,<br />
simultaneamente, diferentes pontos de<br />
vista.<br />
Das obras reproduzidas, todas de autoria<br />
do pintor espanhol Pablo Picasso, aquela<br />
em cuja composição foi adotado um<br />
procedimento semelhante é:<br />
A)<br />
Sobre a temática dos “Retirantes”,<br />
Portinari também escreveu o seguinte<br />
poema:<br />
B)<br />
112<br />
(....)<br />
Os retirantes vêm vindo com trouxas e<br />
embrulhos<br />
Vêm das terras secas e escuras;<br />
pedregulhos<br />
Doloridos como fagulhas de carvão aceso<br />
Corpos disformes, uns panos sujos,
C)<br />
D)<br />
tinha como procedimento de composição<br />
representar, para um mesmo observador,<br />
diferentes pontos de vista, fazendo com que<br />
"o tradicional único ponto de vista" fosse<br />
abandonado e com que a perspectiva fosse<br />
fraturada. A análise das obras de Picasso<br />
reproduzidas nas alternativas permite que o<br />
participante reconheça a adoção desse<br />
procedimento no quadro "Marie-Thérèse<br />
apoiada no cotovelo" (alternativa E, com 46%<br />
de registros), no qual se pode reconhecer a<br />
representação de diferentes pontos de vista<br />
a partir dos quais é apresentado o rosto da<br />
mulher retratada.<br />
21) (2000) “Poética”, de Manuel Bandeira, é<br />
quase um manifesto do movimento<br />
modernista brasileiro de 1922. No poema,<br />
o autor elabora críticas e propostas<br />
que representam o pensamento estético<br />
predominante na época.<br />
E)<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. O movimento<br />
artístico que previa considerar<br />
simultaneamente diversos pontos de vista<br />
era o Cubismo. Havia a desconstrução da<br />
forma para que se pudesse ver todos os<br />
ângulos concomitantemente. O único quadro<br />
que apresenta essas características é o da<br />
alternativa E. As outras quatro alternativas<br />
pressupõem a manutenção da forma.<br />
Comentário do INEP<br />
O objetivo desta questão é levar o<br />
participante a refletir sobre características<br />
fundamentais de um movimento artístico – o<br />
cubismo – a partir de dados visuais:<br />
quadrinhos e pinturas. A reprodução de dois<br />
quadrinhos da personagem Calvin forneceu<br />
para o participante informações básicas para<br />
a análise que deveria fazer das alternativas<br />
apresentadas. Segundo os quadrinhos, o<br />
movimento artístico abordado pela questão<br />
Poética<br />
Estou farto do lirismo comedido<br />
Do lirismo bem comportado<br />
Do lirismo funcionário público com livro de<br />
ponto expediente protocolo e<br />
[manifestações de apreço<br />
ao Sr. Diretor<br />
.<br />
Estou farto do lirismo que pára e vai<br />
averiguar no dicionário o<br />
[cunho vernáculo de um<br />
vocábulo<br />
Abaixo os puristas<br />
....................................................................<br />
Quero antes o lirismo dos loucos<br />
O lirismo dos bêbedos<br />
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos<br />
O lirismo dos clowns de Shakespeare<br />
— Não quero mais saber do lirismo que<br />
não é libertação.<br />
(BANDEIRA, Manuel. Poesia Completa e Prosa.<br />
Rio de Janeiro. Aguilar, 1974)<br />
Com base na leitura do poema, podemos<br />
afirmar corretamente que o poeta:<br />
A) critica o lirismo louco do movimento<br />
modernista.<br />
B) critica todo e qualquer lirismo na<br />
literatura.<br />
C) propõe o retorno ao lirismo do<br />
movimento clássico.<br />
113
D) propõe o retorno ao lirismo do<br />
movimento romântico.<br />
E) propõe a criação de um novo lirismo.<br />
Comentário<br />
Questão bastante inteligente. Para<br />
começar, Manuel Bandeira teve como marca<br />
de sua obra a busca de novas formas de<br />
expressão, sempre. Mesmo tendo escrito<br />
muitos sonetos (especialmente no início da<br />
carreira), adotou prazerosamente a rebeldia<br />
da poética modernista. A resposta pode estar<br />
centrada na análise de um único verso do<br />
poema. As alternativas de a a d ficam todas<br />
automaticamente descartadas pelo primeiro<br />
verso da segunda parte ("Quero antes o<br />
lirismo dos loucos"). Veja que quem prega<br />
um lirismo dos loucos e dos bêbedos não<br />
pode nem criticar o "lirismo louco" dos<br />
modernistas, como na alternativa a, ou<br />
propor que não haja lirismo, como na<br />
alternativa b. Tampouco pode querer o<br />
retorno à rigidez de forma e métrica da<br />
poesia clássica (lembre-se de Camões) ou<br />
romântica (Álvares de Azevedo, Castro<br />
Alves, Casimiro de Abreu). Propõe, sim, um<br />
novo tipo de lirismo. Vemos isso claramente<br />
se dermos atenção ao casamento do<br />
primeiro com o último verso da segunda<br />
parte ("Quero antes o lirismo dos loucos" /<br />
"—Não quero mais saber do lirismo que não<br />
é libertação").<br />
Comentário do INEP<br />
Um pouco mais da metade dos<br />
participantes (55 %) conseguiu identificar no<br />
texto a proposta estética do poeta e, em<br />
última análise, do próprio Modernismo. Os<br />
distratores com percentuais significativos de<br />
escolha foram apenas B e D. No primeiro<br />
caso, o tom de manifesto, incisivo e<br />
demolidor, do poema provavelmente induziu<br />
a opção. No segundo, a explicação se deve à<br />
possível relação que o participante<br />
estabeleceu entre o Modernismo e o<br />
Romantismo, que de fato existe, mas que<br />
não se aplica ao caso.<br />
22) (2001) Oxímoro (ou paradoxo) é uma<br />
construção textual que agrupa significados<br />
que se excluem mutuamente. Para<br />
Garfield, a frase de saudação de Jon<br />
(tirinha abaixo) expressa o maior de todos<br />
os oxímoros.<br />
Folha de S. Paulo. 31 de julho de 2000.<br />
Nas alternativas abaixo, estão transcritos<br />
versos retirados do poema “O operário em<br />
construção”. Pode-se afirmar que ocorre<br />
um oxímoro em<br />
A) "Era ele que erguia casas<br />
Onde antes só havia chão."<br />
B) "... a casa que ele fazia<br />
Sendo a sua liberdade<br />
Era a sua escravidão."<br />
C) "Naquela casa vazia<br />
Que ele mesmo levantara<br />
Um mundo novo nascia<br />
De que sequer suspeitava."<br />
D) "... o operário faz a coisa<br />
E a coisa faz o operário."<br />
E) "Ele, um humilde operário<br />
Um operário que sabia<br />
Exercer a profissão."<br />
MORAES, Vinícius de. Antologia Poética. São Paulo:<br />
Companhia das Letras, 1992.<br />
Comentário<br />
Idéias que se completam e se excluem<br />
mutuamente são encontradas na alternativa<br />
B: a casa que ele construía era, ao mesmo<br />
tempo, sua liberdade e sua escravidão.<br />
A casa é um símbolo de liberdade para o<br />
homem. Para o homem operário, é também<br />
símbolo de escravidão, pois ele está<br />
"condenado" a jamais usufruir do resultado<br />
do seu trabalho (a casa que faz não é para<br />
ele).<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão propõe ao participante que<br />
estabeleça uma relação entre linguagens,<br />
associando a compreensão de um efeito<br />
semântico produzido pelo uso do oxímoro<br />
nos quadrinhos com o mesmo efeito num<br />
texto poético. O índice (18%) de escolhas da<br />
alternativa D deve-se, possivelmente, a uma<br />
análise parcial da noção de paradoxo,<br />
confundida com inversão.<br />
114
23) (2004)<br />
O assunto de uma crônica pode ser uma<br />
experiência pessoal do cronista, uma<br />
informação obtida por ele ou um caso<br />
imaginário. O modo de apresentar o<br />
assunto também varia: pode ser uma<br />
descrição objetiva, uma exposição<br />
argumentativa ou uma narrativa sugestiva.<br />
Quanto à finalidade pretendida, pode-se<br />
promover uma reflexão, definir um<br />
sentimento ou tão-somente provocar um<br />
riso.<br />
Na crônica O jivaro, escrita a partir da<br />
reportagem de um jornal, Rubem Braga se<br />
vale dos seguinte elementos:<br />
Comentário<br />
O assunto da crônica de Rubem Braga foi<br />
uma informação colhida — o conhecimento<br />
que ele teve de uma entrevista dada por um<br />
viajante a um jornal. Essa informação foi<br />
apresentada por meio de uma narrativa<br />
sugestiva — uma história que ganha a<br />
atenção do leitor não por sua carga<br />
argumentativa ou pela precisão de suas<br />
descrições, mas por seu encaminhamento e<br />
fecho inusitados. A finalidade é provocar uma<br />
reflexão — por que quereria o índio fazer<br />
demonstração de uma ação que causa<br />
sofrimento à vítima, utilizando justamente um<br />
“oponente” que não lhe causara mal algum?<br />
Se algum sofrimento precisa ser causado<br />
para isso, que seja então a alguém que ao<br />
menos o pareça merecer.<br />
24) (2002) "A palavra tatuagem é<br />
relativamente recente. Toda a gente sabe<br />
que foi o navegador Cook que a introduziu<br />
no Ocidente, e esse escrevia tattou, termo<br />
da Polinésia de tatou ou tu tahou,<br />
'desenho'.<br />
(...) Desde os mais remotos tempos,<br />
vemo-la a transformar-se: distintivo<br />
honorífico entre uns homens, ferrete de<br />
ignomínia entre outros, meio de assustar o<br />
adversário para os bretões, marca de uma<br />
classe de selvagens das ilhas marquesas<br />
(...) sinal de amor, de desprezo, de ódio<br />
(...). Há três casos de tatuagem no Rio,<br />
completamente diversos na sua<br />
significação moral: os negros,os turcos<br />
com o fundo religioso e o bando de<br />
meretrizes, dos rufiões e dos humildes,<br />
que se marcam por crime ou por<br />
ociosidade".<br />
RIO, João do. Os Tatuadores. Revista Kosmos.<br />
1904, apud: A alma encantadora das ruas,<br />
SP: Cia das Letras, 1999.<br />
Com base no texto são feitas as seguintes<br />
afirmações:<br />
I. João do Rio revela como a tatuagem já<br />
estava presente na cidade do Rio de<br />
Janeiro, pelo menos desde o início do<br />
século XX, e era mais utilizada por<br />
alguns setores da população.<br />
II. A tatuagem, de origem polinésia,<br />
difundiu-se no ocidente com a<br />
característica que permanece até hoje:<br />
utilização entre os jovens com função<br />
estritamente estética.<br />
III. O texto mostra como a tatuagem é<br />
uma prática que se transforma no<br />
tempo e que alcança inúmeros sentidos<br />
nos diversos setores das sociedades e<br />
para as diferentes culturas.<br />
Está correto o que se afirma apenas em<br />
A) I D) I e II<br />
B) II E) I e III<br />
C) III<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Constata-se o<br />
seguinte: a tatuagem já existia no Brasil no<br />
início do século XX (o texto é de 1904 e parte<br />
dele se refere ao Rio do Janeiro) e era<br />
utilizada em diferentes setores da sociedade.<br />
A afirmação de que as tatuagens possuem<br />
apenas finalidade estética entre os jovens<br />
elimina a segunda alternativa. Já a última<br />
alternativa confirma as transformações das<br />
funções da tatuagem ao longo do tempo nas<br />
mais diversas sociedades e culturas.<br />
Comentário do INEP<br />
O texto estabelece uma relação entre a<br />
atualidade da palavra "tatuagem" e a<br />
antiguidade do uso de desenhos como<br />
pintura corporal. Focaliza uma prática social<br />
bastante difundida que adquiriu aspectos e<br />
conotações diversos nos diferentes contextos<br />
históricos e geográficos em que ela pode ser<br />
descrita. Fazendo a descrição da prática da<br />
tatuagem, como uma manifestação comum a<br />
diferentes culturas, e que adquire, inclusive,<br />
115
significados diferentes dentro de uma mesma<br />
cultura, induz o participante a refletir sobre a<br />
"diversidade dos patrimônios etnoculturais e<br />
artísticos", contextualizando ao mesmo<br />
tempo seus significados "em diferentes<br />
sociedades, épocas e lugares". Ao retomar<br />
as várias origens e usos da tatuagem, o<br />
participante é levado a compreender e<br />
respeitar uma gramática histórica dos<br />
costumes marcada sempre por semelhanças<br />
e diferenças. A questão não exigia, portanto,<br />
nenhum conhecimento prévio sobre as<br />
diferentes formas de manifestação dessa<br />
prática, mas simplesmente constatar, com o<br />
autor do texto citado, a historicidade e a<br />
diversidade das práticas sociais. Os<br />
participantes que assinalaram a alternativa C<br />
(36%), possivelmente, não levaram em<br />
consideração informações do texto. A<br />
questão foi corretamente respondida por 37%<br />
dos participantes.<br />
25) (2004)<br />
E) "Penetra surdamente no reino das<br />
palavras. / Lá estão os poemas que<br />
esperam ser escritos."<br />
Comentário<br />
Da mesma forma que no poema do<br />
enunciado, a palavra “que” retoma o sentido<br />
consecutivo na alternativa D, relacionando o<br />
fato de o eu lírico estar tão apegado à<br />
ausência QUE ri e dança, em devaneio,<br />
exaltando a alegria. A idéia remete a um<br />
raciocínio de causa e conseqüência: estar<br />
tão apegado a algo QUE outra coisa ocorre.<br />
Na alternativa A, “que” indica a introdução<br />
de uma oração subordinada objetiva direta,<br />
ou seja, que dá a idéia de um complemento<br />
do verbo SABER.<br />
Na alternativa B, “que” caracteriza a<br />
palavra “voz”, introduzindo uma oração<br />
subordinada adjetiva restritiva: “A voz QUE<br />
aprendeu”.<br />
Na alternativa C, “que” assume um<br />
caráter comparativo (mais que).<br />
Finalmente, na letra E, “que” retoma a<br />
questão restritiva ocorrida na alternativa B.<br />
Nesse caso, contudo, refere-se aos “poemas<br />
QUE esperam ser escritos”, ou seja, àqueles<br />
poemas, especificamente.<br />
116<br />
No trecho "Montes Claros cresceu tanto,/<br />
(...),/ que já tem cinco favelas", a palavra<br />
que contribui para estabelecer uma<br />
relação de conseqüência. Dos seguintes<br />
versos, todos de Carlos Drummond de<br />
Andrade, apresentam esse mesmo tipo de<br />
relação:<br />
A) "Meu Deus, por que me abandonaste /<br />
se sabias que eu não era Deus / se<br />
sabias que eu era fraco."<br />
B) "No meio-dia branco de luz uma voz<br />
que aprendeu / a ninar nos longes da<br />
senzala – e nunca se esqueceu /<br />
chamava para o café."<br />
C) "Teus ombros suportam o mundo / e<br />
ele não pesa mais que a mão de uma<br />
criança."<br />
D) "A ausência é um estar em mim. / E<br />
sinto-a, branca, tão pegada,<br />
aconchegada nos meus braços, / que<br />
rio e danço e invento exclamações<br />
alegres."<br />
26) (2007)<br />
Aqui na floresta<br />
Dos ventos batida,<br />
Façanhas de bravos<br />
Não geram escravos,<br />
Que estimem a vida<br />
Sem guerra e lidar.<br />
— Ouvi-me, Guerreiros,<br />
— Ouvi meu cantar.<br />
O canto do guerreiro<br />
Valente na guerra,<br />
Quem há, como eu sou?<br />
Quem vibra o tacape<br />
Com mais valentia?<br />
Quem golpes daria<br />
Fatais, como eu dou?<br />
— Guerreiros, ouvi-me;<br />
— Quem há, como eu sou?<br />
Gonçalves Dias.<br />
Macunaíma<br />
(Epílogo)<br />
Acabou-se a história e morreu a vitória.<br />
Não havia mais ninguém lá. Dera<br />
tangolomângolo na tribo Tapanhumas e<br />
os filhos dela se acabaram de um em um.<br />
Não havia mais ninguém lá. Aqueles<br />
lugares, aqueles campos, furos<br />
puxadouros arrastadouros meiosbarrancos,<br />
aqueles matos misteriosos,<br />
tudo era solidão do deserto... Um silêncio<br />
imenso dormia à beira do rio Uraricoera.<br />
Nenhum conhecido sobre a terra não<br />
sabia nem falar da tribo nem contar<br />
aqueles casos tão pançudos. Quem podia<br />
saber do Herói?<br />
Mário de Andrade.
A leitura comparativa dos dois textos<br />
acima indica que<br />
A) ambos têm como tema a figura do<br />
indígena brasileiro apresentada de<br />
forma realista e heróica, como símbolo<br />
máximo do nacionalismo romântico.<br />
B) a abordagem da temática adotada no<br />
texto escrito em versos é<br />
discriminatória em relação aos povos<br />
indígenas do Brasil.<br />
C) as perguntas “— Quem há, como eu<br />
sou?” (1.º texto) e “Quem podia saber<br />
do Herói?” (2.º texto) expressam<br />
diferentes visões da realidade indígena<br />
brasileira.<br />
D) o texto romântico, assim como o<br />
modernista, aborda o extermínio dos<br />
povos indígenas como resultado do<br />
processo de colonização no Brasil.<br />
E) os versos em primeira pessoa revelam<br />
que os indígenas podiam expressar-se<br />
poeticamente, mas foram silenciados<br />
pela colonização, como demonstra a<br />
presença do narrador, no segundo<br />
texto.<br />
Comentário<br />
Questão de nível médio. Essa questão<br />
exige conhecimento prévio dos movimentos<br />
literários de cada autor. No primeiro, O canto<br />
do Guerreiro, de Gonçalves Dias, pertence<br />
ao Romantismo. Nesse período, a figura do<br />
índio aparece como protagonista, sempre<br />
idealizado e visto como um perfeito herói. Já<br />
no texto Macunaíma, de Mário de Andrade,<br />
levando em conta a característica do<br />
Modernismo, o índio também é protagonista,<br />
mas, por sua vez, há a predominância de um<br />
nacionalismo crítico e realista. Com base<br />
nessas considerações, consegue-se<br />
chegar à conclusão de que a alternativa C é<br />
a correta. Essa alternativa mostra que, por<br />
trás dos textos, há duas visões diferentes da<br />
realidade indígena brasileira, representadas<br />
pelas características dos dois diferentes<br />
estilos de época.<br />
27) (2003) Eu começaria dizendo que poesia<br />
é uma questão de linguagem. A<br />
importância do poeta é que ele torna mais<br />
viva a linguagem. Carlos Drummond de<br />
Andrade escreveu um dos mais belos<br />
versos da língua portuguesa com duas<br />
palavras comuns: cão e cheirando.<br />
Um cão cheirando o futuro<br />
(Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP, 24/05/1988.<br />
adaptação)<br />
O que deu ao verso de Drummond o<br />
caráter de inovador da língua foi<br />
A) o modo raro como foi tratado o<br />
"futuro".<br />
B) a referência ao cão como "animal de<br />
estimação".<br />
C) a flexão pouco comum do verbo<br />
"cheirar" (gerúndio).<br />
D) a aproximação não usual do agente<br />
citado e a ação de "cheirar".<br />
E) o emprego do artigo indefinido "um" e<br />
do artigo definido "o" na mesma frase.<br />
Comentário<br />
O fato de Drummond identificar o futuro<br />
como algo que pode ser percebido por um<br />
animal irracional por meio do olfato foi<br />
inovador. A figura de linguagem foi construída<br />
metaforicamente: o futuro torna-se uma coisa<br />
que tem cheiro, contrariamente à imagem pela<br />
qual ele normalmente é representado: como<br />
algo que não se vê e não se pode pressentir ou<br />
tocar.<br />
28) (2003) Epígrafe*<br />
Murmúrio de água na clepsidra**<br />
gotejante,<br />
Lentas gotas de som no relógio da torre,<br />
Fio de areia na ampulheta vigilante,<br />
Leve sombra azulando a pedra do<br />
quadrante***<br />
Assim se escoa a hora, assim se vive e<br />
morre...<br />
Homem, que fazes tu? Para que tanta<br />
lida,<br />
Tão doidas ambições, tanto ódio e tanta<br />
ameaça?<br />
Procuremos somente a Beleza, que a vida<br />
É um punhado infantil de areia<br />
ressequida,<br />
Um som de água ou de bronze e uma<br />
sombra que passa...<br />
(Eugênio de Castro. Antologia pessoal da poesia<br />
portuguesa)<br />
(*) Epígrafe: inscrição colocada no ponto<br />
mais alto; tema.<br />
(**) Clepsidra: relógio de água.<br />
(***) Pedra do quadrante: parte superior<br />
de um relógio de sol.<br />
A imagem contida em "lentas gotas de<br />
som" (verso 2) é retomada na segunda<br />
estrofe por meio da expressão:<br />
A) tanta ameaça.<br />
B) som de bronze.<br />
C) punhado de areia.<br />
D) sombra que passa.<br />
E) somente a Beleza.<br />
117
Comentário<br />
Numa clepsidra (relógio de água), o som<br />
do gotejamento lembra-nos o tic-tac de um<br />
relógio comum ou o som do sino que marca<br />
as horas no “relógio da torre” (verso 2,<br />
estrofe 1).<br />
Na segunda estrofe, o quinto verso<br />
refere-se a “Um som de água ou de<br />
bronze...” e nos remete, pelo “som de<br />
bronze”, ao som do sino que marca as horas<br />
no relógio da torre (os sinos normalmente<br />
eram feitos de bronze).<br />
29) (2003) Epígrafe*<br />
Murmúrio de água na clepsidra**<br />
gotejante,<br />
Lentas gotas de som no relógio da torre,<br />
Fio de areia na ampulheta vigilante,<br />
Leve sombra azulando a pedra do<br />
quadrante***<br />
Assim se escoa a hora, assim se vive e<br />
morre...<br />
Homem, que fazes tu? Para que tanta<br />
lida,<br />
Tão doidas ambições, tanto ódio e tanta<br />
ameaça?<br />
Procuremos somente a Beleza, que a vida<br />
É um punhado infantil de areia<br />
ressequida,<br />
Um som de água ou de bronze e uma<br />
sombra que passa...<br />
(Eugênio de Castro. Antologia pessoal da poesia<br />
portuguesa)<br />
(*) Epígrafe: inscrição colocada no ponto<br />
mais alto; tema.<br />
(**) Clepsidra: relógio de água.<br />
(***) Pedra do quadrante: parte superior<br />
de um relógio de sol.<br />
Neste poema, o que leva o poeta a<br />
questionar determinadas ações humanas<br />
(versos 6 e 7) é a<br />
A) infantilidade do ser humano.<br />
B) destruição da natureza.<br />
C) exaltação da violência.<br />
D) inutilidade do trabalho.<br />
E) brevidade da vida.<br />
Comentário<br />
A resposta desta questão está nos últimos<br />
versos (8 a <strong>10</strong>):<br />
“Procuremos somente a Beleza, que a<br />
vida<br />
É um punhado de areia ressequida,<br />
Um som de água ou de bronze e uma<br />
sombra que passa...”<br />
Neles, a vida aparece em relação ao<br />
tempo, que passa de forma rápida: “areia<br />
ressequida” (como nas ampulhetas), “som de<br />
água ou de bronze” (clepsidra ou sino da<br />
torre) e, mais que tudo, “uma sombra que<br />
passa...” (algo tênue e de curta duração).<br />
30) (2003) A velha Totonha de quando em<br />
vez batia no engenho. E era um<br />
acontecimento para a meninada. (...)<br />
andava léguas e léguas a pé, de engenho<br />
a engenho, como uma edição viva das<br />
histórias de Mil e Uma Noites (...) era uma<br />
grande artista para dramatizar. Tinha uma<br />
memória de prodígio. Recitava contos<br />
inteiros em versos, intercalando pedaços<br />
de prosa, como notas explicativas. (...)<br />
Havia sempre rei e rainha, nos seus<br />
contos, e forca e adivinhações. O que<br />
fazia a velha Totonha mais curiosa era a<br />
cor local que ela punha nos seus<br />
descritivos. (...) Os rios e as florestas por<br />
onde andavam os seus personagens se<br />
pareciam muito com o Paraíba e a Mata<br />
do Rolo. O seu Barba-Azul era um senhor<br />
de engenho de Pernambuco.<br />
(José Lins do Rego. Menino de engenho)<br />
A cor local que a personagem velha<br />
Totonha colocava em suas histórias é<br />
ilustrada, pelo autor, na seguinte<br />
passagem:<br />
A) "O seu Barba-Azul era um senhor de<br />
engenho de Pernambuco".<br />
B) "Havia sempre rei e rainha, nos seus<br />
contos, e forca e adivinhações".<br />
C) "Era uma grande artista para<br />
dramatizar. Tinha uma memória de<br />
prodígio".<br />
D) "Andava léguas e léguas a pé, como<br />
uma edição viva das Mil e Uma Noites".<br />
E) "Recitava contos inteiros em versos,<br />
intercalando pedaços de prosa, como<br />
notas explicativas".<br />
Comentário<br />
Por ser escritor da 2.ª Geração<br />
Modernista, José Lins do Rego ilustra, de<br />
forma evidente, o regionalismo — marca<br />
característica desse momento literário.<br />
Portanto, para localizar a “cor local”<br />
presente no texto, basta procurar a<br />
associação regionalista, que é retratada de<br />
forma explícita pela passagem “senhor de<br />
engenho de Pernambuco.”<br />
A questão não abre espaço para dúvidas.<br />
118
31) (2003) Pequenos tormentos da vida<br />
De cada lado da sala de aula, pelas janelas<br />
altas, o azul convida os meninos,<br />
as nuvens desenrolam-se, lentas como quem<br />
vai inventando<br />
preguiçosamente uma história sem fim...Sem<br />
fim é a aula: e nada acontece,<br />
nada...Bocejos e moscas. Se ao menos,<br />
pensa Margarida, se ao menos um<br />
avião entrasse por uma janela e saísse por<br />
outra!<br />
(Mário Quintana. Poesias)<br />
Na cena retratada no texto, o sentimento<br />
do tédio<br />
A) provoca que os meninos fiquem<br />
contando histórias.<br />
B) leva os alunos a simularem bocejos,<br />
em protesto contra a monotonia da<br />
aula.<br />
C) acaba estimulando a fantasia,<br />
criando a expectativa de algum<br />
imprevisto mágico.<br />
D) prevalece de modo absoluto,<br />
impedindo até mesmo a distração ou o<br />
exercício do pensamento.<br />
E) decorre da morosidade da aula, em<br />
contraste com o movimento acelerado<br />
das nuvens e das moscas.<br />
Comentário<br />
Essa questão aborda o imaginário<br />
decorrente do marasmo trazido pela escola.<br />
O texto enfatiza o arrastar do tempo na<br />
mente de uma aluna, Margarida, que se põe<br />
a pensar em fatos mágicos ou imaginários<br />
que pudessem romper com a lentidão da<br />
aula.<br />
32) (2000) O autor do texto abaixo critica,<br />
ainda que em linguagem metafórica, a<br />
sociedade contemporânea em relação aos<br />
seus hábitos alimentares.<br />
“Vocês que têm mais de 15 anos, se<br />
lembram quando a gente comprava leite<br />
em garrafa, na leiteria da esquina? (...)<br />
Mas vocês não se lembram de nada,<br />
pô! Vai ver nem sabem o que é vaca. Nem<br />
o que é leite. Estou falando isso porque<br />
agora mesmo peguei um pacote de leite –<br />
leite em pacote, imagina, Tereza! – na<br />
porta dos fundos e estava escrito que é<br />
pasterizado, ou pasteurizado, sei lá, tem<br />
vitamina, é garantido pela<br />
embromatologia, foi enriquecido e o<br />
escambau. Será que isso é mesmo leite?<br />
No dicionário diz que leite é outra coisa:<br />
‘Líquido branco, contendo água,<br />
proteína, açúcar e sais minerais’. Um<br />
alimento pra ninguém botar defeito. O ser<br />
humano o usa há mais de 5.000 anos. É o<br />
único alimento só alimento. A carne serve<br />
pro animal andar, a fruta serve pra fazer<br />
outra fruta, o ovo serve pra fazer outra<br />
galinha (...) O leite é só leite. Ou toma ou<br />
bota fora. Esse aqui examinando bem, é<br />
só pra botar fora. Tem chumbo, tem<br />
benzina, tem mais água do que leite, tem<br />
serragem, sou capaz de jurar que nem<br />
vaca tem por trás desse negócio. Depois o<br />
pessoal ainda acha estranho que os<br />
meninos não gostem de leite.<br />
Mas, como não gostam? Não gostam<br />
como? Nunca tomaram! Múúúúúúú!”<br />
(FERNANDES, Millôr. O Estado de S. Paulo ,<br />
22 de agosto de 1999)<br />
A palavra embromatologia usada pelo<br />
autor é:<br />
A) um termo científico que significa estudo<br />
dos bromatos.<br />
B) uma composição do termo de gíria<br />
“embromação” (enganação) com<br />
bromatologia, que é o estudo dos<br />
alimentos.<br />
C) uma junção do termo de gíria<br />
“embromação” (enganação) com<br />
lactologia, que é o estudo das<br />
embalagens para leite.<br />
D) um neologismo da química orgânica<br />
que significa a técnica de retirar<br />
bromatos dos laticínios.<br />
E) uma corruptela de termo da<br />
agropecuária que significa a ordenha<br />
mecânica.<br />
Comentário<br />
É necessário para a resolução desta<br />
questão:<br />
- perceber que o texto critica o exagerado<br />
uso de substâncias artificiais nos<br />
alimentos;<br />
- conhecer o significado da gíria embromar e<br />
da palavra bromatologia.<br />
Conhecendo esses significados, você<br />
elimina todas as alternativas erradas: a, c, d<br />
e e.<br />
Você poderá ter dúvida quanto à<br />
alternativa c, que também será eliminada se<br />
souber o significado da palavra lactologia,<br />
que é o estudo do leite e produtos lácteos e<br />
não das embalagens para leite.<br />
Nesta questão, são trabalhados os<br />
conceitos de interpretação de texto, formação<br />
de palavras e conhecimentos gerais.<br />
119
Comentário do INEP<br />
A resolução da questão requeria que o<br />
participante, ao ler o texto vinculasse o<br />
significado de um termo de gíria -<br />
"embromação" - com o da palavra<br />
bromatologia. A resposta correta exigia que o<br />
participante não abrisse mão do sabor<br />
picante contido na linguagem metafórica,<br />
sabor vinculado ao conhecimento específico<br />
contido na palavra bromatologia. Cerca da<br />
metade dos participantes (51%) optou pela<br />
alternativa correta e, os 20% que escolheram<br />
a alternativa C, provavelmente associaram a<br />
referência feita no texto à leite em pacote.<br />
33) (1998) Amor é fogo que arde sem ver;<br />
é ferida que dói e não se sente;<br />
é um contentamento descontente;<br />
é dor que desatina sem doer.<br />
É um não querer mais que bem querer;<br />
é solitário andar por entre a gente;<br />
é nunca contentar-se de contente;<br />
é cuidar que se ganha em se perder.<br />
É querer estar preso por vontade;<br />
é servir a quem vence, o vencedor;<br />
é ter com quem nos mata lealdade.<br />
Mas como causar pode seu favor<br />
nos corações humanos amizade<br />
se tão contrário a si é o mesmo Amor?<br />
(Luís de Camões. In: Obras Completas de Camões, Lisboa,<br />
Livraria Sá da Costa, Vol. 1, 1954, p.232)<br />
120<br />
O poema tem, como característica, a<br />
figura de linguagem denominada antítese,<br />
relação de oposição de palavras ou idéias.<br />
Assinale a opção em que essa oposição<br />
se faz claramente presente.<br />
A) "Amor é fogo que arde sem se ver."<br />
B) "É um contentamento descontente."<br />
C) "É servir a quem se vence, o<br />
vencedor."<br />
D) "Mas como causar pode seu favor."<br />
E) "Se tão contrário a si é o mesmo<br />
Amor?"<br />
Comentário<br />
A antítese é uma figura de linguagem que<br />
se caracteriza por colocar, lado a lado,<br />
imagens opostas que se contradizem. De<br />
todas as alternativas, a única que traz<br />
claramente uma contradição é a B, pois<br />
como pode existir um contentamento<br />
descontente?<br />
34) (1998) Amor é fogo que arde sem ver;<br />
é ferida que dói e não se sente;<br />
é um contentamento descontente;<br />
é dor que desatina sem doer.<br />
É um não querer mais que bem querer;<br />
é solitário andar por entre a gente;<br />
é nunca contentar-se de contente;<br />
é cuidar que se ganha em se perder.<br />
É querer estar preso por vontade;<br />
é servir a quem vence, o vencedor;<br />
é ter com quem nos mata lealdade.<br />
Mas como causar pode seu favor<br />
nos corações humanos amizade<br />
se tão contrário a si é o mesmo Amor?<br />
(Luís de Camões. In: Obras Completas de Camões, Lisboa,<br />
Livraria Sá da Costa, Vol. 1, 1954, p.232)<br />
O poema pode ser considerado como um<br />
texto:<br />
A) argumentativo.<br />
B) narrativo.<br />
C) épico.<br />
D) de propaganda.<br />
E) teatral.<br />
Comentário<br />
Podemos considerar esse texto como<br />
argumentativo, pois ele vai embasando a sua<br />
idéia sobre o que é o amor. O texto narrativo<br />
conta uma história, assim como o épico, que<br />
conta histórias de caráter heróico. Camões,<br />
nesse texto, não está preocupado em fazer<br />
propaganda do amor, mas, sim, em<br />
compreendê-lo. E, para terminar, esse texto<br />
não foi feito para ser encenado em palco<br />
como um texto teatral.<br />
35) (2001) O trecho a seguir é parte do<br />
poema “Mocidade e morte”, do poeta<br />
romântico Castro Alves:<br />
Oh! eu quero viver, beber perfumes<br />
Na flor silvestre, que embalsama os ares;<br />
Ver minh'alma adejar pelo infinito,<br />
Qual branca vela n'amplidão dos mares.<br />
No seio da mulher há tanto aroma...<br />
Nos seus beijos de fogo há tanta vida...<br />
– Árabe errante, vou dormir à tarde<br />
À sombra fresca da palmeira erguida.<br />
Mas uma voz responde-me sombria:<br />
Terás o sono sob a lájea fria.<br />
ALVES, Castro. Os melhores poemas de Castro Alves.<br />
Seleção de Lêdo Ivo. São Paulo: Global, 1983.<br />
Esse poema, como o próprio título sugere,<br />
aborda o inconformismo do poeta com a<br />
antevisão da morte prematura, ainda na<br />
juventude.
A imagem da morte aparece na palavra<br />
A) embalsama. D) dormir.<br />
B) infinito. E) sono.<br />
C) amplidão.<br />
Comentário<br />
No último verso, temos a expressão "sono<br />
sob a lájea fria". Dormir sob uma lájea fria? O<br />
trecho indica sepulcro. Portanto, nesse caso,<br />
sono = morte.<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão apresenta, para a leitura,<br />
uma parte do poema "Mocidade e morte", do<br />
poeta romântico Castro Alves. Nesse trecho,<br />
o poeta aborda o inconformismo com a<br />
antevisão da morte prematura. O problema<br />
apresenta-se sob a forma de identificação de<br />
uma palavra no trecho que represente a idéia<br />
de morte. Na primeira estrofe, há uma<br />
apologia à vida, contrastando com a segunda<br />
estrofe, em que se anuncia a morte, idéia<br />
introduzida pela conjunção mas, um divisor<br />
entre as estrofes. A compreensão dos<br />
elementos intratextuais e formais faz com<br />
que a identificação da imagem ocorra na<br />
segunda estrofe. As palavras indicadas nas<br />
alternativas, descontextualizadas, podem<br />
sugerir a idéia de morte como interpretação,<br />
mas não se sustentam na representação do<br />
poema. A leitura global do texto, seguida por<br />
uma compreensão das relações entre as<br />
imagens propostas, é a chave para a<br />
resposta correta, assinalada por 62% dos<br />
participantes.<br />
36) (2008) Os signos visuais, como meios de<br />
comunicação, são classificados em<br />
categorias de acordo com seus<br />
significados.<br />
A categoria denominada indício<br />
corresponde aos signos visuais que têm<br />
origem em formas ou situações naturais<br />
ou casuais, as quais, devido à ocorrência<br />
em circunstâncias idênticas, muitas vezes<br />
repetidas, indicam algo e adquirem<br />
significado. Por exemplo, nuvens negras<br />
indicam tempestade. Com base nesse<br />
conceito, escolha a opção que representa<br />
um signo da categoria dos indícios.<br />
A)<br />
B)<br />
C)<br />
D)<br />
E)<br />
Comentário<br />
Trata-se de uma questão interpretativa. O<br />
aluno precisa entender o que é “indício” para<br />
respondê-la. Segundo o dicionário Aurélio,<br />
indício é o mesmo que “sinal, vestígio,<br />
indicação”. Das figuras apresentadas,<br />
apenas a alternativa B indica algo: a<br />
passagem de alguém por algum lugar —<br />
pegada.<br />
37) (2008)<br />
Exame, 28/9/2007.<br />
121
Entre os seguintes ditos populares, qual<br />
deles melhor corresponde à figura<br />
acima?<br />
A) Com perseverança, tudo se alcança.<br />
B) Cada macaco no seu galho.<br />
C) Nem tudo que balança cai.<br />
D) Quem tudo quer, tudo perde.<br />
E) Deus ajuda quem cedo madruga.<br />
Comentário<br />
Assim como a questão 37, esta também<br />
envolve interpretação de signos, ou seja, o<br />
aluno precisa estar atento à imagem e<br />
relacioná-la ao dito popular correspondente.<br />
A alternativa "A" é a correta, pois, para<br />
uma lesma “grudenta” e vagarosa conseguir<br />
pular numa cama elástica, é necessária<br />
muita perseverança.<br />
38) (2001) No trecho abaixo, o narrador, ao<br />
descrever a personagem, critica<br />
sutilmente um outro estilo de época: o<br />
romantismo.<br />
“Naquele tempo contava apenas uns<br />
quinze ou dezesseis anos; era talvez a<br />
mais atrevida criatura da nossa raça, e,<br />
com certeza, a mais voluntariosa. Não<br />
digo que já lhe coubesse a primazia da<br />
beleza, entre as mocinhas do tempo,<br />
porque isto não é romance, em que o<br />
autor sobredoura a realidade e fecha os<br />
olhos às sardas e espinhas; mas também<br />
não digo que lhe maculasse o rosto<br />
nenhuma sarda ou espinha, não. Era<br />
bonita, fresca, saía das mãos da natureza,<br />
cheia daquele feitiço, precário e eterno,<br />
que o indivíduo passa a outro indivíduo,<br />
para os fins secretos da criação.”<br />
ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de<br />
Brás Cubas. Rio de Janeiro: Jackson,1957.<br />
A frase do texto em que se percebe a<br />
crítica do narrador ao romantismo está<br />
transcrita na alternativa:<br />
A) ... o autor sobredoura a realidade e<br />
fecha os olhos às sardas e espinhas ...<br />
B) ... era talvez a mais atrevida criatura da<br />
nossa raça ...<br />
C) Era bonita, fresca, saía das mãos da<br />
natureza, cheia daquele feitiço,<br />
precário e eterno, ...<br />
D) Naquele tempo contava apenas uns<br />
quinze ou dezesseis anos ...<br />
E) ... o indivíduo passa a outro indivíduo,<br />
para os fins secretos da criação.<br />
Comentário<br />
Questão muito fácil que pode ser<br />
respondida com a simples leitura do texto.<br />
Machado de Assis critica a supervalorização<br />
e idealização das personagens do<br />
Romantismo. Tal crítica fica clara na<br />
alternativa A.<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão apresenta para leitura e<br />
análise um trecho de Memórias de Brás<br />
Cubas, de Machado de Assis. Nesse texto, o<br />
narrador realiza um comentário sobre o<br />
"romance romântico", criticando uma de suas<br />
características. O problema proposto trata<br />
da identificação dessa passagem no texto. O<br />
participante deve reconhecer no texto as<br />
características do "romance romântico" e<br />
associá-la à crítica do narrador. As<br />
alternativas propõem passagens que podem<br />
ser associadas ao romantismo em contexto<br />
extratextual, sendo que, em apenas uma<br />
delas, há a relação entre contexto/texto. Mais<br />
da metade (54%) dos participantes identificou<br />
corretamente a passagem no texto.<br />
39) (1999) Leia o que disse João Cabral de<br />
Melo Neto, poeta pernambucano, sobre a<br />
função de seus textos:<br />
"Falo somente com o que falo: a<br />
linguagem enxuta, contato denso; falo<br />
somente do que falo: a vida seca, áspera<br />
e clara do sertão; falo somente por quem<br />
falo: o homem sertanejo sobrevivendo na<br />
adversidade e na míngua. Falo somente<br />
para quem falo: para os que precisam ser<br />
alertados para a situação da miséria no<br />
Nordeste."<br />
Para João Cabral de Melo Neto, no texto<br />
literário:<br />
A) a linguagem do texto deve refletir o<br />
tema, e a fala do autor deve denunciar<br />
o fato social para determinados<br />
leitores.<br />
B) a linguagem do texto não deve ter<br />
relação com o tema, e o autor deve ser<br />
imparcial para que seu texto seja lido.<br />
C) o escritor deve saber separar a<br />
linguagem do tema e a perspectiva<br />
pessoal da perspectiva do leitor.<br />
D) a linguagem pode ser separada do<br />
tema, e o escritor deve ser o delator do<br />
fato social para todos os leitores.<br />
E) a linguagem está além do tema, e o<br />
fato social deve ser a proposta do<br />
escritor para convencer o leitor.<br />
122
Comentário<br />
João Cabral mostrou, no comentário, que<br />
seus textos são transparentes na relação<br />
linguagem—tema. Ele não gosta de usar<br />
subterfúgios para passar sua mensagem<br />
("Falo somente com o que falo"), de desviarse<br />
do tema para assuntos que geralmente<br />
não fazem parte de seu interesse ("falo<br />
somente do que falo"), de fazer de si mesmo<br />
ou de seus personagens porta-vozes de<br />
outras pessoas ou classes sociais ("falo<br />
somente por quem falo") ou de dirigir-se a<br />
públicos que pouco proveito poderiam tirar de<br />
seus escritos ("falo somente para quem<br />
falo"). Essa ligação direta de tema e<br />
linguagem, somada à proposta de falar<br />
somente para quem se deve ou quer falar,<br />
justifica a resposta, sendo correta a<br />
alternativa A. Questão de nível médio.<br />
Comentário do INEP<br />
Para resolver essa questão, o participante<br />
deveria ser capaz de estabelecer a relação<br />
entre a linguagem, o tema e o interlocutor da<br />
escrita do autor, a partir das razões<br />
explicitadas no seu texto. Essas razões<br />
foram corretamente identificadas por mais da<br />
metade dos participantes.<br />
40) (2002) A leitura do poema Descrição da<br />
guerra em Guernica traz à lembrança o<br />
famoso quadro de Picasso.<br />
Entra pela janela<br />
o anjo camponês;<br />
com a terceira luz na mão;<br />
minucioso, habituado<br />
aos interiores de cereal,<br />
aos utensílios que dormem na fuligem;<br />
os seus olhos rurais<br />
não compreendem bem os símbolos<br />
desta colheita: hélices,<br />
motores furiosos;<br />
e estende mais o braço; planta<br />
no ar, como uma árvore<br />
a chama do candeeiro.<br />
(...)<br />
Carlos de Oliveira in ANDRADE, Eugénio. Antologia<br />
Pessoal da Poesia Portuguesa. Porto: Campo das<br />
Letras, 1999.<br />
Uma análise cuidadosa do quadro permite<br />
que se identifiquem as cenas referidas<br />
nos trechos do poema.<br />
Podem ser relacionadas ao texto lido as<br />
partes:<br />
A) a1, a2, a3 D) c1, c2, c3<br />
B) f1, e1, d1 E) e1, e2, e3<br />
C) e1, d1, c1<br />
Comentário<br />
Questão de nível médio. O que precisava<br />
ser feito era encontrar figuras do poema<br />
dentro do quadro. O que se descreve nos<br />
versos 1 e 2 (o anjo camponês que entra<br />
pela janela) está no quadrante e1 (ver a<br />
janela). Nos três últimos versos, há mais<br />
duas imagens: estende mais o braço — d1;<br />
chama do candeeiro — c1.<br />
Comentário do INEP<br />
O trecho do poema "Descrição da guerra<br />
em Guernica", transcrito na prova, cria para o<br />
participante uma interessante relação<br />
intertextual: o poeta Carlos de Oliveira<br />
propõe uma leitura interpretativa do<br />
conhecido quadro de Pablo Picasso. Além do<br />
poema, o quadro de Picasso foi também<br />
reproduzido na questão, de modo a permitir<br />
que o aluno tivesse condições de "ler" essa<br />
obra de arte e nela reconhecer as referências<br />
criadas pelo texto de Carlos de Oliveira. Os<br />
primeiros versos do poema fazem referência<br />
à entrada de um "anjo camponês" pela<br />
janela. No quadro, essa imagem pode ser<br />
identificada no quadro e1. Mais adiante, os<br />
versos aludem a um braço estendido que<br />
"planta/ no ar.../ a chama do candeeiro". Para<br />
compreender a metáfora criada, o<br />
participante deveria perceber, em primeiro<br />
lugar, que o braço estendido seria do anjo<br />
camponês, identificado no quadro e1. Esse<br />
reconhecimento daria a chave de resposta da<br />
questão, porque permitiria que a imagem da<br />
entrada do anjo com o braço estendido<br />
portando um candeeiro fosse associada aos<br />
quadros e1, d1, c1 , contidos na alternativa<br />
C, assinalada por cerca de metade dos<br />
participantes.<br />
123
41) (2000) Em muitos jornais, encontramos<br />
charges, quadrinhos, ilustrações,<br />
inspirados nos fatos noticiados. Veja um<br />
exemplo:<br />
124<br />
Jornal do Commercio , 22/8/93<br />
O texto que se refere a uma situação<br />
semelhante à que inspirou a charge é:<br />
A) Descansem o meu leito solitário<br />
Na floresta dos homens esquecida,<br />
À sombra de uma cruz, e escrevam nela<br />
– Foi poeta – sonhou – e amou na vida.<br />
(AZEVEDO, Álvares de . Poesias escolhidas . Rio de<br />
Janeiro/Brasília: José Aguilar/INL,1971)<br />
B) Essa cova em que estás<br />
Com palmos medida,<br />
é a conta menor<br />
que tiraste em vida.<br />
É de bom tamanho,<br />
Nem largo nem fundo,<br />
É a parte que te cabe<br />
deste latifúndio.<br />
(MELO NETO, João Cabral de. Morte e Vida Severina e<br />
outros poemas em voz alta . Rio de Janeiro: Sabiá, 1967)<br />
C) Medir é a medida<br />
mede<br />
A terra, medo do homem, a lavra;<br />
lavra<br />
duro campo, muito cerco, vária várzea.<br />
(CHAMIE, Mário. Sábado na hora da escutas. São<br />
Paulo: Summums, 1978)<br />
D) Vou contar para vocês<br />
um caso que sucedeu<br />
na Paraíba do Norte<br />
com um homem que se chamava<br />
Pedro João Boa-Morte,<br />
lavrador de Chapadinha:<br />
talvez tenha morte boa<br />
porque vida ele não tinha.<br />
(GULLAR, Ferreira. Toda poesia . Rio de Janeiro:<br />
Civilização Brasileira, 1983)<br />
E) Trago-te flores, – restos arrancados<br />
Da terra que nos viu passar<br />
E ora mortos nos deixa e separados.<br />
(ASSIS, Machado de. Obra completa . Rio de Janeiro:<br />
Nova Aguillar, 1986)<br />
Comentário<br />
Esta questão exige boa dose de reflexão.<br />
Antes de tudo, há que se notar que o título<br />
"Demarcação das terras indígenas" está<br />
ligado ironicamente à figura das covas<br />
comuns, anônimas (covas são as terras dos<br />
índios?). Procuramos, então, o trecho de<br />
poema que sirva como legenda à figura<br />
apresentada, mantendo também a ironia da<br />
relação. As alternativas a e e se descartam<br />
pelo lirismo romântico presente e, ainda<br />
mais, pela presença, na a, de elementos que<br />
não estão no universo conceitual indígena<br />
(cruz, poeta). A alternativa c não nos serve<br />
por estar tratando da dureza do trabalho com<br />
a terra, o que não é o tema da charge. Já a d<br />
não é adequada por estar introduzindo a<br />
discussão de fatos ocorridos na vida de um<br />
único homem, provavelmente não-índio (até<br />
pelo nome João Boa-Morte). Fica-nos a<br />
alternativa b, que bem poderia servir de<br />
legenda à charge; se pensarmos nos<br />
sangrentos conflitos entre brancos e índios<br />
pela ocupação das terras indígenas<br />
demarcadas, nos quais os índios geralmente<br />
levam a pior, então nos servem bem os<br />
versos que apresenta.<br />
Comentário do INEP<br />
O alto índice de acerto (72 %) revelou a<br />
capacidade dos participantes de não só<br />
contextualizar o problema em foco mas<br />
também de estabelecer relações de sentido<br />
entre diferentes linguagens, ou seja, de lidar<br />
com a intertextualidade. As relações<br />
incorretas que foram estabelecidas,<br />
possivelmente, são devidas mais à falta de<br />
capacidade de contextualização do que de<br />
estabelecimento de relações temáticas.<br />
42) (2008) São Paulo vai se recensear. O<br />
governo quer saber quantas pessoas<br />
governa. A indagação atingirá a fauna e a<br />
flora domesticadas. Bois, mulheres e<br />
algodoeiros serão reduzidos a números e<br />
invertidos em estatísticas. O homem do<br />
censo entrará pelos bangalôs, pelas<br />
pensões, pelas casas de barro e de<br />
cimento armado, pelo sobradinho e pelo<br />
apartamento, pelo cortiço e pelo hotel,<br />
perguntando:<br />
— Quantos são aqui?<br />
Pergunta triste, de resto. Um homem dirá:<br />
— Aqui havia mulheres e criancinhas.<br />
Agora, felizmente, só há pulgas e ratos.<br />
E outro:<br />
— Amigo, tenho aqui esta mulher, este<br />
papagaio, esta sogra e algumas baratas.
Tome nota dos seus nomes, se quiser.<br />
Querendo levar todos, é favor... (...)<br />
E outro:<br />
— Dois, cidadão, somos dois.<br />
Naturalmente o sr. não a vê. Mas ela está<br />
aqui, está, está! A sua saudade jamais<br />
sairá de meu quarto e de meu peito!<br />
Rubem Braga. Para gostar de ler. v. 3.<br />
São Paulo: Ática, 1998, p. 32-3 (fragmento).<br />
O fragmento acima, em que há referência<br />
a um fato sócio-histórico — o<br />
recenseamento —, apresenta<br />
característica marcante do gênero crônica<br />
ao<br />
A) expressar o tema de forma abstrata,<br />
evocando imagens e buscando<br />
apresentar a idéia de uma coisa por<br />
meio de outra.<br />
B) manter-se fiel aos acontecimentos,<br />
retratando os personagens em um só<br />
tempo e um só espaço.<br />
C) contar história centrada na solução de<br />
um enigma, construindo os<br />
personagens psicologicamente e<br />
revelando-os pouco a pouco.<br />
D) evocar, de maneira satírica, a vida na<br />
cidade, visando transmitir<br />
ensinamentos práticos do cotidiano,<br />
para manter as pessoas informadas.<br />
E) valer-se de tema do cotidiano como<br />
ponto de partida para a construção de<br />
texto que recebe tratamento estético.<br />
Comentário<br />
A questão correta é a E, pois a crônica<br />
utiliza a linguagem estética ou poética para<br />
expor temas do cotidiano. Há uma<br />
preocupação com a escolha das palavras<br />
que são rebuscadas e ritmadas, ou seja, a<br />
função da linguagem é poética.<br />
43) (1999) Quem não passou pela<br />
experiência de estar lendo um texto e<br />
defrontar-se com passagens já lidas em<br />
outros? Os textos conversam entre si em<br />
um diálogo constante. Esse fenômeno tem<br />
a denominação de intertextualidade. Leia<br />
os seguintes textos:<br />
I.Quando nasci, um anjo torto<br />
Desses que vivem na sombra<br />
Disse: Vai Carlos! Ser "gauche" na vida<br />
(Andrade, Carlos Drummond de. Alguma poesia. Rio de<br />
Janeiro: Aguilar, 1964)<br />
II.Quando nasci veio um anjo safado<br />
O chato dum querubim<br />
E decretou que eu tava predestinado<br />
A ser errado assim<br />
Já de saída a minha estrada entortou<br />
Mas vou até o fim.<br />
(BUARQUE, Chico. Letra e Música. São Paulo: Cia.<br />
das Letras, 1989)<br />
III.Quando nasci um anjo esbelto<br />
Desses que tocam trombeta, anunciou:<br />
Vai carregar bandeira.<br />
Carga muito pesada pra mulher<br />
Esta espécie ainda envergonhada<br />
(PRADO, Adélia. Bagagem. Rio de Janeiro:<br />
Guanabara, 1986)<br />
Adélia Prado e Chico Buarque<br />
estabelecem intertextualidade, em relação<br />
a Carlos Drummond de Andrade, por:<br />
A) reiteração de imagens.<br />
B) oposição de idéias.<br />
C) falta de criatividade.<br />
D) negação dos versos.<br />
E) ausência de recursos.<br />
Comentário<br />
Outra questão com resposta evidente. A<br />
recorrência à imagem do "anjo anunciador" e<br />
dos caminhos que se tornam sempre difíceis<br />
e tortuosos (gauche = acanhado, inepto),<br />
feita pelos três autores, elimina qualquer<br />
sombra de dúvida em relação às outras<br />
respostas. Questão de nível fácil.<br />
Comentário do INEP<br />
Para a resolução desse problema, era<br />
requerido que o participante soubesse<br />
identificar os elementos de intertextualidade<br />
entre três trechos de textos de diferentes<br />
autores.<br />
As duas primeiras alternativas,<br />
amplamente majoritárias, revelam<br />
possivelmente duas distintas percepções da<br />
questão. A alternativa correta A foi escolhida<br />
pelos que perceberam a ostensiva reiteração<br />
de imagens (repetição da imagem do anjo<br />
que vaticina). A alternativa B, incorreta, pode<br />
ter atraído muitos participantes à medida que<br />
tenham, talvez, identificado uma oposição de<br />
idéias, não entre os textos, mas entre a<br />
imagem usualmente positiva de anjo e uma<br />
certa adjetivação pejorativa utilizada em<br />
relação aos mesmos.<br />
44) (2005) Leia estes textos.<br />
Texto 1<br />
125
126<br />
Texto 2<br />
Sonhar<br />
Mais um sonho impossível<br />
Lutar<br />
Quando é fácil ceder<br />
Vencer o inimigo invencível<br />
Negar quando a regra é vender<br />
Sofrer a tortura implacável<br />
Romper a incabível prisão<br />
Voar num limite improvável<br />
Tocar o inacessível chão<br />
É minha lei, é minha questão<br />
Virar esse mundo<br />
Cravar esse chão<br />
Não me importa saber<br />
Se é terrível demais<br />
Quantas guerras terei que vencer<br />
Por um pouco de paz<br />
E amanhã se esse chão que eu beijei<br />
For meu leito e perdão<br />
Vou saber que valeu delirar<br />
E morrer de paixão<br />
E assim, seja lá como for<br />
Vai ter fim a infinita aflição<br />
E o mundo vai ver uma flor<br />
Brotar do impossível chão.<br />
(J. Darione – M. Leigh – Versão de Chico Buarque de<br />
Hollanda e Ruy Guerra, 1972.)<br />
A tirinha e a canção apresentam uma<br />
reflexão sobre o futuro da humanidade. É<br />
correto concluir que os dois textos<br />
A) afirmam que o homem é capaz de<br />
alcançar a paz.<br />
B) concordam que o desarmamento é<br />
inatingível.<br />
C) julgam que o sonho é um desafio<br />
invencível.<br />
D) têm visões diferentes sobre um<br />
possível mundo melhor.<br />
E) transmitem uma mensagem de<br />
otimismo sobre a paz.<br />
Comentário<br />
Enquanto o primeiro texto é ácido em<br />
relação à possibilidade de desarmamento da<br />
população (ou seja, à criação de uma<br />
sociedade mais pacífica), o segundo mostra<br />
a capacidade que a humanidade tem de crer<br />
e, por isso, tentar fazer até o que a princípio<br />
parece impossível. Para os autores da<br />
canção, nada é intrinsecamente impossível.<br />
A relação entre eles é de oposição:<br />
descrença x crença. Questão de nível de<br />
dificuldade médio.<br />
45) (2005) Leia estes poemas.<br />
Texto 1 - Auto-retrato<br />
Provinciano que nunca soube<br />
Escolher bem uma gravata;<br />
Pernambucano a quem repugna<br />
A faca do pernambucano;<br />
Poeta ruim que na arte da prosa<br />
Envelheceu na infância da arte,<br />
E até mesmo escrevendo crônicas<br />
Ficou cronista de província;<br />
Arquiteto falhado, músico<br />
Falhado (engoliu um dia<br />
Um piano, mas o teclado<br />
Ficou de fora); sem família,<br />
Religião ou filosofia;<br />
Mal tendo a inquietação de espírito<br />
Que vem do sobrenatural,<br />
E em matéria de profissão<br />
Um tísico* profissional.<br />
(Manuel Bandeira. Poesia completa e prosa. Rio de<br />
Janeiro: Aguilar, 1983. p. 395.)<br />
Texto 2 - Poema de sete faces<br />
Quando eu nasci, um anjo torto<br />
desses que vivem na sombra<br />
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.<br />
As casas espiam os homens<br />
que correm atrás de mulheres.<br />
A tarde talvez fosse azul,<br />
não houvesse tantos desejos.<br />
(....)<br />
Meu Deus, por que me abandonaste<br />
se sabias que eu não era Deus<br />
se sabias que eu era fraco.<br />
Mundo mundo vasto mundo,<br />
se eu me chamasse Raimundo<br />
seria uma rima, não seria uma solução.<br />
Mundo mundo vasto mundo<br />
mais vasto é o meu coração.<br />
(Carlos Drummond de Andrade.<br />
Obra completa. Rio de Janeiro:<br />
Aguilar, 1964. p. 53.)<br />
(*) tísico=tuberculoso<br />
Esses poemas têm em comum o fato de<br />
A) descreverem aspectos físicos dos<br />
próprios autores.<br />
B) refletirem um sentimento pessimista.<br />
C) terem a doença como tema.<br />
D) narrarem a vida dos autores desde o<br />
nascimento.<br />
E) defenderem crenças religiosas.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Tanto o poema de<br />
Manuel Bandeira quanto o de Carlos<br />
Drummond de Andrade evidenciam, dentro<br />
do ponto de vista dos autores, características<br />
extremamente pessimistas em relação à vida<br />
e, conseqüentemente, à arte.
46) (2003) A velha Totonha de quando em<br />
vez batia no engenho. E era um<br />
acontecimento para a meninada. (...)<br />
andava léguas e léguas a pé, de engenho<br />
a engenho, como uma edição viva das<br />
histórias de Mil e Uma Noites (...) era uma<br />
grande artista para dramatizar. Tinha uma<br />
memória de prodígio. Recitava contos<br />
inteiros em versos, intercalando pedaços<br />
de prosa, como notas explicativas. (...)<br />
Havia sempre rei e rainha, nos seus<br />
contos, e forca e adivinhações. O que<br />
fazia a velha Totonha mais curiosa era a<br />
cor local que ela punha nos seus<br />
descritivos. (...) Os rios e as florestas por<br />
onde andavam os seus personagens se<br />
pareciam muito com o Paraíba e a Mata<br />
do Rolo. O seu Barba-Azul era um senhor<br />
de engenho de Pernambuco.<br />
José Lins do Rego. Menino de Engenho. Rio de Janeiro:<br />
José Olympio, 1980, p. 49-51 (com adaptações).<br />
Na construção da personagem “velha<br />
Totonha”, é possível identificar traços que<br />
revelam marcas do processo de<br />
colonização e de civilização do país.<br />
Considerando o texto acima, infere-se que<br />
a velha Totonha<br />
A) tira o seu sustento da produção da<br />
literatura, apesar de suas condições de<br />
vida e de trabalho, que denotam que<br />
ela enfrenta situação econômica muito<br />
adversa.<br />
B) compõe, em suas histórias, narrativas<br />
épicas e realistas da história do país<br />
colonizado, livres da influência de<br />
temas e modelos não representativos<br />
da realidade nacional.<br />
C) retrata, na constituição do espaço dos<br />
contos, a civilização urbana européia<br />
em concomitância com a<br />
representação literária de engenhos,<br />
rios e florestas do Brasil.<br />
D) aproxima-se, ao incluir elementos<br />
fabulosos nos contos, do próprio<br />
romancista, o qual pretende retratar a<br />
realidade brasileira de forma tão<br />
grandiosa quanto a européia.<br />
E) imprime marcas da realidade local a<br />
suas narrativas, que têm como modelo<br />
e origem as fontes da literatura e da<br />
cultura européia universalizada.<br />
Comentário<br />
Esta questão exige conhecimentos de<br />
literatura universal. O aluno precisa saber<br />
que Barba-Azul é um personagem da cultura<br />
européia. Nas histórias de Totonha, ele é<br />
representado como um senhor de engenho<br />
de Pernambuco. Percebe-se aí a forte<br />
influência da colonização européia na<br />
realidade local. Logo, a alternativa correta é a<br />
letra "E".<br />
47) (2005) Leia estes poemas.<br />
Texto 1 - Auto-retrato<br />
Provinciano que nunca soube<br />
Escolher bem uma gravata;<br />
Pernambucano a quem repugna<br />
A faca do pernambucano;<br />
Poeta ruim que na arte da prosa<br />
Envelheceu na infância da arte,<br />
E até mesmo escrevendo crônicas<br />
Ficou cronista de província;<br />
Arquiteto falhado, músico<br />
Falhado (engoliu um dia<br />
Um piano, mas o teclado<br />
Ficou de fora); sem família,<br />
Religião ou filosofia;<br />
Mal tendo a inquietação de espírito<br />
Que vem do sobrenatural,<br />
E em matéria de profissão<br />
Um tísico* profissional.<br />
(Manuel Bandeira. Poesia completa e prosa. Rio de<br />
Janeiro: Aguilar, 1983. p. 395.)<br />
Texto 2 - Poema de sete faces<br />
Quando eu nasci, um anjo torto<br />
desses que vivem na sombra<br />
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.<br />
As casas espiam os homens<br />
que correm atrás de mulheres.<br />
A tarde talvez fosse azul,<br />
não houvesse tantos desejos.<br />
(....)<br />
Meu Deus, por que me abandonaste<br />
se sabias que eu não era Deus<br />
se sabias que eu era fraco.<br />
Mundo mundo vasto mundo,<br />
se eu me chamasse Raimundo<br />
seria uma rima, não seria uma solução.<br />
Mundo mundo vasto mundo<br />
mais vasto é o meu coração.<br />
(Carlos Drummond de Andrade.<br />
Obra completa. Rio de Janeiro:<br />
Aguilar, 1964. p. 53.)<br />
(*) tísico=tuberculoso<br />
No verso “Meu Deus, por que me<br />
abandonaste” do texto 2, Drummond<br />
retoma as palavras de Cristo, na cruz,<br />
pouco antes de morrer. Esse recurso de<br />
repetir palavras de outrem equivale a<br />
127
A) emprego de termos moralizantes.<br />
B) uso de vício de linguagem pouco<br />
tolerado.<br />
C) repetição desnecessária de idéias.<br />
D) emprego estilístico da fala de outra<br />
pessoa.<br />
E) uso de uma pergunta sem resposta.<br />
Comentário<br />
A citação, característica de intercambiar<br />
pensamentos de um texto para outro, fica<br />
bastante evidente no poema de Drummond.<br />
Ao retomar as palavras de Cristo, o autor<br />
deixa claro que sua idéia era transmitir uma<br />
mensagem por meio de palavras já<br />
proferidas por outra pessoa e cuja<br />
importância dá sentido a toda a estrofe.<br />
49) (2000) As histórias em quadrinhos, por<br />
vezes, utilizam animais como<br />
personagens e a eles atribuem<br />
comportamento humano. O gato Garfield<br />
é exemplo desse fato.<br />
Fonte: Caderno Vida e Arte, Jornal do Povo, Fortaleza<br />
Van Gogh, pintor holandês nascido em<br />
1853, é um dos principais nomes da<br />
pintura mundial. É dele o quadro abaixo.<br />
48) (2004)<br />
Auto-retrato de orelha cortada<br />
A tira "Hagar" e o poema de Alberto<br />
Caeiro (um dos heterônimos de Fernando<br />
Pessoa) expressam, com linguagens<br />
diferentes, uma mesma idéia: a de que a<br />
compreensão que temos do mundo é<br />
condicionada, essencialmente,<br />
A) pelo alcance de cada cultura.<br />
B) pela capacidade visual do observador.<br />
C) pelo senso de humor de cada um.<br />
D) pela idade do observador.<br />
E) pela altura do ponto de observação.<br />
Comentário<br />
Questão reflexiva sobre a forma como<br />
cada cultura vê o mundo sob a ótica dos<br />
limites dados pelos seus costumes e<br />
possibilidades de pensamento inerentes a<br />
cada modelo cultural. A mistura de uma tira e<br />
de um poema amplia a possibilidade de<br />
pensamento por trabalhar com linguagens<br />
diferentes. A alternativa correta é a letra A,<br />
pois ambos (tira e poema) utilizam figuras de<br />
linguagem (metáfora e ironia) para expressar<br />
as diferentes visões de mundo.<br />
O 3º quadrinho sugere que Garfield:<br />
A) desconhece tudo sobre arte, por isso<br />
faz a sugestão.<br />
B) acredita que todo pintor deve fazer algo<br />
diferente.<br />
C) defende que para ser pintor a pessoa<br />
tem de sofrer.<br />
D) conhece a história de um pintor<br />
famoso e faz uso da ironia.<br />
E) acredita que seu dono tenha tendência<br />
artística e, por isso, faz a sugestão.<br />
Comentário<br />
Outra questão de interpretação de texto.<br />
Muito simples para quem um dia ouviu falar<br />
de Van Gogh, e simplíssima para aqueles<br />
que prestam atenção em todos os elementos<br />
do enunciado. Afinal, quem deu uma<br />
espiadinha na legenda do quadro de Van<br />
Gogh matou na hora a questão.<br />
Esta questão é daquelas rápidas de serem<br />
resolvidas, associando-se os elementos<br />
apresentados.<br />
Comentário do INEP<br />
A significativa maioria (81%) dos<br />
participantes soube perceber o caráter<br />
irônico da fala do Garfield, expressa no<br />
terceiro quadrinho porque, ou conheciam a<br />
história de Van Gogh, ou apropriaram-se<br />
corretamente da informação sobre esse<br />
pintor, fornecida no enunciado.<br />
128
50) (2003)<br />
O texto aponta no quadro de Tarsila do<br />
Amaral um tema que também se encontra<br />
nos versos transcritos em:<br />
A) "Pensem nas meninas<br />
Cegas inexatas<br />
Pensem nas mulheres<br />
Rotas alteradas."<br />
(Vinícius de Moraes)<br />
B) "Somos muitos severinos<br />
iguais em tudo e na sina:<br />
a de abrandar estas pedras<br />
suando-se muito em cima."<br />
(João Cabral de Melo Neto)<br />
C) "O funcionário público<br />
não cabe no poema<br />
com seu salário de fome<br />
sua vida fechada em arquivos."<br />
(Ferreira Gullar)<br />
D) "Não sou nada.<br />
Nunca serei nada.<br />
Não posso querer ser nada.<br />
À parte isso, tenho em mim todos os<br />
sonhos do mundo."<br />
(Fernando Pessoa)<br />
E) "Os inocentes do Leblon<br />
Não viram o navio entrar (...)<br />
Os inocentes, definitivamente inocentes<br />
tudo ignoravam,<br />
mas a areia é quente, e há um óleo<br />
suave<br />
que eles passam pelas costas, e<br />
aquecem."<br />
(Carlos Drummond de Andrade)<br />
Comentário<br />
Mais uma vez, o Exame Nacional do<br />
Ensino Médio procura relacionar análises de<br />
diferentes áreas da arte, misturando a pintura<br />
com a literatura. O quadro de Tarsila do<br />
Amaral “Operários” traz a imagem de vários<br />
rostos (de formatos, etnias e sexos<br />
diferentes) amontoados, tendo como pano de<br />
fundo as chaminés de uma fábrica.<br />
A questão deixa explícita a relação com<br />
os trechos literários que exaltam o<br />
proletariado, eliminando, já de cara, as<br />
alternativas A, D, e E.<br />
Ao se analisar a alternativa C, entretanto,<br />
percebe-se que a abordagem somente se<br />
relaciona com o funcionário público.<br />
Na letra B, o que se pode notar é que<br />
todas as pessoas “severinas” são iguais<br />
perante o sistema, niveladas por baixo e<br />
batalhadoras e que, sem privilégios ou<br />
distinções, são tratadas como mercadorias.<br />
51) (1999) E considerei a glória de um pavão<br />
ostentando o esplendor de suas cores; é<br />
um luxo imperial. Mas andei lendo livros, e<br />
descobri que aquelas cores todas não<br />
existem na pena do pavão. Não há<br />
pigmentos. O que há são minúsculas<br />
bolhas d’água em que a luz se fragmenta,<br />
como em um prisma. O pavão é um arcoíris<br />
de plumas.<br />
Eu considerei que este é o luxo do<br />
grande artista, atingir o máximo de<br />
matizes com o mínimo de elementos. De<br />
água e luz ele faz seu esplendor; seu<br />
grande mistério é a simplicidade.<br />
Considerei, por fim, que assim é o<br />
amor, oh! Minha amada; de tudo que ele<br />
suscita e esplende e estremece e delira<br />
em mim existem apenas meus olhos<br />
recebendo a luz de teu olhar. Ele me<br />
cobre de glórias e me faz magnífico.<br />
(BRAGA, Rubem. Ai de ti, Copacabana. 20.ed.)<br />
O poeta Carlos Drummond de Andrade<br />
escreveu assim sobre a obra de Rubem<br />
Braga:<br />
O que ele nos conta é o seu dia, o seu<br />
expediente de homem, apanhado no<br />
essencial, narrativa direta e econômica.<br />
(...) É o poeta do real, do palpável, que se<br />
vai diluindo em cisma. Dá o sentimento da<br />
realidade e o remédio para ela.<br />
Em seu texto, Rubem Braga afirma que<br />
"este é o luxo do grande artista, atingir o<br />
máximo de matizes com o mínimo de<br />
elementos". Afirmação semelhante pode<br />
ser encontrada no texto de Carlos<br />
Drummond de Andrade, quando, ao<br />
analisar a obra de Braga, diz que ela é:<br />
A) uma narrativa direta e econômica.<br />
B) real, palpável.<br />
C) sentimento de realidade.<br />
D) seu expediente de homem.<br />
E) seu remédio.<br />
129
Comentário<br />
A última questão da prova de Português<br />
exige uma releitura do texto de Rubem Braga<br />
para um melhor entendimento do que é<br />
proposto por Drummond. Ao afirmar que a<br />
escrita de Braga é "direta e econômica",<br />
Drummond remete à descoberta feita por<br />
Rubem Braga em relação às cores das<br />
penas do pavão: (...) e descobri que aquelas<br />
cores todas não existem na pena do pavão.<br />
Não há pigmentos. O que há são minúsculas<br />
bolhas d’água em que a luz se fragmenta,<br />
como em um prisma. O pavão é um arco-íris<br />
de plumas.(...) este é o luxo do grande<br />
artista, atingir o máximo de matizes com o<br />
mínimo de elementos.(...)<br />
Segundo Braga, a grande mágica em se<br />
fazer arte é conseguir se expressar da<br />
melhor maneira possível usando o mínimo de<br />
elementos (sejam palavras, cores, formas,<br />
etc.). Drummond parafraseia o comentário de<br />
Braga, dando ainda mais evidência à<br />
descoberta do primeiro. Temos, aí, a<br />
"narrativa direta e econômica". Questão de<br />
nível médio.<br />
Comentário do INEP<br />
Além da compreensão de dois textos, de<br />
autores diferentes, o problema examinou a<br />
capacidade dos participantes em estabelecer<br />
um diálogo entre os mesmos.<br />
A identificação do significado e a relação<br />
correta da afirmação de Drummond, com o<br />
trecho correspondente de Rubem Braga<br />
destacado no enunciado, foi feita por 44%<br />
dos participantes. As alternativas B, C e D<br />
correspondem à identificação de aspectos de<br />
certa forma comuns aos dois textos, embora<br />
os elementos neles apontados não se refiram<br />
ao trecho destacado.<br />
52) (2002)<br />
130<br />
De acordo com a história em quadrinhos<br />
protagonizada por Hagar e seu filho<br />
Hamlet, pode-se afirmar que a postura de<br />
Hagar<br />
A) valoriza a existência da diversidade<br />
social e de culturas, e as várias<br />
representações e explicações desse<br />
universo.<br />
B) desvaloriza a existência da<br />
diversidade social e as várias culturas,<br />
e determina uma única explicação para<br />
esse universo.<br />
C) valoriza a possibilidade de explicar as<br />
sociedades e as culturas a partir de<br />
várias visões de mundo.<br />
D) valoriza a pluralidade cultural e social<br />
ao aproximar a visão de mundo de<br />
navegantes e não-navegantes.<br />
E) desvaloriza a pluralidade cultural e<br />
social, ao considerar o mundo habitado<br />
apenas pelos navegantes.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Hagar reduz o<br />
mundo a dois tipos de pessoas: navegantes<br />
e não-navegantes. No último quadrinho, diz<br />
que são os navegantes que estabelecem<br />
esses dois grupos. Portanto, quem é<br />
diferente dos navegantes (que estabelecem<br />
o padrão) simplesmente é incluído na massa<br />
única dos não-navegantes. Não importa<br />
quem ou quantos sejam, sua diversidade<br />
social ou cultural em relação aos navegantes<br />
ou entre si. Vemos aí a desvalorização de<br />
outras culturas.<br />
Comentário do INEP<br />
Dentre as habilidades básicas para a<br />
compreensão de um texto destaca-se a<br />
capacidade do leitor de identificar os<br />
pressupostos de cada afirmação que lhe é<br />
apresentada. Nesta questão o participante<br />
deve identificar a posição tanto de Hagar<br />
como de seu filho Hamlet e, em seguida,<br />
avaliar quais os argumentos que justificam a<br />
opinião de Hagar ao definir que no mundo só<br />
existem dois tipos de pessoas. A pergunta de<br />
Hamlet a seu pai explicita a importância do<br />
ato de narrar através do diálogo e do efeito<br />
humorístico contido no episódio representado<br />
na tira. O resultado da compreensão<br />
acertada do diálogo é que o narrador torna<br />
inteligível, para si e para os outros, a lógica<br />
do seu pensamento através do diálogo entre<br />
os dois personagens. É importante observar<br />
que o humor do personagem Hagar é<br />
identificado na postura simetricamente<br />
oposta à de Michel de Montaigne, por<br />
exemplo (ver questão 58): a sua visão de<br />
mundo apresenta-se autocentrada, isto é,<br />
centrada nos seus próprios valores (vikings).<br />
A habilidade requerida do participante nessa<br />
questão, qual seja, "valorizar a diversidade<br />
dos patrimônios etnoculturais", é mobilizada<br />
aqui na sua dimensão negativa: é criticando<br />
a postura chauvinista de Hagar que o<br />
participante é capaz de responder
corretamente a questão. A última alternativa<br />
(E) funciona como um distrator, pois neste<br />
caso não está suposta a crítica do discurso<br />
do personagem. Cerca de um terço dos<br />
participantes assinalou a alternativa correta<br />
B. As demais opções são devidas,<br />
possivelmente, a uma leitura pouco<br />
compreensiva das alternativas associadas a<br />
história em quadrinhos.<br />
53) (2009) A música pode ser definida como<br />
a combinação de sons ao longo do tempo.<br />
Cada produto final oriundo da infinidade<br />
de combinações possíveis será diferente,<br />
dependendo da escolha das notas, de<br />
suas durações, dos instrumentos<br />
utilizados, do estilo de música, da<br />
nacionalidade do compositor e do período<br />
em que as obras foram compostas.<br />
D) 4 executa um tipo de música<br />
caracterizada pelos instrumentos<br />
acústicos, cuja intensidade e nível de<br />
ruído permanecem na faixa dos 30 aos<br />
40 decibéis.<br />
E) 1 a 4 apresentam um produto final<br />
bastante semelhante, uma vez que as<br />
possibilidades de combinações sonoras<br />
ao longo do tempo são limitadas.<br />
Comentário<br />
(QUESTÃO: AZUL 94, BRANCA 95,<br />
ROSA 94)<br />
Instrumentos como violão, bandolim e os<br />
de percussão são utilizados como base para<br />
dar sustenção ao chorinho. Há de se<br />
considerar ainda, pensando-se nas outras<br />
alternativas, que Tom Jobim não é um<br />
expoente da música clássica. A formação<br />
apresentada na figura 3 é característica de<br />
uma banda de jazz. Na figura 4, o nível de<br />
ruído é superior a 40 decibéis. As figuras 1 e<br />
4 representam resultados muito diferentes,<br />
tanto de conteúdo como sonoros.<br />
Alternativa correta letra A<br />
54) (2009) Cuitelinho<br />
Cheguei na bera do porto<br />
Onde as onda se espaia.<br />
As garça dá meia volta,<br />
Senta na bera da praia.<br />
E o cuitelinho não gosta<br />
Que o botão da rosa caia.<br />
Figura 1 - http://images.quebarato.com.brlphotoslbig/2/D/1<br />
5A12D_2.jpg.<br />
Figura 2 -<br />
http://ourinhos.prefeituramunicipal.netldados/fotoa/2009/07/07/<br />
normal.<br />
Figura 3 -<br />
http://www.edmontonculturalcapital.com/gallery/edjazzfestival/<br />
JazzQuartet.jpg.<br />
Figura 4 - http:llwww.filmica.com/jacintaeacudos)archivoa!Led-<br />
Zeppelin.jpg.<br />
Das figuras que apresentam grupos<br />
musicais em ação, pode-se concluir que<br />
o(os) grupo(s) mostrado(s) na(s) figura(s)<br />
A) 1 executa um gênero característico<br />
da música brasileira, conhecido como<br />
chorinho.<br />
B) 2 executa um gênero característico da<br />
música clássica, cujo compositor mais<br />
conhecido é Tom Jobim.<br />
C) 3 executa um gênero característico da<br />
música europeia, que tem como<br />
representantes Beethoven e Mozart.<br />
Quando eu vim da minha terra,<br />
Despedi da parentaia.<br />
Eu entrei em Mato Grosso,<br />
Dei em terras paraguaia.<br />
Lá tinha revolução,<br />
Enfrentei fortes bataia.<br />
A tua saudade corta<br />
Como o aço de navaia<br />
O coração fica aflito,<br />
Bate uma e outra faia.<br />
E os oio se enche d’água<br />
Que até a vista se atrapaia.<br />
Folclore recolhido por Paulo Vanzolini e Antônio Xandó.<br />
BORTONI-RICARDO, S. M. Educação em língua materna.<br />
São Paulo; Parábola, 2004.<br />
Transmitida por gerações, a canção<br />
Cuitelinho manifesta aspectos culturais de<br />
um povo, nos quais se inclui sua forma de<br />
falar, além de registrar um momento<br />
histórico. Depreende-se disso que a<br />
importância em preservar a produção<br />
cultural de uma nação consiste no fato de<br />
131
que produções como a canção Cuitelinho<br />
evidenciam a<br />
A) recriação da realidade brasileira de<br />
forma ficcional.<br />
B) criação neológica na língua<br />
portuguesa.<br />
C) formação da identidade nacional por<br />
meio da tradição oral.<br />
D) incorreção da língua portuguesa que é<br />
falada por pessoas do interior do Brasil.<br />
E) padronização de palavras que variam<br />
regionalmente, mas possuem mesmo<br />
significado.<br />
Comentário<br />
(QUESTÃO: AZUL 111, BRANCA 111,<br />
ROSA 112)<br />
A importância da preservação de<br />
canções folclóricas como "Cuitelinho", nas<br />
quais estão registrados o modo de falar e<br />
determinados momentos históricos, evidencia<br />
que a tradição oral é uma forma de<br />
estabelecimento da identidade de um povo.<br />
Portanto, a resposta correta é a<br />
alternativa C.<br />
55) (2009) Teatro do Oprimido é um método<br />
teatral que sistematiza exercícios, jogos e<br />
técnicas teatrais elaboradas pelo<br />
teatrólogo brasileiro Augusto Boal,<br />
recentemente falecido, que visa à<br />
desmecanização física e intelectual de<br />
seus praticantes. Partindo do princípio de<br />
que a linguagem teatral não deve ser<br />
diferenciada da que é usada<br />
cotidianamente pelo cidadão comum<br />
(oprimido), ele propõe condições práticas<br />
para que o oprimido se aproprie dos<br />
meios do fazer teatral e, assim, amplie<br />
suas possibilidades de expressão. Nesse<br />
sentido, todos podem desenvolver essa<br />
linguagem e, consequentemente, fazer<br />
teatro. Trata-se de um teatro em que o<br />
espectador é convidado a substituir o<br />
protagonista e mudar a condução ou<br />
mesmo o fim da história, conforme o olhar<br />
interpretativo e contextualizado do<br />
receptor.<br />
Companhia Teatro do Oprimido. Disponível em:<br />
www.ctorio.org.br.<br />
Acesso em: 1 Jul. 2009 (adaptado).<br />
Considerando-se as características do<br />
Teatro do Oprimido apresentadas, concluise<br />
que<br />
A) esse modelo teatral é um método<br />
tradicional de fazer teatro que usa, nas<br />
suas ações cênicas, a linguagem<br />
rebuscada e hermética falada<br />
normalmente pelo cidadão comum.<br />
B) a forma de recepção desse modelo<br />
teatral se destaca pela separação entre<br />
atores e público, na qual os atores<br />
representam seus personagens e a<br />
plateia assiste passivamente ao<br />
espetáculo.<br />
C) sua linguagem teatral pode ser<br />
democratizada e apropriada pelo<br />
cidadão comum, no sentido de<br />
proporcionar-lhe autonomia crítica para<br />
compreensão e interpretação do<br />
mundo em que vive.<br />
D) o convite ao espectador para substituir<br />
o protagonista e mudar o fim da história<br />
evidencia que a proposta de Boal se<br />
aproxima das regras do teatro<br />
tradicional para a preparação de<br />
atores.<br />
E) a metodologia teatral do Teatro do<br />
Oprimido segue a concepção do teatro<br />
clássico aristotélico, que visa à<br />
desautomação física e intelectual de<br />
seus praticantes.<br />
Comentário do portal<br />
(QUESTÃO: AZUL 118, BRANCA 116,<br />
ROSA 118)<br />
As possibilidades de troca de experiências<br />
sugeridas pelo Teatro do Oprimido tornam<br />
viável, mesmo a uma pessoa que não<br />
possua estudo prévio da arte teatral, ser<br />
capaz de se aventurar na transformação de<br />
pensamentos resultante do desenvolvimento<br />
de seu olhar interpretativo, tanto de uma<br />
peça como de qualquer outra situação<br />
cotidiana.<br />
Alternativa correta: C<br />
56) (2009) Textos para as próximas duas<br />
questões<br />
Texto I<br />
[...] já foi o tempo em que via a<br />
convivência como viável, só exigindo<br />
deste bem comum, piedosamente, o meu<br />
quinhão, já foi o tempo em que consentia<br />
num contrato, deixando muitas coisas de<br />
fora sem ceder contudo no que me era<br />
vital, já foi o tempo em que reconhecia a<br />
existência escandalosa de imaginados<br />
valores, coluna vertebral de toda ‘ordem’;<br />
mas não tive sequer o sopro necessário,<br />
e, negado o respiro, me foi imposto o<br />
sufoco; é esta consciência que me libera,<br />
é ela hoje que me empurra, são outras<br />
132
agora minhas preocupações, é hoje outro<br />
o meu universo de problemas; num<br />
mundo estapafúrdio — definitivamente<br />
fora de foco — cedo ou tarde tudo acaba<br />
se reduzindo a um ponto de vista, e você<br />
que vive paparicando as ciências<br />
humanas, nem suspeita que paparica uma<br />
piada: impossível ordenar o mundo dos<br />
valores, ninguém arruma a casa do<br />
capeta; me recuso pois a pensar naquilo<br />
em que não mais acredito, seja o amor, a<br />
amizade, a família, a igreja, a<br />
humanidade; me lixo com tudo isso! me<br />
apavora ainda a existência, mas não<br />
tenho medo de ficar sozinho, foi<br />
conscientemente que escolhi o exílio, me<br />
bastando hoje o cinismo dos grandes<br />
indiferentes [...].<br />
NASSAR, R. Um copo de cólera. São Paulo:<br />
Companhia das Letras, 1992.<br />
Texto II<br />
Raduan Nassar lançou a novela Um Copo<br />
de Cólera em 1978, fervilhante narrativa<br />
de um confronto verbal entre amantes, em<br />
que a fúria das palavras cortantes se<br />
estilhaçava no ar. O embate conjugal<br />
ecoava o autoritário discurso do poder e<br />
da submissão de um Brasil que vivia sob o<br />
jugo da ditadura militar.<br />
COMODO, R. Um silêncio inquietante.<br />
lstoÉ. Disponível em:<br />
http://www.terra.com.br. Acesso em: 15 jul. 2009.<br />
Na novela Um Copo de Cólera, o autor<br />
lança mão de recursos estilísticos e<br />
expressivos típicos da literatura produzida<br />
na década de 70 do século passado no<br />
Brasil, que, nas palavras do crítico Antonio<br />
Candido, aliam "vanguarda estética e<br />
amargura política". Com relação à<br />
temática abordada e à concepção<br />
narrativa da novela, o texto 1<br />
A) é escrito em terceira pessoa, com<br />
narrador onisciente, apresentando a<br />
disputa entre um homem e uma mulher<br />
em linguagem sóbria, condizente com a<br />
seriedade da temática político-social do<br />
período da ditadura militar.<br />
B) articula o discurso dos interlocutores<br />
em torno de uma luta verbal, veiculada<br />
por meio de linguagem simples e<br />
objetiva, que busca traduzir a situação<br />
de exclusão social do narrador.<br />
C) representa a literatura dos anos 70 do<br />
século XX e aborda, por meio de<br />
expressão clara e objetiva e de ponto<br />
de vista distanciado, os problemas da<br />
urbanização das grandes metrópoles<br />
brasileiras.<br />
D) evidencia uma crítica à sociedade em<br />
que vivem os personagens, por meio<br />
de fluxo verbal contínuo de tom<br />
agressivo.<br />
E) traduz, em linguagem subjetiva e<br />
intimista, a partir do ponto de vista<br />
interno, os dramas psicológicos da<br />
mulher moderna, às voltas com a<br />
questão da priorização do trabalho em<br />
detrimento da vida familiar e amorosa.<br />
Comentário<br />
(QUESTÃO: AZUL 132, BRANCA 132,<br />
ROSA 130)<br />
A temática aborda uma crítica à<br />
sociedade, evidenciando o fluxo verbal<br />
contínuo e de tom agressivo marcado pela<br />
narrativa em primeira pessoa. Cada<br />
alternativa apresenta pelo menos um ponto<br />
divergente. Na alternativa A, seria a<br />
indicação da terceira pessoa; na B, a<br />
situação de exclusão social do narrador; na<br />
C, os problemas de urbanização e na E, os<br />
dramas psicológicos da mulher moderna.<br />
Dessa forma, a única alternativa que não<br />
apresenta pelo menos um ponto divergente é<br />
a letra D.<br />
57) (2009) Compare os textos 1 e lI a seguir,<br />
que tratam de aspectos ligados a<br />
variedades da língua portuguesa no<br />
mundo e no Brasil.<br />
Texto I<br />
Acompanhando os navegadores,<br />
colonizadores e comerciantes<br />
portugueses em todas as suas incríveis<br />
viagens, a partir do século XV, o<br />
português se transformou na língua de um<br />
império. Nesse processo, entrou em<br />
contato — forçado, o mais das vezes;<br />
amigável, em alguns casos — com as<br />
mais diversas línguas, passando por<br />
processos de variação e de mudança<br />
linguística. Assim, contar a história do<br />
português do Brasil é mergulhar na sua<br />
história colonial e de país independente, já<br />
que as línguas não são mecanismos<br />
desgarrados dos povos que as utilizam.<br />
Nesse cenário, são muitos os aspectos da<br />
estrutura linguística que não só<br />
expressam a diferença entre Portugal e<br />
Brasil como também definem, no Brasil,<br />
diferenças regionais e sociais.<br />
PAGOTTO, E. P. Línguas do Brasil Disponivel em:<br />
http://cienciaecultura.bvs.br.<br />
Acesso em: 5 jul. 2009 (adaptado).<br />
133
Texto II<br />
Barbarismo é vício que se comete na<br />
escritura de cada uma das partes da<br />
construção ou na pronunciação. E em<br />
nenhuma parte da Terra se comete mais<br />
essa figura da pronunciação que nestes<br />
remos, por causa das muitas nações que<br />
trouxemos ao jugo do nosso serviço.<br />
Porque bem como os Gregos e Romanos<br />
haviam por bárbaras todas as outras<br />
nações estranhas a eles, por não<br />
poderem formar sua linguagem, assim nós<br />
podemos dizer que as nações de África,<br />
Guiné, Ásia, Brasil barbarizam quando<br />
querem imitar a nossa.<br />
BARROS, J, Gramática da língua portuguesa. Porto: Porto<br />
Editora, 1957 (adaptado).<br />
Os textos abordam o contato da língua<br />
portuguesa com outras línguas e<br />
processos de variação e de mudança<br />
decorridos desse contato. Da comparação<br />
entre os textos, conclui-se que a posição<br />
de João de Barros (Texto II), em relação<br />
aos usos sociais da linguagem, revela<br />
A) atitude crítica do autor quanto à<br />
gramática que as nações a serviço de<br />
Portugal possuíam e, ao mesmo<br />
tempo, de benevolência quanto ao<br />
conhecimento que os povos tinham de<br />
suas línguas.<br />
B) atitude preconceituosa relativa a vícios<br />
culturais das nações sob domínio<br />
português, dado o interesse dos<br />
falantes dessa línguas em copiar a<br />
língua do império, o que implicou a<br />
falência do idioma falado em Portugal.<br />
C) o desejo de conservar, em Portugal, as<br />
estruturas da variante padrão da língua<br />
grega — em oposição às consideradas<br />
bárbaras —, em vista da necessidade<br />
de preservação do padrão de correção<br />
dessa língua à época.<br />
D) adesão à concepção de língua como<br />
entidade homogênea e invariável, e<br />
negação da ideia de que a língua<br />
portuguesa pertence a outros povos.<br />
E) atitude crítica, que se estende à própria<br />
língua portuguesa, por se tratar de<br />
sistema que não disporia de elementos<br />
necessários para a plena inserção<br />
sociocultural de falantes não nativos do<br />
português.<br />
Comentário<br />
(QUESTÃO: AZUL 131, BRANCA 135,<br />
ROSA 134)<br />
Questão difícil, pois o candidato precisa<br />
fazer uma leitura atenta dos textos<br />
apresentados e das alternativas, assim como<br />
ter conhecimento de concepções de<br />
linguagem.<br />
O texto II, de João de Barros, revela um<br />
anseio de "adesão à concepção de língua<br />
como entidade homogênea e invariável e<br />
negação da ideia de que a língua portuguesa<br />
pertence a outros povos".<br />
Portanto, a resposta correta é a letra D.<br />
COMPETÊNCIA DE ÁREA 4<br />
H13 - Analisar as diversas<br />
produções artísticas como<br />
meio de explicar diferentes<br />
culturas, padrões de beleza e<br />
preconceitos.<br />
01) (2000) Ferreira Gullar, um dos grandes<br />
poetas brasileiros da atualidade, é autor<br />
de “Bicho urbano”, poema sobre a sua<br />
relação com as pequenas e grandes<br />
cidades.<br />
Bicho urbano<br />
Se disser que prefiro morar em Pirapemas<br />
ou em outra qualquer pequena cidade do<br />
país<br />
estou mentindo<br />
ainda que lá se possa de manhã<br />
lavar o rosto no orvalho<br />
e o pão preserve aquele branco<br />
sabor de alvorada.<br />
....................................................................<br />
A natureza me assusta.<br />
Com seus matos sombrios suas águas<br />
suas aves que são como aparições<br />
me assusta quase tanto quanto<br />
esse abismo<br />
de gases e de estrelas<br />
aberto sob minha cabeça.<br />
(GULLAR, Ferreira. Toda poesia. Rio de Janeiro:<br />
José Olympio Editora, 1991)<br />
Embora não opte por viver numa pequena<br />
cidade, o poeta reconhece elementos de<br />
valor no cotidiano das pequenas<br />
comunidades. Para expressar a relação<br />
do homem com alguns desses elementos,<br />
ele recorre à sinestesia, construção de<br />
linguagem em que se mesclam<br />
impressões sensoriais diversas. Assinale<br />
a opção em que se observa esse recurso.<br />
A) "e o pão preserve aquele branco /<br />
sabor de alvorada."<br />
B) "ainda que lá se possa de manhã /<br />
lavar o rosto no orvalho"<br />
134
C) "A natureza me assusta. / Com seus<br />
matos sombrios suas águas"<br />
D) "suas aves que são como aparições /<br />
me assusta quase tanto quanto"<br />
E) "me assusta quase tanto quanto / esse<br />
abismo / de gases e de estrelas"<br />
Comentário<br />
Para responder a esta questão, leia com<br />
muita atenção o enunciado. Nele encontra-se<br />
o conceito de sinestesia: construção de<br />
linguagem em que se mesclam impressões<br />
sensoriais diversas, ou seja, a associação de<br />
sensações diferentes numa mesma<br />
expressão.<br />
Você deve compreender o conceito de<br />
sinestesia e, pela lógica, encontrar o exemplo<br />
dessa figura de linguagem.<br />
A alternativa correta é a letra a, pois a<br />
expressão "branco sabor" associa o sentido<br />
da visão (branco) com o do paladar (sabor).<br />
Comentário do INEP<br />
A questão procurou verificar a capacidade<br />
do participante de construir o sentido de<br />
elementos textuais. A partir da noção de<br />
sinestesia, que lhe foi dada de maneira<br />
sucinta, ele teve de transpor para o texto<br />
essa mesma noção, manifestando sua<br />
competência textual. Pode-se classificar de<br />
'bom', o índice de acerto (53%), se<br />
considerarmos que a questão trabalhou com<br />
a função conotativa da linguagem, o que<br />
requer uma capacidade de leitura sempre<br />
mais desenvolvida. Os desvios, de forma<br />
mais acentuada na alternativa B, são<br />
explicáveis: as alternativas incorretas (e, de<br />
resto, todo o poema) também se referem à<br />
manifestações sensoriais, embora sem a<br />
necessária 'mescla', que é o que distingue a<br />
sinestesia.<br />
02) (2002) "De repente lá vinha um homem a<br />
cavalo. Eram dois. Um senhor de fora, o<br />
claro de roupa. Miguilim saudou, pedindo<br />
a bênção. O homem trouxe o cavalo cá<br />
bem junto. Ele era de óculos, corado, alto,<br />
com um chapéu diferente, mesmo.<br />
— Deus te abençoe, pequenino. Como é<br />
teu nome?<br />
— Miguilim. Eu sou irmão do Dito.<br />
— E o seu irmão Dito é o dono daqui?<br />
— Não, meu senhor. O Ditinho está em<br />
glória.<br />
O homem esbarrava o avanço do<br />
cavalo, que era zelado, manteúdo,<br />
formoso como nenhum outro. Redizia:<br />
— Ah, não sabia, não. Deus o tenha em<br />
sua guarda... Mas que é que há, Miguilim?<br />
Miguilim queria ver se o homem estava<br />
mesmo sorrindo para ele, por isso é que o<br />
encarava.<br />
— Por que você aperta os olhos assim?<br />
Você não é limpo de vista? Vamos até lá.<br />
Quem é que está em tua casa?<br />
— É Mãe, e os meninos...<br />
Estava Mãe, estava tio Terez, estavam<br />
todos. O senhor alto e claro se apeou. O<br />
outro, que vinha com ele, era um<br />
camarada.<br />
O senhor perguntava à Mãe muitas<br />
coisas do Miguilim. Depois perguntava a<br />
ele mesmo: — 'Miguilim, espia daí:<br />
quantos dedos da minha mão você está<br />
enxergando? E agora?"<br />
ROSA, João Guimarães. Manuelzão e Miguilim. 9ª ed. Rio de<br />
Janeiro: Nova Fronteira, 1984.<br />
Esta história, com narrador observador em<br />
terceira pessoa, apresenta os<br />
acontecimentos da perspectiva de<br />
Miguilim. O fato de o ponto de vista do<br />
narrador ter Miguilim como referência,<br />
inclusive espacial, fica explicitado em:<br />
A) "O homem trouxe o cavalo cá bem<br />
junto."<br />
B) "Ele era de óculos, corado, alto (...)"<br />
C) "O homem esbarrava o avanço do<br />
cavalo, (...)"<br />
D) "Miguilim queria ver se o homem<br />
estava mesmo sorrindo para ele, (...)"<br />
E) "Estava Mãe, estava tio Terez, estavam<br />
todos"<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. A única alternativa<br />
que apresenta, ao mesmo tempo, o narrador<br />
e o ponto de referência espacial é a letra A, o<br />
que pode ser comprovado pela expressão<br />
"cá bem junto".<br />
Comentário do INEP<br />
Essa questão apresenta para leitura e<br />
análise um trecho da novela Campo Geral,<br />
da obra Manuelzão e Miguilim, de Guimarães<br />
Rosa, em que um narrador em terceira<br />
pessoa relata o momento do encontro entre<br />
Miguilim e o médico, que percebe, logo ao<br />
chegar, que o garoto tem problemas de<br />
visão. A questão propõe a análise do ponto<br />
de vista narrativo, que, no texto literário, não<br />
necessariamente, como no texto em questão,<br />
será sempre o do narrador.<br />
135
A cena narrativa presente nesse texto é<br />
contada por um narrador adulto, mas é o<br />
sentimento de Miguilim a respeito dos<br />
acontecimentos que orienta esse contar.<br />
Esse efeito de sentido é resultado do<br />
trabalho do autor com a linguagem. Segundo<br />
a gramática da norma culta, "cá" e "aqui"<br />
indicam o lugar do sujeito, ou seja, daquele<br />
que fala. Algo semelhante ocorre com o<br />
verbo "trazer", que indica um movimento para<br />
o lugar onde se encontra o sujeito. Tanto "cá"<br />
como "trazer" indicam proximidade espacial<br />
daquele que fala.<br />
A narração pertence a um narrador que<br />
não participa da historia como personagem,<br />
portanto ele fala dos outros, nunca de si<br />
mesmo. No trecho "o homem trouxe o cavalo<br />
cá bem junto", o narrador indica que o<br />
homem a cavalo aproxima-se de Miguilim.<br />
Esse jogo de linguagem cria no leitor a<br />
imagem de um narrador adulto que, colandose<br />
à criança, vê pelos olhos desta.<br />
Embora todas as alternativas apresentem<br />
a percepção da criança naquele contexto da<br />
chegada de um desconhecido, apenas a<br />
alternativa A responde o que foi solicitado,<br />
pois só ela apresenta o aspecto da<br />
localização espacial presente no advérbio de<br />
lugar "cá". Quase metade dos participantes<br />
assinalou a alternativa D, única que contem a<br />
palavra Miguilim, possivelmente porque<br />
interpretaram erroneamente o<br />
encaminhamento da questão, no trecho "...<br />
narrador ter Miguilim como referência, ...".<br />
03) (2006) Namorados<br />
O rapaz chegou-se para junto da moça<br />
e disse:<br />
— Antônia, ainda não me acostumei com<br />
o seu corpo, com a sua cara.<br />
A moça olhou de lado e esperou.<br />
— Você não sabe quando a gente é<br />
criança e de repente vê uma lagarta<br />
listrada?<br />
A moça se lembrava:<br />
— A gente fica olhando...<br />
A meninice brincou de novo nos olhos<br />
dela.<br />
O rapaz prosseguiu com muita doçura:<br />
— Antônia, você parece uma lagarta<br />
listrada.<br />
A moça arregalou os olhos, fez<br />
exclamações.<br />
O rapaz concluiu:<br />
— Antônia, você é engraçada! Você<br />
parece louca.<br />
136<br />
No poema de Bandeira, importante<br />
representante da poesia modernista,<br />
destaca-se como característica da escola<br />
literária dessa época<br />
Manuel Bandeira. Poesia completa & prosa.<br />
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985.<br />
A) a reiteração de palavras como recurso<br />
de construção de rimas ricas.<br />
B) a utilização expressiva da linguagem<br />
falada em situações do cotidiano.<br />
C) a criativa simetria de versos para<br />
reproduzir o ritmo do tema abordado.<br />
D) a escolha do tema do amor romântico,<br />
caracterizador do estilo literário dessa<br />
época.<br />
E) o recurso ao diálogo, gênero discursivo<br />
típico do Realismo.<br />
04) (2006) Erro de Português<br />
Quando o português chegou<br />
Debaixo de uma bruta chuva<br />
Vestiu o índio<br />
Que pena!<br />
Fosse uma manhã de Sol<br />
O índio tinha despido<br />
O português.<br />
Oswald de Andrade. Poesias reunidas.<br />
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.<br />
O primitivismo observável no poema<br />
acima, de Oswald de Andrade, caracteriza<br />
de forma marcante<br />
A) o regionalismo do Nordeste.<br />
B) o concretismo paulista.<br />
C) a poesia Pau-Brasil.<br />
D) o simbolismo pre-modernista.<br />
E) o tropicalismo baiano.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil, pois bastaria que o<br />
aluno fizesse a relação do nome do autor,<br />
Oswald de Andrade, à alternativa "C", poesia<br />
Pau-Brasil. Com isso, ele já eliminaria as<br />
demais alternativas. Contudo, mesmo que o<br />
aluno não tivesse se lembrado desse<br />
detalhe, o próprio poema Erro de Português<br />
remete a uma das características da poesia<br />
Pau-Brasil, a retomada e a valorização das<br />
riquezas do Brasil primitivo.<br />
05) (2007) Texto I<br />
Agora Fabiano conseguia arranjar as<br />
idéias. O que o segurava era a família.<br />
Vivia preso como um novilho amarrado ao<br />
mourão, suportando ferro quente. Se não<br />
fosse isso, um soldado amarelo não lhe<br />
pisava o pé não. (...) Tinha aqueles
cambões pendurados ao pescoço.<br />
Deveria continuar a arrastá-los? Sinha<br />
Vitória dormia mal na cama de varas. Os<br />
meninos eram uns brutos, como o pai.<br />
Quando crescessem, guardariam as reses<br />
de um patrão invisível, seriam pisados,<br />
maltratados, machucados por um soldado<br />
amarelo.<br />
Graciliano Ramos. Vidas Secas.<br />
São Paulo: Martins, 23.ª ed., 1969, p. 75.<br />
Texto II<br />
Para Graciliano, o roceiro pobre é um<br />
outro, enigmático, impermeável. Não há<br />
solução fácil para uma tentativa de<br />
incorporação dessa figura no campo da<br />
ficção. É lidando com o impasse, ao invés<br />
de fáceis soluções, que Graciliano vai<br />
criar Vidas Secas, elaborando uma<br />
linguagem, uma estrutura romanesca,<br />
uma constituição de narrador em que<br />
narrador e criaturas se tocam, mas não se<br />
identificam. Em grande medida, o debate<br />
acontece porque, para a intelectualidade<br />
brasileira naquele momento, o pobre, a<br />
despeito de aparecer idealizado em certos<br />
aspectos, ainda é visto como um ser<br />
humano de segunda categoria, simples<br />
demais, incapaz de ter pensamentos<br />
demasiadamente complexos. O que Vidas<br />
Secas faz é, com pretenso não<br />
envolvimento da voz que controla a<br />
narrativa, dar conta de uma riqueza<br />
humana de que essas pessoas seriam<br />
plenamente capazes.<br />
Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes. In:<br />
Teresa. São Paulo: USP, n.° 2, 2001, p. 254.<br />
A partir do trecho de Vidas Secas (texto I)<br />
e das informações do texto II, relativas às<br />
concepções artísticas do romance social<br />
de 1930, avalie as seguintes afirmativas.<br />
I - O pobre, antes tratado de forma exótica<br />
e folclórica pelo regionalismo pitoresco,<br />
transforma-se em protagonista<br />
privilegiado do romance social de 30.<br />
II - A incorporação do pobre e de outros<br />
marginalizados indica a tendência da<br />
ficção brasileira da década de 30 de<br />
tentar superar a grande distância entre<br />
o intelectual e as camadas populares.<br />
III - Graciliano Ramos e os demais autores<br />
da década de 30 conseguiram, com<br />
suas obras, modificar a posição social<br />
do sertanejo na realidade nacional.<br />
É correto apenas o que se afirma em<br />
A) I. D) I e II.<br />
B) II. E) II e III.<br />
C) III.<br />
Comentário<br />
Questão de nível médio. O aluno deveria<br />
perceber que, no texto de Vidas Secas, o<br />
protagonista de sua obra é o "Pobre<br />
Sertanejo", aqui tratado de forma realista,<br />
sem idealizações e fantasias, e com total<br />
destaque em sua narrativa. Ele também deve<br />
fazer um comparativo entre o trecho da obra<br />
com o comentário de Luís Bueno, além de<br />
demonstrar seus conhecimentos sobre o<br />
Romance Regionalista de 30, para chegar à<br />
conclusão de que a resposta correta é a D.<br />
06) (2008) Calcula-se que 78% do<br />
desmatamento na Amazônia tenha sido<br />
motivado pela pecuária — cerca de 35%<br />
do rebanho nacional está na região — e<br />
que pelo menos 50 milhões de hectares<br />
de pastos são pouco produtivos. Enquanto<br />
o custo médio para aumentar a<br />
produtividade de 1 hectare de pastagem é<br />
de 2 mil reais, o custo para derrubar igual<br />
área de floresta é estimado em 800 reais,<br />
o que estimula novos desmatamentos.<br />
Adicionalmente, madeireiras retiram as<br />
árvores de valor comercial que foram<br />
abatidas para a criação de pastagens. Os<br />
pecuaristas sabem que problemas<br />
ambientais como esses podem provocar<br />
restrições à pecuária nessas áreas, a<br />
exemplo do que ocorreu em 2006 com o<br />
plantio da soja, o qual, posteriormente, foi<br />
proibido em áreas de floresta.<br />
Época, 3/3/2008 e 9/6/2008 (com adaptações).<br />
A partir da situação-problema descrita,<br />
conclui-se que<br />
A) o desmatamento na Amazônia decorre<br />
principalmente da exploração ilegal de<br />
árvores de valor comercial.<br />
B) um dos problemas que os pecuaristas<br />
vêm enfrentando na Amazônia é a<br />
proibição do plantio de soja.<br />
C) a mobilização de máquinas e de força<br />
humana torna o desmatamento mais<br />
caro que o aumento da produtividade<br />
de pastagens.<br />
D) o superavit comercial decorrente da<br />
exportação de carne produzida na<br />
Amazônia compensa a possível<br />
degradação ambiental.<br />
E) a recuperação de áreas desmatadas<br />
e o aumento de produtividade das<br />
pastagens podem contribuir para a<br />
redução do desmatamento na<br />
Amazônia.<br />
137
Comentário do portal<br />
Essa questão retrata o problema do<br />
desmatamento da Amazônia, relacionado<br />
principalmente com o desenvolvimento da<br />
pecuária na região. Para resolvê-la, foram<br />
necessários a leitura atenta do texto e o<br />
conhecimento sobre os problemas<br />
ambientais da atualidade. A alternativa<br />
correta é a letra E, pois é mais caro para os<br />
pecuaristas aumentar a produtividade do que<br />
as áreas de pasto, o que acarreta o aumento<br />
do desmatamento da Amazônia.<br />
07) (2008) A Lei Federal n.º 9.985/2000, que<br />
instituiu o sistema nacional de unidades<br />
de conservação, define dois tipos de<br />
áreas protegidas. O primeiro, as unidades<br />
de proteção integral, tem por objetivo<br />
preservar a natureza, admitindo-se<br />
apenas o uso indireto dos seus recursos<br />
naturais, isto é, aquele que não envolve<br />
consumo, coleta, dano ou destruição dos<br />
recursos naturais. O segundo, as<br />
unidades de uso sustentável, tem por<br />
função compatibilizar a conservação da<br />
natureza com o uso sustentável de<br />
parcela dos recursos naturais. Nesse<br />
caso, permite-se a exploração do<br />
ambiente de maneira a garantir a<br />
perenidade dos recursos ambientais<br />
renováveis e dos processos ecológicos,<br />
mantendo-se a biodiversidade e os<br />
demais atributos ecológicos, de forma<br />
socialmente justa e economicamente<br />
viável.<br />
Considerando essas informações, analise<br />
a seguinte situação hipotética.<br />
Ao discutir a aplicação de recursos<br />
disponíveis para o desenvolvimento de<br />
determinada região, organizações civis,<br />
universidade e governo resolveram<br />
investir na utilização de uma unidade de<br />
proteção integral, o Parque Nacional do<br />
Morro do Pindaré, e de uma unidade de<br />
uso sustentável, a Floresta Nacional do<br />
Sabiá. Depois das discussões, a equipe<br />
resolveu levar adiante três projetos:<br />
— o projeto I consiste de pesquisas<br />
científicas embasadas exclusivamente<br />
na observação de animais;<br />
— o projeto II inclui a construção de uma<br />
escola e de um centro de vivência;<br />
— o projeto III promove a organização de<br />
uma comunidade extrativista que<br />
poderá coletar e explorar<br />
comercialmente frutas e sementes<br />
nativas.<br />
Nessa situação hipotética, atendendo-se à<br />
lei mencionada acima, é possível<br />
desenvolver tanto na unidade de proteção<br />
integral quanto na de uso sustentável<br />
A) apenas o projeto I.<br />
B) apenas o projeto III.<br />
C) apenas os projetos I e II.<br />
D) apenas os projetos II e III.<br />
E) todos os três projetos.<br />
Comentário do portal<br />
A alternativa correta é a letra "A", pois,<br />
analisando-se a situação hipotética sugerida<br />
no enunciado, percebe-se que ela deverá<br />
atender os requisitos tanto da unidade de<br />
proteção integral quanto da unidade de uso<br />
sustentável. Portanto, apenas o projeto I<br />
poderá ser desenvolvido nessas duas<br />
propostas de unidades.<br />
08) (2006) No poema Procura da poesia,<br />
Carlos Drummond de Andrade expressa a<br />
concepção estética de se fazer com<br />
palavras o que o escultor Michelângelo<br />
fazia com mármore. O fragmento abaixo<br />
exemplifica essa afirmação.<br />
(...)<br />
Penetra surdamente no reino das<br />
palavras.<br />
Lá estão os poemas que esperam ser<br />
escritos.<br />
(...)<br />
Chega mais perto e contempla as<br />
palavras.<br />
Cada uma<br />
tem mil faces secretas sob a face neutra<br />
e te pergunta, sem interesse pela<br />
resposta,<br />
pobre ou terrível, que lhe deres:<br />
trouxeste a chave?<br />
Carlos Drummond de Andrade. A rosa do povo.<br />
Rio de Janeiro: Record, 1997, p. 13-14.<br />
Esse fragmento poético ilustra o seguinte<br />
tema constante entre autores<br />
modernistas:<br />
A) a nostalgia do passado colonialista<br />
revisitado.<br />
B) a preocupação com o engajamento<br />
político e social da literatura.<br />
C) o trabalho quase artesanal com as<br />
palavras, despertando sentidos novos.<br />
D) a produção de sentidos herméticos na<br />
busca da perfeição poética.<br />
E) a contemplação da natureza brasileira<br />
na perspectiva ufanista da pátria.<br />
138
Comentário<br />
Questão de nível difícil, pois o candidato<br />
deveria, além de interpretar o poema,<br />
conhecer o verdadeiro sentido de arte<br />
segundo Michelângelo, que achava que um<br />
bloco de mármore já tinha sua figura dentro<br />
dele e que seu trabalho seria somente<br />
lapidá-la. Dessa forma, o candidato deveria<br />
relacionar a estrutura de um bloco de<br />
mármore ao segundo verso do poema: “Lá<br />
estão os poemas que esperam ser escritos<br />
(...)”. Ou seja, esperava-se que o candidato<br />
fizesse a relação do bloco de mármore com<br />
as palavras, o que justifica a alternativa “C”<br />
como correta.<br />
09) (2002) Érico Veríssimo relata, em suas<br />
memórias, um episódio da adolescência<br />
que teve influência significativa em sua<br />
carreira de escritor.<br />
"Lembro-me de que certa noite — eu<br />
teria uns quatorze anos, quando muito —<br />
encarregaram-me de segurar uma<br />
lâmpada elétrica à cabeceira da mesa de<br />
operações, enquanto um médico fazia os<br />
primeiros curativos num pobre-diabo que<br />
soldados da Polícia Municipal haviam<br />
"carneado". (...) Apesar do horror e da<br />
náusea, continuei firme onde estava,<br />
talvez pensando assim: se esse caboclo<br />
pode agüentar tudo isso sem gemer, por<br />
que não hei de poder ficar segurando esta<br />
lâmpada para ajudar o doutor a costurar<br />
esses talhos e salvar essa vida? (...)<br />
Desde que, adulto, comecei a escrever<br />
romances, tem-me animado até hoje a<br />
idéia de que o menos que o escritor pode<br />
fazer, numa época de atrocidades e<br />
injustiças como a nossa, é acender a sua<br />
lâmpada, fazer luz sobre a realidade de<br />
seu mundo, evitando que sobre ele caia a<br />
escuridão, propícia aos ladrões, aos<br />
assassinos e aos tiranos. Sim, segurar a<br />
lâmpada, a despeito da náusea e do<br />
horror. Se não tivermos uma lâmpada<br />
elétrica, acendamos o nosso toco de vela<br />
ou, em último caso, risquemos fósforos<br />
repetidamente, como um sinal de que não<br />
desertamos nosso posto."<br />
VERÍSSIMO, Érico. Solo de Clarineta. Tomo I.<br />
Porto Alegre: Editora Globo, 1978.<br />
Neste texto, por meio da metáfora da<br />
lâmpada que ilumina a escuridão, Érico<br />
Veríssimo define como uma das funções<br />
do escritor e, por extensão, da literatura,<br />
A) criar a fantasia.<br />
B) permitir o sonho.<br />
C) denunciar o real.<br />
D) criar o belo.<br />
E) fugir da náusea.<br />
Comentário<br />
Temos aqui um dos pontos mais comuns<br />
abordados na obra de Veríssimo: a denúncia<br />
social. “(...) o menos que o escritor pode<br />
fazer, numa época de atrocidades e<br />
injustiças como a nossa, é acender sua<br />
lâmpada, fazer luz sobre a realidade de seu<br />
mundo, evitando que sobre ele caia a<br />
escuridão, propícia aos ladrões, aos<br />
assassinos e aos tiranos.”<br />
A literatura deve, como a luz, mostrar não<br />
só as belezas, mas também as feridas da<br />
sociedade, para que as tentemos sanar.<br />
Comentário do INEP<br />
Essa questão apresenta para leitura e<br />
análise um trecho de Solo de Clarineta, em<br />
que Érico Veríssimo relata uma experiência<br />
de juventude e dela constrói uma metáfora<br />
para revelar o que ele entende ser uma das<br />
funções essenciais da literatura. "Lâmpada",<br />
"vela", "fósforos" devem ser lidos como a<br />
palavra comprometida em traduzir a<br />
realidade do mundo. Ou seja, afirmar que o<br />
escritor deve "fazer luz sobre a realidade de<br />
seu mundo", nesse contexto, equivale a<br />
afirmar que um papel da literatura é<br />
denunciar o real. Todas as alternativas<br />
propostas referem-se a eventuais funções da<br />
literatura. Apenas a alternativa C é pertinente<br />
ao contexto e foi escolhida por cerca de<br />
metade dos participantes.<br />
<strong>10</strong>) (2001) Murilo Mendes, em um de seus<br />
poemas, dialoga com a carta de Pero Vaz<br />
de Caminha:<br />
“A terra é mui graciosa,<br />
Tão fértil eu nunca vi.<br />
A gente vai passear,<br />
No chão espeta um caniço,<br />
No dia seguinte nasce<br />
Bengala de castão de oiro.<br />
Tem goiabas, melancias,<br />
Banana que nem chuchu.<br />
Quanto aos bichos, tem-nos muito,<br />
De plumagens mui vistosas.<br />
Tem macaco até demais<br />
Diamantes tem à vontade<br />
Esmeralda é para os trouxas.<br />
Reforçai, Senhor, a arca,<br />
Cruzados não faltarão,<br />
Vossa perna encanareis,<br />
Salvo o devido respeito.<br />
Ficarei muito saudoso<br />
Se for embora daqui”.<br />
MENDES, Murilo. Murilo Mendes —<br />
poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.<br />
139
Arcaísmos e termos coloquiais misturamse<br />
nesse poema, criando um efeito de<br />
contraste, como ocorre em:<br />
A) A terra é mui graciosa / Tem macaco<br />
até demais.<br />
B) Salvo o devido respeito / Reforçai,<br />
Senhor, a arca<br />
C) A gente vai passear / Ficarei muito<br />
saudoso<br />
D) De plumagens mui vistosas / Bengala<br />
de castão de oiro<br />
E) No chão espeta um caniço / Diamantes<br />
tem à vontade<br />
Comentário<br />
Aqui, procuramos uma alternativa que<br />
apresente um trecho em linguagem coloquial<br />
e outro em linguagem arcaica.<br />
As alternativas B, C e E apresentam<br />
apenas a linguagem coloquial. A D, somente<br />
a arcaica.<br />
Sobra-nos a primeira alternativa: "A terra é<br />
mui graciosa" (mui é um arcaísmo); "tem<br />
macaco até demais" (linguagem coloquial).<br />
Comentário do INEP<br />
O efeito de paródia, explorado como<br />
recurso estilístico pelo autor desse poema,<br />
apresenta-se na utilização de expressões<br />
retomadas ora da carta de Pero Vaz de<br />
Caminha ora da linguagem coloquial corrente<br />
de época, gerando um efeito de humor<br />
crítico. Uma condição essencial para<br />
compreender o problema proposto nessa<br />
questão – identificar os arcaísmos e os<br />
coloquialismos existentes no poema – é<br />
conhecer o contexto de produção do texto e<br />
sua relação intratextual. Se o participante<br />
desconhece ou não considera o contexto<br />
histórico do poema, a identificação será<br />
parcial, já que o enunciado indica como<br />
pressuposto "a criação de um efeito de<br />
contraste" na utilização das expressões.<br />
Possivelmente a utilização de "contraste"<br />
como critério de interpretação justifica os<br />
percentuais de escolhas dos distratores. Uma<br />
outra possível explicação para esses<br />
percentuais deve-se ao fato de os<br />
participantes terem considerado apenas os<br />
termos "arcaísmo" e "coloquialismo" e, não<br />
tendo elementos para analisá-los,<br />
provavelmente deslocaram o texto do<br />
contexto e apoiaram-se em outros elementos<br />
para resolver a questão.<br />
11) (2008) Considerando o soneto de<br />
Cláudio Manoel da Costa e os elementos<br />
constitutivos do Arcadismo brasileiro,<br />
assinale a opção correta acerca da<br />
relação entre o poema e o momento<br />
histórico de sua produção.<br />
A) Os “montes” e “outeiros”, mencionados<br />
na primeira estrofe, são imagens<br />
relacionadas à Metrópole, ou seja, ao<br />
lugar onde o poeta se vestiu com traje<br />
“rico e fino”.<br />
B) A oposição entre a Colônia e a<br />
Metrópole, como núcleo do poema,<br />
revela uma contradição vivenciada pelo<br />
poeta, dividido entre a civilidade do<br />
mundo urbano da Metrópole e a<br />
rusticidade da terra da Colônia.<br />
C) O bucolismo presente nas imagens do<br />
poema é elemento estético do<br />
Arcadismo que evidencia a<br />
preocupação do poeta árcade em<br />
realizar uma representação literária<br />
realista da vida nacional.<br />
D) A relação de vantagem da “choupana”<br />
sobre a “Cidade”, na terceira estrofe, é<br />
formulação literária que reproduz a<br />
condição histórica paradoxalmente<br />
vantajosa da Colônia sobre a<br />
Metrópole.<br />
E) A realidade de atraso social, político e<br />
econômico do Brasil Colônia está<br />
representada esteticamente no poema<br />
pela referência, na última estrofe, à<br />
transformação do pranto em alegria.<br />
Comentário<br />
A questão exige conhecimento das<br />
características do Arcadismo. A principal<br />
delas, presente no texto, é o bucolismo,<br />
representado pela paisagem da colônia. Esta<br />
é apresentada em oposição à paisagem da<br />
cidade ou metrópole. O poeta, que participou<br />
da Inconfidência Mineira, viveu em Lisboa.<br />
Dessa forma, o termo “vivenciado” da<br />
alternativa "B" justifica a oposição campo x<br />
cidade apresentada no poema. Logo, só<br />
pode ser essa a alternativa correta.<br />
140
12) (2007)<br />
13) (1998) A discussão sobre gramática na<br />
classe está "quente". Será que os<br />
brasileiros sabem gramática? A<br />
professora de Português propõe para<br />
debate o seguinte texto:<br />
PRA MIM BRINCAR<br />
Não há nada mais gostoso do que o<br />
mim sujeito de verbo no infinito. Pra mim<br />
brincar. As cariocas que não sabem<br />
gramática falam assim. Todos os<br />
brasileiros deviam de querer falar como as<br />
cariocas que não sabem gramática.<br />
- As palavras mais feias da língua<br />
portuguesa são quiçá, alhures e miúde.<br />
(BANDEIRA, Manuel. Seleta em prosa e verso. Org:<br />
Emanuel de Moraes.4ª ed. Rio de Janeiro,<br />
José Olympio, 1986. Pág. 19)<br />
A antítese que configura uma imagem da<br />
divisão social do trabalho na sociedade<br />
brasileira é expressa poeticamente na<br />
oposição entre a doçura do branco açúcar<br />
e<br />
A) o trabalho do dono da mercearia de<br />
onde veio o açúcar.<br />
B) o beijo de moça, a água na pele e a flor<br />
que se dissolve na boca.<br />
C) o trabalho do dono do engenho em<br />
Pernambuco, onde se produz o açúcar.<br />
D) a beleza dos extensos canaviais que<br />
nascem no regaço do vale.<br />
E) o trabalho dos homens de vida<br />
amarga em usinas escuras.<br />
Comentário<br />
Questão de nível médio. O aluno deve<br />
perceber, na leitura do poema, várias<br />
antíteses. Entre elas, destaca-se a doçura do<br />
açúcar com a amargura da vida dos<br />
trabalhadores e a brancura dele com a<br />
escuridão das usinas. Porém, o grande<br />
destaque que o autor quer dar é o valor do<br />
trabalho do homem das usinas, que é o<br />
verdadeiro responsável pela produção do<br />
açúcar. Portanto, a alternativa E é a correta.<br />
Com a orientação da professora e após o<br />
debate sobre o texto de Manuel Bandeira,<br />
os alunos chegaram à seguinte conclusão:<br />
A) uma das propostas mais ousadas do<br />
Modernismo foi a busca da identidade<br />
do povo brasileiro e o registro, no texto<br />
literário, da diversidade das falas<br />
brasileiras.<br />
B) apesar de os modernistas registrarem<br />
as falas regionais do Brasil, ainda<br />
foram preconceituosos em relação às<br />
cariocas.<br />
C) a tradição dos valores portugueses foi<br />
a pauta temática do movimento<br />
modernista.<br />
D) Manuel Bandeira e os modernistas<br />
brasileiros exaltaram em seus textos o<br />
primitivismo da nação brasileira.<br />
E) Manuel Bandeira considera a<br />
diversidade dos falares brasileiros uma<br />
agressão à Língua Portuguesa.<br />
Comentário<br />
Para resolver essa questão, é<br />
importantíssimo dar atenção a quem foi o<br />
autor do texto do enunciado — Manuel<br />
Bandeira. Ele participou da primeira fase do<br />
Modernismo brasileiro, conhecida como<br />
geração de 22. Ela tinha, dentre diversas<br />
propostas, uma de fundamental importância<br />
para essa questão: a busca da identidade do<br />
povo brasileiro, valorizando a cultura, a<br />
intelectualidade e a sociedade do país. Entre<br />
essas questões, encontrava-se, com realce,<br />
a da língua brasileira. Buscava-se uma<br />
aproximação entre a língua escrita, herdada<br />
dos portugueses, e a nossa língua falada,<br />
dando-se preferência à linguagem oral. Com<br />
isso em mente, teremos a alternativa A como<br />
correta.<br />
141
14) (2007)<br />
uma realidade bastante dura no momento de<br />
sua chegada ao Brasil. Portanto, a alternativa<br />
correta é a letra C.<br />
15) (2005) Cândido Portinari (1903-1962), um<br />
dos mais importantes artistas brasileiros<br />
do século XX, tratou de diferentes<br />
aspectos da nossa realidade em seus<br />
quadros.<br />
Sobre a temática dos “Retirantes”,<br />
Portinari também escreveu o seguinte<br />
poema:<br />
142<br />
Levando-se em consideração o texto de<br />
Oswald de Andrade e a pintura de Antonio<br />
Rocco reproduzida acima, relativos à<br />
imigração européia para o Brasil, é correto<br />
afirmar que<br />
A) a visão da imigração presente na<br />
pintura é trágica e, no texto, otimista.<br />
B) a pintura confirma a visão do texto<br />
quanto à imigração de argentinos para<br />
o Brasil.<br />
C) os dois autores retratam dificuldades<br />
dos imigrantes na chegada ao Brasil.<br />
D) Antonio Rocco retrata de forma otimista<br />
a imigração, destacando o pioneirismo<br />
do imigrante.<br />
E) Oswald de Andrade mostra que a<br />
condição de vida do imigrante era<br />
melhor que a dos ex-escravos.<br />
Comentário<br />
Questão fácil. Pela comparação entre dois<br />
textos com linguagens diferentes, chega-se à<br />
conclusão de que os imigrantes enfrentaram<br />
(....)<br />
Os retirantes vêm vindo com trouxas e<br />
embrulhos<br />
Vêm das terras secas e escuras;<br />
pedregulhos<br />
Doloridos como fagulhas de carvão aceso<br />
Corpos disformes, uns panos sujos,<br />
Rasgados e sem cor, dependurados<br />
Homens de enorme ventre bojudo<br />
Mulheres com trouxas caídas para o lado<br />
Pançudas, carregando ao colo um garoto<br />
Choramingando, remelento<br />
(....)<br />
(Cândido Portinari. Poemas. Rio de Janeiro:<br />
J. Olympio, 1964.)<br />
Das quatro obras reproduzidas, assinale<br />
aquelas que abordam a problemática que<br />
é tema do poema.<br />
A) 1 e 2 D) 3 e 4<br />
B) 1 e 3 E) 2 e 4<br />
C) 2 e 3<br />
Comentário<br />
O poema apresenta correspondência com<br />
as imagens ao descrever com detalhes a<br />
figura do retirante: pobre, mal vestido,<br />
carregando trouxas e embrulhos.
16) (2001) Oxímoro (ou paradoxo) é uma<br />
construção textual que agrupa significados<br />
que se excluem mutuamente. Para<br />
Garfield, a frase de saudação de Jon<br />
(tirinha abaixo) expressa o maior de todos<br />
os oxímoros.<br />
17) (2000) “Poética”, de Manuel Bandeira, é<br />
quase um manifesto do movimento<br />
modernista brasileiro de 1922. No poema,<br />
o autor elabora críticas e propostas<br />
que representam o pensamento estético<br />
predominante na época.<br />
Poética<br />
Folha de S. Paulo. 31 de julho de 2000.<br />
Nas alternativas abaixo, estão transcritos<br />
versos retirados do poema “O operário em<br />
construção”. Pode-se afirmar que ocorre<br />
um oxímoro em<br />
A) "Era ele que erguia casas<br />
Onde antes só havia chão."<br />
B) "... a casa que ele fazia<br />
Sendo a sua liberdade<br />
Era a sua escravidão."<br />
C) "Naquela casa vazia<br />
Que ele mesmo levantara<br />
Um mundo novo nascia<br />
De que sequer suspeitava."<br />
D) "... o operário faz a coisa<br />
E a coisa faz o operário."<br />
E) "Ele, um humilde operário<br />
Um operário que sabia<br />
Exercer a profissão."<br />
MORAES, Vinícius de. Antologia Poética. São Paulo:<br />
Companhia das Letras, 1992.<br />
Comentário<br />
Idéias que se completam e se excluem<br />
mutuamente são encontradas na alternativa<br />
B: a casa que ele construía era, ao mesmo<br />
tempo, sua liberdade e sua escravidão.<br />
A casa é um símbolo de liberdade para o<br />
homem. Para o homem operário, é também<br />
símbolo de escravidão, pois ele está<br />
"condenado" a jamais usufruir do resultado<br />
do seu trabalho (a casa que faz não é para<br />
ele).<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão propõe ao participante que<br />
estabeleça uma relação entre linguagens,<br />
associando a compreensão de um efeito<br />
semântico produzido pelo uso do oxímoro<br />
nos quadrinhos com o mesmo efeito num<br />
texto poético. O índice (18%) de escolhas da<br />
alternativa D deve-se, possivelmente, a uma<br />
análise parcial da noção de paradoxo,<br />
confundida com inversão.<br />
Estou farto do lirismo comedido<br />
Do lirismo bem comportado<br />
Do lirismo funcionário público com livro de<br />
ponto expediente protocolo e<br />
[manifestações de apreço<br />
ao Sr. Diretor<br />
.<br />
Estou farto do lirismo que pára e vai<br />
averiguar no dicionário o<br />
[cunho vernáculo de um<br />
vocábulo<br />
Abaixo os puristas<br />
....................................................................<br />
Quero antes o lirismo dos loucos<br />
O lirismo dos bêbedos<br />
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos<br />
O lirismo dos clowns de Shakespeare<br />
— Não quero mais saber do lirismo que<br />
não é libertação.<br />
(BANDEIRA, Manuel. Poesia Completa e Prosa.<br />
Rio de Janeiro. Aguilar, 1974)<br />
Com base na leitura do poema, podemos<br />
afirmar corretamente que o poeta:<br />
A) critica o lirismo louco do movimento<br />
modernista.<br />
B) critica todo e qualquer lirismo na<br />
literatura.<br />
C) propõe o retorno ao lirismo do<br />
movimento clássico.<br />
D) propõe o retorno ao lirismo do<br />
movimento romântico.<br />
E) propõe a criação de um novo lirismo.<br />
Comentário<br />
Questão bastante inteligente. Para<br />
começar, Manuel Bandeira teve como marca<br />
de sua obra a busca de novas formas de<br />
expressão, sempre. Mesmo tendo escrito<br />
muitos sonetos (especialmente no início da<br />
carreira), adotou prazerosamente a rebeldia<br />
da poética modernista. A resposta pode estar<br />
centrada na análise de um único verso do<br />
poema. As alternativas de a a d ficam todas<br />
automaticamente descartadas pelo primeiro<br />
verso da segunda parte ("Quero antes o<br />
lirismo dos loucos"). Veja que quem prega<br />
143
um lirismo dos loucos e dos bêbedos não<br />
pode nem criticar o "lirismo louco" dos<br />
modernistas, como na alternativa a, ou<br />
propor que não haja lirismo, como na<br />
alternativa b. Tampouco pode querer o<br />
retorno à rigidez de forma e métrica da<br />
poesia clássica (lembre-se de Camões) ou<br />
romântica (Álvares de Azevedo, Castro<br />
Alves, Casimiro de Abreu). Propõe, sim, um<br />
novo tipo de lirismo. Vemos isso claramente<br />
se dermos atenção ao casamento do<br />
primeiro com o último verso da segunda<br />
parte ("Quero antes o lirismo dos loucos" /<br />
"—Não quero mais saber do lirismo que não<br />
é libertação").<br />
Comentário do INEP<br />
Um pouco mais da metade dos<br />
participantes (55 %) conseguiu identificar no<br />
texto a proposta estética do poeta e, em<br />
última análise, do próprio Modernismo. Os<br />
distratores com percentuais significativos de<br />
escolha foram apenas B e D. No primeiro<br />
caso, o tom de manifesto, incisivo e<br />
demolidor, do poema provavelmente induziu<br />
a opção. No segundo, a explicação se deve à<br />
possível relação que o participante<br />
estabeleceu entre o Modernismo e o<br />
Romantismo, que de fato existe, mas que<br />
não se aplica ao caso.<br />
Comentário<br />
O assunto da crônica de Rubem Braga foi<br />
uma informação colhida — o conhecimento<br />
que ele teve de uma entrevista dada por um<br />
viajante a um jornal. Essa informação foi<br />
apresentada por meio de uma narrativa<br />
sugestiva — uma história que ganha a<br />
atenção do leitor não por sua carga<br />
argumentativa ou pela precisão de suas<br />
descrições, mas por seu encaminhamento e<br />
fecho inusitados. A finalidade é provocar uma<br />
reflexão — por que quereria o índio fazer<br />
demonstração de uma ação que causa<br />
sofrimento à vítima, utilizando justamente um<br />
“oponente” que não lhe causara mal algum?<br />
Se algum sofrimento precisa ser causado<br />
para isso, que seja então a alguém que ao<br />
menos o pareça merecer.<br />
19) (2004)<br />
18) (2004)<br />
144<br />
O assunto de uma crônica pode ser uma<br />
experiência pessoal do cronista, uma<br />
informação obtida por ele ou um caso<br />
imaginário. O modo de apresentar o<br />
assunto também varia: pode ser uma<br />
descrição objetiva, uma exposição<br />
argumentativa ou uma narrativa sugestiva.<br />
Quanto à finalidade pretendida, pode-se<br />
promover uma reflexão, definir um<br />
sentimento ou tão-somente provocar um<br />
riso.<br />
Na crônica O jivaro, escrita a partir da<br />
reportagem de um jornal, Rubem Braga se<br />
vale dos seguinte elementos:<br />
No trecho "Montes Claros cresceu tanto,/<br />
(...),/ que já tem cinco favelas", a palavra<br />
que contribui para estabelecer uma<br />
relação de conseqüência. Dos seguintes<br />
versos, todos de Carlos Drummond de<br />
Andrade, apresentam esse mesmo tipo de<br />
relação:<br />
A) "Meu Deus, por que me abandonaste /<br />
se sabias que eu não era Deus / se<br />
sabias que eu era fraco."<br />
B) "No meio-dia branco de luz uma voz<br />
que aprendeu / a ninar nos longes da<br />
senzala – e nunca se esqueceu /<br />
chamava para o café."<br />
C) "Teus ombros suportam o mundo / e<br />
ele não pesa mais que a mão de uma<br />
criança."<br />
D) "A ausência é um estar em mim. / E<br />
sinto-a, branca, tão pegada,<br />
aconchegada nos meus braços, / que<br />
rio e danço e invento exclamações<br />
alegres."<br />
E) "Penetra surdamente no reino das<br />
palavras. / Lá estão os poemas que<br />
esperam ser escritos."
Comentário<br />
Da mesma forma que no poema do<br />
enunciado, a palavra “que” retoma o sentido<br />
consecutivo na alternativa D, relacionando o<br />
fato de o eu lírico estar tão apegado à<br />
ausência QUE ri e dança, em devaneio,<br />
exaltando a alegria. A idéia remete a um<br />
raciocínio de causa e conseqüência: estar<br />
tão apegado a algo QUE outra coisa ocorre.<br />
Na alternativa A, “que” indica a introdução<br />
de uma oração subordinada objetiva direta,<br />
ou seja, que dá a idéia de um complemento<br />
do verbo SABER.<br />
Na alternativa B, “que” caracteriza a<br />
palavra “voz”, introduzindo uma oração<br />
subordinada adjetiva restritiva: “A voz QUE<br />
aprendeu”.<br />
Na alternativa C, “que” assume um<br />
caráter comparativo (mais que).<br />
Finalmente, na letra E, “que” retoma a<br />
questão restritiva ocorrida na alternativa B.<br />
Nesse caso, contudo, refere-se aos “poemas<br />
QUE esperam ser escritos”, ou seja, àqueles<br />
poemas, especificamente.<br />
20) (2007)<br />
Aqui na floresta<br />
Dos ventos batida,<br />
Façanhas de bravos<br />
Não geram escravos,<br />
Que estimem a vida<br />
Sem guerra e lidar.<br />
— Ouvi-me, Guerreiros,<br />
— Ouvi meu cantar.<br />
O canto do guerreiro<br />
Valente na guerra,<br />
Quem há, como eu sou?<br />
Quem vibra o tacape<br />
Com mais valentia?<br />
Quem golpes daria<br />
Fatais, como eu dou?<br />
— Guerreiros, ouvi-me;<br />
— Quem há, como eu sou?<br />
Gonçalves Dias.<br />
Macunaíma<br />
(Epílogo)<br />
Acabou-se a história e morreu a vitória.<br />
Não havia mais ninguém lá. Dera<br />
tangolomângolo na tribo Tapanhumas e<br />
os filhos dela se acabaram de um em um.<br />
Não havia mais ninguém lá. Aqueles<br />
lugares, aqueles campos, furos<br />
puxadouros arrastadouros meiosbarrancos,<br />
aqueles matos misteriosos,<br />
tudo era solidão do deserto... Um silêncio<br />
imenso dormia à beira do rio Uraricoera.<br />
Nenhum conhecido sobre a terra não<br />
sabia nem falar da tribo nem contar<br />
aqueles casos tão pançudos. Quem podia<br />
saber do Herói?<br />
Mário de Andrade.<br />
A leitura comparativa dos dois textos<br />
acima indica que<br />
A) ambos têm como tema a figura do<br />
indígena brasileiro apresentada de<br />
forma realista e heróica, como símbolo<br />
máximo do nacionalismo romântico.<br />
B) a abordagem da temática adotada no<br />
texto escrito em versos é<br />
discriminatória em relação aos povos<br />
indígenas do Brasil.<br />
C) as perguntas “— Quem há, como eu<br />
sou?” (1.º texto) e “Quem podia saber<br />
do Herói?” (2.º texto) expressam<br />
diferentes visões da realidade indígena<br />
brasileira.<br />
D) o texto romântico, assim como o<br />
modernista, aborda o extermínio dos<br />
povos indígenas como resultado do<br />
processo de colonização no Brasil.<br />
E) os versos em primeira pessoa revelam<br />
que os indígenas podiam expressar-se<br />
poeticamente, mas foram silenciados<br />
pela colonização, como demonstra a<br />
presença do narrador, no segundo<br />
texto.<br />
Comentário<br />
Questão de nível médio. Essa questão<br />
exige conhecimento prévio dos movimentos<br />
literários de cada autor. No primeiro, O canto<br />
do Guerreiro, de Gonçalves Dias, pertence<br />
ao Romantismo. Nesse período, a figura do<br />
índio aparece como protagonista, sempre<br />
idealizado e visto como um perfeito herói. Já<br />
no texto Macunaíma, de Mário de Andrade,<br />
levando em conta a característica do<br />
Modernismo, o índio também é protagonista,<br />
mas, por sua vez, há a predominância de um<br />
nacionalismo crítico e realista. Com base<br />
nessas considerações, consegue-se<br />
chegar à conclusão de que a alternativa C é<br />
a correta. Essa alternativa mostra que, por<br />
trás dos textos, há duas visões diferentes da<br />
realidade indígena brasileira, representadas<br />
pelas características dos dois diferentes<br />
estilos de época.<br />
21) (2003) Eu começaria dizendo que poesia<br />
é uma questão de linguagem. A<br />
importância do poeta é que ele torna mais<br />
viva a linguagem. Carlos Drummond de<br />
Andrade escreveu um dos mais belos<br />
versos da língua portuguesa com duas<br />
palavras comuns: cão e cheirando.<br />
Um cão cheirando o futuro<br />
(Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP, 24/05/1988.<br />
adaptação)<br />
O que deu ao verso de Drummond o<br />
caráter de inovador da língua foi<br />
A) o modo raro como foi tratado o<br />
"futuro".<br />
145
B) a referência ao cão como "animal de<br />
estimação".<br />
C) a flexão pouco comum do verbo<br />
"cheirar" (gerúndio).<br />
D) a aproximação não usual do agente<br />
citado e a ação de "cheirar".<br />
E) o emprego do artigo indefinido "um" e<br />
do artigo definido "o" na mesma frase.<br />
Comentário<br />
O fato de Drummond identificar o futuro<br />
como algo que pode ser percebido por um<br />
animal irracional por meio do olfato foi<br />
inovador. A figura de linguagem foi<br />
construída metaforicamente: o futuro torna-se<br />
uma coisa que tem cheiro, contrariamente à<br />
imagem pela qual ele normalmente é<br />
representado: como algo que não se vê e<br />
não se pode pressentir ou tocar.<br />
22) (2003) Epígrafe*<br />
Murmúrio de água na clepsidra**<br />
gotejante,<br />
Lentas gotas de som no relógio da torre,<br />
Fio de areia na ampulheta vigilante,<br />
Leve sombra azulando a pedra do<br />
quadrante***<br />
Assim se escoa a hora, assim se vive e<br />
morre...<br />
Homem, que fazes tu? Para que tanta<br />
lida,<br />
Tão doidas ambições, tanto ódio e tanta<br />
ameaça?<br />
Procuremos somente a Beleza, que a vida<br />
É um punhado infantil de areia<br />
ressequida,<br />
Um som de água ou de bronze e uma<br />
sombra que passa...<br />
(Eugênio de Castro. Antologia pessoal da poesia<br />
portuguesa)<br />
(*) Epígrafe: inscrição colocada no ponto<br />
mais alto; tema.<br />
(**) Clepsidra: relógio de água.<br />
(***) Pedra do quadrante: parte superior<br />
de um relógio de sol.<br />
A imagem contida em "lentas gotas de<br />
som" (verso 2) é retomada na segunda<br />
estrofe por meio da expressão:<br />
A) tanta ameaça.<br />
B) som de bronze.<br />
C) punhado de areia.<br />
D) sombra que passa.<br />
E) somente a Beleza.<br />
Comentário<br />
Numa clepsidra (relógio de água), o som<br />
do gotejamento lembra-nos o tic-tac de um<br />
relógio comum ou o som do sino que marca<br />
as horas no “relógio da torre” (verso 2,<br />
estrofe 1).<br />
Na segunda estrofe, o quinto verso<br />
refere-se a “Um som de água ou de<br />
bronze...” e nos remete, pelo “som de<br />
bronze”, ao som do sino que marca as horas<br />
no relógio da torre (os sinos normalmente<br />
eram feitos de bronze).<br />
23) (2003) Epígrafe*<br />
Murmúrio de água na clepsidra**<br />
gotejante,<br />
Lentas gotas de som no relógio da torre,<br />
Fio de areia na ampulheta vigilante,<br />
Leve sombra azulando a pedra do<br />
quadrante***<br />
Assim se escoa a hora, assim se vive e<br />
morre...<br />
Homem, que fazes tu? Para que tanta<br />
lida,<br />
Tão doidas ambições, tanto ódio e tanta<br />
ameaça?<br />
Procuremos somente a Beleza, que a vida<br />
É um punhado infantil de areia<br />
ressequida,<br />
Um som de água ou de bronze e uma<br />
sombra que passa...<br />
(Eugênio de Castro. Antologia pessoal da poesia<br />
portuguesa)<br />
(*) Epígrafe: inscrição colocada no ponto<br />
mais alto; tema.<br />
(**) Clepsidra: relógio de água.<br />
(***) Pedra do quadrante: parte superior<br />
de um relógio de sol.<br />
Neste poema, o que leva o poeta a<br />
questionar determinadas ações humanas<br />
(versos 6 e 7) é a<br />
A) infantilidade do ser humano.<br />
B) destruição da natureza.<br />
C) exaltação da violência.<br />
D) inutilidade do trabalho.<br />
E) brevidade da vida.<br />
Comentário<br />
A resposta desta questão está nos últimos<br />
versos (8 a <strong>10</strong>):<br />
“Procuremos somente a Beleza, que a<br />
vida<br />
É um punhado de areia ressequida,<br />
Um som de água ou de bronze e uma<br />
sombra que passa...”<br />
146
Neles, a vida aparece em relação ao<br />
tempo, que passa de forma rápida: “areia<br />
ressequida” (como nas ampulhetas), “som de<br />
água ou de bronze” (clepsidra ou sino da<br />
torre) e, mais que tudo, “uma sombra que<br />
passa...” (algo tênue e de curta duração).<br />
24) (2003) A velha Totonha de quando em<br />
vez batia no engenho. E era um<br />
acontecimento para a meninada. (...)<br />
andava léguas e léguas a pé, de engenho<br />
a engenho, como uma edição viva das<br />
histórias de Mil e Uma Noites (...) era uma<br />
grande artista para dramatizar. Tinha uma<br />
memória de prodígio. Recitava contos<br />
inteiros em versos, intercalando pedaços<br />
de prosa, como notas explicativas. (...)<br />
Havia sempre rei e rainha, nos seus<br />
contos, e forca e adivinhações. O que<br />
fazia a velha Totonha mais curiosa era a<br />
cor local que ela punha nos seus<br />
descritivos. (...) Os rios e as florestas por<br />
onde andavam os seus personagens se<br />
pareciam muito com o Paraíba e a Mata<br />
do Rolo. O seu Barba-Azul era um senhor<br />
de engenho de Pernambuco.<br />
(José Lins do Rego. Menino de engenho)<br />
A cor local que a personagem velha<br />
Totonha colocava em suas histórias é<br />
ilustrada, pelo autor, na seguinte<br />
passagem:<br />
A) "O seu Barba-Azul era um senhor de<br />
engenho de Pernambuco".<br />
B) "Havia sempre rei e rainha, nos seus<br />
contos, e forca e adivinhações".<br />
C) "Era uma grande artista para<br />
dramatizar. Tinha uma memória de<br />
prodígio".<br />
D) "Andava léguas e léguas a pé, como<br />
uma edição viva das Mil e Uma Noites".<br />
E) "Recitava contos inteiros em versos,<br />
intercalando pedaços de prosa, como<br />
notas explicativas".<br />
Comentário<br />
Por ser escritor da 2.ª Geração<br />
Modernista, José Lins do Rego ilustra, de<br />
forma evidente, o regionalismo — marca<br />
característica desse momento literário.<br />
Portanto, para localizar a “cor local”<br />
presente no texto, basta procurar a<br />
associação regionalista, que é retratada de<br />
forma explícita pela passagem “senhor de<br />
engenho de Pernambuco.”<br />
A questão não abre espaço para dúvidas.<br />
25) (2003) Pequenos tormentos da vida<br />
De cada lado da sala de aula, pelas janelas<br />
altas, o azul convida os meninos,<br />
as nuvens desenrolam-se, lentas como quem<br />
vai inventando<br />
preguiçosamente uma história sem fim...Sem<br />
fim é a aula: e nada acontece,<br />
nada...Bocejos e moscas. Se ao menos,<br />
pensa Margarida, se ao menos um<br />
avião entrasse por uma janela e saísse por<br />
outra!<br />
(Mário Quintana. Poesias)<br />
Na cena retratada no texto, o sentimento<br />
do tédio<br />
A) provoca que os meninos fiquem<br />
contando histórias.<br />
B) leva os alunos a simularem bocejos,<br />
em protesto contra a monotonia da<br />
aula.<br />
C) acaba estimulando a fantasia,<br />
criando a expectativa de algum<br />
imprevisto mágico.<br />
D) prevalece de modo absoluto,<br />
impedindo até mesmo a distração ou o<br />
exercício do pensamento.<br />
E) decorre da morosidade da aula, em<br />
contraste com o movimento acelerado<br />
das nuvens e das moscas.<br />
Comentário<br />
Essa questão aborda o imaginário<br />
decorrente do marasmo trazido pela escola.<br />
O texto enfatiza o arrastar do tempo na<br />
mente de uma aluna, Margarida, que se põe<br />
a pensar em fatos mágicos ou imaginários<br />
que pudessem romper com a lentidão da<br />
aula.<br />
26) (1998) Amor é fogo que arde sem ver;<br />
é ferida que dói e não se sente;<br />
é um contentamento descontente;<br />
é dor que desatina sem doer.<br />
É um não querer mais que bem querer;<br />
é solitário andar por entre a gente;<br />
é nunca contentar-se de contente;<br />
é cuidar que se ganha em se perder.<br />
É querer estar preso por vontade;<br />
é servir a quem vence, o vencedor;<br />
é ter com quem nos mata lealdade.<br />
Mas como causar pode seu favor<br />
nos corações humanos amizade<br />
se tão contrário a si é o mesmo Amor?<br />
(Luís de Camões. In: Obras Completas de Camões, Lisboa,<br />
Livraria Sá da Costa, Vol. 1, 1954, p.232)<br />
O poema tem, como característica, a<br />
figura de linguagem denominada antítese,<br />
relação de oposição de palavras ou idéias.<br />
147
Assinale a opção em que essa oposição<br />
se faz claramente presente.<br />
A) "Amor é fogo que arde sem se ver."<br />
B) "É um contentamento descontente."<br />
C) "É servir a quem se vence, o<br />
vencedor."<br />
D) "Mas como causar pode seu favor."<br />
E) "Se tão contrário a si é o mesmo<br />
Amor?"<br />
Comentário<br />
A antítese é uma figura de linguagem que<br />
se caracteriza por colocar, lado a lado,<br />
imagens opostas que se contradizem. De<br />
todas as alternativas, a única que traz<br />
claramente uma contradição é a B, pois<br />
como pode existir um contentamento<br />
descontente?<br />
27) (1998) Amor é fogo que arde sem ver;<br />
é ferida que dói e não se sente;<br />
é um contentamento descontente;<br />
é dor que desatina sem doer.<br />
É um não querer mais que bem querer;<br />
é solitário andar por entre a gente;<br />
é nunca contentar-se de contente;<br />
é cuidar que se ganha em se perder.<br />
É querer estar preso por vontade;<br />
é servir a quem vence, o vencedor;<br />
é ter com quem nos mata lealdade.<br />
Mas como causar pode seu favor<br />
nos corações humanos amizade<br />
se tão contrário a si é o mesmo Amor?<br />
(Luís de Camões. In: Obras Completas de Camões, Lisboa,<br />
Livraria Sá da Costa, Vol. 1, 1954, p.232)<br />
O poema pode ser considerado como um<br />
texto:<br />
A) argumentativo.<br />
B) narrativo.<br />
C) épico.<br />
D) de propaganda.<br />
E) teatral.<br />
Comentário<br />
Podemos considerar esse texto como<br />
argumentativo, pois ele vai embasando a sua<br />
idéia sobre o que é o amor. O texto narrativo<br />
conta uma história, assim como o épico, que<br />
conta histórias de caráter heróico. Camões,<br />
nesse texto, não está preocupado em fazer<br />
propaganda do amor, mas, sim, em<br />
compreendê-lo. E, para terminar, esse texto<br />
não foi feito para ser encenado em palco<br />
como um texto teatral.<br />
28) (2001) O trecho a seguir é parte do<br />
poema “Mocidade e morte”, do poeta<br />
romântico Castro Alves:<br />
Oh! eu quero viver, beber perfumes<br />
Na flor silvestre, que embalsama os ares;<br />
Ver minh'alma adejar pelo infinito,<br />
Qual branca vela n'amplidão dos mares.<br />
No seio da mulher há tanto aroma...<br />
Nos seus beijos de fogo há tanta vida...<br />
– Árabe errante, vou dormir à tarde<br />
À sombra fresca da palmeira erguida.<br />
Mas uma voz responde-me sombria:<br />
Terás o sono sob a lájea fria.<br />
ALVES, Castro. Os melhores poemas de Castro Alves.<br />
Seleção de Lêdo Ivo. São Paulo: Global, 1983.<br />
Esse poema, como o próprio título sugere,<br />
aborda o inconformismo do poeta com a<br />
antevisão da morte prematura, ainda na<br />
juventude.<br />
A imagem da morte aparece na palavra<br />
A) embalsama. D) dormir.<br />
B) infinito. E) sono.<br />
C) amplidão.<br />
Comentário<br />
No último verso, temos a expressão "sono<br />
sob a lájea fria". Dormir sob uma lájea fria? O<br />
trecho indica sepulcro. Portanto, nesse caso,<br />
sono = morte.<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão apresenta, para a leitura,<br />
uma parte do poema "Mocidade e morte", do<br />
poeta romântico Castro Alves. Nesse trecho,<br />
o poeta aborda o inconformismo com a<br />
antevisão da morte prematura. O problema<br />
apresenta-se sob a forma de identificação de<br />
uma palavra no trecho que represente a idéia<br />
de morte. Na primeira estrofe, há uma<br />
apologia à vida, contrastando com a segunda<br />
estrofe, em que se anuncia a morte, idéia<br />
introduzida pela conjunção mas, um divisor<br />
entre as estrofes. A compreensão dos<br />
elementos intratextuais e formais faz com<br />
que a identificação da imagem ocorra na<br />
segunda estrofe. As palavras indicadas nas<br />
alternativas, descontextualizadas, podem<br />
sugerir a idéia de morte como interpretação,<br />
mas não se sustentam na representação do<br />
poema. A leitura global do texto, seguida por<br />
uma compreensão das relações entre as<br />
imagens propostas, é a chave para a<br />
resposta correta, assinalada por 62% dos<br />
participantes.<br />
148
29) (2008)<br />
Exame, 28/9/2007.<br />
Entre os seguintes ditos populares, qual<br />
deles melhor corresponde à figura<br />
acima?<br />
A) Com perseverança, tudo se alcança.<br />
B) Cada macaco no seu galho.<br />
C) Nem tudo que balança cai.<br />
D) Quem tudo quer, tudo perde.<br />
E) Deus ajuda quem cedo madruga.<br />
Comentário<br />
Assim como a questão 37, esta também<br />
envolve interpretação de signos, ou seja, o<br />
aluno precisa estar atento à imagem e<br />
relacioná-la ao dito popular correspondente.<br />
A alternativa "A" é a correta, pois, para<br />
uma lesma “grudenta” e vagarosa conseguir<br />
pular numa cama elástica, é necessária<br />
muita perseverança.<br />
30) (2001) No trecho abaixo, o narrador, ao<br />
descrever a personagem, critica<br />
sutilmente um outro estilo de época: o<br />
romantismo.<br />
“Naquele tempo contava apenas uns<br />
quinze ou dezesseis anos; era talvez a<br />
mais atrevida criatura da nossa raça, e,<br />
com certeza, a mais voluntariosa. Não<br />
digo que já lhe coubesse a primazia da<br />
beleza, entre as mocinhas do tempo,<br />
porque isto não é romance, em que o<br />
autor sobredoura a realidade e fecha os<br />
olhos às sardas e espinhas; mas também<br />
não digo que lhe maculasse o rosto<br />
nenhuma sarda ou espinha, não. Era<br />
bonita, fresca, saía das mãos da natureza,<br />
cheia daquele feitiço, precário e eterno,<br />
que o indivíduo passa a outro indivíduo,<br />
para os fins secretos da criação.”<br />
ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de<br />
Brás Cubas. Rio de Janeiro: Jackson,1957.<br />
A frase do texto em que se percebe a<br />
crítica do narrador ao romantismo está<br />
transcrita na alternativa:<br />
A) ... o autor sobredoura a realidade e<br />
fecha os olhos às sardas e espinhas ...<br />
B) ... era talvez a mais atrevida criatura da<br />
nossa raça ...<br />
C) Era bonita, fresca, saía das mãos da<br />
natureza, cheia daquele feitiço,<br />
precário e eterno, ...<br />
D) Naquele tempo contava apenas uns<br />
quinze ou dezesseis anos ...<br />
E) ... o indivíduo passa a outro indivíduo,<br />
para os fins secretos da criação.<br />
Comentário<br />
Questão muito fácil que pode ser<br />
respondida com a simples leitura do texto.<br />
Machado de Assis critica a supervalorização<br />
e idealização das personagens do<br />
Romantismo. Tal crítica fica clara na<br />
alternativa A.<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão apresenta para leitura e<br />
análise um trecho de Memórias de Brás<br />
Cubas, de Machado de Assis. Nesse texto, o<br />
narrador realiza um comentário sobre o<br />
"romance romântico", criticando uma de suas<br />
características. O problema proposto trata<br />
da identificação dessa passagem no texto. O<br />
participante deve reconhecer no texto as<br />
características do "romance romântico" e<br />
associá-la à crítica do narrador. As<br />
alternativas propõem passagens que podem<br />
ser associadas ao romantismo em contexto<br />
extratextual, sendo que, em apenas uma<br />
delas, há a relação entre contexto/texto. Mais<br />
da metade (54%) dos participantes identificou<br />
corretamente a passagem no texto.<br />
31) (1999) Leia o que disse João Cabral de<br />
Melo Neto, poeta pernambucano, sobre a<br />
função de seus textos:<br />
"Falo somente com o que falo: a<br />
linguagem enxuta, contato denso; falo<br />
somente do que falo: a vida seca, áspera<br />
e clara do sertão; falo somente por quem<br />
falo: o homem sertanejo sobrevivendo na<br />
adversidade e na míngua. Falo somente<br />
para quem falo: para os que precisam ser<br />
alertados para a situação da miséria no<br />
Nordeste."<br />
Para João Cabral de Melo Neto, no texto<br />
literário:<br />
A) a linguagem do texto deve refletir o<br />
tema, e a fala do autor deve denunciar<br />
o fato social para determinados<br />
leitores.<br />
149
150<br />
B) a linguagem do texto não deve ter<br />
relação com o tema, e o autor deve ser<br />
imparcial para que seu texto seja lido.<br />
C) o escritor deve saber separar a<br />
linguagem do tema e a perspectiva<br />
pessoal da perspectiva do leitor.<br />
D) a linguagem pode ser separada do<br />
tema, e o escritor deve ser o delator do<br />
fato social para todos os leitores.<br />
E) a linguagem está além do tema, e o<br />
fato social deve ser a proposta do<br />
escritor para convencer o leitor.<br />
Comentário<br />
João Cabral mostrou, no comentário, que<br />
seus textos são transparentes na relação<br />
linguagem—tema. Ele não gosta de usar<br />
subterfúgios para passar sua mensagem<br />
("Falo somente com o que falo"), de desviarse<br />
do tema para assuntos que geralmente<br />
não fazem parte de seu interesse ("falo<br />
somente do que falo"), de fazer de si mesmo<br />
ou de seus personagens porta-vozes de<br />
outras pessoas ou classes sociais ("falo<br />
somente por quem falo") ou de dirigir-se a<br />
públicos que pouco proveito poderiam tirar de<br />
seus escritos ("falo somente para quem<br />
falo"). Essa ligação direta de tema e<br />
linguagem, somada à proposta de falar<br />
somente para quem se deve ou quer falar,<br />
justifica a resposta, sendo correta a<br />
alternativa A. Questão de nível médio.<br />
Comentário do INEP<br />
Para resolver essa questão, o participante<br />
deveria ser capaz de estabelecer a relação<br />
entre a linguagem, o tema e o interlocutor da<br />
escrita do autor, a partir das razões<br />
explicitadas no seu texto. Essas razões<br />
foram corretamente identificadas por mais da<br />
metade dos participantes.<br />
32) (2000) Em muitos jornais, encontramos<br />
charges, quadrinhos, ilustrações,<br />
inspirados nos fatos noticiados. Veja um<br />
exemplo:<br />
Jornal do Commercio , 22/8/93<br />
O texto que se refere a uma situação<br />
semelhante à que inspirou a charge é:<br />
A) Descansem o meu leito solitário<br />
Na floresta dos homens esquecida,<br />
À sombra de uma cruz, e escrevam nela<br />
– Foi poeta – sonhou – e amou na vida.<br />
(AZEVEDO, Álvares de . Poesias escolhidas . Rio de<br />
Janeiro/Brasília: José Aguilar/INL,1971)<br />
B) Essa cova em que estás<br />
Com palmos medida,<br />
é a conta menor<br />
que tiraste em vida.<br />
É de bom tamanho,<br />
Nem largo nem fundo,<br />
É a parte que te cabe<br />
deste latifúndio.<br />
(MELO NETO, João Cabral de. Morte e Vida Severina e<br />
outros poemas em voz alta . Rio de Janeiro: Sabiá, 1967)<br />
C) Medir é a medida<br />
mede<br />
A terra, medo do homem, a lavra;<br />
lavra<br />
duro campo, muito cerco, vária várzea.<br />
(CHAMIE, Mário. Sábado na hora da escutas. São<br />
Paulo: Summums, 1978)<br />
D) Vou contar para vocês<br />
um caso que sucedeu<br />
na Paraíba do Norte<br />
com um homem que se chamava<br />
Pedro João Boa-Morte,<br />
lavrador de Chapadinha:<br />
talvez tenha morte boa<br />
porque vida ele não tinha.<br />
(GULLAR, Ferreira. Toda poesia . Rio de Janeiro:<br />
Civilização Brasileira, 1983)<br />
E) Trago-te flores, – restos arrancados<br />
Da terra que nos viu passar<br />
E ora mortos nos deixa e separados.<br />
(ASSIS, Machado de. Obra completa . Rio de Janeiro:<br />
Nova Aguillar, 1986)<br />
Comentário<br />
Esta questão exige boa dose de reflexão.<br />
Antes de tudo, há que se notar que o título<br />
"Demarcação das terras indígenas" está<br />
ligado ironicamente à figura das covas<br />
comuns, anônimas (covas são as terras dos<br />
índios?). Procuramos, então, o trecho de<br />
poema que sirva como legenda à figura<br />
apresentada, mantendo também a ironia da<br />
relação. As alternativas a e e se descartam<br />
pelo lirismo romântico presente e, ainda<br />
mais, pela presença, na a, de elementos que<br />
não estão no universo conceitual indígena<br />
(cruz, poeta). A alternativa c não nos serve<br />
por estar tratando da dureza do trabalho com<br />
a terra, o que não é o tema da charge. Já a d<br />
não é adequada por estar introduzindo a<br />
discussão de fatos ocorridos na vida de um
único homem, provavelmente não-índio (até<br />
pelo nome João Boa-Morte). Fica-nos a<br />
alternativa b, que bem poderia servir de<br />
legenda à charge; se pensarmos nos<br />
sangrentos conflitos entre brancos e índios<br />
pela ocupação das terras indígenas<br />
demarcadas, nos quais os índios geralmente<br />
levam a pior, então nos servem bem os<br />
versos que apresenta.<br />
Comentário do INEP<br />
O alto índice de acerto (72 %) revelou a<br />
capacidade dos participantes de não só<br />
contextualizar o problema em foco mas<br />
também de estabelecer relações de sentido<br />
entre diferentes linguagens, ou seja, de lidar<br />
com a intertextualidade. As relações<br />
incorretas que foram estabelecidas,<br />
possivelmente, são devidas mais à falta de<br />
capacidade de contextualização do que de<br />
estabelecimento de relações temáticas.<br />
33) (2002) A leitura do poema Descrição da<br />
guerra em Guernica traz à lembrança o<br />
famoso quadro de Picasso.<br />
Entra pela janela<br />
o anjo camponês;<br />
com a terceira luz na mão;<br />
minucioso, habituado<br />
aos interiores de cereal,<br />
aos utensílios que dormem na fuligem;<br />
os seus olhos rurais<br />
não compreendem bem os símbolos<br />
desta colheita: hélices,<br />
motores furiosos;<br />
e estende mais o braço; planta<br />
no ar, como uma árvore<br />
a chama do candeeiro.<br />
(...)<br />
Carlos de Oliveira in ANDRADE, Eugénio. Antologia<br />
Pessoal da Poesia Portuguesa. Porto: Campo das<br />
Letras, 1999.<br />
Uma análise cuidadosa do quadro permite<br />
que se identifiquem as cenas referidas<br />
nos trechos do poema.<br />
A) a1, a2, a3 D) c1, c2, c3<br />
B) f1, e1, d1 E) e1, e2, e3<br />
C) e1, d1, c1<br />
Comentário<br />
Questão de nível médio. O que precisava<br />
ser feito era encontrar figuras do poema<br />
dentro do quadro. O que se descreve nos<br />
versos 1 e 2 (o anjo camponês que entra<br />
pela janela) está no quadrante e1 (ver a<br />
janela). Nos três últimos versos, há mais<br />
duas imagens: estende mais o braço — d1;<br />
chama do candeeiro — c1.<br />
Comentário do INEP<br />
O trecho do poema "Descrição da guerra<br />
em Guernica", transcrito na prova, cria para o<br />
participante uma interessante relação<br />
intertextual: o poeta Carlos de Oliveira<br />
propõe uma leitura interpretativa do<br />
conhecido quadro de Pablo Picasso. Além do<br />
poema, o quadro de Picasso foi também<br />
reproduzido na questão, de modo a permitir<br />
que o aluno tivesse condições de "ler" essa<br />
obra de arte e nela reconhecer as referências<br />
criadas pelo texto de Carlos de Oliveira. Os<br />
primeiros versos do poema fazem referência<br />
à entrada de um "anjo camponês" pela<br />
janela. No quadro, essa imagem pode ser<br />
identificada no quadro e1. Mais adiante, os<br />
versos aludem a um braço estendido que<br />
"planta/ no ar.../ a chama do candeeiro". Para<br />
compreender a metáfora criada, o<br />
participante deveria perceber, em primeiro<br />
lugar, que o braço estendido seria do anjo<br />
camponês, identificado no quadro e1. Esse<br />
reconhecimento daria a chave de resposta da<br />
questão, porque permitiria que a imagem da<br />
entrada do anjo com o braço estendido<br />
portando um candeeiro fosse associada aos<br />
quadros e1, d1, c1 , contidos na alternativa<br />
C, assinalada por cerca de metade dos<br />
participantes.<br />
Podem ser relacionadas ao texto lido as<br />
partes:<br />
151
34) (2008) São Paulo vai se recensear. O<br />
governo quer saber quantas pessoas<br />
governa. A indagação atingirá a fauna e a<br />
flora domesticadas. Bois, mulheres e<br />
algodoeiros serão reduzidos a números e<br />
invertidos em estatísticas. O homem do<br />
censo entrará pelos bangalôs, pelas<br />
pensões, pelas casas de barro e de<br />
cimento armado, pelo sobradinho e pelo<br />
apartamento, pelo cortiço e pelo hotel,<br />
perguntando:<br />
— Quantos são aqui?<br />
Pergunta triste, de resto. Um homem dirá:<br />
— Aqui havia mulheres e criancinhas.<br />
Agora, felizmente, só há pulgas e ratos.<br />
E outro:<br />
— Amigo, tenho aqui esta mulher, este<br />
papagaio, esta sogra e algumas baratas.<br />
Tome nota dos seus nomes, se quiser.<br />
Querendo levar todos, é favor... (...)<br />
E outro:<br />
— Dois, cidadão, somos dois.<br />
Naturalmente o sr. não a vê. Mas ela está<br />
aqui, está, está! A sua saudade jamais<br />
sairá de meu quarto e de meu peito!<br />
Rubem Braga. Para gostar de ler. v. 3.<br />
São Paulo: Ática, 1998, p. 32-3 (fragmento).<br />
O fragmento acima, em que há referência<br />
a um fato sócio-histórico — o<br />
recenseamento —, apresenta<br />
característica marcante do gênero crônica<br />
ao<br />
A) expressar o tema de forma abstrata,<br />
evocando imagens e buscando<br />
apresentar a idéia de uma coisa por<br />
meio de outra.<br />
B) manter-se fiel aos acontecimentos,<br />
retratando os personagens em um só<br />
tempo e um só espaço.<br />
C) contar história centrada na solução de<br />
um enigma, construindo os<br />
personagens psicologicamente e<br />
revelando-os pouco a pouco.<br />
D) evocar, de maneira satírica, a vida na<br />
cidade, visando transmitir<br />
ensinamentos práticos do cotidiano,<br />
para manter as pessoas informadas.<br />
E) valer-se de tema do cotidiano como<br />
ponto de partida para a construção de<br />
texto que recebe tratamento estético.<br />
Comentário<br />
A questão correta é a E, pois a crônica<br />
utiliza a linguagem estética ou poética para<br />
expor temas do cotidiano. Há uma<br />
preocupação com a escolha das palavras<br />
que são rebuscadas e ritmadas, ou seja, a<br />
função da linguagem é poética.<br />
35) (1999) Quem não passou pela<br />
experiência de estar lendo um texto e<br />
defrontar-se com passagens já lidas em<br />
outros? Os textos conversam entre si em<br />
um diálogo constante. Esse fenômeno tem<br />
a denominação de intertextualidade. Leia<br />
os seguintes textos:<br />
I. Quando nasci, um anjo torto<br />
Desses que vivem na sombra<br />
Disse: Vai Carlos! Ser "gauche" na vida<br />
(Andrade, Carlos Drummond de. Alguma poesia.<br />
Rio de Janeiro: Aguilar, 1964)<br />
II. Quando nasci veio um anjo safado<br />
O chato dum querubim<br />
E decretou que eu tava predestinado<br />
A ser errado assim<br />
Já de saída a minha estrada entortou<br />
Mas vou até o fim.<br />
(BUARQUE, Chico. Letra e Música. São Paulo: Cia.<br />
das Letras, 1989)<br />
III. Quando nasci um anjo esbelto<br />
Desses que tocam trombeta, anunciou:<br />
Vai carregar bandeira.<br />
Carga muito pesada pra mulher<br />
Esta espécie ainda envergonhada<br />
(PRADO, Adélia. Bagagem. Rio de Janeiro:<br />
Guanabara, 1986)<br />
Adélia Prado e Chico Buarque<br />
estabelecem intertextualidade, em relação<br />
a Carlos Drummond de Andrade, por:<br />
A) reiteração de imagens.<br />
B) oposição de idéias.<br />
C) falta de criatividade.<br />
D) negação dos versos.<br />
E) ausência de recursos.<br />
Comentário<br />
Outra questão com resposta evidente. A<br />
recorrência à imagem do "anjo anunciador" e<br />
dos caminhos que se tornam sempre difíceis<br />
e tortuosos (gauche = acanhado, inepto),<br />
feita pelos três autores, elimina qualquer<br />
sombra de dúvida em relação às outras<br />
respostas. Questão de nível fácil.<br />
Comentário do INEP<br />
Para a resolução desse problema, era<br />
requerido que o participante soubesse<br />
identificar os elementos de intertextualidade<br />
entre três trechos de textos de diferentes<br />
autores.<br />
As duas primeiras alternativas,<br />
amplamente majoritárias, revelam<br />
possivelmente duas distintas percepções da<br />
questão. A alternativa correta A foi escolhida<br />
pelos que perceberam a ostensiva reiteração<br />
de imagens (repetição da imagem do anjo<br />
152
que vaticina). A alternativa B, incorreta, pode<br />
ter atraído muitos participantes à medida que<br />
tenham, talvez, identificado uma oposição de<br />
idéias, não entre os textos, mas entre a<br />
imagem usualmente positiva de anjo e uma<br />
certa adjetivação pejorativa utilizada em<br />
relação aos mesmos.<br />
36) (2005) Leia estes textos.<br />
Texto 1<br />
Comentário<br />
Enquanto o primeiro texto é ácido em<br />
relação à possibilidade de desarmamento da<br />
população (ou seja, à criação de uma<br />
sociedade mais pacífica), o segundo mostra<br />
a capacidade que a humanidade tem de crer<br />
e, por isso, tentar fazer até o que a princípio<br />
parece impossível. Para os autores da<br />
canção, nada é intrinsecamente impossível.<br />
A relação entre eles é de oposição:<br />
descrença x crença. Questão de nível de<br />
dificuldade médio.<br />
Texto 2<br />
Sonhar<br />
Mais um sonho impossível<br />
Lutar<br />
Quando é fácil ceder<br />
Vencer o inimigo invencível<br />
Negar quando a regra é vender<br />
Sofrer a tortura implacável<br />
Romper a incabível prisão<br />
Voar num limite improvável<br />
Tocar o inacessível chão<br />
É minha lei, é minha questão<br />
Virar esse mundo<br />
Cravar esse chão<br />
Não me importa saber<br />
Se é terrível demais<br />
Quantas guerras terei que vencer<br />
Por um pouco de paz<br />
E amanhã se esse chão que eu beijei<br />
For meu leito e perdão<br />
Vou saber que valeu delirar<br />
E morrer de paixão<br />
E assim, seja lá como for<br />
Vai ter fim a infinita aflição<br />
E o mundo vai ver uma flor<br />
Brotar do impossível chão.<br />
(J. Darione – M. Leigh – Versão de Chico Buarque de<br />
Hollanda e Ruy Guerra, 1972.)<br />
A tirinha e a canção apresentam uma<br />
reflexão sobre o futuro da humanidade. É<br />
correto concluir que os dois textos<br />
A) afirmam que o homem é capaz de<br />
alcançar a paz.<br />
B) concordam que o desarmamento é<br />
inatingível.<br />
C) julgam que o sonho é um desafio<br />
invencível.<br />
D) têm visões diferentes sobre um<br />
possível mundo melhor.<br />
E) transmitem uma mensagem de<br />
otimismo sobre a paz.<br />
37) (2005) Leia estes poemas.<br />
Texto 1 - Auto-retrato<br />
Provinciano que nunca soube<br />
Escolher bem uma gravata;<br />
Pernambucano a quem repugna<br />
A faca do pernambucano;<br />
Poeta ruim que na arte da prosa<br />
Envelheceu na infância da arte,<br />
E até mesmo escrevendo crônicas<br />
Ficou cronista de província;<br />
Arquiteto falhado, músico<br />
Falhado (engoliu um dia<br />
Um piano, mas o teclado<br />
Ficou de fora); sem família,<br />
Religião ou filosofia;<br />
Mal tendo a inquietação de espírito<br />
Que vem do sobrenatural,<br />
E em matéria de profissão<br />
Um tísico* profissional.<br />
(Manuel Bandeira. Poesia completa e prosa. Rio de<br />
Janeiro: Aguilar, 1983. p. 395.)<br />
Texto 2 - Poema de sete faces<br />
Quando eu nasci, um anjo torto<br />
desses que vivem na sombra<br />
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.<br />
As casas espiam os homens<br />
que correm atrás de mulheres.<br />
A tarde talvez fosse azul,<br />
não houvesse tantos desejos.<br />
(....)<br />
Meu Deus, por que me abandonaste<br />
se sabias que eu não era Deus<br />
se sabias que eu era fraco.<br />
Mundo mundo vasto mundo,<br />
se eu me chamasse Raimundo<br />
seria uma rima, não seria uma solução.<br />
Mundo mundo vasto mundo<br />
mais vasto é o meu coração.<br />
(Carlos Drummond de Andrade.<br />
Obra completa. Rio de Janeiro:<br />
Aguilar, 1964. p. 53.)<br />
(*) tísico=tuberculoso<br />
153
Esses poemas têm em comum o fato de<br />
A) descreverem aspectos físicos dos<br />
próprios autores.<br />
B) refletirem um sentimento pessimista.<br />
C) terem a doença como tema.<br />
D) narrarem a vida dos autores desde o<br />
nascimento.<br />
E) defenderem crenças religiosas.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Tanto o poema de<br />
Manuel Bandeira quanto o de Carlos<br />
Drummond de Andrade evidenciam, dentro<br />
do ponto de vista dos autores, características<br />
extremamente pessimistas em relação à vida<br />
e, conseqüentemente, à arte.<br />
38) (2003) A velha Totonha de quando em<br />
vez batia no engenho. E era um<br />
acontecimento para a meninada. (...)<br />
andava léguas e léguas a pé, de engenho<br />
a engenho, como uma edição viva das<br />
histórias de Mil e Uma Noites (...) era uma<br />
grande artista para dramatizar. Tinha uma<br />
memória de prodígio. Recitava contos<br />
inteiros em versos, intercalando pedaços<br />
de prosa, como notas explicativas. (...)<br />
Havia sempre rei e rainha, nos seus<br />
contos, e forca e adivinhações. O que<br />
fazia a velha Totonha mais curiosa era a<br />
cor local que ela punha nos seus<br />
descritivos. (...) Os rios e as florestas por<br />
onde andavam os seus personagens se<br />
pareciam muito com o Paraíba e a Mata<br />
do Rolo. O seu Barba-Azul era um senhor<br />
de engenho de Pernambuco.<br />
José Lins do Rego. Menino de Engenho. Rio de Janeiro:<br />
José Olympio, 1980, p. 49-51 (com adaptações).<br />
Na construção da personagem “velha<br />
Totonha”, é possível identificar traços que<br />
revelam marcas do processo de<br />
colonização e de civilização do país.<br />
Considerando o texto acima, infere-se que<br />
a velha Totonha<br />
A) tira o seu sustento da produção da<br />
literatura, apesar de suas condições de<br />
vida e de trabalho, que denotam que<br />
ela enfrenta situação econômica muito<br />
adversa.<br />
B) compõe, em suas histórias, narrativas<br />
épicas e realistas da história do país<br />
colonizado, livres da influência de<br />
temas e modelos não representativos<br />
da realidade nacional.<br />
C) retrata, na constituição do espaço dos<br />
contos, a civilização urbana européia<br />
em concomitância com a<br />
representação literária de engenhos,<br />
rios e florestas do Brasil.<br />
D) aproxima-se, ao incluir elementos<br />
fabulosos nos contos, do próprio<br />
romancista, o qual pretende retratar a<br />
realidade brasileira de forma tão<br />
grandiosa quanto a européia.<br />
E) imprime marcas da realidade local a<br />
suas narrativas, que têm como modelo<br />
e origem as fontes da literatura e da<br />
cultura européia universalizada.<br />
Comentário<br />
Esta questão exige conhecimentos de<br />
literatura universal. O aluno precisa saber<br />
que Barba-Azul é um personagem da cultura<br />
européia. Nas histórias de Totonha, ele é<br />
representado como um senhor de engenho<br />
de Pernambuco. Percebe-se aí a forte<br />
influência da colonização européia na<br />
realidade local. Logo, a alternativa correta é a<br />
letra "E".<br />
39) (2005) Leia estes poemas.<br />
Texto 1 - Auto-retrato<br />
Provinciano que nunca soube<br />
Escolher bem uma gravata;<br />
Pernambucano a quem repugna<br />
A faca do pernambucano;<br />
Poeta ruim que na arte da prosa<br />
Envelheceu na infância da arte,<br />
E até mesmo escrevendo crônicas<br />
Ficou cronista de província;<br />
Arquiteto falhado, músico<br />
Falhado (engoliu um dia<br />
Um piano, mas o teclado<br />
Ficou de fora); sem família,<br />
Religião ou filosofia;<br />
Mal tendo a inquietação de espírito<br />
Que vem do sobrenatural,<br />
E em matéria de profissão<br />
Um tísico* profissional.<br />
(Manuel Bandeira. Poesia completa e prosa. Rio de<br />
Janeiro: Aguilar, 1983. p. 395.)<br />
Texto 2 - Poema de sete faces<br />
Quando eu nasci, um anjo torto<br />
desses que vivem na sombra<br />
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.<br />
As casas espiam os homens<br />
que correm atrás de mulheres.<br />
A tarde talvez fosse azul,<br />
não houvesse tantos desejos.<br />
(....)<br />
Meu Deus, por que me abandonaste<br />
se sabias que eu não era Deus<br />
se sabias que eu era fraco.<br />
Mundo mundo vasto mundo,<br />
154
se eu me chamasse Raimundo<br />
seria uma rima, não seria uma solução.<br />
Mundo mundo vasto mundo<br />
mais vasto é o meu coração.<br />
(Carlos Drummond de Andrade.<br />
Obra completa. Rio de Janeiro:<br />
Aguilar, 1964. p. 53.)<br />
(*) tísico=tuberculoso<br />
No verso “Meu Deus, por que me<br />
abandonaste” do texto 2, Drummond<br />
retoma as palavras de Cristo, na cruz,<br />
pouco antes de morrer. Esse recurso de<br />
repetir palavras de outrem equivale a<br />
A) emprego de termos moralizantes.<br />
B) uso de vício de linguagem pouco<br />
tolerado.<br />
C) repetição desnecessária de idéias.<br />
D) emprego estilístico da fala de outra<br />
pessoa.<br />
E) uso de uma pergunta sem resposta.<br />
Comentário<br />
A citação, característica de intercambiar<br />
pensamentos de um texto para outro, fica<br />
bastante evidente no poema de Drummond.<br />
Ao retomar as palavras de Cristo, o autor<br />
deixa claro que sua idéia era transmitir uma<br />
mensagem por meio de palavras já<br />
proferidas por outra pessoa e cuja<br />
importância dá sentido a toda a estrofe.<br />
Comentário<br />
Questão reflexiva sobre a forma como<br />
cada cultura vê o mundo sob a ótica dos<br />
limites dados pelos seus costumes e<br />
possibilidades de pensamento inerentes a<br />
cada modelo cultural. A mistura de uma tira e<br />
de um poema amplia a possibilidade de<br />
pensamento por trabalhar com linguagens<br />
diferentes. A alternativa correta é a letra A,<br />
pois ambos (tira e poema) utilizam figuras de<br />
linguagem (metáfora e ironia) para expressar<br />
as diferentes visões de mundo.<br />
41) (2000) As histórias em quadrinhos, por<br />
vezes, utilizam animais como<br />
personagens e a eles atribuem<br />
comportamento humano. O gato Garfield<br />
é exemplo desse fato.<br />
Fonte: Caderno Vida e Arte, Jornal do Povo, Fortaleza<br />
Van Gogh, pintor holandês nascido em<br />
1853, é um dos principais nomes da<br />
pintura mundial. É dele o quadro abaixo.<br />
40) (2004)<br />
Auto-retrato de orelha cortada<br />
A tira "Hagar" e o poema de Alberto<br />
Caeiro (um dos heterônimos de Fernando<br />
Pessoa) expressam, com linguagens<br />
diferentes, uma mesma idéia: a de que a<br />
compreensão que temos do mundo é<br />
condicionada, essencialmente,<br />
A) pelo alcance de cada cultura.<br />
B) pela capacidade visual do observador.<br />
C) pelo senso de humor de cada um.<br />
D) pela idade do observador.<br />
E) pela altura do ponto de observação.<br />
O 3º quadrinho sugere que Garfield:<br />
A) desconhece tudo sobre arte, por isso<br />
faz a sugestão.<br />
B) acredita que todo pintor deve fazer algo<br />
diferente.<br />
C) defende que para ser pintor a pessoa<br />
tem de sofrer.<br />
D) conhece a história de um pintor<br />
famoso e faz uso da ironia.<br />
E) acredita que seu dono tenha tendência<br />
artística e, por isso, faz a sugestão.<br />
Comentário<br />
Outra questão de interpretação de texto.<br />
Muito simples para quem um dia ouviu falar<br />
de Van Gogh, e simplíssima para aqueles<br />
que prestam atenção em todos os elementos<br />
do enunciado. Afinal, quem deu uma<br />
espiadinha na legenda do quadro de Van<br />
Gogh matou na hora a questão.<br />
155
Esta questão é daquelas rápidas de serem<br />
resolvidas, associando-se os elementos<br />
apresentados.<br />
Comentário do INEP<br />
A significativa maioria (81%) dos<br />
participantes soube perceber o caráter<br />
irônico da fala do Garfield, expressa no<br />
terceiro quadrinho porque, ou conheciam a<br />
história de Van Gogh, ou apropriaram-se<br />
corretamente da informação sobre esse<br />
pintor, fornecida no enunciado.<br />
42) (1999) E considerei a glória de um pavão<br />
ostentando o esplendor de suas cores; é<br />
um luxo imperial. Mas andei lendo livros, e<br />
descobri que aquelas cores todas não<br />
existem na pena do pavão. Não há<br />
pigmentos. O que há são minúsculas<br />
bolhas d’água em que a luz se fragmenta,<br />
como em um prisma. O pavão é um arcoíris<br />
de plumas.<br />
Eu considerei que este é o luxo do<br />
grande artista, atingir o máximo de<br />
matizes com o mínimo de elementos. De<br />
água e luz ele faz seu esplendor; seu<br />
grande mistério é a simplicidade.<br />
Considerei, por fim, que assim é o<br />
amor, oh! Minha amada; de tudo que ele<br />
suscita e esplende e estremece e delira<br />
em mim existem apenas meus olhos<br />
recebendo a luz de teu olhar. Ele me<br />
cobre de glórias e me faz magnífico.<br />
(BRAGA, Rubem. Ai de ti, Copacabana. 20.ed.)<br />
156<br />
O poeta Carlos Drummond de Andrade<br />
escreveu assim sobre a obra de Rubem<br />
Braga:<br />
O que ele nos conta é o seu dia, o seu<br />
expediente de homem, apanhado no<br />
essencial, narrativa direta e econômica.<br />
(...) É o poeta do real, do palpável, que se<br />
vai diluindo em cisma. Dá o sentimento da<br />
realidade e o remédio para ela.<br />
Em seu texto, Rubem Braga afirma que<br />
"este é o luxo do grande artista, atingir o<br />
máximo de matizes com o mínimo de<br />
elementos". Afirmação semelhante pode<br />
ser encontrada no texto de Carlos<br />
Drummond de Andrade, quando, ao<br />
analisar a obra de Braga, diz que ela é:<br />
A) uma narrativa direta e econômica.<br />
B) real, palpável.<br />
C) sentimento de realidade.<br />
D) seu expediente de homem.<br />
E) seu remédio.<br />
Comentário<br />
A última questão da prova de Português<br />
exige uma releitura do texto de Rubem Braga<br />
para um melhor entendimento do que é<br />
proposto por Drummond. Ao afirmar que a<br />
escrita de Braga é "direta e econômica",<br />
Drummond remete à descoberta feita por<br />
Rubem Braga em relação às cores das<br />
penas do pavão: (...) e descobri que aquelas<br />
cores todas não existem na pena do pavão.<br />
Não há pigmentos. O que há são minúsculas<br />
bolhas d’água em que a luz se fragmenta,<br />
como em um prisma. O pavão é um arco-íris<br />
de plumas.(...) este é o luxo do grande<br />
artista, atingir o máximo de matizes com o<br />
mínimo de elementos.(...)<br />
Segundo Braga, a grande mágica em se<br />
fazer arte é conseguir se expressar da<br />
melhor maneira possível usando o mínimo de<br />
elementos (sejam palavras, cores, formas,<br />
etc.). Drummond parafraseia o comentário de<br />
Braga, dando ainda mais evidência à<br />
descoberta do primeiro. Temos, aí, a<br />
"narrativa direta e econômica". Questão de<br />
nível médio.<br />
Comentário do INEP<br />
Além da compreensão de dois textos, de<br />
autores diferentes, o problema examinou a<br />
capacidade dos participantes em estabelecer<br />
um diálogo entre os mesmos.<br />
A identificação do significado e a relação<br />
correta da afirmação de Drummond, com o<br />
trecho correspondente de Rubem Braga<br />
destacado no enunciado, foi feita por 44%<br />
dos participantes. As alternativas B, C e D<br />
correspondem à identificação de aspectos de<br />
certa forma comuns aos dois textos, embora<br />
os elementos neles apontados não se refiram<br />
ao trecho destacado.<br />
43) (2003)<br />
O texto aponta no quadro de Tarsila do<br />
Amaral um tema que também se encontra<br />
nos versos transcritos em:<br />
A) "Pensem nas meninas<br />
Cegas inexatas<br />
Pensem nas mulheres<br />
Rotas alteradas."<br />
(Vinícius de Moraes)
B) "Somos muitos severinos<br />
iguais em tudo e na sina:<br />
a de abrandar estas pedras<br />
suando-se muito em cima."<br />
(João Cabral de Melo Neto)<br />
C) "O funcionário público<br />
não cabe no poema<br />
com seu salário de fome<br />
sua vida fechada em arquivos."<br />
(Ferreira Gullar)<br />
D) "Não sou nada.<br />
Nunca serei nada.<br />
Não posso querer ser nada.<br />
À parte isso, tenho em mim todos os<br />
sonhos do mundo."<br />
(Fernando Pessoa)<br />
E) "Os inocentes do Leblon<br />
Não viram o navio entrar (...)<br />
Os inocentes, definitivamente inocentes<br />
tudo ignoravam,<br />
mas a areia é quente, e há um óleo<br />
suave<br />
que eles passam pelas costas, e<br />
aquecem."<br />
(Carlos Drummond de Andrade)<br />
Comentário<br />
Mais uma vez, o Exame Nacional do<br />
Ensino Médio procura relacionar análises de<br />
diferentes áreas da arte, misturando a pintura<br />
com a literatura. O quadro de Tarsila do<br />
Amaral “Operários” traz a imagem de vários<br />
rostos (de formatos, etnias e sexos<br />
diferentes) amontoados, tendo como pano de<br />
fundo as chaminés de uma fábrica.<br />
A questão deixa explícita a relação com<br />
os trechos literários que exaltam o<br />
proletariado, eliminando, já de cara, as<br />
alternativas A, D, e E.<br />
Ao se analisar a alternativa C, entretanto,<br />
percebe-se que a abordagem somente se<br />
relaciona com o funcionário público.<br />
Na letra B, o que se pode notar é que<br />
todas as pessoas “severinas” são iguais<br />
perante o sistema, niveladas por baixo e<br />
batalhadoras e que, sem privilégios ou<br />
distinções, são tratadas como mercadorias.<br />
44) (2009)<br />
A feição deles é serem pardos, maneira<br />
d’avermelhados, de bons rostos e bons<br />
narizes, bem feitos. Andam nus, sem<br />
nenhuma cobertura, nem estimam<br />
nenhuma cousa cobrir, nem mostrar suas<br />
vergonhas. E estão acerca disso com<br />
tanta inocência como têm em mostrar o<br />
rosto.<br />
CAMINHA, P. V. A carta. Disponível em:<br />
www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 12 ago. 2009.<br />
Ao se estabelecer uma relação entre a<br />
obra de Eckhout e o trecho do texto de<br />
Caminha, conclui-se que<br />
A) ambos se identificam pelas<br />
características estéticas marcantes,<br />
como tristeza e melancolia, do<br />
movimento romântico das artes<br />
plásticas.<br />
B) o artista, na pintura, foi fiel ao seu<br />
objeto, representando-o de maneira<br />
realista, ao passo que o texto é apenas<br />
fantasioso.<br />
C) a pintura e o texto têm uma<br />
característica em comum, que é<br />
representar o habitante das terras que<br />
sofreriam processo colonizador.<br />
D) o texto e a pintura são baseados no<br />
contraste entre a cultura europeia e a<br />
cultura indígena.<br />
E) há forte direcionamento religioso no<br />
texto e na pintura, uma vez que o índio<br />
representado é objeto da catequização<br />
jesuítica.<br />
Comentário<br />
(QUESTÃO: AZUL 112, BRANCA 113,<br />
ROSA 111)<br />
O trecho do texto de Caminha e o quadro<br />
de Eckhout apresentam, como características<br />
comuns, a descrição da figura indígena. Essa<br />
relação é facilmente detectada pelo aluno ao<br />
observar o trecho do texto: ele descreve o<br />
formato do rosto e do nariz, a cor da pele e o<br />
fato de andarem nus. Não apresenta nenhum<br />
comentário extra sobre isso. O quadro segue<br />
a mesma lógica: apresenta a figura do índio,<br />
seus enfeites e armas. A alternativa<br />
C apresenta essas informações e<br />
as complementa afirmando que esse grupo<br />
humano sofreria processo colonizador.<br />
Portanto, a alternativa correta é a C.<br />
ECKI-IOUT, A. "Índio Tapuia" (16<strong>10</strong>-1666). Disponível em:<br />
http://www.diaadia.pr.gov.br. Acesso em: 9 jul. 2009<br />
157
COMPETÊNCIA DE ÁREA 5<br />
H15 - Estabelecer relações entre<br />
o texto literário e o momento<br />
de sua produção, situando<br />
aspectos do contexto<br />
histórico, social e político.<br />
01) (2000) Ferreira Gullar, um dos grandes<br />
poetas brasileiros da atualidade, é autor<br />
de “Bicho urbano”, poema sobre a sua<br />
relação com as pequenas e grandes<br />
cidades.<br />
Bicho urbano<br />
Se disser que prefiro morar em Pirapemas<br />
ou em outra qualquer pequena cidade do<br />
país<br />
estou mentindo<br />
ainda que lá se possa de manhã<br />
lavar o rosto no orvalho<br />
e o pão preserve aquele branco<br />
sabor de alvorada.<br />
....................................................................<br />
A natureza me assusta.<br />
Com seus matos sombrios suas águas<br />
suas aves que são como aparições<br />
me assusta quase tanto quanto<br />
esse abismo<br />
de gases e de estrelas<br />
aberto sob minha cabeça.<br />
(GULLAR, Ferreira. Toda poesia. Rio de Janeiro:<br />
José Olympio Editora, 1991)<br />
Embora não opte por viver numa pequena<br />
cidade, o poeta reconhece elementos de<br />
valor no cotidiano das pequenas<br />
comunidades. Para expressar a relação<br />
do homem com alguns desses elementos,<br />
ele recorre à sinestesia, construção de<br />
linguagem em que se mesclam<br />
impressões sensoriais diversas. Assinale<br />
a opção em que se observa esse recurso.<br />
A) "e o pão preserve aquele branco /<br />
sabor de alvorada."<br />
B) "ainda que lá se possa de manhã /<br />
lavar o rosto no orvalho"<br />
C) "A natureza me assusta. / Com seus<br />
matos sombrios suas águas"<br />
D) "suas aves que são como aparições /<br />
me assusta quase tanto quanto"<br />
E) "me assusta quase tanto quanto / esse<br />
abismo / de gases e de estrelas"<br />
Comentário<br />
Para responder a esta questão, leia com<br />
muita atenção o enunciado. Nele encontra-se<br />
o conceito de sinestesia: construção de<br />
linguagem em que se mesclam impressões<br />
sensoriais diversas, ou seja, a associação de<br />
sensações diferentes numa mesma<br />
expressão.<br />
Você deve compreender o conceito de<br />
sinestesia e, pela lógica, encontrar o exemplo<br />
dessa figura de linguagem.<br />
A alternativa correta é a letra a, pois a<br />
expressão "branco sabor" associa o sentido<br />
da visão (branco) com o do paladar (sabor).<br />
Comentário do INEP<br />
A questão procurou verificar a capacidade<br />
do participante de construir o sentido de<br />
elementos textuais. A partir da noção de<br />
sinestesia, que lhe foi dada de maneira<br />
sucinta, ele teve de transpor para o texto<br />
essa mesma noção, manifestando sua<br />
competência textual. Pode-se classificar de<br />
'bom', o índice de acerto (53%), se<br />
considerarmos que a questão trabalhou com<br />
a função conotativa da linguagem, o que<br />
requer uma capacidade de leitura sempre<br />
mais desenvolvida. Os desvios, de forma<br />
mais acentuada na alternativa B, são<br />
explicáveis: as alternativas incorretas (e, de<br />
resto, todo o poema) também se referem à<br />
manifestações sensoriais, embora sem a<br />
necessária 'mescla', que é o que distingue a<br />
sinestesia.<br />
02) (2001) O mundo é grande<br />
O mundo é grande e cabe<br />
Nesta janela sobre o mar.<br />
O mar é grande e cabe<br />
Na cama e no colchão de amar.<br />
O amor é grande e cabe<br />
No breve espaço de beijar.<br />
ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e prosa.<br />
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983.<br />
Neste poema, o poeta realizou uma opção<br />
estilística: a reiteração de determinadas<br />
construções e expressões lingüísticas,<br />
como o uso da mesma conjunção para<br />
estabelecer a relação entre as frases.<br />
Essa conjunção estabelece, entre as<br />
idéias relacionadas, um sentido de<br />
A) oposição.<br />
B) comparação.<br />
C) conclusão.<br />
D) alternância.<br />
E) finalidade.<br />
Comentário<br />
Há três elementos repetidos neste trecho:<br />
o verbo ser, o artigo definido o e a conjunção<br />
aditiva e. A conjunção e estabelece uma<br />
158
elação entre idéias que, concretamente, são<br />
opostas (ex.: "O mundo é grande e cabe<br />
nesta janela sobre o mar"). A alternativa<br />
correta é a letra A.<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão apresenta, para leitura e<br />
análise, o poema "O mundo é grande", onde<br />
os recursos lingüísticos expressivos<br />
utilizados geram um efeito de oposição entre<br />
as idéias. A análise sintático-semântica é<br />
necessária para a compreensão do valor de<br />
oposição assumido pela conjunção "e":<br />
imagens justapostas estão relacionadas,<br />
contrapondo-se em planos diferentes. Um<br />
percentual significativo (46%) de<br />
participantes considerou que o valor da<br />
conjunção "e", nesse poema, é de<br />
comparação, o que não reflete o sentido<br />
estilístico proposto pelo poeta, mas<br />
corresponde apenas à primeira operação que<br />
se realiza para estabelecer o sentido de<br />
oposição. De maneira análoga, pode-se<br />
analisar os equívocos daqueles que optaram<br />
pelas alternativas C e D.<br />
03) (1999) SONETO DE FIDELIDADE<br />
De tudo, ao meu amor serei atento<br />
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto<br />
Que mesmo em face do maior encanto<br />
Dele se encante mais meu pensamento.<br />
Quero vivê-lo em cada vão momento<br />
E em seu louvor hei de espalhar meu<br />
canto<br />
E rir meu riso e derramar meu pranto<br />
Ao seu pesar ou seu contentamento.<br />
E assim, quando mais tarde me procure<br />
Quem sabe a morte, angústia de quem<br />
vive<br />
Quem sabe a solidão, fim de quem ama.<br />
Eu possa dizer do meu amor (que tive):<br />
Que não seja imortal, posto que é chama<br />
Mas que seja infinito enquanto dure.<br />
(MORAES, Vinícius de. Antologia poética. São Paulo: Cia<br />
das Letras, 1992).<br />
A palavra mesmo pode assumir diferentes<br />
significados, de acordo com a sua função<br />
na frase. Assinale a alternativa em que o<br />
sentido de mesmo equivale ao que se<br />
verifica no 3º verso da 1ª estrofe do<br />
poema de Vinícius de Moraes.<br />
A) "Pai, para onde fores, / irei também<br />
trilhando as mesmas ruas..." (Augusto<br />
dos Anjos)<br />
B) "Agora, como outrora, há aqui o<br />
mesmo contraste da vida interior, que<br />
é modesta, com a exterior, que é<br />
ruidosa." (Machado de Assis)<br />
C) "Havia o mal, profundo e persistente,<br />
para o qual o remédio não surtiu efeito,<br />
mesmo em doses variáveis."<br />
(Raimundo Faoro)<br />
D) "Mas, olhe cá, Mana Glória, há<br />
mesmo necessidade de fazê-lo<br />
padre?" (Machado de Assis)<br />
E) "Vamos de qualquer maneira, mas<br />
vamos mesmo." (Aurélio)<br />
Comentário<br />
Nessa questão, uma pequena análise<br />
sintática se faz necessária: mesmo, em<br />
ambos os casos, é conjunção subordinativa<br />
concessiva, introduzindo, portanto, uma<br />
oração subordinada cujo fato expresso é<br />
contrário ao da oração principal. Deve-se,<br />
então, recorrer à oração anterior para se ter<br />
certeza quanto à classificação. Grau<br />
moderado de dificuldade.<br />
Comentário do INEP<br />
Este problema buscou colocar o<br />
participante diante de uma situação que<br />
exigia a mobilização de seus mecanismos de<br />
reflexão sobre os processos lingüísticos em<br />
que um significante (uma palavra) assume<br />
diferentes significados, no enunciado, de<br />
acordo com a intenção do enunciador. Neste<br />
caso, além da compreensão da<br />
transformação de significado, é necessária a<br />
alteração de função morfossintática.<br />
Verifica-se que 62% dos participantes<br />
conseguiram identificar e analisar esse<br />
processo lingüístico, comparando a função<br />
do significante em diferentes enunciados.<br />
Isso demonstrou um domínio parcial da<br />
reflexão sobre a Língua Portuguesa, em<br />
diferentes contextos e textos.<br />
Os 18% dos participantes que<br />
assinalaram a alternativa B identificaram a<br />
diferença de significados mas,<br />
provavelmente, têm dificuldades em analisar<br />
estas mudanças em nível morfossintático<br />
(alternativa B).<br />
159
04) (2002) "De repente lá vinha um homem a<br />
cavalo. Eram dois. Um senhor de fora, o<br />
claro de roupa. Miguilim saudou, pedindo<br />
a bênção. O homem trouxe o cavalo cá<br />
bem junto. Ele era de óculos, corado, alto,<br />
com um chapéu diferente, mesmo.<br />
— Deus te abençoe, pequenino. Como é<br />
teu nome?<br />
— Miguilim. Eu sou irmão do Dito.<br />
— E o seu irmão Dito é o dono daqui?<br />
— Não, meu senhor. O Ditinho está em<br />
glória.<br />
O homem esbarrava o avanço do<br />
cavalo, que era zelado, manteúdo,<br />
formoso como nenhum outro. Redizia:<br />
— Ah, não sabia, não. Deus o tenha em<br />
sua guarda... Mas que é que há, Miguilim?<br />
Miguilim queria ver se o homem estava<br />
mesmo sorrindo para ele, por isso é que o<br />
encarava.<br />
— Por que você aperta os olhos assim?<br />
Você não é limpo de vista? Vamos até lá.<br />
Quem é que está em tua casa?<br />
— É Mãe, e os meninos...<br />
Estava Mãe, estava tio Terez, estavam<br />
todos. O senhor alto e claro se apeou. O<br />
outro, que vinha com ele, era um<br />
camarada.<br />
O senhor perguntava à Mãe muitas<br />
coisas do Miguilim. Depois perguntava a<br />
ele mesmo: — 'Miguilim, espia daí:<br />
quantos dedos da minha mão você está<br />
enxergando? E agora?"<br />
ROSA, João Guimarães. Manuelzão e Miguilim. 9ª ed. Rio de<br />
Janeiro: Nova Fronteira, 1984.<br />
160<br />
Esta história, com narrador observador em<br />
terceira pessoa, apresenta os<br />
acontecimentos da perspectiva de<br />
Miguilim. O fato de o ponto de vista do<br />
narrador ter Miguilim como referência,<br />
inclusive espacial, fica explicitado em:<br />
A) "O homem trouxe o cavalo cá bem<br />
junto."<br />
B) "Ele era de óculos, corado, alto (...)"<br />
C) "O homem esbarrava o avanço do<br />
cavalo, (...)"<br />
D) "Miguilim queria ver se o homem<br />
estava mesmo sorrindo para ele, (...)"<br />
E) "Estava Mãe, estava tio Terez, estavam<br />
todos"<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. A única alternativa<br />
que apresenta, ao mesmo tempo, o narrador<br />
e o ponto de referência espacial é a letra A, o<br />
que pode ser comprovado pela expressão<br />
"cá bem junto".<br />
Comentário do INEP<br />
Essa questão apresenta para leitura e<br />
análise um trecho da novela Campo Geral,<br />
da obra Manuelzão e Miguilim, de Guimarães<br />
Rosa, em que um narrador em terceira<br />
pessoa relata o momento do encontro entre<br />
Miguilim e o médico, que percebe, logo ao<br />
chegar, que o garoto tem problemas de<br />
visão. A questão propõe a análise do ponto<br />
de vista narrativo, que, no texto literário, não<br />
necessariamente, como no texto em questão,<br />
será sempre o do narrador.<br />
A cena narrativa presente nesse texto é<br />
contada por um narrador adulto, mas é o<br />
sentimento de Miguilim a respeito dos<br />
acontecimentos que orienta esse contar.<br />
Esse efeito de sentido é resultado do<br />
trabalho do autor com a linguagem. Segundo<br />
a gramática da norma culta, "cá" e "aqui"<br />
indicam o lugar do sujeito, ou seja, daquele<br />
que fala. Algo semelhante ocorre com o<br />
verbo "trazer", que indica um movimento para<br />
o lugar onde se encontra o sujeito. Tanto "cá"<br />
como "trazer" indicam proximidade espacial<br />
daquele que fala.<br />
A narração pertence a um narrador que<br />
não participa da historia como personagem,<br />
portanto ele fala dos outros, nunca de si<br />
mesmo. No trecho "o homem trouxe o cavalo<br />
cá bem junto", o narrador indica que o<br />
homem a cavalo aproxima-se de Miguilim.<br />
Esse jogo de linguagem cria no leitor a<br />
imagem de um narrador adulto que, colandose<br />
à criança, vê pelos olhos desta.<br />
Embora todas as alternativas apresentem<br />
a percepção da criança naquele contexto da<br />
chegada de um desconhecido, apenas a<br />
alternativa A responde o que foi solicitado,<br />
pois só ela apresenta o aspecto da<br />
localização espacial presente no advérbio de<br />
lugar "cá". Quase metade dos participantes<br />
assinalou a alternativa D, única que contem a<br />
palavra Miguilim, possivelmente porque<br />
interpretaram erroneamente o<br />
encaminhamento da questão, no trecho "...<br />
narrador ter Miguilim como referência, ...".<br />
05) ( 2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />
poema.<br />
A DANÇA E A ALMA<br />
A DANÇA? Não é movimento,<br />
súbito gesto musical.<br />
É concentração, num momento,<br />
da humana graça natural.<br />
No solo não, no éter pairamos,<br />
nele amaríamos ficar.<br />
A dança – não vento nos ramos:<br />
seiva, força, perene estar.
Um estar entre céu e chão,<br />
novo domínio conquistado,<br />
onde busque nossa paixão<br />
libertar-se por todo lado...<br />
Onde a alma possa descrever<br />
suas mais divinas parábolas<br />
sem fugir à forma do ser,<br />
por sobre o mistério das fábulas.<br />
(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />
Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />
A definição de dança, em linguagem de<br />
dicionário, que mais se aproxima do que<br />
está expresso no poema é<br />
A) a mais antiga das artes, servindo como<br />
elemento de comunicação e afirmação<br />
do homem em todos os momentos de<br />
sua existência.<br />
B) a forma de expressão corporal que<br />
ultrapassa os limites físicos,<br />
possibilitando ao homem a liberação de<br />
seu espírito.<br />
C) a manifestação do ser humano,<br />
formada por uma seqüência de gestos,<br />
passos e movimentos desconcertados.<br />
D) o conjunto organizado de movimentos<br />
do corpo, com ritmo determinado por<br />
instrumentos musicais, ruídos, cantos,<br />
emoções etc.<br />
E) o movimento diretamente ligado ao<br />
psiquismo do indivíduo e, por<br />
conseqüência, ao seu desenvolvimento<br />
intelectual e à sua cultura.<br />
Comentário<br />
A pergunta busca a aplicação do conceito<br />
de "estado de dicionário" (que também foi<br />
desenvolvido por Drummond no poema "A<br />
Procura da Poesia"). A literatura busca partir<br />
de palavras em estado de dicionário para,<br />
pelo aprofundamento do sentido delas, criar<br />
um mundo mais denso e particular. Em<br />
estado de dicionário, a dança, conforme é<br />
tratada nesse poema, apareceria na<br />
alternativa B: uma justaposição entre<br />
aspectos físicos e espirituais da expressão<br />
humana. Questão complexa.<br />
06) (2006) Namorados<br />
O rapaz chegou-se para junto da moça<br />
e disse:<br />
— Antônia, ainda não me acostumei com<br />
o seu corpo, com a sua cara.<br />
A moça olhou de lado e esperou.<br />
— Você não sabe quando a gente é<br />
criança e de repente vê uma lagarta<br />
listrada?<br />
A moça se lembrava:<br />
— A gente fica olhando...<br />
A meninice brincou de novo nos olhos<br />
dela.<br />
O rapaz prosseguiu com muita doçura:<br />
— Antônia, você parece uma lagarta<br />
listrada.<br />
A moça arregalou os olhos, fez<br />
exclamações.<br />
O rapaz concluiu:<br />
— Antônia, você é engraçada! Você<br />
parece louca.<br />
No poema de Bandeira, importante<br />
representante da poesia modernista,<br />
destaca-se como característica da escola<br />
literária dessa época<br />
Manuel Bandeira. Poesia completa & prosa.<br />
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985.<br />
A) a reiteração de palavras como recurso<br />
de construção de rimas ricas.<br />
B) a utilização expressiva da linguagem<br />
falada em situações do cotidiano.<br />
C) a criativa simetria de versos para<br />
reproduzir o ritmo do tema abordado.<br />
D) a escolha do tema do amor romântico,<br />
caracterizador do estilo literário dessa<br />
época.<br />
E) o recurso ao diálogo, gênero discursivo<br />
típico do Realismo.<br />
07) ( 2008) O surgimento da figura da Ema<br />
no céu, ao leste, no anoitecer, na segunda<br />
quinzena de junho, indica o início do<br />
inverno para os índios do sul do Brasil e o<br />
começo da estação seca para os do norte.<br />
É limitada pelas constelações de<br />
Escorpião e do Cruzeiro do Sul, ou<br />
Cut'uxu. Segundo o mito guarani, o<br />
Cut’uxu segura a cabeça da ave para<br />
garantir a vida na Terra, porque, se ela se<br />
soltar, beberá toda a água do nosso<br />
planeta. Os tupisguaranis utilizam o<br />
Cut'uxu para se orientar e determinar a<br />
duração das noites e as estações do ano.<br />
A ilustração a seguir é uma representação<br />
dos corpos celestes que constituem a<br />
constelação da Ema, na percepção<br />
indígena.<br />
Almanaque BRASIL, maio/2007 (com adaptações).<br />
161
162<br />
A próxima figura mostra, em campo de<br />
visão ampliado, como povos de culturas<br />
não-indígenas percebem o espaço estelar<br />
em que a Ema é vista.<br />
Internet: (com adaptações).<br />
Assinale a opção correta a respeito da<br />
linguagem empregada no texto A Ema.<br />
A) A palavra Cut’uxu é um regionalismo<br />
utilizado pelas populações próximas às<br />
aldeias indígenas.<br />
B) O autor se expressa em linguagem<br />
formal em todos os períodos do texto.<br />
C) A ausência da palavra Ema no início do<br />
período “É limitada (...)” caracteriza<br />
registro oral.<br />
D) A palavra Cut’uxu está destacada em<br />
itálico porque integra o vocabulário da<br />
linguagem informal.<br />
E) No texto, predomina a linguagem<br />
coloquial porque ele consta de um<br />
almanaque.<br />
Comentário<br />
A questão é simples, mas requer cuidados<br />
quanto aos conceitos de linguagem<br />
“informal”, “formal” e de “língua”. Se o aluno<br />
tiver noção desses conceitos,<br />
chegará facilmente à resposta. A linguagem<br />
formal ou culta prevalece no texto, e o termo<br />
“Cut’uxu’ não é um termo informal, mas, sim,<br />
uma expressão que pertence a uma língua<br />
indígena — o que justifica o emprego da<br />
palavra em itálico. A resposta correta é,<br />
portanto, a letra "B".<br />
08) (2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />
poema.<br />
A DANÇA E A ALMA<br />
A DANÇA? Não é movimento,<br />
súbito gesto musical.<br />
É concentração, num momento,<br />
da humana graça natural.<br />
No solo não, no éter pairamos,<br />
nele amaríamos ficar.<br />
A dança – não vento nos ramos:<br />
seiva, força, perene estar.<br />
Um estar entre céu e chão,<br />
novo domínio conquistado,<br />
onde busque nossa paixão<br />
libertar-se por todo lado...<br />
Onde a alma possa descrever<br />
suas mais divinas parábolas<br />
sem fugir à forma do ser,<br />
por sobre o mistério das fábulas.<br />
(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />
Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />
O poema “A Dança e a Alma” é construído<br />
com base em contrastes, como<br />
“movimento” e “concentração”. Em uma<br />
das estrofes, o termo que estabelece<br />
contraste com solo é:<br />
A) éter. D) paixão.<br />
B) seiva. E) ser.<br />
C) chão.<br />
Comentário<br />
O elemento que contrasta com "solo"<br />
(físico, tangível, perene) é "éter" (espiritual,<br />
intangível, volátil). Questão de nível médio de<br />
dificuldade.<br />
09) (2008) Calcula-se que 78% do<br />
desmatamento na Amazônia tenha sido<br />
motivado pela pecuária — cerca de 35%<br />
do rebanho nacional está na região — e<br />
que pelo menos 50 milhões de hectares<br />
de pastos são pouco produtivos. Enquanto<br />
o custo médio para aumentar a<br />
produtividade de 1 hectare de pastagem é<br />
de 2 mil reais, o custo para derrubar igual<br />
área de floresta é estimado em 800 reais,<br />
o que estimula novos desmatamentos.<br />
Adicionalmente, madeireiras retiram as<br />
árvores de valor comercial que foram<br />
abatidas para a criação de pastagens. Os<br />
pecuaristas sabem que problemas<br />
ambientais como esses podem provocar<br />
restrições à pecuária nessas áreas, a<br />
exemplo do que ocorreu em 2006 com o<br />
plantio da soja, o qual, posteriormente, foi<br />
proibido em áreas de floresta.<br />
Época, 3/3/2008 e 9/6/2008 (com adaptações).<br />
A partir da situação-problema descrita,<br />
conclui-se que<br />
A) o desmatamento na Amazônia decorre<br />
principalmente da exploração ilegal de<br />
árvores de valor comercial.<br />
B) um dos problemas que os pecuaristas<br />
vêm enfrentando na Amazônia é a<br />
proibição do plantio de soja.<br />
C) a mobilização de máquinas e de força<br />
humana torna o desmatamento mais<br />
caro que o aumento da produtividade<br />
de pastagens.
D) o superavit comercial decorrente da<br />
exportação de carne produzida na<br />
Amazônia compensa a possível<br />
degradação ambiental.<br />
E) a recuperação de áreas desmatadas<br />
e o aumento de produtividade das<br />
pastagens podem contribuir para a<br />
redução do desmatamento na<br />
Amazônia.<br />
Comentário do portal<br />
Essa questão retrata o problema do<br />
desmatamento da Amazônia, relacionado<br />
principalmente com o desenvolvimento da<br />
pecuária na região. Para resolvê-la, foram<br />
necessários a leitura atenta do texto e o<br />
conhecimento sobre os problemas<br />
ambientais da atualidade. A alternativa<br />
correta é a letra E, pois é mais caro para os<br />
pecuaristas aumentar a produtividade do que<br />
as áreas de pasto, o que acarreta o aumento<br />
do desmatamento da Amazônia.<br />
<strong>10</strong>) (2006) Erro de Português<br />
Quando o português chegou<br />
Debaixo de uma bruta chuva<br />
Vestiu o índio<br />
Que pena!<br />
Fosse uma manhã de Sol<br />
O índio tinha despido<br />
O português.<br />
Oswald de Andrade. Poesias reunidas.<br />
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.<br />
O primitivismo observável no poema<br />
acima, de Oswald de Andrade, caracteriza<br />
de forma marcante<br />
A) o regionalismo do Nordeste.<br />
B) o concretismo paulista.<br />
C) a poesia Pau-Brasil.<br />
D) o simbolismo pre-modernista.<br />
E) o tropicalismo baiano.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil, pois bastaria que o<br />
aluno fizesse a relação do nome do autor,<br />
Oswald de Andrade, à alternativa "C", poesia<br />
Pau-Brasil. Com isso, ele já eliminaria as<br />
demais alternativas. Contudo, mesmo que o<br />
aluno não tivesse se lembrado desse<br />
detalhe, o próprio poema Erro de Português<br />
remete a uma das características da poesia<br />
Pau-Brasil, a retomada e a valorização das<br />
riquezas do Brasil primitivo.<br />
11) (2007) Texto I<br />
Agora Fabiano conseguia arranjar as idéias.<br />
O que o segurava era a família. Vivia preso<br />
como um novilho amarrado ao mourão,<br />
suportando ferro quente. Se não fosse isso,<br />
um soldado amarelo não lhe pisava o pé<br />
não. (...) Tinha aqueles cambões<br />
pendurados ao pescoço. Deveria continuar a<br />
arrastá-los? Sinha Vitória dormia mal na<br />
cama de varas. Os meninos eram uns<br />
brutos, como o pai. Quando crescessem,<br />
guardariam as reses de um patrão invisível,<br />
seriam pisados, maltratados, machucados<br />
por um soldado amarelo.<br />
Graciliano Ramos. Vidas Secas.<br />
São Paulo: Martins, 23.ª ed., 1969, p. 75.<br />
Texto II<br />
Para Graciliano, o roceiro pobre é um<br />
outro, enigmático, impermeável. Não há<br />
solução fácil para uma tentativa de<br />
incorporação dessa figura no campo da<br />
ficção. É lidando com o impasse, ao invés<br />
de fáceis soluções, que Graciliano vai<br />
criar Vidas Secas, elaborando uma<br />
linguagem, uma estrutura romanesca,<br />
uma constituição de narrador em que<br />
narrador e criaturas se tocam, mas não se<br />
identificam. Em grande medida, o debate<br />
acontece porque, para a intelectualidade<br />
brasileira naquele momento, o pobre, a<br />
despeito de aparecer idealizado em certos<br />
aspectos, ainda é visto como um ser<br />
humano de segunda categoria, simples<br />
demais, incapaz de ter pensamentos<br />
demasiadamente complexos. O que Vidas<br />
Secas faz é, com pretenso não<br />
envolvimento da voz que controla a<br />
narrativa, dar conta de uma riqueza<br />
humana de que essas pessoas seriam<br />
plenamente capazes.<br />
Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes. In:<br />
Teresa. São Paulo: USP, n.° 2, 2001, p. 254.<br />
A partir do trecho de Vidas Secas (texto I)<br />
e das informações do texto II, relativas às<br />
concepções artísticas do romance social<br />
de 1930, avalie as seguintes afirmativas.<br />
I - O pobre, antes tratado de forma exótica<br />
e folclórica pelo regionalismo pitoresco,<br />
transforma-se em protagonista<br />
privilegiado do romance social de 30.<br />
II - A incorporação do pobre e de outros<br />
marginalizados indica a tendência da<br />
ficção brasileira da década de 30 de<br />
tentar superar a grande distância entre<br />
o intelectual e as camadas populares.<br />
III - Graciliano Ramos e os demais autores<br />
da década de 30 conseguiram, com<br />
suas obras, modificar a posição social<br />
do sertanejo na realidade nacional.<br />
163
É correto apenas o que se afirma em<br />
A) I. D) I e II.<br />
B) II. E) II e III.<br />
C) III.<br />
Comentário<br />
Questão de nível médio. O aluno deveria<br />
perceber que, no texto de Vidas Secas, o<br />
protagonista de sua obra é o "Pobre<br />
Sertanejo", aqui tratado de forma realista,<br />
sem idealizações e fantasias, e com total<br />
destaque em sua narrativa. Ele também deve<br />
fazer um comparativo entre o trecho da obra<br />
com o comentário de Luís Bueno, além de<br />
demonstrar seus conhecimentos sobre o<br />
Romance Regionalista de 30, para chegar à<br />
conclusão de que a resposta correta é a D.<br />
12) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />
preciso, além de conhecer o padrão<br />
formal da Língua Portuguesa, saber<br />
adequar o uso da linguagem ao contexto<br />
discursivo. Para exemplificar este fato,<br />
seu professor de Língua Portuguesa<br />
convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />
Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />
brinca com situações de discurso oral que<br />
fogem à expectativa do ouvinte.<br />
Aí, Galera<br />
Jogadores de futebol podem ser<br />
vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />
você pode imaginar um jogador de futebol<br />
dizendo "estereotipação"? E, no<br />
entanto, por que não?<br />
- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />
galera.<br />
- Minha saudação aos aficionados do<br />
clube e aos demais esportistas, aqui<br />
presentes ou no recesso dos seus lares.<br />
- Como é?<br />
- Aí, galera.<br />
- Quais são as instruções do técnico?<br />
- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />
trabalho de contenção coordenada, com<br />
energia otimizada, na zona de<br />
preparação, aumentam as<br />
probabilidades de, recuperado o<br />
esférico, concatenarmos um contragolpe<br />
agudo com parcimônia de meios e<br />
extrema objetividade, valendo-nos da<br />
desestruturação momentânea do<br />
sistema oposto, surpreendido pela<br />
reversão inesperada do fluxo da ação:<br />
- Ahn?<br />
- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />
pegá eles sem calça.<br />
- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />
coisa?<br />
- Posso dirigir uma mensagem de<br />
caráter sentimental, algo banal, talvez<br />
mesmo previsível e piegas, a uma<br />
pessoa à qual sou ligado por razões,<br />
inclusive, genéticas?<br />
- Pode.<br />
- Uma saudação para a minha<br />
progenitora.<br />
- Como é?<br />
- Alô, mamãe!<br />
- Estou vendo que você é um, um...<br />
- Um jogador que confunde o<br />
entrevistador, pois não corresponde à<br />
expectativa de que o atleta seja um ser<br />
algo primitivo com dificuldade de<br />
expressão e assim sabota a<br />
estereotipação?<br />
- Estereoquê?<br />
- Um chato?<br />
- Isso.<br />
Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />
O texto retrata duas situações<br />
relacionadas que fogem à expectativa do<br />
público. São elas:<br />
A) a saudação do jogador aos fãs do<br />
clube, no início da entrevista, e a<br />
saudação final dirigida à sua mãe.<br />
B) a linguagem muito formal do jogador,<br />
inadequada à situação da entrevista, e<br />
um jogador que fala, com desenvoltura,<br />
de modo muito rebuscado.<br />
C) o uso da expressão "galera", por parte<br />
do entrevistador, e da expressão<br />
"progenitora", por parte do jogador.<br />
D) o desconhecimento, por parte do<br />
entrevistador, da palavra<br />
"estereotipação", e a fala do jogador<br />
em "é pra dividir no meio e ir pra cima<br />
pra pegá eles sem calça".<br />
E) o fato de os jogadores de futebol serem<br />
vítimas de estereotipação e o jogador<br />
entrevistado não corresponder ao<br />
estereótipo.<br />
Comentário<br />
Quando pensamos em certas profissões,<br />
imaginamos qual seria o padrão de<br />
comportamento de quem as exerce. O texto<br />
está trabalhando uma divergência entre o<br />
que esperamos de um jogador de futebol (o<br />
estereótipo que temos dele) e um jogador<br />
que não se enquadra em nossas<br />
expectativas. Levando isso em consideração,<br />
as duas coisas que destoam do que<br />
esperamos encontrar nessa situação são: 1)<br />
alguém, ao dar uma entrevista de alto<br />
164
alcance popular, fala de maneira<br />
extremamente rebuscada; 2) um jogador que,<br />
ao falar de maneira rebuscada, acaba por<br />
fugir do estereótipo do jogador de futebol, de<br />
quem sempre é esperado algo menos<br />
rebuscado e mais popular.<br />
13) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />
preciso, além de conhecer o padrão<br />
formal da Língua Portuguesa, saber<br />
adequar o uso da linguagem ao contexto<br />
discursivo. Para exemplificar este fato,<br />
seu professor de Língua Portuguesa<br />
convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />
Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />
brinca com situações de discurso oral que<br />
fogem à expectativa do ouvinte.<br />
Aí, Galera<br />
Jogadores de futebol podem ser<br />
vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />
você pode imaginar um jogador de futebol<br />
dizendo "estereotipação"? E, no<br />
entanto, por que não?<br />
- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />
galera.<br />
- Minha saudação aos aficionados do<br />
clube e aos demais esportistas, aqui<br />
presentes ou no recesso dos seus lares.<br />
- Como é?<br />
- Aí, galera.<br />
- Quais são as instruções do técnico?<br />
- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />
trabalho de contenção coordenada, com<br />
energia otimizada, na zona de<br />
preparação, aumentam as<br />
probabilidades de, recuperado o<br />
esférico, concatenarmos um contragolpe<br />
agudo com parcimônia de meios e<br />
extrema objetividade, valendo-nos da<br />
desestruturação momentânea do<br />
sistema oposto, surpreendido pela<br />
reversão inesperada do fluxo da ação:<br />
- Ahn?<br />
- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />
pegá eles sem calça.<br />
- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />
coisa?<br />
- Posso dirigir uma mensagem de<br />
caráter sentimental, algo banal, talvez<br />
mesmo previsível e piegas, a uma<br />
pessoa à qual sou ligado por razões,<br />
inclusive, genéticas?<br />
- Pode.<br />
- Uma saudação para a minha<br />
progenitora.<br />
- Como é?<br />
- Alô, mamãe!<br />
- Estou vendo que você é um, um...<br />
- Um jogador que confunde o<br />
entrevistador, pois não corresponde à<br />
expectativa de que o atleta seja um ser<br />
algo primitivo com dificuldade de<br />
expressão e assim sabota a<br />
estereotipação?<br />
- Estereoquê?<br />
- Um chato?<br />
- Isso.<br />
Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />
O texto mostra uma situação em que a<br />
linguagem usada é inadequada ao<br />
contexto. Considerando as diferenças<br />
entre língua oral e língua escrita, assinale<br />
a opção que representa também uma<br />
inadequação da linguagem usada ao<br />
contexto:<br />
A) "o carro bateu e capotô, mas num deu<br />
pra vê direito" - um pedestre que<br />
assistiu ao acidente comenta com o<br />
outro que vai passando.<br />
B) "E aí, ô meu! Como vai essa força?" -<br />
um jovem que fala para um amigo.<br />
C) "Só um instante, por favor. Eu<br />
gostaria de fazer uma observação" -<br />
alguém comenta em uma reunião de<br />
trabalho.<br />
D) "Venho manifestar meu interesse em<br />
candidatar-me ao cargo de Secretária<br />
Executiva desta conceituada empresa"<br />
- alguém que escreve uma carta<br />
candidatando-se a um emprego.<br />
E) "Porque se a gente não resolve as<br />
coisas como têm que ser, a gente corre<br />
o risco de termos, num futuro próximo,<br />
muito pouca comida nos lares<br />
brasileiros" - um professor universitário<br />
em um congresso internacional.<br />
Comentário<br />
Essa questão está trabalhando com as<br />
nossas expectativas. Esperamos encontrar,<br />
nas diferentes situações, linguagens que<br />
correspondam à formalidade (ou à<br />
informalidade) delas. Na alternativa E, como<br />
o professor universitário está falando em um<br />
congresso internacional, espera-se que ele<br />
utilize uma linguagem mais formal e não uma<br />
linguagem coloquial como a que usou. Em<br />
todas as outras situações, a linguagem está<br />
de acordo com a situação em que está sendo<br />
empregada.<br />
165
14) (2007) Texto I<br />
Agora Fabiano conseguia arranjar as<br />
idéias. O que o segurava era a família.<br />
Vivia preso como um novilho amarrado ao<br />
mourão, suportando ferro quente. Se não<br />
fosse isso, um soldado amarelo não lhe<br />
pisava o pé não. (...) Tinha aqueles<br />
cambões pendurados ao pescoço.<br />
Deveria continuar a arrastá-los? Sinha<br />
Vitória dormia mal na cama de varas. Os<br />
meninos eram uns brutos, como o pai.<br />
Quando crescessem, guardariam as reses<br />
de um patrão invisível, seriam pisados,<br />
maltratados, machucados por um soldado<br />
amarelo.<br />
Graciliano Ramos. Vidas Secas. São Paulo:<br />
Martins, 23.ª ed., 1969, p. 75.<br />
Texto II<br />
Para Graciliano, o roceiro pobre é um<br />
outro, enigmático, impermeável. Não há<br />
solução fácil para uma tentativa de<br />
incorporação dessa figura no campo da<br />
ficção. É lidando com o impasse, ao invés<br />
de fáceis soluções, que Graciliano vai<br />
criar Vidas Secas, elaborando uma<br />
linguagem, uma estrutura romanesca,<br />
uma constituição de narrador em que<br />
narrador e criaturas se tocam, mas não se<br />
identificam. Em grande medida, o debate<br />
acontece porque, para a intelectualidade<br />
brasileira naquele momento, o pobre, a<br />
despeito de aparecer idealizado em certos<br />
aspectos, ainda é visto como um ser<br />
humano de segunda categoria, simples<br />
demais, incapaz de ter pensamentos<br />
demasiadamente complexos. O que Vidas<br />
Secas faz é, com pretenso não<br />
envolvimento da voz que controla a<br />
narrativa, dar conta de uma riqueza<br />
humana de que essas pessoas seriam<br />
plenamente capazes.<br />
Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes. In:<br />
Teresa. São Paulo: USP, n.° 2, 2001, p. 254.<br />
No texto II, verifica-se que o autor utiliza<br />
A) linguagem predominantemente<br />
formal, para problematizar, na<br />
composição de Vidas Secas, a relação<br />
entre o escritor e o personagem<br />
popular.<br />
B) linguagem inovadora, visto que, sem<br />
abandonar a linguagem formal, dirigese<br />
diretamente ao leitor.<br />
C) linguagem coloquial, para narrar<br />
coerentemente uma história que<br />
apresenta o roceiro pobre de forma<br />
pitoresca.<br />
D) linguagem formal com recursos<br />
retóricos próprios do texto literário em<br />
prosa, para analisar determinado<br />
momento da literatura brasileira.<br />
E) linguagem regionalista, para transmitir<br />
informações sobre literatura, valendose<br />
de coloquialismo, para facilitar o<br />
entendimento do texto.<br />
Comentário<br />
Questão de nível médio. Algumas<br />
alternativas poderiam levar o candidato a<br />
pensar que o texto de Vidas Secas utiliza<br />
uma linguagem predominantemente coloquial<br />
e regionalista. Entretanto, é na alternativa A<br />
que se encontra o real estilo da linguagem<br />
utilizada por Graciliano Ramos. A linguagem<br />
é, portanto, predominantemente formal e<br />
problematiza a relação do escritor com o<br />
personagem popular. Esta acaba sendo uma<br />
das grandes características do autor, pois ele<br />
buscava sempre dar uma grande densidade<br />
psicológica aos seus romances.<br />
15) (2006) Depois de um bom jantar: feijão<br />
com carne-seca, orelha de porco e couve<br />
com angu, arroz-mole engordurado, carne<br />
de vento assada no espeto, torresmo<br />
enxuto de toicinho da barriga, viradinho de<br />
milho verde e um prato de caldo de couve,<br />
jantar encerrado por um prato fundo de<br />
canjica com torrões de açúcar, Nhô Tomé<br />
saboreou o café forte e se estendeu na<br />
rede. A mão direita sob a cabeça, à guisa<br />
de travesseiro, o indefectível cigarro de<br />
palha entre as pontas do indicador e do<br />
polegar, envernizados pela fumaça, de<br />
unhas encanoadas e longas, ficou-se de<br />
pança para o ar, modorrento, a olhar para<br />
as ripas do telhado.<br />
Quem come e não deita, a comida não<br />
aproveita, pensava Nhô Tomé... E pôs-se<br />
a cochilar. A sua modorra durou pouco;<br />
Tia Policena, ao passar pela sala, bradou<br />
assombrada:<br />
— Êêh! Sinhô! Vai drumi agora? Não!<br />
Num presta... Dá pisadêra e póde morrê<br />
de ataque de cabeça! Despois do armoço<br />
num far-má... mais despois da janta?!”<br />
Cornélio Pires. Conversas ao pé do fogo. São Paulo:<br />
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1987.<br />
Nesse trecho, extraído de texto publicado<br />
originalmente em 1921, o narrador<br />
A) apresenta, sem explicitar juízos de<br />
valor, costumes da epoca, descrevendo<br />
os pratos servidos no jantar e a atitude<br />
de Nhô Tomé e de Tia Policena.<br />
166
B) desvaloriza a norma culta da língua<br />
porque incorpora à narrativa usos<br />
próprios da linguagem regional das<br />
personagens.<br />
C) condena os hábitos descritos, dando<br />
voz a Tia Policena, que tenta impedir<br />
Nhô Tomé de deitar-se após as<br />
refeições.<br />
D) utiliza a diversidade sociocultural e<br />
lingüística para demonstrar seu<br />
desrespeito às populações das zonas<br />
rurais do início do século XX.<br />
E) manifesta preconceito em relação a Tia<br />
Policena ao transcrever a fala dela com<br />
os erros próprios da região.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil, pois a alternativa<br />
"A" deixa clara a intencionalidade do<br />
narrador. Entretanto, o aluno poderia optar<br />
pela alternativa "B" caso não desse o devido<br />
valor ao sentido da palavra “desvaloriza”, que<br />
a elimina.<br />
16) (2006) Aula de português<br />
Explorando a função emotiva da<br />
linguagem, o poeta expressa o contraste<br />
entre marcas de variação de usos da<br />
linguagem em<br />
A) situações formais e informais.<br />
B) diferentes regiões do país.<br />
C) escolas literárias distintas.<br />
D) textos técnicos e poéticos.<br />
E) diferentes épocas.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil, pois o próprio título<br />
nos dá uma noção da dificuldade de<br />
transformar a linguagem coloquial e de uso<br />
cotidiano em uma linguagem formal,<br />
expressa no poema como “a misteriosa”.<br />
Drummond foi muito feliz em conseguir<br />
demonstrar a dificuldade em entender como<br />
estruturas simples da língua se tornam tão<br />
complexas ao se iniciar o processo de<br />
compreensão da estrutura lingüística.<br />
17) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />
preciso, além de conhecer o padrão<br />
formal da Língua Portuguesa, saber<br />
adequar o uso da linguagem ao contexto<br />
discursivo. Para exemplificar este fato,<br />
seu professor de Língua Portuguesa<br />
convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />
Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />
brinca com situações de discurso oral que<br />
fogem à expectativa do ouvinte.<br />
Aí, Galera<br />
Jogadores de futebol podem ser<br />
vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />
você pode imaginar um jogador de futebol<br />
dizendo "estereotipação"? E, no<br />
entanto, por que não?<br />
- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />
galera.<br />
- Minha saudação aos aficionados do<br />
clube e aos demais esportistas, aqui<br />
presentes ou no recesso dos seus lares.<br />
- Como é?<br />
- Aí, galera.<br />
- Quais são as instruções do técnico?<br />
- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />
trabalho de contenção coordenada, com<br />
energia otimizada, na zona de<br />
preparação, aumentam as<br />
probabilidades de, recuperado o<br />
esférico, concatenarmos um contragolpe<br />
agudo com parcimônia de meios e<br />
extrema objetividade, valendo-nos da<br />
desestruturação momentânea do<br />
sistema oposto, surpreendido pela<br />
reversão inesperada do fluxo da ação:<br />
- Ahn?<br />
- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />
pegá eles sem calça.<br />
- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />
coisa?<br />
- Posso dirigir uma mensagem de<br />
caráter sentimental, algo banal, talvez<br />
mesmo previsível e piegas, a uma<br />
pessoa à qual sou ligado por razões,<br />
inclusive, genéticas?<br />
167
168<br />
- Pode.<br />
- Uma saudação para a minha<br />
progenitora.<br />
- Como é?<br />
- Alô, mamãe!<br />
- Estou vendo que você é um, um...<br />
- Um jogador que confunde o<br />
entrevistador, pois não corresponde à<br />
expectativa de que o atleta seja um ser<br />
algo primitivo com dificuldade de<br />
expressão e assim sabota a<br />
estereotipação?<br />
- Estereoquê?<br />
- Um chato?<br />
- Isso.<br />
Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />
A expressão "pegá eles sem calça"<br />
poderia ser substituída, sem<br />
comprometimento de sentido, em língua<br />
culta, formal, por:<br />
A) pegá-los na mentira.<br />
B) pegá-los desprevenidos.<br />
C) pegá-los em flagrante.<br />
D) pegá-los rapidamente.<br />
E) pegá-los momentaneamente<br />
Comentário<br />
O trabalho que temos aqui é de<br />
compreensão de sentido. Se você nunca<br />
ouviu a expressão "de calças na mão", terá<br />
de imaginar o que acontece quando<br />
pegamos alguém nessa situação. Mas isso<br />
não basta. Se usar somente situações que<br />
pode imaginar, restarão as alternativas B e<br />
C. Esse problema só será solucionado se<br />
você entender bem o texto a que ele se<br />
refere. Como o jogador está falando em<br />
roubar a bola e partir para cima do adversário<br />
rapidamente, imagina-se que o adversário<br />
não esperava perder a bola naquele<br />
momento e, quando isso ocorreu, ele não<br />
estava preparado para receber um contraataque.<br />
Utilizando essa análise, somente a<br />
alternativa B está correta.<br />
18) (2000) Em uma conversa ou leitura de<br />
um texto, corre-se o risco de atribuir um<br />
significado inadequado a um termo ou<br />
expressão, e isso pode levar a certos<br />
resultados inesperados, como se vê nos<br />
quadrinhos abaixo.<br />
(SOUZA, Maurício de. Chico Bento.<br />
Rio de Janeiro: Ed. Globo, n o 335, Nov./99 )<br />
Nessa historinha, o efeito humorístico<br />
origina-se de uma situação criada pela<br />
fala da Rosinha no primeiro quadrinho,<br />
que é:<br />
A) Faz uma pose bonita!<br />
B) Quer tirar um retrato?<br />
C) Sua barriga está aparecendo!<br />
D) Olha o passarinho!<br />
E) Cuidado com o flash!<br />
Comentário<br />
Quem não se lembra de expressões<br />
humorísticas usadas quando se deseja tirar<br />
uma foto, como "Olha o passarinho" ou "Fale<br />
xis"?<br />
Pois é, essa é uma questão fácil e a<br />
interpretação do texto é simples, e não há<br />
por que ter dúvidas quanto à resposta, a não<br />
ser que não se leia a proposta da questão.<br />
Comentário do INEP<br />
Essa questão procurou avaliar se o<br />
participante conseguia inferir, a partir de uma<br />
seqüência narrativa de imagens, a expressão<br />
lingüística adequada à situação de<br />
interlocução, no caso a fala da personagem,<br />
no primeiro quadrinho. A expressão de uso<br />
coloquial 'olha o passarinho!', dependendo do<br />
contexto, tem diferentes significados, que<br />
nesse caso foram associados pelo cartunista<br />
para produzir o efeito de humor. A grande<br />
maioria - 89% - dos participantes realizou a<br />
inferência solicitada, analisando a função da<br />
linguagem e identificando a variante<br />
lingüística adequada à situação de<br />
interlocução, com base na leitura da<br />
seqüência das imagens e da fala da<br />
personagem no terceiro quadrinho. É<br />
interessante notar a abrangência dessa<br />
expressão metafórica no Brasil, criada no<br />
contexto informal da fala com seus<br />
significados correspondentes. Mesmo assim,<br />
11% dos participantes, possivelmente,<br />
desconhecem essa expressão ou não<br />
conseguiram realizar a transposição do<br />
significado humorístico da fala do último<br />
quadrinho.
19) (2006) Aula de português<br />
O texto destaca a diferença entre o<br />
português do Brasil e o de Portugal<br />
quanto<br />
A) ao vocabulário.<br />
B) à derivação.<br />
C) à pronúncia.<br />
D) ao gênero.<br />
E) à sintaxe.<br />
Comentário<br />
Questão de entendimento muito fácil, pois<br />
o próprio enunciado deixa claro que se trata<br />
das diferenças de vocabulário entre o<br />
português brasileiro e o lusitano.<br />
No poema, a referência à variedade<br />
padrão da língua está expressa no<br />
seguinte trecho:<br />
A) “A linguagem / na ponta da língua” (v.1<br />
e 2).<br />
B) “A linguagem / na superfície<br />
estrelada de letras” (v.5 e 6).<br />
C) “[a língua] em que pedia para ir lá<br />
fora” (v.14).<br />
D) “[a língua] em que levava e dava<br />
pontapé” (v.15).<br />
E) “[a língua] do namoro com a priminha”<br />
(v.17).<br />
Comentário<br />
Questão fácil, pois a alternativa "B" é a<br />
única que faz menção à norma-padrão da<br />
língua. As demais alternativas fogem a essa<br />
norma.<br />
20) (2005) Leia com atenção o texto:<br />
[Em Portugal], você poderá ter alguns<br />
probleminhas se entrar numa loja de<br />
roupas desconhecendo certas sutilezas da<br />
língua. Por exemplo, não adianta pedir<br />
para ver os ternos — peça para ver os<br />
fatos. Paletó é casaco. Meias são<br />
peúgas. Suéter é camisola — mas não<br />
se assuste, porque calcinhas femininas<br />
são cuecas. (Não é uma delícia?)<br />
(Ruy Castro. Viaje Bem. Ano VIII, no 3, 78.)<br />
21) (2006) No poema Procura da poesia,<br />
Carlos Drummond de Andrade expressa a<br />
concepção estética de se fazer com<br />
palavras o que o escultor Michelângelo<br />
fazia com mármore. O fragmento abaixo<br />
exemplifica essa afirmação.<br />
(...)<br />
Penetra surdamente no reino das<br />
palavras.<br />
Lá estão os poemas que esperam ser<br />
escritos.<br />
(...)<br />
Chega mais perto e contempla as<br />
palavras.<br />
Cada uma<br />
tem mil faces secretas sob a face neutra<br />
e te pergunta, sem interesse pela<br />
resposta,<br />
pobre ou terrível, que lhe deres:<br />
trouxeste a chave?<br />
Carlos Drummond de Andrade. A rosa do povo.<br />
Rio de Janeiro: Record, 1997, p. 13-14.<br />
Esse fragmento poético ilustra o seguinte<br />
tema constante entre autores<br />
modernistas:<br />
A) a nostalgia do passado colonialista<br />
revisitado.<br />
B) a preocupação com o engajamento<br />
político e social da literatura.<br />
C) o trabalho quase artesanal com as<br />
palavras, despertando sentidos novos.<br />
D) a produção de sentidos herméticos na<br />
busca da perfeição poética.<br />
E) a contemplação da natureza brasileira<br />
na perspectiva ufanista da pátria.<br />
Comentário<br />
Questão de nível difícil, pois o candidato<br />
deveria, além de interpretar o poema,<br />
conhecer o verdadeiro sentido de arte<br />
segundo Michelângelo, que achava que um<br />
bloco de mármore já tinha sua figura dentro<br />
169
dele e que seu trabalho seria somente<br />
lapidá-la. Dessa forma, o candidato deveria<br />
relacionar a estrutura de um bloco de<br />
mármore ao segundo verso do poema: “Lá<br />
estão os poemas que esperam ser escritos<br />
(...)”. Ou seja, esperava-se que o candidato<br />
fizesse a relação do bloco de mármore com<br />
as palavras, o que justifica a alternativa “C”<br />
como correta.<br />
22) (2002) Érico Veríssimo relata, em suas<br />
memórias, um episódio da adolescência<br />
que teve influência significativa em sua<br />
carreira de escritor.<br />
"Lembro-me de que certa noite — eu<br />
teria uns quatorze anos, quando muito —<br />
encarregaram-me de segurar uma<br />
lâmpada elétrica à cabeceira da mesa de<br />
operações, enquanto um médico fazia os<br />
primeiros curativos num pobre-diabo que<br />
soldados da Polícia Municipal haviam<br />
"carneado". (...) Apesar do horror e da<br />
náusea, continuei firme onde estava,<br />
talvez pensando assim: se esse caboclo<br />
pode agüentar tudo isso sem gemer, por<br />
que não hei de poder ficar segurando esta<br />
lâmpada para ajudar o doutor a costurar<br />
esses talhos e salvar essa vida? (...)<br />
Desde que, adulto, comecei a escrever<br />
romances, tem-me animado até hoje a<br />
idéia de que o menos que o escritor pode<br />
fazer, numa época de atrocidades e<br />
injustiças como a nossa, é acender a sua<br />
lâmpada, fazer luz sobre a realidade de<br />
seu mundo, evitando que sobre ele caia a<br />
escuridão, propícia aos ladrões, aos<br />
assassinos e aos tiranos. Sim, segurar a<br />
lâmpada, a despeito da náusea e do<br />
horror. Se não tivermos uma lâmpada<br />
elétrica, acendamos o nosso toco de vela<br />
ou, em último caso, risquemos fósforos<br />
repetidamente, como um sinal de que não<br />
desertamos nosso posto."<br />
VERÍSSIMO, Érico. Solo de Clarineta. Tomo I.<br />
Porto Alegre: Editora Globo, 1978.<br />
170<br />
Neste texto, por meio da metáfora da<br />
lâmpada que ilumina a escuridão, Érico<br />
Veríssimo define como uma das funções<br />
do escritor e, por extensão, da literatura,<br />
A) criar a fantasia.<br />
B) permitir o sonho.<br />
C) denunciar o real.<br />
D) criar o belo.<br />
E) fugir da náusea.<br />
Comentário<br />
Temos aqui um dos pontos mais comuns<br />
abordados na obra de Veríssimo: a denúncia<br />
social. “(...) o menos que o escritor pode<br />
fazer, numa época de atrocidades e<br />
injustiças como a nossa, é acender sua<br />
lâmpada, fazer luz sobre a realidade de seu<br />
mundo, evitando que sobre ele caia a<br />
escuridão, propícia aos ladrões, aos<br />
assassinos e aos tiranos.”<br />
A literatura deve, como a luz, mostrar não<br />
só as belezas, mas também as feridas da<br />
sociedade, para que as tentemos sanar.<br />
Comentário do INEP<br />
Essa questão apresenta para leitura e<br />
análise um trecho de Solo de Clarineta, em<br />
que Érico Veríssimo relata uma experiência<br />
de juventude e dela constrói uma metáfora<br />
para revelar o que ele entende ser uma das<br />
funções essenciais da literatura. "Lâmpada",<br />
"vela", "fósforos" devem ser lidos como a<br />
palavra comprometida em traduzir a<br />
realidade do mundo. Ou seja, afirmar que o<br />
escritor deve "fazer luz sobre a realidade de<br />
seu mundo", nesse contexto, equivale a<br />
afirmar que um papel da literatura é<br />
denunciar o real. Todas as alternativas<br />
propostas referem-se a eventuais funções da<br />
literatura. Apenas a alternativa C é pertinente<br />
ao contexto e foi escolhida por cerca de<br />
metade dos participantes.<br />
23) (1999) Leia o texto abaixo.<br />
Cabelos longos, brinco na orelha<br />
esquerda, físico de skatista. Na aparência,<br />
o estudante brasiliense Rui Lopes Viana<br />
Filho, de 16 anos, não lembra em nada o<br />
estereótipo dos gênios. Ele não usa<br />
pesados óculos de grau e está longe de<br />
ter um ar introspectivo. No final do mês<br />
passado, Rui retornou de Taiwan, onde<br />
enfrentou 419 competidores de todo o<br />
mundo na 39ª Olimpíada Internacional de<br />
Matemática. A reluzente medalha de ouro<br />
que ele trouxe na bagagem está<br />
dependurada sobre a cama de seu quarto,<br />
atulhado de rascunhos dos problemas<br />
matemáticos que aprendeu a decifrar nos<br />
últimos cinco anos.<br />
Veja – Vencer uma olimpíada serve de<br />
passaporte para uma carreira profissional<br />
meteórica?<br />
Rui – Nada disso. Decidi me dedicar à<br />
Olimpíada porque sei que a concorrência<br />
por um emprego é cada vez mais<br />
selvagem e cruel. Agora tenho algo a mais<br />
para oferecer. O problema é que as coisas
estão mudando muito rápido e não sei<br />
qual será minha profissão. Além de ser<br />
muito novo para decidir sobre o meu<br />
futuro profissional, sei que esse conceito<br />
de carreira mudou muito.<br />
(Entrevista de Rui Lopes Viana Filho à Veja,<br />
05/08/1998, n.31, p. 9-<strong>10</strong>)<br />
Na pergunta, o repórter estabelece uma<br />
relação entre a entrada do estudante no<br />
mercado de trabalho e a vitória na<br />
Olimpíada. O estudante<br />
A) concorda com a relação e afirma que o<br />
desempenho na Olimpíada é<br />
fundamental para sua entrada no<br />
mercado.<br />
B) discorda da relação e complementa<br />
que é fácil se fazer previsões sobre o<br />
mercado de trabalho.<br />
C) discorda da relação e afirma que seu<br />
futuro profissional independe de<br />
dedicação aos estudos.<br />
D) discorda da relação e afirma que seu<br />
desempenho só é relevante se<br />
escolher uma profissão relacionada à<br />
matemática.<br />
E) concorda em parte com a relação e<br />
complementa que é complexo fazer<br />
previsões sobre o mercado de trabalho.<br />
Comentário<br />
Não é difícil de se chegar à resposta<br />
correta ao se ler a reportagem. Ao final do<br />
último parágrafo — (...) Além de ser muito<br />
novo para decidir sobre o meu futuro<br />
profissional, sei que esse conceito de carreira<br />
mudou muito. —, o estudante praticamente<br />
fornece a resposta à questão, declarando-se<br />
realista ao não tentar prever seu futuro<br />
profissional devido à pouca idade e às<br />
mudanças no mercado de trabalho. Quanto a<br />
concordar parcialmente com o repórter, veja<br />
que ele, apesar de negar que o prêmio fosse<br />
uma garantia de sucesso profissional, logo<br />
depois afirma que, com ele, terá algo mais a<br />
oferecer ao mercado. Questão de nível fácil.<br />
Comentário do INEP<br />
Nesta situação-problema, o participante<br />
deveria demonstrar que compreendeu as<br />
premissas de um discurso, distinguindo a<br />
diferença de significado de palavras isoladas<br />
ou no contexto em que estão inseridas.<br />
Verificou-se que mais da metade dos<br />
participantes demonstrou possuir essa<br />
compreensão. Aqueles que optaram pelas<br />
alternativas C e D podem ter sido atraídos<br />
pelo significado negativo da expressão inicial<br />
"Nada disso".<br />
24) (2008) A Lei Federal n.º 9.985/2000, que<br />
instituiu o sistema nacional de unidades<br />
de conservação, define dois tipos de<br />
áreas protegidas. O primeiro, as unidades<br />
de proteção integral, tem por objetivo<br />
preservar a natureza, admitindo-se<br />
apenas o uso indireto dos seus recursos<br />
naturais, isto é, aquele que não envolve<br />
consumo, coleta, dano ou destruição dos<br />
recursos naturais. O segundo, as<br />
unidades de uso sustentável, tem por<br />
função compatibilizar a conservação da<br />
natureza com o uso sustentável de<br />
parcela dos recursos naturais. Nesse<br />
caso, permite-se a exploração do<br />
ambiente de maneira a garantir a<br />
perenidade dos recursos ambientais<br />
renováveis e dos processos ecológicos,<br />
mantendo-se a biodiversidade e os<br />
demais atributos ecológicos, de forma<br />
socialmente justa e economicamente<br />
viável.<br />
Considerando essas informações, analise<br />
a seguinte situação hipotética.<br />
Ao discutir a aplicação de recursos<br />
disponíveis para o desenvolvimento de<br />
determinada região, organizações civis,<br />
universidade e governo resolveram<br />
investir na utilização de uma unidade de<br />
proteção integral, o Parque Nacional do<br />
Morro do Pindaré, e de uma unidade de<br />
uso sustentável, a Floresta Nacional do<br />
Sabiá. Depois das discussões, a equipe<br />
resolveu levar adiante três projetos:<br />
— o projeto I consiste de pesquisas<br />
científicas embasadas exclusivamente<br />
na observação de animais;<br />
— o projeto II inclui a construção de uma<br />
escola e de um centro de vivência;<br />
— o projeto III promove a organização de<br />
uma comunidade extrativista que<br />
poderá coletar e explorar<br />
comercialmente frutas e sementes<br />
nativas.<br />
Nessa situação hipotética, atendendo-se à<br />
lei mencionada acima, é possível<br />
desenvolver tanto na unidade de proteção<br />
integral quanto na de uso sustentável<br />
A) apenas o projeto I.<br />
B) apenas o projeto III.<br />
C) apenas os projetos I e II.<br />
D) apenas os projetos II e III.<br />
E) todos os três projetos.<br />
Comentário do portal<br />
A alternativa correta é a letra "A", pois,<br />
analisando-se a situação hipotética sugerida<br />
no enunciado, percebe-se que ela deverá<br />
atender os requisitos tanto da unidade de<br />
171
proteção integral quanto da unidade de uso<br />
sustentável. Portanto, apenas o projeto I<br />
poderá ser desenvolvido nessas duas<br />
propostas de unidades.<br />
25) (1999)<br />
172<br />
(QUINO. Mafalda inédita. São Paulo: Martins Fontes, 1993)<br />
Observando as falas das personagens,<br />
analise o emprego do pronome SE e o<br />
sentido que adquire no contexto. No<br />
contexto da narrativa, é correto afirmar<br />
que o pronome SE:<br />
A) em I, indica reflexividade e equivale a<br />
"a si mesmas".<br />
B) em II, indica reciprocidade e equivale a<br />
"a si mesma".<br />
C) em III, indica reciprocidade e equivale<br />
a "umas às outras".<br />
D) em I e III, indica reciprocidade e<br />
equivale a "umas às outras".<br />
E) em II e III, indica reflexividade e<br />
equivale a "a si mesma " e "a si<br />
mesmas", respectivamente.<br />
Comentário<br />
Mais uma questão que fala por si própria.<br />
Lendo o segundo quadrinho — "Quer dizer<br />
que você também se ama muito mais no<br />
Natal?" —, é fácil de se identificar o pronome<br />
reflexivo. Basta que se troque se ama por<br />
ama a si mesma. O mesmo ocorre no<br />
terceiro quadrinho em "Por que será que as<br />
pessoas se amam muito mais no Natal?" —<br />
Por que será que as pessoas amam a si<br />
mesmas? Questão de grau fácil.<br />
Comentário do INEP<br />
Este problema requeria que o participante<br />
mobilizasse conhecimentos sobre os<br />
significados de "reciprocidade e<br />
"reflexividade" e o associasse à<br />
compreensão de linguagem iconográfica.<br />
Cerca de metade dos participantes<br />
demonstrou essa capacidade. A opção de<br />
30% dos participantes pela alternativa D<br />
pode indicar que eles utilizaram as imagens<br />
apenas como ilustração do texto e não como<br />
linguagem capaz de instituir novos<br />
significados.<br />
26) (1998) Texto 1<br />
"Mulher, Irmã, escuta-me: não ames,<br />
Quando a teus pés um homem terno e<br />
curvo<br />
jurar amor, chorar pranto de sangue,<br />
Não creias, não, mulher: ele te engana!<br />
As lágrimas são gotas da mentira<br />
E o juramento manto da perfídia."<br />
(Joaquim Manoel de Macedo)<br />
Texto 2<br />
"Teresa, se algum sujeito bancar o<br />
sentimental em cima de você<br />
E te jurar uma paixão do tamanho de um<br />
bonde<br />
Se ele chorar<br />
Se ele ajoelhar<br />
Se ele se rasgar todo<br />
Não acredite não Teresa<br />
É lágrima de cinema<br />
É tapeação<br />
Mentira<br />
CAI FORA"<br />
(Manuel Bandeira)<br />
Os autores, ao fazerem alusão às<br />
imagens da lágrima sugerem que:<br />
A) há um tratamento idealizado da<br />
relação homem/mulher.<br />
B) há um tratamento realista da relação<br />
homem/mulher.<br />
C) a relação familiar é idealizada.<br />
D) a mulher é superior ao homem.<br />
E) a mulher é igual ao homem.<br />
Comentário<br />
Ambos os autores, ao utilizarem a<br />
imagem da lágrima, estão na realidade<br />
mostrando que a figura do homem que é<br />
romântico a ponto de chorar ao jurar amor<br />
não existe. Tanto Macedo quanto<br />
Bandeira alertam as mulheres dizendo,<br />
com palavras e estilos diferentes, que não<br />
há homem que chore por amor (portanto,<br />
essa figura é uma idealização — e, por<br />
conseguinte, toda imagem que se tem<br />
sobre os relacionamentos<br />
demasiadamente românticos). Note que<br />
Bandeira chega até mesmo a chamar tal<br />
"chorão" de ator ("...É lágrima de cinema /<br />
É tapeação..."). Macedo dá uma imagem<br />
pesada às lágrimas ("...são gotas da<br />
mentira...").<br />
27) (2001) Os provérbios constituem um<br />
produto da sabedoria popular e, em geral,<br />
pretendem transmitir um ensinamento. A<br />
alternativa em que os dois provérbios<br />
remetem a ensinamentos semelhantes é:
A) “Quem diz o que quer, ouve o que não<br />
quer” e “Quem ama o feio, bonito lhe<br />
parece”.<br />
B) “Devagar se vai ao longe” e “De grão<br />
em grão, a galinha enche o papo”.<br />
C) “Mais vale um pássaro na mão do que<br />
dois voando” e “Não se deve atirar<br />
pérolas aos porcos”.<br />
D) “Quem casa quer casa” e “Santo de<br />
casa não faz milagre”.<br />
E) “Quem com ferro fere, com ferro será<br />
ferido” e “Casa de ferreiro, espeto de<br />
pau”.<br />
Comentário<br />
Questão fácil. A alternativa B apresenta<br />
dois provérbios que tratam de paciência,<br />
perseverança. A mensagem é a mesma em<br />
ambos.<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão propõe uma série de<br />
provérbios agrupados aos pares, para que o<br />
participante demonstre compreender e<br />
comparar os provérbios de modo a identificar<br />
aqueles que traduzem ensinamentos<br />
semelhantes. A organização sintáticosemântica<br />
dos provérbios cria um efeito de<br />
sentido metafórico que deve ser recuperado,<br />
analisado e comparado, o que foi<br />
corretamente feito por cerca de 80% dos<br />
participantes.<br />
28) (2006) No romance Vidas Secas, de<br />
Graciliano Ramos, o vaqueiro Fabiano<br />
encontra-se com o patrão para receber o<br />
salário. Eis parte da cena:<br />
Graciliano Ramos. Vidas Secas. 91.ª ed.<br />
Rio de Janeiro: Record, 2003.<br />
No fragmento transcrito, o padrão formal<br />
da linguagem convive com marcas de<br />
regionalismo e de coloquialismo no<br />
vocabulário. Pertence à variedade do<br />
padrão formal da linguagem o seguinte<br />
trecho:<br />
A) Não se conformou: devia haver<br />
engano (l.1).<br />
B) Fabiano perdeu os estribos (l.3).<br />
C) Passar a vida inteira assim no toco<br />
(l.4).<br />
D) Entregando o que era dele de mao<br />
beijada! (l.4-5).<br />
E) Aí Fabiano baixou a pancada e<br />
amunhecou (l.11).<br />
Comentário do portal<br />
Questão de nível fácil. Bastaria que o<br />
candidato conhecesse o padrão formal da<br />
linguagem e distinguisse-o do regionalismo e<br />
do coloquialismo.<br />
29) (202) "Narizinho correu os olhos pela<br />
assistência. Não podia haver nada mais<br />
curioso. Besourinhos de fraque e flores na<br />
lapela conversavam com baratinhas de<br />
mantilha e miosótis nos cabelos. Abelhas<br />
douradas, verdes e azuis, falavam mal<br />
das vespas de cintura fina — achando que<br />
era exagero usarem coletes tão<br />
apertados. Sardinhas aos centos<br />
criticavam os cuidados excessivos que as<br />
borboletas de toucados de gaze tinham<br />
com o pó das suas asas. Mamangavas de<br />
ferrões amarrados para não morderem. E<br />
canários cantando, e beija-flores beijando<br />
flores, e camarões camaronando, e<br />
caranguejos caranguejando, tudo que é<br />
pequenino e não morde, pequeninando e<br />
não mordendo."<br />
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. São Paulo:<br />
Brasiliense, 1947.<br />
No último período do trecho, há uma série<br />
de verbos no gerúndio que contribuem<br />
para caracterizar o ambiente fantástico<br />
descrito. Expressões como<br />
"camaronando", "caranguejando" e<br />
"pequeninando e não mordendo" criam,<br />
principalmente, efeitos de<br />
A) esvaziamento de sentido.<br />
B) monotonia do ambiente.<br />
C) estaticidade dos animais.<br />
D) interrupção dos movimentos.<br />
E) dinamicidade do cenário.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. O dinamismo dos<br />
verbos no gerúndio tem como função<br />
principal dar vida às personagens do mundo<br />
fantástico. Não há estagnação. Cada animal<br />
faz o que lhe cabe.<br />
173
Comentário do INEP<br />
Essa questão apresenta para leitura e<br />
análise um trecho da obra Reinações de<br />
Narizinho, de Monteiro Lobato, e, nele, a<br />
descrição reflete as fantasias do mundo<br />
infantil. A questão propõe que seja resolvido<br />
um problema de linguagem, que é a<br />
identificação dos sentidos criados no texto<br />
pelo emprego de vários verbos no gerúndio,<br />
alguns dos quais, neologismos criados pelo<br />
autor. Como o texto é uma descrição, temos<br />
o relato de um ambiente que se agita com as<br />
ações simultâneas dos muitos seres que o<br />
habitam. Cabe ao participante perceber que<br />
o efeito dinâmico é criado pelos verbos de<br />
ação no gerúndio, que é a forma verbal da<br />
ação se fazendo. Ou seja, é função típica do<br />
gerúndio traduzir a noção de uma ação que<br />
se desenvolve de modo simultâneo à sua<br />
enunciação. Nesse ambiente retratado por<br />
Monteiro Lobato, os bichinhos humanizados<br />
se agitam, lembrando um burburinho de<br />
crianças. Apenas a alternativa E, assinalada<br />
por 36% dos participantes, responde<br />
corretamente a questão. As outras<br />
alternativas contemplam efeitos ou<br />
significados que, apesar de eventualmente<br />
serem transmitidos pelo emprego do<br />
gerúndio, não se verificam no texto.<br />
30) (2005) As dimensões continentais do<br />
Brasil são objeto de reflexões expressas<br />
em diferentes linguagens. Esse tema<br />
aparece no seguinte p"Narizinho correu os<br />
olhos pela assistência. Não podia haver nada<br />
mais curioso. Besourinhos de oema:<br />
“(....)<br />
Que importa que uns falem mole<br />
descansado<br />
Que os cariocas arranhem os erres na<br />
garganta<br />
Que os capixabas e paroaras escancarem<br />
as vogais?<br />
Que tem se o quinhentos réis meridional<br />
Vira cinco tostões do Rio pro Norte?<br />
Junto formamos este assombro de<br />
misérias e grandezas,<br />
Brasil, nome de vegetal! (....)”<br />
(Mário de Andrade. Poesias completas. 6. ed. São Paulo:<br />
Martins Editora, 1980.)<br />
O texto poético ora reproduzido trata das<br />
diferenças brasileiras no âmbito<br />
A) étnico e religioso.<br />
B) lingüístico e econômico.<br />
C) racial e folclórico.<br />
D) histórico e geográfico.<br />
E) literário e popular.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil, pois a primeira<br />
estrofe, ao enunciar os erres arranhados dos<br />
cariocas e as vogais abertas dos capixabas,<br />
evidencia a diferença lingüística entre duas<br />
regiões distintas do Brasil, dando noção da<br />
variedade. Já na segunda estrofe, as<br />
diferenças econômicas são evidenciadas ao<br />
se mostrarem os réis e tostões variando da<br />
Região Meridional para a Norte.<br />
31) (1999) Considere os textos abaixo.<br />
(...) de modo particular, quero encorajar os<br />
crentes empenhados no campo da<br />
filosofia para que iluminem os diversos<br />
âmbitos da atividade humana, graças ao<br />
exercício de uma razão que se torna mais<br />
segura e perspicaz com o apoio que<br />
recebe da fé.<br />
(Papa João Paulo II. Carta Encíclica Fides<br />
et Ratio aos bispos da igreja católica sobre as relações<br />
entre fé e razão, 1998)<br />
As verdades da razão natural não<br />
contradizem as verdades da fé cristã.<br />
(São Tomás de Aquino<br />
–pensador medieval)<br />
Refletindo sobre os textos, pode-se<br />
concluir que:<br />
A) a encíclica papal está em contradição<br />
com o pensamento de São Tomás de<br />
Aquino, refletindo a diferença de<br />
épocas.<br />
B) a encíclica papal procura<br />
complementar São Tomás de Aquino,<br />
pois este colocava a razão natural<br />
acima da fé.<br />
C) a Igreja medieval valorizava a razão<br />
mais do que a encíclica de João Paulo<br />
II.<br />
D) o pensamento teológico teve sua<br />
importância na Idade Média, mas, em<br />
nossos dias, não tem relação com o<br />
pensamento filosófico.<br />
E) tanto a encíclica papal como a frase<br />
de São Tomás de Aquino procuram<br />
conciliar os pensamentos sobre fé e<br />
razão.<br />
Comentário<br />
Nessa questão, é necessária uma<br />
releitura do texto para que se tenha uma<br />
melhor compreensão do tema. Tanto a<br />
citação do Papa quanto a de São Tomás de<br />
Aquino tentam criar uma interdependência<br />
entre a ciência e a fé, a religião. O Papa<br />
incentiva aqueles que exercem a pesquisa<br />
científica ou filosófica a manter a fé cristã.<br />
174
São Tomás de Aquino, por sua vez, equipara<br />
o avanço da ciência ao aumento da própria<br />
fé, afirmando que a razão natural não<br />
contradiz a fé cristã. Se um cresce, cresce<br />
também o outro, em harmonia e sem<br />
contradições. Questão de grau médio.<br />
(Português)<br />
Nessa questão, encontramos dois textos: o<br />
primeiro, do século XX, foi elaborado pelo Papa<br />
João Paulo II; o segundo, do século XIII, pelo<br />
teólogo e filósofo cristão São Tomás de Aquino.<br />
O conteúdo de ambos se refere à ligação entre<br />
fé e razão, a qual esteve presente na filosofia<br />
escolástica da Idade Média. Esse campo de<br />
reflexão buscou conciliar o cristianismo com o<br />
pensamento de Aristóteles e teve em São<br />
Tomás de Aquino seu maior representante.<br />
Mesmo sem ter todas essas informações,<br />
você poderia responder tranqüilamente à<br />
questão por meio de uma leitura atenta dos<br />
dois textos, chegando à conclusão de que<br />
"tanto a encíclica papal como a frase de São<br />
Tomás de Aquino procuram conciliar os<br />
pensamentos sobre fé e razão". Resposta<br />
correta: alternativa E. (História)<br />
Comentário do INEP<br />
Para resolver esta situação-problema, o<br />
participante deveria mostrar que, além de<br />
interpretar textos, sabe relacioná-los sendo<br />
que, nesse item, essas operações referem-se a<br />
um texto escrito na época medieval e a outro<br />
escrito recentemente.<br />
Mais de 70% dos participantes<br />
demonstraram facilidade em estabelecer esta<br />
relação.<br />
32) (2001) Murilo Mendes, em um de seus<br />
poemas, dialoga com a carta de Pero Vaz<br />
de Caminha:<br />
“A terra é mui graciosa,<br />
Tão fértil eu nunca vi.<br />
A gente vai passear,<br />
No chão espeta um caniço,<br />
No dia seguinte nasce<br />
Bengala de castão de oiro.<br />
Tem goiabas, melancias,<br />
Banana que nem chuchu.<br />
Quanto aos bichos, tem-nos muito,<br />
De plumagens mui vistosas.<br />
Tem macaco até demais<br />
Diamantes tem à vontade<br />
Esmeralda é para os trouxas.<br />
Reforçai, Senhor, a arca,<br />
Cruzados não faltarão,<br />
Vossa perna encanareis,<br />
Salvo o devido respeito.<br />
Ficarei muito saudoso<br />
Se for embora daqui”.<br />
MENDES, Murilo. Murilo Mendes —<br />
poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.<br />
Arcaísmos e termos coloquiais misturamse<br />
nesse poema, criando um efeito de<br />
contraste, como ocorre em:<br />
A) A terra é mui graciosa / Tem macaco<br />
até demais.<br />
B) Salvo o devido respeito / Reforçai,<br />
Senhor, a arca<br />
C) A gente vai passear / Ficarei muito<br />
saudoso<br />
D) De plumagens mui vistosas / Bengala<br />
de castão de oiro<br />
E) No chão espeta um caniço / Diamantes<br />
tem à vontade<br />
Comentário<br />
Aqui, procuramos uma alternativa que<br />
apresente um trecho em linguagem coloquial<br />
e outro em linguagem arcaica.<br />
As alternativas B, C e E apresentam<br />
apenas a linguagem coloquial. A D, somente<br />
a arcaica.<br />
Sobra-nos a primeira alternativa: "A terra é<br />
mui graciosa" (mui é um arcaísmo); "tem<br />
macaco até demais" (linguagem coloquial).<br />
Comentário do INEP<br />
O efeito de paródia, explorado como<br />
recurso estilístico pelo autor desse poema,<br />
apresenta-se na utilização de expressões<br />
retomadas ora da carta de Pero Vaz de<br />
Caminha ora da linguagem coloquial corrente<br />
de época, gerando um efeito de humor<br />
crítico. Uma condição essencial para<br />
compreender o problema proposto nessa<br />
questão – identificar os arcaísmos e os<br />
coloquialismos existentes no poema – é<br />
conhecer o contexto de produção do texto e<br />
sua relação intratextual. Se o participante<br />
desconhece ou não considera o contexto<br />
histórico do poema, a identificação será<br />
parcial, já que o enunciado indica como<br />
pressuposto "a criação de um efeito de<br />
contraste" na utilização das expressões.<br />
Possivelmente a utilização de "contraste"<br />
como critério de interpretação justifica os<br />
percentuais de escolhas dos distratores. Uma<br />
outra possível explicação para esses<br />
percentuais deve-se ao fato de os<br />
participantes terem considerado apenas os<br />
termos "arcaísmo" e "coloquialismo" e, não<br />
tendo elementos para analisá-los,<br />
provavelmente deslocaram o texto do<br />
contexto e apoiaram-se em outros elementos<br />
para resolver a questão.<br />
175
33) (2008) Considerando o soneto de<br />
Cláudio Manoel da Costa e os elementos<br />
constitutivos do Arcadismo brasileiro,<br />
assinale a opção correta acerca da<br />
relação entre o poema e o momento<br />
histórico de sua produção.<br />
A) Os “montes” e “outeiros”, mencionados<br />
na primeira estrofe, são imagens<br />
relacionadas à Metrópole, ou seja, ao<br />
lugar onde o poeta se vestiu com traje<br />
“rico e fino”.<br />
B) A oposição entre a Colônia e a<br />
Metrópole, como núcleo do poema,<br />
revela uma contradição vivenciada pelo<br />
poeta, dividido entre a civilidade do<br />
mundo urbano da Metrópole e a<br />
rusticidade da terra da Colônia.<br />
C) O bucolismo presente nas imagens do<br />
poema é elemento estético do<br />
Arcadismo que evidencia a<br />
preocupação do poeta árcade em<br />
realizar uma representação literária<br />
realista da vida nacional.<br />
D) A relação de vantagem da “choupana”<br />
sobre a “Cidade”, na terceira estrofe, é<br />
formulação literária que reproduz a<br />
condição histórica paradoxalmente<br />
vantajosa da Colônia sobre a<br />
Metrópole.<br />
E) A realidade de atraso social, político e<br />
econômico do Brasil Colônia está<br />
representada esteticamente no poema<br />
pela referência, na última estrofe, à<br />
transformação do pranto em alegria.<br />
Comentário<br />
A questão exige conhecimento das<br />
características do Arcadismo. A principal<br />
delas, presente no texto, é o bucolismo,<br />
representado pela paisagem da colônia. Esta<br />
é apresentada em oposição à paisagem da<br />
cidade ou metrópole. O poeta, que participou<br />
da Inconfidência Mineira, viveu em Lisboa.<br />
Dessa forma, o termo “vivenciado” da<br />
alternativa "B" justifica a oposição campo x<br />
cidade apresentada no poema. Logo, só<br />
pode ser essa a alternativa correta.<br />
34) (2008) Assinale a opção que apresenta<br />
um verso do soneto de Cláudio Manoel da<br />
Costa em que o poeta se dirige ao seu<br />
interlocutor.<br />
A) “Torno a ver-vos, ó montes; o<br />
destino” (v.1)<br />
B) “Aqui estou entre Almendro, entre<br />
Corino,” (v.5)<br />
C) “Os meus fiéis, meus doces<br />
companheiros,” (v.6)<br />
176<br />
D) “Vendo correr os míseros vaqueiros”<br />
(v.7)<br />
E) “Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto,”<br />
(v.11)<br />
Comentário<br />
Nesta questão, basta que o aluno<br />
identifique o pronome oblíquo, presente no<br />
verso um, que chama o leitor para o texto.<br />
Sendo assim, a resposta correta é a letra "A".<br />
35) (2008)<br />
Dick Browne. O melhor de Hagar, o horrível, v. 2. L&PM<br />
pocket, p.55-6 (com adaptações).<br />
Assinale o trecho do diálogo que<br />
apresenta um registro informal, ou<br />
coloquial, da linguagem.<br />
A) “Tá legal, espertinho! Onde é que<br />
você esteve?!”<br />
B) “E lembre-se: se você disser uma<br />
mentira, os seus chifres cairão!”<br />
C) “Estou atrasado porque ajudei uma<br />
velhinha a atravessar a rua...”<br />
D) “...e ela me deu um anel mágico que<br />
me levou a um tesouro”<br />
E) “mas bandidos o roubaram e os<br />
persegui até a Etiópia, onde um<br />
dragão...”<br />
Comentário<br />
Linguagem coloquial é aquela usada no<br />
cotidiano, que tem como característica<br />
principal a oralidade, ou seja, aquela que não<br />
segue o rigor da norma culta.<br />
Entre as alternativas da questão, apenas<br />
a letra "A" apresenta esses traços.
36) (2007)<br />
37) (1998) A discussão sobre gramática na<br />
classe está "quente". Será que os<br />
brasileiros sabem gramática? A<br />
professora de Português propõe para<br />
debate o seguinte texto:<br />
PRA MIM BRINCAR<br />
Não há nada mais gostoso do que o<br />
mim sujeito de verbo no infinito. Pra mim<br />
brincar. As cariocas que não sabem<br />
gramática falam assim. Todos os<br />
brasileiros deviam de querer falar como as<br />
cariocas que não sabem gramática.<br />
- As palavras mais feias da língua<br />
portuguesa são quiçá, alhures e miúde.<br />
(BANDEIRA, Manuel. Seleta em prosa e verso. Org:<br />
Emanuel de Moraes.4ª ed. Rio de Janeiro,<br />
José Olympio, 1986. Pág. 19)<br />
A antítese que configura uma imagem da<br />
divisão social do trabalho na sociedade<br />
brasileira é expressa poeticamente na<br />
oposição entre a doçura do branco açúcar<br />
e<br />
A) o trabalho do dono da mercearia de<br />
onde veio o açúcar.<br />
B) o beijo de moça, a água na pele e a flor<br />
que se dissolve na boca.<br />
C) o trabalho do dono do engenho em<br />
Pernambuco, onde se produz o açúcar.<br />
D) a beleza dos extensos canaviais que<br />
nascem no regaço do vale.<br />
E) o trabalho dos homens de vida<br />
amarga em usinas escuras.<br />
Comentário<br />
Questão de nível médio. O aluno deve<br />
perceber, na leitura do poema, várias<br />
antíteses. Entre elas, destaca-se a doçura do<br />
açúcar com a amargura da vida dos<br />
trabalhadores e a brancura dele com a<br />
escuridão das usinas. Porém, o grande<br />
destaque que o autor quer dar é o valor do<br />
trabalho do homem das usinas, que é o<br />
verdadeiro responsável pela produção do<br />
açúcar. Portanto, a alternativa E é a correta.<br />
Com a orientação da professora e após o<br />
debate sobre o texto de Manuel Bandeira,<br />
os alunos chegaram à seguinte conclusão:<br />
A) uma das propostas mais ousadas do<br />
Modernismo foi a busca da identidade<br />
do povo brasileiro e o registro, no texto<br />
literário, da diversidade das falas<br />
brasileiras.<br />
B) apesar de os modernistas registrarem<br />
as falas regionais do Brasil, ainda<br />
foram preconceituosos em relação às<br />
cariocas.<br />
C) a tradição dos valores portugueses foi<br />
a pauta temática do movimento<br />
modernista.<br />
D) Manuel Bandeira e os modernistas<br />
brasileiros exaltaram em seus textos o<br />
primitivismo da nação brasileira.<br />
E) Manuel Bandeira considera a<br />
diversidade dos falares brasileiros uma<br />
agressão à Língua Portuguesa.<br />
Comentário<br />
Para resolver essa questão, é<br />
importantíssimo dar atenção a quem foi o<br />
autor do texto do enunciado — Manuel<br />
Bandeira. Ele participou da primeira fase do<br />
Modernismo brasileiro, conhecida como<br />
geração de 22. Ela tinha, dentre diversas<br />
propostas, uma de fundamental importância<br />
para essa questão: a busca da identidade do<br />
povo brasileiro, valorizando a cultura, a<br />
intelectualidade e a sociedade do país. Entre<br />
essas questões, encontrava-se, com realce,<br />
a da língua brasileira. Buscava-se uma<br />
aproximação entre a língua escrita, herdada<br />
dos portugueses, e a nossa língua falada,<br />
dando-se preferência à linguagem oral. Com<br />
isso em mente, teremos a alternativa A como<br />
correta.<br />
177
38) (1999) Leia um texto publicado no jornal<br />
Gazeta Mercantil. Esse texto é parte de<br />
um artigo que analisa algumas situações<br />
de crise no mundo, entre elas, a quebra<br />
da Bolsa de Nova Iorque em 1929, e foi<br />
publicado na época de uma iminente crise<br />
financeira no Brasil.<br />
Deu no que deu. No dia 29 de outubro de<br />
1929, uma terça-feira, praticamente não<br />
havia compradores no pregão de Nova<br />
Iorque, só vendedores. Seguiu-se uma<br />
crise incomparável: o Produto Interno<br />
Bruto dos Estados Unidos caiu de <strong>10</strong>4<br />
bilhões de dólares em 1929, para 56<br />
bilhões em 1933, coisa inimaginável em<br />
nossos dias. O valor do dólar caiu a quase<br />
metade. O desemprego elevou-se de 1,5<br />
milhão para 12,5 milhões de trabalhadores<br />
– cerca de 25% da população ativa –<br />
entre 1929 e 1933. A construção civil caiu<br />
90%. Nove milhões de aplicações, tipo<br />
caderneta de poupança, perderam-se com<br />
o fechamento dos bancos. Oitenta e cinco<br />
mil firmas faliram. Houve saques e norteamericanos<br />
que passaram fome.<br />
(Gazeta Mercantil, 05/01/1999)<br />
Ao citar dados referentes à crise ocorrida<br />
em 1929, em um artigo jornalístico atual,<br />
pode-se atribuir ao jornalista a seguinte<br />
intenção:<br />
A) questionar a interpretação da crise.<br />
B) comunicar sobre o desemprego.<br />
C) instruir o leitor sobre aplicações em<br />
bolsa de valores.<br />
D) relacionar os fatos passados e<br />
presentes.<br />
E) analisar dados financeiros americanos.<br />
Comentário<br />
Nessa questão, o que se tem de fazer é<br />
prestar atenção às alternativas das<br />
respostas. Nenhuma delas se apresenta tão<br />
bem contextualizada a uma possível<br />
interpretação quanto a letra D. Partindo-se da<br />
análise do texto, fica claro que a intenção do<br />
artigo é remeter o leitor ao passado para<br />
tentar conduzi-lo a uma reflexão sobre uma<br />
situação presente, não mencionada na<br />
questão. Após a leitura e utilizando-se a já<br />
citada eliminação de questões, torna-se clara<br />
a resposta. Questão de nível médio.<br />
(Português)<br />
Muitas vezes, quando procuramos<br />
entender uma crise econômica ou financeira<br />
de grandes proporções, buscamos<br />
estabelecer relações com crises passadas. O<br />
mesmo ocorre no jornalismo, como prova o<br />
texto encontrado nessa questão. Buscando<br />
entender uma crise ocorrida no início de<br />
1999, o jornalista da Gazeta Mercantil<br />
buscou relacionar a situação dessa época<br />
com a grande crise de 1929 que afetou o<br />
mundo, trazendo desemprego e recessão,<br />
entre tantos outros problemas econômicos e<br />
sociais.<br />
Para responder a essa questão, era<br />
necessário ler atentamente o enunciado, em<br />
que está destacado que "o texto é parte de<br />
um artigo que analisa algumas situações de<br />
crise no mundo" e "foi publicado na época de<br />
uma iminente crise financeira no Brasil". Era<br />
importante também observar a data em que o<br />
artigo foi publicado: 05/01/1999. A partir<br />
dessas constatações, facilmente você<br />
chegaria a conclusão de que a intenção do<br />
jornalista era "relacionar os fatos passados e<br />
presentes". Resposta correta: alternativa D.<br />
(História)<br />
Comentário do INEP<br />
A resolução da questão demandava a<br />
capacidade dos participantes de relacionar<br />
eventos históricos envolvendo crises<br />
econômicas ocorridas em épocas e lugares<br />
distintos. Aproximadamente 2/3 deles<br />
demonstraram essa capacidade. Os demais,<br />
provavelmente, não compreenderam a<br />
exigência expressa no enunciado do<br />
problema – apontar as razões pelas quais um<br />
jornalista traz à tona eventos ocorridos<br />
setenta anos antes –, e apenas interpretaram<br />
o sentido do texto citado, que descreve a<br />
crise mundial de 1929.<br />
39) (2000) “Precisa-se nacionais sem<br />
nacionalismo, (...) movidos pelo presente<br />
mas estalando naquele cio racial que só<br />
as tradições maduram! (...). Precisa-se<br />
gentes com bastante meiguice no<br />
sentimento, bastante força na peitaria,<br />
bastante paciência no entusiasmo e<br />
sobretudo, oh! sobretudo bastante<br />
vergonha na cara!<br />
(...) Enfim: precisa-se brasileiros! Assim<br />
está escrito no anúncio vistoso de cores<br />
desesperadas pintado sobre o corpo do<br />
nosso Brasil, camaradas.”<br />
(Jornal A Noite, São Paulo, 18/12/1925 apud LOPES, Telê<br />
Porto Ancona. Mário<br />
de Andrade: ramais e caminhos. São Paulo: Duas<br />
Cidades, 1972)<br />
No trecho acima, Mário de Andrade dá<br />
forma a um dos itens do ideário<br />
modernista, que é o de firmar a feição de<br />
uma língua mais autêntica, “brasileira”, ao<br />
178
expressar-se numa variante de linguagem<br />
popular identificada pela (o):<br />
A) escolha de palavras como cio, peitaria,<br />
vergonha.<br />
B) emprego da pontuação.<br />
C) repetição do adjetivo bastante.<br />
D) concordância empregada em Assim<br />
está escrito.<br />
E) escolha de construção do tipo<br />
precisa-se gentes.<br />
Comentário<br />
Apesar de essa questão misturar vários<br />
tipos de informação, se você se lembra um<br />
pouquinho dos usos da partícula se, com<br />
certeza não encontrará grande dificuldade.<br />
Segundo a regra gramatical, o verbo<br />
"precisa-se" deveria ir para o plural<br />
(precisam-se), mas essa noção de verbo<br />
concordante com o sujeito há muito<br />
desapareceu na variante popular brasileira.<br />
Mas, caso você não se lembre muito bem<br />
desse assunto ou ficou meio confuso com o<br />
texto e as outras alternativas, o caminho é<br />
responder por eliminação.<br />
A primeira alternativa apresenta palavras<br />
comuns no português brasileiro, mas<br />
nenhuma "invenção" nacional. Na dúvida,<br />
pense em "vergonha": não é uma invenção<br />
brasileira. Todos os que falam português no<br />
mundo conhecem bem essa palavra. A<br />
pontuação no texto não chama nenhuma<br />
atenção. Você provavelmente não viu nada<br />
de estranho nela. Da mesma forma, o<br />
"bastante" da terceira alternativa não é nada<br />
mais que um mecanismo de retórica, usado<br />
para dar ênfase à idéia. Com o "Assim está<br />
escrito", encontramos a mesma situação: um<br />
trecho litúrgico é usado para maior ênfase.<br />
Comentário do INEP<br />
A questão procurou avaliar se o<br />
participante era capaz de, a partir da leitura<br />
de um texto de Mário de Andrade , identificar<br />
e analisar uma variante lingüística de uso<br />
coloquial, utilizadas estilisticamente pelo<br />
autor. O uso estilístico das variantes marcou<br />
a primeira fase da literatura brasileira<br />
modernista. O trecho destaca em seu todo<br />
esse uso da linguagem popular. A escolha da<br />
construção 'precisa-se gentes' é marca desse<br />
uso estilístico. O índice de 37% na alternativa<br />
(A) demonstra, possivelmente, que os<br />
participantes não consideraram a escolha<br />
dos vocábulos, dentro do contexto do texto,<br />
confundindo as palavras que aparecem na<br />
alternativa com '...a feição de uma língua<br />
mais autêntica...'.O percentual de acertos foi<br />
da ordem de 40%.<br />
40) (2004) O poema abaixo pertence à<br />
poesia concreta brasileira. O termo latino<br />
de seu título significa "epitalâmio", poema<br />
ou canto em homenagem aos que se<br />
casam.<br />
Considerando que símbolos e sinais são<br />
utilizados geralmente para demonstrações<br />
objetivas, ao serem incorporados no<br />
poema "Epithalamium - II".<br />
A) adquirem novo potencial de<br />
significação.<br />
B) eliminam a subjetividade do poema.<br />
C) opõem-se ao tema principal do poema.<br />
D) invertem seu sentido original.<br />
E) tornam-se confusos e equivocados.<br />
Comentário<br />
Diferentemente, por exemplo, da<br />
aplicação matemática dos símbolos, em que<br />
sinais como "=", "+", "-", "x", etc. servem<br />
como convenções internacionais de<br />
significação objetiva e invariável, em um<br />
poema como "Epithalamium – II" foram<br />
usados símbolos que não são convenções<br />
internacionais, mas, sim, convencionados<br />
apenas para esse texto. No caso, letras do<br />
alfabeto deixam de ser representações de<br />
sons (fonemas) para ganharem nova<br />
significação, principalmente pela construção<br />
visual do poema: unem homem (h) e mulher<br />
(e) pela ação da serpente (s) — libido,<br />
atração — em uma entidade única.<br />
Uma das tendências poéticas da segunda<br />
metade do século XX, resultado de um<br />
diálogo com estéticas já presentes no final do<br />
século XIX, trabalha com a construção de<br />
seu próprio referente, fazendo do poema um<br />
objeto autônomo.<br />
179
41) (2007)<br />
42) (2005) Cândido Portinari (1903-1962), um<br />
dos mais importantes artistas brasileiros<br />
do século XX, tratou de diferentes<br />
aspectos da nossa realidade em seus<br />
quadros.<br />
Sobre a temática dos “Retirantes”,<br />
Portinari também escreveu o seguinte<br />
poema:<br />
Levando-se em consideração o texto de<br />
Oswald de Andrade e a pintura de Antonio<br />
Rocco reproduzida acima, relativos à<br />
imigração européia para o Brasil, é correto<br />
afirmar que<br />
A) a visão da imigração presente na<br />
pintura é trágica e, no texto, otimista.<br />
B) a pintura confirma a visão do texto<br />
quanto à imigração de argentinos para<br />
o Brasil.<br />
C) os dois autores retratam dificuldades<br />
dos imigrantes na chegada ao Brasil.<br />
D) Antonio Rocco retrata de forma otimista<br />
a imigração, destacando o pioneirismo<br />
do imigrante.<br />
E) Oswald de Andrade mostra que a<br />
condição de vida do imigrante era<br />
melhor que a dos ex-escravos.<br />
Comentário<br />
Questão fácil. Pela comparação entre dois<br />
textos com linguagens diferentes, chega-se à<br />
conclusão de que os imigrantes enfrentaram<br />
uma realidade bastante dura no momento de<br />
sua chegada ao Brasil. Portanto, a alternativa<br />
correta é a letra C.<br />
(....)<br />
Os retirantes vêm vindo com trouxas e<br />
embrulhos<br />
Vêm das terras secas e escuras;<br />
pedregulhos<br />
Doloridos como fagulhas de carvão aceso<br />
Corpos disformes, uns panos sujos,<br />
Rasgados e sem cor, dependurados<br />
Homens de enorme ventre bojudo<br />
Mulheres com trouxas caídas para o lado<br />
Pançudas, carregando ao colo um garoto<br />
Choramingando, remelento<br />
(....)<br />
(Cândido Portinari. Poemas. Rio de Janeiro:<br />
J. Olympio, 1964.)<br />
Das quatro obras reproduzidas, assinale<br />
aquelas que abordam a problemática que<br />
é tema do poema.<br />
A) 1 e 2 D) 3 e 4<br />
B) 1 e 3 E) 2 e 4<br />
C) 2 e 3<br />
Comentário<br />
O poema apresenta correspondência com<br />
as imagens ao descrever com detalhes a<br />
figura do retirante: pobre, mal vestido,<br />
carregando trouxas e embrulhos.<br />
43) (2002) O autor da tira utilizou os<br />
princípios de composição de um<br />
conhecido movimento artístico para<br />
representar a necessidade de um mesmo<br />
observador aprender a considerar,<br />
simultaneamente, diferentes pontos de<br />
vista.<br />
180
E)<br />
Das obras reproduzidas, todas de autoria<br />
do pintor espanhol Pablo Picasso, aquela<br />
em cuja composição foi adotado um<br />
procedimento semelhante é:<br />
A)<br />
B)<br />
C)<br />
D)<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. O movimento<br />
artístico que previa considerar<br />
simultaneamente diversos pontos de vista<br />
era o Cubismo. Havia a desconstrução da<br />
forma para que se pudesse ver todos os<br />
ângulos concomitantemente. O único quadro<br />
que apresenta essas características é o da<br />
alternativa E. As outras quatro alternativas<br />
pressupõem a manutenção da forma.<br />
Comentário do INEP<br />
O objetivo desta questão é levar o<br />
participante a refletir sobre características<br />
fundamentais de um movimento artístico – o<br />
cubismo – a partir de dados visuais:<br />
quadrinhos e pinturas. A reprodução de dois<br />
quadrinhos da personagem Calvin forneceu<br />
para o participante informações básicas para<br />
a análise que deveria fazer das alternativas<br />
apresentadas. Segundo os quadrinhos, o<br />
movimento artístico abordado pela questão<br />
tinha como procedimento de composição<br />
representar, para um mesmo observador,<br />
diferentes pontos de vista, fazendo com que<br />
"o tradicional único ponto de vista" fosse<br />
abandonado e com que a perspectiva fosse<br />
fraturada. A análise das obras de Picasso<br />
reproduzidas nas alternativas permite que o<br />
participante reconheça a adoção desse<br />
procedimento no quadro "Marie-Thérèse<br />
apoiada no cotovelo" (alternativa E, com 46%<br />
de registros), no qual se pode reconhecer a<br />
representação de diferentes pontos de vista<br />
a partir dos quais é apresentado o rosto da<br />
mulher retratada.<br />
181
44) (2000) “Poética”, de Manuel Bandeira, é<br />
quase um manifesto do movimento<br />
modernista brasileiro de 1922. No poema,<br />
o autor elabora críticas e propostas<br />
que representam o pensamento estético<br />
predominante na época.<br />
182<br />
Poética<br />
Estou farto do lirismo comedido<br />
Do lirismo bem comportado<br />
Do lirismo funcionário público com livro de<br />
ponto expediente protocolo e<br />
[manifestações de apreço<br />
ao Sr. Diretor<br />
.<br />
Estou farto do lirismo que pára e vai<br />
averiguar no dicionário o<br />
[cunho vernáculo de um<br />
vocábulo<br />
Abaixo os puristas<br />
....................................................................<br />
Quero antes o lirismo dos loucos<br />
O lirismo dos bêbedos<br />
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos<br />
O lirismo dos clowns de Shakespeare<br />
— Não quero mais saber do lirismo que<br />
não é libertação.<br />
(BANDEIRA, Manuel. Poesia Completa e Prosa.<br />
Rio de Janeiro. Aguilar, 1974)<br />
Com base na leitura do poema, podemos<br />
afirmar corretamente que o poeta:<br />
A) critica o lirismo louco do movimento<br />
modernista.<br />
B) critica todo e qualquer lirismo na<br />
literatura.<br />
C) propõe o retorno ao lirismo do<br />
movimento clássico.<br />
D) propõe o retorno ao lirismo do<br />
movimento romântico.<br />
E) propõe a criação de um novo lirismo.<br />
Comentário<br />
Questão bastante inteligente. Para<br />
começar, Manuel Bandeira teve como marca<br />
de sua obra a busca de novas formas de<br />
expressão, sempre. Mesmo tendo escrito<br />
muitos sonetos (especialmente no início da<br />
carreira), adotou prazerosamente a rebeldia<br />
da poética modernista. A resposta pode estar<br />
centrada na análise de um único verso do<br />
poema. As alternativas de a a d ficam todas<br />
automaticamente descartadas pelo primeiro<br />
verso da segunda parte ("Quero antes o<br />
lirismo dos loucos"). Veja que quem prega<br />
um lirismo dos loucos e dos bêbedos não<br />
pode nem criticar o "lirismo louco" dos<br />
modernistas, como na alternativa a, ou<br />
propor que não haja lirismo, como na<br />
alternativa b. Tampouco pode querer o<br />
retorno à rigidez de forma e métrica da<br />
poesia clássica (lembre-se de Camões) ou<br />
romântica (Álvares de Azevedo, Castro<br />
Alves, Casimiro de Abreu). Propõe, sim, um<br />
novo tipo de lirismo. Vemos isso claramente<br />
se dermos atenção ao casamento do<br />
primeiro com o último verso da segunda<br />
parte ("Quero antes o lirismo dos loucos" /<br />
"—Não quero mais saber do lirismo que não<br />
é libertação").<br />
Comentário do INEP<br />
Um pouco mais da metade dos<br />
participantes (55 %) conseguiu identificar no<br />
texto a proposta estética do poeta e, em<br />
última análise, do próprio Modernismo. Os<br />
distratores com percentuais significativos de<br />
escolha foram apenas B e D. No primeiro<br />
caso, o tom de manifesto, incisivo e<br />
demolidor, do poema provavelmente induziu<br />
a opção. No segundo, a explicação se deve à<br />
possível relação que o participante<br />
estabeleceu entre o Modernismo e o<br />
Romantismo, que de fato existe, mas que<br />
não se aplica ao caso.<br />
45) (2001) Oxímoro (ou paradoxo) é uma<br />
construção textual que agrupa significados<br />
que se excluem mutuamente. Para<br />
Garfield, a frase de saudação de Jon<br />
(tirinha abaixo) expressa o maior de todos<br />
os oxímoros.<br />
Folha de S. Paulo. 31 de julho de 2000.<br />
Nas alternativas abaixo, estão transcritos<br />
versos retirados do poema “O operário em<br />
construção”. Pode-se afirmar que ocorre<br />
um oxímoro em<br />
A) "Era ele que erguia casas<br />
Onde antes só havia chão."<br />
B) "... a casa que ele fazia<br />
Sendo a sua liberdade<br />
Era a sua escravidão."<br />
C) "Naquela casa vazia<br />
Que ele mesmo levantara<br />
Um mundo novo nascia<br />
De que sequer suspeitava."
D) "... o operário faz a coisa<br />
E a coisa faz o operário."<br />
E) "Ele, um humilde operário<br />
Um operário que sabia<br />
Exercer a profissão."<br />
MORAES, Vinícius de. Antologia Poética. São Paulo:<br />
Companhia das Letras, 1992.<br />
Comentário<br />
Idéias que se completam e se excluem<br />
mutuamente são encontradas na alternativa<br />
B: a casa que ele construía era, ao mesmo<br />
tempo, sua liberdade e sua escravidão.<br />
A casa é um símbolo de liberdade para o<br />
homem. Para o homem operário, é também<br />
símbolo de escravidão, pois ele está<br />
"condenado" a jamais usufruir do resultado<br />
do seu trabalho (a casa que faz não é para<br />
ele).<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão propõe ao participante que<br />
estabeleça uma relação entre linguagens,<br />
associando a compreensão de um efeito<br />
semântico produzido pelo uso do oxímoro<br />
nos quadrinhos com o mesmo efeito num<br />
texto poético. O índice (18%) de escolhas da<br />
alternativa D deve-se, possivelmente, a uma<br />
análise parcial da noção de paradoxo,<br />
confundida com inversão.<br />
46) (2004)<br />
A polifonia, variedade de vozes, presente<br />
no poema resulta da manifestação do<br />
A) poeta e do colonizador apenas.<br />
B) colonizador e do negro apenas.<br />
C) negro e do índio apenas.<br />
D) colonizador, do poeta e do negro<br />
apenas.<br />
E) poeta, do colonizador, do índio e do<br />
negro.<br />
Comentário<br />
A questão apresenta uma certa<br />
dificuldade, pois, à primeira vista, parecem<br />
confundir-se as vozes do colonizador, do<br />
negro e do índio. Entretanto, os<br />
travessões existentes no poema explicitam<br />
as falas das personagens ao mostrar que<br />
não são apenas as vozes do poeta e do<br />
colonizador que estão presentes. As falas do<br />
índio e do negro são proferidas por eles,<br />
marca expressa pelo discurso direto. A<br />
presença dessa modalidade de discurso<br />
indica a reprodução literal do que as<br />
personagens disseram.<br />
Um ponto interessante em relação a essa<br />
questão é a intertextualidade. O índio<br />
aparece no poema pela remissão a um texto<br />
poético do nosso Romantismo, em um<br />
processo intertextual com “I-Juca-Pirama”, de<br />
Gonçalves Dias; e a presença do negro se dá<br />
pela ligação com Mário de Andrade, em<br />
Macunaíma. Entende-se, portanto, que a<br />
alternativa correta é a letra E.<br />
47) (2003) No ano passado, o governo<br />
promoveu uma campanha a fim de reduzir<br />
os índices de violência. Noticiando o fato,<br />
um jornal publicou a seguinte manchete:<br />
CAMPANHA CONTRA A VIOLÊNCIA DO<br />
GOVERNO DO ESTADO ENTRA EM NOVA<br />
FASE<br />
A manchete tem um duplo sentido, e isso<br />
dificulta o entendimento. Considerando o<br />
objetivo da notícia, esse problema poderia<br />
ter sido evitado com a seguinte redação:<br />
A) Campanha contra o governo do Estado<br />
e a violência entram em nova fase.<br />
B) A violência do governo do Estado entra<br />
em nova fase de Campanha.<br />
C) Campanha contra o governo do Estado<br />
entra em nova fase de violência.<br />
D) A violência da campanha do governo<br />
do Estado entra em nova fase.<br />
E) Campanha do governo do Estado<br />
contra a violência entra em nova fase.<br />
Comentário<br />
O objetivo da questão é eliminar a<br />
ambigüidade da notícia de jornal, que,<br />
originalmente, trazia duas idéias: de acordo<br />
com a primeira, o governo queria combater a<br />
violência, e a segunda ressaltava que o<br />
governo era violento. Nessa questão,<br />
era preciso eliminar a segunda possibilidade<br />
de leitura.<br />
183
48) (2004)<br />
184<br />
O assunto de uma crônica pode ser uma<br />
experiência pessoal do cronista, uma<br />
informação obtida por ele ou um caso<br />
imaginário. O modo de apresentar o<br />
assunto também varia: pode ser uma<br />
descrição objetiva, uma exposição<br />
argumentativa ou uma narrativa sugestiva.<br />
Quanto à finalidade pretendida, pode-se<br />
promover uma reflexão, definir um<br />
sentimento ou tão-somente provocar um<br />
riso.<br />
Na crônica O jivaro, escrita a partir da<br />
reportagem de um jornal, Rubem Braga se<br />
vale dos seguinte elementos:<br />
Comentário<br />
O assunto da crônica de Rubem Braga foi<br />
uma informação colhida — o conhecimento<br />
que ele teve de uma entrevista dada por um<br />
viajante a um jornal. Essa informação foi<br />
apresentada por meio de uma narrativa<br />
sugestiva — uma história que ganha a<br />
atenção do leitor não por sua carga<br />
argumentativa ou pela precisão de suas<br />
descrições, mas por seu encaminhamento e<br />
fecho inusitados. A finalidade é provocar uma<br />
reflexão — por que quereria o índio fazer<br />
demonstração de uma ação que causa<br />
sofrimento à vítima, utilizando justamente um<br />
“oponente” que não lhe causara mal algum?<br />
Se algum sofrimento precisa ser causado<br />
para isso, que seja então a alguém que ao<br />
menos o pareça merecer.<br />
49) (2002) "A palavra tatuagem é<br />
relativamente recente. Toda a gente sabe<br />
que foi o navegador Cook que a introduziu<br />
no Ocidente, e esse escrevia tattou, termo<br />
da Polinésia de tatou ou tu tahou,<br />
'desenho'.<br />
(...) Desde os mais remotos tempos,<br />
vemo-la a transformar-se: distintivo<br />
honorífico entre uns homens, ferrete de<br />
ignomínia entre outros, meio de assustar o<br />
adversário para os bretões, marca de uma<br />
classe de selvagens das ilhas marquesas<br />
(...) sinal de amor, de desprezo, de ódio<br />
(...). Há três casos de tatuagem no Rio,<br />
completamente diversos na sua<br />
significação moral: os negros,os turcos<br />
com o fundo religioso e o bando de<br />
meretrizes, dos rufiões e dos humildes,<br />
que se marcam por crime ou por<br />
ociosidade".<br />
RIO, João do. Os Tatuadores. Revista Kosmos.<br />
1904, apud: A alma encantadora das ruas,<br />
SP: Cia das Letras, 1999.<br />
Com base no texto são feitas as seguintes<br />
afirmações:<br />
I. João do Rio revela como a tatuagem já<br />
estava presente na cidade do Rio de<br />
Janeiro, pelo menos desde o início do<br />
século XX, e era mais utilizada por<br />
alguns setores da população.<br />
II. A tatuagem, de origem polinésia,<br />
difundiu-se no ocidente com a<br />
característica que permanece até hoje:<br />
utilização entre os jovens com função<br />
estritamente estética.<br />
III. O texto mostra como a tatuagem é<br />
uma prática que se transforma no<br />
tempo e que alcança inúmeros sentidos<br />
nos diversos setores das sociedades e<br />
para as diferentes culturas.<br />
Está correto o que se afirma apenas em<br />
A) I D) I e II<br />
B) II E) I e III<br />
C) III<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Constata-se o<br />
seguinte: a tatuagem já existia no Brasil no<br />
início do século XX (o texto é de 1904 e parte<br />
dele se refere ao Rio do Janeiro) e era<br />
utilizada em diferentes setores da sociedade.<br />
A afirmação de que as tatuagens possuem<br />
apenas finalidade estética entre os jovens<br />
elimina a segunda alternativa. Já a última<br />
alternativa confirma as transformações das<br />
funções da tatuagem ao longo do tempo nas<br />
mais diversas sociedades e culturas.<br />
Comentário do INEP<br />
O texto estabelece uma relação entre a<br />
atualidade da palavra "tatuagem" e a<br />
antiguidade do uso de desenhos como<br />
pintura corporal. Focaliza uma prática social<br />
bastante difundida que adquiriu aspectos e<br />
conotações diversos nos diferentes contextos<br />
históricos e geográficos em que ela pode ser<br />
descrita. Fazendo a descrição da prática da<br />
tatuagem, como uma manifestação comum a<br />
diferentes culturas, e que adquire, inclusive,
significados diferentes dentro de uma mesma<br />
cultura, induz o participante a refletir sobre a<br />
"diversidade dos patrimônios etnoculturais e<br />
artísticos", contextualizando ao mesmo<br />
tempo seus significados "em diferentes<br />
sociedades, épocas e lugares". Ao retomar<br />
as várias origens e usos da tatuagem, o<br />
participante é levado a compreender e<br />
respeitar uma gramática histórica dos<br />
costumes marcada sempre por semelhanças<br />
e diferenças. A questão não exigia, portanto,<br />
nenhum conhecimento prévio sobre as<br />
diferentes formas de manifestação dessa<br />
prática, mas simplesmente constatar, com o<br />
autor do texto citado, a historicidade e a<br />
diversidade das práticas sociais. Os<br />
participantes que assinalaram a alternativa C<br />
(36%), possivelmente, não levaram em<br />
consideração informações do texto. A<br />
questão foi corretamente respondida por 37%<br />
dos participantes.<br />
50) (2004)<br />
Nesta tirinha, a personagem faz referência<br />
a uma das mais conhecidas figuras de<br />
linguagem para<br />
A) condenar a prática de exercícios físicos<br />
B) valorizar aspectos da vida moderna.<br />
C) desestimular o uso das bicicletas.<br />
D) caracterizar o diálogo entre as<br />
gerações.<br />
E) criticar a falta de perspectiva do pai.<br />
Comentário<br />
A construção indica a falta de perspectiva<br />
na vida do pai do personagem. “Pedalar sem<br />
sair do lugar” é uma metáfora muito usada na<br />
cultura brasileira para expressar como é a<br />
vida de uma pessoa que age de forma a não<br />
conseguir qualquer mudança — para melhor<br />
ou para pior — na vida.<br />
51) (2004) As questões de números 26 e 27<br />
referem-se ao poema abaixo.<br />
Entre os recursos expressivos<br />
empregados no texto, destaca-se a<br />
A) metalinguagem, que consiste em fazer<br />
a linguagem referir-se à própria<br />
linguagem.<br />
B) intertextualidade, na qual o texto<br />
retoma e reelabora outros textos.<br />
C) ironia, que consiste em se dizer o<br />
contrário do que se pensa, com<br />
intenção crítica.<br />
D) denotação, caracterizada pelo uso das<br />
palavras em seu sentido próprio e<br />
objetivo.<br />
E) prosopopéia, que consiste em<br />
personificar coisas inanimadas,<br />
atribuindo-lhes vida.<br />
Comentário<br />
A questão trata de um texto de Carlos<br />
Drummond de Andrade em que ele fala sobre<br />
o crescimento urbano e a pobreza que esse<br />
processo traz. Para tanto, o poeta utiliza uma<br />
linguagem irônica, revelando o lado oculto do<br />
desenvolvimento. Dessa forma, temos como<br />
correta a alternativa C.<br />
52) (2007) Antigamente<br />
Acontecia o indivíduo apanhar<br />
constipação; ficando perrengue, mandava<br />
o próprio chamar o doutor e, depois, ir à<br />
botica para aviar a receita, de cápsulas ou<br />
pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />
phtísica, feia era o gálico. Antigamente, os<br />
sobrados tinham assombrações, os<br />
meninos, lombrigas (...)<br />
Carlos Drummond de Andrade. Poesia completa e prosa.<br />
Rio de Janeiro: Companhia José Aguilar, p. 1.184.<br />
O texto acima está escrito em linguagem<br />
de uma época passada. Observe uma<br />
outra versão, em linguagem atual.<br />
185
Antigamente<br />
Acontecia o indivíduo apanhar um<br />
resfriado; ficando mal, mandava o próprio<br />
chamar o doutor e, depois, ir à farmácia<br />
para aviar a receita, de cápsulas ou<br />
pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />
tuberculose, feia era a sífilis. Antigamente,<br />
os sobrados tinham assombrações, os<br />
meninos, vermes (...)<br />
Comparando-se esses dois textos,<br />
verifica-se que, na segunda versão, houve<br />
mudanças relativas a<br />
A) vocabulário.<br />
B) construções sintáticas.<br />
C) pontuação.<br />
D) fonética.<br />
E) regência verbal.<br />
Comentário<br />
Questão fácil. O aluno deveria comparar<br />
os dois textos e verificar as alterações<br />
realizadas na segunda versão apresentada.<br />
Nesse momento, fica evidente a mudança de<br />
vocabulário, o que indica a alternativa A<br />
como a correta.<br />
53) (2007)<br />
Aqui na floresta<br />
Dos ventos batida,<br />
Façanhas de bravos<br />
Não geram escravos,<br />
Que estimem a vida<br />
Sem guerra e lidar.<br />
— Ouvi-me, Guerreiros,<br />
— Ouvi meu cantar.<br />
O canto do guerreiro<br />
Valente na guerra,<br />
Quem há, como eu sou?<br />
Quem vibra o tacape<br />
Com mais valentia?<br />
Quem golpes daria<br />
Fatais, como eu dou?<br />
— Guerreiros, ouvi-me;<br />
— Quem há, como eu sou?<br />
Gonçalves Dias.<br />
Macunaíma<br />
(Epílogo)<br />
Acabou-se a história e morreu a vitória.<br />
Não havia mais ninguém lá. Dera<br />
tangolomângolo na tribo Tapanhumas e<br />
os filhos dela se acabaram de um em um.<br />
Não havia mais ninguém lá. Aqueles<br />
lugares, aqueles campos, furos<br />
puxadouros arrastadouros meiosbarrancos,<br />
aqueles matos misteriosos,<br />
tudo era solidão do deserto... Um silêncio<br />
imenso dormia à beira do rio Uraricoera.<br />
Nenhum conhecido sobre a terra não<br />
sabia nem falar da tribo nem contar<br />
aqueles casos tão pançudos. Quem podia<br />
saber do Herói?<br />
Mário de Andrade.<br />
A) ambos têm como tema a figura do<br />
indígena brasileiro apresentada de<br />
forma realista e heróica, como símbolo<br />
máximo do nacionalismo romântico.<br />
B) a abordagem da temática adotada no<br />
texto escrito em versos é<br />
discriminatória em relação aos povos<br />
indígenas do Brasil.<br />
C) as perguntas “— Quem há, como eu<br />
sou?” (1.º texto) e “Quem podia saber<br />
do Herói?” (2.º texto) expressam<br />
diferentes visões da realidade indígena<br />
brasileira.<br />
D) o texto romântico, assim como o<br />
modernista, aborda o extermínio dos<br />
povos indígenas como resultado do<br />
processo de colonização no Brasil.<br />
E) os versos em primeira pessoa revelam<br />
que os indígenas podiam expressar-se<br />
poeticamente, mas foram silenciados<br />
pela colonização, como demonstra a<br />
presença do narrador, no segundo<br />
texto.<br />
Comentário<br />
Questão de nível médio. Essa questão<br />
exige conhecimento prévio dos movimentos<br />
literários de cada autor. No primeiro, O canto<br />
do Guerreiro, de Gonçalves Dias, pertence<br />
ao Romantismo. Nesse período, a figura do<br />
índio aparece como protagonista, sempre<br />
idealizado e visto como um perfeito herói. Já<br />
no texto Macunaíma, de Mário de Andrade,<br />
levando em conta a característica do<br />
Modernismo, o índio também é protagonista,<br />
mas, por sua vez, há a predominância de um<br />
nacionalismo crítico e realista. Com base<br />
nessas considerações, consegue-se<br />
chegar à conclusão de que a alternativa C é<br />
a correta. Essa alternativa mostra que, por<br />
trás dos textos, há duas visões diferentes da<br />
realidade indígena brasileira, representadas<br />
pelas características dos dois diferentes<br />
estilos de época.<br />
A leitura comparativa dos dois textos<br />
acima indica que<br />
186
54) (2004)<br />
Finalmente, na letra E, “que” retoma a<br />
questão restritiva ocorrida na alternativa B.<br />
Nesse caso, contudo, refere-se aos “poemas<br />
QUE esperam ser escritos”, ou seja, àqueles<br />
poemas, especificamente.<br />
No trecho "Montes Claros cresceu tanto,/<br />
(...),/ que já tem cinco favelas", a palavra<br />
que contribui para estabelecer uma<br />
relação de conseqüência. Dos seguintes<br />
versos, todos de Carlos Drummond de<br />
Andrade, apresentam esse mesmo tipo de<br />
relação:<br />
A) "Meu Deus, por que me abandonaste /<br />
se sabias que eu não era Deus / se<br />
sabias que eu era fraco."<br />
B) "No meio-dia branco de luz uma voz<br />
que aprendeu / a ninar nos longes da<br />
senzala – e nunca se esqueceu /<br />
chamava para o café."<br />
C) "Teus ombros suportam o mundo / e<br />
ele não pesa mais que a mão de uma<br />
criança."<br />
D) "A ausência é um estar em mim. / E<br />
sinto-a, branca, tão pegada,<br />
aconchegada nos meus braços, / que<br />
rio e danço e invento exclamações<br />
alegres."<br />
E) "Penetra surdamente no reino das<br />
palavras. / Lá estão os poemas que<br />
esperam ser escritos."<br />
Comentário<br />
Da mesma forma que no poema do<br />
enunciado, a palavra “que” retoma o sentido<br />
consecutivo na alternativa D, relacionando o<br />
fato de o eu lírico estar tão apegado à<br />
ausência QUE ri e dança, em devaneio,<br />
exaltando a alegria. A idéia remete a um<br />
raciocínio de causa e conseqüência: estar<br />
tão apegado a algo QUE outra coisa ocorre.<br />
Na alternativa A, “que” indica a introdução<br />
de uma oração subordinada objetiva direta,<br />
ou seja, que dá a idéia de um complemento<br />
do verbo SABER.<br />
Na alternativa B, “que” caracteriza a<br />
palavra “voz”, introduzindo uma oração<br />
subordinada adjetiva restritiva: “A voz QUE<br />
aprendeu”.<br />
Na alternativa C, “que” assume um<br />
caráter comparativo (mais que).<br />
55) (2001) Nas conversas diárias, utiliza-se<br />
freqüentemente a palavra “próprio” e ela<br />
se ajusta a várias situações. Leia os<br />
exemplos de diálogos:<br />
I - A Vera se veste diferente!<br />
- É mesmo, é que ela tem um estilo<br />
próprio.<br />
II - A Lena já viu esse filme uma dezena<br />
de vezes! Eu não consigo ver o<br />
que ele tem de tão maravilhoso assim.<br />
- É que ele é próprio para adolescente.<br />
III - Dora, o que eu faço? Ando tão<br />
preocupada com o Fabinho! Meu filho<br />
está impossível!<br />
- Relaxa, Tânia! É próprio da idade.<br />
Com o tempo, ele se acomoda.<br />
Nas ocorrências I, II e III, “próprio” é<br />
sinônimo de, respectivamente,<br />
A) adequado, particular, típico.<br />
B) peculiar, adequado, característico.<br />
C) conveniente, adequado, particular.<br />
D) adequado, exclusivo, conveniente.<br />
E) peculiar, exclusivo, característico.<br />
Comentário<br />
Para responder a essa pergunta,<br />
substitua, nos trechos, a palavra próprio<br />
pelos possíveis equivalentes apresentados<br />
nas alternativas. Questão simples que pode<br />
ser resolvida por eliminação.<br />
Comentário do INEP<br />
Nesta questão são apresentados três<br />
textos em que uma mesma palavra é<br />
utilizada com sentidos diferentes. O problema<br />
consiste em observar a variedade de uso de<br />
um mesmo termo e as possibilidades de sua<br />
compreensão, estabelecendo uma relação<br />
comparativa com base em uma análise<br />
semântica. Cerca de metade (49%) dos<br />
participantes estabeleceu essa relação de<br />
maneira correta. Os participantes que<br />
assinalaram a alternativa D (21%),<br />
possivelmente isolaram o termo do contexto,<br />
gerando um equívoco entre "adequado" e<br />
"exclusivo".<br />
187
56) (2003) Do pedacinho de papel ao livro<br />
impresso vai uma longa distância. Mas o<br />
que o escritor quer, mesmo, é isso: ver o<br />
seu texto em letra de forma. A gaveta é<br />
ótima para aplacar a fúria criativa; ela faz<br />
amadurecer o texto da mesma forma que<br />
a adega faz amadurecer o vinho. Em<br />
certos casos, a cesta de papel é melhor<br />
ainda.<br />
O período de maturação na gaveta é<br />
necessário, mas não deve se prolongar<br />
muito. ‘Textos guardados acabam<br />
cheirando mal’, disse Silvia Plath, (...) que,<br />
com esta frase, deu testemunho das<br />
dúvidas que atormentam o escritor:<br />
publicar ou não publicar? guardar ou jogar<br />
fora?<br />
(Moacyr Scliar. O escritor e seus desafios.)<br />
Nesse texto, o escritor Moacyr Scliar usa<br />
imagens para refletir sobre uma etapa da<br />
criação literária. A idéia de que o processo<br />
de maturação do texto nem sempre é o<br />
que garante bons resultados está sugerida<br />
na seguinte frase:<br />
A) "A gaveta é ótima para aplacar a fúria<br />
criativa."<br />
B) "Em certos casos, a cesta de papel é<br />
melhor ainda."<br />
C) "O período de maturação na gaveta é<br />
necessário, (...)."<br />
D) "Mas o que o escritor quer, mesmo, é<br />
isso: ver o seu texto em letra de forma."<br />
E) "ela (a gaveta) faz amadurecer o texto<br />
da mesma forma que a adega faz<br />
amadurecer o vinho."<br />
Comentário<br />
Essa questão exigia a interpretação das<br />
frases. A palavra NEM no enunciado exclui<br />
todas as alternativas que tratam do<br />
amadurecimento ou da importância da<br />
gaveta para o bom sucesso da produção<br />
literária.<br />
A alternativa B é a única que apresenta<br />
um procedimento alternativo para a produção<br />
textual, ou seja, o lixo, e significa a liberdade<br />
do escritor em começar,<br />
interromper, recomeçar ou simplesmente<br />
abandonar a obra, permitindo a ele exercer<br />
seu livre-arbítrio.<br />
57) (2007)<br />
Aqui na floresta<br />
Dos ventos batida,<br />
Façanhas de bravos<br />
Não geram escravos,<br />
Que estimem a vida<br />
Sem guerra e lidar.<br />
— Ouvi-me, Guerreiros,<br />
— Ouvi meu cantar.<br />
O canto do guerreiro<br />
Valente na guerra,<br />
Quem há, como eu sou?<br />
Quem vibra o tacape<br />
Com mais valentia?<br />
Quem golpes daria<br />
Fatais, como eu dou?<br />
— Guerreiros, ouvi-me;<br />
— Quem há, como eu sou?<br />
Gonçalves Dias.<br />
Macunaíma<br />
(Epílogo)<br />
Acabou-se a história e morreu a vitória.<br />
Não havia mais ninguém lá. Dera<br />
tangolomângolo na tribo Tapanhumas e<br />
os filhos dela se acabaram de um em um.<br />
Não havia mais ninguém lá. Aqueles<br />
lugares, aqueles campos, furos<br />
puxadouros arrastadouros meiosbarrancos,<br />
aqueles matos misteriosos,<br />
tudo era solidão do deserto... Um silêncio<br />
imenso dormia à beira do rio Uraricoera.<br />
Nenhum conhecido sobre a terra não<br />
sabia nem falar da tribo nem contar<br />
aqueles casos tão pançudos. Quem podia<br />
saber do Herói?<br />
Mário de Andrade.<br />
Considerando-se a linguagem desses dois<br />
textos, verifica-se que<br />
A) a função da linguagem centrada no<br />
receptor está ausente tanto no primeiro<br />
quanto no segundo texto.<br />
B) a linguagem utilizada no primeiro texto<br />
é coloquial, enquanto, no segundo,<br />
predomina a linguagem formal.<br />
C) há, em cada um dos textos, a<br />
utilização de pelo menos uma palavra<br />
de origem indígena.<br />
D) a função da linguagem, no primeiro<br />
texto, centra-se na forma de<br />
organização da linguagem e, no<br />
segundo, no relato de informações<br />
reais.<br />
E) a função da linguagem centrada na<br />
primeira pessoa, predominante no<br />
segundo texto, está ausente no<br />
primeiro.<br />
Comentário<br />
Questão de nível médio. Essa é uma<br />
questão que foca a linguagem dos textos, e<br />
cada qual em seu gênero (poesia e prosa,<br />
respectivamente). O aluno chega à<br />
conclusão que a alternativa correta é a C por<br />
meio da exclusão das demais alternativas.<br />
A resposta correta não é a A, pois há um<br />
receptor que pode ser percebido nas<br />
seguintes perguntas contidas no texto:<br />
188
Texto 1 – “Guerreiros, ouvi-me;/Quem há,<br />
como eu sou?”<br />
Texto 2 – “Quem podia saber do herói?”<br />
Também não é a alternativa B, pois o<br />
conteúdo dos textos não é discriminatório. No<br />
primeiro texto, há uma idealização do índio e,<br />
no segundo, há uma realidade crítica e<br />
satírica da sociedade.<br />
A alternativa D é excluída, porque o<br />
segundo texto não fala de uma realidade, já<br />
que Macunaíma é um herói fictício e nãoreal.<br />
Por fim, também está errada a alternativa<br />
E. Isso porque não temos no epílogo do texto<br />
de Macunaíma a linguagem centrada na<br />
primeira pessoa, mas sim, na terceira.<br />
58) (2003) Eu começaria dizendo que poesia<br />
é uma questão de linguagem. A<br />
importância do poeta é que ele torna mais<br />
viva a linguagem. Carlos Drummond de<br />
Andrade escreveu um dos mais belos<br />
versos da língua portuguesa com duas<br />
palavras comuns: cão e cheirando.<br />
Um cão cheirando o futuro<br />
(Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP, 24/05/1988.<br />
adaptação)<br />
O que deu ao verso de Drummond o<br />
caráter de inovador da língua foi<br />
A) o modo raro como foi tratado o<br />
"futuro".<br />
B) a referência ao cão como "animal de<br />
estimação".<br />
C) a flexão pouco comum do verbo<br />
"cheirar" (gerúndio).<br />
D) a aproximação não usual do agente<br />
citado e a ação de "cheirar".<br />
E) o emprego do artigo indefinido "um" e<br />
do artigo definido "o" na mesma frase.<br />
Comentário<br />
O fato de Drummond identificar o futuro<br />
como algo que pode ser percebido por um<br />
animal irracional por meio do olfato foi<br />
inovador. A figura de linguagem foi<br />
construída metaforicamente: o futuro torna-se<br />
uma coisa que tem cheiro, contrariamente à<br />
imagem pela qual ele normalmente é<br />
representado: como algo que não se vê e<br />
não se pode pressentir ou tocar.<br />
59) (2003) Epígrafe*<br />
Murmúrio de água na clepsidra**<br />
gotejante,<br />
Lentas gotas de som no relógio da torre,<br />
Fio de areia na ampulheta vigilante,<br />
Leve sombra azulando a pedra do<br />
quadrante***<br />
Assim se escoa a hora, assim se vive e<br />
morre...<br />
Homem, que fazes tu? Para que tanta<br />
lida,<br />
Tão doidas ambições, tanto ódio e tanta<br />
ameaça?<br />
Procuremos somente a Beleza, que a vida<br />
É um punhado infantil de areia<br />
ressequida,<br />
Um som de água ou de bronze e uma<br />
sombra que passa...<br />
(Eugênio de Castro. Antologia pessoal da poesia<br />
portuguesa)<br />
(*) Epígrafe: inscrição colocada no ponto<br />
mais alto; tema.<br />
(**) Clepsidra: relógio de água.<br />
(***) Pedra do quadrante: parte superior<br />
de um relógio de sol.<br />
A imagem contida em "lentas gotas de<br />
som" (verso 2) é retomada na segunda<br />
estrofe por meio da expressão:<br />
A) tanta ameaça.<br />
B) som de bronze.<br />
C) punhado de areia.<br />
D) sombra que passa.<br />
E) somente a Beleza.<br />
Comentário<br />
Numa clepsidra (relógio de água), o som<br />
do gotejamento lembra-nos o tic-tac de um<br />
relógio comum ou o som do sino que marca<br />
as horas no “relógio da torre” (verso 2,<br />
estrofe 1).<br />
Na segunda estrofe, o quinto verso<br />
refere-se a “Um som de água ou de<br />
bronze...” e nos remete, pelo “som de<br />
bronze”, ao som do sino que marca as horas<br />
no relógio da torre (os sinos normalmente<br />
eram feitos de bronze).<br />
60) (2002) Só falta o Senado aprovar o<br />
projeto de lei [sobre o uso de termos<br />
estrangeiros no Brasil] para que palavras<br />
como shopping center , delivery e drivethrough<br />
sejam proibidas em nomes de<br />
estabelecimentos e marcas. Engajado<br />
nessa valorosa luta contra o inimigo<br />
ianque, que quer fazer área de livre<br />
comércio com nosso inculto e belo idioma,<br />
189
venho sugerir algumas outras medidas<br />
que serão de extrema importância para a<br />
preservação da soberania nacional, a<br />
saber:<br />
........<br />
Nenhum cidadão carioca ou gaúcho<br />
poderá dizer "Tu vai" em espaços públicos<br />
do território nacional;<br />
Nenhum cidadão paulista poderá dizer "Eu<br />
lhe amo" e retirar ou acrescentar o plural<br />
em sentenças como "Me vê um chopps e<br />
dois pastel";<br />
..........<br />
Nenhum dono de borracharia poderá<br />
escrever cartaz com a palavra "borraxaria"<br />
e nenhum dono de banca de jornal<br />
anunciará "Vende-se cigarros";<br />
..........<br />
Nenhum livro de gramática obrigará os<br />
alunos a utilizar colocações pronominais<br />
como "casar-me-ei" ou "ver-se-ão".<br />
PIZA, Daniel. Uma proposta imodesta. O Estado de<br />
S. Paulo, São Paulo, 8/04/2001.<br />
No texto acima, o autor:<br />
A) mostra-se favorável ao teor da<br />
proposta por entender que a língua<br />
portuguesa deve ser protegida contra<br />
deturpações de uso.<br />
B) ironiza o projeto de lei ao sugerir<br />
medidas que inibam determinados usos<br />
regionais e socioculturais da língua.<br />
C) denuncia o desconhecimento de regras<br />
elementares de concordância verbal e<br />
nominal pelo falante brasileiro.<br />
D) revela-se preconceituoso em relação a<br />
certos registros lingüísticos ao propor<br />
medidas que os controlem.<br />
E) defende o ensino rigoroso da gramática<br />
para que todos aprendam a empregar<br />
corretamente os pronomes.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. O autor ironiza o<br />
projeto de lei que proíbe o uso de<br />
estrangeirismos no Brasil. Não adianta criarse<br />
uma expectativa ou preocupação em<br />
relação ao uso de termos estrangeiros na<br />
língua e esquecer-se de que a língua é um<br />
organismo vivo, mutável. A dinâmica de uma<br />
língua não pode ser regida por preceitos<br />
legais como quer o projeto.<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão reproduz trechos de um<br />
texto que aborda o polêmico projeto de<br />
proibição de uso de termos estrangeiros no<br />
Brasil. A partir da leitura atenta do texto de<br />
Daniel Piza, o participante é levado a refletir<br />
sobre a postura adotada pelo autor em<br />
relação ao referido projeto. Para<br />
compreender esse texto, o participante<br />
precisa reconhecer o tom irônico que marca<br />
as observações e sugestões feitas por seu<br />
autor. Assim, Daniel Piza, "engajado nessa<br />
valorosa luta contra o inimigo ianque", sugere<br />
a proibição de algumas formas lingüísticas de<br />
uso corrente que contrariam recomendações<br />
da gramática normativa. O participante deve<br />
reconhecer que, com sugestões como essas,<br />
Daniel Piza deixa implícita uma crítica à<br />
utilidade do projeto de proibição dos<br />
estrangeirismos como forma de proteger a<br />
Língua Portuguesa. Nesse contexto, a ironia<br />
torna-se mais clara, bem como o mecanismo<br />
textual que a constrói. Feito tal<br />
reconhecimento, o aluno encontra a resposta<br />
correta na alternativa B, assinalada por cerca<br />
da metade dos participantes. Nenhuma outra<br />
alternativa contempla o aspecto irônico,<br />
essencial para a compreensão do texto.<br />
61) (2003) Epígrafe*<br />
Murmúrio de água na clepsidra**<br />
gotejante,<br />
Lentas gotas de som no relógio da torre,<br />
Fio de areia na ampulheta vigilante,<br />
Leve sombra azulando a pedra do<br />
quadrante***<br />
Assim se escoa a hora, assim se vive e<br />
morre...<br />
Homem, que fazes tu? Para que tanta<br />
lida,<br />
Tão doidas ambições, tanto ódio e tanta<br />
ameaça?<br />
Procuremos somente a Beleza, que a vida<br />
É um punhado infantil de areia<br />
ressequida,<br />
Um som de água ou de bronze e uma<br />
sombra que passa...<br />
(Eugênio de Castro. Antologia pessoal da poesia<br />
portuguesa)<br />
(*) Epígrafe: inscrição colocada no ponto<br />
mais alto; tema.<br />
(**) Clepsidra: relógio de água.<br />
(***) Pedra do quadrante: parte superior<br />
de um relógio de sol.<br />
Neste poema, o que leva o poeta a<br />
questionar determinadas ações humanas<br />
(versos 6 e 7) é a<br />
A) infantilidade do ser humano.<br />
B) destruição da natureza.<br />
C) exaltação da violência.<br />
D) inutilidade do trabalho.<br />
E) brevidade da vida.<br />
190
Comentário<br />
A resposta desta questão está nos últimos<br />
versos (8 a <strong>10</strong>):<br />
“Procuremos somente a Beleza, que a<br />
vida<br />
É um punhado de areia ressequida,<br />
Um som de água ou de bronze e uma<br />
sombra que passa...”<br />
Neles, a vida aparece em relação ao<br />
tempo, que passa de forma rápida: “areia<br />
ressequida” (como nas ampulhetas), “som de<br />
água ou de bronze” (clepsidra ou sino da<br />
torre) e, mais que tudo, “uma sombra que<br />
passa...” (algo tênue e de curta duração).<br />
62) (2003) A velha Totonha de quando em<br />
vez batia no engenho. E era um<br />
acontecimento para a meninada. (...)<br />
andava léguas e léguas a pé, de engenho<br />
a engenho, como uma edição viva das<br />
histórias de Mil e Uma Noites (...) era uma<br />
grande artista para dramatizar. Tinha uma<br />
memória de prodígio. Recitava contos<br />
inteiros em versos, intercalando pedaços<br />
de prosa, como notas explicativas. (...)<br />
Havia sempre rei e rainha, nos seus<br />
contos, e forca e adivinhações. O que<br />
fazia a velha Totonha mais curiosa era a<br />
cor local que ela punha nos seus<br />
descritivos. (...) Os rios e as florestas por<br />
onde andavam os seus personagens se<br />
pareciam muito com o Paraíba e a Mata<br />
do Rolo. O seu Barba-Azul era um senhor<br />
de engenho de Pernambuco.<br />
(José Lins do Rego. Menino de engenho)<br />
A cor local que a personagem velha<br />
Totonha colocava em suas histórias é<br />
ilustrada, pelo autor, na seguinte<br />
passagem:<br />
A) "O seu Barba-Azul era um senhor de<br />
engenho de Pernambuco".<br />
B) "Havia sempre rei e rainha, nos seus<br />
contos, e forca e adivinhações".<br />
C) "Era uma grande artista para<br />
dramatizar. Tinha uma memória de<br />
prodígio".<br />
D) "Andava léguas e léguas a pé, como<br />
uma edição viva das Mil e Uma Noites".<br />
E) "Recitava contos inteiros em versos,<br />
intercalando pedaços de prosa, como<br />
notas explicativas".<br />
Comentário<br />
Por ser escritor da 2.ª Geração<br />
Modernista, José Lins do Rego ilustra, de<br />
forma evidente, o regionalismo — marca<br />
característica desse momento literário.<br />
Portanto, para localizar a “cor local”<br />
presente no texto, basta procurar a<br />
associação regionalista, que é retratada de<br />
forma explícita pela passagem “senhor de<br />
engenho de Pernambuco.”<br />
A questão não abre espaço para dúvidas.<br />
63) (2003) Pequenos tormentos da vida<br />
De cada lado da sala de aula, pelas janelas<br />
altas, o azul convida os meninos,<br />
as nuvens desenrolam-se, lentas como quem<br />
vai inventando<br />
preguiçosamente uma história sem fim...Sem<br />
fim é a aula: e nada acontece,<br />
nada...Bocejos e moscas. Se ao menos,<br />
pensa Margarida, se ao menos um<br />
avião entrasse por uma janela e saísse por<br />
outra!<br />
(Mário Quintana. Poesias)<br />
Na cena retratada no texto, o sentimento<br />
do tédio<br />
A) provoca que os meninos fiquem<br />
contando histórias.<br />
B) leva os alunos a simularem bocejos,<br />
em protesto contra a monotonia da<br />
aula.<br />
C) acaba estimulando a fantasia,<br />
criando a expectativa de algum<br />
imprevisto mágico.<br />
D) prevalece de modo absoluto,<br />
impedindo até mesmo a distração ou o<br />
exercício do pensamento.<br />
E) decorre da morosidade da aula, em<br />
contraste com o movimento acelerado<br />
das nuvens e das moscas.<br />
Comentário<br />
Essa questão aborda o imaginário<br />
decorrente do marasmo trazido pela escola.<br />
O texto enfatiza o arrastar do tempo na<br />
mente de uma aluna, Margarida, que se põe<br />
a pensar em fatos mágicos ou imaginários<br />
que pudessem romper com a lentidão da<br />
aula.<br />
64) (1998) Amor é fogo que arde sem ver;<br />
é ferida que dói e não se sente;<br />
é um contentamento descontente;<br />
é dor que desatina sem doer.<br />
É um não querer mais que bem querer;<br />
é solitário andar por entre a gente;<br />
é nunca contentar-se de contente;<br />
é cuidar que se ganha em se perder.<br />
É querer estar preso por vontade;<br />
191
é servir a quem vence, o vencedor;<br />
é ter com quem nos mata lealdade.<br />
Mas como causar pode seu favor<br />
nos corações humanos amizade<br />
se tão contrário a si é o mesmo Amor?<br />
(Luís de Camões. In: Obras Completas de Camões, Lisboa,<br />
Livraria Sá da Costa, Vol. 1, 1954, p.232)<br />
O poema tem, como característica, a<br />
figura de linguagem denominada antítese,<br />
relação de oposição de palavras ou idéias.<br />
Assinale a opção em que essa oposição<br />
se faz claramente presente.<br />
A) "Amor é fogo que arde sem se ver."<br />
B) "É um contentamento descontente."<br />
C) "É servir a quem se vence, o<br />
vencedor."<br />
D) "Mas como causar pode seu favor."<br />
E) "Se tão contrário a si é o mesmo<br />
Amor?"<br />
Comentário<br />
A antítese é uma figura de linguagem que<br />
se caracteriza por colocar, lado a lado,<br />
imagens opostas que se contradizem. De<br />
todas as alternativas, a única que traz<br />
claramente uma contradição é a B, pois<br />
como pode existir um contentamento<br />
descontente?<br />
65) (2000) O autor do texto abaixo critica,<br />
ainda que em linguagem metafórica, a<br />
sociedade contemporânea em relação aos<br />
seus hábitos alimentares.<br />
“Vocês que têm mais de 15 anos, se<br />
lembram quando a gente comprava leite<br />
em garrafa, na leiteria da esquina? (...)<br />
Mas vocês não se lembram de nada,<br />
pô! Vai ver nem sabem o que é vaca. Nem<br />
o que é leite. Estou falando isso porque<br />
agora mesmo peguei um pacote de leite –<br />
leite em pacote, imagina, Tereza! – na<br />
porta dos fundos e estava escrito que é<br />
pasterizado, ou pasteurizado, sei lá, tem<br />
vitamina, é garantido pela<br />
embromatologia, foi enriquecido e o<br />
escambau. Será que isso é mesmo leite?<br />
No dicionário diz que leite é outra coisa:<br />
‘Líquido branco, contendo água,<br />
proteína, açúcar e sais minerais’. Um<br />
alimento pra ninguém botar defeito. O ser<br />
humano o usa há mais de 5.000 anos. É o<br />
único alimento só alimento. A carne serve<br />
pro animal andar, a fruta serve pra fazer<br />
outra fruta, o ovo serve pra fazer outra<br />
galinha (...) O leite é só leite. Ou toma ou<br />
bota fora. Esse aqui examinando bem, é<br />
só pra botar fora. Tem chumbo, tem<br />
benzina, tem mais água do que leite, tem<br />
serragem, sou capaz de jurar que nem<br />
vaca tem por trás desse negócio. Depois o<br />
pessoal ainda acha estranho que os<br />
meninos não gostem de leite.<br />
Mas, como não gostam? Não gostam<br />
como? Nunca tomaram! Múúúúúúú!”<br />
(FERNANDES, Millôr. O Estado de S. Paulo ,<br />
22 de agosto de 1999)<br />
A palavra embromatologia usada pelo<br />
autor é:<br />
A) um termo científico que significa estudo<br />
dos bromatos.<br />
B) uma composição do termo de gíria<br />
“embromação” (enganação) com<br />
bromatologia, que é o estudo dos<br />
alimentos.<br />
C) uma junção do termo de gíria<br />
“embromação” (enganação) com<br />
lactologia, que é o estudo das<br />
embalagens para leite.<br />
D) um neologismo da química orgânica<br />
que significa a técnica de retirar<br />
bromatos dos laticínios.<br />
E) uma corruptela de termo da<br />
agropecuária que significa a ordenha<br />
mecânica.<br />
Comentário<br />
É necessário para a resolução desta<br />
questão:<br />
- perceber que o texto critica o exagerado<br />
uso de substâncias artificiais nos<br />
alimentos;<br />
- conhecer o significado da gíria embromar e<br />
da palavra bromatologia.<br />
Conhecendo esses significados, você<br />
elimina todas as alternativas erradas: a, c, d<br />
e e.<br />
Você poderá ter dúvida quanto à<br />
alternativa c, que também será eliminada se<br />
souber o significado da palavra lactologia,<br />
que é o estudo do leite e produtos lácteos e<br />
não das embalagens para leite.<br />
Nesta questão, são trabalhados os<br />
conceitos de interpretação de texto, formação<br />
de palavras e conhecimentos gerais.<br />
Comentário do INEP<br />
A resolução da questão requeria que o<br />
participante, ao ler o texto vinculasse o<br />
significado de um termo de gíria -<br />
"embromação" - com o da palavra<br />
bromatologia. A resposta correta exigia que o<br />
participante não abrisse mão do sabor<br />
picante contido na linguagem metafórica,<br />
sabor vinculado ao conhecimento específico<br />
192
contido na palavra bromatologia. Cerca da<br />
metade dos participantes (51%) optou pela<br />
alternativa correta e, os 20% que escolheram<br />
a alternativa C, provavelmente associaram a<br />
referência feita no texto à leite em pacote.<br />
66) (2005) O termo (ou expressão)<br />
destacado que está empregado em seu<br />
sentido próprio, denotativo ocorre em:<br />
A) “(....)<br />
É de laço e de nó<br />
De gibeira o jiló<br />
Dessa vida, cumprida a sol (....)”<br />
(Renato Teixeira. Romaria. Kuarup Discos.<br />
setembro de 1992.)<br />
B) “Protegendo os inocentes<br />
é que Deus, sábio demais,<br />
põe cenários diferentes<br />
nas impressões digitais.”<br />
(Maria N. S. Carvalho. Evangelho da Trova. /s.n.b.)<br />
C) “O dicionário-padrão da língua e os<br />
dicionários unilíngües são os tipos mais<br />
comuns de dicionários. Em nossos<br />
dias, eles se tornaram um objeto de<br />
consumo obrigatório para as nações<br />
civilizadas e desenvolvidas.”<br />
(Maria T. Camargo Biderman.<br />
O dicionário-padrão da língua. Alfa (28), 2743, 1974 Supl.)<br />
D)<br />
E) “Humorismo é a arte de fazer cócegas<br />
no raciocínio dos outros. Há duas<br />
espécies de humorismo: o trágico e o<br />
cômico. O trágico é o que não<br />
consegue fazer rir; o cômico é o que é<br />
verdadeiramente trágico para se fazer.”<br />
(Leon Eliachar. www.mercadolivre.com.br.<br />
acessado em julho de 2005.)<br />
Comentário<br />
A definição do dicionário-padrão da língua<br />
utiliza o sentido denotativo da palavra para<br />
explicar o uso de determinado tipo de<br />
dicionário. Em todas as outras alternativas,<br />
as palavras estão sendo empregadas em<br />
sentido metafórico. Na letra A, "cumprida a<br />
sol" pode mostrar o sofrimento e a solidão.<br />
Na alternativa B, "cenários diferentes" são as<br />
diferenças físicas encontradas nas<br />
impressões digitais. Na letra D, "bateria" é o<br />
termo usado para expressar a "energia" do<br />
Menino Maluquinho, que nunca acaba. Por<br />
fim, na alternativa E, "fazer cócegas no<br />
raciocínio" significa expressar graça por meio<br />
de idéias, fazendo com que o cérebro ache<br />
um fato divertido e, por conseguinte, faça<br />
com que a pessoa ria como se sofresse um<br />
ataque de cócegas.<br />
67) (1998) Amor é fogo que arde sem ver;<br />
é ferida que dói e não se sente;<br />
é um contentamento descontente;<br />
é dor que desatina sem doer.<br />
É um não querer mais que bem querer;<br />
é solitário andar por entre a gente;<br />
é nunca contentar-se de contente;<br />
é cuidar que se ganha em se perder.<br />
É querer estar preso por vontade;<br />
é servir a quem vence, o vencedor;<br />
é ter com quem nos mata lealdade.<br />
Mas como causar pode seu favor<br />
nos corações humanos amizade<br />
se tão contrário a si é o mesmo Amor?<br />
(Luís de Camões. In: Obras Completas de Camões, Lisboa,<br />
Livraria Sá da Costa, Vol. 1, 1954, p.232)<br />
O poema pode ser considerado como um<br />
texto:<br />
A) argumentativo.<br />
B) narrativo.<br />
C) épico.<br />
D) de propaganda.<br />
E) teatral.<br />
Comentário<br />
Podemos considerar esse texto como<br />
argumentativo, pois ele vai embasando a sua<br />
idéia sobre o que é o amor. O texto narrativo<br />
conta uma história, assim como o épico, que<br />
conta histórias de caráter heróico. Camões,<br />
nesse texto, não está preocupado em fazer<br />
propaganda do amor, mas, sim, em<br />
compreendê-lo. E, para terminar, esse texto<br />
não foi feito para ser encenado em palco<br />
como um texto teatral.<br />
68) (2001) O trecho a seguir é parte do<br />
poema “Mocidade e morte”, do poeta<br />
romântico Castro Alves:<br />
Oh! eu quero viver, beber perfumes<br />
Na flor silvestre, que embalsama os ares;<br />
Ver minh'alma adejar pelo infinito,<br />
193
Qual branca vela n'amplidão dos mares.<br />
No seio da mulher há tanto aroma...<br />
Nos seus beijos de fogo há tanta vida...<br />
– Árabe errante, vou dormir à tarde<br />
À sombra fresca da palmeira erguida.<br />
Mas uma voz responde-me sombria:<br />
Terás o sono sob a lájea fria.<br />
ALVES, Castro. Os melhores poemas de Castro Alves.<br />
Seleção de Lêdo Ivo. São Paulo: Global, 1983.<br />
Esse poema, como o próprio título sugere,<br />
aborda o inconformismo do poeta com a<br />
antevisão da morte prematura, ainda na<br />
juventude.<br />
A imagem da morte aparece na palavra<br />
A) embalsama. D) dormir.<br />
B) infinito. E) sono.<br />
C) amplidão.<br />
Comentário<br />
No último verso, temos a expressão "sono<br />
sob a lájea fria". Dormir sob uma lájea fria? O<br />
trecho indica sepulcro. Portanto, nesse caso,<br />
sono = morte.<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão apresenta, para a leitura,<br />
uma parte do poema "Mocidade e morte", do<br />
poeta romântico Castro Alves. Nesse trecho,<br />
o poeta aborda o inconformismo com a<br />
antevisão da morte prematura. O problema<br />
apresenta-se sob a forma de identificação de<br />
uma palavra no trecho que represente a idéia<br />
de morte. Na primeira estrofe, há uma<br />
apologia à vida, contrastando com a segunda<br />
estrofe, em que se anuncia a morte, idéia<br />
introduzida pela conjunção mas, um divisor<br />
entre as estrofes. A compreensão dos<br />
elementos intratextuais e formais faz com<br />
que a identificação da imagem ocorra na<br />
segunda estrofe. As palavras indicadas nas<br />
alternativas, descontextualizadas, podem<br />
sugerir a idéia de morte como interpretação,<br />
mas não se sustentam na representação do<br />
poema. A leitura global do texto, seguida por<br />
uma compreensão das relações entre as<br />
imagens propostas, é a chave para a<br />
resposta correta, assinalada por 62% dos<br />
participantes.<br />
ou casuais, as quais, devido à ocorrência<br />
em circunstâncias idênticas, muitas vezes<br />
repetidas, indicam algo e adquirem<br />
significado. Por exemplo, nuvens negras<br />
indicam tempestade. Com base nesse<br />
conceito, escolha a opção que representa<br />
um signo da categoria dos indícios.<br />
A)<br />
B)<br />
C)<br />
D)<br />
E)<br />
69) (2008) Os signos visuais, como meios de<br />
comunicação, são classificados em<br />
categorias de acordo com seus<br />
significados.<br />
A categoria denominada indício<br />
corresponde aos signos visuais que têm<br />
origem em formas ou situações naturais<br />
194<br />
Comentário<br />
Trata-se de uma questão interpretativa. O<br />
aluno precisa entender o que é “indício” para<br />
respondê-la. Segundo o dicionário Aurélio,<br />
indício é o mesmo que “sinal, vestígio,
indicação”. Das figuras apresentadas,<br />
apenas a alternativa B indica algo: a<br />
passagem de alguém por algum lugar —<br />
pegada.<br />
70) (1999)<br />
Diante da visão de um prédio com uma<br />
placa indicando SAPATARIA PAPALIA,<br />
um jovem deparou com a dúvida: como<br />
pronunciar a palavra PAPALIA?<br />
Levado o problema à sala de aula, a<br />
discussão girou em torno da utilidade de<br />
conhecer as regras de acentuação e,<br />
especialmente, do auxílio que elas podem<br />
dar à correta pronúncia de palavras.<br />
Após discutirem pronúncia, regras de<br />
acentuação e escrita, três alunos<br />
apresentaram as seguintes conclusões a<br />
respeito da palavra PAPALIA:<br />
I. Se a sílaba tônica for o segundo PA, a<br />
escrita deveria ser PAPÁLIA, pois a<br />
palavra seria paroxítona terminada em<br />
ditongo crescente.<br />
II. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />
deveria ser PAPALÍA, pois "i" e "a"<br />
estariam formando hiato.<br />
III. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />
deveria ser PAPALIA, pois não haveria<br />
razão para o uso de acento gráfico.<br />
A conclusão está correta apenas em:<br />
A) III D) I<br />
B) I e II E) II<br />
C) I e III<br />
Comentário<br />
Essa questão exige bom conhecimento<br />
das regras de acentuação. A alternativa A diz<br />
que apenas a afirmação I é verdadeira. De<br />
fato ela é, mas não é a única. Nela, temos a<br />
hipótese de a palavra ser grafada como se a<br />
sílaba forte fosse a penúltima — papália —,<br />
justificando seu acento gráfico. Vejamos o<br />
que dizem as regras de acentuação.<br />
Acentuam-se as palavras paroxítonas<br />
terminadas em: i, is, us, um, uns, l, n, r, x,<br />
ps, ã, ãs, ão, ãos, ditongos orais,<br />
crescentes ou decrescentes, seguidos ou<br />
não de S. Isso valida, portanto, a afirmação I.<br />
A afirmação II pressupõe que a sílaba<br />
tônica seja LI, em hiato com A: no caso de<br />
essa ser a tonicidade da palavra, a sílaba LI<br />
não poderia ser acentuada, pois I, mesmo<br />
sendo a tônica do hiato, não é a última vogal,<br />
portanto, essa afirmativa é falsa.<br />
A afirmação III considera que a sílaba<br />
tônica é LI, não havendo acento por ser o I a<br />
primeira vogal do hiato. Portanto, essa<br />
afirmação é verdadeira.<br />
Concluindo, temos como verdadeiras as<br />
afirmações I e III. Então, a alternativa E é a<br />
correta. Questão de nível difícil.<br />
Comentário do INEP<br />
Dentre os participantes, somente pouco<br />
mais de um terço (35%) demonstrou possuir<br />
a habilidade para identificar as regras de<br />
acentuação corretas, enunciadas na questão.<br />
Chama a atenção o fato de que 73% dos<br />
participantes (alternativas A, D e E)<br />
reconheceram corretamente, pelo menos, a<br />
regra contida no item I, sendo que cerca de<br />
40% desses, contudo, tiveram dificuldades<br />
em analisar as regras II e III.<br />
Em se tratando de palavra não-usual, é,<br />
sobretudo, o domínio do conhecimento das<br />
regras e não a possível pronúncia correta,<br />
pelo uso, o que parece ter sido revelado.<br />
71) (2008)<br />
Exame, 28/9/2007.<br />
Entre os seguintes ditos populares, qual<br />
deles melhor corresponde à figura<br />
acima?<br />
A) Com perseverança, tudo se alcança.<br />
B) Cada macaco no seu galho.<br />
C) Nem tudo que balança cai.<br />
D) Quem tudo quer, tudo perde.<br />
E) Deus ajuda quem cedo madruga.<br />
195
Comentário<br />
Assim como a questão 37, esta também<br />
envolve interpretação de signos, ou seja, o<br />
aluno precisa estar atento à imagem e<br />
relacioná-la ao dito popular correspondente.<br />
A alternativa "A" é a correta, pois, para<br />
uma lesma “grudenta” e vagarosa conseguir<br />
pular numa cama elástica, é necessária<br />
muita perseverança.<br />
72) (1999) Leia o que disse João Cabral de<br />
Melo Neto, poeta pernambucano, sobre a<br />
função de seus textos:<br />
"Falo somente com o que falo: a<br />
linguagem enxuta, contato denso; falo<br />
somente do que falo: a vida seca, áspera<br />
e clara do sertão; falo somente por quem<br />
falo: o homem sertanejo sobrevivendo na<br />
adversidade e na míngua. Falo somente<br />
para quem falo: para os que precisam ser<br />
alertados para a situação da miséria no<br />
Nordeste."<br />
Para João Cabral de Melo Neto, no texto<br />
literário:<br />
A) a linguagem do texto deve refletir o<br />
tema, e a fala do autor deve denunciar<br />
o fato social para determinados<br />
leitores.<br />
B) a linguagem do texto não deve ter<br />
relação com o tema, e o autor deve ser<br />
imparcial para que seu texto seja lido.<br />
C) o escritor deve saber separar a<br />
linguagem do tema e a perspectiva<br />
pessoal da perspectiva do leitor.<br />
D) a linguagem pode ser separada do<br />
tema, e o escritor deve ser o delator do<br />
fato social para todos os leitores.<br />
E) a linguagem está além do tema, e o<br />
fato social deve ser a proposta do<br />
escritor para convencer o leitor.<br />
Comentário<br />
João Cabral mostrou, no comentário, que<br />
seus textos são transparentes na relação<br />
linguagem—tema. Ele não gosta de usar<br />
subterfúgios para passar sua mensagem<br />
("Falo somente com o que falo"), de desviarse<br />
do tema para assuntos que geralmente<br />
não fazem parte de seu interesse ("falo<br />
somente do que falo"), de fazer de si mesmo<br />
ou de seus personagens porta-vozes de<br />
outras pessoas ou classes sociais ("falo<br />
somente por quem falo") ou de dirigir-se a<br />
públicos que pouco proveito poderiam tirar de<br />
seus escritos ("falo somente para quem<br />
falo"). Essa ligação direta de tema e<br />
linguagem, somada à proposta de falar<br />
196<br />
somente para quem se deve ou quer falar,<br />
justifica a resposta, sendo correta a<br />
alternativa A. Questão de nível médio.<br />
Comentário do INEP<br />
Para resolver essa questão, o participante<br />
deveria ser capaz de estabelecer a relação<br />
entre a linguagem, o tema e o interlocutor da<br />
escrita do autor, a partir das razões<br />
explicitadas no seu texto. Essas razões<br />
foram corretamente identificadas por mais da<br />
metade dos participantes.<br />
73) (2001) No trecho abaixo, o narrador, ao<br />
descrever a personagem, critica<br />
sutilmente um outro estilo de época: o<br />
romantismo.<br />
“Naquele tempo contava apenas uns<br />
quinze ou dezesseis anos; era talvez a<br />
mais atrevida criatura da nossa raça, e,<br />
com certeza, a mais voluntariosa. Não<br />
digo que já lhe coubesse a primazia da<br />
beleza, entre as mocinhas do tempo,<br />
porque isto não é romance, em que o<br />
autor sobredoura a realidade e fecha os<br />
olhos às sardas e espinhas; mas também<br />
não digo que lhe maculasse o rosto<br />
nenhuma sarda ou espinha, não. Era<br />
bonita, fresca, saía das mãos da natureza,<br />
cheia daquele feitiço, precário e eterno,<br />
que o indivíduo passa a outro indivíduo,<br />
para os fins secretos da criação.”<br />
ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de<br />
Brás Cubas. Rio de Janeiro: Jackson,1957.<br />
A frase do texto em que se percebe a<br />
crítica do narrador ao romantismo está<br />
transcrita na alternativa:<br />
A) ... o autor sobredoura a realidade e<br />
fecha os olhos às sardas e espinhas ...<br />
B) ... era talvez a mais atrevida criatura da<br />
nossa raça ...<br />
C) Era bonita, fresca, saía das mãos da<br />
natureza, cheia daquele feitiço,<br />
precário e eterno, ...<br />
D) Naquele tempo contava apenas uns<br />
quinze ou dezesseis anos ...<br />
E) ... o indivíduo passa a outro indivíduo,<br />
para os fins secretos da criação.<br />
Comentário<br />
Questão muito fácil que pode ser<br />
respondida com a simples leitura do texto.<br />
Machado de Assis critica a supervalorização<br />
e idealização das personagens do<br />
Romantismo. Tal crítica fica clara na<br />
alternativa A.
Comentário do INEP<br />
Esta questão apresenta para leitura e<br />
análise um trecho de Memórias de Brás<br />
Cubas, de Machado de Assis. Nesse texto, o<br />
narrador realiza um comentário sobre o<br />
"romance romântico", criticando uma de suas<br />
características. O problema proposto trata<br />
da identificação dessa passagem no texto. O<br />
participante deve reconhecer no texto as<br />
características do "romance romântico" e<br />
associá-la à crítica do narrador. As<br />
alternativas propõem passagens que podem<br />
ser associadas ao romantismo em contexto<br />
extratextual, sendo que, em apenas uma<br />
delas, há a relação entre contexto/texto. Mais<br />
da metade (54%) dos participantes identificou<br />
corretamente a passagem no texto.<br />
74) (2000) Em muitos jornais, encontramos<br />
charges, quadrinhos, ilustrações,<br />
inspirados nos fatos noticiados. Veja um<br />
exemplo:<br />
Jornal do Commercio , 22/8/93<br />
O texto que se refere a uma situação<br />
semelhante à que inspirou a charge é:<br />
A) Descansem o meu leito solitário<br />
Na floresta dos homens esquecida,<br />
À sombra de uma cruz, e escrevam nela<br />
– Foi poeta – sonhou – e amou na vida.<br />
(AZEVEDO, Álvares de . Poesias escolhidas . Rio de<br />
Janeiro/Brasília: José Aguilar/INL,1971)<br />
B) Essa cova em que estás<br />
Com palmos medida,<br />
é a conta menor<br />
que tiraste em vida.<br />
É de bom tamanho,<br />
Nem largo nem fundo,<br />
É a parte que te cabe<br />
deste latifúndio.<br />
(MELO NETO, João Cabral de. Morte e Vida Severina e<br />
outros poemas em voz alta . Rio de Janeiro: Sabiá, 1967)<br />
C) Medir é a medida<br />
mede<br />
A terra, medo do homem, a lavra;<br />
lavra<br />
duro campo, muito cerco, vária várzea.<br />
(CHAMIE, Mário. Sábado na hora da escutas. São<br />
Paulo: Summums, 1978)<br />
D) Vou contar para vocês<br />
um caso que sucedeu<br />
na Paraíba do Norte<br />
com um homem que se chamava<br />
Pedro João Boa-Morte,<br />
lavrador de Chapadinha:<br />
talvez tenha morte boa<br />
porque vida ele não tinha.<br />
(GULLAR, Ferreira. Toda poesia . Rio de Janeiro:<br />
Civilização Brasileira, 1983)<br />
E) Trago-te flores, – restos arrancados<br />
Da terra que nos viu passar<br />
E ora mortos nos deixa e separados.<br />
(ASSIS, Machado de. Obra completa . Rio de Janeiro:<br />
Nova Aguillar, 1986)<br />
Comentário<br />
Esta questão exige boa dose de reflexão.<br />
Antes de tudo, há que se notar que o título<br />
"Demarcação das terras indígenas" está<br />
ligado ironicamente à figura das covas<br />
comuns, anônimas (covas são as terras dos<br />
índios?). Procuramos, então, o trecho de<br />
poema que sirva como legenda à figura<br />
apresentada, mantendo também a ironia da<br />
relação. As alternativas a e e se descartam<br />
pelo lirismo romântico presente e, ainda<br />
mais, pela presença, na a, de elementos que<br />
não estão no universo conceitual indígena<br />
(cruz, poeta). A alternativa c não nos serve<br />
por estar tratando da dureza do trabalho com<br />
a terra, o que não é o tema da charge. Já a d<br />
não é adequada por estar introduzindo a<br />
discussão de fatos ocorridos na vida de um<br />
único homem, provavelmente não-índio (até<br />
pelo nome João Boa-Morte). Fica-nos a<br />
alternativa b, que bem poderia servir de<br />
legenda à charge; se pensarmos nos<br />
sangrentos conflitos entre brancos e índios<br />
pela ocupação das terras indígenas<br />
demarcadas, nos quais os índios geralmente<br />
levam a pior, então nos servem bem os<br />
versos que apresenta.<br />
Comentário do INEP<br />
O alto índice de acerto (72 %) revelou a<br />
capacidade dos participantes de não só<br />
contextualizar o problema em foco mas<br />
também de estabelecer relações de sentido<br />
entre diferentes linguagens, ou seja, de lidar<br />
com a intertextualidade. As relações<br />
incorretas que foram estabelecidas,<br />
possivelmente, são devidas mais à falta de<br />
capacidade de contextualização do que de<br />
estabelecimento de relações temáticas.<br />
75) (2002) A leitura do poema Descrição da<br />
guerra em Guernica traz à lembrança o<br />
famoso quadro de Picasso.<br />
Entra pela janela<br />
197
o anjo camponês;<br />
com a terceira luz na mão;<br />
minucioso, habituado<br />
aos interiores de cereal,<br />
aos utensílios que dormem na fuligem;<br />
os seus olhos rurais<br />
não compreendem bem os símbolos<br />
desta colheita: hélices,<br />
motores furiosos;<br />
e estende mais o braço; planta<br />
no ar, como uma árvore<br />
a chama do candeeiro.<br />
(...)<br />
Carlos de Oliveira in ANDRADE, Eugénio. Antologia<br />
Pessoal da Poesia Portuguesa. Porto: Campo das<br />
Letras, 1999.<br />
Uma análise cuidadosa do quadro permite<br />
que se identifiquem as cenas referidas<br />
nos trechos do poema.<br />
Podem ser relacionadas ao texto lido as<br />
partes:<br />
A) a1, a2, a3 D) c1, c2, c3<br />
B) f1, e1, d1 E) e1, e2, e3<br />
C) e1, d1, c1<br />
Comentário<br />
Questão de nível médio. O que precisava<br />
ser feito era encontrar figuras do poema<br />
dentro do quadro. O que se descreve nos<br />
versos 1 e 2 (o anjo camponês que entra<br />
pela janela) está no quadrante e1 (ver a<br />
janela). Nos três últimos versos, há mais<br />
duas imagens: estende mais o braço — d1;<br />
chama do candeeiro — c1.<br />
Comentário do INEP<br />
O trecho do poema "Descrição da guerra<br />
em Guernica", transcrito na prova, cria para o<br />
participante uma interessante relação<br />
intertextual: o poeta Carlos de Oliveira<br />
propõe uma leitura interpretativa do<br />
conhecido quadro de Pablo Picasso. Além do<br />
poema, o quadro de Picasso foi também<br />
reproduzido na questão, de modo a permitir<br />
que o aluno tivesse condições de "ler" essa<br />
obra de arte e nela reconhecer as referências<br />
criadas pelo texto de Carlos de Oliveira. Os<br />
primeiros versos do poema fazem referência<br />
à entrada de um "anjo camponês" pela<br />
janela. No quadro, essa imagem pode ser<br />
identificada no quadro e1. Mais adiante, os<br />
versos aludem a um braço estendido que<br />
"planta/ no ar.../ a chama do candeeiro". Para<br />
compreender a metáfora criada, o<br />
participante deveria perceber, em primeiro<br />
lugar, que o braço estendido seria do anjo<br />
camponês, identificado no quadro e1. Esse<br />
reconhecimento daria a chave de resposta da<br />
questão, porque permitiria que a imagem da<br />
entrada do anjo com o braço estendido<br />
portando um candeeiro fosse associada aos<br />
quadros e1, d1, c1 , contidos na alternativa<br />
C, assinalada por cerca de metade dos<br />
participantes.<br />
76) (2008) São Paulo vai se recensear. O<br />
governo quer saber quantas pessoas<br />
governa. A indagação atingirá a fauna e a<br />
flora domesticadas. Bois, mulheres e<br />
algodoeiros serão reduzidos a números e<br />
invertidos em estatísticas. O homem do<br />
censo entrará pelos bangalôs, pelas<br />
pensões, pelas casas de barro e de<br />
cimento armado, pelo sobradinho e pelo<br />
apartamento, pelo cortiço e pelo hotel,<br />
perguntando:<br />
— Quantos são aqui?<br />
Pergunta triste, de resto. Um homem dirá:<br />
— Aqui havia mulheres e criancinhas.<br />
Agora, felizmente, só há pulgas e ratos.<br />
E outro:<br />
— Amigo, tenho aqui esta mulher, este<br />
papagaio, esta sogra e algumas baratas.<br />
Tome nota dos seus nomes, se quiser.<br />
Querendo levar todos, é favor... (...)<br />
E outro:<br />
— Dois, cidadão, somos dois.<br />
Naturalmente o sr. não a vê. Mas ela está<br />
aqui, está, está! A sua saudade jamais<br />
sairá de meu quarto e de meu peito!<br />
Rubem Braga. Para gostar de ler. v. 3.<br />
São Paulo: Ática, 1998, p. 32-3 (fragmento).<br />
O fragmento acima, em que há referência<br />
a um fato sócio-histórico — o<br />
recenseamento —, apresenta<br />
característica marcante do gênero crônica<br />
ao<br />
A) expressar o tema de forma abstrata,<br />
evocando imagens e buscando<br />
apresentar a idéia de uma coisa por<br />
meio de outra.<br />
B) manter-se fiel aos acontecimentos,<br />
retratando os personagens em um só<br />
tempo e um só espaço.<br />
198
C) contar história centrada na solução de<br />
um enigma, construindo os<br />
personagens psicologicamente e<br />
revelando-os pouco a pouco.<br />
D) evocar, de maneira satírica, a vida na<br />
cidade, visando transmitir<br />
ensinamentos práticos do cotidiano,<br />
para manter as pessoas informadas.<br />
E) valer-se de tema do cotidiano como<br />
ponto de partida para a construção de<br />
texto que recebe tratamento estético.<br />
Comentário<br />
A questão correta é a E, pois a crônica<br />
utiliza a linguagem estética ou poética para<br />
expor temas do cotidiano. Há uma<br />
preocupação com a escolha das palavras<br />
que são rebuscadas e ritmadas, ou seja, a<br />
função da linguagem é poética.<br />
77) (1999) Quem não passou pela<br />
experiência de estar lendo um texto e<br />
defrontar-se com passagens já lidas em<br />
outros? Os textos conversam entre si em<br />
um diálogo constante. Esse fenômeno tem<br />
a denominação de intertextualidade. Leia<br />
os seguintes textos:<br />
I. Quando nasci, um anjo torto<br />
Desses que vivem na sombra<br />
Disse: Vai Carlos! Ser "gauche" na vida<br />
(Andrade, Carlos Drummond de.<br />
Alguma poesia. Rio de Janeiro: Aguilar, 1964)<br />
II. Quando nasci veio um anjo safado<br />
O chato dum querubim<br />
E decretou que eu tava predestinado<br />
A ser errado assim<br />
Já de saída a minha estrada entortou<br />
Mas vou até o fim.<br />
(BUARQUE, Chico. Letra e Música. São Paulo: Cia.<br />
das Letras, 1989)<br />
III. Quando nasci um anjo esbelto<br />
Desses que tocam trombeta, anunciou:<br />
Vai carregar bandeira.<br />
Carga muito pesada pra mulher<br />
Esta espécie ainda envergonhada<br />
(PRADO, Adélia. Bagagem. Rio de Janeiro:<br />
Guanabara, 1986)<br />
Adélia Prado e Chico Buarque<br />
estabelecem intertextualidade, em relação<br />
a Carlos Drummond de Andrade, por:<br />
A) reiteração de imagens.<br />
B) oposição de idéias.<br />
C) falta de criatividade.<br />
D) negação dos versos.<br />
E) ausência de recursos.<br />
Comentário<br />
Outra questão com resposta evidente. A<br />
recorrência à imagem do "anjo anunciador" e<br />
dos caminhos que se tornam sempre difíceis<br />
e tortuosos (gauche = acanhado, inepto),<br />
feita pelos três autores, elimina qualquer<br />
sombra de dúvida em relação às outras<br />
respostas. Questão de nível fácil.<br />
Comentário do INEP<br />
Para a resolução desse problema, era<br />
requerido que o participante soubesse<br />
identificar os elementos de intertextualidade<br />
entre três trechos de textos de diferentes<br />
autores.<br />
As duas primeiras alternativas,<br />
amplamente majoritárias, revelam<br />
possivelmente duas distintas percepções da<br />
questão. A alternativa correta A foi escolhida<br />
pelos que perceberam a ostensiva reiteração<br />
de imagens (repetição da imagem do anjo<br />
que vaticina). A alternativa B, incorreta, pode<br />
ter atraído muitos participantes à medida que<br />
tenham, talvez, identificado uma oposição de<br />
idéias, não entre os textos, mas entre a<br />
imagem usualmente positiva de anjo e uma<br />
certa adjetivação pejorativa utilizada em<br />
relação aos mesmos.<br />
78) (2002) A crônica muitas vezes constitui<br />
um espaço para reflexão sobre aspectos<br />
da sociedade em que vivemos.<br />
"Eu, na rua, com pressa, e o menino<br />
segurou no meu braço, falou qualquer<br />
coisa que não entendi. Fui logo dizendo<br />
que não tinha, certa de que ele estava<br />
pedindo dinheiro. Não estava. Queria<br />
saber a hora.<br />
Talvez não fosse um Menino De<br />
Família, mas também não era um Menino<br />
De Rua. É assim que a gente divide.<br />
Menino De Família é aquele bem-vestido<br />
com tênis da moda e camiseta de marca,<br />
que usa relógio e a mãe dá outro se o<br />
dele for roubado por um Menino De Rua.<br />
Menino De Rua é aquele que quando a<br />
gente passa perto segura a bolsa com<br />
força porque pensa que ele é pivete,<br />
trombadinha, ladrão. (...) Na verdade não<br />
existem meninos De rua.<br />
Existem meninos NA rua. E toda vez<br />
que um menino está NA rua é porque<br />
alguém o botou lá. Os meninos não vão<br />
sozinhos aos lugares. Assim como são<br />
postos no mundo, durante muitos anos<br />
também são postos onde quer que<br />
estejam. Resta ver quem os põe na rua. E<br />
por quê."<br />
COLASSANTI, Marina. In: Eu sei, mas não devia. Rio de<br />
Janeiro: Rocco, 1999.<br />
199
200<br />
No terceiro parágrafo em "... não existem<br />
meninos De rua. Existem meninos NA<br />
rua.", a troca de De pelo Na determina<br />
que a relação de sentido entre "menino" e<br />
"rua" seja<br />
A) de localização e não de qualidade.<br />
B) de origem e não de posse.<br />
C) de origem e não de localização.<br />
D) de qualidade e não de origem.<br />
E) de posse e não de localização.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Apesar de não<br />
haver um terceiro parágrafo neste texto, a<br />
troca das preposições ao final do SEGUNDO<br />
parágrafo indica claramente que não há um<br />
menino DE (proveniente de) rua, mas um<br />
menino que está NA (foi levado à) rua.<br />
Portanto, a relação é unicamente de<br />
localização (onde ele está) e não de<br />
qualidade (o que ele é).<br />
Comentário do INEP<br />
A reprodução de um trecho de uma<br />
crônica de Marina Colassanti tematiza uma<br />
importante questão social brasileira: a<br />
presença de milhões de crianças nas ruas do<br />
País. A autora, ao tratar desse problema,<br />
vale-se de recursos lingüísticos específicos.<br />
O objetivo desta questão é justamente<br />
chamar a atenção do participante leitor para<br />
esses recursos e os efeitos de sentido que<br />
eles desencadeiam no texto. Na raiz da<br />
questão destaca-se a troca de "De" por "NA"<br />
e pede-se que se determine qual relação de<br />
sentido essa substituição estabelece entre os<br />
termos "menino" e "rua". Analisar a relação,<br />
nesse caso, significa perguntar-se sobre o<br />
sentido de dois sintagmas criados no texto:<br />
"meninos NA rua" por oposição a "meninos<br />
De rua". O que a autora pretende negar, com<br />
a troca do termo de relação, é a possibilidade<br />
de que existam meninos de rua diferentes de<br />
outros meninos, que não têm na rua a sua<br />
origem. O destaque para a preposição na<br />
nos leva a refletir que a relação dos meninos<br />
com a rua é de localização: eles estão ali por<br />
alguma razão, não porque essa seja a sua<br />
qualificação. Essa reflexão levaria o aluno a<br />
escolher, como correta, a resposta<br />
apresentada na alternativa A, assinalada por<br />
cerca de metade dos participantes.<br />
79) (2005) Leia estes textos.<br />
Texto 1<br />
Texto 2<br />
Sonhar<br />
Mais um sonho impossível<br />
Lutar<br />
Quando é fácil ceder<br />
Vencer o inimigo invencível<br />
Negar quando a regra é vender<br />
Sofrer a tortura implacável<br />
Romper a incabível prisão<br />
Voar num limite improvável<br />
Tocar o inacessível chão<br />
É minha lei, é minha questão<br />
Virar esse mundo<br />
Cravar esse chão<br />
Não me importa saber<br />
Se é terrível demais<br />
Quantas guerras terei que vencer<br />
Por um pouco de paz<br />
E amanhã se esse chão que eu beijei<br />
For meu leito e perdão<br />
Vou saber que valeu delirar<br />
E morrer de paixão<br />
E assim, seja lá como for<br />
Vai ter fim a infinita aflição<br />
E o mundo vai ver uma flor<br />
Brotar do impossível chão.<br />
(J. Darione – M. Leigh – Versão de Chico Buarque de<br />
Hollanda e Ruy Guerra, 1972.)<br />
A tirinha e a canção apresentam uma<br />
reflexão sobre o futuro da humanidade. É<br />
correto concluir que os dois textos<br />
A) afirmam que o homem é capaz de<br />
alcançar a paz.<br />
B) concordam que o desarmamento é<br />
inatingível.<br />
C) julgam que o sonho é um desafio<br />
invencível.<br />
D) têm visões diferentes sobre um<br />
possível mundo melhor.<br />
E) transmitem uma mensagem de<br />
otimismo sobre a paz.<br />
Comentário<br />
Enquanto o primeiro texto é ácido em<br />
relação à possibilidade de desarmamento da<br />
população (ou seja, à criação de uma<br />
sociedade mais pacífica), o segundo mostra<br />
a capacidade que a humanidade tem de crer<br />
e, por isso, tentar fazer até o que a princípio<br />
parece impossível. Para os autores da
canção, nada é intrinsecamente impossível.<br />
A relação entre eles é de oposição:<br />
descrença x crença. Questão de nível de<br />
dificuldade médio.<br />
80) (2000) O uso do pronome átono no início<br />
das frases é destacado por um poeta e<br />
por um gramático nos textos abaixo.<br />
Pronominais<br />
Dê-me um cigarro<br />
Diz a gramática<br />
Do professor e do aluno<br />
E do mulato sabido<br />
Mas o bom negro e o bom branco<br />
da Nação Brasileira<br />
Dizem todos os dias<br />
Deixa disso camarada<br />
Me dá um cigarro<br />
(ANDRADE, Oswald de. Seleção de textos.<br />
São Paulo: Nova Cultural, 1988)<br />
“Iniciar a frase com pronome átono só<br />
é lícito na conversação familiar,<br />
despreocupada, ou na língua escrita<br />
quando se deseja reproduzir a fala dos<br />
personagens (...).”<br />
(CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da<br />
língua portuguesa.<br />
São Paulo: Nacional, 1980)<br />
Comparando a explicação dada pelos<br />
autores sobre essa regra, pode-se afirmar<br />
que ambos:<br />
A) condenam essa regra gramatical.<br />
B) acreditam que apenas os esclarecidos<br />
sabem essa regra.<br />
C) criticam a presença de regras na<br />
gramática.<br />
D) afirmam que não há regras para uso de<br />
pronomes.<br />
E) relativizam essa regra gramatical.<br />
Comentário<br />
Questão que requer conhecimento básico<br />
de colocação pronominal, em relação ao uso<br />
de pronomes átonos no início de frases, uma<br />
regra muito pouco respeitada pelo brasileiro,<br />
da qual Oswald de Andrade faz questão de<br />
falar em seu poema. Porém, a questão pode<br />
ser resolvida simplesmente por meio de uma<br />
leitura bem atenta dos textos. Se formos<br />
analisando alternativa por alternativa, a<br />
eliminação é clara e lógica: a alternativa a<br />
fica totalmente descartada devido à<br />
transparência da colocação dos dois autores<br />
(Me dá um cigarro...) e (iniciar frases com o<br />
pronome átono é "lícito" na conversação<br />
familiar ou despreocupada). Já a alternativa b<br />
pode até mesmo gerar um pouco de dúvida a<br />
quem não se atém bem à pergunta. Quanto<br />
às alternativas c e d, ficam descartadas, pois,<br />
em momento nenhum, os autores criticaram<br />
o uso de regras gramaticais em seus textos,<br />
cabendo perfeitamente a alternativa e para<br />
as afirmações do gramático e do poeta.<br />
Comentário do INEP<br />
Essa questão pretendia verificar como o<br />
participante analisa um fato lingüístico,<br />
mediante a comparação da descrição desse<br />
fato em dois textos. Sabe-se que,<br />
normalmente em situação escolar, o uso do<br />
pronome átono no início da frase é julgado<br />
como grave desvio gramatical, e pouco se<br />
analisa esse uso na fala ou escrita informal.<br />
Os dois autores dos textos, com intenções<br />
diferentes, relativizam essa regra gramatical,<br />
destacando e descrevendo o seu uso<br />
coloquial. A maioria dos participantes (52%)<br />
analisou e comparou corretamente as<br />
posições dos autores sobre o uso do<br />
pronome átono, e 24% deles reafirmaram a<br />
posição discriminatória da regra, deslocandoa<br />
de seu uso.<br />
81) (2005) Leia estes poemas.<br />
Texto 1 - Auto-retrato<br />
Provinciano que nunca soube<br />
Escolher bem uma gravata;<br />
Pernambucano a quem repugna<br />
A faca do pernambucano;<br />
Poeta ruim que na arte da prosa<br />
Envelheceu na infância da arte,<br />
E até mesmo escrevendo crônicas<br />
Ficou cronista de província;<br />
Arquiteto falhado, músico<br />
Falhado (engoliu um dia<br />
Um piano, mas o teclado<br />
Ficou de fora); sem família,<br />
Religião ou filosofia;<br />
Mal tendo a inquietação de espírito<br />
Que vem do sobrenatural,<br />
E em matéria de profissão<br />
Um tísico* profissional.<br />
(Manuel Bandeira. Poesia completa e prosa. Rio de<br />
Janeiro: Aguilar, 1983. p. 395.)<br />
Texto 2 - Poema de sete faces<br />
Quando eu nasci, um anjo torto<br />
desses que vivem na sombra<br />
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.<br />
As casas espiam os homens<br />
que correm atrás de mulheres.<br />
201
A tarde talvez fosse azul,<br />
não houvesse tantos desejos.<br />
(....)<br />
Meu Deus, por que me abandonaste<br />
se sabias que eu não era Deus<br />
se sabias que eu era fraco.<br />
Mundo mundo vasto mundo,<br />
se eu me chamasse Raimundo<br />
seria uma rima, não seria uma solução.<br />
Mundo mundo vasto mundo<br />
mais vasto é o meu coração.<br />
(Carlos Drummond de Andrade.<br />
Obra completa. Rio de Janeiro:<br />
Aguilar, 1964. p. 53.)<br />
(*) tísico=tuberculoso<br />
Esses poemas têm em comum o fato de<br />
A) descreverem aspectos físicos dos<br />
próprios autores.<br />
B) refletirem um sentimento pessimista.<br />
C) terem a doença como tema.<br />
D) narrarem a vida dos autores desde o<br />
nascimento.<br />
E) defenderem crenças religiosas.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Tanto o poema de<br />
Manuel Bandeira quanto o de Carlos<br />
Drummond de Andrade evidenciam, dentro<br />
do ponto de vista dos autores, características<br />
extremamente pessimistas em relação à vida<br />
e, conseqüentemente, à arte.<br />
Comentário do INEP<br />
Enunciando em breve. Comentário<br />
disponível. Selecione uma alternativa e clique<br />
em conferir para vê-lo.<br />
82) (2003) A velha Totonha de quando em<br />
vez batia no engenho. E era um<br />
acontecimento para a meninada. (...)<br />
andava léguas e léguas a pé, de engenho<br />
a engenho, como uma edição viva das<br />
histórias de Mil e Uma Noites (...) era uma<br />
grande artista para dramatizar. Tinha uma<br />
memória de prodígio. Recitava contos<br />
inteiros em versos, intercalando pedaços<br />
de prosa, como notas explicativas. (...)<br />
Havia sempre rei e rainha, nos seus<br />
contos, e forca e adivinhações. O que<br />
fazia a velha Totonha mais curiosa era a<br />
cor local que ela punha nos seus<br />
descritivos. (...) Os rios e as florestas por<br />
onde andavam os seus personagens se<br />
pareciam muito com o Paraíba e a Mata<br />
do Rolo. O seu Barba-Azul era um senhor<br />
de engenho de Pernambuco.<br />
José Lins do Rego. Menino de Engenho. Rio de Janeiro:<br />
José Olympio, 1980, p. 49-51 (com adaptações).<br />
Na construção da personagem “velha<br />
Totonha”, é possível identificar traços que<br />
revelam marcas do processo de<br />
colonização e de civilização do país.<br />
Considerando o texto acima, infere-se que<br />
a velha Totonha<br />
A) tira o seu sustento da produção da<br />
literatura, apesar de suas condições de<br />
vida e de trabalho, que denotam que<br />
ela enfrenta situação econômica muito<br />
adversa.<br />
B) compõe, em suas histórias, narrativas<br />
épicas e realistas da história do país<br />
colonizado, livres da influência de<br />
temas e modelos não representativos<br />
da realidade nacional.<br />
C) retrata, na constituição do espaço dos<br />
contos, a civilização urbana européia<br />
em concomitância com a<br />
representação literária de engenhos,<br />
rios e florestas do Brasil.<br />
D) aproxima-se, ao incluir elementos<br />
fabulosos nos contos, do próprio<br />
romancista, o qual pretende retratar a<br />
realidade brasileira de forma tão<br />
grandiosa quanto a européia.<br />
E) imprime marcas da realidade local a<br />
suas narrativas, que têm como modelo<br />
e origem as fontes da literatura e da<br />
cultura européia universalizada.<br />
Comentário<br />
Esta questão exige conhecimentos de<br />
literatura universal. O aluno precisa saber<br />
que Barba-Azul é um personagem da cultura<br />
européia. Nas histórias de Totonha, ele é<br />
representado como um senhor de engenho<br />
de Pernambuco. Percebe-se aí a forte<br />
influência da colonização européia na<br />
realidade local. Logo, a alternativa correta é a<br />
letra "E".<br />
83) (2005) Leia estes poemas.<br />
Texto 1 - Auto-retrato<br />
Provinciano que nunca soube<br />
Escolher bem uma gravata;<br />
Pernambucano a quem repugna<br />
A faca do pernambucano;<br />
Poeta ruim que na arte da prosa<br />
Envelheceu na infância da arte,<br />
E até mesmo escrevendo crônicas<br />
Ficou cronista de província;<br />
Arquiteto falhado, músico<br />
Falhado (engoliu um dia<br />
Um piano, mas o teclado<br />
Ficou de fora); sem família,<br />
Religião ou filosofia;<br />
202
Mal tendo a inquietação de espírito<br />
Que vem do sobrenatural,<br />
E em matéria de profissão<br />
Um tísico* profissional.<br />
(Manuel Bandeira. Poesia completa e prosa. Rio de<br />
Janeiro: Aguilar, 1983. p. 395.)<br />
Texto 2 - Poema de sete faces<br />
Quando eu nasci, um anjo torto<br />
desses que vivem na sombra<br />
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.<br />
As casas espiam os homens<br />
que correm atrás de mulheres.<br />
A tarde talvez fosse azul,<br />
não houvesse tantos desejos.<br />
(....)<br />
Meu Deus, por que me abandonaste<br />
se sabias que eu não era Deus<br />
se sabias que eu era fraco.<br />
Mundo mundo vasto mundo,<br />
se eu me chamasse Raimundo<br />
seria uma rima, não seria uma solução.<br />
Mundo mundo vasto mundo<br />
mais vasto é o meu coração.<br />
(Carlos Drummond de Andrade.<br />
Obra completa. Rio de Janeiro:<br />
Aguilar, 1964. p. 53.)<br />
(*) tísico=tuberculoso<br />
No verso “Meu Deus, por que me<br />
abandonaste” do texto 2, Drummond<br />
retoma as palavras de Cristo, na cruz,<br />
pouco antes de morrer. Esse recurso de<br />
repetir palavras de outrem equivale a<br />
A) emprego de termos moralizantes.<br />
B) uso de vício de linguagem pouco<br />
tolerado.<br />
C) repetição desnecessária de idéias.<br />
D) emprego estilístico da fala de outra<br />
pessoa.<br />
E) uso de uma pergunta sem resposta.<br />
Comentário<br />
A citação, característica de intercambiar<br />
pensamentos de um texto para outro, fica<br />
bastante evidente no poema de Drummond.<br />
Ao retomar as palavras de Cristo, o autor<br />
deixa claro que sua idéia era transmitir uma<br />
mensagem por meio de palavras já<br />
proferidas por outra pessoa e cuja<br />
importância dá sentido a toda a estrofe.<br />
84) (2004)<br />
A tira "Hagar" e o poema de Alberto<br />
Caeiro (um dos heterônimos de Fernando<br />
Pessoa) expressam, com linguagens<br />
diferentes, uma mesma idéia: a de que a<br />
compreensão que temos do mundo é<br />
condicionada, essencialmente,<br />
A) pelo alcance de cada cultura.<br />
B) pela capacidade visual do observador.<br />
C) pelo senso de humor de cada um.<br />
D) pela idade do observador.<br />
E) pela altura do ponto de observação.<br />
Comentário<br />
Questão reflexiva sobre a forma como<br />
cada cultura vê o mundo sob a ótica dos<br />
limites dados pelos seus costumes e<br />
possibilidades de pensamento inerentes a<br />
cada modelo cultural. A mistura de uma tira e<br />
de um poema amplia a possibilidade de<br />
pensamento por trabalhar com linguagens<br />
diferentes. A alternativa correta é a letra A,<br />
pois ambos (tira e poema) utilizam figuras de<br />
linguagem (metáfora e ironia) para expressar<br />
as diferentes visões de mundo.<br />
85) (2000) As histórias em quadrinhos, por<br />
vezes, utilizam animais como<br />
personagens e a eles atribuem<br />
comportamento humano. O gato Garfield<br />
é exemplo desse fato.<br />
Fonte: Caderno Vida e Arte, Jornal do Povo, Fortaleza<br />
Van Gogh, pintor holandês nascido em<br />
1853, é um dos principais nomes da<br />
pintura mundial. É dele o quadro abaixo.<br />
Auto-retrato de orelha cortada<br />
203
O 3º quadrinho sugere que Garfield:<br />
A) desconhece tudo sobre arte, por isso<br />
faz a sugestão.<br />
B) acredita que todo pintor deve fazer algo<br />
diferente.<br />
C) defende que para ser pintor a pessoa<br />
tem de sofrer.<br />
D) conhece a história de um pintor<br />
famoso e faz uso da ironia.<br />
E) acredita que seu dono tenha tendência<br />
artística e, por isso, faz a sugestão.<br />
Comentário<br />
Outra questão de interpretação de texto.<br />
Muito simples para quem um dia ouviu falar<br />
de Van Gogh, e simplíssima para aqueles<br />
que prestam atenção em todos os elementos<br />
do enunciado. Afinal, quem deu uma<br />
espiadinha na legenda do quadro de Van<br />
Gogh matou na hora a questão.<br />
Esta questão é daquelas rápidas de serem<br />
resolvidas, associando-se os elementos<br />
apresentados.<br />
Comentário do INEP<br />
A significativa maioria (81%) dos<br />
participantes soube perceber o caráter<br />
irônico da fala do Garfield, expressa no<br />
terceiro quadrinho porque, ou conheciam a<br />
história de Van Gogh, ou apropriaram-se<br />
corretamente da informação sobre esse<br />
pintor, fornecida no enunciado.<br />
86) (2003)<br />
E) atribuir, no último quadrinho, fama<br />
exagerada ao dedo indicador dos<br />
patrões.<br />
Comentário<br />
A questão pede a interpretação de uma<br />
charge da personagem Mafalda, em que ela<br />
faz referência a seu dedo indicador, que é<br />
usado como substantivo primitivo e que<br />
possibilita a analogia com “indicador de<br />
desemprego”. Dessa forma, ela ironiza os<br />
indicadores sociais. Na charge, porém, não<br />
há menção explícita aos índices<br />
“indicadores”, permanecendo o raciocínio<br />
preso apenas ao dedo indicador. Assim, ela<br />
utiliza, tanto no primeiro quanto no último<br />
quadrinho, a palavra “indicador” como<br />
referência ao dedo, não dando abertura a<br />
outro tipo de interpretação.<br />
87) (2003)<br />
O texto aponta no quadro de Tarsila do<br />
Amaral um tema que também se encontra<br />
nos versos transcritos em:<br />
A) "Pensem nas meninas<br />
Cegas inexatas<br />
Pensem nas mulheres<br />
Rotas alteradas."<br />
(Vinícius de Moraes)<br />
O humor presente na tirinha decorre<br />
principalmente do fato de a personagem<br />
Mafalda<br />
A) atribuir, no primeiro quadrinho, poder<br />
ilimitado ao dedo indicador.<br />
B) considerar seu dedo indicador tão<br />
importante quanto o dos patrões.<br />
C) atribuir, no primeiro e no último<br />
quadrinhos, um mesmo sentido ao<br />
vocábulo "indicador".<br />
D) usar corretamente a expressão<br />
"indicador de desemprego", mesmo<br />
sendo criança.<br />
B) "Somos muitos severinos<br />
iguais em tudo e na sina:<br />
a de abrandar estas pedras<br />
suando-se muito em cima."<br />
(João Cabral de Melo Neto)<br />
C) "O funcionário público<br />
não cabe no poema<br />
com seu salário de fome<br />
sua vida fechada em arquivos."<br />
(Ferreira Gullar)<br />
D) "Não sou nada.<br />
Nunca serei nada.<br />
Não posso querer ser nada.<br />
À parte isso, tenho em mim todos os<br />
sonhos do mundo."<br />
(Fernando Pessoa)<br />
204
E) "Os inocentes do Leblon<br />
Não viram o navio entrar (...)<br />
Os inocentes, definitivamente inocentes<br />
tudo ignoravam,<br />
mas a areia é quente, e há um óleo<br />
suave<br />
que eles passam pelas costas, e<br />
aquecem."<br />
(Carlos Drummond de Andrade)<br />
Comentário<br />
Mais uma vez, o Exame Nacional do<br />
Ensino Médio procura relacionar análises de<br />
diferentes áreas da arte, misturando a pintura<br />
com a literatura. O quadro de Tarsila do<br />
Amaral “Operários” traz a imagem de vários<br />
rostos (de formatos, etnias e sexos<br />
diferentes) amontoados, tendo como pano de<br />
fundo as chaminés de uma fábrica.<br />
A questão deixa explícita a relação com<br />
os trechos literários que exaltam o<br />
proletariado, eliminando, já de cara, as<br />
alternativas A, D, e E.<br />
Ao se analisar a alternativa C, entretanto,<br />
percebe-se que a abordagem somente se<br />
relaciona com o funcionário público.<br />
Na letra B, o que se pode notar é que<br />
todas as pessoas “severinas” são iguais<br />
perante o sistema, niveladas por baixo e<br />
batalhadoras e que, sem privilégios ou<br />
distinções, são tratadas como mercadorias.<br />
88) (2002)<br />
De acordo com a história em quadrinhos<br />
protagonizada por Hagar e seu filho<br />
Hamlet, pode-se afirmar que a postura de<br />
Hagar<br />
A) valoriza a existência da diversidade<br />
social e de culturas, e as várias<br />
representações e explicações desse<br />
universo.<br />
B) desvaloriza a existência da<br />
diversidade social e as várias culturas,<br />
e determina uma única explicação para<br />
esse universo.<br />
C) valoriza a possibilidade de explicar as<br />
sociedades e as culturas a partir de<br />
várias visões de mundo.<br />
D) valoriza a pluralidade cultural e social<br />
ao aproximar a visão de mundo de<br />
navegantes e não-navegantes.<br />
E) desvaloriza a pluralidade cultural e<br />
social, ao considerar o mundo habitado<br />
apenas pelos navegantes.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Hagar reduz o<br />
mundo a dois tipos de pessoas: navegantes<br />
e não-navegantes. No último quadrinho, diz<br />
que são os navegantes que estabelecem<br />
esses dois grupos. Portanto, quem é<br />
diferente dos navegantes (que estabelecem<br />
o padrão) simplesmente é incluído na massa<br />
única dos não-navegantes. Não importa<br />
quem ou quantos sejam, sua diversidade<br />
social ou cultural em relação aos navegantes<br />
ou entre si. Vemos aí a desvalorização de<br />
outras culturas.<br />
Comentário do INEP<br />
Dentre as habilidades básicas para a<br />
compreensão de um texto destaca-se a<br />
capacidade do leitor de identificar os<br />
pressupostos de cada afirmação que lhe é<br />
apresentada. Nesta questão o participante<br />
deve identificar a posição tanto de Hagar<br />
como de seu filho Hamlet e, em seguida,<br />
avaliar quais os argumentos que justificam a<br />
opinião de Hagar ao definir que no mundo só<br />
existem dois tipos de pessoas. A pergunta de<br />
Hamlet a seu pai explicita a importância do<br />
ato de narrar através do diálogo e do efeito<br />
humorístico contido no episódio representado<br />
na tira. O resultado da compreensão<br />
acertada do diálogo é que o narrador torna<br />
inteligível, para si e para os outros, a lógica<br />
do seu pensamento através do diálogo entre<br />
os dois personagens. É importante observar<br />
que o humor do personagem Hagar é<br />
identificado na postura simetricamente<br />
oposta à de Michel de Montaigne, por<br />
exemplo (ver questão 58): a sua visão de<br />
mundo apresenta-se autocentrada, isto é,<br />
centrada nos seus próprios valores (vikings).<br />
A habilidade requerida do participante nessa<br />
questão, qual seja, "valorizar a diversidade<br />
dos patrimônios etnoculturais", é mobilizada<br />
aqui na sua dimensão negativa: é criticando<br />
a postura chauvinista de Hagar que o<br />
participante é capaz de responder<br />
corretamente a questão. A última alternativa<br />
(E) funciona como um distrator, pois neste<br />
caso não está suposta a crítica do discurso<br />
do personagem. Cerca de um terço dos<br />
participantes assinalou a alternativa correta<br />
B. As demais opções são devidas,<br />
possivelmente, a uma leitura pouco<br />
compreensiva das alternativas associadas a<br />
história em quadrinhos.<br />
205
89) (1999) E considerei a glória de um pavão<br />
ostentando o esplendor de suas cores; é<br />
um luxo imperial. Mas andei lendo livros, e<br />
descobri que aquelas cores todas não<br />
existem na pena do pavão. Não há<br />
pigmentos. O que há são minúsculas<br />
bolhas d’água em que a luz se fragmenta,<br />
como em um prisma. O pavão é um arcoíris<br />
de plumas.<br />
Eu considerei que este é o luxo do<br />
grande artista, atingir o máximo de<br />
matizes com o mínimo de elementos. De<br />
água e luz ele faz seu esplendor; seu<br />
grande mistério é a simplicidade.<br />
Considerei, por fim, que assim é o<br />
amor, oh! Minha amada; de tudo que ele<br />
suscita e esplende e estremece e delira<br />
em mim existem apenas meus olhos<br />
recebendo a luz de teu olhar. Ele me<br />
cobre de glórias e me faz magnífico.<br />
(BRAGA, Rubem. Ai de ti, Copacabana. 20.ed.)<br />
206<br />
O poeta Carlos Drummond de Andrade<br />
escreveu assim sobre a obra de Rubem<br />
Braga:<br />
O que ele nos conta é o seu dia, o seu<br />
expediente de homem, apanhado no<br />
essencial, narrativa direta e econômica.<br />
(...) É o poeta do real, do palpável, que se<br />
vai diluindo em cisma. Dá o sentimento da<br />
realidade e o remédio para ela.<br />
Em seu texto, Rubem Braga afirma que<br />
"este é o luxo do grande artista, atingir o<br />
máximo de matizes com o mínimo de<br />
elementos". Afirmação semelhante pode<br />
ser encontrada no texto de Carlos<br />
Drummond de Andrade, quando, ao<br />
analisar a obra de Braga, diz que ela é:<br />
A) uma narrativa direta e econômica.<br />
B) real, palpável.<br />
C) sentimento de realidade.<br />
D) seu expediente de homem.<br />
E) seu remédio.<br />
Comentário<br />
A última questão da prova de Português<br />
exige uma releitura do texto de Rubem Braga<br />
para um melhor entendimento do que é<br />
proposto por Drummond. Ao afirmar que a<br />
escrita de Braga é "direta e econômica",<br />
Drummond remete à descoberta feita por<br />
Rubem Braga em relação às cores das<br />
penas do pavão: (...) e descobri que aquelas<br />
cores todas não existem na pena do pavão.<br />
Não há pigmentos. O que há são minúsculas<br />
bolhas d’água em que a luz se fragmenta,<br />
como em um prisma. O pavão é um arco-íris<br />
de plumas.(...) este é o luxo do grande<br />
artista, atingir o máximo de matizes com o<br />
mínimo de elementos.(...)<br />
Segundo Braga, a grande mágica em se<br />
fazer arte é conseguir se expressar da<br />
melhor maneira possível usando o mínimo de<br />
elementos (sejam palavras, cores, formas,<br />
etc.). Drummond parafraseia o comentário de<br />
Braga, dando ainda mais evidência à<br />
descoberta do primeiro. Temos, aí, a<br />
"narrativa direta e econômica". Questão de<br />
nível médio.<br />
Comentário do INEP<br />
Além da compreensão de dois textos, de<br />
autores diferentes, o problema examinou a<br />
capacidade dos participantes em estabelecer<br />
um diálogo entre os mesmos.<br />
A identificação do significado e a relação<br />
correta da afirmação de Drummond, com o<br />
trecho correspondente de Rubem Braga<br />
destacado no enunciado, foi feita por 44%<br />
dos participantes. As alternativas B, C e D<br />
correspondem à identificação de aspectos de<br />
certa forma comuns aos dois textos, embora<br />
os elementos neles apontados não se refiram<br />
ao trecho destacado.<br />
90) (2009) Se os tubarões fossem homens<br />
Se os tubarões fossem homens, eles<br />
seriam mais gentis com os peixes<br />
pequenos?<br />
Certamente, se os tubarões fossem<br />
homens, fariam construir resistentes<br />
gaiolas no mar para os peixes pequenos,<br />
com todo o tipo de alimento, tanto animal<br />
como vegetal. Cuidariam para que as<br />
gaiolas tivessem sempre água fresca e<br />
adotariam todas as providências<br />
sanitárias.<br />
Naturalmente haveria também escolas<br />
nas gaiolas. Nas aulas, os peixinhos<br />
aprenderiam como nadar para a goela dos<br />
tubarões. Eles aprenderiam, por exemplo,<br />
a usar a geografia para localizar os<br />
grandes tubarões deitados<br />
preguiçosamente por aí. A aula principal<br />
seria, naturalmente, a formação moral dos<br />
peixinhos. A eles seria ensinado que o ato<br />
mais grandioso e mais sublime é O<br />
sacrifício alegre de um peixinho e que<br />
todos deveriam acreditar nos tubarões,<br />
sobretudo quando estes dissessem que<br />
cuidavam de sua felicidade futura. Os<br />
peixinhos saberiam que este futuro só<br />
estaria garantido se aprendessem a<br />
obediência.
Cada peixinho que na guerra matasse<br />
alguns peixinhos inimigos seria<br />
condecorado com uma pequena Ordem<br />
das Algas e receberia o título de herói.<br />
BRECHT, 6. Histórias do Sr. Keuner. São Paulo: Ed. 34,<br />
2006 (adaptado).<br />
Como produção humana, a literatura<br />
veicula valores que nem sempre estão<br />
representados diretamente no texto, mas<br />
são transfigurados pela linguagem literária<br />
e podem até entrar em contradição com<br />
as convenções sociais e revelar o quanto<br />
a sociedade perverteu os valores<br />
humanos que ela própria criou. É o que<br />
ocorre na narrativa do dramaturgo alemão<br />
Bertolt Brecht mostrada. Por meio da<br />
hipótese apresentada, o autor<br />
A) demonstra o quanto a literatura pode<br />
ser alienadora ao retratar, de modo<br />
positivo, as relações de opressão<br />
existentes na sociedade.<br />
B) revela a ação predatória do homem no<br />
mar, questionando a utilização dos<br />
recursos naturais pelo homem<br />
ocidental.<br />
C) defende que a força colonizadora e<br />
civilizatória do homem ocidental<br />
valorizou a organização das<br />
sociedades africanas e asiáticas,<br />
elevando-as ao modo de organização<br />
cultural e social da sociedade moderna.<br />
D) questiona o modo de organização<br />
das sociedades ocidentais capitalistas,<br />
que se desenvolveram fundamentadas<br />
nas relações de opressão em que os<br />
mais fortes exploram os mais fracos.<br />
E) evidencia a dinâmica social do trabalho<br />
coletivo em que os mais fortes<br />
colaboram com os mais fracos, de<br />
modo a guiá-los na realização de<br />
tarefas.<br />
Comentário<br />
(QUESTÃO: AZUL 123, BRANCA 121,<br />
ROSA 123)<br />
O dramaturgo Bertold Brecht, ao estabelecer<br />
de forma irônica uma analogia entre tubarões e<br />
homens poderosos, peixes pequenos e o<br />
cidadão submisso a uma ordem social,<br />
questiona o modo de organização das<br />
sociedades ocidentais capitalistas, que<br />
promove uma relação de opressão, em que os<br />
mais fortes exploram os mais fracos,<br />
representada metaforicamente no texto em<br />
"Nas aulas, os peixinhos aprenderiam como<br />
nadar para a goela dos tubarões".<br />
A alternativa D atende perfeitamente a tese<br />
defendida pelo autor no texto.<br />
91) (2009) Texto I<br />
[...] já foi o tempo em que via a<br />
convivência como viável, só exigindo<br />
deste bem comum, piedosamente, o meu<br />
quinhão, já foi o tempo em que consentia<br />
num contrato, deixando muitas coisas de<br />
fora sem ceder contudo no que me era<br />
vital, já foi o tempo em que reconhecia a<br />
existência escandalosa de imaginados<br />
valores, coluna vertebral de toda ‘ordem’;<br />
mas não tive sequer o sopro necessário,<br />
e, negado o respiro, me foi imposto o<br />
sufoco; é esta consciência que me libera,<br />
é ela hoje que me empurra, são outras<br />
agora minhas preocupações, é hoje outro<br />
o meu universo de problemas; num<br />
mundo estapafúrdio — definitivamente<br />
fora de foco — cedo ou tarde tudo acaba<br />
se reduzindo a um ponto de vista, e você<br />
que vive paparicando as ciências<br />
humanas, nem suspeita que paparica uma<br />
piada: impossível ordenar o mundo dos<br />
valores, ninguém arruma a casa do<br />
capeta; me recuso pois a pensar naquilo<br />
em que não mais acredito, seja o amor, a<br />
amizade, a família, a igreja, a<br />
humanidade; me lixo com tudo isso! me<br />
apavora ainda a existência, mas não<br />
tenho medo de ficar sozinho, foi<br />
conscientemente que escolhi o exílio, me<br />
bastando hoje o cinismo dos grandes<br />
indiferentes [...].<br />
NASSAR, R. Um copo de cólera. São Paulo:<br />
Companhia das Letras, 1992.<br />
Texto II<br />
Raduan Nassar lançou a novela Um Copo<br />
de Cólera em 1978, fervilhante narrativa<br />
de um confronto verbal entre amantes, em<br />
que a fúria das palavras cortantes se<br />
estilhaçava no ar. O embate conjugal<br />
ecoava o autoritário discurso do poder e<br />
da submissão de um Brasil que vivia sob o<br />
jugo da ditadura militar.<br />
COMODO, R. Um silêncio inquietante. lstoÉ.<br />
Disponível em:<br />
http://www.terra.com.br. Acesso em: 15 jul. 2009.<br />
Considerando-se os textos apresentados<br />
e o contexto político e social no qual foi<br />
produzida a obra Um Copo de Cólera,<br />
verifica-se que o narrador, ao dirigir-se à<br />
sua parceira, nessa novela, tece um<br />
discurso<br />
A) conformista, que procura defender as<br />
instituições nas quais repousava a<br />
autoridade do regime militar no Brasil, a<br />
saber: a Igreja, a família e o Estado.<br />
207
208<br />
B) pacifista, que procura defender os<br />
ideais libertários representativos da<br />
intelectualidade brasileira opositora à<br />
ditadura militar na década de 70 do<br />
século passado.<br />
C) desmistificador, escrito em um<br />
discurso ágil e contundente, que critica<br />
os grandes princípios humanitários<br />
supostamente defendidos por sua<br />
interlocutora.<br />
D) politizado, pois apela para o<br />
engajamento nas causas sociais e para<br />
a defesa dos direitos humanos como<br />
uma única forma de salvamento para a<br />
humanidade.<br />
E) contraditório, ao acusar a sua<br />
interlocutora de compactuar com o<br />
regime repressor da ditadura militar,<br />
por meio da defesa de instituições<br />
como a família e a Igreja.<br />
Comentário<br />
(QUESTÃO: AZUL 133, BRANCA 133,<br />
ROSA 131)<br />
O texto apresenta uma linguagem<br />
metafórica sobre a situação do Brasil de<br />
época focalizando o embate conjugal em que<br />
o confronto verbal é recorrente na narrativa.<br />
Portanto, as palavras-chave apresentadas<br />
nas alternativas A, B, D, e E: conformação,<br />
pacifismo, postura política e<br />
contraditoriedade, não fazem parte do<br />
excerto. Trata-se de uma prosa de teor<br />
intimista. Dessa forma, a alternativa correta é<br />
a letra C, pois a palavra-chave "desmistificar"<br />
é o que melhor representa a prosa de<br />
Raduan Nassar.<br />
Competência de área 5<br />
H16 - Relacionar informações<br />
sobre concepções artísticas e<br />
procedimentos de construção<br />
do texto literário.<br />
01) (2000) Ferreira Gullar, um dos grandes<br />
poetas brasileiros da atualidade, é autor<br />
de “Bicho urbano”, poema sobre a sua<br />
relação com as pequenas e grandes<br />
cidades.<br />
Bicho urbano<br />
Se disser que prefiro morar em Pirapemas<br />
ou em outra qualquer pequena cidade do<br />
país<br />
estou mentindo<br />
ainda que lá se possa de manhã<br />
lavar o rosto no orvalho<br />
e o pão preserve aquele branco<br />
sabor de alvorada.<br />
....................................................................<br />
A natureza me assusta.<br />
Com seus matos sombrios suas águas<br />
suas aves que são como aparições<br />
me assusta quase tanto quanto<br />
esse abismo<br />
de gases e de estrelas<br />
aberto sob minha cabeça.<br />
(GULLAR, Ferreira. Toda poesia. Rio de Janeiro:<br />
José Olympio Editora, 1991)<br />
Embora não opte por viver numa pequena<br />
cidade, o poeta reconhece elementos de<br />
valor no cotidiano das pequenas<br />
comunidades. Para expressar a relação<br />
do homem com alguns desses elementos,<br />
ele recorre à sinestesia, construção de<br />
linguagem em que se mesclam<br />
impressões sensoriais diversas. Assinale<br />
a opção em que se observa esse recurso.<br />
A) "e o pão preserve aquele branco /<br />
sabor de alvorada."<br />
B) "ainda que lá se possa de manhã /<br />
lavar o rosto no orvalho"<br />
C) "A natureza me assusta. / Com seus<br />
matos sombrios suas águas"<br />
D) "suas aves que são como aparições /<br />
me assusta quase tanto quanto"<br />
E) "me assusta quase tanto quanto / esse<br />
abismo / de gases e de estrelas"<br />
Comentário<br />
Para responder a esta questão, leia com<br />
muita atenção o enunciado. Nele encontra-se<br />
o conceito de sinestesia: construção de<br />
linguagem em que se mesclam impressões<br />
sensoriais diversas, ou seja, a associação de<br />
sensações diferentes numa mesma<br />
expressão.<br />
Você deve compreender o conceito de<br />
sinestesia e, pela lógica, encontrar o exemplo<br />
dessa figura de linguagem.<br />
A alternativa correta é a letra a, pois a<br />
expressão "branco sabor" associa o sentido<br />
da visão (branco) com o do paladar (sabor).<br />
Comentário do INEP<br />
A questão procurou verificar a capacidade<br />
do participante de construir o sentido de<br />
elementos textuais. A partir da noção de<br />
sinestesia, que lhe foi dada de maneira<br />
sucinta, ele teve de transpor para o texto<br />
essa mesma noção, manifestando sua<br />
competência textual. Pode-se classificar de<br />
'bom', o índice de acerto (53%), se<br />
considerarmos que a questão trabalhou com
a função conotativa da linguagem, o que<br />
requer uma capacidade de leitura sempre<br />
mais desenvolvida. Os desvios, de forma<br />
mais acentuada na alternativa B, são<br />
explicáveis: as alternativas incorretas (e, de<br />
resto, todo o poema) também se referem à<br />
manifestações sensoriais, embora sem a<br />
necessária 'mescla', que é o que distingue a<br />
sinestesia.<br />
02) (2002) "De repente lá vinha um homem a<br />
cavalo. Eram dois. Um senhor de fora, o<br />
claro de roupa. Miguilim saudou, pedindo<br />
a bênção. O homem trouxe o cavalo cá<br />
bem junto. Ele era de óculos, corado, alto,<br />
com um chapéu diferente, mesmo.<br />
— Deus te abençoe, pequenino. Como é<br />
teu nome?<br />
— Miguilim. Eu sou irmão do Dito.<br />
— E o seu irmão Dito é o dono daqui?<br />
— Não, meu senhor. O Ditinho está em<br />
glória.<br />
O homem esbarrava o avanço do<br />
cavalo, que era zelado, manteúdo,<br />
formoso como nenhum outro. Redizia:<br />
— Ah, não sabia, não. Deus o tenha em<br />
sua guarda... Mas que é que há, Miguilim?<br />
Miguilim queria ver se o homem estava<br />
mesmo sorrindo para ele, por isso é que o<br />
encarava.<br />
— Por que você aperta os olhos assim?<br />
Você não é limpo de vista? Vamos até lá.<br />
Quem é que está em tua casa?<br />
— É Mãe, e os meninos...<br />
Estava Mãe, estava tio Terez, estavam<br />
todos. O senhor alto e claro se apeou. O<br />
outro, que vinha com ele, era um<br />
camarada.<br />
O senhor perguntava à Mãe muitas<br />
coisas do Miguilim. Depois perguntava a<br />
ele mesmo: — 'Miguilim, espia daí:<br />
quantos dedos da minha mão você está<br />
enxergando? E agora?"<br />
ROSA, João Guimarães. Manuelzão e Miguilim. 9ª ed. Rio de<br />
Janeiro: Nova Fronteira, 1984.<br />
Esta história, com narrador observador em<br />
terceira pessoa, apresenta os<br />
acontecimentos da perspectiva de<br />
Miguilim. O fato de o ponto de vista do<br />
narrador ter Miguilim como referência,<br />
inclusive espacial, fica explicitado em:<br />
A) "O homem trouxe o cavalo cá bem<br />
junto."<br />
B) "Ele era de óculos, corado, alto (...)"<br />
C) "O homem esbarrava o avanço do<br />
cavalo, (...)"<br />
D) "Miguilim queria ver se o homem<br />
estava mesmo sorrindo para ele, (...)"<br />
E) "Estava Mãe, estava tio Terez, estavam<br />
todos"<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. A única alternativa<br />
que apresenta, ao mesmo tempo, o narrador<br />
e o ponto de referência espacial é a letra A, o<br />
que pode ser comprovado pela expressão<br />
"cá bem junto".<br />
Comentário do INEP<br />
Essa questão apresenta para leitura e<br />
análise um trecho da novela Campo Geral,<br />
da obra Manuelzão e Miguilim, de Guimarães<br />
Rosa, em que um narrador em terceira<br />
pessoa relata o momento do encontro entre<br />
Miguilim e o médico, que percebe, logo ao<br />
chegar, que o garoto tem problemas de<br />
visão. A questão propõe a análise do ponto<br />
de vista narrativo, que, no texto literário, não<br />
necessariamente, como no texto em questão,<br />
será sempre o do narrador.<br />
A cena narrativa presente nesse texto é<br />
contada por um narrador adulto, mas é o<br />
sentimento de Miguilim a respeito dos<br />
acontecimentos que orienta esse contar.<br />
Esse efeito de sentido é resultado do<br />
trabalho do autor com a linguagem. Segundo<br />
a gramática da norma culta, "cá" e "aqui"<br />
indicam o lugar do sujeito, ou seja, daquele<br />
que fala. Algo semelhante ocorre com o<br />
verbo "trazer", que indica um movimento para<br />
o lugar onde se encontra o sujeito. Tanto "cá"<br />
como "trazer" indicam proximidade espacial<br />
daquele que fala.<br />
A narração pertence a um narrador que<br />
não participa da historia como personagem,<br />
portanto ele fala dos outros, nunca de si<br />
mesmo. No trecho "o homem trouxe o cavalo<br />
cá bem junto", o narrador indica que o<br />
homem a cavalo aproxima-se de Miguilim.<br />
Esse jogo de linguagem cria no leitor a<br />
imagem de um narrador adulto que, colandose<br />
à criança, vê pelos olhos desta.<br />
Embora todas as alternativas apresentem<br />
a percepção da criança naquele contexto da<br />
chegada de um desconhecido, apenas a<br />
alternativa A responde o que foi solicitado,<br />
pois só ela apresenta o aspecto da<br />
localização espacial presente no advérbio de<br />
lugar "cá". Quase metade dos participantes<br />
assinalou a alternativa D, única que contem a<br />
palavra Miguilim, possivelmente porque<br />
interpretaram erroneamente o<br />
encaminhamento da questão, no trecho "...<br />
narrador ter Miguilim como referência, ...".<br />
209
03) (2006) Namorados<br />
O rapaz chegou-se para junto da moça<br />
e disse:<br />
— Antônia, ainda não me acostumei com<br />
o seu corpo, com a sua cara.<br />
A moça olhou de lado e esperou.<br />
— Você não sabe quando a gente é<br />
criança e de repente vê uma lagarta<br />
listrada?<br />
A moça se lembrava:<br />
— A gente fica olhando...<br />
A meninice brincou de novo nos olhos<br />
dela.<br />
O rapaz prosseguiu com muita doçura:<br />
— Antônia, você parece uma lagarta<br />
listrada.<br />
A moça arregalou os olhos, fez<br />
exclamações.<br />
O rapaz concluiu:<br />
— Antônia, você é engraçada! Você<br />
parece louca.<br />
No poema de Bandeira, importante<br />
representante da poesia modernista,<br />
destaca-se como característica da escola<br />
literária dessa época<br />
Manuel Bandeira. Poesia completa & prosa.<br />
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985.<br />
A) a reiteração de palavras como recurso<br />
de construção de rimas ricas.<br />
B) a utilização expressiva da linguagem<br />
falada em situações do cotidiano.<br />
C) a criativa simetria de versos para<br />
reproduzir o ritmo do tema abordado.<br />
D) a escolha do tema do amor romântico,<br />
caracterizador do estilo literário dessa<br />
época.<br />
E) o recurso ao diálogo, gênero discursivo<br />
típico do Realismo.<br />
04) (2008) Calcula-se que 78% do<br />
desmatamento na Amazônia tenha sido<br />
motivado pela pecuária — cerca de 35%<br />
do rebanho nacional está na região — e<br />
que pelo menos 50 milhões de hectares<br />
de pastos são pouco produtivos. Enquanto<br />
o custo médio para aumentar a<br />
produtividade de 1 hectare de pastagem é<br />
de 2 mil reais, o custo para derrubar igual<br />
área de floresta é estimado em 800 reais,<br />
o que estimula novos desmatamentos.<br />
Adicionalmente, madeireiras retiram as<br />
árvores de valor comercial que foram<br />
abatidas para a criação de pastagens. Os<br />
pecuaristas sabem que problemas<br />
ambientais como esses podem provocar<br />
restrições à pecuária nessas áreas, a<br />
exemplo do que ocorreu em 2006 com o<br />
plantio da soja, o qual, posteriormente, foi<br />
proibido em áreas de floresta.<br />
Época, 3/3/2008 e 9/6/2008 (com adaptações).<br />
A partir da situação-problema descrita,<br />
conclui-se que<br />
A) o desmatamento na Amazônia decorre<br />
principalmente da exploração ilegal de<br />
árvores de valor comercial.<br />
B) um dos problemas que os pecuaristas<br />
vêm enfrentando na Amazônia é a<br />
proibição do plantio de soja.<br />
C) a mobilização de máquinas e de força<br />
humana torna o desmatamento mais<br />
caro que o aumento da produtividade<br />
de pastagens.<br />
D) o superavit comercial decorrente da<br />
exportação de carne produzida na<br />
Amazônia compensa a possível<br />
degradação ambiental.<br />
E) a recuperação de áreas desmatadas<br />
e o aumento de produtividade das<br />
pastagens podem contribuir para a<br />
redução do desmatamento na<br />
Amazônia.<br />
Comentário<br />
Essa questão retrata o problema do<br />
desmatamento da Amazônia, relacionado<br />
principalmente com o desenvolvimento da<br />
pecuária na região. Para resolvê-la, foram<br />
necessários a leitura atenta do texto e o<br />
conhecimento sobre os problemas<br />
ambientais da atualidade. A alternativa<br />
correta é a letra E, pois é mais caro para os<br />
pecuaristas aumentar a produtividade do que<br />
as áreas de pasto, o que acarreta o aumento<br />
do desmatamento da Amazônia.<br />
05) (2006) Erro de Português<br />
Quando o português chegou<br />
Debaixo de uma bruta chuva<br />
Vestiu o índio<br />
Que pena!<br />
Fosse uma manhã de Sol<br />
O índio tinha despido<br />
O português.<br />
Oswald de Andrade. Poesias reunidas.<br />
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.<br />
O primitivismo observável no poema<br />
acima, de Oswald de Andrade, caracteriza<br />
de forma marcante<br />
A) o regionalismo do Nordeste.<br />
B) o concretismo paulista.<br />
C) a poesia Pau-Brasil.<br />
D) o simbolismo pre-modernista.<br />
E) o tropicalismo baiano.<br />
2<strong>10</strong>
Comentário<br />
Questão de nível fácil, pois bastaria que o<br />
aluno fizesse a relação do nome do autor,<br />
Oswald de Andrade, à alternativa "C", poesia<br />
Pau-Brasil. Com isso, ele já eliminaria as<br />
demais alternativas. Contudo, mesmo que o<br />
aluno não tivesse se lembrado desse<br />
detalhe, o próprio poema Erro de Português<br />
remete a uma das características da poesia<br />
Pau-Brasil, a retomada e a valorização das<br />
riquezas do Brasil primitivo.<br />
06) (2007) Texto I<br />
Agora Fabiano conseguia arranjar as<br />
idéias. O que o segurava era a família.<br />
Vivia preso como um novilho amarrado ao<br />
mourão, suportando ferro quente. Se não<br />
fosse isso, um soldado amarelo não lhe<br />
pisava o pé não. (...) Tinha aqueles<br />
cambões pendurados ao pescoço.<br />
Deveria continuar a arrastá-los? Sinha<br />
Vitória dormia mal na cama de varas. Os<br />
meninos eram uns brutos, como o pai.<br />
Quando crescessem, guardariam as reses<br />
de um patrão invisível, seriam pisados,<br />
maltratados, machucados por um soldado<br />
amarelo.<br />
Graciliano Ramos. Vidas Secas.<br />
São Paulo: Martins, 23.ª ed., 1969, p. 75.<br />
Texto II<br />
Para Graciliano, o roceiro pobre é um<br />
outro, enigmático, impermeável. Não há<br />
solução fácil para uma tentativa de<br />
incorporação dessa figura no campo da<br />
ficção. É lidando com o impasse, ao invés<br />
de fáceis soluções, que Graciliano vai<br />
criar Vidas Secas, elaborando uma<br />
linguagem, uma estrutura romanesca,<br />
uma constituição de narrador em que<br />
narrador e criaturas se tocam, mas não se<br />
identificam. Em grande medida, o debate<br />
acontece porque, para a intelectualidade<br />
brasileira naquele momento, o pobre, a<br />
despeito de aparecer idealizado em certos<br />
aspectos, ainda é visto como um ser<br />
humano de segunda categoria, simples<br />
demais, incapaz de ter pensamentos<br />
demasiadamente complexos. O que Vidas<br />
Secas faz é, com pretenso não<br />
envolvimento da voz que controla a<br />
narrativa, dar conta de uma riqueza<br />
humana de que essas pessoas seriam<br />
plenamente capazes.<br />
Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes. In:<br />
Teresa. São Paulo: USP, n.° 2, 2001, p. 254.<br />
A partir do trecho de Vidas Secas (texto I)<br />
e das informações do texto II, relativas às<br />
concepções artísticas do romance social<br />
de 1930, avalie as seguintes afirmativas.<br />
I - O pobre, antes tratado de forma exótica<br />
e folclórica pelo regionalismo pitoresco,<br />
transforma-se em protagonista<br />
privilegiado do romance social de 30.<br />
II - A incorporação do pobre e de outros<br />
marginalizados indica a tendência da<br />
ficção brasileira da década de 30 de<br />
tentar superar a grande distância entre<br />
o intelectual e as camadas populares.<br />
III - Graciliano Ramos e os demais autores<br />
da década de 30 conseguiram, com<br />
suas obras, modificar a posição social<br />
do sertanejo na realidade nacional.<br />
É correto apenas o que se afirma em<br />
A) I. D) I e II.<br />
B) II. E) II e III.<br />
C) III.<br />
Comentário<br />
Questão de nível médio. O aluno deveria<br />
perceber que, no texto de Vidas Secas, o<br />
protagonista de sua obra é o "Pobre<br />
Sertanejo", aqui tratado de forma realista,<br />
sem idealizações e fantasias, e com total<br />
destaque em sua narrativa. Ele também deve<br />
fazer um comparativo entre o trecho da obra<br />
com o comentário de Luís Bueno, além de<br />
demonstrar seus conhecimentos sobre o<br />
Romance Regionalista de 30, para chegar à<br />
conclusão de que a resposta correta é a D.<br />
07) (2008) A Lei Federal n.º 9.985/2000, que<br />
instituiu o sistema nacional de unidades<br />
de conservação, define dois tipos de<br />
áreas protegidas. O primeiro, as unidades<br />
de proteção integral, tem por objetivo<br />
preservar a natureza, admitindo-se<br />
apenas o uso indireto dos seus recursos<br />
naturais, isto é, aquele que não envolve<br />
consumo, coleta, dano ou destruição dos<br />
recursos naturais. O segundo, as<br />
unidades de uso sustentável, tem por<br />
função compatibilizar a conservação da<br />
natureza com o uso sustentável de<br />
parcela dos recursos naturais. Nesse<br />
caso, permite-se a exploração do<br />
ambiente de maneira a garantir a<br />
perenidade dos recursos ambientais<br />
renováveis e dos processos ecológicos,<br />
mantendo-se a biodiversidade e os<br />
demais atributos ecológicos, de forma<br />
211
socialmente justa e economicamente<br />
viável.<br />
Considerando essas informações, analise<br />
a seguinte situação hipotética.<br />
Ao discutir a aplicação de recursos<br />
disponíveis para o desenvolvimento de<br />
determinada região, organizações civis,<br />
universidade e governo resolveram<br />
investir na utilização de uma unidade de<br />
proteção integral, o Parque Nacional do<br />
Morro do Pindaré, e de uma unidade de<br />
uso sustentável, a Floresta Nacional do<br />
Sabiá. Depois das discussões, a equipe<br />
resolveu levar adiante três projetos:<br />
— o projeto I consiste de pesquisas<br />
científicas embasadas exclusivamente<br />
na observação de animais;<br />
— o projeto II inclui a construção de uma<br />
escola e de um centro de vivência;<br />
— o projeto III promove a organização de<br />
uma comunidade extrativista que<br />
poderá coletar e explorar<br />
comercialmente frutas e sementes<br />
nativas.<br />
Nessa situação hipotética, atendendo-se à<br />
lei mencionada acima, é possível<br />
desenvolver tanto na unidade de proteção<br />
integral quanto na de uso sustentável<br />
A) apenas o projeto I.<br />
B) apenas o projeto III.<br />
C) apenas os projetos I e II.<br />
D) apenas os projetos II e III.<br />
E) todos os três projetos.<br />
Comentário do portal<br />
A alternativa correta é a letra "A", pois,<br />
analisando-se a situação hipotética sugerida<br />
no enunciado, percebe-se que ela deverá<br />
atender os requisitos tanto da unidade de<br />
proteção integral quanto da unidade de uso<br />
sustentável. Portanto, apenas o projeto I<br />
poderá ser desenvolvido nessas duas<br />
propostas de unidades.<br />
08) (2006) No poema Procura da poesia,<br />
Carlos Drummond de Andrade expressa a<br />
concepção estética de se fazer com<br />
palavras o que o escultor Michelângelo<br />
fazia com mármore. O fragmento abaixo<br />
exemplifica essa afirmação.<br />
(...)<br />
Penetra surdamente no reino das<br />
palavras.<br />
Lá estão os poemas que esperam ser<br />
escritos.<br />
(...)<br />
Chega mais perto e contempla as<br />
palavras.<br />
212<br />
Cada uma<br />
tem mil faces secretas sob a face neutra<br />
e te pergunta, sem interesse pela<br />
resposta,<br />
pobre ou terrível, que lhe deres:<br />
trouxeste a chave?<br />
Carlos Drummond de Andrade. A rosa do povo.<br />
Rio de Janeiro: Record, 1997, p. 13-14.<br />
Esse fragmento poético ilustra o seguinte<br />
tema constante entre autores<br />
modernistas:<br />
A) a nostalgia do passado colonialista<br />
revisitado.<br />
B) a preocupação com o engajamento<br />
político e social da literatura.<br />
C) o trabalho quase artesanal com as<br />
palavras, despertando sentidos novos.<br />
D) a produção de sentidos herméticos na<br />
busca da perfeição poética.<br />
E) a contemplação da natureza brasileira<br />
na perspectiva ufanista da pátria.<br />
Comentário<br />
Questão de nível difícil, pois o candidato<br />
deveria, além de interpretar o poema,<br />
conhecer o verdadeiro sentido de arte<br />
segundo Michelângelo, que achava que um<br />
bloco de mármore já tinha sua figura dentro<br />
dele e que seu trabalho seria somente<br />
lapidá-la. Dessa forma, o candidato deveria<br />
relacionar a estrutura de um bloco de<br />
mármore ao segundo verso do poema: “Lá<br />
estão os poemas que esperam ser escritos<br />
(...)”. Ou seja, esperava-se que o candidato<br />
fizesse a relação do bloco de mármore com<br />
as palavras, o que justifica a alternativa “C”<br />
como correta.<br />
09) (2002) Érico Veríssimo relata, em suas<br />
memórias, um episódio da adolescência<br />
que teve influência significativa em sua<br />
carreira de escritor.<br />
"Lembro-me de que certa noite — eu<br />
teria uns quatorze anos, quando muito —<br />
encarregaram-me de segurar uma<br />
lâmpada elétrica à cabeceira da mesa de<br />
operações, enquanto um médico fazia os<br />
primeiros curativos num pobre-diabo que<br />
soldados da Polícia Municipal haviam<br />
"carneado". (...) Apesar do horror e da<br />
náusea, continuei firme onde estava,<br />
talvez pensando assim: se esse caboclo<br />
pode agüentar tudo isso sem gemer, por<br />
que não hei de poder ficar segurando esta<br />
lâmpada para ajudar o doutor a costurar<br />
esses talhos e salvar essa vida? (...)<br />
Desde que, adulto, comecei a escrever
omances, tem-me animado até hoje a<br />
idéia de que o menos que o escritor pode<br />
fazer, numa época de atrocidades e<br />
injustiças como a nossa, é acender a sua<br />
lâmpada, fazer luz sobre a realidade de<br />
seu mundo, evitando que sobre ele caia a<br />
escuridão, propícia aos ladrões, aos<br />
assassinos e aos tiranos. Sim, segurar a<br />
lâmpada, a despeito da náusea e do<br />
horror. Se não tivermos uma lâmpada<br />
elétrica, acendamos o nosso toco de vela<br />
ou, em último caso, risquemos fósforos<br />
repetidamente, como um sinal de que não<br />
desertamos nosso posto."<br />
VERÍSSIMO, Érico. Solo de Clarineta. Tomo I.<br />
Porto Alegre: Editora Globo, 1978.<br />
Neste texto, por meio da metáfora da<br />
lâmpada que ilumina a escuridão, Érico<br />
Veríssimo define como uma das funções<br />
do escritor e, por extensão, da literatura,<br />
A) criar a fantasia.<br />
B) permitir o sonho.<br />
C) denunciar o real.<br />
D) criar o belo.<br />
E) fugir da náusea.<br />
Comentário<br />
Temos aqui um dos pontos mais comuns<br />
abordados na obra de Veríssimo: a denúncia<br />
social. “(...) o menos que o escritor pode<br />
fazer, numa época de atrocidades e<br />
injustiças como a nossa, é acender sua<br />
lâmpada, fazer luz sobre a realidade de seu<br />
mundo, evitando que sobre ele caia a<br />
escuridão, propícia aos ladrões, aos<br />
assassinos e aos tiranos.”<br />
A literatura deve, como a luz, mostrar não<br />
só as belezas, mas também as feridas da<br />
sociedade, para que as tentemos sanar.<br />
Comentário do INEP<br />
Essa questão apresenta para leitura e<br />
análise um trecho de Solo de Clarineta, em<br />
que Érico Veríssimo relata uma experiência<br />
de juventude e dela constrói uma metáfora<br />
para revelar o que ele entende ser uma das<br />
funções essenciais da literatura. "Lâmpada",<br />
"vela", "fósforos" devem ser lidos como a<br />
palavra comprometida em traduzir a<br />
realidade do mundo. Ou seja, afirmar que o<br />
escritor deve "fazer luz sobre a realidade de<br />
seu mundo", nesse contexto, equivale a<br />
afirmar que um papel da literatura é<br />
denunciar o real. Todas as alternativas<br />
propostas referem-se a eventuais funções da<br />
literatura. Apenas a alternativa C é pertinente<br />
ao contexto e foi escolhida por cerca de<br />
metade dos participantes.<br />
<strong>10</strong>) (1999) Leia o texto abaixo.<br />
Cabelos longos, brinco na orelha<br />
esquerda, físico de skatista. Na aparência,<br />
o estudante brasiliense Rui Lopes Viana<br />
Filho, de 16 anos, não lembra em nada o<br />
estereótipo dos gênios. Ele não usa<br />
pesados óculos de grau e está longe de<br />
ter um ar introspectivo. No final do mês<br />
passado, Rui retornou de Taiwan, onde<br />
enfrentou 419 competidores de todo o<br />
mundo na 39ª Olimpíada Internacional de<br />
Matemática. A reluzente medalha de ouro<br />
que ele trouxe na bagagem está<br />
dependurada sobre a cama de seu quarto,<br />
atulhado de rascunhos dos problemas<br />
matemáticos que aprendeu a decifrar nos<br />
últimos cinco anos.<br />
Veja – Vencer uma olimpíada serve de<br />
passaporte para uma carreira profissional<br />
meteórica?<br />
Rui – Nada disso. Decidi me dedicar à<br />
Olimpíada porque sei que a concorrência<br />
por um emprego é cada vez mais<br />
selvagem e cruel. Agora tenho algo a mais<br />
para oferecer. O problema é que as coisas<br />
estão mudando muito rápido e não sei<br />
qual será minha profissão. Além de ser<br />
muito novo para decidir sobre o meu<br />
futuro profissional, sei que esse conceito<br />
de carreira mudou muito.<br />
(Entrevista de Rui Lopes Viana Filho à Veja,<br />
05/08/1998, n.31, p. 9-<strong>10</strong>)<br />
Na pergunta, o repórter estabelece uma<br />
relação entre a entrada do estudante no<br />
mercado de trabalho e a vitória na<br />
Olimpíada. O estudante<br />
A) concorda com a relação e afirma que o<br />
desempenho na Olimpíada é<br />
fundamental para sua entrada no<br />
mercado.<br />
B) discorda da relação e complementa<br />
que é fácil se fazer previsões sobre o<br />
mercado de trabalho.<br />
C) discorda da relação e afirma que seu<br />
futuro profissional independe de<br />
dedicação aos estudos.<br />
D) discorda da relação e afirma que seu<br />
desempenho só é relevante se<br />
escolher uma profissão relacionada à<br />
matemática.<br />
E) concorda em parte com a relação e<br />
complementa que é complexo fazer<br />
previsões sobre o mercado de trabalho.<br />
Comentário<br />
Não é difícil de se chegar à resposta<br />
correta ao se ler a reportagem. Ao final do<br />
último parágrafo — (...) Além de ser muito<br />
213
novo para decidir sobre o meu futuro<br />
profissional, sei que esse conceito de carreira<br />
mudou muito. —, o estudante praticamente<br />
fornece a resposta à questão, declarando-se<br />
realista ao não tentar prever seu futuro<br />
profissional devido à pouca idade e às<br />
mudanças no mercado de trabalho. Quanto a<br />
concordar parcialmente com o repórter, veja<br />
que ele, apesar de negar que o prêmio fosse<br />
uma garantia de sucesso profissional, logo<br />
depois afirma que, com ele, terá algo mais a<br />
oferecer ao mercado. Questão de nível fácil.<br />
Comentário do INEP<br />
Nesta situação-problema, o participante<br />
deveria demonstrar que compreendeu as<br />
premissas de um discurso, distinguindo a<br />
diferença de significado de palavras isoladas<br />
ou no contexto em que estão inseridas.<br />
Verificou-se que mais da metade dos<br />
participantes demonstrou possuir essa<br />
compreensão. Aqueles que optaram pelas<br />
alternativas C e D podem ter sido atraídos<br />
pelo significado negativo da expressão inicial<br />
"Nada disso".<br />
11) (1998) Texto 1<br />
"Mulher, Irmã, escuta-me: não ames,<br />
Quando a teus pés um homem terno e<br />
curvo<br />
jurar amor, chorar pranto de sangue,<br />
Não creias, não, mulher: ele te engana!<br />
As lágrimas são gotas da mentira<br />
E o juramento manto da perfídia."<br />
(Joaquim Manoel de Macedo)<br />
214<br />
Texto 2<br />
"Teresa, se algum sujeito bancar o<br />
sentimental em cima de você<br />
E te jurar uma paixão do tamanho de um<br />
bonde<br />
Se ele chorar<br />
Se ele ajoelhar<br />
Se ele se rasgar todo<br />
Não acredite não Teresa<br />
É lágrima de cinema<br />
É tapeação<br />
Mentira<br />
CAI FORA"<br />
(Manuel Bandeira)<br />
Os autores, ao fazerem alusão às<br />
imagens da lágrima sugerem que:<br />
A) há um tratamento idealizado da<br />
relação homem/mulher.<br />
B) há um tratamento realista da relação<br />
homem/mulher.<br />
C) a relação familiar é idealizada.<br />
D) a mulher é superior ao homem.<br />
E) a mulher é igual ao homem.<br />
Comentário<br />
Ambos os autores, ao utilizarem a<br />
imagem da lágrima, estão na realidade<br />
mostrando que a figura do homem que é<br />
romântico a ponto de chorar ao jurar amor<br />
não existe. Tanto Macedo quanto<br />
Bandeira alertam as mulheres dizendo,<br />
com palavras e estilos diferentes, que não<br />
há homem que chore por amor (portanto,<br />
essa figura é uma idealização — e, por<br />
conseguinte, toda imagem que se tem<br />
sobre os relacionamentos<br />
demasiadamente românticos). Note que<br />
Bandeira chega até mesmo a chamar tal<br />
"chorão" de ator ("...É lágrima de cinema /<br />
É tapeação..."). Macedo dá uma imagem<br />
pesada às lágrimas ("...são gotas da<br />
mentira...").<br />
12) (1999) Considere os textos abaixo.<br />
(...) de modo particular, quero encorajar os<br />
crentes empenhados no campo da<br />
filosofia para que iluminem os diversos<br />
âmbitos da atividade humana, graças ao<br />
exercício de uma razão que se torna mais<br />
segura e perspicaz com o apoio que<br />
recebe da fé.<br />
(Papa João Paulo II. Carta Encíclica Fides<br />
et Ratio aos bispos da igreja católica sobre as relações<br />
entre fé e razão, 1998)<br />
As verdades da razão natural não<br />
contradizem as verdades da fé cristã.<br />
(São Tomás de Aquino<br />
–pensador medieval)<br />
Refletindo sobre os textos, pode-se<br />
concluir que:<br />
A) a encíclica papal está em contradição<br />
com o pensamento de São Tomás de<br />
Aquino, refletindo a diferença de<br />
épocas.<br />
B) a encíclica papal procura<br />
complementar São Tomás de Aquino,<br />
pois este colocava a razão natural<br />
acima da fé.<br />
C) a Igreja medieval valorizava a razão<br />
mais do que a encíclica de João Paulo<br />
II.<br />
D) o pensamento teológico teve sua<br />
importância na Idade Média, mas, em<br />
nossos dias, não tem relação com o<br />
pensamento filosófico.<br />
E) tanto a encíclica papal como a frase<br />
de São Tomás de Aquino procuram<br />
conciliar os pensamentos sobre fé e<br />
razão.
Comentário<br />
Nessa questão, é necessária uma<br />
releitura do texto para que se tenha uma<br />
melhor compreensão do tema. Tanto a<br />
citação do Papa quanto a de São Tomás de<br />
Aquino tentam criar uma interdependência<br />
entre a ciência e a fé, a religião. O Papa<br />
incentiva aqueles que exercem a pesquisa<br />
científica ou filosófica a manter a fé cristã.<br />
São Tomás de Aquino, por sua vez, equipara<br />
o avanço da ciência ao aumento da própria<br />
fé, afirmando que a razão natural não<br />
contradiz a fé cristã. Se um cresce, cresce<br />
também o outro, em harmonia e sem<br />
contradições. Questão de grau médio.<br />
(Português)<br />
Nessa questão, encontramos dois textos:<br />
o primeiro, do século XX, foi elaborado pelo<br />
Papa João Paulo II; o segundo, do século<br />
XIII, pelo teólogo e filósofo cristão São<br />
Tomás de Aquino. O conteúdo de ambos se<br />
refere à ligação entre fé e razão, a qual<br />
esteve presente na filosofia escolástica da<br />
Idade Média. Esse campo de reflexão buscou<br />
conciliar o cristianismo com o pensamento de<br />
Aristóteles e teve em São Tomás de Aquino<br />
seu maior representante.<br />
Mesmo sem ter todas essas informações,<br />
você poderia responder tranqüilamente à<br />
questão por meio de uma leitura atenta dos<br />
dois textos, chegando à conclusão de que<br />
"tanto a encíclica papal como a frase de São<br />
Tomás de Aquino procuram conciliar os<br />
pensamentos sobre fé e razão". Resposta<br />
correta: alternativa E. (História)<br />
Comentário do INEP<br />
Para resolver esta situação-problema, o<br />
participante deveria mostrar que, além de<br />
interpretar textos, sabe relacioná-los sendo<br />
que, nesse item, essas operações referem-se<br />
a um texto escrito na época medieval e a<br />
outro escrito recentemente.<br />
Mais de 70% dos participantes<br />
demonstraram facilidade em estabelecer esta<br />
relação.<br />
13) (2001) Murilo Mendes, em um de seus<br />
poemas, dialoga com a carta de Pero Vaz<br />
de Caminha:<br />
“A terra é mui graciosa,<br />
Tão fértil eu nunca vi.<br />
A gente vai passear,<br />
No chão espeta um caniço,<br />
No dia seguinte nasce<br />
Bengala de castão de oiro.<br />
Tem goiabas, melancias,<br />
Banana que nem chuchu.<br />
Quanto aos bichos, tem-nos muito,<br />
De plumagens mui vistosas.<br />
Tem macaco até demais<br />
Diamantes tem à vontade<br />
Esmeralda é para os trouxas.<br />
Reforçai, Senhor, a arca,<br />
Cruzados não faltarão,<br />
Vossa perna encanareis,<br />
Salvo o devido respeito.<br />
Ficarei muito saudoso<br />
Se for embora daqui”.<br />
MENDES, Murilo. Murilo Mendes —<br />
poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.<br />
Arcaísmos e termos coloquiais misturamse<br />
nesse poema, criando um efeito de<br />
contraste, como ocorre em:<br />
A) A terra é mui graciosa / Tem macaco<br />
até demais.<br />
B) Salvo o devido respeito / Reforçai,<br />
Senhor, a arca<br />
C) A gente vai passear / Ficarei muito<br />
saudoso<br />
D) De plumagens mui vistosas / Bengala<br />
de castão de oiro<br />
E) No chão espeta um caniço / Diamantes<br />
tem à vontade<br />
Comentário<br />
Aqui, procuramos uma alternativa que<br />
apresente um trecho em linguagem coloquial<br />
e outro em linguagem arcaica.<br />
As alternativas B, C e E apresentam<br />
apenas a linguagem coloquial. A D, somente<br />
a arcaica.<br />
Sobra-nos a primeira alternativa: "A terra é<br />
mui graciosa" (mui é um arcaísmo); "tem<br />
macaco até demais" (linguagem coloquial).<br />
Comentário do INEP<br />
O efeito de paródia, explorado como<br />
recurso estilístico pelo autor desse poema,<br />
apresenta-se na utilização de expressões<br />
retomadas ora da carta de Pero Vaz de<br />
Caminha ora da linguagem coloquial corrente<br />
de época, gerando um efeito de humor<br />
crítico. Uma condição essencial para<br />
compreender o problema proposto nessa<br />
questão – identificar os arcaísmos e os<br />
coloquialismos existentes no poema – é<br />
conhecer o contexto de produção do texto e<br />
sua relação intratextual. Se o participante<br />
desconhece ou não considera o contexto<br />
histórico do poema, a identificação será<br />
parcial, já que o enunciado indica como<br />
pressuposto "a criação de um efeito de<br />
contraste" na utilização das expressões.<br />
Possivelmente a utilização de "contraste"<br />
215
como critério de interpretação justifica os<br />
percentuais de escolhas dos distratores. Uma<br />
outra possível explicação para esses<br />
percentuais deve-se ao fato de os<br />
participantes terem considerado apenas os<br />
termos "arcaísmo" e "coloquialismo" e, não<br />
tendo elementos para analisá-los,<br />
provavelmente deslocaram o texto do<br />
contexto e apoiaram-se em outros elementos<br />
para resolver a questão.<br />
15) (2007)<br />
14) (2008) Considerando o soneto de<br />
Cláudio Manoel da Costa e os elementos<br />
constitutivos do Arcadismo brasileiro,<br />
assinale a opção correta acerca da<br />
relação entre o poema e o momento<br />
histórico de sua produção.<br />
A) Os “montes” e “outeiros”, mencionados<br />
na primeira estrofe, são imagens<br />
relacionadas à Metrópole, ou seja, ao<br />
lugar onde o poeta se vestiu com traje<br />
“rico e fino”.<br />
B) A oposição entre a Colônia e a<br />
Metrópole, como núcleo do poema,<br />
revela uma contradição vivenciada pelo<br />
poeta, dividido entre a civilidade do<br />
mundo urbano da Metrópole e a<br />
rusticidade da terra da Colônia.<br />
C) O bucolismo presente nas imagens do<br />
poema é elemento estético do<br />
Arcadismo que evidencia a<br />
preocupação do poeta árcade em<br />
realizar uma representação literária<br />
realista da vida nacional.<br />
D) A relação de vantagem da “choupana”<br />
sobre a “Cidade”, na terceira estrofe, é<br />
formulação literária que reproduz a<br />
condição histórica paradoxalmente<br />
vantajosa da Colônia sobre a<br />
Metrópole.<br />
E) A realidade de atraso social, político e<br />
econômico do Brasil Colônia está<br />
representada esteticamente no poema<br />
pela referência, na última estrofe, à<br />
transformação do pranto em alegria.<br />
Comentário<br />
A questão exige conhecimento das<br />
características do Arcadismo. A principal<br />
delas, presente no texto, é o bucolismo,<br />
representado pela paisagem da colônia. Esta<br />
é apresentada em oposição à paisagem da<br />
cidade ou metrópole. O poeta, que participou<br />
da Inconfidência Mineira, viveu em Lisboa.<br />
Dessa forma, o termo “vivenciado” da<br />
alternativa "B" justifica a oposição campo x<br />
cidade apresentada no poema. Logo, só<br />
pode ser essa a alternativa correta.<br />
216<br />
A antítese que configura uma imagem da<br />
divisão social do trabalho na sociedade<br />
brasileira é expressa poeticamente na<br />
oposição entre a doçura do branco açúcar<br />
e<br />
A) o trabalho do dono da mercearia de<br />
onde veio o açúcar.<br />
B) o beijo de moça, a água na pele e a flor<br />
que se dissolve na boca.<br />
C) o trabalho do dono do engenho em<br />
Pernambuco, onde se produz o açúcar.<br />
D) a beleza dos extensos canaviais que<br />
nascem no regaço do vale.<br />
E) o trabalho dos homens de vida<br />
amarga em usinas escuras.<br />
Comentário<br />
Questão de nível médio. O aluno deve<br />
perceber, na leitura do poema, várias<br />
antíteses. Entre elas, destaca-se a doçura do<br />
açúcar com a amargura da vida dos<br />
trabalhadores e a brancura dele com a<br />
escuridão das usinas. Porém, o grande<br />
destaque que o autor quer dar é o valor do<br />
trabalho do homem das usinas, que é o<br />
verdadeiro responsável pela produção do<br />
açúcar. Portanto, a alternativa E é a correta.
16) (1998) A discussão sobre gramática na<br />
classe está "quente". Será que os<br />
brasileiros sabem gramática? A<br />
professora de Português propõe para<br />
debate o seguinte texto:<br />
PRA MIM BRINCAR<br />
Não há nada mais gostoso do que o<br />
mim sujeito de verbo no infinito. Pra mim<br />
brincar. As cariocas que não sabem<br />
gramática falam assim. Todos os<br />
brasileiros deviam de querer falar como as<br />
cariocas que não sabem gramática.<br />
- As palavras mais feias da língua<br />
portuguesa são quiçá, alhures e miúde.<br />
(BANDEIRA, Manuel. Seleta em prosa e verso. Org:<br />
Emanuel de Moraes.4ª ed. Rio de Janeiro,<br />
José Olympio, 1986. Pág. 19)<br />
Com a orientação da professora e após o<br />
debate sobre o texto de Manuel Bandeira,<br />
os alunos chegaram à seguinte conclusão:<br />
A) uma das propostas mais ousadas do<br />
Modernismo foi a busca da identidade<br />
do povo brasileiro e o registro, no texto<br />
literário, da diversidade das falas<br />
brasileiras.<br />
B) apesar de os modernistas registrarem<br />
as falas regionais do Brasil, ainda<br />
foram preconceituosos em relação às<br />
cariocas.<br />
C) a tradição dos valores portugueses foi<br />
a pauta temática do movimento<br />
modernista.<br />
D) Manuel Bandeira e os modernistas<br />
brasileiros exaltaram em seus textos o<br />
primitivismo da nação brasileira.<br />
E) Manuel Bandeira considera a<br />
diversidade dos falares brasileiros uma<br />
agressão à Língua Portuguesa.<br />
Comentário<br />
Para resolver essa questão, é<br />
importantíssimo dar atenção a quem foi o<br />
autor do texto do enunciado — Manuel<br />
Bandeira. Ele participou da primeira fase do<br />
Modernismo brasileiro, conhecida como<br />
geração de 22. Ela tinha, dentre diversas<br />
propostas, uma de fundamental importância<br />
para essa questão: a busca da identidade do<br />
povo brasileiro, valorizando a cultura, a<br />
intelectualidade e a sociedade do país. Entre<br />
essas questões, encontrava-se, com realce,<br />
a da língua brasileira. Buscava-se uma<br />
aproximação entre a língua escrita, herdada<br />
dos portugueses, e a nossa língua falada,<br />
dando-se preferência à linguagem oral. Com<br />
isso em mente, teremos a alternativa A como<br />
correta.<br />
17) (1999) Leia um texto publicado no jornal<br />
Gazeta Mercantil. Esse texto é parte de<br />
um artigo que analisa algumas situações<br />
de crise no mundo, entre elas, a quebra<br />
da Bolsa de Nova Iorque em 1929, e foi<br />
publicado na época de uma iminente crise<br />
financeira no Brasil.<br />
Deu no que deu. No dia 29 de outubro de<br />
1929, uma terça-feira, praticamente não<br />
havia compradores no pregão de Nova<br />
Iorque, só vendedores. Seguiu-se uma<br />
crise incomparável: o Produto Interno<br />
Bruto dos Estados Unidos caiu de <strong>10</strong>4<br />
bilhões de dólares em 1929, para 56<br />
bilhões em 1933, coisa inimaginável em<br />
nossos dias. O valor do dólar caiu a quase<br />
metade. O desemprego elevou-se de 1,5<br />
milhão para 12,5 milhões de trabalhadores<br />
– cerca de 25% da população ativa –<br />
entre 1929 e 1933. A construção civil caiu<br />
90%. Nove milhões de aplicações, tipo<br />
caderneta de poupança, perderam-se com<br />
o fechamento dos bancos. Oitenta e cinco<br />
mil firmas faliram. Houve saques e norteamericanos<br />
que passaram fome.<br />
(Gazeta Mercantil, 05/01/1999)<br />
Ao citar dados referentes à crise ocorrida<br />
em 1929, em um artigo jornalístico atual,<br />
pode-se atribuir ao jornalista a seguinte<br />
intenção:<br />
A) questionar a interpretação da crise.<br />
B) comunicar sobre o desemprego.<br />
C) instruir o leitor sobre aplicações em<br />
bolsa de valores.<br />
D) relacionar os fatos passados e<br />
presentes.<br />
E) analisar dados financeiros americanos.<br />
Comentário<br />
Nessa questão, o que se tem de fazer é<br />
prestar atenção às alternativas das respostas.<br />
Nenhuma delas se apresenta tão bem<br />
contextualizada a uma possível interpretação<br />
quanto a letra D. Partindo-se da análise do<br />
texto, fica claro que a intenção do artigo é<br />
remeter o leitor ao passado para tentar<br />
conduzi-lo a uma reflexão sobre uma situação<br />
presente, não mencionada na questão. Após a<br />
leitura e utilizando-se a já citada eliminação de<br />
questões, torna-se clara a resposta. Questão<br />
de nível médio. (Português)<br />
Muitas vezes, quando procuramos entender<br />
uma crise econômica ou financeira de grandes<br />
proporções, buscamos estabelecer relações<br />
com crises passadas. O mesmo ocorre no<br />
jornalismo, como prova o texto encontrado<br />
nessa questão. Buscando entender uma crise<br />
ocorrida no início de 1999, o jornalista da<br />
Gazeta Mercantil buscou relacionar a situação<br />
217
dessa época com a grande crise de 1929 que<br />
afetou o mundo, trazendo desemprego e<br />
recessão, entre tantos outros problemas<br />
econômicos e sociais.<br />
Para responder a essa questão, era<br />
necessário ler atentamente o enunciado, em<br />
que está destacado que "o texto é parte de um<br />
artigo que analisa algumas situações de crise<br />
no mundo" e "foi publicado na época de uma<br />
iminente crise financeira no Brasil". Era<br />
importante também observar a data em que o<br />
artigo foi publicado: 05/01/1999. A partir dessas<br />
constatações, facilmente você chegaria a<br />
conclusão de que a intenção do jornalista era<br />
"relacionar os fatos passados e presentes".<br />
Resposta correta: alternativa D. (História)<br />
Comentário do INEP<br />
A resolução da questão demandava a<br />
capacidade dos participantes de relacionar<br />
eventos históricos envolvendo crises<br />
econômicas ocorridas em épocas e lugares<br />
distintos. Aproximadamente 2/3 deles<br />
demonstraram essa capacidade. Os demais,<br />
provavelmente, não compreenderam a<br />
exigência expressa no enunciado do problema<br />
– apontar as razões pelas quais um jornalista<br />
traz à tona eventos ocorridos setenta anos<br />
antes –, e apenas interpretaram o sentido do<br />
texto citado, que descreve a crise mundial de<br />
1929.<br />
18) (2007)<br />
Levando-se em consideração o texto de<br />
Oswald de Andrade e a pintura de Antonio<br />
Rocco reproduzida acima, relativos à<br />
imigração européia para o Brasil, é correto<br />
afirmar que<br />
A) a visão da imigração presente na<br />
pintura é trágica e, no texto, otimista.<br />
B) a pintura confirma a visão do texto<br />
quanto à imigração de argentinos para<br />
o Brasil.<br />
C) os dois autores retratam dificuldades<br />
dos imigrantes na chegada ao Brasil.<br />
D) Antonio Rocco retrata de forma otimista<br />
a imigração, destacando o pioneirismo<br />
do imigrante.<br />
E) Oswald de Andrade mostra que a<br />
condição de vida do imigrante era<br />
melhor que a dos ex-escravos.<br />
Comentário<br />
Questão fácil. Pela comparação entre dois<br />
textos com linguagens diferentes, chega-se à<br />
conclusão de que os imigrantes enfrentaram<br />
uma realidade bastante dura no momento de<br />
sua chegada ao Brasil. Portanto, a alternativa<br />
correta é a letra C.<br />
19) (2005) Cândido Portinari (1903-1962), um<br />
dos mais importantes artistas brasileiros<br />
do século XX, tratou de diferentes<br />
aspectos da nossa realidade em seus<br />
quadros.<br />
Sobre a temática dos “Retirantes”,<br />
Portinari também escreveu o seguinte<br />
poema:<br />
(....)<br />
Os retirantes vêm vindo com trouxas e<br />
embrulhos<br />
Vêm das terras secas e escuras;<br />
pedregulhos<br />
Doloridos como fagulhas de carvão aceso<br />
Corpos disformes, uns panos sujos,<br />
218
Rasgados e sem cor, dependurados<br />
Homens de enorme ventre bojudo<br />
Mulheres com trouxas caídas para o lado<br />
Pançudas, carregando ao colo um garoto<br />
Choramingando, remelento<br />
(....)<br />
(Cândido Portinari. Poemas. Rio de Janeiro:<br />
J. Olympio, 1964.)<br />
Das quatro obras reproduzidas, assinale<br />
aquelas que abordam a problemática que<br />
é tema do poema.<br />
A) 1 e 2 D) 3 e 4<br />
B) 1 e 3 E) 2 e 4<br />
C) 2 e 3<br />
C)<br />
D)<br />
Comentário<br />
O poema apresenta correspondência com<br />
as imagens ao descrever com detalhes a<br />
figura do retirante: pobre, mal vestido,<br />
carregando trouxas e embrulhos.<br />
20) (2002) O autor da tira utilizou os<br />
princípios de composição de um<br />
conhecido movimento artístico para<br />
representar a necessidade de um mesmo<br />
observador aprender a considerar,<br />
simultaneamente, diferentes pontos de<br />
vista.<br />
E)<br />
Das obras reproduzidas, todas de autoria<br />
do pintor espanhol Pablo Picasso, aquela<br />
em cuja composição foi adotado um<br />
procedimento semelhante é:<br />
A)<br />
B)<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. O movimento<br />
artístico que previa considerar<br />
simultaneamente diversos pontos de vista<br />
era o Cubismo. Havia a desconstrução da<br />
forma para que se pudesse ver todos os<br />
ângulos concomitantemente. O único quadro<br />
que apresenta essas características é o da<br />
alternativa E. As outras quatro alternativas<br />
pressupõem a manutenção da forma.<br />
Comentário do INEP<br />
O objetivo desta questão é levar o<br />
participante a refletir sobre características<br />
fundamentais de um movimento artístico – o<br />
cubismo – a partir de dados visuais:<br />
quadrinhos e pinturas. A reprodução de dois<br />
quadrinhos da personagem Calvin forneceu<br />
para o participante informações básicas para<br />
a análise que deveria fazer das alternativas<br />
apresentadas. Segundo os quadrinhos, o<br />
movimento artístico abordado pela questão<br />
219
tinha como procedimento de composição<br />
representar, para um mesmo observador,<br />
diferentes pontos de vista, fazendo com que<br />
"o tradicional único ponto de vista" fosse<br />
abandonado e com que a perspectiva fosse<br />
fraturada. A análise das obras de Picasso<br />
reproduzidas nas alternativas permite que o<br />
participante reconheça a adoção desse<br />
procedimento no quadro "Marie-Thérèse<br />
apoiada no cotovelo" (alternativa E, com 46%<br />
de registros), no qual se pode reconhecer a<br />
representação de diferentes pontos de vista<br />
a partir dos quais é apresentado o rosto da<br />
mulher retratada.<br />
21) (2000) “Poética”, de Manuel Bandeira, é<br />
quase um manifesto do movimento<br />
modernista brasileiro de 1922. No poema,<br />
o autor elabora críticas e propostas<br />
que representam o pensamento estético<br />
predominante na época.<br />
Poética<br />
Estou farto do lirismo comedido<br />
Do lirismo bem comportado<br />
Do lirismo funcionário público com livro de<br />
ponto expediente protocolo e<br />
[manifestações de apreço<br />
ao Sr. Diretor<br />
.<br />
Estou farto do lirismo que pára e vai<br />
averiguar no dicionário o<br />
[cunho vernáculo de um<br />
vocábulo<br />
Abaixo os puristas<br />
....................................................................<br />
Quero antes o lirismo dos loucos<br />
O lirismo dos bêbedos<br />
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos<br />
O lirismo dos clowns de Shakespeare<br />
— Não quero mais saber do lirismo que<br />
não é libertação.<br />
(BANDEIRA, Manuel. Poesia Completa e Prosa.<br />
Rio de Janeiro. Aguilar, 1974)<br />
Com base na leitura do poema, podemos<br />
afirmar corretamente que o poeta:<br />
A) critica o lirismo louco do movimento<br />
modernista.<br />
B) critica todo e qualquer lirismo na<br />
literatura.<br />
C) propõe o retorno ao lirismo do<br />
movimento clássico.<br />
D) propõe o retorno ao lirismo do<br />
movimento romântico.<br />
E) propõe a criação de um novo lirismo.<br />
Comentário<br />
Questão bastante inteligente. Para<br />
começar, Manuel Bandeira teve como marca<br />
de sua obra a busca de novas formas de<br />
expressão, sempre. Mesmo tendo escrito<br />
muitos sonetos (especialmente no início da<br />
carreira), adotou prazerosamente a rebeldia<br />
da poética modernista. A resposta pode estar<br />
centrada na análise de um único verso do<br />
poema. As alternativas de a a d ficam todas<br />
automaticamente descartadas pelo primeiro<br />
verso da segunda parte ("Quero antes o<br />
lirismo dos loucos"). Veja que quem prega<br />
um lirismo dos loucos e dos bêbedos não<br />
pode nem criticar o "lirismo louco" dos<br />
modernistas, como na alternativa a, ou<br />
propor que não haja lirismo, como na<br />
alternativa b. Tampouco pode querer o<br />
retorno à rigidez de forma e métrica da<br />
poesia clássica (lembre-se de Camões) ou<br />
romântica (Álvares de Azevedo, Castro<br />
Alves, Casimiro de Abreu). Propõe, sim, um<br />
novo tipo de lirismo. Vemos isso claramente<br />
se dermos atenção ao casamento do<br />
primeiro com o último verso da segunda<br />
parte ("Quero antes o lirismo dos loucos" /<br />
"—Não quero mais saber do lirismo que não<br />
é libertação").<br />
Comentário do INEP<br />
Um pouco mais da metade dos<br />
participantes (55 %) conseguiu identificar no<br />
texto a proposta estética do poeta e, em<br />
última análise, do próprio Modernismo. Os<br />
distratores com percentuais significativos de<br />
escolha foram apenas B e D. No primeiro<br />
caso, o tom de manifesto, incisivo e<br />
demolidor, do poema provavelmente induziu<br />
a opção. No segundo, a explicação se deve à<br />
possível relação que o participante<br />
estabeleceu entre o Modernismo e o<br />
Romantismo, que de fato existe, mas que<br />
não se aplica ao caso.<br />
22) (2001) Oxímoro (ou paradoxo) é uma<br />
construção textual que agrupa significados<br />
que se excluem mutuamente. Para<br />
Garfield, a frase de saudação de Jon<br />
(tirinha abaixo) expressa o maior de todos<br />
os oxímoros.<br />
220
23) (2004)<br />
Folha de S. Paulo. 31 de julho de 2000.<br />
Nas alternativas abaixo, estão transcritos<br />
versos retirados do poema “O operário em<br />
construção”. Pode-se afirmar que ocorre<br />
um oxímoro em<br />
A) "Era ele que erguia casas<br />
Onde antes só havia chão."<br />
B) "... a casa que ele fazia<br />
Sendo a sua liberdade<br />
Era a sua escravidão."<br />
C) "Naquela casa vazia<br />
Que ele mesmo levantara<br />
Um mundo novo nascia<br />
De que sequer suspeitava."<br />
D) "... o operário faz a coisa<br />
E a coisa faz o operário."<br />
E) "Ele, um humilde operário<br />
Um operário que sabia<br />
Exercer a profissão."<br />
MORAES, Vinícius de. Antologia Poética. São Paulo:<br />
Companhia das Letras, 1992.<br />
Comentário<br />
Idéias que se completam e se excluem<br />
mutuamente são encontradas na alternativa<br />
B: a casa que ele construía era, ao mesmo<br />
tempo, sua liberdade e sua escravidão.<br />
A casa é um símbolo de liberdade para o<br />
homem. Para o homem operário, é também<br />
símbolo de escravidão, pois ele está<br />
"condenado" a jamais usufruir do resultado<br />
do seu trabalho (a casa que faz não é para<br />
ele).<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão propõe ao participante que<br />
estabeleça uma relação entre linguagens,<br />
associando a compreensão de um efeito<br />
semântico produzido pelo uso do oxímoro<br />
nos quadrinhos com o mesmo efeito num<br />
texto poético. O índice (18%) de escolhas da<br />
alternativa D deve-se, possivelmente, a uma<br />
análise parcial da noção de paradoxo,<br />
confundida com inversão.<br />
O assunto de uma crônica pode ser uma<br />
experiência pessoal do cronista, uma<br />
informação obtida por ele ou um caso<br />
imaginário. O modo de apresentar o<br />
assunto também varia: pode ser uma<br />
descrição objetiva, uma exposição<br />
argumentativa ou uma narrativa sugestiva.<br />
Quanto à finalidade pretendida, pode-se<br />
promover uma reflexão, definir um<br />
sentimento ou tão-somente provocar um<br />
riso.<br />
Na crônica O jivaro, escrita a partir da<br />
reportagem de um jornal, Rubem Braga se<br />
vale dos seguinte elementos:<br />
Comentário<br />
O assunto da crônica de Rubem Braga foi<br />
uma informação colhida — o conhecimento<br />
que ele teve de uma entrevista dada por um<br />
viajante a um jornal. Essa informação foi<br />
apresentada por meio de uma narrativa<br />
sugestiva — uma história que ganha a<br />
atenção do leitor não por sua carga<br />
argumentativa ou pela precisão de suas<br />
descrições, mas por seu encaminhamento e<br />
fecho inusitados. A finalidade é provocar uma<br />
reflexão — por que quereria o índio fazer<br />
demonstração de uma ação que causa<br />
sofrimento à vítima, utilizando justamente um<br />
“oponente” que não lhe causara mal algum?<br />
Se algum sofrimento precisa ser causado<br />
para isso, que seja então a alguém que ao<br />
menos o pareça merecer.<br />
24) (2002) "A palavra tatuagem é<br />
relativamente recente. Toda a gente sabe<br />
que foi o navegador Cook que a introduziu<br />
no Ocidente, e esse escrevia tattou, termo<br />
da Polinésia de tatou ou tu tahou,<br />
'desenho'.<br />
(...) Desde os mais remotos tempos,<br />
vemo-la a transformar-se: distintivo<br />
honorífico entre uns homens, ferrete de<br />
ignomínia entre outros, meio de assustar o<br />
adversário para os bretões, marca de uma<br />
221
classe de selvagens das ilhas marquesas<br />
(...) sinal de amor, de desprezo, de ódio<br />
(...). Há três casos de tatuagem no Rio,<br />
completamente diversos na sua<br />
significação moral: os negros,os turcos<br />
com o fundo religioso e o bando de<br />
meretrizes, dos rufiões e dos humildes,<br />
que se marcam por crime ou por<br />
ociosidade".<br />
RIO, João do. Os Tatuadores. Revista Kosmos.<br />
1904, apud: A alma encantadora das ruas,<br />
SP: Cia das Letras, 1999.<br />
Com base no texto são feitas as seguintes<br />
afirmações:<br />
I. João do Rio revela como a tatuagem já<br />
estava presente na cidade do Rio de<br />
Janeiro, pelo menos desde o início do<br />
século XX, e era mais utilizada por<br />
alguns setores da população.<br />
II. A tatuagem, de origem polinésia,<br />
difundiu-se no ocidente com a<br />
característica que permanece até hoje:<br />
utilização entre os jovens com função<br />
estritamente estética.<br />
III. O texto mostra como a tatuagem é<br />
uma prática que se transforma no<br />
tempo e que alcança inúmeros sentidos<br />
nos diversos setores das sociedades e<br />
para as diferentes culturas.<br />
significados diferentes dentro de uma mesma<br />
cultura, induz o participante a refletir sobre a<br />
"diversidade dos patrimônios etnoculturais e<br />
artísticos", contextualizando ao mesmo<br />
tempo seus significados "em diferentes<br />
sociedades, épocas e lugares". Ao retomar<br />
as várias origens e usos da tatuagem, o<br />
participante é levado a compreender e<br />
respeitar uma gramática histórica dos<br />
costumes marcada sempre por semelhanças<br />
e diferenças. A questão não exigia, portanto,<br />
nenhum conhecimento prévio sobre as<br />
diferentes formas de manifestação dessa<br />
prática, mas simplesmente constatar, com o<br />
autor do texto citado, a historicidade e a<br />
diversidade das práticas sociais. Os<br />
participantes que assinalaram a alternativa C<br />
(36%), possivelmente, não levaram em<br />
consideração informações do texto. A<br />
questão foi corretamente respondida por 37%<br />
dos participantes.<br />
25) (2004)<br />
Está correto o que se afirma apenas em<br />
A) I D) I e II<br />
B) II E) I e III<br />
C) III<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Constata-se o<br />
seguinte: a tatuagem já existia no Brasil no<br />
início do século XX (o texto é de 1904 e parte<br />
dele se refere ao Rio do Janeiro) e era<br />
utilizada em diferentes setores da sociedade.<br />
A afirmação de que as tatuagens possuem<br />
apenas finalidade estética entre os jovens<br />
elimina a segunda alternativa. Já a última<br />
alternativa confirma as transformações das<br />
funções da tatuagem ao longo do tempo nas<br />
mais diversas sociedades e culturas.<br />
Comentário do INEP<br />
O texto estabelece uma relação entre a<br />
atualidade da palavra "tatuagem" e a<br />
antiguidade do uso de desenhos como<br />
pintura corporal. Focaliza uma prática social<br />
bastante difundida que adquiriu aspectos e<br />
conotações diversos nos diferentes contextos<br />
históricos e geográficos em que ela pode ser<br />
descrita. Fazendo a descrição da prática da<br />
tatuagem, como uma manifestação comum a<br />
diferentes culturas, e que adquire, inclusive,<br />
222<br />
No trecho "Montes Claros cresceu tanto,/<br />
(...),/ que já tem cinco favelas", a palavra<br />
que contribui para estabelecer uma<br />
relação de conseqüência. Dos seguintes<br />
versos, todos de Carlos Drummond de<br />
Andrade, apresentam esse mesmo tipo de<br />
relação:<br />
A) "Meu Deus, por que me abandonaste /<br />
se sabias que eu não era Deus / se<br />
sabias que eu era fraco."<br />
B) "No meio-dia branco de luz uma voz<br />
que aprendeu / a ninar nos longes da<br />
senzala – e nunca se esqueceu /<br />
chamava para o café."<br />
C) "Teus ombros suportam o mundo / e<br />
ele não pesa mais que a mão de uma<br />
criança."<br />
D) "A ausência é um estar em mim. / E<br />
sinto-a, branca, tão pegada,<br />
aconchegada nos meus braços, / que<br />
rio e danço e invento exclamações<br />
alegres."
E) "Penetra surdamente no reino das<br />
palavras. / Lá estão os poemas que<br />
esperam ser escritos."<br />
Comentário<br />
Da mesma forma que no poema do<br />
enunciado, a palavra “que” retoma o sentido<br />
consecutivo na alternativa D, relacionando o<br />
fato de o eu lírico estar tão apegado à<br />
ausência QUE ri e dança, em devaneio,<br />
exaltando a alegria. A idéia remete a um<br />
raciocínio de causa e conseqüência: estar<br />
tão apegado a algo QUE outra coisa ocorre.<br />
Na alternativa A, “que” indica a introdução<br />
de uma oração subordinada objetiva direta,<br />
ou seja, que dá a idéia de um complemento<br />
do verbo SABER.<br />
Na alternativa B, “que” caracteriza a<br />
palavra “voz”, introduzindo uma oração<br />
subordinada adjetiva restritiva: “A voz QUE<br />
aprendeu”.<br />
Na alternativa C, “que” assume um<br />
caráter comparativo (mais que).<br />
Finalmente, na letra E, “que” retoma a<br />
questão restritiva ocorrida na alternativa B.<br />
Nesse caso, contudo, refere-se aos “poemas<br />
QUE esperam ser escritos”, ou seja, àqueles<br />
poemas, especificamente.<br />
26) (2007)<br />
Aqui na floresta<br />
Dos ventos batida,<br />
Façanhas de bravos<br />
Não geram escravos,<br />
Que estimem a vida<br />
Sem guerra e lidar.<br />
— Ouvi-me, Guerreiros,<br />
— Ouvi meu cantar.<br />
O canto do guerreiro<br />
Valente na guerra,<br />
Quem há, como eu sou?<br />
Quem vibra o tacape<br />
Com mais valentia?<br />
Quem golpes daria<br />
Fatais, como eu dou?<br />
— Guerreiros, ouvi-me;<br />
— Quem há, como eu sou?<br />
Gonçalves Dias.<br />
Macunaíma<br />
(Epílogo)<br />
Acabou-se a história e morreu a vitória.<br />
Não havia mais ninguém lá. Dera<br />
tangolomângolo na tribo Tapanhumas e<br />
os filhos dela se acabaram de um em um.<br />
Não havia mais ninguém lá. Aqueles<br />
lugares, aqueles campos, furos<br />
puxadouros arrastadouros meiosbarrancos,<br />
aqueles matos misteriosos,<br />
tudo era solidão do deserto... Um silêncio<br />
imenso dormia à beira do rio Uraricoera.<br />
Nenhum conhecido sobre a terra não<br />
sabia nem falar da tribo nem contar<br />
aqueles casos tão pançudos. Quem podia<br />
saber do Herói?<br />
Mário de Andrade.<br />
A leitura comparativa dos dois textos<br />
acima indica que<br />
A) ambos têm como tema a figura do<br />
indígena brasileiro apresentada de<br />
forma realista e heróica, como símbolo<br />
máximo do nacionalismo romântico.<br />
B) a abordagem da temática adotada no<br />
texto escrito em versos é<br />
discriminatória em relação aos povos<br />
indígenas do Brasil.<br />
C) as perguntas “— Quem há, como eu<br />
sou?” (1.º texto) e “Quem podia saber<br />
do Herói?” (2.º texto) expressam<br />
diferentes visões da realidade indígena<br />
brasileira.<br />
D) o texto romântico, assim como o<br />
modernista, aborda o extermínio dos<br />
povos indígenas como resultado do<br />
processo de colonização no Brasil.<br />
E) os versos em primeira pessoa revelam<br />
que os indígenas podiam expressar-se<br />
poeticamente, mas foram silenciados<br />
pela colonização, como demonstra a<br />
presença do narrador, no segundo<br />
texto.<br />
Comentário<br />
Questão de nível médio. Essa questão<br />
exige conhecimento prévio dos movimentos<br />
literários de cada autor. No primeiro, O canto<br />
do Guerreiro, de Gonçalves Dias, pertence<br />
ao Romantismo. Nesse período, a figura do<br />
índio aparece como protagonista, sempre<br />
idealizado e visto como um perfeito herói. Já<br />
no texto Macunaíma, de Mário de Andrade,<br />
levando em conta a característica do<br />
Modernismo, o índio também é protagonista,<br />
mas, por sua vez, há a predominância de um<br />
nacionalismo crítico e realista. Com base<br />
nessas considerações, consegue-se<br />
chegar à conclusão de que a alternativa C é<br />
a correta. Essa alternativa mostra que, por<br />
trás dos textos, há duas visões diferentes da<br />
realidade indígena brasileira, representadas<br />
pelas características dos dois diferentes<br />
estilos de época.<br />
27) (2003) Eu começaria dizendo que poesia<br />
é uma questão de linguagem. A<br />
importância do poeta é que ele torna mais<br />
viva a linguagem. Carlos Drummond de<br />
Andrade escreveu um dos mais belos<br />
versos da língua portuguesa com duas<br />
palavras comuns: cão e cheirando.<br />
Um cão cheirando o futuro<br />
(Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP, 24/05/1988.<br />
adaptação)<br />
223
O que deu ao verso de Drummond o<br />
caráter de inovador da língua foi<br />
A) o modo raro como foi tratado o<br />
"futuro".<br />
B) a referência ao cão como "animal de<br />
estimação".<br />
C) a flexão pouco comum do verbo<br />
"cheirar" (gerúndio).<br />
D) a aproximação não usual do agente<br />
citado e a ação de "cheirar".<br />
E) o emprego do artigo indefinido "um" e<br />
do artigo definido "o" na mesma frase.<br />
Comentário<br />
O fato de Drummond identificar o futuro<br />
como algo que pode ser percebido por um<br />
animal irracional por meio do olfato foi<br />
inovador. A figura de linguagem foi<br />
construída metaforicamente: o futuro torna-se<br />
uma coisa que tem cheiro, contrariamente à<br />
imagem pela qual ele normalmente é<br />
representado: como algo que não se vê e<br />
não se pode pressentir ou tocar.<br />
28) (2003) Epígrafe*<br />
Murmúrio de água na clepsidra**<br />
gotejante,<br />
Lentas gotas de som no relógio da torre,<br />
Fio de areia na ampulheta vigilante,<br />
Leve sombra azulando a pedra do<br />
quadrante***<br />
Assim se escoa a hora, assim se vive e<br />
morre...<br />
Homem, que fazes tu? Para que tanta<br />
lida,<br />
Tão doidas ambições, tanto ódio e tanta<br />
ameaça?<br />
Procuremos somente a Beleza, que a vida<br />
É um punhado infantil de areia<br />
ressequida,<br />
Um som de água ou de bronze e uma<br />
sombra que passa...<br />
(Eugênio de Castro. Antologia pessoal da poesia<br />
portuguesa)<br />
(*) Epígrafe: inscrição colocada no ponto<br />
mais alto; tema.<br />
(**) Clepsidra: relógio de água.<br />
(***) Pedra do quadrante: parte superior<br />
de um relógio de sol.<br />
A imagem contida em "lentas gotas de<br />
som" (verso 2) é retomada na segunda<br />
estrofe por meio da expressão:<br />
A) tanta ameaça.<br />
B) som de bronze.<br />
C) punhado de areia.<br />
D) sombra que passa.<br />
E) somente a Beleza.<br />
Comentário<br />
Numa clepsidra (relógio de água), o som<br />
do gotejamento lembra-nos o tic-tac de um<br />
relógio comum ou o som do sino que marca<br />
as horas no “relógio da torre” (verso 2,<br />
estrofe 1).<br />
Na segunda estrofe, o quinto verso<br />
refere-se a “Um som de água ou de<br />
bronze...” e nos remete, pelo “som de<br />
bronze”, ao som do sino que marca as horas<br />
no relógio da torre (os sinos normalmente<br />
eram feitos de bronze).<br />
29) (2003) Epígrafe*<br />
Murmúrio de água na clepsidra**<br />
gotejante,<br />
Lentas gotas de som no relógio da torre,<br />
Fio de areia na ampulheta vigilante,<br />
Leve sombra azulando a pedra do<br />
quadrante***<br />
Assim se escoa a hora, assim se vive e<br />
morre...<br />
Homem, que fazes tu? Para que tanta<br />
lida,<br />
Tão doidas ambições, tanto ódio e tanta<br />
ameaça?<br />
Procuremos somente a Beleza, que a vida<br />
É um punhado infantil de areia<br />
ressequida,<br />
Um som de água ou de bronze e uma<br />
sombra que passa...<br />
(Eugênio de Castro. Antologia pessoal da poesia<br />
portuguesa)<br />
(*) Epígrafe: inscrição colocada no ponto<br />
mais alto; tema.<br />
(**) Clepsidra: relógio de água.<br />
(***) Pedra do quadrante: parte superior<br />
de um relógio de sol.<br />
Neste poema, o que leva o poeta a<br />
questionar determinadas ações humanas<br />
(versos 6 e 7) é a<br />
A) infantilidade do ser humano.<br />
B) destruição da natureza.<br />
C) exaltação da violência.<br />
D) inutilidade do trabalho.<br />
E) brevidade da vida.<br />
Comentário<br />
A resposta desta questão está nos últimos<br />
versos (8 a <strong>10</strong>):<br />
“Procuremos somente a Beleza, que a<br />
vida<br />
É um punhado de areia ressequida,<br />
Um som de água ou de bronze e uma<br />
sombra que passa...”<br />
224
Neles, a vida aparece em relação ao<br />
tempo, que passa de forma rápida: “areia<br />
ressequida” (como nas ampulhetas), “som de<br />
água ou de bronze” (clepsidra ou sino da<br />
torre) e, mais que tudo, “uma sombra que<br />
passa...” (algo tênue e de curta duração).<br />
30) (2003) A velha Totonha de quando em<br />
vez batia no engenho. E era um<br />
acontecimento para a meninada. (...)<br />
andava léguas e léguas a pé, de engenho<br />
a engenho, como uma edição viva das<br />
histórias de Mil e Uma Noites (...) era uma<br />
grande artista para dramatizar. Tinha uma<br />
memória de prodígio. Recitava contos<br />
inteiros em versos, intercalando pedaços<br />
de prosa, como notas explicativas. (...)<br />
Havia sempre rei e rainha, nos seus<br />
contos, e forca e adivinhações. O que<br />
fazia a velha Totonha mais curiosa era a<br />
cor local que ela punha nos seus<br />
descritivos. (...) Os rios e as florestas por<br />
onde andavam os seus personagens se<br />
pareciam muito com o Paraíba e a Mata<br />
do Rolo. O seu Barba-Azul era um senhor<br />
de engenho de Pernambuco.<br />
(José Lins do Rego. Menino de engenho)<br />
A cor local que a personagem velha<br />
Totonha colocava em suas histórias é<br />
ilustrada, pelo autor, na seguinte<br />
passagem:<br />
A) "O seu Barba-Azul era um senhor de<br />
engenho de Pernambuco".<br />
B) "Havia sempre rei e rainha, nos seus<br />
contos, e forca e adivinhações".<br />
C) "Era uma grande artista para<br />
dramatizar. Tinha uma memória de<br />
prodígio".<br />
D) "Andava léguas e léguas a pé, como<br />
uma edição viva das Mil e Uma Noites".<br />
E) "Recitava contos inteiros em versos,<br />
intercalando pedaços de prosa, como<br />
notas explicativas".<br />
Comentário<br />
Por ser escritor da 2.ª Geração<br />
Modernista, José Lins do Rego ilustra, de<br />
forma evidente, o regionalismo — marca<br />
característica desse momento literário.<br />
Portanto, para localizar a “cor local”<br />
presente no texto, basta procurar a<br />
associação regionalista, que é retratada de<br />
forma explícita pela passagem “senhor de<br />
engenho de Pernambuco.”<br />
A questão não abre espaço para dúvidas.<br />
31) (2003) Pequenos tormentos da vida<br />
De cada lado da sala de aula, pelas janelas<br />
altas, o azul convida os meninos,<br />
as nuvens desenrolam-se, lentas como quem<br />
vai inventando<br />
preguiçosamente uma história sem fim...Sem<br />
fim é a aula: e nada acontece,<br />
nada...Bocejos e moscas. Se ao menos,<br />
pensa Margarida, se ao menos um<br />
avião entrasse por uma janela e saísse por<br />
outra!<br />
(Mário Quintana. Poesias)<br />
Na cena retratada no texto, o sentimento<br />
do tédio<br />
A) provoca que os meninos fiquem<br />
contando histórias.<br />
B) leva os alunos a simularem bocejos,<br />
em protesto contra a monotonia da<br />
aula.<br />
C) acaba estimulando a fantasia,<br />
criando a expectativa de algum<br />
imprevisto mágico.<br />
D) prevalece de modo absoluto,<br />
impedindo até mesmo a distração ou o<br />
exercício do pensamento.<br />
E) decorre da morosidade da aula, em<br />
contraste com o movimento acelerado<br />
das nuvens e das moscas.<br />
Comentário<br />
Essa questão aborda o imaginário<br />
decorrente do marasmo trazido pela escola.<br />
O texto enfatiza o arrastar do tempo na<br />
mente de uma aluna, Margarida, que se põe<br />
a pensar em fatos mágicos ou imaginários<br />
que pudessem romper com a lentidão da<br />
aula.<br />
32) (2000) O autor do texto abaixo critica,<br />
ainda que em linguagem metafórica, a<br />
sociedade contemporânea em relação aos<br />
seus hábitos alimentares.<br />
“Vocês que têm mais de 15 anos, se<br />
lembram quando a gente comprava leite<br />
em garrafa, na leiteria da esquina? (...)<br />
Mas vocês não se lembram de nada,<br />
pô! Vai ver nem sabem o que é vaca. Nem<br />
o que é leite. Estou falando isso porque<br />
agora mesmo peguei um pacote de leite –<br />
leite em pacote, imagina, Tereza! – na<br />
porta dos fundos e estava escrito que é<br />
pasterizado, ou pasteurizado, sei lá, tem<br />
vitamina, é garantido pela<br />
embromatologia, foi enriquecido e o<br />
escambau. Será que isso é mesmo leite?<br />
No dicionário diz que leite é outra coisa:<br />
225
‘Líquido branco, contendo água,<br />
proteína, açúcar e sais minerais’. Um<br />
alimento pra ninguém botar defeito. O ser<br />
humano o usa há mais de 5.000 anos. É o<br />
único alimento só alimento. A carne serve<br />
pro animal andar, a fruta serve pra fazer<br />
outra fruta, o ovo serve pra fazer outra<br />
galinha (...) O leite é só leite. Ou toma ou<br />
bota fora. Esse aqui examinando bem, é<br />
só pra botar fora. Tem chumbo, tem<br />
benzina, tem mais água do que leite, tem<br />
serragem, sou capaz de jurar que nem<br />
vaca tem por trás desse negócio. Depois o<br />
pessoal ainda acha estranho que os<br />
meninos não gostem de leite.<br />
Mas, como não gostam? Não gostam<br />
como? Nunca tomaram! Múúúúúúú!”<br />
(FERNANDES, Millôr. O Estado de S. Paulo ,<br />
22 de agosto de 1999)<br />
A palavra embromatologia usada pelo<br />
autor é:<br />
A) um termo científico que significa estudo<br />
dos bromatos.<br />
B) uma composição do termo de gíria<br />
“embromação” (enganação) com<br />
bromatologia, que é o estudo dos<br />
alimentos.<br />
C) uma junção do termo de gíria<br />
“embromação” (enganação) com<br />
lactologia, que é o estudo das<br />
embalagens para leite.<br />
D) um neologismo da química orgânica<br />
que significa a técnica de retirar<br />
bromatos dos laticínios.<br />
E) uma corruptela de termo da<br />
agropecuária que significa a ordenha<br />
mecânica.<br />
Comentário<br />
É necessário para a resolução desta<br />
questão:<br />
- perceber que o texto critica o exagerado<br />
uso de substâncias artificiais nos<br />
alimentos;<br />
- conhecer o significado da gíria embromar e<br />
da palavra bromatologia.<br />
Conhecendo esses significados, você<br />
elimina todas as alternativas erradas: a, c, d<br />
e e.<br />
Você poderá ter dúvida quanto à<br />
alternativa c, que também será eliminada se<br />
souber o significado da palavra lactologia,<br />
que é o estudo do leite e produtos lácteos e<br />
não das embalagens para leite.<br />
Nesta questão, são trabalhados os<br />
conceitos de interpretação de texto, formação<br />
de palavras e conhecimentos gerais.<br />
Comentário do INEP<br />
A resolução da questão requeria que o<br />
participante, ao ler o texto vinculasse o<br />
significado de um termo de gíria -<br />
"embromação" - com o da palavra<br />
bromatologia. A resposta correta exigia que o<br />
participante não abrisse mão do sabor<br />
picante contido na linguagem metafórica,<br />
sabor vinculado ao conhecimento específico<br />
contido na palavra bromatologia. Cerca da<br />
metade dos participantes (51%) optou pela<br />
alternativa correta e, os 20% que escolheram<br />
a alternativa C, provavelmente associaram a<br />
referência feita no texto à leite em pacote.<br />
33) (1998) Amor é fogo que arde sem ver;<br />
é ferida que dói e não se sente;<br />
é um contentamento descontente;<br />
é dor que desatina sem doer.<br />
É um não querer mais que bem querer;<br />
é solitário andar por entre a gente;<br />
é nunca contentar-se de contente;<br />
é cuidar que se ganha em se perder.<br />
É querer estar preso por vontade;<br />
é servir a quem vence, o vencedor;<br />
é ter com quem nos mata lealdade.<br />
Mas como causar pode seu favor<br />
nos corações humanos amizade<br />
se tão contrário a si é o mesmo Amor?<br />
(Luís de Camões. In: Obras Completas de Camões, Lisboa,<br />
Livraria Sá da Costa, Vol. 1, 1954, p.232)<br />
O poema tem, como característica, a<br />
figura de linguagem denominada antítese,<br />
relação de oposição de palavras ou idéias.<br />
Assinale a opção em que essa oposição<br />
se faz claramente presente.<br />
A) "Amor é fogo que arde sem se ver."<br />
B) "É um contentamento descontente."<br />
C) "É servir a quem se vence, o<br />
vencedor."<br />
D) "Mas como causar pode seu favor."<br />
E) "Se tão contrário a si é o mesmo<br />
Amor?"<br />
Comentário<br />
A antítese é uma figura de linguagem que<br />
se caracteriza por colocar, lado a lado,<br />
imagens opostas que se contradizem. De<br />
todas as alternativas, a única que traz<br />
claramente uma contradição é a B, pois<br />
como pode existir um contentamento<br />
descontente?<br />
226
34) (1998) Amor é fogo que arde sem ver;<br />
é ferida que dói e não se sente;<br />
é um contentamento descontente;<br />
é dor que desatina sem doer.<br />
É um não querer mais que bem querer;<br />
é solitário andar por entre a gente;<br />
é nunca contentar-se de contente;<br />
é cuidar que se ganha em se perder.<br />
É querer estar preso por vontade;<br />
é servir a quem vence, o vencedor;<br />
é ter com quem nos mata lealdade.<br />
Mas como causar pode seu favor<br />
nos corações humanos amizade<br />
se tão contrário a si é o mesmo Amor?<br />
(Luís de Camões. In: Obras Completas de Camões, Lisboa,<br />
Livraria Sá da Costa, Vol. 1, 1954, p.232)<br />
O poema pode ser considerado como um<br />
texto:<br />
A) argumentativo.<br />
B) narrativo.<br />
C) épico.<br />
D) de propaganda.<br />
E) teatral.<br />
Comentário<br />
Podemos considerar esse texto como<br />
argumentativo, pois ele vai embasando a sua<br />
idéia sobre o que é o amor. O texto narrativo<br />
conta uma história, assim como o épico, que<br />
conta histórias de caráter heróico. Camões,<br />
nesse texto, não está preocupado em fazer<br />
propaganda do amor, mas, sim, em<br />
compreendê-lo. E, para terminar, esse texto<br />
não foi feito para ser encenado em palco<br />
como um texto teatral.<br />
35) (2001) O trecho a seguir é parte do<br />
poema “Mocidade e morte”, do poeta<br />
romântico Castro Alves:<br />
Oh! eu quero viver, beber perfumes<br />
Na flor silvestre, que embalsama os ares;<br />
Ver minh'alma adejar pelo infinito,<br />
Qual branca vela n'amplidão dos mares.<br />
No seio da mulher há tanto aroma...<br />
Nos seus beijos de fogo há tanta vida...<br />
– Árabe errante, vou dormir à tarde<br />
À sombra fresca da palmeira erguida.<br />
Mas uma voz responde-me sombria:<br />
Terás o sono sob a lájea fria.<br />
ALVES, Castro. Os melhores poemas de Castro Alves.<br />
Seleção de Lêdo Ivo. São Paulo: Global, 1983.<br />
Esse poema, como o próprio título sugere,<br />
aborda o inconformismo do poeta com a<br />
antevisão da morte prematura, ainda na<br />
juventude.<br />
A imagem da morte aparece na palavra<br />
A) embalsama. D) dormir.<br />
B) infinito. E) sono.<br />
C) amplidão.<br />
Comentário<br />
No último verso, temos a expressão "sono<br />
sob a lájea fria". Dormir sob uma lájea fria? O<br />
trecho indica sepulcro. Portanto, nesse caso,<br />
sono = morte.<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão apresenta, para a leitura,<br />
uma parte do poema "Mocidade e morte", do<br />
poeta romântico Castro Alves. Nesse trecho,<br />
o poeta aborda o inconformismo com a<br />
antevisão da morte prematura. O problema<br />
apresenta-se sob a forma de identificação de<br />
uma palavra no trecho que represente a idéia<br />
de morte. Na primeira estrofe, há uma<br />
apologia à vida, contrastando com a segunda<br />
estrofe, em que se anuncia a morte, idéia<br />
introduzida pela conjunção mas, um divisor<br />
entre as estrofes. A compreensão dos<br />
elementos intratextuais e formais faz com<br />
que a identificação da imagem ocorra na<br />
segunda estrofe. As palavras indicadas nas<br />
alternativas, descontextualizadas, podem<br />
sugerir a idéia de morte como interpretação,<br />
mas não se sustentam na representação do<br />
poema. A leitura global do texto, seguida por<br />
uma compreensão das relações entre as<br />
imagens propostas, é a chave para a<br />
resposta correta, assinalada por 62% dos<br />
participantes.<br />
36) (2008) Os signos visuais, como meios de<br />
comunicação, são classificados em<br />
categorias de acordo com seus<br />
significados.<br />
A categoria denominada indício<br />
corresponde aos signos visuais que têm<br />
origem em formas ou situações naturais<br />
ou casuais, as quais, devido à ocorrência<br />
em circunstâncias idênticas, muitas vezes<br />
repetidas, indicam algo e adquirem<br />
significado. Por exemplo, nuvens negras<br />
indicam tempestade. Com base nesse<br />
conceito, escolha a opção que representa<br />
um signo da categoria dos indícios.<br />
A)<br />
227
B)<br />
C)<br />
D)<br />
Entre os seguintes ditos populares, qual<br />
deles melhor corresponde à figura<br />
acima?<br />
A) Com perseverança, tudo se alcança.<br />
B) Cada macaco no seu galho.<br />
C) Nem tudo que balança cai.<br />
D) Quem tudo quer, tudo perde.<br />
E) Deus ajuda quem cedo madruga.<br />
Comentário<br />
Assim como a questão 37, esta também<br />
envolve interpretação de signos, ou seja, o<br />
aluno precisa estar atento à imagem e<br />
relacioná-la ao dito popular correspondente.<br />
A alternativa "A" é a correta, pois, para<br />
uma lesma “grudenta” e vagarosa conseguir<br />
pular numa cama elástica, é necessária<br />
muita perseverança.<br />
E)<br />
Comentário<br />
Trata-se de uma questão interpretativa. O<br />
aluno precisa entender o que é “indício” para<br />
respondê-la. Segundo o dicionário Aurélio,<br />
indício é o mesmo que “sinal, vestígio,<br />
indicação”. Das figuras apresentadas,<br />
apenas a alternativa B indica algo: a<br />
passagem de alguém por algum lugar —<br />
pegada.<br />
37) (2008)<br />
38) (2001) No trecho abaixo, o narrador, ao<br />
descrever a personagem, critica<br />
sutilmente um outro estilo de época: o<br />
romantismo.<br />
“Naquele tempo contava apenas uns<br />
quinze ou dezesseis anos; era talvez a<br />
mais atrevida criatura da nossa raça, e,<br />
com certeza, a mais voluntariosa. Não<br />
digo que já lhe coubesse a primazia da<br />
beleza, entre as mocinhas do tempo,<br />
porque isto não é romance, em que o<br />
autor sobredoura a realidade e fecha os<br />
olhos às sardas e espinhas; mas também<br />
não digo que lhe maculasse o rosto<br />
nenhuma sarda ou espinha, não. Era<br />
bonita, fresca, saía das mãos da natureza,<br />
cheia daquele feitiço, precário e eterno,<br />
que o indivíduo passa a outro indivíduo,<br />
para os fins secretos da criação.”<br />
ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de<br />
Brás Cubas. Rio de Janeiro: Jackson,1957.<br />
A frase do texto em que se percebe a<br />
crítica do narrador ao romantismo está<br />
transcrita na alternativa:<br />
A) ... o autor sobredoura a realidade e<br />
fecha os olhos às sardas e espinhas ...<br />
B) ... era talvez a mais atrevida criatura da<br />
nossa raça ...<br />
C) Era bonita, fresca, saía das mãos da<br />
natureza, cheia daquele feitiço,<br />
precário e eterno, ...<br />
D) Naquele tempo contava apenas uns<br />
quinze ou dezesseis anos ...<br />
E) ... o indivíduo passa a outro indivíduo,<br />
para os fins secretos da criação.<br />
228<br />
Exame, 28/9/2007.
Comentário<br />
Questão muito fácil que pode ser<br />
respondida com a simples leitura do texto.<br />
Machado de Assis critica a supervalorização<br />
e idealização das personagens do<br />
Romantismo. Tal crítica fica clara na<br />
alternativa A.<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão apresenta para leitura e<br />
análise um trecho de Memórias de Brás<br />
Cubas, de Machado de Assis. Nesse texto, o<br />
narrador realiza um comentário sobre o<br />
"romance romântico", criticando uma de suas<br />
características. O problema proposto trata<br />
da identificação dessa passagem no texto. O<br />
participante deve reconhecer no texto as<br />
características do "romance romântico" e<br />
associá-la à crítica do narrador. As<br />
alternativas propõem passagens que podem<br />
ser associadas ao romantismo em contexto<br />
extratextual, sendo que, em apenas uma<br />
delas, há a relação entre contexto/texto. Mais<br />
da metade (54%) dos participantes identificou<br />
corretamente a passagem no texto.<br />
39) (1999) Leia o que disse João Cabral de<br />
Melo Neto, poeta pernambucano, sobre a<br />
função de seus textos:<br />
"Falo somente com o que falo: a<br />
linguagem enxuta, contato denso; falo<br />
somente do que falo: a vida seca, áspera<br />
e clara do sertão; falo somente por quem<br />
falo: o homem sertanejo sobrevivendo na<br />
adversidade e na míngua. Falo somente<br />
para quem falo: para os que precisam ser<br />
alertados para a situação da miséria no<br />
Nordeste."<br />
Para João Cabral de Melo Neto, no texto<br />
literário:<br />
A) a linguagem do texto deve refletir o<br />
tema, e a fala do autor deve denunciar<br />
o fato social para determinados<br />
leitores.<br />
B) a linguagem do texto não deve ter<br />
relação com o tema, e o autor deve ser<br />
imparcial para que seu texto seja lido.<br />
C) o escritor deve saber separar a<br />
linguagem do tema e a perspectiva<br />
pessoal da perspectiva do leitor.<br />
D) a linguagem pode ser separada do<br />
tema, e o escritor deve ser o delator do<br />
fato social para todos os leitores.<br />
E) a linguagem está além do tema, e o<br />
fato social deve ser a proposta do<br />
escritor para convencer o leitor.<br />
Comentário<br />
João Cabral mostrou, no comentário, que<br />
seus textos são transparentes na relação<br />
linguagem—tema. Ele não gosta de usar<br />
subterfúgios para passar sua mensagem<br />
("Falo somente com o que falo"), de desviarse<br />
do tema para assuntos que geralmente<br />
não fazem parte de seu interesse ("falo<br />
somente do que falo"), de fazer de si mesmo<br />
ou de seus personagens porta-vozes de<br />
outras pessoas ou classes sociais ("falo<br />
somente por quem falo") ou de dirigir-se a<br />
públicos que pouco proveito poderiam tirar de<br />
seus escritos ("falo somente para quem<br />
falo"). Essa ligação direta de tema e<br />
linguagem, somada à proposta de falar<br />
somente para quem se deve ou quer falar,<br />
justifica a resposta, sendo correta a<br />
alternativa A. Questão de nível médio.<br />
Comentário do INEP<br />
Para resolver essa questão, o participante<br />
deveria ser capaz de estabelecer a relação<br />
entre a linguagem, o tema e o interlocutor da<br />
escrita do autor, a partir das razões<br />
explicitadas no seu texto. Essas razões<br />
foram corretamente identificadas por mais da<br />
metade dos participantes.<br />
40) (2002) A leitura do poema Descrição da<br />
guerra em Guernica traz à lembrança o<br />
famoso quadro de Picasso.<br />
Entra pela janela<br />
o anjo camponês;<br />
com a terceira luz na mão;<br />
minucioso, habituado<br />
aos interiores de cereal,<br />
aos utensílios que dormem na fuligem;<br />
os seus olhos rurais<br />
não compreendem bem os símbolos<br />
desta colheita: hélices,<br />
motores furiosos;<br />
e estende mais o braço; planta<br />
no ar, como uma árvore<br />
a chama do candeeiro.<br />
(...)<br />
Carlos de Oliveira in ANDRADE, Eugénio. Antologia<br />
Pessoal da Poesia Portuguesa. Porto: Campo das<br />
Letras, 1999.<br />
Uma análise cuidadosa do quadro permite<br />
que se identifiquem as cenas referidas<br />
nos trechos do poema.<br />
229
Podem ser relacionadas ao texto lido as<br />
partes:<br />
A) a1, a2, a3 D) c1, c2, c3<br />
B) f1, e1, d1 E) e1, e2, e3<br />
C) e1, d1, c1<br />
Comentário<br />
Questão de nível médio. O que precisava<br />
ser feito era encontrar figuras do poema<br />
dentro do quadro. O que se descreve nos<br />
versos 1 e 2 (o anjo camponês que entra<br />
pela janela) está no quadrante e1 (ver a<br />
janela). Nos três últimos versos, há mais<br />
duas imagens: estende mais o braço — d1;<br />
chama do candeeiro — c1.<br />
Comentário do INEP<br />
O trecho do poema "Descrição da guerra<br />
em Guernica", transcrito na prova, cria para o<br />
participante uma interessante relação<br />
intertextual: o poeta Carlos de Oliveira<br />
propõe uma leitura interpretativa do<br />
conhecido quadro de Pablo Picasso. Além do<br />
poema, o quadro de Picasso foi também<br />
reproduzido na questão, de modo a permitir<br />
que o aluno tivesse condições de "ler" essa<br />
obra de arte e nela reconhecer as referências<br />
criadas pelo texto de Carlos de Oliveira. Os<br />
primeiros versos do poema fazem referência<br />
à entrada de um "anjo camponês" pela<br />
janela. No quadro, essa imagem pode ser<br />
identificada no quadro e1. Mais adiante, os<br />
versos aludem a um braço estendido que<br />
"planta/ no ar.../ a chama do candeeiro". Para<br />
compreender a metáfora criada, o<br />
participante deveria perceber, em primeiro<br />
lugar, que o braço estendido seria do anjo<br />
camponês, identificado no quadro e1. Esse<br />
reconhecimento daria a chave de resposta da<br />
questão, porque permitiria que a imagem da<br />
entrada do anjo com o braço estendido<br />
portando um candeeiro fosse associada aos<br />
quadros e1, d1, c1 , contidos na alternativa<br />
C, assinalada por cerca de metade dos<br />
participantes.<br />
41) (2000) Em muitos jornais, encontramos<br />
charges, quadrinhos, ilustrações,<br />
inspirados nos fatos noticiados. Veja um<br />
exemplo:<br />
Jornal do Commercio , 22/8/93<br />
O texto que se refere a uma situação<br />
semelhante à que inspirou a charge é:<br />
A) Descansem o meu leito solitário<br />
Na floresta dos homens esquecida,<br />
À sombra de uma cruz, e escrevam nela<br />
– Foi poeta – sonhou – e amou na vida.<br />
(AZEVEDO, Álvares de . Poesias escolhidas . Rio de<br />
Janeiro/Brasília: José Aguilar/INL,1971)<br />
B) Essa cova em que estás<br />
Com palmos medida,<br />
é a conta menor<br />
que tiraste em vida.<br />
É de bom tamanho,<br />
Nem largo nem fundo,<br />
É a parte que te cabe<br />
deste latifúndio.<br />
(MELO NETO, João Cabral de. Morte e Vida Severina e<br />
outros poemas em voz alta . Rio de Janeiro: Sabiá, 1967)<br />
C) Medir é a medida<br />
mede<br />
A terra, medo do homem, a lavra;<br />
lavra<br />
duro campo, muito cerco, vária várzea.<br />
(CHAMIE, Mário. Sábado na hora da escutas. São<br />
Paulo: Summums, 1978)<br />
D) Vou contar para vocês<br />
um caso que sucedeu<br />
na Paraíba do Norte<br />
com um homem que se chamava<br />
Pedro João Boa-Morte,<br />
lavrador de Chapadinha:<br />
talvez tenha morte boa<br />
porque vida ele não tinha.<br />
(GULLAR, Ferreira. Toda poesia . Rio de Janeiro:<br />
Civilização Brasileira, 1983)<br />
E) Trago-te flores, – restos arrancados<br />
Da terra que nos viu passar<br />
E ora mortos nos deixa e separados.<br />
(ASSIS, Machado de. Obra completa . Rio de Janeiro:<br />
Nova Aguillar, 1986)<br />
Comentário<br />
Esta questão exige boa dose de reflexão.<br />
Antes de tudo, há que se notar que o título<br />
"Demarcação das terras indígenas" está<br />
ligado ironicamente à figura das covas<br />
comuns, anônimas (covas são as terras dos<br />
índios?). Procuramos, então, o trecho de<br />
poema que sirva como legenda à figura<br />
apresentada, mantendo também a ironia da<br />
relação. As alternativas a e e se descartam<br />
pelo lirismo romântico presente e, ainda<br />
mais, pela presença, na a, de elementos que<br />
não estão no universo conceitual indígena<br />
(cruz, poeta). A alternativa c não nos serve<br />
por estar tratando da dureza do trabalho com<br />
a terra, o que não é o tema da charge. Já a d<br />
230
não é adequada por estar introduzindo a<br />
discussão de fatos ocorridos na vida de um<br />
único homem, provavelmente não-índio (até<br />
pelo nome João Boa-Morte). Fica-nos a<br />
alternativa b, que bem poderia servir de<br />
legenda à charge; se pensarmos nos<br />
sangrentos conflitos entre brancos e índios<br />
pela ocupação das terras indígenas<br />
demarcadas, nos quais os índios geralmente<br />
levam a pior, então nos servem bem os<br />
versos que apresenta.<br />
Comentário do INEP<br />
O alto índice de acerto (72 %) revelou a<br />
capacidade dos participantes de não só<br />
contextualizar o problema em foco mas<br />
também de estabelecer relações de sentido<br />
entre diferentes linguagens, ou seja, de lidar<br />
com a intertextualidade. As relações<br />
incorretas que foram estabelecidas,<br />
possivelmente, são devidas mais à falta de<br />
capacidade de contextualização do que de<br />
estabelecimento de relações temáticas.<br />
42) (2008) São Paulo vai se recensear. O<br />
governo quer saber quantas pessoas<br />
governa. A indagação atingirá a fauna e a<br />
flora domesticadas. Bois, mulheres e<br />
algodoeiros serão reduzidos a números e<br />
invertidos em estatísticas. O homem do<br />
censo entrará pelos bangalôs, pelas<br />
pensões, pelas casas de barro e de<br />
cimento armado, pelo sobradinho e pelo<br />
apartamento, pelo cortiço e pelo hotel,<br />
perguntando:<br />
— Quantos são aqui?<br />
Pergunta triste, de resto. Um homem dirá:<br />
— Aqui havia mulheres e criancinhas.<br />
Agora, felizmente, só há pulgas e ratos.<br />
E outro:<br />
— Amigo, tenho aqui esta mulher, este<br />
papagaio, esta sogra e algumas baratas.<br />
Tome nota dos seus nomes, se quiser.<br />
Querendo levar todos, é favor... (...)<br />
E outro:<br />
— Dois, cidadão, somos dois.<br />
Naturalmente o sr. não a vê. Mas ela está<br />
aqui, está, está! A sua saudade jamais<br />
sairá de meu quarto e de meu peito!<br />
Rubem Braga. Para gostar de ler. v. 3.<br />
São Paulo: Ática, 1998, p. 32-3 (fragmento).<br />
O fragmento acima, em que há referência<br />
a um fato sócio-histórico — o<br />
recenseamento —, apresenta<br />
característica marcante do gênero crônica<br />
ao<br />
A) expressar o tema de forma abstrata,<br />
evocando imagens e buscando<br />
apresentar a idéia de uma coisa por<br />
meio de outra.<br />
B) manter-se fiel aos acontecimentos,<br />
retratando os personagens em um só<br />
tempo e um só espaço.<br />
C) contar história centrada na solução de<br />
um enigma, construindo os<br />
personagens psicologicamente e<br />
revelando-os pouco a pouco.<br />
D) evocar, de maneira satírica, a vida na<br />
cidade, visando transmitir<br />
ensinamentos práticos do cotidiano,<br />
para manter as pessoas informadas.<br />
E) valer-se de tema do cotidiano como<br />
ponto de partida para a construção de<br />
texto que recebe tratamento estético.<br />
Comentário<br />
A questão correta é a E, pois a crônica<br />
utiliza a linguagem estética ou poética para<br />
expor temas do cotidiano. Há uma<br />
preocupação com a escolha das palavras<br />
que são rebuscadas e ritmadas, ou seja, a<br />
função da linguagem é poética.<br />
43) (1999) Quem não passou pela<br />
experiência de estar lendo um texto e<br />
defrontar-se com passagens já lidas em<br />
outros? Os textos conversam entre si em<br />
um diálogo constante. Esse fenômeno tem<br />
a denominação de intertextualidade. Leia<br />
os seguintes textos:<br />
I. Quando nasci, um anjo torto<br />
Desses que vivem na sombra<br />
Disse: Vai Carlos! Ser "gauche" na vida<br />
(Andrade, Carlos Drummond de. Alguma poesia. Rio de<br />
Janeiro: Aguilar, 1964)<br />
II. Quando nasci veio um anjo safado<br />
O chato dum querubim<br />
E decretou que eu tava predestinado<br />
A ser errado assim<br />
Já de saída a minha estrada entortou<br />
Mas vou até o fim.<br />
(BUARQUE, Chico. Letra e Música. São Paulo: Cia.<br />
das Letras, 1989)<br />
III. Quando nasci um anjo esbelto<br />
Desses que tocam trombeta, anunciou:<br />
Vai carregar bandeira.<br />
Carga muito pesada pra mulher<br />
Esta espécie ainda envergonhada<br />
(PRADO, Adélia. Bagagem. Rio de Janeiro:<br />
Guanabara, 1986)<br />
231
Adélia Prado e Chico Buarque<br />
estabelecem intertextualidade, em relação<br />
a Carlos Drummond de Andrade, por:<br />
A) reiteração de imagens.<br />
B) oposição de idéias.<br />
C) falta de criatividade.<br />
D) negação dos versos.<br />
E) ausência de recursos.<br />
Comentário<br />
Outra questão com resposta evidente. A<br />
recorrência à imagem do "anjo anunciador" e<br />
dos caminhos que se tornam sempre difíceis<br />
e tortuosos (gauche = acanhado, inepto),<br />
feita pelos três autores, elimina qualquer<br />
sombra de dúvida em relação às outras<br />
respostas. Questão de nível fácil.<br />
Comentário do INEP<br />
Para a resolução desse problema, era<br />
requerido que o participante soubesse<br />
identificar os elementos de intertextualidade<br />
entre três trechos de textos de diferentes<br />
autores.<br />
As duas primeiras alternativas,<br />
amplamente majoritárias, revelam<br />
possivelmente duas distintas percepções da<br />
questão. A alternativa correta A foi escolhida<br />
pelos que perceberam a ostensiva reiteração<br />
de imagens (repetição da imagem do anjo<br />
que vaticina). A alternativa B, incorreta, pode<br />
ter atraído muitos participantes à medida que<br />
tenham, talvez, identificado uma oposição de<br />
idéias, não entre os textos, mas entre a<br />
imagem usualmente positiva de anjo e uma<br />
certa adjetivação pejorativa utilizada em<br />
relação aos mesmos.<br />
44) (2005) Leia estes textos.<br />
Texto 1<br />
É minha lei, é minha questão<br />
Virar esse mundo<br />
Cravar esse chão<br />
Não me importa saber<br />
Se é terrível demais<br />
Quantas guerras terei que vencer<br />
Por um pouco de paz<br />
E amanhã se esse chão que eu beijei<br />
For meu leito e perdão<br />
Vou saber que valeu delirar<br />
E morrer de paixão<br />
E assim, seja lá como for<br />
Vai ter fim a infinita aflição<br />
E o mundo vai ver uma flor<br />
Brotar do impossível chão.<br />
(J. Darione – M. Leigh – Versão de Chico Buarque de<br />
Hollanda e Ruy Guerra, 1972.)<br />
A tirinha e a canção apresentam uma<br />
reflexão sobre o futuro da humanidade. É<br />
correto concluir que os dois textos<br />
A) afirmam que o homem é capaz de<br />
alcançar a paz.<br />
B) concordam que o desarmamento é<br />
inatingível.<br />
C) julgam que o sonho é um desafio<br />
invencível.<br />
D) têm visões diferentes sobre um<br />
possível mundo melhor.<br />
E) transmitem uma mensagem de<br />
otimismo sobre a paz.<br />
Comentário<br />
Enquanto o primeiro texto é ácido em<br />
relação à possibilidade de desarmamento da<br />
população (ou seja, à criação de uma<br />
sociedade mais pacífica), o segundo mostra<br />
a capacidade que a humanidade tem de crer<br />
e, por isso, tentar fazer até o que a princípio<br />
parece impossível. Para os autores da<br />
canção, nada é intrinsecamente impossível.<br />
A relação entre eles é de oposição:<br />
descrença x crença. Questão de nível de<br />
dificuldade médio.<br />
232<br />
Texto 2<br />
Sonhar<br />
Mais um sonho impossível<br />
Lutar<br />
Quando é fácil ceder<br />
Vencer o inimigo invencível<br />
Negar quando a regra é vender<br />
Sofrer a tortura implacável<br />
Romper a incabível prisão<br />
Voar num limite improvável<br />
Tocar o inacessível chão<br />
45) (2005) Leia estes poemas.<br />
Texto 1 - Auto-retrato<br />
Provinciano que nunca soube<br />
Escolher bem uma gravata;<br />
Pernambucano a quem repugna<br />
A faca do pernambucano;<br />
Poeta ruim que na arte da prosa<br />
Envelheceu na infância da arte,<br />
E até mesmo escrevendo crônicas<br />
Ficou cronista de província;<br />
Arquiteto falhado, músico<br />
Falhado (engoliu um dia<br />
Um piano, mas o teclado
Ficou de fora); sem família,<br />
Religião ou filosofia;<br />
Mal tendo a inquietação de espírito<br />
Que vem do sobrenatural,<br />
E em matéria de profissão<br />
Um tísico* profissional.<br />
(Manuel Bandeira. Poesia completa e prosa. Rio de<br />
Janeiro: Aguilar, 1983. p. 395.)<br />
Texto 2 - Poema de sete faces<br />
Quando eu nasci, um anjo torto<br />
desses que vivem na sombra<br />
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.<br />
As casas espiam os homens<br />
que correm atrás de mulheres.<br />
A tarde talvez fosse azul,<br />
não houvesse tantos desejos.<br />
(....)<br />
Meu Deus, por que me abandonaste<br />
se sabias que eu não era Deus<br />
se sabias que eu era fraco.<br />
Mundo mundo vasto mundo,<br />
se eu me chamasse Raimundo<br />
seria uma rima, não seria uma solução.<br />
Mundo mundo vasto mundo<br />
mais vasto é o meu coração.<br />
(Carlos Drummond de Andrade.<br />
Obra completa. Rio de Janeiro:<br />
Aguilar, 1964. p. 53.)<br />
(*) tísico=tuberculoso<br />
Esses poemas têm em comum o fato de<br />
A) descreverem aspectos físicos dos<br />
próprios autores.<br />
B) refletirem um sentimento pessimista.<br />
C) terem a doença como tema.<br />
D) narrarem a vida dos autores desde o<br />
nascimento.<br />
E) defenderem crenças religiosas.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Tanto o poema de<br />
Manuel Bandeira quanto o de Carlos<br />
Drummond de Andrade evidenciam, dentro<br />
do ponto de vista dos autores, características<br />
extremamente pessimistas em relação à vida<br />
e, conseqüentemente, à arte.<br />
46) (2003) A velha Totonha de quando em<br />
vez batia no engenho. E era um<br />
acontecimento para a meninada. (...)<br />
andava léguas e léguas a pé, de engenho<br />
a engenho, como uma edição viva das<br />
histórias de Mil e Uma Noites (...) era uma<br />
grande artista para dramatizar. Tinha uma<br />
memória de prodígio. Recitava contos<br />
inteiros em versos, intercalando pedaços<br />
de prosa, como notas explicativas. (...)<br />
Havia sempre rei e rainha, nos seus<br />
contos, e forca e adivinhações. O que<br />
fazia a velha Totonha mais curiosa era a<br />
cor local que ela punha nos seus<br />
descritivos. (...) Os rios e as florestas por<br />
onde andavam os seus personagens se<br />
pareciam muito com o Paraíba e a Mata<br />
do Rolo. O seu Barba-Azul era um senhor<br />
de engenho de Pernambuco.<br />
José Lins do Rego. Menino de Engenho. Rio de Janeiro:<br />
José Olympio, 1980, p. 49-51 (com adaptações).<br />
Na construção da personagem “velha<br />
Totonha”, é possível identificar traços que<br />
revelam marcas do processo de<br />
colonização e de civilização do país.<br />
Considerando o texto acima, infere-se que<br />
a velha Totonha<br />
A) tira o seu sustento da produção da<br />
literatura, apesar de suas condições de<br />
vida e de trabalho, que denotam que<br />
ela enfrenta situação econômica muito<br />
adversa.<br />
B) compõe, em suas histórias, narrativas<br />
épicas e realistas da história do país<br />
colonizado, livres da influência de<br />
temas e modelos não representativos<br />
da realidade nacional.<br />
C) retrata, na constituição do espaço dos<br />
contos, a civilização urbana européia<br />
em concomitância com a<br />
representação literária de engenhos,<br />
rios e florestas do Brasil.<br />
D) aproxima-se, ao incluir elementos<br />
fabulosos nos contos, do próprio<br />
romancista, o qual pretende retratar a<br />
realidade brasileira de forma tão<br />
grandiosa quanto a européia.<br />
E) imprime marcas da realidade local a<br />
suas narrativas, que têm como modelo<br />
e origem as fontes da literatura e da<br />
cultura européia universalizada.<br />
Comentário<br />
Esta questão exige conhecimentos de<br />
literatura universal. O aluno precisa saber<br />
que Barba-Azul é um personagem da cultura<br />
européia. Nas histórias de Totonha, ele é<br />
representado como um senhor de engenho<br />
de Pernambuco. Percebe-se aí a forte<br />
influência da colonização européia na<br />
realidade local. Logo, a alternativa correta é a<br />
letra "E".<br />
233
47) (2005) Leia estes poemas.<br />
Texto 1 - Auto-retrato<br />
Provinciano que nunca soube<br />
Escolher bem uma gravata;<br />
Pernambucano a quem repugna<br />
A faca do pernambucano;<br />
Poeta ruim que na arte da prosa<br />
Envelheceu na infância da arte,<br />
E até mesmo escrevendo crônicas<br />
Ficou cronista de província;<br />
Arquiteto falhado, músico<br />
Falhado (engoliu um dia<br />
Um piano, mas o teclado<br />
Ficou de fora); sem família,<br />
Religião ou filosofia;<br />
Mal tendo a inquietação de espírito<br />
Que vem do sobrenatural,<br />
E em matéria de profissão<br />
Um tísico* profissional.<br />
(Manuel Bandeira. Poesia completa e prosa. Rio de<br />
Janeiro: Aguilar, 1983. p. 395.)<br />
Texto 2 - Poema de sete faces<br />
Quando eu nasci, um anjo torto<br />
desses que vivem na sombra<br />
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.<br />
As casas espiam os homens<br />
que correm atrás de mulheres.<br />
A tarde talvez fosse azul,<br />
não houvesse tantos desejos.<br />
(....)<br />
Meu Deus, por que me abandonaste<br />
se sabias que eu não era Deus<br />
se sabias que eu era fraco.<br />
Mundo mundo vasto mundo,<br />
se eu me chamasse Raimundo<br />
seria uma rima, não seria uma solução.<br />
Mundo mundo vasto mundo<br />
mais vasto é o meu coração.<br />
(Carlos Drummond de Andrade.<br />
Obra completa. Rio de Janeiro:<br />
Aguilar, 1964. p. 53.)<br />
(*) tísico=tuberculoso<br />
No verso “Meu Deus, por que me<br />
abandonaste” do texto 2, Drummond<br />
retoma as palavras de Cristo, na cruz,<br />
pouco antes de morrer. Esse recurso de<br />
repetir palavras de outrem equivale a<br />
A) emprego de termos moralizantes.<br />
B) uso de vício de linguagem pouco<br />
tolerado.<br />
C) repetição desnecessária de idéias.<br />
D) emprego estilístico da fala de outra<br />
pessoa.<br />
E) uso de uma pergunta sem resposta.<br />
Comentário<br />
A citação, característica de intercambiar<br />
pensamentos de um texto para outro, fica<br />
bastante evidente no poema de Drummond.<br />
Ao retomar as palavras de Cristo, o autor<br />
deixa claro que sua idéia era transmitir uma<br />
mensagem por meio de palavras já<br />
proferidas por outra pessoa e cuja<br />
importância dá sentido a toda a estrofe.<br />
48) (2004)<br />
A tira "Hagar" e o poema de Alberto<br />
Caeiro (um dos heterônimos de Fernando<br />
Pessoa) expressam, com linguagens<br />
diferentes, uma mesma idéia: a de que a<br />
compreensão que temos do mundo é<br />
condicionada, essencialmente,<br />
A) pelo alcance de cada cultura.<br />
B) pela capacidade visual do observador.<br />
C) pelo senso de humor de cada um.<br />
D) pela idade do observador.<br />
E) pela altura do ponto de observação.<br />
Comentário<br />
Questão reflexiva sobre a forma como<br />
cada cultura vê o mundo sob a ótica dos<br />
limites dados pelos seus costumes e<br />
possibilidades de pensamento inerentes a<br />
cada modelo cultural. A mistura de uma tira e<br />
de um poema amplia a possibilidade de<br />
pensamento por trabalhar com linguagens<br />
diferentes. A alternativa correta é a letra A,<br />
pois ambos (tira e poema) utilizam figuras de<br />
linguagem (metáfora e ironia) para expressar<br />
as diferentes visões de mundo.<br />
49) (2000) As histórias em quadrinhos, por<br />
vezes, utilizam animais como<br />
personagens e a eles atribuem<br />
comportamento humano. O gato Garfield<br />
é exemplo desse fato.<br />
234<br />
Fonte: Caderno Vida e Arte, Jornal do Povo, Fortaleza
Van Gogh, pintor holandês nascido em<br />
1853, é um dos principais nomes da<br />
pintura mundial. É dele o quadro abaixo.<br />
Auto-retrato de orelha cortada<br />
O 3º quadrinho sugere que Garfield:<br />
A) desconhece tudo sobre arte, por isso<br />
faz a sugestão.<br />
B) acredita que todo pintor deve fazer algo<br />
diferente.<br />
C) defende que para ser pintor a pessoa<br />
tem de sofrer.<br />
D) conhece a história de um pintor<br />
famoso e faz uso da ironia.<br />
E) acredita que seu dono tenha tendência<br />
artística e, por isso, faz a sugestão.<br />
Comentário<br />
Outra questão de interpretação de texto.<br />
Muito simples para quem um dia ouviu falar<br />
de Van Gogh, e simplíssima para aqueles<br />
que prestam atenção em todos os elementos<br />
do enunciado. Afinal, quem deu uma<br />
espiadinha na legenda do quadro de Van<br />
Gogh matou na hora a questão.<br />
Esta questão é daquelas rápidas de serem<br />
resolvidas, associando-se os elementos<br />
apresentados.<br />
Comentário do INEP<br />
A significativa maioria (81%) dos<br />
participantes soube perceber o caráter<br />
irônico da fala do Garfield, expressa no<br />
terceiro quadrinho porque, ou conheciam a<br />
história de Van Gogh, ou apropriaram-se<br />
corretamente da informação sobre esse<br />
pintor, fornecida no enunciado.<br />
50) (2003)<br />
O texto aponta no quadro de Tarsila do<br />
Amaral um tema que também se encontra<br />
nos versos transcritos em:<br />
A) "Pensem nas meninas<br />
Cegas inexatas<br />
Pensem nas mulheres<br />
Rotas alteradas."<br />
(Vinícius de Moraes)<br />
B) "Somos muitos severinos<br />
iguais em tudo e na sina:<br />
a de abrandar estas pedras<br />
suando-se muito em cima."<br />
(João Cabral de Melo Neto)<br />
C) "O funcionário público<br />
não cabe no poema<br />
com seu salário de fome<br />
sua vida fechada em arquivos."<br />
(Ferreira Gullar)<br />
D) "Não sou nada.<br />
Nunca serei nada.<br />
Não posso querer ser nada.<br />
À parte isso, tenho em mim todos os<br />
sonhos do mundo."<br />
(Fernando Pessoa)<br />
E) "Os inocentes do Leblon<br />
Não viram o navio entrar (...)<br />
Os inocentes, definitivamente inocentes<br />
tudo ignoravam,<br />
mas a areia é quente, e há um óleo<br />
suave<br />
que eles passam pelas costas, e<br />
aquecem."<br />
(Carlos Drummond de Andrade)<br />
Comentário<br />
Mais uma vez, o Exame Nacional do<br />
Ensino Médio procura relacionar análises de<br />
diferentes áreas da arte, misturando a pintura<br />
com a literatura. O quadro de Tarsila do<br />
Amaral “Operários” traz a imagem de vários<br />
rostos (de formatos, etnias e sexos<br />
diferentes) amontoados, tendo como pano de<br />
fundo as chaminés de uma fábrica.<br />
A questão deixa explícita a relação com<br />
os trechos literários que exaltam o<br />
proletariado, eliminando, já de cara, as<br />
alternativas A, D, e E.<br />
Ao se analisar a alternativa C, entretanto,<br />
percebe-se que a abordagem somente se<br />
relaciona com o funcionário público.<br />
Na letra B, o que se pode notar é que<br />
todas as pessoas “severinas” são iguais<br />
perante o sistema, niveladas por baixo e<br />
batalhadoras e que, sem privilégios ou<br />
distinções, são tratadas como mercadorias.<br />
235
51) (1999) E considerei a glória de um pavão<br />
ostentando o esplendor de suas cores; é<br />
um luxo imperial. Mas andei lendo livros, e<br />
descobri que aquelas cores todas não<br />
existem na pena do pavão. Não há<br />
pigmentos. O que há são minúsculas<br />
bolhas d’água em que a luz se fragmenta,<br />
como em um prisma. O pavão é um arcoíris<br />
de plumas.<br />
Eu considerei que este é o luxo do<br />
grande artista, atingir o máximo de<br />
matizes com o mínimo de elementos. De<br />
água e luz ele faz seu esplendor; seu<br />
grande mistério é a simplicidade.<br />
Considerei, por fim, que assim é o<br />
amor, oh! Minha amada; de tudo que ele<br />
suscita e esplende e estremece e delira<br />
em mim existem apenas meus olhos<br />
recebendo a luz de teu olhar. Ele me<br />
cobre de glórias e me faz magnífico.<br />
(BRAGA, Rubem. Ai de ti, Copacabana. 20.ed.)<br />
236<br />
O poeta Carlos Drummond de Andrade<br />
escreveu assim sobre a obra de Rubem<br />
Braga:<br />
O que ele nos conta é o seu dia, o seu<br />
expediente de homem, apanhado no<br />
essencial, narrativa direta e econômica.<br />
(...) É o poeta do real, do palpável, que se<br />
vai diluindo em cisma. Dá o sentimento da<br />
realidade e o remédio para ela.<br />
Em seu texto, Rubem Braga afirma que<br />
"este é o luxo do grande artista, atingir o<br />
máximo de matizes com o mínimo de<br />
elementos". Afirmação semelhante pode<br />
ser encontrada no texto de Carlos<br />
Drummond de Andrade, quando, ao<br />
analisar a obra de Braga, diz que ela é:<br />
A) uma narrativa direta e econômica.<br />
B) real, palpável.<br />
C) sentimento de realidade.<br />
D) seu expediente de homem.<br />
E) seu remédio.<br />
Comentário<br />
A última questão da prova de Português<br />
exige uma releitura do texto de Rubem Braga<br />
para um melhor entendimento do que é<br />
proposto por Drummond. Ao afirmar que a<br />
escrita de Braga é "direta e econômica",<br />
Drummond remete à descoberta feita por<br />
Rubem Braga em relação às cores das<br />
penas do pavão: (...) e descobri que aquelas<br />
cores todas não existem na pena do pavão.<br />
Não há pigmentos. O que há são minúsculas<br />
bolhas d’água em que a luz se fragmenta,<br />
como em um prisma. O pavão é um arco-íris<br />
de plumas.(...) este é o luxo do grande<br />
artista, atingir o máximo de matizes com o<br />
mínimo de elementos.(...)<br />
Segundo Braga, a grande mágica em se<br />
fazer arte é conseguir se expressar da<br />
melhor maneira possível usando o mínimo de<br />
elementos (sejam palavras, cores, formas,<br />
etc.). Drummond parafraseia o comentário de<br />
Braga, dando ainda mais evidência à<br />
descoberta do primeiro. Temos, aí, a<br />
"narrativa direta e econômica". Questão de<br />
nível médio.<br />
Comentário do INEP<br />
Além da compreensão de dois textos, de<br />
autores diferentes, o problema examinou a<br />
capacidade dos participantes em estabelecer<br />
um diálogo entre os mesmos.<br />
A identificação do significado e a relação<br />
correta da afirmação de Drummond, com o<br />
trecho correspondente de Rubem Braga<br />
destacado no enunciado, foi feita por 44%<br />
dos participantes. As alternativas B, C e D<br />
correspondem à identificação de aspectos de<br />
certa forma comuns aos dois textos, embora<br />
os elementos neles apontados não se refiram<br />
ao trecho destacado.<br />
52) (2002)<br />
De acordo com a história em quadrinhos<br />
protagonizada por Hagar e seu filho<br />
Hamlet, pode-se afirmar que a postura de<br />
Hagar<br />
A) valoriza a existência da diversidade<br />
social e de culturas, e as várias<br />
representações e explicações desse<br />
universo.<br />
B) desvaloriza a existência da<br />
diversidade social e as várias culturas,<br />
e determina uma única explicação para<br />
esse universo.<br />
C) valoriza a possibilidade de explicar as<br />
sociedades e as culturas a partir de<br />
várias visões de mundo.<br />
D) valoriza a pluralidade cultural e social<br />
ao aproximar a visão de mundo de<br />
navegantes e não-navegantes.<br />
E) desvaloriza a pluralidade cultural e<br />
social, ao considerar o mundo habitado<br />
apenas pelos navegantes.
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Hagar reduz o<br />
mundo a dois tipos de pessoas: navegantes<br />
e não-navegantes. No último quadrinho, diz<br />
que são os navegantes que estabelecem<br />
esses dois grupos. Portanto, quem é<br />
diferente dos navegantes (que estabelecem<br />
o padrão) simplesmente é incluído na massa<br />
única dos não-navegantes. Não importa<br />
quem ou quantos sejam, sua diversidade<br />
social ou cultural em relação aos navegantes<br />
ou entre si. Vemos aí a desvalorização de<br />
outras culturas.<br />
Comentário do INEP<br />
Dentre as habilidades básicas para a<br />
compreensão de um texto destaca-se a<br />
capacidade do leitor de identificar os<br />
pressupostos de cada afirmação que lhe é<br />
apresentada. Nesta questão o participante<br />
deve identificar a posição tanto de Hagar<br />
como de seu filho Hamlet e, em seguida,<br />
avaliar quais os argumentos que justificam a<br />
opinião de Hagar ao definir que no mundo só<br />
existem dois tipos de pessoas. A pergunta de<br />
Hamlet a seu pai explicita a importância do<br />
ato de narrar através do diálogo e do efeito<br />
humorístico contido no episódio representado<br />
na tira. O resultado da compreensão<br />
acertada do diálogo é que o narrador torna<br />
inteligível, para si e para os outros, a lógica<br />
do seu pensamento através do diálogo entre<br />
os dois personagens. É importante observar<br />
que o humor do personagem Hagar é<br />
identificado na postura simetricamente<br />
oposta à de Michel de Montaigne, por<br />
exemplo (ver questão 58): a sua visão de<br />
mundo apresenta-se autocentrada, isto é,<br />
centrada nos seus próprios valores (vikings).<br />
A habilidade requerida do participante nessa<br />
questão, qual seja, "valorizar a diversidade<br />
dos patrimônios etnoculturais", é mobilizada<br />
aqui na sua dimensão negativa: é criticando<br />
a postura chauvinista de Hagar que o<br />
participante é capaz de responder<br />
corretamente a questão. A última alternativa<br />
(E) funciona como um distrator, pois neste<br />
caso não está suposta a crítica do discurso<br />
do personagem. Cerca de um terço dos<br />
participantes assinalou a alternativa correta<br />
B. As demais opções são devidas,<br />
possivelmente, a uma leitura pouco<br />
compreensiva das alternativas associadas a<br />
história em quadrinhos.<br />
53) (1999) Cárcere das almas<br />
Ah! Toda a alma num cárcere anda presa,<br />
Soluçando nas trevas, entre as grades<br />
Do calabouço olhando imensidades,<br />
Mares, estrelas, tardes, natureza.<br />
Tudo se veste de uma igual grandeza<br />
Quando a alma entre grilhões as<br />
liberdades<br />
Sonha e, sonhando, as imortalidades<br />
Rasga no etéreo o Espaço da Pureza.<br />
Ó almas presas, mudas e fechadas<br />
Nas prisões colossais e abandonadas,<br />
Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!<br />
Nesses silêncios solitários, graves,<br />
que chaveiro do Céu possui as chaves<br />
para abrir-vos as portas do Mistério?!<br />
CRUZ E SOUSA, J. Poesia completa. Florianópolis:<br />
Fundação Catarinense de Cultura /<br />
Fundação Banco do Brasil, 1993.<br />
Os elementos formais e temáticos<br />
relacionados ao contexto cultural do<br />
Simbolismo encontrados no poema<br />
Cárcere das almas, de Cruz e Sousa,<br />
são<br />
A) a opção pela abordagem, em<br />
linguagem simples e direta, de temas<br />
filosóficos.<br />
B) a prevalência do lirismo amoroso e<br />
intimista em relação à temática<br />
nacionalista.<br />
C) o refinamento estético da forma<br />
poética e o tratamento metafísico de<br />
temas universais.<br />
D) a evidente preocupação do eu lírico<br />
com a realidade social expressa em<br />
imagens poéticas inovadoras.<br />
E) a liberdade formal da estrutura poética<br />
que dispensa a rima e a métrica<br />
tradicionais em favor de temas do<br />
cotidiano.<br />
Comentário<br />
(QUESTÃO: AZUL 99, BRANCA 99,<br />
ROSA 99)<br />
Essa questão expõe um poema do Cruz e<br />
Souza, Cárcere das almas. As alternativas<br />
apresentam o contexto histórico social e<br />
cobram do aluno referência ao momento da<br />
escrita do poema e sua articulação com a<br />
escola literária em que se insere. A<br />
altenativa correta apresenta palavras-chave,<br />
como refinamento estético, tratamento<br />
metafísco e temas universais, elementos<br />
formais e tématicos comuns à produção da<br />
fase Simbolista. A resolução da questão é<br />
237
de dificuldade média, pois o aluno necessita<br />
saber as características do Simbolismo. Os<br />
versos finais de cada estrofe apresentam a<br />
atmosfera metafísica própria dessa fase. A<br />
resposta correta é a letra C.<br />
54) (2009) No decênio de 1870, Franklin<br />
Távora defendeu a tese de que no Brasil<br />
havia duas literaturas independentes<br />
dentro da mesma língua: uma do Norte e<br />
outra do Sul, regiões segundo ele muito<br />
diferentes por formação histórica,<br />
composição étnica, costumes, modismos<br />
linguísticos etc. Por isso, deu aos<br />
romances regionais que publicou o título<br />
geral de Literatura do Norte. Em nossos<br />
dias, um escritor gaúcho, Viana Moog,<br />
procurou mostrar com bastante engenho<br />
que no Brasil há, em verdade, literaturas<br />
setoriais diversas, refletindo as<br />
características locais.<br />
CANDIDO, A. A nova narrativa.<br />
A educação pela noite e outros ensaios.<br />
São Paulo: Ática, 2003.<br />
Com relação à valorização, no romance<br />
regionalista brasileiro, do homem e da<br />
paisagem de determinadas regiões<br />
nacionais, sabe-se que<br />
A) o romance do Sul do Brasil se<br />
caracteriza pela temática<br />
essencialmente urbana, colocando em<br />
relevo a formação do homem por meio<br />
da mescla de características locais e<br />
dos aspectos culturais trazidos de fora<br />
pela imigração europeia.<br />
B) José de Alencar, representante,<br />
sobretudo, do romance urbano, retrata<br />
a temática da urbanização das cidades<br />
brasileiras e das relações conflituosas<br />
entre as raças.<br />
C) o romance do Nordeste caracterizase<br />
pelo acentuado realismo no uso do<br />
vocabulário, pelo temário local,<br />
expressando a vida do homem em face<br />
da natureza agreste, e assume<br />
frequentemente o ponto de vista dos<br />
menos favorecidos.<br />
D) a literatura urbana brasileira, da qual<br />
um dos expoentes é Machado de<br />
Assis, põe em relevo a formação do<br />
homem brasileiro, o sincretismo<br />
religioso, as raízes africanas e<br />
indígenas que caracterizam o nosso<br />
povo.<br />
E) Erico Veríssimo, Rachel de Queiroz,<br />
Simões Lopes Neto e Jorge Amado são<br />
romancistas das décadas de 30 e 40<br />
do século XX, cuja obra retrata a<br />
problemática do homem urbano em<br />
confronto com a modernização do país<br />
promovida pelo Estado Novo.<br />
Comentário<br />
(QUESTÃO: AZUL 120, BRANCA 120,<br />
ROSA 120)<br />
O romance regionalista aborda questões<br />
sociais a respeito de determinadas regiões<br />
do Brasil, destacando a descrição de cada<br />
uma delas, do povo e seu linguajar típico. As<br />
personagens são pessoas que vivem longe<br />
das cidades. A alternativa C é a mais<br />
coerente com as características atribuídas a<br />
um romance do Nordeste.<br />
55) (2009) Oximoro, ou paradoxismo, é uma<br />
figura de retórica em que se combinam<br />
palavras de sentido oposto que parecem<br />
excluir-se mutuamente, mas que, no<br />
contexto, reforçam a expressão.<br />
Dicionário Eletrônico<br />
Houaiss da Lingua Portuguesa.<br />
Considerando a definição apresentada, o<br />
fragmento poético da obra Cantares, de<br />
Hilda Hilst, publicada em 2004, em que<br />
pode ser encontrada a referida figura de<br />
retórica é:<br />
A) "Dos dois contemplo<br />
rigor e fixidez.<br />
Passado e sentimento<br />
me contemplam" (p. 91).<br />
B) "De sol e lua<br />
De fogo e vento<br />
Te enlaço" (p. <strong>10</strong>1).<br />
C) "Areia, vou sorvendo<br />
A água do teu rio" (p. 93).<br />
D) "Ritualiza a matança<br />
de quem só te deu vida.<br />
E me deixa viver<br />
nessa que morre" (p. 62).<br />
E) "O bisturi e o verso.<br />
Dois instrumentos<br />
entre as minhas mãos" (p. 95).<br />
Comentário<br />
(QUESTÃO: AZUL 124, BRANCA 124,<br />
ROSA 124)<br />
Questão que o candidato, com base na<br />
definição do termo paroxismo, apresentada<br />
no enunciado, poderia resolver<br />
tranquilamente, buscando, entre as<br />
alternativas expostas, qual oferecia, com<br />
mais clareza, construções paradoxais.<br />
Dessa forma, a alternanativa D é a<br />
correta, pois apresenta o fragmento em que<br />
238
há o jogo de palavras envolvendo<br />
"matança", "vida", "viver" e "morre", o mais<br />
adequado e evidente quanto à utilização<br />
desse recurso.<br />
56) (2009) Confidência do Itabirano<br />
Alguns anos vivi em Itabira.<br />
Principalmente nasci em Itabira.<br />
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.<br />
Noventa por cento de ferro nas calçadas.<br />
Oitenta por cento de ferro nas almas.<br />
E esse alheamento do que na vida é<br />
porosidade e comunicação.<br />
A vontade de amar, que me paralisa o<br />
trabalho,<br />
vem de Itabira, de suas noites brancas,<br />
sem mulheres e sem horizontes.<br />
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,<br />
é doce herança itabirana.<br />
De Itabira trouxe prendas diversas que ora<br />
te ofereço:<br />
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,<br />
este São Benedito do velho santeiro<br />
Alfredo Duval;<br />
este couro de anta, estendido no sofá da<br />
sala de visitas; este orgulho, esta cabeça<br />
baixa...<br />
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.<br />
Hoje sou funcionário público.<br />
Itabira é apenas uma fotografia na parede.<br />
Mas como dói!<br />
ANDRADE, C. D. Poesia completa.<br />
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2003.<br />
Carlos Drummond de Andrade é um dos<br />
expoentes do movimento modernista<br />
brasileiro. Com seus poemas, penetrou<br />
fundo na alma do Brasil e trabalhou<br />
poeticamente as inquietudes e os dilemas<br />
humanos. Sua poesia é feita de uma<br />
relação tensa entre o universal e o<br />
particular, como se percebe claramente na<br />
construção do poema Confidência do<br />
Itabirano. Tendo em vista os<br />
procedimentos de construção do texto<br />
literário e as concepções artísticas<br />
modernistas, conclui-se que o poema<br />
acima<br />
A) representa a fase heroica do<br />
modernismo, devido ao tom<br />
contestatório e à utilização de<br />
expressões e usos linguísticos típicos<br />
da oralidade.<br />
B) apresenta uma característica<br />
importante do gênero lírico, que é a<br />
apresentação objetiva de fatos e dados<br />
históricos.<br />
C) evidencia uma tensão histórica entre<br />
o ‘eu" e a sua comunidade, por<br />
intermédio de imagens que<br />
representam a forma como a sociedade<br />
e o mundo colaboram para a<br />
constituição do indivíduo.<br />
D) critica, por meio de um discurso<br />
irônico, a posição de inutilidade do<br />
poeta e da poesia em comparação com<br />
as prendas resgatadas de Itabira.<br />
E) apresenta influências românticas, uma<br />
vez que trata da individualidade, da<br />
saudade da infância e do amor pela<br />
terra natal, por meio de recursos<br />
retóricos pomposos.<br />
Comentário<br />
(QUESTÃO: AZUL 135, BRANCA 131,<br />
ROSA 135)<br />
O poema Confidência do Itabirano faz<br />
parte da 2.ª geração de Drummond, em que<br />
se evidencia o social e a visão crítica do "eu"<br />
sobre o meio. Essa característica fica<br />
evidente na alternativa C. Portanto, esta é<br />
a correta.<br />
H17 - Reconhecer a presença de<br />
valores sociais e humanos<br />
atualizáveis e permanentes no<br />
patrimônio literário nacional.<br />
01) (2008) Calcula-se que 78% do<br />
desmatamento na Amazônia tenha sido<br />
motivado pela pecuária — cerca de 35%<br />
do rebanho nacional está na região — e<br />
que pelo menos 50 milhões de hectares<br />
de pastos são pouco produtivos. Enquanto<br />
o custo médio para aumentar a<br />
produtividade de 1 hectare de pastagem é<br />
de 2 mil reais, o custo para derrubar igual<br />
área de floresta é estimado em 800 reais,<br />
o que estimula novos desmatamentos.<br />
Adicionalmente, madeireiras retiram as<br />
árvores de valor comercial que foram<br />
abatidas para a criação de pastagens. Os<br />
pecuaristas sabem que problemas<br />
ambientais como esses podem provocar<br />
restrições à pecuária nessas áreas, a<br />
exemplo do que ocorreu em 2006 com o<br />
plantio da soja, o qual, posteriormente, foi<br />
proibido em áreas de floresta.<br />
Época, 3/3/2008 e 9/6/2008 (com adaptações).<br />
239
A partir da situação-problema descrita,<br />
conclui-se que<br />
A) o desmatamento na Amazônia decorre<br />
principalmente da exploração ilegal de<br />
árvores de valor comercial.<br />
B) um dos problemas que os pecuaristas<br />
vêm enfrentando na Amazônia é a<br />
proibição do plantio de soja.<br />
C) a mobilização de máquinas e de força<br />
humana torna o desmatamento mais<br />
caro que o aumento da produtividade<br />
de pastagens.<br />
D) o superavit comercial decorrente da<br />
exportação de carne produzida na<br />
Amazônia compensa a possível<br />
degradação ambiental.<br />
E) a recuperação de áreas desmatadas<br />
e o aumento de produtividade das<br />
pastagens podem contribuir para a<br />
redução do desmatamento na<br />
Amazônia.<br />
Comentário do portal<br />
Essa questão retrata o problema do<br />
desmatamento da Amazônia, relacionado<br />
principalmente com o desenvolvimento da<br />
pecuária na região. Para resolvê-la, foram<br />
necessários a leitura atenta do texto e o<br />
conhecimento sobre os problemas<br />
ambientais da atualidade. A alternativa<br />
correta é a letra E, pois é mais caro para os<br />
pecuaristas aumentar a produtividade do que<br />
as áreas de pasto, o que acarreta o aumento<br />
do desmatamento da Amazônia.<br />
02) (2008) A Lei Federal n.º 9.985/2000, que<br />
instituiu o sistema nacional de unidades<br />
de conservação, define dois tipos de<br />
áreas protegidas. O primeiro, as unidades<br />
de proteção integral, tem por objetivo<br />
preservar a natureza, admitindo-se<br />
apenas o uso indireto dos seus recursos<br />
naturais, isto é, aquele que não envolve<br />
consumo, coleta, dano ou destruição dos<br />
recursos naturais. O segundo, as<br />
unidades de uso sustentável, tem por<br />
função compatibilizar a conservação da<br />
natureza com o uso sustentável de<br />
parcela dos recursos naturais. Nesse<br />
caso, permite-se a exploração do<br />
ambiente de maneira a garantir a<br />
perenidade dos recursos ambientais<br />
renováveis e dos processos ecológicos,<br />
mantendo-se a biodiversidade e os<br />
demais atributos ecológicos, de forma<br />
socialmente justa e economicamente<br />
viável.<br />
Considerando essas informações, analise<br />
a seguinte situação hipotética.<br />
Ao discutir a aplicação de recursos<br />
disponíveis para o desenvolvimento de<br />
determinada região, organizações civis,<br />
universidade e governo resolveram<br />
investir na utilização de uma unidade de<br />
proteção integral, o Parque Nacional do<br />
Morro do Pindaré, e de uma unidade de<br />
uso sustentável, a Floresta Nacional do<br />
Sabiá. Depois das discussões, a equipe<br />
resolveu levar adiante três projetos:<br />
— o projeto I consiste de pesquisas<br />
científicas embasadas exclusivamente<br />
na observação de animais;<br />
— o projeto II inclui a construção de uma<br />
escola e de um centro de vivência;<br />
— o projeto III promove a organização de<br />
uma comunidade extrativista que<br />
poderá coletar e explorar<br />
comercialmente frutas e sementes<br />
nativas.<br />
Nessa situação hipotética, atendendo-se à<br />
lei mencionada acima, é possível<br />
desenvolver tanto na unidade de proteção<br />
integral quanto na de uso sustentável<br />
A) apenas o projeto I.<br />
B) apenas o projeto III.<br />
C) apenas os projetos I e II.<br />
D) apenas os projetos II e III.<br />
E) todos os três projetos.<br />
Comentário do portal<br />
A alternativa correta é a letra "A", pois,<br />
analisando-se a situação hipotética sugerida<br />
no enunciado, percebe-se que ela deverá<br />
atender os requisitos tanto da unidade de<br />
proteção integral quanto da unidade de uso<br />
sustentável. Portanto, apenas o projeto I<br />
poderá ser desenvolvido nessas duas<br />
propostas de unidades.<br />
03) (1999) Leia o texto abaixo.<br />
Cabelos longos, brinco na orelha<br />
esquerda, físico de skatista. Na aparência,<br />
o estudante brasiliense Rui Lopes Viana<br />
Filho, de 16 anos, não lembra em nada o<br />
estereótipo dos gênios. Ele não usa<br />
pesados óculos de grau e está longe de<br />
ter um ar introspectivo. No final do mês<br />
passado, Rui retornou de Taiwan, onde<br />
enfrentou 419 competidores de todo o<br />
mundo na 39ª Olimpíada Internacional de<br />
Matemática. A reluzente medalha de ouro<br />
que ele trouxe na bagagem está<br />
dependurada sobre a cama de seu quarto,<br />
atulhado de rascunhos dos problemas<br />
240
matemáticos que aprendeu a decifrar nos<br />
últimos cinco anos.<br />
Veja – Vencer uma olimpíada serve de<br />
passaporte para uma carreira profissional<br />
meteórica?<br />
Rui – Nada disso. Decidi me dedicar à<br />
Olimpíada porque sei que a concorrência<br />
por um emprego é cada vez mais<br />
selvagem e cruel. Agora tenho algo a mais<br />
para oferecer. O problema é que as coisas<br />
estão mudando muito rápido e não sei<br />
qual será minha profissão. Além de ser<br />
muito novo para decidir sobre o meu<br />
futuro profissional, sei que esse conceito<br />
de carreira mudou muito.<br />
(Entrevista de Rui Lopes Viana Filho à Veja,<br />
05/08/1998, n.31, p. 9-<strong>10</strong>)<br />
Na pergunta, o repórter estabelece uma<br />
relação entre a entrada do estudante no<br />
mercado de trabalho e a vitória na<br />
Olimpíada. O estudante<br />
A) concorda com a relação e afirma que o<br />
desempenho na Olimpíada é<br />
fundamental para sua entrada no<br />
mercado.<br />
B) discorda da relação e complementa<br />
que é fácil se fazer previsões sobre o<br />
mercado de trabalho.<br />
C) discorda da relação e afirma que seu<br />
futuro profissional independe de<br />
dedicação aos estudos.<br />
D) discorda da relação e afirma que seu<br />
desempenho só é relevante se<br />
escolher uma profissão relacionada à<br />
matemática.<br />
E) concorda em parte com a relação e<br />
complementa que é complexo fazer<br />
previsões sobre o mercado de trabalho.<br />
Comentário<br />
Não é difícil de se chegar à resposta<br />
correta ao se ler a reportagem. Ao final do<br />
último parágrafo — (...) Além de ser muito<br />
novo para decidir sobre o meu futuro<br />
profissional, sei que esse conceito de carreira<br />
mudou muito. —, o estudante praticamente<br />
fornece a resposta à questão, declarando-se<br />
realista ao não tentar prever seu futuro<br />
profissional devido à pouca idade e às<br />
mudanças no mercado de trabalho. Quanto a<br />
concordar parcialmente com o repórter, veja<br />
que ele, apesar de negar que o prêmio fosse<br />
uma garantia de sucesso profissional, logo<br />
depois afirma que, com ele, terá algo mais a<br />
oferecer ao mercado. Questão de nível fácil.<br />
Comentário do INEP<br />
Nesta situação-problema, o participante<br />
deveria demonstrar que compreendeu as<br />
premissas de um discurso, distinguindo a<br />
diferença de significado de palavras isoladas<br />
ou no contexto em que estão inseridas.<br />
Verificou-se que mais da metade dos<br />
participantes demonstrou possuir essa<br />
compreensão. Aqueles que optaram pelas<br />
alternativas C e D podem ter sido atraídos<br />
pelo significado negativo da expressão inicial<br />
"Nada disso".<br />
04) (1998) Texto 1<br />
"Mulher, Irmã, escuta-me: não ames,<br />
Quando a teus pés um homem terno e<br />
curvo<br />
jurar amor, chorar pranto de sangue,<br />
Não creias, não, mulher: ele te engana!<br />
As lágrimas são gotas da mentira<br />
E o juramento manto da perfídia."<br />
(Joaquim Manoel de Macedo)<br />
Texto 2<br />
"Teresa, se algum sujeito bancar o<br />
sentimental em cima de você<br />
E te jurar uma paixão do tamanho de um<br />
bonde<br />
Se ele chorar<br />
Se ele ajoelhar<br />
Se ele se rasgar todo<br />
Não acredite não Teresa<br />
É lágrima de cinema<br />
É tapeação<br />
Mentira<br />
CAI FORA"<br />
(Manuel Bandeira)<br />
Os autores, ao fazerem alusão às<br />
imagens da lágrima sugerem que:<br />
A) há um tratamento idealizado da<br />
relação homem/mulher.<br />
B) há um tratamento realista da relação<br />
homem/mulher.<br />
C) a relação familiar é idealizada.<br />
D) a mulher é superior ao homem.<br />
E) a mulher é igual ao homem.<br />
Comentário<br />
Ambos os autores, ao utilizarem a<br />
imagem da lágrima, estão na realidade<br />
mostrando que a figura do homem que é<br />
romântico a ponto de chorar ao jurar amor<br />
não existe. Tanto Macedo quanto<br />
Bandeira alertam as mulheres dizendo,<br />
com palavras e estilos diferentes, que não<br />
há homem que chore por amor (portanto,<br />
essa figura é uma idealização — e, por<br />
conseguinte, toda imagem que se tem<br />
241
242<br />
sobre os relacionamentos<br />
demasiadamente românticos). Note que<br />
Bandeira chega até mesmo a chamar tal<br />
"chorão" de ator ("...É lágrima de cinema /<br />
É tapeação..."). Macedo dá uma imagem<br />
pesada às lágrimas ("...são gotas da<br />
mentira...").<br />
05) (1999) Considere os textos abaixo.<br />
(...) de modo particular, quero encorajar os<br />
crentes empenhados no campo da<br />
filosofia para que iluminem os diversos<br />
âmbitos da atividade humana, graças ao<br />
exercício de uma razão que se torna mais<br />
segura e perspicaz com o apoio que<br />
recebe da fé.<br />
(Papa João Paulo II. Carta Encíclica Fides<br />
et Ratio aos bispos da igreja católica sobre as relações<br />
entre fé e razão, 1998)<br />
As verdades da razão natural não<br />
contradizem as verdades da fé cristã.<br />
(São Tomás de Aquino<br />
–pensador medieval)<br />
Refletindo sobre os textos, pode-se<br />
concluir que:<br />
A) a encíclica papal está em contradição<br />
com o pensamento de São Tomás de<br />
Aquino, refletindo a diferença de<br />
épocas.<br />
B) a encíclica papal procura<br />
complementar São Tomás de Aquino,<br />
pois este colocava a razão natural<br />
acima da fé.<br />
C) a Igreja medieval valorizava a razão<br />
mais do que a encíclica de João Paulo<br />
II.<br />
D) o pensamento teológico teve sua<br />
importância na Idade Média, mas, em<br />
nossos dias, não tem relação com o<br />
pensamento filosófico.<br />
E) tanto a encíclica papal como a frase<br />
de São Tomás de Aquino procuram<br />
conciliar os pensamentos sobre fé e<br />
razão.<br />
Comentário<br />
Nessa questão, é necessária uma<br />
releitura do texto para que se tenha uma<br />
melhor compreensão do tema. Tanto a<br />
citação do Papa quanto a de São Tomás de<br />
Aquino tentam criar uma interdependência<br />
entre a ciência e a fé, a religião. O Papa<br />
incentiva aqueles que exercem a pesquisa<br />
científica ou filosófica a manter a fé cristã.<br />
São Tomás de Aquino, por sua vez, equipara<br />
o avanço da ciência ao aumento da própria<br />
fé, afirmando que a razão natural não<br />
contradiz a fé cristã. Se um cresce, cresce<br />
também o outro, em harmonia e sem<br />
contradições. Questão de grau médio.<br />
(Português)<br />
Nessa questão, encontramos dois textos:<br />
o primeiro, do século XX, foi elaborado pelo<br />
Papa João Paulo II; o segundo, do século<br />
XIII, pelo teólogo e filósofo cristão São<br />
Tomás de Aquino. O conteúdo de ambos se<br />
refere à ligação entre fé e razão, a qual<br />
esteve presente na filosofia escolástica da<br />
Idade Média. Esse campo de reflexão buscou<br />
conciliar o cristianismo com o pensamento de<br />
Aristóteles e teve em São Tomás de Aquino<br />
seu maior representante.<br />
Mesmo sem ter todas essas informações,<br />
você poderia responder tranqüilamente à<br />
questão por meio de uma leitura atenta dos<br />
dois textos, chegando à conclusão de que<br />
"tanto a encíclica papal como a frase de São<br />
Tomás de Aquino procuram conciliar os<br />
pensamentos sobre fé e razão". Resposta<br />
correta: alternativa E. (História)<br />
Comentário do INEP<br />
Para resolver esta situação-problema, o<br />
participante deveria mostrar que, além de<br />
interpretar textos, sabe relacioná-los sendo<br />
que, nesse item, essas operações referem-se<br />
a um texto escrito na época medieval e a<br />
outro escrito recentemente.<br />
Mais de 70% dos participantes<br />
demonstraram facilidade em estabelecer esta<br />
relação.<br />
06) (1999) Leia um texto publicado no jornal<br />
Gazeta Mercantil. Esse texto é parte de<br />
um artigo que analisa algumas situações<br />
de crise no mundo, entre elas, a quebra<br />
da Bolsa de Nova Iorque em 1929, e foi<br />
publicado na época de uma iminente crise<br />
financeira no Brasil.<br />
Deu no que deu. No dia 29 de outubro de<br />
1929, uma terça-feira, praticamente não<br />
havia compradores no pregão de Nova<br />
Iorque, só vendedores. Seguiu-se uma<br />
crise incomparável: o Produto Interno<br />
Bruto dos Estados Unidos caiu de <strong>10</strong>4<br />
bilhões de dólares em 1929, para 56<br />
bilhões em 1933, coisa inimaginável em<br />
nossos dias. O valor do dólar caiu a quase<br />
metade. O desemprego elevou-se de 1,5<br />
milhão para 12,5 milhões de trabalhadores<br />
– cerca de 25% da população ativa –<br />
entre 1929 e 1933. A construção civil caiu<br />
90%. Nove milhões de aplicações, tipo<br />
caderneta de poupança, perderam-se com<br />
o fechamento dos bancos. Oitenta e cinco
mil firmas faliram. Houve saques e norteamericanos<br />
que passaram fome.<br />
(Gazeta Mercantil, 05/01/1999)<br />
Ao citar dados referentes à crise ocorrida<br />
em 1929, em um artigo jornalístico atual,<br />
pode-se atribuir ao jornalista a seguinte<br />
intenção:<br />
A) questionar a interpretação da crise.<br />
B) comunicar sobre o desemprego.<br />
C) instruir o leitor sobre aplicações em<br />
bolsa de valores.<br />
D) relacionar os fatos passados e<br />
presentes.<br />
E) analisar dados financeiros americanos.<br />
Comentário<br />
Nessa questão, o que se tem de fazer é<br />
prestar atenção às alternativas das<br />
respostas. Nenhuma delas se apresenta tão<br />
bem contextualizada a uma possível<br />
interpretação quanto a letra D. Partindo-se da<br />
análise do texto, fica claro que a intenção do<br />
artigo é remeter o leitor ao passado para<br />
tentar conduzi-lo a uma reflexão sobre uma<br />
situação presente, não mencionada na<br />
questão. Após a leitura e utilizando-se a já<br />
citada eliminação de questões, torna-se clara<br />
a resposta. Questão de nível médio.<br />
(Português)<br />
Muitas vezes, quando procuramos<br />
entender uma crise econômica ou financeira<br />
de grandes proporções, buscamos<br />
estabelecer relações com crises passadas. O<br />
mesmo ocorre no jornalismo, como prova o<br />
texto encontrado nessa questão. Buscando<br />
entender uma crise ocorrida no início de<br />
1999, o jornalista da Gazeta Mercantil<br />
buscou relacionar a situação dessa época<br />
com a grande crise de 1929 que afetou o<br />
mundo, trazendo desemprego e recessão,<br />
entre tantos outros problemas econômicos e<br />
sociais.<br />
Para responder a essa questão, era<br />
necessário ler atentamente o enunciado, em<br />
que está destacado que "o texto é parte de<br />
um artigo que analisa algumas situações de<br />
crise no mundo" e "foi publicado na época de<br />
uma iminente crise financeira no Brasil". Era<br />
importante também observar a data em que o<br />
artigo foi publicado: 05/01/1999. A partir<br />
dessas constatações, facilmente você<br />
chegaria a conclusão de que a intenção do<br />
jornalista era "relacionar os fatos passados e<br />
presentes". Resposta correta: alternativa D.<br />
(História)<br />
Comentário do INEP<br />
A resolução da questão demandava a<br />
capacidade dos participantes de relacionar<br />
eventos históricos envolvendo crises<br />
econômicas ocorridas em épocas e lugares<br />
distintos. Aproximadamente 2/3 deles<br />
demonstraram essa capacidade. Os demais,<br />
provavelmente, não compreenderam a<br />
exigência expressa no enunciado do<br />
problema – apontar as razões pelas quais um<br />
jornalista traz à tona eventos ocorridos<br />
setenta anos antes –, e apenas interpretaram<br />
o sentido do texto citado, que descreve a<br />
crise mundial de 1929.<br />
07) (2002) O autor da tira utilizou os<br />
princípios de composição de um<br />
conhecido movimento artístico para<br />
representar a necessidade de um mesmo<br />
observador aprender a considerar,<br />
simultaneamente, diferentes pontos de<br />
vista.<br />
Das obras reproduzidas, todas de autoria<br />
do pintor espanhol Pablo Picasso, aquela<br />
em cuja composição foi adotado um<br />
procedimento semelhante é:<br />
A)<br />
B)<br />
243
C)<br />
D)<br />
tinha como procedimento de composição<br />
representar, para um mesmo observador,<br />
diferentes pontos de vista, fazendo com que<br />
"o tradicional único ponto de vista" fosse<br />
abandonado e com que a perspectiva fosse<br />
fraturada. A análise das obras de Picasso<br />
reproduzidas nas alternativas permite que o<br />
participante reconheça a adoção desse<br />
procedimento no quadro "Marie-Thérèse<br />
apoiada no cotovelo" (alternativa E, com 46%<br />
de registros), no qual se pode reconhecer a<br />
representação de diferentes pontos de vista<br />
a partir dos quais é apresentado o rosto da<br />
mulher retratada.<br />
08) (2001) Oxímoro (ou paradoxo) é uma<br />
construção textual que agrupa significados<br />
que se excluem mutuamente. Para<br />
Garfield, a frase de saudação de Jon<br />
(tirinha abaixo) expressa o maior de todos<br />
os oxímoros.<br />
E)<br />
Folha de S. Paulo. 31 de julho de 2000.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. O movimento<br />
artístico que previa considerar<br />
simultaneamente diversos pontos de vista<br />
era o Cubismo. Havia a desconstrução da<br />
forma para que se pudesse ver todos os<br />
ângulos concomitantemente. O único quadro<br />
que apresenta essas características é o da<br />
alternativa E. As outras quatro alternativas<br />
pressupõem a manutenção da forma.<br />
Comentário do INEP<br />
O objetivo desta questão é levar o<br />
participante a refletir sobre características<br />
fundamentais de um movimento artístico – o<br />
cubismo – a partir de dados visuais:<br />
quadrinhos e pinturas. A reprodução de dois<br />
quadrinhos da personagem Calvin forneceu<br />
para o participante informações básicas para<br />
a análise que deveria fazer das alternativas<br />
apresentadas. Segundo os quadrinhos, o<br />
movimento artístico abordado pela questão<br />
Nas alternativas abaixo, estão transcritos<br />
versos retirados do poema “O operário em<br />
construção”. Pode-se afirmar que ocorre<br />
um oxímoro em<br />
A) "Era ele que erguia casas<br />
Onde antes só havia chão."<br />
B) "... a casa que ele fazia<br />
Sendo a sua liberdade<br />
Era a sua escravidão."<br />
C) "Naquela casa vazia<br />
Que ele mesmo levantara<br />
Um mundo novo nascia<br />
De que sequer suspeitava."<br />
D) "... o operário faz a coisa<br />
E a coisa faz o operário."<br />
E) "Ele, um humilde operário<br />
Um operário que sabia<br />
Exercer a profissão."<br />
MORAES, Vinícius de. Antologia Poética. São Paulo:<br />
Companhia das Letras, 1992.<br />
Comentário<br />
Idéias que se completam e se excluem<br />
mutuamente são encontradas na alternativa<br />
B: a casa que ele construía era, ao mesmo<br />
tempo, sua liberdade e sua escravidão.<br />
A casa é um símbolo de liberdade para o<br />
homem. Para o homem operário, é também<br />
símbolo de escravidão, pois ele está<br />
244
"condenado" a jamais usufruir do resultado<br />
do seu trabalho (a casa que faz não é para<br />
ele).<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão propõe ao participante que<br />
estabeleça uma relação entre linguagens,<br />
associando a compreensão de um efeito<br />
semântico produzido pelo uso do oxímoro<br />
nos quadrinhos com o mesmo efeito num<br />
texto poético. O índice (18%) de escolhas da<br />
alternativa D deve-se, possivelmente, a uma<br />
análise parcial da noção de paradoxo,<br />
confundida com inversão.<br />
09) (2005) Cândido Portinari (1903-1962), um<br />
dos mais importantes artistas brasileiros<br />
do século XX, tratou de diferentes<br />
aspectos da nossa realidade em seus<br />
quadros.<br />
Sobre a temática dos “Retirantes”,<br />
Portinari também escreveu o seguinte<br />
poema:<br />
(....)<br />
Os retirantes vêm vindo com trouxas e<br />
embrulhos<br />
Vêm das terras secas e escuras;<br />
pedregulhos<br />
Doloridos como fagulhas de carvão aceso<br />
Corpos disformes, uns panos sujos,<br />
Rasgados e sem cor, dependurados<br />
Homens de enorme ventre bojudo<br />
Mulheres com trouxas caídas para o lado<br />
Pançudas, carregando ao colo um garoto<br />
Choramingando, remelento<br />
(....)<br />
(Cândido Portinari. Poemas. Rio de Janeiro:<br />
J. Olympio, 1964.)<br />
Das quatro obras reproduzidas, assinale<br />
aquelas que abordam a problemática que<br />
é tema do poema.<br />
A) 1 e 2 D) 3 e 4<br />
B) 1 e 3 E) 2 e 4<br />
C) 2 e 3<br />
Comentário<br />
O poema apresenta correspondência com<br />
as imagens ao descrever com detalhes a<br />
figura do retirante: pobre, mal vestido,<br />
carregando trouxas e embrulhos.<br />
<strong>10</strong>) (2002) "A palavra tatuagem é<br />
relativamente recente. Toda a gente sabe<br />
que foi o navegador Cook que a introduziu<br />
no Ocidente, e esse escrevia tattou, termo<br />
da Polinésia de tatou ou tu tahou,<br />
'desenho'.<br />
(...) Desde os mais remotos tempos,<br />
vemo-la a transformar-se: distintivo<br />
honorífico entre uns homens, ferrete de<br />
ignomínia entre outros, meio de assustar o<br />
adversário para os bretões, marca de uma<br />
classe de selvagens das ilhas marquesas<br />
(...) sinal de amor, de desprezo, de ódio<br />
(...). Há três casos de tatuagem no Rio,<br />
completamente diversos na sua<br />
significação moral: os negros,os turcos<br />
com o fundo religioso e o bando de<br />
meretrizes, dos rufiões e dos humildes,<br />
que se marcam por crime ou por<br />
ociosidade".<br />
RIO, João do. Os Tatuadores. Revista Kosmos.<br />
1904, apud: A alma encantadora das ruas,<br />
SP: Cia das Letras, 1999.<br />
Com base no texto são feitas as seguintes<br />
afirmações:<br />
I. João do Rio revela como a tatuagem já<br />
estava presente na cidade do Rio de<br />
Janeiro, pelo menos desde o início do<br />
século XX, e era mais utilizada por<br />
alguns setores da população.<br />
II. A tatuagem, de origem polinésia,<br />
difundiu-se no ocidente com a<br />
característica que permanece até hoje:<br />
utilização entre os jovens com função<br />
estritamente estética.<br />
III. O texto mostra como a tatuagem é<br />
uma prática que se transforma no<br />
tempo e que alcança inúmeros sentidos<br />
nos diversos setores das sociedades e<br />
para as diferentes culturas.<br />
Está correto o que se afirma apenas em<br />
A) I D) I e II<br />
B) II E) I e III<br />
C) III<br />
245
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Constata-se o<br />
seguinte: a tatuagem já existia no Brasil no<br />
início do século XX (o texto é de 1904 e parte<br />
dele se refere ao Rio do Janeiro) e era<br />
utilizada em diferentes setores da sociedade.<br />
A afirmação de que as tatuagens possuem<br />
apenas finalidade estética entre os jovens<br />
elimina a segunda alternativa. Já a última<br />
alternativa confirma as transformações das<br />
funções da tatuagem ao longo do tempo nas<br />
mais diversas sociedades e culturas.<br />
Comentário do INEP<br />
O texto estabelece uma relação entre a<br />
atualidade da palavra "tatuagem" e a<br />
antiguidade do uso de desenhos como<br />
pintura corporal. Focaliza uma prática social<br />
bastante difundida que adquiriu aspectos e<br />
conotações diversos nos diferentes contextos<br />
históricos e geográficos em que ela pode ser<br />
descrita. Fazendo a descrição da prática da<br />
tatuagem, como uma manifestação comum a<br />
diferentes culturas, e que adquire, inclusive,<br />
significados diferentes dentro de uma mesma<br />
cultura, induz o participante a refletir sobre a<br />
"diversidade dos patrimônios etnoculturais e<br />
artísticos", contextualizando ao mesmo<br />
tempo seus significados "em diferentes<br />
sociedades, épocas e lugares". Ao retomar<br />
as várias origens e usos da tatuagem, o<br />
participante é levado a compreender e<br />
respeitar uma gramática histórica dos<br />
costumes marcada sempre por semelhanças<br />
e diferenças. A questão não exigia, portanto,<br />
nenhum conhecimento prévio sobre as<br />
diferentes formas de manifestação dessa<br />
prática, mas simplesmente constatar, com o<br />
autor do texto citado, a historicidade e a<br />
diversidade das práticas sociais. Os<br />
participantes que assinalaram a alternativa C<br />
(36%), possivelmente, não levaram em<br />
consideração informações do texto. A<br />
questão foi corretamente respondida por 37%<br />
dos participantes.<br />
11) (2003) Eu começaria dizendo que poesia<br />
é uma questão de linguagem. A<br />
importância do poeta é que ele torna mais<br />
viva a linguagem. Carlos Drummond de<br />
Andrade escreveu um dos mais belos<br />
versos da língua portuguesa com duas<br />
palavras comuns: cão e cheirando.<br />
Um cão cheirando o futuro<br />
(Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP, 24/05/1988.<br />
adaptação)<br />
246<br />
O que deu ao verso de Drummond o<br />
caráter de inovador da língua foi<br />
A) o modo raro como foi tratado o<br />
"futuro".<br />
B) a referência ao cão como "animal de<br />
estimação".<br />
C) a flexão pouco comum do verbo<br />
"cheirar" (gerúndio).<br />
D) a aproximação não usual do agente<br />
citado e a ação de "cheirar".<br />
E) o emprego do artigo indefinido "um" e<br />
do artigo definido "o" na mesma frase.<br />
Comentário<br />
O fato de Drummond identificar o futuro<br />
como algo que pode ser percebido por um<br />
animal irracional por meio do olfato foi<br />
inovador. A figura de linguagem foi<br />
construída metaforicamente: o futuro torna-se<br />
uma coisa que tem cheiro, contrariamente à<br />
imagem pela qual ele normalmente é<br />
representado: como algo que não se vê e<br />
não se pode pressentir ou tocar.<br />
12) (2003) Pequenos tormentos da vida<br />
De cada lado da sala de aula, pelas janelas<br />
altas, o azul convida os meninos,<br />
as nuvens desenrolam-se, lentas como quem<br />
vai inventando<br />
preguiçosamente uma história sem fim...Sem<br />
fim é a aula: e nada acontece,<br />
nada...Bocejos e moscas. Se ao menos,<br />
pensa Margarida, se ao menos um<br />
avião entrasse por uma janela e saísse por<br />
outra!<br />
(Mário Quintana. Poesias)<br />
Na cena retratada no texto, o sentimento<br />
do tédio<br />
A) provoca que os meninos fiquem<br />
contando histórias.<br />
B) leva os alunos a simularem bocejos,<br />
em protesto contra a monotonia da<br />
aula.<br />
C) acaba estimulando a fantasia,<br />
criando a expectativa de algum<br />
imprevisto mágico.<br />
D) prevalece de modo absoluto,<br />
impedindo até mesmo a distração ou o<br />
exercício do pensamento.<br />
E) decorre da morosidade da aula, em<br />
contraste com o movimento acelerado<br />
das nuvens e das moscas.<br />
Comentário<br />
Essa questão aborda o imaginário<br />
decorrente do marasmo trazido pela escola.<br />
O texto enfatiza o arrastar do tempo na<br />
mente de uma aluna, Margarida, que se põe<br />
a pensar em fatos mágicos ou imaginários<br />
que pudessem romper com a lentidão da<br />
aula.
13) (2000) O autor do texto abaixo critica,<br />
ainda que em linguagem metafórica, a<br />
sociedade contemporânea em relação aos<br />
seus hábitos alimentares.<br />
“Vocês que têm mais de 15 anos, se<br />
lembram quando a gente comprava leite<br />
em garrafa, na leiteria da esquina? (...)<br />
Mas vocês não se lembram de nada,<br />
pô! Vai ver nem sabem o que é vaca. Nem<br />
o que é leite. Estou falando isso porque<br />
agora mesmo peguei um pacote de leite –<br />
leite em pacote, imagina, Tereza! – na<br />
porta dos fundos e estava escrito que é<br />
pasterizado, ou pasteurizado, sei lá, tem<br />
vitamina, é garantido pela<br />
embromatologia, foi enriquecido e o<br />
escambau. Será que isso é mesmo leite?<br />
No dicionário diz que leite é outra coisa:<br />
‘Líquido branco, contendo água,<br />
proteína, açúcar e sais minerais’. Um<br />
alimento pra ninguém botar defeito. O ser<br />
humano o usa há mais de 5.000 anos. É o<br />
único alimento só alimento. A carne serve<br />
pro animal andar, a fruta serve pra fazer<br />
outra fruta, o ovo serve pra fazer outra<br />
galinha (...) O leite é só leite. Ou toma ou<br />
bota fora. Esse aqui examinando bem, é<br />
só pra botar fora. Tem chumbo, tem<br />
benzina, tem mais água do que leite, tem<br />
serragem, sou capaz de jurar que nem<br />
vaca tem por trás desse negócio. Depois o<br />
pessoal ainda acha estranho que os<br />
meninos não gostem de leite.<br />
Mas, como não gostam? Não gostam<br />
como? Nunca tomaram! Múúúúúúú!”<br />
(FERNANDES, Millôr. O Estado de S. Paulo ,<br />
22 de agosto de 1999)<br />
A palavra embromatologia usada pelo<br />
autor é:<br />
A) um termo científico que significa estudo<br />
dos bromatos.<br />
B) uma composição do termo de gíria<br />
“embromação” (enganação) com<br />
bromatologia, que é o estudo dos<br />
alimentos.<br />
C) uma junção do termo de gíria<br />
“embromação” (enganação) com<br />
lactologia, que é o estudo das<br />
embalagens para leite.<br />
D) um neologismo da química orgânica<br />
que significa a técnica de retirar<br />
bromatos dos laticínios.<br />
E) uma corruptela de termo da<br />
agropecuária que significa a ordenha<br />
mecânica.<br />
Comentário<br />
É necessário para a resolução desta<br />
questão:<br />
- perceber que o texto critica o exagerado<br />
uso de substâncias artificiais nos<br />
alimentos;<br />
- conhecer o significado da gíria embromar e<br />
da palavra bromatologia.<br />
Conhecendo esses significados, você<br />
elimina todas as alternativas erradas: a, c, d<br />
e e.<br />
Você poderá ter dúvida quanto à<br />
alternativa c, que também será eliminada se<br />
souber o significado da palavra lactologia,<br />
que é o estudo do leite e produtos lácteos e<br />
não das embalagens para leite.<br />
Nesta questão, são trabalhados os<br />
conceitos de interpretação de texto, formação<br />
de palavras e conhecimentos gerais.<br />
Comentário do INEP<br />
A resolução da questão requeria que o<br />
participante, ao ler o texto vinculasse o<br />
significado de um termo de gíria -<br />
"embromação" - com o da palavra<br />
bromatologia. A resposta correta exigia que o<br />
participante não abrisse mão do sabor<br />
picante contido na linguagem metafórica,<br />
sabor vinculado ao conhecimento específico<br />
contido na palavra bromatologia. Cerca da<br />
metade dos participantes (51%) optou pela<br />
alternativa correta e, os 20% que escolheram<br />
a alternativa C, provavelmente associaram a<br />
referência feita no texto à leite em pacote.<br />
14) (2008) Os signos visuais, como meios de<br />
comunicação, são classificados em<br />
categorias de acordo com seus<br />
significados.<br />
A categoria denominada indício<br />
corresponde aos signos visuais que têm<br />
origem em formas ou situações naturais<br />
ou casuais, as quais, devido à ocorrência<br />
em circunstâncias idênticas, muitas vezes<br />
repetidas, indicam algo e adquirem<br />
significado. Por exemplo, nuvens negras<br />
indicam tempestade. Com base nesse<br />
conceito, escolha a opção que representa<br />
um signo da categoria dos indícios.<br />
A)<br />
247
B)<br />
C)<br />
D)<br />
Entre os seguintes ditos populares, qual<br />
deles melhor corresponde à figura<br />
acima?<br />
A) Com perseverança, tudo se alcança.<br />
B) Cada macaco no seu galho.<br />
C) Nem tudo que balança cai.<br />
D) Quem tudo quer, tudo perde.<br />
E) Deus ajuda quem cedo madruga.<br />
Comentário<br />
Assim como a questão 37, esta também<br />
envolve interpretação de signos, ou seja, o<br />
aluno precisa estar atento à imagem e<br />
relacioná-la ao dito popular correspondente.<br />
A alternativa "A" é a correta, pois, para<br />
uma lesma “grudenta” e vagarosa conseguir<br />
pular numa cama elástica, é necessária<br />
muita perseverança.<br />
16) (2005) Leia estes textos.<br />
Texto 1<br />
E)<br />
Comentário<br />
Trata-se de uma questão interpretativa. O<br />
aluno precisa entender o que é “indício” para<br />
respondê-la. Segundo o dicionário Aurélio,<br />
indício é o mesmo que “sinal, vestígio,<br />
indicação”. Das figuras apresentadas,<br />
apenas a alternativa B indica algo: a<br />
passagem de alguém por algum lugar —<br />
pegada.<br />
15) (2008)<br />
Texto 2<br />
Sonhar<br />
Mais um sonho impossível<br />
Lutar<br />
Quando é fácil ceder<br />
Vencer o inimigo invencível<br />
Negar quando a regra é vender<br />
Sofrer a tortura implacável<br />
Romper a incabível prisão<br />
Voar num limite improvável<br />
Tocar o inacessível chão<br />
É minha lei, é minha questão<br />
Virar esse mundo<br />
Cravar esse chão<br />
Não me importa saber<br />
Se é terrível demais<br />
Quantas guerras terei que vencer<br />
Por um pouco de paz<br />
E amanhã se esse chão que eu beijei<br />
For meu leito e perdão<br />
Vou saber que valeu delirar<br />
E morrer de paixão<br />
E assim, seja lá como for<br />
Vai ter fim a infinita aflição<br />
E o mundo vai ver uma flor<br />
Brotar do impossível chão.<br />
(J. Darione – M. Leigh – Versão de Chico Buarque de<br />
Hollanda e Ruy Guerra, 1972.)<br />
Exame, 28/9/2007.<br />
248
A tirinha e a canção apresentam uma<br />
reflexão sobre o futuro da humanidade. É<br />
correto concluir que os dois textos<br />
A) afirmam que o homem é capaz de<br />
alcançar a paz.<br />
B) concordam que o desarmamento é<br />
inatingível.<br />
C) julgam que o sonho é um desafio<br />
invencível.<br />
D) têm visões diferentes sobre um<br />
possível mundo melhor.<br />
E) transmitem uma mensagem de<br />
otimismo sobre a paz.<br />
Comentário<br />
Enquanto o primeiro texto é ácido em<br />
relação à possibilidade de desarmamento da<br />
população (ou seja, à criação de uma<br />
sociedade mais pacífica), o segundo mostra<br />
a capacidade que a humanidade tem de crer<br />
e, por isso, tentar fazer até o que a princípio<br />
parece impossível. Para os autores da<br />
canção, nada é intrinsecamente impossível.<br />
A relação entre eles é de oposição:<br />
descrença x crença. Questão de nível de<br />
dificuldade médio.<br />
17) (2000) As histórias em quadrinhos, por<br />
vezes, utilizam animais como<br />
personagens e a eles atribuem<br />
comportamento humano. O gato Garfield<br />
é exemplo desse fato.<br />
C) defende que para ser pintor a pessoa<br />
tem de sofrer.<br />
D) conhece a história de um pintor<br />
famoso e faz uso da ironia.<br />
E) acredita que seu dono tenha tendência<br />
artística e, por isso, faz a sugestão.<br />
Comentário<br />
Outra questão de interpretação de texto.<br />
Muito simples para quem um dia ouviu falar<br />
de Van Gogh, e simplíssima para aqueles<br />
que prestam atenção em todos os elementos<br />
do enunciado. Afinal, quem deu uma<br />
espiadinha na legenda do quadro de Van<br />
Gogh matou na hora a questão.<br />
Esta questão é daquelas rápidas de serem<br />
resolvidas, associando-se os elementos<br />
apresentados.<br />
Comentário do INEP<br />
A significativa maioria (81%) dos<br />
participantes soube perceber o caráter<br />
irônico da fala do Garfield, expressa no<br />
terceiro quadrinho porque, ou conheciam a<br />
história de Van Gogh, ou apropriaram-se<br />
corretamente da informação sobre esse<br />
pintor, fornecida no enunciado.<br />
18) (2004)<br />
Fonte: Caderno Vida e Arte, Jornal do Povo, Fortaleza<br />
Van Gogh, pintor holandês nascido em<br />
1853, é um dos principais nomes da<br />
pintura mundial. É dele o quadro abaixo.<br />
Auto-retrato de orelha cortada<br />
O 3º quadrinho sugere que Garfield:<br />
A) desconhece tudo sobre arte, por isso<br />
faz a sugestão.<br />
B) acredita que todo pintor deve fazer algo<br />
diferente.<br />
A tira "Hagar" e o poema de Alberto<br />
Caeiro (um dos heterônimos de Fernando<br />
Pessoa) expressam, com linguagens<br />
diferentes, uma mesma idéia: a de que a<br />
compreensão que temos do mundo é<br />
condicionada, essencialmente,<br />
A) pelo alcance de cada cultura.<br />
B) pela capacidade visual do observador.<br />
C) pelo senso de humor de cada um.<br />
D) pela idade do observador.<br />
E) pela altura do ponto de observação.<br />
Comentário<br />
Questão reflexiva sobre a forma como<br />
cada cultura vê o mundo sob a ótica dos<br />
limites dados pelos seus costumes e<br />
possibilidades de pensamento inerentes a<br />
cada modelo cultural. A mistura de uma tira e<br />
249
de um poema amplia a possibilidade de<br />
pensamento por trabalhar com linguagens<br />
diferentes. A alternativa correta é a letra A,<br />
pois ambos (tira e poema) utilizam figuras de<br />
linguagem (metáfora e ironia) para expressar<br />
as diferentes visões de mundo.<br />
19) (2002)<br />
250<br />
De acordo com a história em quadrinhos<br />
protagonizada por Hagar e seu filho<br />
Hamlet, pode-se afirmar que a postura de<br />
Hagar<br />
A) valoriza a existência da diversidade<br />
social e de culturas, e as várias<br />
representações e explicações desse<br />
universo.<br />
B) desvaloriza a existência da<br />
diversidade social e as várias culturas,<br />
e determina uma única explicação para<br />
esse universo.<br />
C) valoriza a possibilidade de explicar as<br />
sociedades e as culturas a partir de<br />
várias visões de mundo.<br />
D) valoriza a pluralidade cultural e social<br />
ao aproximar a visão de mundo de<br />
navegantes e não-navegantes.<br />
E) desvaloriza a pluralidade cultural e<br />
social, ao considerar o mundo habitado<br />
apenas pelos navegantes.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Hagar reduz o<br />
mundo a dois tipos de pessoas: navegantes<br />
e não-navegantes. No último quadrinho, diz<br />
que são os navegantes que estabelecem<br />
esses dois grupos. Portanto, quem é<br />
diferente dos navegantes (que estabelecem<br />
o padrão) simplesmente é incluído na massa<br />
única dos não-navegantes. Não importa<br />
quem ou quantos sejam, sua diversidade<br />
social ou cultural em relação aos navegantes<br />
ou entre si. Vemos aí a desvalorização de<br />
outras culturas.<br />
Comentário do INEP<br />
Dentre as habilidades básicas para a<br />
compreensão de um texto destaca-se a<br />
capacidade do leitor de identificar os<br />
pressupostos de cada afirmação que lhe é<br />
apresentada. Nesta questão o participante<br />
deve identificar a posição tanto de Hagar<br />
como de seu filho Hamlet e, em seguida,<br />
avaliar quais os argumentos que justificam a<br />
opinião de Hagar ao definir que no mundo só<br />
existem dois tipos de pessoas. A pergunta de<br />
Hamlet a seu pai explicita a importância do<br />
ato de narrar através do diálogo e do efeito<br />
humorístico contido no episódio representado<br />
na tira. O resultado da compreensão<br />
acertada do diálogo é que o narrador torna<br />
inteligível, para si e para os outros, a lógica<br />
do seu pensamento através do diálogo entre<br />
os dois personagens. É importante observar<br />
que o humor do personagem Hagar é<br />
identificado na postura simetricamente<br />
oposta à de Michel de Montaigne, por<br />
exemplo (ver questão 58): a sua visão de<br />
mundo apresenta-se autocentrada, isto é,<br />
centrada nos seus próprios valores (vikings).<br />
A habilidade requerida do participante nessa<br />
questão, qual seja, "valorizar a diversidade<br />
dos patrimônios etnoculturais", é mobilizada<br />
aqui na sua dimensão negativa: é criticando<br />
a postura chauvinista de Hagar que o<br />
participante é capaz de responder<br />
corretamente a questão. A última alternativa<br />
(E) funciona como um distrator, pois neste<br />
caso não está suposta a crítica do discurso<br />
do personagem. Cerca de um terço dos<br />
participantes assinalou a alternativa correta<br />
B. As demais opções são devidas,<br />
possivelmente, a uma leitura pouco<br />
compreensiva das alternativas associadas a<br />
história em quadrinhos.<br />
COMPETÊNCIA DE ÁREA 6<br />
H18 - Identificar os elementos<br />
que concorrem para a<br />
progressão temática e para a<br />
organização e estruturação de<br />
textos de diferentes gêneros e<br />
tipos.<br />
01) (2001) O mundo é grande<br />
O mundo é grande e cabe<br />
Nesta janela sobre o mar.<br />
O mar é grande e cabe<br />
Na cama e no colchão de amar.<br />
O amor é grande e cabe<br />
No breve espaço de beijar.<br />
ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e prosa.<br />
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983.<br />
Neste poema, o poeta realizou uma opção<br />
estilística: a reiteração de determinadas<br />
construções e expressões lingüísticas,<br />
como o uso da mesma conjunção para
estabelecer a relação entre as frases.<br />
Essa conjunção estabelece, entre as<br />
idéias relacionadas, um sentido de<br />
A) oposição.<br />
B) comparação.<br />
C) conclusão.<br />
D) alternância.<br />
E) finalidade.<br />
Comentário<br />
Há três elementos repetidos neste trecho:<br />
o verbo ser, o artigo definido o e a conjunção<br />
aditiva e. A conjunção e estabelece uma<br />
relação entre idéias que, concretamente, são<br />
opostas (ex.: "O mundo é grande e cabe<br />
nesta janela sobre o mar"). A alternativa<br />
correta é a letra A.<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão apresenta, para leitura e<br />
análise, o poema "O mundo é grande", onde<br />
os recursos lingüísticos expressivos<br />
utilizados geram um efeito de oposição entre<br />
as idéias. A análise sintático-semântica é<br />
necessária para a compreensão do valor de<br />
oposição assumido pela conjunção "e":<br />
imagens justapostas estão relacionadas,<br />
contrapondo-se em planos diferentes. Um<br />
percentual significativo (46%) de<br />
participantes considerou que o valor da<br />
conjunção "e", nesse poema, é de<br />
comparação, o que não reflete o sentido<br />
estilístico proposto pelo poeta, mas<br />
corresponde apenas à primeira operação que<br />
se realiza para estabelecer o sentido de<br />
oposição. De maneira análoga, pode-se<br />
analisar os equívocos daqueles que optaram<br />
pelas alternativas C e D.<br />
02) (1999) SONETO DE FIDELIDADE<br />
De tudo, ao meu amor serei atento<br />
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto<br />
Que mesmo em face do maior encanto<br />
Dele se encante mais meu pensamento.<br />
Quero vivê-lo em cada vão momento<br />
E em seu louvor hei de espalhar meu<br />
canto<br />
E rir meu riso e derramar meu pranto<br />
Ao seu pesar ou seu contentamento.<br />
E assim, quando mais tarde me procure<br />
Quem sabe a morte, angústia de quem<br />
vive<br />
Quem sabe a solidão, fim de quem ama.<br />
Eu possa dizer do meu amor (que tive):<br />
Que não seja imortal, posto que é chama<br />
Mas que seja infinito enquanto dure.<br />
(MORAES, Vinícius de. Antologia poética. São Paulo: Cia<br />
das Letras, 1992).<br />
A palavra mesmo pode assumir diferentes<br />
significados, de acordo com a sua função<br />
na frase. Assinale a alternativa em que o<br />
sentido de mesmo equivale ao que se<br />
verifica no 3º verso da 1ª estrofe do<br />
poema de Vinícius de Moraes.<br />
A) "Pai, para onde fores, / irei também<br />
trilhando as mesmas ruas..." (Augusto<br />
dos Anjos)<br />
B) "Agora, como outrora, há aqui o<br />
mesmo contraste da vida interior, que<br />
é modesta, com a exterior, que é<br />
ruidosa." (Machado de Assis)<br />
C) "Havia o mal, profundo e persistente,<br />
para o qual o remédio não surtiu efeito,<br />
mesmo em doses variáveis."<br />
(Raimundo Faoro)<br />
D) "Mas, olhe cá, Mana Glória, há<br />
mesmo necessidade de fazê-lo<br />
padre?" (Machado de Assis)<br />
E) "Vamos de qualquer maneira, mas<br />
vamos mesmo." (Aurélio)<br />
Comentário<br />
Nessa questão, uma pequena análise<br />
sintática se faz necessária: mesmo, em<br />
ambos os casos, é conjunção subordinativa<br />
concessiva, introduzindo, portanto, uma<br />
oração subordinada cujo fato expresso é<br />
contrário ao da oração principal. Deve-se,<br />
então, recorrer à oração anterior para se ter<br />
certeza quanto à classificação. Grau<br />
moderado de dificuldade.<br />
Comentário do INEP<br />
Este problema buscou colocar o<br />
participante diante de uma situação que<br />
exigia a mobilização de seus mecanismos de<br />
reflexão sobre os processos lingüísticos em<br />
que um significante (uma palavra) assume<br />
diferentes significados, no enunciado, de<br />
acordo com a intenção do enunciador. Neste<br />
caso, além da compreensão da<br />
transformação de significado, é necessária a<br />
alteração de função morfossintática.<br />
Verifica-se que 62% dos participantes<br />
conseguiram identificar e analisar esse<br />
processo lingüístico, comparando a função<br />
do significante em diferentes enunciados.<br />
Isso demonstrou um domínio parcial da<br />
reflexão sobre a Língua Portuguesa, em<br />
diferentes contextos e textos.<br />
Os 18% dos participantes que<br />
assinalaram a alternativa B identificaram a<br />
diferença de significados mas,<br />
provavelmente, têm dificuldades em analisar<br />
estas mudanças em nível morfossintático<br />
(alternativa B).<br />
251
03) ( 2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />
poema.<br />
A DANÇA E A ALMA<br />
A DANÇA? Não é movimento,<br />
súbito gesto musical.<br />
É concentração, num momento,<br />
da humana graça natural.<br />
No solo não, no éter pairamos,<br />
nele amaríamos ficar.<br />
A dança – não vento nos ramos:<br />
seiva, força, perene estar.<br />
Um estar entre céu e chão,<br />
novo domínio conquistado,<br />
onde busque nossa paixão<br />
libertar-se por todo lado...<br />
Onde a alma possa descrever<br />
suas mais divinas parábolas<br />
sem fugir à forma do ser,<br />
por sobre o mistério das fábulas.<br />
(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />
Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />
A definição de dança, em linguagem de<br />
dicionário, que mais se aproxima do que<br />
está expresso no poema é<br />
A) a mais antiga das artes, servindo como<br />
elemento de comunicação e afirmação<br />
do homem em todos os momentos de<br />
sua existência.<br />
B) a forma de expressão corporal que<br />
ultrapassa os limites físicos,<br />
possibilitando ao homem a liberação de<br />
seu espírito.<br />
C) a manifestação do ser humano,<br />
formada por uma seqüência de gestos,<br />
passos e movimentos desconcertados.<br />
D) o conjunto organizado de movimentos<br />
do corpo, com ritmo determinado por<br />
instrumentos musicais, ruídos, cantos,<br />
emoções etc.<br />
E) o movimento diretamente ligado ao<br />
psiquismo do indivíduo e, por<br />
conseqüência, ao seu desenvolvimento<br />
intelectual e à sua cultura.<br />
Comentário<br />
A pergunta busca a aplicação do conceito<br />
de "estado de dicionário" (que também foi<br />
desenvolvido por Drummond no poema "A<br />
Procura da Poesia"). A literatura busca partir<br />
de palavras em estado de dicionário para,<br />
pelo aprofundamento do sentido delas, criar<br />
um mundo mais denso e particular. Em<br />
estado de dicionário, a dança, conforme é<br />
tratada nesse poema, apareceria na<br />
alternativa B: uma justaposição entre<br />
aspectos físicos e espirituais da expressão<br />
humana. Questão complexa.<br />
04) (2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />
poema.<br />
A DANÇA E A ALMA<br />
A DANÇA? Não é movimento,<br />
súbito gesto musical.<br />
É concentração, num momento,<br />
da humana graça natural.<br />
No solo não, no éter pairamos,<br />
nele amaríamos ficar.<br />
A dança – não vento nos ramos:<br />
seiva, força, perene estar.<br />
Um estar entre céu e chão,<br />
novo domínio conquistado,<br />
onde busque nossa paixão<br />
libertar-se por todo lado...<br />
Onde a alma possa descrever<br />
suas mais divinas parábolas<br />
sem fugir à forma do ser,<br />
por sobre o mistério das fábulas.<br />
(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />
Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />
O poema “A Dança e a Alma” é construído<br />
com base em contrastes, como<br />
“movimento” e “concentração”. Em uma<br />
das estrofes, o termo que estabelece<br />
contraste com solo é:<br />
A) éter. D) paixão.<br />
B) seiva. E) ser.<br />
C) chão.<br />
Comentário<br />
O elemento que contrasta com "solo"<br />
(físico, tangível, perene) é "éter" (espiritual,<br />
intangível, volátil). Questão de nível médio de<br />
dificuldade.<br />
05) ( 2008) O surgimento da figura da Ema<br />
no céu, ao leste, no anoitecer, na segunda<br />
quinzena de junho, indica o início do<br />
inverno para os índios do sul do Brasil e o<br />
começo da estação seca para os do norte.<br />
É limitada pelas constelações de<br />
Escorpião e do Cruzeiro do Sul, ou<br />
Cut'uxu. Segundo o mito guarani, o<br />
Cut’uxu segura a cabeça da ave para<br />
garantir a vida na Terra, porque, se ela se<br />
soltar, beberá toda a água do nosso<br />
planeta. Os tupisguaranis utilizam o<br />
Cut'uxu para se orientar e determinar a<br />
duração das noites e as estações do ano.<br />
A ilustração a seguir é uma representação<br />
dos corpos celestes que constituem a<br />
constelação da Ema, na percepção<br />
indígena.<br />
252
Almanaque BRASIL, maio/2007 (com adaptações).<br />
A próxima figura mostra, em campo de<br />
visão ampliado, como povos de culturas<br />
não-indígenas percebem o espaço estelar<br />
em que a Ema é vista.<br />
Internet: (com adaptações).<br />
Assinale a opção correta a respeito da<br />
linguagem empregada no texto A Ema.<br />
A) A palavra Cut’uxu é um regionalismo<br />
utilizado pelas populações próximas às<br />
aldeias indígenas.<br />
B) O autor se expressa em linguagem<br />
formal em todos os períodos do texto.<br />
C) A ausência da palavra Ema no início do<br />
período “É limitada (...)” caracteriza<br />
registro oral.<br />
D) A palavra Cut’uxu está destacada em<br />
itálico porque integra o vocabulário da<br />
linguagem informal.<br />
E) No texto, predomina a linguagem<br />
coloquial porque ele consta de um<br />
almanaque.<br />
Comentário<br />
A questão é simples, mas requer cuidados<br />
quanto aos conceitos de linguagem<br />
“informal”, “formal” e de “língua”. Se o aluno<br />
tiver noção desses conceitos,<br />
chegará facilmente à resposta. A linguagem<br />
formal ou culta prevalece no texto, e o termo<br />
“Cut’uxu’ não é um termo informal, mas, sim,<br />
uma expressão que pertence a uma língua<br />
indígena — o que justifica o emprego da<br />
palavra em itálico. A resposta correta é,<br />
portanto, a letra "B".<br />
06) (2008) Calcula-se que 78% do<br />
desmatamento na Amazônia tenha sido<br />
motivado pela pecuária — cerca de 35%<br />
do rebanho nacional está na região — e<br />
que pelo menos 50 milhões de hectares<br />
de pastos são pouco produtivos. Enquanto<br />
o custo médio para aumentar a<br />
produtividade de 1 hectare de pastagem é<br />
de 2 mil reais, o custo para derrubar igual<br />
área de floresta é estimado em 800 reais,<br />
o que estimula novos desmatamentos.<br />
Adicionalmente, madeireiras retiram as<br />
árvores de valor comercial que foram<br />
abatidas para a criação de pastagens. Os<br />
pecuaristas sabem que problemas<br />
ambientais como esses podem provocar<br />
restrições à pecuária nessas áreas, a<br />
exemplo do que ocorreu em 2006 com o<br />
plantio da soja, o qual, posteriormente, foi<br />
proibido em áreas de floresta.<br />
Época, 3/3/2008 e 9/6/2008 (com adaptações).<br />
A partir da situação-problema descrita,<br />
conclui-se que<br />
A) o desmatamento na Amazônia decorre<br />
principalmente da exploração ilegal de<br />
árvores de valor comercial.<br />
B) um dos problemas que os pecuaristas<br />
vêm enfrentando na Amazônia é a<br />
proibição do plantio de soja.<br />
C) a mobilização de máquinas e de força<br />
humana torna o desmatamento mais<br />
caro que o aumento da produtividade<br />
de pastagens.<br />
D) o superavit comercial decorrente da<br />
exportação de carne produzida na<br />
Amazônia compensa a possível<br />
degradação ambiental.<br />
E) a recuperação de áreas desmatadas<br />
e o aumento de produtividade das<br />
pastagens podem contribuir para a<br />
redução do desmatamento na<br />
Amazônia.<br />
Comentário do portal<br />
Essa questão retrata o problema do<br />
desmatamento da Amazônia, relacionado<br />
principalmente com o desenvolvimento da<br />
pecuária na região. Para resolvê-la, foram<br />
necessários a leitura atenta do texto e o<br />
conhecimento sobre os problemas<br />
ambientais da atualidade. A alternativa<br />
correta é a letra E, pois é mais caro para os<br />
pecuaristas aumentar a produtividade do que<br />
as áreas de pasto, o que acarreta o aumento<br />
do desmatamento da Amazônia.<br />
253
07) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />
preciso, além de conhecer o padrão<br />
formal da Língua Portuguesa, saber<br />
adequar o uso da linguagem ao contexto<br />
discursivo. Para exemplificar este fato,<br />
seu professor de Língua Portuguesa<br />
convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />
Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />
brinca com situações de discurso oral que<br />
fogem à expectativa do ouvinte.<br />
Aí, Galera<br />
Jogadores de futebol podem ser<br />
vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />
você pode imaginar um jogador de futebol<br />
dizendo "estereotipação"? E, no<br />
entanto, por que não?<br />
- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />
galera.<br />
- Minha saudação aos aficionados do<br />
clube e aos demais esportistas, aqui<br />
presentes ou no recesso dos seus lares.<br />
- Como é?<br />
- Aí, galera.<br />
- Quais são as instruções do técnico?<br />
- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />
trabalho de contenção coordenada, com<br />
energia otimizada, na zona de<br />
preparação, aumentam as<br />
probabilidades de, recuperado o<br />
esférico, concatenarmos um contragolpe<br />
agudo com parcimônia de meios e<br />
extrema objetividade, valendo-nos da<br />
desestruturação momentânea do<br />
sistema oposto, surpreendido pela<br />
reversão inesperada do fluxo da ação:<br />
- Ahn?<br />
- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />
pegá eles sem calça.<br />
- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />
coisa?<br />
- Posso dirigir uma mensagem de<br />
caráter sentimental, algo banal, talvez<br />
mesmo previsível e piegas, a uma<br />
pessoa à qual sou ligado por razões,<br />
inclusive, genéticas?<br />
- Pode.<br />
- Uma saudação para a minha<br />
progenitora.<br />
- Como é?<br />
- Alô, mamãe!<br />
- Estou vendo que você é um, um...<br />
- Um jogador que confunde o<br />
entrevistador, pois não corresponde à<br />
expectativa de que o atleta seja um ser<br />
algo primitivo com dificuldade de<br />
expressão e assim sabota a<br />
estereotipação?<br />
- Estereoquê?<br />
254<br />
- Um chato?<br />
- Isso.<br />
Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />
O texto retrata duas situações<br />
relacionadas que fogem à expectativa do<br />
público. São elas:<br />
A) a saudação do jogador aos fãs do<br />
clube, no início da entrevista, e a<br />
saudação final dirigida à sua mãe.<br />
B) a linguagem muito formal do jogador,<br />
inadequada à situação da entrevista, e<br />
um jogador que fala, com desenvoltura,<br />
de modo muito rebuscado.<br />
C) o uso da expressão "galera", por parte<br />
do entrevistador, e da expressão<br />
"progenitora", por parte do jogador.<br />
D) o desconhecimento, por parte do<br />
entrevistador, da palavra<br />
"estereotipação", e a fala do jogador<br />
em "é pra dividir no meio e ir pra cima<br />
pra pegá eles sem calça".<br />
E) o fato de os jogadores de futebol serem<br />
vítimas de estereotipação e o jogador<br />
entrevistado não corresponder ao<br />
estereótipo.<br />
Comentário<br />
Quando pensamos em certas profissões,<br />
imaginamos qual seria o padrão de<br />
comportamento de quem as exerce. O texto<br />
está trabalhando uma divergência entre o<br />
que esperamos de um jogador de futebol (o<br />
estereótipo que temos dele) e um jogador<br />
que não se enquadra em nossas<br />
expectativas. Levando isso em consideração,<br />
as duas coisas que destoam do que<br />
esperamos encontrar nessa situação são: 1)<br />
alguém, ao dar uma entrevista de alto<br />
alcance popular, fala de maneira<br />
extremamente rebuscada; 2) um jogador que,<br />
ao falar de maneira rebuscada, acaba por<br />
fugir do estereótipo do jogador de futebol, de<br />
quem sempre é esperado algo menos<br />
rebuscado e mais popular.<br />
08) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />
preciso, além de conhecer o padrão<br />
formal da Língua Portuguesa, saber<br />
adequar o uso da linguagem ao contexto<br />
discursivo. Para exemplificar este fato,<br />
seu professor de Língua Portuguesa<br />
convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />
Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />
brinca com situações de discurso oral que<br />
fogem à expectativa do ouvinte.
Aí, Galera<br />
Jogadores de futebol podem ser<br />
vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />
você pode imaginar um jogador de futebol<br />
dizendo "estereotipação"? E, no<br />
entanto, por que não?<br />
- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />
galera.<br />
- Minha saudação aos aficionados do<br />
clube e aos demais esportistas, aqui<br />
presentes ou no recesso dos seus lares.<br />
- Como é?<br />
- Aí, galera.<br />
- Quais são as instruções do técnico?<br />
- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />
trabalho de contenção coordenada, com<br />
energia otimizada, na zona de<br />
preparação, aumentam as<br />
probabilidades de, recuperado o<br />
esférico, concatenarmos um contragolpe<br />
agudo com parcimônia de meios e<br />
extrema objetividade, valendo-nos da<br />
desestruturação momentânea do<br />
sistema oposto, surpreendido pela<br />
reversão inesperada do fluxo da ação:<br />
- Ahn?<br />
- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />
pegá eles sem calça.<br />
- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />
coisa?<br />
- Posso dirigir uma mensagem de<br />
caráter sentimental, algo banal, talvez<br />
mesmo previsível e piegas, a uma<br />
pessoa à qual sou ligado por razões,<br />
inclusive, genéticas?<br />
- Pode.<br />
- Uma saudação para a minha<br />
progenitora.<br />
- Como é?<br />
- Alô, mamãe!<br />
- Estou vendo que você é um, um...<br />
- Um jogador que confunde o<br />
entrevistador, pois não corresponde à<br />
expectativa de que o atleta seja um ser<br />
algo primitivo com dificuldade de<br />
expressão e assim sabota a<br />
estereotipação?<br />
- Estereoquê?<br />
- Um chato?<br />
- Isso.<br />
Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />
O texto mostra uma situação em que a<br />
linguagem usada é inadequada ao<br />
contexto. Considerando as diferenças<br />
entre língua oral e língua escrita, assinale<br />
a opção que representa também uma<br />
inadequação da linguagem usada ao<br />
contexto:<br />
A) "o carro bateu e capotô, mas num deu<br />
pra vê direito" - um pedestre que<br />
assistiu ao acidente comenta com o<br />
outro que vai passando.<br />
B) "E aí, ô meu! Como vai essa força?" -<br />
um jovem que fala para um amigo.<br />
C) "Só um instante, por favor. Eu<br />
gostaria de fazer uma observação" -<br />
alguém comenta em uma reunião de<br />
trabalho.<br />
D) "Venho manifestar meu interesse em<br />
candidatar-me ao cargo de Secretária<br />
Executiva desta conceituada empresa"<br />
- alguém que escreve uma carta<br />
candidatando-se a um emprego.<br />
E) "Porque se a gente não resolve as<br />
coisas como têm que ser, a gente corre<br />
o risco de termos, num futuro próximo,<br />
muito pouca comida nos lares<br />
brasileiros" - um professor universitário<br />
em um congresso internacional.<br />
Comentário<br />
Essa questão está trabalhando com as<br />
nossas expectativas. Esperamos encontrar,<br />
nas diferentes situações, linguagens que<br />
correspondam à formalidade (ou à<br />
informalidade) delas. Na alternativa E, como<br />
o professor universitário está falando em um<br />
congresso internacional, espera-se que ele<br />
utilize uma linguagem mais formal e não uma<br />
linguagem coloquial como a que usou. Em<br />
todas as outras situações, a linguagem está<br />
de acordo com a situação em que está sendo<br />
empregada.<br />
09) (2006) Depois de um bom jantar: feijão<br />
com carne-seca, orelha de porco e couve<br />
com angu, arroz-mole engordurado, carne<br />
de vento assada no espeto, torresmo<br />
enxuto de toicinho da barriga, viradinho de<br />
milho verde e um prato de caldo de couve,<br />
jantar encerrado por um prato fundo de<br />
canjica com torrões de açúcar, Nhô Tomé<br />
saboreou o café forte e se estendeu na<br />
rede. A mão direita sob a cabeça, à guisa<br />
de travesseiro, o indefectível cigarro de<br />
palha entre as pontas do indicador e do<br />
polegar, envernizados pela fumaça, de<br />
unhas encanoadas e longas, ficou-se de<br />
pança para o ar, modorrento, a olhar para<br />
as ripas do telhado.<br />
Quem come e não deita, a comida não<br />
aproveita, pensava Nhô Tomé... E pôs-se<br />
a cochilar. A sua modorra durou pouco;<br />
Tia Policena, ao passar pela sala, bradou<br />
assombrada:<br />
— Êêh! Sinhô! Vai drumi agora? Não!<br />
255
Num presta... Dá pisadêra e póde morrê<br />
de ataque de cabeça! Despois do armoço<br />
num far-má... mais despois da janta?!”<br />
Cornélio Pires. Conversas ao pé do fogo. São Paulo:<br />
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1987.<br />
Nesse trecho, extraído de texto publicado<br />
originalmente em 1921, o narrador<br />
A) apresenta, sem explicitar juízos de<br />
valor, costumes da epoca, descrevendo<br />
os pratos servidos no jantar e a atitude<br />
de Nhô Tomé e de Tia Policena.<br />
B) desvaloriza a norma culta da língua<br />
porque incorpora à narrativa usos<br />
próprios da linguagem regional das<br />
personagens.<br />
C) condena os hábitos descritos, dando<br />
voz a Tia Policena, que tenta impedir<br />
Nhô Tomé de deitar-se após as<br />
refeições.<br />
D) utiliza a diversidade sociocultural e<br />
lingüística para demonstrar seu<br />
desrespeito às populações das zonas<br />
rurais do início do século XX.<br />
E) manifesta preconceito em relação a Tia<br />
Policena ao transcrever a fala dela com<br />
os erros próprios da região.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil, pois a alternativa<br />
"A" deixa clara a intencionalidade do<br />
narrador. Entretanto, o aluno poderia optar<br />
pela alternativa "B" caso não desse o devido<br />
valor ao sentido da palavra “desvaloriza”, que<br />
a elimina.<br />
<strong>10</strong>) (2007) Texto I<br />
Agora Fabiano conseguia arranjar as<br />
idéias. O que o segurava era a família.<br />
Vivia preso como um novilho amarrado ao<br />
mourão, suportando ferro quente. Se não<br />
fosse isso, um soldado amarelo não lhe<br />
pisava o pé não. (...) Tinha aqueles<br />
cambões pendurados ao pescoço.<br />
Deveria continuar a arrastá-los? Sinha<br />
Vitória dormia mal na cama de varas. Os<br />
meninos eram uns brutos, como o pai.<br />
Quando crescessem, guardariam as reses<br />
de um patrão invisível, seriam pisados,<br />
maltratados, machucados por um soldado<br />
amarelo.<br />
Graciliano Ramos. Vidas Secas. São Paulo:<br />
Martins, 23.ª ed., 1969, p. 75.<br />
Texto II<br />
Para Graciliano, o roceiro pobre é um<br />
outro, enigmático, impermeável. Não há<br />
solução fácil para uma tentativa de<br />
incorporação dessa figura no campo da<br />
ficção. É lidando com o impasse, ao invés<br />
de fáceis soluções, que Graciliano vai<br />
criar Vidas Secas, elaborando uma<br />
linguagem, uma estrutura romanesca,<br />
uma constituição de narrador em que<br />
narrador e criaturas se tocam, mas não se<br />
identificam. Em grande medida, o debate<br />
acontece porque, para a intelectualidade<br />
brasileira naquele momento, o pobre, a<br />
despeito de aparecer idealizado em certos<br />
aspectos, ainda é visto como um ser<br />
humano de segunda categoria, simples<br />
demais, incapaz de ter pensamentos<br />
demasiadamente complexos. O que Vidas<br />
Secas faz é, com pretenso não<br />
envolvimento da voz que controla a<br />
narrativa, dar conta de uma riqueza<br />
humana de que essas pessoas seriam<br />
plenamente capazes.<br />
Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes. In:<br />
Teresa. São Paulo: USP, n.° 2, 2001, p. 254.<br />
No texto II, verifica-se que o autor utiliza<br />
A) linguagem predominantemente<br />
formal, para problematizar, na<br />
composição de Vidas Secas, a relação<br />
entre o escritor e o personagem<br />
popular.<br />
B) linguagem inovadora, visto que, sem<br />
abandonar a linguagem formal, dirigese<br />
diretamente ao leitor.<br />
C) linguagem coloquial, para narrar<br />
coerentemente uma história que<br />
apresenta o roceiro pobre de forma<br />
pitoresca.<br />
D) linguagem formal com recursos<br />
retóricos próprios do texto literário em<br />
prosa, para analisar determinado<br />
momento da literatura brasileira.<br />
E) linguagem regionalista, para transmitir<br />
informações sobre literatura, valendose<br />
de coloquialismo, para facilitar o<br />
entendimento do texto.<br />
Comentário<br />
Questão de nível médio. Algumas<br />
alternativas poderiam levar o candidato a<br />
pensar que o texto de Vidas Secas utiliza<br />
uma linguagem predominantemente coloquial<br />
e regionalista. Entretanto, é na alternativa A<br />
que se encontra o real estilo da linguagem<br />
utilizada por Graciliano Ramos. A linguagem<br />
é, portanto, predominantemente formal e<br />
problematiza a relação do escritor com o<br />
personagem popular. Esta acaba sendo uma<br />
das grandes características do autor, pois ele<br />
buscava sempre dar uma grande densidade<br />
psicológica aos seus romances.<br />
256
11) (2006) Aula de português<br />
Explorando a função emotiva da<br />
linguagem, o poeta expressa o contraste<br />
entre marcas de variação de usos da<br />
linguagem em<br />
A) situações formais e informais.<br />
B) diferentes regiões do país.<br />
C) escolas literárias distintas.<br />
D) textos técnicos e poéticos.<br />
E) diferentes épocas.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil, pois o próprio título<br />
nos dá uma noção da dificuldade de<br />
transformar a linguagem coloquial e de uso<br />
cotidiano em uma linguagem formal,<br />
expressa no poema como “a misteriosa”.<br />
Drummond foi muito feliz em conseguir<br />
demonstrar a dificuldade em entender como<br />
estruturas simples da língua se tornam tão<br />
complexas ao se iniciar o processo de<br />
compreensão da estrutura lingüística.<br />
12) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />
preciso, além de conhecer o padrão<br />
formal da Língua Portuguesa, saber<br />
adequar o uso da linguagem ao contexto<br />
discursivo. Para exemplificar este fato,<br />
seu professor de Língua Portuguesa<br />
convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />
Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />
brinca com situações de discurso oral que<br />
fogem à expectativa do ouvinte.<br />
Aí, Galera<br />
Jogadores de futebol podem ser<br />
vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />
você pode imaginar um jogador de futebol<br />
dizendo "estereotipação"? E, no<br />
entanto, por que não?<br />
- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />
galera.<br />
- Minha saudação aos aficionados do<br />
clube e aos demais esportistas, aqui<br />
presentes ou no recesso dos seus lares.<br />
- Como é?<br />
- Aí, galera.<br />
- Quais são as instruções do técnico?<br />
- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />
trabalho de contenção coordenada, com<br />
energia otimizada, na zona de<br />
preparação, aumentam as<br />
probabilidades de, recuperado o<br />
esférico, concatenarmos um contragolpe<br />
agudo com parcimônia de meios e<br />
extrema objetividade, valendo-nos da<br />
desestruturação momentânea do<br />
sistema oposto, surpreendido pela<br />
reversão inesperada do fluxo da ação:<br />
- Ahn?<br />
- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />
pegá eles sem calça.<br />
- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />
coisa?<br />
- Posso dirigir uma mensagem de<br />
caráter sentimental, algo banal, talvez<br />
mesmo previsível e piegas, a uma<br />
pessoa à qual sou ligado por razões,<br />
inclusive, genéticas?<br />
- Pode.<br />
- Uma saudação para a minha<br />
progenitora.<br />
- Como é?<br />
- Alô, mamãe!<br />
- Estou vendo que você é um, um...<br />
- Um jogador que confunde o<br />
entrevistador, pois não corresponde à<br />
expectativa de que o atleta seja um ser<br />
algo primitivo com dificuldade de<br />
expressão e assim sabota a<br />
estereotipação?<br />
- Estereoquê?<br />
- Um chato?<br />
- Isso.<br />
Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />
A expressão "pegá eles sem calça"<br />
poderia ser substituída, sem<br />
comprometimento de sentido, em língua<br />
culta, formal, por:<br />
A) pegá-los na mentira.<br />
B) pegá-los desprevenidos.<br />
257
C) pegá-los em flagrante.<br />
D) pegá-los rapidamente.<br />
E) pegá-los momentaneamente<br />
Comentário<br />
O trabalho que temos aqui é de<br />
compreensão de sentido. Se você nunca<br />
ouviu a expressão "de calças na mão", terá<br />
de imaginar o que acontece quando<br />
pegamos alguém nessa situação. Mas isso<br />
não basta. Se usar somente situações que<br />
pode imaginar, restarão as alternativas B e<br />
C. Esse problema só será solucionado se<br />
você entender bem o texto a que ele se<br />
refere. Como o jogador está falando em<br />
roubar a bola e partir para cima do adversário<br />
rapidamente, imagina-se que o adversário<br />
não esperava perder a bola naquele<br />
momento e, quando isso ocorreu, ele não<br />
estava preparado para receber um contraataque.<br />
Utilizando essa análise, somente a<br />
alternativa B está correta.<br />
13) (2000) Em uma conversa ou leitura de<br />
um texto, corre-se o risco de atribuir um<br />
significado inadequado a um termo ou<br />
expressão, e isso pode levar a certos<br />
resultados inesperados, como se vê nos<br />
quadrinhos abaixo.<br />
(SOUZA, Maurício de. Chico Bento.<br />
Rio de Janeiro: Ed. Globo, n o 335, Nov./99 )<br />
Nessa historinha, o efeito humorístico<br />
origina-se de uma situação criada pela<br />
fala da Rosinha no primeiro quadrinho,<br />
que é:<br />
A) Faz uma pose bonita!<br />
B) Quer tirar um retrato?<br />
C) Sua barriga está aparecendo!<br />
D) Olha o passarinho!<br />
E) Cuidado com o flash!<br />
Comentário<br />
Quem não se lembra de expressões<br />
humorísticas usadas quando se deseja tirar<br />
uma foto, como "Olha o passarinho" ou "Fale<br />
xis"?<br />
Pois é, essa é uma questão fácil e a<br />
interpretação do texto é simples, e não há<br />
por que ter dúvidas quanto à resposta, a não<br />
ser que não se leia a proposta da questão.<br />
258<br />
Comentário do INEP<br />
Essa questão procurou avaliar se o<br />
participante conseguia inferir, a partir de uma<br />
seqüência narrativa de imagens, a expressão<br />
lingüística adequada à situação de<br />
interlocução, no caso a fala da personagem,<br />
no primeiro quadrinho. A expressão de uso<br />
coloquial 'olha o passarinho!', dependendo do<br />
contexto, tem diferentes significados, que<br />
nesse caso foram associados pelo cartunista<br />
para produzir o efeito de humor. A grande<br />
maioria - 89% - dos participantes realizou a<br />
inferência solicitada, analisando a função da<br />
linguagem e identificando a variante<br />
lingüística adequada à situação de<br />
interlocução, com base na leitura da<br />
seqüência das imagens e da fala da<br />
personagem no terceiro quadrinho. É<br />
interessante notar a abrangência dessa<br />
expressão metafórica no Brasil, criada no<br />
contexto informal da fala com seus<br />
significados correspondentes. Mesmo assim,<br />
11% dos participantes, possivelmente,<br />
desconhecem essa expressão ou não<br />
conseguiram realizar a transposição do<br />
significado humorístico da fala do último<br />
quadrinho.<br />
14) (2005) Leia com atenção o texto:<br />
[Em Portugal], você poderá ter alguns<br />
probleminhas se entrar numa loja de<br />
roupas desconhecendo certas sutilezas da<br />
língua. Por exemplo, não adianta pedir<br />
para ver os ternos — peça para ver os<br />
fatos. Paletó é casaco. Meias são<br />
peúgas. Suéter é camisola — mas não<br />
se assuste, porque calcinhas femininas<br />
são cuecas. (Não é uma delícia?)<br />
(Ruy Castro. Viaje Bem. Ano VIII, no 3, 78.)<br />
O texto destaca a diferença entre o<br />
português do Brasil e o de Portugal<br />
quanto<br />
A) ao vocabulário.<br />
B) à derivação.<br />
C) à pronúncia.<br />
D) ao gênero.<br />
E) à sintaxe.<br />
Comentário<br />
Questão de entendimento muito fácil, pois<br />
o próprio enunciado deixa claro que se trata<br />
das diferenças de vocabulário entre o<br />
português brasileiro e o lusitano.
15) (2006) Aula de português<br />
No poema, a referência à variedade<br />
padrão da língua está expressa no<br />
seguinte trecho:<br />
A) “A linguagem / na ponta da língua” (v.1<br />
e 2).<br />
B) “A linguagem / na superfície<br />
estrelada de letras” (v.5 e 6).<br />
C) “[a língua] em que pedia para ir lá<br />
fora” (v.14).<br />
D) “[a língua] em que levava e dava<br />
pontapé” (v.15).<br />
E) “[a língua] do namoro com a priminha”<br />
(v.17).<br />
Comentário<br />
Questão fácil, pois a alternativa "B" é a<br />
única que faz menção à norma-padrão da<br />
língua. As demais alternativas fogem a essa<br />
norma.<br />
16) (2008) A Lei Federal n.º 9.985/2000, que<br />
instituiu o sistema nacional de unidades<br />
de conservação, define dois tipos de<br />
áreas protegidas. O primeiro, as unidades<br />
de proteção integral, tem por objetivo<br />
preservar a natureza, admitindo-se<br />
apenas o uso indireto dos seus recursos<br />
naturais, isto é, aquele que não envolve<br />
consumo, coleta, dano ou destruição dos<br />
recursos naturais. O segundo, as<br />
unidades de uso sustentável, tem por<br />
função compatibilizar a conservação da<br />
natureza com o uso sustentável de<br />
parcela dos recursos naturais. Nesse<br />
caso, permite-se a exploração do<br />
ambiente de maneira a garantir a<br />
perenidade dos recursos ambientais<br />
renováveis e dos processos ecológicos,<br />
mantendo-se a biodiversidade e os<br />
demais atributos ecológicos, de forma<br />
socialmente justa e economicamente<br />
viável.<br />
Considerando essas informações, analise<br />
a seguinte situação hipotética.<br />
Ao discutir a aplicação de recursos<br />
disponíveis para o desenvolvimento de<br />
determinada região, organizações civis,<br />
universidade e governo resolveram<br />
investir na utilização de uma unidade de<br />
proteção integral, o Parque Nacional do<br />
Morro do Pindaré, e de uma unidade de<br />
uso sustentável, a Floresta Nacional do<br />
Sabiá. Depois das discussões, a equipe<br />
resolveu levar adiante três projetos:<br />
— o projeto I consiste de pesquisas<br />
científicas embasadas exclusivamente<br />
na observação de animais;<br />
— o projeto II inclui a construção de uma<br />
escola e de um centro de vivência;<br />
— o projeto III promove a organização de<br />
uma comunidade extrativista que<br />
poderá coletar e explorar<br />
comercialmente frutas e sementes<br />
nativas.<br />
Nessa situação hipotética, atendendo-se à<br />
lei mencionada acima, é possível<br />
desenvolver tanto na unidade de proteção<br />
integral quanto na de uso sustentável<br />
A) apenas o projeto I.<br />
B) apenas o projeto III.<br />
C) apenas os projetos I e II.<br />
D) apenas os projetos II e III.<br />
E) todos os três projetos.<br />
Comentário do portal<br />
A alternativa correta é a letra "A", pois,<br />
analisando-se a situação hipotética sugerida<br />
no enunciado, percebe-se que ela deverá<br />
atender os requisitos tanto da unidade de<br />
proteção integral quanto da unidade de uso<br />
sustentável. Portanto, apenas o projeto I<br />
poderá ser desenvolvido nessas duas<br />
propostas de unidades.<br />
259
17) (2006) No romance Vidas Secas, de<br />
Graciliano Ramos, o vaqueiro Fabiano<br />
encontra-se com o patrão para receber o<br />
salário. Eis parte da cena:<br />
Graciliano Ramos. Vidas Secas. 91.ª ed.<br />
Rio de Janeiro: Record, 2003.<br />
No fragmento transcrito, o padrão formal<br />
da linguagem convive com marcas de<br />
regionalismo e de coloquialismo no<br />
vocabulário. Pertence à variedade do<br />
padrão formal da linguagem o seguinte<br />
trecho:<br />
A) Não se conformou: devia haver<br />
engano (l.1).<br />
B) Fabiano perdeu os estribos (l.3).<br />
C) Passar a vida inteira assim no toco<br />
(l.4).<br />
D) Entregando o que era dele de mao<br />
beijada! (l.4-5).<br />
E) Aí Fabiano baixou a pancada e<br />
amunhecou (l.11).<br />
Comentário do portal<br />
Questão de nível fácil. Bastaria que o<br />
candidato conhecesse o padrão formal da<br />
linguagem e distinguisse-o do regionalismo e<br />
do coloquialismo.<br />
18) (2001) Os provérbios constituem um<br />
produto da sabedoria popular e, em geral,<br />
pretendem transmitir um ensinamento. A<br />
alternativa em que os dois provérbios<br />
remetem a ensinamentos semelhantes é:<br />
A) “Quem diz o que quer, ouve o que não<br />
quer” e “Quem ama o feio, bonito lhe<br />
parece”.<br />
B) “Devagar se vai ao longe” e “De grão<br />
em grão, a galinha enche o papo”.<br />
C) “Mais vale um pássaro na mão do que<br />
dois voando” e “Não se deve atirar<br />
pérolas aos porcos”.<br />
D) “Quem casa quer casa” e “Santo de<br />
casa não faz milagre”.<br />
E) “Quem com ferro fere, com ferro será<br />
ferido” e “Casa de ferreiro, espeto de<br />
pau”.<br />
Comentário<br />
Questão fácil. A alternativa B apresenta<br />
dois provérbios que tratam de paciência,<br />
perseverança. A mensagem é a mesma em<br />
ambos.<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão propõe uma série de<br />
provérbios agrupados aos pares, para que o<br />
participante demonstre compreender e<br />
comparar os provérbios de modo a identificar<br />
aqueles que traduzem ensinamentos<br />
semelhantes. A organização sintáticosemântica<br />
dos provérbios cria um efeito de<br />
sentido metafórico que deve ser recuperado,<br />
analisado e comparado, o que foi<br />
corretamente feito por cerca de 80% dos<br />
participantes.<br />
19) (1999)<br />
(QUINO. Mafalda inédita. São Paulo: Martins Fontes, 1993)<br />
Observando as falas das personagens,<br />
analise o emprego do pronome SE e o<br />
sentido que adquire no contexto. No<br />
contexto da narrativa, é correto afirmar<br />
que o pronome SE:<br />
A) em I, indica reflexividade e equivale a<br />
"a si mesmas".<br />
B) em II, indica reciprocidade e equivale a<br />
"a si mesma".<br />
C) em III, indica reciprocidade e equivale<br />
a "umas às outras".<br />
D) em I e III, indica reciprocidade e<br />
equivale a "umas às outras".<br />
E) em II e III, indica reflexividade e<br />
equivale a "a si mesma " e "a si<br />
mesmas", respectivamente.<br />
Comentário<br />
Mais uma questão que fala por si própria.<br />
Lendo o segundo quadrinho — "Quer dizer<br />
que você também se ama muito mais no<br />
Natal?" —, é fácil de se identificar o pronome<br />
reflexivo. Basta que se troque se ama por<br />
ama a si mesma. O mesmo ocorre no<br />
terceiro quadrinho em "Por que será que as<br />
pessoas se amam muito mais no Natal?" —<br />
Por que será que as pessoas amam a si<br />
mesmas? Questão de grau fácil.<br />
260
Comentário do INEP<br />
Este problema requeria que o participante<br />
mobilizasse conhecimentos sobre os<br />
significados de "reciprocidade e<br />
"reflexividade" e o associasse à<br />
compreensão de linguagem iconográfica.<br />
Cerca de metade dos participantes<br />
demonstrou essa capacidade. A opção de<br />
30% dos participantes pela alternativa D<br />
pode indicar que eles utilizaram as imagens<br />
apenas como ilustração do texto e não como<br />
linguagem capaz de instituir novos<br />
significados.<br />
20) (202) "Narizinho correu os olhos pela<br />
assistência. Não podia haver nada mais<br />
curioso. Besourinhos de fraque e flores na<br />
lapela conversavam com baratinhas de<br />
mantilha e miosótis nos cabelos. Abelhas<br />
douradas, verdes e azuis, falavam mal<br />
das vespas de cintura fina — achando que<br />
era exagero usarem coletes tão<br />
apertados. Sardinhas aos centos<br />
criticavam os cuidados excessivos que as<br />
borboletas de toucados de gaze tinham<br />
com o pó das suas asas. Mamangavas de<br />
ferrões amarrados para não morderem. E<br />
canários cantando, e beija-flores beijando<br />
flores, e camarões camaronando, e<br />
caranguejos caranguejando, tudo que é<br />
pequenino e não morde, pequeninando e<br />
não mordendo."<br />
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. São Paulo:<br />
Brasiliense, 1947.<br />
No último período do trecho, há uma série<br />
de verbos no gerúndio que contribuem<br />
para caracterizar o ambiente fantástico<br />
descrito. Expressões como<br />
"camaronando", "caranguejando" e<br />
"pequeninando e não mordendo" criam,<br />
principalmente, efeitos de<br />
A) esvaziamento de sentido.<br />
B) monotonia do ambiente.<br />
C) estaticidade dos animais.<br />
D) interrupção dos movimentos.<br />
E) dinamicidade do cenário.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. O dinamismo dos<br />
verbos no gerúndio tem como função<br />
principal dar vida às personagens do mundo<br />
fantástico. Não há estagnação. Cada animal<br />
faz o que lhe cabe.<br />
Comentário do INEP<br />
Essa questão apresenta para leitura e<br />
análise um trecho da obra Reinações de<br />
Narizinho, de Monteiro Lobato, e, nele, a<br />
descrição reflete as fantasias do mundo<br />
infantil. A questão propõe que seja resolvido<br />
um problema de linguagem, que é a<br />
identificação dos sentidos criados no texto<br />
pelo emprego de vários verbos no gerúndio,<br />
alguns dos quais, neologismos criados pelo<br />
autor. Como o texto é uma descrição, temos<br />
o relato de um ambiente que se agita com as<br />
ações simultâneas dos muitos seres que o<br />
habitam. Cabe ao participante perceber que<br />
o efeito dinâmico é criado pelos verbos de<br />
ação no gerúndio, que é a forma verbal da<br />
ação se fazendo. Ou seja, é função típica do<br />
gerúndio traduzir a noção de uma ação que<br />
se desenvolve de modo simultâneo à sua<br />
enunciação. Nesse ambiente retratado por<br />
Monteiro Lobato, os bichinhos humanizados<br />
se agitam, lembrando um burburinho de<br />
crianças. Apenas a alternativa E, assinalada<br />
por 36% dos participantes, responde<br />
corretamente a questão. As outras<br />
alternativas contemplam efeitos ou<br />
significados que, apesar de eventualmente<br />
serem transmitidos pelo emprego do<br />
gerúndio, não se verificam no texto.<br />
21) (2005) As dimensões continentais do<br />
Brasil são objeto de reflexões expressas<br />
em diferentes linguagens. Esse tema<br />
aparece no seguinte p"Narizinho correu os<br />
olhos pela assistência. Não podia haver nada<br />
mais curioso. Besourinhos de oema:<br />
“(....)<br />
Que importa que uns falem mole<br />
descansado<br />
Que os cariocas arranhem os erres na<br />
garganta<br />
Que os capixabas e paroaras escancarem<br />
as vogais?<br />
Que tem se o quinhentos réis meridional<br />
Vira cinco tostões do Rio pro Norte?<br />
Junto formamos este assombro de<br />
misérias e grandezas,<br />
Brasil, nome de vegetal! (....)”<br />
(Mário de Andrade. Poesias completas. 6. ed. São Paulo:<br />
Martins Editora, 1980.)<br />
O texto poético ora reproduzido trata das<br />
diferenças brasileiras no âmbito<br />
A) étnico e religioso.<br />
B) lingüístico e econômico.<br />
C) racial e folclórico.<br />
D) histórico e geográfico.<br />
E) literário e popular.<br />
261
Comentário<br />
Questão de nível fácil, pois a primeira<br />
estrofe, ao enunciar os erres arranhados dos<br />
cariocas e as vogais abertas dos capixabas,<br />
evidencia a diferença lingüística entre duas<br />
regiões distintas do Brasil, dando noção da<br />
variedade. Já na segunda estrofe, as<br />
diferenças econômicas são evidenciadas ao<br />
se mostrarem os réis e tostões variando da<br />
Região Meridional para a Norte.<br />
22) (2008) Assinale a opção que apresenta<br />
um verso do soneto de Cláudio Manoel da<br />
Costa em que o poeta se dirige ao seu<br />
interlocutor.<br />
A) “Torno a ver-vos, ó montes; o<br />
destino” (v.1)<br />
B) “Aqui estou entre Almendro, entre<br />
Corino,” (v.5)<br />
C) “Os meus fiéis, meus doces<br />
companheiros,” (v.6)<br />
D) “Vendo correr os míseros vaqueiros”<br />
(v.7)<br />
E) “Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto,”<br />
(v.11)<br />
B) “E lembre-se: se você disser uma<br />
mentira, os seus chifres cairão!”<br />
C) “Estou atrasado porque ajudei uma<br />
velhinha a atravessar a rua...”<br />
D) “...e ela me deu um anel mágico que<br />
me levou a um tesouro”<br />
E) “mas bandidos o roubaram e os<br />
persegui até a Etiópia, onde um<br />
dragão...”<br />
Comentário<br />
Linguagem coloquial é aquela usada no<br />
cotidiano, que tem como característica<br />
principal a oralidade, ou seja, aquela que não<br />
segue o rigor da norma culta.<br />
Entre as alternativas da questão, apenas<br />
a letra "A" apresenta esses traços.<br />
24) (2004) O poema abaixo pertence à<br />
poesia concreta brasileira. O termo latino<br />
de seu título significa "epitalâmio", poema<br />
ou canto em homenagem aos que se<br />
casam.<br />
Comentário<br />
Nesta questão, basta que o aluno<br />
identifique o pronome oblíquo, presente no<br />
verso um, que chama o leitor para o texto.<br />
Sendo assim, a resposta correta é a letra "A".<br />
23) (2008)<br />
262<br />
Dick Browne. O melhor de Hagar, o horrível, v. 2. L&PM<br />
pocket, p.55-6 (com adaptações).<br />
Assinale o trecho do diálogo que<br />
apresenta um registro informal, ou<br />
coloquial, da linguagem.<br />
A) “Tá legal, espertinho! Onde é que<br />
você esteve?!”<br />
Considerando que símbolos e sinais são<br />
utilizados geralmente para demonstrações<br />
objetivas, ao serem incorporados no<br />
poema "Epithalamium - II".<br />
A) adquirem novo potencial de<br />
significação.<br />
B) eliminam a subjetividade do poema.<br />
C) opõem-se ao tema principal do poema.<br />
D) invertem seu sentido original.<br />
E) tornam-se confusos e equivocados.<br />
Comentário<br />
Diferentemente, por exemplo, da<br />
aplicação matemática dos símbolos, em que<br />
sinais como "=", "+", "-", "x", etc. servem<br />
como convenções internacionais de<br />
significação objetiva e invariável, em um<br />
poema como "Epithalamium – II" foram<br />
usados símbolos que não são convenções<br />
internacionais, mas, sim, convencionados<br />
apenas para esse texto. No caso, letras do<br />
alfabeto deixam de ser representações de<br />
sons (fonemas) para ganharem nova<br />
significação, principalmente pela construção
visual do poema: unem homem (h) e mulher<br />
(e) pela ação da serpente (s) — libido,<br />
atração — em uma entidade única.<br />
Uma das tendências poéticas da segunda<br />
metade do século XX, resultado de um<br />
diálogo com estéticas já presentes no final do<br />
século XIX, trabalha com a construção de<br />
seu próprio referente, fazendo do poema um<br />
objeto autônomo.<br />
25) (2000) “Precisa-se nacionais sem<br />
nacionalismo, (...) movidos pelo presente<br />
mas estalando naquele cio racial que só<br />
as tradições maduram! (...). Precisa-se<br />
gentes com bastante meiguice no<br />
sentimento, bastante força na peitaria,<br />
bastante paciência no entusiasmo e<br />
sobretudo, oh! sobretudo bastante<br />
vergonha na cara!<br />
(...) Enfim: precisa-se brasileiros! Assim<br />
está escrito no anúncio vistoso de cores<br />
desesperadas pintado sobre o corpo do<br />
nosso Brasil, camaradas.”<br />
(Jornal A Noite, São Paulo, 18/12/1925 apud LOPES, Telê<br />
Porto Ancona. Mário<br />
de Andrade: ramais e caminhos. São Paulo: Duas<br />
Cidades, 1972)<br />
No trecho acima, Mário de Andrade dá<br />
forma a um dos itens do ideário<br />
modernista, que é o de firmar a feição de<br />
uma língua mais autêntica, “brasileira”, ao<br />
expressar-se numa variante de linguagem<br />
popular identificada pela (o):<br />
A) escolha de palavras como cio, peitaria,<br />
vergonha.<br />
B) emprego da pontuação.<br />
C) repetição do adjetivo bastante.<br />
D) concordância empregada em Assim<br />
está escrito.<br />
E) escolha de construção do tipo<br />
precisa-se gentes.<br />
Comentário<br />
Apesar de essa questão misturar vários<br />
tipos de informação, se você se lembra um<br />
pouquinho dos usos da partícula se, com<br />
certeza não encontrará grande dificuldade.<br />
Segundo a regra gramatical, o verbo<br />
"precisa-se" deveria ir para o plural<br />
(precisam-se), mas essa noção de verbo<br />
concordante com o sujeito há muito<br />
desapareceu na variante popular brasileira.<br />
Mas, caso você não se lembre muito bem<br />
desse assunto ou ficou meio confuso com o<br />
texto e as outras alternativas, o caminho é<br />
responder por eliminação.<br />
A primeira alternativa apresenta palavras<br />
comuns no português brasileiro, mas<br />
nenhuma "invenção" nacional. Na dúvida,<br />
pense em "vergonha": não é uma invenção<br />
brasileira. Todos os que falam português no<br />
mundo conhecem bem essa palavra. A<br />
pontuação no texto não chama nenhuma<br />
atenção. Você provavelmente não viu nada<br />
de estranho nela. Da mesma forma, o<br />
"bastante" da terceira alternativa não é nada<br />
mais que um mecanismo de retórica, usado<br />
para dar ênfase à idéia. Com o "Assim está<br />
escrito", encontramos a mesma situação: um<br />
trecho litúrgico é usado para maior ênfase.<br />
Comentário do INEP<br />
A questão procurou avaliar se o<br />
participante era capaz de, a partir da leitura<br />
de um texto de Mário de Andrade , identificar<br />
e analisar uma variante lingüística de uso<br />
coloquial, utilizadas estilisticamente pelo<br />
autor. O uso estilístico das variantes marcou<br />
a primeira fase da literatura brasileira<br />
modernista. O trecho destaca em seu todo<br />
esse uso da linguagem popular. A escolha da<br />
construção 'precisa-se gentes' é marca desse<br />
uso estilístico. O índice de 37% na alternativa<br />
(A) demonstra, possivelmente, que os<br />
participantes não consideraram a escolha<br />
dos vocábulos, dentro do contexto do texto,<br />
confundindo as palavras que aparecem na<br />
alternativa com '...a feição de uma língua<br />
mais autêntica...'.O percentual de acertos foi<br />
da ordem de 40%.<br />
26) (2001) Oxímoro (ou paradoxo) é uma<br />
construção textual que agrupa significados<br />
que se excluem mutuamente. Para<br />
Garfield, a frase de saudação de Jon<br />
(tirinha abaixo) expressa o maior de todos<br />
os oxímoros.<br />
Folha de S. Paulo. 31 de julho de 2000.<br />
Nas alternativas abaixo, estão transcritos<br />
versos retirados do poema “O operário em<br />
construção”. Pode-se afirmar que ocorre<br />
um oxímoro em<br />
A) "Era ele que erguia casas<br />
Onde antes só havia chão."<br />
B) "... a casa que ele fazia<br />
Sendo a sua liberdade<br />
Era a sua escravidão."<br />
C) "Naquela casa vazia<br />
Que ele mesmo levantara<br />
Um mundo novo nascia<br />
De que sequer suspeitava."<br />
263
D) "... o operário faz a coisa<br />
E a coisa faz o operário."<br />
E) "Ele, um humilde operário<br />
Um operário que sabia<br />
Exercer a profissão."<br />
MORAES, Vinícius de. Antologia Poética. São Paulo:<br />
Companhia das Letras, 1992.<br />
Comentário<br />
Idéias que se completam e se excluem<br />
mutuamente são encontradas na alternativa<br />
B: a casa que ele construía era, ao mesmo<br />
tempo, sua liberdade e sua escravidão.<br />
A casa é um símbolo de liberdade para o<br />
homem. Para o homem operário, é também<br />
símbolo de escravidão, pois ele está<br />
"condenado" a jamais usufruir do resultado<br />
do seu trabalho (a casa que faz não é para<br />
ele).<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão propõe ao participante que<br />
estabeleça uma relação entre linguagens,<br />
associando a compreensão de um efeito<br />
semântico produzido pelo uso do oxímoro<br />
nos quadrinhos com o mesmo efeito num<br />
texto poético. O índice (18%) de escolhas da<br />
alternativa D deve-se, possivelmente, a uma<br />
análise parcial da noção de paradoxo,<br />
confundida com inversão.<br />
Vêm das terras secas e escuras;<br />
pedregulhos<br />
Doloridos como fagulhas de carvão aceso<br />
Corpos disformes, uns panos sujos,<br />
Rasgados e sem cor, dependurados<br />
Homens de enorme ventre bojudo<br />
Mulheres com trouxas caídas para o lado<br />
Pançudas, carregando ao colo um garoto<br />
Choramingando, remelento<br />
(....)<br />
(Cândido Portinari. Poemas. Rio de Janeiro:<br />
J. Olympio, 1964.)<br />
Das quatro obras reproduzidas, assinale<br />
aquelas que abordam a problemática que<br />
é tema do poema.<br />
A) 1 e 2 D) 3 e 4<br />
B) 1 e 3 E) 2 e 4<br />
C) 2 e 3<br />
Comentário<br />
O poema apresenta correspondência com<br />
as imagens ao descrever com detalhes a<br />
figura do retirante: pobre, mal vestido,<br />
carregando trouxas e embrulhos.<br />
28) (2004)<br />
27) (2005) Cândido Portinari (1903-1962), um<br />
dos mais importantes artistas brasileiros<br />
do século XX, tratou de diferentes<br />
aspectos da nossa realidade em seus<br />
quadros.<br />
A polifonia, variedade de vozes, presente<br />
no poema resulta da manifestação do<br />
A) poeta e do colonizador apenas.<br />
B) colonizador e do negro apenas.<br />
C) negro e do índio apenas.<br />
D) colonizador, do poeta e do negro<br />
apenas.<br />
E) poeta, do colonizador, do índio e do<br />
negro.<br />
264<br />
Sobre a temática dos “Retirantes”,<br />
Portinari também escreveu o seguinte<br />
poema:<br />
(....)<br />
Os retirantes vêm vindo com trouxas e<br />
embrulhos<br />
Comentário<br />
A questão apresenta uma certa<br />
dificuldade, pois, à primeira vista, parecem<br />
confundir-se as vozes do colonizador, do<br />
negro e do índio. Entretanto, os<br />
travessões existentes no poema explicitam<br />
as falas das personagens ao mostrar que<br />
não são apenas as vozes do poeta e do<br />
colonizador que estão presentes. As falas do<br />
índio e do negro são proferidas por eles,
marca expressa pelo discurso direto. A<br />
presença dessa modalidade de discurso<br />
indica a reprodução literal do que as<br />
personagens disseram.<br />
Um ponto interessante em relação a essa<br />
questão é a intertextualidade. O índio<br />
aparece no poema pela remissão a um texto<br />
poético do nosso Romantismo, em um<br />
processo intertextual com “I-Juca-Pirama”, de<br />
Gonçalves Dias; e a presença do negro se dá<br />
pela ligação com Mário de Andrade, em<br />
Macunaíma. Entende-se, portanto, que a<br />
alternativa correta é a letra E.<br />
29) (2003) No ano passado, o governo<br />
promoveu uma campanha a fim de reduzir<br />
os índices de violência. Noticiando o fato,<br />
um jornal publicou a seguinte manchete:<br />
CAMPANHA CONTRA A VIOLÊNCIA DO<br />
GOVERNO DO ESTADO ENTRA EM NOVA<br />
FASE<br />
A manchete tem um duplo sentido, e isso<br />
dificulta o entendimento. Considerando o<br />
objetivo da notícia, esse problema poderia<br />
ter sido evitado com a seguinte redação:<br />
A) Campanha contra o governo do Estado<br />
e a violência entram em nova fase.<br />
B) A violência do governo do Estado entra<br />
em nova fase de Campanha.<br />
C) Campanha contra o governo do Estado<br />
entra em nova fase de violência.<br />
D) A violência da campanha do governo<br />
do Estado entra em nova fase.<br />
E) Campanha do governo do Estado<br />
contra a violência entra em nova fase.<br />
Comentário<br />
O objetivo da questão é eliminar a<br />
ambigüidade da notícia de jornal, que,<br />
originalmente, trazia duas idéias: de acordo<br />
com a primeira, o governo queria combater a<br />
violência, e a segunda ressaltava que o<br />
governo era violento. Nessa questão,<br />
era preciso eliminar a segunda possibilidade<br />
de leitura.<br />
30) (2004)<br />
Nesta tirinha, a personagem faz referência<br />
a uma das mais conhecidas figuras de<br />
linguagem para<br />
A) condenar a prática de exercícios físicos<br />
B) valorizar aspectos da vida moderna.<br />
C) desestimular o uso das bicicletas.<br />
D) caracterizar o diálogo entre as<br />
gerações.<br />
E) criticar a falta de perspectiva do pai.<br />
Comentário<br />
A construção indica a falta de perspectiva<br />
na vida do pai do personagem. “Pedalar sem<br />
sair do lugar” é uma metáfora muito usada na<br />
cultura brasileira para expressar como é a<br />
vida de uma pessoa que age de forma a não<br />
conseguir qualquer mudança — para melhor<br />
ou para pior — na vida.<br />
31) (2004) As questões de números 26 e 27<br />
referem-se ao poema abaixo.<br />
Entre os recursos expressivos<br />
empregados no texto, destaca-se a<br />
A) metalinguagem, que consiste em fazer<br />
a linguagem referir-se à própria<br />
linguagem.<br />
B) intertextualidade, na qual o texto<br />
retoma e reelabora outros textos.<br />
C) ironia, que consiste em se dizer o<br />
contrário do que se pensa, com<br />
intenção crítica.<br />
D) denotação, caracterizada pelo uso das<br />
palavras em seu sentido próprio e<br />
objetivo.<br />
E) prosopopéia, que consiste em<br />
personificar coisas inanimadas,<br />
atribuindo-lhes vida.<br />
Comentário<br />
A questão trata de um texto de Carlos<br />
Drummond de Andrade em que ele fala sobre<br />
o crescimento urbano e a pobreza que esse<br />
265
processo traz. Para tanto, o poeta utiliza uma<br />
linguagem irônica, revelando o lado oculto do<br />
desenvolvimento. Dessa forma, temos como<br />
correta a alternativa C.<br />
32) (2007) Antigamente<br />
Acontecia o indivíduo apanhar<br />
constipação; ficando perrengue, mandava<br />
o próprio chamar o doutor e, depois, ir à<br />
botica para aviar a receita, de cápsulas ou<br />
pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />
phtísica, feia era o gálico. Antigamente, os<br />
sobrados tinham assombrações, os<br />
meninos, lombrigas (...)<br />
Carlos Drummond de Andrade. Poesia completa e prosa.<br />
Rio de Janeiro: Companhia José Aguilar, p. 1.184.<br />
O texto acima está escrito em linguagem<br />
de uma época passada. Observe uma<br />
outra versão, em linguagem atual.<br />
Antigamente<br />
Acontecia o indivíduo apanhar um<br />
resfriado; ficando mal, mandava o próprio<br />
chamar o doutor e, depois, ir à farmácia<br />
para aviar a receita, de cápsulas ou<br />
pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />
tuberculose, feia era a sífilis. Antigamente,<br />
os sobrados tinham assombrações, os<br />
meninos, vermes (...)<br />
Comparando-se esses dois textos,<br />
verifica-se que, na segunda versão, houve<br />
mudanças relativas a<br />
A) vocabulário.<br />
B) construções sintáticas.<br />
C) pontuação.<br />
D) fonética.<br />
E) regência verbal.<br />
Comentário<br />
Questão fácil. O aluno deveria comparar<br />
os dois textos e verificar as alterações<br />
realizadas na segunda versão apresentada.<br />
Nesse momento, fica evidente a mudança de<br />
vocabulário, o que indica a alternativa A<br />
como a correta.<br />
33) (2001) Nas conversas diárias, utiliza-se<br />
freqüentemente a palavra “próprio” e ela<br />
se ajusta a várias situações. Leia os<br />
exemplos de diálogos:<br />
I - A Vera se veste diferente!<br />
- É mesmo, é que ela tem um estilo<br />
próprio.<br />
II - A Lena já viu esse filme uma dezena<br />
de vezes! Eu não consigo ver o<br />
que ele tem de tão maravilhoso assim.<br />
- É que ele é próprio para adolescente.<br />
III - Dora, o que eu faço? Ando tão<br />
preocupada com o Fabinho! Meu filho<br />
está impossível!<br />
- Relaxa, Tânia! É próprio da idade.<br />
Com o tempo, ele se acomoda.<br />
Nas ocorrências I, II e III, “próprio” é<br />
sinônimo de, respectivamente,<br />
A) adequado, particular, típico.<br />
B) peculiar, adequado, característico.<br />
C) conveniente, adequado, particular.<br />
D) adequado, exclusivo, conveniente.<br />
E) peculiar, exclusivo, característico.<br />
Comentário<br />
Para responder a essa pergunta,<br />
substitua, nos trechos, a palavra próprio<br />
pelos possíveis equivalentes apresentados<br />
nas alternativas. Questão simples que pode<br />
ser resolvida por eliminação.<br />
Comentário do INEP<br />
Nesta questão são apresentados três<br />
textos em que uma mesma palavra é<br />
utilizada com sentidos diferentes. O problema<br />
consiste em observar a variedade de uso de<br />
um mesmo termo e as possibilidades de sua<br />
compreensão, estabelecendo uma relação<br />
comparativa com base em uma análise<br />
semântica. Cerca de metade (49%) dos<br />
participantes estabeleceu essa relação de<br />
maneira correta. Os participantes que<br />
assinalaram a alternativa D (21%),<br />
possivelmente isolaram o termo do contexto,<br />
gerando um equívoco entre "adequado" e<br />
"exclusivo".<br />
34) (2003) Do pedacinho de papel ao livro<br />
impresso vai uma longa distância. Mas o<br />
que o escritor quer, mesmo, é isso: ver o<br />
seu texto em letra de forma. A gaveta é<br />
ótima para aplacar a fúria criativa; ela faz<br />
amadurecer o texto da mesma forma que<br />
a adega faz amadurecer o vinho. Em<br />
certos casos, a cesta de papel é melhor<br />
ainda.<br />
O período de maturação na gaveta é<br />
necessário, mas não deve se prolongar<br />
muito. ‘Textos guardados acabam<br />
cheirando mal’, disse Silvia Plath, (...) que,<br />
com esta frase, deu testemunho das<br />
dúvidas que atormentam o escritor:<br />
266
publicar ou não publicar? guardar ou jogar<br />
fora?<br />
(Moacyr Scliar. O escritor e seus desafios.)<br />
Nesse texto, o escritor Moacyr Scliar usa<br />
imagens para refletir sobre uma etapa da<br />
criação literária. A idéia de que o processo<br />
de maturação do texto nem sempre é o<br />
que garante bons resultados está sugerida<br />
na seguinte frase:<br />
A) "A gaveta é ótima para aplacar a fúria<br />
criativa."<br />
B) "Em certos casos, a cesta de papel é<br />
melhor ainda."<br />
C) "O período de maturação na gaveta é<br />
necessário, (...)."<br />
D) "Mas o que o escritor quer, mesmo, é<br />
isso: ver o seu texto em letra de forma."<br />
E) "ela (a gaveta) faz amadurecer o texto<br />
da mesma forma que a adega faz<br />
amadurecer o vinho."<br />
Comentário<br />
Essa questão exigia a interpretação das<br />
frases. A palavra NEM no enunciado exclui<br />
todas as alternativas que tratam do<br />
amadurecimento ou da importância da<br />
gaveta para o bom sucesso da produção<br />
literária.<br />
A alternativa B é a única que apresenta<br />
um procedimento alternativo para a produção<br />
textual, ou seja, o lixo, e significa a liberdade<br />
do escritor em começar,<br />
interromper, recomeçar ou simplesmente<br />
abandonar a obra, permitindo a ele exercer<br />
seu livre-arbítrio.<br />
35) (2007)<br />
Aqui na floresta<br />
Dos ventos batida,<br />
Façanhas de bravos<br />
Não geram escravos,<br />
Que estimem a vida<br />
Sem guerra e lidar.<br />
— Ouvi-me, Guerreiros,<br />
— Ouvi meu cantar.<br />
O canto do guerreiro<br />
Valente na guerra,<br />
Quem há, como eu sou?<br />
Quem vibra o tacape<br />
Com mais valentia?<br />
Quem golpes daria<br />
Fatais, como eu dou?<br />
— Guerreiros, ouvi-me;<br />
— Quem há, como eu sou?<br />
Gonçalves Dias.<br />
Macunaíma<br />
(Epílogo)<br />
Acabou-se a história e morreu a vitória.<br />
Não havia mais ninguém lá. Dera<br />
tangolomângolo na tribo Tapanhumas e<br />
os filhos dela se acabaram de um em um.<br />
Não havia mais ninguém lá. Aqueles<br />
lugares, aqueles campos, furos<br />
puxadouros arrastadouros meiosbarrancos,<br />
aqueles matos misteriosos,<br />
tudo era solidão do deserto... Um silêncio<br />
imenso dormia à beira do rio Uraricoera.<br />
Nenhum conhecido sobre a terra não<br />
sabia nem falar da tribo nem contar<br />
aqueles casos tão pançudos. Quem podia<br />
saber do Herói?<br />
Mário de Andrade.<br />
Considerando-se a linguagem desses dois<br />
textos, verifica-se que<br />
A) a função da linguagem centrada no<br />
receptor está ausente tanto no primeiro<br />
quanto no segundo texto.<br />
B) a linguagem utilizada no primeiro texto<br />
é coloquial, enquanto, no segundo,<br />
predomina a linguagem formal.<br />
C) há, em cada um dos textos, a<br />
utilização de pelo menos uma palavra<br />
de origem indígena.<br />
D) a função da linguagem, no primeiro<br />
texto, centra-se na forma de<br />
organização da linguagem e, no<br />
segundo, no relato de informações<br />
reais.<br />
E) a função da linguagem centrada na<br />
primeira pessoa, predominante no<br />
segundo texto, está ausente no<br />
primeiro.<br />
Comentário<br />
Questão de nível médio. Essa é uma<br />
questão que foca a linguagem dos textos, e<br />
cada qual em seu gênero (poesia e prosa,<br />
respectivamente). O aluno chega à<br />
conclusão que a alternativa correta é a C por<br />
meio da exclusão das demais alternativas.<br />
A resposta correta não é a A, pois há um<br />
receptor que pode ser percebido nas<br />
seguintes perguntas contidas no texto:<br />
Texto 1 – “Guerreiros, ouvi-me;/Quem há,<br />
como eu sou?”<br />
Texto 2 – “Quem podia saber do herói?”<br />
Também não é a alternativa B, pois o<br />
conteúdo dos textos não é discriminatório. No<br />
primeiro texto, há uma idealização do índio e,<br />
no segundo, há uma realidade crítica e<br />
satírica da sociedade.<br />
A alternativa D é excluída, porque o<br />
segundo texto não fala de uma realidade, já<br />
que Macunaíma é um herói fictício e nãoreal.<br />
Por fim, também está errada a alternativa<br />
E. Isso porque não temos no epílogo do texto<br />
de Macunaíma a linguagem centrada na<br />
primeira pessoa, mas sim, na terceira.<br />
267
36) (2003) Eu começaria dizendo que poesia<br />
é uma questão de linguagem. A<br />
importância do poeta é que ele torna mais<br />
viva a linguagem. Carlos Drummond de<br />
Andrade escreveu um dos mais belos<br />
versos da língua portuguesa com duas<br />
palavras comuns: cão e cheirando.<br />
Um cão cheirando o futuro<br />
(Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP, 24/05/1988.<br />
adaptação)<br />
268<br />
O que deu ao verso de Drummond o<br />
caráter de inovador da língua foi<br />
A) o modo raro como foi tratado o<br />
"futuro".<br />
B) a referência ao cão como "animal de<br />
estimação".<br />
C) a flexão pouco comum do verbo<br />
"cheirar" (gerúndio).<br />
D) a aproximação não usual do agente<br />
citado e a ação de "cheirar".<br />
E) o emprego do artigo indefinido "um" e<br />
do artigo definido "o" na mesma frase.<br />
Comentário<br />
O fato de Drummond identificar o futuro<br />
como algo que pode ser percebido por um<br />
animal irracional por meio do olfato foi<br />
inovador. A figura de linguagem foi<br />
construída metaforicamente: o futuro torna-se<br />
uma coisa que tem cheiro, contrariamente à<br />
imagem pela qual ele normalmente é<br />
representado: como algo que não se vê e<br />
não se pode pressentir ou tocar.<br />
37) (2002) Só falta o Senado aprovar o<br />
projeto de lei [sobre o uso de termos<br />
estrangeiros no Brasil] para que palavras<br />
como shopping center , delivery e drivethrough<br />
sejam proibidas em nomes de<br />
estabelecimentos e marcas. Engajado<br />
nessa valorosa luta contra o inimigo<br />
ianque, que quer fazer área de livre<br />
comércio com nosso inculto e belo idioma,<br />
venho sugerir algumas outras medidas<br />
que serão de extrema importância para a<br />
preservação da soberania nacional, a<br />
saber:<br />
........<br />
Nenhum cidadão carioca ou gaúcho<br />
poderá dizer "Tu vai" em espaços públicos<br />
do território nacional;<br />
Nenhum cidadão paulista poderá dizer "Eu<br />
lhe amo" e retirar ou acrescentar o plural<br />
em sentenças como "Me vê um chopps e<br />
dois pastel";<br />
..........<br />
Nenhum dono de borracharia poderá<br />
escrever cartaz com a palavra "borraxaria"<br />
e nenhum dono de banca de jornal<br />
anunciará "Vende-se cigarros";<br />
..........<br />
Nenhum livro de gramática obrigará os<br />
alunos a utilizar colocações pronominais<br />
como "casar-me-ei" ou "ver-se-ão".<br />
PIZA, Daniel. Uma proposta imodesta. O Estado de<br />
S. Paulo, São Paulo, 8/04/2001.<br />
No texto acima, o autor:<br />
A) mostra-se favorável ao teor da<br />
proposta por entender que a língua<br />
portuguesa deve ser protegida contra<br />
deturpações de uso.<br />
B) ironiza o projeto de lei ao sugerir<br />
medidas que inibam determinados usos<br />
regionais e socioculturais da língua.<br />
C) denuncia o desconhecimento de regras<br />
elementares de concordância verbal e<br />
nominal pelo falante brasileiro.<br />
D) revela-se preconceituoso em relação a<br />
certos registros lingüísticos ao propor<br />
medidas que os controlem.<br />
E) defende o ensino rigoroso da gramática<br />
para que todos aprendam a empregar<br />
corretamente os pronomes.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. O autor ironiza o<br />
projeto de lei que proíbe o uso de<br />
estrangeirismos no Brasil. Não adianta criarse<br />
uma expectativa ou preocupação em<br />
relação ao uso de termos estrangeiros na<br />
língua e esquecer-se de que a língua é um<br />
organismo vivo, mutável. A dinâmica de uma<br />
língua não pode ser regida por preceitos<br />
legais como quer o projeto.<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão reproduz trechos de um<br />
texto que aborda o polêmico projeto de<br />
proibição de uso de termos estrangeiros no<br />
Brasil. A partir da leitura atenta do texto de<br />
Daniel Piza, o participante é levado a refletir<br />
sobre a postura adotada pelo autor em<br />
relação ao referido projeto. Para<br />
compreender esse texto, o participante<br />
precisa reconhecer o tom irônico que marca<br />
as observações e sugestões feitas por seu<br />
autor. Assim, Daniel Piza, "engajado nessa<br />
valorosa luta contra o inimigo ianque", sugere<br />
a proibição de algumas formas lingüísticas de<br />
uso corrente que contrariam recomendações<br />
da gramática normativa. O participante deve<br />
reconhecer que, com sugestões como essas,<br />
Daniel Piza deixa implícita uma crítica à<br />
utilidade do projeto de proibição dos<br />
estrangeirismos como forma de proteger a<br />
Língua Portuguesa. Nesse contexto, a ironia
torna-se mais clara, bem como o mecanismo<br />
textual que a constrói. Feito tal<br />
reconhecimento, o aluno encontra a resposta<br />
correta na alternativa B, assinalada por cerca<br />
da metade dos participantes. Nenhuma outra<br />
alternativa contempla o aspecto irônico,<br />
essencial para a compreensão do texto.<br />
38) (2005) O termo (ou expressão)<br />
destacado que está empregado em seu<br />
sentido próprio, denotativo ocorre em:<br />
A) “(....)<br />
É de laço e de nó<br />
De gibeira o jiló<br />
Dessa vida, cumprida a sol (....)”<br />
(Renato Teixeira. Romaria. Kuarup Discos.<br />
setembro de 1992.)<br />
B) “Protegendo os inocentes<br />
é que Deus, sábio demais,<br />
põe cenários diferentes<br />
nas impressões digitais.”<br />
(Maria N. S. Carvalho. Evangelho da Trova. /s.n.b.)<br />
C) “O dicionário-padrão da língua e os<br />
dicionários unilíngües são os tipos mais<br />
comuns de dicionários. Em nossos<br />
dias, eles se tornaram um objeto de<br />
consumo obrigatório para as nações<br />
civilizadas e desenvolvidas.”<br />
(Maria T. Camargo Biderman.<br />
O dicionário-padrão da língua. Alfa (28), 2743, 1974 Supl.)<br />
D)<br />
E) “Humorismo é a arte de fazer cócegas<br />
no raciocínio dos outros. Há duas<br />
espécies de humorismo: o trágico e o<br />
cômico. O trágico é o que não<br />
consegue fazer rir; o cômico é o que é<br />
verdadeiramente trágico para se fazer.”<br />
(Leon Eliachar. www.mercadolivre.com.br.<br />
acessado em julho de 2005.)<br />
Comentário<br />
A definição do dicionário-padrão da língua<br />
utiliza o sentido denotativo da palavra para<br />
explicar o uso de determinado tipo de<br />
dicionário. Em todas as outras alternativas,<br />
as palavras estão sendo empregadas em<br />
sentido metafórico. Na letra A, "cumprida a<br />
sol" pode mostrar o sofrimento e a solidão.<br />
Na alternativa B, "cenários diferentes" são as<br />
diferenças físicas encontradas nas<br />
impressões digitais. Na letra D, "bateria" é o<br />
termo usado para expressar a "energia" do<br />
Menino Maluquinho, que nunca acaba. Por<br />
fim, na alternativa E, "fazer cócegas no<br />
raciocínio" significa expressar graça por meio<br />
de idéias, fazendo com que o cérebro ache<br />
um fato divertido e, por conseguinte, faça<br />
com que a pessoa ria como se sofresse um<br />
ataque de cócegas.<br />
39) (2003) Pequenos tormentos da vida<br />
De cada lado da sala de aula, pelas janelas<br />
altas, o azul convida os meninos,<br />
as nuvens desenrolam-se, lentas como quem<br />
vai inventando<br />
preguiçosamente uma história sem fim...Sem<br />
fim é a aula: e nada acontece,<br />
nada...Bocejos e moscas. Se ao menos,<br />
pensa Margarida, se ao menos um<br />
avião entrasse por uma janela e saísse por<br />
outra!<br />
(Mário Quintana. Poesias)<br />
Na cena retratada no texto, o sentimento<br />
do tédio<br />
A) provoca que os meninos fiquem<br />
contando histórias.<br />
B) leva os alunos a simularem bocejos,<br />
em protesto contra a monotonia da<br />
aula.<br />
C) acaba estimulando a fantasia,<br />
criando a expectativa de algum<br />
imprevisto mágico.<br />
D) prevalece de modo absoluto,<br />
impedindo até mesmo a distração ou o<br />
exercício do pensamento.<br />
E) decorre da morosidade da aula, em<br />
contraste com o movimento acelerado<br />
das nuvens e das moscas.<br />
Comentário<br />
Essa questão aborda o imaginário<br />
decorrente do marasmo trazido pela escola.<br />
O texto enfatiza o arrastar do tempo na<br />
mente de uma aluna, Margarida, que se põe<br />
a pensar em fatos mágicos ou imaginários<br />
que pudessem romper com a lentidão da<br />
aula.<br />
269
40) (1999)<br />
Diante da visão de um prédio com uma<br />
placa indicando SAPATARIA PAPALIA,<br />
um jovem deparou com a dúvida: como<br />
pronunciar a palavra PAPALIA?<br />
Levado o problema à sala de aula, a<br />
discussão girou em torno da utilidade de<br />
conhecer as regras de acentuação e,<br />
especialmente, do auxílio que elas podem<br />
dar à correta pronúncia de palavras.<br />
Após discutirem pronúncia, regras de<br />
acentuação e escrita, três alunos<br />
apresentaram as seguintes conclusões a<br />
respeito da palavra PAPALIA:<br />
I. Se a sílaba tônica for o segundo PA, a<br />
escrita deveria ser PAPÁLIA, pois a<br />
palavra seria paroxítona terminada em<br />
ditongo crescente.<br />
II. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />
deveria ser PAPALÍA, pois "i" e "a"<br />
estariam formando hiato.<br />
III. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />
deveria ser PAPALIA, pois não haveria<br />
razão para o uso de acento gráfico.<br />
A conclusão está correta apenas em:<br />
A) III D) I<br />
B) I e II E) II<br />
C) I e III<br />
Comentário<br />
Essa questão exige bom conhecimento<br />
das regras de acentuação. A alternativa A diz<br />
que apenas a afirmação I é verdadeira. De<br />
fato ela é, mas não é a única. Nela, temos a<br />
hipótese de a palavra ser grafada como se a<br />
sílaba forte fosse a penúltima — papália —,<br />
justificando seu acento gráfico. Vejamos o<br />
que dizem as regras de acentuação.<br />
Acentuam-se as palavras paroxítonas<br />
terminadas em: i, is, us, um, uns, l, n, r, x,<br />
ps, ã, ãs, ão, ãos, ditongos orais,<br />
crescentes ou decrescentes, seguidos ou<br />
não de S. Isso valida, portanto, a afirmação I.<br />
A afirmação II pressupõe que a sílaba<br />
tônica seja LI, em hiato com A: no caso de<br />
essa ser a tonicidade da palavra, a sílaba LI<br />
não poderia ser acentuada, pois I, mesmo<br />
sendo a tônica do hiato, não é a última vogal,<br />
portanto, essa afirmativa é falsa.<br />
A afirmação III considera que a sílaba<br />
tônica é LI, não havendo acento por ser o I a<br />
primeira vogal do hiato. Portanto, essa<br />
afirmação é verdadeira.<br />
Concluindo, temos como verdadeiras as<br />
afirmações I e III. Então, a alternativa E é a<br />
correta. Questão de nível difícil.<br />
Comentário do INEP<br />
Dentre os participantes, somente pouco<br />
mais de um terço (35%) demonstrou possuir<br />
a habilidade para identificar as regras de<br />
acentuação corretas, enunciadas na questão.<br />
Chama a atenção o fato de que 73% dos<br />
participantes (alternativas A, D e E)<br />
reconheceram corretamente, pelo menos, a<br />
regra contida no item I, sendo que cerca de<br />
40% desses, contudo, tiveram dificuldades<br />
em analisar as regras II e III.<br />
Em se tratando de palavra não-usual, é,<br />
sobretudo, o domínio do conhecimento das<br />
regras e não a possível pronúncia correta,<br />
pelo uso, o que parece ter sido revelado.<br />
41) (2008)<br />
Exame, 28/9/2007.<br />
Entre os seguintes ditos populares, qual<br />
deles melhor corresponde à figura<br />
acima?<br />
A) Com perseverança, tudo se alcança.<br />
B) Cada macaco no seu galho.<br />
C) Nem tudo que balança cai.<br />
D) Quem tudo quer, tudo perde.<br />
E) Deus ajuda quem cedo madruga.<br />
Comentário<br />
Assim como a questão 37, esta também<br />
envolve interpretação de signos, ou seja, o<br />
aluno precisa estar atento à imagem e<br />
relacioná-la ao dito popular correspondente.<br />
270
A alternativa "A" é a correta, pois, para<br />
uma lesma “grudenta” e vagarosa conseguir<br />
pular numa cama elástica, é necessária<br />
muita perseverança.<br />
42) (2002) A crônica muitas vezes constitui<br />
um espaço para reflexão sobre aspectos<br />
da sociedade em que vivemos.<br />
"Eu, na rua, com pressa, e o menino<br />
segurou no meu braço, falou qualquer<br />
coisa que não entendi. Fui logo dizendo<br />
que não tinha, certa de que ele estava<br />
pedindo dinheiro. Não estava. Queria<br />
saber a hora.<br />
Talvez não fosse um Menino De<br />
Família, mas também não era um Menino<br />
De Rua. É assim que a gente divide.<br />
Menino De Família é aquele bem-vestido<br />
com tênis da moda e camiseta de marca,<br />
que usa relógio e a mãe dá outro se o<br />
dele for roubado por um Menino De Rua.<br />
Menino De Rua é aquele que quando a<br />
gente passa perto segura a bolsa com<br />
força porque pensa que ele é pivete,<br />
trombadinha, ladrão. (...) Na verdade não<br />
existem meninos De rua.<br />
Existem meninos NA rua. E toda vez<br />
que um menino está NA rua é porque<br />
alguém o botou lá. Os meninos não vão<br />
sozinhos aos lugares. Assim como são<br />
postos no mundo, durante muitos anos<br />
também são postos onde quer que<br />
estejam. Resta ver quem os põe na rua. E<br />
por quê."<br />
COLASSANTI, Marina. In: Eu sei, mas não devia. Rio de<br />
Janeiro: Rocco, 1999.<br />
Comentário do INEP<br />
A reprodução de um trecho de uma<br />
crônica de Marina Colassanti tematiza uma<br />
importante questão social brasileira: a<br />
presença de milhões de crianças nas ruas do<br />
País. A autora, ao tratar desse problema,<br />
vale-se de recursos lingüísticos específicos.<br />
O objetivo desta questão é justamente<br />
chamar a atenção do participante leitor para<br />
esses recursos e os efeitos de sentido que<br />
eles desencadeiam no texto. Na raiz da<br />
questão destaca-se a troca de "De" por "NA"<br />
e pede-se que se determine qual relação de<br />
sentido essa substituição estabelece entre os<br />
termos "menino" e "rua". Analisar a relação,<br />
nesse caso, significa perguntar-se sobre o<br />
sentido de dois sintagmas criados no texto:<br />
"meninos NA rua" por oposição a "meninos<br />
De rua". O que a autora pretende negar, com<br />
a troca do termo de relação, é a possibilidade<br />
de que existam meninos de rua diferentes de<br />
outros meninos, que não têm na rua a sua<br />
origem. O destaque para a preposição na<br />
nos leva a refletir que a relação dos meninos<br />
com a rua é de localização: eles estão ali por<br />
alguma razão, não porque essa seja a sua<br />
qualificação. Essa reflexão levaria o aluno a<br />
escolher, como correta, a resposta<br />
apresentada na alternativa A, assinalada por<br />
cerca de metade dos participantes.<br />
43) (2005) Leia estes textos.<br />
Texto 1<br />
No terceiro parágrafo em "... não existem<br />
meninos De rua. Existem meninos NA<br />
rua.", a troca de De pelo Na determina<br />
que a relação de sentido entre "menino" e<br />
"rua" seja<br />
A) de localização e não de qualidade.<br />
B) de origem e não de posse.<br />
C) de origem e não de localização.<br />
D) de qualidade e não de origem.<br />
E) de posse e não de localização.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Apesar de não<br />
haver um terceiro parágrafo neste texto, a<br />
troca das preposições ao final do SEGUNDO<br />
parágrafo indica claramente que não há um<br />
menino DE (proveniente de) rua, mas um<br />
menino que está NA (foi levado à) rua.<br />
Portanto, a relação é unicamente de<br />
localização (onde ele está) e não de<br />
qualidade (o que ele é).<br />
Texto 2<br />
Sonhar<br />
Mais um sonho impossível<br />
Lutar<br />
Quando é fácil ceder<br />
Vencer o inimigo invencível<br />
Negar quando a regra é vender<br />
Sofrer a tortura implacável<br />
Romper a incabível prisão<br />
Voar num limite improvável<br />
Tocar o inacessível chão<br />
É minha lei, é minha questão<br />
Virar esse mundo<br />
Cravar esse chão<br />
Não me importa saber<br />
Se é terrível demais<br />
Quantas guerras terei que vencer<br />
Por um pouco de paz<br />
271
272<br />
E amanhã se esse chão que eu beijei<br />
For meu leito e perdão<br />
Vou saber que valeu delirar<br />
E morrer de paixão<br />
E assim, seja lá como for<br />
Vai ter fim a infinita aflição<br />
E o mundo vai ver uma flor<br />
Brotar do impossível chão.<br />
(J. Darione – M. Leigh – Versão de Chico Buarque de<br />
Hollanda e Ruy Guerra, 1972.)<br />
A tirinha e a canção apresentam uma<br />
reflexão sobre o futuro da humanidade. É<br />
correto concluir que os dois textos<br />
A) afirmam que o homem é capaz de<br />
alcançar a paz.<br />
B) concordam que o desarmamento é<br />
inatingível.<br />
C) julgam que o sonho é um desafio<br />
invencível.<br />
D) têm visões diferentes sobre um<br />
possível mundo melhor.<br />
E) transmitem uma mensagem de<br />
otimismo sobre a paz.<br />
Comentário<br />
Enquanto o primeiro texto é ácido em<br />
relação à possibilidade de desarmamento da<br />
população (ou seja, à criação de uma<br />
sociedade mais pacífica), o segundo mostra<br />
a capacidade que a humanidade tem de crer<br />
e, por isso, tentar fazer até o que a princípio<br />
parece impossível. Para os autores da<br />
canção, nada é intrinsecamente impossível.<br />
A relação entre eles é de oposição:<br />
descrença x crença. Questão de nível de<br />
dificuldade médio.<br />
44) (2000) O uso do pronome átono no início<br />
das frases é destacado por um poeta e<br />
por um gramático nos textos abaixo.<br />
Pronominais<br />
Dê-me um cigarro<br />
Diz a gramática<br />
Do professor e do aluno<br />
E do mulato sabido<br />
Mas o bom negro e o bom branco<br />
da Nação Brasileira<br />
Dizem todos os dias<br />
Deixa disso camarada<br />
Me dá um cigarro<br />
(ANDRADE, Oswald de. Seleção de textos.<br />
São Paulo: Nova Cultural, 1988)<br />
“Iniciar a frase com pronome átono só<br />
é lícito na conversação familiar,<br />
despreocupada, ou na língua escrita<br />
quando se deseja reproduzir a fala dos<br />
personagens (...).”<br />
(CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da<br />
língua portuguesa.<br />
São Paulo: Nacional, 1980)<br />
Comparando a explicação dada pelos<br />
autores sobre essa regra, pode-se afirmar<br />
que ambos:<br />
A) condenam essa regra gramatical.<br />
B) acreditam que apenas os esclarecidos<br />
sabem essa regra.<br />
C) criticam a presença de regras na<br />
gramática.<br />
D) afirmam que não há regras para uso de<br />
pronomes.<br />
E) relativizam essa regra gramatical.<br />
Comentário<br />
Questão que requer conhecimento básico<br />
de colocação pronominal, em relação ao uso<br />
de pronomes átonos no início de frases, uma<br />
regra muito pouco respeitada pelo brasileiro, da<br />
qual Oswald de Andrade faz questão de falar<br />
em seu poema. Porém, a questão pode ser<br />
resolvida simplesmente por meio de uma leitura<br />
bem atenta dos textos. Se formos analisando<br />
alternativa por alternativa, a eliminação é clara<br />
e lógica: a alternativa a fica totalmente<br />
descartada devido à transparência da<br />
colocação dos dois autores (Me dá um<br />
cigarro...) e (iniciar frases com o pronome<br />
átono é "lícito" na conversação familiar ou<br />
despreocupada). Já a alternativa b pode até<br />
mesmo gerar um pouco de dúvida a quem não<br />
se atém bem à pergunta. Quanto às<br />
alternativas c e d, ficam descartadas, pois, em<br />
momento nenhum, os autores criticaram o uso<br />
de regras gramaticais em seus textos, cabendo<br />
perfeitamente a alternativa e para as<br />
afirmações do gramático e do poeta.<br />
Comentário do INEP<br />
Essa questão pretendia verificar como o<br />
participante analisa um fato lingüístico,<br />
mediante a comparação da descrição desse<br />
fato em dois textos. Sabe-se que, normalmente<br />
em situação escolar, o uso do pronome átono<br />
no início da frase é julgado como grave desvio<br />
gramatical, e pouco se analisa esse uso na fala<br />
ou escrita informal. Os dois autores dos textos,<br />
com intenções diferentes, relativizam essa<br />
regra gramatical, destacando e descrevendo o<br />
seu uso coloquial. A maioria dos participantes<br />
(52%) analisou e comparou corretamente as<br />
posições dos autores sobre o uso do pronome<br />
átono, e 24% deles reafirmaram a posição<br />
discriminatória da regra, deslocando-a de seu<br />
uso.
45) (2000) As histórias em quadrinhos, por<br />
vezes, utilizam animais como<br />
personagens e a eles atribuem<br />
comportamento humano. O gato Garfield<br />
é exemplo desse fato.<br />
46) (2004)<br />
Fonte: Caderno Vida e Arte, Jornal do Povo, Fortaleza<br />
Van Gogh, pintor holandês nascido em<br />
1853, é um dos principais nomes da<br />
pintura mundial. É dele o quadro abaixo.<br />
Auto-retrato de orelha cortada<br />
O 3º quadrinho sugere que Garfield:<br />
A) desconhece tudo sobre arte, por isso<br />
faz a sugestão.<br />
B) acredita que todo pintor deve fazer algo<br />
diferente.<br />
C) defende que para ser pintor a pessoa<br />
tem de sofrer.<br />
D) conhece a história de um pintor<br />
famoso e faz uso da ironia.<br />
E) acredita que seu dono tenha tendência<br />
artística e, por isso, faz a sugestão.<br />
Comentário<br />
Outra questão de interpretação de texto.<br />
Muito simples para quem um dia ouviu falar<br />
de Van Gogh, e simplíssima para aqueles<br />
que prestam atenção em todos os elementos<br />
do enunciado. Afinal, quem deu uma<br />
espiadinha na legenda do quadro de Van<br />
Gogh matou na hora a questão.<br />
Esta questão é daquelas rápidas de serem<br />
resolvidas, associando-se os elementos<br />
apresentados.<br />
Comentário do INEP<br />
A significativa maioria (81%) dos<br />
participantes soube perceber o caráter<br />
irônico da fala do Garfield, expressa no<br />
terceiro quadrinho porque, ou conheciam a<br />
história de Van Gogh, ou apropriaram-se<br />
corretamente da informação sobre esse<br />
pintor, fornecida no enunciado.<br />
A tira "Hagar" e o poema de Alberto<br />
Caeiro (um dos heterônimos de Fernando<br />
Pessoa) expressam, com linguagens<br />
diferentes, uma mesma idéia: a de que a<br />
compreensão que temos do mundo é<br />
condicionada, essencialmente,<br />
A) pelo alcance de cada cultura.<br />
B) pela capacidade visual do observador.<br />
C) pelo senso de humor de cada um.<br />
D) pela idade do observador.<br />
E) pela altura do ponto de observação.<br />
Comentário<br />
Questão reflexiva sobre a forma como<br />
cada cultura vê o mundo sob a ótica dos<br />
limites dados pelos seus costumes e<br />
possibilidades de pensamento inerentes a<br />
cada modelo cultural. A mistura de uma tira e<br />
de um poema amplia a possibilidade de<br />
pensamento por trabalhar com linguagens<br />
diferentes. A alternativa correta é a letra A,<br />
pois ambos (tira e poema) utilizam figuras de<br />
linguagem (metáfora e ironia) para expressar<br />
as diferentes visões de mundo.<br />
47) (2003)<br />
O humor presente na tirinha decorre<br />
principalmente do fato de a personagem<br />
Mafalda<br />
A) atribuir, no primeiro quadrinho, poder<br />
ilimitado ao dedo indicador.<br />
B) considerar seu dedo indicador tão<br />
importante quanto o dos patrões.<br />
C) atribuir, no primeiro e no último<br />
quadrinhos, um mesmo sentido ao<br />
vocábulo "indicador".<br />
D) usar corretamente a expressão<br />
"indicador de desemprego", mesmo<br />
sendo criança.<br />
273
E) atribuir, no último quadrinho, fama<br />
exagerada ao dedo indicador dos<br />
patrões.<br />
Comentário<br />
A questão pede a interpretação de uma<br />
charge da personagem Mafalda, em que ela<br />
faz referência a seu dedo indicador, que é<br />
usado como substantivo primitivo e que<br />
possibilita a analogia com “indicador de<br />
desemprego”. Dessa forma, ela ironiza os<br />
indicadores sociais. Na charge, porém, não<br />
há menção explícita aos índices<br />
“indicadores”, permanecendo o raciocínio<br />
preso apenas ao dedo indicador. Assim, ela<br />
utiliza, tanto no primeiro quanto no último<br />
quadrinho, a palavra “indicador” como<br />
referência ao dedo, não dando abertura a<br />
outro tipo de interpretação.<br />
48) (2009)<br />
B) cuja linguagem se caracteriza por ser<br />
rápida e clara, que facilita a<br />
compreensão, como se percebe na fala<br />
do segundo quadrinho:"<br />
<br />
".<br />
C) em que o uso de letras com<br />
espessuras diversas está ligado a<br />
sentimentos expressos pelos<br />
personagens, como pode ser percebido<br />
no último quadrinho.<br />
D) que possui em seu texto escrito<br />
características próximas a uma<br />
conversação face a face, como pode<br />
ser percebido no segundo quadrinho.<br />
E) em que a localização casual dos balões<br />
nos quadrinhos expressa com clareza a<br />
sucessão cronológica da história, como<br />
pode ser percebido no segundo<br />
quadrinho.<br />
Comentário<br />
(QUESTÃO: AZUL <strong>10</strong>5, BRANCA <strong>10</strong>5,<br />
ROSA <strong>10</strong>5)<br />
Questão aparentemente fácil, porém as<br />
alternativas D e E podem causar confusão.<br />
A letra D afirma que o gênero textual<br />
história em quadrinhos, em seu<br />
texto, apresenta características de "uma<br />
conversação face a face", como a frase "Fala<br />
HTML!", exposta no segundo quadrinho da<br />
tirinha.<br />
A letra E estabelece que a localização<br />
casual dos balões com as falas indica "a<br />
sucessão cronológica da história", o que, de<br />
fato, também ocorre no segundo<br />
quadrinho. Essa alternativa não poderia ser<br />
indicada como a correta, pois a palavra<br />
casual não se adequa à constituição do<br />
gênro em questão.<br />
Dessa forma, a alternativa correta é a letra<br />
D.<br />
274<br />
ITURRUSGARAI, A. La Vie en Rose.<br />
Folha de S.Paulo, 11 ago. 2007.<br />
Os quadrinhos exemplificam que as<br />
Histórias em Quadrinhos constituem um<br />
gênero textual<br />
A) em que a imagem pouco contribui para<br />
facilitar a interpretação da mensagem<br />
contida no texto, como pode ser<br />
constatado no primeiro quadrinho.<br />
H19 - Analisar a função da<br />
linguagem predominante nos<br />
textos em situações<br />
específicas de interlocução.<br />
01) (2001) O mundo é grande<br />
O mundo é grande e cabe<br />
Nesta janela sobre o mar.<br />
O mar é grande e cabe<br />
Na cama e no colchão de amar.<br />
O amor é grande e cabe<br />
No breve espaço de beijar.<br />
ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e prosa.<br />
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983.
Neste poema, o poeta realizou uma opção<br />
estilística: a reiteração de determinadas<br />
construções e expressões lingüísticas,<br />
como o uso da mesma conjunção para<br />
estabelecer a relação entre as frases.<br />
Essa conjunção estabelece, entre as<br />
idéias relacionadas, um sentido de<br />
A) oposição.<br />
B) comparação.<br />
C) conclusão.<br />
D) alternância.<br />
E) finalidade.<br />
Comentário<br />
Há três elementos repetidos neste trecho:<br />
o verbo ser, o artigo definido o e a conjunção<br />
aditiva e. A conjunção e estabelece uma<br />
relação entre idéias que, concretamente, são<br />
opostas (ex.: "O mundo é grande e cabe<br />
nesta janela sobre o mar"). A alternativa<br />
correta é a letra A.<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão apresenta, para leitura e<br />
análise, o poema "O mundo é grande", onde<br />
os recursos lingüísticos expressivos<br />
utilizados geram um efeito de oposição entre<br />
as idéias. A análise sintático-semântica é<br />
necessária para a compreensão do valor de<br />
oposição assumido pela conjunção "e":<br />
imagens justapostas estão relacionadas,<br />
contrapondo-se em planos diferentes. Um<br />
percentual significativo (46%) de<br />
participantes considerou que o valor da<br />
conjunção "e", nesse poema, é de<br />
comparação, o que não reflete o sentido<br />
estilístico proposto pelo poeta, mas<br />
corresponde apenas à primeira operação que<br />
se realiza para estabelecer o sentido de<br />
oposição. De maneira análoga, pode-se<br />
analisar os equívocos daqueles que optaram<br />
pelas alternativas C e D.<br />
02) (1999) SONETO DE FIDELIDADE<br />
De tudo, ao meu amor serei atento<br />
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto<br />
Que mesmo em face do maior encanto<br />
Dele se encante mais meu pensamento.<br />
Quero vivê-lo em cada vão momento<br />
E em seu louvor hei de espalhar meu<br />
canto<br />
E rir meu riso e derramar meu pranto<br />
Ao seu pesar ou seu contentamento.<br />
E assim, quando mais tarde me procure<br />
Quem sabe a morte, angústia de quem<br />
vive<br />
Quem sabe a solidão, fim de quem ama.<br />
Eu possa dizer do meu amor (que tive):<br />
Que não seja imortal, posto que é chama<br />
Mas que seja infinito enquanto dure.<br />
(MORAES, Vinícius de. Antologia poética. São Paulo: Cia<br />
das Letras, 1992).<br />
A palavra mesmo pode assumir diferentes<br />
significados, de acordo com a sua função<br />
na frase. Assinale a alternativa em que o<br />
sentido de mesmo equivale ao que se<br />
verifica no 3º verso da 1ª estrofe do<br />
poema de Vinícius de Moraes.<br />
A) "Pai, para onde fores, / irei também<br />
trilhando as mesmas ruas..." (Augusto<br />
dos Anjos)<br />
B) "Agora, como outrora, há aqui o<br />
mesmo contraste da vida interior, que<br />
é modesta, com a exterior, que é<br />
ruidosa." (Machado de Assis)<br />
C) "Havia o mal, profundo e persistente,<br />
para o qual o remédio não surtiu efeito,<br />
mesmo em doses variáveis."<br />
(Raimundo Faoro)<br />
D) "Mas, olhe cá, Mana Glória, há<br />
mesmo necessidade de fazê-lo<br />
padre?" (Machado de Assis)<br />
E) "Vamos de qualquer maneira, mas<br />
vamos mesmo." (Aurélio)<br />
Comentário<br />
Nessa questão, uma pequena análise<br />
sintática se faz necessária: mesmo, em<br />
ambos os casos, é conjunção subordinativa<br />
concessiva, introduzindo, portanto, uma<br />
oração subordinada cujo fato expresso é<br />
contrário ao da oração principal. Deve-se,<br />
então, recorrer à oração anterior para se ter<br />
certeza quanto à classificação. Grau<br />
moderado de dificuldade.<br />
Comentário do INEP<br />
Este problema buscou colocar o<br />
participante diante de uma situação que<br />
exigia a mobilização de seus mecanismos de<br />
reflexão sobre os processos lingüísticos em<br />
que um significante (uma palavra) assume<br />
diferentes significados, no enunciado, de<br />
acordo com a intenção do enunciador. Neste<br />
caso, além da compreensão da<br />
transformação de significado, é necessária a<br />
alteração de função morfossintática.<br />
Verifica-se que 62% dos participantes<br />
conseguiram identificar e analisar esse<br />
processo lingüístico, comparando a função<br />
do significante em diferentes enunciados.<br />
Isso demonstrou um domínio parcial da<br />
reflexão sobre a Língua Portuguesa, em<br />
diferentes contextos e textos.<br />
275
Os 18% dos participantes que<br />
assinalaram a alternativa B identificaram a<br />
diferença de significados mas,<br />
provavelmente, têm dificuldades em analisar<br />
estas mudanças em nível morfossintático<br />
(alternativa B).<br />
03) ( 2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />
poema.<br />
A DANÇA E A ALMA<br />
A DANÇA? Não é movimento,<br />
súbito gesto musical.<br />
É concentração, num momento,<br />
da humana graça natural.<br />
No solo não, no éter pairamos,<br />
nele amaríamos ficar.<br />
A dança – não vento nos ramos:<br />
seiva, força, perene estar.<br />
Um estar entre céu e chão,<br />
novo domínio conquistado,<br />
onde busque nossa paixão<br />
libertar-se por todo lado...<br />
Onde a alma possa descrever<br />
suas mais divinas parábolas<br />
sem fugir à forma do ser,<br />
por sobre o mistério das fábulas.<br />
(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />
Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />
A definição de dança, em linguagem de<br />
dicionário, que mais se aproxima do que<br />
está expresso no poema é<br />
A) a mais antiga das artes, servindo como<br />
elemento de comunicação e afirmação<br />
do homem em todos os momentos de<br />
sua existência.<br />
B) a forma de expressão corporal que<br />
ultrapassa os limites físicos,<br />
possibilitando ao homem a liberação de<br />
seu espírito.<br />
C) a manifestação do ser humano,<br />
formada por uma seqüência de gestos,<br />
passos e movimentos desconcertados.<br />
D) o conjunto organizado de movimentos<br />
do corpo, com ritmo determinado por<br />
instrumentos musicais, ruídos, cantos,<br />
emoções etc.<br />
E) o movimento diretamente ligado ao<br />
psiquismo do indivíduo e, por<br />
conseqüência, ao seu desenvolvimento<br />
intelectual e à sua cultura.<br />
Comentário<br />
A pergunta busca a aplicação do conceito<br />
de "estado de dicionário" (que também foi<br />
desenvolvido por Drummond no poema "A<br />
Procura da Poesia"). A literatura busca partir<br />
de palavras em estado de dicionário para,<br />
pelo aprofundamento do sentido delas, criar<br />
um mundo mais denso e particular. Em<br />
estado de dicionário, a dança, conforme é<br />
tratada nesse poema, apareceria na<br />
alternativa B: uma justaposição entre<br />
aspectos físicos e espirituais da expressão<br />
humana. Questão complexa.<br />
04) (2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />
poema.<br />
A DANÇA E A ALMA<br />
A DANÇA? Não é movimento,<br />
súbito gesto musical.<br />
É concentração, num momento,<br />
da humana graça natural.<br />
No solo não, no éter pairamos,<br />
nele amaríamos ficar.<br />
A dança – não vento nos ramos:<br />
seiva, força, perene estar.<br />
Um estar entre céu e chão,<br />
novo domínio conquistado,<br />
onde busque nossa paixão<br />
libertar-se por todo lado...<br />
Onde a alma possa descrever<br />
suas mais divinas parábolas<br />
sem fugir à forma do ser,<br />
por sobre o mistério das fábulas.<br />
(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />
Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />
O poema “A Dança e a Alma” é construído<br />
com base em contrastes, como<br />
“movimento” e “concentração”. Em uma<br />
das estrofes, o termo que estabelece<br />
contraste com solo é:<br />
A) éter. D) paixão.<br />
B) seiva. E) ser.<br />
C) chão.<br />
Comentário<br />
O elemento que contrasta com "solo"<br />
(físico, tangível, perene) é "éter" (espiritual,<br />
intangível, volátil). Questão de nível médio de<br />
dificuldade.<br />
05) ( 2008) O surgimento da figura da Ema<br />
no céu, ao leste, no anoitecer, na segunda<br />
quinzena de junho, indica o início do<br />
inverno para os índios do sul do Brasil e o<br />
começo da estação seca para os do norte.<br />
É limitada pelas constelações de<br />
Escorpião e do Cruzeiro do Sul, ou<br />
Cut'uxu. Segundo o mito guarani, o<br />
Cut’uxu segura a cabeça da ave para<br />
garantir a vida na Terra, porque, se ela se<br />
soltar, beberá toda a água do nosso<br />
planeta. Os tupisguaranis utilizam o<br />
276
Cut'uxu para se orientar e determinar a<br />
duração das noites e as estações do ano.<br />
A ilustração a seguir é uma representação<br />
dos corpos celestes que constituem a<br />
constelação da Ema, na percepção<br />
indígena.<br />
tiver noção desses conceitos,<br />
chegará facilmente à resposta. A linguagem<br />
formal ou culta prevalece no texto, e o termo<br />
“Cut’uxu’ não é um termo informal, mas, sim,<br />
uma expressão que pertence a uma língua<br />
indígena — o que justifica o emprego da<br />
palavra em itálico. A resposta correta é,<br />
portanto, a letra "B".<br />
Almanaque BRASIL, maio/2007 (com adaptações).<br />
A próxima figura mostra, em campo de<br />
visão ampliado, como povos de culturas<br />
não-indígenas percebem o espaço estelar<br />
em que a Ema é vista.<br />
Internet: (com adaptações).<br />
Assinale a opção correta a respeito da<br />
linguagem empregada no texto A Ema.<br />
A) A palavra Cut’uxu é um regionalismo<br />
utilizado pelas populações próximas às<br />
aldeias indígenas.<br />
B) O autor se expressa em linguagem<br />
formal em todos os períodos do texto.<br />
C) A ausência da palavra Ema no início do<br />
período “É limitada (...)” caracteriza<br />
registro oral.<br />
D) A palavra Cut’uxu está destacada em<br />
itálico porque integra o vocabulário da<br />
linguagem informal.<br />
E) No texto, predomina a linguagem<br />
coloquial porque ele consta de um<br />
almanaque.<br />
Comentário<br />
A questão é simples, mas requer cuidados<br />
quanto aos conceitos de linguagem<br />
“informal”, “formal” e de “língua”. Se o aluno<br />
06) (2008) Calcula-se que 78% do<br />
desmatamento na Amazônia tenha sido<br />
motivado pela pecuária — cerca de 35%<br />
do rebanho nacional está na região — e<br />
que pelo menos 50 milhões de hectares<br />
de pastos são pouco produtivos. Enquanto<br />
o custo médio para aumentar a<br />
produtividade de 1 hectare de pastagem é<br />
de 2 mil reais, o custo para derrubar igual<br />
área de floresta é estimado em 800 reais,<br />
o que estimula novos desmatamentos.<br />
Adicionalmente, madeireiras retiram as<br />
árvores de valor comercial que foram<br />
abatidas para a criação de pastagens. Os<br />
pecuaristas sabem que problemas<br />
ambientais como esses podem provocar<br />
restrições à pecuária nessas áreas, a<br />
exemplo do que ocorreu em 2006 com o<br />
plantio da soja, o qual, posteriormente, foi<br />
proibido em áreas de floresta.<br />
Época, 3/3/2008 e 9/6/2008 (com adaptações).<br />
A partir da situação-problema descrita,<br />
conclui-se que<br />
A) o desmatamento na Amazônia decorre<br />
principalmente da exploração ilegal de<br />
árvores de valor comercial.<br />
B) um dos problemas que os pecuaristas<br />
vêm enfrentando na Amazônia é a<br />
proibição do plantio de soja.<br />
C) a mobilização de máquinas e de força<br />
humana torna o desmatamento mais<br />
caro que o aumento da produtividade<br />
de pastagens.<br />
D) o superavit comercial decorrente da<br />
exportação de carne produzida na<br />
Amazônia compensa a possível<br />
degradação ambiental.<br />
E) a recuperação de áreas desmatadas<br />
e o aumento de produtividade das<br />
pastagens podem contribuir para a<br />
redução do desmatamento na<br />
Amazônia.<br />
Comentário do portal<br />
Essa questão retrata o problema do<br />
desmatamento da Amazônia, relacionado<br />
principalmente com o desenvolvimento da<br />
pecuária na região. Para resolvê-la, foram<br />
277
necessários a leitura atenta do texto e o<br />
conhecimento sobre os problemas<br />
ambientais da atualidade. A alternativa<br />
correta é a letra E, pois é mais caro para os<br />
pecuaristas aumentar a produtividade do que<br />
as áreas de pasto, o que acarreta o aumento<br />
do desmatamento da Amazônia.<br />
07) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />
preciso, além de conhecer o padrão<br />
formal da Língua Portuguesa, saber<br />
adequar o uso da linguagem ao contexto<br />
discursivo. Para exemplificar este fato,<br />
seu professor de Língua Portuguesa<br />
convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />
Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />
brinca com situações de discurso oral que<br />
fogem à expectativa do ouvinte.<br />
Aí, Galera<br />
Jogadores de futebol podem ser<br />
vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />
você pode imaginar um jogador de futebol<br />
dizendo "estereotipação"? E, no<br />
entanto, por que não?<br />
- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />
galera.<br />
- Minha saudação aos aficionados do<br />
clube e aos demais esportistas, aqui<br />
presentes ou no recesso dos seus lares.<br />
- Como é?<br />
- Aí, galera.<br />
- Quais são as instruções do técnico?<br />
- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />
trabalho de contenção coordenada, com<br />
energia otimizada, na zona de<br />
preparação, aumentam as<br />
probabilidades de, recuperado o<br />
esférico, concatenarmos um contragolpe<br />
agudo com parcimônia de meios e<br />
extrema objetividade, valendo-nos da<br />
desestruturação momentânea do<br />
sistema oposto, surpreendido pela<br />
reversão inesperada do fluxo da ação:<br />
- Ahn?<br />
- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />
pegá eles sem calça.<br />
- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />
coisa?<br />
- Posso dirigir uma mensagem de<br />
caráter sentimental, algo banal, talvez<br />
mesmo previsível e piegas, a uma<br />
pessoa à qual sou ligado por razões,<br />
inclusive, genéticas?<br />
- Pode.<br />
- Uma saudação para a minha<br />
progenitora.<br />
- Como é?<br />
278<br />
- Alô, mamãe!<br />
- Estou vendo que você é um, um...<br />
- Um jogador que confunde o<br />
entrevistador, pois não corresponde à<br />
expectativa de que o atleta seja um ser<br />
algo primitivo com dificuldade de<br />
expressão e assim sabota a<br />
estereotipação?<br />
- Estereoquê?<br />
- Um chato?<br />
- Isso.<br />
Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />
O texto retrata duas situações<br />
relacionadas que fogem à expectativa do<br />
público. São elas:<br />
A) a saudação do jogador aos fãs do<br />
clube, no início da entrevista, e a<br />
saudação final dirigida à sua mãe.<br />
B) a linguagem muito formal do jogador,<br />
inadequada à situação da entrevista, e<br />
um jogador que fala, com desenvoltura,<br />
de modo muito rebuscado.<br />
C) o uso da expressão "galera", por parte<br />
do entrevistador, e da expressão<br />
"progenitora", por parte do jogador.<br />
D) o desconhecimento, por parte do<br />
entrevistador, da palavra<br />
"estereotipação", e a fala do jogador<br />
em "é pra dividir no meio e ir pra cima<br />
pra pegá eles sem calça".<br />
E) o fato de os jogadores de futebol serem<br />
vítimas de estereotipação e o jogador<br />
entrevistado não corresponder ao<br />
estereótipo.<br />
Comentário<br />
Quando pensamos em certas profissões,<br />
imaginamos qual seria o padrão de<br />
comportamento de quem as exerce. O texto<br />
está trabalhando uma divergência entre o<br />
que esperamos de um jogador de futebol (o<br />
estereótipo que temos dele) e um jogador<br />
que não se enquadra em nossas<br />
expectativas. Levando isso em consideração,<br />
as duas coisas que destoam do que<br />
esperamos encontrar nessa situação são: 1)<br />
alguém, ao dar uma entrevista de alto<br />
alcance popular, fala de maneira<br />
extremamente rebuscada; 2) um jogador que,<br />
ao falar de maneira rebuscada, acaba por<br />
fugir do estereótipo do jogador de futebol, de<br />
quem sempre é esperado algo menos<br />
rebuscado e mais popular.
08) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />
preciso, além de conhecer o padrão<br />
formal da Língua Portuguesa, saber<br />
adequar o uso da linguagem ao contexto<br />
discursivo. Para exemplificar este fato,<br />
seu professor de Língua Portuguesa<br />
convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />
Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />
brinca com situações de discurso oral que<br />
fogem à expectativa do ouvinte.<br />
Aí, Galera<br />
Jogadores de futebol podem ser<br />
vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />
você pode imaginar um jogador de futebol<br />
dizendo "estereotipação"? E, no<br />
entanto, por que não?<br />
- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />
galera.<br />
- Minha saudação aos aficionados do<br />
clube e aos demais esportistas, aqui<br />
presentes ou no recesso dos seus lares.<br />
- Como é?<br />
- Aí, galera.<br />
- Quais são as instruções do técnico?<br />
- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />
trabalho de contenção coordenada, com<br />
energia otimizada, na zona de<br />
preparação, aumentam as<br />
probabilidades de, recuperado o<br />
esférico, concatenarmos um contragolpe<br />
agudo com parcimônia de meios e<br />
extrema objetividade, valendo-nos da<br />
desestruturação momentânea do<br />
sistema oposto, surpreendido pela<br />
reversão inesperada do fluxo da ação:<br />
- Ahn?<br />
- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />
pegá eles sem calça.<br />
- Certo. Você quer dizer mais alguma coisa?<br />
- Posso dirigir uma mensagem de caráter<br />
sentimental, algo banal, talvez mesmo<br />
previsível e piegas, a uma pessoa à qual<br />
sou ligado por razões, inclusive,<br />
genéticas?<br />
- Pode.<br />
- Uma saudação para a minha progenitora.<br />
- Como é?<br />
- Alô, mamãe!<br />
- Estou vendo que você é um, um...<br />
- Um jogador que confunde o entrevistador,<br />
pois não corresponde à expectativa de<br />
que o atleta seja um ser algo primitivo com<br />
dificuldade de expressão e assim sabota a<br />
estereotipação?<br />
- Estereoquê?<br />
- Um chato?<br />
- Isso.<br />
Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />
O texto mostra uma situação em que a<br />
linguagem usada é inadequada ao<br />
contexto. Considerando as diferenças<br />
entre língua oral e língua escrita, assinale<br />
a opção que representa também uma<br />
inadequação da linguagem usada ao<br />
contexto:<br />
A) "o carro bateu e capotô, mas num deu<br />
pra vê direito" - um pedestre que<br />
assistiu ao acidente comenta com o<br />
outro que vai passando.<br />
B) "E aí, ô meu! Como vai essa força?" -<br />
um jovem que fala para um amigo.<br />
C) "Só um instante, por favor. Eu<br />
gostaria de fazer uma observação" -<br />
alguém comenta em uma reunião de<br />
trabalho.<br />
D) "Venho manifestar meu interesse em<br />
candidatar-me ao cargo de Secretária<br />
Executiva desta conceituada empresa"<br />
- alguém que escreve uma carta<br />
candidatando-se a um emprego.<br />
E) "Porque se a gente não resolve as<br />
coisas como têm que ser, a gente corre<br />
o risco de termos, num futuro próximo,<br />
muito pouca comida nos lares<br />
brasileiros" - um professor universitário<br />
em um congresso internacional.<br />
Comentário<br />
Essa questão está trabalhando com as<br />
nossas expectativas. Esperamos encontrar,<br />
nas diferentes situações, linguagens que<br />
correspondam à formalidade (ou à<br />
informalidade) delas. Na alternativa E, como<br />
o professor universitário está falando em um<br />
congresso internacional, espera-se que ele<br />
utilize uma linguagem mais formal e não uma<br />
linguagem coloquial como a que usou. Em<br />
todas as outras situações, a linguagem está<br />
de acordo com a situação em que está sendo<br />
empregada.<br />
09) (2006) Depois de um bom jantar: feijão<br />
com carne-seca, orelha de porco e couve<br />
com angu, arroz-mole engordurado, carne<br />
de vento assada no espeto, torresmo<br />
enxuto de toicinho da barriga, viradinho de<br />
milho verde e um prato de caldo de couve,<br />
jantar encerrado por um prato fundo de<br />
canjica com torrões de açúcar, Nhô Tomé<br />
saboreou o café forte e se estendeu na<br />
rede. A mão direita sob a cabeça, à guisa<br />
de travesseiro, o indefectível cigarro de<br />
palha entre as pontas do indicador e do<br />
polegar, envernizados pela fumaça, de<br />
unhas encanoadas e longas, ficou-se de<br />
pança para o ar, modorrento, a olhar para<br />
279
280<br />
as ripas do telhado.<br />
Quem come e não deita, a comida não<br />
aproveita, pensava Nhô Tomé... E pôs-se<br />
a cochilar. A sua modorra durou pouco;<br />
Tia Policena, ao passar pela sala, bradou<br />
assombrada:<br />
— Êêh! Sinhô! Vai drumi agora? Não!<br />
Num presta... Dá pisadêra e póde morrê<br />
de ataque de cabeça! Despois do armoço<br />
num far-má... mais despois da janta?!”<br />
Cornélio Pires. Conversas ao pé do fogo. São Paulo:<br />
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1987.<br />
Nesse trecho, extraído de texto publicado<br />
originalmente em 1921, o narrador<br />
A) apresenta, sem explicitar juízos de<br />
valor, costumes da epoca, descrevendo<br />
os pratos servidos no jantar e a atitude<br />
de Nhô Tomé e de Tia Policena.<br />
B) desvaloriza a norma culta da língua<br />
porque incorpora à narrativa usos<br />
próprios da linguagem regional das<br />
personagens.<br />
C) condena os hábitos descritos, dando<br />
voz a Tia Policena, que tenta impedir<br />
Nhô Tomé de deitar-se após as<br />
refeições.<br />
D) utiliza a diversidade sociocultural e<br />
lingüística para demonstrar seu<br />
desrespeito às populações das zonas<br />
rurais do início do século XX.<br />
E) manifesta preconceito em relação a Tia<br />
Policena ao transcrever a fala dela com<br />
os erros próprios da região.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil, pois a alternativa<br />
"A" deixa clara a intencionalidade do<br />
narrador. Entretanto, o aluno poderia optar<br />
pela alternativa "B" caso não desse o devido<br />
valor ao sentido da palavra “desvaloriza”, que<br />
a elimina.<br />
<strong>10</strong>) (2007) Texto I<br />
Agora Fabiano conseguia arranjar as<br />
idéias. O que o segurava era a família.<br />
Vivia preso como um novilho amarrado ao<br />
mourão, suportando ferro quente. Se não<br />
fosse isso, um soldado amarelo não lhe<br />
pisava o pé não. (...) Tinha aqueles<br />
cambões pendurados ao pescoço.<br />
Deveria continuar a arrastá-los? Sinha<br />
Vitória dormia mal na cama de varas. Os<br />
meninos eram uns brutos, como o pai.<br />
Quando crescessem, guardariam as reses<br />
de um patrão invisível, seriam pisados,<br />
maltratados, machucados por um soldado<br />
amarelo.<br />
Graciliano Ramos. Vidas Secas. São Paulo:<br />
Martins, 23.ª ed., 1969, p. 75.<br />
Texto II<br />
Para Graciliano, o roceiro pobre é um<br />
outro, enigmático, impermeável. Não há<br />
solução fácil para uma tentativa de<br />
incorporação dessa figura no campo da<br />
ficção. É lidando com o impasse, ao invés<br />
de fáceis soluções, que Graciliano vai<br />
criar Vidas Secas, elaborando uma<br />
linguagem, uma estrutura romanesca,<br />
uma constituição de narrador em que<br />
narrador e criaturas se tocam, mas não se<br />
identificam. Em grande medida, o debate<br />
acontece porque, para a intelectualidade<br />
brasileira naquele momento, o pobre, a<br />
despeito de aparecer idealizado em certos<br />
aspectos, ainda é visto como um ser<br />
humano de segunda categoria, simples<br />
demais, incapaz de ter pensamentos<br />
demasiadamente complexos. O que Vidas<br />
Secas faz é, com pretenso não<br />
envolvimento da voz que controla a<br />
narrativa, dar conta de uma riqueza<br />
humana de que essas pessoas seriam<br />
plenamente capazes.<br />
Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes. In:<br />
Teresa. São Paulo: USP, n.° 2, 2001, p. 254.<br />
No texto II, verifica-se que o autor utiliza<br />
A) linguagem predominantemente<br />
formal, para problematizar, na<br />
composição de Vidas Secas, a relação<br />
entre o escritor e o personagem<br />
popular.<br />
B) linguagem inovadora, visto que, sem<br />
abandonar a linguagem formal, dirigese<br />
diretamente ao leitor.<br />
C) linguagem coloquial, para narrar<br />
coerentemente uma história que<br />
apresenta o roceiro pobre de forma<br />
pitoresca.<br />
D) linguagem formal com recursos<br />
retóricos próprios do texto literário em<br />
prosa, para analisar determinado<br />
momento da literatura brasileira.<br />
E) linguagem regionalista, para transmitir<br />
informações sobre literatura, valendose<br />
de coloquialismo, para facilitar o<br />
entendimento do texto.<br />
Comentário<br />
Questão de nível médio. Algumas<br />
alternativas poderiam levar o candidato a<br />
pensar que o texto de Vidas Secas utiliza<br />
uma linguagem predominantemente coloquial<br />
e regionalista. Entretanto, é na alternativa A<br />
que se encontra o real estilo da linguagem<br />
utilizada por Graciliano Ramos. A linguagem<br />
é, portanto, predominantemente formal e<br />
problematiza a relação do escritor com o
personagem popular. Esta acaba sendo uma<br />
das grandes características do autor, pois ele<br />
buscava sempre dar uma grande densidade<br />
psicológica aos seus romances.<br />
11) (2006) Aula de português<br />
Explorando a função emotiva da<br />
linguagem, o poeta expressa o contraste<br />
entre marcas de variação de usos da<br />
linguagem em<br />
A) situações formais e informais.<br />
B) diferentes regiões do país.<br />
C) escolas literárias distintas.<br />
D) textos técnicos e poéticos.<br />
E) diferentes épocas.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil, pois o próprio título<br />
nos dá uma noção da dificuldade de<br />
transformar a linguagem coloquial e de uso<br />
cotidiano em uma linguagem formal,<br />
expressa no poema como “a misteriosa”.<br />
Drummond foi muito feliz em conseguir<br />
demonstrar a dificuldade em entender como<br />
estruturas simples da língua se tornam tão<br />
complexas ao se iniciar o processo de<br />
compreensão da estrutura lingüística.<br />
12) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />
preciso, além de conhecer o padrão<br />
formal da Língua Portuguesa, saber<br />
adequar o uso da linguagem ao contexto<br />
discursivo. Para exemplificar este fato,<br />
seu professor de Língua Portuguesa<br />
convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />
Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />
brinca com situações de discurso oral que<br />
fogem à expectativa do ouvinte.<br />
Aí, Galera<br />
Jogadores de futebol podem ser<br />
vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />
você pode imaginar um jogador de futebol<br />
dizendo "estereotipação"? E, no<br />
entanto, por que não?<br />
- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />
galera.<br />
- Minha saudação aos aficionados do<br />
clube e aos demais esportistas, aqui<br />
presentes ou no recesso dos seus lares.<br />
- Como é?<br />
- Aí, galera.<br />
- Quais são as instruções do técnico?<br />
- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />
trabalho de contenção coordenada, com<br />
energia otimizada, na zona de<br />
preparação, aumentam as<br />
probabilidades de, recuperado o<br />
esférico, concatenarmos um contragolpe<br />
agudo com parcimônia de meios e<br />
extrema objetividade, valendo-nos da<br />
desestruturação momentânea do<br />
sistema oposto, surpreendido pela<br />
reversão inesperada do fluxo da ação:<br />
- Ahn?<br />
- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />
pegá eles sem calça.<br />
- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />
coisa?<br />
- Posso dirigir uma mensagem de<br />
caráter sentimental, algo banal, talvez<br />
mesmo previsível e piegas, a uma<br />
pessoa à qual sou ligado por razões,<br />
inclusive, genéticas?<br />
- Pode.<br />
- Uma saudação para a minha<br />
progenitora.<br />
- Como é?<br />
- Alô, mamãe!<br />
- Estou vendo que você é um, um...<br />
- Um jogador que confunde o<br />
entrevistador, pois não corresponde à<br />
expectativa de que o atleta seja um ser<br />
algo primitivo com dificuldade de<br />
expressão e assim sabota a<br />
estereotipação?<br />
- Estereoquê?<br />
- Um chato?<br />
- Isso.<br />
Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />
281
A expressão "pegá eles sem calça"<br />
poderia ser substituída, sem<br />
comprometimento de sentido, em língua<br />
culta, formal, por:<br />
A) pegá-los na mentira.<br />
B) pegá-los desprevenidos.<br />
C) pegá-los em flagrante.<br />
D) pegá-los rapidamente.<br />
E) pegá-los momentaneamente<br />
Comentário<br />
O trabalho que temos aqui é de<br />
compreensão de sentido. Se você nunca<br />
ouviu a expressão "de calças na mão", terá<br />
de imaginar o que acontece quando<br />
pegamos alguém nessa situação. Mas isso<br />
não basta. Se usar somente situações que<br />
pode imaginar, restarão as alternativas B e<br />
C. Esse problema só será solucionado se<br />
você entender bem o texto a que ele se<br />
refere. Como o jogador está falando em<br />
roubar a bola e partir para cima do adversário<br />
rapidamente, imagina-se que o adversário<br />
não esperava perder a bola naquele<br />
momento e, quando isso ocorreu, ele não<br />
estava preparado para receber um contraataque.<br />
Utilizando essa análise, somente a<br />
alternativa B está correta.<br />
13) (2000) Em uma conversa ou leitura de<br />
um texto, corre-se o risco de atribuir um<br />
significado inadequado a um termo ou<br />
expressão, e isso pode levar a certos<br />
resultados inesperados, como se vê nos<br />
quadrinhos abaixo.<br />
Comentário<br />
Quem não se lembra de expressões<br />
humorísticas usadas quando se deseja tirar<br />
uma foto, como "Olha o passarinho" ou "Fale<br />
xis"?<br />
Pois é, essa é uma questão fácil e a<br />
interpretação do texto é simples, e não há<br />
por que ter dúvidas quanto à resposta, a não<br />
ser que não se leia a proposta da questão.<br />
Comentário do INEP<br />
Essa questão procurou avaliar se o<br />
participante conseguia inferir, a partir de uma<br />
seqüência narrativa de imagens, a expressão<br />
lingüística adequada à situação de<br />
interlocução, no caso a fala da personagem,<br />
no primeiro quadrinho. A expressão de uso<br />
coloquial 'olha o passarinho!', dependendo do<br />
contexto, tem diferentes significados, que<br />
nesse caso foram associados pelo cartunista<br />
para produzir o efeito de humor. A grande<br />
maioria - 89% - dos participantes realizou a<br />
inferência solicitada, analisando a função da<br />
linguagem e identificando a variante<br />
lingüística adequada à situação de<br />
interlocução, com base na leitura da<br />
seqüência das imagens e da fala da<br />
personagem no terceiro quadrinho. É<br />
interessante notar a abrangência dessa<br />
expressão metafórica no Brasil, criada no<br />
contexto informal da fala com seus<br />
significados correspondentes. Mesmo assim,<br />
11% dos participantes, possivelmente,<br />
desconhecem essa expressão ou não<br />
conseguiram realizar a transposição do<br />
significado humorístico da fala do último<br />
quadrinho.<br />
(SOUZA, Maurício de. Chico Bento.<br />
Rio de Janeiro: Ed. Globo, n o 335, Nov./99 )<br />
Nessa historinha, o efeito humorístico<br />
origina-se de uma situação criada pela<br />
fala da Rosinha no primeiro quadrinho,<br />
que é:<br />
A) Faz uma pose bonita!<br />
B) Quer tirar um retrato?<br />
C) Sua barriga está aparecendo!<br />
D) Olha o passarinho!<br />
E) Cuidado com o flash!<br />
14) (2005) Leia com atenção o texto:<br />
[Em Portugal], você poderá ter alguns<br />
probleminhas se entrar numa loja de<br />
roupas desconhecendo certas sutilezas da<br />
língua. Por exemplo, não adianta pedir<br />
para ver os ternos — peça para ver os<br />
fatos. Paletó é casaco. Meias são<br />
peúgas. Suéter é camisola — mas não<br />
se assuste, porque calcinhas femininas<br />
são cuecas. (Não é uma delícia?)<br />
(Ruy Castro. Viaje Bem. Ano VIII, no 3, 78.)<br />
O texto destaca a diferença entre o<br />
português do Brasil e o de Portugal<br />
quanto<br />
A) ao vocabulário.<br />
B) à derivação.<br />
C) à pronúncia.<br />
D) ao gênero.<br />
E) à sintaxe.<br />
282
Comentário<br />
Questão de entendimento muito fácil, pois<br />
o próprio enunciado deixa claro que se trata<br />
das diferenças de vocabulário entre o<br />
português brasileiro e o lusitano.<br />
15) (2006) Aula de português<br />
No poema, a referência à variedade<br />
padrão da língua está expressa no<br />
seguinte trecho:<br />
A) “A linguagem / na ponta da língua” (v.1<br />
e 2).<br />
B) “A linguagem / na superfície<br />
estrelada de letras” (v.5 e 6).<br />
C) “[a língua] em que pedia para ir lá<br />
fora” (v.14).<br />
D) “[a língua] em que levava e dava<br />
pontapé” (v.15).<br />
E) “[a língua] do namoro com a priminha”<br />
(v.17).<br />
Comentário<br />
Questão fácil, pois a alternativa "B" é a<br />
única que faz menção à norma-padrão da<br />
língua. As demais alternativas fogem a essa<br />
norma.<br />
16) (2008) A Lei Federal n.º 9.985/2000, que<br />
instituiu o sistema nacional de unidades<br />
de conservação, define dois tipos de<br />
áreas protegidas. O primeiro, as unidades<br />
de proteção integral, tem por objetivo<br />
preservar a natureza, admitindo-se<br />
apenas o uso indireto dos seus recursos<br />
naturais, isto é, aquele que não envolve<br />
consumo, coleta, dano ou destruição dos<br />
recursos naturais. O segundo, as<br />
unidades de uso sustentável, tem por<br />
função compatibilizar a conservação da<br />
natureza com o uso sustentável de<br />
parcela dos recursos naturais. Nesse<br />
caso, permite-se a exploração do<br />
ambiente de maneira a garantir a<br />
perenidade dos recursos ambientais<br />
renováveis e dos processos ecológicos,<br />
mantendo-se a biodiversidade e os<br />
demais atributos ecológicos, de forma<br />
socialmente justa e economicamente<br />
viável.<br />
Considerando essas informações, analise<br />
a seguinte situação hipotética.<br />
Ao discutir a aplicação de recursos<br />
disponíveis para o desenvolvimento de<br />
determinada região, organizações civis,<br />
universidade e governo resolveram<br />
investir na utilização de uma unidade de<br />
proteção integral, o Parque Nacional do<br />
Morro do Pindaré, e de uma unidade de<br />
uso sustentável, a Floresta Nacional do<br />
Sabiá. Depois das discussões, a equipe<br />
resolveu levar adiante três projetos:<br />
— o projeto I consiste de pesquisas<br />
científicas embasadas exclusivamente<br />
na observação de animais;<br />
— o projeto II inclui a construção de uma<br />
escola e de um centro de vivência;<br />
— o projeto III promove a organização de<br />
uma comunidade extrativista que<br />
poderá coletar e explorar<br />
comercialmente frutas e sementes<br />
nativas.<br />
Nessa situação hipotética, atendendo-se à<br />
lei mencionada acima, é possível<br />
desenvolver tanto na unidade de proteção<br />
integral quanto na de uso sustentável<br />
A) apenas o projeto I.<br />
B) apenas o projeto III.<br />
C) apenas os projetos I e II.<br />
D) apenas os projetos II e III.<br />
E) todos os três projetos.<br />
Comentário do portal<br />
A alternativa correta é a letra "A", pois,<br />
analisando-se a situação hipotética sugerida<br />
no enunciado, percebe-se que ela deverá<br />
atender os requisitos tanto da unidade de<br />
283
proteção integral quanto da unidade de uso<br />
sustentável. Portanto, apenas o projeto I<br />
poderá ser desenvolvido nessas duas<br />
propostas de unidades.<br />
17) (2006) No romance Vidas Secas, de<br />
Graciliano Ramos, o vaqueiro Fabiano<br />
encontra-se com o patrão para receber o<br />
salário. Eis parte da cena:<br />
284<br />
Graciliano Ramos. Vidas Secas. 91.ª ed.<br />
Rio de Janeiro: Record, 2003.<br />
No fragmento transcrito, o padrão formal<br />
da linguagem convive com marcas de<br />
regionalismo e de coloquialismo no<br />
vocabulário. Pertence à variedade do<br />
padrão formal da linguagem o seguinte<br />
trecho:<br />
A) Não se conformou: devia haver<br />
engano (l.1).<br />
B) Fabiano perdeu os estribos (l.3).<br />
C) Passar a vida inteira assim no toco<br />
(l.4).<br />
D) Entregando o que era dele de mao<br />
beijada! (l.4-5).<br />
E) Aí Fabiano baixou a pancada e<br />
amunhecou (l.11).<br />
Comentário do portal<br />
Questão de nível fácil. Bastaria que o<br />
candidato conhecesse o padrão formal da<br />
linguagem e distinguisse-o do regionalismo e<br />
do coloquialismo.<br />
18) (2001) Os provérbios constituem um<br />
produto da sabedoria popular e, em geral,<br />
pretendem transmitir um ensinamento. A<br />
alternativa em que os dois provérbios<br />
remetem a ensinamentos semelhantes é:<br />
A) “Quem diz o que quer, ouve o que não<br />
quer” e “Quem ama o feio, bonito lhe<br />
parece”.<br />
B) “Devagar se vai ao longe” e “De grão<br />
em grão, a galinha enche o papo”.<br />
C) “Mais vale um pássaro na mão do que<br />
dois voando” e “Não se deve atirar<br />
pérolas aos porcos”.<br />
D) “Quem casa quer casa” e “Santo de<br />
casa não faz milagre”.<br />
E) “Quem com ferro fere, com ferro será<br />
ferido” e “Casa de ferreiro, espeto de<br />
pau”.<br />
Comentário<br />
Questão fácil. A alternativa B apresenta<br />
dois provérbios que tratam de paciência,<br />
perseverança. A mensagem é a mesma em<br />
ambos.<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão propõe uma série de<br />
provérbios agrupados aos pares, para que o<br />
participante demonstre compreender e<br />
comparar os provérbios de modo a identificar<br />
aqueles que traduzem ensinamentos<br />
semelhantes. A organização sintáticosemântica<br />
dos provérbios cria um efeito de<br />
sentido metafórico que deve ser recuperado,<br />
analisado e comparado, o que foi<br />
corretamente feito por cerca de 80% dos<br />
participantes.<br />
19) (1999)<br />
(QUINO. Mafalda inédita. São Paulo: Martins Fontes, 1993)<br />
Observando as falas das personagens,<br />
analise o emprego do pronome SE e o<br />
sentido que adquire no contexto. No<br />
contexto da narrativa, é correto afirmar<br />
que o pronome SE:<br />
A) em I, indica reflexividade e equivale a<br />
"a si mesmas".<br />
B) em II, indica reciprocidade e equivale a<br />
"a si mesma".<br />
C) em III, indica reciprocidade e equivale<br />
a "umas às outras".<br />
D) em I e III, indica reciprocidade e<br />
equivale a "umas às outras".<br />
E) em II e III, indica reflexividade e<br />
equivale a "a si mesma " e "a si<br />
mesmas", respectivamente.<br />
Comentário<br />
Mais uma questão que fala por si própria.<br />
Lendo o segundo quadrinho — "Quer dizer<br />
que você também se ama muito mais no<br />
Natal?" —, é fácil de se identificar o pronome<br />
reflexivo. Basta que se troque se ama por
ama a si mesma. O mesmo ocorre no<br />
terceiro quadrinho em "Por que será que as<br />
pessoas se amam muito mais no Natal?" —<br />
Por que será que as pessoas amam a si<br />
mesmas? Questão de grau fácil.<br />
Comentário do INEP<br />
Este problema requeria que o participante<br />
mobilizasse conhecimentos sobre os<br />
significados de "reciprocidade e<br />
"reflexividade" e o associasse à<br />
compreensão de linguagem iconográfica.<br />
Cerca de metade dos participantes<br />
demonstrou essa capacidade. A opção de<br />
30% dos participantes pela alternativa D<br />
pode indicar que eles utilizaram as imagens<br />
apenas como ilustração do texto e não como<br />
linguagem capaz de instituir novos<br />
significados.<br />
20) (202) "Narizinho correu os olhos pela<br />
assistência. Não podia haver nada mais<br />
curioso. Besourinhos de fraque e flores na<br />
lapela conversavam com baratinhas de<br />
mantilha e miosótis nos cabelos. Abelhas<br />
douradas, verdes e azuis, falavam mal<br />
das vespas de cintura fina — achando que<br />
era exagero usarem coletes tão<br />
apertados. Sardinhas aos centos<br />
criticavam os cuidados excessivos que as<br />
borboletas de toucados de gaze tinham<br />
com o pó das suas asas. Mamangavas de<br />
ferrões amarrados para não morderem. E<br />
canários cantando, e beija-flores beijando<br />
flores, e camarões camaronando, e<br />
caranguejos caranguejando, tudo que é<br />
pequenino e não morde, pequeninando e<br />
não mordendo."<br />
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. São Paulo:<br />
Brasiliense, 1947.<br />
No último período do trecho, há uma série<br />
de verbos no gerúndio que contribuem<br />
para caracterizar o ambiente fantástico<br />
descrito. Expressões como<br />
"camaronando", "caranguejando" e<br />
"pequeninando e não mordendo" criam,<br />
principalmente, efeitos de<br />
A) esvaziamento de sentido.<br />
B) monotonia do ambiente.<br />
C) estaticidade dos animais.<br />
D) interrupção dos movimentos.<br />
E) dinamicidade do cenário.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. O dinamismo dos<br />
verbos no gerúndio tem como função<br />
principal dar vida às personagens do mundo<br />
fantástico. Não há estagnação. Cada animal<br />
faz o que lhe cabe.<br />
Comentário do INEP<br />
Essa questão apresenta para leitura e<br />
análise um trecho da obra Reinações de<br />
Narizinho, de Monteiro Lobato, e, nele, a<br />
descrição reflete as fantasias do mundo<br />
infantil. A questão propõe que seja resolvido<br />
um problema de linguagem, que é a<br />
identificação dos sentidos criados no texto<br />
pelo emprego de vários verbos no gerúndio,<br />
alguns dos quais, neologismos criados pelo<br />
autor. Como o texto é uma descrição, temos<br />
o relato de um ambiente que se agita com as<br />
ações simultâneas dos muitos seres que o<br />
habitam. Cabe ao participante perceber que<br />
o efeito dinâmico é criado pelos verbos de<br />
ação no gerúndio, que é a forma verbal da<br />
ação se fazendo. Ou seja, é função típica do<br />
gerúndio traduzir a noção de uma ação que<br />
se desenvolve de modo simultâneo à sua<br />
enunciação. Nesse ambiente retratado por<br />
Monteiro Lobato, os bichinhos humanizados<br />
se agitam, lembrando um burburinho de<br />
crianças. Apenas a alternativa E, assinalada<br />
por 36% dos participantes, responde<br />
corretamente a questão. As outras<br />
alternativas contemplam efeitos ou<br />
significados que, apesar de eventualmente<br />
serem transmitidos pelo emprego do<br />
gerúndio, não se verificam no texto.<br />
21) (2005) As dimensões continentais do<br />
Brasil são objeto de reflexões expressas<br />
em diferentes linguagens. Esse tema<br />
aparece no seguinte p"Narizinho correu os<br />
olhos pela assistência. Não podia haver nada<br />
mais curioso. Besourinhos de oema:<br />
“(....)<br />
Que importa que uns falem mole<br />
descansado<br />
Que os cariocas arranhem os erres na<br />
garganta<br />
Que os capixabas e paroaras escancarem<br />
as vogais?<br />
Que tem se o quinhentos réis meridional<br />
Vira cinco tostões do Rio pro Norte?<br />
Junto formamos este assombro de<br />
misérias e grandezas,<br />
Brasil, nome de vegetal! (....)”<br />
(Mário de Andrade. Poesias completas. 6. ed. São Paulo:<br />
Martins Editora, 1980.)<br />
O texto poético ora reproduzido trata das<br />
diferenças brasileiras no âmbito<br />
A) étnico e religioso.<br />
B) lingüístico e econômico.<br />
285
C) racial e folclórico.<br />
D) histórico e geográfico.<br />
E) literário e popular.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil, pois a primeira<br />
estrofe, ao enunciar os erres arranhados dos<br />
cariocas e as vogais abertas dos capixabas,<br />
evidencia a diferença lingüística entre duas<br />
regiões distintas do Brasil, dando noção da<br />
variedade. Já na segunda estrofe, as<br />
diferenças econômicas são evidenciadas ao<br />
se mostrarem os réis e tostões variando da<br />
Região Meridional para a Norte.<br />
22) (2008) Assinale a opção que apresenta<br />
um verso do soneto de Cláudio Manoel da<br />
Costa em que o poeta se dirige ao seu<br />
interlocutor.<br />
A) “Torno a ver-vos, ó montes; o<br />
destino” (v.1)<br />
B) “Aqui estou entre Almendro, entre<br />
Corino,” (v.5)<br />
C) “Os meus fiéis, meus doces<br />
companheiros,” (v.6)<br />
D) “Vendo correr os míseros vaqueiros”<br />
(v.7)<br />
E) “Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto,”<br />
(v.11)<br />
Assinale o trecho do diálogo que<br />
apresenta um registro informal, ou<br />
coloquial, da linguagem.<br />
A) “Tá legal, espertinho! Onde é que<br />
você esteve?!”<br />
B) “E lembre-se: se você disser uma<br />
mentira, os seus chifres cairão!”<br />
C) “Estou atrasado porque ajudei uma<br />
velhinha a atravessar a rua...”<br />
D) “...e ela me deu um anel mágico que<br />
me levou a um tesouro”<br />
E) “mas bandidos o roubaram e os<br />
persegui até a Etiópia, onde um<br />
dragão...”<br />
Comentário<br />
Linguagem coloquial é aquela usada no<br />
cotidiano, que tem como característica<br />
principal a oralidade, ou seja, aquela que não<br />
segue o rigor da norma culta.<br />
Entre as alternativas da questão, apenas<br />
a letra "A" apresenta esses traços.<br />
24) (2004) O poema abaixo pertence à<br />
poesia concreta brasileira. O termo latino<br />
de seu título significa "epitalâmio", poema<br />
ou canto em homenagem aos que se<br />
casam.<br />
Comentário<br />
Nesta questão, basta que o aluno<br />
identifique o pronome oblíquo, presente no<br />
verso um, que chama o leitor para o texto.<br />
Sendo assim, a resposta correta é a letra "A".<br />
23) (2008)<br />
Considerando que símbolos e sinais são<br />
utilizados geralmente para demonstrações<br />
objetivas, ao serem incorporados no<br />
poema "Epithalamium - II".<br />
A) adquirem novo potencial de<br />
significação.<br />
B) eliminam a subjetividade do poema.<br />
C) opõem-se ao tema principal do poema.<br />
D) invertem seu sentido original.<br />
E) tornam-se confusos e equivocados.<br />
286<br />
Dick Browne. O melhor de Hagar, o horrível, v. 2. L&PM<br />
pocket, p.55-6 (com adaptações).<br />
Comentário<br />
Diferentemente, por exemplo, da<br />
aplicação matemática dos símbolos, em que<br />
sinais como "=", "+", "-", "x", etc. servem<br />
como convenções internacionais de<br />
significação objetiva e invariável, em um<br />
poema como "Epithalamium – II" foram
usados símbolos que não são convenções<br />
internacionais, mas, sim, convencionados<br />
apenas para esse texto. No caso, letras do<br />
alfabeto deixam de ser representações de<br />
sons (fonemas) para ganharem nova<br />
significação, principalmente pela construção<br />
visual do poema: unem homem (h) e mulher<br />
(e) pela ação da serpente (s) — libido,<br />
atração — em uma entidade única.<br />
Uma das tendências poéticas da segunda<br />
metade do século XX, resultado de um<br />
diálogo com estéticas já presentes no final do<br />
século XIX, trabalha com a construção de<br />
seu próprio referente, fazendo do poema um<br />
objeto autônomo.<br />
25) (2000) “Precisa-se nacionais sem<br />
nacionalismo, (...) movidos pelo presente<br />
mas estalando naquele cio racial que só<br />
as tradições maduram! (...). Precisa-se<br />
gentes com bastante meiguice no<br />
sentimento, bastante força na peitaria,<br />
bastante paciência no entusiasmo e<br />
sobretudo, oh! sobretudo bastante<br />
vergonha na cara!<br />
(...) Enfim: precisa-se brasileiros! Assim<br />
está escrito no anúncio vistoso de cores<br />
desesperadas pintado sobre o corpo do<br />
nosso Brasil, camaradas.”<br />
(Jornal A Noite, São Paulo, 18/12/1925 apud LOPES, Telê<br />
Porto Ancona. Mário<br />
de Andrade: ramais e caminhos. São Paulo: Duas<br />
Cidades, 1972)<br />
No trecho acima, Mário de Andrade dá<br />
forma a um dos itens do ideário<br />
modernista, que é o de firmar a feição de<br />
uma língua mais autêntica, “brasileira”, ao<br />
expressar-se numa variante de linguagem<br />
popular identificada pela (o):<br />
A) escolha de palavras como cio, peitaria,<br />
vergonha.<br />
B) emprego da pontuação.<br />
C) repetição do adjetivo bastante.<br />
D) concordância empregada em Assim<br />
está escrito.<br />
E) escolha de construção do tipo<br />
precisa-se gentes.<br />
Comentário<br />
Apesar de essa questão misturar vários<br />
tipos de informação, se você se lembra um<br />
pouquinho dos usos da partícula se, com<br />
certeza não encontrará grande dificuldade.<br />
Segundo a regra gramatical, o verbo<br />
"precisa-se" deveria ir para o plural<br />
(precisam-se), mas essa noção de verbo<br />
concordante com o sujeito há muito<br />
desapareceu na variante popular brasileira.<br />
Mas, caso você não se lembre muito bem<br />
desse assunto ou ficou meio confuso com o<br />
texto e as outras alternativas, o caminho é<br />
responder por eliminação.<br />
A primeira alternativa apresenta palavras<br />
comuns no português brasileiro, mas<br />
nenhuma "invenção" nacional. Na dúvida,<br />
pense em "vergonha": não é uma invenção<br />
brasileira. Todos os que falam português no<br />
mundo conhecem bem essa palavra. A<br />
pontuação no texto não chama nenhuma<br />
atenção. Você provavelmente não viu nada<br />
de estranho nela. Da mesma forma, o<br />
"bastante" da terceira alternativa não é nada<br />
mais que um mecanismo de retórica, usado<br />
para dar ênfase à idéia. Com o "Assim está<br />
escrito", encontramos a mesma situação: um<br />
trecho litúrgico é usado para maior ênfase.<br />
Comentário do INEP<br />
A questão procurou avaliar se o<br />
participante era capaz de, a partir da leitura<br />
de um texto de Mário de Andrade , identificar<br />
e analisar uma variante lingüística de uso<br />
coloquial, utilizadas estilisticamente pelo<br />
autor. O uso estilístico das variantes marcou<br />
a primeira fase da literatura brasileira<br />
modernista. O trecho destaca em seu todo<br />
esse uso da linguagem popular. A escolha da<br />
construção 'precisa-se gentes' é marca desse<br />
uso estilístico. O índice de 37% na alternativa<br />
(A) demonstra, possivelmente, que os<br />
participantes não consideraram a escolha<br />
dos vocábulos, dentro do contexto do texto,<br />
confundindo as palavras que aparecem na<br />
alternativa com '...a feição de uma língua<br />
mais autêntica...'.O percentual de acertos foi<br />
da ordem de 40%.<br />
26) (2001) Oxímoro (ou paradoxo) é uma<br />
construção textual que agrupa significados<br />
que se excluem mutuamente. Para<br />
Garfield, a frase de saudação de Jon<br />
(tirinha abaixo) expressa o maior de todos<br />
os oxímoros.<br />
Folha de S. Paulo. 31 de julho de 2000.<br />
Nas alternativas abaixo, estão transcritos<br />
versos retirados do poema “O operário em<br />
construção”. Pode-se afirmar que ocorre<br />
um oxímoro em<br />
287
A) "Era ele que erguia casas<br />
Onde antes só havia chão."<br />
B) "... a casa que ele fazia<br />
Sendo a sua liberdade<br />
Era a sua escravidão."<br />
C) "Naquela casa vazia<br />
Que ele mesmo levantara<br />
Um mundo novo nascia<br />
De que sequer suspeitava."<br />
D) "... o operário faz a coisa<br />
E a coisa faz o operário."<br />
E) "Ele, um humilde operário<br />
Um operário que sabia<br />
Exercer a profissão."<br />
MORAES, Vinícius de. Antologia Poética. São Paulo:<br />
Companhia das Letras, 1992.<br />
Comentário<br />
Idéias que se completam e se excluem<br />
mutuamente são encontradas na alternativa<br />
B: a casa que ele construía era, ao mesmo<br />
tempo, sua liberdade e sua escravidão.<br />
A casa é um símbolo de liberdade para o<br />
homem. Para o homem operário, é também<br />
símbolo de escravidão, pois ele está<br />
"condenado" a jamais usufruir do resultado<br />
do seu trabalho (a casa que faz não é para<br />
ele).<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão propõe ao participante que<br />
estabeleça uma relação entre linguagens,<br />
associando a compreensão de um efeito<br />
semântico produzido pelo uso do oxímoro<br />
nos quadrinhos com o mesmo efeito num<br />
texto poético. O índice (18%) de escolhas da<br />
alternativa D deve-se, possivelmente, a uma<br />
análise parcial da noção de paradoxo,<br />
confundida com inversão.<br />
Sobre a temática dos “Retirantes”,<br />
Portinari também escreveu o seguinte<br />
poema:<br />
(....)<br />
Os retirantes vêm vindo com trouxas e<br />
embrulhos<br />
Vêm das terras secas e escuras;<br />
pedregulhos<br />
Doloridos como fagulhas de carvão aceso<br />
Corpos disformes, uns panos sujos,<br />
Rasgados e sem cor, dependurados<br />
Homens de enorme ventre bojudo<br />
Mulheres com trouxas caídas para o lado<br />
Pançudas, carregando ao colo um garoto<br />
Choramingando, remelento<br />
(....)<br />
(Cândido Portinari. Poemas. Rio de Janeiro:<br />
J. Olympio, 1964.)<br />
Das quatro obras reproduzidas, assinale<br />
aquelas que abordam a problemática que<br />
é tema do poema.<br />
A) 1 e 2 D) 3 e 4<br />
B) 1 e 3 E) 2 e 4<br />
C) 2 e 3<br />
Comentário<br />
O poema apresenta correspondência com<br />
as imagens ao descrever com detalhes a<br />
figura do retirante: pobre, mal vestido,<br />
carregando trouxas e embrulhos.<br />
28) (2004)<br />
27) (2005) Cândido Portinari (1903-1962), um<br />
dos mais importantes artistas brasileiros<br />
do século XX, tratou de diferentes<br />
aspectos da nossa realidade em seus<br />
quadros.<br />
A polifonia, variedade de vozes, presente<br />
no poema resulta da manifestação do<br />
A) poeta e do colonizador apenas.<br />
B) colonizador e do negro apenas.<br />
C) negro e do índio apenas.<br />
D) colonizador, do poeta e do negro<br />
apenas.<br />
E) poeta, do colonizador, do índio e do<br />
negro.<br />
288<br />
Comentário<br />
A questão apresenta uma certa<br />
dificuldade, pois, à primeira vista, parecem
confundir-se as vozes do colonizador, do<br />
negro e do índio. Entretanto, os<br />
travessões existentes no poema explicitam<br />
as falas das personagens ao mostrar que<br />
não são apenas as vozes do poeta e do<br />
colonizador que estão presentes. As falas do<br />
índio e do negro são proferidas por eles,<br />
marca expressa pelo discurso direto. A<br />
presença dessa modalidade de discurso<br />
indica a reprodução literal do que as<br />
personagens disseram.<br />
Um ponto interessante em relação a essa<br />
questão é a intertextualidade. O índio<br />
aparece no poema pela remissão a um texto<br />
poético do nosso Romantismo, em um<br />
processo intertextual com “I-Juca-Pirama”, de<br />
Gonçalves Dias; e a presença do negro se dá<br />
pela ligação com Mário de Andrade, em<br />
Macunaíma. Entende-se, portanto, que a<br />
alternativa correta é a letra E.<br />
29) (2003) No ano passado, o governo<br />
promoveu uma campanha a fim de reduzir<br />
os índices de violência. Noticiando o fato,<br />
um jornal publicou a seguinte manchete:<br />
CAMPANHA CONTRA A VIOLÊNCIA DO<br />
GOVERNO DO ESTADO ENTRA EM NOVA<br />
FASE<br />
A manchete tem um duplo sentido, e isso<br />
dificulta o entendimento. Considerando o<br />
objetivo da notícia, esse problema poderia<br />
ter sido evitado com a seguinte redação:<br />
A) Campanha contra o governo do Estado<br />
e a violência entram em nova fase.<br />
B) A violência do governo do Estado entra<br />
em nova fase de Campanha.<br />
C) Campanha contra o governo do Estado<br />
entra em nova fase de violência.<br />
D) A violência da campanha do governo<br />
do Estado entra em nova fase.<br />
E) Campanha do governo do Estado<br />
contra a violência entra em nova fase.<br />
Comentário<br />
O objetivo da questão é eliminar a<br />
ambigüidade da notícia de jornal, que,<br />
originalmente, trazia duas idéias: de acordo<br />
com a primeira, o governo queria combater a<br />
violência, e a segunda ressaltava que o<br />
governo era violento. Nessa questão,<br />
era preciso eliminar a segunda possibilidade<br />
de leitura.<br />
30) (2004)<br />
Nesta tirinha, a personagem faz referência<br />
a uma das mais conhecidas figuras de<br />
linguagem para<br />
A) condenar a prática de exercícios físicos<br />
B) valorizar aspectos da vida moderna.<br />
C) desestimular o uso das bicicletas.<br />
D) caracterizar o diálogo entre as<br />
gerações.<br />
E) criticar a falta de perspectiva do pai.<br />
Comentário<br />
A construção indica a falta de perspectiva<br />
na vida do pai do personagem. “Pedalar sem<br />
sair do lugar” é uma metáfora muito usada na<br />
cultura brasileira para expressar como é a<br />
vida de uma pessoa que age de forma a não<br />
conseguir qualquer mudança — para melhor<br />
ou para pior — na vida.<br />
31) (2004) As questões de números 26 e 27<br />
referem-se ao poema abaixo.<br />
Entre os recursos expressivos<br />
empregados no texto, destaca-se a<br />
A) metalinguagem, que consiste em fazer<br />
a linguagem referir-se à própria<br />
linguagem.<br />
B) intertextualidade, na qual o texto<br />
retoma e reelabora outros textos.<br />
C) ironia, que consiste em se dizer o<br />
contrário do que se pensa, com<br />
intenção crítica.<br />
D) denotação, caracterizada pelo uso das<br />
palavras em seu sentido próprio e<br />
objetivo.<br />
289
290<br />
E) prosopopéia, que consiste em<br />
personificar coisas inanimadas,<br />
atribuindo-lhes vida.<br />
Comentário<br />
A questão trata de um texto de Carlos<br />
Drummond de Andrade em que ele fala sobre<br />
o crescimento urbano e a pobreza que esse<br />
processo traz. Para tanto, o poeta utiliza uma<br />
linguagem irônica, revelando o lado oculto do<br />
desenvolvimento. Dessa forma, temos como<br />
correta a alternativa C.<br />
32) (2007) Antigamente<br />
Acontecia o indivíduo apanhar<br />
constipação; ficando perrengue, mandava<br />
o próprio chamar o doutor e, depois, ir à<br />
botica para aviar a receita, de cápsulas ou<br />
pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />
phtísica, feia era o gálico. Antigamente, os<br />
sobrados tinham assombrações, os<br />
meninos, lombrigas (...)<br />
Carlos Drummond de Andrade. Poesia completa e prosa.<br />
Rio de Janeiro: Companhia José Aguilar, p. 1.184.<br />
O texto acima está escrito em linguagem<br />
de uma época passada. Observe uma<br />
outra versão, em linguagem atual.<br />
Antigamente<br />
Acontecia o indivíduo apanhar um<br />
resfriado; ficando mal, mandava o próprio<br />
chamar o doutor e, depois, ir à farmácia<br />
para aviar a receita, de cápsulas ou<br />
pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />
tuberculose, feia era a sífilis. Antigamente,<br />
os sobrados tinham assombrações, os<br />
meninos, vermes (...)<br />
Comparando-se esses dois textos,<br />
verifica-se que, na segunda versão, houve<br />
mudanças relativas a<br />
A) vocabulário.<br />
B) construções sintáticas.<br />
C) pontuação.<br />
D) fonética.<br />
E) regência verbal.<br />
Comentário<br />
Questão fácil. O aluno deveria comparar<br />
os dois textos e verificar as alterações<br />
realizadas na segunda versão apresentada.<br />
Nesse momento, fica evidente a mudança de<br />
vocabulário, o que indica a alternativa A<br />
como a correta.<br />
33) (2001) Nas conversas diárias, utiliza-se<br />
freqüentemente a palavra “próprio” e ela<br />
se ajusta a várias situações. Leia os<br />
exemplos de diálogos:<br />
I - A Vera se veste diferente!<br />
- É mesmo, é que ela tem um estilo<br />
próprio.<br />
II - A Lena já viu esse filme uma dezena<br />
de vezes! Eu não consigo ver o<br />
que ele tem de tão maravilhoso assim.<br />
- É que ele é próprio para adolescente.<br />
III - Dora, o que eu faço? Ando tão<br />
preocupada com o Fabinho! Meu filho<br />
está impossível!<br />
- Relaxa, Tânia! É próprio da idade.<br />
Com o tempo, ele se acomoda.<br />
Nas ocorrências I, II e III, “próprio” é<br />
sinônimo de, respectivamente,<br />
A) adequado, particular, típico.<br />
B) peculiar, adequado, característico.<br />
C) conveniente, adequado, particular.<br />
D) adequado, exclusivo, conveniente.<br />
E) peculiar, exclusivo, característico.<br />
Comentário<br />
Para responder a essa pergunta,<br />
substitua, nos trechos, a palavra próprio<br />
pelos possíveis equivalentes apresentados<br />
nas alternativas. Questão simples que pode<br />
ser resolvida por eliminação.<br />
Comentário do INEP<br />
Nesta questão são apresentados três<br />
textos em que uma mesma palavra é<br />
utilizada com sentidos diferentes. O problema<br />
consiste em observar a variedade de uso de<br />
um mesmo termo e as possibilidades de sua<br />
compreensão, estabelecendo uma relação<br />
comparativa com base em uma análise<br />
semântica. Cerca de metade (49%) dos<br />
participantes estabeleceu essa relação de<br />
maneira correta. Os participantes que<br />
assinalaram a alternativa D (21%),<br />
possivelmente isolaram o termo do contexto,<br />
gerando um equívoco entre "adequado" e<br />
"exclusivo".<br />
34) (2003) Do pedacinho de papel ao livro<br />
impresso vai uma longa distância. Mas o<br />
que o escritor quer, mesmo, é isso: ver o<br />
seu texto em letra de forma. A gaveta é<br />
ótima para aplacar a fúria criativa; ela faz<br />
amadurecer o texto da mesma forma que<br />
a adega faz amadurecer o vinho. Em
certos casos, a cesta de papel é melhor<br />
ainda.<br />
O período de maturação na gaveta é<br />
necessário, mas não deve se prolongar<br />
muito. ‘Textos guardados acabam<br />
cheirando mal’, disse Silvia Plath, (...) que,<br />
com esta frase, deu testemunho das<br />
dúvidas que atormentam o escritor:<br />
publicar ou não publicar? guardar ou jogar<br />
fora?<br />
(Moacyr Scliar. O escritor e seus desafios.)<br />
Nesse texto, o escritor Moacyr Scliar usa<br />
imagens para refletir sobre uma etapa da<br />
criação literária. A idéia de que o processo<br />
de maturação do texto nem sempre é o<br />
que garante bons resultados está sugerida<br />
na seguinte frase:<br />
A) "A gaveta é ótima para aplacar a fúria<br />
criativa."<br />
B) "Em certos casos, a cesta de papel é<br />
melhor ainda."<br />
C) "O período de maturação na gaveta é<br />
necessário, (...)."<br />
D) "Mas o que o escritor quer, mesmo, é<br />
isso: ver o seu texto em letra de forma."<br />
E) "ela (a gaveta) faz amadurecer o texto<br />
da mesma forma que a adega faz<br />
amadurecer o vinho."<br />
Comentário<br />
Essa questão exigia a interpretação das<br />
frases. A palavra NEM no enunciado exclui<br />
todas as alternativas que tratam do<br />
amadurecimento ou da importância da<br />
gaveta para o bom sucesso da produção<br />
literária.<br />
A alternativa B é a única que apresenta<br />
um procedimento alternativo para a produção<br />
textual, ou seja, o lixo, e significa a liberdade<br />
do escritor em começar,<br />
interromper, recomeçar ou simplesmente<br />
abandonar a obra, permitindo a ele exercer<br />
seu livre-arbítrio.<br />
35) (2007)<br />
Aqui na floresta<br />
Dos ventos batida,<br />
Façanhas de bravos<br />
Não geram escravos,<br />
Que estimem a vida<br />
Sem guerra e lidar.<br />
— Ouvi-me, Guerreiros,<br />
— Ouvi meu cantar.<br />
O canto do guerreiro<br />
Valente na guerra,<br />
Quem há, como eu sou?<br />
Quem vibra o tacape<br />
Com mais valentia?<br />
Quem golpes daria<br />
Fatais, como eu dou?<br />
— Guerreiros, ouvi-me;<br />
— Quem há, como eu sou?<br />
Gonçalves Dias.<br />
Macunaíma<br />
(Epílogo)<br />
Acabou-se a história e morreu a vitória.<br />
Não havia mais ninguém lá. Dera<br />
tangolomângolo na tribo Tapanhumas e<br />
os filhos dela se acabaram de um em um.<br />
Não havia mais ninguém lá. Aqueles<br />
lugares, aqueles campos, furos<br />
puxadouros arrastadouros meiosbarrancos,<br />
aqueles matos misteriosos,<br />
tudo era solidão do deserto... Um silêncio<br />
imenso dormia à beira do rio Uraricoera.<br />
Nenhum conhecido sobre a terra não<br />
sabia nem falar da tribo nem contar<br />
aqueles casos tão pançudos. Quem podia<br />
saber do Herói?<br />
Mário de Andrade.<br />
Considerando-se a linguagem desses dois<br />
textos, verifica-se que<br />
A) a função da linguagem centrada no<br />
receptor está ausente tanto no primeiro<br />
quanto no segundo texto.<br />
B) a linguagem utilizada no primeiro texto<br />
é coloquial, enquanto, no segundo,<br />
predomina a linguagem formal.<br />
C) há, em cada um dos textos, a<br />
utilização de pelo menos uma palavra<br />
de origem indígena.<br />
D) a função da linguagem, no primeiro<br />
texto, centra-se na forma de<br />
organização da linguagem e, no<br />
segundo, no relato de informações<br />
reais.<br />
E) a função da linguagem centrada na<br />
primeira pessoa, predominante no<br />
segundo texto, está ausente no<br />
primeiro.<br />
Comentário<br />
Questão de nível médio. Essa é uma<br />
questão que foca a linguagem dos textos, e<br />
cada qual em seu gênero (poesia e prosa,<br />
respectivamente). O aluno chega à<br />
conclusão que a alternativa correta é a C por<br />
meio da exclusão das demais alternativas.<br />
A resposta correta não é a A, pois há um<br />
receptor que pode ser percebido nas<br />
seguintes perguntas contidas no texto:<br />
Texto 1 – “Guerreiros, ouvi-me;/Quem há,<br />
como eu sou?”<br />
Texto 2 – “Quem podia saber do herói?”<br />
Também não é a alternativa B, pois o<br />
conteúdo dos textos não é discriminatório. No<br />
primeiro texto, há uma idealização do índio e,<br />
no segundo, há uma realidade crítica e<br />
satírica da sociedade.<br />
A alternativa D é excluída, porque o<br />
segundo texto não fala de uma realidade, já<br />
291
que Macunaíma é um herói fictício e nãoreal.<br />
Por fim, também está errada a alternativa<br />
E. Isso porque não temos no epílogo do texto<br />
de Macunaíma a linguagem centrada na<br />
primeira pessoa, mas sim, na terceira.<br />
36) (2003) Eu começaria dizendo que poesia<br />
é uma questão de linguagem. A<br />
importância do poeta é que ele torna mais<br />
viva a linguagem. Carlos Drummond de<br />
Andrade escreveu um dos mais belos<br />
versos da língua portuguesa com duas<br />
palavras comuns: cão e cheirando.<br />
Um cão cheirando o futuro<br />
(Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP, 24/05/1988.<br />
adaptação)<br />
O que deu ao verso de Drummond o<br />
caráter de inovador da língua foi<br />
A) o modo raro como foi tratado o<br />
"futuro".<br />
B) a referência ao cão como "animal de<br />
estimação".<br />
C) a flexão pouco comum do verbo<br />
"cheirar" (gerúndio).<br />
D) a aproximação não usual do agente<br />
citado e a ação de "cheirar".<br />
E) o emprego do artigo indefinido "um" e<br />
do artigo definido "o" na mesma frase.<br />
Comentário<br />
O fato de Drummond identificar o futuro<br />
como algo que pode ser percebido por um<br />
animal irracional por meio do olfato foi<br />
inovador. A figura de linguagem foi<br />
construída metaforicamente: o futuro torna-se<br />
uma coisa que tem cheiro, contrariamente à<br />
imagem pela qual ele normalmente é<br />
representado: como algo que não se vê e<br />
não se pode pressentir ou tocar.<br />
37) (2002) Só falta o Senado aprovar o<br />
projeto de lei [sobre o uso de termos<br />
estrangeiros no Brasil] para que palavras<br />
como shopping center , delivery e drivethrough<br />
sejam proibidas em nomes de<br />
estabelecimentos e marcas. Engajado<br />
nessa valorosa luta contra o inimigo<br />
ianque, que quer fazer área de livre<br />
comércio com nosso inculto e belo idioma,<br />
venho sugerir algumas outras medidas<br />
que serão de extrema importância para a<br />
preservação da soberania nacional, a<br />
saber:<br />
........<br />
Nenhum cidadão carioca ou gaúcho<br />
poderá dizer "Tu vai" em espaços públicos<br />
do território nacional;<br />
Nenhum cidadão paulista poderá dizer "Eu<br />
lhe amo" e retirar ou acrescentar o plural<br />
em sentenças como "Me vê um chopps e<br />
dois pastel";<br />
..........<br />
Nenhum dono de borracharia poderá<br />
escrever cartaz com a palavra "borraxaria"<br />
e nenhum dono de banca de jornal<br />
anunciará "Vende-se cigarros";<br />
..........<br />
Nenhum livro de gramática obrigará os<br />
alunos a utilizar colocações pronominais<br />
como "casar-me-ei" ou "ver-se-ão".<br />
PIZA, Daniel. Uma proposta imodesta. O Estado de<br />
S. Paulo, São Paulo, 8/04/2001.<br />
No texto acima, o autor:<br />
A) mostra-se favorável ao teor da<br />
proposta por entender que a língua<br />
portuguesa deve ser protegida contra<br />
deturpações de uso.<br />
B) ironiza o projeto de lei ao sugerir<br />
medidas que inibam determinados usos<br />
regionais e socioculturais da língua.<br />
C) denuncia o desconhecimento de regras<br />
elementares de concordância verbal e<br />
nominal pelo falante brasileiro.<br />
D) revela-se preconceituoso em relação a<br />
certos registros lingüísticos ao propor<br />
medidas que os controlem.<br />
E) defende o ensino rigoroso da gramática<br />
para que todos aprendam a empregar<br />
corretamente os pronomes.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. O autor ironiza o<br />
projeto de lei que proíbe o uso de<br />
estrangeirismos no Brasil. Não adianta criarse<br />
uma expectativa ou preocupação em<br />
relação ao uso de termos estrangeiros na<br />
língua e esquecer-se de que a língua é um<br />
organismo vivo, mutável. A dinâmica de uma<br />
língua não pode ser regida por preceitos<br />
legais como quer o projeto.<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão reproduz trechos de um<br />
texto que aborda o polêmico projeto de<br />
proibição de uso de termos estrangeiros no<br />
Brasil. A partir da leitura atenta do texto de<br />
Daniel Piza, o participante é levado a refletir<br />
sobre a postura adotada pelo autor em<br />
relação ao referido projeto. Para<br />
compreender esse texto, o participante<br />
precisa reconhecer o tom irônico que marca<br />
as observações e sugestões feitas por seu<br />
292
autor. Assim, Daniel Piza, "engajado nessa<br />
valorosa luta contra o inimigo ianque", sugere<br />
a proibição de algumas formas lingüísticas de<br />
uso corrente que contrariam recomendações<br />
da gramática normativa. O participante deve<br />
reconhecer que, com sugestões como essas,<br />
Daniel Piza deixa implícita uma crítica à<br />
utilidade do projeto de proibição dos<br />
estrangeirismos como forma de proteger a<br />
Língua Portuguesa. Nesse contexto, a ironia<br />
torna-se mais clara, bem como o mecanismo<br />
textual que a constrói. Feito tal<br />
reconhecimento, o aluno encontra a resposta<br />
correta na alternativa B, assinalada por cerca<br />
da metade dos participantes. Nenhuma outra<br />
alternativa contempla o aspecto irônico,<br />
essencial para a compreensão do texto.<br />
38) (2005) O termo (ou expressão)<br />
destacado que está empregado em seu<br />
sentido próprio, denotativo ocorre em:<br />
A) “(....)<br />
É de laço e de nó<br />
De gibeira o jiló<br />
Dessa vida, cumprida a sol (....)”<br />
(Renato Teixeira. Romaria. Kuarup Discos.<br />
setembro de 1992.)<br />
B) “Protegendo os inocentes<br />
é que Deus, sábio demais,<br />
põe cenários diferentes<br />
nas impressões digitais.”<br />
(Maria N. S. Carvalho. Evangelho da Trova. /s.n.b.)<br />
C) “O dicionário-padrão da língua e os<br />
dicionários unilíngües são os tipos mais<br />
comuns de dicionários. Em nossos<br />
dias, eles se tornaram um objeto de<br />
consumo obrigatório para as nações<br />
civilizadas e desenvolvidas.”<br />
(Maria T. Camargo Biderman.<br />
O dicionário-padrão da língua. Alfa (28), 2743, 1974 Supl.)<br />
D)<br />
E) “Humorismo é a arte de fazer cócegas<br />
no raciocínio dos outros. Há duas<br />
espécies de humorismo: o trágico e o<br />
cômico. O trágico é o que não<br />
consegue fazer rir; o cômico é o que é<br />
verdadeiramente trágico para se fazer.”<br />
(Leon Eliachar. www.mercadolivre.com.br.<br />
acessado em julho de 2005.)<br />
Comentário<br />
A definição do dicionário-padrão da língua<br />
utiliza o sentido denotativo da palavra para<br />
explicar o uso de determinado tipo de<br />
dicionário. Em todas as outras alternativas,<br />
as palavras estão sendo empregadas em<br />
sentido metafórico. Na letra A, "cumprida a<br />
sol" pode mostrar o sofrimento e a solidão.<br />
Na alternativa B, "cenários diferentes" são as<br />
diferenças físicas encontradas nas<br />
impressões digitais. Na letra D, "bateria" é o<br />
termo usado para expressar a "energia" do<br />
Menino Maluquinho, que nunca acaba. Por<br />
fim, na alternativa E, "fazer cócegas no<br />
raciocínio" significa expressar graça por meio<br />
de idéias, fazendo com que o cérebro ache<br />
um fato divertido e, por conseguinte, faça<br />
com que a pessoa ria como se sofresse um<br />
ataque de cócegas.<br />
39) (2003) Pequenos tormentos da vida<br />
De cada lado da sala de aula, pelas janelas<br />
altas, o azul convida os meninos,<br />
as nuvens desenrolam-se, lentas como quem<br />
vai inventando<br />
preguiçosamente uma história sem fim...Sem<br />
fim é a aula: e nada acontece,<br />
nada...Bocejos e moscas. Se ao menos,<br />
pensa Margarida, se ao menos um<br />
avião entrasse por uma janela e saísse por<br />
outra!<br />
(Mário Quintana. Poesias)<br />
Na cena retratada no texto, o sentimento<br />
do tédio<br />
A) provoca que os meninos fiquem<br />
contando histórias.<br />
B) leva os alunos a simularem bocejos,<br />
em protesto contra a monotonia da<br />
aula.<br />
C) acaba estimulando a fantasia,<br />
criando a expectativa de algum<br />
imprevisto mágico.<br />
D) prevalece de modo absoluto,<br />
impedindo até mesmo a distração ou o<br />
exercício do pensamento.<br />
E) decorre da morosidade da aula, em<br />
contraste com o movimento acelerado<br />
das nuvens e das moscas.<br />
Comentário<br />
Essa questão aborda o imaginário<br />
decorrente do marasmo trazido pela escola.<br />
O texto enfatiza o arrastar do tempo na<br />
293
mente de uma aluna, Margarida, que se põe<br />
a pensar em fatos mágicos ou imaginários<br />
que pudessem romper com a lentidão da<br />
aula.<br />
40) (1999)<br />
294<br />
Diante da visão de um prédio com uma<br />
placa indicando SAPATARIA PAPALIA,<br />
um jovem deparou com a dúvida: como<br />
pronunciar a palavra PAPALIA?<br />
Levado o problema à sala de aula, a<br />
discussão girou em torno da utilidade de<br />
conhecer as regras de acentuação e,<br />
especialmente, do auxílio que elas podem<br />
dar à correta pronúncia de palavras.<br />
Após discutirem pronúncia, regras de<br />
acentuação e escrita, três alunos<br />
apresentaram as seguintes conclusões a<br />
respeito da palavra PAPALIA:<br />
I. Se a sílaba tônica for o segundo PA, a<br />
escrita deveria ser PAPÁLIA, pois a<br />
palavra seria paroxítona terminada em<br />
ditongo crescente.<br />
II. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />
deveria ser PAPALÍA, pois "i" e "a"<br />
estariam formando hiato.<br />
III. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />
deveria ser PAPALIA, pois não haveria<br />
razão para o uso de acento gráfico.<br />
A conclusão está correta apenas em:<br />
A) III D) I<br />
B) I e II E) II<br />
C) I e III<br />
Comentário<br />
Essa questão exige bom conhecimento<br />
das regras de acentuação. A alternativa A diz<br />
que apenas a afirmação I é verdadeira. De<br />
fato ela é, mas não é a única. Nela, temos a<br />
hipótese de a palavra ser grafada como se a<br />
sílaba forte fosse a penúltima — papália —,<br />
justificando seu acento gráfico. Vejamos o<br />
que dizem as regras de acentuação.<br />
Acentuam-se as palavras paroxítonas<br />
terminadas em: i, is, us, um, uns, l, n, r, x,<br />
ps, ã, ãs, ão, ãos, ditongos orais,<br />
crescentes ou decrescentes, seguidos ou<br />
não de S. Isso valida, portanto, a afirmação I.<br />
A afirmação II pressupõe que a sílaba<br />
tônica seja LI, em hiato com A: no caso de<br />
essa ser a tonicidade da palavra, a sílaba LI<br />
não poderia ser acentuada, pois I, mesmo<br />
sendo a tônica do hiato, não é a última vogal,<br />
portanto, essa afirmativa é falsa.<br />
A afirmação III considera que a sílaba<br />
tônica é LI, não havendo acento por ser o I a<br />
primeira vogal do hiato. Portanto, essa<br />
afirmação é verdadeira.<br />
Concluindo, temos como verdadeiras as<br />
afirmações I e III. Então, a alternativa E é a<br />
correta. Questão de nível difícil.<br />
Comentário do INEP<br />
Dentre os participantes, somente pouco<br />
mais de um terço (35%) demonstrou possuir<br />
a habilidade para identificar as regras de<br />
acentuação corretas, enunciadas na questão.<br />
Chama a atenção o fato de que 73% dos<br />
participantes (alternativas A, D e E)<br />
reconheceram corretamente, pelo menos, a<br />
regra contida no item I, sendo que cerca de<br />
40% desses, contudo, tiveram dificuldades<br />
em analisar as regras II e III.<br />
Em se tratando de palavra não-usual, é,<br />
sobretudo, o domínio do conhecimento das<br />
regras e não a possível pronúncia correta,<br />
pelo uso, o que parece ter sido revelado.<br />
41) (2008)<br />
Exame, 28/9/2007.<br />
Entre os seguintes ditos populares, qual<br />
deles melhor corresponde à figura<br />
acima?<br />
A) Com perseverança, tudo se alcança.<br />
B) Cada macaco no seu galho.<br />
C) Nem tudo que balança cai.<br />
D) Quem tudo quer, tudo perde.<br />
E) Deus ajuda quem cedo madruga.
Comentário<br />
Assim como a questão 37, esta também<br />
envolve interpretação de signos, ou seja, o<br />
aluno precisa estar atento à imagem e<br />
relacioná-la ao dito popular correspondente.<br />
A alternativa "A" é a correta, pois, para<br />
uma lesma “grudenta” e vagarosa conseguir<br />
pular numa cama elástica, é necessária<br />
muita perseverança.<br />
42) (2002) A crônica muitas vezes constitui<br />
um espaço para reflexão sobre aspectos<br />
da sociedade em que vivemos.<br />
"Eu, na rua, com pressa, e o menino<br />
segurou no meu braço, falou qualquer<br />
coisa que não entendi. Fui logo dizendo<br />
que não tinha, certa de que ele estava<br />
pedindo dinheiro. Não estava. Queria<br />
saber a hora.<br />
Talvez não fosse um Menino De<br />
Família, mas também não era um Menino<br />
De Rua. É assim que a gente divide.<br />
Menino De Família é aquele bem-vestido<br />
com tênis da moda e camiseta de marca,<br />
que usa relógio e a mãe dá outro se o<br />
dele for roubado por um Menino De Rua.<br />
Menino De Rua é aquele que quando a<br />
gente passa perto segura a bolsa com<br />
força porque pensa que ele é pivete,<br />
trombadinha, ladrão. (...) Na verdade não<br />
existem meninos De rua.<br />
Existem meninos NA rua. E toda vez<br />
que um menino está NA rua é porque<br />
alguém o botou lá. Os meninos não vão<br />
sozinhos aos lugares. Assim como são<br />
postos no mundo, durante muitos anos<br />
também são postos onde quer que<br />
estejam. Resta ver quem os põe na rua. E<br />
por quê."<br />
COLASSANTI, Marina. In: Eu sei, mas não devia. Rio de<br />
Janeiro: Rocco, 1999.<br />
menino DE (proveniente de) rua, mas um<br />
menino que está NA (foi levado à) rua.<br />
Portanto, a relação é unicamente de<br />
localização (onde ele está) e não de<br />
qualidade (o que ele é).<br />
Comentário do INEP<br />
A reprodução de um trecho de uma<br />
crônica de Marina Colassanti tematiza uma<br />
importante questão social brasileira: a<br />
presença de milhões de crianças nas ruas do<br />
País. A autora, ao tratar desse problema,<br />
vale-se de recursos lingüísticos específicos.<br />
O objetivo desta questão é justamente<br />
chamar a atenção do participante leitor para<br />
esses recursos e os efeitos de sentido que<br />
eles desencadeiam no texto. Na raiz da<br />
questão destaca-se a troca de "De" por "NA"<br />
e pede-se que se determine qual relação de<br />
sentido essa substituição estabelece entre os<br />
termos "menino" e "rua". Analisar a relação,<br />
nesse caso, significa perguntar-se sobre o<br />
sentido de dois sintagmas criados no texto:<br />
"meninos NA rua" por oposição a "meninos<br />
De rua". O que a autora pretende negar, com<br />
a troca do termo de relação, é a possibilidade<br />
de que existam meninos de rua diferentes de<br />
outros meninos, que não têm na rua a sua<br />
origem. O destaque para a preposição na<br />
nos leva a refletir que a relação dos meninos<br />
com a rua é de localização: eles estão ali por<br />
alguma razão, não porque essa seja a sua<br />
qualificação. Essa reflexão levaria o aluno a<br />
escolher, como correta, a resposta<br />
apresentada na alternativa A, assinalada por<br />
cerca de metade dos participantes.<br />
43) (2005) Leia estes textos.<br />
Texto 1<br />
No terceiro parágrafo em "... não existem<br />
meninos De rua. Existem meninos NA<br />
rua.", a troca de De pelo Na determina<br />
que a relação de sentido entre "menino" e<br />
"rua" seja<br />
A) de localização e não de qualidade.<br />
B) de origem e não de posse.<br />
C) de origem e não de localização.<br />
D) de qualidade e não de origem.<br />
E) de posse e não de localização.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Apesar de não<br />
haver um terceiro parágrafo neste texto, a<br />
troca das preposições ao final do SEGUNDO<br />
parágrafo indica claramente que não há um<br />
Texto 2<br />
Sonhar<br />
Mais um sonho impossível<br />
Lutar<br />
Quando é fácil ceder<br />
Vencer o inimigo invencível<br />
Negar quando a regra é vender<br />
Sofrer a tortura implacável<br />
Romper a incabível prisão<br />
Voar num limite improvável<br />
Tocar o inacessível chão<br />
É minha lei, é minha questão<br />
295
Virar esse mundo<br />
Cravar esse chão<br />
Não me importa saber<br />
Se é terrível demais<br />
Quantas guerras terei que vencer<br />
Por um pouco de paz<br />
E amanhã se esse chão que eu beijei<br />
For meu leito e perdão<br />
Vou saber que valeu delirar<br />
E morrer de paixão<br />
E assim, seja lá como for<br />
Vai ter fim a infinita aflição<br />
E o mundo vai ver uma flor<br />
Brotar do impossível chão.<br />
(J. Darione – M. Leigh – Versão de Chico Buarque de<br />
Hollanda e Ruy Guerra, 1972.)<br />
A tirinha e a canção apresentam uma<br />
reflexão sobre o futuro da humanidade. É<br />
correto concluir que os dois textos<br />
A) afirmam que o homem é capaz de<br />
alcançar a paz.<br />
B) concordam que o desarmamento é<br />
inatingível.<br />
C) julgam que o sonho é um desafio<br />
invencível.<br />
D) têm visões diferentes sobre um<br />
possível mundo melhor.<br />
E) transmitem uma mensagem de<br />
otimismo sobre a paz.<br />
Comentário<br />
Enquanto o primeiro texto é ácido em<br />
relação à possibilidade de desarmamento da<br />
população (ou seja, à criação de uma<br />
sociedade mais pacífica), o segundo mostra<br />
a capacidade que a humanidade tem de crer<br />
e, por isso, tentar fazer até o que a princípio<br />
parece impossível. Para os autores da<br />
canção, nada é intrinsecamente impossível.<br />
A relação entre eles é de oposição:<br />
descrença x crença. Questão de nível de<br />
dificuldade médio.<br />
44) (2000) O uso do pronome átono no início<br />
das frases é destacado por um poeta e<br />
por um gramático nos textos abaixo.<br />
Pronominais<br />
Dê-me um cigarro<br />
Diz a gramática<br />
Do professor e do aluno<br />
E do mulato sabido<br />
Mas o bom negro e o bom branco<br />
da Nação Brasileira<br />
Dizem todos os dias<br />
Deixa disso camarada<br />
Me dá um cigarro<br />
(ANDRADE, Oswald de. Seleção de textos.<br />
São Paulo: Nova Cultural, 1988)<br />
296<br />
“Iniciar a frase com pronome átono só<br />
é lícito na conversação familiar,<br />
despreocupada, ou na língua escrita<br />
quando se deseja reproduzir a fala dos<br />
personagens (...).”<br />
(CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da<br />
língua portuguesa.<br />
São Paulo: Nacional, 1980)<br />
Comparando a explicação dada pelos<br />
autores sobre essa regra, pode-se afirmar<br />
que ambos:<br />
A) condenam essa regra gramatical.<br />
B) acreditam que apenas os esclarecidos<br />
sabem essa regra.<br />
C) criticam a presença de regras na<br />
gramática.<br />
D) afirmam que não há regras para uso de<br />
pronomes.<br />
E) relativizam essa regra gramatical.<br />
Comentário<br />
Questão que requer conhecimento básico<br />
de colocação pronominal, em relação ao uso<br />
de pronomes átonos no início de frases, uma<br />
regra muito pouco respeitada pelo brasileiro,<br />
da qual Oswald de Andrade faz questão de<br />
falar em seu poema. Porém, a questão pode<br />
ser resolvida simplesmente por meio de uma<br />
leitura bem atenta dos textos. Se formos<br />
analisando alternativa por alternativa, a<br />
eliminação é clara e lógica: a alternativa a<br />
fica totalmente descartada devido à<br />
transparência da colocação dos dois autores<br />
(Me dá um cigarro...) e (iniciar frases com o<br />
pronome átono é "lícito" na conversação<br />
familiar ou despreocupada). Já a alternativa b<br />
pode até mesmo gerar um pouco de dúvida a<br />
quem não se atém bem à pergunta. Quanto<br />
às alternativas c e d, ficam descartadas, pois,<br />
em momento nenhum, os autores criticaram<br />
o uso de regras gramaticais em seus textos,<br />
cabendo perfeitamente a alternativa e para<br />
as afirmações do gramático e do poeta.<br />
Comentário do INEP<br />
Essa questão pretendia verificar como o<br />
participante analisa um fato lingüístico,<br />
mediante a comparação da descrição desse<br />
fato em dois textos. Sabe-se que,<br />
normalmente em situação escolar, o uso do<br />
pronome átono no início da frase é julgado<br />
como grave desvio gramatical, e pouco se<br />
analisa esse uso na fala ou escrita informal.<br />
Os dois autores dos textos, com intenções<br />
diferentes, relativizam essa regra gramatical,<br />
destacando e descrevendo o seu uso<br />
coloquial. A maioria dos participantes (52%)<br />
analisou e comparou corretamente as<br />
posições dos autores sobre o uso do
pronome átono, e 24% deles reafirmaram a<br />
posição discriminatória da regra, deslocandoa<br />
de seu uso.<br />
história de Van Gogh, ou apropriaram-se<br />
corretamente da informação sobre esse<br />
pintor, fornecida no enunciado.<br />
45) (2000) As histórias em quadrinhos, por<br />
vezes, utilizam animais como<br />
personagens e a eles atribuem<br />
comportamento humano. O gato Garfield<br />
é exemplo desse fato.<br />
46) (2004)<br />
Fonte: Caderno Vida e Arte, Jornal do Povo, Fortaleza<br />
Van Gogh, pintor holandês nascido em<br />
1853, é um dos principais nomes da<br />
pintura mundial. É dele o quadro abaixo.<br />
Auto-retrato de orelha cortada<br />
O 3º quadrinho sugere que Garfield:<br />
A) desconhece tudo sobre arte, por isso<br />
faz a sugestão.<br />
B) acredita que todo pintor deve fazer algo<br />
diferente.<br />
C) defende que para ser pintor a pessoa<br />
tem de sofrer.<br />
D) conhece a história de um pintor<br />
famoso e faz uso da ironia.<br />
E) acredita que seu dono tenha tendência<br />
artística e, por isso, faz a sugestão.<br />
Comentário<br />
Outra questão de interpretação de texto.<br />
Muito simples para quem um dia ouviu falar<br />
de Van Gogh, e simplíssima para aqueles<br />
que prestam atenção em todos os elementos<br />
do enunciado. Afinal, quem deu uma<br />
espiadinha na legenda do quadro de Van<br />
Gogh matou na hora a questão.<br />
Esta questão é daquelas rápidas de serem<br />
resolvidas, associando-se os elementos<br />
apresentados.<br />
Comentário do INEP<br />
A significativa maioria (81%) dos<br />
participantes soube perceber o caráter<br />
irônico da fala do Garfield, expressa no<br />
terceiro quadrinho porque, ou conheciam a<br />
A tira "Hagar" e o poema de Alberto<br />
Caeiro (um dos heterônimos de Fernando<br />
Pessoa) expressam, com linguagens<br />
diferentes, uma mesma idéia: a de que a<br />
compreensão que temos do mundo é<br />
condicionada, essencialmente,<br />
A) pelo alcance de cada cultura.<br />
B) pela capacidade visual do observador.<br />
C) pelo senso de humor de cada um.<br />
D) pela idade do observador.<br />
E) pela altura do ponto de observação.<br />
Comentário<br />
Questão reflexiva sobre a forma como<br />
cada cultura vê o mundo sob a ótica dos<br />
limites dados pelos seus costumes e<br />
possibilidades de pensamento inerentes a<br />
cada modelo cultural. A mistura de uma tira e<br />
de um poema amplia a possibilidade de<br />
pensamento por trabalhar com linguagens<br />
diferentes. A alternativa correta é a letra A,<br />
pois ambos (tira e poema) utilizam figuras de<br />
linguagem (metáfora e ironia) para expressar<br />
as diferentes visões de mundo.<br />
47) (2003)<br />
O humor presente na tirinha decorre<br />
principalmente do fato de a personagem<br />
Mafalda<br />
A) atribuir, no primeiro quadrinho, poder<br />
ilimitado ao dedo indicador.<br />
B) considerar seu dedo indicador tão<br />
importante quanto o dos patrões.<br />
297
298<br />
C) atribuir, no primeiro e no último<br />
quadrinhos, um mesmo sentido ao<br />
vocábulo "indicador".<br />
D) usar corretamente a expressão<br />
"indicador de desemprego", mesmo<br />
sendo criança.<br />
E) atribuir, no último quadrinho, fama<br />
exagerada ao dedo indicador dos<br />
patrões.<br />
Comentário<br />
A questão pede a interpretação de uma<br />
charge da personagem Mafalda, em que ela<br />
faz referência a seu dedo indicador, que é<br />
usado como substantivo primitivo e que<br />
possibilita a analogia com “indicador de<br />
desemprego”. Dessa forma, ela ironiza os<br />
indicadores sociais. Na charge, porém, não<br />
há menção explícita aos índices<br />
“indicadores”, permanecendo o raciocínio<br />
preso apenas ao dedo indicador. Assim, ela<br />
utiliza, tanto no primeiro quanto no último<br />
quadrinho, a palavra “indicador” como<br />
referência ao dedo, não dando abertura a<br />
outro tipo de interpretação.<br />
48) (2009) Canção do vento e da minha<br />
vida<br />
O vento varria as folhas,<br />
O vento varria os frutos,<br />
O vento varria as flores...<br />
E a minha vida ficava<br />
Cada vez mais cheia<br />
De frutos, de flores, de folhas.<br />
[...]<br />
O vento varria os sonhos<br />
E varria as amizades...<br />
O vento varria as mulheres...<br />
E a minha vida ficava<br />
Cada vez mais cheia<br />
De afetos e de mulheres.<br />
O vento varria os meses<br />
E varria os teus sorrisos...<br />
O vento varria tudo!<br />
E a minha vida ficava<br />
Cada vez mais cheia<br />
De tudo.<br />
BANDEIRA, M. Poesia completa e prosa. Rio de<br />
Janeiro: José Aguilar, 1967.<br />
Predomina no texto a função da<br />
linguagem<br />
A) fática, porque o autor procura testar o<br />
canal de comunicação.<br />
B) metalinguística, porque há explicação<br />
do significado das expressões.<br />
C) conativa, uma vez que o leitor é<br />
provocado a participar de uma ação.<br />
D) referencial, já que são apresentadas<br />
informações sobre acontecimentos e<br />
fatos reais.<br />
E) poética, pois chama-se a atenção<br />
para a elaboração especial e artística<br />
da estrutura do texto.<br />
Comentário<br />
(QUESTÃO: AZUL 116, BRANCA 117,<br />
ROSA 115)<br />
Questão de nível fácil, pois, por ser um<br />
poema, utilizam-se construções como versos<br />
e estrofes e línguagem adequada a esse<br />
gênero textual. Portanto, a resposta correta é<br />
a letra E.<br />
H20 - Reconhecer a importância<br />
do patrimônio linguístico para a<br />
preservação da memória e da<br />
identidade nacional.<br />
01) (1999) SONETO DE FIDELIDADE<br />
De tudo, ao meu amor serei atento<br />
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto<br />
Que mesmo em face do maior encanto<br />
Dele se encante mais meu pensamento.<br />
Quero vivê-lo em cada vão momento<br />
E em seu louvor hei de espalhar meu<br />
canto<br />
E rir meu riso e derramar meu pranto<br />
Ao seu pesar ou seu contentamento.<br />
E assim, quando mais tarde me procure<br />
Quem sabe a morte, angústia de quem<br />
vive<br />
Quem sabe a solidão, fim de quem ama.<br />
Eu possa dizer do meu amor (que tive):<br />
Que não seja imortal, posto que é chama<br />
Mas que seja infinito enquanto dure.<br />
(MORAES, Vinícius de. Antologia poética. São Paulo: Cia<br />
das Letras, 1992).<br />
A palavra mesmo pode assumir diferentes<br />
significados, de acordo com a sua função<br />
na frase. Assinale a alternativa em que o<br />
sentido de mesmo equivale ao que se<br />
verifica no 3º verso da 1ª estrofe do<br />
poema de Vinícius de Moraes.<br />
A) "Pai, para onde fores, / irei também<br />
trilhando as mesmas ruas..." (Augusto<br />
dos Anjos)<br />
B) "Agora, como outrora, há aqui o<br />
mesmo contraste da vida interior, que<br />
é modesta, com a exterior, que é<br />
ruidosa." (Machado de Assis)<br />
C) "Havia o mal, profundo e persistente,<br />
para o qual o remédio não surtiu efeito,<br />
mesmo em doses variáveis."<br />
(Raimundo Faoro)
D) "Mas, olhe cá, Mana Glória, há<br />
mesmo necessidade de fazê-lo<br />
padre?" (Machado de Assis)<br />
E) "Vamos de qualquer maneira, mas<br />
vamos mesmo." (Aurélio)<br />
Comentário<br />
Nessa questão, uma pequena análise<br />
sintática se faz necessária: mesmo, em<br />
ambos os casos, é conjunção subordinativa<br />
concessiva, introduzindo, portanto, uma<br />
oração subordinada cujo fato expresso é<br />
contrário ao da oração principal. Deve-se,<br />
então, recorrer à oração anterior para se ter<br />
certeza quanto à classificação. Grau<br />
moderado de dificuldade.<br />
Comentário do INEP<br />
Este problema buscou colocar o<br />
participante diante de uma situação que<br />
exigia a mobilização de seus mecanismos de<br />
reflexão sobre os processos lingüísticos em<br />
que um significante (uma palavra) assume<br />
diferentes significados, no enunciado, de<br />
acordo com a intenção do enunciador. Neste<br />
caso, além da compreensão da<br />
transformação de significado, é necessária a<br />
alteração de função morfossintática.<br />
Verifica-se que 62% dos participantes<br />
conseguiram identificar e analisar esse<br />
processo lingüístico, comparando a função<br />
do significante em diferentes enunciados.<br />
Isso demonstrou um domínio parcial da<br />
reflexão sobre a Língua Portuguesa, em<br />
diferentes contextos e textos.<br />
Os 18% dos participantes que<br />
assinalaram a alternativa B identificaram a<br />
diferença de significados mas,<br />
provavelmente, têm dificuldades em analisar<br />
estas mudanças em nível morfossintático<br />
(alternativa B).<br />
02) (2001) O mundo é grande<br />
O mundo é grande e cabe<br />
Nesta janela sobre o mar.<br />
O mar é grande e cabe<br />
Na cama e no colchão de amar.<br />
O amor é grande e cabe<br />
No breve espaço de beijar.<br />
ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e prosa.<br />
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983.<br />
Neste poema, o poeta realizou uma opção<br />
estilística: a reiteração de determinadas<br />
construções e expressões lingüísticas,<br />
como o uso da mesma conjunção para<br />
estabelecer a relação entre as frases.<br />
Essa conjunção estabelece, entre as<br />
idéias relacionadas, um sentido de<br />
A) oposição.<br />
B) comparação.<br />
C) conclusão.<br />
D) alternância.<br />
E) finalidade.<br />
Comentário<br />
Há três elementos repetidos neste trecho:<br />
o verbo ser, o artigo definido o e a conjunção<br />
aditiva e. A conjunção e estabelece uma<br />
relação entre idéias que, concretamente, são<br />
opostas (ex.: "O mundo é grande e cabe<br />
nesta janela sobre o mar"). A alternativa<br />
correta é a letra A.<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão apresenta, para leitura e<br />
análise, o poema "O mundo é grande", onde<br />
os recursos lingüísticos expressivos<br />
utilizados geram um efeito de oposição entre<br />
as idéias. A análise sintático-semântica é<br />
necessária para a compreensão do valor de<br />
oposição assumido pela conjunção "e":<br />
imagens justapostas estão relacionadas,<br />
contrapondo-se em planos diferentes. Um<br />
percentual significativo (46%) de<br />
participantes considerou que o valor da<br />
conjunção "e", nesse poema, é de<br />
comparação, o que não reflete o sentido<br />
estilístico proposto pelo poeta, mas<br />
corresponde apenas à primeira operação que<br />
se realiza para estabelecer o sentido de<br />
oposição. De maneira análoga, pode-se<br />
analisar os equívocos daqueles que optaram<br />
pelas alternativas C e D.<br />
03) ( 2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />
poema.<br />
A DANÇA E A ALMA<br />
A DANÇA? Não é movimento,<br />
súbito gesto musical.<br />
É concentração, num momento,<br />
da humana graça natural.<br />
No solo não, no éter pairamos,<br />
nele amaríamos ficar.<br />
A dança – não vento nos ramos:<br />
seiva, força, perene estar.<br />
Um estar entre céu e chão,<br />
novo domínio conquistado,<br />
onde busque nossa paixão<br />
libertar-se por todo lado...<br />
Onde a alma possa descrever<br />
suas mais divinas parábolas<br />
sem fugir à forma do ser,<br />
por sobre o mistério das fábulas.<br />
299
(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />
Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />
A definição de dança, em linguagem de<br />
dicionário, que mais se aproxima do que<br />
está expresso no poema é<br />
A) a mais antiga das artes, servindo como<br />
elemento de comunicação e afirmação<br />
do homem em todos os momentos de<br />
sua existência.<br />
B) a forma de expressão corporal que<br />
ultrapassa os limites físicos,<br />
possibilitando ao homem a liberação de<br />
seu espírito.<br />
C) a manifestação do ser humano,<br />
formada por uma seqüência de gestos,<br />
passos e movimentos desconcertados.<br />
D) o conjunto organizado de movimentos<br />
do corpo, com ritmo determinado por<br />
instrumentos musicais, ruídos, cantos,<br />
emoções etc.<br />
E) o movimento diretamente ligado ao<br />
psiquismo do indivíduo e, por<br />
conseqüência, ao seu desenvolvimento<br />
intelectual e à sua cultura.<br />
Comentário<br />
A pergunta busca a aplicação do conceito<br />
de "estado de dicionário" (que também foi<br />
desenvolvido por Drummond no poema "A<br />
Procura da Poesia"). A literatura busca partir<br />
de palavras em estado de dicionário para,<br />
pelo aprofundamento do sentido delas, criar<br />
um mundo mais denso e particular. Em<br />
estado de dicionário, a dança, conforme é<br />
tratada nesse poema, apareceria na<br />
alternativa B: uma justaposição entre<br />
aspectos físicos e espirituais da expressão<br />
humana. Questão complexa.<br />
sem fugir à forma do ser,<br />
por sobre o mistério das fábulas.<br />
(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />
Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />
O poema “A Dança e a Alma” é construído<br />
com base em contrastes, como<br />
“movimento” e “concentração”. Em uma<br />
das estrofes, o termo que estabelece<br />
contraste com solo é:<br />
A) éter. D) paixão.<br />
B) seiva. E) ser.<br />
C) chão.<br />
Comentário<br />
O elemento que contrasta com "solo"<br />
(físico, tangível, perene) é "éter" (espiritual,<br />
intangível, volátil). Questão de nível médio de<br />
dificuldade.<br />
05) ( 2008) O surgimento da figura da Ema<br />
no céu, ao leste, no anoitecer, na segunda<br />
quinzena de junho, indica o início do<br />
inverno para os índios do sul do Brasil e o<br />
começo da estação seca para os do norte.<br />
É limitada pelas constelações de<br />
Escorpião e do Cruzeiro do Sul, ou<br />
Cut'uxu. Segundo o mito guarani, o<br />
Cut’uxu segura a cabeça da ave para<br />
garantir a vida na Terra, porque, se ela se<br />
soltar, beberá toda a água do nosso<br />
planeta. Os tupisguaranis utilizam o<br />
Cut'uxu para se orientar e determinar a<br />
duração das noites e as estações do ano.<br />
A ilustração a seguir é uma representação<br />
dos corpos celestes que constituem a<br />
constelação da Ema, na percepção<br />
indígena.<br />
04) (2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />
poema.<br />
A DANÇA E A ALMA<br />
A DANÇA? Não é movimento,<br />
súbito gesto musical.<br />
É concentração, num momento,<br />
da humana graça natural.<br />
No solo não, no éter pairamos,<br />
nele amaríamos ficar.<br />
A dança – não vento nos ramos:<br />
seiva, força, perene estar.<br />
Um estar entre céu e chão,<br />
novo domínio conquistado,<br />
onde busque nossa paixão<br />
libertar-se por todo lado...<br />
Onde a alma possa descrever<br />
suas mais divinas parábolas<br />
Almanaque BRASIL, maio/2007 (com adaptações).<br />
A próxima figura mostra, em campo de<br />
visão ampliado, como povos de culturas<br />
não-indígenas percebem o espaço estelar<br />
em que a Ema é vista.<br />
300
Internet: (com adaptações).<br />
Assinale a opção correta a respeito da<br />
linguagem empregada no texto A Ema.<br />
A) A palavra Cut’uxu é um regionalismo<br />
utilizado pelas populações próximas às<br />
aldeias indígenas.<br />
B) O autor se expressa em linguagem<br />
formal em todos os períodos do texto.<br />
C) A ausência da palavra Ema no início do<br />
período “É limitada (...)” caracteriza<br />
registro oral.<br />
D) A palavra Cut’uxu está destacada em<br />
itálico porque integra o vocabulário da<br />
linguagem informal.<br />
E) No texto, predomina a linguagem<br />
coloquial porque ele consta de um<br />
almanaque.<br />
Comentário<br />
A questão é simples, mas requer cuidados<br />
quanto aos conceitos de linguagem<br />
“informal”, “formal” e de “língua”. Se o aluno<br />
tiver noção desses conceitos,<br />
chegará facilmente à resposta. A linguagem<br />
formal ou culta prevalece no texto, e o termo<br />
“Cut’uxu’ não é um termo informal, mas, sim,<br />
uma expressão que pertence a uma língua<br />
indígena — o que justifica o emprego da<br />
palavra em itálico. A resposta correta é,<br />
portanto, a letra "B".<br />
06) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />
preciso, além de conhecer o padrão<br />
formal da Língua Portuguesa, saber<br />
adequar o uso da linguagem ao contexto<br />
discursivo. Para exemplificar este fato,<br />
seu professor de Língua Portuguesa<br />
convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />
Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />
brinca com situações de discurso oral que<br />
fogem à expectativa do ouvinte.<br />
Aí, Galera<br />
Jogadores de futebol podem ser<br />
vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />
você pode imaginar um jogador de futebol<br />
dizendo "estereotipação"? E, no<br />
entanto, por que não?<br />
- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />
galera.<br />
- Minha saudação aos aficionados do<br />
clube e aos demais esportistas, aqui<br />
presentes ou no recesso dos seus lares.<br />
- Como é?<br />
- Aí, galera.<br />
- Quais são as instruções do técnico?<br />
- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />
trabalho de contenção coordenada, com<br />
energia otimizada, na zona de<br />
preparação, aumentam as<br />
probabilidades de, recuperado o<br />
esférico, concatenarmos um contragolpe<br />
agudo com parcimônia de meios e<br />
extrema objetividade, valendo-nos da<br />
desestruturação momentânea do<br />
sistema oposto, surpreendido pela<br />
reversão inesperada do fluxo da ação:<br />
- Ahn?<br />
- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />
pegá eles sem calça.<br />
- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />
coisa?<br />
- Posso dirigir uma mensagem de<br />
caráter sentimental, algo banal, talvez<br />
mesmo previsível e piegas, a uma<br />
pessoa à qual sou ligado por razões,<br />
inclusive, genéticas?<br />
- Pode.<br />
- Uma saudação para a minha<br />
progenitora.<br />
- Como é?<br />
- Alô, mamãe!<br />
- Estou vendo que você é um, um...<br />
- Um jogador que confunde o<br />
entrevistador, pois não corresponde à<br />
expectativa de que o atleta seja um ser<br />
algo primitivo com dificuldade de<br />
expressão e assim sabota a<br />
estereotipação?<br />
- Estereoquê?<br />
- Um chato?<br />
- Isso.<br />
Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />
O texto retrata duas situações<br />
relacionadas que fogem à expectativa do<br />
público. São elas:<br />
A) a saudação do jogador aos fãs do<br />
clube, no início da entrevista, e a<br />
saudação final dirigida à sua mãe.<br />
B) a linguagem muito formal do jogador,<br />
inadequada à situação da entrevista, e<br />
um jogador que fala, com desenvoltura,<br />
de modo muito rebuscado.<br />
301
C) o uso da expressão "galera", por parte<br />
do entrevistador, e da expressão<br />
"progenitora", por parte do jogador.<br />
D) o desconhecimento, por parte do<br />
entrevistador, da palavra<br />
"estereotipação", e a fala do jogador<br />
em "é pra dividir no meio e ir pra cima<br />
pra pegá eles sem calça".<br />
E) o fato de os jogadores de futebol serem<br />
vítimas de estereotipação e o jogador<br />
entrevistado não corresponder ao<br />
estereótipo.<br />
Comentário<br />
Quando pensamos em certas profissões,<br />
imaginamos qual seria o padrão de<br />
comportamento de quem as exerce. O texto<br />
está trabalhando uma divergência entre o<br />
que esperamos de um jogador de futebol (o<br />
estereótipo que temos dele) e um jogador<br />
que não se enquadra em nossas<br />
expectativas. Levando isso em consideração,<br />
as duas coisas que destoam do que<br />
esperamos encontrar nessa situação são: 1)<br />
alguém, ao dar uma entrevista de alto<br />
alcance popular, fala de maneira<br />
extremamente rebuscada; 2) um jogador que,<br />
ao falar de maneira rebuscada, acaba por<br />
fugir do estereótipo do jogador de futebol, de<br />
quem sempre é esperado algo menos<br />
rebuscado e mais popular.<br />
07) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />
preciso, além de conhecer o padrão<br />
formal da Língua Portuguesa, saber<br />
adequar o uso da linguagem ao contexto<br />
discursivo. Para exemplificar este fato,<br />
seu professor de Língua Portuguesa<br />
convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />
Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />
brinca com situações de discurso oral que<br />
fogem à expectativa do ouvinte.<br />
Aí, Galera<br />
Jogadores de futebol podem ser<br />
vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />
você pode imaginar um jogador de futebol<br />
dizendo "estereotipação"? E, no<br />
entanto, por que não?<br />
- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />
galera.<br />
- Minha saudação aos aficionados do<br />
clube e aos demais esportistas, aqui<br />
presentes ou no recesso dos seus lares.<br />
- Como é?<br />
- Aí, galera.<br />
- Quais são as instruções do técnico?<br />
- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />
trabalho de contenção coordenada, com<br />
energia otimizada, na zona de<br />
preparação, aumentam as<br />
probabilidades de, recuperado o<br />
esférico, concatenarmos um contragolpe<br />
agudo com parcimônia de meios e<br />
extrema objetividade, valendo-nos da<br />
desestruturação momentânea do<br />
sistema oposto, surpreendido pela<br />
reversão inesperada do fluxo da ação:<br />
- Ahn?<br />
- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />
pegá eles sem calça.<br />
- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />
coisa?<br />
- Posso dirigir uma mensagem de<br />
caráter sentimental, algo banal, talvez<br />
mesmo previsível e piegas, a uma<br />
pessoa à qual sou ligado por razões,<br />
inclusive, genéticas?<br />
- Pode.<br />
- Uma saudação para a minha<br />
progenitora.<br />
- Como é?<br />
- Alô, mamãe!<br />
- Estou vendo que você é um, um...<br />
- Um jogador que confunde o<br />
entrevistador, pois não corresponde à<br />
expectativa de que o atleta seja um ser<br />
algo primitivo com dificuldade de<br />
expressão e assim sabota a<br />
estereotipação?<br />
- Estereoquê?<br />
- Um chato?<br />
- Isso.<br />
Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />
O texto mostra uma situação em que a<br />
linguagem usada é inadequada ao<br />
contexto. Considerando as diferenças<br />
entre língua oral e língua escrita, assinale<br />
a opção que representa também uma<br />
inadequação da linguagem usada ao<br />
contexto:<br />
A) "o carro bateu e capotô, mas num deu<br />
pra vê direito" - um pedestre que<br />
assistiu ao acidente comenta com o<br />
outro que vai passando.<br />
B) "E aí, ô meu! Como vai essa força?" -<br />
um jovem que fala para um amigo.<br />
C) "Só um instante, por favor. Eu<br />
gostaria de fazer uma observação" -<br />
alguém comenta em uma reunião de<br />
trabalho.<br />
D) "Venho manifestar meu interesse em<br />
candidatar-me ao cargo de Secretária<br />
Executiva desta conceituada empresa"<br />
302
- alguém que escreve uma carta<br />
candidatando-se a um emprego.<br />
E) "Porque se a gente não resolve as<br />
coisas como têm que ser, a gente corre<br />
o risco de termos, num futuro próximo,<br />
muito pouca comida nos lares<br />
brasileiros" - um professor universitário<br />
em um congresso internacional.<br />
Comentário<br />
Essa questão está trabalhando com as<br />
nossas expectativas. Esperamos encontrar,<br />
nas diferentes situações, linguagens que<br />
correspondam à formalidade (ou à<br />
informalidade) delas. Na alternativa E, como<br />
o professor universitário está falando em um<br />
congresso internacional, espera-se que ele<br />
utilize uma linguagem mais formal e não uma<br />
linguagem coloquial como a que usou. Em<br />
todas as outras situações, a linguagem está<br />
de acordo com a situação em que está sendo<br />
empregada.<br />
08) (2006) Depois de um bom jantar: feijão<br />
com carne-seca, orelha de porco e couve<br />
com angu, arroz-mole engordurado, carne<br />
de vento assada no espeto, torresmo<br />
enxuto de toicinho da barriga, viradinho de<br />
milho verde e um prato de caldo de couve,<br />
jantar encerrado por um prato fundo de<br />
canjica com torrões de açúcar, Nhô Tomé<br />
saboreou o café forte e se estendeu na<br />
rede. A mão direita sob a cabeça, à guisa<br />
de travesseiro, o indefectível cigarro de<br />
palha entre as pontas do indicador e do<br />
polegar, envernizados pela fumaça, de<br />
unhas encanoadas e longas, ficou-se de<br />
pança para o ar, modorrento, a olhar para<br />
as ripas do telhado.<br />
Quem come e não deita, a comida não<br />
aproveita, pensava Nhô Tomé... E pôs-se<br />
a cochilar. A sua modorra durou pouco;<br />
Tia Policena, ao passar pela sala, bradou<br />
assombrada:<br />
— Êêh! Sinhô! Vai drumi agora? Não!<br />
Num presta... Dá pisadêra e póde morrê<br />
de ataque de cabeça! Despois do armoço<br />
num far-má... mais despois da janta?!”<br />
Cornélio Pires. Conversas ao pé do fogo. São Paulo:<br />
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1987.<br />
Nesse trecho, extraído de texto publicado<br />
originalmente em 1921, o narrador<br />
A) apresenta, sem explicitar juízos de<br />
valor, costumes da epoca, descrevendo<br />
os pratos servidos no jantar e a atitude<br />
de Nhô Tomé e de Tia Policena.<br />
B) desvaloriza a norma culta da língua<br />
porque incorpora à narrativa usos<br />
próprios da linguagem regional das<br />
personagens.<br />
C) condena os hábitos descritos, dando<br />
voz a Tia Policena, que tenta impedir<br />
Nhô Tomé de deitar-se após as<br />
refeições.<br />
D) utiliza a diversidade sociocultural e<br />
lingüística para demonstrar seu<br />
desrespeito às populações das zonas<br />
rurais do início do século XX.<br />
E) manifesta preconceito em relação a Tia<br />
Policena ao transcrever a fala dela com<br />
os erros próprios da região.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil, pois a alternativa<br />
"A" deixa clara a intencionalidade do<br />
narrador. Entretanto, o aluno poderia optar<br />
pela alternativa "B" caso não desse o devido<br />
valor ao sentido da palavra “desvaloriza”, que<br />
a elimina.<br />
09) (2007) Texto I<br />
Agora Fabiano conseguia arranjar as<br />
idéias. O que o segurava era a família.<br />
Vivia preso como um novilho amarrado ao<br />
mourão, suportando ferro quente. Se não<br />
fosse isso, um soldado amarelo não lhe<br />
pisava o pé não. (...) Tinha aqueles<br />
cambões pendurados ao pescoço.<br />
Deveria continuar a arrastá-los? Sinha<br />
Vitória dormia mal na cama de varas. Os<br />
meninos eram uns brutos, como o pai.<br />
Quando crescessem, guardariam as reses<br />
de um patrão invisível, seriam pisados,<br />
maltratados, machucados por um soldado<br />
amarelo.<br />
Graciliano Ramos. Vidas Secas. São Paulo:<br />
Martins, 23.ª ed., 1969, p. 75.<br />
Texto II<br />
Para Graciliano, o roceiro pobre é um<br />
outro, enigmático, impermeável. Não há<br />
solução fácil para uma tentativa de<br />
incorporação dessa figura no campo da<br />
ficção. É lidando com o impasse, ao invés<br />
de fáceis soluções, que Graciliano vai<br />
criar Vidas Secas, elaborando uma<br />
linguagem, uma estrutura romanesca,<br />
uma constituição de narrador em que<br />
narrador e criaturas se tocam, mas não se<br />
identificam. Em grande medida, o debate<br />
acontece porque, para a intelectualidade<br />
brasileira naquele momento, o pobre, a<br />
despeito de aparecer idealizado em certos<br />
aspectos, ainda é visto como um ser<br />
303
humano de segunda categoria, simples<br />
demais, incapaz de ter pensamentos<br />
demasiadamente complexos. O que Vidas<br />
Secas faz é, com pretenso não<br />
envolvimento da voz que controla a<br />
narrativa, dar conta de uma riqueza<br />
humana de que essas pessoas seriam<br />
plenamente capazes.<br />
Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes. In:<br />
Teresa. São Paulo: USP, n.° 2, 2001, p. 254.<br />
No texto II, verifica-se que o autor utiliza<br />
A) linguagem predominantemente<br />
formal, para problematizar, na<br />
composição de Vidas Secas, a relação<br />
entre o escritor e o personagem<br />
popular.<br />
B) linguagem inovadora, visto que, sem<br />
abandonar a linguagem formal, dirigese<br />
diretamente ao leitor.<br />
C) linguagem coloquial, para narrar<br />
coerentemente uma história que<br />
apresenta o roceiro pobre de forma<br />
pitoresca.<br />
D) linguagem formal com recursos<br />
retóricos próprios do texto literário em<br />
prosa, para analisar determinado<br />
momento da literatura brasileira.<br />
E) linguagem regionalista, para transmitir<br />
informações sobre literatura, valendose<br />
de coloquialismo, para facilitar o<br />
entendimento do texto.<br />
Comentário<br />
Questão de nível médio. Algumas<br />
alternativas poderiam levar o candidato a<br />
pensar que o texto de Vidas Secas utiliza<br />
uma linguagem predominantemente coloquial<br />
e regionalista. Entretanto, é na alternativa A<br />
que se encontra o real estilo da linguagem<br />
utilizada por Graciliano Ramos. A linguagem<br />
é, portanto, predominantemente formal e<br />
problematiza a relação do escritor com o<br />
personagem popular. Esta acaba sendo uma<br />
das grandes características do autor, pois ele<br />
buscava sempre dar uma grande densidade<br />
psicológica aos seus romances.<br />
<strong>10</strong>) (2006) Aula de português<br />
Explorando a função emotiva da<br />
linguagem, o poeta expressa o contraste<br />
entre marcas de variação de usos da<br />
linguagem em<br />
A) situações formais e informais.<br />
B) diferentes regiões do país.<br />
C) escolas literárias distintas.<br />
D) textos técnicos e poéticos.<br />
E) diferentes épocas.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil, pois o próprio título<br />
nos dá uma noção da dificuldade de<br />
transformar a linguagem coloquial e de uso<br />
cotidiano em uma linguagem formal,<br />
expressa no poema como “a misteriosa”.<br />
Drummond foi muito feliz em conseguir<br />
demonstrar a dificuldade em entender como<br />
estruturas simples da língua se tornam tão<br />
complexas ao se iniciar o processo de<br />
compreensão da estrutura lingüística.<br />
11) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />
preciso, além de conhecer o padrão<br />
formal da Língua Portuguesa, saber<br />
adequar o uso da linguagem ao contexto<br />
discursivo. Para exemplificar este fato,<br />
seu professor de Língua Portuguesa<br />
convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />
Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />
brinca com situações de discurso oral que<br />
fogem à expectativa do ouvinte.<br />
304
Aí, Galera<br />
Jogadores de futebol podem ser<br />
vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />
você pode imaginar um jogador de futebol<br />
dizendo "estereotipação"? E, no<br />
entanto, por que não?<br />
- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />
galera.<br />
- Minha saudação aos aficionados do<br />
clube e aos demais esportistas, aqui<br />
presentes ou no recesso dos seus lares.<br />
- Como é?<br />
- Aí, galera.<br />
- Quais são as instruções do técnico?<br />
- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />
trabalho de contenção coordenada, com<br />
energia otimizada, na zona de<br />
preparação, aumentam as<br />
probabilidades de, recuperado o<br />
esférico, concatenarmos um contragolpe<br />
agudo com parcimônia de meios e<br />
extrema objetividade, valendo-nos da<br />
desestruturação momentânea do<br />
sistema oposto, surpreendido pela<br />
reversão inesperada do fluxo da ação:<br />
- Ahn?<br />
- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />
pegá eles sem calça.<br />
- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />
coisa?<br />
- Posso dirigir uma mensagem de<br />
caráter sentimental, algo banal, talvez<br />
mesmo previsível e piegas, a uma<br />
pessoa à qual sou ligado por razões,<br />
inclusive, genéticas?<br />
- Pode.<br />
- Uma saudação para a minha<br />
progenitora.<br />
- Como é?<br />
- Alô, mamãe!<br />
- Estou vendo que você é um, um...<br />
- Um jogador que confunde o<br />
entrevistador, pois não corresponde à<br />
expectativa de que o atleta seja um ser<br />
algo primitivo com dificuldade de<br />
expressão e assim sabota a<br />
estereotipação?<br />
- Estereoquê?<br />
- Um chato?<br />
- Isso.<br />
Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />
A expressão "pegá eles sem calça"<br />
poderia ser substituída, sem<br />
comprometimento de sentido, em língua<br />
culta, formal, por:<br />
A) pegá-los na mentira.<br />
B) pegá-los desprevenidos.<br />
C) pegá-los em flagrante.<br />
D) pegá-los rapidamente.<br />
E) pegá-los momentaneamente<br />
Comentário<br />
O trabalho que temos aqui é de<br />
compreensão de sentido. Se você nunca<br />
ouviu a expressão "de calças na mão", terá<br />
de imaginar o que acontece quando<br />
pegamos alguém nessa situação. Mas isso<br />
não basta. Se usar somente situações que<br />
pode imaginar, restarão as alternativas B e<br />
C. Esse problema só será solucionado se<br />
você entender bem o texto a que ele se<br />
refere. Como o jogador está falando em<br />
roubar a bola e partir para cima do adversário<br />
rapidamente, imagina-se que o adversário<br />
não esperava perder a bola naquele<br />
momento e, quando isso ocorreu, ele não<br />
estava preparado para receber um contraataque.<br />
Utilizando essa análise, somente a<br />
alternativa B está correta.<br />
12) (2000) Em uma conversa ou leitura de<br />
um texto, corre-se o risco de atribuir um<br />
significado inadequado a um termo ou<br />
expressão, e isso pode levar a certos<br />
resultados inesperados, como se vê nos<br />
quadrinhos abaixo.<br />
(SOUZA, Maurício de. Chico Bento.<br />
Rio de Janeiro: Ed. Globo, n o 335, Nov./99 )<br />
Nessa historinha, o efeito humorístico<br />
origina-se de uma situação criada pela<br />
fala da Rosinha no primeiro quadrinho,<br />
que é:<br />
A) Faz uma pose bonita!<br />
B) Quer tirar um retrato?<br />
C) Sua barriga está aparecendo!<br />
D) Olha o passarinho!<br />
E) Cuidado com o flash!<br />
Comentário<br />
Quem não se lembra de expressões<br />
humorísticas usadas quando se deseja tirar<br />
uma foto, como "Olha o passarinho" ou "Fale<br />
xis"?<br />
Pois é, essa é uma questão fácil e a<br />
interpretação do texto é simples, e não há<br />
por que ter dúvidas quanto à resposta, a não<br />
ser que não se leia a proposta da questão.<br />
305
Comentário do INEP<br />
Essa questão procurou avaliar se o<br />
participante conseguia inferir, a partir de uma<br />
seqüência narrativa de imagens, a expressão<br />
lingüística adequada à situação de<br />
interlocução, no caso a fala da personagem,<br />
no primeiro quadrinho. A expressão de uso<br />
coloquial 'olha o passarinho!', dependendo do<br />
contexto, tem diferentes significados, que<br />
nesse caso foram associados pelo cartunista<br />
para produzir o efeito de humor. A grande<br />
maioria - 89% - dos participantes realizou a<br />
inferência solicitada, analisando a função da<br />
linguagem e identificando a variante<br />
lingüística adequada à situação de<br />
interlocução, com base na leitura da<br />
seqüência das imagens e da fala da<br />
personagem no terceiro quadrinho. É<br />
interessante notar a abrangência dessa<br />
expressão metafórica no Brasil, criada no<br />
contexto informal da fala com seus<br />
significados correspondentes. Mesmo assim,<br />
11% dos participantes, possivelmente,<br />
desconhecem essa expressão ou não<br />
conseguiram realizar a transposição do<br />
significado humorístico da fala do último<br />
quadrinho.<br />
13) (2006) Aula de português<br />
No poema, a referência à variedade<br />
padrão da língua está expressa no<br />
seguinte trecho:<br />
A) “A linguagem / na ponta da língua” (v.1<br />
e 2).<br />
B) “A linguagem / na superfície<br />
estrelada de letras” (v.5 e 6).<br />
C) “[a língua] em que pedia para ir lá<br />
fora” (v.14).<br />
D) “[a língua] em que levava e dava<br />
pontapé” (v.15).<br />
E) “[a língua] do namoro com a priminha”<br />
(v.17).<br />
Comentário<br />
Questão fácil, pois a alternativa "B" é a<br />
única que faz menção à norma-padrão da<br />
língua. As demais alternativas fogem a essa<br />
norma.<br />
14) (2005) Leia com atenção o texto:<br />
[Em Portugal], você poderá ter alguns<br />
probleminhas se entrar numa loja de<br />
roupas desconhecendo certas sutilezas da<br />
língua. Por exemplo, não adianta pedir<br />
para ver os ternos — peça para ver os<br />
fatos. Paletó é casaco. Meias são<br />
peúgas. Suéter é camisola — mas não<br />
se assuste, porque calcinhas femininas<br />
são cuecas. (Não é uma delícia?)<br />
(Ruy Castro. Viaje Bem. Ano VIII, no 3, 78.)<br />
O texto destaca a diferença entre o<br />
português do Brasil e o de Portugal<br />
quanto<br />
A) ao vocabulário.<br />
B) à derivação.<br />
C) à pronúncia.<br />
D) ao gênero.<br />
E) à sintaxe.<br />
Comentário<br />
Questão de entendimento muito fácil, pois<br />
o próprio enunciado deixa claro que se trata<br />
das diferenças de vocabulário entre o<br />
português brasileiro e o lusitano.<br />
15) (1999) Leia o texto abaixo.<br />
Cabelos longos, brinco na orelha<br />
esquerda, físico de skatista. Na aparência,<br />
o estudante brasiliense Rui Lopes Viana<br />
Filho, de 16 anos, não lembra em nada o<br />
estereótipo dos gênios. Ele não usa<br />
pesados óculos de grau e está longe de<br />
ter um ar introspectivo. No final do mês<br />
passado, Rui retornou de Taiwan, onde<br />
enfrentou 419 competidores de todo o<br />
306
mundo na 39ª Olimpíada Internacional de<br />
Matemática. A reluzente medalha de ouro<br />
que ele trouxe na bagagem está<br />
dependurada sobre a cama de seu quarto,<br />
atulhado de rascunhos dos problemas<br />
matemáticos que aprendeu a decifrar nos<br />
últimos cinco anos.<br />
Veja – Vencer uma olimpíada serve de<br />
passaporte para uma carreira profissional<br />
meteórica?<br />
Rui – Nada disso. Decidi me dedicar à<br />
Olimpíada porque sei que a concorrência<br />
por um emprego é cada vez mais<br />
selvagem e cruel. Agora tenho algo a mais<br />
para oferecer. O problema é que as coisas<br />
estão mudando muito rápido e não sei<br />
qual será minha profissão. Além de ser<br />
muito novo para decidir sobre o meu<br />
futuro profissional, sei que esse conceito<br />
de carreira mudou muito.<br />
(Entrevista de Rui Lopes Viana Filho à Veja,<br />
05/08/1998, n.31, p. 9-<strong>10</strong>)<br />
Na pergunta, o repórter estabelece uma<br />
relação entre a entrada do estudante no<br />
mercado de trabalho e a vitória na<br />
Olimpíada. O estudante<br />
A) concorda com a relação e afirma que o<br />
desempenho na Olimpíada é<br />
fundamental para sua entrada no<br />
mercado.<br />
B) discorda da relação e complementa<br />
que é fácil se fazer previsões sobre o<br />
mercado de trabalho.<br />
C) discorda da relação e afirma que seu<br />
futuro profissional independe de<br />
dedicação aos estudos.<br />
D) discorda da relação e afirma que seu<br />
desempenho só é relevante se<br />
escolher uma profissão relacionada à<br />
matemática.<br />
E) concorda em parte com a relação e<br />
complementa que é complexo fazer<br />
previsões sobre o mercado de trabalho.<br />
Comentário<br />
Não é difícil de se chegar à resposta<br />
correta ao se ler a reportagem. Ao final do<br />
último parágrafo — (...) Além de ser muito<br />
novo para decidir sobre o meu futuro<br />
profissional, sei que esse conceito de carreira<br />
mudou muito. —, o estudante praticamente<br />
fornece a resposta à questão, declarando-se<br />
realista ao não tentar prever seu futuro<br />
profissional devido à pouca idade e às<br />
mudanças no mercado de trabalho. Quanto a<br />
concordar parcialmente com o repórter, veja<br />
que ele, apesar de negar que o prêmio fosse<br />
uma garantia de sucesso profissional, logo<br />
depois afirma que, com ele, terá algo mais a<br />
oferecer ao mercado. Questão de nível fácil.<br />
Comentário do INEP<br />
Nesta situação-problema, o participante<br />
deveria demonstrar que compreendeu as<br />
premissas de um discurso, distinguindo a<br />
diferença de significado de palavras isoladas<br />
ou no contexto em que estão inseridas.<br />
Verificou-se que mais da metade dos<br />
participantes demonstrou possuir essa<br />
compreensão. Aqueles que optaram pelas<br />
alternativas C e D podem ter sido atraídos<br />
pelo significado negativo da expressão inicial<br />
"Nada disso".<br />
16) (2001) Os provérbios constituem um<br />
produto da sabedoria popular e, em geral,<br />
pretendem transmitir um ensinamento. A<br />
alternativa em que os dois provérbios<br />
remetem a ensinamentos semelhantes é:<br />
A) “Quem diz o que quer, ouve o que não<br />
quer” e “Quem ama o feio, bonito lhe<br />
parece”.<br />
B) “Devagar se vai ao longe” e “De grão<br />
em grão, a galinha enche o papo”.<br />
C) “Mais vale um pássaro na mão do que<br />
dois voando” e “Não se deve atirar<br />
pérolas aos porcos”.<br />
D) “Quem casa quer casa” e “Santo de<br />
casa não faz milagre”.<br />
E) “Quem com ferro fere, com ferro será<br />
ferido” e “Casa de ferreiro, espeto de<br />
pau”.<br />
Comentário<br />
Questão fácil. A alternativa B apresenta<br />
dois provérbios que tratam de paciência,<br />
perseverança. A mensagem é a mesma em<br />
ambos.<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão propõe uma série de<br />
provérbios agrupados aos pares, para que o<br />
participante demonstre compreender e<br />
comparar os provérbios de modo a identificar<br />
aqueles que traduzem ensinamentos<br />
semelhantes. A organização sintáticosemântica<br />
dos provérbios cria um efeito de<br />
sentido metafórico que deve ser recuperado,<br />
analisado e comparado, o que foi<br />
corretamente feito por cerca de 80% dos<br />
participantes.<br />
307
17) (1998) Texto 1<br />
"Mulher, Irmã, escuta-me: não ames,<br />
Quando a teus pés um homem terno e<br />
curvo<br />
jurar amor, chorar pranto de sangue,<br />
Não creias, não, mulher: ele te engana!<br />
As lágrimas são gotas da mentira<br />
E o juramento manto da perfídia."<br />
(Joaquim Manoel de Macedo)<br />
Texto 2<br />
"Teresa, se algum sujeito bancar o<br />
sentimental em cima de você<br />
E te jurar uma paixão do tamanho de um<br />
bonde<br />
Se ele chorar<br />
Se ele ajoelhar<br />
Se ele se rasgar todo<br />
Não acredite não Teresa<br />
É lágrima de cinema<br />
É tapeação<br />
Mentira<br />
CAI FORA"<br />
(Manuel Bandeira)<br />
Os autores, ao fazerem alusão às<br />
imagens da lágrima sugerem que:<br />
A) há um tratamento idealizado da<br />
relação homem/mulher.<br />
B) há um tratamento realista da relação<br />
homem/mulher.<br />
C) a relação familiar é idealizada.<br />
D) a mulher é superior ao homem.<br />
E) a mulher é igual ao homem.<br />
Comentário<br />
Ambos os autores, ao utilizarem a<br />
imagem da lágrima, estão na realidade<br />
mostrando que a figura do homem que é<br />
romântico a ponto de chorar ao jurar amor<br />
não existe. Tanto Macedo quanto<br />
Bandeira alertam as mulheres dizendo,<br />
com palavras e estilos diferentes, que não<br />
há homem que chore por amor (portanto,<br />
essa figura é uma idealização — e, por<br />
conseguinte, toda imagem que se tem<br />
sobre os relacionamentos<br />
demasiadamente românticos). Note que<br />
Bandeira chega até mesmo a chamar tal<br />
"chorão" de ator ("...É lágrima de cinema /<br />
É tapeação..."). Macedo dá uma imagem<br />
pesada às lágrimas ("...são gotas da<br />
mentira...").<br />
18) (1999)<br />
(QUINO. Mafalda inédita. São Paulo: Martins Fontes, 1993)<br />
Observando as falas das personagens,<br />
analise o emprego do pronome SE e o<br />
sentido que adquire no contexto. No<br />
contexto da narrativa, é correto afirmar<br />
que o pronome SE:<br />
A) em I, indica reflexividade e equivale a<br />
"a si mesmas".<br />
B) em II, indica reciprocidade e equivale a<br />
"a si mesma".<br />
C) em III, indica reciprocidade e equivale<br />
a "umas às outras".<br />
D) em I e III, indica reciprocidade e<br />
equivale a "umas às outras".<br />
E) em II e III, indica reflexividade e<br />
equivale a "a si mesma " e "a si<br />
mesmas", respectivamente.<br />
Comentário<br />
Mais uma questão que fala por si própria.<br />
Lendo o segundo quadrinho — "Quer dizer<br />
que você também se ama muito mais no<br />
Natal?" —, é fácil de se identificar o pronome<br />
reflexivo. Basta que se troque se ama por<br />
ama a si mesma. O mesmo ocorre no<br />
terceiro quadrinho em "Por que será que as<br />
pessoas se amam muito mais no Natal?" —<br />
Por que será que as pessoas amam a si<br />
mesmas? Questão de grau fácil.<br />
Comentário do INEP<br />
Este problema requeria que o participante<br />
mobilizasse conhecimentos sobre os<br />
significados de "reciprocidade e<br />
"reflexividade" e o associasse à<br />
compreensão de linguagem iconográfica.<br />
Cerca de metade dos participantes<br />
demonstrou essa capacidade. A opção de<br />
30% dos participantes pela alternativa D<br />
pode indicar que eles utilizaram as imagens<br />
apenas como ilustração do texto e não como<br />
linguagem capaz de instituir novos<br />
significados.<br />
19) (2006) No romance Vidas Secas, de<br />
Graciliano Ramos, o vaqueiro Fabiano<br />
encontra-se com o patrão para receber o<br />
salário. Eis parte da cena:<br />
308
descrito. Expressões como<br />
"camaronando", "caranguejando" e<br />
"pequeninando e não mordendo" criam,<br />
principalmente, efeitos de<br />
A) esvaziamento de sentido.<br />
B) monotonia do ambiente.<br />
C) estaticidade dos animais.<br />
D) interrupção dos movimentos.<br />
E) dinamicidade do cenário.<br />
Graciliano Ramos. Vidas Secas. 91.ª ed.<br />
Rio de Janeiro: Record, 2003.<br />
No fragmento transcrito, o padrão formal<br />
da linguagem convive com marcas de<br />
regionalismo e de coloquialismo no<br />
vocabulário. Pertence à variedade do<br />
padrão formal da linguagem o seguinte<br />
trecho:<br />
A) Não se conformou: devia haver<br />
engano (l.1).<br />
B) Fabiano perdeu os estribos (l.3).<br />
C) Passar a vida inteira assim no toco<br />
(l.4).<br />
D) Entregando o que era dele de mao<br />
beijada! (l.4-5).<br />
E) Aí Fabiano baixou a pancada e<br />
amunhecou (l.11).<br />
Comentário do portal<br />
Questão de nível fácil. Bastaria que o<br />
candidato conhecesse o padrão formal da<br />
linguagem e distinguisse-o do regionalismo e<br />
do coloquialismo.<br />
20) (202) "Narizinho correu os olhos pela<br />
assistência. Não podia haver nada mais<br />
curioso. Besourinhos de fraque e flores na<br />
lapela conversavam com baratinhas de<br />
mantilha e miosótis nos cabelos. Abelhas<br />
douradas, verdes e azuis, falavam mal<br />
das vespas de cintura fina — achando que<br />
era exagero usarem coletes tão<br />
apertados. Sardinhas aos centos<br />
criticavam os cuidados excessivos que as<br />
borboletas de toucados de gaze tinham<br />
com o pó das suas asas. Mamangavas de<br />
ferrões amarrados para não morderem. E<br />
canários cantando, e beija-flores beijando<br />
flores, e camarões camaronando, e<br />
caranguejos caranguejando, tudo que é<br />
pequenino e não morde, pequeninando e<br />
não mordendo."<br />
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. São Paulo:<br />
Brasiliense, 1947.<br />
No último período do trecho, há uma série<br />
de verbos no gerúndio que contribuem<br />
para caracterizar o ambiente fantástico<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. O dinamismo dos<br />
verbos no gerúndio tem como função<br />
principal dar vida às personagens do mundo<br />
fantástico. Não há estagnação. Cada animal<br />
faz o que lhe cabe.<br />
Comentário do INEP<br />
Essa questão apresenta para leitura e<br />
análise um trecho da obra Reinações de<br />
Narizinho, de Monteiro Lobato, e, nele, a<br />
descrição reflete as fantasias do mundo<br />
infantil. A questão propõe que seja resolvido<br />
um problema de linguagem, que é a<br />
identificação dos sentidos criados no texto<br />
pelo emprego de vários verbos no gerúndio,<br />
alguns dos quais, neologismos criados pelo<br />
autor. Como o texto é uma descrição, temos<br />
o relato de um ambiente que se agita com as<br />
ações simultâneas dos muitos seres que o<br />
habitam. Cabe ao participante perceber que<br />
o efeito dinâmico é criado pelos verbos de<br />
ação no gerúndio, que é a forma verbal da<br />
ação se fazendo. Ou seja, é função típica do<br />
gerúndio traduzir a noção de uma ação que<br />
se desenvolve de modo simultâneo à sua<br />
enunciação. Nesse ambiente retratado por<br />
Monteiro Lobato, os bichinhos humanizados<br />
se agitam, lembrando um burburinho de<br />
crianças. Apenas a alternativa E, assinalada<br />
por 36% dos participantes, responde<br />
corretamente a questão. As outras<br />
alternativas contemplam efeitos ou<br />
significados que, apesar de eventualmente<br />
serem transmitidos pelo emprego do<br />
gerúndio, não se verificam no texto.<br />
21) (2005) As dimensões continentais do<br />
Brasil são objeto de reflexões expressas<br />
em diferentes linguagens. Esse tema<br />
aparece no seguinte p"Narizinho correu os<br />
olhos pela assistência. Não podia haver nada<br />
mais curioso. Besourinhos de oema:<br />
“(....)<br />
Que importa que uns falem mole<br />
descansado<br />
Que os cariocas arranhem os erres na<br />
garganta<br />
309
Que os capixabas e paroaras escancarem<br />
as vogais?<br />
Que tem se o quinhentos réis meridional<br />
Vira cinco tostões do Rio pro Norte?<br />
Junto formamos este assombro de<br />
misérias e grandezas,<br />
Brasil, nome de vegetal! (....)”<br />
(Mário de Andrade. Poesias completas. 6. ed. São Paulo:<br />
Martins Editora, 1980.)<br />
O texto poético ora reproduzido trata das<br />
diferenças brasileiras no âmbito<br />
A) étnico e religioso.<br />
B) lingüístico e econômico.<br />
C) racial e folclórico.<br />
D) histórico e geográfico.<br />
E) literário e popular.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil, pois a primeira<br />
estrofe, ao enunciar os erres arranhados dos<br />
cariocas e as vogais abertas dos capixabas,<br />
evidencia a diferença lingüística entre duas<br />
regiões distintas do Brasil, dando noção da<br />
variedade. Já na segunda estrofe, as<br />
diferenças econômicas são evidenciadas ao<br />
se mostrarem os réis e tostões variando da<br />
Região Meridional para a Norte.<br />
22) (1999) Considere os textos abaixo.<br />
(...) de modo particular, quero encorajar os<br />
crentes empenhados no campo da<br />
filosofia para que iluminem os diversos<br />
âmbitos da atividade humana, graças ao<br />
exercício de uma razão que se torna mais<br />
segura e perspicaz com o apoio que<br />
recebe da fé.<br />
(Papa João Paulo II. Carta Encíclica Fides<br />
et Ratio aos bispos da igreja católica sobre as relações<br />
entre fé e razão, 1998)<br />
As verdades da razão natural não<br />
contradizem as verdades da fé cristã.<br />
(São Tomás de Aquino<br />
–pensador medieval)<br />
Refletindo sobre os textos, pode-se<br />
concluir que:<br />
A) a encíclica papal está em contradição<br />
com o pensamento de São Tomás de<br />
Aquino, refletindo a diferença de<br />
épocas.<br />
B) a encíclica papal procura<br />
complementar São Tomás de Aquino,<br />
pois este colocava a razão natural<br />
acima da fé.<br />
C) a Igreja medieval valorizava a razão<br />
mais do que a encíclica de João Paulo<br />
II.<br />
D) o pensamento teológico teve sua<br />
importância na Idade Média, mas, em<br />
nossos dias, não tem relação com o<br />
pensamento filosófico.<br />
E) tanto a encíclica papal como a frase<br />
de São Tomás de Aquino procuram<br />
conciliar os pensamentos sobre fé e<br />
razão.<br />
Comentário<br />
Nessa questão, é necessária uma<br />
releitura do texto para que se tenha uma<br />
melhor compreensão do tema. Tanto a<br />
citação do Papa quanto a de São Tomás de<br />
Aquino tentam criar uma interdependência<br />
entre a ciência e a fé, a religião. O Papa<br />
incentiva aqueles que exercem a pesquisa<br />
científica ou filosófica a manter a fé cristã.<br />
São Tomás de Aquino, por sua vez, equipara<br />
o avanço da ciência ao aumento da própria<br />
fé, afirmando que a razão natural não<br />
contradiz a fé cristã. Se um cresce, cresce<br />
também o outro, em harmonia e sem<br />
contradições. Questão de grau médio.<br />
(Português)<br />
Nessa questão, encontramos dois textos:<br />
o primeiro, do século XX, foi elaborado pelo<br />
Papa João Paulo II; o segundo, do século<br />
XIII, pelo teólogo e filósofo cristão São<br />
Tomás de Aquino. O conteúdo de ambos se<br />
refere à ligação entre fé e razão, a qual<br />
esteve presente na filosofia escolástica da<br />
Idade Média. Esse campo de reflexão buscou<br />
conciliar o cristianismo com o pensamento de<br />
Aristóteles e teve em São Tomás de Aquino<br />
seu maior representante.<br />
Mesmo sem ter todas essas informações,<br />
você poderia responder tranqüilamente à<br />
questão por meio de uma leitura atenta dos<br />
dois textos, chegando à conclusão de que<br />
"tanto a encíclica papal como a frase de São<br />
Tomás de Aquino procuram conciliar os<br />
pensamentos sobre fé e razão". Resposta<br />
correta: alternativa E. (História)<br />
Comentário do INEP<br />
Para resolver esta situação-problema, o<br />
participante deveria mostrar que, além de<br />
interpretar textos, sabe relacioná-los sendo<br />
que, nesse item, essas operações referem-se<br />
a um texto escrito na época medieval e a<br />
outro escrito recentemente.<br />
Mais de 70% dos participantes<br />
demonstraram facilidade em estabelecer esta<br />
relação.<br />
3<strong>10</strong>
23) (2008) Assinale a opção que apresenta<br />
um verso do soneto de Cláudio Manoel da<br />
Costa em que o poeta se dirige ao seu<br />
interlocutor.<br />
A) “Torno a ver-vos, ó montes; o<br />
destino” (v.1)<br />
B) “Aqui estou entre Almendro, entre<br />
Corino,” (v.5)<br />
C) “Os meus fiéis, meus doces<br />
companheiros,” (v.6)<br />
D) “Vendo correr os míseros vaqueiros”<br />
(v.7)<br />
E) “Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto,”<br />
(v.11)<br />
Comentário<br />
Nesta questão, basta que o aluno<br />
identifique o pronome oblíquo, presente no<br />
verso um, que chama o leitor para o texto.<br />
Sendo assim, a resposta correta é a letra "A".<br />
24) (2008)<br />
Dick Browne. O melhor de Hagar, o horrível, v. 2. L&PM<br />
pocket, p.55-6 (com adaptações).<br />
Assinale o trecho do diálogo que<br />
apresenta um registro informal, ou<br />
coloquial, da linguagem.<br />
A) “Tá legal, espertinho! Onde é que<br />
você esteve?!”<br />
B) “E lembre-se: se você disser uma<br />
mentira, os seus chifres cairão!”<br />
C) “Estou atrasado porque ajudei uma<br />
velhinha a atravessar a rua...”<br />
D) “...e ela me deu um anel mágico que<br />
me levou a um tesouro”<br />
E) “mas bandidos o roubaram e os<br />
persegui até a Etiópia, onde um<br />
dragão...”<br />
Comentário<br />
Linguagem coloquial é aquela usada no<br />
cotidiano, que tem como característica<br />
principal a oralidade, ou seja, aquela que não<br />
segue o rigor da norma culta.<br />
Entre as alternativas da questão, apenas<br />
a letra "A" apresenta esses traços.<br />
25) (1999) Leia um texto publicado no jornal<br />
Gazeta Mercantil. Esse texto é parte de<br />
um artigo que analisa algumas situações<br />
de crise no mundo, entre elas, a quebra<br />
da Bolsa de Nova Iorque em 1929, e foi<br />
publicado na época de uma iminente crise<br />
financeira no Brasil.<br />
Deu no que deu. No dia 29 de outubro de<br />
1929, uma terça-feira, praticamente não<br />
havia compradores no pregão de Nova<br />
Iorque, só vendedores. Seguiu-se uma<br />
crise incomparável: o Produto Interno<br />
Bruto dos Estados Unidos caiu de <strong>10</strong>4<br />
bilhões de dólares em 1929, para 56<br />
bilhões em 1933, coisa inimaginável em<br />
nossos dias. O valor do dólar caiu a quase<br />
metade. O desemprego elevou-se de 1,5<br />
milhão para 12,5 milhões de trabalhadores<br />
– cerca de 25% da população ativa –<br />
entre 1929 e 1933. A construção civil caiu<br />
90%. Nove milhões de aplicações, tipo<br />
caderneta de poupança, perderam-se com<br />
o fechamento dos bancos. Oitenta e cinco<br />
mil firmas faliram. Houve saques e norteamericanos<br />
que passaram fome.<br />
(Gazeta Mercantil, 05/01/1999)<br />
Ao citar dados referentes à crise ocorrida<br />
em 1929, em um artigo jornalístico atual,<br />
pode-se atribuir ao jornalista a seguinte<br />
intenção:<br />
A) questionar a interpretação da crise.<br />
B) comunicar sobre o desemprego.<br />
C) instruir o leitor sobre aplicações em<br />
bolsa de valores.<br />
D) relacionar os fatos passados e<br />
presentes.<br />
E) analisar dados financeiros americanos.<br />
Comentário<br />
Nessa questão, o que se tem de fazer é<br />
prestar atenção às alternativas das<br />
respostas. Nenhuma delas se apresenta tão<br />
bem contextualizada a uma possível<br />
interpretação quanto a letra D. Partindo-se da<br />
análise do texto, fica claro que a intenção do<br />
artigo é remeter o leitor ao passado para<br />
tentar conduzi-lo a uma reflexão sobre uma<br />
situação presente, não mencionada na<br />
questão. Após a leitura e utilizando-se a já<br />
citada eliminação de questões, torna-se clara<br />
a resposta. Questão de nível médio.<br />
(Português)<br />
311
Muitas vezes, quando procuramos<br />
entender uma crise econômica ou financeira<br />
de grandes proporções, buscamos<br />
estabelecer relações com crises passadas. O<br />
mesmo ocorre no jornalismo, como prova o<br />
texto encontrado nessa questão. Buscando<br />
entender uma crise ocorrida no início de<br />
1999, o jornalista da Gazeta Mercantil<br />
buscou relacionar a situação dessa época<br />
com a grande crise de 1929 que afetou o<br />
mundo, trazendo desemprego e recessão,<br />
entre tantos outros problemas econômicos e<br />
sociais.<br />
Para responder a essa questão, era<br />
necessário ler atentamente o enunciado, em<br />
que está destacado que "o texto é parte de<br />
um artigo que analisa algumas situações de<br />
crise no mundo" e "foi publicado na época de<br />
uma iminente crise financeira no Brasil". Era<br />
importante também observar a data em que o<br />
artigo foi publicado: 05/01/1999. A partir<br />
dessas constatações, facilmente você<br />
chegaria a conclusão de que a intenção do<br />
jornalista era "relacionar os fatos passados e<br />
presentes". Resposta correta: alternativa D.<br />
(História)<br />
Comentário do INEP<br />
A resolução da questão demandava a<br />
capacidade dos participantes de relacionar<br />
eventos históricos envolvendo crises<br />
econômicas ocorridas em épocas e lugares<br />
distintos. Aproximadamente 2/3 deles<br />
demonstraram essa capacidade. Os demais,<br />
provavelmente, não compreenderam a<br />
exigência expressa no enunciado do<br />
problema – apontar as razões pelas quais um<br />
jornalista traz à tona eventos ocorridos<br />
setenta anos antes –, e apenas interpretaram<br />
o sentido do texto citado, que descreve a<br />
crise mundial de 1929.<br />
26) (2000) “Precisa-se nacionais sem<br />
nacionalismo, (...) movidos pelo presente<br />
mas estalando naquele cio racial que só<br />
as tradições maduram! (...). Precisa-se<br />
gentes com bastante meiguice no<br />
sentimento, bastante força na peitaria,<br />
bastante paciência no entusiasmo e<br />
sobretudo, oh! sobretudo bastante<br />
vergonha na cara!<br />
(...) Enfim: precisa-se brasileiros! Assim<br />
está escrito no anúncio vistoso de cores<br />
desesperadas pintado sobre o corpo do<br />
nosso Brasil, camaradas.”<br />
(Jornal A Noite, São Paulo, 18/12/1925 apud LOPES, Telê<br />
Porto Ancona. Mário<br />
de Andrade: ramais e caminhos. São Paulo: Duas<br />
Cidades, 1972)<br />
312<br />
No trecho acima, Mário de Andrade dá<br />
forma a um dos itens do ideário<br />
modernista, que é o de firmar a feição de<br />
uma língua mais autêntica, “brasileira”, ao<br />
expressar-se numa variante de linguagem<br />
popular identificada pela (o):<br />
A) escolha de palavras como cio, peitaria,<br />
vergonha.<br />
B) emprego da pontuação.<br />
C) repetição do adjetivo bastante.<br />
D) concordância empregada em Assim<br />
está escrito.<br />
E) escolha de construção do tipo<br />
precisa-se gentes.<br />
Comentário<br />
Apesar de essa questão misturar vários<br />
tipos de informação, se você se lembra um<br />
pouquinho dos usos da partícula se, com<br />
certeza não encontrará grande dificuldade.<br />
Segundo a regra gramatical, o verbo<br />
"precisa-se" deveria ir para o plural<br />
(precisam-se), mas essa noção de verbo<br />
concordante com o sujeito há muito<br />
desapareceu na variante popular brasileira.<br />
Mas, caso você não se lembre muito bem<br />
desse assunto ou ficou meio confuso com o<br />
texto e as outras alternativas, o caminho é<br />
responder por eliminação.<br />
A primeira alternativa apresenta palavras<br />
comuns no português brasileiro, mas<br />
nenhuma "invenção" nacional. Na dúvida,<br />
pense em "vergonha": não é uma invenção<br />
brasileira. Todos os que falam português no<br />
mundo conhecem bem essa palavra. A<br />
pontuação no texto não chama nenhuma<br />
atenção. Você provavelmente não viu nada<br />
de estranho nela. Da mesma forma, o<br />
"bastante" da terceira alternativa não é nada<br />
mais que um mecanismo de retórica, usado<br />
para dar ênfase à idéia. Com o "Assim está<br />
escrito", encontramos a mesma situação: um<br />
trecho litúrgico é usado para maior ênfase.<br />
Comentário do INEP<br />
A questão procurou avaliar se o<br />
participante era capaz de, a partir da leitura<br />
de um texto de Mário de Andrade , identificar<br />
e analisar uma variante lingüística de uso<br />
coloquial, utilizadas estilisticamente pelo<br />
autor. O uso estilístico das variantes marcou<br />
a primeira fase da literatura brasileira<br />
modernista. O trecho destaca em seu todo<br />
esse uso da linguagem popular. A escolha da<br />
construção 'precisa-se gentes' é marca desse<br />
uso estilístico. O índice de 37% na alternativa<br />
(A) demonstra, possivelmente, que os<br />
participantes não consideraram a escolha<br />
dos vocábulos, dentro do contexto do texto,
confundindo as palavras que aparecem na<br />
alternativa com '...a feição de uma língua<br />
mais autêntica...'.O percentual de acertos foi<br />
da ordem de 40%.<br />
27) (2004) O poema abaixo pertence à<br />
poesia concreta brasileira. O termo latino<br />
de seu título significa "epitalâmio", poema<br />
ou canto em homenagem aos que se<br />
casam.<br />
28) (2002) O autor da tira utilizou os<br />
princípios de composição de um<br />
conhecido movimento artístico para<br />
representar a necessidade de um mesmo<br />
observador aprender a considerar,<br />
simultaneamente, diferentes pontos de<br />
vista.<br />
Das obras reproduzidas, todas de autoria<br />
do pintor espanhol Pablo Picasso, aquela<br />
em cuja composição foi adotado um<br />
procedimento semelhante é:<br />
A)<br />
Considerando que símbolos e sinais são<br />
utilizados geralmente para demonstrações<br />
objetivas, ao serem incorporados no<br />
poema "Epithalamium - II".<br />
A) adquirem novo potencial de<br />
significação.<br />
B) eliminam a subjetividade do poema.<br />
C) opõem-se ao tema principal do poema.<br />
D) invertem seu sentido original.<br />
E) tornam-se confusos e equivocados.<br />
Comentário<br />
Diferentemente, por exemplo, da<br />
aplicação matemática dos símbolos, em que<br />
sinais como "=", "+", "-", "x", etc. servem<br />
como convenções internacionais de<br />
significação objetiva e invariável, em um<br />
poema como "Epithalamium – II" foram<br />
usados símbolos que não são convenções<br />
internacionais, mas, sim, convencionados<br />
apenas para esse texto. No caso, letras do<br />
alfabeto deixam de ser representações de<br />
sons (fonemas) para ganharem nova<br />
significação, principalmente pela construção<br />
visual do poema: unem homem (h) e mulher<br />
(e) pela ação da serpente (s) — libido,<br />
atração — em uma entidade única.<br />
Uma das tendências poéticas da segunda<br />
metade do século XX, resultado de um<br />
diálogo com estéticas já presentes no final do<br />
século XIX, trabalha com a construção de<br />
seu próprio referente, fazendo do poema um<br />
objeto autônomo.<br />
B)<br />
C)<br />
313
D)<br />
a partir dos quais é apresentado o rosto da<br />
mulher retratada.<br />
29) (2004)<br />
E)<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. O movimento<br />
artístico que previa considerar<br />
simultaneamente diversos pontos de vista<br />
era o Cubismo. Havia a desconstrução da<br />
forma para que se pudesse ver todos os<br />
ângulos concomitantemente. O único quadro<br />
que apresenta essas características é o da<br />
alternativa E. As outras quatro alternativas<br />
pressupõem a manutenção da forma.<br />
Comentário do INEP<br />
O objetivo desta questão é levar o<br />
participante a refletir sobre características<br />
fundamentais de um movimento artístico – o<br />
cubismo – a partir de dados visuais:<br />
quadrinhos e pinturas. A reprodução de dois<br />
quadrinhos da personagem Calvin forneceu<br />
para o participante informações básicas para<br />
a análise que deveria fazer das alternativas<br />
apresentadas. Segundo os quadrinhos, o<br />
movimento artístico abordado pela questão<br />
tinha como procedimento de composição<br />
representar, para um mesmo observador,<br />
diferentes pontos de vista, fazendo com que<br />
"o tradicional único ponto de vista" fosse<br />
abandonado e com que a perspectiva fosse<br />
fraturada. A análise das obras de Picasso<br />
reproduzidas nas alternativas permite que o<br />
participante reconheça a adoção desse<br />
procedimento no quadro "Marie-Thérèse<br />
apoiada no cotovelo" (alternativa E, com 46%<br />
de registros), no qual se pode reconhecer a<br />
representação de diferentes pontos de vista<br />
314<br />
A polifonia, variedade de vozes, presente<br />
no poema resulta da manifestação do<br />
A) poeta e do colonizador apenas.<br />
B) colonizador e do negro apenas.<br />
C) negro e do índio apenas.<br />
D) colonizador, do poeta e do negro<br />
apenas.<br />
E) poeta, do colonizador, do índio e do<br />
negro.<br />
Comentário<br />
A questão apresenta uma certa<br />
dificuldade, pois, à primeira vista, parecem<br />
confundir-se as vozes do colonizador, do<br />
negro e do índio. Entretanto, os<br />
travessões existentes no poema explicitam<br />
as falas das personagens ao mostrar que<br />
não são apenas as vozes do poeta e do<br />
colonizador que estão presentes. As falas do<br />
índio e do negro são proferidas por eles,<br />
marca expressa pelo discurso direto. A<br />
presença dessa modalidade de discurso<br />
indica a reprodução literal do que as<br />
personagens disseram.<br />
Um ponto interessante em relação a essa<br />
questão é a intertextualidade. O índio<br />
aparece no poema pela remissão a um texto<br />
poético do nosso Romantismo, em um<br />
processo intertextual com “I-Juca-Pirama”, de<br />
Gonçalves Dias; e a presença do negro se dá<br />
pela ligação com Mário de Andrade, em<br />
Macunaíma. Entende-se, portanto, que a<br />
alternativa correta é a letra E.<br />
30) (2003) No ano passado, o governo<br />
promoveu uma campanha a fim de reduzir<br />
os índices de violência. Noticiando o fato,<br />
um jornal publicou a seguinte manchete:
CAMPANHA CONTRA A VIOLÊNCIA DO<br />
GOVERNO DO ESTADO ENTRA EM NOVA<br />
FASE<br />
A manchete tem um duplo sentido, e isso<br />
dificulta o entendimento. Considerando o<br />
objetivo da notícia, esse problema poderia<br />
ter sido evitado com a seguinte redação:<br />
A) Campanha contra o governo do Estado<br />
e a violência entram em nova fase.<br />
B) A violência do governo do Estado entra<br />
em nova fase de Campanha.<br />
C) Campanha contra o governo do Estado<br />
entra em nova fase de violência.<br />
D) A violência da campanha do governo<br />
do Estado entra em nova fase.<br />
E) Campanha do governo do Estado<br />
contra a violência entra em nova fase.<br />
Comentário<br />
O objetivo da questão é eliminar a<br />
ambigüidade da notícia de jornal, que,<br />
originalmente, trazia duas idéias: de acordo<br />
com a primeira, o governo queria combater a<br />
violência, e a segunda ressaltava que o<br />
governo era violento. Nessa questão,<br />
era preciso eliminar a segunda possibilidade<br />
de leitura.<br />
31) (2002) "A palavra tatuagem é<br />
relativamente recente. Toda a gente sabe<br />
que foi o navegador Cook que a introduziu<br />
no Ocidente, e esse escrevia tattou, termo<br />
da Polinésia de tatou ou tu tahou,<br />
'desenho'.<br />
(...) Desde os mais remotos tempos,<br />
vemo-la a transformar-se: distintivo<br />
honorífico entre uns homens, ferrete de<br />
ignomínia entre outros, meio de assustar o<br />
adversário para os bretões, marca de uma<br />
classe de selvagens das ilhas marquesas<br />
(...) sinal de amor, de desprezo, de ódio<br />
(...). Há três casos de tatuagem no Rio,<br />
completamente diversos na sua<br />
significação moral: os negros,os turcos<br />
com o fundo religioso e o bando de<br />
meretrizes, dos rufiões e dos humildes,<br />
que se marcam por crime ou por<br />
ociosidade".<br />
RIO, João do. Os Tatuadores. Revista Kosmos.<br />
1904, apud: A alma encantadora das ruas,<br />
SP: Cia das Letras, 1999.<br />
Com base no texto são feitas as seguintes<br />
afirmações:<br />
I. João do Rio revela como a tatuagem já<br />
estava presente na cidade do Rio de<br />
Janeiro, pelo menos desde o início do<br />
século XX, e era mais utilizada por<br />
alguns setores da população.<br />
II. A tatuagem, de origem polinésia,<br />
difundiu-se no ocidente com a<br />
característica que permanece até hoje:<br />
utilização entre os jovens com função<br />
estritamente estética.<br />
III. O texto mostra como a tatuagem é<br />
uma prática que se transforma no<br />
tempo e que alcança inúmeros sentidos<br />
nos diversos setores das sociedades e<br />
para as diferentes culturas.<br />
Está correto o que se afirma apenas em<br />
A) I D) I e II<br />
B) II E) I e III<br />
C) III<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Constata-se o<br />
seguinte: a tatuagem já existia no Brasil no<br />
início do século XX (o texto é de 1904 e parte<br />
dele se refere ao Rio do Janeiro) e era<br />
utilizada em diferentes setores da sociedade.<br />
A afirmação de que as tatuagens possuem<br />
apenas finalidade estética entre os jovens<br />
elimina a segunda alternativa. Já a última<br />
alternativa confirma as transformações das<br />
funções da tatuagem ao longo do tempo nas<br />
mais diversas sociedades e culturas.<br />
Comentário do INEP<br />
O texto estabelece uma relação entre a<br />
atualidade da palavra "tatuagem" e a<br />
antiguidade do uso de desenhos como<br />
pintura corporal. Focaliza uma prática social<br />
bastante difundida que adquiriu aspectos e<br />
conotações diversos nos diferentes contextos<br />
históricos e geográficos em que ela pode ser<br />
descrita. Fazendo a descrição da prática da<br />
tatuagem, como uma manifestação comum a<br />
diferentes culturas, e que adquire, inclusive,<br />
significados diferentes dentro de uma mesma<br />
cultura, induz o participante a refletir sobre a<br />
"diversidade dos patrimônios etnoculturais e<br />
artísticos", contextualizando ao mesmo<br />
tempo seus significados "em diferentes<br />
sociedades, épocas e lugares". Ao retomar<br />
as várias origens e usos da tatuagem, o<br />
participante é levado a compreender e<br />
respeitar uma gramática histórica dos<br />
costumes marcada sempre por semelhanças<br />
e diferenças. A questão não exigia, portanto,<br />
nenhum conhecimento prévio sobre as<br />
diferentes formas de manifestação dessa<br />
prática, mas simplesmente constatar, com o<br />
autor do texto citado, a historicidade e a<br />
diversidade das práticas sociais. Os<br />
participantes que assinalaram a alternativa C<br />
315
(36%), possivelmente, não levaram em<br />
consideração informações do texto. A<br />
questão foi corretamente respondida por 37%<br />
dos participantes.<br />
32) (2004)<br />
Nesta tirinha, a personagem faz referência<br />
a uma das mais conhecidas figuras de<br />
linguagem para<br />
A) condenar a prática de exercícios físicos<br />
B) valorizar aspectos da vida moderna.<br />
C) desestimular o uso das bicicletas.<br />
D) caracterizar o diálogo entre as<br />
gerações.<br />
E) criticar a falta de perspectiva do pai.<br />
Comentário<br />
A construção indica a falta de perspectiva<br />
na vida do pai do personagem. “Pedalar sem<br />
sair do lugar” é uma metáfora muito usada na<br />
cultura brasileira para expressar como é a<br />
vida de uma pessoa que age de forma a não<br />
conseguir qualquer mudança — para melhor<br />
ou para pior — na vida.<br />
33) (2004) As questões de números 26 e 27<br />
referem-se ao poema abaixo.<br />
Entre os recursos expressivos<br />
empregados no texto, destaca-se a<br />
A) metalinguagem, que consiste em fazer<br />
a linguagem referir-se à própria<br />
linguagem.<br />
B) intertextualidade, na qual o texto<br />
retoma e reelabora outros textos.<br />
C) ironia, que consiste em se dizer o<br />
contrário do que se pensa, com<br />
intenção crítica.<br />
D) denotação, caracterizada pelo uso das<br />
palavras em seu sentido próprio e<br />
objetivo.<br />
E) prosopopéia, que consiste em<br />
personificar coisas inanimadas,<br />
atribuindo-lhes vida.<br />
Comentário<br />
A questão trata de um texto de Carlos<br />
Drummond de Andrade em que ele fala sobre<br />
o crescimento urbano e a pobreza que esse<br />
processo traz. Para tanto, o poeta utiliza uma<br />
linguagem irônica, revelando o lado oculto do<br />
desenvolvimento. Dessa forma, temos como<br />
correta a alternativa C.<br />
34) (2007) Antigamente<br />
Acontecia o indivíduo apanhar<br />
constipação; ficando perrengue, mandava<br />
o próprio chamar o doutor e, depois, ir à<br />
botica para aviar a receita, de cápsulas ou<br />
pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />
phtísica, feia era o gálico. Antigamente, os<br />
sobrados tinham assombrações, os<br />
meninos, lombrigas (...)<br />
Carlos Drummond de Andrade. Poesia completa e prosa.<br />
Rio de Janeiro: Companhia José Aguilar, p. 1.184.<br />
O texto acima está escrito em linguagem<br />
de uma época passada. Observe uma<br />
outra versão, em linguagem atual.<br />
Antigamente<br />
Acontecia o indivíduo apanhar um<br />
resfriado; ficando mal, mandava o próprio<br />
chamar o doutor e, depois, ir à farmácia<br />
para aviar a receita, de cápsulas ou<br />
pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />
tuberculose, feia era a sífilis. Antigamente,<br />
os sobrados tinham assombrações, os<br />
meninos, vermes (...)<br />
Comparando-se esses dois textos,<br />
verifica-se que, na segunda versão, houve<br />
mudanças relativas a<br />
A) vocabulário.<br />
B) construções sintáticas.<br />
C) pontuação.<br />
D) fonética.<br />
E) regência verbal.<br />
Comentário<br />
Questão fácil. O aluno deveria comparar<br />
os dois textos e verificar as alterações<br />
realizadas na segunda versão apresentada.<br />
316
Nesse momento, fica evidente a mudança de<br />
vocabulário, o que indica a alternativa A<br />
como a correta.<br />
35) (2001) Nas conversas diárias, utiliza-se<br />
freqüentemente a palavra “próprio” e ela<br />
se ajusta a várias situações. Leia os<br />
exemplos de diálogos:<br />
I - A Vera se veste diferente!<br />
- É mesmo, é que ela tem um estilo<br />
próprio.<br />
II - A Lena já viu esse filme uma dezena<br />
de vezes! Eu não consigo ver o<br />
que ele tem de tão maravilhoso assim.<br />
- É que ele é próprio para adolescente.<br />
III - Dora, o que eu faço? Ando tão<br />
preocupada com o Fabinho! Meu filho<br />
está impossível!<br />
- Relaxa, Tânia! É próprio da idade.<br />
Com o tempo, ele se acomoda.<br />
Nas ocorrências I, II e III, “próprio” é<br />
sinônimo de, respectivamente,<br />
A) adequado, particular, típico.<br />
B) peculiar, adequado, característico.<br />
C) conveniente, adequado, particular.<br />
D) adequado, exclusivo, conveniente.<br />
E) peculiar, exclusivo, característico.<br />
Comentário<br />
Para responder a essa pergunta,<br />
substitua, nos trechos, a palavra próprio<br />
pelos possíveis equivalentes apresentados<br />
nas alternativas. Questão simples que pode<br />
ser resolvida por eliminação.<br />
Comentário do INEP<br />
Nesta questão são apresentados três<br />
textos em que uma mesma palavra é<br />
utilizada com sentidos diferentes. O problema<br />
consiste em observar a variedade de uso de<br />
um mesmo termo e as possibilidades de sua<br />
compreensão, estabelecendo uma relação<br />
comparativa com base em uma análise<br />
semântica. Cerca de metade (49%) dos<br />
participantes estabeleceu essa relação de<br />
maneira correta. Os participantes que<br />
assinalaram a alternativa D (21%),<br />
possivelmente isolaram o termo do contexto,<br />
gerando um equívoco entre "adequado" e<br />
"exclusivo".<br />
36) (2003) Do pedacinho de papel ao livro<br />
impresso vai uma longa distância. Mas o<br />
que o escritor quer, mesmo, é isso: ver o<br />
seu texto em letra de forma. A gaveta é<br />
ótima para aplacar a fúria criativa; ela faz<br />
amadurecer o texto da mesma forma que<br />
a adega faz amadurecer o vinho. Em<br />
certos casos, a cesta de papel é melhor<br />
ainda.<br />
O período de maturação na gaveta é<br />
necessário, mas não deve se prolongar<br />
muito. ‘Textos guardados acabam<br />
cheirando mal’, disse Silvia Plath, (...) que,<br />
com esta frase, deu testemunho das<br />
dúvidas que atormentam o escritor:<br />
publicar ou não publicar? guardar ou jogar<br />
fora?<br />
(Moacyr Scliar. O escritor e seus desafios.)<br />
Nesse texto, o escritor Moacyr Scliar usa<br />
imagens para refletir sobre uma etapa da<br />
criação literária. A idéia de que o processo<br />
de maturação do texto nem sempre é o<br />
que garante bons resultados está sugerida<br />
na seguinte frase:<br />
A) "A gaveta é ótima para aplacar a fúria<br />
criativa."<br />
B) "Em certos casos, a cesta de papel é<br />
melhor ainda."<br />
C) "O período de maturação na gaveta é<br />
necessário, (...)."<br />
D) "Mas o que o escritor quer, mesmo, é<br />
isso: ver o seu texto em letra de forma."<br />
E) "ela (a gaveta) faz amadurecer o texto<br />
da mesma forma que a adega faz<br />
amadurecer o vinho."<br />
Comentário<br />
Essa questão exigia a interpretação das<br />
frases. A palavra NEM no enunciado exclui<br />
todas as alternativas que tratam do<br />
amadurecimento ou da importância da<br />
gaveta para o bom sucesso da produção<br />
literária.<br />
A alternativa B é a única que apresenta<br />
um procedimento alternativo para a produção<br />
textual, ou seja, o lixo, e significa a liberdade<br />
do escritor em começar,<br />
interromper, recomeçar ou simplesmente<br />
abandonar a obra, permitindo a ele exercer<br />
seu livre-arbítrio.<br />
37) (2007)<br />
Aqui na floresta<br />
Dos ventos batida,<br />
Façanhas de bravos<br />
Não geram escravos,<br />
Que estimem a vida<br />
Sem guerra e lidar.<br />
— Ouvi-me, Guerreiros,<br />
— Ouvi meu cantar.<br />
O canto do guerreiro<br />
Valente na guerra,<br />
Quem há, como eu sou?<br />
Quem vibra o tacape<br />
Com mais valentia?<br />
Quem golpes daria<br />
Fatais, como eu dou?<br />
— Guerreiros, ouvi-me;<br />
— Quem há, como eu sou?<br />
Gonçalves Dias.<br />
317
Macunaíma<br />
(Epílogo)<br />
Acabou-se a história e morreu a vitória.<br />
Não havia mais ninguém lá. Dera<br />
tangolomângolo na tribo Tapanhumas e<br />
os filhos dela se acabaram de um em um.<br />
Não havia mais ninguém lá. Aqueles<br />
lugares, aqueles campos, furos<br />
puxadouros arrastadouros meiosbarrancos,<br />
aqueles matos misteriosos,<br />
tudo era solidão do deserto... Um silêncio<br />
imenso dormia à beira do rio Uraricoera.<br />
Nenhum conhecido sobre a terra não<br />
sabia nem falar da tribo nem contar<br />
aqueles casos tão pançudos. Quem podia<br />
saber do Herói?<br />
Mário de Andrade.<br />
Considerando-se a linguagem desses dois<br />
textos, verifica-se que<br />
A) a função da linguagem centrada no<br />
receptor está ausente tanto no primeiro<br />
quanto no segundo texto.<br />
B) a linguagem utilizada no primeiro texto<br />
é coloquial, enquanto, no segundo,<br />
predomina a linguagem formal.<br />
C) há, em cada um dos textos, a<br />
utilização de pelo menos uma palavra<br />
de origem indígena.<br />
D) a função da linguagem, no primeiro<br />
texto, centra-se na forma de<br />
organização da linguagem e, no<br />
segundo, no relato de informações<br />
reais.<br />
E) a função da linguagem centrada na<br />
primeira pessoa, predominante no<br />
segundo texto, está ausente no<br />
primeiro.<br />
Comentário<br />
Questão de nível médio. Essa é uma<br />
questão que foca a linguagem dos textos, e<br />
cada qual em seu gênero (poesia e prosa,<br />
respectivamente). O aluno chega à<br />
conclusão que a alternativa correta é a C por<br />
meio da exclusão das demais alternativas.<br />
A resposta correta não é a A, pois há um<br />
receptor que pode ser percebido nas<br />
seguintes perguntas contidas no texto:<br />
Texto 1 – “Guerreiros, ouvi-me;/Quem há,<br />
como eu sou?”<br />
Texto 2 – “Quem podia saber do herói?”<br />
Também não é a alternativa B, pois o<br />
conteúdo dos textos não é discriminatório. No<br />
primeiro texto, há uma idealização do índio e,<br />
no segundo, há uma realidade crítica e<br />
satírica da sociedade.<br />
A alternativa D é excluída, porque o<br />
segundo texto não fala de uma realidade, já<br />
que Macunaíma é um herói fictício e nãoreal.<br />
Por fim, também está errada a alternativa<br />
E. Isso porque não temos no epílogo do texto<br />
de Macunaíma a linguagem centrada na<br />
primeira pessoa, mas sim, na terceira.<br />
38) (2002) Só falta o Senado aprovar o<br />
projeto de lei [sobre o uso de termos<br />
estrangeiros no Brasil] para que palavras<br />
como shopping center , delivery e drivethrough<br />
sejam proibidas em nomes de<br />
estabelecimentos e marcas. Engajado<br />
nessa valorosa luta contra o inimigo<br />
ianque, que quer fazer área de livre<br />
comércio com nosso inculto e belo idioma,<br />
venho sugerir algumas outras medidas<br />
que serão de extrema importância para a<br />
preservação da soberania nacional, a<br />
saber:<br />
........<br />
Nenhum cidadão carioca ou gaúcho<br />
poderá dizer "Tu vai" em espaços públicos<br />
do território nacional;<br />
Nenhum cidadão paulista poderá dizer "Eu<br />
lhe amo" e retirar ou acrescentar o plural<br />
em sentenças como "Me vê um chopps e<br />
dois pastel";<br />
..........<br />
Nenhum dono de borracharia poderá<br />
escrever cartaz com a palavra "borraxaria"<br />
e nenhum dono de banca de jornal<br />
anunciará "Vende-se cigarros";<br />
..........<br />
Nenhum livro de gramática obrigará os<br />
alunos a utilizar colocações pronominais<br />
como "casar-me-ei" ou "ver-se-ão".<br />
PIZA, Daniel. Uma proposta imodesta. O Estado de<br />
S. Paulo, São Paulo, 8/04/2001.<br />
No texto acima, o autor:<br />
A) mostra-se favorável ao teor da<br />
proposta por entender que a língua<br />
portuguesa deve ser protegida contra<br />
deturpações de uso.<br />
B) ironiza o projeto de lei ao sugerir<br />
medidas que inibam determinados usos<br />
regionais e socioculturais da língua.<br />
C) denuncia o desconhecimento de regras<br />
elementares de concordância verbal e<br />
nominal pelo falante brasileiro.<br />
D) revela-se preconceituoso em relação a<br />
certos registros lingüísticos ao propor<br />
medidas que os controlem.<br />
E) defende o ensino rigoroso da gramática<br />
para que todos aprendam a empregar<br />
corretamente os pronomes.<br />
318
Comentário<br />
Questão de nível fácil. O autor ironiza o<br />
projeto de lei que proíbe o uso de<br />
estrangeirismos no Brasil. Não adianta criarse<br />
uma expectativa ou preocupação em<br />
relação ao uso de termos estrangeiros na<br />
língua e esquecer-se de que a língua é um<br />
organismo vivo, mutável. A dinâmica de uma<br />
língua não pode ser regida por preceitos<br />
legais como quer o projeto.<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão reproduz trechos de um<br />
texto que aborda o polêmico projeto de<br />
proibição de uso de termos estrangeiros no<br />
Brasil. A partir da leitura atenta do texto de<br />
Daniel Piza, o participante é levado a refletir<br />
sobre a postura adotada pelo autor em<br />
relação ao referido projeto. Para<br />
compreender esse texto, o participante<br />
precisa reconhecer o tom irônico que marca<br />
as observações e sugestões feitas por seu<br />
autor. Assim, Daniel Piza, "engajado nessa<br />
valorosa luta contra o inimigo ianque", sugere<br />
a proibição de algumas formas lingüísticas de<br />
uso corrente que contrariam recomendações<br />
da gramática normativa. O participante deve<br />
reconhecer que, com sugestões como essas,<br />
Daniel Piza deixa implícita uma crítica à<br />
utilidade do projeto de proibição dos<br />
estrangeirismos como forma de proteger a<br />
Língua Portuguesa. Nesse contexto, a ironia<br />
torna-se mais clara, bem como o mecanismo<br />
textual que a constrói. Feito tal<br />
reconhecimento, o aluno encontra a resposta<br />
correta na alternativa B, assinalada por cerca<br />
da metade dos participantes. Nenhuma outra<br />
alternativa contempla o aspecto irônico,<br />
essencial para a compreensão do texto.<br />
39) (200) O autor do texto abaixo critica,<br />
ainda que em linguagem metafórica, a<br />
sociedade contemporânea em relação aos<br />
seus hábitos alimentares.<br />
“Vocês que têm mais de 15 anos, se<br />
lembram quando a gente comprava leite<br />
em garrafa, na leiteria da esquina? (...)<br />
Mas vocês não se lembram de nada,<br />
pô! Vai ver nem sabem o que é vaca. Nem<br />
o que é leite. Estou falando isso porque<br />
agora mesmo peguei um pacote de leite –<br />
leite em pacote, imagina, Tereza! – na<br />
porta dos fundos e estava escrito que é<br />
pasterizado, ou pasteurizado, sei lá, tem<br />
vitamina, é garantido pela<br />
embromatologia, foi enriquecido e o<br />
escambau. Será que isso é mesmo leite?<br />
No dicionário diz que leite é outra coisa:<br />
‘Líquido branco, contendo água,<br />
proteína, açúcar e sais minerais’. Um<br />
alimento pra ninguém botar defeito. O ser<br />
humano o usa há mais de 5.000 anos. É o<br />
único alimento só alimento. A carne serve<br />
pro animal andar, a fruta serve pra fazer<br />
outra fruta, o ovo serve pra fazer outra<br />
galinha (...) O leite é só leite. Ou toma ou<br />
bota fora. Esse aqui examinando bem, é<br />
só pra botar fora. Tem chumbo, tem<br />
benzina, tem mais água do que leite, tem<br />
serragem, sou capaz de jurar que nem<br />
vaca tem por trás desse negócio. Depois o<br />
pessoal ainda acha estranho que os<br />
meninos não gostem de leite.<br />
Mas, como não gostam? Não gostam<br />
como? Nunca tomaram! Múúúúúúú!”<br />
(FERNANDES, Millôr. O Estado de S. Paulo ,<br />
22 de agosto de 1999)<br />
A palavra embromatologia usada pelo<br />
autor é:<br />
A) um termo científico que significa estudo<br />
dos bromatos.<br />
B) uma composição do termo de gíria<br />
“embromação” (enganação) com<br />
bromatologia, que é o estudo dos<br />
alimentos.<br />
C) uma junção do termo de gíria<br />
“embromação” (enganação) com<br />
lactologia, que é o estudo das<br />
embalagens para leite.<br />
D) um neologismo da química orgânica<br />
que significa a técnica de retirar<br />
bromatos dos laticínios.<br />
E) uma corruptela de termo da<br />
agropecuária que significa a ordenha<br />
mecânica.<br />
Comentário<br />
É necessário para a resolução desta<br />
questão:<br />
- perceber que o texto critica o exagerado<br />
uso de substâncias artificiais nos<br />
alimentos;<br />
- conhecer o significado da gíria embromar e<br />
da palavra bromatologia.<br />
Conhecendo esses significados, você<br />
elimina todas as alternativas erradas: a, c, d<br />
e e.<br />
Você poderá ter dúvida quanto à<br />
alternativa c, que também será eliminada se<br />
souber o significado da palavra lactologia,<br />
que é o estudo do leite e produtos lácteos e<br />
não das embalagens para leite.<br />
Nesta questão, são trabalhados os<br />
conceitos de interpretação de texto, formação<br />
de palavras e conhecimentos gerais.<br />
319
Comentário do INEP<br />
A resolução da questão requeria que o<br />
participante, ao ler o texto vinculasse o<br />
significado de um termo de gíria -<br />
"embromação" - com o da palavra<br />
bromatologia. A resposta correta exigia que o<br />
participante não abrisse mão do sabor<br />
picante contido na linguagem metafórica,<br />
sabor vinculado ao conhecimento específico<br />
contido na palavra bromatologia. Cerca da<br />
metade dos participantes (51%) optou pela<br />
alternativa correta e, os 20% que escolheram<br />
a alternativa C, provavelmente associaram a<br />
referência feita no texto à leite em pacote.<br />
40) (2005) O termo (ou expressão)<br />
destacado que está empregado em seu<br />
sentido próprio, denotativo ocorre em:<br />
A) “(....)<br />
É de laço e de nó<br />
De gibeira o jiló<br />
Dessa vida, cumprida a sol (....)”<br />
(Renato Teixeira. Romaria. Kuarup Discos.<br />
setembro de 1992.)<br />
B) “Protegendo os inocentes<br />
é que Deus, sábio demais,<br />
põe cenários diferentes<br />
nas impressões digitais.”<br />
(Maria N. S. Carvalho. Evangelho da Trova. /s.n.b.)<br />
C) “O dicionário-padrão da língua e os<br />
dicionários unilíngües são os tipos mais<br />
comuns de dicionários. Em nossos<br />
dias, eles se tornaram um objeto de<br />
consumo obrigatório para as nações<br />
civilizadas e desenvolvidas.”<br />
(Maria T. Camargo Biderman.<br />
O dicionário-padrão da língua. Alfa (28), 2743, 1974 Supl.)<br />
Comentário<br />
A definição do dicionário-padrão da língua<br />
utiliza o sentido denotativo da palavra para<br />
explicar o uso de determinado tipo de<br />
dicionário. Em todas as outras alternativas,<br />
as palavras estão sendo empregadas em<br />
sentido metafórico. Na letra A, "cumprida a<br />
sol" pode mostrar o sofrimento e a solidão.<br />
Na alternativa B, "cenários diferentes" são as<br />
diferenças físicas encontradas nas<br />
impressões digitais. Na letra D, "bateria" é o<br />
termo usado para expressar a "energia" do<br />
Menino Maluquinho, que nunca acaba. Por<br />
fim, na alternativa E, "fazer cócegas no<br />
raciocínio" significa expressar graça por meio<br />
de idéias, fazendo com que o cérebro ache<br />
um fato divertido e, por conseguinte, faça<br />
com que a pessoa ria como se sofresse um<br />
ataque de cócegas.<br />
41) (2008) Os signos visuais, como meios de<br />
comunicação, são classificados em<br />
categorias de acordo com seus<br />
significados.<br />
A categoria denominada indício<br />
corresponde aos signos visuais que têm<br />
origem em formas ou situações naturais<br />
ou casuais, as quais, devido à ocorrência<br />
em circunstâncias idênticas, muitas vezes<br />
repetidas, indicam algo e adquirem<br />
significado. Por exemplo, nuvens negras<br />
indicam tempestade. Com base nesse<br />
conceito, escolha a opção que representa<br />
um signo da categoria dos indícios.<br />
A)<br />
D)<br />
B)<br />
E) “Humorismo é a arte de fazer cócegas<br />
no raciocínio dos outros. Há duas<br />
espécies de humorismo: o trágico e o<br />
cômico. O trágico é o que não<br />
consegue fazer rir; o cômico é o que é<br />
verdadeiramente trágico para se fazer.”<br />
(Leon Eliachar. www.mercadolivre.com.br.<br />
acessado em julho de 2005.)<br />
C)<br />
320
D)<br />
E)<br />
Comentário<br />
Trata-se de uma questão interpretativa. O<br />
aluno precisa entender o que é “indício” para<br />
respondê-la. Segundo o dicionário Aurélio,<br />
indício é o mesmo que “sinal, vestígio,<br />
indicação”. Das figuras apresentadas,<br />
apenas a alternativa B indica algo: a<br />
passagem de alguém por algum lugar —<br />
pegada.<br />
42) (1999)<br />
Diante da visão de um prédio com uma<br />
placa indicando SAPATARIA PAPALIA,<br />
um jovem deparou com a dúvida: como<br />
pronunciar a palavra PAPALIA?<br />
Levado o problema à sala de aula, a<br />
discussão girou em torno da utilidade de<br />
conhecer as regras de acentuação e,<br />
especialmente, do auxílio que elas podem<br />
dar à correta pronúncia de palavras.<br />
Após discutirem pronúncia, regras de<br />
acentuação e escrita, três alunos<br />
apresentaram as seguintes conclusões a<br />
respeito da palavra PAPALIA:<br />
I. Se a sílaba tônica for o segundo PA, a<br />
escrita deveria ser PAPÁLIA, pois a<br />
palavra seria paroxítona terminada em<br />
ditongo crescente.<br />
II. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />
deveria ser PAPALÍA, pois “i” e “a”<br />
estariam formando hiato.<br />
III. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />
deveria ser PAPALIA, pois não haveria<br />
razão para o uso de acento gráfico.<br />
A conclusão está correta apenas em:<br />
A) III D) I<br />
B) I e II E) II<br />
C) I e III<br />
Comentário<br />
Essa questão exige bom conhecimento<br />
das regras de acentuação. A alternativa A diz<br />
que apenas a afirmação I é verdadeira. De<br />
fato ela é, mas não é a única. Nela, temos a<br />
hipótese de a palavra ser grafada como se a<br />
sílaba forte fosse a penúltima — papália —,<br />
justificando seu acento gráfico. Vejamos o<br />
que dizem as regras de acentuação.<br />
Acentuam-se as palavras paroxítonas<br />
terminadas em: i, is, us, um, uns, l, n, r, x,<br />
ps, ã, ãs, ão, ãos, ditongos orais,<br />
crescentes ou decrescentes, seguidos ou<br />
não de S. Isso valida, portanto, a afirmação I.<br />
A afirmação II pressupõe que a sílaba<br />
tônica seja LI, em hiato com A: no caso de<br />
essa ser a tonicidade da palavra, a sílaba LI<br />
não poderia ser acentuada, pois I, mesmo<br />
sendo a tônica do hiato, não é a última vogal,<br />
portanto, essa afirmativa é falsa.<br />
A afirmação III considera que a sílaba<br />
tônica é LI, não havendo acento por ser o I a<br />
primeira vogal do hiato. Portanto, essa<br />
afirmação é verdadeira.<br />
Concluindo, temos como verdadeiras as<br />
afirmações I e III. Então, a alternativa E é a<br />
correta. Questão de nível difícil.<br />
Comentário do INEP<br />
Dentre os participantes, somente pouco<br />
mais de um terço (35%) demonstrou possuir<br />
a habilidade para identificar as regras de<br />
acentuação corretas, enunciadas na questão.<br />
Chama a atenção o fato de que 73% dos<br />
participantes (alternativas A, D e E)<br />
reconheceram corretamente, pelo menos, a<br />
regra contida no item I, sendo que cerca de<br />
40% desses, contudo, tiveram dificuldades<br />
em analisar as regras II e III.<br />
Em se tratando de palavra não-usual, é,<br />
sobretudo, o domínio do conhecimento das<br />
regras e não a possível pronúncia correta,<br />
pelo uso, o que parece ter sido revelado.<br />
321
43) (2002) A crônica muitas vezes constitui<br />
um espaço para reflexão sobre aspectos<br />
da sociedade em que vivemos.<br />
"Eu, na rua, com pressa, e o menino<br />
segurou no meu braço, falou qualquer<br />
coisa que não entendi. Fui logo dizendo<br />
que não tinha, certa de que ele estava<br />
pedindo dinheiro. Não estava. Queria<br />
saber a hora.<br />
Talvez não fosse um Menino De<br />
Família, mas também não era um Menino<br />
De Rua. É assim que a gente divide.<br />
Menino De Família é aquele bem-vestido<br />
com tênis da moda e camiseta de marca,<br />
que usa relógio e a mãe dá outro se o<br />
dele for roubado por um Menino De Rua.<br />
Menino De Rua é aquele que quando a<br />
gente passa perto segura a bolsa com<br />
força porque pensa que ele é pivete,<br />
trombadinha, ladrão. (...) Na verdade não<br />
existem meninos De rua.<br />
Existem meninos NA rua. E toda vez<br />
que um menino está NA rua é porque<br />
alguém o botou lá. Os meninos não vão<br />
sozinhos aos lugares. Assim como são<br />
postos no mundo, durante muitos anos<br />
também são postos onde quer que<br />
estejam. Resta ver quem os põe na rua. E<br />
por quê."<br />
COLASSANTI, Marina. In: Eu sei, mas não devia. Rio de<br />
Janeiro: Rocco, 1999.<br />
No terceiro parágrafo em "... não existem<br />
meninos De rua. Existem meninos NA<br />
rua.", a troca de De pelo Na determina<br />
que a relação de sentido entre "menino" e<br />
"rua" seja<br />
A) de localização e não de qualidade.<br />
B) de origem e não de posse.<br />
C) de origem e não de localização.<br />
D) de qualidade e não de origem.<br />
E) de posse e não de localização.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Apesar de não<br />
haver um terceiro parágrafo neste texto, a<br />
troca das preposições ao final do SEGUNDO<br />
parágrafo indica claramente que não há um<br />
menino DE (proveniente de) rua, mas um<br />
menino que está NA (foi levado à) rua.<br />
Portanto, a relação é unicamente de<br />
localização (onde ele está) e não de<br />
qualidade (o que ele é).<br />
Comentário do INEP<br />
A reprodução de um trecho de uma<br />
crônica de Marina Colassanti tematiza uma<br />
importante questão social brasileira: a<br />
presença de milhões de crianças nas ruas do<br />
País. A autora, ao tratar desse problema,<br />
vale-se de recursos lingüísticos específicos.<br />
O objetivo desta questão é justamente<br />
chamar a atenção do participante leitor para<br />
esses recursos e os efeitos de sentido que<br />
eles desencadeiam no texto. Na raiz da<br />
questão destaca-se a troca de "De" por "NA"<br />
e pede-se que se determine qual relação de<br />
sentido essa substituição estabelece entre os<br />
termos "menino" e "rua". Analisar a relação,<br />
nesse caso, significa perguntar-se sobre o<br />
sentido de dois sintagmas criados no texto:<br />
"meninos NA rua" por oposição a "meninos<br />
De rua". O que a autora pretende negar, com<br />
a troca do termo de relação, é a possibilidade<br />
de que existam meninos de rua diferentes de<br />
outros meninos, que não têm na rua a sua<br />
origem. O destaque para a preposição na<br />
nos leva a refletir que a relação dos meninos<br />
com a rua é de localização: eles estão ali por<br />
alguma razão, não porque essa seja a sua<br />
qualificação. Essa reflexão levaria o aluno a<br />
escolher, como correta, a resposta<br />
apresentada na alternativa A, assinalada por<br />
cerca de metade dos participantes.<br />
44) (2000) O uso do pronome átono no início<br />
das frases é destacado por um poeta e<br />
por um gramático nos textos abaixo.<br />
Pronominais<br />
Dê-me um cigarro<br />
Diz a gramática<br />
Do professor e do aluno<br />
E do mulato sabido<br />
Mas o bom negro e o bom branco<br />
da Nação Brasileira<br />
Dizem todos os dias<br />
Deixa disso camarada<br />
Me dá um cigarro<br />
(ANDRADE, Oswald de. Seleção de textos.<br />
São Paulo: Nova Cultural, 1988)<br />
“Iniciar a frase com pronome átono só<br />
é lícito na conversação familiar,<br />
despreocupada, ou na língua escrita<br />
quando se deseja reproduzir a fala dos<br />
personagens (...).”<br />
(CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da<br />
língua portuguesa.<br />
São Paulo: Nacional, 1980)<br />
Comparando a explicação dada pelos<br />
autores sobre essa regra, pode-se afirmar<br />
que ambos:<br />
322
A) condenam essa regra gramatical.<br />
B) acreditam que apenas os esclarecidos<br />
sabem essa regra.<br />
C) criticam a presença de regras na<br />
gramática.<br />
D) afirmam que não há regras para uso de<br />
pronomes.<br />
E) relativizam essa regra gramatical.<br />
Comentário<br />
Questão que requer conhecimento básico<br />
de colocação pronominal, em relação ao uso<br />
de pronomes átonos no início de frases, uma<br />
regra muito pouco respeitada pelo brasileiro,<br />
da qual Oswald de Andrade faz questão de<br />
falar em seu poema. Porém, a questão pode<br />
ser resolvida simplesmente por meio de uma<br />
leitura bem atenta dos textos. Se formos<br />
analisando alternativa por alternativa, a<br />
eliminação é clara e lógica: a alternativa a<br />
fica totalmente descartada devido à<br />
transparência da colocação dos dois autores<br />
(Me dá um cigarro...) e (iniciar frases com o<br />
pronome átono é "lícito" na conversação<br />
familiar ou despreocupada). Já a alternativa b<br />
pode até mesmo gerar um pouco de dúvida a<br />
quem não se atém bem à pergunta. Quanto<br />
às alternativas c e d, ficam descartadas, pois,<br />
em momento nenhum, os autores criticaram<br />
o uso de regras gramaticais em seus textos,<br />
cabendo perfeitamente a alternativa e para<br />
as afirmações do gramático e do poeta.<br />
Comentário do INEP<br />
Essa questão pretendia verificar como o<br />
participante analisa um fato lingüístico,<br />
mediante a comparação da descrição desse<br />
fato em dois textos. Sabe-se que,<br />
normalmente em situação escolar, o uso do<br />
pronome átono no início da frase é julgado<br />
como grave desvio gramatical, e pouco se<br />
analisa esse uso na fala ou escrita informal.<br />
Os dois autores dos textos, com intenções<br />
diferentes, relativizam essa regra gramatical,<br />
destacando e descrevendo o seu uso<br />
coloquial. A maioria dos participantes (52%)<br />
analisou e comparou corretamente as<br />
posições dos autores sobre o uso do<br />
pronome átono, e 24% deles reafirmaram a<br />
posição discriminatória da regra, deslocandoa<br />
de seu uso.<br />
45) (2003)<br />
O humor presente na tirinha decorre<br />
principalmente do fato de a personagem<br />
Mafalda<br />
A) atribuir, no primeiro quadrinho, poder<br />
ilimitado ao dedo indicador.<br />
B) considerar seu dedo indicador tão<br />
importante quanto o dos patrões.<br />
C) atribuir, no primeiro e no último<br />
quadrinhos, um mesmo sentido ao<br />
vocábulo "indicador".<br />
D) usar corretamente a expressão<br />
"indicador de desemprego", mesmo<br />
sendo criança.<br />
E) atribuir, no último quadrinho, fama<br />
exagerada ao dedo indicador dos<br />
patrões.<br />
Comentário<br />
A questão pede a interpretação de uma<br />
charge da personagem Mafalda, em que ela<br />
faz referência a seu dedo indicador, que é<br />
usado como substantivo primitivo e que<br />
possibilita a analogia com “indicador de<br />
desemprego”. Dessa forma, ela ironiza os<br />
indicadores sociais. Na charge, porém, não<br />
há menção explícita aos índices<br />
“indicadores”, permanecendo o raciocínio<br />
preso apenas ao dedo indicador. Assim, ela<br />
utiliza, tanto no primeiro quanto no último<br />
quadrinho, a palavra “indicador” como<br />
referência ao dedo, não dando abertura a<br />
outro tipo de interpretação.<br />
46) (2002)<br />
De acordo com a história em quadrinhos<br />
protagonizada por Hagar e seu filho<br />
Hamlet, pode-se afirmar que a postura de<br />
Hagar<br />
A) valoriza a existência da diversidade<br />
social e de culturas, e as várias<br />
representações e explicações desse<br />
universo.<br />
323
B) desvaloriza a existência da<br />
diversidade social e as várias culturas,<br />
e determina uma única explicação para<br />
esse universo.<br />
C) valoriza a possibilidade de explicar as<br />
sociedades e as culturas a partir de<br />
várias visões de mundo.<br />
D) valoriza a pluralidade cultural e social<br />
ao aproximar a visão de mundo de<br />
navegantes e não-navegantes.<br />
E) desvaloriza a pluralidade cultural e<br />
social, ao considerar o mundo habitado<br />
apenas pelos navegantes.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Hagar reduz o<br />
mundo a dois tipos de pessoas: navegantes<br />
e não-navegantes. No último quadrinho, diz<br />
que são os navegantes que estabelecem<br />
esses dois grupos. Portanto, quem é<br />
diferente dos navegantes (que estabelecem<br />
o padrão) simplesmente é incluído na massa<br />
única dos não-navegantes. Não importa<br />
quem ou quantos sejam, sua diversidade<br />
social ou cultural em relação aos navegantes<br />
ou entre si. Vemos aí a desvalorização de<br />
outras culturas.<br />
47) (2009) Nestes últimos anos, a situação<br />
mudou bastante e o Brasil, normalizado, já<br />
não nos parece tão mítico, no bem e no<br />
mal. Houve um mútuo reconhecimento<br />
entre os dois países de expressão<br />
portuguesa de um lado e do outro do<br />
Atlântico: o Brasil descobriu Portugal e<br />
Portugal, em um retorno das caravelas,<br />
voltou a descobrir o Brasil e a ser, por seu<br />
lado, colonizado por expressões<br />
linguísticas, as telenovelas, os romances,<br />
a poesia, a comida e as formas de<br />
tratamento brasileiros. O mesmo, embora<br />
em nível superficial, dele excluído o plano<br />
da língua, aconteceu com a Europa, que,<br />
depois da diáspora dos anos 70, depois<br />
da inserção na cultura da bossa-nova e da<br />
música popular brasileira, da problemática<br />
ecológica centrada na Amazônia, ou da<br />
problemática social emergente do<br />
fenômeno dos meninos de rua, e até do<br />
álibi ocultista dos romances de Paulo<br />
Coelho, continua todos os dias a<br />
descobrir, no bem e no mal, o novo Brasil.<br />
Se, no fim do século XIX, Sílvio Romero<br />
definia a literatura brasileira como<br />
manifestação de um país mestiço, será<br />
fácil para nós defini-Ia como expressão de<br />
um país polifônico: em que já não é<br />
determinante o eixo Rio-São Paulo, mas<br />
324<br />
que, em cada região, desenvolve<br />
originalmente a sua unitária e particular<br />
tradição cultural. É esse, para nós, no<br />
início do século XXI, o novo estilo<br />
brasileiro.<br />
STEGAGNO-PICCHIO, L. História da literatura<br />
brasileira. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2004<br />
(adaptado).<br />
No texto, a autora mostra como o Brasil,<br />
ao longo de sua história, foi, aos poucos,<br />
construindo uma identidade cultural e<br />
literária relativamente autônoma frente à<br />
identidade europeia, em geral, e à<br />
portuguesa em particular. Sua análise<br />
pressupõe, de modo especial, o papel do<br />
patrimônio literário e linguístico, que<br />
favoreceu o surgimento daquilo que ela<br />
chama de “estilo brasileiro”. Diante desse<br />
pressuposto, e levando em consideração<br />
o texto e as diferentes etapas de<br />
consolidação da cultura brasileira,<br />
constata-se que<br />
A) o Brasil redescobriu a cultura<br />
portuguesa no século XIX, o que o fez<br />
assimilar novos gêneros artísticos e<br />
culturais, assim como usos originais do<br />
idioma, conforme ilustra o caso do<br />
escritor Machado de Assis.<br />
B) a Europa reconheceu a importância da<br />
língua portuguesa no mundo, a partir<br />
da projeção que poetas brasileiros<br />
ganharam naqueles países, a partir do<br />
século XX.<br />
C) ocorre, no início do século XXI,<br />
promovido pela solidificação da cultura<br />
nacional, maior reconhecimento do<br />
Brasil por ele mesmo, tanto nos<br />
aspectos positivos quanto nos<br />
negativos.<br />
D) o Brasil continua sendo, como no<br />
século XIX, uma nação culturalmente<br />
mestiça, embora a expressão<br />
dominante seja aquela produzida no<br />
eixo Rio-São Paulo, em especial<br />
aquela ligada às telenovelas.<br />
E) o novo estilo cultural brasileiro se<br />
caracteriza por uma união bastante<br />
significativa entre as diversas matrizes<br />
culturais advindas das várias regiões<br />
do país, como se pode comprovar na<br />
obra de Paulo Coelho.<br />
Comentário<br />
(QUESTÃO: AZUL 130, BRANCA 130,<br />
ROSA 133)<br />
A maior dificuldade dessa questão está na<br />
densidade dos textos, tanto o do enunciado<br />
quanto os das alternativas.
O assunto tratado aqui é a consolidação e<br />
o reconhecimento, por parte dos próprios<br />
brasileiros, do "estilo brasileiro" e da<br />
identidade nacional.<br />
A resposta correta é a alternativa C. A sua<br />
escolha é justificada pelo fato de o próprio<br />
texto afirmar que "cada região, desenvolve<br />
originalmente a sua unitária e particular<br />
tradição cultural. É esse, para nós, no início<br />
do século XXI o novo estilo brasileiro."<br />
Resposta correta alternativa C<br />
COMPETÊNCIA DE ÁREA 7<br />
H21 - Reconhecer em textos de<br />
diferentes gêneros, recursos<br />
verbais e não-verbais utilizados<br />
com a finalidade de criar e<br />
mudar comportamentos e<br />
hábitos.<br />
01) (2000) Ferreira Gullar, um dos grandes<br />
poetas brasileiros da atualidade, é autor<br />
de “Bicho urbano”, poema sobre a sua<br />
relação com as pequenas e grandes<br />
cidades.<br />
Bicho urbano<br />
Se disser que prefiro morar em Pirapemas<br />
ou em outra qualquer pequena cidade do<br />
país<br />
estou mentindo<br />
ainda que lá se possa de manhã<br />
lavar o rosto no orvalho<br />
e o pão preserve aquele branco<br />
sabor de alvorada.<br />
....................................................................<br />
A natureza me assusta.<br />
Com seus matos sombrios suas águas<br />
suas aves que são como aparições<br />
me assusta quase tanto quanto<br />
esse abismo<br />
de gases e de estrelas<br />
aberto sob minha cabeça.<br />
(GULLAR, Ferreira. Toda poesia. Rio de Janeiro:<br />
José Olympio Editora, 1991)<br />
Embora não opte por viver numa pequena<br />
cidade, o poeta reconhece elementos de<br />
valor no cotidiano das pequenas<br />
comunidades. Para expressar a relação<br />
do homem com alguns desses elementos,<br />
ele recorre à sinestesia, construção de<br />
linguagem em que se mesclam<br />
impressões sensoriais diversas. Assinale<br />
a opção em que se observa esse recurso.<br />
A) "e o pão preserve aquele branco /<br />
sabor de alvorada."<br />
B) "ainda que lá se possa de manhã /<br />
lavar o rosto no orvalho"<br />
C) "A natureza me assusta. / Com seus<br />
matos sombrios suas águas"<br />
D) "suas aves que são como aparições /<br />
me assusta quase tanto quanto"<br />
E) "me assusta quase tanto quanto / esse<br />
abismo / de gases e de estrelas"<br />
Comentário<br />
Para responder a esta questão, leia com<br />
muita atenção o enunciado. Nele encontra-se<br />
o conceito de sinestesia: construção de<br />
linguagem em que se mesclam impressões<br />
sensoriais diversas, ou seja, a associação de<br />
sensações diferentes numa mesma<br />
expressão.<br />
Você deve compreender o conceito de<br />
sinestesia e, pela lógica, encontrar o exemplo<br />
dessa figura de linguagem.<br />
A alternativa correta é a letra a, pois a<br />
expressão "branco sabor" associa o sentido<br />
da visão (branco) com o do paladar (sabor).<br />
Comentário do INEP<br />
A questão procurou verificar a capacidade<br />
do participante de construir o sentido de<br />
elementos textuais. A partir da noção de<br />
sinestesia, que lhe foi dada de maneira<br />
sucinta, ele teve de transpor para o texto<br />
essa mesma noção, manifestando sua<br />
competência textual. Pode-se classificar de<br />
'bom', o índice de acerto (53%), se<br />
considerarmos que a questão trabalhou com<br />
a função conotativa da linguagem, o que<br />
requer uma capacidade de leitura sempre<br />
mais desenvolvida. Os desvios, de forma<br />
mais acentuada na alternativa B, são<br />
explicáveis: as alternativas incorretas (e, de<br />
resto, todo o poema) também se referem à<br />
manifestações sensoriais, embora sem a<br />
necessária 'mescla', que é o que distingue a<br />
sinestesia.<br />
02) (2001) O mundo é grande<br />
O mundo é grande e cabe<br />
Nesta janela sobre o mar.<br />
O mar é grande e cabe<br />
Na cama e no colchão de amar.<br />
O amor é grande e cabe<br />
No breve espaço de beijar.<br />
ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e prosa.<br />
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983.<br />
325
Neste poema, o poeta realizou uma opção<br />
estilística: a reiteração de determinadas<br />
construções e expressões lingüísticas,<br />
como o uso da mesma conjunção para<br />
estabelecer a relação entre as frases.<br />
Essa conjunção estabelece, entre as<br />
idéias relacionadas, um sentido de<br />
A) oposição.<br />
B) comparação.<br />
C) conclusão.<br />
D) alternância.<br />
E) finalidade.<br />
Comentário<br />
Há três elementos repetidos neste trecho:<br />
o verbo ser, o artigo definido o e a conjunção<br />
aditiva e. A conjunção e estabelece uma<br />
relação entre idéias que, concretamente, são<br />
opostas (ex.: "O mundo é grande e cabe<br />
nesta janela sobre o mar"). A alternativa<br />
correta é a letra A.<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão apresenta, para leitura e<br />
análise, o poema "O mundo é grande", onde<br />
os recursos lingüísticos expressivos<br />
utilizados geram um efeito de oposição entre<br />
as idéias. A análise sintático-semântica é<br />
necessária para a compreensão do valor de<br />
oposição assumido pela conjunção "e":<br />
imagens justapostas estão relacionadas,<br />
contrapondo-se em planos diferentes. Um<br />
percentual significativo (46%) de<br />
participantes considerou que o valor da<br />
conjunção "e", nesse poema, é de<br />
comparação, o que não reflete o sentido<br />
estilístico proposto pelo poeta, mas<br />
corresponde apenas à primeira operação que<br />
se realiza para estabelecer o sentido de<br />
oposição. De maneira análoga, pode-se<br />
analisar os equívocos daqueles que optaram<br />
pelas alternativas C e D.<br />
03) (1999) SONETO DE FIDELIDADE<br />
De tudo, ao meu amor serei atento<br />
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto<br />
Que mesmo em face do maior encanto<br />
Dele se encante mais meu pensamento.<br />
Quero vivê-lo em cada vão momento<br />
E em seu louvor hei de espalhar meu<br />
canto<br />
E rir meu riso e derramar meu pranto<br />
Ao seu pesar ou seu contentamento.<br />
E assim, quando mais tarde me procure<br />
Quem sabe a morte, angústia de quem<br />
vive<br />
Quem sabe a solidão, fim de quem ama.<br />
Eu possa dizer do meu amor (que tive):<br />
Que não seja imortal, posto que é chama<br />
Mas que seja infinito enquanto dure.<br />
(MORAES, Vinícius de. Antologia poética. São Paulo: Cia<br />
das Letras, 1992).<br />
A palavra mesmo pode assumir diferentes<br />
significados, de acordo com a sua função<br />
na frase. Assinale a alternativa em que o<br />
sentido de mesmo equivale ao que se<br />
verifica no 3º verso da 1ª estrofe do<br />
poema de Vinícius de Moraes.<br />
A) "Pai, para onde fores, / irei também<br />
trilhando as mesmas ruas..." (Augusto<br />
dos Anjos)<br />
B) "Agora, como outrora, há aqui o<br />
mesmo contraste da vida interior, que<br />
é modesta, com a exterior, que é<br />
ruidosa." (Machado de Assis)<br />
C) "Havia o mal, profundo e persistente,<br />
para o qual o remédio não surtiu efeito,<br />
mesmo em doses variáveis."<br />
(Raimundo Faoro)<br />
D) "Mas, olhe cá, Mana Glória, há<br />
mesmo necessidade de fazê-lo<br />
padre?" (Machado de Assis)<br />
E) "Vamos de qualquer maneira, mas<br />
vamos mesmo." (Aurélio)<br />
Comentário<br />
Nessa questão, uma pequena análise<br />
sintática se faz necessária: mesmo, em<br />
ambos os casos, é conjunção subordinativa<br />
concessiva, introduzindo, portanto, uma<br />
oração subordinada cujo fato expresso é<br />
contrário ao da oração principal. Deve-se,<br />
então, recorrer à oração anterior para se ter<br />
certeza quanto à classificação. Grau<br />
moderado de dificuldade.<br />
Comentário do INEP<br />
Este problema buscou colocar o<br />
participante diante de uma situação que<br />
exigia a mobilização de seus mecanismos de<br />
reflexão sobre os processos lingüísticos em<br />
que um significante (uma palavra) assume<br />
diferentes significados, no enunciado, de<br />
acordo com a intenção do enunciador. Neste<br />
caso, além da compreensão da<br />
transformação de significado, é necessária a<br />
alteração de função morfossintática.<br />
Verifica-se que 62% dos participantes<br />
conseguiram identificar e analisar esse<br />
processo lingüístico, comparando a função<br />
do significante em diferentes enunciados.<br />
Isso demonstrou um domínio parcial da<br />
reflexão sobre a Língua Portuguesa, em<br />
diferentes contextos e textos.<br />
326
Os 18% dos participantes que<br />
assinalaram a alternativa B identificaram a<br />
diferença de significados mas,<br />
provavelmente, têm dificuldades em analisar<br />
estas mudanças em nível morfossintático<br />
(alternativa B).<br />
04) (2002) "De repente lá vinha um homem a<br />
cavalo. Eram dois. Um senhor de fora, o<br />
claro de roupa. Miguilim saudou, pedindo<br />
a bênção. O homem trouxe o cavalo cá<br />
bem junto. Ele era de óculos, corado, alto,<br />
com um chapéu diferente, mesmo.<br />
— Deus te abençoe, pequenino. Como é<br />
teu nome?<br />
— Miguilim. Eu sou irmão do Dito.<br />
— E o seu irmão Dito é o dono daqui?<br />
— Não, meu senhor. O Ditinho está em<br />
glória.<br />
O homem esbarrava o avanço do<br />
cavalo, que era zelado, manteúdo,<br />
formoso como nenhum outro. Redizia:<br />
— Ah, não sabia, não. Deus o tenha em<br />
sua guarda... Mas que é que há, Miguilim?<br />
Miguilim queria ver se o homem estava<br />
mesmo sorrindo para ele, por isso é que o<br />
encarava.<br />
— Por que você aperta os olhos assim?<br />
Você não é limpo de vista? Vamos até lá.<br />
Quem é que está em tua casa?<br />
— É Mãe, e os meninos...<br />
Estava Mãe, estava tio Terez, estavam<br />
todos. O senhor alto e claro se apeou. O<br />
outro, que vinha com ele, era um<br />
camarada.<br />
O senhor perguntava à Mãe muitas<br />
coisas do Miguilim. Depois perguntava a<br />
ele mesmo: — 'Miguilim, espia daí:<br />
quantos dedos da minha mão você está<br />
enxergando? E agora?"<br />
ROSA, João Guimarães. Manuelzão e Miguilim. 9ª ed. Rio de<br />
Janeiro: Nova Fronteira, 1984.<br />
Esta história, com narrador observador em<br />
terceira pessoa, apresenta os<br />
acontecimentos da perspectiva de<br />
Miguilim. O fato de o ponto de vista do<br />
narrador ter Miguilim como referência,<br />
inclusive espacial, fica explicitado em:<br />
A) "O homem trouxe o cavalo cá bem<br />
junto."<br />
B) "Ele era de óculos, corado, alto (...)"<br />
C) "O homem esbarrava o avanço do<br />
cavalo, (...)"<br />
D) "Miguilim queria ver se o homem<br />
estava mesmo sorrindo para ele, (...)"<br />
E) "Estava Mãe, estava tio Terez, estavam<br />
todos"<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. A única alternativa<br />
que apresenta, ao mesmo tempo, o narrador<br />
e o ponto de referência espacial é a letra A, o<br />
que pode ser comprovado pela expressão<br />
"cá bem junto".<br />
Comentário do INEP<br />
Essa questão apresenta para leitura e<br />
análise um trecho da novela Campo Geral,<br />
da obra Manuelzão e Miguilim, de Guimarães<br />
Rosa, em que um narrador em terceira<br />
pessoa relata o momento do encontro entre<br />
Miguilim e o médico, que percebe, logo ao<br />
chegar, que o garoto tem problemas de<br />
visão. A questão propõe a análise do ponto<br />
de vista narrativo, que, no texto literário, não<br />
necessariamente, como no texto em questão,<br />
será sempre o do narrador.<br />
A cena narrativa presente nesse texto é<br />
contada por um narrador adulto, mas é o<br />
sentimento de Miguilim a respeito dos<br />
acontecimentos que orienta esse contar.<br />
Esse efeito de sentido é resultado do<br />
trabalho do autor com a linguagem. Segundo<br />
a gramática da norma culta, "cá" e "aqui"<br />
indicam o lugar do sujeito, ou seja, daquele<br />
que fala. Algo semelhante ocorre com o<br />
verbo "trazer", que indica um movimento para<br />
o lugar onde se encontra o sujeito. Tanto "cá"<br />
como "trazer" indicam proximidade espacial<br />
daquele que fala.<br />
A narração pertence a um narrador que<br />
não participa da historia como personagem,<br />
portanto ele fala dos outros, nunca de si<br />
mesmo. No trecho "o homem trouxe o cavalo<br />
cá bem junto", o narrador indica que o<br />
homem a cavalo aproxima-se de Miguilim.<br />
Esse jogo de linguagem cria no leitor a<br />
imagem de um narrador adulto que, colandose<br />
à criança, vê pelos olhos desta.<br />
Embora todas as alternativas apresentem<br />
a percepção da criança naquele contexto da<br />
chegada de um desconhecido, apenas a<br />
alternativa A responde o que foi solicitado,<br />
pois só ela apresenta o aspecto da<br />
localização espacial presente no advérbio de<br />
lugar "cá". Quase metade dos participantes<br />
assinalou a alternativa D, única que contem a<br />
palavra Miguilim, possivelmente porque<br />
interpretaram erroneamente o<br />
encaminhamento da questão, no trecho "...<br />
narrador ter Miguilim como referência, ...".<br />
327
05) ( 2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />
poema.<br />
A DANÇA E A ALMA<br />
A DANÇA? Não é movimento,<br />
súbito gesto musical.<br />
É concentração, num momento,<br />
da humana graça natural.<br />
No solo não, no éter pairamos,<br />
nele amaríamos ficar.<br />
A dança – não vento nos ramos:<br />
seiva, força, perene estar.<br />
Um estar entre céu e chão,<br />
novo domínio conquistado,<br />
onde busque nossa paixão<br />
libertar-se por todo lado...<br />
Onde a alma possa descrever<br />
suas mais divinas parábolas<br />
sem fugir à forma do ser,<br />
por sobre o mistério das fábulas.<br />
(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />
Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />
A definição de dança, em linguagem de<br />
dicionário, que mais se aproxima do que<br />
está expresso no poema é<br />
A) a mais antiga das artes, servindo como<br />
elemento de comunicação e afirmação<br />
do homem em todos os momentos de<br />
sua existência.<br />
B) a forma de expressão corporal que<br />
ultrapassa os limites físicos,<br />
possibilitando ao homem a liberação de<br />
seu espírito.<br />
C) a manifestação do ser humano,<br />
formada por uma seqüência de gestos,<br />
passos e movimentos desconcertados.<br />
D) o conjunto organizado de movimentos<br />
do corpo, com ritmo determinado por<br />
instrumentos musicais, ruídos, cantos,<br />
emoções etc.<br />
E) o movimento diretamente ligado ao<br />
psiquismo do indivíduo e, por<br />
conseqüência, ao seu desenvolvimento<br />
intelectual e à sua cultura.<br />
Comentário<br />
A pergunta busca a aplicação do conceito<br />
de "estado de dicionário" (que também foi<br />
desenvolvido por Drummond no poema "A<br />
Procura da Poesia"). A literatura busca partir<br />
de palavras em estado de dicionário para,<br />
pelo aprofundamento do sentido delas, criar<br />
um mundo mais denso e particular. Em<br />
estado de dicionário, a dança, conforme é<br />
tratada nesse poema, apareceria na<br />
alternativa B: uma justaposição entre<br />
aspectos físicos e espirituais da expressão<br />
humana. Questão complexa.<br />
06) (2006) Namorados<br />
O rapaz chegou-se para junto da moça<br />
e disse:<br />
— Antônia, ainda não me acostumei com<br />
o seu corpo, com a sua cara.<br />
A moça olhou de lado e esperou.<br />
— Você não sabe quando a gente é<br />
criança e de repente vê uma lagarta<br />
listrada?<br />
A moça se lembrava:<br />
— A gente fica olhando...<br />
A meninice brincou de novo nos olhos<br />
dela.<br />
O rapaz prosseguiu com muita doçura:<br />
— Antônia, você parece uma lagarta<br />
listrada.<br />
A moça arregalou os olhos, fez<br />
exclamações.<br />
O rapaz concluiu:<br />
— Antônia, você é engraçada! Você<br />
parece louca.<br />
No poema de Bandeira, importante<br />
representante da poesia modernista,<br />
destaca-se como característica da escola<br />
literária dessa época<br />
Manuel Bandeira. Poesia completa & prosa.<br />
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985.<br />
A) a reiteração de palavras como recurso<br />
de construção de rimas ricas.<br />
B) a utilização expressiva da linguagem<br />
falada em situações do cotidiano.<br />
C) a criativa simetria de versos para<br />
reproduzir o ritmo do tema abordado.<br />
D) a escolha do tema do amor romântico,<br />
caracterizador do estilo literário dessa<br />
época.<br />
E) o recurso ao diálogo, gênero discursivo<br />
típico do Realismo.<br />
07) ( 2008) O surgimento da figura da Ema<br />
no céu, ao leste, no anoitecer, na segunda<br />
quinzena de junho, indica o início do<br />
inverno para os índios do sul do Brasil e o<br />
começo da estação seca para os do norte.<br />
É limitada pelas constelações de<br />
Escorpião e do Cruzeiro do Sul, ou<br />
Cut'uxu. Segundo o mito guarani, o<br />
Cut’uxu segura a cabeça da ave para<br />
garantir a vida na Terra, porque, se ela se<br />
soltar, beberá toda a água do nosso<br />
planeta. Os tupisguaranis utilizam o<br />
Cut'uxu para se orientar e determinar a<br />
duração das noites e as estações do ano.<br />
A ilustração a seguir é uma representação<br />
dos corpos celestes que constituem a<br />
constelação da Ema, na percepção<br />
indígena.<br />
328
Almanaque BRASIL, maio/2007 (com adaptações).<br />
A próxima figura mostra, em campo de<br />
visão ampliado, como povos de culturas<br />
não-indígenas percebem o espaço estelar<br />
em que a Ema é vista.<br />
Internet: (com adaptações).<br />
Assinale a opção correta a respeito da<br />
linguagem empregada no texto A Ema.<br />
A) A palavra Cut’uxu é um regionalismo<br />
utilizado pelas populações próximas às<br />
aldeias indígenas.<br />
B) O autor se expressa em linguagem<br />
formal em todos os períodos do texto.<br />
C) A ausência da palavra Ema no início do<br />
período “É limitada (...)” caracteriza<br />
registro oral.<br />
D) A palavra Cut’uxu está destacada em<br />
itálico porque integra o vocabulário da<br />
linguagem informal.<br />
E) No texto, predomina a linguagem<br />
coloquial porque ele consta de um<br />
almanaque.<br />
Comentário<br />
A questão é simples, mas requer cuidados<br />
quanto aos conceitos de linguagem<br />
“informal”, “formal” e de “língua”. Se o aluno<br />
tiver noção desses conceitos,<br />
chegará facilmente à resposta. A linguagem<br />
formal ou culta prevalece no texto, e o termo<br />
“Cut’uxu’ não é um termo informal, mas, sim,<br />
uma expressão que pertence a uma língua<br />
indígena — o que justifica o emprego da<br />
palavra em itálico. A resposta correta é,<br />
portanto, a letra "B".<br />
08) (2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />
poema.<br />
A DANÇA E A ALMA<br />
A DANÇA? Não é movimento,<br />
súbito gesto musical.<br />
É concentração, num momento,<br />
da humana graça natural.<br />
No solo não, no éter pairamos,<br />
nele amaríamos ficar.<br />
A dança – não vento nos ramos:<br />
seiva, força, perene estar.<br />
Um estar entre céu e chão,<br />
novo domínio conquistado,<br />
onde busque nossa paixão<br />
libertar-se por todo lado...<br />
Onde a alma possa descrever<br />
suas mais divinas parábolas<br />
sem fugir à forma do ser,<br />
por sobre o mistério das fábulas.<br />
(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />
Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />
O poema “A Dança e a Alma” é construído<br />
com base em contrastes, como<br />
“movimento” e “concentração”. Em uma<br />
das estrofes, o termo que estabelece<br />
contraste com solo é:<br />
A) éter. D) paixão.<br />
B) seiva. E) ser.<br />
C) chão.<br />
Comentário<br />
O elemento que contrasta com "solo"<br />
(físico, tangível, perene) é "éter" (espiritual,<br />
intangível, volátil). Questão de nível médio de<br />
dificuldade.<br />
09) (2008) Calcula-se que 78% do<br />
desmatamento na Amazônia tenha sido<br />
motivado pela pecuária — cerca de 35%<br />
do rebanho nacional está na região — e<br />
que pelo menos 50 milhões de hectares<br />
de pastos são pouco produtivos. Enquanto<br />
o custo médio para aumentar a<br />
produtividade de 1 hectare de pastagem é<br />
de 2 mil reais, o custo para derrubar igual<br />
área de floresta é estimado em 800 reais,<br />
o que estimula novos desmatamentos.<br />
Adicionalmente, madeireiras retiram as<br />
árvores de valor comercial que foram<br />
abatidas para a criação de pastagens. Os<br />
pecuaristas sabem que problemas<br />
ambientais como esses podem provocar<br />
restrições à pecuária nessas áreas, a<br />
exemplo do que ocorreu em 2006 com o<br />
plantio da soja, o qual, posteriormente, foi<br />
proibido em áreas de floresta.<br />
Época, 3/3/2008 e 9/6/2008 (com adaptações).<br />
329
A partir da situação-problema descrita,<br />
conclui-se que<br />
A) o desmatamento na Amazônia decorre<br />
principalmente da exploração ilegal de<br />
árvores de valor comercial.<br />
B) um dos problemas que os pecuaristas<br />
vêm enfrentando na Amazônia é a<br />
proibição do plantio de soja.<br />
C) a mobilização de máquinas e de força<br />
humana torna o desmatamento mais<br />
caro que o aumento da produtividade<br />
de pastagens.<br />
D) o superavit comercial decorrente da<br />
exportação de carne produzida na<br />
Amazônia compensa a possível<br />
degradação ambiental.<br />
E) a recuperação de áreas desmatadas<br />
e o aumento de produtividade das<br />
pastagens podem contribuir para a<br />
redução do desmatamento na<br />
Amazônia.<br />
Comentário do portal<br />
Essa questão retrata o problema do<br />
desmatamento da Amazônia, relacionado<br />
principalmente com o desenvolvimento da<br />
pecuária na região. Para resolvê-la, foram<br />
necessários a leitura atenta do texto e o<br />
conhecimento sobre os problemas<br />
ambientais da atualidade. A alternativa<br />
correta é a letra E, pois é mais caro para os<br />
pecuaristas aumentar a produtividade do que<br />
as áreas de pasto, o que acarreta o aumento<br />
do desmatamento da Amazônia.<br />
<strong>10</strong>) (2006) Erro de Português<br />
Quando o português chegou<br />
Debaixo de uma bruta chuva<br />
Vestiu o índio<br />
Que pena!<br />
Fosse uma manhã de Sol<br />
O índio tinha despido<br />
O português.<br />
Oswald de Andrade. Poesias reunidas.<br />
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.<br />
O primitivismo observável no poema<br />
acima, de Oswald de Andrade, caracteriza<br />
de forma marcante<br />
A) o regionalismo do Nordeste.<br />
B) o concretismo paulista.<br />
C) a poesia Pau-Brasil.<br />
D) o simbolismo pre-modernista.<br />
E) o tropicalismo baiano.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil, pois bastaria que o<br />
aluno fizesse a relação do nome do autor,<br />
Oswald de Andrade, à alternativa "C", poesia<br />
Pau-Brasil. Com isso, ele já eliminaria as<br />
demais alternativas. Contudo, mesmo que o<br />
aluno não tivesse se lembrado desse<br />
detalhe, o próprio poema Erro de Português<br />
remete a uma das características da poesia<br />
Pau-Brasil, a retomada e a valorização das<br />
riquezas do Brasil primitivo.<br />
11) (2007) Texto I<br />
Agora Fabiano conseguia arranjar as<br />
idéias. O que o segurava era a família.<br />
Vivia preso como um novilho amarrado ao<br />
mourão, suportando ferro quente. Se não<br />
fosse isso, um soldado amarelo não lhe<br />
pisava o pé não. (...) Tinha aqueles<br />
cambões pendurados ao pescoço.<br />
Deveria continuar a arrastá-los? Sinha<br />
Vitória dormia mal na cama de varas. Os<br />
meninos eram uns brutos, como o pai.<br />
Quando crescessem, guardariam as reses<br />
de um patrão invisível, seriam pisados,<br />
maltratados, machucados por um soldado<br />
amarelo.<br />
Graciliano Ramos. Vidas Secas.<br />
São Paulo: Martins, 23.ª ed., 1969, p. 75.<br />
Texto II<br />
Para Graciliano, o roceiro pobre é um<br />
outro, enigmático, impermeável. Não há<br />
solução fácil para uma tentativa de<br />
incorporação dessa figura no campo da<br />
ficção. É lidando com o impasse, ao invés<br />
de fáceis soluções, que Graciliano vai<br />
criar Vidas Secas, elaborando uma<br />
linguagem, uma estrutura romanesca,<br />
uma constituição de narrador em que<br />
narrador e criaturas se tocam, mas não se<br />
identificam. Em grande medida, o debate<br />
acontece porque, para a intelectualidade<br />
brasileira naquele momento, o pobre, a<br />
despeito de aparecer idealizado em certos<br />
aspectos, ainda é visto como um ser<br />
humano de segunda categoria, simples<br />
demais, incapaz de ter pensamentos<br />
demasiadamente complexos. O que Vidas<br />
Secas faz é, com pretenso não<br />
envolvimento da voz que controla a<br />
narrativa, dar conta de uma riqueza<br />
humana de que essas pessoas seriam<br />
plenamente capazes.<br />
Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes. In:<br />
Teresa. São Paulo: USP, n.° 2, 2001, p. 254.<br />
A partir do trecho de Vidas Secas (texto I)<br />
e das informações do texto II, relativas às<br />
concepções artísticas do romance social<br />
de 1930, avalie as seguintes afirmativas.<br />
330
I - O pobre, antes tratado de forma exótica<br />
e folclórica pelo regionalismo pitoresco,<br />
transforma-se em protagonista<br />
privilegiado do romance social de 30.<br />
II - A incorporação do pobre e de outros<br />
marginalizados indica a tendência da<br />
ficção brasileira da década de 30 de<br />
tentar superar a grande distância entre<br />
o intelectual e as camadas populares.<br />
III - Graciliano Ramos e os demais autores<br />
da década de 30 conseguiram, com<br />
suas obras, modificar a posição social<br />
do sertanejo na realidade nacional.<br />
É correto apenas o que se afirma em<br />
A) I. D) I e II.<br />
B) II. E) II e III.<br />
C) III.<br />
Comentário<br />
Questão de nível médio. O aluno deveria<br />
perceber que, no texto de Vidas Secas, o<br />
protagonista de sua obra é o "Pobre<br />
Sertanejo", aqui tratado de forma realista,<br />
sem idealizações e fantasias, e com total<br />
destaque em sua narrativa. Ele também deve<br />
fazer um comparativo entre o trecho da obra<br />
com o comentário de Luís Bueno, além de<br />
demonstrar seus conhecimentos sobre o<br />
Romance Regionalista de 30, para chegar à<br />
conclusão de que a resposta correta é a D.<br />
12) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />
preciso, além de conhecer o padrão<br />
formal da Língua Portuguesa, saber<br />
adequar o uso da linguagem ao contexto<br />
discursivo. Para exemplificar este fato,<br />
seu professor de Língua Portuguesa<br />
convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />
Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />
brinca com situações de discurso oral que<br />
fogem à expectativa do ouvinte.<br />
Aí, Galera<br />
Jogadores de futebol podem ser<br />
vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />
você pode imaginar um jogador de futebol<br />
dizendo "estereotipação"? E, no<br />
entanto, por que não?<br />
- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />
galera.<br />
- Minha saudação aos aficionados do<br />
clube e aos demais esportistas, aqui<br />
presentes ou no recesso dos seus lares.<br />
- Como é?<br />
- Aí, galera.<br />
- Quais são as instruções do técnico?<br />
- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />
trabalho de contenção coordenada, com<br />
energia otimizada, na zona de<br />
preparação, aumentam as<br />
probabilidades de, recuperado o<br />
esférico, concatenarmos um contragolpe<br />
agudo com parcimônia de meios e<br />
extrema objetividade, valendo-nos da<br />
desestruturação momentânea do<br />
sistema oposto, surpreendido pela<br />
reversão inesperada do fluxo da ação:<br />
- Ahn?<br />
- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />
pegá eles sem calça.<br />
- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />
coisa?<br />
- Posso dirigir uma mensagem de<br />
caráter sentimental, algo banal, talvez<br />
mesmo previsível e piegas, a uma<br />
pessoa à qual sou ligado por razões,<br />
inclusive, genéticas?<br />
- Pode.<br />
- Uma saudação para a minha<br />
progenitora.<br />
- Como é?<br />
- Alô, mamãe!<br />
- Estou vendo que você é um, um...<br />
- Um jogador que confunde o<br />
entrevistador, pois não corresponde à<br />
expectativa de que o atleta seja um ser<br />
algo primitivo com dificuldade de<br />
expressão e assim sabota a<br />
estereotipação?<br />
- Estereoquê?<br />
- Um chato?<br />
- Isso.<br />
Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />
O texto retrata duas situações<br />
relacionadas que fogem à expectativa do<br />
público. São elas:<br />
A) a saudação do jogador aos fãs do<br />
clube, no início da entrevista, e a<br />
saudação final dirigida à sua mãe.<br />
B) a linguagem muito formal do jogador,<br />
inadequada à situação da entrevista, e<br />
um jogador que fala, com desenvoltura,<br />
de modo muito rebuscado.<br />
C) o uso da expressão "galera", por parte<br />
do entrevistador, e da expressão<br />
"progenitora", por parte do jogador.<br />
D) o desconhecimento, por parte do<br />
entrevistador, da palavra<br />
"estereotipação", e a fala do jogador<br />
em "é pra dividir no meio e ir pra cima<br />
pra pegá eles sem calça".<br />
E) o fato de os jogadores de futebol serem<br />
vítimas de estereotipação e o jogador<br />
entrevistado não corresponder ao<br />
estereótipo.<br />
331
Comentário<br />
Quando pensamos em certas profissões,<br />
imaginamos qual seria o padrão de<br />
comportamento de quem as exerce. O texto<br />
está trabalhando uma divergência entre o<br />
que esperamos de um jogador de futebol (o<br />
estereótipo que temos dele) e um jogador<br />
que não se enquadra em nossas<br />
expectativas. Levando isso em consideração,<br />
as duas coisas que destoam do que<br />
esperamos encontrar nessa situação são: 1)<br />
alguém, ao dar uma entrevista de alto<br />
alcance popular, fala de maneira<br />
extremamente rebuscada; 2) um jogador que,<br />
ao falar de maneira rebuscada, acaba por<br />
fugir do estereótipo do jogador de futebol, de<br />
quem sempre é esperado algo menos<br />
rebuscado e mais popular.<br />
13) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />
preciso, além de conhecer o padrão<br />
formal da Língua Portuguesa, saber<br />
adequar o uso da linguagem ao contexto<br />
discursivo. Para exemplificar este fato,<br />
seu professor de Língua Portuguesa<br />
convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />
Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />
brinca com situações de discurso oral que<br />
fogem à expectativa do ouvinte.<br />
Aí, Galera<br />
Jogadores de futebol podem ser<br />
vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />
você pode imaginar um jogador de futebol<br />
dizendo "estereotipação"? E, no<br />
entanto, por que não?<br />
- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />
galera.<br />
- Minha saudação aos aficionados do<br />
clube e aos demais esportistas, aqui<br />
presentes ou no recesso dos seus lares.<br />
- Como é?<br />
- Aí, galera.<br />
- Quais são as instruções do técnico?<br />
- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />
trabalho de contenção coordenada, com<br />
energia otimizada, na zona de<br />
preparação, aumentam as<br />
probabilidades de, recuperado o<br />
esférico, concatenarmos um contragolpe<br />
agudo com parcimônia de meios e<br />
extrema objetividade, valendo-nos da<br />
desestruturação momentânea do<br />
sistema oposto, surpreendido pela<br />
reversão inesperada do fluxo da ação:<br />
- Ahn?<br />
- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />
pegá eles sem calça.<br />
332<br />
- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />
coisa?<br />
- Posso dirigir uma mensagem de<br />
caráter sentimental, algo banal, talvez<br />
mesmo previsível e piegas, a uma<br />
pessoa à qual sou ligado por razões,<br />
inclusive, genéticas?<br />
- Pode.<br />
- Uma saudação para a minha<br />
progenitora.<br />
- Como é?<br />
- Alô, mamãe!<br />
- Estou vendo que você é um, um...<br />
- Um jogador que confunde o<br />
entrevistador, pois não corresponde à<br />
expectativa de que o atleta seja um ser<br />
algo primitivo com dificuldade de<br />
expressão e assim sabota a<br />
estereotipação?<br />
- Estereoquê?<br />
- Um chato?<br />
- Isso.<br />
Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />
O texto mostra uma situação em que a<br />
linguagem usada é inadequada ao<br />
contexto. Considerando as diferenças<br />
entre língua oral e língua escrita, assinale<br />
a opção que representa também uma<br />
inadequação da linguagem usada ao<br />
contexto:<br />
A) "o carro bateu e capotô, mas num deu<br />
pra vê direito" - um pedestre que<br />
assistiu ao acidente comenta com o<br />
outro que vai passando.<br />
B) "E aí, ô meu! Como vai essa força?" -<br />
um jovem que fala para um amigo.<br />
C) "Só um instante, por favor. Eu<br />
gostaria de fazer uma observação" -<br />
alguém comenta em uma reunião de<br />
trabalho.<br />
D) "Venho manifestar meu interesse em<br />
candidatar-me ao cargo de Secretária<br />
Executiva desta conceituada empresa"<br />
- alguém que escreve uma carta<br />
candidatando-se a um emprego.<br />
E) "Porque se a gente não resolve as<br />
coisas como têm que ser, a gente corre<br />
o risco de termos, num futuro próximo,<br />
muito pouca comida nos lares<br />
brasileiros" - um professor universitário<br />
em um congresso internacional.<br />
Comentário<br />
Essa questão está trabalhando com as<br />
nossas expectativas. Esperamos encontrar,<br />
nas diferentes situações, linguagens que<br />
correspondam à formalidade (ou à<br />
informalidade) delas. Na alternativa E, como
o professor universitário está falando em um<br />
congresso internacional, espera-se que ele<br />
utilize uma linguagem mais formal e não uma<br />
linguagem coloquial como a que usou. Em<br />
todas as outras situações, a linguagem está<br />
de acordo com a situação em que está sendo<br />
empregada.<br />
14) (2007) Texto I<br />
Agora Fabiano conseguia arranjar as<br />
idéias. O que o segurava era a família.<br />
Vivia preso como um novilho amarrado ao<br />
mourão, suportando ferro quente. Se não<br />
fosse isso, um soldado amarelo não lhe<br />
pisava o pé não. (...) Tinha aqueles<br />
cambões pendurados ao pescoço.<br />
Deveria continuar a arrastá-los? Sinha<br />
Vitória dormia mal na cama de varas. Os<br />
meninos eram uns brutos, como o pai.<br />
Quando crescessem, guardariam as reses<br />
de um patrão invisível, seriam pisados,<br />
maltratados, machucados por um soldado<br />
amarelo.<br />
Graciliano Ramos. Vidas Secas. São Paulo:<br />
Martins, 23.ª ed., 1969, p. 75.<br />
Texto II<br />
Para Graciliano, o roceiro pobre é um<br />
outro, enigmático, impermeável. Não há<br />
solução fácil para uma tentativa de<br />
incorporação dessa figura no campo da<br />
ficção. É lidando com o impasse, ao invés<br />
de fáceis soluções, que Graciliano vai<br />
criar Vidas Secas, elaborando uma<br />
linguagem, uma estrutura romanesca,<br />
uma constituição de narrador em que<br />
narrador e criaturas se tocam, mas não se<br />
identificam. Em grande medida, o debate<br />
acontece porque, para a intelectualidade<br />
brasileira naquele momento, o pobre, a<br />
despeito de aparecer idealizado em certos<br />
aspectos, ainda é visto como um ser<br />
humano de segunda categoria, simples<br />
demais, incapaz de ter pensamentos<br />
demasiadamente complexos. O que Vidas<br />
Secas faz é, com pretenso não<br />
envolvimento da voz que controla a<br />
narrativa, dar conta de uma riqueza<br />
humana de que essas pessoas seriam<br />
plenamente capazes.<br />
Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes. In:<br />
Teresa. São Paulo: USP, n.° 2, 2001, p. 254.<br />
No texto II, verifica-se que o autor utiliza<br />
A) linguagem predominantemente<br />
formal, para problematizar, na<br />
composição de Vidas Secas, a relação<br />
entre o escritor e o personagem<br />
popular.<br />
B) linguagem inovadora, visto que, sem<br />
abandonar a linguagem formal, dirigese<br />
diretamente ao leitor.<br />
C) linguagem coloquial, para narrar<br />
coerentemente uma história que<br />
apresenta o roceiro pobre de forma<br />
pitoresca.<br />
D) linguagem formal com recursos<br />
retóricos próprios do texto literário em<br />
prosa, para analisar determinado<br />
momento da literatura brasileira.<br />
E) linguagem regionalista, para transmitir<br />
informações sobre literatura, valendose<br />
de coloquialismo, para facilitar o<br />
entendimento do texto.<br />
Comentário<br />
Questão de nível médio. Algumas<br />
alternativas poderiam levar o candidato a<br />
pensar que o texto de Vidas Secas utiliza<br />
uma linguagem predominantemente coloquial<br />
e regionalista. Entretanto, é na alternativa A<br />
que se encontra o real estilo da linguagem<br />
utilizada por Graciliano Ramos. A linguagem<br />
é, portanto, predominantemente formal e<br />
problematiza a relação do escritor com o<br />
personagem popular. Esta acaba sendo uma<br />
das grandes características do autor, pois ele<br />
buscava sempre dar uma grande densidade<br />
psicológica aos seus romances.<br />
15) (2006) Depois de um bom jantar: feijão<br />
com carne-seca, orelha de porco e couve<br />
com angu, arroz-mole engordurado, carne<br />
de vento assada no espeto, torresmo<br />
enxuto de toicinho da barriga, viradinho de<br />
milho verde e um prato de caldo de couve,<br />
jantar encerrado por um prato fundo de<br />
canjica com torrões de açúcar, Nhô Tomé<br />
saboreou o café forte e se estendeu na<br />
rede. A mão direita sob a cabeça, à guisa<br />
de travesseiro, o indefectível cigarro de<br />
palha entre as pontas do indicador e do<br />
polegar, envernizados pela fumaça, de<br />
unhas encanoadas e longas, ficou-se de<br />
pança para o ar, modorrento, a olhar para<br />
as ripas do telhado.<br />
Quem come e não deita, a comida não<br />
aproveita, pensava Nhô Tomé... E pôs-se<br />
a cochilar. A sua modorra durou pouco;<br />
Tia Policena, ao passar pela sala, bradou<br />
assombrada:<br />
— Êêh! Sinhô! Vai drumi agora? Não!<br />
Num presta... Dá pisadêra e póde morrê<br />
de ataque de cabeça! Despois do armoço<br />
num far-má... mais despois da janta?!”<br />
Cornélio Pires. Conversas ao pé do fogo. São Paulo:<br />
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1987.<br />
333
Nesse trecho, extraído de texto publicado<br />
originalmente em 1921, o narrador<br />
A) apresenta, sem explicitar juízos de<br />
valor, costumes da epoca, descrevendo<br />
os pratos servidos no jantar e a atitude<br />
de Nhô Tomé e de Tia Policena.<br />
B) desvaloriza a norma culta da língua<br />
porque incorpora à narrativa usos<br />
próprios da linguagem regional das<br />
personagens.<br />
C) condena os hábitos descritos, dando<br />
voz a Tia Policena, que tenta impedir<br />
Nhô Tomé de deitar-se após as<br />
refeições.<br />
D) utiliza a diversidade sociocultural e<br />
lingüística para demonstrar seu<br />
desrespeito às populações das zonas<br />
rurais do início do século XX.<br />
E) manifesta preconceito em relação a Tia<br />
Policena ao transcrever a fala dela com<br />
os erros próprios da região.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil, pois a alternativa<br />
"A" deixa clara a intencionalidade do<br />
narrador. Entretanto, o aluno poderia optar<br />
pela alternativa "B" caso não desse o devido<br />
valor ao sentido da palavra “desvaloriza”, que<br />
a elimina.<br />
16) (2006) Aula de português<br />
Explorando a função emotiva da<br />
linguagem, o poeta expressa o contraste<br />
entre marcas de variação de usos da<br />
linguagem em<br />
A) situações formais e informais.<br />
B) diferentes regiões do país.<br />
C) escolas literárias distintas.<br />
D) textos técnicos e poéticos.<br />
E) diferentes épocas.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil, pois o próprio título<br />
nos dá uma noção da dificuldade de<br />
transformar a linguagem coloquial e de uso<br />
cotidiano em uma linguagem formal,<br />
expressa no poema como “a misteriosa”.<br />
Drummond foi muito feliz em conseguir<br />
demonstrar a dificuldade em entender como<br />
estruturas simples da língua se tornam tão<br />
complexas ao se iniciar o processo de<br />
compreensão da estrutura lingüística.<br />
17) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />
preciso, além de conhecer o padrão<br />
formal da Língua Portuguesa, saber<br />
adequar o uso da linguagem ao contexto<br />
discursivo. Para exemplificar este fato,<br />
seu professor de Língua Portuguesa<br />
convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />
Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />
brinca com situações de discurso oral que<br />
fogem à expectativa do ouvinte.<br />
Aí, Galera<br />
Jogadores de futebol podem ser<br />
vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />
você pode imaginar um jogador de futebol<br />
dizendo "estereotipação"? E, no<br />
entanto, por que não?<br />
- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />
galera.<br />
- Minha saudação aos aficionados do<br />
clube e aos demais esportistas, aqui<br />
presentes ou no recesso dos seus lares.<br />
- Como é?<br />
- Aí, galera.<br />
- Quais são as instruções do técnico?<br />
- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />
trabalho de contenção coordenada, com<br />
energia otimizada, na zona de<br />
preparação, aumentam as<br />
probabilidades de, recuperado o<br />
esférico, concatenarmos um contragolpe<br />
agudo com parcimônia de meios e<br />
extrema objetividade, valendo-nos da<br />
desestruturação momentânea do<br />
sistema oposto, surpreendido pela<br />
reversão inesperada do fluxo da ação:<br />
- Ahn?<br />
- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />
pegá eles sem calça.<br />
334
- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />
coisa?<br />
- Posso dirigir uma mensagem de<br />
caráter sentimental, algo banal, talvez<br />
mesmo previsível e piegas, a uma<br />
pessoa à qual sou ligado por razões,<br />
inclusive, genéticas?<br />
- Pode.<br />
- Uma saudação para a minha<br />
progenitora.<br />
- Como é?<br />
- Alô, mamãe!<br />
- Estou vendo que você é um, um...<br />
- Um jogador que confunde o<br />
entrevistador, pois não corresponde à<br />
expectativa de que o atleta seja um ser<br />
algo primitivo com dificuldade de<br />
expressão e assim sabota a<br />
estereotipação?<br />
- Estereoquê?<br />
- Um chato?<br />
- Isso.<br />
Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />
A expressão "pegá eles sem calça"<br />
poderia ser substituída, sem<br />
comprometimento de sentido, em língua<br />
culta, formal, por:<br />
A) pegá-los na mentira.<br />
B) pegá-los desprevenidos.<br />
C) pegá-los em flagrante.<br />
D) pegá-los rapidamente.<br />
E) pegá-los momentaneamente<br />
Comentário<br />
O trabalho que temos aqui é de<br />
compreensão de sentido. Se você nunca<br />
ouviu a expressão "de calças na mão", terá<br />
de imaginar o que acontece quando<br />
pegamos alguém nessa situação. Mas isso<br />
não basta. Se usar somente situações que<br />
pode imaginar, restarão as alternativas B e<br />
C. Esse problema só será solucionado se<br />
você entender bem o texto a que ele se<br />
refere. Como o jogador está falando em<br />
roubar a bola e partir para cima do adversário<br />
rapidamente, imagina-se que o adversário<br />
não esperava perder a bola naquele<br />
momento e, quando isso ocorreu, ele não<br />
estava preparado para receber um contraataque.<br />
Utilizando essa análise, somente a<br />
alternativa B está correta.<br />
18) (2000) Em uma conversa ou leitura de<br />
um texto, corre-se o risco de atribuir um<br />
significado inadequado a um termo ou<br />
expressão, e isso pode levar a certos<br />
resultados inesperados, como se vê nos<br />
quadrinhos abaixo.<br />
(SOUZA, Maurício de. Chico Bento.<br />
Rio de Janeiro: Ed. Globo, n o 335, Nov./99 )<br />
Nessa historinha, o efeito humorístico<br />
origina-se de uma situação criada pela<br />
fala da Rosinha no primeiro quadrinho,<br />
que é:<br />
A) Faz uma pose bonita!<br />
B) Quer tirar um retrato?<br />
C) Sua barriga está aparecendo!<br />
D) Olha o passarinho!<br />
E) Cuidado com o flash!<br />
Comentário<br />
Quem não se lembra de expressões<br />
humorísticas usadas quando se deseja tirar<br />
uma foto, como "Olha o passarinho" ou "Fale<br />
xis"?<br />
Pois é, essa é uma questão fácil e a<br />
interpretação do texto é simples, e não há<br />
por que ter dúvidas quanto à resposta, a não<br />
ser que não se leia a proposta da questão.<br />
Comentário do INEP<br />
Essa questão procurou avaliar se o<br />
participante conseguia inferir, a partir de uma<br />
seqüência narrativa de imagens, a expressão<br />
lingüística adequada à situação de<br />
interlocução, no caso a fala da personagem,<br />
no primeiro quadrinho. A expressão de uso<br />
coloquial 'olha o passarinho!', dependendo do<br />
contexto, tem diferentes significados, que<br />
nesse caso foram associados pelo cartunista<br />
para produzir o efeito de humor. A grande<br />
maioria - 89% - dos participantes realizou a<br />
inferência solicitada, analisando a função da<br />
linguagem e identificando a variante<br />
lingüística adequada à situação de<br />
interlocução, com base na leitura da<br />
seqüência das imagens e da fala da<br />
personagem no terceiro quadrinho. É<br />
interessante notar a abrangência dessa<br />
expressão metafórica no Brasil, criada no<br />
contexto informal da fala com seus<br />
significados correspondentes. Mesmo assim,<br />
11% dos participantes, possivelmente,<br />
desconhecem essa expressão ou não<br />
conseguiram realizar a transposição do<br />
significado humorístico da fala do último<br />
quadrinho.<br />
335
19) (2006) Aula de português<br />
O texto destaca a diferença entre o<br />
português do Brasil e o de Portugal<br />
quanto<br />
A) ao vocabulário.<br />
B) à derivação.<br />
C) à pronúncia.<br />
D) ao gênero.<br />
E) à sintaxe.<br />
Comentário<br />
Questão de entendimento muito fácil, pois<br />
o próprio enunciado deixa claro que se trata<br />
das diferenças de vocabulário entre o<br />
português brasileiro e o lusitano.<br />
No poema, a referência à variedade<br />
padrão da língua está expressa no<br />
seguinte trecho:<br />
A) “A linguagem / na ponta da língua” (v.1<br />
e 2).<br />
B) “A linguagem / na superfície<br />
estrelada de letras” (v.5 e 6).<br />
C) “[a língua] em que pedia para ir lá<br />
fora” (v.14).<br />
D) “[a língua] em que levava e dava<br />
pontapé” (v.15).<br />
E) “[a língua] do namoro com a priminha”<br />
(v.17).<br />
Comentário<br />
Questão fácil, pois a alternativa "B" é a<br />
única que faz menção à norma-padrão da<br />
língua. As demais alternativas fogem a essa<br />
norma.<br />
20) (2005) Leia com atenção o texto:<br />
[Em Portugal], você poderá ter alguns<br />
probleminhas se entrar numa loja de<br />
roupas desconhecendo certas sutilezas da<br />
língua. Por exemplo, não adianta pedir<br />
para ver os ternos — peça para ver os<br />
fatos. Paletó é casaco. Meias são<br />
peúgas. Suéter é camisola — mas não<br />
se assuste, porque calcinhas femininas<br />
são cuecas. (Não é uma delícia?)<br />
(Ruy Castro. Viaje Bem. Ano VIII, no 3, 78.)<br />
21) (2006) No poema Procura da poesia,<br />
Carlos Drummond de Andrade expressa a<br />
concepção estética de se fazer com<br />
palavras o que o escultor Michelângelo<br />
fazia com mármore. O fragmento abaixo<br />
exemplifica essa afirmação.<br />
(...)<br />
Penetra surdamente no reino das<br />
palavras.<br />
Lá estão os poemas que esperam ser<br />
escritos.<br />
(...)<br />
Chega mais perto e contempla as<br />
palavras.<br />
Cada uma<br />
tem mil faces secretas sob a face neutra<br />
e te pergunta, sem interesse pela<br />
resposta,<br />
pobre ou terrível, que lhe deres:<br />
trouxeste a chave?<br />
Carlos Drummond de Andrade. A rosa do povo.<br />
Rio de Janeiro: Record, 1997, p. 13-14.<br />
Esse fragmento poético ilustra o seguinte<br />
tema constante entre autores<br />
modernistas:<br />
A) a nostalgia do passado colonialista<br />
revisitado.<br />
B) a preocupação com o engajamento<br />
político e social da literatura.<br />
C) o trabalho quase artesanal com as<br />
palavras, despertando sentidos novos.<br />
D) a produção de sentidos herméticos na<br />
busca da perfeição poética.<br />
E) a contemplação da natureza brasileira<br />
na perspectiva ufanista da pátria.<br />
Comentário<br />
Questão de nível difícil, pois o candidato<br />
deveria, além de interpretar o poema,<br />
conhecer o verdadeiro sentido de arte<br />
segundo Michelângelo, que achava que um<br />
bloco de mármore já tinha sua figura dentro<br />
336
dele e que seu trabalho seria somente<br />
lapidá-la. Dessa forma, o candidato deveria<br />
relacionar a estrutura de um bloco de<br />
mármore ao segundo verso do poema: “Lá<br />
estão os poemas que esperam ser escritos<br />
(...)”. Ou seja, esperava-se que o candidato<br />
fizesse a relação do bloco de mármore com<br />
as palavras, o que justifica a alternativa “C”<br />
como correta.<br />
22) (2002) Érico Veríssimo relata, em suas<br />
memórias, um episódio da adolescência<br />
que teve influência significativa em sua<br />
carreira de escritor.<br />
"Lembro-me de que certa noite — eu<br />
teria uns quatorze anos, quando muito —<br />
encarregaram-me de segurar uma<br />
lâmpada elétrica à cabeceira da mesa de<br />
operações, enquanto um médico fazia os<br />
primeiros curativos num pobre-diabo que<br />
soldados da Polícia Municipal haviam<br />
"carneado". (...) Apesar do horror e da<br />
náusea, continuei firme onde estava,<br />
talvez pensando assim: se esse caboclo<br />
pode agüentar tudo isso sem gemer, por<br />
que não hei de poder ficar segurando esta<br />
lâmpada para ajudar o doutor a costurar<br />
esses talhos e salvar essa vida? (...)<br />
Desde que, adulto, comecei a escrever<br />
romances, tem-me animado até hoje a<br />
idéia de que o menos que o escritor pode<br />
fazer, numa época de atrocidades e<br />
injustiças como a nossa, é acender a sua<br />
lâmpada, fazer luz sobre a realidade de<br />
seu mundo, evitando que sobre ele caia a<br />
escuridão, propícia aos ladrões, aos<br />
assassinos e aos tiranos. Sim, segurar a<br />
lâmpada, a despeito da náusea e do<br />
horror. Se não tivermos uma lâmpada<br />
elétrica, acendamos o nosso toco de vela<br />
ou, em último caso, risquemos fósforos<br />
repetidamente, como um sinal de que não<br />
desertamos nosso posto."<br />
VERÍSSIMO, Érico. Solo de Clarineta. Tomo I.<br />
Porto Alegre: Editora Globo, 1978.<br />
Neste texto, por meio da metáfora da<br />
lâmpada que ilumina a escuridão, Érico<br />
Veríssimo define como uma das funções<br />
do escritor e, por extensão, da literatura,<br />
A) criar a fantasia.<br />
B) permitir o sonho.<br />
C) denunciar o real.<br />
D) criar o belo.<br />
E) fugir da náusea.<br />
Comentário<br />
Temos aqui um dos pontos mais comuns<br />
abordados na obra de Veríssimo: a denúncia<br />
social. “(...) o menos que o escritor pode<br />
fazer, numa época de atrocidades e<br />
injustiças como a nossa, é acender sua<br />
lâmpada, fazer luz sobre a realidade de seu<br />
mundo, evitando que sobre ele caia a<br />
escuridão, propícia aos ladrões, aos<br />
assassinos e aos tiranos.”<br />
A literatura deve, como a luz, mostrar não<br />
só as belezas, mas também as feridas da<br />
sociedade, para que as tentemos sanar.<br />
Comentário do INEP<br />
Essa questão apresenta para leitura e<br />
análise um trecho de Solo de Clarineta, em<br />
que Érico Veríssimo relata uma experiência<br />
de juventude e dela constrói uma metáfora<br />
para revelar o que ele entende ser uma das<br />
funções essenciais da literatura. "Lâmpada",<br />
"vela", "fósforos" devem ser lidos como a<br />
palavra comprometida em traduzir a<br />
realidade do mundo. Ou seja, afirmar que o<br />
escritor deve "fazer luz sobre a realidade de<br />
seu mundo", nesse contexto, equivale a<br />
afirmar que um papel da literatura é<br />
denunciar o real. Todas as alternativas<br />
propostas referem-se a eventuais funções da<br />
literatura. Apenas a alternativa C é pertinente<br />
ao contexto e foi escolhida por cerca de<br />
metade dos participantes.<br />
23) (1999) Leia o texto abaixo.<br />
Cabelos longos, brinco na orelha<br />
esquerda, físico de skatista. Na aparência,<br />
o estudante brasiliense Rui Lopes Viana<br />
Filho, de 16 anos, não lembra em nada o<br />
estereótipo dos gênios. Ele não usa<br />
pesados óculos de grau e está longe de<br />
ter um ar introspectivo. No final do mês<br />
passado, Rui retornou de Taiwan, onde<br />
enfrentou 419 competidores de todo o<br />
mundo na 39ª Olimpíada Internacional de<br />
Matemática. A reluzente medalha de ouro<br />
que ele trouxe na bagagem está<br />
dependurada sobre a cama de seu quarto,<br />
atulhado de rascunhos dos problemas<br />
matemáticos que aprendeu a decifrar nos<br />
últimos cinco anos.<br />
Veja – Vencer uma olimpíada serve de<br />
passaporte para uma carreira profissional<br />
meteórica?<br />
Rui – Nada disso. Decidi me dedicar à<br />
Olimpíada porque sei que a concorrência<br />
por um emprego é cada vez mais<br />
selvagem e cruel. Agora tenho algo a mais<br />
para oferecer. O problema é que as coisas<br />
337
338<br />
estão mudando muito rápido e não sei<br />
qual será minha profissão. Além de ser<br />
muito novo para decidir sobre o meu<br />
futuro profissional, sei que esse conceito<br />
de carreira mudou muito.<br />
(Entrevista de Rui Lopes Viana Filho à Veja,<br />
05/08/1998, n.31, p. 9-<strong>10</strong>)<br />
Na pergunta, o repórter estabelece uma<br />
relação entre a entrada do estudante no<br />
mercado de trabalho e a vitória na<br />
Olimpíada. O estudante<br />
A) concorda com a relação e afirma que o<br />
desempenho na Olimpíada é<br />
fundamental para sua entrada no<br />
mercado.<br />
B) discorda da relação e complementa<br />
que é fácil se fazer previsões sobre o<br />
mercado de trabalho.<br />
C) discorda da relação e afirma que seu<br />
futuro profissional independe de<br />
dedicação aos estudos.<br />
D) discorda da relação e afirma que seu<br />
desempenho só é relevante se<br />
escolher uma profissão relacionada à<br />
matemática.<br />
E) concorda em parte com a relação e<br />
complementa que é complexo fazer<br />
previsões sobre o mercado de trabalho.<br />
Comentário<br />
Não é difícil de se chegar à resposta<br />
correta ao se ler a reportagem. Ao final do<br />
último parágrafo — (...) Além de ser muito<br />
novo para decidir sobre o meu futuro<br />
profissional, sei que esse conceito de carreira<br />
mudou muito. —, o estudante praticamente<br />
fornece a resposta à questão, declarando-se<br />
realista ao não tentar prever seu futuro<br />
profissional devido à pouca idade e às<br />
mudanças no mercado de trabalho. Quanto a<br />
concordar parcialmente com o repórter, veja<br />
que ele, apesar de negar que o prêmio fosse<br />
uma garantia de sucesso profissional, logo<br />
depois afirma que, com ele, terá algo mais a<br />
oferecer ao mercado. Questão de nível fácil.<br />
Comentário do INEP<br />
Nesta situação-problema, o participante<br />
deveria demonstrar que compreendeu as<br />
premissas de um discurso, distinguindo a<br />
diferença de significado de palavras isoladas<br />
ou no contexto em que estão inseridas.<br />
Verificou-se que mais da metade dos<br />
participantes demonstrou possuir essa<br />
compreensão. Aqueles que optaram pelas<br />
alternativas C e D podem ter sido atraídos<br />
pelo significado negativo da expressão inicial<br />
"Nada disso".<br />
24) (2008) A Lei Federal n.º 9.985/2000, que<br />
instituiu o sistema nacional de unidades<br />
de conservação, define dois tipos de<br />
áreas protegidas. O primeiro, as unidades<br />
de proteção integral, tem por objetivo<br />
preservar a natureza, admitindo-se<br />
apenas o uso indireto dos seus recursos<br />
naturais, isto é, aquele que não envolve<br />
consumo, coleta, dano ou destruição dos<br />
recursos naturais. O segundo, as<br />
unidades de uso sustentável, tem por<br />
função compatibilizar a conservação da<br />
natureza com o uso sustentável de<br />
parcela dos recursos naturais. Nesse<br />
caso, permite-se a exploração do<br />
ambiente de maneira a garantir a<br />
perenidade dos recursos ambientais<br />
renováveis e dos processos ecológicos,<br />
mantendo-se a biodiversidade e os<br />
demais atributos ecológicos, de forma<br />
socialmente justa e economicamente<br />
viável.<br />
Considerando essas informações, analise<br />
a seguinte situação hipotética.<br />
Ao discutir a aplicação de recursos<br />
disponíveis para o desenvolvimento de<br />
determinada região, organizações civis,<br />
universidade e governo resolveram<br />
investir na utilização de uma unidade de<br />
proteção integral, o Parque Nacional do<br />
Morro do Pindaré, e de uma unidade de<br />
uso sustentável, a Floresta Nacional do<br />
Sabiá. Depois das discussões, a equipe<br />
resolveu levar adiante três projetos:<br />
— o projeto I consiste de pesquisas<br />
científicas embasadas exclusivamente<br />
na observação de animais;<br />
— o projeto II inclui a construção de uma<br />
escola e de um centro de vivência;<br />
— o projeto III promove a organização de<br />
uma comunidade extrativista que<br />
poderá coletar e explorar<br />
comercialmente frutas e sementes<br />
nativas.<br />
Nessa situação hipotética, atendendo-se à<br />
lei mencionada acima, é possível<br />
desenvolver tanto na unidade de proteção<br />
integral quanto na de uso sustentável<br />
A) apenas o projeto I.<br />
B) apenas o projeto III.<br />
C) apenas os projetos I e II.<br />
D) apenas os projetos II e III.<br />
E) todos os três projetos.<br />
Comentário do portal<br />
A alternativa correta é a letra "A", pois,<br />
analisando-se a situação hipotética sugerida<br />
no enunciado, percebe-se que ela deverá<br />
atender os requisitos tanto da unidade de
proteção integral quanto da unidade de uso<br />
sustentável. Portanto, apenas o projeto I<br />
poderá ser desenvolvido nessas duas<br />
propostas de unidades.<br />
25) (1999)<br />
(QUINO. Mafalda inédita. São Paulo: Martins Fontes, 1993)<br />
Observando as falas das personagens,<br />
analise o emprego do pronome SE e o<br />
sentido que adquire no contexto. No<br />
contexto da narrativa, é correto afirmar<br />
que o pronome SE:<br />
A) em I, indica reflexividade e equivale a<br />
"a si mesmas".<br />
B) em II, indica reciprocidade e equivale a<br />
"a si mesma".<br />
C) em III, indica reciprocidade e equivale<br />
a "umas às outras".<br />
D) em I e III, indica reciprocidade e<br />
equivale a "umas às outras".<br />
E) em II e III, indica reflexividade e<br />
equivale a "a si mesma " e "a si<br />
mesmas", respectivamente.<br />
Comentário<br />
Mais uma questão que fala por si própria.<br />
Lendo o segundo quadrinho — "Quer dizer<br />
que você também se ama muito mais no<br />
Natal?" —, é fácil de se identificar o pronome<br />
reflexivo. Basta que se troque se ama por<br />
ama a si mesma. O mesmo ocorre no<br />
terceiro quadrinho em "Por que será que as<br />
pessoas se amam muito mais no Natal?" —<br />
Por que será que as pessoas amam a si<br />
mesmas? Questão de grau fácil.<br />
Comentário do INEP<br />
Este problema requeria que o participante<br />
mobilizasse conhecimentos sobre os<br />
significados de "reciprocidade e<br />
"reflexividade" e o associasse à<br />
compreensão de linguagem iconográfica.<br />
Cerca de metade dos participantes<br />
demonstrou essa capacidade. A opção de<br />
30% dos participantes pela alternativa D<br />
pode indicar que eles utilizaram as imagens<br />
apenas como ilustração do texto e não como<br />
linguagem capaz de instituir novos<br />
significados.<br />
26) (1998) Texto 1<br />
"Mulher, Irmã, escuta-me: não ames,<br />
Quando a teus pés um homem terno e<br />
curvo<br />
jurar amor, chorar pranto de sangue,<br />
Não creias, não, mulher: ele te engana!<br />
As lágrimas são gotas da mentira<br />
E o juramento manto da perfídia."<br />
(Joaquim Manoel de Macedo)<br />
Texto 2<br />
"Teresa, se algum sujeito bancar o<br />
sentimental em cima de você<br />
E te jurar uma paixão do tamanho de um<br />
bonde<br />
Se ele chorar<br />
Se ele ajoelhar<br />
Se ele se rasgar todo<br />
Não acredite não Teresa<br />
É lágrima de cinema<br />
É tapeação<br />
Mentira<br />
CAI FORA"<br />
(Manuel Bandeira)<br />
Os autores, ao fazerem alusão às<br />
imagens da lágrima sugerem que:<br />
A) há um tratamento idealizado da<br />
relação homem/mulher.<br />
B) há um tratamento realista da relação<br />
homem/mulher.<br />
C) a relação familiar é idealizada.<br />
D) a mulher é superior ao homem.<br />
E) a mulher é igual ao homem.<br />
Comentário<br />
Ambos os autores, ao utilizarem a<br />
imagem da lágrima, estão na realidade<br />
mostrando que a figura do homem que é<br />
romântico a ponto de chorar ao jurar amor<br />
não existe. Tanto Macedo quanto<br />
Bandeira alertam as mulheres dizendo,<br />
com palavras e estilos diferentes, que não<br />
há homem que chore por amor (portanto,<br />
essa figura é uma idealização — e, por<br />
conseguinte, toda imagem que se tem<br />
sobre os relacionamentos<br />
demasiadamente românticos). Note que<br />
Bandeira chega até mesmo a chamar tal<br />
"chorão" de ator ("...É lágrima de cinema /<br />
É tapeação..."). Macedo dá uma imagem<br />
pesada às lágrimas ("...são gotas da<br />
mentira...").<br />
27) (2001) Os provérbios constituem um<br />
produto da sabedoria popular e, em geral,<br />
pretendem transmitir um ensinamento. A<br />
alternativa em que os dois provérbios<br />
remetem a ensinamentos semelhantes é:<br />
339
A) “Quem diz o que quer, ouve o que não<br />
quer” e “Quem ama o feio, bonito lhe<br />
parece”.<br />
B) “Devagar se vai ao longe” e “De grão<br />
em grão, a galinha enche o papo”.<br />
C) “Mais vale um pássaro na mão do que<br />
dois voando” e “Não se deve atirar<br />
pérolas aos porcos”.<br />
D) “Quem casa quer casa” e “Santo de<br />
casa não faz milagre”.<br />
E) “Quem com ferro fere, com ferro será<br />
ferido” e “Casa de ferreiro, espeto de<br />
pau”.<br />
Comentário<br />
Questão fácil. A alternativa B apresenta<br />
dois provérbios que tratam de paciência,<br />
perseverança. A mensagem é a mesma em<br />
ambos.<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão propõe uma série de<br />
provérbios agrupados aos pares, para que o<br />
participante demonstre compreender e<br />
comparar os provérbios de modo a identificar<br />
aqueles que traduzem ensinamentos<br />
semelhantes. A organização sintáticosemântica<br />
dos provérbios cria um efeito de<br />
sentido metafórico que deve ser recuperado,<br />
analisado e comparado, o que foi<br />
corretamente feito por cerca de 80% dos<br />
participantes.<br />
28) (2006) No romance Vidas Secas, de<br />
Graciliano Ramos, o vaqueiro Fabiano<br />
encontra-se com o patrão para receber o<br />
salário. Eis parte da cena:<br />
Graciliano Ramos. Vidas Secas. 91.ª ed.<br />
Rio de Janeiro: Record, 2003.<br />
No fragmento transcrito, o padrão formal<br />
da linguagem convive com marcas de<br />
regionalismo e de coloquialismo no<br />
vocabulário. Pertence à variedade do<br />
padrão formal da linguagem o seguinte<br />
trecho:<br />
A) Não se conformou: devia haver<br />
engano (l.1).<br />
B) Fabiano perdeu os estribos (l.3).<br />
C) Passar a vida inteira assim no toco<br />
(l.4).<br />
D) Entregando o que era dele de mao<br />
beijada! (l.4-5).<br />
E) Aí Fabiano baixou a pancada e<br />
amunhecou (l.11).<br />
Comentário do portal<br />
Questão de nível fácil. Bastaria que o<br />
candidato conhecesse o padrão formal da<br />
linguagem e distinguisse-o do regionalismo e<br />
do coloquialismo.<br />
29) (202) "Narizinho correu os olhos pela<br />
assistência. Não podia haver nada mais<br />
curioso. Besourinhos de fraque e flores na<br />
lapela conversavam com baratinhas de<br />
mantilha e miosótis nos cabelos. Abelhas<br />
douradas, verdes e azuis, falavam mal<br />
das vespas de cintura fina — achando que<br />
era exagero usarem coletes tão<br />
apertados. Sardinhas aos centos<br />
criticavam os cuidados excessivos que as<br />
borboletas de toucados de gaze tinham<br />
com o pó das suas asas. Mamangavas de<br />
ferrões amarrados para não morderem. E<br />
canários cantando, e beija-flores beijando<br />
flores, e camarões camaronando, e<br />
caranguejos caranguejando, tudo que é<br />
pequenino e não morde, pequeninando e<br />
não mordendo."<br />
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. São Paulo:<br />
Brasiliense, 1947.<br />
No último período do trecho, há uma série<br />
de verbos no gerúndio que contribuem<br />
para caracterizar o ambiente fantástico<br />
descrito. Expressões como<br />
"camaronando", "caranguejando" e<br />
"pequeninando e não mordendo" criam,<br />
principalmente, efeitos de<br />
A) esvaziamento de sentido.<br />
B) monotonia do ambiente.<br />
C) estaticidade dos animais.<br />
D) interrupção dos movimentos.<br />
E) dinamicidade do cenário.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. O dinamismo dos<br />
verbos no gerúndio tem como função<br />
principal dar vida às personagens do mundo<br />
fantástico. Não há estagnação. Cada animal<br />
faz o que lhe cabe.<br />
Comentário do INEP<br />
Essa questão apresenta para leitura e<br />
análise um trecho da obra Reinações de<br />
340
Narizinho, de Monteiro Lobato, e, nele, a<br />
descrição reflete as fantasias do mundo<br />
infantil. A questão propõe que seja resolvido<br />
um problema de linguagem, que é a<br />
identificação dos sentidos criados no texto<br />
pelo emprego de vários verbos no gerúndio,<br />
alguns dos quais, neologismos criados pelo<br />
autor. Como o texto é uma descrição, temos<br />
o relato de um ambiente que se agita com as<br />
ações simultâneas dos muitos seres que o<br />
habitam. Cabe ao participante perceber que<br />
o efeito dinâmico é criado pelos verbos de<br />
ação no gerúndio, que é a forma verbal da<br />
ação se fazendo. Ou seja, é função típica do<br />
gerúndio traduzir a noção de uma ação que<br />
se desenvolve de modo simultâneo à sua<br />
enunciação. Nesse ambiente retratado por<br />
Monteiro Lobato, os bichinhos humanizados<br />
se agitam, lembrando um burburinho de<br />
crianças. Apenas a alternativa E, assinalada<br />
por 36% dos participantes, responde<br />
corretamente a questão. As outras<br />
alternativas contemplam efeitos ou<br />
significados que, apesar de eventualmente<br />
serem transmitidos pelo emprego do<br />
gerúndio, não se verificam no texto.<br />
30) (2005) As dimensões continentais do<br />
Brasil são objeto de reflexões expressas<br />
em diferentes linguagens. Esse tema<br />
aparece no seguinte p"Narizinho correu os<br />
olhos pela assistência. Não podia haver nada<br />
mais curioso. Besourinhos de oema:<br />
“(....)<br />
Que importa que uns falem mole<br />
descansado<br />
Que os cariocas arranhem os erres na<br />
garganta<br />
Que os capixabas e paroaras escancarem<br />
as vogais?<br />
Que tem se o quinhentos réis meridional<br />
Vira cinco tostões do Rio pro Norte?<br />
Junto formamos este assombro de<br />
misérias e grandezas,<br />
Brasil, nome de vegetal! (....)”<br />
(Mário de Andrade. Poesias completas. 6. ed. São Paulo:<br />
Martins Editora, 1980.)<br />
O texto poético ora reproduzido trata das<br />
diferenças brasileiras no âmbito<br />
A) étnico e religioso.<br />
B) lingüístico e econômico.<br />
C) racial e folclórico.<br />
D) histórico e geográfico.<br />
E) literário e popular.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil, pois a primeira<br />
estrofe, ao enunciar os erres arranhados dos<br />
cariocas e as vogais abertas dos capixabas,<br />
evidencia a diferença lingüística entre duas<br />
regiões distintas do Brasil, dando noção da<br />
variedade. Já na segunda estrofe, as<br />
diferenças econômicas são evidenciadas ao<br />
se mostrarem os réis e tostões variando da<br />
Região Meridional para a Norte.<br />
31) (1999) Considere os textos abaixo.<br />
(...) de modo particular, quero encorajar os<br />
crentes empenhados no campo da<br />
filosofia para que iluminem os diversos<br />
âmbitos da atividade humana, graças ao<br />
exercício de uma razão que se torna mais<br />
segura e perspicaz com o apoio que<br />
recebe da fé.<br />
(Papa João Paulo II. Carta Encíclica Fides<br />
et Ratio aos bispos da igreja católica sobre as relações<br />
entre fé e razão, 1998)<br />
As verdades da razão natural não<br />
contradizem as verdades da fé cristã.<br />
(São Tomás de Aquino<br />
–pensador medieval)<br />
Refletindo sobre os textos, pode-se<br />
concluir que:<br />
A) a encíclica papal está em contradição<br />
com o pensamento de São Tomás de<br />
Aquino, refletindo a diferença de<br />
épocas.<br />
B) a encíclica papal procura<br />
complementar São Tomás de Aquino,<br />
pois este colocava a razão natural<br />
acima da fé.<br />
C) a Igreja medieval valorizava a razão<br />
mais do que a encíclica de João Paulo<br />
II.<br />
D) o pensamento teológico teve sua<br />
importância na Idade Média, mas, em<br />
nossos dias, não tem relação com o<br />
pensamento filosófico.<br />
E) tanto a encíclica papal como a frase<br />
de São Tomás de Aquino procuram<br />
conciliar os pensamentos sobre fé e<br />
razão.<br />
Comentário<br />
Nessa questão, é necessária uma<br />
releitura do texto para que se tenha uma<br />
melhor compreensão do tema. Tanto a<br />
citação do Papa quanto a de São Tomás de<br />
Aquino tentam criar uma interdependência<br />
entre a ciência e a fé, a religião. O Papa<br />
incentiva aqueles que exercem a pesquisa<br />
científica ou filosófica a manter a fé cristã.<br />
341
São Tomás de Aquino, por sua vez, equipara<br />
o avanço da ciência ao aumento da própria<br />
fé, afirmando que a razão natural não<br />
contradiz a fé cristã. Se um cresce, cresce<br />
também o outro, em harmonia e sem<br />
contradições. Questão de grau médio.<br />
(Português)<br />
Nessa questão, encontramos dois textos:<br />
o primeiro, do século XX, foi elaborado pelo<br />
Papa João Paulo II; o segundo, do século<br />
XIII, pelo teólogo e filósofo cristão São<br />
Tomás de Aquino. O conteúdo de ambos se<br />
refere à ligação entre fé e razão, a qual<br />
esteve presente na filosofia escolástica da<br />
Idade Média. Esse campo de reflexão buscou<br />
conciliar o cristianismo com o pensamento de<br />
Aristóteles e teve em São Tomás de Aquino<br />
seu maior representante.<br />
Mesmo sem ter todas essas informações,<br />
você poderia responder tranqüilamente à<br />
questão por meio de uma leitura atenta dos<br />
dois textos, chegando à conclusão de que<br />
"tanto a encíclica papal como a frase de São<br />
Tomás de Aquino procuram conciliar os<br />
pensamentos sobre fé e razão". Resposta<br />
correta: alternativa E. (História)<br />
Comentário do INEP<br />
Para resolver esta situação-problema, o<br />
participante deveria mostrar que, além de<br />
interpretar textos, sabe relacioná-los sendo<br />
que, nesse item, essas operações referem-se<br />
a um texto escrito na época medieval e a<br />
outro escrito recentemente.<br />
Mais de 70% dos participantes<br />
demonstraram facilidade em estabelecer esta<br />
relação.<br />
32) (2001) Murilo Mendes, em um de seus<br />
poemas, dialoga com a carta de Pero Vaz<br />
de Caminha:<br />
“A terra é mui graciosa,<br />
Tão fértil eu nunca vi.<br />
A gente vai passear,<br />
No chão espeta um caniço,<br />
No dia seguinte nasce<br />
Bengala de castão de oiro.<br />
Tem goiabas, melancias,<br />
Banana que nem chuchu.<br />
Quanto aos bichos, tem-nos muito,<br />
De plumagens mui vistosas.<br />
Tem macaco até demais<br />
Diamantes tem à vontade<br />
Esmeralda é para os trouxas.<br />
Reforçai, Senhor, a arca,<br />
Cruzados não faltarão,<br />
Vossa perna encanareis,<br />
Salvo o devido respeito.<br />
342<br />
Ficarei muito saudoso<br />
Se for embora daqui”.<br />
MENDES, Murilo. Murilo Mendes —<br />
poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.<br />
Arcaísmos e termos coloquiais misturamse<br />
nesse poema, criando um efeito de<br />
contraste, como ocorre em:<br />
A) A terra é mui graciosa / Tem macaco<br />
até demais.<br />
B) Salvo o devido respeito / Reforçai,<br />
Senhor, a arca<br />
C) A gente vai passear / Ficarei muito<br />
saudoso<br />
D) De plumagens mui vistosas / Bengala<br />
de castão de oiro<br />
E) No chão espeta um caniço / Diamantes<br />
tem à vontade<br />
Comentário<br />
Aqui, procuramos uma alternativa que<br />
apresente um trecho em linguagem coloquial<br />
e outro em linguagem arcaica.<br />
As alternativas B, C e E apresentam<br />
apenas a linguagem coloquial. A D, somente<br />
a arcaica.<br />
Sobra-nos a primeira alternativa: "A terra é<br />
mui graciosa" (mui é um arcaísmo); "tem<br />
macaco até demais" (linguagem coloquial).<br />
Comentário do INEP<br />
O efeito de paródia, explorado como<br />
recurso estilístico pelo autor desse poema,<br />
apresenta-se na utilização de expressões<br />
retomadas ora da carta de Pero Vaz de<br />
Caminha ora da linguagem coloquial corrente<br />
de época, gerando um efeito de humor<br />
crítico. Uma condição essencial para<br />
compreender o problema proposto nessa<br />
questão – identificar os arcaísmos e os<br />
coloquialismos existentes no poema – é<br />
conhecer o contexto de produção do texto e<br />
sua relação intratextual. Se o participante<br />
desconhece ou não considera o contexto<br />
histórico do poema, a identificação será<br />
parcial, já que o enunciado indica como<br />
pressuposto "a criação de um efeito de<br />
contraste" na utilização das expressões.<br />
Possivelmente a utilização de "contraste"<br />
como critério de interpretação justifica os<br />
percentuais de escolhas dos distratores. Uma<br />
outra possível explicação para esses<br />
percentuais deve-se ao fato de os<br />
participantes terem considerado apenas os<br />
termos "arcaísmo" e "coloquialismo" e, não<br />
tendo elementos para analisá-los,<br />
provavelmente deslocaram o texto do<br />
contexto e apoiaram-se em outros elementos<br />
para resolver a questão.
33) (2008) Considerando o soneto de<br />
Cláudio Manoel da Costa e os elementos<br />
constitutivos do Arcadismo brasileiro,<br />
assinale a opção correta acerca da<br />
relação entre o poema e o momento<br />
histórico de sua produção.<br />
A) Os “montes” e “outeiros”, mencionados<br />
na primeira estrofe, são imagens<br />
relacionadas à Metrópole, ou seja, ao<br />
lugar onde o poeta se vestiu com traje<br />
“rico e fino”.<br />
B) A oposição entre a Colônia e a<br />
Metrópole, como núcleo do poema,<br />
revela uma contradição vivenciada pelo<br />
poeta, dividido entre a civilidade do<br />
mundo urbano da Metrópole e a<br />
rusticidade da terra da Colônia.<br />
C) O bucolismo presente nas imagens do<br />
poema é elemento estético do<br />
Arcadismo que evidencia a<br />
preocupação do poeta árcade em<br />
realizar uma representação literária<br />
realista da vida nacional.<br />
D) A relação de vantagem da “choupana”<br />
sobre a “Cidade”, na terceira estrofe, é<br />
formulação literária que reproduz a<br />
condição histórica paradoxalmente<br />
vantajosa da Colônia sobre a<br />
Metrópole.<br />
E) A realidade de atraso social, político e<br />
econômico do Brasil Colônia está<br />
representada esteticamente no poema<br />
pela referência, na última estrofe, à<br />
transformação do pranto em alegria.<br />
Comentário<br />
A questão exige conhecimento das<br />
características do Arcadismo. A principal<br />
delas, presente no texto, é o bucolismo,<br />
representado pela paisagem da colônia. Esta<br />
é apresentada em oposição à paisagem da<br />
cidade ou metrópole. O poeta, que participou<br />
da Inconfidência Mineira, viveu em Lisboa.<br />
Dessa forma, o termo “vivenciado” da<br />
alternativa "B" justifica a oposição campo x<br />
cidade apresentada no poema. Logo, só<br />
pode ser essa a alternativa correta.<br />
34) (2008) Assinale a opção que apresenta<br />
um verso do soneto de Cláudio Manoel da<br />
Costa em que o poeta se dirige ao seu<br />
interlocutor.<br />
A) “Torno a ver-vos, ó montes; o<br />
destino” (v.1)<br />
B) “Aqui estou entre Almendro, entre<br />
Corino,” (v.5)<br />
C) “Os meus fiéis, meus doces<br />
companheiros,” (v.6)<br />
D) “Vendo correr os míseros vaqueiros”<br />
(v.7)<br />
E) “Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto,”<br />
(v.11)<br />
Comentário<br />
Nesta questão, basta que o aluno<br />
identifique o pronome oblíquo, presente no<br />
verso um, que chama o leitor para o texto.<br />
Sendo assim, a resposta correta é a letra "A".<br />
35) (2008)<br />
Dick Browne. O melhor de Hagar, o horrível, v. 2. L&PM<br />
pocket, p.55-6 (com adaptações).<br />
Assinale o trecho do diálogo que<br />
apresenta um registro informal, ou<br />
coloquial, da linguagem.<br />
A) “Tá legal, espertinho! Onde é que<br />
você esteve?!”<br />
B) “E lembre-se: se você disser uma<br />
mentira, os seus chifres cairão!”<br />
C) “Estou atrasado porque ajudei uma<br />
velhinha a atravessar a rua...”<br />
D) “...e ela me deu um anel mágico que<br />
me levou a um tesouro”<br />
E) “mas bandidos o roubaram e os<br />
persegui até a Etiópia, onde um<br />
dragão...”<br />
Comentário<br />
Linguagem coloquial é aquela usada no<br />
cotidiano, que tem como característica<br />
principal a oralidade, ou seja, aquela que não<br />
segue o rigor da norma culta.<br />
Entre as alternativas da questão, apenas<br />
a letra "A" apresenta esses traços.<br />
343
36) (2007)<br />
37) (1998) A discussão sobre gramática na<br />
classe está "quente". Será que os<br />
brasileiros sabem gramática? A<br />
professora de Português propõe para<br />
debate o seguinte texto:<br />
PRA MIM BRINCAR<br />
Não há nada mais gostoso do que o<br />
mim sujeito de verbo no infinito. Pra mim<br />
brincar. As cariocas que não sabem<br />
gramática falam assim. Todos os<br />
brasileiros deviam de querer falar como as<br />
cariocas que não sabem gramática.<br />
- As palavras mais feias da língua<br />
portuguesa são quiçá, alhures e miúde.<br />
(BANDEIRA, Manuel. Seleta em prosa e verso. Org:<br />
Emanuel de Moraes.4ª ed. Rio de Janeiro,<br />
José Olympio, 1986. Pág. 19)<br />
344<br />
A antítese que configura uma imagem da<br />
divisão social do trabalho na sociedade<br />
brasileira é expressa poeticamente na<br />
oposição entre a doçura do branco açúcar<br />
e<br />
A) o trabalho do dono da mercearia de<br />
onde veio o açúcar.<br />
B) o beijo de moça, a água na pele e a flor<br />
que se dissolve na boca.<br />
C) o trabalho do dono do engenho em<br />
Pernambuco, onde se produz o açúcar.<br />
D) a beleza dos extensos canaviais que<br />
nascem no regaço do vale.<br />
E) o trabalho dos homens de vida<br />
amarga em usinas escuras.<br />
Comentário<br />
Questão de nível médio. O aluno deve<br />
perceber, na leitura do poema, várias<br />
antíteses. Entre elas, destaca-se a doçura do<br />
açúcar com a amargura da vida dos<br />
trabalhadores e a brancura dele com a<br />
escuridão das usinas. Porém, o grande<br />
destaque que o autor quer dar é o valor do<br />
trabalho do homem das usinas, que é o<br />
verdadeiro responsável pela produção do<br />
açúcar. Portanto, a alternativa E é a correta.<br />
Com a orientação da professora e após o<br />
debate sobre o texto de Manuel Bandeira,<br />
os alunos chegaram à seguinte conclusão:<br />
A) uma das propostas mais ousadas do<br />
Modernismo foi a busca da identidade<br />
do povo brasileiro e o registro, no texto<br />
literário, da diversidade das falas<br />
brasileiras.<br />
B) apesar de os modernistas registrarem<br />
as falas regionais do Brasil, ainda<br />
foram preconceituosos em relação às<br />
cariocas.<br />
C) a tradição dos valores portugueses foi<br />
a pauta temática do movimento<br />
modernista.<br />
D) Manuel Bandeira e os modernistas<br />
brasileiros exaltaram em seus textos o<br />
primitivismo da nação brasileira.<br />
E) Manuel Bandeira considera a<br />
diversidade dos falares brasileiros uma<br />
agressão à Língua Portuguesa.<br />
Comentário<br />
Para resolver essa questão, é<br />
importantíssimo dar atenção a quem foi o<br />
autor do texto do enunciado — Manuel<br />
Bandeira. Ele participou da primeira fase do<br />
Modernismo brasileiro, conhecida como<br />
geração de 22. Ela tinha, dentre diversas<br />
propostas, uma de fundamental importância<br />
para essa questão: a busca da identidade do<br />
povo brasileiro, valorizando a cultura, a<br />
intelectualidade e a sociedade do país. Entre<br />
essas questões, encontrava-se, com realce,<br />
a da língua brasileira. Buscava-se uma<br />
aproximação entre a língua escrita, herdada<br />
dos portugueses, e a nossa língua falada,<br />
dando-se preferência à linguagem oral. Com<br />
isso em mente, teremos a alternativa A como<br />
correta.
38) (1999) Leia um texto publicado no jornal<br />
Gazeta Mercantil. Esse texto é parte de<br />
um artigo que analisa algumas situações<br />
de crise no mundo, entre elas, a quebra<br />
da Bolsa de Nova Iorque em 1929, e foi<br />
publicado na época de uma iminente crise<br />
financeira no Brasil.<br />
Deu no que deu. No dia 29 de outubro de<br />
1929, uma terça-feira, praticamente não<br />
havia compradores no pregão de Nova<br />
Iorque, só vendedores. Seguiu-se uma<br />
crise incomparável: o Produto Interno<br />
Bruto dos Estados Unidos caiu de <strong>10</strong>4<br />
bilhões de dólares em 1929, para 56<br />
bilhões em 1933, coisa inimaginável em<br />
nossos dias. O valor do dólar caiu a quase<br />
metade. O desemprego elevou-se de 1,5<br />
milhão para 12,5 milhões de trabalhadores<br />
– cerca de 25% da população ativa –<br />
entre 1929 e 1933. A construção civil caiu<br />
90%. Nove milhões de aplicações, tipo<br />
caderneta de poupança, perderam-se com<br />
o fechamento dos bancos. Oitenta e cinco<br />
mil firmas faliram. Houve saques e norteamericanos<br />
que passaram fome.<br />
(Gazeta Mercantil, 05/01/1999)<br />
Ao citar dados referentes à crise ocorrida<br />
em 1929, em um artigo jornalístico atual,<br />
pode-se atribuir ao jornalista a seguinte<br />
intenção:<br />
A) questionar a interpretação da crise.<br />
B) comunicar sobre o desemprego.<br />
C) instruir o leitor sobre aplicações em<br />
bolsa de valores.<br />
D) relacionar os fatos passados e<br />
presentes.<br />
E) analisar dados financeiros americanos.<br />
Comentário<br />
Nessa questão, o que se tem de fazer é<br />
prestar atenção às alternativas das<br />
respostas. Nenhuma delas se apresenta tão<br />
bem contextualizada a uma possível<br />
interpretação quanto a letra D. Partindo-se da<br />
análise do texto, fica claro que a intenção do<br />
artigo é remeter o leitor ao passado para<br />
tentar conduzi-lo a uma reflexão sobre uma<br />
situação presente, não mencionada na<br />
questão. Após a leitura e utilizando-se a já<br />
citada eliminação de questões, torna-se clara<br />
a resposta. Questão de nível médio.<br />
(Português)<br />
Muitas vezes, quando procuramos<br />
entender uma crise econômica ou financeira<br />
de grandes proporções, buscamos<br />
estabelecer relações com crises passadas. O<br />
mesmo ocorre no jornalismo, como prova o<br />
texto encontrado nessa questão. Buscando<br />
entender uma crise ocorrida no início de<br />
1999, o jornalista da Gazeta Mercantil<br />
buscou relacionar a situação dessa época<br />
com a grande crise de 1929 que afetou o<br />
mundo, trazendo desemprego e recessão,<br />
entre tantos outros problemas econômicos e<br />
sociais.<br />
Para responder a essa questão, era<br />
necessário ler atentamente o enunciado, em<br />
que está destacado que "o texto é parte de<br />
um artigo que analisa algumas situações de<br />
crise no mundo" e "foi publicado na época de<br />
uma iminente crise financeira no Brasil". Era<br />
importante também observar a data em que o<br />
artigo foi publicado: 05/01/1999. A partir<br />
dessas constatações, facilmente você<br />
chegaria a conclusão de que a intenção do<br />
jornalista era "relacionar os fatos passados e<br />
presentes". Resposta correta: alternativa D.<br />
(História)<br />
Comentário do INEP<br />
A resolução da questão demandava a<br />
capacidade dos participantes de relacionar<br />
eventos históricos envolvendo crises<br />
econômicas ocorridas em épocas e lugares<br />
distintos. Aproximadamente 2/3 deles<br />
demonstraram essa capacidade. Os demais,<br />
provavelmente, não compreenderam a<br />
exigência expressa no enunciado do<br />
problema – apontar as razões pelas quais um<br />
jornalista traz à tona eventos ocorridos<br />
setenta anos antes –, e apenas interpretaram<br />
o sentido do texto citado, que descreve a<br />
crise mundial de 1929.<br />
39) (2000) “Precisa-se nacionais sem<br />
nacionalismo, (...) movidos pelo presente<br />
mas estalando naquele cio racial que só<br />
as tradições maduram! (...). Precisa-se<br />
gentes com bastante meiguice no<br />
sentimento, bastante força na peitaria,<br />
bastante paciência no entusiasmo e<br />
sobretudo, oh! sobretudo bastante<br />
vergonha na cara!<br />
(...) Enfim: precisa-se brasileiros! Assim<br />
está escrito no anúncio vistoso de cores<br />
desesperadas pintado sobre o corpo do<br />
nosso Brasil, camaradas.”<br />
(Jornal A Noite, São Paulo, 18/12/1925 apud LOPES, Telê<br />
Porto Ancona. Mário<br />
de Andrade: ramais e caminhos. São Paulo: Duas<br />
Cidades, 1972)<br />
No trecho acima, Mário de Andrade dá<br />
forma a um dos itens do ideário<br />
modernista, que é o de firmar a feição de<br />
uma língua mais autêntica, “brasileira”, ao<br />
expressar-se numa variante de linguagem<br />
popular identificada pela (o):<br />
345
A) escolha de palavras como cio, peitaria,<br />
vergonha.<br />
B) emprego da pontuação.<br />
C) repetição do adjetivo bastante.<br />
D) concordância empregada em Assim<br />
está escrito.<br />
E) escolha de construção do tipo<br />
precisa-se gentes.<br />
Comentário<br />
Apesar de essa questão misturar vários<br />
tipos de informação, se você se lembra um<br />
pouquinho dos usos da partícula se, com<br />
certeza não encontrará grande dificuldade.<br />
Segundo a regra gramatical, o verbo<br />
"precisa-se" deveria ir para o plural<br />
(precisam-se), mas essa noção de verbo<br />
concordante com o sujeito há muito<br />
desapareceu na variante popular brasileira.<br />
Mas, caso você não se lembre muito bem<br />
desse assunto ou ficou meio confuso com o<br />
texto e as outras alternativas, o caminho é<br />
responder por eliminação.<br />
A primeira alternativa apresenta palavras<br />
comuns no português brasileiro, mas<br />
nenhuma "invenção" nacional. Na dúvida,<br />
pense em "vergonha": não é uma invenção<br />
brasileira. Todos os que falam português no<br />
mundo conhecem bem essa palavra. A<br />
pontuação no texto não chama nenhuma<br />
atenção. Você provavelmente não viu nada<br />
de estranho nela. Da mesma forma, o<br />
"bastante" da terceira alternativa não é nada<br />
mais que um mecanismo de retórica, usado<br />
para dar ênfase à idéia. Com o "Assim está<br />
escrito", encontramos a mesma situação: um<br />
trecho litúrgico é usado para maior ênfase.<br />
Comentário do INEP<br />
A questão procurou avaliar se o<br />
participante era capaz de, a partir da leitura<br />
de um texto de Mário de Andrade , identificar<br />
e analisar uma variante lingüística de uso<br />
coloquial, utilizadas estilisticamente pelo<br />
autor. O uso estilístico das variantes marcou<br />
a primeira fase da literatura brasileira<br />
modernista. O trecho destaca em seu todo<br />
esse uso da linguagem popular. A escolha da<br />
construção 'precisa-se gentes' é marca desse<br />
uso estilístico. O índice de 37% na alternativa<br />
(A) demonstra, possivelmente, que os<br />
participantes não consideraram a escolha<br />
dos vocábulos, dentro do contexto do texto,<br />
confundindo as palavras que aparecem na<br />
alternativa com '...a feição de uma língua<br />
mais autêntica...'.O percentual de acertos foi<br />
da ordem de 40%.<br />
40) (2004) O poema abaixo pertence à<br />
poesia concreta brasileira. O termo latino<br />
de seu título significa "epitalâmio", poema<br />
ou canto em homenagem aos que se<br />
casam.<br />
Considerando que símbolos e sinais são<br />
utilizados geralmente para demonstrações<br />
objetivas, ao serem incorporados no<br />
poema "Epithalamium - II".<br />
A) adquirem novo potencial de<br />
significação.<br />
B) eliminam a subjetividade do poema.<br />
C) opõem-se ao tema principal do poema.<br />
D) invertem seu sentido original.<br />
E) tornam-se confusos e equivocados.<br />
Comentário<br />
Diferentemente, por exemplo, da<br />
aplicação matemática dos símbolos, em que<br />
sinais como "=", "+", "-", "x", etc. servem<br />
como convenções internacionais de<br />
significação objetiva e invariável, em um<br />
poema como "Epithalamium – II" foram<br />
usados símbolos que não são convenções<br />
internacionais, mas, sim, convencionados<br />
apenas para esse texto. No caso, letras do<br />
alfabeto deixam de ser representações de<br />
sons (fonemas) para ganharem nova<br />
significação, principalmente pela construção<br />
visual do poema: unem homem (h) e mulher<br />
(e) pela ação da serpente (s) — libido,<br />
atração — em uma entidade única.<br />
Uma das tendências poéticas da segunda<br />
metade do século XX, resultado de um<br />
diálogo com estéticas já presentes no final do<br />
século XIX, trabalha com a construção de<br />
seu próprio referente, fazendo do poema um<br />
objeto autônomo.<br />
346
41) (2007)<br />
conclusão de que os imigrantes enfrentaram<br />
uma realidade bastante dura no momento de<br />
sua chegada ao Brasil. Portanto, a alternativa<br />
correta é a letra C.<br />
42) (2005) Cândido Portinari (1903-1962), um<br />
dos mais importantes artistas brasileiros<br />
do século XX, tratou de diferentes<br />
aspectos da nossa realidade em seus<br />
quadros.<br />
Sobre a temática dos “Retirantes”,<br />
Portinari também escreveu o seguinte<br />
poema:<br />
Levando-se em consideração o texto de<br />
Oswald de Andrade e a pintura de Antonio<br />
Rocco reproduzida acima, relativos à<br />
imigração européia para o Brasil, é correto<br />
afirmar que<br />
A) a visão da imigração presente na<br />
pintura é trágica e, no texto, otimista.<br />
B) a pintura confirma a visão do texto<br />
quanto à imigração de argentinos para<br />
o Brasil.<br />
C) os dois autores retratam dificuldades<br />
dos imigrantes na chegada ao Brasil.<br />
D) Antonio Rocco retrata de forma otimista<br />
a imigração, destacando o pioneirismo<br />
do imigrante.<br />
E) Oswald de Andrade mostra que a<br />
condição de vida do imigrante era<br />
melhor que a dos ex-escravos.<br />
Comentário<br />
Questão fácil. Pela comparação entre dois<br />
textos com linguagens diferentes, chega-se à<br />
(....)<br />
Os retirantes vêm vindo com trouxas e<br />
embrulhos<br />
Vêm das terras secas e escuras;<br />
pedregulhos<br />
Doloridos como fagulhas de carvão aceso<br />
Corpos disformes, uns panos sujos,<br />
Rasgados e sem cor, dependurados<br />
Homens de enorme ventre bojudo<br />
Mulheres com trouxas caídas para o lado<br />
Pançudas, carregando ao colo um garoto<br />
Choramingando, remelento<br />
(....)<br />
(Cândido Portinari. Poemas. Rio de Janeiro:<br />
J. Olympio, 1964.)<br />
Das quatro obras reproduzidas, assinale<br />
aquelas que abordam a problemática que<br />
é tema do poema.<br />
A) 1 e 2 D) 3 e 4<br />
B) 1 e 3 E) 2 e 4<br />
C) 2 e 3<br />
Comentário<br />
O poema apresenta correspondência com<br />
as imagens ao descrever com detalhes a<br />
figura do retirante: pobre, mal vestido,<br />
carregando trouxas e embrulhos.<br />
43) (2002) O autor da tira utilizou os<br />
princípios de composição de um<br />
conhecido movimento artístico para<br />
347
epresentar a necessidade de um mesmo<br />
observador aprender a considerar,<br />
simultaneamente, diferentes pontos de<br />
vista.<br />
D)<br />
Das obras reproduzidas, todas de autoria<br />
do pintor espanhol Pablo Picasso, aquela<br />
em cuja composição foi adotado um<br />
procedimento semelhante é:<br />
A)<br />
E)<br />
B)<br />
C)<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. O movimento<br />
artístico que previa considerar<br />
simultaneamente diversos pontos de vista<br />
era o Cubismo. Havia a desconstrução da<br />
forma para que se pudesse ver todos os<br />
ângulos concomitantemente. O único quadro<br />
que apresenta essas características é o da<br />
alternativa E. As outras quatro alternativas<br />
pressupõem a manutenção da forma.<br />
Comentário do INEP<br />
O objetivo desta questão é levar o<br />
participante a refletir sobre características<br />
fundamentais de um movimento artístico – o<br />
cubismo – a partir de dados visuais:<br />
quadrinhos e pinturas. A reprodução de dois<br />
quadrinhos da personagem Calvin forneceu<br />
para o participante informações básicas para<br />
a análise que deveria fazer das alternativas<br />
apresentadas. Segundo os quadrinhos, o<br />
movimento artístico abordado pela questão<br />
tinha como procedimento de composição<br />
representar, para um mesmo observador,<br />
diferentes pontos de vista, fazendo com que<br />
"o tradicional único ponto de vista" fosse<br />
abandonado e com que a perspectiva fosse<br />
fraturada. A análise das obras de Picasso<br />
reproduzidas nas alternativas permite que o<br />
participante reconheça a adoção desse<br />
procedimento no quadro "Marie-Thérèse<br />
apoiada no cotovelo" (alternativa E, com 46%<br />
de registros), no qual se pode reconhecer a<br />
representação de diferentes pontos de vista<br />
348
a partir dos quais é apresentado o rosto da<br />
mulher retratada.<br />
44) (2000) “Poética”, de Manuel Bandeira, é<br />
quase um manifesto do movimento<br />
modernista brasileiro de 1922. No poema,<br />
o autor elabora críticas e propostas<br />
que representam o pensamento estético<br />
predominante na época.<br />
Poética<br />
Estou farto do lirismo comedido<br />
Do lirismo bem comportado<br />
Do lirismo funcionário público com livro de<br />
ponto expediente protocolo e<br />
[manifestações de apreço<br />
ao Sr. Diretor<br />
.<br />
Estou farto do lirismo que pára e vai<br />
averiguar no dicionário o<br />
[cunho vernáculo de um<br />
vocábulo<br />
Abaixo os puristas<br />
....................................................................<br />
Quero antes o lirismo dos loucos<br />
O lirismo dos bêbedos<br />
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos<br />
O lirismo dos clowns de Shakespeare<br />
— Não quero mais saber do lirismo que<br />
não é libertação.<br />
(BANDEIRA, Manuel. Poesia Completa e Prosa.<br />
Rio de Janeiro. Aguilar, 1974)<br />
Com base na leitura do poema, podemos<br />
afirmar corretamente que o poeta:<br />
A) critica o lirismo louco do movimento<br />
modernista.<br />
B) critica todo e qualquer lirismo na<br />
literatura.<br />
C) propõe o retorno ao lirismo do<br />
movimento clássico.<br />
D) propõe o retorno ao lirismo do<br />
movimento romântico.<br />
E) propõe a criação de um novo lirismo.<br />
Comentário<br />
Questão bastante inteligente. Para<br />
começar, Manuel Bandeira teve como marca<br />
de sua obra a busca de novas formas de<br />
expressão, sempre. Mesmo tendo escrito<br />
muitos sonetos (especialmente no início da<br />
carreira), adotou prazerosamente a rebeldia<br />
da poética modernista. A resposta pode estar<br />
centrada na análise de um único verso do<br />
poema. As alternativas de a a d ficam todas<br />
automaticamente descartadas pelo primeiro<br />
verso da segunda parte ("Quero antes o<br />
lirismo dos loucos"). Veja que quem prega<br />
um lirismo dos loucos e dos bêbedos não<br />
pode nem criticar o "lirismo louco" dos<br />
modernistas, como na alternativa a, ou<br />
propor que não haja lirismo, como na<br />
alternativa b. Tampouco pode querer o<br />
retorno à rigidez de forma e métrica da<br />
poesia clássica (lembre-se de Camões) ou<br />
romântica (Álvares de Azevedo, Castro<br />
Alves, Casimiro de Abreu). Propõe, sim, um<br />
novo tipo de lirismo. Vemos isso claramente<br />
se dermos atenção ao casamento do<br />
primeiro com o último verso da segunda<br />
parte ("Quero antes o lirismo dos loucos" /<br />
"—Não quero mais saber do lirismo que não<br />
é libertação").<br />
Comentário do INEP<br />
Um pouco mais da metade dos<br />
participantes (55 %) conseguiu identificar no<br />
texto a proposta estética do poeta e, em<br />
última análise, do próprio Modernismo. Os<br />
distratores com percentuais significativos de<br />
escolha foram apenas B e D. No primeiro<br />
caso, o tom de manifesto, incisivo e<br />
demolidor, do poema provavelmente induziu<br />
a opção. No segundo, a explicação se deve à<br />
possível relação que o participante<br />
estabeleceu entre o Modernismo e o<br />
Romantismo, que de fato existe, mas que<br />
não se aplica ao caso.<br />
45) (2001) Oxímoro (ou paradoxo) é uma<br />
construção textual que agrupa significados<br />
que se excluem mutuamente. Para<br />
Garfield, a frase de saudação de Jon<br />
(tirinha abaixo) expressa o maior de todos<br />
os oxímoros.<br />
Folha de S. Paulo. 31 de julho de 2000.<br />
Nas alternativas abaixo, estão transcritos<br />
versos retirados do poema “O operário em<br />
construção”. Pode-se afirmar que ocorre<br />
um oxímoro em<br />
A) "Era ele que erguia casas<br />
Onde antes só havia chão."<br />
B) "... a casa que ele fazia<br />
Sendo a sua liberdade<br />
Era a sua escravidão."<br />
349
C) "Naquela casa vazia<br />
Que ele mesmo levantara<br />
Um mundo novo nascia<br />
De que sequer suspeitava."<br />
D) "... o operário faz a coisa<br />
E a coisa faz o operário."<br />
E) "Ele, um humilde operário<br />
Um operário que sabia<br />
Exercer a profissão."<br />
MORAES, Vinícius de. Antologia Poética. São Paulo:<br />
Companhia das Letras, 1992.<br />
Comentário<br />
Idéias que se completam e se excluem<br />
mutuamente são encontradas na alternativa<br />
B: a casa que ele construía era, ao mesmo<br />
tempo, sua liberdade e sua escravidão.<br />
A casa é um símbolo de liberdade para o<br />
homem. Para o homem operário, é também<br />
símbolo de escravidão, pois ele está<br />
"condenado" a jamais usufruir do resultado<br />
do seu trabalho (a casa que faz não é para<br />
ele).<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão propõe ao participante que<br />
estabeleça uma relação entre linguagens,<br />
associando a compreensão de um efeito<br />
semântico produzido pelo uso do oxímoro<br />
nos quadrinhos com o mesmo efeito num<br />
texto poético. O índice (18%) de escolhas da<br />
alternativa D deve-se, possivelmente, a uma<br />
análise parcial da noção de paradoxo,<br />
confundida com inversão.<br />
46) (2004)<br />
A polifonia, variedade de vozes, presente<br />
no poema resulta da manifestação do<br />
A) poeta e do colonizador apenas.<br />
B) colonizador e do negro apenas.<br />
C) negro e do índio apenas.<br />
D) colonizador, do poeta e do negro<br />
apenas.<br />
E) poeta, do colonizador, do índio e do<br />
negro.<br />
Comentário<br />
A questão apresenta uma certa<br />
dificuldade, pois, à primeira vista, parecem<br />
confundir-se as vozes do colonizador, do<br />
negro e do índio. Entretanto, os<br />
travessões existentes no poema explicitam<br />
as falas das personagens ao mostrar que<br />
não são apenas as vozes do poeta e do<br />
colonizador que estão presentes. As falas do<br />
índio e do negro são proferidas por eles,<br />
marca expressa pelo discurso direto. A<br />
presença dessa modalidade de discurso<br />
indica a reprodução literal do que as<br />
personagens disseram.<br />
Um ponto interessante em relação a essa<br />
questão é a intertextualidade. O índio<br />
aparece no poema pela remissão a um texto<br />
poético do nosso Romantismo, em um<br />
processo intertextual com “I-Juca-Pirama”, de<br />
Gonçalves Dias; e a presença do negro se dá<br />
pela ligação com Mário de Andrade, em<br />
Macunaíma. Entende-se, portanto, que a<br />
alternativa correta é a letra E.<br />
47) (2003) No ano passado, o governo<br />
promoveu uma campanha a fim de reduzir<br />
os índices de violência. Noticiando o fato,<br />
um jornal publicou a seguinte manchete:<br />
CAMPANHA CONTRA A VIOLÊNCIA DO<br />
GOVERNO DO ESTADO ENTRA EM NOVA<br />
FASE<br />
A manchete tem um duplo sentido, e isso<br />
dificulta o entendimento. Considerando o<br />
objetivo da notícia, esse problema poderia<br />
ter sido evitado com a seguinte redação:<br />
A) Campanha contra o governo do Estado<br />
e a violência entram em nova fase.<br />
B) A violência do governo do Estado entra<br />
em nova fase de Campanha.<br />
C) Campanha contra o governo do Estado<br />
entra em nova fase de violência.<br />
D) A violência da campanha do governo<br />
do Estado entra em nova fase.<br />
E) Campanha do governo do Estado<br />
contra a violência entra em nova fase.<br />
Comentário<br />
O objetivo da questão é eliminar a<br />
ambigüidade da notícia de jornal, que,<br />
originalmente, trazia duas idéias: de acordo<br />
com a primeira, o governo queria combater a<br />
violência, e a segunda ressaltava que o<br />
governo era violento. Nessa questão,<br />
era preciso eliminar a segunda possibilidade<br />
de leitura.<br />
350
48) (2004)<br />
O assunto de uma crônica pode ser uma<br />
experiência pessoal do cronista, uma<br />
informação obtida por ele ou um caso<br />
imaginário. O modo de apresentar o<br />
assunto também varia: pode ser uma<br />
descrição objetiva, uma exposição<br />
argumentativa ou uma narrativa sugestiva.<br />
Quanto à finalidade pretendida, pode-se<br />
promover uma reflexão, definir um<br />
sentimento ou tão-somente provocar um<br />
riso.<br />
Na crônica O jivaro, escrita a partir da<br />
reportagem de um jornal, Rubem Braga se<br />
vale dos seguinte elementos:<br />
Comentário<br />
O assunto da crônica de Rubem Braga foi<br />
uma informação colhida — o conhecimento<br />
que ele teve de uma entrevista dada por um<br />
viajante a um jornal. Essa informação foi<br />
apresentada por meio de uma narrativa<br />
sugestiva — uma história que ganha a<br />
atenção do leitor não por sua carga<br />
argumentativa ou pela precisão de suas<br />
descrições, mas por seu encaminhamento e<br />
fecho inusitados. A finalidade é provocar uma<br />
reflexão — por que quereria o índio fazer<br />
demonstração de uma ação que causa<br />
sofrimento à vítima, utilizando justamente um<br />
“oponente” que não lhe causara mal algum?<br />
Se algum sofrimento precisa ser causado<br />
para isso, que seja então a alguém que ao<br />
menos o pareça merecer.<br />
49) (2002) "A palavra tatuagem é<br />
relativamente recente. Toda a gente sabe<br />
que foi o navegador Cook que a introduziu<br />
no Ocidente, e esse escrevia tattou, termo<br />
da Polinésia de tatou ou tu tahou,<br />
'desenho'.<br />
(...) Desde os mais remotos tempos,<br />
vemo-la a transformar-se: distintivo<br />
honorífico entre uns homens, ferrete de<br />
ignomínia entre outros, meio de assustar o<br />
adversário para os bretões, marca de uma<br />
classe de selvagens das ilhas marquesas<br />
(...) sinal de amor, de desprezo, de ódio<br />
(...). Há três casos de tatuagem no Rio,<br />
completamente diversos na sua<br />
significação moral: os negros,os turcos<br />
com o fundo religioso e o bando de<br />
meretrizes, dos rufiões e dos humildes,<br />
que se marcam por crime ou por<br />
ociosidade".<br />
RIO, João do. Os Tatuadores. Revista Kosmos.<br />
1904, apud: A alma encantadora das ruas,<br />
SP: Cia das Letras, 1999.<br />
Com base no texto são feitas as seguintes<br />
afirmações:<br />
I. João do Rio revela como a tatuagem já<br />
estava presente na cidade do Rio de<br />
Janeiro, pelo menos desde o início do<br />
século XX, e era mais utilizada por<br />
alguns setores da população.<br />
II. A tatuagem, de origem polinésia,<br />
difundiu-se no ocidente com a<br />
característica que permanece até hoje:<br />
utilização entre os jovens com função<br />
estritamente estética.<br />
III. O texto mostra como a tatuagem é<br />
uma prática que se transforma no<br />
tempo e que alcança inúmeros sentidos<br />
nos diversos setores das sociedades e<br />
para as diferentes culturas.<br />
Está correto o que se afirma apenas em<br />
A) I D) I e II<br />
B) II E) I e III<br />
C) III<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Constata-se o<br />
seguinte: a tatuagem já existia no Brasil no<br />
início do século XX (o texto é de 1904 e parte<br />
dele se refere ao Rio do Janeiro) e era<br />
utilizada em diferentes setores da sociedade.<br />
A afirmação de que as tatuagens possuem<br />
apenas finalidade estética entre os jovens<br />
elimina a segunda alternativa. Já a última<br />
alternativa confirma as transformações das<br />
funções da tatuagem ao longo do tempo nas<br />
mais diversas sociedades e culturas.<br />
Comentário do INEP<br />
O texto estabelece uma relação entre a<br />
atualidade da palavra "tatuagem" e a<br />
antiguidade do uso de desenhos como<br />
pintura corporal. Focaliza uma prática social<br />
bastante difundida que adquiriu aspectos e<br />
conotações diversos nos diferentes contextos<br />
históricos e geográficos em que ela pode ser<br />
descrita. Fazendo a descrição da prática da<br />
tatuagem, como uma manifestação comum a<br />
diferentes culturas, e que adquire, inclusive,<br />
351
significados diferentes dentro de uma mesma<br />
cultura, induz o participante a refletir sobre a<br />
"diversidade dos patrimônios etnoculturais e<br />
artísticos", contextualizando ao mesmo<br />
tempo seus significados "em diferentes<br />
sociedades, épocas e lugares". Ao retomar<br />
as várias origens e usos da tatuagem, o<br />
participante é levado a compreender e<br />
respeitar uma gramática histórica dos<br />
costumes marcada sempre por semelhanças<br />
e diferenças. A questão não exigia, portanto,<br />
nenhum conhecimento prévio sobre as<br />
diferentes formas de manifestação dessa<br />
prática, mas simplesmente constatar, com o<br />
autor do texto citado, a historicidade e a<br />
diversidade das práticas sociais. Os<br />
participantes que assinalaram a alternativa C<br />
(36%), possivelmente, não levaram em<br />
consideração informações do texto. A<br />
questão foi corretamente respondida por 37%<br />
dos participantes.<br />
50) (2004)<br />
352<br />
Nesta tirinha, a personagem faz referência<br />
a uma das mais conhecidas figuras de<br />
linguagem para<br />
A) condenar a prática de exercícios físicos<br />
B) valorizar aspectos da vida moderna.<br />
C) desestimular o uso das bicicletas.<br />
D) caracterizar o diálogo entre as<br />
gerações.<br />
E) criticar a falta de perspectiva do pai.<br />
Comentário<br />
A construção indica a falta de perspectiva<br />
na vida do pai do personagem. “Pedalar sem<br />
sair do lugar” é uma metáfora muito usada na<br />
cultura brasileira para expressar como é a<br />
vida de uma pessoa que age de forma a não<br />
conseguir qualquer mudança — para melhor<br />
ou para pior — na vida.<br />
51) (2004) As questões de números 26 e 27<br />
referem-se ao poema abaixo.<br />
Entre os recursos expressivos<br />
empregados no texto, destaca-se a<br />
A) metalinguagem, que consiste em fazer<br />
a linguagem referir-se à própria<br />
linguagem.<br />
B) intertextualidade, na qual o texto<br />
retoma e reelabora outros textos.<br />
C) ironia, que consiste em se dizer o<br />
contrário do que se pensa, com<br />
intenção crítica.<br />
D) denotação, caracterizada pelo uso das<br />
palavras em seu sentido próprio e<br />
objetivo.<br />
E) prosopopéia, que consiste em<br />
personificar coisas inanimadas,<br />
atribuindo-lhes vida.<br />
Comentário<br />
A questão trata de um texto de Carlos<br />
Drummond de Andrade em que ele fala sobre<br />
o crescimento urbano e a pobreza que esse<br />
processo traz. Para tanto, o poeta utiliza uma<br />
linguagem irônica, revelando o lado oculto do<br />
desenvolvimento. Dessa forma, temos como<br />
correta a alternativa C.<br />
52) (2007) Antigamente<br />
Acontecia o indivíduo apanhar<br />
constipação; ficando perrengue, mandava<br />
o próprio chamar o doutor e, depois, ir à<br />
botica para aviar a receita, de cápsulas ou<br />
pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />
phtísica, feia era o gálico. Antigamente, os<br />
sobrados tinham assombrações, os<br />
meninos, lombrigas (...)<br />
Carlos Drummond de Andrade. Poesia completa e prosa.<br />
Rio de Janeiro: Companhia José Aguilar, p. 1.184.<br />
O texto acima está escrito em linguagem<br />
de uma época passada. Observe uma<br />
outra versão, em linguagem atual.
Antigamente<br />
Acontecia o indivíduo apanhar um<br />
resfriado; ficando mal, mandava o próprio<br />
chamar o doutor e, depois, ir à farmácia<br />
para aviar a receita, de cápsulas ou<br />
pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />
tuberculose, feia era a sífilis. Antigamente,<br />
os sobrados tinham assombrações, os<br />
meninos, vermes (...)<br />
Comparando-se esses dois textos,<br />
verifica-se que, na segunda versão, houve<br />
mudanças relativas a<br />
A) vocabulário.<br />
B) construções sintáticas.<br />
C) pontuação.<br />
D) fonética.<br />
E) regência verbal.<br />
Comentário<br />
Questão fácil. O aluno deveria comparar<br />
os dois textos e verificar as alterações<br />
realizadas na segunda versão apresentada.<br />
Nesse momento, fica evidente a mudança de<br />
vocabulário, o que indica a alternativa A<br />
como a correta.<br />
53) (2007)<br />
Aqui na floresta<br />
Dos ventos batida,<br />
Façanhas de bravos<br />
Não geram escravos,<br />
Que estimem a vida<br />
Sem guerra e lidar.<br />
— Ouvi-me, Guerreiros,<br />
— Ouvi meu cantar.<br />
O canto do guerreiro<br />
Valente na guerra,<br />
Quem há, como eu sou?<br />
Quem vibra o tacape<br />
Com mais valentia?<br />
Quem golpes daria<br />
Fatais, como eu dou?<br />
— Guerreiros, ouvi-me;<br />
— Quem há, como eu sou?<br />
Gonçalves Dias.<br />
Macunaíma<br />
(Epílogo)<br />
Acabou-se a história e morreu a vitória.<br />
Não havia mais ninguém lá. Dera<br />
tangolomângolo na tribo Tapanhumas e<br />
os filhos dela se acabaram de um em um.<br />
Não havia mais ninguém lá. Aqueles<br />
lugares, aqueles campos, furos<br />
puxadouros arrastadouros meiosbarrancos,<br />
aqueles matos misteriosos,<br />
tudo era solidão do deserto... Um silêncio<br />
imenso dormia à beira do rio Uraricoera.<br />
Nenhum conhecido sobre a terra não<br />
sabia nem falar da tribo nem contar<br />
aqueles casos tão pançudos. Quem podia<br />
saber do Herói?<br />
Mário de Andrade.<br />
A) ambos têm como tema a figura do<br />
indígena brasileiro apresentada de<br />
forma realista e heróica, como símbolo<br />
máximo do nacionalismo romântico.<br />
B) a abordagem da temática adotada no<br />
texto escrito em versos é<br />
discriminatória em relação aos povos<br />
indígenas do Brasil.<br />
C) as perguntas “— Quem há, como eu<br />
sou?” (1.º texto) e “Quem podia saber<br />
do Herói?” (2.º texto) expressam<br />
diferentes visões da realidade indígena<br />
brasileira.<br />
D) o texto romântico, assim como o<br />
modernista, aborda o extermínio dos<br />
povos indígenas como resultado do<br />
processo de colonização no Brasil.<br />
E) os versos em primeira pessoa revelam<br />
que os indígenas podiam expressar-se<br />
poeticamente, mas foram silenciados<br />
pela colonização, como demonstra a<br />
presença do narrador, no segundo<br />
texto.<br />
Comentário<br />
Questão de nível médio. Essa questão<br />
exige conhecimento prévio dos movimentos<br />
literários de cada autor. No primeiro, O canto<br />
do Guerreiro, de Gonçalves Dias, pertence<br />
ao Romantismo. Nesse período, a figura do<br />
índio aparece como protagonista, sempre<br />
idealizado e visto como um perfeito herói. Já<br />
no texto Macunaíma, de Mário de Andrade,<br />
levando em conta a característica do<br />
Modernismo, o índio também é protagonista,<br />
mas, por sua vez, há a predominância de um<br />
nacionalismo crítico e realista. Com base<br />
nessas considerações, consegue-se<br />
chegar à conclusão de que a alternativa C é<br />
a correta. Essa alternativa mostra que, por<br />
trás dos textos, há duas visões diferentes da<br />
realidade indígena brasileira, representadas<br />
pelas características dos dois diferentes<br />
estilos de época.<br />
A leitura comparativa dos dois textos<br />
acima indica que<br />
353
54) (2004)<br />
Finalmente, na letra E, “que” retoma a<br />
questão restritiva ocorrida na alternativa B.<br />
Nesse caso, contudo, refere-se aos “poemas<br />
QUE esperam ser escritos”, ou seja, àqueles<br />
poemas, especificamente.<br />
55) (2001) Nas conversas diárias, utiliza-se<br />
freqüentemente a palavra “próprio” e ela<br />
se ajusta a várias situações. Leia os<br />
exemplos de diálogos:<br />
354<br />
No trecho "Montes Claros cresceu tanto,/<br />
(...),/ que já tem cinco favelas", a palavra<br />
que contribui para estabelecer uma<br />
relação de conseqüência. Dos seguintes<br />
versos, todos de Carlos Drummond de<br />
Andrade, apresentam esse mesmo tipo de<br />
relação:<br />
A) "Meu Deus, por que me abandonaste /<br />
se sabias que eu não era Deus / se<br />
sabias que eu era fraco."<br />
B) "No meio-dia branco de luz uma voz<br />
que aprendeu / a ninar nos longes da<br />
senzala – e nunca se esqueceu /<br />
chamava para o café."<br />
C) "Teus ombros suportam o mundo / e<br />
ele não pesa mais que a mão de uma<br />
criança."<br />
D) "A ausência é um estar em mim. / E<br />
sinto-a, branca, tão pegada,<br />
aconchegada nos meus braços, / que<br />
rio e danço e invento exclamações<br />
alegres."<br />
E) "Penetra surdamente no reino das<br />
palavras. / Lá estão os poemas que<br />
esperam ser escritos."<br />
Comentário<br />
Da mesma forma que no poema do<br />
enunciado, a palavra “que” retoma o sentido<br />
consecutivo na alternativa D, relacionando o<br />
fato de o eu lírico estar tão apegado à<br />
ausência QUE ri e dança, em devaneio,<br />
exaltando a alegria. A idéia remete a um<br />
raciocínio de causa e conseqüência: estar<br />
tão apegado a algo QUE outra coisa ocorre.<br />
Na alternativa A, “que” indica a introdução<br />
de uma oração subordinada objetiva direta,<br />
ou seja, que dá a idéia de um complemento<br />
do verbo SABER.<br />
Na alternativa B, “que” caracteriza a<br />
palavra “voz”, introduzindo uma oração<br />
subordinada adjetiva restritiva: “A voz QUE<br />
aprendeu”.<br />
Na alternativa C, “que” assume um<br />
caráter comparativo (mais que).<br />
I - A Vera se veste diferente!<br />
- É mesmo, é que ela tem um estilo<br />
próprio.<br />
II - A Lena já viu esse filme uma dezena<br />
de vezes! Eu não consigo ver o<br />
que ele tem de tão maravilhoso assim.<br />
- É que ele é próprio para adolescente.<br />
III - Dora, o que eu faço? Ando tão<br />
preocupada com o Fabinho! Meu filho<br />
está impossível!<br />
- Relaxa, Tânia! É próprio da idade.<br />
Com o tempo, ele se acomoda.<br />
Nas ocorrências I, II e III, “próprio” é<br />
sinônimo de, respectivamente,<br />
A) adequado, particular, típico.<br />
B) peculiar, adequado, característico.<br />
C) conveniente, adequado, particular.<br />
D) adequado, exclusivo, conveniente.<br />
E) peculiar, exclusivo, característico.<br />
Comentário<br />
Para responder a essa pergunta,<br />
substitua, nos trechos, a palavra próprio<br />
pelos possíveis equivalentes apresentados<br />
nas alternativas. Questão simples que pode<br />
ser resolvida por eliminação.<br />
Comentário do INEP<br />
Nesta questão são apresentados três<br />
textos em que uma mesma palavra é<br />
utilizada com sentidos diferentes. O problema<br />
consiste em observar a variedade de uso de<br />
um mesmo termo e as possibilidades de sua<br />
compreensão, estabelecendo uma relação<br />
comparativa com base em uma análise<br />
semântica. Cerca de metade (49%) dos<br />
participantes estabeleceu essa relação de<br />
maneira correta. Os participantes que<br />
assinalaram a alternativa D (21%),<br />
possivelmente isolaram o termo do contexto,<br />
gerando um equívoco entre "adequado" e<br />
"exclusivo".
56) (2003) Do pedacinho de papel ao livro<br />
impresso vai uma longa distância. Mas o<br />
que o escritor quer, mesmo, é isso: ver o<br />
seu texto em letra de forma. A gaveta é<br />
ótima para aplacar a fúria criativa; ela faz<br />
amadurecer o texto da mesma forma que<br />
a adega faz amadurecer o vinho. Em<br />
certos casos, a cesta de papel é melhor<br />
ainda.<br />
O período de maturação na gaveta é<br />
necessário, mas não deve se prolongar<br />
muito. ‘Textos guardados acabam<br />
cheirando mal’, disse Silvia Plath, (...) que,<br />
com esta frase, deu testemunho das<br />
dúvidas que atormentam o escritor:<br />
publicar ou não publicar? guardar ou jogar<br />
fora?<br />
(Moacyr Scliar. O escritor e seus desafios.)<br />
Nesse texto, o escritor Moacyr Scliar usa<br />
imagens para refletir sobre uma etapa da<br />
criação literária. A idéia de que o processo<br />
de maturação do texto nem sempre é o<br />
que garante bons resultados está sugerida<br />
na seguinte frase:<br />
A) "A gaveta é ótima para aplacar a fúria<br />
criativa."<br />
B) "Em certos casos, a cesta de papel é<br />
melhor ainda."<br />
C) "O período de maturação na gaveta é<br />
necessário, (...)."<br />
D) "Mas o que o escritor quer, mesmo, é<br />
isso: ver o seu texto em letra de forma."<br />
E) "ela (a gaveta) faz amadurecer o texto<br />
da mesma forma que a adega faz<br />
amadurecer o vinho."<br />
Comentário<br />
Essa questão exigia a interpretação das<br />
frases. A palavra NEM no enunciado exclui<br />
todas as alternativas que tratam do<br />
amadurecimento ou da importância da gaveta<br />
para o bom sucesso da produção literária.<br />
A alternativa B é a única que apresenta um<br />
procedimento alternativo para a produção<br />
textual, ou seja, o lixo, e significa a liberdade do<br />
escritor em começar, interromper, recomeçar<br />
ou simplesmente abandonar a obra, permitindo<br />
a ele exercer seu livre-arbítrio.<br />
57) (2007)<br />
Aqui na floresta<br />
Dos ventos batida,<br />
Façanhas de bravos<br />
Não geram escravos,<br />
Que estimem a vida<br />
Sem guerra e lidar.<br />
— Ouvi-me, Guerreiros,<br />
— Ouvi meu cantar.<br />
O canto do guerreiro<br />
Valente na guerra,<br />
Quem há, como eu sou?<br />
Quem vibra o tacape<br />
Com mais valentia?<br />
Quem golpes daria<br />
Fatais, como eu dou?<br />
— Guerreiros, ouvi-me;<br />
— Quem há, como eu sou?<br />
Gonçalves Dias.<br />
Macunaíma<br />
(Epílogo)<br />
Acabou-se a história e morreu a vitória.<br />
Não havia mais ninguém lá. Dera<br />
tangolomângolo na tribo Tapanhumas e<br />
os filhos dela se acabaram de um em um.<br />
Não havia mais ninguém lá. Aqueles<br />
lugares, aqueles campos, furos<br />
puxadouros arrastadouros meiosbarrancos,<br />
aqueles matos misteriosos,<br />
tudo era solidão do deserto... Um silêncio<br />
imenso dormia à beira do rio Uraricoera.<br />
Nenhum conhecido sobre a terra não<br />
sabia nem falar da tribo nem contar<br />
aqueles casos tão pançudos. Quem podia<br />
saber do Herói?<br />
Mário de Andrade.<br />
Considerando-se a linguagem desses dois<br />
textos, verifica-se que<br />
A) a função da linguagem centrada no<br />
receptor está ausente tanto no primeiro<br />
quanto no segundo texto.<br />
B) a linguagem utilizada no primeiro texto<br />
é coloquial, enquanto, no segundo,<br />
predomina a linguagem formal.<br />
C) há, em cada um dos textos, a<br />
utilização de pelo menos uma palavra<br />
de origem indígena.<br />
D) a função da linguagem, no primeiro<br />
texto, centra-se na forma de<br />
organização da linguagem e, no<br />
segundo, no relato de informações<br />
reais.<br />
E) a função da linguagem centrada na<br />
primeira pessoa, predominante no<br />
segundo texto, está ausente no<br />
primeiro.<br />
Comentário<br />
Questão de nível médio. Essa é uma<br />
questão que foca a linguagem dos textos, e<br />
cada qual em seu gênero (poesia e prosa,<br />
respectivamente). O aluno chega à<br />
conclusão que a alternativa correta é a C por<br />
meio da exclusão das demais alternativas.<br />
A resposta correta não é a A, pois há um<br />
receptor que pode ser percebido nas<br />
seguintes perguntas contidas no texto:<br />
Texto 1 – “Guerreiros, ouvi-me;/Quem há,<br />
como eu sou?”<br />
Texto 2 – “Quem podia saber do herói?”<br />
Também não é a alternativa B, pois o<br />
conteúdo dos textos não é discriminatório. No<br />
primeiro texto, há uma idealização do índio e,<br />
no segundo, há uma realidade crítica e<br />
satírica da sociedade.<br />
A alternativa D é excluída, porque o<br />
segundo texto não fala de uma realidade, já<br />
355
que Macunaíma é um herói fictício e nãoreal.<br />
Por fim, também está errada a alternativa<br />
E. Isso porque não temos no epílogo do texto<br />
de Macunaíma a linguagem centrada na<br />
primeira pessoa, mas sim, na terceira.<br />
58) (2003) Eu começaria dizendo que poesia<br />
é uma questão de linguagem. A<br />
importância do poeta é que ele torna mais<br />
viva a linguagem. Carlos Drummond de<br />
Andrade escreveu um dos mais belos<br />
versos da língua portuguesa com duas<br />
palavras comuns: cão e cheirando.<br />
Um cão cheirando o futuro<br />
(Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP, 24/05/1988.<br />
adaptação)<br />
356<br />
O que deu ao verso de Drummond o<br />
caráter de inovador da língua foi<br />
A) o modo raro como foi tratado o<br />
"futuro".<br />
B) a referência ao cão como "animal de<br />
estimação".<br />
C) a flexão pouco comum do verbo<br />
"cheirar" (gerúndio).<br />
D) a aproximação não usual do agente<br />
citado e a ação de "cheirar".<br />
E) o emprego do artigo indefinido "um" e<br />
do artigo definido "o" na mesma frase.<br />
Comentário<br />
O fato de Drummond identificar o futuro<br />
como algo que pode ser percebido por um<br />
animal irracional por meio do olfato foi<br />
inovador. A figura de linguagem foi<br />
construída metaforicamente: o futuro torna-se<br />
uma coisa que tem cheiro, contrariamente à<br />
imagem pela qual ele normalmente é<br />
representado: como algo que não se vê e<br />
não se pode pressentir ou tocar.<br />
59) (2003) Epígrafe*<br />
Murmúrio de água na clepsidra**<br />
gotejante,<br />
Lentas gotas de som no relógio da torre,<br />
Fio de areia na ampulheta vigilante,<br />
Leve sombra azulando a pedra do<br />
quadrante***<br />
Assim se escoa a hora, assim se vive e<br />
morre...<br />
Homem, que fazes tu? Para que tanta<br />
lida,<br />
Tão doidas ambições, tanto ódio e tanta<br />
ameaça?<br />
Procuremos somente a Beleza, que a vida<br />
É um punhado infantil de areia<br />
ressequida,<br />
Um som de água ou de bronze e uma<br />
sombra que passa...<br />
(Eugênio de Castro. Antologia pessoal da poesia<br />
portuguesa)<br />
(*) Epígrafe: inscrição colocada no ponto<br />
mais alto; tema.<br />
(**) Clepsidra: relógio de água.<br />
(***) Pedra do quadrante: parte superior<br />
de um relógio de sol.<br />
A imagem contida em "lentas gotas de<br />
som" (verso 2) é retomada na segunda<br />
estrofe por meio da expressão:<br />
A) tanta ameaça.<br />
B) som de bronze.<br />
C) punhado de areia.<br />
D) sombra que passa.<br />
E) somente a Beleza.<br />
Comentário<br />
Numa clepsidra (relógio de água), o som<br />
do gotejamento lembra-nos o tic-tac de um<br />
relógio comum ou o som do sino que marca<br />
as horas no “relógio da torre” (verso 2,<br />
estrofe 1).<br />
Na segunda estrofe, o quinto verso<br />
refere-se a “Um som de água ou de<br />
bronze...” e nos remete, pelo “som de<br />
bronze”, ao som do sino que marca as horas<br />
no relógio da torre (os sinos normalmente<br />
eram feitos de bronze).<br />
60) (2002) Só falta o Senado aprovar o<br />
projeto de lei [sobre o uso de termos<br />
estrangeiros no Brasil] para que palavras<br />
como shopping center , delivery e drivethrough<br />
sejam proibidas em nomes de<br />
estabelecimentos e marcas. Engajado<br />
nessa valorosa luta contra o inimigo<br />
ianque, que quer fazer área de livre<br />
comércio com nosso inculto e belo idioma,<br />
venho sugerir algumas outras medidas<br />
que serão de extrema importância para a<br />
preservação da soberania nacional, a<br />
saber:<br />
........<br />
Nenhum cidadão carioca ou gaúcho<br />
poderá dizer "Tu vai" em espaços públicos<br />
do território nacional;<br />
Nenhum cidadão paulista poderá dizer "Eu<br />
lhe amo" e retirar ou acrescentar o plural<br />
em sentenças como "Me vê um chopps e<br />
dois pastel";<br />
..........<br />
Nenhum dono de borracharia poderá<br />
escrever cartaz com a palavra "borraxaria"
e nenhum dono de banca de jornal<br />
anunciará "Vende-se cigarros";<br />
..........<br />
Nenhum livro de gramática obrigará os<br />
alunos a utilizar colocações pronominais<br />
como "casar-me-ei" ou "ver-se-ão".<br />
PIZA, Daniel. Uma proposta imodesta. O Estado de<br />
S. Paulo, São Paulo, 8/04/2001.<br />
No texto acima, o autor:<br />
A) mostra-se favorável ao teor da<br />
proposta por entender que a língua<br />
portuguesa deve ser protegida contra<br />
deturpações de uso.<br />
B) ironiza o projeto de lei ao sugerir<br />
medidas que inibam determinados usos<br />
regionais e socioculturais da língua.<br />
C) denuncia o desconhecimento de regras<br />
elementares de concordância verbal e<br />
nominal pelo falante brasileiro.<br />
D) revela-se preconceituoso em relação a<br />
certos registros lingüísticos ao propor<br />
medidas que os controlem.<br />
E) defende o ensino rigoroso da gramática<br />
para que todos aprendam a empregar<br />
corretamente os pronomes.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. O autor ironiza o<br />
projeto de lei que proíbe o uso de<br />
estrangeirismos no Brasil. Não adianta criarse<br />
uma expectativa ou preocupação em<br />
relação ao uso de termos estrangeiros na<br />
língua e esquecer-se de que a língua é um<br />
organismo vivo, mutável. A dinâmica de uma<br />
língua não pode ser regida por preceitos<br />
legais como quer o projeto.<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão reproduz trechos de um<br />
texto que aborda o polêmico projeto de<br />
proibição de uso de termos estrangeiros no<br />
Brasil. A partir da leitura atenta do texto de<br />
Daniel Piza, o participante é levado a refletir<br />
sobre a postura adotada pelo autor em<br />
relação ao referido projeto. Para<br />
compreender esse texto, o participante<br />
precisa reconhecer o tom irônico que marca<br />
as observações e sugestões feitas por seu<br />
autor. Assim, Daniel Piza, "engajado nessa<br />
valorosa luta contra o inimigo ianque", sugere<br />
a proibição de algumas formas lingüísticas de<br />
uso corrente que contrariam recomendações<br />
da gramática normativa. O participante deve<br />
reconhecer que, com sugestões como essas,<br />
Daniel Piza deixa implícita uma crítica à<br />
utilidade do projeto de proibição dos<br />
estrangeirismos como forma de proteger a<br />
Língua Portuguesa. Nesse contexto, a ironia<br />
torna-se mais clara, bem como o mecanismo<br />
textual que a constrói. Feito tal<br />
reconhecimento, o aluno encontra a resposta<br />
correta na alternativa B, assinalada por cerca<br />
da metade dos participantes. Nenhuma outra<br />
alternativa contempla o aspecto irônico,<br />
essencial para a compreensão do texto.<br />
61) (2003) Epígrafe*<br />
Murmúrio de água na clepsidra**<br />
gotejante,<br />
Lentas gotas de som no relógio da torre,<br />
Fio de areia na ampulheta vigilante,<br />
Leve sombra azulando a pedra do<br />
quadrante***<br />
Assim se escoa a hora, assim se vive e<br />
morre...<br />
Homem, que fazes tu? Para que tanta<br />
lida,<br />
Tão doidas ambições, tanto ódio e tanta<br />
ameaça?<br />
Procuremos somente a Beleza, que a vida<br />
É um punhado infantil de areia<br />
ressequida,<br />
Um som de água ou de bronze e uma<br />
sombra que passa...<br />
(Eugênio de Castro. Antologia pessoal da poesia<br />
portuguesa)<br />
(*) Epígrafe: inscrição colocada no ponto<br />
mais alto; tema.<br />
(**) Clepsidra: relógio de água.<br />
(***) Pedra do quadrante: parte superior<br />
de um relógio de sol.<br />
Neste poema, o que leva o poeta a<br />
questionar determinadas ações humanas<br />
(versos 6 e 7) é a<br />
A) infantilidade do ser humano.<br />
B) destruição da natureza.<br />
C) exaltação da violência.<br />
D) inutilidade do trabalho.<br />
E) brevidade da vida.<br />
Comentário<br />
A resposta desta questão está nos últimos<br />
versos (8 a <strong>10</strong>):<br />
“Procuremos somente a Beleza, que a vida<br />
É um punhado de areia ressequida,<br />
Um som de água ou de bronze e uma sombra<br />
que passa...”<br />
Neles, a vida aparece em relação ao<br />
tempo, que passa de forma rápida: “areia<br />
ressequida” (como nas ampulhetas), “som de<br />
água ou de bronze” (clepsidra ou sino da<br />
torre) e, mais que tudo, “uma sombra que<br />
passa...” (algo tênue e de curta duração).<br />
357
62) (2003) A velha Totonha de quando em<br />
vez batia no engenho. E era um<br />
acontecimento para a meninada. (...)<br />
andava léguas e léguas a pé, de engenho<br />
a engenho, como uma edição viva das<br />
histórias de Mil e Uma Noites (...) era uma<br />
grande artista para dramatizar. Tinha uma<br />
memória de prodígio. Recitava contos<br />
inteiros em versos, intercalando pedaços<br />
de prosa, como notas explicativas. (...)<br />
Havia sempre rei e rainha, nos seus<br />
contos, e forca e adivinhações. O que<br />
fazia a velha Totonha mais curiosa era a<br />
cor local que ela punha nos seus<br />
descritivos. (...) Os rios e as florestas por<br />
onde andavam os seus personagens se<br />
pareciam muito com o Paraíba e a Mata<br />
do Rolo. O seu Barba-Azul era um senhor<br />
de engenho de Pernambuco.<br />
(José Lins do Rego. Menino de engenho)<br />
358<br />
A cor local que a personagem velha<br />
Totonha colocava em suas histórias é<br />
ilustrada, pelo autor, na seguinte<br />
passagem:<br />
A) "O seu Barba-Azul era um senhor de<br />
engenho de Pernambuco".<br />
B) "Havia sempre rei e rainha, nos seus<br />
contos, e forca e adivinhações".<br />
C) "Era uma grande artista para<br />
dramatizar. Tinha uma memória de<br />
prodígio".<br />
D) "Andava léguas e léguas a pé, como<br />
uma edição viva das Mil e Uma Noites".<br />
E) "Recitava contos inteiros em versos,<br />
intercalando pedaços de prosa, como<br />
notas explicativas".<br />
Comentário<br />
Por ser escritor da 2.ª Geração<br />
Modernista, José Lins do Rego ilustra, de<br />
forma evidente, o regionalismo — marca<br />
característica desse momento literário.<br />
Portanto, para localizar a “cor local”<br />
presente no texto, basta procurar a<br />
associação regionalista, que é retratada de<br />
forma explícita pela passagem “senhor de<br />
engenho de Pernambuco.”<br />
A questão não abre espaço para dúvidas.<br />
63) (2003) Pequenos tormentos da vida<br />
De cada lado da sala de aula, pelas janelas<br />
altas, o azul convida os meninos,<br />
as nuvens desenrolam-se, lentas como quem<br />
vai inventando<br />
preguiçosamente uma história sem fim...Sem<br />
fim é a aula: e nada acontece,<br />
nada...Bocejos e moscas. Se ao menos,<br />
pensa Margarida, se ao menos um<br />
avião entrasse por uma janela e saísse por<br />
outra!<br />
(Mário Quintana. Poesias)<br />
Na cena retratada no texto, o sentimento<br />
do tédio<br />
A) provoca que os meninos fiquem<br />
contando histórias.<br />
B) leva os alunos a simularem bocejos,<br />
em protesto contra a monotonia da<br />
aula.<br />
C) acaba estimulando a fantasia,<br />
criando a expectativa de algum<br />
imprevisto mágico.<br />
D) prevalece de modo absoluto,<br />
impedindo até mesmo a distração ou o<br />
exercício do pensamento.<br />
E) decorre da morosidade da aula, em<br />
contraste com o movimento acelerado<br />
das nuvens e das moscas.<br />
Comentário<br />
Essa questão aborda o imaginário<br />
decorrente do marasmo trazido pela escola.<br />
O texto enfatiza o arrastar do tempo na<br />
mente de uma aluna, Margarida, que se põe<br />
a pensar em fatos mágicos ou imaginários<br />
que pudessem romper com a lentidão da<br />
aula.<br />
64) (1998) Amor é fogo que arde sem ver;<br />
é ferida que dói e não se sente;<br />
é um contentamento descontente;<br />
é dor que desatina sem doer.<br />
É um não querer mais que bem querer;<br />
é solitário andar por entre a gente;<br />
é nunca contentar-se de contente;<br />
é cuidar que se ganha em se perder.<br />
É querer estar preso por vontade;<br />
é servir a quem vence, o vencedor;<br />
é ter com quem nos mata lealdade.<br />
Mas como causar pode seu favor<br />
nos corações humanos amizade<br />
se tão contrário a si é o mesmo Amor?<br />
(Luís de Camões. In: Obras Completas de Camões, Lisboa,<br />
Livraria Sá da Costa, Vol. 1, 1954, p.232)<br />
O poema tem, como característica, a<br />
figura de linguagem denominada antítese,<br />
relação de oposição de palavras ou idéias.<br />
Assinale a opção em que essa oposição<br />
se faz claramente presente.<br />
A) "Amor é fogo que arde sem se ver."<br />
B) "É um contentamento descontente."<br />
C) "É servir a quem se vence, o<br />
vencedor."<br />
D) "Mas como causar pode seu favor."<br />
E) "Se tão contrário a si é o mesmo<br />
Amor?"
Comentário<br />
A antítese é uma figura de linguagem que<br />
se caracteriza por colocar, lado a lado,<br />
imagens opostas que se contradizem. De<br />
todas as alternativas, a única que traz<br />
claramente uma contradição é a B, pois<br />
como pode existir um contentamento<br />
descontente?<br />
65) (2000) O autor do texto abaixo critica,<br />
ainda que em linguagem metafórica, a<br />
sociedade contemporânea em relação aos<br />
seus hábitos alimentares.<br />
“Vocês que têm mais de 15 anos, se<br />
lembram quando a gente comprava leite<br />
em garrafa, na leiteria da esquina? (...)<br />
Mas vocês não se lembram de nada,<br />
pô! Vai ver nem sabem o que é vaca. Nem<br />
o que é leite. Estou falando isso porque<br />
agora mesmo peguei um pacote de leite –<br />
leite em pacote, imagina, Tereza! – na<br />
porta dos fundos e estava escrito que é<br />
pasterizado, ou pasteurizado, sei lá, tem<br />
vitamina, é garantido pela<br />
embromatologia, foi enriquecido e o<br />
escambau. Será que isso é mesmo leite?<br />
No dicionário diz que leite é outra coisa:<br />
‘Líquido branco, contendo água,<br />
proteína, açúcar e sais minerais’. Um<br />
alimento pra ninguém botar defeito. O ser<br />
humano o usa há mais de 5.000 anos. É o<br />
único alimento só alimento. A carne serve<br />
pro animal andar, a fruta serve pra fazer<br />
outra fruta, o ovo serve pra fazer outra<br />
galinha (...) O leite é só leite. Ou toma ou<br />
bota fora. Esse aqui examinando bem, é<br />
só pra botar fora. Tem chumbo, tem<br />
benzina, tem mais água do que leite, tem<br />
serragem, sou capaz de jurar que nem<br />
vaca tem por trás desse negócio. Depois o<br />
pessoal ainda acha estranho que os<br />
meninos não gostem de leite.<br />
Mas, como não gostam? Não gostam<br />
como? Nunca tomaram! Múúúúúúú!”<br />
(FERNANDES, Millôr. O Estado de S. Paulo ,<br />
22 de agosto de 1999)<br />
A palavra embromatologia usada pelo<br />
autor é:<br />
A) um termo científico que significa estudo<br />
dos bromatos.<br />
B) uma composição do termo de gíria<br />
“embromação” (enganação) com<br />
bromatologia, que é o estudo dos<br />
alimentos.<br />
C) uma junção do termo de gíria<br />
“embromação” (enganação) com<br />
lactologia, que é o estudo das<br />
embalagens para leite.<br />
D) um neologismo da química orgânica<br />
que significa a técnica de retirar<br />
bromatos dos laticínios.<br />
E) uma corruptela de termo da<br />
agropecuária que significa a ordenha<br />
mecânica.<br />
Comentário<br />
É necessário para a resolução desta<br />
questão:<br />
- perceber que o texto critica o exagerado<br />
uso de substâncias artificiais nos<br />
alimentos;<br />
- conhecer o significado da gíria embromar e<br />
da palavra bromatologia.<br />
Conhecendo esses significados, você<br />
elimina todas as alternativas erradas: a, c, d<br />
e e.<br />
Você poderá ter dúvida quanto à<br />
alternativa c, que também será eliminada se<br />
souber o significado da palavra lactologia,<br />
que é o estudo do leite e produtos lácteos e<br />
não das embalagens para leite.<br />
Nesta questão, são trabalhados os<br />
conceitos de interpretação de texto, formação<br />
de palavras e conhecimentos gerais.<br />
Comentário do INEP<br />
A resolução da questão requeria que o<br />
participante, ao ler o texto vinculasse o<br />
significado de um termo de gíria -<br />
"embromação" - com o da palavra<br />
bromatologia. A resposta correta exigia que o<br />
participante não abrisse mão do sabor<br />
picante contido na linguagem metafórica,<br />
sabor vinculado ao conhecimento específico<br />
contido na palavra bromatologia. Cerca da<br />
metade dos participantes (51%) optou pela<br />
alternativa correta e, os 20% que escolheram<br />
a alternativa C, provavelmente associaram a<br />
referência feita no texto à leite em pacote.<br />
66) (2005) O termo (ou expressão)<br />
destacado que está empregado em seu<br />
sentido próprio, denotativo ocorre em:<br />
A) “(....)<br />
É de laço e de nó<br />
De gibeira o jiló<br />
Dessa vida, cumprida a sol (....)”<br />
(Renato Teixeira. Romaria. Kuarup Discos.<br />
setembro de 1992.)<br />
359
B) “Protegendo os inocentes<br />
é que Deus, sábio demais,<br />
põe cenários diferentes<br />
nas impressões digitais.”<br />
(Maria N. S. Carvalho. Evangelho da Trova. /s.n.b.)<br />
C) “O dicionário-padrão da língua e os<br />
dicionários unilíngües são os tipos mais<br />
comuns de dicionários. Em nossos<br />
dias, eles se tornaram um objeto de<br />
consumo obrigatório para as nações<br />
civilizadas e desenvolvidas.”<br />
(Maria T. Camargo Biderman.<br />
O dicionário-padrão da língua. Alfa (28), 2743, 1974 Supl.)<br />
D)<br />
67) (1998) Amor é fogo que arde sem ver;<br />
é ferida que dói e não se sente;<br />
é um contentamento descontente;<br />
é dor que desatina sem doer.<br />
É um não querer mais que bem querer;<br />
é solitário andar por entre a gente;<br />
é nunca contentar-se de contente;<br />
é cuidar que se ganha em se perder.<br />
É querer estar preso por vontade;<br />
é servir a quem vence, o vencedor;<br />
é ter com quem nos mata lealdade.<br />
Mas como causar pode seu favor<br />
nos corações humanos amizade<br />
se tão contrário a si é o mesmo Amor?<br />
(Luís de Camões. In: Obras Completas de Camões, Lisboa,<br />
Livraria Sá da Costa, Vol. 1, 1954, p.232)<br />
O poema pode ser considerado como um<br />
texto:<br />
A) argumentativo.<br />
B) narrativo.<br />
C) épico.<br />
D) de propaganda.<br />
E) teatral.<br />
360<br />
E) “Humorismo é a arte de fazer cócegas<br />
no raciocínio dos outros. Há duas<br />
espécies de humorismo: o trágico e o<br />
cômico. O trágico é o que não<br />
consegue fazer rir; o cômico é o que é<br />
verdadeiramente trágico para se fazer.”<br />
(Leon Eliachar. www.mercadolivre.com.br.<br />
acessado em julho de 2005.)<br />
Comentário<br />
A definição do dicionário-padrão da língua<br />
utiliza o sentido denotativo da palavra para<br />
explicar o uso de determinado tipo de<br />
dicionário. Em todas as outras alternativas,<br />
as palavras estão sendo empregadas em<br />
sentido metafórico. Na letra A, "cumprida a<br />
sol" pode mostrar o sofrimento e a solidão.<br />
Na alternativa B, "cenários diferentes" são as<br />
diferenças físicas encontradas nas<br />
impressões digitais. Na letra D, "bateria" é o<br />
termo usado para expressar a "energia" do<br />
Menino Maluquinho, que nunca acaba. Por<br />
fim, na alternativa E, "fazer cócegas no<br />
raciocínio" significa expressar graça por meio<br />
de idéias, fazendo com que o cérebro ache<br />
um fato divertido e, por conseguinte, faça<br />
com que a pessoa ria como se sofresse um<br />
ataque de cócegas.<br />
Comentário<br />
Podemos considerar esse texto como<br />
argumentativo, pois ele vai embasando a sua<br />
idéia sobre o que é o amor. O texto narrativo<br />
conta uma história, assim como o épico, que<br />
conta histórias de caráter heróico. Camões,<br />
nesse texto, não está preocupado em fazer<br />
propaganda do amor, mas, sim, em<br />
compreendê-lo. E, para terminar, esse texto<br />
não foi feito para ser encenado em palco<br />
como um texto teatral.<br />
68) (2001) O trecho a seguir é parte do<br />
poema “Mocidade e morte”, do poeta<br />
romântico Castro Alves:<br />
Oh! eu quero viver, beber perfumes<br />
Na flor silvestre, que embalsama os ares;<br />
Ver minh'alma adejar pelo infinito,<br />
Qual branca vela n'amplidão dos mares.<br />
No seio da mulher há tanto aroma...<br />
Nos seus beijos de fogo há tanta vida...<br />
– Árabe errante, vou dormir à tarde<br />
À sombra fresca da palmeira erguida.<br />
Mas uma voz responde-me sombria:<br />
Terás o sono sob a lájea fria.<br />
ALVES, Castro. Os melhores poemas de Castro Alves.<br />
Seleção de Lêdo Ivo. São Paulo: Global, 1983.<br />
Esse poema, como o próprio título sugere,<br />
aborda o inconformismo do poeta com a<br />
antevisão da morte prematura, ainda na<br />
juventude.
A imagem da morte aparece na palavra<br />
A) embalsama. D) dormir.<br />
B) infinito. E) sono.<br />
C) amplidão.<br />
Comentário<br />
No último verso, temos a expressão "sono<br />
sob a lájea fria". Dormir sob uma lájea fria? O<br />
trecho indica sepulcro. Portanto, nesse caso,<br />
sono = morte.<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão apresenta, para a leitura,<br />
uma parte do poema "Mocidade e morte", do<br />
poeta romântico Castro Alves. Nesse trecho,<br />
o poeta aborda o inconformismo com a<br />
antevisão da morte prematura. O problema<br />
apresenta-se sob a forma de identificação de<br />
uma palavra no trecho que represente a idéia<br />
de morte. Na primeira estrofe, há uma<br />
apologia à vida, contrastando com a segunda<br />
estrofe, em que se anuncia a morte, idéia<br />
introduzida pela conjunção mas, um divisor<br />
entre as estrofes. A compreensão dos<br />
elementos intratextuais e formais faz com<br />
que a identificação da imagem ocorra na<br />
segunda estrofe. As palavras indicadas nas<br />
alternativas, descontextualizadas, podem<br />
sugerir a idéia de morte como interpretação,<br />
mas não se sustentam na representação do<br />
poema. A leitura global do texto, seguida por<br />
uma compreensão das relações entre as<br />
imagens propostas, é a chave para a<br />
resposta correta, assinalada por 62% dos<br />
participantes.<br />
B)<br />
C)<br />
D)<br />
E)<br />
69) (2008) Os signos visuais, como meios de<br />
comunicação, são classificados em<br />
categorias de acordo com seus<br />
significados.<br />
A categoria denominada indício<br />
corresponde aos signos visuais que têm<br />
origem em formas ou situações naturais<br />
ou casuais, as quais, devido à ocorrência<br />
em circunstâncias idênticas, muitas vezes<br />
repetidas, indicam algo e adquirem<br />
significado. Por exemplo, nuvens negras<br />
indicam tempestade. Com base nesse<br />
conceito, escolha a opção que representa<br />
um signo da categoria dos indícios.<br />
A)<br />
Comentário<br />
Trata-se de uma questão interpretativa. O<br />
aluno precisa entender o que é “indício” para<br />
respondê-la. Segundo o dicionário Aurélio,<br />
indício é o mesmo que “sinal, vestígio,<br />
indicação”. Das figuras apresentadas,<br />
apenas a alternativa B indica algo: a<br />
passagem de alguém por algum lugar —<br />
pegada.<br />
70) (1999)<br />
361
Diante da visão de um prédio com uma<br />
placa indicando SAPATARIA PAPALIA,<br />
um jovem deparou com a dúvida: como<br />
pronunciar a palavra PAPALIA?<br />
Levado o problema à sala de aula, a<br />
discussão girou em torno da utilidade de<br />
conhecer as regras de acentuação e,<br />
especialmente, do auxílio que elas podem<br />
dar à correta pronúncia de palavras.<br />
Após discutirem pronúncia, regras de<br />
acentuação e escrita, três alunos<br />
apresentaram as seguintes conclusões a<br />
respeito da palavra PAPALIA:<br />
I. Se a sílaba tônica for o segundo PA, a<br />
escrita deveria ser PAPÁLIA, pois a<br />
palavra seria paroxítona terminada em<br />
ditongo crescente.<br />
II. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />
deveria ser PAPALÍA, pois "i" e "a"<br />
estariam formando hiato.<br />
III. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />
deveria ser PAPALIA, pois não haveria<br />
razão para o uso de acento gráfico.<br />
Comentário do INEP<br />
Dentre os participantes, somente pouco<br />
mais de um terço (35%) demonstrou possuir<br />
a habilidade para identificar as regras de<br />
acentuação corretas, enunciadas na questão.<br />
Chama a atenção o fato de que 73% dos<br />
participantes (alternativas A, D e E)<br />
reconheceram corretamente, pelo menos, a<br />
regra contida no item I, sendo que cerca de<br />
40% desses, contudo, tiveram dificuldades<br />
em analisar as regras II e III.<br />
Em se tratando de palavra não-usual, é,<br />
sobretudo, o domínio do conhecimento das<br />
regras e não a possível pronúncia correta,<br />
pelo uso, o que parece ter sido revelado.<br />
71) (2008)<br />
A conclusão está correta apenas em:<br />
A) III D) I<br />
B) I e II E) II<br />
C) I e III<br />
Comentário<br />
Essa questão exige bom conhecimento<br />
das regras de acentuação. A alternativa A diz<br />
que apenas a afirmação I é verdadeira. De<br />
fato ela é, mas não é a única. Nela, temos a<br />
hipótese de a palavra ser grafada como se a<br />
sílaba forte fosse a penúltima — papália —,<br />
justificando seu acento gráfico. Vejamos o<br />
que dizem as regras de acentuação.<br />
Acentuam-se as palavras paroxítonas<br />
terminadas em: i, is, us, um, uns, l, n, r, x,<br />
ps, ã, ãs, ão, ãos, ditongos orais,<br />
crescentes ou decrescentes, seguidos ou<br />
não de S. Isso valida, portanto, a afirmação I.<br />
A afirmação II pressupõe que a sílaba<br />
tônica seja LI, em hiato com A: no caso de<br />
essa ser a tonicidade da palavra, a sílaba LI<br />
não poderia ser acentuada, pois I, mesmo<br />
sendo a tônica do hiato, não é a última vogal,<br />
portanto, essa afirmativa é falsa.<br />
A afirmação III considera que a sílaba<br />
tônica é LI, não havendo acento por ser o I a<br />
primeira vogal do hiato. Portanto, essa<br />
afirmação é verdadeira.<br />
Concluindo, temos como verdadeiras as<br />
afirmações I e III. Então, a alternativa E é a<br />
correta. Questão de nível difícil.<br />
Exame, 28/9/2007.<br />
Entre os seguintes ditos populares, qual<br />
deles melhor corresponde à figura<br />
acima?<br />
A) Com perseverança, tudo se alcança.<br />
B) Cada macaco no seu galho.<br />
C) Nem tudo que balança cai.<br />
D) Quem tudo quer, tudo perde.<br />
E) Deus ajuda quem cedo madruga.<br />
Comentário<br />
Assim como a questão 37, esta também<br />
envolve interpretação de signos, ou seja, o<br />
aluno precisa estar atento à imagem e<br />
relacioná-la ao dito popular correspondente.<br />
A alternativa "A" é a correta, pois, para<br />
uma lesma “grudenta” e vagarosa conseguir<br />
pular numa cama elástica, é necessária<br />
muita perseverança.<br />
72) (1999) Leia o que disse João Cabral de<br />
Melo Neto, poeta pernambucano, sobre a<br />
função de seus textos:<br />
"Falo somente com o que falo: a<br />
linguagem enxuta, contato denso; falo<br />
somente do que falo: a vida seca, áspera<br />
e clara do sertão; falo somente por quem<br />
falo: o homem sertanejo sobrevivendo na<br />
362
adversidade e na míngua. Falo somente<br />
para quem falo: para os que precisam ser<br />
alertados para a situação da miséria no<br />
Nordeste."<br />
Para João Cabral de Melo Neto, no texto<br />
literário:<br />
A) a linguagem do texto deve refletir o<br />
tema, e a fala do autor deve denunciar<br />
o fato social para determinados<br />
leitores.<br />
B) a linguagem do texto não deve ter<br />
relação com o tema, e o autor deve ser<br />
imparcial para que seu texto seja lido.<br />
C) o escritor deve saber separar a<br />
linguagem do tema e a perspectiva<br />
pessoal da perspectiva do leitor.<br />
D) a linguagem pode ser separada do<br />
tema, e o escritor deve ser o delator do<br />
fato social para todos os leitores.<br />
E) a linguagem está além do tema, e o<br />
fato social deve ser a proposta do<br />
escritor para convencer o leitor.<br />
Comentário<br />
João Cabral mostrou, no comentário, que<br />
seus textos são transparentes na relação<br />
linguagem—tema. Ele não gosta de usar<br />
subterfúgios para passar sua mensagem<br />
("Falo somente com o que falo"), de desviarse<br />
do tema para assuntos que geralmente<br />
não fazem parte de seu interesse ("falo<br />
somente do que falo"), de fazer de si mesmo<br />
ou de seus personagens porta-vozes de<br />
outras pessoas ou classes sociais ("falo<br />
somente por quem falo") ou de dirigir-se a<br />
públicos que pouco proveito poderiam tirar de<br />
seus escritos ("falo somente para quem<br />
falo"). Essa ligação direta de tema e<br />
linguagem, somada à proposta de falar<br />
somente para quem se deve ou quer falar,<br />
justifica a resposta, sendo correta a<br />
alternativa A. Questão de nível médio.<br />
Comentário do INEP<br />
Para resolver essa questão, o participante<br />
deveria ser capaz de estabelecer a relação<br />
entre a linguagem, o tema e o interlocutor da<br />
escrita do autor, a partir das razões<br />
explicitadas no seu texto. Essas razões<br />
foram corretamente identificadas por mais da<br />
metade dos participantes.<br />
73) (2001) No trecho abaixo, o narrador, ao<br />
descrever a personagem, critica<br />
sutilmente um outro estilo de época: o<br />
romantismo.<br />
“Naquele tempo contava apenas uns<br />
quinze ou dezesseis anos; era talvez a<br />
mais atrevida criatura da nossa raça, e,<br />
com certeza, a mais voluntariosa. Não<br />
digo que já lhe coubesse a primazia da<br />
beleza, entre as mocinhas do tempo,<br />
porque isto não é romance, em que o<br />
autor sobredoura a realidade e fecha os<br />
olhos às sardas e espinhas; mas também<br />
não digo que lhe maculasse o rosto<br />
nenhuma sarda ou espinha, não. Era<br />
bonita, fresca, saía das mãos da natureza,<br />
cheia daquele feitiço, precário e eterno,<br />
que o indivíduo passa a outro indivíduo,<br />
para os fins secretos da criação.”<br />
ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de<br />
Brás Cubas. Rio de Janeiro: Jackson,1957.<br />
A frase do texto em que se percebe a<br />
crítica do narrador ao romantismo está<br />
transcrita na alternativa:<br />
A) ... o autor sobredoura a realidade e<br />
fecha os olhos às sardas e espinhas ...<br />
B) ... era talvez a mais atrevida criatura da<br />
nossa raça ...<br />
C) Era bonita, fresca, saía das mãos da<br />
natureza, cheia daquele feitiço,<br />
precário e eterno, ...<br />
D) Naquele tempo contava apenas uns<br />
quinze ou dezesseis anos ...<br />
E) ... o indivíduo passa a outro indivíduo,<br />
para os fins secretos da criação.<br />
Comentário<br />
Questão muito fácil que pode ser<br />
respondida com a simples leitura do texto.<br />
Machado de Assis critica a supervalorização<br />
e idealização das personagens do<br />
Romantismo. Tal crítica fica clara na<br />
alternativa A.<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão apresenta para leitura e<br />
análise um trecho de Memórias de Brás<br />
Cubas, de Machado de Assis. Nesse texto, o<br />
narrador realiza um comentário sobre o<br />
"romance romântico", criticando uma de suas<br />
características. O problema proposto trata<br />
da identificação dessa passagem no texto. O<br />
participante deve reconhecer no texto as<br />
características do "romance romântico" e<br />
associá-la à crítica do narrador. As<br />
alternativas propõem passagens que podem<br />
ser associadas ao romantismo em contexto<br />
extratextual, sendo que, em apenas uma<br />
363
delas, há a relação entre contexto/texto. Mais<br />
da metade (54%) dos participantes identificou<br />
corretamente a passagem no texto.<br />
74) (2000) Em muitos jornais, encontramos<br />
charges, quadrinhos, ilustrações,<br />
inspirados nos fatos noticiados. Veja um<br />
exemplo:<br />
364<br />
Jornal do Commercio , 22/8/93<br />
O texto que se refere a uma situação<br />
semelhante à que inspirou a charge é:<br />
A) Descansem o meu leito solitário<br />
Na floresta dos homens esquecida,<br />
À sombra de uma cruz, e escrevam nela<br />
– Foi poeta – sonhou – e amou na vida.<br />
(AZEVEDO, Álvares de . Poesias escolhidas . Rio de<br />
Janeiro/Brasília: José Aguilar/INL,1971)<br />
B) Essa cova em que estás<br />
Com palmos medida,<br />
é a conta menor<br />
que tiraste em vida.<br />
É de bom tamanho,<br />
Nem largo nem fundo,<br />
É a parte que te cabe<br />
deste latifúndio.<br />
(MELO NETO, João Cabral de. Morte e Vida Severina e<br />
outros poemas em voz alta . Rio de Janeiro: Sabiá, 1967)<br />
C) Medir é a medida<br />
mede<br />
A terra, medo do homem, a lavra;<br />
lavra<br />
duro campo, muito cerco, vária várzea.<br />
(CHAMIE, Mário. Sábado na hora da escutas. São<br />
Paulo: Summums, 1978)<br />
D) Vou contar para vocês<br />
um caso que sucedeu<br />
na Paraíba do Norte<br />
com um homem que se chamava<br />
Pedro João Boa-Morte,<br />
lavrador de Chapadinha:<br />
talvez tenha morte boa<br />
porque vida ele não tinha.<br />
(GULLAR, Ferreira. Toda poesia . Rio de Janeiro:<br />
Civilização Brasileira, 1983)<br />
E) Trago-te flores, – restos arrancados<br />
Da terra que nos viu passar<br />
E ora mortos nos deixa e separados.<br />
(ASSIS, Machado de. Obra completa . Rio de Janeiro:<br />
Nova Aguillar, 1986)<br />
Comentário<br />
Esta questão exige boa dose de reflexão.<br />
Antes de tudo, há que se notar que o título<br />
"Demarcação das terras indígenas" está<br />
ligado ironicamente à figura das covas<br />
comuns, anônimas (covas são as terras dos<br />
índios?). Procuramos, então, o trecho de<br />
poema que sirva como legenda à figura<br />
apresentada, mantendo também a ironia da<br />
relação. As alternativas a e e se descartam<br />
pelo lirismo romântico presente e, ainda<br />
mais, pela presença, na a, de elementos que<br />
não estão no universo conceitual indígena<br />
(cruz, poeta). A alternativa c não nos serve<br />
por estar tratando da dureza do trabalho com<br />
a terra, o que não é o tema da charge. Já a d<br />
não é adequada por estar introduzindo a<br />
discussão de fatos ocorridos na vida de um<br />
único homem, provavelmente não-índio (até<br />
pelo nome João Boa-Morte). Fica-nos a<br />
alternativa b, que bem poderia servir de<br />
legenda à charge; se pensarmos nos<br />
sangrentos conflitos entre brancos e índios<br />
pela ocupação das terras indígenas<br />
demarcadas, nos quais os índios geralmente<br />
levam a pior, então nos servem bem os<br />
versos que apresenta.<br />
Comentário do INEP<br />
O alto índice de acerto (72 %) revelou a<br />
capacidade dos participantes de não só<br />
contextualizar o problema em foco mas<br />
também de estabelecer relações de sentido<br />
entre diferentes linguagens, ou seja, de lidar<br />
com a intertextualidade. As relações<br />
incorretas que foram estabelecidas,<br />
possivelmente, são devidas mais à falta de<br />
capacidade de contextualização do que de<br />
estabelecimento de relações temáticas.<br />
75) (2002) A leitura do poema Descrição da<br />
guerra em Guernica traz à lembrança o<br />
famoso quadro de Picasso.<br />
Entra pela janela<br />
o anjo camponês;<br />
com a terceira luz na mão;<br />
minucioso, habituado<br />
aos interiores de cereal,<br />
aos utensílios que dormem na fuligem;<br />
os seus olhos rurais<br />
não compreendem bem os símbolos<br />
desta colheita: hélices,<br />
motores furiosos;<br />
e estende mais o braço; planta<br />
no ar, como uma árvore<br />
a chama do candeeiro.<br />
(...)<br />
Carlos de Oliveira in ANDRADE, Eugénio. Antologia<br />
Pessoal da Poesia Portuguesa. Porto: Campo das<br />
Letras, 1999.
Uma análise cuidadosa do quadro permite<br />
que se identifiquem as cenas referidas<br />
nos trechos do poema.<br />
Podem ser relacionadas ao texto lido as<br />
partes:<br />
A) a1, a2, a3 D) c1, c2, c3<br />
B) f1, e1, d1 E) e1, e2, e3<br />
C) e1, d1, c1<br />
Comentário<br />
Questão de nível médio. O que precisava<br />
ser feito era encontrar figuras do poema<br />
dentro do quadro. O que se descreve nos<br />
versos 1 e 2 (o anjo camponês que entra<br />
pela janela) está no quadrante e1 (ver a<br />
janela). Nos três últimos versos, há mais<br />
duas imagens: estende mais o braço — d1;<br />
chama do candeeiro — c1.<br />
Comentário do INEP<br />
O trecho do poema "Descrição da guerra<br />
em Guernica", transcrito na prova, cria para o<br />
participante uma interessante relação<br />
intertextual: o poeta Carlos de Oliveira<br />
propõe uma leitura interpretativa do<br />
conhecido quadro de Pablo Picasso. Além do<br />
poema, o quadro de Picasso foi também<br />
reproduzido na questão, de modo a permitir<br />
que o aluno tivesse condições de "ler" essa<br />
obra de arte e nela reconhecer as referências<br />
criadas pelo texto de Carlos de Oliveira. Os<br />
primeiros versos do poema fazem referência<br />
à entrada de um "anjo camponês" pela<br />
janela. No quadro, essa imagem pode ser<br />
identificada no quadro e1. Mais adiante, os<br />
versos aludem a um braço estendido que<br />
"planta/ no ar.../ a chama do candeeiro". Para<br />
compreender a metáfora criada, o<br />
participante deveria perceber, em primeiro<br />
lugar, que o braço estendido seria do anjo<br />
camponês, identificado no quadro e1. Esse<br />
reconhecimento daria a chave de resposta da<br />
questão, porque permitiria que a imagem da<br />
entrada do anjo com o braço estendido<br />
portando um candeeiro fosse associada aos<br />
quadros e1, d1, c1 , contidos na alternativa<br />
C, assinalada por cerca de metade dos<br />
participantes.<br />
76) (2008) São Paulo vai se recensear. O<br />
governo quer saber quantas pessoas<br />
governa. A indagação atingirá a fauna e a<br />
flora domesticadas. Bois, mulheres e<br />
algodoeiros serão reduzidos a números e<br />
invertidos em estatísticas. O homem do<br />
censo entrará pelos bangalôs, pelas<br />
pensões, pelas casas de barro e de<br />
cimento armado, pelo sobradinho e pelo<br />
apartamento, pelo cortiço e pelo hotel,<br />
perguntando:<br />
— Quantos são aqui?<br />
Pergunta triste, de resto. Um homem dirá:<br />
— Aqui havia mulheres e criancinhas.<br />
Agora, felizmente, só há pulgas e ratos.<br />
E outro:<br />
— Amigo, tenho aqui esta mulher, este<br />
papagaio, esta sogra e algumas baratas.<br />
Tome nota dos seus nomes, se quiser.<br />
Querendo levar todos, é favor... (...)<br />
E outro:<br />
— Dois, cidadão, somos dois.<br />
Naturalmente o sr. não a vê. Mas ela está<br />
aqui, está, está! A sua saudade jamais<br />
sairá de meu quarto e de meu peito!<br />
Rubem Braga. Para gostar de ler. v. 3.<br />
São Paulo: Ática, 1998, p. 32-3 (fragmento).<br />
O fragmento acima, em que há referência<br />
a um fato sócio-histórico — o<br />
recenseamento —, apresenta<br />
característica marcante do gênero crônica<br />
ao<br />
A) expressar o tema de forma abstrata,<br />
evocando imagens e buscando<br />
apresentar a idéia de uma coisa por<br />
meio de outra.<br />
B) manter-se fiel aos acontecimentos,<br />
retratando os personagens em um só<br />
tempo e um só espaço.<br />
C) contar história centrada na solução de<br />
um enigma, construindo os<br />
personagens psicologicamente e<br />
revelando-os pouco a pouco.<br />
D) evocar, de maneira satírica, a vida na<br />
cidade, visando transmitir<br />
ensinamentos práticos do cotidiano,<br />
para manter as pessoas informadas.<br />
E) valer-se de tema do cotidiano como<br />
ponto de partida para a construção de<br />
texto que recebe tratamento estético.<br />
Comentário<br />
A questão correta é a E, pois a crônica<br />
utiliza a linguagem estética ou poética para<br />
expor temas do cotidiano. Há uma<br />
preocupação com a escolha das palavras<br />
que são rebuscadas e ritmadas, ou seja, a<br />
função da linguagem é poética.<br />
365
77) (1999) Quem não passou pela<br />
experiência de estar lendo um texto e<br />
defrontar-se com passagens já lidas em<br />
outros? Os textos conversam entre si em<br />
um diálogo constante. Esse fenômeno tem<br />
a denominação de intertextualidade. Leia<br />
os seguintes textos:<br />
I. Quando nasci, um anjo torto<br />
Desses que vivem na sombra<br />
Disse: Vai Carlos! Ser "gauche" na vida<br />
(Andrade, Carlos Drummond de. Alguma poesia. Rio de<br />
Janeiro: Aguilar, 1964)<br />
II. Quando nasci veio um anjo safado<br />
O chato dum querubim<br />
E decretou que eu tava predestinado<br />
A ser errado assim<br />
Já de saída a minha estrada entortou<br />
Mas vou até o fim.<br />
(BUARQUE, Chico. Letra e Música. São Paulo: Cia.<br />
das Letras, 1989)<br />
III. Quando nasci um anjo esbelto<br />
Desses que tocam trombeta, anunciou:<br />
Vai carregar bandeira.<br />
Carga muito pesada pra mulher<br />
Esta espécie ainda envergonhada<br />
(PRADO, Adélia. Bagagem. Rio de Janeiro:<br />
Guanabara, 1986)<br />
Adélia Prado e Chico Buarque<br />
estabelecem intertextualidade, em relação<br />
a Carlos Drummond de Andrade, por:<br />
A) reiteração de imagens.<br />
B) oposição de idéias.<br />
C) falta de criatividade.<br />
D) negação dos versos.<br />
E) ausência de recursos.<br />
Comentário<br />
Outra questão com resposta evidente. A<br />
recorrência à imagem do "anjo anunciador" e<br />
dos caminhos que se tornam sempre difíceis<br />
e tortuosos (gauche = acanhado, inepto),<br />
feita pelos três autores, elimina qualquer<br />
sombra de dúvida em relação às outras<br />
respostas. Questão de nível fácil.<br />
Comentário do INEP<br />
Para a resolução desse problema, era<br />
requerido que o participante soubesse<br />
identificar os elementos de intertextualidade<br />
entre três trechos de textos de diferentes<br />
autores.<br />
As duas primeiras alternativas,<br />
amplamente majoritárias, revelam<br />
possivelmente duas distintas percepções da<br />
questão. A alternativa correta A foi escolhida<br />
pelos que perceberam a ostensiva reiteração<br />
de imagens (repetição da imagem do anjo<br />
que vaticina). A alternativa B, incorreta, pode<br />
ter atraído muitos participantes à medida que<br />
tenham, talvez, identificado uma oposição de<br />
idéias, não entre os textos, mas entre a<br />
imagem usualmente positiva de anjo e uma<br />
certa adjetivação pejorativa utilizada em<br />
relação aos mesmos.<br />
78) (2002) A crônica muitas vezes constitui<br />
um espaço para reflexão sobre aspectos<br />
da sociedade em que vivemos.<br />
"Eu, na rua, com pressa, e o menino<br />
segurou no meu braço, falou qualquer<br />
coisa que não entendi. Fui logo dizendo<br />
que não tinha, certa de que ele estava<br />
pedindo dinheiro. Não estava. Queria<br />
saber a hora.<br />
Talvez não fosse um Menino De<br />
Família, mas também não era um Menino<br />
De Rua. É assim que a gente divide.<br />
Menino De Família é aquele bem-vestido<br />
com tênis da moda e camiseta de marca,<br />
que usa relógio e a mãe dá outro se o<br />
dele for roubado por um Menino De Rua.<br />
Menino De Rua é aquele que quando a<br />
gente passa perto segura a bolsa com<br />
força porque pensa que ele é pivete,<br />
trombadinha, ladrão. (...) Na verdade não<br />
existem meninos De rua.<br />
Existem meninos NA rua. E toda vez<br />
que um menino está NA rua é porque<br />
alguém o botou lá. Os meninos não vão<br />
sozinhos aos lugares. Assim como são<br />
postos no mundo, durante muitos anos<br />
também são postos onde quer que<br />
estejam. Resta ver quem os põe na rua. E<br />
por quê."<br />
COLASSANTI, Marina. In: Eu sei, mas não devia. Rio de<br />
Janeiro: Rocco, 1999.<br />
No terceiro parágrafo em "... não existem<br />
meninos De rua. Existem meninos NA<br />
rua.", a troca de De pelo Na determina<br />
que a relação de sentido entre "menino" e<br />
"rua" seja<br />
A) de localização e não de qualidade.<br />
B) de origem e não de posse.<br />
C) de origem e não de localização.<br />
D) de qualidade e não de origem.<br />
E) de posse e não de localização.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Apesar de não<br />
haver um terceiro parágrafo neste texto, a<br />
troca das preposições ao final do SEGUNDO<br />
parágrafo indica claramente que não há um<br />
menino DE (proveniente de) rua, mas um<br />
menino que está NA (foi levado à) rua.<br />
366
Portanto, a relação é unicamente de<br />
localização (onde ele está) e não de<br />
qualidade (o que ele é).<br />
Comentário do INEP<br />
A reprodução de um trecho de uma<br />
crônica de Marina Colassanti tematiza uma<br />
importante questão social brasileira: a<br />
presença de milhões de crianças nas ruas do<br />
País. A autora, ao tratar desse problema,<br />
vale-se de recursos lingüísticos específicos.<br />
O objetivo desta questão é justamente<br />
chamar a atenção do participante leitor para<br />
esses recursos e os efeitos de sentido que<br />
eles desencadeiam no texto. Na raiz da<br />
questão destaca-se a troca de "De" por "NA"<br />
e pede-se que se determine qual relação de<br />
sentido essa substituição estabelece entre os<br />
termos "menino" e "rua". Analisar a relação,<br />
nesse caso, significa perguntar-se sobre o<br />
sentido de dois sintagmas criados no texto:<br />
"meninos NA rua" por oposição a "meninos<br />
De rua". O que a autora pretende negar, com<br />
a troca do termo de relação, é a possibilidade<br />
de que existam meninos de rua diferentes de<br />
outros meninos, que não têm na rua a sua<br />
origem. O destaque para a preposição na<br />
nos leva a refletir que a relação dos meninos<br />
com a rua é de localização: eles estão ali por<br />
alguma razão, não porque essa seja a sua<br />
qualificação. Essa reflexão levaria o aluno a<br />
escolher, como correta, a resposta<br />
apresentada na alternativa A, assinalada por<br />
cerca de metade dos participantes.<br />
79) (2005) Leia estes textos.<br />
Texto 1<br />
Texto 2<br />
Sonhar<br />
Mais um sonho impossível<br />
Lutar<br />
Quando é fácil ceder<br />
Vencer o inimigo invencível<br />
Negar quando a regra é vender<br />
Sofrer a tortura implacável<br />
Romper a incabível prisão<br />
Voar num limite improvável<br />
Tocar o inacessível chão<br />
É minha lei, é minha questão<br />
Virar esse mundo<br />
Cravar esse chão<br />
Não me importa saber<br />
Se é terrível demais<br />
Quantas guerras terei que vencer<br />
Por um pouco de paz<br />
E amanhã se esse chão que eu beijei<br />
For meu leito e perdão<br />
Vou saber que valeu delirar<br />
E morrer de paixão<br />
E assim, seja lá como for<br />
Vai ter fim a infinita aflição<br />
E o mundo vai ver uma flor<br />
Brotar do impossível chão.<br />
(J. Darione – M. Leigh – Versão de Chico Buarque de<br />
Hollanda e Ruy Guerra, 1972.)<br />
A tirinha e a canção apresentam uma<br />
reflexão sobre o futuro da humanidade. É<br />
correto concluir que os dois textos<br />
A) afirmam que o homem é capaz de<br />
alcançar a paz.<br />
B) concordam que o desarmamento é<br />
inatingível.<br />
C) julgam que o sonho é um desafio<br />
invencível.<br />
D) têm visões diferentes sobre um<br />
possível mundo melhor.<br />
E) transmitem uma mensagem de<br />
otimismo sobre a paz.<br />
Comentário<br />
Enquanto o primeiro texto é ácido em<br />
relação à possibilidade de desarmamento da<br />
população (ou seja, à criação de uma<br />
sociedade mais pacífica), o segundo mostra<br />
a capacidade que a humanidade tem de crer<br />
e, por isso, tentar fazer até o que a princípio<br />
parece impossível. Para os autores da<br />
canção, nada é intrinsecamente impossível.<br />
A relação entre eles é de oposição:<br />
descrença x crença. Questão de nível de<br />
dificuldade médio.<br />
80) (2000) O uso do pronome átono no início<br />
das frases é destacado por um poeta e<br />
por um gramático nos textos abaixo.<br />
Pronominais<br />
Dê-me um cigarro<br />
Diz a gramática<br />
Do professor e do aluno<br />
E do mulato sabido<br />
Mas o bom negro e o bom branco<br />
da Nação Brasileira<br />
Dizem todos os dias<br />
Deixa disso camarada<br />
Me dá um cigarro<br />
(ANDRADE, Oswald de. Seleção de textos.<br />
São Paulo: Nova Cultural, 1988)<br />
367
368<br />
“Iniciar a frase com pronome átono só<br />
é lícito na conversação familiar,<br />
despreocupada, ou na língua escrita<br />
quando se deseja reproduzir a fala dos<br />
personagens (...).”<br />
(CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da<br />
língua portuguesa.<br />
São Paulo: Nacional, 1980)<br />
Comparando a explicação dada pelos<br />
autores sobre essa regra, pode-se afirmar<br />
que ambos:<br />
A) condenam essa regra gramatical.<br />
B) acreditam que apenas os esclarecidos<br />
sabem essa regra.<br />
C) criticam a presença de regras na<br />
gramática.<br />
D) afirmam que não há regras para uso de<br />
pronomes.<br />
E) relativizam essa regra gramatical.<br />
Comentário<br />
Questão que requer conhecimento básico<br />
de colocação pronominal, em relação ao uso<br />
de pronomes átonos no início de frases, uma<br />
regra muito pouco respeitada pelo brasileiro,<br />
da qual Oswald de Andrade faz questão de<br />
falar em seu poema. Porém, a questão pode<br />
ser resolvida simplesmente por meio de uma<br />
leitura bem atenta dos textos. Se formos<br />
analisando alternativa por alternativa, a<br />
eliminação é clara e lógica: a alternativa a<br />
fica totalmente descartada devido à<br />
transparência da colocação dos dois autores<br />
(Me dá um cigarro...) e (iniciar frases com o<br />
pronome átono é "lícito" na conversação<br />
familiar ou despreocupada). Já a alternativa b<br />
pode até mesmo gerar um pouco de dúvida a<br />
quem não se atém bem à pergunta. Quanto<br />
às alternativas c e d, ficam descartadas, pois,<br />
em momento nenhum, os autores criticaram<br />
o uso de regras gramaticais em seus textos,<br />
cabendo perfeitamente a alternativa e para<br />
as afirmações do gramático e do poeta.<br />
Comentário do INEP<br />
Essa questão pretendia verificar como o<br />
participante analisa um fato lingüístico,<br />
mediante a comparação da descrição desse<br />
fato em dois textos. Sabe-se que,<br />
normalmente em situação escolar, o uso do<br />
pronome átono no início da frase é julgado<br />
como grave desvio gramatical, e pouco se<br />
analisa esse uso na fala ou escrita informal.<br />
Os dois autores dos textos, com intenções<br />
diferentes, relativizam essa regra gramatical,<br />
destacando e descrevendo o seu uso<br />
coloquial. A maioria dos participantes (52%)<br />
analisou e comparou corretamente as<br />
posições dos autores sobre o uso do<br />
pronome átono, e 24% deles reafirmaram a<br />
posição discriminatória da regra, deslocandoa<br />
de seu uso.<br />
81) (2005) Leia estes poemas.<br />
Texto 1 - Auto-retrato<br />
Provinciano que nunca soube<br />
Escolher bem uma gravata;<br />
Pernambucano a quem repugna<br />
A faca do pernambucano;<br />
Poeta ruim que na arte da prosa<br />
Envelheceu na infância da arte,<br />
E até mesmo escrevendo crônicas<br />
Ficou cronista de província;<br />
Arquiteto falhado, músico<br />
Falhado (engoliu um dia<br />
Um piano, mas o teclado<br />
Ficou de fora); sem família,<br />
Religião ou filosofia;<br />
Mal tendo a inquietação de espírito<br />
Que vem do sobrenatural,<br />
E em matéria de profissão<br />
Um tísico* profissional.<br />
(Manuel Bandeira. Poesia completa e prosa. Rio de<br />
Janeiro: Aguilar, 1983. p. 395.)<br />
Texto 2 - Poema de sete faces<br />
Quando eu nasci, um anjo torto<br />
desses que vivem na sombra<br />
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.<br />
As casas espiam os homens<br />
que correm atrás de mulheres.<br />
A tarde talvez fosse azul,<br />
não houvesse tantos desejos.<br />
(....)<br />
Meu Deus, por que me abandonaste<br />
se sabias que eu não era Deus<br />
se sabias que eu era fraco.<br />
Mundo mundo vasto mundo,<br />
se eu me chamasse Raimundo<br />
seria uma rima, não seria uma solução.<br />
Mundo mundo vasto mundo<br />
mais vasto é o meu coração.<br />
(Carlos Drummond de Andrade.<br />
Obra completa. Rio de Janeiro:<br />
Aguilar, 1964. p. 53.)<br />
(*) tísico=tuberculoso<br />
Esses poemas têm em comum o fato de<br />
A) descreverem aspectos físicos dos<br />
próprios autores.<br />
B) refletirem um sentimento pessimista.<br />
C) terem a doença como tema.<br />
D) narrarem a vida dos autores desde o<br />
nascimento.<br />
E) defenderem crenças religiosas.
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Tanto o poema de<br />
Manuel Bandeira quanto o de Carlos<br />
Drummond de Andrade evidenciam, dentro<br />
do ponto de vista dos autores, características<br />
extremamente pessimistas em relação à vida<br />
e, conseqüentemente, à arte.<br />
Comentário do INEP<br />
Enunciando em breve. Comentário<br />
disponível. Selecione uma alternativa e clique<br />
em conferir para vê-lo.<br />
82) (2003) A velha Totonha de quando em<br />
vez batia no engenho. E era um<br />
acontecimento para a meninada. (...)<br />
andava léguas e léguas a pé, de engenho<br />
a engenho, como uma edição viva das<br />
histórias de Mil e Uma Noites (...) era uma<br />
grande artista para dramatizar. Tinha uma<br />
memória de prodígio. Recitava contos<br />
inteiros em versos, intercalando pedaços<br />
de prosa, como notas explicativas. (...)<br />
Havia sempre rei e rainha, nos seus<br />
contos, e forca e adivinhações. O que<br />
fazia a velha Totonha mais curiosa era a<br />
cor local que ela punha nos seus<br />
descritivos. (...) Os rios e as florestas por<br />
onde andavam os seus personagens se<br />
pareciam muito com o Paraíba e a Mata<br />
do Rolo. O seu Barba-Azul era um senhor<br />
de engenho de Pernambuco.<br />
José Lins do Rego. Menino de Engenho. Rio de Janeiro:<br />
José Olympio, 1980, p. 49-51 (com adaptações).<br />
Na construção da personagem “velha<br />
Totonha”, é possível identificar traços que<br />
revelam marcas do processo de<br />
colonização e de civilização do país.<br />
Considerando o texto acima, infere-se que<br />
a velha Totonha<br />
A) tira o seu sustento da produção da<br />
literatura, apesar de suas condições de<br />
vida e de trabalho, que denotam que<br />
ela enfrenta situação econômica muito<br />
adversa.<br />
B) compõe, em suas histórias, narrativas<br />
épicas e realistas da história do país<br />
colonizado, livres da influência de<br />
temas e modelos não representativos<br />
da realidade nacional.<br />
C) retrata, na constituição do espaço dos<br />
contos, a civilização urbana européia<br />
em concomitância com a<br />
representação literária de engenhos,<br />
rios e florestas do Brasil.<br />
D) aproxima-se, ao incluir elementos<br />
fabulosos nos contos, do próprio<br />
romancista, o qual pretende retratar a<br />
realidade brasileira de forma tão<br />
grandiosa quanto a européia.<br />
E) imprime marcas da realidade local a<br />
suas narrativas, que têm como modelo<br />
e origem as fontes da literatura e da<br />
cultura européia universalizada.<br />
Comentário<br />
Esta questão exige conhecimentos de<br />
literatura universal. O aluno precisa saber<br />
que Barba-Azul é um personagem da cultura<br />
européia. Nas histórias de Totonha, ele é<br />
representado como um senhor de engenho<br />
de Pernambuco. Percebe-se aí a forte<br />
influência da colonização européia na<br />
realidade local. Logo, a alternativa correta é a<br />
letra "E".<br />
83) (2005) Leia estes poemas.<br />
Texto 1 - Auto-retrato<br />
Provinciano que nunca soube<br />
Escolher bem uma gravata;<br />
Pernambucano a quem repugna<br />
A faca do pernambucano;<br />
Poeta ruim que na arte da prosa<br />
Envelheceu na infância da arte,<br />
E até mesmo escrevendo crônicas<br />
Ficou cronista de província;<br />
Arquiteto falhado, músico<br />
Falhado (engoliu um dia<br />
Um piano, mas o teclado<br />
Ficou de fora); sem família,<br />
Religião ou filosofia;<br />
Mal tendo a inquietação de espírito<br />
Que vem do sobrenatural,<br />
E em matéria de profissão<br />
Um tísico* profissional.<br />
(Manuel Bandeira. Poesia completa e prosa. Rio de<br />
Janeiro: Aguilar, 1983. p. 395.)<br />
Texto 2 - Poema de sete faces<br />
Quando eu nasci, um anjo torto<br />
desses que vivem na sombra<br />
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.<br />
As casas espiam os homens<br />
que correm atrás de mulheres.<br />
A tarde talvez fosse azul,<br />
não houvesse tantos desejos.<br />
(....)<br />
Meu Deus, por que me abandonaste<br />
se sabias que eu não era Deus<br />
se sabias que eu era fraco.<br />
Mundo mundo vasto mundo,<br />
se eu me chamasse Raimundo<br />
seria uma rima, não seria uma solução.<br />
Mundo mundo vasto mundo<br />
mais vasto é o meu coração.<br />
(Carlos Drummond de Andrade.<br />
Obra completa. Rio de Janeiro:<br />
Aguilar, 1964. p. 53.)<br />
369
(*) tísico=tuberculoso<br />
No verso “Meu Deus, por que me<br />
abandonaste” do texto 2, Drummond<br />
retoma as palavras de Cristo, na cruz,<br />
pouco antes de morrer. Esse recurso de<br />
repetir palavras de outrem equivale a<br />
A) emprego de termos moralizantes.<br />
B) uso de vício de linguagem pouco<br />
tolerado.<br />
C) repetição desnecessária de idéias.<br />
D) emprego estilístico da fala de outra<br />
pessoa.<br />
E) uso de uma pergunta sem resposta.<br />
Comentário<br />
A citação, característica de intercambiar<br />
pensamentos de um texto para outro, fica<br />
bastante evidente no poema de Drummond.<br />
Ao retomar as palavras de Cristo, o autor<br />
deixa claro que sua idéia era transmitir uma<br />
mensagem por meio de palavras já<br />
proferidas por outra pessoa e cuja<br />
importância dá sentido a toda a estrofe.<br />
pois ambos (tira e poema) utilizam figuras de<br />
linguagem (metáfora e ironia) para expressar<br />
as diferentes visões de mundo.<br />
85) (2000) As histórias em quadrinhos, por<br />
vezes, utilizam animais como<br />
personagens e a eles atribuem<br />
comportamento humano. O gato Garfield<br />
é exemplo desse fato.<br />
Fonte: Caderno Vida e Arte, Jornal do Povo, Fortaleza<br />
Van Gogh, pintor holandês nascido em<br />
1853, é um dos principais nomes da<br />
pintura mundial. É dele o quadro abaixo.<br />
84) (2004)<br />
Auto-retrato de orelha cortada<br />
A tira "Hagar" e o poema de Alberto<br />
Caeiro (um dos heterônimos de Fernando<br />
Pessoa) expressam, com linguagens<br />
diferentes, uma mesma idéia: a de que a<br />
compreensão que temos do mundo é<br />
condicionada, essencialmente,<br />
A) pelo alcance de cada cultura.<br />
B) pela capacidade visual do observador.<br />
C) pelo senso de humor de cada um.<br />
D) pela idade do observador.<br />
E) pela altura do ponto de observação.<br />
Comentário<br />
Questão reflexiva sobre a forma como<br />
cada cultura vê o mundo sob a ótica dos<br />
limites dados pelos seus costumes e<br />
possibilidades de pensamento inerentes a<br />
cada modelo cultural. A mistura de uma tira e<br />
de um poema amplia a possibilidade de<br />
pensamento por trabalhar com linguagens<br />
diferentes. A alternativa correta é a letra A,<br />
O 3º quadrinho sugere que Garfield:<br />
A) desconhece tudo sobre arte, por isso<br />
faz a sugestão.<br />
B) acredita que todo pintor deve fazer algo<br />
diferente.<br />
C) defende que para ser pintor a pessoa<br />
tem de sofrer.<br />
D) conhece a história de um pintor<br />
famoso e faz uso da ironia.<br />
E) acredita que seu dono tenha tendência<br />
artística e, por isso, faz a sugestão.<br />
Comentário<br />
Outra questão de interpretação de texto.<br />
Muito simples para quem um dia ouviu falar<br />
de Van Gogh, e simplíssima para aqueles<br />
que prestam atenção em todos os elementos<br />
do enunciado. Afinal, quem deu uma<br />
espiadinha na legenda do quadro de Van<br />
Gogh matou na hora a questão.<br />
Esta questão é daquelas rápidas de serem<br />
resolvidas, associando-se os elementos<br />
apresentados.<br />
Comentário do INEP<br />
A significativa maioria (81%) dos<br />
participantes soube perceber o caráter<br />
irônico da fala do Garfield, expressa no<br />
terceiro quadrinho porque, ou conheciam a<br />
370
história de Van Gogh, ou apropriaram-se<br />
corretamente da informação sobre esse<br />
pintor, fornecida no enunciado.<br />
87) (2003)<br />
86) (2003)<br />
O humor presente na tirinha decorre<br />
principalmente do fato de a personagem<br />
Mafalda<br />
A) atribuir, no primeiro quadrinho, poder<br />
ilimitado ao dedo indicador.<br />
B) considerar seu dedo indicador tão<br />
importante quanto o dos patrões.<br />
C) atribuir, no primeiro e no último<br />
quadrinhos, um mesmo sentido ao<br />
vocábulo "indicador".<br />
D) usar corretamente a expressão<br />
"indicador de desemprego", mesmo<br />
sendo criança.<br />
E) atribuir, no último quadrinho, fama<br />
exagerada ao dedo indicador dos<br />
patrões.<br />
Comentário<br />
A questão pede a interpretação de uma<br />
charge da personagem Mafalda, em que ela<br />
faz referência a seu dedo indicador, que é<br />
usado como substantivo primitivo e que<br />
possibilita a analogia com “indicador de<br />
desemprego”. Dessa forma, ela ironiza os<br />
indicadores sociais. Na charge, porém, não<br />
há menção explícita aos índices<br />
“indicadores”, permanecendo o raciocínio<br />
preso apenas ao dedo indicador. Assim, ela<br />
utiliza, tanto no primeiro quanto no último<br />
quadrinho, a palavra “indicador” como<br />
referência ao dedo, não dando abertura a<br />
outro tipo de interpretação.<br />
O texto aponta no quadro de Tarsila do<br />
Amaral um tema que também se encontra<br />
nos versos transcritos em:<br />
A) "Pensem nas meninas<br />
Cegas inexatas<br />
Pensem nas mulheres<br />
Rotas alteradas."<br />
(Vinícius de Moraes)<br />
B) "Somos muitos severinos<br />
iguais em tudo e na sina:<br />
a de abrandar estas pedras<br />
suando-se muito em cima."<br />
(João Cabral de Melo Neto)<br />
C) "O funcionário público<br />
não cabe no poema<br />
com seu salário de fome<br />
sua vida fechada em arquivos."<br />
(Ferreira Gullar)<br />
D) "Não sou nada.<br />
Nunca serei nada.<br />
Não posso querer ser nada.<br />
À parte isso, tenho em mim todos os<br />
sonhos do mundo."<br />
(Fernando Pessoa)<br />
E) "Os inocentes do Leblon<br />
Não viram o navio entrar (...)<br />
Os inocentes, definitivamente inocentes<br />
tudo ignoravam,<br />
mas a areia é quente, e há um óleo<br />
suave<br />
que eles passam pelas costas, e<br />
aquecem."<br />
(Carlos Drummond de Andrade)<br />
Comentário<br />
Mais uma vez, o Exame Nacional do<br />
Ensino Médio procura relacionar análises de<br />
diferentes áreas da arte, misturando a pintura<br />
com a literatura. O quadro de Tarsila do<br />
Amaral “Operários” traz a imagem de vários<br />
rostos (de formatos, etnias e sexos<br />
diferentes) amontoados, tendo como pano de<br />
fundo as chaminés de uma fábrica.<br />
A questão deixa explícita a relação com<br />
os trechos literários que exaltam o<br />
proletariado, eliminando, já de cara, as<br />
alternativas A, D, e E.<br />
371
Ao se analisar a alternativa C, entretanto,<br />
percebe-se que a abordagem somente se<br />
relaciona com o funcionário público.<br />
Na letra B, o que se pode notar é que<br />
todas as pessoas “severinas” são iguais<br />
perante o sistema, niveladas por baixo e<br />
batalhadoras e que, sem privilégios ou<br />
distinções, são tratadas como mercadorias.<br />
88) (2002)<br />
De acordo com a história em quadrinhos<br />
protagonizada por Hagar e seu filho<br />
Hamlet, pode-se afirmar que a postura de<br />
Hagar<br />
A) valoriza a existência da diversidade<br />
social e de culturas, e as várias<br />
representações e explicações desse<br />
universo.<br />
B) desvaloriza a existência da<br />
diversidade social e as várias culturas,<br />
e determina uma única explicação para<br />
esse universo.<br />
C) valoriza a possibilidade de explicar as<br />
sociedades e as culturas a partir de<br />
várias visões de mundo.<br />
D) valoriza a pluralidade cultural e social<br />
ao aproximar a visão de mundo de<br />
navegantes e não-navegantes.<br />
E) desvaloriza a pluralidade cultural e<br />
social, ao considerar o mundo habitado<br />
apenas pelos navegantes.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Hagar reduz o<br />
mundo a dois tipos de pessoas: navegantes<br />
e não-navegantes. No último quadrinho, diz<br />
que são os navegantes que estabelecem<br />
esses dois grupos. Portanto, quem é<br />
diferente dos navegantes (que estabelecem<br />
o padrão) simplesmente é incluído na massa<br />
única dos não-navegantes. Não importa<br />
quem ou quantos sejam, sua diversidade<br />
social ou cultural em relação aos navegantes<br />
ou entre si. Vemos aí a desvalorização de<br />
outras culturas.<br />
Comentário do INEP<br />
Dentre as habilidades básicas para a<br />
compreensão de um texto destaca-se a<br />
capacidade do leitor de identificar os<br />
pressupostos de cada afirmação que lhe é<br />
apresentada. Nesta questão o participante<br />
deve identificar a posição tanto de Hagar<br />
como de seu filho Hamlet e, em seguida,<br />
avaliar quais os argumentos que justificam a<br />
opinião de Hagar ao definir que no mundo só<br />
existem dois tipos de pessoas. A pergunta de<br />
Hamlet a seu pai explicita a importância do<br />
ato de narrar através do diálogo e do efeito<br />
humorístico contido no episódio representado<br />
na tira. O resultado da compreensão<br />
acertada do diálogo é que o narrador torna<br />
inteligível, para si e para os outros, a lógica<br />
do seu pensamento através do diálogo entre<br />
os dois personagens. É importante observar<br />
que o humor do personagem Hagar é<br />
identificado na postura simetricamente<br />
oposta à de Michel de Montaigne, por<br />
exemplo (ver questão 58): a sua visão de<br />
mundo apresenta-se autocentrada, isto é,<br />
centrada nos seus próprios valores (vikings).<br />
A habilidade requerida do participante nessa<br />
questão, qual seja, "valorizar a diversidade<br />
dos patrimônios etnoculturais", é mobilizada<br />
aqui na sua dimensão negativa: é criticando<br />
a postura chauvinista de Hagar que o<br />
participante é capaz de responder<br />
corretamente a questão. A última alternativa<br />
(E) funciona como um distrator, pois neste<br />
caso não está suposta a crítica do discurso<br />
do personagem. Cerca de um terço dos<br />
participantes assinalou a alternativa correta<br />
B. As demais opções são devidas,<br />
possivelmente, a uma leitura pouco<br />
compreensiva das alternativas associadas a<br />
história em quadrinhos.<br />
89) (1999) E considerei a glória de um pavão<br />
ostentando o esplendor de suas cores; é<br />
um luxo imperial. Mas andei lendo livros, e<br />
descobri que aquelas cores todas não<br />
existem na pena do pavão. Não há<br />
pigmentos. O que há são minúsculas<br />
bolhas d’água em que a luz se fragmenta,<br />
como em um prisma. O pavão é um arcoíris<br />
de plumas.<br />
Eu considerei que este é o luxo do<br />
grande artista, atingir o máximo de<br />
matizes com o mínimo de elementos. De<br />
água e luz ele faz seu esplendor; seu<br />
grande mistério é a simplicidade.<br />
Considerei, por fim, que assim é o<br />
amor, oh! Minha amada; de tudo que ele<br />
suscita e esplende e estremece e delira<br />
em mim existem apenas meus olhos<br />
recebendo a luz de teu olhar. Ele me<br />
cobre de glórias e me faz magnífico.<br />
(BRAGA, Rubem. Ai de ti, Copacabana. 20.ed.)<br />
372
O poeta Carlos Drummond de Andrade<br />
escreveu assim sobre a obra de Rubem<br />
Braga:<br />
O que ele nos conta é o seu dia, o seu<br />
expediente de homem, apanhado no<br />
essencial, narrativa direta e econômica.<br />
(...) É o poeta do real, do palpável, que se<br />
vai diluindo em cisma. Dá o sentimento da<br />
realidade e o remédio para ela.<br />
dos participantes. As alternativas B, C e D<br />
correspondem à identificação de aspectos de<br />
certa forma comuns aos dois textos, embora<br />
os elementos neles apontados não se refiram<br />
ao trecho destacado.<br />
90) (2009)<br />
Em seu texto, Rubem Braga afirma que<br />
"este é o luxo do grande artista, atingir o<br />
máximo de matizes com o mínimo de<br />
elementos". Afirmação semelhante pode<br />
ser encontrada no texto de Carlos<br />
Drummond de Andrade, quando, ao<br />
analisar a obra de Braga, diz que ela é:<br />
A) uma narrativa direta e econômica.<br />
B) real, palpável.<br />
C) sentimento de realidade.<br />
D) seu expediente de homem.<br />
E) seu remédio.<br />
Comentário<br />
A última questão da prova de Português<br />
exige uma releitura do texto de Rubem Braga<br />
para um melhor entendimento do que é<br />
proposto por Drummond. Ao afirmar que a<br />
escrita de Braga é "direta e econômica",<br />
Drummond remete à descoberta feita por<br />
Rubem Braga em relação às cores das<br />
penas do pavão: (...) e descobri que aquelas<br />
cores todas não existem na pena do pavão.<br />
Não há pigmentos. O que há são minúsculas<br />
bolhas d’água em que a luz se fragmenta,<br />
como em um prisma. O pavão é um arco-íris<br />
de plumas.(...) este é o luxo do grande<br />
artista, atingir o máximo de matizes com o<br />
mínimo de elementos.(...)<br />
Segundo Braga, a grande mágica em se<br />
fazer arte é conseguir se expressar da<br />
melhor maneira possível usando o mínimo de<br />
elementos (sejam palavras, cores, formas,<br />
etc.). Drummond parafraseia o comentário de<br />
Braga, dando ainda mais evidência à<br />
descoberta do primeiro. Temos, aí, a<br />
"narrativa direta e econômica". Questão de<br />
nível médio.<br />
Comentário do INEP<br />
Além da compreensão de dois textos, de<br />
autores diferentes, o problema examinou a<br />
capacidade dos participantes em estabelecer<br />
um diálogo entre os mesmos.<br />
A identificação do significado e a relação<br />
correta da afirmação de Drummond, com o<br />
trecho correspondente de Rubem Braga<br />
destacado no enunciado, foi feita por 44%<br />
BRASIL. Ministério da Saúde, 2009 (adaptado).<br />
O texto tem o objetivo de solucionar um<br />
problema social,<br />
A) descrevendo a situação do país em<br />
relação à gripe suína.<br />
B) alertando a população para o risco de<br />
morte pela lnfluenza A.<br />
C) informando a população sobre a<br />
iminência de uma pandemia de<br />
Influenza A.<br />
D) orientando a população sobre os<br />
sintomas da gripe suína e<br />
procedimentos para evitar a<br />
contaminação.<br />
E) convocando toda a população para se<br />
submeter a exames de detecção da<br />
gripe suína.<br />
Comentário<br />
(QUESTÃO: AZUL 97, BRANCA 98,<br />
ROSA 96)<br />
Questão muito simples, bastando para<br />
sua solução a leitura do cartaz da campanha<br />
institucional. O enunciado pede que<br />
o candidato aponte que resposta indica o<br />
objetivo do texto, que é solucionar um<br />
problema social. Portanto, a resposta correta<br />
é a alternativa D.<br />
373
91) (2009)<br />
Uma vez que as duas remetem-se a<br />
necessidade e o cuidado em consumir<br />
produtos com certificação.<br />
Uma análise mais cuidadosa em relação ao<br />
significado dos verbos utilizados nessas duas<br />
alternativas, "certificar" e "verificar",<br />
determina que o consumidor deve sempre<br />
certificar-se, antes da compra, de que um<br />
produto foi fabricado de acordo com os<br />
princípios éticos e por isso, recebeu o selo de<br />
qualidade. Dessa forma, a letra D é a<br />
resposta correta.<br />
Você sabia que as metrópoles são as<br />
grandes consumidoras dos produtos feitos<br />
com recursos naturais da Amazônia?<br />
Você pode diminuir os impactos à floresta<br />
adquirindo produtos com selos de<br />
certificação. Eles são encontrados em<br />
itens que vão desde lápis e embalagens<br />
de papelão até móveis, cosméticos e<br />
materiais de construção. Para receber os<br />
selos esses produtos devem ser<br />
fabricados sob <strong>10</strong> princípios éticos, entre<br />
eles o respeito à legislação ambiental e<br />
aos direitos de povos indígenas e<br />
populações que vivem em nossas matas<br />
nativas.<br />
Vida simples. Ed. 74, dez. 2008.<br />
O texto e a imagem têm por finalidade<br />
induzir o leitor a uma mudança de<br />
comportamento a partir do(a)<br />
A) consumo de produtos naturais<br />
provindos da Amazônia.<br />
B) cuidado na hora de comprar produtos<br />
alimentícios.<br />
C) verificação da existência do selo de<br />
padronização de produtos industriais.<br />
D) certificação de que o produto foi<br />
fabricado de acordo com os princípios<br />
éticos.<br />
E) verificação da garantia de tratamento<br />
dos recursos naturais utilizados em<br />
cada produto.<br />
Comentário<br />
(QUESTÃO: AZUL 114, BRANCA 114,<br />
ROSA 114)<br />
Embora apresente um texto simples e<br />
claro, essa questão poderia levar o aluno a<br />
ficar em dúvida entre as alternativas C e D.<br />
92) (2009) A partida<br />
1 Acordei pela madrugada. A princípio com<br />
tranquilidade, e logo com obstinação, quis<br />
novamente dormir. Inútil, o sono esgotarase.<br />
Com precaução,<br />
4 acendi um fósforo: passava das três.<br />
Restava-me, portanto, menos de duas<br />
horas, pois o trem chegaria às cinco. Veiome<br />
então o desejo de não passar mais<br />
7 nem uma hora naquela casa. Partir, sem<br />
dizer nada, deixar quanto antes minhas<br />
cadeias de disciplina e de amor.<br />
<strong>10</strong> Com receio de fazer barulho, dirigi-me à<br />
cozinha, lavei o rosto, os dentes, penteei-me<br />
e, voltando ao meu quarto, vesti-me. Calcei<br />
os sapatos,<br />
13 sentei-me um instante à beira da cama.<br />
Minha avó continuava dormindo. Deveria<br />
fugir ou falar com ela? Ora, algumas<br />
palavras... Que me custava acordá-la,<br />
16 dizer-lhe adeus?<br />
LINS, O. A partida. Melhores contos. Seleção e<br />
prefácio de Sandra Nitrini. São Paulo: Global, 2003.<br />
No texto, o personagem narrador, na<br />
iminência da partida, descreve a sua<br />
hesitação em separar-se da avó. Esse<br />
sentimento contraditório fica claramente<br />
expresso no trecho:<br />
A) "A princípio com tranquilidade, e logo<br />
com obstinação, quis novamente<br />
dormir" (l. 1-3).<br />
B) "Restava-me, portanto, menos de duas<br />
horas, pois o trem chegaria às cinco" (l.<br />
4-6).<br />
C) "Calcei os sapatos, sentei-me um<br />
instante à beira da cama" (l. 12-13).<br />
D) "Partir, sem dizer nada, deixar quanto<br />
antes minhas cadeias de disciplina e<br />
amor" (l. 7-9).<br />
E) "Deveria fugir ou falar com ela? Ora,<br />
algumas palavras (l. 14-15).<br />
Comentário<br />
(QUESTÃO: AZUL 128, BRANCA 128,<br />
ROSA 128)<br />
374
A narrativa de Osman Lins apresenta um<br />
narrador-personagem completamente<br />
confuso, sem saber que decisão tomar. Ao<br />
mesmo tempo, percebemos no<br />
personagem o desejo de partir, como no<br />
seguinte trecho: "Acordei pela madrugada. A<br />
princípio, com tranquilidade, e logo com<br />
obstinação". Identificamos também a aflição<br />
do narrador-personagem em decidir se ele<br />
deve ou não dizer adeus à avó. Esse<br />
sentimento é perfeitamente representado em<br />
"Deveria fugir ou falar com ela? Ora, algumas<br />
palavras...", fragmento que consta na<br />
alternativa E.<br />
H22 - Relacionar, em diferentes<br />
textos, opiniões, temas,<br />
assuntos e recursos<br />
linguísticos.<br />
01) (2008) Calcula-se que 78% do<br />
desmatamento na Amazônia tenha sido<br />
motivado pela pecuária — cerca de 35%<br />
do rebanho nacional está na região — e<br />
que pelo menos 50 milhões de hectares<br />
de pastos são pouco produtivos. Enquanto<br />
o custo médio para aumentar a<br />
produtividade de 1 hectare de pastagem é<br />
de 2 mil reais, o custo para derrubar igual<br />
área de floresta é estimado em 800 reais,<br />
o que estimula novos desmatamentos.<br />
Adicionalmente, madeireiras retiram as<br />
árvores de valor comercial que foram<br />
abatidas para a criação de pastagens. Os<br />
pecuaristas sabem que problemas<br />
ambientais como esses podem provocar<br />
restrições à pecuária nessas áreas, a<br />
exemplo do que ocorreu em 2006 com o<br />
plantio da soja, o qual, posteriormente, foi<br />
proibido em áreas de floresta.<br />
Época, 3/3/2008 e 9/6/2008 (com adaptações).<br />
A partir da situação-problema descrita,<br />
conclui-se que<br />
A) o desmatamento na Amazônia decorre<br />
principalmente da exploração ilegal de<br />
árvores de valor comercial.<br />
B) um dos problemas que os pecuaristas<br />
vêm enfrentando na Amazônia é a<br />
proibição do plantio de soja.<br />
C) a mobilização de máquinas e de força<br />
humana torna o desmatamento mais<br />
caro que o aumento da produtividade<br />
de pastagens.<br />
D) o superavit comercial decorrente da<br />
exportação de carne produzida na<br />
Amazônia compensa a possível<br />
degradação ambiental.<br />
E) a recuperação de áreas desmatadas<br />
e o aumento de produtividade das<br />
pastagens podem contribuir para a<br />
redução do desmatamento na<br />
Amazônia.<br />
Comentário do portal<br />
Essa questão retrata o problema do<br />
desmatamento da Amazônia, relacionado<br />
principalmente com o desenvolvimento da<br />
pecuária na região. Para resolvê-la, foram<br />
necessários a leitura atenta do texto e o<br />
conhecimento sobre os problemas<br />
ambientais da atualidade. A alternativa<br />
correta é a letra E, pois é mais caro para os<br />
pecuaristas aumentar a produtividade do que<br />
as áreas de pasto, o que acarreta o aumento<br />
do desmatamento da Amazônia.<br />
02) (2008) A Lei Federal n.º 9.985/2000, que<br />
instituiu o sistema nacional de unidades<br />
de conservação, define dois tipos de<br />
áreas protegidas. O primeiro, as unidades<br />
de proteção integral, tem por objetivo<br />
preservar a natureza, admitindo-se<br />
apenas o uso indireto dos seus recursos<br />
naturais, isto é, aquele que não envolve<br />
consumo, coleta, dano ou destruição dos<br />
recursos naturais. O segundo, as<br />
unidades de uso sustentável, tem por<br />
função compatibilizar a conservação da<br />
natureza com o uso sustentável de<br />
parcela dos recursos naturais. Nesse<br />
caso, permite-se a exploração do<br />
ambiente de maneira a garantir a<br />
perenidade dos recursos ambientais<br />
renováveis e dos processos ecológicos,<br />
mantendo-se a biodiversidade e os<br />
demais atributos ecológicos, de forma<br />
socialmente justa e economicamente<br />
viável.<br />
Considerando essas informações, analise<br />
a seguinte situação hipotética.<br />
Ao discutir a aplicação de recursos<br />
disponíveis para o desenvolvimento de<br />
determinada região, organizações civis,<br />
universidade e governo resolveram<br />
investir na utilização de uma unidade de<br />
proteção integral, o Parque Nacional do<br />
Morro do Pindaré, e de uma unidade de<br />
uso sustentável, a Floresta Nacional do<br />
Sabiá. Depois das discussões, a equipe<br />
resolveu levar adiante três projetos:<br />
— o projeto I consiste de pesquisas<br />
científicas embasadas exclusivamente<br />
na observação de animais;<br />
— o projeto II inclui a construção de uma<br />
escola e de um centro de vivência;<br />
375
376<br />
— o projeto III promove a organização de<br />
uma comunidade extrativista que<br />
poderá coletar e explorar<br />
comercialmente frutas e sementes<br />
nativas.<br />
Nessa situação hipotética, atendendo-se à<br />
lei mencionada acima, é possível<br />
desenvolver tanto na unidade de proteção<br />
integral quanto na de uso sustentável<br />
A) apenas o projeto I.<br />
B) apenas o projeto III.<br />
C) apenas os projetos I e II.<br />
D) apenas os projetos II e III.<br />
E) todos os três projetos.<br />
Comentário do portal<br />
A alternativa correta é a letra "A", pois,<br />
analisando-se a situação hipotética sugerida<br />
no enunciado, percebe-se que ela deverá<br />
atender os requisitos tanto da unidade de<br />
proteção integral quanto da unidade de uso<br />
sustentável. Portanto, apenas o projeto I<br />
poderá ser desenvolvido nessas duas<br />
propostas de unidades.<br />
03) (1999) Leia o texto abaixo.<br />
Cabelos longos, brinco na orelha<br />
esquerda, físico de skatista. Na aparência,<br />
o estudante brasiliense Rui Lopes Viana<br />
Filho, de 16 anos, não lembra em nada o<br />
estereótipo dos gênios. Ele não usa<br />
pesados óculos de grau e está longe de<br />
ter um ar introspectivo. No final do mês<br />
passado, Rui retornou de Taiwan, onde<br />
enfrentou 419 competidores de todo o<br />
mundo na 39ª Olimpíada Internacional de<br />
Matemática. A reluzente medalha de ouro<br />
que ele trouxe na bagagem está<br />
dependurada sobre a cama de seu quarto,<br />
atulhado de rascunhos dos problemas<br />
matemáticos que aprendeu a decifrar nos<br />
últimos cinco anos.<br />
Veja – Vencer uma olimpíada serve de<br />
passaporte para uma carreira profissional<br />
meteórica?<br />
Rui – Nada disso. Decidi me dedicar à<br />
Olimpíada porque sei que a concorrência<br />
por um emprego é cada vez mais<br />
selvagem e cruel. Agora tenho algo a mais<br />
para oferecer. O problema é que as coisas<br />
estão mudando muito rápido e não sei<br />
qual será minha profissão. Além de ser<br />
muito novo para decidir sobre o meu<br />
futuro profissional, sei que esse conceito<br />
de carreira mudou muito.<br />
(Entrevista de Rui Lopes Viana Filho à Veja,<br />
05/08/1998, n.31, p. 9-<strong>10</strong>)<br />
Na pergunta, o repórter estabelece uma<br />
relação entre a entrada do estudante no<br />
mercado de trabalho e a vitória na<br />
Olimpíada. O estudante<br />
A) concorda com a relação e afirma que o<br />
desempenho na Olimpíada é<br />
fundamental para sua entrada no<br />
mercado.<br />
B) discorda da relação e complementa<br />
que é fácil se fazer previsões sobre o<br />
mercado de trabalho.<br />
C) discorda da relação e afirma que seu<br />
futuro profissional independe de<br />
dedicação aos estudos.<br />
D) discorda da relação e afirma que seu<br />
desempenho só é relevante se<br />
escolher uma profissão relacionada à<br />
matemática.<br />
E) concorda em parte com a relação e<br />
complementa que é complexo fazer<br />
previsões sobre o mercado de trabalho.<br />
Comentário<br />
Não é difícil de se chegar à resposta<br />
correta ao se ler a reportagem. Ao final do<br />
último parágrafo — (...) Além de ser muito<br />
novo para decidir sobre o meu futuro<br />
profissional, sei que esse conceito de carreira<br />
mudou muito. —, o estudante praticamente<br />
fornece a resposta à questão, declarando-se<br />
realista ao não tentar prever seu futuro<br />
profissional devido à pouca idade e às<br />
mudanças no mercado de trabalho. Quanto a<br />
concordar parcialmente com o repórter, veja<br />
que ele, apesar de negar que o prêmio fosse<br />
uma garantia de sucesso profissional, logo<br />
depois afirma que, com ele, terá algo mais a<br />
oferecer ao mercado. Questão de nível fácil.<br />
Comentário do INEP<br />
Nesta situação-problema, o participante<br />
deveria demonstrar que compreendeu as<br />
premissas de um discurso, distinguindo a<br />
diferença de significado de palavras isoladas<br />
ou no contexto em que estão inseridas.<br />
Verificou-se que mais da metade dos<br />
participantes demonstrou possuir essa<br />
compreensão. Aqueles que optaram pelas<br />
alternativas C e D podem ter sido atraídos<br />
pelo significado negativo da expressão inicial<br />
"Nada disso".<br />
04) (1998) Texto 1<br />
"Mulher, Irmã, escuta-me: não ames,<br />
Quando a teus pés um homem terno e<br />
curvo<br />
jurar amor, chorar pranto de sangue,<br />
Não creias, não, mulher: ele te engana!
As lágrimas são gotas da mentira<br />
E o juramento manto da perfídia."<br />
(Joaquim Manoel de Macedo)<br />
Texto 2<br />
"Teresa, se algum sujeito bancar o<br />
sentimental em cima de você<br />
E te jurar uma paixão do tamanho de um<br />
bonde<br />
Se ele chorar<br />
Se ele ajoelhar<br />
Se ele se rasgar todo<br />
Não acredite não Teresa<br />
É lágrima de cinema<br />
É tapeação<br />
Mentira<br />
CAI FORA"<br />
(Manuel Bandeira)<br />
Os autores, ao fazerem alusão às<br />
imagens da lágrima sugerem que:<br />
A) há um tratamento idealizado da<br />
relação homem/mulher.<br />
B) há um tratamento realista da relação<br />
homem/mulher.<br />
C) a relação familiar é idealizada.<br />
D) a mulher é superior ao homem.<br />
E) a mulher é igual ao homem.<br />
Comentário<br />
Ambos os autores, ao utilizarem a<br />
imagem da lágrima, estão na realidade<br />
mostrando que a figura do homem que é<br />
romântico a ponto de chorar ao jurar amor<br />
não existe. Tanto Macedo quanto<br />
Bandeira alertam as mulheres dizendo,<br />
com palavras e estilos diferentes, que não<br />
há homem que chore por amor (portanto,<br />
essa figura é uma idealização — e, por<br />
conseguinte, toda imagem que se tem<br />
sobre os relacionamentos<br />
demasiadamente românticos). Note que<br />
Bandeira chega até mesmo a chamar tal<br />
"chorão" de ator ("...É lágrima de cinema /<br />
É tapeação..."). Macedo dá uma imagem<br />
pesada às lágrimas ("...são gotas da<br />
mentira...").<br />
05) (1999) Considere os textos abaixo.<br />
(...) de modo particular, quero encorajar os<br />
crentes empenhados no campo da<br />
filosofia para que iluminem os diversos<br />
âmbitos da atividade humana, graças ao<br />
exercício de uma razão que se torna mais<br />
segura e perspicaz com o apoio que<br />
recebe da fé.<br />
(Papa João Paulo II. Carta Encíclica Fides<br />
et Ratio aos bispos da igreja católica sobre as relações<br />
entre fé e razão, 1998)<br />
As verdades da razão natural não<br />
contradizem as verdades da fé cristã.<br />
(São Tomás de Aquino<br />
–pensador medieval)<br />
Refletindo sobre os textos, pode-se<br />
concluir que:<br />
A) a encíclica papal está em contradição<br />
com o pensamento de São Tomás de<br />
Aquino, refletindo a diferença de<br />
épocas.<br />
B) a encíclica papal procura<br />
complementar São Tomás de Aquino,<br />
pois este colocava a razão natural<br />
acima da fé.<br />
C) a Igreja medieval valorizava a razão<br />
mais do que a encíclica de João Paulo<br />
II.<br />
D) o pensamento teológico teve sua<br />
importância na Idade Média, mas, em<br />
nossos dias, não tem relação com o<br />
pensamento filosófico.<br />
E) tanto a encíclica papal como a frase<br />
de São Tomás de Aquino procuram<br />
conciliar os pensamentos sobre fé e<br />
razão.<br />
Comentário<br />
Nessa questão, é necessária uma<br />
releitura do texto para que se tenha uma<br />
melhor compreensão do tema. Tanto a<br />
citação do Papa quanto a de São Tomás de<br />
Aquino tentam criar uma interdependência<br />
entre a ciência e a fé, a religião. O Papa<br />
incentiva aqueles que exercem a pesquisa<br />
científica ou filosófica a manter a fé cristã.<br />
São Tomás de Aquino, por sua vez, equipara<br />
o avanço da ciência ao aumento da própria<br />
fé, afirmando que a razão natural não<br />
contradiz a fé cristã. Se um cresce, cresce<br />
também o outro, em harmonia e sem<br />
contradições. Questão de grau médio.<br />
(Português)<br />
Nessa questão, encontramos dois textos:<br />
o primeiro, do século XX, foi elaborado pelo<br />
Papa João Paulo II; o segundo, do século<br />
XIII, pelo teólogo e filósofo cristão São<br />
Tomás de Aquino. O conteúdo de ambos se<br />
refere à ligação entre fé e razão, a qual<br />
esteve presente na filosofia escolástica da<br />
Idade Média. Esse campo de reflexão buscou<br />
conciliar o cristianismo com o pensamento de<br />
Aristóteles e teve em São Tomás de Aquino<br />
seu maior representante.<br />
Mesmo sem ter todas essas informações,<br />
você poderia responder tranqüilamente à<br />
questão por meio de uma leitura atenta dos<br />
dois textos, chegando à conclusão de que<br />
"tanto a encíclica papal como a frase de São<br />
377
Tomás de Aquino procuram conciliar os<br />
pensamentos sobre fé e razão". Resposta<br />
correta: alternativa E. (História)<br />
Comentário do INEP<br />
Para resolver esta situação-problema, o<br />
participante deveria mostrar que, além de<br />
interpretar textos, sabe relacioná-los sendo<br />
que, nesse item, essas operações referem-se<br />
a um texto escrito na época medieval e a<br />
outro escrito recentemente.<br />
Mais de 70% dos participantes<br />
demonstraram facilidade em estabelecer esta<br />
relação.<br />
06) (1999) Leia um texto publicado no jornal<br />
Gazeta Mercantil. Esse texto é parte de<br />
um artigo que analisa algumas situações<br />
de crise no mundo, entre elas, a quebra<br />
da Bolsa de Nova Iorque em 1929, e foi<br />
publicado na época de uma iminente crise<br />
financeira no Brasil.<br />
Deu no que deu. No dia 29 de outubro de<br />
1929, uma terça-feira, praticamente não<br />
havia compradores no pregão de Nova<br />
Iorque, só vendedores. Seguiu-se uma<br />
crise incomparável: o Produto Interno<br />
Bruto dos Estados Unidos caiu de <strong>10</strong>4<br />
bilhões de dólares em 1929, para 56<br />
bilhões em 1933, coisa inimaginável em<br />
nossos dias. O valor do dólar caiu a quase<br />
metade. O desemprego elevou-se de 1,5<br />
milhão para 12,5 milhões de trabalhadores<br />
– cerca de 25% da população ativa –<br />
entre 1929 e 1933. A construção civil caiu<br />
90%. Nove milhões de aplicações, tipo<br />
caderneta de poupança, perderam-se com<br />
o fechamento dos bancos. Oitenta e cinco<br />
mil firmas faliram. Houve saques e norteamericanos<br />
que passaram fome.<br />
(Gazeta Mercantil, 05/01/1999)<br />
378<br />
Ao citar dados referentes à crise ocorrida<br />
em 1929, em um artigo jornalístico atual,<br />
pode-se atribuir ao jornalista a seguinte<br />
intenção:<br />
A) questionar a interpretação da crise.<br />
B) comunicar sobre o desemprego.<br />
C) instruir o leitor sobre aplicações em<br />
bolsa de valores.<br />
D) relacionar os fatos passados e<br />
presentes.<br />
E) analisar dados financeiros americanos.<br />
Comentário<br />
Nessa questão, o que se tem de fazer é<br />
prestar atenção às alternativas das<br />
respostas. Nenhuma delas se apresenta tão<br />
bem contextualizada a uma possível<br />
interpretação quanto a letra D. Partindo-se da<br />
análise do texto, fica claro que a intenção do<br />
artigo é remeter o leitor ao passado para<br />
tentar conduzi-lo a uma reflexão sobre uma<br />
situação presente, não mencionada na<br />
questão. Após a leitura e utilizando-se a já<br />
citada eliminação de questões, torna-se clara<br />
a resposta. Questão de nível médio.<br />
(Português)<br />
Muitas vezes, quando procuramos<br />
entender uma crise econômica ou financeira<br />
de grandes proporções, buscamos<br />
estabelecer relações com crises passadas. O<br />
mesmo ocorre no jornalismo, como prova o<br />
texto encontrado nessa questão. Buscando<br />
entender uma crise ocorrida no início de<br />
1999, o jornalista da Gazeta Mercantil<br />
buscou relacionar a situação dessa época<br />
com a grande crise de 1929 que afetou o<br />
mundo, trazendo desemprego e recessão,<br />
entre tantos outros problemas econômicos e<br />
sociais.<br />
Para responder a essa questão, era<br />
necessário ler atentamente o enunciado, em<br />
que está destacado que "o texto é parte de<br />
um artigo que analisa algumas situações de<br />
crise no mundo" e "foi publicado na época de<br />
uma iminente crise financeira no Brasil". Era<br />
importante também observar a data em que o<br />
artigo foi publicado: 05/01/1999. A partir<br />
dessas constatações, facilmente você<br />
chegaria a conclusão de que a intenção do<br />
jornalista era "relacionar os fatos passados e<br />
presentes". Resposta correta: alternativa D.<br />
(História)<br />
Comentário do INEP<br />
A resolução da questão demandava a<br />
capacidade dos participantes de relacionar<br />
eventos históricos envolvendo crises<br />
econômicas ocorridas em épocas e lugares<br />
distintos. Aproximadamente 2/3 deles<br />
demonstraram essa capacidade. Os demais,<br />
provavelmente, não compreenderam a<br />
exigência expressa no enunciado do<br />
problema – apontar as razões pelas quais um<br />
jornalista traz à tona eventos ocorridos<br />
setenta anos antes –, e apenas interpretaram<br />
o sentido do texto citado, que descreve a<br />
crise mundial de 1929.<br />
07) (2002) O autor da tira utilizou os<br />
princípios de composição de um<br />
conhecido movimento artístico para<br />
representar a necessidade de um mesmo<br />
observador aprender a considerar,<br />
simultaneamente, diferentes pontos de<br />
vista.
E)<br />
Das obras reproduzidas, todas de autoria<br />
do pintor espanhol Pablo Picasso, aquela<br />
em cuja composição foi adotado um<br />
procedimento semelhante é:<br />
A)<br />
B)<br />
C)<br />
D)<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. O movimento<br />
artístico que previa considerar<br />
simultaneamente diversos pontos de vista<br />
era o Cubismo. Havia a desconstrução da<br />
forma para que se pudesse ver todos os<br />
ângulos concomitantemente. O único quadro<br />
que apresenta essas características é o da<br />
alternativa E. As outras quatro alternativas<br />
pressupõem a manutenção da forma.<br />
Comentário do INEP<br />
O objetivo desta questão é levar o<br />
participante a refletir sobre características<br />
fundamentais de um movimento artístico – o<br />
cubismo – a partir de dados visuais:<br />
quadrinhos e pinturas. A reprodução de dois<br />
quadrinhos da personagem Calvin forneceu<br />
para o participante informações básicas para<br />
a análise que deveria fazer das alternativas<br />
apresentadas. Segundo os quadrinhos, o<br />
movimento artístico abordado pela questão<br />
tinha como procedimento de composição<br />
representar, para um mesmo observador,<br />
diferentes pontos de vista, fazendo com que<br />
"o tradicional único ponto de vista" fosse<br />
abandonado e com que a perspectiva fosse<br />
fraturada. A análise das obras de Picasso<br />
reproduzidas nas alternativas permite que o<br />
participante reconheça a adoção desse<br />
procedimento no quadro "Marie-Thérèse<br />
apoiada no cotovelo" (alternativa E, com 46%<br />
de registros), no qual se pode reconhecer a<br />
representação de diferentes pontos de vista<br />
a partir dos quais é apresentado o rosto da<br />
mulher retratada.<br />
08) (2001) Oxímoro (ou paradoxo) é uma<br />
construção textual que agrupa significados<br />
que se excluem mutuamente. Para<br />
Garfield, a frase de saudação de Jon<br />
(tirinha abaixo) expressa o maior de todos<br />
os oxímoros.<br />
379
Folha de S. Paulo. 31 de julho de 2000.<br />
380<br />
Nas alternativas abaixo, estão transcritos<br />
versos retirados do poema “O operário em<br />
construção”. Pode-se afirmar que ocorre<br />
um oxímoro em<br />
A) "Era ele que erguia casas<br />
Onde antes só havia chão."<br />
B) "... a casa que ele fazia<br />
Sendo a sua liberdade<br />
Era a sua escravidão."<br />
C) "Naquela casa vazia<br />
Que ele mesmo levantara<br />
Um mundo novo nascia<br />
De que sequer suspeitava."<br />
D) "... o operário faz a coisa<br />
E a coisa faz o operário."<br />
E) "Ele, um humilde operário<br />
Um operário que sabia<br />
Exercer a profissão."<br />
MORAES, Vinícius de. Antologia Poética. São Paulo:<br />
Companhia das Letras, 1992.<br />
Comentário<br />
Idéias que se completam e se excluem<br />
mutuamente são encontradas na alternativa<br />
B: a casa que ele construía era, ao mesmo<br />
tempo, sua liberdade e sua escravidão.<br />
A casa é um símbolo de liberdade para o<br />
homem. Para o homem operário, é também<br />
símbolo de escravidão, pois ele está<br />
"condenado" a jamais usufruir do resultado<br />
do seu trabalho (a casa que faz não é para<br />
ele).<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão propõe ao participante que<br />
estabeleça uma relação entre linguagens,<br />
associando a compreensão de um efeito<br />
semântico produzido pelo uso do oxímoro<br />
nos quadrinhos com o mesmo efeito num<br />
texto poético. O índice (18%) de escolhas da<br />
alternativa D deve-se, possivelmente, a uma<br />
análise parcial da noção de paradoxo,<br />
confundida com inversão.<br />
09) (2005) Cândido Portinari (1903-1962), um<br />
dos mais importantes artistas brasileiros<br />
do século XX, tratou de diferentes<br />
aspectos da nossa realidade em seus<br />
quadros.<br />
Sobre a temática dos “Retirantes”,<br />
Portinari também escreveu o seguinte<br />
poema:<br />
(....)<br />
Os retirantes vêm vindo com trouxas e<br />
embrulhos<br />
Vêm das terras secas e escuras;<br />
pedregulhos<br />
Doloridos como fagulhas de carvão aceso<br />
Corpos disformes, uns panos sujos,<br />
Rasgados e sem cor, dependurados<br />
Homens de enorme ventre bojudo<br />
Mulheres com trouxas caídas para o lado<br />
Pançudas, carregando ao colo um garoto<br />
Choramingando, remelento<br />
(....)<br />
(Cândido Portinari. Poemas. Rio de Janeiro:<br />
J. Olympio, 1964.)<br />
Das quatro obras reproduzidas, assinale<br />
aquelas que abordam a problemática que<br />
é tema do poema.<br />
A) 1 e 2 D) 3 e 4<br />
B) 1 e 3 E) 2 e 4<br />
C) 2 e 3<br />
Comentário<br />
O poema apresenta correspondência com<br />
as imagens ao descrever com detalhes a<br />
figura do retirante: pobre, mal vestido,<br />
carregando trouxas e embrulhos.<br />
<strong>10</strong>) (2002) "A palavra tatuagem é<br />
relativamente recente. Toda a gente sabe<br />
que foi o navegador Cook que a introduziu<br />
no Ocidente, e esse escrevia tattou, termo<br />
da Polinésia de tatou ou tu tahou,<br />
'desenho'.<br />
(...) Desde os mais remotos tempos,<br />
vemo-la a transformar-se: distintivo<br />
honorífico entre uns homens, ferrete de<br />
ignomínia entre outros, meio de assustar o<br />
adversário para os bretões, marca de uma
classe de selvagens das ilhas marquesas<br />
(...) sinal de amor, de desprezo, de ódio<br />
(...). Há três casos de tatuagem no Rio,<br />
completamente diversos na sua<br />
significação moral: os negros,os turcos<br />
com o fundo religioso e o bando de<br />
meretrizes, dos rufiões e dos humildes,<br />
que se marcam por crime ou por<br />
ociosidade".<br />
RIO, João do. Os Tatuadores. Revista Kosmos.<br />
1904, apud: A alma encantadora das ruas,<br />
SP: Cia das Letras, 1999.<br />
Com base no texto são feitas as seguintes<br />
afirmações:<br />
I. João do Rio revela como a tatuagem já<br />
estava presente na cidade do Rio de<br />
Janeiro, pelo menos desde o início do<br />
século XX, e era mais utilizada por<br />
alguns setores da população.<br />
II. A tatuagem, de origem polinésia,<br />
difundiu-se no ocidente com a<br />
característica que permanece até hoje:<br />
utilização entre os jovens com função<br />
estritamente estética.<br />
III. O texto mostra como a tatuagem é<br />
uma prática que se transforma no<br />
tempo e que alcança inúmeros sentidos<br />
nos diversos setores das sociedades e<br />
para as diferentes culturas.<br />
Está correto o que se afirma apenas em<br />
A) I D) I e II<br />
B) II E) I e III<br />
C) III<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Constata-se o<br />
seguinte: a tatuagem já existia no Brasil no<br />
início do século XX (o texto é de 1904 e parte<br />
dele se refere ao Rio do Janeiro) e era<br />
utilizada em diferentes setores da sociedade.<br />
A afirmação de que as tatuagens possuem<br />
apenas finalidade estética entre os jovens<br />
elimina a segunda alternativa. Já a última<br />
alternativa confirma as transformações das<br />
funções da tatuagem ao longo do tempo nas<br />
mais diversas sociedades e culturas.<br />
Comentário do INEP<br />
O texto estabelece uma relação entre a<br />
atualidade da palavra "tatuagem" e a<br />
antiguidade do uso de desenhos como<br />
pintura corporal. Focaliza uma prática social<br />
bastante difundida que adquiriu aspectos e<br />
conotações diversos nos diferentes contextos<br />
históricos e geográficos em que ela pode ser<br />
descrita. Fazendo a descrição da prática da<br />
tatuagem, como uma manifestação comum a<br />
diferentes culturas, e que adquire, inclusive,<br />
significados diferentes dentro de uma mesma<br />
cultura, induz o participante a refletir sobre a<br />
"diversidade dos patrimônios etnoculturais e<br />
artísticos", contextualizando ao mesmo<br />
tempo seus significados "em diferentes<br />
sociedades, épocas e lugares". Ao retomar<br />
as várias origens e usos da tatuagem, o<br />
participante é levado a compreender e<br />
respeitar uma gramática histórica dos<br />
costumes marcada sempre por semelhanças<br />
e diferenças. A questão não exigia, portanto,<br />
nenhum conhecimento prévio sobre as<br />
diferentes formas de manifestação dessa<br />
prática, mas simplesmente constatar, com o<br />
autor do texto citado, a historicidade e a<br />
diversidade das práticas sociais. Os<br />
participantes que assinalaram a alternativa C<br />
(36%), possivelmente, não levaram em<br />
consideração informações do texto. A<br />
questão foi corretamente respondida por 37%<br />
dos participantes.<br />
11) (2003) Eu começaria dizendo que poesia<br />
é uma questão de linguagem. A<br />
importância do poeta é que ele torna mais<br />
viva a linguagem. Carlos Drummond de<br />
Andrade escreveu um dos mais belos<br />
versos da língua portuguesa com duas<br />
palavras comuns: cão e cheirando.<br />
Um cão cheirando o futuro<br />
(Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP, 24/05/1988.<br />
adaptação)<br />
O que deu ao verso de Drummond o<br />
caráter de inovador da língua foi<br />
A) o modo raro como foi tratado o<br />
"futuro".<br />
B) a referência ao cão como "animal de<br />
estimação".<br />
C) a flexão pouco comum do verbo<br />
"cheirar" (gerúndio).<br />
D) a aproximação não usual do agente<br />
citado e a ação de "cheirar".<br />
E) o emprego do artigo indefinido "um" e<br />
do artigo definido "o" na mesma frase.<br />
Comentário<br />
O fato de Drummond identificar o futuro<br />
como algo que pode ser percebido por um<br />
animal irracional por meio do olfato foi<br />
inovador. A figura de linguagem foi<br />
construída metaforicamente: o futuro torna-se<br />
uma coisa que tem cheiro, contrariamente à<br />
imagem pela qual ele normalmente é<br />
representado: como algo que não se vê e<br />
não se pode pressentir ou tocar.<br />
381
12) (2003) Pequenos tormentos da vida<br />
De cada lado da sala de aula, pelas janelas<br />
altas, o azul convida os meninos,<br />
as nuvens desenrolam-se, lentas como quem<br />
vai inventando<br />
preguiçosamente uma história sem fim...Sem<br />
fim é a aula: e nada acontece,<br />
nada...Bocejos e moscas. Se ao menos,<br />
pensa Margarida, se ao menos um<br />
avião entrasse por uma janela e saísse por<br />
outra!<br />
(Mário Quintana. Poesias)<br />
Na cena retratada no texto, o sentimento<br />
do tédio<br />
A) provoca que os meninos fiquem<br />
contando histórias.<br />
B) leva os alunos a simularem bocejos,<br />
em protesto contra a monotonia da<br />
aula.<br />
C) acaba estimulando a fantasia,<br />
criando a expectativa de algum<br />
imprevisto mágico.<br />
D) prevalece de modo absoluto,<br />
impedindo até mesmo a distração ou o<br />
exercício do pensamento.<br />
E) decorre da morosidade da aula, em<br />
contraste com o movimento acelerado<br />
das nuvens e das moscas.<br />
Comentário<br />
Essa questão aborda o imaginário<br />
decorrente do marasmo trazido pela escola.<br />
O texto enfatiza o arrastar do tempo na<br />
mente de uma aluna, Margarida, que se põe<br />
a pensar em fatos mágicos ou imaginários<br />
que pudessem romper com a lentidão da<br />
aula.<br />
13) (2000) O autor do texto abaixo critica,<br />
ainda que em linguagem metafórica, a<br />
sociedade contemporânea em relação aos<br />
seus hábitos alimentares.<br />
“Vocês que têm mais de 15 anos, se<br />
lembram quando a gente comprava leite<br />
em garrafa, na leiteria da esquina? (...)<br />
Mas vocês não se lembram de nada,<br />
pô! Vai ver nem sabem o que é vaca. Nem<br />
o que é leite. Estou falando isso porque<br />
agora mesmo peguei um pacote de leite –<br />
leite em pacote, imagina, Tereza! – na<br />
porta dos fundos e estava escrito que é<br />
pasterizado, ou pasteurizado, sei lá, tem<br />
vitamina, é garantido pela<br />
embromatologia, foi enriquecido e o<br />
escambau. Será que isso é mesmo leite?<br />
No dicionário diz que leite é outra coisa:<br />
‘Líquido branco, contendo água,<br />
proteína, açúcar e sais minerais’. Um<br />
alimento pra ninguém botar defeito. O ser<br />
humano o usa há mais de 5.000 anos. É o<br />
único alimento só alimento. A carne serve<br />
pro animal andar, a fruta serve pra fazer<br />
outra fruta, o ovo serve pra fazer outra<br />
galinha (...) O leite é só leite. Ou toma ou<br />
bota fora. Esse aqui examinando bem, é<br />
só pra botar fora. Tem chumbo, tem<br />
benzina, tem mais água do que leite, tem<br />
serragem, sou capaz de jurar que nem<br />
vaca tem por trás desse negócio. Depois o<br />
pessoal ainda acha estranho que os<br />
meninos não gostem de leite.<br />
Mas, como não gostam? Não gostam<br />
como? Nunca tomaram! Múúúúúúú!”<br />
(FERNANDES, Millôr. O Estado de S. Paulo ,<br />
22 de agosto de 1999)<br />
A palavra embromatologia usada pelo<br />
autor é:<br />
A) um termo científico que significa estudo<br />
dos bromatos.<br />
B) uma composição do termo de gíria<br />
“embromação” (enganação) com<br />
bromatologia, que é o estudo dos<br />
alimentos.<br />
C) uma junção do termo de gíria<br />
“embromação” (enganação) com<br />
lactologia, que é o estudo das<br />
embalagens para leite.<br />
D) um neologismo da química orgânica<br />
que significa a técnica de retirar<br />
bromatos dos laticínios.<br />
E) uma corruptela de termo da<br />
agropecuária que significa a ordenha<br />
mecânica.<br />
Comentário<br />
É necessário para a resolução desta<br />
questão:<br />
- perceber que o texto critica o exagerado<br />
uso de substâncias artificiais nos<br />
alimentos;<br />
- conhecer o significado da gíria embromar e<br />
da palavra bromatologia.<br />
Conhecendo esses significados, você<br />
elimina todas as alternativas erradas: a, c, d<br />
e e.<br />
Você poderá ter dúvida quanto à<br />
alternativa c, que também será eliminada se<br />
souber o significado da palavra lactologia,<br />
que é o estudo do leite e produtos lácteos e<br />
não das embalagens para leite.<br />
Nesta questão, são trabalhados os<br />
conceitos de interpretação de texto, formação<br />
de palavras e conhecimentos gerais.<br />
382
Comentário do INEP<br />
A resolução da questão requeria que o<br />
participante, ao ler o texto vinculasse o<br />
significado de um termo de gíria -<br />
"embromação" - com o da palavra<br />
bromatologia. A resposta correta exigia que o<br />
participante não abrisse mão do sabor<br />
picante contido na linguagem metafórica,<br />
sabor vinculado ao conhecimento específico<br />
contido na palavra bromatologia. Cerca da<br />
metade dos participantes (51%) optou pela<br />
alternativa correta e, os 20% que escolheram<br />
a alternativa C, provavelmente associaram a<br />
referência feita no texto à leite em pacote.<br />
D)<br />
E)<br />
14) (2008) Os signos visuais, como meios de<br />
comunicação, são classificados em<br />
categorias de acordo com seus<br />
significados.<br />
A categoria denominada indício<br />
corresponde aos signos visuais que têm<br />
origem em formas ou situações naturais<br />
ou casuais, as quais, devido à ocorrência<br />
em circunstâncias idênticas, muitas vezes<br />
repetidas, indicam algo e adquirem<br />
significado. Por exemplo, nuvens negras<br />
indicam tempestade. Com base nesse<br />
conceito, escolha a opção que representa<br />
um signo da categoria dos indícios.<br />
A)<br />
Comentário<br />
Trata-se de uma questão interpretativa. O<br />
aluno precisa entender o que é “indício” para<br />
respondê-la. Segundo o dicionário Aurélio,<br />
indício é o mesmo que “sinal, vestígio,<br />
indicação”. Das figuras apresentadas,<br />
apenas a alternativa B indica algo: a<br />
passagem de alguém por algum lugar —<br />
pegada.<br />
15) (2008)<br />
B)<br />
C)<br />
Exame, 28/9/2007.<br />
Entre os seguintes ditos populares, qual<br />
deles melhor corresponde à figura<br />
acima?<br />
A) Com perseverança, tudo se alcança.<br />
B) Cada macaco no seu galho.<br />
C) Nem tudo que balança cai.<br />
D) Quem tudo quer, tudo perde.<br />
E) Deus ajuda quem cedo madruga.<br />
Comentário<br />
Assim como a questão 37, esta também<br />
envolve interpretação de signos, ou seja, o<br />
383
aluno precisa estar atento à imagem e<br />
relacioná-la ao dito popular correspondente.<br />
A alternativa "A" é a correta, pois, para<br />
uma lesma “grudenta” e vagarosa conseguir<br />
pular numa cama elástica, é necessária<br />
muita perseverança.<br />
16) (2005) Leia estes textos.<br />
Texto 1<br />
Comentário<br />
Enquanto o primeiro texto é ácido em<br />
relação à possibilidade de desarmamento da<br />
população (ou seja, à criação de uma<br />
sociedade mais pacífica), o segundo mostra<br />
a capacidade que a humanidade tem de crer<br />
e, por isso, tentar fazer até o que a princípio<br />
parece impossível. Para os autores da<br />
canção, nada é intrinsecamente impossível.<br />
A relação entre eles é de oposição:<br />
descrença x crença. Questão de nível de<br />
dificuldade médio.<br />
Texto 2<br />
Sonhar<br />
Mais um sonho impossível<br />
Lutar<br />
Quando é fácil ceder<br />
Vencer o inimigo invencível<br />
Negar quando a regra é vender<br />
Sofrer a tortura implacável<br />
Romper a incabível prisão<br />
Voar num limite improvável<br />
Tocar o inacessível chão<br />
É minha lei, é minha questão<br />
Virar esse mundo<br />
Cravar esse chão<br />
Não me importa saber<br />
Se é terrível demais<br />
Quantas guerras terei que vencer<br />
Por um pouco de paz<br />
E amanhã se esse chão que eu beijei<br />
For meu leito e perdão<br />
Vou saber que valeu delirar<br />
E morrer de paixão<br />
E assim, seja lá como for<br />
Vai ter fim a infinita aflição<br />
E o mundo vai ver uma flor<br />
Brotar do impossível chão.<br />
(J. Darione – M. Leigh – Versão de Chico Buarque de<br />
Hollanda e Ruy Guerra, 1972.)<br />
A tirinha e a canção apresentam uma<br />
reflexão sobre o futuro da humanidade. É<br />
correto concluir que os dois textos<br />
A) afirmam que o homem é capaz de<br />
alcançar a paz.<br />
B) concordam que o desarmamento é<br />
inatingível.<br />
C) julgam que o sonho é um desafio<br />
invencível.<br />
D) têm visões diferentes sobre um<br />
possível mundo melhor.<br />
E) transmitem uma mensagem de<br />
otimismo sobre a paz.<br />
17) (2000) As histórias em quadrinhos, por<br />
vezes, utilizam animais como<br />
personagens e a eles atribuem<br />
comportamento humano. O gato Garfield<br />
é exemplo desse fato.<br />
Fonte: Caderno Vida e Arte, Jornal do Povo, Fortaleza<br />
Van Gogh, pintor holandês nascido em<br />
1853, é um dos principais nomes da<br />
pintura mundial. É dele o quadro abaixo.<br />
Auto-retrato de orelha cortada<br />
O 3º quadrinho sugere que Garfield:<br />
A) desconhece tudo sobre arte, por isso<br />
faz a sugestão.<br />
B) acredita que todo pintor deve fazer algo<br />
diferente.<br />
C) defende que para ser pintor a pessoa<br />
tem de sofrer.<br />
D) conhece a história de um pintor<br />
famoso e faz uso da ironia.<br />
E) acredita que seu dono tenha tendência<br />
artística e, por isso, faz a sugestão.<br />
Comentário<br />
Outra questão de interpretação de texto.<br />
Muito simples para quem um dia ouviu falar<br />
de Van Gogh, e simplíssima para aqueles<br />
que prestam atenção em todos os elementos<br />
do enunciado. Afinal, quem deu uma<br />
espiadinha na legenda do quadro de Van<br />
Gogh matou na hora a questão.<br />
384
Esta questão é daquelas rápidas de serem<br />
resolvidas, associando-se os elementos<br />
apresentados.<br />
Comentário do INEP<br />
A significativa maioria (81%) dos<br />
participantes soube perceber o caráter<br />
irônico da fala do Garfield, expressa no<br />
terceiro quadrinho porque, ou conheciam a<br />
história de Van Gogh, ou apropriaram-se<br />
corretamente da informação sobre esse<br />
pintor, fornecida no enunciado.<br />
18) (2004)<br />
A tira "Hagar" e o poema de Alberto<br />
Caeiro (um dos heterônimos de Fernando<br />
Pessoa) expressam, com linguagens<br />
diferentes, uma mesma idéia: a de que a<br />
compreensão que temos do mundo é<br />
condicionada, essencialmente,<br />
A) pelo alcance de cada cultura.<br />
B) pela capacidade visual do observador.<br />
C) pelo senso de humor de cada um.<br />
D) pela idade do observador.<br />
E) pela altura do ponto de observação.<br />
Comentário<br />
Questão reflexiva sobre a forma como<br />
cada cultura vê o mundo sob a ótica dos<br />
limites dados pelos seus costumes e<br />
possibilidades de pensamento inerentes a<br />
cada modelo cultural. A mistura de uma tira e<br />
de um poema amplia a possibilidade de<br />
pensamento por trabalhar com linguagens<br />
diferentes. A alternativa correta é a letra A,<br />
pois ambos (tira e poema) utilizam figuras de<br />
linguagem (metáfora e ironia) para expressar<br />
as diferentes visões de mundo.<br />
19) (2002)<br />
De acordo com a história em quadrinhos<br />
protagonizada por Hagar e seu filho<br />
Hamlet, pode-se afirmar que a postura de<br />
Hagar<br />
A) valoriza a existência da diversidade<br />
social e de culturas, e as várias<br />
representações e explicações desse<br />
universo.<br />
B) desvaloriza a existência da<br />
diversidade social e as várias culturas,<br />
e determina uma única explicação para<br />
esse universo.<br />
C) valoriza a possibilidade de explicar as<br />
sociedades e as culturas a partir de<br />
várias visões de mundo.<br />
D) valoriza a pluralidade cultural e social<br />
ao aproximar a visão de mundo de<br />
navegantes e não-navegantes.<br />
E) desvaloriza a pluralidade cultural e<br />
social, ao considerar o mundo habitado<br />
apenas pelos navegantes.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Hagar reduz o<br />
mundo a dois tipos de pessoas: navegantes<br />
e não-navegantes. No último quadrinho, diz<br />
que são os navegantes que estabelecem<br />
esses dois grupos. Portanto, quem é<br />
diferente dos navegantes (que estabelecem<br />
o padrão) simplesmente é incluído na massa<br />
única dos não-navegantes. Não importa<br />
quem ou quantos sejam, sua diversidade<br />
social ou cultural em relação aos navegantes<br />
ou entre si. Vemos aí a desvalorização de<br />
outras culturas.<br />
Comentário do INEP<br />
Dentre as habilidades básicas para a<br />
compreensão de um texto destaca-se a<br />
capacidade do leitor de identificar os<br />
pressupostos de cada afirmação que lhe é<br />
apresentada. Nesta questão o participante<br />
deve identificar a posição tanto de Hagar<br />
como de seu filho Hamlet e, em seguida,<br />
avaliar quais os argumentos que justificam a<br />
opinião de Hagar ao definir que no mundo só<br />
existem dois tipos de pessoas. A pergunta de<br />
Hamlet a seu pai explicita a importância do<br />
ato de narrar através do diálogo e do efeito<br />
humorístico contido no episódio representado<br />
na tira. O resultado da compreensão<br />
acertada do diálogo é que o narrador torna<br />
inteligível, para si e para os outros, a lógica<br />
do seu pensamento através do diálogo entre<br />
os dois personagens. É importante observar<br />
que o humor do personagem Hagar é<br />
identificado na postura simetricamente<br />
oposta à de Michel de Montaigne, por<br />
exemplo (ver questão 58): a sua visão de<br />
385
mundo apresenta-se autocentrada, isto é,<br />
centrada nos seus próprios valores (vikings).<br />
A habilidade requerida do participante nessa<br />
questão, qual seja, "valorizar a diversidade<br />
dos patrimônios etnoculturais", é mobilizada<br />
aqui na sua dimensão negativa: é criticando<br />
a postura chauvinista de Hagar que o<br />
participante é capaz de responder<br />
corretamente a questão. A última alternativa<br />
(E) funciona como um distrator, pois neste<br />
caso não está suposta a crítica do discurso<br />
do personagem. Cerca de um terço dos<br />
participantes assinalou a alternativa correta<br />
B. As demais opções são devidas,<br />
possivelmente, a uma leitura pouco<br />
compreensiva das alternativas associadas a<br />
história em quadrinhos.<br />
20) (2009) Saúde, no modelo atual de<br />
qualidade de vida, é o resultado das<br />
condições de alimentação, habitação,<br />
educação, renda, trabalho, transporte,<br />
lazer, serviços médicos e acesso à<br />
atividade física regular. Quanto ao acesso<br />
à atividade física, um dos elementos<br />
essenciais é a aptidão física, entendida<br />
como a capacidade de a pessoa utilizar<br />
seu corpo — incluindo músculos,<br />
esqueleto, coração, enfim, todas as partes<br />
—, de forma eficiente em suas atividades<br />
cotidianas; logo, quando se avalia a saúde<br />
de uma pessoa, a aptidão física deve ser<br />
levada em conta. A partir desse contexto,<br />
considera-se que uma pessoa tem boa<br />
aptidão física quando<br />
A) apresenta uma postura regular.<br />
B) pode se exercitar por períodos curtos<br />
de tempo.<br />
C) pode desenvolver as atividades<br />
físicas do dia-a-dia,<br />
independentemente de sua idade.<br />
D) pode executar suas atividades do dia a<br />
dia com vigor, atenção e uma fadiga de<br />
moderada a intensa.<br />
E) pode exercer atividades físicas no final<br />
do dia, mas suas reservas de energia<br />
são insuficientes para atividades<br />
intelectuais.<br />
Comentário<br />
(QUESTÃO: AZUL <strong>10</strong>3, BRANCA <strong>10</strong>3,<br />
ROSA <strong>10</strong>3)<br />
Questão de fácil resolução, pois avalia<br />
apenas a leitura e a interpretação realizadas<br />
pelo aluno.<br />
Por meio da leitura do texto e de<br />
conhecimentos gerais, o aluno chegaria a<br />
resposta correta, letra C, sem ter dúvidas,<br />
386<br />
uma vez que as demais alternatarivas<br />
apresentam situações inadequadas ao que<br />
se determina a uma pessoa com boa aptidão<br />
física.<br />
21) (2009) Texto I<br />
É praticamente impossível<br />
imaginarmos nossas vidas sem o plástico.<br />
Ele está presente em embalagens de<br />
alimentos, bebidas e remédios, além de<br />
eletrodomésticos, automóveis etc. Esse<br />
uso ocorre devido à sua atoxicidade e à<br />
inércia, isto é: quando em contato com<br />
outras substâncias, o plástico não as<br />
contamina; ao contrário, protege o produto<br />
embalado. Outras duas grandes<br />
vantagens garantem o uso dos plásticos<br />
em larga escala: são leves, quase não<br />
alteram o peso do material embalado, e<br />
são <strong>10</strong>0% recicláveis, fato que,<br />
infelizmente, não é aproveitado, visto que,<br />
em todo o mundo, a percentagem de<br />
plástico reciclado, quando comparado ao<br />
total produzido, ainda é irrelevante.<br />
Revista Mãe Terra. Minuano,<br />
ano 1, n. 6 (adaptado).<br />
Texto II<br />
Sacolas plásticas são leves e voam ao<br />
vento. Por isso, elas entopem esgotos e<br />
bueiros, causando enchentes. São<br />
encontradas até no estômago de<br />
tartarugas marinhas, baleias, focas e<br />
golfinhos, mortos por sufocamento.<br />
Sacolas plásticas descartáveis são<br />
gratuitas para os consumidores, mas têm<br />
um custo incalculável para o meio<br />
ambiente.<br />
Veja, 8 jul. 2009. Fragmentos de texto publicitário do<br />
Instituto Akatu pelo Consumo Consciente.<br />
Na comparação dos textos, observa-se<br />
que<br />
A) o texto I apresenta um alerta a respeito<br />
do efeito da reciclagem de materiais<br />
plásticos; o texto II justifica o uso desse<br />
material reciclado.<br />
B) o texto I tem como objetivo precípuo<br />
apresentar a versatilidade e as<br />
vantagens do uso do plástico na<br />
contemporaneidade; o texto II objetiva<br />
alertar os consumidores sobre os<br />
problemas ambientais decorrentes de<br />
embalagens plásticas não recicladas.<br />
C) o texto I expõe vantagens, sem<br />
qualquer ressalva, do uso do plástico; o<br />
texto II busca convencer o leitor a evitar<br />
o uso de embalagens plásticas.
D) o texto I ílustra o posicionamento de<br />
fabricantes de embalagens plásticas,<br />
mostrando por que elas devem ser<br />
usadas; o texto II ilustra o<br />
posicionamento de consumidores<br />
comuns, que buscam praticidade e<br />
conforto.<br />
E) o texto I apresenta um alerta a respeito<br />
da possíbílidade de contaminação de<br />
produtos orgânicos e industrializados<br />
decorrente do uso de plástico em suas<br />
embalagens; o texto II apresenta<br />
vantagens do consumo de sacolas<br />
plásticas: leves, descartáveis e<br />
gratuitas.<br />
Comentário<br />
(QUESTÃO: AZUL <strong>10</strong>8, BRANCA <strong>10</strong>8,<br />
ROSA <strong>10</strong>7)<br />
Essa questão solicita que o aluno, após<br />
fazer a leitura de dois textos, estabeleça as<br />
ideias principais de cada um deles. No texto<br />
I, o objetivo é apresentar a versatilidade e as<br />
vantagens das embalagens plásticas,<br />
enquanto no II a ideia é alertar os<br />
consumidores sobre os problemas<br />
ambientais causados pela falta de cuidado<br />
com esses elementos. Dessa forma, a<br />
resposta correta é a letra B.<br />
22) (2009) Parte superior do formulário<br />
Canção do vento e da minha vida<br />
O vento varria as folhas,<br />
O vento varria os frutos,<br />
O vento varria as flores...<br />
E a minha vida ficava<br />
Cada vez mais cheia<br />
De frutos, de flores, de folhas.<br />
[...]<br />
O vento varria os sonhos<br />
E varria as amizades...<br />
O vento varria as mulheres...<br />
E a minha vida ficava<br />
Cada vez mais cheia<br />
De afetos e de mulheres.<br />
O vento varria os meses<br />
E varria os teus sorrisos...<br />
O vento varria tudo!<br />
E a minha vida ficava<br />
Cada vez mais cheia<br />
De tudo.<br />
BANDEIRA, M. Poesia completa e prosa. Rio de<br />
Janeiro: José Aguilar, 1967.<br />
Na estruturação do texto, destaca-se<br />
A) a construção de oposições semânticas.<br />
B) a apresentação de ideias de forma<br />
objetiva.<br />
C) o emprego recorrente de figuras de<br />
linguagem, como o eufemismo.<br />
D) a repetição de sons e de construções<br />
sintáticas semelhantes.<br />
E) a inversão da ordem sintática das<br />
palavras.<br />
Comentário<br />
(QUESTÃO: AZUL 117, BRANCA 118,<br />
ROSA 116)<br />
A estrutura do poema de Manuel Bandeira<br />
privilegia a repetição de sons e de<br />
construções sintáticas semelhantes,<br />
perceptíveis em versos como "o vento<br />
varria", recorrente em todo o poema. O uso<br />
da aliteração também é exemplificado em<br />
construções como "De frutos, de flores, de<br />
folhas". Essa figura de linguagem determina<br />
a repetição de sons. A resposta correta é a<br />
letra D.<br />
23) (2009) Texto I<br />
O professor deve ser um guia seguro,<br />
muito senhor de sua língua; se outra for a<br />
orientação, vamos cair na "língua<br />
brasileira", refúgio nefasto e confissão<br />
nojenta de ignorância do idioma pátrio,<br />
recurso vergonhoso de homens de cultura<br />
falsa e de falso patriotismo. Como<br />
havemos de querer que respeitem a<br />
nossa nacionalidade se somos os<br />
primeiros a descuidar daquilo que exprime<br />
e representa o idioma pátrio?<br />
ALMEIDA, N. M. Gramática metódica da tingua<br />
portuguesa Prefácio. São Paulo: Saraiva, 1999<br />
(adaptado).<br />
Texto II<br />
Alguns leitores poderão achar que a<br />
linguagem desta Gramática se afasta do<br />
padrão estrito usual neste tipo de livro.<br />
Assim, o autor escreve tenho que<br />
reformular, e não tenho de reformular;<br />
pode-se colocar dois constituintes, e não<br />
podem-se colocar dois constituintes; e<br />
assim por diante. Isso foi feito de caso<br />
pensado, com a preocupação de<br />
aproximar a linguagem da gramática do<br />
padrão atual brasileiro presente nos textos<br />
técnicos e jornalísticos de nossa época.<br />
REIS, N. Nota do editor. PERINI, M. A. Gramática<br />
descritiva do português. São Paulo: Ática, 1996.<br />
Confrontando-se as opiniões defendidas<br />
nos dois textos, conclui-se que<br />
A) ambos os textos tratam da questão do<br />
uso da língua com o objetivo de criticar<br />
a linguagem do brasileiro.<br />
387
B) os dois textos defendem a ideia de que<br />
o estudo da gramática deve ter o<br />
objetivo de ensinar as regras<br />
prescritivas da língua.<br />
C) a questão do português falado no<br />
Brasil é abordada nos dois textos, que<br />
procuram justificar como é correto e<br />
aceitável o uso coloquial do idioma.<br />
D) o primeiro texto enaltece o padrão<br />
estrito da língua, ao passo que o<br />
segundo defende que a linguagem<br />
jornalística deve criar suas próprias<br />
regras gramaticais.<br />
E) o primeiro texto prega a rigidez<br />
gramatical no uso da língua, enquanto<br />
o segundo defende uma adequação da<br />
língua escrita ao padrão atual<br />
brasileiro.<br />
Comentário<br />
(QUESTÃO: AZUL 119, BRANCA 119,<br />
ROSA 119)<br />
Esta questão apresenta dois textos: o<br />
primeiro defende a rigidez das normas da<br />
língua padrão, enquanto que o segundo<br />
propõe uma adequação da língua escrita<br />
à realidade da fala padrão contemporânea.<br />
Portanto, a resposta correta é a alternativa<br />
E.<br />
B) criou outro ópio do povo, levando as<br />
pessoas a buscarem cada vez mais<br />
grupos igualitários de integração social.<br />
C) é uma tradução dos valores das<br />
sociedades subdesenvolvidas, mas em<br />
países considerados do primeiro<br />
mundo ela não consegue se manifestar<br />
porque a população tem melhor<br />
educação e senso crítico.<br />
D) tem como um de seus dogmas o<br />
narcisismo, significando o “amar o<br />
próximo como se ama a si mesmo”.<br />
E) existe desde a Idade Média, entretanto<br />
esse acontecimento se intensificou a<br />
partir da Revolução Industrial no século<br />
XIX e se estendeu até os nossos dias.<br />
Comentário<br />
(QUESTÃO: AZUL 134, BRANCA 134,<br />
ROSA 132)<br />
A questão trata do surgimento de um novo<br />
fenômeno contemporâneo: a "corpolatria",<br />
que nada mais é do que o culto ao corpo e a<br />
redescoberta do prazer — o que a torna uma<br />
religião "ao avesso".<br />
Uma leitura atenta do texto e do<br />
enunciado permitem ao candidato perceber<br />
que a melhor resposta é a alternativa A.<br />
24) (2009) Nunca se falou e se preocupou<br />
tanto com o corpo como nos dias atuais. É<br />
comum ouvirmos anúncios de uma nova<br />
academia de ginástica, de uma nova<br />
forma de dieta, de uma nova técnica de<br />
autoconhecimento e outras práticas de<br />
saúde alternativa, em síntese, vivemos<br />
nos últimos anos a redescoberta do<br />
prazer, voltando nossas atenções ao<br />
nosso próprio corpo. Essa valorização do<br />
prazer individualizante se estrutura em um<br />
verdadeiro culto ao corpo, em analogia a<br />
uma religião, assistimos hoje ao<br />
surgimento de novo universo: a<br />
corpolatria.<br />
CODO, W.; SENNE, W. O que é corpo(latria).<br />
Coleção Primeiros Passos. Brasiliense, 1985<br />
(adaptado).<br />
388<br />
Sobre esse fenômeno do homem<br />
contemporâneo presente nas classes<br />
sociais brasileiras, principalmente, na<br />
classe média, a corpolatria<br />
A) é uma religião pelo avesso, por isso<br />
outra religião; inverteram-se os sinais,<br />
a busca da felicidade eterna antes<br />
carregava em si a destruição do prazer,<br />
hoje implica o seu culto.<br />
H23 - Inferir em um texto quais<br />
são os objetivos de seu<br />
produtor e quem é seu<br />
público alvo, pela análise dos<br />
procedimentos<br />
argumentativos utilizados.<br />
01) (2001) O mundo é grande<br />
O mundo é grande e cabe<br />
Nesta janela sobre o mar.<br />
O mar é grande e cabe<br />
Na cama e no colchão de amar.<br />
O amor é grande e cabe<br />
No breve espaço de beijar.<br />
ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e prosa.<br />
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983.<br />
Neste poema, o poeta realizou uma opção<br />
estilística: a reiteração de determinadas<br />
construções e expressões lingüísticas,<br />
como o uso da mesma conjunção para<br />
estabelecer a relação entre as frases.<br />
Essa conjunção estabelece, entre as<br />
idéias relacionadas, um sentido de<br />
A) oposição.<br />
B) comparação.<br />
C) conclusão.
D) alternância.<br />
E) finalidade.<br />
Comentário<br />
Há três elementos repetidos neste trecho:<br />
o verbo ser, o artigo definido o e a conjunção<br />
aditiva e. A conjunção e estabelece uma<br />
relação entre idéias que, concretamente, são<br />
opostas (ex.: "O mundo é grande e cabe<br />
nesta janela sobre o mar"). A alternativa<br />
correta é a letra A.<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão apresenta, para leitura e<br />
análise, o poema "O mundo é grande", onde<br />
os recursos lingüísticos expressivos<br />
utilizados geram um efeito de oposição entre<br />
as idéias. A análise sintático-semântica é<br />
necessária para a compreensão do valor de<br />
oposição assumido pela conjunção "e":<br />
imagens justapostas estão relacionadas,<br />
contrapondo-se em planos diferentes. Um<br />
percentual significativo (46%) de<br />
participantes considerou que o valor da<br />
conjunção "e", nesse poema, é de<br />
comparação, o que não reflete o sentido<br />
estilístico proposto pelo poeta, mas<br />
corresponde apenas à primeira operação que<br />
se realiza para estabelecer o sentido de<br />
oposição. De maneira análoga, pode-se<br />
analisar os equívocos daqueles que optaram<br />
pelas alternativas C e D.<br />
02) (1999) SONETO DE FIDELIDADE<br />
De tudo, ao meu amor serei atento<br />
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto<br />
Que mesmo em face do maior encanto<br />
Dele se encante mais meu pensamento.<br />
Quero vivê-lo em cada vão momento<br />
E em seu louvor hei de espalhar meu<br />
canto<br />
E rir meu riso e derramar meu pranto<br />
Ao seu pesar ou seu contentamento.<br />
E assim, quando mais tarde me procure<br />
Quem sabe a morte, angústia de quem<br />
vive<br />
Quem sabe a solidão, fim de quem ama.<br />
Eu possa dizer do meu amor (que tive):<br />
Que não seja imortal, posto que é chama<br />
Mas que seja infinito enquanto dure.<br />
(MORAES, Vinícius de. Antologia poética. São Paulo: Cia<br />
das Letras, 1992).<br />
A palavra mesmo pode assumir diferentes<br />
significados, de acordo com a sua função<br />
na frase. Assinale a alternativa em que o<br />
sentido de mesmo equivale ao que se<br />
verifica no 3º verso da 1ª estrofe do<br />
poema de Vinícius de Moraes.<br />
A) "Pai, para onde fores, / irei também<br />
trilhando as mesmas ruas..." (Augusto<br />
dos Anjos)<br />
B) "Agora, como outrora, há aqui o<br />
mesmo contraste da vida interior, que<br />
é modesta, com a exterior, que é<br />
ruidosa." (Machado de Assis)<br />
C) "Havia o mal, profundo e persistente,<br />
para o qual o remédio não surtiu efeito,<br />
mesmo em doses variáveis."<br />
(Raimundo Faoro)<br />
D) "Mas, olhe cá, Mana Glória, há<br />
mesmo necessidade de fazê-lo<br />
padre?" (Machado de Assis)<br />
E) "Vamos de qualquer maneira, mas<br />
vamos mesmo." (Aurélio)<br />
Comentário<br />
Nessa questão, uma pequena análise<br />
sintática se faz necessária: mesmo, em<br />
ambos os casos, é conjunção subordinativa<br />
concessiva, introduzindo, portanto, uma<br />
oração subordinada cujo fato expresso é<br />
contrário ao da oração principal. Deve-se,<br />
então, recorrer à oração anterior para se ter<br />
certeza quanto à classificação. Grau<br />
moderado de dificuldade.<br />
Comentário do INEP<br />
Este problema buscou colocar o<br />
participante diante de uma situação que<br />
exigia a mobilização de seus mecanismos de<br />
reflexão sobre os processos lingüísticos em<br />
que um significante (uma palavra) assume<br />
diferentes significados, no enunciado, de<br />
acordo com a intenção do enunciador. Neste<br />
caso, além da compreensão da<br />
transformação de significado, é necessária a<br />
alteração de função morfossintática.<br />
Verifica-se que 62% dos participantes<br />
conseguiram identificar e analisar esse<br />
processo lingüístico, comparando a função<br />
do significante em diferentes enunciados.<br />
Isso demonstrou um domínio parcial da<br />
reflexão sobre a Língua Portuguesa, em<br />
diferentes contextos e textos.<br />
Os 18% dos participantes que<br />
assinalaram a alternativa B identificaram a<br />
diferença de significados mas,<br />
provavelmente, têm dificuldades em analisar<br />
estas mudanças em nível morfossintático<br />
(alternativa B).<br />
389
03) ( 2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />
poema.<br />
A DANÇA E A ALMA<br />
A DANÇA? Não é movimento,<br />
súbito gesto musical.<br />
É concentração, num momento,<br />
da humana graça natural.<br />
No solo não, no éter pairamos,<br />
nele amaríamos ficar.<br />
A dança – não vento nos ramos:<br />
seiva, força, perene estar.<br />
Um estar entre céu e chão,<br />
novo domínio conquistado,<br />
onde busque nossa paixão<br />
libertar-se por todo lado...<br />
Onde a alma possa descrever<br />
suas mais divinas parábolas<br />
sem fugir à forma do ser,<br />
por sobre o mistério das fábulas.<br />
(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />
Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />
A definição de dança, em linguagem de<br />
dicionário, que mais se aproxima do que<br />
está expresso no poema é<br />
A) a mais antiga das artes, servindo como<br />
elemento de comunicação e afirmação<br />
do homem em todos os momentos de<br />
sua existência.<br />
B) a forma de expressão corporal que<br />
ultrapassa os limites físicos,<br />
possibilitando ao homem a liberação de<br />
seu espírito.<br />
C) a manifestação do ser humano,<br />
formada por uma seqüência de gestos,<br />
passos e movimentos desconcertados.<br />
D) o conjunto organizado de movimentos<br />
do corpo, com ritmo determinado por<br />
instrumentos musicais, ruídos, cantos,<br />
emoções etc.<br />
E) o movimento diretamente ligado ao<br />
psiquismo do indivíduo e, por<br />
conseqüência, ao seu desenvolvimento<br />
intelectual e à sua cultura.<br />
Comentário<br />
A pergunta busca a aplicação do conceito<br />
de "estado de dicionário" (que também foi<br />
desenvolvido por Drummond no poema "A<br />
Procura da Poesia"). A literatura busca partir<br />
de palavras em estado de dicionário para,<br />
pelo aprofundamento do sentido delas, criar<br />
um mundo mais denso e particular. Em<br />
estado de dicionário, a dança, conforme é<br />
tratada nesse poema, apareceria na<br />
alternativa B: uma justaposição entre<br />
aspectos físicos e espirituais da expressão<br />
humana. Questão complexa.<br />
04) (2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />
poema.<br />
A DANÇA E A ALMA<br />
A DANÇA? Não é movimento,<br />
súbito gesto musical.<br />
É concentração, num momento,<br />
da humana graça natural.<br />
No solo não, no éter pairamos,<br />
nele amaríamos ficar.<br />
A dança – não vento nos ramos:<br />
seiva, força, perene estar.<br />
Um estar entre céu e chão,<br />
novo domínio conquistado,<br />
onde busque nossa paixão<br />
libertar-se por todo lado...<br />
Onde a alma possa descrever<br />
suas mais divinas parábolas<br />
sem fugir à forma do ser,<br />
por sobre o mistério das fábulas.<br />
(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />
Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />
O poema “A Dança e a Alma” é construído<br />
com base em contrastes, como<br />
“movimento” e “concentração”. Em uma<br />
das estrofes, o termo que estabelece<br />
contraste com solo é:<br />
A) éter. D) paixão.<br />
B) seiva. E) ser.<br />
C) chão.<br />
Comentário<br />
O elemento que contrasta com "solo"<br />
(físico, tangível, perene) é "éter" (espiritual,<br />
intangível, volátil). Questão de nível médio de<br />
dificuldade.<br />
05) ( 2008) O surgimento da figura da Ema<br />
no céu, ao leste, no anoitecer, na segunda<br />
quinzena de junho, indica o início do<br />
inverno para os índios do sul do Brasil e o<br />
começo da estação seca para os do norte.<br />
É limitada pelas constelações de<br />
Escorpião e do Cruzeiro do Sul, ou<br />
Cut'uxu. Segundo o mito guarani, o<br />
Cut’uxu segura a cabeça da ave para<br />
garantir a vida na Terra, porque, se ela se<br />
soltar, beberá toda a água do nosso<br />
planeta. Os tupisguaranis utilizam o<br />
Cut'uxu para se orientar e determinar a<br />
duração das noites e as estações do ano.<br />
A ilustração a seguir é uma representação<br />
dos corpos celestes que constituem a<br />
constelação da Ema, na percepção<br />
indígena.<br />
390
Almanaque BRASIL, maio/2007 (com adaptações).<br />
A próxima figura mostra, em campo de<br />
visão ampliado, como povos de culturas<br />
não-indígenas percebem o espaço estelar<br />
em que a Ema é vista.<br />
Internet: (com adaptações).<br />
Assinale a opção correta a respeito da<br />
linguagem empregada no texto A Ema.<br />
A) A palavra Cut’uxu é um regionalismo<br />
utilizado pelas populações próximas às<br />
aldeias indígenas.<br />
B) O autor se expressa em linguagem<br />
formal em todos os períodos do texto.<br />
C) A ausência da palavra Ema no início do<br />
período “É limitada (...)” caracteriza<br />
registro oral.<br />
D) A palavra Cut’uxu está destacada em<br />
itálico porque integra o vocabulário da<br />
linguagem informal.<br />
E) No texto, predomina a linguagem<br />
coloquial porque ele consta de um<br />
almanaque.<br />
Comentário<br />
A questão é simples, mas requer cuidados<br />
quanto aos conceitos de linguagem<br />
“informal”, “formal” e de “língua”. Se o aluno<br />
tiver noção desses conceitos,<br />
chegará facilmente à resposta. A linguagem<br />
formal ou culta prevalece no texto, e o termo<br />
“Cut’uxu’ não é um termo informal, mas, sim,<br />
uma expressão que pertence a uma língua<br />
indígena — o que justifica o emprego da<br />
palavra em itálico. A resposta correta é,<br />
portanto, a letra "B".<br />
06) (2008) Calcula-se que 78% do<br />
desmatamento na Amazônia tenha sido<br />
motivado pela pecuária — cerca de 35%<br />
do rebanho nacional está na região — e<br />
que pelo menos 50 milhões de hectares<br />
de pastos são pouco produtivos. Enquanto<br />
o custo médio para aumentar a<br />
produtividade de 1 hectare de pastagem é<br />
de 2 mil reais, o custo para derrubar igual<br />
área de floresta é estimado em 800 reais,<br />
o que estimula novos desmatamentos.<br />
Adicionalmente, madeireiras retiram as<br />
árvores de valor comercial que foram<br />
abatidas para a criação de pastagens. Os<br />
pecuaristas sabem que problemas<br />
ambientais como esses podem provocar<br />
restrições à pecuária nessas áreas, a<br />
exemplo do que ocorreu em 2006 com o<br />
plantio da soja, o qual, posteriormente, foi<br />
proibido em áreas de floresta.<br />
Época, 3/3/2008 e 9/6/2008 (com adaptações).<br />
A partir da situação-problema descrita,<br />
conclui-se que<br />
A) o desmatamento na Amazônia decorre<br />
principalmente da exploração ilegal de<br />
árvores de valor comercial.<br />
B) um dos problemas que os pecuaristas<br />
vêm enfrentando na Amazônia é a<br />
proibição do plantio de soja.<br />
C) a mobilização de máquinas e de força<br />
humana torna o desmatamento mais<br />
caro que o aumento da produtividade<br />
de pastagens.<br />
D) o superavit comercial decorrente da<br />
exportação de carne produzida na<br />
Amazônia compensa a possível<br />
degradação ambiental.<br />
E) a recuperação de áreas desmatadas<br />
e o aumento de produtividade das<br />
pastagens podem contribuir para a<br />
redução do desmatamento na<br />
Amazônia.<br />
Comentário do portal<br />
Essa questão retrata o problema do<br />
desmatamento da Amazônia, relacionado<br />
principalmente com o desenvolvimento da<br />
pecuária na região. Para resolvê-la, foram<br />
necessários a leitura atenta do texto e o<br />
conhecimento sobre os problemas<br />
ambientais da atualidade. A alternativa<br />
correta é a letra E, pois é mais caro para os<br />
pecuaristas aumentar a produtividade do que<br />
as áreas de pasto, o que acarreta o aumento<br />
do desmatamento da Amazônia.<br />
391
07) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />
preciso, além de conhecer o padrão<br />
formal da Língua Portuguesa, saber<br />
adequar o uso da linguagem ao contexto<br />
discursivo. Para exemplificar este fato,<br />
seu professor de Língua Portuguesa<br />
convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />
Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />
brinca com situações de discurso oral que<br />
fogem à expectativa do ouvinte.<br />
Aí, Galera<br />
Jogadores de futebol podem ser<br />
vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />
você pode imaginar um jogador de futebol<br />
dizendo "estereotipação"? E, no<br />
entanto, por que não?<br />
- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />
galera.<br />
- Minha saudação aos aficionados do<br />
clube e aos demais esportistas, aqui<br />
presentes ou no recesso dos seus lares.<br />
- Como é?<br />
- Aí, galera.<br />
- Quais são as instruções do técnico?<br />
- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />
trabalho de contenção coordenada, com<br />
energia otimizada, na zona de<br />
preparação, aumentam as<br />
probabilidades de, recuperado o<br />
esférico, concatenarmos um contragolpe<br />
agudo com parcimônia de meios e<br />
extrema objetividade, valendo-nos da<br />
desestruturação momentânea do<br />
sistema oposto, surpreendido pela<br />
reversão inesperada do fluxo da ação:<br />
- Ahn?<br />
- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />
pegá eles sem calça.<br />
- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />
coisa?<br />
- Posso dirigir uma mensagem de<br />
caráter sentimental, algo banal, talvez<br />
mesmo previsível e piegas, a uma<br />
pessoa à qual sou ligado por razões,<br />
inclusive, genéticas?<br />
- Pode.<br />
- Uma saudação para a minha<br />
progenitora.<br />
- Como é?<br />
- Alô, mamãe!<br />
- Estou vendo que você é um, um...<br />
- Um jogador que confunde o<br />
entrevistador, pois não corresponde à<br />
expectativa de que o atleta seja um ser<br />
algo primitivo com dificuldade de<br />
expressão e assim sabota a<br />
estereotipação?<br />
- Estereoquê?<br />
392<br />
- Um chato?<br />
- Isso.<br />
Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />
O texto retrata duas situações<br />
relacionadas que fogem à expectativa do<br />
público. São elas:<br />
A) a saudação do jogador aos fãs do<br />
clube, no início da entrevista, e a<br />
saudação final dirigida à sua mãe.<br />
B) a linguagem muito formal do jogador,<br />
inadequada à situação da entrevista, e<br />
um jogador que fala, com desenvoltura,<br />
de modo muito rebuscado.<br />
C) o uso da expressão "galera", por parte<br />
do entrevistador, e da expressão<br />
"progenitora", por parte do jogador.<br />
D) o desconhecimento, por parte do<br />
entrevistador, da palavra<br />
"estereotipação", e a fala do jogador<br />
em "é pra dividir no meio e ir pra cima<br />
pra pegá eles sem calça".<br />
E) o fato de os jogadores de futebol serem<br />
vítimas de estereotipação e o jogador<br />
entrevistado não corresponder ao<br />
estereótipo.<br />
Comentário<br />
Quando pensamos em certas profissões,<br />
imaginamos qual seria o padrão de<br />
comportamento de quem as exerce. O texto<br />
está trabalhando uma divergência entre o<br />
que esperamos de um jogador de futebol (o<br />
estereótipo que temos dele) e um jogador<br />
que não se enquadra em nossas<br />
expectativas. Levando isso em consideração,<br />
as duas coisas que destoam do que<br />
esperamos encontrar nessa situação são: 1)<br />
alguém, ao dar uma entrevista de alto<br />
alcance popular, fala de maneira<br />
extremamente rebuscada; 2) um jogador que,<br />
ao falar de maneira rebuscada, acaba por<br />
fugir do estereótipo do jogador de futebol, de<br />
quem sempre é esperado algo menos<br />
rebuscado e mais popular.<br />
08) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />
preciso, além de conhecer o padrão<br />
formal da Língua Portuguesa, saber<br />
adequar o uso da linguagem ao contexto<br />
discursivo. Para exemplificar este fato,<br />
seu professor de Língua Portuguesa<br />
convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />
Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />
brinca com situações de discurso oral que<br />
fogem à expectativa do ouvinte.
Aí, Galera<br />
Jogadores de futebol podem ser<br />
vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />
você pode imaginar um jogador de futebol<br />
dizendo "estereotipação"? E, no<br />
entanto, por que não?<br />
- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />
galera.<br />
- Minha saudação aos aficionados do<br />
clube e aos demais esportistas, aqui<br />
presentes ou no recesso dos seus lares.<br />
- Como é?<br />
- Aí, galera.<br />
- Quais são as instruções do técnico?<br />
- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />
trabalho de contenção coordenada, com<br />
energia otimizada, na zona de<br />
preparação, aumentam as<br />
probabilidades de, recuperado o<br />
esférico, concatenarmos um contragolpe<br />
agudo com parcimônia de meios e<br />
extrema objetividade, valendo-nos da<br />
desestruturação momentânea do<br />
sistema oposto, surpreendido pela<br />
reversão inesperada do fluxo da ação:<br />
- Ahn?<br />
- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />
pegá eles sem calça.<br />
- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />
coisa?<br />
- Posso dirigir uma mensagem de<br />
caráter sentimental, algo banal, talvez<br />
mesmo previsível e piegas, a uma<br />
pessoa à qual sou ligado por razões,<br />
inclusive, genéticas?<br />
- Pode.<br />
- Uma saudação para a minha<br />
progenitora.<br />
- Como é?<br />
- Alô, mamãe!<br />
- Estou vendo que você é um, um...<br />
- Um jogador que confunde o<br />
entrevistador, pois não corresponde à<br />
expectativa de que o atleta seja um ser<br />
algo primitivo com dificuldade de<br />
expressão e assim sabota a<br />
estereotipação?<br />
- Estereoquê?<br />
- Um chato?<br />
- Isso.<br />
Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />
O texto mostra uma situação em que a<br />
linguagem usada é inadequada ao<br />
contexto. Considerando as diferenças<br />
entre língua oral e língua escrita, assinale<br />
a opção que representa também uma<br />
inadequação da linguagem usada ao<br />
contexto:<br />
A) "o carro bateu e capotô, mas num deu<br />
pra vê direito" - um pedestre que<br />
assistiu ao acidente comenta com o<br />
outro que vai passando.<br />
B) "E aí, ô meu! Como vai essa força?" -<br />
um jovem que fala para um amigo.<br />
C) "Só um instante, por favor. Eu<br />
gostaria de fazer uma observação" -<br />
alguém comenta em uma reunião de<br />
trabalho.<br />
D) "Venho manifestar meu interesse em<br />
candidatar-me ao cargo de Secretária<br />
Executiva desta conceituada empresa"<br />
- alguém que escreve uma carta<br />
candidatando-se a um emprego.<br />
E) "Porque se a gente não resolve as<br />
coisas como têm que ser, a gente corre<br />
o risco de termos, num futuro próximo,<br />
muito pouca comida nos lares<br />
brasileiros" - um professor universitário<br />
em um congresso internacional.<br />
Comentário<br />
Essa questão está trabalhando com as<br />
nossas expectativas. Esperamos encontrar,<br />
nas diferentes situações, linguagens que<br />
correspondam à formalidade (ou à<br />
informalidade) delas. Na alternativa E, como<br />
o professor universitário está falando em um<br />
congresso internacional, espera-se que ele<br />
utilize uma linguagem mais formal e não uma<br />
linguagem coloquial como a que usou. Em<br />
todas as outras situações, a linguagem está<br />
de acordo com a situação em que está sendo<br />
empregada.<br />
09) (2007) Texto I<br />
Agora Fabiano conseguia arranjar as<br />
idéias. O que o segurava era a família.<br />
Vivia preso como um novilho amarrado ao<br />
mourão, suportando ferro quente. Se não<br />
fosse isso, um soldado amarelo não lhe<br />
pisava o pé não. (...) Tinha aqueles<br />
cambões pendurados ao pescoço.<br />
Deveria continuar a arrastá-los? Sinha<br />
Vitória dormia mal na cama de varas. Os<br />
meninos eram uns brutos, como o pai.<br />
Quando crescessem, guardariam as reses<br />
de um patrão invisível, seriam pisados,<br />
maltratados, machucados por um soldado<br />
amarelo.<br />
Graciliano Ramos. Vidas Secas. São Paulo:<br />
Martins, 23.ª ed., 1969, p. 75.<br />
Texto II<br />
Para Graciliano, o roceiro pobre é um<br />
outro, enigmático, impermeável. Não há<br />
solução fácil para uma tentativa de<br />
393
incorporação dessa figura no campo da<br />
ficção. É lidando com o impasse, ao invés<br />
de fáceis soluções, que Graciliano vai<br />
criar Vidas Secas, elaborando uma<br />
linguagem, uma estrutura romanesca,<br />
uma constituição de narrador em que<br />
narrador e criaturas se tocam, mas não se<br />
identificam. Em grande medida, o debate<br />
acontece porque, para a intelectualidade<br />
brasileira naquele momento, o pobre, a<br />
despeito de aparecer idealizado em certos<br />
aspectos, ainda é visto como um ser<br />
humano de segunda categoria, simples<br />
demais, incapaz de ter pensamentos<br />
demasiadamente complexos. O que Vidas<br />
Secas faz é, com pretenso não<br />
envolvimento da voz que controla a<br />
narrativa, dar conta de uma riqueza<br />
humana de que essas pessoas seriam<br />
plenamente capazes.<br />
Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes. In:<br />
Teresa. São Paulo: USP, n.° 2, 2001, p. 254.<br />
No texto II, verifica-se que o autor utiliza<br />
A) linguagem predominantemente<br />
formal, para problematizar, na<br />
composição de Vidas Secas, a relação<br />
entre o escritor e o personagem<br />
popular.<br />
B) linguagem inovadora, visto que, sem<br />
abandonar a linguagem formal, dirigese<br />
diretamente ao leitor.<br />
C) linguagem coloquial, para narrar<br />
coerentemente uma história que<br />
apresenta o roceiro pobre de forma<br />
pitoresca.<br />
D) linguagem formal com recursos<br />
retóricos próprios do texto literário em<br />
prosa, para analisar determinado<br />
momento da literatura brasileira.<br />
E) linguagem regionalista, para transmitir<br />
informações sobre literatura, valendose<br />
de coloquialismo, para facilitar o<br />
entendimento do texto.<br />
Comentário<br />
Questão de nível médio. Algumas<br />
alternativas poderiam levar o candidato a<br />
pensar que o texto de Vidas Secas utiliza<br />
uma linguagem predominantemente coloquial<br />
e regionalista. Entretanto, é na alternativa A<br />
que se encontra o real estilo da linguagem<br />
utilizada por Graciliano Ramos. A linguagem<br />
é, portanto, predominantemente formal e<br />
problematiza a relação do escritor com o<br />
personagem popular. Esta acaba sendo uma<br />
das grandes características do autor, pois ele<br />
buscava sempre dar uma grande densidade<br />
psicológica aos seus romances.<br />
<strong>10</strong>) (2006) Depois de um bom jantar: feijão<br />
com carne-seca, orelha de porco e couve<br />
com angu, arroz-mole engordurado, carne<br />
de vento assada no espeto, torresmo<br />
enxuto de toicinho da barriga, viradinho de<br />
milho verde e um prato de caldo de couve,<br />
jantar encerrado por um prato fundo de<br />
canjica com torrões de açúcar, Nhô Tomé<br />
saboreou o café forte e se estendeu na<br />
rede. A mão direita sob a cabeça, à guisa<br />
de travesseiro, o indefectível cigarro de<br />
palha entre as pontas do indicador e do<br />
polegar, envernizados pela fumaça, de<br />
unhas encanoadas e longas, ficou-se de<br />
pança para o ar, modorrento, a olhar para<br />
as ripas do telhado.<br />
Quem come e não deita, a comida não<br />
aproveita, pensava Nhô Tomé... E pôs-se<br />
a cochilar. A sua modorra durou pouco;<br />
Tia Policena, ao passar pela sala, bradou<br />
assombrada:<br />
— Êêh! Sinhô! Vai drumi agora? Não!<br />
Num presta... Dá pisadêra e póde morrê<br />
de ataque de cabeça! Despois do armoço<br />
num far-má... mais despois da janta?!”<br />
Cornélio Pires. Conversas ao pé do fogo. São Paulo:<br />
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1987.<br />
Nesse trecho, extraído de texto publicado<br />
originalmente em 1921, o narrador<br />
A) apresenta, sem explicitar juízos de<br />
valor, costumes da epoca, descrevendo<br />
os pratos servidos no jantar e a atitude<br />
de Nhô Tomé e de Tia Policena.<br />
B) desvaloriza a norma culta da língua<br />
porque incorpora à narrativa usos<br />
próprios da linguagem regional das<br />
personagens.<br />
C) condena os hábitos descritos, dando<br />
voz a Tia Policena, que tenta impedir<br />
Nhô Tomé de deitar-se após as<br />
refeições.<br />
D) utiliza a diversidade sociocultural e<br />
lingüística para demonstrar seu<br />
desrespeito às populações das zonas<br />
rurais do início do século XX.<br />
E) manifesta preconceito em relação a Tia<br />
Policena ao transcrever a fala dela com<br />
os erros próprios da região.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil, pois a alternativa<br />
"A" deixa clara a intencionalidade do<br />
narrador. Entretanto, o aluno poderia optar<br />
pela alternativa "B" caso não desse o devido<br />
valor ao sentido da palavra “desvaloriza”, que<br />
a elimina.<br />
394
11) (2006) Aula de português<br />
Explorando a função emotiva da<br />
linguagem, o poeta expressa o contraste<br />
entre marcas de variação de usos da<br />
linguagem em<br />
A) situações formais e informais.<br />
B) diferentes regiões do país.<br />
C) escolas literárias distintas.<br />
D) textos técnicos e poéticos.<br />
E) diferentes épocas.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil, pois o próprio título<br />
nos dá uma noção da dificuldade de<br />
transformar a linguagem coloquial e de uso<br />
cotidiano em uma linguagem formal,<br />
expressa no poema como “a misteriosa”.<br />
Drummond foi muito feliz em conseguir<br />
demonstrar a dificuldade em entender como<br />
estruturas simples da língua se tornam tão<br />
complexas ao se iniciar o processo de<br />
compreensão da estrutura lingüística.<br />
12) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />
preciso, além de conhecer o padrão<br />
formal da Língua Portuguesa, saber<br />
adequar o uso da linguagem ao contexto<br />
discursivo. Para exemplificar este fato,<br />
seu professor de Língua Portuguesa<br />
convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />
Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />
brinca com situações de discurso oral que<br />
fogem à expectativa do ouvinte.<br />
Aí, Galera<br />
Jogadores de futebol podem ser<br />
vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />
você pode imaginar um jogador de futebol<br />
dizendo "estereotipação"? E, no<br />
entanto, por que não?<br />
- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />
galera.<br />
- Minha saudação aos aficionados do<br />
clube e aos demais esportistas, aqui<br />
presentes ou no recesso dos seus lares.<br />
- Como é?<br />
- Aí, galera.<br />
- Quais são as instruções do técnico?<br />
- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />
trabalho de contenção coordenada, com<br />
energia otimizada, na zona de<br />
preparação, aumentam as<br />
probabilidades de, recuperado o<br />
esférico, concatenarmos um contragolpe<br />
agudo com parcimônia de meios e<br />
extrema objetividade, valendo-nos da<br />
desestruturação momentânea do<br />
sistema oposto, surpreendido pela<br />
reversão inesperada do fluxo da ação:<br />
- Ahn?<br />
- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />
pegá eles sem calça.<br />
- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />
coisa?<br />
- Posso dirigir uma mensagem de<br />
caráter sentimental, algo banal, talvez<br />
mesmo previsível e piegas, a uma<br />
pessoa à qual sou ligado por razões,<br />
inclusive, genéticas?<br />
- Pode.<br />
- Uma saudação para a minha<br />
progenitora.<br />
- Como é?<br />
- Alô, mamãe!<br />
- Estou vendo que você é um, um...<br />
- Um jogador que confunde o<br />
entrevistador, pois não corresponde à<br />
expectativa de que o atleta seja um ser<br />
algo primitivo com dificuldade de<br />
expressão e assim sabota a<br />
estereotipação?<br />
- Estereoquê?<br />
- Um chato?<br />
- Isso.<br />
Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />
A expressão "pegá eles sem calça"<br />
poderia ser substituída, sem<br />
comprometimento de sentido, em língua<br />
culta, formal, por:<br />
A) pegá-los na mentira.<br />
B) pegá-los desprevenidos.<br />
395
C) pegá-los em flagrante.<br />
D) pegá-los rapidamente.<br />
E) pegá-los momentaneamente<br />
Comentário<br />
O trabalho que temos aqui é de<br />
compreensão de sentido. Se você nunca<br />
ouviu a expressão "de calças na mão", terá<br />
de imaginar o que acontece quando<br />
pegamos alguém nessa situação. Mas isso<br />
não basta. Se usar somente situações que<br />
pode imaginar, restarão as alternativas B e<br />
C. Esse problema só será solucionado se<br />
você entender bem o texto a que ele se<br />
refere. Como o jogador está falando em<br />
roubar a bola e partir para cima do adversário<br />
rapidamente, imagina-se que o adversário<br />
não esperava perder a bola naquele<br />
momento e, quando isso ocorreu, ele não<br />
estava preparado para receber um contraataque.<br />
Utilizando essa análise, somente a<br />
alternativa B está correta.<br />
13) (2000) Em uma conversa ou leitura de<br />
um texto, corre-se o risco de atribuir um<br />
significado inadequado a um termo ou<br />
expressão, e isso pode levar a certos<br />
resultados inesperados, como se vê nos<br />
quadrinhos abaixo.<br />
por que ter dúvidas quanto à resposta, a não<br />
ser que não se leia a proposta da questão.<br />
Comentário do INEP<br />
Essa questão procurou avaliar se o<br />
participante conseguia inferir, a partir de uma<br />
seqüência narrativa de imagens, a expressão<br />
lingüística adequada à situação de<br />
interlocução, no caso a fala da personagem,<br />
no primeiro quadrinho. A expressão de uso<br />
coloquial 'olha o passarinho!', dependendo do<br />
contexto, tem diferentes significados, que<br />
nesse caso foram associados pelo cartunista<br />
para produzir o efeito de humor. A grande<br />
maioria - 89% - dos participantes realizou a<br />
inferência solicitada, analisando a função da<br />
linguagem e identificando a variante<br />
lingüística adequada à situação de<br />
interlocução, com base na leitura da<br />
seqüência das imagens e da fala da<br />
personagem no terceiro quadrinho. É<br />
interessante notar a abrangência dessa<br />
expressão metafórica no Brasil, criada no<br />
contexto informal da fala com seus<br />
significados correspondentes. Mesmo assim,<br />
11% dos participantes, possivelmente,<br />
desconhecem essa expressão ou não<br />
conseguiram realizar a transposição do<br />
significado humorístico da fala do último<br />
quadrinho.<br />
14) (2006) Aula de português<br />
(SOUZA, Maurício de. Chico Bento.<br />
Rio de Janeiro: Ed. Globo, n o 335, Nov./99 )<br />
Nessa historinha, o efeito humorístico<br />
origina-se de uma situação criada pela<br />
fala da Rosinha no primeiro quadrinho,<br />
que é:<br />
A) Faz uma pose bonita!<br />
B) Quer tirar um retrato?<br />
C) Sua barriga está aparecendo!<br />
D) Olha o passarinho!<br />
E) Cuidado com o flash!<br />
Comentário<br />
Quem não se lembra de expressões<br />
humorísticas usadas quando se deseja tirar<br />
uma foto, como "Olha o passarinho" ou "Fale<br />
xis"?<br />
Pois é, essa é uma questão fácil e a<br />
interpretação do texto é simples, e não há<br />
396
No poema, a referência à variedade<br />
padrão da língua está expressa no<br />
seguinte trecho:<br />
A) “A linguagem / na ponta da língua” (v.1<br />
e 2).<br />
B) “A linguagem / na superfície<br />
estrelada de letras” (v.5 e 6).<br />
C) “[a língua] em que pedia para ir lá<br />
fora” (v.14).<br />
D) “[a língua] em que levava e dava<br />
pontapé” (v.15).<br />
E) “[a língua] do namoro com a priminha”<br />
(v.17).<br />
Comentário<br />
Questão fácil, pois a alternativa "B" é a<br />
única que faz menção à norma-padrão da<br />
língua. As demais alternativas fogem a essa<br />
norma.<br />
15) (2005) Leia com atenção o texto:<br />
[Em Portugal], você poderá ter alguns<br />
probleminhas se entrar numa loja de<br />
roupas desconhecendo certas sutilezas da<br />
língua. Por exemplo, não adianta pedir<br />
para ver os ternos — peça para ver os<br />
fatos. Paletó é casaco. Meias são<br />
peúgas. Suéter é camisola — mas não<br />
se assuste, porque calcinhas femininas<br />
são cuecas. (Não é uma delícia?)<br />
(Ruy Castro. Viaje Bem. Ano VIII, no 3, 78.)<br />
O texto destaca a diferença entre o<br />
português do Brasil e o de Portugal<br />
quanto<br />
A) ao vocabulário.<br />
B) à derivação.<br />
C) à pronúncia.<br />
D) ao gênero.<br />
E) à sintaxe.<br />
Comentário<br />
Questão de entendimento muito fácil, pois<br />
o próprio enunciado deixa claro que se trata<br />
das diferenças de vocabulário entre o<br />
português brasileiro e o lusitano.<br />
16) (2008) A Lei Federal n.º 9.985/2000, que<br />
instituiu o sistema nacional de unidades<br />
de conservação, define dois tipos de<br />
áreas protegidas. O primeiro, as unidades<br />
de proteção integral, tem por objetivo<br />
preservar a natureza, admitindo-se<br />
apenas o uso indireto dos seus recursos<br />
naturais, isto é, aquele que não envolve<br />
consumo, coleta, dano ou destruição dos<br />
recursos naturais. O segundo, as<br />
unidades de uso sustentável, tem por<br />
função compatibilizar a conservação da<br />
natureza com o uso sustentável de<br />
parcela dos recursos naturais. Nesse<br />
caso, permite-se a exploração do<br />
ambiente de maneira a garantir a<br />
perenidade dos recursos ambientais<br />
renováveis e dos processos ecológicos,<br />
mantendo-se a biodiversidade e os<br />
demais atributos ecológicos, de forma<br />
socialmente justa e economicamente<br />
viável.<br />
Considerando essas informações, analise<br />
a seguinte situação hipotética.<br />
Ao discutir a aplicação de recursos<br />
disponíveis para o desenvolvimento de<br />
determinada região, organizações civis,<br />
universidade e governo resolveram<br />
investir na utilização de uma unidade de<br />
proteção integral, o Parque Nacional do<br />
Morro do Pindaré, e de uma unidade de<br />
uso sustentável, a Floresta Nacional do<br />
Sabiá. Depois das discussões, a equipe<br />
resolveu levar adiante três projetos:<br />
— o projeto I consiste de pesquisas<br />
científicas embasadas exclusivamente<br />
na observação de animais;<br />
— o projeto II inclui a construção de uma<br />
escola e de um centro de vivência;<br />
— o projeto III promove a organização de<br />
uma comunidade extrativista que<br />
poderá coletar e explorar<br />
comercialmente frutas e sementes<br />
nativas.<br />
Nessa situação hipotética, atendendo-se à<br />
lei mencionada acima, é possível<br />
desenvolver tanto na unidade de proteção<br />
integral quanto na de uso sustentável<br />
A) apenas o projeto I.<br />
B) apenas o projeto III.<br />
C) apenas os projetos I e II.<br />
D) apenas os projetos II e III.<br />
E) todos os três projetos.<br />
Comentário do portal<br />
A alternativa correta é a letra "A", pois,<br />
analisando-se a situação hipotética sugerida<br />
no enunciado, percebe-se que ela deverá<br />
atender os requisitos tanto da unidade de<br />
proteção integral quanto da unidade de uso<br />
sustentável. Portanto, apenas o projeto I<br />
poderá ser desenvolvido nessas duas<br />
propostas de unidades.<br />
397
17) (1999) Leia o texto abaixo.<br />
Cabelos longos, brinco na orelha<br />
esquerda, físico de skatista. Na aparência,<br />
o estudante brasiliense Rui Lopes Viana<br />
Filho, de 16 anos, não lembra em nada o<br />
estereótipo dos gênios. Ele não usa<br />
pesados óculos de grau e está longe de<br />
ter um ar introspectivo. No final do mês<br />
passado, Rui retornou de Taiwan, onde<br />
enfrentou 419 competidores de todo o<br />
mundo na 39ª Olimpíada Internacional de<br />
Matemática. A reluzente medalha de ouro<br />
que ele trouxe na bagagem está<br />
dependurada sobre a cama de seu quarto,<br />
atulhado de rascunhos dos problemas<br />
matemáticos que aprendeu a decifrar nos<br />
últimos cinco anos.<br />
Veja – Vencer uma olimpíada serve de<br />
passaporte para uma carreira profissional<br />
meteórica?<br />
Rui – Nada disso. Decidi me dedicar à<br />
Olimpíada porque sei que a concorrência<br />
por um emprego é cada vez mais<br />
selvagem e cruel. Agora tenho algo a mais<br />
para oferecer. O problema é que as coisas<br />
estão mudando muito rápido e não sei<br />
qual será minha profissão. Além de ser<br />
muito novo para decidir sobre o meu<br />
futuro profissional, sei que esse conceito<br />
de carreira mudou muito.<br />
(Entrevista de Rui Lopes Viana Filho à Veja,<br />
05/08/1998, n.31, p. 9-<strong>10</strong>)<br />
398<br />
Na pergunta, o repórter estabelece uma<br />
relação entre a entrada do estudante no<br />
mercado de trabalho e a vitória na<br />
Olimpíada. O estudante<br />
A) concorda com a relação e afirma que o<br />
desempenho na Olimpíada é<br />
fundamental para sua entrada no<br />
mercado.<br />
B) discorda da relação e complementa<br />
que é fácil se fazer previsões sobre o<br />
mercado de trabalho.<br />
C) discorda da relação e afirma que seu<br />
futuro profissional independe de<br />
dedicação aos estudos.<br />
D) discorda da relação e afirma que seu<br />
desempenho só é relevante se<br />
escolher uma profissão relacionada à<br />
matemática.<br />
E) concorda em parte com a relação e<br />
complementa que é complexo fazer<br />
previsões sobre o mercado de trabalho.<br />
Comentário<br />
Não é difícil de se chegar à resposta<br />
correta ao se ler a reportagem. Ao final do<br />
último parágrafo — (...) Além de ser muito<br />
novo para decidir sobre o meu futuro<br />
profissional, sei que esse conceito de carreira<br />
mudou muito. —, o estudante praticamente<br />
fornece a resposta à questão, declarando-se<br />
realista ao não tentar prever seu futuro<br />
profissional devido à pouca idade e às<br />
mudanças no mercado de trabalho. Quanto a<br />
concordar parcialmente com o repórter, veja<br />
que ele, apesar de negar que o prêmio fosse<br />
uma garantia de sucesso profissional, logo<br />
depois afirma que, com ele, terá algo mais a<br />
oferecer ao mercado. Questão de nível fácil.<br />
Comentário do INEP<br />
Nesta situação-problema, o participante<br />
deveria demonstrar que compreendeu as<br />
premissas de um discurso, distinguindo a<br />
diferença de significado de palavras isoladas<br />
ou no contexto em que estão inseridas.<br />
Verificou-se que mais da metade dos<br />
participantes demonstrou possuir essa<br />
compreensão. Aqueles que optaram pelas<br />
alternativas C e D podem ter sido atraídos<br />
pelo significado negativo da expressão inicial<br />
"Nada disso".<br />
18) (1998) Texto 1<br />
"Mulher, Irmã, escuta-me: não ames,<br />
Quando a teus pés um homem terno e<br />
curvo<br />
jurar amor, chorar pranto de sangue,<br />
Não creias, não, mulher: ele te engana!<br />
As lágrimas são gotas da mentira<br />
E o juramento manto da perfídia."<br />
(Joaquim Manoel de Macedo)<br />
Texto 2<br />
"Teresa, se algum sujeito bancar o<br />
sentimental em cima de você<br />
E te jurar uma paixão do tamanho de um<br />
bonde<br />
Se ele chorar<br />
Se ele ajoelhar<br />
Se ele se rasgar todo<br />
Não acredite não Teresa<br />
É lágrima de cinema<br />
É tapeação<br />
Mentira<br />
CAI FORA"<br />
(Manuel Bandeira)<br />
Os autores, ao fazerem alusão às<br />
imagens da lágrima sugerem que:<br />
A) há um tratamento idealizado da<br />
relação homem/mulher.<br />
B) há um tratamento realista da relação<br />
homem/mulher.<br />
C) a relação familiar é idealizada.<br />
D) a mulher é superior ao homem.<br />
E) a mulher é igual ao homem.
Comentário<br />
Ambos os autores, ao utilizarem a<br />
imagem da lágrima, estão na realidade<br />
mostrando que a figura do homem que é<br />
romântico a ponto de chorar ao jurar amor<br />
não existe. Tanto Macedo quanto<br />
Bandeira alertam as mulheres dizendo,<br />
com palavras e estilos diferentes, que não<br />
há homem que chore por amor (portanto,<br />
essa figura é uma idealização — e, por<br />
conseguinte, toda imagem que se tem<br />
sobre os relacionamentos<br />
demasiadamente românticos). Note que<br />
Bandeira chega até mesmo a chamar tal<br />
"chorão" de ator ("...É lágrima de cinema /<br />
É tapeação..."). Macedo dá uma imagem<br />
pesada às lágrimas ("...são gotas da<br />
mentira...").<br />
19) (1999)<br />
(QUINO. Mafalda inédita. São Paulo: Martins Fontes, 1993)<br />
Observando as falas das personagens,<br />
analise o emprego do pronome SE e o<br />
sentido que adquire no contexto. No<br />
contexto da narrativa, é correto afirmar<br />
que o pronome SE:<br />
A) em I, indica reflexividade e equivale a<br />
"a si mesmas".<br />
B) em II, indica reciprocidade e equivale a<br />
"a si mesma".<br />
C) em III, indica reciprocidade e equivale<br />
a "umas às outras".<br />
D) em I e III, indica reciprocidade e<br />
equivale a "umas às outras".<br />
E) em II e III, indica reflexividade e<br />
equivale a "a si mesma " e "a si<br />
mesmas", respectivamente.<br />
Comentário<br />
Mais uma questão que fala por si própria.<br />
Lendo o segundo quadrinho — "Quer dizer<br />
que você também se ama muito mais no<br />
Natal?" —, é fácil de se identificar o pronome<br />
reflexivo. Basta que se troque se ama por<br />
ama a si mesma. O mesmo ocorre no<br />
terceiro quadrinho em "Por que será que as<br />
pessoas se amam muito mais no Natal?" —<br />
Por que será que as pessoas amam a si<br />
mesmas? Questão de grau fácil.<br />
Comentário do INEP<br />
Este problema requeria que o participante<br />
mobilizasse conhecimentos sobre os<br />
significados de "reciprocidade e<br />
"reflexividade" e o associasse à<br />
compreensão de linguagem iconográfica.<br />
Cerca de metade dos participantes<br />
demonstrou essa capacidade. A opção de<br />
30% dos participantes pela alternativa D<br />
pode indicar que eles utilizaram as imagens<br />
apenas como ilustração do texto e não como<br />
linguagem capaz de instituir novos<br />
significados.<br />
20) (2001) Os provérbios constituem um<br />
produto da sabedoria popular e, em geral,<br />
pretendem transmitir um ensinamento. A<br />
alternativa em que os dois provérbios<br />
remetem a ensinamentos semelhantes é:<br />
A) “Quem diz o que quer, ouve o que não<br />
quer” e “Quem ama o feio, bonito lhe<br />
parece”.<br />
B) “Devagar se vai ao longe” e “De grão<br />
em grão, a galinha enche o papo”.<br />
C) “Mais vale um pássaro na mão do que<br />
dois voando” e “Não se deve atirar<br />
pérolas aos porcos”.<br />
D) “Quem casa quer casa” e “Santo de<br />
casa não faz milagre”.<br />
E) “Quem com ferro fere, com ferro será<br />
ferido” e “Casa de ferreiro, espeto de<br />
pau”.<br />
Comentário<br />
Questão fácil. A alternativa B apresenta<br />
dois provérbios que tratam de paciência,<br />
perseverança. A mensagem é a mesma em<br />
ambos.<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão propõe uma série de<br />
provérbios agrupados aos pares, para que o<br />
participante demonstre compreender e<br />
comparar os provérbios de modo a identificar<br />
aqueles que traduzem ensinamentos<br />
semelhantes. A organização sintáticosemântica<br />
dos provérbios cria um efeito de<br />
sentido metafórico que deve ser recuperado,<br />
analisado e comparado, o que foi<br />
corretamente feito por cerca de 80% dos<br />
participantes.<br />
21) (2006) No romance Vidas Secas, de<br />
Graciliano Ramos, o vaqueiro Fabiano<br />
encontra-se com o patrão para receber o<br />
salário. Eis parte da cena:<br />
399
A) étnico e religioso.<br />
B) lingüístico e econômico.<br />
C) racial e folclórico.<br />
D) histórico e geográfico.<br />
E) literário e popular.<br />
Graciliano Ramos. Vidas Secas. 91.ª ed.<br />
Rio de Janeiro: Record, 2003.<br />
No fragmento transcrito, o padrão formal<br />
da linguagem convive com marcas de<br />
regionalismo e de coloquialismo no<br />
vocabulário. Pertence à variedade do<br />
padrão formal da linguagem o seguinte<br />
trecho:<br />
A) Não se conformou: devia haver<br />
engano (l.1).<br />
B) Fabiano perdeu os estribos (l.3).<br />
C) Passar a vida inteira assim no toco<br />
(l.4).<br />
D) Entregando o que era dele de mao<br />
beijada! (l.4-5).<br />
E) Aí Fabiano baixou a pancada e<br />
amunhecou (l.11).<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Bastaria que o<br />
candidato conhecesse o padrão formal da<br />
linguagem e distinguisse-o do regionalismo e<br />
do coloquialismo.<br />
22) (2005) As dimensões continentais do<br />
Brasil são objeto de reflexões expressas<br />
em diferentes linguagens. Esse tema<br />
aparece no seguinte p"Narizinho correu os<br />
olhos pela assistência. Não podia haver nada<br />
mais curioso. Besourinhos de oema:<br />
“(....)<br />
Que importa que uns falem mole<br />
descansado<br />
Que os cariocas arranhem os erres na<br />
garganta<br />
Que os capixabas e paroaras escancarem<br />
as vogais?<br />
Que tem se o quinhentos réis meridional<br />
Vira cinco tostões do Rio pro Norte?<br />
Junto formamos este assombro de<br />
misérias e grandezas,<br />
Brasil, nome de vegetal! (....)”<br />
(Mário de Andrade. Poesias completas. 6. ed. São Paulo:<br />
Martins Editora, 1980.)<br />
O texto poético ora reproduzido trata das<br />
diferenças brasileiras no âmbito<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil, pois a primeira<br />
estrofe, ao enunciar os erres arranhados dos<br />
cariocas e as vogais abertas dos capixabas,<br />
evidencia a diferença lingüística entre duas<br />
regiões distintas do Brasil, dando noção da<br />
variedade. Já na segunda estrofe, as<br />
diferenças econômicas são evidenciadas ao<br />
se mostrarem os réis e tostões variando da<br />
Região Meridional para a Norte.<br />
23) (202) "Narizinho correu os olhos pela<br />
assistência. Não podia haver nada mais<br />
curioso. Besourinhos de fraque e flores na<br />
lapela conversavam com baratinhas de<br />
mantilha e miosótis nos cabelos. Abelhas<br />
douradas, verdes e azuis, falavam mal<br />
das vespas de cintura fina — achando que<br />
era exagero usarem coletes tão<br />
apertados. Sardinhas aos centos<br />
criticavam os cuidados excessivos que as<br />
borboletas de toucados de gaze tinham<br />
com o pó das suas asas. Mamangavas de<br />
ferrões amarrados para não morderem. E<br />
canários cantando, e beija-flores beijando<br />
flores, e camarões camaronando, e<br />
caranguejos caranguejando, tudo que é<br />
pequenino e não morde, pequeninando e<br />
não mordendo."<br />
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. São Paulo:<br />
Brasiliense, 1947.<br />
No último período do trecho, há uma série<br />
de verbos no gerúndio que contribuem<br />
para caracterizar o ambiente fantástico<br />
descrito. Expressões como<br />
"camaronando", "caranguejando" e<br />
"pequeninando e não mordendo" criam,<br />
principalmente, efeitos de<br />
A) esvaziamento de sentido.<br />
B) monotonia do ambiente.<br />
C) estaticidade dos animais.<br />
D) interrupção dos movimentos.<br />
E) dinamicidade do cenário.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. O dinamismo dos<br />
verbos no gerúndio tem como função<br />
principal dar vida às personagens do mundo<br />
fantástico. Não há estagnação. Cada animal<br />
faz o que lhe cabe.<br />
400
Comentário do INEP<br />
Essa questão apresenta para leitura e<br />
análise um trecho da obra Reinações de<br />
Narizinho, de Monteiro Lobato, e, nele, a<br />
descrição reflete as fantasias do mundo<br />
infantil. A questão propõe que seja resolvido<br />
um problema de linguagem, que é a<br />
identificação dos sentidos criados no texto<br />
pelo emprego de vários verbos no gerúndio,<br />
alguns dos quais, neologismos criados pelo<br />
autor. Como o texto é uma descrição, temos<br />
o relato de um ambiente que se agita com as<br />
ações simultâneas dos muitos seres que o<br />
habitam. Cabe ao participante perceber que<br />
o efeito dinâmico é criado pelos verbos de<br />
ação no gerúndio, que é a forma verbal da<br />
ação se fazendo. Ou seja, é função típica do<br />
gerúndio traduzir a noção de uma ação que<br />
se desenvolve de modo simultâneo à sua<br />
enunciação. Nesse ambiente retratado por<br />
Monteiro Lobato, os bichinhos humanizados<br />
se agitam, lembrando um burburinho de<br />
crianças. Apenas a alternativa E, assinalada<br />
por 36% dos participantes, responde<br />
corretamente a questão. As outras<br />
alternativas contemplam efeitos ou<br />
significados que, apesar de eventualmente<br />
serem transmitidos pelo emprego do<br />
gerúndio, não se verificam no texto.<br />
24) (1999) Considere os textos abaixo.<br />
(...) de modo particular, quero encorajar os<br />
crentes empenhados no campo da<br />
filosofia para que iluminem os diversos<br />
âmbitos da atividade humana, graças ao<br />
exercício de uma razão que se torna mais<br />
segura e perspicaz com o apoio que<br />
recebe da fé.<br />
(Papa João Paulo II. Carta Encíclica Fides<br />
et Ratio aos bispos da igreja católica sobre as relações<br />
entre fé e razão, 1998)<br />
As verdades da razão natural não<br />
contradizem as verdades da fé cristã.<br />
(São Tomás de Aquino<br />
–pensador medieval)<br />
Refletindo sobre os textos, pode-se<br />
concluir que:<br />
A) a encíclica papal está em contradição<br />
com o pensamento de São Tomás de<br />
Aquino, refletindo a diferença de<br />
épocas.<br />
B) a encíclica papal procura<br />
complementar São Tomás de Aquino,<br />
pois este colocava a razão natural<br />
acima da fé.<br />
C) a Igreja medieval valorizava a razão<br />
mais do que a encíclica de João Paulo<br />
II.<br />
D) o pensamento teológico teve sua<br />
importância na Idade Média, mas, em<br />
nossos dias, não tem relação com o<br />
pensamento filosófico.<br />
E) tanto a encíclica papal como a frase<br />
de São Tomás de Aquino procuram<br />
conciliar os pensamentos sobre fé e<br />
razão.<br />
Comentário<br />
Nessa questão, é necessária uma<br />
releitura do texto para que se tenha uma<br />
melhor compreensão do tema. Tanto a<br />
citação do Papa quanto a de São Tomás de<br />
Aquino tentam criar uma interdependência<br />
entre a ciência e a fé, a religião. O Papa<br />
incentiva aqueles que exercem a pesquisa<br />
científica ou filosófica a manter a fé cristã.<br />
São Tomás de Aquino, por sua vez, equipara<br />
o avanço da ciência ao aumento da própria<br />
fé, afirmando que a razão natural não<br />
contradiz a fé cristã. Se um cresce, cresce<br />
também o outro, em harmonia e sem<br />
contradições. Questão de grau médio.<br />
(Português)<br />
Nessa questão, encontramos dois textos:<br />
o primeiro, do século XX, foi elaborado pelo<br />
Papa João Paulo II; o segundo, do século<br />
XIII, pelo teólogo e filósofo cristão São<br />
Tomás de Aquino. O conteúdo de ambos se<br />
refere à ligação entre fé e razão, a qual<br />
esteve presente na filosofia escolástica da<br />
Idade Média. Esse campo de reflexão buscou<br />
conciliar o cristianismo com o pensamento de<br />
Aristóteles e teve em São Tomás de Aquino<br />
seu maior representante.<br />
Mesmo sem ter todas essas informações,<br />
você poderia responder tranqüilamente à<br />
questão por meio de uma leitura atenta dos<br />
dois textos, chegando à conclusão de que<br />
"tanto a encíclica papal como a frase de São<br />
Tomás de Aquino procuram conciliar os<br />
pensamentos sobre fé e razão". Resposta<br />
correta: alternativa E. (História)<br />
Comentário do INEP<br />
Para resolver esta situação-problema, o<br />
participante deveria mostrar que, além de<br />
interpretar textos, sabe relacioná-los sendo<br />
que, nesse item, essas operações referem-se<br />
a um texto escrito na época medieval e a<br />
outro escrito recentemente.<br />
Mais de 70% dos participantes<br />
demonstraram facilidade em estabelecer esta<br />
relação.<br />
401
25) (2008) Assinale a opção que apresenta<br />
um verso do soneto de Cláudio Manoel da<br />
Costa em que o poeta se dirige ao seu<br />
interlocutor.<br />
A) “Torno a ver-vos, ó montes; o<br />
destino” (v.1)<br />
B) “Aqui estou entre Almendro, entre<br />
Corino,” (v.5)<br />
C) “Os meus fiéis, meus doces<br />
companheiros,” (v.6)<br />
D) “Vendo correr os míseros vaqueiros”<br />
(v.7)<br />
E) “Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto,”<br />
(v.11)<br />
Comentário<br />
Nesta questão, basta que o aluno<br />
identifique o pronome oblíquo, presente no<br />
verso um, que chama o leitor para o texto.<br />
Sendo assim, a resposta correta é a letra "A".<br />
26) (2008)<br />
Dick Browne. O melhor de Hagar, o horrível, v. 2. L&PM<br />
pocket, p.55-6 (com adaptações).<br />
Assinale o trecho do diálogo que<br />
apresenta um registro informal, ou<br />
coloquial, da linguagem.<br />
A) “Tá legal, espertinho! Onde é que<br />
você esteve?!”<br />
B) “E lembre-se: se você disser uma<br />
mentira, os seus chifres cairão!”<br />
C) “Estou atrasado porque ajudei uma<br />
velhinha a atravessar a rua...”<br />
D) “...e ela me deu um anel mágico que<br />
me levou a um tesouro”<br />
E) “mas bandidos o roubaram e os<br />
persegui até a Etiópia, onde um<br />
dragão...”<br />
Comentário<br />
Linguagem coloquial é aquela usada no<br />
cotidiano, que tem como característica<br />
principal a oralidade, ou seja, aquela que não<br />
segue o rigor da norma culta.<br />
Entre as alternativas da questão, apenas<br />
a letra "A" apresenta esses traços.<br />
27) (1999) Leia um texto publicado no jornal<br />
Gazeta Mercantil. Esse texto é parte de<br />
um artigo que analisa algumas situações<br />
de crise no mundo, entre elas, a quebra<br />
da Bolsa de Nova Iorque em 1929, e foi<br />
publicado na época de uma iminente crise<br />
financeira no Brasil.<br />
Deu no que deu. No dia 29 de outubro de<br />
1929, uma terça-feira, praticamente não<br />
havia compradores no pregão de Nova<br />
Iorque, só vendedores. Seguiu-se uma<br />
crise incomparável: o Produto Interno<br />
Bruto dos Estados Unidos caiu de <strong>10</strong>4<br />
bilhões de dólares em 1929, para 56<br />
bilhões em 1933, coisa inimaginável em<br />
nossos dias. O valor do dólar caiu a quase<br />
metade. O desemprego elevou-se de 1,5<br />
milhão para 12,5 milhões de trabalhadores<br />
– cerca de 25% da população ativa –<br />
entre 1929 e 1933. A construção civil caiu<br />
90%. Nove milhões de aplicações, tipo<br />
caderneta de poupança, perderam-se com<br />
o fechamento dos bancos. Oitenta e cinco<br />
mil firmas faliram. Houve saques e norteamericanos<br />
que passaram fome.<br />
(Gazeta Mercantil, 05/01/1999)<br />
Ao citar dados referentes à crise ocorrida<br />
em 1929, em um artigo jornalístico atual,<br />
pode-se atribuir ao jornalista a seguinte<br />
intenção:<br />
A) questionar a interpretação da crise.<br />
B) comunicar sobre o desemprego.<br />
C) instruir o leitor sobre aplicações em<br />
bolsa de valores.<br />
D) relacionar os fatos passados e<br />
presentes.<br />
E) analisar dados financeiros americanos.<br />
Comentário<br />
Nessa questão, o que se tem de fazer é<br />
prestar atenção às alternativas das<br />
respostas. Nenhuma delas se apresenta tão<br />
bem contextualizada a uma possível<br />
interpretação quanto a letra D. Partindo-se da<br />
análise do texto, fica claro que a intenção do<br />
artigo é remeter o leitor ao passado para<br />
tentar conduzi-lo a uma reflexão sobre uma<br />
situação presente, não mencionada na<br />
questão. Após a leitura e utilizando-se a já<br />
citada eliminação de questões, torna-se clara<br />
402
a resposta. Questão de nível médio.<br />
(Português)<br />
Muitas vezes, quando procuramos entender<br />
uma crise econômica ou financeira de grandes<br />
proporções, buscamos estabelecer relações<br />
com crises passadas. O mesmo ocorre no<br />
jornalismo, como prova o texto encontrado<br />
nessa questão. Buscando entender uma crise<br />
ocorrida no início de 1999, o jornalista da<br />
Gazeta Mercantil buscou relacionar a situação<br />
dessa época com a grande crise de 1929 que<br />
afetou o mundo, trazendo desemprego e<br />
recessão, entre tantos outros problemas<br />
econômicos e sociais.<br />
Para responder a essa questão, era<br />
necessário ler atentamente o enunciado, em<br />
que está destacado que "o texto é parte de um<br />
artigo que analisa algumas situações de crise<br />
no mundo" e "foi publicado na época de uma<br />
iminente crise financeira no Brasil". Era<br />
importante também observar a data em que o<br />
artigo foi publicado: 05/01/1999. A partir dessas<br />
constatações, facilmente você chegaria a<br />
conclusão de que a intenção do jornalista era<br />
"relacionar os fatos passados e presentes".<br />
Resposta correta: alternativa D. (História)<br />
Comentário do INEP<br />
A resolução da questão demandava a<br />
capacidade dos participantes de relacionar<br />
eventos históricos envolvendo crises<br />
econômicas ocorridas em épocas e lugares<br />
distintos. Aproximadamente 2/3 deles<br />
demonstraram essa capacidade. Os demais,<br />
provavelmente, não compreenderam a<br />
exigência expressa no enunciado do problema<br />
– apontar as razões pelas quais um jornalista<br />
traz à tona eventos ocorridos setenta anos<br />
antes –, e apenas interpretaram o sentido do<br />
texto citado, que descreve a crise mundial de<br />
1929.<br />
28) (2000) “Precisa-se nacionais sem<br />
nacionalismo, (...) movidos pelo presente<br />
mas estalando naquele cio racial que só<br />
as tradições maduram! (...). Precisa-se<br />
gentes com bastante meiguice no<br />
sentimento, bastante força na peitaria,<br />
bastante paciência no entusiasmo e<br />
sobretudo, oh! sobretudo bastante<br />
vergonha na cara!<br />
(...) Enfim: precisa-se brasileiros! Assim<br />
está escrito no anúncio vistoso de cores<br />
desesperadas pintado sobre o corpo do<br />
nosso Brasil, camaradas.”<br />
(Jornal A Noite, São Paulo, 18/12/1925 apud LOPES, Telê<br />
Porto Ancona. Mário<br />
de Andrade: ramais e caminhos. São Paulo: Duas<br />
Cidades, 1972)<br />
No trecho acima, Mário de Andrade dá<br />
forma a um dos itens do ideário<br />
modernista, que é o de firmar a feição de<br />
uma língua mais autêntica, “brasileira”, ao<br />
expressar-se numa variante de linguagem<br />
popular identificada pela (o):<br />
A) escolha de palavras como cio, peitaria,<br />
vergonha.<br />
B) emprego da pontuação.<br />
C) repetição do adjetivo bastante.<br />
D) concordância empregada em Assim<br />
está escrito.<br />
E) escolha de construção do tipo<br />
precisa-se gentes.<br />
Comentário<br />
Apesar de essa questão misturar vários<br />
tipos de informação, se você se lembra um<br />
pouquinho dos usos da partícula se, com<br />
certeza não encontrará grande dificuldade.<br />
Segundo a regra gramatical, o verbo<br />
"precisa-se" deveria ir para o plural<br />
(precisam-se), mas essa noção de verbo<br />
concordante com o sujeito há muito<br />
desapareceu na variante popular brasileira.<br />
Mas, caso você não se lembre muito bem<br />
desse assunto ou ficou meio confuso com o<br />
texto e as outras alternativas, o caminho é<br />
responder por eliminação.<br />
A primeira alternativa apresenta palavras<br />
comuns no português brasileiro, mas<br />
nenhuma "invenção" nacional. Na dúvida,<br />
pense em "vergonha": não é uma invenção<br />
brasileira. Todos os que falam português no<br />
mundo conhecem bem essa palavra. A<br />
pontuação no texto não chama nenhuma<br />
atenção. Você provavelmente não viu nada<br />
de estranho nela. Da mesma forma, o<br />
"bastante" da terceira alternativa não é nada<br />
mais que um mecanismo de retórica, usado<br />
para dar ênfase à idéia. Com o "Assim está<br />
escrito", encontramos a mesma situação: um<br />
trecho litúrgico é usado para maior ênfase.<br />
Comentário do INEP<br />
A questão procurou avaliar se o<br />
participante era capaz de, a partir da leitura<br />
de um texto de Mário de Andrade , identificar<br />
e analisar uma variante lingüística de uso<br />
coloquial, utilizadas estilisticamente pelo<br />
autor. O uso estilístico das variantes marcou<br />
a primeira fase da literatura brasileira<br />
modernista. O trecho destaca em seu todo<br />
esse uso da linguagem popular. A escolha da<br />
construção 'precisa-se gentes' é marca desse<br />
uso estilístico. O índice de 37% na alternativa<br />
(A) demonstra, possivelmente, que os<br />
participantes não consideraram a escolha<br />
dos vocábulos, dentro do contexto do texto,<br />
403
confundindo as palavras que aparecem na<br />
alternativa com '...a feição de uma língua<br />
mais autêntica...'.O percentual de acertos foi<br />
da ordem de 40%.<br />
29) (2004) O poema abaixo pertence à<br />
poesia concreta brasileira. O termo latino<br />
de seu título significa "epitalâmio", poema<br />
ou canto em homenagem aos que se<br />
casam.<br />
30) (2002) O autor da tira utilizou os<br />
princípios de composição de um<br />
conhecido movimento artístico para<br />
representar a necessidade de um mesmo<br />
observador aprender a considerar,<br />
simultaneamente, diferentes pontos de<br />
vista.<br />
Das obras reproduzidas, todas de autoria<br />
do pintor espanhol Pablo Picasso, aquela<br />
em cuja composição foi adotado um<br />
procedimento semelhante é:<br />
A)<br />
Considerando que símbolos e sinais são<br />
utilizados geralmente para demonstrações<br />
objetivas, ao serem incorporados no<br />
poema "Epithalamium - II".<br />
A) adquirem novo potencial de<br />
significação.<br />
B) eliminam a subjetividade do poema.<br />
C) opõem-se ao tema principal do poema.<br />
D) invertem seu sentido original.<br />
E) tornam-se confusos e equivocados.<br />
Comentário<br />
Diferentemente, por exemplo, da<br />
aplicação matemática dos símbolos, em que<br />
sinais como "=", "+", "-", "x", etc. servem<br />
como convenções internacionais de<br />
significação objetiva e invariável, em um<br />
poema como "Epithalamium – II" foram<br />
usados símbolos que não são convenções<br />
internacionais, mas, sim, convencionados<br />
apenas para esse texto. No caso, letras do<br />
alfabeto deixam de ser representações de<br />
sons (fonemas) para ganharem nova<br />
significação, principalmente pela construção<br />
visual do poema: unem homem (h) e mulher<br />
(e) pela ação da serpente (s) — libido,<br />
atração — em uma entidade única.<br />
Uma das tendências poéticas da segunda<br />
metade do século XX, resultado de um<br />
diálogo com estéticas já presentes no final do<br />
século XIX, trabalha com a construção de<br />
seu próprio referente, fazendo do poema um<br />
objeto autônomo.<br />
B)<br />
C)<br />
404
D)<br />
31) (2001) Oxímoro (ou paradoxo) é uma<br />
construção textual que agrupa significados<br />
que se excluem mutuamente. Para<br />
Garfield, a frase de saudação de Jon<br />
(tirinha abaixo) expressa o maior de todos<br />
os oxímoros.<br />
E)<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. O movimento<br />
artístico que previa considerar<br />
simultaneamente diversos pontos de vista<br />
era o Cubismo. Havia a desconstrução da<br />
forma para que se pudesse ver todos os<br />
ângulos concomitantemente. O único quadro<br />
que apresenta essas características é o da<br />
alternativa E. As outras quatro alternativas<br />
pressupõem a manutenção da forma.<br />
Comentário do INEP<br />
O objetivo desta questão é levar o<br />
participante a refletir sobre características<br />
fundamentais de um movimento artístico – o<br />
cubismo – a partir de dados visuais:<br />
quadrinhos e pinturas. A reprodução de dois<br />
quadrinhos da personagem Calvin forneceu<br />
para o participante informações básicas para<br />
a análise que deveria fazer das alternativas<br />
apresentadas. Segundo os quadrinhos, o<br />
movimento artístico abordado pela questão<br />
tinha como procedimento de composição<br />
representar, para um mesmo observador,<br />
diferentes pontos de vista, fazendo com que<br />
"o tradicional único ponto de vista" fosse<br />
abandonado e com que a perspectiva fosse<br />
fraturada. A análise das obras de Picasso<br />
reproduzidas nas alternativas permite que o<br />
participante reconheça a adoção desse<br />
procedimento no quadro "Marie-Thérèse<br />
apoiada no cotovelo" (alternativa E, com 46%<br />
de registros), no qual se pode reconhecer a<br />
representação de diferentes pontos de vista<br />
a partir dos quais é apresentado o rosto da<br />
mulher retratada.<br />
Folha de S. Paulo. 31 de julho de 2000.<br />
Nas alternativas abaixo, estão transcritos<br />
versos retirados do poema “O operário em<br />
construção”. Pode-se afirmar que ocorre<br />
um oxímoro em<br />
A) "Era ele que erguia casas<br />
Onde antes só havia chão."<br />
B) "... a casa que ele fazia<br />
Sendo a sua liberdade<br />
Era a sua escravidão."<br />
C) "Naquela casa vazia<br />
Que ele mesmo levantara<br />
Um mundo novo nascia<br />
De que sequer suspeitava."<br />
D) "... o operário faz a coisa<br />
E a coisa faz o operário."<br />
E) "Ele, um humilde operário<br />
Um operário que sabia<br />
Exercer a profissão."<br />
MORAES, Vinícius de. Antologia Poética. São Paulo:<br />
Companhia das Letras, 1992.<br />
Comentário<br />
Idéias que se completam e se excluem<br />
mutuamente são encontradas na alternativa<br />
B: a casa que ele construía era, ao mesmo<br />
tempo, sua liberdade e sua escravidão.<br />
A casa é um símbolo de liberdade para o<br />
homem. Para o homem operário, é também<br />
símbolo de escravidão, pois ele está<br />
"condenado" a jamais usufruir do resultado<br />
do seu trabalho (a casa que faz não é para<br />
ele).<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão propõe ao participante que<br />
estabeleça uma relação entre linguagens,<br />
associando a compreensão de um efeito<br />
semântico produzido pelo uso do oxímoro<br />
nos quadrinhos com o mesmo efeito num<br />
texto poético. O índice (18%) de escolhas da<br />
alternativa D deve-se, possivelmente, a uma<br />
análise parcial da noção de paradoxo,<br />
confundida com inversão.<br />
405
32) (2005) Cândido Portinari (1903-1962), um<br />
dos mais importantes artistas brasileiros<br />
do século XX, tratou de diferentes<br />
aspectos da nossa realidade em seus<br />
quadros.<br />
33) (2004)<br />
Sobre a temática dos “Retirantes”,<br />
Portinari também escreveu o seguinte<br />
poema:<br />
(....)<br />
Os retirantes vêm vindo com trouxas e<br />
embrulhos<br />
Vêm das terras secas e escuras;<br />
pedregulhos<br />
Doloridos como fagulhas de carvão aceso<br />
Corpos disformes, uns panos sujos,<br />
Rasgados e sem cor, dependurados<br />
Homens de enorme ventre bojudo<br />
Mulheres com trouxas caídas para o lado<br />
Pançudas, carregando ao colo um garoto<br />
Choramingando, remelento<br />
(....)<br />
(Cândido Portinari. Poemas. Rio de Janeiro:<br />
J. Olympio, 1964.)<br />
Das quatro obras reproduzidas, assinale<br />
aquelas que abordam a problemática que<br />
é tema do poema.<br />
A) 1 e 2 D) 3 e 4<br />
B) 1 e 3 E) 2 e 4<br />
C) 2 e 3<br />
Comentário<br />
O poema apresenta correspondência com<br />
as imagens ao descrever com detalhes a<br />
figura do retirante: pobre, mal vestido,<br />
carregando trouxas e embrulhos.<br />
A polifonia, variedade de vozes, presente<br />
no poema resulta da manifestação do<br />
A) poeta e do colonizador apenas.<br />
B) colonizador e do negro apenas.<br />
C) negro e do índio apenas.<br />
D) colonizador, do poeta e do negro<br />
apenas.<br />
E) poeta, do colonizador, do índio e do<br />
negro.<br />
Comentário<br />
A questão apresenta uma certa<br />
dificuldade, pois, à primeira vista, parecem<br />
confundir-se as vozes do colonizador, do<br />
negro e do índio. Entretanto, os<br />
travessões existentes no poema explicitam<br />
as falas das personagens ao mostrar que<br />
não são apenas as vozes do poeta e do<br />
colonizador que estão presentes. As falas do<br />
índio e do negro são proferidas por eles,<br />
marca expressa pelo discurso direto. A<br />
presença dessa modalidade de discurso<br />
indica a reprodução literal do que as<br />
personagens disseram.<br />
Um ponto interessante em relação a essa<br />
questão é a intertextualidade. O índio<br />
aparece no poema pela remissão a um texto<br />
poético do nosso Romantismo, em um<br />
processo intertextual com “I-Juca-Pirama”, de<br />
Gonçalves Dias; e a presença do negro se dá<br />
pela ligação com Mário de Andrade, em<br />
Macunaíma. Entende-se, portanto, que a<br />
alternativa correta é a letra E.<br />
34) (2003) No ano passado, o governo<br />
promoveu uma campanha a fim de reduzir<br />
os índices de violência. Noticiando o fato,<br />
um jornal publicou a seguinte manchete:<br />
406
CAMPANHA CONTRA A VIOLÊNCIA DO<br />
GOVERNO DO ESTADO ENTRA EM NOVA<br />
FASE<br />
A manchete tem um duplo sentido, e isso<br />
dificulta o entendimento. Considerando o<br />
objetivo da notícia, esse problema poderia<br />
ter sido evitado com a seguinte redação:<br />
A) Campanha contra o governo do Estado<br />
e a violência entram em nova fase.<br />
B) A violência do governo do Estado entra<br />
em nova fase de Campanha.<br />
C) Campanha contra o governo do Estado<br />
entra em nova fase de violência.<br />
D) A violência da campanha do governo<br />
do Estado entra em nova fase.<br />
E) Campanha do governo do Estado<br />
contra a violência entra em nova fase.<br />
Comentário<br />
O objetivo da questão é eliminar a<br />
ambigüidade da notícia de jornal, que,<br />
originalmente, trazia duas idéias: de acordo<br />
com a primeira, o governo queria combater a<br />
violência, e a segunda ressaltava que o<br />
governo era violento. Nessa questão,<br />
era preciso eliminar a segunda possibilidade<br />
de leitura.<br />
35) (2002) "A palavra tatuagem é<br />
relativamente recente. Toda a gente sabe<br />
que foi o navegador Cook que a introduziu<br />
no Ocidente, e esse escrevia tattou, termo<br />
da Polinésia de tatou ou tu tahou,<br />
'desenho'.<br />
(...) Desde os mais remotos tempos,<br />
vemo-la a transformar-se: distintivo<br />
honorífico entre uns homens, ferrete de<br />
ignomínia entre outros, meio de assustar o<br />
adversário para os bretões, marca de uma<br />
classe de selvagens das ilhas marquesas<br />
(...) sinal de amor, de desprezo, de ódio<br />
(...). Há três casos de tatuagem no Rio,<br />
completamente diversos na sua<br />
significação moral: os negros,os turcos<br />
com o fundo religioso e o bando de<br />
meretrizes, dos rufiões e dos humildes,<br />
que se marcam por crime ou por<br />
ociosidade".<br />
RIO, João do. Os Tatuadores. Revista Kosmos.<br />
1904, apud: A alma encantadora das ruas,<br />
SP: Cia das Letras, 1999.<br />
Com base no texto são feitas as seguintes<br />
afirmações:<br />
I. João do Rio revela como a tatuagem já<br />
estava presente na cidade do Rio de<br />
Janeiro, pelo menos desde o início do<br />
século XX, e era mais utilizada por<br />
alguns setores da população.<br />
II. A tatuagem, de origem polinésia,<br />
difundiu-se no ocidente com a<br />
característica que permanece até hoje:<br />
utilização entre os jovens com função<br />
estritamente estética.<br />
III. O texto mostra como a tatuagem é<br />
uma prática que se transforma no<br />
tempo e que alcança inúmeros sentidos<br />
nos diversos setores das sociedades e<br />
para as diferentes culturas.<br />
Está correto o que se afirma apenas em<br />
A) I D) I e II<br />
B) II E) I e III<br />
C) III<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Constata-se o<br />
seguinte: a tatuagem já existia no Brasil no<br />
início do século XX (o texto é de 1904 e parte<br />
dele se refere ao Rio do Janeiro) e era utilizada<br />
em diferentes setores da sociedade. A<br />
afirmação de que as tatuagens possuem<br />
apenas finalidade estética entre os jovens<br />
elimina a segunda alternativa. Já a última<br />
alternativa confirma as transformações das<br />
funções da tatuagem ao longo do tempo nas<br />
mais diversas sociedades e culturas.<br />
Comentário do INEP<br />
O texto estabelece uma relação entre a<br />
atualidade da palavra "tatuagem" e a<br />
antiguidade do uso de desenhos como pintura<br />
corporal. Focaliza uma prática social bastante<br />
difundida que adquiriu aspectos e conotações<br />
diversos nos diferentes contextos históricos e<br />
geográficos em que ela pode ser descrita.<br />
Fazendo a descrição da prática da tatuagem,<br />
como uma manifestação comum a diferentes<br />
culturas, e que adquire, inclusive, significados<br />
diferentes dentro de uma mesma cultura, induz<br />
o participante a refletir sobre a "diversidade dos<br />
patrimônios etnoculturais e artísticos",<br />
contextualizando ao mesmo tempo seus<br />
significados "em diferentes sociedades, épocas<br />
e lugares". Ao retomar as várias origens e usos<br />
da tatuagem, o participante é levado a<br />
compreender e respeitar uma gramática<br />
histórica dos costumes marcada sempre por<br />
semelhanças e diferenças. A questão não<br />
exigia, portanto, nenhum conhecimento prévio<br />
sobre as diferentes formas de manifestação<br />
dessa prática, mas simplesmente constatar,<br />
com o autor do texto citado, a historicidade e a<br />
diversidade das práticas sociais. Os<br />
participantes que assinalaram a alternativa C<br />
(36%), possivelmente, não levaram em<br />
consideração informações do texto. A questão<br />
foi corretamente respondida por 37% dos<br />
participantes.<br />
407
36) (2004)<br />
Nesta tirinha, a personagem faz referência<br />
a uma das mais conhecidas figuras de<br />
linguagem para<br />
A) condenar a prática de exercícios físicos<br />
B) valorizar aspectos da vida moderna.<br />
C) desestimular o uso das bicicletas.<br />
D) caracterizar o diálogo entre as<br />
gerações.<br />
E) criticar a falta de perspectiva do pai.<br />
Comentário<br />
A construção indica a falta de perspectiva<br />
na vida do pai do personagem. “Pedalar sem<br />
sair do lugar” é uma metáfora muito usada na<br />
cultura brasileira para expressar como é a<br />
vida de uma pessoa que age de forma a não<br />
conseguir qualquer mudança — para melhor<br />
ou para pior — na vida.<br />
37) (2004) As questões de números 26 e 27<br />
referem-se ao poema abaixo.<br />
Entre os recursos expressivos<br />
empregados no texto, destaca-se a<br />
A) metalinguagem, que consiste em fazer<br />
a linguagem referir-se à própria<br />
linguagem.<br />
B) intertextualidade, na qual o texto<br />
retoma e reelabora outros textos.<br />
C) ironia, que consiste em se dizer o<br />
contrário do que se pensa, com<br />
intenção crítica.<br />
D) denotação, caracterizada pelo uso das<br />
palavras em seu sentido próprio e<br />
objetivo.<br />
E) prosopopéia, que consiste em<br />
personificar coisas inanimadas,<br />
atribuindo-lhes vida.<br />
Comentário<br />
A questão trata de um texto de Carlos<br />
Drummond de Andrade em que ele fala sobre<br />
o crescimento urbano e a pobreza que esse<br />
processo traz. Para tanto, o poeta utiliza uma<br />
linguagem irônica, revelando o lado oculto do<br />
desenvolvimento. Dessa forma, temos como<br />
correta a alternativa C.<br />
38) (2007) Antigamente<br />
Acontecia o indivíduo apanhar<br />
constipação; ficando perrengue, mandava<br />
o próprio chamar o doutor e, depois, ir à<br />
botica para aviar a receita, de cápsulas ou<br />
pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />
phtísica, feia era o gálico. Antigamente, os<br />
sobrados tinham assombrações, os<br />
meninos, lombrigas (...)<br />
Carlos Drummond de Andrade. Poesia completa e prosa.<br />
Rio de Janeiro: Companhia José Aguilar, p. 1.184.<br />
O texto acima está escrito em linguagem<br />
de uma época passada. Observe uma<br />
outra versão, em linguagem atual.<br />
Antigamente<br />
Acontecia o indivíduo apanhar um<br />
resfriado; ficando mal, mandava o próprio<br />
chamar o doutor e, depois, ir à farmácia<br />
para aviar a receita, de cápsulas ou<br />
pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />
tuberculose, feia era a sífilis. Antigamente,<br />
os sobrados tinham assombrações, os<br />
meninos, vermes (...)<br />
Comparando-se esses dois textos,<br />
verifica-se que, na segunda versão, houve<br />
mudanças relativas a<br />
A) vocabulário.<br />
B) construções sintáticas.<br />
C) pontuação.<br />
D) fonética.<br />
E) regência verbal.<br />
Comentário<br />
Questão fácil. O aluno deveria comparar<br />
os dois textos e verificar as alterações<br />
realizadas na segunda versão apresentada.<br />
Nesse momento, fica evidente a mudança de<br />
vocabulário, o que indica a alternativa A<br />
como a correta.<br />
408
39) (2001) Nas conversas diárias, utiliza-se<br />
freqüentemente a palavra “próprio” e ela<br />
se ajusta a várias situações. Leia os<br />
exemplos de diálogos:<br />
I - A Vera se veste diferente!<br />
- É mesmo, é que ela tem um estilo<br />
próprio.<br />
II - A Lena já viu esse filme uma dezena<br />
de vezes! Eu não consigo ver o<br />
que ele tem de tão maravilhoso assim.<br />
- É que ele é próprio para adolescente.<br />
III - Dora, o que eu faço? Ando tão<br />
preocupada com o Fabinho! Meu filho<br />
está impossível!<br />
- Relaxa, Tânia! É próprio da idade.<br />
Com o tempo, ele se acomoda.<br />
Nas ocorrências I, II e III, “próprio” é<br />
sinônimo de, respectivamente,<br />
A) adequado, particular, típico.<br />
B) peculiar, adequado, característico.<br />
C) conveniente, adequado, particular.<br />
D) adequado, exclusivo, conveniente.<br />
E) peculiar, exclusivo, característico.<br />
Comentário<br />
Para responder a essa pergunta,<br />
substitua, nos trechos, a palavra próprio<br />
pelos possíveis equivalentes apresentados<br />
nas alternativas. Questão simples que pode<br />
ser resolvida por eliminação.<br />
Comentário do INEP<br />
Nesta questão são apresentados três<br />
textos em que uma mesma palavra é<br />
utilizada com sentidos diferentes. O problema<br />
consiste em observar a variedade de uso de<br />
um mesmo termo e as possibilidades de sua<br />
compreensão, estabelecendo uma relação<br />
comparativa com base em uma análise<br />
semântica. Cerca de metade (49%) dos<br />
participantes estabeleceu essa relação de<br />
maneira correta. Os participantes que<br />
assinalaram a alternativa D (21%),<br />
possivelmente isolaram o termo do contexto,<br />
gerando um equívoco entre "adequado" e<br />
"exclusivo".<br />
40) (2003) Do pedacinho de papel ao livro<br />
impresso vai uma longa distância. Mas o<br />
que o escritor quer, mesmo, é isso: ver o<br />
seu texto em letra de forma. A gaveta é<br />
ótima para aplacar a fúria criativa; ela faz<br />
amadurecer o texto da mesma forma que<br />
a adega faz amadurecer o vinho. Em<br />
certos casos, a cesta de papel é melhor<br />
ainda.<br />
O período de maturação na gaveta é<br />
necessário, mas não deve se prolongar<br />
muito. ‘Textos guardados acabam<br />
cheirando mal’, disse Silvia Plath, (...) que,<br />
com esta frase, deu testemunho das<br />
dúvidas que atormentam o escritor:<br />
publicar ou não publicar? guardar ou jogar<br />
fora?<br />
(Moacyr Scliar. O escritor e seus desafios.)<br />
Nesse texto, o escritor Moacyr Scliar usa<br />
imagens para refletir sobre uma etapa da<br />
criação literária. A idéia de que o processo<br />
de maturação do texto nem sempre é o<br />
que garante bons resultados está sugerida<br />
na seguinte frase:<br />
A) "A gaveta é ótima para aplacar a fúria<br />
criativa."<br />
B) "Em certos casos, a cesta de papel é<br />
melhor ainda."<br />
C) "O período de maturação na gaveta é<br />
necessário, (...)."<br />
D) "Mas o que o escritor quer, mesmo, é<br />
isso: ver o seu texto em letra de forma."<br />
E) "ela (a gaveta) faz amadurecer o texto<br />
da mesma forma que a adega faz<br />
amadurecer o vinho."<br />
Comentário<br />
Essa questão exigia a interpretação das<br />
frases. A palavra NEM no enunciado exclui<br />
todas as alternativas que tratam do<br />
amadurecimento ou da importância da<br />
gaveta para o bom sucesso da produção<br />
literária.<br />
A alternativa B é a única que apresenta<br />
um procedimento alternativo para a produção<br />
textual, ou seja, o lixo, e significa a liberdade<br />
do escritor em começar,<br />
interromper, recomeçar ou simplesmente<br />
abandonar a obra, permitindo a ele exercer<br />
seu livre-arbítrio.<br />
41) (2007)<br />
Aqui na floresta<br />
Dos ventos batida,<br />
Façanhas de bravos<br />
Não geram escravos,<br />
Que estimem a vida<br />
Sem guerra e lidar.<br />
— Ouvi-me, Guerreiros,<br />
— Ouvi meu cantar.<br />
O canto do guerreiro<br />
Valente na guerra,<br />
Quem há, como eu sou?<br />
Quem vibra o tacape<br />
Com mais valentia?<br />
Quem golpes daria<br />
Fatais, como eu dou?<br />
— Guerreiros, ouvi-me;<br />
— Quem há, como eu sou?<br />
Gonçalves Dias.<br />
409
Macunaíma<br />
(Epílogo)<br />
Acabou-se a história e morreu a vitória.<br />
Não havia mais ninguém lá. Dera<br />
tangolomângolo na tribo Tapanhumas e<br />
os filhos dela se acabaram de um em um.<br />
Não havia mais ninguém lá. Aqueles<br />
lugares, aqueles campos, furos<br />
puxadouros arrastadouros meiosbarrancos,<br />
aqueles matos misteriosos,<br />
tudo era solidão do deserto... Um silêncio<br />
imenso dormia à beira do rio Uraricoera.<br />
Nenhum conhecido sobre a terra não<br />
sabia nem falar da tribo nem contar<br />
aqueles casos tão pançudos. Quem podia<br />
saber do Herói?<br />
Mário de Andrade.<br />
Considerando-se a linguagem desses dois<br />
textos, verifica-se que<br />
A) a função da linguagem centrada no<br />
receptor está ausente tanto no primeiro<br />
quanto no segundo texto.<br />
B) a linguagem utilizada no primeiro texto<br />
é coloquial, enquanto, no segundo,<br />
predomina a linguagem formal.<br />
C) há, em cada um dos textos, a<br />
utilização de pelo menos uma palavra<br />
de origem indígena.<br />
D) a função da linguagem, no primeiro<br />
texto, centra-se na forma de<br />
organização da linguagem e, no<br />
segundo, no relato de informações<br />
reais.<br />
E) a função da linguagem centrada na<br />
primeira pessoa, predominante no<br />
segundo texto, está ausente no<br />
primeiro.<br />
Comentário<br />
Questão de nível médio. Essa é uma<br />
questão que foca a linguagem dos textos, e<br />
cada qual em seu gênero (poesia e prosa,<br />
respectivamente). O aluno chega à<br />
conclusão que a alternativa correta é a C por<br />
meio da exclusão das demais alternativas.<br />
A resposta correta não é a A, pois há um<br />
receptor que pode ser percebido nas<br />
seguintes perguntas contidas no texto:<br />
Texto 1 – “Guerreiros, ouvi-me;/Quem há,<br />
como eu sou?”<br />
Texto 2 – “Quem podia saber do herói?”<br />
Também não é a alternativa B, pois o<br />
conteúdo dos textos não é discriminatório. No<br />
primeiro texto, há uma idealização do índio e,<br />
no segundo, há uma realidade crítica e<br />
satírica da sociedade.<br />
A alternativa D é excluída, porque o<br />
segundo texto não fala de uma realidade, já<br />
que Macunaíma é um herói fictício e nãoreal.<br />
Por fim, também está errada a alternativa<br />
E. Isso porque não temos no epílogo do texto<br />
de Macunaíma a linguagem centrada na<br />
primeira pessoa, mas sim, na terceira.<br />
42) (2003) Eu começaria dizendo que poesia<br />
é uma questão de linguagem. A<br />
importância do poeta é que ele torna mais<br />
viva a linguagem. Carlos Drummond de<br />
Andrade escreveu um dos mais belos<br />
versos da língua portuguesa com duas<br />
palavras comuns: cão e cheirando.<br />
Um cão cheirando o futuro<br />
(Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP, 24/05/1988.<br />
adaptação)<br />
O que deu ao verso de Drummond o<br />
caráter de inovador da língua foi<br />
A) o modo raro como foi tratado o<br />
"futuro".<br />
B) a referência ao cão como "animal de<br />
estimação".<br />
C) a flexão pouco comum do verbo<br />
"cheirar" (gerúndio).<br />
D) a aproximação não usual do agente<br />
citado e a ação de "cheirar".<br />
E) o emprego do artigo indefinido "um" e<br />
do artigo definido "o" na mesma frase.<br />
Comentário<br />
O fato de Drummond identificar o futuro<br />
como algo que pode ser percebido por um<br />
animal irracional por meio do olfato foi<br />
inovador. A figura de linguagem foi<br />
construída metaforicamente: o futuro torna-se<br />
uma coisa que tem cheiro, contrariamente à<br />
imagem pela qual ele normalmente é<br />
representado: como algo que não se vê e<br />
não se pode pressentir ou tocar.<br />
43) (2002) Só falta o Senado aprovar o<br />
projeto de lei [sobre o uso de termos<br />
estrangeiros no Brasil] para que palavras<br />
como shopping center , delivery e drivethrough<br />
sejam proibidas em nomes de<br />
estabelecimentos e marcas. Engajado<br />
nessa valorosa luta contra o inimigo<br />
ianque, que quer fazer área de livre<br />
comércio com nosso inculto e belo idioma,<br />
venho sugerir algumas outras medidas<br />
que serão de extrema importância para a<br />
preservação da soberania nacional, a<br />
saber:<br />
........<br />
4<strong>10</strong>
Nenhum cidadão carioca ou gaúcho<br />
poderá dizer "Tu vai" em espaços públicos<br />
do território nacional;<br />
Nenhum cidadão paulista poderá dizer "Eu<br />
lhe amo" e retirar ou acrescentar o plural<br />
em sentenças como "Me vê um chopps e<br />
dois pastel";<br />
..........<br />
Nenhum dono de borracharia poderá<br />
escrever cartaz com a palavra "borraxaria"<br />
e nenhum dono de banca de jornal<br />
anunciará "Vende-se cigarros";<br />
..........<br />
Nenhum livro de gramática obrigará os<br />
alunos a utilizar colocações pronominais<br />
como "casar-me-ei" ou "ver-se-ão".<br />
PIZA, Daniel. Uma proposta imodesta. O Estado de<br />
S. Paulo, São Paulo, 8/04/2001.<br />
No texto acima, o autor:<br />
A) mostra-se favorável ao teor da<br />
proposta por entender que a língua<br />
portuguesa deve ser protegida contra<br />
deturpações de uso.<br />
B) ironiza o projeto de lei ao sugerir<br />
medidas que inibam determinados usos<br />
regionais e socioculturais da língua.<br />
C) denuncia o desconhecimento de regras<br />
elementares de concordância verbal e<br />
nominal pelo falante brasileiro.<br />
D) revela-se preconceituoso em relação a<br />
certos registros lingüísticos ao propor<br />
medidas que os controlem.<br />
E) defende o ensino rigoroso da gramática<br />
para que todos aprendam a empregar<br />
corretamente os pronomes.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. O autor ironiza o<br />
projeto de lei que proíbe o uso de<br />
estrangeirismos no Brasil. Não adianta criarse<br />
uma expectativa ou preocupação em<br />
relação ao uso de termos estrangeiros na<br />
língua e esquecer-se de que a língua é um<br />
organismo vivo, mutável. A dinâmica de uma<br />
língua não pode ser regida por preceitos<br />
legais como quer o projeto.<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão reproduz trechos de um<br />
texto que aborda o polêmico projeto de<br />
proibição de uso de termos estrangeiros no<br />
Brasil. A partir da leitura atenta do texto de<br />
Daniel Piza, o participante é levado a refletir<br />
sobre a postura adotada pelo autor em<br />
relação ao referido projeto. Para<br />
compreender esse texto, o participante<br />
precisa reconhecer o tom irônico que marca<br />
as observações e sugestões feitas por seu<br />
autor. Assim, Daniel Piza, "engajado nessa<br />
valorosa luta contra o inimigo ianque", sugere<br />
a proibição de algumas formas lingüísticas de<br />
uso corrente que contrariam recomendações<br />
da gramática normativa. O participante deve<br />
reconhecer que, com sugestões como essas,<br />
Daniel Piza deixa implícita uma crítica à<br />
utilidade do projeto de proibição dos<br />
estrangeirismos como forma de proteger a<br />
Língua Portuguesa. Nesse contexto, a ironia<br />
torna-se mais clara, bem como o mecanismo<br />
textual que a constrói. Feito tal<br />
reconhecimento, o aluno encontra a resposta<br />
correta na alternativa B, assinalada por cerca<br />
da metade dos participantes. Nenhuma outra<br />
alternativa contempla o aspecto irônico,<br />
essencial para a compreensão do texto.<br />
44) (2003) Pequenos tormentos da vida<br />
De cada lado da sala de aula, pelas janelas<br />
altas, o azul convida os meninos,<br />
as nuvens desenrolam-se, lentas como quem<br />
vai inventando<br />
preguiçosamente uma história sem fim...Sem<br />
fim é a aula: e nada acontece,<br />
nada...Bocejos e moscas. Se ao menos,<br />
pensa Margarida, se ao menos um<br />
avião entrasse por uma janela e saísse por<br />
outra!<br />
(Mário Quintana. Poesias)<br />
Na cena retratada no texto, o sentimento<br />
do tédio<br />
A) provoca que os meninos fiquem<br />
contando histórias.<br />
B) leva os alunos a simularem bocejos,<br />
em protesto contra a monotonia da<br />
aula.<br />
C) acaba estimulando a fantasia,<br />
criando a expectativa de algum<br />
imprevisto mágico.<br />
D) prevalece de modo absoluto,<br />
impedindo até mesmo a distração ou o<br />
exercício do pensamento.<br />
E) decorre da morosidade da aula, em<br />
contraste com o movimento acelerado<br />
das nuvens e das moscas.<br />
Comentário<br />
Essa questão aborda o imaginário<br />
decorrente do marasmo trazido pela escola.<br />
O texto enfatiza o arrastar do tempo na<br />
mente de uma aluna, Margarida, que se põe<br />
a pensar em fatos mágicos ou imaginários<br />
que pudessem romper com a lentidão da<br />
aula.<br />
411
45) (200) O autor do texto abaixo critica,<br />
ainda que em linguagem metafórica, a<br />
sociedade contemporânea em relação aos<br />
seus hábitos alimentares.<br />
“Vocês que têm mais de 15 anos, se<br />
lembram quando a gente comprava leite<br />
em garrafa, na leiteria da esquina? (...)<br />
Mas vocês não se lembram de nada,<br />
pô! Vai ver nem sabem o que é vaca. Nem<br />
o que é leite. Estou falando isso porque<br />
agora mesmo peguei um pacote de leite –<br />
leite em pacote, imagina, Tereza! – na<br />
porta dos fundos e estava escrito que é<br />
pasterizado, ou pasteurizado, sei lá, tem<br />
vitamina, é garantido pela<br />
embromatologia, foi enriquecido e o<br />
escambau. Será que isso é mesmo leite?<br />
No dicionário diz que leite é outra coisa:<br />
‘Líquido branco, contendo água,<br />
proteína, açúcar e sais minerais’. Um<br />
alimento pra ninguém botar defeito. O ser<br />
humano o usa há mais de 5.000 anos. É o<br />
único alimento só alimento. A carne serve<br />
pro animal andar, a fruta serve pra fazer<br />
outra fruta, o ovo serve pra fazer outra<br />
galinha (...) O leite é só leite. Ou toma ou<br />
bota fora. Esse aqui examinando bem, é<br />
só pra botar fora. Tem chumbo, tem<br />
benzina, tem mais água do que leite, tem<br />
serragem, sou capaz de jurar que nem<br />
vaca tem por trás desse negócio. Depois o<br />
pessoal ainda acha estranho que os<br />
meninos não gostem de leite.<br />
Mas, como não gostam? Não gostam<br />
como? Nunca tomaram! Múúúúúúú!”<br />
(FERNANDES, Millôr. O Estado de S. Paulo ,<br />
22 de agosto de 1999)<br />
A palavra embromatologia usada pelo<br />
autor é:<br />
A) um termo científico que significa estudo<br />
dos bromatos.<br />
B) uma composição do termo de gíria<br />
“embromação” (enganação) com<br />
bromatologia, que é o estudo dos<br />
alimentos.<br />
C) uma junção do termo de gíria<br />
“embromação” (enganação) com<br />
lactologia, que é o estudo das<br />
embalagens para leite.<br />
D) um neologismo da química orgânica<br />
que significa a técnica de retirar<br />
bromatos dos laticínios.<br />
E) uma corruptela de termo da<br />
agropecuária que significa a ordenha<br />
mecânica.<br />
Comentário<br />
É necessário para a resolução desta<br />
questão:<br />
- perceber que o texto critica o exagerado<br />
uso de substâncias artificiais nos<br />
alimentos;<br />
- conhecer o significado da gíria embromar e<br />
da palavra bromatologia.<br />
Conhecendo esses significados, você<br />
elimina todas as alternativas erradas: a, c, d<br />
e e.<br />
Você poderá ter dúvida quanto à<br />
alternativa c, que também será eliminada se<br />
souber o significado da palavra lactologia,<br />
que é o estudo do leite e produtos lácteos e<br />
não das embalagens para leite.<br />
Nesta questão, são trabalhados os<br />
conceitos de interpretação de texto, formação<br />
de palavras e conhecimentos gerais.<br />
Comentário do INEP<br />
A resolução da questão requeria que o<br />
participante, ao ler o texto vinculasse o<br />
significado de um termo de gíria -<br />
"embromação" - com o da palavra<br />
bromatologia. A resposta correta exigia que o<br />
participante não abrisse mão do sabor<br />
picante contido na linguagem metafórica,<br />
sabor vinculado ao conhecimento específico<br />
contido na palavra bromatologia. Cerca da<br />
metade dos participantes (51%) optou pela<br />
alternativa correta e, os 20% que escolheram<br />
a alternativa C, provavelmente associaram a<br />
referência feita no texto à leite em pacote.<br />
46) (2005) O termo (ou expressão)<br />
destacado que está empregado em seu<br />
sentido próprio, denotativo ocorre em:<br />
A) “(....)<br />
É de laço e de nó<br />
De gibeira o jiló<br />
Dessa vida, cumprida a sol (....)”<br />
(Renato Teixeira. Romaria. Kuarup Discos.<br />
setembro de 1992.)<br />
B) “Protegendo os inocentes<br />
é que Deus, sábio demais,<br />
põe cenários diferentes<br />
nas impressões digitais.”<br />
(Maria N. S. Carvalho. Evangelho da Trova. /s.n.b.)<br />
C) “O dicionário-padrão da língua e os<br />
dicionários unilíngües são os tipos mais<br />
comuns de dicionários. Em nossos<br />
dias, eles se tornaram um objeto de<br />
consumo obrigatório para as nações<br />
civilizadas e desenvolvidas.”<br />
(Maria T. Camargo Biderman.<br />
O dicionário-padrão da língua. Alfa (28), 2743, 1974 Supl.)<br />
412
D)<br />
A)<br />
B)<br />
E) “Humorismo é a arte de fazer cócegas<br />
no raciocínio dos outros. Há duas<br />
espécies de humorismo: o trágico e o<br />
cômico. O trágico é o que não<br />
consegue fazer rir; o cômico é o que é<br />
verdadeiramente trágico para se fazer.”<br />
(Leon Eliachar. www.mercadolivre.com.br.<br />
acessado em julho de 2005.)<br />
Comentário<br />
A definição do dicionário-padrão da língua<br />
utiliza o sentido denotativo da palavra para<br />
explicar o uso de determinado tipo de<br />
dicionário. Em todas as outras alternativas,<br />
as palavras estão sendo empregadas em<br />
sentido metafórico. Na letra A, "cumprida a<br />
sol" pode mostrar o sofrimento e a solidão.<br />
Na alternativa B, "cenários diferentes" são as<br />
diferenças físicas encontradas nas<br />
impressões digitais. Na letra D, "bateria" é o<br />
termo usado para expressar a "energia" do<br />
Menino Maluquinho, que nunca acaba. Por<br />
fim, na alternativa E, "fazer cócegas no<br />
raciocínio" significa expressar graça por meio<br />
de idéias, fazendo com que o cérebro ache<br />
um fato divertido e, por conseguinte, faça<br />
com que a pessoa ria como se sofresse um<br />
ataque de cócegas.<br />
C)<br />
D)<br />
E)<br />
47) (2008) Os signos visuais, como meios de<br />
comunicação, são classificados em<br />
categorias de acordo com seus<br />
significados.<br />
A categoria denominada indício<br />
corresponde aos signos visuais que têm<br />
origem em formas ou situações naturais<br />
ou casuais, as quais, devido à ocorrência<br />
em circunstâncias idênticas, muitas vezes<br />
repetidas, indicam algo e adquirem<br />
significado. Por exemplo, nuvens negras<br />
indicam tempestade. Com base nesse<br />
conceito, escolha a opção que representa<br />
um signo da categoria dos indícios.<br />
Comentário<br />
Trata-se de uma questão interpretativa. O<br />
aluno precisa entender o que é “indício” para<br />
respondê-la. Segundo o dicionário Aurélio,<br />
indício é o mesmo que “sinal, vestígio,<br />
indicação”. Das figuras apresentadas,<br />
apenas a alternativa B indica algo: a<br />
passagem de alguém por algum lugar —<br />
pegada.<br />
413
48) (1999)<br />
Diante da visão de um prédio com uma<br />
placa indicando SAPATARIA PAPALIA,<br />
um jovem deparou com a dúvida: como<br />
pronunciar a palavra PAPALIA?<br />
Levado o problema à sala de aula, a<br />
discussão girou em torno da utilidade de<br />
conhecer as regras de acentuação e,<br />
especialmente, do auxílio que elas podem<br />
dar à correta pronúncia de palavras.<br />
Após discutirem pronúncia, regras de<br />
acentuação e escrita, três alunos<br />
apresentaram as seguintes conclusões a<br />
respeito da palavra PAPALIA:<br />
I. Se a sílaba tônica for o segundo PA, a<br />
escrita deveria ser PAPÁLIA, pois a<br />
palavra seria paroxítona terminada em<br />
ditongo crescente.<br />
II. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />
deveria ser PAPALÍA, pois "i" e "a"<br />
estariam formando hiato.<br />
III. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />
deveria ser PAPALIA, pois não haveria<br />
razão para o uso de acento gráfico.<br />
A conclusão está correta apenas em:<br />
A) III D) I<br />
B) I e II E) II<br />
C) I e III<br />
Comentário<br />
Essa questão exige bom conhecimento<br />
das regras de acentuação. A alternativa A diz<br />
que apenas a afirmação I é verdadeira. De<br />
fato ela é, mas não é a única. Nela, temos a<br />
hipótese de a palavra ser grafada como se a<br />
sílaba forte fosse a penúltima — papália —,<br />
justificando seu acento gráfico. Vejamos o<br />
que dizem as regras de acentuação.<br />
Acentuam-se as palavras paroxítonas<br />
terminadas em: i, is, us, um, uns, l, n, r, x,<br />
ps, ã, ãs, ão, ãos, ditongos orais,<br />
crescentes ou decrescentes, seguidos ou<br />
não de S. Isso valida, portanto, a afirmação I.<br />
A afirmação II pressupõe que a sílaba<br />
tônica seja LI, em hiato com A: no caso de<br />
essa ser a tonicidade da palavra, a sílaba LI<br />
não poderia ser acentuada, pois I, mesmo<br />
sendo a tônica do hiato, não é a última vogal,<br />
portanto, essa afirmativa é falsa.<br />
A afirmação III considera que a sílaba<br />
tônica é LI, não havendo acento por ser o I a<br />
primeira vogal do hiato. Portanto, essa<br />
afirmação é verdadeira.<br />
Concluindo, temos como verdadeiras as<br />
afirmações I e III. Então, a alternativa E é a<br />
correta. Questão de nível difícil.<br />
Comentário do INEP<br />
Dentre os participantes, somente pouco<br />
mais de um terço (35%) demonstrou possuir<br />
a habilidade para identificar as regras de<br />
acentuação corretas, enunciadas na questão.<br />
Chama a atenção o fato de que 73% dos<br />
participantes (alternativas A, D e E)<br />
reconheceram corretamente, pelo menos, a<br />
regra contida no item I, sendo que cerca de<br />
40% desses, contudo, tiveram dificuldades<br />
em analisar as regras II e III.<br />
Em se tratando de palavra não-usual, é,<br />
sobretudo, o domínio do conhecimento das<br />
regras e não a possível pronúncia correta,<br />
pelo uso, o que parece ter sido revelado.<br />
49) (2008)<br />
Exame, 28/9/2007.<br />
Entre os seguintes ditos populares, qual<br />
deles melhor corresponde à figura<br />
acima?<br />
A) Com perseverança, tudo se alcança.<br />
B) Cada macaco no seu galho.<br />
C) Nem tudo que balança cai.<br />
D) Quem tudo quer, tudo perde.<br />
E) Deus ajuda quem cedo madruga.<br />
Comentário<br />
Assim como a questão 37, esta também<br />
envolve interpretação de signos, ou seja, o<br />
aluno precisa estar atento à imagem e<br />
relacioná-la ao dito popular correspondente.<br />
414
A alternativa "A" é a correta, pois, para<br />
uma lesma “grudenta” e vagarosa conseguir<br />
pular numa cama elástica, é necessária<br />
muita perseverança.<br />
50) (2005) Leia estes textos.<br />
Texto 1<br />
Comentário<br />
Enquanto o primeiro texto é ácido em<br />
relação à possibilidade de desarmamento da<br />
população (ou seja, à criação de uma<br />
sociedade mais pacífica), o segundo mostra<br />
a capacidade que a humanidade tem de crer<br />
e, por isso, tentar fazer até o que a princípio<br />
parece impossível. Para os autores da<br />
canção, nada é intrinsecamente impossível.<br />
A relação entre eles é de oposição:<br />
descrença x crença. Questão de nível de<br />
dificuldade médio.<br />
Texto 2<br />
Sonhar<br />
Mais um sonho impossível<br />
Lutar<br />
Quando é fácil ceder<br />
Vencer o inimigo invencível<br />
Negar quando a regra é vender<br />
Sofrer a tortura implacável<br />
Romper a incabível prisão<br />
Voar num limite improvável<br />
Tocar o inacessível chão<br />
É minha lei, é minha questão<br />
Virar esse mundo<br />
Cravar esse chão<br />
Não me importa saber<br />
Se é terrível demais<br />
Quantas guerras terei que vencer<br />
Por um pouco de paz<br />
E amanhã se esse chão que eu beijei<br />
For meu leito e perdão<br />
Vou saber que valeu delirar<br />
E morrer de paixão<br />
E assim, seja lá como for<br />
Vai ter fim a infinita aflição<br />
E o mundo vai ver uma flor<br />
Brotar do impossível chão.<br />
(J. Darione – M. Leigh – Versão de Chico Buarque de<br />
Hollanda e Ruy Guerra, 1972.)<br />
A tirinha e a canção apresentam uma<br />
reflexão sobre o futuro da humanidade. É<br />
correto concluir que os dois textos<br />
A) afirmam que o homem é capaz de<br />
alcançar a paz.<br />
B) concordam que o desarmamento é<br />
inatingível.<br />
C) julgam que o sonho é um desafio<br />
invencível.<br />
D) têm visões diferentes sobre um<br />
possível mundo melhor.<br />
E) transmitem uma mensagem de<br />
otimismo sobre a paz.<br />
51) (2002) A crônica muitas vezes constitui<br />
um espaço para reflexão sobre aspectos<br />
da sociedade em que vivemos.<br />
"Eu, na rua, com pressa, e o menino<br />
segurou no meu braço, falou qualquer<br />
coisa que não entendi. Fui logo dizendo<br />
que não tinha, certa de que ele estava<br />
pedindo dinheiro. Não estava. Queria<br />
saber a hora.<br />
Talvez não fosse um Menino De<br />
Família, mas também não era um Menino<br />
De Rua. É assim que a gente divide.<br />
Menino De Família é aquele bem-vestido<br />
com tênis da moda e camiseta de marca,<br />
que usa relógio e a mãe dá outro se o<br />
dele for roubado por um Menino De Rua.<br />
Menino De Rua é aquele que quando a<br />
gente passa perto segura a bolsa com<br />
força porque pensa que ele é pivete,<br />
trombadinha, ladrão. (...) Na verdade não<br />
existem meninos De rua.<br />
Existem meninos NA rua. E toda vez<br />
que um menino está NA rua é porque<br />
alguém o botou lá. Os meninos não vão<br />
sozinhos aos lugares. Assim como são<br />
postos no mundo, durante muitos anos<br />
também são postos onde quer que<br />
estejam. Resta ver quem os põe na rua. E<br />
por quê."<br />
COLASSANTI, Marina. In: Eu sei, mas não devia. Rio de<br />
Janeiro: Rocco, 1999.<br />
No terceiro parágrafo em "... não existem<br />
meninos De rua. Existem meninos NA<br />
rua.", a troca de De pelo Na determina<br />
que a relação de sentido entre "menino" e<br />
"rua" seja<br />
A) de localização e não de qualidade.<br />
B) de origem e não de posse.<br />
C) de origem e não de localização.<br />
D) de qualidade e não de origem.<br />
E) de posse e não de localização.<br />
415
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Apesar de não<br />
haver um terceiro parágrafo neste texto, a<br />
troca das preposições ao final do SEGUNDO<br />
parágrafo indica claramente que não há um<br />
menino DE (proveniente de) rua, mas um<br />
menino que está NA (foi levado à) rua.<br />
Portanto, a relação é unicamente de<br />
localização (onde ele está) e não de<br />
qualidade (o que ele é).<br />
Comentário do INEP<br />
A reprodução de um trecho de uma<br />
crônica de Marina Colassanti tematiza uma<br />
importante questão social brasileira: a<br />
presença de milhões de crianças nas ruas do<br />
País. A autora, ao tratar desse problema,<br />
vale-se de recursos lingüísticos específicos.<br />
O objetivo desta questão é justamente<br />
chamar a atenção do participante leitor para<br />
esses recursos e os efeitos de sentido que<br />
eles desencadeiam no texto. Na raiz da<br />
questão destaca-se a troca de "De" por "NA"<br />
e pede-se que se determine qual relação de<br />
sentido essa substituição estabelece entre os<br />
termos "menino" e "rua". Analisar a relação,<br />
nesse caso, significa perguntar-se sobre o<br />
sentido de dois sintagmas criados no texto:<br />
"meninos NA rua" por oposição a "meninos<br />
De rua". O que a autora pretende negar, com<br />
a troca do termo de relação, é a possibilidade<br />
de que existam meninos de rua diferentes de<br />
outros meninos, que não têm na rua a sua<br />
origem. O destaque para a preposição na<br />
nos leva a refletir que a relação dos meninos<br />
com a rua é de localização: eles estão ali por<br />
alguma razão, não porque essa seja a sua<br />
qualificação. Essa reflexão levaria o aluno a<br />
escolher, como correta, a resposta<br />
apresentada na alternativa A, assinalada por<br />
cerca de metade dos participantes.<br />
52) (2000) O uso do pronome átono no início<br />
das frases é destacado por um poeta e<br />
por um gramático nos textos abaixo.<br />
416<br />
Pronominais<br />
Dê-me um cigarro<br />
Diz a gramática<br />
Do professor e do aluno<br />
E do mulato sabido<br />
Mas o bom negro e o bom branco<br />
da Nação Brasileira<br />
Dizem todos os dias<br />
Deixa disso camarada<br />
Me dá um cigarro<br />
(ANDRADE, Oswald de. Seleção de textos.<br />
São Paulo: Nova Cultural, 1988)<br />
“Iniciar a frase com pronome átono só<br />
é lícito na conversação familiar,<br />
despreocupada, ou na língua escrita<br />
quando se deseja reproduzir a fala dos<br />
personagens (...).”<br />
(CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da<br />
língua portuguesa.<br />
São Paulo: Nacional, 1980)<br />
Comparando a explicação dada pelos<br />
autores sobre essa regra, pode-se afirmar<br />
que ambos:<br />
A) condenam essa regra gramatical.<br />
B) acreditam que apenas os esclarecidos<br />
sabem essa regra.<br />
C) criticam a presença de regras na<br />
gramática.<br />
D) afirmam que não há regras para uso de<br />
pronomes.<br />
E) relativizam essa regra gramatical.<br />
Comentário<br />
Questão que requer conhecimento básico<br />
de colocação pronominal, em relação ao uso<br />
de pronomes átonos no início de frases, uma<br />
regra muito pouco respeitada pelo brasileiro,<br />
da qual Oswald de Andrade faz questão de<br />
falar em seu poema. Porém, a questão pode<br />
ser resolvida simplesmente por meio de uma<br />
leitura bem atenta dos textos. Se formos<br />
analisando alternativa por alternativa, a<br />
eliminação é clara e lógica: a alternativa a<br />
fica totalmente descartada devido à<br />
transparência da colocação dos dois autores<br />
(Me dá um cigarro...) e (iniciar frases com o<br />
pronome átono é "lícito" na conversação<br />
familiar ou despreocupada). Já a alternativa b<br />
pode até mesmo gerar um pouco de dúvida a<br />
quem não se atém bem à pergunta. Quanto<br />
às alternativas c e d, ficam descartadas, pois,<br />
em momento nenhum, os autores criticaram<br />
o uso de regras gramaticais em seus textos,<br />
cabendo perfeitamente a alternativa e para<br />
as afirmações do gramático e do poeta.<br />
Comentário do INEP<br />
Essa questão pretendia verificar como o<br />
participante analisa um fato lingüístico,<br />
mediante a comparação da descrição desse<br />
fato em dois textos. Sabe-se que,<br />
normalmente em situação escolar, o uso do<br />
pronome átono no início da frase é julgado<br />
como grave desvio gramatical, e pouco se<br />
analisa esse uso na fala ou escrita informal.<br />
Os dois autores dos textos, com intenções<br />
diferentes, relativizam essa regra gramatical,<br />
destacando e descrevendo o seu uso<br />
coloquial. A maioria dos participantes (52%)<br />
analisou e comparou corretamente as<br />
posições dos autores sobre o uso do
pronome átono, e 24% deles reafirmaram a<br />
posição discriminatória da regra, deslocandoa<br />
de seu uso.<br />
história de Van Gogh, ou apropriaram-se<br />
corretamente da informação sobre esse<br />
pintor, fornecida no enunciado.<br />
53) (2000) As histórias em quadrinhos, por<br />
vezes, utilizam animais como<br />
personagens e a eles atribuem<br />
comportamento humano. O gato Garfield<br />
é exemplo desse fato.<br />
54) (2004)<br />
Fonte: Caderno Vida e Arte, Jornal do Povo, Fortaleza<br />
Van Gogh, pintor holandês nascido em<br />
1853, é um dos principais nomes da<br />
pintura mundial. É dele o quadro abaixo.<br />
Auto-retrato de orelha cortada<br />
O 3º quadrinho sugere que Garfield:<br />
A) desconhece tudo sobre arte, por isso<br />
faz a sugestão.<br />
B) acredita que todo pintor deve fazer algo<br />
diferente.<br />
C) defende que para ser pintor a pessoa<br />
tem de sofrer.<br />
D) conhece a história de um pintor<br />
famoso e faz uso da ironia.<br />
E) acredita que seu dono tenha tendência<br />
artística e, por isso, faz a sugestão.<br />
Comentário<br />
Outra questão de interpretação de texto.<br />
Muito simples para quem um dia ouviu falar<br />
de Van Gogh, e simplíssima para aqueles<br />
que prestam atenção em todos os elementos<br />
do enunciado. Afinal, quem deu uma<br />
espiadinha na legenda do quadro de Van<br />
Gogh matou na hora a questão.<br />
Esta questão é daquelas rápidas de serem<br />
resolvidas, associando-se os elementos<br />
apresentados.<br />
Comentário do INEP<br />
A significativa maioria (81%) dos<br />
participantes soube perceber o caráter<br />
irônico da fala do Garfield, expressa no<br />
terceiro quadrinho porque, ou conheciam a<br />
A tira "Hagar" e o poema de Alberto<br />
Caeiro (um dos heterônimos de Fernando<br />
Pessoa) expressam, com linguagens<br />
diferentes, uma mesma idéia: a de que a<br />
compreensão que temos do mundo é<br />
condicionada, essencialmente,<br />
A) pelo alcance de cada cultura.<br />
B) pela capacidade visual do observador.<br />
C) pelo senso de humor de cada um.<br />
D) pela idade do observador.<br />
E) pela altura do ponto de observação.<br />
Comentário<br />
Questão reflexiva sobre a forma como<br />
cada cultura vê o mundo sob a ótica dos<br />
limites dados pelos seus costumes e<br />
possibilidades de pensamento inerentes a<br />
cada modelo cultural. A mistura de uma tira e<br />
de um poema amplia a possibilidade de<br />
pensamento por trabalhar com linguagens<br />
diferentes. A alternativa correta é a letra A,<br />
pois ambos (tira e poema) utilizam figuras de<br />
linguagem (metáfora e ironia) para expressar<br />
as diferentes visões de mundo.<br />
55) (2003)<br />
O humor presente na tirinha decorre<br />
principalmente do fato de a personagem<br />
Mafalda<br />
A) atribuir, no primeiro quadrinho, poder<br />
ilimitado ao dedo indicador.<br />
B) considerar seu dedo indicador tão<br />
importante quanto o dos patrões.<br />
417
C) atribuir, no primeiro e no último<br />
quadrinhos, um mesmo sentido ao<br />
vocábulo "indicador".<br />
D) usar corretamente a expressão<br />
"indicador de desemprego", mesmo<br />
sendo criança.<br />
E) atribuir, no último quadrinho, fama<br />
exagerada ao dedo indicador dos<br />
patrões.<br />
Comentário<br />
A questão pede a interpretação de uma<br />
charge da personagem Mafalda, em que ela<br />
faz referência a seu dedo indicador, que é<br />
usado como substantivo primitivo e que<br />
possibilita a analogia com “indicador de<br />
desemprego”. Dessa forma, ela ironiza os<br />
indicadores sociais. Na charge, porém, não<br />
há menção explícita aos índices<br />
“indicadores”, permanecendo o raciocínio<br />
preso apenas ao dedo indicador. Assim, ela<br />
utiliza, tanto no primeiro quanto no último<br />
quadrinho, a palavra “indicador” como<br />
referência ao dedo, não dando abertura a<br />
outro tipo de interpretação.<br />
56) (2002)<br />
De acordo com a história em quadrinhos<br />
protagonizada por Hagar e seu filho<br />
Hamlet, pode-se afirmar que a postura de<br />
Hagar<br />
A) valoriza a existência da diversidade<br />
social e de culturas, e as várias<br />
representações e explicações desse<br />
universo.<br />
B) desvaloriza a existência da<br />
diversidade social e as várias culturas,<br />
e determina uma única explicação para<br />
esse universo.<br />
C) valoriza a possibilidade de explicar as<br />
sociedades e as culturas a partir de<br />
várias visões de mundo.<br />
D) valoriza a pluralidade cultural e social<br />
ao aproximar a visão de mundo de<br />
navegantes e não-navegantes.<br />
E) desvaloriza a pluralidade cultural e<br />
social, ao considerar o mundo habitado<br />
apenas pelos navegantes.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Hagar reduz o<br />
mundo a dois tipos de pessoas: navegantes<br />
e não-navegantes. No último quadrinho, diz<br />
que são os navegantes que estabelecem<br />
esses dois grupos. Portanto, quem é<br />
diferente dos navegantes (que estabelecem<br />
o padrão) simplesmente é incluído na massa<br />
única dos não-navegantes. Não importa<br />
quem ou quantos sejam, sua diversidade<br />
social ou cultural em relação aos navegantes<br />
ou entre si. Vemos aí a desvalorização de<br />
outras culturas.<br />
Comentário do INEP<br />
Dentre as habilidades básicas para a<br />
compreensão de um texto destaca-se a<br />
capacidade do leitor de identificar os<br />
pressupostos de cada afirmação que lhe é<br />
apresentada. Nesta questão o participante<br />
deve identificar a posição tanto de Hagar<br />
como de seu filho Hamlet e, em seguida,<br />
avaliar quais os argumentos que justificam a<br />
opinião de Hagar ao definir que no mundo só<br />
existem dois tipos de pessoas. A pergunta de<br />
Hamlet a seu pai explicita a importância do<br />
ato de narrar através do diálogo e do efeito<br />
humorístico contido no episódio representado<br />
na tira. O resultado da compreensão<br />
acertada do diálogo é que o narrador torna<br />
inteligível, para si e para os outros, a lógica<br />
do seu pensamento através do diálogo entre<br />
os dois personagens. É importante observar<br />
que o humor do personagem Hagar é<br />
identificado na postura simetricamente<br />
oposta à de Michel de Montaigne, por<br />
exemplo (ver questão 58): a sua visão de<br />
mundo apresenta-se autocentrada, isto é,<br />
centrada nos seus próprios valores (vikings).<br />
A habilidade requerida do participante nessa<br />
questão, qual seja, "valorizar a diversidade<br />
dos patrimônios etnoculturais", é mobilizada<br />
aqui na sua dimensão negativa: é criticando<br />
a postura chauvinista de Hagar que o<br />
participante é capaz de responder<br />
corretamente a questão. A última alternativa<br />
(E) funciona como um distrator, pois neste<br />
caso não está suposta a crítica do discurso<br />
do personagem. Cerca de um terço dos<br />
participantes assinalou a alternativa correta<br />
B. As demais opções são devidas,<br />
possivelmente, a uma leitura pouco<br />
compreensiva das alternativas associadas a<br />
história em quadrinhos.<br />
418
57) (2009)<br />
BRASIL. Ministério da Saúde, 2009 (adaptado).<br />
Os principais recursos utilizados para<br />
envolvimento e adesão do leitor à<br />
campanha institucional incluem<br />
A) o emprego de enumeração de itens e<br />
apresentação de títulos expressivos.<br />
B) o uso de orações subordinadas<br />
condicionais e temporais.<br />
C) o emprego de pronomes como “você”<br />
e “sua” e o uso do imperativo.<br />
D) a construção de figuras metafóricas e o<br />
uso de repetição.<br />
E) o fornecimento de número de telefone<br />
gratuito para contato.<br />
Comentário<br />
(QUESTÃO: AZUL 96, BRANCA 97,<br />
ROSA 97)<br />
Questão relativamente fácil, mas que<br />
demanda a atenção do candidato para o<br />
enunciado, que solicita que o leitor indique a<br />
resposta que apresenta recursos<br />
linguísticos para o "envolvimento e adesão<br />
do leitor à campanha institucional".<br />
A alternativa C é a correta, pois, nela, são<br />
apontados o emprego dos pronomes "você" e<br />
"sua" e o uso do imperativo. No cartaz,<br />
podemos observar que há frases como "Se<br />
você esteve ou manteve contato com<br />
pessoas da área de risco" e "Quando tossir<br />
ou espirrar cubra sua boca".<br />
58) (2009) Quando eu falo com vocês,<br />
procuro usar o código de vocês. A figura<br />
do índio no Brasil de hoje não pode ser<br />
aquela de 500 anos atrás, do passado,<br />
que representa aquele primeiro contato.<br />
Da mesma forma que o Brasil de hoje não<br />
é o Brasil de ontem, tem 160 milhões de<br />
pessoas com diferentes sobrenomes.<br />
Vieram para cá asiáticos, europeus,<br />
africanos, e todo mundo quer ser<br />
brasileiro. A importante pergunta que nós<br />
fazemos é: qual é o pedaço de índio que<br />
vocês têm? O seu cabelo? São seus<br />
olhos? Ou é o nome da sua rua? O nome<br />
da sua praça? Enfim, vocês devem ter um<br />
pedaço de índio dentro de vocês. Para<br />
nós, o importante é que vocês olhem para<br />
a gente como seres humanos, como<br />
pessoas que nem precisam de<br />
paternalismos, nem precisam ser tratadas<br />
com privilégios. Nós não queremos tomar<br />
o Brasil de vocês, nós queremos<br />
compartilhar esse Brasil com vocês.<br />
TERENA, M. Debate. MORIN, E. Saberes globais e<br />
saberes locais.<br />
Rio de Janeiro: Garamond, 2000 (adaptado).<br />
Os procedimentos argumentativos<br />
utilizados no texto permitem inferir que o<br />
ouvinte/leitor, no qual o emissor foca o<br />
seu discurso, pertence<br />
A) ao mesmo grupo social do<br />
falante/autor.<br />
B) a um grupo de brasileiros<br />
considerados como não índios.<br />
C) a um grupo étnico que representa a<br />
maioria europeia que vive no país.<br />
D) a um grupo formado por estrangeiros<br />
que falam português.<br />
E) a um grupo sociocultural formado por<br />
brasileiros naturalizados e imigrantes.<br />
Comentário<br />
(QUESTÃO: AZUL 121, BRANCA 122,<br />
ROSA 122)<br />
As passagens: "Quando falo com vocês,<br />
procuro usar o código de vocês" e "Nós não<br />
queremos tomar o Brasil de vocês...", deixa<br />
claro que o emissor e o leitor fazem parte de<br />
grupos distintos. Como o texto remete-se à<br />
figura do índio, a alternativa correta é a letra<br />
B.<br />
419
59) (2009)<br />
420<br />
BRASIL. Ministério da Saúde. Revista Nordeste,<br />
João Pessoa, ano 3, n. 35, maio/jun. 2009.<br />
Diante dos recursos argumentativos<br />
utilizados, depreende-se que o texto<br />
apresentado<br />
A) se dirige aos líderes comunitários para<br />
tomarem a iniciativa de combater a<br />
dengue.<br />
B) conclama toda a população a participar<br />
das estratégias de combate ao<br />
mosquito da dengue.<br />
C) se dirige aos prefeitos, conclamandoos<br />
a organizarem iniciativas de<br />
combate à dengue.<br />
D) tem como objetivo ensinar os<br />
procedimentos técnicos necessários<br />
para o combate ao mosquito da<br />
dengue.<br />
E) apela ao governo federal, para que dê<br />
apoio aos governos estaduais e<br />
municipais no combate ao mosquito da<br />
dengue.<br />
Comentário<br />
(QUESTÃO: AZUL 127, BRANCA 127,<br />
ROSA 127)<br />
Contrastando com a questão 126, que<br />
aborda o mesmo texto, a questão 127 é de<br />
fácil resolução. Ela pede ao aluno para<br />
responder qual é a pretensão dos recursos<br />
argumentativos do texto.<br />
Dentre as alternativas, a que contém a<br />
afirmação correta é a letra C, pois o texto é<br />
uma carta dirigida aos prefeitos de todo o<br />
País, convocando-os a mobilizar-se pelo<br />
combate à dengue.<br />
Resposta correta: alternativa C.<br />
H24 - Reconhecer no texto<br />
estratégias argumentativas<br />
empregadas para o<br />
convencimento do público,<br />
tais como a intimidação,<br />
sedução, comoção,<br />
chantagem, entre outras.<br />
01) (2001) O mundo é grande<br />
O mundo é grande e cabe<br />
Nesta janela sobre o mar.<br />
O mar é grande e cabe<br />
Na cama e no colchão de amar.<br />
O amor é grande e cabe<br />
No breve espaço de beijar.<br />
ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e prosa.<br />
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983.<br />
Neste poema, o poeta realizou uma opção<br />
estilística: a reiteração de determinadas<br />
construções e expressões lingüísticas,<br />
como o uso da mesma conjunção para<br />
estabelecer a relação entre as frases.<br />
Essa conjunção estabelece, entre as<br />
idéias relacionadas, um sentido de<br />
A) oposição.<br />
B) comparação.<br />
C) conclusão.<br />
D) alternância.<br />
E) finalidade.<br />
Comentário<br />
Há três elementos repetidos neste trecho:<br />
o verbo ser, o artigo definido o e a conjunção<br />
aditiva e. A conjunção e estabelece uma<br />
relação entre idéias que, concretamente, são<br />
opostas (ex.: "O mundo é grande e cabe<br />
nesta janela sobre o mar"). A alternativa<br />
correta é a letra A.<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão apresenta, para leitura e<br />
análise, o poema "O mundo é grande", onde<br />
os recursos lingüísticos expressivos<br />
utilizados geram um efeito de oposição entre<br />
as idéias. A análise sintático-semântica é<br />
necessária para a compreensão do valor de<br />
oposição assumido pela conjunção "e":<br />
imagens justapostas estão relacionadas,<br />
contrapondo-se em planos diferentes. Um<br />
percentual significativo (46%) de<br />
participantes considerou que o valor da<br />
conjunção "e", nesse poema, é de<br />
comparação, o que não reflete o sentido<br />
estilístico proposto pelo poeta, mas<br />
corresponde apenas à primeira operação que<br />
se realiza para estabelecer o sentido de
oposição. De maneira análoga, pode-se<br />
analisar os equívocos daqueles que optaram<br />
pelas alternativas C e D.<br />
02) (1999) SONETO DE FIDELIDADE<br />
De tudo, ao meu amor serei atento<br />
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto<br />
Que mesmo em face do maior encanto<br />
Dele se encante mais meu pensamento.<br />
Quero vivê-lo em cada vão momento<br />
E em seu louvor hei de espalhar meu<br />
canto<br />
E rir meu riso e derramar meu pranto<br />
Ao seu pesar ou seu contentamento.<br />
E assim, quando mais tarde me procure<br />
Quem sabe a morte, angústia de quem<br />
vive<br />
Quem sabe a solidão, fim de quem ama.<br />
Eu possa dizer do meu amor (que tive):<br />
Que não seja imortal, posto que é chama<br />
Mas que seja infinito enquanto dure.<br />
(MORAES, Vinícius de. Antologia poética. São Paulo: Cia<br />
das Letras, 1992).<br />
A palavra mesmo pode assumir diferentes<br />
significados, de acordo com a sua função<br />
na frase. Assinale a alternativa em que o<br />
sentido de mesmo equivale ao que se<br />
verifica no 3º verso da 1ª estrofe do<br />
poema de Vinícius de Moraes.<br />
A) "Pai, para onde fores, / irei também<br />
trilhando as mesmas ruas..." (Augusto<br />
dos Anjos)<br />
B) "Agora, como outrora, há aqui o<br />
mesmo contraste da vida interior, que<br />
é modesta, com a exterior, que é<br />
ruidosa." (Machado de Assis)<br />
C) "Havia o mal, profundo e persistente,<br />
para o qual o remédio não surtiu efeito,<br />
mesmo em doses variáveis."<br />
(Raimundo Faoro)<br />
D) "Mas, olhe cá, Mana Glória, há<br />
mesmo necessidade de fazê-lo<br />
padre?" (Machado de Assis)<br />
E) "Vamos de qualquer maneira, mas<br />
vamos mesmo." (Aurélio)<br />
Comentário<br />
Nessa questão, uma pequena análise<br />
sintática se faz necessária: mesmo, em<br />
ambos os casos, é conjunção subordinativa<br />
concessiva, introduzindo, portanto, uma<br />
oração subordinada cujo fato expresso é<br />
contrário ao da oração principal. Deve-se,<br />
então, recorrer à oração anterior para se ter<br />
certeza quanto à classificação. Grau<br />
moderado de dificuldade.<br />
Comentário do INEP<br />
Este problema buscou colocar o<br />
participante diante de uma situação que<br />
exigia a mobilização de seus mecanismos de<br />
reflexão sobre os processos lingüísticos em<br />
que um significante (uma palavra) assume<br />
diferentes significados, no enunciado, de<br />
acordo com a intenção do enunciador. Neste<br />
caso, além da compreensão da<br />
transformação de significado, é necessária a<br />
alteração de função morfossintática.<br />
Verifica-se que 62% dos participantes<br />
conseguiram identificar e analisar esse<br />
processo lingüístico, comparando a função<br />
do significante em diferentes enunciados.<br />
Isso demonstrou um domínio parcial da<br />
reflexão sobre a Língua Portuguesa, em<br />
diferentes contextos e textos.<br />
Os 18% dos participantes que<br />
assinalaram a alternativa B identificaram a<br />
diferença de significados mas,<br />
provavelmente, têm dificuldades em analisar<br />
estas mudanças em nível morfossintático<br />
(alternativa B).<br />
03) ( 2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />
poema.<br />
A DANÇA E A ALMA<br />
A DANÇA? Não é movimento,<br />
súbito gesto musical.<br />
É concentração, num momento,<br />
da humana graça natural.<br />
No solo não, no éter pairamos,<br />
nele amaríamos ficar.<br />
A dança – não vento nos ramos:<br />
seiva, força, perene estar.<br />
Um estar entre céu e chão,<br />
novo domínio conquistado,<br />
onde busque nossa paixão<br />
libertar-se por todo lado...<br />
Onde a alma possa descrever<br />
suas mais divinas parábolas<br />
sem fugir à forma do ser,<br />
por sobre o mistério das fábulas.<br />
(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />
Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />
A definição de dança, em linguagem de<br />
dicionário, que mais se aproxima do que<br />
está expresso no poema é<br />
A) a mais antiga das artes, servindo como<br />
elemento de comunicação e afirmação<br />
do homem em todos os momentos de<br />
sua existência.<br />
421
B) a forma de expressão corporal que<br />
ultrapassa os limites físicos,<br />
possibilitando ao homem a liberação de<br />
seu espírito.<br />
C) a manifestação do ser humano,<br />
formada por uma seqüência de gestos,<br />
passos e movimentos desconcertados.<br />
D) o conjunto organizado de movimentos<br />
do corpo, com ritmo determinado por<br />
instrumentos musicais, ruídos, cantos,<br />
emoções etc.<br />
E) o movimento diretamente ligado ao<br />
psiquismo do indivíduo e, por<br />
conseqüência, ao seu desenvolvimento<br />
intelectual e à sua cultura.<br />
Comentário<br />
A pergunta busca a aplicação do conceito<br />
de "estado de dicionário" (que também foi<br />
desenvolvido por Drummond no poema "A<br />
Procura da Poesia"). A literatura busca partir<br />
de palavras em estado de dicionário para,<br />
pelo aprofundamento do sentido delas, criar<br />
um mundo mais denso e particular. Em<br />
estado de dicionário, a dança, conforme é<br />
tratada nesse poema, apareceria na<br />
alternativa B: uma justaposição entre<br />
aspectos físicos e espirituais da expressão<br />
humana. Questão complexa.<br />
A) éter. D) paixão.<br />
B) seiva. E) ser.<br />
C) chão.<br />
Comentário<br />
O elemento que contrasta com "solo"<br />
(físico, tangível, perene) é "éter" (espiritual,<br />
intangível, volátil). Questão de nível médio de<br />
dificuldade.<br />
05) ( 2008) O surgimento da figura da Ema<br />
no céu, ao leste, no anoitecer, na segunda<br />
quinzena de junho, indica o início do<br />
inverno para os índios do sul do Brasil e o<br />
começo da estação seca para os do norte.<br />
É limitada pelas constelações de<br />
Escorpião e do Cruzeiro do Sul, ou<br />
Cut'uxu. Segundo o mito guarani, o<br />
Cut’uxu segura a cabeça da ave para<br />
garantir a vida na Terra, porque, se ela se<br />
soltar, beberá toda a água do nosso<br />
planeta. Os tupisguaranis utilizam o<br />
Cut'uxu para se orientar e determinar a<br />
duração das noites e as estações do ano.<br />
A ilustração a seguir é uma representação<br />
dos corpos celestes que constituem a<br />
constelação da Ema, na percepção<br />
indígena.<br />
04) (2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />
poema.<br />
A DANÇA E A ALMA<br />
A DANÇA? Não é movimento,<br />
súbito gesto musical.<br />
É concentração, num momento,<br />
da humana graça natural.<br />
No solo não, no éter pairamos,<br />
nele amaríamos ficar.<br />
A dança – não vento nos ramos:<br />
seiva, força, perene estar.<br />
Um estar entre céu e chão,<br />
novo domínio conquistado,<br />
onde busque nossa paixão<br />
libertar-se por todo lado...<br />
Onde a alma possa descrever<br />
suas mais divinas parábolas<br />
sem fugir à forma do ser,<br />
por sobre o mistério das fábulas.<br />
(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />
Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />
Almanaque BRASIL, maio/2007 (com adaptações).<br />
A próxima figura mostra, em campo de<br />
visão ampliado, como povos de culturas<br />
não-indígenas percebem o espaço estelar<br />
em que a Ema é vista.<br />
O poema “A Dança e a Alma” é construído<br />
com base em contrastes, como<br />
“movimento” e “concentração”. Em uma<br />
das estrofes, o termo que estabelece<br />
contraste com solo é:<br />
Internet: (com adaptações).<br />
422
Assinale a opção correta a respeito da<br />
linguagem empregada no texto A Ema.<br />
A) A palavra Cut’uxu é um regionalismo<br />
utilizado pelas populações próximas às<br />
aldeias indígenas.<br />
B) O autor se expressa em linguagem<br />
formal em todos os períodos do texto.<br />
C) A ausência da palavra Ema no início do<br />
período “É limitada (...)” caracteriza<br />
registro oral.<br />
D) A palavra Cut’uxu está destacada em<br />
itálico porque integra o vocabulário da<br />
linguagem informal.<br />
E) No texto, predomina a linguagem<br />
coloquial porque ele consta de um<br />
almanaque.<br />
Comentário<br />
A questão é simples, mas requer cuidados<br />
quanto aos conceitos de linguagem<br />
“informal”, “formal” e de “língua”. Se o aluno<br />
tiver noção desses conceitos,<br />
chegará facilmente à resposta. A linguagem<br />
formal ou culta prevalece no texto, e o termo<br />
“Cut’uxu’ não é um termo informal, mas, sim,<br />
uma expressão que pertence a uma língua<br />
indígena — o que justifica o emprego da<br />
palavra em itálico. A resposta correta é,<br />
portanto, a letra "B".<br />
06) (2008) Calcula-se que 78% do<br />
desmatamento na Amazônia tenha sido<br />
motivado pela pecuária — cerca de 35%<br />
do rebanho nacional está na região — e<br />
que pelo menos 50 milhões de hectares<br />
de pastos são pouco produtivos. Enquanto<br />
o custo médio para aumentar a<br />
produtividade de 1 hectare de pastagem é<br />
de 2 mil reais, o custo para derrubar igual<br />
área de floresta é estimado em 800 reais,<br />
o que estimula novos desmatamentos.<br />
Adicionalmente, madeireiras retiram as<br />
árvores de valor comercial que foram<br />
abatidas para a criação de pastagens. Os<br />
pecuaristas sabem que problemas<br />
ambientais como esses podem provocar<br />
restrições à pecuária nessas áreas, a<br />
exemplo do que ocorreu em 2006 com o<br />
plantio da soja, o qual, posteriormente, foi<br />
proibido em áreas de floresta.<br />
Época, 3/3/2008 e 9/6/2008 (com adaptações).<br />
A partir da situação-problema descrita,<br />
conclui-se que<br />
A) o desmatamento na Amazônia decorre<br />
principalmente da exploração ilegal de<br />
árvores de valor comercial.<br />
B) um dos problemas que os pecuaristas<br />
vêm enfrentando na Amazônia é a<br />
proibição do plantio de soja.<br />
C) a mobilização de máquinas e de força<br />
humana torna o desmatamento mais<br />
caro que o aumento da produtividade<br />
de pastagens.<br />
D) o superavit comercial decorrente da<br />
exportação de carne produzida na<br />
Amazônia compensa a possível<br />
degradação ambiental.<br />
E) a recuperação de áreas desmatadas<br />
e o aumento de produtividade das<br />
pastagens podem contribuir para a<br />
redução do desmatamento na<br />
Amazônia.<br />
Comentário do portal<br />
Essa questão retrata o problema do<br />
desmatamento da Amazônia, relacionado<br />
principalmente com o desenvolvimento da<br />
pecuária na região. Para resolvê-la, foram<br />
necessários a leitura atenta do texto e o<br />
conhecimento sobre os problemas<br />
ambientais da atualidade. A alternativa<br />
correta é a letra E, pois é mais caro para os<br />
pecuaristas aumentar a produtividade do que<br />
as áreas de pasto, o que acarreta o aumento<br />
do desmatamento da Amazônia.<br />
07) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />
preciso, além de conhecer o padrão<br />
formal da Língua Portuguesa, saber<br />
adequar o uso da linguagem ao contexto<br />
discursivo. Para exemplificar este fato,<br />
seu professor de Língua Portuguesa<br />
convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />
Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />
brinca com situações de discurso oral que<br />
fogem à expectativa do ouvinte.<br />
Aí, Galera<br />
Jogadores de futebol podem ser<br />
vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />
você pode imaginar um jogador de futebol<br />
dizendo "estereotipação"? E, no<br />
entanto, por que não?<br />
- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />
galera.<br />
- Minha saudação aos aficionados do<br />
clube e aos demais esportistas, aqui<br />
presentes ou no recesso dos seus lares.<br />
- Como é?<br />
- Aí, galera.<br />
- Quais são as instruções do técnico?<br />
- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />
trabalho de contenção coordenada, com<br />
energia otimizada, na zona de<br />
423
424<br />
preparação, aumentam as<br />
probabilidades de, recuperado o<br />
esférico, concatenarmos um contragolpe<br />
agudo com parcimônia de meios e<br />
extrema objetividade, valendo-nos da<br />
desestruturação momentânea do<br />
sistema oposto, surpreendido pela<br />
reversão inesperada do fluxo da ação:<br />
- Ahn?<br />
- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />
pegá eles sem calça.<br />
- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />
coisa?<br />
- Posso dirigir uma mensagem de<br />
caráter sentimental, algo banal, talvez<br />
mesmo previsível e piegas, a uma<br />
pessoa à qual sou ligado por razões,<br />
inclusive, genéticas?<br />
- Pode.<br />
- Uma saudação para a minha<br />
progenitora.<br />
- Como é?<br />
- Alô, mamãe!<br />
- Estou vendo que você é um, um...<br />
- Um jogador que confunde o<br />
entrevistador, pois não corresponde à<br />
expectativa de que o atleta seja um ser<br />
algo primitivo com dificuldade de<br />
expressão e assim sabota a<br />
estereotipação?<br />
- Estereoquê?<br />
- Um chato?<br />
- Isso.<br />
Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />
O texto retrata duas situações<br />
relacionadas que fogem à expectativa do<br />
público. São elas:<br />
A) a saudação do jogador aos fãs do<br />
clube, no início da entrevista, e a<br />
saudação final dirigida à sua mãe.<br />
B) a linguagem muito formal do jogador,<br />
inadequada à situação da entrevista, e<br />
um jogador que fala, com desenvoltura,<br />
de modo muito rebuscado.<br />
C) o uso da expressão "galera", por parte<br />
do entrevistador, e da expressão<br />
"progenitora", por parte do jogador.<br />
D) o desconhecimento, por parte do<br />
entrevistador, da palavra<br />
"estereotipação", e a fala do jogador<br />
em "é pra dividir no meio e ir pra cima<br />
pra pegá eles sem calça".<br />
E) o fato de os jogadores de futebol serem<br />
vítimas de estereotipação e o jogador<br />
entrevistado não corresponder ao<br />
estereótipo.<br />
Comentário<br />
Quando pensamos em certas profissões,<br />
imaginamos qual seria o padrão de<br />
comportamento de quem as exerce. O texto<br />
está trabalhando uma divergência entre o<br />
que esperamos de um jogador de futebol (o<br />
estereótipo que temos dele) e um jogador<br />
que não se enquadra em nossas<br />
expectativas. Levando isso em consideração,<br />
as duas coisas que destoam do que<br />
esperamos encontrar nessa situação são: 1)<br />
alguém, ao dar uma entrevista de alto<br />
alcance popular, fala de maneira<br />
extremamente rebuscada; 2) um jogador que,<br />
ao falar de maneira rebuscada, acaba por<br />
fugir do estereótipo do jogador de futebol, de<br />
quem sempre é esperado algo menos<br />
rebuscado e mais popular.<br />
08) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />
preciso, além de conhecer o padrão<br />
formal da Língua Portuguesa, saber<br />
adequar o uso da linguagem ao contexto<br />
discursivo. Para exemplificar este fato,<br />
seu professor de Língua Portuguesa<br />
convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />
Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />
brinca com situações de discurso oral que<br />
fogem à expectativa do ouvinte.<br />
Aí, Galera<br />
Jogadores de futebol podem ser<br />
vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />
você pode imaginar um jogador de futebol<br />
dizendo "estereotipação"? E, no<br />
entanto, por que não?<br />
- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />
galera.<br />
- Minha saudação aos aficionados do<br />
clube e aos demais esportistas, aqui<br />
presentes ou no recesso dos seus lares.<br />
- Como é?<br />
- Aí, galera.<br />
- Quais são as instruções do técnico?<br />
- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />
trabalho de contenção coordenada, com<br />
energia otimizada, na zona de<br />
preparação, aumentam as<br />
probabilidades de, recuperado o<br />
esférico, concatenarmos um contragolpe<br />
agudo com parcimônia de meios e<br />
extrema objetividade, valendo-nos da<br />
desestruturação momentânea do<br />
sistema oposto, surpreendido pela<br />
reversão inesperada do fluxo da ação:<br />
- Ahn?<br />
- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />
pegá eles sem calça.
- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />
coisa?<br />
- Posso dirigir uma mensagem de<br />
caráter sentimental, algo banal, talvez<br />
mesmo previsível e piegas, a uma<br />
pessoa à qual sou ligado por razões,<br />
inclusive, genéticas?<br />
- Pode.<br />
- Uma saudação para a minha<br />
progenitora.<br />
- Como é?<br />
- Alô, mamãe!<br />
- Estou vendo que você é um, um...<br />
- Um jogador que confunde o<br />
entrevistador, pois não corresponde à<br />
expectativa de que o atleta seja um ser<br />
algo primitivo com dificuldade de<br />
expressão e assim sabota a<br />
estereotipação?<br />
- Estereoquê?<br />
- Um chato?<br />
- Isso.<br />
Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />
O texto mostra uma situação em que a<br />
linguagem usada é inadequada ao<br />
contexto. Considerando as diferenças<br />
entre língua oral e língua escrita, assinale<br />
a opção que representa também uma<br />
inadequação da linguagem usada ao<br />
contexto:<br />
A) "o carro bateu e capotô, mas num deu<br />
pra vê direito" - um pedestre que<br />
assistiu ao acidente comenta com o<br />
outro que vai passando.<br />
B) "E aí, ô meu! Como vai essa força?" -<br />
um jovem que fala para um amigo.<br />
C) "Só um instante, por favor. Eu<br />
gostaria de fazer uma observação" -<br />
alguém comenta em uma reunião de<br />
trabalho.<br />
D) "Venho manifestar meu interesse em<br />
candidatar-me ao cargo de Secretária<br />
Executiva desta conceituada empresa"<br />
- alguém que escreve uma carta<br />
candidatando-se a um emprego.<br />
E) "Porque se a gente não resolve as<br />
coisas como têm que ser, a gente corre<br />
o risco de termos, num futuro próximo,<br />
muito pouca comida nos lares<br />
brasileiros" - um professor universitário<br />
em um congresso internacional.<br />
Comentário<br />
Essa questão está trabalhando com as<br />
nossas expectativas. Esperamos encontrar,<br />
nas diferentes situações, linguagens que<br />
correspondam à formalidade (ou à<br />
informalidade) delas. Na alternativa E, como<br />
o professor universitário está falando em um<br />
congresso internacional, espera-se que ele<br />
utilize uma linguagem mais formal e não uma<br />
linguagem coloquial como a que usou. Em<br />
todas as outras situações, a linguagem está<br />
de acordo com a situação em que está sendo<br />
empregada.<br />
09) (2007) Texto I<br />
Agora Fabiano conseguia arranjar as<br />
idéias. O que o segurava era a família.<br />
Vivia preso como um novilho amarrado ao<br />
mourão, suportando ferro quente. Se não<br />
fosse isso, um soldado amarelo não lhe<br />
pisava o pé não. (...) Tinha aqueles<br />
cambões pendurados ao pescoço.<br />
Deveria continuar a arrastá-los? Sinha<br />
Vitória dormia mal na cama de varas. Os<br />
meninos eram uns brutos, como o pai.<br />
Quando crescessem, guardariam as reses<br />
de um patrão invisível, seriam pisados,<br />
maltratados, machucados por um soldado<br />
amarelo.<br />
Graciliano Ramos. Vidas Secas. São Paulo:<br />
Martins, 23.ª ed., 1969, p. 75.<br />
Texto II<br />
Para Graciliano, o roceiro pobre é um<br />
outro, enigmático, impermeável. Não há<br />
solução fácil para uma tentativa de<br />
incorporação dessa figura no campo da<br />
ficção. É lidando com o impasse, ao invés<br />
de fáceis soluções, que Graciliano vai<br />
criar Vidas Secas, elaborando uma<br />
linguagem, uma estrutura romanesca,<br />
uma constituição de narrador em que<br />
narrador e criaturas se tocam, mas não se<br />
identificam. Em grande medida, o debate<br />
acontece porque, para a intelectualidade<br />
brasileira naquele momento, o pobre, a<br />
despeito de aparecer idealizado em certos<br />
aspectos, ainda é visto como um ser<br />
humano de segunda categoria, simples<br />
demais, incapaz de ter pensamentos<br />
demasiadamente complexos. O que Vidas<br />
Secas faz é, com pretenso não<br />
envolvimento da voz que controla a<br />
narrativa, dar conta de uma riqueza<br />
humana de que essas pessoas seriam<br />
plenamente capazes.<br />
Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes. In:<br />
Teresa. São Paulo: USP, n.° 2, 2001, p. 254.<br />
No texto II, verifica-se que o autor utiliza<br />
A) linguagem predominantemente<br />
formal, para problematizar, na<br />
composição de Vidas Secas, a relação<br />
entre o escritor e o personagem<br />
popular.<br />
425
B) linguagem inovadora, visto que, sem<br />
abandonar a linguagem formal, dirigese<br />
diretamente ao leitor.<br />
C) linguagem coloquial, para narrar<br />
coerentemente uma história que<br />
apresenta o roceiro pobre de forma<br />
pitoresca.<br />
D) linguagem formal com recursos<br />
retóricos próprios do texto literário em<br />
prosa, para analisar determinado<br />
momento da literatura brasileira.<br />
E) linguagem regionalista, para transmitir<br />
informações sobre literatura, valendose<br />
de coloquialismo, para facilitar o<br />
entendimento do texto.<br />
Comentário<br />
Questão de nível médio. Algumas<br />
alternativas poderiam levar o candidato a<br />
pensar que o texto de Vidas Secas utiliza<br />
uma linguagem predominantemente coloquial<br />
e regionalista. Entretanto, é na alternativa A<br />
que se encontra o real estilo da linguagem<br />
utilizada por Graciliano Ramos. A linguagem<br />
é, portanto, predominantemente formal e<br />
problematiza a relação do escritor com o<br />
personagem popular. Esta acaba sendo uma<br />
das grandes características do autor, pois ele<br />
buscava sempre dar uma grande densidade<br />
psicológica aos seus romances.<br />
<strong>10</strong>) (2006) Depois de um bom jantar: feijão<br />
com carne-seca, orelha de porco e couve<br />
com angu, arroz-mole engordurado, carne<br />
de vento assada no espeto, torresmo<br />
enxuto de toicinho da barriga, viradinho de<br />
milho verde e um prato de caldo de couve,<br />
jantar encerrado por um prato fundo de<br />
canjica com torrões de açúcar, Nhô Tomé<br />
saboreou o café forte e se estendeu na<br />
rede. A mão direita sob a cabeça, à guisa<br />
de travesseiro, o indefectível cigarro de<br />
palha entre as pontas do indicador e do<br />
polegar, envernizados pela fumaça, de<br />
unhas encanoadas e longas, ficou-se de<br />
pança para o ar, modorrento, a olhar para<br />
as ripas do telhado.<br />
Quem come e não deita, a comida não<br />
aproveita, pensava Nhô Tomé... E pôs-se<br />
a cochilar. A sua modorra durou pouco;<br />
Tia Policena, ao passar pela sala, bradou<br />
assombrada:<br />
— Êêh! Sinhô! Vai drumi agora? Não!<br />
Num presta... Dá pisadêra e póde morrê<br />
de ataque de cabeça! Despois do armoço<br />
num far-má... mais despois da janta?!”<br />
Cornélio Pires. Conversas ao pé do fogo. São Paulo:<br />
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1987.<br />
Nesse trecho, extraído de texto publicado<br />
originalmente em 1921, o narrador<br />
A) apresenta, sem explicitar juízos de<br />
valor, costumes da epoca, descrevendo<br />
os pratos servidos no jantar e a atitude<br />
de Nhô Tomé e de Tia Policena.<br />
B) desvaloriza a norma culta da língua<br />
porque incorpora à narrativa usos<br />
próprios da linguagem regional das<br />
personagens.<br />
C) condena os hábitos descritos, dando<br />
voz a Tia Policena, que tenta impedir<br />
Nhô Tomé de deitar-se após as<br />
refeições.<br />
D) utiliza a diversidade sociocultural e<br />
lingüística para demonstrar seu<br />
desrespeito às populações das zonas<br />
rurais do início do século XX.<br />
E) manifesta preconceito em relação a Tia<br />
Policena ao transcrever a fala dela com<br />
os erros próprios da região.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil, pois a alternativa<br />
"A" deixa clara a intencionalidade do<br />
narrador. Entretanto, o aluno poderia optar<br />
pela alternativa "B" caso não desse o devido<br />
valor ao sentido da palavra “desvaloriza”, que<br />
a elimina.<br />
11) (2006) Aula de português<br />
Explorando a função emotiva da<br />
linguagem, o poeta expressa o contraste<br />
entre marcas de variação de usos da<br />
linguagem em<br />
426
A) situações formais e informais.<br />
B) diferentes regiões do país.<br />
C) escolas literárias distintas.<br />
D) textos técnicos e poéticos.<br />
E) diferentes épocas.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil, pois o próprio título<br />
nos dá uma noção da dificuldade de<br />
transformar a linguagem coloquial e de uso<br />
cotidiano em uma linguagem formal,<br />
expressa no poema como “a misteriosa”.<br />
Drummond foi muito feliz em conseguir<br />
demonstrar a dificuldade em entender como<br />
estruturas simples da língua se tornam tão<br />
complexas ao se iniciar o processo de<br />
compreensão da estrutura lingüística.<br />
12) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />
preciso, além de conhecer o padrão<br />
formal da Língua Portuguesa, saber<br />
adequar o uso da linguagem ao contexto<br />
discursivo. Para exemplificar este fato,<br />
seu professor de Língua Portuguesa<br />
convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />
Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />
brinca com situações de discurso oral que<br />
fogem à expectativa do ouvinte.<br />
Aí, Galera<br />
Jogadores de futebol podem ser<br />
vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />
você pode imaginar um jogador de futebol<br />
dizendo "estereotipação"? E, no<br />
entanto, por que não?<br />
- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />
galera.<br />
- Minha saudação aos aficionados do<br />
clube e aos demais esportistas, aqui<br />
presentes ou no recesso dos seus lares.<br />
- Como é?<br />
- Aí, galera.<br />
- Quais são as instruções do técnico?<br />
- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />
trabalho de contenção coordenada, com<br />
energia otimizada, na zona de<br />
preparação, aumentam as<br />
probabilidades de, recuperado o<br />
esférico, concatenarmos um contragolpe<br />
agudo com parcimônia de meios e<br />
extrema objetividade, valendo-nos da<br />
desestruturação momentânea do<br />
sistema oposto, surpreendido pela<br />
reversão inesperada do fluxo da ação:<br />
- Ahn?<br />
- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />
pegá eles sem calça.<br />
- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />
coisa?<br />
- Posso dirigir uma mensagem de<br />
caráter sentimental, algo banal, talvez<br />
mesmo previsível e piegas, a uma<br />
pessoa à qual sou ligado por razões,<br />
inclusive, genéticas?<br />
- Pode.<br />
- Uma saudação para a minha<br />
progenitora.<br />
- Como é?<br />
- Alô, mamãe!<br />
- Estou vendo que você é um, um...<br />
- Um jogador que confunde o<br />
entrevistador, pois não corresponde à<br />
expectativa de que o atleta seja um ser<br />
algo primitivo com dificuldade de<br />
expressão e assim sabota a<br />
estereotipação?<br />
- Estereoquê?<br />
- Um chato?<br />
- Isso.<br />
Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />
A expressão "pegá eles sem calça"<br />
poderia ser substituída, sem<br />
comprometimento de sentido, em língua<br />
culta, formal, por:<br />
A) pegá-los na mentira.<br />
B) pegá-los desprevenidos.<br />
C) pegá-los em flagrante.<br />
D) pegá-los rapidamente.<br />
E) pegá-los momentaneamente<br />
Comentário<br />
O trabalho que temos aqui é de<br />
compreensão de sentido. Se você nunca<br />
ouviu a expressão "de calças na mão", terá<br />
de imaginar o que acontece quando<br />
pegamos alguém nessa situação. Mas isso<br />
não basta. Se usar somente situações que<br />
pode imaginar, restarão as alternativas B e<br />
C. Esse problema só será solucionado se<br />
você entender bem o texto a que ele se<br />
refere. Como o jogador está falando em<br />
roubar a bola e partir para cima do adversário<br />
rapidamente, imagina-se que o adversário<br />
não esperava perder a bola naquele<br />
momento e, quando isso ocorreu, ele não<br />
estava preparado para receber um contraataque.<br />
Utilizando essa análise, somente a<br />
alternativa B está correta.<br />
427
13) (2000) Em uma conversa ou leitura de<br />
um texto, corre-se o risco de atribuir um<br />
significado inadequado a um termo ou<br />
expressão, e isso pode levar a certos<br />
resultados inesperados, como se vê nos<br />
quadrinhos abaixo.<br />
significados correspondentes. Mesmo assim,<br />
11% dos participantes, possivelmente,<br />
desconhecem essa expressão ou não<br />
conseguiram realizar a transposição do<br />
significado humorístico da fala do último<br />
quadrinho.<br />
14) (2006) Aula de português<br />
(SOUZA, Maurício de. Chico Bento.<br />
Rio de Janeiro: Ed. Globo, n o 335, Nov./99 )<br />
Nessa historinha, o efeito humorístico<br />
origina-se de uma situação criada pela<br />
fala da Rosinha no primeiro quadrinho,<br />
que é:<br />
A) Faz uma pose bonita!<br />
B) Quer tirar um retrato?<br />
C) Sua barriga está aparecendo!<br />
D) Olha o passarinho!<br />
E) Cuidado com o flash!<br />
Comentário<br />
Quem não se lembra de expressões<br />
humorísticas usadas quando se deseja tirar<br />
uma foto, como "Olha o passarinho" ou "Fale<br />
xis"?<br />
Pois é, essa é uma questão fácil e a<br />
interpretação do texto é simples, e não há<br />
por que ter dúvidas quanto à resposta, a não<br />
ser que não se leia a proposta da questão.<br />
Comentário do INEP<br />
Essa questão procurou avaliar se o<br />
participante conseguia inferir, a partir de uma<br />
seqüência narrativa de imagens, a expressão<br />
lingüística adequada à situação de<br />
interlocução, no caso a fala da personagem,<br />
no primeiro quadrinho. A expressão de uso<br />
coloquial 'olha o passarinho!', dependendo do<br />
contexto, tem diferentes significados, que<br />
nesse caso foram associados pelo cartunista<br />
para produzir o efeito de humor. A grande<br />
maioria - 89% - dos participantes realizou a<br />
inferência solicitada, analisando a função da<br />
linguagem e identificando a variante<br />
lingüística adequada à situação de<br />
interlocução, com base na leitura da<br />
seqüência das imagens e da fala da<br />
personagem no terceiro quadrinho. É<br />
interessante notar a abrangência dessa<br />
expressão metafórica no Brasil, criada no<br />
contexto informal da fala com seus<br />
428<br />
No poema, a referência à variedade<br />
padrão da língua está expressa no<br />
seguinte trecho:<br />
A) “A linguagem / na ponta da língua” (v.1<br />
e 2).<br />
B) “A linguagem / na superfície<br />
estrelada de letras” (v.5 e 6).<br />
C) “[a língua] em que pedia para ir lá<br />
fora” (v.14).<br />
D) “[a língua] em que levava e dava<br />
pontapé” (v.15).<br />
E) “[a língua] do namoro com a priminha”<br />
(v.17).<br />
Comentário<br />
Questão fácil, pois a alternativa "B" é a<br />
única que faz menção à norma-padrão da<br />
língua. As demais alternativas fogem a essa<br />
norma.
15) (2005) Leia com atenção o texto:<br />
[Em Portugal], você poderá ter alguns<br />
probleminhas se entrar numa loja de<br />
roupas desconhecendo certas sutilezas da<br />
língua. Por exemplo, não adianta pedir<br />
para ver os ternos — peça para ver os<br />
fatos. Paletó é casaco. Meias são<br />
peúgas. Suéter é camisola — mas não<br />
se assuste, porque calcinhas femininas<br />
são cuecas. (Não é uma delícia?)<br />
(Ruy Castro. Viaje Bem. Ano VIII, no 3, 78.)<br />
O texto destaca a diferença entre o<br />
português do Brasil e o de Portugal<br />
quanto<br />
A) ao vocabulário.<br />
B) à derivação.<br />
C) à pronúncia.<br />
D) ao gênero.<br />
E) à sintaxe.<br />
Comentário<br />
Questão de entendimento muito fácil, pois<br />
o próprio enunciado deixa claro que se trata<br />
das diferenças de vocabulário entre o<br />
português brasileiro e o lusitano.<br />
16) (2008) A Lei Federal n.º 9.985/2000, que<br />
instituiu o sistema nacional de unidades<br />
de conservação, define dois tipos de<br />
áreas protegidas. O primeiro, as unidades<br />
de proteção integral, tem por objetivo<br />
preservar a natureza, admitindo-se<br />
apenas o uso indireto dos seus recursos<br />
naturais, isto é, aquele que não envolve<br />
consumo, coleta, dano ou destruição dos<br />
recursos naturais. O segundo, as<br />
unidades de uso sustentável, tem por<br />
função compatibilizar a conservação da<br />
natureza com o uso sustentável de<br />
parcela dos recursos naturais. Nesse<br />
caso, permite-se a exploração do<br />
ambiente de maneira a garantir a<br />
perenidade dos recursos ambientais<br />
renováveis e dos processos ecológicos,<br />
mantendo-se a biodiversidade e os<br />
demais atributos ecológicos, de forma<br />
socialmente justa e economicamente<br />
viável.<br />
Considerando essas informações, analise<br />
a seguinte situação hipotética.<br />
Ao discutir a aplicação de recursos<br />
disponíveis para o desenvolvimento de<br />
determinada região, organizações civis,<br />
universidade e governo resolveram<br />
investir na utilização de uma unidade de<br />
proteção integral, o Parque Nacional do<br />
Morro do Pindaré, e de uma unidade de<br />
uso sustentável, a Floresta Nacional do<br />
Sabiá. Depois das discussões, a equipe<br />
resolveu levar adiante três projetos:<br />
— o projeto I consiste de pesquisas<br />
científicas embasadas exclusivamente<br />
na observação de animais;<br />
— o projeto II inclui a construção de uma<br />
escola e de um centro de vivência;<br />
— o projeto III promove a organização de<br />
uma comunidade extrativista que<br />
poderá coletar e explorar<br />
comercialmente frutas e sementes<br />
nativas.<br />
Nessa situação hipotética, atendendo-se à<br />
lei mencionada acima, é possível<br />
desenvolver tanto na unidade de proteção<br />
integral quanto na de uso sustentável<br />
A) apenas o projeto I.<br />
B) apenas o projeto III.<br />
C) apenas os projetos I e II.<br />
D) apenas os projetos II e III.<br />
E) todos os três projetos.<br />
Comentário do portal<br />
A alternativa correta é a letra "A", pois,<br />
analisando-se a situação hipotética sugerida<br />
no enunciado, percebe-se que ela deverá<br />
atender os requisitos tanto da unidade de<br />
proteção integral quanto da unidade de uso<br />
sustentável. Portanto, apenas o projeto I<br />
poderá ser desenvolvido nessas duas<br />
propostas de unidades.<br />
17) (1999) Leia o texto abaixo.<br />
Cabelos longos, brinco na orelha<br />
esquerda, físico de skatista. Na aparência,<br />
o estudante brasiliense Rui Lopes Viana<br />
Filho, de 16 anos, não lembra em nada o<br />
estereótipo dos gênios. Ele não usa<br />
pesados óculos de grau e está longe de<br />
ter um ar introspectivo. No final do mês<br />
passado, Rui retornou de Taiwan, onde<br />
enfrentou 419 competidores de todo o<br />
mundo na 39ª Olimpíada Internacional de<br />
Matemática. A reluzente medalha de ouro<br />
que ele trouxe na bagagem está<br />
dependurada sobre a cama de seu quarto,<br />
atulhado de rascunhos dos problemas<br />
matemáticos que aprendeu a decifrar nos<br />
últimos cinco anos.<br />
Veja – Vencer uma olimpíada serve de<br />
passaporte para uma carreira profissional<br />
meteórica?<br />
Rui – Nada disso. Decidi me dedicar à<br />
Olimpíada porque sei que a concorrência<br />
por um emprego é cada vez mais<br />
selvagem e cruel. Agora tenho algo a mais<br />
para oferecer. O problema é que as coisas<br />
429
estão mudando muito rápido e não sei<br />
qual será minha profissão. Além de ser<br />
muito novo para decidir sobre o meu<br />
futuro profissional, sei que esse conceito<br />
de carreira mudou muito.<br />
(Entrevista de Rui Lopes Viana Filho à Veja,<br />
05/08/1998, n.31, p. 9-<strong>10</strong>)<br />
Na pergunta, o repórter estabelece uma<br />
relação entre a entrada do estudante no<br />
mercado de trabalho e a vitória na<br />
Olimpíada. O estudante<br />
A) concorda com a relação e afirma que o<br />
desempenho na Olimpíada é<br />
fundamental para sua entrada no<br />
mercado.<br />
B) discorda da relação e complementa<br />
que é fácil se fazer previsões sobre o<br />
mercado de trabalho.<br />
C) discorda da relação e afirma que seu<br />
futuro profissional independe de<br />
dedicação aos estudos.<br />
D) discorda da relação e afirma que seu<br />
desempenho só é relevante se<br />
escolher uma profissão relacionada à<br />
matemática.<br />
E) concorda em parte com a relação e<br />
complementa que é complexo fazer<br />
previsões sobre o mercado de trabalho.<br />
Comentário<br />
Não é difícil de se chegar à resposta<br />
correta ao se ler a reportagem. Ao final do<br />
último parágrafo — (...) Além de ser muito<br />
novo para decidir sobre o meu futuro<br />
profissional, sei que esse conceito de carreira<br />
mudou muito. —, o estudante praticamente<br />
fornece a resposta à questão, declarando-se<br />
realista ao não tentar prever seu futuro<br />
profissional devido à pouca idade e às<br />
mudanças no mercado de trabalho. Quanto a<br />
concordar parcialmente com o repórter, veja<br />
que ele, apesar de negar que o prêmio fosse<br />
uma garantia de sucesso profissional, logo<br />
depois afirma que, com ele, terá algo mais a<br />
oferecer ao mercado. Questão de nível fácil.<br />
Comentário do INEP<br />
Nesta situação-problema, o participante<br />
deveria demonstrar que compreendeu as<br />
premissas de um discurso, distinguindo a<br />
diferença de significado de palavras isoladas<br />
ou no contexto em que estão inseridas.<br />
Verificou-se que mais da metade dos<br />
participantes demonstrou possuir essa<br />
compreensão. Aqueles que optaram pelas<br />
alternativas C e D podem ter sido atraídos<br />
pelo significado negativo da expressão inicial<br />
"Nada disso".<br />
18) (1998) Texto 1<br />
"Mulher, Irmã, escuta-me: não ames,<br />
Quando a teus pés um homem terno e<br />
curvo<br />
jurar amor, chorar pranto de sangue,<br />
Não creias, não, mulher: ele te engana!<br />
As lágrimas são gotas da mentira<br />
E o juramento manto da perfídia."<br />
(Joaquim Manoel de Macedo)<br />
Texto 2<br />
"Teresa, se algum sujeito bancar o<br />
sentimental em cima de você<br />
E te jurar uma paixão do tamanho de um<br />
bonde<br />
Se ele chorar<br />
Se ele ajoelhar<br />
Se ele se rasgar todo<br />
Não acredite não Teresa<br />
É lágrima de cinema<br />
É tapeação<br />
Mentira<br />
CAI FORA"<br />
(Manuel Bandeira)<br />
Os autores, ao fazerem alusão às<br />
imagens da lágrima sugerem que:<br />
A) há um tratamento idealizado da<br />
relação homem/mulher.<br />
B) há um tratamento realista da relação<br />
homem/mulher.<br />
C) a relação familiar é idealizada.<br />
D) a mulher é superior ao homem.<br />
E) a mulher é igual ao homem.<br />
Comentário<br />
Ambos os autores, ao utilizarem a<br />
imagem da lágrima, estão na realidade<br />
mostrando que a figura do homem que é<br />
romântico a ponto de chorar ao jurar amor<br />
não existe. Tanto Macedo quanto<br />
Bandeira alertam as mulheres dizendo,<br />
com palavras e estilos diferentes, que não<br />
há homem que chore por amor (portanto,<br />
essa figura é uma idealização — e, por<br />
conseguinte, toda imagem que se tem<br />
sobre os relacionamentos<br />
demasiadamente românticos). Note que<br />
Bandeira chega até mesmo a chamar tal<br />
"chorão" de ator ("...É lágrima de cinema /<br />
É tapeação..."). Macedo dá uma imagem<br />
pesada às lágrimas ("...são gotas da<br />
mentira...").<br />
430
19) (1999)<br />
(QUINO. Mafalda inédita. São Paulo: Martins Fontes, 1993)<br />
Observando as falas das personagens,<br />
analise o emprego do pronome SE e o<br />
sentido que adquire no contexto. No<br />
contexto da narrativa, é correto afirmar<br />
que o pronome SE:<br />
A) em I, indica reflexividade e equivale a<br />
"a si mesmas".<br />
B) em II, indica reciprocidade e equivale a<br />
"a si mesma".<br />
C) em III, indica reciprocidade e equivale<br />
a "umas às outras".<br />
D) em I e III, indica reciprocidade e<br />
equivale a "umas às outras".<br />
E) em II e III, indica reflexividade e<br />
equivale a "a si mesma " e "a si<br />
mesmas", respectivamente.<br />
Comentário<br />
Mais uma questão que fala por si própria.<br />
Lendo o segundo quadrinho — "Quer dizer<br />
que você também se ama muito mais no<br />
Natal?" —, é fácil de se identificar o pronome<br />
reflexivo. Basta que se troque se ama por<br />
ama a si mesma. O mesmo ocorre no<br />
terceiro quadrinho em "Por que será que as<br />
pessoas se amam muito mais no Natal?" —<br />
Por que será que as pessoas amam a si<br />
mesmas? Questão de grau fácil.<br />
Comentário do INEP<br />
Este problema requeria que o participante<br />
mobilizasse conhecimentos sobre os<br />
significados de "reciprocidade e<br />
"reflexividade" e o associasse à<br />
compreensão de linguagem iconográfica.<br />
Cerca de metade dos participantes<br />
demonstrou essa capacidade. A opção de<br />
30% dos participantes pela alternativa D<br />
pode indicar que eles utilizaram as imagens<br />
apenas como ilustração do texto e não como<br />
linguagem capaz de instituir novos<br />
significados.<br />
20) (2001) Os provérbios constituem um<br />
produto da sabedoria popular e, em geral,<br />
pretendem transmitir um ensinamento. A<br />
alternativa em que os dois provérbios<br />
remetem a ensinamentos semelhantes é:<br />
A) “Quem diz o que quer, ouve o que não<br />
quer” e “Quem ama o feio, bonito lhe<br />
parece”.<br />
B) “Devagar se vai ao longe” e “De grão<br />
em grão, a galinha enche o papo”.<br />
C) “Mais vale um pássaro na mão do que<br />
dois voando” e “Não se deve atirar<br />
pérolas aos porcos”.<br />
D) “Quem casa quer casa” e “Santo de<br />
casa não faz milagre”.<br />
E) “Quem com ferro fere, com ferro será<br />
ferido” e “Casa de ferreiro, espeto de<br />
pau”.<br />
Comentário<br />
Questão fácil. A alternativa B apresenta<br />
dois provérbios que tratam de paciência,<br />
perseverança. A mensagem é a mesma em<br />
ambos.<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão propõe uma série de<br />
provérbios agrupados aos pares, para que o<br />
participante demonstre compreender e<br />
comparar os provérbios de modo a identificar<br />
aqueles que traduzem ensinamentos<br />
semelhantes. A organização sintáticosemântica<br />
dos provérbios cria um efeito de<br />
sentido metafórico que deve ser recuperado,<br />
analisado e comparado, o que foi<br />
corretamente feito por cerca de 80% dos<br />
participantes.<br />
21) (2006) No romance Vidas Secas, de<br />
Graciliano Ramos, o vaqueiro Fabiano<br />
encontra-se com o patrão para receber o<br />
salário. Eis parte da cena:<br />
Graciliano Ramos. Vidas Secas. 91.ª ed.<br />
Rio de Janeiro: Record, 2003.<br />
No fragmento transcrito, o padrão formal<br />
da linguagem convive com marcas de<br />
regionalismo e de coloquialismo no<br />
vocabulário. Pertence à variedade do<br />
padrão formal da linguagem o seguinte<br />
trecho:<br />
A) Não se conformou: devia haver<br />
engano (l.1).<br />
431
B) Fabiano perdeu os estribos (l.3).<br />
C) Passar a vida inteira assim no toco<br />
(l.4).<br />
D) Entregando o que era dele de mao<br />
beijada! (l.4-5).<br />
E) Aí Fabiano baixou a pancada e<br />
amunhecou (l.11).<br />
Comentário do portal<br />
Questão de nível fácil. Bastaria que o<br />
candidato conhecesse o padrão formal da<br />
linguagem e distinguisse-o do regionalismo e<br />
do coloquialismo.<br />
22) (2005) As dimensões continentais do<br />
Brasil são objeto de reflexões expressas<br />
em diferentes linguagens. Esse tema<br />
aparece no seguinte p"Narizinho correu os<br />
olhos pela assistência. Não podia haver nada<br />
mais curioso. Besourinhos de oema:<br />
“(....)<br />
Que importa que uns falem mole<br />
descansado<br />
Que os cariocas arranhem os erres na<br />
garganta<br />
Que os capixabas e paroaras escancarem<br />
as vogais?<br />
Que tem se o quinhentos réis meridional<br />
Vira cinco tostões do Rio pro Norte?<br />
Junto formamos este assombro de<br />
misérias e grandezas,<br />
Brasil, nome de vegetal! (....)”<br />
(Mário de Andrade. Poesias completas. 6. ed. São Paulo:<br />
Martins Editora, 1980.)<br />
O texto poético ora reproduzido trata das<br />
diferenças brasileiras no âmbito<br />
A) étnico e religioso.<br />
B) lingüístico e econômico.<br />
C) racial e folclórico.<br />
D) histórico e geográfico.<br />
E) literário e popular.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil, pois a primeira<br />
estrofe, ao enunciar os erres arranhados dos<br />
cariocas e as vogais abertas dos capixabas,<br />
evidencia a diferença lingüística entre duas<br />
regiões distintas do Brasil, dando noção da<br />
variedade. Já na segunda estrofe, as<br />
diferenças econômicas são evidenciadas ao<br />
se mostrarem os réis e tostões variando da<br />
Região Meridional para a Norte.<br />
23) (202) "Narizinho correu os olhos pela<br />
assistência. Não podia haver nada mais<br />
curioso. Besourinhos de fraque e flores na<br />
lapela conversavam com baratinhas de<br />
mantilha e miosótis nos cabelos. Abelhas<br />
douradas, verdes e azuis, falavam mal<br />
das vespas de cintura fina — achando que<br />
era exagero usarem coletes tão<br />
apertados. Sardinhas aos centos<br />
criticavam os cuidados excessivos que as<br />
borboletas de toucados de gaze tinham<br />
com o pó das suas asas. Mamangavas de<br />
ferrões amarrados para não morderem. E<br />
canários cantando, e beija-flores beijando<br />
flores, e camarões camaronando, e<br />
caranguejos caranguejando, tudo que é<br />
pequenino e não morde, pequeninando e<br />
não mordendo."<br />
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. São Paulo:<br />
Brasiliense, 1947.<br />
No último período do trecho, há uma série<br />
de verbos no gerúndio que contribuem<br />
para caracterizar o ambiente fantástico<br />
descrito. Expressões como<br />
"camaronando", "caranguejando" e<br />
"pequeninando e não mordendo" criam,<br />
principalmente, efeitos de<br />
A) esvaziamento de sentido.<br />
B) monotonia do ambiente.<br />
C) estaticidade dos animais.<br />
D) interrupção dos movimentos.<br />
E) dinamicidade do cenário.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. O dinamismo dos<br />
verbos no gerúndio tem como função<br />
principal dar vida às personagens do mundo<br />
fantástico. Não há estagnação. Cada animal<br />
faz o que lhe cabe.<br />
Comentário do INEP<br />
Essa questão apresenta para leitura e<br />
análise um trecho da obra Reinações de<br />
Narizinho, de Monteiro Lobato, e, nele, a<br />
descrição reflete as fantasias do mundo<br />
infantil. A questão propõe que seja resolvido<br />
um problema de linguagem, que é a<br />
identificação dos sentidos criados no texto<br />
pelo emprego de vários verbos no gerúndio,<br />
alguns dos quais, neologismos criados pelo<br />
autor. Como o texto é uma descrição, temos<br />
o relato de um ambiente que se agita com as<br />
ações simultâneas dos muitos seres que o<br />
habitam. Cabe ao participante perceber que<br />
o efeito dinâmico é criado pelos verbos de<br />
ação no gerúndio, que é a forma verbal da<br />
ação se fazendo. Ou seja, é função típica do<br />
gerúndio traduzir a noção de uma ação que<br />
se desenvolve de modo simultâneo à sua<br />
enunciação. Nesse ambiente retratado por<br />
Monteiro Lobato, os bichinhos humanizados<br />
se agitam, lembrando um burburinho de<br />
432
crianças. Apenas a alternativa E, assinalada<br />
por 36% dos participantes, responde<br />
corretamente a questão. As outras<br />
alternativas contemplam efeitos ou<br />
significados que, apesar de eventualmente<br />
serem transmitidos pelo emprego do<br />
gerúndio, não se verificam no texto.<br />
24) (1999) Considere os textos abaixo.<br />
(...) de modo particular, quero encorajar os<br />
crentes empenhados no campo da<br />
filosofia para que iluminem os diversos<br />
âmbitos da atividade humana, graças ao<br />
exercício de uma razão que se torna mais<br />
segura e perspicaz com o apoio que<br />
recebe da fé.<br />
(Papa João Paulo II. Carta Encíclica Fides<br />
et Ratio aos bispos da igreja católica sobre as relações<br />
entre fé e razão, 1998)<br />
As verdades da razão natural não<br />
contradizem as verdades da fé cristã.<br />
(São Tomás de Aquino<br />
–pensador medieval)<br />
Refletindo sobre os textos, pode-se<br />
concluir que:<br />
A) a encíclica papal está em contradição<br />
com o pensamento de São Tomás de<br />
Aquino, refletindo a diferença de<br />
épocas.<br />
B) a encíclica papal procura<br />
complementar São Tomás de Aquino,<br />
pois este colocava a razão natural<br />
acima da fé.<br />
C) a Igreja medieval valorizava a razão<br />
mais do que a encíclica de João Paulo<br />
II.<br />
D) o pensamento teológico teve sua<br />
importância na Idade Média, mas, em<br />
nossos dias, não tem relação com o<br />
pensamento filosófico.<br />
E) tanto a encíclica papal como a frase<br />
de São Tomás de Aquino procuram<br />
conciliar os pensamentos sobre fé e<br />
razão.<br />
Comentário<br />
Nessa questão, é necessária uma<br />
releitura do texto para que se tenha uma<br />
melhor compreensão do tema. Tanto a<br />
citação do Papa quanto a de São Tomás de<br />
Aquino tentam criar uma interdependência<br />
entre a ciência e a fé, a religião. O Papa<br />
incentiva aqueles que exercem a pesquisa<br />
científica ou filosófica a manter a fé cristã.<br />
São Tomás de Aquino, por sua vez, equipara<br />
o avanço da ciência ao aumento da própria<br />
fé, afirmando que a razão natural não<br />
contradiz a fé cristã. Se um cresce, cresce<br />
também o outro, em harmonia e sem<br />
contradições. Questão de grau médio.<br />
(Português)<br />
Nessa questão, encontramos dois textos:<br />
o primeiro, do século XX, foi elaborado pelo<br />
Papa João Paulo II; o segundo, do século<br />
XIII, pelo teólogo e filósofo cristão São<br />
Tomás de Aquino. O conteúdo de ambos se<br />
refere à ligação entre fé e razão, a qual<br />
esteve presente na filosofia escolástica da<br />
Idade Média. Esse campo de reflexão buscou<br />
conciliar o cristianismo com o pensamento de<br />
Aristóteles e teve em São Tomás de Aquino<br />
seu maior representante.<br />
Mesmo sem ter todas essas informações,<br />
você poderia responder tranqüilamente à<br />
questão por meio de uma leitura atenta dos<br />
dois textos, chegando à conclusão de que<br />
"tanto a encíclica papal como a frase de São<br />
Tomás de Aquino procuram conciliar os<br />
pensamentos sobre fé e razão". Resposta<br />
correta: alternativa E. (História)<br />
Comentário do INEP<br />
Para resolver esta situação-problema, o<br />
participante deveria mostrar que, além de<br />
interpretar textos, sabe relacioná-los sendo<br />
que, nesse item, essas operações referem-se<br />
a um texto escrito na época medieval e a<br />
outro escrito recentemente.<br />
Mais de 70% dos participantes<br />
demonstraram facilidade em estabelecer esta<br />
relação.<br />
25) (2008) Assinale a opção que apresenta<br />
um verso do soneto de Cláudio Manoel da<br />
Costa em que o poeta se dirige ao seu<br />
interlocutor.<br />
A) “Torno a ver-vos, ó montes; o<br />
destino” (v.1)<br />
B) “Aqui estou entre Almendro, entre<br />
Corino,” (v.5)<br />
C) “Os meus fiéis, meus doces<br />
companheiros,” (v.6)<br />
D) “Vendo correr os míseros vaqueiros”<br />
(v.7)<br />
E) “Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto,”<br />
(v.11)<br />
Comentário<br />
Nesta questão, basta que o aluno<br />
identifique o pronome oblíquo, presente no<br />
verso um, que chama o leitor para o texto.<br />
Sendo assim, a resposta correta é a letra "A".<br />
433
26) (2008)<br />
Dick Browne. O melhor de Hagar, o horrível, v. 2. L&PM<br />
pocket, p.55-6 (com adaptações).<br />
Assinale o trecho do diálogo que<br />
apresenta um registro informal, ou<br />
coloquial, da linguagem.<br />
A) “Tá legal, espertinho! Onde é que<br />
você esteve?!”<br />
B) “E lembre-se: se você disser uma<br />
mentira, os seus chifres cairão!”<br />
C) “Estou atrasado porque ajudei uma<br />
velhinha a atravessar a rua...”<br />
D) “...e ela me deu um anel mágico que<br />
me levou a um tesouro”<br />
E) “mas bandidos o roubaram e os<br />
persegui até a Etiópia, onde um<br />
dragão...”<br />
Comentário<br />
Linguagem coloquial é aquela usada no<br />
cotidiano, que tem como característica<br />
principal a oralidade, ou seja, aquela que não<br />
segue o rigor da norma culta.<br />
Entre as alternativas da questão, apenas<br />
a letra "A" apresenta esses traços.<br />
27) (1999) Leia um texto publicado no jornal<br />
Gazeta Mercantil. Esse texto é parte de<br />
um artigo que analisa algumas situações<br />
de crise no mundo, entre elas, a quebra<br />
da Bolsa de Nova Iorque em 1929, e foi<br />
publicado na época de uma iminente crise<br />
financeira no Brasil.<br />
Deu no que deu. No dia 29 de outubro de<br />
1929, uma terça-feira, praticamente não<br />
havia compradores no pregão de Nova<br />
Iorque, só vendedores. Seguiu-se uma<br />
crise incomparável: o Produto Interno<br />
Bruto dos Estados Unidos caiu de <strong>10</strong>4<br />
bilhões de dólares em 1929, para 56<br />
bilhões em 1933, coisa inimaginável em<br />
nossos dias. O valor do dólar caiu a quase<br />
metade. O desemprego elevou-se de 1,5<br />
milhão para 12,5 milhões de trabalhadores<br />
– cerca de 25% da população ativa –<br />
entre 1929 e 1933. A construção civil caiu<br />
90%. Nove milhões de aplicações, tipo<br />
caderneta de poupança, perderam-se com<br />
o fechamento dos bancos. Oitenta e cinco<br />
mil firmas faliram. Houve saques e norteamericanos<br />
que passaram fome.<br />
(Gazeta Mercantil, 05/01/1999)<br />
Ao citar dados referentes à crise ocorrida<br />
em 1929, em um artigo jornalístico atual,<br />
pode-se atribuir ao jornalista a seguinte<br />
intenção:<br />
A) questionar a interpretação da crise.<br />
B) comunicar sobre o desemprego.<br />
C) instruir o leitor sobre aplicações em<br />
bolsa de valores.<br />
D) relacionar os fatos passados e<br />
presentes.<br />
E) analisar dados financeiros americanos.<br />
Comentário<br />
Nessa questão, o que se tem de fazer é<br />
prestar atenção às alternativas das<br />
respostas. Nenhuma delas se apresenta tão<br />
bem contextualizada a uma possível<br />
interpretação quanto a letra D. Partindo-se da<br />
análise do texto, fica claro que a intenção do<br />
artigo é remeter o leitor ao passado para<br />
tentar conduzi-lo a uma reflexão sobre uma<br />
situação presente, não mencionada na<br />
questão. Após a leitura e utilizando-se a já<br />
citada eliminação de questões, torna-se clara<br />
a resposta. Questão de nível médio.<br />
(Português)<br />
Muitas vezes, quando procuramos<br />
entender uma crise econômica ou financeira<br />
de grandes proporções, buscamos<br />
estabelecer relações com crises passadas. O<br />
mesmo ocorre no jornalismo, como prova o<br />
texto encontrado nessa questão. Buscando<br />
entender uma crise ocorrida no início de<br />
1999, o jornalista da Gazeta Mercantil<br />
buscou relacionar a situação dessa época<br />
com a grande crise de 1929 que afetou o<br />
mundo, trazendo desemprego e recessão,<br />
entre tantos outros problemas econômicos e<br />
sociais.<br />
Para responder a essa questão, era<br />
necessário ler atentamente o enunciado, em<br />
que está destacado que "o texto é parte de<br />
um artigo que analisa algumas situações de<br />
crise no mundo" e "foi publicado na época de<br />
uma iminente crise financeira no Brasil". Era<br />
importante também observar a data em que o<br />
artigo foi publicado: 05/01/1999. A partir<br />
dessas constatações, facilmente você<br />
434
chegaria a conclusão de que a intenção do<br />
jornalista era "relacionar os fatos passados e<br />
presentes". Resposta correta: alternativa D.<br />
(História)<br />
Comentário do INEP<br />
A resolução da questão demandava a<br />
capacidade dos participantes de relacionar<br />
eventos históricos envolvendo crises<br />
econômicas ocorridas em épocas e lugares<br />
distintos. Aproximadamente 2/3 deles<br />
demonstraram essa capacidade. Os demais,<br />
provavelmente, não compreenderam a<br />
exigência expressa no enunciado do<br />
problema – apontar as razões pelas quais um<br />
jornalista traz à tona eventos ocorridos<br />
setenta anos antes –, e apenas interpretaram<br />
o sentido do texto citado, que descreve a<br />
crise mundial de 1929.<br />
28) (2000) “Precisa-se nacionais sem<br />
nacionalismo, (...) movidos pelo presente<br />
mas estalando naquele cio racial que só<br />
as tradições maduram! (...). Precisa-se<br />
gentes com bastante meiguice no<br />
sentimento, bastante força na peitaria,<br />
bastante paciência no entusiasmo e<br />
sobretudo, oh! sobretudo bastante<br />
vergonha na cara!<br />
(...) Enfim: precisa-se brasileiros! Assim<br />
está escrito no anúncio vistoso de cores<br />
desesperadas pintado sobre o corpo do<br />
nosso Brasil, camaradas.”<br />
(Jornal A Noite, São Paulo, 18/12/1925 apud LOPES, Telê<br />
Porto Ancona. Mário<br />
de Andrade: ramais e caminhos. São Paulo: Duas<br />
Cidades, 1972)<br />
No trecho acima, Mário de Andrade dá<br />
forma a um dos itens do ideário<br />
modernista, que é o de firmar a feição de<br />
uma língua mais autêntica, “brasileira”, ao<br />
expressar-se numa variante de linguagem<br />
popular identificada pela (o):<br />
A) escolha de palavras como cio, peitaria,<br />
vergonha.<br />
B) emprego da pontuação.<br />
C) repetição do adjetivo bastante.<br />
D) concordância empregada em Assim<br />
está escrito.<br />
E) escolha de construção do tipo<br />
precisa-se gentes.<br />
Comentário<br />
Apesar de essa questão misturar vários<br />
tipos de informação, se você se lembra um<br />
pouquinho dos usos da partícula se, com<br />
certeza não encontrará grande dificuldade.<br />
Segundo a regra gramatical, o verbo<br />
"precisa-se" deveria ir para o plural<br />
(precisam-se), mas essa noção de verbo<br />
concordante com o sujeito há muito<br />
desapareceu na variante popular brasileira.<br />
Mas, caso você não se lembre muito bem<br />
desse assunto ou ficou meio confuso com o<br />
texto e as outras alternativas, o caminho é<br />
responder por eliminação.<br />
A primeira alternativa apresenta palavras<br />
comuns no português brasileiro, mas<br />
nenhuma "invenção" nacional. Na dúvida,<br />
pense em "vergonha": não é uma invenção<br />
brasileira. Todos os que falam português no<br />
mundo conhecem bem essa palavra. A<br />
pontuação no texto não chama nenhuma<br />
atenção. Você provavelmente não viu nada<br />
de estranho nela. Da mesma forma, o<br />
"bastante" da terceira alternativa não é nada<br />
mais que um mecanismo de retórica, usado<br />
para dar ênfase à idéia. Com o "Assim está<br />
escrito", encontramos a mesma situação: um<br />
trecho litúrgico é usado para maior ênfase.<br />
Comentário do INEP<br />
A questão procurou avaliar se o<br />
participante era capaz de, a partir da leitura<br />
de um texto de Mário de Andrade , identificar<br />
e analisar uma variante lingüística de uso<br />
coloquial, utilizadas estilisticamente pelo<br />
autor. O uso estilístico das variantes marcou<br />
a primeira fase da literatura brasileira<br />
modernista. O trecho destaca em seu todo<br />
esse uso da linguagem popular. A escolha da<br />
construção 'precisa-se gentes' é marca desse<br />
uso estilístico. O índice de 37% na alternativa<br />
(A) demonstra, possivelmente, que os<br />
participantes não consideraram a escolha<br />
dos vocábulos, dentro do contexto do texto,<br />
confundindo as palavras que aparecem na<br />
alternativa com '...a feição de uma língua<br />
mais autêntica...'.O percentual de acertos foi<br />
da ordem de 40%.<br />
29) (2004) O poema abaixo pertence à<br />
poesia concreta brasileira. O termo latino<br />
de seu título significa "epitalâmio", poema<br />
ou canto em homenagem aos que se<br />
casam.<br />
435
Considerando que símbolos e sinais são<br />
utilizados geralmente para demonstrações<br />
objetivas, ao serem incorporados no<br />
poema "Epithalamium - II".<br />
A) adquirem novo potencial de<br />
significação.<br />
B) eliminam a subjetividade do poema.<br />
C) opõem-se ao tema principal do poema.<br />
D) invertem seu sentido original.<br />
E) tornam-se confusos e equivocados.<br />
Comentário<br />
Diferentemente, por exemplo, da<br />
aplicação matemática dos símbolos, em que<br />
sinais como "=", "+", "-", "x", etc. servem<br />
como convenções internacionais de<br />
significação objetiva e invariável, em um<br />
poema como "Epithalamium – II" foram<br />
usados símbolos que não são convenções<br />
internacionais, mas, sim, convencionados<br />
apenas para esse texto. No caso, letras do<br />
alfabeto deixam de ser representações de<br />
sons (fonemas) para ganharem nova<br />
significação, principalmente pela construção<br />
visual do poema: unem homem (h) e mulher<br />
(e) pela ação da serpente (s) — libido,<br />
atração — em uma entidade única.<br />
Uma das tendências poéticas da segunda<br />
metade do século XX, resultado de um<br />
diálogo com estéticas já presentes no final do<br />
século XIX, trabalha com a construção de<br />
seu próprio referente, fazendo do poema um<br />
objeto autônomo.<br />
A)<br />
B)<br />
C)<br />
30) (2002) O autor da tira utilizou os<br />
princípios de composição de um<br />
conhecido movimento artístico para<br />
representar a necessidade de um mesmo<br />
observador aprender a considerar,<br />
simultaneamente, diferentes pontos de<br />
vista.<br />
D)<br />
Das obras reproduzidas, todas de autoria<br />
do pintor espanhol Pablo Picasso, aquela<br />
em cuja composição foi adotado um<br />
procedimento semelhante é:<br />
E)<br />
436
Comentário<br />
Questão de nível fácil. O movimento<br />
artístico que previa considerar<br />
simultaneamente diversos pontos de vista<br />
era o Cubismo. Havia a desconstrução da<br />
forma para que se pudesse ver todos os<br />
ângulos concomitantemente. O único quadro<br />
que apresenta essas características é o da<br />
alternativa E. As outras quatro alternativas<br />
pressupõem a manutenção da forma.<br />
Comentário do INEP<br />
O objetivo desta questão é levar o<br />
participante a refletir sobre características<br />
fundamentais de um movimento artístico – o<br />
cubismo – a partir de dados visuais:<br />
quadrinhos e pinturas. A reprodução de dois<br />
quadrinhos da personagem Calvin forneceu<br />
para o participante informações básicas para<br />
a análise que deveria fazer das alternativas<br />
apresentadas. Segundo os quadrinhos, o<br />
movimento artístico abordado pela questão<br />
tinha como procedimento de composição<br />
representar, para um mesmo observador,<br />
diferentes pontos de vista, fazendo com que<br />
"o tradicional único ponto de vista" fosse<br />
abandonado e com que a perspectiva fosse<br />
fraturada. A análise das obras de Picasso<br />
reproduzidas nas alternativas permite que o<br />
participante reconheça a adoção desse<br />
procedimento no quadro "Marie-Thérèse<br />
apoiada no cotovelo" (alternativa E, com 46%<br />
de registros), no qual se pode reconhecer a<br />
representação de diferentes pontos de vista<br />
a partir dos quais é apresentado o rosto da<br />
mulher retratada.<br />
31) (2001) Oxímoro (ou paradoxo) é uma<br />
construção textual que agrupa significados<br />
que se excluem mutuamente. Para<br />
Garfield, a frase de saudação de Jon<br />
(tirinha abaixo) expressa o maior de todos<br />
os oxímoros.<br />
C) "Naquela casa vazia<br />
Que ele mesmo levantara<br />
Um mundo novo nascia<br />
De que sequer suspeitava."<br />
D) "... o operário faz a coisa<br />
E a coisa faz o operário."<br />
E) "Ele, um humilde operário<br />
Um operário que sabia<br />
Exercer a profissão."<br />
MORAES, Vinícius de. Antologia Poética. São Paulo:<br />
Companhia das Letras, 1992.<br />
Comentário<br />
Idéias que se completam e se excluem<br />
mutuamente são encontradas na alternativa<br />
B: a casa que ele construía era, ao mesmo<br />
tempo, sua liberdade e sua escravidão.<br />
A casa é um símbolo de liberdade para o<br />
homem. Para o homem operário, é também<br />
símbolo de escravidão, pois ele está<br />
"condenado" a jamais usufruir do resultado<br />
do seu trabalho (a casa que faz não é para<br />
ele).<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão propõe ao participante que<br />
estabeleça uma relação entre linguagens,<br />
associando a compreensão de um efeito<br />
semântico produzido pelo uso do oxímoro<br />
nos quadrinhos com o mesmo efeito num<br />
texto poético. O índice (18%) de escolhas da<br />
alternativa D deve-se, possivelmente, a uma<br />
análise parcial da noção de paradoxo,<br />
confundida com inversão.<br />
32) (2005) Cândido Portinari (1903-1962), um<br />
dos mais importantes artistas brasileiros<br />
do século XX, tratou de diferentes<br />
aspectos da nossa realidade em seus<br />
quadros.<br />
Folha de S. Paulo. 31 de julho de 2000.<br />
Nas alternativas abaixo, estão transcritos<br />
versos retirados do poema “O operário em<br />
construção”. Pode-se afirmar que ocorre<br />
um oxímoro em<br />
A) "Era ele que erguia casas<br />
Onde antes só havia chão."<br />
B) "... a casa que ele fazia<br />
Sendo a sua liberdade<br />
Era a sua escravidão."<br />
Sobre a temática dos “Retirantes”,<br />
Portinari também escreveu o seguinte<br />
poema:<br />
437
438<br />
(....)<br />
Os retirantes vêm vindo com trouxas e<br />
embrulhos<br />
Vêm das terras secas e escuras;<br />
pedregulhos<br />
Doloridos como fagulhas de carvão aceso<br />
Corpos disformes, uns panos sujos,<br />
Rasgados e sem cor, dependurados<br />
Homens de enorme ventre bojudo<br />
Mulheres com trouxas caídas para o lado<br />
Pançudas, carregando ao colo um garoto<br />
Choramingando, remelento<br />
(....)<br />
(Cândido Portinari. Poemas. Rio de Janeiro:<br />
J. Olympio, 1964.)<br />
Das quatro obras reproduzidas, assinale<br />
aquelas que abordam a problemática que<br />
é tema do poema.<br />
A) 1 e 2 D) 3 e 4<br />
B) 1 e 3 E) 2 e 4<br />
C) 2 e 3<br />
Comentário<br />
O poema apresenta correspondência com<br />
as imagens ao descrever com detalhes a<br />
figura do retirante: pobre, mal vestido,<br />
carregando trouxas e embrulhos.<br />
33) (2004)<br />
A polifonia, variedade de vozes, presente<br />
no poema resulta da manifestação do<br />
A) poeta e do colonizador apenas.<br />
B) colonizador e do negro apenas.<br />
C) negro e do índio apenas.<br />
D) colonizador, do poeta e do negro<br />
apenas.<br />
E) poeta, do colonizador, do índio e do<br />
negro.<br />
Comentário<br />
A questão apresenta uma certa<br />
dificuldade, pois, à primeira vista, parecem<br />
confundir-se as vozes do colonizador, do<br />
negro e do índio. Entretanto, os<br />
travessões existentes no poema explicitam<br />
as falas das personagens ao mostrar que<br />
não são apenas as vozes do poeta e do<br />
colonizador que estão presentes. As falas do<br />
índio e do negro são proferidas por eles,<br />
marca expressa pelo discurso direto. A<br />
presença dessa modalidade de discurso<br />
indica a reprodução literal do que as<br />
personagens disseram.<br />
Um ponto interessante em relação a essa<br />
questão é a intertextualidade. O índio<br />
aparece no poema pela remissão a um texto<br />
poético do nosso Romantismo, em um<br />
processo intertextual com “I-Juca-Pirama”, de<br />
Gonçalves Dias; e a presença do negro se dá<br />
pela ligação com Mário de Andrade, em<br />
Macunaíma. Entende-se, portanto, que a<br />
alternativa correta é a letra E.<br />
34) (2003) No ano passado, o governo<br />
promoveu uma campanha a fim de reduzir<br />
os índices de violência. Noticiando o fato,<br />
um jornal publicou a seguinte manchete:<br />
CAMPANHA CONTRA A VIOLÊNCIA DO<br />
GOVERNO DO ESTADO ENTRA EM NOVA<br />
FASE<br />
A manchete tem um duplo sentido, e isso<br />
dificulta o entendimento. Considerando o<br />
objetivo da notícia, esse problema poderia<br />
ter sido evitado com a seguinte redação:<br />
A) Campanha contra o governo do Estado<br />
e a violência entram em nova fase.<br />
B) A violência do governo do Estado entra<br />
em nova fase de Campanha.<br />
C) Campanha contra o governo do Estado<br />
entra em nova fase de violência.<br />
D) A violência da campanha do governo<br />
do Estado entra em nova fase.<br />
E) Campanha do governo do Estado<br />
contra a violência entra em nova fase.<br />
Comentário<br />
O objetivo da questão é eliminar a<br />
ambigüidade da notícia de jornal, que,<br />
originalmente, trazia duas idéias: de acordo<br />
com a primeira, o governo queria combater a<br />
violência, e a segunda ressaltava que o<br />
governo era violento. Nessa questão,<br />
era preciso eliminar a segunda possibilidade<br />
de leitura.<br />
35) (2002) "A palavra tatuagem é<br />
relativamente recente. Toda a gente sabe<br />
que foi o navegador Cook que a introduziu<br />
no Ocidente, e esse escrevia tattou, termo<br />
da Polinésia de tatou ou tu tahou,<br />
'desenho'.
(...) Desde os mais remotos tempos,<br />
vemo-la a transformar-se: distintivo<br />
honorífico entre uns homens, ferrete de<br />
ignomínia entre outros, meio de assustar o<br />
adversário para os bretões, marca de uma<br />
classe de selvagens das ilhas marquesas<br />
(...) sinal de amor, de desprezo, de ódio<br />
(...). Há três casos de tatuagem no Rio,<br />
completamente diversos na sua<br />
significação moral: os negros,os turcos<br />
com o fundo religioso e o bando de<br />
meretrizes, dos rufiões e dos humildes,<br />
que se marcam por crime ou por<br />
ociosidade".<br />
RIO, João do. Os Tatuadores. Revista Kosmos.<br />
1904, apud: A alma encantadora das ruas,<br />
SP: Cia das Letras, 1999.<br />
Com base no texto são feitas as seguintes<br />
afirmações:<br />
I. João do Rio revela como a tatuagem já<br />
estava presente na cidade do Rio de<br />
Janeiro, pelo menos desde o início do<br />
século XX, e era mais utilizada por<br />
alguns setores da população.<br />
II. A tatuagem, de origem polinésia,<br />
difundiu-se no ocidente com a<br />
característica que permanece até hoje:<br />
utilização entre os jovens com função<br />
estritamente estética.<br />
III. O texto mostra como a tatuagem é<br />
uma prática que se transforma no<br />
tempo e que alcança inúmeros sentidos<br />
nos diversos setores das sociedades e<br />
para as diferentes culturas.<br />
Está correto o que se afirma apenas em<br />
A) I D) I e II<br />
B) II E) I e III<br />
C) III<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Constata-se o<br />
seguinte: a tatuagem já existia no Brasil no<br />
início do século XX (o texto é de 1904 e parte<br />
dele se refere ao Rio do Janeiro) e era<br />
utilizada em diferentes setores da sociedade.<br />
A afirmação de que as tatuagens possuem<br />
apenas finalidade estética entre os jovens<br />
elimina a segunda alternativa. Já a última<br />
alternativa confirma as transformações das<br />
funções da tatuagem ao longo do tempo nas<br />
mais diversas sociedades e culturas.<br />
Comentário do INEP<br />
O texto estabelece uma relação entre a<br />
atualidade da palavra "tatuagem" e a<br />
antiguidade do uso de desenhos como<br />
pintura corporal. Focaliza uma prática social<br />
bastante difundida que adquiriu aspectos e<br />
conotações diversos nos diferentes contextos<br />
históricos e geográficos em que ela pode ser<br />
descrita. Fazendo a descrição da prática da<br />
tatuagem, como uma manifestação comum a<br />
diferentes culturas, e que adquire, inclusive,<br />
significados diferentes dentro de uma mesma<br />
cultura, induz o participante a refletir sobre a<br />
"diversidade dos patrimônios etnoculturais e<br />
artísticos", contextualizando ao mesmo<br />
tempo seus significados "em diferentes<br />
sociedades, épocas e lugares". Ao retomar<br />
as várias origens e usos da tatuagem, o<br />
participante é levado a compreender e<br />
respeitar uma gramática histórica dos<br />
costumes marcada sempre por semelhanças<br />
e diferenças. A questão não exigia, portanto,<br />
nenhum conhecimento prévio sobre as<br />
diferentes formas de manifestação dessa<br />
prática, mas simplesmente constatar, com o<br />
autor do texto citado, a historicidade e a<br />
diversidade das práticas sociais. Os<br />
participantes que assinalaram a alternativa C<br />
(36%), possivelmente, não levaram em<br />
consideração informações do texto. A<br />
questão foi corretamente respondida por 37%<br />
dos participantes.<br />
36) (2004)<br />
Nesta tirinha, a personagem faz referência<br />
a uma das mais conhecidas figuras de<br />
linguagem para<br />
A) condenar a prática de exercícios físicos<br />
B) valorizar aspectos da vida moderna.<br />
C) desestimular o uso das bicicletas.<br />
D) caracterizar o diálogo entre as<br />
gerações.<br />
E) criticar a falta de perspectiva do pai.<br />
Comentário<br />
A construção indica a falta de perspectiva<br />
na vida do pai do personagem. “Pedalar sem<br />
sair do lugar” é uma metáfora muito usada na<br />
cultura brasileira para expressar como é a<br />
vida de uma pessoa que age de forma a não<br />
conseguir qualquer mudança — para melhor<br />
ou para pior — na vida.<br />
439
37) (2004) As questões de números 26 e 27<br />
referem-se ao poema abaixo.<br />
Entre os recursos expressivos<br />
empregados no texto, destaca-se a<br />
A) metalinguagem, que consiste em fazer<br />
a linguagem referir-se à própria<br />
linguagem.<br />
B) intertextualidade, na qual o texto<br />
retoma e reelabora outros textos.<br />
C) ironia, que consiste em se dizer o<br />
contrário do que se pensa, com<br />
intenção crítica.<br />
D) denotação, caracterizada pelo uso das<br />
palavras em seu sentido próprio e<br />
objetivo.<br />
E) prosopopéia, que consiste em<br />
personificar coisas inanimadas,<br />
atribuindo-lhes vida.<br />
Comentário<br />
A questão trata de um texto de Carlos<br />
Drummond de Andrade em que ele fala sobre<br />
o crescimento urbano e a pobreza que esse<br />
processo traz. Para tanto, o poeta utiliza uma<br />
linguagem irônica, revelando o lado oculto do<br />
desenvolvimento. Dessa forma, temos como<br />
correta a alternativa C.<br />
38) (2007) Antigamente<br />
Acontecia o indivíduo apanhar<br />
constipação; ficando perrengue, mandava<br />
o próprio chamar o doutor e, depois, ir à<br />
botica para aviar a receita, de cápsulas ou<br />
pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />
phtísica, feia era o gálico. Antigamente, os<br />
sobrados tinham assombrações, os<br />
meninos, lombrigas (...)<br />
Carlos Drummond de Andrade. Poesia completa e prosa.<br />
Rio de Janeiro: Companhia José Aguilar, p. 1.184.<br />
Antigamente<br />
Acontecia o indivíduo apanhar um<br />
resfriado; ficando mal, mandava o próprio<br />
chamar o doutor e, depois, ir à farmácia<br />
para aviar a receita, de cápsulas ou<br />
pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />
tuberculose, feia era a sífilis. Antigamente,<br />
os sobrados tinham assombrações, os<br />
meninos, vermes (...)<br />
Comparando-se esses dois textos,<br />
verifica-se que, na segunda versão, houve<br />
mudanças relativas a<br />
A) vocabulário.<br />
B) construções sintáticas.<br />
C) pontuação.<br />
D) fonética.<br />
E) regência verbal.<br />
Comentário<br />
Questão fácil. O aluno deveria comparar<br />
os dois textos e verificar as alterações<br />
realizadas na segunda versão apresentada.<br />
Nesse momento, fica evidente a mudança de<br />
vocabulário, o que indica a alternativa A<br />
como a correta.<br />
39) (2001) Nas conversas diárias, utiliza-se<br />
freqüentemente a palavra “próprio” e ela<br />
se ajusta a várias situações. Leia os<br />
exemplos de diálogos:<br />
I - A Vera se veste diferente!<br />
- É mesmo, é que ela tem um estilo<br />
próprio.<br />
II - A Lena já viu esse filme uma dezena<br />
de vezes! Eu não consigo ver o<br />
que ele tem de tão maravilhoso assim.<br />
- É que ele é próprio para adolescente.<br />
III - Dora, o que eu faço? Ando tão<br />
preocupada com o Fabinho! Meu filho<br />
está impossível!<br />
- Relaxa, Tânia! É próprio da idade.<br />
Com o tempo, ele se acomoda.<br />
Nas ocorrências I, II e III, “próprio” é<br />
sinônimo de, respectivamente,<br />
A) adequado, particular, típico.<br />
B) peculiar, adequado, característico.<br />
C) conveniente, adequado, particular.<br />
D) adequado, exclusivo, conveniente.<br />
E) peculiar, exclusivo, característico.<br />
440<br />
O texto acima está escrito em linguagem<br />
de uma época passada. Observe uma<br />
outra versão, em linguagem atual.
Comentário<br />
Para responder a essa pergunta,<br />
substitua, nos trechos, a palavra próprio<br />
pelos possíveis equivalentes apresentados<br />
nas alternativas. Questão simples que pode<br />
ser resolvida por eliminação.<br />
Comentário do INEP<br />
Nesta questão são apresentados três<br />
textos em que uma mesma palavra é<br />
utilizada com sentidos diferentes. O problema<br />
consiste em observar a variedade de uso de<br />
um mesmo termo e as possibilidades de sua<br />
compreensão, estabelecendo uma relação<br />
comparativa com base em uma análise<br />
semântica. Cerca de metade (49%) dos<br />
participantes estabeleceu essa relação de<br />
maneira correta. Os participantes que<br />
assinalaram a alternativa D (21%),<br />
possivelmente isolaram o termo do contexto,<br />
gerando um equívoco entre "adequado" e<br />
"exclusivo".<br />
40) (2003) Do pedacinho de papel ao livro<br />
impresso vai uma longa distância. Mas o<br />
que o escritor quer, mesmo, é isso: ver o<br />
seu texto em letra de forma. A gaveta é<br />
ótima para aplacar a fúria criativa; ela faz<br />
amadurecer o texto da mesma forma que<br />
a adega faz amadurecer o vinho. Em<br />
certos casos, a cesta de papel é melhor<br />
ainda.<br />
O período de maturação na gaveta é<br />
necessário, mas não deve se prolongar<br />
muito. ‘Textos guardados acabam<br />
cheirando mal’, disse Silvia Plath, (...) que,<br />
com esta frase, deu testemunho das<br />
dúvidas que atormentam o escritor:<br />
publicar ou não publicar? guardar ou jogar<br />
fora?<br />
(Moacyr Scliar. O escritor e seus desafios.)<br />
Nesse texto, o escritor Moacyr Scliar usa<br />
imagens para refletir sobre uma etapa da<br />
criação literária. A idéia de que o processo<br />
de maturação do texto nem sempre é o<br />
que garante bons resultados está sugerida<br />
na seguinte frase:<br />
A) "A gaveta é ótima para aplacar a fúria<br />
criativa."<br />
B) "Em certos casos, a cesta de papel é<br />
melhor ainda."<br />
C) "O período de maturação na gaveta é<br />
necessário, (...)."<br />
D) "Mas o que o escritor quer, mesmo, é<br />
isso: ver o seu texto em letra de forma."<br />
E) "ela (a gaveta) faz amadurecer o texto<br />
da mesma forma que a adega faz<br />
amadurecer o vinho."<br />
Comentário<br />
Essa questão exigia a interpretação das<br />
frases. A palavra NEM no enunciado exclui<br />
todas as alternativas que tratam do<br />
amadurecimento ou da importância da<br />
gaveta para o bom sucesso da produção<br />
literária.<br />
A alternativa B é a única que apresenta<br />
um procedimento alternativo para a produção<br />
textual, ou seja, o lixo, e significa a liberdade<br />
do escritor em começar,<br />
interromper, recomeçar ou simplesmente<br />
abandonar a obra, permitindo a ele exercer<br />
seu livre-arbítrio.<br />
41) (2007)<br />
Aqui na floresta<br />
Dos ventos batida,<br />
Façanhas de bravos<br />
Não geram escravos,<br />
Que estimem a vida<br />
Sem guerra e lidar.<br />
— Ouvi-me, Guerreiros,<br />
— Ouvi meu cantar.<br />
O canto do guerreiro<br />
Valente na guerra,<br />
Quem há, como eu sou?<br />
Quem vibra o tacape<br />
Com mais valentia?<br />
Quem golpes daria<br />
Fatais, como eu dou?<br />
— Guerreiros, ouvi-me;<br />
— Quem há, como eu sou?<br />
Gonçalves Dias.<br />
Macunaíma<br />
(Epílogo)<br />
Acabou-se a história e morreu a vitória.<br />
Não havia mais ninguém lá. Dera<br />
tangolomângolo na tribo Tapanhumas e<br />
os filhos dela se acabaram de um em um.<br />
Não havia mais ninguém lá. Aqueles<br />
lugares, aqueles campos, furos<br />
puxadouros arrastadouros meiosbarrancos,<br />
aqueles matos misteriosos,<br />
tudo era solidão do deserto... Um silêncio<br />
imenso dormia à beira do rio Uraricoera.<br />
Nenhum conhecido sobre a terra não<br />
sabia nem falar da tribo nem contar<br />
aqueles casos tão pançudos. Quem podia<br />
saber do Herói?<br />
Mário de Andrade.<br />
Considerando-se a linguagem desses dois<br />
textos, verifica-se que<br />
A) a função da linguagem centrada no<br />
receptor está ausente tanto no primeiro<br />
quanto no segundo texto.<br />
B) a linguagem utilizada no primeiro texto<br />
é coloquial, enquanto, no segundo,<br />
predomina a linguagem formal.<br />
C) há, em cada um dos textos, a<br />
utilização de pelo menos uma palavra<br />
de origem indígena.<br />
441
D) a função da linguagem, no primeiro<br />
texto, centra-se na forma de<br />
organização da linguagem e, no<br />
segundo, no relato de informações<br />
reais.<br />
E) a função da linguagem centrada na<br />
primeira pessoa, predominante no<br />
segundo texto, está ausente no<br />
primeiro.<br />
Comentário<br />
Questão de nível médio. Essa é uma<br />
questão que foca a linguagem dos textos, e<br />
cada qual em seu gênero (poesia e prosa,<br />
respectivamente). O aluno chega à<br />
conclusão que a alternativa correta é a C por<br />
meio da exclusão das demais alternativas.<br />
A resposta correta não é a A, pois há um<br />
receptor que pode ser percebido nas<br />
seguintes perguntas contidas no texto:<br />
Texto 1 – “Guerreiros, ouvi-me;/Quem há,<br />
como eu sou?”<br />
Texto 2 – “Quem podia saber do herói?”<br />
Também não é a alternativa B, pois o<br />
conteúdo dos textos não é discriminatório. No<br />
primeiro texto, há uma idealização do índio e,<br />
no segundo, há uma realidade crítica e<br />
satírica da sociedade.<br />
A alternativa D é excluída, porque o<br />
segundo texto não fala de uma realidade, já<br />
que Macunaíma é um herói fictício e nãoreal.<br />
Por fim, também está errada a alternativa<br />
E. Isso porque não temos no epílogo do texto<br />
de Macunaíma a linguagem centrada na<br />
primeira pessoa, mas sim, na terceira.<br />
42) (2003) Eu começaria dizendo que poesia<br />
é uma questão de linguagem. A<br />
importância do poeta é que ele torna mais<br />
viva a linguagem. Carlos Drummond de<br />
Andrade escreveu um dos mais belos<br />
versos da língua portuguesa com duas<br />
palavras comuns: cão e cheirando.<br />
Um cão cheirando o futuro<br />
(Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP, 24/05/1988.<br />
adaptação)<br />
O que deu ao verso de Drummond o<br />
caráter de inovador da língua foi<br />
A) o modo raro como foi tratado o<br />
"futuro".<br />
B) a referência ao cão como "animal de<br />
estimação".<br />
C) a flexão pouco comum do verbo<br />
"cheirar" (gerúndio).<br />
D) a aproximação não usual do agente<br />
citado e a ação de "cheirar".<br />
E) o emprego do artigo indefinido "um" e<br />
do artigo definido "o" na mesma frase.<br />
Comentário<br />
O fato de Drummond identificar o futuro<br />
como algo que pode ser percebido por um<br />
animal irracional por meio do olfato foi<br />
inovador. A figura de linguagem foi<br />
construída metaforicamente: o futuro torna-se<br />
uma coisa que tem cheiro, contrariamente à<br />
imagem pela qual ele normalmente é<br />
representado: como algo que não se vê e<br />
não se pode pressentir ou tocar.<br />
43) (2002) Só falta o Senado aprovar o<br />
projeto de lei [sobre o uso de termos<br />
estrangeiros no Brasil] para que palavras<br />
como shopping center , delivery e drivethrough<br />
sejam proibidas em nomes de<br />
estabelecimentos e marcas. Engajado<br />
nessa valorosa luta contra o inimigo<br />
ianque, que quer fazer área de livre<br />
comércio com nosso inculto e belo idioma,<br />
venho sugerir algumas outras medidas<br />
que serão de extrema importância para a<br />
preservação da soberania nacional, a<br />
saber:<br />
........<br />
Nenhum cidadão carioca ou gaúcho<br />
poderá dizer "Tu vai" em espaços públicos<br />
do território nacional;<br />
Nenhum cidadão paulista poderá dizer "Eu<br />
lhe amo" e retirar ou acrescentar o plural<br />
em sentenças como "Me vê um chopps e<br />
dois pastel";<br />
..........<br />
Nenhum dono de borracharia poderá<br />
escrever cartaz com a palavra "borraxaria"<br />
e nenhum dono de banca de jornal<br />
anunciará "Vende-se cigarros";<br />
..........<br />
Nenhum livro de gramática obrigará os<br />
alunos a utilizar colocações pronominais<br />
como "casar-me-ei" ou "ver-se-ão".<br />
PIZA, Daniel. Uma proposta imodesta. O Estado de<br />
S. Paulo, São Paulo, 8/04/2001.<br />
No texto acima, o autor:<br />
A) mostra-se favorável ao teor da<br />
proposta por entender que a língua<br />
portuguesa deve ser protegida contra<br />
deturpações de uso.<br />
B) ironiza o projeto de lei ao sugerir<br />
medidas que inibam determinados usos<br />
regionais e socioculturais da língua.<br />
C) denuncia o desconhecimento de regras<br />
elementares de concordância verbal e<br />
nominal pelo falante brasileiro.<br />
442
D) revela-se preconceituoso em relação a<br />
certos registros lingüísticos ao propor<br />
medidas que os controlem.<br />
E) defende o ensino rigoroso da gramática<br />
para que todos aprendam a empregar<br />
corretamente os pronomes.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. O autor ironiza o<br />
projeto de lei que proíbe o uso de<br />
estrangeirismos no Brasil. Não adianta criarse<br />
uma expectativa ou preocupação em<br />
relação ao uso de termos estrangeiros na<br />
língua e esquecer-se de que a língua é um<br />
organismo vivo, mutável. A dinâmica de uma<br />
língua não pode ser regida por preceitos<br />
legais como quer o projeto.<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão reproduz trechos de um<br />
texto que aborda o polêmico projeto de<br />
proibição de uso de termos estrangeiros no<br />
Brasil. A partir da leitura atenta do texto de<br />
Daniel Piza, o participante é levado a refletir<br />
sobre a postura adotada pelo autor em<br />
relação ao referido projeto. Para<br />
compreender esse texto, o participante<br />
precisa reconhecer o tom irônico que marca<br />
as observações e sugestões feitas por seu<br />
autor. Assim, Daniel Piza, "engajado nessa<br />
valorosa luta contra o inimigo ianque", sugere<br />
a proibição de algumas formas lingüísticas de<br />
uso corrente que contrariam recomendações<br />
da gramática normativa. O participante deve<br />
reconhecer que, com sugestões como essas,<br />
Daniel Piza deixa implícita uma crítica à<br />
utilidade do projeto de proibição dos<br />
estrangeirismos como forma de proteger a<br />
Língua Portuguesa. Nesse contexto, a ironia<br />
torna-se mais clara, bem como o mecanismo<br />
textual que a constrói. Feito tal<br />
reconhecimento, o aluno encontra a resposta<br />
correta na alternativa B, assinalada por cerca<br />
da metade dos participantes. Nenhuma outra<br />
alternativa contempla o aspecto irônico,<br />
essencial para a compreensão do texto.<br />
44) (2003) Pequenos tormentos da vida<br />
De cada lado da sala de aula, pelas janelas<br />
altas, o azul convida os meninos,<br />
as nuvens desenrolam-se, lentas como quem<br />
vai inventando<br />
preguiçosamente uma história sem fim...Sem<br />
fim é a aula: e nada acontece,<br />
nada...Bocejos e moscas. Se ao menos,<br />
pensa Margarida, se ao menos um<br />
avião entrasse por uma janela e saísse por<br />
outra!<br />
(Mário Quintana. Poesias)<br />
Na cena retratada no texto, o sentimento<br />
do tédio<br />
A) provoca que os meninos fiquem<br />
contando histórias.<br />
B) leva os alunos a simularem bocejos,<br />
em protesto contra a monotonia da<br />
aula.<br />
C) acaba estimulando a fantasia,<br />
criando a expectativa de algum<br />
imprevisto mágico.<br />
D) prevalece de modo absoluto,<br />
impedindo até mesmo a distração ou o<br />
exercício do pensamento.<br />
E) decorre da morosidade da aula, em<br />
contraste com o movimento acelerado<br />
das nuvens e das moscas.<br />
Comentário<br />
Essa questão aborda o imaginário<br />
decorrente do marasmo trazido pela escola.<br />
O texto enfatiza o arrastar do tempo na<br />
mente de uma aluna, Margarida, que se põe<br />
a pensar em fatos mágicos ou imaginários<br />
que pudessem romper com a lentidão da<br />
aula.<br />
45) (200) O autor do texto abaixo critica,<br />
ainda que em linguagem metafórica, a<br />
sociedade contemporânea em relação aos<br />
seus hábitos alimentares.<br />
“Vocês que têm mais de 15 anos, se<br />
lembram quando a gente comprava leite<br />
em garrafa, na leiteria da esquina? (...)<br />
Mas vocês não se lembram de nada,<br />
pô! Vai ver nem sabem o que é vaca. Nem<br />
o que é leite. Estou falando isso porque<br />
agora mesmo peguei um pacote de leite –<br />
leite em pacote, imagina, Tereza! – na<br />
porta dos fundos e estava escrito que é<br />
pasterizado, ou pasteurizado, sei lá, tem<br />
vitamina, é garantido pela<br />
embromatologia, foi enriquecido e o<br />
escambau. Será que isso é mesmo leite?<br />
No dicionário diz que leite é outra coisa:<br />
‘Líquido branco, contendo água,<br />
proteína, açúcar e sais minerais’. Um<br />
alimento pra ninguém botar defeito. O ser<br />
humano o usa há mais de 5.000 anos. É o<br />
único alimento só alimento. A carne serve<br />
pro animal andar, a fruta serve pra fazer<br />
outra fruta, o ovo serve pra fazer outra<br />
galinha (...) O leite é só leite. Ou toma ou<br />
bota fora. Esse aqui examinando bem, é<br />
só pra botar fora. Tem chumbo, tem<br />
benzina, tem mais água do que leite, tem<br />
serragem, sou capaz de jurar que nem<br />
vaca tem por trás desse negócio. Depois o<br />
pessoal ainda acha estranho que os<br />
meninos não gostem de leite.<br />
443
Mas, como não gostam? Não gostam<br />
como? Nunca tomaram! Múúúúúúú!”<br />
(FERNANDES, Millôr. O Estado de S. Paulo ,<br />
22 de agosto de 1999)<br />
A palavra embromatologia usada pelo<br />
autor é:<br />
A) um termo científico que significa estudo<br />
dos bromatos.<br />
B) uma composição do termo de gíria<br />
“embromação” (enganação) com<br />
bromatologia, que é o estudo dos<br />
alimentos.<br />
C) uma junção do termo de gíria<br />
“embromação” (enganação) com<br />
lactologia, que é o estudo das<br />
embalagens para leite.<br />
D) um neologismo da química orgânica<br />
que significa a técnica de retirar<br />
bromatos dos laticínios.<br />
E) uma corruptela de termo da<br />
agropecuária que significa a ordenha<br />
mecânica.<br />
Comentário<br />
É necessário para a resolução desta<br />
questão:<br />
- perceber que o texto critica o exagerado<br />
uso de substâncias artificiais nos<br />
alimentos;<br />
- conhecer o significado da gíria embromar e<br />
da palavra bromatologia.<br />
Conhecendo esses significados, você<br />
elimina todas as alternativas erradas: a, c, d<br />
e e.<br />
Você poderá ter dúvida quanto à<br />
alternativa c, que também será eliminada se<br />
souber o significado da palavra lactologia,<br />
que é o estudo do leite e produtos lácteos e<br />
não das embalagens para leite.<br />
Nesta questão, são trabalhados os<br />
conceitos de interpretação de texto, formação<br />
de palavras e conhecimentos gerais.<br />
Comentário do INEP<br />
A resolução da questão requeria que o<br />
participante, ao ler o texto vinculasse o<br />
significado de um termo de gíria -<br />
"embromação" - com o da palavra<br />
bromatologia. A resposta correta exigia que o<br />
participante não abrisse mão do sabor<br />
picante contido na linguagem metafórica,<br />
sabor vinculado ao conhecimento específico<br />
contido na palavra bromatologia. Cerca da<br />
metade dos participantes (51%) optou pela<br />
alternativa correta e, os 20% que escolheram<br />
a alternativa C, provavelmente associaram a<br />
referência feita no texto à leite em pacote.<br />
46) (2005) O termo (ou expressão)<br />
destacado que está empregado em seu<br />
sentido próprio, denotativo ocorre em:<br />
A) “(....)<br />
É de laço e de nó<br />
De gibeira o jiló<br />
Dessa vida, cumprida a sol (....)”<br />
(Renato Teixeira. Romaria. Kuarup Discos.<br />
setembro de 1992.)<br />
B) “Protegendo os inocentes<br />
é que Deus, sábio demais,<br />
põe cenários diferentes<br />
nas impressões digitais.”<br />
(Maria N. S. Carvalho. Evangelho da Trova. /s.n.b.)<br />
C) “O dicionário-padrão da língua e os<br />
dicionários unilíngües são os tipos mais<br />
comuns de dicionários. Em nossos<br />
dias, eles se tornaram um objeto de<br />
consumo obrigatório para as nações<br />
civilizadas e desenvolvidas.”<br />
(Maria T. Camargo Biderman.<br />
O dicionário-padrão da língua. Alfa (28), 2743, 1974 Supl.)<br />
D)<br />
E) “Humorismo é a arte de fazer cócegas<br />
no raciocínio dos outros. Há duas<br />
espécies de humorismo: o trágico e o<br />
cômico. O trágico é o que não<br />
consegue fazer rir; o cômico é o que é<br />
verdadeiramente trágico para se fazer.”<br />
(Leon Eliachar. www.mercadolivre.com.br.<br />
acessado em julho de 2005.)<br />
Comentário<br />
A definição do dicionário-padrão da língua<br />
utiliza o sentido denotativo da palavra para<br />
explicar o uso de determinado tipo de<br />
dicionário. Em todas as outras alternativas,<br />
as palavras estão sendo empregadas em<br />
sentido metafórico. Na letra A, "cumprida a<br />
sol" pode mostrar o sofrimento e a solidão.<br />
Na alternativa B, "cenários diferentes" são as<br />
diferenças físicas encontradas nas<br />
impressões digitais. Na letra D, "bateria" é o<br />
termo usado para expressar a "energia" do<br />
Menino Maluquinho, que nunca acaba. Por<br />
fim, na alternativa E, "fazer cócegas no<br />
444
aciocínio" significa expressar graça por meio<br />
de idéias, fazendo com que o cérebro ache<br />
um fato divertido e, por conseguinte, faça<br />
com que a pessoa ria como se sofresse um<br />
ataque de cócegas.<br />
E)<br />
47) (2008) Os signos visuais, como meios de<br />
comunicação, são classificados em<br />
categorias de acordo com seus<br />
significados.<br />
A categoria denominada indício<br />
corresponde aos signos visuais que têm<br />
origem em formas ou situações naturais<br />
ou casuais, as quais, devido à ocorrência<br />
em circunstâncias idênticas, muitas vezes<br />
repetidas, indicam algo e adquirem<br />
significado. Por exemplo, nuvens negras<br />
indicam tempestade. Com base nesse<br />
conceito, escolha a opção que representa<br />
um signo da categoria dos indícios.<br />
A)<br />
Comentário<br />
Trata-se de uma questão interpretativa. O<br />
aluno precisa entender o que é “indício” para<br />
respondê-la. Segundo o dicionário Aurélio,<br />
indício é o mesmo que “sinal, vestígio,<br />
indicação”. Das figuras apresentadas,<br />
apenas a alternativa B indica algo: a<br />
passagem de alguém por algum lugar —<br />
pegada.<br />
48) (1999)<br />
B)<br />
C)<br />
D)<br />
Diante da visão de um prédio com uma<br />
placa indicando SAPATARIA PAPALIA,<br />
um jovem deparou com a dúvida: como<br />
pronunciar a palavra PAPALIA?<br />
Levado o problema à sala de aula, a<br />
discussão girou em torno da utilidade de<br />
conhecer as regras de acentuação e,<br />
especialmente, do auxílio que elas podem<br />
dar à correta pronúncia de palavras.<br />
Após discutirem pronúncia, regras de<br />
acentuação e escrita, três alunos<br />
apresentaram as seguintes conclusões a<br />
respeito da palavra PAPALIA:<br />
I. Se a sílaba tônica for o segundo PA, a<br />
escrita deveria ser PAPÁLIA, pois a<br />
palavra seria paroxítona terminada em<br />
ditongo crescente.<br />
II. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />
deveria ser PAPALÍA, pois "i" e "a"<br />
estariam formando hiato.<br />
445
III. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />
deveria ser PAPALIA, pois não haveria<br />
razão para o uso de acento gráfico.<br />
49) (2008)<br />
A conclusão está correta apenas em:<br />
A) III D) I<br />
B) I e II E) II<br />
C) I e III<br />
Comentário<br />
Essa questão exige bom conhecimento<br />
das regras de acentuação. A alternativa A diz<br />
que apenas a afirmação I é verdadeira. De<br />
fato ela é, mas não é a única. Nela, temos a<br />
hipótese de a palavra ser grafada como se a<br />
sílaba forte fosse a penúltima — papália —,<br />
justificando seu acento gráfico. Vejamos o<br />
que dizem as regras de acentuação.<br />
Acentuam-se as palavras paroxítonas<br />
terminadas em: i, is, us, um, uns, l, n, r, x,<br />
ps, ã, ãs, ão, ãos, ditongos orais,<br />
crescentes ou decrescentes, seguidos ou<br />
não de S. Isso valida, portanto, a afirmação I.<br />
A afirmação II pressupõe que a sílaba<br />
tônica seja LI, em hiato com A: no caso de<br />
essa ser a tonicidade da palavra, a sílaba LI<br />
não poderia ser acentuada, pois I, mesmo<br />
sendo a tônica do hiato, não é a última vogal,<br />
portanto, essa afirmativa é falsa.<br />
A afirmação III considera que a sílaba<br />
tônica é LI, não havendo acento por ser o I a<br />
primeira vogal do hiato. Portanto, essa<br />
afirmação é verdadeira.<br />
Concluindo, temos como verdadeiras as<br />
afirmações I e III. Então, a alternativa E é a<br />
correta. Questão de nível difícil.<br />
Comentário do INEP<br />
Dentre os participantes, somente pouco<br />
mais de um terço (35%) demonstrou possuir<br />
a habilidade para identificar as regras de<br />
acentuação corretas, enunciadas na questão.<br />
Chama a atenção o fato de que 73% dos<br />
participantes (alternativas A, D e E)<br />
reconheceram corretamente, pelo menos, a<br />
regra contida no item I, sendo que cerca de<br />
40% desses, contudo, tiveram dificuldades<br />
em analisar as regras II e III.<br />
Em se tratando de palavra não-usual, é,<br />
sobretudo, o domínio do conhecimento das<br />
regras e não a possível pronúncia correta,<br />
pelo uso, o que parece ter sido revelado.<br />
446<br />
Exame, 28/9/2007.<br />
Entre os seguintes ditos populares, qual<br />
deles melhor corresponde à figura<br />
acima?<br />
A) Com perseverança, tudo se alcança.<br />
B) Cada macaco no seu galho.<br />
C) Nem tudo que balança cai.<br />
D) Quem tudo quer, tudo perde.<br />
E) Deus ajuda quem cedo madruga.<br />
Comentário<br />
Assim como a questão 37, esta também<br />
envolve interpretação de signos, ou seja, o<br />
aluno precisa estar atento à imagem e<br />
relacioná-la ao dito popular correspondente.<br />
A alternativa "A" é a correta, pois, para<br />
uma lesma “grudenta” e vagarosa conseguir<br />
pular numa cama elástica, é necessária<br />
muita perseverança.<br />
50) (2005) Leia estes textos.<br />
Texto 1<br />
Texto 2<br />
Sonhar<br />
Mais um sonho impossível<br />
Lutar<br />
Quando é fácil ceder<br />
Vencer o inimigo invencível<br />
Negar quando a regra é vender<br />
Sofrer a tortura implacável<br />
Romper a incabível prisão<br />
Voar num limite improvável<br />
Tocar o inacessível chão<br />
É minha lei, é minha questão<br />
Virar esse mundo<br />
Cravar esse chão<br />
Não me importa saber<br />
Se é terrível demais<br />
Quantas guerras terei que vencer
Por um pouco de paz<br />
E amanhã se esse chão que eu beijei<br />
For meu leito e perdão<br />
Vou saber que valeu delirar<br />
E morrer de paixão<br />
E assim, seja lá como for<br />
Vai ter fim a infinita aflição<br />
E o mundo vai ver uma flor<br />
Brotar do impossível chão.<br />
(J. Darione – M. Leigh – Versão de Chico Buarque de<br />
Hollanda e Ruy Guerra, 1972.)<br />
A tirinha e a canção apresentam uma<br />
reflexão sobre o futuro da humanidade. É<br />
correto concluir que os dois textos<br />
A) afirmam que o homem é capaz de<br />
alcançar a paz.<br />
B) concordam que o desarmamento é<br />
inatingível.<br />
C) julgam que o sonho é um desafio<br />
invencível.<br />
D) têm visões diferentes sobre um<br />
possível mundo melhor.<br />
E) transmitem uma mensagem de<br />
otimismo sobre a paz.<br />
Comentário<br />
Enquanto o primeiro texto é ácido em<br />
relação à possibilidade de desarmamento da<br />
população (ou seja, à criação de uma<br />
sociedade mais pacífica), o segundo mostra<br />
a capacidade que a humanidade tem de crer<br />
e, por isso, tentar fazer até o que a princípio<br />
parece impossível. Para os autores da<br />
canção, nada é intrinsecamente impossível.<br />
A relação entre eles é de oposição:<br />
descrença x crença. Questão de nível de<br />
dificuldade médio.<br />
51) (2002) A crônica muitas vezes constitui<br />
um espaço para reflexão sobre aspectos<br />
da sociedade em que vivemos.<br />
"Eu, na rua, com pressa, e o menino<br />
segurou no meu braço, falou qualquer<br />
coisa que não entendi. Fui logo dizendo<br />
que não tinha, certa de que ele estava<br />
pedindo dinheiro. Não estava. Queria<br />
saber a hora.<br />
Talvez não fosse um Menino De<br />
Família, mas também não era um Menino<br />
De Rua. É assim que a gente divide.<br />
Menino De Família é aquele bem-vestido<br />
com tênis da moda e camiseta de marca,<br />
que usa relógio e a mãe dá outro se o<br />
dele for roubado por um Menino De Rua.<br />
Menino De Rua é aquele que quando a<br />
gente passa perto segura a bolsa com<br />
força porque pensa que ele é pivete,<br />
trombadinha, ladrão. (...) Na verdade não<br />
existem meninos De rua.<br />
Existem meninos NA rua. E toda vez<br />
que um menino está NA rua é porque<br />
alguém o botou lá. Os meninos não vão<br />
sozinhos aos lugares. Assim como são<br />
postos no mundo, durante muitos anos<br />
também são postos onde quer que<br />
estejam. Resta ver quem os põe na rua. E<br />
por quê."<br />
COLASSANTI, Marina. In: Eu sei, mas não devia. Rio de<br />
Janeiro: Rocco, 1999.<br />
No terceiro parágrafo em "... não existem<br />
meninos De rua. Existem meninos NA<br />
rua.", a troca de De pelo Na determina<br />
que a relação de sentido entre "menino" e<br />
"rua" seja<br />
A) de localização e não de qualidade.<br />
B) de origem e não de posse.<br />
C) de origem e não de localização.<br />
D) de qualidade e não de origem.<br />
E) de posse e não de localização.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Apesar de não<br />
haver um terceiro parágrafo neste texto, a<br />
troca das preposições ao final do SEGUNDO<br />
parágrafo indica claramente que não há um<br />
menino DE (proveniente de) rua, mas um<br />
menino que está NA (foi levado à) rua.<br />
Portanto, a relação é unicamente de<br />
localização (onde ele está) e não de<br />
qualidade (o que ele é).<br />
Comentário do INEP<br />
A reprodução de um trecho de uma<br />
crônica de Marina Colassanti tematiza uma<br />
importante questão social brasileira: a<br />
presença de milhões de crianças nas ruas do<br />
País. A autora, ao tratar desse problema,<br />
vale-se de recursos lingüísticos específicos.<br />
O objetivo desta questão é justamente<br />
chamar a atenção do participante leitor para<br />
esses recursos e os efeitos de sentido que<br />
eles desencadeiam no texto. Na raiz da<br />
questão destaca-se a troca de "De" por "NA"<br />
e pede-se que se determine qual relação de<br />
sentido essa substituição estabelece entre os<br />
termos "menino" e "rua". Analisar a relação,<br />
nesse caso, significa perguntar-se sobre o<br />
sentido de dois sintagmas criados no texto:<br />
"meninos NA rua" por oposição a "meninos<br />
De rua". O que a autora pretende negar, com<br />
a troca do termo de relação, é a possibilidade<br />
de que existam meninos de rua diferentes de<br />
outros meninos, que não têm na rua a sua<br />
origem. O destaque para a preposição na<br />
nos leva a refletir que a relação dos meninos<br />
447
com a rua é de localização: eles estão ali por<br />
alguma razão, não porque essa seja a sua<br />
qualificação. Essa reflexão levaria o aluno a<br />
escolher, como correta, a resposta<br />
apresentada na alternativa A, assinalada por<br />
cerca de metade dos participantes.<br />
52) (2000) O uso do pronome átono no início<br />
das frases é destacado por um poeta e<br />
por um gramático nos textos abaixo.<br />
Pronominais<br />
Dê-me um cigarro<br />
Diz a gramática<br />
Do professor e do aluno<br />
E do mulato sabido<br />
Mas o bom negro e o bom branco<br />
da Nação Brasileira<br />
Dizem todos os dias<br />
Deixa disso camarada<br />
Me dá um cigarro<br />
(ANDRADE, Oswald de. Seleção de textos.<br />
São Paulo: Nova Cultural, 1988)<br />
“Iniciar a frase com pronome átono só<br />
é lícito na conversação familiar,<br />
despreocupada, ou na língua escrita<br />
quando se deseja reproduzir a fala dos<br />
personagens (...).”<br />
(CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da<br />
língua portuguesa.<br />
São Paulo: Nacional, 1980)<br />
Comparando a explicação dada pelos<br />
autores sobre essa regra, pode-se afirmar<br />
que ambos:<br />
A) condenam essa regra gramatical.<br />
B) acreditam que apenas os esclarecidos<br />
sabem essa regra.<br />
C) criticam a presença de regras na<br />
gramática.<br />
D) afirmam que não há regras para uso de<br />
pronomes.<br />
E) relativizam essa regra gramatical.<br />
Comentário<br />
Questão que requer conhecimento básico<br />
de colocação pronominal, em relação ao uso<br />
de pronomes átonos no início de frases, uma<br />
regra muito pouco respeitada pelo brasileiro,<br />
da qual Oswald de Andrade faz questão de<br />
falar em seu poema. Porém, a questão pode<br />
ser resolvida simplesmente por meio de uma<br />
leitura bem atenta dos textos. Se formos<br />
analisando alternativa por alternativa, a<br />
eliminação é clara e lógica: a alternativa a<br />
fica totalmente descartada devido à<br />
transparência da colocação dos dois autores<br />
(Me dá um cigarro...) e (iniciar frases com o<br />
pronome átono é "lícito" na conversação<br />
familiar ou despreocupada). Já a alternativa b<br />
pode até mesmo gerar um pouco de dúvida a<br />
quem não se atém bem à pergunta. Quanto<br />
às alternativas c e d, ficam descartadas, pois,<br />
em momento nenhum, os autores criticaram<br />
o uso de regras gramaticais em seus textos,<br />
cabendo perfeitamente a alternativa e para<br />
as afirmações do gramático e do poeta.<br />
Comentário do INEP<br />
Essa questão pretendia verificar como o<br />
participante analisa um fato lingüístico,<br />
mediante a comparação da descrição desse<br />
fato em dois textos. Sabe-se que,<br />
normalmente em situação escolar, o uso do<br />
pronome átono no início da frase é julgado<br />
como grave desvio gramatical, e pouco se<br />
analisa esse uso na fala ou escrita informal.<br />
Os dois autores dos textos, com intenções<br />
diferentes, relativizam essa regra gramatical,<br />
destacando e descrevendo o seu uso<br />
coloquial. A maioria dos participantes (52%)<br />
analisou e comparou corretamente as<br />
posições dos autores sobre o uso do<br />
pronome átono, e 24% deles reafirmaram a<br />
posição discriminatória da regra, deslocandoa<br />
de seu uso.<br />
53) (2000) As histórias em quadrinhos, por<br />
vezes, utilizam animais como<br />
personagens e a eles atribuem<br />
comportamento humano. O gato Garfield<br />
é exemplo desse fato.<br />
Fonte: Caderno Vida e Arte, Jornal do Povo, Fortaleza<br />
Van Gogh, pintor holandês nascido em<br />
1853, é um dos principais nomes da<br />
pintura mundial. É dele o quadro abaixo.<br />
Auto-retrato de orelha cortada<br />
448
O 3º quadrinho sugere que Garfield:<br />
A) desconhece tudo sobre arte, por isso<br />
faz a sugestão.<br />
B) acredita que todo pintor deve fazer algo<br />
diferente.<br />
C) defende que para ser pintor a pessoa<br />
tem de sofrer.<br />
D) conhece a história de um pintor<br />
famoso e faz uso da ironia.<br />
E) acredita que seu dono tenha tendência<br />
artística e, por isso, faz a sugestão.<br />
Comentário<br />
Outra questão de interpretação de texto.<br />
Muito simples para quem um dia ouviu falar<br />
de Van Gogh, e simplíssima para aqueles<br />
que prestam atenção em todos os elementos<br />
do enunciado. Afinal, quem deu uma<br />
espiadinha na legenda do quadro de Van<br />
Gogh matou na hora a questão.<br />
Esta questão é daquelas rápidas de serem<br />
resolvidas, associando-se os elementos<br />
apresentados.<br />
Comentário do INEP<br />
A significativa maioria (81%) dos<br />
participantes soube perceber o caráter<br />
irônico da fala do Garfield, expressa no<br />
terceiro quadrinho porque, ou conheciam a<br />
história de Van Gogh, ou apropriaram-se<br />
corretamente da informação sobre esse<br />
pintor, fornecida no enunciado.<br />
54) (2004)<br />
A tira "Hagar" e o poema de Alberto<br />
Caeiro (um dos heterônimos de Fernando<br />
Pessoa) expressam, com linguagens<br />
diferentes, uma mesma idéia: a de que a<br />
compreensão que temos do mundo é<br />
condicionada, essencialmente,<br />
A) pelo alcance de cada cultura.<br />
B) pela capacidade visual do observador.<br />
C) pelo senso de humor de cada um.<br />
D) pela idade do observador.<br />
E) pela altura do ponto de observação.<br />
Comentário<br />
Questão reflexiva sobre a forma como<br />
cada cultura vê o mundo sob a ótica dos<br />
limites dados pelos seus costumes e<br />
possibilidades de pensamento inerentes a<br />
cada modelo cultural. A mistura de uma tira e<br />
de um poema amplia a possibilidade de<br />
pensamento por trabalhar com linguagens<br />
diferentes. A alternativa correta é a letra A,<br />
pois ambos (tira e poema) utilizam figuras de<br />
linguagem (metáfora e ironia) para expressar<br />
as diferentes visões de mundo.<br />
55) (2003)<br />
O humor presente na tirinha decorre<br />
principalmente do fato de a personagem<br />
Mafalda<br />
A) atribuir, no primeiro quadrinho, poder<br />
ilimitado ao dedo indicador.<br />
B) considerar seu dedo indicador tão<br />
importante quanto o dos patrões.<br />
C) atribuir, no primeiro e no último<br />
quadrinhos, um mesmo sentido ao<br />
vocábulo "indicador".<br />
D) usar corretamente a expressão<br />
"indicador de desemprego", mesmo<br />
sendo criança.<br />
E) atribuir, no último quadrinho, fama<br />
exagerada ao dedo indicador dos<br />
patrões.<br />
Comentário<br />
A questão pede a interpretação de uma<br />
charge da personagem Mafalda, em que ela<br />
faz referência a seu dedo indicador, que é<br />
usado como substantivo primitivo e que<br />
possibilita a analogia com “indicador de<br />
desemprego”. Dessa forma, ela ironiza os<br />
indicadores sociais. Na charge, porém, não<br />
há menção explícita aos índices<br />
“indicadores”, permanecendo o raciocínio<br />
preso apenas ao dedo indicador. Assim, ela<br />
utiliza, tanto no primeiro quanto no último<br />
quadrinho, a palavra “indicador” como<br />
referência ao dedo, não dando abertura a<br />
outro tipo de interpretação.<br />
449
56) (2002)<br />
De acordo com a história em quadrinhos<br />
protagonizada por Hagar e seu filho<br />
Hamlet, pode-se afirmar que a postura de<br />
Hagar<br />
A) valoriza a existência da diversidade<br />
social e de culturas, e as várias<br />
representações e explicações desse<br />
universo.<br />
B) desvaloriza a existência da<br />
diversidade social e as várias culturas,<br />
e determina uma única explicação para<br />
esse universo.<br />
C) valoriza a possibilidade de explicar as<br />
sociedades e as culturas a partir de<br />
várias visões de mundo.<br />
D) valoriza a pluralidade cultural e social<br />
ao aproximar a visão de mundo de<br />
navegantes e não-navegantes.<br />
E) desvaloriza a pluralidade cultural e<br />
social, ao considerar o mundo habitado<br />
apenas pelos navegantes.<br />
acertada do diálogo é que o narrador torna<br />
inteligível, para si e para os outros, a lógica<br />
do seu pensamento através do diálogo entre<br />
os dois personagens. É importante observar<br />
que o humor do personagem Hagar é<br />
identificado na postura simetricamente<br />
oposta à de Michel de Montaigne, por<br />
exemplo (ver questão 58): a sua visão de<br />
mundo apresenta-se autocentrada, isto é,<br />
centrada nos seus próprios valores (vikings).<br />
A habilidade requerida do participante nessa<br />
questão, qual seja, "valorizar a diversidade<br />
dos patrimônios etnoculturais", é mobilizada<br />
aqui na sua dimensão negativa: é criticando<br />
a postura chauvinista de Hagar que o<br />
participante é capaz de responder<br />
corretamente a questão. A última alternativa<br />
(E) funciona como um distrator, pois neste<br />
caso não está suposta a crítica do discurso<br />
do personagem. Cerca de um terço dos<br />
participantes assinalou a alternativa correta<br />
B. As demais opções são devidas,<br />
possivelmente, a uma leitura pouco<br />
compreensiva das alternativas associadas a<br />
história em quadrinhos.<br />
57) (2008)<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Hagar reduz o<br />
mundo a dois tipos de pessoas: navegantes<br />
e não-navegantes. No último quadrinho, diz<br />
que são os navegantes que estabelecem<br />
esses dois grupos. Portanto, quem é<br />
diferente dos navegantes (que estabelecem<br />
o padrão) simplesmente é incluído na massa<br />
única dos não-navegantes. Não importa<br />
quem ou quantos sejam, sua diversidade<br />
social ou cultural em relação aos navegantes<br />
ou entre si. Vemos aí a desvalorização de<br />
outras culturas.<br />
Comentário do INEP<br />
Dentre as habilidades básicas para a<br />
compreensão de um texto destaca-se a<br />
capacidade do leitor de identificar os<br />
pressupostos de cada afirmação que lhe é<br />
apresentada. Nesta questão o participante<br />
deve identificar a posição tanto de Hagar<br />
como de seu filho Hamlet e, em seguida,<br />
avaliar quais os argumentos que justificam a<br />
opinião de Hagar ao definir que no mundo só<br />
existem dois tipos de pessoas. A pergunta de<br />
Hamlet a seu pai explicita a importância do<br />
ato de narrar através do diálogo e do efeito<br />
humorístico contido no episódio representado<br />
na tira. O resultado da compreensão<br />
XAVIER, C. Quadrinho quadrado. Disponível em:<br />
http://www.releituras.com. Acesso em: 5 jul. 2009.<br />
Tendo em vista a segunda fala do<br />
personagem entrevistado, constata-se que<br />
A) o entrevistado deseja convencer o<br />
jornalista a não publicar um livro.<br />
B) o principal objetivo do entrevistado é<br />
explicar o significado da palavra<br />
motivação.<br />
C) são utilizados diversos recursos da<br />
linguagem literária, tais como a<br />
metáfora e a metonímia.<br />
450
D) o entrevistado deseja informar de<br />
modo objetivo o jornalista sobre as<br />
etapas de produção de um livro.<br />
E) o principal objetivo do entrevistado é<br />
evidenciar seu sentimento com relação<br />
ao processo de produção de um livro.<br />
Comentário<br />
(QUESTÃO: AZUL <strong>10</strong>0, BRANCA <strong>10</strong>1,<br />
ROSA <strong>10</strong>0)<br />
Questão de fácil resolução. Como foi<br />
pedido que o aluno avaliasse somente a<br />
segunda fala do personagem, fica clara a<br />
manifestação de um sentimento de alívio em<br />
relação ao processo de produção de um livro.<br />
A alternativa E é a correta.<br />
58) (2009) Texto 1<br />
É praticamente impossível<br />
imaginarmos nossas vidas sem o plástico.<br />
Ele está presente em embalagens de<br />
alimentos, bebidas e remédios, além de<br />
eletrodomésticos, automóveis etc. Esse<br />
uso ocorre devido à sua atoxicidade e à<br />
inércia, isto é: quando em contato com<br />
outras substâncias, o plástico não as<br />
contamina; ao contrário, protege o produto<br />
embalado. Outras duas grandes<br />
vantagens garantem o uso dos plásticos<br />
em larga escala: são leves, quase não<br />
alteram o peso do material embalado, e<br />
são <strong>10</strong>0% recicláveis, fato que,<br />
infelizmente, não é aproveitado, visto que,<br />
em todo o mundo, a percentagem de<br />
plástico reciclado, quando comparado ao<br />
total produzido, ainda é irrelevante.<br />
Revista Mãe Terra.<br />
Minuano, ano 1, n. 6 (adaptado).<br />
Texto II<br />
Sacolas plásticas são leves e voam ao<br />
vento. Por isso, elas entopem esgotos e<br />
bueiros, causando enchentes. São<br />
encontradas até no estômago de<br />
tartarugas marinhas, baleias, focas e<br />
golfinhos, mortos por sufocamento.<br />
Sacolas plásticas descartáveis são<br />
gratuitas para os consumidores, mas têm<br />
um custo incalculável para o meio<br />
ambiente.<br />
Veja, 8 jul. 2009. Fragmentos de texto publicitário do<br />
Instituto Akatu pelo Consumo Consciente.<br />
Em contraste com o texto 1, no texto II<br />
são empregadas, predominantemente,<br />
estratégias argumentativas que<br />
A) atraem o leitor por meio de previsões<br />
para o futuro.<br />
B) apelam à emoção do leitor,<br />
mencionando a morte de animais.<br />
C) orientam o leitor a respeito dos modos<br />
de usar conscientemente as sacolas<br />
plásticas.<br />
D) intimidam o leitor com as nocivas<br />
consequências do uso indiscriminado<br />
de sacolas plásticas.<br />
E) recorrem à informação, por meio de<br />
constatações, para convencer o leitor a<br />
evitar o uso de sacolas plásticas.<br />
Comentário<br />
(QUESTÃO: AZUL <strong>10</strong>7, BRANCA <strong>10</strong>7,<br />
ROSA <strong>10</strong>6)<br />
Embora essa questão pareça de simples<br />
resolução, ela pode levar o aluno a ficar em<br />
dúvida entre as alternativas D e E, pois a<br />
letra D indica intimidação quanto ao uso<br />
indiscriminado do uso de sacolas plásticas e<br />
a letra E apresenta o convenciomento dessa<br />
ação.<br />
Partindo-se da análise do texto II,<br />
percebe-se muito mais o convencimento do<br />
que a mera intimidação. Portanto, alternativa<br />
correta é a letra E.<br />
COMPETÊNCIA DE ÁREA 8<br />
H25 - Identificar, em textos de<br />
diferentes gêneros, as<br />
marcas linguísticas que<br />
singularizam as variedades<br />
linguísticas sociais,<br />
regionais e de registro<br />
01) (2001) O mundo é grande<br />
O mundo é grande e cabe<br />
Nesta janela sobre o mar.<br />
O mar é grande e cabe<br />
Na cama e no colchão de amar.<br />
O amor é grande e cabe<br />
No breve espaço de beijar.<br />
ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e prosa.<br />
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983.<br />
Neste poema, o poeta realizou uma opção<br />
estilística: a reiteração de determinadas<br />
construções e expressões lingüísticas,<br />
como o uso da mesma conjunção para<br />
estabelecer a relação entre as frases.<br />
Essa conjunção estabelece, entre as<br />
idéias relacionadas, um sentido de<br />
A) oposição.<br />
B) comparação.<br />
C) conclusão.<br />
D) alternância.<br />
E) finalidade.<br />
451
Comentário<br />
Há três elementos repetidos neste trecho:<br />
o verbo ser, o artigo definido o e a conjunção<br />
aditiva e. A conjunção e estabelece uma<br />
relação entre idéias que, concretamente, são<br />
opostas (ex.: "O mundo é grande e cabe<br />
nesta janela sobre o mar"). A alternativa<br />
correta é a letra A.<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão apresenta, para leitura e<br />
análise, o poema "O mundo é grande", onde<br />
os recursos lingüísticos expressivos<br />
utilizados geram um efeito de oposição entre<br />
as idéias. A análise sintático-semântica é<br />
necessária para a compreensão do valor de<br />
oposição assumido pela conjunção "e":<br />
imagens justapostas estão relacionadas,<br />
contrapondo-se em planos diferentes. Um<br />
percentual significativo (46%) de<br />
participantes considerou que o valor da<br />
conjunção "e", nesse poema, é de<br />
comparação, o que não reflete o sentido<br />
estilístico proposto pelo poeta, mas<br />
corresponde apenas à primeira operação que<br />
se realiza para estabelecer o sentido de<br />
oposição. De maneira análoga, pode-se<br />
analisar os equívocos daqueles que optaram<br />
pelas alternativas C e D.<br />
02) (1999) SONETO DE FIDELIDADE<br />
De tudo, ao meu amor serei atento<br />
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto<br />
Que mesmo em face do maior encanto<br />
Dele se encante mais meu pensamento.<br />
Quero vivê-lo em cada vão momento<br />
E em seu louvor hei de espalhar meu<br />
canto<br />
E rir meu riso e derramar meu pranto<br />
Ao seu pesar ou seu contentamento.<br />
E assim, quando mais tarde me procure<br />
Quem sabe a morte, angústia de quem<br />
vive<br />
Quem sabe a solidão, fim de quem ama.<br />
Eu possa dizer do meu amor (que tive):<br />
Que não seja imortal, posto que é chama<br />
Mas que seja infinito enquanto dure.<br />
(MORAES, Vinícius de. Antologia poética. São Paulo: Cia<br />
das Letras, 1992).<br />
A palavra mesmo pode assumir diferentes<br />
significados, de acordo com a sua função<br />
na frase. Assinale a alternativa em que o<br />
sentido de mesmo equivale ao que se<br />
verifica no 3º verso da 1ª estrofe do<br />
poema de Vinícius de Moraes.<br />
A) "Pai, para onde fores, / irei também<br />
trilhando as mesmas ruas..." (Augusto<br />
dos Anjos)<br />
B) "Agora, como outrora, há aqui o<br />
mesmo contraste da vida interior, que<br />
é modesta, com a exterior, que é<br />
ruidosa." (Machado de Assis)<br />
C) "Havia o mal, profundo e persistente,<br />
para o qual o remédio não surtiu efeito,<br />
mesmo em doses variáveis."<br />
(Raimundo Faoro)<br />
D) "Mas, olhe cá, Mana Glória, há<br />
mesmo necessidade de fazê-lo<br />
padre?" (Machado de Assis)<br />
E) "Vamos de qualquer maneira, mas<br />
vamos mesmo." (Aurélio)<br />
Comentário<br />
Nessa questão, uma pequena análise<br />
sintática se faz necessária: mesmo, em<br />
ambos os casos, é conjunção subordinativa<br />
concessiva, introduzindo, portanto, uma<br />
oração subordinada cujo fato expresso é<br />
contrário ao da oração principal. Deve-se,<br />
então, recorrer à oração anterior para se ter<br />
certeza quanto à classificação. Grau<br />
moderado de dificuldade.<br />
Comentário do INEP<br />
Este problema buscou colocar o<br />
participante diante de uma situação que<br />
exigia a mobilização de seus mecanismos de<br />
reflexão sobre os processos lingüísticos em<br />
que um significante (uma palavra) assume<br />
diferentes significados, no enunciado, de<br />
acordo com a intenção do enunciador. Neste<br />
caso, além da compreensão da<br />
transformação de significado, é necessária a<br />
alteração de função morfossintática.<br />
Verifica-se que 62% dos participantes<br />
conseguiram identificar e analisar esse<br />
processo lingüístico, comparando a função<br />
do significante em diferentes enunciados.<br />
Isso demonstrou um domínio parcial da<br />
reflexão sobre a Língua Portuguesa, em<br />
diferentes contextos e textos.<br />
Os 18% dos participantes que<br />
assinalaram a alternativa B identificaram a<br />
diferença de significados mas,<br />
provavelmente, têm dificuldades em analisar<br />
estas mudanças em nível morfossintático<br />
(alternativa B).<br />
452
03) ( 2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />
poema.<br />
A DANÇA E A ALMA<br />
A DANÇA? Não é movimento,<br />
súbito gesto musical.<br />
É concentração, num momento,<br />
da humana graça natural.<br />
No solo não, no éter pairamos,<br />
nele amaríamos ficar.<br />
A dança – não vento nos ramos:<br />
seiva, força, perene estar.<br />
Um estar entre céu e chão,<br />
novo domínio conquistado,<br />
onde busque nossa paixão<br />
libertar-se por todo lado...<br />
Onde a alma possa descrever<br />
suas mais divinas parábolas<br />
sem fugir à forma do ser,<br />
por sobre o mistério das fábulas.<br />
(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />
Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />
A definição de dança, em linguagem de<br />
dicionário, que mais se aproxima do que<br />
está expresso no poema é<br />
A) a mais antiga das artes, servindo como<br />
elemento de comunicação e afirmação<br />
do homem em todos os momentos de<br />
sua existência.<br />
B) a forma de expressão corporal que<br />
ultrapassa os limites físicos,<br />
possibilitando ao homem a liberação de<br />
seu espírito.<br />
C) a manifestação do ser humano,<br />
formada por uma seqüência de gestos,<br />
passos e movimentos desconcertados.<br />
D) o conjunto organizado de movimentos<br />
do corpo, com ritmo determinado por<br />
instrumentos musicais, ruídos, cantos,<br />
emoções etc.<br />
E) o movimento diretamente ligado ao<br />
psiquismo do indivíduo e, por<br />
conseqüência, ao seu desenvolvimento<br />
intelectual e à sua cultura.<br />
Comentário<br />
A pergunta busca a aplicação do conceito<br />
de "estado de dicionário" (que também foi<br />
desenvolvido por Drummond no poema "A<br />
Procura da Poesia"). A literatura busca partir<br />
de palavras em estado de dicionário para,<br />
pelo aprofundamento do sentido delas, criar<br />
um mundo mais denso e particular. Em<br />
estado de dicionário, a dança, conforme é<br />
tratada nesse poema, apareceria na<br />
alternativa B: uma justaposição entre<br />
aspectos físicos e espirituais da expressão<br />
humana. Questão complexa.<br />
04) (2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />
poema.<br />
A DANÇA E A ALMA<br />
A DANÇA? Não é movimento,<br />
súbito gesto musical.<br />
É concentração, num momento,<br />
da humana graça natural.<br />
No solo não, no éter pairamos,<br />
nele amaríamos ficar.<br />
A dança – não vento nos ramos:<br />
seiva, força, perene estar.<br />
Um estar entre céu e chão,<br />
novo domínio conquistado,<br />
onde busque nossa paixão<br />
libertar-se por todo lado...<br />
Onde a alma possa descrever<br />
suas mais divinas parábolas<br />
sem fugir à forma do ser,<br />
por sobre o mistério das fábulas.<br />
(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />
Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />
O poema “A Dança e a Alma” é construído<br />
com base em contrastes, como<br />
“movimento” e “concentração”. Em uma<br />
das estrofes, o termo que estabelece<br />
contraste com solo é:<br />
A) éter. D) paixão.<br />
B) seiva. E) ser.<br />
C) chão.<br />
Comentário<br />
O elemento que contrasta com "solo"<br />
(físico, tangível, perene) é "éter" (espiritual,<br />
intangível, volátil). Questão de nível médio de<br />
dificuldade.<br />
05) ( 2008) O surgimento da figura da Ema<br />
no céu, ao leste, no anoitecer, na segunda<br />
quinzena de junho, indica o início do<br />
inverno para os índios do sul do Brasil e o<br />
começo da estação seca para os do norte.<br />
É limitada pelas constelações de<br />
Escorpião e do Cruzeiro do Sul, ou<br />
Cut'uxu. Segundo o mito guarani, o<br />
Cut’uxu segura a cabeça da ave para<br />
garantir a vida na Terra, porque, se ela se<br />
soltar, beberá toda a água do nosso<br />
planeta. Os tupisguaranis utilizam o<br />
Cut'uxu para se orientar e determinar a<br />
duração das noites e as estações do ano.<br />
A ilustração a seguir é uma representação<br />
dos corpos celestes que constituem a<br />
constelação da Ema, na percepção<br />
indígena.<br />
453
Almanaque BRASIL, maio/2007 (com adaptações).<br />
A próxima figura mostra, em campo de<br />
visão ampliado, como povos de culturas<br />
não-indígenas percebem o espaço estelar<br />
em que a Ema é vista.<br />
Internet: (com adaptações).<br />
Assinale a opção correta a respeito da<br />
linguagem empregada no texto A Ema.<br />
A) A palavra Cut’uxu é um regionalismo<br />
utilizado pelas populações próximas às<br />
aldeias indígenas.<br />
B) O autor se expressa em linguagem<br />
formal em todos os períodos do texto.<br />
C) A ausência da palavra Ema no início do<br />
período “É limitada (...)” caracteriza<br />
registro oral.<br />
D) A palavra Cut’uxu está destacada em<br />
itálico porque integra o vocabulário da<br />
linguagem informal.<br />
E) No texto, predomina a linguagem<br />
coloquial porque ele consta de um<br />
almanaque.<br />
Comentário<br />
A questão é simples, mas requer cuidados<br />
quanto aos conceitos de linguagem<br />
“informal”, “formal” e de “língua”. Se o aluno<br />
tiver noção desses conceitos,<br />
chegará facilmente à resposta. A linguagem<br />
formal ou culta prevalece no texto, e o termo<br />
“Cut’uxu’ não é um termo informal, mas, sim,<br />
uma expressão que pertence a uma língua<br />
indígena — o que justifica o emprego da<br />
palavra em itálico. A resposta correta é,<br />
portanto, a letra "B".<br />
06) (2008) Calcula-se que 78% do<br />
desmatamento na Amazônia tenha sido<br />
motivado pela pecuária — cerca de 35%<br />
do rebanho nacional está na região — e<br />
que pelo menos 50 milhões de hectares<br />
de pastos são pouco produtivos. Enquanto<br />
o custo médio para aumentar a<br />
produtividade de 1 hectare de pastagem é<br />
de 2 mil reais, o custo para derrubar igual<br />
área de floresta é estimado em 800 reais,<br />
o que estimula novos desmatamentos.<br />
Adicionalmente, madeireiras retiram as<br />
árvores de valor comercial que foram<br />
abatidas para a criação de pastagens. Os<br />
pecuaristas sabem que problemas<br />
ambientais como esses podem provocar<br />
restrições à pecuária nessas áreas, a<br />
exemplo do que ocorreu em 2006 com o<br />
plantio da soja, o qual, posteriormente, foi<br />
proibido em áreas de floresta.<br />
Época, 3/3/2008 e 9/6/2008 (com adaptações).<br />
A partir da situação-problema descrita,<br />
conclui-se que<br />
A) o desmatamento na Amazônia decorre<br />
principalmente da exploração ilegal de<br />
árvores de valor comercial.<br />
B) um dos problemas que os pecuaristas<br />
vêm enfrentando na Amazônia é a<br />
proibição do plantio de soja.<br />
C) a mobilização de máquinas e de força<br />
humana torna o desmatamento mais<br />
caro que o aumento da produtividade<br />
de pastagens.<br />
D) o superavit comercial decorrente da<br />
exportação de carne produzida na<br />
Amazônia compensa a possível<br />
degradação ambiental.<br />
E) a recuperação de áreas desmatadas<br />
e o aumento de produtividade das<br />
pastagens podem contribuir para a<br />
redução do desmatamento na<br />
Amazônia.<br />
Comentário do portal<br />
Essa questão retrata o problema do<br />
desmatamento da Amazônia, relacionado<br />
principalmente com o desenvolvimento da<br />
pecuária na região. Para resolvê-la, foram<br />
necessários a leitura atenta do texto e o<br />
conhecimento sobre os problemas<br />
ambientais da atualidade. A alternativa<br />
correta é a letra E, pois é mais caro para os<br />
pecuaristas aumentar a produtividade do que<br />
as áreas de pasto, o que acarreta o aumento<br />
do desmatamento da Amazônia.<br />
454
07) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />
preciso, além de conhecer o padrão<br />
formal da Língua Portuguesa, saber<br />
adequar o uso da linguagem ao contexto<br />
discursivo. Para exemplificar este fato,<br />
seu professor de Língua Portuguesa<br />
convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />
Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />
brinca com situações de discurso oral que<br />
fogem à expectativa do ouvinte.<br />
Aí, Galera<br />
Jogadores de futebol podem ser<br />
vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />
você pode imaginar um jogador de futebol<br />
dizendo "estereotipação"? E, no<br />
entanto, por que não?<br />
- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />
galera.<br />
- Minha saudação aos aficionados do<br />
clube e aos demais esportistas, aqui<br />
presentes ou no recesso dos seus lares.<br />
- Como é?<br />
- Aí, galera.<br />
- Quais são as instruções do técnico?<br />
- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />
trabalho de contenção coordenada, com<br />
energia otimizada, na zona de<br />
preparação, aumentam as<br />
probabilidades de, recuperado o<br />
esférico, concatenarmos um contragolpe<br />
agudo com parcimônia de meios e<br />
extrema objetividade, valendo-nos da<br />
desestruturação momentânea do<br />
sistema oposto, surpreendido pela<br />
reversão inesperada do fluxo da ação:<br />
- Ahn?<br />
- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />
pegá eles sem calça.<br />
- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />
coisa?<br />
- Posso dirigir uma mensagem de<br />
caráter sentimental, algo banal, talvez<br />
mesmo previsível e piegas, a uma<br />
pessoa à qual sou ligado por razões,<br />
inclusive, genéticas?<br />
- Pode.<br />
- Uma saudação para a minha<br />
progenitora.<br />
- Como é?<br />
- Alô, mamãe!<br />
- Estou vendo que você é um, um...<br />
- Um jogador que confunde o<br />
entrevistador, pois não corresponde à<br />
expectativa de que o atleta seja um ser<br />
algo primitivo com dificuldade de<br />
expressão e assim sabota a<br />
estereotipação?<br />
- Estereoquê?<br />
- Um chato?<br />
- Isso.<br />
Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />
O texto retrata duas situações<br />
relacionadas que fogem à expectativa do<br />
público. São elas:<br />
A) a saudação do jogador aos fãs do<br />
clube, no início da entrevista, e a<br />
saudação final dirigida à sua mãe.<br />
B) a linguagem muito formal do jogador,<br />
inadequada à situação da entrevista, e<br />
um jogador que fala, com desenvoltura,<br />
de modo muito rebuscado.<br />
C) o uso da expressão "galera", por parte<br />
do entrevistador, e da expressão<br />
"progenitora", por parte do jogador.<br />
D) o desconhecimento, por parte do<br />
entrevistador, da palavra<br />
"estereotipação", e a fala do jogador<br />
em "é pra dividir no meio e ir pra cima<br />
pra pegá eles sem calça".<br />
E) o fato de os jogadores de futebol serem<br />
vítimas de estereotipação e o jogador<br />
entrevistado não corresponder ao<br />
estereótipo.<br />
Comentário<br />
Quando pensamos em certas profissões,<br />
imaginamos qual seria o padrão de<br />
comportamento de quem as exerce. O texto<br />
está trabalhando uma divergência entre o<br />
que esperamos de um jogador de futebol (o<br />
estereótipo que temos dele) e um jogador<br />
que não se enquadra em nossas<br />
expectativas. Levando isso em consideração,<br />
as duas coisas que destoam do que<br />
esperamos encontrar nessa situação são: 1)<br />
alguém, ao dar uma entrevista de alto<br />
alcance popular, fala de maneira<br />
extremamente rebuscada; 2) um jogador que,<br />
ao falar de maneira rebuscada, acaba por<br />
fugir do estereótipo do jogador de futebol, de<br />
quem sempre é esperado algo menos<br />
rebuscado e mais popular.<br />
08) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />
preciso, além de conhecer o padrão<br />
formal da Língua Portuguesa, saber<br />
adequar o uso da linguagem ao contexto<br />
discursivo. Para exemplificar este fato,<br />
seu professor de Língua Portuguesa<br />
convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />
Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />
brinca com situações de discurso oral que<br />
fogem à expectativa do ouvinte.<br />
455
Aí, Galera<br />
Jogadores de futebol podem ser<br />
vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />
você pode imaginar um jogador de futebol<br />
dizendo "estereotipação"? E, no<br />
entanto, por que não?<br />
- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />
galera.<br />
- Minha saudação aos aficionados do<br />
clube e aos demais esportistas, aqui<br />
presentes ou no recesso dos seus lares.<br />
- Como é?<br />
- Aí, galera.<br />
- Quais são as instruções do técnico?<br />
- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />
trabalho de contenção coordenada, com<br />
energia otimizada, na zona de<br />
preparação, aumentam as<br />
probabilidades de, recuperado o<br />
esférico, concatenarmos um contragolpe<br />
agudo com parcimônia de meios e<br />
extrema objetividade, valendo-nos da<br />
desestruturação momentânea do<br />
sistema oposto, surpreendido pela<br />
reversão inesperada do fluxo da ação:<br />
- Ahn?<br />
- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />
pegá eles sem calça.<br />
- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />
coisa?<br />
- Posso dirigir uma mensagem de<br />
caráter sentimental, algo banal, talvez<br />
mesmo previsível e piegas, a uma<br />
pessoa à qual sou ligado por razões,<br />
inclusive, genéticas?<br />
- Pode.<br />
- Uma saudação para a minha<br />
progenitora.<br />
- Como é?<br />
- Alô, mamãe!<br />
- Estou vendo que você é um, um...<br />
- Um jogador que confunde o<br />
entrevistador, pois não corresponde à<br />
expectativa de que o atleta seja um ser<br />
algo primitivo com dificuldade de<br />
expressão e assim sabota a<br />
estereotipação?<br />
- Estereoquê?<br />
- Um chato?<br />
- Isso.<br />
Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />
O texto mostra uma situação em que a<br />
linguagem usada é inadequada ao<br />
contexto. Considerando as diferenças<br />
entre língua oral e língua escrita, assinale<br />
a opção que representa também uma<br />
inadequação da linguagem usada ao<br />
contexto:<br />
A) "o carro bateu e capotô, mas num deu<br />
pra vê direito" - um pedestre que<br />
assistiu ao acidente comenta com o<br />
outro que vai passando.<br />
B) "E aí, ô meu! Como vai essa força?" -<br />
um jovem que fala para um amigo.<br />
C) "Só um instante, por favor. Eu<br />
gostaria de fazer uma observação" -<br />
alguém comenta em uma reunião de<br />
trabalho.<br />
D) "Venho manifestar meu interesse em<br />
candidatar-me ao cargo de Secretária<br />
Executiva desta conceituada empresa"<br />
- alguém que escreve uma carta<br />
candidatando-se a um emprego.<br />
E) "Porque se a gente não resolve as<br />
coisas como têm que ser, a gente corre<br />
o risco de termos, num futuro próximo,<br />
muito pouca comida nos lares<br />
brasileiros" - um professor universitário<br />
em um congresso internacional.<br />
Comentário<br />
Essa questão está trabalhando com as<br />
nossas expectativas. Esperamos encontrar,<br />
nas diferentes situações, linguagens que<br />
correspondam à formalidade (ou à<br />
informalidade) delas. Na alternativa E, como<br />
o professor universitário está falando em um<br />
congresso internacional, espera-se que ele<br />
utilize uma linguagem mais formal e não uma<br />
linguagem coloquial como a que usou. Em<br />
todas as outras situações, a linguagem está<br />
de acordo com a situação em que está sendo<br />
empregada.<br />
09) (2007) Texto I<br />
Agora Fabiano conseguia arranjar as<br />
idéias. O que o segurava era a família.<br />
Vivia preso como um novilho amarrado ao<br />
mourão, suportando ferro quente. Se não<br />
fosse isso, um soldado amarelo não lhe<br />
pisava o pé não. (...) Tinha aqueles<br />
cambões pendurados ao pescoço.<br />
Deveria continuar a arrastá-los? Sinha<br />
Vitória dormia mal na cama de varas. Os<br />
meninos eram uns brutos, como o pai.<br />
Quando crescessem, guardariam as reses<br />
de um patrão invisível, seriam pisados,<br />
maltratados, machucados por um soldado<br />
amarelo.<br />
Graciliano Ramos. Vidas Secas. São Paulo:<br />
Martins, 23.ª ed., 1969, p. 75.<br />
Texto II<br />
Para Graciliano, o roceiro pobre é um<br />
outro, enigmático, impermeável. Não há<br />
solução fácil para uma tentativa de<br />
456
incorporação dessa figura no campo da<br />
ficção. É lidando com o impasse, ao invés<br />
de fáceis soluções, que Graciliano vai<br />
criar Vidas Secas, elaborando uma<br />
linguagem, uma estrutura romanesca,<br />
uma constituição de narrador em que<br />
narrador e criaturas se tocam, mas não se<br />
identificam. Em grande medida, o debate<br />
acontece porque, para a intelectualidade<br />
brasileira naquele momento, o pobre, a<br />
despeito de aparecer idealizado em certos<br />
aspectos, ainda é visto como um ser<br />
humano de segunda categoria, simples<br />
demais, incapaz de ter pensamentos<br />
demasiadamente complexos. O que Vidas<br />
Secas faz é, com pretenso não<br />
envolvimento da voz que controla a<br />
narrativa, dar conta de uma riqueza<br />
humana de que essas pessoas seriam<br />
plenamente capazes.<br />
Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes. In:<br />
Teresa. São Paulo: USP, n.° 2, 2001, p. 254.<br />
No texto II, verifica-se que o autor utiliza<br />
A) linguagem predominantemente<br />
formal, para problematizar, na<br />
composição de Vidas Secas, a relação<br />
entre o escritor e o personagem<br />
popular.<br />
B) linguagem inovadora, visto que, sem<br />
abandonar a linguagem formal, dirigese<br />
diretamente ao leitor.<br />
C) linguagem coloquial, para narrar<br />
coerentemente uma história que<br />
apresenta o roceiro pobre de forma<br />
pitoresca.<br />
D) linguagem formal com recursos<br />
retóricos próprios do texto literário em<br />
prosa, para analisar determinado<br />
momento da literatura brasileira.<br />
E) linguagem regionalista, para transmitir<br />
informações sobre literatura, valendose<br />
de coloquialismo, para facilitar o<br />
entendimento do texto.<br />
Comentário<br />
Questão de nível médio. Algumas<br />
alternativas poderiam levar o candidato a<br />
pensar que o texto de Vidas Secas utiliza<br />
uma linguagem predominantemente coloquial<br />
e regionalista. Entretanto, é na alternativa A<br />
que se encontra o real estilo da linguagem<br />
utilizada por Graciliano Ramos. A linguagem<br />
é, portanto, predominantemente formal e<br />
problematiza a relação do escritor com o<br />
personagem popular. Esta acaba sendo uma<br />
das grandes características do autor, pois ele<br />
buscava sempre dar uma grande densidade<br />
psicológica aos seus romances.<br />
<strong>10</strong>) (2006) Depois de um bom jantar: feijão<br />
com carne-seca, orelha de porco e couve<br />
com angu, arroz-mole engordurado, carne<br />
de vento assada no espeto, torresmo<br />
enxuto de toicinho da barriga, viradinho de<br />
milho verde e um prato de caldo de couve,<br />
jantar encerrado por um prato fundo de<br />
canjica com torrões de açúcar, Nhô Tomé<br />
saboreou o café forte e se estendeu na<br />
rede. A mão direita sob a cabeça, à guisa<br />
de travesseiro, o indefectível cigarro de<br />
palha entre as pontas do indicador e do<br />
polegar, envernizados pela fumaça, de<br />
unhas encanoadas e longas, ficou-se de<br />
pança para o ar, modorrento, a olhar para<br />
as ripas do telhado.<br />
Quem come e não deita, a comida não<br />
aproveita, pensava Nhô Tomé... E pôs-se<br />
a cochilar. A sua modorra durou pouco;<br />
Tia Policena, ao passar pela sala, bradou<br />
assombrada:<br />
— Êêh! Sinhô! Vai drumi agora? Não!<br />
Num presta... Dá pisadêra e póde morrê<br />
de ataque de cabeça! Despois do armoço<br />
num far-má... mais despois da janta?!”<br />
Cornélio Pires. Conversas ao pé do fogo. São Paulo:<br />
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1987.<br />
Nesse trecho, extraído de texto publicado<br />
originalmente em 1921, o narrador<br />
A) apresenta, sem explicitar juízos de<br />
valor, costumes da epoca, descrevendo<br />
os pratos servidos no jantar e a atitude<br />
de Nhô Tomé e de Tia Policena.<br />
B) desvaloriza a norma culta da língua<br />
porque incorpora à narrativa usos<br />
próprios da linguagem regional das<br />
personagens.<br />
C) condena os hábitos descritos, dando<br />
voz a Tia Policena, que tenta impedir<br />
Nhô Tomé de deitar-se após as<br />
refeições.<br />
D) utiliza a diversidade sociocultural e<br />
lingüística para demonstrar seu<br />
desrespeito às populações das zonas<br />
rurais do início do século XX.<br />
E) manifesta preconceito em relação a Tia<br />
Policena ao transcrever a fala dela com<br />
os erros próprios da região.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil, pois a alternativa<br />
"A" deixa clara a intencionalidade do<br />
narrador. Entretanto, o aluno poderia optar<br />
pela alternativa "B" caso não desse o devido<br />
valor ao sentido da palavra “desvaloriza”, que<br />
a elimina.<br />
457
11) (2006) Aula de português<br />
458<br />
Explorando a função emotiva da<br />
linguagem, o poeta expressa o contraste<br />
entre marcas de variação de usos da<br />
linguagem em<br />
A) situações formais e informais.<br />
B) diferentes regiões do país.<br />
C) escolas literárias distintas.<br />
D) textos técnicos e poéticos.<br />
E) diferentes épocas.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil, pois o próprio título<br />
nos dá uma noção da dificuldade de<br />
transformar a linguagem coloquial e de uso<br />
cotidiano em uma linguagem formal,<br />
expressa no poema como “a misteriosa”.<br />
Drummond foi muito feliz em conseguir<br />
demonstrar a dificuldade em entender como<br />
estruturas simples da língua se tornam tão<br />
complexas ao se iniciar o processo de<br />
compreensão da estrutura lingüística.<br />
12) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />
preciso, além de conhecer o padrão<br />
formal da Língua Portuguesa, saber<br />
adequar o uso da linguagem ao contexto<br />
discursivo. Para exemplificar este fato,<br />
seu professor de Língua Portuguesa<br />
convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />
Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />
brinca com situações de discurso oral que<br />
fogem à expectativa do ouvinte.<br />
Aí, Galera<br />
Jogadores de futebol podem ser<br />
vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />
você pode imaginar um jogador de futebol<br />
dizendo "estereotipação"? E, no<br />
entanto, por que não?<br />
- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />
galera.<br />
- Minha saudação aos aficionados do<br />
clube e aos demais esportistas, aqui<br />
presentes ou no recesso dos seus lares.<br />
- Como é?<br />
- Aí, galera.<br />
- Quais são as instruções do técnico?<br />
- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />
trabalho de contenção coordenada, com<br />
energia otimizada, na zona de<br />
preparação, aumentam as<br />
probabilidades de, recuperado o<br />
esférico, concatenarmos um contragolpe<br />
agudo com parcimônia de meios e<br />
extrema objetividade, valendo-nos da<br />
desestruturação momentânea do<br />
sistema oposto, surpreendido pela<br />
reversão inesperada do fluxo da ação:<br />
- Ahn?<br />
- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />
pegá eles sem calça.<br />
- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />
coisa?<br />
- Posso dirigir uma mensagem de<br />
caráter sentimental, algo banal, talvez<br />
mesmo previsível e piegas, a uma<br />
pessoa à qual sou ligado por razões,<br />
inclusive, genéticas?<br />
- Pode.<br />
- Uma saudação para a minha<br />
progenitora.<br />
- Como é?<br />
- Alô, mamãe!<br />
- Estou vendo que você é um, um...<br />
- Um jogador que confunde o<br />
entrevistador, pois não corresponde à<br />
expectativa de que o atleta seja um ser<br />
algo primitivo com dificuldade de<br />
expressão e assim sabota a<br />
estereotipação?<br />
- Estereoquê?<br />
- Um chato?<br />
- Isso.<br />
Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />
A expressão "pegá eles sem calça"<br />
poderia ser substituída, sem<br />
comprometimento de sentido, em língua<br />
culta, formal, por:<br />
A) pegá-los na mentira.<br />
B) pegá-los desprevenidos.
C) pegá-los em flagrante.<br />
D) pegá-los rapidamente.<br />
E) pegá-los momentaneamente<br />
Comentário<br />
O trabalho que temos aqui é de<br />
compreensão de sentido. Se você nunca<br />
ouviu a expressão "de calças na mão", terá<br />
de imaginar o que acontece quando<br />
pegamos alguém nessa situação. Mas isso<br />
não basta. Se usar somente situações que<br />
pode imaginar, restarão as alternativas B e<br />
C. Esse problema só será solucionado se<br />
você entender bem o texto a que ele se<br />
refere. Como o jogador está falando em<br />
roubar a bola e partir para cima do adversário<br />
rapidamente, imagina-se que o adversário<br />
não esperava perder a bola naquele<br />
momento e, quando isso ocorreu, ele não<br />
estava preparado para receber um contraataque.<br />
Utilizando essa análise, somente a<br />
alternativa B está correta.<br />
13) (2000) Em uma conversa ou leitura de<br />
um texto, corre-se o risco de atribuir um<br />
significado inadequado a um termo ou<br />
expressão, e isso pode levar a certos<br />
resultados inesperados, como se vê nos<br />
quadrinhos abaixo.<br />
Pois é, essa é uma questão fácil e a<br />
interpretação do texto é simples, e não há<br />
por que ter dúvidas quanto à resposta, a não<br />
ser que não se leia a proposta da questão.<br />
Comentário do INEP<br />
Essa questão procurou avaliar se o<br />
participante conseguia inferir, a partir de uma<br />
seqüência narrativa de imagens, a expressão<br />
lingüística adequada à situação de<br />
interlocução, no caso a fala da personagem,<br />
no primeiro quadrinho. A expressão de uso<br />
coloquial 'olha o passarinho!', dependendo do<br />
contexto, tem diferentes significados, que<br />
nesse caso foram associados pelo cartunista<br />
para produzir o efeito de humor. A grande<br />
maioria - 89% - dos participantes realizou a<br />
inferência solicitada, analisando a função da<br />
linguagem e identificando a variante<br />
lingüística adequada à situação de<br />
interlocução, com base na leitura da<br />
seqüência das imagens e da fala da<br />
personagem no terceiro quadrinho. É<br />
interessante notar a abrangência dessa<br />
expressão metafórica no Brasil, criada no<br />
contexto informal da fala com seus<br />
significados correspondentes. Mesmo assim,<br />
11% dos participantes, possivelmente,<br />
desconhecem essa expressão ou não<br />
conseguiram realizar a transposição do<br />
significado humorístico da fala do último<br />
quadrinho.<br />
14) (2006) Aula de português<br />
(SOUZA, Maurício de. Chico Bento.<br />
Rio de Janeiro: Ed. Globo, n o 335, Nov./99 )<br />
Nessa historinha, o efeito humorístico<br />
origina-se de uma situação criada pela<br />
fala da Rosinha no primeiro quadrinho,<br />
que é:<br />
A) Faz uma pose bonita!<br />
B) Quer tirar um retrato?<br />
C) Sua barriga está aparecendo!<br />
D) Olha o passarinho!<br />
E) Cuidado com o flash!<br />
Comentário<br />
Quem não se lembra de expressões<br />
humorísticas usadas quando se deseja tirar<br />
uma foto, como "Olha o passarinho" ou "Fale<br />
xis"?<br />
459
No poema, a referência à variedade<br />
padrão da língua está expressa no<br />
seguinte trecho:<br />
A) “A linguagem / na ponta da língua” (v.1<br />
e 2).<br />
B) “A linguagem / na superfície<br />
estrelada de letras” (v.5 e 6).<br />
C) “[a língua] em que pedia para ir lá<br />
fora” (v.14).<br />
D) “[a língua] em que levava e dava<br />
pontapé” (v.15).<br />
E) “[a língua] do namoro com a priminha”<br />
(v.17).<br />
Comentário<br />
Questão fácil, pois a alternativa "B" é a<br />
única que faz menção à norma-padrão da<br />
língua. As demais alternativas fogem a essa<br />
norma.<br />
15) (2005) Leia com atenção o texto:<br />
[Em Portugal], você poderá ter alguns<br />
probleminhas se entrar numa loja de<br />
roupas desconhecendo certas sutilezas da<br />
língua. Por exemplo, não adianta pedir<br />
para ver os ternos — peça para ver os<br />
fatos. Paletó é casaco. Meias são<br />
peúgas. Suéter é camisola — mas não<br />
se assuste, porque calcinhas femininas<br />
são cuecas. (Não é uma delícia?)<br />
(Ruy Castro. Viaje Bem. Ano VIII, no 3, 78.)<br />
O texto destaca a diferença entre o<br />
português do Brasil e o de Portugal<br />
quanto<br />
A) ao vocabulário.<br />
B) à derivação.<br />
C) à pronúncia.<br />
D) ao gênero.<br />
E) à sintaxe.<br />
Comentário<br />
Questão de entendimento muito fácil, pois<br />
o próprio enunciado deixa claro que se trata<br />
das diferenças de vocabulário entre o<br />
português brasileiro e o lusitano.<br />
16) (2008) A Lei Federal n.º 9.985/2000, que<br />
instituiu o sistema nacional de unidades<br />
de conservação, define dois tipos de<br />
áreas protegidas. O primeiro, as unidades<br />
de proteção integral, tem por objetivo<br />
preservar a natureza, admitindo-se<br />
apenas o uso indireto dos seus recursos<br />
naturais, isto é, aquele que não envolve<br />
consumo, coleta, dano ou destruição dos<br />
recursos naturais. O segundo, as<br />
unidades de uso sustentável, tem por<br />
função compatibilizar a conservação da<br />
natureza com o uso sustentável de<br />
parcela dos recursos naturais. Nesse<br />
caso, permite-se a exploração do<br />
ambiente de maneira a garantir a<br />
perenidade dos recursos ambientais<br />
renováveis e dos processos ecológicos,<br />
mantendo-se a biodiversidade e os<br />
demais atributos ecológicos, de forma<br />
socialmente justa e economicamente<br />
viável.<br />
Considerando essas informações, analise<br />
a seguinte situação hipotética.<br />
Ao discutir a aplicação de recursos<br />
disponíveis para o desenvolvimento de<br />
determinada região, organizações civis,<br />
universidade e governo resolveram<br />
investir na utilização de uma unidade de<br />
proteção integral, o Parque Nacional do<br />
Morro do Pindaré, e de uma unidade de<br />
uso sustentável, a Floresta Nacional do<br />
Sabiá. Depois das discussões, a equipe<br />
resolveu levar adiante três projetos:<br />
— o projeto I consiste de pesquisas<br />
científicas embasadas exclusivamente<br />
na observação de animais;<br />
— o projeto II inclui a construção de uma<br />
escola e de um centro de vivência;<br />
— o projeto III promove a organização de<br />
uma comunidade extrativista que<br />
poderá coletar e explorar<br />
comercialmente frutas e sementes<br />
nativas.<br />
Nessa situação hipotética, atendendo-se à<br />
lei mencionada acima, é possível<br />
desenvolver tanto na unidade de proteção<br />
integral quanto na de uso sustentável<br />
A) apenas o projeto I.<br />
B) apenas o projeto III.<br />
C) apenas os projetos I e II.<br />
D) apenas os projetos II e III.<br />
E) todos os três projetos.<br />
Comentário do portal<br />
A alternativa correta é a letra "A", pois,<br />
analisando-se a situação hipotética sugerida<br />
no enunciado, percebe-se que ela deverá<br />
atender os requisitos tanto da unidade de<br />
proteção integral quanto da unidade de uso<br />
sustentável. Portanto, apenas o projeto I<br />
poderá ser desenvolvido nessas duas<br />
propostas de unidades.<br />
460
17) (1999) Leia o texto abaixo.<br />
Cabelos longos, brinco na orelha<br />
esquerda, físico de skatista. Na aparência,<br />
o estudante brasiliense Rui Lopes Viana<br />
Filho, de 16 anos, não lembra em nada o<br />
estereótipo dos gênios. Ele não usa<br />
pesados óculos de grau e está longe de<br />
ter um ar introspectivo. No final do mês<br />
passado, Rui retornou de Taiwan, onde<br />
enfrentou 419 competidores de todo o<br />
mundo na 39ª Olimpíada Internacional de<br />
Matemática. A reluzente medalha de ouro<br />
que ele trouxe na bagagem está<br />
dependurada sobre a cama de seu quarto,<br />
atulhado de rascunhos dos problemas<br />
matemáticos que aprendeu a decifrar nos<br />
últimos cinco anos.<br />
Veja – Vencer uma olimpíada serve de<br />
passaporte para uma carreira profissional<br />
meteórica?<br />
Rui – Nada disso. Decidi me dedicar à<br />
Olimpíada porque sei que a concorrência<br />
por um emprego é cada vez mais<br />
selvagem e cruel. Agora tenho algo a mais<br />
para oferecer. O problema é que as coisas<br />
estão mudando muito rápido e não sei<br />
qual será minha profissão. Além de ser<br />
muito novo para decidir sobre o meu<br />
futuro profissional, sei que esse conceito<br />
de carreira mudou muito.<br />
(Entrevista de Rui Lopes Viana Filho à Veja,<br />
05/08/1998, n.31, p. 9-<strong>10</strong>)<br />
Na pergunta, o repórter estabelece uma<br />
relação entre a entrada do estudante no<br />
mercado de trabalho e a vitória na<br />
Olimpíada. O estudante<br />
A) concorda com a relação e afirma que o<br />
desempenho na Olimpíada é<br />
fundamental para sua entrada no<br />
mercado.<br />
B) discorda da relação e complementa<br />
que é fácil se fazer previsões sobre o<br />
mercado de trabalho.<br />
C) discorda da relação e afirma que seu<br />
futuro profissional independe de<br />
dedicação aos estudos.<br />
D) discorda da relação e afirma que seu<br />
desempenho só é relevante se<br />
escolher uma profissão relacionada à<br />
matemática.<br />
E) concorda em parte com a relação e<br />
complementa que é complexo fazer<br />
previsões sobre o mercado de trabalho.<br />
Comentário<br />
Não é difícil de se chegar à resposta<br />
correta ao se ler a reportagem. Ao final do<br />
último parágrafo — (...) Além de ser muito<br />
novo para decidir sobre o meu futuro<br />
profissional, sei que esse conceito de carreira<br />
mudou muito. —, o estudante praticamente<br />
fornece a resposta à questão, declarando-se<br />
realista ao não tentar prever seu futuro<br />
profissional devido à pouca idade e às<br />
mudanças no mercado de trabalho. Quanto a<br />
concordar parcialmente com o repórter, veja<br />
que ele, apesar de negar que o prêmio fosse<br />
uma garantia de sucesso profissional, logo<br />
depois afirma que, com ele, terá algo mais a<br />
oferecer ao mercado. Questão de nível fácil.<br />
Comentário do INEP<br />
Nesta situação-problema, o participante<br />
deveria demonstrar que compreendeu as<br />
premissas de um discurso, distinguindo a<br />
diferença de significado de palavras isoladas<br />
ou no contexto em que estão inseridas.<br />
Verificou-se que mais da metade dos<br />
participantes demonstrou possuir essa<br />
compreensão. Aqueles que optaram pelas<br />
alternativas C e D podem ter sido atraídos<br />
pelo significado negativo da expressão inicial<br />
"Nada disso".<br />
18) (1998) Texto 1<br />
"Mulher, Irmã, escuta-me: não ames,<br />
Quando a teus pés um homem terno e<br />
curvo<br />
jurar amor, chorar pranto de sangue,<br />
Não creias, não, mulher: ele te engana!<br />
As lágrimas são gotas da mentira<br />
E o juramento manto da perfídia."<br />
(Joaquim Manoel de Macedo)<br />
Texto 2<br />
"Teresa, se algum sujeito bancar o<br />
sentimental em cima de você<br />
E te jurar uma paixão do tamanho de um<br />
bonde<br />
Se ele chorar<br />
Se ele ajoelhar<br />
Se ele se rasgar todo<br />
Não acredite não Teresa<br />
É lágrima de cinema<br />
É tapeação<br />
Mentira<br />
CAI FORA"<br />
(Manuel Bandeira)<br />
Os autores, ao fazerem alusão às<br />
imagens da lágrima sugerem que:<br />
A) há um tratamento idealizado da<br />
relação homem/mulher.<br />
B) há um tratamento realista da relação<br />
homem/mulher.<br />
C) a relação familiar é idealizada.<br />
D) a mulher é superior ao homem.<br />
E) a mulher é igual ao homem.<br />
461
Comentário<br />
Ambos os autores, ao utilizarem a<br />
imagem da lágrima, estão na realidade<br />
mostrando que a figura do homem que é<br />
romântico a ponto de chorar ao jurar amor<br />
não existe. Tanto Macedo quanto<br />
Bandeira alertam as mulheres dizendo,<br />
com palavras e estilos diferentes, que não<br />
há homem que chore por amor (portanto,<br />
essa figura é uma idealização — e, por<br />
conseguinte, toda imagem que se tem<br />
sobre os relacionamentos<br />
demasiadamente românticos). Note que<br />
Bandeira chega até mesmo a chamar tal<br />
"chorão" de ator ("...É lágrima de cinema /<br />
É tapeação..."). Macedo dá uma imagem<br />
pesada às lágrimas ("...são gotas da<br />
mentira...").<br />
19) (1999)<br />
(QUINO. Mafalda inédita. São Paulo: Martins Fontes, 1993)<br />
Observando as falas das personagens,<br />
analise o emprego do pronome SE e o<br />
sentido que adquire no contexto. No<br />
contexto da narrativa, é correto afirmar<br />
que o pronome SE:<br />
A) em I, indica reflexividade e equivale a<br />
"a si mesmas".<br />
B) em II, indica reciprocidade e equivale a<br />
"a si mesma".<br />
C) em III, indica reciprocidade e equivale<br />
a "umas às outras".<br />
D) em I e III, indica reciprocidade e<br />
equivale a "umas às outras".<br />
E) em II e III, indica reflexividade e<br />
equivale a "a si mesma " e "a si<br />
mesmas", respectivamente.<br />
Comentário<br />
Mais uma questão que fala por si própria.<br />
Lendo o segundo quadrinho — "Quer dizer<br />
que você também se ama muito mais no<br />
Natal?" —, é fácil de se identificar o pronome<br />
reflexivo. Basta que se troque se ama por<br />
ama a si mesma. O mesmo ocorre no<br />
terceiro quadrinho em "Por que será que as<br />
pessoas se amam muito mais no Natal?" —<br />
Por que será que as pessoas amam a si<br />
mesmas? Questão de grau fácil.<br />
Comentário do INEP<br />
Este problema requeria que o participante<br />
mobilizasse conhecimentos sobre os<br />
significados de "reciprocidade e<br />
"reflexividade" e o associasse à<br />
compreensão de linguagem iconográfica.<br />
Cerca de metade dos participantes<br />
demonstrou essa capacidade. A opção de<br />
30% dos participantes pela alternativa D<br />
pode indicar que eles utilizaram as imagens<br />
apenas como ilustração do texto e não como<br />
linguagem capaz de instituir novos<br />
significados.<br />
20) (2001) Os provérbios constituem um<br />
produto da sabedoria popular e, em geral,<br />
pretendem transmitir um ensinamento. A<br />
alternativa em que os dois provérbios<br />
remetem a ensinamentos semelhantes é:<br />
A) “Quem diz o que quer, ouve o que não<br />
quer” e “Quem ama o feio, bonito lhe<br />
parece”.<br />
B) “Devagar se vai ao longe” e “De grão<br />
em grão, a galinha enche o papo”.<br />
C) “Mais vale um pássaro na mão do que<br />
dois voando” e “Não se deve atirar<br />
pérolas aos porcos”.<br />
D) “Quem casa quer casa” e “Santo de<br />
casa não faz milagre”.<br />
E) “Quem com ferro fere, com ferro será<br />
ferido” e “Casa de ferreiro, espeto de<br />
pau”.<br />
Comentário<br />
Questão fácil. A alternativa B apresenta<br />
dois provérbios que tratam de paciência,<br />
perseverança. A mensagem é a mesma em<br />
ambos.<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão propõe uma série de<br />
provérbios agrupados aos pares, para que o<br />
participante demonstre compreender e<br />
comparar os provérbios de modo a identificar<br />
aqueles que traduzem ensinamentos<br />
semelhantes. A organização sintáticosemântica<br />
dos provérbios cria um efeito de<br />
sentido metafórico que deve ser recuperado,<br />
analisado e comparado, o que foi<br />
corretamente feito por cerca de 80% dos<br />
participantes.<br />
21) (2006) No romance Vidas Secas, de<br />
Graciliano Ramos, o vaqueiro Fabiano<br />
encontra-se com o patrão para receber o<br />
salário. Eis parte da cena:<br />
462
C) racial e folclórico.<br />
D) histórico e geográfico.<br />
E) literário e popular.<br />
Graciliano Ramos. Vidas Secas. 91.ª ed.<br />
Rio de Janeiro: Record, 2003.<br />
No fragmento transcrito, o padrão formal<br />
da linguagem convive com marcas de<br />
regionalismo e de coloquialismo no<br />
vocabulário. Pertence à variedade do<br />
padrão formal da linguagem o seguinte<br />
trecho:<br />
A) Não se conformou: devia haver<br />
engano (l.1).<br />
B) Fabiano perdeu os estribos (l.3).<br />
C) Passar a vida inteira assim no toco<br />
(l.4).<br />
D) Entregando o que era dele de mao<br />
beijada! (l.4-5).<br />
E) Aí Fabiano baixou a pancada e<br />
amunhecou (l.11).<br />
Comentário do portal<br />
Questão de nível fácil. Bastaria que o<br />
candidato conhecesse o padrão formal da<br />
linguagem e distinguisse-o do regionalismo e<br />
do coloquialismo.<br />
22) (2005) As dimensões continentais do<br />
Brasil são objeto de reflexões expressas<br />
em diferentes linguagens. Esse tema<br />
aparece no seguinte p"Narizinho correu os<br />
olhos pela assistência. Não podia haver nada<br />
mais curioso. Besourinhos de oema:<br />
“(....)<br />
Que importa que uns falem mole<br />
descansado<br />
Que os cariocas arranhem os erres na<br />
garganta<br />
Que os capixabas e paroaras escancarem<br />
as vogais?<br />
Que tem se o quinhentos réis meridional<br />
Vira cinco tostões do Rio pro Norte?<br />
Junto formamos este assombro de<br />
misérias e grandezas,<br />
Brasil, nome de vegetal! (....)”<br />
(Mário de Andrade. Poesias completas. 6. ed. São Paulo:<br />
Martins Editora, 1980.)<br />
O texto poético ora reproduzido trata das<br />
diferenças brasileiras no âmbito<br />
A) étnico e religioso.<br />
B) lingüístico e econômico.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil, pois a primeira<br />
estrofe, ao enunciar os erres arranhados dos<br />
cariocas e as vogais abertas dos capixabas,<br />
evidencia a diferença lingüística entre duas<br />
regiões distintas do Brasil, dando noção da<br />
variedade. Já na segunda estrofe, as<br />
diferenças econômicas são evidenciadas ao<br />
se mostrarem os réis e tostões variando da<br />
Região Meridional para a Norte.<br />
23) (202) "Narizinho correu os olhos pela<br />
assistência. Não podia haver nada mais<br />
curioso. Besourinhos de fraque e flores na<br />
lapela conversavam com baratinhas de<br />
mantilha e miosótis nos cabelos. Abelhas<br />
douradas, verdes e azuis, falavam mal<br />
das vespas de cintura fina — achando que<br />
era exagero usarem coletes tão<br />
apertados. Sardinhas aos centos<br />
criticavam os cuidados excessivos que as<br />
borboletas de toucados de gaze tinham<br />
com o pó das suas asas. Mamangavas de<br />
ferrões amarrados para não morderem. E<br />
canários cantando, e beija-flores beijando<br />
flores, e camarões camaronando, e<br />
caranguejos caranguejando, tudo que é<br />
pequenino e não morde, pequeninando e<br />
não mordendo."<br />
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. São Paulo:<br />
Brasiliense, 1947.<br />
No último período do trecho, há uma série<br />
de verbos no gerúndio que contribuem<br />
para caracterizar o ambiente fantástico<br />
descrito. Expressões como<br />
"camaronando", "caranguejando" e<br />
"pequeninando e não mordendo" criam,<br />
principalmente, efeitos de<br />
A) esvaziamento de sentido.<br />
B) monotonia do ambiente.<br />
C) estaticidade dos animais.<br />
D) interrupção dos movimentos.<br />
E) dinamicidade do cenário.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. O dinamismo dos<br />
verbos no gerúndio tem como função<br />
principal dar vida às personagens do mundo<br />
fantástico. Não há estagnação. Cada animal<br />
faz o que lhe cabe.<br />
463
Comentário do INEP<br />
Essa questão apresenta para leitura e<br />
análise um trecho da obra Reinações de<br />
Narizinho, de Monteiro Lobato, e, nele, a<br />
descrição reflete as fantasias do mundo<br />
infantil. A questão propõe que seja resolvido<br />
um problema de linguagem, que é a<br />
identificação dos sentidos criados no texto<br />
pelo emprego de vários verbos no gerúndio,<br />
alguns dos quais, neologismos criados pelo<br />
autor. Como o texto é uma descrição, temos<br />
o relato de um ambiente que se agita com as<br />
ações simultâneas dos muitos seres que o<br />
habitam. Cabe ao participante perceber que<br />
o efeito dinâmico é criado pelos verbos de<br />
ação no gerúndio, que é a forma verbal da<br />
ação se fazendo. Ou seja, é função típica do<br />
gerúndio traduzir a noção de uma ação que<br />
se desenvolve de modo simultâneo à sua<br />
enunciação. Nesse ambiente retratado por<br />
Monteiro Lobato, os bichinhos humanizados<br />
se agitam, lembrando um burburinho de<br />
crianças. Apenas a alternativa E, assinalada<br />
por 36% dos participantes, responde<br />
corretamente a questão. As outras<br />
alternativas contemplam efeitos ou<br />
significados que, apesar de eventualmente<br />
serem transmitidos pelo emprego do<br />
gerúndio, não se verificam no texto.<br />
24) (1999) Considere os textos abaixo.<br />
(...) de modo particular, quero encorajar os<br />
crentes empenhados no campo da<br />
filosofia para que iluminem os diversos<br />
âmbitos da atividade humana, graças ao<br />
exercício de uma razão que se torna mais<br />
segura e perspicaz com o apoio que<br />
recebe da fé.<br />
(Papa João Paulo II. Carta Encíclica Fides<br />
et Ratio aos bispos da igreja católica sobre as relações<br />
entre fé e razão, 1998)<br />
As verdades da razão natural não<br />
contradizem as verdades da fé cristã.<br />
(São Tomás de Aquino<br />
–pensador medieval)<br />
Refletindo sobre os textos, pode-se<br />
concluir que:<br />
A) a encíclica papal está em contradição<br />
com o pensamento de São Tomás de<br />
Aquino, refletindo a diferença de<br />
épocas.<br />
B) a encíclica papal procura<br />
complementar São Tomás de Aquino,<br />
pois este colocava a razão natural<br />
acima da fé.<br />
C) a Igreja medieval valorizava a razão<br />
mais do que a encíclica de João Paulo<br />
II.<br />
D) o pensamento teológico teve sua<br />
importância na Idade Média, mas, em<br />
nossos dias, não tem relação com o<br />
pensamento filosófico.<br />
E) tanto a encíclica papal como a frase<br />
de São Tomás de Aquino procuram<br />
conciliar os pensamentos sobre fé e<br />
razão.<br />
Comentário<br />
Nessa questão, é necessária uma<br />
releitura do texto para que se tenha uma<br />
melhor compreensão do tema. Tanto a<br />
citação do Papa quanto a de São Tomás de<br />
Aquino tentam criar uma interdependência<br />
entre a ciência e a fé, a religião. O Papa<br />
incentiva aqueles que exercem a pesquisa<br />
científica ou filosófica a manter a fé cristã.<br />
São Tomás de Aquino, por sua vez, equipara<br />
o avanço da ciência ao aumento da própria<br />
fé, afirmando que a razão natural não<br />
contradiz a fé cristã. Se um cresce, cresce<br />
também o outro, em harmonia e sem<br />
contradições. Questão de grau médio.<br />
(Português)<br />
Nessa questão, encontramos dois textos:<br />
o primeiro, do século XX, foi elaborado pelo<br />
Papa João Paulo II; o segundo, do século<br />
XIII, pelo teólogo e filósofo cristão São<br />
Tomás de Aquino. O conteúdo de ambos se<br />
refere à ligação entre fé e razão, a qual<br />
esteve presente na filosofia escolástica da<br />
Idade Média. Esse campo de reflexão buscou<br />
conciliar o cristianismo com o pensamento de<br />
Aristóteles e teve em São Tomás de Aquino<br />
seu maior representante.<br />
Mesmo sem ter todas essas informações,<br />
você poderia responder tranqüilamente à<br />
questão por meio de uma leitura atenta dos<br />
dois textos, chegando à conclusão de que<br />
"tanto a encíclica papal como a frase de São<br />
Tomás de Aquino procuram conciliar os<br />
pensamentos sobre fé e razão". Resposta<br />
correta: alternativa E. (História)<br />
Comentário do INEP<br />
Para resolver esta situação-problema, o<br />
participante deveria mostrar que, além de<br />
interpretar textos, sabe relacioná-los sendo<br />
que, nesse item, essas operações referem-se<br />
a um texto escrito na época medieval e a<br />
outro escrito recentemente.<br />
Mais de 70% dos participantes<br />
demonstraram facilidade em estabelecer esta<br />
relação.<br />
464
25) (2008) Assinale a opção que apresenta<br />
um verso do soneto de Cláudio Manoel da<br />
Costa em que o poeta se dirige ao seu<br />
interlocutor.<br />
A) “Torno a ver-vos, ó montes; o<br />
destino” (v.1)<br />
B) “Aqui estou entre Almendro, entre<br />
Corino,” (v.5)<br />
C) “Os meus fiéis, meus doces<br />
companheiros,” (v.6)<br />
D) “Vendo correr os míseros vaqueiros”<br />
(v.7)<br />
E) “Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto,”<br />
(v.11)<br />
Comentário<br />
Nesta questão, basta que o aluno<br />
identifique o pronome oblíquo, presente no<br />
verso um, que chama o leitor para o texto.<br />
Sendo assim, a resposta correta é a letra "A".<br />
26) (2008)<br />
Dick Browne. O melhor de Hagar, o horrível, v. 2. L&PM<br />
pocket, p.55-6 (com adaptações).<br />
Assinale o trecho do diálogo que<br />
apresenta um registro informal, ou<br />
coloquial, da linguagem.<br />
A) “Tá legal, espertinho! Onde é que<br />
você esteve?!”<br />
B) “E lembre-se: se você disser uma<br />
mentira, os seus chifres cairão!”<br />
C) “Estou atrasado porque ajudei uma<br />
velhinha a atravessar a rua...”<br />
D) “...e ela me deu um anel mágico que<br />
me levou a um tesouro”<br />
E) “mas bandidos o roubaram e os<br />
persegui até a Etiópia, onde um<br />
dragão...”<br />
Comentário<br />
Linguagem coloquial é aquela usada no<br />
cotidiano, que tem como característica<br />
principal a oralidade, ou seja, aquela que não<br />
segue o rigor da norma culta.<br />
Entre as alternativas da questão, apenas<br />
a letra "A" apresenta esses traços.<br />
27) (1999) Leia um texto publicado no jornal<br />
Gazeta Mercantil. Esse texto é parte de<br />
um artigo que analisa algumas situações<br />
de crise no mundo, entre elas, a quebra<br />
da Bolsa de Nova Iorque em 1929, e foi<br />
publicado na época de uma iminente crise<br />
financeira no Brasil.<br />
Deu no que deu. No dia 29 de outubro de<br />
1929, uma terça-feira, praticamente não<br />
havia compradores no pregão de Nova<br />
Iorque, só vendedores. Seguiu-se uma<br />
crise incomparável: o Produto Interno<br />
Bruto dos Estados Unidos caiu de <strong>10</strong>4<br />
bilhões de dólares em 1929, para 56<br />
bilhões em 1933, coisa inimaginável em<br />
nossos dias. O valor do dólar caiu a quase<br />
metade. O desemprego elevou-se de 1,5<br />
milhão para 12,5 milhões de trabalhadores<br />
– cerca de 25% da população ativa –<br />
entre 1929 e 1933. A construção civil caiu<br />
90%. Nove milhões de aplicações, tipo<br />
caderneta de poupança, perderam-se com<br />
o fechamento dos bancos. Oitenta e cinco<br />
mil firmas faliram. Houve saques e norteamericanos<br />
que passaram fome.<br />
(Gazeta Mercantil, 05/01/1999)<br />
Ao citar dados referentes à crise ocorrida<br />
em 1929, em um artigo jornalístico atual,<br />
pode-se atribuir ao jornalista a seguinte<br />
intenção:<br />
A) questionar a interpretação da crise.<br />
B) comunicar sobre o desemprego.<br />
C) instruir o leitor sobre aplicações em<br />
bolsa de valores.<br />
D) relacionar os fatos passados e<br />
presentes.<br />
E) analisar dados financeiros americanos.<br />
Comentário<br />
Nessa questão, o que se tem de fazer é<br />
prestar atenção às alternativas das<br />
respostas. Nenhuma delas se apresenta tão<br />
bem contextualizada a uma possível<br />
interpretação quanto a letra D. Partindo-se da<br />
análise do texto, fica claro que a intenção do<br />
artigo é remeter o leitor ao passado para<br />
tentar conduzi-lo a uma reflexão sobre uma<br />
situação presente, não mencionada na<br />
questão. Após a leitura e utilizando-se a já<br />
citada eliminação de questões, torna-se clara<br />
a resposta. Questão de nível médio.<br />
(Português)<br />
465
Muitas vezes, quando procuramos<br />
entender uma crise econômica ou financeira<br />
de grandes proporções, buscamos<br />
estabelecer relações com crises passadas. O<br />
mesmo ocorre no jornalismo, como prova o<br />
texto encontrado nessa questão. Buscando<br />
entender uma crise ocorrida no início de<br />
1999, o jornalista da Gazeta Mercantil<br />
buscou relacionar a situação dessa época<br />
com a grande crise de 1929 que afetou o<br />
mundo, trazendo desemprego e recessão,<br />
entre tantos outros problemas econômicos e<br />
sociais.<br />
Para responder a essa questão, era<br />
necessário ler atentamente o enunciado, em<br />
que está destacado que "o texto é parte de<br />
um artigo que analisa algumas situações de<br />
crise no mundo" e "foi publicado na época de<br />
uma iminente crise financeira no Brasil". Era<br />
importante também observar a data em que o<br />
artigo foi publicado: 05/01/1999. A partir<br />
dessas constatações, facilmente você<br />
chegaria a conclusão de que a intenção do<br />
jornalista era "relacionar os fatos passados e<br />
presentes". Resposta correta: alternativa D.<br />
(História)<br />
Comentário do INEP<br />
A resolução da questão demandava a<br />
capacidade dos participantes de relacionar<br />
eventos históricos envolvendo crises<br />
econômicas ocorridas em épocas e lugares<br />
distintos. Aproximadamente 2/3 deles<br />
demonstraram essa capacidade. Os demais,<br />
provavelmente, não compreenderam a<br />
exigência expressa no enunciado do<br />
problema – apontar as razões pelas quais um<br />
jornalista traz à tona eventos ocorridos<br />
setenta anos antes –, e apenas interpretaram<br />
o sentido do texto citado, que descreve a<br />
crise mundial de 1929.<br />
28) (2000) “Precisa-se nacionais sem<br />
nacionalismo, (...) movidos pelo presente<br />
mas estalando naquele cio racial que só<br />
as tradições maduram! (...). Precisa-se<br />
gentes com bastante meiguice no<br />
sentimento, bastante força na peitaria,<br />
bastante paciência no entusiasmo e<br />
sobretudo, oh! sobretudo bastante<br />
vergonha na cara!<br />
(...) Enfim: precisa-se brasileiros! Assim<br />
está escrito no anúncio vistoso de cores<br />
desesperadas pintado sobre o corpo do<br />
nosso Brasil, camaradas.”<br />
(Jornal A Noite, São Paulo, 18/12/1925 apud LOPES, Telê<br />
Porto Ancona. Mário<br />
de Andrade: ramais e caminhos. São Paulo: Duas<br />
Cidades, 1972)<br />
466<br />
No trecho acima, Mário de Andrade dá<br />
forma a um dos itens do ideário<br />
modernista, que é o de firmar a feição de<br />
uma língua mais autêntica, “brasileira”, ao<br />
expressar-se numa variante de linguagem<br />
popular identificada pela (o):<br />
A) escolha de palavras como cio, peitaria,<br />
vergonha.<br />
B) emprego da pontuação.<br />
C) repetição do adjetivo bastante.<br />
D) concordância empregada em Assim<br />
está escrito.<br />
E) escolha de construção do tipo<br />
precisa-se gentes.<br />
Comentário<br />
Apesar de essa questão misturar vários<br />
tipos de informação, se você se lembra um<br />
pouquinho dos usos da partícula se, com<br />
certeza não encontrará grande dificuldade.<br />
Segundo a regra gramatical, o verbo<br />
"precisa-se" deveria ir para o plural<br />
(precisam-se), mas essa noção de verbo<br />
concordante com o sujeito há muito<br />
desapareceu na variante popular brasileira.<br />
Mas, caso você não se lembre muito bem<br />
desse assunto ou ficou meio confuso com o<br />
texto e as outras alternativas, o caminho é<br />
responder por eliminação.<br />
A primeira alternativa apresenta palavras<br />
comuns no português brasileiro, mas<br />
nenhuma "invenção" nacional. Na dúvida,<br />
pense em "vergonha": não é uma invenção<br />
brasileira. Todos os que falam português no<br />
mundo conhecem bem essa palavra. A<br />
pontuação no texto não chama nenhuma<br />
atenção. Você provavelmente não viu nada<br />
de estranho nela. Da mesma forma, o<br />
"bastante" da terceira alternativa não é nada<br />
mais que um mecanismo de retórica, usado<br />
para dar ênfase à idéia. Com o "Assim está<br />
escrito", encontramos a mesma situação: um<br />
trecho litúrgico é usado para maior ênfase.<br />
Comentário do INEP<br />
A questão procurou avaliar se o<br />
participante era capaz de, a partir da leitura<br />
de um texto de Mário de Andrade , identificar<br />
e analisar uma variante lingüística de uso<br />
coloquial, utilizadas estilisticamente pelo<br />
autor. O uso estilístico das variantes marcou<br />
a primeira fase da literatura brasileira<br />
modernista. O trecho destaca em seu todo<br />
esse uso da linguagem popular. A escolha da<br />
construção 'precisa-se gentes' é marca desse<br />
uso estilístico. O índice de 37% na alternativa<br />
(A) demonstra, possivelmente, que os<br />
participantes não consideraram a escolha<br />
dos vocábulos, dentro do contexto do texto,
confundindo as palavras que aparecem na<br />
alternativa com '...a feição de uma língua<br />
mais autêntica...'.O percentual de acertos foi<br />
da ordem de 40%.<br />
29) (2004) O poema abaixo pertence à<br />
poesia concreta brasileira. O termo latino<br />
de seu título significa "epitalâmio", poema<br />
ou canto em homenagem aos que se<br />
casam.<br />
30) (2002) O autor da tira utilizou os<br />
princípios de composição de um<br />
conhecido movimento artístico para<br />
representar a necessidade de um mesmo<br />
observador aprender a considerar,<br />
simultaneamente, diferentes pontos de<br />
vista.<br />
Das obras reproduzidas, todas de autoria<br />
do pintor espanhol Pablo Picasso, aquela<br />
em cuja composição foi adotado um<br />
procedimento semelhante é:<br />
A)<br />
Considerando que símbolos e sinais são<br />
utilizados geralmente para demonstrações<br />
objetivas, ao serem incorporados no<br />
poema "Epithalamium - II".<br />
A) adquirem novo potencial de<br />
significação.<br />
B) eliminam a subjetividade do poema.<br />
C) opõem-se ao tema principal do poema.<br />
D) invertem seu sentido original.<br />
E) tornam-se confusos e equivocados.<br />
Comentário<br />
Diferentemente, por exemplo, da<br />
aplicação matemática dos símbolos, em que<br />
sinais como "=", "+", "-", "x", etc. servem<br />
como convenções internacionais de<br />
significação objetiva e invariável, em um<br />
poema como "Epithalamium – II" foram<br />
usados símbolos que não são convenções<br />
internacionais, mas, sim, convencionados<br />
apenas para esse texto. No caso, letras do<br />
alfabeto deixam de ser representações de<br />
sons (fonemas) para ganharem nova<br />
significação, principalmente pela construção<br />
visual do poema: unem homem (h) e mulher<br />
(e) pela ação da serpente (s) — libido,<br />
atração — em uma entidade única.<br />
Uma das tendências poéticas da segunda<br />
metade do século XX, resultado de um<br />
diálogo com estéticas já presentes no final do<br />
século XIX, trabalha com a construção de<br />
seu próprio referente, fazendo do poema um<br />
objeto autônomo.<br />
B)<br />
C)<br />
467
D)<br />
31) (2001) Oxímoro (ou paradoxo) é uma<br />
construção textual que agrupa significados<br />
que se excluem mutuamente. Para<br />
Garfield, a frase de saudação de Jon<br />
(tirinha abaixo) expressa o maior de todos<br />
os oxímoros.<br />
E)<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. O movimento<br />
artístico que previa considerar<br />
simultaneamente diversos pontos de vista<br />
era o Cubismo. Havia a desconstrução da<br />
forma para que se pudesse ver todos os<br />
ângulos concomitantemente. O único quadro<br />
que apresenta essas características é o da<br />
alternativa E. As outras quatro alternativas<br />
pressupõem a manutenção da forma.<br />
Comentário do INEP<br />
O objetivo desta questão é levar o<br />
participante a refletir sobre características<br />
fundamentais de um movimento artístico – o<br />
cubismo – a partir de dados visuais:<br />
quadrinhos e pinturas. A reprodução de dois<br />
quadrinhos da personagem Calvin forneceu<br />
para o participante informações básicas para<br />
a análise que deveria fazer das alternativas<br />
apresentadas. Segundo os quadrinhos, o<br />
movimento artístico abordado pela questão<br />
tinha como procedimento de composição<br />
representar, para um mesmo observador,<br />
diferentes pontos de vista, fazendo com que<br />
"o tradicional único ponto de vista" fosse<br />
abandonado e com que a perspectiva fosse<br />
fraturada. A análise das obras de Picasso<br />
reproduzidas nas alternativas permite que o<br />
participante reconheça a adoção desse<br />
procedimento no quadro "Marie-Thérèse<br />
apoiada no cotovelo" (alternativa E, com 46%<br />
de registros), no qual se pode reconhecer a<br />
representação de diferentes pontos de vista<br />
a partir dos quais é apresentado o rosto da<br />
mulher retratada.<br />
Folha de S. Paulo. 31 de julho de 2000.<br />
Nas alternativas abaixo, estão transcritos<br />
versos retirados do poema “O operário em<br />
construção”. Pode-se afirmar que ocorre<br />
um oxímoro em<br />
A) "Era ele que erguia casas<br />
Onde antes só havia chão."<br />
B) "... a casa que ele fazia<br />
Sendo a sua liberdade<br />
Era a sua escravidão."<br />
C) "Naquela casa vazia<br />
Que ele mesmo levantara<br />
Um mundo novo nascia<br />
De que sequer suspeitava."<br />
D) "... o operário faz a coisa<br />
E a coisa faz o operário."<br />
E) "Ele, um humilde operário<br />
Um operário que sabia<br />
Exercer a profissão."<br />
MORAES, Vinícius de. Antologia Poética. São Paulo:<br />
Companhia das Letras, 1992.<br />
Comentário<br />
Idéias que se completam e se excluem<br />
mutuamente são encontradas na alternativa<br />
B: a casa que ele construía era, ao mesmo<br />
tempo, sua liberdade e sua escravidão.<br />
A casa é um símbolo de liberdade para o<br />
homem. Para o homem operário, é também<br />
símbolo de escravidão, pois ele está<br />
"condenado" a jamais usufruir do resultado<br />
do seu trabalho (a casa que faz não é para<br />
ele).<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão propõe ao participante que<br />
estabeleça uma relação entre linguagens,<br />
associando a compreensão de um efeito<br />
semântico produzido pelo uso do oxímoro<br />
nos quadrinhos com o mesmo efeito num<br />
texto poético. O índice (18%) de escolhas da<br />
alternativa D deve-se, possivelmente, a uma<br />
análise parcial da noção de paradoxo,<br />
confundida com inversão.<br />
468
32) (2005) Cândido Portinari (1903-1962), um<br />
dos mais importantes artistas brasileiros<br />
do século XX, tratou de diferentes<br />
aspectos da nossa realidade em seus<br />
quadros.<br />
33) (2004)<br />
Sobre a temática dos “Retirantes”,<br />
Portinari também escreveu o seguinte<br />
poema:<br />
(....)<br />
Os retirantes vêm vindo com trouxas e<br />
embrulhos<br />
Vêm das terras secas e escuras;<br />
pedregulhos<br />
Doloridos como fagulhas de carvão aceso<br />
Corpos disformes, uns panos sujos,<br />
Rasgados e sem cor, dependurados<br />
Homens de enorme ventre bojudo<br />
Mulheres com trouxas caídas para o lado<br />
Pançudas, carregando ao colo um garoto<br />
Choramingando, remelento<br />
(....)<br />
(Cândido Portinari. Poemas. Rio de Janeiro:<br />
J. Olympio, 1964.)<br />
Das quatro obras reproduzidas, assinale<br />
aquelas que abordam a problemática que<br />
é tema do poema.<br />
A) 1 e 2 D) 3 e 4<br />
B) 1 e 3 E) 2 e 4<br />
C) 2 e 3<br />
Comentário<br />
O poema apresenta correspondência com<br />
as imagens ao descrever com detalhes a<br />
figura do retirante: pobre, mal vestido,<br />
carregando trouxas e embrulhos.<br />
A polifonia, variedade de vozes, presente<br />
no poema resulta da manifestação do<br />
A) poeta e do colonizador apenas.<br />
B) colonizador e do negro apenas.<br />
C) negro e do índio apenas.<br />
D) colonizador, do poeta e do negro<br />
apenas.<br />
E) poeta, do colonizador, do índio e do<br />
negro.<br />
Comentário<br />
A questão apresenta uma certa<br />
dificuldade, pois, à primeira vista, parecem<br />
confundir-se as vozes do colonizador, do<br />
negro e do índio. Entretanto, os<br />
travessões existentes no poema explicitam<br />
as falas das personagens ao mostrar que<br />
não são apenas as vozes do poeta e do<br />
colonizador que estão presentes. As falas do<br />
índio e do negro são proferidas por eles,<br />
marca expressa pelo discurso direto. A<br />
presença dessa modalidade de discurso<br />
indica a reprodução literal do que as<br />
personagens disseram.<br />
Um ponto interessante em relação a essa<br />
questão é a intertextualidade. O índio<br />
aparece no poema pela remissão a um texto<br />
poético do nosso Romantismo, em um<br />
processo intertextual com “I-Juca-Pirama”, de<br />
Gonçalves Dias; e a presença do negro se dá<br />
pela ligação com Mário de Andrade, em<br />
Macunaíma. Entende-se, portanto, que a<br />
alternativa correta é a letra E.<br />
34) (2003) No ano passado, o governo<br />
promoveu uma campanha a fim de reduzir<br />
os índices de violência. Noticiando o fato,<br />
um jornal publicou a seguinte manchete:<br />
469
CAMPANHA CONTRA A VIOLÊNCIA DO<br />
GOVERNO DO ESTADO ENTRA EM NOVA<br />
FASE<br />
470<br />
A manchete tem um duplo sentido, e isso<br />
dificulta o entendimento. Considerando o<br />
objetivo da notícia, esse problema poderia<br />
ter sido evitado com a seguinte redação:<br />
A) Campanha contra o governo do Estado<br />
e a violência entram em nova fase.<br />
B) A violência do governo do Estado entra<br />
em nova fase de Campanha.<br />
C) Campanha contra o governo do Estado<br />
entra em nova fase de violência.<br />
D) A violência da campanha do governo<br />
do Estado entra em nova fase.<br />
E) Campanha do governo do Estado<br />
contra a violência entra em nova fase.<br />
Comentário<br />
O objetivo da questão é eliminar a<br />
ambigüidade da notícia de jornal, que,<br />
originalmente, trazia duas idéias: de acordo<br />
com a primeira, o governo queria combater a<br />
violência, e a segunda ressaltava que o<br />
governo era violento. Nessa questão,<br />
era preciso eliminar a segunda possibilidade<br />
de leitura.<br />
35) (2002) "A palavra tatuagem é<br />
relativamente recente. Toda a gente sabe<br />
que foi o navegador Cook que a introduziu<br />
no Ocidente, e esse escrevia tattou, termo<br />
da Polinésia de tatou ou tu tahou,<br />
'desenho'.<br />
(...) Desde os mais remotos tempos,<br />
vemo-la a transformar-se: distintivo<br />
honorífico entre uns homens, ferrete de<br />
ignomínia entre outros, meio de assustar o<br />
adversário para os bretões, marca de uma<br />
classe de selvagens das ilhas marquesas<br />
(...) sinal de amor, de desprezo, de ódio<br />
(...). Há três casos de tatuagem no Rio,<br />
completamente diversos na sua<br />
significação moral: os negros,os turcos<br />
com o fundo religioso e o bando de<br />
meretrizes, dos rufiões e dos humildes,<br />
que se marcam por crime ou por<br />
ociosidade".<br />
RIO, João do. Os Tatuadores. Revista Kosmos.<br />
1904, apud: A alma encantadora das ruas,<br />
SP: Cia das Letras, 1999.<br />
Com base no texto são feitas as seguintes<br />
afirmações:<br />
I. João do Rio revela como a tatuagem já<br />
estava presente na cidade do Rio de<br />
Janeiro, pelo menos desde o início do<br />
século XX, e era mais utilizada por<br />
alguns setores da população.<br />
II. A tatuagem, de origem polinésia, difundiuse<br />
no ocidente com a característica que<br />
permanece até hoje: utilização entre os<br />
jovens com função estritamente estética.<br />
III. O texto mostra como a tatuagem é uma<br />
prática que se transforma no tempo e<br />
que alcança inúmeros sentidos nos<br />
diversos setores das sociedades e para<br />
as diferentes culturas.<br />
Está correto o que se afirma apenas em<br />
A) I D) I e II<br />
B) II E) I e III<br />
C) III<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Constata-se o<br />
seguinte: a tatuagem já existia no Brasil no<br />
início do século XX (o texto é de 1904 e parte<br />
dele se refere ao Rio do Janeiro) e era utilizada<br />
em diferentes setores da sociedade. A<br />
afirmação de que as tatuagens possuem<br />
apenas finalidade estética entre os jovens<br />
elimina a segunda alternativa. Já a última<br />
alternativa confirma as transformações das<br />
funções da tatuagem ao longo do tempo nas<br />
mais diversas sociedades e culturas.<br />
Comentário do INEP<br />
O texto estabelece uma relação entre a<br />
atualidade da palavra "tatuagem" e a<br />
antiguidade do uso de desenhos como<br />
pintura corporal. Focaliza uma prática social<br />
bastante difundida que adquiriu aspectos e<br />
conotações diversos nos diferentes contextos<br />
históricos e geográficos em que ela pode ser<br />
descrita. Fazendo a descrição da prática da<br />
tatuagem, como uma manifestação comum a<br />
diferentes culturas, e que adquire, inclusive,<br />
significados diferentes dentro de uma mesma<br />
cultura, induz o participante a refletir sobre a<br />
"diversidade dos patrimônios etnoculturais e<br />
artísticos", contextualizando ao mesmo<br />
tempo seus significados "em diferentes<br />
sociedades, épocas e lugares". Ao retomar<br />
as várias origens e usos da tatuagem, o<br />
participante é levado a compreender e<br />
respeitar uma gramática histórica dos<br />
costumes marcada sempre por semelhanças<br />
e diferenças. A questão não exigia, portanto,<br />
nenhum conhecimento prévio sobre as<br />
diferentes formas de manifestação dessa<br />
prática, mas simplesmente constatar, com o<br />
autor do texto citado, a historicidade e a<br />
diversidade das práticas sociais. Os<br />
participantes que assinalaram a alternativa C<br />
(36%), possivelmente, não levaram em<br />
consideração informações do texto. A<br />
questão foi corretamente respondida por 37%<br />
dos participantes.
36) (2004)<br />
Nesta tirinha, a personagem faz referência<br />
a uma das mais conhecidas figuras de<br />
linguagem para<br />
A) condenar a prática de exercícios físicos<br />
B) valorizar aspectos da vida moderna.<br />
C) desestimular o uso das bicicletas.<br />
D) caracterizar o diálogo entre as<br />
gerações.<br />
E) criticar a falta de perspectiva do pai.<br />
Comentário<br />
A construção indica a falta de perspectiva<br />
na vida do pai do personagem. “Pedalar sem<br />
sair do lugar” é uma metáfora muito usada na<br />
cultura brasileira para expressar como é a<br />
vida de uma pessoa que age de forma a não<br />
conseguir qualquer mudança — para melhor<br />
ou para pior — na vida.<br />
37) (2004) As questões de números 26 e 27<br />
referem-se ao poema abaixo.<br />
Entre os recursos expressivos<br />
empregados no texto, destaca-se a<br />
A) metalinguagem, que consiste em fazer<br />
a linguagem referir-se à própria<br />
linguagem.<br />
B) intertextualidade, na qual o texto<br />
retoma e reelabora outros textos.<br />
C) ironia, que consiste em se dizer o<br />
contrário do que se pensa, com<br />
intenção crítica.<br />
D) denotação, caracterizada pelo uso das<br />
palavras em seu sentido próprio e<br />
objetivo.<br />
E) prosopopéia, que consiste em<br />
personificar coisas inanimadas,<br />
atribuindo-lhes vida.<br />
Comentário<br />
A questão trata de um texto de Carlos<br />
Drummond de Andrade em que ele fala sobre<br />
o crescimento urbano e a pobreza que esse<br />
processo traz. Para tanto, o poeta utiliza uma<br />
linguagem irônica, revelando o lado oculto do<br />
desenvolvimento. Dessa forma, temos como<br />
correta a alternativa C.<br />
38) (2007) Antigamente<br />
Acontecia o indivíduo apanhar<br />
constipação; ficando perrengue, mandava<br />
o próprio chamar o doutor e, depois, ir à<br />
botica para aviar a receita, de cápsulas ou<br />
pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />
phtísica, feia era o gálico. Antigamente, os<br />
sobrados tinham assombrações, os<br />
meninos, lombrigas (...)<br />
Carlos Drummond de Andrade. Poesia completa e prosa.<br />
Rio de Janeiro: Companhia José Aguilar, p. 1.184.<br />
O texto acima está escrito em linguagem<br />
de uma época passada. Observe uma<br />
outra versão, em linguagem atual.<br />
Antigamente<br />
Acontecia o indivíduo apanhar um<br />
resfriado; ficando mal, mandava o próprio<br />
chamar o doutor e, depois, ir à farmácia<br />
para aviar a receita, de cápsulas ou<br />
pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />
tuberculose, feia era a sífilis. Antigamente,<br />
os sobrados tinham assombrações, os<br />
meninos, vermes (...)<br />
Comparando-se esses dois textos,<br />
verifica-se que, na segunda versão, houve<br />
mudanças relativas a<br />
A) vocabulário.<br />
B) construções sintáticas.<br />
C) pontuação.<br />
D) fonética.<br />
E) regência verbal.<br />
Comentário<br />
Questão fácil. O aluno deveria comparar<br />
os dois textos e verificar as alterações<br />
realizadas na segunda versão apresentada.<br />
Nesse momento, fica evidente a mudança de<br />
vocabulário, o que indica a alternativa A<br />
como a correta.<br />
471
39) (2001) Nas conversas diárias, utiliza-se<br />
freqüentemente a palavra “próprio” e ela<br />
se ajusta a várias situações. Leia os<br />
exemplos de diálogos:<br />
I - A Vera se veste diferente!<br />
- É mesmo, é que ela tem um estilo<br />
próprio.<br />
II - A Lena já viu esse filme uma dezena<br />
de vezes! Eu não consigo ver o<br />
que ele tem de tão maravilhoso assim.<br />
- É que ele é próprio para adolescente.<br />
III - Dora, o que eu faço? Ando tão<br />
preocupada com o Fabinho! Meu filho<br />
está impossível!<br />
- Relaxa, Tânia! É próprio da idade.<br />
Com o tempo, ele se acomoda.<br />
Nas ocorrências I, II e III, “próprio” é<br />
sinônimo de, respectivamente,<br />
A) adequado, particular, típico.<br />
B) peculiar, adequado, característico.<br />
C) conveniente, adequado, particular.<br />
D) adequado, exclusivo, conveniente.<br />
E) peculiar, exclusivo, característico.<br />
Comentário<br />
Para responder a essa pergunta,<br />
substitua, nos trechos, a palavra próprio<br />
pelos possíveis equivalentes apresentados<br />
nas alternativas. Questão simples que pode<br />
ser resolvida por eliminação.<br />
Comentário do INEP<br />
Nesta questão são apresentados três<br />
textos em que uma mesma palavra é<br />
utilizada com sentidos diferentes. O problema<br />
consiste em observar a variedade de uso de<br />
um mesmo termo e as possibilidades de sua<br />
compreensão, estabelecendo uma relação<br />
comparativa com base em uma análise<br />
semântica. Cerca de metade (49%) dos<br />
participantes estabeleceu essa relação de<br />
maneira correta. Os participantes que<br />
assinalaram a alternativa D (21%),<br />
possivelmente isolaram o termo do contexto,<br />
gerando um equívoco entre "adequado" e<br />
"exclusivo".<br />
40) (2003) Do pedacinho de papel ao livro<br />
impresso vai uma longa distância. Mas o<br />
que o escritor quer, mesmo, é isso: ver o<br />
seu texto em letra de forma. A gaveta é<br />
ótima para aplacar a fúria criativa; ela faz<br />
amadurecer o texto da mesma forma que<br />
a adega faz amadurecer o vinho. Em<br />
472<br />
certos casos, a cesta de papel é melhor<br />
ainda.<br />
O período de maturação na gaveta é<br />
necessário, mas não deve se prolongar<br />
muito. ‘Textos guardados acabam<br />
cheirando mal’, disse Silvia Plath, (...) que,<br />
com esta frase, deu testemunho das<br />
dúvidas que atormentam o escritor:<br />
publicar ou não publicar? guardar ou jogar<br />
fora?<br />
(Moacyr Scliar. O escritor e seus desafios.)<br />
Nesse texto, o escritor Moacyr Scliar usa<br />
imagens para refletir sobre uma etapa da<br />
criação literária. A idéia de que o processo<br />
de maturação do texto nem sempre é o<br />
que garante bons resultados está sugerida<br />
na seguinte frase:<br />
A) "A gaveta é ótima para aplacar a fúria<br />
criativa."<br />
B) "Em certos casos, a cesta de papel é<br />
melhor ainda."<br />
C) "O período de maturação na gaveta é<br />
necessário, (...)."<br />
D) "Mas o que o escritor quer, mesmo, é<br />
isso: ver o seu texto em letra de forma."<br />
E) "ela (a gaveta) faz amadurecer o texto<br />
da mesma forma que a adega faz<br />
amadurecer o vinho."<br />
Comentário<br />
Essa questão exigia a interpretação das<br />
frases. A palavra NEM no enunciado exclui<br />
todas as alternativas que tratam do<br />
amadurecimento ou da importância da<br />
gaveta para o bom sucesso da produção<br />
literária.<br />
A alternativa B é a única que apresenta<br />
um procedimento alternativo para a produção<br />
textual, ou seja, o lixo, e significa a liberdade<br />
do escritor em começar,<br />
interromper, recomeçar ou simplesmente<br />
abandonar a obra, permitindo a ele exercer<br />
seu livre-arbítrio.<br />
41) (2007)<br />
Aqui na floresta<br />
Dos ventos batida,<br />
Façanhas de bravos<br />
Não geram escravos,<br />
Que estimem a vida<br />
Sem guerra e lidar.<br />
— Ouvi-me, Guerreiros,<br />
— Ouvi meu cantar.<br />
O canto do guerreiro<br />
Valente na guerra,<br />
Quem há, como eu sou?<br />
Quem vibra o tacape<br />
Com mais valentia?<br />
Quem golpes daria<br />
Fatais, como eu dou?<br />
— Guerreiros, ouvi-me;<br />
— Quem há, como eu sou?<br />
Gonçalves Dias.
Macunaíma<br />
(Epílogo)<br />
Acabou-se a história e morreu a vitória.<br />
Não havia mais ninguém lá. Dera<br />
tangolomângolo na tribo Tapanhumas e<br />
os filhos dela se acabaram de um em um.<br />
Não havia mais ninguém lá. Aqueles<br />
lugares, aqueles campos, furos<br />
puxadouros arrastadouros meiosbarrancos,<br />
aqueles matos misteriosos,<br />
tudo era solidão do deserto... Um silêncio<br />
imenso dormia à beira do rio Uraricoera.<br />
Nenhum conhecido sobre a terra não<br />
sabia nem falar da tribo nem contar<br />
aqueles casos tão pançudos. Quem podia<br />
saber do Herói?<br />
Mário de Andrade.<br />
Considerando-se a linguagem desses dois<br />
textos, verifica-se que<br />
A) a função da linguagem centrada no<br />
receptor está ausente tanto no primeiro<br />
quanto no segundo texto.<br />
B) a linguagem utilizada no primeiro texto<br />
é coloquial, enquanto, no segundo,<br />
predomina a linguagem formal.<br />
C) há, em cada um dos textos, a<br />
utilização de pelo menos uma palavra<br />
de origem indígena.<br />
D) a função da linguagem, no primeiro<br />
texto, centra-se na forma de<br />
organização da linguagem e, no<br />
segundo, no relato de informações<br />
reais.<br />
E) a função da linguagem centrada na<br />
primeira pessoa, predominante no<br />
segundo texto, está ausente no<br />
primeiro.<br />
Comentário<br />
Questão de nível médio. Essa é uma<br />
questão que foca a linguagem dos textos, e<br />
cada qual em seu gênero (poesia e prosa,<br />
respectivamente). O aluno chega à<br />
conclusão que a alternativa correta é a C por<br />
meio da exclusão das demais alternativas.<br />
A resposta correta não é a A, pois há um<br />
receptor que pode ser percebido nas<br />
seguintes perguntas contidas no texto:<br />
Texto 1 – “Guerreiros, ouvi-me;/Quem há,<br />
como eu sou?”<br />
Texto 2 – “Quem podia saber do herói?”<br />
Também não é a alternativa B, pois o<br />
conteúdo dos textos não é discriminatório. No<br />
primeiro texto, há uma idealização do índio e,<br />
no segundo, há uma realidade crítica e<br />
satírica da sociedade.<br />
A alternativa D é excluída, porque o<br />
segundo texto não fala de uma realidade, já<br />
que Macunaíma é um herói fictício e nãoreal.<br />
Por fim, também está errada a alternativa<br />
E. Isso porque não temos no epílogo do texto<br />
de Macunaíma a linguagem centrada na<br />
primeira pessoa, mas sim, na terceira.<br />
42) (2003) Eu começaria dizendo que poesia<br />
é uma questão de linguagem. A<br />
importância do poeta é que ele torna mais<br />
viva a linguagem. Carlos Drummond de<br />
Andrade escreveu um dos mais belos<br />
versos da língua portuguesa com duas<br />
palavras comuns: cão e cheirando.<br />
Um cão cheirando o futuro<br />
(Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP, 24/05/1988.<br />
adaptação)<br />
O que deu ao verso de Drummond o<br />
caráter de inovador da língua foi<br />
A) o modo raro como foi tratado o<br />
"futuro".<br />
B) a referência ao cão como "animal de<br />
estimação".<br />
C) a flexão pouco comum do verbo<br />
"cheirar" (gerúndio).<br />
D) a aproximação não usual do agente<br />
citado e a ação de "cheirar".<br />
E) o emprego do artigo indefinido "um" e<br />
do artigo definido "o" na mesma frase.<br />
Comentário<br />
O fato de Drummond identificar o futuro<br />
como algo que pode ser percebido por um<br />
animal irracional por meio do olfato foi<br />
inovador. A figura de linguagem foi<br />
construída metaforicamente: o futuro torna-se<br />
uma coisa que tem cheiro, contrariamente à<br />
imagem pela qual ele normalmente é<br />
representado: como algo que não se vê e<br />
não se pode pressentir ou tocar.<br />
43) (2002) Só falta o Senado aprovar o<br />
projeto de lei [sobre o uso de termos<br />
estrangeiros no Brasil] para que palavras<br />
como shopping center , delivery e drivethrough<br />
sejam proibidas em nomes de<br />
estabelecimentos e marcas. Engajado<br />
nessa valorosa luta contra o inimigo<br />
ianque, que quer fazer área de livre<br />
comércio com nosso inculto e belo idioma,<br />
venho sugerir algumas outras medidas<br />
que serão de extrema importância para a<br />
preservação da soberania nacional, a<br />
saber:<br />
........<br />
473
Nenhum cidadão carioca ou gaúcho<br />
poderá dizer "Tu vai" em espaços públicos<br />
do território nacional;<br />
Nenhum cidadão paulista poderá dizer "Eu<br />
lhe amo" e retirar ou acrescentar o plural<br />
em sentenças como "Me vê um chopps e<br />
dois pastel";<br />
..........<br />
Nenhum dono de borracharia poderá<br />
escrever cartaz com a palavra "borraxaria"<br />
e nenhum dono de banca de jornal<br />
anunciará "Vende-se cigarros";<br />
..........<br />
Nenhum livro de gramática obrigará os<br />
alunos a utilizar colocações pronominais<br />
como "casar-me-ei" ou "ver-se-ão".<br />
PIZA, Daniel. Uma proposta imodesta. O Estado de<br />
S. Paulo, São Paulo, 8/04/2001.<br />
No texto acima, o autor:<br />
A) mostra-se favorável ao teor da<br />
proposta por entender que a língua<br />
portuguesa deve ser protegida contra<br />
deturpações de uso.<br />
B) ironiza o projeto de lei ao sugerir<br />
medidas que inibam determinados usos<br />
regionais e socioculturais da língua.<br />
C) denuncia o desconhecimento de regras<br />
elementares de concordância verbal e<br />
nominal pelo falante brasileiro.<br />
D) revela-se preconceituoso em relação a<br />
certos registros lingüísticos ao propor<br />
medidas que os controlem.<br />
E) defende o ensino rigoroso da gramática<br />
para que todos aprendam a empregar<br />
corretamente os pronomes.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. O autor ironiza o<br />
projeto de lei que proíbe o uso de<br />
estrangeirismos no Brasil. Não adianta criarse<br />
uma expectativa ou preocupação em<br />
relação ao uso de termos estrangeiros na<br />
língua e esquecer-se de que a língua é um<br />
organismo vivo, mutável. A dinâmica de uma<br />
língua não pode ser regida por preceitos<br />
legais como quer o projeto.<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão reproduz trechos de um<br />
texto que aborda o polêmico projeto de<br />
proibição de uso de termos estrangeiros no<br />
Brasil. A partir da leitura atenta do texto de<br />
Daniel Piza, o participante é levado a refletir<br />
sobre a postura adotada pelo autor em<br />
relação ao referido projeto. Para<br />
compreender esse texto, o participante<br />
precisa reconhecer o tom irônico que marca<br />
as observações e sugestões feitas por seu<br />
autor. Assim, Daniel Piza, "engajado nessa<br />
valorosa luta contra o inimigo ianque", sugere<br />
a proibição de algumas formas lingüísticas de<br />
uso corrente que contrariam recomendações<br />
da gramática normativa. O participante deve<br />
reconhecer que, com sugestões como essas,<br />
Daniel Piza deixa implícita uma crítica à<br />
utilidade do projeto de proibição dos<br />
estrangeirismos como forma de proteger a<br />
Língua Portuguesa. Nesse contexto, a ironia<br />
torna-se mais clara, bem como o mecanismo<br />
textual que a constrói. Feito tal<br />
reconhecimento, o aluno encontra a resposta<br />
correta na alternativa B, assinalada por cerca<br />
da metade dos participantes. Nenhuma outra<br />
alternativa contempla o aspecto irônico,<br />
essencial para a compreensão do texto.<br />
44) (2003) Pequenos tormentos da vida<br />
De cada lado da sala de aula, pelas janelas<br />
altas, o azul convida os meninos,<br />
as nuvens desenrolam-se, lentas como quem<br />
vai inventando<br />
preguiçosamente uma história sem fim...Sem<br />
fim é a aula: e nada acontece,<br />
nada...Bocejos e moscas. Se ao menos,<br />
pensa Margarida, se ao menos um<br />
avião entrasse por uma janela e saísse por<br />
outra!<br />
(Mário Quintana. Poesias)<br />
Na cena retratada no texto, o sentimento<br />
do tédio<br />
A) provoca que os meninos fiquem<br />
contando histórias.<br />
B) leva os alunos a simularem bocejos,<br />
em protesto contra a monotonia da<br />
aula.<br />
C) acaba estimulando a fantasia,<br />
criando a expectativa de algum<br />
imprevisto mágico.<br />
D) prevalece de modo absoluto,<br />
impedindo até mesmo a distração ou o<br />
exercício do pensamento.<br />
E) decorre da morosidade da aula, em<br />
contraste com o movimento acelerado<br />
das nuvens e das moscas.<br />
Comentário<br />
Essa questão aborda o imaginário<br />
decorrente do marasmo trazido pela escola.<br />
O texto enfatiza o arrastar do tempo na<br />
mente de uma aluna, Margarida, que se põe<br />
a pensar em fatos mágicos ou imaginários<br />
que pudessem romper com a lentidão da<br />
aula.<br />
474
45) (200) O autor do texto abaixo critica,<br />
ainda que em linguagem metafórica, a<br />
sociedade contemporânea em relação aos<br />
seus hábitos alimentares.<br />
“Vocês que têm mais de 15 anos, se<br />
lembram quando a gente comprava leite<br />
em garrafa, na leiteria da esquina? (...)<br />
Mas vocês não se lembram de nada,<br />
pô! Vai ver nem sabem o que é vaca. Nem<br />
o que é leite. Estou falando isso porque<br />
agora mesmo peguei um pacote de leite –<br />
leite em pacote, imagina, Tereza! – na<br />
porta dos fundos e estava escrito que é<br />
pasterizado, ou pasteurizado, sei lá, tem<br />
vitamina, é garantido pela<br />
embromatologia, foi enriquecido e o<br />
escambau. Será que isso é mesmo leite?<br />
No dicionário diz que leite é outra coisa:<br />
‘Líquido branco, contendo água,<br />
proteína, açúcar e sais minerais’. Um<br />
alimento pra ninguém botar defeito. O ser<br />
humano o usa há mais de 5.000 anos. É o<br />
único alimento só alimento. A carne serve<br />
pro animal andar, a fruta serve pra fazer<br />
outra fruta, o ovo serve pra fazer outra<br />
galinha (...) O leite é só leite. Ou toma ou<br />
bota fora. Esse aqui examinando bem, é<br />
só pra botar fora. Tem chumbo, tem<br />
benzina, tem mais água do que leite, tem<br />
serragem, sou capaz de jurar que nem<br />
vaca tem por trás desse negócio. Depois o<br />
pessoal ainda acha estranho que os<br />
meninos não gostem de leite.<br />
Mas, como não gostam? Não gostam<br />
como? Nunca tomaram! Múúúúúúú!”<br />
(FERNANDES, Millôr. O Estado de S. Paulo ,<br />
22 de agosto de 1999)<br />
A palavra embromatologia usada pelo<br />
autor é:<br />
A) um termo científico que significa estudo<br />
dos bromatos.<br />
B) uma composição do termo de gíria<br />
“embromação” (enganação) com<br />
bromatologia, que é o estudo dos<br />
alimentos.<br />
C) uma junção do termo de gíria<br />
“embromação” (enganação) com<br />
lactologia, que é o estudo das<br />
embalagens para leite.<br />
D) um neologismo da química orgânica<br />
que significa a técnica de retirar<br />
bromatos dos laticínios.<br />
E) uma corruptela de termo da<br />
agropecuária que significa a ordenha<br />
mecânica.<br />
Comentário<br />
É necessário para a resolução desta<br />
questão:<br />
- perceber que o texto critica o exagerado<br />
uso de substâncias artificiais nos<br />
alimentos;<br />
- conhecer o significado da gíria embromar e<br />
da palavra bromatologia.<br />
Conhecendo esses significados, você<br />
elimina todas as alternativas erradas: a, c, d<br />
e e.<br />
Você poderá ter dúvida quanto à<br />
alternativa c, que também será eliminada se<br />
souber o significado da palavra lactologia,<br />
que é o estudo do leite e produtos lácteos e<br />
não das embalagens para leite.<br />
Nesta questão, são trabalhados os<br />
conceitos de interpretação de texto, formação<br />
de palavras e conhecimentos gerais.<br />
Comentário do INEP<br />
A resolução da questão requeria que o<br />
participante, ao ler o texto vinculasse o<br />
significado de um termo de gíria -<br />
"embromação" - com o da palavra<br />
bromatologia. A resposta correta exigia que o<br />
participante não abrisse mão do sabor<br />
picante contido na linguagem metafórica,<br />
sabor vinculado ao conhecimento específico<br />
contido na palavra bromatologia. Cerca da<br />
metade dos participantes (51%) optou pela<br />
alternativa correta e, os 20% que escolheram<br />
a alternativa C, provavelmente associaram a<br />
referência feita no texto à leite em pacote.<br />
46) (2005) O termo (ou expressão)<br />
destacado que está empregado em seu<br />
sentido próprio, denotativo ocorre em:<br />
A) “(....)<br />
É de laço e de nó<br />
De gibeira o jiló<br />
Dessa vida, cumprida a sol (....)”<br />
(Renato Teixeira. Romaria. Kuarup Discos.<br />
setembro de 1992.)<br />
B) “Protegendo os inocentes<br />
é que Deus, sábio demais,<br />
põe cenários diferentes<br />
nas impressões digitais.”<br />
(Maria N. S. Carvalho. Evangelho da Trova. /s.n.b.)<br />
C) “O dicionário-padrão da língua e os<br />
dicionários unilíngües são os tipos mais<br />
comuns de dicionários. Em nossos<br />
dias, eles se tornaram um objeto de<br />
consumo obrigatório para as nações<br />
civilizadas e desenvolvidas.”<br />
(Maria T. Camargo Biderman.<br />
O dicionário-padrão da língua. Alfa (28), 2743, 1974 Supl.)<br />
475
D)<br />
A)<br />
B)<br />
E) “Humorismo é a arte de fazer cócegas<br />
no raciocínio dos outros. Há duas<br />
espécies de humorismo: o trágico e o<br />
cômico. O trágico é o que não<br />
consegue fazer rir; o cômico é o que é<br />
verdadeiramente trágico para se fazer.”<br />
(Leon Eliachar. www.mercadolivre.com.br.<br />
acessado em julho de 2005.)<br />
Comentário<br />
A definição do dicionário-padrão da língua<br />
utiliza o sentido denotativo da palavra para<br />
explicar o uso de determinado tipo de<br />
dicionário. Em todas as outras alternativas,<br />
as palavras estão sendo empregadas em<br />
sentido metafórico. Na letra A, "cumprida a<br />
sol" pode mostrar o sofrimento e a solidão.<br />
Na alternativa B, "cenários diferentes" são as<br />
diferenças físicas encontradas nas<br />
impressões digitais. Na letra D, "bateria" é o<br />
termo usado para expressar a "energia" do<br />
Menino Maluquinho, que nunca acaba. Por<br />
fim, na alternativa E, "fazer cócegas no<br />
raciocínio" significa expressar graça por meio<br />
de idéias, fazendo com que o cérebro ache<br />
um fato divertido e, por conseguinte, faça<br />
com que a pessoa ria como se sofresse um<br />
ataque de cócegas.<br />
C)<br />
D)<br />
E)<br />
47) (2008) Os signos visuais, como meios de<br />
comunicação, são classificados em<br />
categorias de acordo com seus<br />
significados.<br />
A categoria denominada indício<br />
corresponde aos signos visuais que têm<br />
origem em formas ou situações naturais<br />
ou casuais, as quais, devido à ocorrência<br />
em circunstâncias idênticas, muitas vezes<br />
repetidas, indicam algo e adquirem<br />
significado. Por exemplo, nuvens negras<br />
indicam tempestade. Com base nesse<br />
conceito, escolha a opção que representa<br />
um signo da categoria dos indícios.<br />
Comentário<br />
Trata-se de uma questão interpretativa. O<br />
aluno precisa entender o que é “indício” para<br />
respondê-la. Segundo o dicionário Aurélio,<br />
indício é o mesmo que “sinal, vestígio,<br />
indicação”. Das figuras apresentadas,<br />
apenas a alternativa B indica algo: a<br />
passagem de alguém por algum lugar —<br />
pegada.<br />
476
48) (1999)<br />
Diante da visão de um prédio com uma<br />
placa indicando SAPATARIA PAPALIA,<br />
um jovem deparou com a dúvida: como<br />
pronunciar a palavra PAPALIA?<br />
Levado o problema à sala de aula, a<br />
discussão girou em torno da utilidade de<br />
conhecer as regras de acentuação e,<br />
especialmente, do auxílio que elas podem<br />
dar à correta pronúncia de palavras.<br />
Após discutirem pronúncia, regras de<br />
acentuação e escrita, três alunos<br />
apresentaram as seguintes conclusões a<br />
respeito da palavra PAPALIA:<br />
I. Se a sílaba tônica for o segundo PA, a<br />
escrita deveria ser PAPÁLIA, pois a<br />
palavra seria paroxítona terminada em<br />
ditongo crescente.<br />
II. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />
deveria ser PAPALÍA, pois "i" e "a"<br />
estariam formando hiato.<br />
III. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />
deveria ser PAPALIA, pois não haveria<br />
razão para o uso de acento gráfico.<br />
A conclusão está correta apenas em:<br />
A) III D) I<br />
B) I e II E) II<br />
C) I e III<br />
Comentário<br />
Essa questão exige bom conhecimento<br />
das regras de acentuação. A alternativa A diz<br />
que apenas a afirmação I é verdadeira. De<br />
fato ela é, mas não é a única. Nela, temos a<br />
hipótese de a palavra ser grafada como se a<br />
sílaba forte fosse a penúltima — papália —,<br />
justificando seu acento gráfico. Vejamos o<br />
que dizem as regras de acentuação.<br />
Acentuam-se as palavras paroxítonas<br />
terminadas em: i, is, us, um, uns, l, n, r, x,<br />
ps, ã, ãs, ão, ãos, ditongos orais,<br />
crescentes ou decrescentes, seguidos ou<br />
não de S. Isso valida, portanto, a afirmação I.<br />
A afirmação II pressupõe que a sílaba<br />
tônica seja LI, em hiato com A: no caso de<br />
essa ser a tonicidade da palavra, a sílaba LI<br />
não poderia ser acentuada, pois I, mesmo<br />
sendo a tônica do hiato, não é a última vogal,<br />
portanto, essa afirmativa é falsa.<br />
A afirmação III considera que a sílaba<br />
tônica é LI, não havendo acento por ser o I a<br />
primeira vogal do hiato. Portanto, essa<br />
afirmação é verdadeira.<br />
Concluindo, temos como verdadeiras as<br />
afirmações I e III. Então, a alternativa E é a<br />
correta. Questão de nível difícil.<br />
Comentário do INEP<br />
Dentre os participantes, somente pouco<br />
mais de um terço (35%) demonstrou possuir<br />
a habilidade para identificar as regras de<br />
acentuação corretas, enunciadas na questão.<br />
Chama a atenção o fato de que 73% dos<br />
participantes (alternativas A, D e E)<br />
reconheceram corretamente, pelo menos, a<br />
regra contida no item I, sendo que cerca de<br />
40% desses, contudo, tiveram dificuldades<br />
em analisar as regras II e III.<br />
Em se tratando de palavra não-usual, é,<br />
sobretudo, o domínio do conhecimento das<br />
regras e não a possível pronúncia correta,<br />
pelo uso, o que parece ter sido revelado.<br />
49) (2008)<br />
Exame, 28/9/2007.<br />
Entre os seguintes ditos populares, qual<br />
deles melhor corresponde à figura<br />
acima?<br />
A) Com perseverança, tudo se alcança.<br />
B) Cada macaco no seu galho.<br />
C) Nem tudo que balança cai.<br />
D) Quem tudo quer, tudo perde.<br />
E) Deus ajuda quem cedo madruga.<br />
Comentário<br />
Assim como a questão 37, esta também<br />
envolve interpretação de signos, ou seja, o<br />
aluno precisa estar atento à imagem e<br />
relacioná-la ao dito popular correspondente.<br />
477
A alternativa "A" é a correta, pois, para<br />
uma lesma “grudenta” e vagarosa conseguir<br />
pular numa cama elástica, é necessária<br />
muita perseverança.<br />
50) (2005) Leia estes textos.<br />
Texto 1<br />
Comentário<br />
Enquanto o primeiro texto é ácido em<br />
relação à possibilidade de desarmamento da<br />
população (ou seja, à criação de uma<br />
sociedade mais pacífica), o segundo mostra<br />
a capacidade que a humanidade tem de crer<br />
e, por isso, tentar fazer até o que a princípio<br />
parece impossível. Para os autores da<br />
canção, nada é intrinsecamente impossível.<br />
A relação entre eles é de oposição:<br />
descrença x crença. Questão de nível de<br />
dificuldade médio.<br />
Texto 2<br />
Sonhar<br />
Mais um sonho impossível<br />
Lutar<br />
Quando é fácil ceder<br />
Vencer o inimigo invencível<br />
Negar quando a regra é vender<br />
Sofrer a tortura implacável<br />
Romper a incabível prisão<br />
Voar num limite improvável<br />
Tocar o inacessível chão<br />
É minha lei, é minha questão<br />
Virar esse mundo<br />
Cravar esse chão<br />
Não me importa saber<br />
Se é terrível demais<br />
Quantas guerras terei que vencer<br />
Por um pouco de paz<br />
E amanhã se esse chão que eu beijei<br />
For meu leito e perdão<br />
Vou saber que valeu delirar<br />
E morrer de paixão<br />
E assim, seja lá como for<br />
Vai ter fim a infinita aflição<br />
E o mundo vai ver uma flor<br />
Brotar do impossível chão.<br />
(J. Darione – M. Leigh – Versão de Chico Buarque de<br />
Hollanda e Ruy Guerra, 1972.)<br />
A tirinha e a canção apresentam uma<br />
reflexão sobre o futuro da humanidade. É<br />
correto concluir que os dois textos<br />
A) afirmam que o homem é capaz de<br />
alcançar a paz.<br />
B) concordam que o desarmamento é<br />
inatingível.<br />
C) julgam que o sonho é um desafio<br />
invencível.<br />
D) têm visões diferentes sobre um<br />
possível mundo melhor.<br />
E) transmitem uma mensagem de<br />
otimismo sobre a paz.<br />
51) (2002) A crônica muitas vezes constitui<br />
um espaço para reflexão sobre aspectos<br />
da sociedade em que vivemos.<br />
"Eu, na rua, com pressa, e o menino<br />
segurou no meu braço, falou qualquer<br />
coisa que não entendi. Fui logo dizendo<br />
que não tinha, certa de que ele estava<br />
pedindo dinheiro. Não estava. Queria<br />
saber a hora.<br />
Talvez não fosse um Menino De<br />
Família, mas também não era um Menino<br />
De Rua. É assim que a gente divide.<br />
Menino De Família é aquele bem-vestido<br />
com tênis da moda e camiseta de marca,<br />
que usa relógio e a mãe dá outro se o<br />
dele for roubado por um Menino De Rua.<br />
Menino De Rua é aquele que quando a<br />
gente passa perto segura a bolsa com<br />
força porque pensa que ele é pivete,<br />
trombadinha, ladrão. (...) Na verdade não<br />
existem meninos De rua.<br />
Existem meninos NA rua. E toda vez<br />
que um menino está NA rua é porque<br />
alguém o botou lá. Os meninos não vão<br />
sozinhos aos lugares. Assim como são<br />
postos no mundo, durante muitos anos<br />
também são postos onde quer que<br />
estejam. Resta ver quem os põe na rua. E<br />
por quê."<br />
COLASSANTI, Marina. In: Eu sei, mas não devia. Rio de<br />
Janeiro: Rocco, 1999.<br />
No terceiro parágrafo em "... não existem<br />
meninos De rua. Existem meninos NA<br />
rua.", a troca de De pelo Na determina<br />
que a relação de sentido entre "menino" e<br />
"rua" seja<br />
A) de localização e não de qualidade.<br />
B) de origem e não de posse.<br />
C) de origem e não de localização.<br />
D) de qualidade e não de origem.<br />
E) de posse e não de localização.<br />
478
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Apesar de não<br />
haver um terceiro parágrafo neste texto, a<br />
troca das preposições ao final do SEGUNDO<br />
parágrafo indica claramente que não há um<br />
menino DE (proveniente de) rua, mas um<br />
menino que está NA (foi levado à) rua.<br />
Portanto, a relação é unicamente de<br />
localização (onde ele está) e não de<br />
qualidade (o que ele é).<br />
Comentário do INEP<br />
A reprodução de um trecho de uma<br />
crônica de Marina Colassanti tematiza uma<br />
importante questão social brasileira: a<br />
presença de milhões de crianças nas ruas do<br />
País. A autora, ao tratar desse problema,<br />
vale-se de recursos lingüísticos específicos.<br />
O objetivo desta questão é justamente<br />
chamar a atenção do participante leitor para<br />
esses recursos e os efeitos de sentido que<br />
eles desencadeiam no texto. Na raiz da<br />
questão destaca-se a troca de "De" por "NA"<br />
e pede-se que se determine qual relação de<br />
sentido essa substituição estabelece entre os<br />
termos "menino" e "rua". Analisar a relação,<br />
nesse caso, significa perguntar-se sobre o<br />
sentido de dois sintagmas criados no texto:<br />
"meninos NA rua" por oposição a "meninos<br />
De rua". O que a autora pretende negar, com<br />
a troca do termo de relação, é a possibilidade<br />
de que existam meninos de rua diferentes de<br />
outros meninos, que não têm na rua a sua<br />
origem. O destaque para a preposição na<br />
nos leva a refletir que a relação dos meninos<br />
com a rua é de localização: eles estão ali por<br />
alguma razão, não porque essa seja a sua<br />
qualificação. Essa reflexão levaria o aluno a<br />
escolher, como correta, a resposta<br />
apresentada na alternativa A, assinalada por<br />
cerca de metade dos participantes.<br />
52) (2000) O uso do pronome átono no início<br />
das frases é destacado por um poeta e<br />
por um gramático nos textos abaixo.<br />
Pronominais<br />
Dê-me um cigarro<br />
Diz a gramática<br />
Do professor e do aluno<br />
E do mulato sabido<br />
Mas o bom negro e o bom branco<br />
da Nação Brasileira<br />
Dizem todos os dias<br />
Deixa disso camarada<br />
Me dá um cigarro<br />
(ANDRADE, Oswald de. Seleção de textos.<br />
São Paulo: Nova Cultural, 1988)<br />
“Iniciar a frase com pronome átono só<br />
é lícito na conversação familiar,<br />
despreocupada, ou na língua escrita<br />
quando se deseja reproduzir a fala dos<br />
personagens (...).”<br />
(CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da<br />
língua portuguesa.<br />
São Paulo: Nacional, 1980)<br />
Comparando a explicação dada pelos<br />
autores sobre essa regra, pode-se afirmar<br />
que ambos:<br />
A) condenam essa regra gramatical.<br />
B) acreditam que apenas os esclarecidos<br />
sabem essa regra.<br />
C) criticam a presença de regras na<br />
gramática.<br />
D) afirmam que não há regras para uso de<br />
pronomes.<br />
E) relativizam essa regra gramatical.<br />
Comentário<br />
Questão que requer conhecimento básico<br />
de colocação pronominal, em relação ao uso<br />
de pronomes átonos no início de frases, uma<br />
regra muito pouco respeitada pelo brasileiro,<br />
da qual Oswald de Andrade faz questão de<br />
falar em seu poema. Porém, a questão pode<br />
ser resolvida simplesmente por meio de uma<br />
leitura bem atenta dos textos. Se formos<br />
analisando alternativa por alternativa, a<br />
eliminação é clara e lógica: a alternativa a<br />
fica totalmente descartada devido à<br />
transparência da colocação dos dois autores<br />
(Me dá um cigarro...) e (iniciar frases com o<br />
pronome átono é "lícito" na conversação<br />
familiar ou despreocupada). Já a alternativa b<br />
pode até mesmo gerar um pouco de dúvida a<br />
quem não se atém bem à pergunta. Quanto<br />
às alternativas c e d, ficam descartadas, pois,<br />
em momento nenhum, os autores criticaram<br />
o uso de regras gramaticais em seus textos,<br />
cabendo perfeitamente a alternativa e para<br />
as afirmações do gramático e do poeta.<br />
Comentário do INEP<br />
Essa questão pretendia verificar como o<br />
participante analisa um fato lingüístico,<br />
mediante a comparação da descrição desse<br />
fato em dois textos. Sabe-se que,<br />
normalmente em situação escolar, o uso do<br />
pronome átono no início da frase é julgado<br />
como grave desvio gramatical, e pouco se<br />
analisa esse uso na fala ou escrita informal.<br />
Os dois autores dos textos, com intenções<br />
diferentes, relativizam essa regra gramatical,<br />
destacando e descrevendo o seu uso<br />
coloquial. A maioria dos participantes (52%)<br />
analisou e comparou corretamente as<br />
posições dos autores sobre o uso do<br />
479
pronome átono, e 24% deles reafirmaram a<br />
posição discriminatória da regra, deslocandoa<br />
de seu uso.<br />
história de Van Gogh, ou apropriaram-se<br />
corretamente da informação sobre esse<br />
pintor, fornecida no enunciado.<br />
53) (2000) As histórias em quadrinhos, por<br />
vezes, utilizam animais como<br />
personagens e a eles atribuem<br />
comportamento humano. O gato Garfield<br />
é exemplo desse fato.<br />
54) (2004)<br />
Fonte: Caderno Vida e Arte, Jornal do Povo, Fortaleza<br />
480<br />
Van Gogh, pintor holandês nascido em<br />
1853, é um dos principais nomes da<br />
pintura mundial. É dele o quadro abaixo.<br />
Auto-retrato de orelha cortada<br />
O 3º quadrinho sugere que Garfield:<br />
A) desconhece tudo sobre arte, por isso<br />
faz a sugestão.<br />
B) acredita que todo pintor deve fazer algo<br />
diferente.<br />
C) defende que para ser pintor a pessoa<br />
tem de sofrer.<br />
D) conhece a história de um pintor<br />
famoso e faz uso da ironia.<br />
E) acredita que seu dono tenha tendência<br />
artística e, por isso, faz a sugestão.<br />
Comentário<br />
Outra questão de interpretação de texto.<br />
Muito simples para quem um dia ouviu falar<br />
de Van Gogh, e simplíssima para aqueles<br />
que prestam atenção em todos os elementos<br />
do enunciado. Afinal, quem deu uma<br />
espiadinha na legenda do quadro de Van<br />
Gogh matou na hora a questão.<br />
Esta questão é daquelas rápidas de serem<br />
resolvidas, associando-se os elementos<br />
apresentados.<br />
Comentário do INEP<br />
A significativa maioria (81%) dos<br />
participantes soube perceber o caráter<br />
irônico da fala do Garfield, expressa no<br />
terceiro quadrinho porque, ou conheciam a<br />
A tira "Hagar" e o poema de Alberto<br />
Caeiro (um dos heterônimos de Fernando<br />
Pessoa) expressam, com linguagens<br />
diferentes, uma mesma idéia: a de que a<br />
compreensão que temos do mundo é<br />
condicionada, essencialmente,<br />
A) pelo alcance de cada cultura.<br />
B) pela capacidade visual do observador.<br />
C) pelo senso de humor de cada um.<br />
D) pela idade do observador.<br />
E) pela altura do ponto de observação.<br />
Comentário<br />
Questão reflexiva sobre a forma como<br />
cada cultura vê o mundo sob a ótica dos<br />
limites dados pelos seus costumes e<br />
possibilidades de pensamento inerentes a<br />
cada modelo cultural. A mistura de uma tira e<br />
de um poema amplia a possibilidade de<br />
pensamento por trabalhar com linguagens<br />
diferentes. A alternativa correta é a letra A,<br />
pois ambos (tira e poema) utilizam figuras de<br />
linguagem (metáfora e ironia) para expressar<br />
as diferentes visões de mundo.<br />
55) (2003)<br />
O humor presente na tirinha decorre<br />
principalmente do fato de a personagem<br />
Mafalda<br />
A) atribuir, no primeiro quadrinho, poder<br />
ilimitado ao dedo indicador.<br />
B) considerar seu dedo indicador tão<br />
importante quanto o dos patrões.
C) atribuir, no primeiro e no último<br />
quadrinhos, um mesmo sentido ao<br />
vocábulo "indicador".<br />
D) usar corretamente a expressão<br />
"indicador de desemprego", mesmo<br />
sendo criança.<br />
E) atribuir, no último quadrinho, fama<br />
exagerada ao dedo indicador dos<br />
patrões.<br />
Comentário<br />
A questão pede a interpretação de uma<br />
charge da personagem Mafalda, em que ela<br />
faz referência a seu dedo indicador, que é<br />
usado como substantivo primitivo e que<br />
possibilita a analogia com “indicador de<br />
desemprego”. Dessa forma, ela ironiza os<br />
indicadores sociais. Na charge, porém, não<br />
há menção explícita aos índices<br />
“indicadores”, permanecendo o raciocínio<br />
preso apenas ao dedo indicador. Assim, ela<br />
utiliza, tanto no primeiro quanto no último<br />
quadrinho, a palavra “indicador” como<br />
referência ao dedo, não dando abertura a<br />
outro tipo de interpretação.<br />
56) (2002)<br />
De acordo com a história em quadrinhos<br />
protagonizada por Hagar e seu filho<br />
Hamlet, pode-se afirmar que a postura de<br />
Hagar<br />
A) valoriza a existência da diversidade<br />
social e de culturas, e as várias<br />
representações e explicações desse<br />
universo.<br />
B) desvaloriza a existência da<br />
diversidade social e as várias culturas,<br />
e determina uma única explicação para<br />
esse universo.<br />
C) valoriza a possibilidade de explicar as<br />
sociedades e as culturas a partir de<br />
várias visões de mundo.<br />
D) valoriza a pluralidade cultural e social<br />
ao aproximar a visão de mundo de<br />
navegantes e não-navegantes.<br />
E) desvaloriza a pluralidade cultural e<br />
social, ao considerar o mundo habitado<br />
apenas pelos navegantes.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Hagar reduz o<br />
mundo a dois tipos de pessoas: navegantes<br />
e não-navegantes. No último quadrinho, diz<br />
que são os navegantes que estabelecem<br />
esses dois grupos. Portanto, quem é<br />
diferente dos navegantes (que estabelecem<br />
o padrão) simplesmente é incluído na massa<br />
única dos não-navegantes. Não importa<br />
quem ou quantos sejam, sua diversidade<br />
social ou cultural em relação aos navegantes<br />
ou entre si. Vemos aí a desvalorização de<br />
outras culturas.<br />
Comentário do INEP<br />
Dentre as habilidades básicas para a<br />
compreensão de um texto destaca-se a<br />
capacidade do leitor de identificar os<br />
pressupostos de cada afirmação que lhe é<br />
apresentada. Nesta questão o participante<br />
deve identificar a posição tanto de Hagar<br />
como de seu filho Hamlet e, em seguida,<br />
avaliar quais os argumentos que justificam a<br />
opinião de Hagar ao definir que no mundo só<br />
existem dois tipos de pessoas. A pergunta de<br />
Hamlet a seu pai explicita a importância do<br />
ato de narrar através do diálogo e do efeito<br />
humorístico contido no episódio representado<br />
na tira. O resultado da compreensão<br />
acertada do diálogo é que o narrador torna<br />
inteligível, para si e para os outros, a lógica<br />
do seu pensamento através do diálogo entre<br />
os dois personagens. É importante observar<br />
que o humor do personagem Hagar é<br />
identificado na postura simetricamente<br />
oposta à de Michel de Montaigne, por<br />
exemplo (ver questão 58): a sua visão de<br />
mundo apresenta-se autocentrada, isto é,<br />
centrada nos seus próprios valores (vikings).<br />
A habilidade requerida do participante nessa<br />
questão, qual seja, "valorizar a diversidade<br />
dos patrimônios etnoculturais", é mobilizada<br />
aqui na sua dimensão negativa: é criticando<br />
a postura chauvinista de Hagar que o<br />
participante é capaz de responder<br />
corretamente a questão. A última alternativa<br />
(E) funciona como um distrator, pois neste<br />
caso não está suposta a crítica do discurso<br />
do personagem. Cerca de um terço dos<br />
participantes assinalou a alternativa correta<br />
B. As demais opções são devidas,<br />
possivelmente, a uma leitura pouco<br />
compreensiva das alternativas associadas a<br />
história em quadrinhos.<br />
481
57) (2009) Para o Mano Caetano<br />
1 O que fazer do ouro de tolo<br />
Quando um doce bardo brada a toda<br />
brida,<br />
482<br />
Em velas pandas, suas esquisitas rimas?<br />
4 Geografia de verdades, Guanabaras<br />
postiças<br />
Saudades banguelas, tropicais preguiças?<br />
A boca cheia de dentes<br />
7 De um implacável sorriso<br />
Morre a cada instante<br />
Que devora a voz do morto, e com isso,<br />
<strong>10</strong> Ressuscita vampira, sem o menor<br />
aviso<br />
[...]<br />
E eu soy lobo-bolo? lobo-bolo<br />
Tipo pra rimar com ouro de tolo?<br />
13 Oh, Narciso Peixe Ornamental!<br />
Tease me, tease me outra vez 1<br />
Ou em banto baiano<br />
16 Ou em português de Portugal<br />
Se quiser, até mesmo em americano<br />
De Natal<br />
[...]<br />
1<br />
Tease me (caçoe de mim, importune-me).<br />
LOBÃO. Disponível em: http://vagalume.uol.com.br.<br />
Acesso em: 14 ago. 2009 (adaptado).<br />
Na letra da canção apresentada, o<br />
compositor Lobão explora vários recursos<br />
da língua portuguesa, a fim de conseguir<br />
efeitos estéticos ou de sentido. Nessa<br />
letra, o autor explora o extrato sonoro do<br />
idioma e o uso de termos coloquiais na<br />
seguinte passagem:<br />
A) "Quando um doce bardo brada a toda<br />
brida" (v. 2)<br />
B) "Em velas pandas, suas esquisitas<br />
rimas?" (v. 3)<br />
C) "Que devora a voz do morto" (v. 9)<br />
D) "lobo-bolo//Tipo pra rimar com ouro<br />
de tolo? (v. 11-12)<br />
E) "Tease me, tease me outra vez" (v.<br />
14)<br />
Comentário<br />
(QUESTÃO: AZUL 98, BRANCA 96,<br />
ROSA 98)<br />
Questão de fácil resolução, pois o<br />
enunciado pede que se indique em qual das<br />
alternativas o autor explora recursos sonoros<br />
e o uso de linguagem coloquial. A resposta<br />
em que isso ocorre é a alternativa D. O que<br />
justifica essa resposta é a presença de<br />
aliterações "lobo/bolo" rimando com "tolo" e a<br />
presença da palavra "tipo", usada em<br />
situações informais com o sentido de "como"<br />
ou "por exemplo".<br />
Alternativa correta: D<br />
58) (2009)<br />
BROWNE, C. Hagar, o horrivel. Jornal O GLOBO,<br />
Segundo Caderno. 20 fev. 2009.<br />
A linguagem da tirinha revela<br />
A) o uso de expressões linguísticas e<br />
vocabulário próprios de épocas antigas.<br />
B) o uso de expressões linguísticas<br />
inseridas no registro mais formal da<br />
língua.<br />
C) o caráter coloquial expresso pelo uso<br />
do tempo verbal no segundo quadrinho.<br />
D) o uso de um vocabulário específico<br />
para situações comunicativas de<br />
emergência.<br />
E) a intenção comunicativa dos<br />
personagens: a de estabelecer a<br />
hierarquia entre eles.<br />
Comentário<br />
(QUESTÃO: AZUL <strong>10</strong>9, BRANCA <strong>10</strong>9,<br />
ROSA <strong>10</strong>9)<br />
Questão de fácil resolução. O tempo<br />
verbal, utilizado no segundo quadrinho,<br />
indica o emprego da linguagem coloquial,<br />
pois a norma culta prevê, nesses casos, o<br />
uso do presente do subjuntivo "Pensei que<br />
você tivesse consertado!"<br />
A alternativa C é a correta.<br />
59) (2009) Teyssier, na sua História da<br />
Língua Portuguesa, reconhece que na<br />
diversidade socioletal essa pretensa<br />
unidade se desfaz. Diz Teyssier:<br />
"A realidade, porém, é que as divisões<br />
‘dialetais’ no Brasil são menos geográficas<br />
que socioculturais. As diferenças na<br />
maneira de falar são maiores, num<br />
determinado lugar, entre um homem culto<br />
e o vizinho analfabeto que entre dois<br />
brasileiros do mesmo nível cultural<br />
originários de duas regiões distantes uma<br />
da outra."<br />
SILVA, R. V. M. O português brasileiro e o<br />
português europeu contemporâneo: alguns<br />
aspectos da diferença. Disponível em:<br />
www.uniroma.it. Acesso em: 23 jun.2008.
¹ isoglossa — linha imaginária que, em um<br />
mapa, une os pontos de ocorrência de<br />
traços e fenômenos linguísticos idênticos.<br />
FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário Aurélio<br />
da língua portuguesa. Rio de Janeiro:<br />
Nova Fronteira, 1986.<br />
De acordo com as informações presentes<br />
no texto, os pontos de vista de Serafim da<br />
Silva Neto e de Paul Teyssier convergem<br />
em relação<br />
A) à influência dos aspectos socioculturais<br />
nas diferenças dos falares entre<br />
indivíduos, pois ambos consideram que<br />
pessoas de mesmo nível sociocultural<br />
falam de forma semelhante.<br />
B) à delimitação dialetal no Brasil<br />
assemelhar-se ao que ocorria na<br />
România Antiga, pois ambos<br />
consideram a variação linguística no<br />
Brasil como decorrente de aspectos<br />
geográficos.<br />
C) à variação sociocultural entre<br />
brasileiros de diferentes regiões, pois<br />
ambos consideram o fator sociocultural<br />
de bastante peso na constituição das<br />
variedades linguísticas no Brasil.<br />
D) à diversidade da língua portuguesa na<br />
România Antiga, que até hoje continua<br />
a existir, manifestando-se nas variantes<br />
linguísticas do português atual no<br />
Brasil.<br />
E) à existência de delimitações dialetais<br />
geográficas pouco marcadas no Brasil,<br />
embora cada um enfatize aspectos<br />
diferentes da questão.<br />
Comentário<br />
(QUESTÃO: AZUL 129, BRANCA 129,<br />
ROSA 129)<br />
Os pontos de vista de Serafim da Silva<br />
Neto e Paul Teyssier convergem quando<br />
ambos afirmam que as delimitações<br />
geográficas não são muito marcadas no<br />
Brasil, o que nos leva a identificar como<br />
correta a alternativa E.<br />
H26 - Relacionar as variedades<br />
lingüísticas a situações<br />
específicas de uso social<br />
01) (2001) O mundo é grande<br />
O mundo é grande e cabe<br />
Nesta janela sobre o mar.<br />
O mar é grande e cabe<br />
Na cama e no colchão de amar.<br />
O amor é grande e cabe<br />
No breve espaço de beijar.<br />
ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e prosa.<br />
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983.<br />
Neste poema, o poeta realizou uma opção<br />
estilística: a reiteração de determinadas<br />
construções e expressões lingüísticas,<br />
como o uso da mesma conjunção para<br />
estabelecer a relação entre as frases.<br />
Essa conjunção estabelece, entre as<br />
idéias relacionadas, um sentido de<br />
A) oposição.<br />
B) comparação.<br />
C) conclusão.<br />
D) alternância.<br />
E) finalidade.<br />
Comentário<br />
Há três elementos repetidos neste trecho:<br />
o verbo ser, o artigo definido o e a conjunção<br />
aditiva e. A conjunção e estabelece uma<br />
relação entre idéias que, concretamente, são<br />
opostas (ex.: "O mundo é grande e cabe<br />
nesta janela sobre o mar"). A alternativa<br />
correta é a letra A.<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão apresenta, para leitura e<br />
análise, o poema "O mundo é grande", onde<br />
os recursos lingüísticos expressivos<br />
utilizados geram um efeito de oposição entre<br />
as idéias. A análise sintático-semântica é<br />
necessária para a compreensão do valor de<br />
oposição assumido pela conjunção "e":<br />
imagens justapostas estão relacionadas,<br />
contrapondo-se em planos diferentes. Um<br />
percentual significativo (46%) de<br />
participantes considerou que o valor da<br />
conjunção "e", nesse poema, é de<br />
comparação, o que não reflete o sentido<br />
estilístico proposto pelo poeta, mas<br />
corresponde apenas à primeira operação que<br />
se realiza para estabelecer o sentido de<br />
oposição. De maneira análoga, pode-se<br />
analisar os equívocos daqueles que optaram<br />
pelas alternativas C e D.<br />
02) (1999) SONETO DE FIDELIDADE<br />
De tudo, ao meu amor serei atento<br />
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto<br />
Que mesmo em face do maior encanto<br />
Dele se encante mais meu pensamento.<br />
Quero vivê-lo em cada vão momento<br />
E em seu louvor hei de espalhar meu<br />
canto<br />
E rir meu riso e derramar meu pranto<br />
Ao seu pesar ou seu contentamento.<br />
E assim, quando mais tarde me procure<br />
483
Quem sabe a morte, angústia de quem<br />
vive<br />
Quem sabe a solidão, fim de quem ama.<br />
Eu possa dizer do meu amor (que tive):<br />
Que não seja imortal, posto que é chama<br />
Mas que seja infinito enquanto dure.<br />
(MORAES, Vinícius de. Antologia poética. São Paulo: Cia<br />
das Letras, 1992).<br />
A palavra mesmo pode assumir diferentes<br />
significados, de acordo com a sua função<br />
na frase. Assinale a alternativa em que o<br />
sentido de mesmo equivale ao que se<br />
verifica no 3º verso da 1ª estrofe do<br />
poema de Vinícius de Moraes.<br />
A) "Pai, para onde fores, / irei também<br />
trilhando as mesmas ruas..." (Augusto<br />
dos Anjos)<br />
B) "Agora, como outrora, há aqui o<br />
mesmo contraste da vida interior, que<br />
é modesta, com a exterior, que é<br />
ruidosa." (Machado de Assis)<br />
C) "Havia o mal, profundo e persistente,<br />
para o qual o remédio não surtiu efeito,<br />
mesmo em doses variáveis."<br />
(Raimundo Faoro)<br />
D) "Mas, olhe cá, Mana Glória, há<br />
mesmo necessidade de fazê-lo<br />
padre?" (Machado de Assis)<br />
E) "Vamos de qualquer maneira, mas<br />
vamos mesmo." (Aurélio)<br />
Comentário<br />
Nessa questão, uma pequena análise<br />
sintática se faz necessária: mesmo, em<br />
ambos os casos, é conjunção subordinativa<br />
concessiva, introduzindo, portanto, uma<br />
oração subordinada cujo fato expresso é<br />
contrário ao da oração principal. Deve-se,<br />
então, recorrer à oração anterior para se ter<br />
certeza quanto à classificação. Grau<br />
moderado de dificuldade.<br />
Comentário do INEP<br />
Este problema buscou colocar o<br />
participante diante de uma situação que<br />
exigia a mobilização de seus mecanismos de<br />
reflexão sobre os processos lingüísticos em<br />
que um significante (uma palavra) assume<br />
diferentes significados, no enunciado, de<br />
acordo com a intenção do enunciador. Neste<br />
caso, além da compreensão da<br />
transformação de significado, é necessária a<br />
alteração de função morfossintática.<br />
Verifica-se que 62% dos participantes<br />
conseguiram identificar e analisar esse<br />
processo lingüístico, comparando a função<br />
do significante em diferentes enunciados.<br />
Isso demonstrou um domínio parcial da<br />
reflexão sobre a Língua Portuguesa, em<br />
diferentes contextos e textos.<br />
Os 18% dos participantes que<br />
assinalaram a alternativa B identificaram a<br />
diferença de significados mas,<br />
provavelmente, têm dificuldades em analisar<br />
estas mudanças em nível morfossintático<br />
(alternativa B).<br />
03) ( 2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />
poema.<br />
A DANÇA E A ALMA<br />
A DANÇA? Não é movimento,<br />
súbito gesto musical.<br />
É concentração, num momento,<br />
da humana graça natural.<br />
No solo não, no éter pairamos,<br />
nele amaríamos ficar.<br />
A dança – não vento nos ramos:<br />
seiva, força, perene estar.<br />
Um estar entre céu e chão,<br />
novo domínio conquistado,<br />
onde busque nossa paixão<br />
libertar-se por todo lado...<br />
Onde a alma possa descrever<br />
suas mais divinas parábolas<br />
sem fugir à forma do ser,<br />
por sobre o mistério das fábulas.<br />
(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />
Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />
A definição de dança, em linguagem de<br />
dicionário, que mais se aproxima do que<br />
está expresso no poema é<br />
A) a mais antiga das artes, servindo como<br />
elemento de comunicação e afirmação<br />
do homem em todos os momentos de<br />
sua existência.<br />
B) a forma de expressão corporal que<br />
ultrapassa os limites físicos,<br />
possibilitando ao homem a liberação de<br />
seu espírito.<br />
C) a manifestação do ser humano,<br />
formada por uma seqüência de gestos,<br />
passos e movimentos desconcertados.<br />
D) o conjunto organizado de movimentos<br />
do corpo, com ritmo determinado por<br />
instrumentos musicais, ruídos, cantos,<br />
emoções etc.<br />
E) o movimento diretamente ligado ao<br />
psiquismo do indivíduo e, por<br />
conseqüência, ao seu desenvolvimento<br />
intelectual e à sua cultura.<br />
Comentário<br />
A pergunta busca a aplicação do conceito<br />
de "estado de dicionário" (que também foi<br />
desenvolvido por Drummond no poema "A<br />
484
Procura da Poesia"). A literatura busca partir<br />
de palavras em estado de dicionário para,<br />
pelo aprofundamento do sentido delas, criar<br />
um mundo mais denso e particular. Em<br />
estado de dicionário, a dança, conforme é<br />
tratada nesse poema, apareceria na<br />
alternativa B: uma justaposição entre<br />
aspectos físicos e espirituais da expressão<br />
humana. Questão complexa.<br />
soltar, beberá toda a água do nosso<br />
planeta. Os tupisguaranis utilizam o<br />
Cut'uxu para se orientar e determinar a<br />
duração das noites e as estações do ano.<br />
A ilustração a seguir é uma representação<br />
dos corpos celestes que constituem a<br />
constelação da Ema, na percepção<br />
indígena.<br />
04) (2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />
poema.<br />
A DANÇA E A ALMA<br />
A DANÇA? Não é movimento,<br />
súbito gesto musical.<br />
É concentração, num momento,<br />
da humana graça natural.<br />
No solo não, no éter pairamos,<br />
nele amaríamos ficar.<br />
A dança – não vento nos ramos:<br />
seiva, força, perene estar.<br />
Um estar entre céu e chão,<br />
novo domínio conquistado,<br />
onde busque nossa paixão<br />
libertar-se por todo lado...<br />
Onde a alma possa descrever<br />
suas mais divinas parábolas<br />
sem fugir à forma do ser,<br />
por sobre o mistério das fábulas.<br />
(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />
Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />
O poema “A Dança e a Alma” é construído<br />
com base em contrastes, como<br />
“movimento” e “concentração”. Em uma<br />
das estrofes, o termo que estabelece<br />
contraste com solo é:<br />
A) éter. D) paixão.<br />
B) seiva. E) ser.<br />
C) chão.<br />
Comentário<br />
O elemento que contrasta com "solo"<br />
(físico, tangível, perene) é "éter" (espiritual,<br />
intangível, volátil). Questão de nível médio de<br />
dificuldade.<br />
05) ( 2008) O surgimento da figura da Ema<br />
no céu, ao leste, no anoitecer, na segunda<br />
quinzena de junho, indica o início do<br />
inverno para os índios do sul do Brasil e o<br />
começo da estação seca para os do norte.<br />
É limitada pelas constelações de<br />
Escorpião e do Cruzeiro do Sul, ou<br />
Cut'uxu. Segundo o mito guarani, o<br />
Cut’uxu segura a cabeça da ave para<br />
garantir a vida na Terra, porque, se ela se<br />
Almanaque BRASIL, maio/2007 (com adaptações).<br />
A próxima figura mostra, em campo de<br />
visão ampliado, como povos de culturas<br />
não-indígenas percebem o espaço estelar<br />
em que a Ema é vista.<br />
Internet: (com adaptações).<br />
Assinale a opção correta a respeito da<br />
linguagem empregada no texto A Ema.<br />
A) A palavra Cut’uxu é um regionalismo<br />
utilizado pelas populações próximas às<br />
aldeias indígenas.<br />
B) O autor se expressa em linguagem<br />
formal em todos os períodos do texto.<br />
C) A ausência da palavra Ema no início do<br />
período “É limitada (...)” caracteriza<br />
registro oral.<br />
D) A palavra Cut’uxu está destacada em<br />
itálico porque integra o vocabulário da<br />
linguagem informal.<br />
E) No texto, predomina a linguagem<br />
coloquial porque ele consta de um<br />
almanaque.<br />
485
Comentário<br />
A questão é simples, mas requer cuidados<br />
quanto aos conceitos de linguagem<br />
“informal”, “formal” e de “língua”. Se o aluno<br />
tiver noção desses conceitos,<br />
chegará facilmente à resposta. A linguagem<br />
formal ou culta prevalece no texto, e o termo<br />
“Cut’uxu’ não é um termo informal, mas, sim,<br />
uma expressão que pertence a uma língua<br />
indígena — o que justifica o emprego da<br />
palavra em itálico. A resposta correta é,<br />
portanto, a letra "B".<br />
06) (2008) Calcula-se que 78% do<br />
desmatamento na Amazônia tenha sido<br />
motivado pela pecuária — cerca de 35%<br />
do rebanho nacional está na região — e<br />
que pelo menos 50 milhões de hectares<br />
de pastos são pouco produtivos. Enquanto<br />
o custo médio para aumentar a<br />
produtividade de 1 hectare de pastagem é<br />
de 2 mil reais, o custo para derrubar igual<br />
área de floresta é estimado em 800 reais,<br />
o que estimula novos desmatamentos.<br />
Adicionalmente, madeireiras retiram as<br />
árvores de valor comercial que foram<br />
abatidas para a criação de pastagens. Os<br />
pecuaristas sabem que problemas<br />
ambientais como esses podem provocar<br />
restrições à pecuária nessas áreas, a<br />
exemplo do que ocorreu em 2006 com o<br />
plantio da soja, o qual, posteriormente, foi<br />
proibido em áreas de floresta.<br />
Época, 3/3/2008 e 9/6/2008 (com adaptações).<br />
486<br />
A partir da situação-problema descrita,<br />
conclui-se que<br />
A) o desmatamento na Amazônia decorre<br />
principalmente da exploração ilegal de<br />
árvores de valor comercial.<br />
B) um dos problemas que os pecuaristas<br />
vêm enfrentando na Amazônia é a<br />
proibição do plantio de soja.<br />
C) a mobilização de máquinas e de força<br />
humana torna o desmatamento mais<br />
caro que o aumento da produtividade<br />
de pastagens.<br />
D) o superavit comercial decorrente da<br />
exportação de carne produzida na<br />
Amazônia compensa a possível<br />
degradação ambiental.<br />
E) a recuperação de áreas desmatadas<br />
e o aumento de produtividade das<br />
pastagens podem contribuir para a<br />
redução do desmatamento na<br />
Amazônia.<br />
Comentário do portal<br />
Essa questão retrata o problema do<br />
desmatamento da Amazônia, relacionado<br />
principalmente com o desenvolvimento da<br />
pecuária na região. Para resolvê-la, foram<br />
necessários a leitura atenta do texto e o<br />
conhecimento sobre os problemas<br />
ambientais da atualidade. A alternativa<br />
correta é a letra E, pois é mais caro para os<br />
pecuaristas aumentar a produtividade do que<br />
as áreas de pasto, o que acarreta o aumento<br />
do desmatamento da Amazônia.<br />
07) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />
preciso, além de conhecer o padrão<br />
formal da Língua Portuguesa, saber<br />
adequar o uso da linguagem ao contexto<br />
discursivo. Para exemplificar este fato,<br />
seu professor de Língua Portuguesa<br />
convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />
Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />
brinca com situações de discurso oral que<br />
fogem à expectativa do ouvinte.<br />
Aí, Galera<br />
Jogadores de futebol podem ser<br />
vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />
você pode imaginar um jogador de futebol<br />
dizendo "estereotipação"? E, no<br />
entanto, por que não?<br />
- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />
galera.<br />
- Minha saudação aos aficionados do<br />
clube e aos demais esportistas, aqui<br />
presentes ou no recesso dos seus lares.<br />
- Como é?<br />
- Aí, galera.<br />
- Quais são as instruções do técnico?<br />
- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />
trabalho de contenção coordenada, com<br />
energia otimizada, na zona de<br />
preparação, aumentam as<br />
probabilidades de, recuperado o<br />
esférico, concatenarmos um contragolpe<br />
agudo com parcimônia de meios e<br />
extrema objetividade, valendo-nos da<br />
desestruturação momentânea do<br />
sistema oposto, surpreendido pela<br />
reversão inesperada do fluxo da ação:<br />
- Ahn?<br />
- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />
pegá eles sem calça.<br />
- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />
coisa?<br />
- Posso dirigir uma mensagem de<br />
caráter sentimental, algo banal, talvez<br />
mesmo previsível e piegas, a uma<br />
pessoa à qual sou ligado por razões,<br />
inclusive, genéticas?
- Pode.<br />
- Uma saudação para a minha<br />
progenitora.<br />
- Como é?<br />
- Alô, mamãe!<br />
- Estou vendo que você é um, um...<br />
- Um jogador que confunde o<br />
entrevistador, pois não corresponde à<br />
expectativa de que o atleta seja um ser<br />
algo primitivo com dificuldade de<br />
expressão e assim sabota a<br />
estereotipação?<br />
- Estereoquê?<br />
- Um chato?<br />
- Isso.<br />
Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />
O texto retrata duas situações<br />
relacionadas que fogem à expectativa do<br />
público. São elas:<br />
A) a saudação do jogador aos fãs do<br />
clube, no início da entrevista, e a<br />
saudação final dirigida à sua mãe.<br />
B) a linguagem muito formal do jogador,<br />
inadequada à situação da entrevista, e<br />
um jogador que fala, com desenvoltura,<br />
de modo muito rebuscado.<br />
C) o uso da expressão "galera", por parte<br />
do entrevistador, e da expressão<br />
"progenitora", por parte do jogador.<br />
D) o desconhecimento, por parte do<br />
entrevistador, da palavra<br />
"estereotipação", e a fala do jogador<br />
em "é pra dividir no meio e ir pra cima<br />
pra pegá eles sem calça".<br />
E) o fato de os jogadores de futebol serem<br />
vítimas de estereotipação e o jogador<br />
entrevistado não corresponder ao<br />
estereótipo.<br />
Comentário<br />
Quando pensamos em certas profissões,<br />
imaginamos qual seria o padrão de<br />
comportamento de quem as exerce. O texto<br />
está trabalhando uma divergência entre o<br />
que esperamos de um jogador de futebol (o<br />
estereótipo que temos dele) e um jogador<br />
que não se enquadra em nossas<br />
expectativas. Levando isso em consideração,<br />
as duas coisas que destoam do que<br />
esperamos encontrar nessa situação são: 1)<br />
alguém, ao dar uma entrevista de alto<br />
alcance popular, fala de maneira<br />
extremamente rebuscada; 2) um jogador que,<br />
ao falar de maneira rebuscada, acaba por<br />
fugir do estereótipo do jogador de futebol, de<br />
quem sempre é esperado algo menos<br />
rebuscado e mais popular.<br />
08) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />
preciso, além de conhecer o padrão<br />
formal da Língua Portuguesa, saber<br />
adequar o uso da linguagem ao contexto<br />
discursivo. Para exemplificar este fato,<br />
seu professor de Língua Portuguesa<br />
convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />
Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />
brinca com situações de discurso oral que<br />
fogem à expectativa do ouvinte.<br />
Aí, Galera<br />
Jogadores de futebol podem ser vítimas<br />
de estereotipação. Por exemplo, você pode<br />
imaginar um jogador de futebol dizendo<br />
"estereotipação"? E, no entanto, por que<br />
não?<br />
- Aí, campeão. Uma palavrinha pra galera.<br />
- Minha saudação aos aficionados do clube<br />
e aos demais esportistas, aqui presentes<br />
ou no recesso dos seus lares.<br />
- Como é?<br />
- Aí, galera.<br />
- Quais são as instruções do técnico?<br />
- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />
trabalho de contenção coordenada, com<br />
energia otimizada, na zona de preparação,<br />
aumentam as probabilidades de,<br />
recuperado o esférico, concatenarmos um<br />
contragolpe agudo com parcimônia de<br />
meios e extrema objetividade, valendo-nos<br />
da desestruturação momentânea do<br />
sistema oposto, surpreendido pela<br />
reversão inesperada do fluxo da ação:<br />
- Ahn?<br />
- É pra dividir no meio e ir pra cima pra pegá<br />
eles sem calça.<br />
- Certo. Você quer dizer mais alguma coisa?<br />
- Posso dirigir uma mensagem de caráter<br />
sentimental, algo banal, talvez mesmo<br />
previsível e piegas, a uma pessoa à qual<br />
sou ligado por razões, inclusive,<br />
genéticas?<br />
- Pode.<br />
- Uma saudação para a minha progenitora.<br />
- Como é?<br />
- Alô, mamãe!<br />
- Estou vendo que você é um, um...<br />
- Um jogador que confunde o entrevistador,<br />
pois não corresponde à expectativa de<br />
que o atleta seja um ser algo primitivo com<br />
dificuldade de expressão e assim sabota a<br />
estereotipação?<br />
- Estereoquê?<br />
- Um chato?<br />
- Isso.<br />
Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />
487
488<br />
O texto mostra uma situação em que a<br />
linguagem usada é inadequada ao<br />
contexto. Considerando as diferenças<br />
entre língua oral e língua escrita, assinale<br />
a opção que representa também uma<br />
inadequação da linguagem usada ao<br />
contexto:<br />
A) "o carro bateu e capotô, mas num deu<br />
pra vê direito" - um pedestre que<br />
assistiu ao acidente comenta com o<br />
outro que vai passando.<br />
B) "E aí, ô meu! Como vai essa força?" -<br />
um jovem que fala para um amigo.<br />
C) "Só um instante, por favor. Eu<br />
gostaria de fazer uma observação" -<br />
alguém comenta em uma reunião de<br />
trabalho.<br />
D) "Venho manifestar meu interesse em<br />
candidatar-me ao cargo de Secretária<br />
Executiva desta conceituada empresa"<br />
- alguém que escreve uma carta<br />
candidatando-se a um emprego.<br />
E) "Porque se a gente não resolve as<br />
coisas como têm que ser, a gente corre<br />
o risco de termos, num futuro próximo,<br />
muito pouca comida nos lares<br />
brasileiros" - um professor universitário<br />
em um congresso internacional.<br />
Comentário<br />
Essa questão está trabalhando com as<br />
nossas expectativas. Esperamos encontrar,<br />
nas diferentes situações, linguagens que<br />
correspondam à formalidade (ou à<br />
informalidade) delas. Na alternativa E, como<br />
o professor universitário está falando em um<br />
congresso internacional, espera-se que ele<br />
utilize uma linguagem mais formal e não uma<br />
linguagem coloquial como a que usou. Em<br />
todas as outras situações, a linguagem está<br />
de acordo com a situação em que está sendo<br />
empregada.<br />
09) (2007) Texto I<br />
Agora Fabiano conseguia arranjar as<br />
idéias. O que o segurava era a família.<br />
Vivia preso como um novilho amarrado ao<br />
mourão, suportando ferro quente. Se não<br />
fosse isso, um soldado amarelo não lhe<br />
pisava o pé não. (...) Tinha aqueles<br />
cambões pendurados ao pescoço.<br />
Deveria continuar a arrastá-los? Sinha<br />
Vitória dormia mal na cama de varas. Os<br />
meninos eram uns brutos, como o pai.<br />
Quando crescessem, guardariam as reses<br />
de um patrão invisível, seriam pisados,<br />
maltratados, machucados por um soldado<br />
amarelo.<br />
Graciliano Ramos. Vidas Secas. São Paulo:<br />
Martins, 23.ª ed., 1969, p. 75.<br />
Texto II<br />
Para Graciliano, o roceiro pobre é um<br />
outro, enigmático, impermeável. Não há<br />
solução fácil para uma tentativa de<br />
incorporação dessa figura no campo da<br />
ficção. É lidando com o impasse, ao invés<br />
de fáceis soluções, que Graciliano vai<br />
criar Vidas Secas, elaborando uma<br />
linguagem, uma estrutura romanesca,<br />
uma constituição de narrador em que<br />
narrador e criaturas se tocam, mas não se<br />
identificam. Em grande medida, o debate<br />
acontece porque, para a intelectualidade<br />
brasileira naquele momento, o pobre, a<br />
despeito de aparecer idealizado em certos<br />
aspectos, ainda é visto como um ser<br />
humano de segunda categoria, simples<br />
demais, incapaz de ter pensamentos<br />
demasiadamente complexos. O que Vidas<br />
Secas faz é, com pretenso não<br />
envolvimento da voz que controla a<br />
narrativa, dar conta de uma riqueza<br />
humana de que essas pessoas seriam<br />
plenamente capazes.<br />
Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes. In:<br />
Teresa. São Paulo: USP, n.° 2, 2001, p. 254.<br />
No texto II, verifica-se que o autor utiliza<br />
A) linguagem predominantemente<br />
formal, para problematizar, na<br />
composição de Vidas Secas, a relação<br />
entre o escritor e o personagem<br />
popular.<br />
B) linguagem inovadora, visto que, sem<br />
abandonar a linguagem formal, dirigese<br />
diretamente ao leitor.<br />
C) linguagem coloquial, para narrar<br />
coerentemente uma história que<br />
apresenta o roceiro pobre de forma<br />
pitoresca.<br />
D) linguagem formal com recursos<br />
retóricos próprios do texto literário em<br />
prosa, para analisar determinado<br />
momento da literatura brasileira.<br />
E) linguagem regionalista, para transmitir<br />
informações sobre literatura, valendose<br />
de coloquialismo, para facilitar o<br />
entendimento do texto.<br />
Comentário<br />
Questão de nível médio. Algumas<br />
alternativas poderiam levar o candidato a<br />
pensar que o texto de Vidas Secas utiliza<br />
uma linguagem predominantemente coloquial<br />
e regionalista. Entretanto, é na alternativa A<br />
que se encontra o real estilo da linguagem<br />
utilizada por Graciliano Ramos. A linguagem<br />
é, portanto, predominantemente formal e<br />
problematiza a relação do escritor com o
personagem popular. Esta acaba sendo uma<br />
das grandes características do autor, pois ele<br />
buscava sempre dar uma grande densidade<br />
psicológica aos seus romances.<br />
<strong>10</strong>) (2006) Depois de um bom jantar: feijão<br />
com carne-seca, orelha de porco e couve<br />
com angu, arroz-mole engordurado, carne<br />
de vento assada no espeto, torresmo<br />
enxuto de toicinho da barriga, viradinho de<br />
milho verde e um prato de caldo de couve,<br />
jantar encerrado por um prato fundo de<br />
canjica com torrões de açúcar, Nhô Tomé<br />
saboreou o café forte e se estendeu na<br />
rede. A mão direita sob a cabeça, à guisa<br />
de travesseiro, o indefectível cigarro de<br />
palha entre as pontas do indicador e do<br />
polegar, envernizados pela fumaça, de<br />
unhas encanoadas e longas, ficou-se de<br />
pança para o ar, modorrento, a olhar para<br />
as ripas do telhado.<br />
Quem come e não deita, a comida não<br />
aproveita, pensava Nhô Tomé... E pôs-se<br />
a cochilar. A sua modorra durou pouco;<br />
Tia Policena, ao passar pela sala, bradou<br />
assombrada:<br />
— Êêh! Sinhô! Vai drumi agora? Não!<br />
Num presta... Dá pisadêra e póde morrê<br />
de ataque de cabeça! Despois do armoço<br />
num far-má... mais despois da janta?!”<br />
Cornélio Pires. Conversas ao pé do fogo. São Paulo:<br />
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1987.<br />
Nesse trecho, extraído de texto publicado<br />
originalmente em 1921, o narrador<br />
A) apresenta, sem explicitar juízos de<br />
valor, costumes da epoca, descrevendo<br />
os pratos servidos no jantar e a atitude<br />
de Nhô Tomé e de Tia Policena.<br />
B) desvaloriza a norma culta da língua<br />
porque incorpora à narrativa usos<br />
próprios da linguagem regional das<br />
personagens.<br />
C) condena os hábitos descritos, dando<br />
voz a Tia Policena, que tenta impedir<br />
Nhô Tomé de deitar-se após as<br />
refeições.<br />
D) utiliza a diversidade sociocultural e<br />
lingüística para demonstrar seu<br />
desrespeito às populações das zonas<br />
rurais do início do século XX.<br />
E) manifesta preconceito em relação a Tia<br />
Policena ao transcrever a fala dela com<br />
os erros próprios da região.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil, pois a alternativa<br />
"A" deixa clara a intencionalidade do<br />
narrador. Entretanto, o aluno poderia optar<br />
pela alternativa "B" caso não desse o devido<br />
valor ao sentido da palavra “desvaloriza”, que<br />
a elimina.<br />
11) (2006) Aula de português<br />
Explorando a função emotiva da<br />
linguagem, o poeta expressa o contraste<br />
entre marcas de variação de usos da<br />
linguagem em<br />
A) situações formais e informais.<br />
B) diferentes regiões do país.<br />
C) escolas literárias distintas.<br />
D) textos técnicos e poéticos.<br />
E) diferentes épocas.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil, pois o próprio título<br />
nos dá uma noção da dificuldade de<br />
transformar a linguagem coloquial e de uso<br />
cotidiano em uma linguagem formal,<br />
expressa no poema como “a misteriosa”.<br />
Drummond foi muito feliz em conseguir<br />
demonstrar a dificuldade em entender como<br />
estruturas simples da língua se tornam tão<br />
complexas ao se iniciar o processo de<br />
compreensão da estrutura lingüística.<br />
489
12) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />
preciso, além de conhecer o padrão<br />
formal da Língua Portuguesa, saber<br />
adequar o uso da linguagem ao contexto<br />
discursivo. Para exemplificar este fato,<br />
seu professor de Língua Portuguesa<br />
convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />
Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />
brinca com situações de discurso oral que<br />
fogem à expectativa do ouvinte.<br />
Aí, Galera<br />
Jogadores de futebol podem ser<br />
vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />
você pode imaginar um jogador de futebol<br />
dizendo "estereotipação"? E, no<br />
entanto, por que não?<br />
- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />
galera.<br />
- Minha saudação aos aficionados do<br />
clube e aos demais esportistas, aqui<br />
presentes ou no recesso dos seus lares.<br />
- Como é?<br />
- Aí, galera.<br />
- Quais são as instruções do técnico?<br />
- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />
trabalho de contenção coordenada, com<br />
energia otimizada, na zona de<br />
preparação, aumentam as<br />
probabilidades de, recuperado o<br />
esférico, concatenarmos um contragolpe<br />
agudo com parcimônia de meios e<br />
extrema objetividade, valendo-nos da<br />
desestruturação momentânea do<br />
sistema oposto, surpreendido pela<br />
reversão inesperada do fluxo da ação:<br />
- Ahn?<br />
- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />
pegá eles sem calça.<br />
- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />
coisa?<br />
- Posso dirigir uma mensagem de<br />
caráter sentimental, algo banal, talvez<br />
mesmo previsível e piegas, a uma<br />
pessoa à qual sou ligado por razões,<br />
inclusive, genéticas?<br />
- Pode.<br />
- Uma saudação para a minha<br />
progenitora.<br />
- Como é?<br />
- Alô, mamãe!<br />
- Estou vendo que você é um, um...<br />
- Um jogador que confunde o<br />
entrevistador, pois não corresponde à<br />
expectativa de que o atleta seja um ser<br />
algo primitivo com dificuldade de<br />
expressão e assim sabota a<br />
estereotipação?<br />
- Estereoquê?<br />
490<br />
- Um chato?<br />
- Isso.<br />
Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />
A expressão "pegá eles sem calça"<br />
poderia ser substituída, sem<br />
comprometimento de sentido, em língua<br />
culta, formal, por:<br />
A) pegá-los na mentira.<br />
B) pegá-los desprevenidos.<br />
C) pegá-los em flagrante.<br />
D) pegá-los rapidamente.<br />
E) pegá-los momentaneamente<br />
Comentário<br />
O trabalho que temos aqui é de<br />
compreensão de sentido. Se você nunca<br />
ouviu a expressão "de calças na mão", terá<br />
de imaginar o que acontece quando<br />
pegamos alguém nessa situação. Mas isso<br />
não basta. Se usar somente situações que<br />
pode imaginar, restarão as alternativas B e<br />
C. Esse problema só será solucionado se<br />
você entender bem o texto a que ele se<br />
refere. Como o jogador está falando em<br />
roubar a bola e partir para cima do adversário<br />
rapidamente, imagina-se que o adversário<br />
não esperava perder a bola naquele<br />
momento e, quando isso ocorreu, ele não<br />
estava preparado para receber um contraataque.<br />
Utilizando essa análise, somente a<br />
alternativa B está correta.<br />
13) (2000) Em uma conversa ou leitura de<br />
um texto, corre-se o risco de atribuir um<br />
significado inadequado a um termo ou<br />
expressão, e isso pode levar a certos<br />
resultados inesperados, como se vê nos<br />
quadrinhos abaixo.<br />
(SOUZA, Maurício de. Chico Bento.<br />
Rio de Janeiro: Ed. Globo, n o 335, Nov./99 )<br />
Nessa historinha, o efeito humorístico<br />
origina-se de uma situação criada pela<br />
fala da Rosinha no primeiro quadrinho,<br />
que é:<br />
A) Faz uma pose bonita!<br />
B) Quer tirar um retrato?<br />
C) Sua barriga está aparecendo!<br />
D) Olha o passarinho!<br />
E) Cuidado com o flash!
Comentário<br />
Quem não se lembra de expressões<br />
humorísticas usadas quando se deseja tirar<br />
uma foto, como "Olha o passarinho" ou "Fale<br />
xis"?<br />
Pois é, essa é uma questão fácil e a<br />
interpretação do texto é simples, e não há<br />
por que ter dúvidas quanto à resposta, a não<br />
ser que não se leia a proposta da questão.<br />
Comentário do INEP<br />
Essa questão procurou avaliar se o<br />
participante conseguia inferir, a partir de uma<br />
seqüência narrativa de imagens, a expressão<br />
lingüística adequada à situação de<br />
interlocução, no caso a fala da personagem,<br />
no primeiro quadrinho. A expressão de uso<br />
coloquial 'olha o passarinho!', dependendo do<br />
contexto, tem diferentes significados, que<br />
nesse caso foram associados pelo cartunista<br />
para produzir o efeito de humor. A grande<br />
maioria - 89% - dos participantes realizou a<br />
inferência solicitada, analisando a função da<br />
linguagem e identificando a variante<br />
lingüística adequada à situação de<br />
interlocução, com base na leitura da<br />
seqüência das imagens e da fala da<br />
personagem no terceiro quadrinho. É<br />
interessante notar a abrangência dessa<br />
expressão metafórica no Brasil, criada no<br />
contexto informal da fala com seus<br />
significados correspondentes. Mesmo assim,<br />
11% dos participantes, possivelmente,<br />
desconhecem essa expressão ou não<br />
conseguiram realizar a transposição do<br />
significado humorístico da fala do último<br />
quadrinho.<br />
14) (2006) Aula de português<br />
No poema, a referência à variedade<br />
padrão da língua está expressa no<br />
seguinte trecho:<br />
A) “A linguagem / na ponta da língua” (v.1<br />
e 2).<br />
B) “A linguagem / na superfície<br />
estrelada de letras” (v.5 e 6).<br />
C) “[a língua] em que pedia para ir lá<br />
fora” (v.14).<br />
D) “[a língua] em que levava e dava<br />
pontapé” (v.15).<br />
E) “[a língua] do namoro com a priminha”<br />
(v.17).<br />
Comentário<br />
Questão fácil, pois a alternativa "B" é a<br />
única que faz menção à norma-padrão da<br />
língua. As demais alternativas fogem a essa<br />
norma.<br />
15) (2005) Leia com atenção o texto:<br />
[Em Portugal], você poderá ter alguns<br />
probleminhas se entrar numa loja de<br />
roupas desconhecendo certas sutilezas da<br />
língua. Por exemplo, não adianta pedir<br />
para ver os ternos — peça para ver os<br />
fatos. Paletó é casaco. Meias são<br />
peúgas. Suéter é camisola — mas não<br />
se assuste, porque calcinhas femininas<br />
são cuecas. (Não é uma delícia?)<br />
(Ruy Castro. Viaje Bem. Ano VIII, no 3, 78.)<br />
O texto destaca a diferença entre o<br />
português do Brasil e o de Portugal<br />
quanto<br />
A) ao vocabulário.<br />
B) à derivação.<br />
C) à pronúncia.<br />
D) ao gênero.<br />
E) à sintaxe.<br />
Comentário<br />
Questão de entendimento muito fácil, pois<br />
o próprio enunciado deixa claro que se trata<br />
das diferenças de vocabulário entre o<br />
português brasileiro e o lusitano.<br />
16) (2008) A Lei Federal n.º 9.985/2000, que<br />
instituiu o sistema nacional de unidades<br />
de conservação, define dois tipos de<br />
áreas protegidas. O primeiro, as unidades<br />
de proteção integral, tem por objetivo<br />
preservar a natureza, admitindo-se<br />
apenas o uso indireto dos seus recursos<br />
naturais, isto é, aquele que não envolve<br />
consumo, coleta, dano ou destruição dos<br />
recursos naturais. O segundo, as<br />
unidades de uso sustentável, tem por<br />
função compatibilizar a conservação da<br />
491
natureza com o uso sustentável de<br />
parcela dos recursos naturais. Nesse<br />
caso, permite-se a exploração do<br />
ambiente de maneira a garantir a<br />
perenidade dos recursos ambientais<br />
renováveis e dos processos ecológicos,<br />
mantendo-se a biodiversidade e os<br />
demais atributos ecológicos, de forma<br />
socialmente justa e economicamente<br />
viável.<br />
Considerando essas informações, analise<br />
a seguinte situação hipotética.<br />
Ao discutir a aplicação de recursos<br />
disponíveis para o desenvolvimento de<br />
determinada região, organizações civis,<br />
universidade e governo resolveram<br />
investir na utilização de uma unidade de<br />
proteção integral, o Parque Nacional do<br />
Morro do Pindaré, e de uma unidade de<br />
uso sustentável, a Floresta Nacional do<br />
Sabiá. Depois das discussões, a equipe<br />
resolveu levar adiante três projetos:<br />
— o projeto I consiste de pesquisas<br />
científicas embasadas exclusivamente<br />
na observação de animais;<br />
— o projeto II inclui a construção de uma<br />
escola e de um centro de vivência;<br />
— o projeto III promove a organização de<br />
uma comunidade extrativista que<br />
poderá coletar e explorar<br />
comercialmente frutas e sementes<br />
nativas.<br />
Nessa situação hipotética, atendendo-se à<br />
lei mencionada acima, é possível<br />
desenvolver tanto na unidade de proteção<br />
integral quanto na de uso sustentável<br />
A) apenas o projeto I.<br />
B) apenas o projeto III.<br />
C) apenas os projetos I e II.<br />
D) apenas os projetos II e III.<br />
E) todos os três projetos.<br />
Comentário do portal<br />
A alternativa correta é a letra "A", pois,<br />
analisando-se a situação hipotética sugerida<br />
no enunciado, percebe-se que ela deverá<br />
atender os requisitos tanto da unidade de<br />
proteção integral quanto da unidade de uso<br />
sustentável. Portanto, apenas o projeto I<br />
poderá ser desenvolvido nessas duas<br />
propostas de unidades.<br />
17) (1999) Leia o texto abaixo.<br />
Cabelos longos, brinco na orelha<br />
esquerda, físico de skatista. Na aparência,<br />
o estudante brasiliense Rui Lopes Viana<br />
Filho, de 16 anos, não lembra em nada o<br />
estereótipo dos gênios. Ele não usa<br />
492<br />
pesados óculos de grau e está longe de<br />
ter um ar introspectivo. No final do mês<br />
passado, Rui retornou de Taiwan, onde<br />
enfrentou 419 competidores de todo o<br />
mundo na 39ª Olimpíada Internacional de<br />
Matemática. A reluzente medalha de ouro<br />
que ele trouxe na bagagem está<br />
dependurada sobre a cama de seu quarto,<br />
atulhado de rascunhos dos problemas<br />
matemáticos que aprendeu a decifrar nos<br />
últimos cinco anos.<br />
Veja – Vencer uma olimpíada serve de<br />
passaporte para uma carreira profissional<br />
meteórica?<br />
Rui – Nada disso. Decidi me dedicar à<br />
Olimpíada porque sei que a concorrência<br />
por um emprego é cada vez mais<br />
selvagem e cruel. Agora tenho algo a mais<br />
para oferecer. O problema é que as coisas<br />
estão mudando muito rápido e não sei<br />
qual será minha profissão. Além de ser<br />
muito novo para decidir sobre o meu<br />
futuro profissional, sei que esse conceito<br />
de carreira mudou muito.<br />
(Entrevista de Rui Lopes Viana Filho à Veja,<br />
05/08/1998, n.31, p. 9-<strong>10</strong>)<br />
Na pergunta, o repórter estabelece uma<br />
relação entre a entrada do estudante no<br />
mercado de trabalho e a vitória na<br />
Olimpíada. O estudante<br />
A) concorda com a relação e afirma que o<br />
desempenho na Olimpíada é<br />
fundamental para sua entrada no<br />
mercado.<br />
B) discorda da relação e complementa<br />
que é fácil se fazer previsões sobre o<br />
mercado de trabalho.<br />
C) discorda da relação e afirma que seu<br />
futuro profissional independe de<br />
dedicação aos estudos.<br />
D) discorda da relação e afirma que seu<br />
desempenho só é relevante se<br />
escolher uma profissão relacionada à<br />
matemática.<br />
E) concorda em parte com a relação e<br />
complementa que é complexo fazer<br />
previsões sobre o mercado de trabalho.<br />
Comentário<br />
Não é difícil de se chegar à resposta<br />
correta ao se ler a reportagem. Ao final do<br />
último parágrafo — (...) Além de ser muito<br />
novo para decidir sobre o meu futuro<br />
profissional, sei que esse conceito de carreira<br />
mudou muito. —, o estudante praticamente<br />
fornece a resposta à questão, declarando-se<br />
realista ao não tentar prever seu futuro<br />
profissional devido à pouca idade e às
mudanças no mercado de trabalho. Quanto a<br />
concordar parcialmente com o repórter, veja<br />
que ele, apesar de negar que o prêmio fosse<br />
uma garantia de sucesso profissional, logo<br />
depois afirma que, com ele, terá algo mais a<br />
oferecer ao mercado. Questão de nível fácil.<br />
Comentário do INEP<br />
Nesta situação-problema, o participante<br />
deveria demonstrar que compreendeu as<br />
premissas de um discurso, distinguindo a<br />
diferença de significado de palavras isoladas<br />
ou no contexto em que estão inseridas.<br />
Verificou-se que mais da metade dos<br />
participantes demonstrou possuir essa<br />
compreensão. Aqueles que optaram pelas<br />
alternativas C e D podem ter sido atraídos<br />
pelo significado negativo da expressão inicial<br />
"Nada disso".<br />
romântico a ponto de chorar ao jurar amor<br />
não existe. Tanto Macedo quanto<br />
Bandeira alertam as mulheres dizendo,<br />
com palavras e estilos diferentes, que não<br />
há homem que chore por amor (portanto,<br />
essa figura é uma idealização — e, por<br />
conseguinte, toda imagem que se tem<br />
sobre os relacionamentos<br />
demasiadamente românticos). Note que<br />
Bandeira chega até mesmo a chamar tal<br />
"chorão" de ator ("...É lágrima de cinema /<br />
É tapeação..."). Macedo dá uma imagem<br />
pesada às lágrimas ("...são gotas da<br />
mentira...").<br />
19) (1999)<br />
18) (1998) Texto 1<br />
"Mulher, Irmã, escuta-me: não ames,<br />
Quando a teus pés um homem terno e<br />
curvo<br />
jurar amor, chorar pranto de sangue,<br />
Não creias, não, mulher: ele te engana!<br />
As lágrimas são gotas da mentira<br />
E o juramento manto da perfídia."<br />
(Joaquim Manoel de Macedo)<br />
Texto 2<br />
"Teresa, se algum sujeito bancar o<br />
sentimental em cima de você<br />
E te jurar uma paixão do tamanho de um<br />
bonde<br />
Se ele chorar<br />
Se ele ajoelhar<br />
Se ele se rasgar todo<br />
Não acredite não Teresa<br />
É lágrima de cinema<br />
É tapeação<br />
Mentira<br />
CAI FORA"<br />
(Manuel Bandeira)<br />
Os autores, ao fazerem alusão às<br />
imagens da lágrima sugerem que:<br />
A) há um tratamento idealizado da<br />
relação homem/mulher.<br />
B) há um tratamento realista da relação<br />
homem/mulher.<br />
C) a relação familiar é idealizada.<br />
D) a mulher é superior ao homem.<br />
E) a mulher é igual ao homem.<br />
Comentário<br />
Ambos os autores, ao utilizarem a<br />
imagem da lágrima, estão na realidade<br />
mostrando que a figura do homem que é<br />
(QUINO. Mafalda inédita. São Paulo: Martins Fontes, 1993)<br />
Observando as falas das personagens,<br />
analise o emprego do pronome SE e o<br />
sentido que adquire no contexto. No<br />
contexto da narrativa, é correto afirmar<br />
que o pronome SE:<br />
A) em I, indica reflexividade e equivale a<br />
"a si mesmas".<br />
B) em II, indica reciprocidade e equivale a<br />
"a si mesma".<br />
C) em III, indica reciprocidade e equivale<br />
a "umas às outras".<br />
D) em I e III, indica reciprocidade e<br />
equivale a "umas às outras".<br />
E) em II e III, indica reflexividade e<br />
equivale a "a si mesma " e "a si<br />
mesmas", respectivamente.<br />
Comentário<br />
Mais uma questão que fala por si própria.<br />
Lendo o segundo quadrinho — "Quer dizer<br />
que você também se ama muito mais no<br />
Natal?" —, é fácil de se identificar o pronome<br />
reflexivo. Basta que se troque se ama por<br />
ama a si mesma. O mesmo ocorre no<br />
terceiro quadrinho em "Por que será que as<br />
pessoas se amam muito mais no Natal?" —<br />
Por que será que as pessoas amam a si<br />
mesmas? Questão de grau fácil.<br />
Comentário do INEP<br />
Este problema requeria que o participante<br />
mobilizasse conhecimentos sobre os<br />
significados de "reciprocidade e<br />
493
"reflexividade" e o associasse à<br />
compreensão de linguagem iconográfica.<br />
Cerca de metade dos participantes<br />
demonstrou essa capacidade. A opção de<br />
30% dos participantes pela alternativa D<br />
pode indicar que eles utilizaram as imagens<br />
apenas como ilustração do texto e não como<br />
linguagem capaz de instituir novos<br />
significados.<br />
20) (2001) Os provérbios constituem um<br />
produto da sabedoria popular e, em geral,<br />
pretendem transmitir um ensinamento. A<br />
alternativa em que os dois provérbios<br />
remetem a ensinamentos semelhantes é:<br />
A) “Quem diz o que quer, ouve o que não<br />
quer” e “Quem ama o feio, bonito lhe<br />
parece”.<br />
B) “Devagar se vai ao longe” e “De grão<br />
em grão, a galinha enche o papo”.<br />
C) “Mais vale um pássaro na mão do que<br />
dois voando” e “Não se deve atirar<br />
pérolas aos porcos”.<br />
D) “Quem casa quer casa” e “Santo de<br />
casa não faz milagre”.<br />
E) “Quem com ferro fere, com ferro será<br />
ferido” e “Casa de ferreiro, espeto de<br />
pau”.<br />
Comentário<br />
Questão fácil. A alternativa B apresenta<br />
dois provérbios que tratam de paciência,<br />
perseverança. A mensagem é a mesma em<br />
ambos.<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão propõe uma série de<br />
provérbios agrupados aos pares, para que o<br />
participante demonstre compreender e<br />
comparar os provérbios de modo a identificar<br />
aqueles que traduzem ensinamentos<br />
semelhantes. A organização sintáticosemântica<br />
dos provérbios cria um efeito de<br />
sentido metafórico que deve ser recuperado,<br />
analisado e comparado, o que foi<br />
corretamente feito por cerca de 80% dos<br />
participantes.<br />
21) (2006) No romance Vidas Secas, de<br />
Graciliano Ramos, o vaqueiro Fabiano<br />
encontra-se com o patrão para receber o<br />
salário. Eis parte da cena:<br />
Graciliano Ramos. Vidas Secas. 91.ª ed.<br />
Rio de Janeiro: Record, 2003.<br />
No fragmento transcrito, o padrão formal<br />
da linguagem convive com marcas de<br />
regionalismo e de coloquialismo no<br />
vocabulário. Pertence à variedade do<br />
padrão formal da linguagem o seguinte<br />
trecho:<br />
A) Não se conformou: devia haver<br />
engano (l.1).<br />
B) Fabiano perdeu os estribos (l.3).<br />
C) Passar a vida inteira assim no toco<br />
(l.4).<br />
D) Entregando o que era dele de mao<br />
beijada! (l.4-5).<br />
E) Aí Fabiano baixou a pancada e<br />
amunhecou (l.11).<br />
Comentário do portal<br />
Questão de nível fácil. Bastaria que o<br />
candidato conhecesse o padrão formal da<br />
linguagem e distinguisse-o do regionalismo e<br />
do coloquialismo.<br />
22) (2005) As dimensões continentais do<br />
Brasil são objeto de reflexões expressas<br />
em diferentes linguagens. Esse tema<br />
aparece no seguinte p"Narizinho correu os<br />
olhos pela assistência. Não podia haver nada<br />
mais curioso. Besourinhos de oema:<br />
“(....)<br />
Que importa que uns falem mole<br />
descansado<br />
Que os cariocas arranhem os erres na<br />
garganta<br />
Que os capixabas e paroaras escancarem<br />
as vogais?<br />
Que tem se o quinhentos réis meridional<br />
Vira cinco tostões do Rio pro Norte?<br />
Junto formamos este assombro de<br />
misérias e grandezas,<br />
Brasil, nome de vegetal! (....)”<br />
(Mário de Andrade. Poesias completas. 6. ed. São Paulo:<br />
Martins Editora, 1980.)<br />
494
O texto poético ora reproduzido trata das<br />
diferenças brasileiras no âmbito<br />
A) étnico e religioso.<br />
B) lingüístico e econômico.<br />
C) racial e folclórico.<br />
D) histórico e geográfico.<br />
E) literário e popular.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil, pois a primeira<br />
estrofe, ao enunciar os erres arranhados dos<br />
cariocas e as vogais abertas dos capixabas,<br />
evidencia a diferença lingüística entre duas<br />
regiões distintas do Brasil, dando noção da<br />
variedade. Já na segunda estrofe, as<br />
diferenças econômicas são evidenciadas ao<br />
se mostrarem os réis e tostões variando da<br />
Região Meridional para a Norte.<br />
23) (202) "Narizinho correu os olhos pela<br />
assistência. Não podia haver nada mais<br />
curioso. Besourinhos de fraque e flores na<br />
lapela conversavam com baratinhas de<br />
mantilha e miosótis nos cabelos. Abelhas<br />
douradas, verdes e azuis, falavam mal<br />
das vespas de cintura fina — achando que<br />
era exagero usarem coletes tão<br />
apertados. Sardinhas aos centos<br />
criticavam os cuidados excessivos que as<br />
borboletas de toucados de gaze tinham<br />
com o pó das suas asas. Mamangavas de<br />
ferrões amarrados para não morderem. E<br />
canários cantando, e beija-flores beijando<br />
flores, e camarões camaronando, e<br />
caranguejos caranguejando, tudo que é<br />
pequenino e não morde, pequeninando e<br />
não mordendo."<br />
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. São Paulo:<br />
Brasiliense, 1947.<br />
No último período do trecho, há uma série<br />
de verbos no gerúndio que contribuem<br />
para caracterizar o ambiente fantástico<br />
descrito. Expressões como<br />
"camaronando", "caranguejando" e<br />
"pequeninando e não mordendo" criam,<br />
principalmente, efeitos de<br />
A) esvaziamento de sentido.<br />
B) monotonia do ambiente.<br />
C) estaticidade dos animais.<br />
D) interrupção dos movimentos.<br />
E) dinamicidade do cenário.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. O dinamismo dos<br />
verbos no gerúndio tem como função<br />
principal dar vida às personagens do mundo<br />
fantástico. Não há estagnação. Cada animal<br />
faz o que lhe cabe.<br />
Comentário do INEP<br />
Essa questão apresenta para leitura e<br />
análise um trecho da obra Reinações de<br />
Narizinho, de Monteiro Lobato, e, nele, a<br />
descrição reflete as fantasias do mundo<br />
infantil. A questão propõe que seja resolvido<br />
um problema de linguagem, que é a<br />
identificação dos sentidos criados no texto<br />
pelo emprego de vários verbos no gerúndio,<br />
alguns dos quais, neologismos criados pelo<br />
autor. Como o texto é uma descrição, temos<br />
o relato de um ambiente que se agita com as<br />
ações simultâneas dos muitos seres que o<br />
habitam. Cabe ao participante perceber que<br />
o efeito dinâmico é criado pelos verbos de<br />
ação no gerúndio, que é a forma verbal da<br />
ação se fazendo. Ou seja, é função típica do<br />
gerúndio traduzir a noção de uma ação que<br />
se desenvolve de modo simultâneo à sua<br />
enunciação. Nesse ambiente retratado por<br />
Monteiro Lobato, os bichinhos humanizados<br />
se agitam, lembrando um burburinho de<br />
crianças. Apenas a alternativa E, assinalada<br />
por 36% dos participantes, responde<br />
corretamente a questão. As outras<br />
alternativas contemplam efeitos ou<br />
significados que, apesar de eventualmente<br />
serem transmitidos pelo emprego do<br />
gerúndio, não se verificam no texto.<br />
24) (1999) Considere os textos abaixo.<br />
(...) de modo particular, quero encorajar os<br />
crentes empenhados no campo da<br />
filosofia para que iluminem os diversos<br />
âmbitos da atividade humana, graças ao<br />
exercício de uma razão que se torna mais<br />
segura e perspicaz com o apoio que<br />
recebe da fé.<br />
(Papa João Paulo II. Carta Encíclica Fides<br />
et Ratio aos bispos da igreja católica sobre as relações<br />
entre fé e razão, 1998)<br />
As verdades da razão natural não<br />
contradizem as verdades da fé cristã.<br />
(São Tomás de Aquino<br />
–pensador medieval)<br />
Refletindo sobre os textos, pode-se<br />
concluir que:<br />
A) a encíclica papal está em contradição<br />
com o pensamento de São Tomás de<br />
Aquino, refletindo a diferença de<br />
épocas.<br />
B) a encíclica papal procura<br />
complementar São Tomás de Aquino,<br />
pois este colocava a razão natural<br />
acima da fé.<br />
495
496<br />
C) a Igreja medieval valorizava a razão<br />
mais do que a encíclica de João Paulo<br />
II.<br />
D) o pensamento teológico teve sua<br />
importância na Idade Média, mas, em<br />
nossos dias, não tem relação com o<br />
pensamento filosófico.<br />
E) tanto a encíclica papal como a frase<br />
de São Tomás de Aquino procuram<br />
conciliar os pensamentos sobre fé e<br />
razão.<br />
Comentário<br />
Nessa questão, é necessária uma<br />
releitura do texto para que se tenha uma<br />
melhor compreensão do tema. Tanto a<br />
citação do Papa quanto a de São Tomás de<br />
Aquino tentam criar uma interdependência<br />
entre a ciência e a fé, a religião. O Papa<br />
incentiva aqueles que exercem a pesquisa<br />
científica ou filosófica a manter a fé cristã.<br />
São Tomás de Aquino, por sua vez, equipara<br />
o avanço da ciência ao aumento da própria<br />
fé, afirmando que a razão natural não<br />
contradiz a fé cristã. Se um cresce, cresce<br />
também o outro, em harmonia e sem<br />
contradições. Questão de grau médio.<br />
(Português)<br />
Nessa questão, encontramos dois textos:<br />
o primeiro, do século XX, foi elaborado pelo<br />
Papa João Paulo II; o segundo, do século<br />
XIII, pelo teólogo e filósofo cristão São<br />
Tomás de Aquino. O conteúdo de ambos se<br />
refere à ligação entre fé e razão, a qual<br />
esteve presente na filosofia escolástica da<br />
Idade Média. Esse campo de reflexão buscou<br />
conciliar o cristianismo com o pensamento de<br />
Aristóteles e teve em São Tomás de Aquino<br />
seu maior representante.<br />
Mesmo sem ter todas essas informações,<br />
você poderia responder tranqüilamente à<br />
questão por meio de uma leitura atenta dos<br />
dois textos, chegando à conclusão de que<br />
"tanto a encíclica papal como a frase de São<br />
Tomás de Aquino procuram conciliar os<br />
pensamentos sobre fé e razão". Resposta<br />
correta: alternativa E. (História)<br />
Comentário do INEP<br />
Para resolver esta situação-problema, o<br />
participante deveria mostrar que, além de<br />
interpretar textos, sabe relacioná-los sendo<br />
que, nesse item, essas operações referem-se<br />
a um texto escrito na época medieval e a<br />
outro escrito recentemente.<br />
Mais de 70% dos participantes<br />
demonstraram facilidade em estabelecer esta<br />
relação.<br />
25) (2008) Assinale a opção que apresenta<br />
um verso do soneto de Cláudio Manoel da<br />
Costa em que o poeta se dirige ao seu<br />
interlocutor.<br />
A) “Torno a ver-vos, ó montes; o<br />
destino” (v.1)<br />
B) “Aqui estou entre Almendro, entre<br />
Corino,” (v.5)<br />
C) “Os meus fiéis, meus doces<br />
companheiros,” (v.6)<br />
D) “Vendo correr os míseros vaqueiros”<br />
(v.7)<br />
E) “Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto,”<br />
(v.11)<br />
Comentário<br />
Nesta questão, basta que o aluno<br />
identifique o pronome oblíquo, presente no<br />
verso um, que chama o leitor para o texto.<br />
Sendo assim, a resposta correta é a letra "A".<br />
26) (2008)<br />
Dick Browne. O melhor de Hagar, o horrível, v. 2. L&PM<br />
pocket, p.55-6 (com adaptações).<br />
Assinale o trecho do diálogo que<br />
apresenta um registro informal, ou<br />
coloquial, da linguagem.<br />
A) “Tá legal, espertinho! Onde é que<br />
você esteve?!”<br />
B) “E lembre-se: se você disser uma<br />
mentira, os seus chifres cairão!”<br />
C) “Estou atrasado porque ajudei uma<br />
velhinha a atravessar a rua...”<br />
D) “...e ela me deu um anel mágico que<br />
me levou a um tesouro”<br />
E) “mas bandidos o roubaram e os<br />
persegui até a Etiópia, onde um<br />
dragão...”<br />
Comentário<br />
Linguagem coloquial é aquela usada no<br />
cotidiano, que tem como característica<br />
principal a oralidade, ou seja, aquela que não<br />
segue o rigor da norma culta.<br />
Entre as alternativas da questão, apenas<br />
a letra "A" apresenta esses traços.
27) (1999) Leia um texto publicado no jornal<br />
Gazeta Mercantil. Esse texto é parte de<br />
um artigo que analisa algumas situações<br />
de crise no mundo, entre elas, a quebra<br />
da Bolsa de Nova Iorque em 1929, e foi<br />
publicado na época de uma iminente crise<br />
financeira no Brasil.<br />
Deu no que deu. No dia 29 de outubro de<br />
1929, uma terça-feira, praticamente não<br />
havia compradores no pregão de Nova<br />
Iorque, só vendedores. Seguiu-se uma<br />
crise incomparável: o Produto Interno<br />
Bruto dos Estados Unidos caiu de <strong>10</strong>4<br />
bilhões de dólares em 1929, para 56<br />
bilhões em 1933, coisa inimaginável em<br />
nossos dias. O valor do dólar caiu a quase<br />
metade. O desemprego elevou-se de 1,5<br />
milhão para 12,5 milhões de trabalhadores<br />
– cerca de 25% da população ativa –<br />
entre 1929 e 1933. A construção civil caiu<br />
90%. Nove milhões de aplicações, tipo<br />
caderneta de poupança, perderam-se com<br />
o fechamento dos bancos. Oitenta e cinco<br />
mil firmas faliram. Houve saques e norteamericanos<br />
que passaram fome.<br />
(Gazeta Mercantil, 05/01/1999)<br />
Ao citar dados referentes à crise ocorrida<br />
em 1929, em um artigo jornalístico atual,<br />
pode-se atribuir ao jornalista a seguinte<br />
intenção:<br />
A) questionar a interpretação da crise.<br />
B) comunicar sobre o desemprego.<br />
C) instruir o leitor sobre aplicações em<br />
bolsa de valores.<br />
D) relacionar os fatos passados e<br />
presentes.<br />
E) analisar dados financeiros americanos.<br />
Comentário<br />
Nessa questão, o que se tem de fazer é<br />
prestar atenção às alternativas das<br />
respostas. Nenhuma delas se apresenta tão<br />
bem contextualizada a uma possível<br />
interpretação quanto a letra D. Partindo-se da<br />
análise do texto, fica claro que a intenção do<br />
artigo é remeter o leitor ao passado para<br />
tentar conduzi-lo a uma reflexão sobre uma<br />
situação presente, não mencionada na<br />
questão. Após a leitura e utilizando-se a já<br />
citada eliminação de questões, torna-se clara<br />
a resposta. Questão de nível médio.<br />
(Português)<br />
Muitas vezes, quando procuramos<br />
entender uma crise econômica ou financeira<br />
de grandes proporções, buscamos<br />
estabelecer relações com crises passadas. O<br />
mesmo ocorre no jornalismo, como prova o<br />
texto encontrado nessa questão. Buscando<br />
entender uma crise ocorrida no início de<br />
1999, o jornalista da Gazeta Mercantil<br />
buscou relacionar a situação dessa época<br />
com a grande crise de 1929 que afetou o<br />
mundo, trazendo desemprego e recessão,<br />
entre tantos outros problemas econômicos e<br />
sociais.<br />
Para responder a essa questão, era<br />
necessário ler atentamente o enunciado, em<br />
que está destacado que "o texto é parte de<br />
um artigo que analisa algumas situações de<br />
crise no mundo" e "foi publicado na época de<br />
uma iminente crise financeira no Brasil". Era<br />
importante também observar a data em que o<br />
artigo foi publicado: 05/01/1999. A partir<br />
dessas constatações, facilmente você<br />
chegaria a conclusão de que a intenção do<br />
jornalista era "relacionar os fatos passados e<br />
presentes". Resposta correta: alternativa D.<br />
(História)<br />
Comentário do INEP<br />
A resolução da questão demandava a<br />
capacidade dos participantes de relacionar<br />
eventos históricos envolvendo crises<br />
econômicas ocorridas em épocas e lugares<br />
distintos. Aproximadamente 2/3 deles<br />
demonstraram essa capacidade. Os demais,<br />
provavelmente, não compreenderam a<br />
exigência expressa no enunciado do<br />
problema – apontar as razões pelas quais um<br />
jornalista traz à tona eventos ocorridos<br />
setenta anos antes –, e apenas interpretaram<br />
o sentido do texto citado, que descreve a<br />
crise mundial de 1929.<br />
28) (2000) “Precisa-se nacionais sem<br />
nacionalismo, (...) movidos pelo presente<br />
mas estalando naquele cio racial que só<br />
as tradições maduram! (...). Precisa-se<br />
gentes com bastante meiguice no<br />
sentimento, bastante força na peitaria,<br />
bastante paciência no entusiasmo e<br />
sobretudo, oh! sobretudo bastante<br />
vergonha na cara!<br />
(...) Enfim: precisa-se brasileiros! Assim<br />
está escrito no anúncio vistoso de cores<br />
desesperadas pintado sobre o corpo do<br />
nosso Brasil, camaradas.”<br />
(Jornal A Noite, São Paulo, 18/12/1925 apud LOPES, Telê<br />
Porto Ancona. Mário<br />
de Andrade: ramais e caminhos. São Paulo: Duas<br />
Cidades, 1972)<br />
No trecho acima, Mário de Andrade dá<br />
forma a um dos itens do ideário<br />
modernista, que é o de firmar a feição de<br />
uma língua mais autêntica, “brasileira”, ao<br />
497
expressar-se numa variante de linguagem<br />
popular identificada pela (o):<br />
A) escolha de palavras como cio, peitaria,<br />
vergonha.<br />
B) emprego da pontuação.<br />
C) repetição do adjetivo bastante.<br />
D) concordância empregada em Assim<br />
está escrito.<br />
E) escolha de construção do tipo<br />
precisa-se gentes.<br />
Comentário<br />
Apesar de essa questão misturar vários<br />
tipos de informação, se você se lembra um<br />
pouquinho dos usos da partícula se, com<br />
certeza não encontrará grande dificuldade.<br />
Segundo a regra gramatical, o verbo<br />
"precisa-se" deveria ir para o plural<br />
(precisam-se), mas essa noção de verbo<br />
concordante com o sujeito há muito<br />
desapareceu na variante popular brasileira.<br />
Mas, caso você não se lembre muito bem<br />
desse assunto ou ficou meio confuso com o<br />
texto e as outras alternativas, o caminho é<br />
responder por eliminação.<br />
A primeira alternativa apresenta palavras<br />
comuns no português brasileiro, mas<br />
nenhuma "invenção" nacional. Na dúvida,<br />
pense em "vergonha": não é uma invenção<br />
brasileira. Todos os que falam português no<br />
mundo conhecem bem essa palavra. A<br />
pontuação no texto não chama nenhuma<br />
atenção. Você provavelmente não viu nada<br />
de estranho nela. Da mesma forma, o<br />
"bastante" da terceira alternativa não é nada<br />
mais que um mecanismo de retórica, usado<br />
para dar ênfase à idéia. Com o "Assim está<br />
escrito", encontramos a mesma situação: um<br />
trecho litúrgico é usado para maior ênfase.<br />
Comentário do INEP<br />
A questão procurou avaliar se o<br />
participante era capaz de, a partir da leitura<br />
de um texto de Mário de Andrade , identificar<br />
e analisar uma variante lingüística de uso<br />
coloquial, utilizadas estilisticamente pelo<br />
autor. O uso estilístico das variantes marcou<br />
a primeira fase da literatura brasileira<br />
modernista. O trecho destaca em seu todo<br />
esse uso da linguagem popular. A escolha da<br />
construção 'precisa-se gentes' é marca desse<br />
uso estilístico. O índice de 37% na alternativa<br />
(A) demonstra, possivelmente, que os<br />
participantes não consideraram a escolha<br />
dos vocábulos, dentro do contexto do texto,<br />
confundindo as palavras que aparecem na<br />
alternativa com '...a feição de uma língua<br />
mais autêntica...'.O percentual de acertos foi<br />
da ordem de 40%.<br />
498<br />
29) (2004) O poema abaixo pertence à<br />
poesia concreta brasileira. O termo latino<br />
de seu título significa "epitalâmio", poema<br />
ou canto em homenagem aos que se<br />
casam.<br />
Considerando que símbolos e sinais são<br />
utilizados geralmente para demonstrações<br />
objetivas, ao serem incorporados no<br />
poema "Epithalamium - II".<br />
A) adquirem novo potencial de<br />
significação.<br />
B) eliminam a subjetividade do poema.<br />
C) opõem-se ao tema principal do poema.<br />
D) invertem seu sentido original.<br />
E) tornam-se confusos e equivocados.<br />
Comentário<br />
Diferentemente, por exemplo, da<br />
aplicação matemática dos símbolos, em que<br />
sinais como "=", "+", "-", "x", etc. servem<br />
como convenções internacionais de<br />
significação objetiva e invariável, em um<br />
poema como "Epithalamium – II" foram<br />
usados símbolos que não são convenções<br />
internacionais, mas, sim, convencionados<br />
apenas para esse texto. No caso, letras do<br />
alfabeto deixam de ser representações de<br />
sons (fonemas) para ganharem nova<br />
significação, principalmente pela construção<br />
visual do poema: unem homem (h) e mulher<br />
(e) pela ação da serpente (s) — libido,<br />
atração — em uma entidade única.<br />
Uma das tendências poéticas da segunda<br />
metade do século XX, resultado de um<br />
diálogo com estéticas já presentes no final do<br />
século XIX, trabalha com a construção de<br />
seu próprio referente, fazendo do poema um<br />
objeto autônomo.<br />
30) (2002) O autor da tira utilizou os<br />
princípios de composição de um<br />
conhecido movimento artístico para<br />
representar a necessidade de um mesmo<br />
observador aprender a considerar,<br />
simultaneamente, diferentes pontos de<br />
vista.
E)<br />
Das obras reproduzidas, todas de autoria<br />
do pintor espanhol Pablo Picasso, aquela<br />
em cuja composição foi adotado um<br />
procedimento semelhante é:<br />
A)<br />
B)<br />
C)<br />
D)<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. O movimento<br />
artístico que previa considerar<br />
simultaneamente diversos pontos de vista<br />
era o Cubismo. Havia a desconstrução da<br />
forma para que se pudesse ver todos os<br />
ângulos concomitantemente. O único quadro<br />
que apresenta essas características é o da<br />
alternativa E. As outras quatro alternativas<br />
pressupõem a manutenção da forma.<br />
Comentário do INEP<br />
O objetivo desta questão é levar o<br />
participante a refletir sobre características<br />
fundamentais de um movimento artístico – o<br />
cubismo – a partir de dados visuais:<br />
quadrinhos e pinturas. A reprodução de dois<br />
quadrinhos da personagem Calvin forneceu<br />
para o participante informações básicas para<br />
a análise que deveria fazer das alternativas<br />
apresentadas. Segundo os quadrinhos, o<br />
movimento artístico abordado pela questão<br />
tinha como procedimento de composição<br />
representar, para um mesmo observador,<br />
diferentes pontos de vista, fazendo com que<br />
"o tradicional único ponto de vista" fosse<br />
abandonado e com que a perspectiva fosse<br />
fraturada. A análise das obras de Picasso<br />
reproduzidas nas alternativas permite que o<br />
participante reconheça a adoção desse<br />
procedimento no quadro "Marie-Thérèse<br />
apoiada no cotovelo" (alternativa E, com 46%<br />
de registros), no qual se pode reconhecer a<br />
representação de diferentes pontos de vista<br />
a partir dos quais é apresentado o rosto da<br />
mulher retratada.<br />
31) (2001) Oxímoro (ou paradoxo) é uma<br />
construção textual que agrupa significados<br />
que se excluem mutuamente. Para<br />
Garfield, a frase de saudação de Jon<br />
(tirinha abaixo) expressa o maior de todos<br />
os oxímoros.<br />
499
Folha de S. Paulo. 31 de julho de 2000.<br />
Nas alternativas abaixo, estão transcritos<br />
versos retirados do poema “O operário em<br />
construção”. Pode-se afirmar que ocorre<br />
um oxímoro em<br />
A) "Era ele que erguia casas<br />
Onde antes só havia chão."<br />
B) "... a casa que ele fazia<br />
Sendo a sua liberdade<br />
Era a sua escravidão."<br />
C) "Naquela casa vazia<br />
Que ele mesmo levantara<br />
Um mundo novo nascia<br />
De que sequer suspeitava."<br />
D) "... o operário faz a coisa<br />
E a coisa faz o operário."<br />
E) "Ele, um humilde operário<br />
Um operário que sabia<br />
Exercer a profissão."<br />
MORAES, Vinícius de. Antologia Poética. São Paulo:<br />
Companhia das Letras, 1992.<br />
Comentário<br />
Idéias que se completam e se excluem<br />
mutuamente são encontradas na alternativa<br />
B: a casa que ele construía era, ao mesmo<br />
tempo, sua liberdade e sua escravidão.<br />
A casa é um símbolo de liberdade para o<br />
homem. Para o homem operário, é também<br />
símbolo de escravidão, pois ele está<br />
"condenado" a jamais usufruir do resultado<br />
do seu trabalho (a casa que faz não é para<br />
ele).<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão propõe ao participante que<br />
estabeleça uma relação entre linguagens,<br />
associando a compreensão de um efeito<br />
semântico produzido pelo uso do oxímoro<br />
nos quadrinhos com o mesmo efeito num<br />
texto poético. O índice (18%) de escolhas da<br />
alternativa D deve-se, possivelmente, a uma<br />
análise parcial da noção de paradoxo,<br />
confundida com inversão.<br />
Sobre a temática dos “Retirantes”,<br />
Portinari também escreveu o seguinte<br />
poema:<br />
(....)<br />
Os retirantes vêm vindo com trouxas e<br />
embrulhos<br />
Vêm das terras secas e escuras;<br />
pedregulhos<br />
Doloridos como fagulhas de carvão aceso<br />
Corpos disformes, uns panos sujos,<br />
Rasgados e sem cor, dependurados<br />
Homens de enorme ventre bojudo<br />
Mulheres com trouxas caídas para o lado<br />
Pançudas, carregando ao colo um garoto<br />
Choramingando, remelento<br />
(....)<br />
(Cândido Portinari. Poemas. Rio de Janeiro:<br />
J. Olympio, 1964.)<br />
Das quatro obras reproduzidas, assinale<br />
aquelas que abordam a problemática que<br />
é tema do poema.<br />
A) 1 e 2 D) 3 e 4<br />
B) 1 e 3 E) 2 e 4<br />
C) 2 e 3<br />
Comentário<br />
O poema apresenta correspondência com<br />
as imagens ao descrever com detalhes a<br />
figura do retirante: pobre, mal vestido,<br />
carregando trouxas e embrulhos.<br />
32) (2005) Cândido Portinari (1903-1962), um<br />
dos mais importantes artistas brasileiros<br />
do século XX, tratou de diferentes<br />
aspectos da nossa realidade em seus<br />
quadros.<br />
33) (2003) No ano passado, o governo<br />
promoveu uma campanha a fim de reduzir<br />
os índices de violência. Noticiando o fato,<br />
um jornal publicou a seguinte manchete:<br />
500
CAMPANHA CONTRA A VIOLÊNCIA DO<br />
GOVERNO DO ESTADO ENTRA EM NOVA<br />
FASE<br />
A manchete tem um duplo sentido, e isso<br />
dificulta o entendimento. Considerando o<br />
objetivo da notícia, esse problema poderia<br />
ter sido evitado com a seguinte redação:<br />
A) Campanha contra o governo do Estado<br />
e a violência entram em nova fase.<br />
B) A violência do governo do Estado entra<br />
em nova fase de Campanha.<br />
C) Campanha contra o governo do Estado<br />
entra em nova fase de violência.<br />
D) A violência da campanha do governo<br />
do Estado entra em nova fase.<br />
E) Campanha do governo do Estado<br />
contra a violência entra em nova fase.<br />
Comentário<br />
O objetivo da questão é eliminar a<br />
ambigüidade da notícia de jornal, que,<br />
originalmente, trazia duas idéias: de acordo<br />
com a primeira, o governo queria combater a<br />
violência, e a segunda ressaltava que o<br />
governo era violento. Nessa questão,<br />
era preciso eliminar a segunda possibilidade<br />
de leitura.<br />
34) (2004)<br />
A polifonia, variedade de vozes, presente<br />
no poema resulta da manifestação do<br />
A) poeta e do colonizador apenas.<br />
B) colonizador e do negro apenas.<br />
C) negro e do índio apenas.<br />
D) colonizador, do poeta e do negro<br />
apenas.<br />
E) poeta, do colonizador, do índio e do<br />
negro.<br />
Comentário<br />
A questão apresenta uma certa<br />
dificuldade, pois, à primeira vista, parecem<br />
confundir-se as vozes do colonizador, do<br />
negro e do índio. Entretanto, os<br />
travessões existentes no poema explicitam<br />
as falas das personagens ao mostrar que<br />
não são apenas as vozes do poeta e do<br />
colonizador que estão presentes. As falas do<br />
índio e do negro são proferidas por eles,<br />
marca expressa pelo discurso direto. A<br />
presença dessa modalidade de discurso<br />
indica a reprodução literal do que as<br />
personagens disseram.<br />
Um ponto interessante em relação a essa<br />
questão é a intertextualidade. O índio<br />
aparece no poema pela remissão a um texto<br />
poético do nosso Romantismo, em um<br />
processo intertextual com “I-Juca-Pirama”, de<br />
Gonçalves Dias; e a presença do negro se dá<br />
pela ligação com Mário de Andrade, em<br />
Macunaíma. Entende-se, portanto, que a<br />
alternativa correta é a letra E.<br />
35) (2002) "A palavra tatuagem é<br />
relativamente recente. Toda a gente sabe<br />
que foi o navegador Cook que a introduziu<br />
no Ocidente, e esse escrevia tattou, termo<br />
da Polinésia de tatou ou tu tahou,<br />
'desenho'.<br />
(...) Desde os mais remotos tempos,<br />
vemo-la a transformar-se: distintivo<br />
honorífico entre uns homens, ferrete de<br />
ignomínia entre outros, meio de assustar o<br />
adversário para os bretões, marca de uma<br />
classe de selvagens das ilhas marquesas<br />
(...) sinal de amor, de desprezo, de ódio<br />
(...). Há três casos de tatuagem no Rio,<br />
completamente diversos na sua<br />
significação moral: os negros,os turcos<br />
com o fundo religioso e o bando de<br />
meretrizes, dos rufiões e dos humildes,<br />
que se marcam por crime ou por<br />
ociosidade".<br />
RIO, João do. Os Tatuadores. Revista Kosmos.<br />
1904, apud: A alma encantadora das ruas,<br />
SP: Cia das Letras, 1999.<br />
Com base no texto são feitas as seguintes<br />
afirmações:<br />
I. João do Rio revela como a tatuagem já<br />
estava presente na cidade do Rio de<br />
Janeiro, pelo menos desde o início do<br />
século XX, e era mais utilizada por<br />
alguns setores da população.<br />
II. A tatuagem, de origem polinésia,<br />
difundiu-se no ocidente com a<br />
característica que permanece até hoje:<br />
utilização entre os jovens com função<br />
estritamente estética.<br />
III. O texto mostra como a tatuagem é<br />
uma prática que se transforma no<br />
tempo e que alcança inúmeros sentidos<br />
nos diversos setores das sociedades e<br />
para as diferentes culturas.<br />
501
Está correto o que se afirma apenas em<br />
A) I D) I e II<br />
B) II E) I e III<br />
C) III<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Constata-se o<br />
seguinte: a tatuagem já existia no Brasil no<br />
início do século XX (o texto é de 1904 e parte<br />
dele se refere ao Rio do Janeiro) e era<br />
utilizada em diferentes setores da sociedade.<br />
A afirmação de que as tatuagens possuem<br />
apenas finalidade estética entre os jovens<br />
elimina a segunda alternativa. Já a última<br />
alternativa confirma as transformações das<br />
funções da tatuagem ao longo do tempo nas<br />
mais diversas sociedades e culturas.<br />
Comentário do INEP<br />
O texto estabelece uma relação entre a<br />
atualidade da palavra "tatuagem" e a<br />
antiguidade do uso de desenhos como<br />
pintura corporal. Focaliza uma prática social<br />
bastante difundida que adquiriu aspectos e<br />
conotações diversos nos diferentes contextos<br />
históricos e geográficos em que ela pode ser<br />
descrita. Fazendo a descrição da prática da<br />
tatuagem, como uma manifestação comum a<br />
diferentes culturas, e que adquire, inclusive,<br />
significados diferentes dentro de uma mesma<br />
cultura, induz o participante a refletir sobre a<br />
"diversidade dos patrimônios etnoculturais e<br />
artísticos", contextualizando ao mesmo<br />
tempo seus significados "em diferentes<br />
sociedades, épocas e lugares". Ao retomar<br />
as várias origens e usos da tatuagem, o<br />
participante é levado a compreender e<br />
respeitar uma gramática histórica dos<br />
costumes marcada sempre por semelhanças<br />
e diferenças. A questão não exigia, portanto,<br />
nenhum conhecimento prévio sobre as<br />
diferentes formas de manifestação dessa<br />
prática, mas simplesmente constatar, com o<br />
autor do texto citado, a historicidade e a<br />
diversidade das práticas sociais. Os<br />
participantes que assinalaram a alternativa C<br />
(36%), possivelmente, não levaram em<br />
consideração informações do texto. A<br />
questão foi corretamente respondida por 37%<br />
dos participantes.<br />
36) (2004)<br />
Nesta tirinha, a personagem faz referência<br />
a uma das mais conhecidas figuras de<br />
linguagem para<br />
A) condenar a prática de exercícios físicos<br />
B) valorizar aspectos da vida moderna.<br />
C) desestimular o uso das bicicletas.<br />
D) caracterizar o diálogo entre as<br />
gerações.<br />
E) criticar a falta de perspectiva do pai.<br />
Comentário<br />
A construção indica a falta de perspectiva<br />
na vida do pai do personagem. “Pedalar sem<br />
sair do lugar” é uma metáfora muito usada na<br />
cultura brasileira para expressar como é a<br />
vida de uma pessoa que age de forma a não<br />
conseguir qualquer mudança — para melhor<br />
ou para pior — na vida.<br />
37) (2004) As questões de números 26 e 27<br />
referem-se ao poema abaixo.<br />
Entre os recursos expressivos<br />
empregados no texto, destaca-se a<br />
A) metalinguagem, que consiste em fazer<br />
a linguagem referir-se à própria<br />
linguagem.<br />
B) intertextualidade, na qual o texto<br />
retoma e reelabora outros textos.<br />
C) ironia, que consiste em se dizer o<br />
contrário do que se pensa, com<br />
intenção crítica.<br />
D) denotação, caracterizada pelo uso das<br />
palavras em seu sentido próprio e<br />
objetivo.<br />
E) prosopopéia, que consiste em<br />
personificar coisas inanimadas,<br />
atribuindo-lhes vida.<br />
Comentário<br />
A questão trata de um texto de Carlos<br />
Drummond de Andrade em que ele fala sobre<br />
o crescimento urbano e a pobreza que esse<br />
processo traz. Para tanto, o poeta utiliza uma<br />
linguagem irônica, revelando o lado oculto do<br />
desenvolvimento. Dessa forma, temos como<br />
correta a alternativa C.<br />
502
38) (2007) Antigamente<br />
Acontecia o indivíduo apanhar<br />
constipação; ficando perrengue, mandava<br />
o próprio chamar o doutor e, depois, ir à<br />
botica para aviar a receita, de cápsulas ou<br />
pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />
phtísica, feia era o gálico. Antigamente, os<br />
sobrados tinham assombrações, os<br />
meninos, lombrigas (...)<br />
Carlos Drummond de Andrade. Poesia completa e prosa.<br />
Rio de Janeiro: Companhia José Aguilar, p. 1.184.<br />
O texto acima está escrito em linguagem<br />
de uma época passada. Observe uma<br />
outra versão, em linguagem atual.<br />
Antigamente<br />
Acontecia o indivíduo apanhar um<br />
resfriado; ficando mal, mandava o próprio<br />
chamar o doutor e, depois, ir à farmácia<br />
para aviar a receita, de cápsulas ou<br />
pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />
tuberculose, feia era a sífilis. Antigamente,<br />
os sobrados tinham assombrações, os<br />
meninos, vermes (...)<br />
Comparando-se esses dois textos,<br />
verifica-se que, na segunda versão, houve<br />
mudanças relativas a<br />
A) vocabulário.<br />
B) construções sintáticas.<br />
C) pontuação.<br />
D) fonética.<br />
E) regência verbal.<br />
Comentário<br />
Questão fácil. O aluno deveria comparar<br />
os dois textos e verificar as alterações<br />
realizadas na segunda versão apresentada.<br />
Nesse momento, fica evidente a mudança de<br />
vocabulário, o que indica a alternativa A<br />
como a correta.<br />
39) (2001) Nas conversas diárias, utiliza-se<br />
freqüentemente a palavra “próprio” e ela<br />
se ajusta a várias situações. Leia os<br />
exemplos de diálogos:<br />
I - A Vera se veste diferente!<br />
- É mesmo, é que ela tem um estilo<br />
próprio.<br />
II - A Lena já viu esse filme uma dezena<br />
de vezes! Eu não consigo ver o<br />
que ele tem de tão maravilhoso assim.<br />
- É que ele é próprio para adolescente.<br />
III - Dora, o que eu faço? Ando tão<br />
preocupada com o Fabinho! Meu filho<br />
está impossível!<br />
- Relaxa, Tânia! É próprio da idade.<br />
Com o tempo, ele se acomoda.<br />
Nas ocorrências I, II e III, “próprio” é<br />
sinônimo de, respectivamente,<br />
A) adequado, particular, típico.<br />
B) peculiar, adequado, característico.<br />
C) conveniente, adequado, particular.<br />
D) adequado, exclusivo, conveniente.<br />
E) peculiar, exclusivo, característico.<br />
Comentário<br />
Para responder a essa pergunta,<br />
substitua, nos trechos, a palavra próprio<br />
pelos possíveis equivalentes apresentados<br />
nas alternativas. Questão simples que pode<br />
ser resolvida por eliminação.<br />
Comentário do INEP<br />
Nesta questão são apresentados três<br />
textos em que uma mesma palavra é<br />
utilizada com sentidos diferentes. O problema<br />
consiste em observar a variedade de uso de<br />
um mesmo termo e as possibilidades de sua<br />
compreensão, estabelecendo uma relação<br />
comparativa com base em uma análise<br />
semântica. Cerca de metade (49%) dos<br />
participantes estabeleceu essa relação de<br />
maneira correta. Os participantes que<br />
assinalaram a alternativa D (21%),<br />
possivelmente isolaram o termo do contexto,<br />
gerando um equívoco entre "adequado" e<br />
"exclusivo".<br />
40) (2003) Do pedacinho de papel ao livro<br />
impresso vai uma longa distância. Mas o<br />
que o escritor quer, mesmo, é isso: ver o<br />
seu texto em letra de forma. A gaveta é<br />
ótima para aplacar a fúria criativa; ela faz<br />
amadurecer o texto da mesma forma que<br />
a adega faz amadurecer o vinho. Em<br />
certos casos, a cesta de papel é melhor<br />
ainda.<br />
O período de maturação na gaveta é<br />
necessário, mas não deve se prolongar<br />
muito. ‘Textos guardados acabam<br />
cheirando mal’, disse Silvia Plath, (...) que,<br />
com esta frase, deu testemunho das<br />
dúvidas que atormentam o escritor:<br />
publicar ou não publicar? guardar ou jogar<br />
fora?<br />
(Moacyr Scliar. O escritor e seus desafios.)<br />
503
Nesse texto, o escritor Moacyr Scliar usa<br />
imagens para refletir sobre uma etapa da<br />
criação literária. A idéia de que o processo<br />
de maturação do texto nem sempre é o<br />
que garante bons resultados está sugerida<br />
na seguinte frase:<br />
A) "A gaveta é ótima para aplacar a fúria<br />
criativa."<br />
B) "Em certos casos, a cesta de papel é<br />
melhor ainda."<br />
C) "O período de maturação na gaveta é<br />
necessário, (...)."<br />
D) "Mas o que o escritor quer, mesmo, é<br />
isso: ver o seu texto em letra de forma."<br />
E) "ela (a gaveta) faz amadurecer o texto<br />
da mesma forma que a adega faz<br />
amadurecer o vinho."<br />
Comentário<br />
Essa questão exigia a interpretação das<br />
frases. A palavra NEM no enunciado exclui<br />
todas as alternativas que tratam do<br />
amadurecimento ou da importância da<br />
gaveta para o bom sucesso da produção<br />
literária.<br />
A alternativa B é a única que apresenta<br />
um procedimento alternativo para a produção<br />
textual, ou seja, o lixo, e significa a liberdade<br />
do escritor em começar,<br />
interromper, recomeçar ou simplesmente<br />
abandonar a obra, permitindo a ele exercer<br />
seu livre-arbítrio.<br />
41) (2007)<br />
Aqui na floresta<br />
Dos ventos batida,<br />
Façanhas de bravos<br />
Não geram escravos,<br />
Que estimem a vida<br />
Sem guerra e lidar.<br />
— Ouvi-me, Guerreiros,<br />
— Ouvi meu cantar.<br />
O canto do guerreiro<br />
Valente na guerra,<br />
Quem há, como eu sou?<br />
Quem vibra o tacape<br />
Com mais valentia?<br />
Quem golpes daria<br />
Fatais, como eu dou?<br />
— Guerreiros, ouvi-me;<br />
— Quem há, como eu sou?<br />
Gonçalves Dias.<br />
Macunaíma<br />
(Epílogo)<br />
Acabou-se a história e morreu a vitória.<br />
Não havia mais ninguém lá. Dera<br />
tangolomângolo na tribo Tapanhumas e<br />
os filhos dela se acabaram de um em um.<br />
Não havia mais ninguém lá. Aqueles<br />
lugares, aqueles campos, furos<br />
puxadouros arrastadouros meiosbarrancos,<br />
aqueles matos misteriosos,<br />
tudo era solidão do deserto... Um silêncio<br />
imenso dormia à beira do rio Uraricoera.<br />
Nenhum conhecido sobre a terra não<br />
sabia nem falar da tribo nem contar<br />
aqueles casos tão pançudos. Quem podia<br />
saber do Herói?<br />
Mário de Andrade.<br />
504<br />
Considerando-se a linguagem desses dois<br />
textos, verifica-se que<br />
A) a função da linguagem centrada no<br />
receptor está ausente tanto no primeiro<br />
quanto no segundo texto.<br />
B) a linguagem utilizada no primeiro texto<br />
é coloquial, enquanto, no segundo,<br />
predomina a linguagem formal.<br />
C) há, em cada um dos textos, a<br />
utilização de pelo menos uma palavra<br />
de origem indígena.<br />
D) a função da linguagem, no primeiro<br />
texto, centra-se na forma de<br />
organização da linguagem e, no<br />
segundo, no relato de informações<br />
reais.<br />
E) a função da linguagem centrada na<br />
primeira pessoa, predominante no<br />
segundo texto, está ausente no<br />
primeiro.<br />
Comentário<br />
Questão de nível médio. Essa é uma<br />
questão que foca a linguagem dos textos, e<br />
cada qual em seu gênero (poesia e prosa,<br />
respectivamente). O aluno chega à<br />
conclusão que a alternativa correta é a C por<br />
meio da exclusão das demais alternativas.<br />
A resposta correta não é a A, pois há um<br />
receptor que pode ser percebido nas<br />
seguintes perguntas contidas no texto:<br />
Texto 1 – “Guerreiros, ouvi-me;/Quem há,<br />
como eu sou?”<br />
Texto 2 – “Quem podia saber do herói?”<br />
Também não é a alternativa B, pois o<br />
conteúdo dos textos não é discriminatório. No<br />
primeiro texto, há uma idealização do índio e,<br />
no segundo, há uma realidade crítica e<br />
satírica da sociedade.<br />
A alternativa D é excluída, porque o<br />
segundo texto não fala de uma realidade, já<br />
que Macunaíma é um herói fictício e nãoreal.<br />
Por fim, também está errada a alternativa<br />
E. Isso porque não temos no epílogo do texto<br />
de Macunaíma a linguagem centrada na<br />
primeira pessoa, mas sim, na terceira.<br />
42) (2003) Eu começaria dizendo que poesia<br />
é uma questão de linguagem. A<br />
importância do poeta é que ele torna mais<br />
viva a linguagem. Carlos Drummond de<br />
Andrade escreveu um dos mais belos<br />
versos da língua portuguesa com duas<br />
palavras comuns: cão e cheirando.<br />
Um cão cheirando o futuro<br />
(Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP, 24/05/1988.<br />
adaptação)
O que deu ao verso de Drummond o<br />
caráter de inovador da língua foi<br />
A) o modo raro como foi tratado o<br />
"futuro".<br />
B) a referência ao cão como "animal de<br />
estimação".<br />
C) a flexão pouco comum do verbo<br />
"cheirar" (gerúndio).<br />
D) a aproximação não usual do agente<br />
citado e a ação de "cheirar".<br />
E) o emprego do artigo indefinido "um" e<br />
do artigo definido "o" na mesma frase.<br />
Comentário<br />
O fato de Drummond identificar o futuro<br />
como algo que pode ser percebido por um<br />
animal irracional por meio do olfato foi<br />
inovador. A figura de linguagem foi<br />
construída metaforicamente: o futuro torna-se<br />
uma coisa que tem cheiro, contrariamente à<br />
imagem pela qual ele normalmente é<br />
representado: como algo que não se vê e<br />
não se pode pressentir ou tocar.<br />
43) (2002) Só falta o Senado aprovar o<br />
projeto de lei [sobre o uso de termos<br />
estrangeiros no Brasil] para que palavras<br />
como shopping center , delivery e drivethrough<br />
sejam proibidas em nomes de<br />
estabelecimentos e marcas. Engajado<br />
nessa valorosa luta contra o inimigo<br />
ianque, que quer fazer área de livre<br />
comércio com nosso inculto e belo idioma,<br />
venho sugerir algumas outras medidas<br />
que serão de extrema importância para a<br />
preservação da soberania nacional, a<br />
saber:<br />
........<br />
Nenhum cidadão carioca ou gaúcho<br />
poderá dizer "Tu vai" em espaços públicos<br />
do território nacional;<br />
Nenhum cidadão paulista poderá dizer "Eu<br />
lhe amo" e retirar ou acrescentar o plural<br />
em sentenças como "Me vê um chopps e<br />
dois pastel";<br />
..........<br />
Nenhum dono de borracharia poderá<br />
escrever cartaz com a palavra "borraxaria"<br />
e nenhum dono de banca de jornal<br />
anunciará "Vende-se cigarros";<br />
..........<br />
Nenhum livro de gramática obrigará os<br />
alunos a utilizar colocações pronominais<br />
como "casar-me-ei" ou "ver-se-ão".<br />
PIZA, Daniel. Uma proposta imodesta. O Estado de<br />
S. Paulo, São Paulo, 8/04/2001.<br />
No texto acima, o autor:<br />
A) mostra-se favorável ao teor da<br />
proposta por entender que a língua<br />
portuguesa deve ser protegida contra<br />
deturpações de uso.<br />
B) ironiza o projeto de lei ao sugerir<br />
medidas que inibam determinados usos<br />
regionais e socioculturais da língua.<br />
C) denuncia o desconhecimento de regras<br />
elementares de concordância verbal e<br />
nominal pelo falante brasileiro.<br />
D) revela-se preconceituoso em relação a<br />
certos registros lingüísticos ao propor<br />
medidas que os controlem.<br />
E) defende o ensino rigoroso da gramática<br />
para que todos aprendam a empregar<br />
corretamente os pronomes.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. O autor ironiza o<br />
projeto de lei que proíbe o uso de<br />
estrangeirismos no Brasil. Não adianta criarse<br />
uma expectativa ou preocupação em<br />
relação ao uso de termos estrangeiros na<br />
língua e esquecer-se de que a língua é um<br />
organismo vivo, mutável. A dinâmica de uma<br />
língua não pode ser regida por preceitos<br />
legais como quer o projeto.<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão reproduz trechos de um<br />
texto que aborda o polêmico projeto de<br />
proibição de uso de termos estrangeiros no<br />
Brasil. A partir da leitura atenta do texto de<br />
Daniel Piza, o participante é levado a refletir<br />
sobre a postura adotada pelo autor em<br />
relação ao referido projeto. Para<br />
compreender esse texto, o participante<br />
precisa reconhecer o tom irônico que marca<br />
as observações e sugestões feitas por seu<br />
autor. Assim, Daniel Piza, "engajado nessa<br />
valorosa luta contra o inimigo ianque", sugere<br />
a proibição de algumas formas lingüísticas de<br />
uso corrente que contrariam recomendações<br />
da gramática normativa. O participante deve<br />
reconhecer que, com sugestões como essas,<br />
Daniel Piza deixa implícita uma crítica à<br />
utilidade do projeto de proibição dos<br />
estrangeirismos como forma de proteger a<br />
Língua Portuguesa. Nesse contexto, a ironia<br />
torna-se mais clara, bem como o mecanismo<br />
textual que a constrói. Feito tal<br />
reconhecimento, o aluno encontra a resposta<br />
correta na alternativa B, assinalada por cerca<br />
da metade dos participantes. Nenhuma outra<br />
alternativa contempla o aspecto irônico,<br />
essencial para a compreensão do texto.<br />
505
44) (2003) Pequenos tormentos da vida<br />
De cada lado da sala de aula, pelas janelas<br />
altas, o azul convida os meninos,<br />
as nuvens desenrolam-se, lentas como quem<br />
vai inventando<br />
preguiçosamente uma história sem fim...Sem<br />
fim é a aula: e nada acontece,<br />
nada...Bocejos e moscas. Se ao menos,<br />
pensa Margarida, se ao menos um<br />
avião entrasse por uma janela e saísse por<br />
outra!<br />
(Mário Quintana. Poesias)<br />
Na cena retratada no texto, o sentimento<br />
do tédio<br />
A) provoca que os meninos fiquem<br />
contando histórias.<br />
B) leva os alunos a simularem bocejos,<br />
em protesto contra a monotonia da<br />
aula.<br />
C) acaba estimulando a fantasia,<br />
criando a expectativa de algum<br />
imprevisto mágico.<br />
D) prevalece de modo absoluto,<br />
impedindo até mesmo a distração ou o<br />
exercício do pensamento.<br />
E) decorre da morosidade da aula, em<br />
contraste com o movimento acelerado<br />
das nuvens e das moscas.<br />
Comentário<br />
Essa questão aborda o imaginário<br />
decorrente do marasmo trazido pela escola.<br />
O texto enfatiza o arrastar do tempo na<br />
mente de uma aluna, Margarida, que se põe<br />
a pensar em fatos mágicos ou imaginários<br />
que pudessem romper com a lentidão da<br />
aula.<br />
45) (200) O autor do texto abaixo critica,<br />
ainda que em linguagem metafórica, a<br />
sociedade contemporânea em relação aos<br />
seus hábitos alimentares.<br />
“Vocês que têm mais de 15 anos, se<br />
lembram quando a gente comprava leite<br />
em garrafa, na leiteria da esquina? (...)<br />
Mas vocês não se lembram de nada,<br />
pô! Vai ver nem sabem o que é vaca. Nem<br />
o que é leite. Estou falando isso porque<br />
agora mesmo peguei um pacote de leite –<br />
leite em pacote, imagina, Tereza! – na<br />
porta dos fundos e estava escrito que é<br />
pasterizado, ou pasteurizado, sei lá, tem<br />
vitamina, é garantido pela<br />
embromatologia, foi enriquecido e o<br />
escambau. Será que isso é mesmo leite?<br />
No dicionário diz que leite é outra coisa:<br />
‘Líquido branco, contendo água,<br />
proteína, açúcar e sais minerais’. Um<br />
alimento pra ninguém botar defeito. O ser<br />
humano o usa há mais de 5.000 anos. É o<br />
único alimento só alimento. A carne serve<br />
pro animal andar, a fruta serve pra fazer<br />
outra fruta, o ovo serve pra fazer outra<br />
galinha (...) O leite é só leite. Ou toma ou<br />
bota fora. Esse aqui examinando bem, é<br />
só pra botar fora. Tem chumbo, tem<br />
benzina, tem mais água do que leite, tem<br />
serragem, sou capaz de jurar que nem<br />
vaca tem por trás desse negócio. Depois o<br />
pessoal ainda acha estranho que os<br />
meninos não gostem de leite.<br />
Mas, como não gostam? Não gostam<br />
como? Nunca tomaram! Múúúúúúú!”<br />
(FERNANDES, Millôr. O Estado de S. Paulo ,<br />
22 de agosto de 1999)<br />
A palavra embromatologia usada pelo<br />
autor é:<br />
A) um termo científico que significa estudo<br />
dos bromatos.<br />
B) uma composição do termo de gíria<br />
“embromação” (enganação) com<br />
bromatologia, que é o estudo dos<br />
alimentos.<br />
C) uma junção do termo de gíria<br />
“embromação” (enganação) com<br />
lactologia, que é o estudo das<br />
embalagens para leite.<br />
D) um neologismo da química orgânica<br />
que significa a técnica de retirar<br />
bromatos dos laticínios.<br />
E) uma corruptela de termo da<br />
agropecuária que significa a ordenha<br />
mecânica.<br />
Comentário<br />
É necessário para a resolução desta<br />
questão:<br />
- perceber que o texto critica o exagerado<br />
uso de substâncias artificiais nos<br />
alimentos;<br />
- conhecer o significado da gíria embromar e<br />
da palavra bromatologia.<br />
Conhecendo esses significados, você<br />
elimina todas as alternativas erradas: a, c, d<br />
e e.<br />
Você poderá ter dúvida quanto à<br />
alternativa c, que também será eliminada se<br />
souber o significado da palavra lactologia,<br />
que é o estudo do leite e produtos lácteos e<br />
não das embalagens para leite.<br />
Nesta questão, são trabalhados os<br />
conceitos de interpretação de texto, formação<br />
de palavras e conhecimentos gerais.<br />
506
Comentário do INEP<br />
A resolução da questão requeria que o<br />
participante, ao ler o texto vinculasse o<br />
significado de um termo de gíria -<br />
"embromação" - com o da palavra<br />
bromatologia. A resposta correta exigia que o<br />
participante não abrisse mão do sabor<br />
picante contido na linguagem metafórica,<br />
sabor vinculado ao conhecimento específico<br />
contido na palavra bromatologia. Cerca da<br />
metade dos participantes (51%) optou pela<br />
alternativa correta e, os 20% que escolheram<br />
a alternativa C, provavelmente associaram a<br />
referência feita no texto à leite em pacote.<br />
46) (2005) O termo (ou expressão)<br />
destacado que está empregado em seu<br />
sentido próprio, denotativo ocorre em:<br />
A) “(....)<br />
É de laço e de nó<br />
De gibeira o jiló<br />
Dessa vida, cumprida a sol (....)”<br />
(Renato Teixeira. Romaria. Kuarup Discos.<br />
setembro de 1992.)<br />
B) “Protegendo os inocentes<br />
é que Deus, sábio demais,<br />
põe cenários diferentes<br />
nas impressões digitais.”<br />
(Maria N. S. Carvalho. Evangelho da Trova. /s.n.b.)<br />
C) “O dicionário-padrão da língua e os<br />
dicionários unilíngües são os tipos mais<br />
comuns de dicionários. Em nossos<br />
dias, eles se tornaram um objeto de<br />
consumo obrigatório para as nações<br />
civilizadas e desenvolvidas.”<br />
(Maria T. Camargo Biderman.<br />
O dicionário-padrão da língua. Alfa (28), 2743, 1974 Supl.)<br />
Comentário<br />
A definição do dicionário-padrão da língua<br />
utiliza o sentido denotativo da palavra para<br />
explicar o uso de determinado tipo de<br />
dicionário. Em todas as outras alternativas,<br />
as palavras estão sendo empregadas em<br />
sentido metafórico. Na letra A, "cumprida a<br />
sol" pode mostrar o sofrimento e a solidão.<br />
Na alternativa B, "cenários diferentes" são as<br />
diferenças físicas encontradas nas<br />
impressões digitais. Na letra D, "bateria" é o<br />
termo usado para expressar a "energia" do<br />
Menino Maluquinho, que nunca acaba. Por<br />
fim, na alternativa E, "fazer cócegas no<br />
raciocínio" significa expressar graça por meio<br />
de idéias, fazendo com que o cérebro ache<br />
um fato divertido e, por conseguinte, faça<br />
com que a pessoa ria como se sofresse um<br />
ataque de cócegas.<br />
47) (2008) Os signos visuais, como meios de<br />
comunicação, são classificados em<br />
categorias de acordo com seus<br />
significados.<br />
A categoria denominada indício<br />
corresponde aos signos visuais que têm<br />
origem em formas ou situações naturais<br />
ou casuais, as quais, devido à ocorrência<br />
em circunstâncias idênticas, muitas vezes<br />
repetidas, indicam algo e adquirem<br />
significado. Por exemplo, nuvens negras<br />
indicam tempestade. Com base nesse<br />
conceito, escolha a opção que representa<br />
um signo da categoria dos indícios.<br />
A)<br />
D)<br />
B)<br />
E) “Humorismo é a arte de fazer cócegas<br />
no raciocínio dos outros. Há duas<br />
espécies de humorismo: o trágico e o<br />
cômico. O trágico é o que não<br />
consegue fazer rir; o cômico é o que é<br />
verdadeiramente trágico para se fazer.”<br />
(Leon Eliachar. www.mercadolivre.com.br.<br />
acessado em julho de 2005.)<br />
C)<br />
507
508<br />
D)<br />
E)<br />
Comentário<br />
Trata-se de uma questão interpretativa. O<br />
aluno precisa entender o que é “indício” para<br />
respondê-la. Segundo o dicionário Aurélio,<br />
indício é o mesmo que “sinal, vestígio,<br />
indicação”. Das figuras apresentadas,<br />
apenas a alternativa B indica algo: a<br />
passagem de alguém por algum lugar —<br />
pegada.<br />
48) (1999)<br />
Diante da visão de um prédio com uma<br />
placa indicando SAPATARIA PAPALIA,<br />
um jovem deparou com a dúvida: como<br />
pronunciar a palavra PAPALIA?<br />
Levado o problema à sala de aula, a<br />
discussão girou em torno da utilidade de<br />
conhecer as regras de acentuação e,<br />
especialmente, do auxílio que elas podem<br />
dar à correta pronúncia de palavras.<br />
Após discutirem pronúncia, regras de<br />
acentuação e escrita, três alunos<br />
apresentaram as seguintes conclusões a<br />
respeito da palavra PAPALIA:<br />
I. Se a sílaba tônica for o segundo PA, a<br />
escrita deveria ser PAPÁLIA, pois a<br />
palavra seria paroxítona terminada em<br />
ditongo crescente.<br />
II. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />
deveria ser PAPALÍA, pois "i" e "a"<br />
estariam formando hiato.<br />
III. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />
deveria ser PAPALIA, pois não haveria<br />
razão para o uso de acento gráfico.<br />
A conclusão está correta apenas em:<br />
A) III D) I<br />
B) I e II E) II<br />
C) I e III<br />
Comentário<br />
Essa questão exige bom conhecimento<br />
das regras de acentuação. A alternativa A diz<br />
que apenas a afirmação I é verdadeira. De<br />
fato ela é, mas não é a única. Nela, temos a<br />
hipótese de a palavra ser grafada como se a<br />
sílaba forte fosse a penúltima — papália —,<br />
justificando seu acento gráfico. Vejamos o<br />
que dizem as regras de acentuação.<br />
Acentuam-se as palavras paroxítonas<br />
terminadas em: i, is, us, um, uns, l, n, r, x,<br />
ps, ã, ãs, ão, ãos, ditongos orais,<br />
crescentes ou decrescentes, seguidos ou<br />
não de S. Isso valida, portanto, a afirmação I.<br />
A afirmação II pressupõe que a sílaba<br />
tônica seja LI, em hiato com A: no caso de<br />
essa ser a tonicidade da palavra, a sílaba LI<br />
não poderia ser acentuada, pois I, mesmo<br />
sendo a tônica do hiato, não é a última vogal,<br />
portanto, essa afirmativa é falsa.<br />
A afirmação III considera que a sílaba<br />
tônica é LI, não havendo acento por ser o I a<br />
primeira vogal do hiato. Portanto, essa<br />
afirmação é verdadeira.<br />
Concluindo, temos como verdadeiras as<br />
afirmações I e III. Então, a alternativa E é a<br />
correta. Questão de nível difícil.<br />
Comentário do INEP<br />
Dentre os participantes, somente pouco<br />
mais de um terço (35%) demonstrou possuir<br />
a habilidade para identificar as regras de<br />
acentuação corretas, enunciadas na questão.<br />
Chama a atenção o fato de que 73% dos<br />
participantes (alternativas A, D e E)<br />
reconheceram corretamente, pelo menos, a<br />
regra contida no item I, sendo que cerca de<br />
40% desses, contudo, tiveram dificuldades<br />
em analisar as regras II e III.<br />
Em se tratando de palavra não-usual, é,<br />
sobretudo, o domínio do conhecimento das<br />
regras e não a possível pronúncia correta,<br />
pelo uso, o que parece ter sido revelado.
49) (2008)<br />
Exame, 28/9/2007.<br />
Entre os seguintes ditos populares, qual<br />
deles melhor corresponde à figura<br />
acima?<br />
A) Com perseverança, tudo se alcança.<br />
B) Cada macaco no seu galho.<br />
C) Nem tudo que balança cai.<br />
D) Quem tudo quer, tudo perde.<br />
E) Deus ajuda quem cedo madruga.<br />
Comentário<br />
Assim como a questão 37, esta também<br />
envolve interpretação de signos, ou seja, o<br />
aluno precisa estar atento à imagem e<br />
relacioná-la ao dito popular correspondente.<br />
A alternativa "A" é a correta, pois, para<br />
uma lesma “grudenta” e vagarosa conseguir<br />
pular numa cama elástica, é necessária<br />
muita perseverança.<br />
50) (2005) Leia estes textos.<br />
Texto 1<br />
E amanhã se esse chão que eu beijei<br />
For meu leito e perdão<br />
Vou saber que valeu delirar<br />
E morrer de paixão<br />
E assim, seja lá como for<br />
Vai ter fim a infinita aflição<br />
E o mundo vai ver uma flor<br />
Brotar do impossível chão.<br />
(J. Darione – M. Leigh – Versão de Chico Buarque de<br />
Hollanda e Ruy Guerra, 1972.)<br />
A tirinha e a canção apresentam uma<br />
reflexão sobre o futuro da humanidade. É<br />
correto concluir que os dois textos<br />
A) afirmam que o homem é capaz de<br />
alcançar a paz.<br />
B) concordam que o desarmamento é<br />
inatingível.<br />
C) julgam que o sonho é um desafio<br />
invencível.<br />
D) têm visões diferentes sobre um<br />
possível mundo melhor.<br />
E) transmitem uma mensagem de<br />
otimismo sobre a paz.<br />
Comentário<br />
Enquanto o primeiro texto é ácido em<br />
relação à possibilidade de desarmamento da<br />
população (ou seja, à criação de uma<br />
sociedade mais pacífica), o segundo mostra<br />
a capacidade que a humanidade tem de crer<br />
e, por isso, tentar fazer até o que a princípio<br />
parece impossível. Para os autores da<br />
canção, nada é intrinsecamente impossível.<br />
A relação entre eles é de oposição:<br />
descrença x crença. Questão de nível de<br />
dificuldade médio.<br />
Texto 2<br />
Sonhar<br />
Mais um sonho impossível<br />
Lutar<br />
Quando é fácil ceder<br />
Vencer o inimigo invencível<br />
Negar quando a regra é vender<br />
Sofrer a tortura implacável<br />
Romper a incabível prisão<br />
Voar num limite improvável<br />
Tocar o inacessível chão<br />
É minha lei, é minha questão<br />
Virar esse mundo<br />
Cravar esse chão<br />
Não me importa saber<br />
Se é terrível demais<br />
Quantas guerras terei que vencer<br />
Por um pouco de paz<br />
51) (2002) A crônica muitas vezes constitui<br />
um espaço para reflexão sobre aspectos<br />
da sociedade em que vivemos.<br />
"Eu, na rua, com pressa, e o menino<br />
segurou no meu braço, falou qualquer<br />
coisa que não entendi. Fui logo dizendo<br />
que não tinha, certa de que ele estava<br />
pedindo dinheiro. Não estava. Queria<br />
saber a hora.<br />
Talvez não fosse um Menino De<br />
Família, mas também não era um Menino<br />
De Rua. É assim que a gente divide.<br />
Menino De Família é aquele bem-vestido<br />
com tênis da moda e camiseta de marca,<br />
que usa relógio e a mãe dá outro se o<br />
dele for roubado por um Menino De Rua.<br />
Menino De Rua é aquele que quando a<br />
gente passa perto segura a bolsa com<br />
força porque pensa que ele é pivete,<br />
509
trombadinha, ladrão. (...) Na verdade não<br />
existem meninos De rua.<br />
Existem meninos NA rua. E toda vez<br />
que um menino está NA rua é porque<br />
alguém o botou lá. Os meninos não vão<br />
sozinhos aos lugares. Assim como são<br />
postos no mundo, durante muitos anos<br />
também são postos onde quer que<br />
estejam. Resta ver quem os põe na rua. E<br />
por quê."<br />
COLASSANTI, Marina. In: Eu sei, mas não devia. Rio de<br />
Janeiro: Rocco, 1999.<br />
No terceiro parágrafo em "... não existem<br />
meninos De rua. Existem meninos NA<br />
rua.", a troca de De pelo Na determina<br />
que a relação de sentido entre "menino" e<br />
"rua" seja<br />
A) de localização e não de qualidade.<br />
B) de origem e não de posse.<br />
C) de origem e não de localização.<br />
D) de qualidade e não de origem.<br />
E) de posse e não de localização.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Apesar de não<br />
haver um terceiro parágrafo neste texto, a<br />
troca das preposições ao final do SEGUNDO<br />
parágrafo indica claramente que não há um<br />
menino DE (proveniente de) rua, mas um<br />
menino que está NA (foi levado à) rua.<br />
Portanto, a relação é unicamente de<br />
localização (onde ele está) e não de<br />
qualidade (o que ele é).<br />
Comentário do INEP<br />
A reprodução de um trecho de uma<br />
crônica de Marina Colassanti tematiza uma<br />
importante questão social brasileira: a<br />
presença de milhões de crianças nas ruas do<br />
País. A autora, ao tratar desse problema,<br />
vale-se de recursos lingüísticos específicos.<br />
O objetivo desta questão é justamente<br />
chamar a atenção do participante leitor para<br />
esses recursos e os efeitos de sentido que<br />
eles desencadeiam no texto. Na raiz da<br />
questão destaca-se a troca de "De" por "NA"<br />
e pede-se que se determine qual relação de<br />
sentido essa substituição estabelece entre os<br />
termos "menino" e "rua". Analisar a relação,<br />
nesse caso, significa perguntar-se sobre o<br />
sentido de dois sintagmas criados no texto:<br />
"meninos NA rua" por oposição a "meninos<br />
De rua". O que a autora pretende negar, com<br />
a troca do termo de relação, é a possibilidade<br />
de que existam meninos de rua diferentes de<br />
outros meninos, que não têm na rua a sua<br />
origem. O destaque para a preposição na<br />
nos leva a refletir que a relação dos meninos<br />
com a rua é de localização: eles estão ali por<br />
alguma razão, não porque essa seja a sua<br />
qualificação. Essa reflexão levaria o aluno a<br />
escolher, como correta, a resposta<br />
apresentada na alternativa A, assinalada por<br />
cerca de metade dos participantes.<br />
52) (2000) O uso do pronome átono no início<br />
das frases é destacado por um poeta e<br />
por um gramático nos textos abaixo.<br />
Pronominais<br />
Dê-me um cigarro<br />
Diz a gramática<br />
Do professor e do aluno<br />
E do mulato sabido<br />
Mas o bom negro e o bom branco<br />
da Nação Brasileira<br />
Dizem todos os dias<br />
Deixa disso camarada<br />
Me dá um cigarro<br />
(ANDRADE, Oswald de. Seleção de textos.<br />
São Paulo: Nova Cultural, 1988)<br />
“Iniciar a frase com pronome átono só<br />
é lícito na conversação familiar,<br />
despreocupada, ou na língua escrita<br />
quando se deseja reproduzir a fala dos<br />
personagens (...).”<br />
(CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da<br />
língua portuguesa.<br />
São Paulo: Nacional, 1980)<br />
Comparando a explicação dada pelos<br />
autores sobre essa regra, pode-se afirmar<br />
que ambos:<br />
A) condenam essa regra gramatical.<br />
B) acreditam que apenas os esclarecidos<br />
sabem essa regra.<br />
C) criticam a presença de regras na<br />
gramática.<br />
D) afirmam que não há regras para uso de<br />
pronomes.<br />
E) relativizam essa regra gramatical.<br />
Comentário<br />
Questão que requer conhecimento básico<br />
de colocação pronominal, em relação ao uso<br />
de pronomes átonos no início de frases, uma<br />
regra muito pouco respeitada pelo brasileiro,<br />
da qual Oswald de Andrade faz questão de<br />
falar em seu poema. Porém, a questão pode<br />
ser resolvida simplesmente por meio de uma<br />
leitura bem atenta dos textos. Se formos<br />
analisando alternativa por alternativa, a<br />
eliminação é clara e lógica: a alternativa a<br />
5<strong>10</strong>
fica totalmente descartada devido à<br />
transparência da colocação dos dois autores<br />
(Me dá um cigarro...) e (iniciar frases com o<br />
pronome átono é "lícito" na conversação<br />
familiar ou despreocupada). Já a alternativa b<br />
pode até mesmo gerar um pouco de dúvida a<br />
quem não se atém bem à pergunta. Quanto<br />
às alternativas c e d, ficam descartadas, pois,<br />
em momento nenhum, os autores criticaram<br />
o uso de regras gramaticais em seus textos,<br />
cabendo perfeitamente a alternativa e para<br />
as afirmações do gramático e do poeta.<br />
Comentário do INEP<br />
Essa questão pretendia verificar como o<br />
participante analisa um fato lingüístico,<br />
mediante a comparação da descrição desse<br />
fato em dois textos. Sabe-se que,<br />
normalmente em situação escolar, o uso do<br />
pronome átono no início da frase é julgado<br />
como grave desvio gramatical, e pouco se<br />
analisa esse uso na fala ou escrita informal.<br />
Os dois autores dos textos, com intenções<br />
diferentes, relativizam essa regra gramatical,<br />
destacando e descrevendo o seu uso<br />
coloquial. A maioria dos participantes (52%)<br />
analisou e comparou corretamente as<br />
posições dos autores sobre o uso do<br />
pronome átono, e 24% deles reafirmaram a<br />
posição discriminatória da regra, deslocandoa<br />
de seu uso.<br />
A) desconhece tudo sobre arte, por isso<br />
faz a sugestão.<br />
B) acredita que todo pintor deve fazer algo<br />
diferente.<br />
C) defende que para ser pintor a pessoa<br />
tem de sofrer.<br />
D) conhece a história de um pintor<br />
famoso e faz uso da ironia.<br />
E) acredita que seu dono tenha tendência<br />
artística e, por isso, faz a sugestão.<br />
Comentário<br />
Outra questão de interpretação de texto.<br />
Muito simples para quem um dia ouviu falar<br />
de Van Gogh, e simplíssima para aqueles<br />
que prestam atenção em todos os elementos<br />
do enunciado. Afinal, quem deu uma<br />
espiadinha na legenda do quadro de Van<br />
Gogh matou na hora a questão.<br />
Esta questão é daquelas rápidas de serem<br />
resolvidas, associando-se os elementos<br />
apresentados.<br />
Comentário do INEP<br />
A significativa maioria (81%) dos<br />
participantes soube perceber o caráter<br />
irônico da fala do Garfield, expressa no<br />
terceiro quadrinho porque, ou conheciam a<br />
história de Van Gogh, ou apropriaram-se<br />
corretamente da informação sobre esse<br />
pintor, fornecida no enunciado.<br />
53) (2000) As histórias em quadrinhos, por<br />
vezes, utilizam animais como<br />
personagens e a eles atribuem<br />
comportamento humano. O gato Garfield<br />
é exemplo desse fato.<br />
54) (2004)<br />
Fonte: Caderno Vida e Arte, Jornal do Povo, Fortaleza<br />
Van Gogh, pintor holandês nascido em<br />
1853, é um dos principais nomes da<br />
pintura mundial. É dele o quadro abaixo.<br />
Auto-retrato de orelha cortada<br />
A tira "Hagar" e o poema de Alberto<br />
Caeiro (um dos heterônimos de Fernando<br />
Pessoa) expressam, com linguagens<br />
diferentes, uma mesma idéia: a de que a<br />
compreensão que temos do mundo é<br />
condicionada, essencialmente,<br />
A) pelo alcance de cada cultura.<br />
B) pela capacidade visual do observador.<br />
C) pelo senso de humor de cada um.<br />
D) pela idade do observador.<br />
E) pela altura do ponto de observação.<br />
O 3º quadrinho sugere que Garfield:<br />
511
Comentário<br />
Questão reflexiva sobre a forma como<br />
cada cultura vê o mundo sob a ótica dos<br />
limites dados pelos seus costumes e<br />
possibilidades de pensamento inerentes a<br />
cada modelo cultural. A mistura de uma tira e<br />
de um poema amplia a possibilidade de<br />
pensamento por trabalhar com linguagens<br />
diferentes. A alternativa correta é a letra A,<br />
pois ambos (tira e poema) utilizam figuras de<br />
linguagem (metáfora e ironia) para expressar<br />
as diferentes visões de mundo.<br />
55) (2003)<br />
O humor presente na tirinha decorre<br />
principalmente do fato de a personagem<br />
Mafalda<br />
A) atribuir, no primeiro quadrinho, poder<br />
ilimitado ao dedo indicador.<br />
B) considerar seu dedo indicador tão<br />
importante quanto o dos patrões.<br />
C) atribuir, no primeiro e no último<br />
quadrinhos, um mesmo sentido ao<br />
vocábulo "indicador".<br />
D) usar corretamente a expressão<br />
"indicador de desemprego", mesmo<br />
sendo criança.<br />
E) atribuir, no último quadrinho, fama<br />
exagerada ao dedo indicador dos<br />
patrões.<br />
Comentário<br />
A questão pede a interpretação de uma<br />
charge da personagem Mafalda, em que ela<br />
faz referência a seu dedo indicador, que é<br />
usado como substantivo primitivo e que<br />
possibilita a analogia com “indicador de<br />
desemprego”. Dessa forma, ela ironiza os<br />
indicadores sociais. Na charge, porém, não<br />
há menção explícita aos índices<br />
“indicadores”, permanecendo o raciocínio<br />
preso apenas ao dedo indicador. Assim, ela<br />
utiliza, tanto no primeiro quanto no último<br />
quadrinho, a palavra “indicador” como<br />
referência ao dedo, não dando abertura a<br />
outro tipo de interpretação.<br />
56) (2002)<br />
De acordo com a história em quadrinhos<br />
protagonizada por Hagar e seu filho<br />
Hamlet, pode-se afirmar que a postura de<br />
Hagar<br />
A) valoriza a existência da diversidade<br />
social e de culturas, e as várias<br />
representações e explicações desse<br />
universo.<br />
B) desvaloriza a existência da<br />
diversidade social e as várias culturas,<br />
e determina uma única explicação para<br />
esse universo.<br />
C) valoriza a possibilidade de explicar as<br />
sociedades e as culturas a partir de<br />
várias visões de mundo.<br />
D) valoriza a pluralidade cultural e social<br />
ao aproximar a visão de mundo de<br />
navegantes e não-navegantes.<br />
E) desvaloriza a pluralidade cultural e<br />
social, ao considerar o mundo habitado<br />
apenas pelos navegantes.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Hagar reduz o<br />
mundo a dois tipos de pessoas: navegantes<br />
e não-navegantes. No último quadrinho, diz<br />
que são os navegantes que estabelecem<br />
esses dois grupos. Portanto, quem é<br />
diferente dos navegantes (que estabelecem<br />
o padrão) simplesmente é incluído na massa<br />
única dos não-navegantes. Não importa<br />
quem ou quantos sejam, sua diversidade<br />
social ou cultural em relação aos navegantes<br />
ou entre si. Vemos aí a desvalorização de<br />
outras culturas.<br />
Comentário do INEP<br />
Dentre as habilidades básicas para a<br />
compreensão de um texto destaca-se a<br />
capacidade do leitor de identificar os<br />
pressupostos de cada afirmação que lhe é<br />
apresentada. Nesta questão o participante<br />
deve identificar a posição tanto de Hagar<br />
como de seu filho Hamlet e, em seguida,<br />
avaliar quais os argumentos que justificam a<br />
opinião de Hagar ao definir que no mundo só<br />
existem dois tipos de pessoas. A pergunta de<br />
Hamlet a seu pai explicita a importância do<br />
ato de narrar através do diálogo e do efeito<br />
humorístico contido no episódio representado<br />
na tira. O resultado da compreensão<br />
512
acertada do diálogo é que o narrador torna<br />
inteligível, para si e para os outros, a lógica<br />
do seu pensamento através do diálogo entre<br />
os dois personagens. É importante observar<br />
que o humor do personagem Hagar é<br />
identificado na postura simetricamente<br />
oposta à de Michel de Montaigne, por<br />
exemplo (ver questão 58): a sua visão de<br />
mundo apresenta-se autocentrada, isto é,<br />
centrada nos seus próprios valores (vikings).<br />
A habilidade requerida do participante nessa<br />
questão, qual seja, "valorizar a diversidade<br />
dos patrimônios etnoculturais", é mobilizada<br />
aqui na sua dimensão negativa: é criticando<br />
a postura chauvinista de Hagar que o<br />
participante é capaz de responder<br />
corretamente a questão. A última alternativa<br />
(E) funciona como um distrator, pois neste<br />
caso não está suposta a crítica do discurso<br />
do personagem. Cerca de um terço dos<br />
participantes assinalou a alternativa correta<br />
B. As demais opções são devidas,<br />
possivelmente, a uma leitura pouco<br />
compreensiva das alternativas associadas a<br />
história em quadrinhos.<br />
57) (2009)<br />
Gerente — Boa tarde. Em que eu posso<br />
ajudá-lo?<br />
Cliente — Estou interessado em<br />
financiamento para compra de veículo.<br />
Gerente — Nós dispomos de várias<br />
modalidades de crédito. O senhor é nosso<br />
cliente?<br />
Cliente — Sou Júlio César Fontoura,<br />
também sou funcionário do banco.<br />
Gerente — Julinho, é você, cara? Aqui é a<br />
Helena! Cê tá em Brasília? Pensei que<br />
você inda tivesse na agência de<br />
Uberlândia! Passa aqui pra gente<br />
conversar com calma.<br />
BORTONI-RICARDO, 5. M. Educação em lingua<br />
materna. São Paulo: Parábola, 2004 (adaptado).<br />
Na representação escrita da conversa<br />
telefônica entre a gerente do banco e o<br />
cliente, observa-se que a maneira de falar<br />
da gerente foi alterada de repente devido<br />
A) à adequação de sua fala à conversa<br />
com um amigo, caracterizada pela<br />
informalidade.<br />
B) à iniciativa do cliente em se apresentar<br />
como funcionário do banco.<br />
C) ao fato de ambos terem nascido em<br />
Uberlândia (Minas Gerais).<br />
D) à intimidade forçada pelo cliente ao<br />
fornecer seu nome completo.<br />
E) ao seu interesse profissional em<br />
financiar o veículo de Júlio.<br />
Comentário<br />
(QUESTÃO: AZUL 92, BRANCA 93,<br />
ROSA 93)<br />
Questão dúbia, pois pode levar a duas<br />
interpretações diferentes.<br />
A pergunta é: devido ao que se observa, a<br />
mudança do tom e do registro na fala da<br />
gerente do banco? A alternativa A aponta<br />
que é a adequação da fala a uma conversa<br />
informal com um amigo, que pode ser<br />
percebida na alteração do tom e<br />
do registro do discurso da gerente.<br />
A alternativa B afirma que foi a iniciativa<br />
do cliente em se apresentar como funcionário<br />
do banco que provocou a mudança no modo<br />
de falar da gerente. A afirmativa é<br />
justificada pelo fato de que se o cliente não<br />
se apresentasse como funcionário, a<br />
gerente não saberia que estava falando com<br />
um amigo e a conversa continuaria sendo<br />
conduzida de modo formal.<br />
No entanto, acreditamos que a<br />
melhor resposta é a alternativa A.<br />
H27 - Reconhecer os usos da<br />
norma padrão da língua<br />
portuguesa nas diferentes<br />
situações de comunicação<br />
01) (2001) O mundo é grande<br />
O mundo é grande e cabe<br />
Nesta janela sobre o mar.<br />
O mar é grande e cabe<br />
Na cama e no colchão de amar.<br />
O amor é grande e cabe<br />
No breve espaço de beijar.<br />
ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e prosa.<br />
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983.<br />
Neste poema, o poeta realizou uma opção<br />
estilística: a reiteração de determinadas<br />
construções e expressões lingüísticas,<br />
como o uso da mesma conjunção para<br />
estabelecer a relação entre as frases.<br />
Essa conjunção estabelece, entre as<br />
idéias relacionadas, um sentido de<br />
A) oposição.<br />
B) comparação.<br />
C) conclusão.<br />
D) alternância.<br />
E) finalidade.<br />
513
Comentário<br />
Há três elementos repetidos neste trecho:<br />
o verbo ser, o artigo definido o e a conjunção<br />
aditiva e. A conjunção e estabelece uma<br />
relação entre idéias que, concretamente, são<br />
opostas (ex.: "O mundo é grande e cabe<br />
nesta janela sobre o mar"). A alternativa<br />
correta é a letra A.<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão apresenta, para leitura e<br />
análise, o poema "O mundo é grande", onde<br />
os recursos lingüísticos expressivos<br />
utilizados geram um efeito de oposição entre<br />
as idéias. A análise sintático-semântica é<br />
necessária para a compreensão do valor de<br />
oposição assumido pela conjunção "e":<br />
imagens justapostas estão relacionadas,<br />
contrapondo-se em planos diferentes. Um<br />
percentual significativo (46%) de<br />
participantes considerou que o valor da<br />
conjunção "e", nesse poema, é de<br />
comparação, o que não reflete o sentido<br />
estilístico proposto pelo poeta, mas<br />
corresponde apenas à primeira operação que<br />
se realiza para estabelecer o sentido de<br />
oposição. De maneira análoga, pode-se<br />
analisar os equívocos daqueles que optaram<br />
pelas alternativas C e D.<br />
02) (1999) SONETO DE FIDELIDADE<br />
De tudo, ao meu amor serei atento<br />
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto<br />
Que mesmo em face do maior encanto<br />
Dele se encante mais meu pensamento.<br />
Quero vivê-lo em cada vão momento<br />
E em seu louvor hei de espalhar meu<br />
canto<br />
E rir meu riso e derramar meu pranto<br />
Ao seu pesar ou seu contentamento.<br />
E assim, quando mais tarde me procure<br />
Quem sabe a morte, angústia de quem<br />
vive<br />
Quem sabe a solidão, fim de quem ama.<br />
Eu possa dizer do meu amor (que tive):<br />
Que não seja imortal, posto que é chama<br />
Mas que seja infinito enquanto dure.<br />
(MORAES, Vinícius de. Antologia poética. São Paulo: Cia<br />
das Letras, 1992).<br />
A palavra mesmo pode assumir diferentes<br />
significados, de acordo com a sua função<br />
na frase. Assinale a alternativa em que o<br />
sentido de mesmo equivale ao que se<br />
verifica no 3º verso da 1ª estrofe do<br />
poema de Vinícius de Moraes.<br />
A) "Pai, para onde fores, / irei também<br />
trilhando as mesmas ruas..." (Augusto<br />
dos Anjos)<br />
B) "Agora, como outrora, há aqui o<br />
mesmo contraste da vida interior, que<br />
é modesta, com a exterior, que é<br />
ruidosa." (Machado de Assis)<br />
C) "Havia o mal, profundo e persistente,<br />
para o qual o remédio não surtiu efeito,<br />
mesmo em doses variáveis."<br />
(Raimundo Faoro)<br />
D) "Mas, olhe cá, Mana Glória, há<br />
mesmo necessidade de fazê-lo<br />
padre?" (Machado de Assis)<br />
E) "Vamos de qualquer maneira, mas<br />
vamos mesmo." (Aurélio)<br />
Comentário<br />
Nessa questão, uma pequena análise<br />
sintática se faz necessária: mesmo, em<br />
ambos os casos, é conjunção subordinativa<br />
concessiva, introduzindo, portanto, uma<br />
oração subordinada cujo fato expresso é<br />
contrário ao da oração principal. Deve-se,<br />
então, recorrer à oração anterior para se ter<br />
certeza quanto à classificação. Grau<br />
moderado de dificuldade.<br />
Comentário do INEP<br />
Este problema buscou colocar o<br />
participante diante de uma situação que<br />
exigia a mobilização de seus mecanismos de<br />
reflexão sobre os processos lingüísticos em<br />
que um significante (uma palavra) assume<br />
diferentes significados, no enunciado, de<br />
acordo com a intenção do enunciador. Neste<br />
caso, além da compreensão da<br />
transformação de significado, é necessária a<br />
alteração de função morfossintática.<br />
Verifica-se que 62% dos participantes<br />
conseguiram identificar e analisar esse<br />
processo lingüístico, comparando a função<br />
do significante em diferentes enunciados.<br />
Isso demonstrou um domínio parcial da<br />
reflexão sobre a Língua Portuguesa, em<br />
diferentes contextos e textos.<br />
Os 18% dos participantes que<br />
assinalaram a alternativa B identificaram a<br />
diferença de significados mas,<br />
provavelmente, têm dificuldades em analisar<br />
estas mudanças em nível morfossintático<br />
(alternativa B).<br />
514
03) ( 2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />
poema.<br />
A DANÇA E A ALMA<br />
A DANÇA? Não é movimento,<br />
súbito gesto musical.<br />
É concentração, num momento,<br />
da humana graça natural.<br />
No solo não, no éter pairamos,<br />
nele amaríamos ficar.<br />
A dança – não vento nos ramos:<br />
seiva, força, perene estar.<br />
Um estar entre céu e chão,<br />
novo domínio conquistado,<br />
onde busque nossa paixão<br />
libertar-se por todo lado...<br />
Onde a alma possa descrever<br />
suas mais divinas parábolas<br />
sem fugir à forma do ser,<br />
por sobre o mistério das fábulas.<br />
(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />
Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />
A definição de dança, em linguagem de<br />
dicionário, que mais se aproxima do que<br />
está expresso no poema é<br />
A) a mais antiga das artes, servindo como<br />
elemento de comunicação e afirmação<br />
do homem em todos os momentos de<br />
sua existência.<br />
B) a forma de expressão corporal que<br />
ultrapassa os limites físicos,<br />
possibilitando ao homem a liberação de<br />
seu espírito.<br />
C) a manifestação do ser humano,<br />
formada por uma seqüência de gestos,<br />
passos e movimentos desconcertados.<br />
D) o conjunto organizado de movimentos<br />
do corpo, com ritmo determinado por<br />
instrumentos musicais, ruídos, cantos,<br />
emoções etc.<br />
E) o movimento diretamente ligado ao<br />
psiquismo do indivíduo e, por<br />
conseqüência, ao seu desenvolvimento<br />
intelectual e à sua cultura.<br />
Comentário<br />
A pergunta busca a aplicação do conceito<br />
de "estado de dicionário" (que também foi<br />
desenvolvido por Drummond no poema "A<br />
Procura da Poesia"). A literatura busca partir<br />
de palavras em estado de dicionário para,<br />
pelo aprofundamento do sentido delas, criar<br />
um mundo mais denso e particular. Em<br />
estado de dicionário, a dança, conforme é<br />
tratada nesse poema, apareceria na<br />
alternativa B: uma justaposição entre<br />
aspectos físicos e espirituais da expressão<br />
humana. Questão complexa.<br />
04) (2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />
poema.<br />
A DANÇA E A ALMA<br />
A DANÇA? Não é movimento,<br />
súbito gesto musical.<br />
É concentração, num momento,<br />
da humana graça natural.<br />
No solo não, no éter pairamos,<br />
nele amaríamos ficar.<br />
A dança – não vento nos ramos:<br />
seiva, força, perene estar.<br />
Um estar entre céu e chão,<br />
novo domínio conquistado,<br />
onde busque nossa paixão<br />
libertar-se por todo lado...<br />
Onde a alma possa descrever<br />
suas mais divinas parábolas<br />
sem fugir à forma do ser,<br />
por sobre o mistério das fábulas.<br />
(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />
Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />
O poema “A Dança e a Alma” é construído<br />
com base em contrastes, como<br />
“movimento” e “concentração”. Em uma<br />
das estrofes, o termo que estabelece<br />
contraste com solo é:<br />
A) éter. D) paixão.<br />
B) seiva. E) ser.<br />
C) chão.<br />
Comentário<br />
O elemento que contrasta com "solo"<br />
(físico, tangível, perene) é "éter" (espiritual,<br />
intangível, volátil). Questão de nível médio de<br />
dificuldade.<br />
05) ( 2008) O surgimento da figura da Ema<br />
no céu, ao leste, no anoitecer, na segunda<br />
quinzena de junho, indica o início do<br />
inverno para os índios do sul do Brasil e o<br />
começo da estação seca para os do norte.<br />
É limitada pelas constelações de<br />
Escorpião e do Cruzeiro do Sul, ou<br />
Cut'uxu. Segundo o mito guarani, o<br />
Cut’uxu segura a cabeça da ave para<br />
garantir a vida na Terra, porque, se ela se<br />
soltar, beberá toda a água do nosso<br />
planeta. Os tupisguaranis utilizam o<br />
Cut'uxu para se orientar e determinar a<br />
duração das noites e as estações do ano.<br />
A ilustração a seguir é uma representação<br />
dos corpos celestes que constituem a<br />
constelação da Ema, na percepção<br />
indígena.<br />
515
516<br />
Almanaque BRASIL, maio/2007 (com adaptações).<br />
A próxima figura mostra, em campo de<br />
visão ampliado, como povos de culturas<br />
não-indígenas percebem o espaço estelar<br />
em que a Ema é vista.<br />
Internet: (com adaptações).<br />
Assinale a opção correta a respeito da<br />
linguagem empregada no texto A Ema.<br />
A) A palavra Cut’uxu é um regionalismo<br />
utilizado pelas populações próximas às<br />
aldeias indígenas.<br />
B) O autor se expressa em linguagem<br />
formal em todos os períodos do texto.<br />
C) A ausência da palavra Ema no início do<br />
período “É limitada (...)” caracteriza<br />
registro oral.<br />
D) A palavra Cut’uxu está destacada em<br />
itálico porque integra o vocabulário da<br />
linguagem informal.<br />
E) No texto, predomina a linguagem<br />
coloquial porque ele consta de um<br />
almanaque.<br />
Comentário<br />
A questão é simples, mas requer cuidados<br />
quanto aos conceitos de linguagem<br />
“informal”, “formal” e de “língua”. Se o aluno<br />
tiver noção desses conceitos,<br />
chegará facilmente à resposta. A linguagem<br />
formal ou culta prevalece no texto, e o termo<br />
“Cut’uxu’ não é um termo informal, mas, sim,<br />
uma expressão que pertence a uma língua<br />
indígena — o que justifica o emprego da<br />
palavra em itálico. A resposta correta é,<br />
portanto, a letra "B".<br />
06) (2008) Calcula-se que 78% do<br />
desmatamento na Amazônia tenha sido<br />
motivado pela pecuária — cerca de 35%<br />
do rebanho nacional está na região — e<br />
que pelo menos 50 milhões de hectares<br />
de pastos são pouco produtivos. Enquanto<br />
o custo médio para aumentar a<br />
produtividade de 1 hectare de pastagem é<br />
de 2 mil reais, o custo para derrubar igual<br />
área de floresta é estimado em 800 reais,<br />
o que estimula novos desmatamentos.<br />
Adicionalmente, madeireiras retiram as<br />
árvores de valor comercial que foram<br />
abatidas para a criação de pastagens. Os<br />
pecuaristas sabem que problemas<br />
ambientais como esses podem provocar<br />
restrições à pecuária nessas áreas, a<br />
exemplo do que ocorreu em 2006 com o<br />
plantio da soja, o qual, posteriormente, foi<br />
proibido em áreas de floresta.<br />
Época, 3/3/2008 e 9/6/2008 (com adaptações).<br />
A partir da situação-problema descrita,<br />
conclui-se que<br />
A) o desmatamento na Amazônia decorre<br />
principalmente da exploração ilegal de<br />
árvores de valor comercial.<br />
B) um dos problemas que os pecuaristas<br />
vêm enfrentando na Amazônia é a<br />
proibição do plantio de soja.<br />
C) a mobilização de máquinas e de força<br />
humana torna o desmatamento mais<br />
caro que o aumento da produtividade<br />
de pastagens.<br />
D) o superavit comercial decorrente da<br />
exportação de carne produzida na<br />
Amazônia compensa a possível<br />
degradação ambiental.<br />
E) a recuperação de áreas desmatadas<br />
e o aumento de produtividade das<br />
pastagens podem contribuir para a<br />
redução do desmatamento na<br />
Amazônia.<br />
Comentário do portal<br />
Essa questão retrata o problema do<br />
desmatamento da Amazônia, relacionado<br />
principalmente com o desenvolvimento da<br />
pecuária na região. Para resolvê-la, foram<br />
necessários a leitura atenta do texto e o<br />
conhecimento sobre os problemas<br />
ambientais da atualidade. A alternativa<br />
correta é a letra E, pois é mais caro para os<br />
pecuaristas aumentar a produtividade do que<br />
as áreas de pasto, o que acarreta o aumento<br />
do desmatamento da Amazônia.
07) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />
preciso, além de conhecer o padrão<br />
formal da Língua Portuguesa, saber<br />
adequar o uso da linguagem ao contexto<br />
discursivo. Para exemplificar este fato,<br />
seu professor de Língua Portuguesa<br />
convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />
Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />
brinca com situações de discurso oral que<br />
fogem à expectativa do ouvinte.<br />
Aí, Galera<br />
Jogadores de futebol podem ser<br />
vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />
você pode imaginar um jogador de futebol<br />
dizendo "estereotipação"? E, no<br />
entanto, por que não?<br />
- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />
galera.<br />
- Minha saudação aos aficionados do<br />
clube e aos demais esportistas, aqui<br />
presentes ou no recesso dos seus lares.<br />
- Como é?<br />
- Aí, galera.<br />
- Quais são as instruções do técnico?<br />
- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />
trabalho de contenção coordenada, com<br />
energia otimizada, na zona de<br />
preparação, aumentam as<br />
probabilidades de, recuperado o<br />
esférico, concatenarmos um contragolpe<br />
agudo com parcimônia de meios e<br />
extrema objetividade, valendo-nos da<br />
desestruturação momentânea do<br />
sistema oposto, surpreendido pela<br />
reversão inesperada do fluxo da ação:<br />
- Ahn?<br />
- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />
pegá eles sem calça.<br />
- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />
coisa?<br />
- Posso dirigir uma mensagem de<br />
caráter sentimental, algo banal, talvez<br />
mesmo previsível e piegas, a uma<br />
pessoa à qual sou ligado por razões,<br />
inclusive, genéticas?<br />
- Pode.<br />
- Uma saudação para a minha<br />
progenitora.<br />
- Como é?<br />
- Alô, mamãe!<br />
- Estou vendo que você é um, um...<br />
- Um jogador que confunde o<br />
entrevistador, pois não corresponde à<br />
expectativa de que o atleta seja um ser<br />
algo primitivo com dificuldade de<br />
expressão e assim sabota a<br />
estereotipação?<br />
- Estereoquê?<br />
- Um chato?<br />
- Isso.<br />
Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />
O texto retrata duas situações<br />
relacionadas que fogem à expectativa do<br />
público. São elas:<br />
A) a saudação do jogador aos fãs do<br />
clube, no início da entrevista, e a<br />
saudação final dirigida à sua mãe.<br />
B) a linguagem muito formal do jogador,<br />
inadequada à situação da entrevista, e<br />
um jogador que fala, com desenvoltura,<br />
de modo muito rebuscado.<br />
C) o uso da expressão "galera", por parte<br />
do entrevistador, e da expressão<br />
"progenitora", por parte do jogador.<br />
D) o desconhecimento, por parte do<br />
entrevistador, da palavra<br />
"estereotipação", e a fala do jogador<br />
em "é pra dividir no meio e ir pra cima<br />
pra pegá eles sem calça".<br />
E) o fato de os jogadores de futebol serem<br />
vítimas de estereotipação e o jogador<br />
entrevistado não corresponder ao<br />
estereótipo.<br />
Comentário<br />
Quando pensamos em certas profissões,<br />
imaginamos qual seria o padrão de<br />
comportamento de quem as exerce. O texto<br />
está trabalhando uma divergência entre o<br />
que esperamos de um jogador de futebol (o<br />
estereótipo que temos dele) e um jogador<br />
que não se enquadra em nossas<br />
expectativas. Levando isso em consideração,<br />
as duas coisas que destoam do que<br />
esperamos encontrar nessa situação são: 1)<br />
alguém, ao dar uma entrevista de alto<br />
alcance popular, fala de maneira<br />
extremamente rebuscada; 2) um jogador que,<br />
ao falar de maneira rebuscada, acaba por<br />
fugir do estereótipo do jogador de futebol, de<br />
quem sempre é esperado algo menos<br />
rebuscado e mais popular.<br />
08) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />
preciso, além de conhecer o padrão<br />
formal da Língua Portuguesa, saber<br />
adequar o uso da linguagem ao contexto<br />
discursivo. Para exemplificar este fato,<br />
seu professor de Língua Portuguesa<br />
convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />
Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />
brinca com situações de discurso oral que<br />
fogem à expectativa do ouvinte.<br />
517
518<br />
Aí, Galera<br />
Jogadores de futebol podem ser<br />
vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />
você pode imaginar um jogador de futebol<br />
dizendo "estereotipação"? E, no<br />
entanto, por que não?<br />
- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />
galera.<br />
- Minha saudação aos aficionados do<br />
clube e aos demais esportistas, aqui<br />
presentes ou no recesso dos seus lares.<br />
- Como é?<br />
- Aí, galera.<br />
- Quais são as instruções do técnico?<br />
- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />
trabalho de contenção coordenada, com<br />
energia otimizada, na zona de<br />
preparação, aumentam as<br />
probabilidades de, recuperado o<br />
esférico, concatenarmos um contragolpe<br />
agudo com parcimônia de meios e<br />
extrema objetividade, valendo-nos da<br />
desestruturação momentânea do<br />
sistema oposto, surpreendido pela<br />
reversão inesperada do fluxo da ação:<br />
- Ahn?<br />
- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />
pegá eles sem calça.<br />
- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />
coisa?<br />
- Posso dirigir uma mensagem de<br />
caráter sentimental, algo banal, talvez<br />
mesmo previsível e piegas, a uma<br />
pessoa à qual sou ligado por razões,<br />
inclusive, genéticas?<br />
- Pode.<br />
- Uma saudação para a minha<br />
progenitora.<br />
- Como é?<br />
- Alô, mamãe!<br />
- Estou vendo que você é um, um...<br />
- Um jogador que confunde o<br />
entrevistador, pois não corresponde à<br />
expectativa de que o atleta seja um ser<br />
algo primitivo com dificuldade de<br />
expressão e assim sabota a<br />
estereotipação?<br />
- Estereoquê?<br />
- Um chato?<br />
- Isso.<br />
Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />
O texto mostra uma situação em que a<br />
linguagem usada é inadequada ao<br />
contexto. Considerando as diferenças<br />
entre língua oral e língua escrita, assinale<br />
a opção que representa também uma<br />
inadequação da linguagem usada ao<br />
contexto:<br />
A) "o carro bateu e capotô, mas num deu<br />
pra vê direito" - um pedestre que<br />
assistiu ao acidente comenta com o<br />
outro que vai passando.<br />
B) "E aí, ô meu! Como vai essa força?" -<br />
um jovem que fala para um amigo.<br />
C) "Só um instante, por favor. Eu<br />
gostaria de fazer uma observação" -<br />
alguém comenta em uma reunião de<br />
trabalho.<br />
D) "Venho manifestar meu interesse em<br />
candidatar-me ao cargo de Secretária<br />
Executiva desta conceituada empresa"<br />
- alguém que escreve uma carta<br />
candidatando-se a um emprego.<br />
E) "Porque se a gente não resolve as<br />
coisas como têm que ser, a gente corre<br />
o risco de termos, num futuro próximo,<br />
muito pouca comida nos lares<br />
brasileiros" - um professor universitário<br />
em um congresso internacional.<br />
Comentário<br />
Essa questão está trabalhando com as<br />
nossas expectativas. Esperamos encontrar,<br />
nas diferentes situações, linguagens que<br />
correspondam à formalidade (ou à<br />
informalidade) delas. Na alternativa E, como<br />
o professor universitário está falando em um<br />
congresso internacional, espera-se que ele<br />
utilize uma linguagem mais formal e não uma<br />
linguagem coloquial como a que usou. Em<br />
todas as outras situações, a linguagem está<br />
de acordo com a situação em que está sendo<br />
empregada.<br />
09) (2006) Depois de um bom jantar: feijão<br />
com carne-seca, orelha de porco e couve<br />
com angu, arroz-mole engordurado, carne<br />
de vento assada no espeto, torresmo<br />
enxuto de toicinho da barriga, viradinho de<br />
milho verde e um prato de caldo de couve,<br />
jantar encerrado por um prato fundo de<br />
canjica com torrões de açúcar, Nhô Tomé<br />
saboreou o café forte e se estendeu na<br />
rede. A mão direita sob a cabeça, à guisa<br />
de travesseiro, o indefectível cigarro de<br />
palha entre as pontas do indicador e do<br />
polegar, envernizados pela fumaça, de<br />
unhas encanoadas e longas, ficou-se de<br />
pança para o ar, modorrento, a olhar para<br />
as ripas do telhado.<br />
Quem come e não deita, a comida não<br />
aproveita, pensava Nhô Tomé... E pôs-se<br />
a cochilar. A sua modorra durou pouco;<br />
Tia Policena, ao passar pela sala, bradou<br />
assombrada:<br />
— Êêh! Sinhô! Vai drumi agora? Não!
Num presta... Dá pisadêra e póde morrê<br />
de ataque de cabeça! Despois do armoço<br />
num far-má... mais despois da janta?!”<br />
Cornélio Pires. Conversas ao pé do fogo. São Paulo:<br />
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1987.<br />
Nesse trecho, extraído de texto publicado<br />
originalmente em 1921, o narrador<br />
A) apresenta, sem explicitar juízos de<br />
valor, costumes da epoca, descrevendo<br />
os pratos servidos no jantar e a atitude<br />
de Nhô Tomé e de Tia Policena.<br />
B) desvaloriza a norma culta da língua<br />
porque incorpora à narrativa usos<br />
próprios da linguagem regional das<br />
personagens.<br />
C) condena os hábitos descritos, dando<br />
voz a Tia Policena, que tenta impedir<br />
Nhô Tomé de deitar-se após as<br />
refeições.<br />
D) utiliza a diversidade sociocultural e<br />
lingüística para demonstrar seu<br />
desrespeito às populações das zonas<br />
rurais do início do século XX.<br />
E) manifesta preconceito em relação a Tia<br />
Policena ao transcrever a fala dela com<br />
os erros próprios da região.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil, pois a alternativa<br />
"A" deixa clara a intencionalidade do<br />
narrador. Entretanto, o aluno poderia optar<br />
pela alternativa "B" caso não desse o devido<br />
valor ao sentido da palavra “desvaloriza”, que<br />
a elimina.<br />
<strong>10</strong>) (2007) Texto I<br />
Agora Fabiano conseguia arranjar as<br />
idéias. O que o segurava era a família.<br />
Vivia preso como um novilho amarrado ao<br />
mourão, suportando ferro quente. Se não<br />
fosse isso, um soldado amarelo não lhe<br />
pisava o pé não. (...) Tinha aqueles<br />
cambões pendurados ao pescoço.<br />
Deveria continuar a arrastá-los? Sinha<br />
Vitória dormia mal na cama de varas. Os<br />
meninos eram uns brutos, como o pai.<br />
Quando crescessem, guardariam as reses<br />
de um patrão invisível, seriam pisados,<br />
maltratados, machucados por um soldado<br />
amarelo.<br />
Graciliano Ramos. Vidas Secas. São Paulo:<br />
Martins, 23.ª ed., 1969, p. 75.<br />
Texto II<br />
Para Graciliano, o roceiro pobre é um<br />
outro, enigmático, impermeável. Não há<br />
solução fácil para uma tentativa de<br />
incorporação dessa figura no campo da<br />
ficção. É lidando com o impasse, ao invés<br />
de fáceis soluções, que Graciliano vai<br />
criar Vidas Secas, elaborando uma<br />
linguagem, uma estrutura romanesca,<br />
uma constituição de narrador em que<br />
narrador e criaturas se tocam, mas não se<br />
identificam. Em grande medida, o debate<br />
acontece porque, para a intelectualidade<br />
brasileira naquele momento, o pobre, a<br />
despeito de aparecer idealizado em certos<br />
aspectos, ainda é visto como um ser<br />
humano de segunda categoria, simples<br />
demais, incapaz de ter pensamentos<br />
demasiadamente complexos. O que Vidas<br />
Secas faz é, com pretenso não<br />
envolvimento da voz que controla a<br />
narrativa, dar conta de uma riqueza<br />
humana de que essas pessoas seriam<br />
plenamente capazes.<br />
Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes. In:<br />
Teresa. São Paulo: USP, n.° 2, 2001, p. 254.<br />
No texto II, verifica-se que o autor utiliza<br />
A) linguagem predominantemente<br />
formal, para problematizar, na<br />
composição de Vidas Secas, a relação<br />
entre o escritor e o personagem<br />
popular.<br />
B) linguagem inovadora, visto que, sem<br />
abandonar a linguagem formal, dirigese<br />
diretamente ao leitor.<br />
C) linguagem coloquial, para narrar<br />
coerentemente uma história que<br />
apresenta o roceiro pobre de forma<br />
pitoresca.<br />
D) linguagem formal com recursos<br />
retóricos próprios do texto literário em<br />
prosa, para analisar determinado<br />
momento da literatura brasileira.<br />
E) linguagem regionalista, para transmitir<br />
informações sobre literatura, valendose<br />
de coloquialismo, para facilitar o<br />
entendimento do texto.<br />
Comentário<br />
Questão de nível médio. Algumas<br />
alternativas poderiam levar o candidato a<br />
pensar que o texto de Vidas Secas utiliza<br />
uma linguagem predominantemente coloquial<br />
e regionalista. Entretanto, é na alternativa A<br />
que se encontra o real estilo da linguagem<br />
utilizada por Graciliano Ramos. A linguagem<br />
é, portanto, predominantemente formal e<br />
problematiza a relação do escritor com o<br />
personagem popular. Esta acaba sendo uma<br />
das grandes características do autor, pois ele<br />
buscava sempre dar uma grande densidade<br />
psicológica aos seus romances.<br />
519
11) (2006) Aula de português<br />
520<br />
Explorando a função emotiva da<br />
linguagem, o poeta expressa o contraste<br />
entre marcas de variação de usos da<br />
linguagem em<br />
A) situações formais e informais.<br />
B) diferentes regiões do país.<br />
C) escolas literárias distintas.<br />
D) textos técnicos e poéticos.<br />
E) diferentes épocas.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil, pois o próprio título<br />
nos dá uma noção da dificuldade de<br />
transformar a linguagem coloquial e de uso<br />
cotidiano em uma linguagem formal,<br />
expressa no poema como “a misteriosa”.<br />
Drummond foi muito feliz em conseguir<br />
demonstrar a dificuldade em entender como<br />
estruturas simples da língua se tornam tão<br />
complexas ao se iniciar o processo de<br />
compreensão da estrutura lingüística.<br />
12) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />
preciso, além de conhecer o padrão<br />
formal da Língua Portuguesa, saber<br />
adequar o uso da linguagem ao contexto<br />
discursivo. Para exemplificar este fato,<br />
seu professor de Língua Portuguesa<br />
convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />
Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />
brinca com situações de discurso oral que<br />
fogem à expectativa do ouvinte.<br />
Aí, Galera<br />
Jogadores de futebol podem ser<br />
vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />
você pode imaginar um jogador de futebol<br />
dizendo "estereotipação"? E, no<br />
entanto, por que não?<br />
- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />
galera.<br />
- Minha saudação aos aficionados do<br />
clube e aos demais esportistas, aqui<br />
presentes ou no recesso dos seus lares.<br />
- Como é?<br />
- Aí, galera.<br />
- Quais são as instruções do técnico?<br />
- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />
trabalho de contenção coordenada, com<br />
energia otimizada, na zona de<br />
preparação, aumentam as<br />
probabilidades de, recuperado o<br />
esférico, concatenarmos um contragolpe<br />
agudo com parcimônia de meios e<br />
extrema objetividade, valendo-nos da<br />
desestruturação momentânea do<br />
sistema oposto, surpreendido pela<br />
reversão inesperada do fluxo da ação:<br />
- Ahn?<br />
- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />
pegá eles sem calça.<br />
- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />
coisa?<br />
- Posso dirigir uma mensagem de<br />
caráter sentimental, algo banal, talvez<br />
mesmo previsível e piegas, a uma<br />
pessoa à qual sou ligado por razões,<br />
inclusive, genéticas?<br />
- Pode.<br />
- Uma saudação para a minha<br />
progenitora.<br />
- Como é?<br />
- Alô, mamãe!<br />
- Estou vendo que você é um, um...<br />
- Um jogador que confunde o<br />
entrevistador, pois não corresponde à<br />
expectativa de que o atleta seja um ser<br />
algo primitivo com dificuldade de<br />
expressão e assim sabota a<br />
estereotipação?<br />
- Estereoquê?<br />
- Um chato?<br />
- Isso.<br />
Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />
A expressão "pegá eles sem calça"<br />
poderia ser substituída, sem<br />
comprometimento de sentido, em língua<br />
culta, formal, por:
A) pegá-los na mentira.<br />
B) pegá-los desprevenidos.<br />
C) pegá-los em flagrante.<br />
D) pegá-los rapidamente.<br />
E) pegá-los momentaneamente<br />
Comentário<br />
O trabalho que temos aqui é de<br />
compreensão de sentido. Se você nunca<br />
ouviu a expressão "de calças na mão", terá<br />
de imaginar o que acontece quando<br />
pegamos alguém nessa situação. Mas isso<br />
não basta. Se usar somente situações que<br />
pode imaginar, restarão as alternativas B e<br />
C. Esse problema só será solucionado se<br />
você entender bem o texto a que ele se<br />
refere. Como o jogador está falando em<br />
roubar a bola e partir para cima do adversário<br />
rapidamente, imagina-se que o adversário<br />
não esperava perder a bola naquele<br />
momento e, quando isso ocorreu, ele não<br />
estava preparado para receber um contraataque.<br />
Utilizando essa análise, somente a<br />
alternativa B está correta.<br />
13) (2000) Em uma conversa ou leitura de<br />
um texto, corre-se o risco de atribuir um<br />
significado inadequado a um termo ou<br />
expressão, e isso pode levar a certos<br />
resultados inesperados, como se vê nos<br />
quadrinhos abaixo.<br />
(SOUZA, Maurício de. Chico Bento.<br />
Rio de Janeiro: Ed. Globo, n o 335, Nov./99 )<br />
Nessa historinha, o efeito humorístico<br />
origina-se de uma situação criada pela<br />
fala da Rosinha no primeiro quadrinho,<br />
que é:<br />
A) Faz uma pose bonita!<br />
B) Quer tirar um retrato?<br />
C) Sua barriga está aparecendo!<br />
D) Olha o passarinho!<br />
E) Cuidado com o flash!<br />
Comentário<br />
Quem não se lembra de expressões<br />
humorísticas usadas quando se deseja tirar<br />
uma foto, como "Olha o passarinho" ou "Fale<br />
xis"?<br />
Pois é, essa é uma questão fácil e a<br />
interpretação do texto é simples, e não há<br />
por que ter dúvidas quanto à resposta, a não<br />
ser que não se leia a proposta da questão.<br />
Comentário do INEP<br />
Essa questão procurou avaliar se o<br />
participante conseguia inferir, a partir de uma<br />
seqüência narrativa de imagens, a expressão<br />
lingüística adequada à situação de<br />
interlocução, no caso a fala da personagem,<br />
no primeiro quadrinho. A expressão de uso<br />
coloquial 'olha o passarinho!', dependendo do<br />
contexto, tem diferentes significados, que<br />
nesse caso foram associados pelo cartunista<br />
para produzir o efeito de humor. A grande<br />
maioria - 89% - dos participantes realizou a<br />
inferência solicitada, analisando a função da<br />
linguagem e identificando a variante<br />
lingüística adequada à situação de<br />
interlocução, com base na leitura da<br />
seqüência das imagens e da fala da<br />
personagem no terceiro quadrinho. É<br />
interessante notar a abrangência dessa<br />
expressão metafórica no Brasil, criada no<br />
contexto informal da fala com seus<br />
significados correspondentes. Mesmo assim,<br />
11% dos participantes, possivelmente,<br />
desconhecem essa expressão ou não<br />
conseguiram realizar a transposição do<br />
significado humorístico da fala do último<br />
quadrinho.<br />
14) (2005) Leia com atenção o texto:<br />
[Em Portugal], você poderá ter alguns<br />
probleminhas se entrar numa loja de<br />
roupas desconhecendo certas sutilezas da<br />
língua. Por exemplo, não adianta pedir<br />
para ver os ternos — peça para ver os<br />
fatos. Paletó é casaco. Meias são<br />
peúgas. Suéter é camisola — mas não<br />
se assuste, porque calcinhas femininas<br />
são cuecas. (Não é uma delícia?)<br />
(Ruy Castro. Viaje Bem. Ano VIII, no 3, 78.)<br />
O texto destaca a diferença entre o<br />
português do Brasil e o de Portugal<br />
quanto<br />
A) ao vocabulário.<br />
B) à derivação.<br />
C) à pronúncia.<br />
D) ao gênero.<br />
E) à sintaxe.<br />
Comentário<br />
Questão de entendimento muito fácil, pois<br />
o próprio enunciado deixa claro que se trata<br />
das diferenças de vocabulário entre o<br />
português brasileiro e o lusitano.<br />
521
15) (2006) Aula de português<br />
No poema, a referência à variedade<br />
padrão da língua está expressa no<br />
seguinte trecho:<br />
A) “A linguagem / na ponta da língua” (v.1<br />
e 2).<br />
B) “A linguagem / na superfície<br />
estrelada de letras” (v.5 e 6).<br />
C) “[a língua] em que pedia para ir lá<br />
fora” (v.14).<br />
D) “[a língua] em que levava e dava<br />
pontapé” (v.15).<br />
E) “[a língua] do namoro com a priminha”<br />
(v.17).<br />
Comentário<br />
Questão fácil, pois a alternativa "B" é a<br />
única que faz menção à norma-padrão da<br />
língua. As demais alternativas fogem a essa<br />
norma.<br />
16) (2008) A Lei Federal n.º 9.985/2000, que<br />
instituiu o sistema nacional de unidades<br />
de conservação, define dois tipos de<br />
áreas protegidas. O primeiro, as unidades<br />
de proteção integral, tem por objetivo<br />
preservar a natureza, admitindo-se<br />
apenas o uso indireto dos seus recursos<br />
naturais, isto é, aquele que não envolve<br />
consumo, coleta, dano ou destruição dos<br />
recursos naturais. O segundo, as<br />
unidades de uso sustentável, tem por<br />
função compatibilizar a conservação da<br />
natureza com o uso sustentável de<br />
parcela dos recursos naturais. Nesse<br />
caso, permite-se a exploração do<br />
ambiente de maneira a garantir a<br />
perenidade dos recursos ambientais<br />
renováveis e dos processos ecológicos,<br />
mantendo-se a biodiversidade e os<br />
demais atributos ecológicos, de forma<br />
socialmente justa e economicamente<br />
viável.<br />
Considerando essas informações, analise<br />
a seguinte situação hipotética.<br />
Ao discutir a aplicação de recursos<br />
disponíveis para o desenvolvimento de<br />
determinada região, organizações civis,<br />
universidade e governo resolveram<br />
investir na utilização de uma unidade de<br />
proteção integral, o Parque Nacional do<br />
Morro do Pindaré, e de uma unidade de<br />
uso sustentável, a Floresta Nacional do<br />
Sabiá. Depois das discussões, a equipe<br />
resolveu levar adiante três projetos:<br />
— o projeto I consiste de pesquisas<br />
científicas embasadas exclusivamente<br />
na observação de animais;<br />
— o projeto II inclui a construção de uma<br />
escola e de um centro de vivência;<br />
— o projeto III promove a organização de<br />
uma comunidade extrativista que<br />
poderá coletar e explorar<br />
comercialmente frutas e sementes<br />
nativas.<br />
Nessa situação hipotética, atendendo-se à<br />
lei mencionada acima, é possível<br />
desenvolver tanto na unidade de proteção<br />
integral quanto na de uso sustentável<br />
A) apenas o projeto I.<br />
B) apenas o projeto III.<br />
C) apenas os projetos I e II.<br />
D) apenas os projetos II e III.<br />
E) todos os três projetos.<br />
Comentário do portal<br />
A alternativa correta é a letra "A", pois,<br />
analisando-se a situação hipotética sugerida<br />
no enunciado, percebe-se que ela deverá<br />
atender os requisitos tanto da unidade de<br />
proteção integral quanto da unidade de uso<br />
sustentável. Portanto, apenas o projeto I<br />
poderá ser desenvolvido nessas duas<br />
propostas de unidades.<br />
522
17) (2006) No romance Vidas Secas, de<br />
Graciliano Ramos, o vaqueiro Fabiano<br />
encontra-se com o patrão para receber o<br />
salário. Eis parte da cena:<br />
Graciliano Ramos. Vidas Secas. 91.ª ed.<br />
Rio de Janeiro: Record, 2003.<br />
No fragmento transcrito, o padrão formal<br />
da linguagem convive com marcas de<br />
regionalismo e de coloquialismo no<br />
vocabulário. Pertence à variedade do<br />
padrão formal da linguagem o seguinte<br />
trecho:<br />
A) Não se conformou: devia haver<br />
engano (l.1).<br />
B) Fabiano perdeu os estribos (l.3).<br />
C) Passar a vida inteira assim no toco<br />
(l.4).<br />
D) Entregando o que era dele de mao<br />
beijada! (l.4-5).<br />
E) Aí Fabiano baixou a pancada e<br />
amunhecou (l.11).<br />
Comentário do portal<br />
Questão de nível fácil. Bastaria que o<br />
candidato conhecesse o padrão formal da<br />
linguagem e distinguisse-o do regionalismo e<br />
do coloquialismo.<br />
18) (2001) Os provérbios constituem um<br />
produto da sabedoria popular e, em geral,<br />
pretendem transmitir um ensinamento. A<br />
alternativa em que os dois provérbios<br />
remetem a ensinamentos semelhantes é:<br />
A) “Quem diz o que quer, ouve o que não<br />
quer” e “Quem ama o feio, bonito lhe<br />
parece”.<br />
B) “Devagar se vai ao longe” e “De grão<br />
em grão, a galinha enche o papo”.<br />
C) “Mais vale um pássaro na mão do que<br />
dois voando” e “Não se deve atirar<br />
pérolas aos porcos”.<br />
D) “Quem casa quer casa” e “Santo de<br />
casa não faz milagre”.<br />
E) “Quem com ferro fere, com ferro será<br />
ferido” e “Casa de ferreiro, espeto de<br />
pau”.<br />
Comentário<br />
Questão fácil. A alternativa B apresenta<br />
dois provérbios que tratam de paciência,<br />
perseverança. A mensagem é a mesma em<br />
ambos.<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão propõe uma série de<br />
provérbios agrupados aos pares, para que o<br />
participante demonstre compreender e<br />
comparar os provérbios de modo a identificar<br />
aqueles que traduzem ensinamentos<br />
semelhantes. A organização sintáticosemântica<br />
dos provérbios cria um efeito de<br />
sentido metafórico que deve ser recuperado,<br />
analisado e comparado, o que foi<br />
corretamente feito por cerca de 80% dos<br />
participantes.<br />
19) (1999)<br />
(QUINO. Mafalda inédita. São Paulo: Martins Fontes, 1993)<br />
Observando as falas das personagens,<br />
analise o emprego do pronome SE e o<br />
sentido que adquire no contexto. No<br />
contexto da narrativa, é correto afirmar<br />
que o pronome SE:<br />
A) em I, indica reflexividade e equivale a<br />
"a si mesmas".<br />
B) em II, indica reciprocidade e equivale a<br />
"a si mesma".<br />
C) em III, indica reciprocidade e equivale<br />
a "umas às outras".<br />
D) em I e III, indica reciprocidade e<br />
equivale a "umas às outras".<br />
E) em II e III, indica reflexividade e<br />
equivale a "a si mesma " e "a si<br />
mesmas", respectivamente.<br />
Comentário<br />
Mais uma questão que fala por si própria.<br />
Lendo o segundo quadrinho — "Quer dizer<br />
que você também se ama muito mais no<br />
Natal?" —, é fácil de se identificar o pronome<br />
reflexivo. Basta que se troque se ama por<br />
ama a si mesma. O mesmo ocorre no<br />
terceiro quadrinho em "Por que será que as<br />
pessoas se amam muito mais no Natal?" —<br />
Por que será que as pessoas amam a si<br />
mesmas? Questão de grau fácil.<br />
523
Comentário do INEP<br />
Este problema requeria que o participante<br />
mobilizasse conhecimentos sobre os<br />
significados de "reciprocidade e<br />
"reflexividade" e o associasse à<br />
compreensão de linguagem iconográfica.<br />
Cerca de metade dos participantes<br />
demonstrou essa capacidade. A opção de<br />
30% dos participantes pela alternativa D<br />
pode indicar que eles utilizaram as imagens<br />
apenas como ilustração do texto e não como<br />
linguagem capaz de instituir novos<br />
significados.<br />
20) (2005) As dimensões continentais do<br />
Brasil são objeto de reflexões expressas<br />
em diferentes linguagens. Esse tema<br />
aparece no seguinte p"Narizinho correu os<br />
olhos pela assistência. Não podia haver nada<br />
mais curioso. Besourinhos de oema:<br />
“(....)<br />
Que importa que uns falem mole<br />
descansado<br />
Que os cariocas arranhem os erres na<br />
garganta<br />
Que os capixabas e paroaras escancarem<br />
as vogais?<br />
Que tem se o quinhentos réis meridional<br />
Vira cinco tostões do Rio pro Norte?<br />
Junto formamos este assombro de<br />
misérias e grandezas,<br />
Brasil, nome de vegetal! (....)”<br />
(Mário de Andrade. Poesias completas. 6. ed. São Paulo:<br />
Martins Editora, 1980.)<br />
O texto poético ora reproduzido trata das<br />
diferenças brasileiras no âmbito<br />
A) étnico e religioso.<br />
B) lingüístico e econômico.<br />
C) racial e folclórico.<br />
D) histórico e geográfico.<br />
E) literário e popular.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil, pois a primeira<br />
estrofe, ao enunciar os erres arranhados dos<br />
cariocas e as vogais abertas dos capixabas,<br />
evidencia a diferença lingüística entre duas<br />
regiões distintas do Brasil, dando noção da<br />
variedade. Já na segunda estrofe, as<br />
diferenças econômicas são evidenciadas ao<br />
se mostrarem os réis e tostões variando da<br />
Região Meridional para a Norte.<br />
21) (202) "Narizinho correu os olhos pela<br />
assistência. Não podia haver nada mais<br />
curioso. Besourinhos de fraque e flores na<br />
lapela conversavam com baratinhas de<br />
mantilha e miosótis nos cabelos. Abelhas<br />
douradas, verdes e azuis, falavam mal<br />
das vespas de cintura fina — achando que<br />
era exagero usarem coletes tão<br />
apertados. Sardinhas aos centos<br />
criticavam os cuidados excessivos que as<br />
borboletas de toucados de gaze tinham<br />
com o pó das suas asas. Mamangavas de<br />
ferrões amarrados para não morderem. E<br />
canários cantando, e beija-flores beijando<br />
flores, e camarões camaronando, e<br />
caranguejos caranguejando, tudo que é<br />
pequenino e não morde, pequeninando e<br />
não mordendo."<br />
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. São Paulo:<br />
Brasiliense, 1947.<br />
No último período do trecho, há uma série<br />
de verbos no gerúndio que contribuem<br />
para caracterizar o ambiente fantástico<br />
descrito. Expressões como<br />
"camaronando", "caranguejando" e<br />
"pequeninando e não mordendo" criam,<br />
principalmente, efeitos de<br />
A) esvaziamento de sentido.<br />
B) monotonia do ambiente.<br />
C) estaticidade dos animais.<br />
D) interrupção dos movimentos.<br />
E) dinamicidade do cenário.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. O dinamismo dos<br />
verbos no gerúndio tem como função<br />
principal dar vida às personagens do mundo<br />
fantástico. Não há estagnação. Cada animal<br />
faz o que lhe cabe.<br />
Comentário do INEP<br />
Essa questão apresenta para leitura e<br />
análise um trecho da obra Reinações de<br />
Narizinho, de Monteiro Lobato, e, nele, a<br />
descrição reflete as fantasias do mundo<br />
infantil. A questão propõe que seja resolvido<br />
um problema de linguagem, que é a<br />
identificação dos sentidos criados no texto<br />
pelo emprego de vários verbos no gerúndio,<br />
alguns dos quais, neologismos criados pelo<br />
autor. Como o texto é uma descrição, temos<br />
o relato de um ambiente que se agita com as<br />
ações simultâneas dos muitos seres que o<br />
habitam. Cabe ao participante perceber que<br />
o efeito dinâmico é criado pelos verbos de<br />
ação no gerúndio, que é a forma verbal da<br />
ação se fazendo. Ou seja, é função típica do<br />
gerúndio traduzir a noção de uma ação que<br />
524
se desenvolve de modo simultâneo à sua<br />
enunciação. Nesse ambiente retratado por<br />
Monteiro Lobato, os bichinhos humanizados<br />
se agitam, lembrando um burburinho de<br />
crianças. Apenas a alternativa E, assinalada<br />
por 36% dos participantes, responde<br />
corretamente a questão. As outras<br />
alternativas contemplam efeitos ou<br />
significados que, apesar de eventualmente<br />
serem transmitidos pelo emprego do<br />
gerúndio, não se verificam no texto.<br />
22) (2008) Assinale a opção que apresenta<br />
um verso do soneto de Cláudio Manoel da<br />
Costa em que o poeta se dirige ao seu<br />
interlocutor.<br />
A) “Torno a ver-vos, ó montes; o<br />
destino” (v.1)<br />
B) “Aqui estou entre Almendro, entre<br />
Corino,” (v.5)<br />
C) “Os meus fiéis, meus doces<br />
companheiros,” (v.6)<br />
D) “Vendo correr os míseros vaqueiros”<br />
(v.7)<br />
E) “Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto,”<br />
(v.11)<br />
B) “E lembre-se: se você disser uma<br />
mentira, os seus chifres cairão!”<br />
C) “Estou atrasado porque ajudei uma<br />
velhinha a atravessar a rua...”<br />
D) “...e ela me deu um anel mágico que<br />
me levou a um tesouro”<br />
E) “mas bandidos o roubaram e os<br />
persegui até a Etiópia, onde um<br />
dragão...”<br />
Comentário<br />
Linguagem coloquial é aquela usada no<br />
cotidiano, que tem como característica<br />
principal a oralidade, ou seja, aquela que não<br />
segue o rigor da norma culta.<br />
Entre as alternativas da questão, apenas<br />
a letra "A" apresenta esses traços.<br />
24) (2004) O poema abaixo pertence à<br />
poesia concreta brasileira. O termo latino<br />
de seu título significa "epitalâmio", poema<br />
ou canto em homenagem aos que se<br />
casam.<br />
Comentário<br />
Nesta questão, basta que o aluno<br />
identifique o pronome oblíquo, presente no<br />
verso um, que chama o leitor para o texto.<br />
Sendo assim, a resposta correta é a letra "A".<br />
23) (2008)<br />
Dick Browne. O melhor de Hagar, o horrível, v. 2. L&PM<br />
pocket, p.55-6 (com adaptações).<br />
Assinale o trecho do diálogo que<br />
apresenta um registro informal, ou<br />
coloquial, da linguagem.<br />
A) “Tá legal, espertinho! Onde é que<br />
você esteve?!”<br />
Considerando que símbolos e sinais são<br />
utilizados geralmente para demonstrações<br />
objetivas, ao serem incorporados no<br />
poema "Epithalamium - II".<br />
A) adquirem novo potencial de<br />
significação.<br />
B) eliminam a subjetividade do poema.<br />
C) opõem-se ao tema principal do poema.<br />
D) invertem seu sentido original.<br />
E) tornam-se confusos e equivocados.<br />
Comentário<br />
Diferentemente, por exemplo, da<br />
aplicação matemática dos símbolos, em que<br />
sinais como "=", "+", "-", "x", etc. servem<br />
como convenções internacionais de<br />
significação objetiva e invariável, em um<br />
poema como "Epithalamium – II" foram<br />
usados símbolos que não são convenções<br />
internacionais, mas, sim, convencionados<br />
apenas para esse texto. No caso, letras do<br />
alfabeto deixam de ser representações de<br />
sons (fonemas) para ganharem nova<br />
significação, principalmente pela construção<br />
525
visual do poema: unem homem (h) e mulher<br />
(e) pela ação da serpente (s) — libido,<br />
atração — em uma entidade única.<br />
Uma das tendências poéticas da segunda<br />
metade do século XX, resultado de um<br />
diálogo com estéticas já presentes no final do<br />
século XIX, trabalha com a construção de<br />
seu próprio referente, fazendo do poema um<br />
objeto autônomo.<br />
25) (2000) “Precisa-se nacionais sem<br />
nacionalismo, (...) movidos pelo presente<br />
mas estalando naquele cio racial que só<br />
as tradições maduram! (...). Precisa-se<br />
gentes com bastante meiguice no<br />
sentimento, bastante força na peitaria,<br />
bastante paciência no entusiasmo e<br />
sobretudo, oh! sobretudo bastante<br />
vergonha na cara!<br />
(...) Enfim: precisa-se brasileiros! Assim<br />
está escrito no anúncio vistoso de cores<br />
desesperadas pintado sobre o corpo do<br />
nosso Brasil, camaradas.”<br />
(Jornal A Noite, São Paulo, 18/12/1925 apud LOPES, Telê<br />
Porto Ancona. Mário<br />
de Andrade: ramais e caminhos. São Paulo: Duas<br />
Cidades, 1972)<br />
526<br />
No trecho acima, Mário de Andrade dá<br />
forma a um dos itens do ideário<br />
modernista, que é o de firmar a feição de<br />
uma língua mais autêntica, “brasileira”, ao<br />
expressar-se numa variante de linguagem<br />
popular identificada pela (o):<br />
A) escolha de palavras como cio, peitaria,<br />
vergonha.<br />
B) emprego da pontuação.<br />
C) repetição do adjetivo bastante.<br />
D) concordância empregada em Assim<br />
está escrito.<br />
E) escolha de construção do tipo<br />
precisa-se gentes.<br />
Comentário<br />
Apesar de essa questão misturar vários<br />
tipos de informação, se você se lembra um<br />
pouquinho dos usos da partícula se, com<br />
certeza não encontrará grande dificuldade.<br />
Segundo a regra gramatical, o verbo<br />
"precisa-se" deveria ir para o plural<br />
(precisam-se), mas essa noção de verbo<br />
concordante com o sujeito há muito<br />
desapareceu na variante popular brasileira.<br />
Mas, caso você não se lembre muito bem<br />
desse assunto ou ficou meio confuso com o<br />
texto e as outras alternativas, o caminho é<br />
responder por eliminação.<br />
A primeira alternativa apresenta palavras<br />
comuns no português brasileiro, mas<br />
nenhuma "invenção" nacional. Na dúvida,<br />
pense em "vergonha": não é uma invenção<br />
brasileira. Todos os que falam português no<br />
mundo conhecem bem essa palavra. A<br />
pontuação no texto não chama nenhuma<br />
atenção. Você provavelmente não viu nada<br />
de estranho nela. Da mesma forma, o<br />
"bastante" da terceira alternativa não é nada<br />
mais que um mecanismo de retórica, usado<br />
para dar ênfase à idéia. Com o "Assim está<br />
escrito", encontramos a mesma situação: um<br />
trecho litúrgico é usado para maior ênfase.<br />
Comentário do INEP<br />
A questão procurou avaliar se o<br />
participante era capaz de, a partir da leitura<br />
de um texto de Mário de Andrade , identificar<br />
e analisar uma variante lingüística de uso<br />
coloquial, utilizadas estilisticamente pelo<br />
autor. O uso estilístico das variantes marcou<br />
a primeira fase da literatura brasileira<br />
modernista. O trecho destaca em seu todo<br />
esse uso da linguagem popular. A escolha da<br />
construção 'precisa-se gentes' é marca desse<br />
uso estilístico. O índice de 37% na alternativa<br />
(A) demonstra, possivelmente, que os<br />
participantes não consideraram a escolha<br />
dos vocábulos, dentro do contexto do texto,<br />
confundindo as palavras que aparecem na<br />
alternativa com '...a feição de uma língua<br />
mais autêntica...'.O percentual de acertos foi<br />
da ordem de 40%.<br />
26) (2001) Oxímoro (ou paradoxo) é uma<br />
construção textual que agrupa significados<br />
que se excluem mutuamente. Para<br />
Garfield, a frase de saudação de Jon<br />
(tirinha abaixo) expressa o maior de todos<br />
os oxímoros.<br />
Folha de S. Paulo. 31 de julho de 2000.<br />
Nas alternativas abaixo, estão transcritos<br />
versos retirados do poema “O operário em<br />
construção”. Pode-se afirmar que ocorre<br />
um oxímoro em<br />
A) "Era ele que erguia casas<br />
Onde antes só havia chão."<br />
B) "... a casa que ele fazia<br />
Sendo a sua liberdade<br />
Era a sua escravidão."<br />
C) "Naquela casa vazia<br />
Que ele mesmo levantara<br />
Um mundo novo nascia<br />
De que sequer suspeitava."
D) "... o operário faz a coisa<br />
E a coisa faz o operário."<br />
E) "Ele, um humilde operário<br />
Um operário que sabia<br />
Exercer a profissão."<br />
MORAES, Vinícius de. Antologia Poética. São Paulo:<br />
Companhia das Letras, 1992.<br />
Comentário<br />
Idéias que se completam e se excluem<br />
mutuamente são encontradas na alternativa<br />
B: a casa que ele construía era, ao mesmo<br />
tempo, sua liberdade e sua escravidão.<br />
A casa é um símbolo de liberdade para o<br />
homem. Para o homem operário, é também<br />
símbolo de escravidão, pois ele está<br />
"condenado" a jamais usufruir do resultado<br />
do seu trabalho (a casa que faz não é para<br />
ele).<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão propõe ao participante que<br />
estabeleça uma relação entre linguagens,<br />
associando a compreensão de um efeito<br />
semântico produzido pelo uso do oxímoro<br />
nos quadrinhos com o mesmo efeito num<br />
texto poético. O índice (18%) de escolhas da<br />
alternativa D deve-se, possivelmente, a uma<br />
análise parcial da noção de paradoxo,<br />
confundida com inversão.<br />
Vêm das terras secas e escuras;<br />
pedregulhos<br />
Doloridos como fagulhas de carvão aceso<br />
Corpos disformes, uns panos sujos,<br />
Rasgados e sem cor, dependurados<br />
Homens de enorme ventre bojudo<br />
Mulheres com trouxas caídas para o lado<br />
Pançudas, carregando ao colo um garoto<br />
Choramingando, remelento<br />
(....)<br />
(Cândido Portinari. Poemas. Rio de Janeiro:<br />
J. Olympio, 1964.)<br />
Das quatro obras reproduzidas, assinale<br />
aquelas que abordam a problemática que<br />
é tema do poema.<br />
A) 1 e 2 D) 3 e 4<br />
B) 1 e 3 E) 2 e 4<br />
C) 2 e 3<br />
Comentário<br />
O poema apresenta correspondência com<br />
as imagens ao descrever com detalhes a<br />
figura do retirante: pobre, mal vestido,<br />
carregando trouxas e embrulhos.<br />
28) (2004)<br />
27) (2005) Cândido Portinari (1903-1962), um<br />
dos mais importantes artistas brasileiros<br />
do século XX, tratou de diferentes<br />
aspectos da nossa realidade em seus<br />
quadros.<br />
A polifonia, variedade de vozes, presente<br />
no poema resulta da manifestação do<br />
A) poeta e do colonizador apenas.<br />
B) colonizador e do negro apenas.<br />
C) negro e do índio apenas.<br />
D) colonizador, do poeta e do negro<br />
apenas.<br />
E) poeta, do colonizador, do índio e do<br />
negro.<br />
Sobre a temática dos “Retirantes”,<br />
Portinari também escreveu o seguinte<br />
poema:<br />
(....)<br />
Os retirantes vêm vindo com trouxas e<br />
embrulhos<br />
Comentário<br />
A questão apresenta uma certa<br />
dificuldade, pois, à primeira vista, parecem<br />
confundir-se as vozes do colonizador, do<br />
negro e do índio. Entretanto, os<br />
travessões existentes no poema explicitam<br />
as falas das personagens ao mostrar que<br />
não são apenas as vozes do poeta e do<br />
colonizador que estão presentes. As falas do<br />
índio e do negro são proferidas por eles,<br />
527
marca expressa pelo discurso direto. A<br />
presença dessa modalidade de discurso<br />
indica a reprodução literal do que as<br />
personagens disseram.<br />
Um ponto interessante em relação a essa<br />
questão é a intertextualidade. O índio<br />
aparece no poema pela remissão a um texto<br />
poético do nosso Romantismo, em um<br />
processo intertextual com “I-Juca-Pirama”, de<br />
Gonçalves Dias; e a presença do negro se dá<br />
pela ligação com Mário de Andrade, em<br />
Macunaíma. Entende-se, portanto, que a<br />
alternativa correta é a letra E.<br />
29) (2003) No ano passado, o governo<br />
promoveu uma campanha a fim de reduzir<br />
os índices de violência. Noticiando o fato,<br />
um jornal publicou a seguinte manchete:<br />
CAMPANHA CONTRA A VIOLÊNCIA DO<br />
GOVERNO DO ESTADO ENTRA EM NOVA<br />
FASE<br />
A manchete tem um duplo sentido, e isso<br />
dificulta o entendimento. Considerando o<br />
objetivo da notícia, esse problema poderia<br />
ter sido evitado com a seguinte redação:<br />
A) Campanha contra o governo do Estado<br />
e a violência entram em nova fase.<br />
B) A violência do governo do Estado entra<br />
em nova fase de Campanha.<br />
C) Campanha contra o governo do Estado<br />
entra em nova fase de violência.<br />
D) A violência da campanha do governo<br />
do Estado entra em nova fase.<br />
E) Campanha do governo do Estado<br />
contra a violência entra em nova fase.<br />
Comentário<br />
O objetivo da questão é eliminar a<br />
ambigüidade da notícia de jornal, que,<br />
originalmente, trazia duas idéias: de acordo<br />
com a primeira, o governo queria combater a<br />
violência, e a segunda ressaltava que o<br />
governo era violento. Nessa questão,<br />
era preciso eliminar a segunda possibilidade<br />
de leitura.<br />
30) (2004)<br />
Nesta tirinha, a personagem faz referência<br />
a uma das mais conhecidas figuras de<br />
linguagem para<br />
A) condenar a prática de exercícios físicos<br />
B) valorizar aspectos da vida moderna.<br />
C) desestimular o uso das bicicletas.<br />
D) caracterizar o diálogo entre as<br />
gerações.<br />
E) criticar a falta de perspectiva do pai.<br />
Comentário<br />
A construção indica a falta de perspectiva<br />
na vida do pai do personagem. “Pedalar sem<br />
sair do lugar” é uma metáfora muito usada na<br />
cultura brasileira para expressar como é a<br />
vida de uma pessoa que age de forma a não<br />
conseguir qualquer mudança — para melhor<br />
ou para pior — na vida.<br />
31) (2004) As questões de números 26 e 27<br />
referem-se ao poema abaixo.<br />
Entre os recursos expressivos<br />
empregados no texto, destaca-se a<br />
A) metalinguagem, que consiste em fazer<br />
a linguagem referir-se à própria<br />
linguagem.<br />
B) intertextualidade, na qual o texto<br />
retoma e reelabora outros textos.<br />
C) ironia, que consiste em se dizer o<br />
contrário do que se pensa, com<br />
intenção crítica.<br />
D) denotação, caracterizada pelo uso das<br />
palavras em seu sentido próprio e<br />
objetivo.<br />
E) prosopopéia, que consiste em<br />
personificar coisas inanimadas,<br />
atribuindo-lhes vida.<br />
Comentário<br />
A questão trata de um texto de Carlos<br />
Drummond de Andrade em que ele fala sobre<br />
o crescimento urbano e a pobreza que esse<br />
processo traz. Para tanto, o poeta utiliza uma<br />
linguagem irônica, revelando o lado oculto do<br />
desenvolvimento. Dessa forma, temos como<br />
correta a alternativa C.<br />
528
32) (2007) Antigamente<br />
Acontecia o indivíduo apanhar<br />
constipação; ficando perrengue, mandava<br />
o próprio chamar o doutor e, depois, ir à<br />
botica para aviar a receita, de cápsulas ou<br />
pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />
phtísica, feia era o gálico. Antigamente, os<br />
sobrados tinham assombrações, os<br />
meninos, lombrigas (...)<br />
Carlos Drummond de Andrade. Poesia completa e prosa.<br />
Rio de Janeiro: Companhia José Aguilar, p. 1.184.<br />
O texto acima está escrito em linguagem<br />
de uma época passada. Observe uma<br />
outra versão, em linguagem atual.<br />
Antigamente<br />
Acontecia o indivíduo apanhar um<br />
resfriado; ficando mal, mandava o próprio<br />
chamar o doutor e, depois, ir à farmácia<br />
para aviar a receita, de cápsulas ou<br />
pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />
tuberculose, feia era a sífilis. Antigamente,<br />
os sobrados tinham assombrações, os<br />
meninos, vermes (...)<br />
Comparando-se esses dois textos,<br />
verifica-se que, na segunda versão, houve<br />
mudanças relativas a<br />
A) vocabulário.<br />
B) construções sintáticas.<br />
C) pontuação.<br />
D) fonética.<br />
E) regência verbal.<br />
Comentário<br />
Questão fácil. O aluno deveria comparar<br />
os dois textos e verificar as alterações<br />
realizadas na segunda versão apresentada.<br />
Nesse momento, fica evidente a mudança de<br />
vocabulário, o que indica a alternativa A<br />
como a correta.<br />
33) (2001) Nas conversas diárias, utiliza-se<br />
freqüentemente a palavra “próprio” e ela<br />
se ajusta a várias situações. Leia os<br />
exemplos de diálogos:<br />
I - A Vera se veste diferente!<br />
- É mesmo, é que ela tem um estilo<br />
próprio.<br />
II - A Lena já viu esse filme uma dezena<br />
de vezes! Eu não consigo ver o<br />
que ele tem de tão maravilhoso assim.<br />
- É que ele é próprio para adolescente.<br />
III - Dora, o que eu faço? Ando tão<br />
preocupada com o Fabinho! Meu filho<br />
está impossível!<br />
- Relaxa, Tânia! É próprio da idade.<br />
Com o tempo, ele se acomoda.<br />
Nas ocorrências I, II e III, “próprio” é<br />
sinônimo de, respectivamente,<br />
A) adequado, particular, típico.<br />
B) peculiar, adequado, característico.<br />
C) conveniente, adequado, particular.<br />
D) adequado, exclusivo, conveniente.<br />
E) peculiar, exclusivo, característico.<br />
Comentário<br />
Para responder a essa pergunta,<br />
substitua, nos trechos, a palavra próprio<br />
pelos possíveis equivalentes apresentados<br />
nas alternativas. Questão simples que pode<br />
ser resolvida por eliminação.<br />
Comentário do INEP<br />
Nesta questão são apresentados três<br />
textos em que uma mesma palavra é<br />
utilizada com sentidos diferentes. O problema<br />
consiste em observar a variedade de uso de<br />
um mesmo termo e as possibilidades de sua<br />
compreensão, estabelecendo uma relação<br />
comparativa com base em uma análise<br />
semântica. Cerca de metade (49%) dos<br />
participantes estabeleceu essa relação de<br />
maneira correta. Os participantes que<br />
assinalaram a alternativa D (21%),<br />
possivelmente isolaram o termo do contexto,<br />
gerando um equívoco entre "adequado" e<br />
"exclusivo".<br />
34) (2003) Do pedacinho de papel ao livro<br />
impresso vai uma longa distância. Mas o<br />
que o escritor quer, mesmo, é isso: ver o<br />
seu texto em letra de forma. A gaveta é<br />
ótima para aplacar a fúria criativa; ela faz<br />
amadurecer o texto da mesma forma que<br />
a adega faz amadurecer o vinho. Em<br />
certos casos, a cesta de papel é melhor<br />
ainda.<br />
O período de maturação na gaveta é<br />
necessário, mas não deve se prolongar<br />
muito. ‘Textos guardados acabam<br />
cheirando mal’, disse Silvia Plath, (...) que,<br />
com esta frase, deu testemunho das<br />
dúvidas que atormentam o escritor:<br />
publicar ou não publicar? guardar ou jogar<br />
fora?<br />
(Moacyr Scliar. O escritor e seus desafios.)<br />
529
Nesse texto, o escritor Moacyr Scliar usa<br />
imagens para refletir sobre uma etapa da<br />
criação literária. A idéia de que o processo<br />
de maturação do texto nem sempre é o<br />
que garante bons resultados está sugerida<br />
na seguinte frase:<br />
A) "A gaveta é ótima para aplacar a fúria<br />
criativa."<br />
B) "Em certos casos, a cesta de papel é<br />
melhor ainda."<br />
C) "O período de maturação na gaveta é<br />
necessário, (...)."<br />
D) "Mas o que o escritor quer, mesmo, é<br />
isso: ver o seu texto em letra de forma."<br />
E) "ela (a gaveta) faz amadurecer o texto<br />
da mesma forma que a adega faz<br />
amadurecer o vinho."<br />
Comentário<br />
Essa questão exigia a interpretação das<br />
frases. A palavra NEM no enunciado exclui<br />
todas as alternativas que tratam do<br />
amadurecimento ou da importância da<br />
gaveta para o bom sucesso da produção<br />
literária.<br />
A alternativa B é a única que apresenta<br />
um procedimento alternativo para a produção<br />
textual, ou seja, o lixo, e significa a liberdade<br />
do escritor em começar,<br />
interromper, recomeçar ou simplesmente<br />
abandonar a obra, permitindo a ele exercer<br />
seu livre-arbítrio.<br />
35) (2007)<br />
Aqui na floresta<br />
Dos ventos batida,<br />
Façanhas de bravos<br />
Não geram escravos,<br />
Que estimem a vida<br />
Sem guerra e lidar.<br />
— Ouvi-me, Guerreiros,<br />
— Ouvi meu cantar.<br />
O canto do guerreiro<br />
Valente na guerra,<br />
Quem há, como eu sou?<br />
Quem vibra o tacape<br />
Com mais valentia?<br />
Quem golpes daria<br />
Fatais, como eu dou?<br />
— Guerreiros, ouvi-me;<br />
— Quem há, como eu sou?<br />
Gonçalves Dias.<br />
Macunaíma<br />
(Epílogo)<br />
Acabou-se a história e morreu a vitória.<br />
Não havia mais ninguém lá. Dera<br />
tangolomângolo na tribo Tapanhumas e<br />
os filhos dela se acabaram de um em um.<br />
Não havia mais ninguém lá. Aqueles<br />
lugares, aqueles campos, furos<br />
puxadouros arrastadouros meiosbarrancos,<br />
aqueles matos misteriosos,<br />
tudo era solidão do deserto... Um silêncio<br />
imenso dormia à beira do rio Uraricoera.<br />
Nenhum conhecido sobre a terra não<br />
sabia nem falar da tribo nem contar<br />
aqueles casos tão pançudos. Quem podia<br />
saber do Herói?<br />
Mário de Andrade.<br />
Considerando-se a linguagem desses dois<br />
textos, verifica-se que<br />
A) a função da linguagem centrada no<br />
receptor está ausente tanto no primeiro<br />
quanto no segundo texto.<br />
B) a linguagem utilizada no primeiro texto<br />
é coloquial, enquanto, no segundo,<br />
predomina a linguagem formal.<br />
C) há, em cada um dos textos, a<br />
utilização de pelo menos uma palavra<br />
de origem indígena.<br />
D) a função da linguagem, no primeiro<br />
texto, centra-se na forma de<br />
organização da linguagem e, no<br />
segundo, no relato de informações<br />
reais.<br />
E) a função da linguagem centrada na<br />
primeira pessoa, predominante no<br />
segundo texto, está ausente no<br />
primeiro.<br />
Comentário<br />
Questão de nível médio. Essa é uma<br />
questão que foca a linguagem dos textos, e<br />
cada qual em seu gênero (poesia e prosa,<br />
respectivamente). O aluno chega à<br />
conclusão que a alternativa correta é a C por<br />
meio da exclusão das demais alternativas.<br />
A resposta correta não é a A, pois há um<br />
receptor que pode ser percebido nas<br />
seguintes perguntas contidas no texto:<br />
Texto 1 – “Guerreiros, ouvi-me;/Quem há,<br />
como eu sou?”<br />
Texto 2 – “Quem podia saber do herói?”<br />
Também não é a alternativa B, pois o<br />
conteúdo dos textos não é discriminatório. No<br />
primeiro texto, há uma idealização do índio e,<br />
no segundo, há uma realidade crítica e<br />
satírica da sociedade.<br />
A alternativa D é excluída, porque o<br />
segundo texto não fala de uma realidade, já<br />
que Macunaíma é um herói fictício e nãoreal.<br />
Por fim, também está errada a alternativa<br />
E. Isso porque não temos no epílogo do texto<br />
de Macunaíma a linguagem centrada na<br />
primeira pessoa, mas sim, na terceira.<br />
36) (2003) Eu começaria dizendo que poesia<br />
é uma questão de linguagem. A<br />
importância do poeta é que ele torna mais<br />
viva a linguagem. Carlos Drummond de<br />
Andrade escreveu um dos mais belos<br />
versos da língua portuguesa com duas<br />
palavras comuns: cão e cheirando.<br />
Um cão cheirando o futuro<br />
(Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP, 24/05/1988.<br />
adaptação)<br />
530
O que deu ao verso de Drummond o<br />
caráter de inovador da língua foi<br />
A) o modo raro como foi tratado o<br />
"futuro".<br />
B) a referência ao cão como "animal de<br />
estimação".<br />
C) a flexão pouco comum do verbo<br />
"cheirar" (gerúndio).<br />
D) a aproximação não usual do agente<br />
citado e a ação de "cheirar".<br />
E) o emprego do artigo indefinido "um" e<br />
do artigo definido "o" na mesma frase.<br />
Comentário<br />
O fato de Drummond identificar o futuro<br />
como algo que pode ser percebido por um<br />
animal irracional por meio do olfato foi<br />
inovador. A figura de linguagem foi<br />
construída metaforicamente: o futuro torna-se<br />
uma coisa que tem cheiro, contrariamente à<br />
imagem pela qual ele normalmente é<br />
representado: como algo que não se vê e<br />
não se pode pressentir ou tocar.<br />
37) (2002) Só falta o Senado aprovar o<br />
projeto de lei [sobre o uso de termos<br />
estrangeiros no Brasil] para que palavras<br />
como shopping center , delivery e drivethrough<br />
sejam proibidas em nomes de<br />
estabelecimentos e marcas. Engajado<br />
nessa valorosa luta contra o inimigo<br />
ianque, que quer fazer área de livre<br />
comércio com nosso inculto e belo idioma,<br />
venho sugerir algumas outras medidas<br />
que serão de extrema importância para a<br />
preservação da soberania nacional, a<br />
saber:<br />
........<br />
Nenhum cidadão carioca ou gaúcho<br />
poderá dizer "Tu vai" em espaços públicos<br />
do território nacional;<br />
Nenhum cidadão paulista poderá dizer "Eu<br />
lhe amo" e retirar ou acrescentar o plural<br />
em sentenças como "Me vê um chopps e<br />
dois pastel";<br />
..........<br />
Nenhum dono de borracharia poderá<br />
escrever cartaz com a palavra "borraxaria"<br />
e nenhum dono de banca de jornal<br />
anunciará "Vende-se cigarros";<br />
..........<br />
Nenhum livro de gramática obrigará os<br />
alunos a utilizar colocações pronominais<br />
como "casar-me-ei" ou "ver-se-ão".<br />
PIZA, Daniel. Uma proposta imodesta. O Estado de<br />
S. Paulo, São Paulo, 8/04/2001.<br />
No texto acima, o autor:<br />
A) mostra-se favorável ao teor da<br />
proposta por entender que a língua<br />
portuguesa deve ser protegida contra<br />
deturpações de uso.<br />
B) ironiza o projeto de lei ao sugerir<br />
medidas que inibam determinados usos<br />
regionais e socioculturais da língua.<br />
C) denuncia o desconhecimento de regras<br />
elementares de concordância verbal e<br />
nominal pelo falante brasileiro.<br />
D) revela-se preconceituoso em relação a<br />
certos registros lingüísticos ao propor<br />
medidas que os controlem.<br />
E) defende o ensino rigoroso da gramática<br />
para que todos aprendam a empregar<br />
corretamente os pronomes.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. O autor ironiza o<br />
projeto de lei que proíbe o uso de<br />
estrangeirismos no Brasil. Não adianta criarse<br />
uma expectativa ou preocupação em<br />
relação ao uso de termos estrangeiros na<br />
língua e esquecer-se de que a língua é um<br />
organismo vivo, mutável. A dinâmica de uma<br />
língua não pode ser regida por preceitos<br />
legais como quer o projeto.<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão reproduz trechos de um<br />
texto que aborda o polêmico projeto de<br />
proibição de uso de termos estrangeiros no<br />
Brasil. A partir da leitura atenta do texto de<br />
Daniel Piza, o participante é levado a refletir<br />
sobre a postura adotada pelo autor em<br />
relação ao referido projeto. Para<br />
compreender esse texto, o participante<br />
precisa reconhecer o tom irônico que marca<br />
as observações e sugestões feitas por seu<br />
autor. Assim, Daniel Piza, "engajado nessa<br />
valorosa luta contra o inimigo ianque", sugere<br />
a proibição de algumas formas lingüísticas de<br />
uso corrente que contrariam recomendações<br />
da gramática normativa. O participante deve<br />
reconhecer que, com sugestões como essas,<br />
Daniel Piza deixa implícita uma crítica à<br />
utilidade do projeto de proibição dos<br />
estrangeirismos como forma de proteger a<br />
Língua Portuguesa. Nesse contexto, a ironia<br />
torna-se mais clara, bem como o mecanismo<br />
textual que a constrói. Feito tal<br />
reconhecimento, o aluno encontra a resposta<br />
correta na alternativa B, assinalada por cerca<br />
da metade dos participantes. Nenhuma outra<br />
alternativa contempla o aspecto irônico,<br />
essencial para a compreensão do texto.<br />
531
38) (2003) Pequenos tormentos da vida<br />
De cada lado da sala de aula, pelas janelas<br />
altas, o azul convida os meninos,<br />
as nuvens desenrolam-se, lentas como quem<br />
vai inventando<br />
preguiçosamente uma história sem fim...Sem<br />
fim é a aula: e nada acontece,<br />
nada...Bocejos e moscas. Se ao menos,<br />
pensa Margarida, se ao menos um<br />
avião entrasse por uma janela e saísse por<br />
outra!<br />
(Mário Quintana. Poesias)<br />
Na cena retratada no texto, o sentimento<br />
do tédio<br />
A) provoca que os meninos fiquem<br />
contando histórias.<br />
B) leva os alunos a simularem bocejos,<br />
em protesto contra a monotonia da<br />
aula.<br />
C) acaba estimulando a fantasia,<br />
criando a expectativa de algum<br />
imprevisto mágico.<br />
D) prevalece de modo absoluto,<br />
impedindo até mesmo a distração ou o<br />
exercício do pensamento.<br />
E) decorre da morosidade da aula, em<br />
contraste com o movimento acelerado<br />
das nuvens e das moscas.<br />
Comentário<br />
Essa questão aborda o imaginário<br />
decorrente do marasmo trazido pela escola. O<br />
texto enfatiza o arrastar do tempo na mente de<br />
uma aluna, Margarida, que se põe a pensar em<br />
fatos mágicos ou imaginários que pudessem<br />
romper com a lentidão da aula.<br />
39) (2005) O termo (ou expressão)<br />
destacado que está empregado em seu<br />
sentido próprio, denotativo ocorre em:<br />
A) “(....)<br />
É de laço e de nó<br />
De gibeira o jiló<br />
Dessa vida, cumprida a sol (....)”<br />
(Renato Teixeira. Romaria. Kuarup Discos.<br />
setembro de 1992.)<br />
B) “Protegendo os inocentes<br />
é que Deus, sábio demais,<br />
põe cenários diferentes<br />
nas impressões digitais.”<br />
(Maria N. S. Carvalho. Evangelho da Trova. /s.n.b.)<br />
D)<br />
E) “Humorismo é a arte de fazer cócegas<br />
no raciocínio dos outros. Há duas<br />
espécies de humorismo: o trágico e o<br />
cômico. O trágico é o que não<br />
consegue fazer rir; o cômico é o que é<br />
verdadeiramente trágico para se fazer.”<br />
(Leon Eliachar. www.mercadolivre.com.br.<br />
acessado em julho de 2005.)<br />
Comentário<br />
A definição do dicionário-padrão da língua<br />
utiliza o sentido denotativo da palavra para<br />
explicar o uso de determinado tipo de<br />
dicionário. Em todas as outras alternativas,<br />
as palavras estão sendo empregadas em<br />
sentido metafórico. Na letra A, "cumprida a<br />
sol" pode mostrar o sofrimento e a solidão.<br />
Na alternativa B, "cenários diferentes" são as<br />
diferenças físicas encontradas nas<br />
impressões digitais. Na letra D, "bateria" é o<br />
termo usado para expressar a "energia" do<br />
Menino Maluquinho, que nunca acaba. Por<br />
fim, na alternativa E, "fazer cócegas no<br />
raciocínio" significa expressar graça por meio<br />
de idéias, fazendo com que o cérebro ache<br />
um fato divertido e, por conseguinte, faça<br />
com que a pessoa ria como se sofresse um<br />
ataque de cócegas.<br />
40) (1999)<br />
532<br />
C) “O dicionário-padrão da língua e os<br />
dicionários unilíngües são os tipos mais<br />
comuns de dicionários. Em nossos<br />
dias, eles se tornaram um objeto de<br />
consumo obrigatório para as nações<br />
civilizadas e desenvolvidas.”<br />
(Maria T. Camargo Biderman.<br />
O dicionário-padrão da língua. Alfa (28), 2743, 1974 Supl.)
Diante da visão de um prédio com uma<br />
placa indicando SAPATARIA PAPALIA,<br />
um jovem deparou com a dúvida: como<br />
pronunciar a palavra PAPALIA?<br />
Levado o problema à sala de aula, a<br />
discussão girou em torno da utilidade de<br />
conhecer as regras de acentuação e,<br />
especialmente, do auxílio que elas podem<br />
dar à correta pronúncia de palavras.<br />
Após discutirem pronúncia, regras de<br />
acentuação e escrita, três alunos<br />
apresentaram as seguintes conclusões a<br />
respeito da palavra PAPALIA:<br />
IV. Se a sílaba tônica for o segundo PA, a<br />
escrita deveria ser PAPÁLIA, pois a<br />
palavra seria paroxítona terminada em<br />
ditongo crescente.<br />
V. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />
deveria ser PAPALÍA, pois "i" e "a"<br />
estariam formando hiato.<br />
VI. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />
deveria ser PAPALIA, pois não haveria<br />
razão para o uso de acento gráfico.<br />
A conclusão está correta apenas em:<br />
A) III D) I<br />
B) I e II E) II<br />
C) I e III<br />
Comentário<br />
Essa questão exige bom conhecimento<br />
das regras de acentuação. A alternativa A diz<br />
que apenas a afirmação I é verdadeira. De<br />
fato ela é, mas não é a única. Nela, temos a<br />
hipótese de a palavra ser grafada como se a<br />
sílaba forte fosse a penúltima — papália —,<br />
justificando seu acento gráfico. Vejamos o<br />
que dizem as regras de acentuação.<br />
Acentuam-se as palavras paroxítonas<br />
terminadas em: i, is, us, um, uns, l, n, r, x,<br />
ps, ã, ãs, ão, ãos, ditongos orais,<br />
crescentes ou decrescentes, seguidos ou<br />
não de S. Isso valida, portanto, a afirmação I.<br />
A afirmação II pressupõe que a sílaba<br />
tônica seja LI, em hiato com A: no caso de<br />
essa ser a tonicidade da palavra, a sílaba LI<br />
não poderia ser acentuada, pois I, mesmo<br />
sendo a tônica do hiato, não é a última vogal,<br />
portanto, essa afirmativa é falsa.<br />
A afirmação III considera que a sílaba<br />
tônica é LI, não havendo acento por ser o I a<br />
primeira vogal do hiato. Portanto, essa<br />
afirmação é verdadeira.<br />
Concluindo, temos como verdadeiras as<br />
afirmações I e III. Então, a alternativa E é a<br />
correta. Questão de nível difícil.<br />
Comentário do INEP<br />
Dentre os participantes, somente pouco<br />
mais de um terço (35%) demonstrou possuir<br />
a habilidade para identificar as regras de<br />
acentuação corretas, enunciadas na questão.<br />
Chama a atenção o fato de que 73% dos<br />
participantes (alternativas A, D e E)<br />
reconheceram corretamente, pelo menos, a<br />
regra contida no item I, sendo que cerca de<br />
40% desses, contudo, tiveram dificuldades<br />
em analisar as regras II e III.<br />
Em se tratando de palavra não-usual, é,<br />
sobretudo, o domínio do conhecimento das<br />
regras e não a possível pronúncia correta,<br />
pelo uso, o que parece ter sido revelado.<br />
41) (2008)<br />
Exame, 28/9/2007.<br />
Entre os seguintes ditos populares, qual<br />
deles melhor corresponde à figura<br />
acima?<br />
A) Com perseverança, tudo se alcança.<br />
B) Cada macaco no seu galho.<br />
C) Nem tudo que balança cai.<br />
D) Quem tudo quer, tudo perde.<br />
E) Deus ajuda quem cedo madruga.<br />
Comentário<br />
Assim como a questão 37, esta também<br />
envolve interpretação de signos, ou seja, o<br />
aluno precisa estar atento à imagem e<br />
relacioná-la ao dito popular correspondente.<br />
A alternativa "A" é a correta, pois, para<br />
uma lesma “grudenta” e vagarosa conseguir<br />
pular numa cama elástica, é necessária<br />
muita perseverança.<br />
42) (2002) A crônica muitas vezes constitui<br />
um espaço para reflexão sobre aspectos<br />
da sociedade em que vivemos.<br />
"Eu, na rua, com pressa, e o menino<br />
segurou no meu braço, falou qualquer<br />
coisa que não entendi. Fui logo dizendo<br />
que não tinha, certa de que ele estava<br />
pedindo dinheiro. Não estava. Queria<br />
saber a hora.<br />
533
Talvez não fosse um Menino De<br />
Família, mas também não era um Menino<br />
De Rua. É assim que a gente divide.<br />
Menino De Família é aquele bem-vestido<br />
com tênis da moda e camiseta de marca,<br />
que usa relógio e a mãe dá outro se o<br />
dele for roubado por um Menino De Rua.<br />
Menino De Rua é aquele que quando a<br />
gente passa perto segura a bolsa com<br />
força porque pensa que ele é pivete,<br />
trombadinha, ladrão. (...) Na verdade não<br />
existem meninos De rua.<br />
Existem meninos NA rua. E toda vez<br />
que um menino está NA rua é porque<br />
alguém o botou lá. Os meninos não vão<br />
sozinhos aos lugares. Assim como são<br />
postos no mundo, durante muitos anos<br />
também são postos onde quer que<br />
estejam. Resta ver quem os põe na rua. E<br />
por quê."<br />
COLASSANTI, Marina. In: Eu sei, mas não devia. Rio de<br />
Janeiro: Rocco, 1999.<br />
No terceiro parágrafo em "... não existem<br />
meninos De rua. Existem meninos NA<br />
rua.", a troca de De pelo Na determina<br />
que a relação de sentido entre "menino" e<br />
"rua" seja<br />
A) de localização e não de qualidade.<br />
B) de origem e não de posse.<br />
C) de origem e não de localização.<br />
D) de qualidade e não de origem.<br />
E) de posse e não de localização.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Apesar de não<br />
haver um terceiro parágrafo neste texto, a<br />
troca das preposições ao final do SEGUNDO<br />
parágrafo indica claramente que não há um<br />
menino DE (proveniente de) rua, mas um<br />
menino que está NA (foi levado à) rua.<br />
Portanto, a relação é unicamente de<br />
localização (onde ele está) e não de<br />
qualidade (o que ele é).<br />
Comentário do INEP<br />
A reprodução de um trecho de uma<br />
crônica de Marina Colassanti tematiza uma<br />
importante questão social brasileira: a<br />
presença de milhões de crianças nas ruas do<br />
País. A autora, ao tratar desse problema,<br />
vale-se de recursos lingüísticos específicos.<br />
O objetivo desta questão é justamente<br />
chamar a atenção do participante leitor para<br />
esses recursos e os efeitos de sentido que<br />
eles desencadeiam no texto. Na raiz da<br />
questão destaca-se a troca de "De" por "NA"<br />
e pede-se que se determine qual relação de<br />
sentido essa substituição estabelece entre os<br />
termos "menino" e "rua". Analisar a relação,<br />
nesse caso, significa perguntar-se sobre o<br />
sentido de dois sintagmas criados no texto:<br />
"meninos NA rua" por oposição a "meninos<br />
De rua". O que a autora pretende negar, com<br />
a troca do termo de relação, é a possibilidade<br />
de que existam meninos de rua diferentes de<br />
outros meninos, que não têm na rua a sua<br />
origem. O destaque para a preposição na<br />
nos leva a refletir que a relação dos meninos<br />
com a rua é de localização: eles estão ali por<br />
alguma razão, não porque essa seja a sua<br />
qualificação. Essa reflexão levaria o aluno a<br />
escolher, como correta, a resposta<br />
apresentada na alternativa A, assinalada por<br />
cerca de metade dos participantes.<br />
43) (2000) O uso do pronome átono no início<br />
das frases é destacado por um poeta e<br />
por um gramático nos textos abaixo.<br />
Pronominais<br />
Dê-me um cigarro<br />
Diz a gramática<br />
Do professor e do aluno<br />
E do mulato sabido<br />
Mas o bom negro e o bom branco<br />
da Nação Brasileira<br />
Dizem todos os dias<br />
Deixa disso camarada<br />
Me dá um cigarro<br />
(ANDRADE, Oswald de. Seleção de textos.<br />
São Paulo: Nova Cultural, 1988)<br />
“Iniciar a frase com pronome átono só<br />
é lícito na conversação familiar,<br />
despreocupada, ou na língua escrita<br />
quando se deseja reproduzir a fala dos<br />
personagens (...).”<br />
(CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da<br />
língua portuguesa.<br />
São Paulo: Nacional, 1980)<br />
Comparando a explicação dada pelos<br />
autores sobre essa regra, pode-se afirmar<br />
que ambos:<br />
A) condenam essa regra gramatical.<br />
B) acreditam que apenas os esclarecidos<br />
sabem essa regra.<br />
C) criticam a presença de regras na<br />
gramática.<br />
D) afirmam que não há regras para uso de<br />
pronomes.<br />
E) relativizam essa regra gramatical.<br />
534
Comentário<br />
Questão que requer conhecimento básico<br />
de colocação pronominal, em relação ao uso<br />
de pronomes átonos no início de frases, uma<br />
regra muito pouco respeitada pelo brasileiro,<br />
da qual Oswald de Andrade faz questão de<br />
falar em seu poema. Porém, a questão pode<br />
ser resolvida simplesmente por meio de uma<br />
leitura bem atenta dos textos. Se formos<br />
analisando alternativa por alternativa, a<br />
eliminação é clara e lógica: a alternativa a<br />
fica totalmente descartada devido à<br />
transparência da colocação dos dois autores<br />
(Me dá um cigarro...) e (iniciar frases com o<br />
pronome átono é "lícito" na conversação<br />
familiar ou despreocupada). Já a alternativa b<br />
pode até mesmo gerar um pouco de dúvida a<br />
quem não se atém bem à pergunta. Quanto<br />
às alternativas c e d, ficam descartadas, pois,<br />
em momento nenhum, os autores criticaram<br />
o uso de regras gramaticais em seus textos,<br />
cabendo perfeitamente a alternativa e para<br />
as afirmações do gramático e do poeta.<br />
Comentário do INEP<br />
Essa questão pretendia verificar como o<br />
participante analisa um fato lingüístico,<br />
mediante a comparação da descrição desse<br />
fato em dois textos. Sabe-se que,<br />
normalmente em situação escolar, o uso do<br />
pronome átono no início da frase é julgado<br />
como grave desvio gramatical, e pouco se<br />
analisa esse uso na fala ou escrita informal.<br />
Os dois autores dos textos, com intenções<br />
diferentes, relativizam essa regra gramatical,<br />
destacando e descrevendo o seu uso<br />
coloquial. A maioria dos participantes (52%)<br />
analisou e comparou corretamente as<br />
posições dos autores sobre o uso do<br />
pronome átono, e 24% deles reafirmaram a<br />
posição discriminatória da regra, deslocandoa<br />
de seu uso.<br />
Auto-retrato de orelha cortada<br />
O 3º quadrinho sugere que Garfield:<br />
A) desconhece tudo sobre arte, por isso<br />
faz a sugestão.<br />
B) acredita que todo pintor deve fazer algo<br />
diferente.<br />
C) defende que para ser pintor a pessoa<br />
tem de sofrer.<br />
D) conhece a história de um pintor<br />
famoso e faz uso da ironia.<br />
E) acredita que seu dono tenha tendência<br />
artística e, por isso, faz a sugestão.<br />
Comentário<br />
Outra questão de interpretação de texto.<br />
Muito simples para quem um dia ouviu falar<br />
de Van Gogh, e simplíssima para aqueles<br />
que prestam atenção em todos os elementos<br />
do enunciado. Afinal, quem deu uma<br />
espiadinha na legenda do quadro de Van<br />
Gogh matou na hora a questão.<br />
Esta questão é daquelas rápidas de serem<br />
resolvidas, associando-se os elementos<br />
apresentados.<br />
Comentário do INEP<br />
A significativa maioria (81%) dos<br />
participantes soube perceber o caráter<br />
irônico da fala do Garfield, expressa no<br />
terceiro quadrinho porque, ou conheciam a<br />
história de Van Gogh, ou apropriaram-se<br />
corretamente da informação sobre esse<br />
pintor, fornecida no enunciado.<br />
45) (2004)<br />
44) (2000) As histórias em quadrinhos, por<br />
vezes, utilizam animais como<br />
personagens e a eles atribuem<br />
comportamento humano. O gato Garfield<br />
é exemplo desse fato.<br />
Fonte: Caderno Vida e Arte, Jornal do Povo, Fortaleza<br />
Van Gogh, pintor holandês nascido em<br />
1853, é um dos principais nomes da<br />
pintura mundial. É dele o quadro abaixo.<br />
A tira "Hagar" e o poema de Alberto<br />
Caeiro (um dos heterônimos de Fernando<br />
Pessoa) expressam, com linguagens<br />
diferentes, uma mesma idéia: a de que a<br />
compreensão que temos do mundo é<br />
condicionada, essencialmente,<br />
535
536<br />
A) pelo alcance de cada cultura.<br />
B) pela capacidade visual do observador.<br />
C) pelo senso de humor de cada um.<br />
D) pela idade do observador.<br />
E) pela altura do ponto de observação.<br />
Comentário<br />
Questão reflexiva sobre a forma como<br />
cada cultura vê o mundo sob a ótica dos<br />
limites dados pelos seus costumes e<br />
possibilidades de pensamento inerentes a<br />
cada modelo cultural. A mistura de uma tira e<br />
de um poema amplia a possibilidade de<br />
pensamento por trabalhar com linguagens<br />
diferentes. A alternativa correta é a letra A,<br />
pois ambos (tira e poema) utilizam figuras de<br />
linguagem (metáfora e ironia) para expressar<br />
as diferentes visões de mundo.<br />
46) (2003)<br />
O humor presente na tirinha decorre<br />
principalmente do fato de a personagem<br />
Mafalda<br />
A) atribuir, no primeiro quadrinho, poder<br />
ilimitado ao dedo indicador.<br />
B) considerar seu dedo indicador tão<br />
importante quanto o dos patrões.<br />
C) atribuir, no primeiro e no último<br />
quadrinhos, um mesmo sentido ao<br />
vocábulo "indicador".<br />
D) usar corretamente a expressão<br />
"indicador de desemprego", mesmo<br />
sendo criança.<br />
E) atribuir, no último quadrinho, fama<br />
exagerada ao dedo indicador dos<br />
patrões.<br />
Comentário<br />
A questão pede a interpretação de uma<br />
charge da personagem Mafalda, em que ela<br />
faz referência a seu dedo indicador, que é<br />
usado como substantivo primitivo e que<br />
possibilita a analogia com “indicador de<br />
desemprego”. Dessa forma, ela ironiza os<br />
indicadores sociais. Na charge, porém, não<br />
há menção explícita aos índices<br />
“indicadores”, permanecendo o raciocínio<br />
preso apenas ao dedo indicador. Assim, ela<br />
utiliza, tanto no primeiro quanto no último<br />
quadrinho, a palavra “indicador” como<br />
referência ao dedo, não dando abertura a<br />
outro tipo de interpretação.<br />
47) (2009)<br />
XAVIER, C. Quadrinho quadrado. Disponível em:<br />
http://www.releituras.com. Acesso em: 5 jul. 2009.<br />
Quanto às variantes linguísticas presentes<br />
no texto, a norma padrão da língua<br />
portuguesa é rigorosamente obedecida<br />
por meio<br />
A) do emprego do pronome demonstrativo<br />
"esse" em "Por que o senhor publicou<br />
esse livro?".<br />
B) do emprego do pronome pessoal<br />
oblíquo em "Meu filho, um escritor<br />
publica um livro para parar de escrevêlo!".<br />
C) do emprego do pronome possessivo<br />
"sua" em "Qual foi sua maior<br />
motivação?".<br />
D) do emprego do vocativo "Meu filho",<br />
que confere à fala distanciamento do<br />
interlocutor.<br />
E) da necessária repetição do conectivo<br />
no último quadrinho.<br />
Comentário<br />
(QUESTÃO: AZUL <strong>10</strong>1, BRANCA <strong>10</strong>2,<br />
ROSA <strong>10</strong>1)<br />
A alternativa B é a única que está de<br />
acordo com a norma-padrão, pois apresenta<br />
a função do pronome pessoal oblíquo de<br />
retomar um termo já mencionado<br />
anteriormente pelo emissor da mensagem,<br />
nesse caso, “livro”.<br />
48) (2009) Quando eu falo com vocês,<br />
procuro usar o código de vocês. A figura<br />
do índio no Brasil de hoje não pode ser<br />
aquela de 500 anos atrás, do passado,<br />
que representa aquele primeiro contato.<br />
Da mesma forma que o Brasil de hoje não<br />
é o Brasil de ontem, tem 160 milhões de<br />
pessoas com diferentes sobrenomes.
Vieram para cá asiáticos, europeus,<br />
africanos, e todo mundo quer ser<br />
brasileiro. A importante pergunta que nós<br />
fazemos é: qual é o pedaço de índio que<br />
vocês têm? O seu cabelo? São seus<br />
olhos? Ou é o nome da sua rua? O nome<br />
da sua praça? Enfim, vocês devem ter um<br />
pedaço de índio dentro de vocês. Para<br />
nós, o importante é que vocês olhem para<br />
a gente como seres humanos, como<br />
pessoas que nem precisam de<br />
paternalismos, nem precisam ser tratadas<br />
com privilégios. Nós não queremos tomar<br />
o Brasil de vocês, nós queremos<br />
compartilhar esse Brasil com vocês.<br />
TERENA, M. Debate. MORIN, E. Saberes globais e<br />
saberes locais.<br />
Rio de Janeiro: Garamond, 2000 (adaptado).<br />
Os procedimentos argumentativos<br />
utilizados no texto permitem inferir que o<br />
ouvinte/leitor, no qual o emissor foca o<br />
seu discurso, pertence<br />
A) ao mesmo grupo social do<br />
falante/autor.<br />
B) a um grupo de brasileiros<br />
considerados como não índios.<br />
C) a um grupo étnico que representa a<br />
maioria europeia que vive no país.<br />
D) a um grupo formado por estrangeiros<br />
que falam português.<br />
E) a um grupo sociocultural formado por<br />
brasileiros naturalizados e imigrantes.<br />
Comentário<br />
(QUESTÃO: AZUL 121, BRANCA 122,<br />
ROSA 122)<br />
As passagens: "Quando falo com vocês,<br />
procuro usar o código de vocês" e "Nós não<br />
queremos tomar o Brasil de vocês...", deixa<br />
claro que o emissor e o leitor fazem parte de<br />
grupos distintos. Como o texto remete-se à<br />
figura do índio, a alternativa correta é a letra<br />
B.<br />
49) (2009)<br />
Veja, 7 maio 1997.<br />
Na parte superior do anúncio, há um<br />
comentário escrito à mão que aborda a<br />
questão das atividades linguísticas e sua<br />
relação com as modalidades oral e escrita<br />
da língua. Esse comentário deixa evidente<br />
uma posição crítica quanto a usos que se<br />
fazem da linguagem, enfatizando ser<br />
necessário<br />
A) implementar a fala, tendo em vista<br />
maior desenvoltura, naturalidade e<br />
segurança no uso da língua.<br />
B) conhecer gêneros mais formais da<br />
modalidade oral para a obtenção de<br />
clareza na comunicação oral e escrita.<br />
C) dominar as diferentes variedades do<br />
registro oral da língua portuguesa para<br />
escrever com adequação, eficiência e<br />
correção.<br />
D) empregar vocabulário adequado e<br />
usar regras da norma padrão da língua<br />
em se tratando da modalidade escrita.<br />
E) utilizar recursos mais expressivos e<br />
menos desgastados da variedade<br />
padrão da língua para se expressar<br />
com alguma segurança e sucesso.<br />
Comentário<br />
(QUESTÃO: AZUL 125, BRANCA 125,<br />
ROSA 125)<br />
Essa é uma questão bastante fácil. Para<br />
resolvê-la, o candidato deve, com base<br />
no comentário escrito à mão, entender o<br />
porquê de ser apresentada uma posição<br />
crítica ao uso da linguagem coloquial na<br />
escrita.<br />
Dessa forma, a alternativa correta é a<br />
D, que enfatiza serem necessários o<br />
conhecimento e a utilização da norma padrão<br />
e de um vocabulário adequado na escrita.<br />
COMPETÊNCIA DE ÁREA 9<br />
H28 - Reconhecer a função e o<br />
impacto social das<br />
diferentes tecnologias da<br />
comunicação e informação<br />
01) (1999) Leia o texto abaixo.<br />
Cabelos longos, brinco na orelha<br />
esquerda, físico de skatista. Na aparência,<br />
o estudante brasiliense Rui Lopes Viana<br />
Filho, de 16 anos, não lembra em nada o<br />
estereótipo dos gênios. Ele não usa<br />
pesados óculos de grau e está longe de<br />
ter um ar introspectivo. No final do mês<br />
passado, Rui retornou de Taiwan, onde<br />
enfrentou 419 competidores de todo o<br />
537
538<br />
mundo na 39ª Olimpíada Internacional de<br />
Matemática. A reluzente medalha de ouro<br />
que ele trouxe na bagagem está<br />
dependurada sobre a cama de seu quarto,<br />
atulhado de rascunhos dos problemas<br />
matemáticos que aprendeu a decifrar nos<br />
últimos cinco anos.<br />
Veja – Vencer uma olimpíada serve de<br />
passaporte para uma carreira profissional<br />
meteórica?<br />
Rui – Nada disso. Decidi me dedicar à<br />
Olimpíada porque sei que a concorrência<br />
por um emprego é cada vez mais<br />
selvagem e cruel. Agora tenho algo a mais<br />
para oferecer. O problema é que as coisas<br />
estão mudando muito rápido e não sei<br />
qual será minha profissão. Além de ser<br />
muito novo para decidir sobre o meu<br />
futuro profissional, sei que esse conceito<br />
de carreira mudou muito.<br />
(Entrevista de Rui Lopes Viana Filho à Veja,<br />
05/08/1998, n.31, p. 9-<strong>10</strong>)<br />
Na pergunta, o repórter estabelece uma<br />
relação entre a entrada do estudante no<br />
mercado de trabalho e a vitória na<br />
Olimpíada. O estudante<br />
A) concorda com a relação e afirma que o<br />
desempenho na Olimpíada é<br />
fundamental para sua entrada no<br />
mercado.<br />
B) discorda da relação e complementa<br />
que é fácil se fazer previsões sobre o<br />
mercado de trabalho.<br />
C) discorda da relação e afirma que seu<br />
futuro profissional independe de<br />
dedicação aos estudos.<br />
D) discorda da relação e afirma que seu<br />
desempenho só é relevante se<br />
escolher uma profissão relacionada à<br />
matemática.<br />
E) concorda em parte com a relação e<br />
complementa que é complexo fazer<br />
previsões sobre o mercado de trabalho.<br />
Comentário<br />
Não é difícil de se chegar à resposta<br />
correta ao se ler a reportagem. Ao final do<br />
último parágrafo — (...) Além de ser muito<br />
novo para decidir sobre o meu futuro<br />
profissional, sei que esse conceito de carreira<br />
mudou muito. —, o estudante praticamente<br />
fornece a resposta à questão, declarando-se<br />
realista ao não tentar prever seu futuro<br />
profissional devido à pouca idade e às<br />
mudanças no mercado de trabalho. Quanto a<br />
concordar parcialmente com o repórter, veja<br />
que ele, apesar de negar que o prêmio fosse<br />
uma garantia de sucesso profissional, logo<br />
depois afirma que, com ele, terá algo mais a<br />
oferecer ao mercado. Questão de nível fácil.<br />
Comentário do INEP<br />
Nesta situação-problema, o participante<br />
deveria demonstrar que compreendeu as<br />
premissas de um discurso, distinguindo a<br />
diferença de significado de palavras isoladas<br />
ou no contexto em que estão inseridas.<br />
Verificou-se que mais da metade dos<br />
participantes demonstrou possuir essa<br />
compreensão. Aqueles que optaram pelas<br />
alternativas C e D podem ter sido atraídos<br />
pelo significado negativo da expressão inicial<br />
"Nada disso".<br />
02) (1998) Texto 1<br />
"Mulher, Irmã, escuta-me: não ames,<br />
Quando a teus pés um homem terno e<br />
curvo<br />
jurar amor, chorar pranto de sangue,<br />
Não creias, não, mulher: ele te engana!<br />
As lágrimas são gotas da mentira<br />
E o juramento manto da perfídia."<br />
(Joaquim Manoel de Macedo)<br />
Texto 2<br />
"Teresa, se algum sujeito bancar o<br />
sentimental em cima de você<br />
E te jurar uma paixão do tamanho de um<br />
bonde<br />
Se ele chorar<br />
Se ele ajoelhar<br />
Se ele se rasgar todo<br />
Não acredite não Teresa<br />
É lágrima de cinema<br />
É tapeação<br />
Mentira<br />
CAI FORA"<br />
(Manuel Bandeira)<br />
Os autores, ao fazerem alusão às<br />
imagens da lágrima sugerem que:<br />
A) há um tratamento idealizado da<br />
relação homem/mulher.<br />
B) há um tratamento realista da relação<br />
homem/mulher.<br />
C) a relação familiar é idealizada.<br />
D) a mulher é superior ao homem.<br />
E) a mulher é igual ao homem.<br />
Comentário<br />
Ambos os autores, ao utilizarem a<br />
imagem da lágrima, estão na realidade<br />
mostrando que a figura do homem que é<br />
romântico a ponto de chorar ao jurar amor<br />
não existe. Tanto Macedo quanto<br />
Bandeira alertam as mulheres dizendo,<br />
com palavras e estilos diferentes, que não
há homem que chore por amor (portanto,<br />
essa figura é uma idealização — e, por<br />
conseguinte, toda imagem que se tem<br />
sobre os relacionamentos<br />
demasiadamente românticos). Note que<br />
Bandeira chega até mesmo a chamar tal<br />
"chorão" de ator ("...É lágrima de cinema /<br />
É tapeação..."). Macedo dá uma imagem<br />
pesada às lágrimas ("...são gotas da<br />
mentira...").<br />
03) (1999) Considere os textos abaixo.<br />
(...) de modo particular, quero encorajar os<br />
crentes empenhados no campo da<br />
filosofia para que iluminem os diversos<br />
âmbitos da atividade humana, graças ao<br />
exercício de uma razão que se torna mais<br />
segura e perspicaz com o apoio que<br />
recebe da fé.<br />
(Papa João Paulo II. Carta Encíclica Fides<br />
et Ratio aos bispos da igreja católica sobre as relações<br />
entre fé e razão, 1998)<br />
As verdades da razão natural não<br />
contradizem as verdades da fé cristã.<br />
(São Tomás de Aquino<br />
–pensador medieval)<br />
Refletindo sobre os textos, pode-se<br />
concluir que:<br />
A) a encíclica papal está em contradição<br />
com o pensamento de São Tomás de<br />
Aquino, refletindo a diferença de<br />
épocas.<br />
B) a encíclica papal procura<br />
complementar São Tomás de Aquino,<br />
pois este colocava a razão natural<br />
acima da fé.<br />
C) a Igreja medieval valorizava a razão<br />
mais do que a encíclica de João Paulo<br />
II.<br />
D) o pensamento teológico teve sua<br />
importância na Idade Média, mas, em<br />
nossos dias, não tem relação com o<br />
pensamento filosófico.<br />
E) tanto a encíclica papal como a frase<br />
de São Tomás de Aquino procuram<br />
conciliar os pensamentos sobre fé e<br />
razão.<br />
Comentário<br />
Nessa questão, é necessária uma<br />
releitura do texto para que se tenha uma<br />
melhor compreensão do tema. Tanto a<br />
citação do Papa quanto a de São Tomás de<br />
Aquino tentam criar uma interdependência<br />
entre a ciência e a fé, a religião. O Papa<br />
incentiva aqueles que exercem a pesquisa<br />
científica ou filosófica a manter a fé cristã.<br />
São Tomás de Aquino, por sua vez, equipara<br />
o avanço da ciência ao aumento da própria<br />
fé, afirmando que a razão natural não<br />
contradiz a fé cristã. Se um cresce, cresce<br />
também o outro, em harmonia e sem<br />
contradições. Questão de grau médio.<br />
(Português)<br />
Nessa questão, encontramos dois textos:<br />
o primeiro, do século XX, foi elaborado pelo<br />
Papa João Paulo II; o segundo, do século<br />
XIII, pelo teólogo e filósofo cristão São<br />
Tomás de Aquino. O conteúdo de ambos se<br />
refere à ligação entre fé e razão, a qual<br />
esteve presente na filosofia escolástica da<br />
Idade Média. Esse campo de reflexão buscou<br />
conciliar o cristianismo com o pensamento de<br />
Aristóteles e teve em São Tomás de Aquino<br />
seu maior representante.<br />
Mesmo sem ter todas essas informações,<br />
você poderia responder tranqüilamente à<br />
questão por meio de uma leitura atenta dos<br />
dois textos, chegando à conclusão de que<br />
"tanto a encíclica papal como a frase de São<br />
Tomás de Aquino procuram conciliar os<br />
pensamentos sobre fé e razão". Resposta<br />
correta: alternativa E. (História)<br />
Comentário do INEP<br />
Para resolver esta situação-problema, o<br />
participante deveria mostrar que, além de<br />
interpretar textos, sabe relacioná-los sendo<br />
que, nesse item, essas operações referem-se<br />
a um texto escrito na época medieval e a<br />
outro escrito recentemente.<br />
Mais de 70% dos participantes<br />
demonstraram facilidade em estabelecer esta<br />
relação.<br />
04) (1999) Leia um texto publicado no jornal<br />
Gazeta Mercantil. Esse texto é parte de<br />
um artigo que analisa algumas situações<br />
de crise no mundo, entre elas, a quebra<br />
da Bolsa de Nova Iorque em 1929, e foi<br />
publicado na época de uma iminente crise<br />
financeira no Brasil.<br />
Deu no que deu. No dia 29 de outubro de<br />
1929, uma terça-feira, praticamente não<br />
havia compradores no pregão de Nova<br />
Iorque, só vendedores. Seguiu-se uma<br />
crise incomparável: o Produto Interno<br />
Bruto dos Estados Unidos caiu de <strong>10</strong>4<br />
bilhões de dólares em 1929, para 56<br />
bilhões em 1933, coisa inimaginável em<br />
nossos dias. O valor do dólar caiu a quase<br />
metade. O desemprego elevou-se de 1,5<br />
milhão para 12,5 milhões de trabalhadores<br />
– cerca de 25% da população ativa –<br />
entre 1929 e 1933. A construção civil caiu<br />
539
90%. Nove milhões de aplicações, tipo<br />
caderneta de poupança, perderam-se com<br />
o fechamento dos bancos. Oitenta e cinco<br />
mil firmas faliram. Houve saques e norteamericanos<br />
que passaram fome.<br />
(Gazeta Mercantil, 05/01/1999)<br />
Ao citar dados referentes à crise ocorrida<br />
em 1929, em um artigo jornalístico atual,<br />
pode-se atribuir ao jornalista a seguinte<br />
intenção:<br />
A) questionar a interpretação da crise.<br />
B) comunicar sobre o desemprego.<br />
C) instruir o leitor sobre aplicações em<br />
bolsa de valores.<br />
D) relacionar os fatos passados e<br />
presentes.<br />
E) analisar dados financeiros americanos.<br />
Comentário<br />
Nessa questão, o que se tem de fazer é<br />
prestar atenção às alternativas das<br />
respostas. Nenhuma delas se apresenta tão<br />
bem contextualizada a uma possível<br />
interpretação quanto a letra D. Partindo-se da<br />
análise do texto, fica claro que a intenção do<br />
artigo é remeter o leitor ao passado para<br />
tentar conduzi-lo a uma reflexão sobre uma<br />
situação presente, não mencionada na<br />
questão. Após a leitura e utilizando-se a já<br />
citada eliminação de questões, torna-se clara<br />
a resposta. Questão de nível médio.<br />
(Português)<br />
Muitas vezes, quando procuramos<br />
entender uma crise econômica ou financeira<br />
de grandes proporções, buscamos<br />
estabelecer relações com crises passadas. O<br />
mesmo ocorre no jornalismo, como prova o<br />
texto encontrado nessa questão. Buscando<br />
entender uma crise ocorrida no início de<br />
1999, o jornalista da Gazeta Mercantil<br />
buscou relacionar a situação dessa época<br />
com a grande crise de 1929 que afetou o<br />
mundo, trazendo desemprego e recessão,<br />
entre tantos outros problemas econômicos e<br />
sociais.<br />
Para responder a essa questão, era<br />
necessário ler atentamente o enunciado, em<br />
que está destacado que "o texto é parte de<br />
um artigo que analisa algumas situações de<br />
crise no mundo" e "foi publicado na época de<br />
uma iminente crise financeira no Brasil". Era<br />
importante também observar a data em que o<br />
artigo foi publicado: 05/01/1999. A partir<br />
dessas constatações, facilmente você<br />
chegaria a conclusão de que a intenção do<br />
jornalista era "relacionar os fatos passados e<br />
presentes". Resposta correta: alternativa D.<br />
(História)<br />
Comentário do INEP<br />
A resolução da questão demandava a<br />
capacidade dos participantes de relacionar<br />
eventos históricos envolvendo crises<br />
econômicas ocorridas em épocas e lugares<br />
distintos. Aproximadamente 2/3 deles<br />
demonstraram essa capacidade. Os demais,<br />
provavelmente, não compreenderam a<br />
exigência expressa no enunciado do<br />
problema – apontar as razões pelas quais um<br />
jornalista traz à tona eventos ocorridos<br />
setenta anos antes –, e apenas interpretaram<br />
o sentido do texto citado, que descreve a<br />
crise mundial de 1929.<br />
05) (2002) O autor da tira utilizou os<br />
princípios de composição de um<br />
conhecido movimento artístico para<br />
representar a necessidade de um mesmo<br />
observador aprender a considerar,<br />
simultaneamente, diferentes pontos de<br />
vista.<br />
Das obras reproduzidas, todas de autoria<br />
do pintor espanhol Pablo Picasso, aquela<br />
em cuja composição foi adotado um<br />
procedimento semelhante é:<br />
A)<br />
B)<br />
540
C)<br />
D)<br />
tinha como procedimento de composição<br />
representar, para um mesmo observador,<br />
diferentes pontos de vista, fazendo com que<br />
"o tradicional único ponto de vista" fosse<br />
abandonado e com que a perspectiva fosse<br />
fraturada. A análise das obras de Picasso<br />
reproduzidas nas alternativas permite que o<br />
participante reconheça a adoção desse<br />
procedimento no quadro "Marie-Thérèse<br />
apoiada no cotovelo" (alternativa E, com 46%<br />
de registros), no qual se pode reconhecer a<br />
representação de diferentes pontos de vista<br />
a partir dos quais é apresentado o rosto da<br />
mulher retratada.<br />
E)<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. O movimento<br />
artístico que previa considerar<br />
simultaneamente diversos pontos de vista<br />
era o Cubismo. Havia a desconstrução da<br />
forma para que se pudesse ver todos os<br />
ângulos concomitantemente. O único quadro<br />
que apresenta essas características é o da<br />
alternativa E. As outras quatro alternativas<br />
pressupõem a manutenção da forma.<br />
Comentário do INEP<br />
O objetivo desta questão é levar o<br />
participante a refletir sobre características<br />
fundamentais de um movimento artístico – o<br />
cubismo – a partir de dados visuais:<br />
quadrinhos e pinturas. A reprodução de dois<br />
quadrinhos da personagem Calvin forneceu<br />
para o participante informações básicas para<br />
a análise que deveria fazer das alternativas<br />
apresentadas. Segundo os quadrinhos, o<br />
movimento artístico abordado pela questão<br />
06) (2002) "A palavra tatuagem é<br />
relativamente recente. Toda a gente sabe<br />
que foi o navegador Cook que a introduziu<br />
no Ocidente, e esse escrevia tattou, termo<br />
da Polinésia de tatou ou tu tahou,<br />
'desenho'.<br />
(...) Desde os mais remotos tempos,<br />
vemo-la a transformar-se: distintivo<br />
honorífico entre uns homens, ferrete de<br />
ignomínia entre outros, meio de assustar o<br />
adversário para os bretões, marca de uma<br />
classe de selvagens das ilhas marquesas<br />
(...) sinal de amor, de desprezo, de ódio<br />
(...). Há três casos de tatuagem no Rio,<br />
completamente diversos na sua<br />
significação moral: os negros,os turcos<br />
com o fundo religioso e o bando de<br />
meretrizes, dos rufiões e dos humildes,<br />
que se marcam por crime ou por<br />
ociosidade".<br />
RIO, João do. Os Tatuadores. Revista Kosmos.<br />
1904, apud: A alma encantadora das ruas,<br />
SP: Cia das Letras, 1999.<br />
Com base no texto são feitas as seguintes<br />
afirmações:<br />
I. João do Rio revela como a tatuagem já<br />
estava presente na cidade do Rio de<br />
Janeiro, pelo menos desde o início do<br />
século XX, e era mais utilizada por<br />
alguns setores da população.<br />
II. A tatuagem, de origem polinésia,<br />
difundiu-se no ocidente com a<br />
característica que permanece até hoje:<br />
utilização entre os jovens com função<br />
estritamente estética.<br />
III. O texto mostra como a tatuagem é<br />
uma prática que se transforma no<br />
tempo e que alcança inúmeros sentidos<br />
nos diversos setores das sociedades e<br />
para as diferentes culturas.<br />
541
Está correto o que se afirma apenas em<br />
A) I D) I e II<br />
B) II E) I e III<br />
C) III<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Constata-se o<br />
seguinte: a tatuagem já existia no Brasil no<br />
início do século XX (o texto é de 1904 e parte<br />
dele se refere ao Rio do Janeiro) e era<br />
utilizada em diferentes setores da sociedade.<br />
A afirmação de que as tatuagens possuem<br />
apenas finalidade estética entre os jovens<br />
elimina a segunda alternativa. Já a última<br />
alternativa confirma as transformações das<br />
funções da tatuagem ao longo do tempo nas<br />
mais diversas sociedades e culturas.<br />
Comentário do INEP<br />
O texto estabelece uma relação entre a<br />
atualidade da palavra "tatuagem" e a<br />
antiguidade do uso de desenhos como<br />
pintura corporal. Focaliza uma prática social<br />
bastante difundida que adquiriu aspectos e<br />
conotações diversos nos diferentes contextos<br />
históricos e geográficos em que ela pode ser<br />
descrita. Fazendo a descrição da prática da<br />
tatuagem, como uma manifestação comum a<br />
diferentes culturas, e que adquire, inclusive,<br />
significados diferentes dentro de uma mesma<br />
cultura, induz o participante a refletir sobre a<br />
"diversidade dos patrimônios etnoculturais e<br />
artísticos", contextualizando ao mesmo<br />
tempo seus significados "em diferentes<br />
sociedades, épocas e lugares". Ao retomar<br />
as várias origens e usos da tatuagem, o<br />
participante é levado a compreender e<br />
respeitar uma gramática histórica dos<br />
costumes marcada sempre por semelhanças<br />
e diferenças. A questão não exigia, portanto,<br />
nenhum conhecimento prévio sobre as<br />
diferentes formas de manifestação dessa<br />
prática, mas simplesmente constatar, com o<br />
autor do texto citado, a historicidade e a<br />
diversidade das práticas sociais. Os<br />
participantes que assinalaram a alternativa C<br />
(36%), possivelmente, não levaram em<br />
consideração informações do texto. A<br />
questão foi corretamente respondida por 37%<br />
dos participantes.<br />
07) (2000) O autor do texto abaixo critica,<br />
ainda que em linguagem metafórica, a<br />
sociedade contemporânea em relação aos<br />
seus hábitos alimentares.<br />
“Vocês que têm mais de 15 anos, se<br />
lembram quando a gente comprava leite<br />
em garrafa, na leiteria da esquina? (...)<br />
542<br />
Mas vocês não se lembram de nada,<br />
pô! Vai ver nem sabem o que é vaca. Nem<br />
o que é leite. Estou falando isso porque<br />
agora mesmo peguei um pacote de leite –<br />
leite em pacote, imagina, Tereza! – na<br />
porta dos fundos e estava escrito que é<br />
pasterizado, ou pasteurizado, sei lá, tem<br />
vitamina, é garantido pela<br />
embromatologia, foi enriquecido e o<br />
escambau. Será que isso é mesmo leite?<br />
No dicionário diz que leite é outra coisa:<br />
‘Líquido branco, contendo água,<br />
proteína, açúcar e sais minerais’. Um<br />
alimento pra ninguém botar defeito. O ser<br />
humano o usa há mais de 5.000 anos. É o<br />
único alimento só alimento. A carne serve<br />
pro animal andar, a fruta serve pra fazer<br />
outra fruta, o ovo serve pra fazer outra<br />
galinha (...) O leite é só leite. Ou toma ou<br />
bota fora. Esse aqui examinando bem, é<br />
só pra botar fora. Tem chumbo, tem<br />
benzina, tem mais água do que leite, tem<br />
serragem, sou capaz de jurar que nem<br />
vaca tem por trás desse negócio. Depois o<br />
pessoal ainda acha estranho que os<br />
meninos não gostem de leite.<br />
Mas, como não gostam? Não gostam<br />
como? Nunca tomaram! Múúúúúúú!”<br />
(FERNANDES, Millôr. O Estado de S. Paulo ,<br />
22 de agosto de 1999)<br />
A palavra embromatologia usada pelo<br />
autor é:<br />
A) um termo científico que significa estudo<br />
dos bromatos.<br />
B) uma composição do termo de gíria<br />
“embromação” (enganação) com<br />
bromatologia, que é o estudo dos<br />
alimentos.<br />
C) uma junção do termo de gíria<br />
“embromação” (enganação) com<br />
lactologia, que é o estudo das<br />
embalagens para leite.<br />
D) um neologismo da química orgânica<br />
que significa a técnica de retirar<br />
bromatos dos laticínios.<br />
E) uma corruptela de termo da<br />
agropecuária que significa a ordenha<br />
mecânica.<br />
Comentário<br />
É necessário para a resolução desta<br />
questão:<br />
- perceber que o texto critica o exagerado<br />
uso de substâncias artificiais nos<br />
alimentos;<br />
- conhecer o significado da gíria embromar e<br />
da palavra bromatologia.
Conhecendo esses significados, você<br />
elimina todas as alternativas erradas: a, c, d<br />
e e.<br />
Você poderá ter dúvida quanto à<br />
alternativa c, que também será eliminada se<br />
souber o significado da palavra lactologia,<br />
que é o estudo do leite e produtos lácteos e<br />
não das embalagens para leite.<br />
Nesta questão, são trabalhados os<br />
conceitos de interpretação de texto, formação<br />
de palavras e conhecimentos gerais.<br />
Comentário do INEP<br />
A resolução da questão requeria que o<br />
participante, ao ler o texto vinculasse o<br />
significado de um termo de gíria -<br />
"embromação" - com o da palavra<br />
bromatologia. A resposta correta exigia que o<br />
participante não abrisse mão do sabor<br />
picante contido na linguagem metafórica,<br />
sabor vinculado ao conhecimento específico<br />
contido na palavra bromatologia. Cerca da<br />
metade dos participantes (51%) optou pela<br />
alternativa correta e, os 20% que escolheram<br />
a alternativa C, provavelmente associaram a<br />
referência feita no texto à leite em pacote.<br />
C)<br />
D)<br />
E)<br />
08) (2008) Os signos visuais, como meios de<br />
comunicação, são classificados em<br />
categorias de acordo com seus<br />
significados.<br />
A categoria denominada indício<br />
corresponde aos signos visuais que têm<br />
origem em formas ou situações naturais<br />
ou casuais, as quais, devido à ocorrência<br />
em circunstâncias idênticas, muitas vezes<br />
repetidas, indicam algo e adquirem<br />
significado. Por exemplo, nuvens negras<br />
indicam tempestade. Com base nesse<br />
conceito, escolha a opção que representa<br />
um signo da categoria dos indícios.<br />
A)<br />
Comentário<br />
Trata-se de uma questão interpretativa. O<br />
aluno precisa entender o que é “indício” para<br />
respondê-la. Segundo o dicionário Aurélio,<br />
indício é o mesmo que “sinal, vestígio,<br />
indicação”. Das figuras apresentadas,<br />
apenas a alternativa B indica algo: a<br />
passagem de alguém por algum lugar —<br />
pegada.<br />
09) (2002)<br />
B)<br />
De acordo com a história em quadrinhos<br />
protagonizada por Hagar e seu filho<br />
Hamlet, pode-se afirmar que a postura de<br />
Hagar<br />
A) valoriza a existência da diversidade<br />
social e de culturas, e as várias<br />
representações e explicações desse<br />
universo.<br />
543
B) desvaloriza a existência da<br />
diversidade social e as várias culturas,<br />
e determina uma única explicação para<br />
esse universo.<br />
C) valoriza a possibilidade de explicar as<br />
sociedades e as culturas a partir de<br />
várias visões de mundo.<br />
D) valoriza a pluralidade cultural e social<br />
ao aproximar a visão de mundo de<br />
navegantes e não-navegantes.<br />
E) desvaloriza a pluralidade cultural e<br />
social, ao considerar o mundo habitado<br />
apenas pelos navegantes.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Hagar reduz o<br />
mundo a dois tipos de pessoas: navegantes<br />
e não-navegantes. No último quadrinho, diz<br />
que são os navegantes que estabelecem<br />
esses dois grupos. Portanto, quem é<br />
diferente dos navegantes (que estabelecem<br />
o padrão) simplesmente é incluído na massa<br />
única dos não-navegantes. Não importa<br />
quem ou quantos sejam, sua diversidade<br />
social ou cultural em relação aos navegantes<br />
ou entre si. Vemos aí a desvalorização de<br />
outras culturas.<br />
Comentário do INEP<br />
Dentre as habilidades básicas para a<br />
compreensão de um texto destaca-se a<br />
capacidade do leitor de identificar os<br />
pressupostos de cada afirmação que lhe é<br />
apresentada. Nesta questão o participante<br />
deve identificar a posição tanto de Hagar<br />
como de seu filho Hamlet e, em seguida,<br />
avaliar quais os argumentos que justificam a<br />
opinião de Hagar ao definir que no mundo só<br />
existem dois tipos de pessoas. A pergunta de<br />
Hamlet a seu pai explicita a importância do<br />
ato de narrar através do diálogo e do efeito<br />
humorístico contido no episódio representado<br />
na tira. O resultado da compreensão<br />
acertada do diálogo é que o narrador torna<br />
inteligível, para si e para os outros, a lógica<br />
do seu pensamento através do diálogo entre<br />
os dois personagens. É importante observar<br />
que o humor do personagem Hagar é<br />
identificado na postura simetricamente<br />
oposta à de Michel de Montaigne, por<br />
exemplo (ver questão 58): a sua visão de<br />
mundo apresenta-se autocentrada, isto é,<br />
centrada nos seus próprios valores (vikings).<br />
A habilidade requerida do participante nessa<br />
questão, qual seja, "valorizar a diversidade<br />
dos patrimônios etnoculturais", é mobilizada<br />
aqui na sua dimensão negativa: é criticando<br />
a postura chauvinista de Hagar que o<br />
participante é capaz de responder<br />
544<br />
corretamente a questão. A última alternativa<br />
(E) funciona como um distrator, pois neste<br />
caso não está suposta a crítica do discurso<br />
do personagem. Cerca de um terço dos<br />
participantes assinalou a alternativa correta<br />
B. As demais opções são devidas,<br />
possivelmente, a uma leitura pouco<br />
compreensiva das alternativas associadas a<br />
história em quadrinhos.<br />
<strong>10</strong>) (2009) A partir da metade do século XX,<br />
ocorreu um conjunto de transformações<br />
econômicas e sociais cuja dimensão é<br />
difícil de ser mensurada: a chamada<br />
explosão da informação. Embora essa<br />
expressão tenha surgido no contexto da<br />
informação científica e tecnológica, seu<br />
significado, hoje, em um contexto mais<br />
geral, atinge proporções gigantescas.<br />
Por estabelecerem novas formas de<br />
pensamento e mesmo de lógica, a<br />
informática e a lnternet vêm gerando<br />
impactos sociais e culturais importantes. A<br />
disseminação do microcomputador e a<br />
expansão da lnternet vêm acelerando o<br />
processo de globalização tanto no sentido<br />
do mercado quanto no sentido das trocas<br />
simbólicas possíveis entre sociedades e<br />
culturas diferentes, o que tem provocado e<br />
acelerado o fenômeno de hibridização<br />
amplamente caracterizado como próprio<br />
da pós-modernidade.<br />
FERNANDES, M. F.; PARÁ, T. A contribuição das<br />
novas tecnologias da informação na geração de<br />
conhecimento. Disponível em: http://www.coep.ufrj.br.<br />
Acesso em: 11 ago. 2009 (adaptado).<br />
Considerando-se o novo contexto social e<br />
econômico aludido no texto apresentado,<br />
as novas tecnologias de informação e<br />
comunicação<br />
A) desempenham importante papel,<br />
porque sem elas não seria possível<br />
registrar os acontecimentos históricos.<br />
B) facilitam os processos educacionais<br />
para ensino de tecnologia, mas não<br />
exercem influência nas ciências<br />
humanas.<br />
C) limitam-se a dar suporte aos meios de<br />
comunicação, facilitando sobretudo os<br />
trabalhos jornalísticos.<br />
D) contribuem para o desenvolvimento<br />
social, pois permitem o registro e a<br />
disseminação do conhecimento de<br />
forma mais democrática e interativa.<br />
E) estão em estágio experimental,<br />
particularmente na educação, área em<br />
que ainda não demonstraram potencial<br />
produtivo.
Comentário<br />
(QUESTÃO: AZUL <strong>10</strong>6, BRANCA <strong>10</strong>6,<br />
ROSA <strong>10</strong>8)<br />
Para resolver essa questão, o aluno<br />
deveria responder sobre o papel das novas<br />
tecnologias no novo contexto social e<br />
econômico.<br />
A resposta correta é a alternativa D, que<br />
aponta que a sua função é contribuir para o<br />
desenvolvimento social, pois ajudam a<br />
democratizar e a disseminar o conhecimento<br />
de maneira interativa.<br />
11) (2009) O “Portal Domínio Público”,<br />
lançado em novembro de 2004, propõe o<br />
compartilhamento de conhecimentos de<br />
forma equânime e gratuita, colocando à<br />
disposição de todos os usuários da<br />
lnternet, uma biblioteca virtual que deverá<br />
constituir referência para professores,<br />
alunos, pesquisadores e para a população<br />
em geral.<br />
Esse portal constitui um ambiente virtual<br />
que permite a coleta, a integração, a<br />
preservação e o compartilhamento de<br />
conhecimentos, sendo seu principal<br />
objetivo o de promover o amplo acesso ás<br />
obras literárias, artísticas e científicas (na<br />
forma de textos, sons, imagens e vídeos),<br />
já em domínio público ou que tenham a<br />
sua divulgação devidamente autorizada.<br />
BRASIL. Ministério da Educação. Disponível em:<br />
http:/www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 29 jul.<br />
2009 (adaptado).<br />
Considerando a função social das<br />
informações geradas nos sistemas de<br />
comunicação e informação, o ambiente<br />
virtual descrito no texto exemplifica<br />
A) a dependência das escolas públicas<br />
quanto ao uso de sistemas de<br />
informação.<br />
B) a ampliação do grau de interação entre<br />
as pessoas, a partir de tecnologia<br />
convencional.<br />
C) a democratização da informação, por<br />
meio da disponibilização de conteúdo<br />
cultural e científico à sociedade.<br />
D) a comercialização do acesso a<br />
diversas produções culturais nacionais<br />
e estrangeiras via tecnologia da<br />
informação e da comunicação.<br />
E) a produção de repertório cultural<br />
direcionado a acadêmicos e<br />
educadores.<br />
Comentário<br />
(QUESTÃO: AZUL 1<strong>10</strong>, BRANCA 1<strong>10</strong>,<br />
ROSA 1<strong>10</strong>)<br />
O texto informativo sobre o "Portal<br />
Domínio Público" apresenta que seu objetivo<br />
é disponibilizar "obras literárias, artísticas<br />
e científicas que sejam de domínio público ou<br />
que tenham a sua divulgação devidamente<br />
autorizada" a qualquer pessoa que deseje<br />
acessá-las.<br />
Portanto, a resposta certa é a alternativa<br />
C, que afirma ser o objetivo do portal<br />
democratizar a informação à sociedade.<br />
H29 - Identificar pela análise de<br />
suas linguagens, as<br />
tecnologias da comunicação<br />
e informação<br />
01) (2001) O mundo é grande<br />
O mundo é grande e cabe<br />
Nesta janela sobre o mar.<br />
O mar é grande e cabe<br />
Na cama e no colchão de amar.<br />
O amor é grande e cabe<br />
No breve espaço de beijar.<br />
ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e prosa.<br />
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983.<br />
Neste poema, o poeta realizou uma opção<br />
estilística: a reiteração de determinadas<br />
construções e expressões lingüísticas,<br />
como o uso da mesma conjunção para<br />
estabelecer a relação entre as frases.<br />
Essa conjunção estabelece, entre as<br />
idéias relacionadas, um sentido de<br />
A) oposição.<br />
B) comparação.<br />
C) conclusão.<br />
D) alternância.<br />
E) finalidade.<br />
Comentário<br />
Há três elementos repetidos neste trecho:<br />
o verbo ser, o artigo definido o e a conjunção<br />
aditiva e. A conjunção e estabelece uma<br />
relação entre idéias que, concretamente, são<br />
opostas (ex.: "O mundo é grande e cabe<br />
nesta janela sobre o mar"). A alternativa<br />
correta é a letra A.<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão apresenta, para leitura e<br />
análise, o poema "O mundo é grande", onde<br />
os recursos lingüísticos expressivos<br />
utilizados geram um efeito de oposição entre<br />
as idéias. A análise sintático-semântica é<br />
necessária para a compreensão do valor de<br />
545
oposição assumido pela conjunção "e":<br />
imagens justapostas estão relacionadas,<br />
contrapondo-se em planos diferentes. Um<br />
percentual significativo (46%) de<br />
participantes considerou que o valor da<br />
conjunção "e", nesse poema, é de<br />
comparação, o que não reflete o sentido<br />
estilístico proposto pelo poeta, mas<br />
corresponde apenas à primeira operação que<br />
se realiza para estabelecer o sentido de<br />
oposição. De maneira análoga, pode-se<br />
analisar os equívocos daqueles que optaram<br />
pelas alternativas C e D.<br />
02) (1999) SONETO DE FIDELIDADE<br />
De tudo, ao meu amor serei atento<br />
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto<br />
Que mesmo em face do maior encanto<br />
Dele se encante mais meu pensamento.<br />
Quero vivê-lo em cada vão momento<br />
E em seu louvor hei de espalhar meu<br />
canto<br />
E rir meu riso e derramar meu pranto<br />
Ao seu pesar ou seu contentamento.<br />
E assim, quando mais tarde me procure<br />
Quem sabe a morte, angústia de quem<br />
vive<br />
Quem sabe a solidão, fim de quem ama.<br />
Eu possa dizer do meu amor (que tive):<br />
Que não seja imortal, posto que é chama<br />
Mas que seja infinito enquanto dure.<br />
(MORAES, Vinícius de. Antologia poética. São Paulo: Cia<br />
das Letras, 1992).<br />
A palavra mesmo pode assumir diferentes<br />
significados, de acordo com a sua função<br />
na frase. Assinale a alternativa em que o<br />
sentido de mesmo equivale ao que se<br />
verifica no 3º verso da 1ª estrofe do<br />
poema de Vinícius de Moraes.<br />
A) "Pai, para onde fores, / irei também<br />
trilhando as mesmas ruas..." (Augusto<br />
dos Anjos)<br />
B) "Agora, como outrora, há aqui o<br />
mesmo contraste da vida interior, que<br />
é modesta, com a exterior, que é<br />
ruidosa." (Machado de Assis)<br />
C) "Havia o mal, profundo e persistente,<br />
para o qual o remédio não surtiu efeito,<br />
mesmo em doses variáveis."<br />
(Raimundo Faoro)<br />
D) "Mas, olhe cá, Mana Glória, há<br />
mesmo necessidade de fazê-lo<br />
padre?" (Machado de Assis)<br />
E) "Vamos de qualquer maneira, mas<br />
vamos mesmo." (Aurélio)<br />
Comentário<br />
Nessa questão, uma pequena análise<br />
sintática se faz necessária: mesmo, em<br />
ambos os casos, é conjunção subordinativa<br />
concessiva, introduzindo, portanto, uma<br />
oração subordinada cujo fato expresso é<br />
contrário ao da oração principal. Deve-se,<br />
então, recorrer à oração anterior para se ter<br />
certeza quanto à classificação. Grau<br />
moderado de dificuldade.<br />
Comentário do INEP<br />
Este problema buscou colocar o<br />
participante diante de uma situação que<br />
exigia a mobilização de seus mecanismos de<br />
reflexão sobre os processos lingüísticos em<br />
que um significante (uma palavra) assume<br />
diferentes significados, no enunciado, de<br />
acordo com a intenção do enunciador. Neste<br />
caso, além da compreensão da<br />
transformação de significado, é necessária a<br />
alteração de função morfossintática.<br />
Verifica-se que 62% dos participantes<br />
conseguiram identificar e analisar esse<br />
processo lingüístico, comparando a função<br />
do significante em diferentes enunciados.<br />
Isso demonstrou um domínio parcial da<br />
reflexão sobre a Língua Portuguesa, em<br />
diferentes contextos e textos.<br />
Os 18% dos participantes que<br />
assinalaram a alternativa B identificaram a<br />
diferença de significados mas,<br />
provavelmente, têm dificuldades em analisar<br />
estas mudanças em nível morfossintático<br />
(alternativa B).<br />
03) ( 2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />
poema.<br />
A DANÇA E A ALMA<br />
A DANÇA? Não é movimento,<br />
súbito gesto musical.<br />
É concentração, num momento,<br />
da humana graça natural.<br />
No solo não, no éter pairamos,<br />
nele amaríamos ficar.<br />
A dança – não vento nos ramos:<br />
seiva, força, perene estar.<br />
Um estar entre céu e chão,<br />
novo domínio conquistado,<br />
onde busque nossa paixão<br />
libertar-se por todo lado...<br />
Onde a alma possa descrever<br />
suas mais divinas parábolas<br />
sem fugir à forma do ser,<br />
por sobre o mistério das fábulas.<br />
(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />
Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />
546
A definição de dança, em linguagem de<br />
dicionário, que mais se aproxima do que<br />
está expresso no poema é<br />
A) a mais antiga das artes, servindo como<br />
elemento de comunicação e afirmação<br />
do homem em todos os momentos de<br />
sua existência.<br />
B) a forma de expressão corporal que<br />
ultrapassa os limites físicos,<br />
possibilitando ao homem a liberação de<br />
seu espírito.<br />
C) a manifestação do ser humano,<br />
formada por uma seqüência de gestos,<br />
passos e movimentos desconcertados.<br />
D) o conjunto organizado de movimentos<br />
do corpo, com ritmo determinado por<br />
instrumentos musicais, ruídos, cantos,<br />
emoções etc.<br />
E) o movimento diretamente ligado ao<br />
psiquismo do indivíduo e, por<br />
conseqüência, ao seu desenvolvimento<br />
intelectual e à sua cultura.<br />
Comentário<br />
A pergunta busca a aplicação do conceito<br />
de "estado de dicionário" (que também foi<br />
desenvolvido por Drummond no poema "A<br />
Procura da Poesia"). A literatura busca partir<br />
de palavras em estado de dicionário para,<br />
pelo aprofundamento do sentido delas, criar<br />
um mundo mais denso e particular. Em<br />
estado de dicionário, a dança, conforme é<br />
tratada nesse poema, apareceria na<br />
alternativa B: uma justaposição entre<br />
aspectos físicos e espirituais da expressão<br />
humana. Questão complexa.<br />
O poema “A Dança e a Alma” é construído<br />
com base em contrastes, como<br />
“movimento” e “concentração”. Em uma<br />
das estrofes, o termo que estabelece<br />
contraste com solo é:<br />
A) éter. D) paixão.<br />
B) seiva. E) ser.<br />
C) chão.<br />
Comentário<br />
O elemento que contrasta com "solo"<br />
(físico, tangível, perene) é "éter" (espiritual,<br />
intangível, volátil). Questão de nível médio de<br />
dificuldade.<br />
05) ( 2008) O surgimento da figura da Ema<br />
no céu, ao leste, no anoitecer, na segunda<br />
quinzena de junho, indica o início do<br />
inverno para os índios do sul do Brasil e o<br />
começo da estação seca para os do norte.<br />
É limitada pelas constelações de<br />
Escorpião e do Cruzeiro do Sul, ou<br />
Cut'uxu. Segundo o mito guarani, o<br />
Cut’uxu segura a cabeça da ave para<br />
garantir a vida na Terra, porque, se ela se<br />
soltar, beberá toda a água do nosso<br />
planeta. Os tupisguaranis utilizam o<br />
Cut'uxu para se orientar e determinar a<br />
duração das noites e as estações do ano.<br />
A ilustração a seguir é uma representação<br />
dos corpos celestes que constituem a<br />
constelação da Ema, na percepção<br />
indígena.<br />
04) (2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />
poema.<br />
A DANÇA E A ALMA<br />
A DANÇA? Não é movimento,<br />
súbito gesto musical.<br />
É concentração, num momento,<br />
da humana graça natural.<br />
No solo não, no éter pairamos,<br />
nele amaríamos ficar.<br />
A dança – não vento nos ramos:<br />
seiva, força, perene estar.<br />
Um estar entre céu e chão,<br />
novo domínio conquistado,<br />
onde busque nossa paixão<br />
libertar-se por todo lado...<br />
Onde a alma possa descrever<br />
suas mais divinas parábolas<br />
sem fugir à forma do ser,<br />
por sobre o mistério das fábulas.<br />
(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />
Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />
Almanaque BRASIL, maio/2007 (com adaptações).<br />
A próxima figura mostra, em campo de<br />
visão ampliado, como povos de culturas<br />
não-indígenas percebem o espaço estelar<br />
em que a Ema é vista.<br />
Internet: (com adaptações).<br />
547
Assinale a opção correta a respeito da<br />
linguagem empregada no texto A Ema.<br />
A) A palavra Cut’uxu é um regionalismo<br />
utilizado pelas populações próximas às<br />
aldeias indígenas.<br />
B) O autor se expressa em linguagem<br />
formal em todos os períodos do texto.<br />
C) A ausência da palavra Ema no início do<br />
período “É limitada (...)” caracteriza<br />
registro oral.<br />
D) A palavra Cut’uxu está destacada em<br />
itálico porque integra o vocabulário da<br />
linguagem informal.<br />
E) No texto, predomina a linguagem<br />
coloquial porque ele consta de um<br />
almanaque.<br />
Comentário<br />
A questão é simples, mas requer cuidados<br />
quanto aos conceitos de linguagem<br />
“informal”, “formal” e de “língua”. Se o aluno<br />
tiver noção desses conceitos,<br />
chegará facilmente à resposta. A linguagem<br />
formal ou culta prevalece no texto, e o termo<br />
“Cut’uxu’ não é um termo informal, mas, sim,<br />
uma expressão que pertence a uma língua<br />
indígena — o que justifica o emprego da<br />
palavra em itálico. A resposta correta é,<br />
portanto, a letra "B".<br />
B) um dos problemas que os pecuaristas<br />
vêm enfrentando na Amazônia é a<br />
proibição do plantio de soja.<br />
C) a mobilização de máquinas e de força<br />
humana torna o desmatamento mais<br />
caro que o aumento da produtividade<br />
de pastagens.<br />
D) o superavit comercial decorrente da<br />
exportação de carne produzida na<br />
Amazônia compensa a possível<br />
degradação ambiental.<br />
E) a recuperação de áreas desmatadas<br />
e o aumento de produtividade das<br />
pastagens podem contribuir para a<br />
redução do desmatamento na<br />
Amazônia.<br />
Comentário do portal<br />
Essa questão retrata o problema do<br />
desmatamento da Amazônia, relacionado<br />
principalmente com o desenvolvimento da<br />
pecuária na região. Para resolvê-la, foram<br />
necessários a leitura atenta do texto e o<br />
conhecimento sobre os problemas<br />
ambientais da atualidade. A alternativa<br />
correta é a letra E, pois é mais caro para os<br />
pecuaristas aumentar a produtividade do que<br />
as áreas de pasto, o que acarreta o aumento<br />
do desmatamento da Amazônia.<br />
06) (2008) Calcula-se que 78% do<br />
desmatamento na Amazônia tenha sido<br />
motivado pela pecuária — cerca de 35%<br />
do rebanho nacional está na região — e<br />
que pelo menos 50 milhões de hectares<br />
de pastos são pouco produtivos. Enquanto<br />
o custo médio para aumentar a<br />
produtividade de 1 hectare de pastagem é<br />
de 2 mil reais, o custo para derrubar igual<br />
área de floresta é estimado em 800 reais,<br />
o que estimula novos desmatamentos.<br />
Adicionalmente, madeireiras retiram as<br />
árvores de valor comercial que foram<br />
abatidas para a criação de pastagens. Os<br />
pecuaristas sabem que problemas<br />
ambientais como esses podem provocar<br />
restrições à pecuária nessas áreas, a<br />
exemplo do que ocorreu em 2006 com o<br />
plantio da soja, o qual, posteriormente, foi<br />
proibido em áreas de floresta.<br />
Época, 3/3/2008 e 9/6/2008 (com adaptações).<br />
548<br />
A partir da situação-problema descrita,<br />
conclui-se que<br />
A) o desmatamento na Amazônia decorre<br />
principalmente da exploração ilegal de<br />
árvores de valor comercial.<br />
07) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />
preciso, além de conhecer o padrão<br />
formal da Língua Portuguesa, saber<br />
adequar o uso da linguagem ao contexto<br />
discursivo. Para exemplificar este fato,<br />
seu professor de Língua Portuguesa<br />
convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />
Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />
brinca com situações de discurso oral que<br />
fogem à expectativa do ouvinte.<br />
Aí, Galera<br />
Jogadores de futebol podem ser<br />
vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />
você pode imaginar um jogador de futebol<br />
dizendo "estereotipação"? E, no<br />
entanto, por que não?<br />
- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />
galera.<br />
- Minha saudação aos aficionados do<br />
clube e aos demais esportistas, aqui<br />
presentes ou no recesso dos seus lares.<br />
- Como é?<br />
- Aí, galera.<br />
- Quais são as instruções do técnico?<br />
- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />
trabalho de contenção coordenada, com<br />
energia otimizada, na zona de
preparação, aumentam as<br />
probabilidades de, recuperado o<br />
esférico, concatenarmos um contragolpe<br />
agudo com parcimônia de meios e<br />
extrema objetividade, valendo-nos da<br />
desestruturação momentânea do<br />
sistema oposto, surpreendido pela<br />
reversão inesperada do fluxo da ação:<br />
- Ahn?<br />
- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />
pegá eles sem calça.<br />
- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />
coisa?<br />
- Posso dirigir uma mensagem de<br />
caráter sentimental, algo banal, talvez<br />
mesmo previsível e piegas, a uma<br />
pessoa à qual sou ligado por razões,<br />
inclusive, genéticas?<br />
- Pode.<br />
- Uma saudação para a minha<br />
progenitora.<br />
- Como é?<br />
- Alô, mamãe!<br />
- Estou vendo que você é um, um...<br />
- Um jogador que confunde o<br />
entrevistador, pois não corresponde à<br />
expectativa de que o atleta seja um ser<br />
algo primitivo com dificuldade de<br />
expressão e assim sabota a<br />
estereotipação?<br />
- Estereoquê?<br />
- Um chato?<br />
- Isso.<br />
Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />
O texto retrata duas situações<br />
relacionadas que fogem à expectativa do<br />
público. São elas:<br />
A) a saudação do jogador aos fãs do<br />
clube, no início da entrevista, e a<br />
saudação final dirigida à sua mãe.<br />
B) a linguagem muito formal do jogador,<br />
inadequada à situação da entrevista, e<br />
um jogador que fala, com desenvoltura,<br />
de modo muito rebuscado.<br />
C) o uso da expressão "galera", por parte<br />
do entrevistador, e da expressão<br />
"progenitora", por parte do jogador.<br />
D) o desconhecimento, por parte do<br />
entrevistador, da palavra<br />
"estereotipação", e a fala do jogador<br />
em "é pra dividir no meio e ir pra cima<br />
pra pegá eles sem calça".<br />
E) o fato de os jogadores de futebol serem<br />
vítimas de estereotipação e o jogador<br />
entrevistado não corresponder ao<br />
estereótipo.<br />
Comentário<br />
Quando pensamos em certas profissões,<br />
imaginamos qual seria o padrão de<br />
comportamento de quem as exerce. O texto<br />
está trabalhando uma divergência entre o<br />
que esperamos de um jogador de futebol (o<br />
estereótipo que temos dele) e um jogador<br />
que não se enquadra em nossas<br />
expectativas. Levando isso em consideração,<br />
as duas coisas que destoam do que<br />
esperamos encontrar nessa situação são: 1)<br />
alguém, ao dar uma entrevista de alto<br />
alcance popular, fala de maneira<br />
extremamente rebuscada; 2) um jogador que,<br />
ao falar de maneira rebuscada, acaba por<br />
fugir do estereótipo do jogador de futebol, de<br />
quem sempre é esperado algo menos<br />
rebuscado e mais popular.<br />
08) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />
preciso, além de conhecer o padrão<br />
formal da Língua Portuguesa, saber<br />
adequar o uso da linguagem ao contexto<br />
discursivo. Para exemplificar este fato,<br />
seu professor de Língua Portuguesa<br />
convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />
Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />
brinca com situações de discurso oral que<br />
fogem à expectativa do ouvinte.<br />
Aí, Galera<br />
Jogadores de futebol podem ser<br />
vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />
você pode imaginar um jogador de futebol<br />
dizendo "estereotipação"? E, no<br />
entanto, por que não?<br />
- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />
galera.<br />
- Minha saudação aos aficionados do<br />
clube e aos demais esportistas, aqui<br />
presentes ou no recesso dos seus lares.<br />
- Como é?<br />
- Aí, galera.<br />
- Quais são as instruções do técnico?<br />
- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />
trabalho de contenção coordenada, com<br />
energia otimizada, na zona de<br />
preparação, aumentam as<br />
probabilidades de, recuperado o<br />
esférico, concatenarmos um contragolpe<br />
agudo com parcimônia de meios e<br />
extrema objetividade, valendo-nos da<br />
desestruturação momentânea do<br />
sistema oposto, surpreendido pela<br />
reversão inesperada do fluxo da ação:<br />
- Ahn?<br />
- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />
pegá eles sem calça.<br />
549
- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />
coisa?<br />
- Posso dirigir uma mensagem de<br />
caráter sentimental, algo banal, talvez<br />
mesmo previsível e piegas, a uma<br />
pessoa à qual sou ligado por razões,<br />
inclusive, genéticas?<br />
- Pode.<br />
- Uma saudação para a minha<br />
progenitora.<br />
- Como é?<br />
- Alô, mamãe!<br />
- Estou vendo que você é um, um...<br />
- Um jogador que confunde o<br />
entrevistador, pois não corresponde à<br />
expectativa de que o atleta seja um ser<br />
algo primitivo com dificuldade de<br />
expressão e assim sabota a<br />
estereotipação?<br />
- Estereoquê?<br />
- Um chato?<br />
- Isso.<br />
Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />
O texto mostra uma situação em que a<br />
linguagem usada é inadequada ao<br />
contexto. Considerando as diferenças<br />
entre língua oral e língua escrita, assinale<br />
a opção que representa também uma<br />
inadequação da linguagem usada ao<br />
contexto:<br />
A) "o carro bateu e capotô, mas num deu<br />
pra vê direito" - um pedestre que<br />
assistiu ao acidente comenta com o<br />
outro que vai passando.<br />
B) "E aí, ô meu! Como vai essa força?" -<br />
um jovem que fala para um amigo.<br />
C) "Só um instante, por favor. Eu<br />
gostaria de fazer uma observação" -<br />
alguém comenta em uma reunião de<br />
trabalho.<br />
D) "Venho manifestar meu interesse em<br />
candidatar-me ao cargo de Secretária<br />
Executiva desta conceituada empresa"<br />
- alguém que escreve uma carta<br />
candidatando-se a um emprego.<br />
E) "Porque se a gente não resolve as<br />
coisas como têm que ser, a gente corre<br />
o risco de termos, num futuro próximo,<br />
muito pouca comida nos lares<br />
brasileiros" - um professor universitário<br />
em um congresso internacional.<br />
Comentário<br />
Essa questão está trabalhando com as<br />
nossas expectativas. Esperamos encontrar,<br />
nas diferentes situações, linguagens que<br />
correspondam à formalidade (ou à<br />
informalidade) delas. Na alternativa E, como<br />
o professor universitário está falando em um<br />
congresso internacional, espera-se que ele<br />
utilize uma linguagem mais formal e não uma<br />
linguagem coloquial como a que usou. Em<br />
todas as outras situações, a linguagem está<br />
de acordo com a situação em que está sendo<br />
empregada.<br />
09) (2007) Texto I<br />
Agora Fabiano conseguia arranjar as<br />
idéias. O que o segurava era a família.<br />
Vivia preso como um novilho amarrado ao<br />
mourão, suportando ferro quente. Se não<br />
fosse isso, um soldado amarelo não lhe<br />
pisava o pé não. (...) Tinha aqueles<br />
cambões pendurados ao pescoço.<br />
Deveria continuar a arrastá-los? Sinha<br />
Vitória dormia mal na cama de varas. Os<br />
meninos eram uns brutos, como o pai.<br />
Quando crescessem, guardariam as reses<br />
de um patrão invisível, seriam pisados,<br />
maltratados, machucados por um soldado<br />
amarelo.<br />
Graciliano Ramos. Vidas Secas. São Paulo:<br />
Martins, 23.ª ed., 1969, p. 75.<br />
Texto II<br />
Para Graciliano, o roceiro pobre é um<br />
outro, enigmático, impermeável. Não há<br />
solução fácil para uma tentativa de<br />
incorporação dessa figura no campo da<br />
ficção. É lidando com o impasse, ao invés<br />
de fáceis soluções, que Graciliano vai<br />
criar Vidas Secas, elaborando uma<br />
linguagem, uma estrutura romanesca,<br />
uma constituição de narrador em que<br />
narrador e criaturas se tocam, mas não se<br />
identificam. Em grande medida, o debate<br />
acontece porque, para a intelectualidade<br />
brasileira naquele momento, o pobre, a<br />
despeito de aparecer idealizado em certos<br />
aspectos, ainda é visto como um ser<br />
humano de segunda categoria, simples<br />
demais, incapaz de ter pensamentos<br />
demasiadamente complexos. O que Vidas<br />
Secas faz é, com pretenso não<br />
envolvimento da voz que controla a<br />
narrativa, dar conta de uma riqueza<br />
humana de que essas pessoas seriam<br />
plenamente capazes.<br />
Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes. In:<br />
Teresa. São Paulo: USP, n.° 2, 2001, p. 254.<br />
No texto II, verifica-se que o autor utiliza<br />
A) linguagem predominantemente<br />
formal, para problematizar, na<br />
composição de Vidas Secas, a relação<br />
entre o escritor e o personagem<br />
popular.<br />
550
B) linguagem inovadora, visto que, sem<br />
abandonar a linguagem formal, dirigese<br />
diretamente ao leitor.<br />
C) linguagem coloquial, para narrar<br />
coerentemente uma história que<br />
apresenta o roceiro pobre de forma<br />
pitoresca.<br />
D) linguagem formal com recursos<br />
retóricos próprios do texto literário em<br />
prosa, para analisar determinado<br />
momento da literatura brasileira.<br />
E) linguagem regionalista, para transmitir<br />
informações sobre literatura, valendose<br />
de coloquialismo, para facilitar o<br />
entendimento do texto.<br />
Comentário<br />
Questão de nível médio. Algumas<br />
alternativas poderiam levar o candidato a<br />
pensar que o texto de Vidas Secas utiliza<br />
uma linguagem predominantemente coloquial<br />
e regionalista. Entretanto, é na alternativa A<br />
que se encontra o real estilo da linguagem<br />
utilizada por Graciliano Ramos. A linguagem<br />
é, portanto, predominantemente formal e<br />
problematiza a relação do escritor com o<br />
personagem popular. Esta acaba sendo uma<br />
das grandes características do autor, pois ele<br />
buscava sempre dar uma grande densidade<br />
psicológica aos seus romances.<br />
Nesse trecho, extraído de texto publicado<br />
originalmente em 1921, o narrador<br />
A) apresenta, sem explicitar juízos de<br />
valor, costumes da epoca, descrevendo<br />
os pratos servidos no jantar e a atitude<br />
de Nhô Tomé e de Tia Policena.<br />
B) desvaloriza a norma culta da língua<br />
porque incorpora à narrativa usos<br />
próprios da linguagem regional das<br />
personagens.<br />
C) condena os hábitos descritos, dando<br />
voz a Tia Policena, que tenta impedir<br />
Nhô Tomé de deitar-se após as<br />
refeições.<br />
D) utiliza a diversidade sociocultural e<br />
lingüística para demonstrar seu<br />
desrespeito às populações das zonas<br />
rurais do início do século XX.<br />
E) manifesta preconceito em relação a Tia<br />
Policena ao transcrever a fala dela com<br />
os erros próprios da região.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil, pois a alternativa<br />
"A" deixa clara a intencionalidade do<br />
narrador. Entretanto, o aluno poderia optar<br />
pela alternativa "B" caso não desse o devido<br />
valor ao sentido da palavra “desvaloriza”, que<br />
a elimina.<br />
<strong>10</strong>) (2006) Depois de um bom jantar: feijão<br />
com carne-seca, orelha de porco e couve<br />
com angu, arroz-mole engordurado, carne<br />
de vento assada no espeto, torresmo<br />
enxuto de toicinho da barriga, viradinho de<br />
milho verde e um prato de caldo de couve,<br />
jantar encerrado por um prato fundo de<br />
canjica com torrões de açúcar, Nhô Tomé<br />
saboreou o café forte e se estendeu na<br />
rede. A mão direita sob a cabeça, à guisa<br />
de travesseiro, o indefectível cigarro de<br />
palha entre as pontas do indicador e do<br />
polegar, envernizados pela fumaça, de<br />
unhas encanoadas e longas, ficou-se de<br />
pança para o ar, modorrento, a olhar para<br />
as ripas do telhado.<br />
Quem come e não deita, a comida não<br />
aproveita, pensava Nhô Tomé... E pôs-se<br />
a cochilar. A sua modorra durou pouco;<br />
Tia Policena, ao passar pela sala, bradou<br />
assombrada:<br />
— Êêh! Sinhô! Vai drumi agora? Não!<br />
Num presta... Dá pisadêra e póde morrê<br />
de ataque de cabeça! Despois do armoço<br />
num far-má... mais despois da janta?!”<br />
Cornélio Pires. Conversas ao pé do fogo. São Paulo:<br />
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1987.<br />
11) (2006) Aula de português<br />
551
Explorando a função emotiva da<br />
linguagem, o poeta expressa o contraste<br />
entre marcas de variação de usos da<br />
linguagem em<br />
A) situações formais e informais.<br />
B) diferentes regiões do país.<br />
C) escolas literárias distintas.<br />
D) textos técnicos e poéticos.<br />
E) diferentes épocas.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil, pois o próprio título<br />
nos dá uma noção da dificuldade de<br />
transformar a linguagem coloquial e de uso<br />
cotidiano em uma linguagem formal,<br />
expressa no poema como “a misteriosa”.<br />
Drummond foi muito feliz em conseguir<br />
demonstrar a dificuldade em entender como<br />
estruturas simples da língua se tornam tão<br />
complexas ao se iniciar o processo de<br />
compreensão da estrutura lingüística.<br />
12) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />
preciso, além de conhecer o padrão<br />
formal da Língua Portuguesa, saber<br />
adequar o uso da linguagem ao contexto<br />
discursivo. Para exemplificar este fato,<br />
seu professor de Língua Portuguesa<br />
convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />
Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />
brinca com situações de discurso oral que<br />
fogem à expectativa do ouvinte.<br />
Aí, Galera<br />
Jogadores de futebol podem ser<br />
vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />
você pode imaginar um jogador de futebol<br />
dizendo "estereotipação"? E, no<br />
entanto, por que não?<br />
- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />
galera.<br />
- Minha saudação aos aficionados do<br />
clube e aos demais esportistas, aqui<br />
presentes ou no recesso dos seus lares.<br />
- Como é?<br />
- Aí, galera.<br />
- Quais são as instruções do técnico?<br />
- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />
trabalho de contenção coordenada, com<br />
energia otimizada, na zona de<br />
preparação, aumentam as<br />
probabilidades de, recuperado o<br />
esférico, concatenarmos um contragolpe<br />
agudo com parcimônia de meios e<br />
extrema objetividade, valendo-nos da<br />
desestruturação momentânea do<br />
sistema oposto, surpreendido pela<br />
reversão inesperada do fluxo da ação:<br />
552<br />
- Ahn?<br />
- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />
pegá eles sem calça.<br />
- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />
coisa?<br />
- Posso dirigir uma mensagem de<br />
caráter sentimental, algo banal, talvez<br />
mesmo previsível e piegas, a uma<br />
pessoa à qual sou ligado por razões,<br />
inclusive, genéticas?<br />
- Pode.<br />
- Uma saudação para a minha<br />
progenitora.<br />
- Como é?<br />
- Alô, mamãe!<br />
- Estou vendo que você é um, um...<br />
- Um jogador que confunde o<br />
entrevistador, pois não corresponde à<br />
expectativa de que o atleta seja um ser<br />
algo primitivo com dificuldade de<br />
expressão e assim sabota a<br />
estereotipação?<br />
- Estereoquê?<br />
- Um chato?<br />
- Isso.<br />
Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />
A expressão "pegá eles sem calça"<br />
poderia ser substituída, sem<br />
comprometimento de sentido, em língua<br />
culta, formal, por:<br />
A) pegá-los na mentira.<br />
B) pegá-los desprevenidos.<br />
C) pegá-los em flagrante.<br />
D) pegá-los rapidamente.<br />
E) pegá-los momentaneamente<br />
Comentário<br />
O trabalho que temos aqui é de<br />
compreensão de sentido. Se você nunca<br />
ouviu a expressão "de calças na mão", terá<br />
de imaginar o que acontece quando<br />
pegamos alguém nessa situação. Mas isso<br />
não basta. Se usar somente situações que<br />
pode imaginar, restarão as alternativas B e<br />
C. Esse problema só será solucionado se<br />
você entender bem o texto a que ele se<br />
refere. Como o jogador está falando em<br />
roubar a bola e partir para cima do adversário<br />
rapidamente, imagina-se que o adversário<br />
não esperava perder a bola naquele<br />
momento e, quando isso ocorreu, ele não<br />
estava preparado para receber um contraataque.<br />
Utilizando essa análise, somente a<br />
alternativa B está correta.
13) (2000) Em uma conversa ou leitura de<br />
um texto, corre-se o risco de atribuir um<br />
significado inadequado a um termo ou<br />
expressão, e isso pode levar a certos<br />
resultados inesperados, como se vê nos<br />
quadrinhos abaixo.<br />
significados correspondentes. Mesmo assim,<br />
11% dos participantes, possivelmente,<br />
desconhecem essa expressão ou não<br />
conseguiram realizar a transposição do<br />
significado humorístico da fala do último<br />
quadrinho.<br />
(SOUZA, Maurício de. Chico Bento.<br />
Rio de Janeiro: Ed. Globo, n o 335, Nov./99 )<br />
Nessa historinha, o efeito humorístico<br />
origina-se de uma situação criada pela<br />
fala da Rosinha no primeiro quadrinho,<br />
que é:<br />
A) Faz uma pose bonita!<br />
B) Quer tirar um retrato?<br />
C) Sua barriga está aparecendo!<br />
D) Olha o passarinho!<br />
E) Cuidado com o flash!<br />
Comentário<br />
Quem não se lembra de expressões<br />
humorísticas usadas quando se deseja tirar<br />
uma foto, como "Olha o passarinho" ou "Fale<br />
xis"?<br />
Pois é, essa é uma questão fácil e a<br />
interpretação do texto é simples, e não há<br />
por que ter dúvidas quanto à resposta, a não<br />
ser que não se leia a proposta da questão.<br />
Comentário do INEP<br />
Essa questão procurou avaliar se o<br />
participante conseguia inferir, a partir de uma<br />
seqüência narrativa de imagens, a expressão<br />
lingüística adequada à situação de<br />
interlocução, no caso a fala da personagem,<br />
no primeiro quadrinho. A expressão de uso<br />
coloquial 'olha o passarinho!', dependendo do<br />
contexto, tem diferentes significados, que<br />
nesse caso foram associados pelo cartunista<br />
para produzir o efeito de humor. A grande<br />
maioria - 89% - dos participantes realizou a<br />
inferência solicitada, analisando a função da<br />
linguagem e identificando a variante<br />
lingüística adequada à situação de<br />
interlocução, com base na leitura da<br />
seqüência das imagens e da fala da<br />
personagem no terceiro quadrinho. É<br />
interessante notar a abrangência dessa<br />
expressão metafórica no Brasil, criada no<br />
contexto informal da fala com seus<br />
14) (2005) Leia com atenção o texto:<br />
[Em Portugal], você poderá ter alguns<br />
probleminhas se entrar numa loja de<br />
roupas desconhecendo certas sutilezas da<br />
língua. Por exemplo, não adianta pedir<br />
para ver os ternos — peça para ver os<br />
fatos. Paletó é casaco. Meias são<br />
peúgas. Suéter é camisola — mas não<br />
se assuste, porque calcinhas femininas<br />
são cuecas. (Não é uma delícia?)<br />
(Ruy Castro. Viaje Bem. Ano VIII, no 3, 78.)<br />
O texto destaca a diferença entre o<br />
português do Brasil e o de Portugal<br />
quanto<br />
A) ao vocabulário.<br />
B) à derivação.<br />
C) à pronúncia.<br />
D) ao gênero.<br />
E) à sintaxe.<br />
Comentário<br />
Questão de entendimento muito fácil, pois<br />
o próprio enunciado deixa claro que se trata<br />
das diferenças de vocabulário entre o<br />
português brasileiro e o lusitano.<br />
15) (2006) Aula de português<br />
553
No poema, a referência à variedade<br />
padrão da língua está expressa no<br />
seguinte trecho:<br />
A) “A linguagem / na ponta da língua” (v.1<br />
e 2).<br />
B) “A linguagem / na superfície<br />
estrelada de letras” (v.5 e 6).<br />
C) “[a língua] em que pedia para ir lá<br />
fora” (v.14).<br />
D) “[a língua] em que levava e dava<br />
pontapé” (v.15).<br />
E) “[a língua] do namoro com a priminha”<br />
(v.17).<br />
Comentário<br />
Questão fácil, pois a alternativa "B" é a<br />
única que faz menção à norma-padrão da<br />
língua. As demais alternativas fogem a essa<br />
norma.<br />
16) (2008) A Lei Federal n.º 9.985/2000, que<br />
instituiu o sistema nacional de unidades<br />
de conservação, define dois tipos de<br />
áreas protegidas. O primeiro, as unidades<br />
de proteção integral, tem por objetivo<br />
preservar a natureza, admitindo-se<br />
apenas o uso indireto dos seus recursos<br />
naturais, isto é, aquele que não envolve<br />
consumo, coleta, dano ou destruição dos<br />
recursos naturais. O segundo, as<br />
unidades de uso sustentável, tem por<br />
função compatibilizar a conservação da<br />
natureza com o uso sustentável de<br />
parcela dos recursos naturais. Nesse<br />
caso, permite-se a exploração do<br />
ambiente de maneira a garantir a<br />
perenidade dos recursos ambientais<br />
renováveis e dos processos ecológicos,<br />
mantendo-se a biodiversidade e os<br />
demais atributos ecológicos, de forma<br />
socialmente justa e economicamente<br />
viável.<br />
Considerando essas informações, analise<br />
a seguinte situação hipotética.<br />
Ao discutir a aplicação de recursos<br />
disponíveis para o desenvolvimento de<br />
determinada região, organizações civis,<br />
universidade e governo resolveram<br />
investir na utilização de uma unidade de<br />
proteção integral, o Parque Nacional do<br />
Morro do Pindaré, e de uma unidade de<br />
uso sustentável, a Floresta Nacional do<br />
Sabiá. Depois das discussões, a equipe<br />
resolveu levar adiante três projetos:<br />
— o projeto I consiste de pesquisas<br />
científicas embasadas exclusivamente<br />
na observação de animais;<br />
— o projeto II inclui a construção de uma<br />
escola e de um centro de vivência;<br />
— o projeto III promove a organização de<br />
uma comunidade extrativista que<br />
poderá coletar e explorar<br />
comercialmente frutas e sementes<br />
nativas.<br />
Nessa situação hipotética, atendendo-se à<br />
lei mencionada acima, é possível<br />
desenvolver tanto na unidade de proteção<br />
integral quanto na de uso sustentável<br />
A) apenas o projeto I.<br />
B) apenas o projeto III.<br />
C) apenas os projetos I e II.<br />
D) apenas os projetos II e III.<br />
E) todos os três projetos.<br />
Comentário do portal<br />
A alternativa correta é a letra "A", pois,<br />
analisando-se a situação hipotética sugerida<br />
no enunciado, percebe-se que ela deverá<br />
atender os requisitos tanto da unidade de<br />
proteção integral quanto da unidade de uso<br />
sustentável. Portanto, apenas o projeto I<br />
poderá ser desenvolvido nessas duas<br />
propostas de unidades.<br />
17) (1999) Leia o texto abaixo.<br />
Cabelos longos, brinco na orelha<br />
esquerda, físico de skatista. Na aparência,<br />
o estudante brasiliense Rui Lopes Viana<br />
Filho, de 16 anos, não lembra em nada o<br />
estereótipo dos gênios. Ele não usa<br />
pesados óculos de grau e está longe de<br />
ter um ar introspectivo. No final do mês<br />
passado, Rui retornou de Taiwan, onde<br />
enfrentou 419 competidores de todo o<br />
mundo na 39ª Olimpíada Internacional de<br />
Matemática. A reluzente medalha de ouro<br />
que ele trouxe na bagagem está<br />
dependurada sobre a cama de seu quarto,<br />
atulhado de rascunhos dos problemas<br />
matemáticos que aprendeu a decifrar nos<br />
últimos cinco anos.<br />
Veja – Vencer uma olimpíada serve de<br />
passaporte para uma carreira profissional<br />
meteórica?<br />
Rui – Nada disso. Decidi me dedicar à<br />
Olimpíada porque sei que a concorrência<br />
por um emprego é cada vez mais<br />
selvagem e cruel. Agora tenho algo a mais<br />
para oferecer. O problema é que as coisas<br />
estão mudando muito rápido e não sei<br />
qual será minha profissão. Além de ser<br />
muito novo para decidir sobre o meu<br />
futuro profissional, sei que esse conceito<br />
de carreira mudou muito.<br />
(Entrevista de Rui Lopes Viana Filho à Veja,<br />
05/08/1998, n.31, p. 9-<strong>10</strong>)<br />
554
Na pergunta, o repórter estabelece uma<br />
relação entre a entrada do estudante no<br />
mercado de trabalho e a vitória na<br />
Olimpíada. O estudante<br />
A) concorda com a relação e afirma que o<br />
desempenho na Olimpíada é<br />
fundamental para sua entrada no<br />
mercado.<br />
B) discorda da relação e complementa<br />
que é fácil se fazer previsões sobre o<br />
mercado de trabalho.<br />
C) discorda da relação e afirma que seu<br />
futuro profissional independe de<br />
dedicação aos estudos.<br />
D) discorda da relação e afirma que seu<br />
desempenho só é relevante se<br />
escolher uma profissão relacionada à<br />
matemática.<br />
E) concorda em parte com a relação e<br />
complementa que é complexo fazer<br />
previsões sobre o mercado de trabalho.<br />
Comentário<br />
Não é difícil de se chegar à resposta correta<br />
ao se ler a reportagem. Ao final do último<br />
parágrafo — (...) Além de ser muito novo para<br />
decidir sobre o meu futuro profissional, sei que<br />
esse conceito de carreira mudou muito. —, o<br />
estudante praticamente fornece a resposta à<br />
questão, declarando-se realista ao não tentar<br />
prever seu futuro profissional devido à pouca<br />
idade e às mudanças no mercado de trabalho.<br />
Quanto a concordar parcialmente com o<br />
repórter, veja que ele, apesar de negar que o<br />
prêmio fosse uma garantia de sucesso<br />
profissional, logo depois afirma que, com ele,<br />
terá algo mais a oferecer ao mercado. Questão<br />
de nível fácil.<br />
Comentário do INEP<br />
Nesta situação-problema, o participante<br />
deveria demonstrar que compreendeu as<br />
premissas de um discurso, distinguindo a<br />
diferença de significado de palavras isoladas<br />
ou no contexto em que estão inseridas.<br />
Verificou-se que mais da metade dos<br />
participantes demonstrou possuir essa<br />
compreensão. Aqueles que optaram pelas<br />
alternativas C e D podem ter sido atraídos pelo<br />
significado negativo da expressão inicial "Nada<br />
disso".<br />
18) (1998) Texto 1<br />
"Mulher, Irmã, escuta-me: não ames,<br />
Quando a teus pés um homem terno e<br />
curvo<br />
jurar amor, chorar pranto de sangue,<br />
Não creias, não, mulher: ele te engana!<br />
As lágrimas são gotas da mentira<br />
E o juramento manto da perfídia."<br />
(Joaquim Manoel de Macedo)<br />
Texto 2<br />
"Teresa, se algum sujeito bancar o<br />
sentimental em cima de você<br />
E te jurar uma paixão do tamanho de um<br />
bonde<br />
Se ele chorar<br />
Se ele ajoelhar<br />
Se ele se rasgar todo<br />
Não acredite não Teresa<br />
É lágrima de cinema<br />
É tapeação<br />
Mentira<br />
CAI FORA"<br />
(Manuel Bandeira)<br />
Os autores, ao fazerem alusão às<br />
imagens da lágrima sugerem que:<br />
A) há um tratamento idealizado da<br />
relação homem/mulher.<br />
B) há um tratamento realista da relação<br />
homem/mulher.<br />
C) a relação familiar é idealizada.<br />
D) a mulher é superior ao homem.<br />
E) a mulher é igual ao homem.<br />
Comentário<br />
Ambos os autores, ao utilizarem a<br />
imagem da lágrima, estão na realidade<br />
mostrando que a figura do homem que é<br />
romântico a ponto de chorar ao jurar amor<br />
não existe. Tanto Macedo quanto<br />
Bandeira alertam as mulheres dizendo,<br />
com palavras e estilos diferentes, que não<br />
há homem que chore por amor (portanto,<br />
essa figura é uma idealização — e, por<br />
conseguinte, toda imagem que se tem<br />
sobre os relacionamentos<br />
demasiadamente românticos). Note que<br />
Bandeira chega até mesmo a chamar tal<br />
"chorão" de ator ("...É lágrima de cinema /<br />
É tapeação..."). Macedo dá uma imagem<br />
pesada às lágrimas ("...são gotas da<br />
mentira...").<br />
19) (1999)<br />
(QUINO. Mafalda inédita. São Paulo: Martins Fontes, 1993)<br />
Observando as falas das personagens,<br />
analise o emprego do pronome SE e o<br />
sentido que adquire no contexto. No<br />
contexto da narrativa, é correto afirmar<br />
que o pronome SE:<br />
555
A) em I, indica reflexividade e equivale a<br />
"a si mesmas".<br />
B) em II, indica reciprocidade e equivale a<br />
"a si mesma".<br />
C) em III, indica reciprocidade e equivale<br />
a "umas às outras".<br />
D) em I e III, indica reciprocidade e<br />
equivale a "umas às outras".<br />
E) em II e III, indica reflexividade e<br />
equivale a "a si mesma " e "a si<br />
mesmas", respectivamente.<br />
Comentário<br />
Mais uma questão que fala por si própria.<br />
Lendo o segundo quadrinho — "Quer dizer<br />
que você também se ama muito mais no<br />
Natal?" —, é fácil de se identificar o pronome<br />
reflexivo. Basta que se troque se ama por<br />
ama a si mesma. O mesmo ocorre no<br />
terceiro quadrinho em "Por que será que as<br />
pessoas se amam muito mais no Natal?" —<br />
Por que será que as pessoas amam a si<br />
mesmas? Questão de grau fácil.<br />
Comentário do INEP<br />
Este problema requeria que o participante<br />
mobilizasse conhecimentos sobre os<br />
significados de "reciprocidade e<br />
"reflexividade" e o associasse à<br />
compreensão de linguagem iconográfica.<br />
Cerca de metade dos participantes<br />
demonstrou essa capacidade. A opção de<br />
30% dos participantes pela alternativa D<br />
pode indicar que eles utilizaram as imagens<br />
apenas como ilustração do texto e não como<br />
linguagem capaz de instituir novos<br />
significados.<br />
20) (2001) Os provérbios constituem um<br />
produto da sabedoria popular e, em geral,<br />
pretendem transmitir um ensinamento. A<br />
alternativa em que os dois provérbios<br />
remetem a ensinamentos semelhantes é:<br />
A) “Quem diz o que quer, ouve o que não<br />
quer” e “Quem ama o feio, bonito lhe<br />
parece”.<br />
B) “Devagar se vai ao longe” e “De grão<br />
em grão, a galinha enche o papo”.<br />
C) “Mais vale um pássaro na mão do que<br />
dois voando” e “Não se deve atirar<br />
pérolas aos porcos”.<br />
D) “Quem casa quer casa” e “Santo de<br />
casa não faz milagre”.<br />
E) “Quem com ferro fere, com ferro será<br />
ferido” e “Casa de ferreiro, espeto de<br />
pau”.<br />
Comentário<br />
Questão fácil. A alternativa B apresenta<br />
dois provérbios que tratam de paciência,<br />
perseverança. A mensagem é a mesma em<br />
ambos.<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão propõe uma série de<br />
provérbios agrupados aos pares, para que o<br />
participante demonstre compreender e<br />
comparar os provérbios de modo a identificar<br />
aqueles que traduzem ensinamentos<br />
semelhantes. A organização sintáticosemântica<br />
dos provérbios cria um efeito de<br />
sentido metafórico que deve ser recuperado,<br />
analisado e comparado, o que foi<br />
corretamente feito por cerca de 80% dos<br />
participantes.<br />
21) (2006) No romance Vidas Secas, de<br />
Graciliano Ramos, o vaqueiro Fabiano<br />
encontra-se com o patrão para receber o<br />
salário. Eis parte da cena:<br />
Graciliano Ramos. Vidas Secas. 91.ª ed.<br />
Rio de Janeiro: Record, 2003.<br />
No fragmento transcrito, o padrão formal<br />
da linguagem convive com marcas de<br />
regionalismo e de coloquialismo no<br />
vocabulário. Pertence à variedade do<br />
padrão formal da linguagem o seguinte<br />
trecho:<br />
A) Não se conformou: devia haver<br />
engano (l.1).<br />
B) Fabiano perdeu os estribos (l.3).<br />
C) Passar a vida inteira assim no toco<br />
(l.4).<br />
D) Entregando o que era dele de mao<br />
beijada! (l.4-5).<br />
E) Aí Fabiano baixou a pancada e<br />
amunhecou (l.11).<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Bastaria que o<br />
candidato conhecesse o padrão formal da<br />
linguagem e distinguisse-o do regionalismo e<br />
do coloquialismo.<br />
556
22) (2005) As dimensões continentais do<br />
Brasil são objeto de reflexões expressas<br />
em diferentes linguagens. Esse tema<br />
aparece no seguinte poema:<br />
“(....)<br />
Que importa que uns falem mole<br />
descansado<br />
Que os cariocas arranhem os erres na<br />
garganta<br />
Que os capixabas e paroaras escancarem<br />
as vogais?<br />
Que tem se o quinhentos réis meridional<br />
Vira cinco tostões do Rio pro Norte?<br />
Junto formamos este assombro de<br />
misérias e grandezas,<br />
Brasil, nome de vegetal! (....)”<br />
(Mário de Andrade. Poesias completas. 6. ed. São Paulo:<br />
Martins Editora, 1980.)<br />
O texto poético ora reproduzido trata das<br />
diferenças brasileiras no âmbito<br />
A) étnico e religioso.<br />
B) lingüístico e econômico.<br />
C) racial e folclórico.<br />
D) histórico e geográfico.<br />
E) literário e popular.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil, pois a primeira<br />
estrofe, ao enunciar os erres arranhados dos<br />
cariocas e as vogais abertas dos capixabas,<br />
evidencia a diferença lingüística entre duas<br />
regiões distintas do Brasil, dando noção da<br />
variedade. Já na segunda estrofe, as<br />
diferenças econômicas são evidenciadas ao<br />
se mostrarem os réis e tostões variando da<br />
Região Meridional para a Norte.<br />
23) (202) "Narizinho correu os olhos pela<br />
assistência. Não podia haver nada mais<br />
curioso. Besourinhos de fraque e flores na<br />
lapela conversavam com baratinhas de<br />
mantilha e miosótis nos cabelos. Abelhas<br />
douradas, verdes e azuis, falavam mal<br />
das vespas de cintura fina — achando que<br />
era exagero usarem coletes tão<br />
apertados. Sardinhas aos centos<br />
criticavam os cuidados excessivos que as<br />
borboletas de toucados de gaze tinham<br />
com o pó das suas asas. Mamangavas de<br />
ferrões amarrados para não morderem. E<br />
canários cantando, e beija-flores beijando<br />
flores, e camarões camaronando, e<br />
caranguejos caranguejando, tudo que é<br />
pequenino e não morde, pequeninando e<br />
não mordendo."<br />
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. São Paulo:<br />
Brasiliense, 1947.<br />
No último período do trecho, há uma série<br />
de verbos no gerúndio que contribuem<br />
para caracterizar o ambiente fantástico<br />
descrito. Expressões como<br />
"camaronando", "caranguejando" e<br />
"pequeninando e não mordendo" criam,<br />
principalmente, efeitos de<br />
A) esvaziamento de sentido.<br />
B) monotonia do ambiente.<br />
C) estaticidade dos animais.<br />
D) interrupção dos movimentos.<br />
E) dinamicidade do cenário.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. O dinamismo dos<br />
verbos no gerúndio tem como função<br />
principal dar vida às personagens do mundo<br />
fantástico. Não há estagnação. Cada animal<br />
faz o que lhe cabe.<br />
Comentário do INEP<br />
Essa questão apresenta para leitura e<br />
análise um trecho da obra Reinações de<br />
Narizinho, de Monteiro Lobato, e, nele, a<br />
descrição reflete as fantasias do mundo infantil.<br />
A questão propõe que seja resolvido um<br />
problema de linguagem, que é a identificação<br />
dos sentidos criados no texto pelo emprego de<br />
vários verbos no gerúndio, alguns dos quais,<br />
neologismos criados pelo autor. Como o texto é<br />
uma descrição, temos o relato de um ambiente<br />
que se agita com as ações simultâneas dos<br />
muitos seres que o habitam. Cabe ao<br />
participante perceber que o efeito dinâmico é<br />
criado pelos verbos de ação no gerúndio, que é<br />
a forma verbal da ação se fazendo. Ou seja, é<br />
função típica do gerúndio traduzir a noção de<br />
uma ação que se desenvolve de modo<br />
simultâneo à sua enunciação. Nesse ambiente<br />
retratado por Monteiro Lobato, os bichinhos<br />
humanizados se agitam, lembrando um<br />
burburinho de crianças. Apenas a alternativa E,<br />
assinalada por 36% dos participantes,<br />
responde corretamente a questão. As outras<br />
alternativas contemplam efeitos ou significados<br />
que, apesar de eventualmente serem<br />
transmitidos pelo emprego do gerúndio, não se<br />
verificam no texto.<br />
24) (1999) Considere os textos abaixo.<br />
(...) de modo particular, quero encorajar os<br />
crentes empenhados no campo da<br />
filosofia para que iluminem os diversos<br />
âmbitos da atividade humana, graças ao<br />
exercício de uma razão que se torna mais<br />
segura e perspicaz com o apoio que<br />
recebe da fé.<br />
(Papa João Paulo II. Carta Encíclica Fides<br />
et Ratio aos bispos da igreja católica sobre as relações<br />
entre fé e razão, 1998)<br />
557
As verdades da razão natural não<br />
contradizem as verdades da fé cristã.<br />
(São Tomás de Aquino<br />
–pensador medieval)<br />
Refletindo sobre os textos, pode-se<br />
concluir que:<br />
A) a encíclica papal está em contradição<br />
com o pensamento de São Tomás de<br />
Aquino, refletindo a diferença de<br />
épocas.<br />
B) a encíclica papal procura<br />
complementar São Tomás de Aquino,<br />
pois este colocava a razão natural<br />
acima da fé.<br />
C) a Igreja medieval valorizava a razão<br />
mais do que a encíclica de João Paulo<br />
II.<br />
D) o pensamento teológico teve sua<br />
importância na Idade Média, mas, em<br />
nossos dias, não tem relação com o<br />
pensamento filosófico.<br />
E) tanto a encíclica papal como a frase<br />
de São Tomás de Aquino procuram<br />
conciliar os pensamentos sobre fé e<br />
razão.<br />
Comentário<br />
Nessa questão, é necessária uma<br />
releitura do texto para que se tenha uma<br />
melhor compreensão do tema. Tanto a<br />
citação do Papa quanto a de São Tomás de<br />
Aquino tentam criar uma interdependência<br />
entre a ciência e a fé, a religião. O Papa<br />
incentiva aqueles que exercem a pesquisa<br />
científica ou filosófica a manter a fé cristã.<br />
São Tomás de Aquino, por sua vez, equipara<br />
o avanço da ciência ao aumento da própria<br />
fé, afirmando que a razão natural não<br />
contradiz a fé cristã. Se um cresce, cresce<br />
também o outro, em harmonia e sem<br />
contradições. Questão de grau médio.<br />
(Português)<br />
Nessa questão, encontramos dois textos:<br />
o primeiro, do século XX, foi elaborado pelo<br />
Papa João Paulo II; o segundo, do século<br />
XIII, pelo teólogo e filósofo cristão São<br />
Tomás de Aquino. O conteúdo de ambos se<br />
refere à ligação entre fé e razão, a qual<br />
esteve presente na filosofia escolástica da<br />
Idade Média. Esse campo de reflexão buscou<br />
conciliar o cristianismo com o pensamento de<br />
Aristóteles e teve em São Tomás de Aquino<br />
seu maior representante.<br />
Mesmo sem ter todas essas informações,<br />
você poderia responder tranqüilamente à<br />
questão por meio de uma leitura atenta dos<br />
dois textos, chegando à conclusão de que<br />
"tanto a encíclica papal como a frase de São<br />
Tomás de Aquino procuram conciliar os<br />
pensamentos sobre fé e razão". Resposta<br />
correta: alternativa E. (História)<br />
Comentário do INEP<br />
Para resolver esta situação-problema, o<br />
participante deveria mostrar que, além de<br />
interpretar textos, sabe relacioná-los sendo<br />
que, nesse item, essas operações referem-se<br />
a um texto escrito na época medieval e a<br />
outro escrito recentemente.<br />
Mais de 70% dos participantes<br />
demonstraram facilidade em estabelecer esta<br />
relação.<br />
25) (2008) Assinale a opção que apresenta<br />
um verso do soneto de Cláudio Manoel da<br />
Costa em que o poeta se dirige ao seu<br />
interlocutor.<br />
A) “Torno a ver-vos, ó montes; o<br />
destino” (v.1)<br />
B) “Aqui estou entre Almendro, entre<br />
Corino,” (v.5)<br />
C) “Os meus fiéis, meus doces<br />
companheiros,” (v.6)<br />
D) “Vendo correr os míseros vaqueiros”<br />
(v.7)<br />
E) “Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto,”<br />
(v.11)<br />
Comentário<br />
Nesta questão, basta que o aluno<br />
identifique o pronome oblíquo, presente no<br />
verso um, que chama o leitor para o texto.<br />
Sendo assim, a resposta correta é a letra "A".<br />
26) (2008)<br />
Dick Browne. O melhor de Hagar, o horrível, v. 2. L&PM<br />
pocket, p.55-6 (com adaptações).<br />
558
Assinale o trecho do diálogo que<br />
apresenta um registro informal, ou<br />
coloquial, da linguagem.<br />
A) “Tá legal, espertinho! Onde é que<br />
você esteve?!”<br />
B) “E lembre-se: se você disser uma<br />
mentira, os seus chifres cairão!”<br />
C) “Estou atrasado porque ajudei uma<br />
velhinha a atravessar a rua...”<br />
D) “...e ela me deu um anel mágico que<br />
me levou a um tesouro”<br />
E) “mas bandidos o roubaram e os<br />
persegui até a Etiópia, onde um<br />
dragão...”<br />
Comentário<br />
Linguagem coloquial é aquela usada no<br />
cotidiano, que tem como característica<br />
principal a oralidade, ou seja, aquela que não<br />
segue o rigor da norma culta.<br />
Entre as alternativas da questão, apenas<br />
a letra "A" apresenta esses traços.<br />
27) (1999) Leia um texto publicado no jornal<br />
Gazeta Mercantil. Esse texto é parte de<br />
um artigo que analisa algumas situações<br />
de crise no mundo, entre elas, a quebra<br />
da Bolsa de Nova Iorque em 1929, e foi<br />
publicado na época de uma iminente crise<br />
financeira no Brasil.<br />
Deu no que deu. No dia 29 de outubro de<br />
1929, uma terça-feira, praticamente não<br />
havia compradores no pregão de Nova<br />
Iorque, só vendedores. Seguiu-se uma<br />
crise incomparável: o Produto Interno<br />
Bruto dos Estados Unidos caiu de <strong>10</strong>4<br />
bilhões de dólares em 1929, para 56<br />
bilhões em 1933, coisa inimaginável em<br />
nossos dias. O valor do dólar caiu a quase<br />
metade. O desemprego elevou-se de 1,5<br />
milhão para 12,5 milhões de trabalhadores<br />
– cerca de 25% da população ativa –<br />
entre 1929 e 1933. A construção civil caiu<br />
90%. Nove milhões de aplicações, tipo<br />
caderneta de poupança, perderam-se com<br />
o fechamento dos bancos. Oitenta e cinco<br />
mil firmas faliram. Houve saques e norteamericanos<br />
que passaram fome.<br />
(Gazeta Mercantil, 05/01/1999)<br />
Ao citar dados referentes à crise ocorrida<br />
em 1929, em um artigo jornalístico atual,<br />
pode-se atribuir ao jornalista a seguinte<br />
intenção:<br />
A) questionar a interpretação da crise.<br />
B) comunicar sobre o desemprego.<br />
C) instruir o leitor sobre aplicações em<br />
bolsa de valores.<br />
D) relacionar os fatos passados e<br />
presentes.<br />
E) analisar dados financeiros americanos.<br />
Comentário<br />
Nessa questão, o que se tem de fazer é<br />
prestar atenção às alternativas das<br />
respostas. Nenhuma delas se apresenta tão<br />
bem contextualizada a uma possível<br />
interpretação quanto a letra D. Partindo-se da<br />
análise do texto, fica claro que a intenção do<br />
artigo é remeter o leitor ao passado para<br />
tentar conduzi-lo a uma reflexão sobre uma<br />
situação presente, não mencionada na<br />
questão. Após a leitura e utilizando-se a já<br />
citada eliminação de questões, torna-se clara<br />
a resposta. Questão de nível médio.<br />
(Português)<br />
Muitas vezes, quando procuramos<br />
entender uma crise econômica ou financeira<br />
de grandes proporções, buscamos<br />
estabelecer relações com crises passadas. O<br />
mesmo ocorre no jornalismo, como prova o<br />
texto encontrado nessa questão. Buscando<br />
entender uma crise ocorrida no início de<br />
1999, o jornalista da Gazeta Mercantil<br />
buscou relacionar a situação dessa época<br />
com a grande crise de 1929 que afetou o<br />
mundo, trazendo desemprego e recessão,<br />
entre tantos outros problemas econômicos e<br />
sociais.<br />
Para responder a essa questão, era<br />
necessário ler atentamente o enunciado, em<br />
que está destacado que "o texto é parte de<br />
um artigo que analisa algumas situações de<br />
crise no mundo" e "foi publicado na época de<br />
uma iminente crise financeira no Brasil". Era<br />
importante também observar a data em que o<br />
artigo foi publicado: 05/01/1999. A partir<br />
dessas constatações, facilmente você<br />
chegaria a conclusão de que a intenção do<br />
jornalista era "relacionar os fatos passados e<br />
presentes". Resposta correta: alternativa D.<br />
(História)<br />
Comentário do INEP<br />
A resolução da questão demandava a<br />
capacidade dos participantes de relacionar<br />
eventos históricos envolvendo crises<br />
econômicas ocorridas em épocas e lugares<br />
distintos. Aproximadamente 2/3 deles<br />
demonstraram essa capacidade. Os demais,<br />
provavelmente, não compreenderam a<br />
exigência expressa no enunciado do<br />
problema – apontar as razões pelas quais um<br />
jornalista traz à tona eventos ocorridos<br />
setenta anos antes –, e apenas interpretaram<br />
o sentido do texto citado, que descreve a<br />
crise mundial de 1929.<br />
559
28) (2000) “Precisa-se nacionais sem<br />
nacionalismo, (...) movidos pelo presente<br />
mas estalando naquele cio racial que só<br />
as tradições maduram! (...). Precisa-se<br />
gentes com bastante meiguice no<br />
sentimento, bastante força na peitaria,<br />
bastante paciência no entusiasmo e<br />
sobretudo, oh! sobretudo bastante<br />
vergonha na cara!<br />
(...) Enfim: precisa-se brasileiros! Assim<br />
está escrito no anúncio vistoso de cores<br />
desesperadas pintado sobre o corpo do<br />
nosso Brasil, camaradas.”<br />
(Jornal A Noite, São Paulo, 18/12/1925 apud LOPES, Telê<br />
Porto Ancona. Mário<br />
de Andrade: ramais e caminhos. São Paulo: Duas<br />
Cidades, 1972)<br />
560<br />
No trecho acima, Mário de Andrade dá<br />
forma a um dos itens do ideário<br />
modernista, que é o de firmar a feição de<br />
uma língua mais autêntica, “brasileira”, ao<br />
expressar-se numa variante de linguagem<br />
popular identificada pela (o):<br />
A) escolha de palavras como cio, peitaria,<br />
vergonha.<br />
B) emprego da pontuação.<br />
C) repetição do adjetivo bastante.<br />
D) concordância empregada em Assim<br />
está escrito.<br />
E) escolha de construção do tipo<br />
precisa-se gentes.<br />
Comentário<br />
Apesar de essa questão misturar vários<br />
tipos de informação, se você se lembra um<br />
pouquinho dos usos da partícula se, com<br />
certeza não encontrará grande dificuldade.<br />
Segundo a regra gramatical, o verbo "precisase"<br />
deveria ir para o plural (precisam-se), mas<br />
essa noção de verbo concordante com o sujeito<br />
há muito desapareceu na variante popular<br />
brasileira. Mas, caso você não se lembre muito<br />
bem desse assunto ou ficou meio confuso com<br />
o texto e as outras alternativas, o caminho é<br />
responder por eliminação.<br />
A primeira alternativa apresenta palavras<br />
comuns no português brasileiro, mas<br />
nenhuma "invenção" nacional. Na dúvida,<br />
pense em "vergonha": não é uma invenção<br />
brasileira. Todos os que falam português no<br />
mundo conhecem bem essa palavra. A<br />
pontuação no texto não chama nenhuma<br />
atenção. Você provavelmente não viu nada<br />
de estranho nela. Da mesma forma, o<br />
"bastante" da terceira alternativa não é nada<br />
mais que um mecanismo de retórica, usado<br />
para dar ênfase à idéia. Com o "Assim está<br />
escrito", encontramos a mesma situação: um<br />
trecho litúrgico é usado para maior ênfase.<br />
Comentário do INEP<br />
A questão procurou avaliar se o<br />
participante era capaz de, a partir da leitura<br />
de um texto de Mário de Andrade , identificar<br />
e analisar uma variante lingüística de uso<br />
coloquial, utilizadas estilisticamente pelo<br />
autor. O uso estilístico das variantes marcou<br />
a primeira fase da literatura brasileira<br />
modernista. O trecho destaca em seu todo<br />
esse uso da linguagem popular. A escolha da<br />
construção 'precisa-se gentes' é marca desse<br />
uso estilístico. O índice de 37% na alternativa<br />
(A) demonstra, possivelmente, que os<br />
participantes não consideraram a escolha<br />
dos vocábulos, dentro do contexto do texto,<br />
confundindo as palavras que aparecem na<br />
alternativa com '...a feição de uma língua<br />
mais autêntica...'.O percentual de acertos foi<br />
da ordem de 40%.<br />
29) (2004) O poema abaixo pertence à<br />
poesia concreta brasileira. O termo latino<br />
de seu título significa "epitalâmio", poema<br />
ou canto em homenagem aos que se<br />
casam.<br />
Considerando que símbolos e sinais são<br />
utilizados geralmente para demonstrações<br />
objetivas, ao serem incorporados no<br />
poema "Epithalamium - II".<br />
A) adquirem novo potencial de<br />
significação.<br />
B) eliminam a subjetividade do poema.<br />
C) opõem-se ao tema principal do poema.<br />
D) invertem seu sentido original.<br />
E) tornam-se confusos e equivocados.<br />
Comentário<br />
Diferentemente, por exemplo, da<br />
aplicação matemática dos símbolos, em que<br />
sinais como "=", "+", "-", "x", etc. servem<br />
como convenções internacionais de<br />
significação objetiva e invariável, em um<br />
poema como "Epithalamium – II" foram<br />
usados símbolos que não são convenções<br />
internacionais, mas, sim, convencionados<br />
apenas para esse texto. No caso, letras do<br />
alfabeto deixam de ser representações de
sons (fonemas) para ganharem nova<br />
significação, principalmente pela construção<br />
visual do poema: unem homem (h) e mulher<br />
(e) pela ação da serpente (s) — libido,<br />
atração — em uma entidade única.<br />
Uma das tendências poéticas da segunda<br />
metade do século XX, resultado de um<br />
diálogo com estéticas já presentes no final do<br />
século XIX, trabalha com a construção de<br />
seu próprio referente, fazendo do poema um<br />
objeto autônomo.<br />
30) (2002) O autor da tira utilizou os<br />
princípios de composição de um<br />
conhecido movimento artístico para<br />
representar a necessidade de um mesmo<br />
observador aprender a considerar,<br />
simultaneamente, diferentes pontos de<br />
vista.<br />
C)<br />
D)<br />
E)<br />
Das obras reproduzidas, todas de autoria<br />
do pintor espanhol Pablo Picasso, aquela<br />
em cuja composição foi adotado um<br />
procedimento semelhante é:<br />
A)<br />
B)<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. O movimento<br />
artístico que previa considerar<br />
simultaneamente diversos pontos de vista<br />
era o Cubismo. Havia a desconstrução da<br />
forma para que se pudesse ver todos os<br />
ângulos concomitantemente. O único quadro<br />
que apresenta essas características é o da<br />
alternativa E. As outras quatro alternativas<br />
pressupõem a manutenção da forma.<br />
Comentário do INEP<br />
O objetivo desta questão é levar o<br />
participante a refletir sobre características<br />
fundamentais de um movimento artístico – o<br />
cubismo – a partir de dados visuais:<br />
quadrinhos e pinturas. A reprodução de dois<br />
quadrinhos da personagem Calvin forneceu<br />
para o participante informações básicas para<br />
a análise que deveria fazer das alternativas<br />
apresentadas. Segundo os quadrinhos, o<br />
movimento artístico abordado pela questão<br />
561
tinha como procedimento de composição<br />
representar, para um mesmo observador,<br />
diferentes pontos de vista, fazendo com que<br />
"o tradicional único ponto de vista" fosse<br />
abandonado e com que a perspectiva fosse<br />
fraturada. A análise das obras de Picasso<br />
reproduzidas nas alternativas permite que o<br />
participante reconheça a adoção desse<br />
procedimento no quadro "Marie-Thérèse<br />
apoiada no cotovelo" (alternativa E, com 46%<br />
de registros), no qual se pode reconhecer a<br />
representação de diferentes pontos de vista<br />
a partir dos quais é apresentado o rosto da<br />
mulher retratada.<br />
"condenado" a jamais usufruir do resultado<br />
do seu trabalho (a casa que faz não é para<br />
ele).<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão propõe ao participante que<br />
estabeleça uma relação entre linguagens,<br />
associando a compreensão de um efeito<br />
semântico produzido pelo uso do oxímoro<br />
nos quadrinhos com o mesmo efeito num<br />
texto poético. O índice (18%) de escolhas da<br />
alternativa D deve-se, possivelmente, a uma<br />
análise parcial da noção de paradoxo,<br />
confundida com inversão.<br />
31) (2001) Oxímoro (ou paradoxo) é uma<br />
construção textual que agrupa significados<br />
que se excluem mutuamente. Para<br />
Garfield, a frase de saudação de Jon<br />
(tirinha abaixo) expressa o maior de todos<br />
os oxímoros.<br />
32) (2005) Cândido Portinari (1903-1962), um<br />
dos mais importantes artistas brasileiros<br />
do século XX, tratou de diferentes<br />
aspectos da nossa realidade em seus<br />
quadros.<br />
Folha de S. Paulo. 31 de julho de 2000.<br />
562<br />
Nas alternativas abaixo, estão transcritos<br />
versos retirados do poema “O operário em<br />
construção”. Pode-se afirmar que ocorre<br />
um oxímoro em<br />
A) "Era ele que erguia casas<br />
Onde antes só havia chão."<br />
B) "... a casa que ele fazia<br />
Sendo a sua liberdade<br />
Era a sua escravidão."<br />
C) "Naquela casa vazia<br />
Que ele mesmo levantara<br />
Um mundo novo nascia<br />
De que sequer suspeitava."<br />
D) "... o operário faz a coisa<br />
E a coisa faz o operário."<br />
E) "Ele, um humilde operário<br />
Um operário que sabia<br />
Exercer a profissão."<br />
MORAES, Vinícius de. Antologia Poética. São Paulo:<br />
Companhia das Letras, 1992.<br />
Comentário<br />
Idéias que se completam e se excluem<br />
mutuamente são encontradas na alternativa<br />
B: a casa que ele construía era, ao mesmo<br />
tempo, sua liberdade e sua escravidão.<br />
A casa é um símbolo de liberdade para o<br />
homem. Para o homem operário, é também<br />
símbolo de escravidão, pois ele está<br />
Sobre a temática dos “Retirantes”,<br />
Portinari também escreveu o seguinte<br />
poema:<br />
(....)<br />
Os retirantes vêm vindo com trouxas e<br />
embrulhos<br />
Vêm das terras secas e escuras;<br />
pedregulhos<br />
Doloridos como fagulhas de carvão aceso<br />
Corpos disformes, uns panos sujos,<br />
Rasgados e sem cor, dependurados<br />
Homens de enorme ventre bojudo<br />
Mulheres com trouxas caídas para o lado<br />
Pançudas, carregando ao colo um garoto<br />
Choramingando, remelento<br />
(....)<br />
(Cândido Portinari. Poemas. Rio de Janeiro:<br />
J. Olympio, 1964.)<br />
Das quatro obras reproduzidas, assinale<br />
aquelas que abordam a problemática que<br />
é tema do poema.
A) 1 e 2 D) 3 e 4<br />
B) 1 e 3 E) 2 e 4<br />
C) 2 e 3<br />
Comentário<br />
O poema apresenta correspondência com<br />
as imagens ao descrever com detalhes a<br />
figura do retirante: pobre, mal vestido,<br />
carregando trouxas e embrulhos.<br />
33) (2003) No ano passado, o governo<br />
promoveu uma campanha a fim de reduzir<br />
os índices de violência. Noticiando o fato,<br />
um jornal publicou a seguinte manchete:<br />
CAMPANHA CONTRA A VIOLÊNCIA DO<br />
GOVERNO DO ESTADO ENTRA EM NOVA<br />
FASE<br />
A manchete tem um duplo sentido, e isso<br />
dificulta o entendimento. Considerando o<br />
objetivo da notícia, esse problema poderia<br />
ter sido evitado com a seguinte redação:<br />
A) Campanha contra o governo do Estado<br />
e a violência entram em nova fase.<br />
B) A violência do governo do Estado entra<br />
em nova fase de Campanha.<br />
C) Campanha contra o governo do Estado<br />
entra em nova fase de violência.<br />
D) A violência da campanha do governo<br />
do Estado entra em nova fase.<br />
E) Campanha do governo do Estado<br />
contra a violência entra em nova fase.<br />
Comentário<br />
O objetivo da questão é eliminar a<br />
ambigüidade da notícia de jornal, que,<br />
originalmente, trazia duas idéias: de acordo<br />
com a primeira, o governo queria combater a<br />
violência, e a segunda ressaltava que o<br />
governo era violento. Nessa questão,<br />
era preciso eliminar a segunda possibilidade<br />
de leitura.<br />
34) (2004)<br />
A polifonia, variedade de vozes, presente<br />
no poema resulta da manifestação do<br />
A) poeta e do colonizador apenas.<br />
B) colonizador e do negro apenas.<br />
C) negro e do índio apenas.<br />
D) colonizador, do poeta e do negro<br />
apenas.<br />
E) poeta, do colonizador, do índio e do<br />
negro.<br />
Comentário<br />
A questão apresenta uma certa<br />
dificuldade, pois, à primeira vista, parecem<br />
confundir-se as vozes do colonizador, do<br />
negro e do índio. Entretanto, os<br />
travessões existentes no poema explicitam<br />
as falas das personagens ao mostrar que<br />
não são apenas as vozes do poeta e do<br />
colonizador que estão presentes. As falas do<br />
índio e do negro são proferidas por eles,<br />
marca expressa pelo discurso direto. A<br />
presença dessa modalidade de discurso<br />
indica a reprodução literal do que as<br />
personagens disseram.<br />
Um ponto interessante em relação a essa<br />
questão é a intertextualidade. O índio<br />
aparece no poema pela remissão a um texto<br />
poético do nosso Romantismo, em um<br />
processo intertextual com “I-Juca-Pirama”, de<br />
Gonçalves Dias; e a presença do negro se dá<br />
pela ligação com Mário de Andrade, em<br />
Macunaíma. Entende-se, portanto, que a<br />
alternativa correta é a letra E.<br />
35) (2002) "A palavra tatuagem é<br />
relativamente recente. Toda a gente sabe<br />
que foi o navegador Cook que a introduziu<br />
no Ocidente, e esse escrevia tattou, termo<br />
da Polinésia de tatou ou tu tahou,<br />
'desenho'.<br />
(...) Desde os mais remotos tempos,<br />
vemo-la a transformar-se: distintivo<br />
honorífico entre uns homens, ferrete de<br />
ignomínia entre outros, meio de assustar o<br />
adversário para os bretões, marca de uma<br />
classe de selvagens das ilhas marquesas<br />
(...) sinal de amor, de desprezo, de ódio<br />
(...). Há três casos de tatuagem no Rio,<br />
completamente diversos na sua<br />
significação moral: os negros,os turcos<br />
com o fundo religioso e o bando de<br />
meretrizes, dos rufiões e dos humildes,<br />
que se marcam por crime ou por<br />
ociosidade".<br />
RIO, João do. Os Tatuadores. Revista Kosmos.<br />
1904, apud: A alma encantadora das ruas,<br />
SP: Cia das Letras, 1999.<br />
563
Com base no texto são feitas as seguintes<br />
afirmações:<br />
I. João do Rio revela como a tatuagem já<br />
estava presente na cidade do Rio de<br />
Janeiro, pelo menos desde o início do<br />
século XX, e era mais utilizada por<br />
alguns setores da população.<br />
II. A tatuagem, de origem polinésia,<br />
difundiu-se no ocidente com a<br />
característica que permanece até hoje:<br />
utilização entre os jovens com função<br />
estritamente estética.<br />
III. O texto mostra como a tatuagem é<br />
uma prática que se transforma no<br />
tempo e que alcança inúmeros sentidos<br />
nos diversos setores das sociedades e<br />
para as diferentes culturas.<br />
Está correto o que se afirma apenas em<br />
A) I D) I e II<br />
B) II E) I e III<br />
C) III<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Constata-se o<br />
seguinte: a tatuagem já existia no Brasil no<br />
início do século XX (o texto é de 1904 e parte<br />
dele se refere ao Rio do Janeiro) e era<br />
utilizada em diferentes setores da sociedade.<br />
A afirmação de que as tatuagens possuem<br />
apenas finalidade estética entre os jovens<br />
elimina a segunda alternativa. Já a última<br />
alternativa confirma as transformações das<br />
funções da tatuagem ao longo do tempo nas<br />
mais diversas sociedades e culturas.<br />
Comentário do INEP<br />
O texto estabelece uma relação entre a<br />
atualidade da palavra "tatuagem" e a<br />
antiguidade do uso de desenhos como<br />
pintura corporal. Focaliza uma prática social<br />
bastante difundida que adquiriu aspectos e<br />
conotações diversos nos diferentes contextos<br />
históricos e geográficos em que ela pode ser<br />
descrita. Fazendo a descrição da prática da<br />
tatuagem, como uma manifestação comum a<br />
diferentes culturas, e que adquire, inclusive,<br />
significados diferentes dentro de uma mesma<br />
cultura, induz o participante a refletir sobre a<br />
"diversidade dos patrimônios etnoculturais e<br />
artísticos", contextualizando ao mesmo<br />
tempo seus significados "em diferentes<br />
sociedades, épocas e lugares". Ao retomar<br />
as várias origens e usos da tatuagem, o<br />
participante é levado a compreender e<br />
respeitar uma gramática histórica dos<br />
costumes marcada sempre por semelhanças<br />
e diferenças. A questão não exigia, portanto,<br />
nenhum conhecimento prévio sobre as<br />
564<br />
diferentes formas de manifestação dessa<br />
prática, mas simplesmente constatar, com o<br />
autor do texto citado, a historicidade e a<br />
diversidade das práticas sociais. Os<br />
participantes que assinalaram a alternativa C<br />
(36%), possivelmente, não levaram em<br />
consideração informações do texto. A<br />
questão foi corretamente respondida por 37%<br />
dos participantes.<br />
36) (2004)<br />
Nesta tirinha, a personagem faz referência<br />
a uma das mais conhecidas figuras de<br />
linguagem para<br />
A) condenar a prática de exercícios físicos<br />
B) valorizar aspectos da vida moderna.<br />
C) desestimular o uso das bicicletas.<br />
D) caracterizar o diálogo entre as<br />
gerações.<br />
E) criticar a falta de perspectiva do pai.<br />
Comentário<br />
A construção indica a falta de perspectiva<br />
na vida do pai do personagem. “Pedalar sem<br />
sair do lugar” é uma metáfora muito usada na<br />
cultura brasileira para expressar como é a<br />
vida de uma pessoa que age de forma a não<br />
conseguir qualquer mudança — para melhor<br />
ou para pior — na vida.<br />
37) (2004) As questões de números 26 e 27<br />
referem-se ao poema abaixo.<br />
Entre os recursos expressivos<br />
empregados no texto, destaca-se a
A) metalinguagem, que consiste em fazer<br />
a linguagem referir-se à própria<br />
linguagem.<br />
B) intertextualidade, na qual o texto<br />
retoma e reelabora outros textos.<br />
C) ironia, que consiste em se dizer o<br />
contrário do que se pensa, com<br />
intenção crítica.<br />
D) denotação, caracterizada pelo uso das<br />
palavras em seu sentido próprio e<br />
objetivo.<br />
E) prosopopéia, que consiste em<br />
personificar coisas inanimadas,<br />
atribuindo-lhes vida.<br />
Comentário<br />
A questão trata de um texto de Carlos<br />
Drummond de Andrade em que ele fala sobre<br />
o crescimento urbano e a pobreza que esse<br />
processo traz. Para tanto, o poeta utiliza uma<br />
linguagem irônica, revelando o lado oculto do<br />
desenvolvimento. Dessa forma, temos como<br />
correta a alternativa C.<br />
38) (2007) Antigamente<br />
Acontecia o indivíduo apanhar<br />
constipação; ficando perrengue, mandava<br />
o próprio chamar o doutor e, depois, ir à<br />
botica para aviar a receita, de cápsulas ou<br />
pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />
phtísica, feia era o gálico. Antigamente, os<br />
sobrados tinham assombrações, os<br />
meninos, lombrigas (...)<br />
Carlos Drummond de Andrade. Poesia completa e prosa.<br />
Rio de Janeiro: Companhia José Aguilar, p. 1.184.<br />
O texto acima está escrito em linguagem<br />
de uma época passada. Observe uma<br />
outra versão, em linguagem atual.<br />
Antigamente<br />
Acontecia o indivíduo apanhar um<br />
resfriado; ficando mal, mandava o próprio<br />
chamar o doutor e, depois, ir à farmácia<br />
para aviar a receita, de cápsulas ou<br />
pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />
tuberculose, feia era a sífilis. Antigamente,<br />
os sobrados tinham assombrações, os<br />
meninos, vermes (...)<br />
Comparando-se esses dois textos,<br />
verifica-se que, na segunda versão, houve<br />
mudanças relativas a<br />
A) vocabulário.<br />
B) construções sintáticas.<br />
C) pontuação.<br />
D) fonética.<br />
E) regência verbal.<br />
Comentário<br />
Questão fácil. O aluno deveria comparar<br />
os dois textos e verificar as alterações<br />
realizadas na segunda versão apresentada.<br />
Nesse momento, fica evidente a mudança de<br />
vocabulário, o que indica a alternativa A<br />
como a correta.<br />
39) (2001) Nas conversas diárias, utiliza-se<br />
freqüentemente a palavra “próprio” e ela<br />
se ajusta a várias situações. Leia os<br />
exemplos de diálogos:<br />
I - A Vera se veste diferente!<br />
- É mesmo, é que ela tem um estilo<br />
próprio.<br />
II - A Lena já viu esse filme uma dezena<br />
de vezes! Eu não consigo ver o<br />
que ele tem de tão maravilhoso assim.<br />
- É que ele é próprio para adolescente.<br />
III - Dora, o que eu faço? Ando tão<br />
preocupada com o Fabinho! Meu filho<br />
está impossível!<br />
- Relaxa, Tânia! É próprio da idade.<br />
Com o tempo, ele se acomoda.<br />
Nas ocorrências I, II e III, “próprio” é<br />
sinônimo de, respectivamente,<br />
A) adequado, particular, típico.<br />
B) peculiar, adequado, característico.<br />
C) conveniente, adequado, particular.<br />
D) adequado, exclusivo, conveniente.<br />
E) peculiar, exclusivo, característico.<br />
Comentário<br />
Para responder a essa pergunta,<br />
substitua, nos trechos, a palavra próprio<br />
pelos possíveis equivalentes apresentados<br />
nas alternativas. Questão simples que pode<br />
ser resolvida por eliminação.<br />
Comentário do INEP<br />
Nesta questão são apresentados três<br />
textos em que uma mesma palavra é<br />
utilizada com sentidos diferentes. O problema<br />
consiste em observar a variedade de uso de<br />
um mesmo termo e as possibilidades de sua<br />
compreensão, estabelecendo uma relação<br />
comparativa com base em uma análise<br />
semântica. Cerca de metade (49%) dos<br />
participantes estabeleceu essa relação de<br />
maneira correta. Os participantes que<br />
assinalaram a alternativa D (21%),<br />
possivelmente isolaram o termo do contexto,<br />
gerando um equívoco entre "adequado" e<br />
"exclusivo".<br />
565
40) (2003) Do pedacinho de papel ao livro<br />
impresso vai uma longa distância. Mas o<br />
que o escritor quer, mesmo, é isso: ver o<br />
seu texto em letra de forma. A gaveta é<br />
ótima para aplacar a fúria criativa; ela faz<br />
amadurecer o texto da mesma forma que<br />
a adega faz amadurecer o vinho. Em<br />
certos casos, a cesta de papel é melhor<br />
ainda.<br />
O período de maturação na gaveta é<br />
necessário, mas não deve se prolongar<br />
muito. ‘Textos guardados acabam<br />
cheirando mal’, disse Silvia Plath, (...) que,<br />
com esta frase, deu testemunho das<br />
dúvidas que atormentam o escritor:<br />
publicar ou não publicar? guardar ou jogar<br />
fora?<br />
(Moacyr Scliar. O escritor e seus desafios.)<br />
Nesse texto, o escritor Moacyr Scliar usa<br />
imagens para refletir sobre uma etapa da<br />
criação literária. A idéia de que o processo<br />
de maturação do texto nem sempre é o<br />
que garante bons resultados está sugerida<br />
na seguinte frase:<br />
A) "A gaveta é ótima para aplacar a fúria<br />
criativa."<br />
B) "Em certos casos, a cesta de papel é<br />
melhor ainda."<br />
C) "O período de maturação na gaveta é<br />
necessário, (...)."<br />
D) "Mas o que o escritor quer, mesmo, é<br />
isso: ver o seu texto em letra de forma."<br />
E) "ela (a gaveta) faz amadurecer o texto<br />
da mesma forma que a adega faz<br />
amadurecer o vinho."<br />
Comentário<br />
Essa questão exigia a interpretação das<br />
frases. A palavra NEM no enunciado exclui<br />
todas as alternativas que tratam do<br />
amadurecimento ou da importância da<br />
gaveta para o bom sucesso da produção<br />
literária.<br />
A alternativa B é a única que apresenta<br />
um procedimento alternativo para a produção<br />
textual, ou seja, o lixo, e significa a liberdade<br />
do escritor em começar,<br />
interromper, recomeçar ou simplesmente<br />
abandonar a obra, permitindo a ele exercer<br />
seu livre-arbítrio.<br />
41) (2007)<br />
Aqui na floresta<br />
Dos ventos batida,<br />
Façanhas de bravos<br />
Não geram escravos,<br />
Que estimem a vida<br />
Sem guerra e lidar.<br />
— Ouvi-me, Guerreiros,<br />
— Ouvi meu cantar.<br />
O canto do guerreiro<br />
Valente na guerra,<br />
Quem há, como eu sou?<br />
Quem vibra o tacape<br />
Com mais valentia?<br />
Quem golpes daria<br />
Fatais, como eu dou?<br />
— Guerreiros, ouvi-me;<br />
— Quem há, como eu sou?<br />
Gonçalves Dias.<br />
Macunaíma<br />
(Epílogo)<br />
Acabou-se a história e morreu a vitória.<br />
Não havia mais ninguém lá. Dera<br />
tangolomângolo na tribo Tapanhumas e<br />
os filhos dela se acabaram de um em um.<br />
Não havia mais ninguém lá. Aqueles<br />
lugares, aqueles campos, furos<br />
puxadouros arrastadouros meiosbarrancos,<br />
aqueles matos misteriosos,<br />
tudo era solidão do deserto... Um silêncio<br />
imenso dormia à beira do rio Uraricoera.<br />
Nenhum conhecido sobre a terra não<br />
sabia nem falar da tribo nem contar<br />
aqueles casos tão pançudos. Quem podia<br />
saber do Herói?<br />
Mário de Andrade.<br />
Considerando-se a linguagem desses dois<br />
textos, verifica-se que<br />
A) a função da linguagem centrada no<br />
receptor está ausente tanto no primeiro<br />
quanto no segundo texto.<br />
B) a linguagem utilizada no primeiro texto<br />
é coloquial, enquanto, no segundo,<br />
predomina a linguagem formal.<br />
C) há, em cada um dos textos, a<br />
utilização de pelo menos uma palavra<br />
de origem indígena.<br />
D) a função da linguagem, no primeiro<br />
texto, centra-se na forma de<br />
organização da linguagem e, no<br />
segundo, no relato de informações<br />
reais.<br />
E) a função da linguagem centrada na<br />
primeira pessoa, predominante no<br />
segundo texto, está ausente no<br />
primeiro.<br />
Comentário<br />
Questão de nível médio. Essa é uma<br />
questão que foca a linguagem dos textos, e<br />
cada qual em seu gênero (poesia e prosa,<br />
respectivamente). O aluno chega à<br />
conclusão que a alternativa correta é a C por<br />
meio da exclusão das demais alternativas.<br />
A resposta correta não é a A, pois há um<br />
receptor que pode ser percebido nas<br />
seguintes perguntas contidas no texto:<br />
566
Texto 1 – “Guerreiros, ouvi-me;/Quem há,<br />
como eu sou?”<br />
Texto 2 – “Quem podia saber do herói?”<br />
Também não é a alternativa B, pois o<br />
conteúdo dos textos não é discriminatório. No<br />
primeiro texto, há uma idealização do índio e,<br />
no segundo, há uma realidade crítica e<br />
satírica da sociedade.<br />
A alternativa D é excluída, porque o<br />
segundo texto não fala de uma realidade, já<br />
que Macunaíma é um herói fictício e nãoreal.<br />
Por fim, também está errada a alternativa<br />
E. Isso porque não temos no epílogo do texto<br />
de Macunaíma a linguagem centrada na<br />
primeira pessoa, mas sim, na terceira.<br />
42) (2003) Eu começaria dizendo que poesia<br />
é uma questão de linguagem. A<br />
importância do poeta é que ele torna mais<br />
viva a linguagem. Carlos Drummond de<br />
Andrade escreveu um dos mais belos<br />
versos da língua portuguesa com duas<br />
palavras comuns: cão e cheirando.<br />
Um cão cheirando o futuro<br />
(Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP, 24/05/1988.<br />
adaptação)<br />
O que deu ao verso de Drummond o<br />
caráter de inovador da língua foi<br />
A) o modo raro como foi tratado o<br />
"futuro".<br />
B) a referência ao cão como "animal de<br />
estimação".<br />
C) a flexão pouco comum do verbo<br />
"cheirar" (gerúndio).<br />
D) a aproximação não usual do agente<br />
citado e a ação de "cheirar".<br />
E) o emprego do artigo indefinido "um" e<br />
do artigo definido "o" na mesma frase.<br />
Comentário<br />
O fato de Drummond identificar o futuro<br />
como algo que pode ser percebido por um<br />
animal irracional por meio do olfato foi<br />
inovador. A figura de linguagem foi<br />
construída metaforicamente: o futuro torna-se<br />
uma coisa que tem cheiro, contrariamente à<br />
imagem pela qual ele normalmente é<br />
representado: como algo que não se vê e<br />
não se pode pressentir ou tocar.<br />
43) (2002) Só falta o Senado aprovar o<br />
projeto de lei [sobre o uso de termos<br />
estrangeiros no Brasil] para que palavras<br />
como shopping center , delivery e drivethrough<br />
sejam proibidas em nomes de<br />
estabelecimentos e marcas. Engajado<br />
nessa valorosa luta contra o inimigo<br />
ianque, que quer fazer área de livre<br />
comércio com nosso inculto e belo idioma,<br />
venho sugerir algumas outras medidas<br />
que serão de extrema importância para a<br />
preservação da soberania nacional, a<br />
saber:<br />
........<br />
Nenhum cidadão carioca ou gaúcho<br />
poderá dizer "Tu vai" em espaços públicos<br />
do território nacional;<br />
Nenhum cidadão paulista poderá dizer "Eu<br />
lhe amo" e retirar ou acrescentar o plural<br />
em sentenças como "Me vê um chopps e<br />
dois pastel";<br />
..........<br />
Nenhum dono de borracharia poderá<br />
escrever cartaz com a palavra "borraxaria"<br />
e nenhum dono de banca de jornal<br />
anunciará "Vende-se cigarros";<br />
..........<br />
Nenhum livro de gramática obrigará os<br />
alunos a utilizar colocações pronominais<br />
como "casar-me-ei" ou "ver-se-ão".<br />
PIZA, Daniel. Uma proposta imodesta. O Estado de<br />
S. Paulo, São Paulo, 8/04/2001.<br />
No texto acima, o autor:<br />
A) mostra-se favorável ao teor da<br />
proposta por entender que a língua<br />
portuguesa deve ser protegida contra<br />
deturpações de uso.<br />
B) ironiza o projeto de lei ao sugerir<br />
medidas que inibam determinados usos<br />
regionais e socioculturais da língua.<br />
C) denuncia o desconhecimento de regras<br />
elementares de concordância verbal e<br />
nominal pelo falante brasileiro.<br />
D) revela-se preconceituoso em relação a<br />
certos registros lingüísticos ao propor<br />
medidas que os controlem.<br />
E) defende o ensino rigoroso da gramática<br />
para que todos aprendam a empregar<br />
corretamente os pronomes.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. O autor ironiza o<br />
projeto de lei que proíbe o uso de<br />
estrangeirismos no Brasil. Não adianta criarse<br />
uma expectativa ou preocupação em<br />
relação ao uso de termos estrangeiros na<br />
língua e esquecer-se de que a língua é um<br />
organismo vivo, mutável. A dinâmica de uma<br />
língua não pode ser regida por preceitos<br />
legais como quer o projeto.<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão reproduz trechos de um<br />
texto que aborda o polêmico projeto de<br />
567
proibição de uso de termos estrangeiros no<br />
Brasil. A partir da leitura atenta do texto de<br />
Daniel Piza, o participante é levado a refletir<br />
sobre a postura adotada pelo autor em<br />
relação ao referido projeto. Para<br />
compreender esse texto, o participante<br />
precisa reconhecer o tom irônico que marca<br />
as observações e sugestões feitas por seu<br />
autor. Assim, Daniel Piza, "engajado nessa<br />
valorosa luta contra o inimigo ianque", sugere<br />
a proibição de algumas formas lingüísticas de<br />
uso corrente que contrariam recomendações<br />
da gramática normativa. O participante deve<br />
reconhecer que, com sugestões como essas,<br />
Daniel Piza deixa implícita uma crítica à<br />
utilidade do projeto de proibição dos<br />
estrangeirismos como forma de proteger a<br />
Língua Portuguesa. Nesse contexto, a ironia<br />
torna-se mais clara, bem como o mecanismo<br />
textual que a constrói. Feito tal<br />
reconhecimento, o aluno encontra a resposta<br />
correta na alternativa B, assinalada por cerca<br />
da metade dos participantes. Nenhuma outra<br />
alternativa contempla o aspecto irônico,<br />
essencial para a compreensão do texto.<br />
44) (2003) Pequenos tormentos da vida<br />
De cada lado da sala de aula, pelas janelas<br />
altas, o azul convida os meninos,<br />
as nuvens desenrolam-se, lentas como quem<br />
vai inventando<br />
preguiçosamente uma história sem fim...Sem<br />
fim é a aula: e nada acontece,<br />
nada...Bocejos e moscas. Se ao menos,<br />
pensa Margarida, se ao menos um<br />
avião entrasse por uma janela e saísse por<br />
outra!<br />
(Mário Quintana. Poesias)<br />
Na cena retratada no texto, o sentimento<br />
do tédio<br />
A) provoca que os meninos fiquem<br />
contando histórias.<br />
B) leva os alunos a simularem bocejos,<br />
em protesto contra a monotonia da<br />
aula.<br />
C) acaba estimulando a fantasia,<br />
criando a expectativa de algum<br />
imprevisto mágico.<br />
D) prevalece de modo absoluto,<br />
impedindo até mesmo a distração ou o<br />
exercício do pensamento.<br />
E) decorre da morosidade da aula, em<br />
contraste com o movimento acelerado<br />
das nuvens e das moscas.<br />
Comentário<br />
Essa questão aborda o imaginário<br />
decorrente do marasmo trazido pela escola.<br />
O texto enfatiza o arrastar do tempo na<br />
mente de uma aluna, Margarida, que se põe<br />
a pensar em fatos mágicos ou imaginários<br />
que pudessem romper com a lentidão da<br />
aula.<br />
45) (200) O autor do texto abaixo critica,<br />
ainda que em linguagem metafórica, a<br />
sociedade contemporânea em relação aos<br />
seus hábitos alimentares.<br />
“Vocês que têm mais de 15 anos, se<br />
lembram quando a gente comprava leite<br />
em garrafa, na leiteria da esquina? (...)<br />
Mas vocês não se lembram de nada,<br />
pô! Vai ver nem sabem o que é vaca. Nem<br />
o que é leite. Estou falando isso porque<br />
agora mesmo peguei um pacote de leite –<br />
leite em pacote, imagina, Tereza! – na<br />
porta dos fundos e estava escrito que é<br />
pasterizado, ou pasteurizado, sei lá, tem<br />
vitamina, é garantido pela<br />
embromatologia, foi enriquecido e o<br />
escambau. Será que isso é mesmo leite?<br />
No dicionário diz que leite é outra coisa:<br />
‘Líquido branco, contendo água,<br />
proteína, açúcar e sais minerais’. Um<br />
alimento pra ninguém botar defeito. O ser<br />
humano o usa há mais de 5.000 anos. É o<br />
único alimento só alimento. A carne serve<br />
pro animal andar, a fruta serve pra fazer<br />
outra fruta, o ovo serve pra fazer outra<br />
galinha (...) O leite é só leite. Ou toma ou<br />
bota fora. Esse aqui examinando bem, é<br />
só pra botar fora. Tem chumbo, tem<br />
benzina, tem mais água do que leite, tem<br />
serragem, sou capaz de jurar que nem<br />
vaca tem por trás desse negócio. Depois o<br />
pessoal ainda acha estranho que os<br />
meninos não gostem de leite.<br />
Mas, como não gostam? Não gostam<br />
como? Nunca tomaram! Múúúúúúú!”<br />
(FERNANDES, Millôr. O Estado de S. Paulo ,<br />
22 de agosto de 1999)<br />
A palavra embromatologia usada pelo<br />
autor é:<br />
A) um termo científico que significa estudo<br />
dos bromatos.<br />
B) uma composição do termo de gíria<br />
“embromação” (enganação) com<br />
bromatologia, que é o estudo dos<br />
alimentos.<br />
C) uma junção do termo de gíria<br />
“embromação” (enganação) com<br />
lactologia, que é o estudo das<br />
embalagens para leite.<br />
568
D) um neologismo da química orgânica<br />
que significa a técnica de retirar<br />
bromatos dos laticínios.<br />
E) uma corruptela de termo da<br />
agropecuária que significa a ordenha<br />
mecânica.<br />
Comentário<br />
É necessário para a resolução desta<br />
questão:<br />
- perceber que o texto critica o exagerado<br />
uso de substâncias artificiais nos<br />
alimentos;<br />
- conhecer o significado da gíria embromar e<br />
da palavra bromatologia.<br />
Conhecendo esses significados, você<br />
elimina todas as alternativas erradas: a, c, d<br />
e e.<br />
Você poderá ter dúvida quanto à<br />
alternativa c, que também será eliminada se<br />
souber o significado da palavra lactologia,<br />
que é o estudo do leite e produtos lácteos e<br />
não das embalagens para leite.<br />
Nesta questão, são trabalhados os<br />
conceitos de interpretação de texto, formação<br />
de palavras e conhecimentos gerais.<br />
Comentário do INEP<br />
A resolução da questão requeria que o<br />
participante, ao ler o texto vinculasse o<br />
significado de um termo de gíria -<br />
"embromação" - com o da palavra<br />
bromatologia. A resposta correta exigia que o<br />
participante não abrisse mão do sabor<br />
picante contido na linguagem metafórica,<br />
sabor vinculado ao conhecimento específico<br />
contido na palavra bromatologia. Cerca da<br />
metade dos participantes (51%) optou pela<br />
alternativa correta e, os 20% que escolheram<br />
a alternativa C, provavelmente associaram a<br />
referência feita no texto à leite em pacote.<br />
46) (2005) O termo (ou expressão)<br />
destacado que está empregado em seu<br />
sentido próprio, denotativo ocorre em:<br />
A) “(....)<br />
É de laço e de nó<br />
De gibeira o jiló<br />
Dessa vida, cumprida a sol (....)”<br />
(Renato Teixeira. Romaria. Kuarup Discos.<br />
setembro de 1992.)<br />
B) “Protegendo os inocentes<br />
é que Deus, sábio demais,<br />
põe cenários diferentes<br />
nas impressões digitais.”<br />
(Maria N. S. Carvalho. Evangelho da Trova. /s.n.b.)<br />
C) “O dicionário-padrão da língua e os<br />
dicionários unilíngües são os tipos mais<br />
comuns de dicionários. Em nossos<br />
dias, eles se tornaram um objeto de<br />
consumo obrigatório para as nações<br />
civilizadas e desenvolvidas.”<br />
(Maria T. Camargo Biderman.<br />
O dicionário-padrão da língua. Alfa (28), 2743, 1974 Supl.)<br />
D)<br />
E) “Humorismo é a arte de fazer cócegas<br />
no raciocínio dos outros. Há duas<br />
espécies de humorismo: o trágico e o<br />
cômico. O trágico é o que não<br />
consegue fazer rir; o cômico é o que é<br />
verdadeiramente trágico para se fazer.”<br />
(Leon Eliachar. www.mercadolivre.com.br.<br />
acessado em julho de 2005.)<br />
Comentário<br />
A definição do dicionário-padrão da língua<br />
utiliza o sentido denotativo da palavra para<br />
explicar o uso de determinado tipo de<br />
dicionário. Em todas as outras alternativas,<br />
as palavras estão sendo empregadas em<br />
sentido metafórico. Na letra A, "cumprida a<br />
sol" pode mostrar o sofrimento e a solidão.<br />
Na alternativa B, "cenários diferentes" são as<br />
diferenças físicas encontradas nas<br />
impressões digitais. Na letra D, "bateria" é o<br />
termo usado para expressar a "energia" do<br />
Menino Maluquinho, que nunca acaba. Por<br />
fim, na alternativa E, "fazer cócegas no<br />
raciocínio" significa expressar graça por meio<br />
de idéias, fazendo com que o cérebro ache<br />
um fato divertido e, por conseguinte, faça<br />
com que a pessoa ria como se sofresse um<br />
ataque de cócegas.<br />
47) (2008) Os signos visuais, como meios de<br />
comunicação, são classificados em<br />
categorias de acordo com seus<br />
significados.<br />
A categoria denominada indício<br />
corresponde aos signos visuais que têm<br />
origem em formas ou situações naturais<br />
ou casuais, as quais, devido à ocorrência<br />
569
em circunstâncias idênticas, muitas vezes<br />
repetidas, indicam algo e adquirem<br />
significado. Por exemplo, nuvens negras<br />
indicam tempestade. Com base nesse<br />
conceito, escolha a opção que representa<br />
um signo da categoria dos indícios.<br />
A)<br />
48) (1999)<br />
570<br />
B)<br />
C)<br />
D)<br />
E)<br />
Comentário<br />
Trata-se de uma questão interpretativa. O<br />
aluno precisa entender o que é “indício” para<br />
respondê-la. Segundo o dicionário Aurélio,<br />
indício é o mesmo que “sinal, vestígio,<br />
indicação”. Das figuras apresentadas,<br />
apenas a alternativa B indica algo: a<br />
passagem de alguém por algum lugar —<br />
pegada.<br />
Diante da visão de um prédio com uma<br />
placa indicando SAPATARIA PAPALIA,<br />
um jovem deparou com a dúvida: como<br />
pronunciar a palavra PAPALIA?<br />
Levado o problema à sala de aula, a<br />
discussão girou em torno da utilidade de<br />
conhecer as regras de acentuação e,<br />
especialmente, do auxílio que elas podem<br />
dar à correta pronúncia de palavras.<br />
Após discutirem pronúncia, regras de<br />
acentuação e escrita, três alunos<br />
apresentaram as seguintes conclusões a<br />
respeito da palavra PAPALIA:<br />
I. Se a sílaba tônica for o segundo PA, a<br />
escrita deveria ser PAPÁLIA, pois a<br />
palavra seria paroxítona terminada em<br />
ditongo crescente.<br />
II. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />
deveria ser PAPALÍA, pois "i" e "a"<br />
estariam formando hiato.<br />
III. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />
deveria ser PAPALIA, pois não haveria<br />
razão para o uso de acento gráfico.<br />
A conclusão está correta apenas em:<br />
A) III D) I<br />
B) I e II E) II<br />
C) I e III<br />
Comentário<br />
Essa questão exige bom conhecimento<br />
das regras de acentuação. A alternativa A diz<br />
que apenas a afirmação I é verdadeira. De<br />
fato ela é, mas não é a única. Nela, temos a<br />
hipótese de a palavra ser grafada como se a<br />
sílaba forte fosse a penúltima — papália —,<br />
justificando seu acento gráfico. Vejamos o<br />
que dizem as regras de acentuação.<br />
Acentuam-se as palavras paroxítonas<br />
terminadas em: i, is, us, um, uns, l, n, r, x,<br />
ps, ã, ãs, ão, ãos, ditongos orais,<br />
crescentes ou decrescentes, seguidos ou<br />
não de S. Isso valida, portanto, a afirmação I.
A afirmação II pressupõe que a sílaba<br />
tônica seja LI, em hiato com A: no caso de<br />
essa ser a tonicidade da palavra, a sílaba LI<br />
não poderia ser acentuada, pois I, mesmo<br />
sendo a tônica do hiato, não é a última vogal,<br />
portanto, essa afirmativa é falsa.<br />
A afirmação III considera que a sílaba<br />
tônica é LI, não havendo acento por ser o I a<br />
primeira vogal do hiato. Portanto, essa<br />
afirmação é verdadeira.<br />
Concluindo, temos como verdadeiras as<br />
afirmações I e III. Então, a alternativa E é a<br />
correta. Questão de nível difícil.<br />
Comentário do INEP<br />
Dentre os participantes, somente pouco<br />
mais de um terço (35%) demonstrou possuir<br />
a habilidade para identificar as regras de<br />
acentuação corretas, enunciadas na questão.<br />
Chama a atenção o fato de que 73% dos<br />
participantes (alternativas A, D e E)<br />
reconheceram corretamente, pelo menos, a<br />
regra contida no item I, sendo que cerca de<br />
40% desses, contudo, tiveram dificuldades<br />
em analisar as regras II e III.<br />
Em se tratando de palavra não-usual, é,<br />
sobretudo, o domínio do conhecimento das<br />
regras e não a possível pronúncia correta,<br />
pelo uso, o que parece ter sido revelado.<br />
49) (2008)<br />
Exame, 28/9/2007.<br />
Entre os seguintes ditos populares, qual<br />
deles melhor corresponde à figura<br />
acima?<br />
A) Com perseverança, tudo se alcança.<br />
B) Cada macaco no seu galho.<br />
C) Nem tudo que balança cai.<br />
D) Quem tudo quer, tudo perde.<br />
E) Deus ajuda quem cedo madruga.<br />
Comentário<br />
Assim como a questão 37, esta também<br />
envolve interpretação de signos, ou seja, o<br />
aluno precisa estar atento à imagem e<br />
relacioná-la ao dito popular correspondente.<br />
A alternativa "A" é a correta, pois, para<br />
uma lesma “grudenta” e vagarosa conseguir<br />
pular numa cama elástica, é necessária<br />
muita perseverança.<br />
50) (2005) Leia estes textos.<br />
Texto 1<br />
Texto 2<br />
Sonhar<br />
Mais um sonho impossível<br />
Lutar<br />
Quando é fácil ceder<br />
Vencer o inimigo invencível<br />
Negar quando a regra é vender<br />
Sofrer a tortura implacável<br />
Romper a incabível prisão<br />
Voar num limite improvável<br />
Tocar o inacessível chão<br />
É minha lei, é minha questão<br />
Virar esse mundo<br />
Cravar esse chão<br />
Não me importa saber<br />
Se é terrível demais<br />
Quantas guerras terei que vencer<br />
Por um pouco de paz<br />
E amanhã se esse chão que eu beijei<br />
For meu leito e perdão<br />
Vou saber que valeu delirar<br />
E morrer de paixão<br />
E assim, seja lá como for<br />
Vai ter fim a infinita aflição<br />
E o mundo vai ver uma flor<br />
Brotar do impossível chão.<br />
(J. Darione – M. Leigh – Versão de Chico Buarque de<br />
Hollanda e Ruy Guerra, 1972.)<br />
A tirinha e a canção apresentam uma<br />
reflexão sobre o futuro da humanidade. É<br />
correto concluir que os dois textos<br />
A) afirmam que o homem é capaz de<br />
alcançar a paz.<br />
B) concordam que o desarmamento é<br />
inatingível.<br />
C) julgam que o sonho é um desafio<br />
invencível.<br />
D) têm visões diferentes sobre um<br />
possível mundo melhor.<br />
E) transmitem uma mensagem de<br />
otimismo sobre a paz.<br />
571
Comentário<br />
Enquanto o primeiro texto é ácido em<br />
relação à possibilidade de desarmamento da<br />
população (ou seja, à criação de uma<br />
sociedade mais pacífica), o segundo mostra<br />
a capacidade que a humanidade tem de crer<br />
e, por isso, tentar fazer até o que a princípio<br />
parece impossível. Para os autores da<br />
canção, nada é intrinsecamente impossível.<br />
A relação entre eles é de oposição:<br />
descrença x crença. Questão de nível de<br />
dificuldade médio.<br />
51) (2002) A crônica muitas vezes constitui<br />
um espaço para reflexão sobre aspectos<br />
da sociedade em que vivemos.<br />
"Eu, na rua, com pressa, e o menino<br />
segurou no meu braço, falou qualquer<br />
coisa que não entendi. Fui logo dizendo<br />
que não tinha, certa de que ele estava<br />
pedindo dinheiro. Não estava. Queria<br />
saber a hora.<br />
Talvez não fosse um Menino De<br />
Família, mas também não era um Menino<br />
De Rua. É assim que a gente divide.<br />
Menino De Família é aquele bem-vestido<br />
com tênis da moda e camiseta de marca,<br />
que usa relógio e a mãe dá outro se o<br />
dele for roubado por um Menino De Rua.<br />
Menino De Rua é aquele que quando a<br />
gente passa perto segura a bolsa com<br />
força porque pensa que ele é pivete,<br />
trombadinha, ladrão. (...) Na verdade não<br />
existem meninos De rua.<br />
Existem meninos NA rua. E toda vez<br />
que um menino está NA rua é porque<br />
alguém o botou lá. Os meninos não vão<br />
sozinhos aos lugares. Assim como são<br />
postos no mundo, durante muitos anos<br />
também são postos onde quer que<br />
estejam. Resta ver quem os põe na rua. E<br />
por quê."<br />
COLASSANTI, Marina. In: Eu sei, mas não devia. Rio de<br />
Janeiro: Rocco, 1999.<br />
No terceiro parágrafo em "... não existem<br />
meninos De rua. Existem meninos NA<br />
rua.", a troca de De pelo Na determina<br />
que a relação de sentido entre "menino" e<br />
"rua" seja<br />
A) de localização e não de qualidade.<br />
B) de origem e não de posse.<br />
C) de origem e não de localização.<br />
D) de qualidade e não de origem.<br />
E) de posse e não de localização.<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Apesar de não haver<br />
um terceiro parágrafo neste texto, a troca das<br />
preposições ao final do SEGUNDO parágrafo<br />
indica claramente que não há um menino DE<br />
(proveniente de) rua, mas um menino que está<br />
NA (foi levado à) rua. Portanto, a relação é<br />
unicamente de localização (onde ele está) e<br />
não de qualidade (o que ele é).<br />
Comentário do INEP<br />
A reprodução de um trecho de uma<br />
crônica de Marina Colassanti tematiza uma<br />
importante questão social brasileira: a<br />
presença de milhões de crianças nas ruas do<br />
País. A autora, ao tratar desse problema,<br />
vale-se de recursos lingüísticos específicos.<br />
O objetivo desta questão é justamente<br />
chamar a atenção do participante leitor para<br />
esses recursos e os efeitos de sentido que<br />
eles desencadeiam no texto. Na raiz da<br />
questão destaca-se a troca de "De" por "NA"<br />
e pede-se que se determine qual relação de<br />
sentido essa substituição estabelece entre os<br />
termos "menino" e "rua". Analisar a relação,<br />
nesse caso, significa perguntar-se sobre o<br />
sentido de dois sintagmas criados no texto:<br />
"meninos NA rua" por oposição a "meninos<br />
De rua". O que a autora pretende negar, com<br />
a troca do termo de relação, é a possibilidade<br />
de que existam meninos de rua diferentes de<br />
outros meninos, que não têm na rua a sua<br />
origem. O destaque para a preposição na<br />
nos leva a refletir que a relação dos meninos<br />
com a rua é de localização: eles estão ali por<br />
alguma razão, não porque essa seja a sua<br />
qualificação. Essa reflexão levaria o aluno a<br />
escolher, como correta, a resposta<br />
apresentada na alternativa A, assinalada por<br />
cerca de metade dos participantes.<br />
52) (2000) O uso do pronome átono no início<br />
das frases é destacado por um poeta e<br />
por um gramático nos textos abaixo.<br />
Pronominais<br />
Dê-me um cigarro<br />
Diz a gramática<br />
Do professor e do aluno<br />
E do mulato sabido<br />
Mas o bom negro e o bom branco<br />
da Nação Brasileira<br />
Dizem todos os dias<br />
Deixa disso camarada<br />
Me dá um cigarro<br />
(ANDRADE, Oswald de. Seleção de textos.<br />
São Paulo: Nova Cultural, 1988)<br />
572
“Iniciar a frase com pronome átono só<br />
é lícito na conversação familiar,<br />
despreocupada, ou na língua escrita<br />
quando se deseja reproduzir a fala dos<br />
personagens (...).”<br />
(CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da<br />
língua portuguesa.<br />
São Paulo: Nacional, 1980)<br />
Comparando a explicação dada pelos<br />
autores sobre essa regra, pode-se afirmar<br />
que ambos:<br />
A) condenam essa regra gramatical.<br />
B) acreditam que apenas os esclarecidos<br />
sabem essa regra.<br />
C) criticam a presença de regras na<br />
gramática.<br />
D) afirmam que não há regras para uso de<br />
pronomes.<br />
E) relativizam essa regra gramatical.<br />
Comentário<br />
Questão que requer conhecimento básico<br />
de colocação pronominal, em relação ao uso<br />
de pronomes átonos no início de frases, uma<br />
regra muito pouco respeitada pelo brasileiro,<br />
da qual Oswald de Andrade faz questão de<br />
falar em seu poema. Porém, a questão pode<br />
ser resolvida simplesmente por meio de uma<br />
leitura bem atenta dos textos. Se formos<br />
analisando alternativa por alternativa, a<br />
eliminação é clara e lógica: a alternativa a<br />
fica totalmente descartada devido à<br />
transparência da colocação dos dois autores<br />
(Me dá um cigarro...) e (iniciar frases com o<br />
pronome átono é "lícito" na conversação<br />
familiar ou despreocupada). Já a alternativa b<br />
pode até mesmo gerar um pouco de dúvida a<br />
quem não se atém bem à pergunta. Quanto<br />
às alternativas c e d, ficam descartadas, pois,<br />
em momento nenhum, os autores criticaram<br />
o uso de regras gramaticais em seus textos,<br />
cabendo perfeitamente a alternativa e para<br />
as afirmações do gramático e do poeta.<br />
Comentário do INEP<br />
Essa questão pretendia verificar como o<br />
participante analisa um fato lingüístico,<br />
mediante a comparação da descrição desse<br />
fato em dois textos. Sabe-se que,<br />
normalmente em situação escolar, o uso do<br />
pronome átono no início da frase é julgado<br />
como grave desvio gramatical, e pouco se<br />
analisa esse uso na fala ou escrita informal.<br />
Os dois autores dos textos, com intenções<br />
diferentes, relativizam essa regra gramatical,<br />
destacando e descrevendo o seu uso<br />
coloquial. A maioria dos participantes (52%)<br />
analisou e comparou corretamente as<br />
posições dos autores sobre o uso do<br />
pronome átono, e 24% deles reafirmaram a<br />
posição discriminatória da regra, deslocandoa<br />
de seu uso.<br />
53) (2000) As histórias em quadrinhos, por<br />
vezes, utilizam animais como<br />
personagens e a eles atribuem<br />
comportamento humano. O gato Garfield<br />
é exemplo desse fato.<br />
Fonte: Caderno Vida e Arte, Jornal do Povo, Fortaleza<br />
Van Gogh, pintor holandês nascido em<br />
1853, é um dos principais nomes da<br />
pintura mundial. É dele o quadro abaixo.<br />
Auto-retrato de orelha cortada<br />
O 3º quadrinho sugere que Garfield:<br />
A) desconhece tudo sobre arte, por isso<br />
faz a sugestão.<br />
B) acredita que todo pintor deve fazer algo<br />
diferente.<br />
C) defende que para ser pintor a pessoa<br />
tem de sofrer.<br />
D) conhece a história de um pintor<br />
famoso e faz uso da ironia.<br />
E) acredita que seu dono tenha tendência<br />
artística e, por isso, faz a sugestão.<br />
Comentário<br />
Outra questão de interpretação de texto.<br />
Muito simples para quem um dia ouviu falar<br />
de Van Gogh, e simplíssima para aqueles<br />
que prestam atenção em todos os elementos<br />
do enunciado. Afinal, quem deu uma<br />
espiadinha na legenda do quadro de Van<br />
Gogh matou na hora a questão.<br />
Esta questão é daquelas rápidas de serem<br />
resolvidas, associando-se os elementos<br />
apresentados.<br />
Comentário do INEP<br />
A significativa maioria (81%) dos<br />
participantes soube perceber o caráter<br />
irônico da fala do Garfield, expressa no<br />
terceiro quadrinho porque, ou conheciam a<br />
573
história de Van Gogh, ou apropriaram-se<br />
corretamente da informação sobre esse<br />
pintor, fornecida no enunciado.<br />
54) (2004)<br />
A tira "Hagar" e o poema de Alberto<br />
Caeiro (um dos heterônimos de Fernando<br />
Pessoa) expressam, com linguagens<br />
diferentes, uma mesma idéia: a de que a<br />
compreensão que temos do mundo é<br />
condicionada, essencialmente,<br />
A) pelo alcance de cada cultura.<br />
B) pela capacidade visual do observador.<br />
C) pelo senso de humor de cada um.<br />
D) pela idade do observador.<br />
E) pela altura do ponto de observação.<br />
Comentário<br />
Questão reflexiva sobre a forma como<br />
cada cultura vê o mundo sob a ótica dos<br />
limites dados pelos seus costumes e<br />
possibilidades de pensamento inerentes a<br />
cada modelo cultural. A mistura de uma tira e<br />
de um poema amplia a possibilidade de<br />
pensamento por trabalhar com linguagens<br />
diferentes. A alternativa correta é a letra A,<br />
pois ambos (tira e poema) utilizam figuras de<br />
linguagem (metáfora e ironia) para expressar<br />
as diferentes visões de mundo.<br />
55) (2003)<br />
O humor presente na tirinha decorre<br />
principalmente do fato de a personagem<br />
Mafalda<br />
A) atribuir, no primeiro quadrinho, poder<br />
ilimitado ao dedo indicador.<br />
B) considerar seu dedo indicador tão<br />
importante quanto o dos patrões.<br />
C) atribuir, no primeiro e no último<br />
quadrinhos, um mesmo sentido ao<br />
vocábulo "indicador".<br />
D) usar corretamente a expressão<br />
"indicador de desemprego", mesmo<br />
sendo criança.<br />
E) atribuir, no último quadrinho, fama<br />
exagerada ao dedo indicador dos<br />
patrões.<br />
Comentário<br />
A questão pede a interpretação de uma<br />
charge da personagem Mafalda, em que ela<br />
faz referência a seu dedo indicador, que é<br />
usado como substantivo primitivo e que<br />
possibilita a analogia com “indicador de<br />
desemprego”. Dessa forma, ela ironiza os<br />
indicadores sociais. Na charge, porém, não<br />
há menção explícita aos índices<br />
“indicadores”, permanecendo o raciocínio<br />
preso apenas ao dedo indicador. Assim, ela<br />
utiliza, tanto no primeiro quanto no último<br />
quadrinho, a palavra “indicador” como<br />
referência ao dedo, não dando abertura a<br />
outro tipo de interpretação.<br />
56) (2002)<br />
De acordo com a história em quadrinhos<br />
protagonizada por Hagar e seu filho<br />
Hamlet, pode-se afirmar que a postura de<br />
Hagar<br />
A) valoriza a existência da diversidade<br />
social e de culturas, e as várias<br />
representações e explicações desse<br />
universo.<br />
B) desvaloriza a existência da<br />
diversidade social e as várias culturas,<br />
e determina uma única explicação para<br />
esse universo.<br />
C) valoriza a possibilidade de explicar as<br />
sociedades e as culturas a partir de<br />
várias visões de mundo.<br />
D) valoriza a pluralidade cultural e social<br />
ao aproximar a visão de mundo de<br />
navegantes e não-navegantes.<br />
E) desvaloriza a pluralidade cultural e<br />
social, ao considerar o mundo habitado<br />
apenas pelos navegantes.<br />
574
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Hagar reduz o<br />
mundo a dois tipos de pessoas: navegantes<br />
e não-navegantes. No último quadrinho, diz<br />
que são os navegantes que estabelecem<br />
esses dois grupos. Portanto, quem é<br />
diferente dos navegantes (que estabelecem<br />
o padrão) simplesmente é incluído na massa<br />
única dos não-navegantes. Não importa<br />
quem ou quantos sejam, sua diversidade<br />
social ou cultural em relação aos navegantes<br />
ou entre si. Vemos aí a desvalorização de<br />
outras culturas.<br />
Comentário do INEP<br />
Dentre as habilidades básicas para a<br />
compreensão de um texto destaca-se a<br />
capacidade do leitor de identificar os<br />
pressupostos de cada afirmação que lhe é<br />
apresentada. Nesta questão o participante<br />
deve identificar a posição tanto de Hagar<br />
como de seu filho Hamlet e, em seguida,<br />
avaliar quais os argumentos que justificam a<br />
opinião de Hagar ao definir que no mundo só<br />
existem dois tipos de pessoas. A pergunta de<br />
Hamlet a seu pai explicita a importância do<br />
ato de narrar através do diálogo e do efeito<br />
humorístico contido no episódio representado<br />
na tira. O resultado da compreensão<br />
acertada do diálogo é que o narrador torna<br />
inteligível, para si e para os outros, a lógica<br />
do seu pensamento através do diálogo entre<br />
os dois personagens. É importante observar<br />
que o humor do personagem Hagar é<br />
identificado na postura simetricamente<br />
oposta à de Michel de Montaigne, por<br />
exemplo (ver questão 58): a sua visão de<br />
mundo apresenta-se autocentrada, isto é,<br />
centrada nos seus próprios valores (vikings).<br />
A habilidade requerida do participante nessa<br />
questão, qual seja, "valorizar a diversidade<br />
dos patrimônios etnoculturais", é mobilizada<br />
aqui na sua dimensão negativa: é criticando<br />
a postura chauvinista de Hagar que o<br />
participante é capaz de responder<br />
corretamente a questão. A última alternativa<br />
(E) funciona como um distrator, pois neste<br />
caso não está suposta a crítica do discurso<br />
do personagem. Cerca de um terço dos<br />
participantes assinalou a alternativa correta<br />
B. As demais opções são devidas,<br />
possivelmente, a uma leitura pouco<br />
compreensiva das alternativas associadas a<br />
história em quadrinhos.<br />
H30 - Relacionar as tecnologias<br />
de comunicação e<br />
informação ao<br />
desenvolvimento das<br />
sociedades e ao<br />
conhecimento que elas<br />
produzem<br />
01) (2008) Calcula-se que 78% do<br />
desmatamento na Amazônia tenha sido<br />
motivado pela pecuária — cerca de 35%<br />
do rebanho nacional está na região — e<br />
que pelo menos 50 milhões de hectares<br />
de pastos são pouco produtivos. Enquanto<br />
o custo médio para aumentar a<br />
produtividade de 1 hectare de pastagem é<br />
de 2 mil reais, o custo para derrubar igual<br />
área de floresta é estimado em 800 reais,<br />
o que estimula novos desmatamentos.<br />
Adicionalmente, madeireiras retiram as<br />
árvores de valor comercial que foram<br />
abatidas para a criação de pastagens. Os<br />
pecuaristas sabem que problemas<br />
ambientais como esses podem provocar<br />
restrições à pecuária nessas áreas, a<br />
exemplo do que ocorreu em 2006 com o<br />
plantio da soja, o qual, posteriormente, foi<br />
proibido em áreas de floresta.<br />
Época, 3/3/2008 e 9/6/2008 (com adaptações).<br />
A partir da situação-problema descrita,<br />
conclui-se que<br />
A) o desmatamento na Amazônia decorre<br />
principalmente da exploração ilegal de<br />
árvores de valor comercial.<br />
B) um dos problemas que os pecuaristas<br />
vêm enfrentando na Amazônia é a<br />
proibição do plantio de soja.<br />
C) a mobilização de máquinas e de força<br />
humana torna o desmatamento mais<br />
caro que o aumento da produtividade<br />
de pastagens.<br />
D) o superavit comercial decorrente da<br />
exportação de carne produzida na<br />
Amazônia compensa a possível<br />
degradação ambiental.<br />
E) a recuperação de áreas desmatadas<br />
e o aumento de produtividade das<br />
pastagens podem contribuir para a<br />
redução do desmatamento na<br />
Amazônia.<br />
Comentário do portal<br />
Essa questão retrata o problema do<br />
desmatamento da Amazônia, relacionado<br />
principalmente com o desenvolvimento da<br />
pecuária na região. Para resolvê-la, foram<br />
575
necessários a leitura atenta do texto e o<br />
conhecimento sobre os problemas<br />
ambientais da atualidade. A alternativa<br />
correta é a letra E, pois é mais caro para os<br />
pecuaristas aumentar a produtividade do que<br />
as áreas de pasto, o que acarreta o aumento<br />
do desmatamento da Amazônia.<br />
02) (2008) A Lei Federal n.º 9.985/2000, que<br />
instituiu o sistema nacional de unidades<br />
de conservação, define dois tipos de<br />
áreas protegidas. O primeiro, as unidades<br />
de proteção integral, tem por objetivo<br />
preservar a natureza, admitindo-se<br />
apenas o uso indireto dos seus recursos<br />
naturais, isto é, aquele que não envolve<br />
consumo, coleta, dano ou destruição dos<br />
recursos naturais. O segundo, as<br />
unidades de uso sustentável, tem por<br />
função compatibilizar a conservação da<br />
natureza com o uso sustentável de<br />
parcela dos recursos naturais. Nesse<br />
caso, permite-se a exploração do<br />
ambiente de maneira a garantir a<br />
perenidade dos recursos ambientais<br />
renováveis e dos processos ecológicos,<br />
mantendo-se a biodiversidade e os<br />
demais atributos ecológicos, de forma<br />
socialmente justa e economicamente<br />
viável.<br />
Considerando essas informações, analise<br />
a seguinte situação hipotética.<br />
Ao discutir a aplicação de recursos<br />
disponíveis para o desenvolvimento de<br />
determinada região, organizações civis,<br />
universidade e governo resolveram<br />
investir na utilização de uma unidade de<br />
proteção integral, o Parque Nacional do<br />
Morro do Pindaré, e de uma unidade de<br />
uso sustentável, a Floresta Nacional do<br />
Sabiá. Depois das discussões, a equipe<br />
resolveu levar adiante três projetos:<br />
— o projeto I consiste de pesquisas<br />
científicas embasadas exclusivamente<br />
na observação de animais;<br />
— o projeto II inclui a construção de uma<br />
escola e de um centro de vivência;<br />
— o projeto III promove a organização de<br />
uma comunidade extrativista que<br />
poderá coletar e explorar<br />
comercialmente frutas e sementes<br />
nativas.<br />
Nessa situação hipotética, atendendo-se à<br />
lei mencionada acima, é possível<br />
desenvolver tanto na unidade de proteção<br />
integral quanto na de uso sustentável<br />
A) apenas o projeto I.<br />
B) apenas o projeto III.<br />
576<br />
C) apenas os projetos I e II.<br />
D) apenas os projetos II e III.<br />
E) todos os três projetos.<br />
Comentário do portal<br />
A alternativa correta é a letra "A", pois,<br />
analisando-se a situação hipotética sugerida<br />
no enunciado, percebe-se que ela deverá<br />
atender os requisitos tanto da unidade de<br />
proteção integral quanto da unidade de uso<br />
sustentável. Portanto, apenas o projeto I<br />
poderá ser desenvolvido nessas duas<br />
propostas de unidades.<br />
03) (1999) Leia o texto abaixo.<br />
Cabelos longos, brinco na orelha<br />
esquerda, físico de skatista. Na aparência,<br />
o estudante brasiliense Rui Lopes Viana<br />
Filho, de 16 anos, não lembra em nada o<br />
estereótipo dos gênios. Ele não usa<br />
pesados óculos de grau e está longe de<br />
ter um ar introspectivo. No final do mês<br />
passado, Rui retornou de Taiwan, onde<br />
enfrentou 419 competidores de todo o<br />
mundo na 39ª Olimpíada Internacional de<br />
Matemática. A reluzente medalha de ouro<br />
que ele trouxe na bagagem está<br />
dependurada sobre a cama de seu quarto,<br />
atulhado de rascunhos dos problemas<br />
matemáticos que aprendeu a decifrar nos<br />
últimos cinco anos.<br />
Veja – Vencer uma olimpíada serve de<br />
passaporte para uma carreira profissional<br />
meteórica?<br />
Rui – Nada disso. Decidi me dedicar à<br />
Olimpíada porque sei que a concorrência<br />
por um emprego é cada vez mais<br />
selvagem e cruel. Agora tenho algo a mais<br />
para oferecer. O problema é que as coisas<br />
estão mudando muito rápido e não sei<br />
qual será minha profissão. Além de ser<br />
muito novo para decidir sobre o meu<br />
futuro profissional, sei que esse conceito<br />
de carreira mudou muito.<br />
(Entrevista de Rui Lopes Viana Filho à Veja,<br />
05/08/1998, n.31, p. 9-<strong>10</strong>)<br />
Na pergunta, o repórter estabelece uma<br />
relação entre a entrada do estudante no<br />
mercado de trabalho e a vitória na<br />
Olimpíada. O estudante<br />
A) concorda com a relação e afirma que o<br />
desempenho na Olimpíada é<br />
fundamental para sua entrada no<br />
mercado.<br />
B) discorda da relação e complementa<br />
que é fácil se fazer previsões sobre o<br />
mercado de trabalho.
C) discorda da relação e afirma que seu<br />
futuro profissional independe de<br />
dedicação aos estudos.<br />
D) discorda da relação e afirma que seu<br />
desempenho só é relevante se<br />
escolher uma profissão relacionada à<br />
matemática.<br />
E) concorda em parte com a relação e<br />
complementa que é complexo fazer<br />
previsões sobre o mercado de trabalho.<br />
Comentário<br />
Não é difícil de se chegar à resposta<br />
correta ao se ler a reportagem. Ao final do<br />
último parágrafo — (...) Além de ser muito<br />
novo para decidir sobre o meu futuro<br />
profissional, sei que esse conceito de carreira<br />
mudou muito. —, o estudante praticamente<br />
fornece a resposta à questão, declarando-se<br />
realista ao não tentar prever seu futuro<br />
profissional devido à pouca idade e às<br />
mudanças no mercado de trabalho. Quanto a<br />
concordar parcialmente com o repórter, veja<br />
que ele, apesar de negar que o prêmio fosse<br />
uma garantia de sucesso profissional, logo<br />
depois afirma que, com ele, terá algo mais a<br />
oferecer ao mercado. Questão de nível fácil.<br />
Comentário do INEP<br />
Nesta situação-problema, o participante<br />
deveria demonstrar que compreendeu as<br />
premissas de um discurso, distinguindo a<br />
diferença de significado de palavras isoladas<br />
ou no contexto em que estão inseridas.<br />
Verificou-se que mais da metade dos<br />
participantes demonstrou possuir essa<br />
compreensão. Aqueles que optaram pelas<br />
alternativas C e D podem ter sido atraídos<br />
pelo significado negativo da expressão inicial<br />
"Nada disso".<br />
04) (1998) Texto 1<br />
"Mulher, Irmã, escuta-me: não ames,<br />
Quando a teus pés um homem terno e<br />
curvo<br />
jurar amor, chorar pranto de sangue,<br />
Não creias, não, mulher: ele te engana!<br />
As lágrimas são gotas da mentira<br />
E o juramento manto da perfídia."<br />
(Joaquim Manoel de Macedo)<br />
Texto 2<br />
"Teresa, se algum sujeito bancar o<br />
sentimental em cima de você<br />
E te jurar uma paixão do tamanho de um<br />
bonde<br />
Se ele chorar<br />
Se ele ajoelhar<br />
Se ele se rasgar todo<br />
Não acredite não Teresa<br />
É lágrima de cinema<br />
É tapeação<br />
Mentira<br />
CAI FORA"<br />
(Manuel Bandeira)<br />
Os autores, ao fazerem alusão às<br />
imagens da lágrima sugerem que:<br />
A) há um tratamento idealizado da<br />
relação homem/mulher.<br />
B) há um tratamento realista da relação<br />
homem/mulher.<br />
C) a relação familiar é idealizada.<br />
D) a mulher é superior ao homem.<br />
E) a mulher é igual ao homem.<br />
Comentário<br />
Ambos os autores, ao utilizarem a<br />
imagem da lágrima, estão na realidade<br />
mostrando que a figura do homem que é<br />
romântico a ponto de chorar ao jurar amor<br />
não existe. Tanto Macedo quanto<br />
Bandeira alertam as mulheres dizendo,<br />
com palavras e estilos diferentes, que não<br />
há homem que chore por amor (portanto,<br />
essa figura é uma idealização — e, por<br />
conseguinte, toda imagem que se tem<br />
sobre os relacionamentos<br />
demasiadamente românticos). Note que<br />
Bandeira chega até mesmo a chamar tal<br />
"chorão" de ator ("...É lágrima de cinema /<br />
É tapeação..."). Macedo dá uma imagem<br />
pesada às lágrimas ("...são gotas da<br />
mentira...").<br />
05) (1999) Considere os textos abaixo.<br />
(...) de modo particular, quero encorajar os<br />
crentes empenhados no campo da<br />
filosofia para que iluminem os diversos<br />
âmbitos da atividade humana, graças ao<br />
exercício de uma razão que se torna mais<br />
segura e perspicaz com o apoio que<br />
recebe da fé.<br />
(Papa João Paulo II. Carta Encíclica Fides<br />
et Ratio aos bispos da igreja católica sobre as relações<br />
entre fé e razão, 1998)<br />
As verdades da razão natural não<br />
contradizem as verdades da fé cristã.<br />
(São Tomás de Aquino<br />
–pensador medieval)<br />
Refletindo sobre os textos, pode-se<br />
concluir que:<br />
A) a encíclica papal está em contradição<br />
com o pensamento de São Tomás de<br />
Aquino, refletindo a diferença de<br />
épocas.<br />
577
B) a encíclica papal procura<br />
complementar São Tomás de Aquino,<br />
pois este colocava a razão natural<br />
acima da fé.<br />
C) a Igreja medieval valorizava a razão<br />
mais do que a encíclica de João Paulo<br />
II.<br />
D) o pensamento teológico teve sua<br />
importância na Idade Média, mas, em<br />
nossos dias, não tem relação com o<br />
pensamento filosófico.<br />
E) tanto a encíclica papal como a frase<br />
de São Tomás de Aquino procuram<br />
conciliar os pensamentos sobre fé e<br />
razão.<br />
Comentário<br />
Nessa questão, é necessária uma<br />
releitura do texto para que se tenha uma<br />
melhor compreensão do tema. Tanto a<br />
citação do Papa quanto a de São Tomás de<br />
Aquino tentam criar uma interdependência<br />
entre a ciência e a fé, a religião. O Papa<br />
incentiva aqueles que exercem a pesquisa<br />
científica ou filosófica a manter a fé cristã.<br />
São Tomás de Aquino, por sua vez, equipara<br />
o avanço da ciência ao aumento da própria<br />
fé, afirmando que a razão natural não<br />
contradiz a fé cristã. Se um cresce, cresce<br />
também o outro, em harmonia e sem<br />
contradições. Questão de grau médio.<br />
(Português)<br />
Nessa questão, encontramos dois textos:<br />
o primeiro, do século XX, foi elaborado pelo<br />
Papa João Paulo II; o segundo, do século<br />
XIII, pelo teólogo e filósofo cristão São<br />
Tomás de Aquino. O conteúdo de ambos se<br />
refere à ligação entre fé e razão, a qual<br />
esteve presente na filosofia escolástica da<br />
Idade Média. Esse campo de reflexão buscou<br />
conciliar o cristianismo com o pensamento de<br />
Aristóteles e teve em São Tomás de Aquino<br />
seu maior representante.<br />
Mesmo sem ter todas essas informações,<br />
você poderia responder tranqüilamente à<br />
questão por meio de uma leitura atenta dos<br />
dois textos, chegando à conclusão de que<br />
"tanto a encíclica papal como a frase de São<br />
Tomás de Aquino procuram conciliar os<br />
pensamentos sobre fé e razão". Resposta<br />
correta: alternativa E. (História)<br />
Comentário do INEP<br />
Para resolver esta situação-problema, o<br />
participante deveria mostrar que, além de<br />
interpretar textos, sabe relacioná-los sendo<br />
que, nesse item, essas operações referem-se<br />
a um texto escrito na época medieval e a<br />
outro escrito recentemente.<br />
578<br />
Mais de 70% dos participantes<br />
demonstraram facilidade em estabelecer esta<br />
relação.<br />
06) (1999) Leia um texto publicado no jornal<br />
Gazeta Mercantil. Esse texto é parte de<br />
um artigo que analisa algumas situações<br />
de crise no mundo, entre elas, a quebra<br />
da Bolsa de Nova Iorque em 1929, e foi<br />
publicado na época de uma iminente crise<br />
financeira no Brasil.<br />
Deu no que deu. No dia 29 de outubro de<br />
1929, uma terça-feira, praticamente não<br />
havia compradores no pregão de Nova<br />
Iorque, só vendedores. Seguiu-se uma<br />
crise incomparável: o Produto Interno<br />
Bruto dos Estados Unidos caiu de <strong>10</strong>4<br />
bilhões de dólares em 1929, para 56<br />
bilhões em 1933, coisa inimaginável em<br />
nossos dias. O valor do dólar caiu a quase<br />
metade. O desemprego elevou-se de 1,5<br />
milhão para 12,5 milhões de trabalhadores<br />
– cerca de 25% da população ativa –<br />
entre 1929 e 1933. A construção civil caiu<br />
90%. Nove milhões de aplicações, tipo<br />
caderneta de poupança, perderam-se com<br />
o fechamento dos bancos. Oitenta e cinco<br />
mil firmas faliram. Houve saques e norteamericanos<br />
que passaram fome.<br />
(Gazeta Mercantil, 05/01/1999)<br />
Ao citar dados referentes à crise ocorrida<br />
em 1929, em um artigo jornalístico atual,<br />
pode-se atribuir ao jornalista a seguinte<br />
intenção:<br />
A) questionar a interpretação da crise.<br />
B) comunicar sobre o desemprego.<br />
C) instruir o leitor sobre aplicações em<br />
bolsa de valores.<br />
D) relacionar os fatos passados e<br />
presentes.<br />
E) analisar dados financeiros americanos.<br />
Comentário<br />
Nessa questão, o que se tem de fazer é<br />
prestar atenção às alternativas das<br />
respostas. Nenhuma delas se apresenta tão<br />
bem contextualizada a uma possível<br />
interpretação quanto a letra D. Partindo-se da<br />
análise do texto, fica claro que a intenção do<br />
artigo é remeter o leitor ao passado para<br />
tentar conduzi-lo a uma reflexão sobre uma<br />
situação presente, não mencionada na<br />
questão. Após a leitura e utilizando-se a já<br />
citada eliminação de questões, torna-se clara<br />
a resposta. Questão de nível médio.<br />
(Português)
Muitas vezes, quando procuramos<br />
entender uma crise econômica ou financeira<br />
de grandes proporções, buscamos<br />
estabelecer relações com crises passadas. O<br />
mesmo ocorre no jornalismo, como prova o<br />
texto encontrado nessa questão. Buscando<br />
entender uma crise ocorrida no início de<br />
1999, o jornalista da Gazeta Mercantil<br />
buscou relacionar a situação dessa época<br />
com a grande crise de 1929 que afetou o<br />
mundo, trazendo desemprego e recessão,<br />
entre tantos outros problemas econômicos e<br />
sociais.<br />
Para responder a essa questão, era<br />
necessário ler atentamente o enunciado, em<br />
que está destacado que "o texto é parte de<br />
um artigo que analisa algumas situações de<br />
crise no mundo" e "foi publicado na época de<br />
uma iminente crise financeira no Brasil". Era<br />
importante também observar a data em que o<br />
artigo foi publicado: 05/01/1999. A partir<br />
dessas constatações, facilmente você<br />
chegaria a conclusão de que a intenção do<br />
jornalista era "relacionar os fatos passados e<br />
presentes". Resposta correta: alternativa D.<br />
(História)<br />
Comentário do INEP<br />
A resolução da questão demandava a<br />
capacidade dos participantes de relacionar<br />
eventos históricos envolvendo crises<br />
econômicas ocorridas em épocas e lugares<br />
distintos. Aproximadamente 2/3 deles<br />
demonstraram essa capacidade. Os demais,<br />
provavelmente, não compreenderam a<br />
exigência expressa no enunciado do<br />
problema – apontar as razões pelas quais um<br />
jornalista traz à tona eventos ocorridos<br />
setenta anos antes –, e apenas interpretaram<br />
o sentido do texto citado, que descreve a<br />
crise mundial de 1929.<br />
Das obras reproduzidas, todas de autoria<br />
do pintor espanhol Pablo Picasso, aquela<br />
em cuja composição foi adotado um<br />
procedimento semelhante é:<br />
A)<br />
B)<br />
C)<br />
D)<br />
07) (2002) O autor da tira utilizou os<br />
princípios de composição de um<br />
conhecido movimento artístico para<br />
representar a necessidade de um mesmo<br />
observador aprender a considerar,<br />
simultaneamente, diferentes pontos de<br />
vista.<br />
E)<br />
579
Comentário<br />
Questão de nível fácil. O movimento<br />
artístico que previa considerar<br />
simultaneamente diversos pontos de vista<br />
era o Cubismo. Havia a desconstrução da<br />
forma para que se pudesse ver todos os<br />
ângulos concomitantemente. O único quadro<br />
que apresenta essas características é o da<br />
alternativa E. As outras quatro alternativas<br />
pressupõem a manutenção da forma.<br />
Comentário do INEP<br />
O objetivo desta questão é levar o<br />
participante a refletir sobre características<br />
fundamentais de um movimento artístico – o<br />
cubismo – a partir de dados visuais:<br />
quadrinhos e pinturas. A reprodução de dois<br />
quadrinhos da personagem Calvin forneceu<br />
para o participante informações básicas para<br />
a análise que deveria fazer das alternativas<br />
apresentadas. Segundo os quadrinhos, o<br />
movimento artístico abordado pela questão<br />
tinha como procedimento de composição<br />
representar, para um mesmo observador,<br />
diferentes pontos de vista, fazendo com que<br />
"o tradicional único ponto de vista" fosse<br />
abandonado e com que a perspectiva fosse<br />
fraturada. A análise das obras de Picasso<br />
reproduzidas nas alternativas permite que o<br />
participante reconheça a adoção desse<br />
procedimento no quadro "Marie-Thérèse<br />
apoiada no cotovelo" (alternativa E, com 46%<br />
de registros), no qual se pode reconhecer a<br />
representação de diferentes pontos de vista<br />
a partir dos quais é apresentado o rosto da<br />
mulher retratada.<br />
B) "... a casa que ele fazia<br />
Sendo a sua liberdade<br />
Era a sua escravidão."<br />
C) "Naquela casa vazia<br />
Que ele mesmo levantara<br />
Um mundo novo nascia<br />
De que sequer suspeitava."<br />
D) "... o operário faz a coisa<br />
E a coisa faz o operário."<br />
E) "Ele, um humilde operário<br />
Um operário que sabia<br />
Exercer a profissão."<br />
MORAES, Vinícius de. Antologia Poética. São Paulo:<br />
Companhia das Letras, 1992.<br />
Comentário<br />
Idéias que se completam e se excluem<br />
mutuamente são encontradas na alternativa<br />
B: a casa que ele construía era, ao mesmo<br />
tempo, sua liberdade e sua escravidão.<br />
A casa é um símbolo de liberdade para o<br />
homem. Para o homem operário, é também<br />
símbolo de escravidão, pois ele está<br />
"condenado" a jamais usufruir do resultado<br />
do seu trabalho (a casa que faz não é para<br />
ele).<br />
Comentário do INEP<br />
Esta questão propõe ao participante que<br />
estabeleça uma relação entre linguagens,<br />
associando a compreensão de um efeito<br />
semântico produzido pelo uso do oxímoro<br />
nos quadrinhos com o mesmo efeito num<br />
texto poético. O índice (18%) de escolhas da<br />
alternativa D deve-se, possivelmente, a uma<br />
análise parcial da noção de paradoxo,<br />
confundida com inversão.<br />
08) (2001) Oxímoro (ou paradoxo) é uma<br />
construção textual que agrupa significados<br />
que se excluem mutuamente. Para<br />
Garfield, a frase de saudação de Jon<br />
(tirinha abaixo) expressa o maior de todos<br />
os oxímoros.<br />
09) (2005) Cândido Portinari (1903-1962), um<br />
dos mais importantes artistas brasileiros<br />
do século XX, tratou de diferentes<br />
aspectos da nossa realidade em seus<br />
quadros.<br />
Folha de S. Paulo. 31 de julho de 2000.<br />
Nas alternativas abaixo, estão transcritos<br />
versos retirados do poema “O operário em<br />
construção”. Pode-se afirmar que ocorre<br />
um oxímoro em<br />
A) "Era ele que erguia casas<br />
Onde antes só havia chão."<br />
580
Sobre a temática dos “Retirantes”,<br />
Portinari também escreveu o seguinte<br />
poema:<br />
(....)<br />
Os retirantes vêm vindo com trouxas e<br />
embrulhos<br />
Vêm das terras secas e escuras;<br />
pedregulhos<br />
Doloridos como fagulhas de carvão aceso<br />
Corpos disformes, uns panos sujos,<br />
Rasgados e sem cor, dependurados<br />
Homens de enorme ventre bojudo<br />
Mulheres com trouxas caídas para o lado<br />
Pançudas, carregando ao colo um garoto<br />
Choramingando, remelento<br />
(....)<br />
(Cândido Portinari. Poemas. Rio de Janeiro:<br />
J. Olympio, 1964.)<br />
Das quatro obras reproduzidas, assinale<br />
aquelas que abordam a problemática que<br />
é tema do poema.<br />
A) 1 e 2 D) 3 e 4<br />
B) 1 e 3 E) 2 e 4<br />
C) 2 e 3<br />
Comentário<br />
O poema apresenta correspondência com<br />
as imagens ao descrever com detalhes a<br />
figura do retirante: pobre, mal vestido,<br />
carregando trouxas e embrulhos.<br />
<strong>10</strong>) (2002) "A palavra tatuagem é<br />
relativamente recente. Toda a gente sabe<br />
que foi o navegador Cook que a introduziu<br />
no Ocidente, e esse escrevia tattou, termo<br />
da Polinésia de tatou ou tu tahou,<br />
'desenho'.<br />
(...) Desde os mais remotos tempos,<br />
vemo-la a transformar-se: distintivo<br />
honorífico entre uns homens, ferrete de<br />
ignomínia entre outros, meio de assustar o<br />
adversário para os bretões, marca de uma<br />
classe de selvagens das ilhas marquesas<br />
(...) sinal de amor, de desprezo, de ódio<br />
(...). Há três casos de tatuagem no Rio,<br />
completamente diversos na sua<br />
significação moral: os negros,os turcos<br />
com o fundo religioso e o bando de<br />
meretrizes, dos rufiões e dos humildes,<br />
que se marcam por crime ou por<br />
ociosidade".<br />
RIO, João do. Os Tatuadores. Revista Kosmos.<br />
1904, apud: A alma encantadora das ruas,<br />
SP: Cia das Letras, 1999.<br />
Com base no texto são feitas as seguintes<br />
afirmações:<br />
I. João do Rio revela como a tatuagem já<br />
estava presente na cidade do Rio de<br />
Janeiro, pelo menos desde o início do<br />
século XX, e era mais utilizada por<br />
alguns setores da população.<br />
II. A tatuagem, de origem polinésia,<br />
difundiu-se no ocidente com a<br />
característica que permanece até hoje:<br />
utilização entre os jovens com função<br />
estritamente estética.<br />
III. O texto mostra como a tatuagem é<br />
uma prática que se transforma no<br />
tempo e que alcança inúmeros sentidos<br />
nos diversos setores das sociedades e<br />
para as diferentes culturas.<br />
Está correto o que se afirma apenas em<br />
A) I D) I e II<br />
B) II E) I e III<br />
C) III<br />
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Constata-se o<br />
seguinte: a tatuagem já existia no Brasil no<br />
início do século XX (o texto é de 1904 e parte<br />
dele se refere ao Rio do Janeiro) e era<br />
utilizada em diferentes setores da sociedade.<br />
A afirmação de que as tatuagens possuem<br />
apenas finalidade estética entre os jovens<br />
elimina a segunda alternativa. Já a última<br />
alternativa confirma as transformações das<br />
funções da tatuagem ao longo do tempo nas<br />
mais diversas sociedades e culturas.<br />
Comentário do INEP<br />
O texto estabelece uma relação entre a<br />
atualidade da palavra "tatuagem" e a<br />
antiguidade do uso de desenhos como<br />
pintura corporal. Focaliza uma prática social<br />
bastante difundida que adquiriu aspectos e<br />
conotações diversos nos diferentes contextos<br />
históricos e geográficos em que ela pode ser<br />
descrita. Fazendo a descrição da prática da<br />
tatuagem, como uma manifestação comum a<br />
diferentes culturas, e que adquire, inclusive,<br />
significados diferentes dentro de uma mesma<br />
cultura, induz o participante a refletir sobre a<br />
"diversidade dos patrimônios etnoculturais e<br />
artísticos", contextualizando ao mesmo<br />
tempo seus significados "em diferentes<br />
sociedades, épocas e lugares". Ao retomar<br />
as várias origens e usos da tatuagem, o<br />
participante é levado a compreender e<br />
respeitar uma gramática histórica dos<br />
costumes marcada sempre por semelhanças<br />
e diferenças. A questão não exigia, portanto,<br />
nenhum conhecimento prévio sobre as<br />
diferentes formas de manifestação dessa<br />
prática, mas simplesmente constatar, com o<br />
581
autor do texto citado, a historicidade e a<br />
diversidade das práticas sociais. Os<br />
participantes que assinalaram a alternativa C<br />
(36%), possivelmente, não levaram em<br />
consideração informações do texto. A<br />
questão foi corretamente respondida por 37%<br />
dos participantes.<br />
11) (2003) Eu começaria dizendo que poesia<br />
é uma questão de linguagem. A<br />
importância do poeta é que ele torna mais<br />
viva a linguagem. Carlos Drummond de<br />
Andrade escreveu um dos mais belos<br />
versos da língua portuguesa com duas<br />
palavras comuns: cão e cheirando.<br />
Um cão cheirando o futuro<br />
(Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP, 24/05/1988.<br />
adaptação)<br />
582<br />
O que deu ao verso de Drummond o<br />
caráter de inovador da língua foi<br />
A) o modo raro como foi tratado o<br />
"futuro".<br />
B) a referência ao cão como "animal de<br />
estimação".<br />
C) a flexão pouco comum do verbo<br />
"cheirar" (gerúndio).<br />
D) a aproximação não usual do agente<br />
citado e a ação de "cheirar".<br />
E) o emprego do artigo indefinido "um" e<br />
do artigo definido "o" na mesma frase.<br />
Comentário<br />
O fato de Drummond identificar o futuro<br />
como algo que pode ser percebido por um<br />
animal irracional por meio do olfato foi<br />
inovador. A figura de linguagem foi<br />
construída metaforicamente: o futuro torna-se<br />
uma coisa que tem cheiro, contrariamente à<br />
imagem pela qual ele normalmente é<br />
representado: como algo que não se vê e<br />
não se pode pressentir ou tocar.<br />
12) (2003) Pequenos tormentos da vida<br />
De cada lado da sala de aula, pelas janelas<br />
altas, o azul convida os meninos,<br />
as nuvens desenrolam-se, lentas como quem<br />
vai inventando<br />
preguiçosamente uma história sem fim...Sem<br />
fim é a aula: e nada acontece,<br />
nada...Bocejos e moscas. Se ao menos,<br />
pensa Margarida, se ao menos um<br />
avião entrasse por uma janela e saísse por<br />
outra!<br />
(Mário Quintana. Poesias)<br />
Na cena retratada no texto, o sentimento<br />
do tédio<br />
A) provoca que os meninos fiquem<br />
contando histórias.<br />
B) leva os alunos a simularem bocejos,<br />
em protesto contra a monotonia da<br />
aula.<br />
C) acaba estimulando a fantasia,<br />
criando a expectativa de algum<br />
imprevisto mágico.<br />
D) prevalece de modo absoluto,<br />
impedindo até mesmo a distração ou o<br />
exercício do pensamento.<br />
E) decorre da morosidade da aula, em<br />
contraste com o movimento acelerado<br />
das nuvens e das moscas.<br />
Comentário<br />
Essa questão aborda o imaginário<br />
decorrente do marasmo trazido pela escola. O<br />
texto enfatiza o arrastar do tempo na mente de<br />
uma aluna, Margarida, que se põe a pensar em<br />
fatos mágicos ou imaginários que pudessem<br />
romper com a lentidão da aula.<br />
13) (2000) O autor do texto abaixo critica, ainda<br />
que em linguagem metafórica, a sociedade<br />
contemporânea em relação aos seus<br />
hábitos alimentares.<br />
“Vocês que têm mais de 15 anos, se<br />
lembram quando a gente comprava leite<br />
em garrafa, na leiteria da esquina? (...)<br />
Mas vocês não se lembram de nada,<br />
pô! Vai ver nem sabem o que é vaca. Nem<br />
o que é leite. Estou falando isso porque<br />
agora mesmo peguei um pacote de leite –<br />
leite em pacote, imagina, Tereza! – na<br />
porta dos fundos e estava escrito que é<br />
pasterizado, ou pasteurizado, sei lá, tem<br />
vitamina, é garantido pela<br />
embromatologia, foi enriquecido e o<br />
escambau. Será que isso é mesmo leite?<br />
No dicionário diz que leite é outra coisa:<br />
‘Líquido branco, contendo água,<br />
proteína, açúcar e sais minerais’. Um<br />
alimento pra ninguém botar defeito. O ser<br />
humano o usa há mais de 5.000 anos. É o<br />
único alimento só alimento. A carne serve<br />
pro animal andar, a fruta serve pra fazer<br />
outra fruta, o ovo serve pra fazer outra<br />
galinha (...) O leite é só leite. Ou toma ou<br />
bota fora. Esse aqui examinando bem, é<br />
só pra botar fora. Tem chumbo, tem<br />
benzina, tem mais água do que leite, tem<br />
serragem, sou capaz de jurar que nem<br />
vaca tem por trás desse negócio. Depois o<br />
pessoal ainda acha estranho que os<br />
meninos não gostem de leite.<br />
Mas, como não gostam? Não gostam<br />
como? Nunca tomaram! Múúúúúúú!”<br />
(FERNANDES, Millôr. O Estado de S. Paulo ,<br />
22 de agosto de 1999)
A palavra embromatologia usada pelo<br />
autor é:<br />
A) um termo científico que significa estudo<br />
dos bromatos.<br />
B) uma composição do termo de gíria<br />
“embromação” (enganação) com<br />
bromatologia, que é o estudo dos<br />
alimentos.<br />
C) uma junção do termo de gíria<br />
“embromação” (enganação) com<br />
lactologia, que é o estudo das<br />
embalagens para leite.<br />
D) um neologismo da química orgânica<br />
que significa a técnica de retirar<br />
bromatos dos laticínios.<br />
E) uma corruptela de termo da<br />
agropecuária que significa a ordenha<br />
mecânica.<br />
Comentário<br />
É necessário para a resolução desta<br />
questão:<br />
- perceber que o texto critica o exagerado<br />
uso de substâncias artificiais nos<br />
alimentos;<br />
- conhecer o significado da gíria embromar e<br />
da palavra bromatologia.<br />
Conhecendo esses significados, você<br />
elimina todas as alternativas erradas: a, c, d<br />
e e.<br />
Você poderá ter dúvida quanto à<br />
alternativa c, que também será eliminada se<br />
souber o significado da palavra lactologia,<br />
que é o estudo do leite e produtos lácteos e<br />
não das embalagens para leite.<br />
Nesta questão, são trabalhados os<br />
conceitos de interpretação de texto, formação<br />
de palavras e conhecimentos gerais.<br />
Comentário do INEP<br />
A resolução da questão requeria que o<br />
participante, ao ler o texto vinculasse o<br />
significado de um termo de gíria -<br />
"embromação" - com o da palavra<br />
bromatologia. A resposta correta exigia que o<br />
participante não abrisse mão do sabor<br />
picante contido na linguagem metafórica,<br />
sabor vinculado ao conhecimento específico<br />
contido na palavra bromatologia. Cerca da<br />
metade dos participantes (51%) optou pela<br />
alternativa correta e, os 20% que escolheram<br />
a alternativa C, provavelmente associaram a<br />
referência feita no texto à leite em pacote.<br />
14) (2008) Os signos visuais, como meios de<br />
comunicação, são classificados em<br />
categorias de acordo com seus<br />
significados.<br />
A categoria denominada indício<br />
corresponde aos signos visuais que têm<br />
origem em formas ou situações naturais<br />
ou casuais, as quais, devido à ocorrência<br />
em circunstâncias idênticas, muitas vezes<br />
repetidas, indicam algo e adquirem<br />
significado. Por exemplo, nuvens negras<br />
indicam tempestade. Com base nesse<br />
conceito, escolha a opção que representa<br />
um signo da categoria dos indícios.<br />
A)<br />
B)<br />
C)<br />
D)<br />
E)<br />
583
Comentário<br />
Trata-se de uma questão interpretativa. O<br />
aluno precisa entender o que é “indício” para<br />
respondê-la. Segundo o dicionário Aurélio,<br />
indício é o mesmo que “sinal, vestígio,<br />
indicação”. Das figuras apresentadas,<br />
apenas a alternativa B indica algo: a<br />
passagem de alguém por algum lugar —<br />
pegada.<br />
15) (2008)<br />
Exame, 28/9/2007.<br />
Entre os seguintes ditos populares, qual<br />
deles melhor corresponde à figura<br />
acima?<br />
A) Com perseverança, tudo se alcança.<br />
B) Cada macaco no seu galho.<br />
C) Nem tudo que balança cai.<br />
D) Quem tudo quer, tudo perde.<br />
E) Deus ajuda quem cedo madruga.<br />
Comentário<br />
Assim como a questão 37, esta também<br />
envolve interpretação de signos, ou seja, o<br />
aluno precisa estar atento à imagem e<br />
relacioná-la ao dito popular correspondente.<br />
A alternativa "A" é a correta, pois, para<br />
uma lesma “grudenta” e vagarosa conseguir<br />
pular numa cama elástica, é necessária<br />
muita perseverança.<br />
16) (2005) Leia estes textos.<br />
Texto 1<br />
Romper a incabível prisão<br />
Voar num limite improvável<br />
Tocar o inacessível chão<br />
É minha lei, é minha questão<br />
Virar esse mundo<br />
Cravar esse chão<br />
Não me importa saber<br />
Se é terrível demais<br />
Quantas guerras terei que vencer<br />
Por um pouco de paz<br />
E amanhã se esse chão que eu beijei<br />
For meu leito e perdão<br />
Vou saber que valeu delirar<br />
E morrer de paixão<br />
E assim, seja lá como for<br />
Vai ter fim a infinita aflição<br />
E o mundo vai ver uma flor<br />
Brotar do impossível chão.<br />
(J. Darione – M. Leigh – Versão de Chico Buarque de<br />
Hollanda e Ruy Guerra, 1972.)<br />
A tirinha e a canção apresentam uma<br />
reflexão sobre o futuro da humanidade. É<br />
correto concluir que os dois textos<br />
A) afirmam que o homem é capaz de<br />
alcançar a paz.<br />
B) concordam que o desarmamento é<br />
inatingível.<br />
C) julgam que o sonho é um desafio<br />
invencível.<br />
D) têm visões diferentes sobre um<br />
possível mundo melhor.<br />
E) transmitem uma mensagem de<br />
otimismo sobre a paz.<br />
Comentário<br />
Enquanto o primeiro texto é ácido em<br />
relação à possibilidade de desarmamento da<br />
população (ou seja, à criação de uma<br />
sociedade mais pacífica), o segundo mostra<br />
a capacidade que a humanidade tem de crer<br />
e, por isso, tentar fazer até o que a princípio<br />
parece impossível. Para os autores da<br />
canção, nada é intrinsecamente impossível.<br />
A relação entre eles é de oposição:<br />
descrença x crença. Questão de nível de<br />
dificuldade médio.<br />
17) (2004)<br />
584<br />
Texto 2<br />
Sonhar<br />
Mais um sonho impossível<br />
Lutar<br />
Quando é fácil ceder<br />
Vencer o inimigo invencível<br />
Negar quando a regra é vender<br />
Sofrer a tortura implacável
A tira "Hagar" e o poema de Alberto<br />
Caeiro (um dos heterônimos de Fernando<br />
Pessoa) expressam, com linguagens<br />
diferentes, uma mesma idéia: a de que a<br />
compreensão que temos do mundo é<br />
condicionada, essencialmente,<br />
A) pelo alcance de cada cultura.<br />
B) pela capacidade visual do observador.<br />
C) pelo senso de humor de cada um.<br />
D) pela idade do observador.<br />
E) pela altura do ponto de observação.<br />
Comentário<br />
Questão reflexiva sobre a forma como<br />
cada cultura vê o mundo sob a ótica dos<br />
limites dados pelos seus costumes e<br />
possibilidades de pensamento inerentes a<br />
cada modelo cultural. A mistura de uma tira e<br />
de um poema amplia a possibilidade de<br />
pensamento por trabalhar com linguagens<br />
diferentes. A alternativa correta é a letra A,<br />
pois ambos (tira e poema) utilizam figuras de<br />
linguagem (metáfora e ironia) para expressar<br />
as diferentes visões de mundo.<br />
D) conhece a história de um pintor<br />
famoso e faz uso da ironia.<br />
E) acredita que seu dono tenha tendência<br />
artística e, por isso, faz a sugestão.<br />
Comentário<br />
Outra questão de interpretação de texto.<br />
Muito simples para quem um dia ouviu falar<br />
de Van Gogh, e simplíssima para aqueles<br />
que prestam atenção em todos os elementos<br />
do enunciado. Afinal, quem deu uma<br />
espiadinha na legenda do quadro de Van<br />
Gogh matou na hora a questão.<br />
Esta questão é daquelas rápidas de serem<br />
resolvidas, associando-se os elementos<br />
apresentados.<br />
Comentário do INEP<br />
A significativa maioria (81%) dos<br />
participantes soube perceber o caráter<br />
irônico da fala do Garfield, expressa no<br />
terceiro quadrinho porque, ou conheciam a<br />
história de Van Gogh, ou apropriaram-se<br />
corretamente da informação sobre esse<br />
pintor, fornecida no enunciado.<br />
18) (2000) As histórias em quadrinhos, por<br />
vezes, utilizam animais como<br />
personagens e a eles atribuem<br />
comportamento humano. O gato Garfield<br />
é exemplo desse fato.<br />
19) (2002)<br />
Fonte: Caderno Vida e Arte, Jornal do Povo, Fortaleza<br />
Van Gogh, pintor holandês nascido em<br />
1853, é um dos principais nomes da<br />
pintura mundial. É dele o quadro abaixo.<br />
Auto-retrato de orelha cortada<br />
O 3º quadrinho sugere que Garfield:<br />
A) desconhece tudo sobre arte, por isso<br />
faz a sugestão.<br />
B) acredita que todo pintor deve fazer algo<br />
diferente.<br />
C) defende que para ser pintor a pessoa<br />
tem de sofrer.<br />
De acordo com a história em quadrinhos<br />
protagonizada por Hagar e seu filho<br />
Hamlet, pode-se afirmar que a postura de<br />
Hagar<br />
A) valoriza a existência da diversidade<br />
social e de culturas, e as várias<br />
representações e explicações desse<br />
universo.<br />
B) desvaloriza a existência da<br />
diversidade social e as várias culturas,<br />
e determina uma única explicação para<br />
esse universo.<br />
C) valoriza a possibilidade de explicar as<br />
sociedades e as culturas a partir de<br />
várias visões de mundo.<br />
D) valoriza a pluralidade cultural e social<br />
ao aproximar a visão de mundo de<br />
navegantes e não-navegantes.<br />
E) desvaloriza a pluralidade cultural e<br />
social, ao considerar o mundo habitado<br />
apenas pelos navegantes.<br />
585
Comentário<br />
Questão de nível fácil. Hagar reduz o<br />
mundo a dois tipos de pessoas: navegantes<br />
e não-navegantes. No último quadrinho, diz<br />
que são os navegantes que estabelecem<br />
esses dois grupos. Portanto, quem é<br />
diferente dos navegantes (que estabelecem<br />
o padrão) simplesmente é incluído na massa<br />
única dos não-navegantes. Não importa<br />
quem ou quantos sejam, sua diversidade<br />
social ou cultural em relação aos navegantes<br />
ou entre si. Vemos aí a desvalorização de<br />
outras culturas.<br />
Comentário do INEP<br />
Dentre as habilidades básicas para a<br />
compreensão de um texto destaca-se a<br />
capacidade do leitor de identificar os<br />
pressupostos de cada afirmação que lhe é<br />
apresentada. Nesta questão o participante<br />
deve identificar a posição tanto de Hagar<br />
como de seu filho Hamlet e, em seguida,<br />
avaliar quais os argumentos que justificam a<br />
opinião de Hagar ao definir que no mundo só<br />
existem dois tipos de pessoas. A pergunta de<br />
Hamlet a seu pai explicita a importância do<br />
ato de narrar através do diálogo e do efeito<br />
humorístico contido no episódio representado<br />
na tira. O resultado da compreensão<br />
acertada do diálogo é que o narrador torna<br />
inteligível, para si e para os outros, a lógica<br />
do seu pensamento através do diálogo entre<br />
os dois personagens. É importante observar<br />
que o humor do personagem Hagar é<br />
identificado na postura simetricamente<br />
oposta à de Michel de Montaigne, por<br />
exemplo (ver questão 58): a sua visão de<br />
mundo apresenta-se autocentrada, isto é,<br />
centrada nos seus próprios valores (vikings).<br />
A habilidade requerida do participante nessa<br />
questão, qual seja, "valorizar a diversidade<br />
dos patrimônios etnoculturais", é mobilizada<br />
aqui na sua dimensão negativa: é criticando<br />
a postura chauvinista de Hagar que o<br />
participante é capaz de responder<br />
corretamente a questão. A última alternativa<br />
(E) funciona como um distrator, pois neste<br />
caso não está suposta a crítica do discurso<br />
do personagem. Cerca de um terço dos<br />
participantes assinalou a alternativa correta<br />
B. As demais opções são devidas,<br />
possivelmente, a uma leitura pouco<br />
compreensiva das alternativas associadas a<br />
história em quadrinhos.<br />
20) (2009) As tecnologias de informação e<br />
comunicação (TIC) vieram aprimorar ou<br />
substituir meios tradicionais de comunicação<br />
e armazenamento de informações, tais<br />
como o rádio e a TV analógicos, os livros, os<br />
telégrafos, o fax etc. As novas bases<br />
tecnológicas são mais poderosas e<br />
versáteis, introduziram fortemente a<br />
possibilidade de comunicação interativa e<br />
estão presentes em todos os meios<br />
produtivos da atualidade. As novas TIC<br />
vieram acompanhadas da chamada Digital<br />
Divide, Digital Gap ou Digital Exclusion,<br />
traduzidas para o português como Divisão<br />
Digital ou Exclusão Digital, sendo, às vezes,<br />
também usados os termos Brecha Digital ou<br />
Abismo Digital. Nesse contexto, a expressão<br />
Divisão Digital refere-se a<br />
A) uma classificação que caracteriza cada<br />
uma das áreas nas quais as novas TIC<br />
podem ser aplicadas, relacionando os<br />
padrões de utilização e exemplificando o<br />
uso dessas TIC no mundo moderno.<br />
B) uma relação das áreas ou subáreas de<br />
conhecimento que ainda não foram<br />
contempladas com o uso das novas<br />
tecnologias digitais, o que caracteriza<br />
uma brecha tecnológica que precisa ser<br />
minimizada.<br />
C) uma enorme diferença de desempenho<br />
entre os empreendimentos que utilizam<br />
as tecnologias digitais e aqueles que<br />
permaneceram usando métodos e<br />
técnicas analógicas.<br />
D) um aprofundamento das diferenças<br />
sociais já existentes, uma vez que se<br />
torna difícil a aquisição de<br />
conhecimentos e habilidades<br />
fundamentais pelas populações menos<br />
favorecidas nos novos meios produtivos.<br />
E) uma proposta de educação para o uso de<br />
novas pedagogias com a finalidade de<br />
acompanhar a evolução das mídias e<br />
orientar a produção de material<br />
pedagógico com apoio de computadores<br />
e outras técnicas digitais.<br />
Comentário<br />
(QUESTÃO: AZUL 113, BRANCA 112,<br />
ROSA 113)<br />
Nesta questão, o aluno deve escolher a<br />
resposta que melhor defina a expressão<br />
"Divisão Digital".<br />
Portanto, a alternativa D é a que melhor se<br />
aplica ao tratar o termo como o<br />
"aprofundamento das diferenças sociais [...] (e)<br />
torna difícil a aquisição pelas populações<br />
menos favorecidas nos<br />
novos<br />
meios produtivos". Resposta certa: D.<br />
586