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Untitled - Einsteen 10

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COMPETÊNCIA DE ÁREA 1<br />

H1 - Identificar as diferentes<br />

linguagens e seus recursos<br />

expressivos como elementos<br />

de caracterização dos<br />

sistemas de comunicação<br />

01) (2001) O mundo é grande<br />

O mundo é grande e cabe<br />

Nesta janela sobre o mar.<br />

O mar é grande e cabe<br />

Na cama e no colchão de amar.<br />

O amor é grande e cabe<br />

No breve espaço de beijar.<br />

ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e prosa.<br />

Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983.<br />

Neste poema, o poeta realizou uma opção<br />

estilística: a reiteração de determinadas<br />

construções e expressões lingüísticas,<br />

como o uso da mesma conjunção para<br />

estabelecer a relação entre as frases.<br />

Essa conjunção estabelece, entre as<br />

idéias relacionadas, um sentido de<br />

A) oposição.<br />

B) comparação.<br />

C) conclusão.<br />

D) alternância.<br />

E) finalidade.<br />

Comentário<br />

Há três elementos repetidos neste trecho:<br />

o verbo ser, o artigo definido o e a conjunção<br />

aditiva e. A conjunção e estabelece uma<br />

relação entre idéias que, concretamente, são<br />

opostas (ex.: "O mundo é grande e cabe<br />

nesta janela sobre o mar"). A alternativa<br />

correta é a letra A.<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão apresenta, para leitura e<br />

análise, o poema "O mundo é grande", onde<br />

os recursos lingüísticos expressivos<br />

utilizados geram um efeito de oposição entre<br />

as idéias. A análise sintático-semântica é<br />

necessária para a compreensão do valor de<br />

oposição assumido pela conjunção "e":<br />

imagens justapostas estão relacionadas,<br />

contrapondo-se em planos diferentes. Um<br />

percentual significativo (46%) de<br />

participantes considerou que o valor da<br />

conjunção "e", nesse poema, é de<br />

comparação, o que não reflete o sentido<br />

estilístico proposto pelo poeta, mas<br />

corresponde apenas à primeira operação que<br />

se realiza para estabelecer o sentido de<br />

oposição. De maneira análoga, pode-se<br />

analisar os equívocos daqueles que optaram<br />

pelas alternativas C e D.<br />

02) (1999) SONETO DE FIDELIDADE<br />

De tudo, ao meu amor serei atento<br />

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto<br />

Que mesmo em face do maior encanto<br />

Dele se encante mais meu pensamento.<br />

Quero vivê-lo em cada vão momento<br />

E em seu louvor hei de espalhar meu<br />

canto<br />

E rir meu riso e derramar meu pranto<br />

Ao seu pesar ou seu contentamento.<br />

E assim, quando mais tarde me procure<br />

Quem sabe a morte, angústia de quem<br />

vive<br />

Quem sabe a solidão, fim de quem ama.<br />

Eu possa dizer do meu amor (que tive):<br />

Que não seja imortal, posto que é chama<br />

Mas que seja infinito enquanto dure.<br />

(MORAES, Vinícius de. Antologia poética. São Paulo: Cia<br />

das Letras, 1992).<br />

A palavra mesmo pode assumir diferentes<br />

significados, de acordo com a sua função<br />

na frase. Assinale a alternativa em que o<br />

sentido de mesmo equivale ao que se<br />

verifica no 3º verso da 1ª estrofe do<br />

poema de Vinícius de Moraes.<br />

A) "Pai, para onde fores, / irei também<br />

trilhando as mesmas ruas..." (Augusto<br />

dos Anjos)<br />

B) "Agora, como outrora, há aqui o<br />

mesmo contraste da vida interior, que<br />

é modesta, com a exterior, que é<br />

ruidosa." (Machado de Assis)<br />

C) "Havia o mal, profundo e persistente,<br />

para o qual o remédio não surtiu efeito,<br />

mesmo em doses variáveis."<br />

(Raimundo Faoro)<br />

D) "Mas, olhe cá, Mana Glória, há<br />

mesmo necessidade de fazê-lo<br />

padre?" (Machado de Assis)<br />

E) "Vamos de qualquer maneira, mas<br />

vamos mesmo." (Aurélio)<br />

Comentário<br />

Nessa questão, uma pequena análise<br />

sintática se faz necessária: mesmo, em<br />

ambos os casos, é conjunção subordinativa<br />

concessiva, introduzindo, portanto, uma<br />

oração subordinada cujo fato expresso é<br />

contrário ao da oração principal. Deve-se,<br />

então, recorrer à oração anterior para se ter<br />

certeza quanto à classificação. Grau<br />

moderado de dificuldade.<br />

1


Comentário do INEP<br />

Este problema buscou colocar o<br />

participante diante de uma situação que<br />

exigia a mobilização de seus mecanismos de<br />

reflexão sobre os processos lingüísticos em<br />

que um significante (uma palavra) assume<br />

diferentes significados, no enunciado, de<br />

acordo com a intenção do enunciador. Neste<br />

caso, além da compreensão da<br />

transformação de significado, é necessária a<br />

alteração de função morfossintática.<br />

Verifica-se que 62% dos participantes<br />

conseguiram identificar e analisar esse<br />

processo lingüístico, comparando a função<br />

do significante em diferentes enunciados.<br />

Isso demonstrou um domínio parcial da<br />

reflexão sobre a Língua Portuguesa, em<br />

diferentes contextos e textos.<br />

Os 18% dos participantes que<br />

assinalaram a alternativa B identificaram a<br />

diferença de significados mas,<br />

provavelmente, têm dificuldades em analisar<br />

estas mudanças em nível morfossintático<br />

(alternativa B).<br />

03) ( 2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />

poema.<br />

A DANÇA E A ALMA<br />

A DANÇA? Não é movimento,<br />

súbito gesto musical.<br />

É concentração, num momento,<br />

da humana graça natural.<br />

No solo não, no éter pairamos,<br />

nele amaríamos ficar.<br />

A dança – não vento nos ramos:<br />

seiva, força, perene estar.<br />

Um estar entre céu e chão,<br />

novo domínio conquistado,<br />

onde busque nossa paixão<br />

libertar-se por todo lado...<br />

Onde a alma possa descrever<br />

suas mais divinas parábolas<br />

sem fugir à forma do ser,<br />

por sobre o mistério das fábulas.<br />

(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />

Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />

A definição de dança, em linguagem de<br />

dicionário, que mais se aproxima do que<br />

está expresso no poema é<br />

A) a mais antiga das artes, servindo como<br />

elemento de comunicação e afirmação<br />

do homem em todos os momentos de<br />

sua existência.<br />

B) a forma de expressão corporal que<br />

ultrapassa os limites físicos,<br />

possibilitando ao homem a liberação de<br />

seu espírito.<br />

C) a manifestação do ser humano,<br />

formada por uma seqüência de gestos,<br />

passos e movimentos desconcertados.<br />

D) o conjunto organizado de movimentos<br />

do corpo, com ritmo determinado por<br />

instrumentos musicais, ruídos, cantos,<br />

emoções etc.<br />

E) o movimento diretamente ligado ao<br />

psiquismo do indivíduo e, por<br />

conseqüência, ao seu desenvolvimento<br />

intelectual e à sua cultura.<br />

Comentário<br />

A pergunta busca a aplicação do conceito<br />

de "estado de dicionário" (que também foi<br />

desenvolvido por Drummond no poema "A<br />

Procura da Poesia"). A literatura busca partir<br />

de palavras em estado de dicionário para,<br />

pelo aprofundamento do sentido delas, criar<br />

um mundo mais denso e particular. Em<br />

estado de dicionário, a dança, conforme é<br />

tratada nesse poema, apareceria na<br />

alternativa B: uma justaposição entre<br />

aspectos físicos e espirituais da expressão<br />

humana. Questão complexa.<br />

04) (2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />

poema.<br />

A DANÇA E A ALMA<br />

A DANÇA? Não é movimento,<br />

súbito gesto musical.<br />

É concentração, num momento,<br />

da humana graça natural.<br />

No solo não, no éter pairamos,<br />

nele amaríamos ficar.<br />

A dança – não vento nos ramos:<br />

seiva, força, perene estar.<br />

Um estar entre céu e chão,<br />

novo domínio conquistado,<br />

onde busque nossa paixão<br />

libertar-se por todo lado...<br />

Onde a alma possa descrever<br />

suas mais divinas parábolas<br />

sem fugir à forma do ser,<br />

por sobre o mistério das fábulas.<br />

(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />

Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />

O poema “A Dança e a Alma” é construído<br />

com base em contrastes, como<br />

“movimento” e “concentração”. Em uma<br />

das estrofes, o termo que estabelece<br />

contraste com solo é:<br />

A) éter. D) paixão.<br />

B) seiva. E) ser.<br />

C) chão.<br />

2


Comentário<br />

O elemento que contrasta com "solo"<br />

(físico, tangível, perene) é "éter" (espiritual,<br />

intangível, volátil). Questão de nível médio de<br />

dificuldade.<br />

05) ( 2008) O surgimento da figura da Ema<br />

no céu, ao leste, no anoitecer, na segunda<br />

quinzena de junho, indica o início do<br />

inverno para os índios do sul do Brasil e o<br />

começo da estação seca para os do norte.<br />

É limitada pelas constelações de<br />

Escorpião e do Cruzeiro do Sul, ou<br />

Cut'uxu. Segundo o mito guarani, o<br />

Cut’uxu segura a cabeça da ave para<br />

garantir a vida na Terra, porque, se ela se<br />

soltar, beberá toda a água do nosso<br />

planeta. Os tupisguaranis utilizam o<br />

Cut'uxu para se orientar e determinar a<br />

duração das noites e as estações do ano.<br />

A ilustração a seguir é uma representação<br />

dos corpos celestes que constituem a<br />

constelação da Ema, na percepção<br />

indígena.<br />

A) A palavra Cut’uxu é um regionalismo<br />

utilizado pelas populações próximas às<br />

aldeias indígenas.<br />

B) O autor se expressa em linguagem<br />

formal em todos os períodos do texto.<br />

C) A ausência da palavra Ema no início do<br />

período “É limitada (...)” caracteriza<br />

registro oral.<br />

D) A palavra Cut’uxu está destacada em<br />

itálico porque integra o vocabulário da<br />

linguagem informal.<br />

E) No texto, predomina a linguagem<br />

coloquial porque ele consta de um<br />

almanaque.<br />

Comentário<br />

A questão é simples, mas requer cuidados<br />

quanto aos conceitos de linguagem<br />

“informal”, “formal” e de “língua”. Se o aluno<br />

tiver noção desses conceitos,<br />

chegará facilmente à resposta. A linguagem<br />

formal ou culta prevalece no texto, e o termo<br />

“Cut’uxu’ não é um termo informal, mas, sim,<br />

uma expressão que pertence a uma língua<br />

indígena — o que justifica o emprego da<br />

palavra em itálico. A resposta correta é,<br />

portanto, a letra "B".<br />

Almanaque BRASIL, maio/2007 (com adaptações).<br />

A próxima figura mostra, em campo de<br />

visão ampliado, como povos de culturas<br />

não-indígenas percebem o espaço estelar<br />

em que a Ema é vista.<br />

Internet: (com adaptações).<br />

Assinale a opção correta a respeito da<br />

linguagem empregada no texto A Ema.<br />

06) (2008) Calcula-se que 78% do<br />

desmatamento na Amazônia tenha sido<br />

motivado pela pecuária — cerca de 35%<br />

do rebanho nacional está na região — e<br />

que pelo menos 50 milhões de hectares<br />

de pastos são pouco produtivos. Enquanto<br />

o custo médio para aumentar a<br />

produtividade de 1 hectare de pastagem é<br />

de 2 mil reais, o custo para derrubar igual<br />

área de floresta é estimado em 800 reais,<br />

o que estimula novos desmatamentos.<br />

Adicionalmente, madeireiras retiram as<br />

árvores de valor comercial que foram<br />

abatidas para a criação de pastagens. Os<br />

pecuaristas sabem que problemas<br />

ambientais como esses podem provocar<br />

restrições à pecuária nessas áreas, a<br />

exemplo do que ocorreu em 2006 com o<br />

plantio da soja, o qual, posteriormente, foi<br />

proibido em áreas de floresta.<br />

Época, 3/3/2008 e 9/6/2008 (com adaptações).<br />

A partir da situação-problema descrita,<br />

conclui-se que<br />

A) o desmatamento na Amazônia decorre<br />

principalmente da exploração ilegal de<br />

árvores de valor comercial.<br />

B) um dos problemas que os pecuaristas<br />

vêm enfrentando na Amazônia é a<br />

proibição do plantio de soja.<br />

3


4<br />

C) a mobilização de máquinas e de força<br />

humana torna o desmatamento mais<br />

caro que o aumento da produtividade<br />

de pastagens.<br />

D) o superavit comercial decorrente da<br />

exportação de carne produzida na<br />

Amazônia compensa a possível<br />

degradação ambiental.<br />

E) a recuperação de áreas desmatadas<br />

e o aumento de produtividade das<br />

pastagens podem contribuir para a<br />

redução do desmatamento na<br />

Amazônia.<br />

Comentário do portal<br />

Essa questão retrata o problema do<br />

desmatamento da Amazônia, relacionado<br />

principalmente com o desenvolvimento da<br />

pecuária na região. Para resolvê-la, foram<br />

necessários a leitura atenta do texto e o<br />

conhecimento sobre os problemas<br />

ambientais da atualidade. A alternativa<br />

correta é a letra E, pois é mais caro para os<br />

pecuaristas aumentar a produtividade do que<br />

as áreas de pasto, o que acarreta o aumento<br />

do desmatamento da Amazônia.<br />

07) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />

preciso, além de conhecer o padrão<br />

formal da Língua Portuguesa, saber<br />

adequar o uso da linguagem ao contexto<br />

discursivo. Para exemplificar este fato,<br />

seu professor de Língua Portuguesa<br />

convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />

Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />

brinca com situações de discurso oral que<br />

fogem à expectativa do ouvinte.<br />

Aí, Galera<br />

Jogadores de futebol podem ser<br />

vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />

você pode imaginar um jogador de futebol<br />

dizendo "estereotipação"? E, no<br />

entanto, por que não?<br />

- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />

galera.<br />

- Minha saudação aos aficionados do<br />

clube e aos demais esportistas, aqui<br />

presentes ou no recesso dos seus lares.<br />

- Como é?<br />

- Aí, galera.<br />

- Quais são as instruções do técnico?<br />

- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />

trabalho de contenção coordenada, com<br />

energia otimizada, na zona de<br />

preparação, aumentam as<br />

probabilidades de, recuperado o<br />

esférico, concatenarmos um contragolpe<br />

agudo com parcimônia de meios e<br />

extrema objetividade, valendo-nos da<br />

desestruturação momentânea do<br />

sistema oposto, surpreendido pela<br />

reversão inesperada do fluxo da ação:<br />

- Ahn?<br />

- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />

pegá eles sem calça.<br />

- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />

coisa?<br />

- Posso dirigir uma mensagem de<br />

caráter sentimental, algo banal, talvez<br />

mesmo previsível e piegas, a uma<br />

pessoa à qual sou ligado por razões,<br />

inclusive, genéticas?<br />

- Pode.<br />

- Uma saudação para a minha<br />

progenitora.<br />

- Como é?<br />

- Alô, mamãe!<br />

- Estou vendo que você é um, um...<br />

- Um jogador que confunde o<br />

entrevistador, pois não corresponde à<br />

expectativa de que o atleta seja um ser<br />

algo primitivo com dificuldade de<br />

expressão e assim sabota a<br />

estereotipação?<br />

- Estereoquê?<br />

- Um chato?<br />

- Isso.<br />

Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />

O texto retrata duas situações<br />

relacionadas que fogem à expectativa do<br />

público. São elas:<br />

A) a saudação do jogador aos fãs do<br />

clube, no início da entrevista, e a<br />

saudação final dirigida à sua mãe.<br />

B) a linguagem muito formal do jogador,<br />

inadequada à situação da entrevista, e<br />

um jogador que fala, com desenvoltura,<br />

de modo muito rebuscado.<br />

C) o uso da expressão "galera", por parte<br />

do entrevistador, e da expressão<br />

"progenitora", por parte do jogador.<br />

D) o desconhecimento, por parte do<br />

entrevistador, da palavra<br />

"estereotipação", e a fala do jogador<br />

em "é pra dividir no meio e ir pra cima<br />

pra pegá eles sem calça".<br />

E) o fato de os jogadores de futebol serem<br />

vítimas de estereotipação e o jogador<br />

entrevistado não corresponder ao<br />

estereótipo.<br />

Comentário<br />

Quando pensamos em certas profissões,<br />

imaginamos qual seria o padrão de<br />

comportamento de quem as exerce. O texto


está trabalhando uma divergência entre o<br />

que esperamos de um jogador de futebol (o<br />

estereótipo que temos dele) e um jogador<br />

que não se enquadra em nossas<br />

expectativas. Levando isso em consideração,<br />

as duas coisas que destoam do que<br />

esperamos encontrar nessa situação são: 1)<br />

alguém, ao dar uma entrevista de alto<br />

alcance popular, fala de maneira<br />

extremamente rebuscada; 2) um jogador que,<br />

ao falar de maneira rebuscada, acaba por<br />

fugir do estereótipo do jogador de futebol, de<br />

quem sempre é esperado algo menos<br />

rebuscado e mais popular.<br />

08) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />

preciso, além de conhecer o padrão<br />

formal da Língua Portuguesa, saber<br />

adequar o uso da linguagem ao contexto<br />

discursivo. Para exemplificar este fato,<br />

seu professor de Língua Portuguesa<br />

convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />

Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />

brinca com situações de discurso oral que<br />

fogem à expectativa do ouvinte.<br />

Aí, Galera<br />

Jogadores de futebol podem ser<br />

vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />

você pode imaginar um jogador de futebol<br />

dizendo "estereotipação"? E, no<br />

entanto, por que não?<br />

- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />

galera.<br />

- Minha saudação aos aficionados do<br />

clube e aos demais esportistas, aqui<br />

presentes ou no recesso dos seus lares.<br />

- Como é?<br />

- Aí, galera.<br />

- Quais são as instruções do técnico?<br />

- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />

trabalho de contenção coordenada, com<br />

energia otimizada, na zona de<br />

preparação, aumentam as<br />

probabilidades de, recuperado o<br />

esférico, concatenarmos um contragolpe<br />

agudo com parcimônia de meios e<br />

extrema objetividade, valendo-nos da<br />

desestruturação momentânea do<br />

sistema oposto, surpreendido pela<br />

reversão inesperada do fluxo da ação:<br />

- Ahn?<br />

- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />

pegá eles sem calça.<br />

- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />

coisa?<br />

- Posso dirigir uma mensagem de<br />

caráter sentimental, algo banal, talvez<br />

mesmo previsível e piegas, a uma<br />

pessoa à qual sou ligado por razões,<br />

inclusive, genéticas?<br />

- Pode.<br />

- Uma saudação para a minha<br />

progenitora.<br />

- Como é?<br />

- Alô, mamãe!<br />

- Estou vendo que você é um, um...<br />

- Um jogador que confunde o<br />

entrevistador, pois não corresponde à<br />

expectativa de que o atleta seja um ser<br />

algo primitivo com dificuldade de<br />

expressão e assim sabota a<br />

estereotipação?<br />

- Estereoquê?<br />

- Um chato?<br />

- Isso.<br />

Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />

O texto mostra uma situação em que a<br />

linguagem usada é inadequada ao<br />

contexto. Considerando as diferenças<br />

entre língua oral e língua escrita, assinale<br />

a opção que representa também uma<br />

inadequação da linguagem usada ao<br />

contexto:<br />

A) "o carro bateu e capotô, mas num deu<br />

pra vê direito" - um pedestre que<br />

assistiu ao acidente comenta com o<br />

outro que vai passando.<br />

B) "E aí, ô meu! Como vai essa força?" -<br />

um jovem que fala para um amigo.<br />

C) "Só um instante, por favor. Eu<br />

gostaria de fazer uma observação" -<br />

alguém comenta em uma reunião de<br />

trabalho.<br />

D) "Venho manifestar meu interesse em<br />

candidatar-me ao cargo de Secretária<br />

Executiva desta conceituada empresa"<br />

- alguém que escreve uma carta<br />

candidatando-se a um emprego.<br />

E) "Porque se a gente não resolve as<br />

coisas como têm que ser, a gente corre<br />

o risco de termos, num futuro próximo,<br />

muito pouca comida nos lares<br />

brasileiros" - um professor universitário<br />

em um congresso internacional.<br />

Comentário<br />

Essa questão está trabalhando com as<br />

nossas expectativas. Esperamos encontrar,<br />

nas diferentes situações, linguagens que<br />

correspondam à formalidade (ou à<br />

informalidade) delas. Na alternativa E, como<br />

o professor universitário está falando em um<br />

congresso internacional, espera-se que ele<br />

utilize uma linguagem mais formal e não uma<br />

linguagem coloquial como a que usou. Em<br />

5


todas as outras situações, a linguagem está<br />

de acordo com a situação em que está sendo<br />

empregada.<br />

pela alternativa "B" caso não desse o devido<br />

valor ao sentido da palavra “desvaloriza”, que<br />

a elimina.<br />

09) (2006) Depois de um bom jantar: feijão<br />

com carne-seca, orelha de porco e couve<br />

com angu, arroz-mole engordurado, carne<br />

de vento assada no espeto, torresmo<br />

enxuto de toicinho da barriga, viradinho de<br />

milho verde e um prato de caldo de couve,<br />

jantar encerrado por um prato fundo de<br />

canjica com torrões de açúcar, Nhô Tomé<br />

saboreou o café forte e se estendeu na<br />

rede. A mão direita sob a cabeça, à guisa<br />

de travesseiro, o indefectível cigarro de<br />

palha entre as pontas do indicador e do<br />

polegar, envernizados pela fumaça, de<br />

unhas encanoadas e longas, ficou-se de<br />

pança para o ar, modorrento, a olhar para<br />

as ripas do telhado.<br />

Quem come e não deita, a comida não<br />

aproveita, pensava Nhô Tomé... E pôs-se<br />

a cochilar. A sua modorra durou pouco;<br />

Tia Policena, ao passar pela sala, bradou<br />

assombrada:<br />

— Êêh! Sinhô! Vai drumi agora? Não!<br />

Num presta... Dá pisadêra e póde morrê<br />

de ataque de cabeça! Despois do armoço<br />

num far-má... mais despois da janta?!”<br />

Cornélio Pires. Conversas ao pé do fogo. São Paulo:<br />

Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1987.<br />

Nesse trecho, extraído de texto publicado<br />

originalmente em 1921, o narrador<br />

A) apresenta, sem explicitar juízos de<br />

valor, costumes da epoca, descrevendo<br />

os pratos servidos no jantar e a atitude<br />

de Nhô Tomé e de Tia Policena.<br />

B) desvaloriza a norma culta da língua<br />

porque incorpora à narrativa usos<br />

próprios da linguagem regional das<br />

personagens.<br />

C) condena os hábitos descritos, dando<br />

voz a Tia Policena, que tenta impedir<br />

Nhô Tomé de deitar-se após as<br />

refeições.<br />

D) utiliza a diversidade sociocultural e<br />

lingüística para demonstrar seu<br />

desrespeito às populações das zonas<br />

rurais do início do século XX.<br />

E) manifesta preconceito em relação a Tia<br />

Policena ao transcrever a fala dela com<br />

os erros próprios da região.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil, pois a alternativa<br />

"A" deixa clara a intencionalidade do<br />

narrador. Entretanto, o aluno poderia optar<br />

<strong>10</strong>) (2007) Texto I<br />

Agora Fabiano conseguia arranjar as<br />

idéias. O que o segurava era a família.<br />

Vivia preso como um novilho amarrado ao<br />

mourão, suportando ferro quente. Se não<br />

fosse isso, um soldado amarelo não lhe<br />

pisava o pé não. (...) Tinha aqueles<br />

cambões pendurados ao pescoço.<br />

Deveria continuar a arrastá-los? Sinha<br />

Vitória dormia mal na cama de varas. Os<br />

meninos eram uns brutos, como o pai.<br />

Quando crescessem, guardariam as reses<br />

de um patrão invisível, seriam pisados,<br />

maltratados, machucados por um soldado<br />

amarelo.<br />

Graciliano Ramos. Vidas Secas. São Paulo:<br />

Martins, 23.ª ed., 1969, p. 75.<br />

Texto II<br />

Para Graciliano, o roceiro pobre é um<br />

outro, enigmático, impermeável. Não há<br />

solução fácil para uma tentativa de<br />

incorporação dessa figura no campo da<br />

ficção. É lidando com o impasse, ao invés<br />

de fáceis soluções, que Graciliano vai<br />

criar Vidas Secas, elaborando uma<br />

linguagem, uma estrutura romanesca,<br />

uma constituição de narrador em que<br />

narrador e criaturas se tocam, mas não se<br />

identificam. Em grande medida, o debate<br />

acontece porque, para a intelectualidade<br />

brasileira naquele momento, o pobre, a<br />

despeito de aparecer idealizado em certos<br />

aspectos, ainda é visto como um ser<br />

humano de segunda categoria, simples<br />

demais, incapaz de ter pensamentos<br />

demasiadamente complexos. O que Vidas<br />

Secas faz é, com pretenso não<br />

envolvimento da voz que controla a<br />

narrativa, dar conta de uma riqueza<br />

humana de que essas pessoas seriam<br />

plenamente capazes.<br />

Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes. In:<br />

Teresa. São Paulo: USP, n.° 2, 2001, p. 254.<br />

No texto II, verifica-se que o autor utiliza<br />

A) linguagem predominantemente<br />

formal, para problematizar, na<br />

composição de Vidas Secas, a relação<br />

entre o escritor e o personagem<br />

popular.<br />

B) linguagem inovadora, visto que, sem<br />

abandonar a linguagem formal, dirigese<br />

diretamente ao leitor.<br />

6


C) linguagem coloquial, para narrar<br />

coerentemente uma história que<br />

apresenta o roceiro pobre de forma<br />

pitoresca.<br />

D) linguagem formal com recursos<br />

retóricos próprios do texto literário em<br />

prosa, para analisar determinado<br />

momento da literatura brasileira.<br />

E) linguagem regionalista, para transmitir<br />

informações sobre literatura, valendose<br />

de coloquialismo, para facilitar o<br />

entendimento do texto.<br />

Comentário<br />

Questão de nível médio. Algumas<br />

alternativas poderiam levar o candidato a<br />

pensar que o texto de Vidas Secas utiliza<br />

uma linguagem predominantemente coloquial<br />

e regionalista. Entretanto, é na alternativa A<br />

que se encontra o real estilo da linguagem<br />

utilizada por Graciliano Ramos. A linguagem<br />

é, portanto, predominantemente formal e<br />

problematiza a relação do escritor com o<br />

personagem popular. Esta acaba sendo uma<br />

das grandes características do autor, pois ele<br />

buscava sempre dar uma grande densidade<br />

psicológica aos seus romances.<br />

11) (2006) Aula de português<br />

Explorando a função emotiva da<br />

linguagem, o poeta expressa o contraste<br />

entre marcas de variação de usos da<br />

linguagem em<br />

A) situações formais e informais.<br />

B) diferentes regiões do país.<br />

C) escolas literárias distintas.<br />

D) textos técnicos e poéticos.<br />

E) diferentes épocas.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil, pois o próprio título<br />

nos dá uma noção da dificuldade de<br />

transformar a linguagem coloquial e de uso<br />

cotidiano em uma linguagem formal,<br />

expressa no poema como “a misteriosa”.<br />

Drummond foi muito feliz em conseguir<br />

demonstrar a dificuldade em entender como<br />

estruturas simples da língua se tornam tão<br />

complexas ao se iniciar o processo de<br />

compreensão da estrutura lingüística.<br />

12) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />

preciso, além de conhecer o padrão<br />

formal da Língua Portuguesa, saber<br />

adequar o uso da linguagem ao contexto<br />

discursivo. Para exemplificar este fato,<br />

seu professor de Língua Portuguesa<br />

convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />

Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />

brinca com situações de discurso oral que<br />

fogem à expectativa do ouvinte.<br />

Aí, Galera<br />

Jogadores de futebol podem ser<br />

vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />

você pode imaginar um jogador de futebol<br />

dizendo "estereotipação"? E, no<br />

entanto, por que não?<br />

- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />

galera.<br />

- Minha saudação aos aficionados do<br />

clube e aos demais esportistas, aqui<br />

presentes ou no recesso dos seus lares.<br />

- Como é?<br />

- Aí, galera.<br />

- Quais são as instruções do técnico?<br />

- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />

trabalho de contenção coordenada, com<br />

energia otimizada, na zona de<br />

preparação, aumentam as<br />

probabilidades de, recuperado o<br />

esférico, concatenarmos um contragolpe<br />

agudo com parcimônia de meios e<br />

extrema objetividade, valendo-nos da<br />

desestruturação momentânea do<br />

sistema oposto, surpreendido pela<br />

reversão inesperada do fluxo da ação:<br />

- Ahn?<br />

- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />

pegá eles sem calça.<br />

7


- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />

coisa?<br />

- Posso dirigir uma mensagem de<br />

caráter sentimental, algo banal, talvez<br />

mesmo previsível e piegas, a uma<br />

pessoa à qual sou ligado por razões,<br />

inclusive, genéticas?<br />

- Pode.<br />

- Uma saudação para a minha<br />

progenitora.<br />

- Como é?<br />

- Alô, mamãe!<br />

- Estou vendo que você é um, um...<br />

- Um jogador que confunde o<br />

entrevistador, pois não corresponde à<br />

expectativa de que o atleta seja um ser<br />

algo primitivo com dificuldade de<br />

expressão e assim sabota a<br />

estereotipação?<br />

- Estereoquê?<br />

- Um chato?<br />

- Isso.<br />

Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />

A expressão "pegá eles sem calça"<br />

poderia ser substituída, sem<br />

comprometimento de sentido, em língua<br />

culta, formal, por:<br />

A) pegá-los na mentira.<br />

B) pegá-los desprevenidos.<br />

C) pegá-los em flagrante.<br />

D) pegá-los rapidamente.<br />

E) pegá-los momentaneamente<br />

Comentário<br />

O trabalho que temos aqui é de<br />

compreensão de sentido. Se você nunca<br />

ouviu a expressão "de calças na mão", terá<br />

de imaginar o que acontece quando<br />

pegamos alguém nessa situação. Mas isso<br />

não basta. Se usar somente situações que<br />

pode imaginar, restarão as alternativas B e<br />

C. Esse problema só será solucionado se<br />

você entender bem o texto a que ele se<br />

refere. Como o jogador está falando em<br />

roubar a bola e partir para cima do adversário<br />

rapidamente, imagina-se que o adversário<br />

não esperava perder a bola naquele<br />

momento e, quando isso ocorreu, ele não<br />

estava preparado para receber um contraataque.<br />

Utilizando essa análise, somente a<br />

alternativa B está correta.<br />

13) (2000) Em uma conversa ou leitura de<br />

um texto, corre-se o risco de atribuir um<br />

significado inadequado a um termo ou<br />

expressão, e isso pode levar a certos<br />

resultados inesperados, como se vê nos<br />

quadrinhos abaixo.<br />

(SOUZA, Maurício de. Chico Bento.<br />

Rio de Janeiro: Ed. Globo, n o 335, Nov./99 )<br />

Nessa historinha, o efeito humorístico<br />

origina-se de uma situação criada pela<br />

fala da Rosinha no primeiro quadrinho,<br />

que é:<br />

A) Faz uma pose bonita!<br />

B) Quer tirar um retrato?<br />

C) Sua barriga está aparecendo!<br />

D) Olha o passarinho!<br />

E) Cuidado com o flash!<br />

Comentário<br />

Quem não se lembra de expressões<br />

humorísticas usadas quando se deseja tirar<br />

uma foto, como "Olha o passarinho" ou "Fale<br />

xis"?<br />

Pois é, essa é uma questão fácil e a<br />

interpretação do texto é simples, e não há<br />

por que ter dúvidas quanto à resposta, a não<br />

ser que não se leia a proposta da questão.<br />

Comentário do INEP<br />

Essa questão procurou avaliar se o<br />

participante conseguia inferir, a partir de uma<br />

seqüência narrativa de imagens, a expressão<br />

lingüística adequada à situação de<br />

interlocução, no caso a fala da personagem,<br />

no primeiro quadrinho. A expressão de uso<br />

coloquial 'olha o passarinho!', dependendo do<br />

contexto, tem diferentes significados, que<br />

nesse caso foram associados pelo cartunista<br />

para produzir o efeito de humor. A grande<br />

maioria - 89% - dos participantes realizou a<br />

inferência solicitada, analisando a função da<br />

linguagem e identificando a variante<br />

lingüística adequada à situação de<br />

interlocução, com base na leitura da<br />

seqüência das imagens e da fala da<br />

personagem no terceiro quadrinho. É<br />

interessante notar a abrangência dessa<br />

expressão metafórica no Brasil, criada no<br />

contexto informal da fala com seus<br />

significados correspondentes. Mesmo assim,<br />

11% dos participantes, possivelmente,<br />

desconhecem essa expressão ou não<br />

conseguiram realizar a transposição do<br />

significado humorístico da fala do último<br />

quadrinho.<br />

8


14) (2005) Leia com atenção o texto:<br />

[Em Portugal], você poderá ter alguns<br />

probleminhas se entrar numa loja de<br />

roupas desconhecendo certas sutilezas da<br />

língua. Por exemplo, não adianta pedir<br />

para ver os ternos — peça para ver os<br />

fatos. Paletó é casaco. Meias são<br />

peúgas. Suéter é camisola — mas não<br />

se assuste, porque calcinhas femininas<br />

são cuecas. (Não é uma delícia?)<br />

(Ruy Castro. Viaje Bem. Ano VIII, no 3, 78.)<br />

O texto destaca a diferença entre o<br />

português do Brasil e o de Portugal<br />

quanto<br />

A) ao vocabulário.<br />

B) à derivação.<br />

C) à pronúncia.<br />

D) ao gênero.<br />

E) à sintaxe.<br />

Comentário<br />

Questão de entendimento muito fácil, pois<br />

o próprio enunciado deixa claro que se trata<br />

das diferenças de vocabulário entre o<br />

português brasileiro e o lusitano.<br />

15) (2006) Aula de português<br />

No poema, a referência à variedade<br />

padrão da língua está expressa no<br />

seguinte trecho:<br />

A) “A linguagem / na ponta da língua” (v.1<br />

e 2).<br />

B) “A linguagem / na superfície<br />

estrelada de letras” (v.5 e 6).<br />

C) “[a língua] em que pedia para ir lá<br />

fora” (v.14).<br />

D) “[a língua] em que levava e dava<br />

pontapé” (v.15).<br />

E) “[a língua] do namoro com a priminha”<br />

(v.17).<br />

Comentário<br />

Questão fácil, pois a alternativa "B" é a<br />

única que faz menção à norma-padrão da<br />

língua. As demais alternativas fogem a essa<br />

norma.<br />

16) (2008) A Lei Federal n.º 9.985/2000, que<br />

instituiu o sistema nacional de unidades<br />

de conservação, define dois tipos de<br />

áreas protegidas. O primeiro, as unidades<br />

de proteção integral, tem por objetivo<br />

preservar a natureza, admitindo-se<br />

apenas o uso indireto dos seus recursos<br />

naturais, isto é, aquele que não envolve<br />

consumo, coleta, dano ou destruição dos<br />

recursos naturais. O segundo, as<br />

unidades de uso sustentável, tem por<br />

função compatibilizar a conservação da<br />

natureza com o uso sustentável de<br />

parcela dos recursos naturais. Nesse<br />

caso, permite-se a exploração do<br />

ambiente de maneira a garantir a<br />

perenidade dos recursos ambientais<br />

renováveis e dos processos ecológicos,<br />

mantendo-se a biodiversidade e os<br />

demais atributos ecológicos, de forma<br />

socialmente justa e economicamente<br />

viável.<br />

Considerando essas informações, analise<br />

a seguinte situação hipotética.<br />

Ao discutir a aplicação de recursos<br />

disponíveis para o desenvolvimento de<br />

determinada região, organizações civis,<br />

universidade e governo resolveram<br />

investir na utilização de uma unidade de<br />

proteção integral, o Parque Nacional do<br />

Morro do Pindaré, e de uma unidade de<br />

uso sustentável, a Floresta Nacional do<br />

Sabiá. Depois das discussões, a equipe<br />

resolveu levar adiante três projetos:<br />

— o projeto I consiste de pesquisas<br />

científicas embasadas exclusivamente<br />

na observação de animais;<br />

— o projeto II inclui a construção de uma<br />

escola e de um centro de vivência;<br />

— o projeto III promove a organização de<br />

uma comunidade extrativista que<br />

poderá coletar e explorar<br />

9


comercialmente frutas e sementes<br />

nativas.<br />

Nessa situação hipotética, atendendo-se à<br />

lei mencionada acima, é possível<br />

desenvolver tanto na unidade de proteção<br />

integral quanto na de uso sustentável<br />

A) apenas o projeto I.<br />

B) apenas o projeto III.<br />

C) apenas os projetos I e II.<br />

D) apenas os projetos II e III.<br />

E) todos os três projetos.<br />

Comentário do portal<br />

A alternativa correta é a letra "A", pois,<br />

analisando-se a situação hipotética sugerida<br />

no enunciado, percebe-se que ela deverá<br />

atender os requisitos tanto da unidade de<br />

proteção integral quanto da unidade de uso<br />

sustentável. Portanto, apenas o projeto I<br />

poderá ser desenvolvido nessas duas<br />

propostas de unidades.<br />

17) (2006) No romance Vidas Secas, de<br />

Graciliano Ramos, o vaqueiro Fabiano<br />

encontra-se com o patrão para receber o<br />

salário. Eis parte da cena:<br />

Graciliano Ramos. Vidas Secas. 91.ª ed.<br />

Rio de Janeiro: Record, 2003.<br />

No fragmento transcrito, o padrão formal<br />

da linguagem convive com marcas de<br />

regionalismo e de coloquialismo no<br />

vocabulário. Pertence à variedade do<br />

padrão formal da linguagem o seguinte<br />

trecho:<br />

A) Não se conformou: devia haver<br />

engano (l.1).<br />

B) Fabiano perdeu os estribos (l.3).<br />

C) Passar a vida inteira assim no toco<br />

(l.4).<br />

D) Entregando o que era dele de mao<br />

beijada! (l.4-5).<br />

E) Aí Fabiano baixou a pancada e<br />

amunhecou (l.11).<br />

Comentário do portal<br />

Questão de nível fácil. Bastaria que o<br />

candidato conhecesse o padrão formal da<br />

linguagem e distinguisse-o do regionalismo e<br />

do coloquialismo.<br />

18) (2001) Os provérbios constituem um<br />

produto da sabedoria popular e, em geral,<br />

pretendem transmitir um ensinamento. A<br />

alternativa em que os dois provérbios<br />

remetem a ensinamentos semelhantes é:<br />

A) “Quem diz o que quer, ouve o que não<br />

quer” e “Quem ama o feio, bonito lhe<br />

parece”.<br />

B) “Devagar se vai ao longe” e “De grão<br />

em grão, a galinha enche o papo”.<br />

C) “Mais vale um pássaro na mão do que<br />

dois voando” e “Não se deve atirar<br />

pérolas aos porcos”.<br />

D) “Quem casa quer casa” e “Santo de<br />

casa não faz milagre”.<br />

E) “Quem com ferro fere, com ferro será<br />

ferido” e “Casa de ferreiro, espeto de<br />

pau”.<br />

Comentário<br />

Questão fácil. A alternativa B apresenta<br />

dois provérbios que tratam de paciência,<br />

perseverança. A mensagem é a mesma em<br />

ambos.<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão propõe uma série de<br />

provérbios agrupados aos pares, para que o<br />

participante demonstre compreender e<br />

comparar os provérbios de modo a identificar<br />

aqueles que traduzem ensinamentos<br />

semelhantes. A organização sintáticosemântica<br />

dos provérbios cria um efeito de<br />

sentido metafórico que deve ser recuperado,<br />

analisado e comparado, o que foi<br />

corretamente feito por cerca de 80% dos<br />

participantes.<br />

19) (1999)<br />

(QUINO. Mafalda inédita. São Paulo: Martins Fontes, 1993)<br />

Observando as falas das personagens,<br />

analise o emprego do pronome SE e o<br />

sentido que adquire no contexto. No<br />

contexto da narrativa, é correto afirmar<br />

que o pronome SE:<br />

<strong>10</strong>


A) em I, indica reflexividade e equivale a<br />

"a si mesmas".<br />

B) em II, indica reciprocidade e equivale a<br />

"a si mesma".<br />

C) em III, indica reciprocidade e equivale<br />

a "umas às outras".<br />

D) em I e III, indica reciprocidade e<br />

equivale a "umas às outras".<br />

E) em II e III, indica reflexividade e<br />

equivale a "a si mesma " e "a si<br />

mesmas", respectivamente.<br />

Comentário<br />

Mais uma questão que fala por si própria.<br />

Lendo o segundo quadrinho — "Quer dizer<br />

que você também se ama muito mais no<br />

Natal?" —, é fácil de se identificar o pronome<br />

reflexivo. Basta que se troque se ama por<br />

ama a si mesma. O mesmo ocorre no<br />

terceiro quadrinho em "Por que será que as<br />

pessoas se amam muito mais no Natal?" —<br />

Por que será que as pessoas amam a si<br />

mesmas? Questão de grau fácil.<br />

Comentário do INEP<br />

Este problema requeria que o participante<br />

mobilizasse conhecimentos sobre os<br />

significados de "reciprocidade e<br />

"reflexividade" e o associasse à<br />

compreensão de linguagem iconográfica.<br />

Cerca de metade dos participantes<br />

demonstrou essa capacidade. A opção de<br />

30% dos participantes pela alternativa D<br />

pode indicar que eles utilizaram as imagens<br />

apenas como ilustração do texto e não como<br />

linguagem capaz de instituir novos<br />

significados.<br />

20) (202) "Narizinho correu os olhos pela<br />

assistência. Não podia haver nada mais<br />

curioso. Besourinhos de fraque e flores na<br />

lapela conversavam com baratinhas de<br />

mantilha e miosótis nos cabelos. Abelhas<br />

douradas, verdes e azuis, falavam mal<br />

das vespas de cintura fina — achando que<br />

era exagero usarem coletes tão<br />

apertados. Sardinhas aos centos<br />

criticavam os cuidados excessivos que as<br />

borboletas de toucados de gaze tinham<br />

com o pó das suas asas. Mamangavas de<br />

ferrões amarrados para não morderem. E<br />

canários cantando, e beija-flores beijando<br />

flores, e camarões camaronando, e<br />

caranguejos caranguejando, tudo que é<br />

pequenino e não morde, pequeninando e<br />

não mordendo."<br />

LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. São Paulo:<br />

Brasiliense, 1947.<br />

No último período do trecho, há uma série<br />

de verbos no gerúndio que contribuem<br />

para caracterizar o ambiente fantástico<br />

descrito. Expressões como<br />

"camaronando", "caranguejando" e<br />

"pequeninando e não mordendo" criam,<br />

principalmente, efeitos de<br />

A) esvaziamento de sentido.<br />

B) monotonia do ambiente.<br />

C) estaticidade dos animais.<br />

D) interrupção dos movimentos.<br />

E) dinamicidade do cenário.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. O dinamismo dos<br />

verbos no gerúndio tem como função<br />

principal dar vida às personagens do mundo<br />

fantástico. Não há estagnação. Cada animal<br />

faz o que lhe cabe.<br />

Comentário do INEP<br />

Essa questão apresenta para leitura e<br />

análise um trecho da obra Reinações de<br />

Narizinho, de Monteiro Lobato, e, nele, a<br />

descrição reflete as fantasias do mundo<br />

infantil. A questão propõe que seja resolvido<br />

um problema de linguagem, que é a<br />

identificação dos sentidos criados no texto<br />

pelo emprego de vários verbos no gerúndio,<br />

alguns dos quais, neologismos criados pelo<br />

autor. Como o texto é uma descrição, temos<br />

o relato de um ambiente que se agita com as<br />

ações simultâneas dos muitos seres que o<br />

habitam. Cabe ao participante perceber que<br />

o efeito dinâmico é criado pelos verbos de<br />

ação no gerúndio, que é a forma verbal da<br />

ação se fazendo. Ou seja, é função típica do<br />

gerúndio traduzir a noção de uma ação que<br />

se desenvolve de modo simultâneo à sua<br />

enunciação. Nesse ambiente retratado por<br />

Monteiro Lobato, os bichinhos humanizados<br />

se agitam, lembrando um burburinho de<br />

crianças. Apenas a alternativa E, assinalada<br />

por 36% dos participantes, responde<br />

corretamente a questão. As outras<br />

alternativas contemplam efeitos ou<br />

significados que, apesar de eventualmente<br />

serem transmitidos pelo emprego do<br />

gerúndio, não se verificam no texto.<br />

21) (2005) As dimensões continentais do<br />

Brasil são objeto de reflexões expressas<br />

em diferentes linguagens. Esse tema<br />

aparece no seguinte p"Narizinho correu os<br />

olhos pela assistência. Não podia haver nada<br />

mais curioso. Besourinhos de oema:<br />

11


“(....)<br />

Que importa que uns falem mole<br />

descansado<br />

Que os cariocas arranhem os erres na<br />

garganta<br />

Que os capixabas e paroaras escancarem<br />

as vogais?<br />

Que tem se o quinhentos réis meridional<br />

Vira cinco tostões do Rio pro Norte?<br />

Junto formamos este assombro de<br />

misérias e grandezas,<br />

Brasil, nome de vegetal! (....)”<br />

(Mário de Andrade. Poesias completas. 6. ed. São Paulo:<br />

Martins Editora, 1980.)<br />

O texto poético ora reproduzido trata das<br />

diferenças brasileiras no âmbito<br />

A) étnico e religioso.<br />

B) lingüístico e econômico.<br />

C) racial e folclórico.<br />

D) histórico e geográfico.<br />

E) literário e popular.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil, pois a primeira<br />

estrofe, ao enunciar os erres arranhados dos<br />

cariocas e as vogais abertas dos capixabas,<br />

evidencia a diferença lingüística entre duas<br />

regiões distintas do Brasil, dando noção da<br />

variedade. Já na segunda estrofe, as<br />

diferenças econômicas são evidenciadas ao<br />

se mostrarem os réis e tostões variando da<br />

Região Meridional para a Norte.<br />

22) (2008) Assinale a opção que apresenta<br />

um verso do soneto de Cláudio Manoel da<br />

Costa em que o poeta se dirige ao seu<br />

interlocutor.<br />

A) “Torno a ver-vos, ó montes; o<br />

destino” (v.1)<br />

B) “Aqui estou entre Almendro, entre<br />

Corino,” (v.5)<br />

C) “Os meus fiéis, meus doces<br />

companheiros,” (v.6)<br />

D) “Vendo correr os míseros vaqueiros”<br />

(v.7)<br />

E) “Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto,”<br />

(v.11)<br />

23) (2008)<br />

Dick Browne. O melhor de Hagar, o horrível, v. 2. L&PM<br />

pocket, p.55-6 (com adaptações).<br />

Assinale o trecho do diálogo que<br />

apresenta um registro informal, ou<br />

coloquial, da linguagem.<br />

A) “Tá legal, espertinho! Onde é que<br />

você esteve?!”<br />

B) “E lembre-se: se você disser uma<br />

mentira, os seus chifres cairão!”<br />

C) “Estou atrasado porque ajudei uma<br />

velhinha a atravessar a rua...”<br />

D) “...e ela me deu um anel mágico que<br />

me levou a um tesouro”<br />

E) “mas bandidos o roubaram e os<br />

persegui até a Etiópia, onde um<br />

dragão...”<br />

Comentário<br />

Linguagem coloquial é aquela usada no<br />

cotidiano, que tem como característica<br />

principal a oralidade, ou seja, aquela que não<br />

segue o rigor da norma culta.<br />

Entre as alternativas da questão, apenas<br />

a letra "A" apresenta esses traços.<br />

24) (2004) O poema abaixo pertence à<br />

poesia concreta brasileira. O termo latino<br />

de seu título significa "epitalâmio", poema<br />

ou canto em homenagem aos que se<br />

casam.<br />

Comentário<br />

Nesta questão, basta que o aluno<br />

identifique o pronome oblíquo, presente no<br />

verso um, que chama o leitor para o texto.<br />

Sendo assim, a resposta correta é a letra "A".<br />

12


Considerando que símbolos e sinais são<br />

utilizados geralmente para demonstrações<br />

objetivas, ao serem incorporados no<br />

poema "Epithalamium - II".<br />

A) adquirem novo potencial de<br />

significação.<br />

B) eliminam a subjetividade do poema.<br />

C) opõem-se ao tema principal do poema.<br />

D) invertem seu sentido original.<br />

E) tornam-se confusos e equivocados.<br />

Comentário<br />

Diferentemente, por exemplo, da<br />

aplicação matemática dos símbolos, em que<br />

sinais como "=", "+", "-", "x", etc. servem<br />

como convenções internacionais de<br />

significação objetiva e invariável, em um<br />

poema como "Epithalamium – II" foram<br />

usados símbolos que não são convenções<br />

internacionais, mas, sim, convencionados<br />

apenas para esse texto. No caso, letras do<br />

alfabeto deixam de ser representações de<br />

sons (fonemas) para ganharem nova<br />

significação, principalmente pela construção<br />

visual do poema: unem homem (h) e mulher<br />

(e) pela ação da serpente (s) — libido,<br />

atração — em uma entidade única.<br />

Uma das tendências poéticas da segunda<br />

metade do século XX, resultado de um<br />

diálogo com estéticas já presentes no final do<br />

século XIX, trabalha com a construção de<br />

seu próprio referente, fazendo do poema um<br />

objeto autônomo.<br />

25) (2000) “Precisa-se nacionais sem<br />

nacionalismo, (...) movidos pelo presente<br />

mas estalando naquele cio racial que só<br />

as tradições maduram! (...). Precisa-se<br />

gentes com bastante meiguice no<br />

sentimento, bastante força na peitaria,<br />

bastante paciência no entusiasmo e<br />

sobretudo, oh! sobretudo bastante<br />

vergonha na cara!<br />

(...) Enfim: precisa-se brasileiros! Assim<br />

está escrito no anúncio vistoso de cores<br />

desesperadas pintado sobre o corpo do<br />

nosso Brasil, camaradas.”<br />

(Jornal A Noite, São Paulo, 18/12/1925 apud LOPES, Telê<br />

Porto Ancona. Mário<br />

de Andrade: ramais e caminhos. São Paulo: Duas<br />

Cidades, 1972)<br />

No trecho acima, Mário de Andrade dá<br />

forma a um dos itens do ideário<br />

modernista, que é o de firmar a feição de<br />

uma língua mais autêntica, “brasileira”, ao<br />

expressar-se numa variante de linguagem<br />

popular identificada pela (o):<br />

A) escolha de palavras como cio, peitaria,<br />

vergonha.<br />

B) emprego da pontuação.<br />

C) repetição do adjetivo bastante.<br />

D) concordância empregada em Assim<br />

está escrito.<br />

E) escolha de construção do tipo<br />

precisa-se gentes.<br />

Comentário<br />

Apesar de essa questão misturar vários<br />

tipos de informação, se você se lembra um<br />

pouquinho dos usos da partícula se, com<br />

certeza não encontrará grande dificuldade.<br />

Segundo a regra gramatical, o verbo<br />

"precisa-se" deveria ir para o plural<br />

(precisam-se), mas essa noção de verbo<br />

concordante com o sujeito há muito<br />

desapareceu na variante popular brasileira.<br />

Mas, caso você não se lembre muito bem<br />

desse assunto ou ficou meio confuso com o<br />

texto e as outras alternativas, o caminho é<br />

responder por eliminação.<br />

A primeira alternativa apresenta palavras<br />

comuns no português brasileiro, mas<br />

nenhuma "invenção" nacional. Na dúvida,<br />

pense em "vergonha": não é uma invenção<br />

brasileira. Todos os que falam português no<br />

mundo conhecem bem essa palavra. A<br />

pontuação no texto não chama nenhuma<br />

atenção. Você provavelmente não viu nada<br />

de estranho nela. Da mesma forma, o<br />

"bastante" da terceira alternativa não é nada<br />

mais que um mecanismo de retórica, usado<br />

para dar ênfase à idéia. Com o "Assim está<br />

escrito", encontramos a mesma situação: um<br />

trecho litúrgico é usado para maior ênfase.<br />

Comentário do INEP<br />

A questão procurou avaliar se o<br />

participante era capaz de, a partir da leitura<br />

de um texto de Mário de Andrade , identificar<br />

e analisar uma variante lingüística de uso<br />

coloquial, utilizadas estilisticamente pelo<br />

autor. O uso estilístico das variantes marcou<br />

a primeira fase da literatura brasileira<br />

modernista. O trecho destaca em seu todo<br />

esse uso da linguagem popular. A escolha da<br />

construção 'precisa-se gentes' é marca desse<br />

uso estilístico. O índice de 37% na alternativa<br />

(A) demonstra, possivelmente, que os<br />

participantes não consideraram a escolha<br />

dos vocábulos, dentro do contexto do texto,<br />

confundindo as palavras que aparecem na<br />

alternativa com '...a feição de uma língua<br />

mais autêntica...'.O percentual de acertos foi<br />

da ordem de 40%.<br />

13


26) (2001) Oxímoro (ou paradoxo) é uma<br />

construção textual que agrupa significados<br />

que se excluem mutuamente. Para<br />

Garfield, a frase de saudação de Jon<br />

(tirinha abaixo) expressa o maior de todos<br />

os oxímoros.<br />

27) (2005) Cândido Portinari (1903-1962), um<br />

dos mais importantes artistas brasileiros<br />

do século XX, tratou de diferentes<br />

aspectos da nossa realidade em seus<br />

quadros.<br />

Folha de S. Paulo. 31 de julho de 2000.<br />

Nas alternativas abaixo, estão transcritos<br />

versos retirados do poema “O operário em<br />

construção”. Pode-se afirmar que ocorre<br />

um oxímoro em<br />

A) "Era ele que erguia casas<br />

Onde antes só havia chão."<br />

B) "... a casa que ele fazia<br />

Sendo a sua liberdade<br />

Era a sua escravidão."<br />

C) "Naquela casa vazia<br />

Que ele mesmo levantara<br />

Um mundo novo nascia<br />

De que sequer suspeitava."<br />

D) "... o operário faz a coisa<br />

E a coisa faz o operário."<br />

E) "Ele, um humilde operário<br />

Um operário que sabia<br />

Exercer a profissão."<br />

MORAES, Vinícius de. Antologia Poética. São Paulo:<br />

Companhia das Letras, 1992.<br />

Comentário<br />

Idéias que se completam e se excluem<br />

mutuamente são encontradas na alternativa<br />

B: a casa que ele construía era, ao mesmo<br />

tempo, sua liberdade e sua escravidão.<br />

A casa é um símbolo de liberdade para o<br />

homem. Para o homem operário, é também<br />

símbolo de escravidão, pois ele está<br />

"condenado" a jamais usufruir do resultado<br />

do seu trabalho (a casa que faz não é para<br />

ele).<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão propõe ao participante que<br />

estabeleça uma relação entre linguagens,<br />

associando a compreensão de um efeito<br />

semântico produzido pelo uso do oxímoro<br />

nos quadrinhos com o mesmo efeito num<br />

texto poético. O índice (18%) de escolhas da<br />

alternativa D deve-se, possivelmente, a uma<br />

análise parcial da noção de paradoxo,<br />

confundida com inversão.<br />

Sobre a temática dos “Retirantes”,<br />

Portinari também escreveu o seguinte<br />

poema:<br />

(....)<br />

Os retirantes vêm vindo com trouxas e<br />

embrulhos<br />

Vêm das terras secas e escuras;<br />

pedregulhos<br />

Doloridos como fagulhas de carvão aceso<br />

Corpos disformes, uns panos sujos,<br />

Rasgados e sem cor, dependurados<br />

Homens de enorme ventre bojudo<br />

Mulheres com trouxas caídas para o lado<br />

Pançudas, carregando ao colo um garoto<br />

Choramingando, remelento<br />

(....)<br />

(Cândido Portinari. Poemas. Rio de Janeiro:<br />

J. Olympio, 1964.)<br />

Das quatro obras reproduzidas, assinale<br />

aquelas que abordam a problemática que<br />

é tema do poema.<br />

A) 1 e 2 D) 3 e 4<br />

B) 1 e 3 E) 2 e 4<br />

C) 2 e 3<br />

Comentário<br />

O poema apresenta correspondência com<br />

as imagens ao descrever com detalhes a<br />

figura do retirante: pobre, mal vestido,<br />

carregando trouxas e embrulhos.<br />

28) (2004)<br />

14


A polifonia, variedade de vozes, presente<br />

no poema resulta da manifestação do<br />

A) poeta e do colonizador apenas.<br />

B) colonizador e do negro apenas.<br />

C) negro e do índio apenas.<br />

D) colonizador, do poeta e do negro<br />

apenas.<br />

E) poeta, do colonizador, do índio e do<br />

negro.<br />

Comentário<br />

A questão apresenta uma certa<br />

dificuldade, pois, à primeira vista, parecem<br />

confundir-se as vozes do colonizador, do<br />

negro e do índio. Entretanto, os<br />

travessões existentes no poema explicitam<br />

as falas das personagens ao mostrar que<br />

não são apenas as vozes do poeta e do<br />

colonizador que estão presentes. As falas do<br />

índio e do negro são proferidas por eles,<br />

marca expressa pelo discurso direto. A<br />

presença dessa modalidade de discurso<br />

indica a reprodução literal do que as<br />

personagens disseram.<br />

Um ponto interessante em relação a essa<br />

questão é a intertextualidade. O índio<br />

aparece no poema pela remissão a um texto<br />

poético do nosso Romantismo, em um<br />

processo intertextual com “I-Juca-Pirama”, de<br />

Gonçalves Dias; e a presença do negro se dá<br />

pela ligação com Mário de Andrade, em<br />

Macunaíma. Entende-se, portanto, que a<br />

alternativa correta é a letra E.<br />

29) (2003) No ano passado, o governo<br />

promoveu uma campanha a fim de reduzir<br />

os índices de violência. Noticiando o fato,<br />

um jornal publicou a seguinte manchete:<br />

CAMPANHA CONTRA A VIOLÊNCIA DO<br />

GOVERNO DO ESTADO ENTRA EM NOVA<br />

FASE<br />

A manchete tem um duplo sentido, e isso<br />

dificulta o entendimento. Considerando o<br />

objetivo da notícia, esse problema poderia<br />

ter sido evitado com a seguinte redação:<br />

A) Campanha contra o governo do Estado<br />

e a violência entram em nova fase.<br />

B) A violência do governo do Estado entra<br />

em nova fase de Campanha.<br />

C) Campanha contra o governo do Estado<br />

entra em nova fase de violência.<br />

D) A violência da campanha do governo<br />

do Estado entra em nova fase.<br />

E) Campanha do governo do Estado<br />

contra a violência entra em nova fase.<br />

Comentário<br />

O objetivo da questão é eliminar a<br />

ambigüidade da notícia de jornal, que,<br />

originalmente, trazia duas idéias: de acordo<br />

com a primeira, o governo queria combater a<br />

violência, e a segunda ressaltava que o<br />

governo era violento. Nessa questão,<br />

era preciso eliminar a segunda possibilidade<br />

de leitura.<br />

30) (2004)<br />

Nesta tirinha, a personagem faz referência<br />

a uma das mais conhecidas figuras de<br />

linguagem para<br />

A) condenar a prática de exercícios físicos<br />

B) valorizar aspectos da vida moderna.<br />

C) desestimular o uso das bicicletas.<br />

D) caracterizar o diálogo entre as<br />

gerações.<br />

E) criticar a falta de perspectiva do pai.<br />

Comentário<br />

A construção indica a falta de perspectiva<br />

na vida do pai do personagem. “Pedalar sem<br />

sair do lugar” é uma metáfora muito usada na<br />

cultura brasileira para expressar como é a<br />

vida de uma pessoa que age de forma a não<br />

conseguir qualquer mudança — para melhor<br />

ou para pior — na vida.<br />

31) (2004) As questões de números 26 e 27<br />

referem-se ao poema abaixo.<br />

Entre os recursos expressivos<br />

empregados no texto, destaca-se a<br />

15


16<br />

A) metalinguagem, que consiste em fazer<br />

a linguagem referir-se à própria<br />

linguagem.<br />

B) intertextualidade, na qual o texto<br />

retoma e reelabora outros textos.<br />

C) ironia, que consiste em se dizer o<br />

contrário do que se pensa, com<br />

intenção crítica.<br />

D) denotação, caracterizada pelo uso das<br />

palavras em seu sentido próprio e<br />

objetivo.<br />

E) prosopopéia, que consiste em<br />

personificar coisas inanimadas,<br />

atribuindo-lhes vida.<br />

Comentário<br />

A questão trata de um texto de Carlos<br />

Drummond de Andrade em que ele fala sobre<br />

o crescimento urbano e a pobreza que esse<br />

processo traz. Para tanto, o poeta utiliza uma<br />

linguagem irônica, revelando o lado oculto do<br />

desenvolvimento. Dessa forma, temos como<br />

correta a alternativa C.<br />

32) (2007) Antigamente<br />

Acontecia o indivíduo apanhar<br />

constipação; ficando perrengue, mandava<br />

o próprio chamar o doutor e, depois, ir à<br />

botica para aviar a receita, de cápsulas ou<br />

pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />

phtísica, feia era o gálico. Antigamente, os<br />

sobrados tinham assombrações, os<br />

meninos, lombrigas (...)<br />

Carlos Drummond de Andrade. Poesia completa e prosa.<br />

Rio de Janeiro: Companhia José Aguilar, p. 1.184.<br />

O texto acima está escrito em linguagem<br />

de uma época passada. Observe uma<br />

outra versão, em linguagem atual.<br />

Antigamente<br />

Acontecia o indivíduo apanhar um<br />

resfriado; ficando mal, mandava o próprio<br />

chamar o doutor e, depois, ir à farmácia<br />

para aviar a receita, de cápsulas ou<br />

pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />

tuberculose, feia era a sífilis. Antigamente,<br />

os sobrados tinham assombrações, os<br />

meninos, vermes (...)<br />

Comparando-se esses dois textos,<br />

verifica-se que, na segunda versão, houve<br />

mudanças relativas a<br />

A) vocabulário.<br />

B) construções sintáticas.<br />

C) pontuação.<br />

D) fonética.<br />

E) regência verbal.<br />

Comentário<br />

Questão fácil. O aluno deveria comparar<br />

os dois textos e verificar as alterações<br />

realizadas na segunda versão apresentada.<br />

Nesse momento, fica evidente a mudança de<br />

vocabulário, o que indica a alternativa A<br />

como a correta.<br />

33) (2001) Nas conversas diárias, utiliza-se<br />

freqüentemente a palavra “próprio” e ela<br />

se ajusta a várias situações. Leia os<br />

exemplos de diálogos:<br />

I - A Vera se veste diferente!<br />

- É mesmo, é que ela tem um estilo<br />

próprio.<br />

II - A Lena já viu esse filme uma dezena<br />

de vezes! Eu não consigo ver o<br />

que ele tem de tão maravilhoso assim.<br />

- É que ele é próprio para adolescente.<br />

III - Dora, o que eu faço? Ando tão<br />

preocupada com o Fabinho! Meu filho<br />

está impossível!<br />

- Relaxa, Tânia! É próprio da idade.<br />

Com o tempo, ele se acomoda.<br />

Nas ocorrências I, II e III, “próprio” é<br />

sinônimo de, respectivamente,<br />

A) adequado, particular, típico.<br />

B) peculiar, adequado, característico.<br />

C) conveniente, adequado, particular.<br />

D) adequado, exclusivo, conveniente.<br />

E) peculiar, exclusivo, característico.<br />

Comentário<br />

Para responder a essa pergunta,<br />

substitua, nos trechos, a palavra próprio<br />

pelos possíveis equivalentes apresentados<br />

nas alternativas. Questão simples que pode<br />

ser resolvida por eliminação.<br />

Comentário do INEP<br />

Nesta questão são apresentados três<br />

textos em que uma mesma palavra é<br />

utilizada com sentidos diferentes. O problema<br />

consiste em observar a variedade de uso de<br />

um mesmo termo e as possibilidades de sua<br />

compreensão, estabelecendo uma relação<br />

comparativa com base em uma análise<br />

semântica. Cerca de metade (49%) dos<br />

participantes estabeleceu essa relação de<br />

maneira correta. Os participantes que<br />

assinalaram a alternativa D (21%),<br />

possivelmente isolaram o termo do contexto,<br />

gerando um equívoco entre "adequado" e<br />

"exclusivo".


34) (2003) Do pedacinho de papel ao livro<br />

impresso vai uma longa distância. Mas o<br />

que o escritor quer, mesmo, é isso: ver o<br />

seu texto em letra de forma. A gaveta é<br />

ótima para aplacar a fúria criativa; ela faz<br />

amadurecer o texto da mesma forma que<br />

a adega faz amadurecer o vinho. Em<br />

certos casos, a cesta de papel é melhor<br />

ainda.<br />

O período de maturação na gaveta é<br />

necessário, mas não deve se prolongar<br />

muito. ‘Textos guardados acabam<br />

cheirando mal’, disse Silvia Plath, (...) que,<br />

com esta frase, deu testemunho das<br />

dúvidas que atormentam o escritor:<br />

publicar ou não publicar? guardar ou jogar<br />

fora?<br />

(Moacyr Scliar. O escritor e seus desafios.)<br />

Nesse texto, o escritor Moacyr Scliar usa<br />

imagens para refletir sobre uma etapa da<br />

criação literária. A idéia de que o processo<br />

de maturação do texto nem sempre é o<br />

que garante bons resultados está sugerida<br />

na seguinte frase:<br />

A) "A gaveta é ótima para aplacar a fúria<br />

criativa."<br />

B) "Em certos casos, a cesta de papel é<br />

melhor ainda."<br />

C) "O período de maturação na gaveta é<br />

necessário, (...)."<br />

D) "Mas o que o escritor quer, mesmo, é<br />

isso: ver o seu texto em letra de forma."<br />

E) "ela (a gaveta) faz amadurecer o texto<br />

da mesma forma que a adega faz<br />

amadurecer o vinho."<br />

Comentário<br />

Essa questão exigia a interpretação das<br />

frases. A palavra NEM no enunciado exclui<br />

todas as alternativas que tratam do<br />

amadurecimento ou da importância da gaveta<br />

para o bom sucesso da produção literária.<br />

A alternativa B é a única que apresenta um<br />

procedimento alternativo para a produção<br />

textual, ou seja, o lixo, e significa a liberdade do<br />

escritor em começar, interromper, recomeçar<br />

ou simplesmente abandonar a obra, permitindo<br />

a ele exercer seu livre-arbítrio.<br />

35) (2007)<br />

Aqui na floresta<br />

Dos ventos batida,<br />

Façanhas de bravos<br />

Não geram escravos,<br />

Que estimem a vida<br />

Sem guerra e lidar.<br />

— Ouvi-me, Guerreiros,<br />

— Ouvi meu cantar.<br />

O canto do guerreiro<br />

Valente na guerra,<br />

Quem há, como eu sou?<br />

Quem vibra o tacape<br />

Com mais valentia?<br />

Quem golpes daria<br />

Fatais, como eu dou?<br />

— Guerreiros, ouvi-me;<br />

— Quem há, como eu sou?<br />

Gonçalves Dias.<br />

Macunaíma<br />

(Epílogo)<br />

Acabou-se a história e morreu a vitória.<br />

Não havia mais ninguém lá. Dera<br />

tangolomângolo na tribo Tapanhumas e<br />

os filhos dela se acabaram de um em um.<br />

Não havia mais ninguém lá. Aqueles<br />

lugares, aqueles campos, furos<br />

puxadouros arrastadouros meiosbarrancos,<br />

aqueles matos misteriosos,<br />

tudo era solidão do deserto... Um silêncio<br />

imenso dormia à beira do rio Uraricoera.<br />

Nenhum conhecido sobre a terra não<br />

sabia nem falar da tribo nem contar<br />

aqueles casos tão pançudos. Quem podia<br />

saber do Herói?<br />

Mário de Andrade.<br />

Considerando-se a linguagem desses dois<br />

textos, verifica-se que<br />

A) a função da linguagem centrada no<br />

receptor está ausente tanto no primeiro<br />

quanto no segundo texto.<br />

B) a linguagem utilizada no primeiro texto<br />

é coloquial, enquanto, no segundo,<br />

predomina a linguagem formal.<br />

C) há, em cada um dos textos, a<br />

utilização de pelo menos uma palavra<br />

de origem indígena.<br />

D) a função da linguagem, no primeiro<br />

texto, centra-se na forma de<br />

organização da linguagem e, no<br />

segundo, no relato de informações<br />

reais.<br />

E) a função da linguagem centrada na<br />

primeira pessoa, predominante no<br />

segundo texto, está ausente no<br />

primeiro.<br />

Comentário<br />

Questão de nível médio. Essa é uma<br />

questão que foca a linguagem dos textos, e<br />

cada qual em seu gênero (poesia e prosa,<br />

respectivamente). O aluno chega à<br />

conclusão que a alternativa correta é a C por<br />

meio da exclusão das demais alternativas.<br />

A resposta correta não é a A, pois há um<br />

receptor que pode ser percebido nas<br />

seguintes perguntas contidas no texto:<br />

Texto 1 – “Guerreiros, ouvi-me;/Quem há,<br />

como eu sou?”<br />

Texto 2 – “Quem podia saber do herói?”<br />

Também não é a alternativa B, pois o<br />

conteúdo dos textos não é discriminatório. No<br />

primeiro texto, há uma idealização do índio e,<br />

no segundo, há uma realidade crítica e<br />

satírica da sociedade.<br />

A alternativa D é excluída, porque o<br />

segundo texto não fala de uma realidade, já<br />

17


que Macunaíma é um herói fictício e nãoreal.<br />

Por fim, também está errada a alternativa<br />

E. Isso porque não temos no epílogo do texto<br />

de Macunaíma a linguagem centrada na<br />

primeira pessoa, mas sim, na terceira.<br />

36) (2003) Eu começaria dizendo que poesia<br />

é uma questão de linguagem. A<br />

importância do poeta é que ele torna mais<br />

viva a linguagem. Carlos Drummond de<br />

Andrade escreveu um dos mais belos<br />

versos da língua portuguesa com duas<br />

palavras comuns: cão e cheirando.<br />

Um cão cheirando o futuro<br />

(Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP, 24/05/1988.<br />

adaptação)<br />

O que deu ao verso de Drummond o<br />

caráter de inovador da língua foi<br />

A) o modo raro como foi tratado o<br />

"futuro".<br />

B) a referência ao cão como "animal de<br />

estimação".<br />

C) a flexão pouco comum do verbo<br />

"cheirar" (gerúndio).<br />

D) a aproximação não usual do agente<br />

citado e a ação de "cheirar".<br />

E) o emprego do artigo indefinido "um" e<br />

do artigo definido "o" na mesma frase.<br />

Comentário<br />

O fato de Drummond identificar o futuro<br />

como algo que pode ser percebido por um<br />

animal irracional por meio do olfato foi<br />

inovador. A figura de linguagem foi<br />

construída metaforicamente: o futuro torna-se<br />

uma coisa que tem cheiro, contrariamente à<br />

imagem pela qual ele normalmente é<br />

representado: como algo que não se vê e<br />

não se pode pressentir ou tocar.<br />

37) (2002) Só falta o Senado aprovar o<br />

projeto de lei [sobre o uso de termos<br />

estrangeiros no Brasil] para que palavras<br />

como shopping center , delivery e drivethrough<br />

sejam proibidas em nomes de<br />

estabelecimentos e marcas. Engajado<br />

nessa valorosa luta contra o inimigo<br />

ianque, que quer fazer área de livre<br />

comércio com nosso inculto e belo idioma,<br />

venho sugerir algumas outras medidas<br />

que serão de extrema importância para a<br />

preservação da soberania nacional, a<br />

saber:<br />

........<br />

Nenhum cidadão carioca ou gaúcho<br />

poderá dizer "Tu vai" em espaços públicos<br />

do território nacional;<br />

Nenhum cidadão paulista poderá dizer "Eu<br />

lhe amo" e retirar ou acrescentar o plural<br />

em sentenças como "Me vê um chopps e<br />

dois pastel";<br />

..........<br />

Nenhum dono de borracharia poderá<br />

escrever cartaz com a palavra "borraxaria"<br />

e nenhum dono de banca de jornal<br />

anunciará "Vende-se cigarros";<br />

..........<br />

Nenhum livro de gramática obrigará os<br />

alunos a utilizar colocações pronominais<br />

como "casar-me-ei" ou "ver-se-ão".<br />

PIZA, Daniel. Uma proposta imodesta. O Estado de<br />

S. Paulo, São Paulo, 8/04/2001.<br />

No texto acima, o autor:<br />

A) mostra-se favorável ao teor da<br />

proposta por entender que a língua<br />

portuguesa deve ser protegida contra<br />

deturpações de uso.<br />

B) ironiza o projeto de lei ao sugerir<br />

medidas que inibam determinados usos<br />

regionais e socioculturais da língua.<br />

C) denuncia o desconhecimento de regras<br />

elementares de concordância verbal e<br />

nominal pelo falante brasileiro.<br />

D) revela-se preconceituoso em relação a<br />

certos registros lingüísticos ao propor<br />

medidas que os controlem.<br />

E) defende o ensino rigoroso da gramática<br />

para que todos aprendam a empregar<br />

corretamente os pronomes.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. O autor ironiza o<br />

projeto de lei que proíbe o uso de<br />

estrangeirismos no Brasil. Não adianta criarse<br />

uma expectativa ou preocupação em<br />

relação ao uso de termos estrangeiros na<br />

língua e esquecer-se de que a língua é um<br />

organismo vivo, mutável. A dinâmica de uma<br />

língua não pode ser regida por preceitos<br />

legais como quer o projeto.<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão reproduz trechos de um<br />

texto que aborda o polêmico projeto de<br />

proibição de uso de termos estrangeiros no<br />

Brasil. A partir da leitura atenta do texto de<br />

Daniel Piza, o participante é levado a refletir<br />

sobre a postura adotada pelo autor em<br />

relação ao referido projeto. Para<br />

compreender esse texto, o participante<br />

precisa reconhecer o tom irônico que marca<br />

as observações e sugestões feitas por seu<br />

18


autor. Assim, Daniel Piza, "engajado nessa<br />

valorosa luta contra o inimigo ianque", sugere<br />

a proibição de algumas formas lingüísticas de<br />

uso corrente que contrariam recomendações<br />

da gramática normativa. O participante deve<br />

reconhecer que, com sugestões como essas,<br />

Daniel Piza deixa implícita uma crítica à<br />

utilidade do projeto de proibição dos<br />

estrangeirismos como forma de proteger a<br />

Língua Portuguesa. Nesse contexto, a ironia<br />

torna-se mais clara, bem como o mecanismo<br />

textual que a constrói. Feito tal<br />

reconhecimento, o aluno encontra a resposta<br />

correta na alternativa B, assinalada por cerca<br />

da metade dos participantes. Nenhuma outra<br />

alternativa contempla o aspecto irônico,<br />

essencial para a compreensão do texto.<br />

38) (2005) O termo (ou expressão)<br />

destacado que está empregado em seu<br />

sentido próprio, denotativo ocorre em:<br />

A) “(....)<br />

É de laço e de nó<br />

De gibeira o jiló<br />

Dessa vida, cumprida a sol (....)”<br />

(Renato Teixeira. Romaria. Kuarup Discos.<br />

setembro de 1992.)<br />

B) “Protegendo os inocentes<br />

é que Deus, sábio demais,<br />

põe cenários diferentes<br />

nas impressões digitais.”<br />

(Maria N. S. Carvalho. Evangelho da Trova. /s.n.b.)<br />

C) “O dicionário-padrão da língua e os<br />

dicionários unilíngües são os tipos mais<br />

comuns de dicionários. Em nossos<br />

dias, eles se tornaram um objeto de<br />

consumo obrigatório para as nações<br />

civilizadas e desenvolvidas.”<br />

(Maria T. Camargo Biderman.<br />

O dicionário-padrão da língua. Alfa (28), 2743, 1974 Supl.)<br />

D)<br />

E) “Humorismo é a arte de fazer cócegas<br />

no raciocínio dos outros. Há duas<br />

espécies de humorismo: o trágico e o<br />

cômico. O trágico é o que não<br />

consegue fazer rir; o cômico é o que é<br />

verdadeiramente trágico para se fazer.”<br />

(Leon Eliachar. www.mercadolivre.com.br.<br />

acessado em julho de 2005.)<br />

Comentário<br />

A definição do dicionário-padrão da língua<br />

utiliza o sentido denotativo da palavra para<br />

explicar o uso de determinado tipo de<br />

dicionário. Em todas as outras alternativas,<br />

as palavras estão sendo empregadas em<br />

sentido metafórico. Na letra A, "cumprida a<br />

sol" pode mostrar o sofrimento e a solidão.<br />

Na alternativa B, "cenários diferentes" são as<br />

diferenças físicas encontradas nas<br />

impressões digitais. Na letra D, "bateria" é o<br />

termo usado para expressar a "energia" do<br />

Menino Maluquinho, que nunca acaba. Por<br />

fim, na alternativa E, "fazer cócegas no<br />

raciocínio" significa expressar graça por meio<br />

de idéias, fazendo com que o cérebro ache<br />

um fato divertido e, por conseguinte, faça<br />

com que a pessoa ria como se sofresse um<br />

ataque de cócegas.<br />

39) (2003) Pequenos tormentos da vida<br />

De cada lado da sala de aula, pelas janelas<br />

altas, o azul convida os meninos,<br />

as nuvens desenrolam-se, lentas como quem<br />

vai inventando<br />

preguiçosamente uma história sem fim...Sem<br />

fim é a aula: e nada acontece,<br />

nada...Bocejos e moscas. Se ao menos,<br />

pensa Margarida, se ao menos um<br />

avião entrasse por uma janela e saísse por<br />

outra!<br />

(Mário Quintana. Poesias)<br />

Na cena retratada no texto, o sentimento<br />

do tédio<br />

A) provoca que os meninos fiquem<br />

contando histórias.<br />

B) leva os alunos a simularem bocejos,<br />

em protesto contra a monotonia da<br />

aula.<br />

C) acaba estimulando a fantasia,<br />

criando a expectativa de algum<br />

imprevisto mágico.<br />

D) prevalece de modo absoluto,<br />

impedindo até mesmo a distração ou o<br />

exercício do pensamento.<br />

E) decorre da morosidade da aula, em<br />

contraste com o movimento acelerado<br />

das nuvens e das moscas.<br />

Comentário<br />

Essa questão aborda o imaginário<br />

decorrente do marasmo trazido pela escola.<br />

O texto enfatiza o arrastar do tempo na<br />

mente de uma aluna, Margarida, que se põe<br />

a pensar em fatos mágicos ou imaginários<br />

que pudessem romper com a lentidão da<br />

aula.<br />

19


40) (1999)<br />

Diante da visão de um prédio com uma<br />

placa indicando SAPATARIA PAPALIA,<br />

um jovem deparou com a dúvida: como<br />

pronunciar a palavra PAPALIA?<br />

Levado o problema à sala de aula, a<br />

discussão girou em torno da utilidade de<br />

conhecer as regras de acentuação e,<br />

especialmente, do auxílio que elas podem<br />

dar à correta pronúncia de palavras.<br />

Após discutirem pronúncia, regras de<br />

acentuação e escrita, três alunos<br />

apresentaram as seguintes conclusões a<br />

respeito da palavra PAPALIA:<br />

I. Se a sílaba tônica for o segundo PA, a<br />

escrita deveria ser PAPÁLIA, pois a<br />

palavra seria paroxítona terminada em<br />

ditongo crescente.<br />

II. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />

deveria ser PAPALÍA, pois "i" e "a"<br />

estariam formando hiato.<br />

III. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />

deveria ser PAPALIA, pois não haveria<br />

razão para o uso de acento gráfico.<br />

A conclusão está correta apenas em:<br />

A) III D) I<br />

B) I e II E) II<br />

C) I e III<br />

Comentário<br />

Essa questão exige bom conhecimento<br />

das regras de acentuação. A alternativa A diz<br />

que apenas a afirmação I é verdadeira. De<br />

fato ela é, mas não é a única. Nela, temos a<br />

hipótese de a palavra ser grafada como se a<br />

sílaba forte fosse a penúltima — papália —,<br />

justificando seu acento gráfico. Vejamos o<br />

que dizem as regras de acentuação.<br />

Acentuam-se as palavras paroxítonas<br />

terminadas em: i, is, us, um, uns, l, n, r, x,<br />

ps, ã, ãs, ão, ãos, ditongos orais,<br />

crescentes ou decrescentes, seguidos ou<br />

não de S. Isso valida, portanto, a afirmação I.<br />

A afirmação II pressupõe que a sílaba<br />

tônica seja LI, em hiato com A: no caso de<br />

essa ser a tonicidade da palavra, a sílaba LI<br />

não poderia ser acentuada, pois I, mesmo<br />

sendo a tônica do hiato, não é a última vogal,<br />

portanto, essa afirmativa é falsa.<br />

A afirmação III considera que a sílaba<br />

tônica é LI, não havendo acento por ser o I a<br />

primeira vogal do hiato. Portanto, essa<br />

afirmação é verdadeira.<br />

Concluindo, temos como verdadeiras as<br />

afirmações I e III. Então, a alternativa E é a<br />

correta. Questão de nível difícil.<br />

Comentário do INEP<br />

Dentre os participantes, somente pouco<br />

mais de um terço (35%) demonstrou possuir<br />

a habilidade para identificar as regras de<br />

acentuação corretas, enunciadas na questão.<br />

Chama a atenção o fato de que 73% dos<br />

participantes (alternativas A, D e E)<br />

reconheceram corretamente, pelo menos, a<br />

regra contida no item I, sendo que cerca de<br />

40% desses, contudo, tiveram dificuldades<br />

em analisar as regras II e III.<br />

Em se tratando de palavra não-usual, é,<br />

sobretudo, o domínio do conhecimento das<br />

regras e não a possível pronúncia correta,<br />

pelo uso, o que parece ter sido revelado.<br />

41) (2008)<br />

Exame, 28/9/2007.<br />

Entre os seguintes ditos populares, qual<br />

deles melhor corresponde à figura<br />

acima?<br />

A) Com perseverança, tudo se alcança.<br />

B) Cada macaco no seu galho.<br />

C) Nem tudo que balança cai.<br />

D) Quem tudo quer, tudo perde.<br />

E) Deus ajuda quem cedo madruga.<br />

Comentário<br />

Assim como a questão 37, esta também<br />

envolve interpretação de signos, ou seja, o<br />

aluno precisa estar atento à imagem e<br />

relacioná-la ao dito popular correspondente.<br />

20


A alternativa "A" é a correta, pois, para<br />

uma lesma “grudenta” e vagarosa conseguir<br />

pular numa cama elástica, é necessária<br />

muita perseverança.<br />

42) (2002) A crônica muitas vezes constitui<br />

um espaço para reflexão sobre aspectos<br />

da sociedade em que vivemos.<br />

"Eu, na rua, com pressa, e o menino<br />

segurou no meu braço, falou qualquer<br />

coisa que não entendi. Fui logo dizendo<br />

que não tinha, certa de que ele estava<br />

pedindo dinheiro. Não estava. Queria<br />

saber a hora.<br />

Talvez não fosse um Menino De<br />

Família, mas também não era um Menino<br />

De Rua. É assim que a gente divide.<br />

Menino De Família é aquele bem-vestido<br />

com tênis da moda e camiseta de marca,<br />

que usa relógio e a mãe dá outro se o<br />

dele for roubado por um Menino De Rua.<br />

Menino De Rua é aquele que quando a<br />

gente passa perto segura a bolsa com<br />

força porque pensa que ele é pivete,<br />

trombadinha, ladrão. (...) Na verdade não<br />

existem meninos De rua.<br />

Existem meninos NA rua. E toda vez<br />

que um menino está NA rua é porque<br />

alguém o botou lá. Os meninos não vão<br />

sozinhos aos lugares. Assim como são<br />

postos no mundo, durante muitos anos<br />

também são postos onde quer que<br />

estejam. Resta ver quem os põe na rua. E<br />

por quê."<br />

COLASSANTI, Marina. In: Eu sei, mas não devia. Rio de<br />

Janeiro: Rocco, 1999.<br />

Comentário do INEP<br />

A reprodução de um trecho de uma<br />

crônica de Marina Colassanti tematiza uma<br />

importante questão social brasileira: a<br />

presença de milhões de crianças nas ruas do<br />

País. A autora, ao tratar desse problema,<br />

vale-se de recursos lingüísticos específicos.<br />

O objetivo desta questão é justamente<br />

chamar a atenção do participante leitor para<br />

esses recursos e os efeitos de sentido que<br />

eles desencadeiam no texto. Na raiz da<br />

questão destaca-se a troca de "De" por "NA"<br />

e pede-se que se determine qual relação de<br />

sentido essa substituição estabelece entre os<br />

termos "menino" e "rua". Analisar a relação,<br />

nesse caso, significa perguntar-se sobre o<br />

sentido de dois sintagmas criados no texto:<br />

"meninos NA rua" por oposição a "meninos<br />

De rua". O que a autora pretende negar, com<br />

a troca do termo de relação, é a possibilidade<br />

de que existam meninos de rua diferentes de<br />

outros meninos, que não têm na rua a sua<br />

origem. O destaque para a preposição na<br />

nos leva a refletir que a relação dos meninos<br />

com a rua é de localização: eles estão ali por<br />

alguma razão, não porque essa seja a sua<br />

qualificação. Essa reflexão levaria o aluno a<br />

escolher, como correta, a resposta<br />

apresentada na alternativa A, assinalada por<br />

cerca de metade dos participantes.<br />

43) (2005) Leia estes textos.<br />

Texto 1<br />

No terceiro parágrafo em "... não existem<br />

meninos De rua. Existem meninos NA<br />

rua.", a troca de De pelo Na determina<br />

que a relação de sentido entre "menino" e<br />

"rua" seja<br />

A) de localização e não de qualidade.<br />

B) de origem e não de posse.<br />

C) de origem e não de localização.<br />

D) de qualidade e não de origem.<br />

E) de posse e não de localização.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. Apesar de não<br />

haver um terceiro parágrafo neste texto, a<br />

troca das preposições ao final do SEGUNDO<br />

parágrafo indica claramente que não há um<br />

menino DE (proveniente de) rua, mas um<br />

menino que está NA (foi levado à) rua.<br />

Portanto, a relação é unicamente de<br />

localização (onde ele está) e não de<br />

qualidade (o que ele é).<br />

Texto 2<br />

Sonhar<br />

Mais um sonho impossível<br />

Lutar<br />

Quando é fácil ceder<br />

Vencer o inimigo invencível<br />

Negar quando a regra é vender<br />

Sofrer a tortura implacável<br />

Romper a incabível prisão<br />

Voar num limite improvável<br />

Tocar o inacessível chão<br />

É minha lei, é minha questão<br />

Virar esse mundo<br />

Cravar esse chão<br />

Não me importa saber<br />

Se é terrível demais<br />

Quantas guerras terei que vencer<br />

Por um pouco de paz<br />

21


22<br />

E amanhã se esse chão que eu beijei<br />

For meu leito e perdão<br />

Vou saber que valeu delirar<br />

E morrer de paixão<br />

E assim, seja lá como for<br />

Vai ter fim a infinita aflição<br />

E o mundo vai ver uma flor<br />

Brotar do impossível chão.<br />

(J. Darione – M. Leigh – Versão de Chico Buarque de<br />

Hollanda e Ruy Guerra, 1972.)<br />

A tirinha e a canção apresentam uma<br />

reflexão sobre o futuro da humanidade. É<br />

correto concluir que os dois textos<br />

A) afirmam que o homem é capaz de<br />

alcançar a paz.<br />

B) concordam que o desarmamento é<br />

inatingível.<br />

C) julgam que o sonho é um desafio<br />

invencível.<br />

D) têm visões diferentes sobre um<br />

possível mundo melhor.<br />

E) transmitem uma mensagem de<br />

otimismo sobre a paz.<br />

Comentário<br />

Enquanto o primeiro texto é ácido em<br />

relação à possibilidade de desarmamento da<br />

população (ou seja, à criação de uma<br />

sociedade mais pacífica), o segundo mostra<br />

a capacidade que a humanidade tem de crer<br />

e, por isso, tentar fazer até o que a princípio<br />

parece impossível. Para os autores da<br />

canção, nada é intrinsecamente impossível.<br />

A relação entre eles é de oposição:<br />

descrença x crença. Questão de nível de<br />

dificuldade médio.<br />

44) (2000) O uso do pronome átono no início<br />

das frases é destacado por um poeta e<br />

por um gramático nos textos abaixo.<br />

Pronominais<br />

Dê-me um cigarro<br />

Diz a gramática<br />

Do professor e do aluno<br />

E do mulato sabido<br />

Mas o bom negro e o bom branco<br />

da Nação Brasileira<br />

Dizem todos os dias<br />

Deixa disso camarada<br />

Me dá um cigarro<br />

(ANDRADE, Oswald de. Seleção de textos.<br />

São Paulo: Nova Cultural, 1988)<br />

“Iniciar a frase com pronome átono só<br />

é lícito na conversação familiar,<br />

despreocupada, ou na língua escrita<br />

quando se deseja reproduzir a fala dos<br />

personagens (...).”<br />

(CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da<br />

língua portuguesa.<br />

São Paulo: Nacional, 1980)<br />

Comparando a explicação dada pelos<br />

autores sobre essa regra, pode-se afirmar<br />

que ambos:<br />

A) condenam essa regra gramatical.<br />

B) acreditam que apenas os esclarecidos<br />

sabem essa regra.<br />

C) criticam a presença de regras na<br />

gramática.<br />

D) afirmam que não há regras para uso de<br />

pronomes.<br />

E) relativizam essa regra gramatical.<br />

Comentário<br />

Questão que requer conhecimento básico<br />

de colocação pronominal, em relação ao uso<br />

de pronomes átonos no início de frases, uma<br />

regra muito pouco respeitada pelo brasileiro,<br />

da qual Oswald de Andrade faz questão de<br />

falar em seu poema. Porém, a questão pode<br />

ser resolvida simplesmente por meio de uma<br />

leitura bem atenta dos textos. Se formos<br />

analisando alternativa por alternativa, a<br />

eliminação é clara e lógica: a alternativa a<br />

fica totalmente descartada devido à<br />

transparência da colocação dos dois autores<br />

(Me dá um cigarro...) e (iniciar frases com o<br />

pronome átono é "lícito" na conversação<br />

familiar ou despreocupada). Já a alternativa b<br />

pode até mesmo gerar um pouco de dúvida a<br />

quem não se atém bem à pergunta. Quanto<br />

às alternativas c e d, ficam descartadas, pois,<br />

em momento nenhum, os autores criticaram<br />

o uso de regras gramaticais em seus textos,<br />

cabendo perfeitamente a alternativa e para<br />

as afirmações do gramático e do poeta.<br />

Comentário do INEP<br />

Essa questão pretendia verificar como o<br />

participante analisa um fato lingüístico,<br />

mediante a comparação da descrição desse<br />

fato em dois textos. Sabe-se que,<br />

normalmente em situação escolar, o uso do<br />

pronome átono no início da frase é julgado<br />

como grave desvio gramatical, e pouco se<br />

analisa esse uso na fala ou escrita informal.<br />

Os dois autores dos textos, com intenções<br />

diferentes, relativizam essa regra gramatical,<br />

destacando e descrevendo o seu uso<br />

coloquial. A maioria dos participantes (52%)<br />

analisou e comparou corretamente as<br />

posições dos autores sobre o uso do


pronome átono, e 24% deles reafirmaram a<br />

posição discriminatória da regra, deslocandoa<br />

de seu uso.<br />

história de Van Gogh, ou apropriaram-se<br />

corretamente da informação sobre esse<br />

pintor, fornecida no enunciado.<br />

45) (2000) As histórias em quadrinhos, por<br />

vezes, utilizam animais como<br />

personagens e a eles atribuem<br />

comportamento humano. O gato Garfield<br />

é exemplo desse fato.<br />

46) (2004)<br />

Fonte: Caderno Vida e Arte, Jornal do Povo, Fortaleza<br />

Van Gogh, pintor holandês nascido em<br />

1853, é um dos principais nomes da<br />

pintura mundial. É dele o quadro abaixo.<br />

Auto-retrato de orelha cortada<br />

O 3º quadrinho sugere que Garfield:<br />

A) desconhece tudo sobre arte, por isso<br />

faz a sugestão.<br />

B) acredita que todo pintor deve fazer algo<br />

diferente.<br />

C) defende que para ser pintor a pessoa<br />

tem de sofrer.<br />

D) conhece a história de um pintor<br />

famoso e faz uso da ironia.<br />

E) acredita que seu dono tenha tendência<br />

artística e, por isso, faz a sugestão.<br />

Comentário<br />

Outra questão de interpretação de texto.<br />

Muito simples para quem um dia ouviu falar<br />

de Van Gogh, e simplíssima para aqueles<br />

que prestam atenção em todos os elementos<br />

do enunciado. Afinal, quem deu uma<br />

espiadinha na legenda do quadro de Van<br />

Gogh matou na hora a questão.<br />

Esta questão é daquelas rápidas de serem<br />

resolvidas, associando-se os elementos<br />

apresentados.<br />

Comentário do INEP<br />

A significativa maioria (81%) dos<br />

participantes soube perceber o caráter<br />

irônico da fala do Garfield, expressa no<br />

terceiro quadrinho porque, ou conheciam a<br />

A tira "Hagar" e o poema de Alberto<br />

Caeiro (um dos heterônimos de Fernando<br />

Pessoa) expressam, com linguagens<br />

diferentes, uma mesma idéia: a de que a<br />

compreensão que temos do mundo é<br />

condicionada, essencialmente,<br />

A) pelo alcance de cada cultura.<br />

B) pela capacidade visual do observador.<br />

C) pelo senso de humor de cada um.<br />

D) pela idade do observador.<br />

E) pela altura do ponto de observação.<br />

Comentário<br />

Questão reflexiva sobre a forma como<br />

cada cultura vê o mundo sob a ótica dos<br />

limites dados pelos seus costumes e<br />

possibilidades de pensamento inerentes a<br />

cada modelo cultural. A mistura de uma tira e<br />

de um poema amplia a possibilidade de<br />

pensamento por trabalhar com linguagens<br />

diferentes. A alternativa correta é a letra A,<br />

pois ambos (tira e poema) utilizam figuras de<br />

linguagem (metáfora e ironia) para expressar<br />

as diferentes visões de mundo.<br />

47) (2003)<br />

O humor presente na tirinha decorre<br />

principalmente do fato de a personagem<br />

Mafalda<br />

A) atribuir, no primeiro quadrinho, poder<br />

ilimitado ao dedo indicador.<br />

B) considerar seu dedo indicador tão<br />

importante quanto o dos patrões.<br />

23


C) atribuir, no primeiro e no último<br />

quadrinhos, um mesmo sentido ao<br />

vocábulo "indicador".<br />

D) usar corretamente a expressão<br />

"indicador de desemprego", mesmo<br />

sendo criança.<br />

E) atribuir, no último quadrinho, fama<br />

exagerada ao dedo indicador dos<br />

patrões.<br />

Comentário<br />

A questão pede a interpretação de uma<br />

charge da personagem Mafalda, em que ela<br />

faz referência a seu dedo indicador, que é<br />

usado como substantivo primitivo e que<br />

possibilita a analogia com “indicador de<br />

desemprego”. Dessa forma, ela ironiza os<br />

indicadores sociais. Na charge, porém, não<br />

há menção explícita aos índices<br />

“indicadores”, permanecendo o raciocínio<br />

preso apenas ao dedo indicador. Assim, ela<br />

utiliza, tanto no primeiro quanto no último<br />

quadrinho, a palavra “indicador” como<br />

referência ao dedo, não dando abertura a<br />

outro tipo de interpretação.<br />

H2 - Recorrer aos conhecimentos<br />

sobre as linguagens dos<br />

sistemas de comunicação e<br />

informação para resolver<br />

problemas sociais<br />

01) (2008) Calcula-se que 78% do<br />

desmatamento na Amazônia tenha sido<br />

motivado pela pecuária — cerca de 35%<br />

do rebanho nacional está na região — e<br />

que pelo menos 50 milhões de hectares<br />

de pastos são pouco produtivos. Enquanto<br />

o custo médio para aumentar a<br />

produtividade de 1 hectare de pastagem é<br />

de 2 mil reais, o custo para derrubar igual<br />

área de floresta é estimado em 800 reais,<br />

o que estimula novos desmatamentos.<br />

Adicionalmente, madeireiras retiram as<br />

árvores de valor comercial que foram<br />

abatidas para a criação de pastagens. Os<br />

pecuaristas sabem que problemas<br />

ambientais como esses podem provocar<br />

restrições à pecuária nessas áreas, a<br />

exemplo do que ocorreu em 2006 com o<br />

plantio da soja, o qual, posteriormente, foi<br />

proibido em áreas de floresta.<br />

Época, 3/3/2008 e 9/6/2008 (com adaptações).<br />

A partir da situação-problema descrita,<br />

conclui-se que<br />

A) o desmatamento na Amazônia decorre<br />

principalmente da exploração ilegal de<br />

árvores de valor comercial.<br />

B) um dos problemas que os pecuaristas<br />

vêm enfrentando na Amazônia é a<br />

proibição do plantio de soja.<br />

C) a mobilização de máquinas e de força<br />

humana torna o desmatamento mais<br />

caro que o aumento da produtividade<br />

de pastagens.<br />

D) o superavit comercial decorrente da<br />

exportação de carne produzida na<br />

Amazônia compensa a possível<br />

degradação ambiental.<br />

E) a recuperação de áreas desmatadas<br />

e o aumento de produtividade das<br />

pastagens podem contribuir para a<br />

redução do desmatamento na<br />

Amazônia.<br />

Comentário do portal<br />

Essa questão retrata o problema do<br />

desmatamento da Amazônia, relacionado<br />

principalmente com o desenvolvimento da<br />

pecuária na região. Para resolvê-la, foram<br />

necessários a leitura atenta do texto e o<br />

conhecimento sobre os problemas<br />

ambientais da atualidade. A alternativa<br />

correta é a letra E, pois é mais caro para os<br />

pecuaristas aumentar a produtividade do que<br />

as áreas de pasto, o que acarreta o aumento<br />

do desmatamento da Amazônia.<br />

02) (2008) A Lei Federal n.º 9.985/2000, que<br />

instituiu o sistema nacional de unidades<br />

de conservação, define dois tipos de<br />

áreas protegidas. O primeiro, as unidades<br />

de proteção integral, tem por objetivo<br />

preservar a natureza, admitindo-se<br />

apenas o uso indireto dos seus recursos<br />

naturais, isto é, aquele que não envolve<br />

consumo, coleta, dano ou destruição dos<br />

recursos naturais. O segundo, as<br />

unidades de uso sustentável, tem por<br />

função compatibilizar a conservação da<br />

natureza com o uso sustentável de<br />

parcela dos recursos naturais. Nesse<br />

caso, permite-se a exploração do<br />

ambiente de maneira a garantir a<br />

perenidade dos recursos ambientais<br />

renováveis e dos processos ecológicos,<br />

mantendo-se a biodiversidade e os<br />

demais atributos ecológicos, de forma<br />

socialmente justa e economicamente<br />

viável.<br />

Considerando essas informações, analise<br />

a seguinte situação hipotética.<br />

24


Ao discutir a aplicação de recursos<br />

disponíveis para o desenvolvimento de<br />

determinada região, organizações civis,<br />

universidade e governo resolveram<br />

investir na utilização de uma unidade de<br />

proteção integral, o Parque Nacional do<br />

Morro do Pindaré, e de uma unidade de<br />

uso sustentável, a Floresta Nacional do<br />

Sabiá. Depois das discussões, a equipe<br />

resolveu levar adiante três projetos:<br />

— o projeto I consiste de pesquisas<br />

científicas embasadas exclusivamente<br />

na observação de animais;<br />

— o projeto II inclui a construção de uma<br />

escola e de um centro de vivência;<br />

— o projeto III promove a organização de<br />

uma comunidade extrativista que<br />

poderá coletar e explorar<br />

comercialmente frutas e sementes<br />

nativas.<br />

Nessa situação hipotética, atendendo-se à<br />

lei mencionada acima, é possível<br />

desenvolver tanto na unidade de proteção<br />

integral quanto na de uso sustentável<br />

A) apenas o projeto I.<br />

B) apenas o projeto III.<br />

C) apenas os projetos I e II.<br />

D) apenas os projetos II e III.<br />

E) todos os três projetos.<br />

Comentário do portal<br />

A alternativa correta é a letra "A", pois,<br />

analisando-se a situação hipotética sugerida<br />

no enunciado, percebe-se que ela deverá<br />

atender os requisitos tanto da unidade de<br />

proteção integral quanto da unidade de uso<br />

sustentável. Portanto, apenas o projeto I<br />

poderá ser desenvolvido nessas duas<br />

propostas de unidades.<br />

03) (1999) Leia o texto abaixo.<br />

Cabelos longos, brinco na orelha<br />

esquerda, físico de skatista. Na aparência,<br />

o estudante brasiliense Rui Lopes Viana<br />

Filho, de 16 anos, não lembra em nada o<br />

estereótipo dos gênios. Ele não usa<br />

pesados óculos de grau e está longe de<br />

ter um ar introspectivo. No final do mês<br />

passado, Rui retornou de Taiwan, onde<br />

enfrentou 419 competidores de todo o<br />

mundo na 39ª Olimpíada Internacional de<br />

Matemática. A reluzente medalha de ouro<br />

que ele trouxe na bagagem está<br />

dependurada sobre a cama de seu quarto,<br />

atulhado de rascunhos dos problemas<br />

matemáticos que aprendeu a decifrar nos<br />

últimos cinco anos.<br />

Veja – Vencer uma olimpíada serve de<br />

passaporte para uma carreira profissional<br />

meteórica?<br />

Rui – Nada disso. Decidi me dedicar à<br />

Olimpíada porque sei que a concorrência<br />

por um emprego é cada vez mais<br />

selvagem e cruel. Agora tenho algo a mais<br />

para oferecer. O problema é que as coisas<br />

estão mudando muito rápido e não sei<br />

qual será minha profissão. Além de ser<br />

muito novo para decidir sobre o meu<br />

futuro profissional, sei que esse conceito<br />

de carreira mudou muito.<br />

(Entrevista de Rui Lopes Viana Filho à Veja,<br />

05/08/1998, n.31, p. 9-<strong>10</strong>)<br />

Na pergunta, o repórter estabelece uma<br />

relação entre a entrada do estudante no<br />

mercado de trabalho e a vitória na<br />

Olimpíada. O estudante<br />

A) concorda com a relação e afirma que o<br />

desempenho na Olimpíada é<br />

fundamental para sua entrada no<br />

mercado.<br />

B) discorda da relação e complementa<br />

que é fácil se fazer previsões sobre o<br />

mercado de trabalho.<br />

C) discorda da relação e afirma que seu<br />

futuro profissional independe de<br />

dedicação aos estudos.<br />

D) discorda da relação e afirma que seu<br />

desempenho só é relevante se<br />

escolher uma profissão relacionada à<br />

matemática.<br />

E) concorda em parte com a relação e<br />

complementa que é complexo fazer<br />

previsões sobre o mercado de trabalho.<br />

Comentário<br />

Não é difícil de se chegar à resposta<br />

correta ao se ler a reportagem. Ao final do<br />

último parágrafo — (...) Além de ser muito<br />

novo para decidir sobre o meu futuro<br />

profissional, sei que esse conceito de carreira<br />

mudou muito. —, o estudante praticamente<br />

fornece a resposta à questão, declarando-se<br />

realista ao não tentar prever seu futuro<br />

profissional devido à pouca idade e às<br />

mudanças no mercado de trabalho. Quanto a<br />

concordar parcialmente com o repórter, veja<br />

que ele, apesar de negar que o prêmio fosse<br />

uma garantia de sucesso profissional, logo<br />

depois afirma que, com ele, terá algo mais a<br />

oferecer ao mercado. Questão de nível fácil.<br />

Comentário do INEP<br />

Nesta situação-problema, o participante<br />

deveria demonstrar que compreendeu as<br />

premissas de um discurso, distinguindo a<br />

25


diferença de significado de palavras isoladas<br />

ou no contexto em que estão inseridas.<br />

Verificou-se que mais da metade dos<br />

participantes demonstrou possuir essa<br />

compreensão. Aqueles que optaram pelas<br />

alternativas C e D podem ter sido atraídos<br />

pelo significado negativo da expressão inicial<br />

"Nada disso".<br />

04) (1998) Texto 1<br />

"Mulher, Irmã, escuta-me: não ames,<br />

Quando a teus pés um homem terno e<br />

curvo<br />

jurar amor, chorar pranto de sangue,<br />

Não creias, não, mulher: ele te engana!<br />

As lágrimas são gotas da mentira<br />

E o juramento manto da perfídia."<br />

(Joaquim Manoel de Macedo)<br />

26<br />

Texto 2<br />

"Teresa, se algum sujeito bancar o<br />

sentimental em cima de você<br />

E te jurar uma paixão do tamanho de um<br />

bonde<br />

Se ele chorar<br />

Se ele ajoelhar<br />

Se ele se rasgar todo<br />

Não acredite não Teresa<br />

É lágrima de cinema<br />

É tapeação<br />

Mentira<br />

CAI FORA"<br />

(Manuel Bandeira)<br />

Os autores, ao fazerem alusão às<br />

imagens da lágrima sugerem que:<br />

A) há um tratamento idealizado da<br />

relação homem/mulher.<br />

B) há um tratamento realista da relação<br />

homem/mulher.<br />

C) a relação familiar é idealizada.<br />

D) a mulher é superior ao homem.<br />

E) a mulher é igual ao homem.<br />

Comentário<br />

Ambos os autores, ao utilizarem a<br />

imagem da lágrima, estão na realidade<br />

mostrando que a figura do homem que é<br />

romântico a ponto de chorar ao jurar amor<br />

não existe. Tanto Macedo quanto<br />

Bandeira alertam as mulheres dizendo,<br />

com palavras e estilos diferentes, que não<br />

há homem que chore por amor (portanto,<br />

essa figura é uma idealização — e, por<br />

conseguinte, toda imagem que se tem<br />

sobre os relacionamentos<br />

demasiadamente românticos). Note que<br />

Bandeira chega até mesmo a chamar tal<br />

"chorão" de ator ("...É lágrima de cinema /<br />

É tapeação..."). Macedo dá uma imagem<br />

pesada às lágrimas ("...são gotas da<br />

mentira...").<br />

05) (1999) Considere os textos abaixo.<br />

(...) de modo particular, quero encorajar os<br />

crentes empenhados no campo da<br />

filosofia para que iluminem os diversos<br />

âmbitos da atividade humana, graças ao<br />

exercício de uma razão que se torna mais<br />

segura e perspicaz com o apoio que<br />

recebe da fé.<br />

(Papa João Paulo II. Carta Encíclica Fides<br />

et Ratio aos bispos da igreja católica sobre as relações<br />

entre fé e razão, 1998)<br />

As verdades da razão natural não<br />

contradizem as verdades da fé cristã.<br />

(São Tomás de Aquino<br />

–pensador medieval)<br />

Refletindo sobre os textos, pode-se<br />

concluir que:<br />

A) a encíclica papal está em contradição<br />

com o pensamento de São Tomás de<br />

Aquino, refletindo a diferença de<br />

épocas.<br />

B) a encíclica papal procura<br />

complementar São Tomás de Aquino,<br />

pois este colocava a razão natural<br />

acima da fé.<br />

C) a Igreja medieval valorizava a razão<br />

mais do que a encíclica de João Paulo<br />

II.<br />

D) o pensamento teológico teve sua<br />

importância na Idade Média, mas, em<br />

nossos dias, não tem relação com o<br />

pensamento filosófico.<br />

E) tanto a encíclica papal como a frase<br />

de São Tomás de Aquino procuram<br />

conciliar os pensamentos sobre fé e<br />

razão.<br />

Comentário<br />

Nessa questão, é necessária uma<br />

releitura do texto para que se tenha uma<br />

melhor compreensão do tema. Tanto a<br />

citação do Papa quanto a de São Tomás de<br />

Aquino tentam criar uma interdependência<br />

entre a ciência e a fé, a religião. O Papa<br />

incentiva aqueles que exercem a pesquisa<br />

científica ou filosófica a manter a fé cristã.<br />

São Tomás de Aquino, por sua vez, equipara<br />

o avanço da ciência ao aumento da própria<br />

fé, afirmando que a razão natural não<br />

contradiz a fé cristã. Se um cresce, cresce<br />

também o outro, em harmonia e sem<br />

contradições. Questão de grau médio.<br />

(Português)


Nessa questão, encontramos dois textos:<br />

o primeiro, do século XX, foi elaborado pelo<br />

Papa João Paulo II; o segundo, do século<br />

XIII, pelo teólogo e filósofo cristão São<br />

Tomás de Aquino. O conteúdo de ambos se<br />

refere à ligação entre fé e razão, a qual<br />

esteve presente na filosofia escolástica da<br />

Idade Média. Esse campo de reflexão buscou<br />

conciliar o cristianismo com o pensamento de<br />

Aristóteles e teve em São Tomás de Aquino<br />

seu maior representante.<br />

Mesmo sem ter todas essas informações,<br />

você poderia responder tranqüilamente à<br />

questão por meio de uma leitura atenta dos<br />

dois textos, chegando à conclusão de que<br />

"tanto a encíclica papal como a frase de São<br />

Tomás de Aquino procuram conciliar os<br />

pensamentos sobre fé e razão". Resposta<br />

correta: alternativa E. (História)<br />

Comentário do INEP<br />

Para resolver esta situação-problema, o<br />

participante deveria mostrar que, além de<br />

interpretar textos, sabe relacioná-los sendo<br />

que, nesse item, essas operações referem-se<br />

a um texto escrito na época medieval e a<br />

outro escrito recentemente.<br />

Mais de 70% dos participantes<br />

demonstraram facilidade em estabelecer esta<br />

relação.<br />

06) (1999) Leia um texto publicado no jornal<br />

Gazeta Mercantil. Esse texto é parte de<br />

um artigo que analisa algumas situações<br />

de crise no mundo, entre elas, a quebra<br />

da Bolsa de Nova Iorque em 1929, e foi<br />

publicado na época de uma iminente crise<br />

financeira no Brasil.<br />

Deu no que deu. No dia 29 de outubro de<br />

1929, uma terça-feira, praticamente não<br />

havia compradores no pregão de Nova<br />

Iorque, só vendedores. Seguiu-se uma<br />

crise incomparável: o Produto Interno<br />

Bruto dos Estados Unidos caiu de <strong>10</strong>4<br />

bilhões de dólares em 1929, para 56<br />

bilhões em 1933, coisa inimaginável em<br />

nossos dias. O valor do dólar caiu a quase<br />

metade. O desemprego elevou-se de 1,5<br />

milhão para 12,5 milhões de trabalhadores<br />

– cerca de 25% da população ativa –<br />

entre 1929 e 1933. A construção civil caiu<br />

90%. Nove milhões de aplicações, tipo<br />

caderneta de poupança, perderam-se com<br />

o fechamento dos bancos. Oitenta e cinco<br />

mil firmas faliram. Houve saques e norteamericanos<br />

que passaram fome.<br />

(Gazeta Mercantil, 05/01/1999)<br />

Ao citar dados referentes à crise ocorrida<br />

em 1929, em um artigo jornalístico atual,<br />

pode-se atribuir ao jornalista a seguinte<br />

intenção:<br />

A) questionar a interpretação da crise.<br />

B) comunicar sobre o desemprego.<br />

C) instruir o leitor sobre aplicações em<br />

bolsa de valores.<br />

D) relacionar os fatos passados e<br />

presentes.<br />

E) analisar dados financeiros americanos.<br />

Comentário<br />

Nessa questão, o que se tem de fazer é<br />

prestar atenção às alternativas das<br />

respostas. Nenhuma delas se apresenta tão<br />

bem contextualizada a uma possível<br />

interpretação quanto a letra D. Partindo-se da<br />

análise do texto, fica claro que a intenção do<br />

artigo é remeter o leitor ao passado para<br />

tentar conduzi-lo a uma reflexão sobre uma<br />

situação presente, não mencionada na<br />

questão. Após a leitura e utilizando-se a já<br />

citada eliminação de questões, torna-se clara<br />

a resposta. Questão de nível médio.<br />

(Português)<br />

Muitas vezes, quando procuramos<br />

entender uma crise econômica ou financeira<br />

de grandes proporções, buscamos<br />

estabelecer relações com crises passadas. O<br />

mesmo ocorre no jornalismo, como prova o<br />

texto encontrado nessa questão. Buscando<br />

entender uma crise ocorrida no início de<br />

1999, o jornalista da Gazeta Mercantil<br />

buscou relacionar a situação dessa época<br />

com a grande crise de 1929 que afetou o<br />

mundo, trazendo desemprego e recessão,<br />

entre tantos outros problemas econômicos e<br />

sociais.<br />

Para responder a essa questão, era<br />

necessário ler atentamente o enunciado, em<br />

que está destacado que "o texto é parte de<br />

um artigo que analisa algumas situações de<br />

crise no mundo" e "foi publicado na época de<br />

uma iminente crise financeira no Brasil". Era<br />

importante também observar a data em que o<br />

artigo foi publicado: 05/01/1999. A partir<br />

dessas constatações, facilmente você<br />

chegaria a conclusão de que a intenção do<br />

jornalista era "relacionar os fatos passados e<br />

presentes". Resposta correta: alternativa D.<br />

(História)<br />

Comentário do INEP<br />

A resolução da questão demandava a<br />

capacidade dos participantes de relacionar<br />

eventos históricos envolvendo crises<br />

econômicas ocorridas em épocas e lugares<br />

distintos. Aproximadamente 2/3 deles<br />

27


demonstraram essa capacidade. Os demais,<br />

provavelmente, não compreenderam a<br />

exigência expressa no enunciado do<br />

problema – apontar as razões pelas quais um<br />

jornalista traz à tona eventos ocorridos<br />

setenta anos antes –, e apenas interpretaram<br />

o sentido do texto citado, que descreve a<br />

crise mundial de 1929.<br />

D)<br />

07) (2002) O autor da tira utilizou os<br />

princípios de composição de um<br />

conhecido movimento artístico para<br />

representar a necessidade de um mesmo<br />

observador aprender a considerar,<br />

simultaneamente, diferentes pontos de<br />

vista.<br />

E)<br />

Das obras reproduzidas, todas de autoria<br />

do pintor espanhol Pablo Picasso, aquela<br />

em cuja composição foi adotado um<br />

procedimento semelhante é:<br />

A)<br />

B)<br />

C)<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. O movimento<br />

artístico que previa considerar<br />

simultaneamente diversos pontos de vista<br />

era o Cubismo. Havia a desconstrução da<br />

forma para que se pudesse ver todos os<br />

ângulos concomitantemente. O único quadro<br />

que apresenta essas características é o da<br />

alternativa E. As outras quatro alternativas<br />

pressupõem a manutenção da forma.<br />

Comentário do INEP<br />

O objetivo desta questão é levar o<br />

participante a refletir sobre características<br />

fundamentais de um movimento artístico – o<br />

cubismo – a partir de dados visuais:<br />

quadrinhos e pinturas. A reprodução de dois<br />

quadrinhos da personagem Calvin forneceu<br />

para o participante informações básicas para<br />

a análise que deveria fazer das alternativas<br />

apresentadas. Segundo os quadrinhos, o<br />

movimento artístico abordado pela questão<br />

tinha como procedimento de composição<br />

representar, para um mesmo observador,<br />

diferentes pontos de vista, fazendo com que<br />

"o tradicional único ponto de vista" fosse<br />

abandonado e com que a perspectiva fosse<br />

fraturada. A análise das obras de Picasso<br />

reproduzidas nas alternativas permite que o<br />

participante reconheça a adoção desse<br />

procedimento no quadro "Marie-Thérèse<br />

apoiada no cotovelo" (alternativa E, com 46%<br />

de registros), no qual se pode reconhecer a<br />

representação de diferentes pontos de vista<br />

28


a partir dos quais é apresentado o rosto da<br />

mulher retratada.<br />

análise parcial da noção de paradoxo,<br />

confundida com inversão.<br />

08) (2001) Oxímoro (ou paradoxo) é uma<br />

construção textual que agrupa significados<br />

que se excluem mutuamente. Para<br />

Garfield, a frase de saudação de Jon<br />

(tirinha abaixo) expressa o maior de todos<br />

os oxímoros.<br />

09) (2005) Cândido Portinari (1903-1962), um<br />

dos mais importantes artistas brasileiros<br />

do século XX, tratou de diferentes<br />

aspectos da nossa realidade em seus<br />

quadros.<br />

Folha de S. Paulo. 31 de julho de 2000.<br />

Nas alternativas abaixo, estão transcritos<br />

versos retirados do poema “O operário em<br />

construção”. Pode-se afirmar que ocorre<br />

um oxímoro em<br />

A) "Era ele que erguia casas<br />

Onde antes só havia chão."<br />

B) "... a casa que ele fazia<br />

Sendo a sua liberdade<br />

Era a sua escravidão."<br />

C) "Naquela casa vazia<br />

Que ele mesmo levantara<br />

Um mundo novo nascia<br />

De que sequer suspeitava."<br />

D) "... o operário faz a coisa<br />

E a coisa faz o operário."<br />

E) "Ele, um humilde operário<br />

Um operário que sabia<br />

Exercer a profissão."<br />

MORAES, Vinícius de. Antologia Poética. São Paulo:<br />

Companhia das Letras, 1992.<br />

Comentário<br />

Idéias que se completam e se excluem<br />

mutuamente são encontradas na alternativa<br />

B: a casa que ele construía era, ao mesmo<br />

tempo, sua liberdade e sua escravidão.<br />

A casa é um símbolo de liberdade para o<br />

homem. Para o homem operário, é também<br />

símbolo de escravidão, pois ele está<br />

"condenado" a jamais usufruir do resultado<br />

do seu trabalho (a casa que faz não é para<br />

ele).<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão propõe ao participante que<br />

estabeleça uma relação entre linguagens,<br />

associando a compreensão de um efeito<br />

semântico produzido pelo uso do oxímoro<br />

nos quadrinhos com o mesmo efeito num<br />

texto poético. O índice (18%) de escolhas da<br />

alternativa D deve-se, possivelmente, a uma<br />

Sobre a temática dos “Retirantes”,<br />

Portinari também escreveu o seguinte<br />

poema:<br />

(....)<br />

Os retirantes vêm vindo com trouxas e<br />

embrulhos<br />

Vêm das terras secas e escuras;<br />

pedregulhos<br />

Doloridos como fagulhas de carvão aceso<br />

Corpos disformes, uns panos sujos,<br />

Rasgados e sem cor, dependurados<br />

Homens de enorme ventre bojudo<br />

Mulheres com trouxas caídas para o lado<br />

Pançudas, carregando ao colo um garoto<br />

Choramingando, remelento<br />

(....)<br />

(Cândido Portinari. Poemas. Rio de Janeiro:<br />

J. Olympio, 1964.)<br />

Das quatro obras reproduzidas, assinale<br />

aquelas que abordam a problemática que<br />

é tema do poema.<br />

A) 1 e 2 D) 3 e 4<br />

B) 1 e 3 E) 2 e 4<br />

C) 2 e 3<br />

Comentário<br />

O poema apresenta correspondência com<br />

as imagens ao descrever com detalhes a<br />

figura do retirante: pobre, mal vestido,<br />

carregando trouxas e embrulhos.<br />

29


<strong>10</strong>) (2002) "A palavra tatuagem é<br />

relativamente recente. Toda a gente sabe<br />

que foi o navegador Cook que a introduziu<br />

no Ocidente, e esse escrevia tattou, termo<br />

da Polinésia de tatou ou tu tahou,<br />

'desenho'.<br />

(...) Desde os mais remotos tempos,<br />

vemo-la a transformar-se: distintivo<br />

honorífico entre uns homens, ferrete de<br />

ignomínia entre outros, meio de assustar o<br />

adversário para os bretões, marca de uma<br />

classe de selvagens das ilhas marquesas<br />

(...) sinal de amor, de desprezo, de ódio<br />

(...). Há três casos de tatuagem no Rio,<br />

completamente diversos na sua<br />

significação moral: os negros,os turcos<br />

com o fundo religioso e o bando de<br />

meretrizes, dos rufiões e dos humildes,<br />

que se marcam por crime ou por<br />

ociosidade".<br />

RIO, João do. Os Tatuadores. Revista Kosmos.<br />

1904, apud: A alma encantadora das ruas,<br />

SP: Cia das Letras, 1999.<br />

Com base no texto são feitas as seguintes<br />

afirmações:<br />

I. João do Rio revela como a tatuagem já<br />

estava presente na cidade do Rio de<br />

Janeiro, pelo menos desde o início do<br />

século XX, e era mais utilizada por<br />

alguns setores da população.<br />

II. A tatuagem, de origem polinésia,<br />

difundiu-se no ocidente com a<br />

característica que permanece até hoje:<br />

utilização entre os jovens com função<br />

estritamente estética.<br />

III. O texto mostra como a tatuagem é<br />

uma prática que se transforma no<br />

tempo e que alcança inúmeros sentidos<br />

nos diversos setores das sociedades e<br />

para as diferentes culturas.<br />

Está correto o que se afirma apenas em<br />

A) I D) I e II<br />

B) II E) I e III<br />

C) III<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. Constata-se o<br />

seguinte: a tatuagem já existia no Brasil no<br />

início do século XX (o texto é de 1904 e parte<br />

dele se refere ao Rio do Janeiro) e era<br />

utilizada em diferentes setores da sociedade.<br />

A afirmação de que as tatuagens possuem<br />

apenas finalidade estética entre os jovens<br />

elimina a segunda alternativa. Já a última<br />

alternativa confirma as transformações das<br />

funções da tatuagem ao longo do tempo nas<br />

mais diversas sociedades e culturas.<br />

Comentário do INEP<br />

O texto estabelece uma relação entre a<br />

atualidade da palavra "tatuagem" e a<br />

antiguidade do uso de desenhos como<br />

pintura corporal. Focaliza uma prática social<br />

bastante difundida que adquiriu aspectos e<br />

conotações diversos nos diferentes contextos<br />

históricos e geográficos em que ela pode ser<br />

descrita. Fazendo a descrição da prática da<br />

tatuagem, como uma manifestação comum a<br />

diferentes culturas, e que adquire, inclusive,<br />

significados diferentes dentro de uma mesma<br />

cultura, induz o participante a refletir sobre a<br />

"diversidade dos patrimônios etnoculturais e<br />

artísticos", contextualizando ao mesmo<br />

tempo seus significados "em diferentes<br />

sociedades, épocas e lugares". Ao retomar<br />

as várias origens e usos da tatuagem, o<br />

participante é levado a compreender e<br />

respeitar uma gramática histórica dos<br />

costumes marcada sempre por semelhanças<br />

e diferenças. A questão não exigia, portanto,<br />

nenhum conhecimento prévio sobre as<br />

diferentes formas de manifestação dessa<br />

prática, mas simplesmente constatar, com o<br />

autor do texto citado, a historicidade e a<br />

diversidade das práticas sociais. Os<br />

participantes que assinalaram a alternativa C<br />

(36%), possivelmente, não levaram em<br />

consideração informações do texto. A<br />

questão foi corretamente respondida por 37%<br />

dos participantes.<br />

11) (2003) Eu começaria dizendo que poesia<br />

é uma questão de linguagem. A<br />

importância do poeta é que ele torna mais<br />

viva a linguagem. Carlos Drummond de<br />

Andrade escreveu um dos mais belos<br />

versos da língua portuguesa com duas<br />

palavras comuns: cão e cheirando.<br />

Um cão cheirando o futuro<br />

(Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP, 24/05/1988.<br />

adaptação)<br />

O que deu ao verso de Drummond o<br />

caráter de inovador da língua foi<br />

A) o modo raro como foi tratado o<br />

"futuro".<br />

B) a referência ao cão como "animal de<br />

estimação".<br />

C) a flexão pouco comum do verbo<br />

"cheirar" (gerúndio).<br />

D) a aproximação não usual do agente<br />

citado e a ação de "cheirar".<br />

E) o emprego do artigo indefinido "um" e<br />

do artigo definido "o" na mesma frase.<br />

30


Comentário<br />

O fato de Drummond identificar o futuro<br />

como algo que pode ser percebido por um<br />

animal irracional por meio do olfato foi<br />

inovador. A figura de linguagem foi<br />

construída metaforicamente: o futuro torna-se<br />

uma coisa que tem cheiro, contrariamente à<br />

imagem pela qual ele normalmente é<br />

representado: como algo que não se vê e<br />

não se pode pressentir ou tocar.<br />

12) (2003) Pequenos tormentos da vida<br />

De cada lado da sala de aula, pelas janelas<br />

altas, o azul convida os meninos,<br />

as nuvens desenrolam-se, lentas como quem<br />

vai inventando<br />

preguiçosamente uma história sem fim...Sem<br />

fim é a aula: e nada acontece,<br />

nada...Bocejos e moscas. Se ao menos,<br />

pensa Margarida, se ao menos um<br />

avião entrasse por uma janela e saísse por<br />

outra!<br />

(Mário Quintana. Poesias)<br />

Na cena retratada no texto, o sentimento<br />

do tédio<br />

A) provoca que os meninos fiquem<br />

contando histórias.<br />

B) leva os alunos a simularem bocejos,<br />

em protesto contra a monotonia da<br />

aula.<br />

C) acaba estimulando a fantasia,<br />

criando a expectativa de algum<br />

imprevisto mágico.<br />

D) prevalece de modo absoluto,<br />

impedindo até mesmo a distração ou o<br />

exercício do pensamento.<br />

E) decorre da morosidade da aula, em<br />

contraste com o movimento acelerado<br />

das nuvens e das moscas.<br />

Comentário<br />

Essa questão aborda o imaginário<br />

decorrente do marasmo trazido pela escola.<br />

O texto enfatiza o arrastar do tempo na<br />

mente de uma aluna, Margarida, que se põe<br />

a pensar em fatos mágicos ou imaginários<br />

que pudessem romper com a lentidão da<br />

aula.<br />

13) (2000) O autor do texto abaixo critica,<br />

ainda que em linguagem metafórica, a<br />

sociedade contemporânea em relação aos<br />

seus hábitos alimentares.<br />

“Vocês que têm mais de 15 anos, se<br />

lembram quando a gente comprava leite<br />

em garrafa, na leiteria da esquina? (...)<br />

Mas vocês não se lembram de nada,<br />

pô! Vai ver nem sabem o que é vaca. Nem<br />

o que é leite. Estou falando isso porque<br />

agora mesmo peguei um pacote de leite –<br />

leite em pacote, imagina, Tereza! – na<br />

porta dos fundos e estava escrito que é<br />

pasterizado, ou pasteurizado, sei lá, tem<br />

vitamina, é garantido pela<br />

embromatologia, foi enriquecido e o<br />

escambau. Será que isso é mesmo leite?<br />

No dicionário diz que leite é outra coisa:<br />

‘Líquido branco, contendo água,<br />

proteína, açúcar e sais minerais’. Um<br />

alimento pra ninguém botar defeito. O ser<br />

humano o usa há mais de 5.000 anos. É o<br />

único alimento só alimento. A carne serve<br />

pro animal andar, a fruta serve pra fazer<br />

outra fruta, o ovo serve pra fazer outra<br />

galinha (...) O leite é só leite. Ou toma ou<br />

bota fora. Esse aqui examinando bem, é<br />

só pra botar fora. Tem chumbo, tem<br />

benzina, tem mais água do que leite, tem<br />

serragem, sou capaz de jurar que nem<br />

vaca tem por trás desse negócio. Depois o<br />

pessoal ainda acha estranho que os<br />

meninos não gostem de leite.<br />

Mas, como não gostam? Não gostam<br />

como? Nunca tomaram! Múúúúúúú!”<br />

(FERNANDES, Millôr. O Estado de S. Paulo ,<br />

22 de agosto de 1999)<br />

A palavra embromatologia usada pelo<br />

autor é:<br />

A) um termo científico que significa estudo<br />

dos bromatos.<br />

B) uma composição do termo de gíria<br />

“embromação” (enganação) com<br />

bromatologia, que é o estudo dos<br />

alimentos.<br />

C) uma junção do termo de gíria<br />

“embromação” (enganação) com<br />

lactologia, que é o estudo das<br />

embalagens para leite.<br />

D) um neologismo da química orgânica<br />

que significa a técnica de retirar<br />

bromatos dos laticínios.<br />

E) uma corruptela de termo da<br />

agropecuária que significa a ordenha<br />

mecânica.<br />

Comentário<br />

É necessário para a resolução desta<br />

questão:<br />

- perceber que o texto critica o exagerado<br />

uso de substâncias artificiais nos<br />

alimentos;<br />

- conhecer o significado da gíria embromar e<br />

da palavra bromatologia.<br />

31


Conhecendo esses significados, você<br />

elimina todas as alternativas erradas: a, c, d<br />

e e.<br />

Você poderá ter dúvida quanto à<br />

alternativa c, que também será eliminada se<br />

souber o significado da palavra lactologia,<br />

que é o estudo do leite e produtos lácteos e<br />

não das embalagens para leite.<br />

Nesta questão, são trabalhados os<br />

conceitos de interpretação de texto, formação<br />

de palavras e conhecimentos gerais.<br />

Comentário do INEP<br />

A resolução da questão requeria que o<br />

participante, ao ler o texto vinculasse o<br />

significado de um termo de gíria -<br />

"embromação" - com o da palavra<br />

bromatologia. A resposta correta exigia que o<br />

participante não abrisse mão do sabor<br />

picante contido na linguagem metafórica,<br />

sabor vinculado ao conhecimento específico<br />

contido na palavra bromatologia. Cerca da<br />

metade dos participantes (51%) optou pela<br />

alternativa correta e, os 20% que escolheram<br />

a alternativa C, provavelmente associaram a<br />

referência feita no texto à leite em pacote.<br />

C)<br />

D)<br />

E)<br />

14) (2008) Os signos visuais, como meios de<br />

comunicação, são classificados em<br />

categorias de acordo com seus<br />

significados.<br />

A categoria denominada indício<br />

corresponde aos signos visuais que têm<br />

origem em formas ou situações naturais<br />

ou casuais, as quais, devido à ocorrência<br />

em circunstâncias idênticas, muitas vezes<br />

repetidas, indicam algo e adquirem<br />

significado. Por exemplo, nuvens negras<br />

indicam tempestade. Com base nesse<br />

conceito, escolha a opção que representa<br />

um signo da categoria dos indícios.<br />

A)<br />

Comentário<br />

Trata-se de uma questão interpretativa. O<br />

aluno precisa entender o que é “indício” para<br />

respondê-la. Segundo o dicionário Aurélio,<br />

indício é o mesmo que “sinal, vestígio,<br />

indicação”. Das figuras apresentadas,<br />

apenas a alternativa B indica algo: a<br />

passagem de alguém por algum lugar —<br />

pegada.<br />

15) (2008)<br />

B)<br />

Exame, 28/9/2007.<br />

Entre os seguintes ditos populares, qual<br />

deles melhor corresponde à figura<br />

acima?<br />

32


A) Com perseverança, tudo se alcança.<br />

B) Cada macaco no seu galho.<br />

C) Nem tudo que balança cai.<br />

D) Quem tudo quer, tudo perde.<br />

E) Deus ajuda quem cedo madruga.<br />

Comentário<br />

Assim como a questão 37, esta também<br />

envolve interpretação de signos, ou seja, o<br />

aluno precisa estar atento à imagem e<br />

relacioná-la ao dito popular correspondente.<br />

A alternativa "A" é a correta, pois, para<br />

uma lesma “grudenta” e vagarosa conseguir<br />

pular numa cama elástica, é necessária<br />

muita perseverança.<br />

16) (2005) Leia estes textos.<br />

Texto 1<br />

B) concordam que o desarmamento é<br />

inatingível.<br />

C) julgam que o sonho é um desafio<br />

invencível.<br />

D) têm visões diferentes sobre um<br />

possível mundo melhor.<br />

E) transmitem uma mensagem de<br />

otimismo sobre a paz.<br />

Comentário<br />

Enquanto o primeiro texto é ácido em<br />

relação à possibilidade de desarmamento da<br />

população (ou seja, à criação de uma<br />

sociedade mais pacífica), o segundo mostra<br />

a capacidade que a humanidade tem de crer<br />

e, por isso, tentar fazer até o que a princípio<br />

parece impossível. Para os autores da<br />

canção, nada é intrinsecamente impossível.<br />

A relação entre eles é de oposição:<br />

descrença x crença. Questão de nível de<br />

dificuldade médio.<br />

17) (2004)<br />

Texto 2<br />

Sonhar<br />

Mais um sonho impossível<br />

Lutar<br />

Quando é fácil ceder<br />

Vencer o inimigo invencível<br />

Negar quando a regra é vender<br />

Sofrer a tortura implacável<br />

Romper a incabível prisão<br />

Voar num limite improvável<br />

Tocar o inacessível chão<br />

É minha lei, é minha questão<br />

Virar esse mundo<br />

Cravar esse chão<br />

Não me importa saber<br />

Se é terrível demais<br />

Quantas guerras terei que vencer<br />

Por um pouco de paz<br />

E amanhã se esse chão que eu beijei<br />

For meu leito e perdão<br />

Vou saber que valeu delirar<br />

E morrer de paixão<br />

E assim, seja lá como for<br />

Vai ter fim a infinita aflição<br />

E o mundo vai ver uma flor<br />

Brotar do impossível chão.<br />

(J. Darione – M. Leigh – Versão de Chico Buarque de<br />

Hollanda e Ruy Guerra, 1972.)<br />

A tirinha e a canção apresentam uma<br />

reflexão sobre o futuro da humanidade. É<br />

correto concluir que os dois textos<br />

A) afirmam que o homem é capaz de<br />

alcançar a paz.<br />

A tira "Hagar" e o poema de Alberto<br />

Caeiro (um dos heterônimos de Fernando<br />

Pessoa) expressam, com linguagens<br />

diferentes, uma mesma idéia: a de que a<br />

compreensão que temos do mundo é<br />

condicionada, essencialmente,<br />

A) pelo alcance de cada cultura.<br />

B) pela capacidade visual do observador.<br />

C) pelo senso de humor de cada um.<br />

D) pela idade do observador.<br />

E) pela altura do ponto de observação.<br />

Comentário<br />

Questão reflexiva sobre a forma como<br />

cada cultura vê o mundo sob a ótica dos<br />

limites dados pelos seus costumes e<br />

possibilidades de pensamento inerentes a<br />

cada modelo cultural. A mistura de uma tira e<br />

de um poema amplia a possibilidade de<br />

pensamento por trabalhar com linguagens<br />

diferentes. A alternativa correta é a letra A,<br />

pois ambos (tira e poema) utilizam figuras de<br />

linguagem (metáfora e ironia) para expressar<br />

as diferentes visões de mundo.<br />

33


18) (2000) As histórias em quadrinhos, por<br />

vezes, utilizam animais como personagens e<br />

a eles atribuem comportamento humano. O<br />

gato Garfield é exemplo desse fato.<br />

Fonte: Caderno Vida e Arte, Jornal do Povo,<br />

Fortaleza<br />

Van Gogh, pintor holandês nascido em<br />

1853, é um dos principais nomes da pintura<br />

mundial. É dele o quadro abaixo.<br />

Auto-retrato de orelha cortada<br />

O 3º quadrinho sugere que Garfield:<br />

A) desconhece tudo sobre arte, por isso faz<br />

a sugestão.<br />

B) acredita que todo pintor deve fazer algo<br />

diferente.<br />

C) defende que para ser pintor a pessoa tem<br />

de sofrer.<br />

D) conhece a história de um pintor famoso<br />

e faz uso da ironia.<br />

E) acredita que seu dono tenha tendência<br />

artística e, por isso, faz a sugestão.<br />

Comentário<br />

Outra questão de interpretação de texto.<br />

Muito simples para quem um dia ouviu falar de<br />

Van Gogh, e simplíssima para aqueles que<br />

prestam atenção em todos os elementos do<br />

enunciado. Afinal, quem deu uma espiadinha<br />

na legenda do quadro de Van Gogh matou na<br />

hora a questão.<br />

Esta questão é daquelas rápidas de serem<br />

resolvidas, associando-se os elementos<br />

apresentados.<br />

Comentário do INEP<br />

A significativa maioria (81%) dos<br />

participantes soube perceber o caráter irônico<br />

da fala do Garfield, expressa no terceiro<br />

quadrinho porque, ou conheciam a história de<br />

Van Gogh, ou apropriaram-se corretamente da<br />

informação sobre esse pintor, fornecida no<br />

enunciado.<br />

19) (2002)<br />

De acordo com a história em quadrinhos<br />

protagonizada por Hagar e seu filho<br />

Hamlet, pode-se afirmar que a postura de<br />

Hagar<br />

A) valoriza a existência da diversidade<br />

social e de culturas, e as várias<br />

representações e explicações desse<br />

universo.<br />

B) desvaloriza a existência da<br />

diversidade social e as várias culturas,<br />

e determina uma única explicação para<br />

esse universo.<br />

C) valoriza a possibilidade de explicar as<br />

sociedades e as culturas a partir de<br />

várias visões de mundo.<br />

D) valoriza a pluralidade cultural e social<br />

ao aproximar a visão de mundo de<br />

navegantes e não-navegantes.<br />

E) desvaloriza a pluralidade cultural e<br />

social, ao considerar o mundo habitado<br />

apenas pelos navegantes.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. Hagar reduz o mundo<br />

a dois tipos de pessoas: navegantes e nãonavegantes.<br />

No último quadrinho, diz que são<br />

os navegantes que estabelecem esses dois<br />

grupos. Portanto, quem é diferente dos<br />

navegantes (que estabelecem o padrão)<br />

simplesmente é incluído na massa única dos<br />

não-navegantes. Não importa quem ou quantos<br />

sejam, sua diversidade social ou cultural em<br />

relação aos navegantes ou entre si. Vemos aí a<br />

desvalorização de outras culturas.<br />

Comentário do INEP<br />

Dentre as habilidades básicas para a<br />

compreensão de um texto destaca-se a<br />

capacidade do leitor de identificar os<br />

pressupostos de cada afirmação que lhe é<br />

apresentada. Nesta questão o participante<br />

deve identificar a posição tanto de Hagar como<br />

de seu filho Hamlet e, em seguida, avaliar<br />

quais os argumentos que justificam a opinião<br />

de Hagar ao definir que no mundo só existem<br />

dois tipos de pessoas. A pergunta de Hamlet a<br />

seu pai explicita a importância do ato de narrar<br />

através do diálogo e do efeito humorístico<br />

contido no episódio representado na tira. O<br />

resultado da compreensão acertada do diálogo<br />

é que o narrador torna inteligível, para si e para<br />

os outros, a lógica do seu pensamento através<br />

do diálogo entre os dois personagens. É<br />

importante observar que o humor do<br />

personagem Hagar é identificado na postura<br />

simetricamente oposta à de Michel de<br />

Montaigne, por exemplo (ver questão 58): a<br />

sua visão de mundo apresenta-se<br />

autocentrada, isto é, centrada nos seus<br />

próprios valores (vikings). A habilidade<br />

34


equerida do participante nessa questão, qual<br />

seja, "valorizar a diversidade dos patrimônios<br />

etnoculturais", é mobilizada aqui na sua<br />

dimensão negativa: é criticando a postura<br />

chauvinista de Hagar que o participante é<br />

capaz de responder corretamente a questão. A<br />

última alternativa (E) funciona como um<br />

distrator, pois neste caso não está suposta a<br />

crítica do discurso do personagem. Cerca de<br />

um terço dos participantes assinalou a<br />

alternativa correta B. As demais opções são<br />

devidas, possivelmente, a uma leitura pouco<br />

compreensiva das alternativas associadas a<br />

história em quadrinhos.<br />

20) (2009) Como se assistisse à<br />

demonstração de um espetáculo mágico,<br />

ia revendo aquele ambiente tão<br />

característico de família, com seus<br />

pesados móveis de vinhático ou de<br />

jacarandá, de qualidade antiga, e que<br />

denunciavam um passado ilustre,<br />

gerações de Meneses talvez mais<br />

singelos e mais calmos; agora, uma<br />

espécie de desordem, de relaxamento,<br />

abastardava aquelas qualidades<br />

primaciais. Mesmo assim era fácil<br />

perceber o que haviam sido, esses nobres<br />

da roça, com seus cristais que brilhavam<br />

mansamente na sombra, suas pratas<br />

semiempoeiradas que atestavam o<br />

esplendor esvanecido, seus marfins e<br />

suas opalinas — ah, respirava-se ali<br />

conforto, não havia dúvida, mas era<br />

apenas uma sobrevivência de coisas idas.<br />

Dir-se-ia, ante esse mundo que se ia<br />

desagregando, que um mal oculto o roía,<br />

como um tumor latente em suas<br />

entranhas.<br />

CARDOSO, L. Crônica da casa assassinada. Rio de<br />

Janeiro: Civilização Brasileira, 2002 (adaptado).<br />

O mundo narrado nesse trecho do<br />

romance de Lúcio Cardoso, acerca da<br />

vida dos Meneses, família da aristocracia<br />

rural de Minas Gerais, apresenta não<br />

apenas a história da decadência dessa<br />

família, mas é, ainda, a representação<br />

literária de uma fase de desagregação<br />

política, social e econômica do país. O<br />

recurso expressivo que formula<br />

literariamente essa desagregação<br />

histórica é o de descrever a casa dos<br />

Meneses como<br />

A) O ambiente de pobreza e privação,<br />

que carece de conforto mínimo para a<br />

sobrevivência da família<br />

B) O mundo mágico, capaz de recuperar o<br />

encantamento perdido durante o<br />

período de decadência da aristocracia<br />

rural mineira.<br />

C) cena familiar, na qual o calor humano<br />

dos habitantes da casa ocupa o<br />

primeiro plano, compensando a frieza e<br />

austeridade dos objetos antigos.<br />

D) O símbolo de um passado ilustre que,<br />

apesar de superado, ainda resiste à<br />

sua total dissolução graças ao cuidado<br />

e asseio que a família dispensa à<br />

conservação da casa.<br />

E) O espaço arruinado, onde os objetos<br />

perderam seu esplendor e sobre os<br />

quais a vida repousa como lembrança<br />

de um passado que está em vias de<br />

desaparecer completamente.<br />

Comentário<br />

(QUESTÃO: AZUL 69, BRANCA 69, ROSA<br />

69)<br />

Esta questão de interpretação de<br />

texto relaciona Literatura com História. A leitura<br />

atenta do texto mostrará que a desagregação<br />

histórica dos Menezes está descrita na<br />

alternativa E como um espaço arruinado, onde<br />

os objetos perderam seu esplendor.<br />

Alternativa correta: E<br />

H3 - Relacionar informações<br />

geradas nos sistemas de<br />

comunicação e informação,<br />

considerando a função social<br />

desses sistemas<br />

01) (2009)<br />

BRASIL. Ministério da Saúde. Revista Nordeste, João<br />

Pessoa, ano 3, n. 35, maio/jun.2009.<br />

35


O texto exemplifica um gênero textual<br />

híbrido entre carta e publicidade oficial.<br />

Em seu conteúdo, é possível perceber<br />

aspectos relacionados a gêneros digitais.<br />

Considerando-se a função social das<br />

informações geradas nos sistemas de<br />

comunicação e informação presentes no<br />

texto, infere-se que<br />

A) a utilização do termo download indica<br />

restrição de leitura de informações a<br />

respeito de formas de combate à<br />

dengue.<br />

B) a diversidade dos sistemas de<br />

comunicação empregados e<br />

mencionados reduz a possibilidade de<br />

acesso às informações a respeito do<br />

combate à dengue.<br />

C) a utilização do material disponibilizado<br />

para download no site<br />

www.combatadengue.com.br restringese<br />

ao receptor da publicidade.<br />

D) a necessidade de atingir públicos<br />

distintos se revela por meio da<br />

estratégia de disponibilização de<br />

informações empregada pelo emissor.<br />

E) a utilização desse gênero textual<br />

compreende, no próprio texto, o<br />

detalhamento de informações a<br />

respeito de formas de combate à<br />

dengue.<br />

Comentário<br />

(QUESTÃO: AZUL 126, BRANCA 126,<br />

ROSA 1)<br />

Questão de difícil resolução. O texto,<br />

dirigido a prefeitos de todo o Brasil, informa<br />

que, no site citado, há material<br />

para download livre. O candidato deve inferir,<br />

fundamentado na função social das<br />

informações disponibilizadas na Internet, que<br />

há a necessidade de se atingir públicos<br />

distintos.<br />

Dessa forma, a resposta correta é a<br />

alternativa D.<br />

H4 - Reconhecer posições<br />

críticas aos usos sociais que<br />

são feitos das linguagens e<br />

dos sistemas de<br />

comunicação e informação<br />

01) (2001) O mundo é grande<br />

O mundo é grande e cabe<br />

Nesta janela sobre o mar.<br />

O mar é grande e cabe<br />

36<br />

Na cama e no colchão de amar.<br />

O amor é grande e cabe<br />

No breve espaço de beijar.<br />

ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e prosa.<br />

Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983.<br />

Neste poema, o poeta realizou uma opção<br />

estilística: a reiteração de determinadas<br />

construções e expressões lingüísticas,<br />

como o uso da mesma conjunção para<br />

estabelecer a relação entre as frases.<br />

Essa conjunção estabelece, entre as<br />

idéias relacionadas, um sentido de<br />

A) oposição.<br />

B) comparação.<br />

C) conclusão.<br />

D) alternância.<br />

E) finalidade.<br />

Comentário<br />

Há três elementos repetidos neste trecho:<br />

o verbo ser, o artigo definido o e a conjunção<br />

aditiva e. A conjunção e estabelece uma<br />

relação entre idéias que, concretamente, são<br />

opostas (ex.: "O mundo é grande e cabe<br />

nesta janela sobre o mar"). A alternativa<br />

correta é a letra A.<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão apresenta, para leitura e<br />

análise, o poema "O mundo é grande", onde<br />

os recursos lingüísticos expressivos<br />

utilizados geram um efeito de oposição entre<br />

as idéias. A análise sintático-semântica é<br />

necessária para a compreensão do valor de<br />

oposição assumido pela conjunção "e":<br />

imagens justapostas estão relacionadas,<br />

contrapondo-se em planos diferentes. Um<br />

percentual significativo (46%) de<br />

participantes considerou que o valor da<br />

conjunção "e", nesse poema, é de<br />

comparação, o que não reflete o sentido<br />

estilístico proposto pelo poeta, mas<br />

corresponde apenas à primeira operação que<br />

se realiza para estabelecer o sentido de<br />

oposição. De maneira análoga, pode-se<br />

analisar os equívocos daqueles que optaram<br />

pelas alternativas C e D.<br />

02) (1999) SONETO DE FIDELIDADE<br />

De tudo, ao meu amor serei atento<br />

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto<br />

Que mesmo em face do maior encanto<br />

Dele se encante mais meu pensamento.<br />

Quero vivê-lo em cada vão momento<br />

E em seu louvor hei de espalhar meu<br />

canto<br />

E rir meu riso e derramar meu pranto


Ao seu pesar ou seu contentamento.<br />

E assim, quando mais tarde me procure<br />

Quem sabe a morte, angústia de quem<br />

vive<br />

Quem sabe a solidão, fim de quem ama.<br />

Eu possa dizer do meu amor (que tive):<br />

Que não seja imortal, posto que é chama<br />

Mas que seja infinito enquanto dure.<br />

(MORAES, Vinícius de. Antologia poética. São Paulo: Cia<br />

das Letras, 1992).<br />

A palavra mesmo pode assumir diferentes<br />

significados, de acordo com a sua função<br />

na frase. Assinale a alternativa em que o<br />

sentido de mesmo equivale ao que se<br />

verifica no 3º verso da 1ª estrofe do<br />

poema de Vinícius de Moraes.<br />

A) "Pai, para onde fores, / irei também<br />

trilhando as mesmas ruas..." (Augusto<br />

dos Anjos)<br />

B) "Agora, como outrora, há aqui o<br />

mesmo contraste da vida interior, que<br />

é modesta, com a exterior, que é<br />

ruidosa." (Machado de Assis)<br />

C) "Havia o mal, profundo e persistente,<br />

para o qual o remédio não surtiu efeito,<br />

mesmo em doses variáveis."<br />

(Raimundo Faoro)<br />

D) "Mas, olhe cá, Mana Glória, há<br />

mesmo necessidade de fazê-lo<br />

padre?" (Machado de Assis)<br />

E) "Vamos de qualquer maneira, mas<br />

vamos mesmo." (Aurélio)<br />

Comentário<br />

Nessa questão, uma pequena análise<br />

sintática se faz necessária: mesmo, em<br />

ambos os casos, é conjunção subordinativa<br />

concessiva, introduzindo, portanto, uma<br />

oração subordinada cujo fato expresso é<br />

contrário ao da oração principal. Deve-se,<br />

então, recorrer à oração anterior para se ter<br />

certeza quanto à classificação. Grau<br />

moderado de dificuldade.<br />

Comentário do INEP<br />

Este problema buscou colocar o<br />

participante diante de uma situação que<br />

exigia a mobilização de seus mecanismos de<br />

reflexão sobre os processos lingüísticos em<br />

que um significante (uma palavra) assume<br />

diferentes significados, no enunciado, de<br />

acordo com a intenção do enunciador. Neste<br />

caso, além da compreensão da<br />

transformação de significado, é necessária a<br />

alteração de função morfossintática.<br />

Verifica-se que 62% dos participantes<br />

conseguiram identificar e analisar esse<br />

processo lingüístico, comparando a função<br />

do significante em diferentes enunciados.<br />

Isso demonstrou um domínio parcial da<br />

reflexão sobre a Língua Portuguesa, em<br />

diferentes contextos e textos.<br />

Os 18% dos participantes que<br />

assinalaram a alternativa B identificaram a<br />

diferença de significados mas,<br />

provavelmente, têm dificuldades em analisar<br />

estas mudanças em nível morfossintático<br />

(alternativa B).<br />

03) ( 2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />

poema.<br />

A DANÇA E A ALMA<br />

A DANÇA? Não é movimento,<br />

súbito gesto musical.<br />

É concentração, num momento,<br />

da humana graça natural.<br />

No solo não, no éter pairamos,<br />

nele amaríamos ficar.<br />

A dança – não vento nos ramos:<br />

seiva, força, perene estar.<br />

Um estar entre céu e chão,<br />

novo domínio conquistado,<br />

onde busque nossa paixão<br />

libertar-se por todo lado...<br />

Onde a alma possa descrever<br />

suas mais divinas parábolas<br />

sem fugir à forma do ser,<br />

por sobre o mistério das fábulas.<br />

(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />

Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />

A definição de dança, em linguagem de<br />

dicionário, que mais se aproxima do que<br />

está expresso no poema é<br />

A) a mais antiga das artes, servindo como<br />

elemento de comunicação e afirmação<br />

do homem em todos os momentos de<br />

sua existência.<br />

B) a forma de expressão corporal que<br />

ultrapassa os limites físicos,<br />

possibilitando ao homem a liberação de<br />

seu espírito.<br />

C) a manifestação do ser humano,<br />

formada por uma seqüência de gestos,<br />

passos e movimentos desconcertados.<br />

D) o conjunto organizado de movimentos<br />

do corpo, com ritmo determinado por<br />

instrumentos musicais, ruídos, cantos,<br />

emoções etc.<br />

E) o movimento diretamente ligado ao<br />

psiquismo do indivíduo e, por<br />

conseqüência, ao seu desenvolvimento<br />

intelectual e à sua cultura.<br />

37


Comentário<br />

A pergunta busca a aplicação do conceito<br />

de "estado de dicionário" (que também foi<br />

desenvolvido por Drummond no poema "A<br />

Procura da Poesia"). A literatura busca partir<br />

de palavras em estado de dicionário para,<br />

pelo aprofundamento do sentido delas, criar<br />

um mundo mais denso e particular. Em<br />

estado de dicionário, a dança, conforme é<br />

tratada nesse poema, apareceria na<br />

alternativa B: uma justaposição entre<br />

aspectos físicos e espirituais da expressão<br />

humana. Questão complexa.<br />

Escorpião e do Cruzeiro do Sul, ou<br />

Cut'uxu. Segundo o mito guarani, o<br />

Cut’uxu segura a cabeça da ave para<br />

garantir a vida na Terra, porque, se ela se<br />

soltar, beberá toda a água do nosso<br />

planeta. Os tupisguaranis utilizam o<br />

Cut'uxu para se orientar e determinar a<br />

duração das noites e as estações do ano.<br />

A ilustração a seguir é uma representação<br />

dos corpos celestes que constituem a<br />

constelação da Ema, na percepção<br />

indígena.<br />

04) (2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />

poema.<br />

A DANÇA E A ALMA<br />

A DANÇA? Não é movimento,<br />

súbito gesto musical.<br />

É concentração, num momento,<br />

da humana graça natural.<br />

No solo não, no éter pairamos,<br />

nele amaríamos ficar.<br />

A dança – não vento nos ramos:<br />

seiva, força, perene estar.<br />

Um estar entre céu e chão,<br />

novo domínio conquistado,<br />

onde busque nossa paixão<br />

libertar-se por todo lado...<br />

Onde a alma possa descrever<br />

suas mais divinas parábolas<br />

sem fugir à forma do ser,<br />

por sobre o mistério das fábulas.<br />

(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />

Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />

O poema “A Dança e a Alma” é construído<br />

com base em contrastes, como<br />

“movimento” e “concentração”. Em uma<br />

das estrofes, o termo que estabelece<br />

contraste com solo é:<br />

A) éter. D) paixão.<br />

B) seiva. E) ser.<br />

C) chão.<br />

Comentário<br />

O elemento que contrasta com "solo"<br />

(físico, tangível, perene) é "éter" (espiritual,<br />

intangível, volátil). Questão de nível médio de<br />

dificuldade.<br />

05) ( 2008) O surgimento da figura da Ema<br />

no céu, ao leste, no anoitecer, na segunda<br />

quinzena de junho, indica o início do<br />

inverno para os índios do sul do Brasil e o<br />

começo da estação seca para os do norte.<br />

É limitada pelas constelações de<br />

Almanaque BRASIL, maio/2007 (com adaptações).<br />

A próxima figura mostra, em campo de<br />

visão ampliado, como povos de culturas<br />

não-indígenas percebem o espaço estelar<br />

em que a Ema é vista.<br />

Internet: (com adaptações).<br />

Assinale a opção correta a respeito da<br />

linguagem empregada no texto A Ema.<br />

A) A palavra Cut’uxu é um regionalismo<br />

utilizado pelas populações próximas às<br />

aldeias indígenas.<br />

B) O autor se expressa em linguagem<br />

formal em todos os períodos do texto.<br />

C) A ausência da palavra Ema no início do<br />

período “É limitada (...)” caracteriza<br />

registro oral.<br />

D) A palavra Cut’uxu está destacada em<br />

itálico porque integra o vocabulário da<br />

linguagem informal.<br />

E) No texto, predomina a linguagem<br />

coloquial porque ele consta de um<br />

almanaque.<br />

38


Comentário<br />

A questão é simples, mas requer cuidados<br />

quanto aos conceitos de linguagem<br />

“informal”, “formal” e de “língua”. Se o aluno<br />

tiver noção desses conceitos,<br />

chegará facilmente à resposta. A linguagem<br />

formal ou culta prevalece no texto, e o termo<br />

“Cut’uxu’ não é um termo informal, mas, sim,<br />

uma expressão que pertence a uma língua<br />

indígena — o que justifica o emprego da<br />

palavra em itálico. A resposta correta é,<br />

portanto, a letra "B".<br />

06) (2008) Calcula-se que 78% do<br />

desmatamento na Amazônia tenha sido<br />

motivado pela pecuária — cerca de 35%<br />

do rebanho nacional está na região — e<br />

que pelo menos 50 milhões de hectares<br />

de pastos são pouco produtivos. Enquanto<br />

o custo médio para aumentar a<br />

produtividade de 1 hectare de pastagem é<br />

de 2 mil reais, o custo para derrubar igual<br />

área de floresta é estimado em 800 reais,<br />

o que estimula novos desmatamentos.<br />

Adicionalmente, madeireiras retiram as<br />

árvores de valor comercial que foram<br />

abatidas para a criação de pastagens. Os<br />

pecuaristas sabem que problemas<br />

ambientais como esses podem provocar<br />

restrições à pecuária nessas áreas, a<br />

exemplo do que ocorreu em 2006 com o<br />

plantio da soja, o qual, posteriormente, foi<br />

proibido em áreas de floresta.<br />

Época, 3/3/2008 e 9/6/2008 (com adaptações).<br />

A partir da situação-problema descrita,<br />

conclui-se que<br />

A) o desmatamento na Amazônia decorre<br />

principalmente da exploração ilegal de<br />

árvores de valor comercial.<br />

B) um dos problemas que os pecuaristas<br />

vêm enfrentando na Amazônia é a<br />

proibição do plantio de soja.<br />

C) a mobilização de máquinas e de força<br />

humana torna o desmatamento mais<br />

caro que o aumento da produtividade<br />

de pastagens.<br />

D) o superavit comercial decorrente da<br />

exportação de carne produzida na<br />

Amazônia compensa a possível<br />

degradação ambiental.<br />

E) a recuperação de áreas desmatadas<br />

e o aumento de produtividade das<br />

pastagens podem contribuir para a<br />

redução do desmatamento na<br />

Amazônia.<br />

Comentário<br />

Essa questão retrata o problema do<br />

desmatamento da Amazônia, relacionado<br />

principalmente com o desenvolvimento da<br />

pecuária na região. Para resolvê-la, foram<br />

necessários a leitura atenta do texto e o<br />

conhecimento sobre os problemas<br />

ambientais da atualidade. A alternativa<br />

correta é a letra E, pois é mais caro para os<br />

pecuaristas aumentar a produtividade do que<br />

as áreas de pasto, o que acarreta o aumento<br />

do desmatamento da Amazônia.<br />

07) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />

preciso, além de conhecer o padrão<br />

formal da Língua Portuguesa, saber<br />

adequar o uso da linguagem ao contexto<br />

discursivo. Para exemplificar este fato,<br />

seu professor de Língua Portuguesa<br />

convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />

Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />

brinca com situações de discurso oral que<br />

fogem à expectativa do ouvinte.<br />

Aí, Galera<br />

Jogadores de futebol podem ser<br />

vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />

você pode imaginar um jogador de futebol<br />

dizendo "estereotipação"? E, no<br />

entanto, por que não?<br />

- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />

galera.<br />

- Minha saudação aos aficionados do<br />

clube e aos demais esportistas, aqui<br />

presentes ou no recesso dos seus lares.<br />

- Como é?<br />

- Aí, galera.<br />

- Quais são as instruções do técnico?<br />

- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />

trabalho de contenção coordenada, com<br />

energia otimizada, na zona de<br />

preparação, aumentam as<br />

probabilidades de, recuperado o<br />

esférico, concatenarmos um contragolpe<br />

agudo com parcimônia de meios e<br />

extrema objetividade, valendo-nos da<br />

desestruturação momentânea do<br />

sistema oposto, surpreendido pela<br />

reversão inesperada do fluxo da ação:<br />

- Ahn?<br />

- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />

pegá eles sem calça.<br />

- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />

coisa?<br />

- Posso dirigir uma mensagem de<br />

caráter sentimental, algo banal, talvez<br />

mesmo previsível e piegas, a uma<br />

pessoa à qual sou ligado por razões,<br />

inclusive, genéticas?<br />

39


40<br />

- Pode.<br />

- Uma saudação para a minha<br />

progenitora.<br />

- Como é?<br />

- Alô, mamãe!<br />

- Estou vendo que você é um, um...<br />

- Um jogador que confunde o<br />

entrevistador, pois não corresponde à<br />

expectativa de que o atleta seja um ser<br />

algo primitivo com dificuldade de<br />

expressão e assim sabota a<br />

estereotipação?<br />

- Estereoquê?<br />

- Um chato?<br />

- Isso.<br />

Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />

O texto retrata duas situações<br />

relacionadas que fogem à expectativa do<br />

público. São elas:<br />

A) a saudação do jogador aos fãs do<br />

clube, no início da entrevista, e a<br />

saudação final dirigida à sua mãe.<br />

B) a linguagem muito formal do jogador,<br />

inadequada à situação da entrevista, e<br />

um jogador que fala, com desenvoltura,<br />

de modo muito rebuscado.<br />

C) o uso da expressão "galera", por parte<br />

do entrevistador, e da expressão<br />

"progenitora", por parte do jogador.<br />

D) o desconhecimento, por parte do<br />

entrevistador, da palavra<br />

"estereotipação", e a fala do jogador<br />

em "é pra dividir no meio e ir pra cima<br />

pra pegá eles sem calça".<br />

E) o fato de os jogadores de futebol serem<br />

vítimas de estereotipação e o jogador<br />

entrevistado não corresponder ao<br />

estereótipo.<br />

Comentário<br />

Quando pensamos em certas profissões,<br />

imaginamos qual seria o padrão de<br />

comportamento de quem as exerce. O texto<br />

está trabalhando uma divergência entre o<br />

que esperamos de um jogador de futebol (o<br />

estereótipo que temos dele) e um jogador<br />

que não se enquadra em nossas<br />

expectativas. Levando isso em consideração,<br />

as duas coisas que destoam do que<br />

esperamos encontrar nessa situação são: 1)<br />

alguém, ao dar uma entrevista de alto<br />

alcance popular, fala de maneira<br />

extremamente rebuscada; 2) um jogador que,<br />

ao falar de maneira rebuscada, acaba por<br />

fugir do estereótipo do jogador de futebol, de<br />

quem sempre é esperado algo menos<br />

rebuscado e mais popular.<br />

08) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />

preciso, além de conhecer o padrão<br />

formal da Língua Portuguesa, saber<br />

adequar o uso da linguagem ao contexto<br />

discursivo. Para exemplificar este fato,<br />

seu professor de Língua Portuguesa<br />

convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />

Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />

brinca com situações de discurso oral que<br />

fogem à expectativa do ouvinte.<br />

Aí, Galera<br />

Jogadores de futebol podem ser<br />

vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />

você pode imaginar um jogador de futebol<br />

dizendo "estereotipação"? E, no<br />

entanto, por que não?<br />

- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />

galera.<br />

- Minha saudação aos aficionados do<br />

clube e aos demais esportistas, aqui<br />

presentes ou no recesso dos seus lares.<br />

- Como é?<br />

- Aí, galera.<br />

- Quais são as instruções do técnico?<br />

- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />

trabalho de contenção coordenada, com<br />

energia otimizada, na zona de<br />

preparação, aumentam as<br />

probabilidades de, recuperado o<br />

esférico, concatenarmos um contragolpe<br />

agudo com parcimônia de meios e<br />

extrema objetividade, valendo-nos da<br />

desestruturação momentânea do<br />

sistema oposto, surpreendido pela<br />

reversão inesperada do fluxo da ação:<br />

- Ahn?<br />

- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />

pegá eles sem calça.<br />

- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />

coisa?<br />

- Posso dirigir uma mensagem de<br />

caráter sentimental, algo banal, talvez<br />

mesmo previsível e piegas, a uma<br />

pessoa à qual sou ligado por razões,<br />

inclusive, genéticas?<br />

- Pode.<br />

- Uma saudação para a minha<br />

progenitora.<br />

- Como é?<br />

- Alô, mamãe!<br />

- Estou vendo que você é um, um...<br />

- Um jogador que confunde o<br />

entrevistador, pois não corresponde à<br />

expectativa de que o atleta seja um ser<br />

algo primitivo com dificuldade de<br />

expressão e assim sabota a<br />

estereotipação?<br />

- Estereoquê?


- Um chato?<br />

- Isso.<br />

Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />

O texto mostra uma situação em que a<br />

linguagem usada é inadequada ao<br />

contexto. Considerando as diferenças<br />

entre língua oral e língua escrita, assinale<br />

a opção que representa também uma<br />

inadequação da linguagem usada ao<br />

contexto:<br />

A) "o carro bateu e capotô, mas num deu<br />

pra vê direito" - um pedestre que<br />

assistiu ao acidente comenta com o<br />

outro que vai passando.<br />

B) "E aí, ô meu! Como vai essa força?" -<br />

um jovem que fala para um amigo.<br />

C) "Só um instante, por favor. Eu<br />

gostaria de fazer uma observação" -<br />

alguém comenta em uma reunião de<br />

trabalho.<br />

D) "Venho manifestar meu interesse em<br />

candidatar-me ao cargo de Secretária<br />

Executiva desta conceituada empresa"<br />

- alguém que escreve uma carta<br />

candidatando-se a um emprego.<br />

E) "Porque se a gente não resolve as<br />

coisas como têm que ser, a gente corre<br />

o risco de termos, num futuro próximo,<br />

muito pouca comida nos lares<br />

brasileiros" - um professor universitário<br />

em um congresso internacional.<br />

Comentário<br />

Essa questão está trabalhando com as<br />

nossas expectativas. Esperamos encontrar,<br />

nas diferentes situações, linguagens que<br />

correspondam à formalidade (ou à<br />

informalidade) delas. Na alternativa E, como<br />

o professor universitário está falando em um<br />

congresso internacional, espera-se que ele<br />

utilize uma linguagem mais formal e não uma<br />

linguagem coloquial como a que usou. Em<br />

todas as outras situações, a linguagem está<br />

de acordo com a situação em que está sendo<br />

empregada.<br />

09) (2007) Texto I<br />

Agora Fabiano conseguia arranjar as<br />

idéias. O que o segurava era a família.<br />

Vivia preso como um novilho amarrado ao<br />

mourão, suportando ferro quente. Se não<br />

fosse isso, um soldado amarelo não lhe<br />

pisava o pé não. (...) Tinha aqueles<br />

cambões pendurados ao pescoço.<br />

Deveria continuar a arrastá-los? Sinha<br />

Vitória dormia mal na cama de varas. Os<br />

meninos eram uns brutos, como o pai.<br />

Quando crescessem, guardariam as reses<br />

de um patrão invisível, seriam pisados,<br />

maltratados, machucados por um soldado<br />

amarelo.<br />

Graciliano Ramos. Vidas Secas. São Paulo:<br />

Martins, 23.ª ed., 1969, p. 75.<br />

Texto II<br />

Para Graciliano, o roceiro pobre é um<br />

outro, enigmático, impermeável. Não há<br />

solução fácil para uma tentativa de<br />

incorporação dessa figura no campo da<br />

ficção. É lidando com o impasse, ao invés<br />

de fáceis soluções, que Graciliano vai<br />

criar Vidas Secas, elaborando uma<br />

linguagem, uma estrutura romanesca,<br />

uma constituição de narrador em que<br />

narrador e criaturas se tocam, mas não se<br />

identificam. Em grande medida, o debate<br />

acontece porque, para a intelectualidade<br />

brasileira naquele momento, o pobre, a<br />

despeito de aparecer idealizado em certos<br />

aspectos, ainda é visto como um ser<br />

humano de segunda categoria, simples<br />

demais, incapaz de ter pensamentos<br />

demasiadamente complexos. O que Vidas<br />

Secas faz é, com pretenso não<br />

envolvimento da voz que controla a<br />

narrativa, dar conta de uma riqueza<br />

humana de que essas pessoas seriam<br />

plenamente capazes.<br />

Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes. In:<br />

Teresa. São Paulo: USP, n.° 2, 2001, p. 254.<br />

No texto II, verifica-se que o autor utiliza<br />

A) linguagem predominantemente<br />

formal, para problematizar, na<br />

composição de Vidas Secas, a relação<br />

entre o escritor e o personagem<br />

popular.<br />

B) linguagem inovadora, visto que, sem<br />

abandonar a linguagem formal, dirigese<br />

diretamente ao leitor.<br />

C) linguagem coloquial, para narrar<br />

coerentemente uma história que<br />

apresenta o roceiro pobre de forma<br />

pitoresca.<br />

D) linguagem formal com recursos<br />

retóricos próprios do texto literário em<br />

prosa, para analisar determinado<br />

momento da literatura brasileira.<br />

E) linguagem regionalista, para transmitir<br />

informações sobre literatura, valendose<br />

de coloquialismo, para facilitar o<br />

entendimento do texto.<br />

Comentário<br />

Questão de nível médio. Algumas<br />

alternativas poderiam levar o candidato a<br />

pensar que o texto de Vidas Secas utiliza<br />

41


uma linguagem predominantemente coloquial<br />

e regionalista. Entretanto, é na alternativa A<br />

que se encontra o real estilo da linguagem<br />

utilizada por Graciliano Ramos. A linguagem<br />

é, portanto, predominantemente formal e<br />

problematiza a relação do escritor com o<br />

personagem popular. Esta acaba sendo uma<br />

das grandes características do autor, pois ele<br />

buscava sempre dar uma grande densidade<br />

psicológica aos seus romances.<br />

<strong>10</strong>) (2006) Depois de um bom jantar: feijão<br />

com carne-seca, orelha de porco e couve<br />

com angu, arroz-mole engordurado, carne<br />

de vento assada no espeto, torresmo<br />

enxuto de toicinho da barriga, viradinho de<br />

milho verde e um prato de caldo de couve,<br />

jantar encerrado por um prato fundo de<br />

canjica com torrões de açúcar, Nhô Tomé<br />

saboreou o café forte e se estendeu na<br />

rede. A mão direita sob a cabeça, à guisa<br />

de travesseiro, o indefectível cigarro de<br />

palha entre as pontas do indicador e do<br />

polegar, envernizados pela fumaça, de<br />

unhas encanoadas e longas, ficou-se de<br />

pança para o ar, modorrento, a olhar para<br />

as ripas do telhado.<br />

Quem come e não deita, a comida não<br />

aproveita, pensava Nhô Tomé... E pôs-se<br />

a cochilar. A sua modorra durou pouco;<br />

Tia Policena, ao passar pela sala, bradou<br />

assombrada:<br />

— Êêh! Sinhô! Vai drumi agora? Não!<br />

Num presta... Dá pisadêra e póde morrê<br />

de ataque de cabeça! Despois do armoço<br />

num far-má... mais despois da janta?!”<br />

Cornélio Pires. Conversas ao pé do fogo. São Paulo:<br />

Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1987.<br />

Nesse trecho, extraído de texto publicado<br />

originalmente em 1921, o narrador<br />

A) apresenta, sem explicitar juízos de<br />

valor, costumes da epoca, descrevendo<br />

os pratos servidos no jantar e a atitude<br />

de Nhô Tomé e de Tia Policena.<br />

B) desvaloriza a norma culta da língua<br />

porque incorpora à narrativa usos<br />

próprios da linguagem regional das<br />

personagens.<br />

C) condena os hábitos descritos, dando<br />

voz a Tia Policena, que tenta impedir<br />

Nhô Tomé de deitar-se após as<br />

refeições.<br />

D) utiliza a diversidade sociocultural e<br />

lingüística para demonstrar seu<br />

desrespeito às populações das zonas<br />

rurais do início do século XX.<br />

E) manifesta preconceito em relação a Tia<br />

Policena ao transcrever a fala dela com<br />

os erros próprios da região.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil, pois a alternativa<br />

"A" deixa clara a intencionalidade do<br />

narrador. Entretanto, o aluno poderia optar<br />

pela alternativa "B" caso não desse o devido<br />

valor ao sentido da palavra “desvaloriza”, que<br />

a elimina.<br />

11) (2006) Aula de português<br />

Explorando a função emotiva da<br />

linguagem, o poeta expressa o contraste<br />

entre marcas de variação de usos da<br />

linguagem em<br />

A) situações formais e informais.<br />

B) diferentes regiões do país.<br />

C) escolas literárias distintas.<br />

D) textos técnicos e poéticos.<br />

E) diferentes épocas.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil, pois o próprio título<br />

nos dá uma noção da dificuldade de<br />

transformar a linguagem coloquial e de uso<br />

cotidiano em uma linguagem formal,<br />

expressa no poema como “a misteriosa”.<br />

Drummond foi muito feliz em conseguir<br />

demonstrar a dificuldade em entender como<br />

estruturas simples da língua se tornam tão<br />

42


complexas ao se iniciar o processo de<br />

compreensão da estrutura lingüística.<br />

12) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />

preciso, além de conhecer o padrão<br />

formal da Língua Portuguesa, saber<br />

adequar o uso da linguagem ao contexto<br />

discursivo. Para exemplificar este fato,<br />

seu professor de Língua Portuguesa<br />

convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />

Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />

brinca com situações de discurso oral que<br />

fogem à expectativa do ouvinte.<br />

Aí, Galera<br />

Jogadores de futebol podem ser<br />

vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />

você pode imaginar um jogador de futebol<br />

dizendo "estereotipação"? E, no<br />

entanto, por que não?<br />

- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />

galera.<br />

- Minha saudação aos aficionados do<br />

clube e aos demais esportistas, aqui<br />

presentes ou no recesso dos seus lares.<br />

- Como é?<br />

- Aí, galera.<br />

- Quais são as instruções do técnico?<br />

- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />

trabalho de contenção coordenada, com<br />

energia otimizada, na zona de<br />

preparação, aumentam as<br />

probabilidades de, recuperado o<br />

esférico, concatenarmos um contragolpe<br />

agudo com parcimônia de meios e<br />

extrema objetividade, valendo-nos da<br />

desestruturação momentânea do<br />

sistema oposto, surpreendido pela<br />

reversão inesperada do fluxo da ação:<br />

- Ahn?<br />

- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />

pegá eles sem calça.<br />

- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />

coisa?<br />

- Posso dirigir uma mensagem de<br />

caráter sentimental, algo banal, talvez<br />

mesmo previsível e piegas, a uma<br />

pessoa à qual sou ligado por razões,<br />

inclusive, genéticas?<br />

- Pode.<br />

- Uma saudação para a minha<br />

progenitora.<br />

- Como é?<br />

- Alô, mamãe!<br />

- Estou vendo que você é um, um...<br />

- Um jogador que confunde o<br />

entrevistador, pois não corresponde à<br />

expectativa de que o atleta seja um ser<br />

algo primitivo com dificuldade de<br />

expressão e assim sabota a<br />

estereotipação?<br />

- Estereoquê?<br />

- Um chato?<br />

- Isso.<br />

Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />

A expressão "pegá eles sem calça"<br />

poderia ser substituída, sem<br />

comprometimento de sentido, em língua<br />

culta, formal, por:<br />

A) pegá-los na mentira.<br />

B) pegá-los desprevenidos.<br />

C) pegá-los em flagrante.<br />

D) pegá-los rapidamente.<br />

E) pegá-los momentaneamente<br />

Comentário<br />

O trabalho que temos aqui é de<br />

compreensão de sentido. Se você nunca<br />

ouviu a expressão "de calças na mão", terá<br />

de imaginar o que acontece quando<br />

pegamos alguém nessa situação. Mas isso<br />

não basta. Se usar somente situações que<br />

pode imaginar, restarão as alternativas B e<br />

C. Esse problema só será solucionado se<br />

você entender bem o texto a que ele se<br />

refere. Como o jogador está falando em<br />

roubar a bola e partir para cima do adversário<br />

rapidamente, imagina-se que o adversário<br />

não esperava perder a bola naquele<br />

momento e, quando isso ocorreu, ele não<br />

estava preparado para receber um contraataque.<br />

Utilizando essa análise, somente a<br />

alternativa B está correta.<br />

13) (2000) Em uma conversa ou leitura de<br />

um texto, corre-se o risco de atribuir um<br />

significado inadequado a um termo ou<br />

expressão, e isso pode levar a certos<br />

resultados inesperados, como se vê nos<br />

quadrinhos abaixo.<br />

(SOUZA, Maurício de. Chico Bento.<br />

Rio de Janeiro: Ed. Globo, n o 335, Nov./99 )<br />

Nessa historinha, o efeito humorístico<br />

origina-se de uma situação criada pela<br />

fala da Rosinha no primeiro quadrinho,<br />

que é:<br />

43


A) Faz uma pose bonita!<br />

B) Quer tirar um retrato?<br />

C) Sua barriga está aparecendo!<br />

D) Olha o passarinho!<br />

E) Cuidado com o flash!<br />

Comentário<br />

Quem não se lembra de expressões<br />

humorísticas usadas quando se deseja tirar<br />

uma foto, como "Olha o passarinho" ou "Fale<br />

xis"?<br />

Pois é, essa é uma questão fácil e a<br />

interpretação do texto é simples, e não há<br />

por que ter dúvidas quanto à resposta, a não<br />

ser que não se leia a proposta da questão.<br />

Comentário do INEP<br />

Essa questão procurou avaliar se o<br />

participante conseguia inferir, a partir de uma<br />

seqüência narrativa de imagens, a expressão<br />

lingüística adequada à situação de<br />

interlocução, no caso a fala da personagem,<br />

no primeiro quadrinho. A expressão de uso<br />

coloquial 'olha o passarinho!', dependendo do<br />

contexto, tem diferentes significados, que<br />

nesse caso foram associados pelo cartunista<br />

para produzir o efeito de humor. A grande<br />

maioria - 89% - dos participantes realizou a<br />

inferência solicitada, analisando a função da<br />

linguagem e identificando a variante<br />

lingüística adequada à situação de<br />

interlocução, com base na leitura da<br />

seqüência das imagens e da fala da<br />

personagem no terceiro quadrinho. É<br />

interessante notar a abrangência dessa<br />

expressão metafórica no Brasil, criada no<br />

contexto informal da fala com seus<br />

significados correspondentes. Mesmo assim,<br />

11% dos participantes, possivelmente,<br />

desconhecem essa expressão ou não<br />

conseguiram realizar a transposição do<br />

significado humorístico da fala do último<br />

quadrinho.<br />

14) (2005) Leia com atenção o texto:<br />

[Em Portugal], você poderá ter alguns<br />

probleminhas se entrar numa loja de<br />

roupas desconhecendo certas sutilezas da<br />

língua. Por exemplo, não adianta pedir<br />

para ver os ternos — peça para ver os<br />

fatos. Paletó é casaco. Meias são<br />

peúgas. Suéter é camisola — mas não<br />

se assuste, porque calcinhas femininas<br />

são cuecas. (Não é uma delícia?)<br />

(Ruy Castro. Viaje Bem. Ano VIII, no 3, 78.)<br />

O texto destaca a diferença entre o<br />

português do Brasil e o de Portugal<br />

quanto<br />

A) ao vocabulário.<br />

B) à derivação.<br />

C) à pronúncia.<br />

D) ao gênero.<br />

E) à sintaxe.<br />

Comentário<br />

Questão de entendimento muito fácil, pois<br />

o próprio enunciado deixa claro que se trata<br />

das diferenças de vocabulário entre o<br />

português brasileiro e o lusitano.<br />

15) (2006) Aula de português<br />

No poema, a referência à variedade<br />

padrão da língua está expressa no<br />

seguinte trecho:<br />

A) “A linguagem / na ponta da língua” (v.1<br />

e 2).<br />

B) “A linguagem / na superfície<br />

estrelada de letras” (v.5 e 6).<br />

C) “[a língua] em que pedia para ir lá<br />

fora” (v.14).<br />

D) “[a língua] em que levava e dava<br />

pontapé” (v.15).<br />

E) “[a língua] do namoro com a priminha”<br />

(v.17).<br />

44


Comentário<br />

Questão fácil, pois a alternativa "B" é a<br />

única que faz menção à norma-padrão da<br />

língua. As demais alternativas fogem a essa<br />

norma.<br />

16) (2005) Leia com atenção o texto:<br />

[Em Portugal], você poderá ter alguns<br />

probleminhas se entrar numa loja de<br />

roupas desconhecendo certas sutilezas da<br />

língua. Por exemplo, não adianta pedir<br />

para ver os ternos — peça para ver os<br />

fatos. Paletó é casaco. Meias são<br />

peúgas. Suéter é camisola — mas não<br />

se assuste, porque calcinhas femininas<br />

são cuecas. (Não é uma delícia?)<br />

(Ruy Castro. Viaje Bem. Ano VIII, no 3, 78.)<br />

O texto destaca a diferença entre o<br />

português do Brasil e o de Portugal<br />

quanto<br />

A) ao vocabulário.<br />

B) à derivação.<br />

C) à pronúncia.<br />

D) ao gênero.<br />

E) à sintaxe.<br />

Comentário<br />

Questão de entendimento muito fácil, pois<br />

o próprio enunciado deixa claro que se trata<br />

das diferenças de vocabulário entre o<br />

português brasileiro e o lusitano.<br />

17) (2008) A Lei Federal n.º 9.985/2000, que<br />

instituiu o sistema nacional de unidades<br />

de conservação, define dois tipos de<br />

áreas protegidas. O primeiro, as unidades<br />

de proteção integral, tem por objetivo<br />

preservar a natureza, admitindo-se<br />

apenas o uso indireto dos seus recursos<br />

naturais, isto é, aquele que não envolve<br />

consumo, coleta, dano ou destruição dos<br />

recursos naturais. O segundo, as<br />

unidades de uso sustentável, tem por<br />

função compatibilizar a conservação da<br />

natureza com o uso sustentável de<br />

parcela dos recursos naturais. Nesse<br />

caso, permite-se a exploração do<br />

ambiente de maneira a garantir a<br />

perenidade dos recursos ambientais<br />

renováveis e dos processos ecológicos,<br />

mantendo-se a biodiversidade e os<br />

demais atributos ecológicos, de forma<br />

socialmente justa e economicamente<br />

viável.<br />

Considerando essas informações, analise<br />

a seguinte situação hipotética.<br />

Ao discutir a aplicação de recursos<br />

disponíveis para o desenvolvimento de<br />

determinada região, organizações civis,<br />

universidade e governo resolveram<br />

investir na utilização de uma unidade de<br />

proteção integral, o Parque Nacional do<br />

Morro do Pindaré, e de uma unidade de<br />

uso sustentável, a Floresta Nacional do<br />

Sabiá. Depois das discussões, a equipe<br />

resolveu levar adiante três projetos:<br />

— o projeto I consiste de pesquisas<br />

científicas embasadas exclusivamente<br />

na observação de animais;<br />

— o projeto II inclui a construção de uma<br />

escola e de um centro de vivência;<br />

— o projeto III promove a organização de<br />

uma comunidade extrativista que<br />

poderá coletar e explorar<br />

comercialmente frutas e sementes<br />

nativas.<br />

Nessa situação hipotética, atendendo-se à<br />

lei mencionada acima, é possível<br />

desenvolver tanto na unidade de proteção<br />

integral quanto na de uso sustentável<br />

A) apenas o projeto I.<br />

B) apenas o projeto III.<br />

C) apenas os projetos I e II.<br />

D) apenas os projetos II e III.<br />

E) todos os três projetos.<br />

Comentário do portal<br />

A alternativa correta é a letra "A", pois,<br />

analisando-se a situação hipotética sugerida<br />

no enunciado, percebe-se que ela deverá<br />

atender os requisitos tanto da unidade de<br />

proteção integral quanto da unidade de uso<br />

sustentável. Portanto, apenas o projeto I<br />

poderá ser desenvolvido nessas duas<br />

propostas de unidades.<br />

18) (1999) Leia o texto abaixo.<br />

Cabelos longos, brinco na orelha<br />

esquerda, físico de skatista. Na aparência,<br />

o estudante brasiliense Rui Lopes Viana<br />

Filho, de 16 anos, não lembra em nada o<br />

estereótipo dos gênios. Ele não usa<br />

pesados óculos de grau e está longe de<br />

ter um ar introspectivo. No final do mês<br />

passado, Rui retornou de Taiwan, onde<br />

enfrentou 419 competidores de todo o<br />

mundo na 39ª Olimpíada Internacional de<br />

Matemática. A reluzente medalha de ouro<br />

que ele trouxe na bagagem está<br />

dependurada sobre a cama de seu quarto,<br />

atulhado de rascunhos dos problemas<br />

matemáticos que aprendeu a decifrar nos<br />

últimos cinco anos.<br />

45


46<br />

Veja – Vencer uma olimpíada serve de<br />

passaporte para uma carreira profissional<br />

meteórica?<br />

Rui – Nada disso. Decidi me dedicar à<br />

Olimpíada porque sei que a concorrência<br />

por um emprego é cada vez mais<br />

selvagem e cruel. Agora tenho algo a mais<br />

para oferecer. O problema é que as coisas<br />

estão mudando muito rápido e não sei<br />

qual será minha profissão. Além de ser<br />

muito novo para decidir sobre o meu<br />

futuro profissional, sei que esse conceito<br />

de carreira mudou muito.<br />

(Entrevista de Rui Lopes Viana Filho à Veja,<br />

05/08/1998, n.31, p. 9-<strong>10</strong>)<br />

Na pergunta, o repórter estabelece uma<br />

relação entre a entrada do estudante no<br />

mercado de trabalho e a vitória na<br />

Olimpíada. O estudante<br />

A) concorda com a relação e afirma que o<br />

desempenho na Olimpíada é<br />

fundamental para sua entrada no<br />

mercado.<br />

B) discorda da relação e complementa<br />

que é fácil se fazer previsões sobre o<br />

mercado de trabalho.<br />

C) discorda da relação e afirma que seu<br />

futuro profissional independe de<br />

dedicação aos estudos.<br />

D) discorda da relação e afirma que seu<br />

desempenho só é relevante se<br />

escolher uma profissão relacionada à<br />

matemática.<br />

E) concorda em parte com a relação e<br />

complementa que é complexo fazer<br />

previsões sobre o mercado de trabalho.<br />

Comentário<br />

Não é difícil de se chegar à resposta<br />

correta ao se ler a reportagem. Ao final do<br />

último parágrafo — (...) Além de ser muito<br />

novo para decidir sobre o meu futuro<br />

profissional, sei que esse conceito de carreira<br />

mudou muito. —, o estudante praticamente<br />

fornece a resposta à questão, declarando-se<br />

realista ao não tentar prever seu futuro<br />

profissional devido à pouca idade e às<br />

mudanças no mercado de trabalho. Quanto a<br />

concordar parcialmente com o repórter, veja<br />

que ele, apesar de negar que o prêmio fosse<br />

uma garantia de sucesso profissional, logo<br />

depois afirma que, com ele, terá algo mais a<br />

oferecer ao mercado. Questão de nível fácil.<br />

Comentário do INEP<br />

Nesta situação-problema, o participante<br />

deveria demonstrar que compreendeu as<br />

premissas de um discurso, distinguindo a<br />

diferença de significado de palavras isoladas<br />

ou no contexto em que estão inseridas.<br />

Verificou-se que mais da metade dos<br />

participantes demonstrou possuir essa<br />

compreensão. Aqueles que optaram pelas<br />

alternativas C e D podem ter sido atraídos<br />

pelo significado negativo da expressão inicial<br />

"Nada disso".<br />

19) (1998) Texto 1<br />

"Mulher, Irmã, escuta-me: não ames,<br />

Quando a teus pés um homem terno e<br />

curvo<br />

jurar amor, chorar pranto de sangue,<br />

Não creias, não, mulher: ele te engana!<br />

As lágrimas são gotas da mentira<br />

E o juramento manto da perfídia."<br />

(Joaquim Manoel de Macedo)<br />

Texto 2<br />

"Teresa, se algum sujeito bancar o<br />

sentimental em cima de você<br />

E te jurar uma paixão do tamanho de um<br />

bonde<br />

Se ele chorar<br />

Se ele ajoelhar<br />

Se ele se rasgar todo<br />

Não acredite não Teresa<br />

É lágrima de cinema<br />

É tapeação<br />

Mentira<br />

CAI FORA"<br />

(Manuel Bandeira)<br />

Os autores, ao fazerem alusão às<br />

imagens da lágrima sugerem que:<br />

A) há um tratamento idealizado da<br />

relação homem/mulher.<br />

B) há um tratamento realista da relação<br />

homem/mulher.<br />

C) a relação familiar é idealizada.<br />

D) a mulher é superior ao homem.<br />

E) a mulher é igual ao homem.<br />

Comentário<br />

Ambos os autores, ao utilizarem a<br />

imagem da lágrima, estão na realidade<br />

mostrando que a figura do homem que é<br />

romântico a ponto de chorar ao jurar amor<br />

não existe. Tanto Macedo quanto<br />

Bandeira alertam as mulheres dizendo,<br />

com palavras e estilos diferentes, que não<br />

há homem que chore por amor (portanto,<br />

essa figura é uma idealização — e, por<br />

conseguinte, toda imagem que se tem<br />

sobre os relacionamentos<br />

demasiadamente românticos). Note que<br />

Bandeira chega até mesmo a chamar tal<br />

"chorão" de ator ("...É lágrima de cinema /


É tapeação..."). Macedo dá uma imagem<br />

pesada às lágrimas ("...são gotas da<br />

mentira...").<br />

20) (1999)<br />

(QUINO. Mafalda inédita. São Paulo: Martins Fontes, 1993)<br />

Observando as falas das personagens,<br />

analise o emprego do pronome SE e o<br />

sentido que adquire no contexto. No<br />

contexto da narrativa, é correto afirmar<br />

que o pronome SE:<br />

A) em I, indica reflexividade e equivale a<br />

"a si mesmas".<br />

B) em II, indica reciprocidade e equivale a<br />

"a si mesma".<br />

C) em III, indica reciprocidade e equivale<br />

a "umas às outras".<br />

D) em I e III, indica reciprocidade e<br />

equivale a "umas às outras".<br />

E) em II e III, indica reflexividade e<br />

equivale a "a si mesma " e "a si<br />

mesmas", respectivamente.<br />

Comentário<br />

Mais uma questão que fala por si própria.<br />

Lendo o segundo quadrinho — "Quer dizer<br />

que você também se ama muito mais no<br />

Natal?" —, é fácil de se identificar o pronome<br />

reflexivo. Basta que se troque se ama por<br />

ama a si mesma. O mesmo ocorre no<br />

terceiro quadrinho em "Por que será que as<br />

pessoas se amam muito mais no Natal?" —<br />

Por que será que as pessoas amam a si<br />

mesmas? Questão de grau fácil.<br />

Comentário do INEP<br />

Este problema requeria que o participante<br />

mobilizasse conhecimentos sobre os<br />

significados de "reciprocidade e<br />

"reflexividade" e o associasse à<br />

compreensão de linguagem iconográfica.<br />

Cerca de metade dos participantes<br />

demonstrou essa capacidade. A opção de<br />

30% dos participantes pela alternativa D<br />

pode indicar que eles utilizaram as imagens<br />

apenas como ilustração do texto e não como<br />

linguagem capaz de instituir novos<br />

significados.<br />

21) (2001) Os provérbios constituem um<br />

produto da sabedoria popular e, em geral,<br />

pretendem transmitir um ensinamento. A<br />

alternativa em que os dois provérbios<br />

remetem a ensinamentos semelhantes é:<br />

A) “Quem diz o que quer, ouve o que não<br />

quer” e “Quem ama o feio, bonito lhe<br />

parece”.<br />

B) “Devagar se vai ao longe” e “De grão<br />

em grão, a galinha enche o papo”.<br />

C) “Mais vale um pássaro na mão do que<br />

dois voando” e “Não se deve atirar<br />

pérolas aos porcos”.<br />

D) “Quem casa quer casa” e “Santo de<br />

casa não faz milagre”.<br />

E) “Quem com ferro fere, com ferro será<br />

ferido” e “Casa de ferreiro, espeto de<br />

pau”.<br />

Comentário<br />

Questão fácil. A alternativa B apresenta<br />

dois provérbios que tratam de paciência,<br />

perseverança. A mensagem é a mesma em<br />

ambos.<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão propõe uma série de<br />

provérbios agrupados aos pares, para que o<br />

participante demonstre compreender e<br />

comparar os provérbios de modo a identificar<br />

aqueles que traduzem ensinamentos<br />

semelhantes. A organização sintáticosemântica<br />

dos provérbios cria um efeito de<br />

sentido metafórico que deve ser recuperado,<br />

analisado e comparado, o que foi<br />

corretamente feito por cerca de 80% dos<br />

participantes.<br />

22) (2006) No romance Vidas Secas, de<br />

Graciliano Ramos, o vaqueiro Fabiano<br />

encontra-se com o patrão para receber o<br />

salário. Eis parte da cena:<br />

Graciliano Ramos. Vidas Secas. 91.ª ed.<br />

Rio de Janeiro: Record, 2003.<br />

No fragmento transcrito, o padrão formal<br />

da linguagem convive com marcas de<br />

regionalismo e de coloquialismo no<br />

47


vocabulário. Pertence à variedade do<br />

padrão formal da linguagem o seguinte<br />

trecho:<br />

A) Não se conformou: devia haver<br />

engano (l.1).<br />

B) Fabiano perdeu os estribos (l.3).<br />

C) Passar a vida inteira assim no toco<br />

(l.4).<br />

D) Entregando o que era dele de mao<br />

beijada! (l.4-5).<br />

E) Aí Fabiano baixou a pancada e<br />

amunhecou (l.11).<br />

Comentário do portal<br />

Questão de nível fácil. Bastaria que o<br />

candidato conhecesse o padrão formal da<br />

linguagem e distinguisse-o do regionalismo e<br />

do coloquialismo.<br />

23) (2005) As dimensões continentais do<br />

Brasil são objeto de reflexões expressas<br />

em diferentes linguagens. Esse tema<br />

aparece no seguinte poema:<br />

“(....)<br />

Que importa que uns falem mole<br />

descansado<br />

Que os cariocas arranhem os erres na<br />

garganta<br />

Que os capixabas e paroaras escancarem<br />

as vogais?<br />

Que tem se o quinhentos réis meridional<br />

Vira cinco tostões do Rio pro Norte?<br />

Junto formamos este assombro de<br />

misérias e grandezas,<br />

Brasil, nome de vegetal! (....)”<br />

(Mário de Andrade. Poesias completas. 6. ed. São Paulo:<br />

Martins Editora, 1980.)<br />

O texto poético ora reproduzido trata das<br />

diferenças brasileiras no âmbito<br />

A) étnico e religioso.<br />

B) lingüístico e econômico.<br />

C) racial e folclórico.<br />

D) histórico e geográfico.<br />

E) literário e popular.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil, pois a primeira<br />

estrofe, ao enunciar os erres arranhados dos<br />

cariocas e as vogais abertas dos capixabas,<br />

evidencia a diferença lingüística entre duas<br />

regiões distintas do Brasil, dando noção da<br />

variedade. Já na segunda estrofe, as<br />

diferenças econômicas são evidenciadas ao<br />

se mostrarem os réis e tostões variando da<br />

Região Meridional para a Norte.<br />

24) (202) "Narizinho correu os olhos pela<br />

assistência. Não podia haver nada mais<br />

curioso. Besourinhos de fraque e flores na<br />

lapela conversavam com baratinhas de<br />

mantilha e miosótis nos cabelos. Abelhas<br />

douradas, verdes e azuis, falavam mal<br />

das vespas de cintura fina — achando que<br />

era exagero usarem coletes tão<br />

apertados. Sardinhas aos centos<br />

criticavam os cuidados excessivos que as<br />

borboletas de toucados de gaze tinham<br />

com o pó das suas asas. Mamangavas de<br />

ferrões amarrados para não morderem. E<br />

canários cantando, e beija-flores beijando<br />

flores, e camarões camaronando, e<br />

caranguejos caranguejando, tudo que é<br />

pequenino e não morde, pequeninando e<br />

não mordendo."<br />

LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. São Paulo:<br />

Brasiliense, 1947.<br />

No último período do trecho, há uma série<br />

de verbos no gerúndio que contribuem<br />

para caracterizar o ambiente fantástico<br />

descrito. Expressões como<br />

"camaronando", "caranguejando" e<br />

"pequeninando e não mordendo" criam,<br />

principalmente, efeitos de<br />

A) esvaziamento de sentido.<br />

B) monotonia do ambiente.<br />

C) estaticidade dos animais.<br />

D) interrupção dos movimentos.<br />

E) dinamicidade do cenário.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. O dinamismo dos<br />

verbos no gerúndio tem como função<br />

principal dar vida às personagens do mundo<br />

fantástico. Não há estagnação. Cada animal<br />

faz o que lhe cabe.<br />

Comentário do INEP<br />

Essa questão apresenta para leitura e<br />

análise um trecho da obra Reinações de<br />

Narizinho, de Monteiro Lobato, e, nele, a<br />

descrição reflete as fantasias do mundo<br />

infantil. A questão propõe que seja resolvido<br />

um problema de linguagem, que é a<br />

identificação dos sentidos criados no texto<br />

pelo emprego de vários verbos no gerúndio,<br />

alguns dos quais, neologismos criados pelo<br />

autor. Como o texto é uma descrição, temos<br />

o relato de um ambiente que se agita com as<br />

ações simultâneas dos muitos seres que o<br />

habitam. Cabe ao participante perceber que<br />

o efeito dinâmico é criado pelos verbos de<br />

ação no gerúndio, que é a forma verbal da<br />

ação se fazendo. Ou seja, é função típica do<br />

gerúndio traduzir a noção de uma ação que<br />

48


se desenvolve de modo simultâneo à sua<br />

enunciação. Nesse ambiente retratado por<br />

Monteiro Lobato, os bichinhos humanizados<br />

se agitam, lembrando um burburinho de<br />

crianças. Apenas a alternativa E, assinalada<br />

por 36% dos participantes, responde<br />

corretamente a questão. As outras<br />

alternativas contemplam efeitos ou<br />

significados que, apesar de eventualmente<br />

serem transmitidos pelo emprego do<br />

gerúndio, não se verificam no texto.<br />

25) (1999) Considere os textos abaixo.<br />

(...) de modo particular, quero encorajar os<br />

crentes empenhados no campo da<br />

filosofia para que iluminem os diversos<br />

âmbitos da atividade humana, graças ao<br />

exercício de uma razão que se torna mais<br />

segura e perspicaz com o apoio que<br />

recebe da fé.<br />

(Papa João Paulo II. Carta Encíclica Fides<br />

et Ratio aos bispos da igreja católica sobre as relações<br />

entre fé e razão, 1998)<br />

As verdades da razão natural não<br />

contradizem as verdades da fé cristã.<br />

(São Tomás de Aquino<br />

–pensador medieval)<br />

Refletindo sobre os textos, pode-se<br />

concluir que:<br />

A) a encíclica papal está em contradição<br />

com o pensamento de São Tomás de<br />

Aquino, refletindo a diferença de<br />

épocas.<br />

B) a encíclica papal procura<br />

complementar São Tomás de Aquino,<br />

pois este colocava a razão natural<br />

acima da fé.<br />

C) a Igreja medieval valorizava a razão<br />

mais do que a encíclica de João Paulo<br />

II.<br />

D) o pensamento teológico teve sua<br />

importância na Idade Média, mas, em<br />

nossos dias, não tem relação com o<br />

pensamento filosófico.<br />

E) tanto a encíclica papal como a frase<br />

de São Tomás de Aquino procuram<br />

conciliar os pensamentos sobre fé e<br />

razão.<br />

Comentário<br />

Nessa questão, é necessária uma<br />

releitura do texto para que se tenha uma<br />

melhor compreensão do tema. Tanto a<br />

citação do Papa quanto a de São Tomás de<br />

Aquino tentam criar uma interdependência<br />

entre a ciência e a fé, a religião. O Papa<br />

incentiva aqueles que exercem a pesquisa<br />

científica ou filosófica a manter a fé cristã.<br />

São Tomás de Aquino, por sua vez, equipara<br />

o avanço da ciência ao aumento da própria<br />

fé, afirmando que a razão natural não<br />

contradiz a fé cristã. Se um cresce, cresce<br />

também o outro, em harmonia e sem<br />

contradições. Questão de grau médio.<br />

(Português)<br />

Nessa questão, encontramos dois textos:<br />

o primeiro, do século XX, foi elaborado pelo<br />

Papa João Paulo II; o segundo, do século<br />

XIII, pelo teólogo e filósofo cristão São<br />

Tomás de Aquino. O conteúdo de ambos se<br />

refere à ligação entre fé e razão, a qual<br />

esteve presente na filosofia escolástica da<br />

Idade Média. Esse campo de reflexão buscou<br />

conciliar o cristianismo com o pensamento de<br />

Aristóteles e teve em São Tomás de Aquino<br />

seu maior representante.<br />

Mesmo sem ter todas essas informações,<br />

você poderia responder tranqüilamente à<br />

questão por meio de uma leitura atenta dos<br />

dois textos, chegando à conclusão de que<br />

"tanto a encíclica papal como a frase de São<br />

Tomás de Aquino procuram conciliar os<br />

pensamentos sobre fé e razão". Resposta<br />

correta: alternativa E. (História)<br />

Comentário do INEP<br />

Para resolver esta situação-problema, o<br />

participante deveria mostrar que, além de<br />

interpretar textos, sabe relacioná-los sendo<br />

que, nesse item, essas operações referem-se<br />

a um texto escrito na época medieval e a<br />

outro escrito recentemente.<br />

Mais de 70% dos participantes<br />

demonstraram facilidade em estabelecer esta<br />

relação.<br />

26) (2008) Assinale a opção que apresenta<br />

um verso do soneto de Cláudio Manoel da<br />

Costa em que o poeta se dirige ao seu<br />

interlocutor.<br />

A) “Torno a ver-vos, ó montes; o<br />

destino” (v.1)<br />

B) “Aqui estou entre Almendro, entre<br />

Corino,” (v.5)<br />

C) “Os meus fiéis, meus doces<br />

companheiros,” (v.6)<br />

D) “Vendo correr os míseros vaqueiros”<br />

(v.7)<br />

E) “Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto,”<br />

(v.11)<br />

Comentário<br />

Nesta questão, basta que o aluno<br />

identifique o pronome oblíquo, presente no<br />

verso um, que chama o leitor para o texto.<br />

Sendo assim, a resposta correta é a letra "A".<br />

49


27) (2008)<br />

Dick Browne. O melhor de Hagar, o horrível, v. 2. L&PM<br />

pocket, p.55-6 (com adaptações).<br />

Assinale o trecho do diálogo que<br />

apresenta um registro informal, ou<br />

coloquial, da linguagem.<br />

A) “Tá legal, espertinho! Onde é que<br />

você esteve?!”<br />

B) “E lembre-se: se você disser uma<br />

mentira, os seus chifres cairão!”<br />

C) “Estou atrasado porque ajudei uma<br />

velhinha a atravessar a rua...”<br />

D) “...e ela me deu um anel mágico que<br />

me levou a um tesouro”<br />

E) “mas bandidos o roubaram e os<br />

persegui até a Etiópia, onde um<br />

dragão...”<br />

Comentário<br />

Linguagem coloquial é aquela usada no<br />

cotidiano, que tem como característica<br />

principal a oralidade, ou seja, aquela que não<br />

segue o rigor da norma culta.<br />

Entre as alternativas da questão, apenas<br />

a letra "A" apresenta esses traços.<br />

28) (1999) Leia um texto publicado no jornal<br />

Gazeta Mercantil. Esse texto é parte de<br />

um artigo que analisa algumas situações<br />

de crise no mundo, entre elas, a quebra<br />

da Bolsa de Nova Iorque em 1929, e foi<br />

publicado na época de uma iminente crise<br />

financeira no Brasil.<br />

Deu no que deu. No dia 29 de outubro de<br />

1929, uma terça-feira, praticamente não<br />

havia compradores no pregão de Nova<br />

Iorque, só vendedores. Seguiu-se uma<br />

crise incomparável: o Produto Interno<br />

Bruto dos Estados Unidos caiu de <strong>10</strong>4<br />

bilhões de dólares em 1929, para 56<br />

bilhões em 1933, coisa inimaginável em<br />

nossos dias. O valor do dólar caiu a quase<br />

metade. O desemprego elevou-se de 1,5<br />

milhão para 12,5 milhões de trabalhadores<br />

– cerca de 25% da população ativa –<br />

entre 1929 e 1933. A construção civil caiu<br />

90%. Nove milhões de aplicações, tipo<br />

caderneta de poupança, perderam-se com<br />

o fechamento dos bancos. Oitenta e cinco<br />

mil firmas faliram. Houve saques e norteamericanos<br />

que passaram fome.<br />

(Gazeta Mercantil, 05/01/1999)<br />

Ao citar dados referentes à crise ocorrida<br />

em 1929, em um artigo jornalístico atual,<br />

pode-se atribuir ao jornalista a seguinte<br />

intenção:<br />

A) questionar a interpretação da crise.<br />

B) comunicar sobre o desemprego.<br />

C) instruir o leitor sobre aplicações em<br />

bolsa de valores.<br />

D) relacionar os fatos passados e<br />

presentes.<br />

E) analisar dados financeiros americanos.<br />

Comentário<br />

Nessa questão, o que se tem de fazer é<br />

prestar atenção às alternativas das<br />

respostas. Nenhuma delas se apresenta tão<br />

bem contextualizada a uma possível<br />

interpretação quanto a letra D. Partindo-se da<br />

análise do texto, fica claro que a intenção do<br />

artigo é remeter o leitor ao passado para<br />

tentar conduzi-lo a uma reflexão sobre uma<br />

situação presente, não mencionada na<br />

questão. Após a leitura e utilizando-se a já<br />

citada eliminação de questões, torna-se clara<br />

a resposta. Questão de nível médio.<br />

(Português)<br />

Muitas vezes, quando procuramos<br />

entender uma crise econômica ou financeira<br />

de grandes proporções, buscamos<br />

estabelecer relações com crises passadas. O<br />

mesmo ocorre no jornalismo, como prova o<br />

texto encontrado nessa questão. Buscando<br />

entender uma crise ocorrida no início de<br />

1999, o jornalista da Gazeta Mercantil<br />

buscou relacionar a situação dessa época<br />

com a grande crise de 1929 que afetou o<br />

mundo, trazendo desemprego e recessão,<br />

entre tantos outros problemas econômicos e<br />

sociais.<br />

Para responder a essa questão, era<br />

necessário ler atentamente o enunciado, em<br />

que está destacado que "o texto é parte de<br />

um artigo que analisa algumas situações de<br />

crise no mundo" e "foi publicado na época de<br />

uma iminente crise financeira no Brasil". Era<br />

importante também observar a data em que o<br />

artigo foi publicado: 05/01/1999. A partir<br />

dessas constatações, facilmente você<br />

50


chegaria a conclusão de que a intenção do<br />

jornalista era "relacionar os fatos passados e<br />

presentes". Resposta correta: alternativa D.<br />

(História)<br />

Comentário do INEP<br />

A resolução da questão demandava a<br />

capacidade dos participantes de relacionar<br />

eventos históricos envolvendo crises<br />

econômicas ocorridas em épocas e lugares<br />

distintos. Aproximadamente 2/3 deles<br />

demonstraram essa capacidade. Os demais,<br />

provavelmente, não compreenderam a<br />

exigência expressa no enunciado do<br />

problema – apontar as razões pelas quais um<br />

jornalista traz à tona eventos ocorridos<br />

setenta anos antes –, e apenas interpretaram<br />

o sentido do texto citado, que descreve a<br />

crise mundial de 1929.<br />

29) (2000) “Precisa-se nacionais sem<br />

nacionalismo, (...) movidos pelo presente<br />

mas estalando naquele cio racial que só<br />

as tradições maduram! (...). Precisa-se<br />

gentes com bastante meiguice no<br />

sentimento, bastante força na peitaria,<br />

bastante paciência no entusiasmo e<br />

sobretudo, oh! sobretudo bastante<br />

vergonha na cara!<br />

(...) Enfim: precisa-se brasileiros! Assim<br />

está escrito no anúncio vistoso de cores<br />

desesperadas pintado sobre o corpo do<br />

nosso Brasil, camaradas.”<br />

(Jornal A Noite, São Paulo, 18/12/1925 apud LOPES, Telê<br />

Porto Ancona. Mário<br />

de Andrade: ramais e caminhos. São Paulo: Duas<br />

Cidades, 1972)<br />

No trecho acima, Mário de Andrade dá<br />

forma a um dos itens do ideário<br />

modernista, que é o de firmar a feição de<br />

uma língua mais autêntica, “brasileira”, ao<br />

expressar-se numa variante de linguagem<br />

popular identificada pela (o):<br />

A) escolha de palavras como cio, peitaria,<br />

vergonha.<br />

B) emprego da pontuação.<br />

C) repetição do adjetivo bastante.<br />

D) concordância empregada em Assim<br />

está escrito.<br />

E) escolha de construção do tipo<br />

precisa-se gentes.<br />

Comentário<br />

Apesar de essa questão misturar vários<br />

tipos de informação, se você se lembra um<br />

pouquinho dos usos da partícula se, com<br />

certeza não encontrará grande dificuldade.<br />

Segundo a regra gramatical, o verbo<br />

"precisa-se" deveria ir para o plural<br />

(precisam-se), mas essa noção de verbo<br />

concordante com o sujeito há muito<br />

desapareceu na variante popular brasileira.<br />

Mas, caso você não se lembre muito bem<br />

desse assunto ou ficou meio confuso com o<br />

texto e as outras alternativas, o caminho é<br />

responder por eliminação.<br />

A primeira alternativa apresenta palavras<br />

comuns no português brasileiro, mas<br />

nenhuma "invenção" nacional. Na dúvida,<br />

pense em "vergonha": não é uma invenção<br />

brasileira. Todos os que falam português no<br />

mundo conhecem bem essa palavra. A<br />

pontuação no texto não chama nenhuma<br />

atenção. Você provavelmente não viu nada<br />

de estranho nela. Da mesma forma, o<br />

"bastante" da terceira alternativa não é nada<br />

mais que um mecanismo de retórica, usado<br />

para dar ênfase à idéia. Com o "Assim está<br />

escrito", encontramos a mesma situação: um<br />

trecho litúrgico é usado para maior ênfase.<br />

Comentário do INEP<br />

A questão procurou avaliar se o<br />

participante era capaz de, a partir da leitura<br />

de um texto de Mário de Andrade , identificar<br />

e analisar uma variante lingüística de uso<br />

coloquial, utilizadas estilisticamente pelo<br />

autor. O uso estilístico das variantes marcou<br />

a primeira fase da literatura brasileira<br />

modernista. O trecho destaca em seu todo<br />

esse uso da linguagem popular. A escolha da<br />

construção 'precisa-se gentes' é marca desse<br />

uso estilístico. O índice de 37% na alternativa<br />

(A) demonstra, possivelmente, que os<br />

participantes não consideraram a escolha<br />

dos vocábulos, dentro do contexto do texto,<br />

confundindo as palavras que aparecem na<br />

alternativa com '...a feição de uma língua<br />

mais autêntica...'.O percentual de acertos foi<br />

da ordem de 40%.<br />

30) (2004) O poema abaixo pertence à<br />

poesia concreta brasileira. O termo latino<br />

de seu título significa "epitalâmio", poema<br />

ou canto em homenagem aos que se<br />

casam.<br />

51


Considerando que símbolos e sinais são<br />

utilizados geralmente para demonstrações<br />

objetivas, ao serem incorporados no<br />

poema "Epithalamium - II".<br />

A) adquirem novo potencial de<br />

significação.<br />

B) eliminam a subjetividade do poema.<br />

C) opõem-se ao tema principal do poema.<br />

D) invertem seu sentido original.<br />

E) tornam-se confusos e equivocados.<br />

Comentário<br />

Diferentemente, por exemplo, da<br />

aplicação matemática dos símbolos, em que<br />

sinais como "=", "+", "-", "x", etc. servem<br />

como convenções internacionais de<br />

significação objetiva e invariável, em um<br />

poema como "Epithalamium – II" foram<br />

usados símbolos que não são convenções<br />

internacionais, mas, sim, convencionados<br />

apenas para esse texto. No caso, letras do<br />

alfabeto deixam de ser representações de<br />

sons (fonemas) para ganharem nova<br />

significação, principalmente pela construção<br />

visual do poema: unem homem (h) e mulher<br />

(e) pela ação da serpente (s) — libido,<br />

atração — em uma entidade única.<br />

Uma das tendências poéticas da segunda<br />

metade do século XX, resultado de um<br />

diálogo com estéticas já presentes no final do<br />

século XIX, trabalha com a construção de<br />

seu próprio referente, fazendo do poema um<br />

objeto autônomo.<br />

A)<br />

B)<br />

C)<br />

31) (2002) O autor da tira utilizou os<br />

princípios de composição de um<br />

conhecido movimento artístico para<br />

representar a necessidade de um mesmo<br />

observador aprender a considerar,<br />

simultaneamente, diferentes pontos de<br />

vista.<br />

D)<br />

E)<br />

Das obras reproduzidas, todas de autoria<br />

do pintor espanhol Pablo Picasso, aquela<br />

em cuja composição foi adotado um<br />

procedimento semelhante é:<br />

52


Comentário<br />

Questão de nível fácil. O movimento<br />

artístico que previa considerar<br />

simultaneamente diversos pontos de vista<br />

era o Cubismo. Havia a desconstrução da<br />

forma para que se pudesse ver todos os<br />

ângulos concomitantemente. O único quadro<br />

que apresenta essas características é o da<br />

alternativa E. As outras quatro alternativas<br />

pressupõem a manutenção da forma.<br />

Comentário do INEP<br />

O objetivo desta questão é levar o<br />

participante a refletir sobre características<br />

fundamentais de um movimento artístico – o<br />

cubismo – a partir de dados visuais:<br />

quadrinhos e pinturas. A reprodução de dois<br />

quadrinhos da personagem Calvin forneceu<br />

para o participante informações básicas para<br />

a análise que deveria fazer das alternativas<br />

apresentadas. Segundo os quadrinhos, o<br />

movimento artístico abordado pela questão<br />

tinha como procedimento de composição<br />

representar, para um mesmo observador,<br />

diferentes pontos de vista, fazendo com que<br />

"o tradicional único ponto de vista" fosse<br />

abandonado e com que a perspectiva fosse<br />

fraturada. A análise das obras de Picasso<br />

reproduzidas nas alternativas permite que o<br />

participante reconheça a adoção desse<br />

procedimento no quadro "Marie-Thérèse<br />

apoiada no cotovelo" (alternativa E, com 46%<br />

de registros), no qual se pode reconhecer a<br />

representação de diferentes pontos de vista<br />

a partir dos quais é apresentado o rosto da<br />

mulher retratada.<br />

B) "... a casa que ele fazia<br />

Sendo a sua liberdade<br />

Era a sua escravidão."<br />

C) "Naquela casa vazia<br />

Que ele mesmo levantara<br />

Um mundo novo nascia<br />

De que sequer suspeitava."<br />

D) "... o operário faz a coisa<br />

E a coisa faz o operário."<br />

E) "Ele, um humilde operário<br />

Um operário que sabia<br />

Exercer a profissão."<br />

MORAES, Vinícius de. Antologia Poética. São Paulo:<br />

Companhia das Letras, 1992.<br />

Comentário<br />

Idéias que se completam e se excluem<br />

mutuamente são encontradas na alternativa<br />

B: a casa que ele construía era, ao mesmo<br />

tempo, sua liberdade e sua escravidão.<br />

A casa é um símbolo de liberdade para o<br />

homem. Para o homem operário, é também<br />

símbolo de escravidão, pois ele está<br />

"condenado" a jamais usufruir do resultado<br />

do seu trabalho (a casa que faz não é para<br />

ele).<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão propõe ao participante que<br />

estabeleça uma relação entre linguagens,<br />

associando a compreensão de um efeito<br />

semântico produzido pelo uso do oxímoro<br />

nos quadrinhos com o mesmo efeito num<br />

texto poético. O índice (18%) de escolhas da<br />

alternativa D deve-se, possivelmente, a uma<br />

análise parcial da noção de paradoxo,<br />

confundida com inversão.<br />

32) (2001) Oxímoro (ou paradoxo) é uma<br />

construção textual que agrupa significados<br />

que se excluem mutuamente. Para<br />

Garfield, a frase de saudação de Jon<br />

(tirinha abaixo) expressa o maior de todos<br />

os oxímoros.<br />

33) (2005) Cândido Portinari (1903-1962), um<br />

dos mais importantes artistas brasileiros<br />

do século XX, tratou de diferentes<br />

aspectos da nossa realidade em seus<br />

quadros.<br />

Folha de S. Paulo. 31 de julho de 2000.<br />

Nas alternativas abaixo, estão transcritos<br />

versos retirados do poema “O operário em<br />

construção”. Pode-se afirmar que ocorre<br />

um oxímoro em<br />

A) "Era ele que erguia casas<br />

Onde antes só havia chão."<br />

53


Sobre a temática dos “Retirantes”,<br />

Portinari também escreveu o seguinte<br />

poema:<br />

(....)<br />

Os retirantes vêm vindo com trouxas e<br />

embrulhos<br />

Vêm das terras secas e escuras;<br />

pedregulhos<br />

Doloridos como fagulhas de carvão aceso<br />

Corpos disformes, uns panos sujos,<br />

Rasgados e sem cor, dependurados<br />

Homens de enorme ventre bojudo<br />

Mulheres com trouxas caídas para o lado<br />

Pançudas, carregando ao colo um garoto<br />

Choramingando, remelento<br />

(....)<br />

(Cândido Portinari. Poemas. Rio de Janeiro:<br />

J. Olympio, 1964.)<br />

Das quatro obras reproduzidas, assinale<br />

aquelas que abordam a problemática que<br />

é tema do poema.<br />

A) 1 e 2 D) 3 e 4<br />

B) 1 e 3 E) 2 e 4<br />

C) 2 e 3<br />

Comentário<br />

O poema apresenta correspondência com<br />

as imagens ao descrever com detalhes a<br />

figura do retirante: pobre, mal vestido,<br />

carregando trouxas e embrulhos.<br />

34) (2003) No ano passado, o governo<br />

promoveu uma campanha a fim de reduzir<br />

os índices de violência. Noticiando o fato,<br />

um jornal publicou a seguinte manchete:<br />

CAMPANHA CONTRA A VIOLÊNCIA DO<br />

GOVERNO DO ESTADO ENTRA EM NOVA<br />

FASE<br />

A manchete tem um duplo sentido, e isso<br />

dificulta o entendimento. Considerando o<br />

objetivo da notícia, esse problema poderia<br />

ter sido evitado com a seguinte redação:<br />

A) Campanha contra o governo do Estado<br />

e a violência entram em nova fase.<br />

B) A violência do governo do Estado entra<br />

em nova fase de Campanha.<br />

C) Campanha contra o governo do Estado<br />

entra em nova fase de violência.<br />

D) A violência da campanha do governo<br />

do Estado entra em nova fase.<br />

E) Campanha do governo do Estado<br />

contra a violência entra em nova fase.<br />

Comentário<br />

O objetivo da questão é eliminar a<br />

ambigüidade da notícia de jornal, que,<br />

originalmente, trazia duas idéias: de acordo<br />

com a primeira, o governo queria combater a<br />

violência, e a segunda ressaltava que o<br />

governo era violento. Nessa questão,<br />

era preciso eliminar a segunda possibilidade<br />

de leitura.<br />

35) (2004)<br />

A polifonia, variedade de vozes, presente<br />

no poema resulta da manifestação do<br />

A) poeta e do colonizador apenas.<br />

B) colonizador e do negro apenas.<br />

C) negro e do índio apenas.<br />

D) colonizador, do poeta e do negro<br />

apenas.<br />

E) poeta, do colonizador, do índio e do<br />

negro.<br />

Comentário<br />

A questão apresenta uma certa<br />

dificuldade, pois, à primeira vista, parecem<br />

confundir-se as vozes do colonizador, do<br />

negro e do índio. Entretanto, os<br />

travessões existentes no poema explicitam<br />

as falas das personagens ao mostrar que<br />

não são apenas as vozes do poeta e do<br />

colonizador que estão presentes. As falas do<br />

índio e do negro são proferidas por eles,<br />

marca expressa pelo discurso direto. A<br />

presença dessa modalidade de discurso<br />

indica a reprodução literal do que as<br />

personagens disseram.<br />

Um ponto interessante em relação a essa<br />

questão é a intertextualidade. O índio<br />

aparece no poema pela remissão a um texto<br />

poético do nosso Romantismo, em um<br />

processo intertextual com “I-Juca-Pirama”, de<br />

Gonçalves Dias; e a presença do negro se dá<br />

pela ligação com Mário de Andrade, em<br />

Macunaíma. Entende-se, portanto, que a<br />

alternativa correta é a letra E.<br />

54


36) (2002) "A palavra tatuagem é<br />

relativamente recente. Toda a gente sabe<br />

que foi o navegador Cook que a introduziu<br />

no Ocidente, e esse escrevia tattou, termo<br />

da Polinésia de tatou ou tu tahou,<br />

'desenho'.<br />

(...) Desde os mais remotos tempos,<br />

vemo-la a transformar-se: distintivo<br />

honorífico entre uns homens, ferrete de<br />

ignomínia entre outros, meio de assustar o<br />

adversário para os bretões, marca de uma<br />

classe de selvagens das ilhas marquesas<br />

(...) sinal de amor, de desprezo, de ódio<br />

(...). Há três casos de tatuagem no Rio,<br />

completamente diversos na sua<br />

significação moral: os negros,os turcos<br />

com o fundo religioso e o bando de<br />

meretrizes, dos rufiões e dos humildes,<br />

que se marcam por crime ou por<br />

ociosidade".<br />

RIO, João do. Os Tatuadores. Revista Kosmos.<br />

1904, apud: A alma encantadora das ruas,<br />

SP: Cia das Letras, 1999.<br />

Com base no texto são feitas as seguintes<br />

afirmações:<br />

I. João do Rio revela como a tatuagem já<br />

estava presente na cidade do Rio de<br />

Janeiro, pelo menos desde o início do<br />

século XX, e era mais utilizada por<br />

alguns setores da população.<br />

II. A tatuagem, de origem polinésia,<br />

difundiu-se no ocidente com a<br />

característica que permanece até hoje:<br />

utilização entre os jovens com função<br />

estritamente estética.<br />

III. O texto mostra como a tatuagem é<br />

uma prática que se transforma no<br />

tempo e que alcança inúmeros sentidos<br />

nos diversos setores das sociedades e<br />

para as diferentes culturas.<br />

Está correto o que se afirma apenas em<br />

A) I D) I e II<br />

B) II E) I e III<br />

C) III<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. Constata-se o<br />

seguinte: a tatuagem já existia no Brasil no<br />

início do século XX (o texto é de 1904 e parte<br />

dele se refere ao Rio do Janeiro) e era<br />

utilizada em diferentes setores da sociedade.<br />

A afirmação de que as tatuagens possuem<br />

apenas finalidade estética entre os jovens<br />

elimina a segunda alternativa. Já a última<br />

alternativa confirma as transformações das<br />

funções da tatuagem ao longo do tempo nas<br />

mais diversas sociedades e culturas.<br />

Comentário do INEP<br />

O texto estabelece uma relação entre a<br />

atualidade da palavra "tatuagem" e a<br />

antiguidade do uso de desenhos como<br />

pintura corporal. Focaliza uma prática social<br />

bastante difundida que adquiriu aspectos e<br />

conotações diversos nos diferentes contextos<br />

históricos e geográficos em que ela pode ser<br />

descrita. Fazendo a descrição da prática da<br />

tatuagem, como uma manifestação comum a<br />

diferentes culturas, e que adquire, inclusive,<br />

significados diferentes dentro de uma mesma<br />

cultura, induz o participante a refletir sobre a<br />

"diversidade dos patrimônios etnoculturais e<br />

artísticos", contextualizando ao mesmo<br />

tempo seus significados "em diferentes<br />

sociedades, épocas e lugares". Ao retomar<br />

as várias origens e usos da tatuagem, o<br />

participante é levado a compreender e<br />

respeitar uma gramática histórica dos<br />

costumes marcada sempre por semelhanças<br />

e diferenças. A questão não exigia, portanto,<br />

nenhum conhecimento prévio sobre as<br />

diferentes formas de manifestação dessa<br />

prática, mas simplesmente constatar, com o<br />

autor do texto citado, a historicidade e a<br />

diversidade das práticas sociais. Os<br />

participantes que assinalaram a alternativa C<br />

(36%), possivelmente, não levaram em<br />

consideração informações do texto. A<br />

questão foi corretamente respondida por 37%<br />

dos participantes.<br />

37) (2004)<br />

Nesta tirinha, a personagem faz referência<br />

a uma das mais conhecidas figuras de<br />

linguagem para<br />

A) condenar a prática de exercícios físicos<br />

B) valorizar aspectos da vida moderna.<br />

C) desestimular o uso das bicicletas.<br />

D) caracterizar o diálogo entre as<br />

gerações.<br />

E) criticar a falta de perspectiva do pai.<br />

Comentário<br />

A construção indica a falta de perspectiva<br />

na vida do pai do personagem. “Pedalar sem<br />

sair do lugar” é uma metáfora muito usada na<br />

cultura brasileira para expressar como é a<br />

vida de uma pessoa que age de forma a não<br />

55


conseguir qualquer mudança — para melhor<br />

ou para pior — na vida.<br />

38) (2004) As questões de números 26 e 27<br />

referem-se ao poema abaixo.<br />

56<br />

Entre os recursos expressivos<br />

empregados no texto, destaca-se a<br />

A) metalinguagem, que consiste em fazer<br />

a linguagem referir-se à própria<br />

linguagem.<br />

B) intertextualidade, na qual o texto<br />

retoma e reelabora outros textos.<br />

C) ironia, que consiste em se dizer o<br />

contrário do que se pensa, com<br />

intenção crítica.<br />

D) denotação, caracterizada pelo uso das<br />

palavras em seu sentido próprio e<br />

objetivo.<br />

E) prosopopéia, que consiste em<br />

personificar coisas inanimadas,<br />

atribuindo-lhes vida.<br />

Comentário<br />

A questão trata de um texto de Carlos<br />

Drummond de Andrade em que ele fala sobre<br />

o crescimento urbano e a pobreza que esse<br />

processo traz. Para tanto, o poeta utiliza uma<br />

linguagem irônica, revelando o lado oculto do<br />

desenvolvimento. Dessa forma, temos como<br />

correta a alternativa C.<br />

39) (2007) Antigamente<br />

Acontecia o indivíduo apanhar<br />

constipação; ficando perrengue, mandava<br />

o próprio chamar o doutor e, depois, ir à<br />

botica para aviar a receita, de cápsulas ou<br />

pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />

phtísica, feia era o gálico. Antigamente, os<br />

sobrados tinham assombrações, os<br />

meninos, lombrigas (...)<br />

Carlos Drummond de Andrade. Poesia completa e prosa.<br />

Rio de Janeiro: Companhia José Aguilar, p. 1.184.<br />

O texto acima está escrito em linguagem<br />

de uma época passada. Observe uma<br />

outra versão, em linguagem atual.<br />

Antigamente<br />

Acontecia o indivíduo apanhar um<br />

resfriado; ficando mal, mandava o próprio<br />

chamar o doutor e, depois, ir à farmácia<br />

para aviar a receita, de cápsulas ou<br />

pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />

tuberculose, feia era a sífilis. Antigamente,<br />

os sobrados tinham assombrações, os<br />

meninos, vermes (...)<br />

Comparando-se esses dois textos,<br />

verifica-se que, na segunda versão, houve<br />

mudanças relativas a<br />

A) vocabulário.<br />

B) construções sintáticas.<br />

C) pontuação.<br />

D) fonética.<br />

E) regência verbal.<br />

Comentário<br />

Questão fácil. O aluno deveria comparar<br />

os dois textos e verificar as alterações<br />

realizadas na segunda versão apresentada.<br />

Nesse momento, fica evidente a mudança de<br />

vocabulário, o que indica a alternativa A<br />

como a correta.<br />

40) (2001) Nas conversas diárias, utiliza-se<br />

freqüentemente a palavra “próprio” e ela<br />

se ajusta a várias situações. Leia os<br />

exemplos de diálogos:<br />

I - A Vera se veste diferente!<br />

- É mesmo, é que ela tem um estilo<br />

próprio.<br />

II - A Lena já viu esse filme uma dezena<br />

de vezes! Eu não consigo ver o<br />

que ele tem de tão maravilhoso assim.<br />

- É que ele é próprio para adolescente.<br />

III - Dora, o que eu faço? Ando tão<br />

preocupada com o Fabinho! Meu filho<br />

está impossível!<br />

- Relaxa, Tânia! É próprio da idade.<br />

Com o tempo, ele se acomoda.<br />

Nas ocorrências I, II e III, “próprio” é<br />

sinônimo de, respectivamente,<br />

A) adequado, particular, típico.<br />

B) peculiar, adequado, característico.<br />

C) conveniente, adequado, particular.<br />

D) adequado, exclusivo, conveniente.<br />

E) peculiar, exclusivo, característico.


Comentário<br />

Para responder a essa pergunta,<br />

substitua, nos trechos, a palavra próprio<br />

pelos possíveis equivalentes apresentados<br />

nas alternativas. Questão simples que pode<br />

ser resolvida por eliminação.<br />

Comentário do INEP<br />

Nesta questão são apresentados três<br />

textos em que uma mesma palavra é<br />

utilizada com sentidos diferentes. O problema<br />

consiste em observar a variedade de uso de<br />

um mesmo termo e as possibilidades de sua<br />

compreensão, estabelecendo uma relação<br />

comparativa com base em uma análise<br />

semântica. Cerca de metade (49%) dos<br />

participantes estabeleceu essa relação de<br />

maneira correta. Os participantes que<br />

assinalaram a alternativa D (21%),<br />

possivelmente isolaram o termo do contexto,<br />

gerando um equívoco entre "adequado" e<br />

"exclusivo".<br />

41) (2003) Do pedacinho de papel ao livro<br />

impresso vai uma longa distância. Mas o<br />

que o escritor quer, mesmo, é isso: ver o<br />

seu texto em letra de forma. A gaveta é<br />

ótima para aplacar a fúria criativa; ela faz<br />

amadurecer o texto da mesma forma que<br />

a adega faz amadurecer o vinho. Em<br />

certos casos, a cesta de papel é melhor<br />

ainda.<br />

O período de maturação na gaveta é<br />

necessário, mas não deve se prolongar<br />

muito. ‘Textos guardados acabam<br />

cheirando mal’, disse Silvia Plath, (...) que,<br />

com esta frase, deu testemunho das<br />

dúvidas que atormentam o escritor:<br />

publicar ou não publicar? guardar ou jogar<br />

fora?<br />

(Moacyr Scliar. O escritor e seus desafios.)<br />

Nesse texto, o escritor Moacyr Scliar usa<br />

imagens para refletir sobre uma etapa da<br />

criação literária. A idéia de que o processo<br />

de maturação do texto nem sempre é o<br />

que garante bons resultados está sugerida<br />

na seguinte frase:<br />

A) "A gaveta é ótima para aplacar a fúria<br />

criativa."<br />

B) "Em certos casos, a cesta de papel é<br />

melhor ainda."<br />

C) "O período de maturação na gaveta é<br />

necessário, (...)."<br />

D) "Mas o que o escritor quer, mesmo, é<br />

isso: ver o seu texto em letra de forma."<br />

E) "ela (a gaveta) faz amadurecer o texto<br />

da mesma forma que a adega faz<br />

amadurecer o vinho."<br />

Comentário<br />

Essa questão exigia a interpretação das<br />

frases. A palavra NEM no enunciado exclui<br />

todas as alternativas que tratam do<br />

amadurecimento ou da importância da<br />

gaveta para o bom sucesso da produção<br />

literária.<br />

A alternativa B é a única que apresenta<br />

um procedimento alternativo para a produção<br />

textual, ou seja, o lixo, e significa a liberdade<br />

do escritor em começar,<br />

interromper, recomeçar ou simplesmente<br />

abandonar a obra, permitindo a ele exercer<br />

seu livre-arbítrio.<br />

42) (2007)<br />

Aqui na floresta<br />

Dos ventos batida,<br />

Façanhas de bravos<br />

Não geram escravos,<br />

Que estimem a vida<br />

Sem guerra e lidar.<br />

— Ouvi-me, Guerreiros,<br />

— Ouvi meu cantar.<br />

O canto do guerreiro<br />

Valente na guerra,<br />

Quem há, como eu sou?<br />

Quem vibra o tacape<br />

Com mais valentia?<br />

Quem golpes daria<br />

Fatais, como eu dou?<br />

— Guerreiros, ouvi-me;<br />

— Quem há, como eu sou?<br />

Gonçalves Dias.<br />

Macunaíma<br />

(Epílogo)<br />

Acabou-se a história e morreu a vitória.<br />

Não havia mais ninguém lá. Dera<br />

tangolomângolo na tribo Tapanhumas e<br />

os filhos dela se acabaram de um em um.<br />

Não havia mais ninguém lá. Aqueles<br />

lugares, aqueles campos, furos<br />

puxadouros arrastadouros meiosbarrancos,<br />

aqueles matos misteriosos,<br />

tudo era solidão do deserto... Um silêncio<br />

imenso dormia à beira do rio Uraricoera.<br />

Nenhum conhecido sobre a terra não<br />

sabia nem falar da tribo nem contar<br />

aqueles casos tão pançudos. Quem podia<br />

saber do Herói?<br />

Mário de Andrade.<br />

Considerando-se a linguagem desses dois<br />

textos, verifica-se que<br />

A) a função da linguagem centrada no<br />

receptor está ausente tanto no primeiro<br />

quanto no segundo texto.<br />

B) a linguagem utilizada no primeiro texto<br />

é coloquial, enquanto, no segundo,<br />

predomina a linguagem formal.<br />

C) há, em cada um dos textos, a<br />

utilização de pelo menos uma palavra<br />

de origem indígena.<br />

57


D) a função da linguagem, no primeiro<br />

texto, centra-se na forma de<br />

organização da linguagem e, no<br />

segundo, no relato de informações<br />

reais.<br />

E) a função da linguagem centrada na<br />

primeira pessoa, predominante no<br />

segundo texto, está ausente no<br />

primeiro.<br />

Comentário<br />

Questão de nível médio. Essa é uma<br />

questão que foca a linguagem dos textos, e<br />

cada qual em seu gênero (poesia e prosa,<br />

respectivamente). O aluno chega à<br />

conclusão que a alternativa correta é a C por<br />

meio da exclusão das demais alternativas.<br />

A resposta correta não é a A, pois há um<br />

receptor que pode ser percebido nas<br />

seguintes perguntas contidas no texto:<br />

Texto 1 – “Guerreiros, ouvi-me;/Quem há,<br />

como eu sou?”<br />

Texto 2 – “Quem podia saber do herói?”<br />

Também não é a alternativa B, pois o<br />

conteúdo dos textos não é discriminatório. No<br />

primeiro texto, há uma idealização do índio e,<br />

no segundo, há uma realidade crítica e<br />

satírica da sociedade.<br />

A alternativa D é excluída, porque o<br />

segundo texto não fala de uma realidade, já<br />

que Macunaíma é um herói fictício e nãoreal.<br />

Por fim, também está errada a alternativa<br />

E. Isso porque não temos no epílogo do texto<br />

de Macunaíma a linguagem centrada na<br />

primeira pessoa, mas sim, na terceira.<br />

43) (2003) Eu começaria dizendo que poesia<br />

é uma questão de linguagem. A<br />

importância do poeta é que ele torna mais<br />

viva a linguagem. Carlos Drummond de<br />

Andrade escreveu um dos mais belos<br />

versos da língua portuguesa com duas<br />

palavras comuns: cão e cheirando.<br />

Um cão cheirando o futuro<br />

(Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP, 24/05/1988.<br />

adaptação)<br />

O que deu ao verso de Drummond o<br />

caráter de inovador da língua foi<br />

A) o modo raro como foi tratado o<br />

"futuro".<br />

B) a referência ao cão como "animal de<br />

estimação".<br />

C) a flexão pouco comum do verbo<br />

"cheirar" (gerúndio).<br />

D) a aproximação não usual do agente<br />

citado e a ação de "cheirar".<br />

E) o emprego do artigo indefinido "um" e<br />

do artigo definido "o" na mesma frase.<br />

Comentário<br />

O fato de Drummond identificar o futuro<br />

como algo que pode ser percebido por um<br />

animal irracional por meio do olfato foi<br />

inovador. A figura de linguagem foi<br />

construída metaforicamente: o futuro torna-se<br />

uma coisa que tem cheiro, contrariamente à<br />

imagem pela qual ele normalmente é<br />

representado: como algo que não se vê e<br />

não se pode pressentir ou tocar.<br />

44) (2002) Só falta o Senado aprovar o<br />

projeto de lei [sobre o uso de termos<br />

estrangeiros no Brasil] para que palavras<br />

como shopping center , delivery e drivethrough<br />

sejam proibidas em nomes de<br />

estabelecimentos e marcas. Engajado<br />

nessa valorosa luta contra o inimigo<br />

ianque, que quer fazer área de livre<br />

comércio com nosso inculto e belo idioma,<br />

venho sugerir algumas outras medidas<br />

que serão de extrema importância para a<br />

preservação da soberania nacional, a<br />

saber:<br />

........<br />

Nenhum cidadão carioca ou gaúcho<br />

poderá dizer "Tu vai" em espaços públicos<br />

do território nacional;<br />

Nenhum cidadão paulista poderá dizer "Eu<br />

lhe amo" e retirar ou acrescentar o plural<br />

em sentenças como "Me vê um chopps e<br />

dois pastel";<br />

..........<br />

Nenhum dono de borracharia poderá<br />

escrever cartaz com a palavra "borraxaria"<br />

e nenhum dono de banca de jornal<br />

anunciará "Vende-se cigarros";<br />

..........<br />

Nenhum livro de gramática obrigará os<br />

alunos a utilizar colocações pronominais<br />

como "casar-me-ei" ou "ver-se-ão".<br />

PIZA, Daniel. Uma proposta imodesta. O Estado de<br />

S. Paulo, São Paulo, 8/04/2001.<br />

No texto acima, o autor:<br />

A) mostra-se favorável ao teor da<br />

proposta por entender que a língua<br />

portuguesa deve ser protegida contra<br />

deturpações de uso.<br />

B) ironiza o projeto de lei ao sugerir<br />

medidas que inibam determinados usos<br />

regionais e socioculturais da língua.<br />

C) denuncia o desconhecimento de regras<br />

elementares de concordância verbal e<br />

nominal pelo falante brasileiro.<br />

58


D) revela-se preconceituoso em relação a<br />

certos registros lingüísticos ao propor<br />

medidas que os controlem.<br />

E) defende o ensino rigoroso da gramática<br />

para que todos aprendam a empregar<br />

corretamente os pronomes.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. O autor ironiza o<br />

projeto de lei que proíbe o uso de<br />

estrangeirismos no Brasil. Não adianta criarse<br />

uma expectativa ou preocupação em<br />

relação ao uso de termos estrangeiros na<br />

língua e esquecer-se de que a língua é um<br />

organismo vivo, mutável. A dinâmica de uma<br />

língua não pode ser regida por preceitos<br />

legais como quer o projeto.<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão reproduz trechos de um<br />

texto que aborda o polêmico projeto de<br />

proibição de uso de termos estrangeiros no<br />

Brasil. A partir da leitura atenta do texto de<br />

Daniel Piza, o participante é levado a refletir<br />

sobre a postura adotada pelo autor em<br />

relação ao referido projeto. Para<br />

compreender esse texto, o participante<br />

precisa reconhecer o tom irônico que marca<br />

as observações e sugestões feitas por seu<br />

autor. Assim, Daniel Piza, "engajado nessa<br />

valorosa luta contra o inimigo ianque", sugere<br />

a proibição de algumas formas lingüísticas de<br />

uso corrente que contrariam recomendações<br />

da gramática normativa. O participante deve<br />

reconhecer que, com sugestões como essas,<br />

Daniel Piza deixa implícita uma crítica à<br />

utilidade do projeto de proibição dos<br />

estrangeirismos como forma de proteger a<br />

Língua Portuguesa. Nesse contexto, a ironia<br />

torna-se mais clara, bem como o mecanismo<br />

textual que a constrói. Feito tal<br />

reconhecimento, o aluno encontra a resposta<br />

correta na alternativa B, assinalada por cerca<br />

da metade dos participantes. Nenhuma outra<br />

alternativa contempla o aspecto irônico,<br />

essencial para a compreensão do texto.<br />

45) (2003) Pequenos tormentos da vida<br />

De cada lado da sala de aula, pelas janelas<br />

altas, o azul convida os meninos,<br />

as nuvens desenrolam-se, lentas como quem<br />

vai inventando<br />

preguiçosamente uma história sem fim...Sem<br />

fim é a aula: e nada acontece,<br />

nada...Bocejos e moscas. Se ao menos,<br />

pensa Margarida, se ao menos um<br />

avião entrasse por uma janela e saísse por<br />

outra!<br />

(Mário Quintana. Poesias)<br />

Na cena retratada no texto, o sentimento<br />

do tédio<br />

A) provoca que os meninos fiquem<br />

contando histórias.<br />

B) leva os alunos a simularem bocejos,<br />

em protesto contra a monotonia da<br />

aula.<br />

C) acaba estimulando a fantasia,<br />

criando a expectativa de algum<br />

imprevisto mágico.<br />

D) prevalece de modo absoluto,<br />

impedindo até mesmo a distração ou o<br />

exercício do pensamento.<br />

E) decorre da morosidade da aula, em<br />

contraste com o movimento acelerado<br />

das nuvens e das moscas.<br />

Comentário<br />

Essa questão aborda o imaginário<br />

decorrente do marasmo trazido pela escola.<br />

O texto enfatiza o arrastar do tempo na<br />

mente de uma aluna, Margarida, que se põe<br />

a pensar em fatos mágicos ou imaginários<br />

que pudessem romper com a lentidão da<br />

aula.<br />

46) (200) O autor do texto abaixo critica,<br />

ainda que em linguagem metafórica, a<br />

sociedade contemporânea em relação aos<br />

seus hábitos alimentares.<br />

“Vocês que têm mais de 15 anos, se<br />

lembram quando a gente comprava leite<br />

em garrafa, na leiteria da esquina? (...)<br />

Mas vocês não se lembram de nada,<br />

pô! Vai ver nem sabem o que é vaca. Nem<br />

o que é leite. Estou falando isso porque<br />

agora mesmo peguei um pacote de leite –<br />

leite em pacote, imagina, Tereza! – na<br />

porta dos fundos e estava escrito que é<br />

pasterizado, ou pasteurizado, sei lá, tem<br />

vitamina, é garantido pela<br />

embromatologia, foi enriquecido e o<br />

escambau. Será que isso é mesmo leite?<br />

No dicionário diz que leite é outra coisa:<br />

‘Líquido branco, contendo água,<br />

proteína, açúcar e sais minerais’. Um<br />

alimento pra ninguém botar defeito. O ser<br />

humano o usa há mais de 5.000 anos. É o<br />

único alimento só alimento. A carne serve<br />

pro animal andar, a fruta serve pra fazer<br />

outra fruta, o ovo serve pra fazer outra<br />

galinha (...) O leite é só leite. Ou toma ou<br />

bota fora. Esse aqui examinando bem, é<br />

só pra botar fora. Tem chumbo, tem<br />

benzina, tem mais água do que leite, tem<br />

serragem, sou capaz de jurar que nem<br />

vaca tem por trás desse negócio. Depois o<br />

59


pessoal ainda acha estranho que os<br />

meninos não gostem de leite.<br />

Mas, como não gostam? Não gostam<br />

como? Nunca tomaram! Múúúúúúú!”<br />

(FERNANDES, Millôr. O Estado de S. Paulo ,<br />

22 de agosto de 1999)<br />

A palavra embromatologia usada pelo<br />

autor é:<br />

A) um termo científico que significa estudo<br />

dos bromatos.<br />

B) uma composição do termo de gíria<br />

“embromação” (enganação) com<br />

bromatologia, que é o estudo dos<br />

alimentos.<br />

C) uma junção do termo de gíria<br />

“embromação” (enganação) com<br />

lactologia, que é o estudo das<br />

embalagens para leite.<br />

D) um neologismo da química orgânica<br />

que significa a técnica de retirar<br />

bromatos dos laticínios.<br />

E) uma corruptela de termo da<br />

agropecuária que significa a ordenha<br />

mecânica.<br />

Comentário<br />

É necessário para a resolução desta<br />

questão:<br />

- perceber que o texto critica o exagerado<br />

uso de substâncias artificiais nos<br />

alimentos;<br />

- conhecer o significado da gíria embromar e<br />

da palavra bromatologia.<br />

Conhecendo esses significados, você<br />

elimina todas as alternativas erradas: a, c, d<br />

e e.<br />

Você poderá ter dúvida quanto à<br />

alternativa c, que também será eliminada se<br />

souber o significado da palavra lactologia,<br />

que é o estudo do leite e produtos lácteos e<br />

não das embalagens para leite.<br />

Nesta questão, são trabalhados os<br />

conceitos de interpretação de texto, formação<br />

de palavras e conhecimentos gerais.<br />

Comentário do INEP<br />

A resolução da questão requeria que o<br />

participante, ao ler o texto vinculasse o<br />

significado de um termo de gíria -<br />

"embromação" - com o da palavra<br />

bromatologia. A resposta correta exigia que o<br />

participante não abrisse mão do sabor<br />

picante contido na linguagem metafórica,<br />

sabor vinculado ao conhecimento específico<br />

contido na palavra bromatologia. Cerca da<br />

metade dos participantes (51%) optou pela<br />

alternativa correta e, os 20% que escolheram<br />

a alternativa C, provavelmente associaram a<br />

referência feita no texto à leite em pacote.<br />

47) (2005) O termo (ou expressão)<br />

destacado que está empregado em seu<br />

sentido próprio, denotativo ocorre em:<br />

A) “(....)<br />

É de laço e de nó<br />

De gibeira o jiló<br />

Dessa vida, cumprida a sol (....)”<br />

(Renato Teixeira. Romaria. Kuarup Discos.<br />

setembro de 1992.)<br />

B) “Protegendo os inocentes<br />

é que Deus, sábio demais,<br />

põe cenários diferentes<br />

nas impressões digitais.”<br />

(Maria N. S. Carvalho. Evangelho da Trova. /s.n.b.)<br />

C) “O dicionário-padrão da língua e os<br />

dicionários unilíngües são os tipos mais<br />

comuns de dicionários. Em nossos<br />

dias, eles se tornaram um objeto de<br />

consumo obrigatório para as nações<br />

civilizadas e desenvolvidas.”<br />

(Maria T. Camargo Biderman.<br />

O dicionário-padrão da língua. Alfa (28), 2743, 1974 Supl.)<br />

D)<br />

E) “Humorismo é a arte de fazer cócegas<br />

no raciocínio dos outros. Há duas<br />

espécies de humorismo: o trágico e o<br />

cômico. O trágico é o que não<br />

consegue fazer rir; o cômico é o que é<br />

verdadeiramente trágico para se fazer.”<br />

(Leon Eliachar. www.mercadolivre.com.br.<br />

acessado em julho de 2005.)<br />

Comentário<br />

A definição do dicionário-padrão da língua<br />

utiliza o sentido denotativo da palavra para<br />

explicar o uso de determinado tipo de<br />

dicionário. Em todas as outras alternativas,<br />

as palavras estão sendo empregadas em<br />

sentido metafórico. Na letra A, "cumprida a<br />

sol" pode mostrar o sofrimento e a solidão.<br />

Na alternativa B, "cenários diferentes" são as<br />

diferenças físicas encontradas nas<br />

60


impressões digitais. Na letra D, "bateria" é o<br />

termo usado para expressar a "energia" do<br />

Menino Maluquinho, que nunca acaba. Por<br />

fim, na alternativa E, "fazer cócegas no<br />

raciocínio" significa expressar graça por meio<br />

de idéias, fazendo com que o cérebro ache<br />

um fato divertido e, por conseguinte, faça<br />

com que a pessoa ria como se sofresse um<br />

ataque de cócegas.<br />

em circunstâncias idênticas, muitas vezes<br />

repetidas, indicam algo e adquirem<br />

significado. Por exemplo, nuvens negras<br />

indicam tempestade. Com base nesse<br />

conceito, escolha a opção que representa<br />

um signo da categoria dos indícios.<br />

A)<br />

48) (2003) Pequenos tormentos da vida<br />

De cada lado da sala de aula, pelas janelas<br />

altas, o azul convida os meninos,<br />

as nuvens desenrolam-se, lentas como quem<br />

vai inventando<br />

preguiçosamente uma história sem fim...Sem<br />

fim é a aula: e nada acontece,<br />

nada...Bocejos e moscas. Se ao menos,<br />

pensa Margarida, se ao menos um<br />

avião entrasse por uma janela e saísse por<br />

outra!<br />

(Mário Quintana. Poesias)<br />

Na cena retratada no texto, o sentimento<br />

do tédio<br />

A) provoca que os meninos fiquem<br />

contando histórias.<br />

B) leva os alunos a simularem bocejos,<br />

em protesto contra a monotonia da<br />

aula.<br />

C) acaba estimulando a fantasia,<br />

criando a expectativa de algum<br />

imprevisto mágico.<br />

D) prevalece de modo absoluto,<br />

impedindo até mesmo a distração ou o<br />

exercício do pensamento.<br />

E) decorre da morosidade da aula, em<br />

contraste com o movimento acelerado<br />

das nuvens e das moscas.<br />

Comentário<br />

Essa questão aborda o imaginário<br />

decorrente do marasmo trazido pela escola.<br />

O texto enfatiza o arrastar do tempo na<br />

mente de uma aluna, Margarida, que se põe<br />

a pensar em fatos mágicos ou imaginários<br />

que pudessem romper com a lentidão da<br />

aula.<br />

B)<br />

C)<br />

D)<br />

E)<br />

49) (2008) Os signos visuais, como meios de<br />

comunicação, são classificados em<br />

categorias de acordo com seus<br />

significados.<br />

A categoria denominada indício<br />

corresponde aos signos visuais que têm<br />

origem em formas ou situações naturais<br />

ou casuais, as quais, devido à ocorrência<br />

Comentário<br />

Trata-se de uma questão interpretativa. O<br />

aluno precisa entender o que é “indício” para<br />

respondê-la. Segundo o dicionário Aurélio,<br />

indício é o mesmo que “sinal, vestígio,<br />

indicação”. Das figuras apresentadas,<br />

61


apenas a alternativa B indica algo: a<br />

passagem de alguém por algum lugar —<br />

pegada.<br />

50) (1999)<br />

Diante da visão de um prédio com uma<br />

placa indicando SAPATARIA PAPALIA,<br />

um jovem deparou com a dúvida: como<br />

pronunciar a palavra PAPALIA?<br />

Levado o problema à sala de aula, a<br />

discussão girou em torno da utilidade de<br />

conhecer as regras de acentuação e,<br />

especialmente, do auxílio que elas podem<br />

dar à correta pronúncia de palavras.<br />

Após discutirem pronúncia, regras de<br />

acentuação e escrita, três alunos<br />

apresentaram as seguintes conclusões a<br />

respeito da palavra PAPALIA:<br />

I. Se a sílaba tônica for o segundo PA, a<br />

escrita deveria ser PAPÁLIA, pois a<br />

palavra seria paroxítona terminada em<br />

ditongo crescente.<br />

II. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />

deveria ser PAPALÍA, pois "i" e "a"<br />

estariam formando hiato.<br />

III. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />

deveria ser PAPALIA, pois não haveria<br />

razão para o uso de acento gráfico.<br />

A conclusão está correta apenas em:<br />

A) III D) I<br />

B) I e II E) II<br />

C) I e III<br />

Comentário<br />

Essa questão exige bom conhecimento<br />

das regras de acentuação. A alternativa A diz<br />

que apenas a afirmação I é verdadeira. De<br />

fato ela é, mas não é a única. Nela, temos a<br />

hipótese de a palavra ser grafada como se a<br />

sílaba forte fosse a penúltima — papália —,<br />

justificando seu acento gráfico. Vejamos o<br />

que dizem as regras de acentuação.<br />

Acentuam-se as palavras paroxítonas<br />

terminadas em: i, is, us, um, uns, l, n, r, x,<br />

ps, ã, ãs, ão, ãos, ditongos orais,<br />

crescentes ou decrescentes, seguidos ou<br />

não de S. Isso valida, portanto, a afirmação I.<br />

A afirmação II pressupõe que a sílaba<br />

tônica seja LI, em hiato com A: no caso de<br />

essa ser a tonicidade da palavra, a sílaba LI<br />

não poderia ser acentuada, pois I, mesmo<br />

sendo a tônica do hiato, não é a última vogal,<br />

portanto, essa afirmativa é falsa.<br />

A afirmação III considera que a sílaba<br />

tônica é LI, não havendo acento por ser o I a<br />

primeira vogal do hiato. Portanto, essa<br />

afirmação é verdadeira.<br />

Concluindo, temos como verdadeiras as<br />

afirmações I e III. Então, a alternativa E é a<br />

correta. Questão de nível difícil.<br />

Comentário do INEP<br />

Dentre os participantes, somente pouco<br />

mais de um terço (35%) demonstrou possuir<br />

a habilidade para identificar as regras de<br />

acentuação corretas, enunciadas na questão.<br />

Chama a atenção o fato de que 73% dos<br />

participantes (alternativas A, D e E)<br />

reconheceram corretamente, pelo menos, a<br />

regra contida no item I, sendo que cerca de<br />

40% desses, contudo, tiveram dificuldades<br />

em analisar as regras II e III.<br />

Em se tratando de palavra não-usual, é,<br />

sobretudo, o domínio do conhecimento das<br />

regras e não a possível pronúncia correta,<br />

pelo uso, o que parece ter sido revelado.<br />

51) (2008)<br />

Exame, 28/9/2007.<br />

Entre os seguintes ditos populares, qual<br />

deles melhor corresponde à figura<br />

acima?<br />

A) Com perseverança, tudo se alcança.<br />

B) Cada macaco no seu galho.<br />

C) Nem tudo que balança cai.<br />

D) Quem tudo quer, tudo perde.<br />

E) Deus ajuda quem cedo madruga.<br />

62


Comentário<br />

Assim como a questão 37, esta também<br />

envolve interpretação de signos, ou seja, o<br />

aluno precisa estar atento à imagem e<br />

relacioná-la ao dito popular correspondente.<br />

A alternativa "A" é a correta, pois, para<br />

uma lesma “grudenta” e vagarosa conseguir<br />

pular numa cama elástica, é necessária<br />

muita perseverança.<br />

52) (2005) Leia estes textos.<br />

Texto 1<br />

E) transmitem uma mensagem de<br />

otimismo sobre a paz.<br />

Comentário<br />

Enquanto o primeiro texto é ácido em<br />

relação à possibilidade de desarmamento da<br />

população (ou seja, à criação de uma<br />

sociedade mais pacífica), o segundo mostra<br />

a capacidade que a humanidade tem de crer<br />

e, por isso, tentar fazer até o que a princípio<br />

parece impossível. Para os autores da<br />

canção, nada é intrinsecamente impossível.<br />

A relação entre eles é de oposição:<br />

descrença x crença. Questão de nível de<br />

dificuldade médio.<br />

Texto 2<br />

Sonhar<br />

Mais um sonho impossível<br />

Lutar<br />

Quando é fácil ceder<br />

Vencer o inimigo invencível<br />

Negar quando a regra é vender<br />

Sofrer a tortura implacável<br />

Romper a incabível prisão<br />

Voar num limite improvável<br />

Tocar o inacessível chão<br />

É minha lei, é minha questão<br />

Virar esse mundo<br />

Cravar esse chão<br />

Não me importa saber<br />

Se é terrível demais<br />

Quantas guerras terei que vencer<br />

Por um pouco de paz<br />

E amanhã se esse chão que eu beijei<br />

For meu leito e perdão<br />

Vou saber que valeu delirar<br />

E morrer de paixão<br />

E assim, seja lá como for<br />

Vai ter fim a infinita aflição<br />

E o mundo vai ver uma flor<br />

Brotar do impossível chão.<br />

(J. Darione – M. Leigh – Versão de Chico Buarque de<br />

Hollanda e Ruy Guerra, 1972.)<br />

A tirinha e a canção apresentam uma<br />

reflexão sobre o futuro da humanidade. É<br />

correto concluir que os dois textos<br />

A) afirmam que o homem é capaz de<br />

alcançar a paz.<br />

B) concordam que o desarmamento é<br />

inatingível.<br />

C) julgam que o sonho é um desafio<br />

invencível.<br />

D) têm visões diferentes sobre um<br />

possível mundo melhor.<br />

53) (2002) A crônica muitas vezes constitui<br />

um espaço para reflexão sobre aspectos<br />

da sociedade em que vivemos.<br />

"Eu, na rua, com pressa, e o menino<br />

segurou no meu braço, falou qualquer<br />

coisa que não entendi. Fui logo dizendo<br />

que não tinha, certa de que ele estava<br />

pedindo dinheiro. Não estava. Queria<br />

saber a hora.<br />

Talvez não fosse um Menino De<br />

Família, mas também não era um Menino<br />

De Rua. É assim que a gente divide.<br />

Menino De Família é aquele bem-vestido<br />

com tênis da moda e camiseta de marca,<br />

que usa relógio e a mãe dá outro se o<br />

dele for roubado por um Menino De Rua.<br />

Menino De Rua é aquele que quando a<br />

gente passa perto segura a bolsa com<br />

força porque pensa que ele é pivete,<br />

trombadinha, ladrão. (...) Na verdade não<br />

existem meninos De rua.<br />

Existem meninos NA rua. E toda vez<br />

que um menino está NA rua é porque<br />

alguém o botou lá. Os meninos não vão<br />

sozinhos aos lugares. Assim como são<br />

postos no mundo, durante muitos anos<br />

também são postos onde quer que<br />

estejam. Resta ver quem os põe na rua. E<br />

por quê."<br />

COLASSANTI, Marina. In: Eu sei, mas não devia. Rio de<br />

Janeiro: Rocco, 1999.<br />

No terceiro parágrafo em "... não existem<br />

meninos De rua. Existem meninos NA<br />

rua.", a troca de De pelo Na determina<br />

que a relação de sentido entre "menino" e<br />

"rua" seja<br />

A) de localização e não de qualidade.<br />

B) de origem e não de posse.<br />

C) de origem e não de localização.<br />

D) de qualidade e não de origem.<br />

E) de posse e não de localização.<br />

63


Comentário<br />

Questão de nível fácil. Apesar de não haver<br />

um terceiro parágrafo neste texto, a troca das<br />

preposições ao final do SEGUNDO parágrafo<br />

indica claramente que não há um menino DE<br />

(proveniente de) rua, mas um menino que está<br />

NA (foi levado à) rua. Portanto, a relação é<br />

unicamente de localização (onde ele está) e<br />

não de qualidade (o que ele é).<br />

Comentário do INEP<br />

A reprodução de um trecho de uma crônica<br />

de Marina Colassanti tematiza uma importante<br />

questão social brasileira: a presença de<br />

milhões de crianças nas ruas do País. A autora,<br />

ao tratar desse problema, vale-se de recursos<br />

lingüísticos específicos. O objetivo desta<br />

questão é justamente chamar a atenção do<br />

participante leitor para esses recursos e os<br />

efeitos de sentido que eles desencadeiam no<br />

texto. Na raiz da questão destaca-se a troca de<br />

"De" por "NA" e pede-se que se determine qual<br />

relação de sentido essa substituição estabelece<br />

entre os termos "menino" e "rua". Analisar a<br />

relação, nesse caso, significa perguntar-se<br />

sobre o sentido de dois sintagmas criados no<br />

texto: "meninos NA rua" por oposição a<br />

"meninos De rua". O que a autora pretende<br />

negar, com a troca do termo de relação, é a<br />

possibilidade de que existam meninos de rua<br />

diferentes de outros meninos, que não têm na<br />

rua a sua origem. O destaque para a<br />

preposição na nos leva a refletir que a relação<br />

dos meninos com a rua é de localização: eles<br />

estão ali por alguma razão, não porque essa<br />

seja a sua qualificação. Essa reflexão levaria o<br />

aluno a escolher, como correta, a resposta<br />

apresentada na alternativa A, assinalada por<br />

cerca de metade dos participantes.<br />

54) (2000) O uso do pronome átono no início<br />

das frases é destacado por um poeta e<br />

por um gramático nos textos abaixo.<br />

64<br />

Pronominais<br />

Dê-me um cigarro<br />

Diz a gramática<br />

Do professor e do aluno<br />

E do mulato sabido<br />

Mas o bom negro e o bom branco<br />

da Nação Brasileira<br />

Dizem todos os dias<br />

Deixa disso camarada<br />

Me dá um cigarro<br />

(ANDRADE, Oswald de. Seleção de textos.<br />

São Paulo: Nova Cultural, 1988)<br />

“Iniciar a frase com pronome átono só<br />

é lícito na conversação familiar,<br />

despreocupada, ou na língua escrita<br />

quando se deseja reproduzir a fala dos<br />

personagens (...).”<br />

(CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da<br />

língua portuguesa.<br />

São Paulo: Nacional, 1980)<br />

Comparando a explicação dada pelos<br />

autores sobre essa regra, pode-se afirmar<br />

que ambos:<br />

A) condenam essa regra gramatical.<br />

B) acreditam que apenas os esclarecidos<br />

sabem essa regra.<br />

C) criticam a presença de regras na<br />

gramática.<br />

D) afirmam que não há regras para uso de<br />

pronomes.<br />

E) relativizam essa regra gramatical.<br />

Comentário<br />

Questão que requer conhecimento básico<br />

de colocação pronominal, em relação ao uso<br />

de pronomes átonos no início de frases, uma<br />

regra muito pouco respeitada pelo brasileiro,<br />

da qual Oswald de Andrade faz questão de<br />

falar em seu poema. Porém, a questão pode<br />

ser resolvida simplesmente por meio de uma<br />

leitura bem atenta dos textos. Se formos<br />

analisando alternativa por alternativa, a<br />

eliminação é clara e lógica: a alternativa a<br />

fica totalmente descartada devido à<br />

transparência da colocação dos dois autores<br />

(Me dá um cigarro...) e (iniciar frases com o<br />

pronome átono é "lícito" na conversação<br />

familiar ou despreocupada). Já a alternativa b<br />

pode até mesmo gerar um pouco de dúvida a<br />

quem não se atém bem à pergunta. Quanto<br />

às alternativas c e d, ficam descartadas, pois,<br />

em momento nenhum, os autores criticaram<br />

o uso de regras gramaticais em seus textos,<br />

cabendo perfeitamente a alternativa e para<br />

as afirmações do gramático e do poeta.<br />

Comentário do INEP<br />

Essa questão pretendia verificar como o<br />

participante analisa um fato lingüístico,<br />

mediante a comparação da descrição desse<br />

fato em dois textos. Sabe-se que,<br />

normalmente em situação escolar, o uso do<br />

pronome átono no início da frase é julgado<br />

como grave desvio gramatical, e pouco se<br />

analisa esse uso na fala ou escrita informal.<br />

Os dois autores dos textos, com intenções<br />

diferentes, relativizam essa regra gramatical,<br />

destacando e descrevendo o seu uso<br />

coloquial. A maioria dos participantes (52%)<br />

analisou e comparou corretamente as<br />

posições dos autores sobre o uso do


pronome átono, e 24% deles reafirmaram a<br />

posição discriminatória da regra, deslocandoa<br />

de seu uso.<br />

história de Van Gogh, ou apropriaram-se<br />

corretamente da informação sobre esse<br />

pintor, fornecida no enunciado.<br />

55) (2000) As histórias em quadrinhos, por<br />

vezes, utilizam animais como<br />

personagens e a eles atribuem<br />

comportamento humano. O gato Garfield<br />

é exemplo desse fato.<br />

56) (2004)<br />

Fonte: Caderno Vida e Arte, Jornal do Povo, Fortaleza<br />

Van Gogh, pintor holandês nascido em<br />

1853, é um dos principais nomes da<br />

pintura mundial. É dele o quadro abaixo.<br />

Auto-retrato de orelha cortada<br />

O 3º quadrinho sugere que Garfield:<br />

A) desconhece tudo sobre arte, por isso<br />

faz a sugestão.<br />

B) acredita que todo pintor deve fazer algo<br />

diferente.<br />

C) defende que para ser pintor a pessoa<br />

tem de sofrer.<br />

D) conhece a história de um pintor<br />

famoso e faz uso da ironia.<br />

E) acredita que seu dono tenha tendência<br />

artística e, por isso, faz a sugestão.<br />

Comentário<br />

Outra questão de interpretação de texto.<br />

Muito simples para quem um dia ouviu falar<br />

de Van Gogh, e simplíssima para aqueles<br />

que prestam atenção em todos os elementos<br />

do enunciado. Afinal, quem deu uma<br />

espiadinha na legenda do quadro de Van<br />

Gogh matou na hora a questão.<br />

Esta questão é daquelas rápidas de serem<br />

resolvidas, associando-se os elementos<br />

apresentados.<br />

Comentário do INEP<br />

A significativa maioria (81%) dos<br />

participantes soube perceber o caráter<br />

irônico da fala do Garfield, expressa no<br />

terceiro quadrinho porque, ou conheciam a<br />

A tira "Hagar" e o poema de Alberto<br />

Caeiro (um dos heterônimos de Fernando<br />

Pessoa) expressam, com linguagens<br />

diferentes, uma mesma idéia: a de que a<br />

compreensão que temos do mundo é<br />

condicionada, essencialmente,<br />

A) pelo alcance de cada cultura.<br />

B) pela capacidade visual do observador.<br />

C) pelo senso de humor de cada um.<br />

D) pela idade do observador.<br />

E) pela altura do ponto de observação.<br />

Comentário<br />

Questão reflexiva sobre a forma como<br />

cada cultura vê o mundo sob a ótica dos<br />

limites dados pelos seus costumes e<br />

possibilidades de pensamento inerentes a<br />

cada modelo cultural. A mistura de uma tira e<br />

de um poema amplia a possibilidade de<br />

pensamento por trabalhar com linguagens<br />

diferentes. A alternativa correta é a letra A,<br />

pois ambos (tira e poema) utilizam figuras de<br />

linguagem (metáfora e ironia) para expressar<br />

as diferentes visões de mundo.<br />

57) (2003)<br />

O humor presente na tirinha decorre<br />

principalmente do fato de a personagem<br />

Mafalda<br />

A) atribuir, no primeiro quadrinho, poder<br />

ilimitado ao dedo indicador.<br />

B) considerar seu dedo indicador tão<br />

importante quanto o dos patrões.<br />

65


C) atribuir, no primeiro e no último<br />

quadrinhos, um mesmo sentido ao<br />

vocábulo "indicador".<br />

D) usar corretamente a expressão<br />

"indicador de desemprego", mesmo<br />

sendo criança.<br />

E) atribuir, no último quadrinho, fama<br />

exagerada ao dedo indicador dos<br />

patrões.<br />

Comentário<br />

A questão pede a interpretação de uma<br />

charge da personagem Mafalda, em que ela<br />

faz referência a seu dedo indicador, que é<br />

usado como substantivo primitivo e que<br />

possibilita a analogia com “indicador de<br />

desemprego”. Dessa forma, ela ironiza os<br />

indicadores sociais. Na charge, porém, não<br />

há menção explícita aos índices<br />

“indicadores”, permanecendo o raciocínio<br />

preso apenas ao dedo indicador. Assim, ela<br />

utiliza, tanto no primeiro quanto no último<br />

quadrinho, a palavra “indicador” como<br />

referência ao dedo, não dando abertura a<br />

outro tipo de interpretação.<br />

58) (2002)<br />

De acordo com a história em quadrinhos<br />

protagonizada por Hagar e seu filho<br />

Hamlet, pode-se afirmar que a postura de<br />

Hagar<br />

A) valoriza a existência da diversidade<br />

social e de culturas, e as várias<br />

representações e explicações desse<br />

universo.<br />

B) desvaloriza a existência da<br />

diversidade social e as várias culturas,<br />

e determina uma única explicação para<br />

esse universo.<br />

C) valoriza a possibilidade de explicar as<br />

sociedades e as culturas a partir de<br />

várias visões de mundo.<br />

D) valoriza a pluralidade cultural e social<br />

ao aproximar a visão de mundo de<br />

navegantes e não-navegantes.<br />

E) desvaloriza a pluralidade cultural e<br />

social, ao considerar o mundo habitado<br />

apenas pelos navegantes.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. Hagar reduz o<br />

mundo a dois tipos de pessoas: navegantes<br />

e não-navegantes. No último quadrinho, diz<br />

que são os navegantes que estabelecem<br />

esses dois grupos. Portanto, quem é<br />

diferente dos navegantes (que estabelecem<br />

o padrão) simplesmente é incluído na massa<br />

única dos não-navegantes. Não importa<br />

quem ou quantos sejam, sua diversidade<br />

social ou cultural em relação aos navegantes<br />

ou entre si. Vemos aí a desvalorização de<br />

outras culturas.<br />

Comentário do INEP<br />

Dentre as habilidades básicas para a<br />

compreensão de um texto destaca-se a<br />

capacidade do leitor de identificar os<br />

pressupostos de cada afirmação que lhe é<br />

apresentada. Nesta questão o participante<br />

deve identificar a posição tanto de Hagar<br />

como de seu filho Hamlet e, em seguida,<br />

avaliar quais os argumentos que justificam a<br />

opinião de Hagar ao definir que no mundo só<br />

existem dois tipos de pessoas. A pergunta de<br />

Hamlet a seu pai explicita a importância do<br />

ato de narrar através do diálogo e do efeito<br />

humorístico contido no episódio representado<br />

na tira. O resultado da compreensão<br />

acertada do diálogo é que o narrador torna<br />

inteligível, para si e para os outros, a lógica<br />

do seu pensamento através do diálogo entre<br />

os dois personagens. É importante observar<br />

que o humor do personagem Hagar é<br />

identificado na postura simetricamente<br />

oposta à de Michel de Montaigne, por<br />

exemplo (ver questão 58): a sua visão de<br />

mundo apresenta-se autocentrada, isto é,<br />

centrada nos seus próprios valores (vikings).<br />

A habilidade requerida do participante nessa<br />

questão, qual seja, "valorizar a diversidade<br />

dos patrimônios etnoculturais", é mobilizada<br />

aqui na sua dimensão negativa: é criticando<br />

a postura chauvinista de Hagar que o<br />

participante é capaz de responder<br />

corretamente a questão. A última alternativa<br />

(E) funciona como um distrator, pois neste<br />

caso não está suposta a crítica do discurso<br />

do personagem. Cerca de um terço dos<br />

participantes assinalou a alternativa correta<br />

B. As demais opções são devidas,<br />

possivelmente, a uma leitura pouco<br />

compreensiva das alternativas associadas a<br />

história em quadrinhos.<br />

66


59) (2009) Analise as seguintes avaliações<br />

de possíveis resultados de um teste na<br />

lnternet.<br />

H6 - Utilizar os conhecimentos da<br />

LEM e de seus mecanismos<br />

como meio de ampliar as<br />

possibilidades de acesso a<br />

informações, tecnologias e<br />

culturas.<br />

Veja. 8 jul. 2009. p.<strong>10</strong>2 (adaptado).<br />

Depreende-se, a partir desse conjunto de<br />

informações, que o teste que deu origem<br />

a esses resultados, além de estabelecer<br />

um perfil para o usuário de sites de<br />

relacionamento, apresenta preocupação<br />

com hábitos e propõe mudanças de<br />

comportamento direcionadas<br />

A) ao adolescente que acessa sites de<br />

entretenimento.<br />

B) ao profissional interessado em<br />

aperfeiçoamento tecnológico.<br />

C) à pessoa que usa os sites de<br />

relacionamento para complementar seu<br />

círculo de amizades.<br />

D) ao usuário que reserva mais tempo<br />

aos sites de relacionamento do que ao<br />

convívio pessoal com os amigos.<br />

E) ao leitor que se interessa em aprender<br />

sobre o funcionamento de diversos<br />

tipos de sites de relacionamento.<br />

Comentário<br />

(QUESTÃO: AZUL 93, BRANCA 92,<br />

ROSA 92)<br />

Questão bastante fácil, pois pede que se<br />

indique a que público se dirige a<br />

preocupação com o hábito de se relacionar<br />

com outras pessoas muito mais pela internet<br />

do que pessoalmente, alertando para a<br />

necessidade da mudança de tal<br />

comportamento. Dessa forma, a resposta<br />

correta é a alternativa D.<br />

COMPETÊNCIA DE ÁREA 2<br />

H5 - Associar vocábulos e<br />

expressões de um texto em<br />

LEM ao seu tema.<br />

H7 - Relacionar um texto em<br />

LEM, as estruturas<br />

linguísticas, sua função e<br />

seu uso social.<br />

H8 - Reconhecer a importância<br />

da produção cultural em LEM<br />

como representação da<br />

diversidade cultural e<br />

linguística.<br />

COMPETÊNCIA DE ÁREA 3<br />

H9 - Reconhecer as<br />

manifestações corporais de<br />

movimento como originárias<br />

de necessidades cotidianas<br />

de um grupo social<br />

01) (2008) Calcula-se que 78% do<br />

desmatamento na Amazônia tenha sido<br />

motivado pela pecuária — cerca de 35%<br />

do rebanho nacional está na região — e<br />

que pelo menos 50 milhões de hectares<br />

de pastos são pouco produtivos. Enquanto<br />

o custo médio para aumentar a<br />

produtividade de 1 hectare de pastagem é<br />

de 2 mil reais, o custo para derrubar igual<br />

área de floresta é estimado em 800 reais,<br />

o que estimula novos desmatamentos.<br />

Adicionalmente, madeireiras retiram as<br />

árvores de valor comercial que foram<br />

abatidas para a criação de pastagens. Os<br />

pecuaristas sabem que problemas<br />

ambientais como esses podem provocar<br />

restrições à pecuária nessas áreas, a<br />

exemplo do que ocorreu em 2006 com o<br />

plantio da soja, o qual, posteriormente, foi<br />

proibido em áreas de floresta.<br />

Época, 3/3/2008 e 9/6/2008 (com adaptações).<br />

A partir da situação-problema descrita,<br />

conclui-se que<br />

67


A) o desmatamento na Amazônia decorre<br />

principalmente da exploração ilegal de<br />

árvores de valor comercial.<br />

B) um dos problemas que os pecuaristas<br />

vêm enfrentando na Amazônia é a<br />

proibição do plantio de soja.<br />

C) a mobilização de máquinas e de força<br />

humana torna o desmatamento mais<br />

caro que o aumento da produtividade<br />

de pastagens.<br />

D) o superavit comercial decorrente da<br />

exportação de carne produzida na<br />

Amazônia compensa a possível<br />

degradação ambiental.<br />

E) a recuperação de áreas desmatadas<br />

e o aumento de produtividade das<br />

pastagens podem contribuir para a<br />

redução do desmatamento na<br />

Amazônia.<br />

Comentário do portal<br />

Essa questão retrata o problema do<br />

desmatamento da Amazônia, relacionado<br />

principalmente com o desenvolvimento da<br />

pecuária na região. Para resolvê-la, foram<br />

necessários a leitura atenta do texto e o<br />

conhecimento sobre os problemas<br />

ambientais da atualidade. A alternativa<br />

correta é a letra E, pois é mais caro para os<br />

pecuaristas aumentar a produtividade do que<br />

as áreas de pasto, o que acarreta o aumento<br />

do desmatamento da Amazônia.<br />

02) (2008) A Lei Federal n.º 9.985/2000, que<br />

instituiu o sistema nacional de unidades<br />

de conservação, define dois tipos de<br />

áreas protegidas. O primeiro, as unidades<br />

de proteção integral, tem por objetivo<br />

preservar a natureza, admitindo-se<br />

apenas o uso indireto dos seus recursos<br />

naturais, isto é, aquele que não envolve<br />

consumo, coleta, dano ou destruição dos<br />

recursos naturais. O segundo, as<br />

unidades de uso sustentável, tem por<br />

função compatibilizar a conservação da<br />

natureza com o uso sustentável de<br />

parcela dos recursos naturais. Nesse<br />

caso, permite-se a exploração do<br />

ambiente de maneira a garantir a<br />

perenidade dos recursos ambientais<br />

renováveis e dos processos ecológicos,<br />

mantendo-se a biodiversidade e os<br />

demais atributos ecológicos, de forma<br />

socialmente justa e economicamente<br />

viável.<br />

Considerando essas informações, analise<br />

a seguinte situação hipotética.<br />

Ao discutir a aplicação de recursos<br />

disponíveis para o desenvolvimento de<br />

determinada região, organizações civis,<br />

universidade e governo resolveram<br />

investir na utilização de uma unidade de<br />

proteção integral, o Parque Nacional do<br />

Morro do Pindaré, e de uma unidade de<br />

uso sustentável, a Floresta Nacional do<br />

Sabiá. Depois das discussões, a equipe<br />

resolveu levar adiante três projetos:<br />

— o projeto I consiste de pesquisas<br />

científicas embasadas exclusivamente<br />

na observação de animais;<br />

— o projeto II inclui a construção de uma<br />

escola e de um centro de vivência;<br />

— o projeto III promove a organização de<br />

uma comunidade extrativista que<br />

poderá coletar e explorar<br />

comercialmente frutas e sementes<br />

nativas.<br />

Nessa situação hipotética, atendendo-se à<br />

lei mencionada acima, é possível<br />

desenvolver tanto na unidade de proteção<br />

integral quanto na de uso sustentável<br />

A) apenas o projeto I.<br />

B) apenas o projeto III.<br />

C) apenas os projetos I e II.<br />

D) apenas os projetos II e III.<br />

E) todos os três projetos.<br />

Comentário do portal<br />

A alternativa correta é a letra "A", pois,<br />

analisando-se a situação hipotética sugerida<br />

no enunciado, percebe-se que ela deverá<br />

atender os requisitos tanto da unidade de<br />

proteção integral quanto da unidade de uso<br />

sustentável. Portanto, apenas o projeto I<br />

poderá ser desenvolvido nessas duas<br />

propostas de unidades.<br />

03) (1999) Leia o texto abaixo.<br />

Cabelos longos, brinco na orelha<br />

esquerda, físico de skatista. Na aparência,<br />

o estudante brasiliense Rui Lopes Viana<br />

Filho, de 16 anos, não lembra em nada o<br />

estereótipo dos gênios. Ele não usa<br />

pesados óculos de grau e está longe de<br />

ter um ar introspectivo. No final do mês<br />

passado, Rui retornou de Taiwan, onde<br />

enfrentou 419 competidores de todo o<br />

mundo na 39ª Olimpíada Internacional de<br />

Matemática. A reluzente medalha de ouro<br />

que ele trouxe na bagagem está<br />

dependurada sobre a cama de seu quarto,<br />

atulhado de rascunhos dos problemas<br />

matemáticos que aprendeu a decifrar nos<br />

últimos cinco anos.<br />

68


Veja – Vencer uma olimpíada serve de<br />

passaporte para uma carreira profissional<br />

meteórica?<br />

Rui – Nada disso. Decidi me dedicar à<br />

Olimpíada porque sei que a concorrência<br />

por um emprego é cada vez mais<br />

selvagem e cruel. Agora tenho algo a mais<br />

para oferecer. O problema é que as coisas<br />

estão mudando muito rápido e não sei<br />

qual será minha profissão. Além de ser<br />

muito novo para decidir sobre o meu<br />

futuro profissional, sei que esse conceito<br />

de carreira mudou muito.<br />

(Entrevista de Rui Lopes Viana Filho à Veja,<br />

05/08/1998, n.31, p. 9-<strong>10</strong>)<br />

Na pergunta, o repórter estabelece uma<br />

relação entre a entrada do estudante no<br />

mercado de trabalho e a vitória na<br />

Olimpíada. O estudante<br />

A) concorda com a relação e afirma que o<br />

desempenho na Olimpíada é<br />

fundamental para sua entrada no<br />

mercado.<br />

B) discorda da relação e complementa<br />

que é fácil se fazer previsões sobre o<br />

mercado de trabalho.<br />

C) discorda da relação e afirma que seu<br />

futuro profissional independe de<br />

dedicação aos estudos.<br />

D) discorda da relação e afirma que seu<br />

desempenho só é relevante se<br />

escolher uma profissão relacionada à<br />

matemática.<br />

E) concorda em parte com a relação e<br />

complementa que é complexo fazer<br />

previsões sobre o mercado de trabalho.<br />

Comentário<br />

Não é difícil de se chegar à resposta<br />

correta ao se ler a reportagem. Ao final do<br />

último parágrafo — (...) Além de ser muito<br />

novo para decidir sobre o meu futuro<br />

profissional, sei que esse conceito de carreira<br />

mudou muito. —, o estudante praticamente<br />

fornece a resposta à questão, declarando-se<br />

realista ao não tentar prever seu futuro<br />

profissional devido à pouca idade e às<br />

mudanças no mercado de trabalho. Quanto a<br />

concordar parcialmente com o repórter, veja<br />

que ele, apesar de negar que o prêmio fosse<br />

uma garantia de sucesso profissional, logo<br />

depois afirma que, com ele, terá algo mais a<br />

oferecer ao mercado. Questão de nível fácil.<br />

Comentário do INEP<br />

Nesta situação-problema, o participante<br />

deveria demonstrar que compreendeu as<br />

premissas de um discurso, distinguindo a<br />

diferença de significado de palavras isoladas<br />

ou no contexto em que estão inseridas.<br />

Verificou-se que mais da metade dos<br />

participantes demonstrou possuir essa<br />

compreensão. Aqueles que optaram pelas<br />

alternativas C e D podem ter sido atraídos<br />

pelo significado negativo da expressão inicial<br />

"Nada disso".<br />

04) (1998) Texto 1<br />

"Mulher, Irmã, escuta-me: não ames,<br />

Quando a teus pés um homem terno e<br />

curvo<br />

jurar amor, chorar pranto de sangue,<br />

Não creias, não, mulher: ele te engana!<br />

As lágrimas são gotas da mentira<br />

E o juramento manto da perfídia."<br />

(Joaquim Manoel de Macedo)<br />

Texto 2<br />

"Teresa, se algum sujeito bancar o<br />

sentimental em cima de você<br />

E te jurar uma paixão do tamanho de um<br />

bonde<br />

Se ele chorar<br />

Se ele ajoelhar<br />

Se ele se rasgar todo<br />

Não acredite não Teresa<br />

É lágrima de cinema<br />

É tapeação<br />

Mentira<br />

CAI FORA"<br />

(Manuel Bandeira)<br />

Os autores, ao fazerem alusão às<br />

imagens da lágrima sugerem que:<br />

A) há um tratamento idealizado da<br />

relação homem/mulher.<br />

B) há um tratamento realista da relação<br />

homem/mulher.<br />

C) a relação familiar é idealizada.<br />

D) a mulher é superior ao homem.<br />

E) a mulher é igual ao homem.<br />

Comentário<br />

Ambos os autores, ao utilizarem a<br />

imagem da lágrima, estão na realidade<br />

mostrando que a figura do homem que é<br />

romântico a ponto de chorar ao jurar amor<br />

não existe. Tanto Macedo quanto<br />

Bandeira alertam as mulheres dizendo,<br />

com palavras e estilos diferentes, que não<br />

há homem que chore por amor (portanto,<br />

essa figura é uma idealização — e, por<br />

conseguinte, toda imagem que se tem<br />

sobre os relacionamentos<br />

demasiadamente românticos). Note que<br />

Bandeira chega até mesmo a chamar tal<br />

"chorão" de ator ("...É lágrima de cinema /<br />

69


É tapeação..."). Macedo dá uma imagem<br />

pesada às lágrimas ("...são gotas da<br />

mentira...").<br />

05) (1999) Considere os textos abaixo.<br />

(...) de modo particular, quero encorajar os<br />

crentes empenhados no campo da<br />

filosofia para que iluminem os diversos<br />

âmbitos da atividade humana, graças ao<br />

exercício de uma razão que se torna mais<br />

segura e perspicaz com o apoio que<br />

recebe da fé.<br />

(Papa João Paulo II. Carta Encíclica Fides<br />

et Ratio aos bispos da igreja católica sobre as relações<br />

entre fé e razão, 1998)<br />

As verdades da razão natural não<br />

contradizem as verdades da fé cristã.<br />

(São Tomás de Aquino<br />

–pensador medieval)<br />

Refletindo sobre os textos, pode-se<br />

concluir que:<br />

A) a encíclica papal está em contradição<br />

com o pensamento de São Tomás de<br />

Aquino, refletindo a diferença de<br />

épocas.<br />

B) a encíclica papal procura<br />

complementar São Tomás de Aquino,<br />

pois este colocava a razão natural<br />

acima da fé.<br />

C) a Igreja medieval valorizava a razão<br />

mais do que a encíclica de João Paulo<br />

II.<br />

D) o pensamento teológico teve sua<br />

importância na Idade Média, mas, em<br />

nossos dias, não tem relação com o<br />

pensamento filosófico.<br />

E) tanto a encíclica papal como a frase<br />

de São Tomás de Aquino procuram<br />

conciliar os pensamentos sobre fé e<br />

razão.<br />

Comentário<br />

Nessa questão, é necessária uma<br />

releitura do texto para que se tenha uma<br />

melhor compreensão do tema. Tanto a<br />

citação do Papa quanto a de São Tomás de<br />

Aquino tentam criar uma interdependência<br />

entre a ciência e a fé, a religião. O Papa<br />

incentiva aqueles que exercem a pesquisa<br />

científica ou filosófica a manter a fé cristã.<br />

São Tomás de Aquino, por sua vez, equipara<br />

o avanço da ciência ao aumento da própria<br />

fé, afirmando que a razão natural não<br />

contradiz a fé cristã. Se um cresce, cresce<br />

também o outro, em harmonia e sem<br />

contradições. Questão de grau médio.<br />

(Português)<br />

Nessa questão, encontramos dois textos:<br />

o primeiro, do século XX, foi elaborado pelo<br />

Papa João Paulo II; o segundo, do século<br />

XIII, pelo teólogo e filósofo cristão São<br />

Tomás de Aquino. O conteúdo de ambos se<br />

refere à ligação entre fé e razão, a qual<br />

esteve presente na filosofia escolástica da<br />

Idade Média. Esse campo de reflexão buscou<br />

conciliar o cristianismo com o pensamento de<br />

Aristóteles e teve em São Tomás de Aquino<br />

seu maior representante.<br />

Mesmo sem ter todas essas informações,<br />

você poderia responder tranqüilamente à<br />

questão por meio de uma leitura atenta dos<br />

dois textos, chegando à conclusão de que<br />

"tanto a encíclica papal como a frase de São<br />

Tomás de Aquino procuram conciliar os<br />

pensamentos sobre fé e razão". Resposta<br />

correta: alternativa E. (História)<br />

Comentário do INEP<br />

Para resolver esta situação-problema, o<br />

participante deveria mostrar que, além de<br />

interpretar textos, sabe relacioná-los sendo<br />

que, nesse item, essas operações referem-se<br />

a um texto escrito na época medieval e a<br />

outro escrito recentemente.<br />

Mais de 70% dos participantes<br />

demonstraram facilidade em estabelecer esta<br />

relação.<br />

06) (1999) Leia um texto publicado no jornal<br />

Gazeta Mercantil. Esse texto é parte de<br />

um artigo que analisa algumas situações<br />

de crise no mundo, entre elas, a quebra<br />

da Bolsa de Nova Iorque em 1929, e foi<br />

publicado na época de uma iminente crise<br />

financeira no Brasil.<br />

Deu no que deu. No dia 29 de outubro de<br />

1929, uma terça-feira, praticamente não<br />

havia compradores no pregão de Nova<br />

Iorque, só vendedores. Seguiu-se uma<br />

crise incomparável: o Produto Interno<br />

Bruto dos Estados Unidos caiu de <strong>10</strong>4<br />

bilhões de dólares em 1929, para 56<br />

bilhões em 1933, coisa inimaginável em<br />

nossos dias. O valor do dólar caiu a quase<br />

metade. O desemprego elevou-se de 1,5<br />

milhão para 12,5 milhões de trabalhadores<br />

– cerca de 25% da população ativa –<br />

entre 1929 e 1933. A construção civil caiu<br />

90%. Nove milhões de aplicações, tipo<br />

caderneta de poupança, perderam-se com<br />

o fechamento dos bancos. Oitenta e cinco<br />

mil firmas faliram. Houve saques e norteamericanos<br />

que passaram fome.<br />

(Gazeta Mercantil, 05/01/1999)<br />

70


Ao citar dados referentes à crise ocorrida<br />

em 1929, em um artigo jornalístico atual,<br />

pode-se atribuir ao jornalista a seguinte<br />

intenção:<br />

A) questionar a interpretação da crise.<br />

B) comunicar sobre o desemprego.<br />

C) instruir o leitor sobre aplicações em<br />

bolsa de valores.<br />

D) relacionar os fatos passados e<br />

presentes.<br />

E) analisar dados financeiros americanos.<br />

Comentário<br />

Nessa questão, o que se tem de fazer é<br />

prestar atenção às alternativas das<br />

respostas. Nenhuma delas se apresenta tão<br />

bem contextualizada a uma possível<br />

interpretação quanto a letra D. Partindo-se da<br />

análise do texto, fica claro que a intenção do<br />

artigo é remeter o leitor ao passado para<br />

tentar conduzi-lo a uma reflexão sobre uma<br />

situação presente, não mencionada na<br />

questão. Após a leitura e utilizando-se a já<br />

citada eliminação de questões, torna-se clara<br />

a resposta. Questão de nível médio.<br />

(Português)<br />

Muitas vezes, quando procuramos<br />

entender uma crise econômica ou financeira<br />

de grandes proporções, buscamos<br />

estabelecer relações com crises passadas. O<br />

mesmo ocorre no jornalismo, como prova o<br />

texto encontrado nessa questão. Buscando<br />

entender uma crise ocorrida no início de<br />

1999, o jornalista da Gazeta Mercantil<br />

buscou relacionar a situação dessa época<br />

com a grande crise de 1929 que afetou o<br />

mundo, trazendo desemprego e recessão,<br />

entre tantos outros problemas econômicos e<br />

sociais.<br />

Para responder a essa questão, era<br />

necessário ler atentamente o enunciado, em<br />

que está destacado que "o texto é parte de<br />

um artigo que analisa algumas situações de<br />

crise no mundo" e "foi publicado na época de<br />

uma iminente crise financeira no Brasil". Era<br />

importante também observar a data em que o<br />

artigo foi publicado: 05/01/1999. A partir<br />

dessas constatações, facilmente você<br />

chegaria a conclusão de que a intenção do<br />

jornalista era "relacionar os fatos passados e<br />

presentes". Resposta correta: alternativa D.<br />

(História)<br />

Comentário do INEP<br />

A resolução da questão demandava a<br />

capacidade dos participantes de relacionar<br />

eventos históricos envolvendo crises<br />

econômicas ocorridas em épocas e lugares<br />

distintos. Aproximadamente 2/3 deles<br />

demonstraram essa capacidade. Os demais,<br />

provavelmente, não compreenderam a<br />

exigência expressa no enunciado do<br />

problema – apontar as razões pelas quais um<br />

jornalista traz à tona eventos ocorridos<br />

setenta anos antes –, e apenas interpretaram<br />

o sentido do texto citado, que descreve a<br />

crise mundial de 1929.<br />

07) (2002) O autor da tira utilizou os<br />

princípios de composição de um<br />

conhecido movimento artístico para<br />

representar a necessidade de um mesmo<br />

observador aprender a considerar,<br />

simultaneamente, diferentes pontos de<br />

vista.<br />

Das obras reproduzidas, todas de autoria<br />

do pintor espanhol Pablo Picasso, aquela<br />

em cuja composição foi adotado um<br />

procedimento semelhante é:<br />

A)<br />

B)<br />

C)<br />

71


D)<br />

08) (2001) Oxímoro (ou paradoxo) é uma<br />

construção textual que agrupa significados<br />

que se excluem mutuamente. Para<br />

Garfield, a frase de saudação de Jon<br />

(tirinha abaixo) expressa o maior de todos<br />

os oxímoros.<br />

E)<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. O movimento<br />

artístico que previa considerar<br />

simultaneamente diversos pontos de vista<br />

era o Cubismo. Havia a desconstrução da<br />

forma para que se pudesse ver todos os<br />

ângulos concomitantemente. O único quadro<br />

que apresenta essas características é o da<br />

alternativa E. As outras quatro alternativas<br />

pressupõem a manutenção da forma.<br />

Comentário do INEP<br />

O objetivo desta questão é levar o<br />

participante a refletir sobre características<br />

fundamentais de um movimento artístico – o<br />

cubismo – a partir de dados visuais:<br />

quadrinhos e pinturas. A reprodução de dois<br />

quadrinhos da personagem Calvin forneceu<br />

para o participante informações básicas para<br />

a análise que deveria fazer das alternativas<br />

apresentadas. Segundo os quadrinhos, o<br />

movimento artístico abordado pela questão<br />

tinha como procedimento de composição<br />

representar, para um mesmo observador,<br />

diferentes pontos de vista, fazendo com que<br />

"o tradicional único ponto de vista" fosse<br />

abandonado e com que a perspectiva fosse<br />

fraturada. A análise das obras de Picasso<br />

reproduzidas nas alternativas permite que o<br />

participante reconheça a adoção desse<br />

procedimento no quadro "Marie-Thérèse<br />

apoiada no cotovelo" (alternativa E, com 46%<br />

de registros), no qual se pode reconhecer a<br />

representação de diferentes pontos de vista<br />

a partir dos quais é apresentado o rosto da<br />

mulher retratada.<br />

Folha de S. Paulo. 31 de julho de 2000.<br />

Nas alternativas abaixo, estão transcritos<br />

versos retirados do poema “O operário em<br />

construção”. Pode-se afirmar que ocorre<br />

um oxímoro em<br />

A) "Era ele que erguia casas<br />

Onde antes só havia chão."<br />

B) "... a casa que ele fazia<br />

Sendo a sua liberdade<br />

Era a sua escravidão."<br />

C) "Naquela casa vazia<br />

Que ele mesmo levantara<br />

Um mundo novo nascia<br />

De que sequer suspeitava."<br />

D) "... o operário faz a coisa<br />

E a coisa faz o operário."<br />

E) "Ele, um humilde operário<br />

Um operário que sabia<br />

Exercer a profissão."<br />

MORAES, Vinícius de. Antologia Poética. São Paulo:<br />

Companhia das Letras, 1992.<br />

Comentário<br />

Idéias que se completam e se excluem<br />

mutuamente são encontradas na alternativa<br />

B: a casa que ele construía era, ao mesmo<br />

tempo, sua liberdade e sua escravidão.<br />

A casa é um símbolo de liberdade para o<br />

homem. Para o homem operário, é também<br />

símbolo de escravidão, pois ele está<br />

"condenado" a jamais usufruir do resultado<br />

do seu trabalho (a casa que faz não é para<br />

ele).<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão propõe ao participante que<br />

estabeleça uma relação entre linguagens,<br />

associando a compreensão de um efeito<br />

semântico produzido pelo uso do oxímoro<br />

nos quadrinhos com o mesmo efeito num<br />

texto poético. O índice (18%) de escolhas da<br />

alternativa D deve-se, possivelmente, a uma<br />

análise parcial da noção de paradoxo,<br />

confundida com inversão.<br />

72


09) (2005) Cândido Portinari (1903-1962), um<br />

dos mais importantes artistas brasileiros<br />

do século XX, tratou de diferentes<br />

aspectos da nossa realidade em seus<br />

quadros.<br />

Sobre a temática dos “Retirantes”,<br />

Portinari também escreveu o seguinte<br />

poema:<br />

(....)<br />

Os retirantes vêm vindo com trouxas e<br />

embrulhos<br />

Vêm das terras secas e escuras;<br />

pedregulhos<br />

Doloridos como fagulhas de carvão aceso<br />

Corpos disformes, uns panos sujos,<br />

Rasgados e sem cor, dependurados<br />

Homens de enorme ventre bojudo<br />

Mulheres com trouxas caídas para o lado<br />

Pançudas, carregando ao colo um garoto<br />

Choramingando, remelento<br />

(....)<br />

(Cândido Portinari. Poemas. Rio de Janeiro:<br />

J. Olympio, 1964.)<br />

Das quatro obras reproduzidas, assinale<br />

aquelas que abordam a problemática que<br />

é tema do poema.<br />

A) 1 e 2 D) 3 e 4<br />

B) 1 e 3 E) 2 e 4<br />

C) 2 e 3<br />

Comentário<br />

O poema apresenta correspondência com<br />

as imagens ao descrever com detalhes a<br />

figura do retirante: pobre, mal vestido,<br />

carregando trouxas e embrulhos.<br />

<strong>10</strong>) (2002) "A palavra tatuagem é<br />

relativamente recente. Toda a gente sabe<br />

que foi o navegador Cook que a introduziu<br />

no Ocidente, e esse escrevia tattou, termo<br />

da Polinésia de tatou ou tu tahou,<br />

'desenho'.<br />

(...) Desde os mais remotos tempos,<br />

vemo-la a transformar-se: distintivo<br />

honorífico entre uns homens, ferrete de<br />

ignomínia entre outros, meio de assustar o<br />

adversário para os bretões, marca de uma<br />

classe de selvagens das ilhas marquesas<br />

(...) sinal de amor, de desprezo, de ódio<br />

(...). Há três casos de tatuagem no Rio,<br />

completamente diversos na sua<br />

significação moral: os negros,os turcos<br />

com o fundo religioso e o bando de<br />

meretrizes, dos rufiões e dos humildes,<br />

que se marcam por crime ou por<br />

ociosidade".<br />

RIO, João do. Os Tatuadores. Revista Kosmos.<br />

1904, apud: A alma encantadora das ruas,<br />

SP: Cia das Letras, 1999.<br />

Com base no texto são feitas as seguintes<br />

afirmações:<br />

I. João do Rio revela como a tatuagem já<br />

estava presente na cidade do Rio de<br />

Janeiro, pelo menos desde o início do<br />

século XX, e era mais utilizada por<br />

alguns setores da população.<br />

II. A tatuagem, de origem polinésia,<br />

difundiu-se no ocidente com a<br />

característica que permanece até hoje:<br />

utilização entre os jovens com função<br />

estritamente estética.<br />

III. O texto mostra como a tatuagem é<br />

uma prática que se transforma no<br />

tempo e que alcança inúmeros sentidos<br />

nos diversos setores das sociedades e<br />

para as diferentes culturas.<br />

Está correto o que se afirma apenas em<br />

A) I D) I e II<br />

B) II E) I e III<br />

C) III<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. Constata-se o<br />

seguinte: a tatuagem já existia no Brasil no<br />

início do século XX (o texto é de 1904 e parte<br />

dele se refere ao Rio do Janeiro) e era<br />

utilizada em diferentes setores da sociedade.<br />

A afirmação de que as tatuagens possuem<br />

apenas finalidade estética entre os jovens<br />

elimina a segunda alternativa. Já a última<br />

alternativa confirma as transformações das<br />

funções da tatuagem ao longo do tempo nas<br />

mais diversas sociedades e culturas.<br />

Comentário do INEP<br />

O texto estabelece uma relação entre a<br />

atualidade da palavra "tatuagem" e a<br />

antiguidade do uso de desenhos como<br />

pintura corporal. Focaliza uma prática social<br />

bastante difundida que adquiriu aspectos e<br />

conotações diversos nos diferentes contextos<br />

73


históricos e geográficos em que ela pode ser<br />

descrita. Fazendo a descrição da prática da<br />

tatuagem, como uma manifestação comum a<br />

diferentes culturas, e que adquire, inclusive,<br />

significados diferentes dentro de uma mesma<br />

cultura, induz o participante a refletir sobre a<br />

"diversidade dos patrimônios etnoculturais e<br />

artísticos", contextualizando ao mesmo<br />

tempo seus significados "em diferentes<br />

sociedades, épocas e lugares". Ao retomar<br />

as várias origens e usos da tatuagem, o<br />

participante é levado a compreender e<br />

respeitar uma gramática histórica dos<br />

costumes marcada sempre por semelhanças<br />

e diferenças. A questão não exigia, portanto,<br />

nenhum conhecimento prévio sobre as<br />

diferentes formas de manifestação dessa<br />

prática, mas simplesmente constatar, com o<br />

autor do texto citado, a historicidade e a<br />

diversidade das práticas sociais. Os<br />

participantes que assinalaram a alternativa C<br />

(36%), possivelmente, não levaram em<br />

consideração informações do texto. A<br />

questão foi corretamente respondida por 37%<br />

dos participantes.<br />

11) (2003) Eu começaria dizendo que poesia<br />

é uma questão de linguagem. A<br />

importância do poeta é que ele torna mais<br />

viva a linguagem. Carlos Drummond de<br />

Andrade escreveu um dos mais belos<br />

versos da língua portuguesa com duas<br />

palavras comuns: cão e cheirando.<br />

Um cão cheirando o futuro<br />

(Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP, 24/05/1988.<br />

adaptação)<br />

74<br />

O que deu ao verso de Drummond o<br />

caráter de inovador da língua foi<br />

A) o modo raro como foi tratado o<br />

"futuro".<br />

B) a referência ao cão como "animal de<br />

estimação".<br />

C) a flexão pouco comum do verbo<br />

"cheirar" (gerúndio).<br />

D) a aproximação não usual do agente<br />

citado e a ação de "cheirar".<br />

E) o emprego do artigo indefinido "um" e<br />

do artigo definido "o" na mesma frase.<br />

Comentário<br />

O fato de Drummond identificar o futuro<br />

como algo que pode ser percebido por um<br />

animal irracional por meio do olfato foi<br />

inovador. A figura de linguagem foi<br />

construída metaforicamente: o futuro torna-se<br />

uma coisa que tem cheiro, contrariamente à<br />

imagem pela qual ele normalmente é<br />

representado: como algo que não se vê e<br />

não se pode pressentir ou tocar.<br />

12) (2003) Pequenos tormentos da vida<br />

De cada lado da sala de aula, pelas janelas<br />

altas, o azul convida os meninos,<br />

as nuvens desenrolam-se, lentas como quem<br />

vai inventando<br />

preguiçosamente uma história sem fim...Sem<br />

fim é a aula: e nada acontece,<br />

nada...Bocejos e moscas. Se ao menos,<br />

pensa Margarida, se ao menos um<br />

avião entrasse por uma janela e saísse por<br />

outra!<br />

(Mário Quintana. Poesias)<br />

Na cena retratada no texto, o sentimento<br />

do tédio<br />

A) provoca que os meninos fiquem<br />

contando histórias.<br />

B) leva os alunos a simularem bocejos,<br />

em protesto contra a monotonia da<br />

aula.<br />

C) acaba estimulando a fantasia,<br />

criando a expectativa de algum<br />

imprevisto mágico.<br />

D) prevalece de modo absoluto,<br />

impedindo até mesmo a distração ou o<br />

exercício do pensamento.<br />

E) decorre da morosidade da aula, em<br />

contraste com o movimento acelerado<br />

das nuvens e das moscas.<br />

Comentário<br />

Essa questão aborda o imaginário<br />

decorrente do marasmo trazido pela escola.<br />

O texto enfatiza o arrastar do tempo na<br />

mente de uma aluna, Margarida, que se põe<br />

a pensar em fatos mágicos ou imaginários<br />

que pudessem romper com a lentidão da<br />

aula.<br />

13) (2000) O autor do texto abaixo critica,<br />

ainda que em linguagem metafórica, a<br />

sociedade contemporânea em relação aos<br />

seus hábitos alimentares.<br />

“Vocês que têm mais de 15 anos, se<br />

lembram quando a gente comprava leite<br />

em garrafa, na leiteria da esquina? (...)<br />

Mas vocês não se lembram de nada,<br />

pô! Vai ver nem sabem o que é vaca. Nem<br />

o que é leite. Estou falando isso porque<br />

agora mesmo peguei um pacote de leite –<br />

leite em pacote, imagina, Tereza! – na<br />

porta dos fundos e estava escrito que é<br />

pasterizado, ou pasteurizado, sei lá, tem<br />

vitamina, é garantido pela<br />

embromatologia, foi enriquecido e o<br />

escambau. Será que isso é mesmo leite?<br />

No dicionário diz que leite é outra coisa:


‘Líquido branco, contendo água,<br />

proteína, açúcar e sais minerais’. Um<br />

alimento pra ninguém botar defeito. O ser<br />

humano o usa há mais de 5.000 anos. É o<br />

único alimento só alimento. A carne serve<br />

pro animal andar, a fruta serve pra fazer<br />

outra fruta, o ovo serve pra fazer outra<br />

galinha (...) O leite é só leite. Ou toma ou<br />

bota fora. Esse aqui examinando bem, é<br />

só pra botar fora. Tem chumbo, tem<br />

benzina, tem mais água do que leite, tem<br />

serragem, sou capaz de jurar que nem<br />

vaca tem por trás desse negócio. Depois o<br />

pessoal ainda acha estranho que os<br />

meninos não gostem de leite.<br />

Mas, como não gostam? Não gostam<br />

como? Nunca tomaram! Múúúúúúú!”<br />

(FERNANDES, Millôr. O Estado de S. Paulo ,<br />

22 de agosto de 1999)<br />

A palavra embromatologia usada pelo<br />

autor é:<br />

A) um termo científico que significa estudo<br />

dos bromatos.<br />

B) uma composição do termo de gíria<br />

“embromação” (enganação) com<br />

bromatologia, que é o estudo dos<br />

alimentos.<br />

C) uma junção do termo de gíria<br />

“embromação” (enganação) com<br />

lactologia, que é o estudo das<br />

embalagens para leite.<br />

D) um neologismo da química orgânica<br />

que significa a técnica de retirar<br />

bromatos dos laticínios.<br />

E) uma corruptela de termo da<br />

agropecuária que significa a ordenha<br />

mecânica.<br />

Comentário<br />

É necessário para a resolução desta<br />

questão:<br />

- perceber que o texto critica o exagerado<br />

uso de substâncias artificiais nos<br />

alimentos;<br />

- conhecer o significado da gíria embromar e<br />

da palavra bromatologia.<br />

Conhecendo esses significados, você<br />

elimina todas as alternativas erradas: a, c, d<br />

e e.<br />

Você poderá ter dúvida quanto à<br />

alternativa c, que também será eliminada se<br />

souber o significado da palavra lactologia,<br />

que é o estudo do leite e produtos lácteos e<br />

não das embalagens para leite.<br />

Nesta questão, são trabalhados os<br />

conceitos de interpretação de texto, formação<br />

de palavras e conhecimentos gerais.<br />

Comentário do INEP<br />

A resolução da questão requeria que o<br />

participante, ao ler o texto vinculasse o<br />

significado de um termo de gíria -<br />

"embromação" - com o da palavra<br />

bromatologia. A resposta correta exigia que o<br />

participante não abrisse mão do sabor<br />

picante contido na linguagem metafórica,<br />

sabor vinculado ao conhecimento específico<br />

contido na palavra bromatologia. Cerca da<br />

metade dos participantes (51%) optou pela<br />

alternativa correta e, os 20% que escolheram<br />

a alternativa C, provavelmente associaram a<br />

referência feita no texto à leite em pacote.<br />

14) (2008) Os signos visuais, como meios de<br />

comunicação, são classificados em<br />

categorias de acordo com seus<br />

significados.<br />

A categoria denominada indício<br />

corresponde aos signos visuais que têm<br />

origem em formas ou situações naturais<br />

ou casuais, as quais, devido à ocorrência<br />

em circunstâncias idênticas, muitas vezes<br />

repetidas, indicam algo e adquirem<br />

significado. Por exemplo, nuvens negras<br />

indicam tempestade. Com base nesse<br />

conceito, escolha a opção que representa<br />

um signo da categoria dos indícios.<br />

A)<br />

B)<br />

C)<br />

D)<br />

75


E)<br />

16) (2005) Leia estes textos.<br />

Texto 1<br />

Comentário<br />

Trata-se de uma questão interpretativa. O<br />

aluno precisa entender o que é “indício” para<br />

respondê-la. Segundo o dicionário Aurélio,<br />

indício é o mesmo que “sinal, vestígio,<br />

indicação”. Das figuras apresentadas,<br />

apenas a alternativa B indica algo: a<br />

passagem de alguém por algum lugar —<br />

pegada.<br />

15) (2008)<br />

76<br />

Exame, 28/9/2007.<br />

Entre os seguintes ditos populares, qual<br />

deles melhor corresponde à figura<br />

acima?<br />

A) Com perseverança, tudo se alcança.<br />

B) Cada macaco no seu galho.<br />

C) Nem tudo que balança cai.<br />

D) Quem tudo quer, tudo perde.<br />

E) Deus ajuda quem cedo madruga.<br />

Comentário<br />

Assim como a questão 37, esta também<br />

envolve interpretação de signos, ou seja, o<br />

aluno precisa estar atento à imagem e<br />

relacioná-la ao dito popular correspondente.<br />

A alternativa "A" é a correta, pois, para<br />

uma lesma “grudenta” e vagarosa conseguir<br />

pular numa cama elástica, é necessária<br />

muita perseverança.<br />

Texto 2<br />

Sonhar<br />

Mais um sonho impossível<br />

Lutar<br />

Quando é fácil ceder<br />

Vencer o inimigo invencível<br />

Negar quando a regra é vender<br />

Sofrer a tortura implacável<br />

Romper a incabível prisão<br />

Voar num limite improvável<br />

Tocar o inacessível chão<br />

É minha lei, é minha questão<br />

Virar esse mundo<br />

Cravar esse chão<br />

Não me importa saber<br />

Se é terrível demais<br />

Quantas guerras terei que vencer<br />

Por um pouco de paz<br />

E amanhã se esse chão que eu beijei<br />

For meu leito e perdão<br />

Vou saber que valeu delirar<br />

E morrer de paixão<br />

E assim, seja lá como for<br />

Vai ter fim a infinita aflição<br />

E o mundo vai ver uma flor<br />

Brotar do impossível chão.<br />

(J. Darione – M. Leigh – Versão de Chico Buarque de<br />

Hollanda e Ruy Guerra, 1972.)<br />

A tirinha e a canção apresentam uma<br />

reflexão sobre o futuro da humanidade. É<br />

correto concluir que os dois textos<br />

A) afirmam que o homem é capaz de<br />

alcançar a paz.<br />

B) concordam que o desarmamento é<br />

inatingível.<br />

C) julgam que o sonho é um desafio<br />

invencível.<br />

D) têm visões diferentes sobre um<br />

possível mundo melhor.<br />

E) transmitem uma mensagem de<br />

otimismo sobre a paz.<br />

Comentário<br />

Enquanto o primeiro texto é ácido em<br />

relação à possibilidade de desarmamento da<br />

população (ou seja, à criação de uma<br />

sociedade mais pacífica), o segundo mostra<br />

a capacidade que a humanidade tem de crer<br />

e, por isso, tentar fazer até o que a princípio<br />

parece impossível. Para os autores da


canção, nada é intrinsecamente impossível.<br />

A relação entre eles é de oposição:<br />

descrença x crença. Questão de nível de<br />

dificuldade médio.<br />

terceiro quadrinho porque, ou conheciam a<br />

história de Van Gogh, ou apropriaram-se<br />

corretamente da informação sobre esse<br />

pintor, fornecida no enunciado.<br />

17) (2000) As histórias em quadrinhos, por<br />

vezes, utilizam animais como<br />

personagens e a eles atribuem<br />

comportamento humano. O gato Garfield<br />

é exemplo desse fato.<br />

18) (2004)<br />

Fonte: Caderno Vida e Arte, Jornal do Povo, Fortaleza<br />

Van Gogh, pintor holandês nascido em<br />

1853, é um dos principais nomes da<br />

pintura mundial. É dele o quadro abaixo.<br />

Auto-retrato de orelha cortada<br />

O 3º quadrinho sugere que Garfield:<br />

A) desconhece tudo sobre arte, por isso<br />

faz a sugestão.<br />

B) acredita que todo pintor deve fazer algo<br />

diferente.<br />

C) defende que para ser pintor a pessoa<br />

tem de sofrer.<br />

D) conhece a história de um pintor<br />

famoso e faz uso da ironia.<br />

E) acredita que seu dono tenha tendência<br />

artística e, por isso, faz a sugestão.<br />

Comentário<br />

Outra questão de interpretação de texto.<br />

Muito simples para quem um dia ouviu falar<br />

de Van Gogh, e simplíssima para aqueles<br />

que prestam atenção em todos os elementos<br />

do enunciado. Afinal, quem deu uma<br />

espiadinha na legenda do quadro de Van<br />

Gogh matou na hora a questão.<br />

Esta questão é daquelas rápidas de serem<br />

resolvidas, associando-se os elementos<br />

apresentados.<br />

Comentário do INEP<br />

A significativa maioria (81%) dos<br />

participantes soube perceber o caráter<br />

irônico da fala do Garfield, expressa no<br />

A tira "Hagar" e o poema de Alberto<br />

Caeiro (um dos heterônimos de Fernando<br />

Pessoa) expressam, com linguagens<br />

diferentes, uma mesma idéia: a de que a<br />

compreensão que temos do mundo é<br />

condicionada, essencialmente,<br />

A) pelo alcance de cada cultura.<br />

B) pela capacidade visual do observador.<br />

C) pelo senso de humor de cada um.<br />

D) pela idade do observador.<br />

E) pela altura do ponto de observação.<br />

Comentário<br />

Questão reflexiva sobre a forma como<br />

cada cultura vê o mundo sob a ótica dos<br />

limites dados pelos seus costumes e<br />

possibilidades de pensamento inerentes a<br />

cada modelo cultural. A mistura de uma tira e<br />

de um poema amplia a possibilidade de<br />

pensamento por trabalhar com linguagens<br />

diferentes. A alternativa correta é a letra A,<br />

pois ambos (tira e poema) utilizam figuras de<br />

linguagem (metáfora e ironia) para expressar<br />

as diferentes visões de mundo.<br />

19) (2002)<br />

De acordo com a história em quadrinhos<br />

protagonizada por Hagar e seu filho<br />

Hamlet, pode-se afirmar que a postura de<br />

Hagar<br />

A) valoriza a existência da diversidade<br />

social e de culturas, e as várias<br />

representações e explicações desse<br />

universo.<br />

77


B) desvaloriza a existência da<br />

diversidade social e as várias culturas,<br />

e determina uma única explicação para<br />

esse universo.<br />

C) valoriza a possibilidade de explicar as<br />

sociedades e as culturas a partir de<br />

várias visões de mundo.<br />

D) valoriza a pluralidade cultural e social<br />

ao aproximar a visão de mundo de<br />

navegantes e não-navegantes.<br />

E) desvaloriza a pluralidade cultural e<br />

social, ao considerar o mundo habitado<br />

apenas pelos navegantes.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. Hagar reduz o mundo<br />

a dois tipos de pessoas: navegantes e nãonavegantes.<br />

No último quadrinho, diz que são<br />

os navegantes que estabelecem esses dois<br />

grupos. Portanto, quem é diferente dos<br />

navegantes (que estabelecem o padrão)<br />

simplesmente é incluído na massa única dos<br />

não-navegantes. Não importa quem ou quantos<br />

sejam, sua diversidade social ou cultural em<br />

relação aos navegantes ou entre si. Vemos aí a<br />

desvalorização de outras culturas.<br />

Comentário do INEP<br />

Dentre as habilidades básicas para a<br />

compreensão de um texto destaca-se a<br />

capacidade do leitor de identificar os<br />

pressupostos de cada afirmação que lhe é<br />

apresentada. Nesta questão o participante<br />

deve identificar a posição tanto de Hagar<br />

como de seu filho Hamlet e, em seguida,<br />

avaliar quais os argumentos que justificam a<br />

opinião de Hagar ao definir que no mundo só<br />

existem dois tipos de pessoas. A pergunta de<br />

Hamlet a seu pai explicita a importância do<br />

ato de narrar através do diálogo e do efeito<br />

humorístico contido no episódio representado<br />

na tira. O resultado da compreensão<br />

acertada do diálogo é que o narrador torna<br />

inteligível, para si e para os outros, a lógica<br />

do seu pensamento através do diálogo entre<br />

os dois personagens. É importante observar<br />

que o humor do personagem Hagar é<br />

identificado na postura simetricamente<br />

oposta à de Michel de Montaigne, por<br />

exemplo (ver questão 58): a sua visão de<br />

mundo apresenta-se autocentrada, isto é,<br />

centrada nos seus próprios valores (vikings).<br />

A habilidade requerida do participante nessa<br />

questão, qual seja, "valorizar a diversidade<br />

dos patrimônios etnoculturais", é mobilizada<br />

aqui na sua dimensão negativa: é criticando<br />

a postura chauvinista de Hagar que o<br />

participante é capaz de responder<br />

corretamente a questão. A última alternativa<br />

(E) funciona como um distrator, pois neste<br />

caso não está suposta a crítica do discurso<br />

do personagem. Cerca de um terço dos<br />

participantes assinalou a alternativa correta<br />

B. As demais opções são devidas,<br />

possivelmente, a uma leitura pouco<br />

compreensiva das alternativas associadas a<br />

história em quadrinhos.<br />

H<strong>10</strong> - Reconhecer a necessidade<br />

de transformação de hábitos<br />

corporais em função das<br />

necessidades cinestésicas<br />

01) (2008) Calcula-se que 78% do<br />

desmatamento na Amazônia tenha sido<br />

motivado pela pecuária — cerca de 35%<br />

do rebanho nacional está na região — e<br />

que pelo menos 50 milhões de hectares<br />

de pastos são pouco produtivos. Enquanto<br />

o custo médio para aumentar a<br />

produtividade de 1 hectare de pastagem é<br />

de 2 mil reais, o custo para derrubar igual<br />

área de floresta é estimado em 800 reais,<br />

o que estimula novos desmatamentos.<br />

Adicionalmente, madeireiras retiram as<br />

árvores de valor comercial que foram<br />

abatidas para a criação de pastagens. Os<br />

pecuaristas sabem que problemas<br />

ambientais como esses podem provocar<br />

restrições à pecuária nessas áreas, a<br />

exemplo do que ocorreu em 2006 com o<br />

plantio da soja, o qual, posteriormente, foi<br />

proibido em áreas de floresta.<br />

Época, 3/3/2008 e 9/6/2008 (com adaptações).<br />

A partir da situação-problema descrita,<br />

conclui-se que<br />

A) o desmatamento na Amazônia decorre<br />

principalmente da exploração ilegal de<br />

árvores de valor comercial.<br />

B) um dos problemas que os pecuaristas<br />

vêm enfrentando na Amazônia é a<br />

proibição do plantio de soja.<br />

C) a mobilização de máquinas e de força<br />

humana torna o desmatamento mais<br />

caro que o aumento da produtividade<br />

de pastagens.<br />

D) o superavit comercial decorrente da<br />

exportação de carne produzida na<br />

Amazônia compensa a possível<br />

degradação ambiental.<br />

E) a recuperação de áreas desmatadas<br />

e o aumento de produtividade das<br />

pastagens podem contribuir para a<br />

redução do desmatamento na<br />

Amazônia.<br />

78


Comentário do portal<br />

Essa questão retrata o problema do<br />

desmatamento da Amazônia, relacionado<br />

principalmente com o desenvolvimento da<br />

pecuária na região. Para resolvê-la, foram<br />

necessários a leitura atenta do texto e o<br />

conhecimento sobre os problemas<br />

ambientais da atualidade. A alternativa<br />

correta é a letra E, pois é mais caro para os<br />

pecuaristas aumentar a produtividade do que<br />

as áreas de pasto, o que acarreta o aumento<br />

do desmatamento da Amazônia.<br />

02) (2008) A Lei Federal n.º 9.985/2000, que<br />

instituiu o sistema nacional de unidades<br />

de conservação, define dois tipos de<br />

áreas protegidas. O primeiro, as unidades<br />

de proteção integral, tem por objetivo<br />

preservar a natureza, admitindo-se<br />

apenas o uso indireto dos seus recursos<br />

naturais, isto é, aquele que não envolve<br />

consumo, coleta, dano ou destruição dos<br />

recursos naturais. O segundo, as<br />

unidades de uso sustentável, tem por<br />

função compatibilizar a conservação da<br />

natureza com o uso sustentável de<br />

parcela dos recursos naturais. Nesse<br />

caso, permite-se a exploração do<br />

ambiente de maneira a garantir a<br />

perenidade dos recursos ambientais<br />

renováveis e dos processos ecológicos,<br />

mantendo-se a biodiversidade e os<br />

demais atributos ecológicos, de forma<br />

socialmente justa e economicamente<br />

viável.<br />

Considerando essas informações, analise<br />

a seguinte situação hipotética.<br />

Ao discutir a aplicação de recursos<br />

disponíveis para o desenvolvimento de<br />

determinada região, organizações civis,<br />

universidade e governo resolveram<br />

investir na utilização de uma unidade de<br />

proteção integral, o Parque Nacional do<br />

Morro do Pindaré, e de uma unidade de<br />

uso sustentável, a Floresta Nacional do<br />

Sabiá. Depois das discussões, a equipe<br />

resolveu levar adiante três projetos:<br />

— o projeto I consiste de pesquisas<br />

científicas embasadas exclusivamente<br />

na observação de animais;<br />

— o projeto II inclui a construção de uma<br />

escola e de um centro de vivência;<br />

— o projeto III promove a organização de<br />

uma comunidade extrativista que<br />

poderá coletar e explorar<br />

comercialmente frutas e sementes<br />

nativas.<br />

Nessa situação hipotética, atendendo-se à<br />

lei mencionada acima, é possível<br />

desenvolver tanto na unidade de proteção<br />

integral quanto na de uso sustentável<br />

A) apenas o projeto I.<br />

B) apenas o projeto III.<br />

C) apenas os projetos I e II.<br />

D) apenas os projetos II e III.<br />

E) todos os três projetos.<br />

Comentário do portal<br />

A alternativa correta é a letra "A", pois,<br />

analisando-se a situação hipotética sugerida<br />

no enunciado, percebe-se que ela deverá<br />

atender os requisitos tanto da unidade de<br />

proteção integral quanto da unidade de uso<br />

sustentável. Portanto, apenas o projeto I<br />

poderá ser desenvolvido nessas duas<br />

propostas de unidades.<br />

03) (1999) Leia o texto abaixo.<br />

Cabelos longos, brinco na orelha<br />

esquerda, físico de skatista. Na aparência,<br />

o estudante brasiliense Rui Lopes Viana<br />

Filho, de 16 anos, não lembra em nada o<br />

estereótipo dos gênios. Ele não usa<br />

pesados óculos de grau e está longe de<br />

ter um ar introspectivo. No final do mês<br />

passado, Rui retornou de Taiwan, onde<br />

enfrentou 419 competidores de todo o<br />

mundo na 39ª Olimpíada Internacional de<br />

Matemática. A reluzente medalha de ouro<br />

que ele trouxe na bagagem está<br />

dependurada sobre a cama de seu quarto,<br />

atulhado de rascunhos dos problemas<br />

matemáticos que aprendeu a decifrar nos<br />

últimos cinco anos.<br />

Veja – Vencer uma olimpíada serve de<br />

passaporte para uma carreira profissional<br />

meteórica?<br />

Rui – Nada disso. Decidi me dedicar à<br />

Olimpíada porque sei que a concorrência<br />

por um emprego é cada vez mais<br />

selvagem e cruel. Agora tenho algo a mais<br />

para oferecer. O problema é que as coisas<br />

estão mudando muito rápido e não sei<br />

qual será minha profissão. Além de ser<br />

muito novo para decidir sobre o meu<br />

futuro profissional, sei que esse conceito<br />

de carreira mudou muito.<br />

(Entrevista de Rui Lopes Viana Filho à Veja,<br />

05/08/1998, n.31, p. 9-<strong>10</strong>)<br />

Na pergunta, o repórter estabelece uma<br />

relação entre a entrada do estudante no<br />

mercado de trabalho e a vitória na<br />

Olimpíada. O estudante<br />

79


80<br />

A) concorda com a relação e afirma que o<br />

desempenho na Olimpíada é<br />

fundamental para sua entrada no<br />

mercado.<br />

B) discorda da relação e complementa<br />

que é fácil se fazer previsões sobre o<br />

mercado de trabalho.<br />

C) discorda da relação e afirma que seu<br />

futuro profissional independe de<br />

dedicação aos estudos.<br />

D) discorda da relação e afirma que seu<br />

desempenho só é relevante se<br />

escolher uma profissão relacionada à<br />

matemática.<br />

E) concorda em parte com a relação e<br />

complementa que é complexo fazer<br />

previsões sobre o mercado de trabalho.<br />

Comentário<br />

Não é difícil de se chegar à resposta<br />

correta ao se ler a reportagem. Ao final do<br />

último parágrafo — (...) Além de ser muito<br />

novo para decidir sobre o meu futuro<br />

profissional, sei que esse conceito de carreira<br />

mudou muito. —, o estudante praticamente<br />

fornece a resposta à questão, declarando-se<br />

realista ao não tentar prever seu futuro<br />

profissional devido à pouca idade e às<br />

mudanças no mercado de trabalho. Quanto a<br />

concordar parcialmente com o repórter, veja<br />

que ele, apesar de negar que o prêmio fosse<br />

uma garantia de sucesso profissional, logo<br />

depois afirma que, com ele, terá algo mais a<br />

oferecer ao mercado. Questão de nível fácil.<br />

Comentário do INEP<br />

Nesta situação-problema, o participante<br />

deveria demonstrar que compreendeu as<br />

premissas de um discurso, distinguindo a<br />

diferença de significado de palavras isoladas<br />

ou no contexto em que estão inseridas.<br />

Verificou-se que mais da metade dos<br />

participantes demonstrou possuir essa<br />

compreensão. Aqueles que optaram pelas<br />

alternativas C e D podem ter sido atraídos<br />

pelo significado negativo da expressão inicial<br />

"Nada disso".<br />

04) (1998) Texto 1<br />

"Mulher, Irmã, escuta-me: não ames,<br />

Quando a teus pés um homem terno e<br />

curvo<br />

jurar amor, chorar pranto de sangue,<br />

Não creias, não, mulher: ele te engana!<br />

As lágrimas são gotas da mentira<br />

E o juramento manto da perfídia."<br />

(Joaquim Manoel de Macedo)<br />

Texto 2<br />

"Teresa, se algum sujeito bancar o<br />

sentimental em cima de você<br />

E te jurar uma paixão do tamanho de um<br />

bonde<br />

Se ele chorar<br />

Se ele ajoelhar<br />

Se ele se rasgar todo<br />

Não acredite não Teresa<br />

É lágrima de cinema<br />

É tapeação<br />

Mentira<br />

CAI FORA"<br />

(Manuel Bandeira)<br />

Os autores, ao fazerem alusão às<br />

imagens da lágrima sugerem que:<br />

A) há um tratamento idealizado da<br />

relação homem/mulher.<br />

B) há um tratamento realista da relação<br />

homem/mulher.<br />

C) a relação familiar é idealizada.<br />

D) a mulher é superior ao homem.<br />

E) a mulher é igual ao homem.<br />

Comentário<br />

Ambos os autores, ao utilizarem a<br />

imagem da lágrima, estão na realidade<br />

mostrando que a figura do homem que é<br />

romântico a ponto de chorar ao jurar amor<br />

não existe. Tanto Macedo quanto<br />

Bandeira alertam as mulheres dizendo,<br />

com palavras e estilos diferentes, que não<br />

há homem que chore por amor (portanto,<br />

essa figura é uma idealização — e, por<br />

conseguinte, toda imagem que se tem<br />

sobre os relacionamentos<br />

demasiadamente românticos). Note que<br />

Bandeira chega até mesmo a chamar tal<br />

"chorão" de ator ("...É lágrima de cinema /<br />

É tapeação..."). Macedo dá uma imagem<br />

pesada às lágrimas ("...são gotas da<br />

mentira...").<br />

05) (1999) Considere os textos abaixo.<br />

(...) de modo particular, quero encorajar os<br />

crentes empenhados no campo da<br />

filosofia para que iluminem os diversos<br />

âmbitos da atividade humana, graças ao<br />

exercício de uma razão que se torna mais<br />

segura e perspicaz com o apoio que<br />

recebe da fé.<br />

(Papa João Paulo II. Carta Encíclica Fides<br />

et Ratio aos bispos da igreja católica sobre as relações<br />

entre fé e razão, 1998)<br />

As verdades da razão natural não<br />

contradizem as verdades da fé cristã.<br />

(São Tomás de Aquino<br />

–pensador medieval)


Refletindo sobre os textos, pode-se<br />

concluir que:<br />

A) a encíclica papal está em contradição<br />

com o pensamento de São Tomás de<br />

Aquino, refletindo a diferença de<br />

épocas.<br />

B) a encíclica papal procura<br />

complementar São Tomás de Aquino,<br />

pois este colocava a razão natural<br />

acima da fé.<br />

C) a Igreja medieval valorizava a razão<br />

mais do que a encíclica de João Paulo<br />

II.<br />

D) o pensamento teológico teve sua<br />

importância na Idade Média, mas, em<br />

nossos dias, não tem relação com o<br />

pensamento filosófico.<br />

E) tanto a encíclica papal como a frase<br />

de São Tomás de Aquino procuram<br />

conciliar os pensamentos sobre fé e<br />

razão.<br />

Comentário<br />

Nessa questão, é necessária uma<br />

releitura do texto para que se tenha uma<br />

melhor compreensão do tema. Tanto a<br />

citação do Papa quanto a de São Tomás de<br />

Aquino tentam criar uma interdependência<br />

entre a ciência e a fé, a religião. O Papa<br />

incentiva aqueles que exercem a pesquisa<br />

científica ou filosófica a manter a fé cristã.<br />

São Tomás de Aquino, por sua vez, equipara<br />

o avanço da ciência ao aumento da própria<br />

fé, afirmando que a razão natural não<br />

contradiz a fé cristã. Se um cresce, cresce<br />

também o outro, em harmonia e sem<br />

contradições. Questão de grau médio.<br />

(Português)<br />

Nessa questão, encontramos dois textos:<br />

o primeiro, do século XX, foi elaborado pelo<br />

Papa João Paulo II; o segundo, do século<br />

XIII, pelo teólogo e filósofo cristão São<br />

Tomás de Aquino. O conteúdo de ambos se<br />

refere à ligação entre fé e razão, a qual<br />

esteve presente na filosofia escolástica da<br />

Idade Média. Esse campo de reflexão buscou<br />

conciliar o cristianismo com o pensamento de<br />

Aristóteles e teve em São Tomás de Aquino<br />

seu maior representante.<br />

Mesmo sem ter todas essas informações,<br />

você poderia responder tranqüilamente à<br />

questão por meio de uma leitura atenta dos<br />

dois textos, chegando à conclusão de que<br />

"tanto a encíclica papal como a frase de São<br />

Tomás de Aquino procuram conciliar os<br />

pensamentos sobre fé e razão". Resposta<br />

correta: alternativa E. (História)<br />

Comentário do INEP<br />

Para resolver esta situação-problema, o<br />

participante deveria mostrar que, além de<br />

interpretar textos, sabe relacioná-los sendo<br />

que, nesse item, essas operações referem-se<br />

a um texto escrito na época medieval e a<br />

outro escrito recentemente.<br />

Mais de 70% dos participantes<br />

demonstraram facilidade em estabelecer esta<br />

relação.<br />

06) (1999) Leia um texto publicado no jornal<br />

Gazeta Mercantil. Esse texto é parte de<br />

um artigo que analisa algumas situações<br />

de crise no mundo, entre elas, a quebra<br />

da Bolsa de Nova Iorque em 1929, e foi<br />

publicado na época de uma iminente crise<br />

financeira no Brasil.<br />

Deu no que deu. No dia 29 de outubro de<br />

1929, uma terça-feira, praticamente não<br />

havia compradores no pregão de Nova<br />

Iorque, só vendedores. Seguiu-se uma<br />

crise incomparável: o Produto Interno<br />

Bruto dos Estados Unidos caiu de <strong>10</strong>4<br />

bilhões de dólares em 1929, para 56<br />

bilhões em 1933, coisa inimaginável em<br />

nossos dias. O valor do dólar caiu a quase<br />

metade. O desemprego elevou-se de 1,5<br />

milhão para 12,5 milhões de trabalhadores<br />

– cerca de 25% da população ativa –<br />

entre 1929 e 1933. A construção civil caiu<br />

90%. Nove milhões de aplicações, tipo<br />

caderneta de poupança, perderam-se com<br />

o fechamento dos bancos. Oitenta e cinco<br />

mil firmas faliram. Houve saques e norteamericanos<br />

que passaram fome.<br />

(Gazeta Mercantil, 05/01/1999)<br />

Ao citar dados referentes à crise ocorrida<br />

em 1929, em um artigo jornalístico atual,<br />

pode-se atribuir ao jornalista a seguinte<br />

intenção:<br />

A) questionar a interpretação da crise.<br />

B) comunicar sobre o desemprego.<br />

C) instruir o leitor sobre aplicações em<br />

bolsa de valores.<br />

D) relacionar os fatos passados e<br />

presentes.<br />

E) analisar dados financeiros americanos.<br />

Comentário<br />

Nessa questão, o que se tem de fazer é<br />

prestar atenção às alternativas das<br />

respostas. Nenhuma delas se apresenta tão<br />

bem contextualizada a uma possível<br />

interpretação quanto a letra D. Partindo-se da<br />

análise do texto, fica claro que a intenção do<br />

artigo é remeter o leitor ao passado para<br />

81


tentar conduzi-lo a uma reflexão sobre uma<br />

situação presente, não mencionada na<br />

questão. Após a leitura e utilizando-se a já<br />

citada eliminação de questões, torna-se clara<br />

a resposta. Questão de nível médio.<br />

(Português)<br />

Muitas vezes, quando procuramos<br />

entender uma crise econômica ou financeira<br />

de grandes proporções, buscamos<br />

estabelecer relações com crises passadas. O<br />

mesmo ocorre no jornalismo, como prova o<br />

texto encontrado nessa questão. Buscando<br />

entender uma crise ocorrida no início de<br />

1999, o jornalista da Gazeta Mercantil<br />

buscou relacionar a situação dessa época<br />

com a grande crise de 1929 que afetou o<br />

mundo, trazendo desemprego e recessão,<br />

entre tantos outros problemas econômicos e<br />

sociais.<br />

Para responder a essa questão, era<br />

necessário ler atentamente o enunciado, em<br />

que está destacado que "o texto é parte de<br />

um artigo que analisa algumas situações de<br />

crise no mundo" e "foi publicado na época de<br />

uma iminente crise financeira no Brasil". Era<br />

importante também observar a data em que o<br />

artigo foi publicado: 05/01/1999. A partir<br />

dessas constatações, facilmente você<br />

chegaria a conclusão de que a intenção do<br />

jornalista era "relacionar os fatos passados e<br />

presentes". Resposta correta: alternativa D.<br />

(História)<br />

Comentário do INEP<br />

A resolução da questão demandava a<br />

capacidade dos participantes de relacionar<br />

eventos históricos envolvendo crises<br />

econômicas ocorridas em épocas e lugares<br />

distintos. Aproximadamente 2/3 deles<br />

demonstraram essa capacidade. Os demais,<br />

provavelmente, não compreenderam a<br />

exigência expressa no enunciado do<br />

problema – apontar as razões pelas quais um<br />

jornalista traz à tona eventos ocorridos<br />

setenta anos antes –, e apenas interpretaram<br />

o sentido do texto citado, que descreve a<br />

crise mundial de 1929.<br />

Das obras reproduzidas, todas de autoria<br />

do pintor espanhol Pablo Picasso, aquela<br />

em cuja composição foi adotado um<br />

procedimento semelhante é:<br />

A)<br />

B)<br />

C)<br />

D)<br />

07) (2002) O autor da tira utilizou os<br />

princípios de composição de um<br />

conhecido movimento artístico para<br />

representar a necessidade de um mesmo<br />

observador aprender a considerar,<br />

simultaneamente, diferentes pontos de<br />

vista.<br />

82


E)<br />

Folha de S. Paulo. 31 de julho de 2000.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. O movimento<br />

artístico que previa considerar<br />

simultaneamente diversos pontos de vista<br />

era o Cubismo. Havia a desconstrução da<br />

forma para que se pudesse ver todos os<br />

ângulos concomitantemente. O único quadro<br />

que apresenta essas características é o da<br />

alternativa E. As outras quatro alternativas<br />

pressupõem a manutenção da forma.<br />

Comentário do INEP<br />

O objetivo desta questão é levar o<br />

participante a refletir sobre características<br />

fundamentais de um movimento artístico – o<br />

cubismo – a partir de dados visuais:<br />

quadrinhos e pinturas. A reprodução de dois<br />

quadrinhos da personagem Calvin forneceu<br />

para o participante informações básicas para<br />

a análise que deveria fazer das alternativas<br />

apresentadas. Segundo os quadrinhos, o<br />

movimento artístico abordado pela questão<br />

tinha como procedimento de composição<br />

representar, para um mesmo observador,<br />

diferentes pontos de vista, fazendo com que<br />

"o tradicional único ponto de vista" fosse<br />

abandonado e com que a perspectiva fosse<br />

fraturada. A análise das obras de Picasso<br />

reproduzidas nas alternativas permite que o<br />

participante reconheça a adoção desse<br />

procedimento no quadro "Marie-Thérèse<br />

apoiada no cotovelo" (alternativa E, com 46%<br />

de registros), no qual se pode reconhecer a<br />

representação de diferentes pontos de vista<br />

a partir dos quais é apresentado o rosto da<br />

mulher retratada.<br />

08) (2001) Oxímoro (ou paradoxo) é uma<br />

construção textual que agrupa significados<br />

que se excluem mutuamente. Para<br />

Garfield, a frase de saudação de Jon<br />

(tirinha abaixo) expressa o maior de todos<br />

os oxímoros.<br />

Nas alternativas abaixo, estão transcritos<br />

versos retirados do poema “O operário em<br />

construção”. Pode-se afirmar que ocorre<br />

um oxímoro em<br />

A) "Era ele que erguia casas<br />

Onde antes só havia chão."<br />

B) "... a casa que ele fazia<br />

Sendo a sua liberdade<br />

Era a sua escravidão."<br />

C) "Naquela casa vazia<br />

Que ele mesmo levantara<br />

Um mundo novo nascia<br />

De que sequer suspeitava."<br />

D) "... o operário faz a coisa<br />

E a coisa faz o operário."<br />

E) "Ele, um humilde operário<br />

Um operário que sabia<br />

Exercer a profissão."<br />

MORAES, Vinícius de. Antologia Poética. São Paulo:<br />

Companhia das Letras, 1992.<br />

Comentário<br />

Idéias que se completam e se excluem<br />

mutuamente são encontradas na alternativa<br />

B: a casa que ele construía era, ao mesmo<br />

tempo, sua liberdade e sua escravidão.<br />

A casa é um símbolo de liberdade para o<br />

homem. Para o homem operário, é também<br />

símbolo de escravidão, pois ele está<br />

"condenado" a jamais usufruir do resultado<br />

do seu trabalho (a casa que faz não é para<br />

ele).<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão propõe ao participante que<br />

estabeleça uma relação entre linguagens,<br />

associando a compreensão de um efeito<br />

semântico produzido pelo uso do oxímoro<br />

nos quadrinhos com o mesmo efeito num<br />

texto poético. O índice (18%) de escolhas da<br />

alternativa D deve-se, possivelmente, a uma<br />

análise parcial da noção de paradoxo,<br />

confundida com inversão.<br />

09) (2005) Cândido Portinari (1903-1962), um<br />

dos mais importantes artistas brasileiros<br />

do século XX, tratou de diferentes<br />

aspectos da nossa realidade em seus<br />

quadros.<br />

83


classe de selvagens das ilhas marquesas<br />

(...) sinal de amor, de desprezo, de ódio<br />

(...). Há três casos de tatuagem no Rio,<br />

completamente diversos na sua<br />

significação moral: os negros,os turcos<br />

com o fundo religioso e o bando de<br />

meretrizes, dos rufiões e dos humildes,<br />

que se marcam por crime ou por<br />

ociosidade".<br />

RIO, João do. Os Tatuadores. Revista Kosmos.<br />

1904, apud: A alma encantadora das ruas,<br />

SP: Cia das Letras, 1999.<br />

84<br />

Sobre a temática dos “Retirantes”,<br />

Portinari também escreveu o seguinte<br />

poema:<br />

(....)<br />

Os retirantes vêm vindo com trouxas e<br />

embrulhos<br />

Vêm das terras secas e escuras;<br />

pedregulhos<br />

Doloridos como fagulhas de carvão aceso<br />

Corpos disformes, uns panos sujos,<br />

Rasgados e sem cor, dependurados<br />

Homens de enorme ventre bojudo<br />

Mulheres com trouxas caídas para o lado<br />

Pançudas, carregando ao colo um garoto<br />

Choramingando, remelento<br />

(....)<br />

(Cândido Portinari. Poemas. Rio de Janeiro:<br />

J. Olympio, 1964.)<br />

Das quatro obras reproduzidas, assinale<br />

aquelas que abordam a problemática que<br />

é tema do poema.<br />

A) 1 e 2 D) 3 e 4<br />

B) 1 e 3 E) 2 e 4<br />

C) 2 e 3<br />

Comentário<br />

O poema apresenta correspondência com<br />

as imagens ao descrever com detalhes a<br />

figura do retirante: pobre, mal vestido,<br />

carregando trouxas e embrulhos.<br />

<strong>10</strong>) (2002) "A palavra tatuagem é<br />

relativamente recente. Toda a gente sabe<br />

que foi o navegador Cook que a introduziu<br />

no Ocidente, e esse escrevia tattou, termo<br />

da Polinésia de tatou ou tu tahou,<br />

'desenho'.<br />

(...) Desde os mais remotos tempos,<br />

vemo-la a transformar-se: distintivo<br />

honorífico entre uns homens, ferrete de<br />

ignomínia entre outros, meio de assustar o<br />

adversário para os bretões, marca de uma<br />

Com base no texto são feitas as seguintes<br />

afirmações:<br />

I. João do Rio revela como a tatuagem já<br />

estava presente na cidade do Rio de<br />

Janeiro, pelo menos desde o início do<br />

século XX, e era mais utilizada por<br />

alguns setores da população.<br />

II. A tatuagem, de origem polinésia,<br />

difundiu-se no ocidente com a<br />

característica que permanece até hoje:<br />

utilização entre os jovens com função<br />

estritamente estética.<br />

III. O texto mostra como a tatuagem é<br />

uma prática que se transforma no<br />

tempo e que alcança inúmeros sentidos<br />

nos diversos setores das sociedades e<br />

para as diferentes culturas.<br />

Está correto o que se afirma apenas em<br />

A) I D) I e II<br />

B) II E) I e III<br />

C) III<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. Constata-se o<br />

seguinte: a tatuagem já existia no Brasil no<br />

início do século XX (o texto é de 1904 e parte<br />

dele se refere ao Rio do Janeiro) e era<br />

utilizada em diferentes setores da sociedade.<br />

A afirmação de que as tatuagens possuem<br />

apenas finalidade estética entre os jovens<br />

elimina a segunda alternativa. Já a última<br />

alternativa confirma as transformações das<br />

funções da tatuagem ao longo do tempo nas<br />

mais diversas sociedades e culturas.<br />

Comentário do INEP<br />

O texto estabelece uma relação entre a<br />

atualidade da palavra "tatuagem" e a<br />

antiguidade do uso de desenhos como<br />

pintura corporal. Focaliza uma prática social<br />

bastante difundida que adquiriu aspectos e<br />

conotações diversos nos diferentes contextos<br />

históricos e geográficos em que ela pode ser<br />

descrita. Fazendo a descrição da prática da<br />

tatuagem, como uma manifestação comum a<br />

diferentes culturas, e que adquire, inclusive,


significados diferentes dentro de uma mesma<br />

cultura, induz o participante a refletir sobre a<br />

"diversidade dos patrimônios etnoculturais e<br />

artísticos", contextualizando ao mesmo<br />

tempo seus significados "em diferentes<br />

sociedades, épocas e lugares". Ao retomar<br />

as várias origens e usos da tatuagem, o<br />

participante é levado a compreender e<br />

respeitar uma gramática histórica dos<br />

costumes marcada sempre por semelhanças<br />

e diferenças. A questão não exigia, portanto,<br />

nenhum conhecimento prévio sobre as<br />

diferentes formas de manifestação dessa<br />

prática, mas simplesmente constatar, com o<br />

autor do texto citado, a historicidade e a<br />

diversidade das práticas sociais. Os<br />

participantes que assinalaram a alternativa C<br />

(36%), possivelmente, não levaram em<br />

consideração informações do texto. A<br />

questão foi corretamente respondida por 37%<br />

dos participantes.<br />

11) (2003) Eu começaria dizendo que poesia<br />

é uma questão de linguagem. A<br />

importância do poeta é que ele torna mais<br />

viva a linguagem. Carlos Drummond de<br />

Andrade escreveu um dos mais belos<br />

versos da língua portuguesa com duas<br />

palavras comuns: cão e cheirando.<br />

Um cão cheirando o futuro<br />

(Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP, 24/05/1988.<br />

adaptação)<br />

O que deu ao verso de Drummond o<br />

caráter de inovador da língua foi<br />

A) o modo raro como foi tratado o<br />

"futuro".<br />

B) a referência ao cão como "animal de<br />

estimação".<br />

C) a flexão pouco comum do verbo<br />

"cheirar" (gerúndio).<br />

D) a aproximação não usual do agente<br />

citado e a ação de "cheirar".<br />

E) o emprego do artigo indefinido "um" e<br />

do artigo definido "o" na mesma frase.<br />

Comentário<br />

O fato de Drummond identificar o futuro<br />

como algo que pode ser percebido por um<br />

animal irracional por meio do olfato foi<br />

inovador. A figura de linguagem foi<br />

construída metaforicamente: o futuro torna-se<br />

uma coisa que tem cheiro, contrariamente à<br />

imagem pela qual ele normalmente é<br />

representado: como algo que não se vê e<br />

não se pode pressentir ou tocar.<br />

12) (2003) Pequenos tormentos da vida<br />

De cada lado da sala de aula, pelas janelas<br />

altas, o azul convida os meninos,<br />

as nuvens desenrolam-se, lentas como quem<br />

vai inventando<br />

preguiçosamente uma história sem fim...Sem<br />

fim é a aula: e nada acontece,<br />

nada...Bocejos e moscas. Se ao menos,<br />

pensa Margarida, se ao menos um<br />

avião entrasse por uma janela e saísse por<br />

outra!<br />

(Mário Quintana. Poesias)<br />

Na cena retratada no texto, o sentimento<br />

do tédio<br />

A) provoca que os meninos fiquem<br />

contando histórias.<br />

B) leva os alunos a simularem bocejos,<br />

em protesto contra a monotonia da<br />

aula.<br />

C) acaba estimulando a fantasia,<br />

criando a expectativa de algum<br />

imprevisto mágico.<br />

D) prevalece de modo absoluto,<br />

impedindo até mesmo a distração ou o<br />

exercício do pensamento.<br />

E) decorre da morosidade da aula, em<br />

contraste com o movimento acelerado<br />

das nuvens e das moscas.<br />

Comentário<br />

Essa questão aborda o imaginário<br />

decorrente do marasmo trazido pela escola.<br />

O texto enfatiza o arrastar do tempo na<br />

mente de uma aluna, Margarida, que se põe<br />

a pensar em fatos mágicos ou imaginários<br />

que pudessem romper com a lentidão da<br />

aula.<br />

13) (2000) O autor do texto abaixo critica,<br />

ainda que em linguagem metafórica, a<br />

sociedade contemporânea em relação aos<br />

seus hábitos alimentares.<br />

“Vocês que têm mais de 15 anos, se<br />

lembram quando a gente comprava leite<br />

em garrafa, na leiteria da esquina? (...)<br />

Mas vocês não se lembram de nada,<br />

pô! Vai ver nem sabem o que é vaca. Nem<br />

o que é leite. Estou falando isso porque<br />

agora mesmo peguei um pacote de leite –<br />

leite em pacote, imagina, Tereza! – na<br />

porta dos fundos e estava escrito que é<br />

pasterizado, ou pasteurizado, sei lá, tem<br />

vitamina, é garantido pela<br />

embromatologia, foi enriquecido e o<br />

escambau. Será que isso é mesmo leite?<br />

No dicionário diz que leite é outra coisa:<br />

85


‘Líquido branco, contendo água,<br />

proteína, açúcar e sais minerais’. Um<br />

alimento pra ninguém botar defeito. O ser<br />

humano o usa há mais de 5.000 anos. É o<br />

único alimento só alimento. A carne serve<br />

pro animal andar, a fruta serve pra fazer<br />

outra fruta, o ovo serve pra fazer outra<br />

galinha (...) O leite é só leite. Ou toma ou<br />

bota fora. Esse aqui examinando bem, é<br />

só pra botar fora. Tem chumbo, tem<br />

benzina, tem mais água do que leite, tem<br />

serragem, sou capaz de jurar que nem<br />

vaca tem por trás desse negócio. Depois o<br />

pessoal ainda acha estranho que os<br />

meninos não gostem de leite.<br />

Mas, como não gostam? Não gostam<br />

como? Nunca tomaram! Múúúúúúú!”<br />

(FERNANDES, Millôr. O Estado de S. Paulo ,<br />

22 de agosto de 1999)<br />

A palavra embromatologia usada pelo<br />

autor é:<br />

A) um termo científico que significa estudo<br />

dos bromatos.<br />

B) uma composição do termo de gíria<br />

“embromação” (enganação) com<br />

bromatologia, que é o estudo dos<br />

alimentos.<br />

C) uma junção do termo de gíria<br />

“embromação” (enganação) com<br />

lactologia, que é o estudo das<br />

embalagens para leite.<br />

D) um neologismo da química orgânica<br />

que significa a técnica de retirar<br />

bromatos dos laticínios.<br />

E) uma corruptela de termo da<br />

agropecuária que significa a ordenha<br />

mecânica.<br />

Comentário<br />

É necessário para a resolução desta<br />

questão:<br />

- perceber que o texto critica o exagerado<br />

uso de substâncias artificiais nos<br />

alimentos;<br />

- conhecer o significado da gíria embromar e<br />

da palavra bromatologia.<br />

Comentário do INEP<br />

A resolução da questão requeria que o<br />

participante, ao ler o texto vinculasse o<br />

significado de um termo de gíria -<br />

"embromação" - com o da palavra<br />

bromatologia. A resposta correta exigia que o<br />

participante não abrisse mão do sabor<br />

picante contido na linguagem metafórica,<br />

sabor vinculado ao conhecimento específico<br />

contido na palavra bromatologia. Cerca da<br />

metade dos participantes (51%) optou pela<br />

alternativa correta e, os 20% que escolheram<br />

a alternativa C, provavelmente associaram a<br />

referência feita no texto à leite em pacote.<br />

14) (2008) Os signos visuais, como meios de<br />

comunicação, são classificados em<br />

categorias de acordo com seus<br />

significados.<br />

A categoria denominada indício<br />

corresponde aos signos visuais que têm<br />

origem em formas ou situações naturais<br />

ou casuais, as quais, devido à ocorrência<br />

em circunstâncias idênticas, muitas vezes<br />

repetidas, indicam algo e adquirem<br />

significado. Por exemplo, nuvens negras<br />

indicam tempestade. Com base nesse<br />

conceito, escolha a opção que representa<br />

um signo da categoria dos indícios.<br />

A)<br />

B)<br />

C)<br />

Conhecendo esses significados, você<br />

elimina todas as alternativas erradas: a, c, d<br />

e e.<br />

Você poderá ter dúvida quanto à<br />

alternativa c, que também será eliminada se<br />

souber o significado da palavra lactologia,<br />

que é o estudo do leite e produtos lácteos e<br />

não das embalagens para leite.<br />

Nesta questão, são trabalhados os<br />

conceitos de interpretação de texto, formação<br />

de palavras e conhecimentos gerais.<br />

86


D)<br />

aluno precisa estar atento à imagem e<br />

relacioná-la ao dito popular correspondente.<br />

A alternativa "A" é a correta, pois, para<br />

uma lesma “grudenta” e vagarosa conseguir<br />

pular numa cama elástica, é necessária<br />

muita perseverança.<br />

16) (2005) Leia estes textos.<br />

Texto 1<br />

E)<br />

Comentário<br />

Trata-se de uma questão interpretativa. O<br />

aluno precisa entender o que é “indício” para<br />

respondê-la. Segundo o dicionário Aurélio,<br />

indício é o mesmo que “sinal, vestígio,<br />

indicação”. Das figuras apresentadas,<br />

apenas a alternativa B indica algo: a<br />

passagem de alguém por algum lugar —<br />

pegada.<br />

15) (2008)<br />

Exame, 28/9/2007.<br />

Entre os seguintes ditos populares, qual<br />

deles melhor corresponde à figura<br />

acima?<br />

A) Com perseverança, tudo se alcança.<br />

B) Cada macaco no seu galho.<br />

C) Nem tudo que balança cai.<br />

D) Quem tudo quer, tudo perde.<br />

E) Deus ajuda quem cedo madruga.<br />

Comentário<br />

Assim como a questão 37, esta também<br />

envolve interpretação de signos, ou seja, o<br />

Texto 2<br />

Sonhar<br />

Mais um sonho impossível<br />

Lutar<br />

Quando é fácil ceder<br />

Vencer o inimigo invencível<br />

Negar quando a regra é vender<br />

Sofrer a tortura implacável<br />

Romper a incabível prisão<br />

Voar num limite improvável<br />

Tocar o inacessível chão<br />

É minha lei, é minha questão<br />

Virar esse mundo<br />

Cravar esse chão<br />

Não me importa saber<br />

Se é terrível demais<br />

Quantas guerras terei que vencer<br />

Por um pouco de paz<br />

E amanhã se esse chão que eu beijei<br />

For meu leito e perdão<br />

Vou saber que valeu delirar<br />

E morrer de paixão<br />

E assim, seja lá como for<br />

Vai ter fim a infinita aflição<br />

E o mundo vai ver uma flor<br />

Brotar do impossível chão.<br />

(J. Darione – M. Leigh – Versão de Chico Buarque de<br />

Hollanda e Ruy Guerra, 1972.)<br />

A tirinha e a canção apresentam uma<br />

reflexão sobre o futuro da humanidade. É<br />

correto concluir que os dois textos<br />

A) afirmam que o homem é capaz de<br />

alcançar a paz.<br />

B) concordam que o desarmamento é<br />

inatingível.<br />

C) julgam que o sonho é um desafio<br />

invencível.<br />

D) têm visões diferentes sobre um<br />

possível mundo melhor.<br />

E) transmitem uma mensagem de<br />

otimismo sobre a paz.<br />

87


Comentário<br />

Enquanto o primeiro texto é ácido em<br />

relação à possibilidade de desarmamento da<br />

população (ou seja, à criação de uma<br />

sociedade mais pacífica), o segundo mostra<br />

a capacidade que a humanidade tem de crer<br />

e, por isso, tentar fazer até o que a princípio<br />

parece impossível. Para os autores da<br />

canção, nada é intrinsecamente impossível.<br />

A relação entre eles é de oposição:<br />

descrença x crença. Questão de nível de<br />

dificuldade médio.<br />

17) (2004)<br />

A tira "Hagar" e o poema de Alberto<br />

Caeiro (um dos heterônimos de Fernando<br />

Pessoa) expressam, com linguagens<br />

diferentes, uma mesma idéia: a de que a<br />

compreensão que temos do mundo é<br />

condicionada, essencialmente,<br />

A) pelo alcance de cada cultura.<br />

B) pela capacidade visual do observador.<br />

C) pelo senso de humor de cada um.<br />

D) pela idade do observador.<br />

E) pela altura do ponto de observação.<br />

Comentário<br />

Questão reflexiva sobre a forma como<br />

cada cultura vê o mundo sob a ótica dos<br />

limites dados pelos seus costumes e<br />

possibilidades de pensamento inerentes a<br />

cada modelo cultural. A mistura de uma tira e<br />

de um poema amplia a possibilidade de<br />

pensamento por trabalhar com linguagens<br />

diferentes. A alternativa correta é a letra A,<br />

pois ambos (tira e poema) utilizam figuras de<br />

linguagem (metáfora e ironia) para expressar<br />

as diferentes visões de mundo.<br />

18) (2000) As histórias em quadrinhos, por<br />

vezes, utilizam animais como<br />

personagens e a eles atribuem<br />

comportamento humano. O gato Garfield<br />

é exemplo desse fato.<br />

Van Gogh, pintor holandês nascido em<br />

1853, é um dos principais nomes da<br />

pintura mundial. É dele o quadro abaixo.<br />

Auto-retrato de orelha cortada<br />

O 3º quadrinho sugere que Garfield:<br />

A) desconhece tudo sobre arte, por isso<br />

faz a sugestão.<br />

B) acredita que todo pintor deve fazer algo<br />

diferente.<br />

C) defende que para ser pintor a pessoa<br />

tem de sofrer.<br />

D) conhece a história de um pintor<br />

famoso e faz uso da ironia.<br />

E) acredita que seu dono tenha tendência<br />

artística e, por isso, faz a sugestão.<br />

Comentário<br />

Outra questão de interpretação de texto.<br />

Muito simples para quem um dia ouviu falar<br />

de Van Gogh, e simplíssima para aqueles<br />

que prestam atenção em todos os elementos<br />

do enunciado. Afinal, quem deu uma<br />

espiadinha na legenda do quadro de Van<br />

Gogh matou na hora a questão.<br />

Esta questão é daquelas rápidas de serem<br />

resolvidas, associando-se os elementos<br />

apresentados.<br />

Comentário do INEP<br />

A significativa maioria (81%) dos<br />

participantes soube perceber o caráter<br />

irônico da fala do Garfield, expressa no<br />

terceiro quadrinho porque, ou conheciam a<br />

história de Van Gogh, ou apropriaram-se<br />

corretamente da informação sobre esse<br />

pintor, fornecida no enunciado.<br />

19) (2002)<br />

88<br />

Fonte: Caderno Vida e Arte, Jornal do Povo, Fortaleza<br />

De acordo com a história em quadrinhos<br />

protagonizada por Hagar e seu filho<br />

Hamlet, pode-se afirmar que a postura de<br />

Hagar


A) valoriza a existência da diversidade<br />

social e de culturas, e as várias<br />

representações e explicações desse<br />

universo.<br />

B) desvaloriza a existência da<br />

diversidade social e as várias culturas,<br />

e determina uma única explicação para<br />

esse universo.<br />

C) valoriza a possibilidade de explicar as<br />

sociedades e as culturas a partir de<br />

várias visões de mundo.<br />

D) valoriza a pluralidade cultural e social<br />

ao aproximar a visão de mundo de<br />

navegantes e não-navegantes.<br />

E) desvaloriza a pluralidade cultural e<br />

social, ao considerar o mundo habitado<br />

apenas pelos navegantes.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. Hagar reduz o<br />

mundo a dois tipos de pessoas: navegantes<br />

e não-navegantes. No último quadrinho, diz<br />

que são os navegantes que estabelecem<br />

esses dois grupos. Portanto, quem é<br />

diferente dos navegantes (que estabelecem<br />

o padrão) simplesmente é incluído na massa<br />

única dos não-navegantes. Não importa<br />

quem ou quantos sejam, sua diversidade<br />

social ou cultural em relação aos navegantes<br />

ou entre si. Vemos aí a desvalorização de<br />

outras culturas.<br />

Comentário do INEP<br />

Dentre as habilidades básicas para a<br />

compreensão de um texto destaca-se a<br />

capacidade do leitor de identificar os<br />

pressupostos de cada afirmação que lhe é<br />

apresentada. Nesta questão o participante<br />

deve identificar a posição tanto de Hagar<br />

como de seu filho Hamlet e, em seguida,<br />

avaliar quais os argumentos que justificam a<br />

opinião de Hagar ao definir que no mundo só<br />

existem dois tipos de pessoas. A pergunta de<br />

Hamlet a seu pai explicita a importância do<br />

ato de narrar através do diálogo e do efeito<br />

humorístico contido no episódio representado<br />

na tira. O resultado da compreensão<br />

acertada do diálogo é que o narrador torna<br />

inteligível, para si e para os outros, a lógica<br />

do seu pensamento através do diálogo entre<br />

os dois personagens. É importante observar<br />

que o humor do personagem Hagar é<br />

identificado na postura simetricamente<br />

oposta à de Michel de Montaigne, por<br />

exemplo (ver questão 58): a sua visão de<br />

mundo apresenta-se autocentrada, isto é,<br />

centrada nos seus próprios valores (vikings).<br />

A habilidade requerida do participante nessa<br />

questão, qual seja, "valorizar a diversidade<br />

dos patrimônios etnoculturais", é mobilizada<br />

aqui na sua dimensão negativa: é criticando<br />

a postura chauvinista de Hagar que o<br />

participante é capaz de responder<br />

corretamente a questão. A última alternativa<br />

(E) funciona como um distrator, pois neste<br />

caso não está suposta a crítica do discurso<br />

do personagem. Cerca de um terço dos<br />

participantes assinalou a alternativa correta<br />

B. As demais opções são devidas,<br />

possivelmente, a uma leitura pouco<br />

compreensiva das alternativas associadas a<br />

história em quadrinhos.<br />

20) (2009) No programa do balé Parade,<br />

apresentado em 18 de maio de 1917, foi<br />

empregada publicamente, pela primeira<br />

vez, a palavra sur-realisme. Pablo Picasso<br />

desenhou o cenário e a indumentária, cujo<br />

efeito foi tão surpreendente que se<br />

sobrepôs à coreografia. A música de Erik<br />

Satie era uma mistura de jazz, música<br />

popular e sons reais tais como tiros de<br />

pistola, combinados com as imagens do<br />

balé de Charlie Chaplin, caubóis e vilões,<br />

mágica chinesa e Ragtime. Os tempos<br />

não eram propícios para receber a nova<br />

mensagem cênica demasiado provocativa<br />

devido ao repicar da máquina de escrever,<br />

aos zumbidos de sirene e dínamo e aos<br />

rumores de aeroplano previstos por<br />

Cocteau para a partitura de Satie. Já a<br />

ação coreográfica confirmava a tendência<br />

marcadamente teatral da gestualidade<br />

cênica, dada pela justaposição, colagem<br />

de ações isoladas seguindo um estímulo<br />

musical.<br />

SILVA, 5. M. O surrealismo e a dança. GUINSBURG, J.;<br />

LEIRNER (org.). O surrealismo. São Paulo: Perspectiva,<br />

2008 (adaptado).<br />

As manifestações corporais na história<br />

das artes da cena muitas vezes<br />

demonstram as condições cotidianas de<br />

um determinado grupo social, como se<br />

pode observar na descrição acima do balé<br />

Parade, o qual reflete<br />

A) a falta de diversidade cultural na sua<br />

proposta estética.<br />

B) a alienação dos artistas em relação às<br />

tensões da Segunda Guerra Mundial.<br />

C) uma disputa cênica entre as linguagens<br />

das artes visuais, do figurino e da<br />

música.<br />

D) as inovações tecnológicas nas partes<br />

cênicas, musicais, coreográficas e de<br />

figurino.<br />

E) uma narrativa com encadeamentos<br />

claramente lógicos e lineares.<br />

89


Comentário<br />

(QUESTÃO: AZUL 95, BRANCA 94,<br />

ROSA 95)<br />

As inovações tecnológicas nas partes<br />

cênicas, musicais, coreográficas e de figurino<br />

trazidas à tona pelo balé Parede – que serviu<br />

como marco de um novo momento – ao<br />

mesmo tempo em que promoviam surpresa<br />

ao público, acabavam por alimentar um<br />

esforço entre cada uma dessas linguagens,<br />

para que suas novidades individuais se<br />

tornassem claras no todo.<br />

Por conta dessa avaliação e considerando<br />

as opções de resposta dessa questão, podese<br />

considerar a alternativas D como correta.<br />

21) (2009) A dança é importante para o índio<br />

preparar o corpo e a garganta e significa<br />

energia para o corpo, que fica robusto. Na<br />

aldeia, para preparo físico, dançamos<br />

desde cinco horas da manhã até seis<br />

horas da tarde, passa-se o dia inteiro<br />

dançando quando os padrinhos planejam<br />

a dança dos adolescentes. O padrinho é<br />

como um professor, um preparador físico<br />

dos adolescentes. Por exemplo, o<br />

padrinho sonha com um determinado<br />

canto e planeja para todos entoarem.<br />

Todos os tipos de dança vêm dos<br />

primeiros<br />

xavantes:<br />

Wamaridzadadzeiwawê, Butséwawê,<br />

Tseretomodzatsewawê, que foram<br />

descobrindo através da sabedoria como<br />

iria ser a cultura Xavante. Até hoje existe<br />

essa cultura, essa celebração. Quando o<br />

adolescente fura a orelha é obrigatório ele<br />

dançar toda a noite, tem de acordar meianoite<br />

para dançar e cantar, é obrigatório,<br />

eles vão chamando um ao outro com um<br />

grito especial.<br />

WÉRÉ'É TSI'RÓBÓ, E. A dança e o canto-celebração da<br />

existência xavante. VIS-Revista do Programa de Pós-<br />

Graduação em Arte da UnB. V. 5, n. 2, dez. 2006.<br />

A partir das informações sobre a dança<br />

Xavante, conclui-se que o valor a<br />

diversidade artística e da tradição cultural<br />

apresentados originam-se da<br />

A) iniciativa individual do indígena para a<br />

prática da dança e do canto.<br />

B) excelente forma física apresentada<br />

pelo povo Xavante.<br />

C) multiculturalidade presente na sua<br />

manifestação cênica.<br />

D) inexistência de um planejamento da<br />

estética da dança, caracterizada pelo<br />

ineditismo.<br />

E) preservação de uma identidade entre<br />

a gestualidade ancestral e a novidade<br />

dos cantos a serem entoados.<br />

Comentário<br />

(QUESTÃO: AZUL 115, BRANCA 115,<br />

ROSA 117)<br />

Para o povo Xavante, é fundamental<br />

manter suas tradições, pois isso assegura<br />

sua identidade e fortalece seus costumes. A<br />

novidade do canto (imaginado, sonhado ou<br />

inventado pelo padrinho), embora modifique<br />

cada ritual, é uma questão fundamental na<br />

manutenção desses valores. É a<br />

confirmação da gestualidade ancestral e a<br />

inserção do novo.<br />

Alternativa correta letra E<br />

H11 - Reconhecer a linguagem<br />

corporal como meio de<br />

interação social,<br />

considerando o limites de<br />

desempenho e as<br />

alternativas de adaptação<br />

para diferentes indivíduos<br />

01) (2008) Calcula-se que 78% do<br />

desmatamento na Amazônia tenha sido<br />

motivado pela pecuária — cerca de 35%<br />

do rebanho nacional está na região — e<br />

que pelo menos 50 milhões de hectares<br />

de pastos são pouco produtivos. Enquanto<br />

o custo médio para aumentar a<br />

produtividade de 1 hectare de pastagem é<br />

de 2 mil reais, o custo para derrubar igual<br />

área de floresta é estimado em 800 reais,<br />

o que estimula novos desmatamentos.<br />

Adicionalmente, madeireiras retiram as<br />

árvores de valor comercial que foram<br />

abatidas para a criação de pastagens. Os<br />

pecuaristas sabem que problemas<br />

ambientais como esses podem provocar<br />

restrições à pecuária nessas áreas, a<br />

exemplo do que ocorreu em 2006 com o<br />

plantio da soja, o qual, posteriormente, foi<br />

proibido em áreas de floresta.<br />

Época, 3/3/2008 e 9/6/2008 (com adaptações).<br />

A partir da situação-problema descrita,<br />

conclui-se que<br />

A) o desmatamento na Amazônia decorre<br />

principalmente da exploração ilegal de<br />

árvores de valor comercial.<br />

90


B) um dos problemas que os pecuaristas<br />

vêm enfrentando na Amazônia é a<br />

proibição do plantio de soja.<br />

C) a mobilização de máquinas e de força<br />

humana torna o desmatamento mais<br />

caro que o aumento da produtividade<br />

de pastagens.<br />

D) o superavit comercial decorrente da<br />

exportação de carne produzida na<br />

Amazônia compensa a possível<br />

degradação ambiental.<br />

E) a recuperação de áreas desmatadas<br />

e o aumento de produtividade das<br />

pastagens podem contribuir para a<br />

redução do desmatamento na<br />

Amazônia.<br />

Comentário do portal<br />

Essa questão retrata o problema do<br />

desmatamento da Amazônia, relacionado<br />

principalmente com o desenvolvimento da<br />

pecuária na região. Para resolvê-la, foram<br />

necessários a leitura atenta do texto e o<br />

conhecimento sobre os problemas<br />

ambientais da atualidade. A alternativa<br />

correta é a letra E, pois é mais caro para os<br />

pecuaristas aumentar a produtividade do que<br />

as áreas de pasto, o que acarreta o aumento<br />

do desmatamento da Amazônia.<br />

02) (2008) A Lei Federal n.º 9.985/2000, que<br />

instituiu o sistema nacional de unidades<br />

de conservação, define dois tipos de<br />

áreas protegidas. O primeiro, as unidades<br />

de proteção integral, tem por objetivo<br />

preservar a natureza, admitindo-se<br />

apenas o uso indireto dos seus recursos<br />

naturais, isto é, aquele que não envolve<br />

consumo, coleta, dano ou destruição dos<br />

recursos naturais. O segundo, as<br />

unidades de uso sustentável, tem por<br />

função compatibilizar a conservação da<br />

natureza com o uso sustentável de<br />

parcela dos recursos naturais. Nesse<br />

caso, permite-se a exploração do<br />

ambiente de maneira a garantir a<br />

perenidade dos recursos ambientais<br />

renováveis e dos processos ecológicos,<br />

mantendo-se a biodiversidade e os<br />

demais atributos ecológicos, de forma<br />

socialmente justa e economicamente<br />

viável.<br />

Considerando essas informações, analise<br />

a seguinte situação hipotética.<br />

Ao discutir a aplicação de recursos<br />

disponíveis para o desenvolvimento de<br />

determinada região, organizações civis,<br />

universidade e governo resolveram<br />

investir na utilização de uma unidade de<br />

proteção integral, o Parque Nacional do<br />

Morro do Pindaré, e de uma unidade de<br />

uso sustentável, a Floresta Nacional do<br />

Sabiá. Depois das discussões, a equipe<br />

resolveu levar adiante três projetos:<br />

— o projeto I consiste de pesquisas<br />

científicas embasadas exclusivamente<br />

na observação de animais;<br />

— o projeto II inclui a construção de uma<br />

escola e de um centro de vivência;<br />

— o projeto III promove a organização de<br />

uma comunidade extrativista que<br />

poderá coletar e explorar<br />

comercialmente frutas e sementes<br />

nativas.<br />

Nessa situação hipotética, atendendo-se à<br />

lei mencionada acima, é possível<br />

desenvolver tanto na unidade de proteção<br />

integral quanto na de uso sustentável<br />

A) apenas o projeto I.<br />

B) apenas o projeto III.<br />

C) apenas os projetos I e II.<br />

D) apenas os projetos II e III.<br />

E) todos os três projetos.<br />

Comentário do portal<br />

A alternativa correta é a letra "A", pois,<br />

analisando-se a situação hipotética sugerida<br />

no enunciado, percebe-se que ela deverá<br />

atender os requisitos tanto da unidade de<br />

proteção integral quanto da unidade de uso<br />

sustentável. Portanto, apenas o projeto I<br />

poderá ser desenvolvido nessas duas<br />

propostas de unidades.<br />

03) (1999) Leia o texto abaixo.<br />

Cabelos longos, brinco na orelha<br />

esquerda, físico de skatista. Na aparência,<br />

o estudante brasiliense Rui Lopes Viana<br />

Filho, de 16 anos, não lembra em nada o<br />

estereótipo dos gênios. Ele não usa<br />

pesados óculos de grau e está longe de<br />

ter um ar introspectivo. No final do mês<br />

passado, Rui retornou de Taiwan, onde<br />

enfrentou 419 competidores de todo o<br />

mundo na 39ª Olimpíada Internacional de<br />

Matemática. A reluzente medalha de ouro<br />

que ele trouxe na bagagem está<br />

dependurada sobre a cama de seu quarto,<br />

atulhado de rascunhos dos problemas<br />

matemáticos que aprendeu a decifrar nos<br />

últimos cinco anos.<br />

Veja – Vencer uma olimpíada serve de<br />

passaporte para uma carreira profissional<br />

meteórica?<br />

Rui – Nada disso. Decidi me dedicar à<br />

Olimpíada porque sei que a concorrência<br />

91


por um emprego é cada vez mais<br />

selvagem e cruel. Agora tenho algo a mais<br />

para oferecer. O problema é que as coisas<br />

estão mudando muito rápido e não sei<br />

qual será minha profissão. Além de ser<br />

muito novo para decidir sobre o meu<br />

futuro profissional, sei que esse conceito<br />

de carreira mudou muito.<br />

(Entrevista de Rui Lopes Viana Filho à Veja,<br />

05/08/1998, n.31, p. 9-<strong>10</strong>)<br />

Na pergunta, o repórter estabelece uma<br />

relação entre a entrada do estudante no<br />

mercado de trabalho e a vitória na<br />

Olimpíada. O estudante<br />

A) concorda com a relação e afirma que o<br />

desempenho na Olimpíada é<br />

fundamental para sua entrada no<br />

mercado.<br />

B) discorda da relação e complementa<br />

que é fácil se fazer previsões sobre o<br />

mercado de trabalho.<br />

C) discorda da relação e afirma que seu<br />

futuro profissional independe de<br />

dedicação aos estudos.<br />

D) discorda da relação e afirma que seu<br />

desempenho só é relevante se<br />

escolher uma profissão relacionada à<br />

matemática.<br />

E) concorda em parte com a relação e<br />

complementa que é complexo fazer<br />

previsões sobre o mercado de trabalho.<br />

Comentário<br />

Não é difícil de se chegar à resposta<br />

correta ao se ler a reportagem. Ao final do<br />

último parágrafo — (...) Além de ser muito<br />

novo para decidir sobre o meu futuro<br />

profissional, sei que esse conceito de carreira<br />

mudou muito. —, o estudante praticamente<br />

fornece a resposta à questão, declarando-se<br />

realista ao não tentar prever seu futuro<br />

profissional devido à pouca idade e às<br />

mudanças no mercado de trabalho. Quanto a<br />

concordar parcialmente com o repórter, veja<br />

que ele, apesar de negar que o prêmio fosse<br />

uma garantia de sucesso profissional, logo<br />

depois afirma que, com ele, terá algo mais a<br />

oferecer ao mercado. Questão de nível fácil.<br />

Comentário do INEP<br />

Nesta situação-problema, o participante<br />

deveria demonstrar que compreendeu as<br />

premissas de um discurso, distinguindo a<br />

diferença de significado de palavras isoladas<br />

ou no contexto em que estão inseridas.<br />

Verificou-se que mais da metade dos<br />

participantes demonstrou possuir essa<br />

compreensão. Aqueles que optaram pelas<br />

alternativas C e D podem ter sido atraídos<br />

pelo significado negativo da expressão inicial<br />

"Nada disso".<br />

04) (1998) Texto 1<br />

"Mulher, Irmã, escuta-me: não ames,<br />

Quando a teus pés um homem terno e<br />

curvo<br />

jurar amor, chorar pranto de sangue,<br />

Não creias, não, mulher: ele te engana!<br />

As lágrimas são gotas da mentira<br />

E o juramento manto da perfídia."<br />

(Joaquim Manoel de Macedo)<br />

Texto 2<br />

"Teresa, se algum sujeito bancar o<br />

sentimental em cima de você<br />

E te jurar uma paixão do tamanho de um<br />

bonde<br />

Se ele chorar<br />

Se ele ajoelhar<br />

Se ele se rasgar todo<br />

Não acredite não Teresa<br />

É lágrima de cinema<br />

É tapeação<br />

Mentira<br />

CAI FORA"<br />

(Manuel Bandeira)<br />

Os autores, ao fazerem alusão às<br />

imagens da lágrima sugerem que:<br />

A) há um tratamento idealizado da<br />

relação homem/mulher.<br />

B) há um tratamento realista da relação<br />

homem/mulher.<br />

C) a relação familiar é idealizada.<br />

D) a mulher é superior ao homem.<br />

E) a mulher é igual ao homem.<br />

Comentário<br />

Ambos os autores, ao utilizarem a<br />

imagem da lágrima, estão na realidade<br />

mostrando que a figura do homem que é<br />

romântico a ponto de chorar ao jurar amor<br />

não existe. Tanto Macedo quanto<br />

Bandeira alertam as mulheres dizendo,<br />

com palavras e estilos diferentes, que não<br />

há homem que chore por amor (portanto,<br />

essa figura é uma idealização — e, por<br />

conseguinte, toda imagem que se tem<br />

sobre os relacionamentos<br />

demasiadamente românticos). Note que<br />

Bandeira chega até mesmo a chamar tal<br />

"chorão" de ator ("...É lágrima de cinema /<br />

É tapeação..."). Macedo dá uma imagem<br />

pesada às lágrimas ("...são gotas da<br />

mentira...").<br />

92


05) (1999) Considere os textos abaixo.<br />

(...) de modo particular, quero encorajar os<br />

crentes empenhados no campo da<br />

filosofia para que iluminem os diversos<br />

âmbitos da atividade humana, graças ao<br />

exercício de uma razão que se torna mais<br />

segura e perspicaz com o apoio que<br />

recebe da fé.<br />

(Papa João Paulo II. Carta Encíclica Fides<br />

et Ratio aos bispos da igreja católica sobre as relações<br />

entre fé e razão, 1998)<br />

As verdades da razão natural não<br />

contradizem as verdades da fé cristã.<br />

(São Tomás de Aquino<br />

–pensador medieval)<br />

Refletindo sobre os textos, pode-se<br />

concluir que:<br />

A) a encíclica papal está em contradição<br />

com o pensamento de São Tomás de<br />

Aquino, refletindo a diferença de<br />

épocas.<br />

B) a encíclica papal procura<br />

complementar São Tomás de Aquino,<br />

pois este colocava a razão natural<br />

acima da fé.<br />

C) a Igreja medieval valorizava a razão<br />

mais do que a encíclica de João Paulo<br />

II.<br />

D) o pensamento teológico teve sua<br />

importância na Idade Média, mas, em<br />

nossos dias, não tem relação com o<br />

pensamento filosófico.<br />

E) tanto a encíclica papal como a frase<br />

de São Tomás de Aquino procuram<br />

conciliar os pensamentos sobre fé e<br />

razão.<br />

Comentário<br />

Nessa questão, é necessária uma<br />

releitura do texto para que se tenha uma<br />

melhor compreensão do tema. Tanto a<br />

citação do Papa quanto a de São Tomás de<br />

Aquino tentam criar uma interdependência<br />

entre a ciência e a fé, a religião. O Papa<br />

incentiva aqueles que exercem a pesquisa<br />

científica ou filosófica a manter a fé cristã.<br />

São Tomás de Aquino, por sua vez, equipara<br />

o avanço da ciência ao aumento da própria<br />

fé, afirmando que a razão natural não<br />

contradiz a fé cristã. Se um cresce, cresce<br />

também o outro, em harmonia e sem<br />

contradições. Questão de grau médio.<br />

(Português)<br />

Nessa questão, encontramos dois textos:<br />

o primeiro, do século XX, foi elaborado pelo<br />

Papa João Paulo II; o segundo, do século<br />

XIII, pelo teólogo e filósofo cristão São<br />

Tomás de Aquino. O conteúdo de ambos se<br />

refere à ligação entre fé e razão, a qual<br />

esteve presente na filosofia escolástica da<br />

Idade Média. Esse campo de reflexão buscou<br />

conciliar o cristianismo com o pensamento de<br />

Aristóteles e teve em São Tomás de Aquino<br />

seu maior representante.<br />

Mesmo sem ter todas essas informações,<br />

você poderia responder tranqüilamente à<br />

questão por meio de uma leitura atenta dos<br />

dois textos, chegando à conclusão de que<br />

"tanto a encíclica papal como a frase de São<br />

Tomás de Aquino procuram conciliar os<br />

pensamentos sobre fé e razão". Resposta<br />

correta: alternativa E. (História)<br />

Comentário do INEP<br />

Para resolver esta situação-problema, o<br />

participante deveria mostrar que, além de<br />

interpretar textos, sabe relacioná-los sendo<br />

que, nesse item, essas operações referem-se<br />

a um texto escrito na época medieval e a<br />

outro escrito recentemente.<br />

Mais de 70% dos participantes<br />

demonstraram facilidade em estabelecer esta<br />

relação.<br />

06) (1999) Leia um texto publicado no jornal<br />

Gazeta Mercantil. Esse texto é parte de<br />

um artigo que analisa algumas situações<br />

de crise no mundo, entre elas, a quebra<br />

da Bolsa de Nova Iorque em 1929, e foi<br />

publicado na época de uma iminente crise<br />

financeira no Brasil.<br />

Deu no que deu. No dia 29 de outubro de<br />

1929, uma terça-feira, praticamente não<br />

havia compradores no pregão de Nova<br />

Iorque, só vendedores. Seguiu-se uma<br />

crise incomparável: o Produto Interno<br />

Bruto dos Estados Unidos caiu de <strong>10</strong>4<br />

bilhões de dólares em 1929, para 56<br />

bilhões em 1933, coisa inimaginável em<br />

nossos dias. O valor do dólar caiu a quase<br />

metade. O desemprego elevou-se de 1,5<br />

milhão para 12,5 milhões de trabalhadores<br />

– cerca de 25% da população ativa –<br />

entre 1929 e 1933. A construção civil caiu<br />

90%. Nove milhões de aplicações, tipo<br />

caderneta de poupança, perderam-se com<br />

o fechamento dos bancos. Oitenta e cinco<br />

mil firmas faliram. Houve saques e norteamericanos<br />

que passaram fome.<br />

(Gazeta Mercantil, 05/01/1999)<br />

Ao citar dados referentes à crise ocorrida<br />

em 1929, em um artigo jornalístico atual,<br />

pode-se atribuir ao jornalista a seguinte<br />

intenção:<br />

93


A) questionar a interpretação da crise.<br />

B) comunicar sobre o desemprego.<br />

C) instruir o leitor sobre aplicações em<br />

bolsa de valores.<br />

D) relacionar os fatos passados e<br />

presentes.<br />

E) analisar dados financeiros americanos.<br />

Comentário<br />

Nessa questão, o que se tem de fazer é<br />

prestar atenção às alternativas das<br />

respostas. Nenhuma delas se apresenta tão<br />

bem contextualizada a uma possível<br />

interpretação quanto a letra D. Partindo-se da<br />

análise do texto, fica claro que a intenção do<br />

artigo é remeter o leitor ao passado para<br />

tentar conduzi-lo a uma reflexão sobre uma<br />

situação presente, não mencionada na<br />

questão. Após a leitura e utilizando-se a já<br />

citada eliminação de questões, torna-se clara<br />

a resposta. Questão de nível médio.<br />

(Português)<br />

Muitas vezes, quando procuramos<br />

entender uma crise econômica ou financeira<br />

de grandes proporções, buscamos<br />

estabelecer relações com crises passadas. O<br />

mesmo ocorre no jornalismo, como prova o<br />

texto encontrado nessa questão. Buscando<br />

entender uma crise ocorrida no início de<br />

1999, o jornalista da Gazeta Mercantil<br />

buscou relacionar a situação dessa época<br />

com a grande crise de 1929 que afetou o<br />

mundo, trazendo desemprego e recessão,<br />

entre tantos outros problemas econômicos e<br />

sociais.<br />

Para responder a essa questão, era<br />

necessário ler atentamente o enunciado, em<br />

que está destacado que "o texto é parte de<br />

um artigo que analisa algumas situações de<br />

crise no mundo" e "foi publicado na época de<br />

uma iminente crise financeira no Brasil". Era<br />

importante também observar a data em que o<br />

artigo foi publicado: 05/01/1999. A partir<br />

dessas constatações, facilmente você<br />

chegaria a conclusão de que a intenção do<br />

jornalista era "relacionar os fatos passados e<br />

presentes". Resposta correta: alternativa D.<br />

(História)<br />

jornalista traz à tona eventos ocorridos<br />

setenta anos antes –, e apenas interpretaram<br />

o sentido do texto citado, que descreve a<br />

crise mundial de 1929.<br />

07) (2002) O autor da tira utilizou os<br />

princípios de composição de um<br />

conhecido movimento artístico para<br />

representar a necessidade de um mesmo<br />

observador aprender a considerar,<br />

simultaneamente, diferentes pontos de<br />

vista.<br />

Das obras reproduzidas, todas de autoria<br />

do pintor espanhol Pablo Picasso, aquela<br />

em cuja composição foi adotado um<br />

procedimento semelhante é:<br />

A)<br />

B)<br />

C)<br />

Comentário do INEP<br />

A resolução da questão demandava a<br />

capacidade dos participantes de relacionar<br />

eventos históricos envolvendo crises<br />

econômicas ocorridas em épocas e lugares<br />

distintos. Aproximadamente 2/3 deles<br />

demonstraram essa capacidade. Os demais,<br />

provavelmente, não compreenderam a<br />

exigência expressa no enunciado do<br />

problema – apontar as razões pelas quais um<br />

94


D)<br />

08) (2001) Oxímoro (ou paradoxo) é uma<br />

construção textual que agrupa significados<br />

que se excluem mutuamente. Para<br />

Garfield, a frase de saudação de Jon<br />

(tirinha abaixo) expressa o maior de todos<br />

os oxímoros.<br />

E)<br />

Folha de S. Paulo. 31 de julho de 2000.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. O movimento<br />

artístico que previa considerar<br />

simultaneamente diversos pontos de vista<br />

era o Cubismo. Havia a desconstrução da<br />

forma para que se pudesse ver todos os<br />

ângulos concomitantemente. O único quadro<br />

que apresenta essas características é o da<br />

alternativa E. As outras quatro alternativas<br />

pressupõem a manutenção da forma.<br />

Comentário do INEP<br />

O objetivo desta questão é levar o<br />

participante a refletir sobre características<br />

fundamentais de um movimento artístico – o<br />

cubismo – a partir de dados visuais:<br />

quadrinhos e pinturas. A reprodução de dois<br />

quadrinhos da personagem Calvin forneceu<br />

para o participante informações básicas para<br />

a análise que deveria fazer das alternativas<br />

apresentadas. Segundo os quadrinhos, o<br />

movimento artístico abordado pela questão<br />

tinha como procedimento de composição<br />

representar, para um mesmo observador,<br />

diferentes pontos de vista, fazendo com que<br />

"o tradicional único ponto de vista" fosse<br />

abandonado e com que a perspectiva fosse<br />

fraturada. A análise das obras de Picasso<br />

reproduzidas nas alternativas permite que o<br />

participante reconheça a adoção desse<br />

procedimento no quadro "Marie-Thérèse<br />

apoiada no cotovelo" (alternativa E, com 46%<br />

de registros), no qual se pode reconhecer a<br />

representação de diferentes pontos de vista<br />

a partir dos quais é apresentado o rosto da<br />

mulher retratada.<br />

Nas alternativas abaixo, estão transcritos<br />

versos retirados do poema “O operário em<br />

construção”. Pode-se afirmar que ocorre<br />

um oxímoro em<br />

A) "Era ele que erguia casas<br />

Onde antes só havia chão."<br />

B) "... a casa que ele fazia<br />

Sendo a sua liberdade<br />

Era a sua escravidão."<br />

C) "Naquela casa vazia<br />

Que ele mesmo levantara<br />

Um mundo novo nascia<br />

De que sequer suspeitava."<br />

D) "... o operário faz a coisa<br />

E a coisa faz o operário."<br />

E) "Ele, um humilde operário<br />

Um operário que sabia<br />

Exercer a profissão."<br />

MORAES, Vinícius de. Antologia Poética. São Paulo:<br />

Companhia das Letras, 1992.<br />

Comentário<br />

Idéias que se completam e se excluem<br />

mutuamente são encontradas na alternativa<br />

B: a casa que ele construía era, ao mesmo<br />

tempo, sua liberdade e sua escravidão.<br />

A casa é um símbolo de liberdade para o<br />

homem. Para o homem operário, é também<br />

símbolo de escravidão, pois ele está<br />

"condenado" a jamais usufruir do resultado<br />

do seu trabalho (a casa que faz não é para<br />

ele).<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão propõe ao participante que<br />

estabeleça uma relação entre linguagens,<br />

associando a compreensão de um efeito<br />

semântico produzido pelo uso do oxímoro<br />

nos quadrinhos com o mesmo efeito num<br />

texto poético. O índice (18%) de escolhas da<br />

alternativa D deve-se, possivelmente, a uma<br />

análise parcial da noção de paradoxo,<br />

confundida com inversão.<br />

95


09) (2005) Cândido Portinari (1903-1962), um<br />

dos mais importantes artistas brasileiros<br />

do século XX, tratou de diferentes<br />

aspectos da nossa realidade em seus<br />

quadros.<br />

96<br />

Sobre a temática dos “Retirantes”,<br />

Portinari também escreveu o seguinte<br />

poema:<br />

(....)<br />

Os retirantes vêm vindo com trouxas e<br />

embrulhos<br />

Vêm das terras secas e escuras;<br />

pedregulhos<br />

Doloridos como fagulhas de carvão aceso<br />

Corpos disformes, uns panos sujos,<br />

Rasgados e sem cor, dependurados<br />

Homens de enorme ventre bojudo<br />

Mulheres com trouxas caídas para o lado<br />

Pançudas, carregando ao colo um garoto<br />

Choramingando, remelento<br />

(....)<br />

(Cândido Portinari. Poemas. Rio de Janeiro:<br />

J. Olympio, 1964.)<br />

Das quatro obras reproduzidas, assinale<br />

aquelas que abordam a problemática que<br />

é tema do poema.<br />

A) 1 e 2 D) 3 e 4<br />

B) 1 e 3 E) 2 e 4<br />

C) 2 e 3<br />

Comentário<br />

O poema apresenta correspondência com<br />

as imagens ao descrever com detalhes a<br />

figura do retirante: pobre, mal vestido,<br />

carregando trouxas e embrulhos.<br />

<strong>10</strong>) (2002) "A palavra tatuagem é<br />

relativamente recente. Toda a gente sabe<br />

que foi o navegador Cook que a introduziu<br />

no Ocidente, e esse escrevia tattou, termo<br />

da Polinésia de tatou ou tu tahou,<br />

'desenho'.<br />

(...) Desde os mais remotos tempos,<br />

vemo-la a transformar-se: distintivo<br />

honorífico entre uns homens, ferrete de<br />

ignomínia entre outros, meio de assustar o<br />

adversário para os bretões, marca de uma<br />

classe de selvagens das ilhas marquesas<br />

(...) sinal de amor, de desprezo, de ódio<br />

(...). Há três casos de tatuagem no Rio,<br />

completamente diversos na sua<br />

significação moral: os negros,os turcos<br />

com o fundo religioso e o bando de<br />

meretrizes, dos rufiões e dos humildes,<br />

que se marcam por crime ou por<br />

ociosidade".<br />

RIO, João do. Os Tatuadores. Revista Kosmos.<br />

1904, apud: A alma encantadora das ruas,<br />

SP: Cia das Letras, 1999.<br />

Com base no texto são feitas as seguintes<br />

afirmações:<br />

I. João do Rio revela como a tatuagem já<br />

estava presente na cidade do Rio de<br />

Janeiro, pelo menos desde o início do<br />

século XX, e era mais utilizada por<br />

alguns setores da população.<br />

II. A tatuagem, de origem polinésia,<br />

difundiu-se no ocidente com a<br />

característica que permanece até hoje:<br />

utilização entre os jovens com função<br />

estritamente estética.<br />

III. O texto mostra como a tatuagem é<br />

uma prática que se transforma no<br />

tempo e que alcança inúmeros sentidos<br />

nos diversos setores das sociedades e<br />

para as diferentes culturas.<br />

Está correto o que se afirma apenas em<br />

A) I D) I e II<br />

B) II E) I e III<br />

C) III<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. Constata-se o<br />

seguinte: a tatuagem já existia no Brasil no<br />

início do século XX (o texto é de 1904 e parte<br />

dele se refere ao Rio do Janeiro) e era<br />

utilizada em diferentes setores da sociedade.<br />

A afirmação de que as tatuagens possuem<br />

apenas finalidade estética entre os jovens<br />

elimina a segunda alternativa. Já a última<br />

alternativa confirma as transformações das<br />

funções da tatuagem ao longo do tempo nas<br />

mais diversas sociedades e culturas.<br />

Comentário do INEP<br />

O texto estabelece uma relação entre a<br />

atualidade da palavra "tatuagem" e a<br />

antiguidade do uso de desenhos como<br />

pintura corporal. Focaliza uma prática social<br />

bastante difundida que adquiriu aspectos e<br />

conotações diversos nos diferentes contextos<br />

históricos e geográficos em que ela pode ser


descrita. Fazendo a descrição da prática da<br />

tatuagem, como uma manifestação comum a<br />

diferentes culturas, e que adquire, inclusive,<br />

significados diferentes dentro de uma mesma<br />

cultura, induz o participante a refletir sobre a<br />

"diversidade dos patrimônios etnoculturais e<br />

artísticos", contextualizando ao mesmo<br />

tempo seus significados "em diferentes<br />

sociedades, épocas e lugares". Ao retomar<br />

as várias origens e usos da tatuagem, o<br />

participante é levado a compreender e<br />

respeitar uma gramática histórica dos<br />

costumes marcada sempre por semelhanças<br />

e diferenças. A questão não exigia, portanto,<br />

nenhum conhecimento prévio sobre as<br />

diferentes formas de manifestação dessa<br />

prática, mas simplesmente constatar, com o<br />

autor do texto citado, a historicidade e a<br />

diversidade das práticas sociais. Os<br />

participantes que assinalaram a alternativa C<br />

(36%), possivelmente, não levaram em<br />

consideração informações do texto. A<br />

questão foi corretamente respondida por 37%<br />

dos participantes.<br />

11) (2003) Eu começaria dizendo que poesia<br />

é uma questão de linguagem. A<br />

importância do poeta é que ele torna mais<br />

viva a linguagem. Carlos Drummond de<br />

Andrade escreveu um dos mais belos<br />

versos da língua portuguesa com duas<br />

palavras comuns: cão e cheirando.<br />

Um cão cheirando o futuro<br />

(Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP, 24/05/1988.<br />

adaptação)<br />

O que deu ao verso de Drummond o<br />

caráter de inovador da língua foi<br />

A) o modo raro como foi tratado o<br />

"futuro".<br />

B) a referência ao cão como "animal de<br />

estimação".<br />

C) a flexão pouco comum do verbo<br />

"cheirar" (gerúndio).<br />

D) a aproximação não usual do agente<br />

citado e a ação de "cheirar".<br />

E) o emprego do artigo indefinido "um" e<br />

do artigo definido "o" na mesma frase.<br />

Comentário<br />

O fato de Drummond identificar o futuro<br />

como algo que pode ser percebido por um<br />

animal irracional por meio do olfato foi<br />

inovador. A figura de linguagem foi<br />

construída metaforicamente: o futuro torna-se<br />

uma coisa que tem cheiro, contrariamente à<br />

imagem pela qual ele normalmente é<br />

representado: como algo que não se vê e<br />

não se pode pressentir ou tocar.<br />

12) (2003) Pequenos tormentos da vida<br />

De cada lado da sala de aula, pelas janelas<br />

altas, o azul convida os meninos,<br />

as nuvens desenrolam-se, lentas como quem<br />

vai inventando<br />

preguiçosamente uma história sem fim...Sem<br />

fim é a aula: e nada acontece,<br />

nada...Bocejos e moscas. Se ao menos,<br />

pensa Margarida, se ao menos um<br />

avião entrasse por uma janela e saísse por<br />

outra!<br />

(Mário Quintana. Poesias)<br />

Na cena retratada no texto, o sentimento<br />

do tédio<br />

A) provoca que os meninos fiquem<br />

contando histórias.<br />

B) leva os alunos a simularem bocejos,<br />

em protesto contra a monotonia da<br />

aula.<br />

C) acaba estimulando a fantasia,<br />

criando a expectativa de algum<br />

imprevisto mágico.<br />

D) prevalece de modo absoluto,<br />

impedindo até mesmo a distração ou o<br />

exercício do pensamento.<br />

E) decorre da morosidade da aula, em<br />

contraste com o movimento acelerado<br />

das nuvens e das moscas.<br />

Comentário<br />

Essa questão aborda o imaginário<br />

decorrente do marasmo trazido pela escola.<br />

O texto enfatiza o arrastar do tempo na<br />

mente de uma aluna, Margarida, que se põe<br />

a pensar em fatos mágicos ou imaginários<br />

que pudessem romper com a lentidão da<br />

aula.<br />

13) (2000) O autor do texto abaixo critica,<br />

ainda que em linguagem metafórica, a<br />

sociedade contemporânea em relação aos<br />

seus hábitos alimentares.<br />

“Vocês que têm mais de 15 anos, se<br />

lembram quando a gente comprava leite<br />

em garrafa, na leiteria da esquina? (...)<br />

Mas vocês não se lembram de nada,<br />

pô! Vai ver nem sabem o que é vaca. Nem<br />

o que é leite. Estou falando isso porque<br />

agora mesmo peguei um pacote de leite –<br />

leite em pacote, imagina, Tereza! – na<br />

porta dos fundos e estava escrito que é<br />

pasterizado, ou pasteurizado, sei lá, tem<br />

vitamina, é garantido pela<br />

embromatologia, foi enriquecido e o<br />

escambau. Será que isso é mesmo leite?<br />

No dicionário diz que leite é outra coisa:<br />

97


‘Líquido branco, contendo água,<br />

proteína, açúcar e sais minerais’. Um<br />

alimento pra ninguém botar defeito. O ser<br />

humano o usa há mais de 5.000 anos. É o<br />

único alimento só alimento. A carne serve<br />

pro animal andar, a fruta serve pra fazer<br />

outra fruta, o ovo serve pra fazer outra<br />

galinha (...) O leite é só leite. Ou toma ou<br />

bota fora. Esse aqui examinando bem, é<br />

só pra botar fora. Tem chumbo, tem<br />

benzina, tem mais água do que leite, tem<br />

serragem, sou capaz de jurar que nem<br />

vaca tem por trás desse negócio. Depois o<br />

pessoal ainda acha estranho que os<br />

meninos não gostem de leite.<br />

Mas, como não gostam? Não gostam<br />

como? Nunca tomaram! Múúúúúúú!”<br />

(FERNANDES, Millôr. O Estado de S. Paulo ,<br />

22 de agosto de 1999)<br />

A palavra embromatologia usada pelo<br />

autor é:<br />

A) um termo científico que significa estudo<br />

dos bromatos.<br />

B) uma composição do termo de gíria<br />

“embromação” (enganação) com<br />

bromatologia, que é o estudo dos<br />

alimentos.<br />

C) uma junção do termo de gíria<br />

“embromação” (enganação) com<br />

lactologia, que é o estudo das<br />

embalagens para leite.<br />

D) um neologismo da química orgânica<br />

que significa a técnica de retirar<br />

bromatos dos laticínios.<br />

E) uma corruptela de termo da<br />

agropecuária que significa a ordenha<br />

mecânica.<br />

Comentário<br />

É necessário para a resolução desta<br />

questão:<br />

- perceber que o texto critica o exagerado<br />

uso de substâncias artificiais nos<br />

alimentos;<br />

- conhecer o significado da gíria embromar e<br />

da palavra bromatologia.<br />

Comentário do INEP<br />

A resolução da questão requeria que o<br />

participante, ao ler o texto vinculasse o<br />

significado de um termo de gíria -<br />

"embromação" - com o da palavra<br />

bromatologia. A resposta correta exigia que o<br />

participante não abrisse mão do sabor<br />

picante contido na linguagem metafórica,<br />

sabor vinculado ao conhecimento específico<br />

contido na palavra bromatologia. Cerca da<br />

metade dos participantes (51%) optou pela<br />

alternativa correta e, os 20% que escolheram<br />

a alternativa C, provavelmente associaram a<br />

referência feita no texto à leite em pacote.<br />

14) (2008) Os signos visuais, como meios de<br />

comunicação, são classificados em<br />

categorias de acordo com seus<br />

significados.<br />

A categoria denominada indício<br />

corresponde aos signos visuais que têm<br />

origem em formas ou situações naturais<br />

ou casuais, as quais, devido à ocorrência<br />

em circunstâncias idênticas, muitas vezes<br />

repetidas, indicam algo e adquirem<br />

significado. Por exemplo, nuvens negras<br />

indicam tempestade. Com base nesse<br />

conceito, escolha a opção que representa<br />

um signo da categoria dos indícios.<br />

A)<br />

B)<br />

C)<br />

Conhecendo esses significados, você<br />

elimina todas as alternativas erradas: a, c, d<br />

e e.<br />

Você poderá ter dúvida quanto à<br />

alternativa c, que também será eliminada se<br />

souber o significado da palavra lactologia,<br />

que é o estudo do leite e produtos lácteos e<br />

não das embalagens para leite.<br />

Nesta questão, são trabalhados os<br />

conceitos de interpretação de texto, formação<br />

de palavras e conhecimentos gerais.<br />

98


D)<br />

aluno precisa estar atento à imagem e<br />

relacioná-la ao dito popular correspondente.<br />

A alternativa "A" é a correta, pois, para<br />

uma lesma “grudenta” e vagarosa conseguir<br />

pular numa cama elástica, é necessária<br />

muita perseverança.<br />

16) (2005) Leia estes textos.<br />

Texto 1<br />

E)<br />

Comentário<br />

Trata-se de uma questão interpretativa. O<br />

aluno precisa entender o que é “indício” para<br />

respondê-la. Segundo o dicionário Aurélio,<br />

indício é o mesmo que “sinal, vestígio,<br />

indicação”. Das figuras apresentadas,<br />

apenas a alternativa B indica algo: a<br />

passagem de alguém por algum lugar —<br />

pegada.<br />

15) (2008)<br />

Exame, 28/9/2007.<br />

Entre os seguintes ditos populares, qual<br />

deles melhor corresponde à figura<br />

acima?<br />

A) Com perseverança, tudo se alcança.<br />

B) Cada macaco no seu galho.<br />

C) Nem tudo que balança cai.<br />

D) Quem tudo quer, tudo perde.<br />

E) Deus ajuda quem cedo madruga.<br />

Comentário<br />

Assim como a questão 37, esta também<br />

envolve interpretação de signos, ou seja, o<br />

Texto 2<br />

Sonhar<br />

Mais um sonho impossível<br />

Lutar<br />

Quando é fácil ceder<br />

Vencer o inimigo invencível<br />

Negar quando a regra é vender<br />

Sofrer a tortura implacável<br />

Romper a incabível prisão<br />

Voar num limite improvável<br />

Tocar o inacessível chão<br />

É minha lei, é minha questão<br />

Virar esse mundo<br />

Cravar esse chão<br />

Não me importa saber<br />

Se é terrível demais<br />

Quantas guerras terei que vencer<br />

Por um pouco de paz<br />

E amanhã se esse chão que eu beijei<br />

For meu leito e perdão<br />

Vou saber que valeu delirar<br />

E morrer de paixão<br />

E assim, seja lá como for<br />

Vai ter fim a infinita aflição<br />

E o mundo vai ver uma flor<br />

Brotar do impossível chão.<br />

(J. Darione – M. Leigh – Versão de Chico Buarque de<br />

Hollanda e Ruy Guerra, 1972.)<br />

A tirinha e a canção apresentam uma<br />

reflexão sobre o futuro da humanidade. É<br />

correto concluir que os dois textos<br />

A) afirmam que o homem é capaz de<br />

alcançar a paz.<br />

B) concordam que o desarmamento é<br />

inatingível.<br />

C) julgam que o sonho é um desafio<br />

invencível.<br />

D) têm visões diferentes sobre um<br />

possível mundo melhor.<br />

E) transmitem uma mensagem de<br />

otimismo sobre a paz.<br />

99


Comentário<br />

Enquanto o primeiro texto é ácido em<br />

relação à possibilidade de desarmamento da<br />

população (ou seja, à criação de uma<br />

sociedade mais pacífica), o segundo mostra<br />

a capacidade que a humanidade tem de crer<br />

e, por isso, tentar fazer até o que a princípio<br />

parece impossível. Para os autores da<br />

canção, nada é intrinsecamente impossível.<br />

A relação entre eles é de oposição:<br />

descrença x crença. Questão de nível de<br />

dificuldade médio.<br />

Esta questão é daquelas rápidas de serem<br />

resolvidas, associando-se os elementos<br />

apresentados.<br />

Comentário do INEP<br />

A significativa maioria (81%) dos<br />

participantes soube perceber o caráter<br />

irônico da fala do Garfield, expressa no<br />

terceiro quadrinho porque, ou conheciam a<br />

história de Van Gogh, ou apropriaram-se<br />

corretamente da informação sobre esse<br />

pintor, fornecida no enunciado.<br />

17) (2000) As histórias em quadrinhos, por<br />

vezes, utilizam animais como<br />

personagens e a eles atribuem<br />

comportamento humano. O gato Garfield<br />

é exemplo desse fato.<br />

18) (2004)<br />

Fonte: Caderno Vida e Arte, Jornal do Povo, Fortaleza<br />

Van Gogh, pintor holandês nascido em<br />

1853, é um dos principais nomes da<br />

pintura mundial. É dele o quadro abaixo.<br />

Auto-retrato de orelha cortada<br />

O 3º quadrinho sugere que Garfield:<br />

A) desconhece tudo sobre arte, por isso<br />

faz a sugestão.<br />

B) acredita que todo pintor deve fazer algo<br />

diferente.<br />

C) defende que para ser pintor a pessoa<br />

tem de sofrer.<br />

D) conhece a história de um pintor<br />

famoso e faz uso da ironia.<br />

E) acredita que seu dono tenha tendência<br />

artística e, por isso, faz a sugestão.<br />

Comentário<br />

Outra questão de interpretação de texto.<br />

Muito simples para quem um dia ouviu falar<br />

de Van Gogh, e simplíssima para aqueles<br />

que prestam atenção em todos os elementos<br />

do enunciado. Afinal, quem deu uma<br />

espiadinha na legenda do quadro de Van<br />

Gogh matou na hora a questão.<br />

A tira "Hagar" e o poema de Alberto<br />

Caeiro (um dos heterônimos de Fernando<br />

Pessoa) expressam, com linguagens<br />

diferentes, uma mesma idéia: a de que a<br />

compreensão que temos do mundo é<br />

condicionada, essencialmente,<br />

A) pelo alcance de cada cultura.<br />

B) pela capacidade visual do observador.<br />

C) pelo senso de humor de cada um.<br />

D) pela idade do observador.<br />

E) pela altura do ponto de observação.<br />

Comentário<br />

Questão reflexiva sobre a forma como<br />

cada cultura vê o mundo sob a ótica dos<br />

limites dados pelos seus costumes e<br />

possibilidades de pensamento inerentes a<br />

cada modelo cultural. A mistura de uma tira e<br />

de um poema amplia a possibilidade de<br />

pensamento por trabalhar com linguagens<br />

diferentes. A alternativa correta é a letra A,<br />

pois ambos (tira e poema) utilizam figuras de<br />

linguagem (metáfora e ironia) para expressar<br />

as diferentes visões de mundo.<br />

19) (2002)<br />

<strong>10</strong>0


De acordo com a história em quadrinhos<br />

protagonizada por Hagar e seu filho<br />

Hamlet, pode-se afirmar que a postura de<br />

Hagar<br />

A) valoriza a existência da diversidade<br />

social e de culturas, e as várias<br />

representações e explicações desse<br />

universo.<br />

B) desvaloriza a existência da<br />

diversidade social e as várias culturas,<br />

e determina uma única explicação para<br />

esse universo.<br />

C) valoriza a possibilidade de explicar as<br />

sociedades e as culturas a partir de<br />

várias visões de mundo.<br />

D) valoriza a pluralidade cultural e social<br />

ao aproximar a visão de mundo de<br />

navegantes e não-navegantes.<br />

E) desvaloriza a pluralidade cultural e<br />

social, ao considerar o mundo habitado<br />

apenas pelos navegantes.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. Hagar reduz o<br />

mundo a dois tipos de pessoas: navegantes<br />

e não-navegantes. No último quadrinho, diz<br />

que são os navegantes que estabelecem<br />

esses dois grupos. Portanto, quem é<br />

diferente dos navegantes (que estabelecem<br />

o padrão) simplesmente é incluído na massa<br />

única dos não-navegantes. Não importa<br />

quem ou quantos sejam, sua diversidade<br />

social ou cultural em relação aos navegantes<br />

ou entre si. Vemos aí a desvalorização de<br />

outras culturas.<br />

Comentário do INEP<br />

Dentre as habilidades básicas para a<br />

compreensão de um texto destaca-se a<br />

capacidade do leitor de identificar os<br />

pressupostos de cada afirmação que lhe é<br />

apresentada. Nesta questão o participante<br />

deve identificar a posição tanto de Hagar<br />

como de seu filho Hamlet e, em seguida,<br />

avaliar quais os argumentos que justificam a<br />

opinião de Hagar ao definir que no mundo só<br />

existem dois tipos de pessoas. A pergunta de<br />

Hamlet a seu pai explicita a importância do<br />

ato de narrar através do diálogo e do efeito<br />

humorístico contido no episódio representado<br />

na tira. O resultado da compreensão<br />

acertada do diálogo é que o narrador torna<br />

inteligível, para si e para os outros, a lógica<br />

do seu pensamento através do diálogo entre<br />

os dois personagens. É importante observar<br />

que o humor do personagem Hagar é<br />

identificado na postura simetricamente<br />

oposta à de Michel de Montaigne, por<br />

exemplo (ver questão 58): a sua visão de<br />

mundo apresenta-se autocentrada, isto é,<br />

centrada nos seus próprios valores (vikings).<br />

A habilidade requerida do participante nessa<br />

questão, qual seja, "valorizar a diversidade<br />

dos patrimônios etnoculturais", é mobilizada<br />

aqui na sua dimensão negativa: é criticando<br />

a postura chauvinista de Hagar que o<br />

participante é capaz de responder<br />

corretamente a questão. A última alternativa<br />

(E) funciona como um distrator, pois neste<br />

caso não está suposta a crítica do discurso<br />

do personagem. Cerca de um terço dos<br />

participantes assinalou a alternativa correta<br />

B. As demais opções são devidas,<br />

possivelmente, a uma leitura pouco<br />

compreensiva das alternativas associadas a<br />

história em quadrinhos.<br />

COMPETÊNCIA DE ÁREA 4<br />

H12 - Reconhecer diferentes<br />

funções da arte, do trabalho<br />

da produção dos artistas em<br />

seus meios culturais.<br />

01) (2000) Ferreira Gullar, um dos grandes<br />

poetas brasileiros da atualidade, é autor<br />

de “Bicho urbano”, poema sobre a sua<br />

relação com as pequenas e grandes<br />

cidades.<br />

Bicho urbano<br />

Se disser que prefiro morar em Pirapemas<br />

ou em outra qualquer pequena cidade do<br />

país<br />

estou mentindo<br />

ainda que lá se possa de manhã<br />

lavar o rosto no orvalho<br />

e o pão preserve aquele branco<br />

sabor de alvorada.<br />

....................................................................<br />

A natureza me assusta.<br />

Com seus matos sombrios suas águas<br />

suas aves que são como aparições<br />

me assusta quase tanto quanto<br />

esse abismo<br />

de gases e de estrelas<br />

aberto sob minha cabeça.<br />

(GULLAR, Ferreira. Toda poesia. Rio de Janeiro:<br />

José Olympio Editora, 1991)<br />

Embora não opte por viver numa pequena<br />

cidade, o poeta reconhece elementos de<br />

valor no cotidiano das pequenas<br />

comunidades. Para expressar a relação<br />

<strong>10</strong>1


do homem com alguns desses elementos,<br />

ele recorre à sinestesia, construção de<br />

linguagem em que se mesclam<br />

impressões sensoriais diversas. Assinale<br />

a opção em que se observa esse recurso.<br />

A) "e o pão preserve aquele branco /<br />

sabor de alvorada."<br />

B) "ainda que lá se possa de manhã /<br />

lavar o rosto no orvalho"<br />

C) "A natureza me assusta. / Com seus<br />

matos sombrios suas águas"<br />

D) "suas aves que são como aparições /<br />

me assusta quase tanto quanto"<br />

E) "me assusta quase tanto quanto / esse<br />

abismo / de gases e de estrelas"<br />

Comentário<br />

Para responder a esta questão, leia com<br />

muita atenção o enunciado. Nele encontra-se<br />

o conceito de sinestesia: construção de<br />

linguagem em que se mesclam impressões<br />

sensoriais diversas, ou seja, a associação de<br />

sensações diferentes numa mesma<br />

expressão.<br />

Você deve compreender o conceito de<br />

sinestesia e, pela lógica, encontrar o exemplo<br />

dessa figura de linguagem.<br />

A alternativa correta é a letra a, pois a<br />

expressão "branco sabor" associa o sentido<br />

da visão (branco) com o do paladar (sabor).<br />

Comentário do INEP<br />

A questão procurou verificar a capacidade<br />

do participante de construir o sentido de<br />

elementos textuais. A partir da noção de<br />

sinestesia, que lhe foi dada de maneira<br />

sucinta, ele teve de transpor para o texto<br />

essa mesma noção, manifestando sua<br />

competência textual. Pode-se classificar de<br />

'bom', o índice de acerto (53%), se<br />

considerarmos que a questão trabalhou com<br />

a função conotativa da linguagem, o que<br />

requer uma capacidade de leitura sempre<br />

mais desenvolvida. Os desvios, de forma<br />

mais acentuada na alternativa B, são<br />

explicáveis: as alternativas incorretas (e, de<br />

resto, todo o poema) também se referem à<br />

manifestações sensoriais, embora sem a<br />

necessária 'mescla', que é o que distingue a<br />

sinestesia.<br />

02) (2002) "De repente lá vinha um homem a<br />

cavalo. Eram dois. Um senhor de fora, o<br />

claro de roupa. Miguilim saudou, pedindo<br />

a bênção. O homem trouxe o cavalo cá<br />

bem junto. Ele era de óculos, corado, alto,<br />

com um chapéu diferente, mesmo.<br />

— Deus te abençoe, pequenino. Como é<br />

teu nome?<br />

— Miguilim. Eu sou irmão do Dito.<br />

— E o seu irmão Dito é o dono daqui?<br />

— Não, meu senhor. O Ditinho está em<br />

glória.<br />

O homem esbarrava o avanço do<br />

cavalo, que era zelado, manteúdo,<br />

formoso como nenhum outro. Redizia:<br />

— Ah, não sabia, não. Deus o tenha em<br />

sua guarda... Mas que é que há, Miguilim?<br />

Miguilim queria ver se o homem estava<br />

mesmo sorrindo para ele, por isso é que o<br />

encarava.<br />

— Por que você aperta os olhos assim?<br />

Você não é limpo de vista? Vamos até lá.<br />

Quem é que está em tua casa?<br />

— É Mãe, e os meninos...<br />

Estava Mãe, estava tio Terez, estavam<br />

todos. O senhor alto e claro se apeou. O<br />

outro, que vinha com ele, era um<br />

camarada.<br />

O senhor perguntava à Mãe muitas<br />

coisas do Miguilim. Depois perguntava a<br />

ele mesmo: — 'Miguilim, espia daí:<br />

quantos dedos da minha mão você está<br />

enxergando? E agora?"<br />

ROSA, João Guimarães. Manuelzão e Miguilim. 9ª ed. Rio de<br />

Janeiro: Nova Fronteira, 1984.<br />

Esta história, com narrador observador em<br />

terceira pessoa, apresenta os<br />

acontecimentos da perspectiva de<br />

Miguilim. O fato de o ponto de vista do<br />

narrador ter Miguilim como referência,<br />

inclusive espacial, fica explicitado em:<br />

A) "O homem trouxe o cavalo cá bem<br />

junto."<br />

B) "Ele era de óculos, corado, alto (...)"<br />

C) "O homem esbarrava o avanço do<br />

cavalo, (...)"<br />

D) "Miguilim queria ver se o homem<br />

estava mesmo sorrindo para ele, (...)"<br />

E) "Estava Mãe, estava tio Terez, estavam<br />

todos"<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. A única alternativa<br />

que apresenta, ao mesmo tempo, o narrador<br />

e o ponto de referência espacial é a letra A, o<br />

que pode ser comprovado pela expressão<br />

"cá bem junto".<br />

<strong>10</strong>2


Comentário do INEP<br />

Essa questão apresenta para leitura e<br />

análise um trecho da novela Campo Geral,<br />

da obra Manuelzão e Miguilim, de Guimarães<br />

Rosa, em que um narrador em terceira<br />

pessoa relata o momento do encontro entre<br />

Miguilim e o médico, que percebe, logo ao<br />

chegar, que o garoto tem problemas de<br />

visão. A questão propõe a análise do ponto<br />

de vista narrativo, que, no texto literário, não<br />

necessariamente, como no texto em questão,<br />

será sempre o do narrador.<br />

A cena narrativa presente nesse texto é<br />

contada por um narrador adulto, mas é o<br />

sentimento de Miguilim a respeito dos<br />

acontecimentos que orienta esse contar.<br />

Esse efeito de sentido é resultado do<br />

trabalho do autor com a linguagem. Segundo<br />

a gramática da norma culta, "cá" e "aqui"<br />

indicam o lugar do sujeito, ou seja, daquele<br />

que fala. Algo semelhante ocorre com o<br />

verbo "trazer", que indica um movimento para<br />

o lugar onde se encontra o sujeito. Tanto "cá"<br />

como "trazer" indicam proximidade espacial<br />

daquele que fala.<br />

A narração pertence a um narrador que<br />

não participa da historia como personagem,<br />

portanto ele fala dos outros, nunca de si<br />

mesmo. No trecho "o homem trouxe o cavalo<br />

cá bem junto", o narrador indica que o<br />

homem a cavalo aproxima-se de Miguilim.<br />

Esse jogo de linguagem cria no leitor a<br />

imagem de um narrador adulto que, colandose<br />

à criança, vê pelos olhos desta.<br />

Embora todas as alternativas apresentem<br />

a percepção da criança naquele contexto da<br />

chegada de um desconhecido, apenas a<br />

alternativa A responde o que foi solicitado,<br />

pois só ela apresenta o aspecto da<br />

localização espacial presente no advérbio de<br />

lugar "cá". Quase metade dos participantes<br />

assinalou a alternativa D, única que contem a<br />

palavra Miguilim, possivelmente porque<br />

interpretaram erroneamente o<br />

encaminhamento da questão, no trecho "...<br />

narrador ter Miguilim como referência, ...".<br />

03) (2006) Namorados<br />

O rapaz chegou-se para junto da moça<br />

e disse:<br />

— Antônia, ainda não me acostumei com<br />

o seu corpo, com a sua cara.<br />

A moça olhou de lado e esperou.<br />

— Você não sabe quando a gente é<br />

criança e de repente vê uma lagarta<br />

listrada?<br />

A moça se lembrava:<br />

— A gente fica olhando...<br />

A meninice brincou de novo nos olhos<br />

dela.<br />

O rapaz prosseguiu com muita doçura:<br />

— Antônia, você parece uma lagarta<br />

listrada.<br />

A moça arregalou os olhos, fez<br />

exclamações.<br />

O rapaz concluiu:<br />

— Antônia, você é engraçada! Você<br />

parece louca.<br />

No poema de Bandeira, importante<br />

representante da poesia modernista,<br />

destaca-se como característica da escola<br />

literária dessa época<br />

Manuel Bandeira. Poesia completa & prosa.<br />

Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985.<br />

A) a reiteração de palavras como recurso<br />

de construção de rimas ricas.<br />

B) a utilização expressiva da linguagem<br />

falada em situações do cotidiano.<br />

C) a criativa simetria de versos para<br />

reproduzir o ritmo do tema abordado.<br />

D) a escolha do tema do amor romântico,<br />

caracterizador do estilo literário dessa<br />

época.<br />

E) o recurso ao diálogo, gênero discursivo<br />

típico do Realismo.<br />

04) (2008) Calcula-se que 78% do<br />

desmatamento na Amazônia tenha sido<br />

motivado pela pecuária — cerca de 35%<br />

do rebanho nacional está na região — e<br />

que pelo menos 50 milhões de hectares<br />

de pastos são pouco produtivos. Enquanto<br />

o custo médio para aumentar a<br />

produtividade de 1 hectare de pastagem é<br />

de 2 mil reais, o custo para derrubar igual<br />

área de floresta é estimado em 800 reais,<br />

o que estimula novos desmatamentos.<br />

Adicionalmente, madeireiras retiram as<br />

árvores de valor comercial que foram<br />

abatidas para a criação de pastagens. Os<br />

pecuaristas sabem que problemas<br />

ambientais como esses podem provocar<br />

restrições à pecuária nessas áreas, a<br />

exemplo do que ocorreu em 2006 com o<br />

plantio da soja, o qual, posteriormente, foi<br />

proibido em áreas de floresta.<br />

Época, 3/3/2008 e 9/6/2008 (com adaptações).<br />

A partir da situação-problema descrita,<br />

conclui-se que<br />

A) o desmatamento na Amazônia decorre<br />

principalmente da exploração ilegal de<br />

árvores de valor comercial.<br />

<strong>10</strong>3


B) um dos problemas que os pecuaristas<br />

vêm enfrentando na Amazônia é a<br />

proibição do plantio de soja.<br />

C) a mobilização de máquinas e de força<br />

humana torna o desmatamento mais<br />

caro que o aumento da produtividade<br />

de pastagens.<br />

D) o superavit comercial decorrente da<br />

exportação de carne produzida na<br />

Amazônia compensa a possível<br />

degradação ambiental.<br />

E) a recuperação de áreas desmatadas<br />

e o aumento de produtividade das<br />

pastagens podem contribuir para a<br />

redução do desmatamento na<br />

Amazônia.<br />

Comentário<br />

Essa questão retrata o problema do<br />

desmatamento da Amazônia, relacionado<br />

principalmente com o desenvolvimento da<br />

pecuária na região. Para resolvê-la, foram<br />

necessários a leitura atenta do texto e o<br />

conhecimento sobre os problemas<br />

ambientais da atualidade. A alternativa<br />

correta é a letra E, pois é mais caro para os<br />

pecuaristas aumentar a produtividade do que<br />

as áreas de pasto, o que acarreta o aumento<br />

do desmatamento da Amazônia.<br />

05) (2006) Erro de Português<br />

Quando o português chegou<br />

Debaixo de uma bruta chuva<br />

Vestiu o índio<br />

Que pena!<br />

Fosse uma manhã de Sol<br />

O índio tinha despido<br />

O português.<br />

Oswald de Andrade. Poesias reunidas.<br />

Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.<br />

O primitivismo observável no poema<br />

acima, de Oswald de Andrade, caracteriza<br />

de forma marcante<br />

A) o regionalismo do Nordeste.<br />

B) o concretismo paulista.<br />

C) a poesia Pau-Brasil.<br />

D) o simbolismo pre-modernista.<br />

E) o tropicalismo baiano.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil, pois bastaria que o<br />

aluno fizesse a relação do nome do autor,<br />

Oswald de Andrade, à alternativa "C", poesia<br />

Pau-Brasil. Com isso, ele já eliminaria as<br />

demais alternativas. Contudo, mesmo que o<br />

aluno não tivesse se lembrado desse<br />

detalhe, o próprio poema Erro de Português<br />

remete a uma das características da poesia<br />

Pau-Brasil, a retomada e a valorização das<br />

riquezas do Brasil primitivo.<br />

06) (2007) Texto I<br />

Agora Fabiano conseguia arranjar as<br />

idéias. O que o segurava era a família.<br />

Vivia preso como um novilho amarrado ao<br />

mourão, suportando ferro quente. Se não<br />

fosse isso, um soldado amarelo não lhe<br />

pisava o pé não. (...) Tinha aqueles<br />

cambões pendurados ao pescoço.<br />

Deveria continuar a arrastá-los? Sinha<br />

Vitória dormia mal na cama de varas. Os<br />

meninos eram uns brutos, como o pai.<br />

Quando crescessem, guardariam as reses<br />

de um patrão invisível, seriam pisados,<br />

maltratados, machucados por um soldado<br />

amarelo.<br />

Graciliano Ramos. Vidas Secas.<br />

São Paulo: Martins, 23.ª ed., 1969, p. 75.<br />

Texto II<br />

Para Graciliano, o roceiro pobre é um<br />

outro, enigmático, impermeável. Não há<br />

solução fácil para uma tentativa de<br />

incorporação dessa figura no campo da<br />

ficção. É lidando com o impasse, ao invés<br />

de fáceis soluções, que Graciliano vai<br />

criar Vidas Secas, elaborando uma<br />

linguagem, uma estrutura romanesca,<br />

uma constituição de narrador em que<br />

narrador e criaturas se tocam, mas não se<br />

identificam. Em grande medida, o debate<br />

acontece porque, para a intelectualidade<br />

brasileira naquele momento, o pobre, a<br />

despeito de aparecer idealizado em certos<br />

aspectos, ainda é visto como um ser<br />

humano de segunda categoria, simples<br />

demais, incapaz de ter pensamentos<br />

demasiadamente complexos. O que Vidas<br />

Secas faz é, com pretenso não<br />

envolvimento da voz que controla a<br />

narrativa, dar conta de uma riqueza<br />

humana de que essas pessoas seriam<br />

plenamente capazes.<br />

Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes. In:<br />

Teresa. São Paulo: USP, n.° 2, 2001, p. 254.<br />

A partir do trecho de Vidas Secas (texto I)<br />

e das informações do texto II, relativas às<br />

concepções artísticas do romance social<br />

de 1930, avalie as seguintes afirmativas.<br />

I - O pobre, antes tratado de forma exótica<br />

e folclórica pelo regionalismo pitoresco,<br />

transforma-se em protagonista<br />

privilegiado do romance social de 30.<br />

II - A incorporação do pobre e de outros<br />

marginalizados indica a tendência da<br />

<strong>10</strong>4


ficção brasileira da década de 30 de<br />

tentar superar a grande distância entre<br />

o intelectual e as camadas populares.<br />

III - Graciliano Ramos e os demais autores<br />

da década de 30 conseguiram, com<br />

suas obras, modificar a posição social<br />

do sertanejo na realidade nacional.<br />

É correto apenas o que se afirma em<br />

A) I. D) I e II.<br />

B) II. E) II e III.<br />

C) III.<br />

Comentário<br />

Questão de nível médio. O aluno deveria<br />

perceber que, no texto de Vidas Secas, o<br />

protagonista de sua obra é o "Pobre<br />

Sertanejo", aqui tratado de forma realista,<br />

sem idealizações e fantasias, e com total<br />

destaque em sua narrativa. Ele também deve<br />

fazer um comparativo entre o trecho da obra<br />

com o comentário de Luís Bueno, além de<br />

demonstrar seus conhecimentos sobre o<br />

Romance Regionalista de 30, para chegar à<br />

conclusão de que a resposta correta é a D.<br />

07) (2008) A Lei Federal n.º 9.985/2000, que<br />

instituiu o sistema nacional de unidades<br />

de conservação, define dois tipos de<br />

áreas protegidas. O primeiro, as unidades<br />

de proteção integral, tem por objetivo<br />

preservar a natureza, admitindo-se<br />

apenas o uso indireto dos seus recursos<br />

naturais, isto é, aquele que não envolve<br />

consumo, coleta, dano ou destruição dos<br />

recursos naturais. O segundo, as<br />

unidades de uso sustentável, tem por<br />

função compatibilizar a conservação da<br />

natureza com o uso sustentável de<br />

parcela dos recursos naturais. Nesse<br />

caso, permite-se a exploração do<br />

ambiente de maneira a garantir a<br />

perenidade dos recursos ambientais<br />

renováveis e dos processos ecológicos,<br />

mantendo-se a biodiversidade e os<br />

demais atributos ecológicos, de forma<br />

socialmente justa e economicamente<br />

viável.<br />

Considerando essas informações, analise<br />

a seguinte situação hipotética.<br />

Ao discutir a aplicação de recursos<br />

disponíveis para o desenvolvimento de<br />

determinada região, organizações civis,<br />

universidade e governo resolveram<br />

investir na utilização de uma unidade de<br />

proteção integral, o Parque Nacional do<br />

Morro do Pindaré, e de uma unidade de<br />

uso sustentável, a Floresta Nacional do<br />

Sabiá. Depois das discussões, a equipe<br />

resolveu levar adiante três projetos:<br />

— o projeto I consiste de pesquisas<br />

científicas embasadas exclusivamente<br />

na observação de animais;<br />

— o projeto II inclui a construção de uma<br />

escola e de um centro de vivência;<br />

— o projeto III promove a organização de<br />

uma comunidade extrativista que<br />

poderá coletar e explorar<br />

comercialmente frutas e sementes<br />

nativas.<br />

Nessa situação hipotética, atendendo-se à<br />

lei mencionada acima, é possível<br />

desenvolver tanto na unidade de proteção<br />

integral quanto na de uso sustentável<br />

A) apenas o projeto I.<br />

B) apenas o projeto III.<br />

C) apenas os projetos I e II.<br />

D) apenas os projetos II e III.<br />

E) todos os três projetos.<br />

Comentário do portal<br />

A alternativa correta é a letra "A", pois,<br />

analisando-se a situação hipotética sugerida<br />

no enunciado, percebe-se que ela deverá<br />

atender os requisitos tanto da unidade de<br />

proteção integral quanto da unidade de uso<br />

sustentável. Portanto, apenas o projeto I<br />

poderá ser desenvolvido nessas duas<br />

propostas de unidades.<br />

08) (2006) No poema Procura da poesia,<br />

Carlos Drummond de Andrade expressa a<br />

concepção estética de se fazer com<br />

palavras o que o escultor Michelângelo<br />

fazia com mármore. O fragmento abaixo<br />

exemplifica essa afirmação.<br />

(...)<br />

Penetra surdamente no reino das<br />

palavras.<br />

Lá estão os poemas que esperam ser<br />

escritos.<br />

(...)<br />

Chega mais perto e contempla as<br />

palavras.<br />

Cada uma<br />

tem mil faces secretas sob a face neutra<br />

e te pergunta, sem interesse pela<br />

resposta,<br />

pobre ou terrível, que lhe deres:<br />

trouxeste a chave?<br />

Carlos Drummond de Andrade. A rosa do povo.<br />

Rio de Janeiro: Record, 1997, p. 13-14.<br />

<strong>10</strong>5


Esse fragmento poético ilustra o seguinte<br />

tema constante entre autores<br />

modernistas:<br />

A) a nostalgia do passado colonialista<br />

revisitado.<br />

B) a preocupação com o engajamento<br />

político e social da literatura.<br />

C) o trabalho quase artesanal com as<br />

palavras, despertando sentidos novos.<br />

D) a produção de sentidos herméticos na<br />

busca da perfeição poética.<br />

E) a contemplação da natureza brasileira<br />

na perspectiva ufanista da pátria.<br />

Comentário<br />

Questão de nível difícil, pois o candidato<br />

deveria, além de interpretar o poema,<br />

conhecer o verdadeiro sentido de arte<br />

segundo Michelângelo, que achava que um<br />

bloco de mármore já tinha sua figura dentro<br />

dele e que seu trabalho seria somente<br />

lapidá-la. Dessa forma, o candidato deveria<br />

relacionar a estrutura de um bloco de<br />

mármore ao segundo verso do poema: “Lá<br />

estão os poemas que esperam ser escritos<br />

(...)”. Ou seja, esperava-se que o candidato<br />

fizesse a relação do bloco de mármore com<br />

as palavras, o que justifica a alternativa “C”<br />

como correta.<br />

09) (2002) Érico Veríssimo relata, em suas<br />

memórias, um episódio da adolescência<br />

que teve influência significativa em sua<br />

carreira de escritor.<br />

"Lembro-me de que certa noite — eu<br />

teria uns quatorze anos, quando muito —<br />

encarregaram-me de segurar uma<br />

lâmpada elétrica à cabeceira da mesa de<br />

operações, enquanto um médico fazia os<br />

primeiros curativos num pobre-diabo que<br />

soldados da Polícia Municipal haviam<br />

"carneado". (...) Apesar do horror e da<br />

náusea, continuei firme onde estava,<br />

talvez pensando assim: se esse caboclo<br />

pode agüentar tudo isso sem gemer, por<br />

que não hei de poder ficar segurando esta<br />

lâmpada para ajudar o doutor a costurar<br />

esses talhos e salvar essa vida? (...)<br />

Desde que, adulto, comecei a escrever<br />

romances, tem-me animado até hoje a<br />

idéia de que o menos que o escritor pode<br />

fazer, numa época de atrocidades e<br />

injustiças como a nossa, é acender a sua<br />

lâmpada, fazer luz sobre a realidade de<br />

seu mundo, evitando que sobre ele caia a<br />

escuridão, propícia aos ladrões, aos<br />

assassinos e aos tiranos. Sim, segurar a<br />

lâmpada, a despeito da náusea e do<br />

horror. Se não tivermos uma lâmpada<br />

elétrica, acendamos o nosso toco de vela<br />

ou, em último caso, risquemos fósforos<br />

repetidamente, como um sinal de que não<br />

desertamos nosso posto."<br />

VERÍSSIMO, Érico. Solo de Clarineta. Tomo I.<br />

Porto Alegre: Editora Globo, 1978.<br />

Neste texto, por meio da metáfora da<br />

lâmpada que ilumina a escuridão, Érico<br />

Veríssimo define como uma das funções<br />

do escritor e, por extensão, da literatura,<br />

A) criar a fantasia.<br />

B) permitir o sonho.<br />

C) denunciar o real.<br />

D) criar o belo.<br />

E) fugir da náusea.<br />

Comentário<br />

Temos aqui um dos pontos mais comuns<br />

abordados na obra de Veríssimo: a denúncia<br />

social. “(...) o menos que o escritor pode<br />

fazer, numa época de atrocidades e<br />

injustiças como a nossa, é acender sua<br />

lâmpada, fazer luz sobre a realidade de seu<br />

mundo, evitando que sobre ele caia a<br />

escuridão, propícia aos ladrões, aos<br />

assassinos e aos tiranos.”<br />

A literatura deve, como a luz, mostrar não<br />

só as belezas, mas também as feridas da<br />

sociedade, para que as tentemos sanar.<br />

Comentário do INEP<br />

Essa questão apresenta para leitura e<br />

análise um trecho de Solo de Clarineta, em<br />

que Érico Veríssimo relata uma experiência<br />

de juventude e dela constrói uma metáfora<br />

para revelar o que ele entende ser uma das<br />

funções essenciais da literatura. "Lâmpada",<br />

"vela", "fósforos" devem ser lidos como a<br />

palavra comprometida em traduzir a<br />

realidade do mundo. Ou seja, afirmar que o<br />

escritor deve "fazer luz sobre a realidade de<br />

seu mundo", nesse contexto, equivale a<br />

afirmar que um papel da literatura é<br />

denunciar o real. Todas as alternativas<br />

propostas referem-se a eventuais funções da<br />

literatura. Apenas a alternativa C é pertinente<br />

ao contexto e foi escolhida por cerca de<br />

metade dos participantes.<br />

<strong>10</strong>) (1999) Leia o texto abaixo.<br />

Cabelos longos, brinco na orelha<br />

esquerda, físico de skatista. Na aparência,<br />

o estudante brasiliense Rui Lopes Viana<br />

Filho, de 16 anos, não lembra em nada o<br />

estereótipo dos gênios. Ele não usa<br />

<strong>10</strong>6


pesados óculos de grau e está longe de<br />

ter um ar introspectivo. No final do mês<br />

passado, Rui retornou de Taiwan, onde<br />

enfrentou 419 competidores de todo o<br />

mundo na 39ª Olimpíada Internacional de<br />

Matemática. A reluzente medalha de ouro<br />

que ele trouxe na bagagem está<br />

dependurada sobre a cama de seu quarto,<br />

atulhado de rascunhos dos problemas<br />

matemáticos que aprendeu a decifrar nos<br />

últimos cinco anos.<br />

Veja – Vencer uma olimpíada serve de<br />

passaporte para uma carreira profissional<br />

meteórica?<br />

Rui – Nada disso. Decidi me dedicar à<br />

Olimpíada porque sei que a concorrência<br />

por um emprego é cada vez mais<br />

selvagem e cruel. Agora tenho algo a mais<br />

para oferecer. O problema é que as coisas<br />

estão mudando muito rápido e não sei<br />

qual será minha profissão. Além de ser<br />

muito novo para decidir sobre o meu<br />

futuro profissional, sei que esse conceito<br />

de carreira mudou muito.<br />

(Entrevista de Rui Lopes Viana Filho à Veja,<br />

05/08/1998, n.31, p. 9-<strong>10</strong>)<br />

Na pergunta, o repórter estabelece uma<br />

relação entre a entrada do estudante no<br />

mercado de trabalho e a vitória na<br />

Olimpíada. O estudante<br />

A) concorda com a relação e afirma que o<br />

desempenho na Olimpíada é<br />

fundamental para sua entrada no<br />

mercado.<br />

B) discorda da relação e complementa<br />

que é fácil se fazer previsões sobre o<br />

mercado de trabalho.<br />

C) discorda da relação e afirma que seu<br />

futuro profissional independe de<br />

dedicação aos estudos.<br />

D) discorda da relação e afirma que seu<br />

desempenho só é relevante se<br />

escolher uma profissão relacionada à<br />

matemática.<br />

E) concorda em parte com a relação e<br />

complementa que é complexo fazer<br />

previsões sobre o mercado de trabalho.<br />

Comentário<br />

Não é difícil de se chegar à resposta<br />

correta ao se ler a reportagem. Ao final do<br />

último parágrafo — (...) Além de ser muito<br />

novo para decidir sobre o meu futuro<br />

profissional, sei que esse conceito de carreira<br />

mudou muito. —, o estudante praticamente<br />

fornece a resposta à questão, declarando-se<br />

realista ao não tentar prever seu futuro<br />

profissional devido à pouca idade e às<br />

mudanças no mercado de trabalho. Quanto a<br />

concordar parcialmente com o repórter, veja<br />

que ele, apesar de negar que o prêmio fosse<br />

uma garantia de sucesso profissional, logo<br />

depois afirma que, com ele, terá algo mais a<br />

oferecer ao mercado. Questão de nível fácil.<br />

Comentário do INEP<br />

Nesta situação-problema, o participante<br />

deveria demonstrar que compreendeu as<br />

premissas de um discurso, distinguindo a<br />

diferença de significado de palavras isoladas<br />

ou no contexto em que estão inseridas.<br />

Verificou-se que mais da metade dos<br />

participantes demonstrou possuir essa<br />

compreensão. Aqueles que optaram pelas<br />

alternativas C e D podem ter sido atraídos<br />

pelo significado negativo da expressão inicial<br />

"Nada disso".<br />

11) (1998) Texto 1<br />

"Mulher, Irmã, escuta-me: não ames,<br />

Quando a teus pés um homem terno e<br />

curvo<br />

jurar amor, chorar pranto de sangue,<br />

Não creias, não, mulher: ele te engana!<br />

As lágrimas são gotas da mentira<br />

E o juramento manto da perfídia."<br />

(Joaquim Manoel de Macedo)<br />

Texto 2<br />

"Teresa, se algum sujeito bancar o<br />

sentimental em cima de você<br />

E te jurar uma paixão do tamanho de um<br />

bonde<br />

Se ele chorar<br />

Se ele ajoelhar<br />

Se ele se rasgar todo<br />

Não acredite não Teresa<br />

É lágrima de cinema<br />

É tapeação<br />

Mentira<br />

CAI FORA"<br />

(Manuel Bandeira)<br />

Os autores, ao fazerem alusão às<br />

imagens da lágrima sugerem que:<br />

A) há um tratamento idealizado da<br />

relação homem/mulher.<br />

B) há um tratamento realista da relação<br />

homem/mulher.<br />

C) a relação familiar é idealizada.<br />

D) a mulher é superior ao homem.<br />

E) a mulher é igual ao homem.<br />

Comentário<br />

Ambos os autores, ao utilizarem a<br />

imagem da lágrima, estão na realidade<br />

mostrando que a figura do homem que é<br />

<strong>10</strong>7


<strong>10</strong>8<br />

romântico a ponto de chorar ao jurar amor<br />

não existe. Tanto Macedo quanto<br />

Bandeira alertam as mulheres dizendo,<br />

com palavras e estilos diferentes, que não<br />

há homem que chore por amor (portanto,<br />

essa figura é uma idealização — e, por<br />

conseguinte, toda imagem que se tem<br />

sobre os relacionamentos<br />

demasiadamente românticos). Note que<br />

Bandeira chega até mesmo a chamar tal<br />

"chorão" de ator ("...É lágrima de cinema /<br />

É tapeação..."). Macedo dá uma imagem<br />

pesada às lágrimas ("...são gotas da<br />

mentira...").<br />

12) (1999) Considere os textos abaixo.<br />

(...) de modo particular, quero encorajar os<br />

crentes empenhados no campo da<br />

filosofia para que iluminem os diversos<br />

âmbitos da atividade humana, graças ao<br />

exercício de uma razão que se torna mais<br />

segura e perspicaz com o apoio que<br />

recebe da fé.<br />

(Papa João Paulo II. Carta Encíclica Fides<br />

et Ratio aos bispos da igreja católica sobre as relações<br />

entre fé e razão, 1998)<br />

As verdades da razão natural não<br />

contradizem as verdades da fé cristã.<br />

(São Tomás de Aquino<br />

–pensador medieval)<br />

Refletindo sobre os textos, pode-se<br />

concluir que:<br />

A) a encíclica papal está em contradição<br />

com o pensamento de São Tomás de<br />

Aquino, refletindo a diferença de<br />

épocas.<br />

B) a encíclica papal procura<br />

complementar São Tomás de Aquino,<br />

pois este colocava a razão natural<br />

acima da fé.<br />

C) a Igreja medieval valorizava a razão<br />

mais do que a encíclica de João Paulo<br />

II.<br />

D) o pensamento teológico teve sua<br />

importância na Idade Média, mas, em<br />

nossos dias, não tem relação com o<br />

pensamento filosófico.<br />

E) tanto a encíclica papal como a frase<br />

de São Tomás de Aquino procuram<br />

conciliar os pensamentos sobre fé e<br />

razão.<br />

Comentário<br />

Nessa questão, é necessária uma<br />

releitura do texto para que se tenha uma<br />

melhor compreensão do tema. Tanto a<br />

citação do Papa quanto a de São Tomás de<br />

Aquino tentam criar uma interdependência<br />

entre a ciência e a fé, a religião. O Papa<br />

incentiva aqueles que exercem a pesquisa<br />

científica ou filosófica a manter a fé cristã.<br />

São Tomás de Aquino, por sua vez, equipara<br />

o avanço da ciência ao aumento da própria<br />

fé, afirmando que a razão natural não<br />

contradiz a fé cristã. Se um cresce, cresce<br />

também o outro, em harmonia e sem<br />

contradições. Questão de grau médio.<br />

(Português)<br />

Nessa questão, encontramos dois textos:<br />

o primeiro, do século XX, foi elaborado pelo<br />

Papa João Paulo II; o segundo, do século<br />

XIII, pelo teólogo e filósofo cristão São<br />

Tomás de Aquino. O conteúdo de ambos se<br />

refere à ligação entre fé e razão, a qual<br />

esteve presente na filosofia escolástica da<br />

Idade Média. Esse campo de reflexão buscou<br />

conciliar o cristianismo com o pensamento de<br />

Aristóteles e teve em São Tomás de Aquino<br />

seu maior representante.<br />

Mesmo sem ter todas essas informações,<br />

você poderia responder tranqüilamente à<br />

questão por meio de uma leitura atenta dos<br />

dois textos, chegando à conclusão de que<br />

"tanto a encíclica papal como a frase de São<br />

Tomás de Aquino procuram conciliar os<br />

pensamentos sobre fé e razão". Resposta<br />

correta: alternativa E. (História)<br />

Comentário do INEP<br />

Para resolver esta situação-problema, o<br />

participante deveria mostrar que, além de<br />

interpretar textos, sabe relacioná-los sendo<br />

que, nesse item, essas operações referem-se<br />

a um texto escrito na época medieval e a<br />

outro escrito recentemente.<br />

Mais de 70% dos participantes<br />

demonstraram facilidade em estabelecer esta<br />

relação.<br />

13) (2001) Murilo Mendes, em um de seus<br />

poemas, dialoga com a carta de Pero Vaz<br />

de Caminha:<br />

“A terra é mui graciosa,<br />

Tão fértil eu nunca vi.<br />

A gente vai passear,<br />

No chão espeta um caniço,<br />

No dia seguinte nasce<br />

Bengala de castão de oiro.<br />

Tem goiabas, melancias,<br />

Banana que nem chuchu.<br />

Quanto aos bichos, tem-nos muito,<br />

De plumagens mui vistosas.<br />

Tem macaco até demais<br />

Diamantes tem à vontade<br />

Esmeralda é para os trouxas.


Reforçai, Senhor, a arca,<br />

Cruzados não faltarão,<br />

Vossa perna encanareis,<br />

Salvo o devido respeito.<br />

Ficarei muito saudoso<br />

Se for embora daqui”.<br />

MENDES, Murilo. Murilo Mendes —<br />

poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.<br />

Arcaísmos e termos coloquiais misturamse<br />

nesse poema, criando um efeito de<br />

contraste, como ocorre em:<br />

A) A terra é mui graciosa / Tem macaco<br />

até demais.<br />

B) Salvo o devido respeito / Reforçai,<br />

Senhor, a arca<br />

C) A gente vai passear / Ficarei muito<br />

saudoso<br />

D) De plumagens mui vistosas / Bengala<br />

de castão de oiro<br />

E) No chão espeta um caniço / Diamantes<br />

tem à vontade<br />

Comentário<br />

Aqui, procuramos uma alternativa que<br />

apresente um trecho em linguagem coloquial<br />

e outro em linguagem arcaica.<br />

As alternativas B, C e E apresentam<br />

apenas a linguagem coloquial. A D, somente<br />

a arcaica.<br />

Sobra-nos a primeira alternativa: "A terra é<br />

mui graciosa" (mui é um arcaísmo); "tem<br />

macaco até demais" (linguagem coloquial).<br />

Comentário do INEP<br />

O efeito de paródia, explorado como<br />

recurso estilístico pelo autor desse poema,<br />

apresenta-se na utilização de expressões<br />

retomadas ora da carta de Pero Vaz de<br />

Caminha ora da linguagem coloquial corrente<br />

de época, gerando um efeito de humor<br />

crítico. Uma condição essencial para<br />

compreender o problema proposto nessa<br />

questão – identificar os arcaísmos e os<br />

coloquialismos existentes no poema – é<br />

conhecer o contexto de produção do texto e<br />

sua relação intratextual. Se o participante<br />

desconhece ou não considera o contexto<br />

histórico do poema, a identificação será<br />

parcial, já que o enunciado indica como<br />

pressuposto "a criação de um efeito de<br />

contraste" na utilização das expressões.<br />

Possivelmente a utilização de "contraste"<br />

como critério de interpretação justifica os<br />

percentuais de escolhas dos distratores. Uma<br />

outra possível explicação para esses<br />

percentuais deve-se ao fato de os<br />

participantes terem considerado apenas os<br />

termos "arcaísmo" e "coloquialismo" e, não<br />

tendo elementos para analisá-los,<br />

provavelmente deslocaram o texto do<br />

contexto e apoiaram-se em outros elementos<br />

para resolver a questão.<br />

14) (2008) Considerando o soneto de<br />

Cláudio Manoel da Costa e os elementos<br />

constitutivos do Arcadismo brasileiro,<br />

assinale a opção correta acerca da<br />

relação entre o poema e o momento<br />

histórico de sua produção.<br />

A) Os “montes” e “outeiros”, mencionados<br />

na primeira estrofe, são imagens<br />

relacionadas à Metrópole, ou seja, ao<br />

lugar onde o poeta se vestiu com traje<br />

“rico e fino”.<br />

B) A oposição entre a Colônia e a<br />

Metrópole, como núcleo do poema,<br />

revela uma contradição vivenciada pelo<br />

poeta, dividido entre a civilidade do<br />

mundo urbano da Metrópole e a<br />

rusticidade da terra da Colônia.<br />

C) O bucolismo presente nas imagens do<br />

poema é elemento estético do<br />

Arcadismo que evidencia a<br />

preocupação do poeta árcade em<br />

realizar uma representação literária<br />

realista da vida nacional.<br />

D) A relação de vantagem da “choupana”<br />

sobre a “Cidade”, na terceira estrofe, é<br />

formulação literária que reproduz a<br />

condição histórica paradoxalmente<br />

vantajosa da Colônia sobre a<br />

Metrópole.<br />

E) A realidade de atraso social, político e<br />

econômico do Brasil Colônia está<br />

representada esteticamente no poema<br />

pela referência, na última estrofe, à<br />

transformação do pranto em alegria.<br />

Comentário<br />

A questão exige conhecimento das<br />

características do Arcadismo. A principal<br />

delas, presente no texto, é o bucolismo,<br />

representado pela paisagem da colônia. Esta<br />

é apresentada em oposição à paisagem da<br />

cidade ou metrópole. O poeta, que participou<br />

da Inconfidência Mineira, viveu em Lisboa.<br />

Dessa forma, o termo “vivenciado” da<br />

alternativa "B" justifica a oposição campo x<br />

cidade apresentada no poema. Logo, só<br />

pode ser essa a alternativa correta.<br />

<strong>10</strong>9


15) (2007)<br />

16) (1998) A discussão sobre gramática na<br />

classe está "quente". Será que os<br />

brasileiros sabem gramática? A<br />

professora de Português propõe para<br />

debate o seguinte texto:<br />

PRA MIM BRINCAR<br />

Não há nada mais gostoso do que o<br />

mim sujeito de verbo no infinito. Pra mim<br />

brincar. As cariocas que não sabem<br />

gramática falam assim. Todos os<br />

brasileiros deviam de querer falar como as<br />

cariocas que não sabem gramática.<br />

- As palavras mais feias da língua<br />

portuguesa são quiçá, alhures e miúde.<br />

(BANDEIRA, Manuel. Seleta em prosa e verso. Org:<br />

Emanuel de Moraes.4ª ed. Rio de Janeiro,<br />

José Olympio, 1986. Pág. 19)<br />

1<strong>10</strong><br />

A antítese que configura uma imagem da<br />

divisão social do trabalho na sociedade<br />

brasileira é expressa poeticamente na<br />

oposição entre a doçura do branco açúcar<br />

e<br />

A) o trabalho do dono da mercearia de<br />

onde veio o açúcar.<br />

B) o beijo de moça, a água na pele e a flor<br />

que se dissolve na boca.<br />

C) o trabalho do dono do engenho em<br />

Pernambuco, onde se produz o açúcar.<br />

D) a beleza dos extensos canaviais que<br />

nascem no regaço do vale.<br />

E) o trabalho dos homens de vida<br />

amarga em usinas escuras.<br />

Comentário<br />

Questão de nível médio. O aluno deve<br />

perceber, na leitura do poema, várias<br />

antíteses. Entre elas, destaca-se a doçura do<br />

açúcar com a amargura da vida dos<br />

trabalhadores e a brancura dele com a<br />

escuridão das usinas. Porém, o grande<br />

destaque que o autor quer dar é o valor do<br />

trabalho do homem das usinas, que é o<br />

verdadeiro responsável pela produção do<br />

açúcar. Portanto, a alternativa E é a correta.<br />

Com a orientação da professora e após o<br />

debate sobre o texto de Manuel Bandeira,<br />

os alunos chegaram à seguinte conclusão:<br />

A) uma das propostas mais ousadas do<br />

Modernismo foi a busca da identidade<br />

do povo brasileiro e o registro, no texto<br />

literário, da diversidade das falas<br />

brasileiras.<br />

B) apesar de os modernistas registrarem<br />

as falas regionais do Brasil, ainda<br />

foram preconceituosos em relação às<br />

cariocas.<br />

C) a tradição dos valores portugueses foi<br />

a pauta temática do movimento<br />

modernista.<br />

D) Manuel Bandeira e os modernistas<br />

brasileiros exaltaram em seus textos o<br />

primitivismo da nação brasileira.<br />

E) Manuel Bandeira considera a<br />

diversidade dos falares brasileiros uma<br />

agressão à Língua Portuguesa.<br />

Comentário<br />

Para resolver essa questão, é<br />

importantíssimo dar atenção a quem foi o<br />

autor do texto do enunciado — Manuel<br />

Bandeira. Ele participou da primeira fase do<br />

Modernismo brasileiro, conhecida como<br />

geração de 22. Ela tinha, dentre diversas<br />

propostas, uma de fundamental importância<br />

para essa questão: a busca da identidade do<br />

povo brasileiro, valorizando a cultura, a<br />

intelectualidade e a sociedade do país. Entre<br />

essas questões, encontrava-se, com realce,<br />

a da língua brasileira. Buscava-se uma<br />

aproximação entre a língua escrita, herdada<br />

dos portugueses, e a nossa língua falada,<br />

dando-se preferência à linguagem oral. Com<br />

isso em mente, teremos a alternativa A como<br />

correta.


17) (1999) Leia um texto publicado no jornal<br />

Gazeta Mercantil. Esse texto é parte de<br />

um artigo que analisa algumas situações<br />

de crise no mundo, entre elas, a quebra<br />

da Bolsa de Nova Iorque em 1929, e foi<br />

publicado na época de uma iminente crise<br />

financeira no Brasil.<br />

Deu no que deu. No dia 29 de outubro de<br />

1929, uma terça-feira, praticamente não<br />

havia compradores no pregão de Nova<br />

Iorque, só vendedores. Seguiu-se uma<br />

crise incomparável: o Produto Interno<br />

Bruto dos Estados Unidos caiu de <strong>10</strong>4<br />

bilhões de dólares em 1929, para 56<br />

bilhões em 1933, coisa inimaginável em<br />

nossos dias. O valor do dólar caiu a quase<br />

metade. O desemprego elevou-se de 1,5<br />

milhão para 12,5 milhões de trabalhadores<br />

– cerca de 25% da população ativa –<br />

entre 1929 e 1933. A construção civil caiu<br />

90%. Nove milhões de aplicações, tipo<br />

caderneta de poupança, perderam-se com<br />

o fechamento dos bancos. Oitenta e cinco<br />

mil firmas faliram. Houve saques e norteamericanos<br />

que passaram fome.<br />

(Gazeta Mercantil, 05/01/1999)<br />

Ao citar dados referentes à crise ocorrida<br />

em 1929, em um artigo jornalístico atual,<br />

pode-se atribuir ao jornalista a seguinte<br />

intenção:<br />

A) questionar a interpretação da crise.<br />

B) comunicar sobre o desemprego.<br />

C) instruir o leitor sobre aplicações em<br />

bolsa de valores.<br />

D) relacionar os fatos passados e<br />

presentes.<br />

E) analisar dados financeiros americanos.<br />

dessa época com a grande crise de 1929 que<br />

afetou o mundo, trazendo desemprego e<br />

recessão, entre tantos outros problemas<br />

econômicos e sociais.<br />

Para responder a essa questão, era<br />

necessário ler atentamente o enunciado, em<br />

que está destacado que "o texto é parte de um<br />

artigo que analisa algumas situações de crise<br />

no mundo" e "foi publicado na época de uma<br />

iminente crise financeira no Brasil". Era<br />

importante também observar a data em que o<br />

artigo foi publicado: 05/01/1999. A partir dessas<br />

constatações, facilmente você chegaria a<br />

conclusão de que a intenção do jornalista era<br />

"relacionar os fatos passados e presentes".<br />

Resposta correta: alternativa D. (História)<br />

Comentário do INEP<br />

A resolução da questão demandava a<br />

capacidade dos participantes de relacionar<br />

eventos históricos envolvendo crises<br />

econômicas ocorridas em épocas e lugares<br />

distintos. Aproximadamente 2/3 deles<br />

demonstraram essa capacidade. Os demais,<br />

provavelmente, não compreenderam a<br />

exigência expressa no enunciado do problema<br />

– apontar as razões pelas quais um jornalista<br />

traz à tona eventos ocorridos setenta anos<br />

antes –, e apenas interpretaram o sentido do<br />

texto citado, que descreve a crise mundial de<br />

1929.<br />

18) (2007)<br />

Comentário<br />

Nessa questão, o que se tem de fazer é<br />

prestar atenção às alternativas das respostas.<br />

Nenhuma delas se apresenta tão bem<br />

contextualizada a uma possível interpretação<br />

quanto a letra D. Partindo-se da análise do<br />

texto, fica claro que a intenção do artigo é<br />

remeter o leitor ao passado para tentar<br />

conduzi-lo a uma reflexão sobre uma situação<br />

presente, não mencionada na questão. Após a<br />

leitura e utilizando-se a já citada eliminação de<br />

questões, torna-se clara a resposta. Questão<br />

de nível médio. (Português)<br />

Muitas vezes, quando procuramos entender<br />

uma crise econômica ou financeira de grandes<br />

proporções, buscamos estabelecer relações<br />

com crises passadas. O mesmo ocorre no<br />

jornalismo, como prova o texto encontrado<br />

nessa questão. Buscando entender uma crise<br />

ocorrida no início de 1999, o jornalista da<br />

Gazeta Mercantil buscou relacionar a situação<br />

111


Levando-se em consideração o texto de<br />

Oswald de Andrade e a pintura de Antonio<br />

Rocco reproduzida acima, relativos à<br />

imigração européia para o Brasil, é correto<br />

afirmar que<br />

A) a visão da imigração presente na<br />

pintura é trágica e, no texto, otimista.<br />

B) a pintura confirma a visão do texto<br />

quanto à imigração de argentinos para<br />

o Brasil.<br />

C) os dois autores retratam dificuldades<br />

dos imigrantes na chegada ao Brasil.<br />

D) Antonio Rocco retrata de forma otimista<br />

a imigração, destacando o pioneirismo<br />

do imigrante.<br />

E) Oswald de Andrade mostra que a<br />

condição de vida do imigrante era<br />

melhor que a dos ex-escravos.<br />

Comentário<br />

Questão fácil. Pela comparação entre dois<br />

textos com linguagens diferentes, chega-se à<br />

conclusão de que os imigrantes enfrentaram<br />

uma realidade bastante dura no momento de<br />

sua chegada ao Brasil. Portanto, a alternativa<br />

correta é a letra C.<br />

19) (2005) Cândido Portinari (1903-1962), um<br />

dos mais importantes artistas brasileiros<br />

do século XX, tratou de diferentes<br />

aspectos da nossa realidade em seus<br />

quadros.<br />

Rasgados e sem cor, dependurados<br />

Homens de enorme ventre bojudo<br />

Mulheres com trouxas caídas para o lado<br />

Pançudas, carregando ao colo um garoto<br />

Choramingando, remelento<br />

(....)<br />

(Cândido Portinari. Poemas. Rio de Janeiro:<br />

J. Olympio, 1964.)<br />

Das quatro obras reproduzidas, assinale<br />

aquelas que abordam a problemática que<br />

é tema do poema.<br />

A) 1 e 2 D) 3 e 4<br />

B) 1 e 3 E) 2 e 4<br />

C) 2 e 3<br />

Comentário<br />

O poema apresenta correspondência com<br />

as imagens ao descrever com detalhes a figura<br />

do retirante: pobre, mal vestido, carregando<br />

trouxas e embrulhos.<br />

20) (2002) O autor da tira utilizou os<br />

princípios de composição de um<br />

conhecido movimento artístico para<br />

representar a necessidade de um mesmo<br />

observador aprender a considerar,<br />

simultaneamente, diferentes pontos de<br />

vista.<br />

Das obras reproduzidas, todas de autoria<br />

do pintor espanhol Pablo Picasso, aquela<br />

em cuja composição foi adotado um<br />

procedimento semelhante é:<br />

A)<br />

Sobre a temática dos “Retirantes”,<br />

Portinari também escreveu o seguinte<br />

poema:<br />

B)<br />

112<br />

(....)<br />

Os retirantes vêm vindo com trouxas e<br />

embrulhos<br />

Vêm das terras secas e escuras;<br />

pedregulhos<br />

Doloridos como fagulhas de carvão aceso<br />

Corpos disformes, uns panos sujos,


C)<br />

D)<br />

tinha como procedimento de composição<br />

representar, para um mesmo observador,<br />

diferentes pontos de vista, fazendo com que<br />

"o tradicional único ponto de vista" fosse<br />

abandonado e com que a perspectiva fosse<br />

fraturada. A análise das obras de Picasso<br />

reproduzidas nas alternativas permite que o<br />

participante reconheça a adoção desse<br />

procedimento no quadro "Marie-Thérèse<br />

apoiada no cotovelo" (alternativa E, com 46%<br />

de registros), no qual se pode reconhecer a<br />

representação de diferentes pontos de vista<br />

a partir dos quais é apresentado o rosto da<br />

mulher retratada.<br />

21) (2000) “Poética”, de Manuel Bandeira, é<br />

quase um manifesto do movimento<br />

modernista brasileiro de 1922. No poema,<br />

o autor elabora críticas e propostas<br />

que representam o pensamento estético<br />

predominante na época.<br />

E)<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. O movimento<br />

artístico que previa considerar<br />

simultaneamente diversos pontos de vista<br />

era o Cubismo. Havia a desconstrução da<br />

forma para que se pudesse ver todos os<br />

ângulos concomitantemente. O único quadro<br />

que apresenta essas características é o da<br />

alternativa E. As outras quatro alternativas<br />

pressupõem a manutenção da forma.<br />

Comentário do INEP<br />

O objetivo desta questão é levar o<br />

participante a refletir sobre características<br />

fundamentais de um movimento artístico – o<br />

cubismo – a partir de dados visuais:<br />

quadrinhos e pinturas. A reprodução de dois<br />

quadrinhos da personagem Calvin forneceu<br />

para o participante informações básicas para<br />

a análise que deveria fazer das alternativas<br />

apresentadas. Segundo os quadrinhos, o<br />

movimento artístico abordado pela questão<br />

Poética<br />

Estou farto do lirismo comedido<br />

Do lirismo bem comportado<br />

Do lirismo funcionário público com livro de<br />

ponto expediente protocolo e<br />

[manifestações de apreço<br />

ao Sr. Diretor<br />

.<br />

Estou farto do lirismo que pára e vai<br />

averiguar no dicionário o<br />

[cunho vernáculo de um<br />

vocábulo<br />

Abaixo os puristas<br />

....................................................................<br />

Quero antes o lirismo dos loucos<br />

O lirismo dos bêbedos<br />

O lirismo difícil e pungente dos bêbedos<br />

O lirismo dos clowns de Shakespeare<br />

— Não quero mais saber do lirismo que<br />

não é libertação.<br />

(BANDEIRA, Manuel. Poesia Completa e Prosa.<br />

Rio de Janeiro. Aguilar, 1974)<br />

Com base na leitura do poema, podemos<br />

afirmar corretamente que o poeta:<br />

A) critica o lirismo louco do movimento<br />

modernista.<br />

B) critica todo e qualquer lirismo na<br />

literatura.<br />

C) propõe o retorno ao lirismo do<br />

movimento clássico.<br />

113


D) propõe o retorno ao lirismo do<br />

movimento romântico.<br />

E) propõe a criação de um novo lirismo.<br />

Comentário<br />

Questão bastante inteligente. Para<br />

começar, Manuel Bandeira teve como marca<br />

de sua obra a busca de novas formas de<br />

expressão, sempre. Mesmo tendo escrito<br />

muitos sonetos (especialmente no início da<br />

carreira), adotou prazerosamente a rebeldia<br />

da poética modernista. A resposta pode estar<br />

centrada na análise de um único verso do<br />

poema. As alternativas de a a d ficam todas<br />

automaticamente descartadas pelo primeiro<br />

verso da segunda parte ("Quero antes o<br />

lirismo dos loucos"). Veja que quem prega<br />

um lirismo dos loucos e dos bêbedos não<br />

pode nem criticar o "lirismo louco" dos<br />

modernistas, como na alternativa a, ou<br />

propor que não haja lirismo, como na<br />

alternativa b. Tampouco pode querer o<br />

retorno à rigidez de forma e métrica da<br />

poesia clássica (lembre-se de Camões) ou<br />

romântica (Álvares de Azevedo, Castro<br />

Alves, Casimiro de Abreu). Propõe, sim, um<br />

novo tipo de lirismo. Vemos isso claramente<br />

se dermos atenção ao casamento do<br />

primeiro com o último verso da segunda<br />

parte ("Quero antes o lirismo dos loucos" /<br />

"—Não quero mais saber do lirismo que não<br />

é libertação").<br />

Comentário do INEP<br />

Um pouco mais da metade dos<br />

participantes (55 %) conseguiu identificar no<br />

texto a proposta estética do poeta e, em<br />

última análise, do próprio Modernismo. Os<br />

distratores com percentuais significativos de<br />

escolha foram apenas B e D. No primeiro<br />

caso, o tom de manifesto, incisivo e<br />

demolidor, do poema provavelmente induziu<br />

a opção. No segundo, a explicação se deve à<br />

possível relação que o participante<br />

estabeleceu entre o Modernismo e o<br />

Romantismo, que de fato existe, mas que<br />

não se aplica ao caso.<br />

22) (2001) Oxímoro (ou paradoxo) é uma<br />

construção textual que agrupa significados<br />

que se excluem mutuamente. Para<br />

Garfield, a frase de saudação de Jon<br />

(tirinha abaixo) expressa o maior de todos<br />

os oxímoros.<br />

Folha de S. Paulo. 31 de julho de 2000.<br />

Nas alternativas abaixo, estão transcritos<br />

versos retirados do poema “O operário em<br />

construção”. Pode-se afirmar que ocorre<br />

um oxímoro em<br />

A) "Era ele que erguia casas<br />

Onde antes só havia chão."<br />

B) "... a casa que ele fazia<br />

Sendo a sua liberdade<br />

Era a sua escravidão."<br />

C) "Naquela casa vazia<br />

Que ele mesmo levantara<br />

Um mundo novo nascia<br />

De que sequer suspeitava."<br />

D) "... o operário faz a coisa<br />

E a coisa faz o operário."<br />

E) "Ele, um humilde operário<br />

Um operário que sabia<br />

Exercer a profissão."<br />

MORAES, Vinícius de. Antologia Poética. São Paulo:<br />

Companhia das Letras, 1992.<br />

Comentário<br />

Idéias que se completam e se excluem<br />

mutuamente são encontradas na alternativa<br />

B: a casa que ele construía era, ao mesmo<br />

tempo, sua liberdade e sua escravidão.<br />

A casa é um símbolo de liberdade para o<br />

homem. Para o homem operário, é também<br />

símbolo de escravidão, pois ele está<br />

"condenado" a jamais usufruir do resultado<br />

do seu trabalho (a casa que faz não é para<br />

ele).<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão propõe ao participante que<br />

estabeleça uma relação entre linguagens,<br />

associando a compreensão de um efeito<br />

semântico produzido pelo uso do oxímoro<br />

nos quadrinhos com o mesmo efeito num<br />

texto poético. O índice (18%) de escolhas da<br />

alternativa D deve-se, possivelmente, a uma<br />

análise parcial da noção de paradoxo,<br />

confundida com inversão.<br />

114


23) (2004)<br />

O assunto de uma crônica pode ser uma<br />

experiência pessoal do cronista, uma<br />

informação obtida por ele ou um caso<br />

imaginário. O modo de apresentar o<br />

assunto também varia: pode ser uma<br />

descrição objetiva, uma exposição<br />

argumentativa ou uma narrativa sugestiva.<br />

Quanto à finalidade pretendida, pode-se<br />

promover uma reflexão, definir um<br />

sentimento ou tão-somente provocar um<br />

riso.<br />

Na crônica O jivaro, escrita a partir da<br />

reportagem de um jornal, Rubem Braga se<br />

vale dos seguinte elementos:<br />

Comentário<br />

O assunto da crônica de Rubem Braga foi<br />

uma informação colhida — o conhecimento<br />

que ele teve de uma entrevista dada por um<br />

viajante a um jornal. Essa informação foi<br />

apresentada por meio de uma narrativa<br />

sugestiva — uma história que ganha a<br />

atenção do leitor não por sua carga<br />

argumentativa ou pela precisão de suas<br />

descrições, mas por seu encaminhamento e<br />

fecho inusitados. A finalidade é provocar uma<br />

reflexão — por que quereria o índio fazer<br />

demonstração de uma ação que causa<br />

sofrimento à vítima, utilizando justamente um<br />

“oponente” que não lhe causara mal algum?<br />

Se algum sofrimento precisa ser causado<br />

para isso, que seja então a alguém que ao<br />

menos o pareça merecer.<br />

24) (2002) "A palavra tatuagem é<br />

relativamente recente. Toda a gente sabe<br />

que foi o navegador Cook que a introduziu<br />

no Ocidente, e esse escrevia tattou, termo<br />

da Polinésia de tatou ou tu tahou,<br />

'desenho'.<br />

(...) Desde os mais remotos tempos,<br />

vemo-la a transformar-se: distintivo<br />

honorífico entre uns homens, ferrete de<br />

ignomínia entre outros, meio de assustar o<br />

adversário para os bretões, marca de uma<br />

classe de selvagens das ilhas marquesas<br />

(...) sinal de amor, de desprezo, de ódio<br />

(...). Há três casos de tatuagem no Rio,<br />

completamente diversos na sua<br />

significação moral: os negros,os turcos<br />

com o fundo religioso e o bando de<br />

meretrizes, dos rufiões e dos humildes,<br />

que se marcam por crime ou por<br />

ociosidade".<br />

RIO, João do. Os Tatuadores. Revista Kosmos.<br />

1904, apud: A alma encantadora das ruas,<br />

SP: Cia das Letras, 1999.<br />

Com base no texto são feitas as seguintes<br />

afirmações:<br />

I. João do Rio revela como a tatuagem já<br />

estava presente na cidade do Rio de<br />

Janeiro, pelo menos desde o início do<br />

século XX, e era mais utilizada por<br />

alguns setores da população.<br />

II. A tatuagem, de origem polinésia,<br />

difundiu-se no ocidente com a<br />

característica que permanece até hoje:<br />

utilização entre os jovens com função<br />

estritamente estética.<br />

III. O texto mostra como a tatuagem é<br />

uma prática que se transforma no<br />

tempo e que alcança inúmeros sentidos<br />

nos diversos setores das sociedades e<br />

para as diferentes culturas.<br />

Está correto o que se afirma apenas em<br />

A) I D) I e II<br />

B) II E) I e III<br />

C) III<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. Constata-se o<br />

seguinte: a tatuagem já existia no Brasil no<br />

início do século XX (o texto é de 1904 e parte<br />

dele se refere ao Rio do Janeiro) e era<br />

utilizada em diferentes setores da sociedade.<br />

A afirmação de que as tatuagens possuem<br />

apenas finalidade estética entre os jovens<br />

elimina a segunda alternativa. Já a última<br />

alternativa confirma as transformações das<br />

funções da tatuagem ao longo do tempo nas<br />

mais diversas sociedades e culturas.<br />

Comentário do INEP<br />

O texto estabelece uma relação entre a<br />

atualidade da palavra "tatuagem" e a<br />

antiguidade do uso de desenhos como<br />

pintura corporal. Focaliza uma prática social<br />

bastante difundida que adquiriu aspectos e<br />

conotações diversos nos diferentes contextos<br />

históricos e geográficos em que ela pode ser<br />

descrita. Fazendo a descrição da prática da<br />

tatuagem, como uma manifestação comum a<br />

diferentes culturas, e que adquire, inclusive,<br />

115


significados diferentes dentro de uma mesma<br />

cultura, induz o participante a refletir sobre a<br />

"diversidade dos patrimônios etnoculturais e<br />

artísticos", contextualizando ao mesmo<br />

tempo seus significados "em diferentes<br />

sociedades, épocas e lugares". Ao retomar<br />

as várias origens e usos da tatuagem, o<br />

participante é levado a compreender e<br />

respeitar uma gramática histórica dos<br />

costumes marcada sempre por semelhanças<br />

e diferenças. A questão não exigia, portanto,<br />

nenhum conhecimento prévio sobre as<br />

diferentes formas de manifestação dessa<br />

prática, mas simplesmente constatar, com o<br />

autor do texto citado, a historicidade e a<br />

diversidade das práticas sociais. Os<br />

participantes que assinalaram a alternativa C<br />

(36%), possivelmente, não levaram em<br />

consideração informações do texto. A<br />

questão foi corretamente respondida por 37%<br />

dos participantes.<br />

25) (2004)<br />

E) "Penetra surdamente no reino das<br />

palavras. / Lá estão os poemas que<br />

esperam ser escritos."<br />

Comentário<br />

Da mesma forma que no poema do<br />

enunciado, a palavra “que” retoma o sentido<br />

consecutivo na alternativa D, relacionando o<br />

fato de o eu lírico estar tão apegado à<br />

ausência QUE ri e dança, em devaneio,<br />

exaltando a alegria. A idéia remete a um<br />

raciocínio de causa e conseqüência: estar<br />

tão apegado a algo QUE outra coisa ocorre.<br />

Na alternativa A, “que” indica a introdução<br />

de uma oração subordinada objetiva direta,<br />

ou seja, que dá a idéia de um complemento<br />

do verbo SABER.<br />

Na alternativa B, “que” caracteriza a<br />

palavra “voz”, introduzindo uma oração<br />

subordinada adjetiva restritiva: “A voz QUE<br />

aprendeu”.<br />

Na alternativa C, “que” assume um<br />

caráter comparativo (mais que).<br />

Finalmente, na letra E, “que” retoma a<br />

questão restritiva ocorrida na alternativa B.<br />

Nesse caso, contudo, refere-se aos “poemas<br />

QUE esperam ser escritos”, ou seja, àqueles<br />

poemas, especificamente.<br />

116<br />

No trecho "Montes Claros cresceu tanto,/<br />

(...),/ que já tem cinco favelas", a palavra<br />

que contribui para estabelecer uma<br />

relação de conseqüência. Dos seguintes<br />

versos, todos de Carlos Drummond de<br />

Andrade, apresentam esse mesmo tipo de<br />

relação:<br />

A) "Meu Deus, por que me abandonaste /<br />

se sabias que eu não era Deus / se<br />

sabias que eu era fraco."<br />

B) "No meio-dia branco de luz uma voz<br />

que aprendeu / a ninar nos longes da<br />

senzala – e nunca se esqueceu /<br />

chamava para o café."<br />

C) "Teus ombros suportam o mundo / e<br />

ele não pesa mais que a mão de uma<br />

criança."<br />

D) "A ausência é um estar em mim. / E<br />

sinto-a, branca, tão pegada,<br />

aconchegada nos meus braços, / que<br />

rio e danço e invento exclamações<br />

alegres."<br />

26) (2007)<br />

Aqui na floresta<br />

Dos ventos batida,<br />

Façanhas de bravos<br />

Não geram escravos,<br />

Que estimem a vida<br />

Sem guerra e lidar.<br />

— Ouvi-me, Guerreiros,<br />

— Ouvi meu cantar.<br />

O canto do guerreiro<br />

Valente na guerra,<br />

Quem há, como eu sou?<br />

Quem vibra o tacape<br />

Com mais valentia?<br />

Quem golpes daria<br />

Fatais, como eu dou?<br />

— Guerreiros, ouvi-me;<br />

— Quem há, como eu sou?<br />

Gonçalves Dias.<br />

Macunaíma<br />

(Epílogo)<br />

Acabou-se a história e morreu a vitória.<br />

Não havia mais ninguém lá. Dera<br />

tangolomângolo na tribo Tapanhumas e<br />

os filhos dela se acabaram de um em um.<br />

Não havia mais ninguém lá. Aqueles<br />

lugares, aqueles campos, furos<br />

puxadouros arrastadouros meiosbarrancos,<br />

aqueles matos misteriosos,<br />

tudo era solidão do deserto... Um silêncio<br />

imenso dormia à beira do rio Uraricoera.<br />

Nenhum conhecido sobre a terra não<br />

sabia nem falar da tribo nem contar<br />

aqueles casos tão pançudos. Quem podia<br />

saber do Herói?<br />

Mário de Andrade.


A leitura comparativa dos dois textos<br />

acima indica que<br />

A) ambos têm como tema a figura do<br />

indígena brasileiro apresentada de<br />

forma realista e heróica, como símbolo<br />

máximo do nacionalismo romântico.<br />

B) a abordagem da temática adotada no<br />

texto escrito em versos é<br />

discriminatória em relação aos povos<br />

indígenas do Brasil.<br />

C) as perguntas “— Quem há, como eu<br />

sou?” (1.º texto) e “Quem podia saber<br />

do Herói?” (2.º texto) expressam<br />

diferentes visões da realidade indígena<br />

brasileira.<br />

D) o texto romântico, assim como o<br />

modernista, aborda o extermínio dos<br />

povos indígenas como resultado do<br />

processo de colonização no Brasil.<br />

E) os versos em primeira pessoa revelam<br />

que os indígenas podiam expressar-se<br />

poeticamente, mas foram silenciados<br />

pela colonização, como demonstra a<br />

presença do narrador, no segundo<br />

texto.<br />

Comentário<br />

Questão de nível médio. Essa questão<br />

exige conhecimento prévio dos movimentos<br />

literários de cada autor. No primeiro, O canto<br />

do Guerreiro, de Gonçalves Dias, pertence<br />

ao Romantismo. Nesse período, a figura do<br />

índio aparece como protagonista, sempre<br />

idealizado e visto como um perfeito herói. Já<br />

no texto Macunaíma, de Mário de Andrade,<br />

levando em conta a característica do<br />

Modernismo, o índio também é protagonista,<br />

mas, por sua vez, há a predominância de um<br />

nacionalismo crítico e realista. Com base<br />

nessas considerações, consegue-se<br />

chegar à conclusão de que a alternativa C é<br />

a correta. Essa alternativa mostra que, por<br />

trás dos textos, há duas visões diferentes da<br />

realidade indígena brasileira, representadas<br />

pelas características dos dois diferentes<br />

estilos de época.<br />

27) (2003) Eu começaria dizendo que poesia<br />

é uma questão de linguagem. A<br />

importância do poeta é que ele torna mais<br />

viva a linguagem. Carlos Drummond de<br />

Andrade escreveu um dos mais belos<br />

versos da língua portuguesa com duas<br />

palavras comuns: cão e cheirando.<br />

Um cão cheirando o futuro<br />

(Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP, 24/05/1988.<br />

adaptação)<br />

O que deu ao verso de Drummond o<br />

caráter de inovador da língua foi<br />

A) o modo raro como foi tratado o<br />

"futuro".<br />

B) a referência ao cão como "animal de<br />

estimação".<br />

C) a flexão pouco comum do verbo<br />

"cheirar" (gerúndio).<br />

D) a aproximação não usual do agente<br />

citado e a ação de "cheirar".<br />

E) o emprego do artigo indefinido "um" e<br />

do artigo definido "o" na mesma frase.<br />

Comentário<br />

O fato de Drummond identificar o futuro<br />

como algo que pode ser percebido por um<br />

animal irracional por meio do olfato foi<br />

inovador. A figura de linguagem foi construída<br />

metaforicamente: o futuro torna-se uma coisa<br />

que tem cheiro, contrariamente à imagem pela<br />

qual ele normalmente é representado: como<br />

algo que não se vê e não se pode pressentir ou<br />

tocar.<br />

28) (2003) Epígrafe*<br />

Murmúrio de água na clepsidra**<br />

gotejante,<br />

Lentas gotas de som no relógio da torre,<br />

Fio de areia na ampulheta vigilante,<br />

Leve sombra azulando a pedra do<br />

quadrante***<br />

Assim se escoa a hora, assim se vive e<br />

morre...<br />

Homem, que fazes tu? Para que tanta<br />

lida,<br />

Tão doidas ambições, tanto ódio e tanta<br />

ameaça?<br />

Procuremos somente a Beleza, que a vida<br />

É um punhado infantil de areia<br />

ressequida,<br />

Um som de água ou de bronze e uma<br />

sombra que passa...<br />

(Eugênio de Castro. Antologia pessoal da poesia<br />

portuguesa)<br />

(*) Epígrafe: inscrição colocada no ponto<br />

mais alto; tema.<br />

(**) Clepsidra: relógio de água.<br />

(***) Pedra do quadrante: parte superior<br />

de um relógio de sol.<br />

A imagem contida em "lentas gotas de<br />

som" (verso 2) é retomada na segunda<br />

estrofe por meio da expressão:<br />

A) tanta ameaça.<br />

B) som de bronze.<br />

C) punhado de areia.<br />

D) sombra que passa.<br />

E) somente a Beleza.<br />

117


Comentário<br />

Numa clepsidra (relógio de água), o som<br />

do gotejamento lembra-nos o tic-tac de um<br />

relógio comum ou o som do sino que marca<br />

as horas no “relógio da torre” (verso 2,<br />

estrofe 1).<br />

Na segunda estrofe, o quinto verso<br />

refere-se a “Um som de água ou de<br />

bronze...” e nos remete, pelo “som de<br />

bronze”, ao som do sino que marca as horas<br />

no relógio da torre (os sinos normalmente<br />

eram feitos de bronze).<br />

29) (2003) Epígrafe*<br />

Murmúrio de água na clepsidra**<br />

gotejante,<br />

Lentas gotas de som no relógio da torre,<br />

Fio de areia na ampulheta vigilante,<br />

Leve sombra azulando a pedra do<br />

quadrante***<br />

Assim se escoa a hora, assim se vive e<br />

morre...<br />

Homem, que fazes tu? Para que tanta<br />

lida,<br />

Tão doidas ambições, tanto ódio e tanta<br />

ameaça?<br />

Procuremos somente a Beleza, que a vida<br />

É um punhado infantil de areia<br />

ressequida,<br />

Um som de água ou de bronze e uma<br />

sombra que passa...<br />

(Eugênio de Castro. Antologia pessoal da poesia<br />

portuguesa)<br />

(*) Epígrafe: inscrição colocada no ponto<br />

mais alto; tema.<br />

(**) Clepsidra: relógio de água.<br />

(***) Pedra do quadrante: parte superior<br />

de um relógio de sol.<br />

Neste poema, o que leva o poeta a<br />

questionar determinadas ações humanas<br />

(versos 6 e 7) é a<br />

A) infantilidade do ser humano.<br />

B) destruição da natureza.<br />

C) exaltação da violência.<br />

D) inutilidade do trabalho.<br />

E) brevidade da vida.<br />

Comentário<br />

A resposta desta questão está nos últimos<br />

versos (8 a <strong>10</strong>):<br />

“Procuremos somente a Beleza, que a<br />

vida<br />

É um punhado de areia ressequida,<br />

Um som de água ou de bronze e uma<br />

sombra que passa...”<br />

Neles, a vida aparece em relação ao<br />

tempo, que passa de forma rápida: “areia<br />

ressequida” (como nas ampulhetas), “som de<br />

água ou de bronze” (clepsidra ou sino da<br />

torre) e, mais que tudo, “uma sombra que<br />

passa...” (algo tênue e de curta duração).<br />

30) (2003) A velha Totonha de quando em<br />

vez batia no engenho. E era um<br />

acontecimento para a meninada. (...)<br />

andava léguas e léguas a pé, de engenho<br />

a engenho, como uma edição viva das<br />

histórias de Mil e Uma Noites (...) era uma<br />

grande artista para dramatizar. Tinha uma<br />

memória de prodígio. Recitava contos<br />

inteiros em versos, intercalando pedaços<br />

de prosa, como notas explicativas. (...)<br />

Havia sempre rei e rainha, nos seus<br />

contos, e forca e adivinhações. O que<br />

fazia a velha Totonha mais curiosa era a<br />

cor local que ela punha nos seus<br />

descritivos. (...) Os rios e as florestas por<br />

onde andavam os seus personagens se<br />

pareciam muito com o Paraíba e a Mata<br />

do Rolo. O seu Barba-Azul era um senhor<br />

de engenho de Pernambuco.<br />

(José Lins do Rego. Menino de engenho)<br />

A cor local que a personagem velha<br />

Totonha colocava em suas histórias é<br />

ilustrada, pelo autor, na seguinte<br />

passagem:<br />

A) "O seu Barba-Azul era um senhor de<br />

engenho de Pernambuco".<br />

B) "Havia sempre rei e rainha, nos seus<br />

contos, e forca e adivinhações".<br />

C) "Era uma grande artista para<br />

dramatizar. Tinha uma memória de<br />

prodígio".<br />

D) "Andava léguas e léguas a pé, como<br />

uma edição viva das Mil e Uma Noites".<br />

E) "Recitava contos inteiros em versos,<br />

intercalando pedaços de prosa, como<br />

notas explicativas".<br />

Comentário<br />

Por ser escritor da 2.ª Geração<br />

Modernista, José Lins do Rego ilustra, de<br />

forma evidente, o regionalismo — marca<br />

característica desse momento literário.<br />

Portanto, para localizar a “cor local”<br />

presente no texto, basta procurar a<br />

associação regionalista, que é retratada de<br />

forma explícita pela passagem “senhor de<br />

engenho de Pernambuco.”<br />

A questão não abre espaço para dúvidas.<br />

118


31) (2003) Pequenos tormentos da vida<br />

De cada lado da sala de aula, pelas janelas<br />

altas, o azul convida os meninos,<br />

as nuvens desenrolam-se, lentas como quem<br />

vai inventando<br />

preguiçosamente uma história sem fim...Sem<br />

fim é a aula: e nada acontece,<br />

nada...Bocejos e moscas. Se ao menos,<br />

pensa Margarida, se ao menos um<br />

avião entrasse por uma janela e saísse por<br />

outra!<br />

(Mário Quintana. Poesias)<br />

Na cena retratada no texto, o sentimento<br />

do tédio<br />

A) provoca que os meninos fiquem<br />

contando histórias.<br />

B) leva os alunos a simularem bocejos,<br />

em protesto contra a monotonia da<br />

aula.<br />

C) acaba estimulando a fantasia,<br />

criando a expectativa de algum<br />

imprevisto mágico.<br />

D) prevalece de modo absoluto,<br />

impedindo até mesmo a distração ou o<br />

exercício do pensamento.<br />

E) decorre da morosidade da aula, em<br />

contraste com o movimento acelerado<br />

das nuvens e das moscas.<br />

Comentário<br />

Essa questão aborda o imaginário<br />

decorrente do marasmo trazido pela escola.<br />

O texto enfatiza o arrastar do tempo na<br />

mente de uma aluna, Margarida, que se põe<br />

a pensar em fatos mágicos ou imaginários<br />

que pudessem romper com a lentidão da<br />

aula.<br />

32) (2000) O autor do texto abaixo critica,<br />

ainda que em linguagem metafórica, a<br />

sociedade contemporânea em relação aos<br />

seus hábitos alimentares.<br />

“Vocês que têm mais de 15 anos, se<br />

lembram quando a gente comprava leite<br />

em garrafa, na leiteria da esquina? (...)<br />

Mas vocês não se lembram de nada,<br />

pô! Vai ver nem sabem o que é vaca. Nem<br />

o que é leite. Estou falando isso porque<br />

agora mesmo peguei um pacote de leite –<br />

leite em pacote, imagina, Tereza! – na<br />

porta dos fundos e estava escrito que é<br />

pasterizado, ou pasteurizado, sei lá, tem<br />

vitamina, é garantido pela<br />

embromatologia, foi enriquecido e o<br />

escambau. Será que isso é mesmo leite?<br />

No dicionário diz que leite é outra coisa:<br />

‘Líquido branco, contendo água,<br />

proteína, açúcar e sais minerais’. Um<br />

alimento pra ninguém botar defeito. O ser<br />

humano o usa há mais de 5.000 anos. É o<br />

único alimento só alimento. A carne serve<br />

pro animal andar, a fruta serve pra fazer<br />

outra fruta, o ovo serve pra fazer outra<br />

galinha (...) O leite é só leite. Ou toma ou<br />

bota fora. Esse aqui examinando bem, é<br />

só pra botar fora. Tem chumbo, tem<br />

benzina, tem mais água do que leite, tem<br />

serragem, sou capaz de jurar que nem<br />

vaca tem por trás desse negócio. Depois o<br />

pessoal ainda acha estranho que os<br />

meninos não gostem de leite.<br />

Mas, como não gostam? Não gostam<br />

como? Nunca tomaram! Múúúúúúú!”<br />

(FERNANDES, Millôr. O Estado de S. Paulo ,<br />

22 de agosto de 1999)<br />

A palavra embromatologia usada pelo<br />

autor é:<br />

A) um termo científico que significa estudo<br />

dos bromatos.<br />

B) uma composição do termo de gíria<br />

“embromação” (enganação) com<br />

bromatologia, que é o estudo dos<br />

alimentos.<br />

C) uma junção do termo de gíria<br />

“embromação” (enganação) com<br />

lactologia, que é o estudo das<br />

embalagens para leite.<br />

D) um neologismo da química orgânica<br />

que significa a técnica de retirar<br />

bromatos dos laticínios.<br />

E) uma corruptela de termo da<br />

agropecuária que significa a ordenha<br />

mecânica.<br />

Comentário<br />

É necessário para a resolução desta<br />

questão:<br />

- perceber que o texto critica o exagerado<br />

uso de substâncias artificiais nos<br />

alimentos;<br />

- conhecer o significado da gíria embromar e<br />

da palavra bromatologia.<br />

Conhecendo esses significados, você<br />

elimina todas as alternativas erradas: a, c, d<br />

e e.<br />

Você poderá ter dúvida quanto à<br />

alternativa c, que também será eliminada se<br />

souber o significado da palavra lactologia,<br />

que é o estudo do leite e produtos lácteos e<br />

não das embalagens para leite.<br />

Nesta questão, são trabalhados os<br />

conceitos de interpretação de texto, formação<br />

de palavras e conhecimentos gerais.<br />

119


Comentário do INEP<br />

A resolução da questão requeria que o<br />

participante, ao ler o texto vinculasse o<br />

significado de um termo de gíria -<br />

"embromação" - com o da palavra<br />

bromatologia. A resposta correta exigia que o<br />

participante não abrisse mão do sabor<br />

picante contido na linguagem metafórica,<br />

sabor vinculado ao conhecimento específico<br />

contido na palavra bromatologia. Cerca da<br />

metade dos participantes (51%) optou pela<br />

alternativa correta e, os 20% que escolheram<br />

a alternativa C, provavelmente associaram a<br />

referência feita no texto à leite em pacote.<br />

33) (1998) Amor é fogo que arde sem ver;<br />

é ferida que dói e não se sente;<br />

é um contentamento descontente;<br />

é dor que desatina sem doer.<br />

É um não querer mais que bem querer;<br />

é solitário andar por entre a gente;<br />

é nunca contentar-se de contente;<br />

é cuidar que se ganha em se perder.<br />

É querer estar preso por vontade;<br />

é servir a quem vence, o vencedor;<br />

é ter com quem nos mata lealdade.<br />

Mas como causar pode seu favor<br />

nos corações humanos amizade<br />

se tão contrário a si é o mesmo Amor?<br />

(Luís de Camões. In: Obras Completas de Camões, Lisboa,<br />

Livraria Sá da Costa, Vol. 1, 1954, p.232)<br />

120<br />

O poema tem, como característica, a<br />

figura de linguagem denominada antítese,<br />

relação de oposição de palavras ou idéias.<br />

Assinale a opção em que essa oposição<br />

se faz claramente presente.<br />

A) "Amor é fogo que arde sem se ver."<br />

B) "É um contentamento descontente."<br />

C) "É servir a quem se vence, o<br />

vencedor."<br />

D) "Mas como causar pode seu favor."<br />

E) "Se tão contrário a si é o mesmo<br />

Amor?"<br />

Comentário<br />

A antítese é uma figura de linguagem que<br />

se caracteriza por colocar, lado a lado,<br />

imagens opostas que se contradizem. De<br />

todas as alternativas, a única que traz<br />

claramente uma contradição é a B, pois<br />

como pode existir um contentamento<br />

descontente?<br />

34) (1998) Amor é fogo que arde sem ver;<br />

é ferida que dói e não se sente;<br />

é um contentamento descontente;<br />

é dor que desatina sem doer.<br />

É um não querer mais que bem querer;<br />

é solitário andar por entre a gente;<br />

é nunca contentar-se de contente;<br />

é cuidar que se ganha em se perder.<br />

É querer estar preso por vontade;<br />

é servir a quem vence, o vencedor;<br />

é ter com quem nos mata lealdade.<br />

Mas como causar pode seu favor<br />

nos corações humanos amizade<br />

se tão contrário a si é o mesmo Amor?<br />

(Luís de Camões. In: Obras Completas de Camões, Lisboa,<br />

Livraria Sá da Costa, Vol. 1, 1954, p.232)<br />

O poema pode ser considerado como um<br />

texto:<br />

A) argumentativo.<br />

B) narrativo.<br />

C) épico.<br />

D) de propaganda.<br />

E) teatral.<br />

Comentário<br />

Podemos considerar esse texto como<br />

argumentativo, pois ele vai embasando a sua<br />

idéia sobre o que é o amor. O texto narrativo<br />

conta uma história, assim como o épico, que<br />

conta histórias de caráter heróico. Camões,<br />

nesse texto, não está preocupado em fazer<br />

propaganda do amor, mas, sim, em<br />

compreendê-lo. E, para terminar, esse texto<br />

não foi feito para ser encenado em palco<br />

como um texto teatral.<br />

35) (2001) O trecho a seguir é parte do<br />

poema “Mocidade e morte”, do poeta<br />

romântico Castro Alves:<br />

Oh! eu quero viver, beber perfumes<br />

Na flor silvestre, que embalsama os ares;<br />

Ver minh'alma adejar pelo infinito,<br />

Qual branca vela n'amplidão dos mares.<br />

No seio da mulher há tanto aroma...<br />

Nos seus beijos de fogo há tanta vida...<br />

– Árabe errante, vou dormir à tarde<br />

À sombra fresca da palmeira erguida.<br />

Mas uma voz responde-me sombria:<br />

Terás o sono sob a lájea fria.<br />

ALVES, Castro. Os melhores poemas de Castro Alves.<br />

Seleção de Lêdo Ivo. São Paulo: Global, 1983.<br />

Esse poema, como o próprio título sugere,<br />

aborda o inconformismo do poeta com a<br />

antevisão da morte prematura, ainda na<br />

juventude.


A imagem da morte aparece na palavra<br />

A) embalsama. D) dormir.<br />

B) infinito. E) sono.<br />

C) amplidão.<br />

Comentário<br />

No último verso, temos a expressão "sono<br />

sob a lájea fria". Dormir sob uma lájea fria? O<br />

trecho indica sepulcro. Portanto, nesse caso,<br />

sono = morte.<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão apresenta, para a leitura,<br />

uma parte do poema "Mocidade e morte", do<br />

poeta romântico Castro Alves. Nesse trecho,<br />

o poeta aborda o inconformismo com a<br />

antevisão da morte prematura. O problema<br />

apresenta-se sob a forma de identificação de<br />

uma palavra no trecho que represente a idéia<br />

de morte. Na primeira estrofe, há uma<br />

apologia à vida, contrastando com a segunda<br />

estrofe, em que se anuncia a morte, idéia<br />

introduzida pela conjunção mas, um divisor<br />

entre as estrofes. A compreensão dos<br />

elementos intratextuais e formais faz com<br />

que a identificação da imagem ocorra na<br />

segunda estrofe. As palavras indicadas nas<br />

alternativas, descontextualizadas, podem<br />

sugerir a idéia de morte como interpretação,<br />

mas não se sustentam na representação do<br />

poema. A leitura global do texto, seguida por<br />

uma compreensão das relações entre as<br />

imagens propostas, é a chave para a<br />

resposta correta, assinalada por 62% dos<br />

participantes.<br />

36) (2008) Os signos visuais, como meios de<br />

comunicação, são classificados em<br />

categorias de acordo com seus<br />

significados.<br />

A categoria denominada indício<br />

corresponde aos signos visuais que têm<br />

origem em formas ou situações naturais<br />

ou casuais, as quais, devido à ocorrência<br />

em circunstâncias idênticas, muitas vezes<br />

repetidas, indicam algo e adquirem<br />

significado. Por exemplo, nuvens negras<br />

indicam tempestade. Com base nesse<br />

conceito, escolha a opção que representa<br />

um signo da categoria dos indícios.<br />

A)<br />

B)<br />

C)<br />

D)<br />

E)<br />

Comentário<br />

Trata-se de uma questão interpretativa. O<br />

aluno precisa entender o que é “indício” para<br />

respondê-la. Segundo o dicionário Aurélio,<br />

indício é o mesmo que “sinal, vestígio,<br />

indicação”. Das figuras apresentadas,<br />

apenas a alternativa B indica algo: a<br />

passagem de alguém por algum lugar —<br />

pegada.<br />

37) (2008)<br />

Exame, 28/9/2007.<br />

121


Entre os seguintes ditos populares, qual<br />

deles melhor corresponde à figura<br />

acima?<br />

A) Com perseverança, tudo se alcança.<br />

B) Cada macaco no seu galho.<br />

C) Nem tudo que balança cai.<br />

D) Quem tudo quer, tudo perde.<br />

E) Deus ajuda quem cedo madruga.<br />

Comentário<br />

Assim como a questão 37, esta também<br />

envolve interpretação de signos, ou seja, o<br />

aluno precisa estar atento à imagem e<br />

relacioná-la ao dito popular correspondente.<br />

A alternativa "A" é a correta, pois, para<br />

uma lesma “grudenta” e vagarosa conseguir<br />

pular numa cama elástica, é necessária<br />

muita perseverança.<br />

38) (2001) No trecho abaixo, o narrador, ao<br />

descrever a personagem, critica<br />

sutilmente um outro estilo de época: o<br />

romantismo.<br />

“Naquele tempo contava apenas uns<br />

quinze ou dezesseis anos; era talvez a<br />

mais atrevida criatura da nossa raça, e,<br />

com certeza, a mais voluntariosa. Não<br />

digo que já lhe coubesse a primazia da<br />

beleza, entre as mocinhas do tempo,<br />

porque isto não é romance, em que o<br />

autor sobredoura a realidade e fecha os<br />

olhos às sardas e espinhas; mas também<br />

não digo que lhe maculasse o rosto<br />

nenhuma sarda ou espinha, não. Era<br />

bonita, fresca, saía das mãos da natureza,<br />

cheia daquele feitiço, precário e eterno,<br />

que o indivíduo passa a outro indivíduo,<br />

para os fins secretos da criação.”<br />

ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de<br />

Brás Cubas. Rio de Janeiro: Jackson,1957.<br />

A frase do texto em que se percebe a<br />

crítica do narrador ao romantismo está<br />

transcrita na alternativa:<br />

A) ... o autor sobredoura a realidade e<br />

fecha os olhos às sardas e espinhas ...<br />

B) ... era talvez a mais atrevida criatura da<br />

nossa raça ...<br />

C) Era bonita, fresca, saía das mãos da<br />

natureza, cheia daquele feitiço,<br />

precário e eterno, ...<br />

D) Naquele tempo contava apenas uns<br />

quinze ou dezesseis anos ...<br />

E) ... o indivíduo passa a outro indivíduo,<br />

para os fins secretos da criação.<br />

Comentário<br />

Questão muito fácil que pode ser<br />

respondida com a simples leitura do texto.<br />

Machado de Assis critica a supervalorização<br />

e idealização das personagens do<br />

Romantismo. Tal crítica fica clara na<br />

alternativa A.<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão apresenta para leitura e<br />

análise um trecho de Memórias de Brás<br />

Cubas, de Machado de Assis. Nesse texto, o<br />

narrador realiza um comentário sobre o<br />

"romance romântico", criticando uma de suas<br />

características. O problema proposto trata<br />

da identificação dessa passagem no texto. O<br />

participante deve reconhecer no texto as<br />

características do "romance romântico" e<br />

associá-la à crítica do narrador. As<br />

alternativas propõem passagens que podem<br />

ser associadas ao romantismo em contexto<br />

extratextual, sendo que, em apenas uma<br />

delas, há a relação entre contexto/texto. Mais<br />

da metade (54%) dos participantes identificou<br />

corretamente a passagem no texto.<br />

39) (1999) Leia o que disse João Cabral de<br />

Melo Neto, poeta pernambucano, sobre a<br />

função de seus textos:<br />

"Falo somente com o que falo: a<br />

linguagem enxuta, contato denso; falo<br />

somente do que falo: a vida seca, áspera<br />

e clara do sertão; falo somente por quem<br />

falo: o homem sertanejo sobrevivendo na<br />

adversidade e na míngua. Falo somente<br />

para quem falo: para os que precisam ser<br />

alertados para a situação da miséria no<br />

Nordeste."<br />

Para João Cabral de Melo Neto, no texto<br />

literário:<br />

A) a linguagem do texto deve refletir o<br />

tema, e a fala do autor deve denunciar<br />

o fato social para determinados<br />

leitores.<br />

B) a linguagem do texto não deve ter<br />

relação com o tema, e o autor deve ser<br />

imparcial para que seu texto seja lido.<br />

C) o escritor deve saber separar a<br />

linguagem do tema e a perspectiva<br />

pessoal da perspectiva do leitor.<br />

D) a linguagem pode ser separada do<br />

tema, e o escritor deve ser o delator do<br />

fato social para todos os leitores.<br />

E) a linguagem está além do tema, e o<br />

fato social deve ser a proposta do<br />

escritor para convencer o leitor.<br />

122


Comentário<br />

João Cabral mostrou, no comentário, que<br />

seus textos são transparentes na relação<br />

linguagem—tema. Ele não gosta de usar<br />

subterfúgios para passar sua mensagem<br />

("Falo somente com o que falo"), de desviarse<br />

do tema para assuntos que geralmente<br />

não fazem parte de seu interesse ("falo<br />

somente do que falo"), de fazer de si mesmo<br />

ou de seus personagens porta-vozes de<br />

outras pessoas ou classes sociais ("falo<br />

somente por quem falo") ou de dirigir-se a<br />

públicos que pouco proveito poderiam tirar de<br />

seus escritos ("falo somente para quem<br />

falo"). Essa ligação direta de tema e<br />

linguagem, somada à proposta de falar<br />

somente para quem se deve ou quer falar,<br />

justifica a resposta, sendo correta a<br />

alternativa A. Questão de nível médio.<br />

Comentário do INEP<br />

Para resolver essa questão, o participante<br />

deveria ser capaz de estabelecer a relação<br />

entre a linguagem, o tema e o interlocutor da<br />

escrita do autor, a partir das razões<br />

explicitadas no seu texto. Essas razões<br />

foram corretamente identificadas por mais da<br />

metade dos participantes.<br />

40) (2002) A leitura do poema Descrição da<br />

guerra em Guernica traz à lembrança o<br />

famoso quadro de Picasso.<br />

Entra pela janela<br />

o anjo camponês;<br />

com a terceira luz na mão;<br />

minucioso, habituado<br />

aos interiores de cereal,<br />

aos utensílios que dormem na fuligem;<br />

os seus olhos rurais<br />

não compreendem bem os símbolos<br />

desta colheita: hélices,<br />

motores furiosos;<br />

e estende mais o braço; planta<br />

no ar, como uma árvore<br />

a chama do candeeiro.<br />

(...)<br />

Carlos de Oliveira in ANDRADE, Eugénio. Antologia<br />

Pessoal da Poesia Portuguesa. Porto: Campo das<br />

Letras, 1999.<br />

Uma análise cuidadosa do quadro permite<br />

que se identifiquem as cenas referidas<br />

nos trechos do poema.<br />

Podem ser relacionadas ao texto lido as<br />

partes:<br />

A) a1, a2, a3 D) c1, c2, c3<br />

B) f1, e1, d1 E) e1, e2, e3<br />

C) e1, d1, c1<br />

Comentário<br />

Questão de nível médio. O que precisava<br />

ser feito era encontrar figuras do poema<br />

dentro do quadro. O que se descreve nos<br />

versos 1 e 2 (o anjo camponês que entra<br />

pela janela) está no quadrante e1 (ver a<br />

janela). Nos três últimos versos, há mais<br />

duas imagens: estende mais o braço — d1;<br />

chama do candeeiro — c1.<br />

Comentário do INEP<br />

O trecho do poema "Descrição da guerra<br />

em Guernica", transcrito na prova, cria para o<br />

participante uma interessante relação<br />

intertextual: o poeta Carlos de Oliveira<br />

propõe uma leitura interpretativa do<br />

conhecido quadro de Pablo Picasso. Além do<br />

poema, o quadro de Picasso foi também<br />

reproduzido na questão, de modo a permitir<br />

que o aluno tivesse condições de "ler" essa<br />

obra de arte e nela reconhecer as referências<br />

criadas pelo texto de Carlos de Oliveira. Os<br />

primeiros versos do poema fazem referência<br />

à entrada de um "anjo camponês" pela<br />

janela. No quadro, essa imagem pode ser<br />

identificada no quadro e1. Mais adiante, os<br />

versos aludem a um braço estendido que<br />

"planta/ no ar.../ a chama do candeeiro". Para<br />

compreender a metáfora criada, o<br />

participante deveria perceber, em primeiro<br />

lugar, que o braço estendido seria do anjo<br />

camponês, identificado no quadro e1. Esse<br />

reconhecimento daria a chave de resposta da<br />

questão, porque permitiria que a imagem da<br />

entrada do anjo com o braço estendido<br />

portando um candeeiro fosse associada aos<br />

quadros e1, d1, c1 , contidos na alternativa<br />

C, assinalada por cerca de metade dos<br />

participantes.<br />

123


41) (2000) Em muitos jornais, encontramos<br />

charges, quadrinhos, ilustrações,<br />

inspirados nos fatos noticiados. Veja um<br />

exemplo:<br />

124<br />

Jornal do Commercio , 22/8/93<br />

O texto que se refere a uma situação<br />

semelhante à que inspirou a charge é:<br />

A) Descansem o meu leito solitário<br />

Na floresta dos homens esquecida,<br />

À sombra de uma cruz, e escrevam nela<br />

– Foi poeta – sonhou – e amou na vida.<br />

(AZEVEDO, Álvares de . Poesias escolhidas . Rio de<br />

Janeiro/Brasília: José Aguilar/INL,1971)<br />

B) Essa cova em que estás<br />

Com palmos medida,<br />

é a conta menor<br />

que tiraste em vida.<br />

É de bom tamanho,<br />

Nem largo nem fundo,<br />

É a parte que te cabe<br />

deste latifúndio.<br />

(MELO NETO, João Cabral de. Morte e Vida Severina e<br />

outros poemas em voz alta . Rio de Janeiro: Sabiá, 1967)<br />

C) Medir é a medida<br />

mede<br />

A terra, medo do homem, a lavra;<br />

lavra<br />

duro campo, muito cerco, vária várzea.<br />

(CHAMIE, Mário. Sábado na hora da escutas. São<br />

Paulo: Summums, 1978)<br />

D) Vou contar para vocês<br />

um caso que sucedeu<br />

na Paraíba do Norte<br />

com um homem que se chamava<br />

Pedro João Boa-Morte,<br />

lavrador de Chapadinha:<br />

talvez tenha morte boa<br />

porque vida ele não tinha.<br />

(GULLAR, Ferreira. Toda poesia . Rio de Janeiro:<br />

Civilização Brasileira, 1983)<br />

E) Trago-te flores, – restos arrancados<br />

Da terra que nos viu passar<br />

E ora mortos nos deixa e separados.<br />

(ASSIS, Machado de. Obra completa . Rio de Janeiro:<br />

Nova Aguillar, 1986)<br />

Comentário<br />

Esta questão exige boa dose de reflexão.<br />

Antes de tudo, há que se notar que o título<br />

"Demarcação das terras indígenas" está<br />

ligado ironicamente à figura das covas<br />

comuns, anônimas (covas são as terras dos<br />

índios?). Procuramos, então, o trecho de<br />

poema que sirva como legenda à figura<br />

apresentada, mantendo também a ironia da<br />

relação. As alternativas a e e se descartam<br />

pelo lirismo romântico presente e, ainda<br />

mais, pela presença, na a, de elementos que<br />

não estão no universo conceitual indígena<br />

(cruz, poeta). A alternativa c não nos serve<br />

por estar tratando da dureza do trabalho com<br />

a terra, o que não é o tema da charge. Já a d<br />

não é adequada por estar introduzindo a<br />

discussão de fatos ocorridos na vida de um<br />

único homem, provavelmente não-índio (até<br />

pelo nome João Boa-Morte). Fica-nos a<br />

alternativa b, que bem poderia servir de<br />

legenda à charge; se pensarmos nos<br />

sangrentos conflitos entre brancos e índios<br />

pela ocupação das terras indígenas<br />

demarcadas, nos quais os índios geralmente<br />

levam a pior, então nos servem bem os<br />

versos que apresenta.<br />

Comentário do INEP<br />

O alto índice de acerto (72 %) revelou a<br />

capacidade dos participantes de não só<br />

contextualizar o problema em foco mas<br />

também de estabelecer relações de sentido<br />

entre diferentes linguagens, ou seja, de lidar<br />

com a intertextualidade. As relações<br />

incorretas que foram estabelecidas,<br />

possivelmente, são devidas mais à falta de<br />

capacidade de contextualização do que de<br />

estabelecimento de relações temáticas.<br />

42) (2008) São Paulo vai se recensear. O<br />

governo quer saber quantas pessoas<br />

governa. A indagação atingirá a fauna e a<br />

flora domesticadas. Bois, mulheres e<br />

algodoeiros serão reduzidos a números e<br />

invertidos em estatísticas. O homem do<br />

censo entrará pelos bangalôs, pelas<br />

pensões, pelas casas de barro e de<br />

cimento armado, pelo sobradinho e pelo<br />

apartamento, pelo cortiço e pelo hotel,<br />

perguntando:<br />

— Quantos são aqui?<br />

Pergunta triste, de resto. Um homem dirá:<br />

— Aqui havia mulheres e criancinhas.<br />

Agora, felizmente, só há pulgas e ratos.<br />

E outro:<br />

— Amigo, tenho aqui esta mulher, este<br />

papagaio, esta sogra e algumas baratas.


Tome nota dos seus nomes, se quiser.<br />

Querendo levar todos, é favor... (...)<br />

E outro:<br />

— Dois, cidadão, somos dois.<br />

Naturalmente o sr. não a vê. Mas ela está<br />

aqui, está, está! A sua saudade jamais<br />

sairá de meu quarto e de meu peito!<br />

Rubem Braga. Para gostar de ler. v. 3.<br />

São Paulo: Ática, 1998, p. 32-3 (fragmento).<br />

O fragmento acima, em que há referência<br />

a um fato sócio-histórico — o<br />

recenseamento —, apresenta<br />

característica marcante do gênero crônica<br />

ao<br />

A) expressar o tema de forma abstrata,<br />

evocando imagens e buscando<br />

apresentar a idéia de uma coisa por<br />

meio de outra.<br />

B) manter-se fiel aos acontecimentos,<br />

retratando os personagens em um só<br />

tempo e um só espaço.<br />

C) contar história centrada na solução de<br />

um enigma, construindo os<br />

personagens psicologicamente e<br />

revelando-os pouco a pouco.<br />

D) evocar, de maneira satírica, a vida na<br />

cidade, visando transmitir<br />

ensinamentos práticos do cotidiano,<br />

para manter as pessoas informadas.<br />

E) valer-se de tema do cotidiano como<br />

ponto de partida para a construção de<br />

texto que recebe tratamento estético.<br />

Comentário<br />

A questão correta é a E, pois a crônica<br />

utiliza a linguagem estética ou poética para<br />

expor temas do cotidiano. Há uma<br />

preocupação com a escolha das palavras<br />

que são rebuscadas e ritmadas, ou seja, a<br />

função da linguagem é poética.<br />

43) (1999) Quem não passou pela<br />

experiência de estar lendo um texto e<br />

defrontar-se com passagens já lidas em<br />

outros? Os textos conversam entre si em<br />

um diálogo constante. Esse fenômeno tem<br />

a denominação de intertextualidade. Leia<br />

os seguintes textos:<br />

I.Quando nasci, um anjo torto<br />

Desses que vivem na sombra<br />

Disse: Vai Carlos! Ser "gauche" na vida<br />

(Andrade, Carlos Drummond de. Alguma poesia. Rio de<br />

Janeiro: Aguilar, 1964)<br />

II.Quando nasci veio um anjo safado<br />

O chato dum querubim<br />

E decretou que eu tava predestinado<br />

A ser errado assim<br />

Já de saída a minha estrada entortou<br />

Mas vou até o fim.<br />

(BUARQUE, Chico. Letra e Música. São Paulo: Cia.<br />

das Letras, 1989)<br />

III.Quando nasci um anjo esbelto<br />

Desses que tocam trombeta, anunciou:<br />

Vai carregar bandeira.<br />

Carga muito pesada pra mulher<br />

Esta espécie ainda envergonhada<br />

(PRADO, Adélia. Bagagem. Rio de Janeiro:<br />

Guanabara, 1986)<br />

Adélia Prado e Chico Buarque<br />

estabelecem intertextualidade, em relação<br />

a Carlos Drummond de Andrade, por:<br />

A) reiteração de imagens.<br />

B) oposição de idéias.<br />

C) falta de criatividade.<br />

D) negação dos versos.<br />

E) ausência de recursos.<br />

Comentário<br />

Outra questão com resposta evidente. A<br />

recorrência à imagem do "anjo anunciador" e<br />

dos caminhos que se tornam sempre difíceis<br />

e tortuosos (gauche = acanhado, inepto),<br />

feita pelos três autores, elimina qualquer<br />

sombra de dúvida em relação às outras<br />

respostas. Questão de nível fácil.<br />

Comentário do INEP<br />

Para a resolução desse problema, era<br />

requerido que o participante soubesse<br />

identificar os elementos de intertextualidade<br />

entre três trechos de textos de diferentes<br />

autores.<br />

As duas primeiras alternativas,<br />

amplamente majoritárias, revelam<br />

possivelmente duas distintas percepções da<br />

questão. A alternativa correta A foi escolhida<br />

pelos que perceberam a ostensiva reiteração<br />

de imagens (repetição da imagem do anjo<br />

que vaticina). A alternativa B, incorreta, pode<br />

ter atraído muitos participantes à medida que<br />

tenham, talvez, identificado uma oposição de<br />

idéias, não entre os textos, mas entre a<br />

imagem usualmente positiva de anjo e uma<br />

certa adjetivação pejorativa utilizada em<br />

relação aos mesmos.<br />

44) (2005) Leia estes textos.<br />

Texto 1<br />

125


126<br />

Texto 2<br />

Sonhar<br />

Mais um sonho impossível<br />

Lutar<br />

Quando é fácil ceder<br />

Vencer o inimigo invencível<br />

Negar quando a regra é vender<br />

Sofrer a tortura implacável<br />

Romper a incabível prisão<br />

Voar num limite improvável<br />

Tocar o inacessível chão<br />

É minha lei, é minha questão<br />

Virar esse mundo<br />

Cravar esse chão<br />

Não me importa saber<br />

Se é terrível demais<br />

Quantas guerras terei que vencer<br />

Por um pouco de paz<br />

E amanhã se esse chão que eu beijei<br />

For meu leito e perdão<br />

Vou saber que valeu delirar<br />

E morrer de paixão<br />

E assim, seja lá como for<br />

Vai ter fim a infinita aflição<br />

E o mundo vai ver uma flor<br />

Brotar do impossível chão.<br />

(J. Darione – M. Leigh – Versão de Chico Buarque de<br />

Hollanda e Ruy Guerra, 1972.)<br />

A tirinha e a canção apresentam uma<br />

reflexão sobre o futuro da humanidade. É<br />

correto concluir que os dois textos<br />

A) afirmam que o homem é capaz de<br />

alcançar a paz.<br />

B) concordam que o desarmamento é<br />

inatingível.<br />

C) julgam que o sonho é um desafio<br />

invencível.<br />

D) têm visões diferentes sobre um<br />

possível mundo melhor.<br />

E) transmitem uma mensagem de<br />

otimismo sobre a paz.<br />

Comentário<br />

Enquanto o primeiro texto é ácido em<br />

relação à possibilidade de desarmamento da<br />

população (ou seja, à criação de uma<br />

sociedade mais pacífica), o segundo mostra<br />

a capacidade que a humanidade tem de crer<br />

e, por isso, tentar fazer até o que a princípio<br />

parece impossível. Para os autores da<br />

canção, nada é intrinsecamente impossível.<br />

A relação entre eles é de oposição:<br />

descrença x crença. Questão de nível de<br />

dificuldade médio.<br />

45) (2005) Leia estes poemas.<br />

Texto 1 - Auto-retrato<br />

Provinciano que nunca soube<br />

Escolher bem uma gravata;<br />

Pernambucano a quem repugna<br />

A faca do pernambucano;<br />

Poeta ruim que na arte da prosa<br />

Envelheceu na infância da arte,<br />

E até mesmo escrevendo crônicas<br />

Ficou cronista de província;<br />

Arquiteto falhado, músico<br />

Falhado (engoliu um dia<br />

Um piano, mas o teclado<br />

Ficou de fora); sem família,<br />

Religião ou filosofia;<br />

Mal tendo a inquietação de espírito<br />

Que vem do sobrenatural,<br />

E em matéria de profissão<br />

Um tísico* profissional.<br />

(Manuel Bandeira. Poesia completa e prosa. Rio de<br />

Janeiro: Aguilar, 1983. p. 395.)<br />

Texto 2 - Poema de sete faces<br />

Quando eu nasci, um anjo torto<br />

desses que vivem na sombra<br />

disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.<br />

As casas espiam os homens<br />

que correm atrás de mulheres.<br />

A tarde talvez fosse azul,<br />

não houvesse tantos desejos.<br />

(....)<br />

Meu Deus, por que me abandonaste<br />

se sabias que eu não era Deus<br />

se sabias que eu era fraco.<br />

Mundo mundo vasto mundo,<br />

se eu me chamasse Raimundo<br />

seria uma rima, não seria uma solução.<br />

Mundo mundo vasto mundo<br />

mais vasto é o meu coração.<br />

(Carlos Drummond de Andrade.<br />

Obra completa. Rio de Janeiro:<br />

Aguilar, 1964. p. 53.)<br />

(*) tísico=tuberculoso<br />

Esses poemas têm em comum o fato de<br />

A) descreverem aspectos físicos dos<br />

próprios autores.<br />

B) refletirem um sentimento pessimista.<br />

C) terem a doença como tema.<br />

D) narrarem a vida dos autores desde o<br />

nascimento.<br />

E) defenderem crenças religiosas.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. Tanto o poema de<br />

Manuel Bandeira quanto o de Carlos<br />

Drummond de Andrade evidenciam, dentro<br />

do ponto de vista dos autores, características<br />

extremamente pessimistas em relação à vida<br />

e, conseqüentemente, à arte.


46) (2003) A velha Totonha de quando em<br />

vez batia no engenho. E era um<br />

acontecimento para a meninada. (...)<br />

andava léguas e léguas a pé, de engenho<br />

a engenho, como uma edição viva das<br />

histórias de Mil e Uma Noites (...) era uma<br />

grande artista para dramatizar. Tinha uma<br />

memória de prodígio. Recitava contos<br />

inteiros em versos, intercalando pedaços<br />

de prosa, como notas explicativas. (...)<br />

Havia sempre rei e rainha, nos seus<br />

contos, e forca e adivinhações. O que<br />

fazia a velha Totonha mais curiosa era a<br />

cor local que ela punha nos seus<br />

descritivos. (...) Os rios e as florestas por<br />

onde andavam os seus personagens se<br />

pareciam muito com o Paraíba e a Mata<br />

do Rolo. O seu Barba-Azul era um senhor<br />

de engenho de Pernambuco.<br />

José Lins do Rego. Menino de Engenho. Rio de Janeiro:<br />

José Olympio, 1980, p. 49-51 (com adaptações).<br />

Na construção da personagem “velha<br />

Totonha”, é possível identificar traços que<br />

revelam marcas do processo de<br />

colonização e de civilização do país.<br />

Considerando o texto acima, infere-se que<br />

a velha Totonha<br />

A) tira o seu sustento da produção da<br />

literatura, apesar de suas condições de<br />

vida e de trabalho, que denotam que<br />

ela enfrenta situação econômica muito<br />

adversa.<br />

B) compõe, em suas histórias, narrativas<br />

épicas e realistas da história do país<br />

colonizado, livres da influência de<br />

temas e modelos não representativos<br />

da realidade nacional.<br />

C) retrata, na constituição do espaço dos<br />

contos, a civilização urbana européia<br />

em concomitância com a<br />

representação literária de engenhos,<br />

rios e florestas do Brasil.<br />

D) aproxima-se, ao incluir elementos<br />

fabulosos nos contos, do próprio<br />

romancista, o qual pretende retratar a<br />

realidade brasileira de forma tão<br />

grandiosa quanto a européia.<br />

E) imprime marcas da realidade local a<br />

suas narrativas, que têm como modelo<br />

e origem as fontes da literatura e da<br />

cultura européia universalizada.<br />

Comentário<br />

Esta questão exige conhecimentos de<br />

literatura universal. O aluno precisa saber<br />

que Barba-Azul é um personagem da cultura<br />

européia. Nas histórias de Totonha, ele é<br />

representado como um senhor de engenho<br />

de Pernambuco. Percebe-se aí a forte<br />

influência da colonização européia na<br />

realidade local. Logo, a alternativa correta é a<br />

letra "E".<br />

47) (2005) Leia estes poemas.<br />

Texto 1 - Auto-retrato<br />

Provinciano que nunca soube<br />

Escolher bem uma gravata;<br />

Pernambucano a quem repugna<br />

A faca do pernambucano;<br />

Poeta ruim que na arte da prosa<br />

Envelheceu na infância da arte,<br />

E até mesmo escrevendo crônicas<br />

Ficou cronista de província;<br />

Arquiteto falhado, músico<br />

Falhado (engoliu um dia<br />

Um piano, mas o teclado<br />

Ficou de fora); sem família,<br />

Religião ou filosofia;<br />

Mal tendo a inquietação de espírito<br />

Que vem do sobrenatural,<br />

E em matéria de profissão<br />

Um tísico* profissional.<br />

(Manuel Bandeira. Poesia completa e prosa. Rio de<br />

Janeiro: Aguilar, 1983. p. 395.)<br />

Texto 2 - Poema de sete faces<br />

Quando eu nasci, um anjo torto<br />

desses que vivem na sombra<br />

disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.<br />

As casas espiam os homens<br />

que correm atrás de mulheres.<br />

A tarde talvez fosse azul,<br />

não houvesse tantos desejos.<br />

(....)<br />

Meu Deus, por que me abandonaste<br />

se sabias que eu não era Deus<br />

se sabias que eu era fraco.<br />

Mundo mundo vasto mundo,<br />

se eu me chamasse Raimundo<br />

seria uma rima, não seria uma solução.<br />

Mundo mundo vasto mundo<br />

mais vasto é o meu coração.<br />

(Carlos Drummond de Andrade.<br />

Obra completa. Rio de Janeiro:<br />

Aguilar, 1964. p. 53.)<br />

(*) tísico=tuberculoso<br />

No verso “Meu Deus, por que me<br />

abandonaste” do texto 2, Drummond<br />

retoma as palavras de Cristo, na cruz,<br />

pouco antes de morrer. Esse recurso de<br />

repetir palavras de outrem equivale a<br />

127


A) emprego de termos moralizantes.<br />

B) uso de vício de linguagem pouco<br />

tolerado.<br />

C) repetição desnecessária de idéias.<br />

D) emprego estilístico da fala de outra<br />

pessoa.<br />

E) uso de uma pergunta sem resposta.<br />

Comentário<br />

A citação, característica de intercambiar<br />

pensamentos de um texto para outro, fica<br />

bastante evidente no poema de Drummond.<br />

Ao retomar as palavras de Cristo, o autor<br />

deixa claro que sua idéia era transmitir uma<br />

mensagem por meio de palavras já<br />

proferidas por outra pessoa e cuja<br />

importância dá sentido a toda a estrofe.<br />

49) (2000) As histórias em quadrinhos, por<br />

vezes, utilizam animais como<br />

personagens e a eles atribuem<br />

comportamento humano. O gato Garfield<br />

é exemplo desse fato.<br />

Fonte: Caderno Vida e Arte, Jornal do Povo, Fortaleza<br />

Van Gogh, pintor holandês nascido em<br />

1853, é um dos principais nomes da<br />

pintura mundial. É dele o quadro abaixo.<br />

48) (2004)<br />

Auto-retrato de orelha cortada<br />

A tira "Hagar" e o poema de Alberto<br />

Caeiro (um dos heterônimos de Fernando<br />

Pessoa) expressam, com linguagens<br />

diferentes, uma mesma idéia: a de que a<br />

compreensão que temos do mundo é<br />

condicionada, essencialmente,<br />

A) pelo alcance de cada cultura.<br />

B) pela capacidade visual do observador.<br />

C) pelo senso de humor de cada um.<br />

D) pela idade do observador.<br />

E) pela altura do ponto de observação.<br />

Comentário<br />

Questão reflexiva sobre a forma como<br />

cada cultura vê o mundo sob a ótica dos<br />

limites dados pelos seus costumes e<br />

possibilidades de pensamento inerentes a<br />

cada modelo cultural. A mistura de uma tira e<br />

de um poema amplia a possibilidade de<br />

pensamento por trabalhar com linguagens<br />

diferentes. A alternativa correta é a letra A,<br />

pois ambos (tira e poema) utilizam figuras de<br />

linguagem (metáfora e ironia) para expressar<br />

as diferentes visões de mundo.<br />

O 3º quadrinho sugere que Garfield:<br />

A) desconhece tudo sobre arte, por isso<br />

faz a sugestão.<br />

B) acredita que todo pintor deve fazer algo<br />

diferente.<br />

C) defende que para ser pintor a pessoa<br />

tem de sofrer.<br />

D) conhece a história de um pintor<br />

famoso e faz uso da ironia.<br />

E) acredita que seu dono tenha tendência<br />

artística e, por isso, faz a sugestão.<br />

Comentário<br />

Outra questão de interpretação de texto.<br />

Muito simples para quem um dia ouviu falar<br />

de Van Gogh, e simplíssima para aqueles<br />

que prestam atenção em todos os elementos<br />

do enunciado. Afinal, quem deu uma<br />

espiadinha na legenda do quadro de Van<br />

Gogh matou na hora a questão.<br />

Esta questão é daquelas rápidas de serem<br />

resolvidas, associando-se os elementos<br />

apresentados.<br />

Comentário do INEP<br />

A significativa maioria (81%) dos<br />

participantes soube perceber o caráter<br />

irônico da fala do Garfield, expressa no<br />

terceiro quadrinho porque, ou conheciam a<br />

história de Van Gogh, ou apropriaram-se<br />

corretamente da informação sobre esse<br />

pintor, fornecida no enunciado.<br />

128


50) (2003)<br />

O texto aponta no quadro de Tarsila do<br />

Amaral um tema que também se encontra<br />

nos versos transcritos em:<br />

A) "Pensem nas meninas<br />

Cegas inexatas<br />

Pensem nas mulheres<br />

Rotas alteradas."<br />

(Vinícius de Moraes)<br />

B) "Somos muitos severinos<br />

iguais em tudo e na sina:<br />

a de abrandar estas pedras<br />

suando-se muito em cima."<br />

(João Cabral de Melo Neto)<br />

C) "O funcionário público<br />

não cabe no poema<br />

com seu salário de fome<br />

sua vida fechada em arquivos."<br />

(Ferreira Gullar)<br />

D) "Não sou nada.<br />

Nunca serei nada.<br />

Não posso querer ser nada.<br />

À parte isso, tenho em mim todos os<br />

sonhos do mundo."<br />

(Fernando Pessoa)<br />

E) "Os inocentes do Leblon<br />

Não viram o navio entrar (...)<br />

Os inocentes, definitivamente inocentes<br />

tudo ignoravam,<br />

mas a areia é quente, e há um óleo<br />

suave<br />

que eles passam pelas costas, e<br />

aquecem."<br />

(Carlos Drummond de Andrade)<br />

Comentário<br />

Mais uma vez, o Exame Nacional do<br />

Ensino Médio procura relacionar análises de<br />

diferentes áreas da arte, misturando a pintura<br />

com a literatura. O quadro de Tarsila do<br />

Amaral “Operários” traz a imagem de vários<br />

rostos (de formatos, etnias e sexos<br />

diferentes) amontoados, tendo como pano de<br />

fundo as chaminés de uma fábrica.<br />

A questão deixa explícita a relação com<br />

os trechos literários que exaltam o<br />

proletariado, eliminando, já de cara, as<br />

alternativas A, D, e E.<br />

Ao se analisar a alternativa C, entretanto,<br />

percebe-se que a abordagem somente se<br />

relaciona com o funcionário público.<br />

Na letra B, o que se pode notar é que<br />

todas as pessoas “severinas” são iguais<br />

perante o sistema, niveladas por baixo e<br />

batalhadoras e que, sem privilégios ou<br />

distinções, são tratadas como mercadorias.<br />

51) (1999) E considerei a glória de um pavão<br />

ostentando o esplendor de suas cores; é<br />

um luxo imperial. Mas andei lendo livros, e<br />

descobri que aquelas cores todas não<br />

existem na pena do pavão. Não há<br />

pigmentos. O que há são minúsculas<br />

bolhas d’água em que a luz se fragmenta,<br />

como em um prisma. O pavão é um arcoíris<br />

de plumas.<br />

Eu considerei que este é o luxo do<br />

grande artista, atingir o máximo de<br />

matizes com o mínimo de elementos. De<br />

água e luz ele faz seu esplendor; seu<br />

grande mistério é a simplicidade.<br />

Considerei, por fim, que assim é o<br />

amor, oh! Minha amada; de tudo que ele<br />

suscita e esplende e estremece e delira<br />

em mim existem apenas meus olhos<br />

recebendo a luz de teu olhar. Ele me<br />

cobre de glórias e me faz magnífico.<br />

(BRAGA, Rubem. Ai de ti, Copacabana. 20.ed.)<br />

O poeta Carlos Drummond de Andrade<br />

escreveu assim sobre a obra de Rubem<br />

Braga:<br />

O que ele nos conta é o seu dia, o seu<br />

expediente de homem, apanhado no<br />

essencial, narrativa direta e econômica.<br />

(...) É o poeta do real, do palpável, que se<br />

vai diluindo em cisma. Dá o sentimento da<br />

realidade e o remédio para ela.<br />

Em seu texto, Rubem Braga afirma que<br />

"este é o luxo do grande artista, atingir o<br />

máximo de matizes com o mínimo de<br />

elementos". Afirmação semelhante pode<br />

ser encontrada no texto de Carlos<br />

Drummond de Andrade, quando, ao<br />

analisar a obra de Braga, diz que ela é:<br />

A) uma narrativa direta e econômica.<br />

B) real, palpável.<br />

C) sentimento de realidade.<br />

D) seu expediente de homem.<br />

E) seu remédio.<br />

129


Comentário<br />

A última questão da prova de Português<br />

exige uma releitura do texto de Rubem Braga<br />

para um melhor entendimento do que é<br />

proposto por Drummond. Ao afirmar que a<br />

escrita de Braga é "direta e econômica",<br />

Drummond remete à descoberta feita por<br />

Rubem Braga em relação às cores das<br />

penas do pavão: (...) e descobri que aquelas<br />

cores todas não existem na pena do pavão.<br />

Não há pigmentos. O que há são minúsculas<br />

bolhas d’água em que a luz se fragmenta,<br />

como em um prisma. O pavão é um arco-íris<br />

de plumas.(...) este é o luxo do grande<br />

artista, atingir o máximo de matizes com o<br />

mínimo de elementos.(...)<br />

Segundo Braga, a grande mágica em se<br />

fazer arte é conseguir se expressar da<br />

melhor maneira possível usando o mínimo de<br />

elementos (sejam palavras, cores, formas,<br />

etc.). Drummond parafraseia o comentário de<br />

Braga, dando ainda mais evidência à<br />

descoberta do primeiro. Temos, aí, a<br />

"narrativa direta e econômica". Questão de<br />

nível médio.<br />

Comentário do INEP<br />

Além da compreensão de dois textos, de<br />

autores diferentes, o problema examinou a<br />

capacidade dos participantes em estabelecer<br />

um diálogo entre os mesmos.<br />

A identificação do significado e a relação<br />

correta da afirmação de Drummond, com o<br />

trecho correspondente de Rubem Braga<br />

destacado no enunciado, foi feita por 44%<br />

dos participantes. As alternativas B, C e D<br />

correspondem à identificação de aspectos de<br />

certa forma comuns aos dois textos, embora<br />

os elementos neles apontados não se refiram<br />

ao trecho destacado.<br />

52) (2002)<br />

130<br />

De acordo com a história em quadrinhos<br />

protagonizada por Hagar e seu filho<br />

Hamlet, pode-se afirmar que a postura de<br />

Hagar<br />

A) valoriza a existência da diversidade<br />

social e de culturas, e as várias<br />

representações e explicações desse<br />

universo.<br />

B) desvaloriza a existência da<br />

diversidade social e as várias culturas,<br />

e determina uma única explicação para<br />

esse universo.<br />

C) valoriza a possibilidade de explicar as<br />

sociedades e as culturas a partir de<br />

várias visões de mundo.<br />

D) valoriza a pluralidade cultural e social<br />

ao aproximar a visão de mundo de<br />

navegantes e não-navegantes.<br />

E) desvaloriza a pluralidade cultural e<br />

social, ao considerar o mundo habitado<br />

apenas pelos navegantes.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. Hagar reduz o<br />

mundo a dois tipos de pessoas: navegantes<br />

e não-navegantes. No último quadrinho, diz<br />

que são os navegantes que estabelecem<br />

esses dois grupos. Portanto, quem é<br />

diferente dos navegantes (que estabelecem<br />

o padrão) simplesmente é incluído na massa<br />

única dos não-navegantes. Não importa<br />

quem ou quantos sejam, sua diversidade<br />

social ou cultural em relação aos navegantes<br />

ou entre si. Vemos aí a desvalorização de<br />

outras culturas.<br />

Comentário do INEP<br />

Dentre as habilidades básicas para a<br />

compreensão de um texto destaca-se a<br />

capacidade do leitor de identificar os<br />

pressupostos de cada afirmação que lhe é<br />

apresentada. Nesta questão o participante<br />

deve identificar a posição tanto de Hagar<br />

como de seu filho Hamlet e, em seguida,<br />

avaliar quais os argumentos que justificam a<br />

opinião de Hagar ao definir que no mundo só<br />

existem dois tipos de pessoas. A pergunta de<br />

Hamlet a seu pai explicita a importância do<br />

ato de narrar através do diálogo e do efeito<br />

humorístico contido no episódio representado<br />

na tira. O resultado da compreensão<br />

acertada do diálogo é que o narrador torna<br />

inteligível, para si e para os outros, a lógica<br />

do seu pensamento através do diálogo entre<br />

os dois personagens. É importante observar<br />

que o humor do personagem Hagar é<br />

identificado na postura simetricamente<br />

oposta à de Michel de Montaigne, por<br />

exemplo (ver questão 58): a sua visão de<br />

mundo apresenta-se autocentrada, isto é,<br />

centrada nos seus próprios valores (vikings).<br />

A habilidade requerida do participante nessa<br />

questão, qual seja, "valorizar a diversidade<br />

dos patrimônios etnoculturais", é mobilizada<br />

aqui na sua dimensão negativa: é criticando<br />

a postura chauvinista de Hagar que o<br />

participante é capaz de responder


corretamente a questão. A última alternativa<br />

(E) funciona como um distrator, pois neste<br />

caso não está suposta a crítica do discurso<br />

do personagem. Cerca de um terço dos<br />

participantes assinalou a alternativa correta<br />

B. As demais opções são devidas,<br />

possivelmente, a uma leitura pouco<br />

compreensiva das alternativas associadas a<br />

história em quadrinhos.<br />

53) (2009) A música pode ser definida como<br />

a combinação de sons ao longo do tempo.<br />

Cada produto final oriundo da infinidade<br />

de combinações possíveis será diferente,<br />

dependendo da escolha das notas, de<br />

suas durações, dos instrumentos<br />

utilizados, do estilo de música, da<br />

nacionalidade do compositor e do período<br />

em que as obras foram compostas.<br />

D) 4 executa um tipo de música<br />

caracterizada pelos instrumentos<br />

acústicos, cuja intensidade e nível de<br />

ruído permanecem na faixa dos 30 aos<br />

40 decibéis.<br />

E) 1 a 4 apresentam um produto final<br />

bastante semelhante, uma vez que as<br />

possibilidades de combinações sonoras<br />

ao longo do tempo são limitadas.<br />

Comentário<br />

(QUESTÃO: AZUL 94, BRANCA 95,<br />

ROSA 94)<br />

Instrumentos como violão, bandolim e os<br />

de percussão são utilizados como base para<br />

dar sustenção ao chorinho. Há de se<br />

considerar ainda, pensando-se nas outras<br />

alternativas, que Tom Jobim não é um<br />

expoente da música clássica. A formação<br />

apresentada na figura 3 é característica de<br />

uma banda de jazz. Na figura 4, o nível de<br />

ruído é superior a 40 decibéis. As figuras 1 e<br />

4 representam resultados muito diferentes,<br />

tanto de conteúdo como sonoros.<br />

Alternativa correta letra A<br />

54) (2009) Cuitelinho<br />

Cheguei na bera do porto<br />

Onde as onda se espaia.<br />

As garça dá meia volta,<br />

Senta na bera da praia.<br />

E o cuitelinho não gosta<br />

Que o botão da rosa caia.<br />

Figura 1 - http://images.quebarato.com.brlphotoslbig/2/D/1<br />

5A12D_2.jpg.<br />

Figura 2 -<br />

http://ourinhos.prefeituramunicipal.netldados/fotoa/2009/07/07/<br />

normal.<br />

Figura 3 -<br />

http://www.edmontonculturalcapital.com/gallery/edjazzfestival/<br />

JazzQuartet.jpg.<br />

Figura 4 - http:llwww.filmica.com/jacintaeacudos)archivoa!Led-<br />

Zeppelin.jpg.<br />

Das figuras que apresentam grupos<br />

musicais em ação, pode-se concluir que<br />

o(os) grupo(s) mostrado(s) na(s) figura(s)<br />

A) 1 executa um gênero característico<br />

da música brasileira, conhecido como<br />

chorinho.<br />

B) 2 executa um gênero característico da<br />

música clássica, cujo compositor mais<br />

conhecido é Tom Jobim.<br />

C) 3 executa um gênero característico da<br />

música europeia, que tem como<br />

representantes Beethoven e Mozart.<br />

Quando eu vim da minha terra,<br />

Despedi da parentaia.<br />

Eu entrei em Mato Grosso,<br />

Dei em terras paraguaia.<br />

Lá tinha revolução,<br />

Enfrentei fortes bataia.<br />

A tua saudade corta<br />

Como o aço de navaia<br />

O coração fica aflito,<br />

Bate uma e outra faia.<br />

E os oio se enche d’água<br />

Que até a vista se atrapaia.<br />

Folclore recolhido por Paulo Vanzolini e Antônio Xandó.<br />

BORTONI-RICARDO, S. M. Educação em língua materna.<br />

São Paulo; Parábola, 2004.<br />

Transmitida por gerações, a canção<br />

Cuitelinho manifesta aspectos culturais de<br />

um povo, nos quais se inclui sua forma de<br />

falar, além de registrar um momento<br />

histórico. Depreende-se disso que a<br />

importância em preservar a produção<br />

cultural de uma nação consiste no fato de<br />

131


que produções como a canção Cuitelinho<br />

evidenciam a<br />

A) recriação da realidade brasileira de<br />

forma ficcional.<br />

B) criação neológica na língua<br />

portuguesa.<br />

C) formação da identidade nacional por<br />

meio da tradição oral.<br />

D) incorreção da língua portuguesa que é<br />

falada por pessoas do interior do Brasil.<br />

E) padronização de palavras que variam<br />

regionalmente, mas possuem mesmo<br />

significado.<br />

Comentário<br />

(QUESTÃO: AZUL 111, BRANCA 111,<br />

ROSA 112)<br />

A importância da preservação de<br />

canções folclóricas como "Cuitelinho", nas<br />

quais estão registrados o modo de falar e<br />

determinados momentos históricos, evidencia<br />

que a tradição oral é uma forma de<br />

estabelecimento da identidade de um povo.<br />

Portanto, a resposta correta é a<br />

alternativa C.<br />

55) (2009) Teatro do Oprimido é um método<br />

teatral que sistematiza exercícios, jogos e<br />

técnicas teatrais elaboradas pelo<br />

teatrólogo brasileiro Augusto Boal,<br />

recentemente falecido, que visa à<br />

desmecanização física e intelectual de<br />

seus praticantes. Partindo do princípio de<br />

que a linguagem teatral não deve ser<br />

diferenciada da que é usada<br />

cotidianamente pelo cidadão comum<br />

(oprimido), ele propõe condições práticas<br />

para que o oprimido se aproprie dos<br />

meios do fazer teatral e, assim, amplie<br />

suas possibilidades de expressão. Nesse<br />

sentido, todos podem desenvolver essa<br />

linguagem e, consequentemente, fazer<br />

teatro. Trata-se de um teatro em que o<br />

espectador é convidado a substituir o<br />

protagonista e mudar a condução ou<br />

mesmo o fim da história, conforme o olhar<br />

interpretativo e contextualizado do<br />

receptor.<br />

Companhia Teatro do Oprimido. Disponível em:<br />

www.ctorio.org.br.<br />

Acesso em: 1 Jul. 2009 (adaptado).<br />

Considerando-se as características do<br />

Teatro do Oprimido apresentadas, concluise<br />

que<br />

A) esse modelo teatral é um método<br />

tradicional de fazer teatro que usa, nas<br />

suas ações cênicas, a linguagem<br />

rebuscada e hermética falada<br />

normalmente pelo cidadão comum.<br />

B) a forma de recepção desse modelo<br />

teatral se destaca pela separação entre<br />

atores e público, na qual os atores<br />

representam seus personagens e a<br />

plateia assiste passivamente ao<br />

espetáculo.<br />

C) sua linguagem teatral pode ser<br />

democratizada e apropriada pelo<br />

cidadão comum, no sentido de<br />

proporcionar-lhe autonomia crítica para<br />

compreensão e interpretação do<br />

mundo em que vive.<br />

D) o convite ao espectador para substituir<br />

o protagonista e mudar o fim da história<br />

evidencia que a proposta de Boal se<br />

aproxima das regras do teatro<br />

tradicional para a preparação de<br />

atores.<br />

E) a metodologia teatral do Teatro do<br />

Oprimido segue a concepção do teatro<br />

clássico aristotélico, que visa à<br />

desautomação física e intelectual de<br />

seus praticantes.<br />

Comentário do portal<br />

(QUESTÃO: AZUL 118, BRANCA 116,<br />

ROSA 118)<br />

As possibilidades de troca de experiências<br />

sugeridas pelo Teatro do Oprimido tornam<br />

viável, mesmo a uma pessoa que não<br />

possua estudo prévio da arte teatral, ser<br />

capaz de se aventurar na transformação de<br />

pensamentos resultante do desenvolvimento<br />

de seu olhar interpretativo, tanto de uma<br />

peça como de qualquer outra situação<br />

cotidiana.<br />

Alternativa correta: C<br />

56) (2009) Textos para as próximas duas<br />

questões<br />

Texto I<br />

[...] já foi o tempo em que via a<br />

convivência como viável, só exigindo<br />

deste bem comum, piedosamente, o meu<br />

quinhão, já foi o tempo em que consentia<br />

num contrato, deixando muitas coisas de<br />

fora sem ceder contudo no que me era<br />

vital, já foi o tempo em que reconhecia a<br />

existência escandalosa de imaginados<br />

valores, coluna vertebral de toda ‘ordem’;<br />

mas não tive sequer o sopro necessário,<br />

e, negado o respiro, me foi imposto o<br />

sufoco; é esta consciência que me libera,<br />

é ela hoje que me empurra, são outras<br />

132


agora minhas preocupações, é hoje outro<br />

o meu universo de problemas; num<br />

mundo estapafúrdio — definitivamente<br />

fora de foco — cedo ou tarde tudo acaba<br />

se reduzindo a um ponto de vista, e você<br />

que vive paparicando as ciências<br />

humanas, nem suspeita que paparica uma<br />

piada: impossível ordenar o mundo dos<br />

valores, ninguém arruma a casa do<br />

capeta; me recuso pois a pensar naquilo<br />

em que não mais acredito, seja o amor, a<br />

amizade, a família, a igreja, a<br />

humanidade; me lixo com tudo isso! me<br />

apavora ainda a existência, mas não<br />

tenho medo de ficar sozinho, foi<br />

conscientemente que escolhi o exílio, me<br />

bastando hoje o cinismo dos grandes<br />

indiferentes [...].<br />

NASSAR, R. Um copo de cólera. São Paulo:<br />

Companhia das Letras, 1992.<br />

Texto II<br />

Raduan Nassar lançou a novela Um Copo<br />

de Cólera em 1978, fervilhante narrativa<br />

de um confronto verbal entre amantes, em<br />

que a fúria das palavras cortantes se<br />

estilhaçava no ar. O embate conjugal<br />

ecoava o autoritário discurso do poder e<br />

da submissão de um Brasil que vivia sob o<br />

jugo da ditadura militar.<br />

COMODO, R. Um silêncio inquietante.<br />

lstoÉ. Disponível em:<br />

http://www.terra.com.br. Acesso em: 15 jul. 2009.<br />

Na novela Um Copo de Cólera, o autor<br />

lança mão de recursos estilísticos e<br />

expressivos típicos da literatura produzida<br />

na década de 70 do século passado no<br />

Brasil, que, nas palavras do crítico Antonio<br />

Candido, aliam "vanguarda estética e<br />

amargura política". Com relação à<br />

temática abordada e à concepção<br />

narrativa da novela, o texto 1<br />

A) é escrito em terceira pessoa, com<br />

narrador onisciente, apresentando a<br />

disputa entre um homem e uma mulher<br />

em linguagem sóbria, condizente com a<br />

seriedade da temática político-social do<br />

período da ditadura militar.<br />

B) articula o discurso dos interlocutores<br />

em torno de uma luta verbal, veiculada<br />

por meio de linguagem simples e<br />

objetiva, que busca traduzir a situação<br />

de exclusão social do narrador.<br />

C) representa a literatura dos anos 70 do<br />

século XX e aborda, por meio de<br />

expressão clara e objetiva e de ponto<br />

de vista distanciado, os problemas da<br />

urbanização das grandes metrópoles<br />

brasileiras.<br />

D) evidencia uma crítica à sociedade em<br />

que vivem os personagens, por meio<br />

de fluxo verbal contínuo de tom<br />

agressivo.<br />

E) traduz, em linguagem subjetiva e<br />

intimista, a partir do ponto de vista<br />

interno, os dramas psicológicos da<br />

mulher moderna, às voltas com a<br />

questão da priorização do trabalho em<br />

detrimento da vida familiar e amorosa.<br />

Comentário<br />

(QUESTÃO: AZUL 132, BRANCA 132,<br />

ROSA 130)<br />

A temática aborda uma crítica à<br />

sociedade, evidenciando o fluxo verbal<br />

contínuo e de tom agressivo marcado pela<br />

narrativa em primeira pessoa. Cada<br />

alternativa apresenta pelo menos um ponto<br />

divergente. Na alternativa A, seria a<br />

indicação da terceira pessoa; na B, a<br />

situação de exclusão social do narrador; na<br />

C, os problemas de urbanização e na E, os<br />

dramas psicológicos da mulher moderna.<br />

Dessa forma, a única alternativa que não<br />

apresenta pelo menos um ponto divergente é<br />

a letra D.<br />

57) (2009) Compare os textos 1 e lI a seguir,<br />

que tratam de aspectos ligados a<br />

variedades da língua portuguesa no<br />

mundo e no Brasil.<br />

Texto I<br />

Acompanhando os navegadores,<br />

colonizadores e comerciantes<br />

portugueses em todas as suas incríveis<br />

viagens, a partir do século XV, o<br />

português se transformou na língua de um<br />

império. Nesse processo, entrou em<br />

contato — forçado, o mais das vezes;<br />

amigável, em alguns casos — com as<br />

mais diversas línguas, passando por<br />

processos de variação e de mudança<br />

linguística. Assim, contar a história do<br />

português do Brasil é mergulhar na sua<br />

história colonial e de país independente, já<br />

que as línguas não são mecanismos<br />

desgarrados dos povos que as utilizam.<br />

Nesse cenário, são muitos os aspectos da<br />

estrutura linguística que não só<br />

expressam a diferença entre Portugal e<br />

Brasil como também definem, no Brasil,<br />

diferenças regionais e sociais.<br />

PAGOTTO, E. P. Línguas do Brasil Disponivel em:<br />

http://cienciaecultura.bvs.br.<br />

Acesso em: 5 jul. 2009 (adaptado).<br />

133


Texto II<br />

Barbarismo é vício que se comete na<br />

escritura de cada uma das partes da<br />

construção ou na pronunciação. E em<br />

nenhuma parte da Terra se comete mais<br />

essa figura da pronunciação que nestes<br />

remos, por causa das muitas nações que<br />

trouxemos ao jugo do nosso serviço.<br />

Porque bem como os Gregos e Romanos<br />

haviam por bárbaras todas as outras<br />

nações estranhas a eles, por não<br />

poderem formar sua linguagem, assim nós<br />

podemos dizer que as nações de África,<br />

Guiné, Ásia, Brasil barbarizam quando<br />

querem imitar a nossa.<br />

BARROS, J, Gramática da língua portuguesa. Porto: Porto<br />

Editora, 1957 (adaptado).<br />

Os textos abordam o contato da língua<br />

portuguesa com outras línguas e<br />

processos de variação e de mudança<br />

decorridos desse contato. Da comparação<br />

entre os textos, conclui-se que a posição<br />

de João de Barros (Texto II), em relação<br />

aos usos sociais da linguagem, revela<br />

A) atitude crítica do autor quanto à<br />

gramática que as nações a serviço de<br />

Portugal possuíam e, ao mesmo<br />

tempo, de benevolência quanto ao<br />

conhecimento que os povos tinham de<br />

suas línguas.<br />

B) atitude preconceituosa relativa a vícios<br />

culturais das nações sob domínio<br />

português, dado o interesse dos<br />

falantes dessa línguas em copiar a<br />

língua do império, o que implicou a<br />

falência do idioma falado em Portugal.<br />

C) o desejo de conservar, em Portugal, as<br />

estruturas da variante padrão da língua<br />

grega — em oposição às consideradas<br />

bárbaras —, em vista da necessidade<br />

de preservação do padrão de correção<br />

dessa língua à época.<br />

D) adesão à concepção de língua como<br />

entidade homogênea e invariável, e<br />

negação da ideia de que a língua<br />

portuguesa pertence a outros povos.<br />

E) atitude crítica, que se estende à própria<br />

língua portuguesa, por se tratar de<br />

sistema que não disporia de elementos<br />

necessários para a plena inserção<br />

sociocultural de falantes não nativos do<br />

português.<br />

Comentário<br />

(QUESTÃO: AZUL 131, BRANCA 135,<br />

ROSA 134)<br />

Questão difícil, pois o candidato precisa<br />

fazer uma leitura atenta dos textos<br />

apresentados e das alternativas, assim como<br />

ter conhecimento de concepções de<br />

linguagem.<br />

O texto II, de João de Barros, revela um<br />

anseio de "adesão à concepção de língua<br />

como entidade homogênea e invariável e<br />

negação da ideia de que a língua portuguesa<br />

pertence a outros povos".<br />

Portanto, a resposta correta é a letra D.<br />

COMPETÊNCIA DE ÁREA 4<br />

H13 - Analisar as diversas<br />

produções artísticas como<br />

meio de explicar diferentes<br />

culturas, padrões de beleza e<br />

preconceitos.<br />

01) (2000) Ferreira Gullar, um dos grandes<br />

poetas brasileiros da atualidade, é autor<br />

de “Bicho urbano”, poema sobre a sua<br />

relação com as pequenas e grandes<br />

cidades.<br />

Bicho urbano<br />

Se disser que prefiro morar em Pirapemas<br />

ou em outra qualquer pequena cidade do<br />

país<br />

estou mentindo<br />

ainda que lá se possa de manhã<br />

lavar o rosto no orvalho<br />

e o pão preserve aquele branco<br />

sabor de alvorada.<br />

....................................................................<br />

A natureza me assusta.<br />

Com seus matos sombrios suas águas<br />

suas aves que são como aparições<br />

me assusta quase tanto quanto<br />

esse abismo<br />

de gases e de estrelas<br />

aberto sob minha cabeça.<br />

(GULLAR, Ferreira. Toda poesia. Rio de Janeiro:<br />

José Olympio Editora, 1991)<br />

Embora não opte por viver numa pequena<br />

cidade, o poeta reconhece elementos de<br />

valor no cotidiano das pequenas<br />

comunidades. Para expressar a relação<br />

do homem com alguns desses elementos,<br />

ele recorre à sinestesia, construção de<br />

linguagem em que se mesclam<br />

impressões sensoriais diversas. Assinale<br />

a opção em que se observa esse recurso.<br />

A) "e o pão preserve aquele branco /<br />

sabor de alvorada."<br />

B) "ainda que lá se possa de manhã /<br />

lavar o rosto no orvalho"<br />

134


C) "A natureza me assusta. / Com seus<br />

matos sombrios suas águas"<br />

D) "suas aves que são como aparições /<br />

me assusta quase tanto quanto"<br />

E) "me assusta quase tanto quanto / esse<br />

abismo / de gases e de estrelas"<br />

Comentário<br />

Para responder a esta questão, leia com<br />

muita atenção o enunciado. Nele encontra-se<br />

o conceito de sinestesia: construção de<br />

linguagem em que se mesclam impressões<br />

sensoriais diversas, ou seja, a associação de<br />

sensações diferentes numa mesma<br />

expressão.<br />

Você deve compreender o conceito de<br />

sinestesia e, pela lógica, encontrar o exemplo<br />

dessa figura de linguagem.<br />

A alternativa correta é a letra a, pois a<br />

expressão "branco sabor" associa o sentido<br />

da visão (branco) com o do paladar (sabor).<br />

Comentário do INEP<br />

A questão procurou verificar a capacidade<br />

do participante de construir o sentido de<br />

elementos textuais. A partir da noção de<br />

sinestesia, que lhe foi dada de maneira<br />

sucinta, ele teve de transpor para o texto<br />

essa mesma noção, manifestando sua<br />

competência textual. Pode-se classificar de<br />

'bom', o índice de acerto (53%), se<br />

considerarmos que a questão trabalhou com<br />

a função conotativa da linguagem, o que<br />

requer uma capacidade de leitura sempre<br />

mais desenvolvida. Os desvios, de forma<br />

mais acentuada na alternativa B, são<br />

explicáveis: as alternativas incorretas (e, de<br />

resto, todo o poema) também se referem à<br />

manifestações sensoriais, embora sem a<br />

necessária 'mescla', que é o que distingue a<br />

sinestesia.<br />

02) (2002) "De repente lá vinha um homem a<br />

cavalo. Eram dois. Um senhor de fora, o<br />

claro de roupa. Miguilim saudou, pedindo<br />

a bênção. O homem trouxe o cavalo cá<br />

bem junto. Ele era de óculos, corado, alto,<br />

com um chapéu diferente, mesmo.<br />

— Deus te abençoe, pequenino. Como é<br />

teu nome?<br />

— Miguilim. Eu sou irmão do Dito.<br />

— E o seu irmão Dito é o dono daqui?<br />

— Não, meu senhor. O Ditinho está em<br />

glória.<br />

O homem esbarrava o avanço do<br />

cavalo, que era zelado, manteúdo,<br />

formoso como nenhum outro. Redizia:<br />

— Ah, não sabia, não. Deus o tenha em<br />

sua guarda... Mas que é que há, Miguilim?<br />

Miguilim queria ver se o homem estava<br />

mesmo sorrindo para ele, por isso é que o<br />

encarava.<br />

— Por que você aperta os olhos assim?<br />

Você não é limpo de vista? Vamos até lá.<br />

Quem é que está em tua casa?<br />

— É Mãe, e os meninos...<br />

Estava Mãe, estava tio Terez, estavam<br />

todos. O senhor alto e claro se apeou. O<br />

outro, que vinha com ele, era um<br />

camarada.<br />

O senhor perguntava à Mãe muitas<br />

coisas do Miguilim. Depois perguntava a<br />

ele mesmo: — 'Miguilim, espia daí:<br />

quantos dedos da minha mão você está<br />

enxergando? E agora?"<br />

ROSA, João Guimarães. Manuelzão e Miguilim. 9ª ed. Rio de<br />

Janeiro: Nova Fronteira, 1984.<br />

Esta história, com narrador observador em<br />

terceira pessoa, apresenta os<br />

acontecimentos da perspectiva de<br />

Miguilim. O fato de o ponto de vista do<br />

narrador ter Miguilim como referência,<br />

inclusive espacial, fica explicitado em:<br />

A) "O homem trouxe o cavalo cá bem<br />

junto."<br />

B) "Ele era de óculos, corado, alto (...)"<br />

C) "O homem esbarrava o avanço do<br />

cavalo, (...)"<br />

D) "Miguilim queria ver se o homem<br />

estava mesmo sorrindo para ele, (...)"<br />

E) "Estava Mãe, estava tio Terez, estavam<br />

todos"<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. A única alternativa<br />

que apresenta, ao mesmo tempo, o narrador<br />

e o ponto de referência espacial é a letra A, o<br />

que pode ser comprovado pela expressão<br />

"cá bem junto".<br />

Comentário do INEP<br />

Essa questão apresenta para leitura e<br />

análise um trecho da novela Campo Geral,<br />

da obra Manuelzão e Miguilim, de Guimarães<br />

Rosa, em que um narrador em terceira<br />

pessoa relata o momento do encontro entre<br />

Miguilim e o médico, que percebe, logo ao<br />

chegar, que o garoto tem problemas de<br />

visão. A questão propõe a análise do ponto<br />

de vista narrativo, que, no texto literário, não<br />

necessariamente, como no texto em questão,<br />

será sempre o do narrador.<br />

135


A cena narrativa presente nesse texto é<br />

contada por um narrador adulto, mas é o<br />

sentimento de Miguilim a respeito dos<br />

acontecimentos que orienta esse contar.<br />

Esse efeito de sentido é resultado do<br />

trabalho do autor com a linguagem. Segundo<br />

a gramática da norma culta, "cá" e "aqui"<br />

indicam o lugar do sujeito, ou seja, daquele<br />

que fala. Algo semelhante ocorre com o<br />

verbo "trazer", que indica um movimento para<br />

o lugar onde se encontra o sujeito. Tanto "cá"<br />

como "trazer" indicam proximidade espacial<br />

daquele que fala.<br />

A narração pertence a um narrador que<br />

não participa da historia como personagem,<br />

portanto ele fala dos outros, nunca de si<br />

mesmo. No trecho "o homem trouxe o cavalo<br />

cá bem junto", o narrador indica que o<br />

homem a cavalo aproxima-se de Miguilim.<br />

Esse jogo de linguagem cria no leitor a<br />

imagem de um narrador adulto que, colandose<br />

à criança, vê pelos olhos desta.<br />

Embora todas as alternativas apresentem<br />

a percepção da criança naquele contexto da<br />

chegada de um desconhecido, apenas a<br />

alternativa A responde o que foi solicitado,<br />

pois só ela apresenta o aspecto da<br />

localização espacial presente no advérbio de<br />

lugar "cá". Quase metade dos participantes<br />

assinalou a alternativa D, única que contem a<br />

palavra Miguilim, possivelmente porque<br />

interpretaram erroneamente o<br />

encaminhamento da questão, no trecho "...<br />

narrador ter Miguilim como referência, ...".<br />

03) (2006) Namorados<br />

O rapaz chegou-se para junto da moça<br />

e disse:<br />

— Antônia, ainda não me acostumei com<br />

o seu corpo, com a sua cara.<br />

A moça olhou de lado e esperou.<br />

— Você não sabe quando a gente é<br />

criança e de repente vê uma lagarta<br />

listrada?<br />

A moça se lembrava:<br />

— A gente fica olhando...<br />

A meninice brincou de novo nos olhos<br />

dela.<br />

O rapaz prosseguiu com muita doçura:<br />

— Antônia, você parece uma lagarta<br />

listrada.<br />

A moça arregalou os olhos, fez<br />

exclamações.<br />

O rapaz concluiu:<br />

— Antônia, você é engraçada! Você<br />

parece louca.<br />

136<br />

No poema de Bandeira, importante<br />

representante da poesia modernista,<br />

destaca-se como característica da escola<br />

literária dessa época<br />

Manuel Bandeira. Poesia completa & prosa.<br />

Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985.<br />

A) a reiteração de palavras como recurso<br />

de construção de rimas ricas.<br />

B) a utilização expressiva da linguagem<br />

falada em situações do cotidiano.<br />

C) a criativa simetria de versos para<br />

reproduzir o ritmo do tema abordado.<br />

D) a escolha do tema do amor romântico,<br />

caracterizador do estilo literário dessa<br />

época.<br />

E) o recurso ao diálogo, gênero discursivo<br />

típico do Realismo.<br />

04) (2006) Erro de Português<br />

Quando o português chegou<br />

Debaixo de uma bruta chuva<br />

Vestiu o índio<br />

Que pena!<br />

Fosse uma manhã de Sol<br />

O índio tinha despido<br />

O português.<br />

Oswald de Andrade. Poesias reunidas.<br />

Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.<br />

O primitivismo observável no poema<br />

acima, de Oswald de Andrade, caracteriza<br />

de forma marcante<br />

A) o regionalismo do Nordeste.<br />

B) o concretismo paulista.<br />

C) a poesia Pau-Brasil.<br />

D) o simbolismo pre-modernista.<br />

E) o tropicalismo baiano.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil, pois bastaria que o<br />

aluno fizesse a relação do nome do autor,<br />

Oswald de Andrade, à alternativa "C", poesia<br />

Pau-Brasil. Com isso, ele já eliminaria as<br />

demais alternativas. Contudo, mesmo que o<br />

aluno não tivesse se lembrado desse<br />

detalhe, o próprio poema Erro de Português<br />

remete a uma das características da poesia<br />

Pau-Brasil, a retomada e a valorização das<br />

riquezas do Brasil primitivo.<br />

05) (2007) Texto I<br />

Agora Fabiano conseguia arranjar as<br />

idéias. O que o segurava era a família.<br />

Vivia preso como um novilho amarrado ao<br />

mourão, suportando ferro quente. Se não<br />

fosse isso, um soldado amarelo não lhe<br />

pisava o pé não. (...) Tinha aqueles


cambões pendurados ao pescoço.<br />

Deveria continuar a arrastá-los? Sinha<br />

Vitória dormia mal na cama de varas. Os<br />

meninos eram uns brutos, como o pai.<br />

Quando crescessem, guardariam as reses<br />

de um patrão invisível, seriam pisados,<br />

maltratados, machucados por um soldado<br />

amarelo.<br />

Graciliano Ramos. Vidas Secas.<br />

São Paulo: Martins, 23.ª ed., 1969, p. 75.<br />

Texto II<br />

Para Graciliano, o roceiro pobre é um<br />

outro, enigmático, impermeável. Não há<br />

solução fácil para uma tentativa de<br />

incorporação dessa figura no campo da<br />

ficção. É lidando com o impasse, ao invés<br />

de fáceis soluções, que Graciliano vai<br />

criar Vidas Secas, elaborando uma<br />

linguagem, uma estrutura romanesca,<br />

uma constituição de narrador em que<br />

narrador e criaturas se tocam, mas não se<br />

identificam. Em grande medida, o debate<br />

acontece porque, para a intelectualidade<br />

brasileira naquele momento, o pobre, a<br />

despeito de aparecer idealizado em certos<br />

aspectos, ainda é visto como um ser<br />

humano de segunda categoria, simples<br />

demais, incapaz de ter pensamentos<br />

demasiadamente complexos. O que Vidas<br />

Secas faz é, com pretenso não<br />

envolvimento da voz que controla a<br />

narrativa, dar conta de uma riqueza<br />

humana de que essas pessoas seriam<br />

plenamente capazes.<br />

Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes. In:<br />

Teresa. São Paulo: USP, n.° 2, 2001, p. 254.<br />

A partir do trecho de Vidas Secas (texto I)<br />

e das informações do texto II, relativas às<br />

concepções artísticas do romance social<br />

de 1930, avalie as seguintes afirmativas.<br />

I - O pobre, antes tratado de forma exótica<br />

e folclórica pelo regionalismo pitoresco,<br />

transforma-se em protagonista<br />

privilegiado do romance social de 30.<br />

II - A incorporação do pobre e de outros<br />

marginalizados indica a tendência da<br />

ficção brasileira da década de 30 de<br />

tentar superar a grande distância entre<br />

o intelectual e as camadas populares.<br />

III - Graciliano Ramos e os demais autores<br />

da década de 30 conseguiram, com<br />

suas obras, modificar a posição social<br />

do sertanejo na realidade nacional.<br />

É correto apenas o que se afirma em<br />

A) I. D) I e II.<br />

B) II. E) II e III.<br />

C) III.<br />

Comentário<br />

Questão de nível médio. O aluno deveria<br />

perceber que, no texto de Vidas Secas, o<br />

protagonista de sua obra é o "Pobre<br />

Sertanejo", aqui tratado de forma realista,<br />

sem idealizações e fantasias, e com total<br />

destaque em sua narrativa. Ele também deve<br />

fazer um comparativo entre o trecho da obra<br />

com o comentário de Luís Bueno, além de<br />

demonstrar seus conhecimentos sobre o<br />

Romance Regionalista de 30, para chegar à<br />

conclusão de que a resposta correta é a D.<br />

06) (2008) Calcula-se que 78% do<br />

desmatamento na Amazônia tenha sido<br />

motivado pela pecuária — cerca de 35%<br />

do rebanho nacional está na região — e<br />

que pelo menos 50 milhões de hectares<br />

de pastos são pouco produtivos. Enquanto<br />

o custo médio para aumentar a<br />

produtividade de 1 hectare de pastagem é<br />

de 2 mil reais, o custo para derrubar igual<br />

área de floresta é estimado em 800 reais,<br />

o que estimula novos desmatamentos.<br />

Adicionalmente, madeireiras retiram as<br />

árvores de valor comercial que foram<br />

abatidas para a criação de pastagens. Os<br />

pecuaristas sabem que problemas<br />

ambientais como esses podem provocar<br />

restrições à pecuária nessas áreas, a<br />

exemplo do que ocorreu em 2006 com o<br />

plantio da soja, o qual, posteriormente, foi<br />

proibido em áreas de floresta.<br />

Época, 3/3/2008 e 9/6/2008 (com adaptações).<br />

A partir da situação-problema descrita,<br />

conclui-se que<br />

A) o desmatamento na Amazônia decorre<br />

principalmente da exploração ilegal de<br />

árvores de valor comercial.<br />

B) um dos problemas que os pecuaristas<br />

vêm enfrentando na Amazônia é a<br />

proibição do plantio de soja.<br />

C) a mobilização de máquinas e de força<br />

humana torna o desmatamento mais<br />

caro que o aumento da produtividade<br />

de pastagens.<br />

D) o superavit comercial decorrente da<br />

exportação de carne produzida na<br />

Amazônia compensa a possível<br />

degradação ambiental.<br />

E) a recuperação de áreas desmatadas<br />

e o aumento de produtividade das<br />

pastagens podem contribuir para a<br />

redução do desmatamento na<br />

Amazônia.<br />

137


Comentário do portal<br />

Essa questão retrata o problema do<br />

desmatamento da Amazônia, relacionado<br />

principalmente com o desenvolvimento da<br />

pecuária na região. Para resolvê-la, foram<br />

necessários a leitura atenta do texto e o<br />

conhecimento sobre os problemas<br />

ambientais da atualidade. A alternativa<br />

correta é a letra E, pois é mais caro para os<br />

pecuaristas aumentar a produtividade do que<br />

as áreas de pasto, o que acarreta o aumento<br />

do desmatamento da Amazônia.<br />

07) (2008) A Lei Federal n.º 9.985/2000, que<br />

instituiu o sistema nacional de unidades<br />

de conservação, define dois tipos de<br />

áreas protegidas. O primeiro, as unidades<br />

de proteção integral, tem por objetivo<br />

preservar a natureza, admitindo-se<br />

apenas o uso indireto dos seus recursos<br />

naturais, isto é, aquele que não envolve<br />

consumo, coleta, dano ou destruição dos<br />

recursos naturais. O segundo, as<br />

unidades de uso sustentável, tem por<br />

função compatibilizar a conservação da<br />

natureza com o uso sustentável de<br />

parcela dos recursos naturais. Nesse<br />

caso, permite-se a exploração do<br />

ambiente de maneira a garantir a<br />

perenidade dos recursos ambientais<br />

renováveis e dos processos ecológicos,<br />

mantendo-se a biodiversidade e os<br />

demais atributos ecológicos, de forma<br />

socialmente justa e economicamente<br />

viável.<br />

Considerando essas informações, analise<br />

a seguinte situação hipotética.<br />

Ao discutir a aplicação de recursos<br />

disponíveis para o desenvolvimento de<br />

determinada região, organizações civis,<br />

universidade e governo resolveram<br />

investir na utilização de uma unidade de<br />

proteção integral, o Parque Nacional do<br />

Morro do Pindaré, e de uma unidade de<br />

uso sustentável, a Floresta Nacional do<br />

Sabiá. Depois das discussões, a equipe<br />

resolveu levar adiante três projetos:<br />

— o projeto I consiste de pesquisas<br />

científicas embasadas exclusivamente<br />

na observação de animais;<br />

— o projeto II inclui a construção de uma<br />

escola e de um centro de vivência;<br />

— o projeto III promove a organização de<br />

uma comunidade extrativista que<br />

poderá coletar e explorar<br />

comercialmente frutas e sementes<br />

nativas.<br />

Nessa situação hipotética, atendendo-se à<br />

lei mencionada acima, é possível<br />

desenvolver tanto na unidade de proteção<br />

integral quanto na de uso sustentável<br />

A) apenas o projeto I.<br />

B) apenas o projeto III.<br />

C) apenas os projetos I e II.<br />

D) apenas os projetos II e III.<br />

E) todos os três projetos.<br />

Comentário do portal<br />

A alternativa correta é a letra "A", pois,<br />

analisando-se a situação hipotética sugerida<br />

no enunciado, percebe-se que ela deverá<br />

atender os requisitos tanto da unidade de<br />

proteção integral quanto da unidade de uso<br />

sustentável. Portanto, apenas o projeto I<br />

poderá ser desenvolvido nessas duas<br />

propostas de unidades.<br />

08) (2006) No poema Procura da poesia,<br />

Carlos Drummond de Andrade expressa a<br />

concepção estética de se fazer com<br />

palavras o que o escultor Michelângelo<br />

fazia com mármore. O fragmento abaixo<br />

exemplifica essa afirmação.<br />

(...)<br />

Penetra surdamente no reino das<br />

palavras.<br />

Lá estão os poemas que esperam ser<br />

escritos.<br />

(...)<br />

Chega mais perto e contempla as<br />

palavras.<br />

Cada uma<br />

tem mil faces secretas sob a face neutra<br />

e te pergunta, sem interesse pela<br />

resposta,<br />

pobre ou terrível, que lhe deres:<br />

trouxeste a chave?<br />

Carlos Drummond de Andrade. A rosa do povo.<br />

Rio de Janeiro: Record, 1997, p. 13-14.<br />

Esse fragmento poético ilustra o seguinte<br />

tema constante entre autores<br />

modernistas:<br />

A) a nostalgia do passado colonialista<br />

revisitado.<br />

B) a preocupação com o engajamento<br />

político e social da literatura.<br />

C) o trabalho quase artesanal com as<br />

palavras, despertando sentidos novos.<br />

D) a produção de sentidos herméticos na<br />

busca da perfeição poética.<br />

E) a contemplação da natureza brasileira<br />

na perspectiva ufanista da pátria.<br />

138


Comentário<br />

Questão de nível difícil, pois o candidato<br />

deveria, além de interpretar o poema,<br />

conhecer o verdadeiro sentido de arte<br />

segundo Michelângelo, que achava que um<br />

bloco de mármore já tinha sua figura dentro<br />

dele e que seu trabalho seria somente<br />

lapidá-la. Dessa forma, o candidato deveria<br />

relacionar a estrutura de um bloco de<br />

mármore ao segundo verso do poema: “Lá<br />

estão os poemas que esperam ser escritos<br />

(...)”. Ou seja, esperava-se que o candidato<br />

fizesse a relação do bloco de mármore com<br />

as palavras, o que justifica a alternativa “C”<br />

como correta.<br />

09) (2002) Érico Veríssimo relata, em suas<br />

memórias, um episódio da adolescência<br />

que teve influência significativa em sua<br />

carreira de escritor.<br />

"Lembro-me de que certa noite — eu<br />

teria uns quatorze anos, quando muito —<br />

encarregaram-me de segurar uma<br />

lâmpada elétrica à cabeceira da mesa de<br />

operações, enquanto um médico fazia os<br />

primeiros curativos num pobre-diabo que<br />

soldados da Polícia Municipal haviam<br />

"carneado". (...) Apesar do horror e da<br />

náusea, continuei firme onde estava,<br />

talvez pensando assim: se esse caboclo<br />

pode agüentar tudo isso sem gemer, por<br />

que não hei de poder ficar segurando esta<br />

lâmpada para ajudar o doutor a costurar<br />

esses talhos e salvar essa vida? (...)<br />

Desde que, adulto, comecei a escrever<br />

romances, tem-me animado até hoje a<br />

idéia de que o menos que o escritor pode<br />

fazer, numa época de atrocidades e<br />

injustiças como a nossa, é acender a sua<br />

lâmpada, fazer luz sobre a realidade de<br />

seu mundo, evitando que sobre ele caia a<br />

escuridão, propícia aos ladrões, aos<br />

assassinos e aos tiranos. Sim, segurar a<br />

lâmpada, a despeito da náusea e do<br />

horror. Se não tivermos uma lâmpada<br />

elétrica, acendamos o nosso toco de vela<br />

ou, em último caso, risquemos fósforos<br />

repetidamente, como um sinal de que não<br />

desertamos nosso posto."<br />

VERÍSSIMO, Érico. Solo de Clarineta. Tomo I.<br />

Porto Alegre: Editora Globo, 1978.<br />

Neste texto, por meio da metáfora da<br />

lâmpada que ilumina a escuridão, Érico<br />

Veríssimo define como uma das funções<br />

do escritor e, por extensão, da literatura,<br />

A) criar a fantasia.<br />

B) permitir o sonho.<br />

C) denunciar o real.<br />

D) criar o belo.<br />

E) fugir da náusea.<br />

Comentário<br />

Temos aqui um dos pontos mais comuns<br />

abordados na obra de Veríssimo: a denúncia<br />

social. “(...) o menos que o escritor pode<br />

fazer, numa época de atrocidades e<br />

injustiças como a nossa, é acender sua<br />

lâmpada, fazer luz sobre a realidade de seu<br />

mundo, evitando que sobre ele caia a<br />

escuridão, propícia aos ladrões, aos<br />

assassinos e aos tiranos.”<br />

A literatura deve, como a luz, mostrar não<br />

só as belezas, mas também as feridas da<br />

sociedade, para que as tentemos sanar.<br />

Comentário do INEP<br />

Essa questão apresenta para leitura e<br />

análise um trecho de Solo de Clarineta, em<br />

que Érico Veríssimo relata uma experiência<br />

de juventude e dela constrói uma metáfora<br />

para revelar o que ele entende ser uma das<br />

funções essenciais da literatura. "Lâmpada",<br />

"vela", "fósforos" devem ser lidos como a<br />

palavra comprometida em traduzir a<br />

realidade do mundo. Ou seja, afirmar que o<br />

escritor deve "fazer luz sobre a realidade de<br />

seu mundo", nesse contexto, equivale a<br />

afirmar que um papel da literatura é<br />

denunciar o real. Todas as alternativas<br />

propostas referem-se a eventuais funções da<br />

literatura. Apenas a alternativa C é pertinente<br />

ao contexto e foi escolhida por cerca de<br />

metade dos participantes.<br />

<strong>10</strong>) (2001) Murilo Mendes, em um de seus<br />

poemas, dialoga com a carta de Pero Vaz<br />

de Caminha:<br />

“A terra é mui graciosa,<br />

Tão fértil eu nunca vi.<br />

A gente vai passear,<br />

No chão espeta um caniço,<br />

No dia seguinte nasce<br />

Bengala de castão de oiro.<br />

Tem goiabas, melancias,<br />

Banana que nem chuchu.<br />

Quanto aos bichos, tem-nos muito,<br />

De plumagens mui vistosas.<br />

Tem macaco até demais<br />

Diamantes tem à vontade<br />

Esmeralda é para os trouxas.<br />

Reforçai, Senhor, a arca,<br />

Cruzados não faltarão,<br />

Vossa perna encanareis,<br />

Salvo o devido respeito.<br />

Ficarei muito saudoso<br />

Se for embora daqui”.<br />

MENDES, Murilo. Murilo Mendes —<br />

poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.<br />

139


Arcaísmos e termos coloquiais misturamse<br />

nesse poema, criando um efeito de<br />

contraste, como ocorre em:<br />

A) A terra é mui graciosa / Tem macaco<br />

até demais.<br />

B) Salvo o devido respeito / Reforçai,<br />

Senhor, a arca<br />

C) A gente vai passear / Ficarei muito<br />

saudoso<br />

D) De plumagens mui vistosas / Bengala<br />

de castão de oiro<br />

E) No chão espeta um caniço / Diamantes<br />

tem à vontade<br />

Comentário<br />

Aqui, procuramos uma alternativa que<br />

apresente um trecho em linguagem coloquial<br />

e outro em linguagem arcaica.<br />

As alternativas B, C e E apresentam<br />

apenas a linguagem coloquial. A D, somente<br />

a arcaica.<br />

Sobra-nos a primeira alternativa: "A terra é<br />

mui graciosa" (mui é um arcaísmo); "tem<br />

macaco até demais" (linguagem coloquial).<br />

Comentário do INEP<br />

O efeito de paródia, explorado como<br />

recurso estilístico pelo autor desse poema,<br />

apresenta-se na utilização de expressões<br />

retomadas ora da carta de Pero Vaz de<br />

Caminha ora da linguagem coloquial corrente<br />

de época, gerando um efeito de humor<br />

crítico. Uma condição essencial para<br />

compreender o problema proposto nessa<br />

questão – identificar os arcaísmos e os<br />

coloquialismos existentes no poema – é<br />

conhecer o contexto de produção do texto e<br />

sua relação intratextual. Se o participante<br />

desconhece ou não considera o contexto<br />

histórico do poema, a identificação será<br />

parcial, já que o enunciado indica como<br />

pressuposto "a criação de um efeito de<br />

contraste" na utilização das expressões.<br />

Possivelmente a utilização de "contraste"<br />

como critério de interpretação justifica os<br />

percentuais de escolhas dos distratores. Uma<br />

outra possível explicação para esses<br />

percentuais deve-se ao fato de os<br />

participantes terem considerado apenas os<br />

termos "arcaísmo" e "coloquialismo" e, não<br />

tendo elementos para analisá-los,<br />

provavelmente deslocaram o texto do<br />

contexto e apoiaram-se em outros elementos<br />

para resolver a questão.<br />

11) (2008) Considerando o soneto de<br />

Cláudio Manoel da Costa e os elementos<br />

constitutivos do Arcadismo brasileiro,<br />

assinale a opção correta acerca da<br />

relação entre o poema e o momento<br />

histórico de sua produção.<br />

A) Os “montes” e “outeiros”, mencionados<br />

na primeira estrofe, são imagens<br />

relacionadas à Metrópole, ou seja, ao<br />

lugar onde o poeta se vestiu com traje<br />

“rico e fino”.<br />

B) A oposição entre a Colônia e a<br />

Metrópole, como núcleo do poema,<br />

revela uma contradição vivenciada pelo<br />

poeta, dividido entre a civilidade do<br />

mundo urbano da Metrópole e a<br />

rusticidade da terra da Colônia.<br />

C) O bucolismo presente nas imagens do<br />

poema é elemento estético do<br />

Arcadismo que evidencia a<br />

preocupação do poeta árcade em<br />

realizar uma representação literária<br />

realista da vida nacional.<br />

D) A relação de vantagem da “choupana”<br />

sobre a “Cidade”, na terceira estrofe, é<br />

formulação literária que reproduz a<br />

condição histórica paradoxalmente<br />

vantajosa da Colônia sobre a<br />

Metrópole.<br />

E) A realidade de atraso social, político e<br />

econômico do Brasil Colônia está<br />

representada esteticamente no poema<br />

pela referência, na última estrofe, à<br />

transformação do pranto em alegria.<br />

Comentário<br />

A questão exige conhecimento das<br />

características do Arcadismo. A principal<br />

delas, presente no texto, é o bucolismo,<br />

representado pela paisagem da colônia. Esta<br />

é apresentada em oposição à paisagem da<br />

cidade ou metrópole. O poeta, que participou<br />

da Inconfidência Mineira, viveu em Lisboa.<br />

Dessa forma, o termo “vivenciado” da<br />

alternativa "B" justifica a oposição campo x<br />

cidade apresentada no poema. Logo, só<br />

pode ser essa a alternativa correta.<br />

140


12) (2007)<br />

13) (1998) A discussão sobre gramática na<br />

classe está "quente". Será que os<br />

brasileiros sabem gramática? A<br />

professora de Português propõe para<br />

debate o seguinte texto:<br />

PRA MIM BRINCAR<br />

Não há nada mais gostoso do que o<br />

mim sujeito de verbo no infinito. Pra mim<br />

brincar. As cariocas que não sabem<br />

gramática falam assim. Todos os<br />

brasileiros deviam de querer falar como as<br />

cariocas que não sabem gramática.<br />

- As palavras mais feias da língua<br />

portuguesa são quiçá, alhures e miúde.<br />

(BANDEIRA, Manuel. Seleta em prosa e verso. Org:<br />

Emanuel de Moraes.4ª ed. Rio de Janeiro,<br />

José Olympio, 1986. Pág. 19)<br />

A antítese que configura uma imagem da<br />

divisão social do trabalho na sociedade<br />

brasileira é expressa poeticamente na<br />

oposição entre a doçura do branco açúcar<br />

e<br />

A) o trabalho do dono da mercearia de<br />

onde veio o açúcar.<br />

B) o beijo de moça, a água na pele e a flor<br />

que se dissolve na boca.<br />

C) o trabalho do dono do engenho em<br />

Pernambuco, onde se produz o açúcar.<br />

D) a beleza dos extensos canaviais que<br />

nascem no regaço do vale.<br />

E) o trabalho dos homens de vida<br />

amarga em usinas escuras.<br />

Comentário<br />

Questão de nível médio. O aluno deve<br />

perceber, na leitura do poema, várias<br />

antíteses. Entre elas, destaca-se a doçura do<br />

açúcar com a amargura da vida dos<br />

trabalhadores e a brancura dele com a<br />

escuridão das usinas. Porém, o grande<br />

destaque que o autor quer dar é o valor do<br />

trabalho do homem das usinas, que é o<br />

verdadeiro responsável pela produção do<br />

açúcar. Portanto, a alternativa E é a correta.<br />

Com a orientação da professora e após o<br />

debate sobre o texto de Manuel Bandeira,<br />

os alunos chegaram à seguinte conclusão:<br />

A) uma das propostas mais ousadas do<br />

Modernismo foi a busca da identidade<br />

do povo brasileiro e o registro, no texto<br />

literário, da diversidade das falas<br />

brasileiras.<br />

B) apesar de os modernistas registrarem<br />

as falas regionais do Brasil, ainda<br />

foram preconceituosos em relação às<br />

cariocas.<br />

C) a tradição dos valores portugueses foi<br />

a pauta temática do movimento<br />

modernista.<br />

D) Manuel Bandeira e os modernistas<br />

brasileiros exaltaram em seus textos o<br />

primitivismo da nação brasileira.<br />

E) Manuel Bandeira considera a<br />

diversidade dos falares brasileiros uma<br />

agressão à Língua Portuguesa.<br />

Comentário<br />

Para resolver essa questão, é<br />

importantíssimo dar atenção a quem foi o<br />

autor do texto do enunciado — Manuel<br />

Bandeira. Ele participou da primeira fase do<br />

Modernismo brasileiro, conhecida como<br />

geração de 22. Ela tinha, dentre diversas<br />

propostas, uma de fundamental importância<br />

para essa questão: a busca da identidade do<br />

povo brasileiro, valorizando a cultura, a<br />

intelectualidade e a sociedade do país. Entre<br />

essas questões, encontrava-se, com realce,<br />

a da língua brasileira. Buscava-se uma<br />

aproximação entre a língua escrita, herdada<br />

dos portugueses, e a nossa língua falada,<br />

dando-se preferência à linguagem oral. Com<br />

isso em mente, teremos a alternativa A como<br />

correta.<br />

141


14) (2007)<br />

uma realidade bastante dura no momento de<br />

sua chegada ao Brasil. Portanto, a alternativa<br />

correta é a letra C.<br />

15) (2005) Cândido Portinari (1903-1962), um<br />

dos mais importantes artistas brasileiros<br />

do século XX, tratou de diferentes<br />

aspectos da nossa realidade em seus<br />

quadros.<br />

Sobre a temática dos “Retirantes”,<br />

Portinari também escreveu o seguinte<br />

poema:<br />

142<br />

Levando-se em consideração o texto de<br />

Oswald de Andrade e a pintura de Antonio<br />

Rocco reproduzida acima, relativos à<br />

imigração européia para o Brasil, é correto<br />

afirmar que<br />

A) a visão da imigração presente na<br />

pintura é trágica e, no texto, otimista.<br />

B) a pintura confirma a visão do texto<br />

quanto à imigração de argentinos para<br />

o Brasil.<br />

C) os dois autores retratam dificuldades<br />

dos imigrantes na chegada ao Brasil.<br />

D) Antonio Rocco retrata de forma otimista<br />

a imigração, destacando o pioneirismo<br />

do imigrante.<br />

E) Oswald de Andrade mostra que a<br />

condição de vida do imigrante era<br />

melhor que a dos ex-escravos.<br />

Comentário<br />

Questão fácil. Pela comparação entre dois<br />

textos com linguagens diferentes, chega-se à<br />

conclusão de que os imigrantes enfrentaram<br />

(....)<br />

Os retirantes vêm vindo com trouxas e<br />

embrulhos<br />

Vêm das terras secas e escuras;<br />

pedregulhos<br />

Doloridos como fagulhas de carvão aceso<br />

Corpos disformes, uns panos sujos,<br />

Rasgados e sem cor, dependurados<br />

Homens de enorme ventre bojudo<br />

Mulheres com trouxas caídas para o lado<br />

Pançudas, carregando ao colo um garoto<br />

Choramingando, remelento<br />

(....)<br />

(Cândido Portinari. Poemas. Rio de Janeiro:<br />

J. Olympio, 1964.)<br />

Das quatro obras reproduzidas, assinale<br />

aquelas que abordam a problemática que<br />

é tema do poema.<br />

A) 1 e 2 D) 3 e 4<br />

B) 1 e 3 E) 2 e 4<br />

C) 2 e 3<br />

Comentário<br />

O poema apresenta correspondência com<br />

as imagens ao descrever com detalhes a<br />

figura do retirante: pobre, mal vestido,<br />

carregando trouxas e embrulhos.


16) (2001) Oxímoro (ou paradoxo) é uma<br />

construção textual que agrupa significados<br />

que se excluem mutuamente. Para<br />

Garfield, a frase de saudação de Jon<br />

(tirinha abaixo) expressa o maior de todos<br />

os oxímoros.<br />

17) (2000) “Poética”, de Manuel Bandeira, é<br />

quase um manifesto do movimento<br />

modernista brasileiro de 1922. No poema,<br />

o autor elabora críticas e propostas<br />

que representam o pensamento estético<br />

predominante na época.<br />

Poética<br />

Folha de S. Paulo. 31 de julho de 2000.<br />

Nas alternativas abaixo, estão transcritos<br />

versos retirados do poema “O operário em<br />

construção”. Pode-se afirmar que ocorre<br />

um oxímoro em<br />

A) "Era ele que erguia casas<br />

Onde antes só havia chão."<br />

B) "... a casa que ele fazia<br />

Sendo a sua liberdade<br />

Era a sua escravidão."<br />

C) "Naquela casa vazia<br />

Que ele mesmo levantara<br />

Um mundo novo nascia<br />

De que sequer suspeitava."<br />

D) "... o operário faz a coisa<br />

E a coisa faz o operário."<br />

E) "Ele, um humilde operário<br />

Um operário que sabia<br />

Exercer a profissão."<br />

MORAES, Vinícius de. Antologia Poética. São Paulo:<br />

Companhia das Letras, 1992.<br />

Comentário<br />

Idéias que se completam e se excluem<br />

mutuamente são encontradas na alternativa<br />

B: a casa que ele construía era, ao mesmo<br />

tempo, sua liberdade e sua escravidão.<br />

A casa é um símbolo de liberdade para o<br />

homem. Para o homem operário, é também<br />

símbolo de escravidão, pois ele está<br />

"condenado" a jamais usufruir do resultado<br />

do seu trabalho (a casa que faz não é para<br />

ele).<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão propõe ao participante que<br />

estabeleça uma relação entre linguagens,<br />

associando a compreensão de um efeito<br />

semântico produzido pelo uso do oxímoro<br />

nos quadrinhos com o mesmo efeito num<br />

texto poético. O índice (18%) de escolhas da<br />

alternativa D deve-se, possivelmente, a uma<br />

análise parcial da noção de paradoxo,<br />

confundida com inversão.<br />

Estou farto do lirismo comedido<br />

Do lirismo bem comportado<br />

Do lirismo funcionário público com livro de<br />

ponto expediente protocolo e<br />

[manifestações de apreço<br />

ao Sr. Diretor<br />

.<br />

Estou farto do lirismo que pára e vai<br />

averiguar no dicionário o<br />

[cunho vernáculo de um<br />

vocábulo<br />

Abaixo os puristas<br />

....................................................................<br />

Quero antes o lirismo dos loucos<br />

O lirismo dos bêbedos<br />

O lirismo difícil e pungente dos bêbedos<br />

O lirismo dos clowns de Shakespeare<br />

— Não quero mais saber do lirismo que<br />

não é libertação.<br />

(BANDEIRA, Manuel. Poesia Completa e Prosa.<br />

Rio de Janeiro. Aguilar, 1974)<br />

Com base na leitura do poema, podemos<br />

afirmar corretamente que o poeta:<br />

A) critica o lirismo louco do movimento<br />

modernista.<br />

B) critica todo e qualquer lirismo na<br />

literatura.<br />

C) propõe o retorno ao lirismo do<br />

movimento clássico.<br />

D) propõe o retorno ao lirismo do<br />

movimento romântico.<br />

E) propõe a criação de um novo lirismo.<br />

Comentário<br />

Questão bastante inteligente. Para<br />

começar, Manuel Bandeira teve como marca<br />

de sua obra a busca de novas formas de<br />

expressão, sempre. Mesmo tendo escrito<br />

muitos sonetos (especialmente no início da<br />

carreira), adotou prazerosamente a rebeldia<br />

da poética modernista. A resposta pode estar<br />

centrada na análise de um único verso do<br />

poema. As alternativas de a a d ficam todas<br />

automaticamente descartadas pelo primeiro<br />

verso da segunda parte ("Quero antes o<br />

lirismo dos loucos"). Veja que quem prega<br />

143


um lirismo dos loucos e dos bêbedos não<br />

pode nem criticar o "lirismo louco" dos<br />

modernistas, como na alternativa a, ou<br />

propor que não haja lirismo, como na<br />

alternativa b. Tampouco pode querer o<br />

retorno à rigidez de forma e métrica da<br />

poesia clássica (lembre-se de Camões) ou<br />

romântica (Álvares de Azevedo, Castro<br />

Alves, Casimiro de Abreu). Propõe, sim, um<br />

novo tipo de lirismo. Vemos isso claramente<br />

se dermos atenção ao casamento do<br />

primeiro com o último verso da segunda<br />

parte ("Quero antes o lirismo dos loucos" /<br />

"—Não quero mais saber do lirismo que não<br />

é libertação").<br />

Comentário do INEP<br />

Um pouco mais da metade dos<br />

participantes (55 %) conseguiu identificar no<br />

texto a proposta estética do poeta e, em<br />

última análise, do próprio Modernismo. Os<br />

distratores com percentuais significativos de<br />

escolha foram apenas B e D. No primeiro<br />

caso, o tom de manifesto, incisivo e<br />

demolidor, do poema provavelmente induziu<br />

a opção. No segundo, a explicação se deve à<br />

possível relação que o participante<br />

estabeleceu entre o Modernismo e o<br />

Romantismo, que de fato existe, mas que<br />

não se aplica ao caso.<br />

Comentário<br />

O assunto da crônica de Rubem Braga foi<br />

uma informação colhida — o conhecimento<br />

que ele teve de uma entrevista dada por um<br />

viajante a um jornal. Essa informação foi<br />

apresentada por meio de uma narrativa<br />

sugestiva — uma história que ganha a<br />

atenção do leitor não por sua carga<br />

argumentativa ou pela precisão de suas<br />

descrições, mas por seu encaminhamento e<br />

fecho inusitados. A finalidade é provocar uma<br />

reflexão — por que quereria o índio fazer<br />

demonstração de uma ação que causa<br />

sofrimento à vítima, utilizando justamente um<br />

“oponente” que não lhe causara mal algum?<br />

Se algum sofrimento precisa ser causado<br />

para isso, que seja então a alguém que ao<br />

menos o pareça merecer.<br />

19) (2004)<br />

18) (2004)<br />

144<br />

O assunto de uma crônica pode ser uma<br />

experiência pessoal do cronista, uma<br />

informação obtida por ele ou um caso<br />

imaginário. O modo de apresentar o<br />

assunto também varia: pode ser uma<br />

descrição objetiva, uma exposição<br />

argumentativa ou uma narrativa sugestiva.<br />

Quanto à finalidade pretendida, pode-se<br />

promover uma reflexão, definir um<br />

sentimento ou tão-somente provocar um<br />

riso.<br />

Na crônica O jivaro, escrita a partir da<br />

reportagem de um jornal, Rubem Braga se<br />

vale dos seguinte elementos:<br />

No trecho "Montes Claros cresceu tanto,/<br />

(...),/ que já tem cinco favelas", a palavra<br />

que contribui para estabelecer uma<br />

relação de conseqüência. Dos seguintes<br />

versos, todos de Carlos Drummond de<br />

Andrade, apresentam esse mesmo tipo de<br />

relação:<br />

A) "Meu Deus, por que me abandonaste /<br />

se sabias que eu não era Deus / se<br />

sabias que eu era fraco."<br />

B) "No meio-dia branco de luz uma voz<br />

que aprendeu / a ninar nos longes da<br />

senzala – e nunca se esqueceu /<br />

chamava para o café."<br />

C) "Teus ombros suportam o mundo / e<br />

ele não pesa mais que a mão de uma<br />

criança."<br />

D) "A ausência é um estar em mim. / E<br />

sinto-a, branca, tão pegada,<br />

aconchegada nos meus braços, / que<br />

rio e danço e invento exclamações<br />

alegres."<br />

E) "Penetra surdamente no reino das<br />

palavras. / Lá estão os poemas que<br />

esperam ser escritos."


Comentário<br />

Da mesma forma que no poema do<br />

enunciado, a palavra “que” retoma o sentido<br />

consecutivo na alternativa D, relacionando o<br />

fato de o eu lírico estar tão apegado à<br />

ausência QUE ri e dança, em devaneio,<br />

exaltando a alegria. A idéia remete a um<br />

raciocínio de causa e conseqüência: estar<br />

tão apegado a algo QUE outra coisa ocorre.<br />

Na alternativa A, “que” indica a introdução<br />

de uma oração subordinada objetiva direta,<br />

ou seja, que dá a idéia de um complemento<br />

do verbo SABER.<br />

Na alternativa B, “que” caracteriza a<br />

palavra “voz”, introduzindo uma oração<br />

subordinada adjetiva restritiva: “A voz QUE<br />

aprendeu”.<br />

Na alternativa C, “que” assume um<br />

caráter comparativo (mais que).<br />

Finalmente, na letra E, “que” retoma a<br />

questão restritiva ocorrida na alternativa B.<br />

Nesse caso, contudo, refere-se aos “poemas<br />

QUE esperam ser escritos”, ou seja, àqueles<br />

poemas, especificamente.<br />

20) (2007)<br />

Aqui na floresta<br />

Dos ventos batida,<br />

Façanhas de bravos<br />

Não geram escravos,<br />

Que estimem a vida<br />

Sem guerra e lidar.<br />

— Ouvi-me, Guerreiros,<br />

— Ouvi meu cantar.<br />

O canto do guerreiro<br />

Valente na guerra,<br />

Quem há, como eu sou?<br />

Quem vibra o tacape<br />

Com mais valentia?<br />

Quem golpes daria<br />

Fatais, como eu dou?<br />

— Guerreiros, ouvi-me;<br />

— Quem há, como eu sou?<br />

Gonçalves Dias.<br />

Macunaíma<br />

(Epílogo)<br />

Acabou-se a história e morreu a vitória.<br />

Não havia mais ninguém lá. Dera<br />

tangolomângolo na tribo Tapanhumas e<br />

os filhos dela se acabaram de um em um.<br />

Não havia mais ninguém lá. Aqueles<br />

lugares, aqueles campos, furos<br />

puxadouros arrastadouros meiosbarrancos,<br />

aqueles matos misteriosos,<br />

tudo era solidão do deserto... Um silêncio<br />

imenso dormia à beira do rio Uraricoera.<br />

Nenhum conhecido sobre a terra não<br />

sabia nem falar da tribo nem contar<br />

aqueles casos tão pançudos. Quem podia<br />

saber do Herói?<br />

Mário de Andrade.<br />

A leitura comparativa dos dois textos<br />

acima indica que<br />

A) ambos têm como tema a figura do<br />

indígena brasileiro apresentada de<br />

forma realista e heróica, como símbolo<br />

máximo do nacionalismo romântico.<br />

B) a abordagem da temática adotada no<br />

texto escrito em versos é<br />

discriminatória em relação aos povos<br />

indígenas do Brasil.<br />

C) as perguntas “— Quem há, como eu<br />

sou?” (1.º texto) e “Quem podia saber<br />

do Herói?” (2.º texto) expressam<br />

diferentes visões da realidade indígena<br />

brasileira.<br />

D) o texto romântico, assim como o<br />

modernista, aborda o extermínio dos<br />

povos indígenas como resultado do<br />

processo de colonização no Brasil.<br />

E) os versos em primeira pessoa revelam<br />

que os indígenas podiam expressar-se<br />

poeticamente, mas foram silenciados<br />

pela colonização, como demonstra a<br />

presença do narrador, no segundo<br />

texto.<br />

Comentário<br />

Questão de nível médio. Essa questão<br />

exige conhecimento prévio dos movimentos<br />

literários de cada autor. No primeiro, O canto<br />

do Guerreiro, de Gonçalves Dias, pertence<br />

ao Romantismo. Nesse período, a figura do<br />

índio aparece como protagonista, sempre<br />

idealizado e visto como um perfeito herói. Já<br />

no texto Macunaíma, de Mário de Andrade,<br />

levando em conta a característica do<br />

Modernismo, o índio também é protagonista,<br />

mas, por sua vez, há a predominância de um<br />

nacionalismo crítico e realista. Com base<br />

nessas considerações, consegue-se<br />

chegar à conclusão de que a alternativa C é<br />

a correta. Essa alternativa mostra que, por<br />

trás dos textos, há duas visões diferentes da<br />

realidade indígena brasileira, representadas<br />

pelas características dos dois diferentes<br />

estilos de época.<br />

21) (2003) Eu começaria dizendo que poesia<br />

é uma questão de linguagem. A<br />

importância do poeta é que ele torna mais<br />

viva a linguagem. Carlos Drummond de<br />

Andrade escreveu um dos mais belos<br />

versos da língua portuguesa com duas<br />

palavras comuns: cão e cheirando.<br />

Um cão cheirando o futuro<br />

(Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP, 24/05/1988.<br />

adaptação)<br />

O que deu ao verso de Drummond o<br />

caráter de inovador da língua foi<br />

A) o modo raro como foi tratado o<br />

"futuro".<br />

145


B) a referência ao cão como "animal de<br />

estimação".<br />

C) a flexão pouco comum do verbo<br />

"cheirar" (gerúndio).<br />

D) a aproximação não usual do agente<br />

citado e a ação de "cheirar".<br />

E) o emprego do artigo indefinido "um" e<br />

do artigo definido "o" na mesma frase.<br />

Comentário<br />

O fato de Drummond identificar o futuro<br />

como algo que pode ser percebido por um<br />

animal irracional por meio do olfato foi<br />

inovador. A figura de linguagem foi<br />

construída metaforicamente: o futuro torna-se<br />

uma coisa que tem cheiro, contrariamente à<br />

imagem pela qual ele normalmente é<br />

representado: como algo que não se vê e<br />

não se pode pressentir ou tocar.<br />

22) (2003) Epígrafe*<br />

Murmúrio de água na clepsidra**<br />

gotejante,<br />

Lentas gotas de som no relógio da torre,<br />

Fio de areia na ampulheta vigilante,<br />

Leve sombra azulando a pedra do<br />

quadrante***<br />

Assim se escoa a hora, assim se vive e<br />

morre...<br />

Homem, que fazes tu? Para que tanta<br />

lida,<br />

Tão doidas ambições, tanto ódio e tanta<br />

ameaça?<br />

Procuremos somente a Beleza, que a vida<br />

É um punhado infantil de areia<br />

ressequida,<br />

Um som de água ou de bronze e uma<br />

sombra que passa...<br />

(Eugênio de Castro. Antologia pessoal da poesia<br />

portuguesa)<br />

(*) Epígrafe: inscrição colocada no ponto<br />

mais alto; tema.<br />

(**) Clepsidra: relógio de água.<br />

(***) Pedra do quadrante: parte superior<br />

de um relógio de sol.<br />

A imagem contida em "lentas gotas de<br />

som" (verso 2) é retomada na segunda<br />

estrofe por meio da expressão:<br />

A) tanta ameaça.<br />

B) som de bronze.<br />

C) punhado de areia.<br />

D) sombra que passa.<br />

E) somente a Beleza.<br />

Comentário<br />

Numa clepsidra (relógio de água), o som<br />

do gotejamento lembra-nos o tic-tac de um<br />

relógio comum ou o som do sino que marca<br />

as horas no “relógio da torre” (verso 2,<br />

estrofe 1).<br />

Na segunda estrofe, o quinto verso<br />

refere-se a “Um som de água ou de<br />

bronze...” e nos remete, pelo “som de<br />

bronze”, ao som do sino que marca as horas<br />

no relógio da torre (os sinos normalmente<br />

eram feitos de bronze).<br />

23) (2003) Epígrafe*<br />

Murmúrio de água na clepsidra**<br />

gotejante,<br />

Lentas gotas de som no relógio da torre,<br />

Fio de areia na ampulheta vigilante,<br />

Leve sombra azulando a pedra do<br />

quadrante***<br />

Assim se escoa a hora, assim se vive e<br />

morre...<br />

Homem, que fazes tu? Para que tanta<br />

lida,<br />

Tão doidas ambições, tanto ódio e tanta<br />

ameaça?<br />

Procuremos somente a Beleza, que a vida<br />

É um punhado infantil de areia<br />

ressequida,<br />

Um som de água ou de bronze e uma<br />

sombra que passa...<br />

(Eugênio de Castro. Antologia pessoal da poesia<br />

portuguesa)<br />

(*) Epígrafe: inscrição colocada no ponto<br />

mais alto; tema.<br />

(**) Clepsidra: relógio de água.<br />

(***) Pedra do quadrante: parte superior<br />

de um relógio de sol.<br />

Neste poema, o que leva o poeta a<br />

questionar determinadas ações humanas<br />

(versos 6 e 7) é a<br />

A) infantilidade do ser humano.<br />

B) destruição da natureza.<br />

C) exaltação da violência.<br />

D) inutilidade do trabalho.<br />

E) brevidade da vida.<br />

Comentário<br />

A resposta desta questão está nos últimos<br />

versos (8 a <strong>10</strong>):<br />

“Procuremos somente a Beleza, que a<br />

vida<br />

É um punhado de areia ressequida,<br />

Um som de água ou de bronze e uma<br />

sombra que passa...”<br />

146


Neles, a vida aparece em relação ao<br />

tempo, que passa de forma rápida: “areia<br />

ressequida” (como nas ampulhetas), “som de<br />

água ou de bronze” (clepsidra ou sino da<br />

torre) e, mais que tudo, “uma sombra que<br />

passa...” (algo tênue e de curta duração).<br />

24) (2003) A velha Totonha de quando em<br />

vez batia no engenho. E era um<br />

acontecimento para a meninada. (...)<br />

andava léguas e léguas a pé, de engenho<br />

a engenho, como uma edição viva das<br />

histórias de Mil e Uma Noites (...) era uma<br />

grande artista para dramatizar. Tinha uma<br />

memória de prodígio. Recitava contos<br />

inteiros em versos, intercalando pedaços<br />

de prosa, como notas explicativas. (...)<br />

Havia sempre rei e rainha, nos seus<br />

contos, e forca e adivinhações. O que<br />

fazia a velha Totonha mais curiosa era a<br />

cor local que ela punha nos seus<br />

descritivos. (...) Os rios e as florestas por<br />

onde andavam os seus personagens se<br />

pareciam muito com o Paraíba e a Mata<br />

do Rolo. O seu Barba-Azul era um senhor<br />

de engenho de Pernambuco.<br />

(José Lins do Rego. Menino de engenho)<br />

A cor local que a personagem velha<br />

Totonha colocava em suas histórias é<br />

ilustrada, pelo autor, na seguinte<br />

passagem:<br />

A) "O seu Barba-Azul era um senhor de<br />

engenho de Pernambuco".<br />

B) "Havia sempre rei e rainha, nos seus<br />

contos, e forca e adivinhações".<br />

C) "Era uma grande artista para<br />

dramatizar. Tinha uma memória de<br />

prodígio".<br />

D) "Andava léguas e léguas a pé, como<br />

uma edição viva das Mil e Uma Noites".<br />

E) "Recitava contos inteiros em versos,<br />

intercalando pedaços de prosa, como<br />

notas explicativas".<br />

Comentário<br />

Por ser escritor da 2.ª Geração<br />

Modernista, José Lins do Rego ilustra, de<br />

forma evidente, o regionalismo — marca<br />

característica desse momento literário.<br />

Portanto, para localizar a “cor local”<br />

presente no texto, basta procurar a<br />

associação regionalista, que é retratada de<br />

forma explícita pela passagem “senhor de<br />

engenho de Pernambuco.”<br />

A questão não abre espaço para dúvidas.<br />

25) (2003) Pequenos tormentos da vida<br />

De cada lado da sala de aula, pelas janelas<br />

altas, o azul convida os meninos,<br />

as nuvens desenrolam-se, lentas como quem<br />

vai inventando<br />

preguiçosamente uma história sem fim...Sem<br />

fim é a aula: e nada acontece,<br />

nada...Bocejos e moscas. Se ao menos,<br />

pensa Margarida, se ao menos um<br />

avião entrasse por uma janela e saísse por<br />

outra!<br />

(Mário Quintana. Poesias)<br />

Na cena retratada no texto, o sentimento<br />

do tédio<br />

A) provoca que os meninos fiquem<br />

contando histórias.<br />

B) leva os alunos a simularem bocejos,<br />

em protesto contra a monotonia da<br />

aula.<br />

C) acaba estimulando a fantasia,<br />

criando a expectativa de algum<br />

imprevisto mágico.<br />

D) prevalece de modo absoluto,<br />

impedindo até mesmo a distração ou o<br />

exercício do pensamento.<br />

E) decorre da morosidade da aula, em<br />

contraste com o movimento acelerado<br />

das nuvens e das moscas.<br />

Comentário<br />

Essa questão aborda o imaginário<br />

decorrente do marasmo trazido pela escola.<br />

O texto enfatiza o arrastar do tempo na<br />

mente de uma aluna, Margarida, que se põe<br />

a pensar em fatos mágicos ou imaginários<br />

que pudessem romper com a lentidão da<br />

aula.<br />

26) (1998) Amor é fogo que arde sem ver;<br />

é ferida que dói e não se sente;<br />

é um contentamento descontente;<br />

é dor que desatina sem doer.<br />

É um não querer mais que bem querer;<br />

é solitário andar por entre a gente;<br />

é nunca contentar-se de contente;<br />

é cuidar que se ganha em se perder.<br />

É querer estar preso por vontade;<br />

é servir a quem vence, o vencedor;<br />

é ter com quem nos mata lealdade.<br />

Mas como causar pode seu favor<br />

nos corações humanos amizade<br />

se tão contrário a si é o mesmo Amor?<br />

(Luís de Camões. In: Obras Completas de Camões, Lisboa,<br />

Livraria Sá da Costa, Vol. 1, 1954, p.232)<br />

O poema tem, como característica, a<br />

figura de linguagem denominada antítese,<br />

relação de oposição de palavras ou idéias.<br />

147


Assinale a opção em que essa oposição<br />

se faz claramente presente.<br />

A) "Amor é fogo que arde sem se ver."<br />

B) "É um contentamento descontente."<br />

C) "É servir a quem se vence, o<br />

vencedor."<br />

D) "Mas como causar pode seu favor."<br />

E) "Se tão contrário a si é o mesmo<br />

Amor?"<br />

Comentário<br />

A antítese é uma figura de linguagem que<br />

se caracteriza por colocar, lado a lado,<br />

imagens opostas que se contradizem. De<br />

todas as alternativas, a única que traz<br />

claramente uma contradição é a B, pois<br />

como pode existir um contentamento<br />

descontente?<br />

27) (1998) Amor é fogo que arde sem ver;<br />

é ferida que dói e não se sente;<br />

é um contentamento descontente;<br />

é dor que desatina sem doer.<br />

É um não querer mais que bem querer;<br />

é solitário andar por entre a gente;<br />

é nunca contentar-se de contente;<br />

é cuidar que se ganha em se perder.<br />

É querer estar preso por vontade;<br />

é servir a quem vence, o vencedor;<br />

é ter com quem nos mata lealdade.<br />

Mas como causar pode seu favor<br />

nos corações humanos amizade<br />

se tão contrário a si é o mesmo Amor?<br />

(Luís de Camões. In: Obras Completas de Camões, Lisboa,<br />

Livraria Sá da Costa, Vol. 1, 1954, p.232)<br />

O poema pode ser considerado como um<br />

texto:<br />

A) argumentativo.<br />

B) narrativo.<br />

C) épico.<br />

D) de propaganda.<br />

E) teatral.<br />

Comentário<br />

Podemos considerar esse texto como<br />

argumentativo, pois ele vai embasando a sua<br />

idéia sobre o que é o amor. O texto narrativo<br />

conta uma história, assim como o épico, que<br />

conta histórias de caráter heróico. Camões,<br />

nesse texto, não está preocupado em fazer<br />

propaganda do amor, mas, sim, em<br />

compreendê-lo. E, para terminar, esse texto<br />

não foi feito para ser encenado em palco<br />

como um texto teatral.<br />

28) (2001) O trecho a seguir é parte do<br />

poema “Mocidade e morte”, do poeta<br />

romântico Castro Alves:<br />

Oh! eu quero viver, beber perfumes<br />

Na flor silvestre, que embalsama os ares;<br />

Ver minh'alma adejar pelo infinito,<br />

Qual branca vela n'amplidão dos mares.<br />

No seio da mulher há tanto aroma...<br />

Nos seus beijos de fogo há tanta vida...<br />

– Árabe errante, vou dormir à tarde<br />

À sombra fresca da palmeira erguida.<br />

Mas uma voz responde-me sombria:<br />

Terás o sono sob a lájea fria.<br />

ALVES, Castro. Os melhores poemas de Castro Alves.<br />

Seleção de Lêdo Ivo. São Paulo: Global, 1983.<br />

Esse poema, como o próprio título sugere,<br />

aborda o inconformismo do poeta com a<br />

antevisão da morte prematura, ainda na<br />

juventude.<br />

A imagem da morte aparece na palavra<br />

A) embalsama. D) dormir.<br />

B) infinito. E) sono.<br />

C) amplidão.<br />

Comentário<br />

No último verso, temos a expressão "sono<br />

sob a lájea fria". Dormir sob uma lájea fria? O<br />

trecho indica sepulcro. Portanto, nesse caso,<br />

sono = morte.<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão apresenta, para a leitura,<br />

uma parte do poema "Mocidade e morte", do<br />

poeta romântico Castro Alves. Nesse trecho,<br />

o poeta aborda o inconformismo com a<br />

antevisão da morte prematura. O problema<br />

apresenta-se sob a forma de identificação de<br />

uma palavra no trecho que represente a idéia<br />

de morte. Na primeira estrofe, há uma<br />

apologia à vida, contrastando com a segunda<br />

estrofe, em que se anuncia a morte, idéia<br />

introduzida pela conjunção mas, um divisor<br />

entre as estrofes. A compreensão dos<br />

elementos intratextuais e formais faz com<br />

que a identificação da imagem ocorra na<br />

segunda estrofe. As palavras indicadas nas<br />

alternativas, descontextualizadas, podem<br />

sugerir a idéia de morte como interpretação,<br />

mas não se sustentam na representação do<br />

poema. A leitura global do texto, seguida por<br />

uma compreensão das relações entre as<br />

imagens propostas, é a chave para a<br />

resposta correta, assinalada por 62% dos<br />

participantes.<br />

148


29) (2008)<br />

Exame, 28/9/2007.<br />

Entre os seguintes ditos populares, qual<br />

deles melhor corresponde à figura<br />

acima?<br />

A) Com perseverança, tudo se alcança.<br />

B) Cada macaco no seu galho.<br />

C) Nem tudo que balança cai.<br />

D) Quem tudo quer, tudo perde.<br />

E) Deus ajuda quem cedo madruga.<br />

Comentário<br />

Assim como a questão 37, esta também<br />

envolve interpretação de signos, ou seja, o<br />

aluno precisa estar atento à imagem e<br />

relacioná-la ao dito popular correspondente.<br />

A alternativa "A" é a correta, pois, para<br />

uma lesma “grudenta” e vagarosa conseguir<br />

pular numa cama elástica, é necessária<br />

muita perseverança.<br />

30) (2001) No trecho abaixo, o narrador, ao<br />

descrever a personagem, critica<br />

sutilmente um outro estilo de época: o<br />

romantismo.<br />

“Naquele tempo contava apenas uns<br />

quinze ou dezesseis anos; era talvez a<br />

mais atrevida criatura da nossa raça, e,<br />

com certeza, a mais voluntariosa. Não<br />

digo que já lhe coubesse a primazia da<br />

beleza, entre as mocinhas do tempo,<br />

porque isto não é romance, em que o<br />

autor sobredoura a realidade e fecha os<br />

olhos às sardas e espinhas; mas também<br />

não digo que lhe maculasse o rosto<br />

nenhuma sarda ou espinha, não. Era<br />

bonita, fresca, saía das mãos da natureza,<br />

cheia daquele feitiço, precário e eterno,<br />

que o indivíduo passa a outro indivíduo,<br />

para os fins secretos da criação.”<br />

ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de<br />

Brás Cubas. Rio de Janeiro: Jackson,1957.<br />

A frase do texto em que se percebe a<br />

crítica do narrador ao romantismo está<br />

transcrita na alternativa:<br />

A) ... o autor sobredoura a realidade e<br />

fecha os olhos às sardas e espinhas ...<br />

B) ... era talvez a mais atrevida criatura da<br />

nossa raça ...<br />

C) Era bonita, fresca, saía das mãos da<br />

natureza, cheia daquele feitiço,<br />

precário e eterno, ...<br />

D) Naquele tempo contava apenas uns<br />

quinze ou dezesseis anos ...<br />

E) ... o indivíduo passa a outro indivíduo,<br />

para os fins secretos da criação.<br />

Comentário<br />

Questão muito fácil que pode ser<br />

respondida com a simples leitura do texto.<br />

Machado de Assis critica a supervalorização<br />

e idealização das personagens do<br />

Romantismo. Tal crítica fica clara na<br />

alternativa A.<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão apresenta para leitura e<br />

análise um trecho de Memórias de Brás<br />

Cubas, de Machado de Assis. Nesse texto, o<br />

narrador realiza um comentário sobre o<br />

"romance romântico", criticando uma de suas<br />

características. O problema proposto trata<br />

da identificação dessa passagem no texto. O<br />

participante deve reconhecer no texto as<br />

características do "romance romântico" e<br />

associá-la à crítica do narrador. As<br />

alternativas propõem passagens que podem<br />

ser associadas ao romantismo em contexto<br />

extratextual, sendo que, em apenas uma<br />

delas, há a relação entre contexto/texto. Mais<br />

da metade (54%) dos participantes identificou<br />

corretamente a passagem no texto.<br />

31) (1999) Leia o que disse João Cabral de<br />

Melo Neto, poeta pernambucano, sobre a<br />

função de seus textos:<br />

"Falo somente com o que falo: a<br />

linguagem enxuta, contato denso; falo<br />

somente do que falo: a vida seca, áspera<br />

e clara do sertão; falo somente por quem<br />

falo: o homem sertanejo sobrevivendo na<br />

adversidade e na míngua. Falo somente<br />

para quem falo: para os que precisam ser<br />

alertados para a situação da miséria no<br />

Nordeste."<br />

Para João Cabral de Melo Neto, no texto<br />

literário:<br />

A) a linguagem do texto deve refletir o<br />

tema, e a fala do autor deve denunciar<br />

o fato social para determinados<br />

leitores.<br />

149


150<br />

B) a linguagem do texto não deve ter<br />

relação com o tema, e o autor deve ser<br />

imparcial para que seu texto seja lido.<br />

C) o escritor deve saber separar a<br />

linguagem do tema e a perspectiva<br />

pessoal da perspectiva do leitor.<br />

D) a linguagem pode ser separada do<br />

tema, e o escritor deve ser o delator do<br />

fato social para todos os leitores.<br />

E) a linguagem está além do tema, e o<br />

fato social deve ser a proposta do<br />

escritor para convencer o leitor.<br />

Comentário<br />

João Cabral mostrou, no comentário, que<br />

seus textos são transparentes na relação<br />

linguagem—tema. Ele não gosta de usar<br />

subterfúgios para passar sua mensagem<br />

("Falo somente com o que falo"), de desviarse<br />

do tema para assuntos que geralmente<br />

não fazem parte de seu interesse ("falo<br />

somente do que falo"), de fazer de si mesmo<br />

ou de seus personagens porta-vozes de<br />

outras pessoas ou classes sociais ("falo<br />

somente por quem falo") ou de dirigir-se a<br />

públicos que pouco proveito poderiam tirar de<br />

seus escritos ("falo somente para quem<br />

falo"). Essa ligação direta de tema e<br />

linguagem, somada à proposta de falar<br />

somente para quem se deve ou quer falar,<br />

justifica a resposta, sendo correta a<br />

alternativa A. Questão de nível médio.<br />

Comentário do INEP<br />

Para resolver essa questão, o participante<br />

deveria ser capaz de estabelecer a relação<br />

entre a linguagem, o tema e o interlocutor da<br />

escrita do autor, a partir das razões<br />

explicitadas no seu texto. Essas razões<br />

foram corretamente identificadas por mais da<br />

metade dos participantes.<br />

32) (2000) Em muitos jornais, encontramos<br />

charges, quadrinhos, ilustrações,<br />

inspirados nos fatos noticiados. Veja um<br />

exemplo:<br />

Jornal do Commercio , 22/8/93<br />

O texto que se refere a uma situação<br />

semelhante à que inspirou a charge é:<br />

A) Descansem o meu leito solitário<br />

Na floresta dos homens esquecida,<br />

À sombra de uma cruz, e escrevam nela<br />

– Foi poeta – sonhou – e amou na vida.<br />

(AZEVEDO, Álvares de . Poesias escolhidas . Rio de<br />

Janeiro/Brasília: José Aguilar/INL,1971)<br />

B) Essa cova em que estás<br />

Com palmos medida,<br />

é a conta menor<br />

que tiraste em vida.<br />

É de bom tamanho,<br />

Nem largo nem fundo,<br />

É a parte que te cabe<br />

deste latifúndio.<br />

(MELO NETO, João Cabral de. Morte e Vida Severina e<br />

outros poemas em voz alta . Rio de Janeiro: Sabiá, 1967)<br />

C) Medir é a medida<br />

mede<br />

A terra, medo do homem, a lavra;<br />

lavra<br />

duro campo, muito cerco, vária várzea.<br />

(CHAMIE, Mário. Sábado na hora da escutas. São<br />

Paulo: Summums, 1978)<br />

D) Vou contar para vocês<br />

um caso que sucedeu<br />

na Paraíba do Norte<br />

com um homem que se chamava<br />

Pedro João Boa-Morte,<br />

lavrador de Chapadinha:<br />

talvez tenha morte boa<br />

porque vida ele não tinha.<br />

(GULLAR, Ferreira. Toda poesia . Rio de Janeiro:<br />

Civilização Brasileira, 1983)<br />

E) Trago-te flores, – restos arrancados<br />

Da terra que nos viu passar<br />

E ora mortos nos deixa e separados.<br />

(ASSIS, Machado de. Obra completa . Rio de Janeiro:<br />

Nova Aguillar, 1986)<br />

Comentário<br />

Esta questão exige boa dose de reflexão.<br />

Antes de tudo, há que se notar que o título<br />

"Demarcação das terras indígenas" está<br />

ligado ironicamente à figura das covas<br />

comuns, anônimas (covas são as terras dos<br />

índios?). Procuramos, então, o trecho de<br />

poema que sirva como legenda à figura<br />

apresentada, mantendo também a ironia da<br />

relação. As alternativas a e e se descartam<br />

pelo lirismo romântico presente e, ainda<br />

mais, pela presença, na a, de elementos que<br />

não estão no universo conceitual indígena<br />

(cruz, poeta). A alternativa c não nos serve<br />

por estar tratando da dureza do trabalho com<br />

a terra, o que não é o tema da charge. Já a d<br />

não é adequada por estar introduzindo a<br />

discussão de fatos ocorridos na vida de um


único homem, provavelmente não-índio (até<br />

pelo nome João Boa-Morte). Fica-nos a<br />

alternativa b, que bem poderia servir de<br />

legenda à charge; se pensarmos nos<br />

sangrentos conflitos entre brancos e índios<br />

pela ocupação das terras indígenas<br />

demarcadas, nos quais os índios geralmente<br />

levam a pior, então nos servem bem os<br />

versos que apresenta.<br />

Comentário do INEP<br />

O alto índice de acerto (72 %) revelou a<br />

capacidade dos participantes de não só<br />

contextualizar o problema em foco mas<br />

também de estabelecer relações de sentido<br />

entre diferentes linguagens, ou seja, de lidar<br />

com a intertextualidade. As relações<br />

incorretas que foram estabelecidas,<br />

possivelmente, são devidas mais à falta de<br />

capacidade de contextualização do que de<br />

estabelecimento de relações temáticas.<br />

33) (2002) A leitura do poema Descrição da<br />

guerra em Guernica traz à lembrança o<br />

famoso quadro de Picasso.<br />

Entra pela janela<br />

o anjo camponês;<br />

com a terceira luz na mão;<br />

minucioso, habituado<br />

aos interiores de cereal,<br />

aos utensílios que dormem na fuligem;<br />

os seus olhos rurais<br />

não compreendem bem os símbolos<br />

desta colheita: hélices,<br />

motores furiosos;<br />

e estende mais o braço; planta<br />

no ar, como uma árvore<br />

a chama do candeeiro.<br />

(...)<br />

Carlos de Oliveira in ANDRADE, Eugénio. Antologia<br />

Pessoal da Poesia Portuguesa. Porto: Campo das<br />

Letras, 1999.<br />

Uma análise cuidadosa do quadro permite<br />

que se identifiquem as cenas referidas<br />

nos trechos do poema.<br />

A) a1, a2, a3 D) c1, c2, c3<br />

B) f1, e1, d1 E) e1, e2, e3<br />

C) e1, d1, c1<br />

Comentário<br />

Questão de nível médio. O que precisava<br />

ser feito era encontrar figuras do poema<br />

dentro do quadro. O que se descreve nos<br />

versos 1 e 2 (o anjo camponês que entra<br />

pela janela) está no quadrante e1 (ver a<br />

janela). Nos três últimos versos, há mais<br />

duas imagens: estende mais o braço — d1;<br />

chama do candeeiro — c1.<br />

Comentário do INEP<br />

O trecho do poema "Descrição da guerra<br />

em Guernica", transcrito na prova, cria para o<br />

participante uma interessante relação<br />

intertextual: o poeta Carlos de Oliveira<br />

propõe uma leitura interpretativa do<br />

conhecido quadro de Pablo Picasso. Além do<br />

poema, o quadro de Picasso foi também<br />

reproduzido na questão, de modo a permitir<br />

que o aluno tivesse condições de "ler" essa<br />

obra de arte e nela reconhecer as referências<br />

criadas pelo texto de Carlos de Oliveira. Os<br />

primeiros versos do poema fazem referência<br />

à entrada de um "anjo camponês" pela<br />

janela. No quadro, essa imagem pode ser<br />

identificada no quadro e1. Mais adiante, os<br />

versos aludem a um braço estendido que<br />

"planta/ no ar.../ a chama do candeeiro". Para<br />

compreender a metáfora criada, o<br />

participante deveria perceber, em primeiro<br />

lugar, que o braço estendido seria do anjo<br />

camponês, identificado no quadro e1. Esse<br />

reconhecimento daria a chave de resposta da<br />

questão, porque permitiria que a imagem da<br />

entrada do anjo com o braço estendido<br />

portando um candeeiro fosse associada aos<br />

quadros e1, d1, c1 , contidos na alternativa<br />

C, assinalada por cerca de metade dos<br />

participantes.<br />

Podem ser relacionadas ao texto lido as<br />

partes:<br />

151


34) (2008) São Paulo vai se recensear. O<br />

governo quer saber quantas pessoas<br />

governa. A indagação atingirá a fauna e a<br />

flora domesticadas. Bois, mulheres e<br />

algodoeiros serão reduzidos a números e<br />

invertidos em estatísticas. O homem do<br />

censo entrará pelos bangalôs, pelas<br />

pensões, pelas casas de barro e de<br />

cimento armado, pelo sobradinho e pelo<br />

apartamento, pelo cortiço e pelo hotel,<br />

perguntando:<br />

— Quantos são aqui?<br />

Pergunta triste, de resto. Um homem dirá:<br />

— Aqui havia mulheres e criancinhas.<br />

Agora, felizmente, só há pulgas e ratos.<br />

E outro:<br />

— Amigo, tenho aqui esta mulher, este<br />

papagaio, esta sogra e algumas baratas.<br />

Tome nota dos seus nomes, se quiser.<br />

Querendo levar todos, é favor... (...)<br />

E outro:<br />

— Dois, cidadão, somos dois.<br />

Naturalmente o sr. não a vê. Mas ela está<br />

aqui, está, está! A sua saudade jamais<br />

sairá de meu quarto e de meu peito!<br />

Rubem Braga. Para gostar de ler. v. 3.<br />

São Paulo: Ática, 1998, p. 32-3 (fragmento).<br />

O fragmento acima, em que há referência<br />

a um fato sócio-histórico — o<br />

recenseamento —, apresenta<br />

característica marcante do gênero crônica<br />

ao<br />

A) expressar o tema de forma abstrata,<br />

evocando imagens e buscando<br />

apresentar a idéia de uma coisa por<br />

meio de outra.<br />

B) manter-se fiel aos acontecimentos,<br />

retratando os personagens em um só<br />

tempo e um só espaço.<br />

C) contar história centrada na solução de<br />

um enigma, construindo os<br />

personagens psicologicamente e<br />

revelando-os pouco a pouco.<br />

D) evocar, de maneira satírica, a vida na<br />

cidade, visando transmitir<br />

ensinamentos práticos do cotidiano,<br />

para manter as pessoas informadas.<br />

E) valer-se de tema do cotidiano como<br />

ponto de partida para a construção de<br />

texto que recebe tratamento estético.<br />

Comentário<br />

A questão correta é a E, pois a crônica<br />

utiliza a linguagem estética ou poética para<br />

expor temas do cotidiano. Há uma<br />

preocupação com a escolha das palavras<br />

que são rebuscadas e ritmadas, ou seja, a<br />

função da linguagem é poética.<br />

35) (1999) Quem não passou pela<br />

experiência de estar lendo um texto e<br />

defrontar-se com passagens já lidas em<br />

outros? Os textos conversam entre si em<br />

um diálogo constante. Esse fenômeno tem<br />

a denominação de intertextualidade. Leia<br />

os seguintes textos:<br />

I. Quando nasci, um anjo torto<br />

Desses que vivem na sombra<br />

Disse: Vai Carlos! Ser "gauche" na vida<br />

(Andrade, Carlos Drummond de. Alguma poesia.<br />

Rio de Janeiro: Aguilar, 1964)<br />

II. Quando nasci veio um anjo safado<br />

O chato dum querubim<br />

E decretou que eu tava predestinado<br />

A ser errado assim<br />

Já de saída a minha estrada entortou<br />

Mas vou até o fim.<br />

(BUARQUE, Chico. Letra e Música. São Paulo: Cia.<br />

das Letras, 1989)<br />

III. Quando nasci um anjo esbelto<br />

Desses que tocam trombeta, anunciou:<br />

Vai carregar bandeira.<br />

Carga muito pesada pra mulher<br />

Esta espécie ainda envergonhada<br />

(PRADO, Adélia. Bagagem. Rio de Janeiro:<br />

Guanabara, 1986)<br />

Adélia Prado e Chico Buarque<br />

estabelecem intertextualidade, em relação<br />

a Carlos Drummond de Andrade, por:<br />

A) reiteração de imagens.<br />

B) oposição de idéias.<br />

C) falta de criatividade.<br />

D) negação dos versos.<br />

E) ausência de recursos.<br />

Comentário<br />

Outra questão com resposta evidente. A<br />

recorrência à imagem do "anjo anunciador" e<br />

dos caminhos que se tornam sempre difíceis<br />

e tortuosos (gauche = acanhado, inepto),<br />

feita pelos três autores, elimina qualquer<br />

sombra de dúvida em relação às outras<br />

respostas. Questão de nível fácil.<br />

Comentário do INEP<br />

Para a resolução desse problema, era<br />

requerido que o participante soubesse<br />

identificar os elementos de intertextualidade<br />

entre três trechos de textos de diferentes<br />

autores.<br />

As duas primeiras alternativas,<br />

amplamente majoritárias, revelam<br />

possivelmente duas distintas percepções da<br />

questão. A alternativa correta A foi escolhida<br />

pelos que perceberam a ostensiva reiteração<br />

de imagens (repetição da imagem do anjo<br />

152


que vaticina). A alternativa B, incorreta, pode<br />

ter atraído muitos participantes à medida que<br />

tenham, talvez, identificado uma oposição de<br />

idéias, não entre os textos, mas entre a<br />

imagem usualmente positiva de anjo e uma<br />

certa adjetivação pejorativa utilizada em<br />

relação aos mesmos.<br />

36) (2005) Leia estes textos.<br />

Texto 1<br />

Comentário<br />

Enquanto o primeiro texto é ácido em<br />

relação à possibilidade de desarmamento da<br />

população (ou seja, à criação de uma<br />

sociedade mais pacífica), o segundo mostra<br />

a capacidade que a humanidade tem de crer<br />

e, por isso, tentar fazer até o que a princípio<br />

parece impossível. Para os autores da<br />

canção, nada é intrinsecamente impossível.<br />

A relação entre eles é de oposição:<br />

descrença x crença. Questão de nível de<br />

dificuldade médio.<br />

Texto 2<br />

Sonhar<br />

Mais um sonho impossível<br />

Lutar<br />

Quando é fácil ceder<br />

Vencer o inimigo invencível<br />

Negar quando a regra é vender<br />

Sofrer a tortura implacável<br />

Romper a incabível prisão<br />

Voar num limite improvável<br />

Tocar o inacessível chão<br />

É minha lei, é minha questão<br />

Virar esse mundo<br />

Cravar esse chão<br />

Não me importa saber<br />

Se é terrível demais<br />

Quantas guerras terei que vencer<br />

Por um pouco de paz<br />

E amanhã se esse chão que eu beijei<br />

For meu leito e perdão<br />

Vou saber que valeu delirar<br />

E morrer de paixão<br />

E assim, seja lá como for<br />

Vai ter fim a infinita aflição<br />

E o mundo vai ver uma flor<br />

Brotar do impossível chão.<br />

(J. Darione – M. Leigh – Versão de Chico Buarque de<br />

Hollanda e Ruy Guerra, 1972.)<br />

A tirinha e a canção apresentam uma<br />

reflexão sobre o futuro da humanidade. É<br />

correto concluir que os dois textos<br />

A) afirmam que o homem é capaz de<br />

alcançar a paz.<br />

B) concordam que o desarmamento é<br />

inatingível.<br />

C) julgam que o sonho é um desafio<br />

invencível.<br />

D) têm visões diferentes sobre um<br />

possível mundo melhor.<br />

E) transmitem uma mensagem de<br />

otimismo sobre a paz.<br />

37) (2005) Leia estes poemas.<br />

Texto 1 - Auto-retrato<br />

Provinciano que nunca soube<br />

Escolher bem uma gravata;<br />

Pernambucano a quem repugna<br />

A faca do pernambucano;<br />

Poeta ruim que na arte da prosa<br />

Envelheceu na infância da arte,<br />

E até mesmo escrevendo crônicas<br />

Ficou cronista de província;<br />

Arquiteto falhado, músico<br />

Falhado (engoliu um dia<br />

Um piano, mas o teclado<br />

Ficou de fora); sem família,<br />

Religião ou filosofia;<br />

Mal tendo a inquietação de espírito<br />

Que vem do sobrenatural,<br />

E em matéria de profissão<br />

Um tísico* profissional.<br />

(Manuel Bandeira. Poesia completa e prosa. Rio de<br />

Janeiro: Aguilar, 1983. p. 395.)<br />

Texto 2 - Poema de sete faces<br />

Quando eu nasci, um anjo torto<br />

desses que vivem na sombra<br />

disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.<br />

As casas espiam os homens<br />

que correm atrás de mulheres.<br />

A tarde talvez fosse azul,<br />

não houvesse tantos desejos.<br />

(....)<br />

Meu Deus, por que me abandonaste<br />

se sabias que eu não era Deus<br />

se sabias que eu era fraco.<br />

Mundo mundo vasto mundo,<br />

se eu me chamasse Raimundo<br />

seria uma rima, não seria uma solução.<br />

Mundo mundo vasto mundo<br />

mais vasto é o meu coração.<br />

(Carlos Drummond de Andrade.<br />

Obra completa. Rio de Janeiro:<br />

Aguilar, 1964. p. 53.)<br />

(*) tísico=tuberculoso<br />

153


Esses poemas têm em comum o fato de<br />

A) descreverem aspectos físicos dos<br />

próprios autores.<br />

B) refletirem um sentimento pessimista.<br />

C) terem a doença como tema.<br />

D) narrarem a vida dos autores desde o<br />

nascimento.<br />

E) defenderem crenças religiosas.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. Tanto o poema de<br />

Manuel Bandeira quanto o de Carlos<br />

Drummond de Andrade evidenciam, dentro<br />

do ponto de vista dos autores, características<br />

extremamente pessimistas em relação à vida<br />

e, conseqüentemente, à arte.<br />

38) (2003) A velha Totonha de quando em<br />

vez batia no engenho. E era um<br />

acontecimento para a meninada. (...)<br />

andava léguas e léguas a pé, de engenho<br />

a engenho, como uma edição viva das<br />

histórias de Mil e Uma Noites (...) era uma<br />

grande artista para dramatizar. Tinha uma<br />

memória de prodígio. Recitava contos<br />

inteiros em versos, intercalando pedaços<br />

de prosa, como notas explicativas. (...)<br />

Havia sempre rei e rainha, nos seus<br />

contos, e forca e adivinhações. O que<br />

fazia a velha Totonha mais curiosa era a<br />

cor local que ela punha nos seus<br />

descritivos. (...) Os rios e as florestas por<br />

onde andavam os seus personagens se<br />

pareciam muito com o Paraíba e a Mata<br />

do Rolo. O seu Barba-Azul era um senhor<br />

de engenho de Pernambuco.<br />

José Lins do Rego. Menino de Engenho. Rio de Janeiro:<br />

José Olympio, 1980, p. 49-51 (com adaptações).<br />

Na construção da personagem “velha<br />

Totonha”, é possível identificar traços que<br />

revelam marcas do processo de<br />

colonização e de civilização do país.<br />

Considerando o texto acima, infere-se que<br />

a velha Totonha<br />

A) tira o seu sustento da produção da<br />

literatura, apesar de suas condições de<br />

vida e de trabalho, que denotam que<br />

ela enfrenta situação econômica muito<br />

adversa.<br />

B) compõe, em suas histórias, narrativas<br />

épicas e realistas da história do país<br />

colonizado, livres da influência de<br />

temas e modelos não representativos<br />

da realidade nacional.<br />

C) retrata, na constituição do espaço dos<br />

contos, a civilização urbana européia<br />

em concomitância com a<br />

representação literária de engenhos,<br />

rios e florestas do Brasil.<br />

D) aproxima-se, ao incluir elementos<br />

fabulosos nos contos, do próprio<br />

romancista, o qual pretende retratar a<br />

realidade brasileira de forma tão<br />

grandiosa quanto a européia.<br />

E) imprime marcas da realidade local a<br />

suas narrativas, que têm como modelo<br />

e origem as fontes da literatura e da<br />

cultura européia universalizada.<br />

Comentário<br />

Esta questão exige conhecimentos de<br />

literatura universal. O aluno precisa saber<br />

que Barba-Azul é um personagem da cultura<br />

européia. Nas histórias de Totonha, ele é<br />

representado como um senhor de engenho<br />

de Pernambuco. Percebe-se aí a forte<br />

influência da colonização européia na<br />

realidade local. Logo, a alternativa correta é a<br />

letra "E".<br />

39) (2005) Leia estes poemas.<br />

Texto 1 - Auto-retrato<br />

Provinciano que nunca soube<br />

Escolher bem uma gravata;<br />

Pernambucano a quem repugna<br />

A faca do pernambucano;<br />

Poeta ruim que na arte da prosa<br />

Envelheceu na infância da arte,<br />

E até mesmo escrevendo crônicas<br />

Ficou cronista de província;<br />

Arquiteto falhado, músico<br />

Falhado (engoliu um dia<br />

Um piano, mas o teclado<br />

Ficou de fora); sem família,<br />

Religião ou filosofia;<br />

Mal tendo a inquietação de espírito<br />

Que vem do sobrenatural,<br />

E em matéria de profissão<br />

Um tísico* profissional.<br />

(Manuel Bandeira. Poesia completa e prosa. Rio de<br />

Janeiro: Aguilar, 1983. p. 395.)<br />

Texto 2 - Poema de sete faces<br />

Quando eu nasci, um anjo torto<br />

desses que vivem na sombra<br />

disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.<br />

As casas espiam os homens<br />

que correm atrás de mulheres.<br />

A tarde talvez fosse azul,<br />

não houvesse tantos desejos.<br />

(....)<br />

Meu Deus, por que me abandonaste<br />

se sabias que eu não era Deus<br />

se sabias que eu era fraco.<br />

Mundo mundo vasto mundo,<br />

154


se eu me chamasse Raimundo<br />

seria uma rima, não seria uma solução.<br />

Mundo mundo vasto mundo<br />

mais vasto é o meu coração.<br />

(Carlos Drummond de Andrade.<br />

Obra completa. Rio de Janeiro:<br />

Aguilar, 1964. p. 53.)<br />

(*) tísico=tuberculoso<br />

No verso “Meu Deus, por que me<br />

abandonaste” do texto 2, Drummond<br />

retoma as palavras de Cristo, na cruz,<br />

pouco antes de morrer. Esse recurso de<br />

repetir palavras de outrem equivale a<br />

A) emprego de termos moralizantes.<br />

B) uso de vício de linguagem pouco<br />

tolerado.<br />

C) repetição desnecessária de idéias.<br />

D) emprego estilístico da fala de outra<br />

pessoa.<br />

E) uso de uma pergunta sem resposta.<br />

Comentário<br />

A citação, característica de intercambiar<br />

pensamentos de um texto para outro, fica<br />

bastante evidente no poema de Drummond.<br />

Ao retomar as palavras de Cristo, o autor<br />

deixa claro que sua idéia era transmitir uma<br />

mensagem por meio de palavras já<br />

proferidas por outra pessoa e cuja<br />

importância dá sentido a toda a estrofe.<br />

Comentário<br />

Questão reflexiva sobre a forma como<br />

cada cultura vê o mundo sob a ótica dos<br />

limites dados pelos seus costumes e<br />

possibilidades de pensamento inerentes a<br />

cada modelo cultural. A mistura de uma tira e<br />

de um poema amplia a possibilidade de<br />

pensamento por trabalhar com linguagens<br />

diferentes. A alternativa correta é a letra A,<br />

pois ambos (tira e poema) utilizam figuras de<br />

linguagem (metáfora e ironia) para expressar<br />

as diferentes visões de mundo.<br />

41) (2000) As histórias em quadrinhos, por<br />

vezes, utilizam animais como<br />

personagens e a eles atribuem<br />

comportamento humano. O gato Garfield<br />

é exemplo desse fato.<br />

Fonte: Caderno Vida e Arte, Jornal do Povo, Fortaleza<br />

Van Gogh, pintor holandês nascido em<br />

1853, é um dos principais nomes da<br />

pintura mundial. É dele o quadro abaixo.<br />

40) (2004)<br />

Auto-retrato de orelha cortada<br />

A tira "Hagar" e o poema de Alberto<br />

Caeiro (um dos heterônimos de Fernando<br />

Pessoa) expressam, com linguagens<br />

diferentes, uma mesma idéia: a de que a<br />

compreensão que temos do mundo é<br />

condicionada, essencialmente,<br />

A) pelo alcance de cada cultura.<br />

B) pela capacidade visual do observador.<br />

C) pelo senso de humor de cada um.<br />

D) pela idade do observador.<br />

E) pela altura do ponto de observação.<br />

O 3º quadrinho sugere que Garfield:<br />

A) desconhece tudo sobre arte, por isso<br />

faz a sugestão.<br />

B) acredita que todo pintor deve fazer algo<br />

diferente.<br />

C) defende que para ser pintor a pessoa<br />

tem de sofrer.<br />

D) conhece a história de um pintor<br />

famoso e faz uso da ironia.<br />

E) acredita que seu dono tenha tendência<br />

artística e, por isso, faz a sugestão.<br />

Comentário<br />

Outra questão de interpretação de texto.<br />

Muito simples para quem um dia ouviu falar<br />

de Van Gogh, e simplíssima para aqueles<br />

que prestam atenção em todos os elementos<br />

do enunciado. Afinal, quem deu uma<br />

espiadinha na legenda do quadro de Van<br />

Gogh matou na hora a questão.<br />

155


Esta questão é daquelas rápidas de serem<br />

resolvidas, associando-se os elementos<br />

apresentados.<br />

Comentário do INEP<br />

A significativa maioria (81%) dos<br />

participantes soube perceber o caráter<br />

irônico da fala do Garfield, expressa no<br />

terceiro quadrinho porque, ou conheciam a<br />

história de Van Gogh, ou apropriaram-se<br />

corretamente da informação sobre esse<br />

pintor, fornecida no enunciado.<br />

42) (1999) E considerei a glória de um pavão<br />

ostentando o esplendor de suas cores; é<br />

um luxo imperial. Mas andei lendo livros, e<br />

descobri que aquelas cores todas não<br />

existem na pena do pavão. Não há<br />

pigmentos. O que há são minúsculas<br />

bolhas d’água em que a luz se fragmenta,<br />

como em um prisma. O pavão é um arcoíris<br />

de plumas.<br />

Eu considerei que este é o luxo do<br />

grande artista, atingir o máximo de<br />

matizes com o mínimo de elementos. De<br />

água e luz ele faz seu esplendor; seu<br />

grande mistério é a simplicidade.<br />

Considerei, por fim, que assim é o<br />

amor, oh! Minha amada; de tudo que ele<br />

suscita e esplende e estremece e delira<br />

em mim existem apenas meus olhos<br />

recebendo a luz de teu olhar. Ele me<br />

cobre de glórias e me faz magnífico.<br />

(BRAGA, Rubem. Ai de ti, Copacabana. 20.ed.)<br />

156<br />

O poeta Carlos Drummond de Andrade<br />

escreveu assim sobre a obra de Rubem<br />

Braga:<br />

O que ele nos conta é o seu dia, o seu<br />

expediente de homem, apanhado no<br />

essencial, narrativa direta e econômica.<br />

(...) É o poeta do real, do palpável, que se<br />

vai diluindo em cisma. Dá o sentimento da<br />

realidade e o remédio para ela.<br />

Em seu texto, Rubem Braga afirma que<br />

"este é o luxo do grande artista, atingir o<br />

máximo de matizes com o mínimo de<br />

elementos". Afirmação semelhante pode<br />

ser encontrada no texto de Carlos<br />

Drummond de Andrade, quando, ao<br />

analisar a obra de Braga, diz que ela é:<br />

A) uma narrativa direta e econômica.<br />

B) real, palpável.<br />

C) sentimento de realidade.<br />

D) seu expediente de homem.<br />

E) seu remédio.<br />

Comentário<br />

A última questão da prova de Português<br />

exige uma releitura do texto de Rubem Braga<br />

para um melhor entendimento do que é<br />

proposto por Drummond. Ao afirmar que a<br />

escrita de Braga é "direta e econômica",<br />

Drummond remete à descoberta feita por<br />

Rubem Braga em relação às cores das<br />

penas do pavão: (...) e descobri que aquelas<br />

cores todas não existem na pena do pavão.<br />

Não há pigmentos. O que há são minúsculas<br />

bolhas d’água em que a luz se fragmenta,<br />

como em um prisma. O pavão é um arco-íris<br />

de plumas.(...) este é o luxo do grande<br />

artista, atingir o máximo de matizes com o<br />

mínimo de elementos.(...)<br />

Segundo Braga, a grande mágica em se<br />

fazer arte é conseguir se expressar da<br />

melhor maneira possível usando o mínimo de<br />

elementos (sejam palavras, cores, formas,<br />

etc.). Drummond parafraseia o comentário de<br />

Braga, dando ainda mais evidência à<br />

descoberta do primeiro. Temos, aí, a<br />

"narrativa direta e econômica". Questão de<br />

nível médio.<br />

Comentário do INEP<br />

Além da compreensão de dois textos, de<br />

autores diferentes, o problema examinou a<br />

capacidade dos participantes em estabelecer<br />

um diálogo entre os mesmos.<br />

A identificação do significado e a relação<br />

correta da afirmação de Drummond, com o<br />

trecho correspondente de Rubem Braga<br />

destacado no enunciado, foi feita por 44%<br />

dos participantes. As alternativas B, C e D<br />

correspondem à identificação de aspectos de<br />

certa forma comuns aos dois textos, embora<br />

os elementos neles apontados não se refiram<br />

ao trecho destacado.<br />

43) (2003)<br />

O texto aponta no quadro de Tarsila do<br />

Amaral um tema que também se encontra<br />

nos versos transcritos em:<br />

A) "Pensem nas meninas<br />

Cegas inexatas<br />

Pensem nas mulheres<br />

Rotas alteradas."<br />

(Vinícius de Moraes)


B) "Somos muitos severinos<br />

iguais em tudo e na sina:<br />

a de abrandar estas pedras<br />

suando-se muito em cima."<br />

(João Cabral de Melo Neto)<br />

C) "O funcionário público<br />

não cabe no poema<br />

com seu salário de fome<br />

sua vida fechada em arquivos."<br />

(Ferreira Gullar)<br />

D) "Não sou nada.<br />

Nunca serei nada.<br />

Não posso querer ser nada.<br />

À parte isso, tenho em mim todos os<br />

sonhos do mundo."<br />

(Fernando Pessoa)<br />

E) "Os inocentes do Leblon<br />

Não viram o navio entrar (...)<br />

Os inocentes, definitivamente inocentes<br />

tudo ignoravam,<br />

mas a areia é quente, e há um óleo<br />

suave<br />

que eles passam pelas costas, e<br />

aquecem."<br />

(Carlos Drummond de Andrade)<br />

Comentário<br />

Mais uma vez, o Exame Nacional do<br />

Ensino Médio procura relacionar análises de<br />

diferentes áreas da arte, misturando a pintura<br />

com a literatura. O quadro de Tarsila do<br />

Amaral “Operários” traz a imagem de vários<br />

rostos (de formatos, etnias e sexos<br />

diferentes) amontoados, tendo como pano de<br />

fundo as chaminés de uma fábrica.<br />

A questão deixa explícita a relação com<br />

os trechos literários que exaltam o<br />

proletariado, eliminando, já de cara, as<br />

alternativas A, D, e E.<br />

Ao se analisar a alternativa C, entretanto,<br />

percebe-se que a abordagem somente se<br />

relaciona com o funcionário público.<br />

Na letra B, o que se pode notar é que<br />

todas as pessoas “severinas” são iguais<br />

perante o sistema, niveladas por baixo e<br />

batalhadoras e que, sem privilégios ou<br />

distinções, são tratadas como mercadorias.<br />

44) (2009)<br />

A feição deles é serem pardos, maneira<br />

d’avermelhados, de bons rostos e bons<br />

narizes, bem feitos. Andam nus, sem<br />

nenhuma cobertura, nem estimam<br />

nenhuma cousa cobrir, nem mostrar suas<br />

vergonhas. E estão acerca disso com<br />

tanta inocência como têm em mostrar o<br />

rosto.<br />

CAMINHA, P. V. A carta. Disponível em:<br />

www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 12 ago. 2009.<br />

Ao se estabelecer uma relação entre a<br />

obra de Eckhout e o trecho do texto de<br />

Caminha, conclui-se que<br />

A) ambos se identificam pelas<br />

características estéticas marcantes,<br />

como tristeza e melancolia, do<br />

movimento romântico das artes<br />

plásticas.<br />

B) o artista, na pintura, foi fiel ao seu<br />

objeto, representando-o de maneira<br />

realista, ao passo que o texto é apenas<br />

fantasioso.<br />

C) a pintura e o texto têm uma<br />

característica em comum, que é<br />

representar o habitante das terras que<br />

sofreriam processo colonizador.<br />

D) o texto e a pintura são baseados no<br />

contraste entre a cultura europeia e a<br />

cultura indígena.<br />

E) há forte direcionamento religioso no<br />

texto e na pintura, uma vez que o índio<br />

representado é objeto da catequização<br />

jesuítica.<br />

Comentário<br />

(QUESTÃO: AZUL 112, BRANCA 113,<br />

ROSA 111)<br />

O trecho do texto de Caminha e o quadro<br />

de Eckhout apresentam, como características<br />

comuns, a descrição da figura indígena. Essa<br />

relação é facilmente detectada pelo aluno ao<br />

observar o trecho do texto: ele descreve o<br />

formato do rosto e do nariz, a cor da pele e o<br />

fato de andarem nus. Não apresenta nenhum<br />

comentário extra sobre isso. O quadro segue<br />

a mesma lógica: apresenta a figura do índio,<br />

seus enfeites e armas. A alternativa<br />

C apresenta essas informações e<br />

as complementa afirmando que esse grupo<br />

humano sofreria processo colonizador.<br />

Portanto, a alternativa correta é a C.<br />

ECKI-IOUT, A. "Índio Tapuia" (16<strong>10</strong>-1666). Disponível em:<br />

http://www.diaadia.pr.gov.br. Acesso em: 9 jul. 2009<br />

157


COMPETÊNCIA DE ÁREA 5<br />

H15 - Estabelecer relações entre<br />

o texto literário e o momento<br />

de sua produção, situando<br />

aspectos do contexto<br />

histórico, social e político.<br />

01) (2000) Ferreira Gullar, um dos grandes<br />

poetas brasileiros da atualidade, é autor<br />

de “Bicho urbano”, poema sobre a sua<br />

relação com as pequenas e grandes<br />

cidades.<br />

Bicho urbano<br />

Se disser que prefiro morar em Pirapemas<br />

ou em outra qualquer pequena cidade do<br />

país<br />

estou mentindo<br />

ainda que lá se possa de manhã<br />

lavar o rosto no orvalho<br />

e o pão preserve aquele branco<br />

sabor de alvorada.<br />

....................................................................<br />

A natureza me assusta.<br />

Com seus matos sombrios suas águas<br />

suas aves que são como aparições<br />

me assusta quase tanto quanto<br />

esse abismo<br />

de gases e de estrelas<br />

aberto sob minha cabeça.<br />

(GULLAR, Ferreira. Toda poesia. Rio de Janeiro:<br />

José Olympio Editora, 1991)<br />

Embora não opte por viver numa pequena<br />

cidade, o poeta reconhece elementos de<br />

valor no cotidiano das pequenas<br />

comunidades. Para expressar a relação<br />

do homem com alguns desses elementos,<br />

ele recorre à sinestesia, construção de<br />

linguagem em que se mesclam<br />

impressões sensoriais diversas. Assinale<br />

a opção em que se observa esse recurso.<br />

A) "e o pão preserve aquele branco /<br />

sabor de alvorada."<br />

B) "ainda que lá se possa de manhã /<br />

lavar o rosto no orvalho"<br />

C) "A natureza me assusta. / Com seus<br />

matos sombrios suas águas"<br />

D) "suas aves que são como aparições /<br />

me assusta quase tanto quanto"<br />

E) "me assusta quase tanto quanto / esse<br />

abismo / de gases e de estrelas"<br />

Comentário<br />

Para responder a esta questão, leia com<br />

muita atenção o enunciado. Nele encontra-se<br />

o conceito de sinestesia: construção de<br />

linguagem em que se mesclam impressões<br />

sensoriais diversas, ou seja, a associação de<br />

sensações diferentes numa mesma<br />

expressão.<br />

Você deve compreender o conceito de<br />

sinestesia e, pela lógica, encontrar o exemplo<br />

dessa figura de linguagem.<br />

A alternativa correta é a letra a, pois a<br />

expressão "branco sabor" associa o sentido<br />

da visão (branco) com o do paladar (sabor).<br />

Comentário do INEP<br />

A questão procurou verificar a capacidade<br />

do participante de construir o sentido de<br />

elementos textuais. A partir da noção de<br />

sinestesia, que lhe foi dada de maneira<br />

sucinta, ele teve de transpor para o texto<br />

essa mesma noção, manifestando sua<br />

competência textual. Pode-se classificar de<br />

'bom', o índice de acerto (53%), se<br />

considerarmos que a questão trabalhou com<br />

a função conotativa da linguagem, o que<br />

requer uma capacidade de leitura sempre<br />

mais desenvolvida. Os desvios, de forma<br />

mais acentuada na alternativa B, são<br />

explicáveis: as alternativas incorretas (e, de<br />

resto, todo o poema) também se referem à<br />

manifestações sensoriais, embora sem a<br />

necessária 'mescla', que é o que distingue a<br />

sinestesia.<br />

02) (2001) O mundo é grande<br />

O mundo é grande e cabe<br />

Nesta janela sobre o mar.<br />

O mar é grande e cabe<br />

Na cama e no colchão de amar.<br />

O amor é grande e cabe<br />

No breve espaço de beijar.<br />

ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e prosa.<br />

Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983.<br />

Neste poema, o poeta realizou uma opção<br />

estilística: a reiteração de determinadas<br />

construções e expressões lingüísticas,<br />

como o uso da mesma conjunção para<br />

estabelecer a relação entre as frases.<br />

Essa conjunção estabelece, entre as<br />

idéias relacionadas, um sentido de<br />

A) oposição.<br />

B) comparação.<br />

C) conclusão.<br />

D) alternância.<br />

E) finalidade.<br />

Comentário<br />

Há três elementos repetidos neste trecho:<br />

o verbo ser, o artigo definido o e a conjunção<br />

aditiva e. A conjunção e estabelece uma<br />

158


elação entre idéias que, concretamente, são<br />

opostas (ex.: "O mundo é grande e cabe<br />

nesta janela sobre o mar"). A alternativa<br />

correta é a letra A.<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão apresenta, para leitura e<br />

análise, o poema "O mundo é grande", onde<br />

os recursos lingüísticos expressivos<br />

utilizados geram um efeito de oposição entre<br />

as idéias. A análise sintático-semântica é<br />

necessária para a compreensão do valor de<br />

oposição assumido pela conjunção "e":<br />

imagens justapostas estão relacionadas,<br />

contrapondo-se em planos diferentes. Um<br />

percentual significativo (46%) de<br />

participantes considerou que o valor da<br />

conjunção "e", nesse poema, é de<br />

comparação, o que não reflete o sentido<br />

estilístico proposto pelo poeta, mas<br />

corresponde apenas à primeira operação que<br />

se realiza para estabelecer o sentido de<br />

oposição. De maneira análoga, pode-se<br />

analisar os equívocos daqueles que optaram<br />

pelas alternativas C e D.<br />

03) (1999) SONETO DE FIDELIDADE<br />

De tudo, ao meu amor serei atento<br />

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto<br />

Que mesmo em face do maior encanto<br />

Dele se encante mais meu pensamento.<br />

Quero vivê-lo em cada vão momento<br />

E em seu louvor hei de espalhar meu<br />

canto<br />

E rir meu riso e derramar meu pranto<br />

Ao seu pesar ou seu contentamento.<br />

E assim, quando mais tarde me procure<br />

Quem sabe a morte, angústia de quem<br />

vive<br />

Quem sabe a solidão, fim de quem ama.<br />

Eu possa dizer do meu amor (que tive):<br />

Que não seja imortal, posto que é chama<br />

Mas que seja infinito enquanto dure.<br />

(MORAES, Vinícius de. Antologia poética. São Paulo: Cia<br />

das Letras, 1992).<br />

A palavra mesmo pode assumir diferentes<br />

significados, de acordo com a sua função<br />

na frase. Assinale a alternativa em que o<br />

sentido de mesmo equivale ao que se<br />

verifica no 3º verso da 1ª estrofe do<br />

poema de Vinícius de Moraes.<br />

A) "Pai, para onde fores, / irei também<br />

trilhando as mesmas ruas..." (Augusto<br />

dos Anjos)<br />

B) "Agora, como outrora, há aqui o<br />

mesmo contraste da vida interior, que<br />

é modesta, com a exterior, que é<br />

ruidosa." (Machado de Assis)<br />

C) "Havia o mal, profundo e persistente,<br />

para o qual o remédio não surtiu efeito,<br />

mesmo em doses variáveis."<br />

(Raimundo Faoro)<br />

D) "Mas, olhe cá, Mana Glória, há<br />

mesmo necessidade de fazê-lo<br />

padre?" (Machado de Assis)<br />

E) "Vamos de qualquer maneira, mas<br />

vamos mesmo." (Aurélio)<br />

Comentário<br />

Nessa questão, uma pequena análise<br />

sintática se faz necessária: mesmo, em<br />

ambos os casos, é conjunção subordinativa<br />

concessiva, introduzindo, portanto, uma<br />

oração subordinada cujo fato expresso é<br />

contrário ao da oração principal. Deve-se,<br />

então, recorrer à oração anterior para se ter<br />

certeza quanto à classificação. Grau<br />

moderado de dificuldade.<br />

Comentário do INEP<br />

Este problema buscou colocar o<br />

participante diante de uma situação que<br />

exigia a mobilização de seus mecanismos de<br />

reflexão sobre os processos lingüísticos em<br />

que um significante (uma palavra) assume<br />

diferentes significados, no enunciado, de<br />

acordo com a intenção do enunciador. Neste<br />

caso, além da compreensão da<br />

transformação de significado, é necessária a<br />

alteração de função morfossintática.<br />

Verifica-se que 62% dos participantes<br />

conseguiram identificar e analisar esse<br />

processo lingüístico, comparando a função<br />

do significante em diferentes enunciados.<br />

Isso demonstrou um domínio parcial da<br />

reflexão sobre a Língua Portuguesa, em<br />

diferentes contextos e textos.<br />

Os 18% dos participantes que<br />

assinalaram a alternativa B identificaram a<br />

diferença de significados mas,<br />

provavelmente, têm dificuldades em analisar<br />

estas mudanças em nível morfossintático<br />

(alternativa B).<br />

159


04) (2002) "De repente lá vinha um homem a<br />

cavalo. Eram dois. Um senhor de fora, o<br />

claro de roupa. Miguilim saudou, pedindo<br />

a bênção. O homem trouxe o cavalo cá<br />

bem junto. Ele era de óculos, corado, alto,<br />

com um chapéu diferente, mesmo.<br />

— Deus te abençoe, pequenino. Como é<br />

teu nome?<br />

— Miguilim. Eu sou irmão do Dito.<br />

— E o seu irmão Dito é o dono daqui?<br />

— Não, meu senhor. O Ditinho está em<br />

glória.<br />

O homem esbarrava o avanço do<br />

cavalo, que era zelado, manteúdo,<br />

formoso como nenhum outro. Redizia:<br />

— Ah, não sabia, não. Deus o tenha em<br />

sua guarda... Mas que é que há, Miguilim?<br />

Miguilim queria ver se o homem estava<br />

mesmo sorrindo para ele, por isso é que o<br />

encarava.<br />

— Por que você aperta os olhos assim?<br />

Você não é limpo de vista? Vamos até lá.<br />

Quem é que está em tua casa?<br />

— É Mãe, e os meninos...<br />

Estava Mãe, estava tio Terez, estavam<br />

todos. O senhor alto e claro se apeou. O<br />

outro, que vinha com ele, era um<br />

camarada.<br />

O senhor perguntava à Mãe muitas<br />

coisas do Miguilim. Depois perguntava a<br />

ele mesmo: — 'Miguilim, espia daí:<br />

quantos dedos da minha mão você está<br />

enxergando? E agora?"<br />

ROSA, João Guimarães. Manuelzão e Miguilim. 9ª ed. Rio de<br />

Janeiro: Nova Fronteira, 1984.<br />

160<br />

Esta história, com narrador observador em<br />

terceira pessoa, apresenta os<br />

acontecimentos da perspectiva de<br />

Miguilim. O fato de o ponto de vista do<br />

narrador ter Miguilim como referência,<br />

inclusive espacial, fica explicitado em:<br />

A) "O homem trouxe o cavalo cá bem<br />

junto."<br />

B) "Ele era de óculos, corado, alto (...)"<br />

C) "O homem esbarrava o avanço do<br />

cavalo, (...)"<br />

D) "Miguilim queria ver se o homem<br />

estava mesmo sorrindo para ele, (...)"<br />

E) "Estava Mãe, estava tio Terez, estavam<br />

todos"<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. A única alternativa<br />

que apresenta, ao mesmo tempo, o narrador<br />

e o ponto de referência espacial é a letra A, o<br />

que pode ser comprovado pela expressão<br />

"cá bem junto".<br />

Comentário do INEP<br />

Essa questão apresenta para leitura e<br />

análise um trecho da novela Campo Geral,<br />

da obra Manuelzão e Miguilim, de Guimarães<br />

Rosa, em que um narrador em terceira<br />

pessoa relata o momento do encontro entre<br />

Miguilim e o médico, que percebe, logo ao<br />

chegar, que o garoto tem problemas de<br />

visão. A questão propõe a análise do ponto<br />

de vista narrativo, que, no texto literário, não<br />

necessariamente, como no texto em questão,<br />

será sempre o do narrador.<br />

A cena narrativa presente nesse texto é<br />

contada por um narrador adulto, mas é o<br />

sentimento de Miguilim a respeito dos<br />

acontecimentos que orienta esse contar.<br />

Esse efeito de sentido é resultado do<br />

trabalho do autor com a linguagem. Segundo<br />

a gramática da norma culta, "cá" e "aqui"<br />

indicam o lugar do sujeito, ou seja, daquele<br />

que fala. Algo semelhante ocorre com o<br />

verbo "trazer", que indica um movimento para<br />

o lugar onde se encontra o sujeito. Tanto "cá"<br />

como "trazer" indicam proximidade espacial<br />

daquele que fala.<br />

A narração pertence a um narrador que<br />

não participa da historia como personagem,<br />

portanto ele fala dos outros, nunca de si<br />

mesmo. No trecho "o homem trouxe o cavalo<br />

cá bem junto", o narrador indica que o<br />

homem a cavalo aproxima-se de Miguilim.<br />

Esse jogo de linguagem cria no leitor a<br />

imagem de um narrador adulto que, colandose<br />

à criança, vê pelos olhos desta.<br />

Embora todas as alternativas apresentem<br />

a percepção da criança naquele contexto da<br />

chegada de um desconhecido, apenas a<br />

alternativa A responde o que foi solicitado,<br />

pois só ela apresenta o aspecto da<br />

localização espacial presente no advérbio de<br />

lugar "cá". Quase metade dos participantes<br />

assinalou a alternativa D, única que contem a<br />

palavra Miguilim, possivelmente porque<br />

interpretaram erroneamente o<br />

encaminhamento da questão, no trecho "...<br />

narrador ter Miguilim como referência, ...".<br />

05) ( 2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />

poema.<br />

A DANÇA E A ALMA<br />

A DANÇA? Não é movimento,<br />

súbito gesto musical.<br />

É concentração, num momento,<br />

da humana graça natural.<br />

No solo não, no éter pairamos,<br />

nele amaríamos ficar.<br />

A dança – não vento nos ramos:<br />

seiva, força, perene estar.


Um estar entre céu e chão,<br />

novo domínio conquistado,<br />

onde busque nossa paixão<br />

libertar-se por todo lado...<br />

Onde a alma possa descrever<br />

suas mais divinas parábolas<br />

sem fugir à forma do ser,<br />

por sobre o mistério das fábulas.<br />

(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />

Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />

A definição de dança, em linguagem de<br />

dicionário, que mais se aproxima do que<br />

está expresso no poema é<br />

A) a mais antiga das artes, servindo como<br />

elemento de comunicação e afirmação<br />

do homem em todos os momentos de<br />

sua existência.<br />

B) a forma de expressão corporal que<br />

ultrapassa os limites físicos,<br />

possibilitando ao homem a liberação de<br />

seu espírito.<br />

C) a manifestação do ser humano,<br />

formada por uma seqüência de gestos,<br />

passos e movimentos desconcertados.<br />

D) o conjunto organizado de movimentos<br />

do corpo, com ritmo determinado por<br />

instrumentos musicais, ruídos, cantos,<br />

emoções etc.<br />

E) o movimento diretamente ligado ao<br />

psiquismo do indivíduo e, por<br />

conseqüência, ao seu desenvolvimento<br />

intelectual e à sua cultura.<br />

Comentário<br />

A pergunta busca a aplicação do conceito<br />

de "estado de dicionário" (que também foi<br />

desenvolvido por Drummond no poema "A<br />

Procura da Poesia"). A literatura busca partir<br />

de palavras em estado de dicionário para,<br />

pelo aprofundamento do sentido delas, criar<br />

um mundo mais denso e particular. Em<br />

estado de dicionário, a dança, conforme é<br />

tratada nesse poema, apareceria na<br />

alternativa B: uma justaposição entre<br />

aspectos físicos e espirituais da expressão<br />

humana. Questão complexa.<br />

06) (2006) Namorados<br />

O rapaz chegou-se para junto da moça<br />

e disse:<br />

— Antônia, ainda não me acostumei com<br />

o seu corpo, com a sua cara.<br />

A moça olhou de lado e esperou.<br />

— Você não sabe quando a gente é<br />

criança e de repente vê uma lagarta<br />

listrada?<br />

A moça se lembrava:<br />

— A gente fica olhando...<br />

A meninice brincou de novo nos olhos<br />

dela.<br />

O rapaz prosseguiu com muita doçura:<br />

— Antônia, você parece uma lagarta<br />

listrada.<br />

A moça arregalou os olhos, fez<br />

exclamações.<br />

O rapaz concluiu:<br />

— Antônia, você é engraçada! Você<br />

parece louca.<br />

No poema de Bandeira, importante<br />

representante da poesia modernista,<br />

destaca-se como característica da escola<br />

literária dessa época<br />

Manuel Bandeira. Poesia completa & prosa.<br />

Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985.<br />

A) a reiteração de palavras como recurso<br />

de construção de rimas ricas.<br />

B) a utilização expressiva da linguagem<br />

falada em situações do cotidiano.<br />

C) a criativa simetria de versos para<br />

reproduzir o ritmo do tema abordado.<br />

D) a escolha do tema do amor romântico,<br />

caracterizador do estilo literário dessa<br />

época.<br />

E) o recurso ao diálogo, gênero discursivo<br />

típico do Realismo.<br />

07) ( 2008) O surgimento da figura da Ema<br />

no céu, ao leste, no anoitecer, na segunda<br />

quinzena de junho, indica o início do<br />

inverno para os índios do sul do Brasil e o<br />

começo da estação seca para os do norte.<br />

É limitada pelas constelações de<br />

Escorpião e do Cruzeiro do Sul, ou<br />

Cut'uxu. Segundo o mito guarani, o<br />

Cut’uxu segura a cabeça da ave para<br />

garantir a vida na Terra, porque, se ela se<br />

soltar, beberá toda a água do nosso<br />

planeta. Os tupisguaranis utilizam o<br />

Cut'uxu para se orientar e determinar a<br />

duração das noites e as estações do ano.<br />

A ilustração a seguir é uma representação<br />

dos corpos celestes que constituem a<br />

constelação da Ema, na percepção<br />

indígena.<br />

Almanaque BRASIL, maio/2007 (com adaptações).<br />

161


162<br />

A próxima figura mostra, em campo de<br />

visão ampliado, como povos de culturas<br />

não-indígenas percebem o espaço estelar<br />

em que a Ema é vista.<br />

Internet: (com adaptações).<br />

Assinale a opção correta a respeito da<br />

linguagem empregada no texto A Ema.<br />

A) A palavra Cut’uxu é um regionalismo<br />

utilizado pelas populações próximas às<br />

aldeias indígenas.<br />

B) O autor se expressa em linguagem<br />

formal em todos os períodos do texto.<br />

C) A ausência da palavra Ema no início do<br />

período “É limitada (...)” caracteriza<br />

registro oral.<br />

D) A palavra Cut’uxu está destacada em<br />

itálico porque integra o vocabulário da<br />

linguagem informal.<br />

E) No texto, predomina a linguagem<br />

coloquial porque ele consta de um<br />

almanaque.<br />

Comentário<br />

A questão é simples, mas requer cuidados<br />

quanto aos conceitos de linguagem<br />

“informal”, “formal” e de “língua”. Se o aluno<br />

tiver noção desses conceitos,<br />

chegará facilmente à resposta. A linguagem<br />

formal ou culta prevalece no texto, e o termo<br />

“Cut’uxu’ não é um termo informal, mas, sim,<br />

uma expressão que pertence a uma língua<br />

indígena — o que justifica o emprego da<br />

palavra em itálico. A resposta correta é,<br />

portanto, a letra "B".<br />

08) (2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />

poema.<br />

A DANÇA E A ALMA<br />

A DANÇA? Não é movimento,<br />

súbito gesto musical.<br />

É concentração, num momento,<br />

da humana graça natural.<br />

No solo não, no éter pairamos,<br />

nele amaríamos ficar.<br />

A dança – não vento nos ramos:<br />

seiva, força, perene estar.<br />

Um estar entre céu e chão,<br />

novo domínio conquistado,<br />

onde busque nossa paixão<br />

libertar-se por todo lado...<br />

Onde a alma possa descrever<br />

suas mais divinas parábolas<br />

sem fugir à forma do ser,<br />

por sobre o mistério das fábulas.<br />

(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />

Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />

O poema “A Dança e a Alma” é construído<br />

com base em contrastes, como<br />

“movimento” e “concentração”. Em uma<br />

das estrofes, o termo que estabelece<br />

contraste com solo é:<br />

A) éter. D) paixão.<br />

B) seiva. E) ser.<br />

C) chão.<br />

Comentário<br />

O elemento que contrasta com "solo"<br />

(físico, tangível, perene) é "éter" (espiritual,<br />

intangível, volátil). Questão de nível médio de<br />

dificuldade.<br />

09) (2008) Calcula-se que 78% do<br />

desmatamento na Amazônia tenha sido<br />

motivado pela pecuária — cerca de 35%<br />

do rebanho nacional está na região — e<br />

que pelo menos 50 milhões de hectares<br />

de pastos são pouco produtivos. Enquanto<br />

o custo médio para aumentar a<br />

produtividade de 1 hectare de pastagem é<br />

de 2 mil reais, o custo para derrubar igual<br />

área de floresta é estimado em 800 reais,<br />

o que estimula novos desmatamentos.<br />

Adicionalmente, madeireiras retiram as<br />

árvores de valor comercial que foram<br />

abatidas para a criação de pastagens. Os<br />

pecuaristas sabem que problemas<br />

ambientais como esses podem provocar<br />

restrições à pecuária nessas áreas, a<br />

exemplo do que ocorreu em 2006 com o<br />

plantio da soja, o qual, posteriormente, foi<br />

proibido em áreas de floresta.<br />

Época, 3/3/2008 e 9/6/2008 (com adaptações).<br />

A partir da situação-problema descrita,<br />

conclui-se que<br />

A) o desmatamento na Amazônia decorre<br />

principalmente da exploração ilegal de<br />

árvores de valor comercial.<br />

B) um dos problemas que os pecuaristas<br />

vêm enfrentando na Amazônia é a<br />

proibição do plantio de soja.<br />

C) a mobilização de máquinas e de força<br />

humana torna o desmatamento mais<br />

caro que o aumento da produtividade<br />

de pastagens.


D) o superavit comercial decorrente da<br />

exportação de carne produzida na<br />

Amazônia compensa a possível<br />

degradação ambiental.<br />

E) a recuperação de áreas desmatadas<br />

e o aumento de produtividade das<br />

pastagens podem contribuir para a<br />

redução do desmatamento na<br />

Amazônia.<br />

Comentário do portal<br />

Essa questão retrata o problema do<br />

desmatamento da Amazônia, relacionado<br />

principalmente com o desenvolvimento da<br />

pecuária na região. Para resolvê-la, foram<br />

necessários a leitura atenta do texto e o<br />

conhecimento sobre os problemas<br />

ambientais da atualidade. A alternativa<br />

correta é a letra E, pois é mais caro para os<br />

pecuaristas aumentar a produtividade do que<br />

as áreas de pasto, o que acarreta o aumento<br />

do desmatamento da Amazônia.<br />

<strong>10</strong>) (2006) Erro de Português<br />

Quando o português chegou<br />

Debaixo de uma bruta chuva<br />

Vestiu o índio<br />

Que pena!<br />

Fosse uma manhã de Sol<br />

O índio tinha despido<br />

O português.<br />

Oswald de Andrade. Poesias reunidas.<br />

Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.<br />

O primitivismo observável no poema<br />

acima, de Oswald de Andrade, caracteriza<br />

de forma marcante<br />

A) o regionalismo do Nordeste.<br />

B) o concretismo paulista.<br />

C) a poesia Pau-Brasil.<br />

D) o simbolismo pre-modernista.<br />

E) o tropicalismo baiano.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil, pois bastaria que o<br />

aluno fizesse a relação do nome do autor,<br />

Oswald de Andrade, à alternativa "C", poesia<br />

Pau-Brasil. Com isso, ele já eliminaria as<br />

demais alternativas. Contudo, mesmo que o<br />

aluno não tivesse se lembrado desse<br />

detalhe, o próprio poema Erro de Português<br />

remete a uma das características da poesia<br />

Pau-Brasil, a retomada e a valorização das<br />

riquezas do Brasil primitivo.<br />

11) (2007) Texto I<br />

Agora Fabiano conseguia arranjar as idéias.<br />

O que o segurava era a família. Vivia preso<br />

como um novilho amarrado ao mourão,<br />

suportando ferro quente. Se não fosse isso,<br />

um soldado amarelo não lhe pisava o pé<br />

não. (...) Tinha aqueles cambões<br />

pendurados ao pescoço. Deveria continuar a<br />

arrastá-los? Sinha Vitória dormia mal na<br />

cama de varas. Os meninos eram uns<br />

brutos, como o pai. Quando crescessem,<br />

guardariam as reses de um patrão invisível,<br />

seriam pisados, maltratados, machucados<br />

por um soldado amarelo.<br />

Graciliano Ramos. Vidas Secas.<br />

São Paulo: Martins, 23.ª ed., 1969, p. 75.<br />

Texto II<br />

Para Graciliano, o roceiro pobre é um<br />

outro, enigmático, impermeável. Não há<br />

solução fácil para uma tentativa de<br />

incorporação dessa figura no campo da<br />

ficção. É lidando com o impasse, ao invés<br />

de fáceis soluções, que Graciliano vai<br />

criar Vidas Secas, elaborando uma<br />

linguagem, uma estrutura romanesca,<br />

uma constituição de narrador em que<br />

narrador e criaturas se tocam, mas não se<br />

identificam. Em grande medida, o debate<br />

acontece porque, para a intelectualidade<br />

brasileira naquele momento, o pobre, a<br />

despeito de aparecer idealizado em certos<br />

aspectos, ainda é visto como um ser<br />

humano de segunda categoria, simples<br />

demais, incapaz de ter pensamentos<br />

demasiadamente complexos. O que Vidas<br />

Secas faz é, com pretenso não<br />

envolvimento da voz que controla a<br />

narrativa, dar conta de uma riqueza<br />

humana de que essas pessoas seriam<br />

plenamente capazes.<br />

Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes. In:<br />

Teresa. São Paulo: USP, n.° 2, 2001, p. 254.<br />

A partir do trecho de Vidas Secas (texto I)<br />

e das informações do texto II, relativas às<br />

concepções artísticas do romance social<br />

de 1930, avalie as seguintes afirmativas.<br />

I - O pobre, antes tratado de forma exótica<br />

e folclórica pelo regionalismo pitoresco,<br />

transforma-se em protagonista<br />

privilegiado do romance social de 30.<br />

II - A incorporação do pobre e de outros<br />

marginalizados indica a tendência da<br />

ficção brasileira da década de 30 de<br />

tentar superar a grande distância entre<br />

o intelectual e as camadas populares.<br />

III - Graciliano Ramos e os demais autores<br />

da década de 30 conseguiram, com<br />

suas obras, modificar a posição social<br />

do sertanejo na realidade nacional.<br />

163


É correto apenas o que se afirma em<br />

A) I. D) I e II.<br />

B) II. E) II e III.<br />

C) III.<br />

Comentário<br />

Questão de nível médio. O aluno deveria<br />

perceber que, no texto de Vidas Secas, o<br />

protagonista de sua obra é o "Pobre<br />

Sertanejo", aqui tratado de forma realista,<br />

sem idealizações e fantasias, e com total<br />

destaque em sua narrativa. Ele também deve<br />

fazer um comparativo entre o trecho da obra<br />

com o comentário de Luís Bueno, além de<br />

demonstrar seus conhecimentos sobre o<br />

Romance Regionalista de 30, para chegar à<br />

conclusão de que a resposta correta é a D.<br />

12) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />

preciso, além de conhecer o padrão<br />

formal da Língua Portuguesa, saber<br />

adequar o uso da linguagem ao contexto<br />

discursivo. Para exemplificar este fato,<br />

seu professor de Língua Portuguesa<br />

convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />

Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />

brinca com situações de discurso oral que<br />

fogem à expectativa do ouvinte.<br />

Aí, Galera<br />

Jogadores de futebol podem ser<br />

vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />

você pode imaginar um jogador de futebol<br />

dizendo "estereotipação"? E, no<br />

entanto, por que não?<br />

- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />

galera.<br />

- Minha saudação aos aficionados do<br />

clube e aos demais esportistas, aqui<br />

presentes ou no recesso dos seus lares.<br />

- Como é?<br />

- Aí, galera.<br />

- Quais são as instruções do técnico?<br />

- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />

trabalho de contenção coordenada, com<br />

energia otimizada, na zona de<br />

preparação, aumentam as<br />

probabilidades de, recuperado o<br />

esférico, concatenarmos um contragolpe<br />

agudo com parcimônia de meios e<br />

extrema objetividade, valendo-nos da<br />

desestruturação momentânea do<br />

sistema oposto, surpreendido pela<br />

reversão inesperada do fluxo da ação:<br />

- Ahn?<br />

- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />

pegá eles sem calça.<br />

- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />

coisa?<br />

- Posso dirigir uma mensagem de<br />

caráter sentimental, algo banal, talvez<br />

mesmo previsível e piegas, a uma<br />

pessoa à qual sou ligado por razões,<br />

inclusive, genéticas?<br />

- Pode.<br />

- Uma saudação para a minha<br />

progenitora.<br />

- Como é?<br />

- Alô, mamãe!<br />

- Estou vendo que você é um, um...<br />

- Um jogador que confunde o<br />

entrevistador, pois não corresponde à<br />

expectativa de que o atleta seja um ser<br />

algo primitivo com dificuldade de<br />

expressão e assim sabota a<br />

estereotipação?<br />

- Estereoquê?<br />

- Um chato?<br />

- Isso.<br />

Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />

O texto retrata duas situações<br />

relacionadas que fogem à expectativa do<br />

público. São elas:<br />

A) a saudação do jogador aos fãs do<br />

clube, no início da entrevista, e a<br />

saudação final dirigida à sua mãe.<br />

B) a linguagem muito formal do jogador,<br />

inadequada à situação da entrevista, e<br />

um jogador que fala, com desenvoltura,<br />

de modo muito rebuscado.<br />

C) o uso da expressão "galera", por parte<br />

do entrevistador, e da expressão<br />

"progenitora", por parte do jogador.<br />

D) o desconhecimento, por parte do<br />

entrevistador, da palavra<br />

"estereotipação", e a fala do jogador<br />

em "é pra dividir no meio e ir pra cima<br />

pra pegá eles sem calça".<br />

E) o fato de os jogadores de futebol serem<br />

vítimas de estereotipação e o jogador<br />

entrevistado não corresponder ao<br />

estereótipo.<br />

Comentário<br />

Quando pensamos em certas profissões,<br />

imaginamos qual seria o padrão de<br />

comportamento de quem as exerce. O texto<br />

está trabalhando uma divergência entre o<br />

que esperamos de um jogador de futebol (o<br />

estereótipo que temos dele) e um jogador<br />

que não se enquadra em nossas<br />

expectativas. Levando isso em consideração,<br />

as duas coisas que destoam do que<br />

esperamos encontrar nessa situação são: 1)<br />

alguém, ao dar uma entrevista de alto<br />

164


alcance popular, fala de maneira<br />

extremamente rebuscada; 2) um jogador que,<br />

ao falar de maneira rebuscada, acaba por<br />

fugir do estereótipo do jogador de futebol, de<br />

quem sempre é esperado algo menos<br />

rebuscado e mais popular.<br />

13) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />

preciso, além de conhecer o padrão<br />

formal da Língua Portuguesa, saber<br />

adequar o uso da linguagem ao contexto<br />

discursivo. Para exemplificar este fato,<br />

seu professor de Língua Portuguesa<br />

convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />

Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />

brinca com situações de discurso oral que<br />

fogem à expectativa do ouvinte.<br />

Aí, Galera<br />

Jogadores de futebol podem ser<br />

vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />

você pode imaginar um jogador de futebol<br />

dizendo "estereotipação"? E, no<br />

entanto, por que não?<br />

- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />

galera.<br />

- Minha saudação aos aficionados do<br />

clube e aos demais esportistas, aqui<br />

presentes ou no recesso dos seus lares.<br />

- Como é?<br />

- Aí, galera.<br />

- Quais são as instruções do técnico?<br />

- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />

trabalho de contenção coordenada, com<br />

energia otimizada, na zona de<br />

preparação, aumentam as<br />

probabilidades de, recuperado o<br />

esférico, concatenarmos um contragolpe<br />

agudo com parcimônia de meios e<br />

extrema objetividade, valendo-nos da<br />

desestruturação momentânea do<br />

sistema oposto, surpreendido pela<br />

reversão inesperada do fluxo da ação:<br />

- Ahn?<br />

- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />

pegá eles sem calça.<br />

- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />

coisa?<br />

- Posso dirigir uma mensagem de<br />

caráter sentimental, algo banal, talvez<br />

mesmo previsível e piegas, a uma<br />

pessoa à qual sou ligado por razões,<br />

inclusive, genéticas?<br />

- Pode.<br />

- Uma saudação para a minha<br />

progenitora.<br />

- Como é?<br />

- Alô, mamãe!<br />

- Estou vendo que você é um, um...<br />

- Um jogador que confunde o<br />

entrevistador, pois não corresponde à<br />

expectativa de que o atleta seja um ser<br />

algo primitivo com dificuldade de<br />

expressão e assim sabota a<br />

estereotipação?<br />

- Estereoquê?<br />

- Um chato?<br />

- Isso.<br />

Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />

O texto mostra uma situação em que a<br />

linguagem usada é inadequada ao<br />

contexto. Considerando as diferenças<br />

entre língua oral e língua escrita, assinale<br />

a opção que representa também uma<br />

inadequação da linguagem usada ao<br />

contexto:<br />

A) "o carro bateu e capotô, mas num deu<br />

pra vê direito" - um pedestre que<br />

assistiu ao acidente comenta com o<br />

outro que vai passando.<br />

B) "E aí, ô meu! Como vai essa força?" -<br />

um jovem que fala para um amigo.<br />

C) "Só um instante, por favor. Eu<br />

gostaria de fazer uma observação" -<br />

alguém comenta em uma reunião de<br />

trabalho.<br />

D) "Venho manifestar meu interesse em<br />

candidatar-me ao cargo de Secretária<br />

Executiva desta conceituada empresa"<br />

- alguém que escreve uma carta<br />

candidatando-se a um emprego.<br />

E) "Porque se a gente não resolve as<br />

coisas como têm que ser, a gente corre<br />

o risco de termos, num futuro próximo,<br />

muito pouca comida nos lares<br />

brasileiros" - um professor universitário<br />

em um congresso internacional.<br />

Comentário<br />

Essa questão está trabalhando com as<br />

nossas expectativas. Esperamos encontrar,<br />

nas diferentes situações, linguagens que<br />

correspondam à formalidade (ou à<br />

informalidade) delas. Na alternativa E, como<br />

o professor universitário está falando em um<br />

congresso internacional, espera-se que ele<br />

utilize uma linguagem mais formal e não uma<br />

linguagem coloquial como a que usou. Em<br />

todas as outras situações, a linguagem está<br />

de acordo com a situação em que está sendo<br />

empregada.<br />

165


14) (2007) Texto I<br />

Agora Fabiano conseguia arranjar as<br />

idéias. O que o segurava era a família.<br />

Vivia preso como um novilho amarrado ao<br />

mourão, suportando ferro quente. Se não<br />

fosse isso, um soldado amarelo não lhe<br />

pisava o pé não. (...) Tinha aqueles<br />

cambões pendurados ao pescoço.<br />

Deveria continuar a arrastá-los? Sinha<br />

Vitória dormia mal na cama de varas. Os<br />

meninos eram uns brutos, como o pai.<br />

Quando crescessem, guardariam as reses<br />

de um patrão invisível, seriam pisados,<br />

maltratados, machucados por um soldado<br />

amarelo.<br />

Graciliano Ramos. Vidas Secas. São Paulo:<br />

Martins, 23.ª ed., 1969, p. 75.<br />

Texto II<br />

Para Graciliano, o roceiro pobre é um<br />

outro, enigmático, impermeável. Não há<br />

solução fácil para uma tentativa de<br />

incorporação dessa figura no campo da<br />

ficção. É lidando com o impasse, ao invés<br />

de fáceis soluções, que Graciliano vai<br />

criar Vidas Secas, elaborando uma<br />

linguagem, uma estrutura romanesca,<br />

uma constituição de narrador em que<br />

narrador e criaturas se tocam, mas não se<br />

identificam. Em grande medida, o debate<br />

acontece porque, para a intelectualidade<br />

brasileira naquele momento, o pobre, a<br />

despeito de aparecer idealizado em certos<br />

aspectos, ainda é visto como um ser<br />

humano de segunda categoria, simples<br />

demais, incapaz de ter pensamentos<br />

demasiadamente complexos. O que Vidas<br />

Secas faz é, com pretenso não<br />

envolvimento da voz que controla a<br />

narrativa, dar conta de uma riqueza<br />

humana de que essas pessoas seriam<br />

plenamente capazes.<br />

Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes. In:<br />

Teresa. São Paulo: USP, n.° 2, 2001, p. 254.<br />

No texto II, verifica-se que o autor utiliza<br />

A) linguagem predominantemente<br />

formal, para problematizar, na<br />

composição de Vidas Secas, a relação<br />

entre o escritor e o personagem<br />

popular.<br />

B) linguagem inovadora, visto que, sem<br />

abandonar a linguagem formal, dirigese<br />

diretamente ao leitor.<br />

C) linguagem coloquial, para narrar<br />

coerentemente uma história que<br />

apresenta o roceiro pobre de forma<br />

pitoresca.<br />

D) linguagem formal com recursos<br />

retóricos próprios do texto literário em<br />

prosa, para analisar determinado<br />

momento da literatura brasileira.<br />

E) linguagem regionalista, para transmitir<br />

informações sobre literatura, valendose<br />

de coloquialismo, para facilitar o<br />

entendimento do texto.<br />

Comentário<br />

Questão de nível médio. Algumas<br />

alternativas poderiam levar o candidato a<br />

pensar que o texto de Vidas Secas utiliza<br />

uma linguagem predominantemente coloquial<br />

e regionalista. Entretanto, é na alternativa A<br />

que se encontra o real estilo da linguagem<br />

utilizada por Graciliano Ramos. A linguagem<br />

é, portanto, predominantemente formal e<br />

problematiza a relação do escritor com o<br />

personagem popular. Esta acaba sendo uma<br />

das grandes características do autor, pois ele<br />

buscava sempre dar uma grande densidade<br />

psicológica aos seus romances.<br />

15) (2006) Depois de um bom jantar: feijão<br />

com carne-seca, orelha de porco e couve<br />

com angu, arroz-mole engordurado, carne<br />

de vento assada no espeto, torresmo<br />

enxuto de toicinho da barriga, viradinho de<br />

milho verde e um prato de caldo de couve,<br />

jantar encerrado por um prato fundo de<br />

canjica com torrões de açúcar, Nhô Tomé<br />

saboreou o café forte e se estendeu na<br />

rede. A mão direita sob a cabeça, à guisa<br />

de travesseiro, o indefectível cigarro de<br />

palha entre as pontas do indicador e do<br />

polegar, envernizados pela fumaça, de<br />

unhas encanoadas e longas, ficou-se de<br />

pança para o ar, modorrento, a olhar para<br />

as ripas do telhado.<br />

Quem come e não deita, a comida não<br />

aproveita, pensava Nhô Tomé... E pôs-se<br />

a cochilar. A sua modorra durou pouco;<br />

Tia Policena, ao passar pela sala, bradou<br />

assombrada:<br />

— Êêh! Sinhô! Vai drumi agora? Não!<br />

Num presta... Dá pisadêra e póde morrê<br />

de ataque de cabeça! Despois do armoço<br />

num far-má... mais despois da janta?!”<br />

Cornélio Pires. Conversas ao pé do fogo. São Paulo:<br />

Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1987.<br />

Nesse trecho, extraído de texto publicado<br />

originalmente em 1921, o narrador<br />

A) apresenta, sem explicitar juízos de<br />

valor, costumes da epoca, descrevendo<br />

os pratos servidos no jantar e a atitude<br />

de Nhô Tomé e de Tia Policena.<br />

166


B) desvaloriza a norma culta da língua<br />

porque incorpora à narrativa usos<br />

próprios da linguagem regional das<br />

personagens.<br />

C) condena os hábitos descritos, dando<br />

voz a Tia Policena, que tenta impedir<br />

Nhô Tomé de deitar-se após as<br />

refeições.<br />

D) utiliza a diversidade sociocultural e<br />

lingüística para demonstrar seu<br />

desrespeito às populações das zonas<br />

rurais do início do século XX.<br />

E) manifesta preconceito em relação a Tia<br />

Policena ao transcrever a fala dela com<br />

os erros próprios da região.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil, pois a alternativa<br />

"A" deixa clara a intencionalidade do<br />

narrador. Entretanto, o aluno poderia optar<br />

pela alternativa "B" caso não desse o devido<br />

valor ao sentido da palavra “desvaloriza”, que<br />

a elimina.<br />

16) (2006) Aula de português<br />

Explorando a função emotiva da<br />

linguagem, o poeta expressa o contraste<br />

entre marcas de variação de usos da<br />

linguagem em<br />

A) situações formais e informais.<br />

B) diferentes regiões do país.<br />

C) escolas literárias distintas.<br />

D) textos técnicos e poéticos.<br />

E) diferentes épocas.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil, pois o próprio título<br />

nos dá uma noção da dificuldade de<br />

transformar a linguagem coloquial e de uso<br />

cotidiano em uma linguagem formal,<br />

expressa no poema como “a misteriosa”.<br />

Drummond foi muito feliz em conseguir<br />

demonstrar a dificuldade em entender como<br />

estruturas simples da língua se tornam tão<br />

complexas ao se iniciar o processo de<br />

compreensão da estrutura lingüística.<br />

17) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />

preciso, além de conhecer o padrão<br />

formal da Língua Portuguesa, saber<br />

adequar o uso da linguagem ao contexto<br />

discursivo. Para exemplificar este fato,<br />

seu professor de Língua Portuguesa<br />

convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />

Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />

brinca com situações de discurso oral que<br />

fogem à expectativa do ouvinte.<br />

Aí, Galera<br />

Jogadores de futebol podem ser<br />

vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />

você pode imaginar um jogador de futebol<br />

dizendo "estereotipação"? E, no<br />

entanto, por que não?<br />

- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />

galera.<br />

- Minha saudação aos aficionados do<br />

clube e aos demais esportistas, aqui<br />

presentes ou no recesso dos seus lares.<br />

- Como é?<br />

- Aí, galera.<br />

- Quais são as instruções do técnico?<br />

- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />

trabalho de contenção coordenada, com<br />

energia otimizada, na zona de<br />

preparação, aumentam as<br />

probabilidades de, recuperado o<br />

esférico, concatenarmos um contragolpe<br />

agudo com parcimônia de meios e<br />

extrema objetividade, valendo-nos da<br />

desestruturação momentânea do<br />

sistema oposto, surpreendido pela<br />

reversão inesperada do fluxo da ação:<br />

- Ahn?<br />

- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />

pegá eles sem calça.<br />

- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />

coisa?<br />

- Posso dirigir uma mensagem de<br />

caráter sentimental, algo banal, talvez<br />

mesmo previsível e piegas, a uma<br />

pessoa à qual sou ligado por razões,<br />

inclusive, genéticas?<br />

167


168<br />

- Pode.<br />

- Uma saudação para a minha<br />

progenitora.<br />

- Como é?<br />

- Alô, mamãe!<br />

- Estou vendo que você é um, um...<br />

- Um jogador que confunde o<br />

entrevistador, pois não corresponde à<br />

expectativa de que o atleta seja um ser<br />

algo primitivo com dificuldade de<br />

expressão e assim sabota a<br />

estereotipação?<br />

- Estereoquê?<br />

- Um chato?<br />

- Isso.<br />

Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />

A expressão "pegá eles sem calça"<br />

poderia ser substituída, sem<br />

comprometimento de sentido, em língua<br />

culta, formal, por:<br />

A) pegá-los na mentira.<br />

B) pegá-los desprevenidos.<br />

C) pegá-los em flagrante.<br />

D) pegá-los rapidamente.<br />

E) pegá-los momentaneamente<br />

Comentário<br />

O trabalho que temos aqui é de<br />

compreensão de sentido. Se você nunca<br />

ouviu a expressão "de calças na mão", terá<br />

de imaginar o que acontece quando<br />

pegamos alguém nessa situação. Mas isso<br />

não basta. Se usar somente situações que<br />

pode imaginar, restarão as alternativas B e<br />

C. Esse problema só será solucionado se<br />

você entender bem o texto a que ele se<br />

refere. Como o jogador está falando em<br />

roubar a bola e partir para cima do adversário<br />

rapidamente, imagina-se que o adversário<br />

não esperava perder a bola naquele<br />

momento e, quando isso ocorreu, ele não<br />

estava preparado para receber um contraataque.<br />

Utilizando essa análise, somente a<br />

alternativa B está correta.<br />

18) (2000) Em uma conversa ou leitura de<br />

um texto, corre-se o risco de atribuir um<br />

significado inadequado a um termo ou<br />

expressão, e isso pode levar a certos<br />

resultados inesperados, como se vê nos<br />

quadrinhos abaixo.<br />

(SOUZA, Maurício de. Chico Bento.<br />

Rio de Janeiro: Ed. Globo, n o 335, Nov./99 )<br />

Nessa historinha, o efeito humorístico<br />

origina-se de uma situação criada pela<br />

fala da Rosinha no primeiro quadrinho,<br />

que é:<br />

A) Faz uma pose bonita!<br />

B) Quer tirar um retrato?<br />

C) Sua barriga está aparecendo!<br />

D) Olha o passarinho!<br />

E) Cuidado com o flash!<br />

Comentário<br />

Quem não se lembra de expressões<br />

humorísticas usadas quando se deseja tirar<br />

uma foto, como "Olha o passarinho" ou "Fale<br />

xis"?<br />

Pois é, essa é uma questão fácil e a<br />

interpretação do texto é simples, e não há<br />

por que ter dúvidas quanto à resposta, a não<br />

ser que não se leia a proposta da questão.<br />

Comentário do INEP<br />

Essa questão procurou avaliar se o<br />

participante conseguia inferir, a partir de uma<br />

seqüência narrativa de imagens, a expressão<br />

lingüística adequada à situação de<br />

interlocução, no caso a fala da personagem,<br />

no primeiro quadrinho. A expressão de uso<br />

coloquial 'olha o passarinho!', dependendo do<br />

contexto, tem diferentes significados, que<br />

nesse caso foram associados pelo cartunista<br />

para produzir o efeito de humor. A grande<br />

maioria - 89% - dos participantes realizou a<br />

inferência solicitada, analisando a função da<br />

linguagem e identificando a variante<br />

lingüística adequada à situação de<br />

interlocução, com base na leitura da<br />

seqüência das imagens e da fala da<br />

personagem no terceiro quadrinho. É<br />

interessante notar a abrangência dessa<br />

expressão metafórica no Brasil, criada no<br />

contexto informal da fala com seus<br />

significados correspondentes. Mesmo assim,<br />

11% dos participantes, possivelmente,<br />

desconhecem essa expressão ou não<br />

conseguiram realizar a transposição do<br />

significado humorístico da fala do último<br />

quadrinho.


19) (2006) Aula de português<br />

O texto destaca a diferença entre o<br />

português do Brasil e o de Portugal<br />

quanto<br />

A) ao vocabulário.<br />

B) à derivação.<br />

C) à pronúncia.<br />

D) ao gênero.<br />

E) à sintaxe.<br />

Comentário<br />

Questão de entendimento muito fácil, pois<br />

o próprio enunciado deixa claro que se trata<br />

das diferenças de vocabulário entre o<br />

português brasileiro e o lusitano.<br />

No poema, a referência à variedade<br />

padrão da língua está expressa no<br />

seguinte trecho:<br />

A) “A linguagem / na ponta da língua” (v.1<br />

e 2).<br />

B) “A linguagem / na superfície<br />

estrelada de letras” (v.5 e 6).<br />

C) “[a língua] em que pedia para ir lá<br />

fora” (v.14).<br />

D) “[a língua] em que levava e dava<br />

pontapé” (v.15).<br />

E) “[a língua] do namoro com a priminha”<br />

(v.17).<br />

Comentário<br />

Questão fácil, pois a alternativa "B" é a<br />

única que faz menção à norma-padrão da<br />

língua. As demais alternativas fogem a essa<br />

norma.<br />

20) (2005) Leia com atenção o texto:<br />

[Em Portugal], você poderá ter alguns<br />

probleminhas se entrar numa loja de<br />

roupas desconhecendo certas sutilezas da<br />

língua. Por exemplo, não adianta pedir<br />

para ver os ternos — peça para ver os<br />

fatos. Paletó é casaco. Meias são<br />

peúgas. Suéter é camisola — mas não<br />

se assuste, porque calcinhas femininas<br />

são cuecas. (Não é uma delícia?)<br />

(Ruy Castro. Viaje Bem. Ano VIII, no 3, 78.)<br />

21) (2006) No poema Procura da poesia,<br />

Carlos Drummond de Andrade expressa a<br />

concepção estética de se fazer com<br />

palavras o que o escultor Michelângelo<br />

fazia com mármore. O fragmento abaixo<br />

exemplifica essa afirmação.<br />

(...)<br />

Penetra surdamente no reino das<br />

palavras.<br />

Lá estão os poemas que esperam ser<br />

escritos.<br />

(...)<br />

Chega mais perto e contempla as<br />

palavras.<br />

Cada uma<br />

tem mil faces secretas sob a face neutra<br />

e te pergunta, sem interesse pela<br />

resposta,<br />

pobre ou terrível, que lhe deres:<br />

trouxeste a chave?<br />

Carlos Drummond de Andrade. A rosa do povo.<br />

Rio de Janeiro: Record, 1997, p. 13-14.<br />

Esse fragmento poético ilustra o seguinte<br />

tema constante entre autores<br />

modernistas:<br />

A) a nostalgia do passado colonialista<br />

revisitado.<br />

B) a preocupação com o engajamento<br />

político e social da literatura.<br />

C) o trabalho quase artesanal com as<br />

palavras, despertando sentidos novos.<br />

D) a produção de sentidos herméticos na<br />

busca da perfeição poética.<br />

E) a contemplação da natureza brasileira<br />

na perspectiva ufanista da pátria.<br />

Comentário<br />

Questão de nível difícil, pois o candidato<br />

deveria, além de interpretar o poema,<br />

conhecer o verdadeiro sentido de arte<br />

segundo Michelângelo, que achava que um<br />

bloco de mármore já tinha sua figura dentro<br />

169


dele e que seu trabalho seria somente<br />

lapidá-la. Dessa forma, o candidato deveria<br />

relacionar a estrutura de um bloco de<br />

mármore ao segundo verso do poema: “Lá<br />

estão os poemas que esperam ser escritos<br />

(...)”. Ou seja, esperava-se que o candidato<br />

fizesse a relação do bloco de mármore com<br />

as palavras, o que justifica a alternativa “C”<br />

como correta.<br />

22) (2002) Érico Veríssimo relata, em suas<br />

memórias, um episódio da adolescência<br />

que teve influência significativa em sua<br />

carreira de escritor.<br />

"Lembro-me de que certa noite — eu<br />

teria uns quatorze anos, quando muito —<br />

encarregaram-me de segurar uma<br />

lâmpada elétrica à cabeceira da mesa de<br />

operações, enquanto um médico fazia os<br />

primeiros curativos num pobre-diabo que<br />

soldados da Polícia Municipal haviam<br />

"carneado". (...) Apesar do horror e da<br />

náusea, continuei firme onde estava,<br />

talvez pensando assim: se esse caboclo<br />

pode agüentar tudo isso sem gemer, por<br />

que não hei de poder ficar segurando esta<br />

lâmpada para ajudar o doutor a costurar<br />

esses talhos e salvar essa vida? (...)<br />

Desde que, adulto, comecei a escrever<br />

romances, tem-me animado até hoje a<br />

idéia de que o menos que o escritor pode<br />

fazer, numa época de atrocidades e<br />

injustiças como a nossa, é acender a sua<br />

lâmpada, fazer luz sobre a realidade de<br />

seu mundo, evitando que sobre ele caia a<br />

escuridão, propícia aos ladrões, aos<br />

assassinos e aos tiranos. Sim, segurar a<br />

lâmpada, a despeito da náusea e do<br />

horror. Se não tivermos uma lâmpada<br />

elétrica, acendamos o nosso toco de vela<br />

ou, em último caso, risquemos fósforos<br />

repetidamente, como um sinal de que não<br />

desertamos nosso posto."<br />

VERÍSSIMO, Érico. Solo de Clarineta. Tomo I.<br />

Porto Alegre: Editora Globo, 1978.<br />

170<br />

Neste texto, por meio da metáfora da<br />

lâmpada que ilumina a escuridão, Érico<br />

Veríssimo define como uma das funções<br />

do escritor e, por extensão, da literatura,<br />

A) criar a fantasia.<br />

B) permitir o sonho.<br />

C) denunciar o real.<br />

D) criar o belo.<br />

E) fugir da náusea.<br />

Comentário<br />

Temos aqui um dos pontos mais comuns<br />

abordados na obra de Veríssimo: a denúncia<br />

social. “(...) o menos que o escritor pode<br />

fazer, numa época de atrocidades e<br />

injustiças como a nossa, é acender sua<br />

lâmpada, fazer luz sobre a realidade de seu<br />

mundo, evitando que sobre ele caia a<br />

escuridão, propícia aos ladrões, aos<br />

assassinos e aos tiranos.”<br />

A literatura deve, como a luz, mostrar não<br />

só as belezas, mas também as feridas da<br />

sociedade, para que as tentemos sanar.<br />

Comentário do INEP<br />

Essa questão apresenta para leitura e<br />

análise um trecho de Solo de Clarineta, em<br />

que Érico Veríssimo relata uma experiência<br />

de juventude e dela constrói uma metáfora<br />

para revelar o que ele entende ser uma das<br />

funções essenciais da literatura. "Lâmpada",<br />

"vela", "fósforos" devem ser lidos como a<br />

palavra comprometida em traduzir a<br />

realidade do mundo. Ou seja, afirmar que o<br />

escritor deve "fazer luz sobre a realidade de<br />

seu mundo", nesse contexto, equivale a<br />

afirmar que um papel da literatura é<br />

denunciar o real. Todas as alternativas<br />

propostas referem-se a eventuais funções da<br />

literatura. Apenas a alternativa C é pertinente<br />

ao contexto e foi escolhida por cerca de<br />

metade dos participantes.<br />

23) (1999) Leia o texto abaixo.<br />

Cabelos longos, brinco na orelha<br />

esquerda, físico de skatista. Na aparência,<br />

o estudante brasiliense Rui Lopes Viana<br />

Filho, de 16 anos, não lembra em nada o<br />

estereótipo dos gênios. Ele não usa<br />

pesados óculos de grau e está longe de<br />

ter um ar introspectivo. No final do mês<br />

passado, Rui retornou de Taiwan, onde<br />

enfrentou 419 competidores de todo o<br />

mundo na 39ª Olimpíada Internacional de<br />

Matemática. A reluzente medalha de ouro<br />

que ele trouxe na bagagem está<br />

dependurada sobre a cama de seu quarto,<br />

atulhado de rascunhos dos problemas<br />

matemáticos que aprendeu a decifrar nos<br />

últimos cinco anos.<br />

Veja – Vencer uma olimpíada serve de<br />

passaporte para uma carreira profissional<br />

meteórica?<br />

Rui – Nada disso. Decidi me dedicar à<br />

Olimpíada porque sei que a concorrência<br />

por um emprego é cada vez mais<br />

selvagem e cruel. Agora tenho algo a mais<br />

para oferecer. O problema é que as coisas


estão mudando muito rápido e não sei<br />

qual será minha profissão. Além de ser<br />

muito novo para decidir sobre o meu<br />

futuro profissional, sei que esse conceito<br />

de carreira mudou muito.<br />

(Entrevista de Rui Lopes Viana Filho à Veja,<br />

05/08/1998, n.31, p. 9-<strong>10</strong>)<br />

Na pergunta, o repórter estabelece uma<br />

relação entre a entrada do estudante no<br />

mercado de trabalho e a vitória na<br />

Olimpíada. O estudante<br />

A) concorda com a relação e afirma que o<br />

desempenho na Olimpíada é<br />

fundamental para sua entrada no<br />

mercado.<br />

B) discorda da relação e complementa<br />

que é fácil se fazer previsões sobre o<br />

mercado de trabalho.<br />

C) discorda da relação e afirma que seu<br />

futuro profissional independe de<br />

dedicação aos estudos.<br />

D) discorda da relação e afirma que seu<br />

desempenho só é relevante se<br />

escolher uma profissão relacionada à<br />

matemática.<br />

E) concorda em parte com a relação e<br />

complementa que é complexo fazer<br />

previsões sobre o mercado de trabalho.<br />

Comentário<br />

Não é difícil de se chegar à resposta<br />

correta ao se ler a reportagem. Ao final do<br />

último parágrafo — (...) Além de ser muito<br />

novo para decidir sobre o meu futuro<br />

profissional, sei que esse conceito de carreira<br />

mudou muito. —, o estudante praticamente<br />

fornece a resposta à questão, declarando-se<br />

realista ao não tentar prever seu futuro<br />

profissional devido à pouca idade e às<br />

mudanças no mercado de trabalho. Quanto a<br />

concordar parcialmente com o repórter, veja<br />

que ele, apesar de negar que o prêmio fosse<br />

uma garantia de sucesso profissional, logo<br />

depois afirma que, com ele, terá algo mais a<br />

oferecer ao mercado. Questão de nível fácil.<br />

Comentário do INEP<br />

Nesta situação-problema, o participante<br />

deveria demonstrar que compreendeu as<br />

premissas de um discurso, distinguindo a<br />

diferença de significado de palavras isoladas<br />

ou no contexto em que estão inseridas.<br />

Verificou-se que mais da metade dos<br />

participantes demonstrou possuir essa<br />

compreensão. Aqueles que optaram pelas<br />

alternativas C e D podem ter sido atraídos<br />

pelo significado negativo da expressão inicial<br />

"Nada disso".<br />

24) (2008) A Lei Federal n.º 9.985/2000, que<br />

instituiu o sistema nacional de unidades<br />

de conservação, define dois tipos de<br />

áreas protegidas. O primeiro, as unidades<br />

de proteção integral, tem por objetivo<br />

preservar a natureza, admitindo-se<br />

apenas o uso indireto dos seus recursos<br />

naturais, isto é, aquele que não envolve<br />

consumo, coleta, dano ou destruição dos<br />

recursos naturais. O segundo, as<br />

unidades de uso sustentável, tem por<br />

função compatibilizar a conservação da<br />

natureza com o uso sustentável de<br />

parcela dos recursos naturais. Nesse<br />

caso, permite-se a exploração do<br />

ambiente de maneira a garantir a<br />

perenidade dos recursos ambientais<br />

renováveis e dos processos ecológicos,<br />

mantendo-se a biodiversidade e os<br />

demais atributos ecológicos, de forma<br />

socialmente justa e economicamente<br />

viável.<br />

Considerando essas informações, analise<br />

a seguinte situação hipotética.<br />

Ao discutir a aplicação de recursos<br />

disponíveis para o desenvolvimento de<br />

determinada região, organizações civis,<br />

universidade e governo resolveram<br />

investir na utilização de uma unidade de<br />

proteção integral, o Parque Nacional do<br />

Morro do Pindaré, e de uma unidade de<br />

uso sustentável, a Floresta Nacional do<br />

Sabiá. Depois das discussões, a equipe<br />

resolveu levar adiante três projetos:<br />

— o projeto I consiste de pesquisas<br />

científicas embasadas exclusivamente<br />

na observação de animais;<br />

— o projeto II inclui a construção de uma<br />

escola e de um centro de vivência;<br />

— o projeto III promove a organização de<br />

uma comunidade extrativista que<br />

poderá coletar e explorar<br />

comercialmente frutas e sementes<br />

nativas.<br />

Nessa situação hipotética, atendendo-se à<br />

lei mencionada acima, é possível<br />

desenvolver tanto na unidade de proteção<br />

integral quanto na de uso sustentável<br />

A) apenas o projeto I.<br />

B) apenas o projeto III.<br />

C) apenas os projetos I e II.<br />

D) apenas os projetos II e III.<br />

E) todos os três projetos.<br />

Comentário do portal<br />

A alternativa correta é a letra "A", pois,<br />

analisando-se a situação hipotética sugerida<br />

no enunciado, percebe-se que ela deverá<br />

atender os requisitos tanto da unidade de<br />

171


proteção integral quanto da unidade de uso<br />

sustentável. Portanto, apenas o projeto I<br />

poderá ser desenvolvido nessas duas<br />

propostas de unidades.<br />

25) (1999)<br />

172<br />

(QUINO. Mafalda inédita. São Paulo: Martins Fontes, 1993)<br />

Observando as falas das personagens,<br />

analise o emprego do pronome SE e o<br />

sentido que adquire no contexto. No<br />

contexto da narrativa, é correto afirmar<br />

que o pronome SE:<br />

A) em I, indica reflexividade e equivale a<br />

"a si mesmas".<br />

B) em II, indica reciprocidade e equivale a<br />

"a si mesma".<br />

C) em III, indica reciprocidade e equivale<br />

a "umas às outras".<br />

D) em I e III, indica reciprocidade e<br />

equivale a "umas às outras".<br />

E) em II e III, indica reflexividade e<br />

equivale a "a si mesma " e "a si<br />

mesmas", respectivamente.<br />

Comentário<br />

Mais uma questão que fala por si própria.<br />

Lendo o segundo quadrinho — "Quer dizer<br />

que você também se ama muito mais no<br />

Natal?" —, é fácil de se identificar o pronome<br />

reflexivo. Basta que se troque se ama por<br />

ama a si mesma. O mesmo ocorre no<br />

terceiro quadrinho em "Por que será que as<br />

pessoas se amam muito mais no Natal?" —<br />

Por que será que as pessoas amam a si<br />

mesmas? Questão de grau fácil.<br />

Comentário do INEP<br />

Este problema requeria que o participante<br />

mobilizasse conhecimentos sobre os<br />

significados de "reciprocidade e<br />

"reflexividade" e o associasse à<br />

compreensão de linguagem iconográfica.<br />

Cerca de metade dos participantes<br />

demonstrou essa capacidade. A opção de<br />

30% dos participantes pela alternativa D<br />

pode indicar que eles utilizaram as imagens<br />

apenas como ilustração do texto e não como<br />

linguagem capaz de instituir novos<br />

significados.<br />

26) (1998) Texto 1<br />

"Mulher, Irmã, escuta-me: não ames,<br />

Quando a teus pés um homem terno e<br />

curvo<br />

jurar amor, chorar pranto de sangue,<br />

Não creias, não, mulher: ele te engana!<br />

As lágrimas são gotas da mentira<br />

E o juramento manto da perfídia."<br />

(Joaquim Manoel de Macedo)<br />

Texto 2<br />

"Teresa, se algum sujeito bancar o<br />

sentimental em cima de você<br />

E te jurar uma paixão do tamanho de um<br />

bonde<br />

Se ele chorar<br />

Se ele ajoelhar<br />

Se ele se rasgar todo<br />

Não acredite não Teresa<br />

É lágrima de cinema<br />

É tapeação<br />

Mentira<br />

CAI FORA"<br />

(Manuel Bandeira)<br />

Os autores, ao fazerem alusão às<br />

imagens da lágrima sugerem que:<br />

A) há um tratamento idealizado da<br />

relação homem/mulher.<br />

B) há um tratamento realista da relação<br />

homem/mulher.<br />

C) a relação familiar é idealizada.<br />

D) a mulher é superior ao homem.<br />

E) a mulher é igual ao homem.<br />

Comentário<br />

Ambos os autores, ao utilizarem a<br />

imagem da lágrima, estão na realidade<br />

mostrando que a figura do homem que é<br />

romântico a ponto de chorar ao jurar amor<br />

não existe. Tanto Macedo quanto<br />

Bandeira alertam as mulheres dizendo,<br />

com palavras e estilos diferentes, que não<br />

há homem que chore por amor (portanto,<br />

essa figura é uma idealização — e, por<br />

conseguinte, toda imagem que se tem<br />

sobre os relacionamentos<br />

demasiadamente românticos). Note que<br />

Bandeira chega até mesmo a chamar tal<br />

"chorão" de ator ("...É lágrima de cinema /<br />

É tapeação..."). Macedo dá uma imagem<br />

pesada às lágrimas ("...são gotas da<br />

mentira...").<br />

27) (2001) Os provérbios constituem um<br />

produto da sabedoria popular e, em geral,<br />

pretendem transmitir um ensinamento. A<br />

alternativa em que os dois provérbios<br />

remetem a ensinamentos semelhantes é:


A) “Quem diz o que quer, ouve o que não<br />

quer” e “Quem ama o feio, bonito lhe<br />

parece”.<br />

B) “Devagar se vai ao longe” e “De grão<br />

em grão, a galinha enche o papo”.<br />

C) “Mais vale um pássaro na mão do que<br />

dois voando” e “Não se deve atirar<br />

pérolas aos porcos”.<br />

D) “Quem casa quer casa” e “Santo de<br />

casa não faz milagre”.<br />

E) “Quem com ferro fere, com ferro será<br />

ferido” e “Casa de ferreiro, espeto de<br />

pau”.<br />

Comentário<br />

Questão fácil. A alternativa B apresenta<br />

dois provérbios que tratam de paciência,<br />

perseverança. A mensagem é a mesma em<br />

ambos.<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão propõe uma série de<br />

provérbios agrupados aos pares, para que o<br />

participante demonstre compreender e<br />

comparar os provérbios de modo a identificar<br />

aqueles que traduzem ensinamentos<br />

semelhantes. A organização sintáticosemântica<br />

dos provérbios cria um efeito de<br />

sentido metafórico que deve ser recuperado,<br />

analisado e comparado, o que foi<br />

corretamente feito por cerca de 80% dos<br />

participantes.<br />

28) (2006) No romance Vidas Secas, de<br />

Graciliano Ramos, o vaqueiro Fabiano<br />

encontra-se com o patrão para receber o<br />

salário. Eis parte da cena:<br />

Graciliano Ramos. Vidas Secas. 91.ª ed.<br />

Rio de Janeiro: Record, 2003.<br />

No fragmento transcrito, o padrão formal<br />

da linguagem convive com marcas de<br />

regionalismo e de coloquialismo no<br />

vocabulário. Pertence à variedade do<br />

padrão formal da linguagem o seguinte<br />

trecho:<br />

A) Não se conformou: devia haver<br />

engano (l.1).<br />

B) Fabiano perdeu os estribos (l.3).<br />

C) Passar a vida inteira assim no toco<br />

(l.4).<br />

D) Entregando o que era dele de mao<br />

beijada! (l.4-5).<br />

E) Aí Fabiano baixou a pancada e<br />

amunhecou (l.11).<br />

Comentário do portal<br />

Questão de nível fácil. Bastaria que o<br />

candidato conhecesse o padrão formal da<br />

linguagem e distinguisse-o do regionalismo e<br />

do coloquialismo.<br />

29) (202) "Narizinho correu os olhos pela<br />

assistência. Não podia haver nada mais<br />

curioso. Besourinhos de fraque e flores na<br />

lapela conversavam com baratinhas de<br />

mantilha e miosótis nos cabelos. Abelhas<br />

douradas, verdes e azuis, falavam mal<br />

das vespas de cintura fina — achando que<br />

era exagero usarem coletes tão<br />

apertados. Sardinhas aos centos<br />

criticavam os cuidados excessivos que as<br />

borboletas de toucados de gaze tinham<br />

com o pó das suas asas. Mamangavas de<br />

ferrões amarrados para não morderem. E<br />

canários cantando, e beija-flores beijando<br />

flores, e camarões camaronando, e<br />

caranguejos caranguejando, tudo que é<br />

pequenino e não morde, pequeninando e<br />

não mordendo."<br />

LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. São Paulo:<br />

Brasiliense, 1947.<br />

No último período do trecho, há uma série<br />

de verbos no gerúndio que contribuem<br />

para caracterizar o ambiente fantástico<br />

descrito. Expressões como<br />

"camaronando", "caranguejando" e<br />

"pequeninando e não mordendo" criam,<br />

principalmente, efeitos de<br />

A) esvaziamento de sentido.<br />

B) monotonia do ambiente.<br />

C) estaticidade dos animais.<br />

D) interrupção dos movimentos.<br />

E) dinamicidade do cenário.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. O dinamismo dos<br />

verbos no gerúndio tem como função<br />

principal dar vida às personagens do mundo<br />

fantástico. Não há estagnação. Cada animal<br />

faz o que lhe cabe.<br />

173


Comentário do INEP<br />

Essa questão apresenta para leitura e<br />

análise um trecho da obra Reinações de<br />

Narizinho, de Monteiro Lobato, e, nele, a<br />

descrição reflete as fantasias do mundo<br />

infantil. A questão propõe que seja resolvido<br />

um problema de linguagem, que é a<br />

identificação dos sentidos criados no texto<br />

pelo emprego de vários verbos no gerúndio,<br />

alguns dos quais, neologismos criados pelo<br />

autor. Como o texto é uma descrição, temos<br />

o relato de um ambiente que se agita com as<br />

ações simultâneas dos muitos seres que o<br />

habitam. Cabe ao participante perceber que<br />

o efeito dinâmico é criado pelos verbos de<br />

ação no gerúndio, que é a forma verbal da<br />

ação se fazendo. Ou seja, é função típica do<br />

gerúndio traduzir a noção de uma ação que<br />

se desenvolve de modo simultâneo à sua<br />

enunciação. Nesse ambiente retratado por<br />

Monteiro Lobato, os bichinhos humanizados<br />

se agitam, lembrando um burburinho de<br />

crianças. Apenas a alternativa E, assinalada<br />

por 36% dos participantes, responde<br />

corretamente a questão. As outras<br />

alternativas contemplam efeitos ou<br />

significados que, apesar de eventualmente<br />

serem transmitidos pelo emprego do<br />

gerúndio, não se verificam no texto.<br />

30) (2005) As dimensões continentais do<br />

Brasil são objeto de reflexões expressas<br />

em diferentes linguagens. Esse tema<br />

aparece no seguinte p"Narizinho correu os<br />

olhos pela assistência. Não podia haver nada<br />

mais curioso. Besourinhos de oema:<br />

“(....)<br />

Que importa que uns falem mole<br />

descansado<br />

Que os cariocas arranhem os erres na<br />

garganta<br />

Que os capixabas e paroaras escancarem<br />

as vogais?<br />

Que tem se o quinhentos réis meridional<br />

Vira cinco tostões do Rio pro Norte?<br />

Junto formamos este assombro de<br />

misérias e grandezas,<br />

Brasil, nome de vegetal! (....)”<br />

(Mário de Andrade. Poesias completas. 6. ed. São Paulo:<br />

Martins Editora, 1980.)<br />

O texto poético ora reproduzido trata das<br />

diferenças brasileiras no âmbito<br />

A) étnico e religioso.<br />

B) lingüístico e econômico.<br />

C) racial e folclórico.<br />

D) histórico e geográfico.<br />

E) literário e popular.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil, pois a primeira<br />

estrofe, ao enunciar os erres arranhados dos<br />

cariocas e as vogais abertas dos capixabas,<br />

evidencia a diferença lingüística entre duas<br />

regiões distintas do Brasil, dando noção da<br />

variedade. Já na segunda estrofe, as<br />

diferenças econômicas são evidenciadas ao<br />

se mostrarem os réis e tostões variando da<br />

Região Meridional para a Norte.<br />

31) (1999) Considere os textos abaixo.<br />

(...) de modo particular, quero encorajar os<br />

crentes empenhados no campo da<br />

filosofia para que iluminem os diversos<br />

âmbitos da atividade humana, graças ao<br />

exercício de uma razão que se torna mais<br />

segura e perspicaz com o apoio que<br />

recebe da fé.<br />

(Papa João Paulo II. Carta Encíclica Fides<br />

et Ratio aos bispos da igreja católica sobre as relações<br />

entre fé e razão, 1998)<br />

As verdades da razão natural não<br />

contradizem as verdades da fé cristã.<br />

(São Tomás de Aquino<br />

–pensador medieval)<br />

Refletindo sobre os textos, pode-se<br />

concluir que:<br />

A) a encíclica papal está em contradição<br />

com o pensamento de São Tomás de<br />

Aquino, refletindo a diferença de<br />

épocas.<br />

B) a encíclica papal procura<br />

complementar São Tomás de Aquino,<br />

pois este colocava a razão natural<br />

acima da fé.<br />

C) a Igreja medieval valorizava a razão<br />

mais do que a encíclica de João Paulo<br />

II.<br />

D) o pensamento teológico teve sua<br />

importância na Idade Média, mas, em<br />

nossos dias, não tem relação com o<br />

pensamento filosófico.<br />

E) tanto a encíclica papal como a frase<br />

de São Tomás de Aquino procuram<br />

conciliar os pensamentos sobre fé e<br />

razão.<br />

Comentário<br />

Nessa questão, é necessária uma<br />

releitura do texto para que se tenha uma<br />

melhor compreensão do tema. Tanto a<br />

citação do Papa quanto a de São Tomás de<br />

Aquino tentam criar uma interdependência<br />

entre a ciência e a fé, a religião. O Papa<br />

incentiva aqueles que exercem a pesquisa<br />

científica ou filosófica a manter a fé cristã.<br />

174


São Tomás de Aquino, por sua vez, equipara<br />

o avanço da ciência ao aumento da própria<br />

fé, afirmando que a razão natural não<br />

contradiz a fé cristã. Se um cresce, cresce<br />

também o outro, em harmonia e sem<br />

contradições. Questão de grau médio.<br />

(Português)<br />

Nessa questão, encontramos dois textos: o<br />

primeiro, do século XX, foi elaborado pelo Papa<br />

João Paulo II; o segundo, do século XIII, pelo<br />

teólogo e filósofo cristão São Tomás de Aquino.<br />

O conteúdo de ambos se refere à ligação entre<br />

fé e razão, a qual esteve presente na filosofia<br />

escolástica da Idade Média. Esse campo de<br />

reflexão buscou conciliar o cristianismo com o<br />

pensamento de Aristóteles e teve em São<br />

Tomás de Aquino seu maior representante.<br />

Mesmo sem ter todas essas informações,<br />

você poderia responder tranqüilamente à<br />

questão por meio de uma leitura atenta dos<br />

dois textos, chegando à conclusão de que<br />

"tanto a encíclica papal como a frase de São<br />

Tomás de Aquino procuram conciliar os<br />

pensamentos sobre fé e razão". Resposta<br />

correta: alternativa E. (História)<br />

Comentário do INEP<br />

Para resolver esta situação-problema, o<br />

participante deveria mostrar que, além de<br />

interpretar textos, sabe relacioná-los sendo<br />

que, nesse item, essas operações referem-se a<br />

um texto escrito na época medieval e a outro<br />

escrito recentemente.<br />

Mais de 70% dos participantes<br />

demonstraram facilidade em estabelecer esta<br />

relação.<br />

32) (2001) Murilo Mendes, em um de seus<br />

poemas, dialoga com a carta de Pero Vaz<br />

de Caminha:<br />

“A terra é mui graciosa,<br />

Tão fértil eu nunca vi.<br />

A gente vai passear,<br />

No chão espeta um caniço,<br />

No dia seguinte nasce<br />

Bengala de castão de oiro.<br />

Tem goiabas, melancias,<br />

Banana que nem chuchu.<br />

Quanto aos bichos, tem-nos muito,<br />

De plumagens mui vistosas.<br />

Tem macaco até demais<br />

Diamantes tem à vontade<br />

Esmeralda é para os trouxas.<br />

Reforçai, Senhor, a arca,<br />

Cruzados não faltarão,<br />

Vossa perna encanareis,<br />

Salvo o devido respeito.<br />

Ficarei muito saudoso<br />

Se for embora daqui”.<br />

MENDES, Murilo. Murilo Mendes —<br />

poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.<br />

Arcaísmos e termos coloquiais misturamse<br />

nesse poema, criando um efeito de<br />

contraste, como ocorre em:<br />

A) A terra é mui graciosa / Tem macaco<br />

até demais.<br />

B) Salvo o devido respeito / Reforçai,<br />

Senhor, a arca<br />

C) A gente vai passear / Ficarei muito<br />

saudoso<br />

D) De plumagens mui vistosas / Bengala<br />

de castão de oiro<br />

E) No chão espeta um caniço / Diamantes<br />

tem à vontade<br />

Comentário<br />

Aqui, procuramos uma alternativa que<br />

apresente um trecho em linguagem coloquial<br />

e outro em linguagem arcaica.<br />

As alternativas B, C e E apresentam<br />

apenas a linguagem coloquial. A D, somente<br />

a arcaica.<br />

Sobra-nos a primeira alternativa: "A terra é<br />

mui graciosa" (mui é um arcaísmo); "tem<br />

macaco até demais" (linguagem coloquial).<br />

Comentário do INEP<br />

O efeito de paródia, explorado como<br />

recurso estilístico pelo autor desse poema,<br />

apresenta-se na utilização de expressões<br />

retomadas ora da carta de Pero Vaz de<br />

Caminha ora da linguagem coloquial corrente<br />

de época, gerando um efeito de humor<br />

crítico. Uma condição essencial para<br />

compreender o problema proposto nessa<br />

questão – identificar os arcaísmos e os<br />

coloquialismos existentes no poema – é<br />

conhecer o contexto de produção do texto e<br />

sua relação intratextual. Se o participante<br />

desconhece ou não considera o contexto<br />

histórico do poema, a identificação será<br />

parcial, já que o enunciado indica como<br />

pressuposto "a criação de um efeito de<br />

contraste" na utilização das expressões.<br />

Possivelmente a utilização de "contraste"<br />

como critério de interpretação justifica os<br />

percentuais de escolhas dos distratores. Uma<br />

outra possível explicação para esses<br />

percentuais deve-se ao fato de os<br />

participantes terem considerado apenas os<br />

termos "arcaísmo" e "coloquialismo" e, não<br />

tendo elementos para analisá-los,<br />

provavelmente deslocaram o texto do<br />

contexto e apoiaram-se em outros elementos<br />

para resolver a questão.<br />

175


33) (2008) Considerando o soneto de<br />

Cláudio Manoel da Costa e os elementos<br />

constitutivos do Arcadismo brasileiro,<br />

assinale a opção correta acerca da<br />

relação entre o poema e o momento<br />

histórico de sua produção.<br />

A) Os “montes” e “outeiros”, mencionados<br />

na primeira estrofe, são imagens<br />

relacionadas à Metrópole, ou seja, ao<br />

lugar onde o poeta se vestiu com traje<br />

“rico e fino”.<br />

B) A oposição entre a Colônia e a<br />

Metrópole, como núcleo do poema,<br />

revela uma contradição vivenciada pelo<br />

poeta, dividido entre a civilidade do<br />

mundo urbano da Metrópole e a<br />

rusticidade da terra da Colônia.<br />

C) O bucolismo presente nas imagens do<br />

poema é elemento estético do<br />

Arcadismo que evidencia a<br />

preocupação do poeta árcade em<br />

realizar uma representação literária<br />

realista da vida nacional.<br />

D) A relação de vantagem da “choupana”<br />

sobre a “Cidade”, na terceira estrofe, é<br />

formulação literária que reproduz a<br />

condição histórica paradoxalmente<br />

vantajosa da Colônia sobre a<br />

Metrópole.<br />

E) A realidade de atraso social, político e<br />

econômico do Brasil Colônia está<br />

representada esteticamente no poema<br />

pela referência, na última estrofe, à<br />

transformação do pranto em alegria.<br />

Comentário<br />

A questão exige conhecimento das<br />

características do Arcadismo. A principal<br />

delas, presente no texto, é o bucolismo,<br />

representado pela paisagem da colônia. Esta<br />

é apresentada em oposição à paisagem da<br />

cidade ou metrópole. O poeta, que participou<br />

da Inconfidência Mineira, viveu em Lisboa.<br />

Dessa forma, o termo “vivenciado” da<br />

alternativa "B" justifica a oposição campo x<br />

cidade apresentada no poema. Logo, só<br />

pode ser essa a alternativa correta.<br />

34) (2008) Assinale a opção que apresenta<br />

um verso do soneto de Cláudio Manoel da<br />

Costa em que o poeta se dirige ao seu<br />

interlocutor.<br />

A) “Torno a ver-vos, ó montes; o<br />

destino” (v.1)<br />

B) “Aqui estou entre Almendro, entre<br />

Corino,” (v.5)<br />

C) “Os meus fiéis, meus doces<br />

companheiros,” (v.6)<br />

176<br />

D) “Vendo correr os míseros vaqueiros”<br />

(v.7)<br />

E) “Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto,”<br />

(v.11)<br />

Comentário<br />

Nesta questão, basta que o aluno<br />

identifique o pronome oblíquo, presente no<br />

verso um, que chama o leitor para o texto.<br />

Sendo assim, a resposta correta é a letra "A".<br />

35) (2008)<br />

Dick Browne. O melhor de Hagar, o horrível, v. 2. L&PM<br />

pocket, p.55-6 (com adaptações).<br />

Assinale o trecho do diálogo que<br />

apresenta um registro informal, ou<br />

coloquial, da linguagem.<br />

A) “Tá legal, espertinho! Onde é que<br />

você esteve?!”<br />

B) “E lembre-se: se você disser uma<br />

mentira, os seus chifres cairão!”<br />

C) “Estou atrasado porque ajudei uma<br />

velhinha a atravessar a rua...”<br />

D) “...e ela me deu um anel mágico que<br />

me levou a um tesouro”<br />

E) “mas bandidos o roubaram e os<br />

persegui até a Etiópia, onde um<br />

dragão...”<br />

Comentário<br />

Linguagem coloquial é aquela usada no<br />

cotidiano, que tem como característica<br />

principal a oralidade, ou seja, aquela que não<br />

segue o rigor da norma culta.<br />

Entre as alternativas da questão, apenas<br />

a letra "A" apresenta esses traços.


36) (2007)<br />

37) (1998) A discussão sobre gramática na<br />

classe está "quente". Será que os<br />

brasileiros sabem gramática? A<br />

professora de Português propõe para<br />

debate o seguinte texto:<br />

PRA MIM BRINCAR<br />

Não há nada mais gostoso do que o<br />

mim sujeito de verbo no infinito. Pra mim<br />

brincar. As cariocas que não sabem<br />

gramática falam assim. Todos os<br />

brasileiros deviam de querer falar como as<br />

cariocas que não sabem gramática.<br />

- As palavras mais feias da língua<br />

portuguesa são quiçá, alhures e miúde.<br />

(BANDEIRA, Manuel. Seleta em prosa e verso. Org:<br />

Emanuel de Moraes.4ª ed. Rio de Janeiro,<br />

José Olympio, 1986. Pág. 19)<br />

A antítese que configura uma imagem da<br />

divisão social do trabalho na sociedade<br />

brasileira é expressa poeticamente na<br />

oposição entre a doçura do branco açúcar<br />

e<br />

A) o trabalho do dono da mercearia de<br />

onde veio o açúcar.<br />

B) o beijo de moça, a água na pele e a flor<br />

que se dissolve na boca.<br />

C) o trabalho do dono do engenho em<br />

Pernambuco, onde se produz o açúcar.<br />

D) a beleza dos extensos canaviais que<br />

nascem no regaço do vale.<br />

E) o trabalho dos homens de vida<br />

amarga em usinas escuras.<br />

Comentário<br />

Questão de nível médio. O aluno deve<br />

perceber, na leitura do poema, várias<br />

antíteses. Entre elas, destaca-se a doçura do<br />

açúcar com a amargura da vida dos<br />

trabalhadores e a brancura dele com a<br />

escuridão das usinas. Porém, o grande<br />

destaque que o autor quer dar é o valor do<br />

trabalho do homem das usinas, que é o<br />

verdadeiro responsável pela produção do<br />

açúcar. Portanto, a alternativa E é a correta.<br />

Com a orientação da professora e após o<br />

debate sobre o texto de Manuel Bandeira,<br />

os alunos chegaram à seguinte conclusão:<br />

A) uma das propostas mais ousadas do<br />

Modernismo foi a busca da identidade<br />

do povo brasileiro e o registro, no texto<br />

literário, da diversidade das falas<br />

brasileiras.<br />

B) apesar de os modernistas registrarem<br />

as falas regionais do Brasil, ainda<br />

foram preconceituosos em relação às<br />

cariocas.<br />

C) a tradição dos valores portugueses foi<br />

a pauta temática do movimento<br />

modernista.<br />

D) Manuel Bandeira e os modernistas<br />

brasileiros exaltaram em seus textos o<br />

primitivismo da nação brasileira.<br />

E) Manuel Bandeira considera a<br />

diversidade dos falares brasileiros uma<br />

agressão à Língua Portuguesa.<br />

Comentário<br />

Para resolver essa questão, é<br />

importantíssimo dar atenção a quem foi o<br />

autor do texto do enunciado — Manuel<br />

Bandeira. Ele participou da primeira fase do<br />

Modernismo brasileiro, conhecida como<br />

geração de 22. Ela tinha, dentre diversas<br />

propostas, uma de fundamental importância<br />

para essa questão: a busca da identidade do<br />

povo brasileiro, valorizando a cultura, a<br />

intelectualidade e a sociedade do país. Entre<br />

essas questões, encontrava-se, com realce,<br />

a da língua brasileira. Buscava-se uma<br />

aproximação entre a língua escrita, herdada<br />

dos portugueses, e a nossa língua falada,<br />

dando-se preferência à linguagem oral. Com<br />

isso em mente, teremos a alternativa A como<br />

correta.<br />

177


38) (1999) Leia um texto publicado no jornal<br />

Gazeta Mercantil. Esse texto é parte de<br />

um artigo que analisa algumas situações<br />

de crise no mundo, entre elas, a quebra<br />

da Bolsa de Nova Iorque em 1929, e foi<br />

publicado na época de uma iminente crise<br />

financeira no Brasil.<br />

Deu no que deu. No dia 29 de outubro de<br />

1929, uma terça-feira, praticamente não<br />

havia compradores no pregão de Nova<br />

Iorque, só vendedores. Seguiu-se uma<br />

crise incomparável: o Produto Interno<br />

Bruto dos Estados Unidos caiu de <strong>10</strong>4<br />

bilhões de dólares em 1929, para 56<br />

bilhões em 1933, coisa inimaginável em<br />

nossos dias. O valor do dólar caiu a quase<br />

metade. O desemprego elevou-se de 1,5<br />

milhão para 12,5 milhões de trabalhadores<br />

– cerca de 25% da população ativa –<br />

entre 1929 e 1933. A construção civil caiu<br />

90%. Nove milhões de aplicações, tipo<br />

caderneta de poupança, perderam-se com<br />

o fechamento dos bancos. Oitenta e cinco<br />

mil firmas faliram. Houve saques e norteamericanos<br />

que passaram fome.<br />

(Gazeta Mercantil, 05/01/1999)<br />

Ao citar dados referentes à crise ocorrida<br />

em 1929, em um artigo jornalístico atual,<br />

pode-se atribuir ao jornalista a seguinte<br />

intenção:<br />

A) questionar a interpretação da crise.<br />

B) comunicar sobre o desemprego.<br />

C) instruir o leitor sobre aplicações em<br />

bolsa de valores.<br />

D) relacionar os fatos passados e<br />

presentes.<br />

E) analisar dados financeiros americanos.<br />

Comentário<br />

Nessa questão, o que se tem de fazer é<br />

prestar atenção às alternativas das<br />

respostas. Nenhuma delas se apresenta tão<br />

bem contextualizada a uma possível<br />

interpretação quanto a letra D. Partindo-se da<br />

análise do texto, fica claro que a intenção do<br />

artigo é remeter o leitor ao passado para<br />

tentar conduzi-lo a uma reflexão sobre uma<br />

situação presente, não mencionada na<br />

questão. Após a leitura e utilizando-se a já<br />

citada eliminação de questões, torna-se clara<br />

a resposta. Questão de nível médio.<br />

(Português)<br />

Muitas vezes, quando procuramos<br />

entender uma crise econômica ou financeira<br />

de grandes proporções, buscamos<br />

estabelecer relações com crises passadas. O<br />

mesmo ocorre no jornalismo, como prova o<br />

texto encontrado nessa questão. Buscando<br />

entender uma crise ocorrida no início de<br />

1999, o jornalista da Gazeta Mercantil<br />

buscou relacionar a situação dessa época<br />

com a grande crise de 1929 que afetou o<br />

mundo, trazendo desemprego e recessão,<br />

entre tantos outros problemas econômicos e<br />

sociais.<br />

Para responder a essa questão, era<br />

necessário ler atentamente o enunciado, em<br />

que está destacado que "o texto é parte de<br />

um artigo que analisa algumas situações de<br />

crise no mundo" e "foi publicado na época de<br />

uma iminente crise financeira no Brasil". Era<br />

importante também observar a data em que o<br />

artigo foi publicado: 05/01/1999. A partir<br />

dessas constatações, facilmente você<br />

chegaria a conclusão de que a intenção do<br />

jornalista era "relacionar os fatos passados e<br />

presentes". Resposta correta: alternativa D.<br />

(História)<br />

Comentário do INEP<br />

A resolução da questão demandava a<br />

capacidade dos participantes de relacionar<br />

eventos históricos envolvendo crises<br />

econômicas ocorridas em épocas e lugares<br />

distintos. Aproximadamente 2/3 deles<br />

demonstraram essa capacidade. Os demais,<br />

provavelmente, não compreenderam a<br />

exigência expressa no enunciado do<br />

problema – apontar as razões pelas quais um<br />

jornalista traz à tona eventos ocorridos<br />

setenta anos antes –, e apenas interpretaram<br />

o sentido do texto citado, que descreve a<br />

crise mundial de 1929.<br />

39) (2000) “Precisa-se nacionais sem<br />

nacionalismo, (...) movidos pelo presente<br />

mas estalando naquele cio racial que só<br />

as tradições maduram! (...). Precisa-se<br />

gentes com bastante meiguice no<br />

sentimento, bastante força na peitaria,<br />

bastante paciência no entusiasmo e<br />

sobretudo, oh! sobretudo bastante<br />

vergonha na cara!<br />

(...) Enfim: precisa-se brasileiros! Assim<br />

está escrito no anúncio vistoso de cores<br />

desesperadas pintado sobre o corpo do<br />

nosso Brasil, camaradas.”<br />

(Jornal A Noite, São Paulo, 18/12/1925 apud LOPES, Telê<br />

Porto Ancona. Mário<br />

de Andrade: ramais e caminhos. São Paulo: Duas<br />

Cidades, 1972)<br />

No trecho acima, Mário de Andrade dá<br />

forma a um dos itens do ideário<br />

modernista, que é o de firmar a feição de<br />

uma língua mais autêntica, “brasileira”, ao<br />

178


expressar-se numa variante de linguagem<br />

popular identificada pela (o):<br />

A) escolha de palavras como cio, peitaria,<br />

vergonha.<br />

B) emprego da pontuação.<br />

C) repetição do adjetivo bastante.<br />

D) concordância empregada em Assim<br />

está escrito.<br />

E) escolha de construção do tipo<br />

precisa-se gentes.<br />

Comentário<br />

Apesar de essa questão misturar vários<br />

tipos de informação, se você se lembra um<br />

pouquinho dos usos da partícula se, com<br />

certeza não encontrará grande dificuldade.<br />

Segundo a regra gramatical, o verbo<br />

"precisa-se" deveria ir para o plural<br />

(precisam-se), mas essa noção de verbo<br />

concordante com o sujeito há muito<br />

desapareceu na variante popular brasileira.<br />

Mas, caso você não se lembre muito bem<br />

desse assunto ou ficou meio confuso com o<br />

texto e as outras alternativas, o caminho é<br />

responder por eliminação.<br />

A primeira alternativa apresenta palavras<br />

comuns no português brasileiro, mas<br />

nenhuma "invenção" nacional. Na dúvida,<br />

pense em "vergonha": não é uma invenção<br />

brasileira. Todos os que falam português no<br />

mundo conhecem bem essa palavra. A<br />

pontuação no texto não chama nenhuma<br />

atenção. Você provavelmente não viu nada<br />

de estranho nela. Da mesma forma, o<br />

"bastante" da terceira alternativa não é nada<br />

mais que um mecanismo de retórica, usado<br />

para dar ênfase à idéia. Com o "Assim está<br />

escrito", encontramos a mesma situação: um<br />

trecho litúrgico é usado para maior ênfase.<br />

Comentário do INEP<br />

A questão procurou avaliar se o<br />

participante era capaz de, a partir da leitura<br />

de um texto de Mário de Andrade , identificar<br />

e analisar uma variante lingüística de uso<br />

coloquial, utilizadas estilisticamente pelo<br />

autor. O uso estilístico das variantes marcou<br />

a primeira fase da literatura brasileira<br />

modernista. O trecho destaca em seu todo<br />

esse uso da linguagem popular. A escolha da<br />

construção 'precisa-se gentes' é marca desse<br />

uso estilístico. O índice de 37% na alternativa<br />

(A) demonstra, possivelmente, que os<br />

participantes não consideraram a escolha<br />

dos vocábulos, dentro do contexto do texto,<br />

confundindo as palavras que aparecem na<br />

alternativa com '...a feição de uma língua<br />

mais autêntica...'.O percentual de acertos foi<br />

da ordem de 40%.<br />

40) (2004) O poema abaixo pertence à<br />

poesia concreta brasileira. O termo latino<br />

de seu título significa "epitalâmio", poema<br />

ou canto em homenagem aos que se<br />

casam.<br />

Considerando que símbolos e sinais são<br />

utilizados geralmente para demonstrações<br />

objetivas, ao serem incorporados no<br />

poema "Epithalamium - II".<br />

A) adquirem novo potencial de<br />

significação.<br />

B) eliminam a subjetividade do poema.<br />

C) opõem-se ao tema principal do poema.<br />

D) invertem seu sentido original.<br />

E) tornam-se confusos e equivocados.<br />

Comentário<br />

Diferentemente, por exemplo, da<br />

aplicação matemática dos símbolos, em que<br />

sinais como "=", "+", "-", "x", etc. servem<br />

como convenções internacionais de<br />

significação objetiva e invariável, em um<br />

poema como "Epithalamium – II" foram<br />

usados símbolos que não são convenções<br />

internacionais, mas, sim, convencionados<br />

apenas para esse texto. No caso, letras do<br />

alfabeto deixam de ser representações de<br />

sons (fonemas) para ganharem nova<br />

significação, principalmente pela construção<br />

visual do poema: unem homem (h) e mulher<br />

(e) pela ação da serpente (s) — libido,<br />

atração — em uma entidade única.<br />

Uma das tendências poéticas da segunda<br />

metade do século XX, resultado de um<br />

diálogo com estéticas já presentes no final do<br />

século XIX, trabalha com a construção de<br />

seu próprio referente, fazendo do poema um<br />

objeto autônomo.<br />

179


41) (2007)<br />

42) (2005) Cândido Portinari (1903-1962), um<br />

dos mais importantes artistas brasileiros<br />

do século XX, tratou de diferentes<br />

aspectos da nossa realidade em seus<br />

quadros.<br />

Sobre a temática dos “Retirantes”,<br />

Portinari também escreveu o seguinte<br />

poema:<br />

Levando-se em consideração o texto de<br />

Oswald de Andrade e a pintura de Antonio<br />

Rocco reproduzida acima, relativos à<br />

imigração européia para o Brasil, é correto<br />

afirmar que<br />

A) a visão da imigração presente na<br />

pintura é trágica e, no texto, otimista.<br />

B) a pintura confirma a visão do texto<br />

quanto à imigração de argentinos para<br />

o Brasil.<br />

C) os dois autores retratam dificuldades<br />

dos imigrantes na chegada ao Brasil.<br />

D) Antonio Rocco retrata de forma otimista<br />

a imigração, destacando o pioneirismo<br />

do imigrante.<br />

E) Oswald de Andrade mostra que a<br />

condição de vida do imigrante era<br />

melhor que a dos ex-escravos.<br />

Comentário<br />

Questão fácil. Pela comparação entre dois<br />

textos com linguagens diferentes, chega-se à<br />

conclusão de que os imigrantes enfrentaram<br />

uma realidade bastante dura no momento de<br />

sua chegada ao Brasil. Portanto, a alternativa<br />

correta é a letra C.<br />

(....)<br />

Os retirantes vêm vindo com trouxas e<br />

embrulhos<br />

Vêm das terras secas e escuras;<br />

pedregulhos<br />

Doloridos como fagulhas de carvão aceso<br />

Corpos disformes, uns panos sujos,<br />

Rasgados e sem cor, dependurados<br />

Homens de enorme ventre bojudo<br />

Mulheres com trouxas caídas para o lado<br />

Pançudas, carregando ao colo um garoto<br />

Choramingando, remelento<br />

(....)<br />

(Cândido Portinari. Poemas. Rio de Janeiro:<br />

J. Olympio, 1964.)<br />

Das quatro obras reproduzidas, assinale<br />

aquelas que abordam a problemática que<br />

é tema do poema.<br />

A) 1 e 2 D) 3 e 4<br />

B) 1 e 3 E) 2 e 4<br />

C) 2 e 3<br />

Comentário<br />

O poema apresenta correspondência com<br />

as imagens ao descrever com detalhes a<br />

figura do retirante: pobre, mal vestido,<br />

carregando trouxas e embrulhos.<br />

43) (2002) O autor da tira utilizou os<br />

princípios de composição de um<br />

conhecido movimento artístico para<br />

representar a necessidade de um mesmo<br />

observador aprender a considerar,<br />

simultaneamente, diferentes pontos de<br />

vista.<br />

180


E)<br />

Das obras reproduzidas, todas de autoria<br />

do pintor espanhol Pablo Picasso, aquela<br />

em cuja composição foi adotado um<br />

procedimento semelhante é:<br />

A)<br />

B)<br />

C)<br />

D)<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. O movimento<br />

artístico que previa considerar<br />

simultaneamente diversos pontos de vista<br />

era o Cubismo. Havia a desconstrução da<br />

forma para que se pudesse ver todos os<br />

ângulos concomitantemente. O único quadro<br />

que apresenta essas características é o da<br />

alternativa E. As outras quatro alternativas<br />

pressupõem a manutenção da forma.<br />

Comentário do INEP<br />

O objetivo desta questão é levar o<br />

participante a refletir sobre características<br />

fundamentais de um movimento artístico – o<br />

cubismo – a partir de dados visuais:<br />

quadrinhos e pinturas. A reprodução de dois<br />

quadrinhos da personagem Calvin forneceu<br />

para o participante informações básicas para<br />

a análise que deveria fazer das alternativas<br />

apresentadas. Segundo os quadrinhos, o<br />

movimento artístico abordado pela questão<br />

tinha como procedimento de composição<br />

representar, para um mesmo observador,<br />

diferentes pontos de vista, fazendo com que<br />

"o tradicional único ponto de vista" fosse<br />

abandonado e com que a perspectiva fosse<br />

fraturada. A análise das obras de Picasso<br />

reproduzidas nas alternativas permite que o<br />

participante reconheça a adoção desse<br />

procedimento no quadro "Marie-Thérèse<br />

apoiada no cotovelo" (alternativa E, com 46%<br />

de registros), no qual se pode reconhecer a<br />

representação de diferentes pontos de vista<br />

a partir dos quais é apresentado o rosto da<br />

mulher retratada.<br />

181


44) (2000) “Poética”, de Manuel Bandeira, é<br />

quase um manifesto do movimento<br />

modernista brasileiro de 1922. No poema,<br />

o autor elabora críticas e propostas<br />

que representam o pensamento estético<br />

predominante na época.<br />

182<br />

Poética<br />

Estou farto do lirismo comedido<br />

Do lirismo bem comportado<br />

Do lirismo funcionário público com livro de<br />

ponto expediente protocolo e<br />

[manifestações de apreço<br />

ao Sr. Diretor<br />

.<br />

Estou farto do lirismo que pára e vai<br />

averiguar no dicionário o<br />

[cunho vernáculo de um<br />

vocábulo<br />

Abaixo os puristas<br />

....................................................................<br />

Quero antes o lirismo dos loucos<br />

O lirismo dos bêbedos<br />

O lirismo difícil e pungente dos bêbedos<br />

O lirismo dos clowns de Shakespeare<br />

— Não quero mais saber do lirismo que<br />

não é libertação.<br />

(BANDEIRA, Manuel. Poesia Completa e Prosa.<br />

Rio de Janeiro. Aguilar, 1974)<br />

Com base na leitura do poema, podemos<br />

afirmar corretamente que o poeta:<br />

A) critica o lirismo louco do movimento<br />

modernista.<br />

B) critica todo e qualquer lirismo na<br />

literatura.<br />

C) propõe o retorno ao lirismo do<br />

movimento clássico.<br />

D) propõe o retorno ao lirismo do<br />

movimento romântico.<br />

E) propõe a criação de um novo lirismo.<br />

Comentário<br />

Questão bastante inteligente. Para<br />

começar, Manuel Bandeira teve como marca<br />

de sua obra a busca de novas formas de<br />

expressão, sempre. Mesmo tendo escrito<br />

muitos sonetos (especialmente no início da<br />

carreira), adotou prazerosamente a rebeldia<br />

da poética modernista. A resposta pode estar<br />

centrada na análise de um único verso do<br />

poema. As alternativas de a a d ficam todas<br />

automaticamente descartadas pelo primeiro<br />

verso da segunda parte ("Quero antes o<br />

lirismo dos loucos"). Veja que quem prega<br />

um lirismo dos loucos e dos bêbedos não<br />

pode nem criticar o "lirismo louco" dos<br />

modernistas, como na alternativa a, ou<br />

propor que não haja lirismo, como na<br />

alternativa b. Tampouco pode querer o<br />

retorno à rigidez de forma e métrica da<br />

poesia clássica (lembre-se de Camões) ou<br />

romântica (Álvares de Azevedo, Castro<br />

Alves, Casimiro de Abreu). Propõe, sim, um<br />

novo tipo de lirismo. Vemos isso claramente<br />

se dermos atenção ao casamento do<br />

primeiro com o último verso da segunda<br />

parte ("Quero antes o lirismo dos loucos" /<br />

"—Não quero mais saber do lirismo que não<br />

é libertação").<br />

Comentário do INEP<br />

Um pouco mais da metade dos<br />

participantes (55 %) conseguiu identificar no<br />

texto a proposta estética do poeta e, em<br />

última análise, do próprio Modernismo. Os<br />

distratores com percentuais significativos de<br />

escolha foram apenas B e D. No primeiro<br />

caso, o tom de manifesto, incisivo e<br />

demolidor, do poema provavelmente induziu<br />

a opção. No segundo, a explicação se deve à<br />

possível relação que o participante<br />

estabeleceu entre o Modernismo e o<br />

Romantismo, que de fato existe, mas que<br />

não se aplica ao caso.<br />

45) (2001) Oxímoro (ou paradoxo) é uma<br />

construção textual que agrupa significados<br />

que se excluem mutuamente. Para<br />

Garfield, a frase de saudação de Jon<br />

(tirinha abaixo) expressa o maior de todos<br />

os oxímoros.<br />

Folha de S. Paulo. 31 de julho de 2000.<br />

Nas alternativas abaixo, estão transcritos<br />

versos retirados do poema “O operário em<br />

construção”. Pode-se afirmar que ocorre<br />

um oxímoro em<br />

A) "Era ele que erguia casas<br />

Onde antes só havia chão."<br />

B) "... a casa que ele fazia<br />

Sendo a sua liberdade<br />

Era a sua escravidão."<br />

C) "Naquela casa vazia<br />

Que ele mesmo levantara<br />

Um mundo novo nascia<br />

De que sequer suspeitava."


D) "... o operário faz a coisa<br />

E a coisa faz o operário."<br />

E) "Ele, um humilde operário<br />

Um operário que sabia<br />

Exercer a profissão."<br />

MORAES, Vinícius de. Antologia Poética. São Paulo:<br />

Companhia das Letras, 1992.<br />

Comentário<br />

Idéias que se completam e se excluem<br />

mutuamente são encontradas na alternativa<br />

B: a casa que ele construía era, ao mesmo<br />

tempo, sua liberdade e sua escravidão.<br />

A casa é um símbolo de liberdade para o<br />

homem. Para o homem operário, é também<br />

símbolo de escravidão, pois ele está<br />

"condenado" a jamais usufruir do resultado<br />

do seu trabalho (a casa que faz não é para<br />

ele).<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão propõe ao participante que<br />

estabeleça uma relação entre linguagens,<br />

associando a compreensão de um efeito<br />

semântico produzido pelo uso do oxímoro<br />

nos quadrinhos com o mesmo efeito num<br />

texto poético. O índice (18%) de escolhas da<br />

alternativa D deve-se, possivelmente, a uma<br />

análise parcial da noção de paradoxo,<br />

confundida com inversão.<br />

46) (2004)<br />

A polifonia, variedade de vozes, presente<br />

no poema resulta da manifestação do<br />

A) poeta e do colonizador apenas.<br />

B) colonizador e do negro apenas.<br />

C) negro e do índio apenas.<br />

D) colonizador, do poeta e do negro<br />

apenas.<br />

E) poeta, do colonizador, do índio e do<br />

negro.<br />

Comentário<br />

A questão apresenta uma certa<br />

dificuldade, pois, à primeira vista, parecem<br />

confundir-se as vozes do colonizador, do<br />

negro e do índio. Entretanto, os<br />

travessões existentes no poema explicitam<br />

as falas das personagens ao mostrar que<br />

não são apenas as vozes do poeta e do<br />

colonizador que estão presentes. As falas do<br />

índio e do negro são proferidas por eles,<br />

marca expressa pelo discurso direto. A<br />

presença dessa modalidade de discurso<br />

indica a reprodução literal do que as<br />

personagens disseram.<br />

Um ponto interessante em relação a essa<br />

questão é a intertextualidade. O índio<br />

aparece no poema pela remissão a um texto<br />

poético do nosso Romantismo, em um<br />

processo intertextual com “I-Juca-Pirama”, de<br />

Gonçalves Dias; e a presença do negro se dá<br />

pela ligação com Mário de Andrade, em<br />

Macunaíma. Entende-se, portanto, que a<br />

alternativa correta é a letra E.<br />

47) (2003) No ano passado, o governo<br />

promoveu uma campanha a fim de reduzir<br />

os índices de violência. Noticiando o fato,<br />

um jornal publicou a seguinte manchete:<br />

CAMPANHA CONTRA A VIOLÊNCIA DO<br />

GOVERNO DO ESTADO ENTRA EM NOVA<br />

FASE<br />

A manchete tem um duplo sentido, e isso<br />

dificulta o entendimento. Considerando o<br />

objetivo da notícia, esse problema poderia<br />

ter sido evitado com a seguinte redação:<br />

A) Campanha contra o governo do Estado<br />

e a violência entram em nova fase.<br />

B) A violência do governo do Estado entra<br />

em nova fase de Campanha.<br />

C) Campanha contra o governo do Estado<br />

entra em nova fase de violência.<br />

D) A violência da campanha do governo<br />

do Estado entra em nova fase.<br />

E) Campanha do governo do Estado<br />

contra a violência entra em nova fase.<br />

Comentário<br />

O objetivo da questão é eliminar a<br />

ambigüidade da notícia de jornal, que,<br />

originalmente, trazia duas idéias: de acordo<br />

com a primeira, o governo queria combater a<br />

violência, e a segunda ressaltava que o<br />

governo era violento. Nessa questão,<br />

era preciso eliminar a segunda possibilidade<br />

de leitura.<br />

183


48) (2004)<br />

184<br />

O assunto de uma crônica pode ser uma<br />

experiência pessoal do cronista, uma<br />

informação obtida por ele ou um caso<br />

imaginário. O modo de apresentar o<br />

assunto também varia: pode ser uma<br />

descrição objetiva, uma exposição<br />

argumentativa ou uma narrativa sugestiva.<br />

Quanto à finalidade pretendida, pode-se<br />

promover uma reflexão, definir um<br />

sentimento ou tão-somente provocar um<br />

riso.<br />

Na crônica O jivaro, escrita a partir da<br />

reportagem de um jornal, Rubem Braga se<br />

vale dos seguinte elementos:<br />

Comentário<br />

O assunto da crônica de Rubem Braga foi<br />

uma informação colhida — o conhecimento<br />

que ele teve de uma entrevista dada por um<br />

viajante a um jornal. Essa informação foi<br />

apresentada por meio de uma narrativa<br />

sugestiva — uma história que ganha a<br />

atenção do leitor não por sua carga<br />

argumentativa ou pela precisão de suas<br />

descrições, mas por seu encaminhamento e<br />

fecho inusitados. A finalidade é provocar uma<br />

reflexão — por que quereria o índio fazer<br />

demonstração de uma ação que causa<br />

sofrimento à vítima, utilizando justamente um<br />

“oponente” que não lhe causara mal algum?<br />

Se algum sofrimento precisa ser causado<br />

para isso, que seja então a alguém que ao<br />

menos o pareça merecer.<br />

49) (2002) "A palavra tatuagem é<br />

relativamente recente. Toda a gente sabe<br />

que foi o navegador Cook que a introduziu<br />

no Ocidente, e esse escrevia tattou, termo<br />

da Polinésia de tatou ou tu tahou,<br />

'desenho'.<br />

(...) Desde os mais remotos tempos,<br />

vemo-la a transformar-se: distintivo<br />

honorífico entre uns homens, ferrete de<br />

ignomínia entre outros, meio de assustar o<br />

adversário para os bretões, marca de uma<br />

classe de selvagens das ilhas marquesas<br />

(...) sinal de amor, de desprezo, de ódio<br />

(...). Há três casos de tatuagem no Rio,<br />

completamente diversos na sua<br />

significação moral: os negros,os turcos<br />

com o fundo religioso e o bando de<br />

meretrizes, dos rufiões e dos humildes,<br />

que se marcam por crime ou por<br />

ociosidade".<br />

RIO, João do. Os Tatuadores. Revista Kosmos.<br />

1904, apud: A alma encantadora das ruas,<br />

SP: Cia das Letras, 1999.<br />

Com base no texto são feitas as seguintes<br />

afirmações:<br />

I. João do Rio revela como a tatuagem já<br />

estava presente na cidade do Rio de<br />

Janeiro, pelo menos desde o início do<br />

século XX, e era mais utilizada por<br />

alguns setores da população.<br />

II. A tatuagem, de origem polinésia,<br />

difundiu-se no ocidente com a<br />

característica que permanece até hoje:<br />

utilização entre os jovens com função<br />

estritamente estética.<br />

III. O texto mostra como a tatuagem é<br />

uma prática que se transforma no<br />

tempo e que alcança inúmeros sentidos<br />

nos diversos setores das sociedades e<br />

para as diferentes culturas.<br />

Está correto o que se afirma apenas em<br />

A) I D) I e II<br />

B) II E) I e III<br />

C) III<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. Constata-se o<br />

seguinte: a tatuagem já existia no Brasil no<br />

início do século XX (o texto é de 1904 e parte<br />

dele se refere ao Rio do Janeiro) e era<br />

utilizada em diferentes setores da sociedade.<br />

A afirmação de que as tatuagens possuem<br />

apenas finalidade estética entre os jovens<br />

elimina a segunda alternativa. Já a última<br />

alternativa confirma as transformações das<br />

funções da tatuagem ao longo do tempo nas<br />

mais diversas sociedades e culturas.<br />

Comentário do INEP<br />

O texto estabelece uma relação entre a<br />

atualidade da palavra "tatuagem" e a<br />

antiguidade do uso de desenhos como<br />

pintura corporal. Focaliza uma prática social<br />

bastante difundida que adquiriu aspectos e<br />

conotações diversos nos diferentes contextos<br />

históricos e geográficos em que ela pode ser<br />

descrita. Fazendo a descrição da prática da<br />

tatuagem, como uma manifestação comum a<br />

diferentes culturas, e que adquire, inclusive,


significados diferentes dentro de uma mesma<br />

cultura, induz o participante a refletir sobre a<br />

"diversidade dos patrimônios etnoculturais e<br />

artísticos", contextualizando ao mesmo<br />

tempo seus significados "em diferentes<br />

sociedades, épocas e lugares". Ao retomar<br />

as várias origens e usos da tatuagem, o<br />

participante é levado a compreender e<br />

respeitar uma gramática histórica dos<br />

costumes marcada sempre por semelhanças<br />

e diferenças. A questão não exigia, portanto,<br />

nenhum conhecimento prévio sobre as<br />

diferentes formas de manifestação dessa<br />

prática, mas simplesmente constatar, com o<br />

autor do texto citado, a historicidade e a<br />

diversidade das práticas sociais. Os<br />

participantes que assinalaram a alternativa C<br />

(36%), possivelmente, não levaram em<br />

consideração informações do texto. A<br />

questão foi corretamente respondida por 37%<br />

dos participantes.<br />

50) (2004)<br />

Nesta tirinha, a personagem faz referência<br />

a uma das mais conhecidas figuras de<br />

linguagem para<br />

A) condenar a prática de exercícios físicos<br />

B) valorizar aspectos da vida moderna.<br />

C) desestimular o uso das bicicletas.<br />

D) caracterizar o diálogo entre as<br />

gerações.<br />

E) criticar a falta de perspectiva do pai.<br />

Comentário<br />

A construção indica a falta de perspectiva<br />

na vida do pai do personagem. “Pedalar sem<br />

sair do lugar” é uma metáfora muito usada na<br />

cultura brasileira para expressar como é a<br />

vida de uma pessoa que age de forma a não<br />

conseguir qualquer mudança — para melhor<br />

ou para pior — na vida.<br />

51) (2004) As questões de números 26 e 27<br />

referem-se ao poema abaixo.<br />

Entre os recursos expressivos<br />

empregados no texto, destaca-se a<br />

A) metalinguagem, que consiste em fazer<br />

a linguagem referir-se à própria<br />

linguagem.<br />

B) intertextualidade, na qual o texto<br />

retoma e reelabora outros textos.<br />

C) ironia, que consiste em se dizer o<br />

contrário do que se pensa, com<br />

intenção crítica.<br />

D) denotação, caracterizada pelo uso das<br />

palavras em seu sentido próprio e<br />

objetivo.<br />

E) prosopopéia, que consiste em<br />

personificar coisas inanimadas,<br />

atribuindo-lhes vida.<br />

Comentário<br />

A questão trata de um texto de Carlos<br />

Drummond de Andrade em que ele fala sobre<br />

o crescimento urbano e a pobreza que esse<br />

processo traz. Para tanto, o poeta utiliza uma<br />

linguagem irônica, revelando o lado oculto do<br />

desenvolvimento. Dessa forma, temos como<br />

correta a alternativa C.<br />

52) (2007) Antigamente<br />

Acontecia o indivíduo apanhar<br />

constipação; ficando perrengue, mandava<br />

o próprio chamar o doutor e, depois, ir à<br />

botica para aviar a receita, de cápsulas ou<br />

pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />

phtísica, feia era o gálico. Antigamente, os<br />

sobrados tinham assombrações, os<br />

meninos, lombrigas (...)<br />

Carlos Drummond de Andrade. Poesia completa e prosa.<br />

Rio de Janeiro: Companhia José Aguilar, p. 1.184.<br />

O texto acima está escrito em linguagem<br />

de uma época passada. Observe uma<br />

outra versão, em linguagem atual.<br />

185


Antigamente<br />

Acontecia o indivíduo apanhar um<br />

resfriado; ficando mal, mandava o próprio<br />

chamar o doutor e, depois, ir à farmácia<br />

para aviar a receita, de cápsulas ou<br />

pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />

tuberculose, feia era a sífilis. Antigamente,<br />

os sobrados tinham assombrações, os<br />

meninos, vermes (...)<br />

Comparando-se esses dois textos,<br />

verifica-se que, na segunda versão, houve<br />

mudanças relativas a<br />

A) vocabulário.<br />

B) construções sintáticas.<br />

C) pontuação.<br />

D) fonética.<br />

E) regência verbal.<br />

Comentário<br />

Questão fácil. O aluno deveria comparar<br />

os dois textos e verificar as alterações<br />

realizadas na segunda versão apresentada.<br />

Nesse momento, fica evidente a mudança de<br />

vocabulário, o que indica a alternativa A<br />

como a correta.<br />

53) (2007)<br />

Aqui na floresta<br />

Dos ventos batida,<br />

Façanhas de bravos<br />

Não geram escravos,<br />

Que estimem a vida<br />

Sem guerra e lidar.<br />

— Ouvi-me, Guerreiros,<br />

— Ouvi meu cantar.<br />

O canto do guerreiro<br />

Valente na guerra,<br />

Quem há, como eu sou?<br />

Quem vibra o tacape<br />

Com mais valentia?<br />

Quem golpes daria<br />

Fatais, como eu dou?<br />

— Guerreiros, ouvi-me;<br />

— Quem há, como eu sou?<br />

Gonçalves Dias.<br />

Macunaíma<br />

(Epílogo)<br />

Acabou-se a história e morreu a vitória.<br />

Não havia mais ninguém lá. Dera<br />

tangolomângolo na tribo Tapanhumas e<br />

os filhos dela se acabaram de um em um.<br />

Não havia mais ninguém lá. Aqueles<br />

lugares, aqueles campos, furos<br />

puxadouros arrastadouros meiosbarrancos,<br />

aqueles matos misteriosos,<br />

tudo era solidão do deserto... Um silêncio<br />

imenso dormia à beira do rio Uraricoera.<br />

Nenhum conhecido sobre a terra não<br />

sabia nem falar da tribo nem contar<br />

aqueles casos tão pançudos. Quem podia<br />

saber do Herói?<br />

Mário de Andrade.<br />

A) ambos têm como tema a figura do<br />

indígena brasileiro apresentada de<br />

forma realista e heróica, como símbolo<br />

máximo do nacionalismo romântico.<br />

B) a abordagem da temática adotada no<br />

texto escrito em versos é<br />

discriminatória em relação aos povos<br />

indígenas do Brasil.<br />

C) as perguntas “— Quem há, como eu<br />

sou?” (1.º texto) e “Quem podia saber<br />

do Herói?” (2.º texto) expressam<br />

diferentes visões da realidade indígena<br />

brasileira.<br />

D) o texto romântico, assim como o<br />

modernista, aborda o extermínio dos<br />

povos indígenas como resultado do<br />

processo de colonização no Brasil.<br />

E) os versos em primeira pessoa revelam<br />

que os indígenas podiam expressar-se<br />

poeticamente, mas foram silenciados<br />

pela colonização, como demonstra a<br />

presença do narrador, no segundo<br />

texto.<br />

Comentário<br />

Questão de nível médio. Essa questão<br />

exige conhecimento prévio dos movimentos<br />

literários de cada autor. No primeiro, O canto<br />

do Guerreiro, de Gonçalves Dias, pertence<br />

ao Romantismo. Nesse período, a figura do<br />

índio aparece como protagonista, sempre<br />

idealizado e visto como um perfeito herói. Já<br />

no texto Macunaíma, de Mário de Andrade,<br />

levando em conta a característica do<br />

Modernismo, o índio também é protagonista,<br />

mas, por sua vez, há a predominância de um<br />

nacionalismo crítico e realista. Com base<br />

nessas considerações, consegue-se<br />

chegar à conclusão de que a alternativa C é<br />

a correta. Essa alternativa mostra que, por<br />

trás dos textos, há duas visões diferentes da<br />

realidade indígena brasileira, representadas<br />

pelas características dos dois diferentes<br />

estilos de época.<br />

A leitura comparativa dos dois textos<br />

acima indica que<br />

186


54) (2004)<br />

Finalmente, na letra E, “que” retoma a<br />

questão restritiva ocorrida na alternativa B.<br />

Nesse caso, contudo, refere-se aos “poemas<br />

QUE esperam ser escritos”, ou seja, àqueles<br />

poemas, especificamente.<br />

No trecho "Montes Claros cresceu tanto,/<br />

(...),/ que já tem cinco favelas", a palavra<br />

que contribui para estabelecer uma<br />

relação de conseqüência. Dos seguintes<br />

versos, todos de Carlos Drummond de<br />

Andrade, apresentam esse mesmo tipo de<br />

relação:<br />

A) "Meu Deus, por que me abandonaste /<br />

se sabias que eu não era Deus / se<br />

sabias que eu era fraco."<br />

B) "No meio-dia branco de luz uma voz<br />

que aprendeu / a ninar nos longes da<br />

senzala – e nunca se esqueceu /<br />

chamava para o café."<br />

C) "Teus ombros suportam o mundo / e<br />

ele não pesa mais que a mão de uma<br />

criança."<br />

D) "A ausência é um estar em mim. / E<br />

sinto-a, branca, tão pegada,<br />

aconchegada nos meus braços, / que<br />

rio e danço e invento exclamações<br />

alegres."<br />

E) "Penetra surdamente no reino das<br />

palavras. / Lá estão os poemas que<br />

esperam ser escritos."<br />

Comentário<br />

Da mesma forma que no poema do<br />

enunciado, a palavra “que” retoma o sentido<br />

consecutivo na alternativa D, relacionando o<br />

fato de o eu lírico estar tão apegado à<br />

ausência QUE ri e dança, em devaneio,<br />

exaltando a alegria. A idéia remete a um<br />

raciocínio de causa e conseqüência: estar<br />

tão apegado a algo QUE outra coisa ocorre.<br />

Na alternativa A, “que” indica a introdução<br />

de uma oração subordinada objetiva direta,<br />

ou seja, que dá a idéia de um complemento<br />

do verbo SABER.<br />

Na alternativa B, “que” caracteriza a<br />

palavra “voz”, introduzindo uma oração<br />

subordinada adjetiva restritiva: “A voz QUE<br />

aprendeu”.<br />

Na alternativa C, “que” assume um<br />

caráter comparativo (mais que).<br />

55) (2001) Nas conversas diárias, utiliza-se<br />

freqüentemente a palavra “próprio” e ela<br />

se ajusta a várias situações. Leia os<br />

exemplos de diálogos:<br />

I - A Vera se veste diferente!<br />

- É mesmo, é que ela tem um estilo<br />

próprio.<br />

II - A Lena já viu esse filme uma dezena<br />

de vezes! Eu não consigo ver o<br />

que ele tem de tão maravilhoso assim.<br />

- É que ele é próprio para adolescente.<br />

III - Dora, o que eu faço? Ando tão<br />

preocupada com o Fabinho! Meu filho<br />

está impossível!<br />

- Relaxa, Tânia! É próprio da idade.<br />

Com o tempo, ele se acomoda.<br />

Nas ocorrências I, II e III, “próprio” é<br />

sinônimo de, respectivamente,<br />

A) adequado, particular, típico.<br />

B) peculiar, adequado, característico.<br />

C) conveniente, adequado, particular.<br />

D) adequado, exclusivo, conveniente.<br />

E) peculiar, exclusivo, característico.<br />

Comentário<br />

Para responder a essa pergunta,<br />

substitua, nos trechos, a palavra próprio<br />

pelos possíveis equivalentes apresentados<br />

nas alternativas. Questão simples que pode<br />

ser resolvida por eliminação.<br />

Comentário do INEP<br />

Nesta questão são apresentados três<br />

textos em que uma mesma palavra é<br />

utilizada com sentidos diferentes. O problema<br />

consiste em observar a variedade de uso de<br />

um mesmo termo e as possibilidades de sua<br />

compreensão, estabelecendo uma relação<br />

comparativa com base em uma análise<br />

semântica. Cerca de metade (49%) dos<br />

participantes estabeleceu essa relação de<br />

maneira correta. Os participantes que<br />

assinalaram a alternativa D (21%),<br />

possivelmente isolaram o termo do contexto,<br />

gerando um equívoco entre "adequado" e<br />

"exclusivo".<br />

187


56) (2003) Do pedacinho de papel ao livro<br />

impresso vai uma longa distância. Mas o<br />

que o escritor quer, mesmo, é isso: ver o<br />

seu texto em letra de forma. A gaveta é<br />

ótima para aplacar a fúria criativa; ela faz<br />

amadurecer o texto da mesma forma que<br />

a adega faz amadurecer o vinho. Em<br />

certos casos, a cesta de papel é melhor<br />

ainda.<br />

O período de maturação na gaveta é<br />

necessário, mas não deve se prolongar<br />

muito. ‘Textos guardados acabam<br />

cheirando mal’, disse Silvia Plath, (...) que,<br />

com esta frase, deu testemunho das<br />

dúvidas que atormentam o escritor:<br />

publicar ou não publicar? guardar ou jogar<br />

fora?<br />

(Moacyr Scliar. O escritor e seus desafios.)<br />

Nesse texto, o escritor Moacyr Scliar usa<br />

imagens para refletir sobre uma etapa da<br />

criação literária. A idéia de que o processo<br />

de maturação do texto nem sempre é o<br />

que garante bons resultados está sugerida<br />

na seguinte frase:<br />

A) "A gaveta é ótima para aplacar a fúria<br />

criativa."<br />

B) "Em certos casos, a cesta de papel é<br />

melhor ainda."<br />

C) "O período de maturação na gaveta é<br />

necessário, (...)."<br />

D) "Mas o que o escritor quer, mesmo, é<br />

isso: ver o seu texto em letra de forma."<br />

E) "ela (a gaveta) faz amadurecer o texto<br />

da mesma forma que a adega faz<br />

amadurecer o vinho."<br />

Comentário<br />

Essa questão exigia a interpretação das<br />

frases. A palavra NEM no enunciado exclui<br />

todas as alternativas que tratam do<br />

amadurecimento ou da importância da<br />

gaveta para o bom sucesso da produção<br />

literária.<br />

A alternativa B é a única que apresenta<br />

um procedimento alternativo para a produção<br />

textual, ou seja, o lixo, e significa a liberdade<br />

do escritor em começar,<br />

interromper, recomeçar ou simplesmente<br />

abandonar a obra, permitindo a ele exercer<br />

seu livre-arbítrio.<br />

57) (2007)<br />

Aqui na floresta<br />

Dos ventos batida,<br />

Façanhas de bravos<br />

Não geram escravos,<br />

Que estimem a vida<br />

Sem guerra e lidar.<br />

— Ouvi-me, Guerreiros,<br />

— Ouvi meu cantar.<br />

O canto do guerreiro<br />

Valente na guerra,<br />

Quem há, como eu sou?<br />

Quem vibra o tacape<br />

Com mais valentia?<br />

Quem golpes daria<br />

Fatais, como eu dou?<br />

— Guerreiros, ouvi-me;<br />

— Quem há, como eu sou?<br />

Gonçalves Dias.<br />

Macunaíma<br />

(Epílogo)<br />

Acabou-se a história e morreu a vitória.<br />

Não havia mais ninguém lá. Dera<br />

tangolomângolo na tribo Tapanhumas e<br />

os filhos dela se acabaram de um em um.<br />

Não havia mais ninguém lá. Aqueles<br />

lugares, aqueles campos, furos<br />

puxadouros arrastadouros meiosbarrancos,<br />

aqueles matos misteriosos,<br />

tudo era solidão do deserto... Um silêncio<br />

imenso dormia à beira do rio Uraricoera.<br />

Nenhum conhecido sobre a terra não<br />

sabia nem falar da tribo nem contar<br />

aqueles casos tão pançudos. Quem podia<br />

saber do Herói?<br />

Mário de Andrade.<br />

Considerando-se a linguagem desses dois<br />

textos, verifica-se que<br />

A) a função da linguagem centrada no<br />

receptor está ausente tanto no primeiro<br />

quanto no segundo texto.<br />

B) a linguagem utilizada no primeiro texto<br />

é coloquial, enquanto, no segundo,<br />

predomina a linguagem formal.<br />

C) há, em cada um dos textos, a<br />

utilização de pelo menos uma palavra<br />

de origem indígena.<br />

D) a função da linguagem, no primeiro<br />

texto, centra-se na forma de<br />

organização da linguagem e, no<br />

segundo, no relato de informações<br />

reais.<br />

E) a função da linguagem centrada na<br />

primeira pessoa, predominante no<br />

segundo texto, está ausente no<br />

primeiro.<br />

Comentário<br />

Questão de nível médio. Essa é uma<br />

questão que foca a linguagem dos textos, e<br />

cada qual em seu gênero (poesia e prosa,<br />

respectivamente). O aluno chega à<br />

conclusão que a alternativa correta é a C por<br />

meio da exclusão das demais alternativas.<br />

A resposta correta não é a A, pois há um<br />

receptor que pode ser percebido nas<br />

seguintes perguntas contidas no texto:<br />

188


Texto 1 – “Guerreiros, ouvi-me;/Quem há,<br />

como eu sou?”<br />

Texto 2 – “Quem podia saber do herói?”<br />

Também não é a alternativa B, pois o<br />

conteúdo dos textos não é discriminatório. No<br />

primeiro texto, há uma idealização do índio e,<br />

no segundo, há uma realidade crítica e<br />

satírica da sociedade.<br />

A alternativa D é excluída, porque o<br />

segundo texto não fala de uma realidade, já<br />

que Macunaíma é um herói fictício e nãoreal.<br />

Por fim, também está errada a alternativa<br />

E. Isso porque não temos no epílogo do texto<br />

de Macunaíma a linguagem centrada na<br />

primeira pessoa, mas sim, na terceira.<br />

58) (2003) Eu começaria dizendo que poesia<br />

é uma questão de linguagem. A<br />

importância do poeta é que ele torna mais<br />

viva a linguagem. Carlos Drummond de<br />

Andrade escreveu um dos mais belos<br />

versos da língua portuguesa com duas<br />

palavras comuns: cão e cheirando.<br />

Um cão cheirando o futuro<br />

(Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP, 24/05/1988.<br />

adaptação)<br />

O que deu ao verso de Drummond o<br />

caráter de inovador da língua foi<br />

A) o modo raro como foi tratado o<br />

"futuro".<br />

B) a referência ao cão como "animal de<br />

estimação".<br />

C) a flexão pouco comum do verbo<br />

"cheirar" (gerúndio).<br />

D) a aproximação não usual do agente<br />

citado e a ação de "cheirar".<br />

E) o emprego do artigo indefinido "um" e<br />

do artigo definido "o" na mesma frase.<br />

Comentário<br />

O fato de Drummond identificar o futuro<br />

como algo que pode ser percebido por um<br />

animal irracional por meio do olfato foi<br />

inovador. A figura de linguagem foi<br />

construída metaforicamente: o futuro torna-se<br />

uma coisa que tem cheiro, contrariamente à<br />

imagem pela qual ele normalmente é<br />

representado: como algo que não se vê e<br />

não se pode pressentir ou tocar.<br />

59) (2003) Epígrafe*<br />

Murmúrio de água na clepsidra**<br />

gotejante,<br />

Lentas gotas de som no relógio da torre,<br />

Fio de areia na ampulheta vigilante,<br />

Leve sombra azulando a pedra do<br />

quadrante***<br />

Assim se escoa a hora, assim se vive e<br />

morre...<br />

Homem, que fazes tu? Para que tanta<br />

lida,<br />

Tão doidas ambições, tanto ódio e tanta<br />

ameaça?<br />

Procuremos somente a Beleza, que a vida<br />

É um punhado infantil de areia<br />

ressequida,<br />

Um som de água ou de bronze e uma<br />

sombra que passa...<br />

(Eugênio de Castro. Antologia pessoal da poesia<br />

portuguesa)<br />

(*) Epígrafe: inscrição colocada no ponto<br />

mais alto; tema.<br />

(**) Clepsidra: relógio de água.<br />

(***) Pedra do quadrante: parte superior<br />

de um relógio de sol.<br />

A imagem contida em "lentas gotas de<br />

som" (verso 2) é retomada na segunda<br />

estrofe por meio da expressão:<br />

A) tanta ameaça.<br />

B) som de bronze.<br />

C) punhado de areia.<br />

D) sombra que passa.<br />

E) somente a Beleza.<br />

Comentário<br />

Numa clepsidra (relógio de água), o som<br />

do gotejamento lembra-nos o tic-tac de um<br />

relógio comum ou o som do sino que marca<br />

as horas no “relógio da torre” (verso 2,<br />

estrofe 1).<br />

Na segunda estrofe, o quinto verso<br />

refere-se a “Um som de água ou de<br />

bronze...” e nos remete, pelo “som de<br />

bronze”, ao som do sino que marca as horas<br />

no relógio da torre (os sinos normalmente<br />

eram feitos de bronze).<br />

60) (2002) Só falta o Senado aprovar o<br />

projeto de lei [sobre o uso de termos<br />

estrangeiros no Brasil] para que palavras<br />

como shopping center , delivery e drivethrough<br />

sejam proibidas em nomes de<br />

estabelecimentos e marcas. Engajado<br />

nessa valorosa luta contra o inimigo<br />

ianque, que quer fazer área de livre<br />

comércio com nosso inculto e belo idioma,<br />

189


venho sugerir algumas outras medidas<br />

que serão de extrema importância para a<br />

preservação da soberania nacional, a<br />

saber:<br />

........<br />

Nenhum cidadão carioca ou gaúcho<br />

poderá dizer "Tu vai" em espaços públicos<br />

do território nacional;<br />

Nenhum cidadão paulista poderá dizer "Eu<br />

lhe amo" e retirar ou acrescentar o plural<br />

em sentenças como "Me vê um chopps e<br />

dois pastel";<br />

..........<br />

Nenhum dono de borracharia poderá<br />

escrever cartaz com a palavra "borraxaria"<br />

e nenhum dono de banca de jornal<br />

anunciará "Vende-se cigarros";<br />

..........<br />

Nenhum livro de gramática obrigará os<br />

alunos a utilizar colocações pronominais<br />

como "casar-me-ei" ou "ver-se-ão".<br />

PIZA, Daniel. Uma proposta imodesta. O Estado de<br />

S. Paulo, São Paulo, 8/04/2001.<br />

No texto acima, o autor:<br />

A) mostra-se favorável ao teor da<br />

proposta por entender que a língua<br />

portuguesa deve ser protegida contra<br />

deturpações de uso.<br />

B) ironiza o projeto de lei ao sugerir<br />

medidas que inibam determinados usos<br />

regionais e socioculturais da língua.<br />

C) denuncia o desconhecimento de regras<br />

elementares de concordância verbal e<br />

nominal pelo falante brasileiro.<br />

D) revela-se preconceituoso em relação a<br />

certos registros lingüísticos ao propor<br />

medidas que os controlem.<br />

E) defende o ensino rigoroso da gramática<br />

para que todos aprendam a empregar<br />

corretamente os pronomes.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. O autor ironiza o<br />

projeto de lei que proíbe o uso de<br />

estrangeirismos no Brasil. Não adianta criarse<br />

uma expectativa ou preocupação em<br />

relação ao uso de termos estrangeiros na<br />

língua e esquecer-se de que a língua é um<br />

organismo vivo, mutável. A dinâmica de uma<br />

língua não pode ser regida por preceitos<br />

legais como quer o projeto.<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão reproduz trechos de um<br />

texto que aborda o polêmico projeto de<br />

proibição de uso de termos estrangeiros no<br />

Brasil. A partir da leitura atenta do texto de<br />

Daniel Piza, o participante é levado a refletir<br />

sobre a postura adotada pelo autor em<br />

relação ao referido projeto. Para<br />

compreender esse texto, o participante<br />

precisa reconhecer o tom irônico que marca<br />

as observações e sugestões feitas por seu<br />

autor. Assim, Daniel Piza, "engajado nessa<br />

valorosa luta contra o inimigo ianque", sugere<br />

a proibição de algumas formas lingüísticas de<br />

uso corrente que contrariam recomendações<br />

da gramática normativa. O participante deve<br />

reconhecer que, com sugestões como essas,<br />

Daniel Piza deixa implícita uma crítica à<br />

utilidade do projeto de proibição dos<br />

estrangeirismos como forma de proteger a<br />

Língua Portuguesa. Nesse contexto, a ironia<br />

torna-se mais clara, bem como o mecanismo<br />

textual que a constrói. Feito tal<br />

reconhecimento, o aluno encontra a resposta<br />

correta na alternativa B, assinalada por cerca<br />

da metade dos participantes. Nenhuma outra<br />

alternativa contempla o aspecto irônico,<br />

essencial para a compreensão do texto.<br />

61) (2003) Epígrafe*<br />

Murmúrio de água na clepsidra**<br />

gotejante,<br />

Lentas gotas de som no relógio da torre,<br />

Fio de areia na ampulheta vigilante,<br />

Leve sombra azulando a pedra do<br />

quadrante***<br />

Assim se escoa a hora, assim se vive e<br />

morre...<br />

Homem, que fazes tu? Para que tanta<br />

lida,<br />

Tão doidas ambições, tanto ódio e tanta<br />

ameaça?<br />

Procuremos somente a Beleza, que a vida<br />

É um punhado infantil de areia<br />

ressequida,<br />

Um som de água ou de bronze e uma<br />

sombra que passa...<br />

(Eugênio de Castro. Antologia pessoal da poesia<br />

portuguesa)<br />

(*) Epígrafe: inscrição colocada no ponto<br />

mais alto; tema.<br />

(**) Clepsidra: relógio de água.<br />

(***) Pedra do quadrante: parte superior<br />

de um relógio de sol.<br />

Neste poema, o que leva o poeta a<br />

questionar determinadas ações humanas<br />

(versos 6 e 7) é a<br />

A) infantilidade do ser humano.<br />

B) destruição da natureza.<br />

C) exaltação da violência.<br />

D) inutilidade do trabalho.<br />

E) brevidade da vida.<br />

190


Comentário<br />

A resposta desta questão está nos últimos<br />

versos (8 a <strong>10</strong>):<br />

“Procuremos somente a Beleza, que a<br />

vida<br />

É um punhado de areia ressequida,<br />

Um som de água ou de bronze e uma<br />

sombra que passa...”<br />

Neles, a vida aparece em relação ao<br />

tempo, que passa de forma rápida: “areia<br />

ressequida” (como nas ampulhetas), “som de<br />

água ou de bronze” (clepsidra ou sino da<br />

torre) e, mais que tudo, “uma sombra que<br />

passa...” (algo tênue e de curta duração).<br />

62) (2003) A velha Totonha de quando em<br />

vez batia no engenho. E era um<br />

acontecimento para a meninada. (...)<br />

andava léguas e léguas a pé, de engenho<br />

a engenho, como uma edição viva das<br />

histórias de Mil e Uma Noites (...) era uma<br />

grande artista para dramatizar. Tinha uma<br />

memória de prodígio. Recitava contos<br />

inteiros em versos, intercalando pedaços<br />

de prosa, como notas explicativas. (...)<br />

Havia sempre rei e rainha, nos seus<br />

contos, e forca e adivinhações. O que<br />

fazia a velha Totonha mais curiosa era a<br />

cor local que ela punha nos seus<br />

descritivos. (...) Os rios e as florestas por<br />

onde andavam os seus personagens se<br />

pareciam muito com o Paraíba e a Mata<br />

do Rolo. O seu Barba-Azul era um senhor<br />

de engenho de Pernambuco.<br />

(José Lins do Rego. Menino de engenho)<br />

A cor local que a personagem velha<br />

Totonha colocava em suas histórias é<br />

ilustrada, pelo autor, na seguinte<br />

passagem:<br />

A) "O seu Barba-Azul era um senhor de<br />

engenho de Pernambuco".<br />

B) "Havia sempre rei e rainha, nos seus<br />

contos, e forca e adivinhações".<br />

C) "Era uma grande artista para<br />

dramatizar. Tinha uma memória de<br />

prodígio".<br />

D) "Andava léguas e léguas a pé, como<br />

uma edição viva das Mil e Uma Noites".<br />

E) "Recitava contos inteiros em versos,<br />

intercalando pedaços de prosa, como<br />

notas explicativas".<br />

Comentário<br />

Por ser escritor da 2.ª Geração<br />

Modernista, José Lins do Rego ilustra, de<br />

forma evidente, o regionalismo — marca<br />

característica desse momento literário.<br />

Portanto, para localizar a “cor local”<br />

presente no texto, basta procurar a<br />

associação regionalista, que é retratada de<br />

forma explícita pela passagem “senhor de<br />

engenho de Pernambuco.”<br />

A questão não abre espaço para dúvidas.<br />

63) (2003) Pequenos tormentos da vida<br />

De cada lado da sala de aula, pelas janelas<br />

altas, o azul convida os meninos,<br />

as nuvens desenrolam-se, lentas como quem<br />

vai inventando<br />

preguiçosamente uma história sem fim...Sem<br />

fim é a aula: e nada acontece,<br />

nada...Bocejos e moscas. Se ao menos,<br />

pensa Margarida, se ao menos um<br />

avião entrasse por uma janela e saísse por<br />

outra!<br />

(Mário Quintana. Poesias)<br />

Na cena retratada no texto, o sentimento<br />

do tédio<br />

A) provoca que os meninos fiquem<br />

contando histórias.<br />

B) leva os alunos a simularem bocejos,<br />

em protesto contra a monotonia da<br />

aula.<br />

C) acaba estimulando a fantasia,<br />

criando a expectativa de algum<br />

imprevisto mágico.<br />

D) prevalece de modo absoluto,<br />

impedindo até mesmo a distração ou o<br />

exercício do pensamento.<br />

E) decorre da morosidade da aula, em<br />

contraste com o movimento acelerado<br />

das nuvens e das moscas.<br />

Comentário<br />

Essa questão aborda o imaginário<br />

decorrente do marasmo trazido pela escola.<br />

O texto enfatiza o arrastar do tempo na<br />

mente de uma aluna, Margarida, que se põe<br />

a pensar em fatos mágicos ou imaginários<br />

que pudessem romper com a lentidão da<br />

aula.<br />

64) (1998) Amor é fogo que arde sem ver;<br />

é ferida que dói e não se sente;<br />

é um contentamento descontente;<br />

é dor que desatina sem doer.<br />

É um não querer mais que bem querer;<br />

é solitário andar por entre a gente;<br />

é nunca contentar-se de contente;<br />

é cuidar que se ganha em se perder.<br />

É querer estar preso por vontade;<br />

191


é servir a quem vence, o vencedor;<br />

é ter com quem nos mata lealdade.<br />

Mas como causar pode seu favor<br />

nos corações humanos amizade<br />

se tão contrário a si é o mesmo Amor?<br />

(Luís de Camões. In: Obras Completas de Camões, Lisboa,<br />

Livraria Sá da Costa, Vol. 1, 1954, p.232)<br />

O poema tem, como característica, a<br />

figura de linguagem denominada antítese,<br />

relação de oposição de palavras ou idéias.<br />

Assinale a opção em que essa oposição<br />

se faz claramente presente.<br />

A) "Amor é fogo que arde sem se ver."<br />

B) "É um contentamento descontente."<br />

C) "É servir a quem se vence, o<br />

vencedor."<br />

D) "Mas como causar pode seu favor."<br />

E) "Se tão contrário a si é o mesmo<br />

Amor?"<br />

Comentário<br />

A antítese é uma figura de linguagem que<br />

se caracteriza por colocar, lado a lado,<br />

imagens opostas que se contradizem. De<br />

todas as alternativas, a única que traz<br />

claramente uma contradição é a B, pois<br />

como pode existir um contentamento<br />

descontente?<br />

65) (2000) O autor do texto abaixo critica,<br />

ainda que em linguagem metafórica, a<br />

sociedade contemporânea em relação aos<br />

seus hábitos alimentares.<br />

“Vocês que têm mais de 15 anos, se<br />

lembram quando a gente comprava leite<br />

em garrafa, na leiteria da esquina? (...)<br />

Mas vocês não se lembram de nada,<br />

pô! Vai ver nem sabem o que é vaca. Nem<br />

o que é leite. Estou falando isso porque<br />

agora mesmo peguei um pacote de leite –<br />

leite em pacote, imagina, Tereza! – na<br />

porta dos fundos e estava escrito que é<br />

pasterizado, ou pasteurizado, sei lá, tem<br />

vitamina, é garantido pela<br />

embromatologia, foi enriquecido e o<br />

escambau. Será que isso é mesmo leite?<br />

No dicionário diz que leite é outra coisa:<br />

‘Líquido branco, contendo água,<br />

proteína, açúcar e sais minerais’. Um<br />

alimento pra ninguém botar defeito. O ser<br />

humano o usa há mais de 5.000 anos. É o<br />

único alimento só alimento. A carne serve<br />

pro animal andar, a fruta serve pra fazer<br />

outra fruta, o ovo serve pra fazer outra<br />

galinha (...) O leite é só leite. Ou toma ou<br />

bota fora. Esse aqui examinando bem, é<br />

só pra botar fora. Tem chumbo, tem<br />

benzina, tem mais água do que leite, tem<br />

serragem, sou capaz de jurar que nem<br />

vaca tem por trás desse negócio. Depois o<br />

pessoal ainda acha estranho que os<br />

meninos não gostem de leite.<br />

Mas, como não gostam? Não gostam<br />

como? Nunca tomaram! Múúúúúúú!”<br />

(FERNANDES, Millôr. O Estado de S. Paulo ,<br />

22 de agosto de 1999)<br />

A palavra embromatologia usada pelo<br />

autor é:<br />

A) um termo científico que significa estudo<br />

dos bromatos.<br />

B) uma composição do termo de gíria<br />

“embromação” (enganação) com<br />

bromatologia, que é o estudo dos<br />

alimentos.<br />

C) uma junção do termo de gíria<br />

“embromação” (enganação) com<br />

lactologia, que é o estudo das<br />

embalagens para leite.<br />

D) um neologismo da química orgânica<br />

que significa a técnica de retirar<br />

bromatos dos laticínios.<br />

E) uma corruptela de termo da<br />

agropecuária que significa a ordenha<br />

mecânica.<br />

Comentário<br />

É necessário para a resolução desta<br />

questão:<br />

- perceber que o texto critica o exagerado<br />

uso de substâncias artificiais nos<br />

alimentos;<br />

- conhecer o significado da gíria embromar e<br />

da palavra bromatologia.<br />

Conhecendo esses significados, você<br />

elimina todas as alternativas erradas: a, c, d<br />

e e.<br />

Você poderá ter dúvida quanto à<br />

alternativa c, que também será eliminada se<br />

souber o significado da palavra lactologia,<br />

que é o estudo do leite e produtos lácteos e<br />

não das embalagens para leite.<br />

Nesta questão, são trabalhados os<br />

conceitos de interpretação de texto, formação<br />

de palavras e conhecimentos gerais.<br />

Comentário do INEP<br />

A resolução da questão requeria que o<br />

participante, ao ler o texto vinculasse o<br />

significado de um termo de gíria -<br />

"embromação" - com o da palavra<br />

bromatologia. A resposta correta exigia que o<br />

participante não abrisse mão do sabor<br />

picante contido na linguagem metafórica,<br />

sabor vinculado ao conhecimento específico<br />

192


contido na palavra bromatologia. Cerca da<br />

metade dos participantes (51%) optou pela<br />

alternativa correta e, os 20% que escolheram<br />

a alternativa C, provavelmente associaram a<br />

referência feita no texto à leite em pacote.<br />

66) (2005) O termo (ou expressão)<br />

destacado que está empregado em seu<br />

sentido próprio, denotativo ocorre em:<br />

A) “(....)<br />

É de laço e de nó<br />

De gibeira o jiló<br />

Dessa vida, cumprida a sol (....)”<br />

(Renato Teixeira. Romaria. Kuarup Discos.<br />

setembro de 1992.)<br />

B) “Protegendo os inocentes<br />

é que Deus, sábio demais,<br />

põe cenários diferentes<br />

nas impressões digitais.”<br />

(Maria N. S. Carvalho. Evangelho da Trova. /s.n.b.)<br />

C) “O dicionário-padrão da língua e os<br />

dicionários unilíngües são os tipos mais<br />

comuns de dicionários. Em nossos<br />

dias, eles se tornaram um objeto de<br />

consumo obrigatório para as nações<br />

civilizadas e desenvolvidas.”<br />

(Maria T. Camargo Biderman.<br />

O dicionário-padrão da língua. Alfa (28), 2743, 1974 Supl.)<br />

D)<br />

E) “Humorismo é a arte de fazer cócegas<br />

no raciocínio dos outros. Há duas<br />

espécies de humorismo: o trágico e o<br />

cômico. O trágico é o que não<br />

consegue fazer rir; o cômico é o que é<br />

verdadeiramente trágico para se fazer.”<br />

(Leon Eliachar. www.mercadolivre.com.br.<br />

acessado em julho de 2005.)<br />

Comentário<br />

A definição do dicionário-padrão da língua<br />

utiliza o sentido denotativo da palavra para<br />

explicar o uso de determinado tipo de<br />

dicionário. Em todas as outras alternativas,<br />

as palavras estão sendo empregadas em<br />

sentido metafórico. Na letra A, "cumprida a<br />

sol" pode mostrar o sofrimento e a solidão.<br />

Na alternativa B, "cenários diferentes" são as<br />

diferenças físicas encontradas nas<br />

impressões digitais. Na letra D, "bateria" é o<br />

termo usado para expressar a "energia" do<br />

Menino Maluquinho, que nunca acaba. Por<br />

fim, na alternativa E, "fazer cócegas no<br />

raciocínio" significa expressar graça por meio<br />

de idéias, fazendo com que o cérebro ache<br />

um fato divertido e, por conseguinte, faça<br />

com que a pessoa ria como se sofresse um<br />

ataque de cócegas.<br />

67) (1998) Amor é fogo que arde sem ver;<br />

é ferida que dói e não se sente;<br />

é um contentamento descontente;<br />

é dor que desatina sem doer.<br />

É um não querer mais que bem querer;<br />

é solitário andar por entre a gente;<br />

é nunca contentar-se de contente;<br />

é cuidar que se ganha em se perder.<br />

É querer estar preso por vontade;<br />

é servir a quem vence, o vencedor;<br />

é ter com quem nos mata lealdade.<br />

Mas como causar pode seu favor<br />

nos corações humanos amizade<br />

se tão contrário a si é o mesmo Amor?<br />

(Luís de Camões. In: Obras Completas de Camões, Lisboa,<br />

Livraria Sá da Costa, Vol. 1, 1954, p.232)<br />

O poema pode ser considerado como um<br />

texto:<br />

A) argumentativo.<br />

B) narrativo.<br />

C) épico.<br />

D) de propaganda.<br />

E) teatral.<br />

Comentário<br />

Podemos considerar esse texto como<br />

argumentativo, pois ele vai embasando a sua<br />

idéia sobre o que é o amor. O texto narrativo<br />

conta uma história, assim como o épico, que<br />

conta histórias de caráter heróico. Camões,<br />

nesse texto, não está preocupado em fazer<br />

propaganda do amor, mas, sim, em<br />

compreendê-lo. E, para terminar, esse texto<br />

não foi feito para ser encenado em palco<br />

como um texto teatral.<br />

68) (2001) O trecho a seguir é parte do<br />

poema “Mocidade e morte”, do poeta<br />

romântico Castro Alves:<br />

Oh! eu quero viver, beber perfumes<br />

Na flor silvestre, que embalsama os ares;<br />

Ver minh'alma adejar pelo infinito,<br />

193


Qual branca vela n'amplidão dos mares.<br />

No seio da mulher há tanto aroma...<br />

Nos seus beijos de fogo há tanta vida...<br />

– Árabe errante, vou dormir à tarde<br />

À sombra fresca da palmeira erguida.<br />

Mas uma voz responde-me sombria:<br />

Terás o sono sob a lájea fria.<br />

ALVES, Castro. Os melhores poemas de Castro Alves.<br />

Seleção de Lêdo Ivo. São Paulo: Global, 1983.<br />

Esse poema, como o próprio título sugere,<br />

aborda o inconformismo do poeta com a<br />

antevisão da morte prematura, ainda na<br />

juventude.<br />

A imagem da morte aparece na palavra<br />

A) embalsama. D) dormir.<br />

B) infinito. E) sono.<br />

C) amplidão.<br />

Comentário<br />

No último verso, temos a expressão "sono<br />

sob a lájea fria". Dormir sob uma lájea fria? O<br />

trecho indica sepulcro. Portanto, nesse caso,<br />

sono = morte.<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão apresenta, para a leitura,<br />

uma parte do poema "Mocidade e morte", do<br />

poeta romântico Castro Alves. Nesse trecho,<br />

o poeta aborda o inconformismo com a<br />

antevisão da morte prematura. O problema<br />

apresenta-se sob a forma de identificação de<br />

uma palavra no trecho que represente a idéia<br />

de morte. Na primeira estrofe, há uma<br />

apologia à vida, contrastando com a segunda<br />

estrofe, em que se anuncia a morte, idéia<br />

introduzida pela conjunção mas, um divisor<br />

entre as estrofes. A compreensão dos<br />

elementos intratextuais e formais faz com<br />

que a identificação da imagem ocorra na<br />

segunda estrofe. As palavras indicadas nas<br />

alternativas, descontextualizadas, podem<br />

sugerir a idéia de morte como interpretação,<br />

mas não se sustentam na representação do<br />

poema. A leitura global do texto, seguida por<br />

uma compreensão das relações entre as<br />

imagens propostas, é a chave para a<br />

resposta correta, assinalada por 62% dos<br />

participantes.<br />

ou casuais, as quais, devido à ocorrência<br />

em circunstâncias idênticas, muitas vezes<br />

repetidas, indicam algo e adquirem<br />

significado. Por exemplo, nuvens negras<br />

indicam tempestade. Com base nesse<br />

conceito, escolha a opção que representa<br />

um signo da categoria dos indícios.<br />

A)<br />

B)<br />

C)<br />

D)<br />

E)<br />

69) (2008) Os signos visuais, como meios de<br />

comunicação, são classificados em<br />

categorias de acordo com seus<br />

significados.<br />

A categoria denominada indício<br />

corresponde aos signos visuais que têm<br />

origem em formas ou situações naturais<br />

194<br />

Comentário<br />

Trata-se de uma questão interpretativa. O<br />

aluno precisa entender o que é “indício” para<br />

respondê-la. Segundo o dicionário Aurélio,<br />

indício é o mesmo que “sinal, vestígio,


indicação”. Das figuras apresentadas,<br />

apenas a alternativa B indica algo: a<br />

passagem de alguém por algum lugar —<br />

pegada.<br />

70) (1999)<br />

Diante da visão de um prédio com uma<br />

placa indicando SAPATARIA PAPALIA,<br />

um jovem deparou com a dúvida: como<br />

pronunciar a palavra PAPALIA?<br />

Levado o problema à sala de aula, a<br />

discussão girou em torno da utilidade de<br />

conhecer as regras de acentuação e,<br />

especialmente, do auxílio que elas podem<br />

dar à correta pronúncia de palavras.<br />

Após discutirem pronúncia, regras de<br />

acentuação e escrita, três alunos<br />

apresentaram as seguintes conclusões a<br />

respeito da palavra PAPALIA:<br />

I. Se a sílaba tônica for o segundo PA, a<br />

escrita deveria ser PAPÁLIA, pois a<br />

palavra seria paroxítona terminada em<br />

ditongo crescente.<br />

II. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />

deveria ser PAPALÍA, pois "i" e "a"<br />

estariam formando hiato.<br />

III. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />

deveria ser PAPALIA, pois não haveria<br />

razão para o uso de acento gráfico.<br />

A conclusão está correta apenas em:<br />

A) III D) I<br />

B) I e II E) II<br />

C) I e III<br />

Comentário<br />

Essa questão exige bom conhecimento<br />

das regras de acentuação. A alternativa A diz<br />

que apenas a afirmação I é verdadeira. De<br />

fato ela é, mas não é a única. Nela, temos a<br />

hipótese de a palavra ser grafada como se a<br />

sílaba forte fosse a penúltima — papália —,<br />

justificando seu acento gráfico. Vejamos o<br />

que dizem as regras de acentuação.<br />

Acentuam-se as palavras paroxítonas<br />

terminadas em: i, is, us, um, uns, l, n, r, x,<br />

ps, ã, ãs, ão, ãos, ditongos orais,<br />

crescentes ou decrescentes, seguidos ou<br />

não de S. Isso valida, portanto, a afirmação I.<br />

A afirmação II pressupõe que a sílaba<br />

tônica seja LI, em hiato com A: no caso de<br />

essa ser a tonicidade da palavra, a sílaba LI<br />

não poderia ser acentuada, pois I, mesmo<br />

sendo a tônica do hiato, não é a última vogal,<br />

portanto, essa afirmativa é falsa.<br />

A afirmação III considera que a sílaba<br />

tônica é LI, não havendo acento por ser o I a<br />

primeira vogal do hiato. Portanto, essa<br />

afirmação é verdadeira.<br />

Concluindo, temos como verdadeiras as<br />

afirmações I e III. Então, a alternativa E é a<br />

correta. Questão de nível difícil.<br />

Comentário do INEP<br />

Dentre os participantes, somente pouco<br />

mais de um terço (35%) demonstrou possuir<br />

a habilidade para identificar as regras de<br />

acentuação corretas, enunciadas na questão.<br />

Chama a atenção o fato de que 73% dos<br />

participantes (alternativas A, D e E)<br />

reconheceram corretamente, pelo menos, a<br />

regra contida no item I, sendo que cerca de<br />

40% desses, contudo, tiveram dificuldades<br />

em analisar as regras II e III.<br />

Em se tratando de palavra não-usual, é,<br />

sobretudo, o domínio do conhecimento das<br />

regras e não a possível pronúncia correta,<br />

pelo uso, o que parece ter sido revelado.<br />

71) (2008)<br />

Exame, 28/9/2007.<br />

Entre os seguintes ditos populares, qual<br />

deles melhor corresponde à figura<br />

acima?<br />

A) Com perseverança, tudo se alcança.<br />

B) Cada macaco no seu galho.<br />

C) Nem tudo que balança cai.<br />

D) Quem tudo quer, tudo perde.<br />

E) Deus ajuda quem cedo madruga.<br />

195


Comentário<br />

Assim como a questão 37, esta também<br />

envolve interpretação de signos, ou seja, o<br />

aluno precisa estar atento à imagem e<br />

relacioná-la ao dito popular correspondente.<br />

A alternativa "A" é a correta, pois, para<br />

uma lesma “grudenta” e vagarosa conseguir<br />

pular numa cama elástica, é necessária<br />

muita perseverança.<br />

72) (1999) Leia o que disse João Cabral de<br />

Melo Neto, poeta pernambucano, sobre a<br />

função de seus textos:<br />

"Falo somente com o que falo: a<br />

linguagem enxuta, contato denso; falo<br />

somente do que falo: a vida seca, áspera<br />

e clara do sertão; falo somente por quem<br />

falo: o homem sertanejo sobrevivendo na<br />

adversidade e na míngua. Falo somente<br />

para quem falo: para os que precisam ser<br />

alertados para a situação da miséria no<br />

Nordeste."<br />

Para João Cabral de Melo Neto, no texto<br />

literário:<br />

A) a linguagem do texto deve refletir o<br />

tema, e a fala do autor deve denunciar<br />

o fato social para determinados<br />

leitores.<br />

B) a linguagem do texto não deve ter<br />

relação com o tema, e o autor deve ser<br />

imparcial para que seu texto seja lido.<br />

C) o escritor deve saber separar a<br />

linguagem do tema e a perspectiva<br />

pessoal da perspectiva do leitor.<br />

D) a linguagem pode ser separada do<br />

tema, e o escritor deve ser o delator do<br />

fato social para todos os leitores.<br />

E) a linguagem está além do tema, e o<br />

fato social deve ser a proposta do<br />

escritor para convencer o leitor.<br />

Comentário<br />

João Cabral mostrou, no comentário, que<br />

seus textos são transparentes na relação<br />

linguagem—tema. Ele não gosta de usar<br />

subterfúgios para passar sua mensagem<br />

("Falo somente com o que falo"), de desviarse<br />

do tema para assuntos que geralmente<br />

não fazem parte de seu interesse ("falo<br />

somente do que falo"), de fazer de si mesmo<br />

ou de seus personagens porta-vozes de<br />

outras pessoas ou classes sociais ("falo<br />

somente por quem falo") ou de dirigir-se a<br />

públicos que pouco proveito poderiam tirar de<br />

seus escritos ("falo somente para quem<br />

falo"). Essa ligação direta de tema e<br />

linguagem, somada à proposta de falar<br />

196<br />

somente para quem se deve ou quer falar,<br />

justifica a resposta, sendo correta a<br />

alternativa A. Questão de nível médio.<br />

Comentário do INEP<br />

Para resolver essa questão, o participante<br />

deveria ser capaz de estabelecer a relação<br />

entre a linguagem, o tema e o interlocutor da<br />

escrita do autor, a partir das razões<br />

explicitadas no seu texto. Essas razões<br />

foram corretamente identificadas por mais da<br />

metade dos participantes.<br />

73) (2001) No trecho abaixo, o narrador, ao<br />

descrever a personagem, critica<br />

sutilmente um outro estilo de época: o<br />

romantismo.<br />

“Naquele tempo contava apenas uns<br />

quinze ou dezesseis anos; era talvez a<br />

mais atrevida criatura da nossa raça, e,<br />

com certeza, a mais voluntariosa. Não<br />

digo que já lhe coubesse a primazia da<br />

beleza, entre as mocinhas do tempo,<br />

porque isto não é romance, em que o<br />

autor sobredoura a realidade e fecha os<br />

olhos às sardas e espinhas; mas também<br />

não digo que lhe maculasse o rosto<br />

nenhuma sarda ou espinha, não. Era<br />

bonita, fresca, saía das mãos da natureza,<br />

cheia daquele feitiço, precário e eterno,<br />

que o indivíduo passa a outro indivíduo,<br />

para os fins secretos da criação.”<br />

ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de<br />

Brás Cubas. Rio de Janeiro: Jackson,1957.<br />

A frase do texto em que se percebe a<br />

crítica do narrador ao romantismo está<br />

transcrita na alternativa:<br />

A) ... o autor sobredoura a realidade e<br />

fecha os olhos às sardas e espinhas ...<br />

B) ... era talvez a mais atrevida criatura da<br />

nossa raça ...<br />

C) Era bonita, fresca, saía das mãos da<br />

natureza, cheia daquele feitiço,<br />

precário e eterno, ...<br />

D) Naquele tempo contava apenas uns<br />

quinze ou dezesseis anos ...<br />

E) ... o indivíduo passa a outro indivíduo,<br />

para os fins secretos da criação.<br />

Comentário<br />

Questão muito fácil que pode ser<br />

respondida com a simples leitura do texto.<br />

Machado de Assis critica a supervalorização<br />

e idealização das personagens do<br />

Romantismo. Tal crítica fica clara na<br />

alternativa A.


Comentário do INEP<br />

Esta questão apresenta para leitura e<br />

análise um trecho de Memórias de Brás<br />

Cubas, de Machado de Assis. Nesse texto, o<br />

narrador realiza um comentário sobre o<br />

"romance romântico", criticando uma de suas<br />

características. O problema proposto trata<br />

da identificação dessa passagem no texto. O<br />

participante deve reconhecer no texto as<br />

características do "romance romântico" e<br />

associá-la à crítica do narrador. As<br />

alternativas propõem passagens que podem<br />

ser associadas ao romantismo em contexto<br />

extratextual, sendo que, em apenas uma<br />

delas, há a relação entre contexto/texto. Mais<br />

da metade (54%) dos participantes identificou<br />

corretamente a passagem no texto.<br />

74) (2000) Em muitos jornais, encontramos<br />

charges, quadrinhos, ilustrações,<br />

inspirados nos fatos noticiados. Veja um<br />

exemplo:<br />

Jornal do Commercio , 22/8/93<br />

O texto que se refere a uma situação<br />

semelhante à que inspirou a charge é:<br />

A) Descansem o meu leito solitário<br />

Na floresta dos homens esquecida,<br />

À sombra de uma cruz, e escrevam nela<br />

– Foi poeta – sonhou – e amou na vida.<br />

(AZEVEDO, Álvares de . Poesias escolhidas . Rio de<br />

Janeiro/Brasília: José Aguilar/INL,1971)<br />

B) Essa cova em que estás<br />

Com palmos medida,<br />

é a conta menor<br />

que tiraste em vida.<br />

É de bom tamanho,<br />

Nem largo nem fundo,<br />

É a parte que te cabe<br />

deste latifúndio.<br />

(MELO NETO, João Cabral de. Morte e Vida Severina e<br />

outros poemas em voz alta . Rio de Janeiro: Sabiá, 1967)<br />

C) Medir é a medida<br />

mede<br />

A terra, medo do homem, a lavra;<br />

lavra<br />

duro campo, muito cerco, vária várzea.<br />

(CHAMIE, Mário. Sábado na hora da escutas. São<br />

Paulo: Summums, 1978)<br />

D) Vou contar para vocês<br />

um caso que sucedeu<br />

na Paraíba do Norte<br />

com um homem que se chamava<br />

Pedro João Boa-Morte,<br />

lavrador de Chapadinha:<br />

talvez tenha morte boa<br />

porque vida ele não tinha.<br />

(GULLAR, Ferreira. Toda poesia . Rio de Janeiro:<br />

Civilização Brasileira, 1983)<br />

E) Trago-te flores, – restos arrancados<br />

Da terra que nos viu passar<br />

E ora mortos nos deixa e separados.<br />

(ASSIS, Machado de. Obra completa . Rio de Janeiro:<br />

Nova Aguillar, 1986)<br />

Comentário<br />

Esta questão exige boa dose de reflexão.<br />

Antes de tudo, há que se notar que o título<br />

"Demarcação das terras indígenas" está<br />

ligado ironicamente à figura das covas<br />

comuns, anônimas (covas são as terras dos<br />

índios?). Procuramos, então, o trecho de<br />

poema que sirva como legenda à figura<br />

apresentada, mantendo também a ironia da<br />

relação. As alternativas a e e se descartam<br />

pelo lirismo romântico presente e, ainda<br />

mais, pela presença, na a, de elementos que<br />

não estão no universo conceitual indígena<br />

(cruz, poeta). A alternativa c não nos serve<br />

por estar tratando da dureza do trabalho com<br />

a terra, o que não é o tema da charge. Já a d<br />

não é adequada por estar introduzindo a<br />

discussão de fatos ocorridos na vida de um<br />

único homem, provavelmente não-índio (até<br />

pelo nome João Boa-Morte). Fica-nos a<br />

alternativa b, que bem poderia servir de<br />

legenda à charge; se pensarmos nos<br />

sangrentos conflitos entre brancos e índios<br />

pela ocupação das terras indígenas<br />

demarcadas, nos quais os índios geralmente<br />

levam a pior, então nos servem bem os<br />

versos que apresenta.<br />

Comentário do INEP<br />

O alto índice de acerto (72 %) revelou a<br />

capacidade dos participantes de não só<br />

contextualizar o problema em foco mas<br />

também de estabelecer relações de sentido<br />

entre diferentes linguagens, ou seja, de lidar<br />

com a intertextualidade. As relações<br />

incorretas que foram estabelecidas,<br />

possivelmente, são devidas mais à falta de<br />

capacidade de contextualização do que de<br />

estabelecimento de relações temáticas.<br />

75) (2002) A leitura do poema Descrição da<br />

guerra em Guernica traz à lembrança o<br />

famoso quadro de Picasso.<br />

Entra pela janela<br />

197


o anjo camponês;<br />

com a terceira luz na mão;<br />

minucioso, habituado<br />

aos interiores de cereal,<br />

aos utensílios que dormem na fuligem;<br />

os seus olhos rurais<br />

não compreendem bem os símbolos<br />

desta colheita: hélices,<br />

motores furiosos;<br />

e estende mais o braço; planta<br />

no ar, como uma árvore<br />

a chama do candeeiro.<br />

(...)<br />

Carlos de Oliveira in ANDRADE, Eugénio. Antologia<br />

Pessoal da Poesia Portuguesa. Porto: Campo das<br />

Letras, 1999.<br />

Uma análise cuidadosa do quadro permite<br />

que se identifiquem as cenas referidas<br />

nos trechos do poema.<br />

Podem ser relacionadas ao texto lido as<br />

partes:<br />

A) a1, a2, a3 D) c1, c2, c3<br />

B) f1, e1, d1 E) e1, e2, e3<br />

C) e1, d1, c1<br />

Comentário<br />

Questão de nível médio. O que precisava<br />

ser feito era encontrar figuras do poema<br />

dentro do quadro. O que se descreve nos<br />

versos 1 e 2 (o anjo camponês que entra<br />

pela janela) está no quadrante e1 (ver a<br />

janela). Nos três últimos versos, há mais<br />

duas imagens: estende mais o braço — d1;<br />

chama do candeeiro — c1.<br />

Comentário do INEP<br />

O trecho do poema "Descrição da guerra<br />

em Guernica", transcrito na prova, cria para o<br />

participante uma interessante relação<br />

intertextual: o poeta Carlos de Oliveira<br />

propõe uma leitura interpretativa do<br />

conhecido quadro de Pablo Picasso. Além do<br />

poema, o quadro de Picasso foi também<br />

reproduzido na questão, de modo a permitir<br />

que o aluno tivesse condições de "ler" essa<br />

obra de arte e nela reconhecer as referências<br />

criadas pelo texto de Carlos de Oliveira. Os<br />

primeiros versos do poema fazem referência<br />

à entrada de um "anjo camponês" pela<br />

janela. No quadro, essa imagem pode ser<br />

identificada no quadro e1. Mais adiante, os<br />

versos aludem a um braço estendido que<br />

"planta/ no ar.../ a chama do candeeiro". Para<br />

compreender a metáfora criada, o<br />

participante deveria perceber, em primeiro<br />

lugar, que o braço estendido seria do anjo<br />

camponês, identificado no quadro e1. Esse<br />

reconhecimento daria a chave de resposta da<br />

questão, porque permitiria que a imagem da<br />

entrada do anjo com o braço estendido<br />

portando um candeeiro fosse associada aos<br />

quadros e1, d1, c1 , contidos na alternativa<br />

C, assinalada por cerca de metade dos<br />

participantes.<br />

76) (2008) São Paulo vai se recensear. O<br />

governo quer saber quantas pessoas<br />

governa. A indagação atingirá a fauna e a<br />

flora domesticadas. Bois, mulheres e<br />

algodoeiros serão reduzidos a números e<br />

invertidos em estatísticas. O homem do<br />

censo entrará pelos bangalôs, pelas<br />

pensões, pelas casas de barro e de<br />

cimento armado, pelo sobradinho e pelo<br />

apartamento, pelo cortiço e pelo hotel,<br />

perguntando:<br />

— Quantos são aqui?<br />

Pergunta triste, de resto. Um homem dirá:<br />

— Aqui havia mulheres e criancinhas.<br />

Agora, felizmente, só há pulgas e ratos.<br />

E outro:<br />

— Amigo, tenho aqui esta mulher, este<br />

papagaio, esta sogra e algumas baratas.<br />

Tome nota dos seus nomes, se quiser.<br />

Querendo levar todos, é favor... (...)<br />

E outro:<br />

— Dois, cidadão, somos dois.<br />

Naturalmente o sr. não a vê. Mas ela está<br />

aqui, está, está! A sua saudade jamais<br />

sairá de meu quarto e de meu peito!<br />

Rubem Braga. Para gostar de ler. v. 3.<br />

São Paulo: Ática, 1998, p. 32-3 (fragmento).<br />

O fragmento acima, em que há referência<br />

a um fato sócio-histórico — o<br />

recenseamento —, apresenta<br />

característica marcante do gênero crônica<br />

ao<br />

A) expressar o tema de forma abstrata,<br />

evocando imagens e buscando<br />

apresentar a idéia de uma coisa por<br />

meio de outra.<br />

B) manter-se fiel aos acontecimentos,<br />

retratando os personagens em um só<br />

tempo e um só espaço.<br />

198


C) contar história centrada na solução de<br />

um enigma, construindo os<br />

personagens psicologicamente e<br />

revelando-os pouco a pouco.<br />

D) evocar, de maneira satírica, a vida na<br />

cidade, visando transmitir<br />

ensinamentos práticos do cotidiano,<br />

para manter as pessoas informadas.<br />

E) valer-se de tema do cotidiano como<br />

ponto de partida para a construção de<br />

texto que recebe tratamento estético.<br />

Comentário<br />

A questão correta é a E, pois a crônica<br />

utiliza a linguagem estética ou poética para<br />

expor temas do cotidiano. Há uma<br />

preocupação com a escolha das palavras<br />

que são rebuscadas e ritmadas, ou seja, a<br />

função da linguagem é poética.<br />

77) (1999) Quem não passou pela<br />

experiência de estar lendo um texto e<br />

defrontar-se com passagens já lidas em<br />

outros? Os textos conversam entre si em<br />

um diálogo constante. Esse fenômeno tem<br />

a denominação de intertextualidade. Leia<br />

os seguintes textos:<br />

I. Quando nasci, um anjo torto<br />

Desses que vivem na sombra<br />

Disse: Vai Carlos! Ser "gauche" na vida<br />

(Andrade, Carlos Drummond de.<br />

Alguma poesia. Rio de Janeiro: Aguilar, 1964)<br />

II. Quando nasci veio um anjo safado<br />

O chato dum querubim<br />

E decretou que eu tava predestinado<br />

A ser errado assim<br />

Já de saída a minha estrada entortou<br />

Mas vou até o fim.<br />

(BUARQUE, Chico. Letra e Música. São Paulo: Cia.<br />

das Letras, 1989)<br />

III. Quando nasci um anjo esbelto<br />

Desses que tocam trombeta, anunciou:<br />

Vai carregar bandeira.<br />

Carga muito pesada pra mulher<br />

Esta espécie ainda envergonhada<br />

(PRADO, Adélia. Bagagem. Rio de Janeiro:<br />

Guanabara, 1986)<br />

Adélia Prado e Chico Buarque<br />

estabelecem intertextualidade, em relação<br />

a Carlos Drummond de Andrade, por:<br />

A) reiteração de imagens.<br />

B) oposição de idéias.<br />

C) falta de criatividade.<br />

D) negação dos versos.<br />

E) ausência de recursos.<br />

Comentário<br />

Outra questão com resposta evidente. A<br />

recorrência à imagem do "anjo anunciador" e<br />

dos caminhos que se tornam sempre difíceis<br />

e tortuosos (gauche = acanhado, inepto),<br />

feita pelos três autores, elimina qualquer<br />

sombra de dúvida em relação às outras<br />

respostas. Questão de nível fácil.<br />

Comentário do INEP<br />

Para a resolução desse problema, era<br />

requerido que o participante soubesse<br />

identificar os elementos de intertextualidade<br />

entre três trechos de textos de diferentes<br />

autores.<br />

As duas primeiras alternativas,<br />

amplamente majoritárias, revelam<br />

possivelmente duas distintas percepções da<br />

questão. A alternativa correta A foi escolhida<br />

pelos que perceberam a ostensiva reiteração<br />

de imagens (repetição da imagem do anjo<br />

que vaticina). A alternativa B, incorreta, pode<br />

ter atraído muitos participantes à medida que<br />

tenham, talvez, identificado uma oposição de<br />

idéias, não entre os textos, mas entre a<br />

imagem usualmente positiva de anjo e uma<br />

certa adjetivação pejorativa utilizada em<br />

relação aos mesmos.<br />

78) (2002) A crônica muitas vezes constitui<br />

um espaço para reflexão sobre aspectos<br />

da sociedade em que vivemos.<br />

"Eu, na rua, com pressa, e o menino<br />

segurou no meu braço, falou qualquer<br />

coisa que não entendi. Fui logo dizendo<br />

que não tinha, certa de que ele estava<br />

pedindo dinheiro. Não estava. Queria<br />

saber a hora.<br />

Talvez não fosse um Menino De<br />

Família, mas também não era um Menino<br />

De Rua. É assim que a gente divide.<br />

Menino De Família é aquele bem-vestido<br />

com tênis da moda e camiseta de marca,<br />

que usa relógio e a mãe dá outro se o<br />

dele for roubado por um Menino De Rua.<br />

Menino De Rua é aquele que quando a<br />

gente passa perto segura a bolsa com<br />

força porque pensa que ele é pivete,<br />

trombadinha, ladrão. (...) Na verdade não<br />

existem meninos De rua.<br />

Existem meninos NA rua. E toda vez<br />

que um menino está NA rua é porque<br />

alguém o botou lá. Os meninos não vão<br />

sozinhos aos lugares. Assim como são<br />

postos no mundo, durante muitos anos<br />

também são postos onde quer que<br />

estejam. Resta ver quem os põe na rua. E<br />

por quê."<br />

COLASSANTI, Marina. In: Eu sei, mas não devia. Rio de<br />

Janeiro: Rocco, 1999.<br />

199


200<br />

No terceiro parágrafo em "... não existem<br />

meninos De rua. Existem meninos NA<br />

rua.", a troca de De pelo Na determina<br />

que a relação de sentido entre "menino" e<br />

"rua" seja<br />

A) de localização e não de qualidade.<br />

B) de origem e não de posse.<br />

C) de origem e não de localização.<br />

D) de qualidade e não de origem.<br />

E) de posse e não de localização.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. Apesar de não<br />

haver um terceiro parágrafo neste texto, a<br />

troca das preposições ao final do SEGUNDO<br />

parágrafo indica claramente que não há um<br />

menino DE (proveniente de) rua, mas um<br />

menino que está NA (foi levado à) rua.<br />

Portanto, a relação é unicamente de<br />

localização (onde ele está) e não de<br />

qualidade (o que ele é).<br />

Comentário do INEP<br />

A reprodução de um trecho de uma<br />

crônica de Marina Colassanti tematiza uma<br />

importante questão social brasileira: a<br />

presença de milhões de crianças nas ruas do<br />

País. A autora, ao tratar desse problema,<br />

vale-se de recursos lingüísticos específicos.<br />

O objetivo desta questão é justamente<br />

chamar a atenção do participante leitor para<br />

esses recursos e os efeitos de sentido que<br />

eles desencadeiam no texto. Na raiz da<br />

questão destaca-se a troca de "De" por "NA"<br />

e pede-se que se determine qual relação de<br />

sentido essa substituição estabelece entre os<br />

termos "menino" e "rua". Analisar a relação,<br />

nesse caso, significa perguntar-se sobre o<br />

sentido de dois sintagmas criados no texto:<br />

"meninos NA rua" por oposição a "meninos<br />

De rua". O que a autora pretende negar, com<br />

a troca do termo de relação, é a possibilidade<br />

de que existam meninos de rua diferentes de<br />

outros meninos, que não têm na rua a sua<br />

origem. O destaque para a preposição na<br />

nos leva a refletir que a relação dos meninos<br />

com a rua é de localização: eles estão ali por<br />

alguma razão, não porque essa seja a sua<br />

qualificação. Essa reflexão levaria o aluno a<br />

escolher, como correta, a resposta<br />

apresentada na alternativa A, assinalada por<br />

cerca de metade dos participantes.<br />

79) (2005) Leia estes textos.<br />

Texto 1<br />

Texto 2<br />

Sonhar<br />

Mais um sonho impossível<br />

Lutar<br />

Quando é fácil ceder<br />

Vencer o inimigo invencível<br />

Negar quando a regra é vender<br />

Sofrer a tortura implacável<br />

Romper a incabível prisão<br />

Voar num limite improvável<br />

Tocar o inacessível chão<br />

É minha lei, é minha questão<br />

Virar esse mundo<br />

Cravar esse chão<br />

Não me importa saber<br />

Se é terrível demais<br />

Quantas guerras terei que vencer<br />

Por um pouco de paz<br />

E amanhã se esse chão que eu beijei<br />

For meu leito e perdão<br />

Vou saber que valeu delirar<br />

E morrer de paixão<br />

E assim, seja lá como for<br />

Vai ter fim a infinita aflição<br />

E o mundo vai ver uma flor<br />

Brotar do impossível chão.<br />

(J. Darione – M. Leigh – Versão de Chico Buarque de<br />

Hollanda e Ruy Guerra, 1972.)<br />

A tirinha e a canção apresentam uma<br />

reflexão sobre o futuro da humanidade. É<br />

correto concluir que os dois textos<br />

A) afirmam que o homem é capaz de<br />

alcançar a paz.<br />

B) concordam que o desarmamento é<br />

inatingível.<br />

C) julgam que o sonho é um desafio<br />

invencível.<br />

D) têm visões diferentes sobre um<br />

possível mundo melhor.<br />

E) transmitem uma mensagem de<br />

otimismo sobre a paz.<br />

Comentário<br />

Enquanto o primeiro texto é ácido em<br />

relação à possibilidade de desarmamento da<br />

população (ou seja, à criação de uma<br />

sociedade mais pacífica), o segundo mostra<br />

a capacidade que a humanidade tem de crer<br />

e, por isso, tentar fazer até o que a princípio<br />

parece impossível. Para os autores da


canção, nada é intrinsecamente impossível.<br />

A relação entre eles é de oposição:<br />

descrença x crença. Questão de nível de<br />

dificuldade médio.<br />

80) (2000) O uso do pronome átono no início<br />

das frases é destacado por um poeta e<br />

por um gramático nos textos abaixo.<br />

Pronominais<br />

Dê-me um cigarro<br />

Diz a gramática<br />

Do professor e do aluno<br />

E do mulato sabido<br />

Mas o bom negro e o bom branco<br />

da Nação Brasileira<br />

Dizem todos os dias<br />

Deixa disso camarada<br />

Me dá um cigarro<br />

(ANDRADE, Oswald de. Seleção de textos.<br />

São Paulo: Nova Cultural, 1988)<br />

“Iniciar a frase com pronome átono só<br />

é lícito na conversação familiar,<br />

despreocupada, ou na língua escrita<br />

quando se deseja reproduzir a fala dos<br />

personagens (...).”<br />

(CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da<br />

língua portuguesa.<br />

São Paulo: Nacional, 1980)<br />

Comparando a explicação dada pelos<br />

autores sobre essa regra, pode-se afirmar<br />

que ambos:<br />

A) condenam essa regra gramatical.<br />

B) acreditam que apenas os esclarecidos<br />

sabem essa regra.<br />

C) criticam a presença de regras na<br />

gramática.<br />

D) afirmam que não há regras para uso de<br />

pronomes.<br />

E) relativizam essa regra gramatical.<br />

Comentário<br />

Questão que requer conhecimento básico<br />

de colocação pronominal, em relação ao uso<br />

de pronomes átonos no início de frases, uma<br />

regra muito pouco respeitada pelo brasileiro,<br />

da qual Oswald de Andrade faz questão de<br />

falar em seu poema. Porém, a questão pode<br />

ser resolvida simplesmente por meio de uma<br />

leitura bem atenta dos textos. Se formos<br />

analisando alternativa por alternativa, a<br />

eliminação é clara e lógica: a alternativa a<br />

fica totalmente descartada devido à<br />

transparência da colocação dos dois autores<br />

(Me dá um cigarro...) e (iniciar frases com o<br />

pronome átono é "lícito" na conversação<br />

familiar ou despreocupada). Já a alternativa b<br />

pode até mesmo gerar um pouco de dúvida a<br />

quem não se atém bem à pergunta. Quanto<br />

às alternativas c e d, ficam descartadas, pois,<br />

em momento nenhum, os autores criticaram<br />

o uso de regras gramaticais em seus textos,<br />

cabendo perfeitamente a alternativa e para<br />

as afirmações do gramático e do poeta.<br />

Comentário do INEP<br />

Essa questão pretendia verificar como o<br />

participante analisa um fato lingüístico,<br />

mediante a comparação da descrição desse<br />

fato em dois textos. Sabe-se que,<br />

normalmente em situação escolar, o uso do<br />

pronome átono no início da frase é julgado<br />

como grave desvio gramatical, e pouco se<br />

analisa esse uso na fala ou escrita informal.<br />

Os dois autores dos textos, com intenções<br />

diferentes, relativizam essa regra gramatical,<br />

destacando e descrevendo o seu uso<br />

coloquial. A maioria dos participantes (52%)<br />

analisou e comparou corretamente as<br />

posições dos autores sobre o uso do<br />

pronome átono, e 24% deles reafirmaram a<br />

posição discriminatória da regra, deslocandoa<br />

de seu uso.<br />

81) (2005) Leia estes poemas.<br />

Texto 1 - Auto-retrato<br />

Provinciano que nunca soube<br />

Escolher bem uma gravata;<br />

Pernambucano a quem repugna<br />

A faca do pernambucano;<br />

Poeta ruim que na arte da prosa<br />

Envelheceu na infância da arte,<br />

E até mesmo escrevendo crônicas<br />

Ficou cronista de província;<br />

Arquiteto falhado, músico<br />

Falhado (engoliu um dia<br />

Um piano, mas o teclado<br />

Ficou de fora); sem família,<br />

Religião ou filosofia;<br />

Mal tendo a inquietação de espírito<br />

Que vem do sobrenatural,<br />

E em matéria de profissão<br />

Um tísico* profissional.<br />

(Manuel Bandeira. Poesia completa e prosa. Rio de<br />

Janeiro: Aguilar, 1983. p. 395.)<br />

Texto 2 - Poema de sete faces<br />

Quando eu nasci, um anjo torto<br />

desses que vivem na sombra<br />

disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.<br />

As casas espiam os homens<br />

que correm atrás de mulheres.<br />

201


A tarde talvez fosse azul,<br />

não houvesse tantos desejos.<br />

(....)<br />

Meu Deus, por que me abandonaste<br />

se sabias que eu não era Deus<br />

se sabias que eu era fraco.<br />

Mundo mundo vasto mundo,<br />

se eu me chamasse Raimundo<br />

seria uma rima, não seria uma solução.<br />

Mundo mundo vasto mundo<br />

mais vasto é o meu coração.<br />

(Carlos Drummond de Andrade.<br />

Obra completa. Rio de Janeiro:<br />

Aguilar, 1964. p. 53.)<br />

(*) tísico=tuberculoso<br />

Esses poemas têm em comum o fato de<br />

A) descreverem aspectos físicos dos<br />

próprios autores.<br />

B) refletirem um sentimento pessimista.<br />

C) terem a doença como tema.<br />

D) narrarem a vida dos autores desde o<br />

nascimento.<br />

E) defenderem crenças religiosas.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. Tanto o poema de<br />

Manuel Bandeira quanto o de Carlos<br />

Drummond de Andrade evidenciam, dentro<br />

do ponto de vista dos autores, características<br />

extremamente pessimistas em relação à vida<br />

e, conseqüentemente, à arte.<br />

Comentário do INEP<br />

Enunciando em breve. Comentário<br />

disponível. Selecione uma alternativa e clique<br />

em conferir para vê-lo.<br />

82) (2003) A velha Totonha de quando em<br />

vez batia no engenho. E era um<br />

acontecimento para a meninada. (...)<br />

andava léguas e léguas a pé, de engenho<br />

a engenho, como uma edição viva das<br />

histórias de Mil e Uma Noites (...) era uma<br />

grande artista para dramatizar. Tinha uma<br />

memória de prodígio. Recitava contos<br />

inteiros em versos, intercalando pedaços<br />

de prosa, como notas explicativas. (...)<br />

Havia sempre rei e rainha, nos seus<br />

contos, e forca e adivinhações. O que<br />

fazia a velha Totonha mais curiosa era a<br />

cor local que ela punha nos seus<br />

descritivos. (...) Os rios e as florestas por<br />

onde andavam os seus personagens se<br />

pareciam muito com o Paraíba e a Mata<br />

do Rolo. O seu Barba-Azul era um senhor<br />

de engenho de Pernambuco.<br />

José Lins do Rego. Menino de Engenho. Rio de Janeiro:<br />

José Olympio, 1980, p. 49-51 (com adaptações).<br />

Na construção da personagem “velha<br />

Totonha”, é possível identificar traços que<br />

revelam marcas do processo de<br />

colonização e de civilização do país.<br />

Considerando o texto acima, infere-se que<br />

a velha Totonha<br />

A) tira o seu sustento da produção da<br />

literatura, apesar de suas condições de<br />

vida e de trabalho, que denotam que<br />

ela enfrenta situação econômica muito<br />

adversa.<br />

B) compõe, em suas histórias, narrativas<br />

épicas e realistas da história do país<br />

colonizado, livres da influência de<br />

temas e modelos não representativos<br />

da realidade nacional.<br />

C) retrata, na constituição do espaço dos<br />

contos, a civilização urbana européia<br />

em concomitância com a<br />

representação literária de engenhos,<br />

rios e florestas do Brasil.<br />

D) aproxima-se, ao incluir elementos<br />

fabulosos nos contos, do próprio<br />

romancista, o qual pretende retratar a<br />

realidade brasileira de forma tão<br />

grandiosa quanto a européia.<br />

E) imprime marcas da realidade local a<br />

suas narrativas, que têm como modelo<br />

e origem as fontes da literatura e da<br />

cultura européia universalizada.<br />

Comentário<br />

Esta questão exige conhecimentos de<br />

literatura universal. O aluno precisa saber<br />

que Barba-Azul é um personagem da cultura<br />

européia. Nas histórias de Totonha, ele é<br />

representado como um senhor de engenho<br />

de Pernambuco. Percebe-se aí a forte<br />

influência da colonização européia na<br />

realidade local. Logo, a alternativa correta é a<br />

letra "E".<br />

83) (2005) Leia estes poemas.<br />

Texto 1 - Auto-retrato<br />

Provinciano que nunca soube<br />

Escolher bem uma gravata;<br />

Pernambucano a quem repugna<br />

A faca do pernambucano;<br />

Poeta ruim que na arte da prosa<br />

Envelheceu na infância da arte,<br />

E até mesmo escrevendo crônicas<br />

Ficou cronista de província;<br />

Arquiteto falhado, músico<br />

Falhado (engoliu um dia<br />

Um piano, mas o teclado<br />

Ficou de fora); sem família,<br />

Religião ou filosofia;<br />

202


Mal tendo a inquietação de espírito<br />

Que vem do sobrenatural,<br />

E em matéria de profissão<br />

Um tísico* profissional.<br />

(Manuel Bandeira. Poesia completa e prosa. Rio de<br />

Janeiro: Aguilar, 1983. p. 395.)<br />

Texto 2 - Poema de sete faces<br />

Quando eu nasci, um anjo torto<br />

desses que vivem na sombra<br />

disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.<br />

As casas espiam os homens<br />

que correm atrás de mulheres.<br />

A tarde talvez fosse azul,<br />

não houvesse tantos desejos.<br />

(....)<br />

Meu Deus, por que me abandonaste<br />

se sabias que eu não era Deus<br />

se sabias que eu era fraco.<br />

Mundo mundo vasto mundo,<br />

se eu me chamasse Raimundo<br />

seria uma rima, não seria uma solução.<br />

Mundo mundo vasto mundo<br />

mais vasto é o meu coração.<br />

(Carlos Drummond de Andrade.<br />

Obra completa. Rio de Janeiro:<br />

Aguilar, 1964. p. 53.)<br />

(*) tísico=tuberculoso<br />

No verso “Meu Deus, por que me<br />

abandonaste” do texto 2, Drummond<br />

retoma as palavras de Cristo, na cruz,<br />

pouco antes de morrer. Esse recurso de<br />

repetir palavras de outrem equivale a<br />

A) emprego de termos moralizantes.<br />

B) uso de vício de linguagem pouco<br />

tolerado.<br />

C) repetição desnecessária de idéias.<br />

D) emprego estilístico da fala de outra<br />

pessoa.<br />

E) uso de uma pergunta sem resposta.<br />

Comentário<br />

A citação, característica de intercambiar<br />

pensamentos de um texto para outro, fica<br />

bastante evidente no poema de Drummond.<br />

Ao retomar as palavras de Cristo, o autor<br />

deixa claro que sua idéia era transmitir uma<br />

mensagem por meio de palavras já<br />

proferidas por outra pessoa e cuja<br />

importância dá sentido a toda a estrofe.<br />

84) (2004)<br />

A tira "Hagar" e o poema de Alberto<br />

Caeiro (um dos heterônimos de Fernando<br />

Pessoa) expressam, com linguagens<br />

diferentes, uma mesma idéia: a de que a<br />

compreensão que temos do mundo é<br />

condicionada, essencialmente,<br />

A) pelo alcance de cada cultura.<br />

B) pela capacidade visual do observador.<br />

C) pelo senso de humor de cada um.<br />

D) pela idade do observador.<br />

E) pela altura do ponto de observação.<br />

Comentário<br />

Questão reflexiva sobre a forma como<br />

cada cultura vê o mundo sob a ótica dos<br />

limites dados pelos seus costumes e<br />

possibilidades de pensamento inerentes a<br />

cada modelo cultural. A mistura de uma tira e<br />

de um poema amplia a possibilidade de<br />

pensamento por trabalhar com linguagens<br />

diferentes. A alternativa correta é a letra A,<br />

pois ambos (tira e poema) utilizam figuras de<br />

linguagem (metáfora e ironia) para expressar<br />

as diferentes visões de mundo.<br />

85) (2000) As histórias em quadrinhos, por<br />

vezes, utilizam animais como<br />

personagens e a eles atribuem<br />

comportamento humano. O gato Garfield<br />

é exemplo desse fato.<br />

Fonte: Caderno Vida e Arte, Jornal do Povo, Fortaleza<br />

Van Gogh, pintor holandês nascido em<br />

1853, é um dos principais nomes da<br />

pintura mundial. É dele o quadro abaixo.<br />

Auto-retrato de orelha cortada<br />

203


O 3º quadrinho sugere que Garfield:<br />

A) desconhece tudo sobre arte, por isso<br />

faz a sugestão.<br />

B) acredita que todo pintor deve fazer algo<br />

diferente.<br />

C) defende que para ser pintor a pessoa<br />

tem de sofrer.<br />

D) conhece a história de um pintor<br />

famoso e faz uso da ironia.<br />

E) acredita que seu dono tenha tendência<br />

artística e, por isso, faz a sugestão.<br />

Comentário<br />

Outra questão de interpretação de texto.<br />

Muito simples para quem um dia ouviu falar<br />

de Van Gogh, e simplíssima para aqueles<br />

que prestam atenção em todos os elementos<br />

do enunciado. Afinal, quem deu uma<br />

espiadinha na legenda do quadro de Van<br />

Gogh matou na hora a questão.<br />

Esta questão é daquelas rápidas de serem<br />

resolvidas, associando-se os elementos<br />

apresentados.<br />

Comentário do INEP<br />

A significativa maioria (81%) dos<br />

participantes soube perceber o caráter<br />

irônico da fala do Garfield, expressa no<br />

terceiro quadrinho porque, ou conheciam a<br />

história de Van Gogh, ou apropriaram-se<br />

corretamente da informação sobre esse<br />

pintor, fornecida no enunciado.<br />

86) (2003)<br />

E) atribuir, no último quadrinho, fama<br />

exagerada ao dedo indicador dos<br />

patrões.<br />

Comentário<br />

A questão pede a interpretação de uma<br />

charge da personagem Mafalda, em que ela<br />

faz referência a seu dedo indicador, que é<br />

usado como substantivo primitivo e que<br />

possibilita a analogia com “indicador de<br />

desemprego”. Dessa forma, ela ironiza os<br />

indicadores sociais. Na charge, porém, não<br />

há menção explícita aos índices<br />

“indicadores”, permanecendo o raciocínio<br />

preso apenas ao dedo indicador. Assim, ela<br />

utiliza, tanto no primeiro quanto no último<br />

quadrinho, a palavra “indicador” como<br />

referência ao dedo, não dando abertura a<br />

outro tipo de interpretação.<br />

87) (2003)<br />

O texto aponta no quadro de Tarsila do<br />

Amaral um tema que também se encontra<br />

nos versos transcritos em:<br />

A) "Pensem nas meninas<br />

Cegas inexatas<br />

Pensem nas mulheres<br />

Rotas alteradas."<br />

(Vinícius de Moraes)<br />

O humor presente na tirinha decorre<br />

principalmente do fato de a personagem<br />

Mafalda<br />

A) atribuir, no primeiro quadrinho, poder<br />

ilimitado ao dedo indicador.<br />

B) considerar seu dedo indicador tão<br />

importante quanto o dos patrões.<br />

C) atribuir, no primeiro e no último<br />

quadrinhos, um mesmo sentido ao<br />

vocábulo "indicador".<br />

D) usar corretamente a expressão<br />

"indicador de desemprego", mesmo<br />

sendo criança.<br />

B) "Somos muitos severinos<br />

iguais em tudo e na sina:<br />

a de abrandar estas pedras<br />

suando-se muito em cima."<br />

(João Cabral de Melo Neto)<br />

C) "O funcionário público<br />

não cabe no poema<br />

com seu salário de fome<br />

sua vida fechada em arquivos."<br />

(Ferreira Gullar)<br />

D) "Não sou nada.<br />

Nunca serei nada.<br />

Não posso querer ser nada.<br />

À parte isso, tenho em mim todos os<br />

sonhos do mundo."<br />

(Fernando Pessoa)<br />

204


E) "Os inocentes do Leblon<br />

Não viram o navio entrar (...)<br />

Os inocentes, definitivamente inocentes<br />

tudo ignoravam,<br />

mas a areia é quente, e há um óleo<br />

suave<br />

que eles passam pelas costas, e<br />

aquecem."<br />

(Carlos Drummond de Andrade)<br />

Comentário<br />

Mais uma vez, o Exame Nacional do<br />

Ensino Médio procura relacionar análises de<br />

diferentes áreas da arte, misturando a pintura<br />

com a literatura. O quadro de Tarsila do<br />

Amaral “Operários” traz a imagem de vários<br />

rostos (de formatos, etnias e sexos<br />

diferentes) amontoados, tendo como pano de<br />

fundo as chaminés de uma fábrica.<br />

A questão deixa explícita a relação com<br />

os trechos literários que exaltam o<br />

proletariado, eliminando, já de cara, as<br />

alternativas A, D, e E.<br />

Ao se analisar a alternativa C, entretanto,<br />

percebe-se que a abordagem somente se<br />

relaciona com o funcionário público.<br />

Na letra B, o que se pode notar é que<br />

todas as pessoas “severinas” são iguais<br />

perante o sistema, niveladas por baixo e<br />

batalhadoras e que, sem privilégios ou<br />

distinções, são tratadas como mercadorias.<br />

88) (2002)<br />

De acordo com a história em quadrinhos<br />

protagonizada por Hagar e seu filho<br />

Hamlet, pode-se afirmar que a postura de<br />

Hagar<br />

A) valoriza a existência da diversidade<br />

social e de culturas, e as várias<br />

representações e explicações desse<br />

universo.<br />

B) desvaloriza a existência da<br />

diversidade social e as várias culturas,<br />

e determina uma única explicação para<br />

esse universo.<br />

C) valoriza a possibilidade de explicar as<br />

sociedades e as culturas a partir de<br />

várias visões de mundo.<br />

D) valoriza a pluralidade cultural e social<br />

ao aproximar a visão de mundo de<br />

navegantes e não-navegantes.<br />

E) desvaloriza a pluralidade cultural e<br />

social, ao considerar o mundo habitado<br />

apenas pelos navegantes.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. Hagar reduz o<br />

mundo a dois tipos de pessoas: navegantes<br />

e não-navegantes. No último quadrinho, diz<br />

que são os navegantes que estabelecem<br />

esses dois grupos. Portanto, quem é<br />

diferente dos navegantes (que estabelecem<br />

o padrão) simplesmente é incluído na massa<br />

única dos não-navegantes. Não importa<br />

quem ou quantos sejam, sua diversidade<br />

social ou cultural em relação aos navegantes<br />

ou entre si. Vemos aí a desvalorização de<br />

outras culturas.<br />

Comentário do INEP<br />

Dentre as habilidades básicas para a<br />

compreensão de um texto destaca-se a<br />

capacidade do leitor de identificar os<br />

pressupostos de cada afirmação que lhe é<br />

apresentada. Nesta questão o participante<br />

deve identificar a posição tanto de Hagar<br />

como de seu filho Hamlet e, em seguida,<br />

avaliar quais os argumentos que justificam a<br />

opinião de Hagar ao definir que no mundo só<br />

existem dois tipos de pessoas. A pergunta de<br />

Hamlet a seu pai explicita a importância do<br />

ato de narrar através do diálogo e do efeito<br />

humorístico contido no episódio representado<br />

na tira. O resultado da compreensão<br />

acertada do diálogo é que o narrador torna<br />

inteligível, para si e para os outros, a lógica<br />

do seu pensamento através do diálogo entre<br />

os dois personagens. É importante observar<br />

que o humor do personagem Hagar é<br />

identificado na postura simetricamente<br />

oposta à de Michel de Montaigne, por<br />

exemplo (ver questão 58): a sua visão de<br />

mundo apresenta-se autocentrada, isto é,<br />

centrada nos seus próprios valores (vikings).<br />

A habilidade requerida do participante nessa<br />

questão, qual seja, "valorizar a diversidade<br />

dos patrimônios etnoculturais", é mobilizada<br />

aqui na sua dimensão negativa: é criticando<br />

a postura chauvinista de Hagar que o<br />

participante é capaz de responder<br />

corretamente a questão. A última alternativa<br />

(E) funciona como um distrator, pois neste<br />

caso não está suposta a crítica do discurso<br />

do personagem. Cerca de um terço dos<br />

participantes assinalou a alternativa correta<br />

B. As demais opções são devidas,<br />

possivelmente, a uma leitura pouco<br />

compreensiva das alternativas associadas a<br />

história em quadrinhos.<br />

205


89) (1999) E considerei a glória de um pavão<br />

ostentando o esplendor de suas cores; é<br />

um luxo imperial. Mas andei lendo livros, e<br />

descobri que aquelas cores todas não<br />

existem na pena do pavão. Não há<br />

pigmentos. O que há são minúsculas<br />

bolhas d’água em que a luz se fragmenta,<br />

como em um prisma. O pavão é um arcoíris<br />

de plumas.<br />

Eu considerei que este é o luxo do<br />

grande artista, atingir o máximo de<br />

matizes com o mínimo de elementos. De<br />

água e luz ele faz seu esplendor; seu<br />

grande mistério é a simplicidade.<br />

Considerei, por fim, que assim é o<br />

amor, oh! Minha amada; de tudo que ele<br />

suscita e esplende e estremece e delira<br />

em mim existem apenas meus olhos<br />

recebendo a luz de teu olhar. Ele me<br />

cobre de glórias e me faz magnífico.<br />

(BRAGA, Rubem. Ai de ti, Copacabana. 20.ed.)<br />

206<br />

O poeta Carlos Drummond de Andrade<br />

escreveu assim sobre a obra de Rubem<br />

Braga:<br />

O que ele nos conta é o seu dia, o seu<br />

expediente de homem, apanhado no<br />

essencial, narrativa direta e econômica.<br />

(...) É o poeta do real, do palpável, que se<br />

vai diluindo em cisma. Dá o sentimento da<br />

realidade e o remédio para ela.<br />

Em seu texto, Rubem Braga afirma que<br />

"este é o luxo do grande artista, atingir o<br />

máximo de matizes com o mínimo de<br />

elementos". Afirmação semelhante pode<br />

ser encontrada no texto de Carlos<br />

Drummond de Andrade, quando, ao<br />

analisar a obra de Braga, diz que ela é:<br />

A) uma narrativa direta e econômica.<br />

B) real, palpável.<br />

C) sentimento de realidade.<br />

D) seu expediente de homem.<br />

E) seu remédio.<br />

Comentário<br />

A última questão da prova de Português<br />

exige uma releitura do texto de Rubem Braga<br />

para um melhor entendimento do que é<br />

proposto por Drummond. Ao afirmar que a<br />

escrita de Braga é "direta e econômica",<br />

Drummond remete à descoberta feita por<br />

Rubem Braga em relação às cores das<br />

penas do pavão: (...) e descobri que aquelas<br />

cores todas não existem na pena do pavão.<br />

Não há pigmentos. O que há são minúsculas<br />

bolhas d’água em que a luz se fragmenta,<br />

como em um prisma. O pavão é um arco-íris<br />

de plumas.(...) este é o luxo do grande<br />

artista, atingir o máximo de matizes com o<br />

mínimo de elementos.(...)<br />

Segundo Braga, a grande mágica em se<br />

fazer arte é conseguir se expressar da<br />

melhor maneira possível usando o mínimo de<br />

elementos (sejam palavras, cores, formas,<br />

etc.). Drummond parafraseia o comentário de<br />

Braga, dando ainda mais evidência à<br />

descoberta do primeiro. Temos, aí, a<br />

"narrativa direta e econômica". Questão de<br />

nível médio.<br />

Comentário do INEP<br />

Além da compreensão de dois textos, de<br />

autores diferentes, o problema examinou a<br />

capacidade dos participantes em estabelecer<br />

um diálogo entre os mesmos.<br />

A identificação do significado e a relação<br />

correta da afirmação de Drummond, com o<br />

trecho correspondente de Rubem Braga<br />

destacado no enunciado, foi feita por 44%<br />

dos participantes. As alternativas B, C e D<br />

correspondem à identificação de aspectos de<br />

certa forma comuns aos dois textos, embora<br />

os elementos neles apontados não se refiram<br />

ao trecho destacado.<br />

90) (2009) Se os tubarões fossem homens<br />

Se os tubarões fossem homens, eles<br />

seriam mais gentis com os peixes<br />

pequenos?<br />

Certamente, se os tubarões fossem<br />

homens, fariam construir resistentes<br />

gaiolas no mar para os peixes pequenos,<br />

com todo o tipo de alimento, tanto animal<br />

como vegetal. Cuidariam para que as<br />

gaiolas tivessem sempre água fresca e<br />

adotariam todas as providências<br />

sanitárias.<br />

Naturalmente haveria também escolas<br />

nas gaiolas. Nas aulas, os peixinhos<br />

aprenderiam como nadar para a goela dos<br />

tubarões. Eles aprenderiam, por exemplo,<br />

a usar a geografia para localizar os<br />

grandes tubarões deitados<br />

preguiçosamente por aí. A aula principal<br />

seria, naturalmente, a formação moral dos<br />

peixinhos. A eles seria ensinado que o ato<br />

mais grandioso e mais sublime é O<br />

sacrifício alegre de um peixinho e que<br />

todos deveriam acreditar nos tubarões,<br />

sobretudo quando estes dissessem que<br />

cuidavam de sua felicidade futura. Os<br />

peixinhos saberiam que este futuro só<br />

estaria garantido se aprendessem a<br />

obediência.


Cada peixinho que na guerra matasse<br />

alguns peixinhos inimigos seria<br />

condecorado com uma pequena Ordem<br />

das Algas e receberia o título de herói.<br />

BRECHT, 6. Histórias do Sr. Keuner. São Paulo: Ed. 34,<br />

2006 (adaptado).<br />

Como produção humana, a literatura<br />

veicula valores que nem sempre estão<br />

representados diretamente no texto, mas<br />

são transfigurados pela linguagem literária<br />

e podem até entrar em contradição com<br />

as convenções sociais e revelar o quanto<br />

a sociedade perverteu os valores<br />

humanos que ela própria criou. É o que<br />

ocorre na narrativa do dramaturgo alemão<br />

Bertolt Brecht mostrada. Por meio da<br />

hipótese apresentada, o autor<br />

A) demonstra o quanto a literatura pode<br />

ser alienadora ao retratar, de modo<br />

positivo, as relações de opressão<br />

existentes na sociedade.<br />

B) revela a ação predatória do homem no<br />

mar, questionando a utilização dos<br />

recursos naturais pelo homem<br />

ocidental.<br />

C) defende que a força colonizadora e<br />

civilizatória do homem ocidental<br />

valorizou a organização das<br />

sociedades africanas e asiáticas,<br />

elevando-as ao modo de organização<br />

cultural e social da sociedade moderna.<br />

D) questiona o modo de organização<br />

das sociedades ocidentais capitalistas,<br />

que se desenvolveram fundamentadas<br />

nas relações de opressão em que os<br />

mais fortes exploram os mais fracos.<br />

E) evidencia a dinâmica social do trabalho<br />

coletivo em que os mais fortes<br />

colaboram com os mais fracos, de<br />

modo a guiá-los na realização de<br />

tarefas.<br />

Comentário<br />

(QUESTÃO: AZUL 123, BRANCA 121,<br />

ROSA 123)<br />

O dramaturgo Bertold Brecht, ao estabelecer<br />

de forma irônica uma analogia entre tubarões e<br />

homens poderosos, peixes pequenos e o<br />

cidadão submisso a uma ordem social,<br />

questiona o modo de organização das<br />

sociedades ocidentais capitalistas, que<br />

promove uma relação de opressão, em que os<br />

mais fortes exploram os mais fracos,<br />

representada metaforicamente no texto em<br />

"Nas aulas, os peixinhos aprenderiam como<br />

nadar para a goela dos tubarões".<br />

A alternativa D atende perfeitamente a tese<br />

defendida pelo autor no texto.<br />

91) (2009) Texto I<br />

[...] já foi o tempo em que via a<br />

convivência como viável, só exigindo<br />

deste bem comum, piedosamente, o meu<br />

quinhão, já foi o tempo em que consentia<br />

num contrato, deixando muitas coisas de<br />

fora sem ceder contudo no que me era<br />

vital, já foi o tempo em que reconhecia a<br />

existência escandalosa de imaginados<br />

valores, coluna vertebral de toda ‘ordem’;<br />

mas não tive sequer o sopro necessário,<br />

e, negado o respiro, me foi imposto o<br />

sufoco; é esta consciência que me libera,<br />

é ela hoje que me empurra, são outras<br />

agora minhas preocupações, é hoje outro<br />

o meu universo de problemas; num<br />

mundo estapafúrdio — definitivamente<br />

fora de foco — cedo ou tarde tudo acaba<br />

se reduzindo a um ponto de vista, e você<br />

que vive paparicando as ciências<br />

humanas, nem suspeita que paparica uma<br />

piada: impossível ordenar o mundo dos<br />

valores, ninguém arruma a casa do<br />

capeta; me recuso pois a pensar naquilo<br />

em que não mais acredito, seja o amor, a<br />

amizade, a família, a igreja, a<br />

humanidade; me lixo com tudo isso! me<br />

apavora ainda a existência, mas não<br />

tenho medo de ficar sozinho, foi<br />

conscientemente que escolhi o exílio, me<br />

bastando hoje o cinismo dos grandes<br />

indiferentes [...].<br />

NASSAR, R. Um copo de cólera. São Paulo:<br />

Companhia das Letras, 1992.<br />

Texto II<br />

Raduan Nassar lançou a novela Um Copo<br />

de Cólera em 1978, fervilhante narrativa<br />

de um confronto verbal entre amantes, em<br />

que a fúria das palavras cortantes se<br />

estilhaçava no ar. O embate conjugal<br />

ecoava o autoritário discurso do poder e<br />

da submissão de um Brasil que vivia sob o<br />

jugo da ditadura militar.<br />

COMODO, R. Um silêncio inquietante. lstoÉ.<br />

Disponível em:<br />

http://www.terra.com.br. Acesso em: 15 jul. 2009.<br />

Considerando-se os textos apresentados<br />

e o contexto político e social no qual foi<br />

produzida a obra Um Copo de Cólera,<br />

verifica-se que o narrador, ao dirigir-se à<br />

sua parceira, nessa novela, tece um<br />

discurso<br />

A) conformista, que procura defender as<br />

instituições nas quais repousava a<br />

autoridade do regime militar no Brasil, a<br />

saber: a Igreja, a família e o Estado.<br />

207


208<br />

B) pacifista, que procura defender os<br />

ideais libertários representativos da<br />

intelectualidade brasileira opositora à<br />

ditadura militar na década de 70 do<br />

século passado.<br />

C) desmistificador, escrito em um<br />

discurso ágil e contundente, que critica<br />

os grandes princípios humanitários<br />

supostamente defendidos por sua<br />

interlocutora.<br />

D) politizado, pois apela para o<br />

engajamento nas causas sociais e para<br />

a defesa dos direitos humanos como<br />

uma única forma de salvamento para a<br />

humanidade.<br />

E) contraditório, ao acusar a sua<br />

interlocutora de compactuar com o<br />

regime repressor da ditadura militar,<br />

por meio da defesa de instituições<br />

como a família e a Igreja.<br />

Comentário<br />

(QUESTÃO: AZUL 133, BRANCA 133,<br />

ROSA 131)<br />

O texto apresenta uma linguagem<br />

metafórica sobre a situação do Brasil de<br />

época focalizando o embate conjugal em que<br />

o confronto verbal é recorrente na narrativa.<br />

Portanto, as palavras-chave apresentadas<br />

nas alternativas A, B, D, e E: conformação,<br />

pacifismo, postura política e<br />

contraditoriedade, não fazem parte do<br />

excerto. Trata-se de uma prosa de teor<br />

intimista. Dessa forma, a alternativa correta é<br />

a letra C, pois a palavra-chave "desmistificar"<br />

é o que melhor representa a prosa de<br />

Raduan Nassar.<br />

Competência de área 5<br />

H16 - Relacionar informações<br />

sobre concepções artísticas e<br />

procedimentos de construção<br />

do texto literário.<br />

01) (2000) Ferreira Gullar, um dos grandes<br />

poetas brasileiros da atualidade, é autor<br />

de “Bicho urbano”, poema sobre a sua<br />

relação com as pequenas e grandes<br />

cidades.<br />

Bicho urbano<br />

Se disser que prefiro morar em Pirapemas<br />

ou em outra qualquer pequena cidade do<br />

país<br />

estou mentindo<br />

ainda que lá se possa de manhã<br />

lavar o rosto no orvalho<br />

e o pão preserve aquele branco<br />

sabor de alvorada.<br />

....................................................................<br />

A natureza me assusta.<br />

Com seus matos sombrios suas águas<br />

suas aves que são como aparições<br />

me assusta quase tanto quanto<br />

esse abismo<br />

de gases e de estrelas<br />

aberto sob minha cabeça.<br />

(GULLAR, Ferreira. Toda poesia. Rio de Janeiro:<br />

José Olympio Editora, 1991)<br />

Embora não opte por viver numa pequena<br />

cidade, o poeta reconhece elementos de<br />

valor no cotidiano das pequenas<br />

comunidades. Para expressar a relação<br />

do homem com alguns desses elementos,<br />

ele recorre à sinestesia, construção de<br />

linguagem em que se mesclam<br />

impressões sensoriais diversas. Assinale<br />

a opção em que se observa esse recurso.<br />

A) "e o pão preserve aquele branco /<br />

sabor de alvorada."<br />

B) "ainda que lá se possa de manhã /<br />

lavar o rosto no orvalho"<br />

C) "A natureza me assusta. / Com seus<br />

matos sombrios suas águas"<br />

D) "suas aves que são como aparições /<br />

me assusta quase tanto quanto"<br />

E) "me assusta quase tanto quanto / esse<br />

abismo / de gases e de estrelas"<br />

Comentário<br />

Para responder a esta questão, leia com<br />

muita atenção o enunciado. Nele encontra-se<br />

o conceito de sinestesia: construção de<br />

linguagem em que se mesclam impressões<br />

sensoriais diversas, ou seja, a associação de<br />

sensações diferentes numa mesma<br />

expressão.<br />

Você deve compreender o conceito de<br />

sinestesia e, pela lógica, encontrar o exemplo<br />

dessa figura de linguagem.<br />

A alternativa correta é a letra a, pois a<br />

expressão "branco sabor" associa o sentido<br />

da visão (branco) com o do paladar (sabor).<br />

Comentário do INEP<br />

A questão procurou verificar a capacidade<br />

do participante de construir o sentido de<br />

elementos textuais. A partir da noção de<br />

sinestesia, que lhe foi dada de maneira<br />

sucinta, ele teve de transpor para o texto<br />

essa mesma noção, manifestando sua<br />

competência textual. Pode-se classificar de<br />

'bom', o índice de acerto (53%), se<br />

considerarmos que a questão trabalhou com


a função conotativa da linguagem, o que<br />

requer uma capacidade de leitura sempre<br />

mais desenvolvida. Os desvios, de forma<br />

mais acentuada na alternativa B, são<br />

explicáveis: as alternativas incorretas (e, de<br />

resto, todo o poema) também se referem à<br />

manifestações sensoriais, embora sem a<br />

necessária 'mescla', que é o que distingue a<br />

sinestesia.<br />

02) (2002) "De repente lá vinha um homem a<br />

cavalo. Eram dois. Um senhor de fora, o<br />

claro de roupa. Miguilim saudou, pedindo<br />

a bênção. O homem trouxe o cavalo cá<br />

bem junto. Ele era de óculos, corado, alto,<br />

com um chapéu diferente, mesmo.<br />

— Deus te abençoe, pequenino. Como é<br />

teu nome?<br />

— Miguilim. Eu sou irmão do Dito.<br />

— E o seu irmão Dito é o dono daqui?<br />

— Não, meu senhor. O Ditinho está em<br />

glória.<br />

O homem esbarrava o avanço do<br />

cavalo, que era zelado, manteúdo,<br />

formoso como nenhum outro. Redizia:<br />

— Ah, não sabia, não. Deus o tenha em<br />

sua guarda... Mas que é que há, Miguilim?<br />

Miguilim queria ver se o homem estava<br />

mesmo sorrindo para ele, por isso é que o<br />

encarava.<br />

— Por que você aperta os olhos assim?<br />

Você não é limpo de vista? Vamos até lá.<br />

Quem é que está em tua casa?<br />

— É Mãe, e os meninos...<br />

Estava Mãe, estava tio Terez, estavam<br />

todos. O senhor alto e claro se apeou. O<br />

outro, que vinha com ele, era um<br />

camarada.<br />

O senhor perguntava à Mãe muitas<br />

coisas do Miguilim. Depois perguntava a<br />

ele mesmo: — 'Miguilim, espia daí:<br />

quantos dedos da minha mão você está<br />

enxergando? E agora?"<br />

ROSA, João Guimarães. Manuelzão e Miguilim. 9ª ed. Rio de<br />

Janeiro: Nova Fronteira, 1984.<br />

Esta história, com narrador observador em<br />

terceira pessoa, apresenta os<br />

acontecimentos da perspectiva de<br />

Miguilim. O fato de o ponto de vista do<br />

narrador ter Miguilim como referência,<br />

inclusive espacial, fica explicitado em:<br />

A) "O homem trouxe o cavalo cá bem<br />

junto."<br />

B) "Ele era de óculos, corado, alto (...)"<br />

C) "O homem esbarrava o avanço do<br />

cavalo, (...)"<br />

D) "Miguilim queria ver se o homem<br />

estava mesmo sorrindo para ele, (...)"<br />

E) "Estava Mãe, estava tio Terez, estavam<br />

todos"<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. A única alternativa<br />

que apresenta, ao mesmo tempo, o narrador<br />

e o ponto de referência espacial é a letra A, o<br />

que pode ser comprovado pela expressão<br />

"cá bem junto".<br />

Comentário do INEP<br />

Essa questão apresenta para leitura e<br />

análise um trecho da novela Campo Geral,<br />

da obra Manuelzão e Miguilim, de Guimarães<br />

Rosa, em que um narrador em terceira<br />

pessoa relata o momento do encontro entre<br />

Miguilim e o médico, que percebe, logo ao<br />

chegar, que o garoto tem problemas de<br />

visão. A questão propõe a análise do ponto<br />

de vista narrativo, que, no texto literário, não<br />

necessariamente, como no texto em questão,<br />

será sempre o do narrador.<br />

A cena narrativa presente nesse texto é<br />

contada por um narrador adulto, mas é o<br />

sentimento de Miguilim a respeito dos<br />

acontecimentos que orienta esse contar.<br />

Esse efeito de sentido é resultado do<br />

trabalho do autor com a linguagem. Segundo<br />

a gramática da norma culta, "cá" e "aqui"<br />

indicam o lugar do sujeito, ou seja, daquele<br />

que fala. Algo semelhante ocorre com o<br />

verbo "trazer", que indica um movimento para<br />

o lugar onde se encontra o sujeito. Tanto "cá"<br />

como "trazer" indicam proximidade espacial<br />

daquele que fala.<br />

A narração pertence a um narrador que<br />

não participa da historia como personagem,<br />

portanto ele fala dos outros, nunca de si<br />

mesmo. No trecho "o homem trouxe o cavalo<br />

cá bem junto", o narrador indica que o<br />

homem a cavalo aproxima-se de Miguilim.<br />

Esse jogo de linguagem cria no leitor a<br />

imagem de um narrador adulto que, colandose<br />

à criança, vê pelos olhos desta.<br />

Embora todas as alternativas apresentem<br />

a percepção da criança naquele contexto da<br />

chegada de um desconhecido, apenas a<br />

alternativa A responde o que foi solicitado,<br />

pois só ela apresenta o aspecto da<br />

localização espacial presente no advérbio de<br />

lugar "cá". Quase metade dos participantes<br />

assinalou a alternativa D, única que contem a<br />

palavra Miguilim, possivelmente porque<br />

interpretaram erroneamente o<br />

encaminhamento da questão, no trecho "...<br />

narrador ter Miguilim como referência, ...".<br />

209


03) (2006) Namorados<br />

O rapaz chegou-se para junto da moça<br />

e disse:<br />

— Antônia, ainda não me acostumei com<br />

o seu corpo, com a sua cara.<br />

A moça olhou de lado e esperou.<br />

— Você não sabe quando a gente é<br />

criança e de repente vê uma lagarta<br />

listrada?<br />

A moça se lembrava:<br />

— A gente fica olhando...<br />

A meninice brincou de novo nos olhos<br />

dela.<br />

O rapaz prosseguiu com muita doçura:<br />

— Antônia, você parece uma lagarta<br />

listrada.<br />

A moça arregalou os olhos, fez<br />

exclamações.<br />

O rapaz concluiu:<br />

— Antônia, você é engraçada! Você<br />

parece louca.<br />

No poema de Bandeira, importante<br />

representante da poesia modernista,<br />

destaca-se como característica da escola<br />

literária dessa época<br />

Manuel Bandeira. Poesia completa & prosa.<br />

Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985.<br />

A) a reiteração de palavras como recurso<br />

de construção de rimas ricas.<br />

B) a utilização expressiva da linguagem<br />

falada em situações do cotidiano.<br />

C) a criativa simetria de versos para<br />

reproduzir o ritmo do tema abordado.<br />

D) a escolha do tema do amor romântico,<br />

caracterizador do estilo literário dessa<br />

época.<br />

E) o recurso ao diálogo, gênero discursivo<br />

típico do Realismo.<br />

04) (2008) Calcula-se que 78% do<br />

desmatamento na Amazônia tenha sido<br />

motivado pela pecuária — cerca de 35%<br />

do rebanho nacional está na região — e<br />

que pelo menos 50 milhões de hectares<br />

de pastos são pouco produtivos. Enquanto<br />

o custo médio para aumentar a<br />

produtividade de 1 hectare de pastagem é<br />

de 2 mil reais, o custo para derrubar igual<br />

área de floresta é estimado em 800 reais,<br />

o que estimula novos desmatamentos.<br />

Adicionalmente, madeireiras retiram as<br />

árvores de valor comercial que foram<br />

abatidas para a criação de pastagens. Os<br />

pecuaristas sabem que problemas<br />

ambientais como esses podem provocar<br />

restrições à pecuária nessas áreas, a<br />

exemplo do que ocorreu em 2006 com o<br />

plantio da soja, o qual, posteriormente, foi<br />

proibido em áreas de floresta.<br />

Época, 3/3/2008 e 9/6/2008 (com adaptações).<br />

A partir da situação-problema descrita,<br />

conclui-se que<br />

A) o desmatamento na Amazônia decorre<br />

principalmente da exploração ilegal de<br />

árvores de valor comercial.<br />

B) um dos problemas que os pecuaristas<br />

vêm enfrentando na Amazônia é a<br />

proibição do plantio de soja.<br />

C) a mobilização de máquinas e de força<br />

humana torna o desmatamento mais<br />

caro que o aumento da produtividade<br />

de pastagens.<br />

D) o superavit comercial decorrente da<br />

exportação de carne produzida na<br />

Amazônia compensa a possível<br />

degradação ambiental.<br />

E) a recuperação de áreas desmatadas<br />

e o aumento de produtividade das<br />

pastagens podem contribuir para a<br />

redução do desmatamento na<br />

Amazônia.<br />

Comentário<br />

Essa questão retrata o problema do<br />

desmatamento da Amazônia, relacionado<br />

principalmente com o desenvolvimento da<br />

pecuária na região. Para resolvê-la, foram<br />

necessários a leitura atenta do texto e o<br />

conhecimento sobre os problemas<br />

ambientais da atualidade. A alternativa<br />

correta é a letra E, pois é mais caro para os<br />

pecuaristas aumentar a produtividade do que<br />

as áreas de pasto, o que acarreta o aumento<br />

do desmatamento da Amazônia.<br />

05) (2006) Erro de Português<br />

Quando o português chegou<br />

Debaixo de uma bruta chuva<br />

Vestiu o índio<br />

Que pena!<br />

Fosse uma manhã de Sol<br />

O índio tinha despido<br />

O português.<br />

Oswald de Andrade. Poesias reunidas.<br />

Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.<br />

O primitivismo observável no poema<br />

acima, de Oswald de Andrade, caracteriza<br />

de forma marcante<br />

A) o regionalismo do Nordeste.<br />

B) o concretismo paulista.<br />

C) a poesia Pau-Brasil.<br />

D) o simbolismo pre-modernista.<br />

E) o tropicalismo baiano.<br />

2<strong>10</strong>


Comentário<br />

Questão de nível fácil, pois bastaria que o<br />

aluno fizesse a relação do nome do autor,<br />

Oswald de Andrade, à alternativa "C", poesia<br />

Pau-Brasil. Com isso, ele já eliminaria as<br />

demais alternativas. Contudo, mesmo que o<br />

aluno não tivesse se lembrado desse<br />

detalhe, o próprio poema Erro de Português<br />

remete a uma das características da poesia<br />

Pau-Brasil, a retomada e a valorização das<br />

riquezas do Brasil primitivo.<br />

06) (2007) Texto I<br />

Agora Fabiano conseguia arranjar as<br />

idéias. O que o segurava era a família.<br />

Vivia preso como um novilho amarrado ao<br />

mourão, suportando ferro quente. Se não<br />

fosse isso, um soldado amarelo não lhe<br />

pisava o pé não. (...) Tinha aqueles<br />

cambões pendurados ao pescoço.<br />

Deveria continuar a arrastá-los? Sinha<br />

Vitória dormia mal na cama de varas. Os<br />

meninos eram uns brutos, como o pai.<br />

Quando crescessem, guardariam as reses<br />

de um patrão invisível, seriam pisados,<br />

maltratados, machucados por um soldado<br />

amarelo.<br />

Graciliano Ramos. Vidas Secas.<br />

São Paulo: Martins, 23.ª ed., 1969, p. 75.<br />

Texto II<br />

Para Graciliano, o roceiro pobre é um<br />

outro, enigmático, impermeável. Não há<br />

solução fácil para uma tentativa de<br />

incorporação dessa figura no campo da<br />

ficção. É lidando com o impasse, ao invés<br />

de fáceis soluções, que Graciliano vai<br />

criar Vidas Secas, elaborando uma<br />

linguagem, uma estrutura romanesca,<br />

uma constituição de narrador em que<br />

narrador e criaturas se tocam, mas não se<br />

identificam. Em grande medida, o debate<br />

acontece porque, para a intelectualidade<br />

brasileira naquele momento, o pobre, a<br />

despeito de aparecer idealizado em certos<br />

aspectos, ainda é visto como um ser<br />

humano de segunda categoria, simples<br />

demais, incapaz de ter pensamentos<br />

demasiadamente complexos. O que Vidas<br />

Secas faz é, com pretenso não<br />

envolvimento da voz que controla a<br />

narrativa, dar conta de uma riqueza<br />

humana de que essas pessoas seriam<br />

plenamente capazes.<br />

Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes. In:<br />

Teresa. São Paulo: USP, n.° 2, 2001, p. 254.<br />

A partir do trecho de Vidas Secas (texto I)<br />

e das informações do texto II, relativas às<br />

concepções artísticas do romance social<br />

de 1930, avalie as seguintes afirmativas.<br />

I - O pobre, antes tratado de forma exótica<br />

e folclórica pelo regionalismo pitoresco,<br />

transforma-se em protagonista<br />

privilegiado do romance social de 30.<br />

II - A incorporação do pobre e de outros<br />

marginalizados indica a tendência da<br />

ficção brasileira da década de 30 de<br />

tentar superar a grande distância entre<br />

o intelectual e as camadas populares.<br />

III - Graciliano Ramos e os demais autores<br />

da década de 30 conseguiram, com<br />

suas obras, modificar a posição social<br />

do sertanejo na realidade nacional.<br />

É correto apenas o que se afirma em<br />

A) I. D) I e II.<br />

B) II. E) II e III.<br />

C) III.<br />

Comentário<br />

Questão de nível médio. O aluno deveria<br />

perceber que, no texto de Vidas Secas, o<br />

protagonista de sua obra é o "Pobre<br />

Sertanejo", aqui tratado de forma realista,<br />

sem idealizações e fantasias, e com total<br />

destaque em sua narrativa. Ele também deve<br />

fazer um comparativo entre o trecho da obra<br />

com o comentário de Luís Bueno, além de<br />

demonstrar seus conhecimentos sobre o<br />

Romance Regionalista de 30, para chegar à<br />

conclusão de que a resposta correta é a D.<br />

07) (2008) A Lei Federal n.º 9.985/2000, que<br />

instituiu o sistema nacional de unidades<br />

de conservação, define dois tipos de<br />

áreas protegidas. O primeiro, as unidades<br />

de proteção integral, tem por objetivo<br />

preservar a natureza, admitindo-se<br />

apenas o uso indireto dos seus recursos<br />

naturais, isto é, aquele que não envolve<br />

consumo, coleta, dano ou destruição dos<br />

recursos naturais. O segundo, as<br />

unidades de uso sustentável, tem por<br />

função compatibilizar a conservação da<br />

natureza com o uso sustentável de<br />

parcela dos recursos naturais. Nesse<br />

caso, permite-se a exploração do<br />

ambiente de maneira a garantir a<br />

perenidade dos recursos ambientais<br />

renováveis e dos processos ecológicos,<br />

mantendo-se a biodiversidade e os<br />

demais atributos ecológicos, de forma<br />

211


socialmente justa e economicamente<br />

viável.<br />

Considerando essas informações, analise<br />

a seguinte situação hipotética.<br />

Ao discutir a aplicação de recursos<br />

disponíveis para o desenvolvimento de<br />

determinada região, organizações civis,<br />

universidade e governo resolveram<br />

investir na utilização de uma unidade de<br />

proteção integral, o Parque Nacional do<br />

Morro do Pindaré, e de uma unidade de<br />

uso sustentável, a Floresta Nacional do<br />

Sabiá. Depois das discussões, a equipe<br />

resolveu levar adiante três projetos:<br />

— o projeto I consiste de pesquisas<br />

científicas embasadas exclusivamente<br />

na observação de animais;<br />

— o projeto II inclui a construção de uma<br />

escola e de um centro de vivência;<br />

— o projeto III promove a organização de<br />

uma comunidade extrativista que<br />

poderá coletar e explorar<br />

comercialmente frutas e sementes<br />

nativas.<br />

Nessa situação hipotética, atendendo-se à<br />

lei mencionada acima, é possível<br />

desenvolver tanto na unidade de proteção<br />

integral quanto na de uso sustentável<br />

A) apenas o projeto I.<br />

B) apenas o projeto III.<br />

C) apenas os projetos I e II.<br />

D) apenas os projetos II e III.<br />

E) todos os três projetos.<br />

Comentário do portal<br />

A alternativa correta é a letra "A", pois,<br />

analisando-se a situação hipotética sugerida<br />

no enunciado, percebe-se que ela deverá<br />

atender os requisitos tanto da unidade de<br />

proteção integral quanto da unidade de uso<br />

sustentável. Portanto, apenas o projeto I<br />

poderá ser desenvolvido nessas duas<br />

propostas de unidades.<br />

08) (2006) No poema Procura da poesia,<br />

Carlos Drummond de Andrade expressa a<br />

concepção estética de se fazer com<br />

palavras o que o escultor Michelângelo<br />

fazia com mármore. O fragmento abaixo<br />

exemplifica essa afirmação.<br />

(...)<br />

Penetra surdamente no reino das<br />

palavras.<br />

Lá estão os poemas que esperam ser<br />

escritos.<br />

(...)<br />

Chega mais perto e contempla as<br />

palavras.<br />

212<br />

Cada uma<br />

tem mil faces secretas sob a face neutra<br />

e te pergunta, sem interesse pela<br />

resposta,<br />

pobre ou terrível, que lhe deres:<br />

trouxeste a chave?<br />

Carlos Drummond de Andrade. A rosa do povo.<br />

Rio de Janeiro: Record, 1997, p. 13-14.<br />

Esse fragmento poético ilustra o seguinte<br />

tema constante entre autores<br />

modernistas:<br />

A) a nostalgia do passado colonialista<br />

revisitado.<br />

B) a preocupação com o engajamento<br />

político e social da literatura.<br />

C) o trabalho quase artesanal com as<br />

palavras, despertando sentidos novos.<br />

D) a produção de sentidos herméticos na<br />

busca da perfeição poética.<br />

E) a contemplação da natureza brasileira<br />

na perspectiva ufanista da pátria.<br />

Comentário<br />

Questão de nível difícil, pois o candidato<br />

deveria, além de interpretar o poema,<br />

conhecer o verdadeiro sentido de arte<br />

segundo Michelângelo, que achava que um<br />

bloco de mármore já tinha sua figura dentro<br />

dele e que seu trabalho seria somente<br />

lapidá-la. Dessa forma, o candidato deveria<br />

relacionar a estrutura de um bloco de<br />

mármore ao segundo verso do poema: “Lá<br />

estão os poemas que esperam ser escritos<br />

(...)”. Ou seja, esperava-se que o candidato<br />

fizesse a relação do bloco de mármore com<br />

as palavras, o que justifica a alternativa “C”<br />

como correta.<br />

09) (2002) Érico Veríssimo relata, em suas<br />

memórias, um episódio da adolescência<br />

que teve influência significativa em sua<br />

carreira de escritor.<br />

"Lembro-me de que certa noite — eu<br />

teria uns quatorze anos, quando muito —<br />

encarregaram-me de segurar uma<br />

lâmpada elétrica à cabeceira da mesa de<br />

operações, enquanto um médico fazia os<br />

primeiros curativos num pobre-diabo que<br />

soldados da Polícia Municipal haviam<br />

"carneado". (...) Apesar do horror e da<br />

náusea, continuei firme onde estava,<br />

talvez pensando assim: se esse caboclo<br />

pode agüentar tudo isso sem gemer, por<br />

que não hei de poder ficar segurando esta<br />

lâmpada para ajudar o doutor a costurar<br />

esses talhos e salvar essa vida? (...)<br />

Desde que, adulto, comecei a escrever


omances, tem-me animado até hoje a<br />

idéia de que o menos que o escritor pode<br />

fazer, numa época de atrocidades e<br />

injustiças como a nossa, é acender a sua<br />

lâmpada, fazer luz sobre a realidade de<br />

seu mundo, evitando que sobre ele caia a<br />

escuridão, propícia aos ladrões, aos<br />

assassinos e aos tiranos. Sim, segurar a<br />

lâmpada, a despeito da náusea e do<br />

horror. Se não tivermos uma lâmpada<br />

elétrica, acendamos o nosso toco de vela<br />

ou, em último caso, risquemos fósforos<br />

repetidamente, como um sinal de que não<br />

desertamos nosso posto."<br />

VERÍSSIMO, Érico. Solo de Clarineta. Tomo I.<br />

Porto Alegre: Editora Globo, 1978.<br />

Neste texto, por meio da metáfora da<br />

lâmpada que ilumina a escuridão, Érico<br />

Veríssimo define como uma das funções<br />

do escritor e, por extensão, da literatura,<br />

A) criar a fantasia.<br />

B) permitir o sonho.<br />

C) denunciar o real.<br />

D) criar o belo.<br />

E) fugir da náusea.<br />

Comentário<br />

Temos aqui um dos pontos mais comuns<br />

abordados na obra de Veríssimo: a denúncia<br />

social. “(...) o menos que o escritor pode<br />

fazer, numa época de atrocidades e<br />

injustiças como a nossa, é acender sua<br />

lâmpada, fazer luz sobre a realidade de seu<br />

mundo, evitando que sobre ele caia a<br />

escuridão, propícia aos ladrões, aos<br />

assassinos e aos tiranos.”<br />

A literatura deve, como a luz, mostrar não<br />

só as belezas, mas também as feridas da<br />

sociedade, para que as tentemos sanar.<br />

Comentário do INEP<br />

Essa questão apresenta para leitura e<br />

análise um trecho de Solo de Clarineta, em<br />

que Érico Veríssimo relata uma experiência<br />

de juventude e dela constrói uma metáfora<br />

para revelar o que ele entende ser uma das<br />

funções essenciais da literatura. "Lâmpada",<br />

"vela", "fósforos" devem ser lidos como a<br />

palavra comprometida em traduzir a<br />

realidade do mundo. Ou seja, afirmar que o<br />

escritor deve "fazer luz sobre a realidade de<br />

seu mundo", nesse contexto, equivale a<br />

afirmar que um papel da literatura é<br />

denunciar o real. Todas as alternativas<br />

propostas referem-se a eventuais funções da<br />

literatura. Apenas a alternativa C é pertinente<br />

ao contexto e foi escolhida por cerca de<br />

metade dos participantes.<br />

<strong>10</strong>) (1999) Leia o texto abaixo.<br />

Cabelos longos, brinco na orelha<br />

esquerda, físico de skatista. Na aparência,<br />

o estudante brasiliense Rui Lopes Viana<br />

Filho, de 16 anos, não lembra em nada o<br />

estereótipo dos gênios. Ele não usa<br />

pesados óculos de grau e está longe de<br />

ter um ar introspectivo. No final do mês<br />

passado, Rui retornou de Taiwan, onde<br />

enfrentou 419 competidores de todo o<br />

mundo na 39ª Olimpíada Internacional de<br />

Matemática. A reluzente medalha de ouro<br />

que ele trouxe na bagagem está<br />

dependurada sobre a cama de seu quarto,<br />

atulhado de rascunhos dos problemas<br />

matemáticos que aprendeu a decifrar nos<br />

últimos cinco anos.<br />

Veja – Vencer uma olimpíada serve de<br />

passaporte para uma carreira profissional<br />

meteórica?<br />

Rui – Nada disso. Decidi me dedicar à<br />

Olimpíada porque sei que a concorrência<br />

por um emprego é cada vez mais<br />

selvagem e cruel. Agora tenho algo a mais<br />

para oferecer. O problema é que as coisas<br />

estão mudando muito rápido e não sei<br />

qual será minha profissão. Além de ser<br />

muito novo para decidir sobre o meu<br />

futuro profissional, sei que esse conceito<br />

de carreira mudou muito.<br />

(Entrevista de Rui Lopes Viana Filho à Veja,<br />

05/08/1998, n.31, p. 9-<strong>10</strong>)<br />

Na pergunta, o repórter estabelece uma<br />

relação entre a entrada do estudante no<br />

mercado de trabalho e a vitória na<br />

Olimpíada. O estudante<br />

A) concorda com a relação e afirma que o<br />

desempenho na Olimpíada é<br />

fundamental para sua entrada no<br />

mercado.<br />

B) discorda da relação e complementa<br />

que é fácil se fazer previsões sobre o<br />

mercado de trabalho.<br />

C) discorda da relação e afirma que seu<br />

futuro profissional independe de<br />

dedicação aos estudos.<br />

D) discorda da relação e afirma que seu<br />

desempenho só é relevante se<br />

escolher uma profissão relacionada à<br />

matemática.<br />

E) concorda em parte com a relação e<br />

complementa que é complexo fazer<br />

previsões sobre o mercado de trabalho.<br />

Comentário<br />

Não é difícil de se chegar à resposta<br />

correta ao se ler a reportagem. Ao final do<br />

último parágrafo — (...) Além de ser muito<br />

213


novo para decidir sobre o meu futuro<br />

profissional, sei que esse conceito de carreira<br />

mudou muito. —, o estudante praticamente<br />

fornece a resposta à questão, declarando-se<br />

realista ao não tentar prever seu futuro<br />

profissional devido à pouca idade e às<br />

mudanças no mercado de trabalho. Quanto a<br />

concordar parcialmente com o repórter, veja<br />

que ele, apesar de negar que o prêmio fosse<br />

uma garantia de sucesso profissional, logo<br />

depois afirma que, com ele, terá algo mais a<br />

oferecer ao mercado. Questão de nível fácil.<br />

Comentário do INEP<br />

Nesta situação-problema, o participante<br />

deveria demonstrar que compreendeu as<br />

premissas de um discurso, distinguindo a<br />

diferença de significado de palavras isoladas<br />

ou no contexto em que estão inseridas.<br />

Verificou-se que mais da metade dos<br />

participantes demonstrou possuir essa<br />

compreensão. Aqueles que optaram pelas<br />

alternativas C e D podem ter sido atraídos<br />

pelo significado negativo da expressão inicial<br />

"Nada disso".<br />

11) (1998) Texto 1<br />

"Mulher, Irmã, escuta-me: não ames,<br />

Quando a teus pés um homem terno e<br />

curvo<br />

jurar amor, chorar pranto de sangue,<br />

Não creias, não, mulher: ele te engana!<br />

As lágrimas são gotas da mentira<br />

E o juramento manto da perfídia."<br />

(Joaquim Manoel de Macedo)<br />

214<br />

Texto 2<br />

"Teresa, se algum sujeito bancar o<br />

sentimental em cima de você<br />

E te jurar uma paixão do tamanho de um<br />

bonde<br />

Se ele chorar<br />

Se ele ajoelhar<br />

Se ele se rasgar todo<br />

Não acredite não Teresa<br />

É lágrima de cinema<br />

É tapeação<br />

Mentira<br />

CAI FORA"<br />

(Manuel Bandeira)<br />

Os autores, ao fazerem alusão às<br />

imagens da lágrima sugerem que:<br />

A) há um tratamento idealizado da<br />

relação homem/mulher.<br />

B) há um tratamento realista da relação<br />

homem/mulher.<br />

C) a relação familiar é idealizada.<br />

D) a mulher é superior ao homem.<br />

E) a mulher é igual ao homem.<br />

Comentário<br />

Ambos os autores, ao utilizarem a<br />

imagem da lágrima, estão na realidade<br />

mostrando que a figura do homem que é<br />

romântico a ponto de chorar ao jurar amor<br />

não existe. Tanto Macedo quanto<br />

Bandeira alertam as mulheres dizendo,<br />

com palavras e estilos diferentes, que não<br />

há homem que chore por amor (portanto,<br />

essa figura é uma idealização — e, por<br />

conseguinte, toda imagem que se tem<br />

sobre os relacionamentos<br />

demasiadamente românticos). Note que<br />

Bandeira chega até mesmo a chamar tal<br />

"chorão" de ator ("...É lágrima de cinema /<br />

É tapeação..."). Macedo dá uma imagem<br />

pesada às lágrimas ("...são gotas da<br />

mentira...").<br />

12) (1999) Considere os textos abaixo.<br />

(...) de modo particular, quero encorajar os<br />

crentes empenhados no campo da<br />

filosofia para que iluminem os diversos<br />

âmbitos da atividade humana, graças ao<br />

exercício de uma razão que se torna mais<br />

segura e perspicaz com o apoio que<br />

recebe da fé.<br />

(Papa João Paulo II. Carta Encíclica Fides<br />

et Ratio aos bispos da igreja católica sobre as relações<br />

entre fé e razão, 1998)<br />

As verdades da razão natural não<br />

contradizem as verdades da fé cristã.<br />

(São Tomás de Aquino<br />

–pensador medieval)<br />

Refletindo sobre os textos, pode-se<br />

concluir que:<br />

A) a encíclica papal está em contradição<br />

com o pensamento de São Tomás de<br />

Aquino, refletindo a diferença de<br />

épocas.<br />

B) a encíclica papal procura<br />

complementar São Tomás de Aquino,<br />

pois este colocava a razão natural<br />

acima da fé.<br />

C) a Igreja medieval valorizava a razão<br />

mais do que a encíclica de João Paulo<br />

II.<br />

D) o pensamento teológico teve sua<br />

importância na Idade Média, mas, em<br />

nossos dias, não tem relação com o<br />

pensamento filosófico.<br />

E) tanto a encíclica papal como a frase<br />

de São Tomás de Aquino procuram<br />

conciliar os pensamentos sobre fé e<br />

razão.


Comentário<br />

Nessa questão, é necessária uma<br />

releitura do texto para que se tenha uma<br />

melhor compreensão do tema. Tanto a<br />

citação do Papa quanto a de São Tomás de<br />

Aquino tentam criar uma interdependência<br />

entre a ciência e a fé, a religião. O Papa<br />

incentiva aqueles que exercem a pesquisa<br />

científica ou filosófica a manter a fé cristã.<br />

São Tomás de Aquino, por sua vez, equipara<br />

o avanço da ciência ao aumento da própria<br />

fé, afirmando que a razão natural não<br />

contradiz a fé cristã. Se um cresce, cresce<br />

também o outro, em harmonia e sem<br />

contradições. Questão de grau médio.<br />

(Português)<br />

Nessa questão, encontramos dois textos:<br />

o primeiro, do século XX, foi elaborado pelo<br />

Papa João Paulo II; o segundo, do século<br />

XIII, pelo teólogo e filósofo cristão São<br />

Tomás de Aquino. O conteúdo de ambos se<br />

refere à ligação entre fé e razão, a qual<br />

esteve presente na filosofia escolástica da<br />

Idade Média. Esse campo de reflexão buscou<br />

conciliar o cristianismo com o pensamento de<br />

Aristóteles e teve em São Tomás de Aquino<br />

seu maior representante.<br />

Mesmo sem ter todas essas informações,<br />

você poderia responder tranqüilamente à<br />

questão por meio de uma leitura atenta dos<br />

dois textos, chegando à conclusão de que<br />

"tanto a encíclica papal como a frase de São<br />

Tomás de Aquino procuram conciliar os<br />

pensamentos sobre fé e razão". Resposta<br />

correta: alternativa E. (História)<br />

Comentário do INEP<br />

Para resolver esta situação-problema, o<br />

participante deveria mostrar que, além de<br />

interpretar textos, sabe relacioná-los sendo<br />

que, nesse item, essas operações referem-se<br />

a um texto escrito na época medieval e a<br />

outro escrito recentemente.<br />

Mais de 70% dos participantes<br />

demonstraram facilidade em estabelecer esta<br />

relação.<br />

13) (2001) Murilo Mendes, em um de seus<br />

poemas, dialoga com a carta de Pero Vaz<br />

de Caminha:<br />

“A terra é mui graciosa,<br />

Tão fértil eu nunca vi.<br />

A gente vai passear,<br />

No chão espeta um caniço,<br />

No dia seguinte nasce<br />

Bengala de castão de oiro.<br />

Tem goiabas, melancias,<br />

Banana que nem chuchu.<br />

Quanto aos bichos, tem-nos muito,<br />

De plumagens mui vistosas.<br />

Tem macaco até demais<br />

Diamantes tem à vontade<br />

Esmeralda é para os trouxas.<br />

Reforçai, Senhor, a arca,<br />

Cruzados não faltarão,<br />

Vossa perna encanareis,<br />

Salvo o devido respeito.<br />

Ficarei muito saudoso<br />

Se for embora daqui”.<br />

MENDES, Murilo. Murilo Mendes —<br />

poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.<br />

Arcaísmos e termos coloquiais misturamse<br />

nesse poema, criando um efeito de<br />

contraste, como ocorre em:<br />

A) A terra é mui graciosa / Tem macaco<br />

até demais.<br />

B) Salvo o devido respeito / Reforçai,<br />

Senhor, a arca<br />

C) A gente vai passear / Ficarei muito<br />

saudoso<br />

D) De plumagens mui vistosas / Bengala<br />

de castão de oiro<br />

E) No chão espeta um caniço / Diamantes<br />

tem à vontade<br />

Comentário<br />

Aqui, procuramos uma alternativa que<br />

apresente um trecho em linguagem coloquial<br />

e outro em linguagem arcaica.<br />

As alternativas B, C e E apresentam<br />

apenas a linguagem coloquial. A D, somente<br />

a arcaica.<br />

Sobra-nos a primeira alternativa: "A terra é<br />

mui graciosa" (mui é um arcaísmo); "tem<br />

macaco até demais" (linguagem coloquial).<br />

Comentário do INEP<br />

O efeito de paródia, explorado como<br />

recurso estilístico pelo autor desse poema,<br />

apresenta-se na utilização de expressões<br />

retomadas ora da carta de Pero Vaz de<br />

Caminha ora da linguagem coloquial corrente<br />

de época, gerando um efeito de humor<br />

crítico. Uma condição essencial para<br />

compreender o problema proposto nessa<br />

questão – identificar os arcaísmos e os<br />

coloquialismos existentes no poema – é<br />

conhecer o contexto de produção do texto e<br />

sua relação intratextual. Se o participante<br />

desconhece ou não considera o contexto<br />

histórico do poema, a identificação será<br />

parcial, já que o enunciado indica como<br />

pressuposto "a criação de um efeito de<br />

contraste" na utilização das expressões.<br />

Possivelmente a utilização de "contraste"<br />

215


como critério de interpretação justifica os<br />

percentuais de escolhas dos distratores. Uma<br />

outra possível explicação para esses<br />

percentuais deve-se ao fato de os<br />

participantes terem considerado apenas os<br />

termos "arcaísmo" e "coloquialismo" e, não<br />

tendo elementos para analisá-los,<br />

provavelmente deslocaram o texto do<br />

contexto e apoiaram-se em outros elementos<br />

para resolver a questão.<br />

15) (2007)<br />

14) (2008) Considerando o soneto de<br />

Cláudio Manoel da Costa e os elementos<br />

constitutivos do Arcadismo brasileiro,<br />

assinale a opção correta acerca da<br />

relação entre o poema e o momento<br />

histórico de sua produção.<br />

A) Os “montes” e “outeiros”, mencionados<br />

na primeira estrofe, são imagens<br />

relacionadas à Metrópole, ou seja, ao<br />

lugar onde o poeta se vestiu com traje<br />

“rico e fino”.<br />

B) A oposição entre a Colônia e a<br />

Metrópole, como núcleo do poema,<br />

revela uma contradição vivenciada pelo<br />

poeta, dividido entre a civilidade do<br />

mundo urbano da Metrópole e a<br />

rusticidade da terra da Colônia.<br />

C) O bucolismo presente nas imagens do<br />

poema é elemento estético do<br />

Arcadismo que evidencia a<br />

preocupação do poeta árcade em<br />

realizar uma representação literária<br />

realista da vida nacional.<br />

D) A relação de vantagem da “choupana”<br />

sobre a “Cidade”, na terceira estrofe, é<br />

formulação literária que reproduz a<br />

condição histórica paradoxalmente<br />

vantajosa da Colônia sobre a<br />

Metrópole.<br />

E) A realidade de atraso social, político e<br />

econômico do Brasil Colônia está<br />

representada esteticamente no poema<br />

pela referência, na última estrofe, à<br />

transformação do pranto em alegria.<br />

Comentário<br />

A questão exige conhecimento das<br />

características do Arcadismo. A principal<br />

delas, presente no texto, é o bucolismo,<br />

representado pela paisagem da colônia. Esta<br />

é apresentada em oposição à paisagem da<br />

cidade ou metrópole. O poeta, que participou<br />

da Inconfidência Mineira, viveu em Lisboa.<br />

Dessa forma, o termo “vivenciado” da<br />

alternativa "B" justifica a oposição campo x<br />

cidade apresentada no poema. Logo, só<br />

pode ser essa a alternativa correta.<br />

216<br />

A antítese que configura uma imagem da<br />

divisão social do trabalho na sociedade<br />

brasileira é expressa poeticamente na<br />

oposição entre a doçura do branco açúcar<br />

e<br />

A) o trabalho do dono da mercearia de<br />

onde veio o açúcar.<br />

B) o beijo de moça, a água na pele e a flor<br />

que se dissolve na boca.<br />

C) o trabalho do dono do engenho em<br />

Pernambuco, onde se produz o açúcar.<br />

D) a beleza dos extensos canaviais que<br />

nascem no regaço do vale.<br />

E) o trabalho dos homens de vida<br />

amarga em usinas escuras.<br />

Comentário<br />

Questão de nível médio. O aluno deve<br />

perceber, na leitura do poema, várias<br />

antíteses. Entre elas, destaca-se a doçura do<br />

açúcar com a amargura da vida dos<br />

trabalhadores e a brancura dele com a<br />

escuridão das usinas. Porém, o grande<br />

destaque que o autor quer dar é o valor do<br />

trabalho do homem das usinas, que é o<br />

verdadeiro responsável pela produção do<br />

açúcar. Portanto, a alternativa E é a correta.


16) (1998) A discussão sobre gramática na<br />

classe está "quente". Será que os<br />

brasileiros sabem gramática? A<br />

professora de Português propõe para<br />

debate o seguinte texto:<br />

PRA MIM BRINCAR<br />

Não há nada mais gostoso do que o<br />

mim sujeito de verbo no infinito. Pra mim<br />

brincar. As cariocas que não sabem<br />

gramática falam assim. Todos os<br />

brasileiros deviam de querer falar como as<br />

cariocas que não sabem gramática.<br />

- As palavras mais feias da língua<br />

portuguesa são quiçá, alhures e miúde.<br />

(BANDEIRA, Manuel. Seleta em prosa e verso. Org:<br />

Emanuel de Moraes.4ª ed. Rio de Janeiro,<br />

José Olympio, 1986. Pág. 19)<br />

Com a orientação da professora e após o<br />

debate sobre o texto de Manuel Bandeira,<br />

os alunos chegaram à seguinte conclusão:<br />

A) uma das propostas mais ousadas do<br />

Modernismo foi a busca da identidade<br />

do povo brasileiro e o registro, no texto<br />

literário, da diversidade das falas<br />

brasileiras.<br />

B) apesar de os modernistas registrarem<br />

as falas regionais do Brasil, ainda<br />

foram preconceituosos em relação às<br />

cariocas.<br />

C) a tradição dos valores portugueses foi<br />

a pauta temática do movimento<br />

modernista.<br />

D) Manuel Bandeira e os modernistas<br />

brasileiros exaltaram em seus textos o<br />

primitivismo da nação brasileira.<br />

E) Manuel Bandeira considera a<br />

diversidade dos falares brasileiros uma<br />

agressão à Língua Portuguesa.<br />

Comentário<br />

Para resolver essa questão, é<br />

importantíssimo dar atenção a quem foi o<br />

autor do texto do enunciado — Manuel<br />

Bandeira. Ele participou da primeira fase do<br />

Modernismo brasileiro, conhecida como<br />

geração de 22. Ela tinha, dentre diversas<br />

propostas, uma de fundamental importância<br />

para essa questão: a busca da identidade do<br />

povo brasileiro, valorizando a cultura, a<br />

intelectualidade e a sociedade do país. Entre<br />

essas questões, encontrava-se, com realce,<br />

a da língua brasileira. Buscava-se uma<br />

aproximação entre a língua escrita, herdada<br />

dos portugueses, e a nossa língua falada,<br />

dando-se preferência à linguagem oral. Com<br />

isso em mente, teremos a alternativa A como<br />

correta.<br />

17) (1999) Leia um texto publicado no jornal<br />

Gazeta Mercantil. Esse texto é parte de<br />

um artigo que analisa algumas situações<br />

de crise no mundo, entre elas, a quebra<br />

da Bolsa de Nova Iorque em 1929, e foi<br />

publicado na época de uma iminente crise<br />

financeira no Brasil.<br />

Deu no que deu. No dia 29 de outubro de<br />

1929, uma terça-feira, praticamente não<br />

havia compradores no pregão de Nova<br />

Iorque, só vendedores. Seguiu-se uma<br />

crise incomparável: o Produto Interno<br />

Bruto dos Estados Unidos caiu de <strong>10</strong>4<br />

bilhões de dólares em 1929, para 56<br />

bilhões em 1933, coisa inimaginável em<br />

nossos dias. O valor do dólar caiu a quase<br />

metade. O desemprego elevou-se de 1,5<br />

milhão para 12,5 milhões de trabalhadores<br />

– cerca de 25% da população ativa –<br />

entre 1929 e 1933. A construção civil caiu<br />

90%. Nove milhões de aplicações, tipo<br />

caderneta de poupança, perderam-se com<br />

o fechamento dos bancos. Oitenta e cinco<br />

mil firmas faliram. Houve saques e norteamericanos<br />

que passaram fome.<br />

(Gazeta Mercantil, 05/01/1999)<br />

Ao citar dados referentes à crise ocorrida<br />

em 1929, em um artigo jornalístico atual,<br />

pode-se atribuir ao jornalista a seguinte<br />

intenção:<br />

A) questionar a interpretação da crise.<br />

B) comunicar sobre o desemprego.<br />

C) instruir o leitor sobre aplicações em<br />

bolsa de valores.<br />

D) relacionar os fatos passados e<br />

presentes.<br />

E) analisar dados financeiros americanos.<br />

Comentário<br />

Nessa questão, o que se tem de fazer é<br />

prestar atenção às alternativas das respostas.<br />

Nenhuma delas se apresenta tão bem<br />

contextualizada a uma possível interpretação<br />

quanto a letra D. Partindo-se da análise do<br />

texto, fica claro que a intenção do artigo é<br />

remeter o leitor ao passado para tentar<br />

conduzi-lo a uma reflexão sobre uma situação<br />

presente, não mencionada na questão. Após a<br />

leitura e utilizando-se a já citada eliminação de<br />

questões, torna-se clara a resposta. Questão<br />

de nível médio. (Português)<br />

Muitas vezes, quando procuramos entender<br />

uma crise econômica ou financeira de grandes<br />

proporções, buscamos estabelecer relações<br />

com crises passadas. O mesmo ocorre no<br />

jornalismo, como prova o texto encontrado<br />

nessa questão. Buscando entender uma crise<br />

ocorrida no início de 1999, o jornalista da<br />

Gazeta Mercantil buscou relacionar a situação<br />

217


dessa época com a grande crise de 1929 que<br />

afetou o mundo, trazendo desemprego e<br />

recessão, entre tantos outros problemas<br />

econômicos e sociais.<br />

Para responder a essa questão, era<br />

necessário ler atentamente o enunciado, em<br />

que está destacado que "o texto é parte de um<br />

artigo que analisa algumas situações de crise<br />

no mundo" e "foi publicado na época de uma<br />

iminente crise financeira no Brasil". Era<br />

importante também observar a data em que o<br />

artigo foi publicado: 05/01/1999. A partir dessas<br />

constatações, facilmente você chegaria a<br />

conclusão de que a intenção do jornalista era<br />

"relacionar os fatos passados e presentes".<br />

Resposta correta: alternativa D. (História)<br />

Comentário do INEP<br />

A resolução da questão demandava a<br />

capacidade dos participantes de relacionar<br />

eventos históricos envolvendo crises<br />

econômicas ocorridas em épocas e lugares<br />

distintos. Aproximadamente 2/3 deles<br />

demonstraram essa capacidade. Os demais,<br />

provavelmente, não compreenderam a<br />

exigência expressa no enunciado do problema<br />

– apontar as razões pelas quais um jornalista<br />

traz à tona eventos ocorridos setenta anos<br />

antes –, e apenas interpretaram o sentido do<br />

texto citado, que descreve a crise mundial de<br />

1929.<br />

18) (2007)<br />

Levando-se em consideração o texto de<br />

Oswald de Andrade e a pintura de Antonio<br />

Rocco reproduzida acima, relativos à<br />

imigração européia para o Brasil, é correto<br />

afirmar que<br />

A) a visão da imigração presente na<br />

pintura é trágica e, no texto, otimista.<br />

B) a pintura confirma a visão do texto<br />

quanto à imigração de argentinos para<br />

o Brasil.<br />

C) os dois autores retratam dificuldades<br />

dos imigrantes na chegada ao Brasil.<br />

D) Antonio Rocco retrata de forma otimista<br />

a imigração, destacando o pioneirismo<br />

do imigrante.<br />

E) Oswald de Andrade mostra que a<br />

condição de vida do imigrante era<br />

melhor que a dos ex-escravos.<br />

Comentário<br />

Questão fácil. Pela comparação entre dois<br />

textos com linguagens diferentes, chega-se à<br />

conclusão de que os imigrantes enfrentaram<br />

uma realidade bastante dura no momento de<br />

sua chegada ao Brasil. Portanto, a alternativa<br />

correta é a letra C.<br />

19) (2005) Cândido Portinari (1903-1962), um<br />

dos mais importantes artistas brasileiros<br />

do século XX, tratou de diferentes<br />

aspectos da nossa realidade em seus<br />

quadros.<br />

Sobre a temática dos “Retirantes”,<br />

Portinari também escreveu o seguinte<br />

poema:<br />

(....)<br />

Os retirantes vêm vindo com trouxas e<br />

embrulhos<br />

Vêm das terras secas e escuras;<br />

pedregulhos<br />

Doloridos como fagulhas de carvão aceso<br />

Corpos disformes, uns panos sujos,<br />

218


Rasgados e sem cor, dependurados<br />

Homens de enorme ventre bojudo<br />

Mulheres com trouxas caídas para o lado<br />

Pançudas, carregando ao colo um garoto<br />

Choramingando, remelento<br />

(....)<br />

(Cândido Portinari. Poemas. Rio de Janeiro:<br />

J. Olympio, 1964.)<br />

Das quatro obras reproduzidas, assinale<br />

aquelas que abordam a problemática que<br />

é tema do poema.<br />

A) 1 e 2 D) 3 e 4<br />

B) 1 e 3 E) 2 e 4<br />

C) 2 e 3<br />

C)<br />

D)<br />

Comentário<br />

O poema apresenta correspondência com<br />

as imagens ao descrever com detalhes a<br />

figura do retirante: pobre, mal vestido,<br />

carregando trouxas e embrulhos.<br />

20) (2002) O autor da tira utilizou os<br />

princípios de composição de um<br />

conhecido movimento artístico para<br />

representar a necessidade de um mesmo<br />

observador aprender a considerar,<br />

simultaneamente, diferentes pontos de<br />

vista.<br />

E)<br />

Das obras reproduzidas, todas de autoria<br />

do pintor espanhol Pablo Picasso, aquela<br />

em cuja composição foi adotado um<br />

procedimento semelhante é:<br />

A)<br />

B)<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. O movimento<br />

artístico que previa considerar<br />

simultaneamente diversos pontos de vista<br />

era o Cubismo. Havia a desconstrução da<br />

forma para que se pudesse ver todos os<br />

ângulos concomitantemente. O único quadro<br />

que apresenta essas características é o da<br />

alternativa E. As outras quatro alternativas<br />

pressupõem a manutenção da forma.<br />

Comentário do INEP<br />

O objetivo desta questão é levar o<br />

participante a refletir sobre características<br />

fundamentais de um movimento artístico – o<br />

cubismo – a partir de dados visuais:<br />

quadrinhos e pinturas. A reprodução de dois<br />

quadrinhos da personagem Calvin forneceu<br />

para o participante informações básicas para<br />

a análise que deveria fazer das alternativas<br />

apresentadas. Segundo os quadrinhos, o<br />

movimento artístico abordado pela questão<br />

219


tinha como procedimento de composição<br />

representar, para um mesmo observador,<br />

diferentes pontos de vista, fazendo com que<br />

"o tradicional único ponto de vista" fosse<br />

abandonado e com que a perspectiva fosse<br />

fraturada. A análise das obras de Picasso<br />

reproduzidas nas alternativas permite que o<br />

participante reconheça a adoção desse<br />

procedimento no quadro "Marie-Thérèse<br />

apoiada no cotovelo" (alternativa E, com 46%<br />

de registros), no qual se pode reconhecer a<br />

representação de diferentes pontos de vista<br />

a partir dos quais é apresentado o rosto da<br />

mulher retratada.<br />

21) (2000) “Poética”, de Manuel Bandeira, é<br />

quase um manifesto do movimento<br />

modernista brasileiro de 1922. No poema,<br />

o autor elabora críticas e propostas<br />

que representam o pensamento estético<br />

predominante na época.<br />

Poética<br />

Estou farto do lirismo comedido<br />

Do lirismo bem comportado<br />

Do lirismo funcionário público com livro de<br />

ponto expediente protocolo e<br />

[manifestações de apreço<br />

ao Sr. Diretor<br />

.<br />

Estou farto do lirismo que pára e vai<br />

averiguar no dicionário o<br />

[cunho vernáculo de um<br />

vocábulo<br />

Abaixo os puristas<br />

....................................................................<br />

Quero antes o lirismo dos loucos<br />

O lirismo dos bêbedos<br />

O lirismo difícil e pungente dos bêbedos<br />

O lirismo dos clowns de Shakespeare<br />

— Não quero mais saber do lirismo que<br />

não é libertação.<br />

(BANDEIRA, Manuel. Poesia Completa e Prosa.<br />

Rio de Janeiro. Aguilar, 1974)<br />

Com base na leitura do poema, podemos<br />

afirmar corretamente que o poeta:<br />

A) critica o lirismo louco do movimento<br />

modernista.<br />

B) critica todo e qualquer lirismo na<br />

literatura.<br />

C) propõe o retorno ao lirismo do<br />

movimento clássico.<br />

D) propõe o retorno ao lirismo do<br />

movimento romântico.<br />

E) propõe a criação de um novo lirismo.<br />

Comentário<br />

Questão bastante inteligente. Para<br />

começar, Manuel Bandeira teve como marca<br />

de sua obra a busca de novas formas de<br />

expressão, sempre. Mesmo tendo escrito<br />

muitos sonetos (especialmente no início da<br />

carreira), adotou prazerosamente a rebeldia<br />

da poética modernista. A resposta pode estar<br />

centrada na análise de um único verso do<br />

poema. As alternativas de a a d ficam todas<br />

automaticamente descartadas pelo primeiro<br />

verso da segunda parte ("Quero antes o<br />

lirismo dos loucos"). Veja que quem prega<br />

um lirismo dos loucos e dos bêbedos não<br />

pode nem criticar o "lirismo louco" dos<br />

modernistas, como na alternativa a, ou<br />

propor que não haja lirismo, como na<br />

alternativa b. Tampouco pode querer o<br />

retorno à rigidez de forma e métrica da<br />

poesia clássica (lembre-se de Camões) ou<br />

romântica (Álvares de Azevedo, Castro<br />

Alves, Casimiro de Abreu). Propõe, sim, um<br />

novo tipo de lirismo. Vemos isso claramente<br />

se dermos atenção ao casamento do<br />

primeiro com o último verso da segunda<br />

parte ("Quero antes o lirismo dos loucos" /<br />

"—Não quero mais saber do lirismo que não<br />

é libertação").<br />

Comentário do INEP<br />

Um pouco mais da metade dos<br />

participantes (55 %) conseguiu identificar no<br />

texto a proposta estética do poeta e, em<br />

última análise, do próprio Modernismo. Os<br />

distratores com percentuais significativos de<br />

escolha foram apenas B e D. No primeiro<br />

caso, o tom de manifesto, incisivo e<br />

demolidor, do poema provavelmente induziu<br />

a opção. No segundo, a explicação se deve à<br />

possível relação que o participante<br />

estabeleceu entre o Modernismo e o<br />

Romantismo, que de fato existe, mas que<br />

não se aplica ao caso.<br />

22) (2001) Oxímoro (ou paradoxo) é uma<br />

construção textual que agrupa significados<br />

que se excluem mutuamente. Para<br />

Garfield, a frase de saudação de Jon<br />

(tirinha abaixo) expressa o maior de todos<br />

os oxímoros.<br />

220


23) (2004)<br />

Folha de S. Paulo. 31 de julho de 2000.<br />

Nas alternativas abaixo, estão transcritos<br />

versos retirados do poema “O operário em<br />

construção”. Pode-se afirmar que ocorre<br />

um oxímoro em<br />

A) "Era ele que erguia casas<br />

Onde antes só havia chão."<br />

B) "... a casa que ele fazia<br />

Sendo a sua liberdade<br />

Era a sua escravidão."<br />

C) "Naquela casa vazia<br />

Que ele mesmo levantara<br />

Um mundo novo nascia<br />

De que sequer suspeitava."<br />

D) "... o operário faz a coisa<br />

E a coisa faz o operário."<br />

E) "Ele, um humilde operário<br />

Um operário que sabia<br />

Exercer a profissão."<br />

MORAES, Vinícius de. Antologia Poética. São Paulo:<br />

Companhia das Letras, 1992.<br />

Comentário<br />

Idéias que se completam e se excluem<br />

mutuamente são encontradas na alternativa<br />

B: a casa que ele construía era, ao mesmo<br />

tempo, sua liberdade e sua escravidão.<br />

A casa é um símbolo de liberdade para o<br />

homem. Para o homem operário, é também<br />

símbolo de escravidão, pois ele está<br />

"condenado" a jamais usufruir do resultado<br />

do seu trabalho (a casa que faz não é para<br />

ele).<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão propõe ao participante que<br />

estabeleça uma relação entre linguagens,<br />

associando a compreensão de um efeito<br />

semântico produzido pelo uso do oxímoro<br />

nos quadrinhos com o mesmo efeito num<br />

texto poético. O índice (18%) de escolhas da<br />

alternativa D deve-se, possivelmente, a uma<br />

análise parcial da noção de paradoxo,<br />

confundida com inversão.<br />

O assunto de uma crônica pode ser uma<br />

experiência pessoal do cronista, uma<br />

informação obtida por ele ou um caso<br />

imaginário. O modo de apresentar o<br />

assunto também varia: pode ser uma<br />

descrição objetiva, uma exposição<br />

argumentativa ou uma narrativa sugestiva.<br />

Quanto à finalidade pretendida, pode-se<br />

promover uma reflexão, definir um<br />

sentimento ou tão-somente provocar um<br />

riso.<br />

Na crônica O jivaro, escrita a partir da<br />

reportagem de um jornal, Rubem Braga se<br />

vale dos seguinte elementos:<br />

Comentário<br />

O assunto da crônica de Rubem Braga foi<br />

uma informação colhida — o conhecimento<br />

que ele teve de uma entrevista dada por um<br />

viajante a um jornal. Essa informação foi<br />

apresentada por meio de uma narrativa<br />

sugestiva — uma história que ganha a<br />

atenção do leitor não por sua carga<br />

argumentativa ou pela precisão de suas<br />

descrições, mas por seu encaminhamento e<br />

fecho inusitados. A finalidade é provocar uma<br />

reflexão — por que quereria o índio fazer<br />

demonstração de uma ação que causa<br />

sofrimento à vítima, utilizando justamente um<br />

“oponente” que não lhe causara mal algum?<br />

Se algum sofrimento precisa ser causado<br />

para isso, que seja então a alguém que ao<br />

menos o pareça merecer.<br />

24) (2002) "A palavra tatuagem é<br />

relativamente recente. Toda a gente sabe<br />

que foi o navegador Cook que a introduziu<br />

no Ocidente, e esse escrevia tattou, termo<br />

da Polinésia de tatou ou tu tahou,<br />

'desenho'.<br />

(...) Desde os mais remotos tempos,<br />

vemo-la a transformar-se: distintivo<br />

honorífico entre uns homens, ferrete de<br />

ignomínia entre outros, meio de assustar o<br />

adversário para os bretões, marca de uma<br />

221


classe de selvagens das ilhas marquesas<br />

(...) sinal de amor, de desprezo, de ódio<br />

(...). Há três casos de tatuagem no Rio,<br />

completamente diversos na sua<br />

significação moral: os negros,os turcos<br />

com o fundo religioso e o bando de<br />

meretrizes, dos rufiões e dos humildes,<br />

que se marcam por crime ou por<br />

ociosidade".<br />

RIO, João do. Os Tatuadores. Revista Kosmos.<br />

1904, apud: A alma encantadora das ruas,<br />

SP: Cia das Letras, 1999.<br />

Com base no texto são feitas as seguintes<br />

afirmações:<br />

I. João do Rio revela como a tatuagem já<br />

estava presente na cidade do Rio de<br />

Janeiro, pelo menos desde o início do<br />

século XX, e era mais utilizada por<br />

alguns setores da população.<br />

II. A tatuagem, de origem polinésia,<br />

difundiu-se no ocidente com a<br />

característica que permanece até hoje:<br />

utilização entre os jovens com função<br />

estritamente estética.<br />

III. O texto mostra como a tatuagem é<br />

uma prática que se transforma no<br />

tempo e que alcança inúmeros sentidos<br />

nos diversos setores das sociedades e<br />

para as diferentes culturas.<br />

significados diferentes dentro de uma mesma<br />

cultura, induz o participante a refletir sobre a<br />

"diversidade dos patrimônios etnoculturais e<br />

artísticos", contextualizando ao mesmo<br />

tempo seus significados "em diferentes<br />

sociedades, épocas e lugares". Ao retomar<br />

as várias origens e usos da tatuagem, o<br />

participante é levado a compreender e<br />

respeitar uma gramática histórica dos<br />

costumes marcada sempre por semelhanças<br />

e diferenças. A questão não exigia, portanto,<br />

nenhum conhecimento prévio sobre as<br />

diferentes formas de manifestação dessa<br />

prática, mas simplesmente constatar, com o<br />

autor do texto citado, a historicidade e a<br />

diversidade das práticas sociais. Os<br />

participantes que assinalaram a alternativa C<br />

(36%), possivelmente, não levaram em<br />

consideração informações do texto. A<br />

questão foi corretamente respondida por 37%<br />

dos participantes.<br />

25) (2004)<br />

Está correto o que se afirma apenas em<br />

A) I D) I e II<br />

B) II E) I e III<br />

C) III<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. Constata-se o<br />

seguinte: a tatuagem já existia no Brasil no<br />

início do século XX (o texto é de 1904 e parte<br />

dele se refere ao Rio do Janeiro) e era<br />

utilizada em diferentes setores da sociedade.<br />

A afirmação de que as tatuagens possuem<br />

apenas finalidade estética entre os jovens<br />

elimina a segunda alternativa. Já a última<br />

alternativa confirma as transformações das<br />

funções da tatuagem ao longo do tempo nas<br />

mais diversas sociedades e culturas.<br />

Comentário do INEP<br />

O texto estabelece uma relação entre a<br />

atualidade da palavra "tatuagem" e a<br />

antiguidade do uso de desenhos como<br />

pintura corporal. Focaliza uma prática social<br />

bastante difundida que adquiriu aspectos e<br />

conotações diversos nos diferentes contextos<br />

históricos e geográficos em que ela pode ser<br />

descrita. Fazendo a descrição da prática da<br />

tatuagem, como uma manifestação comum a<br />

diferentes culturas, e que adquire, inclusive,<br />

222<br />

No trecho "Montes Claros cresceu tanto,/<br />

(...),/ que já tem cinco favelas", a palavra<br />

que contribui para estabelecer uma<br />

relação de conseqüência. Dos seguintes<br />

versos, todos de Carlos Drummond de<br />

Andrade, apresentam esse mesmo tipo de<br />

relação:<br />

A) "Meu Deus, por que me abandonaste /<br />

se sabias que eu não era Deus / se<br />

sabias que eu era fraco."<br />

B) "No meio-dia branco de luz uma voz<br />

que aprendeu / a ninar nos longes da<br />

senzala – e nunca se esqueceu /<br />

chamava para o café."<br />

C) "Teus ombros suportam o mundo / e<br />

ele não pesa mais que a mão de uma<br />

criança."<br />

D) "A ausência é um estar em mim. / E<br />

sinto-a, branca, tão pegada,<br />

aconchegada nos meus braços, / que<br />

rio e danço e invento exclamações<br />

alegres."


E) "Penetra surdamente no reino das<br />

palavras. / Lá estão os poemas que<br />

esperam ser escritos."<br />

Comentário<br />

Da mesma forma que no poema do<br />

enunciado, a palavra “que” retoma o sentido<br />

consecutivo na alternativa D, relacionando o<br />

fato de o eu lírico estar tão apegado à<br />

ausência QUE ri e dança, em devaneio,<br />

exaltando a alegria. A idéia remete a um<br />

raciocínio de causa e conseqüência: estar<br />

tão apegado a algo QUE outra coisa ocorre.<br />

Na alternativa A, “que” indica a introdução<br />

de uma oração subordinada objetiva direta,<br />

ou seja, que dá a idéia de um complemento<br />

do verbo SABER.<br />

Na alternativa B, “que” caracteriza a<br />

palavra “voz”, introduzindo uma oração<br />

subordinada adjetiva restritiva: “A voz QUE<br />

aprendeu”.<br />

Na alternativa C, “que” assume um<br />

caráter comparativo (mais que).<br />

Finalmente, na letra E, “que” retoma a<br />

questão restritiva ocorrida na alternativa B.<br />

Nesse caso, contudo, refere-se aos “poemas<br />

QUE esperam ser escritos”, ou seja, àqueles<br />

poemas, especificamente.<br />

26) (2007)<br />

Aqui na floresta<br />

Dos ventos batida,<br />

Façanhas de bravos<br />

Não geram escravos,<br />

Que estimem a vida<br />

Sem guerra e lidar.<br />

— Ouvi-me, Guerreiros,<br />

— Ouvi meu cantar.<br />

O canto do guerreiro<br />

Valente na guerra,<br />

Quem há, como eu sou?<br />

Quem vibra o tacape<br />

Com mais valentia?<br />

Quem golpes daria<br />

Fatais, como eu dou?<br />

— Guerreiros, ouvi-me;<br />

— Quem há, como eu sou?<br />

Gonçalves Dias.<br />

Macunaíma<br />

(Epílogo)<br />

Acabou-se a história e morreu a vitória.<br />

Não havia mais ninguém lá. Dera<br />

tangolomângolo na tribo Tapanhumas e<br />

os filhos dela se acabaram de um em um.<br />

Não havia mais ninguém lá. Aqueles<br />

lugares, aqueles campos, furos<br />

puxadouros arrastadouros meiosbarrancos,<br />

aqueles matos misteriosos,<br />

tudo era solidão do deserto... Um silêncio<br />

imenso dormia à beira do rio Uraricoera.<br />

Nenhum conhecido sobre a terra não<br />

sabia nem falar da tribo nem contar<br />

aqueles casos tão pançudos. Quem podia<br />

saber do Herói?<br />

Mário de Andrade.<br />

A leitura comparativa dos dois textos<br />

acima indica que<br />

A) ambos têm como tema a figura do<br />

indígena brasileiro apresentada de<br />

forma realista e heróica, como símbolo<br />

máximo do nacionalismo romântico.<br />

B) a abordagem da temática adotada no<br />

texto escrito em versos é<br />

discriminatória em relação aos povos<br />

indígenas do Brasil.<br />

C) as perguntas “— Quem há, como eu<br />

sou?” (1.º texto) e “Quem podia saber<br />

do Herói?” (2.º texto) expressam<br />

diferentes visões da realidade indígena<br />

brasileira.<br />

D) o texto romântico, assim como o<br />

modernista, aborda o extermínio dos<br />

povos indígenas como resultado do<br />

processo de colonização no Brasil.<br />

E) os versos em primeira pessoa revelam<br />

que os indígenas podiam expressar-se<br />

poeticamente, mas foram silenciados<br />

pela colonização, como demonstra a<br />

presença do narrador, no segundo<br />

texto.<br />

Comentário<br />

Questão de nível médio. Essa questão<br />

exige conhecimento prévio dos movimentos<br />

literários de cada autor. No primeiro, O canto<br />

do Guerreiro, de Gonçalves Dias, pertence<br />

ao Romantismo. Nesse período, a figura do<br />

índio aparece como protagonista, sempre<br />

idealizado e visto como um perfeito herói. Já<br />

no texto Macunaíma, de Mário de Andrade,<br />

levando em conta a característica do<br />

Modernismo, o índio também é protagonista,<br />

mas, por sua vez, há a predominância de um<br />

nacionalismo crítico e realista. Com base<br />

nessas considerações, consegue-se<br />

chegar à conclusão de que a alternativa C é<br />

a correta. Essa alternativa mostra que, por<br />

trás dos textos, há duas visões diferentes da<br />

realidade indígena brasileira, representadas<br />

pelas características dos dois diferentes<br />

estilos de época.<br />

27) (2003) Eu começaria dizendo que poesia<br />

é uma questão de linguagem. A<br />

importância do poeta é que ele torna mais<br />

viva a linguagem. Carlos Drummond de<br />

Andrade escreveu um dos mais belos<br />

versos da língua portuguesa com duas<br />

palavras comuns: cão e cheirando.<br />

Um cão cheirando o futuro<br />

(Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP, 24/05/1988.<br />

adaptação)<br />

223


O que deu ao verso de Drummond o<br />

caráter de inovador da língua foi<br />

A) o modo raro como foi tratado o<br />

"futuro".<br />

B) a referência ao cão como "animal de<br />

estimação".<br />

C) a flexão pouco comum do verbo<br />

"cheirar" (gerúndio).<br />

D) a aproximação não usual do agente<br />

citado e a ação de "cheirar".<br />

E) o emprego do artigo indefinido "um" e<br />

do artigo definido "o" na mesma frase.<br />

Comentário<br />

O fato de Drummond identificar o futuro<br />

como algo que pode ser percebido por um<br />

animal irracional por meio do olfato foi<br />

inovador. A figura de linguagem foi<br />

construída metaforicamente: o futuro torna-se<br />

uma coisa que tem cheiro, contrariamente à<br />

imagem pela qual ele normalmente é<br />

representado: como algo que não se vê e<br />

não se pode pressentir ou tocar.<br />

28) (2003) Epígrafe*<br />

Murmúrio de água na clepsidra**<br />

gotejante,<br />

Lentas gotas de som no relógio da torre,<br />

Fio de areia na ampulheta vigilante,<br />

Leve sombra azulando a pedra do<br />

quadrante***<br />

Assim se escoa a hora, assim se vive e<br />

morre...<br />

Homem, que fazes tu? Para que tanta<br />

lida,<br />

Tão doidas ambições, tanto ódio e tanta<br />

ameaça?<br />

Procuremos somente a Beleza, que a vida<br />

É um punhado infantil de areia<br />

ressequida,<br />

Um som de água ou de bronze e uma<br />

sombra que passa...<br />

(Eugênio de Castro. Antologia pessoal da poesia<br />

portuguesa)<br />

(*) Epígrafe: inscrição colocada no ponto<br />

mais alto; tema.<br />

(**) Clepsidra: relógio de água.<br />

(***) Pedra do quadrante: parte superior<br />

de um relógio de sol.<br />

A imagem contida em "lentas gotas de<br />

som" (verso 2) é retomada na segunda<br />

estrofe por meio da expressão:<br />

A) tanta ameaça.<br />

B) som de bronze.<br />

C) punhado de areia.<br />

D) sombra que passa.<br />

E) somente a Beleza.<br />

Comentário<br />

Numa clepsidra (relógio de água), o som<br />

do gotejamento lembra-nos o tic-tac de um<br />

relógio comum ou o som do sino que marca<br />

as horas no “relógio da torre” (verso 2,<br />

estrofe 1).<br />

Na segunda estrofe, o quinto verso<br />

refere-se a “Um som de água ou de<br />

bronze...” e nos remete, pelo “som de<br />

bronze”, ao som do sino que marca as horas<br />

no relógio da torre (os sinos normalmente<br />

eram feitos de bronze).<br />

29) (2003) Epígrafe*<br />

Murmúrio de água na clepsidra**<br />

gotejante,<br />

Lentas gotas de som no relógio da torre,<br />

Fio de areia na ampulheta vigilante,<br />

Leve sombra azulando a pedra do<br />

quadrante***<br />

Assim se escoa a hora, assim se vive e<br />

morre...<br />

Homem, que fazes tu? Para que tanta<br />

lida,<br />

Tão doidas ambições, tanto ódio e tanta<br />

ameaça?<br />

Procuremos somente a Beleza, que a vida<br />

É um punhado infantil de areia<br />

ressequida,<br />

Um som de água ou de bronze e uma<br />

sombra que passa...<br />

(Eugênio de Castro. Antologia pessoal da poesia<br />

portuguesa)<br />

(*) Epígrafe: inscrição colocada no ponto<br />

mais alto; tema.<br />

(**) Clepsidra: relógio de água.<br />

(***) Pedra do quadrante: parte superior<br />

de um relógio de sol.<br />

Neste poema, o que leva o poeta a<br />

questionar determinadas ações humanas<br />

(versos 6 e 7) é a<br />

A) infantilidade do ser humano.<br />

B) destruição da natureza.<br />

C) exaltação da violência.<br />

D) inutilidade do trabalho.<br />

E) brevidade da vida.<br />

Comentário<br />

A resposta desta questão está nos últimos<br />

versos (8 a <strong>10</strong>):<br />

“Procuremos somente a Beleza, que a<br />

vida<br />

É um punhado de areia ressequida,<br />

Um som de água ou de bronze e uma<br />

sombra que passa...”<br />

224


Neles, a vida aparece em relação ao<br />

tempo, que passa de forma rápida: “areia<br />

ressequida” (como nas ampulhetas), “som de<br />

água ou de bronze” (clepsidra ou sino da<br />

torre) e, mais que tudo, “uma sombra que<br />

passa...” (algo tênue e de curta duração).<br />

30) (2003) A velha Totonha de quando em<br />

vez batia no engenho. E era um<br />

acontecimento para a meninada. (...)<br />

andava léguas e léguas a pé, de engenho<br />

a engenho, como uma edição viva das<br />

histórias de Mil e Uma Noites (...) era uma<br />

grande artista para dramatizar. Tinha uma<br />

memória de prodígio. Recitava contos<br />

inteiros em versos, intercalando pedaços<br />

de prosa, como notas explicativas. (...)<br />

Havia sempre rei e rainha, nos seus<br />

contos, e forca e adivinhações. O que<br />

fazia a velha Totonha mais curiosa era a<br />

cor local que ela punha nos seus<br />

descritivos. (...) Os rios e as florestas por<br />

onde andavam os seus personagens se<br />

pareciam muito com o Paraíba e a Mata<br />

do Rolo. O seu Barba-Azul era um senhor<br />

de engenho de Pernambuco.<br />

(José Lins do Rego. Menino de engenho)<br />

A cor local que a personagem velha<br />

Totonha colocava em suas histórias é<br />

ilustrada, pelo autor, na seguinte<br />

passagem:<br />

A) "O seu Barba-Azul era um senhor de<br />

engenho de Pernambuco".<br />

B) "Havia sempre rei e rainha, nos seus<br />

contos, e forca e adivinhações".<br />

C) "Era uma grande artista para<br />

dramatizar. Tinha uma memória de<br />

prodígio".<br />

D) "Andava léguas e léguas a pé, como<br />

uma edição viva das Mil e Uma Noites".<br />

E) "Recitava contos inteiros em versos,<br />

intercalando pedaços de prosa, como<br />

notas explicativas".<br />

Comentário<br />

Por ser escritor da 2.ª Geração<br />

Modernista, José Lins do Rego ilustra, de<br />

forma evidente, o regionalismo — marca<br />

característica desse momento literário.<br />

Portanto, para localizar a “cor local”<br />

presente no texto, basta procurar a<br />

associação regionalista, que é retratada de<br />

forma explícita pela passagem “senhor de<br />

engenho de Pernambuco.”<br />

A questão não abre espaço para dúvidas.<br />

31) (2003) Pequenos tormentos da vida<br />

De cada lado da sala de aula, pelas janelas<br />

altas, o azul convida os meninos,<br />

as nuvens desenrolam-se, lentas como quem<br />

vai inventando<br />

preguiçosamente uma história sem fim...Sem<br />

fim é a aula: e nada acontece,<br />

nada...Bocejos e moscas. Se ao menos,<br />

pensa Margarida, se ao menos um<br />

avião entrasse por uma janela e saísse por<br />

outra!<br />

(Mário Quintana. Poesias)<br />

Na cena retratada no texto, o sentimento<br />

do tédio<br />

A) provoca que os meninos fiquem<br />

contando histórias.<br />

B) leva os alunos a simularem bocejos,<br />

em protesto contra a monotonia da<br />

aula.<br />

C) acaba estimulando a fantasia,<br />

criando a expectativa de algum<br />

imprevisto mágico.<br />

D) prevalece de modo absoluto,<br />

impedindo até mesmo a distração ou o<br />

exercício do pensamento.<br />

E) decorre da morosidade da aula, em<br />

contraste com o movimento acelerado<br />

das nuvens e das moscas.<br />

Comentário<br />

Essa questão aborda o imaginário<br />

decorrente do marasmo trazido pela escola.<br />

O texto enfatiza o arrastar do tempo na<br />

mente de uma aluna, Margarida, que se põe<br />

a pensar em fatos mágicos ou imaginários<br />

que pudessem romper com a lentidão da<br />

aula.<br />

32) (2000) O autor do texto abaixo critica,<br />

ainda que em linguagem metafórica, a<br />

sociedade contemporânea em relação aos<br />

seus hábitos alimentares.<br />

“Vocês que têm mais de 15 anos, se<br />

lembram quando a gente comprava leite<br />

em garrafa, na leiteria da esquina? (...)<br />

Mas vocês não se lembram de nada,<br />

pô! Vai ver nem sabem o que é vaca. Nem<br />

o que é leite. Estou falando isso porque<br />

agora mesmo peguei um pacote de leite –<br />

leite em pacote, imagina, Tereza! – na<br />

porta dos fundos e estava escrito que é<br />

pasterizado, ou pasteurizado, sei lá, tem<br />

vitamina, é garantido pela<br />

embromatologia, foi enriquecido e o<br />

escambau. Será que isso é mesmo leite?<br />

No dicionário diz que leite é outra coisa:<br />

225


‘Líquido branco, contendo água,<br />

proteína, açúcar e sais minerais’. Um<br />

alimento pra ninguém botar defeito. O ser<br />

humano o usa há mais de 5.000 anos. É o<br />

único alimento só alimento. A carne serve<br />

pro animal andar, a fruta serve pra fazer<br />

outra fruta, o ovo serve pra fazer outra<br />

galinha (...) O leite é só leite. Ou toma ou<br />

bota fora. Esse aqui examinando bem, é<br />

só pra botar fora. Tem chumbo, tem<br />

benzina, tem mais água do que leite, tem<br />

serragem, sou capaz de jurar que nem<br />

vaca tem por trás desse negócio. Depois o<br />

pessoal ainda acha estranho que os<br />

meninos não gostem de leite.<br />

Mas, como não gostam? Não gostam<br />

como? Nunca tomaram! Múúúúúúú!”<br />

(FERNANDES, Millôr. O Estado de S. Paulo ,<br />

22 de agosto de 1999)<br />

A palavra embromatologia usada pelo<br />

autor é:<br />

A) um termo científico que significa estudo<br />

dos bromatos.<br />

B) uma composição do termo de gíria<br />

“embromação” (enganação) com<br />

bromatologia, que é o estudo dos<br />

alimentos.<br />

C) uma junção do termo de gíria<br />

“embromação” (enganação) com<br />

lactologia, que é o estudo das<br />

embalagens para leite.<br />

D) um neologismo da química orgânica<br />

que significa a técnica de retirar<br />

bromatos dos laticínios.<br />

E) uma corruptela de termo da<br />

agropecuária que significa a ordenha<br />

mecânica.<br />

Comentário<br />

É necessário para a resolução desta<br />

questão:<br />

- perceber que o texto critica o exagerado<br />

uso de substâncias artificiais nos<br />

alimentos;<br />

- conhecer o significado da gíria embromar e<br />

da palavra bromatologia.<br />

Conhecendo esses significados, você<br />

elimina todas as alternativas erradas: a, c, d<br />

e e.<br />

Você poderá ter dúvida quanto à<br />

alternativa c, que também será eliminada se<br />

souber o significado da palavra lactologia,<br />

que é o estudo do leite e produtos lácteos e<br />

não das embalagens para leite.<br />

Nesta questão, são trabalhados os<br />

conceitos de interpretação de texto, formação<br />

de palavras e conhecimentos gerais.<br />

Comentário do INEP<br />

A resolução da questão requeria que o<br />

participante, ao ler o texto vinculasse o<br />

significado de um termo de gíria -<br />

"embromação" - com o da palavra<br />

bromatologia. A resposta correta exigia que o<br />

participante não abrisse mão do sabor<br />

picante contido na linguagem metafórica,<br />

sabor vinculado ao conhecimento específico<br />

contido na palavra bromatologia. Cerca da<br />

metade dos participantes (51%) optou pela<br />

alternativa correta e, os 20% que escolheram<br />

a alternativa C, provavelmente associaram a<br />

referência feita no texto à leite em pacote.<br />

33) (1998) Amor é fogo que arde sem ver;<br />

é ferida que dói e não se sente;<br />

é um contentamento descontente;<br />

é dor que desatina sem doer.<br />

É um não querer mais que bem querer;<br />

é solitário andar por entre a gente;<br />

é nunca contentar-se de contente;<br />

é cuidar que se ganha em se perder.<br />

É querer estar preso por vontade;<br />

é servir a quem vence, o vencedor;<br />

é ter com quem nos mata lealdade.<br />

Mas como causar pode seu favor<br />

nos corações humanos amizade<br />

se tão contrário a si é o mesmo Amor?<br />

(Luís de Camões. In: Obras Completas de Camões, Lisboa,<br />

Livraria Sá da Costa, Vol. 1, 1954, p.232)<br />

O poema tem, como característica, a<br />

figura de linguagem denominada antítese,<br />

relação de oposição de palavras ou idéias.<br />

Assinale a opção em que essa oposição<br />

se faz claramente presente.<br />

A) "Amor é fogo que arde sem se ver."<br />

B) "É um contentamento descontente."<br />

C) "É servir a quem se vence, o<br />

vencedor."<br />

D) "Mas como causar pode seu favor."<br />

E) "Se tão contrário a si é o mesmo<br />

Amor?"<br />

Comentário<br />

A antítese é uma figura de linguagem que<br />

se caracteriza por colocar, lado a lado,<br />

imagens opostas que se contradizem. De<br />

todas as alternativas, a única que traz<br />

claramente uma contradição é a B, pois<br />

como pode existir um contentamento<br />

descontente?<br />

226


34) (1998) Amor é fogo que arde sem ver;<br />

é ferida que dói e não se sente;<br />

é um contentamento descontente;<br />

é dor que desatina sem doer.<br />

É um não querer mais que bem querer;<br />

é solitário andar por entre a gente;<br />

é nunca contentar-se de contente;<br />

é cuidar que se ganha em se perder.<br />

É querer estar preso por vontade;<br />

é servir a quem vence, o vencedor;<br />

é ter com quem nos mata lealdade.<br />

Mas como causar pode seu favor<br />

nos corações humanos amizade<br />

se tão contrário a si é o mesmo Amor?<br />

(Luís de Camões. In: Obras Completas de Camões, Lisboa,<br />

Livraria Sá da Costa, Vol. 1, 1954, p.232)<br />

O poema pode ser considerado como um<br />

texto:<br />

A) argumentativo.<br />

B) narrativo.<br />

C) épico.<br />

D) de propaganda.<br />

E) teatral.<br />

Comentário<br />

Podemos considerar esse texto como<br />

argumentativo, pois ele vai embasando a sua<br />

idéia sobre o que é o amor. O texto narrativo<br />

conta uma história, assim como o épico, que<br />

conta histórias de caráter heróico. Camões,<br />

nesse texto, não está preocupado em fazer<br />

propaganda do amor, mas, sim, em<br />

compreendê-lo. E, para terminar, esse texto<br />

não foi feito para ser encenado em palco<br />

como um texto teatral.<br />

35) (2001) O trecho a seguir é parte do<br />

poema “Mocidade e morte”, do poeta<br />

romântico Castro Alves:<br />

Oh! eu quero viver, beber perfumes<br />

Na flor silvestre, que embalsama os ares;<br />

Ver minh'alma adejar pelo infinito,<br />

Qual branca vela n'amplidão dos mares.<br />

No seio da mulher há tanto aroma...<br />

Nos seus beijos de fogo há tanta vida...<br />

– Árabe errante, vou dormir à tarde<br />

À sombra fresca da palmeira erguida.<br />

Mas uma voz responde-me sombria:<br />

Terás o sono sob a lájea fria.<br />

ALVES, Castro. Os melhores poemas de Castro Alves.<br />

Seleção de Lêdo Ivo. São Paulo: Global, 1983.<br />

Esse poema, como o próprio título sugere,<br />

aborda o inconformismo do poeta com a<br />

antevisão da morte prematura, ainda na<br />

juventude.<br />

A imagem da morte aparece na palavra<br />

A) embalsama. D) dormir.<br />

B) infinito. E) sono.<br />

C) amplidão.<br />

Comentário<br />

No último verso, temos a expressão "sono<br />

sob a lájea fria". Dormir sob uma lájea fria? O<br />

trecho indica sepulcro. Portanto, nesse caso,<br />

sono = morte.<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão apresenta, para a leitura,<br />

uma parte do poema "Mocidade e morte", do<br />

poeta romântico Castro Alves. Nesse trecho,<br />

o poeta aborda o inconformismo com a<br />

antevisão da morte prematura. O problema<br />

apresenta-se sob a forma de identificação de<br />

uma palavra no trecho que represente a idéia<br />

de morte. Na primeira estrofe, há uma<br />

apologia à vida, contrastando com a segunda<br />

estrofe, em que se anuncia a morte, idéia<br />

introduzida pela conjunção mas, um divisor<br />

entre as estrofes. A compreensão dos<br />

elementos intratextuais e formais faz com<br />

que a identificação da imagem ocorra na<br />

segunda estrofe. As palavras indicadas nas<br />

alternativas, descontextualizadas, podem<br />

sugerir a idéia de morte como interpretação,<br />

mas não se sustentam na representação do<br />

poema. A leitura global do texto, seguida por<br />

uma compreensão das relações entre as<br />

imagens propostas, é a chave para a<br />

resposta correta, assinalada por 62% dos<br />

participantes.<br />

36) (2008) Os signos visuais, como meios de<br />

comunicação, são classificados em<br />

categorias de acordo com seus<br />

significados.<br />

A categoria denominada indício<br />

corresponde aos signos visuais que têm<br />

origem em formas ou situações naturais<br />

ou casuais, as quais, devido à ocorrência<br />

em circunstâncias idênticas, muitas vezes<br />

repetidas, indicam algo e adquirem<br />

significado. Por exemplo, nuvens negras<br />

indicam tempestade. Com base nesse<br />

conceito, escolha a opção que representa<br />

um signo da categoria dos indícios.<br />

A)<br />

227


B)<br />

C)<br />

D)<br />

Entre os seguintes ditos populares, qual<br />

deles melhor corresponde à figura<br />

acima?<br />

A) Com perseverança, tudo se alcança.<br />

B) Cada macaco no seu galho.<br />

C) Nem tudo que balança cai.<br />

D) Quem tudo quer, tudo perde.<br />

E) Deus ajuda quem cedo madruga.<br />

Comentário<br />

Assim como a questão 37, esta também<br />

envolve interpretação de signos, ou seja, o<br />

aluno precisa estar atento à imagem e<br />

relacioná-la ao dito popular correspondente.<br />

A alternativa "A" é a correta, pois, para<br />

uma lesma “grudenta” e vagarosa conseguir<br />

pular numa cama elástica, é necessária<br />

muita perseverança.<br />

E)<br />

Comentário<br />

Trata-se de uma questão interpretativa. O<br />

aluno precisa entender o que é “indício” para<br />

respondê-la. Segundo o dicionário Aurélio,<br />

indício é o mesmo que “sinal, vestígio,<br />

indicação”. Das figuras apresentadas,<br />

apenas a alternativa B indica algo: a<br />

passagem de alguém por algum lugar —<br />

pegada.<br />

37) (2008)<br />

38) (2001) No trecho abaixo, o narrador, ao<br />

descrever a personagem, critica<br />

sutilmente um outro estilo de época: o<br />

romantismo.<br />

“Naquele tempo contava apenas uns<br />

quinze ou dezesseis anos; era talvez a<br />

mais atrevida criatura da nossa raça, e,<br />

com certeza, a mais voluntariosa. Não<br />

digo que já lhe coubesse a primazia da<br />

beleza, entre as mocinhas do tempo,<br />

porque isto não é romance, em que o<br />

autor sobredoura a realidade e fecha os<br />

olhos às sardas e espinhas; mas também<br />

não digo que lhe maculasse o rosto<br />

nenhuma sarda ou espinha, não. Era<br />

bonita, fresca, saía das mãos da natureza,<br />

cheia daquele feitiço, precário e eterno,<br />

que o indivíduo passa a outro indivíduo,<br />

para os fins secretos da criação.”<br />

ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de<br />

Brás Cubas. Rio de Janeiro: Jackson,1957.<br />

A frase do texto em que se percebe a<br />

crítica do narrador ao romantismo está<br />

transcrita na alternativa:<br />

A) ... o autor sobredoura a realidade e<br />

fecha os olhos às sardas e espinhas ...<br />

B) ... era talvez a mais atrevida criatura da<br />

nossa raça ...<br />

C) Era bonita, fresca, saía das mãos da<br />

natureza, cheia daquele feitiço,<br />

precário e eterno, ...<br />

D) Naquele tempo contava apenas uns<br />

quinze ou dezesseis anos ...<br />

E) ... o indivíduo passa a outro indivíduo,<br />

para os fins secretos da criação.<br />

228<br />

Exame, 28/9/2007.


Comentário<br />

Questão muito fácil que pode ser<br />

respondida com a simples leitura do texto.<br />

Machado de Assis critica a supervalorização<br />

e idealização das personagens do<br />

Romantismo. Tal crítica fica clara na<br />

alternativa A.<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão apresenta para leitura e<br />

análise um trecho de Memórias de Brás<br />

Cubas, de Machado de Assis. Nesse texto, o<br />

narrador realiza um comentário sobre o<br />

"romance romântico", criticando uma de suas<br />

características. O problema proposto trata<br />

da identificação dessa passagem no texto. O<br />

participante deve reconhecer no texto as<br />

características do "romance romântico" e<br />

associá-la à crítica do narrador. As<br />

alternativas propõem passagens que podem<br />

ser associadas ao romantismo em contexto<br />

extratextual, sendo que, em apenas uma<br />

delas, há a relação entre contexto/texto. Mais<br />

da metade (54%) dos participantes identificou<br />

corretamente a passagem no texto.<br />

39) (1999) Leia o que disse João Cabral de<br />

Melo Neto, poeta pernambucano, sobre a<br />

função de seus textos:<br />

"Falo somente com o que falo: a<br />

linguagem enxuta, contato denso; falo<br />

somente do que falo: a vida seca, áspera<br />

e clara do sertão; falo somente por quem<br />

falo: o homem sertanejo sobrevivendo na<br />

adversidade e na míngua. Falo somente<br />

para quem falo: para os que precisam ser<br />

alertados para a situação da miséria no<br />

Nordeste."<br />

Para João Cabral de Melo Neto, no texto<br />

literário:<br />

A) a linguagem do texto deve refletir o<br />

tema, e a fala do autor deve denunciar<br />

o fato social para determinados<br />

leitores.<br />

B) a linguagem do texto não deve ter<br />

relação com o tema, e o autor deve ser<br />

imparcial para que seu texto seja lido.<br />

C) o escritor deve saber separar a<br />

linguagem do tema e a perspectiva<br />

pessoal da perspectiva do leitor.<br />

D) a linguagem pode ser separada do<br />

tema, e o escritor deve ser o delator do<br />

fato social para todos os leitores.<br />

E) a linguagem está além do tema, e o<br />

fato social deve ser a proposta do<br />

escritor para convencer o leitor.<br />

Comentário<br />

João Cabral mostrou, no comentário, que<br />

seus textos são transparentes na relação<br />

linguagem—tema. Ele não gosta de usar<br />

subterfúgios para passar sua mensagem<br />

("Falo somente com o que falo"), de desviarse<br />

do tema para assuntos que geralmente<br />

não fazem parte de seu interesse ("falo<br />

somente do que falo"), de fazer de si mesmo<br />

ou de seus personagens porta-vozes de<br />

outras pessoas ou classes sociais ("falo<br />

somente por quem falo") ou de dirigir-se a<br />

públicos que pouco proveito poderiam tirar de<br />

seus escritos ("falo somente para quem<br />

falo"). Essa ligação direta de tema e<br />

linguagem, somada à proposta de falar<br />

somente para quem se deve ou quer falar,<br />

justifica a resposta, sendo correta a<br />

alternativa A. Questão de nível médio.<br />

Comentário do INEP<br />

Para resolver essa questão, o participante<br />

deveria ser capaz de estabelecer a relação<br />

entre a linguagem, o tema e o interlocutor da<br />

escrita do autor, a partir das razões<br />

explicitadas no seu texto. Essas razões<br />

foram corretamente identificadas por mais da<br />

metade dos participantes.<br />

40) (2002) A leitura do poema Descrição da<br />

guerra em Guernica traz à lembrança o<br />

famoso quadro de Picasso.<br />

Entra pela janela<br />

o anjo camponês;<br />

com a terceira luz na mão;<br />

minucioso, habituado<br />

aos interiores de cereal,<br />

aos utensílios que dormem na fuligem;<br />

os seus olhos rurais<br />

não compreendem bem os símbolos<br />

desta colheita: hélices,<br />

motores furiosos;<br />

e estende mais o braço; planta<br />

no ar, como uma árvore<br />

a chama do candeeiro.<br />

(...)<br />

Carlos de Oliveira in ANDRADE, Eugénio. Antologia<br />

Pessoal da Poesia Portuguesa. Porto: Campo das<br />

Letras, 1999.<br />

Uma análise cuidadosa do quadro permite<br />

que se identifiquem as cenas referidas<br />

nos trechos do poema.<br />

229


Podem ser relacionadas ao texto lido as<br />

partes:<br />

A) a1, a2, a3 D) c1, c2, c3<br />

B) f1, e1, d1 E) e1, e2, e3<br />

C) e1, d1, c1<br />

Comentário<br />

Questão de nível médio. O que precisava<br />

ser feito era encontrar figuras do poema<br />

dentro do quadro. O que se descreve nos<br />

versos 1 e 2 (o anjo camponês que entra<br />

pela janela) está no quadrante e1 (ver a<br />

janela). Nos três últimos versos, há mais<br />

duas imagens: estende mais o braço — d1;<br />

chama do candeeiro — c1.<br />

Comentário do INEP<br />

O trecho do poema "Descrição da guerra<br />

em Guernica", transcrito na prova, cria para o<br />

participante uma interessante relação<br />

intertextual: o poeta Carlos de Oliveira<br />

propõe uma leitura interpretativa do<br />

conhecido quadro de Pablo Picasso. Além do<br />

poema, o quadro de Picasso foi também<br />

reproduzido na questão, de modo a permitir<br />

que o aluno tivesse condições de "ler" essa<br />

obra de arte e nela reconhecer as referências<br />

criadas pelo texto de Carlos de Oliveira. Os<br />

primeiros versos do poema fazem referência<br />

à entrada de um "anjo camponês" pela<br />

janela. No quadro, essa imagem pode ser<br />

identificada no quadro e1. Mais adiante, os<br />

versos aludem a um braço estendido que<br />

"planta/ no ar.../ a chama do candeeiro". Para<br />

compreender a metáfora criada, o<br />

participante deveria perceber, em primeiro<br />

lugar, que o braço estendido seria do anjo<br />

camponês, identificado no quadro e1. Esse<br />

reconhecimento daria a chave de resposta da<br />

questão, porque permitiria que a imagem da<br />

entrada do anjo com o braço estendido<br />

portando um candeeiro fosse associada aos<br />

quadros e1, d1, c1 , contidos na alternativa<br />

C, assinalada por cerca de metade dos<br />

participantes.<br />

41) (2000) Em muitos jornais, encontramos<br />

charges, quadrinhos, ilustrações,<br />

inspirados nos fatos noticiados. Veja um<br />

exemplo:<br />

Jornal do Commercio , 22/8/93<br />

O texto que se refere a uma situação<br />

semelhante à que inspirou a charge é:<br />

A) Descansem o meu leito solitário<br />

Na floresta dos homens esquecida,<br />

À sombra de uma cruz, e escrevam nela<br />

– Foi poeta – sonhou – e amou na vida.<br />

(AZEVEDO, Álvares de . Poesias escolhidas . Rio de<br />

Janeiro/Brasília: José Aguilar/INL,1971)<br />

B) Essa cova em que estás<br />

Com palmos medida,<br />

é a conta menor<br />

que tiraste em vida.<br />

É de bom tamanho,<br />

Nem largo nem fundo,<br />

É a parte que te cabe<br />

deste latifúndio.<br />

(MELO NETO, João Cabral de. Morte e Vida Severina e<br />

outros poemas em voz alta . Rio de Janeiro: Sabiá, 1967)<br />

C) Medir é a medida<br />

mede<br />

A terra, medo do homem, a lavra;<br />

lavra<br />

duro campo, muito cerco, vária várzea.<br />

(CHAMIE, Mário. Sábado na hora da escutas. São<br />

Paulo: Summums, 1978)<br />

D) Vou contar para vocês<br />

um caso que sucedeu<br />

na Paraíba do Norte<br />

com um homem que se chamava<br />

Pedro João Boa-Morte,<br />

lavrador de Chapadinha:<br />

talvez tenha morte boa<br />

porque vida ele não tinha.<br />

(GULLAR, Ferreira. Toda poesia . Rio de Janeiro:<br />

Civilização Brasileira, 1983)<br />

E) Trago-te flores, – restos arrancados<br />

Da terra que nos viu passar<br />

E ora mortos nos deixa e separados.<br />

(ASSIS, Machado de. Obra completa . Rio de Janeiro:<br />

Nova Aguillar, 1986)<br />

Comentário<br />

Esta questão exige boa dose de reflexão.<br />

Antes de tudo, há que se notar que o título<br />

"Demarcação das terras indígenas" está<br />

ligado ironicamente à figura das covas<br />

comuns, anônimas (covas são as terras dos<br />

índios?). Procuramos, então, o trecho de<br />

poema que sirva como legenda à figura<br />

apresentada, mantendo também a ironia da<br />

relação. As alternativas a e e se descartam<br />

pelo lirismo romântico presente e, ainda<br />

mais, pela presença, na a, de elementos que<br />

não estão no universo conceitual indígena<br />

(cruz, poeta). A alternativa c não nos serve<br />

por estar tratando da dureza do trabalho com<br />

a terra, o que não é o tema da charge. Já a d<br />

230


não é adequada por estar introduzindo a<br />

discussão de fatos ocorridos na vida de um<br />

único homem, provavelmente não-índio (até<br />

pelo nome João Boa-Morte). Fica-nos a<br />

alternativa b, que bem poderia servir de<br />

legenda à charge; se pensarmos nos<br />

sangrentos conflitos entre brancos e índios<br />

pela ocupação das terras indígenas<br />

demarcadas, nos quais os índios geralmente<br />

levam a pior, então nos servem bem os<br />

versos que apresenta.<br />

Comentário do INEP<br />

O alto índice de acerto (72 %) revelou a<br />

capacidade dos participantes de não só<br />

contextualizar o problema em foco mas<br />

também de estabelecer relações de sentido<br />

entre diferentes linguagens, ou seja, de lidar<br />

com a intertextualidade. As relações<br />

incorretas que foram estabelecidas,<br />

possivelmente, são devidas mais à falta de<br />

capacidade de contextualização do que de<br />

estabelecimento de relações temáticas.<br />

42) (2008) São Paulo vai se recensear. O<br />

governo quer saber quantas pessoas<br />

governa. A indagação atingirá a fauna e a<br />

flora domesticadas. Bois, mulheres e<br />

algodoeiros serão reduzidos a números e<br />

invertidos em estatísticas. O homem do<br />

censo entrará pelos bangalôs, pelas<br />

pensões, pelas casas de barro e de<br />

cimento armado, pelo sobradinho e pelo<br />

apartamento, pelo cortiço e pelo hotel,<br />

perguntando:<br />

— Quantos são aqui?<br />

Pergunta triste, de resto. Um homem dirá:<br />

— Aqui havia mulheres e criancinhas.<br />

Agora, felizmente, só há pulgas e ratos.<br />

E outro:<br />

— Amigo, tenho aqui esta mulher, este<br />

papagaio, esta sogra e algumas baratas.<br />

Tome nota dos seus nomes, se quiser.<br />

Querendo levar todos, é favor... (...)<br />

E outro:<br />

— Dois, cidadão, somos dois.<br />

Naturalmente o sr. não a vê. Mas ela está<br />

aqui, está, está! A sua saudade jamais<br />

sairá de meu quarto e de meu peito!<br />

Rubem Braga. Para gostar de ler. v. 3.<br />

São Paulo: Ática, 1998, p. 32-3 (fragmento).<br />

O fragmento acima, em que há referência<br />

a um fato sócio-histórico — o<br />

recenseamento —, apresenta<br />

característica marcante do gênero crônica<br />

ao<br />

A) expressar o tema de forma abstrata,<br />

evocando imagens e buscando<br />

apresentar a idéia de uma coisa por<br />

meio de outra.<br />

B) manter-se fiel aos acontecimentos,<br />

retratando os personagens em um só<br />

tempo e um só espaço.<br />

C) contar história centrada na solução de<br />

um enigma, construindo os<br />

personagens psicologicamente e<br />

revelando-os pouco a pouco.<br />

D) evocar, de maneira satírica, a vida na<br />

cidade, visando transmitir<br />

ensinamentos práticos do cotidiano,<br />

para manter as pessoas informadas.<br />

E) valer-se de tema do cotidiano como<br />

ponto de partida para a construção de<br />

texto que recebe tratamento estético.<br />

Comentário<br />

A questão correta é a E, pois a crônica<br />

utiliza a linguagem estética ou poética para<br />

expor temas do cotidiano. Há uma<br />

preocupação com a escolha das palavras<br />

que são rebuscadas e ritmadas, ou seja, a<br />

função da linguagem é poética.<br />

43) (1999) Quem não passou pela<br />

experiência de estar lendo um texto e<br />

defrontar-se com passagens já lidas em<br />

outros? Os textos conversam entre si em<br />

um diálogo constante. Esse fenômeno tem<br />

a denominação de intertextualidade. Leia<br />

os seguintes textos:<br />

I. Quando nasci, um anjo torto<br />

Desses que vivem na sombra<br />

Disse: Vai Carlos! Ser "gauche" na vida<br />

(Andrade, Carlos Drummond de. Alguma poesia. Rio de<br />

Janeiro: Aguilar, 1964)<br />

II. Quando nasci veio um anjo safado<br />

O chato dum querubim<br />

E decretou que eu tava predestinado<br />

A ser errado assim<br />

Já de saída a minha estrada entortou<br />

Mas vou até o fim.<br />

(BUARQUE, Chico. Letra e Música. São Paulo: Cia.<br />

das Letras, 1989)<br />

III. Quando nasci um anjo esbelto<br />

Desses que tocam trombeta, anunciou:<br />

Vai carregar bandeira.<br />

Carga muito pesada pra mulher<br />

Esta espécie ainda envergonhada<br />

(PRADO, Adélia. Bagagem. Rio de Janeiro:<br />

Guanabara, 1986)<br />

231


Adélia Prado e Chico Buarque<br />

estabelecem intertextualidade, em relação<br />

a Carlos Drummond de Andrade, por:<br />

A) reiteração de imagens.<br />

B) oposição de idéias.<br />

C) falta de criatividade.<br />

D) negação dos versos.<br />

E) ausência de recursos.<br />

Comentário<br />

Outra questão com resposta evidente. A<br />

recorrência à imagem do "anjo anunciador" e<br />

dos caminhos que se tornam sempre difíceis<br />

e tortuosos (gauche = acanhado, inepto),<br />

feita pelos três autores, elimina qualquer<br />

sombra de dúvida em relação às outras<br />

respostas. Questão de nível fácil.<br />

Comentário do INEP<br />

Para a resolução desse problema, era<br />

requerido que o participante soubesse<br />

identificar os elementos de intertextualidade<br />

entre três trechos de textos de diferentes<br />

autores.<br />

As duas primeiras alternativas,<br />

amplamente majoritárias, revelam<br />

possivelmente duas distintas percepções da<br />

questão. A alternativa correta A foi escolhida<br />

pelos que perceberam a ostensiva reiteração<br />

de imagens (repetição da imagem do anjo<br />

que vaticina). A alternativa B, incorreta, pode<br />

ter atraído muitos participantes à medida que<br />

tenham, talvez, identificado uma oposição de<br />

idéias, não entre os textos, mas entre a<br />

imagem usualmente positiva de anjo e uma<br />

certa adjetivação pejorativa utilizada em<br />

relação aos mesmos.<br />

44) (2005) Leia estes textos.<br />

Texto 1<br />

É minha lei, é minha questão<br />

Virar esse mundo<br />

Cravar esse chão<br />

Não me importa saber<br />

Se é terrível demais<br />

Quantas guerras terei que vencer<br />

Por um pouco de paz<br />

E amanhã se esse chão que eu beijei<br />

For meu leito e perdão<br />

Vou saber que valeu delirar<br />

E morrer de paixão<br />

E assim, seja lá como for<br />

Vai ter fim a infinita aflição<br />

E o mundo vai ver uma flor<br />

Brotar do impossível chão.<br />

(J. Darione – M. Leigh – Versão de Chico Buarque de<br />

Hollanda e Ruy Guerra, 1972.)<br />

A tirinha e a canção apresentam uma<br />

reflexão sobre o futuro da humanidade. É<br />

correto concluir que os dois textos<br />

A) afirmam que o homem é capaz de<br />

alcançar a paz.<br />

B) concordam que o desarmamento é<br />

inatingível.<br />

C) julgam que o sonho é um desafio<br />

invencível.<br />

D) têm visões diferentes sobre um<br />

possível mundo melhor.<br />

E) transmitem uma mensagem de<br />

otimismo sobre a paz.<br />

Comentário<br />

Enquanto o primeiro texto é ácido em<br />

relação à possibilidade de desarmamento da<br />

população (ou seja, à criação de uma<br />

sociedade mais pacífica), o segundo mostra<br />

a capacidade que a humanidade tem de crer<br />

e, por isso, tentar fazer até o que a princípio<br />

parece impossível. Para os autores da<br />

canção, nada é intrinsecamente impossível.<br />

A relação entre eles é de oposição:<br />

descrença x crença. Questão de nível de<br />

dificuldade médio.<br />

232<br />

Texto 2<br />

Sonhar<br />

Mais um sonho impossível<br />

Lutar<br />

Quando é fácil ceder<br />

Vencer o inimigo invencível<br />

Negar quando a regra é vender<br />

Sofrer a tortura implacável<br />

Romper a incabível prisão<br />

Voar num limite improvável<br />

Tocar o inacessível chão<br />

45) (2005) Leia estes poemas.<br />

Texto 1 - Auto-retrato<br />

Provinciano que nunca soube<br />

Escolher bem uma gravata;<br />

Pernambucano a quem repugna<br />

A faca do pernambucano;<br />

Poeta ruim que na arte da prosa<br />

Envelheceu na infância da arte,<br />

E até mesmo escrevendo crônicas<br />

Ficou cronista de província;<br />

Arquiteto falhado, músico<br />

Falhado (engoliu um dia<br />

Um piano, mas o teclado


Ficou de fora); sem família,<br />

Religião ou filosofia;<br />

Mal tendo a inquietação de espírito<br />

Que vem do sobrenatural,<br />

E em matéria de profissão<br />

Um tísico* profissional.<br />

(Manuel Bandeira. Poesia completa e prosa. Rio de<br />

Janeiro: Aguilar, 1983. p. 395.)<br />

Texto 2 - Poema de sete faces<br />

Quando eu nasci, um anjo torto<br />

desses que vivem na sombra<br />

disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.<br />

As casas espiam os homens<br />

que correm atrás de mulheres.<br />

A tarde talvez fosse azul,<br />

não houvesse tantos desejos.<br />

(....)<br />

Meu Deus, por que me abandonaste<br />

se sabias que eu não era Deus<br />

se sabias que eu era fraco.<br />

Mundo mundo vasto mundo,<br />

se eu me chamasse Raimundo<br />

seria uma rima, não seria uma solução.<br />

Mundo mundo vasto mundo<br />

mais vasto é o meu coração.<br />

(Carlos Drummond de Andrade.<br />

Obra completa. Rio de Janeiro:<br />

Aguilar, 1964. p. 53.)<br />

(*) tísico=tuberculoso<br />

Esses poemas têm em comum o fato de<br />

A) descreverem aspectos físicos dos<br />

próprios autores.<br />

B) refletirem um sentimento pessimista.<br />

C) terem a doença como tema.<br />

D) narrarem a vida dos autores desde o<br />

nascimento.<br />

E) defenderem crenças religiosas.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. Tanto o poema de<br />

Manuel Bandeira quanto o de Carlos<br />

Drummond de Andrade evidenciam, dentro<br />

do ponto de vista dos autores, características<br />

extremamente pessimistas em relação à vida<br />

e, conseqüentemente, à arte.<br />

46) (2003) A velha Totonha de quando em<br />

vez batia no engenho. E era um<br />

acontecimento para a meninada. (...)<br />

andava léguas e léguas a pé, de engenho<br />

a engenho, como uma edição viva das<br />

histórias de Mil e Uma Noites (...) era uma<br />

grande artista para dramatizar. Tinha uma<br />

memória de prodígio. Recitava contos<br />

inteiros em versos, intercalando pedaços<br />

de prosa, como notas explicativas. (...)<br />

Havia sempre rei e rainha, nos seus<br />

contos, e forca e adivinhações. O que<br />

fazia a velha Totonha mais curiosa era a<br />

cor local que ela punha nos seus<br />

descritivos. (...) Os rios e as florestas por<br />

onde andavam os seus personagens se<br />

pareciam muito com o Paraíba e a Mata<br />

do Rolo. O seu Barba-Azul era um senhor<br />

de engenho de Pernambuco.<br />

José Lins do Rego. Menino de Engenho. Rio de Janeiro:<br />

José Olympio, 1980, p. 49-51 (com adaptações).<br />

Na construção da personagem “velha<br />

Totonha”, é possível identificar traços que<br />

revelam marcas do processo de<br />

colonização e de civilização do país.<br />

Considerando o texto acima, infere-se que<br />

a velha Totonha<br />

A) tira o seu sustento da produção da<br />

literatura, apesar de suas condições de<br />

vida e de trabalho, que denotam que<br />

ela enfrenta situação econômica muito<br />

adversa.<br />

B) compõe, em suas histórias, narrativas<br />

épicas e realistas da história do país<br />

colonizado, livres da influência de<br />

temas e modelos não representativos<br />

da realidade nacional.<br />

C) retrata, na constituição do espaço dos<br />

contos, a civilização urbana européia<br />

em concomitância com a<br />

representação literária de engenhos,<br />

rios e florestas do Brasil.<br />

D) aproxima-se, ao incluir elementos<br />

fabulosos nos contos, do próprio<br />

romancista, o qual pretende retratar a<br />

realidade brasileira de forma tão<br />

grandiosa quanto a européia.<br />

E) imprime marcas da realidade local a<br />

suas narrativas, que têm como modelo<br />

e origem as fontes da literatura e da<br />

cultura européia universalizada.<br />

Comentário<br />

Esta questão exige conhecimentos de<br />

literatura universal. O aluno precisa saber<br />

que Barba-Azul é um personagem da cultura<br />

européia. Nas histórias de Totonha, ele é<br />

representado como um senhor de engenho<br />

de Pernambuco. Percebe-se aí a forte<br />

influência da colonização européia na<br />

realidade local. Logo, a alternativa correta é a<br />

letra "E".<br />

233


47) (2005) Leia estes poemas.<br />

Texto 1 - Auto-retrato<br />

Provinciano que nunca soube<br />

Escolher bem uma gravata;<br />

Pernambucano a quem repugna<br />

A faca do pernambucano;<br />

Poeta ruim que na arte da prosa<br />

Envelheceu na infância da arte,<br />

E até mesmo escrevendo crônicas<br />

Ficou cronista de província;<br />

Arquiteto falhado, músico<br />

Falhado (engoliu um dia<br />

Um piano, mas o teclado<br />

Ficou de fora); sem família,<br />

Religião ou filosofia;<br />

Mal tendo a inquietação de espírito<br />

Que vem do sobrenatural,<br />

E em matéria de profissão<br />

Um tísico* profissional.<br />

(Manuel Bandeira. Poesia completa e prosa. Rio de<br />

Janeiro: Aguilar, 1983. p. 395.)<br />

Texto 2 - Poema de sete faces<br />

Quando eu nasci, um anjo torto<br />

desses que vivem na sombra<br />

disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.<br />

As casas espiam os homens<br />

que correm atrás de mulheres.<br />

A tarde talvez fosse azul,<br />

não houvesse tantos desejos.<br />

(....)<br />

Meu Deus, por que me abandonaste<br />

se sabias que eu não era Deus<br />

se sabias que eu era fraco.<br />

Mundo mundo vasto mundo,<br />

se eu me chamasse Raimundo<br />

seria uma rima, não seria uma solução.<br />

Mundo mundo vasto mundo<br />

mais vasto é o meu coração.<br />

(Carlos Drummond de Andrade.<br />

Obra completa. Rio de Janeiro:<br />

Aguilar, 1964. p. 53.)<br />

(*) tísico=tuberculoso<br />

No verso “Meu Deus, por que me<br />

abandonaste” do texto 2, Drummond<br />

retoma as palavras de Cristo, na cruz,<br />

pouco antes de morrer. Esse recurso de<br />

repetir palavras de outrem equivale a<br />

A) emprego de termos moralizantes.<br />

B) uso de vício de linguagem pouco<br />

tolerado.<br />

C) repetição desnecessária de idéias.<br />

D) emprego estilístico da fala de outra<br />

pessoa.<br />

E) uso de uma pergunta sem resposta.<br />

Comentário<br />

A citação, característica de intercambiar<br />

pensamentos de um texto para outro, fica<br />

bastante evidente no poema de Drummond.<br />

Ao retomar as palavras de Cristo, o autor<br />

deixa claro que sua idéia era transmitir uma<br />

mensagem por meio de palavras já<br />

proferidas por outra pessoa e cuja<br />

importância dá sentido a toda a estrofe.<br />

48) (2004)<br />

A tira "Hagar" e o poema de Alberto<br />

Caeiro (um dos heterônimos de Fernando<br />

Pessoa) expressam, com linguagens<br />

diferentes, uma mesma idéia: a de que a<br />

compreensão que temos do mundo é<br />

condicionada, essencialmente,<br />

A) pelo alcance de cada cultura.<br />

B) pela capacidade visual do observador.<br />

C) pelo senso de humor de cada um.<br />

D) pela idade do observador.<br />

E) pela altura do ponto de observação.<br />

Comentário<br />

Questão reflexiva sobre a forma como<br />

cada cultura vê o mundo sob a ótica dos<br />

limites dados pelos seus costumes e<br />

possibilidades de pensamento inerentes a<br />

cada modelo cultural. A mistura de uma tira e<br />

de um poema amplia a possibilidade de<br />

pensamento por trabalhar com linguagens<br />

diferentes. A alternativa correta é a letra A,<br />

pois ambos (tira e poema) utilizam figuras de<br />

linguagem (metáfora e ironia) para expressar<br />

as diferentes visões de mundo.<br />

49) (2000) As histórias em quadrinhos, por<br />

vezes, utilizam animais como<br />

personagens e a eles atribuem<br />

comportamento humano. O gato Garfield<br />

é exemplo desse fato.<br />

234<br />

Fonte: Caderno Vida e Arte, Jornal do Povo, Fortaleza


Van Gogh, pintor holandês nascido em<br />

1853, é um dos principais nomes da<br />

pintura mundial. É dele o quadro abaixo.<br />

Auto-retrato de orelha cortada<br />

O 3º quadrinho sugere que Garfield:<br />

A) desconhece tudo sobre arte, por isso<br />

faz a sugestão.<br />

B) acredita que todo pintor deve fazer algo<br />

diferente.<br />

C) defende que para ser pintor a pessoa<br />

tem de sofrer.<br />

D) conhece a história de um pintor<br />

famoso e faz uso da ironia.<br />

E) acredita que seu dono tenha tendência<br />

artística e, por isso, faz a sugestão.<br />

Comentário<br />

Outra questão de interpretação de texto.<br />

Muito simples para quem um dia ouviu falar<br />

de Van Gogh, e simplíssima para aqueles<br />

que prestam atenção em todos os elementos<br />

do enunciado. Afinal, quem deu uma<br />

espiadinha na legenda do quadro de Van<br />

Gogh matou na hora a questão.<br />

Esta questão é daquelas rápidas de serem<br />

resolvidas, associando-se os elementos<br />

apresentados.<br />

Comentário do INEP<br />

A significativa maioria (81%) dos<br />

participantes soube perceber o caráter<br />

irônico da fala do Garfield, expressa no<br />

terceiro quadrinho porque, ou conheciam a<br />

história de Van Gogh, ou apropriaram-se<br />

corretamente da informação sobre esse<br />

pintor, fornecida no enunciado.<br />

50) (2003)<br />

O texto aponta no quadro de Tarsila do<br />

Amaral um tema que também se encontra<br />

nos versos transcritos em:<br />

A) "Pensem nas meninas<br />

Cegas inexatas<br />

Pensem nas mulheres<br />

Rotas alteradas."<br />

(Vinícius de Moraes)<br />

B) "Somos muitos severinos<br />

iguais em tudo e na sina:<br />

a de abrandar estas pedras<br />

suando-se muito em cima."<br />

(João Cabral de Melo Neto)<br />

C) "O funcionário público<br />

não cabe no poema<br />

com seu salário de fome<br />

sua vida fechada em arquivos."<br />

(Ferreira Gullar)<br />

D) "Não sou nada.<br />

Nunca serei nada.<br />

Não posso querer ser nada.<br />

À parte isso, tenho em mim todos os<br />

sonhos do mundo."<br />

(Fernando Pessoa)<br />

E) "Os inocentes do Leblon<br />

Não viram o navio entrar (...)<br />

Os inocentes, definitivamente inocentes<br />

tudo ignoravam,<br />

mas a areia é quente, e há um óleo<br />

suave<br />

que eles passam pelas costas, e<br />

aquecem."<br />

(Carlos Drummond de Andrade)<br />

Comentário<br />

Mais uma vez, o Exame Nacional do<br />

Ensino Médio procura relacionar análises de<br />

diferentes áreas da arte, misturando a pintura<br />

com a literatura. O quadro de Tarsila do<br />

Amaral “Operários” traz a imagem de vários<br />

rostos (de formatos, etnias e sexos<br />

diferentes) amontoados, tendo como pano de<br />

fundo as chaminés de uma fábrica.<br />

A questão deixa explícita a relação com<br />

os trechos literários que exaltam o<br />

proletariado, eliminando, já de cara, as<br />

alternativas A, D, e E.<br />

Ao se analisar a alternativa C, entretanto,<br />

percebe-se que a abordagem somente se<br />

relaciona com o funcionário público.<br />

Na letra B, o que se pode notar é que<br />

todas as pessoas “severinas” são iguais<br />

perante o sistema, niveladas por baixo e<br />

batalhadoras e que, sem privilégios ou<br />

distinções, são tratadas como mercadorias.<br />

235


51) (1999) E considerei a glória de um pavão<br />

ostentando o esplendor de suas cores; é<br />

um luxo imperial. Mas andei lendo livros, e<br />

descobri que aquelas cores todas não<br />

existem na pena do pavão. Não há<br />

pigmentos. O que há são minúsculas<br />

bolhas d’água em que a luz se fragmenta,<br />

como em um prisma. O pavão é um arcoíris<br />

de plumas.<br />

Eu considerei que este é o luxo do<br />

grande artista, atingir o máximo de<br />

matizes com o mínimo de elementos. De<br />

água e luz ele faz seu esplendor; seu<br />

grande mistério é a simplicidade.<br />

Considerei, por fim, que assim é o<br />

amor, oh! Minha amada; de tudo que ele<br />

suscita e esplende e estremece e delira<br />

em mim existem apenas meus olhos<br />

recebendo a luz de teu olhar. Ele me<br />

cobre de glórias e me faz magnífico.<br />

(BRAGA, Rubem. Ai de ti, Copacabana. 20.ed.)<br />

236<br />

O poeta Carlos Drummond de Andrade<br />

escreveu assim sobre a obra de Rubem<br />

Braga:<br />

O que ele nos conta é o seu dia, o seu<br />

expediente de homem, apanhado no<br />

essencial, narrativa direta e econômica.<br />

(...) É o poeta do real, do palpável, que se<br />

vai diluindo em cisma. Dá o sentimento da<br />

realidade e o remédio para ela.<br />

Em seu texto, Rubem Braga afirma que<br />

"este é o luxo do grande artista, atingir o<br />

máximo de matizes com o mínimo de<br />

elementos". Afirmação semelhante pode<br />

ser encontrada no texto de Carlos<br />

Drummond de Andrade, quando, ao<br />

analisar a obra de Braga, diz que ela é:<br />

A) uma narrativa direta e econômica.<br />

B) real, palpável.<br />

C) sentimento de realidade.<br />

D) seu expediente de homem.<br />

E) seu remédio.<br />

Comentário<br />

A última questão da prova de Português<br />

exige uma releitura do texto de Rubem Braga<br />

para um melhor entendimento do que é<br />

proposto por Drummond. Ao afirmar que a<br />

escrita de Braga é "direta e econômica",<br />

Drummond remete à descoberta feita por<br />

Rubem Braga em relação às cores das<br />

penas do pavão: (...) e descobri que aquelas<br />

cores todas não existem na pena do pavão.<br />

Não há pigmentos. O que há são minúsculas<br />

bolhas d’água em que a luz se fragmenta,<br />

como em um prisma. O pavão é um arco-íris<br />

de plumas.(...) este é o luxo do grande<br />

artista, atingir o máximo de matizes com o<br />

mínimo de elementos.(...)<br />

Segundo Braga, a grande mágica em se<br />

fazer arte é conseguir se expressar da<br />

melhor maneira possível usando o mínimo de<br />

elementos (sejam palavras, cores, formas,<br />

etc.). Drummond parafraseia o comentário de<br />

Braga, dando ainda mais evidência à<br />

descoberta do primeiro. Temos, aí, a<br />

"narrativa direta e econômica". Questão de<br />

nível médio.<br />

Comentário do INEP<br />

Além da compreensão de dois textos, de<br />

autores diferentes, o problema examinou a<br />

capacidade dos participantes em estabelecer<br />

um diálogo entre os mesmos.<br />

A identificação do significado e a relação<br />

correta da afirmação de Drummond, com o<br />

trecho correspondente de Rubem Braga<br />

destacado no enunciado, foi feita por 44%<br />

dos participantes. As alternativas B, C e D<br />

correspondem à identificação de aspectos de<br />

certa forma comuns aos dois textos, embora<br />

os elementos neles apontados não se refiram<br />

ao trecho destacado.<br />

52) (2002)<br />

De acordo com a história em quadrinhos<br />

protagonizada por Hagar e seu filho<br />

Hamlet, pode-se afirmar que a postura de<br />

Hagar<br />

A) valoriza a existência da diversidade<br />

social e de culturas, e as várias<br />

representações e explicações desse<br />

universo.<br />

B) desvaloriza a existência da<br />

diversidade social e as várias culturas,<br />

e determina uma única explicação para<br />

esse universo.<br />

C) valoriza a possibilidade de explicar as<br />

sociedades e as culturas a partir de<br />

várias visões de mundo.<br />

D) valoriza a pluralidade cultural e social<br />

ao aproximar a visão de mundo de<br />

navegantes e não-navegantes.<br />

E) desvaloriza a pluralidade cultural e<br />

social, ao considerar o mundo habitado<br />

apenas pelos navegantes.


Comentário<br />

Questão de nível fácil. Hagar reduz o<br />

mundo a dois tipos de pessoas: navegantes<br />

e não-navegantes. No último quadrinho, diz<br />

que são os navegantes que estabelecem<br />

esses dois grupos. Portanto, quem é<br />

diferente dos navegantes (que estabelecem<br />

o padrão) simplesmente é incluído na massa<br />

única dos não-navegantes. Não importa<br />

quem ou quantos sejam, sua diversidade<br />

social ou cultural em relação aos navegantes<br />

ou entre si. Vemos aí a desvalorização de<br />

outras culturas.<br />

Comentário do INEP<br />

Dentre as habilidades básicas para a<br />

compreensão de um texto destaca-se a<br />

capacidade do leitor de identificar os<br />

pressupostos de cada afirmação que lhe é<br />

apresentada. Nesta questão o participante<br />

deve identificar a posição tanto de Hagar<br />

como de seu filho Hamlet e, em seguida,<br />

avaliar quais os argumentos que justificam a<br />

opinião de Hagar ao definir que no mundo só<br />

existem dois tipos de pessoas. A pergunta de<br />

Hamlet a seu pai explicita a importância do<br />

ato de narrar através do diálogo e do efeito<br />

humorístico contido no episódio representado<br />

na tira. O resultado da compreensão<br />

acertada do diálogo é que o narrador torna<br />

inteligível, para si e para os outros, a lógica<br />

do seu pensamento através do diálogo entre<br />

os dois personagens. É importante observar<br />

que o humor do personagem Hagar é<br />

identificado na postura simetricamente<br />

oposta à de Michel de Montaigne, por<br />

exemplo (ver questão 58): a sua visão de<br />

mundo apresenta-se autocentrada, isto é,<br />

centrada nos seus próprios valores (vikings).<br />

A habilidade requerida do participante nessa<br />

questão, qual seja, "valorizar a diversidade<br />

dos patrimônios etnoculturais", é mobilizada<br />

aqui na sua dimensão negativa: é criticando<br />

a postura chauvinista de Hagar que o<br />

participante é capaz de responder<br />

corretamente a questão. A última alternativa<br />

(E) funciona como um distrator, pois neste<br />

caso não está suposta a crítica do discurso<br />

do personagem. Cerca de um terço dos<br />

participantes assinalou a alternativa correta<br />

B. As demais opções são devidas,<br />

possivelmente, a uma leitura pouco<br />

compreensiva das alternativas associadas a<br />

história em quadrinhos.<br />

53) (1999) Cárcere das almas<br />

Ah! Toda a alma num cárcere anda presa,<br />

Soluçando nas trevas, entre as grades<br />

Do calabouço olhando imensidades,<br />

Mares, estrelas, tardes, natureza.<br />

Tudo se veste de uma igual grandeza<br />

Quando a alma entre grilhões as<br />

liberdades<br />

Sonha e, sonhando, as imortalidades<br />

Rasga no etéreo o Espaço da Pureza.<br />

Ó almas presas, mudas e fechadas<br />

Nas prisões colossais e abandonadas,<br />

Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!<br />

Nesses silêncios solitários, graves,<br />

que chaveiro do Céu possui as chaves<br />

para abrir-vos as portas do Mistério?!<br />

CRUZ E SOUSA, J. Poesia completa. Florianópolis:<br />

Fundação Catarinense de Cultura /<br />

Fundação Banco do Brasil, 1993.<br />

Os elementos formais e temáticos<br />

relacionados ao contexto cultural do<br />

Simbolismo encontrados no poema<br />

Cárcere das almas, de Cruz e Sousa,<br />

são<br />

A) a opção pela abordagem, em<br />

linguagem simples e direta, de temas<br />

filosóficos.<br />

B) a prevalência do lirismo amoroso e<br />

intimista em relação à temática<br />

nacionalista.<br />

C) o refinamento estético da forma<br />

poética e o tratamento metafísico de<br />

temas universais.<br />

D) a evidente preocupação do eu lírico<br />

com a realidade social expressa em<br />

imagens poéticas inovadoras.<br />

E) a liberdade formal da estrutura poética<br />

que dispensa a rima e a métrica<br />

tradicionais em favor de temas do<br />

cotidiano.<br />

Comentário<br />

(QUESTÃO: AZUL 99, BRANCA 99,<br />

ROSA 99)<br />

Essa questão expõe um poema do Cruz e<br />

Souza, Cárcere das almas. As alternativas<br />

apresentam o contexto histórico social e<br />

cobram do aluno referência ao momento da<br />

escrita do poema e sua articulação com a<br />

escola literária em que se insere. A<br />

altenativa correta apresenta palavras-chave,<br />

como refinamento estético, tratamento<br />

metafísco e temas universais, elementos<br />

formais e tématicos comuns à produção da<br />

fase Simbolista. A resolução da questão é<br />

237


de dificuldade média, pois o aluno necessita<br />

saber as características do Simbolismo. Os<br />

versos finais de cada estrofe apresentam a<br />

atmosfera metafísica própria dessa fase. A<br />

resposta correta é a letra C.<br />

54) (2009) No decênio de 1870, Franklin<br />

Távora defendeu a tese de que no Brasil<br />

havia duas literaturas independentes<br />

dentro da mesma língua: uma do Norte e<br />

outra do Sul, regiões segundo ele muito<br />

diferentes por formação histórica,<br />

composição étnica, costumes, modismos<br />

linguísticos etc. Por isso, deu aos<br />

romances regionais que publicou o título<br />

geral de Literatura do Norte. Em nossos<br />

dias, um escritor gaúcho, Viana Moog,<br />

procurou mostrar com bastante engenho<br />

que no Brasil há, em verdade, literaturas<br />

setoriais diversas, refletindo as<br />

características locais.<br />

CANDIDO, A. A nova narrativa.<br />

A educação pela noite e outros ensaios.<br />

São Paulo: Ática, 2003.<br />

Com relação à valorização, no romance<br />

regionalista brasileiro, do homem e da<br />

paisagem de determinadas regiões<br />

nacionais, sabe-se que<br />

A) o romance do Sul do Brasil se<br />

caracteriza pela temática<br />

essencialmente urbana, colocando em<br />

relevo a formação do homem por meio<br />

da mescla de características locais e<br />

dos aspectos culturais trazidos de fora<br />

pela imigração europeia.<br />

B) José de Alencar, representante,<br />

sobretudo, do romance urbano, retrata<br />

a temática da urbanização das cidades<br />

brasileiras e das relações conflituosas<br />

entre as raças.<br />

C) o romance do Nordeste caracterizase<br />

pelo acentuado realismo no uso do<br />

vocabulário, pelo temário local,<br />

expressando a vida do homem em face<br />

da natureza agreste, e assume<br />

frequentemente o ponto de vista dos<br />

menos favorecidos.<br />

D) a literatura urbana brasileira, da qual<br />

um dos expoentes é Machado de<br />

Assis, põe em relevo a formação do<br />

homem brasileiro, o sincretismo<br />

religioso, as raízes africanas e<br />

indígenas que caracterizam o nosso<br />

povo.<br />

E) Erico Veríssimo, Rachel de Queiroz,<br />

Simões Lopes Neto e Jorge Amado são<br />

romancistas das décadas de 30 e 40<br />

do século XX, cuja obra retrata a<br />

problemática do homem urbano em<br />

confronto com a modernização do país<br />

promovida pelo Estado Novo.<br />

Comentário<br />

(QUESTÃO: AZUL 120, BRANCA 120,<br />

ROSA 120)<br />

O romance regionalista aborda questões<br />

sociais a respeito de determinadas regiões<br />

do Brasil, destacando a descrição de cada<br />

uma delas, do povo e seu linguajar típico. As<br />

personagens são pessoas que vivem longe<br />

das cidades. A alternativa C é a mais<br />

coerente com as características atribuídas a<br />

um romance do Nordeste.<br />

55) (2009) Oximoro, ou paradoxismo, é uma<br />

figura de retórica em que se combinam<br />

palavras de sentido oposto que parecem<br />

excluir-se mutuamente, mas que, no<br />

contexto, reforçam a expressão.<br />

Dicionário Eletrônico<br />

Houaiss da Lingua Portuguesa.<br />

Considerando a definição apresentada, o<br />

fragmento poético da obra Cantares, de<br />

Hilda Hilst, publicada em 2004, em que<br />

pode ser encontrada a referida figura de<br />

retórica é:<br />

A) "Dos dois contemplo<br />

rigor e fixidez.<br />

Passado e sentimento<br />

me contemplam" (p. 91).<br />

B) "De sol e lua<br />

De fogo e vento<br />

Te enlaço" (p. <strong>10</strong>1).<br />

C) "Areia, vou sorvendo<br />

A água do teu rio" (p. 93).<br />

D) "Ritualiza a matança<br />

de quem só te deu vida.<br />

E me deixa viver<br />

nessa que morre" (p. 62).<br />

E) "O bisturi e o verso.<br />

Dois instrumentos<br />

entre as minhas mãos" (p. 95).<br />

Comentário<br />

(QUESTÃO: AZUL 124, BRANCA 124,<br />

ROSA 124)<br />

Questão que o candidato, com base na<br />

definição do termo paroxismo, apresentada<br />

no enunciado, poderia resolver<br />

tranquilamente, buscando, entre as<br />

alternativas expostas, qual oferecia, com<br />

mais clareza, construções paradoxais.<br />

Dessa forma, a alternanativa D é a<br />

correta, pois apresenta o fragmento em que<br />

238


há o jogo de palavras envolvendo<br />

"matança", "vida", "viver" e "morre", o mais<br />

adequado e evidente quanto à utilização<br />

desse recurso.<br />

56) (2009) Confidência do Itabirano<br />

Alguns anos vivi em Itabira.<br />

Principalmente nasci em Itabira.<br />

Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.<br />

Noventa por cento de ferro nas calçadas.<br />

Oitenta por cento de ferro nas almas.<br />

E esse alheamento do que na vida é<br />

porosidade e comunicação.<br />

A vontade de amar, que me paralisa o<br />

trabalho,<br />

vem de Itabira, de suas noites brancas,<br />

sem mulheres e sem horizontes.<br />

E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,<br />

é doce herança itabirana.<br />

De Itabira trouxe prendas diversas que ora<br />

te ofereço:<br />

esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,<br />

este São Benedito do velho santeiro<br />

Alfredo Duval;<br />

este couro de anta, estendido no sofá da<br />

sala de visitas; este orgulho, esta cabeça<br />

baixa...<br />

Tive ouro, tive gado, tive fazendas.<br />

Hoje sou funcionário público.<br />

Itabira é apenas uma fotografia na parede.<br />

Mas como dói!<br />

ANDRADE, C. D. Poesia completa.<br />

Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2003.<br />

Carlos Drummond de Andrade é um dos<br />

expoentes do movimento modernista<br />

brasileiro. Com seus poemas, penetrou<br />

fundo na alma do Brasil e trabalhou<br />

poeticamente as inquietudes e os dilemas<br />

humanos. Sua poesia é feita de uma<br />

relação tensa entre o universal e o<br />

particular, como se percebe claramente na<br />

construção do poema Confidência do<br />

Itabirano. Tendo em vista os<br />

procedimentos de construção do texto<br />

literário e as concepções artísticas<br />

modernistas, conclui-se que o poema<br />

acima<br />

A) representa a fase heroica do<br />

modernismo, devido ao tom<br />

contestatório e à utilização de<br />

expressões e usos linguísticos típicos<br />

da oralidade.<br />

B) apresenta uma característica<br />

importante do gênero lírico, que é a<br />

apresentação objetiva de fatos e dados<br />

históricos.<br />

C) evidencia uma tensão histórica entre<br />

o ‘eu" e a sua comunidade, por<br />

intermédio de imagens que<br />

representam a forma como a sociedade<br />

e o mundo colaboram para a<br />

constituição do indivíduo.<br />

D) critica, por meio de um discurso<br />

irônico, a posição de inutilidade do<br />

poeta e da poesia em comparação com<br />

as prendas resgatadas de Itabira.<br />

E) apresenta influências românticas, uma<br />

vez que trata da individualidade, da<br />

saudade da infância e do amor pela<br />

terra natal, por meio de recursos<br />

retóricos pomposos.<br />

Comentário<br />

(QUESTÃO: AZUL 135, BRANCA 131,<br />

ROSA 135)<br />

O poema Confidência do Itabirano faz<br />

parte da 2.ª geração de Drummond, em que<br />

se evidencia o social e a visão crítica do "eu"<br />

sobre o meio. Essa característica fica<br />

evidente na alternativa C. Portanto, esta é<br />

a correta.<br />

H17 - Reconhecer a presença de<br />

valores sociais e humanos<br />

atualizáveis e permanentes no<br />

patrimônio literário nacional.<br />

01) (2008) Calcula-se que 78% do<br />

desmatamento na Amazônia tenha sido<br />

motivado pela pecuária — cerca de 35%<br />

do rebanho nacional está na região — e<br />

que pelo menos 50 milhões de hectares<br />

de pastos são pouco produtivos. Enquanto<br />

o custo médio para aumentar a<br />

produtividade de 1 hectare de pastagem é<br />

de 2 mil reais, o custo para derrubar igual<br />

área de floresta é estimado em 800 reais,<br />

o que estimula novos desmatamentos.<br />

Adicionalmente, madeireiras retiram as<br />

árvores de valor comercial que foram<br />

abatidas para a criação de pastagens. Os<br />

pecuaristas sabem que problemas<br />

ambientais como esses podem provocar<br />

restrições à pecuária nessas áreas, a<br />

exemplo do que ocorreu em 2006 com o<br />

plantio da soja, o qual, posteriormente, foi<br />

proibido em áreas de floresta.<br />

Época, 3/3/2008 e 9/6/2008 (com adaptações).<br />

239


A partir da situação-problema descrita,<br />

conclui-se que<br />

A) o desmatamento na Amazônia decorre<br />

principalmente da exploração ilegal de<br />

árvores de valor comercial.<br />

B) um dos problemas que os pecuaristas<br />

vêm enfrentando na Amazônia é a<br />

proibição do plantio de soja.<br />

C) a mobilização de máquinas e de força<br />

humana torna o desmatamento mais<br />

caro que o aumento da produtividade<br />

de pastagens.<br />

D) o superavit comercial decorrente da<br />

exportação de carne produzida na<br />

Amazônia compensa a possível<br />

degradação ambiental.<br />

E) a recuperação de áreas desmatadas<br />

e o aumento de produtividade das<br />

pastagens podem contribuir para a<br />

redução do desmatamento na<br />

Amazônia.<br />

Comentário do portal<br />

Essa questão retrata o problema do<br />

desmatamento da Amazônia, relacionado<br />

principalmente com o desenvolvimento da<br />

pecuária na região. Para resolvê-la, foram<br />

necessários a leitura atenta do texto e o<br />

conhecimento sobre os problemas<br />

ambientais da atualidade. A alternativa<br />

correta é a letra E, pois é mais caro para os<br />

pecuaristas aumentar a produtividade do que<br />

as áreas de pasto, o que acarreta o aumento<br />

do desmatamento da Amazônia.<br />

02) (2008) A Lei Federal n.º 9.985/2000, que<br />

instituiu o sistema nacional de unidades<br />

de conservação, define dois tipos de<br />

áreas protegidas. O primeiro, as unidades<br />

de proteção integral, tem por objetivo<br />

preservar a natureza, admitindo-se<br />

apenas o uso indireto dos seus recursos<br />

naturais, isto é, aquele que não envolve<br />

consumo, coleta, dano ou destruição dos<br />

recursos naturais. O segundo, as<br />

unidades de uso sustentável, tem por<br />

função compatibilizar a conservação da<br />

natureza com o uso sustentável de<br />

parcela dos recursos naturais. Nesse<br />

caso, permite-se a exploração do<br />

ambiente de maneira a garantir a<br />

perenidade dos recursos ambientais<br />

renováveis e dos processos ecológicos,<br />

mantendo-se a biodiversidade e os<br />

demais atributos ecológicos, de forma<br />

socialmente justa e economicamente<br />

viável.<br />

Considerando essas informações, analise<br />

a seguinte situação hipotética.<br />

Ao discutir a aplicação de recursos<br />

disponíveis para o desenvolvimento de<br />

determinada região, organizações civis,<br />

universidade e governo resolveram<br />

investir na utilização de uma unidade de<br />

proteção integral, o Parque Nacional do<br />

Morro do Pindaré, e de uma unidade de<br />

uso sustentável, a Floresta Nacional do<br />

Sabiá. Depois das discussões, a equipe<br />

resolveu levar adiante três projetos:<br />

— o projeto I consiste de pesquisas<br />

científicas embasadas exclusivamente<br />

na observação de animais;<br />

— o projeto II inclui a construção de uma<br />

escola e de um centro de vivência;<br />

— o projeto III promove a organização de<br />

uma comunidade extrativista que<br />

poderá coletar e explorar<br />

comercialmente frutas e sementes<br />

nativas.<br />

Nessa situação hipotética, atendendo-se à<br />

lei mencionada acima, é possível<br />

desenvolver tanto na unidade de proteção<br />

integral quanto na de uso sustentável<br />

A) apenas o projeto I.<br />

B) apenas o projeto III.<br />

C) apenas os projetos I e II.<br />

D) apenas os projetos II e III.<br />

E) todos os três projetos.<br />

Comentário do portal<br />

A alternativa correta é a letra "A", pois,<br />

analisando-se a situação hipotética sugerida<br />

no enunciado, percebe-se que ela deverá<br />

atender os requisitos tanto da unidade de<br />

proteção integral quanto da unidade de uso<br />

sustentável. Portanto, apenas o projeto I<br />

poderá ser desenvolvido nessas duas<br />

propostas de unidades.<br />

03) (1999) Leia o texto abaixo.<br />

Cabelos longos, brinco na orelha<br />

esquerda, físico de skatista. Na aparência,<br />

o estudante brasiliense Rui Lopes Viana<br />

Filho, de 16 anos, não lembra em nada o<br />

estereótipo dos gênios. Ele não usa<br />

pesados óculos de grau e está longe de<br />

ter um ar introspectivo. No final do mês<br />

passado, Rui retornou de Taiwan, onde<br />

enfrentou 419 competidores de todo o<br />

mundo na 39ª Olimpíada Internacional de<br />

Matemática. A reluzente medalha de ouro<br />

que ele trouxe na bagagem está<br />

dependurada sobre a cama de seu quarto,<br />

atulhado de rascunhos dos problemas<br />

240


matemáticos que aprendeu a decifrar nos<br />

últimos cinco anos.<br />

Veja – Vencer uma olimpíada serve de<br />

passaporte para uma carreira profissional<br />

meteórica?<br />

Rui – Nada disso. Decidi me dedicar à<br />

Olimpíada porque sei que a concorrência<br />

por um emprego é cada vez mais<br />

selvagem e cruel. Agora tenho algo a mais<br />

para oferecer. O problema é que as coisas<br />

estão mudando muito rápido e não sei<br />

qual será minha profissão. Além de ser<br />

muito novo para decidir sobre o meu<br />

futuro profissional, sei que esse conceito<br />

de carreira mudou muito.<br />

(Entrevista de Rui Lopes Viana Filho à Veja,<br />

05/08/1998, n.31, p. 9-<strong>10</strong>)<br />

Na pergunta, o repórter estabelece uma<br />

relação entre a entrada do estudante no<br />

mercado de trabalho e a vitória na<br />

Olimpíada. O estudante<br />

A) concorda com a relação e afirma que o<br />

desempenho na Olimpíada é<br />

fundamental para sua entrada no<br />

mercado.<br />

B) discorda da relação e complementa<br />

que é fácil se fazer previsões sobre o<br />

mercado de trabalho.<br />

C) discorda da relação e afirma que seu<br />

futuro profissional independe de<br />

dedicação aos estudos.<br />

D) discorda da relação e afirma que seu<br />

desempenho só é relevante se<br />

escolher uma profissão relacionada à<br />

matemática.<br />

E) concorda em parte com a relação e<br />

complementa que é complexo fazer<br />

previsões sobre o mercado de trabalho.<br />

Comentário<br />

Não é difícil de se chegar à resposta<br />

correta ao se ler a reportagem. Ao final do<br />

último parágrafo — (...) Além de ser muito<br />

novo para decidir sobre o meu futuro<br />

profissional, sei que esse conceito de carreira<br />

mudou muito. —, o estudante praticamente<br />

fornece a resposta à questão, declarando-se<br />

realista ao não tentar prever seu futuro<br />

profissional devido à pouca idade e às<br />

mudanças no mercado de trabalho. Quanto a<br />

concordar parcialmente com o repórter, veja<br />

que ele, apesar de negar que o prêmio fosse<br />

uma garantia de sucesso profissional, logo<br />

depois afirma que, com ele, terá algo mais a<br />

oferecer ao mercado. Questão de nível fácil.<br />

Comentário do INEP<br />

Nesta situação-problema, o participante<br />

deveria demonstrar que compreendeu as<br />

premissas de um discurso, distinguindo a<br />

diferença de significado de palavras isoladas<br />

ou no contexto em que estão inseridas.<br />

Verificou-se que mais da metade dos<br />

participantes demonstrou possuir essa<br />

compreensão. Aqueles que optaram pelas<br />

alternativas C e D podem ter sido atraídos<br />

pelo significado negativo da expressão inicial<br />

"Nada disso".<br />

04) (1998) Texto 1<br />

"Mulher, Irmã, escuta-me: não ames,<br />

Quando a teus pés um homem terno e<br />

curvo<br />

jurar amor, chorar pranto de sangue,<br />

Não creias, não, mulher: ele te engana!<br />

As lágrimas são gotas da mentira<br />

E o juramento manto da perfídia."<br />

(Joaquim Manoel de Macedo)<br />

Texto 2<br />

"Teresa, se algum sujeito bancar o<br />

sentimental em cima de você<br />

E te jurar uma paixão do tamanho de um<br />

bonde<br />

Se ele chorar<br />

Se ele ajoelhar<br />

Se ele se rasgar todo<br />

Não acredite não Teresa<br />

É lágrima de cinema<br />

É tapeação<br />

Mentira<br />

CAI FORA"<br />

(Manuel Bandeira)<br />

Os autores, ao fazerem alusão às<br />

imagens da lágrima sugerem que:<br />

A) há um tratamento idealizado da<br />

relação homem/mulher.<br />

B) há um tratamento realista da relação<br />

homem/mulher.<br />

C) a relação familiar é idealizada.<br />

D) a mulher é superior ao homem.<br />

E) a mulher é igual ao homem.<br />

Comentário<br />

Ambos os autores, ao utilizarem a<br />

imagem da lágrima, estão na realidade<br />

mostrando que a figura do homem que é<br />

romântico a ponto de chorar ao jurar amor<br />

não existe. Tanto Macedo quanto<br />

Bandeira alertam as mulheres dizendo,<br />

com palavras e estilos diferentes, que não<br />

há homem que chore por amor (portanto,<br />

essa figura é uma idealização — e, por<br />

conseguinte, toda imagem que se tem<br />

241


242<br />

sobre os relacionamentos<br />

demasiadamente românticos). Note que<br />

Bandeira chega até mesmo a chamar tal<br />

"chorão" de ator ("...É lágrima de cinema /<br />

É tapeação..."). Macedo dá uma imagem<br />

pesada às lágrimas ("...são gotas da<br />

mentira...").<br />

05) (1999) Considere os textos abaixo.<br />

(...) de modo particular, quero encorajar os<br />

crentes empenhados no campo da<br />

filosofia para que iluminem os diversos<br />

âmbitos da atividade humana, graças ao<br />

exercício de uma razão que se torna mais<br />

segura e perspicaz com o apoio que<br />

recebe da fé.<br />

(Papa João Paulo II. Carta Encíclica Fides<br />

et Ratio aos bispos da igreja católica sobre as relações<br />

entre fé e razão, 1998)<br />

As verdades da razão natural não<br />

contradizem as verdades da fé cristã.<br />

(São Tomás de Aquino<br />

–pensador medieval)<br />

Refletindo sobre os textos, pode-se<br />

concluir que:<br />

A) a encíclica papal está em contradição<br />

com o pensamento de São Tomás de<br />

Aquino, refletindo a diferença de<br />

épocas.<br />

B) a encíclica papal procura<br />

complementar São Tomás de Aquino,<br />

pois este colocava a razão natural<br />

acima da fé.<br />

C) a Igreja medieval valorizava a razão<br />

mais do que a encíclica de João Paulo<br />

II.<br />

D) o pensamento teológico teve sua<br />

importância na Idade Média, mas, em<br />

nossos dias, não tem relação com o<br />

pensamento filosófico.<br />

E) tanto a encíclica papal como a frase<br />

de São Tomás de Aquino procuram<br />

conciliar os pensamentos sobre fé e<br />

razão.<br />

Comentário<br />

Nessa questão, é necessária uma<br />

releitura do texto para que se tenha uma<br />

melhor compreensão do tema. Tanto a<br />

citação do Papa quanto a de São Tomás de<br />

Aquino tentam criar uma interdependência<br />

entre a ciência e a fé, a religião. O Papa<br />

incentiva aqueles que exercem a pesquisa<br />

científica ou filosófica a manter a fé cristã.<br />

São Tomás de Aquino, por sua vez, equipara<br />

o avanço da ciência ao aumento da própria<br />

fé, afirmando que a razão natural não<br />

contradiz a fé cristã. Se um cresce, cresce<br />

também o outro, em harmonia e sem<br />

contradições. Questão de grau médio.<br />

(Português)<br />

Nessa questão, encontramos dois textos:<br />

o primeiro, do século XX, foi elaborado pelo<br />

Papa João Paulo II; o segundo, do século<br />

XIII, pelo teólogo e filósofo cristão São<br />

Tomás de Aquino. O conteúdo de ambos se<br />

refere à ligação entre fé e razão, a qual<br />

esteve presente na filosofia escolástica da<br />

Idade Média. Esse campo de reflexão buscou<br />

conciliar o cristianismo com o pensamento de<br />

Aristóteles e teve em São Tomás de Aquino<br />

seu maior representante.<br />

Mesmo sem ter todas essas informações,<br />

você poderia responder tranqüilamente à<br />

questão por meio de uma leitura atenta dos<br />

dois textos, chegando à conclusão de que<br />

"tanto a encíclica papal como a frase de São<br />

Tomás de Aquino procuram conciliar os<br />

pensamentos sobre fé e razão". Resposta<br />

correta: alternativa E. (História)<br />

Comentário do INEP<br />

Para resolver esta situação-problema, o<br />

participante deveria mostrar que, além de<br />

interpretar textos, sabe relacioná-los sendo<br />

que, nesse item, essas operações referem-se<br />

a um texto escrito na época medieval e a<br />

outro escrito recentemente.<br />

Mais de 70% dos participantes<br />

demonstraram facilidade em estabelecer esta<br />

relação.<br />

06) (1999) Leia um texto publicado no jornal<br />

Gazeta Mercantil. Esse texto é parte de<br />

um artigo que analisa algumas situações<br />

de crise no mundo, entre elas, a quebra<br />

da Bolsa de Nova Iorque em 1929, e foi<br />

publicado na época de uma iminente crise<br />

financeira no Brasil.<br />

Deu no que deu. No dia 29 de outubro de<br />

1929, uma terça-feira, praticamente não<br />

havia compradores no pregão de Nova<br />

Iorque, só vendedores. Seguiu-se uma<br />

crise incomparável: o Produto Interno<br />

Bruto dos Estados Unidos caiu de <strong>10</strong>4<br />

bilhões de dólares em 1929, para 56<br />

bilhões em 1933, coisa inimaginável em<br />

nossos dias. O valor do dólar caiu a quase<br />

metade. O desemprego elevou-se de 1,5<br />

milhão para 12,5 milhões de trabalhadores<br />

– cerca de 25% da população ativa –<br />

entre 1929 e 1933. A construção civil caiu<br />

90%. Nove milhões de aplicações, tipo<br />

caderneta de poupança, perderam-se com<br />

o fechamento dos bancos. Oitenta e cinco


mil firmas faliram. Houve saques e norteamericanos<br />

que passaram fome.<br />

(Gazeta Mercantil, 05/01/1999)<br />

Ao citar dados referentes à crise ocorrida<br />

em 1929, em um artigo jornalístico atual,<br />

pode-se atribuir ao jornalista a seguinte<br />

intenção:<br />

A) questionar a interpretação da crise.<br />

B) comunicar sobre o desemprego.<br />

C) instruir o leitor sobre aplicações em<br />

bolsa de valores.<br />

D) relacionar os fatos passados e<br />

presentes.<br />

E) analisar dados financeiros americanos.<br />

Comentário<br />

Nessa questão, o que se tem de fazer é<br />

prestar atenção às alternativas das<br />

respostas. Nenhuma delas se apresenta tão<br />

bem contextualizada a uma possível<br />

interpretação quanto a letra D. Partindo-se da<br />

análise do texto, fica claro que a intenção do<br />

artigo é remeter o leitor ao passado para<br />

tentar conduzi-lo a uma reflexão sobre uma<br />

situação presente, não mencionada na<br />

questão. Após a leitura e utilizando-se a já<br />

citada eliminação de questões, torna-se clara<br />

a resposta. Questão de nível médio.<br />

(Português)<br />

Muitas vezes, quando procuramos<br />

entender uma crise econômica ou financeira<br />

de grandes proporções, buscamos<br />

estabelecer relações com crises passadas. O<br />

mesmo ocorre no jornalismo, como prova o<br />

texto encontrado nessa questão. Buscando<br />

entender uma crise ocorrida no início de<br />

1999, o jornalista da Gazeta Mercantil<br />

buscou relacionar a situação dessa época<br />

com a grande crise de 1929 que afetou o<br />

mundo, trazendo desemprego e recessão,<br />

entre tantos outros problemas econômicos e<br />

sociais.<br />

Para responder a essa questão, era<br />

necessário ler atentamente o enunciado, em<br />

que está destacado que "o texto é parte de<br />

um artigo que analisa algumas situações de<br />

crise no mundo" e "foi publicado na época de<br />

uma iminente crise financeira no Brasil". Era<br />

importante também observar a data em que o<br />

artigo foi publicado: 05/01/1999. A partir<br />

dessas constatações, facilmente você<br />

chegaria a conclusão de que a intenção do<br />

jornalista era "relacionar os fatos passados e<br />

presentes". Resposta correta: alternativa D.<br />

(História)<br />

Comentário do INEP<br />

A resolução da questão demandava a<br />

capacidade dos participantes de relacionar<br />

eventos históricos envolvendo crises<br />

econômicas ocorridas em épocas e lugares<br />

distintos. Aproximadamente 2/3 deles<br />

demonstraram essa capacidade. Os demais,<br />

provavelmente, não compreenderam a<br />

exigência expressa no enunciado do<br />

problema – apontar as razões pelas quais um<br />

jornalista traz à tona eventos ocorridos<br />

setenta anos antes –, e apenas interpretaram<br />

o sentido do texto citado, que descreve a<br />

crise mundial de 1929.<br />

07) (2002) O autor da tira utilizou os<br />

princípios de composição de um<br />

conhecido movimento artístico para<br />

representar a necessidade de um mesmo<br />

observador aprender a considerar,<br />

simultaneamente, diferentes pontos de<br />

vista.<br />

Das obras reproduzidas, todas de autoria<br />

do pintor espanhol Pablo Picasso, aquela<br />

em cuja composição foi adotado um<br />

procedimento semelhante é:<br />

A)<br />

B)<br />

243


C)<br />

D)<br />

tinha como procedimento de composição<br />

representar, para um mesmo observador,<br />

diferentes pontos de vista, fazendo com que<br />

"o tradicional único ponto de vista" fosse<br />

abandonado e com que a perspectiva fosse<br />

fraturada. A análise das obras de Picasso<br />

reproduzidas nas alternativas permite que o<br />

participante reconheça a adoção desse<br />

procedimento no quadro "Marie-Thérèse<br />

apoiada no cotovelo" (alternativa E, com 46%<br />

de registros), no qual se pode reconhecer a<br />

representação de diferentes pontos de vista<br />

a partir dos quais é apresentado o rosto da<br />

mulher retratada.<br />

08) (2001) Oxímoro (ou paradoxo) é uma<br />

construção textual que agrupa significados<br />

que se excluem mutuamente. Para<br />

Garfield, a frase de saudação de Jon<br />

(tirinha abaixo) expressa o maior de todos<br />

os oxímoros.<br />

E)<br />

Folha de S. Paulo. 31 de julho de 2000.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. O movimento<br />

artístico que previa considerar<br />

simultaneamente diversos pontos de vista<br />

era o Cubismo. Havia a desconstrução da<br />

forma para que se pudesse ver todos os<br />

ângulos concomitantemente. O único quadro<br />

que apresenta essas características é o da<br />

alternativa E. As outras quatro alternativas<br />

pressupõem a manutenção da forma.<br />

Comentário do INEP<br />

O objetivo desta questão é levar o<br />

participante a refletir sobre características<br />

fundamentais de um movimento artístico – o<br />

cubismo – a partir de dados visuais:<br />

quadrinhos e pinturas. A reprodução de dois<br />

quadrinhos da personagem Calvin forneceu<br />

para o participante informações básicas para<br />

a análise que deveria fazer das alternativas<br />

apresentadas. Segundo os quadrinhos, o<br />

movimento artístico abordado pela questão<br />

Nas alternativas abaixo, estão transcritos<br />

versos retirados do poema “O operário em<br />

construção”. Pode-se afirmar que ocorre<br />

um oxímoro em<br />

A) "Era ele que erguia casas<br />

Onde antes só havia chão."<br />

B) "... a casa que ele fazia<br />

Sendo a sua liberdade<br />

Era a sua escravidão."<br />

C) "Naquela casa vazia<br />

Que ele mesmo levantara<br />

Um mundo novo nascia<br />

De que sequer suspeitava."<br />

D) "... o operário faz a coisa<br />

E a coisa faz o operário."<br />

E) "Ele, um humilde operário<br />

Um operário que sabia<br />

Exercer a profissão."<br />

MORAES, Vinícius de. Antologia Poética. São Paulo:<br />

Companhia das Letras, 1992.<br />

Comentário<br />

Idéias que se completam e se excluem<br />

mutuamente são encontradas na alternativa<br />

B: a casa que ele construía era, ao mesmo<br />

tempo, sua liberdade e sua escravidão.<br />

A casa é um símbolo de liberdade para o<br />

homem. Para o homem operário, é também<br />

símbolo de escravidão, pois ele está<br />

244


"condenado" a jamais usufruir do resultado<br />

do seu trabalho (a casa que faz não é para<br />

ele).<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão propõe ao participante que<br />

estabeleça uma relação entre linguagens,<br />

associando a compreensão de um efeito<br />

semântico produzido pelo uso do oxímoro<br />

nos quadrinhos com o mesmo efeito num<br />

texto poético. O índice (18%) de escolhas da<br />

alternativa D deve-se, possivelmente, a uma<br />

análise parcial da noção de paradoxo,<br />

confundida com inversão.<br />

09) (2005) Cândido Portinari (1903-1962), um<br />

dos mais importantes artistas brasileiros<br />

do século XX, tratou de diferentes<br />

aspectos da nossa realidade em seus<br />

quadros.<br />

Sobre a temática dos “Retirantes”,<br />

Portinari também escreveu o seguinte<br />

poema:<br />

(....)<br />

Os retirantes vêm vindo com trouxas e<br />

embrulhos<br />

Vêm das terras secas e escuras;<br />

pedregulhos<br />

Doloridos como fagulhas de carvão aceso<br />

Corpos disformes, uns panos sujos,<br />

Rasgados e sem cor, dependurados<br />

Homens de enorme ventre bojudo<br />

Mulheres com trouxas caídas para o lado<br />

Pançudas, carregando ao colo um garoto<br />

Choramingando, remelento<br />

(....)<br />

(Cândido Portinari. Poemas. Rio de Janeiro:<br />

J. Olympio, 1964.)<br />

Das quatro obras reproduzidas, assinale<br />

aquelas que abordam a problemática que<br />

é tema do poema.<br />

A) 1 e 2 D) 3 e 4<br />

B) 1 e 3 E) 2 e 4<br />

C) 2 e 3<br />

Comentário<br />

O poema apresenta correspondência com<br />

as imagens ao descrever com detalhes a<br />

figura do retirante: pobre, mal vestido,<br />

carregando trouxas e embrulhos.<br />

<strong>10</strong>) (2002) "A palavra tatuagem é<br />

relativamente recente. Toda a gente sabe<br />

que foi o navegador Cook que a introduziu<br />

no Ocidente, e esse escrevia tattou, termo<br />

da Polinésia de tatou ou tu tahou,<br />

'desenho'.<br />

(...) Desde os mais remotos tempos,<br />

vemo-la a transformar-se: distintivo<br />

honorífico entre uns homens, ferrete de<br />

ignomínia entre outros, meio de assustar o<br />

adversário para os bretões, marca de uma<br />

classe de selvagens das ilhas marquesas<br />

(...) sinal de amor, de desprezo, de ódio<br />

(...). Há três casos de tatuagem no Rio,<br />

completamente diversos na sua<br />

significação moral: os negros,os turcos<br />

com o fundo religioso e o bando de<br />

meretrizes, dos rufiões e dos humildes,<br />

que se marcam por crime ou por<br />

ociosidade".<br />

RIO, João do. Os Tatuadores. Revista Kosmos.<br />

1904, apud: A alma encantadora das ruas,<br />

SP: Cia das Letras, 1999.<br />

Com base no texto são feitas as seguintes<br />

afirmações:<br />

I. João do Rio revela como a tatuagem já<br />

estava presente na cidade do Rio de<br />

Janeiro, pelo menos desde o início do<br />

século XX, e era mais utilizada por<br />

alguns setores da população.<br />

II. A tatuagem, de origem polinésia,<br />

difundiu-se no ocidente com a<br />

característica que permanece até hoje:<br />

utilização entre os jovens com função<br />

estritamente estética.<br />

III. O texto mostra como a tatuagem é<br />

uma prática que se transforma no<br />

tempo e que alcança inúmeros sentidos<br />

nos diversos setores das sociedades e<br />

para as diferentes culturas.<br />

Está correto o que se afirma apenas em<br />

A) I D) I e II<br />

B) II E) I e III<br />

C) III<br />

245


Comentário<br />

Questão de nível fácil. Constata-se o<br />

seguinte: a tatuagem já existia no Brasil no<br />

início do século XX (o texto é de 1904 e parte<br />

dele se refere ao Rio do Janeiro) e era<br />

utilizada em diferentes setores da sociedade.<br />

A afirmação de que as tatuagens possuem<br />

apenas finalidade estética entre os jovens<br />

elimina a segunda alternativa. Já a última<br />

alternativa confirma as transformações das<br />

funções da tatuagem ao longo do tempo nas<br />

mais diversas sociedades e culturas.<br />

Comentário do INEP<br />

O texto estabelece uma relação entre a<br />

atualidade da palavra "tatuagem" e a<br />

antiguidade do uso de desenhos como<br />

pintura corporal. Focaliza uma prática social<br />

bastante difundida que adquiriu aspectos e<br />

conotações diversos nos diferentes contextos<br />

históricos e geográficos em que ela pode ser<br />

descrita. Fazendo a descrição da prática da<br />

tatuagem, como uma manifestação comum a<br />

diferentes culturas, e que adquire, inclusive,<br />

significados diferentes dentro de uma mesma<br />

cultura, induz o participante a refletir sobre a<br />

"diversidade dos patrimônios etnoculturais e<br />

artísticos", contextualizando ao mesmo<br />

tempo seus significados "em diferentes<br />

sociedades, épocas e lugares". Ao retomar<br />

as várias origens e usos da tatuagem, o<br />

participante é levado a compreender e<br />

respeitar uma gramática histórica dos<br />

costumes marcada sempre por semelhanças<br />

e diferenças. A questão não exigia, portanto,<br />

nenhum conhecimento prévio sobre as<br />

diferentes formas de manifestação dessa<br />

prática, mas simplesmente constatar, com o<br />

autor do texto citado, a historicidade e a<br />

diversidade das práticas sociais. Os<br />

participantes que assinalaram a alternativa C<br />

(36%), possivelmente, não levaram em<br />

consideração informações do texto. A<br />

questão foi corretamente respondida por 37%<br />

dos participantes.<br />

11) (2003) Eu começaria dizendo que poesia<br />

é uma questão de linguagem. A<br />

importância do poeta é que ele torna mais<br />

viva a linguagem. Carlos Drummond de<br />

Andrade escreveu um dos mais belos<br />

versos da língua portuguesa com duas<br />

palavras comuns: cão e cheirando.<br />

Um cão cheirando o futuro<br />

(Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP, 24/05/1988.<br />

adaptação)<br />

246<br />

O que deu ao verso de Drummond o<br />

caráter de inovador da língua foi<br />

A) o modo raro como foi tratado o<br />

"futuro".<br />

B) a referência ao cão como "animal de<br />

estimação".<br />

C) a flexão pouco comum do verbo<br />

"cheirar" (gerúndio).<br />

D) a aproximação não usual do agente<br />

citado e a ação de "cheirar".<br />

E) o emprego do artigo indefinido "um" e<br />

do artigo definido "o" na mesma frase.<br />

Comentário<br />

O fato de Drummond identificar o futuro<br />

como algo que pode ser percebido por um<br />

animal irracional por meio do olfato foi<br />

inovador. A figura de linguagem foi<br />

construída metaforicamente: o futuro torna-se<br />

uma coisa que tem cheiro, contrariamente à<br />

imagem pela qual ele normalmente é<br />

representado: como algo que não se vê e<br />

não se pode pressentir ou tocar.<br />

12) (2003) Pequenos tormentos da vida<br />

De cada lado da sala de aula, pelas janelas<br />

altas, o azul convida os meninos,<br />

as nuvens desenrolam-se, lentas como quem<br />

vai inventando<br />

preguiçosamente uma história sem fim...Sem<br />

fim é a aula: e nada acontece,<br />

nada...Bocejos e moscas. Se ao menos,<br />

pensa Margarida, se ao menos um<br />

avião entrasse por uma janela e saísse por<br />

outra!<br />

(Mário Quintana. Poesias)<br />

Na cena retratada no texto, o sentimento<br />

do tédio<br />

A) provoca que os meninos fiquem<br />

contando histórias.<br />

B) leva os alunos a simularem bocejos,<br />

em protesto contra a monotonia da<br />

aula.<br />

C) acaba estimulando a fantasia,<br />

criando a expectativa de algum<br />

imprevisto mágico.<br />

D) prevalece de modo absoluto,<br />

impedindo até mesmo a distração ou o<br />

exercício do pensamento.<br />

E) decorre da morosidade da aula, em<br />

contraste com o movimento acelerado<br />

das nuvens e das moscas.<br />

Comentário<br />

Essa questão aborda o imaginário<br />

decorrente do marasmo trazido pela escola.<br />

O texto enfatiza o arrastar do tempo na<br />

mente de uma aluna, Margarida, que se põe<br />

a pensar em fatos mágicos ou imaginários<br />

que pudessem romper com a lentidão da<br />

aula.


13) (2000) O autor do texto abaixo critica,<br />

ainda que em linguagem metafórica, a<br />

sociedade contemporânea em relação aos<br />

seus hábitos alimentares.<br />

“Vocês que têm mais de 15 anos, se<br />

lembram quando a gente comprava leite<br />

em garrafa, na leiteria da esquina? (...)<br />

Mas vocês não se lembram de nada,<br />

pô! Vai ver nem sabem o que é vaca. Nem<br />

o que é leite. Estou falando isso porque<br />

agora mesmo peguei um pacote de leite –<br />

leite em pacote, imagina, Tereza! – na<br />

porta dos fundos e estava escrito que é<br />

pasterizado, ou pasteurizado, sei lá, tem<br />

vitamina, é garantido pela<br />

embromatologia, foi enriquecido e o<br />

escambau. Será que isso é mesmo leite?<br />

No dicionário diz que leite é outra coisa:<br />

‘Líquido branco, contendo água,<br />

proteína, açúcar e sais minerais’. Um<br />

alimento pra ninguém botar defeito. O ser<br />

humano o usa há mais de 5.000 anos. É o<br />

único alimento só alimento. A carne serve<br />

pro animal andar, a fruta serve pra fazer<br />

outra fruta, o ovo serve pra fazer outra<br />

galinha (...) O leite é só leite. Ou toma ou<br />

bota fora. Esse aqui examinando bem, é<br />

só pra botar fora. Tem chumbo, tem<br />

benzina, tem mais água do que leite, tem<br />

serragem, sou capaz de jurar que nem<br />

vaca tem por trás desse negócio. Depois o<br />

pessoal ainda acha estranho que os<br />

meninos não gostem de leite.<br />

Mas, como não gostam? Não gostam<br />

como? Nunca tomaram! Múúúúúúú!”<br />

(FERNANDES, Millôr. O Estado de S. Paulo ,<br />

22 de agosto de 1999)<br />

A palavra embromatologia usada pelo<br />

autor é:<br />

A) um termo científico que significa estudo<br />

dos bromatos.<br />

B) uma composição do termo de gíria<br />

“embromação” (enganação) com<br />

bromatologia, que é o estudo dos<br />

alimentos.<br />

C) uma junção do termo de gíria<br />

“embromação” (enganação) com<br />

lactologia, que é o estudo das<br />

embalagens para leite.<br />

D) um neologismo da química orgânica<br />

que significa a técnica de retirar<br />

bromatos dos laticínios.<br />

E) uma corruptela de termo da<br />

agropecuária que significa a ordenha<br />

mecânica.<br />

Comentário<br />

É necessário para a resolução desta<br />

questão:<br />

- perceber que o texto critica o exagerado<br />

uso de substâncias artificiais nos<br />

alimentos;<br />

- conhecer o significado da gíria embromar e<br />

da palavra bromatologia.<br />

Conhecendo esses significados, você<br />

elimina todas as alternativas erradas: a, c, d<br />

e e.<br />

Você poderá ter dúvida quanto à<br />

alternativa c, que também será eliminada se<br />

souber o significado da palavra lactologia,<br />

que é o estudo do leite e produtos lácteos e<br />

não das embalagens para leite.<br />

Nesta questão, são trabalhados os<br />

conceitos de interpretação de texto, formação<br />

de palavras e conhecimentos gerais.<br />

Comentário do INEP<br />

A resolução da questão requeria que o<br />

participante, ao ler o texto vinculasse o<br />

significado de um termo de gíria -<br />

"embromação" - com o da palavra<br />

bromatologia. A resposta correta exigia que o<br />

participante não abrisse mão do sabor<br />

picante contido na linguagem metafórica,<br />

sabor vinculado ao conhecimento específico<br />

contido na palavra bromatologia. Cerca da<br />

metade dos participantes (51%) optou pela<br />

alternativa correta e, os 20% que escolheram<br />

a alternativa C, provavelmente associaram a<br />

referência feita no texto à leite em pacote.<br />

14) (2008) Os signos visuais, como meios de<br />

comunicação, são classificados em<br />

categorias de acordo com seus<br />

significados.<br />

A categoria denominada indício<br />

corresponde aos signos visuais que têm<br />

origem em formas ou situações naturais<br />

ou casuais, as quais, devido à ocorrência<br />

em circunstâncias idênticas, muitas vezes<br />

repetidas, indicam algo e adquirem<br />

significado. Por exemplo, nuvens negras<br />

indicam tempestade. Com base nesse<br />

conceito, escolha a opção que representa<br />

um signo da categoria dos indícios.<br />

A)<br />

247


B)<br />

C)<br />

D)<br />

Entre os seguintes ditos populares, qual<br />

deles melhor corresponde à figura<br />

acima?<br />

A) Com perseverança, tudo se alcança.<br />

B) Cada macaco no seu galho.<br />

C) Nem tudo que balança cai.<br />

D) Quem tudo quer, tudo perde.<br />

E) Deus ajuda quem cedo madruga.<br />

Comentário<br />

Assim como a questão 37, esta também<br />

envolve interpretação de signos, ou seja, o<br />

aluno precisa estar atento à imagem e<br />

relacioná-la ao dito popular correspondente.<br />

A alternativa "A" é a correta, pois, para<br />

uma lesma “grudenta” e vagarosa conseguir<br />

pular numa cama elástica, é necessária<br />

muita perseverança.<br />

16) (2005) Leia estes textos.<br />

Texto 1<br />

E)<br />

Comentário<br />

Trata-se de uma questão interpretativa. O<br />

aluno precisa entender o que é “indício” para<br />

respondê-la. Segundo o dicionário Aurélio,<br />

indício é o mesmo que “sinal, vestígio,<br />

indicação”. Das figuras apresentadas,<br />

apenas a alternativa B indica algo: a<br />

passagem de alguém por algum lugar —<br />

pegada.<br />

15) (2008)<br />

Texto 2<br />

Sonhar<br />

Mais um sonho impossível<br />

Lutar<br />

Quando é fácil ceder<br />

Vencer o inimigo invencível<br />

Negar quando a regra é vender<br />

Sofrer a tortura implacável<br />

Romper a incabível prisão<br />

Voar num limite improvável<br />

Tocar o inacessível chão<br />

É minha lei, é minha questão<br />

Virar esse mundo<br />

Cravar esse chão<br />

Não me importa saber<br />

Se é terrível demais<br />

Quantas guerras terei que vencer<br />

Por um pouco de paz<br />

E amanhã se esse chão que eu beijei<br />

For meu leito e perdão<br />

Vou saber que valeu delirar<br />

E morrer de paixão<br />

E assim, seja lá como for<br />

Vai ter fim a infinita aflição<br />

E o mundo vai ver uma flor<br />

Brotar do impossível chão.<br />

(J. Darione – M. Leigh – Versão de Chico Buarque de<br />

Hollanda e Ruy Guerra, 1972.)<br />

Exame, 28/9/2007.<br />

248


A tirinha e a canção apresentam uma<br />

reflexão sobre o futuro da humanidade. É<br />

correto concluir que os dois textos<br />

A) afirmam que o homem é capaz de<br />

alcançar a paz.<br />

B) concordam que o desarmamento é<br />

inatingível.<br />

C) julgam que o sonho é um desafio<br />

invencível.<br />

D) têm visões diferentes sobre um<br />

possível mundo melhor.<br />

E) transmitem uma mensagem de<br />

otimismo sobre a paz.<br />

Comentário<br />

Enquanto o primeiro texto é ácido em<br />

relação à possibilidade de desarmamento da<br />

população (ou seja, à criação de uma<br />

sociedade mais pacífica), o segundo mostra<br />

a capacidade que a humanidade tem de crer<br />

e, por isso, tentar fazer até o que a princípio<br />

parece impossível. Para os autores da<br />

canção, nada é intrinsecamente impossível.<br />

A relação entre eles é de oposição:<br />

descrença x crença. Questão de nível de<br />

dificuldade médio.<br />

17) (2000) As histórias em quadrinhos, por<br />

vezes, utilizam animais como<br />

personagens e a eles atribuem<br />

comportamento humano. O gato Garfield<br />

é exemplo desse fato.<br />

C) defende que para ser pintor a pessoa<br />

tem de sofrer.<br />

D) conhece a história de um pintor<br />

famoso e faz uso da ironia.<br />

E) acredita que seu dono tenha tendência<br />

artística e, por isso, faz a sugestão.<br />

Comentário<br />

Outra questão de interpretação de texto.<br />

Muito simples para quem um dia ouviu falar<br />

de Van Gogh, e simplíssima para aqueles<br />

que prestam atenção em todos os elementos<br />

do enunciado. Afinal, quem deu uma<br />

espiadinha na legenda do quadro de Van<br />

Gogh matou na hora a questão.<br />

Esta questão é daquelas rápidas de serem<br />

resolvidas, associando-se os elementos<br />

apresentados.<br />

Comentário do INEP<br />

A significativa maioria (81%) dos<br />

participantes soube perceber o caráter<br />

irônico da fala do Garfield, expressa no<br />

terceiro quadrinho porque, ou conheciam a<br />

história de Van Gogh, ou apropriaram-se<br />

corretamente da informação sobre esse<br />

pintor, fornecida no enunciado.<br />

18) (2004)<br />

Fonte: Caderno Vida e Arte, Jornal do Povo, Fortaleza<br />

Van Gogh, pintor holandês nascido em<br />

1853, é um dos principais nomes da<br />

pintura mundial. É dele o quadro abaixo.<br />

Auto-retrato de orelha cortada<br />

O 3º quadrinho sugere que Garfield:<br />

A) desconhece tudo sobre arte, por isso<br />

faz a sugestão.<br />

B) acredita que todo pintor deve fazer algo<br />

diferente.<br />

A tira "Hagar" e o poema de Alberto<br />

Caeiro (um dos heterônimos de Fernando<br />

Pessoa) expressam, com linguagens<br />

diferentes, uma mesma idéia: a de que a<br />

compreensão que temos do mundo é<br />

condicionada, essencialmente,<br />

A) pelo alcance de cada cultura.<br />

B) pela capacidade visual do observador.<br />

C) pelo senso de humor de cada um.<br />

D) pela idade do observador.<br />

E) pela altura do ponto de observação.<br />

Comentário<br />

Questão reflexiva sobre a forma como<br />

cada cultura vê o mundo sob a ótica dos<br />

limites dados pelos seus costumes e<br />

possibilidades de pensamento inerentes a<br />

cada modelo cultural. A mistura de uma tira e<br />

249


de um poema amplia a possibilidade de<br />

pensamento por trabalhar com linguagens<br />

diferentes. A alternativa correta é a letra A,<br />

pois ambos (tira e poema) utilizam figuras de<br />

linguagem (metáfora e ironia) para expressar<br />

as diferentes visões de mundo.<br />

19) (2002)<br />

250<br />

De acordo com a história em quadrinhos<br />

protagonizada por Hagar e seu filho<br />

Hamlet, pode-se afirmar que a postura de<br />

Hagar<br />

A) valoriza a existência da diversidade<br />

social e de culturas, e as várias<br />

representações e explicações desse<br />

universo.<br />

B) desvaloriza a existência da<br />

diversidade social e as várias culturas,<br />

e determina uma única explicação para<br />

esse universo.<br />

C) valoriza a possibilidade de explicar as<br />

sociedades e as culturas a partir de<br />

várias visões de mundo.<br />

D) valoriza a pluralidade cultural e social<br />

ao aproximar a visão de mundo de<br />

navegantes e não-navegantes.<br />

E) desvaloriza a pluralidade cultural e<br />

social, ao considerar o mundo habitado<br />

apenas pelos navegantes.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. Hagar reduz o<br />

mundo a dois tipos de pessoas: navegantes<br />

e não-navegantes. No último quadrinho, diz<br />

que são os navegantes que estabelecem<br />

esses dois grupos. Portanto, quem é<br />

diferente dos navegantes (que estabelecem<br />

o padrão) simplesmente é incluído na massa<br />

única dos não-navegantes. Não importa<br />

quem ou quantos sejam, sua diversidade<br />

social ou cultural em relação aos navegantes<br />

ou entre si. Vemos aí a desvalorização de<br />

outras culturas.<br />

Comentário do INEP<br />

Dentre as habilidades básicas para a<br />

compreensão de um texto destaca-se a<br />

capacidade do leitor de identificar os<br />

pressupostos de cada afirmação que lhe é<br />

apresentada. Nesta questão o participante<br />

deve identificar a posição tanto de Hagar<br />

como de seu filho Hamlet e, em seguida,<br />

avaliar quais os argumentos que justificam a<br />

opinião de Hagar ao definir que no mundo só<br />

existem dois tipos de pessoas. A pergunta de<br />

Hamlet a seu pai explicita a importância do<br />

ato de narrar através do diálogo e do efeito<br />

humorístico contido no episódio representado<br />

na tira. O resultado da compreensão<br />

acertada do diálogo é que o narrador torna<br />

inteligível, para si e para os outros, a lógica<br />

do seu pensamento através do diálogo entre<br />

os dois personagens. É importante observar<br />

que o humor do personagem Hagar é<br />

identificado na postura simetricamente<br />

oposta à de Michel de Montaigne, por<br />

exemplo (ver questão 58): a sua visão de<br />

mundo apresenta-se autocentrada, isto é,<br />

centrada nos seus próprios valores (vikings).<br />

A habilidade requerida do participante nessa<br />

questão, qual seja, "valorizar a diversidade<br />

dos patrimônios etnoculturais", é mobilizada<br />

aqui na sua dimensão negativa: é criticando<br />

a postura chauvinista de Hagar que o<br />

participante é capaz de responder<br />

corretamente a questão. A última alternativa<br />

(E) funciona como um distrator, pois neste<br />

caso não está suposta a crítica do discurso<br />

do personagem. Cerca de um terço dos<br />

participantes assinalou a alternativa correta<br />

B. As demais opções são devidas,<br />

possivelmente, a uma leitura pouco<br />

compreensiva das alternativas associadas a<br />

história em quadrinhos.<br />

COMPETÊNCIA DE ÁREA 6<br />

H18 - Identificar os elementos<br />

que concorrem para a<br />

progressão temática e para a<br />

organização e estruturação de<br />

textos de diferentes gêneros e<br />

tipos.<br />

01) (2001) O mundo é grande<br />

O mundo é grande e cabe<br />

Nesta janela sobre o mar.<br />

O mar é grande e cabe<br />

Na cama e no colchão de amar.<br />

O amor é grande e cabe<br />

No breve espaço de beijar.<br />

ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e prosa.<br />

Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983.<br />

Neste poema, o poeta realizou uma opção<br />

estilística: a reiteração de determinadas<br />

construções e expressões lingüísticas,<br />

como o uso da mesma conjunção para


estabelecer a relação entre as frases.<br />

Essa conjunção estabelece, entre as<br />

idéias relacionadas, um sentido de<br />

A) oposição.<br />

B) comparação.<br />

C) conclusão.<br />

D) alternância.<br />

E) finalidade.<br />

Comentário<br />

Há três elementos repetidos neste trecho:<br />

o verbo ser, o artigo definido o e a conjunção<br />

aditiva e. A conjunção e estabelece uma<br />

relação entre idéias que, concretamente, são<br />

opostas (ex.: "O mundo é grande e cabe<br />

nesta janela sobre o mar"). A alternativa<br />

correta é a letra A.<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão apresenta, para leitura e<br />

análise, o poema "O mundo é grande", onde<br />

os recursos lingüísticos expressivos<br />

utilizados geram um efeito de oposição entre<br />

as idéias. A análise sintático-semântica é<br />

necessária para a compreensão do valor de<br />

oposição assumido pela conjunção "e":<br />

imagens justapostas estão relacionadas,<br />

contrapondo-se em planos diferentes. Um<br />

percentual significativo (46%) de<br />

participantes considerou que o valor da<br />

conjunção "e", nesse poema, é de<br />

comparação, o que não reflete o sentido<br />

estilístico proposto pelo poeta, mas<br />

corresponde apenas à primeira operação que<br />

se realiza para estabelecer o sentido de<br />

oposição. De maneira análoga, pode-se<br />

analisar os equívocos daqueles que optaram<br />

pelas alternativas C e D.<br />

02) (1999) SONETO DE FIDELIDADE<br />

De tudo, ao meu amor serei atento<br />

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto<br />

Que mesmo em face do maior encanto<br />

Dele se encante mais meu pensamento.<br />

Quero vivê-lo em cada vão momento<br />

E em seu louvor hei de espalhar meu<br />

canto<br />

E rir meu riso e derramar meu pranto<br />

Ao seu pesar ou seu contentamento.<br />

E assim, quando mais tarde me procure<br />

Quem sabe a morte, angústia de quem<br />

vive<br />

Quem sabe a solidão, fim de quem ama.<br />

Eu possa dizer do meu amor (que tive):<br />

Que não seja imortal, posto que é chama<br />

Mas que seja infinito enquanto dure.<br />

(MORAES, Vinícius de. Antologia poética. São Paulo: Cia<br />

das Letras, 1992).<br />

A palavra mesmo pode assumir diferentes<br />

significados, de acordo com a sua função<br />

na frase. Assinale a alternativa em que o<br />

sentido de mesmo equivale ao que se<br />

verifica no 3º verso da 1ª estrofe do<br />

poema de Vinícius de Moraes.<br />

A) "Pai, para onde fores, / irei também<br />

trilhando as mesmas ruas..." (Augusto<br />

dos Anjos)<br />

B) "Agora, como outrora, há aqui o<br />

mesmo contraste da vida interior, que<br />

é modesta, com a exterior, que é<br />

ruidosa." (Machado de Assis)<br />

C) "Havia o mal, profundo e persistente,<br />

para o qual o remédio não surtiu efeito,<br />

mesmo em doses variáveis."<br />

(Raimundo Faoro)<br />

D) "Mas, olhe cá, Mana Glória, há<br />

mesmo necessidade de fazê-lo<br />

padre?" (Machado de Assis)<br />

E) "Vamos de qualquer maneira, mas<br />

vamos mesmo." (Aurélio)<br />

Comentário<br />

Nessa questão, uma pequena análise<br />

sintática se faz necessária: mesmo, em<br />

ambos os casos, é conjunção subordinativa<br />

concessiva, introduzindo, portanto, uma<br />

oração subordinada cujo fato expresso é<br />

contrário ao da oração principal. Deve-se,<br />

então, recorrer à oração anterior para se ter<br />

certeza quanto à classificação. Grau<br />

moderado de dificuldade.<br />

Comentário do INEP<br />

Este problema buscou colocar o<br />

participante diante de uma situação que<br />

exigia a mobilização de seus mecanismos de<br />

reflexão sobre os processos lingüísticos em<br />

que um significante (uma palavra) assume<br />

diferentes significados, no enunciado, de<br />

acordo com a intenção do enunciador. Neste<br />

caso, além da compreensão da<br />

transformação de significado, é necessária a<br />

alteração de função morfossintática.<br />

Verifica-se que 62% dos participantes<br />

conseguiram identificar e analisar esse<br />

processo lingüístico, comparando a função<br />

do significante em diferentes enunciados.<br />

Isso demonstrou um domínio parcial da<br />

reflexão sobre a Língua Portuguesa, em<br />

diferentes contextos e textos.<br />

Os 18% dos participantes que<br />

assinalaram a alternativa B identificaram a<br />

diferença de significados mas,<br />

provavelmente, têm dificuldades em analisar<br />

estas mudanças em nível morfossintático<br />

(alternativa B).<br />

251


03) ( 2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />

poema.<br />

A DANÇA E A ALMA<br />

A DANÇA? Não é movimento,<br />

súbito gesto musical.<br />

É concentração, num momento,<br />

da humana graça natural.<br />

No solo não, no éter pairamos,<br />

nele amaríamos ficar.<br />

A dança – não vento nos ramos:<br />

seiva, força, perene estar.<br />

Um estar entre céu e chão,<br />

novo domínio conquistado,<br />

onde busque nossa paixão<br />

libertar-se por todo lado...<br />

Onde a alma possa descrever<br />

suas mais divinas parábolas<br />

sem fugir à forma do ser,<br />

por sobre o mistério das fábulas.<br />

(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />

Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />

A definição de dança, em linguagem de<br />

dicionário, que mais se aproxima do que<br />

está expresso no poema é<br />

A) a mais antiga das artes, servindo como<br />

elemento de comunicação e afirmação<br />

do homem em todos os momentos de<br />

sua existência.<br />

B) a forma de expressão corporal que<br />

ultrapassa os limites físicos,<br />

possibilitando ao homem a liberação de<br />

seu espírito.<br />

C) a manifestação do ser humano,<br />

formada por uma seqüência de gestos,<br />

passos e movimentos desconcertados.<br />

D) o conjunto organizado de movimentos<br />

do corpo, com ritmo determinado por<br />

instrumentos musicais, ruídos, cantos,<br />

emoções etc.<br />

E) o movimento diretamente ligado ao<br />

psiquismo do indivíduo e, por<br />

conseqüência, ao seu desenvolvimento<br />

intelectual e à sua cultura.<br />

Comentário<br />

A pergunta busca a aplicação do conceito<br />

de "estado de dicionário" (que também foi<br />

desenvolvido por Drummond no poema "A<br />

Procura da Poesia"). A literatura busca partir<br />

de palavras em estado de dicionário para,<br />

pelo aprofundamento do sentido delas, criar<br />

um mundo mais denso e particular. Em<br />

estado de dicionário, a dança, conforme é<br />

tratada nesse poema, apareceria na<br />

alternativa B: uma justaposição entre<br />

aspectos físicos e espirituais da expressão<br />

humana. Questão complexa.<br />

04) (2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />

poema.<br />

A DANÇA E A ALMA<br />

A DANÇA? Não é movimento,<br />

súbito gesto musical.<br />

É concentração, num momento,<br />

da humana graça natural.<br />

No solo não, no éter pairamos,<br />

nele amaríamos ficar.<br />

A dança – não vento nos ramos:<br />

seiva, força, perene estar.<br />

Um estar entre céu e chão,<br />

novo domínio conquistado,<br />

onde busque nossa paixão<br />

libertar-se por todo lado...<br />

Onde a alma possa descrever<br />

suas mais divinas parábolas<br />

sem fugir à forma do ser,<br />

por sobre o mistério das fábulas.<br />

(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />

Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />

O poema “A Dança e a Alma” é construído<br />

com base em contrastes, como<br />

“movimento” e “concentração”. Em uma<br />

das estrofes, o termo que estabelece<br />

contraste com solo é:<br />

A) éter. D) paixão.<br />

B) seiva. E) ser.<br />

C) chão.<br />

Comentário<br />

O elemento que contrasta com "solo"<br />

(físico, tangível, perene) é "éter" (espiritual,<br />

intangível, volátil). Questão de nível médio de<br />

dificuldade.<br />

05) ( 2008) O surgimento da figura da Ema<br />

no céu, ao leste, no anoitecer, na segunda<br />

quinzena de junho, indica o início do<br />

inverno para os índios do sul do Brasil e o<br />

começo da estação seca para os do norte.<br />

É limitada pelas constelações de<br />

Escorpião e do Cruzeiro do Sul, ou<br />

Cut'uxu. Segundo o mito guarani, o<br />

Cut’uxu segura a cabeça da ave para<br />

garantir a vida na Terra, porque, se ela se<br />

soltar, beberá toda a água do nosso<br />

planeta. Os tupisguaranis utilizam o<br />

Cut'uxu para se orientar e determinar a<br />

duração das noites e as estações do ano.<br />

A ilustração a seguir é uma representação<br />

dos corpos celestes que constituem a<br />

constelação da Ema, na percepção<br />

indígena.<br />

252


Almanaque BRASIL, maio/2007 (com adaptações).<br />

A próxima figura mostra, em campo de<br />

visão ampliado, como povos de culturas<br />

não-indígenas percebem o espaço estelar<br />

em que a Ema é vista.<br />

Internet: (com adaptações).<br />

Assinale a opção correta a respeito da<br />

linguagem empregada no texto A Ema.<br />

A) A palavra Cut’uxu é um regionalismo<br />

utilizado pelas populações próximas às<br />

aldeias indígenas.<br />

B) O autor se expressa em linguagem<br />

formal em todos os períodos do texto.<br />

C) A ausência da palavra Ema no início do<br />

período “É limitada (...)” caracteriza<br />

registro oral.<br />

D) A palavra Cut’uxu está destacada em<br />

itálico porque integra o vocabulário da<br />

linguagem informal.<br />

E) No texto, predomina a linguagem<br />

coloquial porque ele consta de um<br />

almanaque.<br />

Comentário<br />

A questão é simples, mas requer cuidados<br />

quanto aos conceitos de linguagem<br />

“informal”, “formal” e de “língua”. Se o aluno<br />

tiver noção desses conceitos,<br />

chegará facilmente à resposta. A linguagem<br />

formal ou culta prevalece no texto, e o termo<br />

“Cut’uxu’ não é um termo informal, mas, sim,<br />

uma expressão que pertence a uma língua<br />

indígena — o que justifica o emprego da<br />

palavra em itálico. A resposta correta é,<br />

portanto, a letra "B".<br />

06) (2008) Calcula-se que 78% do<br />

desmatamento na Amazônia tenha sido<br />

motivado pela pecuária — cerca de 35%<br />

do rebanho nacional está na região — e<br />

que pelo menos 50 milhões de hectares<br />

de pastos são pouco produtivos. Enquanto<br />

o custo médio para aumentar a<br />

produtividade de 1 hectare de pastagem é<br />

de 2 mil reais, o custo para derrubar igual<br />

área de floresta é estimado em 800 reais,<br />

o que estimula novos desmatamentos.<br />

Adicionalmente, madeireiras retiram as<br />

árvores de valor comercial que foram<br />

abatidas para a criação de pastagens. Os<br />

pecuaristas sabem que problemas<br />

ambientais como esses podem provocar<br />

restrições à pecuária nessas áreas, a<br />

exemplo do que ocorreu em 2006 com o<br />

plantio da soja, o qual, posteriormente, foi<br />

proibido em áreas de floresta.<br />

Época, 3/3/2008 e 9/6/2008 (com adaptações).<br />

A partir da situação-problema descrita,<br />

conclui-se que<br />

A) o desmatamento na Amazônia decorre<br />

principalmente da exploração ilegal de<br />

árvores de valor comercial.<br />

B) um dos problemas que os pecuaristas<br />

vêm enfrentando na Amazônia é a<br />

proibição do plantio de soja.<br />

C) a mobilização de máquinas e de força<br />

humana torna o desmatamento mais<br />

caro que o aumento da produtividade<br />

de pastagens.<br />

D) o superavit comercial decorrente da<br />

exportação de carne produzida na<br />

Amazônia compensa a possível<br />

degradação ambiental.<br />

E) a recuperação de áreas desmatadas<br />

e o aumento de produtividade das<br />

pastagens podem contribuir para a<br />

redução do desmatamento na<br />

Amazônia.<br />

Comentário do portal<br />

Essa questão retrata o problema do<br />

desmatamento da Amazônia, relacionado<br />

principalmente com o desenvolvimento da<br />

pecuária na região. Para resolvê-la, foram<br />

necessários a leitura atenta do texto e o<br />

conhecimento sobre os problemas<br />

ambientais da atualidade. A alternativa<br />

correta é a letra E, pois é mais caro para os<br />

pecuaristas aumentar a produtividade do que<br />

as áreas de pasto, o que acarreta o aumento<br />

do desmatamento da Amazônia.<br />

253


07) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />

preciso, além de conhecer o padrão<br />

formal da Língua Portuguesa, saber<br />

adequar o uso da linguagem ao contexto<br />

discursivo. Para exemplificar este fato,<br />

seu professor de Língua Portuguesa<br />

convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />

Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />

brinca com situações de discurso oral que<br />

fogem à expectativa do ouvinte.<br />

Aí, Galera<br />

Jogadores de futebol podem ser<br />

vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />

você pode imaginar um jogador de futebol<br />

dizendo "estereotipação"? E, no<br />

entanto, por que não?<br />

- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />

galera.<br />

- Minha saudação aos aficionados do<br />

clube e aos demais esportistas, aqui<br />

presentes ou no recesso dos seus lares.<br />

- Como é?<br />

- Aí, galera.<br />

- Quais são as instruções do técnico?<br />

- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />

trabalho de contenção coordenada, com<br />

energia otimizada, na zona de<br />

preparação, aumentam as<br />

probabilidades de, recuperado o<br />

esférico, concatenarmos um contragolpe<br />

agudo com parcimônia de meios e<br />

extrema objetividade, valendo-nos da<br />

desestruturação momentânea do<br />

sistema oposto, surpreendido pela<br />

reversão inesperada do fluxo da ação:<br />

- Ahn?<br />

- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />

pegá eles sem calça.<br />

- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />

coisa?<br />

- Posso dirigir uma mensagem de<br />

caráter sentimental, algo banal, talvez<br />

mesmo previsível e piegas, a uma<br />

pessoa à qual sou ligado por razões,<br />

inclusive, genéticas?<br />

- Pode.<br />

- Uma saudação para a minha<br />

progenitora.<br />

- Como é?<br />

- Alô, mamãe!<br />

- Estou vendo que você é um, um...<br />

- Um jogador que confunde o<br />

entrevistador, pois não corresponde à<br />

expectativa de que o atleta seja um ser<br />

algo primitivo com dificuldade de<br />

expressão e assim sabota a<br />

estereotipação?<br />

- Estereoquê?<br />

254<br />

- Um chato?<br />

- Isso.<br />

Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />

O texto retrata duas situações<br />

relacionadas que fogem à expectativa do<br />

público. São elas:<br />

A) a saudação do jogador aos fãs do<br />

clube, no início da entrevista, e a<br />

saudação final dirigida à sua mãe.<br />

B) a linguagem muito formal do jogador,<br />

inadequada à situação da entrevista, e<br />

um jogador que fala, com desenvoltura,<br />

de modo muito rebuscado.<br />

C) o uso da expressão "galera", por parte<br />

do entrevistador, e da expressão<br />

"progenitora", por parte do jogador.<br />

D) o desconhecimento, por parte do<br />

entrevistador, da palavra<br />

"estereotipação", e a fala do jogador<br />

em "é pra dividir no meio e ir pra cima<br />

pra pegá eles sem calça".<br />

E) o fato de os jogadores de futebol serem<br />

vítimas de estereotipação e o jogador<br />

entrevistado não corresponder ao<br />

estereótipo.<br />

Comentário<br />

Quando pensamos em certas profissões,<br />

imaginamos qual seria o padrão de<br />

comportamento de quem as exerce. O texto<br />

está trabalhando uma divergência entre o<br />

que esperamos de um jogador de futebol (o<br />

estereótipo que temos dele) e um jogador<br />

que não se enquadra em nossas<br />

expectativas. Levando isso em consideração,<br />

as duas coisas que destoam do que<br />

esperamos encontrar nessa situação são: 1)<br />

alguém, ao dar uma entrevista de alto<br />

alcance popular, fala de maneira<br />

extremamente rebuscada; 2) um jogador que,<br />

ao falar de maneira rebuscada, acaba por<br />

fugir do estereótipo do jogador de futebol, de<br />

quem sempre é esperado algo menos<br />

rebuscado e mais popular.<br />

08) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />

preciso, além de conhecer o padrão<br />

formal da Língua Portuguesa, saber<br />

adequar o uso da linguagem ao contexto<br />

discursivo. Para exemplificar este fato,<br />

seu professor de Língua Portuguesa<br />

convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />

Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />

brinca com situações de discurso oral que<br />

fogem à expectativa do ouvinte.


Aí, Galera<br />

Jogadores de futebol podem ser<br />

vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />

você pode imaginar um jogador de futebol<br />

dizendo "estereotipação"? E, no<br />

entanto, por que não?<br />

- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />

galera.<br />

- Minha saudação aos aficionados do<br />

clube e aos demais esportistas, aqui<br />

presentes ou no recesso dos seus lares.<br />

- Como é?<br />

- Aí, galera.<br />

- Quais são as instruções do técnico?<br />

- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />

trabalho de contenção coordenada, com<br />

energia otimizada, na zona de<br />

preparação, aumentam as<br />

probabilidades de, recuperado o<br />

esférico, concatenarmos um contragolpe<br />

agudo com parcimônia de meios e<br />

extrema objetividade, valendo-nos da<br />

desestruturação momentânea do<br />

sistema oposto, surpreendido pela<br />

reversão inesperada do fluxo da ação:<br />

- Ahn?<br />

- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />

pegá eles sem calça.<br />

- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />

coisa?<br />

- Posso dirigir uma mensagem de<br />

caráter sentimental, algo banal, talvez<br />

mesmo previsível e piegas, a uma<br />

pessoa à qual sou ligado por razões,<br />

inclusive, genéticas?<br />

- Pode.<br />

- Uma saudação para a minha<br />

progenitora.<br />

- Como é?<br />

- Alô, mamãe!<br />

- Estou vendo que você é um, um...<br />

- Um jogador que confunde o<br />

entrevistador, pois não corresponde à<br />

expectativa de que o atleta seja um ser<br />

algo primitivo com dificuldade de<br />

expressão e assim sabota a<br />

estereotipação?<br />

- Estereoquê?<br />

- Um chato?<br />

- Isso.<br />

Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />

O texto mostra uma situação em que a<br />

linguagem usada é inadequada ao<br />

contexto. Considerando as diferenças<br />

entre língua oral e língua escrita, assinale<br />

a opção que representa também uma<br />

inadequação da linguagem usada ao<br />

contexto:<br />

A) "o carro bateu e capotô, mas num deu<br />

pra vê direito" - um pedestre que<br />

assistiu ao acidente comenta com o<br />

outro que vai passando.<br />

B) "E aí, ô meu! Como vai essa força?" -<br />

um jovem que fala para um amigo.<br />

C) "Só um instante, por favor. Eu<br />

gostaria de fazer uma observação" -<br />

alguém comenta em uma reunião de<br />

trabalho.<br />

D) "Venho manifestar meu interesse em<br />

candidatar-me ao cargo de Secretária<br />

Executiva desta conceituada empresa"<br />

- alguém que escreve uma carta<br />

candidatando-se a um emprego.<br />

E) "Porque se a gente não resolve as<br />

coisas como têm que ser, a gente corre<br />

o risco de termos, num futuro próximo,<br />

muito pouca comida nos lares<br />

brasileiros" - um professor universitário<br />

em um congresso internacional.<br />

Comentário<br />

Essa questão está trabalhando com as<br />

nossas expectativas. Esperamos encontrar,<br />

nas diferentes situações, linguagens que<br />

correspondam à formalidade (ou à<br />

informalidade) delas. Na alternativa E, como<br />

o professor universitário está falando em um<br />

congresso internacional, espera-se que ele<br />

utilize uma linguagem mais formal e não uma<br />

linguagem coloquial como a que usou. Em<br />

todas as outras situações, a linguagem está<br />

de acordo com a situação em que está sendo<br />

empregada.<br />

09) (2006) Depois de um bom jantar: feijão<br />

com carne-seca, orelha de porco e couve<br />

com angu, arroz-mole engordurado, carne<br />

de vento assada no espeto, torresmo<br />

enxuto de toicinho da barriga, viradinho de<br />

milho verde e um prato de caldo de couve,<br />

jantar encerrado por um prato fundo de<br />

canjica com torrões de açúcar, Nhô Tomé<br />

saboreou o café forte e se estendeu na<br />

rede. A mão direita sob a cabeça, à guisa<br />

de travesseiro, o indefectível cigarro de<br />

palha entre as pontas do indicador e do<br />

polegar, envernizados pela fumaça, de<br />

unhas encanoadas e longas, ficou-se de<br />

pança para o ar, modorrento, a olhar para<br />

as ripas do telhado.<br />

Quem come e não deita, a comida não<br />

aproveita, pensava Nhô Tomé... E pôs-se<br />

a cochilar. A sua modorra durou pouco;<br />

Tia Policena, ao passar pela sala, bradou<br />

assombrada:<br />

— Êêh! Sinhô! Vai drumi agora? Não!<br />

255


Num presta... Dá pisadêra e póde morrê<br />

de ataque de cabeça! Despois do armoço<br />

num far-má... mais despois da janta?!”<br />

Cornélio Pires. Conversas ao pé do fogo. São Paulo:<br />

Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1987.<br />

Nesse trecho, extraído de texto publicado<br />

originalmente em 1921, o narrador<br />

A) apresenta, sem explicitar juízos de<br />

valor, costumes da epoca, descrevendo<br />

os pratos servidos no jantar e a atitude<br />

de Nhô Tomé e de Tia Policena.<br />

B) desvaloriza a norma culta da língua<br />

porque incorpora à narrativa usos<br />

próprios da linguagem regional das<br />

personagens.<br />

C) condena os hábitos descritos, dando<br />

voz a Tia Policena, que tenta impedir<br />

Nhô Tomé de deitar-se após as<br />

refeições.<br />

D) utiliza a diversidade sociocultural e<br />

lingüística para demonstrar seu<br />

desrespeito às populações das zonas<br />

rurais do início do século XX.<br />

E) manifesta preconceito em relação a Tia<br />

Policena ao transcrever a fala dela com<br />

os erros próprios da região.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil, pois a alternativa<br />

"A" deixa clara a intencionalidade do<br />

narrador. Entretanto, o aluno poderia optar<br />

pela alternativa "B" caso não desse o devido<br />

valor ao sentido da palavra “desvaloriza”, que<br />

a elimina.<br />

<strong>10</strong>) (2007) Texto I<br />

Agora Fabiano conseguia arranjar as<br />

idéias. O que o segurava era a família.<br />

Vivia preso como um novilho amarrado ao<br />

mourão, suportando ferro quente. Se não<br />

fosse isso, um soldado amarelo não lhe<br />

pisava o pé não. (...) Tinha aqueles<br />

cambões pendurados ao pescoço.<br />

Deveria continuar a arrastá-los? Sinha<br />

Vitória dormia mal na cama de varas. Os<br />

meninos eram uns brutos, como o pai.<br />

Quando crescessem, guardariam as reses<br />

de um patrão invisível, seriam pisados,<br />

maltratados, machucados por um soldado<br />

amarelo.<br />

Graciliano Ramos. Vidas Secas. São Paulo:<br />

Martins, 23.ª ed., 1969, p. 75.<br />

Texto II<br />

Para Graciliano, o roceiro pobre é um<br />

outro, enigmático, impermeável. Não há<br />

solução fácil para uma tentativa de<br />

incorporação dessa figura no campo da<br />

ficção. É lidando com o impasse, ao invés<br />

de fáceis soluções, que Graciliano vai<br />

criar Vidas Secas, elaborando uma<br />

linguagem, uma estrutura romanesca,<br />

uma constituição de narrador em que<br />

narrador e criaturas se tocam, mas não se<br />

identificam. Em grande medida, o debate<br />

acontece porque, para a intelectualidade<br />

brasileira naquele momento, o pobre, a<br />

despeito de aparecer idealizado em certos<br />

aspectos, ainda é visto como um ser<br />

humano de segunda categoria, simples<br />

demais, incapaz de ter pensamentos<br />

demasiadamente complexos. O que Vidas<br />

Secas faz é, com pretenso não<br />

envolvimento da voz que controla a<br />

narrativa, dar conta de uma riqueza<br />

humana de que essas pessoas seriam<br />

plenamente capazes.<br />

Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes. In:<br />

Teresa. São Paulo: USP, n.° 2, 2001, p. 254.<br />

No texto II, verifica-se que o autor utiliza<br />

A) linguagem predominantemente<br />

formal, para problematizar, na<br />

composição de Vidas Secas, a relação<br />

entre o escritor e o personagem<br />

popular.<br />

B) linguagem inovadora, visto que, sem<br />

abandonar a linguagem formal, dirigese<br />

diretamente ao leitor.<br />

C) linguagem coloquial, para narrar<br />

coerentemente uma história que<br />

apresenta o roceiro pobre de forma<br />

pitoresca.<br />

D) linguagem formal com recursos<br />

retóricos próprios do texto literário em<br />

prosa, para analisar determinado<br />

momento da literatura brasileira.<br />

E) linguagem regionalista, para transmitir<br />

informações sobre literatura, valendose<br />

de coloquialismo, para facilitar o<br />

entendimento do texto.<br />

Comentário<br />

Questão de nível médio. Algumas<br />

alternativas poderiam levar o candidato a<br />

pensar que o texto de Vidas Secas utiliza<br />

uma linguagem predominantemente coloquial<br />

e regionalista. Entretanto, é na alternativa A<br />

que se encontra o real estilo da linguagem<br />

utilizada por Graciliano Ramos. A linguagem<br />

é, portanto, predominantemente formal e<br />

problematiza a relação do escritor com o<br />

personagem popular. Esta acaba sendo uma<br />

das grandes características do autor, pois ele<br />

buscava sempre dar uma grande densidade<br />

psicológica aos seus romances.<br />

256


11) (2006) Aula de português<br />

Explorando a função emotiva da<br />

linguagem, o poeta expressa o contraste<br />

entre marcas de variação de usos da<br />

linguagem em<br />

A) situações formais e informais.<br />

B) diferentes regiões do país.<br />

C) escolas literárias distintas.<br />

D) textos técnicos e poéticos.<br />

E) diferentes épocas.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil, pois o próprio título<br />

nos dá uma noção da dificuldade de<br />

transformar a linguagem coloquial e de uso<br />

cotidiano em uma linguagem formal,<br />

expressa no poema como “a misteriosa”.<br />

Drummond foi muito feliz em conseguir<br />

demonstrar a dificuldade em entender como<br />

estruturas simples da língua se tornam tão<br />

complexas ao se iniciar o processo de<br />

compreensão da estrutura lingüística.<br />

12) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />

preciso, além de conhecer o padrão<br />

formal da Língua Portuguesa, saber<br />

adequar o uso da linguagem ao contexto<br />

discursivo. Para exemplificar este fato,<br />

seu professor de Língua Portuguesa<br />

convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />

Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />

brinca com situações de discurso oral que<br />

fogem à expectativa do ouvinte.<br />

Aí, Galera<br />

Jogadores de futebol podem ser<br />

vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />

você pode imaginar um jogador de futebol<br />

dizendo "estereotipação"? E, no<br />

entanto, por que não?<br />

- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />

galera.<br />

- Minha saudação aos aficionados do<br />

clube e aos demais esportistas, aqui<br />

presentes ou no recesso dos seus lares.<br />

- Como é?<br />

- Aí, galera.<br />

- Quais são as instruções do técnico?<br />

- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />

trabalho de contenção coordenada, com<br />

energia otimizada, na zona de<br />

preparação, aumentam as<br />

probabilidades de, recuperado o<br />

esférico, concatenarmos um contragolpe<br />

agudo com parcimônia de meios e<br />

extrema objetividade, valendo-nos da<br />

desestruturação momentânea do<br />

sistema oposto, surpreendido pela<br />

reversão inesperada do fluxo da ação:<br />

- Ahn?<br />

- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />

pegá eles sem calça.<br />

- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />

coisa?<br />

- Posso dirigir uma mensagem de<br />

caráter sentimental, algo banal, talvez<br />

mesmo previsível e piegas, a uma<br />

pessoa à qual sou ligado por razões,<br />

inclusive, genéticas?<br />

- Pode.<br />

- Uma saudação para a minha<br />

progenitora.<br />

- Como é?<br />

- Alô, mamãe!<br />

- Estou vendo que você é um, um...<br />

- Um jogador que confunde o<br />

entrevistador, pois não corresponde à<br />

expectativa de que o atleta seja um ser<br />

algo primitivo com dificuldade de<br />

expressão e assim sabota a<br />

estereotipação?<br />

- Estereoquê?<br />

- Um chato?<br />

- Isso.<br />

Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />

A expressão "pegá eles sem calça"<br />

poderia ser substituída, sem<br />

comprometimento de sentido, em língua<br />

culta, formal, por:<br />

A) pegá-los na mentira.<br />

B) pegá-los desprevenidos.<br />

257


C) pegá-los em flagrante.<br />

D) pegá-los rapidamente.<br />

E) pegá-los momentaneamente<br />

Comentário<br />

O trabalho que temos aqui é de<br />

compreensão de sentido. Se você nunca<br />

ouviu a expressão "de calças na mão", terá<br />

de imaginar o que acontece quando<br />

pegamos alguém nessa situação. Mas isso<br />

não basta. Se usar somente situações que<br />

pode imaginar, restarão as alternativas B e<br />

C. Esse problema só será solucionado se<br />

você entender bem o texto a que ele se<br />

refere. Como o jogador está falando em<br />

roubar a bola e partir para cima do adversário<br />

rapidamente, imagina-se que o adversário<br />

não esperava perder a bola naquele<br />

momento e, quando isso ocorreu, ele não<br />

estava preparado para receber um contraataque.<br />

Utilizando essa análise, somente a<br />

alternativa B está correta.<br />

13) (2000) Em uma conversa ou leitura de<br />

um texto, corre-se o risco de atribuir um<br />

significado inadequado a um termo ou<br />

expressão, e isso pode levar a certos<br />

resultados inesperados, como se vê nos<br />

quadrinhos abaixo.<br />

(SOUZA, Maurício de. Chico Bento.<br />

Rio de Janeiro: Ed. Globo, n o 335, Nov./99 )<br />

Nessa historinha, o efeito humorístico<br />

origina-se de uma situação criada pela<br />

fala da Rosinha no primeiro quadrinho,<br />

que é:<br />

A) Faz uma pose bonita!<br />

B) Quer tirar um retrato?<br />

C) Sua barriga está aparecendo!<br />

D) Olha o passarinho!<br />

E) Cuidado com o flash!<br />

Comentário<br />

Quem não se lembra de expressões<br />

humorísticas usadas quando se deseja tirar<br />

uma foto, como "Olha o passarinho" ou "Fale<br />

xis"?<br />

Pois é, essa é uma questão fácil e a<br />

interpretação do texto é simples, e não há<br />

por que ter dúvidas quanto à resposta, a não<br />

ser que não se leia a proposta da questão.<br />

258<br />

Comentário do INEP<br />

Essa questão procurou avaliar se o<br />

participante conseguia inferir, a partir de uma<br />

seqüência narrativa de imagens, a expressão<br />

lingüística adequada à situação de<br />

interlocução, no caso a fala da personagem,<br />

no primeiro quadrinho. A expressão de uso<br />

coloquial 'olha o passarinho!', dependendo do<br />

contexto, tem diferentes significados, que<br />

nesse caso foram associados pelo cartunista<br />

para produzir o efeito de humor. A grande<br />

maioria - 89% - dos participantes realizou a<br />

inferência solicitada, analisando a função da<br />

linguagem e identificando a variante<br />

lingüística adequada à situação de<br />

interlocução, com base na leitura da<br />

seqüência das imagens e da fala da<br />

personagem no terceiro quadrinho. É<br />

interessante notar a abrangência dessa<br />

expressão metafórica no Brasil, criada no<br />

contexto informal da fala com seus<br />

significados correspondentes. Mesmo assim,<br />

11% dos participantes, possivelmente,<br />

desconhecem essa expressão ou não<br />

conseguiram realizar a transposição do<br />

significado humorístico da fala do último<br />

quadrinho.<br />

14) (2005) Leia com atenção o texto:<br />

[Em Portugal], você poderá ter alguns<br />

probleminhas se entrar numa loja de<br />

roupas desconhecendo certas sutilezas da<br />

língua. Por exemplo, não adianta pedir<br />

para ver os ternos — peça para ver os<br />

fatos. Paletó é casaco. Meias são<br />

peúgas. Suéter é camisola — mas não<br />

se assuste, porque calcinhas femininas<br />

são cuecas. (Não é uma delícia?)<br />

(Ruy Castro. Viaje Bem. Ano VIII, no 3, 78.)<br />

O texto destaca a diferença entre o<br />

português do Brasil e o de Portugal<br />

quanto<br />

A) ao vocabulário.<br />

B) à derivação.<br />

C) à pronúncia.<br />

D) ao gênero.<br />

E) à sintaxe.<br />

Comentário<br />

Questão de entendimento muito fácil, pois<br />

o próprio enunciado deixa claro que se trata<br />

das diferenças de vocabulário entre o<br />

português brasileiro e o lusitano.


15) (2006) Aula de português<br />

No poema, a referência à variedade<br />

padrão da língua está expressa no<br />

seguinte trecho:<br />

A) “A linguagem / na ponta da língua” (v.1<br />

e 2).<br />

B) “A linguagem / na superfície<br />

estrelada de letras” (v.5 e 6).<br />

C) “[a língua] em que pedia para ir lá<br />

fora” (v.14).<br />

D) “[a língua] em que levava e dava<br />

pontapé” (v.15).<br />

E) “[a língua] do namoro com a priminha”<br />

(v.17).<br />

Comentário<br />

Questão fácil, pois a alternativa "B" é a<br />

única que faz menção à norma-padrão da<br />

língua. As demais alternativas fogem a essa<br />

norma.<br />

16) (2008) A Lei Federal n.º 9.985/2000, que<br />

instituiu o sistema nacional de unidades<br />

de conservação, define dois tipos de<br />

áreas protegidas. O primeiro, as unidades<br />

de proteção integral, tem por objetivo<br />

preservar a natureza, admitindo-se<br />

apenas o uso indireto dos seus recursos<br />

naturais, isto é, aquele que não envolve<br />

consumo, coleta, dano ou destruição dos<br />

recursos naturais. O segundo, as<br />

unidades de uso sustentável, tem por<br />

função compatibilizar a conservação da<br />

natureza com o uso sustentável de<br />

parcela dos recursos naturais. Nesse<br />

caso, permite-se a exploração do<br />

ambiente de maneira a garantir a<br />

perenidade dos recursos ambientais<br />

renováveis e dos processos ecológicos,<br />

mantendo-se a biodiversidade e os<br />

demais atributos ecológicos, de forma<br />

socialmente justa e economicamente<br />

viável.<br />

Considerando essas informações, analise<br />

a seguinte situação hipotética.<br />

Ao discutir a aplicação de recursos<br />

disponíveis para o desenvolvimento de<br />

determinada região, organizações civis,<br />

universidade e governo resolveram<br />

investir na utilização de uma unidade de<br />

proteção integral, o Parque Nacional do<br />

Morro do Pindaré, e de uma unidade de<br />

uso sustentável, a Floresta Nacional do<br />

Sabiá. Depois das discussões, a equipe<br />

resolveu levar adiante três projetos:<br />

— o projeto I consiste de pesquisas<br />

científicas embasadas exclusivamente<br />

na observação de animais;<br />

— o projeto II inclui a construção de uma<br />

escola e de um centro de vivência;<br />

— o projeto III promove a organização de<br />

uma comunidade extrativista que<br />

poderá coletar e explorar<br />

comercialmente frutas e sementes<br />

nativas.<br />

Nessa situação hipotética, atendendo-se à<br />

lei mencionada acima, é possível<br />

desenvolver tanto na unidade de proteção<br />

integral quanto na de uso sustentável<br />

A) apenas o projeto I.<br />

B) apenas o projeto III.<br />

C) apenas os projetos I e II.<br />

D) apenas os projetos II e III.<br />

E) todos os três projetos.<br />

Comentário do portal<br />

A alternativa correta é a letra "A", pois,<br />

analisando-se a situação hipotética sugerida<br />

no enunciado, percebe-se que ela deverá<br />

atender os requisitos tanto da unidade de<br />

proteção integral quanto da unidade de uso<br />

sustentável. Portanto, apenas o projeto I<br />

poderá ser desenvolvido nessas duas<br />

propostas de unidades.<br />

259


17) (2006) No romance Vidas Secas, de<br />

Graciliano Ramos, o vaqueiro Fabiano<br />

encontra-se com o patrão para receber o<br />

salário. Eis parte da cena:<br />

Graciliano Ramos. Vidas Secas. 91.ª ed.<br />

Rio de Janeiro: Record, 2003.<br />

No fragmento transcrito, o padrão formal<br />

da linguagem convive com marcas de<br />

regionalismo e de coloquialismo no<br />

vocabulário. Pertence à variedade do<br />

padrão formal da linguagem o seguinte<br />

trecho:<br />

A) Não se conformou: devia haver<br />

engano (l.1).<br />

B) Fabiano perdeu os estribos (l.3).<br />

C) Passar a vida inteira assim no toco<br />

(l.4).<br />

D) Entregando o que era dele de mao<br />

beijada! (l.4-5).<br />

E) Aí Fabiano baixou a pancada e<br />

amunhecou (l.11).<br />

Comentário do portal<br />

Questão de nível fácil. Bastaria que o<br />

candidato conhecesse o padrão formal da<br />

linguagem e distinguisse-o do regionalismo e<br />

do coloquialismo.<br />

18) (2001) Os provérbios constituem um<br />

produto da sabedoria popular e, em geral,<br />

pretendem transmitir um ensinamento. A<br />

alternativa em que os dois provérbios<br />

remetem a ensinamentos semelhantes é:<br />

A) “Quem diz o que quer, ouve o que não<br />

quer” e “Quem ama o feio, bonito lhe<br />

parece”.<br />

B) “Devagar se vai ao longe” e “De grão<br />

em grão, a galinha enche o papo”.<br />

C) “Mais vale um pássaro na mão do que<br />

dois voando” e “Não se deve atirar<br />

pérolas aos porcos”.<br />

D) “Quem casa quer casa” e “Santo de<br />

casa não faz milagre”.<br />

E) “Quem com ferro fere, com ferro será<br />

ferido” e “Casa de ferreiro, espeto de<br />

pau”.<br />

Comentário<br />

Questão fácil. A alternativa B apresenta<br />

dois provérbios que tratam de paciência,<br />

perseverança. A mensagem é a mesma em<br />

ambos.<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão propõe uma série de<br />

provérbios agrupados aos pares, para que o<br />

participante demonstre compreender e<br />

comparar os provérbios de modo a identificar<br />

aqueles que traduzem ensinamentos<br />

semelhantes. A organização sintáticosemântica<br />

dos provérbios cria um efeito de<br />

sentido metafórico que deve ser recuperado,<br />

analisado e comparado, o que foi<br />

corretamente feito por cerca de 80% dos<br />

participantes.<br />

19) (1999)<br />

(QUINO. Mafalda inédita. São Paulo: Martins Fontes, 1993)<br />

Observando as falas das personagens,<br />

analise o emprego do pronome SE e o<br />

sentido que adquire no contexto. No<br />

contexto da narrativa, é correto afirmar<br />

que o pronome SE:<br />

A) em I, indica reflexividade e equivale a<br />

"a si mesmas".<br />

B) em II, indica reciprocidade e equivale a<br />

"a si mesma".<br />

C) em III, indica reciprocidade e equivale<br />

a "umas às outras".<br />

D) em I e III, indica reciprocidade e<br />

equivale a "umas às outras".<br />

E) em II e III, indica reflexividade e<br />

equivale a "a si mesma " e "a si<br />

mesmas", respectivamente.<br />

Comentário<br />

Mais uma questão que fala por si própria.<br />

Lendo o segundo quadrinho — "Quer dizer<br />

que você também se ama muito mais no<br />

Natal?" —, é fácil de se identificar o pronome<br />

reflexivo. Basta que se troque se ama por<br />

ama a si mesma. O mesmo ocorre no<br />

terceiro quadrinho em "Por que será que as<br />

pessoas se amam muito mais no Natal?" —<br />

Por que será que as pessoas amam a si<br />

mesmas? Questão de grau fácil.<br />

260


Comentário do INEP<br />

Este problema requeria que o participante<br />

mobilizasse conhecimentos sobre os<br />

significados de "reciprocidade e<br />

"reflexividade" e o associasse à<br />

compreensão de linguagem iconográfica.<br />

Cerca de metade dos participantes<br />

demonstrou essa capacidade. A opção de<br />

30% dos participantes pela alternativa D<br />

pode indicar que eles utilizaram as imagens<br />

apenas como ilustração do texto e não como<br />

linguagem capaz de instituir novos<br />

significados.<br />

20) (202) "Narizinho correu os olhos pela<br />

assistência. Não podia haver nada mais<br />

curioso. Besourinhos de fraque e flores na<br />

lapela conversavam com baratinhas de<br />

mantilha e miosótis nos cabelos. Abelhas<br />

douradas, verdes e azuis, falavam mal<br />

das vespas de cintura fina — achando que<br />

era exagero usarem coletes tão<br />

apertados. Sardinhas aos centos<br />

criticavam os cuidados excessivos que as<br />

borboletas de toucados de gaze tinham<br />

com o pó das suas asas. Mamangavas de<br />

ferrões amarrados para não morderem. E<br />

canários cantando, e beija-flores beijando<br />

flores, e camarões camaronando, e<br />

caranguejos caranguejando, tudo que é<br />

pequenino e não morde, pequeninando e<br />

não mordendo."<br />

LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. São Paulo:<br />

Brasiliense, 1947.<br />

No último período do trecho, há uma série<br />

de verbos no gerúndio que contribuem<br />

para caracterizar o ambiente fantástico<br />

descrito. Expressões como<br />

"camaronando", "caranguejando" e<br />

"pequeninando e não mordendo" criam,<br />

principalmente, efeitos de<br />

A) esvaziamento de sentido.<br />

B) monotonia do ambiente.<br />

C) estaticidade dos animais.<br />

D) interrupção dos movimentos.<br />

E) dinamicidade do cenário.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. O dinamismo dos<br />

verbos no gerúndio tem como função<br />

principal dar vida às personagens do mundo<br />

fantástico. Não há estagnação. Cada animal<br />

faz o que lhe cabe.<br />

Comentário do INEP<br />

Essa questão apresenta para leitura e<br />

análise um trecho da obra Reinações de<br />

Narizinho, de Monteiro Lobato, e, nele, a<br />

descrição reflete as fantasias do mundo<br />

infantil. A questão propõe que seja resolvido<br />

um problema de linguagem, que é a<br />

identificação dos sentidos criados no texto<br />

pelo emprego de vários verbos no gerúndio,<br />

alguns dos quais, neologismos criados pelo<br />

autor. Como o texto é uma descrição, temos<br />

o relato de um ambiente que se agita com as<br />

ações simultâneas dos muitos seres que o<br />

habitam. Cabe ao participante perceber que<br />

o efeito dinâmico é criado pelos verbos de<br />

ação no gerúndio, que é a forma verbal da<br />

ação se fazendo. Ou seja, é função típica do<br />

gerúndio traduzir a noção de uma ação que<br />

se desenvolve de modo simultâneo à sua<br />

enunciação. Nesse ambiente retratado por<br />

Monteiro Lobato, os bichinhos humanizados<br />

se agitam, lembrando um burburinho de<br />

crianças. Apenas a alternativa E, assinalada<br />

por 36% dos participantes, responde<br />

corretamente a questão. As outras<br />

alternativas contemplam efeitos ou<br />

significados que, apesar de eventualmente<br />

serem transmitidos pelo emprego do<br />

gerúndio, não se verificam no texto.<br />

21) (2005) As dimensões continentais do<br />

Brasil são objeto de reflexões expressas<br />

em diferentes linguagens. Esse tema<br />

aparece no seguinte p"Narizinho correu os<br />

olhos pela assistência. Não podia haver nada<br />

mais curioso. Besourinhos de oema:<br />

“(....)<br />

Que importa que uns falem mole<br />

descansado<br />

Que os cariocas arranhem os erres na<br />

garganta<br />

Que os capixabas e paroaras escancarem<br />

as vogais?<br />

Que tem se o quinhentos réis meridional<br />

Vira cinco tostões do Rio pro Norte?<br />

Junto formamos este assombro de<br />

misérias e grandezas,<br />

Brasil, nome de vegetal! (....)”<br />

(Mário de Andrade. Poesias completas. 6. ed. São Paulo:<br />

Martins Editora, 1980.)<br />

O texto poético ora reproduzido trata das<br />

diferenças brasileiras no âmbito<br />

A) étnico e religioso.<br />

B) lingüístico e econômico.<br />

C) racial e folclórico.<br />

D) histórico e geográfico.<br />

E) literário e popular.<br />

261


Comentário<br />

Questão de nível fácil, pois a primeira<br />

estrofe, ao enunciar os erres arranhados dos<br />

cariocas e as vogais abertas dos capixabas,<br />

evidencia a diferença lingüística entre duas<br />

regiões distintas do Brasil, dando noção da<br />

variedade. Já na segunda estrofe, as<br />

diferenças econômicas são evidenciadas ao<br />

se mostrarem os réis e tostões variando da<br />

Região Meridional para a Norte.<br />

22) (2008) Assinale a opção que apresenta<br />

um verso do soneto de Cláudio Manoel da<br />

Costa em que o poeta se dirige ao seu<br />

interlocutor.<br />

A) “Torno a ver-vos, ó montes; o<br />

destino” (v.1)<br />

B) “Aqui estou entre Almendro, entre<br />

Corino,” (v.5)<br />

C) “Os meus fiéis, meus doces<br />

companheiros,” (v.6)<br />

D) “Vendo correr os míseros vaqueiros”<br />

(v.7)<br />

E) “Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto,”<br />

(v.11)<br />

B) “E lembre-se: se você disser uma<br />

mentira, os seus chifres cairão!”<br />

C) “Estou atrasado porque ajudei uma<br />

velhinha a atravessar a rua...”<br />

D) “...e ela me deu um anel mágico que<br />

me levou a um tesouro”<br />

E) “mas bandidos o roubaram e os<br />

persegui até a Etiópia, onde um<br />

dragão...”<br />

Comentário<br />

Linguagem coloquial é aquela usada no<br />

cotidiano, que tem como característica<br />

principal a oralidade, ou seja, aquela que não<br />

segue o rigor da norma culta.<br />

Entre as alternativas da questão, apenas<br />

a letra "A" apresenta esses traços.<br />

24) (2004) O poema abaixo pertence à<br />

poesia concreta brasileira. O termo latino<br />

de seu título significa "epitalâmio", poema<br />

ou canto em homenagem aos que se<br />

casam.<br />

Comentário<br />

Nesta questão, basta que o aluno<br />

identifique o pronome oblíquo, presente no<br />

verso um, que chama o leitor para o texto.<br />

Sendo assim, a resposta correta é a letra "A".<br />

23) (2008)<br />

262<br />

Dick Browne. O melhor de Hagar, o horrível, v. 2. L&PM<br />

pocket, p.55-6 (com adaptações).<br />

Assinale o trecho do diálogo que<br />

apresenta um registro informal, ou<br />

coloquial, da linguagem.<br />

A) “Tá legal, espertinho! Onde é que<br />

você esteve?!”<br />

Considerando que símbolos e sinais são<br />

utilizados geralmente para demonstrações<br />

objetivas, ao serem incorporados no<br />

poema "Epithalamium - II".<br />

A) adquirem novo potencial de<br />

significação.<br />

B) eliminam a subjetividade do poema.<br />

C) opõem-se ao tema principal do poema.<br />

D) invertem seu sentido original.<br />

E) tornam-se confusos e equivocados.<br />

Comentário<br />

Diferentemente, por exemplo, da<br />

aplicação matemática dos símbolos, em que<br />

sinais como "=", "+", "-", "x", etc. servem<br />

como convenções internacionais de<br />

significação objetiva e invariável, em um<br />

poema como "Epithalamium – II" foram<br />

usados símbolos que não são convenções<br />

internacionais, mas, sim, convencionados<br />

apenas para esse texto. No caso, letras do<br />

alfabeto deixam de ser representações de<br />

sons (fonemas) para ganharem nova<br />

significação, principalmente pela construção


visual do poema: unem homem (h) e mulher<br />

(e) pela ação da serpente (s) — libido,<br />

atração — em uma entidade única.<br />

Uma das tendências poéticas da segunda<br />

metade do século XX, resultado de um<br />

diálogo com estéticas já presentes no final do<br />

século XIX, trabalha com a construção de<br />

seu próprio referente, fazendo do poema um<br />

objeto autônomo.<br />

25) (2000) “Precisa-se nacionais sem<br />

nacionalismo, (...) movidos pelo presente<br />

mas estalando naquele cio racial que só<br />

as tradições maduram! (...). Precisa-se<br />

gentes com bastante meiguice no<br />

sentimento, bastante força na peitaria,<br />

bastante paciência no entusiasmo e<br />

sobretudo, oh! sobretudo bastante<br />

vergonha na cara!<br />

(...) Enfim: precisa-se brasileiros! Assim<br />

está escrito no anúncio vistoso de cores<br />

desesperadas pintado sobre o corpo do<br />

nosso Brasil, camaradas.”<br />

(Jornal A Noite, São Paulo, 18/12/1925 apud LOPES, Telê<br />

Porto Ancona. Mário<br />

de Andrade: ramais e caminhos. São Paulo: Duas<br />

Cidades, 1972)<br />

No trecho acima, Mário de Andrade dá<br />

forma a um dos itens do ideário<br />

modernista, que é o de firmar a feição de<br />

uma língua mais autêntica, “brasileira”, ao<br />

expressar-se numa variante de linguagem<br />

popular identificada pela (o):<br />

A) escolha de palavras como cio, peitaria,<br />

vergonha.<br />

B) emprego da pontuação.<br />

C) repetição do adjetivo bastante.<br />

D) concordância empregada em Assim<br />

está escrito.<br />

E) escolha de construção do tipo<br />

precisa-se gentes.<br />

Comentário<br />

Apesar de essa questão misturar vários<br />

tipos de informação, se você se lembra um<br />

pouquinho dos usos da partícula se, com<br />

certeza não encontrará grande dificuldade.<br />

Segundo a regra gramatical, o verbo<br />

"precisa-se" deveria ir para o plural<br />

(precisam-se), mas essa noção de verbo<br />

concordante com o sujeito há muito<br />

desapareceu na variante popular brasileira.<br />

Mas, caso você não se lembre muito bem<br />

desse assunto ou ficou meio confuso com o<br />

texto e as outras alternativas, o caminho é<br />

responder por eliminação.<br />

A primeira alternativa apresenta palavras<br />

comuns no português brasileiro, mas<br />

nenhuma "invenção" nacional. Na dúvida,<br />

pense em "vergonha": não é uma invenção<br />

brasileira. Todos os que falam português no<br />

mundo conhecem bem essa palavra. A<br />

pontuação no texto não chama nenhuma<br />

atenção. Você provavelmente não viu nada<br />

de estranho nela. Da mesma forma, o<br />

"bastante" da terceira alternativa não é nada<br />

mais que um mecanismo de retórica, usado<br />

para dar ênfase à idéia. Com o "Assim está<br />

escrito", encontramos a mesma situação: um<br />

trecho litúrgico é usado para maior ênfase.<br />

Comentário do INEP<br />

A questão procurou avaliar se o<br />

participante era capaz de, a partir da leitura<br />

de um texto de Mário de Andrade , identificar<br />

e analisar uma variante lingüística de uso<br />

coloquial, utilizadas estilisticamente pelo<br />

autor. O uso estilístico das variantes marcou<br />

a primeira fase da literatura brasileira<br />

modernista. O trecho destaca em seu todo<br />

esse uso da linguagem popular. A escolha da<br />

construção 'precisa-se gentes' é marca desse<br />

uso estilístico. O índice de 37% na alternativa<br />

(A) demonstra, possivelmente, que os<br />

participantes não consideraram a escolha<br />

dos vocábulos, dentro do contexto do texto,<br />

confundindo as palavras que aparecem na<br />

alternativa com '...a feição de uma língua<br />

mais autêntica...'.O percentual de acertos foi<br />

da ordem de 40%.<br />

26) (2001) Oxímoro (ou paradoxo) é uma<br />

construção textual que agrupa significados<br />

que se excluem mutuamente. Para<br />

Garfield, a frase de saudação de Jon<br />

(tirinha abaixo) expressa o maior de todos<br />

os oxímoros.<br />

Folha de S. Paulo. 31 de julho de 2000.<br />

Nas alternativas abaixo, estão transcritos<br />

versos retirados do poema “O operário em<br />

construção”. Pode-se afirmar que ocorre<br />

um oxímoro em<br />

A) "Era ele que erguia casas<br />

Onde antes só havia chão."<br />

B) "... a casa que ele fazia<br />

Sendo a sua liberdade<br />

Era a sua escravidão."<br />

C) "Naquela casa vazia<br />

Que ele mesmo levantara<br />

Um mundo novo nascia<br />

De que sequer suspeitava."<br />

263


D) "... o operário faz a coisa<br />

E a coisa faz o operário."<br />

E) "Ele, um humilde operário<br />

Um operário que sabia<br />

Exercer a profissão."<br />

MORAES, Vinícius de. Antologia Poética. São Paulo:<br />

Companhia das Letras, 1992.<br />

Comentário<br />

Idéias que se completam e se excluem<br />

mutuamente são encontradas na alternativa<br />

B: a casa que ele construía era, ao mesmo<br />

tempo, sua liberdade e sua escravidão.<br />

A casa é um símbolo de liberdade para o<br />

homem. Para o homem operário, é também<br />

símbolo de escravidão, pois ele está<br />

"condenado" a jamais usufruir do resultado<br />

do seu trabalho (a casa que faz não é para<br />

ele).<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão propõe ao participante que<br />

estabeleça uma relação entre linguagens,<br />

associando a compreensão de um efeito<br />

semântico produzido pelo uso do oxímoro<br />

nos quadrinhos com o mesmo efeito num<br />

texto poético. O índice (18%) de escolhas da<br />

alternativa D deve-se, possivelmente, a uma<br />

análise parcial da noção de paradoxo,<br />

confundida com inversão.<br />

Vêm das terras secas e escuras;<br />

pedregulhos<br />

Doloridos como fagulhas de carvão aceso<br />

Corpos disformes, uns panos sujos,<br />

Rasgados e sem cor, dependurados<br />

Homens de enorme ventre bojudo<br />

Mulheres com trouxas caídas para o lado<br />

Pançudas, carregando ao colo um garoto<br />

Choramingando, remelento<br />

(....)<br />

(Cândido Portinari. Poemas. Rio de Janeiro:<br />

J. Olympio, 1964.)<br />

Das quatro obras reproduzidas, assinale<br />

aquelas que abordam a problemática que<br />

é tema do poema.<br />

A) 1 e 2 D) 3 e 4<br />

B) 1 e 3 E) 2 e 4<br />

C) 2 e 3<br />

Comentário<br />

O poema apresenta correspondência com<br />

as imagens ao descrever com detalhes a<br />

figura do retirante: pobre, mal vestido,<br />

carregando trouxas e embrulhos.<br />

28) (2004)<br />

27) (2005) Cândido Portinari (1903-1962), um<br />

dos mais importantes artistas brasileiros<br />

do século XX, tratou de diferentes<br />

aspectos da nossa realidade em seus<br />

quadros.<br />

A polifonia, variedade de vozes, presente<br />

no poema resulta da manifestação do<br />

A) poeta e do colonizador apenas.<br />

B) colonizador e do negro apenas.<br />

C) negro e do índio apenas.<br />

D) colonizador, do poeta e do negro<br />

apenas.<br />

E) poeta, do colonizador, do índio e do<br />

negro.<br />

264<br />

Sobre a temática dos “Retirantes”,<br />

Portinari também escreveu o seguinte<br />

poema:<br />

(....)<br />

Os retirantes vêm vindo com trouxas e<br />

embrulhos<br />

Comentário<br />

A questão apresenta uma certa<br />

dificuldade, pois, à primeira vista, parecem<br />

confundir-se as vozes do colonizador, do<br />

negro e do índio. Entretanto, os<br />

travessões existentes no poema explicitam<br />

as falas das personagens ao mostrar que<br />

não são apenas as vozes do poeta e do<br />

colonizador que estão presentes. As falas do<br />

índio e do negro são proferidas por eles,


marca expressa pelo discurso direto. A<br />

presença dessa modalidade de discurso<br />

indica a reprodução literal do que as<br />

personagens disseram.<br />

Um ponto interessante em relação a essa<br />

questão é a intertextualidade. O índio<br />

aparece no poema pela remissão a um texto<br />

poético do nosso Romantismo, em um<br />

processo intertextual com “I-Juca-Pirama”, de<br />

Gonçalves Dias; e a presença do negro se dá<br />

pela ligação com Mário de Andrade, em<br />

Macunaíma. Entende-se, portanto, que a<br />

alternativa correta é a letra E.<br />

29) (2003) No ano passado, o governo<br />

promoveu uma campanha a fim de reduzir<br />

os índices de violência. Noticiando o fato,<br />

um jornal publicou a seguinte manchete:<br />

CAMPANHA CONTRA A VIOLÊNCIA DO<br />

GOVERNO DO ESTADO ENTRA EM NOVA<br />

FASE<br />

A manchete tem um duplo sentido, e isso<br />

dificulta o entendimento. Considerando o<br />

objetivo da notícia, esse problema poderia<br />

ter sido evitado com a seguinte redação:<br />

A) Campanha contra o governo do Estado<br />

e a violência entram em nova fase.<br />

B) A violência do governo do Estado entra<br />

em nova fase de Campanha.<br />

C) Campanha contra o governo do Estado<br />

entra em nova fase de violência.<br />

D) A violência da campanha do governo<br />

do Estado entra em nova fase.<br />

E) Campanha do governo do Estado<br />

contra a violência entra em nova fase.<br />

Comentário<br />

O objetivo da questão é eliminar a<br />

ambigüidade da notícia de jornal, que,<br />

originalmente, trazia duas idéias: de acordo<br />

com a primeira, o governo queria combater a<br />

violência, e a segunda ressaltava que o<br />

governo era violento. Nessa questão,<br />

era preciso eliminar a segunda possibilidade<br />

de leitura.<br />

30) (2004)<br />

Nesta tirinha, a personagem faz referência<br />

a uma das mais conhecidas figuras de<br />

linguagem para<br />

A) condenar a prática de exercícios físicos<br />

B) valorizar aspectos da vida moderna.<br />

C) desestimular o uso das bicicletas.<br />

D) caracterizar o diálogo entre as<br />

gerações.<br />

E) criticar a falta de perspectiva do pai.<br />

Comentário<br />

A construção indica a falta de perspectiva<br />

na vida do pai do personagem. “Pedalar sem<br />

sair do lugar” é uma metáfora muito usada na<br />

cultura brasileira para expressar como é a<br />

vida de uma pessoa que age de forma a não<br />

conseguir qualquer mudança — para melhor<br />

ou para pior — na vida.<br />

31) (2004) As questões de números 26 e 27<br />

referem-se ao poema abaixo.<br />

Entre os recursos expressivos<br />

empregados no texto, destaca-se a<br />

A) metalinguagem, que consiste em fazer<br />

a linguagem referir-se à própria<br />

linguagem.<br />

B) intertextualidade, na qual o texto<br />

retoma e reelabora outros textos.<br />

C) ironia, que consiste em se dizer o<br />

contrário do que se pensa, com<br />

intenção crítica.<br />

D) denotação, caracterizada pelo uso das<br />

palavras em seu sentido próprio e<br />

objetivo.<br />

E) prosopopéia, que consiste em<br />

personificar coisas inanimadas,<br />

atribuindo-lhes vida.<br />

Comentário<br />

A questão trata de um texto de Carlos<br />

Drummond de Andrade em que ele fala sobre<br />

o crescimento urbano e a pobreza que esse<br />

265


processo traz. Para tanto, o poeta utiliza uma<br />

linguagem irônica, revelando o lado oculto do<br />

desenvolvimento. Dessa forma, temos como<br />

correta a alternativa C.<br />

32) (2007) Antigamente<br />

Acontecia o indivíduo apanhar<br />

constipação; ficando perrengue, mandava<br />

o próprio chamar o doutor e, depois, ir à<br />

botica para aviar a receita, de cápsulas ou<br />

pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />

phtísica, feia era o gálico. Antigamente, os<br />

sobrados tinham assombrações, os<br />

meninos, lombrigas (...)<br />

Carlos Drummond de Andrade. Poesia completa e prosa.<br />

Rio de Janeiro: Companhia José Aguilar, p. 1.184.<br />

O texto acima está escrito em linguagem<br />

de uma época passada. Observe uma<br />

outra versão, em linguagem atual.<br />

Antigamente<br />

Acontecia o indivíduo apanhar um<br />

resfriado; ficando mal, mandava o próprio<br />

chamar o doutor e, depois, ir à farmácia<br />

para aviar a receita, de cápsulas ou<br />

pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />

tuberculose, feia era a sífilis. Antigamente,<br />

os sobrados tinham assombrações, os<br />

meninos, vermes (...)<br />

Comparando-se esses dois textos,<br />

verifica-se que, na segunda versão, houve<br />

mudanças relativas a<br />

A) vocabulário.<br />

B) construções sintáticas.<br />

C) pontuação.<br />

D) fonética.<br />

E) regência verbal.<br />

Comentário<br />

Questão fácil. O aluno deveria comparar<br />

os dois textos e verificar as alterações<br />

realizadas na segunda versão apresentada.<br />

Nesse momento, fica evidente a mudança de<br />

vocabulário, o que indica a alternativa A<br />

como a correta.<br />

33) (2001) Nas conversas diárias, utiliza-se<br />

freqüentemente a palavra “próprio” e ela<br />

se ajusta a várias situações. Leia os<br />

exemplos de diálogos:<br />

I - A Vera se veste diferente!<br />

- É mesmo, é que ela tem um estilo<br />

próprio.<br />

II - A Lena já viu esse filme uma dezena<br />

de vezes! Eu não consigo ver o<br />

que ele tem de tão maravilhoso assim.<br />

- É que ele é próprio para adolescente.<br />

III - Dora, o que eu faço? Ando tão<br />

preocupada com o Fabinho! Meu filho<br />

está impossível!<br />

- Relaxa, Tânia! É próprio da idade.<br />

Com o tempo, ele se acomoda.<br />

Nas ocorrências I, II e III, “próprio” é<br />

sinônimo de, respectivamente,<br />

A) adequado, particular, típico.<br />

B) peculiar, adequado, característico.<br />

C) conveniente, adequado, particular.<br />

D) adequado, exclusivo, conveniente.<br />

E) peculiar, exclusivo, característico.<br />

Comentário<br />

Para responder a essa pergunta,<br />

substitua, nos trechos, a palavra próprio<br />

pelos possíveis equivalentes apresentados<br />

nas alternativas. Questão simples que pode<br />

ser resolvida por eliminação.<br />

Comentário do INEP<br />

Nesta questão são apresentados três<br />

textos em que uma mesma palavra é<br />

utilizada com sentidos diferentes. O problema<br />

consiste em observar a variedade de uso de<br />

um mesmo termo e as possibilidades de sua<br />

compreensão, estabelecendo uma relação<br />

comparativa com base em uma análise<br />

semântica. Cerca de metade (49%) dos<br />

participantes estabeleceu essa relação de<br />

maneira correta. Os participantes que<br />

assinalaram a alternativa D (21%),<br />

possivelmente isolaram o termo do contexto,<br />

gerando um equívoco entre "adequado" e<br />

"exclusivo".<br />

34) (2003) Do pedacinho de papel ao livro<br />

impresso vai uma longa distância. Mas o<br />

que o escritor quer, mesmo, é isso: ver o<br />

seu texto em letra de forma. A gaveta é<br />

ótima para aplacar a fúria criativa; ela faz<br />

amadurecer o texto da mesma forma que<br />

a adega faz amadurecer o vinho. Em<br />

certos casos, a cesta de papel é melhor<br />

ainda.<br />

O período de maturação na gaveta é<br />

necessário, mas não deve se prolongar<br />

muito. ‘Textos guardados acabam<br />

cheirando mal’, disse Silvia Plath, (...) que,<br />

com esta frase, deu testemunho das<br />

dúvidas que atormentam o escritor:<br />

266


publicar ou não publicar? guardar ou jogar<br />

fora?<br />

(Moacyr Scliar. O escritor e seus desafios.)<br />

Nesse texto, o escritor Moacyr Scliar usa<br />

imagens para refletir sobre uma etapa da<br />

criação literária. A idéia de que o processo<br />

de maturação do texto nem sempre é o<br />

que garante bons resultados está sugerida<br />

na seguinte frase:<br />

A) "A gaveta é ótima para aplacar a fúria<br />

criativa."<br />

B) "Em certos casos, a cesta de papel é<br />

melhor ainda."<br />

C) "O período de maturação na gaveta é<br />

necessário, (...)."<br />

D) "Mas o que o escritor quer, mesmo, é<br />

isso: ver o seu texto em letra de forma."<br />

E) "ela (a gaveta) faz amadurecer o texto<br />

da mesma forma que a adega faz<br />

amadurecer o vinho."<br />

Comentário<br />

Essa questão exigia a interpretação das<br />

frases. A palavra NEM no enunciado exclui<br />

todas as alternativas que tratam do<br />

amadurecimento ou da importância da<br />

gaveta para o bom sucesso da produção<br />

literária.<br />

A alternativa B é a única que apresenta<br />

um procedimento alternativo para a produção<br />

textual, ou seja, o lixo, e significa a liberdade<br />

do escritor em começar,<br />

interromper, recomeçar ou simplesmente<br />

abandonar a obra, permitindo a ele exercer<br />

seu livre-arbítrio.<br />

35) (2007)<br />

Aqui na floresta<br />

Dos ventos batida,<br />

Façanhas de bravos<br />

Não geram escravos,<br />

Que estimem a vida<br />

Sem guerra e lidar.<br />

— Ouvi-me, Guerreiros,<br />

— Ouvi meu cantar.<br />

O canto do guerreiro<br />

Valente na guerra,<br />

Quem há, como eu sou?<br />

Quem vibra o tacape<br />

Com mais valentia?<br />

Quem golpes daria<br />

Fatais, como eu dou?<br />

— Guerreiros, ouvi-me;<br />

— Quem há, como eu sou?<br />

Gonçalves Dias.<br />

Macunaíma<br />

(Epílogo)<br />

Acabou-se a história e morreu a vitória.<br />

Não havia mais ninguém lá. Dera<br />

tangolomângolo na tribo Tapanhumas e<br />

os filhos dela se acabaram de um em um.<br />

Não havia mais ninguém lá. Aqueles<br />

lugares, aqueles campos, furos<br />

puxadouros arrastadouros meiosbarrancos,<br />

aqueles matos misteriosos,<br />

tudo era solidão do deserto... Um silêncio<br />

imenso dormia à beira do rio Uraricoera.<br />

Nenhum conhecido sobre a terra não<br />

sabia nem falar da tribo nem contar<br />

aqueles casos tão pançudos. Quem podia<br />

saber do Herói?<br />

Mário de Andrade.<br />

Considerando-se a linguagem desses dois<br />

textos, verifica-se que<br />

A) a função da linguagem centrada no<br />

receptor está ausente tanto no primeiro<br />

quanto no segundo texto.<br />

B) a linguagem utilizada no primeiro texto<br />

é coloquial, enquanto, no segundo,<br />

predomina a linguagem formal.<br />

C) há, em cada um dos textos, a<br />

utilização de pelo menos uma palavra<br />

de origem indígena.<br />

D) a função da linguagem, no primeiro<br />

texto, centra-se na forma de<br />

organização da linguagem e, no<br />

segundo, no relato de informações<br />

reais.<br />

E) a função da linguagem centrada na<br />

primeira pessoa, predominante no<br />

segundo texto, está ausente no<br />

primeiro.<br />

Comentário<br />

Questão de nível médio. Essa é uma<br />

questão que foca a linguagem dos textos, e<br />

cada qual em seu gênero (poesia e prosa,<br />

respectivamente). O aluno chega à<br />

conclusão que a alternativa correta é a C por<br />

meio da exclusão das demais alternativas.<br />

A resposta correta não é a A, pois há um<br />

receptor que pode ser percebido nas<br />

seguintes perguntas contidas no texto:<br />

Texto 1 – “Guerreiros, ouvi-me;/Quem há,<br />

como eu sou?”<br />

Texto 2 – “Quem podia saber do herói?”<br />

Também não é a alternativa B, pois o<br />

conteúdo dos textos não é discriminatório. No<br />

primeiro texto, há uma idealização do índio e,<br />

no segundo, há uma realidade crítica e<br />

satírica da sociedade.<br />

A alternativa D é excluída, porque o<br />

segundo texto não fala de uma realidade, já<br />

que Macunaíma é um herói fictício e nãoreal.<br />

Por fim, também está errada a alternativa<br />

E. Isso porque não temos no epílogo do texto<br />

de Macunaíma a linguagem centrada na<br />

primeira pessoa, mas sim, na terceira.<br />

267


36) (2003) Eu começaria dizendo que poesia<br />

é uma questão de linguagem. A<br />

importância do poeta é que ele torna mais<br />

viva a linguagem. Carlos Drummond de<br />

Andrade escreveu um dos mais belos<br />

versos da língua portuguesa com duas<br />

palavras comuns: cão e cheirando.<br />

Um cão cheirando o futuro<br />

(Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP, 24/05/1988.<br />

adaptação)<br />

268<br />

O que deu ao verso de Drummond o<br />

caráter de inovador da língua foi<br />

A) o modo raro como foi tratado o<br />

"futuro".<br />

B) a referência ao cão como "animal de<br />

estimação".<br />

C) a flexão pouco comum do verbo<br />

"cheirar" (gerúndio).<br />

D) a aproximação não usual do agente<br />

citado e a ação de "cheirar".<br />

E) o emprego do artigo indefinido "um" e<br />

do artigo definido "o" na mesma frase.<br />

Comentário<br />

O fato de Drummond identificar o futuro<br />

como algo que pode ser percebido por um<br />

animal irracional por meio do olfato foi<br />

inovador. A figura de linguagem foi<br />

construída metaforicamente: o futuro torna-se<br />

uma coisa que tem cheiro, contrariamente à<br />

imagem pela qual ele normalmente é<br />

representado: como algo que não se vê e<br />

não se pode pressentir ou tocar.<br />

37) (2002) Só falta o Senado aprovar o<br />

projeto de lei [sobre o uso de termos<br />

estrangeiros no Brasil] para que palavras<br />

como shopping center , delivery e drivethrough<br />

sejam proibidas em nomes de<br />

estabelecimentos e marcas. Engajado<br />

nessa valorosa luta contra o inimigo<br />

ianque, que quer fazer área de livre<br />

comércio com nosso inculto e belo idioma,<br />

venho sugerir algumas outras medidas<br />

que serão de extrema importância para a<br />

preservação da soberania nacional, a<br />

saber:<br />

........<br />

Nenhum cidadão carioca ou gaúcho<br />

poderá dizer "Tu vai" em espaços públicos<br />

do território nacional;<br />

Nenhum cidadão paulista poderá dizer "Eu<br />

lhe amo" e retirar ou acrescentar o plural<br />

em sentenças como "Me vê um chopps e<br />

dois pastel";<br />

..........<br />

Nenhum dono de borracharia poderá<br />

escrever cartaz com a palavra "borraxaria"<br />

e nenhum dono de banca de jornal<br />

anunciará "Vende-se cigarros";<br />

..........<br />

Nenhum livro de gramática obrigará os<br />

alunos a utilizar colocações pronominais<br />

como "casar-me-ei" ou "ver-se-ão".<br />

PIZA, Daniel. Uma proposta imodesta. O Estado de<br />

S. Paulo, São Paulo, 8/04/2001.<br />

No texto acima, o autor:<br />

A) mostra-se favorável ao teor da<br />

proposta por entender que a língua<br />

portuguesa deve ser protegida contra<br />

deturpações de uso.<br />

B) ironiza o projeto de lei ao sugerir<br />

medidas que inibam determinados usos<br />

regionais e socioculturais da língua.<br />

C) denuncia o desconhecimento de regras<br />

elementares de concordância verbal e<br />

nominal pelo falante brasileiro.<br />

D) revela-se preconceituoso em relação a<br />

certos registros lingüísticos ao propor<br />

medidas que os controlem.<br />

E) defende o ensino rigoroso da gramática<br />

para que todos aprendam a empregar<br />

corretamente os pronomes.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. O autor ironiza o<br />

projeto de lei que proíbe o uso de<br />

estrangeirismos no Brasil. Não adianta criarse<br />

uma expectativa ou preocupação em<br />

relação ao uso de termos estrangeiros na<br />

língua e esquecer-se de que a língua é um<br />

organismo vivo, mutável. A dinâmica de uma<br />

língua não pode ser regida por preceitos<br />

legais como quer o projeto.<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão reproduz trechos de um<br />

texto que aborda o polêmico projeto de<br />

proibição de uso de termos estrangeiros no<br />

Brasil. A partir da leitura atenta do texto de<br />

Daniel Piza, o participante é levado a refletir<br />

sobre a postura adotada pelo autor em<br />

relação ao referido projeto. Para<br />

compreender esse texto, o participante<br />

precisa reconhecer o tom irônico que marca<br />

as observações e sugestões feitas por seu<br />

autor. Assim, Daniel Piza, "engajado nessa<br />

valorosa luta contra o inimigo ianque", sugere<br />

a proibição de algumas formas lingüísticas de<br />

uso corrente que contrariam recomendações<br />

da gramática normativa. O participante deve<br />

reconhecer que, com sugestões como essas,<br />

Daniel Piza deixa implícita uma crítica à<br />

utilidade do projeto de proibição dos<br />

estrangeirismos como forma de proteger a<br />

Língua Portuguesa. Nesse contexto, a ironia


torna-se mais clara, bem como o mecanismo<br />

textual que a constrói. Feito tal<br />

reconhecimento, o aluno encontra a resposta<br />

correta na alternativa B, assinalada por cerca<br />

da metade dos participantes. Nenhuma outra<br />

alternativa contempla o aspecto irônico,<br />

essencial para a compreensão do texto.<br />

38) (2005) O termo (ou expressão)<br />

destacado que está empregado em seu<br />

sentido próprio, denotativo ocorre em:<br />

A) “(....)<br />

É de laço e de nó<br />

De gibeira o jiló<br />

Dessa vida, cumprida a sol (....)”<br />

(Renato Teixeira. Romaria. Kuarup Discos.<br />

setembro de 1992.)<br />

B) “Protegendo os inocentes<br />

é que Deus, sábio demais,<br />

põe cenários diferentes<br />

nas impressões digitais.”<br />

(Maria N. S. Carvalho. Evangelho da Trova. /s.n.b.)<br />

C) “O dicionário-padrão da língua e os<br />

dicionários unilíngües são os tipos mais<br />

comuns de dicionários. Em nossos<br />

dias, eles se tornaram um objeto de<br />

consumo obrigatório para as nações<br />

civilizadas e desenvolvidas.”<br />

(Maria T. Camargo Biderman.<br />

O dicionário-padrão da língua. Alfa (28), 2743, 1974 Supl.)<br />

D)<br />

E) “Humorismo é a arte de fazer cócegas<br />

no raciocínio dos outros. Há duas<br />

espécies de humorismo: o trágico e o<br />

cômico. O trágico é o que não<br />

consegue fazer rir; o cômico é o que é<br />

verdadeiramente trágico para se fazer.”<br />

(Leon Eliachar. www.mercadolivre.com.br.<br />

acessado em julho de 2005.)<br />

Comentário<br />

A definição do dicionário-padrão da língua<br />

utiliza o sentido denotativo da palavra para<br />

explicar o uso de determinado tipo de<br />

dicionário. Em todas as outras alternativas,<br />

as palavras estão sendo empregadas em<br />

sentido metafórico. Na letra A, "cumprida a<br />

sol" pode mostrar o sofrimento e a solidão.<br />

Na alternativa B, "cenários diferentes" são as<br />

diferenças físicas encontradas nas<br />

impressões digitais. Na letra D, "bateria" é o<br />

termo usado para expressar a "energia" do<br />

Menino Maluquinho, que nunca acaba. Por<br />

fim, na alternativa E, "fazer cócegas no<br />

raciocínio" significa expressar graça por meio<br />

de idéias, fazendo com que o cérebro ache<br />

um fato divertido e, por conseguinte, faça<br />

com que a pessoa ria como se sofresse um<br />

ataque de cócegas.<br />

39) (2003) Pequenos tormentos da vida<br />

De cada lado da sala de aula, pelas janelas<br />

altas, o azul convida os meninos,<br />

as nuvens desenrolam-se, lentas como quem<br />

vai inventando<br />

preguiçosamente uma história sem fim...Sem<br />

fim é a aula: e nada acontece,<br />

nada...Bocejos e moscas. Se ao menos,<br />

pensa Margarida, se ao menos um<br />

avião entrasse por uma janela e saísse por<br />

outra!<br />

(Mário Quintana. Poesias)<br />

Na cena retratada no texto, o sentimento<br />

do tédio<br />

A) provoca que os meninos fiquem<br />

contando histórias.<br />

B) leva os alunos a simularem bocejos,<br />

em protesto contra a monotonia da<br />

aula.<br />

C) acaba estimulando a fantasia,<br />

criando a expectativa de algum<br />

imprevisto mágico.<br />

D) prevalece de modo absoluto,<br />

impedindo até mesmo a distração ou o<br />

exercício do pensamento.<br />

E) decorre da morosidade da aula, em<br />

contraste com o movimento acelerado<br />

das nuvens e das moscas.<br />

Comentário<br />

Essa questão aborda o imaginário<br />

decorrente do marasmo trazido pela escola.<br />

O texto enfatiza o arrastar do tempo na<br />

mente de uma aluna, Margarida, que se põe<br />

a pensar em fatos mágicos ou imaginários<br />

que pudessem romper com a lentidão da<br />

aula.<br />

269


40) (1999)<br />

Diante da visão de um prédio com uma<br />

placa indicando SAPATARIA PAPALIA,<br />

um jovem deparou com a dúvida: como<br />

pronunciar a palavra PAPALIA?<br />

Levado o problema à sala de aula, a<br />

discussão girou em torno da utilidade de<br />

conhecer as regras de acentuação e,<br />

especialmente, do auxílio que elas podem<br />

dar à correta pronúncia de palavras.<br />

Após discutirem pronúncia, regras de<br />

acentuação e escrita, três alunos<br />

apresentaram as seguintes conclusões a<br />

respeito da palavra PAPALIA:<br />

I. Se a sílaba tônica for o segundo PA, a<br />

escrita deveria ser PAPÁLIA, pois a<br />

palavra seria paroxítona terminada em<br />

ditongo crescente.<br />

II. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />

deveria ser PAPALÍA, pois "i" e "a"<br />

estariam formando hiato.<br />

III. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />

deveria ser PAPALIA, pois não haveria<br />

razão para o uso de acento gráfico.<br />

A conclusão está correta apenas em:<br />

A) III D) I<br />

B) I e II E) II<br />

C) I e III<br />

Comentário<br />

Essa questão exige bom conhecimento<br />

das regras de acentuação. A alternativa A diz<br />

que apenas a afirmação I é verdadeira. De<br />

fato ela é, mas não é a única. Nela, temos a<br />

hipótese de a palavra ser grafada como se a<br />

sílaba forte fosse a penúltima — papália —,<br />

justificando seu acento gráfico. Vejamos o<br />

que dizem as regras de acentuação.<br />

Acentuam-se as palavras paroxítonas<br />

terminadas em: i, is, us, um, uns, l, n, r, x,<br />

ps, ã, ãs, ão, ãos, ditongos orais,<br />

crescentes ou decrescentes, seguidos ou<br />

não de S. Isso valida, portanto, a afirmação I.<br />

A afirmação II pressupõe que a sílaba<br />

tônica seja LI, em hiato com A: no caso de<br />

essa ser a tonicidade da palavra, a sílaba LI<br />

não poderia ser acentuada, pois I, mesmo<br />

sendo a tônica do hiato, não é a última vogal,<br />

portanto, essa afirmativa é falsa.<br />

A afirmação III considera que a sílaba<br />

tônica é LI, não havendo acento por ser o I a<br />

primeira vogal do hiato. Portanto, essa<br />

afirmação é verdadeira.<br />

Concluindo, temos como verdadeiras as<br />

afirmações I e III. Então, a alternativa E é a<br />

correta. Questão de nível difícil.<br />

Comentário do INEP<br />

Dentre os participantes, somente pouco<br />

mais de um terço (35%) demonstrou possuir<br />

a habilidade para identificar as regras de<br />

acentuação corretas, enunciadas na questão.<br />

Chama a atenção o fato de que 73% dos<br />

participantes (alternativas A, D e E)<br />

reconheceram corretamente, pelo menos, a<br />

regra contida no item I, sendo que cerca de<br />

40% desses, contudo, tiveram dificuldades<br />

em analisar as regras II e III.<br />

Em se tratando de palavra não-usual, é,<br />

sobretudo, o domínio do conhecimento das<br />

regras e não a possível pronúncia correta,<br />

pelo uso, o que parece ter sido revelado.<br />

41) (2008)<br />

Exame, 28/9/2007.<br />

Entre os seguintes ditos populares, qual<br />

deles melhor corresponde à figura<br />

acima?<br />

A) Com perseverança, tudo se alcança.<br />

B) Cada macaco no seu galho.<br />

C) Nem tudo que balança cai.<br />

D) Quem tudo quer, tudo perde.<br />

E) Deus ajuda quem cedo madruga.<br />

Comentário<br />

Assim como a questão 37, esta também<br />

envolve interpretação de signos, ou seja, o<br />

aluno precisa estar atento à imagem e<br />

relacioná-la ao dito popular correspondente.<br />

270


A alternativa "A" é a correta, pois, para<br />

uma lesma “grudenta” e vagarosa conseguir<br />

pular numa cama elástica, é necessária<br />

muita perseverança.<br />

42) (2002) A crônica muitas vezes constitui<br />

um espaço para reflexão sobre aspectos<br />

da sociedade em que vivemos.<br />

"Eu, na rua, com pressa, e o menino<br />

segurou no meu braço, falou qualquer<br />

coisa que não entendi. Fui logo dizendo<br />

que não tinha, certa de que ele estava<br />

pedindo dinheiro. Não estava. Queria<br />

saber a hora.<br />

Talvez não fosse um Menino De<br />

Família, mas também não era um Menino<br />

De Rua. É assim que a gente divide.<br />

Menino De Família é aquele bem-vestido<br />

com tênis da moda e camiseta de marca,<br />

que usa relógio e a mãe dá outro se o<br />

dele for roubado por um Menino De Rua.<br />

Menino De Rua é aquele que quando a<br />

gente passa perto segura a bolsa com<br />

força porque pensa que ele é pivete,<br />

trombadinha, ladrão. (...) Na verdade não<br />

existem meninos De rua.<br />

Existem meninos NA rua. E toda vez<br />

que um menino está NA rua é porque<br />

alguém o botou lá. Os meninos não vão<br />

sozinhos aos lugares. Assim como são<br />

postos no mundo, durante muitos anos<br />

também são postos onde quer que<br />

estejam. Resta ver quem os põe na rua. E<br />

por quê."<br />

COLASSANTI, Marina. In: Eu sei, mas não devia. Rio de<br />

Janeiro: Rocco, 1999.<br />

Comentário do INEP<br />

A reprodução de um trecho de uma<br />

crônica de Marina Colassanti tematiza uma<br />

importante questão social brasileira: a<br />

presença de milhões de crianças nas ruas do<br />

País. A autora, ao tratar desse problema,<br />

vale-se de recursos lingüísticos específicos.<br />

O objetivo desta questão é justamente<br />

chamar a atenção do participante leitor para<br />

esses recursos e os efeitos de sentido que<br />

eles desencadeiam no texto. Na raiz da<br />

questão destaca-se a troca de "De" por "NA"<br />

e pede-se que se determine qual relação de<br />

sentido essa substituição estabelece entre os<br />

termos "menino" e "rua". Analisar a relação,<br />

nesse caso, significa perguntar-se sobre o<br />

sentido de dois sintagmas criados no texto:<br />

"meninos NA rua" por oposição a "meninos<br />

De rua". O que a autora pretende negar, com<br />

a troca do termo de relação, é a possibilidade<br />

de que existam meninos de rua diferentes de<br />

outros meninos, que não têm na rua a sua<br />

origem. O destaque para a preposição na<br />

nos leva a refletir que a relação dos meninos<br />

com a rua é de localização: eles estão ali por<br />

alguma razão, não porque essa seja a sua<br />

qualificação. Essa reflexão levaria o aluno a<br />

escolher, como correta, a resposta<br />

apresentada na alternativa A, assinalada por<br />

cerca de metade dos participantes.<br />

43) (2005) Leia estes textos.<br />

Texto 1<br />

No terceiro parágrafo em "... não existem<br />

meninos De rua. Existem meninos NA<br />

rua.", a troca de De pelo Na determina<br />

que a relação de sentido entre "menino" e<br />

"rua" seja<br />

A) de localização e não de qualidade.<br />

B) de origem e não de posse.<br />

C) de origem e não de localização.<br />

D) de qualidade e não de origem.<br />

E) de posse e não de localização.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. Apesar de não<br />

haver um terceiro parágrafo neste texto, a<br />

troca das preposições ao final do SEGUNDO<br />

parágrafo indica claramente que não há um<br />

menino DE (proveniente de) rua, mas um<br />

menino que está NA (foi levado à) rua.<br />

Portanto, a relação é unicamente de<br />

localização (onde ele está) e não de<br />

qualidade (o que ele é).<br />

Texto 2<br />

Sonhar<br />

Mais um sonho impossível<br />

Lutar<br />

Quando é fácil ceder<br />

Vencer o inimigo invencível<br />

Negar quando a regra é vender<br />

Sofrer a tortura implacável<br />

Romper a incabível prisão<br />

Voar num limite improvável<br />

Tocar o inacessível chão<br />

É minha lei, é minha questão<br />

Virar esse mundo<br />

Cravar esse chão<br />

Não me importa saber<br />

Se é terrível demais<br />

Quantas guerras terei que vencer<br />

Por um pouco de paz<br />

271


272<br />

E amanhã se esse chão que eu beijei<br />

For meu leito e perdão<br />

Vou saber que valeu delirar<br />

E morrer de paixão<br />

E assim, seja lá como for<br />

Vai ter fim a infinita aflição<br />

E o mundo vai ver uma flor<br />

Brotar do impossível chão.<br />

(J. Darione – M. Leigh – Versão de Chico Buarque de<br />

Hollanda e Ruy Guerra, 1972.)<br />

A tirinha e a canção apresentam uma<br />

reflexão sobre o futuro da humanidade. É<br />

correto concluir que os dois textos<br />

A) afirmam que o homem é capaz de<br />

alcançar a paz.<br />

B) concordam que o desarmamento é<br />

inatingível.<br />

C) julgam que o sonho é um desafio<br />

invencível.<br />

D) têm visões diferentes sobre um<br />

possível mundo melhor.<br />

E) transmitem uma mensagem de<br />

otimismo sobre a paz.<br />

Comentário<br />

Enquanto o primeiro texto é ácido em<br />

relação à possibilidade de desarmamento da<br />

população (ou seja, à criação de uma<br />

sociedade mais pacífica), o segundo mostra<br />

a capacidade que a humanidade tem de crer<br />

e, por isso, tentar fazer até o que a princípio<br />

parece impossível. Para os autores da<br />

canção, nada é intrinsecamente impossível.<br />

A relação entre eles é de oposição:<br />

descrença x crença. Questão de nível de<br />

dificuldade médio.<br />

44) (2000) O uso do pronome átono no início<br />

das frases é destacado por um poeta e<br />

por um gramático nos textos abaixo.<br />

Pronominais<br />

Dê-me um cigarro<br />

Diz a gramática<br />

Do professor e do aluno<br />

E do mulato sabido<br />

Mas o bom negro e o bom branco<br />

da Nação Brasileira<br />

Dizem todos os dias<br />

Deixa disso camarada<br />

Me dá um cigarro<br />

(ANDRADE, Oswald de. Seleção de textos.<br />

São Paulo: Nova Cultural, 1988)<br />

“Iniciar a frase com pronome átono só<br />

é lícito na conversação familiar,<br />

despreocupada, ou na língua escrita<br />

quando se deseja reproduzir a fala dos<br />

personagens (...).”<br />

(CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da<br />

língua portuguesa.<br />

São Paulo: Nacional, 1980)<br />

Comparando a explicação dada pelos<br />

autores sobre essa regra, pode-se afirmar<br />

que ambos:<br />

A) condenam essa regra gramatical.<br />

B) acreditam que apenas os esclarecidos<br />

sabem essa regra.<br />

C) criticam a presença de regras na<br />

gramática.<br />

D) afirmam que não há regras para uso de<br />

pronomes.<br />

E) relativizam essa regra gramatical.<br />

Comentário<br />

Questão que requer conhecimento básico<br />

de colocação pronominal, em relação ao uso<br />

de pronomes átonos no início de frases, uma<br />

regra muito pouco respeitada pelo brasileiro, da<br />

qual Oswald de Andrade faz questão de falar<br />

em seu poema. Porém, a questão pode ser<br />

resolvida simplesmente por meio de uma leitura<br />

bem atenta dos textos. Se formos analisando<br />

alternativa por alternativa, a eliminação é clara<br />

e lógica: a alternativa a fica totalmente<br />

descartada devido à transparência da<br />

colocação dos dois autores (Me dá um<br />

cigarro...) e (iniciar frases com o pronome<br />

átono é "lícito" na conversação familiar ou<br />

despreocupada). Já a alternativa b pode até<br />

mesmo gerar um pouco de dúvida a quem não<br />

se atém bem à pergunta. Quanto às<br />

alternativas c e d, ficam descartadas, pois, em<br />

momento nenhum, os autores criticaram o uso<br />

de regras gramaticais em seus textos, cabendo<br />

perfeitamente a alternativa e para as<br />

afirmações do gramático e do poeta.<br />

Comentário do INEP<br />

Essa questão pretendia verificar como o<br />

participante analisa um fato lingüístico,<br />

mediante a comparação da descrição desse<br />

fato em dois textos. Sabe-se que, normalmente<br />

em situação escolar, o uso do pronome átono<br />

no início da frase é julgado como grave desvio<br />

gramatical, e pouco se analisa esse uso na fala<br />

ou escrita informal. Os dois autores dos textos,<br />

com intenções diferentes, relativizam essa<br />

regra gramatical, destacando e descrevendo o<br />

seu uso coloquial. A maioria dos participantes<br />

(52%) analisou e comparou corretamente as<br />

posições dos autores sobre o uso do pronome<br />

átono, e 24% deles reafirmaram a posição<br />

discriminatória da regra, deslocando-a de seu<br />

uso.


45) (2000) As histórias em quadrinhos, por<br />

vezes, utilizam animais como<br />

personagens e a eles atribuem<br />

comportamento humano. O gato Garfield<br />

é exemplo desse fato.<br />

46) (2004)<br />

Fonte: Caderno Vida e Arte, Jornal do Povo, Fortaleza<br />

Van Gogh, pintor holandês nascido em<br />

1853, é um dos principais nomes da<br />

pintura mundial. É dele o quadro abaixo.<br />

Auto-retrato de orelha cortada<br />

O 3º quadrinho sugere que Garfield:<br />

A) desconhece tudo sobre arte, por isso<br />

faz a sugestão.<br />

B) acredita que todo pintor deve fazer algo<br />

diferente.<br />

C) defende que para ser pintor a pessoa<br />

tem de sofrer.<br />

D) conhece a história de um pintor<br />

famoso e faz uso da ironia.<br />

E) acredita que seu dono tenha tendência<br />

artística e, por isso, faz a sugestão.<br />

Comentário<br />

Outra questão de interpretação de texto.<br />

Muito simples para quem um dia ouviu falar<br />

de Van Gogh, e simplíssima para aqueles<br />

que prestam atenção em todos os elementos<br />

do enunciado. Afinal, quem deu uma<br />

espiadinha na legenda do quadro de Van<br />

Gogh matou na hora a questão.<br />

Esta questão é daquelas rápidas de serem<br />

resolvidas, associando-se os elementos<br />

apresentados.<br />

Comentário do INEP<br />

A significativa maioria (81%) dos<br />

participantes soube perceber o caráter<br />

irônico da fala do Garfield, expressa no<br />

terceiro quadrinho porque, ou conheciam a<br />

história de Van Gogh, ou apropriaram-se<br />

corretamente da informação sobre esse<br />

pintor, fornecida no enunciado.<br />

A tira "Hagar" e o poema de Alberto<br />

Caeiro (um dos heterônimos de Fernando<br />

Pessoa) expressam, com linguagens<br />

diferentes, uma mesma idéia: a de que a<br />

compreensão que temos do mundo é<br />

condicionada, essencialmente,<br />

A) pelo alcance de cada cultura.<br />

B) pela capacidade visual do observador.<br />

C) pelo senso de humor de cada um.<br />

D) pela idade do observador.<br />

E) pela altura do ponto de observação.<br />

Comentário<br />

Questão reflexiva sobre a forma como<br />

cada cultura vê o mundo sob a ótica dos<br />

limites dados pelos seus costumes e<br />

possibilidades de pensamento inerentes a<br />

cada modelo cultural. A mistura de uma tira e<br />

de um poema amplia a possibilidade de<br />

pensamento por trabalhar com linguagens<br />

diferentes. A alternativa correta é a letra A,<br />

pois ambos (tira e poema) utilizam figuras de<br />

linguagem (metáfora e ironia) para expressar<br />

as diferentes visões de mundo.<br />

47) (2003)<br />

O humor presente na tirinha decorre<br />

principalmente do fato de a personagem<br />

Mafalda<br />

A) atribuir, no primeiro quadrinho, poder<br />

ilimitado ao dedo indicador.<br />

B) considerar seu dedo indicador tão<br />

importante quanto o dos patrões.<br />

C) atribuir, no primeiro e no último<br />

quadrinhos, um mesmo sentido ao<br />

vocábulo "indicador".<br />

D) usar corretamente a expressão<br />

"indicador de desemprego", mesmo<br />

sendo criança.<br />

273


E) atribuir, no último quadrinho, fama<br />

exagerada ao dedo indicador dos<br />

patrões.<br />

Comentário<br />

A questão pede a interpretação de uma<br />

charge da personagem Mafalda, em que ela<br />

faz referência a seu dedo indicador, que é<br />

usado como substantivo primitivo e que<br />

possibilita a analogia com “indicador de<br />

desemprego”. Dessa forma, ela ironiza os<br />

indicadores sociais. Na charge, porém, não<br />

há menção explícita aos índices<br />

“indicadores”, permanecendo o raciocínio<br />

preso apenas ao dedo indicador. Assim, ela<br />

utiliza, tanto no primeiro quanto no último<br />

quadrinho, a palavra “indicador” como<br />

referência ao dedo, não dando abertura a<br />

outro tipo de interpretação.<br />

48) (2009)<br />

B) cuja linguagem se caracteriza por ser<br />

rápida e clara, que facilita a<br />

compreensão, como se percebe na fala<br />

do segundo quadrinho:"<br />

<br />

".<br />

C) em que o uso de letras com<br />

espessuras diversas está ligado a<br />

sentimentos expressos pelos<br />

personagens, como pode ser percebido<br />

no último quadrinho.<br />

D) que possui em seu texto escrito<br />

características próximas a uma<br />

conversação face a face, como pode<br />

ser percebido no segundo quadrinho.<br />

E) em que a localização casual dos balões<br />

nos quadrinhos expressa com clareza a<br />

sucessão cronológica da história, como<br />

pode ser percebido no segundo<br />

quadrinho.<br />

Comentário<br />

(QUESTÃO: AZUL <strong>10</strong>5, BRANCA <strong>10</strong>5,<br />

ROSA <strong>10</strong>5)<br />

Questão aparentemente fácil, porém as<br />

alternativas D e E podem causar confusão.<br />

A letra D afirma que o gênero textual<br />

história em quadrinhos, em seu<br />

texto, apresenta características de "uma<br />

conversação face a face", como a frase "Fala<br />

HTML!", exposta no segundo quadrinho da<br />

tirinha.<br />

A letra E estabelece que a localização<br />

casual dos balões com as falas indica "a<br />

sucessão cronológica da história", o que, de<br />

fato, também ocorre no segundo<br />

quadrinho. Essa alternativa não poderia ser<br />

indicada como a correta, pois a palavra<br />

casual não se adequa à constituição do<br />

gênro em questão.<br />

Dessa forma, a alternativa correta é a letra<br />

D.<br />

274<br />

ITURRUSGARAI, A. La Vie en Rose.<br />

Folha de S.Paulo, 11 ago. 2007.<br />

Os quadrinhos exemplificam que as<br />

Histórias em Quadrinhos constituem um<br />

gênero textual<br />

A) em que a imagem pouco contribui para<br />

facilitar a interpretação da mensagem<br />

contida no texto, como pode ser<br />

constatado no primeiro quadrinho.<br />

H19 - Analisar a função da<br />

linguagem predominante nos<br />

textos em situações<br />

específicas de interlocução.<br />

01) (2001) O mundo é grande<br />

O mundo é grande e cabe<br />

Nesta janela sobre o mar.<br />

O mar é grande e cabe<br />

Na cama e no colchão de amar.<br />

O amor é grande e cabe<br />

No breve espaço de beijar.<br />

ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e prosa.<br />

Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983.


Neste poema, o poeta realizou uma opção<br />

estilística: a reiteração de determinadas<br />

construções e expressões lingüísticas,<br />

como o uso da mesma conjunção para<br />

estabelecer a relação entre as frases.<br />

Essa conjunção estabelece, entre as<br />

idéias relacionadas, um sentido de<br />

A) oposição.<br />

B) comparação.<br />

C) conclusão.<br />

D) alternância.<br />

E) finalidade.<br />

Comentário<br />

Há três elementos repetidos neste trecho:<br />

o verbo ser, o artigo definido o e a conjunção<br />

aditiva e. A conjunção e estabelece uma<br />

relação entre idéias que, concretamente, são<br />

opostas (ex.: "O mundo é grande e cabe<br />

nesta janela sobre o mar"). A alternativa<br />

correta é a letra A.<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão apresenta, para leitura e<br />

análise, o poema "O mundo é grande", onde<br />

os recursos lingüísticos expressivos<br />

utilizados geram um efeito de oposição entre<br />

as idéias. A análise sintático-semântica é<br />

necessária para a compreensão do valor de<br />

oposição assumido pela conjunção "e":<br />

imagens justapostas estão relacionadas,<br />

contrapondo-se em planos diferentes. Um<br />

percentual significativo (46%) de<br />

participantes considerou que o valor da<br />

conjunção "e", nesse poema, é de<br />

comparação, o que não reflete o sentido<br />

estilístico proposto pelo poeta, mas<br />

corresponde apenas à primeira operação que<br />

se realiza para estabelecer o sentido de<br />

oposição. De maneira análoga, pode-se<br />

analisar os equívocos daqueles que optaram<br />

pelas alternativas C e D.<br />

02) (1999) SONETO DE FIDELIDADE<br />

De tudo, ao meu amor serei atento<br />

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto<br />

Que mesmo em face do maior encanto<br />

Dele se encante mais meu pensamento.<br />

Quero vivê-lo em cada vão momento<br />

E em seu louvor hei de espalhar meu<br />

canto<br />

E rir meu riso e derramar meu pranto<br />

Ao seu pesar ou seu contentamento.<br />

E assim, quando mais tarde me procure<br />

Quem sabe a morte, angústia de quem<br />

vive<br />

Quem sabe a solidão, fim de quem ama.<br />

Eu possa dizer do meu amor (que tive):<br />

Que não seja imortal, posto que é chama<br />

Mas que seja infinito enquanto dure.<br />

(MORAES, Vinícius de. Antologia poética. São Paulo: Cia<br />

das Letras, 1992).<br />

A palavra mesmo pode assumir diferentes<br />

significados, de acordo com a sua função<br />

na frase. Assinale a alternativa em que o<br />

sentido de mesmo equivale ao que se<br />

verifica no 3º verso da 1ª estrofe do<br />

poema de Vinícius de Moraes.<br />

A) "Pai, para onde fores, / irei também<br />

trilhando as mesmas ruas..." (Augusto<br />

dos Anjos)<br />

B) "Agora, como outrora, há aqui o<br />

mesmo contraste da vida interior, que<br />

é modesta, com a exterior, que é<br />

ruidosa." (Machado de Assis)<br />

C) "Havia o mal, profundo e persistente,<br />

para o qual o remédio não surtiu efeito,<br />

mesmo em doses variáveis."<br />

(Raimundo Faoro)<br />

D) "Mas, olhe cá, Mana Glória, há<br />

mesmo necessidade de fazê-lo<br />

padre?" (Machado de Assis)<br />

E) "Vamos de qualquer maneira, mas<br />

vamos mesmo." (Aurélio)<br />

Comentário<br />

Nessa questão, uma pequena análise<br />

sintática se faz necessária: mesmo, em<br />

ambos os casos, é conjunção subordinativa<br />

concessiva, introduzindo, portanto, uma<br />

oração subordinada cujo fato expresso é<br />

contrário ao da oração principal. Deve-se,<br />

então, recorrer à oração anterior para se ter<br />

certeza quanto à classificação. Grau<br />

moderado de dificuldade.<br />

Comentário do INEP<br />

Este problema buscou colocar o<br />

participante diante de uma situação que<br />

exigia a mobilização de seus mecanismos de<br />

reflexão sobre os processos lingüísticos em<br />

que um significante (uma palavra) assume<br />

diferentes significados, no enunciado, de<br />

acordo com a intenção do enunciador. Neste<br />

caso, além da compreensão da<br />

transformação de significado, é necessária a<br />

alteração de função morfossintática.<br />

Verifica-se que 62% dos participantes<br />

conseguiram identificar e analisar esse<br />

processo lingüístico, comparando a função<br />

do significante em diferentes enunciados.<br />

Isso demonstrou um domínio parcial da<br />

reflexão sobre a Língua Portuguesa, em<br />

diferentes contextos e textos.<br />

275


Os 18% dos participantes que<br />

assinalaram a alternativa B identificaram a<br />

diferença de significados mas,<br />

provavelmente, têm dificuldades em analisar<br />

estas mudanças em nível morfossintático<br />

(alternativa B).<br />

03) ( 2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />

poema.<br />

A DANÇA E A ALMA<br />

A DANÇA? Não é movimento,<br />

súbito gesto musical.<br />

É concentração, num momento,<br />

da humana graça natural.<br />

No solo não, no éter pairamos,<br />

nele amaríamos ficar.<br />

A dança – não vento nos ramos:<br />

seiva, força, perene estar.<br />

Um estar entre céu e chão,<br />

novo domínio conquistado,<br />

onde busque nossa paixão<br />

libertar-se por todo lado...<br />

Onde a alma possa descrever<br />

suas mais divinas parábolas<br />

sem fugir à forma do ser,<br />

por sobre o mistério das fábulas.<br />

(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />

Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />

A definição de dança, em linguagem de<br />

dicionário, que mais se aproxima do que<br />

está expresso no poema é<br />

A) a mais antiga das artes, servindo como<br />

elemento de comunicação e afirmação<br />

do homem em todos os momentos de<br />

sua existência.<br />

B) a forma de expressão corporal que<br />

ultrapassa os limites físicos,<br />

possibilitando ao homem a liberação de<br />

seu espírito.<br />

C) a manifestação do ser humano,<br />

formada por uma seqüência de gestos,<br />

passos e movimentos desconcertados.<br />

D) o conjunto organizado de movimentos<br />

do corpo, com ritmo determinado por<br />

instrumentos musicais, ruídos, cantos,<br />

emoções etc.<br />

E) o movimento diretamente ligado ao<br />

psiquismo do indivíduo e, por<br />

conseqüência, ao seu desenvolvimento<br />

intelectual e à sua cultura.<br />

Comentário<br />

A pergunta busca a aplicação do conceito<br />

de "estado de dicionário" (que também foi<br />

desenvolvido por Drummond no poema "A<br />

Procura da Poesia"). A literatura busca partir<br />

de palavras em estado de dicionário para,<br />

pelo aprofundamento do sentido delas, criar<br />

um mundo mais denso e particular. Em<br />

estado de dicionário, a dança, conforme é<br />

tratada nesse poema, apareceria na<br />

alternativa B: uma justaposição entre<br />

aspectos físicos e espirituais da expressão<br />

humana. Questão complexa.<br />

04) (2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />

poema.<br />

A DANÇA E A ALMA<br />

A DANÇA? Não é movimento,<br />

súbito gesto musical.<br />

É concentração, num momento,<br />

da humana graça natural.<br />

No solo não, no éter pairamos,<br />

nele amaríamos ficar.<br />

A dança – não vento nos ramos:<br />

seiva, força, perene estar.<br />

Um estar entre céu e chão,<br />

novo domínio conquistado,<br />

onde busque nossa paixão<br />

libertar-se por todo lado...<br />

Onde a alma possa descrever<br />

suas mais divinas parábolas<br />

sem fugir à forma do ser,<br />

por sobre o mistério das fábulas.<br />

(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />

Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />

O poema “A Dança e a Alma” é construído<br />

com base em contrastes, como<br />

“movimento” e “concentração”. Em uma<br />

das estrofes, o termo que estabelece<br />

contraste com solo é:<br />

A) éter. D) paixão.<br />

B) seiva. E) ser.<br />

C) chão.<br />

Comentário<br />

O elemento que contrasta com "solo"<br />

(físico, tangível, perene) é "éter" (espiritual,<br />

intangível, volátil). Questão de nível médio de<br />

dificuldade.<br />

05) ( 2008) O surgimento da figura da Ema<br />

no céu, ao leste, no anoitecer, na segunda<br />

quinzena de junho, indica o início do<br />

inverno para os índios do sul do Brasil e o<br />

começo da estação seca para os do norte.<br />

É limitada pelas constelações de<br />

Escorpião e do Cruzeiro do Sul, ou<br />

Cut'uxu. Segundo o mito guarani, o<br />

Cut’uxu segura a cabeça da ave para<br />

garantir a vida na Terra, porque, se ela se<br />

soltar, beberá toda a água do nosso<br />

planeta. Os tupisguaranis utilizam o<br />

276


Cut'uxu para se orientar e determinar a<br />

duração das noites e as estações do ano.<br />

A ilustração a seguir é uma representação<br />

dos corpos celestes que constituem a<br />

constelação da Ema, na percepção<br />

indígena.<br />

tiver noção desses conceitos,<br />

chegará facilmente à resposta. A linguagem<br />

formal ou culta prevalece no texto, e o termo<br />

“Cut’uxu’ não é um termo informal, mas, sim,<br />

uma expressão que pertence a uma língua<br />

indígena — o que justifica o emprego da<br />

palavra em itálico. A resposta correta é,<br />

portanto, a letra "B".<br />

Almanaque BRASIL, maio/2007 (com adaptações).<br />

A próxima figura mostra, em campo de<br />

visão ampliado, como povos de culturas<br />

não-indígenas percebem o espaço estelar<br />

em que a Ema é vista.<br />

Internet: (com adaptações).<br />

Assinale a opção correta a respeito da<br />

linguagem empregada no texto A Ema.<br />

A) A palavra Cut’uxu é um regionalismo<br />

utilizado pelas populações próximas às<br />

aldeias indígenas.<br />

B) O autor se expressa em linguagem<br />

formal em todos os períodos do texto.<br />

C) A ausência da palavra Ema no início do<br />

período “É limitada (...)” caracteriza<br />

registro oral.<br />

D) A palavra Cut’uxu está destacada em<br />

itálico porque integra o vocabulário da<br />

linguagem informal.<br />

E) No texto, predomina a linguagem<br />

coloquial porque ele consta de um<br />

almanaque.<br />

Comentário<br />

A questão é simples, mas requer cuidados<br />

quanto aos conceitos de linguagem<br />

“informal”, “formal” e de “língua”. Se o aluno<br />

06) (2008) Calcula-se que 78% do<br />

desmatamento na Amazônia tenha sido<br />

motivado pela pecuária — cerca de 35%<br />

do rebanho nacional está na região — e<br />

que pelo menos 50 milhões de hectares<br />

de pastos são pouco produtivos. Enquanto<br />

o custo médio para aumentar a<br />

produtividade de 1 hectare de pastagem é<br />

de 2 mil reais, o custo para derrubar igual<br />

área de floresta é estimado em 800 reais,<br />

o que estimula novos desmatamentos.<br />

Adicionalmente, madeireiras retiram as<br />

árvores de valor comercial que foram<br />

abatidas para a criação de pastagens. Os<br />

pecuaristas sabem que problemas<br />

ambientais como esses podem provocar<br />

restrições à pecuária nessas áreas, a<br />

exemplo do que ocorreu em 2006 com o<br />

plantio da soja, o qual, posteriormente, foi<br />

proibido em áreas de floresta.<br />

Época, 3/3/2008 e 9/6/2008 (com adaptações).<br />

A partir da situação-problema descrita,<br />

conclui-se que<br />

A) o desmatamento na Amazônia decorre<br />

principalmente da exploração ilegal de<br />

árvores de valor comercial.<br />

B) um dos problemas que os pecuaristas<br />

vêm enfrentando na Amazônia é a<br />

proibição do plantio de soja.<br />

C) a mobilização de máquinas e de força<br />

humana torna o desmatamento mais<br />

caro que o aumento da produtividade<br />

de pastagens.<br />

D) o superavit comercial decorrente da<br />

exportação de carne produzida na<br />

Amazônia compensa a possível<br />

degradação ambiental.<br />

E) a recuperação de áreas desmatadas<br />

e o aumento de produtividade das<br />

pastagens podem contribuir para a<br />

redução do desmatamento na<br />

Amazônia.<br />

Comentário do portal<br />

Essa questão retrata o problema do<br />

desmatamento da Amazônia, relacionado<br />

principalmente com o desenvolvimento da<br />

pecuária na região. Para resolvê-la, foram<br />

277


necessários a leitura atenta do texto e o<br />

conhecimento sobre os problemas<br />

ambientais da atualidade. A alternativa<br />

correta é a letra E, pois é mais caro para os<br />

pecuaristas aumentar a produtividade do que<br />

as áreas de pasto, o que acarreta o aumento<br />

do desmatamento da Amazônia.<br />

07) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />

preciso, além de conhecer o padrão<br />

formal da Língua Portuguesa, saber<br />

adequar o uso da linguagem ao contexto<br />

discursivo. Para exemplificar este fato,<br />

seu professor de Língua Portuguesa<br />

convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />

Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />

brinca com situações de discurso oral que<br />

fogem à expectativa do ouvinte.<br />

Aí, Galera<br />

Jogadores de futebol podem ser<br />

vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />

você pode imaginar um jogador de futebol<br />

dizendo "estereotipação"? E, no<br />

entanto, por que não?<br />

- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />

galera.<br />

- Minha saudação aos aficionados do<br />

clube e aos demais esportistas, aqui<br />

presentes ou no recesso dos seus lares.<br />

- Como é?<br />

- Aí, galera.<br />

- Quais são as instruções do técnico?<br />

- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />

trabalho de contenção coordenada, com<br />

energia otimizada, na zona de<br />

preparação, aumentam as<br />

probabilidades de, recuperado o<br />

esférico, concatenarmos um contragolpe<br />

agudo com parcimônia de meios e<br />

extrema objetividade, valendo-nos da<br />

desestruturação momentânea do<br />

sistema oposto, surpreendido pela<br />

reversão inesperada do fluxo da ação:<br />

- Ahn?<br />

- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />

pegá eles sem calça.<br />

- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />

coisa?<br />

- Posso dirigir uma mensagem de<br />

caráter sentimental, algo banal, talvez<br />

mesmo previsível e piegas, a uma<br />

pessoa à qual sou ligado por razões,<br />

inclusive, genéticas?<br />

- Pode.<br />

- Uma saudação para a minha<br />

progenitora.<br />

- Como é?<br />

278<br />

- Alô, mamãe!<br />

- Estou vendo que você é um, um...<br />

- Um jogador que confunde o<br />

entrevistador, pois não corresponde à<br />

expectativa de que o atleta seja um ser<br />

algo primitivo com dificuldade de<br />

expressão e assim sabota a<br />

estereotipação?<br />

- Estereoquê?<br />

- Um chato?<br />

- Isso.<br />

Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />

O texto retrata duas situações<br />

relacionadas que fogem à expectativa do<br />

público. São elas:<br />

A) a saudação do jogador aos fãs do<br />

clube, no início da entrevista, e a<br />

saudação final dirigida à sua mãe.<br />

B) a linguagem muito formal do jogador,<br />

inadequada à situação da entrevista, e<br />

um jogador que fala, com desenvoltura,<br />

de modo muito rebuscado.<br />

C) o uso da expressão "galera", por parte<br />

do entrevistador, e da expressão<br />

"progenitora", por parte do jogador.<br />

D) o desconhecimento, por parte do<br />

entrevistador, da palavra<br />

"estereotipação", e a fala do jogador<br />

em "é pra dividir no meio e ir pra cima<br />

pra pegá eles sem calça".<br />

E) o fato de os jogadores de futebol serem<br />

vítimas de estereotipação e o jogador<br />

entrevistado não corresponder ao<br />

estereótipo.<br />

Comentário<br />

Quando pensamos em certas profissões,<br />

imaginamos qual seria o padrão de<br />

comportamento de quem as exerce. O texto<br />

está trabalhando uma divergência entre o<br />

que esperamos de um jogador de futebol (o<br />

estereótipo que temos dele) e um jogador<br />

que não se enquadra em nossas<br />

expectativas. Levando isso em consideração,<br />

as duas coisas que destoam do que<br />

esperamos encontrar nessa situação são: 1)<br />

alguém, ao dar uma entrevista de alto<br />

alcance popular, fala de maneira<br />

extremamente rebuscada; 2) um jogador que,<br />

ao falar de maneira rebuscada, acaba por<br />

fugir do estereótipo do jogador de futebol, de<br />

quem sempre é esperado algo menos<br />

rebuscado e mais popular.


08) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />

preciso, além de conhecer o padrão<br />

formal da Língua Portuguesa, saber<br />

adequar o uso da linguagem ao contexto<br />

discursivo. Para exemplificar este fato,<br />

seu professor de Língua Portuguesa<br />

convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />

Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />

brinca com situações de discurso oral que<br />

fogem à expectativa do ouvinte.<br />

Aí, Galera<br />

Jogadores de futebol podem ser<br />

vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />

você pode imaginar um jogador de futebol<br />

dizendo "estereotipação"? E, no<br />

entanto, por que não?<br />

- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />

galera.<br />

- Minha saudação aos aficionados do<br />

clube e aos demais esportistas, aqui<br />

presentes ou no recesso dos seus lares.<br />

- Como é?<br />

- Aí, galera.<br />

- Quais são as instruções do técnico?<br />

- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />

trabalho de contenção coordenada, com<br />

energia otimizada, na zona de<br />

preparação, aumentam as<br />

probabilidades de, recuperado o<br />

esférico, concatenarmos um contragolpe<br />

agudo com parcimônia de meios e<br />

extrema objetividade, valendo-nos da<br />

desestruturação momentânea do<br />

sistema oposto, surpreendido pela<br />

reversão inesperada do fluxo da ação:<br />

- Ahn?<br />

- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />

pegá eles sem calça.<br />

- Certo. Você quer dizer mais alguma coisa?<br />

- Posso dirigir uma mensagem de caráter<br />

sentimental, algo banal, talvez mesmo<br />

previsível e piegas, a uma pessoa à qual<br />

sou ligado por razões, inclusive,<br />

genéticas?<br />

- Pode.<br />

- Uma saudação para a minha progenitora.<br />

- Como é?<br />

- Alô, mamãe!<br />

- Estou vendo que você é um, um...<br />

- Um jogador que confunde o entrevistador,<br />

pois não corresponde à expectativa de<br />

que o atleta seja um ser algo primitivo com<br />

dificuldade de expressão e assim sabota a<br />

estereotipação?<br />

- Estereoquê?<br />

- Um chato?<br />

- Isso.<br />

Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />

O texto mostra uma situação em que a<br />

linguagem usada é inadequada ao<br />

contexto. Considerando as diferenças<br />

entre língua oral e língua escrita, assinale<br />

a opção que representa também uma<br />

inadequação da linguagem usada ao<br />

contexto:<br />

A) "o carro bateu e capotô, mas num deu<br />

pra vê direito" - um pedestre que<br />

assistiu ao acidente comenta com o<br />

outro que vai passando.<br />

B) "E aí, ô meu! Como vai essa força?" -<br />

um jovem que fala para um amigo.<br />

C) "Só um instante, por favor. Eu<br />

gostaria de fazer uma observação" -<br />

alguém comenta em uma reunião de<br />

trabalho.<br />

D) "Venho manifestar meu interesse em<br />

candidatar-me ao cargo de Secretária<br />

Executiva desta conceituada empresa"<br />

- alguém que escreve uma carta<br />

candidatando-se a um emprego.<br />

E) "Porque se a gente não resolve as<br />

coisas como têm que ser, a gente corre<br />

o risco de termos, num futuro próximo,<br />

muito pouca comida nos lares<br />

brasileiros" - um professor universitário<br />

em um congresso internacional.<br />

Comentário<br />

Essa questão está trabalhando com as<br />

nossas expectativas. Esperamos encontrar,<br />

nas diferentes situações, linguagens que<br />

correspondam à formalidade (ou à<br />

informalidade) delas. Na alternativa E, como<br />

o professor universitário está falando em um<br />

congresso internacional, espera-se que ele<br />

utilize uma linguagem mais formal e não uma<br />

linguagem coloquial como a que usou. Em<br />

todas as outras situações, a linguagem está<br />

de acordo com a situação em que está sendo<br />

empregada.<br />

09) (2006) Depois de um bom jantar: feijão<br />

com carne-seca, orelha de porco e couve<br />

com angu, arroz-mole engordurado, carne<br />

de vento assada no espeto, torresmo<br />

enxuto de toicinho da barriga, viradinho de<br />

milho verde e um prato de caldo de couve,<br />

jantar encerrado por um prato fundo de<br />

canjica com torrões de açúcar, Nhô Tomé<br />

saboreou o café forte e se estendeu na<br />

rede. A mão direita sob a cabeça, à guisa<br />

de travesseiro, o indefectível cigarro de<br />

palha entre as pontas do indicador e do<br />

polegar, envernizados pela fumaça, de<br />

unhas encanoadas e longas, ficou-se de<br />

pança para o ar, modorrento, a olhar para<br />

279


280<br />

as ripas do telhado.<br />

Quem come e não deita, a comida não<br />

aproveita, pensava Nhô Tomé... E pôs-se<br />

a cochilar. A sua modorra durou pouco;<br />

Tia Policena, ao passar pela sala, bradou<br />

assombrada:<br />

— Êêh! Sinhô! Vai drumi agora? Não!<br />

Num presta... Dá pisadêra e póde morrê<br />

de ataque de cabeça! Despois do armoço<br />

num far-má... mais despois da janta?!”<br />

Cornélio Pires. Conversas ao pé do fogo. São Paulo:<br />

Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1987.<br />

Nesse trecho, extraído de texto publicado<br />

originalmente em 1921, o narrador<br />

A) apresenta, sem explicitar juízos de<br />

valor, costumes da epoca, descrevendo<br />

os pratos servidos no jantar e a atitude<br />

de Nhô Tomé e de Tia Policena.<br />

B) desvaloriza a norma culta da língua<br />

porque incorpora à narrativa usos<br />

próprios da linguagem regional das<br />

personagens.<br />

C) condena os hábitos descritos, dando<br />

voz a Tia Policena, que tenta impedir<br />

Nhô Tomé de deitar-se após as<br />

refeições.<br />

D) utiliza a diversidade sociocultural e<br />

lingüística para demonstrar seu<br />

desrespeito às populações das zonas<br />

rurais do início do século XX.<br />

E) manifesta preconceito em relação a Tia<br />

Policena ao transcrever a fala dela com<br />

os erros próprios da região.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil, pois a alternativa<br />

"A" deixa clara a intencionalidade do<br />

narrador. Entretanto, o aluno poderia optar<br />

pela alternativa "B" caso não desse o devido<br />

valor ao sentido da palavra “desvaloriza”, que<br />

a elimina.<br />

<strong>10</strong>) (2007) Texto I<br />

Agora Fabiano conseguia arranjar as<br />

idéias. O que o segurava era a família.<br />

Vivia preso como um novilho amarrado ao<br />

mourão, suportando ferro quente. Se não<br />

fosse isso, um soldado amarelo não lhe<br />

pisava o pé não. (...) Tinha aqueles<br />

cambões pendurados ao pescoço.<br />

Deveria continuar a arrastá-los? Sinha<br />

Vitória dormia mal na cama de varas. Os<br />

meninos eram uns brutos, como o pai.<br />

Quando crescessem, guardariam as reses<br />

de um patrão invisível, seriam pisados,<br />

maltratados, machucados por um soldado<br />

amarelo.<br />

Graciliano Ramos. Vidas Secas. São Paulo:<br />

Martins, 23.ª ed., 1969, p. 75.<br />

Texto II<br />

Para Graciliano, o roceiro pobre é um<br />

outro, enigmático, impermeável. Não há<br />

solução fácil para uma tentativa de<br />

incorporação dessa figura no campo da<br />

ficção. É lidando com o impasse, ao invés<br />

de fáceis soluções, que Graciliano vai<br />

criar Vidas Secas, elaborando uma<br />

linguagem, uma estrutura romanesca,<br />

uma constituição de narrador em que<br />

narrador e criaturas se tocam, mas não se<br />

identificam. Em grande medida, o debate<br />

acontece porque, para a intelectualidade<br />

brasileira naquele momento, o pobre, a<br />

despeito de aparecer idealizado em certos<br />

aspectos, ainda é visto como um ser<br />

humano de segunda categoria, simples<br />

demais, incapaz de ter pensamentos<br />

demasiadamente complexos. O que Vidas<br />

Secas faz é, com pretenso não<br />

envolvimento da voz que controla a<br />

narrativa, dar conta de uma riqueza<br />

humana de que essas pessoas seriam<br />

plenamente capazes.<br />

Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes. In:<br />

Teresa. São Paulo: USP, n.° 2, 2001, p. 254.<br />

No texto II, verifica-se que o autor utiliza<br />

A) linguagem predominantemente<br />

formal, para problematizar, na<br />

composição de Vidas Secas, a relação<br />

entre o escritor e o personagem<br />

popular.<br />

B) linguagem inovadora, visto que, sem<br />

abandonar a linguagem formal, dirigese<br />

diretamente ao leitor.<br />

C) linguagem coloquial, para narrar<br />

coerentemente uma história que<br />

apresenta o roceiro pobre de forma<br />

pitoresca.<br />

D) linguagem formal com recursos<br />

retóricos próprios do texto literário em<br />

prosa, para analisar determinado<br />

momento da literatura brasileira.<br />

E) linguagem regionalista, para transmitir<br />

informações sobre literatura, valendose<br />

de coloquialismo, para facilitar o<br />

entendimento do texto.<br />

Comentário<br />

Questão de nível médio. Algumas<br />

alternativas poderiam levar o candidato a<br />

pensar que o texto de Vidas Secas utiliza<br />

uma linguagem predominantemente coloquial<br />

e regionalista. Entretanto, é na alternativa A<br />

que se encontra o real estilo da linguagem<br />

utilizada por Graciliano Ramos. A linguagem<br />

é, portanto, predominantemente formal e<br />

problematiza a relação do escritor com o


personagem popular. Esta acaba sendo uma<br />

das grandes características do autor, pois ele<br />

buscava sempre dar uma grande densidade<br />

psicológica aos seus romances.<br />

11) (2006) Aula de português<br />

Explorando a função emotiva da<br />

linguagem, o poeta expressa o contraste<br />

entre marcas de variação de usos da<br />

linguagem em<br />

A) situações formais e informais.<br />

B) diferentes regiões do país.<br />

C) escolas literárias distintas.<br />

D) textos técnicos e poéticos.<br />

E) diferentes épocas.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil, pois o próprio título<br />

nos dá uma noção da dificuldade de<br />

transformar a linguagem coloquial e de uso<br />

cotidiano em uma linguagem formal,<br />

expressa no poema como “a misteriosa”.<br />

Drummond foi muito feliz em conseguir<br />

demonstrar a dificuldade em entender como<br />

estruturas simples da língua se tornam tão<br />

complexas ao se iniciar o processo de<br />

compreensão da estrutura lingüística.<br />

12) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />

preciso, além de conhecer o padrão<br />

formal da Língua Portuguesa, saber<br />

adequar o uso da linguagem ao contexto<br />

discursivo. Para exemplificar este fato,<br />

seu professor de Língua Portuguesa<br />

convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />

Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />

brinca com situações de discurso oral que<br />

fogem à expectativa do ouvinte.<br />

Aí, Galera<br />

Jogadores de futebol podem ser<br />

vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />

você pode imaginar um jogador de futebol<br />

dizendo "estereotipação"? E, no<br />

entanto, por que não?<br />

- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />

galera.<br />

- Minha saudação aos aficionados do<br />

clube e aos demais esportistas, aqui<br />

presentes ou no recesso dos seus lares.<br />

- Como é?<br />

- Aí, galera.<br />

- Quais são as instruções do técnico?<br />

- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />

trabalho de contenção coordenada, com<br />

energia otimizada, na zona de<br />

preparação, aumentam as<br />

probabilidades de, recuperado o<br />

esférico, concatenarmos um contragolpe<br />

agudo com parcimônia de meios e<br />

extrema objetividade, valendo-nos da<br />

desestruturação momentânea do<br />

sistema oposto, surpreendido pela<br />

reversão inesperada do fluxo da ação:<br />

- Ahn?<br />

- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />

pegá eles sem calça.<br />

- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />

coisa?<br />

- Posso dirigir uma mensagem de<br />

caráter sentimental, algo banal, talvez<br />

mesmo previsível e piegas, a uma<br />

pessoa à qual sou ligado por razões,<br />

inclusive, genéticas?<br />

- Pode.<br />

- Uma saudação para a minha<br />

progenitora.<br />

- Como é?<br />

- Alô, mamãe!<br />

- Estou vendo que você é um, um...<br />

- Um jogador que confunde o<br />

entrevistador, pois não corresponde à<br />

expectativa de que o atleta seja um ser<br />

algo primitivo com dificuldade de<br />

expressão e assim sabota a<br />

estereotipação?<br />

- Estereoquê?<br />

- Um chato?<br />

- Isso.<br />

Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />

281


A expressão "pegá eles sem calça"<br />

poderia ser substituída, sem<br />

comprometimento de sentido, em língua<br />

culta, formal, por:<br />

A) pegá-los na mentira.<br />

B) pegá-los desprevenidos.<br />

C) pegá-los em flagrante.<br />

D) pegá-los rapidamente.<br />

E) pegá-los momentaneamente<br />

Comentário<br />

O trabalho que temos aqui é de<br />

compreensão de sentido. Se você nunca<br />

ouviu a expressão "de calças na mão", terá<br />

de imaginar o que acontece quando<br />

pegamos alguém nessa situação. Mas isso<br />

não basta. Se usar somente situações que<br />

pode imaginar, restarão as alternativas B e<br />

C. Esse problema só será solucionado se<br />

você entender bem o texto a que ele se<br />

refere. Como o jogador está falando em<br />

roubar a bola e partir para cima do adversário<br />

rapidamente, imagina-se que o adversário<br />

não esperava perder a bola naquele<br />

momento e, quando isso ocorreu, ele não<br />

estava preparado para receber um contraataque.<br />

Utilizando essa análise, somente a<br />

alternativa B está correta.<br />

13) (2000) Em uma conversa ou leitura de<br />

um texto, corre-se o risco de atribuir um<br />

significado inadequado a um termo ou<br />

expressão, e isso pode levar a certos<br />

resultados inesperados, como se vê nos<br />

quadrinhos abaixo.<br />

Comentário<br />

Quem não se lembra de expressões<br />

humorísticas usadas quando se deseja tirar<br />

uma foto, como "Olha o passarinho" ou "Fale<br />

xis"?<br />

Pois é, essa é uma questão fácil e a<br />

interpretação do texto é simples, e não há<br />

por que ter dúvidas quanto à resposta, a não<br />

ser que não se leia a proposta da questão.<br />

Comentário do INEP<br />

Essa questão procurou avaliar se o<br />

participante conseguia inferir, a partir de uma<br />

seqüência narrativa de imagens, a expressão<br />

lingüística adequada à situação de<br />

interlocução, no caso a fala da personagem,<br />

no primeiro quadrinho. A expressão de uso<br />

coloquial 'olha o passarinho!', dependendo do<br />

contexto, tem diferentes significados, que<br />

nesse caso foram associados pelo cartunista<br />

para produzir o efeito de humor. A grande<br />

maioria - 89% - dos participantes realizou a<br />

inferência solicitada, analisando a função da<br />

linguagem e identificando a variante<br />

lingüística adequada à situação de<br />

interlocução, com base na leitura da<br />

seqüência das imagens e da fala da<br />

personagem no terceiro quadrinho. É<br />

interessante notar a abrangência dessa<br />

expressão metafórica no Brasil, criada no<br />

contexto informal da fala com seus<br />

significados correspondentes. Mesmo assim,<br />

11% dos participantes, possivelmente,<br />

desconhecem essa expressão ou não<br />

conseguiram realizar a transposição do<br />

significado humorístico da fala do último<br />

quadrinho.<br />

(SOUZA, Maurício de. Chico Bento.<br />

Rio de Janeiro: Ed. Globo, n o 335, Nov./99 )<br />

Nessa historinha, o efeito humorístico<br />

origina-se de uma situação criada pela<br />

fala da Rosinha no primeiro quadrinho,<br />

que é:<br />

A) Faz uma pose bonita!<br />

B) Quer tirar um retrato?<br />

C) Sua barriga está aparecendo!<br />

D) Olha o passarinho!<br />

E) Cuidado com o flash!<br />

14) (2005) Leia com atenção o texto:<br />

[Em Portugal], você poderá ter alguns<br />

probleminhas se entrar numa loja de<br />

roupas desconhecendo certas sutilezas da<br />

língua. Por exemplo, não adianta pedir<br />

para ver os ternos — peça para ver os<br />

fatos. Paletó é casaco. Meias são<br />

peúgas. Suéter é camisola — mas não<br />

se assuste, porque calcinhas femininas<br />

são cuecas. (Não é uma delícia?)<br />

(Ruy Castro. Viaje Bem. Ano VIII, no 3, 78.)<br />

O texto destaca a diferença entre o<br />

português do Brasil e o de Portugal<br />

quanto<br />

A) ao vocabulário.<br />

B) à derivação.<br />

C) à pronúncia.<br />

D) ao gênero.<br />

E) à sintaxe.<br />

282


Comentário<br />

Questão de entendimento muito fácil, pois<br />

o próprio enunciado deixa claro que se trata<br />

das diferenças de vocabulário entre o<br />

português brasileiro e o lusitano.<br />

15) (2006) Aula de português<br />

No poema, a referência à variedade<br />

padrão da língua está expressa no<br />

seguinte trecho:<br />

A) “A linguagem / na ponta da língua” (v.1<br />

e 2).<br />

B) “A linguagem / na superfície<br />

estrelada de letras” (v.5 e 6).<br />

C) “[a língua] em que pedia para ir lá<br />

fora” (v.14).<br />

D) “[a língua] em que levava e dava<br />

pontapé” (v.15).<br />

E) “[a língua] do namoro com a priminha”<br />

(v.17).<br />

Comentário<br />

Questão fácil, pois a alternativa "B" é a<br />

única que faz menção à norma-padrão da<br />

língua. As demais alternativas fogem a essa<br />

norma.<br />

16) (2008) A Lei Federal n.º 9.985/2000, que<br />

instituiu o sistema nacional de unidades<br />

de conservação, define dois tipos de<br />

áreas protegidas. O primeiro, as unidades<br />

de proteção integral, tem por objetivo<br />

preservar a natureza, admitindo-se<br />

apenas o uso indireto dos seus recursos<br />

naturais, isto é, aquele que não envolve<br />

consumo, coleta, dano ou destruição dos<br />

recursos naturais. O segundo, as<br />

unidades de uso sustentável, tem por<br />

função compatibilizar a conservação da<br />

natureza com o uso sustentável de<br />

parcela dos recursos naturais. Nesse<br />

caso, permite-se a exploração do<br />

ambiente de maneira a garantir a<br />

perenidade dos recursos ambientais<br />

renováveis e dos processos ecológicos,<br />

mantendo-se a biodiversidade e os<br />

demais atributos ecológicos, de forma<br />

socialmente justa e economicamente<br />

viável.<br />

Considerando essas informações, analise<br />

a seguinte situação hipotética.<br />

Ao discutir a aplicação de recursos<br />

disponíveis para o desenvolvimento de<br />

determinada região, organizações civis,<br />

universidade e governo resolveram<br />

investir na utilização de uma unidade de<br />

proteção integral, o Parque Nacional do<br />

Morro do Pindaré, e de uma unidade de<br />

uso sustentável, a Floresta Nacional do<br />

Sabiá. Depois das discussões, a equipe<br />

resolveu levar adiante três projetos:<br />

— o projeto I consiste de pesquisas<br />

científicas embasadas exclusivamente<br />

na observação de animais;<br />

— o projeto II inclui a construção de uma<br />

escola e de um centro de vivência;<br />

— o projeto III promove a organização de<br />

uma comunidade extrativista que<br />

poderá coletar e explorar<br />

comercialmente frutas e sementes<br />

nativas.<br />

Nessa situação hipotética, atendendo-se à<br />

lei mencionada acima, é possível<br />

desenvolver tanto na unidade de proteção<br />

integral quanto na de uso sustentável<br />

A) apenas o projeto I.<br />

B) apenas o projeto III.<br />

C) apenas os projetos I e II.<br />

D) apenas os projetos II e III.<br />

E) todos os três projetos.<br />

Comentário do portal<br />

A alternativa correta é a letra "A", pois,<br />

analisando-se a situação hipotética sugerida<br />

no enunciado, percebe-se que ela deverá<br />

atender os requisitos tanto da unidade de<br />

283


proteção integral quanto da unidade de uso<br />

sustentável. Portanto, apenas o projeto I<br />

poderá ser desenvolvido nessas duas<br />

propostas de unidades.<br />

17) (2006) No romance Vidas Secas, de<br />

Graciliano Ramos, o vaqueiro Fabiano<br />

encontra-se com o patrão para receber o<br />

salário. Eis parte da cena:<br />

284<br />

Graciliano Ramos. Vidas Secas. 91.ª ed.<br />

Rio de Janeiro: Record, 2003.<br />

No fragmento transcrito, o padrão formal<br />

da linguagem convive com marcas de<br />

regionalismo e de coloquialismo no<br />

vocabulário. Pertence à variedade do<br />

padrão formal da linguagem o seguinte<br />

trecho:<br />

A) Não se conformou: devia haver<br />

engano (l.1).<br />

B) Fabiano perdeu os estribos (l.3).<br />

C) Passar a vida inteira assim no toco<br />

(l.4).<br />

D) Entregando o que era dele de mao<br />

beijada! (l.4-5).<br />

E) Aí Fabiano baixou a pancada e<br />

amunhecou (l.11).<br />

Comentário do portal<br />

Questão de nível fácil. Bastaria que o<br />

candidato conhecesse o padrão formal da<br />

linguagem e distinguisse-o do regionalismo e<br />

do coloquialismo.<br />

18) (2001) Os provérbios constituem um<br />

produto da sabedoria popular e, em geral,<br />

pretendem transmitir um ensinamento. A<br />

alternativa em que os dois provérbios<br />

remetem a ensinamentos semelhantes é:<br />

A) “Quem diz o que quer, ouve o que não<br />

quer” e “Quem ama o feio, bonito lhe<br />

parece”.<br />

B) “Devagar se vai ao longe” e “De grão<br />

em grão, a galinha enche o papo”.<br />

C) “Mais vale um pássaro na mão do que<br />

dois voando” e “Não se deve atirar<br />

pérolas aos porcos”.<br />

D) “Quem casa quer casa” e “Santo de<br />

casa não faz milagre”.<br />

E) “Quem com ferro fere, com ferro será<br />

ferido” e “Casa de ferreiro, espeto de<br />

pau”.<br />

Comentário<br />

Questão fácil. A alternativa B apresenta<br />

dois provérbios que tratam de paciência,<br />

perseverança. A mensagem é a mesma em<br />

ambos.<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão propõe uma série de<br />

provérbios agrupados aos pares, para que o<br />

participante demonstre compreender e<br />

comparar os provérbios de modo a identificar<br />

aqueles que traduzem ensinamentos<br />

semelhantes. A organização sintáticosemântica<br />

dos provérbios cria um efeito de<br />

sentido metafórico que deve ser recuperado,<br />

analisado e comparado, o que foi<br />

corretamente feito por cerca de 80% dos<br />

participantes.<br />

19) (1999)<br />

(QUINO. Mafalda inédita. São Paulo: Martins Fontes, 1993)<br />

Observando as falas das personagens,<br />

analise o emprego do pronome SE e o<br />

sentido que adquire no contexto. No<br />

contexto da narrativa, é correto afirmar<br />

que o pronome SE:<br />

A) em I, indica reflexividade e equivale a<br />

"a si mesmas".<br />

B) em II, indica reciprocidade e equivale a<br />

"a si mesma".<br />

C) em III, indica reciprocidade e equivale<br />

a "umas às outras".<br />

D) em I e III, indica reciprocidade e<br />

equivale a "umas às outras".<br />

E) em II e III, indica reflexividade e<br />

equivale a "a si mesma " e "a si<br />

mesmas", respectivamente.<br />

Comentário<br />

Mais uma questão que fala por si própria.<br />

Lendo o segundo quadrinho — "Quer dizer<br />

que você também se ama muito mais no<br />

Natal?" —, é fácil de se identificar o pronome<br />

reflexivo. Basta que se troque se ama por


ama a si mesma. O mesmo ocorre no<br />

terceiro quadrinho em "Por que será que as<br />

pessoas se amam muito mais no Natal?" —<br />

Por que será que as pessoas amam a si<br />

mesmas? Questão de grau fácil.<br />

Comentário do INEP<br />

Este problema requeria que o participante<br />

mobilizasse conhecimentos sobre os<br />

significados de "reciprocidade e<br />

"reflexividade" e o associasse à<br />

compreensão de linguagem iconográfica.<br />

Cerca de metade dos participantes<br />

demonstrou essa capacidade. A opção de<br />

30% dos participantes pela alternativa D<br />

pode indicar que eles utilizaram as imagens<br />

apenas como ilustração do texto e não como<br />

linguagem capaz de instituir novos<br />

significados.<br />

20) (202) "Narizinho correu os olhos pela<br />

assistência. Não podia haver nada mais<br />

curioso. Besourinhos de fraque e flores na<br />

lapela conversavam com baratinhas de<br />

mantilha e miosótis nos cabelos. Abelhas<br />

douradas, verdes e azuis, falavam mal<br />

das vespas de cintura fina — achando que<br />

era exagero usarem coletes tão<br />

apertados. Sardinhas aos centos<br />

criticavam os cuidados excessivos que as<br />

borboletas de toucados de gaze tinham<br />

com o pó das suas asas. Mamangavas de<br />

ferrões amarrados para não morderem. E<br />

canários cantando, e beija-flores beijando<br />

flores, e camarões camaronando, e<br />

caranguejos caranguejando, tudo que é<br />

pequenino e não morde, pequeninando e<br />

não mordendo."<br />

LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. São Paulo:<br />

Brasiliense, 1947.<br />

No último período do trecho, há uma série<br />

de verbos no gerúndio que contribuem<br />

para caracterizar o ambiente fantástico<br />

descrito. Expressões como<br />

"camaronando", "caranguejando" e<br />

"pequeninando e não mordendo" criam,<br />

principalmente, efeitos de<br />

A) esvaziamento de sentido.<br />

B) monotonia do ambiente.<br />

C) estaticidade dos animais.<br />

D) interrupção dos movimentos.<br />

E) dinamicidade do cenário.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. O dinamismo dos<br />

verbos no gerúndio tem como função<br />

principal dar vida às personagens do mundo<br />

fantástico. Não há estagnação. Cada animal<br />

faz o que lhe cabe.<br />

Comentário do INEP<br />

Essa questão apresenta para leitura e<br />

análise um trecho da obra Reinações de<br />

Narizinho, de Monteiro Lobato, e, nele, a<br />

descrição reflete as fantasias do mundo<br />

infantil. A questão propõe que seja resolvido<br />

um problema de linguagem, que é a<br />

identificação dos sentidos criados no texto<br />

pelo emprego de vários verbos no gerúndio,<br />

alguns dos quais, neologismos criados pelo<br />

autor. Como o texto é uma descrição, temos<br />

o relato de um ambiente que se agita com as<br />

ações simultâneas dos muitos seres que o<br />

habitam. Cabe ao participante perceber que<br />

o efeito dinâmico é criado pelos verbos de<br />

ação no gerúndio, que é a forma verbal da<br />

ação se fazendo. Ou seja, é função típica do<br />

gerúndio traduzir a noção de uma ação que<br />

se desenvolve de modo simultâneo à sua<br />

enunciação. Nesse ambiente retratado por<br />

Monteiro Lobato, os bichinhos humanizados<br />

se agitam, lembrando um burburinho de<br />

crianças. Apenas a alternativa E, assinalada<br />

por 36% dos participantes, responde<br />

corretamente a questão. As outras<br />

alternativas contemplam efeitos ou<br />

significados que, apesar de eventualmente<br />

serem transmitidos pelo emprego do<br />

gerúndio, não se verificam no texto.<br />

21) (2005) As dimensões continentais do<br />

Brasil são objeto de reflexões expressas<br />

em diferentes linguagens. Esse tema<br />

aparece no seguinte p"Narizinho correu os<br />

olhos pela assistência. Não podia haver nada<br />

mais curioso. Besourinhos de oema:<br />

“(....)<br />

Que importa que uns falem mole<br />

descansado<br />

Que os cariocas arranhem os erres na<br />

garganta<br />

Que os capixabas e paroaras escancarem<br />

as vogais?<br />

Que tem se o quinhentos réis meridional<br />

Vira cinco tostões do Rio pro Norte?<br />

Junto formamos este assombro de<br />

misérias e grandezas,<br />

Brasil, nome de vegetal! (....)”<br />

(Mário de Andrade. Poesias completas. 6. ed. São Paulo:<br />

Martins Editora, 1980.)<br />

O texto poético ora reproduzido trata das<br />

diferenças brasileiras no âmbito<br />

A) étnico e religioso.<br />

B) lingüístico e econômico.<br />

285


C) racial e folclórico.<br />

D) histórico e geográfico.<br />

E) literário e popular.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil, pois a primeira<br />

estrofe, ao enunciar os erres arranhados dos<br />

cariocas e as vogais abertas dos capixabas,<br />

evidencia a diferença lingüística entre duas<br />

regiões distintas do Brasil, dando noção da<br />

variedade. Já na segunda estrofe, as<br />

diferenças econômicas são evidenciadas ao<br />

se mostrarem os réis e tostões variando da<br />

Região Meridional para a Norte.<br />

22) (2008) Assinale a opção que apresenta<br />

um verso do soneto de Cláudio Manoel da<br />

Costa em que o poeta se dirige ao seu<br />

interlocutor.<br />

A) “Torno a ver-vos, ó montes; o<br />

destino” (v.1)<br />

B) “Aqui estou entre Almendro, entre<br />

Corino,” (v.5)<br />

C) “Os meus fiéis, meus doces<br />

companheiros,” (v.6)<br />

D) “Vendo correr os míseros vaqueiros”<br />

(v.7)<br />

E) “Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto,”<br />

(v.11)<br />

Assinale o trecho do diálogo que<br />

apresenta um registro informal, ou<br />

coloquial, da linguagem.<br />

A) “Tá legal, espertinho! Onde é que<br />

você esteve?!”<br />

B) “E lembre-se: se você disser uma<br />

mentira, os seus chifres cairão!”<br />

C) “Estou atrasado porque ajudei uma<br />

velhinha a atravessar a rua...”<br />

D) “...e ela me deu um anel mágico que<br />

me levou a um tesouro”<br />

E) “mas bandidos o roubaram e os<br />

persegui até a Etiópia, onde um<br />

dragão...”<br />

Comentário<br />

Linguagem coloquial é aquela usada no<br />

cotidiano, que tem como característica<br />

principal a oralidade, ou seja, aquela que não<br />

segue o rigor da norma culta.<br />

Entre as alternativas da questão, apenas<br />

a letra "A" apresenta esses traços.<br />

24) (2004) O poema abaixo pertence à<br />

poesia concreta brasileira. O termo latino<br />

de seu título significa "epitalâmio", poema<br />

ou canto em homenagem aos que se<br />

casam.<br />

Comentário<br />

Nesta questão, basta que o aluno<br />

identifique o pronome oblíquo, presente no<br />

verso um, que chama o leitor para o texto.<br />

Sendo assim, a resposta correta é a letra "A".<br />

23) (2008)<br />

Considerando que símbolos e sinais são<br />

utilizados geralmente para demonstrações<br />

objetivas, ao serem incorporados no<br />

poema "Epithalamium - II".<br />

A) adquirem novo potencial de<br />

significação.<br />

B) eliminam a subjetividade do poema.<br />

C) opõem-se ao tema principal do poema.<br />

D) invertem seu sentido original.<br />

E) tornam-se confusos e equivocados.<br />

286<br />

Dick Browne. O melhor de Hagar, o horrível, v. 2. L&PM<br />

pocket, p.55-6 (com adaptações).<br />

Comentário<br />

Diferentemente, por exemplo, da<br />

aplicação matemática dos símbolos, em que<br />

sinais como "=", "+", "-", "x", etc. servem<br />

como convenções internacionais de<br />

significação objetiva e invariável, em um<br />

poema como "Epithalamium – II" foram


usados símbolos que não são convenções<br />

internacionais, mas, sim, convencionados<br />

apenas para esse texto. No caso, letras do<br />

alfabeto deixam de ser representações de<br />

sons (fonemas) para ganharem nova<br />

significação, principalmente pela construção<br />

visual do poema: unem homem (h) e mulher<br />

(e) pela ação da serpente (s) — libido,<br />

atração — em uma entidade única.<br />

Uma das tendências poéticas da segunda<br />

metade do século XX, resultado de um<br />

diálogo com estéticas já presentes no final do<br />

século XIX, trabalha com a construção de<br />

seu próprio referente, fazendo do poema um<br />

objeto autônomo.<br />

25) (2000) “Precisa-se nacionais sem<br />

nacionalismo, (...) movidos pelo presente<br />

mas estalando naquele cio racial que só<br />

as tradições maduram! (...). Precisa-se<br />

gentes com bastante meiguice no<br />

sentimento, bastante força na peitaria,<br />

bastante paciência no entusiasmo e<br />

sobretudo, oh! sobretudo bastante<br />

vergonha na cara!<br />

(...) Enfim: precisa-se brasileiros! Assim<br />

está escrito no anúncio vistoso de cores<br />

desesperadas pintado sobre o corpo do<br />

nosso Brasil, camaradas.”<br />

(Jornal A Noite, São Paulo, 18/12/1925 apud LOPES, Telê<br />

Porto Ancona. Mário<br />

de Andrade: ramais e caminhos. São Paulo: Duas<br />

Cidades, 1972)<br />

No trecho acima, Mário de Andrade dá<br />

forma a um dos itens do ideário<br />

modernista, que é o de firmar a feição de<br />

uma língua mais autêntica, “brasileira”, ao<br />

expressar-se numa variante de linguagem<br />

popular identificada pela (o):<br />

A) escolha de palavras como cio, peitaria,<br />

vergonha.<br />

B) emprego da pontuação.<br />

C) repetição do adjetivo bastante.<br />

D) concordância empregada em Assim<br />

está escrito.<br />

E) escolha de construção do tipo<br />

precisa-se gentes.<br />

Comentário<br />

Apesar de essa questão misturar vários<br />

tipos de informação, se você se lembra um<br />

pouquinho dos usos da partícula se, com<br />

certeza não encontrará grande dificuldade.<br />

Segundo a regra gramatical, o verbo<br />

"precisa-se" deveria ir para o plural<br />

(precisam-se), mas essa noção de verbo<br />

concordante com o sujeito há muito<br />

desapareceu na variante popular brasileira.<br />

Mas, caso você não se lembre muito bem<br />

desse assunto ou ficou meio confuso com o<br />

texto e as outras alternativas, o caminho é<br />

responder por eliminação.<br />

A primeira alternativa apresenta palavras<br />

comuns no português brasileiro, mas<br />

nenhuma "invenção" nacional. Na dúvida,<br />

pense em "vergonha": não é uma invenção<br />

brasileira. Todos os que falam português no<br />

mundo conhecem bem essa palavra. A<br />

pontuação no texto não chama nenhuma<br />

atenção. Você provavelmente não viu nada<br />

de estranho nela. Da mesma forma, o<br />

"bastante" da terceira alternativa não é nada<br />

mais que um mecanismo de retórica, usado<br />

para dar ênfase à idéia. Com o "Assim está<br />

escrito", encontramos a mesma situação: um<br />

trecho litúrgico é usado para maior ênfase.<br />

Comentário do INEP<br />

A questão procurou avaliar se o<br />

participante era capaz de, a partir da leitura<br />

de um texto de Mário de Andrade , identificar<br />

e analisar uma variante lingüística de uso<br />

coloquial, utilizadas estilisticamente pelo<br />

autor. O uso estilístico das variantes marcou<br />

a primeira fase da literatura brasileira<br />

modernista. O trecho destaca em seu todo<br />

esse uso da linguagem popular. A escolha da<br />

construção 'precisa-se gentes' é marca desse<br />

uso estilístico. O índice de 37% na alternativa<br />

(A) demonstra, possivelmente, que os<br />

participantes não consideraram a escolha<br />

dos vocábulos, dentro do contexto do texto,<br />

confundindo as palavras que aparecem na<br />

alternativa com '...a feição de uma língua<br />

mais autêntica...'.O percentual de acertos foi<br />

da ordem de 40%.<br />

26) (2001) Oxímoro (ou paradoxo) é uma<br />

construção textual que agrupa significados<br />

que se excluem mutuamente. Para<br />

Garfield, a frase de saudação de Jon<br />

(tirinha abaixo) expressa o maior de todos<br />

os oxímoros.<br />

Folha de S. Paulo. 31 de julho de 2000.<br />

Nas alternativas abaixo, estão transcritos<br />

versos retirados do poema “O operário em<br />

construção”. Pode-se afirmar que ocorre<br />

um oxímoro em<br />

287


A) "Era ele que erguia casas<br />

Onde antes só havia chão."<br />

B) "... a casa que ele fazia<br />

Sendo a sua liberdade<br />

Era a sua escravidão."<br />

C) "Naquela casa vazia<br />

Que ele mesmo levantara<br />

Um mundo novo nascia<br />

De que sequer suspeitava."<br />

D) "... o operário faz a coisa<br />

E a coisa faz o operário."<br />

E) "Ele, um humilde operário<br />

Um operário que sabia<br />

Exercer a profissão."<br />

MORAES, Vinícius de. Antologia Poética. São Paulo:<br />

Companhia das Letras, 1992.<br />

Comentário<br />

Idéias que se completam e se excluem<br />

mutuamente são encontradas na alternativa<br />

B: a casa que ele construía era, ao mesmo<br />

tempo, sua liberdade e sua escravidão.<br />

A casa é um símbolo de liberdade para o<br />

homem. Para o homem operário, é também<br />

símbolo de escravidão, pois ele está<br />

"condenado" a jamais usufruir do resultado<br />

do seu trabalho (a casa que faz não é para<br />

ele).<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão propõe ao participante que<br />

estabeleça uma relação entre linguagens,<br />

associando a compreensão de um efeito<br />

semântico produzido pelo uso do oxímoro<br />

nos quadrinhos com o mesmo efeito num<br />

texto poético. O índice (18%) de escolhas da<br />

alternativa D deve-se, possivelmente, a uma<br />

análise parcial da noção de paradoxo,<br />

confundida com inversão.<br />

Sobre a temática dos “Retirantes”,<br />

Portinari também escreveu o seguinte<br />

poema:<br />

(....)<br />

Os retirantes vêm vindo com trouxas e<br />

embrulhos<br />

Vêm das terras secas e escuras;<br />

pedregulhos<br />

Doloridos como fagulhas de carvão aceso<br />

Corpos disformes, uns panos sujos,<br />

Rasgados e sem cor, dependurados<br />

Homens de enorme ventre bojudo<br />

Mulheres com trouxas caídas para o lado<br />

Pançudas, carregando ao colo um garoto<br />

Choramingando, remelento<br />

(....)<br />

(Cândido Portinari. Poemas. Rio de Janeiro:<br />

J. Olympio, 1964.)<br />

Das quatro obras reproduzidas, assinale<br />

aquelas que abordam a problemática que<br />

é tema do poema.<br />

A) 1 e 2 D) 3 e 4<br />

B) 1 e 3 E) 2 e 4<br />

C) 2 e 3<br />

Comentário<br />

O poema apresenta correspondência com<br />

as imagens ao descrever com detalhes a<br />

figura do retirante: pobre, mal vestido,<br />

carregando trouxas e embrulhos.<br />

28) (2004)<br />

27) (2005) Cândido Portinari (1903-1962), um<br />

dos mais importantes artistas brasileiros<br />

do século XX, tratou de diferentes<br />

aspectos da nossa realidade em seus<br />

quadros.<br />

A polifonia, variedade de vozes, presente<br />

no poema resulta da manifestação do<br />

A) poeta e do colonizador apenas.<br />

B) colonizador e do negro apenas.<br />

C) negro e do índio apenas.<br />

D) colonizador, do poeta e do negro<br />

apenas.<br />

E) poeta, do colonizador, do índio e do<br />

negro.<br />

288<br />

Comentário<br />

A questão apresenta uma certa<br />

dificuldade, pois, à primeira vista, parecem


confundir-se as vozes do colonizador, do<br />

negro e do índio. Entretanto, os<br />

travessões existentes no poema explicitam<br />

as falas das personagens ao mostrar que<br />

não são apenas as vozes do poeta e do<br />

colonizador que estão presentes. As falas do<br />

índio e do negro são proferidas por eles,<br />

marca expressa pelo discurso direto. A<br />

presença dessa modalidade de discurso<br />

indica a reprodução literal do que as<br />

personagens disseram.<br />

Um ponto interessante em relação a essa<br />

questão é a intertextualidade. O índio<br />

aparece no poema pela remissão a um texto<br />

poético do nosso Romantismo, em um<br />

processo intertextual com “I-Juca-Pirama”, de<br />

Gonçalves Dias; e a presença do negro se dá<br />

pela ligação com Mário de Andrade, em<br />

Macunaíma. Entende-se, portanto, que a<br />

alternativa correta é a letra E.<br />

29) (2003) No ano passado, o governo<br />

promoveu uma campanha a fim de reduzir<br />

os índices de violência. Noticiando o fato,<br />

um jornal publicou a seguinte manchete:<br />

CAMPANHA CONTRA A VIOLÊNCIA DO<br />

GOVERNO DO ESTADO ENTRA EM NOVA<br />

FASE<br />

A manchete tem um duplo sentido, e isso<br />

dificulta o entendimento. Considerando o<br />

objetivo da notícia, esse problema poderia<br />

ter sido evitado com a seguinte redação:<br />

A) Campanha contra o governo do Estado<br />

e a violência entram em nova fase.<br />

B) A violência do governo do Estado entra<br />

em nova fase de Campanha.<br />

C) Campanha contra o governo do Estado<br />

entra em nova fase de violência.<br />

D) A violência da campanha do governo<br />

do Estado entra em nova fase.<br />

E) Campanha do governo do Estado<br />

contra a violência entra em nova fase.<br />

Comentário<br />

O objetivo da questão é eliminar a<br />

ambigüidade da notícia de jornal, que,<br />

originalmente, trazia duas idéias: de acordo<br />

com a primeira, o governo queria combater a<br />

violência, e a segunda ressaltava que o<br />

governo era violento. Nessa questão,<br />

era preciso eliminar a segunda possibilidade<br />

de leitura.<br />

30) (2004)<br />

Nesta tirinha, a personagem faz referência<br />

a uma das mais conhecidas figuras de<br />

linguagem para<br />

A) condenar a prática de exercícios físicos<br />

B) valorizar aspectos da vida moderna.<br />

C) desestimular o uso das bicicletas.<br />

D) caracterizar o diálogo entre as<br />

gerações.<br />

E) criticar a falta de perspectiva do pai.<br />

Comentário<br />

A construção indica a falta de perspectiva<br />

na vida do pai do personagem. “Pedalar sem<br />

sair do lugar” é uma metáfora muito usada na<br />

cultura brasileira para expressar como é a<br />

vida de uma pessoa que age de forma a não<br />

conseguir qualquer mudança — para melhor<br />

ou para pior — na vida.<br />

31) (2004) As questões de números 26 e 27<br />

referem-se ao poema abaixo.<br />

Entre os recursos expressivos<br />

empregados no texto, destaca-se a<br />

A) metalinguagem, que consiste em fazer<br />

a linguagem referir-se à própria<br />

linguagem.<br />

B) intertextualidade, na qual o texto<br />

retoma e reelabora outros textos.<br />

C) ironia, que consiste em se dizer o<br />

contrário do que se pensa, com<br />

intenção crítica.<br />

D) denotação, caracterizada pelo uso das<br />

palavras em seu sentido próprio e<br />

objetivo.<br />

289


290<br />

E) prosopopéia, que consiste em<br />

personificar coisas inanimadas,<br />

atribuindo-lhes vida.<br />

Comentário<br />

A questão trata de um texto de Carlos<br />

Drummond de Andrade em que ele fala sobre<br />

o crescimento urbano e a pobreza que esse<br />

processo traz. Para tanto, o poeta utiliza uma<br />

linguagem irônica, revelando o lado oculto do<br />

desenvolvimento. Dessa forma, temos como<br />

correta a alternativa C.<br />

32) (2007) Antigamente<br />

Acontecia o indivíduo apanhar<br />

constipação; ficando perrengue, mandava<br />

o próprio chamar o doutor e, depois, ir à<br />

botica para aviar a receita, de cápsulas ou<br />

pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />

phtísica, feia era o gálico. Antigamente, os<br />

sobrados tinham assombrações, os<br />

meninos, lombrigas (...)<br />

Carlos Drummond de Andrade. Poesia completa e prosa.<br />

Rio de Janeiro: Companhia José Aguilar, p. 1.184.<br />

O texto acima está escrito em linguagem<br />

de uma época passada. Observe uma<br />

outra versão, em linguagem atual.<br />

Antigamente<br />

Acontecia o indivíduo apanhar um<br />

resfriado; ficando mal, mandava o próprio<br />

chamar o doutor e, depois, ir à farmácia<br />

para aviar a receita, de cápsulas ou<br />

pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />

tuberculose, feia era a sífilis. Antigamente,<br />

os sobrados tinham assombrações, os<br />

meninos, vermes (...)<br />

Comparando-se esses dois textos,<br />

verifica-se que, na segunda versão, houve<br />

mudanças relativas a<br />

A) vocabulário.<br />

B) construções sintáticas.<br />

C) pontuação.<br />

D) fonética.<br />

E) regência verbal.<br />

Comentário<br />

Questão fácil. O aluno deveria comparar<br />

os dois textos e verificar as alterações<br />

realizadas na segunda versão apresentada.<br />

Nesse momento, fica evidente a mudança de<br />

vocabulário, o que indica a alternativa A<br />

como a correta.<br />

33) (2001) Nas conversas diárias, utiliza-se<br />

freqüentemente a palavra “próprio” e ela<br />

se ajusta a várias situações. Leia os<br />

exemplos de diálogos:<br />

I - A Vera se veste diferente!<br />

- É mesmo, é que ela tem um estilo<br />

próprio.<br />

II - A Lena já viu esse filme uma dezena<br />

de vezes! Eu não consigo ver o<br />

que ele tem de tão maravilhoso assim.<br />

- É que ele é próprio para adolescente.<br />

III - Dora, o que eu faço? Ando tão<br />

preocupada com o Fabinho! Meu filho<br />

está impossível!<br />

- Relaxa, Tânia! É próprio da idade.<br />

Com o tempo, ele se acomoda.<br />

Nas ocorrências I, II e III, “próprio” é<br />

sinônimo de, respectivamente,<br />

A) adequado, particular, típico.<br />

B) peculiar, adequado, característico.<br />

C) conveniente, adequado, particular.<br />

D) adequado, exclusivo, conveniente.<br />

E) peculiar, exclusivo, característico.<br />

Comentário<br />

Para responder a essa pergunta,<br />

substitua, nos trechos, a palavra próprio<br />

pelos possíveis equivalentes apresentados<br />

nas alternativas. Questão simples que pode<br />

ser resolvida por eliminação.<br />

Comentário do INEP<br />

Nesta questão são apresentados três<br />

textos em que uma mesma palavra é<br />

utilizada com sentidos diferentes. O problema<br />

consiste em observar a variedade de uso de<br />

um mesmo termo e as possibilidades de sua<br />

compreensão, estabelecendo uma relação<br />

comparativa com base em uma análise<br />

semântica. Cerca de metade (49%) dos<br />

participantes estabeleceu essa relação de<br />

maneira correta. Os participantes que<br />

assinalaram a alternativa D (21%),<br />

possivelmente isolaram o termo do contexto,<br />

gerando um equívoco entre "adequado" e<br />

"exclusivo".<br />

34) (2003) Do pedacinho de papel ao livro<br />

impresso vai uma longa distância. Mas o<br />

que o escritor quer, mesmo, é isso: ver o<br />

seu texto em letra de forma. A gaveta é<br />

ótima para aplacar a fúria criativa; ela faz<br />

amadurecer o texto da mesma forma que<br />

a adega faz amadurecer o vinho. Em


certos casos, a cesta de papel é melhor<br />

ainda.<br />

O período de maturação na gaveta é<br />

necessário, mas não deve se prolongar<br />

muito. ‘Textos guardados acabam<br />

cheirando mal’, disse Silvia Plath, (...) que,<br />

com esta frase, deu testemunho das<br />

dúvidas que atormentam o escritor:<br />

publicar ou não publicar? guardar ou jogar<br />

fora?<br />

(Moacyr Scliar. O escritor e seus desafios.)<br />

Nesse texto, o escritor Moacyr Scliar usa<br />

imagens para refletir sobre uma etapa da<br />

criação literária. A idéia de que o processo<br />

de maturação do texto nem sempre é o<br />

que garante bons resultados está sugerida<br />

na seguinte frase:<br />

A) "A gaveta é ótima para aplacar a fúria<br />

criativa."<br />

B) "Em certos casos, a cesta de papel é<br />

melhor ainda."<br />

C) "O período de maturação na gaveta é<br />

necessário, (...)."<br />

D) "Mas o que o escritor quer, mesmo, é<br />

isso: ver o seu texto em letra de forma."<br />

E) "ela (a gaveta) faz amadurecer o texto<br />

da mesma forma que a adega faz<br />

amadurecer o vinho."<br />

Comentário<br />

Essa questão exigia a interpretação das<br />

frases. A palavra NEM no enunciado exclui<br />

todas as alternativas que tratam do<br />

amadurecimento ou da importância da<br />

gaveta para o bom sucesso da produção<br />

literária.<br />

A alternativa B é a única que apresenta<br />

um procedimento alternativo para a produção<br />

textual, ou seja, o lixo, e significa a liberdade<br />

do escritor em começar,<br />

interromper, recomeçar ou simplesmente<br />

abandonar a obra, permitindo a ele exercer<br />

seu livre-arbítrio.<br />

35) (2007)<br />

Aqui na floresta<br />

Dos ventos batida,<br />

Façanhas de bravos<br />

Não geram escravos,<br />

Que estimem a vida<br />

Sem guerra e lidar.<br />

— Ouvi-me, Guerreiros,<br />

— Ouvi meu cantar.<br />

O canto do guerreiro<br />

Valente na guerra,<br />

Quem há, como eu sou?<br />

Quem vibra o tacape<br />

Com mais valentia?<br />

Quem golpes daria<br />

Fatais, como eu dou?<br />

— Guerreiros, ouvi-me;<br />

— Quem há, como eu sou?<br />

Gonçalves Dias.<br />

Macunaíma<br />

(Epílogo)<br />

Acabou-se a história e morreu a vitória.<br />

Não havia mais ninguém lá. Dera<br />

tangolomângolo na tribo Tapanhumas e<br />

os filhos dela se acabaram de um em um.<br />

Não havia mais ninguém lá. Aqueles<br />

lugares, aqueles campos, furos<br />

puxadouros arrastadouros meiosbarrancos,<br />

aqueles matos misteriosos,<br />

tudo era solidão do deserto... Um silêncio<br />

imenso dormia à beira do rio Uraricoera.<br />

Nenhum conhecido sobre a terra não<br />

sabia nem falar da tribo nem contar<br />

aqueles casos tão pançudos. Quem podia<br />

saber do Herói?<br />

Mário de Andrade.<br />

Considerando-se a linguagem desses dois<br />

textos, verifica-se que<br />

A) a função da linguagem centrada no<br />

receptor está ausente tanto no primeiro<br />

quanto no segundo texto.<br />

B) a linguagem utilizada no primeiro texto<br />

é coloquial, enquanto, no segundo,<br />

predomina a linguagem formal.<br />

C) há, em cada um dos textos, a<br />

utilização de pelo menos uma palavra<br />

de origem indígena.<br />

D) a função da linguagem, no primeiro<br />

texto, centra-se na forma de<br />

organização da linguagem e, no<br />

segundo, no relato de informações<br />

reais.<br />

E) a função da linguagem centrada na<br />

primeira pessoa, predominante no<br />

segundo texto, está ausente no<br />

primeiro.<br />

Comentário<br />

Questão de nível médio. Essa é uma<br />

questão que foca a linguagem dos textos, e<br />

cada qual em seu gênero (poesia e prosa,<br />

respectivamente). O aluno chega à<br />

conclusão que a alternativa correta é a C por<br />

meio da exclusão das demais alternativas.<br />

A resposta correta não é a A, pois há um<br />

receptor que pode ser percebido nas<br />

seguintes perguntas contidas no texto:<br />

Texto 1 – “Guerreiros, ouvi-me;/Quem há,<br />

como eu sou?”<br />

Texto 2 – “Quem podia saber do herói?”<br />

Também não é a alternativa B, pois o<br />

conteúdo dos textos não é discriminatório. No<br />

primeiro texto, há uma idealização do índio e,<br />

no segundo, há uma realidade crítica e<br />

satírica da sociedade.<br />

A alternativa D é excluída, porque o<br />

segundo texto não fala de uma realidade, já<br />

291


que Macunaíma é um herói fictício e nãoreal.<br />

Por fim, também está errada a alternativa<br />

E. Isso porque não temos no epílogo do texto<br />

de Macunaíma a linguagem centrada na<br />

primeira pessoa, mas sim, na terceira.<br />

36) (2003) Eu começaria dizendo que poesia<br />

é uma questão de linguagem. A<br />

importância do poeta é que ele torna mais<br />

viva a linguagem. Carlos Drummond de<br />

Andrade escreveu um dos mais belos<br />

versos da língua portuguesa com duas<br />

palavras comuns: cão e cheirando.<br />

Um cão cheirando o futuro<br />

(Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP, 24/05/1988.<br />

adaptação)<br />

O que deu ao verso de Drummond o<br />

caráter de inovador da língua foi<br />

A) o modo raro como foi tratado o<br />

"futuro".<br />

B) a referência ao cão como "animal de<br />

estimação".<br />

C) a flexão pouco comum do verbo<br />

"cheirar" (gerúndio).<br />

D) a aproximação não usual do agente<br />

citado e a ação de "cheirar".<br />

E) o emprego do artigo indefinido "um" e<br />

do artigo definido "o" na mesma frase.<br />

Comentário<br />

O fato de Drummond identificar o futuro<br />

como algo que pode ser percebido por um<br />

animal irracional por meio do olfato foi<br />

inovador. A figura de linguagem foi<br />

construída metaforicamente: o futuro torna-se<br />

uma coisa que tem cheiro, contrariamente à<br />

imagem pela qual ele normalmente é<br />

representado: como algo que não se vê e<br />

não se pode pressentir ou tocar.<br />

37) (2002) Só falta o Senado aprovar o<br />

projeto de lei [sobre o uso de termos<br />

estrangeiros no Brasil] para que palavras<br />

como shopping center , delivery e drivethrough<br />

sejam proibidas em nomes de<br />

estabelecimentos e marcas. Engajado<br />

nessa valorosa luta contra o inimigo<br />

ianque, que quer fazer área de livre<br />

comércio com nosso inculto e belo idioma,<br />

venho sugerir algumas outras medidas<br />

que serão de extrema importância para a<br />

preservação da soberania nacional, a<br />

saber:<br />

........<br />

Nenhum cidadão carioca ou gaúcho<br />

poderá dizer "Tu vai" em espaços públicos<br />

do território nacional;<br />

Nenhum cidadão paulista poderá dizer "Eu<br />

lhe amo" e retirar ou acrescentar o plural<br />

em sentenças como "Me vê um chopps e<br />

dois pastel";<br />

..........<br />

Nenhum dono de borracharia poderá<br />

escrever cartaz com a palavra "borraxaria"<br />

e nenhum dono de banca de jornal<br />

anunciará "Vende-se cigarros";<br />

..........<br />

Nenhum livro de gramática obrigará os<br />

alunos a utilizar colocações pronominais<br />

como "casar-me-ei" ou "ver-se-ão".<br />

PIZA, Daniel. Uma proposta imodesta. O Estado de<br />

S. Paulo, São Paulo, 8/04/2001.<br />

No texto acima, o autor:<br />

A) mostra-se favorável ao teor da<br />

proposta por entender que a língua<br />

portuguesa deve ser protegida contra<br />

deturpações de uso.<br />

B) ironiza o projeto de lei ao sugerir<br />

medidas que inibam determinados usos<br />

regionais e socioculturais da língua.<br />

C) denuncia o desconhecimento de regras<br />

elementares de concordância verbal e<br />

nominal pelo falante brasileiro.<br />

D) revela-se preconceituoso em relação a<br />

certos registros lingüísticos ao propor<br />

medidas que os controlem.<br />

E) defende o ensino rigoroso da gramática<br />

para que todos aprendam a empregar<br />

corretamente os pronomes.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. O autor ironiza o<br />

projeto de lei que proíbe o uso de<br />

estrangeirismos no Brasil. Não adianta criarse<br />

uma expectativa ou preocupação em<br />

relação ao uso de termos estrangeiros na<br />

língua e esquecer-se de que a língua é um<br />

organismo vivo, mutável. A dinâmica de uma<br />

língua não pode ser regida por preceitos<br />

legais como quer o projeto.<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão reproduz trechos de um<br />

texto que aborda o polêmico projeto de<br />

proibição de uso de termos estrangeiros no<br />

Brasil. A partir da leitura atenta do texto de<br />

Daniel Piza, o participante é levado a refletir<br />

sobre a postura adotada pelo autor em<br />

relação ao referido projeto. Para<br />

compreender esse texto, o participante<br />

precisa reconhecer o tom irônico que marca<br />

as observações e sugestões feitas por seu<br />

292


autor. Assim, Daniel Piza, "engajado nessa<br />

valorosa luta contra o inimigo ianque", sugere<br />

a proibição de algumas formas lingüísticas de<br />

uso corrente que contrariam recomendações<br />

da gramática normativa. O participante deve<br />

reconhecer que, com sugestões como essas,<br />

Daniel Piza deixa implícita uma crítica à<br />

utilidade do projeto de proibição dos<br />

estrangeirismos como forma de proteger a<br />

Língua Portuguesa. Nesse contexto, a ironia<br />

torna-se mais clara, bem como o mecanismo<br />

textual que a constrói. Feito tal<br />

reconhecimento, o aluno encontra a resposta<br />

correta na alternativa B, assinalada por cerca<br />

da metade dos participantes. Nenhuma outra<br />

alternativa contempla o aspecto irônico,<br />

essencial para a compreensão do texto.<br />

38) (2005) O termo (ou expressão)<br />

destacado que está empregado em seu<br />

sentido próprio, denotativo ocorre em:<br />

A) “(....)<br />

É de laço e de nó<br />

De gibeira o jiló<br />

Dessa vida, cumprida a sol (....)”<br />

(Renato Teixeira. Romaria. Kuarup Discos.<br />

setembro de 1992.)<br />

B) “Protegendo os inocentes<br />

é que Deus, sábio demais,<br />

põe cenários diferentes<br />

nas impressões digitais.”<br />

(Maria N. S. Carvalho. Evangelho da Trova. /s.n.b.)<br />

C) “O dicionário-padrão da língua e os<br />

dicionários unilíngües são os tipos mais<br />

comuns de dicionários. Em nossos<br />

dias, eles se tornaram um objeto de<br />

consumo obrigatório para as nações<br />

civilizadas e desenvolvidas.”<br />

(Maria T. Camargo Biderman.<br />

O dicionário-padrão da língua. Alfa (28), 2743, 1974 Supl.)<br />

D)<br />

E) “Humorismo é a arte de fazer cócegas<br />

no raciocínio dos outros. Há duas<br />

espécies de humorismo: o trágico e o<br />

cômico. O trágico é o que não<br />

consegue fazer rir; o cômico é o que é<br />

verdadeiramente trágico para se fazer.”<br />

(Leon Eliachar. www.mercadolivre.com.br.<br />

acessado em julho de 2005.)<br />

Comentário<br />

A definição do dicionário-padrão da língua<br />

utiliza o sentido denotativo da palavra para<br />

explicar o uso de determinado tipo de<br />

dicionário. Em todas as outras alternativas,<br />

as palavras estão sendo empregadas em<br />

sentido metafórico. Na letra A, "cumprida a<br />

sol" pode mostrar o sofrimento e a solidão.<br />

Na alternativa B, "cenários diferentes" são as<br />

diferenças físicas encontradas nas<br />

impressões digitais. Na letra D, "bateria" é o<br />

termo usado para expressar a "energia" do<br />

Menino Maluquinho, que nunca acaba. Por<br />

fim, na alternativa E, "fazer cócegas no<br />

raciocínio" significa expressar graça por meio<br />

de idéias, fazendo com que o cérebro ache<br />

um fato divertido e, por conseguinte, faça<br />

com que a pessoa ria como se sofresse um<br />

ataque de cócegas.<br />

39) (2003) Pequenos tormentos da vida<br />

De cada lado da sala de aula, pelas janelas<br />

altas, o azul convida os meninos,<br />

as nuvens desenrolam-se, lentas como quem<br />

vai inventando<br />

preguiçosamente uma história sem fim...Sem<br />

fim é a aula: e nada acontece,<br />

nada...Bocejos e moscas. Se ao menos,<br />

pensa Margarida, se ao menos um<br />

avião entrasse por uma janela e saísse por<br />

outra!<br />

(Mário Quintana. Poesias)<br />

Na cena retratada no texto, o sentimento<br />

do tédio<br />

A) provoca que os meninos fiquem<br />

contando histórias.<br />

B) leva os alunos a simularem bocejos,<br />

em protesto contra a monotonia da<br />

aula.<br />

C) acaba estimulando a fantasia,<br />

criando a expectativa de algum<br />

imprevisto mágico.<br />

D) prevalece de modo absoluto,<br />

impedindo até mesmo a distração ou o<br />

exercício do pensamento.<br />

E) decorre da morosidade da aula, em<br />

contraste com o movimento acelerado<br />

das nuvens e das moscas.<br />

Comentário<br />

Essa questão aborda o imaginário<br />

decorrente do marasmo trazido pela escola.<br />

O texto enfatiza o arrastar do tempo na<br />

293


mente de uma aluna, Margarida, que se põe<br />

a pensar em fatos mágicos ou imaginários<br />

que pudessem romper com a lentidão da<br />

aula.<br />

40) (1999)<br />

294<br />

Diante da visão de um prédio com uma<br />

placa indicando SAPATARIA PAPALIA,<br />

um jovem deparou com a dúvida: como<br />

pronunciar a palavra PAPALIA?<br />

Levado o problema à sala de aula, a<br />

discussão girou em torno da utilidade de<br />

conhecer as regras de acentuação e,<br />

especialmente, do auxílio que elas podem<br />

dar à correta pronúncia de palavras.<br />

Após discutirem pronúncia, regras de<br />

acentuação e escrita, três alunos<br />

apresentaram as seguintes conclusões a<br />

respeito da palavra PAPALIA:<br />

I. Se a sílaba tônica for o segundo PA, a<br />

escrita deveria ser PAPÁLIA, pois a<br />

palavra seria paroxítona terminada em<br />

ditongo crescente.<br />

II. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />

deveria ser PAPALÍA, pois "i" e "a"<br />

estariam formando hiato.<br />

III. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />

deveria ser PAPALIA, pois não haveria<br />

razão para o uso de acento gráfico.<br />

A conclusão está correta apenas em:<br />

A) III D) I<br />

B) I e II E) II<br />

C) I e III<br />

Comentário<br />

Essa questão exige bom conhecimento<br />

das regras de acentuação. A alternativa A diz<br />

que apenas a afirmação I é verdadeira. De<br />

fato ela é, mas não é a única. Nela, temos a<br />

hipótese de a palavra ser grafada como se a<br />

sílaba forte fosse a penúltima — papália —,<br />

justificando seu acento gráfico. Vejamos o<br />

que dizem as regras de acentuação.<br />

Acentuam-se as palavras paroxítonas<br />

terminadas em: i, is, us, um, uns, l, n, r, x,<br />

ps, ã, ãs, ão, ãos, ditongos orais,<br />

crescentes ou decrescentes, seguidos ou<br />

não de S. Isso valida, portanto, a afirmação I.<br />

A afirmação II pressupõe que a sílaba<br />

tônica seja LI, em hiato com A: no caso de<br />

essa ser a tonicidade da palavra, a sílaba LI<br />

não poderia ser acentuada, pois I, mesmo<br />

sendo a tônica do hiato, não é a última vogal,<br />

portanto, essa afirmativa é falsa.<br />

A afirmação III considera que a sílaba<br />

tônica é LI, não havendo acento por ser o I a<br />

primeira vogal do hiato. Portanto, essa<br />

afirmação é verdadeira.<br />

Concluindo, temos como verdadeiras as<br />

afirmações I e III. Então, a alternativa E é a<br />

correta. Questão de nível difícil.<br />

Comentário do INEP<br />

Dentre os participantes, somente pouco<br />

mais de um terço (35%) demonstrou possuir<br />

a habilidade para identificar as regras de<br />

acentuação corretas, enunciadas na questão.<br />

Chama a atenção o fato de que 73% dos<br />

participantes (alternativas A, D e E)<br />

reconheceram corretamente, pelo menos, a<br />

regra contida no item I, sendo que cerca de<br />

40% desses, contudo, tiveram dificuldades<br />

em analisar as regras II e III.<br />

Em se tratando de palavra não-usual, é,<br />

sobretudo, o domínio do conhecimento das<br />

regras e não a possível pronúncia correta,<br />

pelo uso, o que parece ter sido revelado.<br />

41) (2008)<br />

Exame, 28/9/2007.<br />

Entre os seguintes ditos populares, qual<br />

deles melhor corresponde à figura<br />

acima?<br />

A) Com perseverança, tudo se alcança.<br />

B) Cada macaco no seu galho.<br />

C) Nem tudo que balança cai.<br />

D) Quem tudo quer, tudo perde.<br />

E) Deus ajuda quem cedo madruga.


Comentário<br />

Assim como a questão 37, esta também<br />

envolve interpretação de signos, ou seja, o<br />

aluno precisa estar atento à imagem e<br />

relacioná-la ao dito popular correspondente.<br />

A alternativa "A" é a correta, pois, para<br />

uma lesma “grudenta” e vagarosa conseguir<br />

pular numa cama elástica, é necessária<br />

muita perseverança.<br />

42) (2002) A crônica muitas vezes constitui<br />

um espaço para reflexão sobre aspectos<br />

da sociedade em que vivemos.<br />

"Eu, na rua, com pressa, e o menino<br />

segurou no meu braço, falou qualquer<br />

coisa que não entendi. Fui logo dizendo<br />

que não tinha, certa de que ele estava<br />

pedindo dinheiro. Não estava. Queria<br />

saber a hora.<br />

Talvez não fosse um Menino De<br />

Família, mas também não era um Menino<br />

De Rua. É assim que a gente divide.<br />

Menino De Família é aquele bem-vestido<br />

com tênis da moda e camiseta de marca,<br />

que usa relógio e a mãe dá outro se o<br />

dele for roubado por um Menino De Rua.<br />

Menino De Rua é aquele que quando a<br />

gente passa perto segura a bolsa com<br />

força porque pensa que ele é pivete,<br />

trombadinha, ladrão. (...) Na verdade não<br />

existem meninos De rua.<br />

Existem meninos NA rua. E toda vez<br />

que um menino está NA rua é porque<br />

alguém o botou lá. Os meninos não vão<br />

sozinhos aos lugares. Assim como são<br />

postos no mundo, durante muitos anos<br />

também são postos onde quer que<br />

estejam. Resta ver quem os põe na rua. E<br />

por quê."<br />

COLASSANTI, Marina. In: Eu sei, mas não devia. Rio de<br />

Janeiro: Rocco, 1999.<br />

menino DE (proveniente de) rua, mas um<br />

menino que está NA (foi levado à) rua.<br />

Portanto, a relação é unicamente de<br />

localização (onde ele está) e não de<br />

qualidade (o que ele é).<br />

Comentário do INEP<br />

A reprodução de um trecho de uma<br />

crônica de Marina Colassanti tematiza uma<br />

importante questão social brasileira: a<br />

presença de milhões de crianças nas ruas do<br />

País. A autora, ao tratar desse problema,<br />

vale-se de recursos lingüísticos específicos.<br />

O objetivo desta questão é justamente<br />

chamar a atenção do participante leitor para<br />

esses recursos e os efeitos de sentido que<br />

eles desencadeiam no texto. Na raiz da<br />

questão destaca-se a troca de "De" por "NA"<br />

e pede-se que se determine qual relação de<br />

sentido essa substituição estabelece entre os<br />

termos "menino" e "rua". Analisar a relação,<br />

nesse caso, significa perguntar-se sobre o<br />

sentido de dois sintagmas criados no texto:<br />

"meninos NA rua" por oposição a "meninos<br />

De rua". O que a autora pretende negar, com<br />

a troca do termo de relação, é a possibilidade<br />

de que existam meninos de rua diferentes de<br />

outros meninos, que não têm na rua a sua<br />

origem. O destaque para a preposição na<br />

nos leva a refletir que a relação dos meninos<br />

com a rua é de localização: eles estão ali por<br />

alguma razão, não porque essa seja a sua<br />

qualificação. Essa reflexão levaria o aluno a<br />

escolher, como correta, a resposta<br />

apresentada na alternativa A, assinalada por<br />

cerca de metade dos participantes.<br />

43) (2005) Leia estes textos.<br />

Texto 1<br />

No terceiro parágrafo em "... não existem<br />

meninos De rua. Existem meninos NA<br />

rua.", a troca de De pelo Na determina<br />

que a relação de sentido entre "menino" e<br />

"rua" seja<br />

A) de localização e não de qualidade.<br />

B) de origem e não de posse.<br />

C) de origem e não de localização.<br />

D) de qualidade e não de origem.<br />

E) de posse e não de localização.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. Apesar de não<br />

haver um terceiro parágrafo neste texto, a<br />

troca das preposições ao final do SEGUNDO<br />

parágrafo indica claramente que não há um<br />

Texto 2<br />

Sonhar<br />

Mais um sonho impossível<br />

Lutar<br />

Quando é fácil ceder<br />

Vencer o inimigo invencível<br />

Negar quando a regra é vender<br />

Sofrer a tortura implacável<br />

Romper a incabível prisão<br />

Voar num limite improvável<br />

Tocar o inacessível chão<br />

É minha lei, é minha questão<br />

295


Virar esse mundo<br />

Cravar esse chão<br />

Não me importa saber<br />

Se é terrível demais<br />

Quantas guerras terei que vencer<br />

Por um pouco de paz<br />

E amanhã se esse chão que eu beijei<br />

For meu leito e perdão<br />

Vou saber que valeu delirar<br />

E morrer de paixão<br />

E assim, seja lá como for<br />

Vai ter fim a infinita aflição<br />

E o mundo vai ver uma flor<br />

Brotar do impossível chão.<br />

(J. Darione – M. Leigh – Versão de Chico Buarque de<br />

Hollanda e Ruy Guerra, 1972.)<br />

A tirinha e a canção apresentam uma<br />

reflexão sobre o futuro da humanidade. É<br />

correto concluir que os dois textos<br />

A) afirmam que o homem é capaz de<br />

alcançar a paz.<br />

B) concordam que o desarmamento é<br />

inatingível.<br />

C) julgam que o sonho é um desafio<br />

invencível.<br />

D) têm visões diferentes sobre um<br />

possível mundo melhor.<br />

E) transmitem uma mensagem de<br />

otimismo sobre a paz.<br />

Comentário<br />

Enquanto o primeiro texto é ácido em<br />

relação à possibilidade de desarmamento da<br />

população (ou seja, à criação de uma<br />

sociedade mais pacífica), o segundo mostra<br />

a capacidade que a humanidade tem de crer<br />

e, por isso, tentar fazer até o que a princípio<br />

parece impossível. Para os autores da<br />

canção, nada é intrinsecamente impossível.<br />

A relação entre eles é de oposição:<br />

descrença x crença. Questão de nível de<br />

dificuldade médio.<br />

44) (2000) O uso do pronome átono no início<br />

das frases é destacado por um poeta e<br />

por um gramático nos textos abaixo.<br />

Pronominais<br />

Dê-me um cigarro<br />

Diz a gramática<br />

Do professor e do aluno<br />

E do mulato sabido<br />

Mas o bom negro e o bom branco<br />

da Nação Brasileira<br />

Dizem todos os dias<br />

Deixa disso camarada<br />

Me dá um cigarro<br />

(ANDRADE, Oswald de. Seleção de textos.<br />

São Paulo: Nova Cultural, 1988)<br />

296<br />

“Iniciar a frase com pronome átono só<br />

é lícito na conversação familiar,<br />

despreocupada, ou na língua escrita<br />

quando se deseja reproduzir a fala dos<br />

personagens (...).”<br />

(CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da<br />

língua portuguesa.<br />

São Paulo: Nacional, 1980)<br />

Comparando a explicação dada pelos<br />

autores sobre essa regra, pode-se afirmar<br />

que ambos:<br />

A) condenam essa regra gramatical.<br />

B) acreditam que apenas os esclarecidos<br />

sabem essa regra.<br />

C) criticam a presença de regras na<br />

gramática.<br />

D) afirmam que não há regras para uso de<br />

pronomes.<br />

E) relativizam essa regra gramatical.<br />

Comentário<br />

Questão que requer conhecimento básico<br />

de colocação pronominal, em relação ao uso<br />

de pronomes átonos no início de frases, uma<br />

regra muito pouco respeitada pelo brasileiro,<br />

da qual Oswald de Andrade faz questão de<br />

falar em seu poema. Porém, a questão pode<br />

ser resolvida simplesmente por meio de uma<br />

leitura bem atenta dos textos. Se formos<br />

analisando alternativa por alternativa, a<br />

eliminação é clara e lógica: a alternativa a<br />

fica totalmente descartada devido à<br />

transparência da colocação dos dois autores<br />

(Me dá um cigarro...) e (iniciar frases com o<br />

pronome átono é "lícito" na conversação<br />

familiar ou despreocupada). Já a alternativa b<br />

pode até mesmo gerar um pouco de dúvida a<br />

quem não se atém bem à pergunta. Quanto<br />

às alternativas c e d, ficam descartadas, pois,<br />

em momento nenhum, os autores criticaram<br />

o uso de regras gramaticais em seus textos,<br />

cabendo perfeitamente a alternativa e para<br />

as afirmações do gramático e do poeta.<br />

Comentário do INEP<br />

Essa questão pretendia verificar como o<br />

participante analisa um fato lingüístico,<br />

mediante a comparação da descrição desse<br />

fato em dois textos. Sabe-se que,<br />

normalmente em situação escolar, o uso do<br />

pronome átono no início da frase é julgado<br />

como grave desvio gramatical, e pouco se<br />

analisa esse uso na fala ou escrita informal.<br />

Os dois autores dos textos, com intenções<br />

diferentes, relativizam essa regra gramatical,<br />

destacando e descrevendo o seu uso<br />

coloquial. A maioria dos participantes (52%)<br />

analisou e comparou corretamente as<br />

posições dos autores sobre o uso do


pronome átono, e 24% deles reafirmaram a<br />

posição discriminatória da regra, deslocandoa<br />

de seu uso.<br />

história de Van Gogh, ou apropriaram-se<br />

corretamente da informação sobre esse<br />

pintor, fornecida no enunciado.<br />

45) (2000) As histórias em quadrinhos, por<br />

vezes, utilizam animais como<br />

personagens e a eles atribuem<br />

comportamento humano. O gato Garfield<br />

é exemplo desse fato.<br />

46) (2004)<br />

Fonte: Caderno Vida e Arte, Jornal do Povo, Fortaleza<br />

Van Gogh, pintor holandês nascido em<br />

1853, é um dos principais nomes da<br />

pintura mundial. É dele o quadro abaixo.<br />

Auto-retrato de orelha cortada<br />

O 3º quadrinho sugere que Garfield:<br />

A) desconhece tudo sobre arte, por isso<br />

faz a sugestão.<br />

B) acredita que todo pintor deve fazer algo<br />

diferente.<br />

C) defende que para ser pintor a pessoa<br />

tem de sofrer.<br />

D) conhece a história de um pintor<br />

famoso e faz uso da ironia.<br />

E) acredita que seu dono tenha tendência<br />

artística e, por isso, faz a sugestão.<br />

Comentário<br />

Outra questão de interpretação de texto.<br />

Muito simples para quem um dia ouviu falar<br />

de Van Gogh, e simplíssima para aqueles<br />

que prestam atenção em todos os elementos<br />

do enunciado. Afinal, quem deu uma<br />

espiadinha na legenda do quadro de Van<br />

Gogh matou na hora a questão.<br />

Esta questão é daquelas rápidas de serem<br />

resolvidas, associando-se os elementos<br />

apresentados.<br />

Comentário do INEP<br />

A significativa maioria (81%) dos<br />

participantes soube perceber o caráter<br />

irônico da fala do Garfield, expressa no<br />

terceiro quadrinho porque, ou conheciam a<br />

A tira "Hagar" e o poema de Alberto<br />

Caeiro (um dos heterônimos de Fernando<br />

Pessoa) expressam, com linguagens<br />

diferentes, uma mesma idéia: a de que a<br />

compreensão que temos do mundo é<br />

condicionada, essencialmente,<br />

A) pelo alcance de cada cultura.<br />

B) pela capacidade visual do observador.<br />

C) pelo senso de humor de cada um.<br />

D) pela idade do observador.<br />

E) pela altura do ponto de observação.<br />

Comentário<br />

Questão reflexiva sobre a forma como<br />

cada cultura vê o mundo sob a ótica dos<br />

limites dados pelos seus costumes e<br />

possibilidades de pensamento inerentes a<br />

cada modelo cultural. A mistura de uma tira e<br />

de um poema amplia a possibilidade de<br />

pensamento por trabalhar com linguagens<br />

diferentes. A alternativa correta é a letra A,<br />

pois ambos (tira e poema) utilizam figuras de<br />

linguagem (metáfora e ironia) para expressar<br />

as diferentes visões de mundo.<br />

47) (2003)<br />

O humor presente na tirinha decorre<br />

principalmente do fato de a personagem<br />

Mafalda<br />

A) atribuir, no primeiro quadrinho, poder<br />

ilimitado ao dedo indicador.<br />

B) considerar seu dedo indicador tão<br />

importante quanto o dos patrões.<br />

297


298<br />

C) atribuir, no primeiro e no último<br />

quadrinhos, um mesmo sentido ao<br />

vocábulo "indicador".<br />

D) usar corretamente a expressão<br />

"indicador de desemprego", mesmo<br />

sendo criança.<br />

E) atribuir, no último quadrinho, fama<br />

exagerada ao dedo indicador dos<br />

patrões.<br />

Comentário<br />

A questão pede a interpretação de uma<br />

charge da personagem Mafalda, em que ela<br />

faz referência a seu dedo indicador, que é<br />

usado como substantivo primitivo e que<br />

possibilita a analogia com “indicador de<br />

desemprego”. Dessa forma, ela ironiza os<br />

indicadores sociais. Na charge, porém, não<br />

há menção explícita aos índices<br />

“indicadores”, permanecendo o raciocínio<br />

preso apenas ao dedo indicador. Assim, ela<br />

utiliza, tanto no primeiro quanto no último<br />

quadrinho, a palavra “indicador” como<br />

referência ao dedo, não dando abertura a<br />

outro tipo de interpretação.<br />

48) (2009) Canção do vento e da minha<br />

vida<br />

O vento varria as folhas,<br />

O vento varria os frutos,<br />

O vento varria as flores...<br />

E a minha vida ficava<br />

Cada vez mais cheia<br />

De frutos, de flores, de folhas.<br />

[...]<br />

O vento varria os sonhos<br />

E varria as amizades...<br />

O vento varria as mulheres...<br />

E a minha vida ficava<br />

Cada vez mais cheia<br />

De afetos e de mulheres.<br />

O vento varria os meses<br />

E varria os teus sorrisos...<br />

O vento varria tudo!<br />

E a minha vida ficava<br />

Cada vez mais cheia<br />

De tudo.<br />

BANDEIRA, M. Poesia completa e prosa. Rio de<br />

Janeiro: José Aguilar, 1967.<br />

Predomina no texto a função da<br />

linguagem<br />

A) fática, porque o autor procura testar o<br />

canal de comunicação.<br />

B) metalinguística, porque há explicação<br />

do significado das expressões.<br />

C) conativa, uma vez que o leitor é<br />

provocado a participar de uma ação.<br />

D) referencial, já que são apresentadas<br />

informações sobre acontecimentos e<br />

fatos reais.<br />

E) poética, pois chama-se a atenção<br />

para a elaboração especial e artística<br />

da estrutura do texto.<br />

Comentário<br />

(QUESTÃO: AZUL 116, BRANCA 117,<br />

ROSA 115)<br />

Questão de nível fácil, pois, por ser um<br />

poema, utilizam-se construções como versos<br />

e estrofes e línguagem adequada a esse<br />

gênero textual. Portanto, a resposta correta é<br />

a letra E.<br />

H20 - Reconhecer a importância<br />

do patrimônio linguístico para a<br />

preservação da memória e da<br />

identidade nacional.<br />

01) (1999) SONETO DE FIDELIDADE<br />

De tudo, ao meu amor serei atento<br />

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto<br />

Que mesmo em face do maior encanto<br />

Dele se encante mais meu pensamento.<br />

Quero vivê-lo em cada vão momento<br />

E em seu louvor hei de espalhar meu<br />

canto<br />

E rir meu riso e derramar meu pranto<br />

Ao seu pesar ou seu contentamento.<br />

E assim, quando mais tarde me procure<br />

Quem sabe a morte, angústia de quem<br />

vive<br />

Quem sabe a solidão, fim de quem ama.<br />

Eu possa dizer do meu amor (que tive):<br />

Que não seja imortal, posto que é chama<br />

Mas que seja infinito enquanto dure.<br />

(MORAES, Vinícius de. Antologia poética. São Paulo: Cia<br />

das Letras, 1992).<br />

A palavra mesmo pode assumir diferentes<br />

significados, de acordo com a sua função<br />

na frase. Assinale a alternativa em que o<br />

sentido de mesmo equivale ao que se<br />

verifica no 3º verso da 1ª estrofe do<br />

poema de Vinícius de Moraes.<br />

A) "Pai, para onde fores, / irei também<br />

trilhando as mesmas ruas..." (Augusto<br />

dos Anjos)<br />

B) "Agora, como outrora, há aqui o<br />

mesmo contraste da vida interior, que<br />

é modesta, com a exterior, que é<br />

ruidosa." (Machado de Assis)<br />

C) "Havia o mal, profundo e persistente,<br />

para o qual o remédio não surtiu efeito,<br />

mesmo em doses variáveis."<br />

(Raimundo Faoro)


D) "Mas, olhe cá, Mana Glória, há<br />

mesmo necessidade de fazê-lo<br />

padre?" (Machado de Assis)<br />

E) "Vamos de qualquer maneira, mas<br />

vamos mesmo." (Aurélio)<br />

Comentário<br />

Nessa questão, uma pequena análise<br />

sintática se faz necessária: mesmo, em<br />

ambos os casos, é conjunção subordinativa<br />

concessiva, introduzindo, portanto, uma<br />

oração subordinada cujo fato expresso é<br />

contrário ao da oração principal. Deve-se,<br />

então, recorrer à oração anterior para se ter<br />

certeza quanto à classificação. Grau<br />

moderado de dificuldade.<br />

Comentário do INEP<br />

Este problema buscou colocar o<br />

participante diante de uma situação que<br />

exigia a mobilização de seus mecanismos de<br />

reflexão sobre os processos lingüísticos em<br />

que um significante (uma palavra) assume<br />

diferentes significados, no enunciado, de<br />

acordo com a intenção do enunciador. Neste<br />

caso, além da compreensão da<br />

transformação de significado, é necessária a<br />

alteração de função morfossintática.<br />

Verifica-se que 62% dos participantes<br />

conseguiram identificar e analisar esse<br />

processo lingüístico, comparando a função<br />

do significante em diferentes enunciados.<br />

Isso demonstrou um domínio parcial da<br />

reflexão sobre a Língua Portuguesa, em<br />

diferentes contextos e textos.<br />

Os 18% dos participantes que<br />

assinalaram a alternativa B identificaram a<br />

diferença de significados mas,<br />

provavelmente, têm dificuldades em analisar<br />

estas mudanças em nível morfossintático<br />

(alternativa B).<br />

02) (2001) O mundo é grande<br />

O mundo é grande e cabe<br />

Nesta janela sobre o mar.<br />

O mar é grande e cabe<br />

Na cama e no colchão de amar.<br />

O amor é grande e cabe<br />

No breve espaço de beijar.<br />

ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e prosa.<br />

Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983.<br />

Neste poema, o poeta realizou uma opção<br />

estilística: a reiteração de determinadas<br />

construções e expressões lingüísticas,<br />

como o uso da mesma conjunção para<br />

estabelecer a relação entre as frases.<br />

Essa conjunção estabelece, entre as<br />

idéias relacionadas, um sentido de<br />

A) oposição.<br />

B) comparação.<br />

C) conclusão.<br />

D) alternância.<br />

E) finalidade.<br />

Comentário<br />

Há três elementos repetidos neste trecho:<br />

o verbo ser, o artigo definido o e a conjunção<br />

aditiva e. A conjunção e estabelece uma<br />

relação entre idéias que, concretamente, são<br />

opostas (ex.: "O mundo é grande e cabe<br />

nesta janela sobre o mar"). A alternativa<br />

correta é a letra A.<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão apresenta, para leitura e<br />

análise, o poema "O mundo é grande", onde<br />

os recursos lingüísticos expressivos<br />

utilizados geram um efeito de oposição entre<br />

as idéias. A análise sintático-semântica é<br />

necessária para a compreensão do valor de<br />

oposição assumido pela conjunção "e":<br />

imagens justapostas estão relacionadas,<br />

contrapondo-se em planos diferentes. Um<br />

percentual significativo (46%) de<br />

participantes considerou que o valor da<br />

conjunção "e", nesse poema, é de<br />

comparação, o que não reflete o sentido<br />

estilístico proposto pelo poeta, mas<br />

corresponde apenas à primeira operação que<br />

se realiza para estabelecer o sentido de<br />

oposição. De maneira análoga, pode-se<br />

analisar os equívocos daqueles que optaram<br />

pelas alternativas C e D.<br />

03) ( 2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />

poema.<br />

A DANÇA E A ALMA<br />

A DANÇA? Não é movimento,<br />

súbito gesto musical.<br />

É concentração, num momento,<br />

da humana graça natural.<br />

No solo não, no éter pairamos,<br />

nele amaríamos ficar.<br />

A dança – não vento nos ramos:<br />

seiva, força, perene estar.<br />

Um estar entre céu e chão,<br />

novo domínio conquistado,<br />

onde busque nossa paixão<br />

libertar-se por todo lado...<br />

Onde a alma possa descrever<br />

suas mais divinas parábolas<br />

sem fugir à forma do ser,<br />

por sobre o mistério das fábulas.<br />

299


(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />

Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />

A definição de dança, em linguagem de<br />

dicionário, que mais se aproxima do que<br />

está expresso no poema é<br />

A) a mais antiga das artes, servindo como<br />

elemento de comunicação e afirmação<br />

do homem em todos os momentos de<br />

sua existência.<br />

B) a forma de expressão corporal que<br />

ultrapassa os limites físicos,<br />

possibilitando ao homem a liberação de<br />

seu espírito.<br />

C) a manifestação do ser humano,<br />

formada por uma seqüência de gestos,<br />

passos e movimentos desconcertados.<br />

D) o conjunto organizado de movimentos<br />

do corpo, com ritmo determinado por<br />

instrumentos musicais, ruídos, cantos,<br />

emoções etc.<br />

E) o movimento diretamente ligado ao<br />

psiquismo do indivíduo e, por<br />

conseqüência, ao seu desenvolvimento<br />

intelectual e à sua cultura.<br />

Comentário<br />

A pergunta busca a aplicação do conceito<br />

de "estado de dicionário" (que também foi<br />

desenvolvido por Drummond no poema "A<br />

Procura da Poesia"). A literatura busca partir<br />

de palavras em estado de dicionário para,<br />

pelo aprofundamento do sentido delas, criar<br />

um mundo mais denso e particular. Em<br />

estado de dicionário, a dança, conforme é<br />

tratada nesse poema, apareceria na<br />

alternativa B: uma justaposição entre<br />

aspectos físicos e espirituais da expressão<br />

humana. Questão complexa.<br />

sem fugir à forma do ser,<br />

por sobre o mistério das fábulas.<br />

(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />

Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />

O poema “A Dança e a Alma” é construído<br />

com base em contrastes, como<br />

“movimento” e “concentração”. Em uma<br />

das estrofes, o termo que estabelece<br />

contraste com solo é:<br />

A) éter. D) paixão.<br />

B) seiva. E) ser.<br />

C) chão.<br />

Comentário<br />

O elemento que contrasta com "solo"<br />

(físico, tangível, perene) é "éter" (espiritual,<br />

intangível, volátil). Questão de nível médio de<br />

dificuldade.<br />

05) ( 2008) O surgimento da figura da Ema<br />

no céu, ao leste, no anoitecer, na segunda<br />

quinzena de junho, indica o início do<br />

inverno para os índios do sul do Brasil e o<br />

começo da estação seca para os do norte.<br />

É limitada pelas constelações de<br />

Escorpião e do Cruzeiro do Sul, ou<br />

Cut'uxu. Segundo o mito guarani, o<br />

Cut’uxu segura a cabeça da ave para<br />

garantir a vida na Terra, porque, se ela se<br />

soltar, beberá toda a água do nosso<br />

planeta. Os tupisguaranis utilizam o<br />

Cut'uxu para se orientar e determinar a<br />

duração das noites e as estações do ano.<br />

A ilustração a seguir é uma representação<br />

dos corpos celestes que constituem a<br />

constelação da Ema, na percepção<br />

indígena.<br />

04) (2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />

poema.<br />

A DANÇA E A ALMA<br />

A DANÇA? Não é movimento,<br />

súbito gesto musical.<br />

É concentração, num momento,<br />

da humana graça natural.<br />

No solo não, no éter pairamos,<br />

nele amaríamos ficar.<br />

A dança – não vento nos ramos:<br />

seiva, força, perene estar.<br />

Um estar entre céu e chão,<br />

novo domínio conquistado,<br />

onde busque nossa paixão<br />

libertar-se por todo lado...<br />

Onde a alma possa descrever<br />

suas mais divinas parábolas<br />

Almanaque BRASIL, maio/2007 (com adaptações).<br />

A próxima figura mostra, em campo de<br />

visão ampliado, como povos de culturas<br />

não-indígenas percebem o espaço estelar<br />

em que a Ema é vista.<br />

300


Internet: (com adaptações).<br />

Assinale a opção correta a respeito da<br />

linguagem empregada no texto A Ema.<br />

A) A palavra Cut’uxu é um regionalismo<br />

utilizado pelas populações próximas às<br />

aldeias indígenas.<br />

B) O autor se expressa em linguagem<br />

formal em todos os períodos do texto.<br />

C) A ausência da palavra Ema no início do<br />

período “É limitada (...)” caracteriza<br />

registro oral.<br />

D) A palavra Cut’uxu está destacada em<br />

itálico porque integra o vocabulário da<br />

linguagem informal.<br />

E) No texto, predomina a linguagem<br />

coloquial porque ele consta de um<br />

almanaque.<br />

Comentário<br />

A questão é simples, mas requer cuidados<br />

quanto aos conceitos de linguagem<br />

“informal”, “formal” e de “língua”. Se o aluno<br />

tiver noção desses conceitos,<br />

chegará facilmente à resposta. A linguagem<br />

formal ou culta prevalece no texto, e o termo<br />

“Cut’uxu’ não é um termo informal, mas, sim,<br />

uma expressão que pertence a uma língua<br />

indígena — o que justifica o emprego da<br />

palavra em itálico. A resposta correta é,<br />

portanto, a letra "B".<br />

06) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />

preciso, além de conhecer o padrão<br />

formal da Língua Portuguesa, saber<br />

adequar o uso da linguagem ao contexto<br />

discursivo. Para exemplificar este fato,<br />

seu professor de Língua Portuguesa<br />

convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />

Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />

brinca com situações de discurso oral que<br />

fogem à expectativa do ouvinte.<br />

Aí, Galera<br />

Jogadores de futebol podem ser<br />

vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />

você pode imaginar um jogador de futebol<br />

dizendo "estereotipação"? E, no<br />

entanto, por que não?<br />

- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />

galera.<br />

- Minha saudação aos aficionados do<br />

clube e aos demais esportistas, aqui<br />

presentes ou no recesso dos seus lares.<br />

- Como é?<br />

- Aí, galera.<br />

- Quais são as instruções do técnico?<br />

- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />

trabalho de contenção coordenada, com<br />

energia otimizada, na zona de<br />

preparação, aumentam as<br />

probabilidades de, recuperado o<br />

esférico, concatenarmos um contragolpe<br />

agudo com parcimônia de meios e<br />

extrema objetividade, valendo-nos da<br />

desestruturação momentânea do<br />

sistema oposto, surpreendido pela<br />

reversão inesperada do fluxo da ação:<br />

- Ahn?<br />

- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />

pegá eles sem calça.<br />

- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />

coisa?<br />

- Posso dirigir uma mensagem de<br />

caráter sentimental, algo banal, talvez<br />

mesmo previsível e piegas, a uma<br />

pessoa à qual sou ligado por razões,<br />

inclusive, genéticas?<br />

- Pode.<br />

- Uma saudação para a minha<br />

progenitora.<br />

- Como é?<br />

- Alô, mamãe!<br />

- Estou vendo que você é um, um...<br />

- Um jogador que confunde o<br />

entrevistador, pois não corresponde à<br />

expectativa de que o atleta seja um ser<br />

algo primitivo com dificuldade de<br />

expressão e assim sabota a<br />

estereotipação?<br />

- Estereoquê?<br />

- Um chato?<br />

- Isso.<br />

Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />

O texto retrata duas situações<br />

relacionadas que fogem à expectativa do<br />

público. São elas:<br />

A) a saudação do jogador aos fãs do<br />

clube, no início da entrevista, e a<br />

saudação final dirigida à sua mãe.<br />

B) a linguagem muito formal do jogador,<br />

inadequada à situação da entrevista, e<br />

um jogador que fala, com desenvoltura,<br />

de modo muito rebuscado.<br />

301


C) o uso da expressão "galera", por parte<br />

do entrevistador, e da expressão<br />

"progenitora", por parte do jogador.<br />

D) o desconhecimento, por parte do<br />

entrevistador, da palavra<br />

"estereotipação", e a fala do jogador<br />

em "é pra dividir no meio e ir pra cima<br />

pra pegá eles sem calça".<br />

E) o fato de os jogadores de futebol serem<br />

vítimas de estereotipação e o jogador<br />

entrevistado não corresponder ao<br />

estereótipo.<br />

Comentário<br />

Quando pensamos em certas profissões,<br />

imaginamos qual seria o padrão de<br />

comportamento de quem as exerce. O texto<br />

está trabalhando uma divergência entre o<br />

que esperamos de um jogador de futebol (o<br />

estereótipo que temos dele) e um jogador<br />

que não se enquadra em nossas<br />

expectativas. Levando isso em consideração,<br />

as duas coisas que destoam do que<br />

esperamos encontrar nessa situação são: 1)<br />

alguém, ao dar uma entrevista de alto<br />

alcance popular, fala de maneira<br />

extremamente rebuscada; 2) um jogador que,<br />

ao falar de maneira rebuscada, acaba por<br />

fugir do estereótipo do jogador de futebol, de<br />

quem sempre é esperado algo menos<br />

rebuscado e mais popular.<br />

07) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />

preciso, além de conhecer o padrão<br />

formal da Língua Portuguesa, saber<br />

adequar o uso da linguagem ao contexto<br />

discursivo. Para exemplificar este fato,<br />

seu professor de Língua Portuguesa<br />

convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />

Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />

brinca com situações de discurso oral que<br />

fogem à expectativa do ouvinte.<br />

Aí, Galera<br />

Jogadores de futebol podem ser<br />

vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />

você pode imaginar um jogador de futebol<br />

dizendo "estereotipação"? E, no<br />

entanto, por que não?<br />

- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />

galera.<br />

- Minha saudação aos aficionados do<br />

clube e aos demais esportistas, aqui<br />

presentes ou no recesso dos seus lares.<br />

- Como é?<br />

- Aí, galera.<br />

- Quais são as instruções do técnico?<br />

- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />

trabalho de contenção coordenada, com<br />

energia otimizada, na zona de<br />

preparação, aumentam as<br />

probabilidades de, recuperado o<br />

esférico, concatenarmos um contragolpe<br />

agudo com parcimônia de meios e<br />

extrema objetividade, valendo-nos da<br />

desestruturação momentânea do<br />

sistema oposto, surpreendido pela<br />

reversão inesperada do fluxo da ação:<br />

- Ahn?<br />

- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />

pegá eles sem calça.<br />

- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />

coisa?<br />

- Posso dirigir uma mensagem de<br />

caráter sentimental, algo banal, talvez<br />

mesmo previsível e piegas, a uma<br />

pessoa à qual sou ligado por razões,<br />

inclusive, genéticas?<br />

- Pode.<br />

- Uma saudação para a minha<br />

progenitora.<br />

- Como é?<br />

- Alô, mamãe!<br />

- Estou vendo que você é um, um...<br />

- Um jogador que confunde o<br />

entrevistador, pois não corresponde à<br />

expectativa de que o atleta seja um ser<br />

algo primitivo com dificuldade de<br />

expressão e assim sabota a<br />

estereotipação?<br />

- Estereoquê?<br />

- Um chato?<br />

- Isso.<br />

Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />

O texto mostra uma situação em que a<br />

linguagem usada é inadequada ao<br />

contexto. Considerando as diferenças<br />

entre língua oral e língua escrita, assinale<br />

a opção que representa também uma<br />

inadequação da linguagem usada ao<br />

contexto:<br />

A) "o carro bateu e capotô, mas num deu<br />

pra vê direito" - um pedestre que<br />

assistiu ao acidente comenta com o<br />

outro que vai passando.<br />

B) "E aí, ô meu! Como vai essa força?" -<br />

um jovem que fala para um amigo.<br />

C) "Só um instante, por favor. Eu<br />

gostaria de fazer uma observação" -<br />

alguém comenta em uma reunião de<br />

trabalho.<br />

D) "Venho manifestar meu interesse em<br />

candidatar-me ao cargo de Secretária<br />

Executiva desta conceituada empresa"<br />

302


- alguém que escreve uma carta<br />

candidatando-se a um emprego.<br />

E) "Porque se a gente não resolve as<br />

coisas como têm que ser, a gente corre<br />

o risco de termos, num futuro próximo,<br />

muito pouca comida nos lares<br />

brasileiros" - um professor universitário<br />

em um congresso internacional.<br />

Comentário<br />

Essa questão está trabalhando com as<br />

nossas expectativas. Esperamos encontrar,<br />

nas diferentes situações, linguagens que<br />

correspondam à formalidade (ou à<br />

informalidade) delas. Na alternativa E, como<br />

o professor universitário está falando em um<br />

congresso internacional, espera-se que ele<br />

utilize uma linguagem mais formal e não uma<br />

linguagem coloquial como a que usou. Em<br />

todas as outras situações, a linguagem está<br />

de acordo com a situação em que está sendo<br />

empregada.<br />

08) (2006) Depois de um bom jantar: feijão<br />

com carne-seca, orelha de porco e couve<br />

com angu, arroz-mole engordurado, carne<br />

de vento assada no espeto, torresmo<br />

enxuto de toicinho da barriga, viradinho de<br />

milho verde e um prato de caldo de couve,<br />

jantar encerrado por um prato fundo de<br />

canjica com torrões de açúcar, Nhô Tomé<br />

saboreou o café forte e se estendeu na<br />

rede. A mão direita sob a cabeça, à guisa<br />

de travesseiro, o indefectível cigarro de<br />

palha entre as pontas do indicador e do<br />

polegar, envernizados pela fumaça, de<br />

unhas encanoadas e longas, ficou-se de<br />

pança para o ar, modorrento, a olhar para<br />

as ripas do telhado.<br />

Quem come e não deita, a comida não<br />

aproveita, pensava Nhô Tomé... E pôs-se<br />

a cochilar. A sua modorra durou pouco;<br />

Tia Policena, ao passar pela sala, bradou<br />

assombrada:<br />

— Êêh! Sinhô! Vai drumi agora? Não!<br />

Num presta... Dá pisadêra e póde morrê<br />

de ataque de cabeça! Despois do armoço<br />

num far-má... mais despois da janta?!”<br />

Cornélio Pires. Conversas ao pé do fogo. São Paulo:<br />

Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1987.<br />

Nesse trecho, extraído de texto publicado<br />

originalmente em 1921, o narrador<br />

A) apresenta, sem explicitar juízos de<br />

valor, costumes da epoca, descrevendo<br />

os pratos servidos no jantar e a atitude<br />

de Nhô Tomé e de Tia Policena.<br />

B) desvaloriza a norma culta da língua<br />

porque incorpora à narrativa usos<br />

próprios da linguagem regional das<br />

personagens.<br />

C) condena os hábitos descritos, dando<br />

voz a Tia Policena, que tenta impedir<br />

Nhô Tomé de deitar-se após as<br />

refeições.<br />

D) utiliza a diversidade sociocultural e<br />

lingüística para demonstrar seu<br />

desrespeito às populações das zonas<br />

rurais do início do século XX.<br />

E) manifesta preconceito em relação a Tia<br />

Policena ao transcrever a fala dela com<br />

os erros próprios da região.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil, pois a alternativa<br />

"A" deixa clara a intencionalidade do<br />

narrador. Entretanto, o aluno poderia optar<br />

pela alternativa "B" caso não desse o devido<br />

valor ao sentido da palavra “desvaloriza”, que<br />

a elimina.<br />

09) (2007) Texto I<br />

Agora Fabiano conseguia arranjar as<br />

idéias. O que o segurava era a família.<br />

Vivia preso como um novilho amarrado ao<br />

mourão, suportando ferro quente. Se não<br />

fosse isso, um soldado amarelo não lhe<br />

pisava o pé não. (...) Tinha aqueles<br />

cambões pendurados ao pescoço.<br />

Deveria continuar a arrastá-los? Sinha<br />

Vitória dormia mal na cama de varas. Os<br />

meninos eram uns brutos, como o pai.<br />

Quando crescessem, guardariam as reses<br />

de um patrão invisível, seriam pisados,<br />

maltratados, machucados por um soldado<br />

amarelo.<br />

Graciliano Ramos. Vidas Secas. São Paulo:<br />

Martins, 23.ª ed., 1969, p. 75.<br />

Texto II<br />

Para Graciliano, o roceiro pobre é um<br />

outro, enigmático, impermeável. Não há<br />

solução fácil para uma tentativa de<br />

incorporação dessa figura no campo da<br />

ficção. É lidando com o impasse, ao invés<br />

de fáceis soluções, que Graciliano vai<br />

criar Vidas Secas, elaborando uma<br />

linguagem, uma estrutura romanesca,<br />

uma constituição de narrador em que<br />

narrador e criaturas se tocam, mas não se<br />

identificam. Em grande medida, o debate<br />

acontece porque, para a intelectualidade<br />

brasileira naquele momento, o pobre, a<br />

despeito de aparecer idealizado em certos<br />

aspectos, ainda é visto como um ser<br />

303


humano de segunda categoria, simples<br />

demais, incapaz de ter pensamentos<br />

demasiadamente complexos. O que Vidas<br />

Secas faz é, com pretenso não<br />

envolvimento da voz que controla a<br />

narrativa, dar conta de uma riqueza<br />

humana de que essas pessoas seriam<br />

plenamente capazes.<br />

Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes. In:<br />

Teresa. São Paulo: USP, n.° 2, 2001, p. 254.<br />

No texto II, verifica-se que o autor utiliza<br />

A) linguagem predominantemente<br />

formal, para problematizar, na<br />

composição de Vidas Secas, a relação<br />

entre o escritor e o personagem<br />

popular.<br />

B) linguagem inovadora, visto que, sem<br />

abandonar a linguagem formal, dirigese<br />

diretamente ao leitor.<br />

C) linguagem coloquial, para narrar<br />

coerentemente uma história que<br />

apresenta o roceiro pobre de forma<br />

pitoresca.<br />

D) linguagem formal com recursos<br />

retóricos próprios do texto literário em<br />

prosa, para analisar determinado<br />

momento da literatura brasileira.<br />

E) linguagem regionalista, para transmitir<br />

informações sobre literatura, valendose<br />

de coloquialismo, para facilitar o<br />

entendimento do texto.<br />

Comentário<br />

Questão de nível médio. Algumas<br />

alternativas poderiam levar o candidato a<br />

pensar que o texto de Vidas Secas utiliza<br />

uma linguagem predominantemente coloquial<br />

e regionalista. Entretanto, é na alternativa A<br />

que se encontra o real estilo da linguagem<br />

utilizada por Graciliano Ramos. A linguagem<br />

é, portanto, predominantemente formal e<br />

problematiza a relação do escritor com o<br />

personagem popular. Esta acaba sendo uma<br />

das grandes características do autor, pois ele<br />

buscava sempre dar uma grande densidade<br />

psicológica aos seus romances.<br />

<strong>10</strong>) (2006) Aula de português<br />

Explorando a função emotiva da<br />

linguagem, o poeta expressa o contraste<br />

entre marcas de variação de usos da<br />

linguagem em<br />

A) situações formais e informais.<br />

B) diferentes regiões do país.<br />

C) escolas literárias distintas.<br />

D) textos técnicos e poéticos.<br />

E) diferentes épocas.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil, pois o próprio título<br />

nos dá uma noção da dificuldade de<br />

transformar a linguagem coloquial e de uso<br />

cotidiano em uma linguagem formal,<br />

expressa no poema como “a misteriosa”.<br />

Drummond foi muito feliz em conseguir<br />

demonstrar a dificuldade em entender como<br />

estruturas simples da língua se tornam tão<br />

complexas ao se iniciar o processo de<br />

compreensão da estrutura lingüística.<br />

11) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />

preciso, além de conhecer o padrão<br />

formal da Língua Portuguesa, saber<br />

adequar o uso da linguagem ao contexto<br />

discursivo. Para exemplificar este fato,<br />

seu professor de Língua Portuguesa<br />

convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />

Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />

brinca com situações de discurso oral que<br />

fogem à expectativa do ouvinte.<br />

304


Aí, Galera<br />

Jogadores de futebol podem ser<br />

vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />

você pode imaginar um jogador de futebol<br />

dizendo "estereotipação"? E, no<br />

entanto, por que não?<br />

- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />

galera.<br />

- Minha saudação aos aficionados do<br />

clube e aos demais esportistas, aqui<br />

presentes ou no recesso dos seus lares.<br />

- Como é?<br />

- Aí, galera.<br />

- Quais são as instruções do técnico?<br />

- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />

trabalho de contenção coordenada, com<br />

energia otimizada, na zona de<br />

preparação, aumentam as<br />

probabilidades de, recuperado o<br />

esférico, concatenarmos um contragolpe<br />

agudo com parcimônia de meios e<br />

extrema objetividade, valendo-nos da<br />

desestruturação momentânea do<br />

sistema oposto, surpreendido pela<br />

reversão inesperada do fluxo da ação:<br />

- Ahn?<br />

- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />

pegá eles sem calça.<br />

- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />

coisa?<br />

- Posso dirigir uma mensagem de<br />

caráter sentimental, algo banal, talvez<br />

mesmo previsível e piegas, a uma<br />

pessoa à qual sou ligado por razões,<br />

inclusive, genéticas?<br />

- Pode.<br />

- Uma saudação para a minha<br />

progenitora.<br />

- Como é?<br />

- Alô, mamãe!<br />

- Estou vendo que você é um, um...<br />

- Um jogador que confunde o<br />

entrevistador, pois não corresponde à<br />

expectativa de que o atleta seja um ser<br />

algo primitivo com dificuldade de<br />

expressão e assim sabota a<br />

estereotipação?<br />

- Estereoquê?<br />

- Um chato?<br />

- Isso.<br />

Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />

A expressão "pegá eles sem calça"<br />

poderia ser substituída, sem<br />

comprometimento de sentido, em língua<br />

culta, formal, por:<br />

A) pegá-los na mentira.<br />

B) pegá-los desprevenidos.<br />

C) pegá-los em flagrante.<br />

D) pegá-los rapidamente.<br />

E) pegá-los momentaneamente<br />

Comentário<br />

O trabalho que temos aqui é de<br />

compreensão de sentido. Se você nunca<br />

ouviu a expressão "de calças na mão", terá<br />

de imaginar o que acontece quando<br />

pegamos alguém nessa situação. Mas isso<br />

não basta. Se usar somente situações que<br />

pode imaginar, restarão as alternativas B e<br />

C. Esse problema só será solucionado se<br />

você entender bem o texto a que ele se<br />

refere. Como o jogador está falando em<br />

roubar a bola e partir para cima do adversário<br />

rapidamente, imagina-se que o adversário<br />

não esperava perder a bola naquele<br />

momento e, quando isso ocorreu, ele não<br />

estava preparado para receber um contraataque.<br />

Utilizando essa análise, somente a<br />

alternativa B está correta.<br />

12) (2000) Em uma conversa ou leitura de<br />

um texto, corre-se o risco de atribuir um<br />

significado inadequado a um termo ou<br />

expressão, e isso pode levar a certos<br />

resultados inesperados, como se vê nos<br />

quadrinhos abaixo.<br />

(SOUZA, Maurício de. Chico Bento.<br />

Rio de Janeiro: Ed. Globo, n o 335, Nov./99 )<br />

Nessa historinha, o efeito humorístico<br />

origina-se de uma situação criada pela<br />

fala da Rosinha no primeiro quadrinho,<br />

que é:<br />

A) Faz uma pose bonita!<br />

B) Quer tirar um retrato?<br />

C) Sua barriga está aparecendo!<br />

D) Olha o passarinho!<br />

E) Cuidado com o flash!<br />

Comentário<br />

Quem não se lembra de expressões<br />

humorísticas usadas quando se deseja tirar<br />

uma foto, como "Olha o passarinho" ou "Fale<br />

xis"?<br />

Pois é, essa é uma questão fácil e a<br />

interpretação do texto é simples, e não há<br />

por que ter dúvidas quanto à resposta, a não<br />

ser que não se leia a proposta da questão.<br />

305


Comentário do INEP<br />

Essa questão procurou avaliar se o<br />

participante conseguia inferir, a partir de uma<br />

seqüência narrativa de imagens, a expressão<br />

lingüística adequada à situação de<br />

interlocução, no caso a fala da personagem,<br />

no primeiro quadrinho. A expressão de uso<br />

coloquial 'olha o passarinho!', dependendo do<br />

contexto, tem diferentes significados, que<br />

nesse caso foram associados pelo cartunista<br />

para produzir o efeito de humor. A grande<br />

maioria - 89% - dos participantes realizou a<br />

inferência solicitada, analisando a função da<br />

linguagem e identificando a variante<br />

lingüística adequada à situação de<br />

interlocução, com base na leitura da<br />

seqüência das imagens e da fala da<br />

personagem no terceiro quadrinho. É<br />

interessante notar a abrangência dessa<br />

expressão metafórica no Brasil, criada no<br />

contexto informal da fala com seus<br />

significados correspondentes. Mesmo assim,<br />

11% dos participantes, possivelmente,<br />

desconhecem essa expressão ou não<br />

conseguiram realizar a transposição do<br />

significado humorístico da fala do último<br />

quadrinho.<br />

13) (2006) Aula de português<br />

No poema, a referência à variedade<br />

padrão da língua está expressa no<br />

seguinte trecho:<br />

A) “A linguagem / na ponta da língua” (v.1<br />

e 2).<br />

B) “A linguagem / na superfície<br />

estrelada de letras” (v.5 e 6).<br />

C) “[a língua] em que pedia para ir lá<br />

fora” (v.14).<br />

D) “[a língua] em que levava e dava<br />

pontapé” (v.15).<br />

E) “[a língua] do namoro com a priminha”<br />

(v.17).<br />

Comentário<br />

Questão fácil, pois a alternativa "B" é a<br />

única que faz menção à norma-padrão da<br />

língua. As demais alternativas fogem a essa<br />

norma.<br />

14) (2005) Leia com atenção o texto:<br />

[Em Portugal], você poderá ter alguns<br />

probleminhas se entrar numa loja de<br />

roupas desconhecendo certas sutilezas da<br />

língua. Por exemplo, não adianta pedir<br />

para ver os ternos — peça para ver os<br />

fatos. Paletó é casaco. Meias são<br />

peúgas. Suéter é camisola — mas não<br />

se assuste, porque calcinhas femininas<br />

são cuecas. (Não é uma delícia?)<br />

(Ruy Castro. Viaje Bem. Ano VIII, no 3, 78.)<br />

O texto destaca a diferença entre o<br />

português do Brasil e o de Portugal<br />

quanto<br />

A) ao vocabulário.<br />

B) à derivação.<br />

C) à pronúncia.<br />

D) ao gênero.<br />

E) à sintaxe.<br />

Comentário<br />

Questão de entendimento muito fácil, pois<br />

o próprio enunciado deixa claro que se trata<br />

das diferenças de vocabulário entre o<br />

português brasileiro e o lusitano.<br />

15) (1999) Leia o texto abaixo.<br />

Cabelos longos, brinco na orelha<br />

esquerda, físico de skatista. Na aparência,<br />

o estudante brasiliense Rui Lopes Viana<br />

Filho, de 16 anos, não lembra em nada o<br />

estereótipo dos gênios. Ele não usa<br />

pesados óculos de grau e está longe de<br />

ter um ar introspectivo. No final do mês<br />

passado, Rui retornou de Taiwan, onde<br />

enfrentou 419 competidores de todo o<br />

306


mundo na 39ª Olimpíada Internacional de<br />

Matemática. A reluzente medalha de ouro<br />

que ele trouxe na bagagem está<br />

dependurada sobre a cama de seu quarto,<br />

atulhado de rascunhos dos problemas<br />

matemáticos que aprendeu a decifrar nos<br />

últimos cinco anos.<br />

Veja – Vencer uma olimpíada serve de<br />

passaporte para uma carreira profissional<br />

meteórica?<br />

Rui – Nada disso. Decidi me dedicar à<br />

Olimpíada porque sei que a concorrência<br />

por um emprego é cada vez mais<br />

selvagem e cruel. Agora tenho algo a mais<br />

para oferecer. O problema é que as coisas<br />

estão mudando muito rápido e não sei<br />

qual será minha profissão. Além de ser<br />

muito novo para decidir sobre o meu<br />

futuro profissional, sei que esse conceito<br />

de carreira mudou muito.<br />

(Entrevista de Rui Lopes Viana Filho à Veja,<br />

05/08/1998, n.31, p. 9-<strong>10</strong>)<br />

Na pergunta, o repórter estabelece uma<br />

relação entre a entrada do estudante no<br />

mercado de trabalho e a vitória na<br />

Olimpíada. O estudante<br />

A) concorda com a relação e afirma que o<br />

desempenho na Olimpíada é<br />

fundamental para sua entrada no<br />

mercado.<br />

B) discorda da relação e complementa<br />

que é fácil se fazer previsões sobre o<br />

mercado de trabalho.<br />

C) discorda da relação e afirma que seu<br />

futuro profissional independe de<br />

dedicação aos estudos.<br />

D) discorda da relação e afirma que seu<br />

desempenho só é relevante se<br />

escolher uma profissão relacionada à<br />

matemática.<br />

E) concorda em parte com a relação e<br />

complementa que é complexo fazer<br />

previsões sobre o mercado de trabalho.<br />

Comentário<br />

Não é difícil de se chegar à resposta<br />

correta ao se ler a reportagem. Ao final do<br />

último parágrafo — (...) Além de ser muito<br />

novo para decidir sobre o meu futuro<br />

profissional, sei que esse conceito de carreira<br />

mudou muito. —, o estudante praticamente<br />

fornece a resposta à questão, declarando-se<br />

realista ao não tentar prever seu futuro<br />

profissional devido à pouca idade e às<br />

mudanças no mercado de trabalho. Quanto a<br />

concordar parcialmente com o repórter, veja<br />

que ele, apesar de negar que o prêmio fosse<br />

uma garantia de sucesso profissional, logo<br />

depois afirma que, com ele, terá algo mais a<br />

oferecer ao mercado. Questão de nível fácil.<br />

Comentário do INEP<br />

Nesta situação-problema, o participante<br />

deveria demonstrar que compreendeu as<br />

premissas de um discurso, distinguindo a<br />

diferença de significado de palavras isoladas<br />

ou no contexto em que estão inseridas.<br />

Verificou-se que mais da metade dos<br />

participantes demonstrou possuir essa<br />

compreensão. Aqueles que optaram pelas<br />

alternativas C e D podem ter sido atraídos<br />

pelo significado negativo da expressão inicial<br />

"Nada disso".<br />

16) (2001) Os provérbios constituem um<br />

produto da sabedoria popular e, em geral,<br />

pretendem transmitir um ensinamento. A<br />

alternativa em que os dois provérbios<br />

remetem a ensinamentos semelhantes é:<br />

A) “Quem diz o que quer, ouve o que não<br />

quer” e “Quem ama o feio, bonito lhe<br />

parece”.<br />

B) “Devagar se vai ao longe” e “De grão<br />

em grão, a galinha enche o papo”.<br />

C) “Mais vale um pássaro na mão do que<br />

dois voando” e “Não se deve atirar<br />

pérolas aos porcos”.<br />

D) “Quem casa quer casa” e “Santo de<br />

casa não faz milagre”.<br />

E) “Quem com ferro fere, com ferro será<br />

ferido” e “Casa de ferreiro, espeto de<br />

pau”.<br />

Comentário<br />

Questão fácil. A alternativa B apresenta<br />

dois provérbios que tratam de paciência,<br />

perseverança. A mensagem é a mesma em<br />

ambos.<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão propõe uma série de<br />

provérbios agrupados aos pares, para que o<br />

participante demonstre compreender e<br />

comparar os provérbios de modo a identificar<br />

aqueles que traduzem ensinamentos<br />

semelhantes. A organização sintáticosemântica<br />

dos provérbios cria um efeito de<br />

sentido metafórico que deve ser recuperado,<br />

analisado e comparado, o que foi<br />

corretamente feito por cerca de 80% dos<br />

participantes.<br />

307


17) (1998) Texto 1<br />

"Mulher, Irmã, escuta-me: não ames,<br />

Quando a teus pés um homem terno e<br />

curvo<br />

jurar amor, chorar pranto de sangue,<br />

Não creias, não, mulher: ele te engana!<br />

As lágrimas são gotas da mentira<br />

E o juramento manto da perfídia."<br />

(Joaquim Manoel de Macedo)<br />

Texto 2<br />

"Teresa, se algum sujeito bancar o<br />

sentimental em cima de você<br />

E te jurar uma paixão do tamanho de um<br />

bonde<br />

Se ele chorar<br />

Se ele ajoelhar<br />

Se ele se rasgar todo<br />

Não acredite não Teresa<br />

É lágrima de cinema<br />

É tapeação<br />

Mentira<br />

CAI FORA"<br />

(Manuel Bandeira)<br />

Os autores, ao fazerem alusão às<br />

imagens da lágrima sugerem que:<br />

A) há um tratamento idealizado da<br />

relação homem/mulher.<br />

B) há um tratamento realista da relação<br />

homem/mulher.<br />

C) a relação familiar é idealizada.<br />

D) a mulher é superior ao homem.<br />

E) a mulher é igual ao homem.<br />

Comentário<br />

Ambos os autores, ao utilizarem a<br />

imagem da lágrima, estão na realidade<br />

mostrando que a figura do homem que é<br />

romântico a ponto de chorar ao jurar amor<br />

não existe. Tanto Macedo quanto<br />

Bandeira alertam as mulheres dizendo,<br />

com palavras e estilos diferentes, que não<br />

há homem que chore por amor (portanto,<br />

essa figura é uma idealização — e, por<br />

conseguinte, toda imagem que se tem<br />

sobre os relacionamentos<br />

demasiadamente românticos). Note que<br />

Bandeira chega até mesmo a chamar tal<br />

"chorão" de ator ("...É lágrima de cinema /<br />

É tapeação..."). Macedo dá uma imagem<br />

pesada às lágrimas ("...são gotas da<br />

mentira...").<br />

18) (1999)<br />

(QUINO. Mafalda inédita. São Paulo: Martins Fontes, 1993)<br />

Observando as falas das personagens,<br />

analise o emprego do pronome SE e o<br />

sentido que adquire no contexto. No<br />

contexto da narrativa, é correto afirmar<br />

que o pronome SE:<br />

A) em I, indica reflexividade e equivale a<br />

"a si mesmas".<br />

B) em II, indica reciprocidade e equivale a<br />

"a si mesma".<br />

C) em III, indica reciprocidade e equivale<br />

a "umas às outras".<br />

D) em I e III, indica reciprocidade e<br />

equivale a "umas às outras".<br />

E) em II e III, indica reflexividade e<br />

equivale a "a si mesma " e "a si<br />

mesmas", respectivamente.<br />

Comentário<br />

Mais uma questão que fala por si própria.<br />

Lendo o segundo quadrinho — "Quer dizer<br />

que você também se ama muito mais no<br />

Natal?" —, é fácil de se identificar o pronome<br />

reflexivo. Basta que se troque se ama por<br />

ama a si mesma. O mesmo ocorre no<br />

terceiro quadrinho em "Por que será que as<br />

pessoas se amam muito mais no Natal?" —<br />

Por que será que as pessoas amam a si<br />

mesmas? Questão de grau fácil.<br />

Comentário do INEP<br />

Este problema requeria que o participante<br />

mobilizasse conhecimentos sobre os<br />

significados de "reciprocidade e<br />

"reflexividade" e o associasse à<br />

compreensão de linguagem iconográfica.<br />

Cerca de metade dos participantes<br />

demonstrou essa capacidade. A opção de<br />

30% dos participantes pela alternativa D<br />

pode indicar que eles utilizaram as imagens<br />

apenas como ilustração do texto e não como<br />

linguagem capaz de instituir novos<br />

significados.<br />

19) (2006) No romance Vidas Secas, de<br />

Graciliano Ramos, o vaqueiro Fabiano<br />

encontra-se com o patrão para receber o<br />

salário. Eis parte da cena:<br />

308


descrito. Expressões como<br />

"camaronando", "caranguejando" e<br />

"pequeninando e não mordendo" criam,<br />

principalmente, efeitos de<br />

A) esvaziamento de sentido.<br />

B) monotonia do ambiente.<br />

C) estaticidade dos animais.<br />

D) interrupção dos movimentos.<br />

E) dinamicidade do cenário.<br />

Graciliano Ramos. Vidas Secas. 91.ª ed.<br />

Rio de Janeiro: Record, 2003.<br />

No fragmento transcrito, o padrão formal<br />

da linguagem convive com marcas de<br />

regionalismo e de coloquialismo no<br />

vocabulário. Pertence à variedade do<br />

padrão formal da linguagem o seguinte<br />

trecho:<br />

A) Não se conformou: devia haver<br />

engano (l.1).<br />

B) Fabiano perdeu os estribos (l.3).<br />

C) Passar a vida inteira assim no toco<br />

(l.4).<br />

D) Entregando o que era dele de mao<br />

beijada! (l.4-5).<br />

E) Aí Fabiano baixou a pancada e<br />

amunhecou (l.11).<br />

Comentário do portal<br />

Questão de nível fácil. Bastaria que o<br />

candidato conhecesse o padrão formal da<br />

linguagem e distinguisse-o do regionalismo e<br />

do coloquialismo.<br />

20) (202) "Narizinho correu os olhos pela<br />

assistência. Não podia haver nada mais<br />

curioso. Besourinhos de fraque e flores na<br />

lapela conversavam com baratinhas de<br />

mantilha e miosótis nos cabelos. Abelhas<br />

douradas, verdes e azuis, falavam mal<br />

das vespas de cintura fina — achando que<br />

era exagero usarem coletes tão<br />

apertados. Sardinhas aos centos<br />

criticavam os cuidados excessivos que as<br />

borboletas de toucados de gaze tinham<br />

com o pó das suas asas. Mamangavas de<br />

ferrões amarrados para não morderem. E<br />

canários cantando, e beija-flores beijando<br />

flores, e camarões camaronando, e<br />

caranguejos caranguejando, tudo que é<br />

pequenino e não morde, pequeninando e<br />

não mordendo."<br />

LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. São Paulo:<br />

Brasiliense, 1947.<br />

No último período do trecho, há uma série<br />

de verbos no gerúndio que contribuem<br />

para caracterizar o ambiente fantástico<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. O dinamismo dos<br />

verbos no gerúndio tem como função<br />

principal dar vida às personagens do mundo<br />

fantástico. Não há estagnação. Cada animal<br />

faz o que lhe cabe.<br />

Comentário do INEP<br />

Essa questão apresenta para leitura e<br />

análise um trecho da obra Reinações de<br />

Narizinho, de Monteiro Lobato, e, nele, a<br />

descrição reflete as fantasias do mundo<br />

infantil. A questão propõe que seja resolvido<br />

um problema de linguagem, que é a<br />

identificação dos sentidos criados no texto<br />

pelo emprego de vários verbos no gerúndio,<br />

alguns dos quais, neologismos criados pelo<br />

autor. Como o texto é uma descrição, temos<br />

o relato de um ambiente que se agita com as<br />

ações simultâneas dos muitos seres que o<br />

habitam. Cabe ao participante perceber que<br />

o efeito dinâmico é criado pelos verbos de<br />

ação no gerúndio, que é a forma verbal da<br />

ação se fazendo. Ou seja, é função típica do<br />

gerúndio traduzir a noção de uma ação que<br />

se desenvolve de modo simultâneo à sua<br />

enunciação. Nesse ambiente retratado por<br />

Monteiro Lobato, os bichinhos humanizados<br />

se agitam, lembrando um burburinho de<br />

crianças. Apenas a alternativa E, assinalada<br />

por 36% dos participantes, responde<br />

corretamente a questão. As outras<br />

alternativas contemplam efeitos ou<br />

significados que, apesar de eventualmente<br />

serem transmitidos pelo emprego do<br />

gerúndio, não se verificam no texto.<br />

21) (2005) As dimensões continentais do<br />

Brasil são objeto de reflexões expressas<br />

em diferentes linguagens. Esse tema<br />

aparece no seguinte p"Narizinho correu os<br />

olhos pela assistência. Não podia haver nada<br />

mais curioso. Besourinhos de oema:<br />

“(....)<br />

Que importa que uns falem mole<br />

descansado<br />

Que os cariocas arranhem os erres na<br />

garganta<br />

309


Que os capixabas e paroaras escancarem<br />

as vogais?<br />

Que tem se o quinhentos réis meridional<br />

Vira cinco tostões do Rio pro Norte?<br />

Junto formamos este assombro de<br />

misérias e grandezas,<br />

Brasil, nome de vegetal! (....)”<br />

(Mário de Andrade. Poesias completas. 6. ed. São Paulo:<br />

Martins Editora, 1980.)<br />

O texto poético ora reproduzido trata das<br />

diferenças brasileiras no âmbito<br />

A) étnico e religioso.<br />

B) lingüístico e econômico.<br />

C) racial e folclórico.<br />

D) histórico e geográfico.<br />

E) literário e popular.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil, pois a primeira<br />

estrofe, ao enunciar os erres arranhados dos<br />

cariocas e as vogais abertas dos capixabas,<br />

evidencia a diferença lingüística entre duas<br />

regiões distintas do Brasil, dando noção da<br />

variedade. Já na segunda estrofe, as<br />

diferenças econômicas são evidenciadas ao<br />

se mostrarem os réis e tostões variando da<br />

Região Meridional para a Norte.<br />

22) (1999) Considere os textos abaixo.<br />

(...) de modo particular, quero encorajar os<br />

crentes empenhados no campo da<br />

filosofia para que iluminem os diversos<br />

âmbitos da atividade humana, graças ao<br />

exercício de uma razão que se torna mais<br />

segura e perspicaz com o apoio que<br />

recebe da fé.<br />

(Papa João Paulo II. Carta Encíclica Fides<br />

et Ratio aos bispos da igreja católica sobre as relações<br />

entre fé e razão, 1998)<br />

As verdades da razão natural não<br />

contradizem as verdades da fé cristã.<br />

(São Tomás de Aquino<br />

–pensador medieval)<br />

Refletindo sobre os textos, pode-se<br />

concluir que:<br />

A) a encíclica papal está em contradição<br />

com o pensamento de São Tomás de<br />

Aquino, refletindo a diferença de<br />

épocas.<br />

B) a encíclica papal procura<br />

complementar São Tomás de Aquino,<br />

pois este colocava a razão natural<br />

acima da fé.<br />

C) a Igreja medieval valorizava a razão<br />

mais do que a encíclica de João Paulo<br />

II.<br />

D) o pensamento teológico teve sua<br />

importância na Idade Média, mas, em<br />

nossos dias, não tem relação com o<br />

pensamento filosófico.<br />

E) tanto a encíclica papal como a frase<br />

de São Tomás de Aquino procuram<br />

conciliar os pensamentos sobre fé e<br />

razão.<br />

Comentário<br />

Nessa questão, é necessária uma<br />

releitura do texto para que se tenha uma<br />

melhor compreensão do tema. Tanto a<br />

citação do Papa quanto a de São Tomás de<br />

Aquino tentam criar uma interdependência<br />

entre a ciência e a fé, a religião. O Papa<br />

incentiva aqueles que exercem a pesquisa<br />

científica ou filosófica a manter a fé cristã.<br />

São Tomás de Aquino, por sua vez, equipara<br />

o avanço da ciência ao aumento da própria<br />

fé, afirmando que a razão natural não<br />

contradiz a fé cristã. Se um cresce, cresce<br />

também o outro, em harmonia e sem<br />

contradições. Questão de grau médio.<br />

(Português)<br />

Nessa questão, encontramos dois textos:<br />

o primeiro, do século XX, foi elaborado pelo<br />

Papa João Paulo II; o segundo, do século<br />

XIII, pelo teólogo e filósofo cristão São<br />

Tomás de Aquino. O conteúdo de ambos se<br />

refere à ligação entre fé e razão, a qual<br />

esteve presente na filosofia escolástica da<br />

Idade Média. Esse campo de reflexão buscou<br />

conciliar o cristianismo com o pensamento de<br />

Aristóteles e teve em São Tomás de Aquino<br />

seu maior representante.<br />

Mesmo sem ter todas essas informações,<br />

você poderia responder tranqüilamente à<br />

questão por meio de uma leitura atenta dos<br />

dois textos, chegando à conclusão de que<br />

"tanto a encíclica papal como a frase de São<br />

Tomás de Aquino procuram conciliar os<br />

pensamentos sobre fé e razão". Resposta<br />

correta: alternativa E. (História)<br />

Comentário do INEP<br />

Para resolver esta situação-problema, o<br />

participante deveria mostrar que, além de<br />

interpretar textos, sabe relacioná-los sendo<br />

que, nesse item, essas operações referem-se<br />

a um texto escrito na época medieval e a<br />

outro escrito recentemente.<br />

Mais de 70% dos participantes<br />

demonstraram facilidade em estabelecer esta<br />

relação.<br />

3<strong>10</strong>


23) (2008) Assinale a opção que apresenta<br />

um verso do soneto de Cláudio Manoel da<br />

Costa em que o poeta se dirige ao seu<br />

interlocutor.<br />

A) “Torno a ver-vos, ó montes; o<br />

destino” (v.1)<br />

B) “Aqui estou entre Almendro, entre<br />

Corino,” (v.5)<br />

C) “Os meus fiéis, meus doces<br />

companheiros,” (v.6)<br />

D) “Vendo correr os míseros vaqueiros”<br />

(v.7)<br />

E) “Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto,”<br />

(v.11)<br />

Comentário<br />

Nesta questão, basta que o aluno<br />

identifique o pronome oblíquo, presente no<br />

verso um, que chama o leitor para o texto.<br />

Sendo assim, a resposta correta é a letra "A".<br />

24) (2008)<br />

Dick Browne. O melhor de Hagar, o horrível, v. 2. L&PM<br />

pocket, p.55-6 (com adaptações).<br />

Assinale o trecho do diálogo que<br />

apresenta um registro informal, ou<br />

coloquial, da linguagem.<br />

A) “Tá legal, espertinho! Onde é que<br />

você esteve?!”<br />

B) “E lembre-se: se você disser uma<br />

mentira, os seus chifres cairão!”<br />

C) “Estou atrasado porque ajudei uma<br />

velhinha a atravessar a rua...”<br />

D) “...e ela me deu um anel mágico que<br />

me levou a um tesouro”<br />

E) “mas bandidos o roubaram e os<br />

persegui até a Etiópia, onde um<br />

dragão...”<br />

Comentário<br />

Linguagem coloquial é aquela usada no<br />

cotidiano, que tem como característica<br />

principal a oralidade, ou seja, aquela que não<br />

segue o rigor da norma culta.<br />

Entre as alternativas da questão, apenas<br />

a letra "A" apresenta esses traços.<br />

25) (1999) Leia um texto publicado no jornal<br />

Gazeta Mercantil. Esse texto é parte de<br />

um artigo que analisa algumas situações<br />

de crise no mundo, entre elas, a quebra<br />

da Bolsa de Nova Iorque em 1929, e foi<br />

publicado na época de uma iminente crise<br />

financeira no Brasil.<br />

Deu no que deu. No dia 29 de outubro de<br />

1929, uma terça-feira, praticamente não<br />

havia compradores no pregão de Nova<br />

Iorque, só vendedores. Seguiu-se uma<br />

crise incomparável: o Produto Interno<br />

Bruto dos Estados Unidos caiu de <strong>10</strong>4<br />

bilhões de dólares em 1929, para 56<br />

bilhões em 1933, coisa inimaginável em<br />

nossos dias. O valor do dólar caiu a quase<br />

metade. O desemprego elevou-se de 1,5<br />

milhão para 12,5 milhões de trabalhadores<br />

– cerca de 25% da população ativa –<br />

entre 1929 e 1933. A construção civil caiu<br />

90%. Nove milhões de aplicações, tipo<br />

caderneta de poupança, perderam-se com<br />

o fechamento dos bancos. Oitenta e cinco<br />

mil firmas faliram. Houve saques e norteamericanos<br />

que passaram fome.<br />

(Gazeta Mercantil, 05/01/1999)<br />

Ao citar dados referentes à crise ocorrida<br />

em 1929, em um artigo jornalístico atual,<br />

pode-se atribuir ao jornalista a seguinte<br />

intenção:<br />

A) questionar a interpretação da crise.<br />

B) comunicar sobre o desemprego.<br />

C) instruir o leitor sobre aplicações em<br />

bolsa de valores.<br />

D) relacionar os fatos passados e<br />

presentes.<br />

E) analisar dados financeiros americanos.<br />

Comentário<br />

Nessa questão, o que se tem de fazer é<br />

prestar atenção às alternativas das<br />

respostas. Nenhuma delas se apresenta tão<br />

bem contextualizada a uma possível<br />

interpretação quanto a letra D. Partindo-se da<br />

análise do texto, fica claro que a intenção do<br />

artigo é remeter o leitor ao passado para<br />

tentar conduzi-lo a uma reflexão sobre uma<br />

situação presente, não mencionada na<br />

questão. Após a leitura e utilizando-se a já<br />

citada eliminação de questões, torna-se clara<br />

a resposta. Questão de nível médio.<br />

(Português)<br />

311


Muitas vezes, quando procuramos<br />

entender uma crise econômica ou financeira<br />

de grandes proporções, buscamos<br />

estabelecer relações com crises passadas. O<br />

mesmo ocorre no jornalismo, como prova o<br />

texto encontrado nessa questão. Buscando<br />

entender uma crise ocorrida no início de<br />

1999, o jornalista da Gazeta Mercantil<br />

buscou relacionar a situação dessa época<br />

com a grande crise de 1929 que afetou o<br />

mundo, trazendo desemprego e recessão,<br />

entre tantos outros problemas econômicos e<br />

sociais.<br />

Para responder a essa questão, era<br />

necessário ler atentamente o enunciado, em<br />

que está destacado que "o texto é parte de<br />

um artigo que analisa algumas situações de<br />

crise no mundo" e "foi publicado na época de<br />

uma iminente crise financeira no Brasil". Era<br />

importante também observar a data em que o<br />

artigo foi publicado: 05/01/1999. A partir<br />

dessas constatações, facilmente você<br />

chegaria a conclusão de que a intenção do<br />

jornalista era "relacionar os fatos passados e<br />

presentes". Resposta correta: alternativa D.<br />

(História)<br />

Comentário do INEP<br />

A resolução da questão demandava a<br />

capacidade dos participantes de relacionar<br />

eventos históricos envolvendo crises<br />

econômicas ocorridas em épocas e lugares<br />

distintos. Aproximadamente 2/3 deles<br />

demonstraram essa capacidade. Os demais,<br />

provavelmente, não compreenderam a<br />

exigência expressa no enunciado do<br />

problema – apontar as razões pelas quais um<br />

jornalista traz à tona eventos ocorridos<br />

setenta anos antes –, e apenas interpretaram<br />

o sentido do texto citado, que descreve a<br />

crise mundial de 1929.<br />

26) (2000) “Precisa-se nacionais sem<br />

nacionalismo, (...) movidos pelo presente<br />

mas estalando naquele cio racial que só<br />

as tradições maduram! (...). Precisa-se<br />

gentes com bastante meiguice no<br />

sentimento, bastante força na peitaria,<br />

bastante paciência no entusiasmo e<br />

sobretudo, oh! sobretudo bastante<br />

vergonha na cara!<br />

(...) Enfim: precisa-se brasileiros! Assim<br />

está escrito no anúncio vistoso de cores<br />

desesperadas pintado sobre o corpo do<br />

nosso Brasil, camaradas.”<br />

(Jornal A Noite, São Paulo, 18/12/1925 apud LOPES, Telê<br />

Porto Ancona. Mário<br />

de Andrade: ramais e caminhos. São Paulo: Duas<br />

Cidades, 1972)<br />

312<br />

No trecho acima, Mário de Andrade dá<br />

forma a um dos itens do ideário<br />

modernista, que é o de firmar a feição de<br />

uma língua mais autêntica, “brasileira”, ao<br />

expressar-se numa variante de linguagem<br />

popular identificada pela (o):<br />

A) escolha de palavras como cio, peitaria,<br />

vergonha.<br />

B) emprego da pontuação.<br />

C) repetição do adjetivo bastante.<br />

D) concordância empregada em Assim<br />

está escrito.<br />

E) escolha de construção do tipo<br />

precisa-se gentes.<br />

Comentário<br />

Apesar de essa questão misturar vários<br />

tipos de informação, se você se lembra um<br />

pouquinho dos usos da partícula se, com<br />

certeza não encontrará grande dificuldade.<br />

Segundo a regra gramatical, o verbo<br />

"precisa-se" deveria ir para o plural<br />

(precisam-se), mas essa noção de verbo<br />

concordante com o sujeito há muito<br />

desapareceu na variante popular brasileira.<br />

Mas, caso você não se lembre muito bem<br />

desse assunto ou ficou meio confuso com o<br />

texto e as outras alternativas, o caminho é<br />

responder por eliminação.<br />

A primeira alternativa apresenta palavras<br />

comuns no português brasileiro, mas<br />

nenhuma "invenção" nacional. Na dúvida,<br />

pense em "vergonha": não é uma invenção<br />

brasileira. Todos os que falam português no<br />

mundo conhecem bem essa palavra. A<br />

pontuação no texto não chama nenhuma<br />

atenção. Você provavelmente não viu nada<br />

de estranho nela. Da mesma forma, o<br />

"bastante" da terceira alternativa não é nada<br />

mais que um mecanismo de retórica, usado<br />

para dar ênfase à idéia. Com o "Assim está<br />

escrito", encontramos a mesma situação: um<br />

trecho litúrgico é usado para maior ênfase.<br />

Comentário do INEP<br />

A questão procurou avaliar se o<br />

participante era capaz de, a partir da leitura<br />

de um texto de Mário de Andrade , identificar<br />

e analisar uma variante lingüística de uso<br />

coloquial, utilizadas estilisticamente pelo<br />

autor. O uso estilístico das variantes marcou<br />

a primeira fase da literatura brasileira<br />

modernista. O trecho destaca em seu todo<br />

esse uso da linguagem popular. A escolha da<br />

construção 'precisa-se gentes' é marca desse<br />

uso estilístico. O índice de 37% na alternativa<br />

(A) demonstra, possivelmente, que os<br />

participantes não consideraram a escolha<br />

dos vocábulos, dentro do contexto do texto,


confundindo as palavras que aparecem na<br />

alternativa com '...a feição de uma língua<br />

mais autêntica...'.O percentual de acertos foi<br />

da ordem de 40%.<br />

27) (2004) O poema abaixo pertence à<br />

poesia concreta brasileira. O termo latino<br />

de seu título significa "epitalâmio", poema<br />

ou canto em homenagem aos que se<br />

casam.<br />

28) (2002) O autor da tira utilizou os<br />

princípios de composição de um<br />

conhecido movimento artístico para<br />

representar a necessidade de um mesmo<br />

observador aprender a considerar,<br />

simultaneamente, diferentes pontos de<br />

vista.<br />

Das obras reproduzidas, todas de autoria<br />

do pintor espanhol Pablo Picasso, aquela<br />

em cuja composição foi adotado um<br />

procedimento semelhante é:<br />

A)<br />

Considerando que símbolos e sinais são<br />

utilizados geralmente para demonstrações<br />

objetivas, ao serem incorporados no<br />

poema "Epithalamium - II".<br />

A) adquirem novo potencial de<br />

significação.<br />

B) eliminam a subjetividade do poema.<br />

C) opõem-se ao tema principal do poema.<br />

D) invertem seu sentido original.<br />

E) tornam-se confusos e equivocados.<br />

Comentário<br />

Diferentemente, por exemplo, da<br />

aplicação matemática dos símbolos, em que<br />

sinais como "=", "+", "-", "x", etc. servem<br />

como convenções internacionais de<br />

significação objetiva e invariável, em um<br />

poema como "Epithalamium – II" foram<br />

usados símbolos que não são convenções<br />

internacionais, mas, sim, convencionados<br />

apenas para esse texto. No caso, letras do<br />

alfabeto deixam de ser representações de<br />

sons (fonemas) para ganharem nova<br />

significação, principalmente pela construção<br />

visual do poema: unem homem (h) e mulher<br />

(e) pela ação da serpente (s) — libido,<br />

atração — em uma entidade única.<br />

Uma das tendências poéticas da segunda<br />

metade do século XX, resultado de um<br />

diálogo com estéticas já presentes no final do<br />

século XIX, trabalha com a construção de<br />

seu próprio referente, fazendo do poema um<br />

objeto autônomo.<br />

B)<br />

C)<br />

313


D)<br />

a partir dos quais é apresentado o rosto da<br />

mulher retratada.<br />

29) (2004)<br />

E)<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. O movimento<br />

artístico que previa considerar<br />

simultaneamente diversos pontos de vista<br />

era o Cubismo. Havia a desconstrução da<br />

forma para que se pudesse ver todos os<br />

ângulos concomitantemente. O único quadro<br />

que apresenta essas características é o da<br />

alternativa E. As outras quatro alternativas<br />

pressupõem a manutenção da forma.<br />

Comentário do INEP<br />

O objetivo desta questão é levar o<br />

participante a refletir sobre características<br />

fundamentais de um movimento artístico – o<br />

cubismo – a partir de dados visuais:<br />

quadrinhos e pinturas. A reprodução de dois<br />

quadrinhos da personagem Calvin forneceu<br />

para o participante informações básicas para<br />

a análise que deveria fazer das alternativas<br />

apresentadas. Segundo os quadrinhos, o<br />

movimento artístico abordado pela questão<br />

tinha como procedimento de composição<br />

representar, para um mesmo observador,<br />

diferentes pontos de vista, fazendo com que<br />

"o tradicional único ponto de vista" fosse<br />

abandonado e com que a perspectiva fosse<br />

fraturada. A análise das obras de Picasso<br />

reproduzidas nas alternativas permite que o<br />

participante reconheça a adoção desse<br />

procedimento no quadro "Marie-Thérèse<br />

apoiada no cotovelo" (alternativa E, com 46%<br />

de registros), no qual se pode reconhecer a<br />

representação de diferentes pontos de vista<br />

314<br />

A polifonia, variedade de vozes, presente<br />

no poema resulta da manifestação do<br />

A) poeta e do colonizador apenas.<br />

B) colonizador e do negro apenas.<br />

C) negro e do índio apenas.<br />

D) colonizador, do poeta e do negro<br />

apenas.<br />

E) poeta, do colonizador, do índio e do<br />

negro.<br />

Comentário<br />

A questão apresenta uma certa<br />

dificuldade, pois, à primeira vista, parecem<br />

confundir-se as vozes do colonizador, do<br />

negro e do índio. Entretanto, os<br />

travessões existentes no poema explicitam<br />

as falas das personagens ao mostrar que<br />

não são apenas as vozes do poeta e do<br />

colonizador que estão presentes. As falas do<br />

índio e do negro são proferidas por eles,<br />

marca expressa pelo discurso direto. A<br />

presença dessa modalidade de discurso<br />

indica a reprodução literal do que as<br />

personagens disseram.<br />

Um ponto interessante em relação a essa<br />

questão é a intertextualidade. O índio<br />

aparece no poema pela remissão a um texto<br />

poético do nosso Romantismo, em um<br />

processo intertextual com “I-Juca-Pirama”, de<br />

Gonçalves Dias; e a presença do negro se dá<br />

pela ligação com Mário de Andrade, em<br />

Macunaíma. Entende-se, portanto, que a<br />

alternativa correta é a letra E.<br />

30) (2003) No ano passado, o governo<br />

promoveu uma campanha a fim de reduzir<br />

os índices de violência. Noticiando o fato,<br />

um jornal publicou a seguinte manchete:


CAMPANHA CONTRA A VIOLÊNCIA DO<br />

GOVERNO DO ESTADO ENTRA EM NOVA<br />

FASE<br />

A manchete tem um duplo sentido, e isso<br />

dificulta o entendimento. Considerando o<br />

objetivo da notícia, esse problema poderia<br />

ter sido evitado com a seguinte redação:<br />

A) Campanha contra o governo do Estado<br />

e a violência entram em nova fase.<br />

B) A violência do governo do Estado entra<br />

em nova fase de Campanha.<br />

C) Campanha contra o governo do Estado<br />

entra em nova fase de violência.<br />

D) A violência da campanha do governo<br />

do Estado entra em nova fase.<br />

E) Campanha do governo do Estado<br />

contra a violência entra em nova fase.<br />

Comentário<br />

O objetivo da questão é eliminar a<br />

ambigüidade da notícia de jornal, que,<br />

originalmente, trazia duas idéias: de acordo<br />

com a primeira, o governo queria combater a<br />

violência, e a segunda ressaltava que o<br />

governo era violento. Nessa questão,<br />

era preciso eliminar a segunda possibilidade<br />

de leitura.<br />

31) (2002) "A palavra tatuagem é<br />

relativamente recente. Toda a gente sabe<br />

que foi o navegador Cook que a introduziu<br />

no Ocidente, e esse escrevia tattou, termo<br />

da Polinésia de tatou ou tu tahou,<br />

'desenho'.<br />

(...) Desde os mais remotos tempos,<br />

vemo-la a transformar-se: distintivo<br />

honorífico entre uns homens, ferrete de<br />

ignomínia entre outros, meio de assustar o<br />

adversário para os bretões, marca de uma<br />

classe de selvagens das ilhas marquesas<br />

(...) sinal de amor, de desprezo, de ódio<br />

(...). Há três casos de tatuagem no Rio,<br />

completamente diversos na sua<br />

significação moral: os negros,os turcos<br />

com o fundo religioso e o bando de<br />

meretrizes, dos rufiões e dos humildes,<br />

que se marcam por crime ou por<br />

ociosidade".<br />

RIO, João do. Os Tatuadores. Revista Kosmos.<br />

1904, apud: A alma encantadora das ruas,<br />

SP: Cia das Letras, 1999.<br />

Com base no texto são feitas as seguintes<br />

afirmações:<br />

I. João do Rio revela como a tatuagem já<br />

estava presente na cidade do Rio de<br />

Janeiro, pelo menos desde o início do<br />

século XX, e era mais utilizada por<br />

alguns setores da população.<br />

II. A tatuagem, de origem polinésia,<br />

difundiu-se no ocidente com a<br />

característica que permanece até hoje:<br />

utilização entre os jovens com função<br />

estritamente estética.<br />

III. O texto mostra como a tatuagem é<br />

uma prática que se transforma no<br />

tempo e que alcança inúmeros sentidos<br />

nos diversos setores das sociedades e<br />

para as diferentes culturas.<br />

Está correto o que se afirma apenas em<br />

A) I D) I e II<br />

B) II E) I e III<br />

C) III<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. Constata-se o<br />

seguinte: a tatuagem já existia no Brasil no<br />

início do século XX (o texto é de 1904 e parte<br />

dele se refere ao Rio do Janeiro) e era<br />

utilizada em diferentes setores da sociedade.<br />

A afirmação de que as tatuagens possuem<br />

apenas finalidade estética entre os jovens<br />

elimina a segunda alternativa. Já a última<br />

alternativa confirma as transformações das<br />

funções da tatuagem ao longo do tempo nas<br />

mais diversas sociedades e culturas.<br />

Comentário do INEP<br />

O texto estabelece uma relação entre a<br />

atualidade da palavra "tatuagem" e a<br />

antiguidade do uso de desenhos como<br />

pintura corporal. Focaliza uma prática social<br />

bastante difundida que adquiriu aspectos e<br />

conotações diversos nos diferentes contextos<br />

históricos e geográficos em que ela pode ser<br />

descrita. Fazendo a descrição da prática da<br />

tatuagem, como uma manifestação comum a<br />

diferentes culturas, e que adquire, inclusive,<br />

significados diferentes dentro de uma mesma<br />

cultura, induz o participante a refletir sobre a<br />

"diversidade dos patrimônios etnoculturais e<br />

artísticos", contextualizando ao mesmo<br />

tempo seus significados "em diferentes<br />

sociedades, épocas e lugares". Ao retomar<br />

as várias origens e usos da tatuagem, o<br />

participante é levado a compreender e<br />

respeitar uma gramática histórica dos<br />

costumes marcada sempre por semelhanças<br />

e diferenças. A questão não exigia, portanto,<br />

nenhum conhecimento prévio sobre as<br />

diferentes formas de manifestação dessa<br />

prática, mas simplesmente constatar, com o<br />

autor do texto citado, a historicidade e a<br />

diversidade das práticas sociais. Os<br />

participantes que assinalaram a alternativa C<br />

315


(36%), possivelmente, não levaram em<br />

consideração informações do texto. A<br />

questão foi corretamente respondida por 37%<br />

dos participantes.<br />

32) (2004)<br />

Nesta tirinha, a personagem faz referência<br />

a uma das mais conhecidas figuras de<br />

linguagem para<br />

A) condenar a prática de exercícios físicos<br />

B) valorizar aspectos da vida moderna.<br />

C) desestimular o uso das bicicletas.<br />

D) caracterizar o diálogo entre as<br />

gerações.<br />

E) criticar a falta de perspectiva do pai.<br />

Comentário<br />

A construção indica a falta de perspectiva<br />

na vida do pai do personagem. “Pedalar sem<br />

sair do lugar” é uma metáfora muito usada na<br />

cultura brasileira para expressar como é a<br />

vida de uma pessoa que age de forma a não<br />

conseguir qualquer mudança — para melhor<br />

ou para pior — na vida.<br />

33) (2004) As questões de números 26 e 27<br />

referem-se ao poema abaixo.<br />

Entre os recursos expressivos<br />

empregados no texto, destaca-se a<br />

A) metalinguagem, que consiste em fazer<br />

a linguagem referir-se à própria<br />

linguagem.<br />

B) intertextualidade, na qual o texto<br />

retoma e reelabora outros textos.<br />

C) ironia, que consiste em se dizer o<br />

contrário do que se pensa, com<br />

intenção crítica.<br />

D) denotação, caracterizada pelo uso das<br />

palavras em seu sentido próprio e<br />

objetivo.<br />

E) prosopopéia, que consiste em<br />

personificar coisas inanimadas,<br />

atribuindo-lhes vida.<br />

Comentário<br />

A questão trata de um texto de Carlos<br />

Drummond de Andrade em que ele fala sobre<br />

o crescimento urbano e a pobreza que esse<br />

processo traz. Para tanto, o poeta utiliza uma<br />

linguagem irônica, revelando o lado oculto do<br />

desenvolvimento. Dessa forma, temos como<br />

correta a alternativa C.<br />

34) (2007) Antigamente<br />

Acontecia o indivíduo apanhar<br />

constipação; ficando perrengue, mandava<br />

o próprio chamar o doutor e, depois, ir à<br />

botica para aviar a receita, de cápsulas ou<br />

pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />

phtísica, feia era o gálico. Antigamente, os<br />

sobrados tinham assombrações, os<br />

meninos, lombrigas (...)<br />

Carlos Drummond de Andrade. Poesia completa e prosa.<br />

Rio de Janeiro: Companhia José Aguilar, p. 1.184.<br />

O texto acima está escrito em linguagem<br />

de uma época passada. Observe uma<br />

outra versão, em linguagem atual.<br />

Antigamente<br />

Acontecia o indivíduo apanhar um<br />

resfriado; ficando mal, mandava o próprio<br />

chamar o doutor e, depois, ir à farmácia<br />

para aviar a receita, de cápsulas ou<br />

pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />

tuberculose, feia era a sífilis. Antigamente,<br />

os sobrados tinham assombrações, os<br />

meninos, vermes (...)<br />

Comparando-se esses dois textos,<br />

verifica-se que, na segunda versão, houve<br />

mudanças relativas a<br />

A) vocabulário.<br />

B) construções sintáticas.<br />

C) pontuação.<br />

D) fonética.<br />

E) regência verbal.<br />

Comentário<br />

Questão fácil. O aluno deveria comparar<br />

os dois textos e verificar as alterações<br />

realizadas na segunda versão apresentada.<br />

316


Nesse momento, fica evidente a mudança de<br />

vocabulário, o que indica a alternativa A<br />

como a correta.<br />

35) (2001) Nas conversas diárias, utiliza-se<br />

freqüentemente a palavra “próprio” e ela<br />

se ajusta a várias situações. Leia os<br />

exemplos de diálogos:<br />

I - A Vera se veste diferente!<br />

- É mesmo, é que ela tem um estilo<br />

próprio.<br />

II - A Lena já viu esse filme uma dezena<br />

de vezes! Eu não consigo ver o<br />

que ele tem de tão maravilhoso assim.<br />

- É que ele é próprio para adolescente.<br />

III - Dora, o que eu faço? Ando tão<br />

preocupada com o Fabinho! Meu filho<br />

está impossível!<br />

- Relaxa, Tânia! É próprio da idade.<br />

Com o tempo, ele se acomoda.<br />

Nas ocorrências I, II e III, “próprio” é<br />

sinônimo de, respectivamente,<br />

A) adequado, particular, típico.<br />

B) peculiar, adequado, característico.<br />

C) conveniente, adequado, particular.<br />

D) adequado, exclusivo, conveniente.<br />

E) peculiar, exclusivo, característico.<br />

Comentário<br />

Para responder a essa pergunta,<br />

substitua, nos trechos, a palavra próprio<br />

pelos possíveis equivalentes apresentados<br />

nas alternativas. Questão simples que pode<br />

ser resolvida por eliminação.<br />

Comentário do INEP<br />

Nesta questão são apresentados três<br />

textos em que uma mesma palavra é<br />

utilizada com sentidos diferentes. O problema<br />

consiste em observar a variedade de uso de<br />

um mesmo termo e as possibilidades de sua<br />

compreensão, estabelecendo uma relação<br />

comparativa com base em uma análise<br />

semântica. Cerca de metade (49%) dos<br />

participantes estabeleceu essa relação de<br />

maneira correta. Os participantes que<br />

assinalaram a alternativa D (21%),<br />

possivelmente isolaram o termo do contexto,<br />

gerando um equívoco entre "adequado" e<br />

"exclusivo".<br />

36) (2003) Do pedacinho de papel ao livro<br />

impresso vai uma longa distância. Mas o<br />

que o escritor quer, mesmo, é isso: ver o<br />

seu texto em letra de forma. A gaveta é<br />

ótima para aplacar a fúria criativa; ela faz<br />

amadurecer o texto da mesma forma que<br />

a adega faz amadurecer o vinho. Em<br />

certos casos, a cesta de papel é melhor<br />

ainda.<br />

O período de maturação na gaveta é<br />

necessário, mas não deve se prolongar<br />

muito. ‘Textos guardados acabam<br />

cheirando mal’, disse Silvia Plath, (...) que,<br />

com esta frase, deu testemunho das<br />

dúvidas que atormentam o escritor:<br />

publicar ou não publicar? guardar ou jogar<br />

fora?<br />

(Moacyr Scliar. O escritor e seus desafios.)<br />

Nesse texto, o escritor Moacyr Scliar usa<br />

imagens para refletir sobre uma etapa da<br />

criação literária. A idéia de que o processo<br />

de maturação do texto nem sempre é o<br />

que garante bons resultados está sugerida<br />

na seguinte frase:<br />

A) "A gaveta é ótima para aplacar a fúria<br />

criativa."<br />

B) "Em certos casos, a cesta de papel é<br />

melhor ainda."<br />

C) "O período de maturação na gaveta é<br />

necessário, (...)."<br />

D) "Mas o que o escritor quer, mesmo, é<br />

isso: ver o seu texto em letra de forma."<br />

E) "ela (a gaveta) faz amadurecer o texto<br />

da mesma forma que a adega faz<br />

amadurecer o vinho."<br />

Comentário<br />

Essa questão exigia a interpretação das<br />

frases. A palavra NEM no enunciado exclui<br />

todas as alternativas que tratam do<br />

amadurecimento ou da importância da<br />

gaveta para o bom sucesso da produção<br />

literária.<br />

A alternativa B é a única que apresenta<br />

um procedimento alternativo para a produção<br />

textual, ou seja, o lixo, e significa a liberdade<br />

do escritor em começar,<br />

interromper, recomeçar ou simplesmente<br />

abandonar a obra, permitindo a ele exercer<br />

seu livre-arbítrio.<br />

37) (2007)<br />

Aqui na floresta<br />

Dos ventos batida,<br />

Façanhas de bravos<br />

Não geram escravos,<br />

Que estimem a vida<br />

Sem guerra e lidar.<br />

— Ouvi-me, Guerreiros,<br />

— Ouvi meu cantar.<br />

O canto do guerreiro<br />

Valente na guerra,<br />

Quem há, como eu sou?<br />

Quem vibra o tacape<br />

Com mais valentia?<br />

Quem golpes daria<br />

Fatais, como eu dou?<br />

— Guerreiros, ouvi-me;<br />

— Quem há, como eu sou?<br />

Gonçalves Dias.<br />

317


Macunaíma<br />

(Epílogo)<br />

Acabou-se a história e morreu a vitória.<br />

Não havia mais ninguém lá. Dera<br />

tangolomângolo na tribo Tapanhumas e<br />

os filhos dela se acabaram de um em um.<br />

Não havia mais ninguém lá. Aqueles<br />

lugares, aqueles campos, furos<br />

puxadouros arrastadouros meiosbarrancos,<br />

aqueles matos misteriosos,<br />

tudo era solidão do deserto... Um silêncio<br />

imenso dormia à beira do rio Uraricoera.<br />

Nenhum conhecido sobre a terra não<br />

sabia nem falar da tribo nem contar<br />

aqueles casos tão pançudos. Quem podia<br />

saber do Herói?<br />

Mário de Andrade.<br />

Considerando-se a linguagem desses dois<br />

textos, verifica-se que<br />

A) a função da linguagem centrada no<br />

receptor está ausente tanto no primeiro<br />

quanto no segundo texto.<br />

B) a linguagem utilizada no primeiro texto<br />

é coloquial, enquanto, no segundo,<br />

predomina a linguagem formal.<br />

C) há, em cada um dos textos, a<br />

utilização de pelo menos uma palavra<br />

de origem indígena.<br />

D) a função da linguagem, no primeiro<br />

texto, centra-se na forma de<br />

organização da linguagem e, no<br />

segundo, no relato de informações<br />

reais.<br />

E) a função da linguagem centrada na<br />

primeira pessoa, predominante no<br />

segundo texto, está ausente no<br />

primeiro.<br />

Comentário<br />

Questão de nível médio. Essa é uma<br />

questão que foca a linguagem dos textos, e<br />

cada qual em seu gênero (poesia e prosa,<br />

respectivamente). O aluno chega à<br />

conclusão que a alternativa correta é a C por<br />

meio da exclusão das demais alternativas.<br />

A resposta correta não é a A, pois há um<br />

receptor que pode ser percebido nas<br />

seguintes perguntas contidas no texto:<br />

Texto 1 – “Guerreiros, ouvi-me;/Quem há,<br />

como eu sou?”<br />

Texto 2 – “Quem podia saber do herói?”<br />

Também não é a alternativa B, pois o<br />

conteúdo dos textos não é discriminatório. No<br />

primeiro texto, há uma idealização do índio e,<br />

no segundo, há uma realidade crítica e<br />

satírica da sociedade.<br />

A alternativa D é excluída, porque o<br />

segundo texto não fala de uma realidade, já<br />

que Macunaíma é um herói fictício e nãoreal.<br />

Por fim, também está errada a alternativa<br />

E. Isso porque não temos no epílogo do texto<br />

de Macunaíma a linguagem centrada na<br />

primeira pessoa, mas sim, na terceira.<br />

38) (2002) Só falta o Senado aprovar o<br />

projeto de lei [sobre o uso de termos<br />

estrangeiros no Brasil] para que palavras<br />

como shopping center , delivery e drivethrough<br />

sejam proibidas em nomes de<br />

estabelecimentos e marcas. Engajado<br />

nessa valorosa luta contra o inimigo<br />

ianque, que quer fazer área de livre<br />

comércio com nosso inculto e belo idioma,<br />

venho sugerir algumas outras medidas<br />

que serão de extrema importância para a<br />

preservação da soberania nacional, a<br />

saber:<br />

........<br />

Nenhum cidadão carioca ou gaúcho<br />

poderá dizer "Tu vai" em espaços públicos<br />

do território nacional;<br />

Nenhum cidadão paulista poderá dizer "Eu<br />

lhe amo" e retirar ou acrescentar o plural<br />

em sentenças como "Me vê um chopps e<br />

dois pastel";<br />

..........<br />

Nenhum dono de borracharia poderá<br />

escrever cartaz com a palavra "borraxaria"<br />

e nenhum dono de banca de jornal<br />

anunciará "Vende-se cigarros";<br />

..........<br />

Nenhum livro de gramática obrigará os<br />

alunos a utilizar colocações pronominais<br />

como "casar-me-ei" ou "ver-se-ão".<br />

PIZA, Daniel. Uma proposta imodesta. O Estado de<br />

S. Paulo, São Paulo, 8/04/2001.<br />

No texto acima, o autor:<br />

A) mostra-se favorável ao teor da<br />

proposta por entender que a língua<br />

portuguesa deve ser protegida contra<br />

deturpações de uso.<br />

B) ironiza o projeto de lei ao sugerir<br />

medidas que inibam determinados usos<br />

regionais e socioculturais da língua.<br />

C) denuncia o desconhecimento de regras<br />

elementares de concordância verbal e<br />

nominal pelo falante brasileiro.<br />

D) revela-se preconceituoso em relação a<br />

certos registros lingüísticos ao propor<br />

medidas que os controlem.<br />

E) defende o ensino rigoroso da gramática<br />

para que todos aprendam a empregar<br />

corretamente os pronomes.<br />

318


Comentário<br />

Questão de nível fácil. O autor ironiza o<br />

projeto de lei que proíbe o uso de<br />

estrangeirismos no Brasil. Não adianta criarse<br />

uma expectativa ou preocupação em<br />

relação ao uso de termos estrangeiros na<br />

língua e esquecer-se de que a língua é um<br />

organismo vivo, mutável. A dinâmica de uma<br />

língua não pode ser regida por preceitos<br />

legais como quer o projeto.<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão reproduz trechos de um<br />

texto que aborda o polêmico projeto de<br />

proibição de uso de termos estrangeiros no<br />

Brasil. A partir da leitura atenta do texto de<br />

Daniel Piza, o participante é levado a refletir<br />

sobre a postura adotada pelo autor em<br />

relação ao referido projeto. Para<br />

compreender esse texto, o participante<br />

precisa reconhecer o tom irônico que marca<br />

as observações e sugestões feitas por seu<br />

autor. Assim, Daniel Piza, "engajado nessa<br />

valorosa luta contra o inimigo ianque", sugere<br />

a proibição de algumas formas lingüísticas de<br />

uso corrente que contrariam recomendações<br />

da gramática normativa. O participante deve<br />

reconhecer que, com sugestões como essas,<br />

Daniel Piza deixa implícita uma crítica à<br />

utilidade do projeto de proibição dos<br />

estrangeirismos como forma de proteger a<br />

Língua Portuguesa. Nesse contexto, a ironia<br />

torna-se mais clara, bem como o mecanismo<br />

textual que a constrói. Feito tal<br />

reconhecimento, o aluno encontra a resposta<br />

correta na alternativa B, assinalada por cerca<br />

da metade dos participantes. Nenhuma outra<br />

alternativa contempla o aspecto irônico,<br />

essencial para a compreensão do texto.<br />

39) (200) O autor do texto abaixo critica,<br />

ainda que em linguagem metafórica, a<br />

sociedade contemporânea em relação aos<br />

seus hábitos alimentares.<br />

“Vocês que têm mais de 15 anos, se<br />

lembram quando a gente comprava leite<br />

em garrafa, na leiteria da esquina? (...)<br />

Mas vocês não se lembram de nada,<br />

pô! Vai ver nem sabem o que é vaca. Nem<br />

o que é leite. Estou falando isso porque<br />

agora mesmo peguei um pacote de leite –<br />

leite em pacote, imagina, Tereza! – na<br />

porta dos fundos e estava escrito que é<br />

pasterizado, ou pasteurizado, sei lá, tem<br />

vitamina, é garantido pela<br />

embromatologia, foi enriquecido e o<br />

escambau. Será que isso é mesmo leite?<br />

No dicionário diz que leite é outra coisa:<br />

‘Líquido branco, contendo água,<br />

proteína, açúcar e sais minerais’. Um<br />

alimento pra ninguém botar defeito. O ser<br />

humano o usa há mais de 5.000 anos. É o<br />

único alimento só alimento. A carne serve<br />

pro animal andar, a fruta serve pra fazer<br />

outra fruta, o ovo serve pra fazer outra<br />

galinha (...) O leite é só leite. Ou toma ou<br />

bota fora. Esse aqui examinando bem, é<br />

só pra botar fora. Tem chumbo, tem<br />

benzina, tem mais água do que leite, tem<br />

serragem, sou capaz de jurar que nem<br />

vaca tem por trás desse negócio. Depois o<br />

pessoal ainda acha estranho que os<br />

meninos não gostem de leite.<br />

Mas, como não gostam? Não gostam<br />

como? Nunca tomaram! Múúúúúúú!”<br />

(FERNANDES, Millôr. O Estado de S. Paulo ,<br />

22 de agosto de 1999)<br />

A palavra embromatologia usada pelo<br />

autor é:<br />

A) um termo científico que significa estudo<br />

dos bromatos.<br />

B) uma composição do termo de gíria<br />

“embromação” (enganação) com<br />

bromatologia, que é o estudo dos<br />

alimentos.<br />

C) uma junção do termo de gíria<br />

“embromação” (enganação) com<br />

lactologia, que é o estudo das<br />

embalagens para leite.<br />

D) um neologismo da química orgânica<br />

que significa a técnica de retirar<br />

bromatos dos laticínios.<br />

E) uma corruptela de termo da<br />

agropecuária que significa a ordenha<br />

mecânica.<br />

Comentário<br />

É necessário para a resolução desta<br />

questão:<br />

- perceber que o texto critica o exagerado<br />

uso de substâncias artificiais nos<br />

alimentos;<br />

- conhecer o significado da gíria embromar e<br />

da palavra bromatologia.<br />

Conhecendo esses significados, você<br />

elimina todas as alternativas erradas: a, c, d<br />

e e.<br />

Você poderá ter dúvida quanto à<br />

alternativa c, que também será eliminada se<br />

souber o significado da palavra lactologia,<br />

que é o estudo do leite e produtos lácteos e<br />

não das embalagens para leite.<br />

Nesta questão, são trabalhados os<br />

conceitos de interpretação de texto, formação<br />

de palavras e conhecimentos gerais.<br />

319


Comentário do INEP<br />

A resolução da questão requeria que o<br />

participante, ao ler o texto vinculasse o<br />

significado de um termo de gíria -<br />

"embromação" - com o da palavra<br />

bromatologia. A resposta correta exigia que o<br />

participante não abrisse mão do sabor<br />

picante contido na linguagem metafórica,<br />

sabor vinculado ao conhecimento específico<br />

contido na palavra bromatologia. Cerca da<br />

metade dos participantes (51%) optou pela<br />

alternativa correta e, os 20% que escolheram<br />

a alternativa C, provavelmente associaram a<br />

referência feita no texto à leite em pacote.<br />

40) (2005) O termo (ou expressão)<br />

destacado que está empregado em seu<br />

sentido próprio, denotativo ocorre em:<br />

A) “(....)<br />

É de laço e de nó<br />

De gibeira o jiló<br />

Dessa vida, cumprida a sol (....)”<br />

(Renato Teixeira. Romaria. Kuarup Discos.<br />

setembro de 1992.)<br />

B) “Protegendo os inocentes<br />

é que Deus, sábio demais,<br />

põe cenários diferentes<br />

nas impressões digitais.”<br />

(Maria N. S. Carvalho. Evangelho da Trova. /s.n.b.)<br />

C) “O dicionário-padrão da língua e os<br />

dicionários unilíngües são os tipos mais<br />

comuns de dicionários. Em nossos<br />

dias, eles se tornaram um objeto de<br />

consumo obrigatório para as nações<br />

civilizadas e desenvolvidas.”<br />

(Maria T. Camargo Biderman.<br />

O dicionário-padrão da língua. Alfa (28), 2743, 1974 Supl.)<br />

Comentário<br />

A definição do dicionário-padrão da língua<br />

utiliza o sentido denotativo da palavra para<br />

explicar o uso de determinado tipo de<br />

dicionário. Em todas as outras alternativas,<br />

as palavras estão sendo empregadas em<br />

sentido metafórico. Na letra A, "cumprida a<br />

sol" pode mostrar o sofrimento e a solidão.<br />

Na alternativa B, "cenários diferentes" são as<br />

diferenças físicas encontradas nas<br />

impressões digitais. Na letra D, "bateria" é o<br />

termo usado para expressar a "energia" do<br />

Menino Maluquinho, que nunca acaba. Por<br />

fim, na alternativa E, "fazer cócegas no<br />

raciocínio" significa expressar graça por meio<br />

de idéias, fazendo com que o cérebro ache<br />

um fato divertido e, por conseguinte, faça<br />

com que a pessoa ria como se sofresse um<br />

ataque de cócegas.<br />

41) (2008) Os signos visuais, como meios de<br />

comunicação, são classificados em<br />

categorias de acordo com seus<br />

significados.<br />

A categoria denominada indício<br />

corresponde aos signos visuais que têm<br />

origem em formas ou situações naturais<br />

ou casuais, as quais, devido à ocorrência<br />

em circunstâncias idênticas, muitas vezes<br />

repetidas, indicam algo e adquirem<br />

significado. Por exemplo, nuvens negras<br />

indicam tempestade. Com base nesse<br />

conceito, escolha a opção que representa<br />

um signo da categoria dos indícios.<br />

A)<br />

D)<br />

B)<br />

E) “Humorismo é a arte de fazer cócegas<br />

no raciocínio dos outros. Há duas<br />

espécies de humorismo: o trágico e o<br />

cômico. O trágico é o que não<br />

consegue fazer rir; o cômico é o que é<br />

verdadeiramente trágico para se fazer.”<br />

(Leon Eliachar. www.mercadolivre.com.br.<br />

acessado em julho de 2005.)<br />

C)<br />

320


D)<br />

E)<br />

Comentário<br />

Trata-se de uma questão interpretativa. O<br />

aluno precisa entender o que é “indício” para<br />

respondê-la. Segundo o dicionário Aurélio,<br />

indício é o mesmo que “sinal, vestígio,<br />

indicação”. Das figuras apresentadas,<br />

apenas a alternativa B indica algo: a<br />

passagem de alguém por algum lugar —<br />

pegada.<br />

42) (1999)<br />

Diante da visão de um prédio com uma<br />

placa indicando SAPATARIA PAPALIA,<br />

um jovem deparou com a dúvida: como<br />

pronunciar a palavra PAPALIA?<br />

Levado o problema à sala de aula, a<br />

discussão girou em torno da utilidade de<br />

conhecer as regras de acentuação e,<br />

especialmente, do auxílio que elas podem<br />

dar à correta pronúncia de palavras.<br />

Após discutirem pronúncia, regras de<br />

acentuação e escrita, três alunos<br />

apresentaram as seguintes conclusões a<br />

respeito da palavra PAPALIA:<br />

I. Se a sílaba tônica for o segundo PA, a<br />

escrita deveria ser PAPÁLIA, pois a<br />

palavra seria paroxítona terminada em<br />

ditongo crescente.<br />

II. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />

deveria ser PAPALÍA, pois “i” e “a”<br />

estariam formando hiato.<br />

III. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />

deveria ser PAPALIA, pois não haveria<br />

razão para o uso de acento gráfico.<br />

A conclusão está correta apenas em:<br />

A) III D) I<br />

B) I e II E) II<br />

C) I e III<br />

Comentário<br />

Essa questão exige bom conhecimento<br />

das regras de acentuação. A alternativa A diz<br />

que apenas a afirmação I é verdadeira. De<br />

fato ela é, mas não é a única. Nela, temos a<br />

hipótese de a palavra ser grafada como se a<br />

sílaba forte fosse a penúltima — papália —,<br />

justificando seu acento gráfico. Vejamos o<br />

que dizem as regras de acentuação.<br />

Acentuam-se as palavras paroxítonas<br />

terminadas em: i, is, us, um, uns, l, n, r, x,<br />

ps, ã, ãs, ão, ãos, ditongos orais,<br />

crescentes ou decrescentes, seguidos ou<br />

não de S. Isso valida, portanto, a afirmação I.<br />

A afirmação II pressupõe que a sílaba<br />

tônica seja LI, em hiato com A: no caso de<br />

essa ser a tonicidade da palavra, a sílaba LI<br />

não poderia ser acentuada, pois I, mesmo<br />

sendo a tônica do hiato, não é a última vogal,<br />

portanto, essa afirmativa é falsa.<br />

A afirmação III considera que a sílaba<br />

tônica é LI, não havendo acento por ser o I a<br />

primeira vogal do hiato. Portanto, essa<br />

afirmação é verdadeira.<br />

Concluindo, temos como verdadeiras as<br />

afirmações I e III. Então, a alternativa E é a<br />

correta. Questão de nível difícil.<br />

Comentário do INEP<br />

Dentre os participantes, somente pouco<br />

mais de um terço (35%) demonstrou possuir<br />

a habilidade para identificar as regras de<br />

acentuação corretas, enunciadas na questão.<br />

Chama a atenção o fato de que 73% dos<br />

participantes (alternativas A, D e E)<br />

reconheceram corretamente, pelo menos, a<br />

regra contida no item I, sendo que cerca de<br />

40% desses, contudo, tiveram dificuldades<br />

em analisar as regras II e III.<br />

Em se tratando de palavra não-usual, é,<br />

sobretudo, o domínio do conhecimento das<br />

regras e não a possível pronúncia correta,<br />

pelo uso, o que parece ter sido revelado.<br />

321


43) (2002) A crônica muitas vezes constitui<br />

um espaço para reflexão sobre aspectos<br />

da sociedade em que vivemos.<br />

"Eu, na rua, com pressa, e o menino<br />

segurou no meu braço, falou qualquer<br />

coisa que não entendi. Fui logo dizendo<br />

que não tinha, certa de que ele estava<br />

pedindo dinheiro. Não estava. Queria<br />

saber a hora.<br />

Talvez não fosse um Menino De<br />

Família, mas também não era um Menino<br />

De Rua. É assim que a gente divide.<br />

Menino De Família é aquele bem-vestido<br />

com tênis da moda e camiseta de marca,<br />

que usa relógio e a mãe dá outro se o<br />

dele for roubado por um Menino De Rua.<br />

Menino De Rua é aquele que quando a<br />

gente passa perto segura a bolsa com<br />

força porque pensa que ele é pivete,<br />

trombadinha, ladrão. (...) Na verdade não<br />

existem meninos De rua.<br />

Existem meninos NA rua. E toda vez<br />

que um menino está NA rua é porque<br />

alguém o botou lá. Os meninos não vão<br />

sozinhos aos lugares. Assim como são<br />

postos no mundo, durante muitos anos<br />

também são postos onde quer que<br />

estejam. Resta ver quem os põe na rua. E<br />

por quê."<br />

COLASSANTI, Marina. In: Eu sei, mas não devia. Rio de<br />

Janeiro: Rocco, 1999.<br />

No terceiro parágrafo em "... não existem<br />

meninos De rua. Existem meninos NA<br />

rua.", a troca de De pelo Na determina<br />

que a relação de sentido entre "menino" e<br />

"rua" seja<br />

A) de localização e não de qualidade.<br />

B) de origem e não de posse.<br />

C) de origem e não de localização.<br />

D) de qualidade e não de origem.<br />

E) de posse e não de localização.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. Apesar de não<br />

haver um terceiro parágrafo neste texto, a<br />

troca das preposições ao final do SEGUNDO<br />

parágrafo indica claramente que não há um<br />

menino DE (proveniente de) rua, mas um<br />

menino que está NA (foi levado à) rua.<br />

Portanto, a relação é unicamente de<br />

localização (onde ele está) e não de<br />

qualidade (o que ele é).<br />

Comentário do INEP<br />

A reprodução de um trecho de uma<br />

crônica de Marina Colassanti tematiza uma<br />

importante questão social brasileira: a<br />

presença de milhões de crianças nas ruas do<br />

País. A autora, ao tratar desse problema,<br />

vale-se de recursos lingüísticos específicos.<br />

O objetivo desta questão é justamente<br />

chamar a atenção do participante leitor para<br />

esses recursos e os efeitos de sentido que<br />

eles desencadeiam no texto. Na raiz da<br />

questão destaca-se a troca de "De" por "NA"<br />

e pede-se que se determine qual relação de<br />

sentido essa substituição estabelece entre os<br />

termos "menino" e "rua". Analisar a relação,<br />

nesse caso, significa perguntar-se sobre o<br />

sentido de dois sintagmas criados no texto:<br />

"meninos NA rua" por oposição a "meninos<br />

De rua". O que a autora pretende negar, com<br />

a troca do termo de relação, é a possibilidade<br />

de que existam meninos de rua diferentes de<br />

outros meninos, que não têm na rua a sua<br />

origem. O destaque para a preposição na<br />

nos leva a refletir que a relação dos meninos<br />

com a rua é de localização: eles estão ali por<br />

alguma razão, não porque essa seja a sua<br />

qualificação. Essa reflexão levaria o aluno a<br />

escolher, como correta, a resposta<br />

apresentada na alternativa A, assinalada por<br />

cerca de metade dos participantes.<br />

44) (2000) O uso do pronome átono no início<br />

das frases é destacado por um poeta e<br />

por um gramático nos textos abaixo.<br />

Pronominais<br />

Dê-me um cigarro<br />

Diz a gramática<br />

Do professor e do aluno<br />

E do mulato sabido<br />

Mas o bom negro e o bom branco<br />

da Nação Brasileira<br />

Dizem todos os dias<br />

Deixa disso camarada<br />

Me dá um cigarro<br />

(ANDRADE, Oswald de. Seleção de textos.<br />

São Paulo: Nova Cultural, 1988)<br />

“Iniciar a frase com pronome átono só<br />

é lícito na conversação familiar,<br />

despreocupada, ou na língua escrita<br />

quando se deseja reproduzir a fala dos<br />

personagens (...).”<br />

(CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da<br />

língua portuguesa.<br />

São Paulo: Nacional, 1980)<br />

Comparando a explicação dada pelos<br />

autores sobre essa regra, pode-se afirmar<br />

que ambos:<br />

322


A) condenam essa regra gramatical.<br />

B) acreditam que apenas os esclarecidos<br />

sabem essa regra.<br />

C) criticam a presença de regras na<br />

gramática.<br />

D) afirmam que não há regras para uso de<br />

pronomes.<br />

E) relativizam essa regra gramatical.<br />

Comentário<br />

Questão que requer conhecimento básico<br />

de colocação pronominal, em relação ao uso<br />

de pronomes átonos no início de frases, uma<br />

regra muito pouco respeitada pelo brasileiro,<br />

da qual Oswald de Andrade faz questão de<br />

falar em seu poema. Porém, a questão pode<br />

ser resolvida simplesmente por meio de uma<br />

leitura bem atenta dos textos. Se formos<br />

analisando alternativa por alternativa, a<br />

eliminação é clara e lógica: a alternativa a<br />

fica totalmente descartada devido à<br />

transparência da colocação dos dois autores<br />

(Me dá um cigarro...) e (iniciar frases com o<br />

pronome átono é "lícito" na conversação<br />

familiar ou despreocupada). Já a alternativa b<br />

pode até mesmo gerar um pouco de dúvida a<br />

quem não se atém bem à pergunta. Quanto<br />

às alternativas c e d, ficam descartadas, pois,<br />

em momento nenhum, os autores criticaram<br />

o uso de regras gramaticais em seus textos,<br />

cabendo perfeitamente a alternativa e para<br />

as afirmações do gramático e do poeta.<br />

Comentário do INEP<br />

Essa questão pretendia verificar como o<br />

participante analisa um fato lingüístico,<br />

mediante a comparação da descrição desse<br />

fato em dois textos. Sabe-se que,<br />

normalmente em situação escolar, o uso do<br />

pronome átono no início da frase é julgado<br />

como grave desvio gramatical, e pouco se<br />

analisa esse uso na fala ou escrita informal.<br />

Os dois autores dos textos, com intenções<br />

diferentes, relativizam essa regra gramatical,<br />

destacando e descrevendo o seu uso<br />

coloquial. A maioria dos participantes (52%)<br />

analisou e comparou corretamente as<br />

posições dos autores sobre o uso do<br />

pronome átono, e 24% deles reafirmaram a<br />

posição discriminatória da regra, deslocandoa<br />

de seu uso.<br />

45) (2003)<br />

O humor presente na tirinha decorre<br />

principalmente do fato de a personagem<br />

Mafalda<br />

A) atribuir, no primeiro quadrinho, poder<br />

ilimitado ao dedo indicador.<br />

B) considerar seu dedo indicador tão<br />

importante quanto o dos patrões.<br />

C) atribuir, no primeiro e no último<br />

quadrinhos, um mesmo sentido ao<br />

vocábulo "indicador".<br />

D) usar corretamente a expressão<br />

"indicador de desemprego", mesmo<br />

sendo criança.<br />

E) atribuir, no último quadrinho, fama<br />

exagerada ao dedo indicador dos<br />

patrões.<br />

Comentário<br />

A questão pede a interpretação de uma<br />

charge da personagem Mafalda, em que ela<br />

faz referência a seu dedo indicador, que é<br />

usado como substantivo primitivo e que<br />

possibilita a analogia com “indicador de<br />

desemprego”. Dessa forma, ela ironiza os<br />

indicadores sociais. Na charge, porém, não<br />

há menção explícita aos índices<br />

“indicadores”, permanecendo o raciocínio<br />

preso apenas ao dedo indicador. Assim, ela<br />

utiliza, tanto no primeiro quanto no último<br />

quadrinho, a palavra “indicador” como<br />

referência ao dedo, não dando abertura a<br />

outro tipo de interpretação.<br />

46) (2002)<br />

De acordo com a história em quadrinhos<br />

protagonizada por Hagar e seu filho<br />

Hamlet, pode-se afirmar que a postura de<br />

Hagar<br />

A) valoriza a existência da diversidade<br />

social e de culturas, e as várias<br />

representações e explicações desse<br />

universo.<br />

323


B) desvaloriza a existência da<br />

diversidade social e as várias culturas,<br />

e determina uma única explicação para<br />

esse universo.<br />

C) valoriza a possibilidade de explicar as<br />

sociedades e as culturas a partir de<br />

várias visões de mundo.<br />

D) valoriza a pluralidade cultural e social<br />

ao aproximar a visão de mundo de<br />

navegantes e não-navegantes.<br />

E) desvaloriza a pluralidade cultural e<br />

social, ao considerar o mundo habitado<br />

apenas pelos navegantes.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. Hagar reduz o<br />

mundo a dois tipos de pessoas: navegantes<br />

e não-navegantes. No último quadrinho, diz<br />

que são os navegantes que estabelecem<br />

esses dois grupos. Portanto, quem é<br />

diferente dos navegantes (que estabelecem<br />

o padrão) simplesmente é incluído na massa<br />

única dos não-navegantes. Não importa<br />

quem ou quantos sejam, sua diversidade<br />

social ou cultural em relação aos navegantes<br />

ou entre si. Vemos aí a desvalorização de<br />

outras culturas.<br />

47) (2009) Nestes últimos anos, a situação<br />

mudou bastante e o Brasil, normalizado, já<br />

não nos parece tão mítico, no bem e no<br />

mal. Houve um mútuo reconhecimento<br />

entre os dois países de expressão<br />

portuguesa de um lado e do outro do<br />

Atlântico: o Brasil descobriu Portugal e<br />

Portugal, em um retorno das caravelas,<br />

voltou a descobrir o Brasil e a ser, por seu<br />

lado, colonizado por expressões<br />

linguísticas, as telenovelas, os romances,<br />

a poesia, a comida e as formas de<br />

tratamento brasileiros. O mesmo, embora<br />

em nível superficial, dele excluído o plano<br />

da língua, aconteceu com a Europa, que,<br />

depois da diáspora dos anos 70, depois<br />

da inserção na cultura da bossa-nova e da<br />

música popular brasileira, da problemática<br />

ecológica centrada na Amazônia, ou da<br />

problemática social emergente do<br />

fenômeno dos meninos de rua, e até do<br />

álibi ocultista dos romances de Paulo<br />

Coelho, continua todos os dias a<br />

descobrir, no bem e no mal, o novo Brasil.<br />

Se, no fim do século XIX, Sílvio Romero<br />

definia a literatura brasileira como<br />

manifestação de um país mestiço, será<br />

fácil para nós defini-Ia como expressão de<br />

um país polifônico: em que já não é<br />

determinante o eixo Rio-São Paulo, mas<br />

324<br />

que, em cada região, desenvolve<br />

originalmente a sua unitária e particular<br />

tradição cultural. É esse, para nós, no<br />

início do século XXI, o novo estilo<br />

brasileiro.<br />

STEGAGNO-PICCHIO, L. História da literatura<br />

brasileira. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2004<br />

(adaptado).<br />

No texto, a autora mostra como o Brasil,<br />

ao longo de sua história, foi, aos poucos,<br />

construindo uma identidade cultural e<br />

literária relativamente autônoma frente à<br />

identidade europeia, em geral, e à<br />

portuguesa em particular. Sua análise<br />

pressupõe, de modo especial, o papel do<br />

patrimônio literário e linguístico, que<br />

favoreceu o surgimento daquilo que ela<br />

chama de “estilo brasileiro”. Diante desse<br />

pressuposto, e levando em consideração<br />

o texto e as diferentes etapas de<br />

consolidação da cultura brasileira,<br />

constata-se que<br />

A) o Brasil redescobriu a cultura<br />

portuguesa no século XIX, o que o fez<br />

assimilar novos gêneros artísticos e<br />

culturais, assim como usos originais do<br />

idioma, conforme ilustra o caso do<br />

escritor Machado de Assis.<br />

B) a Europa reconheceu a importância da<br />

língua portuguesa no mundo, a partir<br />

da projeção que poetas brasileiros<br />

ganharam naqueles países, a partir do<br />

século XX.<br />

C) ocorre, no início do século XXI,<br />

promovido pela solidificação da cultura<br />

nacional, maior reconhecimento do<br />

Brasil por ele mesmo, tanto nos<br />

aspectos positivos quanto nos<br />

negativos.<br />

D) o Brasil continua sendo, como no<br />

século XIX, uma nação culturalmente<br />

mestiça, embora a expressão<br />

dominante seja aquela produzida no<br />

eixo Rio-São Paulo, em especial<br />

aquela ligada às telenovelas.<br />

E) o novo estilo cultural brasileiro se<br />

caracteriza por uma união bastante<br />

significativa entre as diversas matrizes<br />

culturais advindas das várias regiões<br />

do país, como se pode comprovar na<br />

obra de Paulo Coelho.<br />

Comentário<br />

(QUESTÃO: AZUL 130, BRANCA 130,<br />

ROSA 133)<br />

A maior dificuldade dessa questão está na<br />

densidade dos textos, tanto o do enunciado<br />

quanto os das alternativas.


O assunto tratado aqui é a consolidação e<br />

o reconhecimento, por parte dos próprios<br />

brasileiros, do "estilo brasileiro" e da<br />

identidade nacional.<br />

A resposta correta é a alternativa C. A sua<br />

escolha é justificada pelo fato de o próprio<br />

texto afirmar que "cada região, desenvolve<br />

originalmente a sua unitária e particular<br />

tradição cultural. É esse, para nós, no início<br />

do século XXI o novo estilo brasileiro."<br />

Resposta correta alternativa C<br />

COMPETÊNCIA DE ÁREA 7<br />

H21 - Reconhecer em textos de<br />

diferentes gêneros, recursos<br />

verbais e não-verbais utilizados<br />

com a finalidade de criar e<br />

mudar comportamentos e<br />

hábitos.<br />

01) (2000) Ferreira Gullar, um dos grandes<br />

poetas brasileiros da atualidade, é autor<br />

de “Bicho urbano”, poema sobre a sua<br />

relação com as pequenas e grandes<br />

cidades.<br />

Bicho urbano<br />

Se disser que prefiro morar em Pirapemas<br />

ou em outra qualquer pequena cidade do<br />

país<br />

estou mentindo<br />

ainda que lá se possa de manhã<br />

lavar o rosto no orvalho<br />

e o pão preserve aquele branco<br />

sabor de alvorada.<br />

....................................................................<br />

A natureza me assusta.<br />

Com seus matos sombrios suas águas<br />

suas aves que são como aparições<br />

me assusta quase tanto quanto<br />

esse abismo<br />

de gases e de estrelas<br />

aberto sob minha cabeça.<br />

(GULLAR, Ferreira. Toda poesia. Rio de Janeiro:<br />

José Olympio Editora, 1991)<br />

Embora não opte por viver numa pequena<br />

cidade, o poeta reconhece elementos de<br />

valor no cotidiano das pequenas<br />

comunidades. Para expressar a relação<br />

do homem com alguns desses elementos,<br />

ele recorre à sinestesia, construção de<br />

linguagem em que se mesclam<br />

impressões sensoriais diversas. Assinale<br />

a opção em que se observa esse recurso.<br />

A) "e o pão preserve aquele branco /<br />

sabor de alvorada."<br />

B) "ainda que lá se possa de manhã /<br />

lavar o rosto no orvalho"<br />

C) "A natureza me assusta. / Com seus<br />

matos sombrios suas águas"<br />

D) "suas aves que são como aparições /<br />

me assusta quase tanto quanto"<br />

E) "me assusta quase tanto quanto / esse<br />

abismo / de gases e de estrelas"<br />

Comentário<br />

Para responder a esta questão, leia com<br />

muita atenção o enunciado. Nele encontra-se<br />

o conceito de sinestesia: construção de<br />

linguagem em que se mesclam impressões<br />

sensoriais diversas, ou seja, a associação de<br />

sensações diferentes numa mesma<br />

expressão.<br />

Você deve compreender o conceito de<br />

sinestesia e, pela lógica, encontrar o exemplo<br />

dessa figura de linguagem.<br />

A alternativa correta é a letra a, pois a<br />

expressão "branco sabor" associa o sentido<br />

da visão (branco) com o do paladar (sabor).<br />

Comentário do INEP<br />

A questão procurou verificar a capacidade<br />

do participante de construir o sentido de<br />

elementos textuais. A partir da noção de<br />

sinestesia, que lhe foi dada de maneira<br />

sucinta, ele teve de transpor para o texto<br />

essa mesma noção, manifestando sua<br />

competência textual. Pode-se classificar de<br />

'bom', o índice de acerto (53%), se<br />

considerarmos que a questão trabalhou com<br />

a função conotativa da linguagem, o que<br />

requer uma capacidade de leitura sempre<br />

mais desenvolvida. Os desvios, de forma<br />

mais acentuada na alternativa B, são<br />

explicáveis: as alternativas incorretas (e, de<br />

resto, todo o poema) também se referem à<br />

manifestações sensoriais, embora sem a<br />

necessária 'mescla', que é o que distingue a<br />

sinestesia.<br />

02) (2001) O mundo é grande<br />

O mundo é grande e cabe<br />

Nesta janela sobre o mar.<br />

O mar é grande e cabe<br />

Na cama e no colchão de amar.<br />

O amor é grande e cabe<br />

No breve espaço de beijar.<br />

ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e prosa.<br />

Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983.<br />

325


Neste poema, o poeta realizou uma opção<br />

estilística: a reiteração de determinadas<br />

construções e expressões lingüísticas,<br />

como o uso da mesma conjunção para<br />

estabelecer a relação entre as frases.<br />

Essa conjunção estabelece, entre as<br />

idéias relacionadas, um sentido de<br />

A) oposição.<br />

B) comparação.<br />

C) conclusão.<br />

D) alternância.<br />

E) finalidade.<br />

Comentário<br />

Há três elementos repetidos neste trecho:<br />

o verbo ser, o artigo definido o e a conjunção<br />

aditiva e. A conjunção e estabelece uma<br />

relação entre idéias que, concretamente, são<br />

opostas (ex.: "O mundo é grande e cabe<br />

nesta janela sobre o mar"). A alternativa<br />

correta é a letra A.<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão apresenta, para leitura e<br />

análise, o poema "O mundo é grande", onde<br />

os recursos lingüísticos expressivos<br />

utilizados geram um efeito de oposição entre<br />

as idéias. A análise sintático-semântica é<br />

necessária para a compreensão do valor de<br />

oposição assumido pela conjunção "e":<br />

imagens justapostas estão relacionadas,<br />

contrapondo-se em planos diferentes. Um<br />

percentual significativo (46%) de<br />

participantes considerou que o valor da<br />

conjunção "e", nesse poema, é de<br />

comparação, o que não reflete o sentido<br />

estilístico proposto pelo poeta, mas<br />

corresponde apenas à primeira operação que<br />

se realiza para estabelecer o sentido de<br />

oposição. De maneira análoga, pode-se<br />

analisar os equívocos daqueles que optaram<br />

pelas alternativas C e D.<br />

03) (1999) SONETO DE FIDELIDADE<br />

De tudo, ao meu amor serei atento<br />

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto<br />

Que mesmo em face do maior encanto<br />

Dele se encante mais meu pensamento.<br />

Quero vivê-lo em cada vão momento<br />

E em seu louvor hei de espalhar meu<br />

canto<br />

E rir meu riso e derramar meu pranto<br />

Ao seu pesar ou seu contentamento.<br />

E assim, quando mais tarde me procure<br />

Quem sabe a morte, angústia de quem<br />

vive<br />

Quem sabe a solidão, fim de quem ama.<br />

Eu possa dizer do meu amor (que tive):<br />

Que não seja imortal, posto que é chama<br />

Mas que seja infinito enquanto dure.<br />

(MORAES, Vinícius de. Antologia poética. São Paulo: Cia<br />

das Letras, 1992).<br />

A palavra mesmo pode assumir diferentes<br />

significados, de acordo com a sua função<br />

na frase. Assinale a alternativa em que o<br />

sentido de mesmo equivale ao que se<br />

verifica no 3º verso da 1ª estrofe do<br />

poema de Vinícius de Moraes.<br />

A) "Pai, para onde fores, / irei também<br />

trilhando as mesmas ruas..." (Augusto<br />

dos Anjos)<br />

B) "Agora, como outrora, há aqui o<br />

mesmo contraste da vida interior, que<br />

é modesta, com a exterior, que é<br />

ruidosa." (Machado de Assis)<br />

C) "Havia o mal, profundo e persistente,<br />

para o qual o remédio não surtiu efeito,<br />

mesmo em doses variáveis."<br />

(Raimundo Faoro)<br />

D) "Mas, olhe cá, Mana Glória, há<br />

mesmo necessidade de fazê-lo<br />

padre?" (Machado de Assis)<br />

E) "Vamos de qualquer maneira, mas<br />

vamos mesmo." (Aurélio)<br />

Comentário<br />

Nessa questão, uma pequena análise<br />

sintática se faz necessária: mesmo, em<br />

ambos os casos, é conjunção subordinativa<br />

concessiva, introduzindo, portanto, uma<br />

oração subordinada cujo fato expresso é<br />

contrário ao da oração principal. Deve-se,<br />

então, recorrer à oração anterior para se ter<br />

certeza quanto à classificação. Grau<br />

moderado de dificuldade.<br />

Comentário do INEP<br />

Este problema buscou colocar o<br />

participante diante de uma situação que<br />

exigia a mobilização de seus mecanismos de<br />

reflexão sobre os processos lingüísticos em<br />

que um significante (uma palavra) assume<br />

diferentes significados, no enunciado, de<br />

acordo com a intenção do enunciador. Neste<br />

caso, além da compreensão da<br />

transformação de significado, é necessária a<br />

alteração de função morfossintática.<br />

Verifica-se que 62% dos participantes<br />

conseguiram identificar e analisar esse<br />

processo lingüístico, comparando a função<br />

do significante em diferentes enunciados.<br />

Isso demonstrou um domínio parcial da<br />

reflexão sobre a Língua Portuguesa, em<br />

diferentes contextos e textos.<br />

326


Os 18% dos participantes que<br />

assinalaram a alternativa B identificaram a<br />

diferença de significados mas,<br />

provavelmente, têm dificuldades em analisar<br />

estas mudanças em nível morfossintático<br />

(alternativa B).<br />

04) (2002) "De repente lá vinha um homem a<br />

cavalo. Eram dois. Um senhor de fora, o<br />

claro de roupa. Miguilim saudou, pedindo<br />

a bênção. O homem trouxe o cavalo cá<br />

bem junto. Ele era de óculos, corado, alto,<br />

com um chapéu diferente, mesmo.<br />

— Deus te abençoe, pequenino. Como é<br />

teu nome?<br />

— Miguilim. Eu sou irmão do Dito.<br />

— E o seu irmão Dito é o dono daqui?<br />

— Não, meu senhor. O Ditinho está em<br />

glória.<br />

O homem esbarrava o avanço do<br />

cavalo, que era zelado, manteúdo,<br />

formoso como nenhum outro. Redizia:<br />

— Ah, não sabia, não. Deus o tenha em<br />

sua guarda... Mas que é que há, Miguilim?<br />

Miguilim queria ver se o homem estava<br />

mesmo sorrindo para ele, por isso é que o<br />

encarava.<br />

— Por que você aperta os olhos assim?<br />

Você não é limpo de vista? Vamos até lá.<br />

Quem é que está em tua casa?<br />

— É Mãe, e os meninos...<br />

Estava Mãe, estava tio Terez, estavam<br />

todos. O senhor alto e claro se apeou. O<br />

outro, que vinha com ele, era um<br />

camarada.<br />

O senhor perguntava à Mãe muitas<br />

coisas do Miguilim. Depois perguntava a<br />

ele mesmo: — 'Miguilim, espia daí:<br />

quantos dedos da minha mão você está<br />

enxergando? E agora?"<br />

ROSA, João Guimarães. Manuelzão e Miguilim. 9ª ed. Rio de<br />

Janeiro: Nova Fronteira, 1984.<br />

Esta história, com narrador observador em<br />

terceira pessoa, apresenta os<br />

acontecimentos da perspectiva de<br />

Miguilim. O fato de o ponto de vista do<br />

narrador ter Miguilim como referência,<br />

inclusive espacial, fica explicitado em:<br />

A) "O homem trouxe o cavalo cá bem<br />

junto."<br />

B) "Ele era de óculos, corado, alto (...)"<br />

C) "O homem esbarrava o avanço do<br />

cavalo, (...)"<br />

D) "Miguilim queria ver se o homem<br />

estava mesmo sorrindo para ele, (...)"<br />

E) "Estava Mãe, estava tio Terez, estavam<br />

todos"<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. A única alternativa<br />

que apresenta, ao mesmo tempo, o narrador<br />

e o ponto de referência espacial é a letra A, o<br />

que pode ser comprovado pela expressão<br />

"cá bem junto".<br />

Comentário do INEP<br />

Essa questão apresenta para leitura e<br />

análise um trecho da novela Campo Geral,<br />

da obra Manuelzão e Miguilim, de Guimarães<br />

Rosa, em que um narrador em terceira<br />

pessoa relata o momento do encontro entre<br />

Miguilim e o médico, que percebe, logo ao<br />

chegar, que o garoto tem problemas de<br />

visão. A questão propõe a análise do ponto<br />

de vista narrativo, que, no texto literário, não<br />

necessariamente, como no texto em questão,<br />

será sempre o do narrador.<br />

A cena narrativa presente nesse texto é<br />

contada por um narrador adulto, mas é o<br />

sentimento de Miguilim a respeito dos<br />

acontecimentos que orienta esse contar.<br />

Esse efeito de sentido é resultado do<br />

trabalho do autor com a linguagem. Segundo<br />

a gramática da norma culta, "cá" e "aqui"<br />

indicam o lugar do sujeito, ou seja, daquele<br />

que fala. Algo semelhante ocorre com o<br />

verbo "trazer", que indica um movimento para<br />

o lugar onde se encontra o sujeito. Tanto "cá"<br />

como "trazer" indicam proximidade espacial<br />

daquele que fala.<br />

A narração pertence a um narrador que<br />

não participa da historia como personagem,<br />

portanto ele fala dos outros, nunca de si<br />

mesmo. No trecho "o homem trouxe o cavalo<br />

cá bem junto", o narrador indica que o<br />

homem a cavalo aproxima-se de Miguilim.<br />

Esse jogo de linguagem cria no leitor a<br />

imagem de um narrador adulto que, colandose<br />

à criança, vê pelos olhos desta.<br />

Embora todas as alternativas apresentem<br />

a percepção da criança naquele contexto da<br />

chegada de um desconhecido, apenas a<br />

alternativa A responde o que foi solicitado,<br />

pois só ela apresenta o aspecto da<br />

localização espacial presente no advérbio de<br />

lugar "cá". Quase metade dos participantes<br />

assinalou a alternativa D, única que contem a<br />

palavra Miguilim, possivelmente porque<br />

interpretaram erroneamente o<br />

encaminhamento da questão, no trecho "...<br />

narrador ter Miguilim como referência, ...".<br />

327


05) ( 2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />

poema.<br />

A DANÇA E A ALMA<br />

A DANÇA? Não é movimento,<br />

súbito gesto musical.<br />

É concentração, num momento,<br />

da humana graça natural.<br />

No solo não, no éter pairamos,<br />

nele amaríamos ficar.<br />

A dança – não vento nos ramos:<br />

seiva, força, perene estar.<br />

Um estar entre céu e chão,<br />

novo domínio conquistado,<br />

onde busque nossa paixão<br />

libertar-se por todo lado...<br />

Onde a alma possa descrever<br />

suas mais divinas parábolas<br />

sem fugir à forma do ser,<br />

por sobre o mistério das fábulas.<br />

(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />

Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />

A definição de dança, em linguagem de<br />

dicionário, que mais se aproxima do que<br />

está expresso no poema é<br />

A) a mais antiga das artes, servindo como<br />

elemento de comunicação e afirmação<br />

do homem em todos os momentos de<br />

sua existência.<br />

B) a forma de expressão corporal que<br />

ultrapassa os limites físicos,<br />

possibilitando ao homem a liberação de<br />

seu espírito.<br />

C) a manifestação do ser humano,<br />

formada por uma seqüência de gestos,<br />

passos e movimentos desconcertados.<br />

D) o conjunto organizado de movimentos<br />

do corpo, com ritmo determinado por<br />

instrumentos musicais, ruídos, cantos,<br />

emoções etc.<br />

E) o movimento diretamente ligado ao<br />

psiquismo do indivíduo e, por<br />

conseqüência, ao seu desenvolvimento<br />

intelectual e à sua cultura.<br />

Comentário<br />

A pergunta busca a aplicação do conceito<br />

de "estado de dicionário" (que também foi<br />

desenvolvido por Drummond no poema "A<br />

Procura da Poesia"). A literatura busca partir<br />

de palavras em estado de dicionário para,<br />

pelo aprofundamento do sentido delas, criar<br />

um mundo mais denso e particular. Em<br />

estado de dicionário, a dança, conforme é<br />

tratada nesse poema, apareceria na<br />

alternativa B: uma justaposição entre<br />

aspectos físicos e espirituais da expressão<br />

humana. Questão complexa.<br />

06) (2006) Namorados<br />

O rapaz chegou-se para junto da moça<br />

e disse:<br />

— Antônia, ainda não me acostumei com<br />

o seu corpo, com a sua cara.<br />

A moça olhou de lado e esperou.<br />

— Você não sabe quando a gente é<br />

criança e de repente vê uma lagarta<br />

listrada?<br />

A moça se lembrava:<br />

— A gente fica olhando...<br />

A meninice brincou de novo nos olhos<br />

dela.<br />

O rapaz prosseguiu com muita doçura:<br />

— Antônia, você parece uma lagarta<br />

listrada.<br />

A moça arregalou os olhos, fez<br />

exclamações.<br />

O rapaz concluiu:<br />

— Antônia, você é engraçada! Você<br />

parece louca.<br />

No poema de Bandeira, importante<br />

representante da poesia modernista,<br />

destaca-se como característica da escola<br />

literária dessa época<br />

Manuel Bandeira. Poesia completa & prosa.<br />

Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985.<br />

A) a reiteração de palavras como recurso<br />

de construção de rimas ricas.<br />

B) a utilização expressiva da linguagem<br />

falada em situações do cotidiano.<br />

C) a criativa simetria de versos para<br />

reproduzir o ritmo do tema abordado.<br />

D) a escolha do tema do amor romântico,<br />

caracterizador do estilo literário dessa<br />

época.<br />

E) o recurso ao diálogo, gênero discursivo<br />

típico do Realismo.<br />

07) ( 2008) O surgimento da figura da Ema<br />

no céu, ao leste, no anoitecer, na segunda<br />

quinzena de junho, indica o início do<br />

inverno para os índios do sul do Brasil e o<br />

começo da estação seca para os do norte.<br />

É limitada pelas constelações de<br />

Escorpião e do Cruzeiro do Sul, ou<br />

Cut'uxu. Segundo o mito guarani, o<br />

Cut’uxu segura a cabeça da ave para<br />

garantir a vida na Terra, porque, se ela se<br />

soltar, beberá toda a água do nosso<br />

planeta. Os tupisguaranis utilizam o<br />

Cut'uxu para se orientar e determinar a<br />

duração das noites e as estações do ano.<br />

A ilustração a seguir é uma representação<br />

dos corpos celestes que constituem a<br />

constelação da Ema, na percepção<br />

indígena.<br />

328


Almanaque BRASIL, maio/2007 (com adaptações).<br />

A próxima figura mostra, em campo de<br />

visão ampliado, como povos de culturas<br />

não-indígenas percebem o espaço estelar<br />

em que a Ema é vista.<br />

Internet: (com adaptações).<br />

Assinale a opção correta a respeito da<br />

linguagem empregada no texto A Ema.<br />

A) A palavra Cut’uxu é um regionalismo<br />

utilizado pelas populações próximas às<br />

aldeias indígenas.<br />

B) O autor se expressa em linguagem<br />

formal em todos os períodos do texto.<br />

C) A ausência da palavra Ema no início do<br />

período “É limitada (...)” caracteriza<br />

registro oral.<br />

D) A palavra Cut’uxu está destacada em<br />

itálico porque integra o vocabulário da<br />

linguagem informal.<br />

E) No texto, predomina a linguagem<br />

coloquial porque ele consta de um<br />

almanaque.<br />

Comentário<br />

A questão é simples, mas requer cuidados<br />

quanto aos conceitos de linguagem<br />

“informal”, “formal” e de “língua”. Se o aluno<br />

tiver noção desses conceitos,<br />

chegará facilmente à resposta. A linguagem<br />

formal ou culta prevalece no texto, e o termo<br />

“Cut’uxu’ não é um termo informal, mas, sim,<br />

uma expressão que pertence a uma língua<br />

indígena — o que justifica o emprego da<br />

palavra em itálico. A resposta correta é,<br />

portanto, a letra "B".<br />

08) (2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />

poema.<br />

A DANÇA E A ALMA<br />

A DANÇA? Não é movimento,<br />

súbito gesto musical.<br />

É concentração, num momento,<br />

da humana graça natural.<br />

No solo não, no éter pairamos,<br />

nele amaríamos ficar.<br />

A dança – não vento nos ramos:<br />

seiva, força, perene estar.<br />

Um estar entre céu e chão,<br />

novo domínio conquistado,<br />

onde busque nossa paixão<br />

libertar-se por todo lado...<br />

Onde a alma possa descrever<br />

suas mais divinas parábolas<br />

sem fugir à forma do ser,<br />

por sobre o mistério das fábulas.<br />

(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />

Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />

O poema “A Dança e a Alma” é construído<br />

com base em contrastes, como<br />

“movimento” e “concentração”. Em uma<br />

das estrofes, o termo que estabelece<br />

contraste com solo é:<br />

A) éter. D) paixão.<br />

B) seiva. E) ser.<br />

C) chão.<br />

Comentário<br />

O elemento que contrasta com "solo"<br />

(físico, tangível, perene) é "éter" (espiritual,<br />

intangível, volátil). Questão de nível médio de<br />

dificuldade.<br />

09) (2008) Calcula-se que 78% do<br />

desmatamento na Amazônia tenha sido<br />

motivado pela pecuária — cerca de 35%<br />

do rebanho nacional está na região — e<br />

que pelo menos 50 milhões de hectares<br />

de pastos são pouco produtivos. Enquanto<br />

o custo médio para aumentar a<br />

produtividade de 1 hectare de pastagem é<br />

de 2 mil reais, o custo para derrubar igual<br />

área de floresta é estimado em 800 reais,<br />

o que estimula novos desmatamentos.<br />

Adicionalmente, madeireiras retiram as<br />

árvores de valor comercial que foram<br />

abatidas para a criação de pastagens. Os<br />

pecuaristas sabem que problemas<br />

ambientais como esses podem provocar<br />

restrições à pecuária nessas áreas, a<br />

exemplo do que ocorreu em 2006 com o<br />

plantio da soja, o qual, posteriormente, foi<br />

proibido em áreas de floresta.<br />

Época, 3/3/2008 e 9/6/2008 (com adaptações).<br />

329


A partir da situação-problema descrita,<br />

conclui-se que<br />

A) o desmatamento na Amazônia decorre<br />

principalmente da exploração ilegal de<br />

árvores de valor comercial.<br />

B) um dos problemas que os pecuaristas<br />

vêm enfrentando na Amazônia é a<br />

proibição do plantio de soja.<br />

C) a mobilização de máquinas e de força<br />

humana torna o desmatamento mais<br />

caro que o aumento da produtividade<br />

de pastagens.<br />

D) o superavit comercial decorrente da<br />

exportação de carne produzida na<br />

Amazônia compensa a possível<br />

degradação ambiental.<br />

E) a recuperação de áreas desmatadas<br />

e o aumento de produtividade das<br />

pastagens podem contribuir para a<br />

redução do desmatamento na<br />

Amazônia.<br />

Comentário do portal<br />

Essa questão retrata o problema do<br />

desmatamento da Amazônia, relacionado<br />

principalmente com o desenvolvimento da<br />

pecuária na região. Para resolvê-la, foram<br />

necessários a leitura atenta do texto e o<br />

conhecimento sobre os problemas<br />

ambientais da atualidade. A alternativa<br />

correta é a letra E, pois é mais caro para os<br />

pecuaristas aumentar a produtividade do que<br />

as áreas de pasto, o que acarreta o aumento<br />

do desmatamento da Amazônia.<br />

<strong>10</strong>) (2006) Erro de Português<br />

Quando o português chegou<br />

Debaixo de uma bruta chuva<br />

Vestiu o índio<br />

Que pena!<br />

Fosse uma manhã de Sol<br />

O índio tinha despido<br />

O português.<br />

Oswald de Andrade. Poesias reunidas.<br />

Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.<br />

O primitivismo observável no poema<br />

acima, de Oswald de Andrade, caracteriza<br />

de forma marcante<br />

A) o regionalismo do Nordeste.<br />

B) o concretismo paulista.<br />

C) a poesia Pau-Brasil.<br />

D) o simbolismo pre-modernista.<br />

E) o tropicalismo baiano.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil, pois bastaria que o<br />

aluno fizesse a relação do nome do autor,<br />

Oswald de Andrade, à alternativa "C", poesia<br />

Pau-Brasil. Com isso, ele já eliminaria as<br />

demais alternativas. Contudo, mesmo que o<br />

aluno não tivesse se lembrado desse<br />

detalhe, o próprio poema Erro de Português<br />

remete a uma das características da poesia<br />

Pau-Brasil, a retomada e a valorização das<br />

riquezas do Brasil primitivo.<br />

11) (2007) Texto I<br />

Agora Fabiano conseguia arranjar as<br />

idéias. O que o segurava era a família.<br />

Vivia preso como um novilho amarrado ao<br />

mourão, suportando ferro quente. Se não<br />

fosse isso, um soldado amarelo não lhe<br />

pisava o pé não. (...) Tinha aqueles<br />

cambões pendurados ao pescoço.<br />

Deveria continuar a arrastá-los? Sinha<br />

Vitória dormia mal na cama de varas. Os<br />

meninos eram uns brutos, como o pai.<br />

Quando crescessem, guardariam as reses<br />

de um patrão invisível, seriam pisados,<br />

maltratados, machucados por um soldado<br />

amarelo.<br />

Graciliano Ramos. Vidas Secas.<br />

São Paulo: Martins, 23.ª ed., 1969, p. 75.<br />

Texto II<br />

Para Graciliano, o roceiro pobre é um<br />

outro, enigmático, impermeável. Não há<br />

solução fácil para uma tentativa de<br />

incorporação dessa figura no campo da<br />

ficção. É lidando com o impasse, ao invés<br />

de fáceis soluções, que Graciliano vai<br />

criar Vidas Secas, elaborando uma<br />

linguagem, uma estrutura romanesca,<br />

uma constituição de narrador em que<br />

narrador e criaturas se tocam, mas não se<br />

identificam. Em grande medida, o debate<br />

acontece porque, para a intelectualidade<br />

brasileira naquele momento, o pobre, a<br />

despeito de aparecer idealizado em certos<br />

aspectos, ainda é visto como um ser<br />

humano de segunda categoria, simples<br />

demais, incapaz de ter pensamentos<br />

demasiadamente complexos. O que Vidas<br />

Secas faz é, com pretenso não<br />

envolvimento da voz que controla a<br />

narrativa, dar conta de uma riqueza<br />

humana de que essas pessoas seriam<br />

plenamente capazes.<br />

Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes. In:<br />

Teresa. São Paulo: USP, n.° 2, 2001, p. 254.<br />

A partir do trecho de Vidas Secas (texto I)<br />

e das informações do texto II, relativas às<br />

concepções artísticas do romance social<br />

de 1930, avalie as seguintes afirmativas.<br />

330


I - O pobre, antes tratado de forma exótica<br />

e folclórica pelo regionalismo pitoresco,<br />

transforma-se em protagonista<br />

privilegiado do romance social de 30.<br />

II - A incorporação do pobre e de outros<br />

marginalizados indica a tendência da<br />

ficção brasileira da década de 30 de<br />

tentar superar a grande distância entre<br />

o intelectual e as camadas populares.<br />

III - Graciliano Ramos e os demais autores<br />

da década de 30 conseguiram, com<br />

suas obras, modificar a posição social<br />

do sertanejo na realidade nacional.<br />

É correto apenas o que se afirma em<br />

A) I. D) I e II.<br />

B) II. E) II e III.<br />

C) III.<br />

Comentário<br />

Questão de nível médio. O aluno deveria<br />

perceber que, no texto de Vidas Secas, o<br />

protagonista de sua obra é o "Pobre<br />

Sertanejo", aqui tratado de forma realista,<br />

sem idealizações e fantasias, e com total<br />

destaque em sua narrativa. Ele também deve<br />

fazer um comparativo entre o trecho da obra<br />

com o comentário de Luís Bueno, além de<br />

demonstrar seus conhecimentos sobre o<br />

Romance Regionalista de 30, para chegar à<br />

conclusão de que a resposta correta é a D.<br />

12) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />

preciso, além de conhecer o padrão<br />

formal da Língua Portuguesa, saber<br />

adequar o uso da linguagem ao contexto<br />

discursivo. Para exemplificar este fato,<br />

seu professor de Língua Portuguesa<br />

convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />

Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />

brinca com situações de discurso oral que<br />

fogem à expectativa do ouvinte.<br />

Aí, Galera<br />

Jogadores de futebol podem ser<br />

vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />

você pode imaginar um jogador de futebol<br />

dizendo "estereotipação"? E, no<br />

entanto, por que não?<br />

- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />

galera.<br />

- Minha saudação aos aficionados do<br />

clube e aos demais esportistas, aqui<br />

presentes ou no recesso dos seus lares.<br />

- Como é?<br />

- Aí, galera.<br />

- Quais são as instruções do técnico?<br />

- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />

trabalho de contenção coordenada, com<br />

energia otimizada, na zona de<br />

preparação, aumentam as<br />

probabilidades de, recuperado o<br />

esférico, concatenarmos um contragolpe<br />

agudo com parcimônia de meios e<br />

extrema objetividade, valendo-nos da<br />

desestruturação momentânea do<br />

sistema oposto, surpreendido pela<br />

reversão inesperada do fluxo da ação:<br />

- Ahn?<br />

- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />

pegá eles sem calça.<br />

- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />

coisa?<br />

- Posso dirigir uma mensagem de<br />

caráter sentimental, algo banal, talvez<br />

mesmo previsível e piegas, a uma<br />

pessoa à qual sou ligado por razões,<br />

inclusive, genéticas?<br />

- Pode.<br />

- Uma saudação para a minha<br />

progenitora.<br />

- Como é?<br />

- Alô, mamãe!<br />

- Estou vendo que você é um, um...<br />

- Um jogador que confunde o<br />

entrevistador, pois não corresponde à<br />

expectativa de que o atleta seja um ser<br />

algo primitivo com dificuldade de<br />

expressão e assim sabota a<br />

estereotipação?<br />

- Estereoquê?<br />

- Um chato?<br />

- Isso.<br />

Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />

O texto retrata duas situações<br />

relacionadas que fogem à expectativa do<br />

público. São elas:<br />

A) a saudação do jogador aos fãs do<br />

clube, no início da entrevista, e a<br />

saudação final dirigida à sua mãe.<br />

B) a linguagem muito formal do jogador,<br />

inadequada à situação da entrevista, e<br />

um jogador que fala, com desenvoltura,<br />

de modo muito rebuscado.<br />

C) o uso da expressão "galera", por parte<br />

do entrevistador, e da expressão<br />

"progenitora", por parte do jogador.<br />

D) o desconhecimento, por parte do<br />

entrevistador, da palavra<br />

"estereotipação", e a fala do jogador<br />

em "é pra dividir no meio e ir pra cima<br />

pra pegá eles sem calça".<br />

E) o fato de os jogadores de futebol serem<br />

vítimas de estereotipação e o jogador<br />

entrevistado não corresponder ao<br />

estereótipo.<br />

331


Comentário<br />

Quando pensamos em certas profissões,<br />

imaginamos qual seria o padrão de<br />

comportamento de quem as exerce. O texto<br />

está trabalhando uma divergência entre o<br />

que esperamos de um jogador de futebol (o<br />

estereótipo que temos dele) e um jogador<br />

que não se enquadra em nossas<br />

expectativas. Levando isso em consideração,<br />

as duas coisas que destoam do que<br />

esperamos encontrar nessa situação são: 1)<br />

alguém, ao dar uma entrevista de alto<br />

alcance popular, fala de maneira<br />

extremamente rebuscada; 2) um jogador que,<br />

ao falar de maneira rebuscada, acaba por<br />

fugir do estereótipo do jogador de futebol, de<br />

quem sempre é esperado algo menos<br />

rebuscado e mais popular.<br />

13) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />

preciso, além de conhecer o padrão<br />

formal da Língua Portuguesa, saber<br />

adequar o uso da linguagem ao contexto<br />

discursivo. Para exemplificar este fato,<br />

seu professor de Língua Portuguesa<br />

convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />

Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />

brinca com situações de discurso oral que<br />

fogem à expectativa do ouvinte.<br />

Aí, Galera<br />

Jogadores de futebol podem ser<br />

vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />

você pode imaginar um jogador de futebol<br />

dizendo "estereotipação"? E, no<br />

entanto, por que não?<br />

- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />

galera.<br />

- Minha saudação aos aficionados do<br />

clube e aos demais esportistas, aqui<br />

presentes ou no recesso dos seus lares.<br />

- Como é?<br />

- Aí, galera.<br />

- Quais são as instruções do técnico?<br />

- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />

trabalho de contenção coordenada, com<br />

energia otimizada, na zona de<br />

preparação, aumentam as<br />

probabilidades de, recuperado o<br />

esférico, concatenarmos um contragolpe<br />

agudo com parcimônia de meios e<br />

extrema objetividade, valendo-nos da<br />

desestruturação momentânea do<br />

sistema oposto, surpreendido pela<br />

reversão inesperada do fluxo da ação:<br />

- Ahn?<br />

- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />

pegá eles sem calça.<br />

332<br />

- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />

coisa?<br />

- Posso dirigir uma mensagem de<br />

caráter sentimental, algo banal, talvez<br />

mesmo previsível e piegas, a uma<br />

pessoa à qual sou ligado por razões,<br />

inclusive, genéticas?<br />

- Pode.<br />

- Uma saudação para a minha<br />

progenitora.<br />

- Como é?<br />

- Alô, mamãe!<br />

- Estou vendo que você é um, um...<br />

- Um jogador que confunde o<br />

entrevistador, pois não corresponde à<br />

expectativa de que o atleta seja um ser<br />

algo primitivo com dificuldade de<br />

expressão e assim sabota a<br />

estereotipação?<br />

- Estereoquê?<br />

- Um chato?<br />

- Isso.<br />

Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />

O texto mostra uma situação em que a<br />

linguagem usada é inadequada ao<br />

contexto. Considerando as diferenças<br />

entre língua oral e língua escrita, assinale<br />

a opção que representa também uma<br />

inadequação da linguagem usada ao<br />

contexto:<br />

A) "o carro bateu e capotô, mas num deu<br />

pra vê direito" - um pedestre que<br />

assistiu ao acidente comenta com o<br />

outro que vai passando.<br />

B) "E aí, ô meu! Como vai essa força?" -<br />

um jovem que fala para um amigo.<br />

C) "Só um instante, por favor. Eu<br />

gostaria de fazer uma observação" -<br />

alguém comenta em uma reunião de<br />

trabalho.<br />

D) "Venho manifestar meu interesse em<br />

candidatar-me ao cargo de Secretária<br />

Executiva desta conceituada empresa"<br />

- alguém que escreve uma carta<br />

candidatando-se a um emprego.<br />

E) "Porque se a gente não resolve as<br />

coisas como têm que ser, a gente corre<br />

o risco de termos, num futuro próximo,<br />

muito pouca comida nos lares<br />

brasileiros" - um professor universitário<br />

em um congresso internacional.<br />

Comentário<br />

Essa questão está trabalhando com as<br />

nossas expectativas. Esperamos encontrar,<br />

nas diferentes situações, linguagens que<br />

correspondam à formalidade (ou à<br />

informalidade) delas. Na alternativa E, como


o professor universitário está falando em um<br />

congresso internacional, espera-se que ele<br />

utilize uma linguagem mais formal e não uma<br />

linguagem coloquial como a que usou. Em<br />

todas as outras situações, a linguagem está<br />

de acordo com a situação em que está sendo<br />

empregada.<br />

14) (2007) Texto I<br />

Agora Fabiano conseguia arranjar as<br />

idéias. O que o segurava era a família.<br />

Vivia preso como um novilho amarrado ao<br />

mourão, suportando ferro quente. Se não<br />

fosse isso, um soldado amarelo não lhe<br />

pisava o pé não. (...) Tinha aqueles<br />

cambões pendurados ao pescoço.<br />

Deveria continuar a arrastá-los? Sinha<br />

Vitória dormia mal na cama de varas. Os<br />

meninos eram uns brutos, como o pai.<br />

Quando crescessem, guardariam as reses<br />

de um patrão invisível, seriam pisados,<br />

maltratados, machucados por um soldado<br />

amarelo.<br />

Graciliano Ramos. Vidas Secas. São Paulo:<br />

Martins, 23.ª ed., 1969, p. 75.<br />

Texto II<br />

Para Graciliano, o roceiro pobre é um<br />

outro, enigmático, impermeável. Não há<br />

solução fácil para uma tentativa de<br />

incorporação dessa figura no campo da<br />

ficção. É lidando com o impasse, ao invés<br />

de fáceis soluções, que Graciliano vai<br />

criar Vidas Secas, elaborando uma<br />

linguagem, uma estrutura romanesca,<br />

uma constituição de narrador em que<br />

narrador e criaturas se tocam, mas não se<br />

identificam. Em grande medida, o debate<br />

acontece porque, para a intelectualidade<br />

brasileira naquele momento, o pobre, a<br />

despeito de aparecer idealizado em certos<br />

aspectos, ainda é visto como um ser<br />

humano de segunda categoria, simples<br />

demais, incapaz de ter pensamentos<br />

demasiadamente complexos. O que Vidas<br />

Secas faz é, com pretenso não<br />

envolvimento da voz que controla a<br />

narrativa, dar conta de uma riqueza<br />

humana de que essas pessoas seriam<br />

plenamente capazes.<br />

Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes. In:<br />

Teresa. São Paulo: USP, n.° 2, 2001, p. 254.<br />

No texto II, verifica-se que o autor utiliza<br />

A) linguagem predominantemente<br />

formal, para problematizar, na<br />

composição de Vidas Secas, a relação<br />

entre o escritor e o personagem<br />

popular.<br />

B) linguagem inovadora, visto que, sem<br />

abandonar a linguagem formal, dirigese<br />

diretamente ao leitor.<br />

C) linguagem coloquial, para narrar<br />

coerentemente uma história que<br />

apresenta o roceiro pobre de forma<br />

pitoresca.<br />

D) linguagem formal com recursos<br />

retóricos próprios do texto literário em<br />

prosa, para analisar determinado<br />

momento da literatura brasileira.<br />

E) linguagem regionalista, para transmitir<br />

informações sobre literatura, valendose<br />

de coloquialismo, para facilitar o<br />

entendimento do texto.<br />

Comentário<br />

Questão de nível médio. Algumas<br />

alternativas poderiam levar o candidato a<br />

pensar que o texto de Vidas Secas utiliza<br />

uma linguagem predominantemente coloquial<br />

e regionalista. Entretanto, é na alternativa A<br />

que se encontra o real estilo da linguagem<br />

utilizada por Graciliano Ramos. A linguagem<br />

é, portanto, predominantemente formal e<br />

problematiza a relação do escritor com o<br />

personagem popular. Esta acaba sendo uma<br />

das grandes características do autor, pois ele<br />

buscava sempre dar uma grande densidade<br />

psicológica aos seus romances.<br />

15) (2006) Depois de um bom jantar: feijão<br />

com carne-seca, orelha de porco e couve<br />

com angu, arroz-mole engordurado, carne<br />

de vento assada no espeto, torresmo<br />

enxuto de toicinho da barriga, viradinho de<br />

milho verde e um prato de caldo de couve,<br />

jantar encerrado por um prato fundo de<br />

canjica com torrões de açúcar, Nhô Tomé<br />

saboreou o café forte e se estendeu na<br />

rede. A mão direita sob a cabeça, à guisa<br />

de travesseiro, o indefectível cigarro de<br />

palha entre as pontas do indicador e do<br />

polegar, envernizados pela fumaça, de<br />

unhas encanoadas e longas, ficou-se de<br />

pança para o ar, modorrento, a olhar para<br />

as ripas do telhado.<br />

Quem come e não deita, a comida não<br />

aproveita, pensava Nhô Tomé... E pôs-se<br />

a cochilar. A sua modorra durou pouco;<br />

Tia Policena, ao passar pela sala, bradou<br />

assombrada:<br />

— Êêh! Sinhô! Vai drumi agora? Não!<br />

Num presta... Dá pisadêra e póde morrê<br />

de ataque de cabeça! Despois do armoço<br />

num far-má... mais despois da janta?!”<br />

Cornélio Pires. Conversas ao pé do fogo. São Paulo:<br />

Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1987.<br />

333


Nesse trecho, extraído de texto publicado<br />

originalmente em 1921, o narrador<br />

A) apresenta, sem explicitar juízos de<br />

valor, costumes da epoca, descrevendo<br />

os pratos servidos no jantar e a atitude<br />

de Nhô Tomé e de Tia Policena.<br />

B) desvaloriza a norma culta da língua<br />

porque incorpora à narrativa usos<br />

próprios da linguagem regional das<br />

personagens.<br />

C) condena os hábitos descritos, dando<br />

voz a Tia Policena, que tenta impedir<br />

Nhô Tomé de deitar-se após as<br />

refeições.<br />

D) utiliza a diversidade sociocultural e<br />

lingüística para demonstrar seu<br />

desrespeito às populações das zonas<br />

rurais do início do século XX.<br />

E) manifesta preconceito em relação a Tia<br />

Policena ao transcrever a fala dela com<br />

os erros próprios da região.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil, pois a alternativa<br />

"A" deixa clara a intencionalidade do<br />

narrador. Entretanto, o aluno poderia optar<br />

pela alternativa "B" caso não desse o devido<br />

valor ao sentido da palavra “desvaloriza”, que<br />

a elimina.<br />

16) (2006) Aula de português<br />

Explorando a função emotiva da<br />

linguagem, o poeta expressa o contraste<br />

entre marcas de variação de usos da<br />

linguagem em<br />

A) situações formais e informais.<br />

B) diferentes regiões do país.<br />

C) escolas literárias distintas.<br />

D) textos técnicos e poéticos.<br />

E) diferentes épocas.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil, pois o próprio título<br />

nos dá uma noção da dificuldade de<br />

transformar a linguagem coloquial e de uso<br />

cotidiano em uma linguagem formal,<br />

expressa no poema como “a misteriosa”.<br />

Drummond foi muito feliz em conseguir<br />

demonstrar a dificuldade em entender como<br />

estruturas simples da língua se tornam tão<br />

complexas ao se iniciar o processo de<br />

compreensão da estrutura lingüística.<br />

17) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />

preciso, além de conhecer o padrão<br />

formal da Língua Portuguesa, saber<br />

adequar o uso da linguagem ao contexto<br />

discursivo. Para exemplificar este fato,<br />

seu professor de Língua Portuguesa<br />

convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />

Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />

brinca com situações de discurso oral que<br />

fogem à expectativa do ouvinte.<br />

Aí, Galera<br />

Jogadores de futebol podem ser<br />

vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />

você pode imaginar um jogador de futebol<br />

dizendo "estereotipação"? E, no<br />

entanto, por que não?<br />

- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />

galera.<br />

- Minha saudação aos aficionados do<br />

clube e aos demais esportistas, aqui<br />

presentes ou no recesso dos seus lares.<br />

- Como é?<br />

- Aí, galera.<br />

- Quais são as instruções do técnico?<br />

- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />

trabalho de contenção coordenada, com<br />

energia otimizada, na zona de<br />

preparação, aumentam as<br />

probabilidades de, recuperado o<br />

esférico, concatenarmos um contragolpe<br />

agudo com parcimônia de meios e<br />

extrema objetividade, valendo-nos da<br />

desestruturação momentânea do<br />

sistema oposto, surpreendido pela<br />

reversão inesperada do fluxo da ação:<br />

- Ahn?<br />

- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />

pegá eles sem calça.<br />

334


- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />

coisa?<br />

- Posso dirigir uma mensagem de<br />

caráter sentimental, algo banal, talvez<br />

mesmo previsível e piegas, a uma<br />

pessoa à qual sou ligado por razões,<br />

inclusive, genéticas?<br />

- Pode.<br />

- Uma saudação para a minha<br />

progenitora.<br />

- Como é?<br />

- Alô, mamãe!<br />

- Estou vendo que você é um, um...<br />

- Um jogador que confunde o<br />

entrevistador, pois não corresponde à<br />

expectativa de que o atleta seja um ser<br />

algo primitivo com dificuldade de<br />

expressão e assim sabota a<br />

estereotipação?<br />

- Estereoquê?<br />

- Um chato?<br />

- Isso.<br />

Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />

A expressão "pegá eles sem calça"<br />

poderia ser substituída, sem<br />

comprometimento de sentido, em língua<br />

culta, formal, por:<br />

A) pegá-los na mentira.<br />

B) pegá-los desprevenidos.<br />

C) pegá-los em flagrante.<br />

D) pegá-los rapidamente.<br />

E) pegá-los momentaneamente<br />

Comentário<br />

O trabalho que temos aqui é de<br />

compreensão de sentido. Se você nunca<br />

ouviu a expressão "de calças na mão", terá<br />

de imaginar o que acontece quando<br />

pegamos alguém nessa situação. Mas isso<br />

não basta. Se usar somente situações que<br />

pode imaginar, restarão as alternativas B e<br />

C. Esse problema só será solucionado se<br />

você entender bem o texto a que ele se<br />

refere. Como o jogador está falando em<br />

roubar a bola e partir para cima do adversário<br />

rapidamente, imagina-se que o adversário<br />

não esperava perder a bola naquele<br />

momento e, quando isso ocorreu, ele não<br />

estava preparado para receber um contraataque.<br />

Utilizando essa análise, somente a<br />

alternativa B está correta.<br />

18) (2000) Em uma conversa ou leitura de<br />

um texto, corre-se o risco de atribuir um<br />

significado inadequado a um termo ou<br />

expressão, e isso pode levar a certos<br />

resultados inesperados, como se vê nos<br />

quadrinhos abaixo.<br />

(SOUZA, Maurício de. Chico Bento.<br />

Rio de Janeiro: Ed. Globo, n o 335, Nov./99 )<br />

Nessa historinha, o efeito humorístico<br />

origina-se de uma situação criada pela<br />

fala da Rosinha no primeiro quadrinho,<br />

que é:<br />

A) Faz uma pose bonita!<br />

B) Quer tirar um retrato?<br />

C) Sua barriga está aparecendo!<br />

D) Olha o passarinho!<br />

E) Cuidado com o flash!<br />

Comentário<br />

Quem não se lembra de expressões<br />

humorísticas usadas quando se deseja tirar<br />

uma foto, como "Olha o passarinho" ou "Fale<br />

xis"?<br />

Pois é, essa é uma questão fácil e a<br />

interpretação do texto é simples, e não há<br />

por que ter dúvidas quanto à resposta, a não<br />

ser que não se leia a proposta da questão.<br />

Comentário do INEP<br />

Essa questão procurou avaliar se o<br />

participante conseguia inferir, a partir de uma<br />

seqüência narrativa de imagens, a expressão<br />

lingüística adequada à situação de<br />

interlocução, no caso a fala da personagem,<br />

no primeiro quadrinho. A expressão de uso<br />

coloquial 'olha o passarinho!', dependendo do<br />

contexto, tem diferentes significados, que<br />

nesse caso foram associados pelo cartunista<br />

para produzir o efeito de humor. A grande<br />

maioria - 89% - dos participantes realizou a<br />

inferência solicitada, analisando a função da<br />

linguagem e identificando a variante<br />

lingüística adequada à situação de<br />

interlocução, com base na leitura da<br />

seqüência das imagens e da fala da<br />

personagem no terceiro quadrinho. É<br />

interessante notar a abrangência dessa<br />

expressão metafórica no Brasil, criada no<br />

contexto informal da fala com seus<br />

significados correspondentes. Mesmo assim,<br />

11% dos participantes, possivelmente,<br />

desconhecem essa expressão ou não<br />

conseguiram realizar a transposição do<br />

significado humorístico da fala do último<br />

quadrinho.<br />

335


19) (2006) Aula de português<br />

O texto destaca a diferença entre o<br />

português do Brasil e o de Portugal<br />

quanto<br />

A) ao vocabulário.<br />

B) à derivação.<br />

C) à pronúncia.<br />

D) ao gênero.<br />

E) à sintaxe.<br />

Comentário<br />

Questão de entendimento muito fácil, pois<br />

o próprio enunciado deixa claro que se trata<br />

das diferenças de vocabulário entre o<br />

português brasileiro e o lusitano.<br />

No poema, a referência à variedade<br />

padrão da língua está expressa no<br />

seguinte trecho:<br />

A) “A linguagem / na ponta da língua” (v.1<br />

e 2).<br />

B) “A linguagem / na superfície<br />

estrelada de letras” (v.5 e 6).<br />

C) “[a língua] em que pedia para ir lá<br />

fora” (v.14).<br />

D) “[a língua] em que levava e dava<br />

pontapé” (v.15).<br />

E) “[a língua] do namoro com a priminha”<br />

(v.17).<br />

Comentário<br />

Questão fácil, pois a alternativa "B" é a<br />

única que faz menção à norma-padrão da<br />

língua. As demais alternativas fogem a essa<br />

norma.<br />

20) (2005) Leia com atenção o texto:<br />

[Em Portugal], você poderá ter alguns<br />

probleminhas se entrar numa loja de<br />

roupas desconhecendo certas sutilezas da<br />

língua. Por exemplo, não adianta pedir<br />

para ver os ternos — peça para ver os<br />

fatos. Paletó é casaco. Meias são<br />

peúgas. Suéter é camisola — mas não<br />

se assuste, porque calcinhas femininas<br />

são cuecas. (Não é uma delícia?)<br />

(Ruy Castro. Viaje Bem. Ano VIII, no 3, 78.)<br />

21) (2006) No poema Procura da poesia,<br />

Carlos Drummond de Andrade expressa a<br />

concepção estética de se fazer com<br />

palavras o que o escultor Michelângelo<br />

fazia com mármore. O fragmento abaixo<br />

exemplifica essa afirmação.<br />

(...)<br />

Penetra surdamente no reino das<br />

palavras.<br />

Lá estão os poemas que esperam ser<br />

escritos.<br />

(...)<br />

Chega mais perto e contempla as<br />

palavras.<br />

Cada uma<br />

tem mil faces secretas sob a face neutra<br />

e te pergunta, sem interesse pela<br />

resposta,<br />

pobre ou terrível, que lhe deres:<br />

trouxeste a chave?<br />

Carlos Drummond de Andrade. A rosa do povo.<br />

Rio de Janeiro: Record, 1997, p. 13-14.<br />

Esse fragmento poético ilustra o seguinte<br />

tema constante entre autores<br />

modernistas:<br />

A) a nostalgia do passado colonialista<br />

revisitado.<br />

B) a preocupação com o engajamento<br />

político e social da literatura.<br />

C) o trabalho quase artesanal com as<br />

palavras, despertando sentidos novos.<br />

D) a produção de sentidos herméticos na<br />

busca da perfeição poética.<br />

E) a contemplação da natureza brasileira<br />

na perspectiva ufanista da pátria.<br />

Comentário<br />

Questão de nível difícil, pois o candidato<br />

deveria, além de interpretar o poema,<br />

conhecer o verdadeiro sentido de arte<br />

segundo Michelângelo, que achava que um<br />

bloco de mármore já tinha sua figura dentro<br />

336


dele e que seu trabalho seria somente<br />

lapidá-la. Dessa forma, o candidato deveria<br />

relacionar a estrutura de um bloco de<br />

mármore ao segundo verso do poema: “Lá<br />

estão os poemas que esperam ser escritos<br />

(...)”. Ou seja, esperava-se que o candidato<br />

fizesse a relação do bloco de mármore com<br />

as palavras, o que justifica a alternativa “C”<br />

como correta.<br />

22) (2002) Érico Veríssimo relata, em suas<br />

memórias, um episódio da adolescência<br />

que teve influência significativa em sua<br />

carreira de escritor.<br />

"Lembro-me de que certa noite — eu<br />

teria uns quatorze anos, quando muito —<br />

encarregaram-me de segurar uma<br />

lâmpada elétrica à cabeceira da mesa de<br />

operações, enquanto um médico fazia os<br />

primeiros curativos num pobre-diabo que<br />

soldados da Polícia Municipal haviam<br />

"carneado". (...) Apesar do horror e da<br />

náusea, continuei firme onde estava,<br />

talvez pensando assim: se esse caboclo<br />

pode agüentar tudo isso sem gemer, por<br />

que não hei de poder ficar segurando esta<br />

lâmpada para ajudar o doutor a costurar<br />

esses talhos e salvar essa vida? (...)<br />

Desde que, adulto, comecei a escrever<br />

romances, tem-me animado até hoje a<br />

idéia de que o menos que o escritor pode<br />

fazer, numa época de atrocidades e<br />

injustiças como a nossa, é acender a sua<br />

lâmpada, fazer luz sobre a realidade de<br />

seu mundo, evitando que sobre ele caia a<br />

escuridão, propícia aos ladrões, aos<br />

assassinos e aos tiranos. Sim, segurar a<br />

lâmpada, a despeito da náusea e do<br />

horror. Se não tivermos uma lâmpada<br />

elétrica, acendamos o nosso toco de vela<br />

ou, em último caso, risquemos fósforos<br />

repetidamente, como um sinal de que não<br />

desertamos nosso posto."<br />

VERÍSSIMO, Érico. Solo de Clarineta. Tomo I.<br />

Porto Alegre: Editora Globo, 1978.<br />

Neste texto, por meio da metáfora da<br />

lâmpada que ilumina a escuridão, Érico<br />

Veríssimo define como uma das funções<br />

do escritor e, por extensão, da literatura,<br />

A) criar a fantasia.<br />

B) permitir o sonho.<br />

C) denunciar o real.<br />

D) criar o belo.<br />

E) fugir da náusea.<br />

Comentário<br />

Temos aqui um dos pontos mais comuns<br />

abordados na obra de Veríssimo: a denúncia<br />

social. “(...) o menos que o escritor pode<br />

fazer, numa época de atrocidades e<br />

injustiças como a nossa, é acender sua<br />

lâmpada, fazer luz sobre a realidade de seu<br />

mundo, evitando que sobre ele caia a<br />

escuridão, propícia aos ladrões, aos<br />

assassinos e aos tiranos.”<br />

A literatura deve, como a luz, mostrar não<br />

só as belezas, mas também as feridas da<br />

sociedade, para que as tentemos sanar.<br />

Comentário do INEP<br />

Essa questão apresenta para leitura e<br />

análise um trecho de Solo de Clarineta, em<br />

que Érico Veríssimo relata uma experiência<br />

de juventude e dela constrói uma metáfora<br />

para revelar o que ele entende ser uma das<br />

funções essenciais da literatura. "Lâmpada",<br />

"vela", "fósforos" devem ser lidos como a<br />

palavra comprometida em traduzir a<br />

realidade do mundo. Ou seja, afirmar que o<br />

escritor deve "fazer luz sobre a realidade de<br />

seu mundo", nesse contexto, equivale a<br />

afirmar que um papel da literatura é<br />

denunciar o real. Todas as alternativas<br />

propostas referem-se a eventuais funções da<br />

literatura. Apenas a alternativa C é pertinente<br />

ao contexto e foi escolhida por cerca de<br />

metade dos participantes.<br />

23) (1999) Leia o texto abaixo.<br />

Cabelos longos, brinco na orelha<br />

esquerda, físico de skatista. Na aparência,<br />

o estudante brasiliense Rui Lopes Viana<br />

Filho, de 16 anos, não lembra em nada o<br />

estereótipo dos gênios. Ele não usa<br />

pesados óculos de grau e está longe de<br />

ter um ar introspectivo. No final do mês<br />

passado, Rui retornou de Taiwan, onde<br />

enfrentou 419 competidores de todo o<br />

mundo na 39ª Olimpíada Internacional de<br />

Matemática. A reluzente medalha de ouro<br />

que ele trouxe na bagagem está<br />

dependurada sobre a cama de seu quarto,<br />

atulhado de rascunhos dos problemas<br />

matemáticos que aprendeu a decifrar nos<br />

últimos cinco anos.<br />

Veja – Vencer uma olimpíada serve de<br />

passaporte para uma carreira profissional<br />

meteórica?<br />

Rui – Nada disso. Decidi me dedicar à<br />

Olimpíada porque sei que a concorrência<br />

por um emprego é cada vez mais<br />

selvagem e cruel. Agora tenho algo a mais<br />

para oferecer. O problema é que as coisas<br />

337


338<br />

estão mudando muito rápido e não sei<br />

qual será minha profissão. Além de ser<br />

muito novo para decidir sobre o meu<br />

futuro profissional, sei que esse conceito<br />

de carreira mudou muito.<br />

(Entrevista de Rui Lopes Viana Filho à Veja,<br />

05/08/1998, n.31, p. 9-<strong>10</strong>)<br />

Na pergunta, o repórter estabelece uma<br />

relação entre a entrada do estudante no<br />

mercado de trabalho e a vitória na<br />

Olimpíada. O estudante<br />

A) concorda com a relação e afirma que o<br />

desempenho na Olimpíada é<br />

fundamental para sua entrada no<br />

mercado.<br />

B) discorda da relação e complementa<br />

que é fácil se fazer previsões sobre o<br />

mercado de trabalho.<br />

C) discorda da relação e afirma que seu<br />

futuro profissional independe de<br />

dedicação aos estudos.<br />

D) discorda da relação e afirma que seu<br />

desempenho só é relevante se<br />

escolher uma profissão relacionada à<br />

matemática.<br />

E) concorda em parte com a relação e<br />

complementa que é complexo fazer<br />

previsões sobre o mercado de trabalho.<br />

Comentário<br />

Não é difícil de se chegar à resposta<br />

correta ao se ler a reportagem. Ao final do<br />

último parágrafo — (...) Além de ser muito<br />

novo para decidir sobre o meu futuro<br />

profissional, sei que esse conceito de carreira<br />

mudou muito. —, o estudante praticamente<br />

fornece a resposta à questão, declarando-se<br />

realista ao não tentar prever seu futuro<br />

profissional devido à pouca idade e às<br />

mudanças no mercado de trabalho. Quanto a<br />

concordar parcialmente com o repórter, veja<br />

que ele, apesar de negar que o prêmio fosse<br />

uma garantia de sucesso profissional, logo<br />

depois afirma que, com ele, terá algo mais a<br />

oferecer ao mercado. Questão de nível fácil.<br />

Comentário do INEP<br />

Nesta situação-problema, o participante<br />

deveria demonstrar que compreendeu as<br />

premissas de um discurso, distinguindo a<br />

diferença de significado de palavras isoladas<br />

ou no contexto em que estão inseridas.<br />

Verificou-se que mais da metade dos<br />

participantes demonstrou possuir essa<br />

compreensão. Aqueles que optaram pelas<br />

alternativas C e D podem ter sido atraídos<br />

pelo significado negativo da expressão inicial<br />

"Nada disso".<br />

24) (2008) A Lei Federal n.º 9.985/2000, que<br />

instituiu o sistema nacional de unidades<br />

de conservação, define dois tipos de<br />

áreas protegidas. O primeiro, as unidades<br />

de proteção integral, tem por objetivo<br />

preservar a natureza, admitindo-se<br />

apenas o uso indireto dos seus recursos<br />

naturais, isto é, aquele que não envolve<br />

consumo, coleta, dano ou destruição dos<br />

recursos naturais. O segundo, as<br />

unidades de uso sustentável, tem por<br />

função compatibilizar a conservação da<br />

natureza com o uso sustentável de<br />

parcela dos recursos naturais. Nesse<br />

caso, permite-se a exploração do<br />

ambiente de maneira a garantir a<br />

perenidade dos recursos ambientais<br />

renováveis e dos processos ecológicos,<br />

mantendo-se a biodiversidade e os<br />

demais atributos ecológicos, de forma<br />

socialmente justa e economicamente<br />

viável.<br />

Considerando essas informações, analise<br />

a seguinte situação hipotética.<br />

Ao discutir a aplicação de recursos<br />

disponíveis para o desenvolvimento de<br />

determinada região, organizações civis,<br />

universidade e governo resolveram<br />

investir na utilização de uma unidade de<br />

proteção integral, o Parque Nacional do<br />

Morro do Pindaré, e de uma unidade de<br />

uso sustentável, a Floresta Nacional do<br />

Sabiá. Depois das discussões, a equipe<br />

resolveu levar adiante três projetos:<br />

— o projeto I consiste de pesquisas<br />

científicas embasadas exclusivamente<br />

na observação de animais;<br />

— o projeto II inclui a construção de uma<br />

escola e de um centro de vivência;<br />

— o projeto III promove a organização de<br />

uma comunidade extrativista que<br />

poderá coletar e explorar<br />

comercialmente frutas e sementes<br />

nativas.<br />

Nessa situação hipotética, atendendo-se à<br />

lei mencionada acima, é possível<br />

desenvolver tanto na unidade de proteção<br />

integral quanto na de uso sustentável<br />

A) apenas o projeto I.<br />

B) apenas o projeto III.<br />

C) apenas os projetos I e II.<br />

D) apenas os projetos II e III.<br />

E) todos os três projetos.<br />

Comentário do portal<br />

A alternativa correta é a letra "A", pois,<br />

analisando-se a situação hipotética sugerida<br />

no enunciado, percebe-se que ela deverá<br />

atender os requisitos tanto da unidade de


proteção integral quanto da unidade de uso<br />

sustentável. Portanto, apenas o projeto I<br />

poderá ser desenvolvido nessas duas<br />

propostas de unidades.<br />

25) (1999)<br />

(QUINO. Mafalda inédita. São Paulo: Martins Fontes, 1993)<br />

Observando as falas das personagens,<br />

analise o emprego do pronome SE e o<br />

sentido que adquire no contexto. No<br />

contexto da narrativa, é correto afirmar<br />

que o pronome SE:<br />

A) em I, indica reflexividade e equivale a<br />

"a si mesmas".<br />

B) em II, indica reciprocidade e equivale a<br />

"a si mesma".<br />

C) em III, indica reciprocidade e equivale<br />

a "umas às outras".<br />

D) em I e III, indica reciprocidade e<br />

equivale a "umas às outras".<br />

E) em II e III, indica reflexividade e<br />

equivale a "a si mesma " e "a si<br />

mesmas", respectivamente.<br />

Comentário<br />

Mais uma questão que fala por si própria.<br />

Lendo o segundo quadrinho — "Quer dizer<br />

que você também se ama muito mais no<br />

Natal?" —, é fácil de se identificar o pronome<br />

reflexivo. Basta que se troque se ama por<br />

ama a si mesma. O mesmo ocorre no<br />

terceiro quadrinho em "Por que será que as<br />

pessoas se amam muito mais no Natal?" —<br />

Por que será que as pessoas amam a si<br />

mesmas? Questão de grau fácil.<br />

Comentário do INEP<br />

Este problema requeria que o participante<br />

mobilizasse conhecimentos sobre os<br />

significados de "reciprocidade e<br />

"reflexividade" e o associasse à<br />

compreensão de linguagem iconográfica.<br />

Cerca de metade dos participantes<br />

demonstrou essa capacidade. A opção de<br />

30% dos participantes pela alternativa D<br />

pode indicar que eles utilizaram as imagens<br />

apenas como ilustração do texto e não como<br />

linguagem capaz de instituir novos<br />

significados.<br />

26) (1998) Texto 1<br />

"Mulher, Irmã, escuta-me: não ames,<br />

Quando a teus pés um homem terno e<br />

curvo<br />

jurar amor, chorar pranto de sangue,<br />

Não creias, não, mulher: ele te engana!<br />

As lágrimas são gotas da mentira<br />

E o juramento manto da perfídia."<br />

(Joaquim Manoel de Macedo)<br />

Texto 2<br />

"Teresa, se algum sujeito bancar o<br />

sentimental em cima de você<br />

E te jurar uma paixão do tamanho de um<br />

bonde<br />

Se ele chorar<br />

Se ele ajoelhar<br />

Se ele se rasgar todo<br />

Não acredite não Teresa<br />

É lágrima de cinema<br />

É tapeação<br />

Mentira<br />

CAI FORA"<br />

(Manuel Bandeira)<br />

Os autores, ao fazerem alusão às<br />

imagens da lágrima sugerem que:<br />

A) há um tratamento idealizado da<br />

relação homem/mulher.<br />

B) há um tratamento realista da relação<br />

homem/mulher.<br />

C) a relação familiar é idealizada.<br />

D) a mulher é superior ao homem.<br />

E) a mulher é igual ao homem.<br />

Comentário<br />

Ambos os autores, ao utilizarem a<br />

imagem da lágrima, estão na realidade<br />

mostrando que a figura do homem que é<br />

romântico a ponto de chorar ao jurar amor<br />

não existe. Tanto Macedo quanto<br />

Bandeira alertam as mulheres dizendo,<br />

com palavras e estilos diferentes, que não<br />

há homem que chore por amor (portanto,<br />

essa figura é uma idealização — e, por<br />

conseguinte, toda imagem que se tem<br />

sobre os relacionamentos<br />

demasiadamente românticos). Note que<br />

Bandeira chega até mesmo a chamar tal<br />

"chorão" de ator ("...É lágrima de cinema /<br />

É tapeação..."). Macedo dá uma imagem<br />

pesada às lágrimas ("...são gotas da<br />

mentira...").<br />

27) (2001) Os provérbios constituem um<br />

produto da sabedoria popular e, em geral,<br />

pretendem transmitir um ensinamento. A<br />

alternativa em que os dois provérbios<br />

remetem a ensinamentos semelhantes é:<br />

339


A) “Quem diz o que quer, ouve o que não<br />

quer” e “Quem ama o feio, bonito lhe<br />

parece”.<br />

B) “Devagar se vai ao longe” e “De grão<br />

em grão, a galinha enche o papo”.<br />

C) “Mais vale um pássaro na mão do que<br />

dois voando” e “Não se deve atirar<br />

pérolas aos porcos”.<br />

D) “Quem casa quer casa” e “Santo de<br />

casa não faz milagre”.<br />

E) “Quem com ferro fere, com ferro será<br />

ferido” e “Casa de ferreiro, espeto de<br />

pau”.<br />

Comentário<br />

Questão fácil. A alternativa B apresenta<br />

dois provérbios que tratam de paciência,<br />

perseverança. A mensagem é a mesma em<br />

ambos.<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão propõe uma série de<br />

provérbios agrupados aos pares, para que o<br />

participante demonstre compreender e<br />

comparar os provérbios de modo a identificar<br />

aqueles que traduzem ensinamentos<br />

semelhantes. A organização sintáticosemântica<br />

dos provérbios cria um efeito de<br />

sentido metafórico que deve ser recuperado,<br />

analisado e comparado, o que foi<br />

corretamente feito por cerca de 80% dos<br />

participantes.<br />

28) (2006) No romance Vidas Secas, de<br />

Graciliano Ramos, o vaqueiro Fabiano<br />

encontra-se com o patrão para receber o<br />

salário. Eis parte da cena:<br />

Graciliano Ramos. Vidas Secas. 91.ª ed.<br />

Rio de Janeiro: Record, 2003.<br />

No fragmento transcrito, o padrão formal<br />

da linguagem convive com marcas de<br />

regionalismo e de coloquialismo no<br />

vocabulário. Pertence à variedade do<br />

padrão formal da linguagem o seguinte<br />

trecho:<br />

A) Não se conformou: devia haver<br />

engano (l.1).<br />

B) Fabiano perdeu os estribos (l.3).<br />

C) Passar a vida inteira assim no toco<br />

(l.4).<br />

D) Entregando o que era dele de mao<br />

beijada! (l.4-5).<br />

E) Aí Fabiano baixou a pancada e<br />

amunhecou (l.11).<br />

Comentário do portal<br />

Questão de nível fácil. Bastaria que o<br />

candidato conhecesse o padrão formal da<br />

linguagem e distinguisse-o do regionalismo e<br />

do coloquialismo.<br />

29) (202) "Narizinho correu os olhos pela<br />

assistência. Não podia haver nada mais<br />

curioso. Besourinhos de fraque e flores na<br />

lapela conversavam com baratinhas de<br />

mantilha e miosótis nos cabelos. Abelhas<br />

douradas, verdes e azuis, falavam mal<br />

das vespas de cintura fina — achando que<br />

era exagero usarem coletes tão<br />

apertados. Sardinhas aos centos<br />

criticavam os cuidados excessivos que as<br />

borboletas de toucados de gaze tinham<br />

com o pó das suas asas. Mamangavas de<br />

ferrões amarrados para não morderem. E<br />

canários cantando, e beija-flores beijando<br />

flores, e camarões camaronando, e<br />

caranguejos caranguejando, tudo que é<br />

pequenino e não morde, pequeninando e<br />

não mordendo."<br />

LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. São Paulo:<br />

Brasiliense, 1947.<br />

No último período do trecho, há uma série<br />

de verbos no gerúndio que contribuem<br />

para caracterizar o ambiente fantástico<br />

descrito. Expressões como<br />

"camaronando", "caranguejando" e<br />

"pequeninando e não mordendo" criam,<br />

principalmente, efeitos de<br />

A) esvaziamento de sentido.<br />

B) monotonia do ambiente.<br />

C) estaticidade dos animais.<br />

D) interrupção dos movimentos.<br />

E) dinamicidade do cenário.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. O dinamismo dos<br />

verbos no gerúndio tem como função<br />

principal dar vida às personagens do mundo<br />

fantástico. Não há estagnação. Cada animal<br />

faz o que lhe cabe.<br />

Comentário do INEP<br />

Essa questão apresenta para leitura e<br />

análise um trecho da obra Reinações de<br />

340


Narizinho, de Monteiro Lobato, e, nele, a<br />

descrição reflete as fantasias do mundo<br />

infantil. A questão propõe que seja resolvido<br />

um problema de linguagem, que é a<br />

identificação dos sentidos criados no texto<br />

pelo emprego de vários verbos no gerúndio,<br />

alguns dos quais, neologismos criados pelo<br />

autor. Como o texto é uma descrição, temos<br />

o relato de um ambiente que se agita com as<br />

ações simultâneas dos muitos seres que o<br />

habitam. Cabe ao participante perceber que<br />

o efeito dinâmico é criado pelos verbos de<br />

ação no gerúndio, que é a forma verbal da<br />

ação se fazendo. Ou seja, é função típica do<br />

gerúndio traduzir a noção de uma ação que<br />

se desenvolve de modo simultâneo à sua<br />

enunciação. Nesse ambiente retratado por<br />

Monteiro Lobato, os bichinhos humanizados<br />

se agitam, lembrando um burburinho de<br />

crianças. Apenas a alternativa E, assinalada<br />

por 36% dos participantes, responde<br />

corretamente a questão. As outras<br />

alternativas contemplam efeitos ou<br />

significados que, apesar de eventualmente<br />

serem transmitidos pelo emprego do<br />

gerúndio, não se verificam no texto.<br />

30) (2005) As dimensões continentais do<br />

Brasil são objeto de reflexões expressas<br />

em diferentes linguagens. Esse tema<br />

aparece no seguinte p"Narizinho correu os<br />

olhos pela assistência. Não podia haver nada<br />

mais curioso. Besourinhos de oema:<br />

“(....)<br />

Que importa que uns falem mole<br />

descansado<br />

Que os cariocas arranhem os erres na<br />

garganta<br />

Que os capixabas e paroaras escancarem<br />

as vogais?<br />

Que tem se o quinhentos réis meridional<br />

Vira cinco tostões do Rio pro Norte?<br />

Junto formamos este assombro de<br />

misérias e grandezas,<br />

Brasil, nome de vegetal! (....)”<br />

(Mário de Andrade. Poesias completas. 6. ed. São Paulo:<br />

Martins Editora, 1980.)<br />

O texto poético ora reproduzido trata das<br />

diferenças brasileiras no âmbito<br />

A) étnico e religioso.<br />

B) lingüístico e econômico.<br />

C) racial e folclórico.<br />

D) histórico e geográfico.<br />

E) literário e popular.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil, pois a primeira<br />

estrofe, ao enunciar os erres arranhados dos<br />

cariocas e as vogais abertas dos capixabas,<br />

evidencia a diferença lingüística entre duas<br />

regiões distintas do Brasil, dando noção da<br />

variedade. Já na segunda estrofe, as<br />

diferenças econômicas são evidenciadas ao<br />

se mostrarem os réis e tostões variando da<br />

Região Meridional para a Norte.<br />

31) (1999) Considere os textos abaixo.<br />

(...) de modo particular, quero encorajar os<br />

crentes empenhados no campo da<br />

filosofia para que iluminem os diversos<br />

âmbitos da atividade humana, graças ao<br />

exercício de uma razão que se torna mais<br />

segura e perspicaz com o apoio que<br />

recebe da fé.<br />

(Papa João Paulo II. Carta Encíclica Fides<br />

et Ratio aos bispos da igreja católica sobre as relações<br />

entre fé e razão, 1998)<br />

As verdades da razão natural não<br />

contradizem as verdades da fé cristã.<br />

(São Tomás de Aquino<br />

–pensador medieval)<br />

Refletindo sobre os textos, pode-se<br />

concluir que:<br />

A) a encíclica papal está em contradição<br />

com o pensamento de São Tomás de<br />

Aquino, refletindo a diferença de<br />

épocas.<br />

B) a encíclica papal procura<br />

complementar São Tomás de Aquino,<br />

pois este colocava a razão natural<br />

acima da fé.<br />

C) a Igreja medieval valorizava a razão<br />

mais do que a encíclica de João Paulo<br />

II.<br />

D) o pensamento teológico teve sua<br />

importância na Idade Média, mas, em<br />

nossos dias, não tem relação com o<br />

pensamento filosófico.<br />

E) tanto a encíclica papal como a frase<br />

de São Tomás de Aquino procuram<br />

conciliar os pensamentos sobre fé e<br />

razão.<br />

Comentário<br />

Nessa questão, é necessária uma<br />

releitura do texto para que se tenha uma<br />

melhor compreensão do tema. Tanto a<br />

citação do Papa quanto a de São Tomás de<br />

Aquino tentam criar uma interdependência<br />

entre a ciência e a fé, a religião. O Papa<br />

incentiva aqueles que exercem a pesquisa<br />

científica ou filosófica a manter a fé cristã.<br />

341


São Tomás de Aquino, por sua vez, equipara<br />

o avanço da ciência ao aumento da própria<br />

fé, afirmando que a razão natural não<br />

contradiz a fé cristã. Se um cresce, cresce<br />

também o outro, em harmonia e sem<br />

contradições. Questão de grau médio.<br />

(Português)<br />

Nessa questão, encontramos dois textos:<br />

o primeiro, do século XX, foi elaborado pelo<br />

Papa João Paulo II; o segundo, do século<br />

XIII, pelo teólogo e filósofo cristão São<br />

Tomás de Aquino. O conteúdo de ambos se<br />

refere à ligação entre fé e razão, a qual<br />

esteve presente na filosofia escolástica da<br />

Idade Média. Esse campo de reflexão buscou<br />

conciliar o cristianismo com o pensamento de<br />

Aristóteles e teve em São Tomás de Aquino<br />

seu maior representante.<br />

Mesmo sem ter todas essas informações,<br />

você poderia responder tranqüilamente à<br />

questão por meio de uma leitura atenta dos<br />

dois textos, chegando à conclusão de que<br />

"tanto a encíclica papal como a frase de São<br />

Tomás de Aquino procuram conciliar os<br />

pensamentos sobre fé e razão". Resposta<br />

correta: alternativa E. (História)<br />

Comentário do INEP<br />

Para resolver esta situação-problema, o<br />

participante deveria mostrar que, além de<br />

interpretar textos, sabe relacioná-los sendo<br />

que, nesse item, essas operações referem-se<br />

a um texto escrito na época medieval e a<br />

outro escrito recentemente.<br />

Mais de 70% dos participantes<br />

demonstraram facilidade em estabelecer esta<br />

relação.<br />

32) (2001) Murilo Mendes, em um de seus<br />

poemas, dialoga com a carta de Pero Vaz<br />

de Caminha:<br />

“A terra é mui graciosa,<br />

Tão fértil eu nunca vi.<br />

A gente vai passear,<br />

No chão espeta um caniço,<br />

No dia seguinte nasce<br />

Bengala de castão de oiro.<br />

Tem goiabas, melancias,<br />

Banana que nem chuchu.<br />

Quanto aos bichos, tem-nos muito,<br />

De plumagens mui vistosas.<br />

Tem macaco até demais<br />

Diamantes tem à vontade<br />

Esmeralda é para os trouxas.<br />

Reforçai, Senhor, a arca,<br />

Cruzados não faltarão,<br />

Vossa perna encanareis,<br />

Salvo o devido respeito.<br />

342<br />

Ficarei muito saudoso<br />

Se for embora daqui”.<br />

MENDES, Murilo. Murilo Mendes —<br />

poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.<br />

Arcaísmos e termos coloquiais misturamse<br />

nesse poema, criando um efeito de<br />

contraste, como ocorre em:<br />

A) A terra é mui graciosa / Tem macaco<br />

até demais.<br />

B) Salvo o devido respeito / Reforçai,<br />

Senhor, a arca<br />

C) A gente vai passear / Ficarei muito<br />

saudoso<br />

D) De plumagens mui vistosas / Bengala<br />

de castão de oiro<br />

E) No chão espeta um caniço / Diamantes<br />

tem à vontade<br />

Comentário<br />

Aqui, procuramos uma alternativa que<br />

apresente um trecho em linguagem coloquial<br />

e outro em linguagem arcaica.<br />

As alternativas B, C e E apresentam<br />

apenas a linguagem coloquial. A D, somente<br />

a arcaica.<br />

Sobra-nos a primeira alternativa: "A terra é<br />

mui graciosa" (mui é um arcaísmo); "tem<br />

macaco até demais" (linguagem coloquial).<br />

Comentário do INEP<br />

O efeito de paródia, explorado como<br />

recurso estilístico pelo autor desse poema,<br />

apresenta-se na utilização de expressões<br />

retomadas ora da carta de Pero Vaz de<br />

Caminha ora da linguagem coloquial corrente<br />

de época, gerando um efeito de humor<br />

crítico. Uma condição essencial para<br />

compreender o problema proposto nessa<br />

questão – identificar os arcaísmos e os<br />

coloquialismos existentes no poema – é<br />

conhecer o contexto de produção do texto e<br />

sua relação intratextual. Se o participante<br />

desconhece ou não considera o contexto<br />

histórico do poema, a identificação será<br />

parcial, já que o enunciado indica como<br />

pressuposto "a criação de um efeito de<br />

contraste" na utilização das expressões.<br />

Possivelmente a utilização de "contraste"<br />

como critério de interpretação justifica os<br />

percentuais de escolhas dos distratores. Uma<br />

outra possível explicação para esses<br />

percentuais deve-se ao fato de os<br />

participantes terem considerado apenas os<br />

termos "arcaísmo" e "coloquialismo" e, não<br />

tendo elementos para analisá-los,<br />

provavelmente deslocaram o texto do<br />

contexto e apoiaram-se em outros elementos<br />

para resolver a questão.


33) (2008) Considerando o soneto de<br />

Cláudio Manoel da Costa e os elementos<br />

constitutivos do Arcadismo brasileiro,<br />

assinale a opção correta acerca da<br />

relação entre o poema e o momento<br />

histórico de sua produção.<br />

A) Os “montes” e “outeiros”, mencionados<br />

na primeira estrofe, são imagens<br />

relacionadas à Metrópole, ou seja, ao<br />

lugar onde o poeta se vestiu com traje<br />

“rico e fino”.<br />

B) A oposição entre a Colônia e a<br />

Metrópole, como núcleo do poema,<br />

revela uma contradição vivenciada pelo<br />

poeta, dividido entre a civilidade do<br />

mundo urbano da Metrópole e a<br />

rusticidade da terra da Colônia.<br />

C) O bucolismo presente nas imagens do<br />

poema é elemento estético do<br />

Arcadismo que evidencia a<br />

preocupação do poeta árcade em<br />

realizar uma representação literária<br />

realista da vida nacional.<br />

D) A relação de vantagem da “choupana”<br />

sobre a “Cidade”, na terceira estrofe, é<br />

formulação literária que reproduz a<br />

condição histórica paradoxalmente<br />

vantajosa da Colônia sobre a<br />

Metrópole.<br />

E) A realidade de atraso social, político e<br />

econômico do Brasil Colônia está<br />

representada esteticamente no poema<br />

pela referência, na última estrofe, à<br />

transformação do pranto em alegria.<br />

Comentário<br />

A questão exige conhecimento das<br />

características do Arcadismo. A principal<br />

delas, presente no texto, é o bucolismo,<br />

representado pela paisagem da colônia. Esta<br />

é apresentada em oposição à paisagem da<br />

cidade ou metrópole. O poeta, que participou<br />

da Inconfidência Mineira, viveu em Lisboa.<br />

Dessa forma, o termo “vivenciado” da<br />

alternativa "B" justifica a oposição campo x<br />

cidade apresentada no poema. Logo, só<br />

pode ser essa a alternativa correta.<br />

34) (2008) Assinale a opção que apresenta<br />

um verso do soneto de Cláudio Manoel da<br />

Costa em que o poeta se dirige ao seu<br />

interlocutor.<br />

A) “Torno a ver-vos, ó montes; o<br />

destino” (v.1)<br />

B) “Aqui estou entre Almendro, entre<br />

Corino,” (v.5)<br />

C) “Os meus fiéis, meus doces<br />

companheiros,” (v.6)<br />

D) “Vendo correr os míseros vaqueiros”<br />

(v.7)<br />

E) “Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto,”<br />

(v.11)<br />

Comentário<br />

Nesta questão, basta que o aluno<br />

identifique o pronome oblíquo, presente no<br />

verso um, que chama o leitor para o texto.<br />

Sendo assim, a resposta correta é a letra "A".<br />

35) (2008)<br />

Dick Browne. O melhor de Hagar, o horrível, v. 2. L&PM<br />

pocket, p.55-6 (com adaptações).<br />

Assinale o trecho do diálogo que<br />

apresenta um registro informal, ou<br />

coloquial, da linguagem.<br />

A) “Tá legal, espertinho! Onde é que<br />

você esteve?!”<br />

B) “E lembre-se: se você disser uma<br />

mentira, os seus chifres cairão!”<br />

C) “Estou atrasado porque ajudei uma<br />

velhinha a atravessar a rua...”<br />

D) “...e ela me deu um anel mágico que<br />

me levou a um tesouro”<br />

E) “mas bandidos o roubaram e os<br />

persegui até a Etiópia, onde um<br />

dragão...”<br />

Comentário<br />

Linguagem coloquial é aquela usada no<br />

cotidiano, que tem como característica<br />

principal a oralidade, ou seja, aquela que não<br />

segue o rigor da norma culta.<br />

Entre as alternativas da questão, apenas<br />

a letra "A" apresenta esses traços.<br />

343


36) (2007)<br />

37) (1998) A discussão sobre gramática na<br />

classe está "quente". Será que os<br />

brasileiros sabem gramática? A<br />

professora de Português propõe para<br />

debate o seguinte texto:<br />

PRA MIM BRINCAR<br />

Não há nada mais gostoso do que o<br />

mim sujeito de verbo no infinito. Pra mim<br />

brincar. As cariocas que não sabem<br />

gramática falam assim. Todos os<br />

brasileiros deviam de querer falar como as<br />

cariocas que não sabem gramática.<br />

- As palavras mais feias da língua<br />

portuguesa são quiçá, alhures e miúde.<br />

(BANDEIRA, Manuel. Seleta em prosa e verso. Org:<br />

Emanuel de Moraes.4ª ed. Rio de Janeiro,<br />

José Olympio, 1986. Pág. 19)<br />

344<br />

A antítese que configura uma imagem da<br />

divisão social do trabalho na sociedade<br />

brasileira é expressa poeticamente na<br />

oposição entre a doçura do branco açúcar<br />

e<br />

A) o trabalho do dono da mercearia de<br />

onde veio o açúcar.<br />

B) o beijo de moça, a água na pele e a flor<br />

que se dissolve na boca.<br />

C) o trabalho do dono do engenho em<br />

Pernambuco, onde se produz o açúcar.<br />

D) a beleza dos extensos canaviais que<br />

nascem no regaço do vale.<br />

E) o trabalho dos homens de vida<br />

amarga em usinas escuras.<br />

Comentário<br />

Questão de nível médio. O aluno deve<br />

perceber, na leitura do poema, várias<br />

antíteses. Entre elas, destaca-se a doçura do<br />

açúcar com a amargura da vida dos<br />

trabalhadores e a brancura dele com a<br />

escuridão das usinas. Porém, o grande<br />

destaque que o autor quer dar é o valor do<br />

trabalho do homem das usinas, que é o<br />

verdadeiro responsável pela produção do<br />

açúcar. Portanto, a alternativa E é a correta.<br />

Com a orientação da professora e após o<br />

debate sobre o texto de Manuel Bandeira,<br />

os alunos chegaram à seguinte conclusão:<br />

A) uma das propostas mais ousadas do<br />

Modernismo foi a busca da identidade<br />

do povo brasileiro e o registro, no texto<br />

literário, da diversidade das falas<br />

brasileiras.<br />

B) apesar de os modernistas registrarem<br />

as falas regionais do Brasil, ainda<br />

foram preconceituosos em relação às<br />

cariocas.<br />

C) a tradição dos valores portugueses foi<br />

a pauta temática do movimento<br />

modernista.<br />

D) Manuel Bandeira e os modernistas<br />

brasileiros exaltaram em seus textos o<br />

primitivismo da nação brasileira.<br />

E) Manuel Bandeira considera a<br />

diversidade dos falares brasileiros uma<br />

agressão à Língua Portuguesa.<br />

Comentário<br />

Para resolver essa questão, é<br />

importantíssimo dar atenção a quem foi o<br />

autor do texto do enunciado — Manuel<br />

Bandeira. Ele participou da primeira fase do<br />

Modernismo brasileiro, conhecida como<br />

geração de 22. Ela tinha, dentre diversas<br />

propostas, uma de fundamental importância<br />

para essa questão: a busca da identidade do<br />

povo brasileiro, valorizando a cultura, a<br />

intelectualidade e a sociedade do país. Entre<br />

essas questões, encontrava-se, com realce,<br />

a da língua brasileira. Buscava-se uma<br />

aproximação entre a língua escrita, herdada<br />

dos portugueses, e a nossa língua falada,<br />

dando-se preferência à linguagem oral. Com<br />

isso em mente, teremos a alternativa A como<br />

correta.


38) (1999) Leia um texto publicado no jornal<br />

Gazeta Mercantil. Esse texto é parte de<br />

um artigo que analisa algumas situações<br />

de crise no mundo, entre elas, a quebra<br />

da Bolsa de Nova Iorque em 1929, e foi<br />

publicado na época de uma iminente crise<br />

financeira no Brasil.<br />

Deu no que deu. No dia 29 de outubro de<br />

1929, uma terça-feira, praticamente não<br />

havia compradores no pregão de Nova<br />

Iorque, só vendedores. Seguiu-se uma<br />

crise incomparável: o Produto Interno<br />

Bruto dos Estados Unidos caiu de <strong>10</strong>4<br />

bilhões de dólares em 1929, para 56<br />

bilhões em 1933, coisa inimaginável em<br />

nossos dias. O valor do dólar caiu a quase<br />

metade. O desemprego elevou-se de 1,5<br />

milhão para 12,5 milhões de trabalhadores<br />

– cerca de 25% da população ativa –<br />

entre 1929 e 1933. A construção civil caiu<br />

90%. Nove milhões de aplicações, tipo<br />

caderneta de poupança, perderam-se com<br />

o fechamento dos bancos. Oitenta e cinco<br />

mil firmas faliram. Houve saques e norteamericanos<br />

que passaram fome.<br />

(Gazeta Mercantil, 05/01/1999)<br />

Ao citar dados referentes à crise ocorrida<br />

em 1929, em um artigo jornalístico atual,<br />

pode-se atribuir ao jornalista a seguinte<br />

intenção:<br />

A) questionar a interpretação da crise.<br />

B) comunicar sobre o desemprego.<br />

C) instruir o leitor sobre aplicações em<br />

bolsa de valores.<br />

D) relacionar os fatos passados e<br />

presentes.<br />

E) analisar dados financeiros americanos.<br />

Comentário<br />

Nessa questão, o que se tem de fazer é<br />

prestar atenção às alternativas das<br />

respostas. Nenhuma delas se apresenta tão<br />

bem contextualizada a uma possível<br />

interpretação quanto a letra D. Partindo-se da<br />

análise do texto, fica claro que a intenção do<br />

artigo é remeter o leitor ao passado para<br />

tentar conduzi-lo a uma reflexão sobre uma<br />

situação presente, não mencionada na<br />

questão. Após a leitura e utilizando-se a já<br />

citada eliminação de questões, torna-se clara<br />

a resposta. Questão de nível médio.<br />

(Português)<br />

Muitas vezes, quando procuramos<br />

entender uma crise econômica ou financeira<br />

de grandes proporções, buscamos<br />

estabelecer relações com crises passadas. O<br />

mesmo ocorre no jornalismo, como prova o<br />

texto encontrado nessa questão. Buscando<br />

entender uma crise ocorrida no início de<br />

1999, o jornalista da Gazeta Mercantil<br />

buscou relacionar a situação dessa época<br />

com a grande crise de 1929 que afetou o<br />

mundo, trazendo desemprego e recessão,<br />

entre tantos outros problemas econômicos e<br />

sociais.<br />

Para responder a essa questão, era<br />

necessário ler atentamente o enunciado, em<br />

que está destacado que "o texto é parte de<br />

um artigo que analisa algumas situações de<br />

crise no mundo" e "foi publicado na época de<br />

uma iminente crise financeira no Brasil". Era<br />

importante também observar a data em que o<br />

artigo foi publicado: 05/01/1999. A partir<br />

dessas constatações, facilmente você<br />

chegaria a conclusão de que a intenção do<br />

jornalista era "relacionar os fatos passados e<br />

presentes". Resposta correta: alternativa D.<br />

(História)<br />

Comentário do INEP<br />

A resolução da questão demandava a<br />

capacidade dos participantes de relacionar<br />

eventos históricos envolvendo crises<br />

econômicas ocorridas em épocas e lugares<br />

distintos. Aproximadamente 2/3 deles<br />

demonstraram essa capacidade. Os demais,<br />

provavelmente, não compreenderam a<br />

exigência expressa no enunciado do<br />

problema – apontar as razões pelas quais um<br />

jornalista traz à tona eventos ocorridos<br />

setenta anos antes –, e apenas interpretaram<br />

o sentido do texto citado, que descreve a<br />

crise mundial de 1929.<br />

39) (2000) “Precisa-se nacionais sem<br />

nacionalismo, (...) movidos pelo presente<br />

mas estalando naquele cio racial que só<br />

as tradições maduram! (...). Precisa-se<br />

gentes com bastante meiguice no<br />

sentimento, bastante força na peitaria,<br />

bastante paciência no entusiasmo e<br />

sobretudo, oh! sobretudo bastante<br />

vergonha na cara!<br />

(...) Enfim: precisa-se brasileiros! Assim<br />

está escrito no anúncio vistoso de cores<br />

desesperadas pintado sobre o corpo do<br />

nosso Brasil, camaradas.”<br />

(Jornal A Noite, São Paulo, 18/12/1925 apud LOPES, Telê<br />

Porto Ancona. Mário<br />

de Andrade: ramais e caminhos. São Paulo: Duas<br />

Cidades, 1972)<br />

No trecho acima, Mário de Andrade dá<br />

forma a um dos itens do ideário<br />

modernista, que é o de firmar a feição de<br />

uma língua mais autêntica, “brasileira”, ao<br />

expressar-se numa variante de linguagem<br />

popular identificada pela (o):<br />

345


A) escolha de palavras como cio, peitaria,<br />

vergonha.<br />

B) emprego da pontuação.<br />

C) repetição do adjetivo bastante.<br />

D) concordância empregada em Assim<br />

está escrito.<br />

E) escolha de construção do tipo<br />

precisa-se gentes.<br />

Comentário<br />

Apesar de essa questão misturar vários<br />

tipos de informação, se você se lembra um<br />

pouquinho dos usos da partícula se, com<br />

certeza não encontrará grande dificuldade.<br />

Segundo a regra gramatical, o verbo<br />

"precisa-se" deveria ir para o plural<br />

(precisam-se), mas essa noção de verbo<br />

concordante com o sujeito há muito<br />

desapareceu na variante popular brasileira.<br />

Mas, caso você não se lembre muito bem<br />

desse assunto ou ficou meio confuso com o<br />

texto e as outras alternativas, o caminho é<br />

responder por eliminação.<br />

A primeira alternativa apresenta palavras<br />

comuns no português brasileiro, mas<br />

nenhuma "invenção" nacional. Na dúvida,<br />

pense em "vergonha": não é uma invenção<br />

brasileira. Todos os que falam português no<br />

mundo conhecem bem essa palavra. A<br />

pontuação no texto não chama nenhuma<br />

atenção. Você provavelmente não viu nada<br />

de estranho nela. Da mesma forma, o<br />

"bastante" da terceira alternativa não é nada<br />

mais que um mecanismo de retórica, usado<br />

para dar ênfase à idéia. Com o "Assim está<br />

escrito", encontramos a mesma situação: um<br />

trecho litúrgico é usado para maior ênfase.<br />

Comentário do INEP<br />

A questão procurou avaliar se o<br />

participante era capaz de, a partir da leitura<br />

de um texto de Mário de Andrade , identificar<br />

e analisar uma variante lingüística de uso<br />

coloquial, utilizadas estilisticamente pelo<br />

autor. O uso estilístico das variantes marcou<br />

a primeira fase da literatura brasileira<br />

modernista. O trecho destaca em seu todo<br />

esse uso da linguagem popular. A escolha da<br />

construção 'precisa-se gentes' é marca desse<br />

uso estilístico. O índice de 37% na alternativa<br />

(A) demonstra, possivelmente, que os<br />

participantes não consideraram a escolha<br />

dos vocábulos, dentro do contexto do texto,<br />

confundindo as palavras que aparecem na<br />

alternativa com '...a feição de uma língua<br />

mais autêntica...'.O percentual de acertos foi<br />

da ordem de 40%.<br />

40) (2004) O poema abaixo pertence à<br />

poesia concreta brasileira. O termo latino<br />

de seu título significa "epitalâmio", poema<br />

ou canto em homenagem aos que se<br />

casam.<br />

Considerando que símbolos e sinais são<br />

utilizados geralmente para demonstrações<br />

objetivas, ao serem incorporados no<br />

poema "Epithalamium - II".<br />

A) adquirem novo potencial de<br />

significação.<br />

B) eliminam a subjetividade do poema.<br />

C) opõem-se ao tema principal do poema.<br />

D) invertem seu sentido original.<br />

E) tornam-se confusos e equivocados.<br />

Comentário<br />

Diferentemente, por exemplo, da<br />

aplicação matemática dos símbolos, em que<br />

sinais como "=", "+", "-", "x", etc. servem<br />

como convenções internacionais de<br />

significação objetiva e invariável, em um<br />

poema como "Epithalamium – II" foram<br />

usados símbolos que não são convenções<br />

internacionais, mas, sim, convencionados<br />

apenas para esse texto. No caso, letras do<br />

alfabeto deixam de ser representações de<br />

sons (fonemas) para ganharem nova<br />

significação, principalmente pela construção<br />

visual do poema: unem homem (h) e mulher<br />

(e) pela ação da serpente (s) — libido,<br />

atração — em uma entidade única.<br />

Uma das tendências poéticas da segunda<br />

metade do século XX, resultado de um<br />

diálogo com estéticas já presentes no final do<br />

século XIX, trabalha com a construção de<br />

seu próprio referente, fazendo do poema um<br />

objeto autônomo.<br />

346


41) (2007)<br />

conclusão de que os imigrantes enfrentaram<br />

uma realidade bastante dura no momento de<br />

sua chegada ao Brasil. Portanto, a alternativa<br />

correta é a letra C.<br />

42) (2005) Cândido Portinari (1903-1962), um<br />

dos mais importantes artistas brasileiros<br />

do século XX, tratou de diferentes<br />

aspectos da nossa realidade em seus<br />

quadros.<br />

Sobre a temática dos “Retirantes”,<br />

Portinari também escreveu o seguinte<br />

poema:<br />

Levando-se em consideração o texto de<br />

Oswald de Andrade e a pintura de Antonio<br />

Rocco reproduzida acima, relativos à<br />

imigração européia para o Brasil, é correto<br />

afirmar que<br />

A) a visão da imigração presente na<br />

pintura é trágica e, no texto, otimista.<br />

B) a pintura confirma a visão do texto<br />

quanto à imigração de argentinos para<br />

o Brasil.<br />

C) os dois autores retratam dificuldades<br />

dos imigrantes na chegada ao Brasil.<br />

D) Antonio Rocco retrata de forma otimista<br />

a imigração, destacando o pioneirismo<br />

do imigrante.<br />

E) Oswald de Andrade mostra que a<br />

condição de vida do imigrante era<br />

melhor que a dos ex-escravos.<br />

Comentário<br />

Questão fácil. Pela comparação entre dois<br />

textos com linguagens diferentes, chega-se à<br />

(....)<br />

Os retirantes vêm vindo com trouxas e<br />

embrulhos<br />

Vêm das terras secas e escuras;<br />

pedregulhos<br />

Doloridos como fagulhas de carvão aceso<br />

Corpos disformes, uns panos sujos,<br />

Rasgados e sem cor, dependurados<br />

Homens de enorme ventre bojudo<br />

Mulheres com trouxas caídas para o lado<br />

Pançudas, carregando ao colo um garoto<br />

Choramingando, remelento<br />

(....)<br />

(Cândido Portinari. Poemas. Rio de Janeiro:<br />

J. Olympio, 1964.)<br />

Das quatro obras reproduzidas, assinale<br />

aquelas que abordam a problemática que<br />

é tema do poema.<br />

A) 1 e 2 D) 3 e 4<br />

B) 1 e 3 E) 2 e 4<br />

C) 2 e 3<br />

Comentário<br />

O poema apresenta correspondência com<br />

as imagens ao descrever com detalhes a<br />

figura do retirante: pobre, mal vestido,<br />

carregando trouxas e embrulhos.<br />

43) (2002) O autor da tira utilizou os<br />

princípios de composição de um<br />

conhecido movimento artístico para<br />

347


epresentar a necessidade de um mesmo<br />

observador aprender a considerar,<br />

simultaneamente, diferentes pontos de<br />

vista.<br />

D)<br />

Das obras reproduzidas, todas de autoria<br />

do pintor espanhol Pablo Picasso, aquela<br />

em cuja composição foi adotado um<br />

procedimento semelhante é:<br />

A)<br />

E)<br />

B)<br />

C)<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. O movimento<br />

artístico que previa considerar<br />

simultaneamente diversos pontos de vista<br />

era o Cubismo. Havia a desconstrução da<br />

forma para que se pudesse ver todos os<br />

ângulos concomitantemente. O único quadro<br />

que apresenta essas características é o da<br />

alternativa E. As outras quatro alternativas<br />

pressupõem a manutenção da forma.<br />

Comentário do INEP<br />

O objetivo desta questão é levar o<br />

participante a refletir sobre características<br />

fundamentais de um movimento artístico – o<br />

cubismo – a partir de dados visuais:<br />

quadrinhos e pinturas. A reprodução de dois<br />

quadrinhos da personagem Calvin forneceu<br />

para o participante informações básicas para<br />

a análise que deveria fazer das alternativas<br />

apresentadas. Segundo os quadrinhos, o<br />

movimento artístico abordado pela questão<br />

tinha como procedimento de composição<br />

representar, para um mesmo observador,<br />

diferentes pontos de vista, fazendo com que<br />

"o tradicional único ponto de vista" fosse<br />

abandonado e com que a perspectiva fosse<br />

fraturada. A análise das obras de Picasso<br />

reproduzidas nas alternativas permite que o<br />

participante reconheça a adoção desse<br />

procedimento no quadro "Marie-Thérèse<br />

apoiada no cotovelo" (alternativa E, com 46%<br />

de registros), no qual se pode reconhecer a<br />

representação de diferentes pontos de vista<br />

348


a partir dos quais é apresentado o rosto da<br />

mulher retratada.<br />

44) (2000) “Poética”, de Manuel Bandeira, é<br />

quase um manifesto do movimento<br />

modernista brasileiro de 1922. No poema,<br />

o autor elabora críticas e propostas<br />

que representam o pensamento estético<br />

predominante na época.<br />

Poética<br />

Estou farto do lirismo comedido<br />

Do lirismo bem comportado<br />

Do lirismo funcionário público com livro de<br />

ponto expediente protocolo e<br />

[manifestações de apreço<br />

ao Sr. Diretor<br />

.<br />

Estou farto do lirismo que pára e vai<br />

averiguar no dicionário o<br />

[cunho vernáculo de um<br />

vocábulo<br />

Abaixo os puristas<br />

....................................................................<br />

Quero antes o lirismo dos loucos<br />

O lirismo dos bêbedos<br />

O lirismo difícil e pungente dos bêbedos<br />

O lirismo dos clowns de Shakespeare<br />

— Não quero mais saber do lirismo que<br />

não é libertação.<br />

(BANDEIRA, Manuel. Poesia Completa e Prosa.<br />

Rio de Janeiro. Aguilar, 1974)<br />

Com base na leitura do poema, podemos<br />

afirmar corretamente que o poeta:<br />

A) critica o lirismo louco do movimento<br />

modernista.<br />

B) critica todo e qualquer lirismo na<br />

literatura.<br />

C) propõe o retorno ao lirismo do<br />

movimento clássico.<br />

D) propõe o retorno ao lirismo do<br />

movimento romântico.<br />

E) propõe a criação de um novo lirismo.<br />

Comentário<br />

Questão bastante inteligente. Para<br />

começar, Manuel Bandeira teve como marca<br />

de sua obra a busca de novas formas de<br />

expressão, sempre. Mesmo tendo escrito<br />

muitos sonetos (especialmente no início da<br />

carreira), adotou prazerosamente a rebeldia<br />

da poética modernista. A resposta pode estar<br />

centrada na análise de um único verso do<br />

poema. As alternativas de a a d ficam todas<br />

automaticamente descartadas pelo primeiro<br />

verso da segunda parte ("Quero antes o<br />

lirismo dos loucos"). Veja que quem prega<br />

um lirismo dos loucos e dos bêbedos não<br />

pode nem criticar o "lirismo louco" dos<br />

modernistas, como na alternativa a, ou<br />

propor que não haja lirismo, como na<br />

alternativa b. Tampouco pode querer o<br />

retorno à rigidez de forma e métrica da<br />

poesia clássica (lembre-se de Camões) ou<br />

romântica (Álvares de Azevedo, Castro<br />

Alves, Casimiro de Abreu). Propõe, sim, um<br />

novo tipo de lirismo. Vemos isso claramente<br />

se dermos atenção ao casamento do<br />

primeiro com o último verso da segunda<br />

parte ("Quero antes o lirismo dos loucos" /<br />

"—Não quero mais saber do lirismo que não<br />

é libertação").<br />

Comentário do INEP<br />

Um pouco mais da metade dos<br />

participantes (55 %) conseguiu identificar no<br />

texto a proposta estética do poeta e, em<br />

última análise, do próprio Modernismo. Os<br />

distratores com percentuais significativos de<br />

escolha foram apenas B e D. No primeiro<br />

caso, o tom de manifesto, incisivo e<br />

demolidor, do poema provavelmente induziu<br />

a opção. No segundo, a explicação se deve à<br />

possível relação que o participante<br />

estabeleceu entre o Modernismo e o<br />

Romantismo, que de fato existe, mas que<br />

não se aplica ao caso.<br />

45) (2001) Oxímoro (ou paradoxo) é uma<br />

construção textual que agrupa significados<br />

que se excluem mutuamente. Para<br />

Garfield, a frase de saudação de Jon<br />

(tirinha abaixo) expressa o maior de todos<br />

os oxímoros.<br />

Folha de S. Paulo. 31 de julho de 2000.<br />

Nas alternativas abaixo, estão transcritos<br />

versos retirados do poema “O operário em<br />

construção”. Pode-se afirmar que ocorre<br />

um oxímoro em<br />

A) "Era ele que erguia casas<br />

Onde antes só havia chão."<br />

B) "... a casa que ele fazia<br />

Sendo a sua liberdade<br />

Era a sua escravidão."<br />

349


C) "Naquela casa vazia<br />

Que ele mesmo levantara<br />

Um mundo novo nascia<br />

De que sequer suspeitava."<br />

D) "... o operário faz a coisa<br />

E a coisa faz o operário."<br />

E) "Ele, um humilde operário<br />

Um operário que sabia<br />

Exercer a profissão."<br />

MORAES, Vinícius de. Antologia Poética. São Paulo:<br />

Companhia das Letras, 1992.<br />

Comentário<br />

Idéias que se completam e se excluem<br />

mutuamente são encontradas na alternativa<br />

B: a casa que ele construía era, ao mesmo<br />

tempo, sua liberdade e sua escravidão.<br />

A casa é um símbolo de liberdade para o<br />

homem. Para o homem operário, é também<br />

símbolo de escravidão, pois ele está<br />

"condenado" a jamais usufruir do resultado<br />

do seu trabalho (a casa que faz não é para<br />

ele).<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão propõe ao participante que<br />

estabeleça uma relação entre linguagens,<br />

associando a compreensão de um efeito<br />

semântico produzido pelo uso do oxímoro<br />

nos quadrinhos com o mesmo efeito num<br />

texto poético. O índice (18%) de escolhas da<br />

alternativa D deve-se, possivelmente, a uma<br />

análise parcial da noção de paradoxo,<br />

confundida com inversão.<br />

46) (2004)<br />

A polifonia, variedade de vozes, presente<br />

no poema resulta da manifestação do<br />

A) poeta e do colonizador apenas.<br />

B) colonizador e do negro apenas.<br />

C) negro e do índio apenas.<br />

D) colonizador, do poeta e do negro<br />

apenas.<br />

E) poeta, do colonizador, do índio e do<br />

negro.<br />

Comentário<br />

A questão apresenta uma certa<br />

dificuldade, pois, à primeira vista, parecem<br />

confundir-se as vozes do colonizador, do<br />

negro e do índio. Entretanto, os<br />

travessões existentes no poema explicitam<br />

as falas das personagens ao mostrar que<br />

não são apenas as vozes do poeta e do<br />

colonizador que estão presentes. As falas do<br />

índio e do negro são proferidas por eles,<br />

marca expressa pelo discurso direto. A<br />

presença dessa modalidade de discurso<br />

indica a reprodução literal do que as<br />

personagens disseram.<br />

Um ponto interessante em relação a essa<br />

questão é a intertextualidade. O índio<br />

aparece no poema pela remissão a um texto<br />

poético do nosso Romantismo, em um<br />

processo intertextual com “I-Juca-Pirama”, de<br />

Gonçalves Dias; e a presença do negro se dá<br />

pela ligação com Mário de Andrade, em<br />

Macunaíma. Entende-se, portanto, que a<br />

alternativa correta é a letra E.<br />

47) (2003) No ano passado, o governo<br />

promoveu uma campanha a fim de reduzir<br />

os índices de violência. Noticiando o fato,<br />

um jornal publicou a seguinte manchete:<br />

CAMPANHA CONTRA A VIOLÊNCIA DO<br />

GOVERNO DO ESTADO ENTRA EM NOVA<br />

FASE<br />

A manchete tem um duplo sentido, e isso<br />

dificulta o entendimento. Considerando o<br />

objetivo da notícia, esse problema poderia<br />

ter sido evitado com a seguinte redação:<br />

A) Campanha contra o governo do Estado<br />

e a violência entram em nova fase.<br />

B) A violência do governo do Estado entra<br />

em nova fase de Campanha.<br />

C) Campanha contra o governo do Estado<br />

entra em nova fase de violência.<br />

D) A violência da campanha do governo<br />

do Estado entra em nova fase.<br />

E) Campanha do governo do Estado<br />

contra a violência entra em nova fase.<br />

Comentário<br />

O objetivo da questão é eliminar a<br />

ambigüidade da notícia de jornal, que,<br />

originalmente, trazia duas idéias: de acordo<br />

com a primeira, o governo queria combater a<br />

violência, e a segunda ressaltava que o<br />

governo era violento. Nessa questão,<br />

era preciso eliminar a segunda possibilidade<br />

de leitura.<br />

350


48) (2004)<br />

O assunto de uma crônica pode ser uma<br />

experiência pessoal do cronista, uma<br />

informação obtida por ele ou um caso<br />

imaginário. O modo de apresentar o<br />

assunto também varia: pode ser uma<br />

descrição objetiva, uma exposição<br />

argumentativa ou uma narrativa sugestiva.<br />

Quanto à finalidade pretendida, pode-se<br />

promover uma reflexão, definir um<br />

sentimento ou tão-somente provocar um<br />

riso.<br />

Na crônica O jivaro, escrita a partir da<br />

reportagem de um jornal, Rubem Braga se<br />

vale dos seguinte elementos:<br />

Comentário<br />

O assunto da crônica de Rubem Braga foi<br />

uma informação colhida — o conhecimento<br />

que ele teve de uma entrevista dada por um<br />

viajante a um jornal. Essa informação foi<br />

apresentada por meio de uma narrativa<br />

sugestiva — uma história que ganha a<br />

atenção do leitor não por sua carga<br />

argumentativa ou pela precisão de suas<br />

descrições, mas por seu encaminhamento e<br />

fecho inusitados. A finalidade é provocar uma<br />

reflexão — por que quereria o índio fazer<br />

demonstração de uma ação que causa<br />

sofrimento à vítima, utilizando justamente um<br />

“oponente” que não lhe causara mal algum?<br />

Se algum sofrimento precisa ser causado<br />

para isso, que seja então a alguém que ao<br />

menos o pareça merecer.<br />

49) (2002) "A palavra tatuagem é<br />

relativamente recente. Toda a gente sabe<br />

que foi o navegador Cook que a introduziu<br />

no Ocidente, e esse escrevia tattou, termo<br />

da Polinésia de tatou ou tu tahou,<br />

'desenho'.<br />

(...) Desde os mais remotos tempos,<br />

vemo-la a transformar-se: distintivo<br />

honorífico entre uns homens, ferrete de<br />

ignomínia entre outros, meio de assustar o<br />

adversário para os bretões, marca de uma<br />

classe de selvagens das ilhas marquesas<br />

(...) sinal de amor, de desprezo, de ódio<br />

(...). Há três casos de tatuagem no Rio,<br />

completamente diversos na sua<br />

significação moral: os negros,os turcos<br />

com o fundo religioso e o bando de<br />

meretrizes, dos rufiões e dos humildes,<br />

que se marcam por crime ou por<br />

ociosidade".<br />

RIO, João do. Os Tatuadores. Revista Kosmos.<br />

1904, apud: A alma encantadora das ruas,<br />

SP: Cia das Letras, 1999.<br />

Com base no texto são feitas as seguintes<br />

afirmações:<br />

I. João do Rio revela como a tatuagem já<br />

estava presente na cidade do Rio de<br />

Janeiro, pelo menos desde o início do<br />

século XX, e era mais utilizada por<br />

alguns setores da população.<br />

II. A tatuagem, de origem polinésia,<br />

difundiu-se no ocidente com a<br />

característica que permanece até hoje:<br />

utilização entre os jovens com função<br />

estritamente estética.<br />

III. O texto mostra como a tatuagem é<br />

uma prática que se transforma no<br />

tempo e que alcança inúmeros sentidos<br />

nos diversos setores das sociedades e<br />

para as diferentes culturas.<br />

Está correto o que se afirma apenas em<br />

A) I D) I e II<br />

B) II E) I e III<br />

C) III<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. Constata-se o<br />

seguinte: a tatuagem já existia no Brasil no<br />

início do século XX (o texto é de 1904 e parte<br />

dele se refere ao Rio do Janeiro) e era<br />

utilizada em diferentes setores da sociedade.<br />

A afirmação de que as tatuagens possuem<br />

apenas finalidade estética entre os jovens<br />

elimina a segunda alternativa. Já a última<br />

alternativa confirma as transformações das<br />

funções da tatuagem ao longo do tempo nas<br />

mais diversas sociedades e culturas.<br />

Comentário do INEP<br />

O texto estabelece uma relação entre a<br />

atualidade da palavra "tatuagem" e a<br />

antiguidade do uso de desenhos como<br />

pintura corporal. Focaliza uma prática social<br />

bastante difundida que adquiriu aspectos e<br />

conotações diversos nos diferentes contextos<br />

históricos e geográficos em que ela pode ser<br />

descrita. Fazendo a descrição da prática da<br />

tatuagem, como uma manifestação comum a<br />

diferentes culturas, e que adquire, inclusive,<br />

351


significados diferentes dentro de uma mesma<br />

cultura, induz o participante a refletir sobre a<br />

"diversidade dos patrimônios etnoculturais e<br />

artísticos", contextualizando ao mesmo<br />

tempo seus significados "em diferentes<br />

sociedades, épocas e lugares". Ao retomar<br />

as várias origens e usos da tatuagem, o<br />

participante é levado a compreender e<br />

respeitar uma gramática histórica dos<br />

costumes marcada sempre por semelhanças<br />

e diferenças. A questão não exigia, portanto,<br />

nenhum conhecimento prévio sobre as<br />

diferentes formas de manifestação dessa<br />

prática, mas simplesmente constatar, com o<br />

autor do texto citado, a historicidade e a<br />

diversidade das práticas sociais. Os<br />

participantes que assinalaram a alternativa C<br />

(36%), possivelmente, não levaram em<br />

consideração informações do texto. A<br />

questão foi corretamente respondida por 37%<br />

dos participantes.<br />

50) (2004)<br />

352<br />

Nesta tirinha, a personagem faz referência<br />

a uma das mais conhecidas figuras de<br />

linguagem para<br />

A) condenar a prática de exercícios físicos<br />

B) valorizar aspectos da vida moderna.<br />

C) desestimular o uso das bicicletas.<br />

D) caracterizar o diálogo entre as<br />

gerações.<br />

E) criticar a falta de perspectiva do pai.<br />

Comentário<br />

A construção indica a falta de perspectiva<br />

na vida do pai do personagem. “Pedalar sem<br />

sair do lugar” é uma metáfora muito usada na<br />

cultura brasileira para expressar como é a<br />

vida de uma pessoa que age de forma a não<br />

conseguir qualquer mudança — para melhor<br />

ou para pior — na vida.<br />

51) (2004) As questões de números 26 e 27<br />

referem-se ao poema abaixo.<br />

Entre os recursos expressivos<br />

empregados no texto, destaca-se a<br />

A) metalinguagem, que consiste em fazer<br />

a linguagem referir-se à própria<br />

linguagem.<br />

B) intertextualidade, na qual o texto<br />

retoma e reelabora outros textos.<br />

C) ironia, que consiste em se dizer o<br />

contrário do que se pensa, com<br />

intenção crítica.<br />

D) denotação, caracterizada pelo uso das<br />

palavras em seu sentido próprio e<br />

objetivo.<br />

E) prosopopéia, que consiste em<br />

personificar coisas inanimadas,<br />

atribuindo-lhes vida.<br />

Comentário<br />

A questão trata de um texto de Carlos<br />

Drummond de Andrade em que ele fala sobre<br />

o crescimento urbano e a pobreza que esse<br />

processo traz. Para tanto, o poeta utiliza uma<br />

linguagem irônica, revelando o lado oculto do<br />

desenvolvimento. Dessa forma, temos como<br />

correta a alternativa C.<br />

52) (2007) Antigamente<br />

Acontecia o indivíduo apanhar<br />

constipação; ficando perrengue, mandava<br />

o próprio chamar o doutor e, depois, ir à<br />

botica para aviar a receita, de cápsulas ou<br />

pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />

phtísica, feia era o gálico. Antigamente, os<br />

sobrados tinham assombrações, os<br />

meninos, lombrigas (...)<br />

Carlos Drummond de Andrade. Poesia completa e prosa.<br />

Rio de Janeiro: Companhia José Aguilar, p. 1.184.<br />

O texto acima está escrito em linguagem<br />

de uma época passada. Observe uma<br />

outra versão, em linguagem atual.


Antigamente<br />

Acontecia o indivíduo apanhar um<br />

resfriado; ficando mal, mandava o próprio<br />

chamar o doutor e, depois, ir à farmácia<br />

para aviar a receita, de cápsulas ou<br />

pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />

tuberculose, feia era a sífilis. Antigamente,<br />

os sobrados tinham assombrações, os<br />

meninos, vermes (...)<br />

Comparando-se esses dois textos,<br />

verifica-se que, na segunda versão, houve<br />

mudanças relativas a<br />

A) vocabulário.<br />

B) construções sintáticas.<br />

C) pontuação.<br />

D) fonética.<br />

E) regência verbal.<br />

Comentário<br />

Questão fácil. O aluno deveria comparar<br />

os dois textos e verificar as alterações<br />

realizadas na segunda versão apresentada.<br />

Nesse momento, fica evidente a mudança de<br />

vocabulário, o que indica a alternativa A<br />

como a correta.<br />

53) (2007)<br />

Aqui na floresta<br />

Dos ventos batida,<br />

Façanhas de bravos<br />

Não geram escravos,<br />

Que estimem a vida<br />

Sem guerra e lidar.<br />

— Ouvi-me, Guerreiros,<br />

— Ouvi meu cantar.<br />

O canto do guerreiro<br />

Valente na guerra,<br />

Quem há, como eu sou?<br />

Quem vibra o tacape<br />

Com mais valentia?<br />

Quem golpes daria<br />

Fatais, como eu dou?<br />

— Guerreiros, ouvi-me;<br />

— Quem há, como eu sou?<br />

Gonçalves Dias.<br />

Macunaíma<br />

(Epílogo)<br />

Acabou-se a história e morreu a vitória.<br />

Não havia mais ninguém lá. Dera<br />

tangolomângolo na tribo Tapanhumas e<br />

os filhos dela se acabaram de um em um.<br />

Não havia mais ninguém lá. Aqueles<br />

lugares, aqueles campos, furos<br />

puxadouros arrastadouros meiosbarrancos,<br />

aqueles matos misteriosos,<br />

tudo era solidão do deserto... Um silêncio<br />

imenso dormia à beira do rio Uraricoera.<br />

Nenhum conhecido sobre a terra não<br />

sabia nem falar da tribo nem contar<br />

aqueles casos tão pançudos. Quem podia<br />

saber do Herói?<br />

Mário de Andrade.<br />

A) ambos têm como tema a figura do<br />

indígena brasileiro apresentada de<br />

forma realista e heróica, como símbolo<br />

máximo do nacionalismo romântico.<br />

B) a abordagem da temática adotada no<br />

texto escrito em versos é<br />

discriminatória em relação aos povos<br />

indígenas do Brasil.<br />

C) as perguntas “— Quem há, como eu<br />

sou?” (1.º texto) e “Quem podia saber<br />

do Herói?” (2.º texto) expressam<br />

diferentes visões da realidade indígena<br />

brasileira.<br />

D) o texto romântico, assim como o<br />

modernista, aborda o extermínio dos<br />

povos indígenas como resultado do<br />

processo de colonização no Brasil.<br />

E) os versos em primeira pessoa revelam<br />

que os indígenas podiam expressar-se<br />

poeticamente, mas foram silenciados<br />

pela colonização, como demonstra a<br />

presença do narrador, no segundo<br />

texto.<br />

Comentário<br />

Questão de nível médio. Essa questão<br />

exige conhecimento prévio dos movimentos<br />

literários de cada autor. No primeiro, O canto<br />

do Guerreiro, de Gonçalves Dias, pertence<br />

ao Romantismo. Nesse período, a figura do<br />

índio aparece como protagonista, sempre<br />

idealizado e visto como um perfeito herói. Já<br />

no texto Macunaíma, de Mário de Andrade,<br />

levando em conta a característica do<br />

Modernismo, o índio também é protagonista,<br />

mas, por sua vez, há a predominância de um<br />

nacionalismo crítico e realista. Com base<br />

nessas considerações, consegue-se<br />

chegar à conclusão de que a alternativa C é<br />

a correta. Essa alternativa mostra que, por<br />

trás dos textos, há duas visões diferentes da<br />

realidade indígena brasileira, representadas<br />

pelas características dos dois diferentes<br />

estilos de época.<br />

A leitura comparativa dos dois textos<br />

acima indica que<br />

353


54) (2004)<br />

Finalmente, na letra E, “que” retoma a<br />

questão restritiva ocorrida na alternativa B.<br />

Nesse caso, contudo, refere-se aos “poemas<br />

QUE esperam ser escritos”, ou seja, àqueles<br />

poemas, especificamente.<br />

55) (2001) Nas conversas diárias, utiliza-se<br />

freqüentemente a palavra “próprio” e ela<br />

se ajusta a várias situações. Leia os<br />

exemplos de diálogos:<br />

354<br />

No trecho "Montes Claros cresceu tanto,/<br />

(...),/ que já tem cinco favelas", a palavra<br />

que contribui para estabelecer uma<br />

relação de conseqüência. Dos seguintes<br />

versos, todos de Carlos Drummond de<br />

Andrade, apresentam esse mesmo tipo de<br />

relação:<br />

A) "Meu Deus, por que me abandonaste /<br />

se sabias que eu não era Deus / se<br />

sabias que eu era fraco."<br />

B) "No meio-dia branco de luz uma voz<br />

que aprendeu / a ninar nos longes da<br />

senzala – e nunca se esqueceu /<br />

chamava para o café."<br />

C) "Teus ombros suportam o mundo / e<br />

ele não pesa mais que a mão de uma<br />

criança."<br />

D) "A ausência é um estar em mim. / E<br />

sinto-a, branca, tão pegada,<br />

aconchegada nos meus braços, / que<br />

rio e danço e invento exclamações<br />

alegres."<br />

E) "Penetra surdamente no reino das<br />

palavras. / Lá estão os poemas que<br />

esperam ser escritos."<br />

Comentário<br />

Da mesma forma que no poema do<br />

enunciado, a palavra “que” retoma o sentido<br />

consecutivo na alternativa D, relacionando o<br />

fato de o eu lírico estar tão apegado à<br />

ausência QUE ri e dança, em devaneio,<br />

exaltando a alegria. A idéia remete a um<br />

raciocínio de causa e conseqüência: estar<br />

tão apegado a algo QUE outra coisa ocorre.<br />

Na alternativa A, “que” indica a introdução<br />

de uma oração subordinada objetiva direta,<br />

ou seja, que dá a idéia de um complemento<br />

do verbo SABER.<br />

Na alternativa B, “que” caracteriza a<br />

palavra “voz”, introduzindo uma oração<br />

subordinada adjetiva restritiva: “A voz QUE<br />

aprendeu”.<br />

Na alternativa C, “que” assume um<br />

caráter comparativo (mais que).<br />

I - A Vera se veste diferente!<br />

- É mesmo, é que ela tem um estilo<br />

próprio.<br />

II - A Lena já viu esse filme uma dezena<br />

de vezes! Eu não consigo ver o<br />

que ele tem de tão maravilhoso assim.<br />

- É que ele é próprio para adolescente.<br />

III - Dora, o que eu faço? Ando tão<br />

preocupada com o Fabinho! Meu filho<br />

está impossível!<br />

- Relaxa, Tânia! É próprio da idade.<br />

Com o tempo, ele se acomoda.<br />

Nas ocorrências I, II e III, “próprio” é<br />

sinônimo de, respectivamente,<br />

A) adequado, particular, típico.<br />

B) peculiar, adequado, característico.<br />

C) conveniente, adequado, particular.<br />

D) adequado, exclusivo, conveniente.<br />

E) peculiar, exclusivo, característico.<br />

Comentário<br />

Para responder a essa pergunta,<br />

substitua, nos trechos, a palavra próprio<br />

pelos possíveis equivalentes apresentados<br />

nas alternativas. Questão simples que pode<br />

ser resolvida por eliminação.<br />

Comentário do INEP<br />

Nesta questão são apresentados três<br />

textos em que uma mesma palavra é<br />

utilizada com sentidos diferentes. O problema<br />

consiste em observar a variedade de uso de<br />

um mesmo termo e as possibilidades de sua<br />

compreensão, estabelecendo uma relação<br />

comparativa com base em uma análise<br />

semântica. Cerca de metade (49%) dos<br />

participantes estabeleceu essa relação de<br />

maneira correta. Os participantes que<br />

assinalaram a alternativa D (21%),<br />

possivelmente isolaram o termo do contexto,<br />

gerando um equívoco entre "adequado" e<br />

"exclusivo".


56) (2003) Do pedacinho de papel ao livro<br />

impresso vai uma longa distância. Mas o<br />

que o escritor quer, mesmo, é isso: ver o<br />

seu texto em letra de forma. A gaveta é<br />

ótima para aplacar a fúria criativa; ela faz<br />

amadurecer o texto da mesma forma que<br />

a adega faz amadurecer o vinho. Em<br />

certos casos, a cesta de papel é melhor<br />

ainda.<br />

O período de maturação na gaveta é<br />

necessário, mas não deve se prolongar<br />

muito. ‘Textos guardados acabam<br />

cheirando mal’, disse Silvia Plath, (...) que,<br />

com esta frase, deu testemunho das<br />

dúvidas que atormentam o escritor:<br />

publicar ou não publicar? guardar ou jogar<br />

fora?<br />

(Moacyr Scliar. O escritor e seus desafios.)<br />

Nesse texto, o escritor Moacyr Scliar usa<br />

imagens para refletir sobre uma etapa da<br />

criação literária. A idéia de que o processo<br />

de maturação do texto nem sempre é o<br />

que garante bons resultados está sugerida<br />

na seguinte frase:<br />

A) "A gaveta é ótima para aplacar a fúria<br />

criativa."<br />

B) "Em certos casos, a cesta de papel é<br />

melhor ainda."<br />

C) "O período de maturação na gaveta é<br />

necessário, (...)."<br />

D) "Mas o que o escritor quer, mesmo, é<br />

isso: ver o seu texto em letra de forma."<br />

E) "ela (a gaveta) faz amadurecer o texto<br />

da mesma forma que a adega faz<br />

amadurecer o vinho."<br />

Comentário<br />

Essa questão exigia a interpretação das<br />

frases. A palavra NEM no enunciado exclui<br />

todas as alternativas que tratam do<br />

amadurecimento ou da importância da gaveta<br />

para o bom sucesso da produção literária.<br />

A alternativa B é a única que apresenta um<br />

procedimento alternativo para a produção<br />

textual, ou seja, o lixo, e significa a liberdade do<br />

escritor em começar, interromper, recomeçar<br />

ou simplesmente abandonar a obra, permitindo<br />

a ele exercer seu livre-arbítrio.<br />

57) (2007)<br />

Aqui na floresta<br />

Dos ventos batida,<br />

Façanhas de bravos<br />

Não geram escravos,<br />

Que estimem a vida<br />

Sem guerra e lidar.<br />

— Ouvi-me, Guerreiros,<br />

— Ouvi meu cantar.<br />

O canto do guerreiro<br />

Valente na guerra,<br />

Quem há, como eu sou?<br />

Quem vibra o tacape<br />

Com mais valentia?<br />

Quem golpes daria<br />

Fatais, como eu dou?<br />

— Guerreiros, ouvi-me;<br />

— Quem há, como eu sou?<br />

Gonçalves Dias.<br />

Macunaíma<br />

(Epílogo)<br />

Acabou-se a história e morreu a vitória.<br />

Não havia mais ninguém lá. Dera<br />

tangolomângolo na tribo Tapanhumas e<br />

os filhos dela se acabaram de um em um.<br />

Não havia mais ninguém lá. Aqueles<br />

lugares, aqueles campos, furos<br />

puxadouros arrastadouros meiosbarrancos,<br />

aqueles matos misteriosos,<br />

tudo era solidão do deserto... Um silêncio<br />

imenso dormia à beira do rio Uraricoera.<br />

Nenhum conhecido sobre a terra não<br />

sabia nem falar da tribo nem contar<br />

aqueles casos tão pançudos. Quem podia<br />

saber do Herói?<br />

Mário de Andrade.<br />

Considerando-se a linguagem desses dois<br />

textos, verifica-se que<br />

A) a função da linguagem centrada no<br />

receptor está ausente tanto no primeiro<br />

quanto no segundo texto.<br />

B) a linguagem utilizada no primeiro texto<br />

é coloquial, enquanto, no segundo,<br />

predomina a linguagem formal.<br />

C) há, em cada um dos textos, a<br />

utilização de pelo menos uma palavra<br />

de origem indígena.<br />

D) a função da linguagem, no primeiro<br />

texto, centra-se na forma de<br />

organização da linguagem e, no<br />

segundo, no relato de informações<br />

reais.<br />

E) a função da linguagem centrada na<br />

primeira pessoa, predominante no<br />

segundo texto, está ausente no<br />

primeiro.<br />

Comentário<br />

Questão de nível médio. Essa é uma<br />

questão que foca a linguagem dos textos, e<br />

cada qual em seu gênero (poesia e prosa,<br />

respectivamente). O aluno chega à<br />

conclusão que a alternativa correta é a C por<br />

meio da exclusão das demais alternativas.<br />

A resposta correta não é a A, pois há um<br />

receptor que pode ser percebido nas<br />

seguintes perguntas contidas no texto:<br />

Texto 1 – “Guerreiros, ouvi-me;/Quem há,<br />

como eu sou?”<br />

Texto 2 – “Quem podia saber do herói?”<br />

Também não é a alternativa B, pois o<br />

conteúdo dos textos não é discriminatório. No<br />

primeiro texto, há uma idealização do índio e,<br />

no segundo, há uma realidade crítica e<br />

satírica da sociedade.<br />

A alternativa D é excluída, porque o<br />

segundo texto não fala de uma realidade, já<br />

355


que Macunaíma é um herói fictício e nãoreal.<br />

Por fim, também está errada a alternativa<br />

E. Isso porque não temos no epílogo do texto<br />

de Macunaíma a linguagem centrada na<br />

primeira pessoa, mas sim, na terceira.<br />

58) (2003) Eu começaria dizendo que poesia<br />

é uma questão de linguagem. A<br />

importância do poeta é que ele torna mais<br />

viva a linguagem. Carlos Drummond de<br />

Andrade escreveu um dos mais belos<br />

versos da língua portuguesa com duas<br />

palavras comuns: cão e cheirando.<br />

Um cão cheirando o futuro<br />

(Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP, 24/05/1988.<br />

adaptação)<br />

356<br />

O que deu ao verso de Drummond o<br />

caráter de inovador da língua foi<br />

A) o modo raro como foi tratado o<br />

"futuro".<br />

B) a referência ao cão como "animal de<br />

estimação".<br />

C) a flexão pouco comum do verbo<br />

"cheirar" (gerúndio).<br />

D) a aproximação não usual do agente<br />

citado e a ação de "cheirar".<br />

E) o emprego do artigo indefinido "um" e<br />

do artigo definido "o" na mesma frase.<br />

Comentário<br />

O fato de Drummond identificar o futuro<br />

como algo que pode ser percebido por um<br />

animal irracional por meio do olfato foi<br />

inovador. A figura de linguagem foi<br />

construída metaforicamente: o futuro torna-se<br />

uma coisa que tem cheiro, contrariamente à<br />

imagem pela qual ele normalmente é<br />

representado: como algo que não se vê e<br />

não se pode pressentir ou tocar.<br />

59) (2003) Epígrafe*<br />

Murmúrio de água na clepsidra**<br />

gotejante,<br />

Lentas gotas de som no relógio da torre,<br />

Fio de areia na ampulheta vigilante,<br />

Leve sombra azulando a pedra do<br />

quadrante***<br />

Assim se escoa a hora, assim se vive e<br />

morre...<br />

Homem, que fazes tu? Para que tanta<br />

lida,<br />

Tão doidas ambições, tanto ódio e tanta<br />

ameaça?<br />

Procuremos somente a Beleza, que a vida<br />

É um punhado infantil de areia<br />

ressequida,<br />

Um som de água ou de bronze e uma<br />

sombra que passa...<br />

(Eugênio de Castro. Antologia pessoal da poesia<br />

portuguesa)<br />

(*) Epígrafe: inscrição colocada no ponto<br />

mais alto; tema.<br />

(**) Clepsidra: relógio de água.<br />

(***) Pedra do quadrante: parte superior<br />

de um relógio de sol.<br />

A imagem contida em "lentas gotas de<br />

som" (verso 2) é retomada na segunda<br />

estrofe por meio da expressão:<br />

A) tanta ameaça.<br />

B) som de bronze.<br />

C) punhado de areia.<br />

D) sombra que passa.<br />

E) somente a Beleza.<br />

Comentário<br />

Numa clepsidra (relógio de água), o som<br />

do gotejamento lembra-nos o tic-tac de um<br />

relógio comum ou o som do sino que marca<br />

as horas no “relógio da torre” (verso 2,<br />

estrofe 1).<br />

Na segunda estrofe, o quinto verso<br />

refere-se a “Um som de água ou de<br />

bronze...” e nos remete, pelo “som de<br />

bronze”, ao som do sino que marca as horas<br />

no relógio da torre (os sinos normalmente<br />

eram feitos de bronze).<br />

60) (2002) Só falta o Senado aprovar o<br />

projeto de lei [sobre o uso de termos<br />

estrangeiros no Brasil] para que palavras<br />

como shopping center , delivery e drivethrough<br />

sejam proibidas em nomes de<br />

estabelecimentos e marcas. Engajado<br />

nessa valorosa luta contra o inimigo<br />

ianque, que quer fazer área de livre<br />

comércio com nosso inculto e belo idioma,<br />

venho sugerir algumas outras medidas<br />

que serão de extrema importância para a<br />

preservação da soberania nacional, a<br />

saber:<br />

........<br />

Nenhum cidadão carioca ou gaúcho<br />

poderá dizer "Tu vai" em espaços públicos<br />

do território nacional;<br />

Nenhum cidadão paulista poderá dizer "Eu<br />

lhe amo" e retirar ou acrescentar o plural<br />

em sentenças como "Me vê um chopps e<br />

dois pastel";<br />

..........<br />

Nenhum dono de borracharia poderá<br />

escrever cartaz com a palavra "borraxaria"


e nenhum dono de banca de jornal<br />

anunciará "Vende-se cigarros";<br />

..........<br />

Nenhum livro de gramática obrigará os<br />

alunos a utilizar colocações pronominais<br />

como "casar-me-ei" ou "ver-se-ão".<br />

PIZA, Daniel. Uma proposta imodesta. O Estado de<br />

S. Paulo, São Paulo, 8/04/2001.<br />

No texto acima, o autor:<br />

A) mostra-se favorável ao teor da<br />

proposta por entender que a língua<br />

portuguesa deve ser protegida contra<br />

deturpações de uso.<br />

B) ironiza o projeto de lei ao sugerir<br />

medidas que inibam determinados usos<br />

regionais e socioculturais da língua.<br />

C) denuncia o desconhecimento de regras<br />

elementares de concordância verbal e<br />

nominal pelo falante brasileiro.<br />

D) revela-se preconceituoso em relação a<br />

certos registros lingüísticos ao propor<br />

medidas que os controlem.<br />

E) defende o ensino rigoroso da gramática<br />

para que todos aprendam a empregar<br />

corretamente os pronomes.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. O autor ironiza o<br />

projeto de lei que proíbe o uso de<br />

estrangeirismos no Brasil. Não adianta criarse<br />

uma expectativa ou preocupação em<br />

relação ao uso de termos estrangeiros na<br />

língua e esquecer-se de que a língua é um<br />

organismo vivo, mutável. A dinâmica de uma<br />

língua não pode ser regida por preceitos<br />

legais como quer o projeto.<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão reproduz trechos de um<br />

texto que aborda o polêmico projeto de<br />

proibição de uso de termos estrangeiros no<br />

Brasil. A partir da leitura atenta do texto de<br />

Daniel Piza, o participante é levado a refletir<br />

sobre a postura adotada pelo autor em<br />

relação ao referido projeto. Para<br />

compreender esse texto, o participante<br />

precisa reconhecer o tom irônico que marca<br />

as observações e sugestões feitas por seu<br />

autor. Assim, Daniel Piza, "engajado nessa<br />

valorosa luta contra o inimigo ianque", sugere<br />

a proibição de algumas formas lingüísticas de<br />

uso corrente que contrariam recomendações<br />

da gramática normativa. O participante deve<br />

reconhecer que, com sugestões como essas,<br />

Daniel Piza deixa implícita uma crítica à<br />

utilidade do projeto de proibição dos<br />

estrangeirismos como forma de proteger a<br />

Língua Portuguesa. Nesse contexto, a ironia<br />

torna-se mais clara, bem como o mecanismo<br />

textual que a constrói. Feito tal<br />

reconhecimento, o aluno encontra a resposta<br />

correta na alternativa B, assinalada por cerca<br />

da metade dos participantes. Nenhuma outra<br />

alternativa contempla o aspecto irônico,<br />

essencial para a compreensão do texto.<br />

61) (2003) Epígrafe*<br />

Murmúrio de água na clepsidra**<br />

gotejante,<br />

Lentas gotas de som no relógio da torre,<br />

Fio de areia na ampulheta vigilante,<br />

Leve sombra azulando a pedra do<br />

quadrante***<br />

Assim se escoa a hora, assim se vive e<br />

morre...<br />

Homem, que fazes tu? Para que tanta<br />

lida,<br />

Tão doidas ambições, tanto ódio e tanta<br />

ameaça?<br />

Procuremos somente a Beleza, que a vida<br />

É um punhado infantil de areia<br />

ressequida,<br />

Um som de água ou de bronze e uma<br />

sombra que passa...<br />

(Eugênio de Castro. Antologia pessoal da poesia<br />

portuguesa)<br />

(*) Epígrafe: inscrição colocada no ponto<br />

mais alto; tema.<br />

(**) Clepsidra: relógio de água.<br />

(***) Pedra do quadrante: parte superior<br />

de um relógio de sol.<br />

Neste poema, o que leva o poeta a<br />

questionar determinadas ações humanas<br />

(versos 6 e 7) é a<br />

A) infantilidade do ser humano.<br />

B) destruição da natureza.<br />

C) exaltação da violência.<br />

D) inutilidade do trabalho.<br />

E) brevidade da vida.<br />

Comentário<br />

A resposta desta questão está nos últimos<br />

versos (8 a <strong>10</strong>):<br />

“Procuremos somente a Beleza, que a vida<br />

É um punhado de areia ressequida,<br />

Um som de água ou de bronze e uma sombra<br />

que passa...”<br />

Neles, a vida aparece em relação ao<br />

tempo, que passa de forma rápida: “areia<br />

ressequida” (como nas ampulhetas), “som de<br />

água ou de bronze” (clepsidra ou sino da<br />

torre) e, mais que tudo, “uma sombra que<br />

passa...” (algo tênue e de curta duração).<br />

357


62) (2003) A velha Totonha de quando em<br />

vez batia no engenho. E era um<br />

acontecimento para a meninada. (...)<br />

andava léguas e léguas a pé, de engenho<br />

a engenho, como uma edição viva das<br />

histórias de Mil e Uma Noites (...) era uma<br />

grande artista para dramatizar. Tinha uma<br />

memória de prodígio. Recitava contos<br />

inteiros em versos, intercalando pedaços<br />

de prosa, como notas explicativas. (...)<br />

Havia sempre rei e rainha, nos seus<br />

contos, e forca e adivinhações. O que<br />

fazia a velha Totonha mais curiosa era a<br />

cor local que ela punha nos seus<br />

descritivos. (...) Os rios e as florestas por<br />

onde andavam os seus personagens se<br />

pareciam muito com o Paraíba e a Mata<br />

do Rolo. O seu Barba-Azul era um senhor<br />

de engenho de Pernambuco.<br />

(José Lins do Rego. Menino de engenho)<br />

358<br />

A cor local que a personagem velha<br />

Totonha colocava em suas histórias é<br />

ilustrada, pelo autor, na seguinte<br />

passagem:<br />

A) "O seu Barba-Azul era um senhor de<br />

engenho de Pernambuco".<br />

B) "Havia sempre rei e rainha, nos seus<br />

contos, e forca e adivinhações".<br />

C) "Era uma grande artista para<br />

dramatizar. Tinha uma memória de<br />

prodígio".<br />

D) "Andava léguas e léguas a pé, como<br />

uma edição viva das Mil e Uma Noites".<br />

E) "Recitava contos inteiros em versos,<br />

intercalando pedaços de prosa, como<br />

notas explicativas".<br />

Comentário<br />

Por ser escritor da 2.ª Geração<br />

Modernista, José Lins do Rego ilustra, de<br />

forma evidente, o regionalismo — marca<br />

característica desse momento literário.<br />

Portanto, para localizar a “cor local”<br />

presente no texto, basta procurar a<br />

associação regionalista, que é retratada de<br />

forma explícita pela passagem “senhor de<br />

engenho de Pernambuco.”<br />

A questão não abre espaço para dúvidas.<br />

63) (2003) Pequenos tormentos da vida<br />

De cada lado da sala de aula, pelas janelas<br />

altas, o azul convida os meninos,<br />

as nuvens desenrolam-se, lentas como quem<br />

vai inventando<br />

preguiçosamente uma história sem fim...Sem<br />

fim é a aula: e nada acontece,<br />

nada...Bocejos e moscas. Se ao menos,<br />

pensa Margarida, se ao menos um<br />

avião entrasse por uma janela e saísse por<br />

outra!<br />

(Mário Quintana. Poesias)<br />

Na cena retratada no texto, o sentimento<br />

do tédio<br />

A) provoca que os meninos fiquem<br />

contando histórias.<br />

B) leva os alunos a simularem bocejos,<br />

em protesto contra a monotonia da<br />

aula.<br />

C) acaba estimulando a fantasia,<br />

criando a expectativa de algum<br />

imprevisto mágico.<br />

D) prevalece de modo absoluto,<br />

impedindo até mesmo a distração ou o<br />

exercício do pensamento.<br />

E) decorre da morosidade da aula, em<br />

contraste com o movimento acelerado<br />

das nuvens e das moscas.<br />

Comentário<br />

Essa questão aborda o imaginário<br />

decorrente do marasmo trazido pela escola.<br />

O texto enfatiza o arrastar do tempo na<br />

mente de uma aluna, Margarida, que se põe<br />

a pensar em fatos mágicos ou imaginários<br />

que pudessem romper com a lentidão da<br />

aula.<br />

64) (1998) Amor é fogo que arde sem ver;<br />

é ferida que dói e não se sente;<br />

é um contentamento descontente;<br />

é dor que desatina sem doer.<br />

É um não querer mais que bem querer;<br />

é solitário andar por entre a gente;<br />

é nunca contentar-se de contente;<br />

é cuidar que se ganha em se perder.<br />

É querer estar preso por vontade;<br />

é servir a quem vence, o vencedor;<br />

é ter com quem nos mata lealdade.<br />

Mas como causar pode seu favor<br />

nos corações humanos amizade<br />

se tão contrário a si é o mesmo Amor?<br />

(Luís de Camões. In: Obras Completas de Camões, Lisboa,<br />

Livraria Sá da Costa, Vol. 1, 1954, p.232)<br />

O poema tem, como característica, a<br />

figura de linguagem denominada antítese,<br />

relação de oposição de palavras ou idéias.<br />

Assinale a opção em que essa oposição<br />

se faz claramente presente.<br />

A) "Amor é fogo que arde sem se ver."<br />

B) "É um contentamento descontente."<br />

C) "É servir a quem se vence, o<br />

vencedor."<br />

D) "Mas como causar pode seu favor."<br />

E) "Se tão contrário a si é o mesmo<br />

Amor?"


Comentário<br />

A antítese é uma figura de linguagem que<br />

se caracteriza por colocar, lado a lado,<br />

imagens opostas que se contradizem. De<br />

todas as alternativas, a única que traz<br />

claramente uma contradição é a B, pois<br />

como pode existir um contentamento<br />

descontente?<br />

65) (2000) O autor do texto abaixo critica,<br />

ainda que em linguagem metafórica, a<br />

sociedade contemporânea em relação aos<br />

seus hábitos alimentares.<br />

“Vocês que têm mais de 15 anos, se<br />

lembram quando a gente comprava leite<br />

em garrafa, na leiteria da esquina? (...)<br />

Mas vocês não se lembram de nada,<br />

pô! Vai ver nem sabem o que é vaca. Nem<br />

o que é leite. Estou falando isso porque<br />

agora mesmo peguei um pacote de leite –<br />

leite em pacote, imagina, Tereza! – na<br />

porta dos fundos e estava escrito que é<br />

pasterizado, ou pasteurizado, sei lá, tem<br />

vitamina, é garantido pela<br />

embromatologia, foi enriquecido e o<br />

escambau. Será que isso é mesmo leite?<br />

No dicionário diz que leite é outra coisa:<br />

‘Líquido branco, contendo água,<br />

proteína, açúcar e sais minerais’. Um<br />

alimento pra ninguém botar defeito. O ser<br />

humano o usa há mais de 5.000 anos. É o<br />

único alimento só alimento. A carne serve<br />

pro animal andar, a fruta serve pra fazer<br />

outra fruta, o ovo serve pra fazer outra<br />

galinha (...) O leite é só leite. Ou toma ou<br />

bota fora. Esse aqui examinando bem, é<br />

só pra botar fora. Tem chumbo, tem<br />

benzina, tem mais água do que leite, tem<br />

serragem, sou capaz de jurar que nem<br />

vaca tem por trás desse negócio. Depois o<br />

pessoal ainda acha estranho que os<br />

meninos não gostem de leite.<br />

Mas, como não gostam? Não gostam<br />

como? Nunca tomaram! Múúúúúúú!”<br />

(FERNANDES, Millôr. O Estado de S. Paulo ,<br />

22 de agosto de 1999)<br />

A palavra embromatologia usada pelo<br />

autor é:<br />

A) um termo científico que significa estudo<br />

dos bromatos.<br />

B) uma composição do termo de gíria<br />

“embromação” (enganação) com<br />

bromatologia, que é o estudo dos<br />

alimentos.<br />

C) uma junção do termo de gíria<br />

“embromação” (enganação) com<br />

lactologia, que é o estudo das<br />

embalagens para leite.<br />

D) um neologismo da química orgânica<br />

que significa a técnica de retirar<br />

bromatos dos laticínios.<br />

E) uma corruptela de termo da<br />

agropecuária que significa a ordenha<br />

mecânica.<br />

Comentário<br />

É necessário para a resolução desta<br />

questão:<br />

- perceber que o texto critica o exagerado<br />

uso de substâncias artificiais nos<br />

alimentos;<br />

- conhecer o significado da gíria embromar e<br />

da palavra bromatologia.<br />

Conhecendo esses significados, você<br />

elimina todas as alternativas erradas: a, c, d<br />

e e.<br />

Você poderá ter dúvida quanto à<br />

alternativa c, que também será eliminada se<br />

souber o significado da palavra lactologia,<br />

que é o estudo do leite e produtos lácteos e<br />

não das embalagens para leite.<br />

Nesta questão, são trabalhados os<br />

conceitos de interpretação de texto, formação<br />

de palavras e conhecimentos gerais.<br />

Comentário do INEP<br />

A resolução da questão requeria que o<br />

participante, ao ler o texto vinculasse o<br />

significado de um termo de gíria -<br />

"embromação" - com o da palavra<br />

bromatologia. A resposta correta exigia que o<br />

participante não abrisse mão do sabor<br />

picante contido na linguagem metafórica,<br />

sabor vinculado ao conhecimento específico<br />

contido na palavra bromatologia. Cerca da<br />

metade dos participantes (51%) optou pela<br />

alternativa correta e, os 20% que escolheram<br />

a alternativa C, provavelmente associaram a<br />

referência feita no texto à leite em pacote.<br />

66) (2005) O termo (ou expressão)<br />

destacado que está empregado em seu<br />

sentido próprio, denotativo ocorre em:<br />

A) “(....)<br />

É de laço e de nó<br />

De gibeira o jiló<br />

Dessa vida, cumprida a sol (....)”<br />

(Renato Teixeira. Romaria. Kuarup Discos.<br />

setembro de 1992.)<br />

359


B) “Protegendo os inocentes<br />

é que Deus, sábio demais,<br />

põe cenários diferentes<br />

nas impressões digitais.”<br />

(Maria N. S. Carvalho. Evangelho da Trova. /s.n.b.)<br />

C) “O dicionário-padrão da língua e os<br />

dicionários unilíngües são os tipos mais<br />

comuns de dicionários. Em nossos<br />

dias, eles se tornaram um objeto de<br />

consumo obrigatório para as nações<br />

civilizadas e desenvolvidas.”<br />

(Maria T. Camargo Biderman.<br />

O dicionário-padrão da língua. Alfa (28), 2743, 1974 Supl.)<br />

D)<br />

67) (1998) Amor é fogo que arde sem ver;<br />

é ferida que dói e não se sente;<br />

é um contentamento descontente;<br />

é dor que desatina sem doer.<br />

É um não querer mais que bem querer;<br />

é solitário andar por entre a gente;<br />

é nunca contentar-se de contente;<br />

é cuidar que se ganha em se perder.<br />

É querer estar preso por vontade;<br />

é servir a quem vence, o vencedor;<br />

é ter com quem nos mata lealdade.<br />

Mas como causar pode seu favor<br />

nos corações humanos amizade<br />

se tão contrário a si é o mesmo Amor?<br />

(Luís de Camões. In: Obras Completas de Camões, Lisboa,<br />

Livraria Sá da Costa, Vol. 1, 1954, p.232)<br />

O poema pode ser considerado como um<br />

texto:<br />

A) argumentativo.<br />

B) narrativo.<br />

C) épico.<br />

D) de propaganda.<br />

E) teatral.<br />

360<br />

E) “Humorismo é a arte de fazer cócegas<br />

no raciocínio dos outros. Há duas<br />

espécies de humorismo: o trágico e o<br />

cômico. O trágico é o que não<br />

consegue fazer rir; o cômico é o que é<br />

verdadeiramente trágico para se fazer.”<br />

(Leon Eliachar. www.mercadolivre.com.br.<br />

acessado em julho de 2005.)<br />

Comentário<br />

A definição do dicionário-padrão da língua<br />

utiliza o sentido denotativo da palavra para<br />

explicar o uso de determinado tipo de<br />

dicionário. Em todas as outras alternativas,<br />

as palavras estão sendo empregadas em<br />

sentido metafórico. Na letra A, "cumprida a<br />

sol" pode mostrar o sofrimento e a solidão.<br />

Na alternativa B, "cenários diferentes" são as<br />

diferenças físicas encontradas nas<br />

impressões digitais. Na letra D, "bateria" é o<br />

termo usado para expressar a "energia" do<br />

Menino Maluquinho, que nunca acaba. Por<br />

fim, na alternativa E, "fazer cócegas no<br />

raciocínio" significa expressar graça por meio<br />

de idéias, fazendo com que o cérebro ache<br />

um fato divertido e, por conseguinte, faça<br />

com que a pessoa ria como se sofresse um<br />

ataque de cócegas.<br />

Comentário<br />

Podemos considerar esse texto como<br />

argumentativo, pois ele vai embasando a sua<br />

idéia sobre o que é o amor. O texto narrativo<br />

conta uma história, assim como o épico, que<br />

conta histórias de caráter heróico. Camões,<br />

nesse texto, não está preocupado em fazer<br />

propaganda do amor, mas, sim, em<br />

compreendê-lo. E, para terminar, esse texto<br />

não foi feito para ser encenado em palco<br />

como um texto teatral.<br />

68) (2001) O trecho a seguir é parte do<br />

poema “Mocidade e morte”, do poeta<br />

romântico Castro Alves:<br />

Oh! eu quero viver, beber perfumes<br />

Na flor silvestre, que embalsama os ares;<br />

Ver minh'alma adejar pelo infinito,<br />

Qual branca vela n'amplidão dos mares.<br />

No seio da mulher há tanto aroma...<br />

Nos seus beijos de fogo há tanta vida...<br />

– Árabe errante, vou dormir à tarde<br />

À sombra fresca da palmeira erguida.<br />

Mas uma voz responde-me sombria:<br />

Terás o sono sob a lájea fria.<br />

ALVES, Castro. Os melhores poemas de Castro Alves.<br />

Seleção de Lêdo Ivo. São Paulo: Global, 1983.<br />

Esse poema, como o próprio título sugere,<br />

aborda o inconformismo do poeta com a<br />

antevisão da morte prematura, ainda na<br />

juventude.


A imagem da morte aparece na palavra<br />

A) embalsama. D) dormir.<br />

B) infinito. E) sono.<br />

C) amplidão.<br />

Comentário<br />

No último verso, temos a expressão "sono<br />

sob a lájea fria". Dormir sob uma lájea fria? O<br />

trecho indica sepulcro. Portanto, nesse caso,<br />

sono = morte.<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão apresenta, para a leitura,<br />

uma parte do poema "Mocidade e morte", do<br />

poeta romântico Castro Alves. Nesse trecho,<br />

o poeta aborda o inconformismo com a<br />

antevisão da morte prematura. O problema<br />

apresenta-se sob a forma de identificação de<br />

uma palavra no trecho que represente a idéia<br />

de morte. Na primeira estrofe, há uma<br />

apologia à vida, contrastando com a segunda<br />

estrofe, em que se anuncia a morte, idéia<br />

introduzida pela conjunção mas, um divisor<br />

entre as estrofes. A compreensão dos<br />

elementos intratextuais e formais faz com<br />

que a identificação da imagem ocorra na<br />

segunda estrofe. As palavras indicadas nas<br />

alternativas, descontextualizadas, podem<br />

sugerir a idéia de morte como interpretação,<br />

mas não se sustentam na representação do<br />

poema. A leitura global do texto, seguida por<br />

uma compreensão das relações entre as<br />

imagens propostas, é a chave para a<br />

resposta correta, assinalada por 62% dos<br />

participantes.<br />

B)<br />

C)<br />

D)<br />

E)<br />

69) (2008) Os signos visuais, como meios de<br />

comunicação, são classificados em<br />

categorias de acordo com seus<br />

significados.<br />

A categoria denominada indício<br />

corresponde aos signos visuais que têm<br />

origem em formas ou situações naturais<br />

ou casuais, as quais, devido à ocorrência<br />

em circunstâncias idênticas, muitas vezes<br />

repetidas, indicam algo e adquirem<br />

significado. Por exemplo, nuvens negras<br />

indicam tempestade. Com base nesse<br />

conceito, escolha a opção que representa<br />

um signo da categoria dos indícios.<br />

A)<br />

Comentário<br />

Trata-se de uma questão interpretativa. O<br />

aluno precisa entender o que é “indício” para<br />

respondê-la. Segundo o dicionário Aurélio,<br />

indício é o mesmo que “sinal, vestígio,<br />

indicação”. Das figuras apresentadas,<br />

apenas a alternativa B indica algo: a<br />

passagem de alguém por algum lugar —<br />

pegada.<br />

70) (1999)<br />

361


Diante da visão de um prédio com uma<br />

placa indicando SAPATARIA PAPALIA,<br />

um jovem deparou com a dúvida: como<br />

pronunciar a palavra PAPALIA?<br />

Levado o problema à sala de aula, a<br />

discussão girou em torno da utilidade de<br />

conhecer as regras de acentuação e,<br />

especialmente, do auxílio que elas podem<br />

dar à correta pronúncia de palavras.<br />

Após discutirem pronúncia, regras de<br />

acentuação e escrita, três alunos<br />

apresentaram as seguintes conclusões a<br />

respeito da palavra PAPALIA:<br />

I. Se a sílaba tônica for o segundo PA, a<br />

escrita deveria ser PAPÁLIA, pois a<br />

palavra seria paroxítona terminada em<br />

ditongo crescente.<br />

II. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />

deveria ser PAPALÍA, pois "i" e "a"<br />

estariam formando hiato.<br />

III. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />

deveria ser PAPALIA, pois não haveria<br />

razão para o uso de acento gráfico.<br />

Comentário do INEP<br />

Dentre os participantes, somente pouco<br />

mais de um terço (35%) demonstrou possuir<br />

a habilidade para identificar as regras de<br />

acentuação corretas, enunciadas na questão.<br />

Chama a atenção o fato de que 73% dos<br />

participantes (alternativas A, D e E)<br />

reconheceram corretamente, pelo menos, a<br />

regra contida no item I, sendo que cerca de<br />

40% desses, contudo, tiveram dificuldades<br />

em analisar as regras II e III.<br />

Em se tratando de palavra não-usual, é,<br />

sobretudo, o domínio do conhecimento das<br />

regras e não a possível pronúncia correta,<br />

pelo uso, o que parece ter sido revelado.<br />

71) (2008)<br />

A conclusão está correta apenas em:<br />

A) III D) I<br />

B) I e II E) II<br />

C) I e III<br />

Comentário<br />

Essa questão exige bom conhecimento<br />

das regras de acentuação. A alternativa A diz<br />

que apenas a afirmação I é verdadeira. De<br />

fato ela é, mas não é a única. Nela, temos a<br />

hipótese de a palavra ser grafada como se a<br />

sílaba forte fosse a penúltima — papália —,<br />

justificando seu acento gráfico. Vejamos o<br />

que dizem as regras de acentuação.<br />

Acentuam-se as palavras paroxítonas<br />

terminadas em: i, is, us, um, uns, l, n, r, x,<br />

ps, ã, ãs, ão, ãos, ditongos orais,<br />

crescentes ou decrescentes, seguidos ou<br />

não de S. Isso valida, portanto, a afirmação I.<br />

A afirmação II pressupõe que a sílaba<br />

tônica seja LI, em hiato com A: no caso de<br />

essa ser a tonicidade da palavra, a sílaba LI<br />

não poderia ser acentuada, pois I, mesmo<br />

sendo a tônica do hiato, não é a última vogal,<br />

portanto, essa afirmativa é falsa.<br />

A afirmação III considera que a sílaba<br />

tônica é LI, não havendo acento por ser o I a<br />

primeira vogal do hiato. Portanto, essa<br />

afirmação é verdadeira.<br />

Concluindo, temos como verdadeiras as<br />

afirmações I e III. Então, a alternativa E é a<br />

correta. Questão de nível difícil.<br />

Exame, 28/9/2007.<br />

Entre os seguintes ditos populares, qual<br />

deles melhor corresponde à figura<br />

acima?<br />

A) Com perseverança, tudo se alcança.<br />

B) Cada macaco no seu galho.<br />

C) Nem tudo que balança cai.<br />

D) Quem tudo quer, tudo perde.<br />

E) Deus ajuda quem cedo madruga.<br />

Comentário<br />

Assim como a questão 37, esta também<br />

envolve interpretação de signos, ou seja, o<br />

aluno precisa estar atento à imagem e<br />

relacioná-la ao dito popular correspondente.<br />

A alternativa "A" é a correta, pois, para<br />

uma lesma “grudenta” e vagarosa conseguir<br />

pular numa cama elástica, é necessária<br />

muita perseverança.<br />

72) (1999) Leia o que disse João Cabral de<br />

Melo Neto, poeta pernambucano, sobre a<br />

função de seus textos:<br />

"Falo somente com o que falo: a<br />

linguagem enxuta, contato denso; falo<br />

somente do que falo: a vida seca, áspera<br />

e clara do sertão; falo somente por quem<br />

falo: o homem sertanejo sobrevivendo na<br />

362


adversidade e na míngua. Falo somente<br />

para quem falo: para os que precisam ser<br />

alertados para a situação da miséria no<br />

Nordeste."<br />

Para João Cabral de Melo Neto, no texto<br />

literário:<br />

A) a linguagem do texto deve refletir o<br />

tema, e a fala do autor deve denunciar<br />

o fato social para determinados<br />

leitores.<br />

B) a linguagem do texto não deve ter<br />

relação com o tema, e o autor deve ser<br />

imparcial para que seu texto seja lido.<br />

C) o escritor deve saber separar a<br />

linguagem do tema e a perspectiva<br />

pessoal da perspectiva do leitor.<br />

D) a linguagem pode ser separada do<br />

tema, e o escritor deve ser o delator do<br />

fato social para todos os leitores.<br />

E) a linguagem está além do tema, e o<br />

fato social deve ser a proposta do<br />

escritor para convencer o leitor.<br />

Comentário<br />

João Cabral mostrou, no comentário, que<br />

seus textos são transparentes na relação<br />

linguagem—tema. Ele não gosta de usar<br />

subterfúgios para passar sua mensagem<br />

("Falo somente com o que falo"), de desviarse<br />

do tema para assuntos que geralmente<br />

não fazem parte de seu interesse ("falo<br />

somente do que falo"), de fazer de si mesmo<br />

ou de seus personagens porta-vozes de<br />

outras pessoas ou classes sociais ("falo<br />

somente por quem falo") ou de dirigir-se a<br />

públicos que pouco proveito poderiam tirar de<br />

seus escritos ("falo somente para quem<br />

falo"). Essa ligação direta de tema e<br />

linguagem, somada à proposta de falar<br />

somente para quem se deve ou quer falar,<br />

justifica a resposta, sendo correta a<br />

alternativa A. Questão de nível médio.<br />

Comentário do INEP<br />

Para resolver essa questão, o participante<br />

deveria ser capaz de estabelecer a relação<br />

entre a linguagem, o tema e o interlocutor da<br />

escrita do autor, a partir das razões<br />

explicitadas no seu texto. Essas razões<br />

foram corretamente identificadas por mais da<br />

metade dos participantes.<br />

73) (2001) No trecho abaixo, o narrador, ao<br />

descrever a personagem, critica<br />

sutilmente um outro estilo de época: o<br />

romantismo.<br />

“Naquele tempo contava apenas uns<br />

quinze ou dezesseis anos; era talvez a<br />

mais atrevida criatura da nossa raça, e,<br />

com certeza, a mais voluntariosa. Não<br />

digo que já lhe coubesse a primazia da<br />

beleza, entre as mocinhas do tempo,<br />

porque isto não é romance, em que o<br />

autor sobredoura a realidade e fecha os<br />

olhos às sardas e espinhas; mas também<br />

não digo que lhe maculasse o rosto<br />

nenhuma sarda ou espinha, não. Era<br />

bonita, fresca, saía das mãos da natureza,<br />

cheia daquele feitiço, precário e eterno,<br />

que o indivíduo passa a outro indivíduo,<br />

para os fins secretos da criação.”<br />

ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de<br />

Brás Cubas. Rio de Janeiro: Jackson,1957.<br />

A frase do texto em que se percebe a<br />

crítica do narrador ao romantismo está<br />

transcrita na alternativa:<br />

A) ... o autor sobredoura a realidade e<br />

fecha os olhos às sardas e espinhas ...<br />

B) ... era talvez a mais atrevida criatura da<br />

nossa raça ...<br />

C) Era bonita, fresca, saía das mãos da<br />

natureza, cheia daquele feitiço,<br />

precário e eterno, ...<br />

D) Naquele tempo contava apenas uns<br />

quinze ou dezesseis anos ...<br />

E) ... o indivíduo passa a outro indivíduo,<br />

para os fins secretos da criação.<br />

Comentário<br />

Questão muito fácil que pode ser<br />

respondida com a simples leitura do texto.<br />

Machado de Assis critica a supervalorização<br />

e idealização das personagens do<br />

Romantismo. Tal crítica fica clara na<br />

alternativa A.<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão apresenta para leitura e<br />

análise um trecho de Memórias de Brás<br />

Cubas, de Machado de Assis. Nesse texto, o<br />

narrador realiza um comentário sobre o<br />

"romance romântico", criticando uma de suas<br />

características. O problema proposto trata<br />

da identificação dessa passagem no texto. O<br />

participante deve reconhecer no texto as<br />

características do "romance romântico" e<br />

associá-la à crítica do narrador. As<br />

alternativas propõem passagens que podem<br />

ser associadas ao romantismo em contexto<br />

extratextual, sendo que, em apenas uma<br />

363


delas, há a relação entre contexto/texto. Mais<br />

da metade (54%) dos participantes identificou<br />

corretamente a passagem no texto.<br />

74) (2000) Em muitos jornais, encontramos<br />

charges, quadrinhos, ilustrações,<br />

inspirados nos fatos noticiados. Veja um<br />

exemplo:<br />

364<br />

Jornal do Commercio , 22/8/93<br />

O texto que se refere a uma situação<br />

semelhante à que inspirou a charge é:<br />

A) Descansem o meu leito solitário<br />

Na floresta dos homens esquecida,<br />

À sombra de uma cruz, e escrevam nela<br />

– Foi poeta – sonhou – e amou na vida.<br />

(AZEVEDO, Álvares de . Poesias escolhidas . Rio de<br />

Janeiro/Brasília: José Aguilar/INL,1971)<br />

B) Essa cova em que estás<br />

Com palmos medida,<br />

é a conta menor<br />

que tiraste em vida.<br />

É de bom tamanho,<br />

Nem largo nem fundo,<br />

É a parte que te cabe<br />

deste latifúndio.<br />

(MELO NETO, João Cabral de. Morte e Vida Severina e<br />

outros poemas em voz alta . Rio de Janeiro: Sabiá, 1967)<br />

C) Medir é a medida<br />

mede<br />

A terra, medo do homem, a lavra;<br />

lavra<br />

duro campo, muito cerco, vária várzea.<br />

(CHAMIE, Mário. Sábado na hora da escutas. São<br />

Paulo: Summums, 1978)<br />

D) Vou contar para vocês<br />

um caso que sucedeu<br />

na Paraíba do Norte<br />

com um homem que se chamava<br />

Pedro João Boa-Morte,<br />

lavrador de Chapadinha:<br />

talvez tenha morte boa<br />

porque vida ele não tinha.<br />

(GULLAR, Ferreira. Toda poesia . Rio de Janeiro:<br />

Civilização Brasileira, 1983)<br />

E) Trago-te flores, – restos arrancados<br />

Da terra que nos viu passar<br />

E ora mortos nos deixa e separados.<br />

(ASSIS, Machado de. Obra completa . Rio de Janeiro:<br />

Nova Aguillar, 1986)<br />

Comentário<br />

Esta questão exige boa dose de reflexão.<br />

Antes de tudo, há que se notar que o título<br />

"Demarcação das terras indígenas" está<br />

ligado ironicamente à figura das covas<br />

comuns, anônimas (covas são as terras dos<br />

índios?). Procuramos, então, o trecho de<br />

poema que sirva como legenda à figura<br />

apresentada, mantendo também a ironia da<br />

relação. As alternativas a e e se descartam<br />

pelo lirismo romântico presente e, ainda<br />

mais, pela presença, na a, de elementos que<br />

não estão no universo conceitual indígena<br />

(cruz, poeta). A alternativa c não nos serve<br />

por estar tratando da dureza do trabalho com<br />

a terra, o que não é o tema da charge. Já a d<br />

não é adequada por estar introduzindo a<br />

discussão de fatos ocorridos na vida de um<br />

único homem, provavelmente não-índio (até<br />

pelo nome João Boa-Morte). Fica-nos a<br />

alternativa b, que bem poderia servir de<br />

legenda à charge; se pensarmos nos<br />

sangrentos conflitos entre brancos e índios<br />

pela ocupação das terras indígenas<br />

demarcadas, nos quais os índios geralmente<br />

levam a pior, então nos servem bem os<br />

versos que apresenta.<br />

Comentário do INEP<br />

O alto índice de acerto (72 %) revelou a<br />

capacidade dos participantes de não só<br />

contextualizar o problema em foco mas<br />

também de estabelecer relações de sentido<br />

entre diferentes linguagens, ou seja, de lidar<br />

com a intertextualidade. As relações<br />

incorretas que foram estabelecidas,<br />

possivelmente, são devidas mais à falta de<br />

capacidade de contextualização do que de<br />

estabelecimento de relações temáticas.<br />

75) (2002) A leitura do poema Descrição da<br />

guerra em Guernica traz à lembrança o<br />

famoso quadro de Picasso.<br />

Entra pela janela<br />

o anjo camponês;<br />

com a terceira luz na mão;<br />

minucioso, habituado<br />

aos interiores de cereal,<br />

aos utensílios que dormem na fuligem;<br />

os seus olhos rurais<br />

não compreendem bem os símbolos<br />

desta colheita: hélices,<br />

motores furiosos;<br />

e estende mais o braço; planta<br />

no ar, como uma árvore<br />

a chama do candeeiro.<br />

(...)<br />

Carlos de Oliveira in ANDRADE, Eugénio. Antologia<br />

Pessoal da Poesia Portuguesa. Porto: Campo das<br />

Letras, 1999.


Uma análise cuidadosa do quadro permite<br />

que se identifiquem as cenas referidas<br />

nos trechos do poema.<br />

Podem ser relacionadas ao texto lido as<br />

partes:<br />

A) a1, a2, a3 D) c1, c2, c3<br />

B) f1, e1, d1 E) e1, e2, e3<br />

C) e1, d1, c1<br />

Comentário<br />

Questão de nível médio. O que precisava<br />

ser feito era encontrar figuras do poema<br />

dentro do quadro. O que se descreve nos<br />

versos 1 e 2 (o anjo camponês que entra<br />

pela janela) está no quadrante e1 (ver a<br />

janela). Nos três últimos versos, há mais<br />

duas imagens: estende mais o braço — d1;<br />

chama do candeeiro — c1.<br />

Comentário do INEP<br />

O trecho do poema "Descrição da guerra<br />

em Guernica", transcrito na prova, cria para o<br />

participante uma interessante relação<br />

intertextual: o poeta Carlos de Oliveira<br />

propõe uma leitura interpretativa do<br />

conhecido quadro de Pablo Picasso. Além do<br />

poema, o quadro de Picasso foi também<br />

reproduzido na questão, de modo a permitir<br />

que o aluno tivesse condições de "ler" essa<br />

obra de arte e nela reconhecer as referências<br />

criadas pelo texto de Carlos de Oliveira. Os<br />

primeiros versos do poema fazem referência<br />

à entrada de um "anjo camponês" pela<br />

janela. No quadro, essa imagem pode ser<br />

identificada no quadro e1. Mais adiante, os<br />

versos aludem a um braço estendido que<br />

"planta/ no ar.../ a chama do candeeiro". Para<br />

compreender a metáfora criada, o<br />

participante deveria perceber, em primeiro<br />

lugar, que o braço estendido seria do anjo<br />

camponês, identificado no quadro e1. Esse<br />

reconhecimento daria a chave de resposta da<br />

questão, porque permitiria que a imagem da<br />

entrada do anjo com o braço estendido<br />

portando um candeeiro fosse associada aos<br />

quadros e1, d1, c1 , contidos na alternativa<br />

C, assinalada por cerca de metade dos<br />

participantes.<br />

76) (2008) São Paulo vai se recensear. O<br />

governo quer saber quantas pessoas<br />

governa. A indagação atingirá a fauna e a<br />

flora domesticadas. Bois, mulheres e<br />

algodoeiros serão reduzidos a números e<br />

invertidos em estatísticas. O homem do<br />

censo entrará pelos bangalôs, pelas<br />

pensões, pelas casas de barro e de<br />

cimento armado, pelo sobradinho e pelo<br />

apartamento, pelo cortiço e pelo hotel,<br />

perguntando:<br />

— Quantos são aqui?<br />

Pergunta triste, de resto. Um homem dirá:<br />

— Aqui havia mulheres e criancinhas.<br />

Agora, felizmente, só há pulgas e ratos.<br />

E outro:<br />

— Amigo, tenho aqui esta mulher, este<br />

papagaio, esta sogra e algumas baratas.<br />

Tome nota dos seus nomes, se quiser.<br />

Querendo levar todos, é favor... (...)<br />

E outro:<br />

— Dois, cidadão, somos dois.<br />

Naturalmente o sr. não a vê. Mas ela está<br />

aqui, está, está! A sua saudade jamais<br />

sairá de meu quarto e de meu peito!<br />

Rubem Braga. Para gostar de ler. v. 3.<br />

São Paulo: Ática, 1998, p. 32-3 (fragmento).<br />

O fragmento acima, em que há referência<br />

a um fato sócio-histórico — o<br />

recenseamento —, apresenta<br />

característica marcante do gênero crônica<br />

ao<br />

A) expressar o tema de forma abstrata,<br />

evocando imagens e buscando<br />

apresentar a idéia de uma coisa por<br />

meio de outra.<br />

B) manter-se fiel aos acontecimentos,<br />

retratando os personagens em um só<br />

tempo e um só espaço.<br />

C) contar história centrada na solução de<br />

um enigma, construindo os<br />

personagens psicologicamente e<br />

revelando-os pouco a pouco.<br />

D) evocar, de maneira satírica, a vida na<br />

cidade, visando transmitir<br />

ensinamentos práticos do cotidiano,<br />

para manter as pessoas informadas.<br />

E) valer-se de tema do cotidiano como<br />

ponto de partida para a construção de<br />

texto que recebe tratamento estético.<br />

Comentário<br />

A questão correta é a E, pois a crônica<br />

utiliza a linguagem estética ou poética para<br />

expor temas do cotidiano. Há uma<br />

preocupação com a escolha das palavras<br />

que são rebuscadas e ritmadas, ou seja, a<br />

função da linguagem é poética.<br />

365


77) (1999) Quem não passou pela<br />

experiência de estar lendo um texto e<br />

defrontar-se com passagens já lidas em<br />

outros? Os textos conversam entre si em<br />

um diálogo constante. Esse fenômeno tem<br />

a denominação de intertextualidade. Leia<br />

os seguintes textos:<br />

I. Quando nasci, um anjo torto<br />

Desses que vivem na sombra<br />

Disse: Vai Carlos! Ser "gauche" na vida<br />

(Andrade, Carlos Drummond de. Alguma poesia. Rio de<br />

Janeiro: Aguilar, 1964)<br />

II. Quando nasci veio um anjo safado<br />

O chato dum querubim<br />

E decretou que eu tava predestinado<br />

A ser errado assim<br />

Já de saída a minha estrada entortou<br />

Mas vou até o fim.<br />

(BUARQUE, Chico. Letra e Música. São Paulo: Cia.<br />

das Letras, 1989)<br />

III. Quando nasci um anjo esbelto<br />

Desses que tocam trombeta, anunciou:<br />

Vai carregar bandeira.<br />

Carga muito pesada pra mulher<br />

Esta espécie ainda envergonhada<br />

(PRADO, Adélia. Bagagem. Rio de Janeiro:<br />

Guanabara, 1986)<br />

Adélia Prado e Chico Buarque<br />

estabelecem intertextualidade, em relação<br />

a Carlos Drummond de Andrade, por:<br />

A) reiteração de imagens.<br />

B) oposição de idéias.<br />

C) falta de criatividade.<br />

D) negação dos versos.<br />

E) ausência de recursos.<br />

Comentário<br />

Outra questão com resposta evidente. A<br />

recorrência à imagem do "anjo anunciador" e<br />

dos caminhos que se tornam sempre difíceis<br />

e tortuosos (gauche = acanhado, inepto),<br />

feita pelos três autores, elimina qualquer<br />

sombra de dúvida em relação às outras<br />

respostas. Questão de nível fácil.<br />

Comentário do INEP<br />

Para a resolução desse problema, era<br />

requerido que o participante soubesse<br />

identificar os elementos de intertextualidade<br />

entre três trechos de textos de diferentes<br />

autores.<br />

As duas primeiras alternativas,<br />

amplamente majoritárias, revelam<br />

possivelmente duas distintas percepções da<br />

questão. A alternativa correta A foi escolhida<br />

pelos que perceberam a ostensiva reiteração<br />

de imagens (repetição da imagem do anjo<br />

que vaticina). A alternativa B, incorreta, pode<br />

ter atraído muitos participantes à medida que<br />

tenham, talvez, identificado uma oposição de<br />

idéias, não entre os textos, mas entre a<br />

imagem usualmente positiva de anjo e uma<br />

certa adjetivação pejorativa utilizada em<br />

relação aos mesmos.<br />

78) (2002) A crônica muitas vezes constitui<br />

um espaço para reflexão sobre aspectos<br />

da sociedade em que vivemos.<br />

"Eu, na rua, com pressa, e o menino<br />

segurou no meu braço, falou qualquer<br />

coisa que não entendi. Fui logo dizendo<br />

que não tinha, certa de que ele estava<br />

pedindo dinheiro. Não estava. Queria<br />

saber a hora.<br />

Talvez não fosse um Menino De<br />

Família, mas também não era um Menino<br />

De Rua. É assim que a gente divide.<br />

Menino De Família é aquele bem-vestido<br />

com tênis da moda e camiseta de marca,<br />

que usa relógio e a mãe dá outro se o<br />

dele for roubado por um Menino De Rua.<br />

Menino De Rua é aquele que quando a<br />

gente passa perto segura a bolsa com<br />

força porque pensa que ele é pivete,<br />

trombadinha, ladrão. (...) Na verdade não<br />

existem meninos De rua.<br />

Existem meninos NA rua. E toda vez<br />

que um menino está NA rua é porque<br />

alguém o botou lá. Os meninos não vão<br />

sozinhos aos lugares. Assim como são<br />

postos no mundo, durante muitos anos<br />

também são postos onde quer que<br />

estejam. Resta ver quem os põe na rua. E<br />

por quê."<br />

COLASSANTI, Marina. In: Eu sei, mas não devia. Rio de<br />

Janeiro: Rocco, 1999.<br />

No terceiro parágrafo em "... não existem<br />

meninos De rua. Existem meninos NA<br />

rua.", a troca de De pelo Na determina<br />

que a relação de sentido entre "menino" e<br />

"rua" seja<br />

A) de localização e não de qualidade.<br />

B) de origem e não de posse.<br />

C) de origem e não de localização.<br />

D) de qualidade e não de origem.<br />

E) de posse e não de localização.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. Apesar de não<br />

haver um terceiro parágrafo neste texto, a<br />

troca das preposições ao final do SEGUNDO<br />

parágrafo indica claramente que não há um<br />

menino DE (proveniente de) rua, mas um<br />

menino que está NA (foi levado à) rua.<br />

366


Portanto, a relação é unicamente de<br />

localização (onde ele está) e não de<br />

qualidade (o que ele é).<br />

Comentário do INEP<br />

A reprodução de um trecho de uma<br />

crônica de Marina Colassanti tematiza uma<br />

importante questão social brasileira: a<br />

presença de milhões de crianças nas ruas do<br />

País. A autora, ao tratar desse problema,<br />

vale-se de recursos lingüísticos específicos.<br />

O objetivo desta questão é justamente<br />

chamar a atenção do participante leitor para<br />

esses recursos e os efeitos de sentido que<br />

eles desencadeiam no texto. Na raiz da<br />

questão destaca-se a troca de "De" por "NA"<br />

e pede-se que se determine qual relação de<br />

sentido essa substituição estabelece entre os<br />

termos "menino" e "rua". Analisar a relação,<br />

nesse caso, significa perguntar-se sobre o<br />

sentido de dois sintagmas criados no texto:<br />

"meninos NA rua" por oposição a "meninos<br />

De rua". O que a autora pretende negar, com<br />

a troca do termo de relação, é a possibilidade<br />

de que existam meninos de rua diferentes de<br />

outros meninos, que não têm na rua a sua<br />

origem. O destaque para a preposição na<br />

nos leva a refletir que a relação dos meninos<br />

com a rua é de localização: eles estão ali por<br />

alguma razão, não porque essa seja a sua<br />

qualificação. Essa reflexão levaria o aluno a<br />

escolher, como correta, a resposta<br />

apresentada na alternativa A, assinalada por<br />

cerca de metade dos participantes.<br />

79) (2005) Leia estes textos.<br />

Texto 1<br />

Texto 2<br />

Sonhar<br />

Mais um sonho impossível<br />

Lutar<br />

Quando é fácil ceder<br />

Vencer o inimigo invencível<br />

Negar quando a regra é vender<br />

Sofrer a tortura implacável<br />

Romper a incabível prisão<br />

Voar num limite improvável<br />

Tocar o inacessível chão<br />

É minha lei, é minha questão<br />

Virar esse mundo<br />

Cravar esse chão<br />

Não me importa saber<br />

Se é terrível demais<br />

Quantas guerras terei que vencer<br />

Por um pouco de paz<br />

E amanhã se esse chão que eu beijei<br />

For meu leito e perdão<br />

Vou saber que valeu delirar<br />

E morrer de paixão<br />

E assim, seja lá como for<br />

Vai ter fim a infinita aflição<br />

E o mundo vai ver uma flor<br />

Brotar do impossível chão.<br />

(J. Darione – M. Leigh – Versão de Chico Buarque de<br />

Hollanda e Ruy Guerra, 1972.)<br />

A tirinha e a canção apresentam uma<br />

reflexão sobre o futuro da humanidade. É<br />

correto concluir que os dois textos<br />

A) afirmam que o homem é capaz de<br />

alcançar a paz.<br />

B) concordam que o desarmamento é<br />

inatingível.<br />

C) julgam que o sonho é um desafio<br />

invencível.<br />

D) têm visões diferentes sobre um<br />

possível mundo melhor.<br />

E) transmitem uma mensagem de<br />

otimismo sobre a paz.<br />

Comentário<br />

Enquanto o primeiro texto é ácido em<br />

relação à possibilidade de desarmamento da<br />

população (ou seja, à criação de uma<br />

sociedade mais pacífica), o segundo mostra<br />

a capacidade que a humanidade tem de crer<br />

e, por isso, tentar fazer até o que a princípio<br />

parece impossível. Para os autores da<br />

canção, nada é intrinsecamente impossível.<br />

A relação entre eles é de oposição:<br />

descrença x crença. Questão de nível de<br />

dificuldade médio.<br />

80) (2000) O uso do pronome átono no início<br />

das frases é destacado por um poeta e<br />

por um gramático nos textos abaixo.<br />

Pronominais<br />

Dê-me um cigarro<br />

Diz a gramática<br />

Do professor e do aluno<br />

E do mulato sabido<br />

Mas o bom negro e o bom branco<br />

da Nação Brasileira<br />

Dizem todos os dias<br />

Deixa disso camarada<br />

Me dá um cigarro<br />

(ANDRADE, Oswald de. Seleção de textos.<br />

São Paulo: Nova Cultural, 1988)<br />

367


368<br />

“Iniciar a frase com pronome átono só<br />

é lícito na conversação familiar,<br />

despreocupada, ou na língua escrita<br />

quando se deseja reproduzir a fala dos<br />

personagens (...).”<br />

(CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da<br />

língua portuguesa.<br />

São Paulo: Nacional, 1980)<br />

Comparando a explicação dada pelos<br />

autores sobre essa regra, pode-se afirmar<br />

que ambos:<br />

A) condenam essa regra gramatical.<br />

B) acreditam que apenas os esclarecidos<br />

sabem essa regra.<br />

C) criticam a presença de regras na<br />

gramática.<br />

D) afirmam que não há regras para uso de<br />

pronomes.<br />

E) relativizam essa regra gramatical.<br />

Comentário<br />

Questão que requer conhecimento básico<br />

de colocação pronominal, em relação ao uso<br />

de pronomes átonos no início de frases, uma<br />

regra muito pouco respeitada pelo brasileiro,<br />

da qual Oswald de Andrade faz questão de<br />

falar em seu poema. Porém, a questão pode<br />

ser resolvida simplesmente por meio de uma<br />

leitura bem atenta dos textos. Se formos<br />

analisando alternativa por alternativa, a<br />

eliminação é clara e lógica: a alternativa a<br />

fica totalmente descartada devido à<br />

transparência da colocação dos dois autores<br />

(Me dá um cigarro...) e (iniciar frases com o<br />

pronome átono é "lícito" na conversação<br />

familiar ou despreocupada). Já a alternativa b<br />

pode até mesmo gerar um pouco de dúvida a<br />

quem não se atém bem à pergunta. Quanto<br />

às alternativas c e d, ficam descartadas, pois,<br />

em momento nenhum, os autores criticaram<br />

o uso de regras gramaticais em seus textos,<br />

cabendo perfeitamente a alternativa e para<br />

as afirmações do gramático e do poeta.<br />

Comentário do INEP<br />

Essa questão pretendia verificar como o<br />

participante analisa um fato lingüístico,<br />

mediante a comparação da descrição desse<br />

fato em dois textos. Sabe-se que,<br />

normalmente em situação escolar, o uso do<br />

pronome átono no início da frase é julgado<br />

como grave desvio gramatical, e pouco se<br />

analisa esse uso na fala ou escrita informal.<br />

Os dois autores dos textos, com intenções<br />

diferentes, relativizam essa regra gramatical,<br />

destacando e descrevendo o seu uso<br />

coloquial. A maioria dos participantes (52%)<br />

analisou e comparou corretamente as<br />

posições dos autores sobre o uso do<br />

pronome átono, e 24% deles reafirmaram a<br />

posição discriminatória da regra, deslocandoa<br />

de seu uso.<br />

81) (2005) Leia estes poemas.<br />

Texto 1 - Auto-retrato<br />

Provinciano que nunca soube<br />

Escolher bem uma gravata;<br />

Pernambucano a quem repugna<br />

A faca do pernambucano;<br />

Poeta ruim que na arte da prosa<br />

Envelheceu na infância da arte,<br />

E até mesmo escrevendo crônicas<br />

Ficou cronista de província;<br />

Arquiteto falhado, músico<br />

Falhado (engoliu um dia<br />

Um piano, mas o teclado<br />

Ficou de fora); sem família,<br />

Religião ou filosofia;<br />

Mal tendo a inquietação de espírito<br />

Que vem do sobrenatural,<br />

E em matéria de profissão<br />

Um tísico* profissional.<br />

(Manuel Bandeira. Poesia completa e prosa. Rio de<br />

Janeiro: Aguilar, 1983. p. 395.)<br />

Texto 2 - Poema de sete faces<br />

Quando eu nasci, um anjo torto<br />

desses que vivem na sombra<br />

disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.<br />

As casas espiam os homens<br />

que correm atrás de mulheres.<br />

A tarde talvez fosse azul,<br />

não houvesse tantos desejos.<br />

(....)<br />

Meu Deus, por que me abandonaste<br />

se sabias que eu não era Deus<br />

se sabias que eu era fraco.<br />

Mundo mundo vasto mundo,<br />

se eu me chamasse Raimundo<br />

seria uma rima, não seria uma solução.<br />

Mundo mundo vasto mundo<br />

mais vasto é o meu coração.<br />

(Carlos Drummond de Andrade.<br />

Obra completa. Rio de Janeiro:<br />

Aguilar, 1964. p. 53.)<br />

(*) tísico=tuberculoso<br />

Esses poemas têm em comum o fato de<br />

A) descreverem aspectos físicos dos<br />

próprios autores.<br />

B) refletirem um sentimento pessimista.<br />

C) terem a doença como tema.<br />

D) narrarem a vida dos autores desde o<br />

nascimento.<br />

E) defenderem crenças religiosas.


Comentário<br />

Questão de nível fácil. Tanto o poema de<br />

Manuel Bandeira quanto o de Carlos<br />

Drummond de Andrade evidenciam, dentro<br />

do ponto de vista dos autores, características<br />

extremamente pessimistas em relação à vida<br />

e, conseqüentemente, à arte.<br />

Comentário do INEP<br />

Enunciando em breve. Comentário<br />

disponível. Selecione uma alternativa e clique<br />

em conferir para vê-lo.<br />

82) (2003) A velha Totonha de quando em<br />

vez batia no engenho. E era um<br />

acontecimento para a meninada. (...)<br />

andava léguas e léguas a pé, de engenho<br />

a engenho, como uma edição viva das<br />

histórias de Mil e Uma Noites (...) era uma<br />

grande artista para dramatizar. Tinha uma<br />

memória de prodígio. Recitava contos<br />

inteiros em versos, intercalando pedaços<br />

de prosa, como notas explicativas. (...)<br />

Havia sempre rei e rainha, nos seus<br />

contos, e forca e adivinhações. O que<br />

fazia a velha Totonha mais curiosa era a<br />

cor local que ela punha nos seus<br />

descritivos. (...) Os rios e as florestas por<br />

onde andavam os seus personagens se<br />

pareciam muito com o Paraíba e a Mata<br />

do Rolo. O seu Barba-Azul era um senhor<br />

de engenho de Pernambuco.<br />

José Lins do Rego. Menino de Engenho. Rio de Janeiro:<br />

José Olympio, 1980, p. 49-51 (com adaptações).<br />

Na construção da personagem “velha<br />

Totonha”, é possível identificar traços que<br />

revelam marcas do processo de<br />

colonização e de civilização do país.<br />

Considerando o texto acima, infere-se que<br />

a velha Totonha<br />

A) tira o seu sustento da produção da<br />

literatura, apesar de suas condições de<br />

vida e de trabalho, que denotam que<br />

ela enfrenta situação econômica muito<br />

adversa.<br />

B) compõe, em suas histórias, narrativas<br />

épicas e realistas da história do país<br />

colonizado, livres da influência de<br />

temas e modelos não representativos<br />

da realidade nacional.<br />

C) retrata, na constituição do espaço dos<br />

contos, a civilização urbana européia<br />

em concomitância com a<br />

representação literária de engenhos,<br />

rios e florestas do Brasil.<br />

D) aproxima-se, ao incluir elementos<br />

fabulosos nos contos, do próprio<br />

romancista, o qual pretende retratar a<br />

realidade brasileira de forma tão<br />

grandiosa quanto a européia.<br />

E) imprime marcas da realidade local a<br />

suas narrativas, que têm como modelo<br />

e origem as fontes da literatura e da<br />

cultura européia universalizada.<br />

Comentário<br />

Esta questão exige conhecimentos de<br />

literatura universal. O aluno precisa saber<br />

que Barba-Azul é um personagem da cultura<br />

européia. Nas histórias de Totonha, ele é<br />

representado como um senhor de engenho<br />

de Pernambuco. Percebe-se aí a forte<br />

influência da colonização européia na<br />

realidade local. Logo, a alternativa correta é a<br />

letra "E".<br />

83) (2005) Leia estes poemas.<br />

Texto 1 - Auto-retrato<br />

Provinciano que nunca soube<br />

Escolher bem uma gravata;<br />

Pernambucano a quem repugna<br />

A faca do pernambucano;<br />

Poeta ruim que na arte da prosa<br />

Envelheceu na infância da arte,<br />

E até mesmo escrevendo crônicas<br />

Ficou cronista de província;<br />

Arquiteto falhado, músico<br />

Falhado (engoliu um dia<br />

Um piano, mas o teclado<br />

Ficou de fora); sem família,<br />

Religião ou filosofia;<br />

Mal tendo a inquietação de espírito<br />

Que vem do sobrenatural,<br />

E em matéria de profissão<br />

Um tísico* profissional.<br />

(Manuel Bandeira. Poesia completa e prosa. Rio de<br />

Janeiro: Aguilar, 1983. p. 395.)<br />

Texto 2 - Poema de sete faces<br />

Quando eu nasci, um anjo torto<br />

desses que vivem na sombra<br />

disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.<br />

As casas espiam os homens<br />

que correm atrás de mulheres.<br />

A tarde talvez fosse azul,<br />

não houvesse tantos desejos.<br />

(....)<br />

Meu Deus, por que me abandonaste<br />

se sabias que eu não era Deus<br />

se sabias que eu era fraco.<br />

Mundo mundo vasto mundo,<br />

se eu me chamasse Raimundo<br />

seria uma rima, não seria uma solução.<br />

Mundo mundo vasto mundo<br />

mais vasto é o meu coração.<br />

(Carlos Drummond de Andrade.<br />

Obra completa. Rio de Janeiro:<br />

Aguilar, 1964. p. 53.)<br />

369


(*) tísico=tuberculoso<br />

No verso “Meu Deus, por que me<br />

abandonaste” do texto 2, Drummond<br />

retoma as palavras de Cristo, na cruz,<br />

pouco antes de morrer. Esse recurso de<br />

repetir palavras de outrem equivale a<br />

A) emprego de termos moralizantes.<br />

B) uso de vício de linguagem pouco<br />

tolerado.<br />

C) repetição desnecessária de idéias.<br />

D) emprego estilístico da fala de outra<br />

pessoa.<br />

E) uso de uma pergunta sem resposta.<br />

Comentário<br />

A citação, característica de intercambiar<br />

pensamentos de um texto para outro, fica<br />

bastante evidente no poema de Drummond.<br />

Ao retomar as palavras de Cristo, o autor<br />

deixa claro que sua idéia era transmitir uma<br />

mensagem por meio de palavras já<br />

proferidas por outra pessoa e cuja<br />

importância dá sentido a toda a estrofe.<br />

pois ambos (tira e poema) utilizam figuras de<br />

linguagem (metáfora e ironia) para expressar<br />

as diferentes visões de mundo.<br />

85) (2000) As histórias em quadrinhos, por<br />

vezes, utilizam animais como<br />

personagens e a eles atribuem<br />

comportamento humano. O gato Garfield<br />

é exemplo desse fato.<br />

Fonte: Caderno Vida e Arte, Jornal do Povo, Fortaleza<br />

Van Gogh, pintor holandês nascido em<br />

1853, é um dos principais nomes da<br />

pintura mundial. É dele o quadro abaixo.<br />

84) (2004)<br />

Auto-retrato de orelha cortada<br />

A tira "Hagar" e o poema de Alberto<br />

Caeiro (um dos heterônimos de Fernando<br />

Pessoa) expressam, com linguagens<br />

diferentes, uma mesma idéia: a de que a<br />

compreensão que temos do mundo é<br />

condicionada, essencialmente,<br />

A) pelo alcance de cada cultura.<br />

B) pela capacidade visual do observador.<br />

C) pelo senso de humor de cada um.<br />

D) pela idade do observador.<br />

E) pela altura do ponto de observação.<br />

Comentário<br />

Questão reflexiva sobre a forma como<br />

cada cultura vê o mundo sob a ótica dos<br />

limites dados pelos seus costumes e<br />

possibilidades de pensamento inerentes a<br />

cada modelo cultural. A mistura de uma tira e<br />

de um poema amplia a possibilidade de<br />

pensamento por trabalhar com linguagens<br />

diferentes. A alternativa correta é a letra A,<br />

O 3º quadrinho sugere que Garfield:<br />

A) desconhece tudo sobre arte, por isso<br />

faz a sugestão.<br />

B) acredita que todo pintor deve fazer algo<br />

diferente.<br />

C) defende que para ser pintor a pessoa<br />

tem de sofrer.<br />

D) conhece a história de um pintor<br />

famoso e faz uso da ironia.<br />

E) acredita que seu dono tenha tendência<br />

artística e, por isso, faz a sugestão.<br />

Comentário<br />

Outra questão de interpretação de texto.<br />

Muito simples para quem um dia ouviu falar<br />

de Van Gogh, e simplíssima para aqueles<br />

que prestam atenção em todos os elementos<br />

do enunciado. Afinal, quem deu uma<br />

espiadinha na legenda do quadro de Van<br />

Gogh matou na hora a questão.<br />

Esta questão é daquelas rápidas de serem<br />

resolvidas, associando-se os elementos<br />

apresentados.<br />

Comentário do INEP<br />

A significativa maioria (81%) dos<br />

participantes soube perceber o caráter<br />

irônico da fala do Garfield, expressa no<br />

terceiro quadrinho porque, ou conheciam a<br />

370


história de Van Gogh, ou apropriaram-se<br />

corretamente da informação sobre esse<br />

pintor, fornecida no enunciado.<br />

87) (2003)<br />

86) (2003)<br />

O humor presente na tirinha decorre<br />

principalmente do fato de a personagem<br />

Mafalda<br />

A) atribuir, no primeiro quadrinho, poder<br />

ilimitado ao dedo indicador.<br />

B) considerar seu dedo indicador tão<br />

importante quanto o dos patrões.<br />

C) atribuir, no primeiro e no último<br />

quadrinhos, um mesmo sentido ao<br />

vocábulo "indicador".<br />

D) usar corretamente a expressão<br />

"indicador de desemprego", mesmo<br />

sendo criança.<br />

E) atribuir, no último quadrinho, fama<br />

exagerada ao dedo indicador dos<br />

patrões.<br />

Comentário<br />

A questão pede a interpretação de uma<br />

charge da personagem Mafalda, em que ela<br />

faz referência a seu dedo indicador, que é<br />

usado como substantivo primitivo e que<br />

possibilita a analogia com “indicador de<br />

desemprego”. Dessa forma, ela ironiza os<br />

indicadores sociais. Na charge, porém, não<br />

há menção explícita aos índices<br />

“indicadores”, permanecendo o raciocínio<br />

preso apenas ao dedo indicador. Assim, ela<br />

utiliza, tanto no primeiro quanto no último<br />

quadrinho, a palavra “indicador” como<br />

referência ao dedo, não dando abertura a<br />

outro tipo de interpretação.<br />

O texto aponta no quadro de Tarsila do<br />

Amaral um tema que também se encontra<br />

nos versos transcritos em:<br />

A) "Pensem nas meninas<br />

Cegas inexatas<br />

Pensem nas mulheres<br />

Rotas alteradas."<br />

(Vinícius de Moraes)<br />

B) "Somos muitos severinos<br />

iguais em tudo e na sina:<br />

a de abrandar estas pedras<br />

suando-se muito em cima."<br />

(João Cabral de Melo Neto)<br />

C) "O funcionário público<br />

não cabe no poema<br />

com seu salário de fome<br />

sua vida fechada em arquivos."<br />

(Ferreira Gullar)<br />

D) "Não sou nada.<br />

Nunca serei nada.<br />

Não posso querer ser nada.<br />

À parte isso, tenho em mim todos os<br />

sonhos do mundo."<br />

(Fernando Pessoa)<br />

E) "Os inocentes do Leblon<br />

Não viram o navio entrar (...)<br />

Os inocentes, definitivamente inocentes<br />

tudo ignoravam,<br />

mas a areia é quente, e há um óleo<br />

suave<br />

que eles passam pelas costas, e<br />

aquecem."<br />

(Carlos Drummond de Andrade)<br />

Comentário<br />

Mais uma vez, o Exame Nacional do<br />

Ensino Médio procura relacionar análises de<br />

diferentes áreas da arte, misturando a pintura<br />

com a literatura. O quadro de Tarsila do<br />

Amaral “Operários” traz a imagem de vários<br />

rostos (de formatos, etnias e sexos<br />

diferentes) amontoados, tendo como pano de<br />

fundo as chaminés de uma fábrica.<br />

A questão deixa explícita a relação com<br />

os trechos literários que exaltam o<br />

proletariado, eliminando, já de cara, as<br />

alternativas A, D, e E.<br />

371


Ao se analisar a alternativa C, entretanto,<br />

percebe-se que a abordagem somente se<br />

relaciona com o funcionário público.<br />

Na letra B, o que se pode notar é que<br />

todas as pessoas “severinas” são iguais<br />

perante o sistema, niveladas por baixo e<br />

batalhadoras e que, sem privilégios ou<br />

distinções, são tratadas como mercadorias.<br />

88) (2002)<br />

De acordo com a história em quadrinhos<br />

protagonizada por Hagar e seu filho<br />

Hamlet, pode-se afirmar que a postura de<br />

Hagar<br />

A) valoriza a existência da diversidade<br />

social e de culturas, e as várias<br />

representações e explicações desse<br />

universo.<br />

B) desvaloriza a existência da<br />

diversidade social e as várias culturas,<br />

e determina uma única explicação para<br />

esse universo.<br />

C) valoriza a possibilidade de explicar as<br />

sociedades e as culturas a partir de<br />

várias visões de mundo.<br />

D) valoriza a pluralidade cultural e social<br />

ao aproximar a visão de mundo de<br />

navegantes e não-navegantes.<br />

E) desvaloriza a pluralidade cultural e<br />

social, ao considerar o mundo habitado<br />

apenas pelos navegantes.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. Hagar reduz o<br />

mundo a dois tipos de pessoas: navegantes<br />

e não-navegantes. No último quadrinho, diz<br />

que são os navegantes que estabelecem<br />

esses dois grupos. Portanto, quem é<br />

diferente dos navegantes (que estabelecem<br />

o padrão) simplesmente é incluído na massa<br />

única dos não-navegantes. Não importa<br />

quem ou quantos sejam, sua diversidade<br />

social ou cultural em relação aos navegantes<br />

ou entre si. Vemos aí a desvalorização de<br />

outras culturas.<br />

Comentário do INEP<br />

Dentre as habilidades básicas para a<br />

compreensão de um texto destaca-se a<br />

capacidade do leitor de identificar os<br />

pressupostos de cada afirmação que lhe é<br />

apresentada. Nesta questão o participante<br />

deve identificar a posição tanto de Hagar<br />

como de seu filho Hamlet e, em seguida,<br />

avaliar quais os argumentos que justificam a<br />

opinião de Hagar ao definir que no mundo só<br />

existem dois tipos de pessoas. A pergunta de<br />

Hamlet a seu pai explicita a importância do<br />

ato de narrar através do diálogo e do efeito<br />

humorístico contido no episódio representado<br />

na tira. O resultado da compreensão<br />

acertada do diálogo é que o narrador torna<br />

inteligível, para si e para os outros, a lógica<br />

do seu pensamento através do diálogo entre<br />

os dois personagens. É importante observar<br />

que o humor do personagem Hagar é<br />

identificado na postura simetricamente<br />

oposta à de Michel de Montaigne, por<br />

exemplo (ver questão 58): a sua visão de<br />

mundo apresenta-se autocentrada, isto é,<br />

centrada nos seus próprios valores (vikings).<br />

A habilidade requerida do participante nessa<br />

questão, qual seja, "valorizar a diversidade<br />

dos patrimônios etnoculturais", é mobilizada<br />

aqui na sua dimensão negativa: é criticando<br />

a postura chauvinista de Hagar que o<br />

participante é capaz de responder<br />

corretamente a questão. A última alternativa<br />

(E) funciona como um distrator, pois neste<br />

caso não está suposta a crítica do discurso<br />

do personagem. Cerca de um terço dos<br />

participantes assinalou a alternativa correta<br />

B. As demais opções são devidas,<br />

possivelmente, a uma leitura pouco<br />

compreensiva das alternativas associadas a<br />

história em quadrinhos.<br />

89) (1999) E considerei a glória de um pavão<br />

ostentando o esplendor de suas cores; é<br />

um luxo imperial. Mas andei lendo livros, e<br />

descobri que aquelas cores todas não<br />

existem na pena do pavão. Não há<br />

pigmentos. O que há são minúsculas<br />

bolhas d’água em que a luz se fragmenta,<br />

como em um prisma. O pavão é um arcoíris<br />

de plumas.<br />

Eu considerei que este é o luxo do<br />

grande artista, atingir o máximo de<br />

matizes com o mínimo de elementos. De<br />

água e luz ele faz seu esplendor; seu<br />

grande mistério é a simplicidade.<br />

Considerei, por fim, que assim é o<br />

amor, oh! Minha amada; de tudo que ele<br />

suscita e esplende e estremece e delira<br />

em mim existem apenas meus olhos<br />

recebendo a luz de teu olhar. Ele me<br />

cobre de glórias e me faz magnífico.<br />

(BRAGA, Rubem. Ai de ti, Copacabana. 20.ed.)<br />

372


O poeta Carlos Drummond de Andrade<br />

escreveu assim sobre a obra de Rubem<br />

Braga:<br />

O que ele nos conta é o seu dia, o seu<br />

expediente de homem, apanhado no<br />

essencial, narrativa direta e econômica.<br />

(...) É o poeta do real, do palpável, que se<br />

vai diluindo em cisma. Dá o sentimento da<br />

realidade e o remédio para ela.<br />

dos participantes. As alternativas B, C e D<br />

correspondem à identificação de aspectos de<br />

certa forma comuns aos dois textos, embora<br />

os elementos neles apontados não se refiram<br />

ao trecho destacado.<br />

90) (2009)<br />

Em seu texto, Rubem Braga afirma que<br />

"este é o luxo do grande artista, atingir o<br />

máximo de matizes com o mínimo de<br />

elementos". Afirmação semelhante pode<br />

ser encontrada no texto de Carlos<br />

Drummond de Andrade, quando, ao<br />

analisar a obra de Braga, diz que ela é:<br />

A) uma narrativa direta e econômica.<br />

B) real, palpável.<br />

C) sentimento de realidade.<br />

D) seu expediente de homem.<br />

E) seu remédio.<br />

Comentário<br />

A última questão da prova de Português<br />

exige uma releitura do texto de Rubem Braga<br />

para um melhor entendimento do que é<br />

proposto por Drummond. Ao afirmar que a<br />

escrita de Braga é "direta e econômica",<br />

Drummond remete à descoberta feita por<br />

Rubem Braga em relação às cores das<br />

penas do pavão: (...) e descobri que aquelas<br />

cores todas não existem na pena do pavão.<br />

Não há pigmentos. O que há são minúsculas<br />

bolhas d’água em que a luz se fragmenta,<br />

como em um prisma. O pavão é um arco-íris<br />

de plumas.(...) este é o luxo do grande<br />

artista, atingir o máximo de matizes com o<br />

mínimo de elementos.(...)<br />

Segundo Braga, a grande mágica em se<br />

fazer arte é conseguir se expressar da<br />

melhor maneira possível usando o mínimo de<br />

elementos (sejam palavras, cores, formas,<br />

etc.). Drummond parafraseia o comentário de<br />

Braga, dando ainda mais evidência à<br />

descoberta do primeiro. Temos, aí, a<br />

"narrativa direta e econômica". Questão de<br />

nível médio.<br />

Comentário do INEP<br />

Além da compreensão de dois textos, de<br />

autores diferentes, o problema examinou a<br />

capacidade dos participantes em estabelecer<br />

um diálogo entre os mesmos.<br />

A identificação do significado e a relação<br />

correta da afirmação de Drummond, com o<br />

trecho correspondente de Rubem Braga<br />

destacado no enunciado, foi feita por 44%<br />

BRASIL. Ministério da Saúde, 2009 (adaptado).<br />

O texto tem o objetivo de solucionar um<br />

problema social,<br />

A) descrevendo a situação do país em<br />

relação à gripe suína.<br />

B) alertando a população para o risco de<br />

morte pela lnfluenza A.<br />

C) informando a população sobre a<br />

iminência de uma pandemia de<br />

Influenza A.<br />

D) orientando a população sobre os<br />

sintomas da gripe suína e<br />

procedimentos para evitar a<br />

contaminação.<br />

E) convocando toda a população para se<br />

submeter a exames de detecção da<br />

gripe suína.<br />

Comentário<br />

(QUESTÃO: AZUL 97, BRANCA 98,<br />

ROSA 96)<br />

Questão muito simples, bastando para<br />

sua solução a leitura do cartaz da campanha<br />

institucional. O enunciado pede que<br />

o candidato aponte que resposta indica o<br />

objetivo do texto, que é solucionar um<br />

problema social. Portanto, a resposta correta<br />

é a alternativa D.<br />

373


91) (2009)<br />

Uma vez que as duas remetem-se a<br />

necessidade e o cuidado em consumir<br />

produtos com certificação.<br />

Uma análise mais cuidadosa em relação ao<br />

significado dos verbos utilizados nessas duas<br />

alternativas, "certificar" e "verificar",<br />

determina que o consumidor deve sempre<br />

certificar-se, antes da compra, de que um<br />

produto foi fabricado de acordo com os<br />

princípios éticos e por isso, recebeu o selo de<br />

qualidade. Dessa forma, a letra D é a<br />

resposta correta.<br />

Você sabia que as metrópoles são as<br />

grandes consumidoras dos produtos feitos<br />

com recursos naturais da Amazônia?<br />

Você pode diminuir os impactos à floresta<br />

adquirindo produtos com selos de<br />

certificação. Eles são encontrados em<br />

itens que vão desde lápis e embalagens<br />

de papelão até móveis, cosméticos e<br />

materiais de construção. Para receber os<br />

selos esses produtos devem ser<br />

fabricados sob <strong>10</strong> princípios éticos, entre<br />

eles o respeito à legislação ambiental e<br />

aos direitos de povos indígenas e<br />

populações que vivem em nossas matas<br />

nativas.<br />

Vida simples. Ed. 74, dez. 2008.<br />

O texto e a imagem têm por finalidade<br />

induzir o leitor a uma mudança de<br />

comportamento a partir do(a)<br />

A) consumo de produtos naturais<br />

provindos da Amazônia.<br />

B) cuidado na hora de comprar produtos<br />

alimentícios.<br />

C) verificação da existência do selo de<br />

padronização de produtos industriais.<br />

D) certificação de que o produto foi<br />

fabricado de acordo com os princípios<br />

éticos.<br />

E) verificação da garantia de tratamento<br />

dos recursos naturais utilizados em<br />

cada produto.<br />

Comentário<br />

(QUESTÃO: AZUL 114, BRANCA 114,<br />

ROSA 114)<br />

Embora apresente um texto simples e<br />

claro, essa questão poderia levar o aluno a<br />

ficar em dúvida entre as alternativas C e D.<br />

92) (2009) A partida<br />

1 Acordei pela madrugada. A princípio com<br />

tranquilidade, e logo com obstinação, quis<br />

novamente dormir. Inútil, o sono esgotarase.<br />

Com precaução,<br />

4 acendi um fósforo: passava das três.<br />

Restava-me, portanto, menos de duas<br />

horas, pois o trem chegaria às cinco. Veiome<br />

então o desejo de não passar mais<br />

7 nem uma hora naquela casa. Partir, sem<br />

dizer nada, deixar quanto antes minhas<br />

cadeias de disciplina e de amor.<br />

<strong>10</strong> Com receio de fazer barulho, dirigi-me à<br />

cozinha, lavei o rosto, os dentes, penteei-me<br />

e, voltando ao meu quarto, vesti-me. Calcei<br />

os sapatos,<br />

13 sentei-me um instante à beira da cama.<br />

Minha avó continuava dormindo. Deveria<br />

fugir ou falar com ela? Ora, algumas<br />

palavras... Que me custava acordá-la,<br />

16 dizer-lhe adeus?<br />

LINS, O. A partida. Melhores contos. Seleção e<br />

prefácio de Sandra Nitrini. São Paulo: Global, 2003.<br />

No texto, o personagem narrador, na<br />

iminência da partida, descreve a sua<br />

hesitação em separar-se da avó. Esse<br />

sentimento contraditório fica claramente<br />

expresso no trecho:<br />

A) "A princípio com tranquilidade, e logo<br />

com obstinação, quis novamente<br />

dormir" (l. 1-3).<br />

B) "Restava-me, portanto, menos de duas<br />

horas, pois o trem chegaria às cinco" (l.<br />

4-6).<br />

C) "Calcei os sapatos, sentei-me um<br />

instante à beira da cama" (l. 12-13).<br />

D) "Partir, sem dizer nada, deixar quanto<br />

antes minhas cadeias de disciplina e<br />

amor" (l. 7-9).<br />

E) "Deveria fugir ou falar com ela? Ora,<br />

algumas palavras (l. 14-15).<br />

Comentário<br />

(QUESTÃO: AZUL 128, BRANCA 128,<br />

ROSA 128)<br />

374


A narrativa de Osman Lins apresenta um<br />

narrador-personagem completamente<br />

confuso, sem saber que decisão tomar. Ao<br />

mesmo tempo, percebemos no<br />

personagem o desejo de partir, como no<br />

seguinte trecho: "Acordei pela madrugada. A<br />

princípio, com tranquilidade, e logo com<br />

obstinação". Identificamos também a aflição<br />

do narrador-personagem em decidir se ele<br />

deve ou não dizer adeus à avó. Esse<br />

sentimento é perfeitamente representado em<br />

"Deveria fugir ou falar com ela? Ora, algumas<br />

palavras...", fragmento que consta na<br />

alternativa E.<br />

H22 - Relacionar, em diferentes<br />

textos, opiniões, temas,<br />

assuntos e recursos<br />

linguísticos.<br />

01) (2008) Calcula-se que 78% do<br />

desmatamento na Amazônia tenha sido<br />

motivado pela pecuária — cerca de 35%<br />

do rebanho nacional está na região — e<br />

que pelo menos 50 milhões de hectares<br />

de pastos são pouco produtivos. Enquanto<br />

o custo médio para aumentar a<br />

produtividade de 1 hectare de pastagem é<br />

de 2 mil reais, o custo para derrubar igual<br />

área de floresta é estimado em 800 reais,<br />

o que estimula novos desmatamentos.<br />

Adicionalmente, madeireiras retiram as<br />

árvores de valor comercial que foram<br />

abatidas para a criação de pastagens. Os<br />

pecuaristas sabem que problemas<br />

ambientais como esses podem provocar<br />

restrições à pecuária nessas áreas, a<br />

exemplo do que ocorreu em 2006 com o<br />

plantio da soja, o qual, posteriormente, foi<br />

proibido em áreas de floresta.<br />

Época, 3/3/2008 e 9/6/2008 (com adaptações).<br />

A partir da situação-problema descrita,<br />

conclui-se que<br />

A) o desmatamento na Amazônia decorre<br />

principalmente da exploração ilegal de<br />

árvores de valor comercial.<br />

B) um dos problemas que os pecuaristas<br />

vêm enfrentando na Amazônia é a<br />

proibição do plantio de soja.<br />

C) a mobilização de máquinas e de força<br />

humana torna o desmatamento mais<br />

caro que o aumento da produtividade<br />

de pastagens.<br />

D) o superavit comercial decorrente da<br />

exportação de carne produzida na<br />

Amazônia compensa a possível<br />

degradação ambiental.<br />

E) a recuperação de áreas desmatadas<br />

e o aumento de produtividade das<br />

pastagens podem contribuir para a<br />

redução do desmatamento na<br />

Amazônia.<br />

Comentário do portal<br />

Essa questão retrata o problema do<br />

desmatamento da Amazônia, relacionado<br />

principalmente com o desenvolvimento da<br />

pecuária na região. Para resolvê-la, foram<br />

necessários a leitura atenta do texto e o<br />

conhecimento sobre os problemas<br />

ambientais da atualidade. A alternativa<br />

correta é a letra E, pois é mais caro para os<br />

pecuaristas aumentar a produtividade do que<br />

as áreas de pasto, o que acarreta o aumento<br />

do desmatamento da Amazônia.<br />

02) (2008) A Lei Federal n.º 9.985/2000, que<br />

instituiu o sistema nacional de unidades<br />

de conservação, define dois tipos de<br />

áreas protegidas. O primeiro, as unidades<br />

de proteção integral, tem por objetivo<br />

preservar a natureza, admitindo-se<br />

apenas o uso indireto dos seus recursos<br />

naturais, isto é, aquele que não envolve<br />

consumo, coleta, dano ou destruição dos<br />

recursos naturais. O segundo, as<br />

unidades de uso sustentável, tem por<br />

função compatibilizar a conservação da<br />

natureza com o uso sustentável de<br />

parcela dos recursos naturais. Nesse<br />

caso, permite-se a exploração do<br />

ambiente de maneira a garantir a<br />

perenidade dos recursos ambientais<br />

renováveis e dos processos ecológicos,<br />

mantendo-se a biodiversidade e os<br />

demais atributos ecológicos, de forma<br />

socialmente justa e economicamente<br />

viável.<br />

Considerando essas informações, analise<br />

a seguinte situação hipotética.<br />

Ao discutir a aplicação de recursos<br />

disponíveis para o desenvolvimento de<br />

determinada região, organizações civis,<br />

universidade e governo resolveram<br />

investir na utilização de uma unidade de<br />

proteção integral, o Parque Nacional do<br />

Morro do Pindaré, e de uma unidade de<br />

uso sustentável, a Floresta Nacional do<br />

Sabiá. Depois das discussões, a equipe<br />

resolveu levar adiante três projetos:<br />

— o projeto I consiste de pesquisas<br />

científicas embasadas exclusivamente<br />

na observação de animais;<br />

— o projeto II inclui a construção de uma<br />

escola e de um centro de vivência;<br />

375


376<br />

— o projeto III promove a organização de<br />

uma comunidade extrativista que<br />

poderá coletar e explorar<br />

comercialmente frutas e sementes<br />

nativas.<br />

Nessa situação hipotética, atendendo-se à<br />

lei mencionada acima, é possível<br />

desenvolver tanto na unidade de proteção<br />

integral quanto na de uso sustentável<br />

A) apenas o projeto I.<br />

B) apenas o projeto III.<br />

C) apenas os projetos I e II.<br />

D) apenas os projetos II e III.<br />

E) todos os três projetos.<br />

Comentário do portal<br />

A alternativa correta é a letra "A", pois,<br />

analisando-se a situação hipotética sugerida<br />

no enunciado, percebe-se que ela deverá<br />

atender os requisitos tanto da unidade de<br />

proteção integral quanto da unidade de uso<br />

sustentável. Portanto, apenas o projeto I<br />

poderá ser desenvolvido nessas duas<br />

propostas de unidades.<br />

03) (1999) Leia o texto abaixo.<br />

Cabelos longos, brinco na orelha<br />

esquerda, físico de skatista. Na aparência,<br />

o estudante brasiliense Rui Lopes Viana<br />

Filho, de 16 anos, não lembra em nada o<br />

estereótipo dos gênios. Ele não usa<br />

pesados óculos de grau e está longe de<br />

ter um ar introspectivo. No final do mês<br />

passado, Rui retornou de Taiwan, onde<br />

enfrentou 419 competidores de todo o<br />

mundo na 39ª Olimpíada Internacional de<br />

Matemática. A reluzente medalha de ouro<br />

que ele trouxe na bagagem está<br />

dependurada sobre a cama de seu quarto,<br />

atulhado de rascunhos dos problemas<br />

matemáticos que aprendeu a decifrar nos<br />

últimos cinco anos.<br />

Veja – Vencer uma olimpíada serve de<br />

passaporte para uma carreira profissional<br />

meteórica?<br />

Rui – Nada disso. Decidi me dedicar à<br />

Olimpíada porque sei que a concorrência<br />

por um emprego é cada vez mais<br />

selvagem e cruel. Agora tenho algo a mais<br />

para oferecer. O problema é que as coisas<br />

estão mudando muito rápido e não sei<br />

qual será minha profissão. Além de ser<br />

muito novo para decidir sobre o meu<br />

futuro profissional, sei que esse conceito<br />

de carreira mudou muito.<br />

(Entrevista de Rui Lopes Viana Filho à Veja,<br />

05/08/1998, n.31, p. 9-<strong>10</strong>)<br />

Na pergunta, o repórter estabelece uma<br />

relação entre a entrada do estudante no<br />

mercado de trabalho e a vitória na<br />

Olimpíada. O estudante<br />

A) concorda com a relação e afirma que o<br />

desempenho na Olimpíada é<br />

fundamental para sua entrada no<br />

mercado.<br />

B) discorda da relação e complementa<br />

que é fácil se fazer previsões sobre o<br />

mercado de trabalho.<br />

C) discorda da relação e afirma que seu<br />

futuro profissional independe de<br />

dedicação aos estudos.<br />

D) discorda da relação e afirma que seu<br />

desempenho só é relevante se<br />

escolher uma profissão relacionada à<br />

matemática.<br />

E) concorda em parte com a relação e<br />

complementa que é complexo fazer<br />

previsões sobre o mercado de trabalho.<br />

Comentário<br />

Não é difícil de se chegar à resposta<br />

correta ao se ler a reportagem. Ao final do<br />

último parágrafo — (...) Além de ser muito<br />

novo para decidir sobre o meu futuro<br />

profissional, sei que esse conceito de carreira<br />

mudou muito. —, o estudante praticamente<br />

fornece a resposta à questão, declarando-se<br />

realista ao não tentar prever seu futuro<br />

profissional devido à pouca idade e às<br />

mudanças no mercado de trabalho. Quanto a<br />

concordar parcialmente com o repórter, veja<br />

que ele, apesar de negar que o prêmio fosse<br />

uma garantia de sucesso profissional, logo<br />

depois afirma que, com ele, terá algo mais a<br />

oferecer ao mercado. Questão de nível fácil.<br />

Comentário do INEP<br />

Nesta situação-problema, o participante<br />

deveria demonstrar que compreendeu as<br />

premissas de um discurso, distinguindo a<br />

diferença de significado de palavras isoladas<br />

ou no contexto em que estão inseridas.<br />

Verificou-se que mais da metade dos<br />

participantes demonstrou possuir essa<br />

compreensão. Aqueles que optaram pelas<br />

alternativas C e D podem ter sido atraídos<br />

pelo significado negativo da expressão inicial<br />

"Nada disso".<br />

04) (1998) Texto 1<br />

"Mulher, Irmã, escuta-me: não ames,<br />

Quando a teus pés um homem terno e<br />

curvo<br />

jurar amor, chorar pranto de sangue,<br />

Não creias, não, mulher: ele te engana!


As lágrimas são gotas da mentira<br />

E o juramento manto da perfídia."<br />

(Joaquim Manoel de Macedo)<br />

Texto 2<br />

"Teresa, se algum sujeito bancar o<br />

sentimental em cima de você<br />

E te jurar uma paixão do tamanho de um<br />

bonde<br />

Se ele chorar<br />

Se ele ajoelhar<br />

Se ele se rasgar todo<br />

Não acredite não Teresa<br />

É lágrima de cinema<br />

É tapeação<br />

Mentira<br />

CAI FORA"<br />

(Manuel Bandeira)<br />

Os autores, ao fazerem alusão às<br />

imagens da lágrima sugerem que:<br />

A) há um tratamento idealizado da<br />

relação homem/mulher.<br />

B) há um tratamento realista da relação<br />

homem/mulher.<br />

C) a relação familiar é idealizada.<br />

D) a mulher é superior ao homem.<br />

E) a mulher é igual ao homem.<br />

Comentário<br />

Ambos os autores, ao utilizarem a<br />

imagem da lágrima, estão na realidade<br />

mostrando que a figura do homem que é<br />

romântico a ponto de chorar ao jurar amor<br />

não existe. Tanto Macedo quanto<br />

Bandeira alertam as mulheres dizendo,<br />

com palavras e estilos diferentes, que não<br />

há homem que chore por amor (portanto,<br />

essa figura é uma idealização — e, por<br />

conseguinte, toda imagem que se tem<br />

sobre os relacionamentos<br />

demasiadamente românticos). Note que<br />

Bandeira chega até mesmo a chamar tal<br />

"chorão" de ator ("...É lágrima de cinema /<br />

É tapeação..."). Macedo dá uma imagem<br />

pesada às lágrimas ("...são gotas da<br />

mentira...").<br />

05) (1999) Considere os textos abaixo.<br />

(...) de modo particular, quero encorajar os<br />

crentes empenhados no campo da<br />

filosofia para que iluminem os diversos<br />

âmbitos da atividade humana, graças ao<br />

exercício de uma razão que se torna mais<br />

segura e perspicaz com o apoio que<br />

recebe da fé.<br />

(Papa João Paulo II. Carta Encíclica Fides<br />

et Ratio aos bispos da igreja católica sobre as relações<br />

entre fé e razão, 1998)<br />

As verdades da razão natural não<br />

contradizem as verdades da fé cristã.<br />

(São Tomás de Aquino<br />

–pensador medieval)<br />

Refletindo sobre os textos, pode-se<br />

concluir que:<br />

A) a encíclica papal está em contradição<br />

com o pensamento de São Tomás de<br />

Aquino, refletindo a diferença de<br />

épocas.<br />

B) a encíclica papal procura<br />

complementar São Tomás de Aquino,<br />

pois este colocava a razão natural<br />

acima da fé.<br />

C) a Igreja medieval valorizava a razão<br />

mais do que a encíclica de João Paulo<br />

II.<br />

D) o pensamento teológico teve sua<br />

importância na Idade Média, mas, em<br />

nossos dias, não tem relação com o<br />

pensamento filosófico.<br />

E) tanto a encíclica papal como a frase<br />

de São Tomás de Aquino procuram<br />

conciliar os pensamentos sobre fé e<br />

razão.<br />

Comentário<br />

Nessa questão, é necessária uma<br />

releitura do texto para que se tenha uma<br />

melhor compreensão do tema. Tanto a<br />

citação do Papa quanto a de São Tomás de<br />

Aquino tentam criar uma interdependência<br />

entre a ciência e a fé, a religião. O Papa<br />

incentiva aqueles que exercem a pesquisa<br />

científica ou filosófica a manter a fé cristã.<br />

São Tomás de Aquino, por sua vez, equipara<br />

o avanço da ciência ao aumento da própria<br />

fé, afirmando que a razão natural não<br />

contradiz a fé cristã. Se um cresce, cresce<br />

também o outro, em harmonia e sem<br />

contradições. Questão de grau médio.<br />

(Português)<br />

Nessa questão, encontramos dois textos:<br />

o primeiro, do século XX, foi elaborado pelo<br />

Papa João Paulo II; o segundo, do século<br />

XIII, pelo teólogo e filósofo cristão São<br />

Tomás de Aquino. O conteúdo de ambos se<br />

refere à ligação entre fé e razão, a qual<br />

esteve presente na filosofia escolástica da<br />

Idade Média. Esse campo de reflexão buscou<br />

conciliar o cristianismo com o pensamento de<br />

Aristóteles e teve em São Tomás de Aquino<br />

seu maior representante.<br />

Mesmo sem ter todas essas informações,<br />

você poderia responder tranqüilamente à<br />

questão por meio de uma leitura atenta dos<br />

dois textos, chegando à conclusão de que<br />

"tanto a encíclica papal como a frase de São<br />

377


Tomás de Aquino procuram conciliar os<br />

pensamentos sobre fé e razão". Resposta<br />

correta: alternativa E. (História)<br />

Comentário do INEP<br />

Para resolver esta situação-problema, o<br />

participante deveria mostrar que, além de<br />

interpretar textos, sabe relacioná-los sendo<br />

que, nesse item, essas operações referem-se<br />

a um texto escrito na época medieval e a<br />

outro escrito recentemente.<br />

Mais de 70% dos participantes<br />

demonstraram facilidade em estabelecer esta<br />

relação.<br />

06) (1999) Leia um texto publicado no jornal<br />

Gazeta Mercantil. Esse texto é parte de<br />

um artigo que analisa algumas situações<br />

de crise no mundo, entre elas, a quebra<br />

da Bolsa de Nova Iorque em 1929, e foi<br />

publicado na época de uma iminente crise<br />

financeira no Brasil.<br />

Deu no que deu. No dia 29 de outubro de<br />

1929, uma terça-feira, praticamente não<br />

havia compradores no pregão de Nova<br />

Iorque, só vendedores. Seguiu-se uma<br />

crise incomparável: o Produto Interno<br />

Bruto dos Estados Unidos caiu de <strong>10</strong>4<br />

bilhões de dólares em 1929, para 56<br />

bilhões em 1933, coisa inimaginável em<br />

nossos dias. O valor do dólar caiu a quase<br />

metade. O desemprego elevou-se de 1,5<br />

milhão para 12,5 milhões de trabalhadores<br />

– cerca de 25% da população ativa –<br />

entre 1929 e 1933. A construção civil caiu<br />

90%. Nove milhões de aplicações, tipo<br />

caderneta de poupança, perderam-se com<br />

o fechamento dos bancos. Oitenta e cinco<br />

mil firmas faliram. Houve saques e norteamericanos<br />

que passaram fome.<br />

(Gazeta Mercantil, 05/01/1999)<br />

378<br />

Ao citar dados referentes à crise ocorrida<br />

em 1929, em um artigo jornalístico atual,<br />

pode-se atribuir ao jornalista a seguinte<br />

intenção:<br />

A) questionar a interpretação da crise.<br />

B) comunicar sobre o desemprego.<br />

C) instruir o leitor sobre aplicações em<br />

bolsa de valores.<br />

D) relacionar os fatos passados e<br />

presentes.<br />

E) analisar dados financeiros americanos.<br />

Comentário<br />

Nessa questão, o que se tem de fazer é<br />

prestar atenção às alternativas das<br />

respostas. Nenhuma delas se apresenta tão<br />

bem contextualizada a uma possível<br />

interpretação quanto a letra D. Partindo-se da<br />

análise do texto, fica claro que a intenção do<br />

artigo é remeter o leitor ao passado para<br />

tentar conduzi-lo a uma reflexão sobre uma<br />

situação presente, não mencionada na<br />

questão. Após a leitura e utilizando-se a já<br />

citada eliminação de questões, torna-se clara<br />

a resposta. Questão de nível médio.<br />

(Português)<br />

Muitas vezes, quando procuramos<br />

entender uma crise econômica ou financeira<br />

de grandes proporções, buscamos<br />

estabelecer relações com crises passadas. O<br />

mesmo ocorre no jornalismo, como prova o<br />

texto encontrado nessa questão. Buscando<br />

entender uma crise ocorrida no início de<br />

1999, o jornalista da Gazeta Mercantil<br />

buscou relacionar a situação dessa época<br />

com a grande crise de 1929 que afetou o<br />

mundo, trazendo desemprego e recessão,<br />

entre tantos outros problemas econômicos e<br />

sociais.<br />

Para responder a essa questão, era<br />

necessário ler atentamente o enunciado, em<br />

que está destacado que "o texto é parte de<br />

um artigo que analisa algumas situações de<br />

crise no mundo" e "foi publicado na época de<br />

uma iminente crise financeira no Brasil". Era<br />

importante também observar a data em que o<br />

artigo foi publicado: 05/01/1999. A partir<br />

dessas constatações, facilmente você<br />

chegaria a conclusão de que a intenção do<br />

jornalista era "relacionar os fatos passados e<br />

presentes". Resposta correta: alternativa D.<br />

(História)<br />

Comentário do INEP<br />

A resolução da questão demandava a<br />

capacidade dos participantes de relacionar<br />

eventos históricos envolvendo crises<br />

econômicas ocorridas em épocas e lugares<br />

distintos. Aproximadamente 2/3 deles<br />

demonstraram essa capacidade. Os demais,<br />

provavelmente, não compreenderam a<br />

exigência expressa no enunciado do<br />

problema – apontar as razões pelas quais um<br />

jornalista traz à tona eventos ocorridos<br />

setenta anos antes –, e apenas interpretaram<br />

o sentido do texto citado, que descreve a<br />

crise mundial de 1929.<br />

07) (2002) O autor da tira utilizou os<br />

princípios de composição de um<br />

conhecido movimento artístico para<br />

representar a necessidade de um mesmo<br />

observador aprender a considerar,<br />

simultaneamente, diferentes pontos de<br />

vista.


E)<br />

Das obras reproduzidas, todas de autoria<br />

do pintor espanhol Pablo Picasso, aquela<br />

em cuja composição foi adotado um<br />

procedimento semelhante é:<br />

A)<br />

B)<br />

C)<br />

D)<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. O movimento<br />

artístico que previa considerar<br />

simultaneamente diversos pontos de vista<br />

era o Cubismo. Havia a desconstrução da<br />

forma para que se pudesse ver todos os<br />

ângulos concomitantemente. O único quadro<br />

que apresenta essas características é o da<br />

alternativa E. As outras quatro alternativas<br />

pressupõem a manutenção da forma.<br />

Comentário do INEP<br />

O objetivo desta questão é levar o<br />

participante a refletir sobre características<br />

fundamentais de um movimento artístico – o<br />

cubismo – a partir de dados visuais:<br />

quadrinhos e pinturas. A reprodução de dois<br />

quadrinhos da personagem Calvin forneceu<br />

para o participante informações básicas para<br />

a análise que deveria fazer das alternativas<br />

apresentadas. Segundo os quadrinhos, o<br />

movimento artístico abordado pela questão<br />

tinha como procedimento de composição<br />

representar, para um mesmo observador,<br />

diferentes pontos de vista, fazendo com que<br />

"o tradicional único ponto de vista" fosse<br />

abandonado e com que a perspectiva fosse<br />

fraturada. A análise das obras de Picasso<br />

reproduzidas nas alternativas permite que o<br />

participante reconheça a adoção desse<br />

procedimento no quadro "Marie-Thérèse<br />

apoiada no cotovelo" (alternativa E, com 46%<br />

de registros), no qual se pode reconhecer a<br />

representação de diferentes pontos de vista<br />

a partir dos quais é apresentado o rosto da<br />

mulher retratada.<br />

08) (2001) Oxímoro (ou paradoxo) é uma<br />

construção textual que agrupa significados<br />

que se excluem mutuamente. Para<br />

Garfield, a frase de saudação de Jon<br />

(tirinha abaixo) expressa o maior de todos<br />

os oxímoros.<br />

379


Folha de S. Paulo. 31 de julho de 2000.<br />

380<br />

Nas alternativas abaixo, estão transcritos<br />

versos retirados do poema “O operário em<br />

construção”. Pode-se afirmar que ocorre<br />

um oxímoro em<br />

A) "Era ele que erguia casas<br />

Onde antes só havia chão."<br />

B) "... a casa que ele fazia<br />

Sendo a sua liberdade<br />

Era a sua escravidão."<br />

C) "Naquela casa vazia<br />

Que ele mesmo levantara<br />

Um mundo novo nascia<br />

De que sequer suspeitava."<br />

D) "... o operário faz a coisa<br />

E a coisa faz o operário."<br />

E) "Ele, um humilde operário<br />

Um operário que sabia<br />

Exercer a profissão."<br />

MORAES, Vinícius de. Antologia Poética. São Paulo:<br />

Companhia das Letras, 1992.<br />

Comentário<br />

Idéias que se completam e se excluem<br />

mutuamente são encontradas na alternativa<br />

B: a casa que ele construía era, ao mesmo<br />

tempo, sua liberdade e sua escravidão.<br />

A casa é um símbolo de liberdade para o<br />

homem. Para o homem operário, é também<br />

símbolo de escravidão, pois ele está<br />

"condenado" a jamais usufruir do resultado<br />

do seu trabalho (a casa que faz não é para<br />

ele).<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão propõe ao participante que<br />

estabeleça uma relação entre linguagens,<br />

associando a compreensão de um efeito<br />

semântico produzido pelo uso do oxímoro<br />

nos quadrinhos com o mesmo efeito num<br />

texto poético. O índice (18%) de escolhas da<br />

alternativa D deve-se, possivelmente, a uma<br />

análise parcial da noção de paradoxo,<br />

confundida com inversão.<br />

09) (2005) Cândido Portinari (1903-1962), um<br />

dos mais importantes artistas brasileiros<br />

do século XX, tratou de diferentes<br />

aspectos da nossa realidade em seus<br />

quadros.<br />

Sobre a temática dos “Retirantes”,<br />

Portinari também escreveu o seguinte<br />

poema:<br />

(....)<br />

Os retirantes vêm vindo com trouxas e<br />

embrulhos<br />

Vêm das terras secas e escuras;<br />

pedregulhos<br />

Doloridos como fagulhas de carvão aceso<br />

Corpos disformes, uns panos sujos,<br />

Rasgados e sem cor, dependurados<br />

Homens de enorme ventre bojudo<br />

Mulheres com trouxas caídas para o lado<br />

Pançudas, carregando ao colo um garoto<br />

Choramingando, remelento<br />

(....)<br />

(Cândido Portinari. Poemas. Rio de Janeiro:<br />

J. Olympio, 1964.)<br />

Das quatro obras reproduzidas, assinale<br />

aquelas que abordam a problemática que<br />

é tema do poema.<br />

A) 1 e 2 D) 3 e 4<br />

B) 1 e 3 E) 2 e 4<br />

C) 2 e 3<br />

Comentário<br />

O poema apresenta correspondência com<br />

as imagens ao descrever com detalhes a<br />

figura do retirante: pobre, mal vestido,<br />

carregando trouxas e embrulhos.<br />

<strong>10</strong>) (2002) "A palavra tatuagem é<br />

relativamente recente. Toda a gente sabe<br />

que foi o navegador Cook que a introduziu<br />

no Ocidente, e esse escrevia tattou, termo<br />

da Polinésia de tatou ou tu tahou,<br />

'desenho'.<br />

(...) Desde os mais remotos tempos,<br />

vemo-la a transformar-se: distintivo<br />

honorífico entre uns homens, ferrete de<br />

ignomínia entre outros, meio de assustar o<br />

adversário para os bretões, marca de uma


classe de selvagens das ilhas marquesas<br />

(...) sinal de amor, de desprezo, de ódio<br />

(...). Há três casos de tatuagem no Rio,<br />

completamente diversos na sua<br />

significação moral: os negros,os turcos<br />

com o fundo religioso e o bando de<br />

meretrizes, dos rufiões e dos humildes,<br />

que se marcam por crime ou por<br />

ociosidade".<br />

RIO, João do. Os Tatuadores. Revista Kosmos.<br />

1904, apud: A alma encantadora das ruas,<br />

SP: Cia das Letras, 1999.<br />

Com base no texto são feitas as seguintes<br />

afirmações:<br />

I. João do Rio revela como a tatuagem já<br />

estava presente na cidade do Rio de<br />

Janeiro, pelo menos desde o início do<br />

século XX, e era mais utilizada por<br />

alguns setores da população.<br />

II. A tatuagem, de origem polinésia,<br />

difundiu-se no ocidente com a<br />

característica que permanece até hoje:<br />

utilização entre os jovens com função<br />

estritamente estética.<br />

III. O texto mostra como a tatuagem é<br />

uma prática que se transforma no<br />

tempo e que alcança inúmeros sentidos<br />

nos diversos setores das sociedades e<br />

para as diferentes culturas.<br />

Está correto o que se afirma apenas em<br />

A) I D) I e II<br />

B) II E) I e III<br />

C) III<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. Constata-se o<br />

seguinte: a tatuagem já existia no Brasil no<br />

início do século XX (o texto é de 1904 e parte<br />

dele se refere ao Rio do Janeiro) e era<br />

utilizada em diferentes setores da sociedade.<br />

A afirmação de que as tatuagens possuem<br />

apenas finalidade estética entre os jovens<br />

elimina a segunda alternativa. Já a última<br />

alternativa confirma as transformações das<br />

funções da tatuagem ao longo do tempo nas<br />

mais diversas sociedades e culturas.<br />

Comentário do INEP<br />

O texto estabelece uma relação entre a<br />

atualidade da palavra "tatuagem" e a<br />

antiguidade do uso de desenhos como<br />

pintura corporal. Focaliza uma prática social<br />

bastante difundida que adquiriu aspectos e<br />

conotações diversos nos diferentes contextos<br />

históricos e geográficos em que ela pode ser<br />

descrita. Fazendo a descrição da prática da<br />

tatuagem, como uma manifestação comum a<br />

diferentes culturas, e que adquire, inclusive,<br />

significados diferentes dentro de uma mesma<br />

cultura, induz o participante a refletir sobre a<br />

"diversidade dos patrimônios etnoculturais e<br />

artísticos", contextualizando ao mesmo<br />

tempo seus significados "em diferentes<br />

sociedades, épocas e lugares". Ao retomar<br />

as várias origens e usos da tatuagem, o<br />

participante é levado a compreender e<br />

respeitar uma gramática histórica dos<br />

costumes marcada sempre por semelhanças<br />

e diferenças. A questão não exigia, portanto,<br />

nenhum conhecimento prévio sobre as<br />

diferentes formas de manifestação dessa<br />

prática, mas simplesmente constatar, com o<br />

autor do texto citado, a historicidade e a<br />

diversidade das práticas sociais. Os<br />

participantes que assinalaram a alternativa C<br />

(36%), possivelmente, não levaram em<br />

consideração informações do texto. A<br />

questão foi corretamente respondida por 37%<br />

dos participantes.<br />

11) (2003) Eu começaria dizendo que poesia<br />

é uma questão de linguagem. A<br />

importância do poeta é que ele torna mais<br />

viva a linguagem. Carlos Drummond de<br />

Andrade escreveu um dos mais belos<br />

versos da língua portuguesa com duas<br />

palavras comuns: cão e cheirando.<br />

Um cão cheirando o futuro<br />

(Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP, 24/05/1988.<br />

adaptação)<br />

O que deu ao verso de Drummond o<br />

caráter de inovador da língua foi<br />

A) o modo raro como foi tratado o<br />

"futuro".<br />

B) a referência ao cão como "animal de<br />

estimação".<br />

C) a flexão pouco comum do verbo<br />

"cheirar" (gerúndio).<br />

D) a aproximação não usual do agente<br />

citado e a ação de "cheirar".<br />

E) o emprego do artigo indefinido "um" e<br />

do artigo definido "o" na mesma frase.<br />

Comentário<br />

O fato de Drummond identificar o futuro<br />

como algo que pode ser percebido por um<br />

animal irracional por meio do olfato foi<br />

inovador. A figura de linguagem foi<br />

construída metaforicamente: o futuro torna-se<br />

uma coisa que tem cheiro, contrariamente à<br />

imagem pela qual ele normalmente é<br />

representado: como algo que não se vê e<br />

não se pode pressentir ou tocar.<br />

381


12) (2003) Pequenos tormentos da vida<br />

De cada lado da sala de aula, pelas janelas<br />

altas, o azul convida os meninos,<br />

as nuvens desenrolam-se, lentas como quem<br />

vai inventando<br />

preguiçosamente uma história sem fim...Sem<br />

fim é a aula: e nada acontece,<br />

nada...Bocejos e moscas. Se ao menos,<br />

pensa Margarida, se ao menos um<br />

avião entrasse por uma janela e saísse por<br />

outra!<br />

(Mário Quintana. Poesias)<br />

Na cena retratada no texto, o sentimento<br />

do tédio<br />

A) provoca que os meninos fiquem<br />

contando histórias.<br />

B) leva os alunos a simularem bocejos,<br />

em protesto contra a monotonia da<br />

aula.<br />

C) acaba estimulando a fantasia,<br />

criando a expectativa de algum<br />

imprevisto mágico.<br />

D) prevalece de modo absoluto,<br />

impedindo até mesmo a distração ou o<br />

exercício do pensamento.<br />

E) decorre da morosidade da aula, em<br />

contraste com o movimento acelerado<br />

das nuvens e das moscas.<br />

Comentário<br />

Essa questão aborda o imaginário<br />

decorrente do marasmo trazido pela escola.<br />

O texto enfatiza o arrastar do tempo na<br />

mente de uma aluna, Margarida, que se põe<br />

a pensar em fatos mágicos ou imaginários<br />

que pudessem romper com a lentidão da<br />

aula.<br />

13) (2000) O autor do texto abaixo critica,<br />

ainda que em linguagem metafórica, a<br />

sociedade contemporânea em relação aos<br />

seus hábitos alimentares.<br />

“Vocês que têm mais de 15 anos, se<br />

lembram quando a gente comprava leite<br />

em garrafa, na leiteria da esquina? (...)<br />

Mas vocês não se lembram de nada,<br />

pô! Vai ver nem sabem o que é vaca. Nem<br />

o que é leite. Estou falando isso porque<br />

agora mesmo peguei um pacote de leite –<br />

leite em pacote, imagina, Tereza! – na<br />

porta dos fundos e estava escrito que é<br />

pasterizado, ou pasteurizado, sei lá, tem<br />

vitamina, é garantido pela<br />

embromatologia, foi enriquecido e o<br />

escambau. Será que isso é mesmo leite?<br />

No dicionário diz que leite é outra coisa:<br />

‘Líquido branco, contendo água,<br />

proteína, açúcar e sais minerais’. Um<br />

alimento pra ninguém botar defeito. O ser<br />

humano o usa há mais de 5.000 anos. É o<br />

único alimento só alimento. A carne serve<br />

pro animal andar, a fruta serve pra fazer<br />

outra fruta, o ovo serve pra fazer outra<br />

galinha (...) O leite é só leite. Ou toma ou<br />

bota fora. Esse aqui examinando bem, é<br />

só pra botar fora. Tem chumbo, tem<br />

benzina, tem mais água do que leite, tem<br />

serragem, sou capaz de jurar que nem<br />

vaca tem por trás desse negócio. Depois o<br />

pessoal ainda acha estranho que os<br />

meninos não gostem de leite.<br />

Mas, como não gostam? Não gostam<br />

como? Nunca tomaram! Múúúúúúú!”<br />

(FERNANDES, Millôr. O Estado de S. Paulo ,<br />

22 de agosto de 1999)<br />

A palavra embromatologia usada pelo<br />

autor é:<br />

A) um termo científico que significa estudo<br />

dos bromatos.<br />

B) uma composição do termo de gíria<br />

“embromação” (enganação) com<br />

bromatologia, que é o estudo dos<br />

alimentos.<br />

C) uma junção do termo de gíria<br />

“embromação” (enganação) com<br />

lactologia, que é o estudo das<br />

embalagens para leite.<br />

D) um neologismo da química orgânica<br />

que significa a técnica de retirar<br />

bromatos dos laticínios.<br />

E) uma corruptela de termo da<br />

agropecuária que significa a ordenha<br />

mecânica.<br />

Comentário<br />

É necessário para a resolução desta<br />

questão:<br />

- perceber que o texto critica o exagerado<br />

uso de substâncias artificiais nos<br />

alimentos;<br />

- conhecer o significado da gíria embromar e<br />

da palavra bromatologia.<br />

Conhecendo esses significados, você<br />

elimina todas as alternativas erradas: a, c, d<br />

e e.<br />

Você poderá ter dúvida quanto à<br />

alternativa c, que também será eliminada se<br />

souber o significado da palavra lactologia,<br />

que é o estudo do leite e produtos lácteos e<br />

não das embalagens para leite.<br />

Nesta questão, são trabalhados os<br />

conceitos de interpretação de texto, formação<br />

de palavras e conhecimentos gerais.<br />

382


Comentário do INEP<br />

A resolução da questão requeria que o<br />

participante, ao ler o texto vinculasse o<br />

significado de um termo de gíria -<br />

"embromação" - com o da palavra<br />

bromatologia. A resposta correta exigia que o<br />

participante não abrisse mão do sabor<br />

picante contido na linguagem metafórica,<br />

sabor vinculado ao conhecimento específico<br />

contido na palavra bromatologia. Cerca da<br />

metade dos participantes (51%) optou pela<br />

alternativa correta e, os 20% que escolheram<br />

a alternativa C, provavelmente associaram a<br />

referência feita no texto à leite em pacote.<br />

D)<br />

E)<br />

14) (2008) Os signos visuais, como meios de<br />

comunicação, são classificados em<br />

categorias de acordo com seus<br />

significados.<br />

A categoria denominada indício<br />

corresponde aos signos visuais que têm<br />

origem em formas ou situações naturais<br />

ou casuais, as quais, devido à ocorrência<br />

em circunstâncias idênticas, muitas vezes<br />

repetidas, indicam algo e adquirem<br />

significado. Por exemplo, nuvens negras<br />

indicam tempestade. Com base nesse<br />

conceito, escolha a opção que representa<br />

um signo da categoria dos indícios.<br />

A)<br />

Comentário<br />

Trata-se de uma questão interpretativa. O<br />

aluno precisa entender o que é “indício” para<br />

respondê-la. Segundo o dicionário Aurélio,<br />

indício é o mesmo que “sinal, vestígio,<br />

indicação”. Das figuras apresentadas,<br />

apenas a alternativa B indica algo: a<br />

passagem de alguém por algum lugar —<br />

pegada.<br />

15) (2008)<br />

B)<br />

C)<br />

Exame, 28/9/2007.<br />

Entre os seguintes ditos populares, qual<br />

deles melhor corresponde à figura<br />

acima?<br />

A) Com perseverança, tudo se alcança.<br />

B) Cada macaco no seu galho.<br />

C) Nem tudo que balança cai.<br />

D) Quem tudo quer, tudo perde.<br />

E) Deus ajuda quem cedo madruga.<br />

Comentário<br />

Assim como a questão 37, esta também<br />

envolve interpretação de signos, ou seja, o<br />

383


aluno precisa estar atento à imagem e<br />

relacioná-la ao dito popular correspondente.<br />

A alternativa "A" é a correta, pois, para<br />

uma lesma “grudenta” e vagarosa conseguir<br />

pular numa cama elástica, é necessária<br />

muita perseverança.<br />

16) (2005) Leia estes textos.<br />

Texto 1<br />

Comentário<br />

Enquanto o primeiro texto é ácido em<br />

relação à possibilidade de desarmamento da<br />

população (ou seja, à criação de uma<br />

sociedade mais pacífica), o segundo mostra<br />

a capacidade que a humanidade tem de crer<br />

e, por isso, tentar fazer até o que a princípio<br />

parece impossível. Para os autores da<br />

canção, nada é intrinsecamente impossível.<br />

A relação entre eles é de oposição:<br />

descrença x crença. Questão de nível de<br />

dificuldade médio.<br />

Texto 2<br />

Sonhar<br />

Mais um sonho impossível<br />

Lutar<br />

Quando é fácil ceder<br />

Vencer o inimigo invencível<br />

Negar quando a regra é vender<br />

Sofrer a tortura implacável<br />

Romper a incabível prisão<br />

Voar num limite improvável<br />

Tocar o inacessível chão<br />

É minha lei, é minha questão<br />

Virar esse mundo<br />

Cravar esse chão<br />

Não me importa saber<br />

Se é terrível demais<br />

Quantas guerras terei que vencer<br />

Por um pouco de paz<br />

E amanhã se esse chão que eu beijei<br />

For meu leito e perdão<br />

Vou saber que valeu delirar<br />

E morrer de paixão<br />

E assim, seja lá como for<br />

Vai ter fim a infinita aflição<br />

E o mundo vai ver uma flor<br />

Brotar do impossível chão.<br />

(J. Darione – M. Leigh – Versão de Chico Buarque de<br />

Hollanda e Ruy Guerra, 1972.)<br />

A tirinha e a canção apresentam uma<br />

reflexão sobre o futuro da humanidade. É<br />

correto concluir que os dois textos<br />

A) afirmam que o homem é capaz de<br />

alcançar a paz.<br />

B) concordam que o desarmamento é<br />

inatingível.<br />

C) julgam que o sonho é um desafio<br />

invencível.<br />

D) têm visões diferentes sobre um<br />

possível mundo melhor.<br />

E) transmitem uma mensagem de<br />

otimismo sobre a paz.<br />

17) (2000) As histórias em quadrinhos, por<br />

vezes, utilizam animais como<br />

personagens e a eles atribuem<br />

comportamento humano. O gato Garfield<br />

é exemplo desse fato.<br />

Fonte: Caderno Vida e Arte, Jornal do Povo, Fortaleza<br />

Van Gogh, pintor holandês nascido em<br />

1853, é um dos principais nomes da<br />

pintura mundial. É dele o quadro abaixo.<br />

Auto-retrato de orelha cortada<br />

O 3º quadrinho sugere que Garfield:<br />

A) desconhece tudo sobre arte, por isso<br />

faz a sugestão.<br />

B) acredita que todo pintor deve fazer algo<br />

diferente.<br />

C) defende que para ser pintor a pessoa<br />

tem de sofrer.<br />

D) conhece a história de um pintor<br />

famoso e faz uso da ironia.<br />

E) acredita que seu dono tenha tendência<br />

artística e, por isso, faz a sugestão.<br />

Comentário<br />

Outra questão de interpretação de texto.<br />

Muito simples para quem um dia ouviu falar<br />

de Van Gogh, e simplíssima para aqueles<br />

que prestam atenção em todos os elementos<br />

do enunciado. Afinal, quem deu uma<br />

espiadinha na legenda do quadro de Van<br />

Gogh matou na hora a questão.<br />

384


Esta questão é daquelas rápidas de serem<br />

resolvidas, associando-se os elementos<br />

apresentados.<br />

Comentário do INEP<br />

A significativa maioria (81%) dos<br />

participantes soube perceber o caráter<br />

irônico da fala do Garfield, expressa no<br />

terceiro quadrinho porque, ou conheciam a<br />

história de Van Gogh, ou apropriaram-se<br />

corretamente da informação sobre esse<br />

pintor, fornecida no enunciado.<br />

18) (2004)<br />

A tira "Hagar" e o poema de Alberto<br />

Caeiro (um dos heterônimos de Fernando<br />

Pessoa) expressam, com linguagens<br />

diferentes, uma mesma idéia: a de que a<br />

compreensão que temos do mundo é<br />

condicionada, essencialmente,<br />

A) pelo alcance de cada cultura.<br />

B) pela capacidade visual do observador.<br />

C) pelo senso de humor de cada um.<br />

D) pela idade do observador.<br />

E) pela altura do ponto de observação.<br />

Comentário<br />

Questão reflexiva sobre a forma como<br />

cada cultura vê o mundo sob a ótica dos<br />

limites dados pelos seus costumes e<br />

possibilidades de pensamento inerentes a<br />

cada modelo cultural. A mistura de uma tira e<br />

de um poema amplia a possibilidade de<br />

pensamento por trabalhar com linguagens<br />

diferentes. A alternativa correta é a letra A,<br />

pois ambos (tira e poema) utilizam figuras de<br />

linguagem (metáfora e ironia) para expressar<br />

as diferentes visões de mundo.<br />

19) (2002)<br />

De acordo com a história em quadrinhos<br />

protagonizada por Hagar e seu filho<br />

Hamlet, pode-se afirmar que a postura de<br />

Hagar<br />

A) valoriza a existência da diversidade<br />

social e de culturas, e as várias<br />

representações e explicações desse<br />

universo.<br />

B) desvaloriza a existência da<br />

diversidade social e as várias culturas,<br />

e determina uma única explicação para<br />

esse universo.<br />

C) valoriza a possibilidade de explicar as<br />

sociedades e as culturas a partir de<br />

várias visões de mundo.<br />

D) valoriza a pluralidade cultural e social<br />

ao aproximar a visão de mundo de<br />

navegantes e não-navegantes.<br />

E) desvaloriza a pluralidade cultural e<br />

social, ao considerar o mundo habitado<br />

apenas pelos navegantes.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. Hagar reduz o<br />

mundo a dois tipos de pessoas: navegantes<br />

e não-navegantes. No último quadrinho, diz<br />

que são os navegantes que estabelecem<br />

esses dois grupos. Portanto, quem é<br />

diferente dos navegantes (que estabelecem<br />

o padrão) simplesmente é incluído na massa<br />

única dos não-navegantes. Não importa<br />

quem ou quantos sejam, sua diversidade<br />

social ou cultural em relação aos navegantes<br />

ou entre si. Vemos aí a desvalorização de<br />

outras culturas.<br />

Comentário do INEP<br />

Dentre as habilidades básicas para a<br />

compreensão de um texto destaca-se a<br />

capacidade do leitor de identificar os<br />

pressupostos de cada afirmação que lhe é<br />

apresentada. Nesta questão o participante<br />

deve identificar a posição tanto de Hagar<br />

como de seu filho Hamlet e, em seguida,<br />

avaliar quais os argumentos que justificam a<br />

opinião de Hagar ao definir que no mundo só<br />

existem dois tipos de pessoas. A pergunta de<br />

Hamlet a seu pai explicita a importância do<br />

ato de narrar através do diálogo e do efeito<br />

humorístico contido no episódio representado<br />

na tira. O resultado da compreensão<br />

acertada do diálogo é que o narrador torna<br />

inteligível, para si e para os outros, a lógica<br />

do seu pensamento através do diálogo entre<br />

os dois personagens. É importante observar<br />

que o humor do personagem Hagar é<br />

identificado na postura simetricamente<br />

oposta à de Michel de Montaigne, por<br />

exemplo (ver questão 58): a sua visão de<br />

385


mundo apresenta-se autocentrada, isto é,<br />

centrada nos seus próprios valores (vikings).<br />

A habilidade requerida do participante nessa<br />

questão, qual seja, "valorizar a diversidade<br />

dos patrimônios etnoculturais", é mobilizada<br />

aqui na sua dimensão negativa: é criticando<br />

a postura chauvinista de Hagar que o<br />

participante é capaz de responder<br />

corretamente a questão. A última alternativa<br />

(E) funciona como um distrator, pois neste<br />

caso não está suposta a crítica do discurso<br />

do personagem. Cerca de um terço dos<br />

participantes assinalou a alternativa correta<br />

B. As demais opções são devidas,<br />

possivelmente, a uma leitura pouco<br />

compreensiva das alternativas associadas a<br />

história em quadrinhos.<br />

20) (2009) Saúde, no modelo atual de<br />

qualidade de vida, é o resultado das<br />

condições de alimentação, habitação,<br />

educação, renda, trabalho, transporte,<br />

lazer, serviços médicos e acesso à<br />

atividade física regular. Quanto ao acesso<br />

à atividade física, um dos elementos<br />

essenciais é a aptidão física, entendida<br />

como a capacidade de a pessoa utilizar<br />

seu corpo — incluindo músculos,<br />

esqueleto, coração, enfim, todas as partes<br />

—, de forma eficiente em suas atividades<br />

cotidianas; logo, quando se avalia a saúde<br />

de uma pessoa, a aptidão física deve ser<br />

levada em conta. A partir desse contexto,<br />

considera-se que uma pessoa tem boa<br />

aptidão física quando<br />

A) apresenta uma postura regular.<br />

B) pode se exercitar por períodos curtos<br />

de tempo.<br />

C) pode desenvolver as atividades<br />

físicas do dia-a-dia,<br />

independentemente de sua idade.<br />

D) pode executar suas atividades do dia a<br />

dia com vigor, atenção e uma fadiga de<br />

moderada a intensa.<br />

E) pode exercer atividades físicas no final<br />

do dia, mas suas reservas de energia<br />

são insuficientes para atividades<br />

intelectuais.<br />

Comentário<br />

(QUESTÃO: AZUL <strong>10</strong>3, BRANCA <strong>10</strong>3,<br />

ROSA <strong>10</strong>3)<br />

Questão de fácil resolução, pois avalia<br />

apenas a leitura e a interpretação realizadas<br />

pelo aluno.<br />

Por meio da leitura do texto e de<br />

conhecimentos gerais, o aluno chegaria a<br />

resposta correta, letra C, sem ter dúvidas,<br />

386<br />

uma vez que as demais alternatarivas<br />

apresentam situações inadequadas ao que<br />

se determina a uma pessoa com boa aptidão<br />

física.<br />

21) (2009) Texto I<br />

É praticamente impossível<br />

imaginarmos nossas vidas sem o plástico.<br />

Ele está presente em embalagens de<br />

alimentos, bebidas e remédios, além de<br />

eletrodomésticos, automóveis etc. Esse<br />

uso ocorre devido à sua atoxicidade e à<br />

inércia, isto é: quando em contato com<br />

outras substâncias, o plástico não as<br />

contamina; ao contrário, protege o produto<br />

embalado. Outras duas grandes<br />

vantagens garantem o uso dos plásticos<br />

em larga escala: são leves, quase não<br />

alteram o peso do material embalado, e<br />

são <strong>10</strong>0% recicláveis, fato que,<br />

infelizmente, não é aproveitado, visto que,<br />

em todo o mundo, a percentagem de<br />

plástico reciclado, quando comparado ao<br />

total produzido, ainda é irrelevante.<br />

Revista Mãe Terra. Minuano,<br />

ano 1, n. 6 (adaptado).<br />

Texto II<br />

Sacolas plásticas são leves e voam ao<br />

vento. Por isso, elas entopem esgotos e<br />

bueiros, causando enchentes. São<br />

encontradas até no estômago de<br />

tartarugas marinhas, baleias, focas e<br />

golfinhos, mortos por sufocamento.<br />

Sacolas plásticas descartáveis são<br />

gratuitas para os consumidores, mas têm<br />

um custo incalculável para o meio<br />

ambiente.<br />

Veja, 8 jul. 2009. Fragmentos de texto publicitário do<br />

Instituto Akatu pelo Consumo Consciente.<br />

Na comparação dos textos, observa-se<br />

que<br />

A) o texto I apresenta um alerta a respeito<br />

do efeito da reciclagem de materiais<br />

plásticos; o texto II justifica o uso desse<br />

material reciclado.<br />

B) o texto I tem como objetivo precípuo<br />

apresentar a versatilidade e as<br />

vantagens do uso do plástico na<br />

contemporaneidade; o texto II objetiva<br />

alertar os consumidores sobre os<br />

problemas ambientais decorrentes de<br />

embalagens plásticas não recicladas.<br />

C) o texto I expõe vantagens, sem<br />

qualquer ressalva, do uso do plástico; o<br />

texto II busca convencer o leitor a evitar<br />

o uso de embalagens plásticas.


D) o texto I ílustra o posicionamento de<br />

fabricantes de embalagens plásticas,<br />

mostrando por que elas devem ser<br />

usadas; o texto II ilustra o<br />

posicionamento de consumidores<br />

comuns, que buscam praticidade e<br />

conforto.<br />

E) o texto I apresenta um alerta a respeito<br />

da possíbílidade de contaminação de<br />

produtos orgânicos e industrializados<br />

decorrente do uso de plástico em suas<br />

embalagens; o texto II apresenta<br />

vantagens do consumo de sacolas<br />

plásticas: leves, descartáveis e<br />

gratuitas.<br />

Comentário<br />

(QUESTÃO: AZUL <strong>10</strong>8, BRANCA <strong>10</strong>8,<br />

ROSA <strong>10</strong>7)<br />

Essa questão solicita que o aluno, após<br />

fazer a leitura de dois textos, estabeleça as<br />

ideias principais de cada um deles. No texto<br />

I, o objetivo é apresentar a versatilidade e as<br />

vantagens das embalagens plásticas,<br />

enquanto no II a ideia é alertar os<br />

consumidores sobre os problemas<br />

ambientais causados pela falta de cuidado<br />

com esses elementos. Dessa forma, a<br />

resposta correta é a letra B.<br />

22) (2009) Parte superior do formulário<br />

Canção do vento e da minha vida<br />

O vento varria as folhas,<br />

O vento varria os frutos,<br />

O vento varria as flores...<br />

E a minha vida ficava<br />

Cada vez mais cheia<br />

De frutos, de flores, de folhas.<br />

[...]<br />

O vento varria os sonhos<br />

E varria as amizades...<br />

O vento varria as mulheres...<br />

E a minha vida ficava<br />

Cada vez mais cheia<br />

De afetos e de mulheres.<br />

O vento varria os meses<br />

E varria os teus sorrisos...<br />

O vento varria tudo!<br />

E a minha vida ficava<br />

Cada vez mais cheia<br />

De tudo.<br />

BANDEIRA, M. Poesia completa e prosa. Rio de<br />

Janeiro: José Aguilar, 1967.<br />

Na estruturação do texto, destaca-se<br />

A) a construção de oposições semânticas.<br />

B) a apresentação de ideias de forma<br />

objetiva.<br />

C) o emprego recorrente de figuras de<br />

linguagem, como o eufemismo.<br />

D) a repetição de sons e de construções<br />

sintáticas semelhantes.<br />

E) a inversão da ordem sintática das<br />

palavras.<br />

Comentário<br />

(QUESTÃO: AZUL 117, BRANCA 118,<br />

ROSA 116)<br />

A estrutura do poema de Manuel Bandeira<br />

privilegia a repetição de sons e de<br />

construções sintáticas semelhantes,<br />

perceptíveis em versos como "o vento<br />

varria", recorrente em todo o poema. O uso<br />

da aliteração também é exemplificado em<br />

construções como "De frutos, de flores, de<br />

folhas". Essa figura de linguagem determina<br />

a repetição de sons. A resposta correta é a<br />

letra D.<br />

23) (2009) Texto I<br />

O professor deve ser um guia seguro,<br />

muito senhor de sua língua; se outra for a<br />

orientação, vamos cair na "língua<br />

brasileira", refúgio nefasto e confissão<br />

nojenta de ignorância do idioma pátrio,<br />

recurso vergonhoso de homens de cultura<br />

falsa e de falso patriotismo. Como<br />

havemos de querer que respeitem a<br />

nossa nacionalidade se somos os<br />

primeiros a descuidar daquilo que exprime<br />

e representa o idioma pátrio?<br />

ALMEIDA, N. M. Gramática metódica da tingua<br />

portuguesa Prefácio. São Paulo: Saraiva, 1999<br />

(adaptado).<br />

Texto II<br />

Alguns leitores poderão achar que a<br />

linguagem desta Gramática se afasta do<br />

padrão estrito usual neste tipo de livro.<br />

Assim, o autor escreve tenho que<br />

reformular, e não tenho de reformular;<br />

pode-se colocar dois constituintes, e não<br />

podem-se colocar dois constituintes; e<br />

assim por diante. Isso foi feito de caso<br />

pensado, com a preocupação de<br />

aproximar a linguagem da gramática do<br />

padrão atual brasileiro presente nos textos<br />

técnicos e jornalísticos de nossa época.<br />

REIS, N. Nota do editor. PERINI, M. A. Gramática<br />

descritiva do português. São Paulo: Ática, 1996.<br />

Confrontando-se as opiniões defendidas<br />

nos dois textos, conclui-se que<br />

A) ambos os textos tratam da questão do<br />

uso da língua com o objetivo de criticar<br />

a linguagem do brasileiro.<br />

387


B) os dois textos defendem a ideia de que<br />

o estudo da gramática deve ter o<br />

objetivo de ensinar as regras<br />

prescritivas da língua.<br />

C) a questão do português falado no<br />

Brasil é abordada nos dois textos, que<br />

procuram justificar como é correto e<br />

aceitável o uso coloquial do idioma.<br />

D) o primeiro texto enaltece o padrão<br />

estrito da língua, ao passo que o<br />

segundo defende que a linguagem<br />

jornalística deve criar suas próprias<br />

regras gramaticais.<br />

E) o primeiro texto prega a rigidez<br />

gramatical no uso da língua, enquanto<br />

o segundo defende uma adequação da<br />

língua escrita ao padrão atual<br />

brasileiro.<br />

Comentário<br />

(QUESTÃO: AZUL 119, BRANCA 119,<br />

ROSA 119)<br />

Esta questão apresenta dois textos: o<br />

primeiro defende a rigidez das normas da<br />

língua padrão, enquanto que o segundo<br />

propõe uma adequação da língua escrita<br />

à realidade da fala padrão contemporânea.<br />

Portanto, a resposta correta é a alternativa<br />

E.<br />

B) criou outro ópio do povo, levando as<br />

pessoas a buscarem cada vez mais<br />

grupos igualitários de integração social.<br />

C) é uma tradução dos valores das<br />

sociedades subdesenvolvidas, mas em<br />

países considerados do primeiro<br />

mundo ela não consegue se manifestar<br />

porque a população tem melhor<br />

educação e senso crítico.<br />

D) tem como um de seus dogmas o<br />

narcisismo, significando o “amar o<br />

próximo como se ama a si mesmo”.<br />

E) existe desde a Idade Média, entretanto<br />

esse acontecimento se intensificou a<br />

partir da Revolução Industrial no século<br />

XIX e se estendeu até os nossos dias.<br />

Comentário<br />

(QUESTÃO: AZUL 134, BRANCA 134,<br />

ROSA 132)<br />

A questão trata do surgimento de um novo<br />

fenômeno contemporâneo: a "corpolatria",<br />

que nada mais é do que o culto ao corpo e a<br />

redescoberta do prazer — o que a torna uma<br />

religião "ao avesso".<br />

Uma leitura atenta do texto e do<br />

enunciado permitem ao candidato perceber<br />

que a melhor resposta é a alternativa A.<br />

24) (2009) Nunca se falou e se preocupou<br />

tanto com o corpo como nos dias atuais. É<br />

comum ouvirmos anúncios de uma nova<br />

academia de ginástica, de uma nova<br />

forma de dieta, de uma nova técnica de<br />

autoconhecimento e outras práticas de<br />

saúde alternativa, em síntese, vivemos<br />

nos últimos anos a redescoberta do<br />

prazer, voltando nossas atenções ao<br />

nosso próprio corpo. Essa valorização do<br />

prazer individualizante se estrutura em um<br />

verdadeiro culto ao corpo, em analogia a<br />

uma religião, assistimos hoje ao<br />

surgimento de novo universo: a<br />

corpolatria.<br />

CODO, W.; SENNE, W. O que é corpo(latria).<br />

Coleção Primeiros Passos. Brasiliense, 1985<br />

(adaptado).<br />

388<br />

Sobre esse fenômeno do homem<br />

contemporâneo presente nas classes<br />

sociais brasileiras, principalmente, na<br />

classe média, a corpolatria<br />

A) é uma religião pelo avesso, por isso<br />

outra religião; inverteram-se os sinais,<br />

a busca da felicidade eterna antes<br />

carregava em si a destruição do prazer,<br />

hoje implica o seu culto.<br />

H23 - Inferir em um texto quais<br />

são os objetivos de seu<br />

produtor e quem é seu<br />

público alvo, pela análise dos<br />

procedimentos<br />

argumentativos utilizados.<br />

01) (2001) O mundo é grande<br />

O mundo é grande e cabe<br />

Nesta janela sobre o mar.<br />

O mar é grande e cabe<br />

Na cama e no colchão de amar.<br />

O amor é grande e cabe<br />

No breve espaço de beijar.<br />

ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e prosa.<br />

Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983.<br />

Neste poema, o poeta realizou uma opção<br />

estilística: a reiteração de determinadas<br />

construções e expressões lingüísticas,<br />

como o uso da mesma conjunção para<br />

estabelecer a relação entre as frases.<br />

Essa conjunção estabelece, entre as<br />

idéias relacionadas, um sentido de<br />

A) oposição.<br />

B) comparação.<br />

C) conclusão.


D) alternância.<br />

E) finalidade.<br />

Comentário<br />

Há três elementos repetidos neste trecho:<br />

o verbo ser, o artigo definido o e a conjunção<br />

aditiva e. A conjunção e estabelece uma<br />

relação entre idéias que, concretamente, são<br />

opostas (ex.: "O mundo é grande e cabe<br />

nesta janela sobre o mar"). A alternativa<br />

correta é a letra A.<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão apresenta, para leitura e<br />

análise, o poema "O mundo é grande", onde<br />

os recursos lingüísticos expressivos<br />

utilizados geram um efeito de oposição entre<br />

as idéias. A análise sintático-semântica é<br />

necessária para a compreensão do valor de<br />

oposição assumido pela conjunção "e":<br />

imagens justapostas estão relacionadas,<br />

contrapondo-se em planos diferentes. Um<br />

percentual significativo (46%) de<br />

participantes considerou que o valor da<br />

conjunção "e", nesse poema, é de<br />

comparação, o que não reflete o sentido<br />

estilístico proposto pelo poeta, mas<br />

corresponde apenas à primeira operação que<br />

se realiza para estabelecer o sentido de<br />

oposição. De maneira análoga, pode-se<br />

analisar os equívocos daqueles que optaram<br />

pelas alternativas C e D.<br />

02) (1999) SONETO DE FIDELIDADE<br />

De tudo, ao meu amor serei atento<br />

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto<br />

Que mesmo em face do maior encanto<br />

Dele se encante mais meu pensamento.<br />

Quero vivê-lo em cada vão momento<br />

E em seu louvor hei de espalhar meu<br />

canto<br />

E rir meu riso e derramar meu pranto<br />

Ao seu pesar ou seu contentamento.<br />

E assim, quando mais tarde me procure<br />

Quem sabe a morte, angústia de quem<br />

vive<br />

Quem sabe a solidão, fim de quem ama.<br />

Eu possa dizer do meu amor (que tive):<br />

Que não seja imortal, posto que é chama<br />

Mas que seja infinito enquanto dure.<br />

(MORAES, Vinícius de. Antologia poética. São Paulo: Cia<br />

das Letras, 1992).<br />

A palavra mesmo pode assumir diferentes<br />

significados, de acordo com a sua função<br />

na frase. Assinale a alternativa em que o<br />

sentido de mesmo equivale ao que se<br />

verifica no 3º verso da 1ª estrofe do<br />

poema de Vinícius de Moraes.<br />

A) "Pai, para onde fores, / irei também<br />

trilhando as mesmas ruas..." (Augusto<br />

dos Anjos)<br />

B) "Agora, como outrora, há aqui o<br />

mesmo contraste da vida interior, que<br />

é modesta, com a exterior, que é<br />

ruidosa." (Machado de Assis)<br />

C) "Havia o mal, profundo e persistente,<br />

para o qual o remédio não surtiu efeito,<br />

mesmo em doses variáveis."<br />

(Raimundo Faoro)<br />

D) "Mas, olhe cá, Mana Glória, há<br />

mesmo necessidade de fazê-lo<br />

padre?" (Machado de Assis)<br />

E) "Vamos de qualquer maneira, mas<br />

vamos mesmo." (Aurélio)<br />

Comentário<br />

Nessa questão, uma pequena análise<br />

sintática se faz necessária: mesmo, em<br />

ambos os casos, é conjunção subordinativa<br />

concessiva, introduzindo, portanto, uma<br />

oração subordinada cujo fato expresso é<br />

contrário ao da oração principal. Deve-se,<br />

então, recorrer à oração anterior para se ter<br />

certeza quanto à classificação. Grau<br />

moderado de dificuldade.<br />

Comentário do INEP<br />

Este problema buscou colocar o<br />

participante diante de uma situação que<br />

exigia a mobilização de seus mecanismos de<br />

reflexão sobre os processos lingüísticos em<br />

que um significante (uma palavra) assume<br />

diferentes significados, no enunciado, de<br />

acordo com a intenção do enunciador. Neste<br />

caso, além da compreensão da<br />

transformação de significado, é necessária a<br />

alteração de função morfossintática.<br />

Verifica-se que 62% dos participantes<br />

conseguiram identificar e analisar esse<br />

processo lingüístico, comparando a função<br />

do significante em diferentes enunciados.<br />

Isso demonstrou um domínio parcial da<br />

reflexão sobre a Língua Portuguesa, em<br />

diferentes contextos e textos.<br />

Os 18% dos participantes que<br />

assinalaram a alternativa B identificaram a<br />

diferença de significados mas,<br />

provavelmente, têm dificuldades em analisar<br />

estas mudanças em nível morfossintático<br />

(alternativa B).<br />

389


03) ( 2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />

poema.<br />

A DANÇA E A ALMA<br />

A DANÇA? Não é movimento,<br />

súbito gesto musical.<br />

É concentração, num momento,<br />

da humana graça natural.<br />

No solo não, no éter pairamos,<br />

nele amaríamos ficar.<br />

A dança – não vento nos ramos:<br />

seiva, força, perene estar.<br />

Um estar entre céu e chão,<br />

novo domínio conquistado,<br />

onde busque nossa paixão<br />

libertar-se por todo lado...<br />

Onde a alma possa descrever<br />

suas mais divinas parábolas<br />

sem fugir à forma do ser,<br />

por sobre o mistério das fábulas.<br />

(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />

Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />

A definição de dança, em linguagem de<br />

dicionário, que mais se aproxima do que<br />

está expresso no poema é<br />

A) a mais antiga das artes, servindo como<br />

elemento de comunicação e afirmação<br />

do homem em todos os momentos de<br />

sua existência.<br />

B) a forma de expressão corporal que<br />

ultrapassa os limites físicos,<br />

possibilitando ao homem a liberação de<br />

seu espírito.<br />

C) a manifestação do ser humano,<br />

formada por uma seqüência de gestos,<br />

passos e movimentos desconcertados.<br />

D) o conjunto organizado de movimentos<br />

do corpo, com ritmo determinado por<br />

instrumentos musicais, ruídos, cantos,<br />

emoções etc.<br />

E) o movimento diretamente ligado ao<br />

psiquismo do indivíduo e, por<br />

conseqüência, ao seu desenvolvimento<br />

intelectual e à sua cultura.<br />

Comentário<br />

A pergunta busca a aplicação do conceito<br />

de "estado de dicionário" (que também foi<br />

desenvolvido por Drummond no poema "A<br />

Procura da Poesia"). A literatura busca partir<br />

de palavras em estado de dicionário para,<br />

pelo aprofundamento do sentido delas, criar<br />

um mundo mais denso e particular. Em<br />

estado de dicionário, a dança, conforme é<br />

tratada nesse poema, apareceria na<br />

alternativa B: uma justaposição entre<br />

aspectos físicos e espirituais da expressão<br />

humana. Questão complexa.<br />

04) (2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />

poema.<br />

A DANÇA E A ALMA<br />

A DANÇA? Não é movimento,<br />

súbito gesto musical.<br />

É concentração, num momento,<br />

da humana graça natural.<br />

No solo não, no éter pairamos,<br />

nele amaríamos ficar.<br />

A dança – não vento nos ramos:<br />

seiva, força, perene estar.<br />

Um estar entre céu e chão,<br />

novo domínio conquistado,<br />

onde busque nossa paixão<br />

libertar-se por todo lado...<br />

Onde a alma possa descrever<br />

suas mais divinas parábolas<br />

sem fugir à forma do ser,<br />

por sobre o mistério das fábulas.<br />

(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />

Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />

O poema “A Dança e a Alma” é construído<br />

com base em contrastes, como<br />

“movimento” e “concentração”. Em uma<br />

das estrofes, o termo que estabelece<br />

contraste com solo é:<br />

A) éter. D) paixão.<br />

B) seiva. E) ser.<br />

C) chão.<br />

Comentário<br />

O elemento que contrasta com "solo"<br />

(físico, tangível, perene) é "éter" (espiritual,<br />

intangível, volátil). Questão de nível médio de<br />

dificuldade.<br />

05) ( 2008) O surgimento da figura da Ema<br />

no céu, ao leste, no anoitecer, na segunda<br />

quinzena de junho, indica o início do<br />

inverno para os índios do sul do Brasil e o<br />

começo da estação seca para os do norte.<br />

É limitada pelas constelações de<br />

Escorpião e do Cruzeiro do Sul, ou<br />

Cut'uxu. Segundo o mito guarani, o<br />

Cut’uxu segura a cabeça da ave para<br />

garantir a vida na Terra, porque, se ela se<br />

soltar, beberá toda a água do nosso<br />

planeta. Os tupisguaranis utilizam o<br />

Cut'uxu para se orientar e determinar a<br />

duração das noites e as estações do ano.<br />

A ilustração a seguir é uma representação<br />

dos corpos celestes que constituem a<br />

constelação da Ema, na percepção<br />

indígena.<br />

390


Almanaque BRASIL, maio/2007 (com adaptações).<br />

A próxima figura mostra, em campo de<br />

visão ampliado, como povos de culturas<br />

não-indígenas percebem o espaço estelar<br />

em que a Ema é vista.<br />

Internet: (com adaptações).<br />

Assinale a opção correta a respeito da<br />

linguagem empregada no texto A Ema.<br />

A) A palavra Cut’uxu é um regionalismo<br />

utilizado pelas populações próximas às<br />

aldeias indígenas.<br />

B) O autor se expressa em linguagem<br />

formal em todos os períodos do texto.<br />

C) A ausência da palavra Ema no início do<br />

período “É limitada (...)” caracteriza<br />

registro oral.<br />

D) A palavra Cut’uxu está destacada em<br />

itálico porque integra o vocabulário da<br />

linguagem informal.<br />

E) No texto, predomina a linguagem<br />

coloquial porque ele consta de um<br />

almanaque.<br />

Comentário<br />

A questão é simples, mas requer cuidados<br />

quanto aos conceitos de linguagem<br />

“informal”, “formal” e de “língua”. Se o aluno<br />

tiver noção desses conceitos,<br />

chegará facilmente à resposta. A linguagem<br />

formal ou culta prevalece no texto, e o termo<br />

“Cut’uxu’ não é um termo informal, mas, sim,<br />

uma expressão que pertence a uma língua<br />

indígena — o que justifica o emprego da<br />

palavra em itálico. A resposta correta é,<br />

portanto, a letra "B".<br />

06) (2008) Calcula-se que 78% do<br />

desmatamento na Amazônia tenha sido<br />

motivado pela pecuária — cerca de 35%<br />

do rebanho nacional está na região — e<br />

que pelo menos 50 milhões de hectares<br />

de pastos são pouco produtivos. Enquanto<br />

o custo médio para aumentar a<br />

produtividade de 1 hectare de pastagem é<br />

de 2 mil reais, o custo para derrubar igual<br />

área de floresta é estimado em 800 reais,<br />

o que estimula novos desmatamentos.<br />

Adicionalmente, madeireiras retiram as<br />

árvores de valor comercial que foram<br />

abatidas para a criação de pastagens. Os<br />

pecuaristas sabem que problemas<br />

ambientais como esses podem provocar<br />

restrições à pecuária nessas áreas, a<br />

exemplo do que ocorreu em 2006 com o<br />

plantio da soja, o qual, posteriormente, foi<br />

proibido em áreas de floresta.<br />

Época, 3/3/2008 e 9/6/2008 (com adaptações).<br />

A partir da situação-problema descrita,<br />

conclui-se que<br />

A) o desmatamento na Amazônia decorre<br />

principalmente da exploração ilegal de<br />

árvores de valor comercial.<br />

B) um dos problemas que os pecuaristas<br />

vêm enfrentando na Amazônia é a<br />

proibição do plantio de soja.<br />

C) a mobilização de máquinas e de força<br />

humana torna o desmatamento mais<br />

caro que o aumento da produtividade<br />

de pastagens.<br />

D) o superavit comercial decorrente da<br />

exportação de carne produzida na<br />

Amazônia compensa a possível<br />

degradação ambiental.<br />

E) a recuperação de áreas desmatadas<br />

e o aumento de produtividade das<br />

pastagens podem contribuir para a<br />

redução do desmatamento na<br />

Amazônia.<br />

Comentário do portal<br />

Essa questão retrata o problema do<br />

desmatamento da Amazônia, relacionado<br />

principalmente com o desenvolvimento da<br />

pecuária na região. Para resolvê-la, foram<br />

necessários a leitura atenta do texto e o<br />

conhecimento sobre os problemas<br />

ambientais da atualidade. A alternativa<br />

correta é a letra E, pois é mais caro para os<br />

pecuaristas aumentar a produtividade do que<br />

as áreas de pasto, o que acarreta o aumento<br />

do desmatamento da Amazônia.<br />

391


07) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />

preciso, além de conhecer o padrão<br />

formal da Língua Portuguesa, saber<br />

adequar o uso da linguagem ao contexto<br />

discursivo. Para exemplificar este fato,<br />

seu professor de Língua Portuguesa<br />

convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />

Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />

brinca com situações de discurso oral que<br />

fogem à expectativa do ouvinte.<br />

Aí, Galera<br />

Jogadores de futebol podem ser<br />

vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />

você pode imaginar um jogador de futebol<br />

dizendo "estereotipação"? E, no<br />

entanto, por que não?<br />

- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />

galera.<br />

- Minha saudação aos aficionados do<br />

clube e aos demais esportistas, aqui<br />

presentes ou no recesso dos seus lares.<br />

- Como é?<br />

- Aí, galera.<br />

- Quais são as instruções do técnico?<br />

- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />

trabalho de contenção coordenada, com<br />

energia otimizada, na zona de<br />

preparação, aumentam as<br />

probabilidades de, recuperado o<br />

esférico, concatenarmos um contragolpe<br />

agudo com parcimônia de meios e<br />

extrema objetividade, valendo-nos da<br />

desestruturação momentânea do<br />

sistema oposto, surpreendido pela<br />

reversão inesperada do fluxo da ação:<br />

- Ahn?<br />

- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />

pegá eles sem calça.<br />

- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />

coisa?<br />

- Posso dirigir uma mensagem de<br />

caráter sentimental, algo banal, talvez<br />

mesmo previsível e piegas, a uma<br />

pessoa à qual sou ligado por razões,<br />

inclusive, genéticas?<br />

- Pode.<br />

- Uma saudação para a minha<br />

progenitora.<br />

- Como é?<br />

- Alô, mamãe!<br />

- Estou vendo que você é um, um...<br />

- Um jogador que confunde o<br />

entrevistador, pois não corresponde à<br />

expectativa de que o atleta seja um ser<br />

algo primitivo com dificuldade de<br />

expressão e assim sabota a<br />

estereotipação?<br />

- Estereoquê?<br />

392<br />

- Um chato?<br />

- Isso.<br />

Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />

O texto retrata duas situações<br />

relacionadas que fogem à expectativa do<br />

público. São elas:<br />

A) a saudação do jogador aos fãs do<br />

clube, no início da entrevista, e a<br />

saudação final dirigida à sua mãe.<br />

B) a linguagem muito formal do jogador,<br />

inadequada à situação da entrevista, e<br />

um jogador que fala, com desenvoltura,<br />

de modo muito rebuscado.<br />

C) o uso da expressão "galera", por parte<br />

do entrevistador, e da expressão<br />

"progenitora", por parte do jogador.<br />

D) o desconhecimento, por parte do<br />

entrevistador, da palavra<br />

"estereotipação", e a fala do jogador<br />

em "é pra dividir no meio e ir pra cima<br />

pra pegá eles sem calça".<br />

E) o fato de os jogadores de futebol serem<br />

vítimas de estereotipação e o jogador<br />

entrevistado não corresponder ao<br />

estereótipo.<br />

Comentário<br />

Quando pensamos em certas profissões,<br />

imaginamos qual seria o padrão de<br />

comportamento de quem as exerce. O texto<br />

está trabalhando uma divergência entre o<br />

que esperamos de um jogador de futebol (o<br />

estereótipo que temos dele) e um jogador<br />

que não se enquadra em nossas<br />

expectativas. Levando isso em consideração,<br />

as duas coisas que destoam do que<br />

esperamos encontrar nessa situação são: 1)<br />

alguém, ao dar uma entrevista de alto<br />

alcance popular, fala de maneira<br />

extremamente rebuscada; 2) um jogador que,<br />

ao falar de maneira rebuscada, acaba por<br />

fugir do estereótipo do jogador de futebol, de<br />

quem sempre é esperado algo menos<br />

rebuscado e mais popular.<br />

08) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />

preciso, além de conhecer o padrão<br />

formal da Língua Portuguesa, saber<br />

adequar o uso da linguagem ao contexto<br />

discursivo. Para exemplificar este fato,<br />

seu professor de Língua Portuguesa<br />

convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />

Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />

brinca com situações de discurso oral que<br />

fogem à expectativa do ouvinte.


Aí, Galera<br />

Jogadores de futebol podem ser<br />

vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />

você pode imaginar um jogador de futebol<br />

dizendo "estereotipação"? E, no<br />

entanto, por que não?<br />

- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />

galera.<br />

- Minha saudação aos aficionados do<br />

clube e aos demais esportistas, aqui<br />

presentes ou no recesso dos seus lares.<br />

- Como é?<br />

- Aí, galera.<br />

- Quais são as instruções do técnico?<br />

- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />

trabalho de contenção coordenada, com<br />

energia otimizada, na zona de<br />

preparação, aumentam as<br />

probabilidades de, recuperado o<br />

esférico, concatenarmos um contragolpe<br />

agudo com parcimônia de meios e<br />

extrema objetividade, valendo-nos da<br />

desestruturação momentânea do<br />

sistema oposto, surpreendido pela<br />

reversão inesperada do fluxo da ação:<br />

- Ahn?<br />

- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />

pegá eles sem calça.<br />

- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />

coisa?<br />

- Posso dirigir uma mensagem de<br />

caráter sentimental, algo banal, talvez<br />

mesmo previsível e piegas, a uma<br />

pessoa à qual sou ligado por razões,<br />

inclusive, genéticas?<br />

- Pode.<br />

- Uma saudação para a minha<br />

progenitora.<br />

- Como é?<br />

- Alô, mamãe!<br />

- Estou vendo que você é um, um...<br />

- Um jogador que confunde o<br />

entrevistador, pois não corresponde à<br />

expectativa de que o atleta seja um ser<br />

algo primitivo com dificuldade de<br />

expressão e assim sabota a<br />

estereotipação?<br />

- Estereoquê?<br />

- Um chato?<br />

- Isso.<br />

Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />

O texto mostra uma situação em que a<br />

linguagem usada é inadequada ao<br />

contexto. Considerando as diferenças<br />

entre língua oral e língua escrita, assinale<br />

a opção que representa também uma<br />

inadequação da linguagem usada ao<br />

contexto:<br />

A) "o carro bateu e capotô, mas num deu<br />

pra vê direito" - um pedestre que<br />

assistiu ao acidente comenta com o<br />

outro que vai passando.<br />

B) "E aí, ô meu! Como vai essa força?" -<br />

um jovem que fala para um amigo.<br />

C) "Só um instante, por favor. Eu<br />

gostaria de fazer uma observação" -<br />

alguém comenta em uma reunião de<br />

trabalho.<br />

D) "Venho manifestar meu interesse em<br />

candidatar-me ao cargo de Secretária<br />

Executiva desta conceituada empresa"<br />

- alguém que escreve uma carta<br />

candidatando-se a um emprego.<br />

E) "Porque se a gente não resolve as<br />

coisas como têm que ser, a gente corre<br />

o risco de termos, num futuro próximo,<br />

muito pouca comida nos lares<br />

brasileiros" - um professor universitário<br />

em um congresso internacional.<br />

Comentário<br />

Essa questão está trabalhando com as<br />

nossas expectativas. Esperamos encontrar,<br />

nas diferentes situações, linguagens que<br />

correspondam à formalidade (ou à<br />

informalidade) delas. Na alternativa E, como<br />

o professor universitário está falando em um<br />

congresso internacional, espera-se que ele<br />

utilize uma linguagem mais formal e não uma<br />

linguagem coloquial como a que usou. Em<br />

todas as outras situações, a linguagem está<br />

de acordo com a situação em que está sendo<br />

empregada.<br />

09) (2007) Texto I<br />

Agora Fabiano conseguia arranjar as<br />

idéias. O que o segurava era a família.<br />

Vivia preso como um novilho amarrado ao<br />

mourão, suportando ferro quente. Se não<br />

fosse isso, um soldado amarelo não lhe<br />

pisava o pé não. (...) Tinha aqueles<br />

cambões pendurados ao pescoço.<br />

Deveria continuar a arrastá-los? Sinha<br />

Vitória dormia mal na cama de varas. Os<br />

meninos eram uns brutos, como o pai.<br />

Quando crescessem, guardariam as reses<br />

de um patrão invisível, seriam pisados,<br />

maltratados, machucados por um soldado<br />

amarelo.<br />

Graciliano Ramos. Vidas Secas. São Paulo:<br />

Martins, 23.ª ed., 1969, p. 75.<br />

Texto II<br />

Para Graciliano, o roceiro pobre é um<br />

outro, enigmático, impermeável. Não há<br />

solução fácil para uma tentativa de<br />

393


incorporação dessa figura no campo da<br />

ficção. É lidando com o impasse, ao invés<br />

de fáceis soluções, que Graciliano vai<br />

criar Vidas Secas, elaborando uma<br />

linguagem, uma estrutura romanesca,<br />

uma constituição de narrador em que<br />

narrador e criaturas se tocam, mas não se<br />

identificam. Em grande medida, o debate<br />

acontece porque, para a intelectualidade<br />

brasileira naquele momento, o pobre, a<br />

despeito de aparecer idealizado em certos<br />

aspectos, ainda é visto como um ser<br />

humano de segunda categoria, simples<br />

demais, incapaz de ter pensamentos<br />

demasiadamente complexos. O que Vidas<br />

Secas faz é, com pretenso não<br />

envolvimento da voz que controla a<br />

narrativa, dar conta de uma riqueza<br />

humana de que essas pessoas seriam<br />

plenamente capazes.<br />

Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes. In:<br />

Teresa. São Paulo: USP, n.° 2, 2001, p. 254.<br />

No texto II, verifica-se que o autor utiliza<br />

A) linguagem predominantemente<br />

formal, para problematizar, na<br />

composição de Vidas Secas, a relação<br />

entre o escritor e o personagem<br />

popular.<br />

B) linguagem inovadora, visto que, sem<br />

abandonar a linguagem formal, dirigese<br />

diretamente ao leitor.<br />

C) linguagem coloquial, para narrar<br />

coerentemente uma história que<br />

apresenta o roceiro pobre de forma<br />

pitoresca.<br />

D) linguagem formal com recursos<br />

retóricos próprios do texto literário em<br />

prosa, para analisar determinado<br />

momento da literatura brasileira.<br />

E) linguagem regionalista, para transmitir<br />

informações sobre literatura, valendose<br />

de coloquialismo, para facilitar o<br />

entendimento do texto.<br />

Comentário<br />

Questão de nível médio. Algumas<br />

alternativas poderiam levar o candidato a<br />

pensar que o texto de Vidas Secas utiliza<br />

uma linguagem predominantemente coloquial<br />

e regionalista. Entretanto, é na alternativa A<br />

que se encontra o real estilo da linguagem<br />

utilizada por Graciliano Ramos. A linguagem<br />

é, portanto, predominantemente formal e<br />

problematiza a relação do escritor com o<br />

personagem popular. Esta acaba sendo uma<br />

das grandes características do autor, pois ele<br />

buscava sempre dar uma grande densidade<br />

psicológica aos seus romances.<br />

<strong>10</strong>) (2006) Depois de um bom jantar: feijão<br />

com carne-seca, orelha de porco e couve<br />

com angu, arroz-mole engordurado, carne<br />

de vento assada no espeto, torresmo<br />

enxuto de toicinho da barriga, viradinho de<br />

milho verde e um prato de caldo de couve,<br />

jantar encerrado por um prato fundo de<br />

canjica com torrões de açúcar, Nhô Tomé<br />

saboreou o café forte e se estendeu na<br />

rede. A mão direita sob a cabeça, à guisa<br />

de travesseiro, o indefectível cigarro de<br />

palha entre as pontas do indicador e do<br />

polegar, envernizados pela fumaça, de<br />

unhas encanoadas e longas, ficou-se de<br />

pança para o ar, modorrento, a olhar para<br />

as ripas do telhado.<br />

Quem come e não deita, a comida não<br />

aproveita, pensava Nhô Tomé... E pôs-se<br />

a cochilar. A sua modorra durou pouco;<br />

Tia Policena, ao passar pela sala, bradou<br />

assombrada:<br />

— Êêh! Sinhô! Vai drumi agora? Não!<br />

Num presta... Dá pisadêra e póde morrê<br />

de ataque de cabeça! Despois do armoço<br />

num far-má... mais despois da janta?!”<br />

Cornélio Pires. Conversas ao pé do fogo. São Paulo:<br />

Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1987.<br />

Nesse trecho, extraído de texto publicado<br />

originalmente em 1921, o narrador<br />

A) apresenta, sem explicitar juízos de<br />

valor, costumes da epoca, descrevendo<br />

os pratos servidos no jantar e a atitude<br />

de Nhô Tomé e de Tia Policena.<br />

B) desvaloriza a norma culta da língua<br />

porque incorpora à narrativa usos<br />

próprios da linguagem regional das<br />

personagens.<br />

C) condena os hábitos descritos, dando<br />

voz a Tia Policena, que tenta impedir<br />

Nhô Tomé de deitar-se após as<br />

refeições.<br />

D) utiliza a diversidade sociocultural e<br />

lingüística para demonstrar seu<br />

desrespeito às populações das zonas<br />

rurais do início do século XX.<br />

E) manifesta preconceito em relação a Tia<br />

Policena ao transcrever a fala dela com<br />

os erros próprios da região.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil, pois a alternativa<br />

"A" deixa clara a intencionalidade do<br />

narrador. Entretanto, o aluno poderia optar<br />

pela alternativa "B" caso não desse o devido<br />

valor ao sentido da palavra “desvaloriza”, que<br />

a elimina.<br />

394


11) (2006) Aula de português<br />

Explorando a função emotiva da<br />

linguagem, o poeta expressa o contraste<br />

entre marcas de variação de usos da<br />

linguagem em<br />

A) situações formais e informais.<br />

B) diferentes regiões do país.<br />

C) escolas literárias distintas.<br />

D) textos técnicos e poéticos.<br />

E) diferentes épocas.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil, pois o próprio título<br />

nos dá uma noção da dificuldade de<br />

transformar a linguagem coloquial e de uso<br />

cotidiano em uma linguagem formal,<br />

expressa no poema como “a misteriosa”.<br />

Drummond foi muito feliz em conseguir<br />

demonstrar a dificuldade em entender como<br />

estruturas simples da língua se tornam tão<br />

complexas ao se iniciar o processo de<br />

compreensão da estrutura lingüística.<br />

12) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />

preciso, além de conhecer o padrão<br />

formal da Língua Portuguesa, saber<br />

adequar o uso da linguagem ao contexto<br />

discursivo. Para exemplificar este fato,<br />

seu professor de Língua Portuguesa<br />

convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />

Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />

brinca com situações de discurso oral que<br />

fogem à expectativa do ouvinte.<br />

Aí, Galera<br />

Jogadores de futebol podem ser<br />

vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />

você pode imaginar um jogador de futebol<br />

dizendo "estereotipação"? E, no<br />

entanto, por que não?<br />

- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />

galera.<br />

- Minha saudação aos aficionados do<br />

clube e aos demais esportistas, aqui<br />

presentes ou no recesso dos seus lares.<br />

- Como é?<br />

- Aí, galera.<br />

- Quais são as instruções do técnico?<br />

- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />

trabalho de contenção coordenada, com<br />

energia otimizada, na zona de<br />

preparação, aumentam as<br />

probabilidades de, recuperado o<br />

esférico, concatenarmos um contragolpe<br />

agudo com parcimônia de meios e<br />

extrema objetividade, valendo-nos da<br />

desestruturação momentânea do<br />

sistema oposto, surpreendido pela<br />

reversão inesperada do fluxo da ação:<br />

- Ahn?<br />

- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />

pegá eles sem calça.<br />

- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />

coisa?<br />

- Posso dirigir uma mensagem de<br />

caráter sentimental, algo banal, talvez<br />

mesmo previsível e piegas, a uma<br />

pessoa à qual sou ligado por razões,<br />

inclusive, genéticas?<br />

- Pode.<br />

- Uma saudação para a minha<br />

progenitora.<br />

- Como é?<br />

- Alô, mamãe!<br />

- Estou vendo que você é um, um...<br />

- Um jogador que confunde o<br />

entrevistador, pois não corresponde à<br />

expectativa de que o atleta seja um ser<br />

algo primitivo com dificuldade de<br />

expressão e assim sabota a<br />

estereotipação?<br />

- Estereoquê?<br />

- Um chato?<br />

- Isso.<br />

Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />

A expressão "pegá eles sem calça"<br />

poderia ser substituída, sem<br />

comprometimento de sentido, em língua<br />

culta, formal, por:<br />

A) pegá-los na mentira.<br />

B) pegá-los desprevenidos.<br />

395


C) pegá-los em flagrante.<br />

D) pegá-los rapidamente.<br />

E) pegá-los momentaneamente<br />

Comentário<br />

O trabalho que temos aqui é de<br />

compreensão de sentido. Se você nunca<br />

ouviu a expressão "de calças na mão", terá<br />

de imaginar o que acontece quando<br />

pegamos alguém nessa situação. Mas isso<br />

não basta. Se usar somente situações que<br />

pode imaginar, restarão as alternativas B e<br />

C. Esse problema só será solucionado se<br />

você entender bem o texto a que ele se<br />

refere. Como o jogador está falando em<br />

roubar a bola e partir para cima do adversário<br />

rapidamente, imagina-se que o adversário<br />

não esperava perder a bola naquele<br />

momento e, quando isso ocorreu, ele não<br />

estava preparado para receber um contraataque.<br />

Utilizando essa análise, somente a<br />

alternativa B está correta.<br />

13) (2000) Em uma conversa ou leitura de<br />

um texto, corre-se o risco de atribuir um<br />

significado inadequado a um termo ou<br />

expressão, e isso pode levar a certos<br />

resultados inesperados, como se vê nos<br />

quadrinhos abaixo.<br />

por que ter dúvidas quanto à resposta, a não<br />

ser que não se leia a proposta da questão.<br />

Comentário do INEP<br />

Essa questão procurou avaliar se o<br />

participante conseguia inferir, a partir de uma<br />

seqüência narrativa de imagens, a expressão<br />

lingüística adequada à situação de<br />

interlocução, no caso a fala da personagem,<br />

no primeiro quadrinho. A expressão de uso<br />

coloquial 'olha o passarinho!', dependendo do<br />

contexto, tem diferentes significados, que<br />

nesse caso foram associados pelo cartunista<br />

para produzir o efeito de humor. A grande<br />

maioria - 89% - dos participantes realizou a<br />

inferência solicitada, analisando a função da<br />

linguagem e identificando a variante<br />

lingüística adequada à situação de<br />

interlocução, com base na leitura da<br />

seqüência das imagens e da fala da<br />

personagem no terceiro quadrinho. É<br />

interessante notar a abrangência dessa<br />

expressão metafórica no Brasil, criada no<br />

contexto informal da fala com seus<br />

significados correspondentes. Mesmo assim,<br />

11% dos participantes, possivelmente,<br />

desconhecem essa expressão ou não<br />

conseguiram realizar a transposição do<br />

significado humorístico da fala do último<br />

quadrinho.<br />

14) (2006) Aula de português<br />

(SOUZA, Maurício de. Chico Bento.<br />

Rio de Janeiro: Ed. Globo, n o 335, Nov./99 )<br />

Nessa historinha, o efeito humorístico<br />

origina-se de uma situação criada pela<br />

fala da Rosinha no primeiro quadrinho,<br />

que é:<br />

A) Faz uma pose bonita!<br />

B) Quer tirar um retrato?<br />

C) Sua barriga está aparecendo!<br />

D) Olha o passarinho!<br />

E) Cuidado com o flash!<br />

Comentário<br />

Quem não se lembra de expressões<br />

humorísticas usadas quando se deseja tirar<br />

uma foto, como "Olha o passarinho" ou "Fale<br />

xis"?<br />

Pois é, essa é uma questão fácil e a<br />

interpretação do texto é simples, e não há<br />

396


No poema, a referência à variedade<br />

padrão da língua está expressa no<br />

seguinte trecho:<br />

A) “A linguagem / na ponta da língua” (v.1<br />

e 2).<br />

B) “A linguagem / na superfície<br />

estrelada de letras” (v.5 e 6).<br />

C) “[a língua] em que pedia para ir lá<br />

fora” (v.14).<br />

D) “[a língua] em que levava e dava<br />

pontapé” (v.15).<br />

E) “[a língua] do namoro com a priminha”<br />

(v.17).<br />

Comentário<br />

Questão fácil, pois a alternativa "B" é a<br />

única que faz menção à norma-padrão da<br />

língua. As demais alternativas fogem a essa<br />

norma.<br />

15) (2005) Leia com atenção o texto:<br />

[Em Portugal], você poderá ter alguns<br />

probleminhas se entrar numa loja de<br />

roupas desconhecendo certas sutilezas da<br />

língua. Por exemplo, não adianta pedir<br />

para ver os ternos — peça para ver os<br />

fatos. Paletó é casaco. Meias são<br />

peúgas. Suéter é camisola — mas não<br />

se assuste, porque calcinhas femininas<br />

são cuecas. (Não é uma delícia?)<br />

(Ruy Castro. Viaje Bem. Ano VIII, no 3, 78.)<br />

O texto destaca a diferença entre o<br />

português do Brasil e o de Portugal<br />

quanto<br />

A) ao vocabulário.<br />

B) à derivação.<br />

C) à pronúncia.<br />

D) ao gênero.<br />

E) à sintaxe.<br />

Comentário<br />

Questão de entendimento muito fácil, pois<br />

o próprio enunciado deixa claro que se trata<br />

das diferenças de vocabulário entre o<br />

português brasileiro e o lusitano.<br />

16) (2008) A Lei Federal n.º 9.985/2000, que<br />

instituiu o sistema nacional de unidades<br />

de conservação, define dois tipos de<br />

áreas protegidas. O primeiro, as unidades<br />

de proteção integral, tem por objetivo<br />

preservar a natureza, admitindo-se<br />

apenas o uso indireto dos seus recursos<br />

naturais, isto é, aquele que não envolve<br />

consumo, coleta, dano ou destruição dos<br />

recursos naturais. O segundo, as<br />

unidades de uso sustentável, tem por<br />

função compatibilizar a conservação da<br />

natureza com o uso sustentável de<br />

parcela dos recursos naturais. Nesse<br />

caso, permite-se a exploração do<br />

ambiente de maneira a garantir a<br />

perenidade dos recursos ambientais<br />

renováveis e dos processos ecológicos,<br />

mantendo-se a biodiversidade e os<br />

demais atributos ecológicos, de forma<br />

socialmente justa e economicamente<br />

viável.<br />

Considerando essas informações, analise<br />

a seguinte situação hipotética.<br />

Ao discutir a aplicação de recursos<br />

disponíveis para o desenvolvimento de<br />

determinada região, organizações civis,<br />

universidade e governo resolveram<br />

investir na utilização de uma unidade de<br />

proteção integral, o Parque Nacional do<br />

Morro do Pindaré, e de uma unidade de<br />

uso sustentável, a Floresta Nacional do<br />

Sabiá. Depois das discussões, a equipe<br />

resolveu levar adiante três projetos:<br />

— o projeto I consiste de pesquisas<br />

científicas embasadas exclusivamente<br />

na observação de animais;<br />

— o projeto II inclui a construção de uma<br />

escola e de um centro de vivência;<br />

— o projeto III promove a organização de<br />

uma comunidade extrativista que<br />

poderá coletar e explorar<br />

comercialmente frutas e sementes<br />

nativas.<br />

Nessa situação hipotética, atendendo-se à<br />

lei mencionada acima, é possível<br />

desenvolver tanto na unidade de proteção<br />

integral quanto na de uso sustentável<br />

A) apenas o projeto I.<br />

B) apenas o projeto III.<br />

C) apenas os projetos I e II.<br />

D) apenas os projetos II e III.<br />

E) todos os três projetos.<br />

Comentário do portal<br />

A alternativa correta é a letra "A", pois,<br />

analisando-se a situação hipotética sugerida<br />

no enunciado, percebe-se que ela deverá<br />

atender os requisitos tanto da unidade de<br />

proteção integral quanto da unidade de uso<br />

sustentável. Portanto, apenas o projeto I<br />

poderá ser desenvolvido nessas duas<br />

propostas de unidades.<br />

397


17) (1999) Leia o texto abaixo.<br />

Cabelos longos, brinco na orelha<br />

esquerda, físico de skatista. Na aparência,<br />

o estudante brasiliense Rui Lopes Viana<br />

Filho, de 16 anos, não lembra em nada o<br />

estereótipo dos gênios. Ele não usa<br />

pesados óculos de grau e está longe de<br />

ter um ar introspectivo. No final do mês<br />

passado, Rui retornou de Taiwan, onde<br />

enfrentou 419 competidores de todo o<br />

mundo na 39ª Olimpíada Internacional de<br />

Matemática. A reluzente medalha de ouro<br />

que ele trouxe na bagagem está<br />

dependurada sobre a cama de seu quarto,<br />

atulhado de rascunhos dos problemas<br />

matemáticos que aprendeu a decifrar nos<br />

últimos cinco anos.<br />

Veja – Vencer uma olimpíada serve de<br />

passaporte para uma carreira profissional<br />

meteórica?<br />

Rui – Nada disso. Decidi me dedicar à<br />

Olimpíada porque sei que a concorrência<br />

por um emprego é cada vez mais<br />

selvagem e cruel. Agora tenho algo a mais<br />

para oferecer. O problema é que as coisas<br />

estão mudando muito rápido e não sei<br />

qual será minha profissão. Além de ser<br />

muito novo para decidir sobre o meu<br />

futuro profissional, sei que esse conceito<br />

de carreira mudou muito.<br />

(Entrevista de Rui Lopes Viana Filho à Veja,<br />

05/08/1998, n.31, p. 9-<strong>10</strong>)<br />

398<br />

Na pergunta, o repórter estabelece uma<br />

relação entre a entrada do estudante no<br />

mercado de trabalho e a vitória na<br />

Olimpíada. O estudante<br />

A) concorda com a relação e afirma que o<br />

desempenho na Olimpíada é<br />

fundamental para sua entrada no<br />

mercado.<br />

B) discorda da relação e complementa<br />

que é fácil se fazer previsões sobre o<br />

mercado de trabalho.<br />

C) discorda da relação e afirma que seu<br />

futuro profissional independe de<br />

dedicação aos estudos.<br />

D) discorda da relação e afirma que seu<br />

desempenho só é relevante se<br />

escolher uma profissão relacionada à<br />

matemática.<br />

E) concorda em parte com a relação e<br />

complementa que é complexo fazer<br />

previsões sobre o mercado de trabalho.<br />

Comentário<br />

Não é difícil de se chegar à resposta<br />

correta ao se ler a reportagem. Ao final do<br />

último parágrafo — (...) Além de ser muito<br />

novo para decidir sobre o meu futuro<br />

profissional, sei que esse conceito de carreira<br />

mudou muito. —, o estudante praticamente<br />

fornece a resposta à questão, declarando-se<br />

realista ao não tentar prever seu futuro<br />

profissional devido à pouca idade e às<br />

mudanças no mercado de trabalho. Quanto a<br />

concordar parcialmente com o repórter, veja<br />

que ele, apesar de negar que o prêmio fosse<br />

uma garantia de sucesso profissional, logo<br />

depois afirma que, com ele, terá algo mais a<br />

oferecer ao mercado. Questão de nível fácil.<br />

Comentário do INEP<br />

Nesta situação-problema, o participante<br />

deveria demonstrar que compreendeu as<br />

premissas de um discurso, distinguindo a<br />

diferença de significado de palavras isoladas<br />

ou no contexto em que estão inseridas.<br />

Verificou-se que mais da metade dos<br />

participantes demonstrou possuir essa<br />

compreensão. Aqueles que optaram pelas<br />

alternativas C e D podem ter sido atraídos<br />

pelo significado negativo da expressão inicial<br />

"Nada disso".<br />

18) (1998) Texto 1<br />

"Mulher, Irmã, escuta-me: não ames,<br />

Quando a teus pés um homem terno e<br />

curvo<br />

jurar amor, chorar pranto de sangue,<br />

Não creias, não, mulher: ele te engana!<br />

As lágrimas são gotas da mentira<br />

E o juramento manto da perfídia."<br />

(Joaquim Manoel de Macedo)<br />

Texto 2<br />

"Teresa, se algum sujeito bancar o<br />

sentimental em cima de você<br />

E te jurar uma paixão do tamanho de um<br />

bonde<br />

Se ele chorar<br />

Se ele ajoelhar<br />

Se ele se rasgar todo<br />

Não acredite não Teresa<br />

É lágrima de cinema<br />

É tapeação<br />

Mentira<br />

CAI FORA"<br />

(Manuel Bandeira)<br />

Os autores, ao fazerem alusão às<br />

imagens da lágrima sugerem que:<br />

A) há um tratamento idealizado da<br />

relação homem/mulher.<br />

B) há um tratamento realista da relação<br />

homem/mulher.<br />

C) a relação familiar é idealizada.<br />

D) a mulher é superior ao homem.<br />

E) a mulher é igual ao homem.


Comentário<br />

Ambos os autores, ao utilizarem a<br />

imagem da lágrima, estão na realidade<br />

mostrando que a figura do homem que é<br />

romântico a ponto de chorar ao jurar amor<br />

não existe. Tanto Macedo quanto<br />

Bandeira alertam as mulheres dizendo,<br />

com palavras e estilos diferentes, que não<br />

há homem que chore por amor (portanto,<br />

essa figura é uma idealização — e, por<br />

conseguinte, toda imagem que se tem<br />

sobre os relacionamentos<br />

demasiadamente românticos). Note que<br />

Bandeira chega até mesmo a chamar tal<br />

"chorão" de ator ("...É lágrima de cinema /<br />

É tapeação..."). Macedo dá uma imagem<br />

pesada às lágrimas ("...são gotas da<br />

mentira...").<br />

19) (1999)<br />

(QUINO. Mafalda inédita. São Paulo: Martins Fontes, 1993)<br />

Observando as falas das personagens,<br />

analise o emprego do pronome SE e o<br />

sentido que adquire no contexto. No<br />

contexto da narrativa, é correto afirmar<br />

que o pronome SE:<br />

A) em I, indica reflexividade e equivale a<br />

"a si mesmas".<br />

B) em II, indica reciprocidade e equivale a<br />

"a si mesma".<br />

C) em III, indica reciprocidade e equivale<br />

a "umas às outras".<br />

D) em I e III, indica reciprocidade e<br />

equivale a "umas às outras".<br />

E) em II e III, indica reflexividade e<br />

equivale a "a si mesma " e "a si<br />

mesmas", respectivamente.<br />

Comentário<br />

Mais uma questão que fala por si própria.<br />

Lendo o segundo quadrinho — "Quer dizer<br />

que você também se ama muito mais no<br />

Natal?" —, é fácil de se identificar o pronome<br />

reflexivo. Basta que se troque se ama por<br />

ama a si mesma. O mesmo ocorre no<br />

terceiro quadrinho em "Por que será que as<br />

pessoas se amam muito mais no Natal?" —<br />

Por que será que as pessoas amam a si<br />

mesmas? Questão de grau fácil.<br />

Comentário do INEP<br />

Este problema requeria que o participante<br />

mobilizasse conhecimentos sobre os<br />

significados de "reciprocidade e<br />

"reflexividade" e o associasse à<br />

compreensão de linguagem iconográfica.<br />

Cerca de metade dos participantes<br />

demonstrou essa capacidade. A opção de<br />

30% dos participantes pela alternativa D<br />

pode indicar que eles utilizaram as imagens<br />

apenas como ilustração do texto e não como<br />

linguagem capaz de instituir novos<br />

significados.<br />

20) (2001) Os provérbios constituem um<br />

produto da sabedoria popular e, em geral,<br />

pretendem transmitir um ensinamento. A<br />

alternativa em que os dois provérbios<br />

remetem a ensinamentos semelhantes é:<br />

A) “Quem diz o que quer, ouve o que não<br />

quer” e “Quem ama o feio, bonito lhe<br />

parece”.<br />

B) “Devagar se vai ao longe” e “De grão<br />

em grão, a galinha enche o papo”.<br />

C) “Mais vale um pássaro na mão do que<br />

dois voando” e “Não se deve atirar<br />

pérolas aos porcos”.<br />

D) “Quem casa quer casa” e “Santo de<br />

casa não faz milagre”.<br />

E) “Quem com ferro fere, com ferro será<br />

ferido” e “Casa de ferreiro, espeto de<br />

pau”.<br />

Comentário<br />

Questão fácil. A alternativa B apresenta<br />

dois provérbios que tratam de paciência,<br />

perseverança. A mensagem é a mesma em<br />

ambos.<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão propõe uma série de<br />

provérbios agrupados aos pares, para que o<br />

participante demonstre compreender e<br />

comparar os provérbios de modo a identificar<br />

aqueles que traduzem ensinamentos<br />

semelhantes. A organização sintáticosemântica<br />

dos provérbios cria um efeito de<br />

sentido metafórico que deve ser recuperado,<br />

analisado e comparado, o que foi<br />

corretamente feito por cerca de 80% dos<br />

participantes.<br />

21) (2006) No romance Vidas Secas, de<br />

Graciliano Ramos, o vaqueiro Fabiano<br />

encontra-se com o patrão para receber o<br />

salário. Eis parte da cena:<br />

399


A) étnico e religioso.<br />

B) lingüístico e econômico.<br />

C) racial e folclórico.<br />

D) histórico e geográfico.<br />

E) literário e popular.<br />

Graciliano Ramos. Vidas Secas. 91.ª ed.<br />

Rio de Janeiro: Record, 2003.<br />

No fragmento transcrito, o padrão formal<br />

da linguagem convive com marcas de<br />

regionalismo e de coloquialismo no<br />

vocabulário. Pertence à variedade do<br />

padrão formal da linguagem o seguinte<br />

trecho:<br />

A) Não se conformou: devia haver<br />

engano (l.1).<br />

B) Fabiano perdeu os estribos (l.3).<br />

C) Passar a vida inteira assim no toco<br />

(l.4).<br />

D) Entregando o que era dele de mao<br />

beijada! (l.4-5).<br />

E) Aí Fabiano baixou a pancada e<br />

amunhecou (l.11).<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. Bastaria que o<br />

candidato conhecesse o padrão formal da<br />

linguagem e distinguisse-o do regionalismo e<br />

do coloquialismo.<br />

22) (2005) As dimensões continentais do<br />

Brasil são objeto de reflexões expressas<br />

em diferentes linguagens. Esse tema<br />

aparece no seguinte p"Narizinho correu os<br />

olhos pela assistência. Não podia haver nada<br />

mais curioso. Besourinhos de oema:<br />

“(....)<br />

Que importa que uns falem mole<br />

descansado<br />

Que os cariocas arranhem os erres na<br />

garganta<br />

Que os capixabas e paroaras escancarem<br />

as vogais?<br />

Que tem se o quinhentos réis meridional<br />

Vira cinco tostões do Rio pro Norte?<br />

Junto formamos este assombro de<br />

misérias e grandezas,<br />

Brasil, nome de vegetal! (....)”<br />

(Mário de Andrade. Poesias completas. 6. ed. São Paulo:<br />

Martins Editora, 1980.)<br />

O texto poético ora reproduzido trata das<br />

diferenças brasileiras no âmbito<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil, pois a primeira<br />

estrofe, ao enunciar os erres arranhados dos<br />

cariocas e as vogais abertas dos capixabas,<br />

evidencia a diferença lingüística entre duas<br />

regiões distintas do Brasil, dando noção da<br />

variedade. Já na segunda estrofe, as<br />

diferenças econômicas são evidenciadas ao<br />

se mostrarem os réis e tostões variando da<br />

Região Meridional para a Norte.<br />

23) (202) "Narizinho correu os olhos pela<br />

assistência. Não podia haver nada mais<br />

curioso. Besourinhos de fraque e flores na<br />

lapela conversavam com baratinhas de<br />

mantilha e miosótis nos cabelos. Abelhas<br />

douradas, verdes e azuis, falavam mal<br />

das vespas de cintura fina — achando que<br />

era exagero usarem coletes tão<br />

apertados. Sardinhas aos centos<br />

criticavam os cuidados excessivos que as<br />

borboletas de toucados de gaze tinham<br />

com o pó das suas asas. Mamangavas de<br />

ferrões amarrados para não morderem. E<br />

canários cantando, e beija-flores beijando<br />

flores, e camarões camaronando, e<br />

caranguejos caranguejando, tudo que é<br />

pequenino e não morde, pequeninando e<br />

não mordendo."<br />

LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. São Paulo:<br />

Brasiliense, 1947.<br />

No último período do trecho, há uma série<br />

de verbos no gerúndio que contribuem<br />

para caracterizar o ambiente fantástico<br />

descrito. Expressões como<br />

"camaronando", "caranguejando" e<br />

"pequeninando e não mordendo" criam,<br />

principalmente, efeitos de<br />

A) esvaziamento de sentido.<br />

B) monotonia do ambiente.<br />

C) estaticidade dos animais.<br />

D) interrupção dos movimentos.<br />

E) dinamicidade do cenário.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. O dinamismo dos<br />

verbos no gerúndio tem como função<br />

principal dar vida às personagens do mundo<br />

fantástico. Não há estagnação. Cada animal<br />

faz o que lhe cabe.<br />

400


Comentário do INEP<br />

Essa questão apresenta para leitura e<br />

análise um trecho da obra Reinações de<br />

Narizinho, de Monteiro Lobato, e, nele, a<br />

descrição reflete as fantasias do mundo<br />

infantil. A questão propõe que seja resolvido<br />

um problema de linguagem, que é a<br />

identificação dos sentidos criados no texto<br />

pelo emprego de vários verbos no gerúndio,<br />

alguns dos quais, neologismos criados pelo<br />

autor. Como o texto é uma descrição, temos<br />

o relato de um ambiente que se agita com as<br />

ações simultâneas dos muitos seres que o<br />

habitam. Cabe ao participante perceber que<br />

o efeito dinâmico é criado pelos verbos de<br />

ação no gerúndio, que é a forma verbal da<br />

ação se fazendo. Ou seja, é função típica do<br />

gerúndio traduzir a noção de uma ação que<br />

se desenvolve de modo simultâneo à sua<br />

enunciação. Nesse ambiente retratado por<br />

Monteiro Lobato, os bichinhos humanizados<br />

se agitam, lembrando um burburinho de<br />

crianças. Apenas a alternativa E, assinalada<br />

por 36% dos participantes, responde<br />

corretamente a questão. As outras<br />

alternativas contemplam efeitos ou<br />

significados que, apesar de eventualmente<br />

serem transmitidos pelo emprego do<br />

gerúndio, não se verificam no texto.<br />

24) (1999) Considere os textos abaixo.<br />

(...) de modo particular, quero encorajar os<br />

crentes empenhados no campo da<br />

filosofia para que iluminem os diversos<br />

âmbitos da atividade humana, graças ao<br />

exercício de uma razão que se torna mais<br />

segura e perspicaz com o apoio que<br />

recebe da fé.<br />

(Papa João Paulo II. Carta Encíclica Fides<br />

et Ratio aos bispos da igreja católica sobre as relações<br />

entre fé e razão, 1998)<br />

As verdades da razão natural não<br />

contradizem as verdades da fé cristã.<br />

(São Tomás de Aquino<br />

–pensador medieval)<br />

Refletindo sobre os textos, pode-se<br />

concluir que:<br />

A) a encíclica papal está em contradição<br />

com o pensamento de São Tomás de<br />

Aquino, refletindo a diferença de<br />

épocas.<br />

B) a encíclica papal procura<br />

complementar São Tomás de Aquino,<br />

pois este colocava a razão natural<br />

acima da fé.<br />

C) a Igreja medieval valorizava a razão<br />

mais do que a encíclica de João Paulo<br />

II.<br />

D) o pensamento teológico teve sua<br />

importância na Idade Média, mas, em<br />

nossos dias, não tem relação com o<br />

pensamento filosófico.<br />

E) tanto a encíclica papal como a frase<br />

de São Tomás de Aquino procuram<br />

conciliar os pensamentos sobre fé e<br />

razão.<br />

Comentário<br />

Nessa questão, é necessária uma<br />

releitura do texto para que se tenha uma<br />

melhor compreensão do tema. Tanto a<br />

citação do Papa quanto a de São Tomás de<br />

Aquino tentam criar uma interdependência<br />

entre a ciência e a fé, a religião. O Papa<br />

incentiva aqueles que exercem a pesquisa<br />

científica ou filosófica a manter a fé cristã.<br />

São Tomás de Aquino, por sua vez, equipara<br />

o avanço da ciência ao aumento da própria<br />

fé, afirmando que a razão natural não<br />

contradiz a fé cristã. Se um cresce, cresce<br />

também o outro, em harmonia e sem<br />

contradições. Questão de grau médio.<br />

(Português)<br />

Nessa questão, encontramos dois textos:<br />

o primeiro, do século XX, foi elaborado pelo<br />

Papa João Paulo II; o segundo, do século<br />

XIII, pelo teólogo e filósofo cristão São<br />

Tomás de Aquino. O conteúdo de ambos se<br />

refere à ligação entre fé e razão, a qual<br />

esteve presente na filosofia escolástica da<br />

Idade Média. Esse campo de reflexão buscou<br />

conciliar o cristianismo com o pensamento de<br />

Aristóteles e teve em São Tomás de Aquino<br />

seu maior representante.<br />

Mesmo sem ter todas essas informações,<br />

você poderia responder tranqüilamente à<br />

questão por meio de uma leitura atenta dos<br />

dois textos, chegando à conclusão de que<br />

"tanto a encíclica papal como a frase de São<br />

Tomás de Aquino procuram conciliar os<br />

pensamentos sobre fé e razão". Resposta<br />

correta: alternativa E. (História)<br />

Comentário do INEP<br />

Para resolver esta situação-problema, o<br />

participante deveria mostrar que, além de<br />

interpretar textos, sabe relacioná-los sendo<br />

que, nesse item, essas operações referem-se<br />

a um texto escrito na época medieval e a<br />

outro escrito recentemente.<br />

Mais de 70% dos participantes<br />

demonstraram facilidade em estabelecer esta<br />

relação.<br />

401


25) (2008) Assinale a opção que apresenta<br />

um verso do soneto de Cláudio Manoel da<br />

Costa em que o poeta se dirige ao seu<br />

interlocutor.<br />

A) “Torno a ver-vos, ó montes; o<br />

destino” (v.1)<br />

B) “Aqui estou entre Almendro, entre<br />

Corino,” (v.5)<br />

C) “Os meus fiéis, meus doces<br />

companheiros,” (v.6)<br />

D) “Vendo correr os míseros vaqueiros”<br />

(v.7)<br />

E) “Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto,”<br />

(v.11)<br />

Comentário<br />

Nesta questão, basta que o aluno<br />

identifique o pronome oblíquo, presente no<br />

verso um, que chama o leitor para o texto.<br />

Sendo assim, a resposta correta é a letra "A".<br />

26) (2008)<br />

Dick Browne. O melhor de Hagar, o horrível, v. 2. L&PM<br />

pocket, p.55-6 (com adaptações).<br />

Assinale o trecho do diálogo que<br />

apresenta um registro informal, ou<br />

coloquial, da linguagem.<br />

A) “Tá legal, espertinho! Onde é que<br />

você esteve?!”<br />

B) “E lembre-se: se você disser uma<br />

mentira, os seus chifres cairão!”<br />

C) “Estou atrasado porque ajudei uma<br />

velhinha a atravessar a rua...”<br />

D) “...e ela me deu um anel mágico que<br />

me levou a um tesouro”<br />

E) “mas bandidos o roubaram e os<br />

persegui até a Etiópia, onde um<br />

dragão...”<br />

Comentário<br />

Linguagem coloquial é aquela usada no<br />

cotidiano, que tem como característica<br />

principal a oralidade, ou seja, aquela que não<br />

segue o rigor da norma culta.<br />

Entre as alternativas da questão, apenas<br />

a letra "A" apresenta esses traços.<br />

27) (1999) Leia um texto publicado no jornal<br />

Gazeta Mercantil. Esse texto é parte de<br />

um artigo que analisa algumas situações<br />

de crise no mundo, entre elas, a quebra<br />

da Bolsa de Nova Iorque em 1929, e foi<br />

publicado na época de uma iminente crise<br />

financeira no Brasil.<br />

Deu no que deu. No dia 29 de outubro de<br />

1929, uma terça-feira, praticamente não<br />

havia compradores no pregão de Nova<br />

Iorque, só vendedores. Seguiu-se uma<br />

crise incomparável: o Produto Interno<br />

Bruto dos Estados Unidos caiu de <strong>10</strong>4<br />

bilhões de dólares em 1929, para 56<br />

bilhões em 1933, coisa inimaginável em<br />

nossos dias. O valor do dólar caiu a quase<br />

metade. O desemprego elevou-se de 1,5<br />

milhão para 12,5 milhões de trabalhadores<br />

– cerca de 25% da população ativa –<br />

entre 1929 e 1933. A construção civil caiu<br />

90%. Nove milhões de aplicações, tipo<br />

caderneta de poupança, perderam-se com<br />

o fechamento dos bancos. Oitenta e cinco<br />

mil firmas faliram. Houve saques e norteamericanos<br />

que passaram fome.<br />

(Gazeta Mercantil, 05/01/1999)<br />

Ao citar dados referentes à crise ocorrida<br />

em 1929, em um artigo jornalístico atual,<br />

pode-se atribuir ao jornalista a seguinte<br />

intenção:<br />

A) questionar a interpretação da crise.<br />

B) comunicar sobre o desemprego.<br />

C) instruir o leitor sobre aplicações em<br />

bolsa de valores.<br />

D) relacionar os fatos passados e<br />

presentes.<br />

E) analisar dados financeiros americanos.<br />

Comentário<br />

Nessa questão, o que se tem de fazer é<br />

prestar atenção às alternativas das<br />

respostas. Nenhuma delas se apresenta tão<br />

bem contextualizada a uma possível<br />

interpretação quanto a letra D. Partindo-se da<br />

análise do texto, fica claro que a intenção do<br />

artigo é remeter o leitor ao passado para<br />

tentar conduzi-lo a uma reflexão sobre uma<br />

situação presente, não mencionada na<br />

questão. Após a leitura e utilizando-se a já<br />

citada eliminação de questões, torna-se clara<br />

402


a resposta. Questão de nível médio.<br />

(Português)<br />

Muitas vezes, quando procuramos entender<br />

uma crise econômica ou financeira de grandes<br />

proporções, buscamos estabelecer relações<br />

com crises passadas. O mesmo ocorre no<br />

jornalismo, como prova o texto encontrado<br />

nessa questão. Buscando entender uma crise<br />

ocorrida no início de 1999, o jornalista da<br />

Gazeta Mercantil buscou relacionar a situação<br />

dessa época com a grande crise de 1929 que<br />

afetou o mundo, trazendo desemprego e<br />

recessão, entre tantos outros problemas<br />

econômicos e sociais.<br />

Para responder a essa questão, era<br />

necessário ler atentamente o enunciado, em<br />

que está destacado que "o texto é parte de um<br />

artigo que analisa algumas situações de crise<br />

no mundo" e "foi publicado na época de uma<br />

iminente crise financeira no Brasil". Era<br />

importante também observar a data em que o<br />

artigo foi publicado: 05/01/1999. A partir dessas<br />

constatações, facilmente você chegaria a<br />

conclusão de que a intenção do jornalista era<br />

"relacionar os fatos passados e presentes".<br />

Resposta correta: alternativa D. (História)<br />

Comentário do INEP<br />

A resolução da questão demandava a<br />

capacidade dos participantes de relacionar<br />

eventos históricos envolvendo crises<br />

econômicas ocorridas em épocas e lugares<br />

distintos. Aproximadamente 2/3 deles<br />

demonstraram essa capacidade. Os demais,<br />

provavelmente, não compreenderam a<br />

exigência expressa no enunciado do problema<br />

– apontar as razões pelas quais um jornalista<br />

traz à tona eventos ocorridos setenta anos<br />

antes –, e apenas interpretaram o sentido do<br />

texto citado, que descreve a crise mundial de<br />

1929.<br />

28) (2000) “Precisa-se nacionais sem<br />

nacionalismo, (...) movidos pelo presente<br />

mas estalando naquele cio racial que só<br />

as tradições maduram! (...). Precisa-se<br />

gentes com bastante meiguice no<br />

sentimento, bastante força na peitaria,<br />

bastante paciência no entusiasmo e<br />

sobretudo, oh! sobretudo bastante<br />

vergonha na cara!<br />

(...) Enfim: precisa-se brasileiros! Assim<br />

está escrito no anúncio vistoso de cores<br />

desesperadas pintado sobre o corpo do<br />

nosso Brasil, camaradas.”<br />

(Jornal A Noite, São Paulo, 18/12/1925 apud LOPES, Telê<br />

Porto Ancona. Mário<br />

de Andrade: ramais e caminhos. São Paulo: Duas<br />

Cidades, 1972)<br />

No trecho acima, Mário de Andrade dá<br />

forma a um dos itens do ideário<br />

modernista, que é o de firmar a feição de<br />

uma língua mais autêntica, “brasileira”, ao<br />

expressar-se numa variante de linguagem<br />

popular identificada pela (o):<br />

A) escolha de palavras como cio, peitaria,<br />

vergonha.<br />

B) emprego da pontuação.<br />

C) repetição do adjetivo bastante.<br />

D) concordância empregada em Assim<br />

está escrito.<br />

E) escolha de construção do tipo<br />

precisa-se gentes.<br />

Comentário<br />

Apesar de essa questão misturar vários<br />

tipos de informação, se você se lembra um<br />

pouquinho dos usos da partícula se, com<br />

certeza não encontrará grande dificuldade.<br />

Segundo a regra gramatical, o verbo<br />

"precisa-se" deveria ir para o plural<br />

(precisam-se), mas essa noção de verbo<br />

concordante com o sujeito há muito<br />

desapareceu na variante popular brasileira.<br />

Mas, caso você não se lembre muito bem<br />

desse assunto ou ficou meio confuso com o<br />

texto e as outras alternativas, o caminho é<br />

responder por eliminação.<br />

A primeira alternativa apresenta palavras<br />

comuns no português brasileiro, mas<br />

nenhuma "invenção" nacional. Na dúvida,<br />

pense em "vergonha": não é uma invenção<br />

brasileira. Todos os que falam português no<br />

mundo conhecem bem essa palavra. A<br />

pontuação no texto não chama nenhuma<br />

atenção. Você provavelmente não viu nada<br />

de estranho nela. Da mesma forma, o<br />

"bastante" da terceira alternativa não é nada<br />

mais que um mecanismo de retórica, usado<br />

para dar ênfase à idéia. Com o "Assim está<br />

escrito", encontramos a mesma situação: um<br />

trecho litúrgico é usado para maior ênfase.<br />

Comentário do INEP<br />

A questão procurou avaliar se o<br />

participante era capaz de, a partir da leitura<br />

de um texto de Mário de Andrade , identificar<br />

e analisar uma variante lingüística de uso<br />

coloquial, utilizadas estilisticamente pelo<br />

autor. O uso estilístico das variantes marcou<br />

a primeira fase da literatura brasileira<br />

modernista. O trecho destaca em seu todo<br />

esse uso da linguagem popular. A escolha da<br />

construção 'precisa-se gentes' é marca desse<br />

uso estilístico. O índice de 37% na alternativa<br />

(A) demonstra, possivelmente, que os<br />

participantes não consideraram a escolha<br />

dos vocábulos, dentro do contexto do texto,<br />

403


confundindo as palavras que aparecem na<br />

alternativa com '...a feição de uma língua<br />

mais autêntica...'.O percentual de acertos foi<br />

da ordem de 40%.<br />

29) (2004) O poema abaixo pertence à<br />

poesia concreta brasileira. O termo latino<br />

de seu título significa "epitalâmio", poema<br />

ou canto em homenagem aos que se<br />

casam.<br />

30) (2002) O autor da tira utilizou os<br />

princípios de composição de um<br />

conhecido movimento artístico para<br />

representar a necessidade de um mesmo<br />

observador aprender a considerar,<br />

simultaneamente, diferentes pontos de<br />

vista.<br />

Das obras reproduzidas, todas de autoria<br />

do pintor espanhol Pablo Picasso, aquela<br />

em cuja composição foi adotado um<br />

procedimento semelhante é:<br />

A)<br />

Considerando que símbolos e sinais são<br />

utilizados geralmente para demonstrações<br />

objetivas, ao serem incorporados no<br />

poema "Epithalamium - II".<br />

A) adquirem novo potencial de<br />

significação.<br />

B) eliminam a subjetividade do poema.<br />

C) opõem-se ao tema principal do poema.<br />

D) invertem seu sentido original.<br />

E) tornam-se confusos e equivocados.<br />

Comentário<br />

Diferentemente, por exemplo, da<br />

aplicação matemática dos símbolos, em que<br />

sinais como "=", "+", "-", "x", etc. servem<br />

como convenções internacionais de<br />

significação objetiva e invariável, em um<br />

poema como "Epithalamium – II" foram<br />

usados símbolos que não são convenções<br />

internacionais, mas, sim, convencionados<br />

apenas para esse texto. No caso, letras do<br />

alfabeto deixam de ser representações de<br />

sons (fonemas) para ganharem nova<br />

significação, principalmente pela construção<br />

visual do poema: unem homem (h) e mulher<br />

(e) pela ação da serpente (s) — libido,<br />

atração — em uma entidade única.<br />

Uma das tendências poéticas da segunda<br />

metade do século XX, resultado de um<br />

diálogo com estéticas já presentes no final do<br />

século XIX, trabalha com a construção de<br />

seu próprio referente, fazendo do poema um<br />

objeto autônomo.<br />

B)<br />

C)<br />

404


D)<br />

31) (2001) Oxímoro (ou paradoxo) é uma<br />

construção textual que agrupa significados<br />

que se excluem mutuamente. Para<br />

Garfield, a frase de saudação de Jon<br />

(tirinha abaixo) expressa o maior de todos<br />

os oxímoros.<br />

E)<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. O movimento<br />

artístico que previa considerar<br />

simultaneamente diversos pontos de vista<br />

era o Cubismo. Havia a desconstrução da<br />

forma para que se pudesse ver todos os<br />

ângulos concomitantemente. O único quadro<br />

que apresenta essas características é o da<br />

alternativa E. As outras quatro alternativas<br />

pressupõem a manutenção da forma.<br />

Comentário do INEP<br />

O objetivo desta questão é levar o<br />

participante a refletir sobre características<br />

fundamentais de um movimento artístico – o<br />

cubismo – a partir de dados visuais:<br />

quadrinhos e pinturas. A reprodução de dois<br />

quadrinhos da personagem Calvin forneceu<br />

para o participante informações básicas para<br />

a análise que deveria fazer das alternativas<br />

apresentadas. Segundo os quadrinhos, o<br />

movimento artístico abordado pela questão<br />

tinha como procedimento de composição<br />

representar, para um mesmo observador,<br />

diferentes pontos de vista, fazendo com que<br />

"o tradicional único ponto de vista" fosse<br />

abandonado e com que a perspectiva fosse<br />

fraturada. A análise das obras de Picasso<br />

reproduzidas nas alternativas permite que o<br />

participante reconheça a adoção desse<br />

procedimento no quadro "Marie-Thérèse<br />

apoiada no cotovelo" (alternativa E, com 46%<br />

de registros), no qual se pode reconhecer a<br />

representação de diferentes pontos de vista<br />

a partir dos quais é apresentado o rosto da<br />

mulher retratada.<br />

Folha de S. Paulo. 31 de julho de 2000.<br />

Nas alternativas abaixo, estão transcritos<br />

versos retirados do poema “O operário em<br />

construção”. Pode-se afirmar que ocorre<br />

um oxímoro em<br />

A) "Era ele que erguia casas<br />

Onde antes só havia chão."<br />

B) "... a casa que ele fazia<br />

Sendo a sua liberdade<br />

Era a sua escravidão."<br />

C) "Naquela casa vazia<br />

Que ele mesmo levantara<br />

Um mundo novo nascia<br />

De que sequer suspeitava."<br />

D) "... o operário faz a coisa<br />

E a coisa faz o operário."<br />

E) "Ele, um humilde operário<br />

Um operário que sabia<br />

Exercer a profissão."<br />

MORAES, Vinícius de. Antologia Poética. São Paulo:<br />

Companhia das Letras, 1992.<br />

Comentário<br />

Idéias que se completam e se excluem<br />

mutuamente são encontradas na alternativa<br />

B: a casa que ele construía era, ao mesmo<br />

tempo, sua liberdade e sua escravidão.<br />

A casa é um símbolo de liberdade para o<br />

homem. Para o homem operário, é também<br />

símbolo de escravidão, pois ele está<br />

"condenado" a jamais usufruir do resultado<br />

do seu trabalho (a casa que faz não é para<br />

ele).<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão propõe ao participante que<br />

estabeleça uma relação entre linguagens,<br />

associando a compreensão de um efeito<br />

semântico produzido pelo uso do oxímoro<br />

nos quadrinhos com o mesmo efeito num<br />

texto poético. O índice (18%) de escolhas da<br />

alternativa D deve-se, possivelmente, a uma<br />

análise parcial da noção de paradoxo,<br />

confundida com inversão.<br />

405


32) (2005) Cândido Portinari (1903-1962), um<br />

dos mais importantes artistas brasileiros<br />

do século XX, tratou de diferentes<br />

aspectos da nossa realidade em seus<br />

quadros.<br />

33) (2004)<br />

Sobre a temática dos “Retirantes”,<br />

Portinari também escreveu o seguinte<br />

poema:<br />

(....)<br />

Os retirantes vêm vindo com trouxas e<br />

embrulhos<br />

Vêm das terras secas e escuras;<br />

pedregulhos<br />

Doloridos como fagulhas de carvão aceso<br />

Corpos disformes, uns panos sujos,<br />

Rasgados e sem cor, dependurados<br />

Homens de enorme ventre bojudo<br />

Mulheres com trouxas caídas para o lado<br />

Pançudas, carregando ao colo um garoto<br />

Choramingando, remelento<br />

(....)<br />

(Cândido Portinari. Poemas. Rio de Janeiro:<br />

J. Olympio, 1964.)<br />

Das quatro obras reproduzidas, assinale<br />

aquelas que abordam a problemática que<br />

é tema do poema.<br />

A) 1 e 2 D) 3 e 4<br />

B) 1 e 3 E) 2 e 4<br />

C) 2 e 3<br />

Comentário<br />

O poema apresenta correspondência com<br />

as imagens ao descrever com detalhes a<br />

figura do retirante: pobre, mal vestido,<br />

carregando trouxas e embrulhos.<br />

A polifonia, variedade de vozes, presente<br />

no poema resulta da manifestação do<br />

A) poeta e do colonizador apenas.<br />

B) colonizador e do negro apenas.<br />

C) negro e do índio apenas.<br />

D) colonizador, do poeta e do negro<br />

apenas.<br />

E) poeta, do colonizador, do índio e do<br />

negro.<br />

Comentário<br />

A questão apresenta uma certa<br />

dificuldade, pois, à primeira vista, parecem<br />

confundir-se as vozes do colonizador, do<br />

negro e do índio. Entretanto, os<br />

travessões existentes no poema explicitam<br />

as falas das personagens ao mostrar que<br />

não são apenas as vozes do poeta e do<br />

colonizador que estão presentes. As falas do<br />

índio e do negro são proferidas por eles,<br />

marca expressa pelo discurso direto. A<br />

presença dessa modalidade de discurso<br />

indica a reprodução literal do que as<br />

personagens disseram.<br />

Um ponto interessante em relação a essa<br />

questão é a intertextualidade. O índio<br />

aparece no poema pela remissão a um texto<br />

poético do nosso Romantismo, em um<br />

processo intertextual com “I-Juca-Pirama”, de<br />

Gonçalves Dias; e a presença do negro se dá<br />

pela ligação com Mário de Andrade, em<br />

Macunaíma. Entende-se, portanto, que a<br />

alternativa correta é a letra E.<br />

34) (2003) No ano passado, o governo<br />

promoveu uma campanha a fim de reduzir<br />

os índices de violência. Noticiando o fato,<br />

um jornal publicou a seguinte manchete:<br />

406


CAMPANHA CONTRA A VIOLÊNCIA DO<br />

GOVERNO DO ESTADO ENTRA EM NOVA<br />

FASE<br />

A manchete tem um duplo sentido, e isso<br />

dificulta o entendimento. Considerando o<br />

objetivo da notícia, esse problema poderia<br />

ter sido evitado com a seguinte redação:<br />

A) Campanha contra o governo do Estado<br />

e a violência entram em nova fase.<br />

B) A violência do governo do Estado entra<br />

em nova fase de Campanha.<br />

C) Campanha contra o governo do Estado<br />

entra em nova fase de violência.<br />

D) A violência da campanha do governo<br />

do Estado entra em nova fase.<br />

E) Campanha do governo do Estado<br />

contra a violência entra em nova fase.<br />

Comentário<br />

O objetivo da questão é eliminar a<br />

ambigüidade da notícia de jornal, que,<br />

originalmente, trazia duas idéias: de acordo<br />

com a primeira, o governo queria combater a<br />

violência, e a segunda ressaltava que o<br />

governo era violento. Nessa questão,<br />

era preciso eliminar a segunda possibilidade<br />

de leitura.<br />

35) (2002) "A palavra tatuagem é<br />

relativamente recente. Toda a gente sabe<br />

que foi o navegador Cook que a introduziu<br />

no Ocidente, e esse escrevia tattou, termo<br />

da Polinésia de tatou ou tu tahou,<br />

'desenho'.<br />

(...) Desde os mais remotos tempos,<br />

vemo-la a transformar-se: distintivo<br />

honorífico entre uns homens, ferrete de<br />

ignomínia entre outros, meio de assustar o<br />

adversário para os bretões, marca de uma<br />

classe de selvagens das ilhas marquesas<br />

(...) sinal de amor, de desprezo, de ódio<br />

(...). Há três casos de tatuagem no Rio,<br />

completamente diversos na sua<br />

significação moral: os negros,os turcos<br />

com o fundo religioso e o bando de<br />

meretrizes, dos rufiões e dos humildes,<br />

que se marcam por crime ou por<br />

ociosidade".<br />

RIO, João do. Os Tatuadores. Revista Kosmos.<br />

1904, apud: A alma encantadora das ruas,<br />

SP: Cia das Letras, 1999.<br />

Com base no texto são feitas as seguintes<br />

afirmações:<br />

I. João do Rio revela como a tatuagem já<br />

estava presente na cidade do Rio de<br />

Janeiro, pelo menos desde o início do<br />

século XX, e era mais utilizada por<br />

alguns setores da população.<br />

II. A tatuagem, de origem polinésia,<br />

difundiu-se no ocidente com a<br />

característica que permanece até hoje:<br />

utilização entre os jovens com função<br />

estritamente estética.<br />

III. O texto mostra como a tatuagem é<br />

uma prática que se transforma no<br />

tempo e que alcança inúmeros sentidos<br />

nos diversos setores das sociedades e<br />

para as diferentes culturas.<br />

Está correto o que se afirma apenas em<br />

A) I D) I e II<br />

B) II E) I e III<br />

C) III<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. Constata-se o<br />

seguinte: a tatuagem já existia no Brasil no<br />

início do século XX (o texto é de 1904 e parte<br />

dele se refere ao Rio do Janeiro) e era utilizada<br />

em diferentes setores da sociedade. A<br />

afirmação de que as tatuagens possuem<br />

apenas finalidade estética entre os jovens<br />

elimina a segunda alternativa. Já a última<br />

alternativa confirma as transformações das<br />

funções da tatuagem ao longo do tempo nas<br />

mais diversas sociedades e culturas.<br />

Comentário do INEP<br />

O texto estabelece uma relação entre a<br />

atualidade da palavra "tatuagem" e a<br />

antiguidade do uso de desenhos como pintura<br />

corporal. Focaliza uma prática social bastante<br />

difundida que adquiriu aspectos e conotações<br />

diversos nos diferentes contextos históricos e<br />

geográficos em que ela pode ser descrita.<br />

Fazendo a descrição da prática da tatuagem,<br />

como uma manifestação comum a diferentes<br />

culturas, e que adquire, inclusive, significados<br />

diferentes dentro de uma mesma cultura, induz<br />

o participante a refletir sobre a "diversidade dos<br />

patrimônios etnoculturais e artísticos",<br />

contextualizando ao mesmo tempo seus<br />

significados "em diferentes sociedades, épocas<br />

e lugares". Ao retomar as várias origens e usos<br />

da tatuagem, o participante é levado a<br />

compreender e respeitar uma gramática<br />

histórica dos costumes marcada sempre por<br />

semelhanças e diferenças. A questão não<br />

exigia, portanto, nenhum conhecimento prévio<br />

sobre as diferentes formas de manifestação<br />

dessa prática, mas simplesmente constatar,<br />

com o autor do texto citado, a historicidade e a<br />

diversidade das práticas sociais. Os<br />

participantes que assinalaram a alternativa C<br />

(36%), possivelmente, não levaram em<br />

consideração informações do texto. A questão<br />

foi corretamente respondida por 37% dos<br />

participantes.<br />

407


36) (2004)<br />

Nesta tirinha, a personagem faz referência<br />

a uma das mais conhecidas figuras de<br />

linguagem para<br />

A) condenar a prática de exercícios físicos<br />

B) valorizar aspectos da vida moderna.<br />

C) desestimular o uso das bicicletas.<br />

D) caracterizar o diálogo entre as<br />

gerações.<br />

E) criticar a falta de perspectiva do pai.<br />

Comentário<br />

A construção indica a falta de perspectiva<br />

na vida do pai do personagem. “Pedalar sem<br />

sair do lugar” é uma metáfora muito usada na<br />

cultura brasileira para expressar como é a<br />

vida de uma pessoa que age de forma a não<br />

conseguir qualquer mudança — para melhor<br />

ou para pior — na vida.<br />

37) (2004) As questões de números 26 e 27<br />

referem-se ao poema abaixo.<br />

Entre os recursos expressivos<br />

empregados no texto, destaca-se a<br />

A) metalinguagem, que consiste em fazer<br />

a linguagem referir-se à própria<br />

linguagem.<br />

B) intertextualidade, na qual o texto<br />

retoma e reelabora outros textos.<br />

C) ironia, que consiste em se dizer o<br />

contrário do que se pensa, com<br />

intenção crítica.<br />

D) denotação, caracterizada pelo uso das<br />

palavras em seu sentido próprio e<br />

objetivo.<br />

E) prosopopéia, que consiste em<br />

personificar coisas inanimadas,<br />

atribuindo-lhes vida.<br />

Comentário<br />

A questão trata de um texto de Carlos<br />

Drummond de Andrade em que ele fala sobre<br />

o crescimento urbano e a pobreza que esse<br />

processo traz. Para tanto, o poeta utiliza uma<br />

linguagem irônica, revelando o lado oculto do<br />

desenvolvimento. Dessa forma, temos como<br />

correta a alternativa C.<br />

38) (2007) Antigamente<br />

Acontecia o indivíduo apanhar<br />

constipação; ficando perrengue, mandava<br />

o próprio chamar o doutor e, depois, ir à<br />

botica para aviar a receita, de cápsulas ou<br />

pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />

phtísica, feia era o gálico. Antigamente, os<br />

sobrados tinham assombrações, os<br />

meninos, lombrigas (...)<br />

Carlos Drummond de Andrade. Poesia completa e prosa.<br />

Rio de Janeiro: Companhia José Aguilar, p. 1.184.<br />

O texto acima está escrito em linguagem<br />

de uma época passada. Observe uma<br />

outra versão, em linguagem atual.<br />

Antigamente<br />

Acontecia o indivíduo apanhar um<br />

resfriado; ficando mal, mandava o próprio<br />

chamar o doutor e, depois, ir à farmácia<br />

para aviar a receita, de cápsulas ou<br />

pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />

tuberculose, feia era a sífilis. Antigamente,<br />

os sobrados tinham assombrações, os<br />

meninos, vermes (...)<br />

Comparando-se esses dois textos,<br />

verifica-se que, na segunda versão, houve<br />

mudanças relativas a<br />

A) vocabulário.<br />

B) construções sintáticas.<br />

C) pontuação.<br />

D) fonética.<br />

E) regência verbal.<br />

Comentário<br />

Questão fácil. O aluno deveria comparar<br />

os dois textos e verificar as alterações<br />

realizadas na segunda versão apresentada.<br />

Nesse momento, fica evidente a mudança de<br />

vocabulário, o que indica a alternativa A<br />

como a correta.<br />

408


39) (2001) Nas conversas diárias, utiliza-se<br />

freqüentemente a palavra “próprio” e ela<br />

se ajusta a várias situações. Leia os<br />

exemplos de diálogos:<br />

I - A Vera se veste diferente!<br />

- É mesmo, é que ela tem um estilo<br />

próprio.<br />

II - A Lena já viu esse filme uma dezena<br />

de vezes! Eu não consigo ver o<br />

que ele tem de tão maravilhoso assim.<br />

- É que ele é próprio para adolescente.<br />

III - Dora, o que eu faço? Ando tão<br />

preocupada com o Fabinho! Meu filho<br />

está impossível!<br />

- Relaxa, Tânia! É próprio da idade.<br />

Com o tempo, ele se acomoda.<br />

Nas ocorrências I, II e III, “próprio” é<br />

sinônimo de, respectivamente,<br />

A) adequado, particular, típico.<br />

B) peculiar, adequado, característico.<br />

C) conveniente, adequado, particular.<br />

D) adequado, exclusivo, conveniente.<br />

E) peculiar, exclusivo, característico.<br />

Comentário<br />

Para responder a essa pergunta,<br />

substitua, nos trechos, a palavra próprio<br />

pelos possíveis equivalentes apresentados<br />

nas alternativas. Questão simples que pode<br />

ser resolvida por eliminação.<br />

Comentário do INEP<br />

Nesta questão são apresentados três<br />

textos em que uma mesma palavra é<br />

utilizada com sentidos diferentes. O problema<br />

consiste em observar a variedade de uso de<br />

um mesmo termo e as possibilidades de sua<br />

compreensão, estabelecendo uma relação<br />

comparativa com base em uma análise<br />

semântica. Cerca de metade (49%) dos<br />

participantes estabeleceu essa relação de<br />

maneira correta. Os participantes que<br />

assinalaram a alternativa D (21%),<br />

possivelmente isolaram o termo do contexto,<br />

gerando um equívoco entre "adequado" e<br />

"exclusivo".<br />

40) (2003) Do pedacinho de papel ao livro<br />

impresso vai uma longa distância. Mas o<br />

que o escritor quer, mesmo, é isso: ver o<br />

seu texto em letra de forma. A gaveta é<br />

ótima para aplacar a fúria criativa; ela faz<br />

amadurecer o texto da mesma forma que<br />

a adega faz amadurecer o vinho. Em<br />

certos casos, a cesta de papel é melhor<br />

ainda.<br />

O período de maturação na gaveta é<br />

necessário, mas não deve se prolongar<br />

muito. ‘Textos guardados acabam<br />

cheirando mal’, disse Silvia Plath, (...) que,<br />

com esta frase, deu testemunho das<br />

dúvidas que atormentam o escritor:<br />

publicar ou não publicar? guardar ou jogar<br />

fora?<br />

(Moacyr Scliar. O escritor e seus desafios.)<br />

Nesse texto, o escritor Moacyr Scliar usa<br />

imagens para refletir sobre uma etapa da<br />

criação literária. A idéia de que o processo<br />

de maturação do texto nem sempre é o<br />

que garante bons resultados está sugerida<br />

na seguinte frase:<br />

A) "A gaveta é ótima para aplacar a fúria<br />

criativa."<br />

B) "Em certos casos, a cesta de papel é<br />

melhor ainda."<br />

C) "O período de maturação na gaveta é<br />

necessário, (...)."<br />

D) "Mas o que o escritor quer, mesmo, é<br />

isso: ver o seu texto em letra de forma."<br />

E) "ela (a gaveta) faz amadurecer o texto<br />

da mesma forma que a adega faz<br />

amadurecer o vinho."<br />

Comentário<br />

Essa questão exigia a interpretação das<br />

frases. A palavra NEM no enunciado exclui<br />

todas as alternativas que tratam do<br />

amadurecimento ou da importância da<br />

gaveta para o bom sucesso da produção<br />

literária.<br />

A alternativa B é a única que apresenta<br />

um procedimento alternativo para a produção<br />

textual, ou seja, o lixo, e significa a liberdade<br />

do escritor em começar,<br />

interromper, recomeçar ou simplesmente<br />

abandonar a obra, permitindo a ele exercer<br />

seu livre-arbítrio.<br />

41) (2007)<br />

Aqui na floresta<br />

Dos ventos batida,<br />

Façanhas de bravos<br />

Não geram escravos,<br />

Que estimem a vida<br />

Sem guerra e lidar.<br />

— Ouvi-me, Guerreiros,<br />

— Ouvi meu cantar.<br />

O canto do guerreiro<br />

Valente na guerra,<br />

Quem há, como eu sou?<br />

Quem vibra o tacape<br />

Com mais valentia?<br />

Quem golpes daria<br />

Fatais, como eu dou?<br />

— Guerreiros, ouvi-me;<br />

— Quem há, como eu sou?<br />

Gonçalves Dias.<br />

409


Macunaíma<br />

(Epílogo)<br />

Acabou-se a história e morreu a vitória.<br />

Não havia mais ninguém lá. Dera<br />

tangolomângolo na tribo Tapanhumas e<br />

os filhos dela se acabaram de um em um.<br />

Não havia mais ninguém lá. Aqueles<br />

lugares, aqueles campos, furos<br />

puxadouros arrastadouros meiosbarrancos,<br />

aqueles matos misteriosos,<br />

tudo era solidão do deserto... Um silêncio<br />

imenso dormia à beira do rio Uraricoera.<br />

Nenhum conhecido sobre a terra não<br />

sabia nem falar da tribo nem contar<br />

aqueles casos tão pançudos. Quem podia<br />

saber do Herói?<br />

Mário de Andrade.<br />

Considerando-se a linguagem desses dois<br />

textos, verifica-se que<br />

A) a função da linguagem centrada no<br />

receptor está ausente tanto no primeiro<br />

quanto no segundo texto.<br />

B) a linguagem utilizada no primeiro texto<br />

é coloquial, enquanto, no segundo,<br />

predomina a linguagem formal.<br />

C) há, em cada um dos textos, a<br />

utilização de pelo menos uma palavra<br />

de origem indígena.<br />

D) a função da linguagem, no primeiro<br />

texto, centra-se na forma de<br />

organização da linguagem e, no<br />

segundo, no relato de informações<br />

reais.<br />

E) a função da linguagem centrada na<br />

primeira pessoa, predominante no<br />

segundo texto, está ausente no<br />

primeiro.<br />

Comentário<br />

Questão de nível médio. Essa é uma<br />

questão que foca a linguagem dos textos, e<br />

cada qual em seu gênero (poesia e prosa,<br />

respectivamente). O aluno chega à<br />

conclusão que a alternativa correta é a C por<br />

meio da exclusão das demais alternativas.<br />

A resposta correta não é a A, pois há um<br />

receptor que pode ser percebido nas<br />

seguintes perguntas contidas no texto:<br />

Texto 1 – “Guerreiros, ouvi-me;/Quem há,<br />

como eu sou?”<br />

Texto 2 – “Quem podia saber do herói?”<br />

Também não é a alternativa B, pois o<br />

conteúdo dos textos não é discriminatório. No<br />

primeiro texto, há uma idealização do índio e,<br />

no segundo, há uma realidade crítica e<br />

satírica da sociedade.<br />

A alternativa D é excluída, porque o<br />

segundo texto não fala de uma realidade, já<br />

que Macunaíma é um herói fictício e nãoreal.<br />

Por fim, também está errada a alternativa<br />

E. Isso porque não temos no epílogo do texto<br />

de Macunaíma a linguagem centrada na<br />

primeira pessoa, mas sim, na terceira.<br />

42) (2003) Eu começaria dizendo que poesia<br />

é uma questão de linguagem. A<br />

importância do poeta é que ele torna mais<br />

viva a linguagem. Carlos Drummond de<br />

Andrade escreveu um dos mais belos<br />

versos da língua portuguesa com duas<br />

palavras comuns: cão e cheirando.<br />

Um cão cheirando o futuro<br />

(Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP, 24/05/1988.<br />

adaptação)<br />

O que deu ao verso de Drummond o<br />

caráter de inovador da língua foi<br />

A) o modo raro como foi tratado o<br />

"futuro".<br />

B) a referência ao cão como "animal de<br />

estimação".<br />

C) a flexão pouco comum do verbo<br />

"cheirar" (gerúndio).<br />

D) a aproximação não usual do agente<br />

citado e a ação de "cheirar".<br />

E) o emprego do artigo indefinido "um" e<br />

do artigo definido "o" na mesma frase.<br />

Comentário<br />

O fato de Drummond identificar o futuro<br />

como algo que pode ser percebido por um<br />

animal irracional por meio do olfato foi<br />

inovador. A figura de linguagem foi<br />

construída metaforicamente: o futuro torna-se<br />

uma coisa que tem cheiro, contrariamente à<br />

imagem pela qual ele normalmente é<br />

representado: como algo que não se vê e<br />

não se pode pressentir ou tocar.<br />

43) (2002) Só falta o Senado aprovar o<br />

projeto de lei [sobre o uso de termos<br />

estrangeiros no Brasil] para que palavras<br />

como shopping center , delivery e drivethrough<br />

sejam proibidas em nomes de<br />

estabelecimentos e marcas. Engajado<br />

nessa valorosa luta contra o inimigo<br />

ianque, que quer fazer área de livre<br />

comércio com nosso inculto e belo idioma,<br />

venho sugerir algumas outras medidas<br />

que serão de extrema importância para a<br />

preservação da soberania nacional, a<br />

saber:<br />

........<br />

4<strong>10</strong>


Nenhum cidadão carioca ou gaúcho<br />

poderá dizer "Tu vai" em espaços públicos<br />

do território nacional;<br />

Nenhum cidadão paulista poderá dizer "Eu<br />

lhe amo" e retirar ou acrescentar o plural<br />

em sentenças como "Me vê um chopps e<br />

dois pastel";<br />

..........<br />

Nenhum dono de borracharia poderá<br />

escrever cartaz com a palavra "borraxaria"<br />

e nenhum dono de banca de jornal<br />

anunciará "Vende-se cigarros";<br />

..........<br />

Nenhum livro de gramática obrigará os<br />

alunos a utilizar colocações pronominais<br />

como "casar-me-ei" ou "ver-se-ão".<br />

PIZA, Daniel. Uma proposta imodesta. O Estado de<br />

S. Paulo, São Paulo, 8/04/2001.<br />

No texto acima, o autor:<br />

A) mostra-se favorável ao teor da<br />

proposta por entender que a língua<br />

portuguesa deve ser protegida contra<br />

deturpações de uso.<br />

B) ironiza o projeto de lei ao sugerir<br />

medidas que inibam determinados usos<br />

regionais e socioculturais da língua.<br />

C) denuncia o desconhecimento de regras<br />

elementares de concordância verbal e<br />

nominal pelo falante brasileiro.<br />

D) revela-se preconceituoso em relação a<br />

certos registros lingüísticos ao propor<br />

medidas que os controlem.<br />

E) defende o ensino rigoroso da gramática<br />

para que todos aprendam a empregar<br />

corretamente os pronomes.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. O autor ironiza o<br />

projeto de lei que proíbe o uso de<br />

estrangeirismos no Brasil. Não adianta criarse<br />

uma expectativa ou preocupação em<br />

relação ao uso de termos estrangeiros na<br />

língua e esquecer-se de que a língua é um<br />

organismo vivo, mutável. A dinâmica de uma<br />

língua não pode ser regida por preceitos<br />

legais como quer o projeto.<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão reproduz trechos de um<br />

texto que aborda o polêmico projeto de<br />

proibição de uso de termos estrangeiros no<br />

Brasil. A partir da leitura atenta do texto de<br />

Daniel Piza, o participante é levado a refletir<br />

sobre a postura adotada pelo autor em<br />

relação ao referido projeto. Para<br />

compreender esse texto, o participante<br />

precisa reconhecer o tom irônico que marca<br />

as observações e sugestões feitas por seu<br />

autor. Assim, Daniel Piza, "engajado nessa<br />

valorosa luta contra o inimigo ianque", sugere<br />

a proibição de algumas formas lingüísticas de<br />

uso corrente que contrariam recomendações<br />

da gramática normativa. O participante deve<br />

reconhecer que, com sugestões como essas,<br />

Daniel Piza deixa implícita uma crítica à<br />

utilidade do projeto de proibição dos<br />

estrangeirismos como forma de proteger a<br />

Língua Portuguesa. Nesse contexto, a ironia<br />

torna-se mais clara, bem como o mecanismo<br />

textual que a constrói. Feito tal<br />

reconhecimento, o aluno encontra a resposta<br />

correta na alternativa B, assinalada por cerca<br />

da metade dos participantes. Nenhuma outra<br />

alternativa contempla o aspecto irônico,<br />

essencial para a compreensão do texto.<br />

44) (2003) Pequenos tormentos da vida<br />

De cada lado da sala de aula, pelas janelas<br />

altas, o azul convida os meninos,<br />

as nuvens desenrolam-se, lentas como quem<br />

vai inventando<br />

preguiçosamente uma história sem fim...Sem<br />

fim é a aula: e nada acontece,<br />

nada...Bocejos e moscas. Se ao menos,<br />

pensa Margarida, se ao menos um<br />

avião entrasse por uma janela e saísse por<br />

outra!<br />

(Mário Quintana. Poesias)<br />

Na cena retratada no texto, o sentimento<br />

do tédio<br />

A) provoca que os meninos fiquem<br />

contando histórias.<br />

B) leva os alunos a simularem bocejos,<br />

em protesto contra a monotonia da<br />

aula.<br />

C) acaba estimulando a fantasia,<br />

criando a expectativa de algum<br />

imprevisto mágico.<br />

D) prevalece de modo absoluto,<br />

impedindo até mesmo a distração ou o<br />

exercício do pensamento.<br />

E) decorre da morosidade da aula, em<br />

contraste com o movimento acelerado<br />

das nuvens e das moscas.<br />

Comentário<br />

Essa questão aborda o imaginário<br />

decorrente do marasmo trazido pela escola.<br />

O texto enfatiza o arrastar do tempo na<br />

mente de uma aluna, Margarida, que se põe<br />

a pensar em fatos mágicos ou imaginários<br />

que pudessem romper com a lentidão da<br />

aula.<br />

411


45) (200) O autor do texto abaixo critica,<br />

ainda que em linguagem metafórica, a<br />

sociedade contemporânea em relação aos<br />

seus hábitos alimentares.<br />

“Vocês que têm mais de 15 anos, se<br />

lembram quando a gente comprava leite<br />

em garrafa, na leiteria da esquina? (...)<br />

Mas vocês não se lembram de nada,<br />

pô! Vai ver nem sabem o que é vaca. Nem<br />

o que é leite. Estou falando isso porque<br />

agora mesmo peguei um pacote de leite –<br />

leite em pacote, imagina, Tereza! – na<br />

porta dos fundos e estava escrito que é<br />

pasterizado, ou pasteurizado, sei lá, tem<br />

vitamina, é garantido pela<br />

embromatologia, foi enriquecido e o<br />

escambau. Será que isso é mesmo leite?<br />

No dicionário diz que leite é outra coisa:<br />

‘Líquido branco, contendo água,<br />

proteína, açúcar e sais minerais’. Um<br />

alimento pra ninguém botar defeito. O ser<br />

humano o usa há mais de 5.000 anos. É o<br />

único alimento só alimento. A carne serve<br />

pro animal andar, a fruta serve pra fazer<br />

outra fruta, o ovo serve pra fazer outra<br />

galinha (...) O leite é só leite. Ou toma ou<br />

bota fora. Esse aqui examinando bem, é<br />

só pra botar fora. Tem chumbo, tem<br />

benzina, tem mais água do que leite, tem<br />

serragem, sou capaz de jurar que nem<br />

vaca tem por trás desse negócio. Depois o<br />

pessoal ainda acha estranho que os<br />

meninos não gostem de leite.<br />

Mas, como não gostam? Não gostam<br />

como? Nunca tomaram! Múúúúúúú!”<br />

(FERNANDES, Millôr. O Estado de S. Paulo ,<br />

22 de agosto de 1999)<br />

A palavra embromatologia usada pelo<br />

autor é:<br />

A) um termo científico que significa estudo<br />

dos bromatos.<br />

B) uma composição do termo de gíria<br />

“embromação” (enganação) com<br />

bromatologia, que é o estudo dos<br />

alimentos.<br />

C) uma junção do termo de gíria<br />

“embromação” (enganação) com<br />

lactologia, que é o estudo das<br />

embalagens para leite.<br />

D) um neologismo da química orgânica<br />

que significa a técnica de retirar<br />

bromatos dos laticínios.<br />

E) uma corruptela de termo da<br />

agropecuária que significa a ordenha<br />

mecânica.<br />

Comentário<br />

É necessário para a resolução desta<br />

questão:<br />

- perceber que o texto critica o exagerado<br />

uso de substâncias artificiais nos<br />

alimentos;<br />

- conhecer o significado da gíria embromar e<br />

da palavra bromatologia.<br />

Conhecendo esses significados, você<br />

elimina todas as alternativas erradas: a, c, d<br />

e e.<br />

Você poderá ter dúvida quanto à<br />

alternativa c, que também será eliminada se<br />

souber o significado da palavra lactologia,<br />

que é o estudo do leite e produtos lácteos e<br />

não das embalagens para leite.<br />

Nesta questão, são trabalhados os<br />

conceitos de interpretação de texto, formação<br />

de palavras e conhecimentos gerais.<br />

Comentário do INEP<br />

A resolução da questão requeria que o<br />

participante, ao ler o texto vinculasse o<br />

significado de um termo de gíria -<br />

"embromação" - com o da palavra<br />

bromatologia. A resposta correta exigia que o<br />

participante não abrisse mão do sabor<br />

picante contido na linguagem metafórica,<br />

sabor vinculado ao conhecimento específico<br />

contido na palavra bromatologia. Cerca da<br />

metade dos participantes (51%) optou pela<br />

alternativa correta e, os 20% que escolheram<br />

a alternativa C, provavelmente associaram a<br />

referência feita no texto à leite em pacote.<br />

46) (2005) O termo (ou expressão)<br />

destacado que está empregado em seu<br />

sentido próprio, denotativo ocorre em:<br />

A) “(....)<br />

É de laço e de nó<br />

De gibeira o jiló<br />

Dessa vida, cumprida a sol (....)”<br />

(Renato Teixeira. Romaria. Kuarup Discos.<br />

setembro de 1992.)<br />

B) “Protegendo os inocentes<br />

é que Deus, sábio demais,<br />

põe cenários diferentes<br />

nas impressões digitais.”<br />

(Maria N. S. Carvalho. Evangelho da Trova. /s.n.b.)<br />

C) “O dicionário-padrão da língua e os<br />

dicionários unilíngües são os tipos mais<br />

comuns de dicionários. Em nossos<br />

dias, eles se tornaram um objeto de<br />

consumo obrigatório para as nações<br />

civilizadas e desenvolvidas.”<br />

(Maria T. Camargo Biderman.<br />

O dicionário-padrão da língua. Alfa (28), 2743, 1974 Supl.)<br />

412


D)<br />

A)<br />

B)<br />

E) “Humorismo é a arte de fazer cócegas<br />

no raciocínio dos outros. Há duas<br />

espécies de humorismo: o trágico e o<br />

cômico. O trágico é o que não<br />

consegue fazer rir; o cômico é o que é<br />

verdadeiramente trágico para se fazer.”<br />

(Leon Eliachar. www.mercadolivre.com.br.<br />

acessado em julho de 2005.)<br />

Comentário<br />

A definição do dicionário-padrão da língua<br />

utiliza o sentido denotativo da palavra para<br />

explicar o uso de determinado tipo de<br />

dicionário. Em todas as outras alternativas,<br />

as palavras estão sendo empregadas em<br />

sentido metafórico. Na letra A, "cumprida a<br />

sol" pode mostrar o sofrimento e a solidão.<br />

Na alternativa B, "cenários diferentes" são as<br />

diferenças físicas encontradas nas<br />

impressões digitais. Na letra D, "bateria" é o<br />

termo usado para expressar a "energia" do<br />

Menino Maluquinho, que nunca acaba. Por<br />

fim, na alternativa E, "fazer cócegas no<br />

raciocínio" significa expressar graça por meio<br />

de idéias, fazendo com que o cérebro ache<br />

um fato divertido e, por conseguinte, faça<br />

com que a pessoa ria como se sofresse um<br />

ataque de cócegas.<br />

C)<br />

D)<br />

E)<br />

47) (2008) Os signos visuais, como meios de<br />

comunicação, são classificados em<br />

categorias de acordo com seus<br />

significados.<br />

A categoria denominada indício<br />

corresponde aos signos visuais que têm<br />

origem em formas ou situações naturais<br />

ou casuais, as quais, devido à ocorrência<br />

em circunstâncias idênticas, muitas vezes<br />

repetidas, indicam algo e adquirem<br />

significado. Por exemplo, nuvens negras<br />

indicam tempestade. Com base nesse<br />

conceito, escolha a opção que representa<br />

um signo da categoria dos indícios.<br />

Comentário<br />

Trata-se de uma questão interpretativa. O<br />

aluno precisa entender o que é “indício” para<br />

respondê-la. Segundo o dicionário Aurélio,<br />

indício é o mesmo que “sinal, vestígio,<br />

indicação”. Das figuras apresentadas,<br />

apenas a alternativa B indica algo: a<br />

passagem de alguém por algum lugar —<br />

pegada.<br />

413


48) (1999)<br />

Diante da visão de um prédio com uma<br />

placa indicando SAPATARIA PAPALIA,<br />

um jovem deparou com a dúvida: como<br />

pronunciar a palavra PAPALIA?<br />

Levado o problema à sala de aula, a<br />

discussão girou em torno da utilidade de<br />

conhecer as regras de acentuação e,<br />

especialmente, do auxílio que elas podem<br />

dar à correta pronúncia de palavras.<br />

Após discutirem pronúncia, regras de<br />

acentuação e escrita, três alunos<br />

apresentaram as seguintes conclusões a<br />

respeito da palavra PAPALIA:<br />

I. Se a sílaba tônica for o segundo PA, a<br />

escrita deveria ser PAPÁLIA, pois a<br />

palavra seria paroxítona terminada em<br />

ditongo crescente.<br />

II. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />

deveria ser PAPALÍA, pois "i" e "a"<br />

estariam formando hiato.<br />

III. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />

deveria ser PAPALIA, pois não haveria<br />

razão para o uso de acento gráfico.<br />

A conclusão está correta apenas em:<br />

A) III D) I<br />

B) I e II E) II<br />

C) I e III<br />

Comentário<br />

Essa questão exige bom conhecimento<br />

das regras de acentuação. A alternativa A diz<br />

que apenas a afirmação I é verdadeira. De<br />

fato ela é, mas não é a única. Nela, temos a<br />

hipótese de a palavra ser grafada como se a<br />

sílaba forte fosse a penúltima — papália —,<br />

justificando seu acento gráfico. Vejamos o<br />

que dizem as regras de acentuação.<br />

Acentuam-se as palavras paroxítonas<br />

terminadas em: i, is, us, um, uns, l, n, r, x,<br />

ps, ã, ãs, ão, ãos, ditongos orais,<br />

crescentes ou decrescentes, seguidos ou<br />

não de S. Isso valida, portanto, a afirmação I.<br />

A afirmação II pressupõe que a sílaba<br />

tônica seja LI, em hiato com A: no caso de<br />

essa ser a tonicidade da palavra, a sílaba LI<br />

não poderia ser acentuada, pois I, mesmo<br />

sendo a tônica do hiato, não é a última vogal,<br />

portanto, essa afirmativa é falsa.<br />

A afirmação III considera que a sílaba<br />

tônica é LI, não havendo acento por ser o I a<br />

primeira vogal do hiato. Portanto, essa<br />

afirmação é verdadeira.<br />

Concluindo, temos como verdadeiras as<br />

afirmações I e III. Então, a alternativa E é a<br />

correta. Questão de nível difícil.<br />

Comentário do INEP<br />

Dentre os participantes, somente pouco<br />

mais de um terço (35%) demonstrou possuir<br />

a habilidade para identificar as regras de<br />

acentuação corretas, enunciadas na questão.<br />

Chama a atenção o fato de que 73% dos<br />

participantes (alternativas A, D e E)<br />

reconheceram corretamente, pelo menos, a<br />

regra contida no item I, sendo que cerca de<br />

40% desses, contudo, tiveram dificuldades<br />

em analisar as regras II e III.<br />

Em se tratando de palavra não-usual, é,<br />

sobretudo, o domínio do conhecimento das<br />

regras e não a possível pronúncia correta,<br />

pelo uso, o que parece ter sido revelado.<br />

49) (2008)<br />

Exame, 28/9/2007.<br />

Entre os seguintes ditos populares, qual<br />

deles melhor corresponde à figura<br />

acima?<br />

A) Com perseverança, tudo se alcança.<br />

B) Cada macaco no seu galho.<br />

C) Nem tudo que balança cai.<br />

D) Quem tudo quer, tudo perde.<br />

E) Deus ajuda quem cedo madruga.<br />

Comentário<br />

Assim como a questão 37, esta também<br />

envolve interpretação de signos, ou seja, o<br />

aluno precisa estar atento à imagem e<br />

relacioná-la ao dito popular correspondente.<br />

414


A alternativa "A" é a correta, pois, para<br />

uma lesma “grudenta” e vagarosa conseguir<br />

pular numa cama elástica, é necessária<br />

muita perseverança.<br />

50) (2005) Leia estes textos.<br />

Texto 1<br />

Comentário<br />

Enquanto o primeiro texto é ácido em<br />

relação à possibilidade de desarmamento da<br />

população (ou seja, à criação de uma<br />

sociedade mais pacífica), o segundo mostra<br />

a capacidade que a humanidade tem de crer<br />

e, por isso, tentar fazer até o que a princípio<br />

parece impossível. Para os autores da<br />

canção, nada é intrinsecamente impossível.<br />

A relação entre eles é de oposição:<br />

descrença x crença. Questão de nível de<br />

dificuldade médio.<br />

Texto 2<br />

Sonhar<br />

Mais um sonho impossível<br />

Lutar<br />

Quando é fácil ceder<br />

Vencer o inimigo invencível<br />

Negar quando a regra é vender<br />

Sofrer a tortura implacável<br />

Romper a incabível prisão<br />

Voar num limite improvável<br />

Tocar o inacessível chão<br />

É minha lei, é minha questão<br />

Virar esse mundo<br />

Cravar esse chão<br />

Não me importa saber<br />

Se é terrível demais<br />

Quantas guerras terei que vencer<br />

Por um pouco de paz<br />

E amanhã se esse chão que eu beijei<br />

For meu leito e perdão<br />

Vou saber que valeu delirar<br />

E morrer de paixão<br />

E assim, seja lá como for<br />

Vai ter fim a infinita aflição<br />

E o mundo vai ver uma flor<br />

Brotar do impossível chão.<br />

(J. Darione – M. Leigh – Versão de Chico Buarque de<br />

Hollanda e Ruy Guerra, 1972.)<br />

A tirinha e a canção apresentam uma<br />

reflexão sobre o futuro da humanidade. É<br />

correto concluir que os dois textos<br />

A) afirmam que o homem é capaz de<br />

alcançar a paz.<br />

B) concordam que o desarmamento é<br />

inatingível.<br />

C) julgam que o sonho é um desafio<br />

invencível.<br />

D) têm visões diferentes sobre um<br />

possível mundo melhor.<br />

E) transmitem uma mensagem de<br />

otimismo sobre a paz.<br />

51) (2002) A crônica muitas vezes constitui<br />

um espaço para reflexão sobre aspectos<br />

da sociedade em que vivemos.<br />

"Eu, na rua, com pressa, e o menino<br />

segurou no meu braço, falou qualquer<br />

coisa que não entendi. Fui logo dizendo<br />

que não tinha, certa de que ele estava<br />

pedindo dinheiro. Não estava. Queria<br />

saber a hora.<br />

Talvez não fosse um Menino De<br />

Família, mas também não era um Menino<br />

De Rua. É assim que a gente divide.<br />

Menino De Família é aquele bem-vestido<br />

com tênis da moda e camiseta de marca,<br />

que usa relógio e a mãe dá outro se o<br />

dele for roubado por um Menino De Rua.<br />

Menino De Rua é aquele que quando a<br />

gente passa perto segura a bolsa com<br />

força porque pensa que ele é pivete,<br />

trombadinha, ladrão. (...) Na verdade não<br />

existem meninos De rua.<br />

Existem meninos NA rua. E toda vez<br />

que um menino está NA rua é porque<br />

alguém o botou lá. Os meninos não vão<br />

sozinhos aos lugares. Assim como são<br />

postos no mundo, durante muitos anos<br />

também são postos onde quer que<br />

estejam. Resta ver quem os põe na rua. E<br />

por quê."<br />

COLASSANTI, Marina. In: Eu sei, mas não devia. Rio de<br />

Janeiro: Rocco, 1999.<br />

No terceiro parágrafo em "... não existem<br />

meninos De rua. Existem meninos NA<br />

rua.", a troca de De pelo Na determina<br />

que a relação de sentido entre "menino" e<br />

"rua" seja<br />

A) de localização e não de qualidade.<br />

B) de origem e não de posse.<br />

C) de origem e não de localização.<br />

D) de qualidade e não de origem.<br />

E) de posse e não de localização.<br />

415


Comentário<br />

Questão de nível fácil. Apesar de não<br />

haver um terceiro parágrafo neste texto, a<br />

troca das preposições ao final do SEGUNDO<br />

parágrafo indica claramente que não há um<br />

menino DE (proveniente de) rua, mas um<br />

menino que está NA (foi levado à) rua.<br />

Portanto, a relação é unicamente de<br />

localização (onde ele está) e não de<br />

qualidade (o que ele é).<br />

Comentário do INEP<br />

A reprodução de um trecho de uma<br />

crônica de Marina Colassanti tematiza uma<br />

importante questão social brasileira: a<br />

presença de milhões de crianças nas ruas do<br />

País. A autora, ao tratar desse problema,<br />

vale-se de recursos lingüísticos específicos.<br />

O objetivo desta questão é justamente<br />

chamar a atenção do participante leitor para<br />

esses recursos e os efeitos de sentido que<br />

eles desencadeiam no texto. Na raiz da<br />

questão destaca-se a troca de "De" por "NA"<br />

e pede-se que se determine qual relação de<br />

sentido essa substituição estabelece entre os<br />

termos "menino" e "rua". Analisar a relação,<br />

nesse caso, significa perguntar-se sobre o<br />

sentido de dois sintagmas criados no texto:<br />

"meninos NA rua" por oposição a "meninos<br />

De rua". O que a autora pretende negar, com<br />

a troca do termo de relação, é a possibilidade<br />

de que existam meninos de rua diferentes de<br />

outros meninos, que não têm na rua a sua<br />

origem. O destaque para a preposição na<br />

nos leva a refletir que a relação dos meninos<br />

com a rua é de localização: eles estão ali por<br />

alguma razão, não porque essa seja a sua<br />

qualificação. Essa reflexão levaria o aluno a<br />

escolher, como correta, a resposta<br />

apresentada na alternativa A, assinalada por<br />

cerca de metade dos participantes.<br />

52) (2000) O uso do pronome átono no início<br />

das frases é destacado por um poeta e<br />

por um gramático nos textos abaixo.<br />

416<br />

Pronominais<br />

Dê-me um cigarro<br />

Diz a gramática<br />

Do professor e do aluno<br />

E do mulato sabido<br />

Mas o bom negro e o bom branco<br />

da Nação Brasileira<br />

Dizem todos os dias<br />

Deixa disso camarada<br />

Me dá um cigarro<br />

(ANDRADE, Oswald de. Seleção de textos.<br />

São Paulo: Nova Cultural, 1988)<br />

“Iniciar a frase com pronome átono só<br />

é lícito na conversação familiar,<br />

despreocupada, ou na língua escrita<br />

quando se deseja reproduzir a fala dos<br />

personagens (...).”<br />

(CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da<br />

língua portuguesa.<br />

São Paulo: Nacional, 1980)<br />

Comparando a explicação dada pelos<br />

autores sobre essa regra, pode-se afirmar<br />

que ambos:<br />

A) condenam essa regra gramatical.<br />

B) acreditam que apenas os esclarecidos<br />

sabem essa regra.<br />

C) criticam a presença de regras na<br />

gramática.<br />

D) afirmam que não há regras para uso de<br />

pronomes.<br />

E) relativizam essa regra gramatical.<br />

Comentário<br />

Questão que requer conhecimento básico<br />

de colocação pronominal, em relação ao uso<br />

de pronomes átonos no início de frases, uma<br />

regra muito pouco respeitada pelo brasileiro,<br />

da qual Oswald de Andrade faz questão de<br />

falar em seu poema. Porém, a questão pode<br />

ser resolvida simplesmente por meio de uma<br />

leitura bem atenta dos textos. Se formos<br />

analisando alternativa por alternativa, a<br />

eliminação é clara e lógica: a alternativa a<br />

fica totalmente descartada devido à<br />

transparência da colocação dos dois autores<br />

(Me dá um cigarro...) e (iniciar frases com o<br />

pronome átono é "lícito" na conversação<br />

familiar ou despreocupada). Já a alternativa b<br />

pode até mesmo gerar um pouco de dúvida a<br />

quem não se atém bem à pergunta. Quanto<br />

às alternativas c e d, ficam descartadas, pois,<br />

em momento nenhum, os autores criticaram<br />

o uso de regras gramaticais em seus textos,<br />

cabendo perfeitamente a alternativa e para<br />

as afirmações do gramático e do poeta.<br />

Comentário do INEP<br />

Essa questão pretendia verificar como o<br />

participante analisa um fato lingüístico,<br />

mediante a comparação da descrição desse<br />

fato em dois textos. Sabe-se que,<br />

normalmente em situação escolar, o uso do<br />

pronome átono no início da frase é julgado<br />

como grave desvio gramatical, e pouco se<br />

analisa esse uso na fala ou escrita informal.<br />

Os dois autores dos textos, com intenções<br />

diferentes, relativizam essa regra gramatical,<br />

destacando e descrevendo o seu uso<br />

coloquial. A maioria dos participantes (52%)<br />

analisou e comparou corretamente as<br />

posições dos autores sobre o uso do


pronome átono, e 24% deles reafirmaram a<br />

posição discriminatória da regra, deslocandoa<br />

de seu uso.<br />

história de Van Gogh, ou apropriaram-se<br />

corretamente da informação sobre esse<br />

pintor, fornecida no enunciado.<br />

53) (2000) As histórias em quadrinhos, por<br />

vezes, utilizam animais como<br />

personagens e a eles atribuem<br />

comportamento humano. O gato Garfield<br />

é exemplo desse fato.<br />

54) (2004)<br />

Fonte: Caderno Vida e Arte, Jornal do Povo, Fortaleza<br />

Van Gogh, pintor holandês nascido em<br />

1853, é um dos principais nomes da<br />

pintura mundial. É dele o quadro abaixo.<br />

Auto-retrato de orelha cortada<br />

O 3º quadrinho sugere que Garfield:<br />

A) desconhece tudo sobre arte, por isso<br />

faz a sugestão.<br />

B) acredita que todo pintor deve fazer algo<br />

diferente.<br />

C) defende que para ser pintor a pessoa<br />

tem de sofrer.<br />

D) conhece a história de um pintor<br />

famoso e faz uso da ironia.<br />

E) acredita que seu dono tenha tendência<br />

artística e, por isso, faz a sugestão.<br />

Comentário<br />

Outra questão de interpretação de texto.<br />

Muito simples para quem um dia ouviu falar<br />

de Van Gogh, e simplíssima para aqueles<br />

que prestam atenção em todos os elementos<br />

do enunciado. Afinal, quem deu uma<br />

espiadinha na legenda do quadro de Van<br />

Gogh matou na hora a questão.<br />

Esta questão é daquelas rápidas de serem<br />

resolvidas, associando-se os elementos<br />

apresentados.<br />

Comentário do INEP<br />

A significativa maioria (81%) dos<br />

participantes soube perceber o caráter<br />

irônico da fala do Garfield, expressa no<br />

terceiro quadrinho porque, ou conheciam a<br />

A tira "Hagar" e o poema de Alberto<br />

Caeiro (um dos heterônimos de Fernando<br />

Pessoa) expressam, com linguagens<br />

diferentes, uma mesma idéia: a de que a<br />

compreensão que temos do mundo é<br />

condicionada, essencialmente,<br />

A) pelo alcance de cada cultura.<br />

B) pela capacidade visual do observador.<br />

C) pelo senso de humor de cada um.<br />

D) pela idade do observador.<br />

E) pela altura do ponto de observação.<br />

Comentário<br />

Questão reflexiva sobre a forma como<br />

cada cultura vê o mundo sob a ótica dos<br />

limites dados pelos seus costumes e<br />

possibilidades de pensamento inerentes a<br />

cada modelo cultural. A mistura de uma tira e<br />

de um poema amplia a possibilidade de<br />

pensamento por trabalhar com linguagens<br />

diferentes. A alternativa correta é a letra A,<br />

pois ambos (tira e poema) utilizam figuras de<br />

linguagem (metáfora e ironia) para expressar<br />

as diferentes visões de mundo.<br />

55) (2003)<br />

O humor presente na tirinha decorre<br />

principalmente do fato de a personagem<br />

Mafalda<br />

A) atribuir, no primeiro quadrinho, poder<br />

ilimitado ao dedo indicador.<br />

B) considerar seu dedo indicador tão<br />

importante quanto o dos patrões.<br />

417


C) atribuir, no primeiro e no último<br />

quadrinhos, um mesmo sentido ao<br />

vocábulo "indicador".<br />

D) usar corretamente a expressão<br />

"indicador de desemprego", mesmo<br />

sendo criança.<br />

E) atribuir, no último quadrinho, fama<br />

exagerada ao dedo indicador dos<br />

patrões.<br />

Comentário<br />

A questão pede a interpretação de uma<br />

charge da personagem Mafalda, em que ela<br />

faz referência a seu dedo indicador, que é<br />

usado como substantivo primitivo e que<br />

possibilita a analogia com “indicador de<br />

desemprego”. Dessa forma, ela ironiza os<br />

indicadores sociais. Na charge, porém, não<br />

há menção explícita aos índices<br />

“indicadores”, permanecendo o raciocínio<br />

preso apenas ao dedo indicador. Assim, ela<br />

utiliza, tanto no primeiro quanto no último<br />

quadrinho, a palavra “indicador” como<br />

referência ao dedo, não dando abertura a<br />

outro tipo de interpretação.<br />

56) (2002)<br />

De acordo com a história em quadrinhos<br />

protagonizada por Hagar e seu filho<br />

Hamlet, pode-se afirmar que a postura de<br />

Hagar<br />

A) valoriza a existência da diversidade<br />

social e de culturas, e as várias<br />

representações e explicações desse<br />

universo.<br />

B) desvaloriza a existência da<br />

diversidade social e as várias culturas,<br />

e determina uma única explicação para<br />

esse universo.<br />

C) valoriza a possibilidade de explicar as<br />

sociedades e as culturas a partir de<br />

várias visões de mundo.<br />

D) valoriza a pluralidade cultural e social<br />

ao aproximar a visão de mundo de<br />

navegantes e não-navegantes.<br />

E) desvaloriza a pluralidade cultural e<br />

social, ao considerar o mundo habitado<br />

apenas pelos navegantes.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. Hagar reduz o<br />

mundo a dois tipos de pessoas: navegantes<br />

e não-navegantes. No último quadrinho, diz<br />

que são os navegantes que estabelecem<br />

esses dois grupos. Portanto, quem é<br />

diferente dos navegantes (que estabelecem<br />

o padrão) simplesmente é incluído na massa<br />

única dos não-navegantes. Não importa<br />

quem ou quantos sejam, sua diversidade<br />

social ou cultural em relação aos navegantes<br />

ou entre si. Vemos aí a desvalorização de<br />

outras culturas.<br />

Comentário do INEP<br />

Dentre as habilidades básicas para a<br />

compreensão de um texto destaca-se a<br />

capacidade do leitor de identificar os<br />

pressupostos de cada afirmação que lhe é<br />

apresentada. Nesta questão o participante<br />

deve identificar a posição tanto de Hagar<br />

como de seu filho Hamlet e, em seguida,<br />

avaliar quais os argumentos que justificam a<br />

opinião de Hagar ao definir que no mundo só<br />

existem dois tipos de pessoas. A pergunta de<br />

Hamlet a seu pai explicita a importância do<br />

ato de narrar através do diálogo e do efeito<br />

humorístico contido no episódio representado<br />

na tira. O resultado da compreensão<br />

acertada do diálogo é que o narrador torna<br />

inteligível, para si e para os outros, a lógica<br />

do seu pensamento através do diálogo entre<br />

os dois personagens. É importante observar<br />

que o humor do personagem Hagar é<br />

identificado na postura simetricamente<br />

oposta à de Michel de Montaigne, por<br />

exemplo (ver questão 58): a sua visão de<br />

mundo apresenta-se autocentrada, isto é,<br />

centrada nos seus próprios valores (vikings).<br />

A habilidade requerida do participante nessa<br />

questão, qual seja, "valorizar a diversidade<br />

dos patrimônios etnoculturais", é mobilizada<br />

aqui na sua dimensão negativa: é criticando<br />

a postura chauvinista de Hagar que o<br />

participante é capaz de responder<br />

corretamente a questão. A última alternativa<br />

(E) funciona como um distrator, pois neste<br />

caso não está suposta a crítica do discurso<br />

do personagem. Cerca de um terço dos<br />

participantes assinalou a alternativa correta<br />

B. As demais opções são devidas,<br />

possivelmente, a uma leitura pouco<br />

compreensiva das alternativas associadas a<br />

história em quadrinhos.<br />

418


57) (2009)<br />

BRASIL. Ministério da Saúde, 2009 (adaptado).<br />

Os principais recursos utilizados para<br />

envolvimento e adesão do leitor à<br />

campanha institucional incluem<br />

A) o emprego de enumeração de itens e<br />

apresentação de títulos expressivos.<br />

B) o uso de orações subordinadas<br />

condicionais e temporais.<br />

C) o emprego de pronomes como “você”<br />

e “sua” e o uso do imperativo.<br />

D) a construção de figuras metafóricas e o<br />

uso de repetição.<br />

E) o fornecimento de número de telefone<br />

gratuito para contato.<br />

Comentário<br />

(QUESTÃO: AZUL 96, BRANCA 97,<br />

ROSA 97)<br />

Questão relativamente fácil, mas que<br />

demanda a atenção do candidato para o<br />

enunciado, que solicita que o leitor indique a<br />

resposta que apresenta recursos<br />

linguísticos para o "envolvimento e adesão<br />

do leitor à campanha institucional".<br />

A alternativa C é a correta, pois, nela, são<br />

apontados o emprego dos pronomes "você" e<br />

"sua" e o uso do imperativo. No cartaz,<br />

podemos observar que há frases como "Se<br />

você esteve ou manteve contato com<br />

pessoas da área de risco" e "Quando tossir<br />

ou espirrar cubra sua boca".<br />

58) (2009) Quando eu falo com vocês,<br />

procuro usar o código de vocês. A figura<br />

do índio no Brasil de hoje não pode ser<br />

aquela de 500 anos atrás, do passado,<br />

que representa aquele primeiro contato.<br />

Da mesma forma que o Brasil de hoje não<br />

é o Brasil de ontem, tem 160 milhões de<br />

pessoas com diferentes sobrenomes.<br />

Vieram para cá asiáticos, europeus,<br />

africanos, e todo mundo quer ser<br />

brasileiro. A importante pergunta que nós<br />

fazemos é: qual é o pedaço de índio que<br />

vocês têm? O seu cabelo? São seus<br />

olhos? Ou é o nome da sua rua? O nome<br />

da sua praça? Enfim, vocês devem ter um<br />

pedaço de índio dentro de vocês. Para<br />

nós, o importante é que vocês olhem para<br />

a gente como seres humanos, como<br />

pessoas que nem precisam de<br />

paternalismos, nem precisam ser tratadas<br />

com privilégios. Nós não queremos tomar<br />

o Brasil de vocês, nós queremos<br />

compartilhar esse Brasil com vocês.<br />

TERENA, M. Debate. MORIN, E. Saberes globais e<br />

saberes locais.<br />

Rio de Janeiro: Garamond, 2000 (adaptado).<br />

Os procedimentos argumentativos<br />

utilizados no texto permitem inferir que o<br />

ouvinte/leitor, no qual o emissor foca o<br />

seu discurso, pertence<br />

A) ao mesmo grupo social do<br />

falante/autor.<br />

B) a um grupo de brasileiros<br />

considerados como não índios.<br />

C) a um grupo étnico que representa a<br />

maioria europeia que vive no país.<br />

D) a um grupo formado por estrangeiros<br />

que falam português.<br />

E) a um grupo sociocultural formado por<br />

brasileiros naturalizados e imigrantes.<br />

Comentário<br />

(QUESTÃO: AZUL 121, BRANCA 122,<br />

ROSA 122)<br />

As passagens: "Quando falo com vocês,<br />

procuro usar o código de vocês" e "Nós não<br />

queremos tomar o Brasil de vocês...", deixa<br />

claro que o emissor e o leitor fazem parte de<br />

grupos distintos. Como o texto remete-se à<br />

figura do índio, a alternativa correta é a letra<br />

B.<br />

419


59) (2009)<br />

420<br />

BRASIL. Ministério da Saúde. Revista Nordeste,<br />

João Pessoa, ano 3, n. 35, maio/jun. 2009.<br />

Diante dos recursos argumentativos<br />

utilizados, depreende-se que o texto<br />

apresentado<br />

A) se dirige aos líderes comunitários para<br />

tomarem a iniciativa de combater a<br />

dengue.<br />

B) conclama toda a população a participar<br />

das estratégias de combate ao<br />

mosquito da dengue.<br />

C) se dirige aos prefeitos, conclamandoos<br />

a organizarem iniciativas de<br />

combate à dengue.<br />

D) tem como objetivo ensinar os<br />

procedimentos técnicos necessários<br />

para o combate ao mosquito da<br />

dengue.<br />

E) apela ao governo federal, para que dê<br />

apoio aos governos estaduais e<br />

municipais no combate ao mosquito da<br />

dengue.<br />

Comentário<br />

(QUESTÃO: AZUL 127, BRANCA 127,<br />

ROSA 127)<br />

Contrastando com a questão 126, que<br />

aborda o mesmo texto, a questão 127 é de<br />

fácil resolução. Ela pede ao aluno para<br />

responder qual é a pretensão dos recursos<br />

argumentativos do texto.<br />

Dentre as alternativas, a que contém a<br />

afirmação correta é a letra C, pois o texto é<br />

uma carta dirigida aos prefeitos de todo o<br />

País, convocando-os a mobilizar-se pelo<br />

combate à dengue.<br />

Resposta correta: alternativa C.<br />

H24 - Reconhecer no texto<br />

estratégias argumentativas<br />

empregadas para o<br />

convencimento do público,<br />

tais como a intimidação,<br />

sedução, comoção,<br />

chantagem, entre outras.<br />

01) (2001) O mundo é grande<br />

O mundo é grande e cabe<br />

Nesta janela sobre o mar.<br />

O mar é grande e cabe<br />

Na cama e no colchão de amar.<br />

O amor é grande e cabe<br />

No breve espaço de beijar.<br />

ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e prosa.<br />

Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983.<br />

Neste poema, o poeta realizou uma opção<br />

estilística: a reiteração de determinadas<br />

construções e expressões lingüísticas,<br />

como o uso da mesma conjunção para<br />

estabelecer a relação entre as frases.<br />

Essa conjunção estabelece, entre as<br />

idéias relacionadas, um sentido de<br />

A) oposição.<br />

B) comparação.<br />

C) conclusão.<br />

D) alternância.<br />

E) finalidade.<br />

Comentário<br />

Há três elementos repetidos neste trecho:<br />

o verbo ser, o artigo definido o e a conjunção<br />

aditiva e. A conjunção e estabelece uma<br />

relação entre idéias que, concretamente, são<br />

opostas (ex.: "O mundo é grande e cabe<br />

nesta janela sobre o mar"). A alternativa<br />

correta é a letra A.<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão apresenta, para leitura e<br />

análise, o poema "O mundo é grande", onde<br />

os recursos lingüísticos expressivos<br />

utilizados geram um efeito de oposição entre<br />

as idéias. A análise sintático-semântica é<br />

necessária para a compreensão do valor de<br />

oposição assumido pela conjunção "e":<br />

imagens justapostas estão relacionadas,<br />

contrapondo-se em planos diferentes. Um<br />

percentual significativo (46%) de<br />

participantes considerou que o valor da<br />

conjunção "e", nesse poema, é de<br />

comparação, o que não reflete o sentido<br />

estilístico proposto pelo poeta, mas<br />

corresponde apenas à primeira operação que<br />

se realiza para estabelecer o sentido de


oposição. De maneira análoga, pode-se<br />

analisar os equívocos daqueles que optaram<br />

pelas alternativas C e D.<br />

02) (1999) SONETO DE FIDELIDADE<br />

De tudo, ao meu amor serei atento<br />

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto<br />

Que mesmo em face do maior encanto<br />

Dele se encante mais meu pensamento.<br />

Quero vivê-lo em cada vão momento<br />

E em seu louvor hei de espalhar meu<br />

canto<br />

E rir meu riso e derramar meu pranto<br />

Ao seu pesar ou seu contentamento.<br />

E assim, quando mais tarde me procure<br />

Quem sabe a morte, angústia de quem<br />

vive<br />

Quem sabe a solidão, fim de quem ama.<br />

Eu possa dizer do meu amor (que tive):<br />

Que não seja imortal, posto que é chama<br />

Mas que seja infinito enquanto dure.<br />

(MORAES, Vinícius de. Antologia poética. São Paulo: Cia<br />

das Letras, 1992).<br />

A palavra mesmo pode assumir diferentes<br />

significados, de acordo com a sua função<br />

na frase. Assinale a alternativa em que o<br />

sentido de mesmo equivale ao que se<br />

verifica no 3º verso da 1ª estrofe do<br />

poema de Vinícius de Moraes.<br />

A) "Pai, para onde fores, / irei também<br />

trilhando as mesmas ruas..." (Augusto<br />

dos Anjos)<br />

B) "Agora, como outrora, há aqui o<br />

mesmo contraste da vida interior, que<br />

é modesta, com a exterior, que é<br />

ruidosa." (Machado de Assis)<br />

C) "Havia o mal, profundo e persistente,<br />

para o qual o remédio não surtiu efeito,<br />

mesmo em doses variáveis."<br />

(Raimundo Faoro)<br />

D) "Mas, olhe cá, Mana Glória, há<br />

mesmo necessidade de fazê-lo<br />

padre?" (Machado de Assis)<br />

E) "Vamos de qualquer maneira, mas<br />

vamos mesmo." (Aurélio)<br />

Comentário<br />

Nessa questão, uma pequena análise<br />

sintática se faz necessária: mesmo, em<br />

ambos os casos, é conjunção subordinativa<br />

concessiva, introduzindo, portanto, uma<br />

oração subordinada cujo fato expresso é<br />

contrário ao da oração principal. Deve-se,<br />

então, recorrer à oração anterior para se ter<br />

certeza quanto à classificação. Grau<br />

moderado de dificuldade.<br />

Comentário do INEP<br />

Este problema buscou colocar o<br />

participante diante de uma situação que<br />

exigia a mobilização de seus mecanismos de<br />

reflexão sobre os processos lingüísticos em<br />

que um significante (uma palavra) assume<br />

diferentes significados, no enunciado, de<br />

acordo com a intenção do enunciador. Neste<br />

caso, além da compreensão da<br />

transformação de significado, é necessária a<br />

alteração de função morfossintática.<br />

Verifica-se que 62% dos participantes<br />

conseguiram identificar e analisar esse<br />

processo lingüístico, comparando a função<br />

do significante em diferentes enunciados.<br />

Isso demonstrou um domínio parcial da<br />

reflexão sobre a Língua Portuguesa, em<br />

diferentes contextos e textos.<br />

Os 18% dos participantes que<br />

assinalaram a alternativa B identificaram a<br />

diferença de significados mas,<br />

provavelmente, têm dificuldades em analisar<br />

estas mudanças em nível morfossintático<br />

(alternativa B).<br />

03) ( 2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />

poema.<br />

A DANÇA E A ALMA<br />

A DANÇA? Não é movimento,<br />

súbito gesto musical.<br />

É concentração, num momento,<br />

da humana graça natural.<br />

No solo não, no éter pairamos,<br />

nele amaríamos ficar.<br />

A dança – não vento nos ramos:<br />

seiva, força, perene estar.<br />

Um estar entre céu e chão,<br />

novo domínio conquistado,<br />

onde busque nossa paixão<br />

libertar-se por todo lado...<br />

Onde a alma possa descrever<br />

suas mais divinas parábolas<br />

sem fugir à forma do ser,<br />

por sobre o mistério das fábulas.<br />

(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />

Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />

A definição de dança, em linguagem de<br />

dicionário, que mais se aproxima do que<br />

está expresso no poema é<br />

A) a mais antiga das artes, servindo como<br />

elemento de comunicação e afirmação<br />

do homem em todos os momentos de<br />

sua existência.<br />

421


B) a forma de expressão corporal que<br />

ultrapassa os limites físicos,<br />

possibilitando ao homem a liberação de<br />

seu espírito.<br />

C) a manifestação do ser humano,<br />

formada por uma seqüência de gestos,<br />

passos e movimentos desconcertados.<br />

D) o conjunto organizado de movimentos<br />

do corpo, com ritmo determinado por<br />

instrumentos musicais, ruídos, cantos,<br />

emoções etc.<br />

E) o movimento diretamente ligado ao<br />

psiquismo do indivíduo e, por<br />

conseqüência, ao seu desenvolvimento<br />

intelectual e à sua cultura.<br />

Comentário<br />

A pergunta busca a aplicação do conceito<br />

de "estado de dicionário" (que também foi<br />

desenvolvido por Drummond no poema "A<br />

Procura da Poesia"). A literatura busca partir<br />

de palavras em estado de dicionário para,<br />

pelo aprofundamento do sentido delas, criar<br />

um mundo mais denso e particular. Em<br />

estado de dicionário, a dança, conforme é<br />

tratada nesse poema, apareceria na<br />

alternativa B: uma justaposição entre<br />

aspectos físicos e espirituais da expressão<br />

humana. Questão complexa.<br />

A) éter. D) paixão.<br />

B) seiva. E) ser.<br />

C) chão.<br />

Comentário<br />

O elemento que contrasta com "solo"<br />

(físico, tangível, perene) é "éter" (espiritual,<br />

intangível, volátil). Questão de nível médio de<br />

dificuldade.<br />

05) ( 2008) O surgimento da figura da Ema<br />

no céu, ao leste, no anoitecer, na segunda<br />

quinzena de junho, indica o início do<br />

inverno para os índios do sul do Brasil e o<br />

começo da estação seca para os do norte.<br />

É limitada pelas constelações de<br />

Escorpião e do Cruzeiro do Sul, ou<br />

Cut'uxu. Segundo o mito guarani, o<br />

Cut’uxu segura a cabeça da ave para<br />

garantir a vida na Terra, porque, se ela se<br />

soltar, beberá toda a água do nosso<br />

planeta. Os tupisguaranis utilizam o<br />

Cut'uxu para se orientar e determinar a<br />

duração das noites e as estações do ano.<br />

A ilustração a seguir é uma representação<br />

dos corpos celestes que constituem a<br />

constelação da Ema, na percepção<br />

indígena.<br />

04) (2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />

poema.<br />

A DANÇA E A ALMA<br />

A DANÇA? Não é movimento,<br />

súbito gesto musical.<br />

É concentração, num momento,<br />

da humana graça natural.<br />

No solo não, no éter pairamos,<br />

nele amaríamos ficar.<br />

A dança – não vento nos ramos:<br />

seiva, força, perene estar.<br />

Um estar entre céu e chão,<br />

novo domínio conquistado,<br />

onde busque nossa paixão<br />

libertar-se por todo lado...<br />

Onde a alma possa descrever<br />

suas mais divinas parábolas<br />

sem fugir à forma do ser,<br />

por sobre o mistério das fábulas.<br />

(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />

Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />

Almanaque BRASIL, maio/2007 (com adaptações).<br />

A próxima figura mostra, em campo de<br />

visão ampliado, como povos de culturas<br />

não-indígenas percebem o espaço estelar<br />

em que a Ema é vista.<br />

O poema “A Dança e a Alma” é construído<br />

com base em contrastes, como<br />

“movimento” e “concentração”. Em uma<br />

das estrofes, o termo que estabelece<br />

contraste com solo é:<br />

Internet: (com adaptações).<br />

422


Assinale a opção correta a respeito da<br />

linguagem empregada no texto A Ema.<br />

A) A palavra Cut’uxu é um regionalismo<br />

utilizado pelas populações próximas às<br />

aldeias indígenas.<br />

B) O autor se expressa em linguagem<br />

formal em todos os períodos do texto.<br />

C) A ausência da palavra Ema no início do<br />

período “É limitada (...)” caracteriza<br />

registro oral.<br />

D) A palavra Cut’uxu está destacada em<br />

itálico porque integra o vocabulário da<br />

linguagem informal.<br />

E) No texto, predomina a linguagem<br />

coloquial porque ele consta de um<br />

almanaque.<br />

Comentário<br />

A questão é simples, mas requer cuidados<br />

quanto aos conceitos de linguagem<br />

“informal”, “formal” e de “língua”. Se o aluno<br />

tiver noção desses conceitos,<br />

chegará facilmente à resposta. A linguagem<br />

formal ou culta prevalece no texto, e o termo<br />

“Cut’uxu’ não é um termo informal, mas, sim,<br />

uma expressão que pertence a uma língua<br />

indígena — o que justifica o emprego da<br />

palavra em itálico. A resposta correta é,<br />

portanto, a letra "B".<br />

06) (2008) Calcula-se que 78% do<br />

desmatamento na Amazônia tenha sido<br />

motivado pela pecuária — cerca de 35%<br />

do rebanho nacional está na região — e<br />

que pelo menos 50 milhões de hectares<br />

de pastos são pouco produtivos. Enquanto<br />

o custo médio para aumentar a<br />

produtividade de 1 hectare de pastagem é<br />

de 2 mil reais, o custo para derrubar igual<br />

área de floresta é estimado em 800 reais,<br />

o que estimula novos desmatamentos.<br />

Adicionalmente, madeireiras retiram as<br />

árvores de valor comercial que foram<br />

abatidas para a criação de pastagens. Os<br />

pecuaristas sabem que problemas<br />

ambientais como esses podem provocar<br />

restrições à pecuária nessas áreas, a<br />

exemplo do que ocorreu em 2006 com o<br />

plantio da soja, o qual, posteriormente, foi<br />

proibido em áreas de floresta.<br />

Época, 3/3/2008 e 9/6/2008 (com adaptações).<br />

A partir da situação-problema descrita,<br />

conclui-se que<br />

A) o desmatamento na Amazônia decorre<br />

principalmente da exploração ilegal de<br />

árvores de valor comercial.<br />

B) um dos problemas que os pecuaristas<br />

vêm enfrentando na Amazônia é a<br />

proibição do plantio de soja.<br />

C) a mobilização de máquinas e de força<br />

humana torna o desmatamento mais<br />

caro que o aumento da produtividade<br />

de pastagens.<br />

D) o superavit comercial decorrente da<br />

exportação de carne produzida na<br />

Amazônia compensa a possível<br />

degradação ambiental.<br />

E) a recuperação de áreas desmatadas<br />

e o aumento de produtividade das<br />

pastagens podem contribuir para a<br />

redução do desmatamento na<br />

Amazônia.<br />

Comentário do portal<br />

Essa questão retrata o problema do<br />

desmatamento da Amazônia, relacionado<br />

principalmente com o desenvolvimento da<br />

pecuária na região. Para resolvê-la, foram<br />

necessários a leitura atenta do texto e o<br />

conhecimento sobre os problemas<br />

ambientais da atualidade. A alternativa<br />

correta é a letra E, pois é mais caro para os<br />

pecuaristas aumentar a produtividade do que<br />

as áreas de pasto, o que acarreta o aumento<br />

do desmatamento da Amazônia.<br />

07) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />

preciso, além de conhecer o padrão<br />

formal da Língua Portuguesa, saber<br />

adequar o uso da linguagem ao contexto<br />

discursivo. Para exemplificar este fato,<br />

seu professor de Língua Portuguesa<br />

convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />

Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />

brinca com situações de discurso oral que<br />

fogem à expectativa do ouvinte.<br />

Aí, Galera<br />

Jogadores de futebol podem ser<br />

vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />

você pode imaginar um jogador de futebol<br />

dizendo "estereotipação"? E, no<br />

entanto, por que não?<br />

- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />

galera.<br />

- Minha saudação aos aficionados do<br />

clube e aos demais esportistas, aqui<br />

presentes ou no recesso dos seus lares.<br />

- Como é?<br />

- Aí, galera.<br />

- Quais são as instruções do técnico?<br />

- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />

trabalho de contenção coordenada, com<br />

energia otimizada, na zona de<br />

423


424<br />

preparação, aumentam as<br />

probabilidades de, recuperado o<br />

esférico, concatenarmos um contragolpe<br />

agudo com parcimônia de meios e<br />

extrema objetividade, valendo-nos da<br />

desestruturação momentânea do<br />

sistema oposto, surpreendido pela<br />

reversão inesperada do fluxo da ação:<br />

- Ahn?<br />

- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />

pegá eles sem calça.<br />

- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />

coisa?<br />

- Posso dirigir uma mensagem de<br />

caráter sentimental, algo banal, talvez<br />

mesmo previsível e piegas, a uma<br />

pessoa à qual sou ligado por razões,<br />

inclusive, genéticas?<br />

- Pode.<br />

- Uma saudação para a minha<br />

progenitora.<br />

- Como é?<br />

- Alô, mamãe!<br />

- Estou vendo que você é um, um...<br />

- Um jogador que confunde o<br />

entrevistador, pois não corresponde à<br />

expectativa de que o atleta seja um ser<br />

algo primitivo com dificuldade de<br />

expressão e assim sabota a<br />

estereotipação?<br />

- Estereoquê?<br />

- Um chato?<br />

- Isso.<br />

Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />

O texto retrata duas situações<br />

relacionadas que fogem à expectativa do<br />

público. São elas:<br />

A) a saudação do jogador aos fãs do<br />

clube, no início da entrevista, e a<br />

saudação final dirigida à sua mãe.<br />

B) a linguagem muito formal do jogador,<br />

inadequada à situação da entrevista, e<br />

um jogador que fala, com desenvoltura,<br />

de modo muito rebuscado.<br />

C) o uso da expressão "galera", por parte<br />

do entrevistador, e da expressão<br />

"progenitora", por parte do jogador.<br />

D) o desconhecimento, por parte do<br />

entrevistador, da palavra<br />

"estereotipação", e a fala do jogador<br />

em "é pra dividir no meio e ir pra cima<br />

pra pegá eles sem calça".<br />

E) o fato de os jogadores de futebol serem<br />

vítimas de estereotipação e o jogador<br />

entrevistado não corresponder ao<br />

estereótipo.<br />

Comentário<br />

Quando pensamos em certas profissões,<br />

imaginamos qual seria o padrão de<br />

comportamento de quem as exerce. O texto<br />

está trabalhando uma divergência entre o<br />

que esperamos de um jogador de futebol (o<br />

estereótipo que temos dele) e um jogador<br />

que não se enquadra em nossas<br />

expectativas. Levando isso em consideração,<br />

as duas coisas que destoam do que<br />

esperamos encontrar nessa situação são: 1)<br />

alguém, ao dar uma entrevista de alto<br />

alcance popular, fala de maneira<br />

extremamente rebuscada; 2) um jogador que,<br />

ao falar de maneira rebuscada, acaba por<br />

fugir do estereótipo do jogador de futebol, de<br />

quem sempre é esperado algo menos<br />

rebuscado e mais popular.<br />

08) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />

preciso, além de conhecer o padrão<br />

formal da Língua Portuguesa, saber<br />

adequar o uso da linguagem ao contexto<br />

discursivo. Para exemplificar este fato,<br />

seu professor de Língua Portuguesa<br />

convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />

Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />

brinca com situações de discurso oral que<br />

fogem à expectativa do ouvinte.<br />

Aí, Galera<br />

Jogadores de futebol podem ser<br />

vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />

você pode imaginar um jogador de futebol<br />

dizendo "estereotipação"? E, no<br />

entanto, por que não?<br />

- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />

galera.<br />

- Minha saudação aos aficionados do<br />

clube e aos demais esportistas, aqui<br />

presentes ou no recesso dos seus lares.<br />

- Como é?<br />

- Aí, galera.<br />

- Quais são as instruções do técnico?<br />

- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />

trabalho de contenção coordenada, com<br />

energia otimizada, na zona de<br />

preparação, aumentam as<br />

probabilidades de, recuperado o<br />

esférico, concatenarmos um contragolpe<br />

agudo com parcimônia de meios e<br />

extrema objetividade, valendo-nos da<br />

desestruturação momentânea do<br />

sistema oposto, surpreendido pela<br />

reversão inesperada do fluxo da ação:<br />

- Ahn?<br />

- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />

pegá eles sem calça.


- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />

coisa?<br />

- Posso dirigir uma mensagem de<br />

caráter sentimental, algo banal, talvez<br />

mesmo previsível e piegas, a uma<br />

pessoa à qual sou ligado por razões,<br />

inclusive, genéticas?<br />

- Pode.<br />

- Uma saudação para a minha<br />

progenitora.<br />

- Como é?<br />

- Alô, mamãe!<br />

- Estou vendo que você é um, um...<br />

- Um jogador que confunde o<br />

entrevistador, pois não corresponde à<br />

expectativa de que o atleta seja um ser<br />

algo primitivo com dificuldade de<br />

expressão e assim sabota a<br />

estereotipação?<br />

- Estereoquê?<br />

- Um chato?<br />

- Isso.<br />

Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />

O texto mostra uma situação em que a<br />

linguagem usada é inadequada ao<br />

contexto. Considerando as diferenças<br />

entre língua oral e língua escrita, assinale<br />

a opção que representa também uma<br />

inadequação da linguagem usada ao<br />

contexto:<br />

A) "o carro bateu e capotô, mas num deu<br />

pra vê direito" - um pedestre que<br />

assistiu ao acidente comenta com o<br />

outro que vai passando.<br />

B) "E aí, ô meu! Como vai essa força?" -<br />

um jovem que fala para um amigo.<br />

C) "Só um instante, por favor. Eu<br />

gostaria de fazer uma observação" -<br />

alguém comenta em uma reunião de<br />

trabalho.<br />

D) "Venho manifestar meu interesse em<br />

candidatar-me ao cargo de Secretária<br />

Executiva desta conceituada empresa"<br />

- alguém que escreve uma carta<br />

candidatando-se a um emprego.<br />

E) "Porque se a gente não resolve as<br />

coisas como têm que ser, a gente corre<br />

o risco de termos, num futuro próximo,<br />

muito pouca comida nos lares<br />

brasileiros" - um professor universitário<br />

em um congresso internacional.<br />

Comentário<br />

Essa questão está trabalhando com as<br />

nossas expectativas. Esperamos encontrar,<br />

nas diferentes situações, linguagens que<br />

correspondam à formalidade (ou à<br />

informalidade) delas. Na alternativa E, como<br />

o professor universitário está falando em um<br />

congresso internacional, espera-se que ele<br />

utilize uma linguagem mais formal e não uma<br />

linguagem coloquial como a que usou. Em<br />

todas as outras situações, a linguagem está<br />

de acordo com a situação em que está sendo<br />

empregada.<br />

09) (2007) Texto I<br />

Agora Fabiano conseguia arranjar as<br />

idéias. O que o segurava era a família.<br />

Vivia preso como um novilho amarrado ao<br />

mourão, suportando ferro quente. Se não<br />

fosse isso, um soldado amarelo não lhe<br />

pisava o pé não. (...) Tinha aqueles<br />

cambões pendurados ao pescoço.<br />

Deveria continuar a arrastá-los? Sinha<br />

Vitória dormia mal na cama de varas. Os<br />

meninos eram uns brutos, como o pai.<br />

Quando crescessem, guardariam as reses<br />

de um patrão invisível, seriam pisados,<br />

maltratados, machucados por um soldado<br />

amarelo.<br />

Graciliano Ramos. Vidas Secas. São Paulo:<br />

Martins, 23.ª ed., 1969, p. 75.<br />

Texto II<br />

Para Graciliano, o roceiro pobre é um<br />

outro, enigmático, impermeável. Não há<br />

solução fácil para uma tentativa de<br />

incorporação dessa figura no campo da<br />

ficção. É lidando com o impasse, ao invés<br />

de fáceis soluções, que Graciliano vai<br />

criar Vidas Secas, elaborando uma<br />

linguagem, uma estrutura romanesca,<br />

uma constituição de narrador em que<br />

narrador e criaturas se tocam, mas não se<br />

identificam. Em grande medida, o debate<br />

acontece porque, para a intelectualidade<br />

brasileira naquele momento, o pobre, a<br />

despeito de aparecer idealizado em certos<br />

aspectos, ainda é visto como um ser<br />

humano de segunda categoria, simples<br />

demais, incapaz de ter pensamentos<br />

demasiadamente complexos. O que Vidas<br />

Secas faz é, com pretenso não<br />

envolvimento da voz que controla a<br />

narrativa, dar conta de uma riqueza<br />

humana de que essas pessoas seriam<br />

plenamente capazes.<br />

Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes. In:<br />

Teresa. São Paulo: USP, n.° 2, 2001, p. 254.<br />

No texto II, verifica-se que o autor utiliza<br />

A) linguagem predominantemente<br />

formal, para problematizar, na<br />

composição de Vidas Secas, a relação<br />

entre o escritor e o personagem<br />

popular.<br />

425


B) linguagem inovadora, visto que, sem<br />

abandonar a linguagem formal, dirigese<br />

diretamente ao leitor.<br />

C) linguagem coloquial, para narrar<br />

coerentemente uma história que<br />

apresenta o roceiro pobre de forma<br />

pitoresca.<br />

D) linguagem formal com recursos<br />

retóricos próprios do texto literário em<br />

prosa, para analisar determinado<br />

momento da literatura brasileira.<br />

E) linguagem regionalista, para transmitir<br />

informações sobre literatura, valendose<br />

de coloquialismo, para facilitar o<br />

entendimento do texto.<br />

Comentário<br />

Questão de nível médio. Algumas<br />

alternativas poderiam levar o candidato a<br />

pensar que o texto de Vidas Secas utiliza<br />

uma linguagem predominantemente coloquial<br />

e regionalista. Entretanto, é na alternativa A<br />

que se encontra o real estilo da linguagem<br />

utilizada por Graciliano Ramos. A linguagem<br />

é, portanto, predominantemente formal e<br />

problematiza a relação do escritor com o<br />

personagem popular. Esta acaba sendo uma<br />

das grandes características do autor, pois ele<br />

buscava sempre dar uma grande densidade<br />

psicológica aos seus romances.<br />

<strong>10</strong>) (2006) Depois de um bom jantar: feijão<br />

com carne-seca, orelha de porco e couve<br />

com angu, arroz-mole engordurado, carne<br />

de vento assada no espeto, torresmo<br />

enxuto de toicinho da barriga, viradinho de<br />

milho verde e um prato de caldo de couve,<br />

jantar encerrado por um prato fundo de<br />

canjica com torrões de açúcar, Nhô Tomé<br />

saboreou o café forte e se estendeu na<br />

rede. A mão direita sob a cabeça, à guisa<br />

de travesseiro, o indefectível cigarro de<br />

palha entre as pontas do indicador e do<br />

polegar, envernizados pela fumaça, de<br />

unhas encanoadas e longas, ficou-se de<br />

pança para o ar, modorrento, a olhar para<br />

as ripas do telhado.<br />

Quem come e não deita, a comida não<br />

aproveita, pensava Nhô Tomé... E pôs-se<br />

a cochilar. A sua modorra durou pouco;<br />

Tia Policena, ao passar pela sala, bradou<br />

assombrada:<br />

— Êêh! Sinhô! Vai drumi agora? Não!<br />

Num presta... Dá pisadêra e póde morrê<br />

de ataque de cabeça! Despois do armoço<br />

num far-má... mais despois da janta?!”<br />

Cornélio Pires. Conversas ao pé do fogo. São Paulo:<br />

Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1987.<br />

Nesse trecho, extraído de texto publicado<br />

originalmente em 1921, o narrador<br />

A) apresenta, sem explicitar juízos de<br />

valor, costumes da epoca, descrevendo<br />

os pratos servidos no jantar e a atitude<br />

de Nhô Tomé e de Tia Policena.<br />

B) desvaloriza a norma culta da língua<br />

porque incorpora à narrativa usos<br />

próprios da linguagem regional das<br />

personagens.<br />

C) condena os hábitos descritos, dando<br />

voz a Tia Policena, que tenta impedir<br />

Nhô Tomé de deitar-se após as<br />

refeições.<br />

D) utiliza a diversidade sociocultural e<br />

lingüística para demonstrar seu<br />

desrespeito às populações das zonas<br />

rurais do início do século XX.<br />

E) manifesta preconceito em relação a Tia<br />

Policena ao transcrever a fala dela com<br />

os erros próprios da região.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil, pois a alternativa<br />

"A" deixa clara a intencionalidade do<br />

narrador. Entretanto, o aluno poderia optar<br />

pela alternativa "B" caso não desse o devido<br />

valor ao sentido da palavra “desvaloriza”, que<br />

a elimina.<br />

11) (2006) Aula de português<br />

Explorando a função emotiva da<br />

linguagem, o poeta expressa o contraste<br />

entre marcas de variação de usos da<br />

linguagem em<br />

426


A) situações formais e informais.<br />

B) diferentes regiões do país.<br />

C) escolas literárias distintas.<br />

D) textos técnicos e poéticos.<br />

E) diferentes épocas.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil, pois o próprio título<br />

nos dá uma noção da dificuldade de<br />

transformar a linguagem coloquial e de uso<br />

cotidiano em uma linguagem formal,<br />

expressa no poema como “a misteriosa”.<br />

Drummond foi muito feliz em conseguir<br />

demonstrar a dificuldade em entender como<br />

estruturas simples da língua se tornam tão<br />

complexas ao se iniciar o processo de<br />

compreensão da estrutura lingüística.<br />

12) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />

preciso, além de conhecer o padrão<br />

formal da Língua Portuguesa, saber<br />

adequar o uso da linguagem ao contexto<br />

discursivo. Para exemplificar este fato,<br />

seu professor de Língua Portuguesa<br />

convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />

Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />

brinca com situações de discurso oral que<br />

fogem à expectativa do ouvinte.<br />

Aí, Galera<br />

Jogadores de futebol podem ser<br />

vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />

você pode imaginar um jogador de futebol<br />

dizendo "estereotipação"? E, no<br />

entanto, por que não?<br />

- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />

galera.<br />

- Minha saudação aos aficionados do<br />

clube e aos demais esportistas, aqui<br />

presentes ou no recesso dos seus lares.<br />

- Como é?<br />

- Aí, galera.<br />

- Quais são as instruções do técnico?<br />

- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />

trabalho de contenção coordenada, com<br />

energia otimizada, na zona de<br />

preparação, aumentam as<br />

probabilidades de, recuperado o<br />

esférico, concatenarmos um contragolpe<br />

agudo com parcimônia de meios e<br />

extrema objetividade, valendo-nos da<br />

desestruturação momentânea do<br />

sistema oposto, surpreendido pela<br />

reversão inesperada do fluxo da ação:<br />

- Ahn?<br />

- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />

pegá eles sem calça.<br />

- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />

coisa?<br />

- Posso dirigir uma mensagem de<br />

caráter sentimental, algo banal, talvez<br />

mesmo previsível e piegas, a uma<br />

pessoa à qual sou ligado por razões,<br />

inclusive, genéticas?<br />

- Pode.<br />

- Uma saudação para a minha<br />

progenitora.<br />

- Como é?<br />

- Alô, mamãe!<br />

- Estou vendo que você é um, um...<br />

- Um jogador que confunde o<br />

entrevistador, pois não corresponde à<br />

expectativa de que o atleta seja um ser<br />

algo primitivo com dificuldade de<br />

expressão e assim sabota a<br />

estereotipação?<br />

- Estereoquê?<br />

- Um chato?<br />

- Isso.<br />

Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />

A expressão "pegá eles sem calça"<br />

poderia ser substituída, sem<br />

comprometimento de sentido, em língua<br />

culta, formal, por:<br />

A) pegá-los na mentira.<br />

B) pegá-los desprevenidos.<br />

C) pegá-los em flagrante.<br />

D) pegá-los rapidamente.<br />

E) pegá-los momentaneamente<br />

Comentário<br />

O trabalho que temos aqui é de<br />

compreensão de sentido. Se você nunca<br />

ouviu a expressão "de calças na mão", terá<br />

de imaginar o que acontece quando<br />

pegamos alguém nessa situação. Mas isso<br />

não basta. Se usar somente situações que<br />

pode imaginar, restarão as alternativas B e<br />

C. Esse problema só será solucionado se<br />

você entender bem o texto a que ele se<br />

refere. Como o jogador está falando em<br />

roubar a bola e partir para cima do adversário<br />

rapidamente, imagina-se que o adversário<br />

não esperava perder a bola naquele<br />

momento e, quando isso ocorreu, ele não<br />

estava preparado para receber um contraataque.<br />

Utilizando essa análise, somente a<br />

alternativa B está correta.<br />

427


13) (2000) Em uma conversa ou leitura de<br />

um texto, corre-se o risco de atribuir um<br />

significado inadequado a um termo ou<br />

expressão, e isso pode levar a certos<br />

resultados inesperados, como se vê nos<br />

quadrinhos abaixo.<br />

significados correspondentes. Mesmo assim,<br />

11% dos participantes, possivelmente,<br />

desconhecem essa expressão ou não<br />

conseguiram realizar a transposição do<br />

significado humorístico da fala do último<br />

quadrinho.<br />

14) (2006) Aula de português<br />

(SOUZA, Maurício de. Chico Bento.<br />

Rio de Janeiro: Ed. Globo, n o 335, Nov./99 )<br />

Nessa historinha, o efeito humorístico<br />

origina-se de uma situação criada pela<br />

fala da Rosinha no primeiro quadrinho,<br />

que é:<br />

A) Faz uma pose bonita!<br />

B) Quer tirar um retrato?<br />

C) Sua barriga está aparecendo!<br />

D) Olha o passarinho!<br />

E) Cuidado com o flash!<br />

Comentário<br />

Quem não se lembra de expressões<br />

humorísticas usadas quando se deseja tirar<br />

uma foto, como "Olha o passarinho" ou "Fale<br />

xis"?<br />

Pois é, essa é uma questão fácil e a<br />

interpretação do texto é simples, e não há<br />

por que ter dúvidas quanto à resposta, a não<br />

ser que não se leia a proposta da questão.<br />

Comentário do INEP<br />

Essa questão procurou avaliar se o<br />

participante conseguia inferir, a partir de uma<br />

seqüência narrativa de imagens, a expressão<br />

lingüística adequada à situação de<br />

interlocução, no caso a fala da personagem,<br />

no primeiro quadrinho. A expressão de uso<br />

coloquial 'olha o passarinho!', dependendo do<br />

contexto, tem diferentes significados, que<br />

nesse caso foram associados pelo cartunista<br />

para produzir o efeito de humor. A grande<br />

maioria - 89% - dos participantes realizou a<br />

inferência solicitada, analisando a função da<br />

linguagem e identificando a variante<br />

lingüística adequada à situação de<br />

interlocução, com base na leitura da<br />

seqüência das imagens e da fala da<br />

personagem no terceiro quadrinho. É<br />

interessante notar a abrangência dessa<br />

expressão metafórica no Brasil, criada no<br />

contexto informal da fala com seus<br />

428<br />

No poema, a referência à variedade<br />

padrão da língua está expressa no<br />

seguinte trecho:<br />

A) “A linguagem / na ponta da língua” (v.1<br />

e 2).<br />

B) “A linguagem / na superfície<br />

estrelada de letras” (v.5 e 6).<br />

C) “[a língua] em que pedia para ir lá<br />

fora” (v.14).<br />

D) “[a língua] em que levava e dava<br />

pontapé” (v.15).<br />

E) “[a língua] do namoro com a priminha”<br />

(v.17).<br />

Comentário<br />

Questão fácil, pois a alternativa "B" é a<br />

única que faz menção à norma-padrão da<br />

língua. As demais alternativas fogem a essa<br />

norma.


15) (2005) Leia com atenção o texto:<br />

[Em Portugal], você poderá ter alguns<br />

probleminhas se entrar numa loja de<br />

roupas desconhecendo certas sutilezas da<br />

língua. Por exemplo, não adianta pedir<br />

para ver os ternos — peça para ver os<br />

fatos. Paletó é casaco. Meias são<br />

peúgas. Suéter é camisola — mas não<br />

se assuste, porque calcinhas femininas<br />

são cuecas. (Não é uma delícia?)<br />

(Ruy Castro. Viaje Bem. Ano VIII, no 3, 78.)<br />

O texto destaca a diferença entre o<br />

português do Brasil e o de Portugal<br />

quanto<br />

A) ao vocabulário.<br />

B) à derivação.<br />

C) à pronúncia.<br />

D) ao gênero.<br />

E) à sintaxe.<br />

Comentário<br />

Questão de entendimento muito fácil, pois<br />

o próprio enunciado deixa claro que se trata<br />

das diferenças de vocabulário entre o<br />

português brasileiro e o lusitano.<br />

16) (2008) A Lei Federal n.º 9.985/2000, que<br />

instituiu o sistema nacional de unidades<br />

de conservação, define dois tipos de<br />

áreas protegidas. O primeiro, as unidades<br />

de proteção integral, tem por objetivo<br />

preservar a natureza, admitindo-se<br />

apenas o uso indireto dos seus recursos<br />

naturais, isto é, aquele que não envolve<br />

consumo, coleta, dano ou destruição dos<br />

recursos naturais. O segundo, as<br />

unidades de uso sustentável, tem por<br />

função compatibilizar a conservação da<br />

natureza com o uso sustentável de<br />

parcela dos recursos naturais. Nesse<br />

caso, permite-se a exploração do<br />

ambiente de maneira a garantir a<br />

perenidade dos recursos ambientais<br />

renováveis e dos processos ecológicos,<br />

mantendo-se a biodiversidade e os<br />

demais atributos ecológicos, de forma<br />

socialmente justa e economicamente<br />

viável.<br />

Considerando essas informações, analise<br />

a seguinte situação hipotética.<br />

Ao discutir a aplicação de recursos<br />

disponíveis para o desenvolvimento de<br />

determinada região, organizações civis,<br />

universidade e governo resolveram<br />

investir na utilização de uma unidade de<br />

proteção integral, o Parque Nacional do<br />

Morro do Pindaré, e de uma unidade de<br />

uso sustentável, a Floresta Nacional do<br />

Sabiá. Depois das discussões, a equipe<br />

resolveu levar adiante três projetos:<br />

— o projeto I consiste de pesquisas<br />

científicas embasadas exclusivamente<br />

na observação de animais;<br />

— o projeto II inclui a construção de uma<br />

escola e de um centro de vivência;<br />

— o projeto III promove a organização de<br />

uma comunidade extrativista que<br />

poderá coletar e explorar<br />

comercialmente frutas e sementes<br />

nativas.<br />

Nessa situação hipotética, atendendo-se à<br />

lei mencionada acima, é possível<br />

desenvolver tanto na unidade de proteção<br />

integral quanto na de uso sustentável<br />

A) apenas o projeto I.<br />

B) apenas o projeto III.<br />

C) apenas os projetos I e II.<br />

D) apenas os projetos II e III.<br />

E) todos os três projetos.<br />

Comentário do portal<br />

A alternativa correta é a letra "A", pois,<br />

analisando-se a situação hipotética sugerida<br />

no enunciado, percebe-se que ela deverá<br />

atender os requisitos tanto da unidade de<br />

proteção integral quanto da unidade de uso<br />

sustentável. Portanto, apenas o projeto I<br />

poderá ser desenvolvido nessas duas<br />

propostas de unidades.<br />

17) (1999) Leia o texto abaixo.<br />

Cabelos longos, brinco na orelha<br />

esquerda, físico de skatista. Na aparência,<br />

o estudante brasiliense Rui Lopes Viana<br />

Filho, de 16 anos, não lembra em nada o<br />

estereótipo dos gênios. Ele não usa<br />

pesados óculos de grau e está longe de<br />

ter um ar introspectivo. No final do mês<br />

passado, Rui retornou de Taiwan, onde<br />

enfrentou 419 competidores de todo o<br />

mundo na 39ª Olimpíada Internacional de<br />

Matemática. A reluzente medalha de ouro<br />

que ele trouxe na bagagem está<br />

dependurada sobre a cama de seu quarto,<br />

atulhado de rascunhos dos problemas<br />

matemáticos que aprendeu a decifrar nos<br />

últimos cinco anos.<br />

Veja – Vencer uma olimpíada serve de<br />

passaporte para uma carreira profissional<br />

meteórica?<br />

Rui – Nada disso. Decidi me dedicar à<br />

Olimpíada porque sei que a concorrência<br />

por um emprego é cada vez mais<br />

selvagem e cruel. Agora tenho algo a mais<br />

para oferecer. O problema é que as coisas<br />

429


estão mudando muito rápido e não sei<br />

qual será minha profissão. Além de ser<br />

muito novo para decidir sobre o meu<br />

futuro profissional, sei que esse conceito<br />

de carreira mudou muito.<br />

(Entrevista de Rui Lopes Viana Filho à Veja,<br />

05/08/1998, n.31, p. 9-<strong>10</strong>)<br />

Na pergunta, o repórter estabelece uma<br />

relação entre a entrada do estudante no<br />

mercado de trabalho e a vitória na<br />

Olimpíada. O estudante<br />

A) concorda com a relação e afirma que o<br />

desempenho na Olimpíada é<br />

fundamental para sua entrada no<br />

mercado.<br />

B) discorda da relação e complementa<br />

que é fácil se fazer previsões sobre o<br />

mercado de trabalho.<br />

C) discorda da relação e afirma que seu<br />

futuro profissional independe de<br />

dedicação aos estudos.<br />

D) discorda da relação e afirma que seu<br />

desempenho só é relevante se<br />

escolher uma profissão relacionada à<br />

matemática.<br />

E) concorda em parte com a relação e<br />

complementa que é complexo fazer<br />

previsões sobre o mercado de trabalho.<br />

Comentário<br />

Não é difícil de se chegar à resposta<br />

correta ao se ler a reportagem. Ao final do<br />

último parágrafo — (...) Além de ser muito<br />

novo para decidir sobre o meu futuro<br />

profissional, sei que esse conceito de carreira<br />

mudou muito. —, o estudante praticamente<br />

fornece a resposta à questão, declarando-se<br />

realista ao não tentar prever seu futuro<br />

profissional devido à pouca idade e às<br />

mudanças no mercado de trabalho. Quanto a<br />

concordar parcialmente com o repórter, veja<br />

que ele, apesar de negar que o prêmio fosse<br />

uma garantia de sucesso profissional, logo<br />

depois afirma que, com ele, terá algo mais a<br />

oferecer ao mercado. Questão de nível fácil.<br />

Comentário do INEP<br />

Nesta situação-problema, o participante<br />

deveria demonstrar que compreendeu as<br />

premissas de um discurso, distinguindo a<br />

diferença de significado de palavras isoladas<br />

ou no contexto em que estão inseridas.<br />

Verificou-se que mais da metade dos<br />

participantes demonstrou possuir essa<br />

compreensão. Aqueles que optaram pelas<br />

alternativas C e D podem ter sido atraídos<br />

pelo significado negativo da expressão inicial<br />

"Nada disso".<br />

18) (1998) Texto 1<br />

"Mulher, Irmã, escuta-me: não ames,<br />

Quando a teus pés um homem terno e<br />

curvo<br />

jurar amor, chorar pranto de sangue,<br />

Não creias, não, mulher: ele te engana!<br />

As lágrimas são gotas da mentira<br />

E o juramento manto da perfídia."<br />

(Joaquim Manoel de Macedo)<br />

Texto 2<br />

"Teresa, se algum sujeito bancar o<br />

sentimental em cima de você<br />

E te jurar uma paixão do tamanho de um<br />

bonde<br />

Se ele chorar<br />

Se ele ajoelhar<br />

Se ele se rasgar todo<br />

Não acredite não Teresa<br />

É lágrima de cinema<br />

É tapeação<br />

Mentira<br />

CAI FORA"<br />

(Manuel Bandeira)<br />

Os autores, ao fazerem alusão às<br />

imagens da lágrima sugerem que:<br />

A) há um tratamento idealizado da<br />

relação homem/mulher.<br />

B) há um tratamento realista da relação<br />

homem/mulher.<br />

C) a relação familiar é idealizada.<br />

D) a mulher é superior ao homem.<br />

E) a mulher é igual ao homem.<br />

Comentário<br />

Ambos os autores, ao utilizarem a<br />

imagem da lágrima, estão na realidade<br />

mostrando que a figura do homem que é<br />

romântico a ponto de chorar ao jurar amor<br />

não existe. Tanto Macedo quanto<br />

Bandeira alertam as mulheres dizendo,<br />

com palavras e estilos diferentes, que não<br />

há homem que chore por amor (portanto,<br />

essa figura é uma idealização — e, por<br />

conseguinte, toda imagem que se tem<br />

sobre os relacionamentos<br />

demasiadamente românticos). Note que<br />

Bandeira chega até mesmo a chamar tal<br />

"chorão" de ator ("...É lágrima de cinema /<br />

É tapeação..."). Macedo dá uma imagem<br />

pesada às lágrimas ("...são gotas da<br />

mentira...").<br />

430


19) (1999)<br />

(QUINO. Mafalda inédita. São Paulo: Martins Fontes, 1993)<br />

Observando as falas das personagens,<br />

analise o emprego do pronome SE e o<br />

sentido que adquire no contexto. No<br />

contexto da narrativa, é correto afirmar<br />

que o pronome SE:<br />

A) em I, indica reflexividade e equivale a<br />

"a si mesmas".<br />

B) em II, indica reciprocidade e equivale a<br />

"a si mesma".<br />

C) em III, indica reciprocidade e equivale<br />

a "umas às outras".<br />

D) em I e III, indica reciprocidade e<br />

equivale a "umas às outras".<br />

E) em II e III, indica reflexividade e<br />

equivale a "a si mesma " e "a si<br />

mesmas", respectivamente.<br />

Comentário<br />

Mais uma questão que fala por si própria.<br />

Lendo o segundo quadrinho — "Quer dizer<br />

que você também se ama muito mais no<br />

Natal?" —, é fácil de se identificar o pronome<br />

reflexivo. Basta que se troque se ama por<br />

ama a si mesma. O mesmo ocorre no<br />

terceiro quadrinho em "Por que será que as<br />

pessoas se amam muito mais no Natal?" —<br />

Por que será que as pessoas amam a si<br />

mesmas? Questão de grau fácil.<br />

Comentário do INEP<br />

Este problema requeria que o participante<br />

mobilizasse conhecimentos sobre os<br />

significados de "reciprocidade e<br />

"reflexividade" e o associasse à<br />

compreensão de linguagem iconográfica.<br />

Cerca de metade dos participantes<br />

demonstrou essa capacidade. A opção de<br />

30% dos participantes pela alternativa D<br />

pode indicar que eles utilizaram as imagens<br />

apenas como ilustração do texto e não como<br />

linguagem capaz de instituir novos<br />

significados.<br />

20) (2001) Os provérbios constituem um<br />

produto da sabedoria popular e, em geral,<br />

pretendem transmitir um ensinamento. A<br />

alternativa em que os dois provérbios<br />

remetem a ensinamentos semelhantes é:<br />

A) “Quem diz o que quer, ouve o que não<br />

quer” e “Quem ama o feio, bonito lhe<br />

parece”.<br />

B) “Devagar se vai ao longe” e “De grão<br />

em grão, a galinha enche o papo”.<br />

C) “Mais vale um pássaro na mão do que<br />

dois voando” e “Não se deve atirar<br />

pérolas aos porcos”.<br />

D) “Quem casa quer casa” e “Santo de<br />

casa não faz milagre”.<br />

E) “Quem com ferro fere, com ferro será<br />

ferido” e “Casa de ferreiro, espeto de<br />

pau”.<br />

Comentário<br />

Questão fácil. A alternativa B apresenta<br />

dois provérbios que tratam de paciência,<br />

perseverança. A mensagem é a mesma em<br />

ambos.<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão propõe uma série de<br />

provérbios agrupados aos pares, para que o<br />

participante demonstre compreender e<br />

comparar os provérbios de modo a identificar<br />

aqueles que traduzem ensinamentos<br />

semelhantes. A organização sintáticosemântica<br />

dos provérbios cria um efeito de<br />

sentido metafórico que deve ser recuperado,<br />

analisado e comparado, o que foi<br />

corretamente feito por cerca de 80% dos<br />

participantes.<br />

21) (2006) No romance Vidas Secas, de<br />

Graciliano Ramos, o vaqueiro Fabiano<br />

encontra-se com o patrão para receber o<br />

salário. Eis parte da cena:<br />

Graciliano Ramos. Vidas Secas. 91.ª ed.<br />

Rio de Janeiro: Record, 2003.<br />

No fragmento transcrito, o padrão formal<br />

da linguagem convive com marcas de<br />

regionalismo e de coloquialismo no<br />

vocabulário. Pertence à variedade do<br />

padrão formal da linguagem o seguinte<br />

trecho:<br />

A) Não se conformou: devia haver<br />

engano (l.1).<br />

431


B) Fabiano perdeu os estribos (l.3).<br />

C) Passar a vida inteira assim no toco<br />

(l.4).<br />

D) Entregando o que era dele de mao<br />

beijada! (l.4-5).<br />

E) Aí Fabiano baixou a pancada e<br />

amunhecou (l.11).<br />

Comentário do portal<br />

Questão de nível fácil. Bastaria que o<br />

candidato conhecesse o padrão formal da<br />

linguagem e distinguisse-o do regionalismo e<br />

do coloquialismo.<br />

22) (2005) As dimensões continentais do<br />

Brasil são objeto de reflexões expressas<br />

em diferentes linguagens. Esse tema<br />

aparece no seguinte p"Narizinho correu os<br />

olhos pela assistência. Não podia haver nada<br />

mais curioso. Besourinhos de oema:<br />

“(....)<br />

Que importa que uns falem mole<br />

descansado<br />

Que os cariocas arranhem os erres na<br />

garganta<br />

Que os capixabas e paroaras escancarem<br />

as vogais?<br />

Que tem se o quinhentos réis meridional<br />

Vira cinco tostões do Rio pro Norte?<br />

Junto formamos este assombro de<br />

misérias e grandezas,<br />

Brasil, nome de vegetal! (....)”<br />

(Mário de Andrade. Poesias completas. 6. ed. São Paulo:<br />

Martins Editora, 1980.)<br />

O texto poético ora reproduzido trata das<br />

diferenças brasileiras no âmbito<br />

A) étnico e religioso.<br />

B) lingüístico e econômico.<br />

C) racial e folclórico.<br />

D) histórico e geográfico.<br />

E) literário e popular.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil, pois a primeira<br />

estrofe, ao enunciar os erres arranhados dos<br />

cariocas e as vogais abertas dos capixabas,<br />

evidencia a diferença lingüística entre duas<br />

regiões distintas do Brasil, dando noção da<br />

variedade. Já na segunda estrofe, as<br />

diferenças econômicas são evidenciadas ao<br />

se mostrarem os réis e tostões variando da<br />

Região Meridional para a Norte.<br />

23) (202) "Narizinho correu os olhos pela<br />

assistência. Não podia haver nada mais<br />

curioso. Besourinhos de fraque e flores na<br />

lapela conversavam com baratinhas de<br />

mantilha e miosótis nos cabelos. Abelhas<br />

douradas, verdes e azuis, falavam mal<br />

das vespas de cintura fina — achando que<br />

era exagero usarem coletes tão<br />

apertados. Sardinhas aos centos<br />

criticavam os cuidados excessivos que as<br />

borboletas de toucados de gaze tinham<br />

com o pó das suas asas. Mamangavas de<br />

ferrões amarrados para não morderem. E<br />

canários cantando, e beija-flores beijando<br />

flores, e camarões camaronando, e<br />

caranguejos caranguejando, tudo que é<br />

pequenino e não morde, pequeninando e<br />

não mordendo."<br />

LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. São Paulo:<br />

Brasiliense, 1947.<br />

No último período do trecho, há uma série<br />

de verbos no gerúndio que contribuem<br />

para caracterizar o ambiente fantástico<br />

descrito. Expressões como<br />

"camaronando", "caranguejando" e<br />

"pequeninando e não mordendo" criam,<br />

principalmente, efeitos de<br />

A) esvaziamento de sentido.<br />

B) monotonia do ambiente.<br />

C) estaticidade dos animais.<br />

D) interrupção dos movimentos.<br />

E) dinamicidade do cenário.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. O dinamismo dos<br />

verbos no gerúndio tem como função<br />

principal dar vida às personagens do mundo<br />

fantástico. Não há estagnação. Cada animal<br />

faz o que lhe cabe.<br />

Comentário do INEP<br />

Essa questão apresenta para leitura e<br />

análise um trecho da obra Reinações de<br />

Narizinho, de Monteiro Lobato, e, nele, a<br />

descrição reflete as fantasias do mundo<br />

infantil. A questão propõe que seja resolvido<br />

um problema de linguagem, que é a<br />

identificação dos sentidos criados no texto<br />

pelo emprego de vários verbos no gerúndio,<br />

alguns dos quais, neologismos criados pelo<br />

autor. Como o texto é uma descrição, temos<br />

o relato de um ambiente que se agita com as<br />

ações simultâneas dos muitos seres que o<br />

habitam. Cabe ao participante perceber que<br />

o efeito dinâmico é criado pelos verbos de<br />

ação no gerúndio, que é a forma verbal da<br />

ação se fazendo. Ou seja, é função típica do<br />

gerúndio traduzir a noção de uma ação que<br />

se desenvolve de modo simultâneo à sua<br />

enunciação. Nesse ambiente retratado por<br />

Monteiro Lobato, os bichinhos humanizados<br />

se agitam, lembrando um burburinho de<br />

432


crianças. Apenas a alternativa E, assinalada<br />

por 36% dos participantes, responde<br />

corretamente a questão. As outras<br />

alternativas contemplam efeitos ou<br />

significados que, apesar de eventualmente<br />

serem transmitidos pelo emprego do<br />

gerúndio, não se verificam no texto.<br />

24) (1999) Considere os textos abaixo.<br />

(...) de modo particular, quero encorajar os<br />

crentes empenhados no campo da<br />

filosofia para que iluminem os diversos<br />

âmbitos da atividade humana, graças ao<br />

exercício de uma razão que se torna mais<br />

segura e perspicaz com o apoio que<br />

recebe da fé.<br />

(Papa João Paulo II. Carta Encíclica Fides<br />

et Ratio aos bispos da igreja católica sobre as relações<br />

entre fé e razão, 1998)<br />

As verdades da razão natural não<br />

contradizem as verdades da fé cristã.<br />

(São Tomás de Aquino<br />

–pensador medieval)<br />

Refletindo sobre os textos, pode-se<br />

concluir que:<br />

A) a encíclica papal está em contradição<br />

com o pensamento de São Tomás de<br />

Aquino, refletindo a diferença de<br />

épocas.<br />

B) a encíclica papal procura<br />

complementar São Tomás de Aquino,<br />

pois este colocava a razão natural<br />

acima da fé.<br />

C) a Igreja medieval valorizava a razão<br />

mais do que a encíclica de João Paulo<br />

II.<br />

D) o pensamento teológico teve sua<br />

importância na Idade Média, mas, em<br />

nossos dias, não tem relação com o<br />

pensamento filosófico.<br />

E) tanto a encíclica papal como a frase<br />

de São Tomás de Aquino procuram<br />

conciliar os pensamentos sobre fé e<br />

razão.<br />

Comentário<br />

Nessa questão, é necessária uma<br />

releitura do texto para que se tenha uma<br />

melhor compreensão do tema. Tanto a<br />

citação do Papa quanto a de São Tomás de<br />

Aquino tentam criar uma interdependência<br />

entre a ciência e a fé, a religião. O Papa<br />

incentiva aqueles que exercem a pesquisa<br />

científica ou filosófica a manter a fé cristã.<br />

São Tomás de Aquino, por sua vez, equipara<br />

o avanço da ciência ao aumento da própria<br />

fé, afirmando que a razão natural não<br />

contradiz a fé cristã. Se um cresce, cresce<br />

também o outro, em harmonia e sem<br />

contradições. Questão de grau médio.<br />

(Português)<br />

Nessa questão, encontramos dois textos:<br />

o primeiro, do século XX, foi elaborado pelo<br />

Papa João Paulo II; o segundo, do século<br />

XIII, pelo teólogo e filósofo cristão São<br />

Tomás de Aquino. O conteúdo de ambos se<br />

refere à ligação entre fé e razão, a qual<br />

esteve presente na filosofia escolástica da<br />

Idade Média. Esse campo de reflexão buscou<br />

conciliar o cristianismo com o pensamento de<br />

Aristóteles e teve em São Tomás de Aquino<br />

seu maior representante.<br />

Mesmo sem ter todas essas informações,<br />

você poderia responder tranqüilamente à<br />

questão por meio de uma leitura atenta dos<br />

dois textos, chegando à conclusão de que<br />

"tanto a encíclica papal como a frase de São<br />

Tomás de Aquino procuram conciliar os<br />

pensamentos sobre fé e razão". Resposta<br />

correta: alternativa E. (História)<br />

Comentário do INEP<br />

Para resolver esta situação-problema, o<br />

participante deveria mostrar que, além de<br />

interpretar textos, sabe relacioná-los sendo<br />

que, nesse item, essas operações referem-se<br />

a um texto escrito na época medieval e a<br />

outro escrito recentemente.<br />

Mais de 70% dos participantes<br />

demonstraram facilidade em estabelecer esta<br />

relação.<br />

25) (2008) Assinale a opção que apresenta<br />

um verso do soneto de Cláudio Manoel da<br />

Costa em que o poeta se dirige ao seu<br />

interlocutor.<br />

A) “Torno a ver-vos, ó montes; o<br />

destino” (v.1)<br />

B) “Aqui estou entre Almendro, entre<br />

Corino,” (v.5)<br />

C) “Os meus fiéis, meus doces<br />

companheiros,” (v.6)<br />

D) “Vendo correr os míseros vaqueiros”<br />

(v.7)<br />

E) “Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto,”<br />

(v.11)<br />

Comentário<br />

Nesta questão, basta que o aluno<br />

identifique o pronome oblíquo, presente no<br />

verso um, que chama o leitor para o texto.<br />

Sendo assim, a resposta correta é a letra "A".<br />

433


26) (2008)<br />

Dick Browne. O melhor de Hagar, o horrível, v. 2. L&PM<br />

pocket, p.55-6 (com adaptações).<br />

Assinale o trecho do diálogo que<br />

apresenta um registro informal, ou<br />

coloquial, da linguagem.<br />

A) “Tá legal, espertinho! Onde é que<br />

você esteve?!”<br />

B) “E lembre-se: se você disser uma<br />

mentira, os seus chifres cairão!”<br />

C) “Estou atrasado porque ajudei uma<br />

velhinha a atravessar a rua...”<br />

D) “...e ela me deu um anel mágico que<br />

me levou a um tesouro”<br />

E) “mas bandidos o roubaram e os<br />

persegui até a Etiópia, onde um<br />

dragão...”<br />

Comentário<br />

Linguagem coloquial é aquela usada no<br />

cotidiano, que tem como característica<br />

principal a oralidade, ou seja, aquela que não<br />

segue o rigor da norma culta.<br />

Entre as alternativas da questão, apenas<br />

a letra "A" apresenta esses traços.<br />

27) (1999) Leia um texto publicado no jornal<br />

Gazeta Mercantil. Esse texto é parte de<br />

um artigo que analisa algumas situações<br />

de crise no mundo, entre elas, a quebra<br />

da Bolsa de Nova Iorque em 1929, e foi<br />

publicado na época de uma iminente crise<br />

financeira no Brasil.<br />

Deu no que deu. No dia 29 de outubro de<br />

1929, uma terça-feira, praticamente não<br />

havia compradores no pregão de Nova<br />

Iorque, só vendedores. Seguiu-se uma<br />

crise incomparável: o Produto Interno<br />

Bruto dos Estados Unidos caiu de <strong>10</strong>4<br />

bilhões de dólares em 1929, para 56<br />

bilhões em 1933, coisa inimaginável em<br />

nossos dias. O valor do dólar caiu a quase<br />

metade. O desemprego elevou-se de 1,5<br />

milhão para 12,5 milhões de trabalhadores<br />

– cerca de 25% da população ativa –<br />

entre 1929 e 1933. A construção civil caiu<br />

90%. Nove milhões de aplicações, tipo<br />

caderneta de poupança, perderam-se com<br />

o fechamento dos bancos. Oitenta e cinco<br />

mil firmas faliram. Houve saques e norteamericanos<br />

que passaram fome.<br />

(Gazeta Mercantil, 05/01/1999)<br />

Ao citar dados referentes à crise ocorrida<br />

em 1929, em um artigo jornalístico atual,<br />

pode-se atribuir ao jornalista a seguinte<br />

intenção:<br />

A) questionar a interpretação da crise.<br />

B) comunicar sobre o desemprego.<br />

C) instruir o leitor sobre aplicações em<br />

bolsa de valores.<br />

D) relacionar os fatos passados e<br />

presentes.<br />

E) analisar dados financeiros americanos.<br />

Comentário<br />

Nessa questão, o que se tem de fazer é<br />

prestar atenção às alternativas das<br />

respostas. Nenhuma delas se apresenta tão<br />

bem contextualizada a uma possível<br />

interpretação quanto a letra D. Partindo-se da<br />

análise do texto, fica claro que a intenção do<br />

artigo é remeter o leitor ao passado para<br />

tentar conduzi-lo a uma reflexão sobre uma<br />

situação presente, não mencionada na<br />

questão. Após a leitura e utilizando-se a já<br />

citada eliminação de questões, torna-se clara<br />

a resposta. Questão de nível médio.<br />

(Português)<br />

Muitas vezes, quando procuramos<br />

entender uma crise econômica ou financeira<br />

de grandes proporções, buscamos<br />

estabelecer relações com crises passadas. O<br />

mesmo ocorre no jornalismo, como prova o<br />

texto encontrado nessa questão. Buscando<br />

entender uma crise ocorrida no início de<br />

1999, o jornalista da Gazeta Mercantil<br />

buscou relacionar a situação dessa época<br />

com a grande crise de 1929 que afetou o<br />

mundo, trazendo desemprego e recessão,<br />

entre tantos outros problemas econômicos e<br />

sociais.<br />

Para responder a essa questão, era<br />

necessário ler atentamente o enunciado, em<br />

que está destacado que "o texto é parte de<br />

um artigo que analisa algumas situações de<br />

crise no mundo" e "foi publicado na época de<br />

uma iminente crise financeira no Brasil". Era<br />

importante também observar a data em que o<br />

artigo foi publicado: 05/01/1999. A partir<br />

dessas constatações, facilmente você<br />

434


chegaria a conclusão de que a intenção do<br />

jornalista era "relacionar os fatos passados e<br />

presentes". Resposta correta: alternativa D.<br />

(História)<br />

Comentário do INEP<br />

A resolução da questão demandava a<br />

capacidade dos participantes de relacionar<br />

eventos históricos envolvendo crises<br />

econômicas ocorridas em épocas e lugares<br />

distintos. Aproximadamente 2/3 deles<br />

demonstraram essa capacidade. Os demais,<br />

provavelmente, não compreenderam a<br />

exigência expressa no enunciado do<br />

problema – apontar as razões pelas quais um<br />

jornalista traz à tona eventos ocorridos<br />

setenta anos antes –, e apenas interpretaram<br />

o sentido do texto citado, que descreve a<br />

crise mundial de 1929.<br />

28) (2000) “Precisa-se nacionais sem<br />

nacionalismo, (...) movidos pelo presente<br />

mas estalando naquele cio racial que só<br />

as tradições maduram! (...). Precisa-se<br />

gentes com bastante meiguice no<br />

sentimento, bastante força na peitaria,<br />

bastante paciência no entusiasmo e<br />

sobretudo, oh! sobretudo bastante<br />

vergonha na cara!<br />

(...) Enfim: precisa-se brasileiros! Assim<br />

está escrito no anúncio vistoso de cores<br />

desesperadas pintado sobre o corpo do<br />

nosso Brasil, camaradas.”<br />

(Jornal A Noite, São Paulo, 18/12/1925 apud LOPES, Telê<br />

Porto Ancona. Mário<br />

de Andrade: ramais e caminhos. São Paulo: Duas<br />

Cidades, 1972)<br />

No trecho acima, Mário de Andrade dá<br />

forma a um dos itens do ideário<br />

modernista, que é o de firmar a feição de<br />

uma língua mais autêntica, “brasileira”, ao<br />

expressar-se numa variante de linguagem<br />

popular identificada pela (o):<br />

A) escolha de palavras como cio, peitaria,<br />

vergonha.<br />

B) emprego da pontuação.<br />

C) repetição do adjetivo bastante.<br />

D) concordância empregada em Assim<br />

está escrito.<br />

E) escolha de construção do tipo<br />

precisa-se gentes.<br />

Comentário<br />

Apesar de essa questão misturar vários<br />

tipos de informação, se você se lembra um<br />

pouquinho dos usos da partícula se, com<br />

certeza não encontrará grande dificuldade.<br />

Segundo a regra gramatical, o verbo<br />

"precisa-se" deveria ir para o plural<br />

(precisam-se), mas essa noção de verbo<br />

concordante com o sujeito há muito<br />

desapareceu na variante popular brasileira.<br />

Mas, caso você não se lembre muito bem<br />

desse assunto ou ficou meio confuso com o<br />

texto e as outras alternativas, o caminho é<br />

responder por eliminação.<br />

A primeira alternativa apresenta palavras<br />

comuns no português brasileiro, mas<br />

nenhuma "invenção" nacional. Na dúvida,<br />

pense em "vergonha": não é uma invenção<br />

brasileira. Todos os que falam português no<br />

mundo conhecem bem essa palavra. A<br />

pontuação no texto não chama nenhuma<br />

atenção. Você provavelmente não viu nada<br />

de estranho nela. Da mesma forma, o<br />

"bastante" da terceira alternativa não é nada<br />

mais que um mecanismo de retórica, usado<br />

para dar ênfase à idéia. Com o "Assim está<br />

escrito", encontramos a mesma situação: um<br />

trecho litúrgico é usado para maior ênfase.<br />

Comentário do INEP<br />

A questão procurou avaliar se o<br />

participante era capaz de, a partir da leitura<br />

de um texto de Mário de Andrade , identificar<br />

e analisar uma variante lingüística de uso<br />

coloquial, utilizadas estilisticamente pelo<br />

autor. O uso estilístico das variantes marcou<br />

a primeira fase da literatura brasileira<br />

modernista. O trecho destaca em seu todo<br />

esse uso da linguagem popular. A escolha da<br />

construção 'precisa-se gentes' é marca desse<br />

uso estilístico. O índice de 37% na alternativa<br />

(A) demonstra, possivelmente, que os<br />

participantes não consideraram a escolha<br />

dos vocábulos, dentro do contexto do texto,<br />

confundindo as palavras que aparecem na<br />

alternativa com '...a feição de uma língua<br />

mais autêntica...'.O percentual de acertos foi<br />

da ordem de 40%.<br />

29) (2004) O poema abaixo pertence à<br />

poesia concreta brasileira. O termo latino<br />

de seu título significa "epitalâmio", poema<br />

ou canto em homenagem aos que se<br />

casam.<br />

435


Considerando que símbolos e sinais são<br />

utilizados geralmente para demonstrações<br />

objetivas, ao serem incorporados no<br />

poema "Epithalamium - II".<br />

A) adquirem novo potencial de<br />

significação.<br />

B) eliminam a subjetividade do poema.<br />

C) opõem-se ao tema principal do poema.<br />

D) invertem seu sentido original.<br />

E) tornam-se confusos e equivocados.<br />

Comentário<br />

Diferentemente, por exemplo, da<br />

aplicação matemática dos símbolos, em que<br />

sinais como "=", "+", "-", "x", etc. servem<br />

como convenções internacionais de<br />

significação objetiva e invariável, em um<br />

poema como "Epithalamium – II" foram<br />

usados símbolos que não são convenções<br />

internacionais, mas, sim, convencionados<br />

apenas para esse texto. No caso, letras do<br />

alfabeto deixam de ser representações de<br />

sons (fonemas) para ganharem nova<br />

significação, principalmente pela construção<br />

visual do poema: unem homem (h) e mulher<br />

(e) pela ação da serpente (s) — libido,<br />

atração — em uma entidade única.<br />

Uma das tendências poéticas da segunda<br />

metade do século XX, resultado de um<br />

diálogo com estéticas já presentes no final do<br />

século XIX, trabalha com a construção de<br />

seu próprio referente, fazendo do poema um<br />

objeto autônomo.<br />

A)<br />

B)<br />

C)<br />

30) (2002) O autor da tira utilizou os<br />

princípios de composição de um<br />

conhecido movimento artístico para<br />

representar a necessidade de um mesmo<br />

observador aprender a considerar,<br />

simultaneamente, diferentes pontos de<br />

vista.<br />

D)<br />

Das obras reproduzidas, todas de autoria<br />

do pintor espanhol Pablo Picasso, aquela<br />

em cuja composição foi adotado um<br />

procedimento semelhante é:<br />

E)<br />

436


Comentário<br />

Questão de nível fácil. O movimento<br />

artístico que previa considerar<br />

simultaneamente diversos pontos de vista<br />

era o Cubismo. Havia a desconstrução da<br />

forma para que se pudesse ver todos os<br />

ângulos concomitantemente. O único quadro<br />

que apresenta essas características é o da<br />

alternativa E. As outras quatro alternativas<br />

pressupõem a manutenção da forma.<br />

Comentário do INEP<br />

O objetivo desta questão é levar o<br />

participante a refletir sobre características<br />

fundamentais de um movimento artístico – o<br />

cubismo – a partir de dados visuais:<br />

quadrinhos e pinturas. A reprodução de dois<br />

quadrinhos da personagem Calvin forneceu<br />

para o participante informações básicas para<br />

a análise que deveria fazer das alternativas<br />

apresentadas. Segundo os quadrinhos, o<br />

movimento artístico abordado pela questão<br />

tinha como procedimento de composição<br />

representar, para um mesmo observador,<br />

diferentes pontos de vista, fazendo com que<br />

"o tradicional único ponto de vista" fosse<br />

abandonado e com que a perspectiva fosse<br />

fraturada. A análise das obras de Picasso<br />

reproduzidas nas alternativas permite que o<br />

participante reconheça a adoção desse<br />

procedimento no quadro "Marie-Thérèse<br />

apoiada no cotovelo" (alternativa E, com 46%<br />

de registros), no qual se pode reconhecer a<br />

representação de diferentes pontos de vista<br />

a partir dos quais é apresentado o rosto da<br />

mulher retratada.<br />

31) (2001) Oxímoro (ou paradoxo) é uma<br />

construção textual que agrupa significados<br />

que se excluem mutuamente. Para<br />

Garfield, a frase de saudação de Jon<br />

(tirinha abaixo) expressa o maior de todos<br />

os oxímoros.<br />

C) "Naquela casa vazia<br />

Que ele mesmo levantara<br />

Um mundo novo nascia<br />

De que sequer suspeitava."<br />

D) "... o operário faz a coisa<br />

E a coisa faz o operário."<br />

E) "Ele, um humilde operário<br />

Um operário que sabia<br />

Exercer a profissão."<br />

MORAES, Vinícius de. Antologia Poética. São Paulo:<br />

Companhia das Letras, 1992.<br />

Comentário<br />

Idéias que se completam e se excluem<br />

mutuamente são encontradas na alternativa<br />

B: a casa que ele construía era, ao mesmo<br />

tempo, sua liberdade e sua escravidão.<br />

A casa é um símbolo de liberdade para o<br />

homem. Para o homem operário, é também<br />

símbolo de escravidão, pois ele está<br />

"condenado" a jamais usufruir do resultado<br />

do seu trabalho (a casa que faz não é para<br />

ele).<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão propõe ao participante que<br />

estabeleça uma relação entre linguagens,<br />

associando a compreensão de um efeito<br />

semântico produzido pelo uso do oxímoro<br />

nos quadrinhos com o mesmo efeito num<br />

texto poético. O índice (18%) de escolhas da<br />

alternativa D deve-se, possivelmente, a uma<br />

análise parcial da noção de paradoxo,<br />

confundida com inversão.<br />

32) (2005) Cândido Portinari (1903-1962), um<br />

dos mais importantes artistas brasileiros<br />

do século XX, tratou de diferentes<br />

aspectos da nossa realidade em seus<br />

quadros.<br />

Folha de S. Paulo. 31 de julho de 2000.<br />

Nas alternativas abaixo, estão transcritos<br />

versos retirados do poema “O operário em<br />

construção”. Pode-se afirmar que ocorre<br />

um oxímoro em<br />

A) "Era ele que erguia casas<br />

Onde antes só havia chão."<br />

B) "... a casa que ele fazia<br />

Sendo a sua liberdade<br />

Era a sua escravidão."<br />

Sobre a temática dos “Retirantes”,<br />

Portinari também escreveu o seguinte<br />

poema:<br />

437


438<br />

(....)<br />

Os retirantes vêm vindo com trouxas e<br />

embrulhos<br />

Vêm das terras secas e escuras;<br />

pedregulhos<br />

Doloridos como fagulhas de carvão aceso<br />

Corpos disformes, uns panos sujos,<br />

Rasgados e sem cor, dependurados<br />

Homens de enorme ventre bojudo<br />

Mulheres com trouxas caídas para o lado<br />

Pançudas, carregando ao colo um garoto<br />

Choramingando, remelento<br />

(....)<br />

(Cândido Portinari. Poemas. Rio de Janeiro:<br />

J. Olympio, 1964.)<br />

Das quatro obras reproduzidas, assinale<br />

aquelas que abordam a problemática que<br />

é tema do poema.<br />

A) 1 e 2 D) 3 e 4<br />

B) 1 e 3 E) 2 e 4<br />

C) 2 e 3<br />

Comentário<br />

O poema apresenta correspondência com<br />

as imagens ao descrever com detalhes a<br />

figura do retirante: pobre, mal vestido,<br />

carregando trouxas e embrulhos.<br />

33) (2004)<br />

A polifonia, variedade de vozes, presente<br />

no poema resulta da manifestação do<br />

A) poeta e do colonizador apenas.<br />

B) colonizador e do negro apenas.<br />

C) negro e do índio apenas.<br />

D) colonizador, do poeta e do negro<br />

apenas.<br />

E) poeta, do colonizador, do índio e do<br />

negro.<br />

Comentário<br />

A questão apresenta uma certa<br />

dificuldade, pois, à primeira vista, parecem<br />

confundir-se as vozes do colonizador, do<br />

negro e do índio. Entretanto, os<br />

travessões existentes no poema explicitam<br />

as falas das personagens ao mostrar que<br />

não são apenas as vozes do poeta e do<br />

colonizador que estão presentes. As falas do<br />

índio e do negro são proferidas por eles,<br />

marca expressa pelo discurso direto. A<br />

presença dessa modalidade de discurso<br />

indica a reprodução literal do que as<br />

personagens disseram.<br />

Um ponto interessante em relação a essa<br />

questão é a intertextualidade. O índio<br />

aparece no poema pela remissão a um texto<br />

poético do nosso Romantismo, em um<br />

processo intertextual com “I-Juca-Pirama”, de<br />

Gonçalves Dias; e a presença do negro se dá<br />

pela ligação com Mário de Andrade, em<br />

Macunaíma. Entende-se, portanto, que a<br />

alternativa correta é a letra E.<br />

34) (2003) No ano passado, o governo<br />

promoveu uma campanha a fim de reduzir<br />

os índices de violência. Noticiando o fato,<br />

um jornal publicou a seguinte manchete:<br />

CAMPANHA CONTRA A VIOLÊNCIA DO<br />

GOVERNO DO ESTADO ENTRA EM NOVA<br />

FASE<br />

A manchete tem um duplo sentido, e isso<br />

dificulta o entendimento. Considerando o<br />

objetivo da notícia, esse problema poderia<br />

ter sido evitado com a seguinte redação:<br />

A) Campanha contra o governo do Estado<br />

e a violência entram em nova fase.<br />

B) A violência do governo do Estado entra<br />

em nova fase de Campanha.<br />

C) Campanha contra o governo do Estado<br />

entra em nova fase de violência.<br />

D) A violência da campanha do governo<br />

do Estado entra em nova fase.<br />

E) Campanha do governo do Estado<br />

contra a violência entra em nova fase.<br />

Comentário<br />

O objetivo da questão é eliminar a<br />

ambigüidade da notícia de jornal, que,<br />

originalmente, trazia duas idéias: de acordo<br />

com a primeira, o governo queria combater a<br />

violência, e a segunda ressaltava que o<br />

governo era violento. Nessa questão,<br />

era preciso eliminar a segunda possibilidade<br />

de leitura.<br />

35) (2002) "A palavra tatuagem é<br />

relativamente recente. Toda a gente sabe<br />

que foi o navegador Cook que a introduziu<br />

no Ocidente, e esse escrevia tattou, termo<br />

da Polinésia de tatou ou tu tahou,<br />

'desenho'.


(...) Desde os mais remotos tempos,<br />

vemo-la a transformar-se: distintivo<br />

honorífico entre uns homens, ferrete de<br />

ignomínia entre outros, meio de assustar o<br />

adversário para os bretões, marca de uma<br />

classe de selvagens das ilhas marquesas<br />

(...) sinal de amor, de desprezo, de ódio<br />

(...). Há três casos de tatuagem no Rio,<br />

completamente diversos na sua<br />

significação moral: os negros,os turcos<br />

com o fundo religioso e o bando de<br />

meretrizes, dos rufiões e dos humildes,<br />

que se marcam por crime ou por<br />

ociosidade".<br />

RIO, João do. Os Tatuadores. Revista Kosmos.<br />

1904, apud: A alma encantadora das ruas,<br />

SP: Cia das Letras, 1999.<br />

Com base no texto são feitas as seguintes<br />

afirmações:<br />

I. João do Rio revela como a tatuagem já<br />

estava presente na cidade do Rio de<br />

Janeiro, pelo menos desde o início do<br />

século XX, e era mais utilizada por<br />

alguns setores da população.<br />

II. A tatuagem, de origem polinésia,<br />

difundiu-se no ocidente com a<br />

característica que permanece até hoje:<br />

utilização entre os jovens com função<br />

estritamente estética.<br />

III. O texto mostra como a tatuagem é<br />

uma prática que se transforma no<br />

tempo e que alcança inúmeros sentidos<br />

nos diversos setores das sociedades e<br />

para as diferentes culturas.<br />

Está correto o que se afirma apenas em<br />

A) I D) I e II<br />

B) II E) I e III<br />

C) III<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. Constata-se o<br />

seguinte: a tatuagem já existia no Brasil no<br />

início do século XX (o texto é de 1904 e parte<br />

dele se refere ao Rio do Janeiro) e era<br />

utilizada em diferentes setores da sociedade.<br />

A afirmação de que as tatuagens possuem<br />

apenas finalidade estética entre os jovens<br />

elimina a segunda alternativa. Já a última<br />

alternativa confirma as transformações das<br />

funções da tatuagem ao longo do tempo nas<br />

mais diversas sociedades e culturas.<br />

Comentário do INEP<br />

O texto estabelece uma relação entre a<br />

atualidade da palavra "tatuagem" e a<br />

antiguidade do uso de desenhos como<br />

pintura corporal. Focaliza uma prática social<br />

bastante difundida que adquiriu aspectos e<br />

conotações diversos nos diferentes contextos<br />

históricos e geográficos em que ela pode ser<br />

descrita. Fazendo a descrição da prática da<br />

tatuagem, como uma manifestação comum a<br />

diferentes culturas, e que adquire, inclusive,<br />

significados diferentes dentro de uma mesma<br />

cultura, induz o participante a refletir sobre a<br />

"diversidade dos patrimônios etnoculturais e<br />

artísticos", contextualizando ao mesmo<br />

tempo seus significados "em diferentes<br />

sociedades, épocas e lugares". Ao retomar<br />

as várias origens e usos da tatuagem, o<br />

participante é levado a compreender e<br />

respeitar uma gramática histórica dos<br />

costumes marcada sempre por semelhanças<br />

e diferenças. A questão não exigia, portanto,<br />

nenhum conhecimento prévio sobre as<br />

diferentes formas de manifestação dessa<br />

prática, mas simplesmente constatar, com o<br />

autor do texto citado, a historicidade e a<br />

diversidade das práticas sociais. Os<br />

participantes que assinalaram a alternativa C<br />

(36%), possivelmente, não levaram em<br />

consideração informações do texto. A<br />

questão foi corretamente respondida por 37%<br />

dos participantes.<br />

36) (2004)<br />

Nesta tirinha, a personagem faz referência<br />

a uma das mais conhecidas figuras de<br />

linguagem para<br />

A) condenar a prática de exercícios físicos<br />

B) valorizar aspectos da vida moderna.<br />

C) desestimular o uso das bicicletas.<br />

D) caracterizar o diálogo entre as<br />

gerações.<br />

E) criticar a falta de perspectiva do pai.<br />

Comentário<br />

A construção indica a falta de perspectiva<br />

na vida do pai do personagem. “Pedalar sem<br />

sair do lugar” é uma metáfora muito usada na<br />

cultura brasileira para expressar como é a<br />

vida de uma pessoa que age de forma a não<br />

conseguir qualquer mudança — para melhor<br />

ou para pior — na vida.<br />

439


37) (2004) As questões de números 26 e 27<br />

referem-se ao poema abaixo.<br />

Entre os recursos expressivos<br />

empregados no texto, destaca-se a<br />

A) metalinguagem, que consiste em fazer<br />

a linguagem referir-se à própria<br />

linguagem.<br />

B) intertextualidade, na qual o texto<br />

retoma e reelabora outros textos.<br />

C) ironia, que consiste em se dizer o<br />

contrário do que se pensa, com<br />

intenção crítica.<br />

D) denotação, caracterizada pelo uso das<br />

palavras em seu sentido próprio e<br />

objetivo.<br />

E) prosopopéia, que consiste em<br />

personificar coisas inanimadas,<br />

atribuindo-lhes vida.<br />

Comentário<br />

A questão trata de um texto de Carlos<br />

Drummond de Andrade em que ele fala sobre<br />

o crescimento urbano e a pobreza que esse<br />

processo traz. Para tanto, o poeta utiliza uma<br />

linguagem irônica, revelando o lado oculto do<br />

desenvolvimento. Dessa forma, temos como<br />

correta a alternativa C.<br />

38) (2007) Antigamente<br />

Acontecia o indivíduo apanhar<br />

constipação; ficando perrengue, mandava<br />

o próprio chamar o doutor e, depois, ir à<br />

botica para aviar a receita, de cápsulas ou<br />

pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />

phtísica, feia era o gálico. Antigamente, os<br />

sobrados tinham assombrações, os<br />

meninos, lombrigas (...)<br />

Carlos Drummond de Andrade. Poesia completa e prosa.<br />

Rio de Janeiro: Companhia José Aguilar, p. 1.184.<br />

Antigamente<br />

Acontecia o indivíduo apanhar um<br />

resfriado; ficando mal, mandava o próprio<br />

chamar o doutor e, depois, ir à farmácia<br />

para aviar a receita, de cápsulas ou<br />

pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />

tuberculose, feia era a sífilis. Antigamente,<br />

os sobrados tinham assombrações, os<br />

meninos, vermes (...)<br />

Comparando-se esses dois textos,<br />

verifica-se que, na segunda versão, houve<br />

mudanças relativas a<br />

A) vocabulário.<br />

B) construções sintáticas.<br />

C) pontuação.<br />

D) fonética.<br />

E) regência verbal.<br />

Comentário<br />

Questão fácil. O aluno deveria comparar<br />

os dois textos e verificar as alterações<br />

realizadas na segunda versão apresentada.<br />

Nesse momento, fica evidente a mudança de<br />

vocabulário, o que indica a alternativa A<br />

como a correta.<br />

39) (2001) Nas conversas diárias, utiliza-se<br />

freqüentemente a palavra “próprio” e ela<br />

se ajusta a várias situações. Leia os<br />

exemplos de diálogos:<br />

I - A Vera se veste diferente!<br />

- É mesmo, é que ela tem um estilo<br />

próprio.<br />

II - A Lena já viu esse filme uma dezena<br />

de vezes! Eu não consigo ver o<br />

que ele tem de tão maravilhoso assim.<br />

- É que ele é próprio para adolescente.<br />

III - Dora, o que eu faço? Ando tão<br />

preocupada com o Fabinho! Meu filho<br />

está impossível!<br />

- Relaxa, Tânia! É próprio da idade.<br />

Com o tempo, ele se acomoda.<br />

Nas ocorrências I, II e III, “próprio” é<br />

sinônimo de, respectivamente,<br />

A) adequado, particular, típico.<br />

B) peculiar, adequado, característico.<br />

C) conveniente, adequado, particular.<br />

D) adequado, exclusivo, conveniente.<br />

E) peculiar, exclusivo, característico.<br />

440<br />

O texto acima está escrito em linguagem<br />

de uma época passada. Observe uma<br />

outra versão, em linguagem atual.


Comentário<br />

Para responder a essa pergunta,<br />

substitua, nos trechos, a palavra próprio<br />

pelos possíveis equivalentes apresentados<br />

nas alternativas. Questão simples que pode<br />

ser resolvida por eliminação.<br />

Comentário do INEP<br />

Nesta questão são apresentados três<br />

textos em que uma mesma palavra é<br />

utilizada com sentidos diferentes. O problema<br />

consiste em observar a variedade de uso de<br />

um mesmo termo e as possibilidades de sua<br />

compreensão, estabelecendo uma relação<br />

comparativa com base em uma análise<br />

semântica. Cerca de metade (49%) dos<br />

participantes estabeleceu essa relação de<br />

maneira correta. Os participantes que<br />

assinalaram a alternativa D (21%),<br />

possivelmente isolaram o termo do contexto,<br />

gerando um equívoco entre "adequado" e<br />

"exclusivo".<br />

40) (2003) Do pedacinho de papel ao livro<br />

impresso vai uma longa distância. Mas o<br />

que o escritor quer, mesmo, é isso: ver o<br />

seu texto em letra de forma. A gaveta é<br />

ótima para aplacar a fúria criativa; ela faz<br />

amadurecer o texto da mesma forma que<br />

a adega faz amadurecer o vinho. Em<br />

certos casos, a cesta de papel é melhor<br />

ainda.<br />

O período de maturação na gaveta é<br />

necessário, mas não deve se prolongar<br />

muito. ‘Textos guardados acabam<br />

cheirando mal’, disse Silvia Plath, (...) que,<br />

com esta frase, deu testemunho das<br />

dúvidas que atormentam o escritor:<br />

publicar ou não publicar? guardar ou jogar<br />

fora?<br />

(Moacyr Scliar. O escritor e seus desafios.)<br />

Nesse texto, o escritor Moacyr Scliar usa<br />

imagens para refletir sobre uma etapa da<br />

criação literária. A idéia de que o processo<br />

de maturação do texto nem sempre é o<br />

que garante bons resultados está sugerida<br />

na seguinte frase:<br />

A) "A gaveta é ótima para aplacar a fúria<br />

criativa."<br />

B) "Em certos casos, a cesta de papel é<br />

melhor ainda."<br />

C) "O período de maturação na gaveta é<br />

necessário, (...)."<br />

D) "Mas o que o escritor quer, mesmo, é<br />

isso: ver o seu texto em letra de forma."<br />

E) "ela (a gaveta) faz amadurecer o texto<br />

da mesma forma que a adega faz<br />

amadurecer o vinho."<br />

Comentário<br />

Essa questão exigia a interpretação das<br />

frases. A palavra NEM no enunciado exclui<br />

todas as alternativas que tratam do<br />

amadurecimento ou da importância da<br />

gaveta para o bom sucesso da produção<br />

literária.<br />

A alternativa B é a única que apresenta<br />

um procedimento alternativo para a produção<br />

textual, ou seja, o lixo, e significa a liberdade<br />

do escritor em começar,<br />

interromper, recomeçar ou simplesmente<br />

abandonar a obra, permitindo a ele exercer<br />

seu livre-arbítrio.<br />

41) (2007)<br />

Aqui na floresta<br />

Dos ventos batida,<br />

Façanhas de bravos<br />

Não geram escravos,<br />

Que estimem a vida<br />

Sem guerra e lidar.<br />

— Ouvi-me, Guerreiros,<br />

— Ouvi meu cantar.<br />

O canto do guerreiro<br />

Valente na guerra,<br />

Quem há, como eu sou?<br />

Quem vibra o tacape<br />

Com mais valentia?<br />

Quem golpes daria<br />

Fatais, como eu dou?<br />

— Guerreiros, ouvi-me;<br />

— Quem há, como eu sou?<br />

Gonçalves Dias.<br />

Macunaíma<br />

(Epílogo)<br />

Acabou-se a história e morreu a vitória.<br />

Não havia mais ninguém lá. Dera<br />

tangolomângolo na tribo Tapanhumas e<br />

os filhos dela se acabaram de um em um.<br />

Não havia mais ninguém lá. Aqueles<br />

lugares, aqueles campos, furos<br />

puxadouros arrastadouros meiosbarrancos,<br />

aqueles matos misteriosos,<br />

tudo era solidão do deserto... Um silêncio<br />

imenso dormia à beira do rio Uraricoera.<br />

Nenhum conhecido sobre a terra não<br />

sabia nem falar da tribo nem contar<br />

aqueles casos tão pançudos. Quem podia<br />

saber do Herói?<br />

Mário de Andrade.<br />

Considerando-se a linguagem desses dois<br />

textos, verifica-se que<br />

A) a função da linguagem centrada no<br />

receptor está ausente tanto no primeiro<br />

quanto no segundo texto.<br />

B) a linguagem utilizada no primeiro texto<br />

é coloquial, enquanto, no segundo,<br />

predomina a linguagem formal.<br />

C) há, em cada um dos textos, a<br />

utilização de pelo menos uma palavra<br />

de origem indígena.<br />

441


D) a função da linguagem, no primeiro<br />

texto, centra-se na forma de<br />

organização da linguagem e, no<br />

segundo, no relato de informações<br />

reais.<br />

E) a função da linguagem centrada na<br />

primeira pessoa, predominante no<br />

segundo texto, está ausente no<br />

primeiro.<br />

Comentário<br />

Questão de nível médio. Essa é uma<br />

questão que foca a linguagem dos textos, e<br />

cada qual em seu gênero (poesia e prosa,<br />

respectivamente). O aluno chega à<br />

conclusão que a alternativa correta é a C por<br />

meio da exclusão das demais alternativas.<br />

A resposta correta não é a A, pois há um<br />

receptor que pode ser percebido nas<br />

seguintes perguntas contidas no texto:<br />

Texto 1 – “Guerreiros, ouvi-me;/Quem há,<br />

como eu sou?”<br />

Texto 2 – “Quem podia saber do herói?”<br />

Também não é a alternativa B, pois o<br />

conteúdo dos textos não é discriminatório. No<br />

primeiro texto, há uma idealização do índio e,<br />

no segundo, há uma realidade crítica e<br />

satírica da sociedade.<br />

A alternativa D é excluída, porque o<br />

segundo texto não fala de uma realidade, já<br />

que Macunaíma é um herói fictício e nãoreal.<br />

Por fim, também está errada a alternativa<br />

E. Isso porque não temos no epílogo do texto<br />

de Macunaíma a linguagem centrada na<br />

primeira pessoa, mas sim, na terceira.<br />

42) (2003) Eu começaria dizendo que poesia<br />

é uma questão de linguagem. A<br />

importância do poeta é que ele torna mais<br />

viva a linguagem. Carlos Drummond de<br />

Andrade escreveu um dos mais belos<br />

versos da língua portuguesa com duas<br />

palavras comuns: cão e cheirando.<br />

Um cão cheirando o futuro<br />

(Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP, 24/05/1988.<br />

adaptação)<br />

O que deu ao verso de Drummond o<br />

caráter de inovador da língua foi<br />

A) o modo raro como foi tratado o<br />

"futuro".<br />

B) a referência ao cão como "animal de<br />

estimação".<br />

C) a flexão pouco comum do verbo<br />

"cheirar" (gerúndio).<br />

D) a aproximação não usual do agente<br />

citado e a ação de "cheirar".<br />

E) o emprego do artigo indefinido "um" e<br />

do artigo definido "o" na mesma frase.<br />

Comentário<br />

O fato de Drummond identificar o futuro<br />

como algo que pode ser percebido por um<br />

animal irracional por meio do olfato foi<br />

inovador. A figura de linguagem foi<br />

construída metaforicamente: o futuro torna-se<br />

uma coisa que tem cheiro, contrariamente à<br />

imagem pela qual ele normalmente é<br />

representado: como algo que não se vê e<br />

não se pode pressentir ou tocar.<br />

43) (2002) Só falta o Senado aprovar o<br />

projeto de lei [sobre o uso de termos<br />

estrangeiros no Brasil] para que palavras<br />

como shopping center , delivery e drivethrough<br />

sejam proibidas em nomes de<br />

estabelecimentos e marcas. Engajado<br />

nessa valorosa luta contra o inimigo<br />

ianque, que quer fazer área de livre<br />

comércio com nosso inculto e belo idioma,<br />

venho sugerir algumas outras medidas<br />

que serão de extrema importância para a<br />

preservação da soberania nacional, a<br />

saber:<br />

........<br />

Nenhum cidadão carioca ou gaúcho<br />

poderá dizer "Tu vai" em espaços públicos<br />

do território nacional;<br />

Nenhum cidadão paulista poderá dizer "Eu<br />

lhe amo" e retirar ou acrescentar o plural<br />

em sentenças como "Me vê um chopps e<br />

dois pastel";<br />

..........<br />

Nenhum dono de borracharia poderá<br />

escrever cartaz com a palavra "borraxaria"<br />

e nenhum dono de banca de jornal<br />

anunciará "Vende-se cigarros";<br />

..........<br />

Nenhum livro de gramática obrigará os<br />

alunos a utilizar colocações pronominais<br />

como "casar-me-ei" ou "ver-se-ão".<br />

PIZA, Daniel. Uma proposta imodesta. O Estado de<br />

S. Paulo, São Paulo, 8/04/2001.<br />

No texto acima, o autor:<br />

A) mostra-se favorável ao teor da<br />

proposta por entender que a língua<br />

portuguesa deve ser protegida contra<br />

deturpações de uso.<br />

B) ironiza o projeto de lei ao sugerir<br />

medidas que inibam determinados usos<br />

regionais e socioculturais da língua.<br />

C) denuncia o desconhecimento de regras<br />

elementares de concordância verbal e<br />

nominal pelo falante brasileiro.<br />

442


D) revela-se preconceituoso em relação a<br />

certos registros lingüísticos ao propor<br />

medidas que os controlem.<br />

E) defende o ensino rigoroso da gramática<br />

para que todos aprendam a empregar<br />

corretamente os pronomes.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. O autor ironiza o<br />

projeto de lei que proíbe o uso de<br />

estrangeirismos no Brasil. Não adianta criarse<br />

uma expectativa ou preocupação em<br />

relação ao uso de termos estrangeiros na<br />

língua e esquecer-se de que a língua é um<br />

organismo vivo, mutável. A dinâmica de uma<br />

língua não pode ser regida por preceitos<br />

legais como quer o projeto.<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão reproduz trechos de um<br />

texto que aborda o polêmico projeto de<br />

proibição de uso de termos estrangeiros no<br />

Brasil. A partir da leitura atenta do texto de<br />

Daniel Piza, o participante é levado a refletir<br />

sobre a postura adotada pelo autor em<br />

relação ao referido projeto. Para<br />

compreender esse texto, o participante<br />

precisa reconhecer o tom irônico que marca<br />

as observações e sugestões feitas por seu<br />

autor. Assim, Daniel Piza, "engajado nessa<br />

valorosa luta contra o inimigo ianque", sugere<br />

a proibição de algumas formas lingüísticas de<br />

uso corrente que contrariam recomendações<br />

da gramática normativa. O participante deve<br />

reconhecer que, com sugestões como essas,<br />

Daniel Piza deixa implícita uma crítica à<br />

utilidade do projeto de proibição dos<br />

estrangeirismos como forma de proteger a<br />

Língua Portuguesa. Nesse contexto, a ironia<br />

torna-se mais clara, bem como o mecanismo<br />

textual que a constrói. Feito tal<br />

reconhecimento, o aluno encontra a resposta<br />

correta na alternativa B, assinalada por cerca<br />

da metade dos participantes. Nenhuma outra<br />

alternativa contempla o aspecto irônico,<br />

essencial para a compreensão do texto.<br />

44) (2003) Pequenos tormentos da vida<br />

De cada lado da sala de aula, pelas janelas<br />

altas, o azul convida os meninos,<br />

as nuvens desenrolam-se, lentas como quem<br />

vai inventando<br />

preguiçosamente uma história sem fim...Sem<br />

fim é a aula: e nada acontece,<br />

nada...Bocejos e moscas. Se ao menos,<br />

pensa Margarida, se ao menos um<br />

avião entrasse por uma janela e saísse por<br />

outra!<br />

(Mário Quintana. Poesias)<br />

Na cena retratada no texto, o sentimento<br />

do tédio<br />

A) provoca que os meninos fiquem<br />

contando histórias.<br />

B) leva os alunos a simularem bocejos,<br />

em protesto contra a monotonia da<br />

aula.<br />

C) acaba estimulando a fantasia,<br />

criando a expectativa de algum<br />

imprevisto mágico.<br />

D) prevalece de modo absoluto,<br />

impedindo até mesmo a distração ou o<br />

exercício do pensamento.<br />

E) decorre da morosidade da aula, em<br />

contraste com o movimento acelerado<br />

das nuvens e das moscas.<br />

Comentário<br />

Essa questão aborda o imaginário<br />

decorrente do marasmo trazido pela escola.<br />

O texto enfatiza o arrastar do tempo na<br />

mente de uma aluna, Margarida, que se põe<br />

a pensar em fatos mágicos ou imaginários<br />

que pudessem romper com a lentidão da<br />

aula.<br />

45) (200) O autor do texto abaixo critica,<br />

ainda que em linguagem metafórica, a<br />

sociedade contemporânea em relação aos<br />

seus hábitos alimentares.<br />

“Vocês que têm mais de 15 anos, se<br />

lembram quando a gente comprava leite<br />

em garrafa, na leiteria da esquina? (...)<br />

Mas vocês não se lembram de nada,<br />

pô! Vai ver nem sabem o que é vaca. Nem<br />

o que é leite. Estou falando isso porque<br />

agora mesmo peguei um pacote de leite –<br />

leite em pacote, imagina, Tereza! – na<br />

porta dos fundos e estava escrito que é<br />

pasterizado, ou pasteurizado, sei lá, tem<br />

vitamina, é garantido pela<br />

embromatologia, foi enriquecido e o<br />

escambau. Será que isso é mesmo leite?<br />

No dicionário diz que leite é outra coisa:<br />

‘Líquido branco, contendo água,<br />

proteína, açúcar e sais minerais’. Um<br />

alimento pra ninguém botar defeito. O ser<br />

humano o usa há mais de 5.000 anos. É o<br />

único alimento só alimento. A carne serve<br />

pro animal andar, a fruta serve pra fazer<br />

outra fruta, o ovo serve pra fazer outra<br />

galinha (...) O leite é só leite. Ou toma ou<br />

bota fora. Esse aqui examinando bem, é<br />

só pra botar fora. Tem chumbo, tem<br />

benzina, tem mais água do que leite, tem<br />

serragem, sou capaz de jurar que nem<br />

vaca tem por trás desse negócio. Depois o<br />

pessoal ainda acha estranho que os<br />

meninos não gostem de leite.<br />

443


Mas, como não gostam? Não gostam<br />

como? Nunca tomaram! Múúúúúúú!”<br />

(FERNANDES, Millôr. O Estado de S. Paulo ,<br />

22 de agosto de 1999)<br />

A palavra embromatologia usada pelo<br />

autor é:<br />

A) um termo científico que significa estudo<br />

dos bromatos.<br />

B) uma composição do termo de gíria<br />

“embromação” (enganação) com<br />

bromatologia, que é o estudo dos<br />

alimentos.<br />

C) uma junção do termo de gíria<br />

“embromação” (enganação) com<br />

lactologia, que é o estudo das<br />

embalagens para leite.<br />

D) um neologismo da química orgânica<br />

que significa a técnica de retirar<br />

bromatos dos laticínios.<br />

E) uma corruptela de termo da<br />

agropecuária que significa a ordenha<br />

mecânica.<br />

Comentário<br />

É necessário para a resolução desta<br />

questão:<br />

- perceber que o texto critica o exagerado<br />

uso de substâncias artificiais nos<br />

alimentos;<br />

- conhecer o significado da gíria embromar e<br />

da palavra bromatologia.<br />

Conhecendo esses significados, você<br />

elimina todas as alternativas erradas: a, c, d<br />

e e.<br />

Você poderá ter dúvida quanto à<br />

alternativa c, que também será eliminada se<br />

souber o significado da palavra lactologia,<br />

que é o estudo do leite e produtos lácteos e<br />

não das embalagens para leite.<br />

Nesta questão, são trabalhados os<br />

conceitos de interpretação de texto, formação<br />

de palavras e conhecimentos gerais.<br />

Comentário do INEP<br />

A resolução da questão requeria que o<br />

participante, ao ler o texto vinculasse o<br />

significado de um termo de gíria -<br />

"embromação" - com o da palavra<br />

bromatologia. A resposta correta exigia que o<br />

participante não abrisse mão do sabor<br />

picante contido na linguagem metafórica,<br />

sabor vinculado ao conhecimento específico<br />

contido na palavra bromatologia. Cerca da<br />

metade dos participantes (51%) optou pela<br />

alternativa correta e, os 20% que escolheram<br />

a alternativa C, provavelmente associaram a<br />

referência feita no texto à leite em pacote.<br />

46) (2005) O termo (ou expressão)<br />

destacado que está empregado em seu<br />

sentido próprio, denotativo ocorre em:<br />

A) “(....)<br />

É de laço e de nó<br />

De gibeira o jiló<br />

Dessa vida, cumprida a sol (....)”<br />

(Renato Teixeira. Romaria. Kuarup Discos.<br />

setembro de 1992.)<br />

B) “Protegendo os inocentes<br />

é que Deus, sábio demais,<br />

põe cenários diferentes<br />

nas impressões digitais.”<br />

(Maria N. S. Carvalho. Evangelho da Trova. /s.n.b.)<br />

C) “O dicionário-padrão da língua e os<br />

dicionários unilíngües são os tipos mais<br />

comuns de dicionários. Em nossos<br />

dias, eles se tornaram um objeto de<br />

consumo obrigatório para as nações<br />

civilizadas e desenvolvidas.”<br />

(Maria T. Camargo Biderman.<br />

O dicionário-padrão da língua. Alfa (28), 2743, 1974 Supl.)<br />

D)<br />

E) “Humorismo é a arte de fazer cócegas<br />

no raciocínio dos outros. Há duas<br />

espécies de humorismo: o trágico e o<br />

cômico. O trágico é o que não<br />

consegue fazer rir; o cômico é o que é<br />

verdadeiramente trágico para se fazer.”<br />

(Leon Eliachar. www.mercadolivre.com.br.<br />

acessado em julho de 2005.)<br />

Comentário<br />

A definição do dicionário-padrão da língua<br />

utiliza o sentido denotativo da palavra para<br />

explicar o uso de determinado tipo de<br />

dicionário. Em todas as outras alternativas,<br />

as palavras estão sendo empregadas em<br />

sentido metafórico. Na letra A, "cumprida a<br />

sol" pode mostrar o sofrimento e a solidão.<br />

Na alternativa B, "cenários diferentes" são as<br />

diferenças físicas encontradas nas<br />

impressões digitais. Na letra D, "bateria" é o<br />

termo usado para expressar a "energia" do<br />

Menino Maluquinho, que nunca acaba. Por<br />

fim, na alternativa E, "fazer cócegas no<br />

444


aciocínio" significa expressar graça por meio<br />

de idéias, fazendo com que o cérebro ache<br />

um fato divertido e, por conseguinte, faça<br />

com que a pessoa ria como se sofresse um<br />

ataque de cócegas.<br />

E)<br />

47) (2008) Os signos visuais, como meios de<br />

comunicação, são classificados em<br />

categorias de acordo com seus<br />

significados.<br />

A categoria denominada indício<br />

corresponde aos signos visuais que têm<br />

origem em formas ou situações naturais<br />

ou casuais, as quais, devido à ocorrência<br />

em circunstâncias idênticas, muitas vezes<br />

repetidas, indicam algo e adquirem<br />

significado. Por exemplo, nuvens negras<br />

indicam tempestade. Com base nesse<br />

conceito, escolha a opção que representa<br />

um signo da categoria dos indícios.<br />

A)<br />

Comentário<br />

Trata-se de uma questão interpretativa. O<br />

aluno precisa entender o que é “indício” para<br />

respondê-la. Segundo o dicionário Aurélio,<br />

indício é o mesmo que “sinal, vestígio,<br />

indicação”. Das figuras apresentadas,<br />

apenas a alternativa B indica algo: a<br />

passagem de alguém por algum lugar —<br />

pegada.<br />

48) (1999)<br />

B)<br />

C)<br />

D)<br />

Diante da visão de um prédio com uma<br />

placa indicando SAPATARIA PAPALIA,<br />

um jovem deparou com a dúvida: como<br />

pronunciar a palavra PAPALIA?<br />

Levado o problema à sala de aula, a<br />

discussão girou em torno da utilidade de<br />

conhecer as regras de acentuação e,<br />

especialmente, do auxílio que elas podem<br />

dar à correta pronúncia de palavras.<br />

Após discutirem pronúncia, regras de<br />

acentuação e escrita, três alunos<br />

apresentaram as seguintes conclusões a<br />

respeito da palavra PAPALIA:<br />

I. Se a sílaba tônica for o segundo PA, a<br />

escrita deveria ser PAPÁLIA, pois a<br />

palavra seria paroxítona terminada em<br />

ditongo crescente.<br />

II. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />

deveria ser PAPALÍA, pois "i" e "a"<br />

estariam formando hiato.<br />

445


III. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />

deveria ser PAPALIA, pois não haveria<br />

razão para o uso de acento gráfico.<br />

49) (2008)<br />

A conclusão está correta apenas em:<br />

A) III D) I<br />

B) I e II E) II<br />

C) I e III<br />

Comentário<br />

Essa questão exige bom conhecimento<br />

das regras de acentuação. A alternativa A diz<br />

que apenas a afirmação I é verdadeira. De<br />

fato ela é, mas não é a única. Nela, temos a<br />

hipótese de a palavra ser grafada como se a<br />

sílaba forte fosse a penúltima — papália —,<br />

justificando seu acento gráfico. Vejamos o<br />

que dizem as regras de acentuação.<br />

Acentuam-se as palavras paroxítonas<br />

terminadas em: i, is, us, um, uns, l, n, r, x,<br />

ps, ã, ãs, ão, ãos, ditongos orais,<br />

crescentes ou decrescentes, seguidos ou<br />

não de S. Isso valida, portanto, a afirmação I.<br />

A afirmação II pressupõe que a sílaba<br />

tônica seja LI, em hiato com A: no caso de<br />

essa ser a tonicidade da palavra, a sílaba LI<br />

não poderia ser acentuada, pois I, mesmo<br />

sendo a tônica do hiato, não é a última vogal,<br />

portanto, essa afirmativa é falsa.<br />

A afirmação III considera que a sílaba<br />

tônica é LI, não havendo acento por ser o I a<br />

primeira vogal do hiato. Portanto, essa<br />

afirmação é verdadeira.<br />

Concluindo, temos como verdadeiras as<br />

afirmações I e III. Então, a alternativa E é a<br />

correta. Questão de nível difícil.<br />

Comentário do INEP<br />

Dentre os participantes, somente pouco<br />

mais de um terço (35%) demonstrou possuir<br />

a habilidade para identificar as regras de<br />

acentuação corretas, enunciadas na questão.<br />

Chama a atenção o fato de que 73% dos<br />

participantes (alternativas A, D e E)<br />

reconheceram corretamente, pelo menos, a<br />

regra contida no item I, sendo que cerca de<br />

40% desses, contudo, tiveram dificuldades<br />

em analisar as regras II e III.<br />

Em se tratando de palavra não-usual, é,<br />

sobretudo, o domínio do conhecimento das<br />

regras e não a possível pronúncia correta,<br />

pelo uso, o que parece ter sido revelado.<br />

446<br />

Exame, 28/9/2007.<br />

Entre os seguintes ditos populares, qual<br />

deles melhor corresponde à figura<br />

acima?<br />

A) Com perseverança, tudo se alcança.<br />

B) Cada macaco no seu galho.<br />

C) Nem tudo que balança cai.<br />

D) Quem tudo quer, tudo perde.<br />

E) Deus ajuda quem cedo madruga.<br />

Comentário<br />

Assim como a questão 37, esta também<br />

envolve interpretação de signos, ou seja, o<br />

aluno precisa estar atento à imagem e<br />

relacioná-la ao dito popular correspondente.<br />

A alternativa "A" é a correta, pois, para<br />

uma lesma “grudenta” e vagarosa conseguir<br />

pular numa cama elástica, é necessária<br />

muita perseverança.<br />

50) (2005) Leia estes textos.<br />

Texto 1<br />

Texto 2<br />

Sonhar<br />

Mais um sonho impossível<br />

Lutar<br />

Quando é fácil ceder<br />

Vencer o inimigo invencível<br />

Negar quando a regra é vender<br />

Sofrer a tortura implacável<br />

Romper a incabível prisão<br />

Voar num limite improvável<br />

Tocar o inacessível chão<br />

É minha lei, é minha questão<br />

Virar esse mundo<br />

Cravar esse chão<br />

Não me importa saber<br />

Se é terrível demais<br />

Quantas guerras terei que vencer


Por um pouco de paz<br />

E amanhã se esse chão que eu beijei<br />

For meu leito e perdão<br />

Vou saber que valeu delirar<br />

E morrer de paixão<br />

E assim, seja lá como for<br />

Vai ter fim a infinita aflição<br />

E o mundo vai ver uma flor<br />

Brotar do impossível chão.<br />

(J. Darione – M. Leigh – Versão de Chico Buarque de<br />

Hollanda e Ruy Guerra, 1972.)<br />

A tirinha e a canção apresentam uma<br />

reflexão sobre o futuro da humanidade. É<br />

correto concluir que os dois textos<br />

A) afirmam que o homem é capaz de<br />

alcançar a paz.<br />

B) concordam que o desarmamento é<br />

inatingível.<br />

C) julgam que o sonho é um desafio<br />

invencível.<br />

D) têm visões diferentes sobre um<br />

possível mundo melhor.<br />

E) transmitem uma mensagem de<br />

otimismo sobre a paz.<br />

Comentário<br />

Enquanto o primeiro texto é ácido em<br />

relação à possibilidade de desarmamento da<br />

população (ou seja, à criação de uma<br />

sociedade mais pacífica), o segundo mostra<br />

a capacidade que a humanidade tem de crer<br />

e, por isso, tentar fazer até o que a princípio<br />

parece impossível. Para os autores da<br />

canção, nada é intrinsecamente impossível.<br />

A relação entre eles é de oposição:<br />

descrença x crença. Questão de nível de<br />

dificuldade médio.<br />

51) (2002) A crônica muitas vezes constitui<br />

um espaço para reflexão sobre aspectos<br />

da sociedade em que vivemos.<br />

"Eu, na rua, com pressa, e o menino<br />

segurou no meu braço, falou qualquer<br />

coisa que não entendi. Fui logo dizendo<br />

que não tinha, certa de que ele estava<br />

pedindo dinheiro. Não estava. Queria<br />

saber a hora.<br />

Talvez não fosse um Menino De<br />

Família, mas também não era um Menino<br />

De Rua. É assim que a gente divide.<br />

Menino De Família é aquele bem-vestido<br />

com tênis da moda e camiseta de marca,<br />

que usa relógio e a mãe dá outro se o<br />

dele for roubado por um Menino De Rua.<br />

Menino De Rua é aquele que quando a<br />

gente passa perto segura a bolsa com<br />

força porque pensa que ele é pivete,<br />

trombadinha, ladrão. (...) Na verdade não<br />

existem meninos De rua.<br />

Existem meninos NA rua. E toda vez<br />

que um menino está NA rua é porque<br />

alguém o botou lá. Os meninos não vão<br />

sozinhos aos lugares. Assim como são<br />

postos no mundo, durante muitos anos<br />

também são postos onde quer que<br />

estejam. Resta ver quem os põe na rua. E<br />

por quê."<br />

COLASSANTI, Marina. In: Eu sei, mas não devia. Rio de<br />

Janeiro: Rocco, 1999.<br />

No terceiro parágrafo em "... não existem<br />

meninos De rua. Existem meninos NA<br />

rua.", a troca de De pelo Na determina<br />

que a relação de sentido entre "menino" e<br />

"rua" seja<br />

A) de localização e não de qualidade.<br />

B) de origem e não de posse.<br />

C) de origem e não de localização.<br />

D) de qualidade e não de origem.<br />

E) de posse e não de localização.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. Apesar de não<br />

haver um terceiro parágrafo neste texto, a<br />

troca das preposições ao final do SEGUNDO<br />

parágrafo indica claramente que não há um<br />

menino DE (proveniente de) rua, mas um<br />

menino que está NA (foi levado à) rua.<br />

Portanto, a relação é unicamente de<br />

localização (onde ele está) e não de<br />

qualidade (o que ele é).<br />

Comentário do INEP<br />

A reprodução de um trecho de uma<br />

crônica de Marina Colassanti tematiza uma<br />

importante questão social brasileira: a<br />

presença de milhões de crianças nas ruas do<br />

País. A autora, ao tratar desse problema,<br />

vale-se de recursos lingüísticos específicos.<br />

O objetivo desta questão é justamente<br />

chamar a atenção do participante leitor para<br />

esses recursos e os efeitos de sentido que<br />

eles desencadeiam no texto. Na raiz da<br />

questão destaca-se a troca de "De" por "NA"<br />

e pede-se que se determine qual relação de<br />

sentido essa substituição estabelece entre os<br />

termos "menino" e "rua". Analisar a relação,<br />

nesse caso, significa perguntar-se sobre o<br />

sentido de dois sintagmas criados no texto:<br />

"meninos NA rua" por oposição a "meninos<br />

De rua". O que a autora pretende negar, com<br />

a troca do termo de relação, é a possibilidade<br />

de que existam meninos de rua diferentes de<br />

outros meninos, que não têm na rua a sua<br />

origem. O destaque para a preposição na<br />

nos leva a refletir que a relação dos meninos<br />

447


com a rua é de localização: eles estão ali por<br />

alguma razão, não porque essa seja a sua<br />

qualificação. Essa reflexão levaria o aluno a<br />

escolher, como correta, a resposta<br />

apresentada na alternativa A, assinalada por<br />

cerca de metade dos participantes.<br />

52) (2000) O uso do pronome átono no início<br />

das frases é destacado por um poeta e<br />

por um gramático nos textos abaixo.<br />

Pronominais<br />

Dê-me um cigarro<br />

Diz a gramática<br />

Do professor e do aluno<br />

E do mulato sabido<br />

Mas o bom negro e o bom branco<br />

da Nação Brasileira<br />

Dizem todos os dias<br />

Deixa disso camarada<br />

Me dá um cigarro<br />

(ANDRADE, Oswald de. Seleção de textos.<br />

São Paulo: Nova Cultural, 1988)<br />

“Iniciar a frase com pronome átono só<br />

é lícito na conversação familiar,<br />

despreocupada, ou na língua escrita<br />

quando se deseja reproduzir a fala dos<br />

personagens (...).”<br />

(CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da<br />

língua portuguesa.<br />

São Paulo: Nacional, 1980)<br />

Comparando a explicação dada pelos<br />

autores sobre essa regra, pode-se afirmar<br />

que ambos:<br />

A) condenam essa regra gramatical.<br />

B) acreditam que apenas os esclarecidos<br />

sabem essa regra.<br />

C) criticam a presença de regras na<br />

gramática.<br />

D) afirmam que não há regras para uso de<br />

pronomes.<br />

E) relativizam essa regra gramatical.<br />

Comentário<br />

Questão que requer conhecimento básico<br />

de colocação pronominal, em relação ao uso<br />

de pronomes átonos no início de frases, uma<br />

regra muito pouco respeitada pelo brasileiro,<br />

da qual Oswald de Andrade faz questão de<br />

falar em seu poema. Porém, a questão pode<br />

ser resolvida simplesmente por meio de uma<br />

leitura bem atenta dos textos. Se formos<br />

analisando alternativa por alternativa, a<br />

eliminação é clara e lógica: a alternativa a<br />

fica totalmente descartada devido à<br />

transparência da colocação dos dois autores<br />

(Me dá um cigarro...) e (iniciar frases com o<br />

pronome átono é "lícito" na conversação<br />

familiar ou despreocupada). Já a alternativa b<br />

pode até mesmo gerar um pouco de dúvida a<br />

quem não se atém bem à pergunta. Quanto<br />

às alternativas c e d, ficam descartadas, pois,<br />

em momento nenhum, os autores criticaram<br />

o uso de regras gramaticais em seus textos,<br />

cabendo perfeitamente a alternativa e para<br />

as afirmações do gramático e do poeta.<br />

Comentário do INEP<br />

Essa questão pretendia verificar como o<br />

participante analisa um fato lingüístico,<br />

mediante a comparação da descrição desse<br />

fato em dois textos. Sabe-se que,<br />

normalmente em situação escolar, o uso do<br />

pronome átono no início da frase é julgado<br />

como grave desvio gramatical, e pouco se<br />

analisa esse uso na fala ou escrita informal.<br />

Os dois autores dos textos, com intenções<br />

diferentes, relativizam essa regra gramatical,<br />

destacando e descrevendo o seu uso<br />

coloquial. A maioria dos participantes (52%)<br />

analisou e comparou corretamente as<br />

posições dos autores sobre o uso do<br />

pronome átono, e 24% deles reafirmaram a<br />

posição discriminatória da regra, deslocandoa<br />

de seu uso.<br />

53) (2000) As histórias em quadrinhos, por<br />

vezes, utilizam animais como<br />

personagens e a eles atribuem<br />

comportamento humano. O gato Garfield<br />

é exemplo desse fato.<br />

Fonte: Caderno Vida e Arte, Jornal do Povo, Fortaleza<br />

Van Gogh, pintor holandês nascido em<br />

1853, é um dos principais nomes da<br />

pintura mundial. É dele o quadro abaixo.<br />

Auto-retrato de orelha cortada<br />

448


O 3º quadrinho sugere que Garfield:<br />

A) desconhece tudo sobre arte, por isso<br />

faz a sugestão.<br />

B) acredita que todo pintor deve fazer algo<br />

diferente.<br />

C) defende que para ser pintor a pessoa<br />

tem de sofrer.<br />

D) conhece a história de um pintor<br />

famoso e faz uso da ironia.<br />

E) acredita que seu dono tenha tendência<br />

artística e, por isso, faz a sugestão.<br />

Comentário<br />

Outra questão de interpretação de texto.<br />

Muito simples para quem um dia ouviu falar<br />

de Van Gogh, e simplíssima para aqueles<br />

que prestam atenção em todos os elementos<br />

do enunciado. Afinal, quem deu uma<br />

espiadinha na legenda do quadro de Van<br />

Gogh matou na hora a questão.<br />

Esta questão é daquelas rápidas de serem<br />

resolvidas, associando-se os elementos<br />

apresentados.<br />

Comentário do INEP<br />

A significativa maioria (81%) dos<br />

participantes soube perceber o caráter<br />

irônico da fala do Garfield, expressa no<br />

terceiro quadrinho porque, ou conheciam a<br />

história de Van Gogh, ou apropriaram-se<br />

corretamente da informação sobre esse<br />

pintor, fornecida no enunciado.<br />

54) (2004)<br />

A tira "Hagar" e o poema de Alberto<br />

Caeiro (um dos heterônimos de Fernando<br />

Pessoa) expressam, com linguagens<br />

diferentes, uma mesma idéia: a de que a<br />

compreensão que temos do mundo é<br />

condicionada, essencialmente,<br />

A) pelo alcance de cada cultura.<br />

B) pela capacidade visual do observador.<br />

C) pelo senso de humor de cada um.<br />

D) pela idade do observador.<br />

E) pela altura do ponto de observação.<br />

Comentário<br />

Questão reflexiva sobre a forma como<br />

cada cultura vê o mundo sob a ótica dos<br />

limites dados pelos seus costumes e<br />

possibilidades de pensamento inerentes a<br />

cada modelo cultural. A mistura de uma tira e<br />

de um poema amplia a possibilidade de<br />

pensamento por trabalhar com linguagens<br />

diferentes. A alternativa correta é a letra A,<br />

pois ambos (tira e poema) utilizam figuras de<br />

linguagem (metáfora e ironia) para expressar<br />

as diferentes visões de mundo.<br />

55) (2003)<br />

O humor presente na tirinha decorre<br />

principalmente do fato de a personagem<br />

Mafalda<br />

A) atribuir, no primeiro quadrinho, poder<br />

ilimitado ao dedo indicador.<br />

B) considerar seu dedo indicador tão<br />

importante quanto o dos patrões.<br />

C) atribuir, no primeiro e no último<br />

quadrinhos, um mesmo sentido ao<br />

vocábulo "indicador".<br />

D) usar corretamente a expressão<br />

"indicador de desemprego", mesmo<br />

sendo criança.<br />

E) atribuir, no último quadrinho, fama<br />

exagerada ao dedo indicador dos<br />

patrões.<br />

Comentário<br />

A questão pede a interpretação de uma<br />

charge da personagem Mafalda, em que ela<br />

faz referência a seu dedo indicador, que é<br />

usado como substantivo primitivo e que<br />

possibilita a analogia com “indicador de<br />

desemprego”. Dessa forma, ela ironiza os<br />

indicadores sociais. Na charge, porém, não<br />

há menção explícita aos índices<br />

“indicadores”, permanecendo o raciocínio<br />

preso apenas ao dedo indicador. Assim, ela<br />

utiliza, tanto no primeiro quanto no último<br />

quadrinho, a palavra “indicador” como<br />

referência ao dedo, não dando abertura a<br />

outro tipo de interpretação.<br />

449


56) (2002)<br />

De acordo com a história em quadrinhos<br />

protagonizada por Hagar e seu filho<br />

Hamlet, pode-se afirmar que a postura de<br />

Hagar<br />

A) valoriza a existência da diversidade<br />

social e de culturas, e as várias<br />

representações e explicações desse<br />

universo.<br />

B) desvaloriza a existência da<br />

diversidade social e as várias culturas,<br />

e determina uma única explicação para<br />

esse universo.<br />

C) valoriza a possibilidade de explicar as<br />

sociedades e as culturas a partir de<br />

várias visões de mundo.<br />

D) valoriza a pluralidade cultural e social<br />

ao aproximar a visão de mundo de<br />

navegantes e não-navegantes.<br />

E) desvaloriza a pluralidade cultural e<br />

social, ao considerar o mundo habitado<br />

apenas pelos navegantes.<br />

acertada do diálogo é que o narrador torna<br />

inteligível, para si e para os outros, a lógica<br />

do seu pensamento através do diálogo entre<br />

os dois personagens. É importante observar<br />

que o humor do personagem Hagar é<br />

identificado na postura simetricamente<br />

oposta à de Michel de Montaigne, por<br />

exemplo (ver questão 58): a sua visão de<br />

mundo apresenta-se autocentrada, isto é,<br />

centrada nos seus próprios valores (vikings).<br />

A habilidade requerida do participante nessa<br />

questão, qual seja, "valorizar a diversidade<br />

dos patrimônios etnoculturais", é mobilizada<br />

aqui na sua dimensão negativa: é criticando<br />

a postura chauvinista de Hagar que o<br />

participante é capaz de responder<br />

corretamente a questão. A última alternativa<br />

(E) funciona como um distrator, pois neste<br />

caso não está suposta a crítica do discurso<br />

do personagem. Cerca de um terço dos<br />

participantes assinalou a alternativa correta<br />

B. As demais opções são devidas,<br />

possivelmente, a uma leitura pouco<br />

compreensiva das alternativas associadas a<br />

história em quadrinhos.<br />

57) (2008)<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. Hagar reduz o<br />

mundo a dois tipos de pessoas: navegantes<br />

e não-navegantes. No último quadrinho, diz<br />

que são os navegantes que estabelecem<br />

esses dois grupos. Portanto, quem é<br />

diferente dos navegantes (que estabelecem<br />

o padrão) simplesmente é incluído na massa<br />

única dos não-navegantes. Não importa<br />

quem ou quantos sejam, sua diversidade<br />

social ou cultural em relação aos navegantes<br />

ou entre si. Vemos aí a desvalorização de<br />

outras culturas.<br />

Comentário do INEP<br />

Dentre as habilidades básicas para a<br />

compreensão de um texto destaca-se a<br />

capacidade do leitor de identificar os<br />

pressupostos de cada afirmação que lhe é<br />

apresentada. Nesta questão o participante<br />

deve identificar a posição tanto de Hagar<br />

como de seu filho Hamlet e, em seguida,<br />

avaliar quais os argumentos que justificam a<br />

opinião de Hagar ao definir que no mundo só<br />

existem dois tipos de pessoas. A pergunta de<br />

Hamlet a seu pai explicita a importância do<br />

ato de narrar através do diálogo e do efeito<br />

humorístico contido no episódio representado<br />

na tira. O resultado da compreensão<br />

XAVIER, C. Quadrinho quadrado. Disponível em:<br />

http://www.releituras.com. Acesso em: 5 jul. 2009.<br />

Tendo em vista a segunda fala do<br />

personagem entrevistado, constata-se que<br />

A) o entrevistado deseja convencer o<br />

jornalista a não publicar um livro.<br />

B) o principal objetivo do entrevistado é<br />

explicar o significado da palavra<br />

motivação.<br />

C) são utilizados diversos recursos da<br />

linguagem literária, tais como a<br />

metáfora e a metonímia.<br />

450


D) o entrevistado deseja informar de<br />

modo objetivo o jornalista sobre as<br />

etapas de produção de um livro.<br />

E) o principal objetivo do entrevistado é<br />

evidenciar seu sentimento com relação<br />

ao processo de produção de um livro.<br />

Comentário<br />

(QUESTÃO: AZUL <strong>10</strong>0, BRANCA <strong>10</strong>1,<br />

ROSA <strong>10</strong>0)<br />

Questão de fácil resolução. Como foi<br />

pedido que o aluno avaliasse somente a<br />

segunda fala do personagem, fica clara a<br />

manifestação de um sentimento de alívio em<br />

relação ao processo de produção de um livro.<br />

A alternativa E é a correta.<br />

58) (2009) Texto 1<br />

É praticamente impossível<br />

imaginarmos nossas vidas sem o plástico.<br />

Ele está presente em embalagens de<br />

alimentos, bebidas e remédios, além de<br />

eletrodomésticos, automóveis etc. Esse<br />

uso ocorre devido à sua atoxicidade e à<br />

inércia, isto é: quando em contato com<br />

outras substâncias, o plástico não as<br />

contamina; ao contrário, protege o produto<br />

embalado. Outras duas grandes<br />

vantagens garantem o uso dos plásticos<br />

em larga escala: são leves, quase não<br />

alteram o peso do material embalado, e<br />

são <strong>10</strong>0% recicláveis, fato que,<br />

infelizmente, não é aproveitado, visto que,<br />

em todo o mundo, a percentagem de<br />

plástico reciclado, quando comparado ao<br />

total produzido, ainda é irrelevante.<br />

Revista Mãe Terra.<br />

Minuano, ano 1, n. 6 (adaptado).<br />

Texto II<br />

Sacolas plásticas são leves e voam ao<br />

vento. Por isso, elas entopem esgotos e<br />

bueiros, causando enchentes. São<br />

encontradas até no estômago de<br />

tartarugas marinhas, baleias, focas e<br />

golfinhos, mortos por sufocamento.<br />

Sacolas plásticas descartáveis são<br />

gratuitas para os consumidores, mas têm<br />

um custo incalculável para o meio<br />

ambiente.<br />

Veja, 8 jul. 2009. Fragmentos de texto publicitário do<br />

Instituto Akatu pelo Consumo Consciente.<br />

Em contraste com o texto 1, no texto II<br />

são empregadas, predominantemente,<br />

estratégias argumentativas que<br />

A) atraem o leitor por meio de previsões<br />

para o futuro.<br />

B) apelam à emoção do leitor,<br />

mencionando a morte de animais.<br />

C) orientam o leitor a respeito dos modos<br />

de usar conscientemente as sacolas<br />

plásticas.<br />

D) intimidam o leitor com as nocivas<br />

consequências do uso indiscriminado<br />

de sacolas plásticas.<br />

E) recorrem à informação, por meio de<br />

constatações, para convencer o leitor a<br />

evitar o uso de sacolas plásticas.<br />

Comentário<br />

(QUESTÃO: AZUL <strong>10</strong>7, BRANCA <strong>10</strong>7,<br />

ROSA <strong>10</strong>6)<br />

Embora essa questão pareça de simples<br />

resolução, ela pode levar o aluno a ficar em<br />

dúvida entre as alternativas D e E, pois a<br />

letra D indica intimidação quanto ao uso<br />

indiscriminado do uso de sacolas plásticas e<br />

a letra E apresenta o convenciomento dessa<br />

ação.<br />

Partindo-se da análise do texto II,<br />

percebe-se muito mais o convencimento do<br />

que a mera intimidação. Portanto, alternativa<br />

correta é a letra E.<br />

COMPETÊNCIA DE ÁREA 8<br />

H25 - Identificar, em textos de<br />

diferentes gêneros, as<br />

marcas linguísticas que<br />

singularizam as variedades<br />

linguísticas sociais,<br />

regionais e de registro<br />

01) (2001) O mundo é grande<br />

O mundo é grande e cabe<br />

Nesta janela sobre o mar.<br />

O mar é grande e cabe<br />

Na cama e no colchão de amar.<br />

O amor é grande e cabe<br />

No breve espaço de beijar.<br />

ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e prosa.<br />

Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983.<br />

Neste poema, o poeta realizou uma opção<br />

estilística: a reiteração de determinadas<br />

construções e expressões lingüísticas,<br />

como o uso da mesma conjunção para<br />

estabelecer a relação entre as frases.<br />

Essa conjunção estabelece, entre as<br />

idéias relacionadas, um sentido de<br />

A) oposição.<br />

B) comparação.<br />

C) conclusão.<br />

D) alternância.<br />

E) finalidade.<br />

451


Comentário<br />

Há três elementos repetidos neste trecho:<br />

o verbo ser, o artigo definido o e a conjunção<br />

aditiva e. A conjunção e estabelece uma<br />

relação entre idéias que, concretamente, são<br />

opostas (ex.: "O mundo é grande e cabe<br />

nesta janela sobre o mar"). A alternativa<br />

correta é a letra A.<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão apresenta, para leitura e<br />

análise, o poema "O mundo é grande", onde<br />

os recursos lingüísticos expressivos<br />

utilizados geram um efeito de oposição entre<br />

as idéias. A análise sintático-semântica é<br />

necessária para a compreensão do valor de<br />

oposição assumido pela conjunção "e":<br />

imagens justapostas estão relacionadas,<br />

contrapondo-se em planos diferentes. Um<br />

percentual significativo (46%) de<br />

participantes considerou que o valor da<br />

conjunção "e", nesse poema, é de<br />

comparação, o que não reflete o sentido<br />

estilístico proposto pelo poeta, mas<br />

corresponde apenas à primeira operação que<br />

se realiza para estabelecer o sentido de<br />

oposição. De maneira análoga, pode-se<br />

analisar os equívocos daqueles que optaram<br />

pelas alternativas C e D.<br />

02) (1999) SONETO DE FIDELIDADE<br />

De tudo, ao meu amor serei atento<br />

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto<br />

Que mesmo em face do maior encanto<br />

Dele se encante mais meu pensamento.<br />

Quero vivê-lo em cada vão momento<br />

E em seu louvor hei de espalhar meu<br />

canto<br />

E rir meu riso e derramar meu pranto<br />

Ao seu pesar ou seu contentamento.<br />

E assim, quando mais tarde me procure<br />

Quem sabe a morte, angústia de quem<br />

vive<br />

Quem sabe a solidão, fim de quem ama.<br />

Eu possa dizer do meu amor (que tive):<br />

Que não seja imortal, posto que é chama<br />

Mas que seja infinito enquanto dure.<br />

(MORAES, Vinícius de. Antologia poética. São Paulo: Cia<br />

das Letras, 1992).<br />

A palavra mesmo pode assumir diferentes<br />

significados, de acordo com a sua função<br />

na frase. Assinale a alternativa em que o<br />

sentido de mesmo equivale ao que se<br />

verifica no 3º verso da 1ª estrofe do<br />

poema de Vinícius de Moraes.<br />

A) "Pai, para onde fores, / irei também<br />

trilhando as mesmas ruas..." (Augusto<br />

dos Anjos)<br />

B) "Agora, como outrora, há aqui o<br />

mesmo contraste da vida interior, que<br />

é modesta, com a exterior, que é<br />

ruidosa." (Machado de Assis)<br />

C) "Havia o mal, profundo e persistente,<br />

para o qual o remédio não surtiu efeito,<br />

mesmo em doses variáveis."<br />

(Raimundo Faoro)<br />

D) "Mas, olhe cá, Mana Glória, há<br />

mesmo necessidade de fazê-lo<br />

padre?" (Machado de Assis)<br />

E) "Vamos de qualquer maneira, mas<br />

vamos mesmo." (Aurélio)<br />

Comentário<br />

Nessa questão, uma pequena análise<br />

sintática se faz necessária: mesmo, em<br />

ambos os casos, é conjunção subordinativa<br />

concessiva, introduzindo, portanto, uma<br />

oração subordinada cujo fato expresso é<br />

contrário ao da oração principal. Deve-se,<br />

então, recorrer à oração anterior para se ter<br />

certeza quanto à classificação. Grau<br />

moderado de dificuldade.<br />

Comentário do INEP<br />

Este problema buscou colocar o<br />

participante diante de uma situação que<br />

exigia a mobilização de seus mecanismos de<br />

reflexão sobre os processos lingüísticos em<br />

que um significante (uma palavra) assume<br />

diferentes significados, no enunciado, de<br />

acordo com a intenção do enunciador. Neste<br />

caso, além da compreensão da<br />

transformação de significado, é necessária a<br />

alteração de função morfossintática.<br />

Verifica-se que 62% dos participantes<br />

conseguiram identificar e analisar esse<br />

processo lingüístico, comparando a função<br />

do significante em diferentes enunciados.<br />

Isso demonstrou um domínio parcial da<br />

reflexão sobre a Língua Portuguesa, em<br />

diferentes contextos e textos.<br />

Os 18% dos participantes que<br />

assinalaram a alternativa B identificaram a<br />

diferença de significados mas,<br />

provavelmente, têm dificuldades em analisar<br />

estas mudanças em nível morfossintático<br />

(alternativa B).<br />

452


03) ( 2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />

poema.<br />

A DANÇA E A ALMA<br />

A DANÇA? Não é movimento,<br />

súbito gesto musical.<br />

É concentração, num momento,<br />

da humana graça natural.<br />

No solo não, no éter pairamos,<br />

nele amaríamos ficar.<br />

A dança – não vento nos ramos:<br />

seiva, força, perene estar.<br />

Um estar entre céu e chão,<br />

novo domínio conquistado,<br />

onde busque nossa paixão<br />

libertar-se por todo lado...<br />

Onde a alma possa descrever<br />

suas mais divinas parábolas<br />

sem fugir à forma do ser,<br />

por sobre o mistério das fábulas.<br />

(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />

Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />

A definição de dança, em linguagem de<br />

dicionário, que mais se aproxima do que<br />

está expresso no poema é<br />

A) a mais antiga das artes, servindo como<br />

elemento de comunicação e afirmação<br />

do homem em todos os momentos de<br />

sua existência.<br />

B) a forma de expressão corporal que<br />

ultrapassa os limites físicos,<br />

possibilitando ao homem a liberação de<br />

seu espírito.<br />

C) a manifestação do ser humano,<br />

formada por uma seqüência de gestos,<br />

passos e movimentos desconcertados.<br />

D) o conjunto organizado de movimentos<br />

do corpo, com ritmo determinado por<br />

instrumentos musicais, ruídos, cantos,<br />

emoções etc.<br />

E) o movimento diretamente ligado ao<br />

psiquismo do indivíduo e, por<br />

conseqüência, ao seu desenvolvimento<br />

intelectual e à sua cultura.<br />

Comentário<br />

A pergunta busca a aplicação do conceito<br />

de "estado de dicionário" (que também foi<br />

desenvolvido por Drummond no poema "A<br />

Procura da Poesia"). A literatura busca partir<br />

de palavras em estado de dicionário para,<br />

pelo aprofundamento do sentido delas, criar<br />

um mundo mais denso e particular. Em<br />

estado de dicionário, a dança, conforme é<br />

tratada nesse poema, apareceria na<br />

alternativa B: uma justaposição entre<br />

aspectos físicos e espirituais da expressão<br />

humana. Questão complexa.<br />

04) (2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />

poema.<br />

A DANÇA E A ALMA<br />

A DANÇA? Não é movimento,<br />

súbito gesto musical.<br />

É concentração, num momento,<br />

da humana graça natural.<br />

No solo não, no éter pairamos,<br />

nele amaríamos ficar.<br />

A dança – não vento nos ramos:<br />

seiva, força, perene estar.<br />

Um estar entre céu e chão,<br />

novo domínio conquistado,<br />

onde busque nossa paixão<br />

libertar-se por todo lado...<br />

Onde a alma possa descrever<br />

suas mais divinas parábolas<br />

sem fugir à forma do ser,<br />

por sobre o mistério das fábulas.<br />

(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />

Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />

O poema “A Dança e a Alma” é construído<br />

com base em contrastes, como<br />

“movimento” e “concentração”. Em uma<br />

das estrofes, o termo que estabelece<br />

contraste com solo é:<br />

A) éter. D) paixão.<br />

B) seiva. E) ser.<br />

C) chão.<br />

Comentário<br />

O elemento que contrasta com "solo"<br />

(físico, tangível, perene) é "éter" (espiritual,<br />

intangível, volátil). Questão de nível médio de<br />

dificuldade.<br />

05) ( 2008) O surgimento da figura da Ema<br />

no céu, ao leste, no anoitecer, na segunda<br />

quinzena de junho, indica o início do<br />

inverno para os índios do sul do Brasil e o<br />

começo da estação seca para os do norte.<br />

É limitada pelas constelações de<br />

Escorpião e do Cruzeiro do Sul, ou<br />

Cut'uxu. Segundo o mito guarani, o<br />

Cut’uxu segura a cabeça da ave para<br />

garantir a vida na Terra, porque, se ela se<br />

soltar, beberá toda a água do nosso<br />

planeta. Os tupisguaranis utilizam o<br />

Cut'uxu para se orientar e determinar a<br />

duração das noites e as estações do ano.<br />

A ilustração a seguir é uma representação<br />

dos corpos celestes que constituem a<br />

constelação da Ema, na percepção<br />

indígena.<br />

453


Almanaque BRASIL, maio/2007 (com adaptações).<br />

A próxima figura mostra, em campo de<br />

visão ampliado, como povos de culturas<br />

não-indígenas percebem o espaço estelar<br />

em que a Ema é vista.<br />

Internet: (com adaptações).<br />

Assinale a opção correta a respeito da<br />

linguagem empregada no texto A Ema.<br />

A) A palavra Cut’uxu é um regionalismo<br />

utilizado pelas populações próximas às<br />

aldeias indígenas.<br />

B) O autor se expressa em linguagem<br />

formal em todos os períodos do texto.<br />

C) A ausência da palavra Ema no início do<br />

período “É limitada (...)” caracteriza<br />

registro oral.<br />

D) A palavra Cut’uxu está destacada em<br />

itálico porque integra o vocabulário da<br />

linguagem informal.<br />

E) No texto, predomina a linguagem<br />

coloquial porque ele consta de um<br />

almanaque.<br />

Comentário<br />

A questão é simples, mas requer cuidados<br />

quanto aos conceitos de linguagem<br />

“informal”, “formal” e de “língua”. Se o aluno<br />

tiver noção desses conceitos,<br />

chegará facilmente à resposta. A linguagem<br />

formal ou culta prevalece no texto, e o termo<br />

“Cut’uxu’ não é um termo informal, mas, sim,<br />

uma expressão que pertence a uma língua<br />

indígena — o que justifica o emprego da<br />

palavra em itálico. A resposta correta é,<br />

portanto, a letra "B".<br />

06) (2008) Calcula-se que 78% do<br />

desmatamento na Amazônia tenha sido<br />

motivado pela pecuária — cerca de 35%<br />

do rebanho nacional está na região — e<br />

que pelo menos 50 milhões de hectares<br />

de pastos são pouco produtivos. Enquanto<br />

o custo médio para aumentar a<br />

produtividade de 1 hectare de pastagem é<br />

de 2 mil reais, o custo para derrubar igual<br />

área de floresta é estimado em 800 reais,<br />

o que estimula novos desmatamentos.<br />

Adicionalmente, madeireiras retiram as<br />

árvores de valor comercial que foram<br />

abatidas para a criação de pastagens. Os<br />

pecuaristas sabem que problemas<br />

ambientais como esses podem provocar<br />

restrições à pecuária nessas áreas, a<br />

exemplo do que ocorreu em 2006 com o<br />

plantio da soja, o qual, posteriormente, foi<br />

proibido em áreas de floresta.<br />

Época, 3/3/2008 e 9/6/2008 (com adaptações).<br />

A partir da situação-problema descrita,<br />

conclui-se que<br />

A) o desmatamento na Amazônia decorre<br />

principalmente da exploração ilegal de<br />

árvores de valor comercial.<br />

B) um dos problemas que os pecuaristas<br />

vêm enfrentando na Amazônia é a<br />

proibição do plantio de soja.<br />

C) a mobilização de máquinas e de força<br />

humana torna o desmatamento mais<br />

caro que o aumento da produtividade<br />

de pastagens.<br />

D) o superavit comercial decorrente da<br />

exportação de carne produzida na<br />

Amazônia compensa a possível<br />

degradação ambiental.<br />

E) a recuperação de áreas desmatadas<br />

e o aumento de produtividade das<br />

pastagens podem contribuir para a<br />

redução do desmatamento na<br />

Amazônia.<br />

Comentário do portal<br />

Essa questão retrata o problema do<br />

desmatamento da Amazônia, relacionado<br />

principalmente com o desenvolvimento da<br />

pecuária na região. Para resolvê-la, foram<br />

necessários a leitura atenta do texto e o<br />

conhecimento sobre os problemas<br />

ambientais da atualidade. A alternativa<br />

correta é a letra E, pois é mais caro para os<br />

pecuaristas aumentar a produtividade do que<br />

as áreas de pasto, o que acarreta o aumento<br />

do desmatamento da Amazônia.<br />

454


07) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />

preciso, além de conhecer o padrão<br />

formal da Língua Portuguesa, saber<br />

adequar o uso da linguagem ao contexto<br />

discursivo. Para exemplificar este fato,<br />

seu professor de Língua Portuguesa<br />

convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />

Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />

brinca com situações de discurso oral que<br />

fogem à expectativa do ouvinte.<br />

Aí, Galera<br />

Jogadores de futebol podem ser<br />

vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />

você pode imaginar um jogador de futebol<br />

dizendo "estereotipação"? E, no<br />

entanto, por que não?<br />

- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />

galera.<br />

- Minha saudação aos aficionados do<br />

clube e aos demais esportistas, aqui<br />

presentes ou no recesso dos seus lares.<br />

- Como é?<br />

- Aí, galera.<br />

- Quais são as instruções do técnico?<br />

- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />

trabalho de contenção coordenada, com<br />

energia otimizada, na zona de<br />

preparação, aumentam as<br />

probabilidades de, recuperado o<br />

esférico, concatenarmos um contragolpe<br />

agudo com parcimônia de meios e<br />

extrema objetividade, valendo-nos da<br />

desestruturação momentânea do<br />

sistema oposto, surpreendido pela<br />

reversão inesperada do fluxo da ação:<br />

- Ahn?<br />

- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />

pegá eles sem calça.<br />

- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />

coisa?<br />

- Posso dirigir uma mensagem de<br />

caráter sentimental, algo banal, talvez<br />

mesmo previsível e piegas, a uma<br />

pessoa à qual sou ligado por razões,<br />

inclusive, genéticas?<br />

- Pode.<br />

- Uma saudação para a minha<br />

progenitora.<br />

- Como é?<br />

- Alô, mamãe!<br />

- Estou vendo que você é um, um...<br />

- Um jogador que confunde o<br />

entrevistador, pois não corresponde à<br />

expectativa de que o atleta seja um ser<br />

algo primitivo com dificuldade de<br />

expressão e assim sabota a<br />

estereotipação?<br />

- Estereoquê?<br />

- Um chato?<br />

- Isso.<br />

Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />

O texto retrata duas situações<br />

relacionadas que fogem à expectativa do<br />

público. São elas:<br />

A) a saudação do jogador aos fãs do<br />

clube, no início da entrevista, e a<br />

saudação final dirigida à sua mãe.<br />

B) a linguagem muito formal do jogador,<br />

inadequada à situação da entrevista, e<br />

um jogador que fala, com desenvoltura,<br />

de modo muito rebuscado.<br />

C) o uso da expressão "galera", por parte<br />

do entrevistador, e da expressão<br />

"progenitora", por parte do jogador.<br />

D) o desconhecimento, por parte do<br />

entrevistador, da palavra<br />

"estereotipação", e a fala do jogador<br />

em "é pra dividir no meio e ir pra cima<br />

pra pegá eles sem calça".<br />

E) o fato de os jogadores de futebol serem<br />

vítimas de estereotipação e o jogador<br />

entrevistado não corresponder ao<br />

estereótipo.<br />

Comentário<br />

Quando pensamos em certas profissões,<br />

imaginamos qual seria o padrão de<br />

comportamento de quem as exerce. O texto<br />

está trabalhando uma divergência entre o<br />

que esperamos de um jogador de futebol (o<br />

estereótipo que temos dele) e um jogador<br />

que não se enquadra em nossas<br />

expectativas. Levando isso em consideração,<br />

as duas coisas que destoam do que<br />

esperamos encontrar nessa situação são: 1)<br />

alguém, ao dar uma entrevista de alto<br />

alcance popular, fala de maneira<br />

extremamente rebuscada; 2) um jogador que,<br />

ao falar de maneira rebuscada, acaba por<br />

fugir do estereótipo do jogador de futebol, de<br />

quem sempre é esperado algo menos<br />

rebuscado e mais popular.<br />

08) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />

preciso, além de conhecer o padrão<br />

formal da Língua Portuguesa, saber<br />

adequar o uso da linguagem ao contexto<br />

discursivo. Para exemplificar este fato,<br />

seu professor de Língua Portuguesa<br />

convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />

Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />

brinca com situações de discurso oral que<br />

fogem à expectativa do ouvinte.<br />

455


Aí, Galera<br />

Jogadores de futebol podem ser<br />

vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />

você pode imaginar um jogador de futebol<br />

dizendo "estereotipação"? E, no<br />

entanto, por que não?<br />

- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />

galera.<br />

- Minha saudação aos aficionados do<br />

clube e aos demais esportistas, aqui<br />

presentes ou no recesso dos seus lares.<br />

- Como é?<br />

- Aí, galera.<br />

- Quais são as instruções do técnico?<br />

- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />

trabalho de contenção coordenada, com<br />

energia otimizada, na zona de<br />

preparação, aumentam as<br />

probabilidades de, recuperado o<br />

esférico, concatenarmos um contragolpe<br />

agudo com parcimônia de meios e<br />

extrema objetividade, valendo-nos da<br />

desestruturação momentânea do<br />

sistema oposto, surpreendido pela<br />

reversão inesperada do fluxo da ação:<br />

- Ahn?<br />

- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />

pegá eles sem calça.<br />

- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />

coisa?<br />

- Posso dirigir uma mensagem de<br />

caráter sentimental, algo banal, talvez<br />

mesmo previsível e piegas, a uma<br />

pessoa à qual sou ligado por razões,<br />

inclusive, genéticas?<br />

- Pode.<br />

- Uma saudação para a minha<br />

progenitora.<br />

- Como é?<br />

- Alô, mamãe!<br />

- Estou vendo que você é um, um...<br />

- Um jogador que confunde o<br />

entrevistador, pois não corresponde à<br />

expectativa de que o atleta seja um ser<br />

algo primitivo com dificuldade de<br />

expressão e assim sabota a<br />

estereotipação?<br />

- Estereoquê?<br />

- Um chato?<br />

- Isso.<br />

Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />

O texto mostra uma situação em que a<br />

linguagem usada é inadequada ao<br />

contexto. Considerando as diferenças<br />

entre língua oral e língua escrita, assinale<br />

a opção que representa também uma<br />

inadequação da linguagem usada ao<br />

contexto:<br />

A) "o carro bateu e capotô, mas num deu<br />

pra vê direito" - um pedestre que<br />

assistiu ao acidente comenta com o<br />

outro que vai passando.<br />

B) "E aí, ô meu! Como vai essa força?" -<br />

um jovem que fala para um amigo.<br />

C) "Só um instante, por favor. Eu<br />

gostaria de fazer uma observação" -<br />

alguém comenta em uma reunião de<br />

trabalho.<br />

D) "Venho manifestar meu interesse em<br />

candidatar-me ao cargo de Secretária<br />

Executiva desta conceituada empresa"<br />

- alguém que escreve uma carta<br />

candidatando-se a um emprego.<br />

E) "Porque se a gente não resolve as<br />

coisas como têm que ser, a gente corre<br />

o risco de termos, num futuro próximo,<br />

muito pouca comida nos lares<br />

brasileiros" - um professor universitário<br />

em um congresso internacional.<br />

Comentário<br />

Essa questão está trabalhando com as<br />

nossas expectativas. Esperamos encontrar,<br />

nas diferentes situações, linguagens que<br />

correspondam à formalidade (ou à<br />

informalidade) delas. Na alternativa E, como<br />

o professor universitário está falando em um<br />

congresso internacional, espera-se que ele<br />

utilize uma linguagem mais formal e não uma<br />

linguagem coloquial como a que usou. Em<br />

todas as outras situações, a linguagem está<br />

de acordo com a situação em que está sendo<br />

empregada.<br />

09) (2007) Texto I<br />

Agora Fabiano conseguia arranjar as<br />

idéias. O que o segurava era a família.<br />

Vivia preso como um novilho amarrado ao<br />

mourão, suportando ferro quente. Se não<br />

fosse isso, um soldado amarelo não lhe<br />

pisava o pé não. (...) Tinha aqueles<br />

cambões pendurados ao pescoço.<br />

Deveria continuar a arrastá-los? Sinha<br />

Vitória dormia mal na cama de varas. Os<br />

meninos eram uns brutos, como o pai.<br />

Quando crescessem, guardariam as reses<br />

de um patrão invisível, seriam pisados,<br />

maltratados, machucados por um soldado<br />

amarelo.<br />

Graciliano Ramos. Vidas Secas. São Paulo:<br />

Martins, 23.ª ed., 1969, p. 75.<br />

Texto II<br />

Para Graciliano, o roceiro pobre é um<br />

outro, enigmático, impermeável. Não há<br />

solução fácil para uma tentativa de<br />

456


incorporação dessa figura no campo da<br />

ficção. É lidando com o impasse, ao invés<br />

de fáceis soluções, que Graciliano vai<br />

criar Vidas Secas, elaborando uma<br />

linguagem, uma estrutura romanesca,<br />

uma constituição de narrador em que<br />

narrador e criaturas se tocam, mas não se<br />

identificam. Em grande medida, o debate<br />

acontece porque, para a intelectualidade<br />

brasileira naquele momento, o pobre, a<br />

despeito de aparecer idealizado em certos<br />

aspectos, ainda é visto como um ser<br />

humano de segunda categoria, simples<br />

demais, incapaz de ter pensamentos<br />

demasiadamente complexos. O que Vidas<br />

Secas faz é, com pretenso não<br />

envolvimento da voz que controla a<br />

narrativa, dar conta de uma riqueza<br />

humana de que essas pessoas seriam<br />

plenamente capazes.<br />

Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes. In:<br />

Teresa. São Paulo: USP, n.° 2, 2001, p. 254.<br />

No texto II, verifica-se que o autor utiliza<br />

A) linguagem predominantemente<br />

formal, para problematizar, na<br />

composição de Vidas Secas, a relação<br />

entre o escritor e o personagem<br />

popular.<br />

B) linguagem inovadora, visto que, sem<br />

abandonar a linguagem formal, dirigese<br />

diretamente ao leitor.<br />

C) linguagem coloquial, para narrar<br />

coerentemente uma história que<br />

apresenta o roceiro pobre de forma<br />

pitoresca.<br />

D) linguagem formal com recursos<br />

retóricos próprios do texto literário em<br />

prosa, para analisar determinado<br />

momento da literatura brasileira.<br />

E) linguagem regionalista, para transmitir<br />

informações sobre literatura, valendose<br />

de coloquialismo, para facilitar o<br />

entendimento do texto.<br />

Comentário<br />

Questão de nível médio. Algumas<br />

alternativas poderiam levar o candidato a<br />

pensar que o texto de Vidas Secas utiliza<br />

uma linguagem predominantemente coloquial<br />

e regionalista. Entretanto, é na alternativa A<br />

que se encontra o real estilo da linguagem<br />

utilizada por Graciliano Ramos. A linguagem<br />

é, portanto, predominantemente formal e<br />

problematiza a relação do escritor com o<br />

personagem popular. Esta acaba sendo uma<br />

das grandes características do autor, pois ele<br />

buscava sempre dar uma grande densidade<br />

psicológica aos seus romances.<br />

<strong>10</strong>) (2006) Depois de um bom jantar: feijão<br />

com carne-seca, orelha de porco e couve<br />

com angu, arroz-mole engordurado, carne<br />

de vento assada no espeto, torresmo<br />

enxuto de toicinho da barriga, viradinho de<br />

milho verde e um prato de caldo de couve,<br />

jantar encerrado por um prato fundo de<br />

canjica com torrões de açúcar, Nhô Tomé<br />

saboreou o café forte e se estendeu na<br />

rede. A mão direita sob a cabeça, à guisa<br />

de travesseiro, o indefectível cigarro de<br />

palha entre as pontas do indicador e do<br />

polegar, envernizados pela fumaça, de<br />

unhas encanoadas e longas, ficou-se de<br />

pança para o ar, modorrento, a olhar para<br />

as ripas do telhado.<br />

Quem come e não deita, a comida não<br />

aproveita, pensava Nhô Tomé... E pôs-se<br />

a cochilar. A sua modorra durou pouco;<br />

Tia Policena, ao passar pela sala, bradou<br />

assombrada:<br />

— Êêh! Sinhô! Vai drumi agora? Não!<br />

Num presta... Dá pisadêra e póde morrê<br />

de ataque de cabeça! Despois do armoço<br />

num far-má... mais despois da janta?!”<br />

Cornélio Pires. Conversas ao pé do fogo. São Paulo:<br />

Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1987.<br />

Nesse trecho, extraído de texto publicado<br />

originalmente em 1921, o narrador<br />

A) apresenta, sem explicitar juízos de<br />

valor, costumes da epoca, descrevendo<br />

os pratos servidos no jantar e a atitude<br />

de Nhô Tomé e de Tia Policena.<br />

B) desvaloriza a norma culta da língua<br />

porque incorpora à narrativa usos<br />

próprios da linguagem regional das<br />

personagens.<br />

C) condena os hábitos descritos, dando<br />

voz a Tia Policena, que tenta impedir<br />

Nhô Tomé de deitar-se após as<br />

refeições.<br />

D) utiliza a diversidade sociocultural e<br />

lingüística para demonstrar seu<br />

desrespeito às populações das zonas<br />

rurais do início do século XX.<br />

E) manifesta preconceito em relação a Tia<br />

Policena ao transcrever a fala dela com<br />

os erros próprios da região.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil, pois a alternativa<br />

"A" deixa clara a intencionalidade do<br />

narrador. Entretanto, o aluno poderia optar<br />

pela alternativa "B" caso não desse o devido<br />

valor ao sentido da palavra “desvaloriza”, que<br />

a elimina.<br />

457


11) (2006) Aula de português<br />

458<br />

Explorando a função emotiva da<br />

linguagem, o poeta expressa o contraste<br />

entre marcas de variação de usos da<br />

linguagem em<br />

A) situações formais e informais.<br />

B) diferentes regiões do país.<br />

C) escolas literárias distintas.<br />

D) textos técnicos e poéticos.<br />

E) diferentes épocas.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil, pois o próprio título<br />

nos dá uma noção da dificuldade de<br />

transformar a linguagem coloquial e de uso<br />

cotidiano em uma linguagem formal,<br />

expressa no poema como “a misteriosa”.<br />

Drummond foi muito feliz em conseguir<br />

demonstrar a dificuldade em entender como<br />

estruturas simples da língua se tornam tão<br />

complexas ao se iniciar o processo de<br />

compreensão da estrutura lingüística.<br />

12) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />

preciso, além de conhecer o padrão<br />

formal da Língua Portuguesa, saber<br />

adequar o uso da linguagem ao contexto<br />

discursivo. Para exemplificar este fato,<br />

seu professor de Língua Portuguesa<br />

convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />

Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />

brinca com situações de discurso oral que<br />

fogem à expectativa do ouvinte.<br />

Aí, Galera<br />

Jogadores de futebol podem ser<br />

vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />

você pode imaginar um jogador de futebol<br />

dizendo "estereotipação"? E, no<br />

entanto, por que não?<br />

- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />

galera.<br />

- Minha saudação aos aficionados do<br />

clube e aos demais esportistas, aqui<br />

presentes ou no recesso dos seus lares.<br />

- Como é?<br />

- Aí, galera.<br />

- Quais são as instruções do técnico?<br />

- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />

trabalho de contenção coordenada, com<br />

energia otimizada, na zona de<br />

preparação, aumentam as<br />

probabilidades de, recuperado o<br />

esférico, concatenarmos um contragolpe<br />

agudo com parcimônia de meios e<br />

extrema objetividade, valendo-nos da<br />

desestruturação momentânea do<br />

sistema oposto, surpreendido pela<br />

reversão inesperada do fluxo da ação:<br />

- Ahn?<br />

- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />

pegá eles sem calça.<br />

- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />

coisa?<br />

- Posso dirigir uma mensagem de<br />

caráter sentimental, algo banal, talvez<br />

mesmo previsível e piegas, a uma<br />

pessoa à qual sou ligado por razões,<br />

inclusive, genéticas?<br />

- Pode.<br />

- Uma saudação para a minha<br />

progenitora.<br />

- Como é?<br />

- Alô, mamãe!<br />

- Estou vendo que você é um, um...<br />

- Um jogador que confunde o<br />

entrevistador, pois não corresponde à<br />

expectativa de que o atleta seja um ser<br />

algo primitivo com dificuldade de<br />

expressão e assim sabota a<br />

estereotipação?<br />

- Estereoquê?<br />

- Um chato?<br />

- Isso.<br />

Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />

A expressão "pegá eles sem calça"<br />

poderia ser substituída, sem<br />

comprometimento de sentido, em língua<br />

culta, formal, por:<br />

A) pegá-los na mentira.<br />

B) pegá-los desprevenidos.


C) pegá-los em flagrante.<br />

D) pegá-los rapidamente.<br />

E) pegá-los momentaneamente<br />

Comentário<br />

O trabalho que temos aqui é de<br />

compreensão de sentido. Se você nunca<br />

ouviu a expressão "de calças na mão", terá<br />

de imaginar o que acontece quando<br />

pegamos alguém nessa situação. Mas isso<br />

não basta. Se usar somente situações que<br />

pode imaginar, restarão as alternativas B e<br />

C. Esse problema só será solucionado se<br />

você entender bem o texto a que ele se<br />

refere. Como o jogador está falando em<br />

roubar a bola e partir para cima do adversário<br />

rapidamente, imagina-se que o adversário<br />

não esperava perder a bola naquele<br />

momento e, quando isso ocorreu, ele não<br />

estava preparado para receber um contraataque.<br />

Utilizando essa análise, somente a<br />

alternativa B está correta.<br />

13) (2000) Em uma conversa ou leitura de<br />

um texto, corre-se o risco de atribuir um<br />

significado inadequado a um termo ou<br />

expressão, e isso pode levar a certos<br />

resultados inesperados, como se vê nos<br />

quadrinhos abaixo.<br />

Pois é, essa é uma questão fácil e a<br />

interpretação do texto é simples, e não há<br />

por que ter dúvidas quanto à resposta, a não<br />

ser que não se leia a proposta da questão.<br />

Comentário do INEP<br />

Essa questão procurou avaliar se o<br />

participante conseguia inferir, a partir de uma<br />

seqüência narrativa de imagens, a expressão<br />

lingüística adequada à situação de<br />

interlocução, no caso a fala da personagem,<br />

no primeiro quadrinho. A expressão de uso<br />

coloquial 'olha o passarinho!', dependendo do<br />

contexto, tem diferentes significados, que<br />

nesse caso foram associados pelo cartunista<br />

para produzir o efeito de humor. A grande<br />

maioria - 89% - dos participantes realizou a<br />

inferência solicitada, analisando a função da<br />

linguagem e identificando a variante<br />

lingüística adequada à situação de<br />

interlocução, com base na leitura da<br />

seqüência das imagens e da fala da<br />

personagem no terceiro quadrinho. É<br />

interessante notar a abrangência dessa<br />

expressão metafórica no Brasil, criada no<br />

contexto informal da fala com seus<br />

significados correspondentes. Mesmo assim,<br />

11% dos participantes, possivelmente,<br />

desconhecem essa expressão ou não<br />

conseguiram realizar a transposição do<br />

significado humorístico da fala do último<br />

quadrinho.<br />

14) (2006) Aula de português<br />

(SOUZA, Maurício de. Chico Bento.<br />

Rio de Janeiro: Ed. Globo, n o 335, Nov./99 )<br />

Nessa historinha, o efeito humorístico<br />

origina-se de uma situação criada pela<br />

fala da Rosinha no primeiro quadrinho,<br />

que é:<br />

A) Faz uma pose bonita!<br />

B) Quer tirar um retrato?<br />

C) Sua barriga está aparecendo!<br />

D) Olha o passarinho!<br />

E) Cuidado com o flash!<br />

Comentário<br />

Quem não se lembra de expressões<br />

humorísticas usadas quando se deseja tirar<br />

uma foto, como "Olha o passarinho" ou "Fale<br />

xis"?<br />

459


No poema, a referência à variedade<br />

padrão da língua está expressa no<br />

seguinte trecho:<br />

A) “A linguagem / na ponta da língua” (v.1<br />

e 2).<br />

B) “A linguagem / na superfície<br />

estrelada de letras” (v.5 e 6).<br />

C) “[a língua] em que pedia para ir lá<br />

fora” (v.14).<br />

D) “[a língua] em que levava e dava<br />

pontapé” (v.15).<br />

E) “[a língua] do namoro com a priminha”<br />

(v.17).<br />

Comentário<br />

Questão fácil, pois a alternativa "B" é a<br />

única que faz menção à norma-padrão da<br />

língua. As demais alternativas fogem a essa<br />

norma.<br />

15) (2005) Leia com atenção o texto:<br />

[Em Portugal], você poderá ter alguns<br />

probleminhas se entrar numa loja de<br />

roupas desconhecendo certas sutilezas da<br />

língua. Por exemplo, não adianta pedir<br />

para ver os ternos — peça para ver os<br />

fatos. Paletó é casaco. Meias são<br />

peúgas. Suéter é camisola — mas não<br />

se assuste, porque calcinhas femininas<br />

são cuecas. (Não é uma delícia?)<br />

(Ruy Castro. Viaje Bem. Ano VIII, no 3, 78.)<br />

O texto destaca a diferença entre o<br />

português do Brasil e o de Portugal<br />

quanto<br />

A) ao vocabulário.<br />

B) à derivação.<br />

C) à pronúncia.<br />

D) ao gênero.<br />

E) à sintaxe.<br />

Comentário<br />

Questão de entendimento muito fácil, pois<br />

o próprio enunciado deixa claro que se trata<br />

das diferenças de vocabulário entre o<br />

português brasileiro e o lusitano.<br />

16) (2008) A Lei Federal n.º 9.985/2000, que<br />

instituiu o sistema nacional de unidades<br />

de conservação, define dois tipos de<br />

áreas protegidas. O primeiro, as unidades<br />

de proteção integral, tem por objetivo<br />

preservar a natureza, admitindo-se<br />

apenas o uso indireto dos seus recursos<br />

naturais, isto é, aquele que não envolve<br />

consumo, coleta, dano ou destruição dos<br />

recursos naturais. O segundo, as<br />

unidades de uso sustentável, tem por<br />

função compatibilizar a conservação da<br />

natureza com o uso sustentável de<br />

parcela dos recursos naturais. Nesse<br />

caso, permite-se a exploração do<br />

ambiente de maneira a garantir a<br />

perenidade dos recursos ambientais<br />

renováveis e dos processos ecológicos,<br />

mantendo-se a biodiversidade e os<br />

demais atributos ecológicos, de forma<br />

socialmente justa e economicamente<br />

viável.<br />

Considerando essas informações, analise<br />

a seguinte situação hipotética.<br />

Ao discutir a aplicação de recursos<br />

disponíveis para o desenvolvimento de<br />

determinada região, organizações civis,<br />

universidade e governo resolveram<br />

investir na utilização de uma unidade de<br />

proteção integral, o Parque Nacional do<br />

Morro do Pindaré, e de uma unidade de<br />

uso sustentável, a Floresta Nacional do<br />

Sabiá. Depois das discussões, a equipe<br />

resolveu levar adiante três projetos:<br />

— o projeto I consiste de pesquisas<br />

científicas embasadas exclusivamente<br />

na observação de animais;<br />

— o projeto II inclui a construção de uma<br />

escola e de um centro de vivência;<br />

— o projeto III promove a organização de<br />

uma comunidade extrativista que<br />

poderá coletar e explorar<br />

comercialmente frutas e sementes<br />

nativas.<br />

Nessa situação hipotética, atendendo-se à<br />

lei mencionada acima, é possível<br />

desenvolver tanto na unidade de proteção<br />

integral quanto na de uso sustentável<br />

A) apenas o projeto I.<br />

B) apenas o projeto III.<br />

C) apenas os projetos I e II.<br />

D) apenas os projetos II e III.<br />

E) todos os três projetos.<br />

Comentário do portal<br />

A alternativa correta é a letra "A", pois,<br />

analisando-se a situação hipotética sugerida<br />

no enunciado, percebe-se que ela deverá<br />

atender os requisitos tanto da unidade de<br />

proteção integral quanto da unidade de uso<br />

sustentável. Portanto, apenas o projeto I<br />

poderá ser desenvolvido nessas duas<br />

propostas de unidades.<br />

460


17) (1999) Leia o texto abaixo.<br />

Cabelos longos, brinco na orelha<br />

esquerda, físico de skatista. Na aparência,<br />

o estudante brasiliense Rui Lopes Viana<br />

Filho, de 16 anos, não lembra em nada o<br />

estereótipo dos gênios. Ele não usa<br />

pesados óculos de grau e está longe de<br />

ter um ar introspectivo. No final do mês<br />

passado, Rui retornou de Taiwan, onde<br />

enfrentou 419 competidores de todo o<br />

mundo na 39ª Olimpíada Internacional de<br />

Matemática. A reluzente medalha de ouro<br />

que ele trouxe na bagagem está<br />

dependurada sobre a cama de seu quarto,<br />

atulhado de rascunhos dos problemas<br />

matemáticos que aprendeu a decifrar nos<br />

últimos cinco anos.<br />

Veja – Vencer uma olimpíada serve de<br />

passaporte para uma carreira profissional<br />

meteórica?<br />

Rui – Nada disso. Decidi me dedicar à<br />

Olimpíada porque sei que a concorrência<br />

por um emprego é cada vez mais<br />

selvagem e cruel. Agora tenho algo a mais<br />

para oferecer. O problema é que as coisas<br />

estão mudando muito rápido e não sei<br />

qual será minha profissão. Além de ser<br />

muito novo para decidir sobre o meu<br />

futuro profissional, sei que esse conceito<br />

de carreira mudou muito.<br />

(Entrevista de Rui Lopes Viana Filho à Veja,<br />

05/08/1998, n.31, p. 9-<strong>10</strong>)<br />

Na pergunta, o repórter estabelece uma<br />

relação entre a entrada do estudante no<br />

mercado de trabalho e a vitória na<br />

Olimpíada. O estudante<br />

A) concorda com a relação e afirma que o<br />

desempenho na Olimpíada é<br />

fundamental para sua entrada no<br />

mercado.<br />

B) discorda da relação e complementa<br />

que é fácil se fazer previsões sobre o<br />

mercado de trabalho.<br />

C) discorda da relação e afirma que seu<br />

futuro profissional independe de<br />

dedicação aos estudos.<br />

D) discorda da relação e afirma que seu<br />

desempenho só é relevante se<br />

escolher uma profissão relacionada à<br />

matemática.<br />

E) concorda em parte com a relação e<br />

complementa que é complexo fazer<br />

previsões sobre o mercado de trabalho.<br />

Comentário<br />

Não é difícil de se chegar à resposta<br />

correta ao se ler a reportagem. Ao final do<br />

último parágrafo — (...) Além de ser muito<br />

novo para decidir sobre o meu futuro<br />

profissional, sei que esse conceito de carreira<br />

mudou muito. —, o estudante praticamente<br />

fornece a resposta à questão, declarando-se<br />

realista ao não tentar prever seu futuro<br />

profissional devido à pouca idade e às<br />

mudanças no mercado de trabalho. Quanto a<br />

concordar parcialmente com o repórter, veja<br />

que ele, apesar de negar que o prêmio fosse<br />

uma garantia de sucesso profissional, logo<br />

depois afirma que, com ele, terá algo mais a<br />

oferecer ao mercado. Questão de nível fácil.<br />

Comentário do INEP<br />

Nesta situação-problema, o participante<br />

deveria demonstrar que compreendeu as<br />

premissas de um discurso, distinguindo a<br />

diferença de significado de palavras isoladas<br />

ou no contexto em que estão inseridas.<br />

Verificou-se que mais da metade dos<br />

participantes demonstrou possuir essa<br />

compreensão. Aqueles que optaram pelas<br />

alternativas C e D podem ter sido atraídos<br />

pelo significado negativo da expressão inicial<br />

"Nada disso".<br />

18) (1998) Texto 1<br />

"Mulher, Irmã, escuta-me: não ames,<br />

Quando a teus pés um homem terno e<br />

curvo<br />

jurar amor, chorar pranto de sangue,<br />

Não creias, não, mulher: ele te engana!<br />

As lágrimas são gotas da mentira<br />

E o juramento manto da perfídia."<br />

(Joaquim Manoel de Macedo)<br />

Texto 2<br />

"Teresa, se algum sujeito bancar o<br />

sentimental em cima de você<br />

E te jurar uma paixão do tamanho de um<br />

bonde<br />

Se ele chorar<br />

Se ele ajoelhar<br />

Se ele se rasgar todo<br />

Não acredite não Teresa<br />

É lágrima de cinema<br />

É tapeação<br />

Mentira<br />

CAI FORA"<br />

(Manuel Bandeira)<br />

Os autores, ao fazerem alusão às<br />

imagens da lágrima sugerem que:<br />

A) há um tratamento idealizado da<br />

relação homem/mulher.<br />

B) há um tratamento realista da relação<br />

homem/mulher.<br />

C) a relação familiar é idealizada.<br />

D) a mulher é superior ao homem.<br />

E) a mulher é igual ao homem.<br />

461


Comentário<br />

Ambos os autores, ao utilizarem a<br />

imagem da lágrima, estão na realidade<br />

mostrando que a figura do homem que é<br />

romântico a ponto de chorar ao jurar amor<br />

não existe. Tanto Macedo quanto<br />

Bandeira alertam as mulheres dizendo,<br />

com palavras e estilos diferentes, que não<br />

há homem que chore por amor (portanto,<br />

essa figura é uma idealização — e, por<br />

conseguinte, toda imagem que se tem<br />

sobre os relacionamentos<br />

demasiadamente românticos). Note que<br />

Bandeira chega até mesmo a chamar tal<br />

"chorão" de ator ("...É lágrima de cinema /<br />

É tapeação..."). Macedo dá uma imagem<br />

pesada às lágrimas ("...são gotas da<br />

mentira...").<br />

19) (1999)<br />

(QUINO. Mafalda inédita. São Paulo: Martins Fontes, 1993)<br />

Observando as falas das personagens,<br />

analise o emprego do pronome SE e o<br />

sentido que adquire no contexto. No<br />

contexto da narrativa, é correto afirmar<br />

que o pronome SE:<br />

A) em I, indica reflexividade e equivale a<br />

"a si mesmas".<br />

B) em II, indica reciprocidade e equivale a<br />

"a si mesma".<br />

C) em III, indica reciprocidade e equivale<br />

a "umas às outras".<br />

D) em I e III, indica reciprocidade e<br />

equivale a "umas às outras".<br />

E) em II e III, indica reflexividade e<br />

equivale a "a si mesma " e "a si<br />

mesmas", respectivamente.<br />

Comentário<br />

Mais uma questão que fala por si própria.<br />

Lendo o segundo quadrinho — "Quer dizer<br />

que você também se ama muito mais no<br />

Natal?" —, é fácil de se identificar o pronome<br />

reflexivo. Basta que se troque se ama por<br />

ama a si mesma. O mesmo ocorre no<br />

terceiro quadrinho em "Por que será que as<br />

pessoas se amam muito mais no Natal?" —<br />

Por que será que as pessoas amam a si<br />

mesmas? Questão de grau fácil.<br />

Comentário do INEP<br />

Este problema requeria que o participante<br />

mobilizasse conhecimentos sobre os<br />

significados de "reciprocidade e<br />

"reflexividade" e o associasse à<br />

compreensão de linguagem iconográfica.<br />

Cerca de metade dos participantes<br />

demonstrou essa capacidade. A opção de<br />

30% dos participantes pela alternativa D<br />

pode indicar que eles utilizaram as imagens<br />

apenas como ilustração do texto e não como<br />

linguagem capaz de instituir novos<br />

significados.<br />

20) (2001) Os provérbios constituem um<br />

produto da sabedoria popular e, em geral,<br />

pretendem transmitir um ensinamento. A<br />

alternativa em que os dois provérbios<br />

remetem a ensinamentos semelhantes é:<br />

A) “Quem diz o que quer, ouve o que não<br />

quer” e “Quem ama o feio, bonito lhe<br />

parece”.<br />

B) “Devagar se vai ao longe” e “De grão<br />

em grão, a galinha enche o papo”.<br />

C) “Mais vale um pássaro na mão do que<br />

dois voando” e “Não se deve atirar<br />

pérolas aos porcos”.<br />

D) “Quem casa quer casa” e “Santo de<br />

casa não faz milagre”.<br />

E) “Quem com ferro fere, com ferro será<br />

ferido” e “Casa de ferreiro, espeto de<br />

pau”.<br />

Comentário<br />

Questão fácil. A alternativa B apresenta<br />

dois provérbios que tratam de paciência,<br />

perseverança. A mensagem é a mesma em<br />

ambos.<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão propõe uma série de<br />

provérbios agrupados aos pares, para que o<br />

participante demonstre compreender e<br />

comparar os provérbios de modo a identificar<br />

aqueles que traduzem ensinamentos<br />

semelhantes. A organização sintáticosemântica<br />

dos provérbios cria um efeito de<br />

sentido metafórico que deve ser recuperado,<br />

analisado e comparado, o que foi<br />

corretamente feito por cerca de 80% dos<br />

participantes.<br />

21) (2006) No romance Vidas Secas, de<br />

Graciliano Ramos, o vaqueiro Fabiano<br />

encontra-se com o patrão para receber o<br />

salário. Eis parte da cena:<br />

462


C) racial e folclórico.<br />

D) histórico e geográfico.<br />

E) literário e popular.<br />

Graciliano Ramos. Vidas Secas. 91.ª ed.<br />

Rio de Janeiro: Record, 2003.<br />

No fragmento transcrito, o padrão formal<br />

da linguagem convive com marcas de<br />

regionalismo e de coloquialismo no<br />

vocabulário. Pertence à variedade do<br />

padrão formal da linguagem o seguinte<br />

trecho:<br />

A) Não se conformou: devia haver<br />

engano (l.1).<br />

B) Fabiano perdeu os estribos (l.3).<br />

C) Passar a vida inteira assim no toco<br />

(l.4).<br />

D) Entregando o que era dele de mao<br />

beijada! (l.4-5).<br />

E) Aí Fabiano baixou a pancada e<br />

amunhecou (l.11).<br />

Comentário do portal<br />

Questão de nível fácil. Bastaria que o<br />

candidato conhecesse o padrão formal da<br />

linguagem e distinguisse-o do regionalismo e<br />

do coloquialismo.<br />

22) (2005) As dimensões continentais do<br />

Brasil são objeto de reflexões expressas<br />

em diferentes linguagens. Esse tema<br />

aparece no seguinte p"Narizinho correu os<br />

olhos pela assistência. Não podia haver nada<br />

mais curioso. Besourinhos de oema:<br />

“(....)<br />

Que importa que uns falem mole<br />

descansado<br />

Que os cariocas arranhem os erres na<br />

garganta<br />

Que os capixabas e paroaras escancarem<br />

as vogais?<br />

Que tem se o quinhentos réis meridional<br />

Vira cinco tostões do Rio pro Norte?<br />

Junto formamos este assombro de<br />

misérias e grandezas,<br />

Brasil, nome de vegetal! (....)”<br />

(Mário de Andrade. Poesias completas. 6. ed. São Paulo:<br />

Martins Editora, 1980.)<br />

O texto poético ora reproduzido trata das<br />

diferenças brasileiras no âmbito<br />

A) étnico e religioso.<br />

B) lingüístico e econômico.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil, pois a primeira<br />

estrofe, ao enunciar os erres arranhados dos<br />

cariocas e as vogais abertas dos capixabas,<br />

evidencia a diferença lingüística entre duas<br />

regiões distintas do Brasil, dando noção da<br />

variedade. Já na segunda estrofe, as<br />

diferenças econômicas são evidenciadas ao<br />

se mostrarem os réis e tostões variando da<br />

Região Meridional para a Norte.<br />

23) (202) "Narizinho correu os olhos pela<br />

assistência. Não podia haver nada mais<br />

curioso. Besourinhos de fraque e flores na<br />

lapela conversavam com baratinhas de<br />

mantilha e miosótis nos cabelos. Abelhas<br />

douradas, verdes e azuis, falavam mal<br />

das vespas de cintura fina — achando que<br />

era exagero usarem coletes tão<br />

apertados. Sardinhas aos centos<br />

criticavam os cuidados excessivos que as<br />

borboletas de toucados de gaze tinham<br />

com o pó das suas asas. Mamangavas de<br />

ferrões amarrados para não morderem. E<br />

canários cantando, e beija-flores beijando<br />

flores, e camarões camaronando, e<br />

caranguejos caranguejando, tudo que é<br />

pequenino e não morde, pequeninando e<br />

não mordendo."<br />

LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. São Paulo:<br />

Brasiliense, 1947.<br />

No último período do trecho, há uma série<br />

de verbos no gerúndio que contribuem<br />

para caracterizar o ambiente fantástico<br />

descrito. Expressões como<br />

"camaronando", "caranguejando" e<br />

"pequeninando e não mordendo" criam,<br />

principalmente, efeitos de<br />

A) esvaziamento de sentido.<br />

B) monotonia do ambiente.<br />

C) estaticidade dos animais.<br />

D) interrupção dos movimentos.<br />

E) dinamicidade do cenário.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. O dinamismo dos<br />

verbos no gerúndio tem como função<br />

principal dar vida às personagens do mundo<br />

fantástico. Não há estagnação. Cada animal<br />

faz o que lhe cabe.<br />

463


Comentário do INEP<br />

Essa questão apresenta para leitura e<br />

análise um trecho da obra Reinações de<br />

Narizinho, de Monteiro Lobato, e, nele, a<br />

descrição reflete as fantasias do mundo<br />

infantil. A questão propõe que seja resolvido<br />

um problema de linguagem, que é a<br />

identificação dos sentidos criados no texto<br />

pelo emprego de vários verbos no gerúndio,<br />

alguns dos quais, neologismos criados pelo<br />

autor. Como o texto é uma descrição, temos<br />

o relato de um ambiente que se agita com as<br />

ações simultâneas dos muitos seres que o<br />

habitam. Cabe ao participante perceber que<br />

o efeito dinâmico é criado pelos verbos de<br />

ação no gerúndio, que é a forma verbal da<br />

ação se fazendo. Ou seja, é função típica do<br />

gerúndio traduzir a noção de uma ação que<br />

se desenvolve de modo simultâneo à sua<br />

enunciação. Nesse ambiente retratado por<br />

Monteiro Lobato, os bichinhos humanizados<br />

se agitam, lembrando um burburinho de<br />

crianças. Apenas a alternativa E, assinalada<br />

por 36% dos participantes, responde<br />

corretamente a questão. As outras<br />

alternativas contemplam efeitos ou<br />

significados que, apesar de eventualmente<br />

serem transmitidos pelo emprego do<br />

gerúndio, não se verificam no texto.<br />

24) (1999) Considere os textos abaixo.<br />

(...) de modo particular, quero encorajar os<br />

crentes empenhados no campo da<br />

filosofia para que iluminem os diversos<br />

âmbitos da atividade humana, graças ao<br />

exercício de uma razão que se torna mais<br />

segura e perspicaz com o apoio que<br />

recebe da fé.<br />

(Papa João Paulo II. Carta Encíclica Fides<br />

et Ratio aos bispos da igreja católica sobre as relações<br />

entre fé e razão, 1998)<br />

As verdades da razão natural não<br />

contradizem as verdades da fé cristã.<br />

(São Tomás de Aquino<br />

–pensador medieval)<br />

Refletindo sobre os textos, pode-se<br />

concluir que:<br />

A) a encíclica papal está em contradição<br />

com o pensamento de São Tomás de<br />

Aquino, refletindo a diferença de<br />

épocas.<br />

B) a encíclica papal procura<br />

complementar São Tomás de Aquino,<br />

pois este colocava a razão natural<br />

acima da fé.<br />

C) a Igreja medieval valorizava a razão<br />

mais do que a encíclica de João Paulo<br />

II.<br />

D) o pensamento teológico teve sua<br />

importância na Idade Média, mas, em<br />

nossos dias, não tem relação com o<br />

pensamento filosófico.<br />

E) tanto a encíclica papal como a frase<br />

de São Tomás de Aquino procuram<br />

conciliar os pensamentos sobre fé e<br />

razão.<br />

Comentário<br />

Nessa questão, é necessária uma<br />

releitura do texto para que se tenha uma<br />

melhor compreensão do tema. Tanto a<br />

citação do Papa quanto a de São Tomás de<br />

Aquino tentam criar uma interdependência<br />

entre a ciência e a fé, a religião. O Papa<br />

incentiva aqueles que exercem a pesquisa<br />

científica ou filosófica a manter a fé cristã.<br />

São Tomás de Aquino, por sua vez, equipara<br />

o avanço da ciência ao aumento da própria<br />

fé, afirmando que a razão natural não<br />

contradiz a fé cristã. Se um cresce, cresce<br />

também o outro, em harmonia e sem<br />

contradições. Questão de grau médio.<br />

(Português)<br />

Nessa questão, encontramos dois textos:<br />

o primeiro, do século XX, foi elaborado pelo<br />

Papa João Paulo II; o segundo, do século<br />

XIII, pelo teólogo e filósofo cristão São<br />

Tomás de Aquino. O conteúdo de ambos se<br />

refere à ligação entre fé e razão, a qual<br />

esteve presente na filosofia escolástica da<br />

Idade Média. Esse campo de reflexão buscou<br />

conciliar o cristianismo com o pensamento de<br />

Aristóteles e teve em São Tomás de Aquino<br />

seu maior representante.<br />

Mesmo sem ter todas essas informações,<br />

você poderia responder tranqüilamente à<br />

questão por meio de uma leitura atenta dos<br />

dois textos, chegando à conclusão de que<br />

"tanto a encíclica papal como a frase de São<br />

Tomás de Aquino procuram conciliar os<br />

pensamentos sobre fé e razão". Resposta<br />

correta: alternativa E. (História)<br />

Comentário do INEP<br />

Para resolver esta situação-problema, o<br />

participante deveria mostrar que, além de<br />

interpretar textos, sabe relacioná-los sendo<br />

que, nesse item, essas operações referem-se<br />

a um texto escrito na época medieval e a<br />

outro escrito recentemente.<br />

Mais de 70% dos participantes<br />

demonstraram facilidade em estabelecer esta<br />

relação.<br />

464


25) (2008) Assinale a opção que apresenta<br />

um verso do soneto de Cláudio Manoel da<br />

Costa em que o poeta se dirige ao seu<br />

interlocutor.<br />

A) “Torno a ver-vos, ó montes; o<br />

destino” (v.1)<br />

B) “Aqui estou entre Almendro, entre<br />

Corino,” (v.5)<br />

C) “Os meus fiéis, meus doces<br />

companheiros,” (v.6)<br />

D) “Vendo correr os míseros vaqueiros”<br />

(v.7)<br />

E) “Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto,”<br />

(v.11)<br />

Comentário<br />

Nesta questão, basta que o aluno<br />

identifique o pronome oblíquo, presente no<br />

verso um, que chama o leitor para o texto.<br />

Sendo assim, a resposta correta é a letra "A".<br />

26) (2008)<br />

Dick Browne. O melhor de Hagar, o horrível, v. 2. L&PM<br />

pocket, p.55-6 (com adaptações).<br />

Assinale o trecho do diálogo que<br />

apresenta um registro informal, ou<br />

coloquial, da linguagem.<br />

A) “Tá legal, espertinho! Onde é que<br />

você esteve?!”<br />

B) “E lembre-se: se você disser uma<br />

mentira, os seus chifres cairão!”<br />

C) “Estou atrasado porque ajudei uma<br />

velhinha a atravessar a rua...”<br />

D) “...e ela me deu um anel mágico que<br />

me levou a um tesouro”<br />

E) “mas bandidos o roubaram e os<br />

persegui até a Etiópia, onde um<br />

dragão...”<br />

Comentário<br />

Linguagem coloquial é aquela usada no<br />

cotidiano, que tem como característica<br />

principal a oralidade, ou seja, aquela que não<br />

segue o rigor da norma culta.<br />

Entre as alternativas da questão, apenas<br />

a letra "A" apresenta esses traços.<br />

27) (1999) Leia um texto publicado no jornal<br />

Gazeta Mercantil. Esse texto é parte de<br />

um artigo que analisa algumas situações<br />

de crise no mundo, entre elas, a quebra<br />

da Bolsa de Nova Iorque em 1929, e foi<br />

publicado na época de uma iminente crise<br />

financeira no Brasil.<br />

Deu no que deu. No dia 29 de outubro de<br />

1929, uma terça-feira, praticamente não<br />

havia compradores no pregão de Nova<br />

Iorque, só vendedores. Seguiu-se uma<br />

crise incomparável: o Produto Interno<br />

Bruto dos Estados Unidos caiu de <strong>10</strong>4<br />

bilhões de dólares em 1929, para 56<br />

bilhões em 1933, coisa inimaginável em<br />

nossos dias. O valor do dólar caiu a quase<br />

metade. O desemprego elevou-se de 1,5<br />

milhão para 12,5 milhões de trabalhadores<br />

– cerca de 25% da população ativa –<br />

entre 1929 e 1933. A construção civil caiu<br />

90%. Nove milhões de aplicações, tipo<br />

caderneta de poupança, perderam-se com<br />

o fechamento dos bancos. Oitenta e cinco<br />

mil firmas faliram. Houve saques e norteamericanos<br />

que passaram fome.<br />

(Gazeta Mercantil, 05/01/1999)<br />

Ao citar dados referentes à crise ocorrida<br />

em 1929, em um artigo jornalístico atual,<br />

pode-se atribuir ao jornalista a seguinte<br />

intenção:<br />

A) questionar a interpretação da crise.<br />

B) comunicar sobre o desemprego.<br />

C) instruir o leitor sobre aplicações em<br />

bolsa de valores.<br />

D) relacionar os fatos passados e<br />

presentes.<br />

E) analisar dados financeiros americanos.<br />

Comentário<br />

Nessa questão, o que se tem de fazer é<br />

prestar atenção às alternativas das<br />

respostas. Nenhuma delas se apresenta tão<br />

bem contextualizada a uma possível<br />

interpretação quanto a letra D. Partindo-se da<br />

análise do texto, fica claro que a intenção do<br />

artigo é remeter o leitor ao passado para<br />

tentar conduzi-lo a uma reflexão sobre uma<br />

situação presente, não mencionada na<br />

questão. Após a leitura e utilizando-se a já<br />

citada eliminação de questões, torna-se clara<br />

a resposta. Questão de nível médio.<br />

(Português)<br />

465


Muitas vezes, quando procuramos<br />

entender uma crise econômica ou financeira<br />

de grandes proporções, buscamos<br />

estabelecer relações com crises passadas. O<br />

mesmo ocorre no jornalismo, como prova o<br />

texto encontrado nessa questão. Buscando<br />

entender uma crise ocorrida no início de<br />

1999, o jornalista da Gazeta Mercantil<br />

buscou relacionar a situação dessa época<br />

com a grande crise de 1929 que afetou o<br />

mundo, trazendo desemprego e recessão,<br />

entre tantos outros problemas econômicos e<br />

sociais.<br />

Para responder a essa questão, era<br />

necessário ler atentamente o enunciado, em<br />

que está destacado que "o texto é parte de<br />

um artigo que analisa algumas situações de<br />

crise no mundo" e "foi publicado na época de<br />

uma iminente crise financeira no Brasil". Era<br />

importante também observar a data em que o<br />

artigo foi publicado: 05/01/1999. A partir<br />

dessas constatações, facilmente você<br />

chegaria a conclusão de que a intenção do<br />

jornalista era "relacionar os fatos passados e<br />

presentes". Resposta correta: alternativa D.<br />

(História)<br />

Comentário do INEP<br />

A resolução da questão demandava a<br />

capacidade dos participantes de relacionar<br />

eventos históricos envolvendo crises<br />

econômicas ocorridas em épocas e lugares<br />

distintos. Aproximadamente 2/3 deles<br />

demonstraram essa capacidade. Os demais,<br />

provavelmente, não compreenderam a<br />

exigência expressa no enunciado do<br />

problema – apontar as razões pelas quais um<br />

jornalista traz à tona eventos ocorridos<br />

setenta anos antes –, e apenas interpretaram<br />

o sentido do texto citado, que descreve a<br />

crise mundial de 1929.<br />

28) (2000) “Precisa-se nacionais sem<br />

nacionalismo, (...) movidos pelo presente<br />

mas estalando naquele cio racial que só<br />

as tradições maduram! (...). Precisa-se<br />

gentes com bastante meiguice no<br />

sentimento, bastante força na peitaria,<br />

bastante paciência no entusiasmo e<br />

sobretudo, oh! sobretudo bastante<br />

vergonha na cara!<br />

(...) Enfim: precisa-se brasileiros! Assim<br />

está escrito no anúncio vistoso de cores<br />

desesperadas pintado sobre o corpo do<br />

nosso Brasil, camaradas.”<br />

(Jornal A Noite, São Paulo, 18/12/1925 apud LOPES, Telê<br />

Porto Ancona. Mário<br />

de Andrade: ramais e caminhos. São Paulo: Duas<br />

Cidades, 1972)<br />

466<br />

No trecho acima, Mário de Andrade dá<br />

forma a um dos itens do ideário<br />

modernista, que é o de firmar a feição de<br />

uma língua mais autêntica, “brasileira”, ao<br />

expressar-se numa variante de linguagem<br />

popular identificada pela (o):<br />

A) escolha de palavras como cio, peitaria,<br />

vergonha.<br />

B) emprego da pontuação.<br />

C) repetição do adjetivo bastante.<br />

D) concordância empregada em Assim<br />

está escrito.<br />

E) escolha de construção do tipo<br />

precisa-se gentes.<br />

Comentário<br />

Apesar de essa questão misturar vários<br />

tipos de informação, se você se lembra um<br />

pouquinho dos usos da partícula se, com<br />

certeza não encontrará grande dificuldade.<br />

Segundo a regra gramatical, o verbo<br />

"precisa-se" deveria ir para o plural<br />

(precisam-se), mas essa noção de verbo<br />

concordante com o sujeito há muito<br />

desapareceu na variante popular brasileira.<br />

Mas, caso você não se lembre muito bem<br />

desse assunto ou ficou meio confuso com o<br />

texto e as outras alternativas, o caminho é<br />

responder por eliminação.<br />

A primeira alternativa apresenta palavras<br />

comuns no português brasileiro, mas<br />

nenhuma "invenção" nacional. Na dúvida,<br />

pense em "vergonha": não é uma invenção<br />

brasileira. Todos os que falam português no<br />

mundo conhecem bem essa palavra. A<br />

pontuação no texto não chama nenhuma<br />

atenção. Você provavelmente não viu nada<br />

de estranho nela. Da mesma forma, o<br />

"bastante" da terceira alternativa não é nada<br />

mais que um mecanismo de retórica, usado<br />

para dar ênfase à idéia. Com o "Assim está<br />

escrito", encontramos a mesma situação: um<br />

trecho litúrgico é usado para maior ênfase.<br />

Comentário do INEP<br />

A questão procurou avaliar se o<br />

participante era capaz de, a partir da leitura<br />

de um texto de Mário de Andrade , identificar<br />

e analisar uma variante lingüística de uso<br />

coloquial, utilizadas estilisticamente pelo<br />

autor. O uso estilístico das variantes marcou<br />

a primeira fase da literatura brasileira<br />

modernista. O trecho destaca em seu todo<br />

esse uso da linguagem popular. A escolha da<br />

construção 'precisa-se gentes' é marca desse<br />

uso estilístico. O índice de 37% na alternativa<br />

(A) demonstra, possivelmente, que os<br />

participantes não consideraram a escolha<br />

dos vocábulos, dentro do contexto do texto,


confundindo as palavras que aparecem na<br />

alternativa com '...a feição de uma língua<br />

mais autêntica...'.O percentual de acertos foi<br />

da ordem de 40%.<br />

29) (2004) O poema abaixo pertence à<br />

poesia concreta brasileira. O termo latino<br />

de seu título significa "epitalâmio", poema<br />

ou canto em homenagem aos que se<br />

casam.<br />

30) (2002) O autor da tira utilizou os<br />

princípios de composição de um<br />

conhecido movimento artístico para<br />

representar a necessidade de um mesmo<br />

observador aprender a considerar,<br />

simultaneamente, diferentes pontos de<br />

vista.<br />

Das obras reproduzidas, todas de autoria<br />

do pintor espanhol Pablo Picasso, aquela<br />

em cuja composição foi adotado um<br />

procedimento semelhante é:<br />

A)<br />

Considerando que símbolos e sinais são<br />

utilizados geralmente para demonstrações<br />

objetivas, ao serem incorporados no<br />

poema "Epithalamium - II".<br />

A) adquirem novo potencial de<br />

significação.<br />

B) eliminam a subjetividade do poema.<br />

C) opõem-se ao tema principal do poema.<br />

D) invertem seu sentido original.<br />

E) tornam-se confusos e equivocados.<br />

Comentário<br />

Diferentemente, por exemplo, da<br />

aplicação matemática dos símbolos, em que<br />

sinais como "=", "+", "-", "x", etc. servem<br />

como convenções internacionais de<br />

significação objetiva e invariável, em um<br />

poema como "Epithalamium – II" foram<br />

usados símbolos que não são convenções<br />

internacionais, mas, sim, convencionados<br />

apenas para esse texto. No caso, letras do<br />

alfabeto deixam de ser representações de<br />

sons (fonemas) para ganharem nova<br />

significação, principalmente pela construção<br />

visual do poema: unem homem (h) e mulher<br />

(e) pela ação da serpente (s) — libido,<br />

atração — em uma entidade única.<br />

Uma das tendências poéticas da segunda<br />

metade do século XX, resultado de um<br />

diálogo com estéticas já presentes no final do<br />

século XIX, trabalha com a construção de<br />

seu próprio referente, fazendo do poema um<br />

objeto autônomo.<br />

B)<br />

C)<br />

467


D)<br />

31) (2001) Oxímoro (ou paradoxo) é uma<br />

construção textual que agrupa significados<br />

que se excluem mutuamente. Para<br />

Garfield, a frase de saudação de Jon<br />

(tirinha abaixo) expressa o maior de todos<br />

os oxímoros.<br />

E)<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. O movimento<br />

artístico que previa considerar<br />

simultaneamente diversos pontos de vista<br />

era o Cubismo. Havia a desconstrução da<br />

forma para que se pudesse ver todos os<br />

ângulos concomitantemente. O único quadro<br />

que apresenta essas características é o da<br />

alternativa E. As outras quatro alternativas<br />

pressupõem a manutenção da forma.<br />

Comentário do INEP<br />

O objetivo desta questão é levar o<br />

participante a refletir sobre características<br />

fundamentais de um movimento artístico – o<br />

cubismo – a partir de dados visuais:<br />

quadrinhos e pinturas. A reprodução de dois<br />

quadrinhos da personagem Calvin forneceu<br />

para o participante informações básicas para<br />

a análise que deveria fazer das alternativas<br />

apresentadas. Segundo os quadrinhos, o<br />

movimento artístico abordado pela questão<br />

tinha como procedimento de composição<br />

representar, para um mesmo observador,<br />

diferentes pontos de vista, fazendo com que<br />

"o tradicional único ponto de vista" fosse<br />

abandonado e com que a perspectiva fosse<br />

fraturada. A análise das obras de Picasso<br />

reproduzidas nas alternativas permite que o<br />

participante reconheça a adoção desse<br />

procedimento no quadro "Marie-Thérèse<br />

apoiada no cotovelo" (alternativa E, com 46%<br />

de registros), no qual se pode reconhecer a<br />

representação de diferentes pontos de vista<br />

a partir dos quais é apresentado o rosto da<br />

mulher retratada.<br />

Folha de S. Paulo. 31 de julho de 2000.<br />

Nas alternativas abaixo, estão transcritos<br />

versos retirados do poema “O operário em<br />

construção”. Pode-se afirmar que ocorre<br />

um oxímoro em<br />

A) "Era ele que erguia casas<br />

Onde antes só havia chão."<br />

B) "... a casa que ele fazia<br />

Sendo a sua liberdade<br />

Era a sua escravidão."<br />

C) "Naquela casa vazia<br />

Que ele mesmo levantara<br />

Um mundo novo nascia<br />

De que sequer suspeitava."<br />

D) "... o operário faz a coisa<br />

E a coisa faz o operário."<br />

E) "Ele, um humilde operário<br />

Um operário que sabia<br />

Exercer a profissão."<br />

MORAES, Vinícius de. Antologia Poética. São Paulo:<br />

Companhia das Letras, 1992.<br />

Comentário<br />

Idéias que se completam e se excluem<br />

mutuamente são encontradas na alternativa<br />

B: a casa que ele construía era, ao mesmo<br />

tempo, sua liberdade e sua escravidão.<br />

A casa é um símbolo de liberdade para o<br />

homem. Para o homem operário, é também<br />

símbolo de escravidão, pois ele está<br />

"condenado" a jamais usufruir do resultado<br />

do seu trabalho (a casa que faz não é para<br />

ele).<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão propõe ao participante que<br />

estabeleça uma relação entre linguagens,<br />

associando a compreensão de um efeito<br />

semântico produzido pelo uso do oxímoro<br />

nos quadrinhos com o mesmo efeito num<br />

texto poético. O índice (18%) de escolhas da<br />

alternativa D deve-se, possivelmente, a uma<br />

análise parcial da noção de paradoxo,<br />

confundida com inversão.<br />

468


32) (2005) Cândido Portinari (1903-1962), um<br />

dos mais importantes artistas brasileiros<br />

do século XX, tratou de diferentes<br />

aspectos da nossa realidade em seus<br />

quadros.<br />

33) (2004)<br />

Sobre a temática dos “Retirantes”,<br />

Portinari também escreveu o seguinte<br />

poema:<br />

(....)<br />

Os retirantes vêm vindo com trouxas e<br />

embrulhos<br />

Vêm das terras secas e escuras;<br />

pedregulhos<br />

Doloridos como fagulhas de carvão aceso<br />

Corpos disformes, uns panos sujos,<br />

Rasgados e sem cor, dependurados<br />

Homens de enorme ventre bojudo<br />

Mulheres com trouxas caídas para o lado<br />

Pançudas, carregando ao colo um garoto<br />

Choramingando, remelento<br />

(....)<br />

(Cândido Portinari. Poemas. Rio de Janeiro:<br />

J. Olympio, 1964.)<br />

Das quatro obras reproduzidas, assinale<br />

aquelas que abordam a problemática que<br />

é tema do poema.<br />

A) 1 e 2 D) 3 e 4<br />

B) 1 e 3 E) 2 e 4<br />

C) 2 e 3<br />

Comentário<br />

O poema apresenta correspondência com<br />

as imagens ao descrever com detalhes a<br />

figura do retirante: pobre, mal vestido,<br />

carregando trouxas e embrulhos.<br />

A polifonia, variedade de vozes, presente<br />

no poema resulta da manifestação do<br />

A) poeta e do colonizador apenas.<br />

B) colonizador e do negro apenas.<br />

C) negro e do índio apenas.<br />

D) colonizador, do poeta e do negro<br />

apenas.<br />

E) poeta, do colonizador, do índio e do<br />

negro.<br />

Comentário<br />

A questão apresenta uma certa<br />

dificuldade, pois, à primeira vista, parecem<br />

confundir-se as vozes do colonizador, do<br />

negro e do índio. Entretanto, os<br />

travessões existentes no poema explicitam<br />

as falas das personagens ao mostrar que<br />

não são apenas as vozes do poeta e do<br />

colonizador que estão presentes. As falas do<br />

índio e do negro são proferidas por eles,<br />

marca expressa pelo discurso direto. A<br />

presença dessa modalidade de discurso<br />

indica a reprodução literal do que as<br />

personagens disseram.<br />

Um ponto interessante em relação a essa<br />

questão é a intertextualidade. O índio<br />

aparece no poema pela remissão a um texto<br />

poético do nosso Romantismo, em um<br />

processo intertextual com “I-Juca-Pirama”, de<br />

Gonçalves Dias; e a presença do negro se dá<br />

pela ligação com Mário de Andrade, em<br />

Macunaíma. Entende-se, portanto, que a<br />

alternativa correta é a letra E.<br />

34) (2003) No ano passado, o governo<br />

promoveu uma campanha a fim de reduzir<br />

os índices de violência. Noticiando o fato,<br />

um jornal publicou a seguinte manchete:<br />

469


CAMPANHA CONTRA A VIOLÊNCIA DO<br />

GOVERNO DO ESTADO ENTRA EM NOVA<br />

FASE<br />

470<br />

A manchete tem um duplo sentido, e isso<br />

dificulta o entendimento. Considerando o<br />

objetivo da notícia, esse problema poderia<br />

ter sido evitado com a seguinte redação:<br />

A) Campanha contra o governo do Estado<br />

e a violência entram em nova fase.<br />

B) A violência do governo do Estado entra<br />

em nova fase de Campanha.<br />

C) Campanha contra o governo do Estado<br />

entra em nova fase de violência.<br />

D) A violência da campanha do governo<br />

do Estado entra em nova fase.<br />

E) Campanha do governo do Estado<br />

contra a violência entra em nova fase.<br />

Comentário<br />

O objetivo da questão é eliminar a<br />

ambigüidade da notícia de jornal, que,<br />

originalmente, trazia duas idéias: de acordo<br />

com a primeira, o governo queria combater a<br />

violência, e a segunda ressaltava que o<br />

governo era violento. Nessa questão,<br />

era preciso eliminar a segunda possibilidade<br />

de leitura.<br />

35) (2002) "A palavra tatuagem é<br />

relativamente recente. Toda a gente sabe<br />

que foi o navegador Cook que a introduziu<br />

no Ocidente, e esse escrevia tattou, termo<br />

da Polinésia de tatou ou tu tahou,<br />

'desenho'.<br />

(...) Desde os mais remotos tempos,<br />

vemo-la a transformar-se: distintivo<br />

honorífico entre uns homens, ferrete de<br />

ignomínia entre outros, meio de assustar o<br />

adversário para os bretões, marca de uma<br />

classe de selvagens das ilhas marquesas<br />

(...) sinal de amor, de desprezo, de ódio<br />

(...). Há três casos de tatuagem no Rio,<br />

completamente diversos na sua<br />

significação moral: os negros,os turcos<br />

com o fundo religioso e o bando de<br />

meretrizes, dos rufiões e dos humildes,<br />

que se marcam por crime ou por<br />

ociosidade".<br />

RIO, João do. Os Tatuadores. Revista Kosmos.<br />

1904, apud: A alma encantadora das ruas,<br />

SP: Cia das Letras, 1999.<br />

Com base no texto são feitas as seguintes<br />

afirmações:<br />

I. João do Rio revela como a tatuagem já<br />

estava presente na cidade do Rio de<br />

Janeiro, pelo menos desde o início do<br />

século XX, e era mais utilizada por<br />

alguns setores da população.<br />

II. A tatuagem, de origem polinésia, difundiuse<br />

no ocidente com a característica que<br />

permanece até hoje: utilização entre os<br />

jovens com função estritamente estética.<br />

III. O texto mostra como a tatuagem é uma<br />

prática que se transforma no tempo e<br />

que alcança inúmeros sentidos nos<br />

diversos setores das sociedades e para<br />

as diferentes culturas.<br />

Está correto o que se afirma apenas em<br />

A) I D) I e II<br />

B) II E) I e III<br />

C) III<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. Constata-se o<br />

seguinte: a tatuagem já existia no Brasil no<br />

início do século XX (o texto é de 1904 e parte<br />

dele se refere ao Rio do Janeiro) e era utilizada<br />

em diferentes setores da sociedade. A<br />

afirmação de que as tatuagens possuem<br />

apenas finalidade estética entre os jovens<br />

elimina a segunda alternativa. Já a última<br />

alternativa confirma as transformações das<br />

funções da tatuagem ao longo do tempo nas<br />

mais diversas sociedades e culturas.<br />

Comentário do INEP<br />

O texto estabelece uma relação entre a<br />

atualidade da palavra "tatuagem" e a<br />

antiguidade do uso de desenhos como<br />

pintura corporal. Focaliza uma prática social<br />

bastante difundida que adquiriu aspectos e<br />

conotações diversos nos diferentes contextos<br />

históricos e geográficos em que ela pode ser<br />

descrita. Fazendo a descrição da prática da<br />

tatuagem, como uma manifestação comum a<br />

diferentes culturas, e que adquire, inclusive,<br />

significados diferentes dentro de uma mesma<br />

cultura, induz o participante a refletir sobre a<br />

"diversidade dos patrimônios etnoculturais e<br />

artísticos", contextualizando ao mesmo<br />

tempo seus significados "em diferentes<br />

sociedades, épocas e lugares". Ao retomar<br />

as várias origens e usos da tatuagem, o<br />

participante é levado a compreender e<br />

respeitar uma gramática histórica dos<br />

costumes marcada sempre por semelhanças<br />

e diferenças. A questão não exigia, portanto,<br />

nenhum conhecimento prévio sobre as<br />

diferentes formas de manifestação dessa<br />

prática, mas simplesmente constatar, com o<br />

autor do texto citado, a historicidade e a<br />

diversidade das práticas sociais. Os<br />

participantes que assinalaram a alternativa C<br />

(36%), possivelmente, não levaram em<br />

consideração informações do texto. A<br />

questão foi corretamente respondida por 37%<br />

dos participantes.


36) (2004)<br />

Nesta tirinha, a personagem faz referência<br />

a uma das mais conhecidas figuras de<br />

linguagem para<br />

A) condenar a prática de exercícios físicos<br />

B) valorizar aspectos da vida moderna.<br />

C) desestimular o uso das bicicletas.<br />

D) caracterizar o diálogo entre as<br />

gerações.<br />

E) criticar a falta de perspectiva do pai.<br />

Comentário<br />

A construção indica a falta de perspectiva<br />

na vida do pai do personagem. “Pedalar sem<br />

sair do lugar” é uma metáfora muito usada na<br />

cultura brasileira para expressar como é a<br />

vida de uma pessoa que age de forma a não<br />

conseguir qualquer mudança — para melhor<br />

ou para pior — na vida.<br />

37) (2004) As questões de números 26 e 27<br />

referem-se ao poema abaixo.<br />

Entre os recursos expressivos<br />

empregados no texto, destaca-se a<br />

A) metalinguagem, que consiste em fazer<br />

a linguagem referir-se à própria<br />

linguagem.<br />

B) intertextualidade, na qual o texto<br />

retoma e reelabora outros textos.<br />

C) ironia, que consiste em se dizer o<br />

contrário do que se pensa, com<br />

intenção crítica.<br />

D) denotação, caracterizada pelo uso das<br />

palavras em seu sentido próprio e<br />

objetivo.<br />

E) prosopopéia, que consiste em<br />

personificar coisas inanimadas,<br />

atribuindo-lhes vida.<br />

Comentário<br />

A questão trata de um texto de Carlos<br />

Drummond de Andrade em que ele fala sobre<br />

o crescimento urbano e a pobreza que esse<br />

processo traz. Para tanto, o poeta utiliza uma<br />

linguagem irônica, revelando o lado oculto do<br />

desenvolvimento. Dessa forma, temos como<br />

correta a alternativa C.<br />

38) (2007) Antigamente<br />

Acontecia o indivíduo apanhar<br />

constipação; ficando perrengue, mandava<br />

o próprio chamar o doutor e, depois, ir à<br />

botica para aviar a receita, de cápsulas ou<br />

pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />

phtísica, feia era o gálico. Antigamente, os<br />

sobrados tinham assombrações, os<br />

meninos, lombrigas (...)<br />

Carlos Drummond de Andrade. Poesia completa e prosa.<br />

Rio de Janeiro: Companhia José Aguilar, p. 1.184.<br />

O texto acima está escrito em linguagem<br />

de uma época passada. Observe uma<br />

outra versão, em linguagem atual.<br />

Antigamente<br />

Acontecia o indivíduo apanhar um<br />

resfriado; ficando mal, mandava o próprio<br />

chamar o doutor e, depois, ir à farmácia<br />

para aviar a receita, de cápsulas ou<br />

pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />

tuberculose, feia era a sífilis. Antigamente,<br />

os sobrados tinham assombrações, os<br />

meninos, vermes (...)<br />

Comparando-se esses dois textos,<br />

verifica-se que, na segunda versão, houve<br />

mudanças relativas a<br />

A) vocabulário.<br />

B) construções sintáticas.<br />

C) pontuação.<br />

D) fonética.<br />

E) regência verbal.<br />

Comentário<br />

Questão fácil. O aluno deveria comparar<br />

os dois textos e verificar as alterações<br />

realizadas na segunda versão apresentada.<br />

Nesse momento, fica evidente a mudança de<br />

vocabulário, o que indica a alternativa A<br />

como a correta.<br />

471


39) (2001) Nas conversas diárias, utiliza-se<br />

freqüentemente a palavra “próprio” e ela<br />

se ajusta a várias situações. Leia os<br />

exemplos de diálogos:<br />

I - A Vera se veste diferente!<br />

- É mesmo, é que ela tem um estilo<br />

próprio.<br />

II - A Lena já viu esse filme uma dezena<br />

de vezes! Eu não consigo ver o<br />

que ele tem de tão maravilhoso assim.<br />

- É que ele é próprio para adolescente.<br />

III - Dora, o que eu faço? Ando tão<br />

preocupada com o Fabinho! Meu filho<br />

está impossível!<br />

- Relaxa, Tânia! É próprio da idade.<br />

Com o tempo, ele se acomoda.<br />

Nas ocorrências I, II e III, “próprio” é<br />

sinônimo de, respectivamente,<br />

A) adequado, particular, típico.<br />

B) peculiar, adequado, característico.<br />

C) conveniente, adequado, particular.<br />

D) adequado, exclusivo, conveniente.<br />

E) peculiar, exclusivo, característico.<br />

Comentário<br />

Para responder a essa pergunta,<br />

substitua, nos trechos, a palavra próprio<br />

pelos possíveis equivalentes apresentados<br />

nas alternativas. Questão simples que pode<br />

ser resolvida por eliminação.<br />

Comentário do INEP<br />

Nesta questão são apresentados três<br />

textos em que uma mesma palavra é<br />

utilizada com sentidos diferentes. O problema<br />

consiste em observar a variedade de uso de<br />

um mesmo termo e as possibilidades de sua<br />

compreensão, estabelecendo uma relação<br />

comparativa com base em uma análise<br />

semântica. Cerca de metade (49%) dos<br />

participantes estabeleceu essa relação de<br />

maneira correta. Os participantes que<br />

assinalaram a alternativa D (21%),<br />

possivelmente isolaram o termo do contexto,<br />

gerando um equívoco entre "adequado" e<br />

"exclusivo".<br />

40) (2003) Do pedacinho de papel ao livro<br />

impresso vai uma longa distância. Mas o<br />

que o escritor quer, mesmo, é isso: ver o<br />

seu texto em letra de forma. A gaveta é<br />

ótima para aplacar a fúria criativa; ela faz<br />

amadurecer o texto da mesma forma que<br />

a adega faz amadurecer o vinho. Em<br />

472<br />

certos casos, a cesta de papel é melhor<br />

ainda.<br />

O período de maturação na gaveta é<br />

necessário, mas não deve se prolongar<br />

muito. ‘Textos guardados acabam<br />

cheirando mal’, disse Silvia Plath, (...) que,<br />

com esta frase, deu testemunho das<br />

dúvidas que atormentam o escritor:<br />

publicar ou não publicar? guardar ou jogar<br />

fora?<br />

(Moacyr Scliar. O escritor e seus desafios.)<br />

Nesse texto, o escritor Moacyr Scliar usa<br />

imagens para refletir sobre uma etapa da<br />

criação literária. A idéia de que o processo<br />

de maturação do texto nem sempre é o<br />

que garante bons resultados está sugerida<br />

na seguinte frase:<br />

A) "A gaveta é ótima para aplacar a fúria<br />

criativa."<br />

B) "Em certos casos, a cesta de papel é<br />

melhor ainda."<br />

C) "O período de maturação na gaveta é<br />

necessário, (...)."<br />

D) "Mas o que o escritor quer, mesmo, é<br />

isso: ver o seu texto em letra de forma."<br />

E) "ela (a gaveta) faz amadurecer o texto<br />

da mesma forma que a adega faz<br />

amadurecer o vinho."<br />

Comentário<br />

Essa questão exigia a interpretação das<br />

frases. A palavra NEM no enunciado exclui<br />

todas as alternativas que tratam do<br />

amadurecimento ou da importância da<br />

gaveta para o bom sucesso da produção<br />

literária.<br />

A alternativa B é a única que apresenta<br />

um procedimento alternativo para a produção<br />

textual, ou seja, o lixo, e significa a liberdade<br />

do escritor em começar,<br />

interromper, recomeçar ou simplesmente<br />

abandonar a obra, permitindo a ele exercer<br />

seu livre-arbítrio.<br />

41) (2007)<br />

Aqui na floresta<br />

Dos ventos batida,<br />

Façanhas de bravos<br />

Não geram escravos,<br />

Que estimem a vida<br />

Sem guerra e lidar.<br />

— Ouvi-me, Guerreiros,<br />

— Ouvi meu cantar.<br />

O canto do guerreiro<br />

Valente na guerra,<br />

Quem há, como eu sou?<br />

Quem vibra o tacape<br />

Com mais valentia?<br />

Quem golpes daria<br />

Fatais, como eu dou?<br />

— Guerreiros, ouvi-me;<br />

— Quem há, como eu sou?<br />

Gonçalves Dias.


Macunaíma<br />

(Epílogo)<br />

Acabou-se a história e morreu a vitória.<br />

Não havia mais ninguém lá. Dera<br />

tangolomângolo na tribo Tapanhumas e<br />

os filhos dela se acabaram de um em um.<br />

Não havia mais ninguém lá. Aqueles<br />

lugares, aqueles campos, furos<br />

puxadouros arrastadouros meiosbarrancos,<br />

aqueles matos misteriosos,<br />

tudo era solidão do deserto... Um silêncio<br />

imenso dormia à beira do rio Uraricoera.<br />

Nenhum conhecido sobre a terra não<br />

sabia nem falar da tribo nem contar<br />

aqueles casos tão pançudos. Quem podia<br />

saber do Herói?<br />

Mário de Andrade.<br />

Considerando-se a linguagem desses dois<br />

textos, verifica-se que<br />

A) a função da linguagem centrada no<br />

receptor está ausente tanto no primeiro<br />

quanto no segundo texto.<br />

B) a linguagem utilizada no primeiro texto<br />

é coloquial, enquanto, no segundo,<br />

predomina a linguagem formal.<br />

C) há, em cada um dos textos, a<br />

utilização de pelo menos uma palavra<br />

de origem indígena.<br />

D) a função da linguagem, no primeiro<br />

texto, centra-se na forma de<br />

organização da linguagem e, no<br />

segundo, no relato de informações<br />

reais.<br />

E) a função da linguagem centrada na<br />

primeira pessoa, predominante no<br />

segundo texto, está ausente no<br />

primeiro.<br />

Comentário<br />

Questão de nível médio. Essa é uma<br />

questão que foca a linguagem dos textos, e<br />

cada qual em seu gênero (poesia e prosa,<br />

respectivamente). O aluno chega à<br />

conclusão que a alternativa correta é a C por<br />

meio da exclusão das demais alternativas.<br />

A resposta correta não é a A, pois há um<br />

receptor que pode ser percebido nas<br />

seguintes perguntas contidas no texto:<br />

Texto 1 – “Guerreiros, ouvi-me;/Quem há,<br />

como eu sou?”<br />

Texto 2 – “Quem podia saber do herói?”<br />

Também não é a alternativa B, pois o<br />

conteúdo dos textos não é discriminatório. No<br />

primeiro texto, há uma idealização do índio e,<br />

no segundo, há uma realidade crítica e<br />

satírica da sociedade.<br />

A alternativa D é excluída, porque o<br />

segundo texto não fala de uma realidade, já<br />

que Macunaíma é um herói fictício e nãoreal.<br />

Por fim, também está errada a alternativa<br />

E. Isso porque não temos no epílogo do texto<br />

de Macunaíma a linguagem centrada na<br />

primeira pessoa, mas sim, na terceira.<br />

42) (2003) Eu começaria dizendo que poesia<br />

é uma questão de linguagem. A<br />

importância do poeta é que ele torna mais<br />

viva a linguagem. Carlos Drummond de<br />

Andrade escreveu um dos mais belos<br />

versos da língua portuguesa com duas<br />

palavras comuns: cão e cheirando.<br />

Um cão cheirando o futuro<br />

(Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP, 24/05/1988.<br />

adaptação)<br />

O que deu ao verso de Drummond o<br />

caráter de inovador da língua foi<br />

A) o modo raro como foi tratado o<br />

"futuro".<br />

B) a referência ao cão como "animal de<br />

estimação".<br />

C) a flexão pouco comum do verbo<br />

"cheirar" (gerúndio).<br />

D) a aproximação não usual do agente<br />

citado e a ação de "cheirar".<br />

E) o emprego do artigo indefinido "um" e<br />

do artigo definido "o" na mesma frase.<br />

Comentário<br />

O fato de Drummond identificar o futuro<br />

como algo que pode ser percebido por um<br />

animal irracional por meio do olfato foi<br />

inovador. A figura de linguagem foi<br />

construída metaforicamente: o futuro torna-se<br />

uma coisa que tem cheiro, contrariamente à<br />

imagem pela qual ele normalmente é<br />

representado: como algo que não se vê e<br />

não se pode pressentir ou tocar.<br />

43) (2002) Só falta o Senado aprovar o<br />

projeto de lei [sobre o uso de termos<br />

estrangeiros no Brasil] para que palavras<br />

como shopping center , delivery e drivethrough<br />

sejam proibidas em nomes de<br />

estabelecimentos e marcas. Engajado<br />

nessa valorosa luta contra o inimigo<br />

ianque, que quer fazer área de livre<br />

comércio com nosso inculto e belo idioma,<br />

venho sugerir algumas outras medidas<br />

que serão de extrema importância para a<br />

preservação da soberania nacional, a<br />

saber:<br />

........<br />

473


Nenhum cidadão carioca ou gaúcho<br />

poderá dizer "Tu vai" em espaços públicos<br />

do território nacional;<br />

Nenhum cidadão paulista poderá dizer "Eu<br />

lhe amo" e retirar ou acrescentar o plural<br />

em sentenças como "Me vê um chopps e<br />

dois pastel";<br />

..........<br />

Nenhum dono de borracharia poderá<br />

escrever cartaz com a palavra "borraxaria"<br />

e nenhum dono de banca de jornal<br />

anunciará "Vende-se cigarros";<br />

..........<br />

Nenhum livro de gramática obrigará os<br />

alunos a utilizar colocações pronominais<br />

como "casar-me-ei" ou "ver-se-ão".<br />

PIZA, Daniel. Uma proposta imodesta. O Estado de<br />

S. Paulo, São Paulo, 8/04/2001.<br />

No texto acima, o autor:<br />

A) mostra-se favorável ao teor da<br />

proposta por entender que a língua<br />

portuguesa deve ser protegida contra<br />

deturpações de uso.<br />

B) ironiza o projeto de lei ao sugerir<br />

medidas que inibam determinados usos<br />

regionais e socioculturais da língua.<br />

C) denuncia o desconhecimento de regras<br />

elementares de concordância verbal e<br />

nominal pelo falante brasileiro.<br />

D) revela-se preconceituoso em relação a<br />

certos registros lingüísticos ao propor<br />

medidas que os controlem.<br />

E) defende o ensino rigoroso da gramática<br />

para que todos aprendam a empregar<br />

corretamente os pronomes.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. O autor ironiza o<br />

projeto de lei que proíbe o uso de<br />

estrangeirismos no Brasil. Não adianta criarse<br />

uma expectativa ou preocupação em<br />

relação ao uso de termos estrangeiros na<br />

língua e esquecer-se de que a língua é um<br />

organismo vivo, mutável. A dinâmica de uma<br />

língua não pode ser regida por preceitos<br />

legais como quer o projeto.<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão reproduz trechos de um<br />

texto que aborda o polêmico projeto de<br />

proibição de uso de termos estrangeiros no<br />

Brasil. A partir da leitura atenta do texto de<br />

Daniel Piza, o participante é levado a refletir<br />

sobre a postura adotada pelo autor em<br />

relação ao referido projeto. Para<br />

compreender esse texto, o participante<br />

precisa reconhecer o tom irônico que marca<br />

as observações e sugestões feitas por seu<br />

autor. Assim, Daniel Piza, "engajado nessa<br />

valorosa luta contra o inimigo ianque", sugere<br />

a proibição de algumas formas lingüísticas de<br />

uso corrente que contrariam recomendações<br />

da gramática normativa. O participante deve<br />

reconhecer que, com sugestões como essas,<br />

Daniel Piza deixa implícita uma crítica à<br />

utilidade do projeto de proibição dos<br />

estrangeirismos como forma de proteger a<br />

Língua Portuguesa. Nesse contexto, a ironia<br />

torna-se mais clara, bem como o mecanismo<br />

textual que a constrói. Feito tal<br />

reconhecimento, o aluno encontra a resposta<br />

correta na alternativa B, assinalada por cerca<br />

da metade dos participantes. Nenhuma outra<br />

alternativa contempla o aspecto irônico,<br />

essencial para a compreensão do texto.<br />

44) (2003) Pequenos tormentos da vida<br />

De cada lado da sala de aula, pelas janelas<br />

altas, o azul convida os meninos,<br />

as nuvens desenrolam-se, lentas como quem<br />

vai inventando<br />

preguiçosamente uma história sem fim...Sem<br />

fim é a aula: e nada acontece,<br />

nada...Bocejos e moscas. Se ao menos,<br />

pensa Margarida, se ao menos um<br />

avião entrasse por uma janela e saísse por<br />

outra!<br />

(Mário Quintana. Poesias)<br />

Na cena retratada no texto, o sentimento<br />

do tédio<br />

A) provoca que os meninos fiquem<br />

contando histórias.<br />

B) leva os alunos a simularem bocejos,<br />

em protesto contra a monotonia da<br />

aula.<br />

C) acaba estimulando a fantasia,<br />

criando a expectativa de algum<br />

imprevisto mágico.<br />

D) prevalece de modo absoluto,<br />

impedindo até mesmo a distração ou o<br />

exercício do pensamento.<br />

E) decorre da morosidade da aula, em<br />

contraste com o movimento acelerado<br />

das nuvens e das moscas.<br />

Comentário<br />

Essa questão aborda o imaginário<br />

decorrente do marasmo trazido pela escola.<br />

O texto enfatiza o arrastar do tempo na<br />

mente de uma aluna, Margarida, que se põe<br />

a pensar em fatos mágicos ou imaginários<br />

que pudessem romper com a lentidão da<br />

aula.<br />

474


45) (200) O autor do texto abaixo critica,<br />

ainda que em linguagem metafórica, a<br />

sociedade contemporânea em relação aos<br />

seus hábitos alimentares.<br />

“Vocês que têm mais de 15 anos, se<br />

lembram quando a gente comprava leite<br />

em garrafa, na leiteria da esquina? (...)<br />

Mas vocês não se lembram de nada,<br />

pô! Vai ver nem sabem o que é vaca. Nem<br />

o que é leite. Estou falando isso porque<br />

agora mesmo peguei um pacote de leite –<br />

leite em pacote, imagina, Tereza! – na<br />

porta dos fundos e estava escrito que é<br />

pasterizado, ou pasteurizado, sei lá, tem<br />

vitamina, é garantido pela<br />

embromatologia, foi enriquecido e o<br />

escambau. Será que isso é mesmo leite?<br />

No dicionário diz que leite é outra coisa:<br />

‘Líquido branco, contendo água,<br />

proteína, açúcar e sais minerais’. Um<br />

alimento pra ninguém botar defeito. O ser<br />

humano o usa há mais de 5.000 anos. É o<br />

único alimento só alimento. A carne serve<br />

pro animal andar, a fruta serve pra fazer<br />

outra fruta, o ovo serve pra fazer outra<br />

galinha (...) O leite é só leite. Ou toma ou<br />

bota fora. Esse aqui examinando bem, é<br />

só pra botar fora. Tem chumbo, tem<br />

benzina, tem mais água do que leite, tem<br />

serragem, sou capaz de jurar que nem<br />

vaca tem por trás desse negócio. Depois o<br />

pessoal ainda acha estranho que os<br />

meninos não gostem de leite.<br />

Mas, como não gostam? Não gostam<br />

como? Nunca tomaram! Múúúúúúú!”<br />

(FERNANDES, Millôr. O Estado de S. Paulo ,<br />

22 de agosto de 1999)<br />

A palavra embromatologia usada pelo<br />

autor é:<br />

A) um termo científico que significa estudo<br />

dos bromatos.<br />

B) uma composição do termo de gíria<br />

“embromação” (enganação) com<br />

bromatologia, que é o estudo dos<br />

alimentos.<br />

C) uma junção do termo de gíria<br />

“embromação” (enganação) com<br />

lactologia, que é o estudo das<br />

embalagens para leite.<br />

D) um neologismo da química orgânica<br />

que significa a técnica de retirar<br />

bromatos dos laticínios.<br />

E) uma corruptela de termo da<br />

agropecuária que significa a ordenha<br />

mecânica.<br />

Comentário<br />

É necessário para a resolução desta<br />

questão:<br />

- perceber que o texto critica o exagerado<br />

uso de substâncias artificiais nos<br />

alimentos;<br />

- conhecer o significado da gíria embromar e<br />

da palavra bromatologia.<br />

Conhecendo esses significados, você<br />

elimina todas as alternativas erradas: a, c, d<br />

e e.<br />

Você poderá ter dúvida quanto à<br />

alternativa c, que também será eliminada se<br />

souber o significado da palavra lactologia,<br />

que é o estudo do leite e produtos lácteos e<br />

não das embalagens para leite.<br />

Nesta questão, são trabalhados os<br />

conceitos de interpretação de texto, formação<br />

de palavras e conhecimentos gerais.<br />

Comentário do INEP<br />

A resolução da questão requeria que o<br />

participante, ao ler o texto vinculasse o<br />

significado de um termo de gíria -<br />

"embromação" - com o da palavra<br />

bromatologia. A resposta correta exigia que o<br />

participante não abrisse mão do sabor<br />

picante contido na linguagem metafórica,<br />

sabor vinculado ao conhecimento específico<br />

contido na palavra bromatologia. Cerca da<br />

metade dos participantes (51%) optou pela<br />

alternativa correta e, os 20% que escolheram<br />

a alternativa C, provavelmente associaram a<br />

referência feita no texto à leite em pacote.<br />

46) (2005) O termo (ou expressão)<br />

destacado que está empregado em seu<br />

sentido próprio, denotativo ocorre em:<br />

A) “(....)<br />

É de laço e de nó<br />

De gibeira o jiló<br />

Dessa vida, cumprida a sol (....)”<br />

(Renato Teixeira. Romaria. Kuarup Discos.<br />

setembro de 1992.)<br />

B) “Protegendo os inocentes<br />

é que Deus, sábio demais,<br />

põe cenários diferentes<br />

nas impressões digitais.”<br />

(Maria N. S. Carvalho. Evangelho da Trova. /s.n.b.)<br />

C) “O dicionário-padrão da língua e os<br />

dicionários unilíngües são os tipos mais<br />

comuns de dicionários. Em nossos<br />

dias, eles se tornaram um objeto de<br />

consumo obrigatório para as nações<br />

civilizadas e desenvolvidas.”<br />

(Maria T. Camargo Biderman.<br />

O dicionário-padrão da língua. Alfa (28), 2743, 1974 Supl.)<br />

475


D)<br />

A)<br />

B)<br />

E) “Humorismo é a arte de fazer cócegas<br />

no raciocínio dos outros. Há duas<br />

espécies de humorismo: o trágico e o<br />

cômico. O trágico é o que não<br />

consegue fazer rir; o cômico é o que é<br />

verdadeiramente trágico para se fazer.”<br />

(Leon Eliachar. www.mercadolivre.com.br.<br />

acessado em julho de 2005.)<br />

Comentário<br />

A definição do dicionário-padrão da língua<br />

utiliza o sentido denotativo da palavra para<br />

explicar o uso de determinado tipo de<br />

dicionário. Em todas as outras alternativas,<br />

as palavras estão sendo empregadas em<br />

sentido metafórico. Na letra A, "cumprida a<br />

sol" pode mostrar o sofrimento e a solidão.<br />

Na alternativa B, "cenários diferentes" são as<br />

diferenças físicas encontradas nas<br />

impressões digitais. Na letra D, "bateria" é o<br />

termo usado para expressar a "energia" do<br />

Menino Maluquinho, que nunca acaba. Por<br />

fim, na alternativa E, "fazer cócegas no<br />

raciocínio" significa expressar graça por meio<br />

de idéias, fazendo com que o cérebro ache<br />

um fato divertido e, por conseguinte, faça<br />

com que a pessoa ria como se sofresse um<br />

ataque de cócegas.<br />

C)<br />

D)<br />

E)<br />

47) (2008) Os signos visuais, como meios de<br />

comunicação, são classificados em<br />

categorias de acordo com seus<br />

significados.<br />

A categoria denominada indício<br />

corresponde aos signos visuais que têm<br />

origem em formas ou situações naturais<br />

ou casuais, as quais, devido à ocorrência<br />

em circunstâncias idênticas, muitas vezes<br />

repetidas, indicam algo e adquirem<br />

significado. Por exemplo, nuvens negras<br />

indicam tempestade. Com base nesse<br />

conceito, escolha a opção que representa<br />

um signo da categoria dos indícios.<br />

Comentário<br />

Trata-se de uma questão interpretativa. O<br />

aluno precisa entender o que é “indício” para<br />

respondê-la. Segundo o dicionário Aurélio,<br />

indício é o mesmo que “sinal, vestígio,<br />

indicação”. Das figuras apresentadas,<br />

apenas a alternativa B indica algo: a<br />

passagem de alguém por algum lugar —<br />

pegada.<br />

476


48) (1999)<br />

Diante da visão de um prédio com uma<br />

placa indicando SAPATARIA PAPALIA,<br />

um jovem deparou com a dúvida: como<br />

pronunciar a palavra PAPALIA?<br />

Levado o problema à sala de aula, a<br />

discussão girou em torno da utilidade de<br />

conhecer as regras de acentuação e,<br />

especialmente, do auxílio que elas podem<br />

dar à correta pronúncia de palavras.<br />

Após discutirem pronúncia, regras de<br />

acentuação e escrita, três alunos<br />

apresentaram as seguintes conclusões a<br />

respeito da palavra PAPALIA:<br />

I. Se a sílaba tônica for o segundo PA, a<br />

escrita deveria ser PAPÁLIA, pois a<br />

palavra seria paroxítona terminada em<br />

ditongo crescente.<br />

II. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />

deveria ser PAPALÍA, pois "i" e "a"<br />

estariam formando hiato.<br />

III. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />

deveria ser PAPALIA, pois não haveria<br />

razão para o uso de acento gráfico.<br />

A conclusão está correta apenas em:<br />

A) III D) I<br />

B) I e II E) II<br />

C) I e III<br />

Comentário<br />

Essa questão exige bom conhecimento<br />

das regras de acentuação. A alternativa A diz<br />

que apenas a afirmação I é verdadeira. De<br />

fato ela é, mas não é a única. Nela, temos a<br />

hipótese de a palavra ser grafada como se a<br />

sílaba forte fosse a penúltima — papália —,<br />

justificando seu acento gráfico. Vejamos o<br />

que dizem as regras de acentuação.<br />

Acentuam-se as palavras paroxítonas<br />

terminadas em: i, is, us, um, uns, l, n, r, x,<br />

ps, ã, ãs, ão, ãos, ditongos orais,<br />

crescentes ou decrescentes, seguidos ou<br />

não de S. Isso valida, portanto, a afirmação I.<br />

A afirmação II pressupõe que a sílaba<br />

tônica seja LI, em hiato com A: no caso de<br />

essa ser a tonicidade da palavra, a sílaba LI<br />

não poderia ser acentuada, pois I, mesmo<br />

sendo a tônica do hiato, não é a última vogal,<br />

portanto, essa afirmativa é falsa.<br />

A afirmação III considera que a sílaba<br />

tônica é LI, não havendo acento por ser o I a<br />

primeira vogal do hiato. Portanto, essa<br />

afirmação é verdadeira.<br />

Concluindo, temos como verdadeiras as<br />

afirmações I e III. Então, a alternativa E é a<br />

correta. Questão de nível difícil.<br />

Comentário do INEP<br />

Dentre os participantes, somente pouco<br />

mais de um terço (35%) demonstrou possuir<br />

a habilidade para identificar as regras de<br />

acentuação corretas, enunciadas na questão.<br />

Chama a atenção o fato de que 73% dos<br />

participantes (alternativas A, D e E)<br />

reconheceram corretamente, pelo menos, a<br />

regra contida no item I, sendo que cerca de<br />

40% desses, contudo, tiveram dificuldades<br />

em analisar as regras II e III.<br />

Em se tratando de palavra não-usual, é,<br />

sobretudo, o domínio do conhecimento das<br />

regras e não a possível pronúncia correta,<br />

pelo uso, o que parece ter sido revelado.<br />

49) (2008)<br />

Exame, 28/9/2007.<br />

Entre os seguintes ditos populares, qual<br />

deles melhor corresponde à figura<br />

acima?<br />

A) Com perseverança, tudo se alcança.<br />

B) Cada macaco no seu galho.<br />

C) Nem tudo que balança cai.<br />

D) Quem tudo quer, tudo perde.<br />

E) Deus ajuda quem cedo madruga.<br />

Comentário<br />

Assim como a questão 37, esta também<br />

envolve interpretação de signos, ou seja, o<br />

aluno precisa estar atento à imagem e<br />

relacioná-la ao dito popular correspondente.<br />

477


A alternativa "A" é a correta, pois, para<br />

uma lesma “grudenta” e vagarosa conseguir<br />

pular numa cama elástica, é necessária<br />

muita perseverança.<br />

50) (2005) Leia estes textos.<br />

Texto 1<br />

Comentário<br />

Enquanto o primeiro texto é ácido em<br />

relação à possibilidade de desarmamento da<br />

população (ou seja, à criação de uma<br />

sociedade mais pacífica), o segundo mostra<br />

a capacidade que a humanidade tem de crer<br />

e, por isso, tentar fazer até o que a princípio<br />

parece impossível. Para os autores da<br />

canção, nada é intrinsecamente impossível.<br />

A relação entre eles é de oposição:<br />

descrença x crença. Questão de nível de<br />

dificuldade médio.<br />

Texto 2<br />

Sonhar<br />

Mais um sonho impossível<br />

Lutar<br />

Quando é fácil ceder<br />

Vencer o inimigo invencível<br />

Negar quando a regra é vender<br />

Sofrer a tortura implacável<br />

Romper a incabível prisão<br />

Voar num limite improvável<br />

Tocar o inacessível chão<br />

É minha lei, é minha questão<br />

Virar esse mundo<br />

Cravar esse chão<br />

Não me importa saber<br />

Se é terrível demais<br />

Quantas guerras terei que vencer<br />

Por um pouco de paz<br />

E amanhã se esse chão que eu beijei<br />

For meu leito e perdão<br />

Vou saber que valeu delirar<br />

E morrer de paixão<br />

E assim, seja lá como for<br />

Vai ter fim a infinita aflição<br />

E o mundo vai ver uma flor<br />

Brotar do impossível chão.<br />

(J. Darione – M. Leigh – Versão de Chico Buarque de<br />

Hollanda e Ruy Guerra, 1972.)<br />

A tirinha e a canção apresentam uma<br />

reflexão sobre o futuro da humanidade. É<br />

correto concluir que os dois textos<br />

A) afirmam que o homem é capaz de<br />

alcançar a paz.<br />

B) concordam que o desarmamento é<br />

inatingível.<br />

C) julgam que o sonho é um desafio<br />

invencível.<br />

D) têm visões diferentes sobre um<br />

possível mundo melhor.<br />

E) transmitem uma mensagem de<br />

otimismo sobre a paz.<br />

51) (2002) A crônica muitas vezes constitui<br />

um espaço para reflexão sobre aspectos<br />

da sociedade em que vivemos.<br />

"Eu, na rua, com pressa, e o menino<br />

segurou no meu braço, falou qualquer<br />

coisa que não entendi. Fui logo dizendo<br />

que não tinha, certa de que ele estava<br />

pedindo dinheiro. Não estava. Queria<br />

saber a hora.<br />

Talvez não fosse um Menino De<br />

Família, mas também não era um Menino<br />

De Rua. É assim que a gente divide.<br />

Menino De Família é aquele bem-vestido<br />

com tênis da moda e camiseta de marca,<br />

que usa relógio e a mãe dá outro se o<br />

dele for roubado por um Menino De Rua.<br />

Menino De Rua é aquele que quando a<br />

gente passa perto segura a bolsa com<br />

força porque pensa que ele é pivete,<br />

trombadinha, ladrão. (...) Na verdade não<br />

existem meninos De rua.<br />

Existem meninos NA rua. E toda vez<br />

que um menino está NA rua é porque<br />

alguém o botou lá. Os meninos não vão<br />

sozinhos aos lugares. Assim como são<br />

postos no mundo, durante muitos anos<br />

também são postos onde quer que<br />

estejam. Resta ver quem os põe na rua. E<br />

por quê."<br />

COLASSANTI, Marina. In: Eu sei, mas não devia. Rio de<br />

Janeiro: Rocco, 1999.<br />

No terceiro parágrafo em "... não existem<br />

meninos De rua. Existem meninos NA<br />

rua.", a troca de De pelo Na determina<br />

que a relação de sentido entre "menino" e<br />

"rua" seja<br />

A) de localização e não de qualidade.<br />

B) de origem e não de posse.<br />

C) de origem e não de localização.<br />

D) de qualidade e não de origem.<br />

E) de posse e não de localização.<br />

478


Comentário<br />

Questão de nível fácil. Apesar de não<br />

haver um terceiro parágrafo neste texto, a<br />

troca das preposições ao final do SEGUNDO<br />

parágrafo indica claramente que não há um<br />

menino DE (proveniente de) rua, mas um<br />

menino que está NA (foi levado à) rua.<br />

Portanto, a relação é unicamente de<br />

localização (onde ele está) e não de<br />

qualidade (o que ele é).<br />

Comentário do INEP<br />

A reprodução de um trecho de uma<br />

crônica de Marina Colassanti tematiza uma<br />

importante questão social brasileira: a<br />

presença de milhões de crianças nas ruas do<br />

País. A autora, ao tratar desse problema,<br />

vale-se de recursos lingüísticos específicos.<br />

O objetivo desta questão é justamente<br />

chamar a atenção do participante leitor para<br />

esses recursos e os efeitos de sentido que<br />

eles desencadeiam no texto. Na raiz da<br />

questão destaca-se a troca de "De" por "NA"<br />

e pede-se que se determine qual relação de<br />

sentido essa substituição estabelece entre os<br />

termos "menino" e "rua". Analisar a relação,<br />

nesse caso, significa perguntar-se sobre o<br />

sentido de dois sintagmas criados no texto:<br />

"meninos NA rua" por oposição a "meninos<br />

De rua". O que a autora pretende negar, com<br />

a troca do termo de relação, é a possibilidade<br />

de que existam meninos de rua diferentes de<br />

outros meninos, que não têm na rua a sua<br />

origem. O destaque para a preposição na<br />

nos leva a refletir que a relação dos meninos<br />

com a rua é de localização: eles estão ali por<br />

alguma razão, não porque essa seja a sua<br />

qualificação. Essa reflexão levaria o aluno a<br />

escolher, como correta, a resposta<br />

apresentada na alternativa A, assinalada por<br />

cerca de metade dos participantes.<br />

52) (2000) O uso do pronome átono no início<br />

das frases é destacado por um poeta e<br />

por um gramático nos textos abaixo.<br />

Pronominais<br />

Dê-me um cigarro<br />

Diz a gramática<br />

Do professor e do aluno<br />

E do mulato sabido<br />

Mas o bom negro e o bom branco<br />

da Nação Brasileira<br />

Dizem todos os dias<br />

Deixa disso camarada<br />

Me dá um cigarro<br />

(ANDRADE, Oswald de. Seleção de textos.<br />

São Paulo: Nova Cultural, 1988)<br />

“Iniciar a frase com pronome átono só<br />

é lícito na conversação familiar,<br />

despreocupada, ou na língua escrita<br />

quando se deseja reproduzir a fala dos<br />

personagens (...).”<br />

(CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da<br />

língua portuguesa.<br />

São Paulo: Nacional, 1980)<br />

Comparando a explicação dada pelos<br />

autores sobre essa regra, pode-se afirmar<br />

que ambos:<br />

A) condenam essa regra gramatical.<br />

B) acreditam que apenas os esclarecidos<br />

sabem essa regra.<br />

C) criticam a presença de regras na<br />

gramática.<br />

D) afirmam que não há regras para uso de<br />

pronomes.<br />

E) relativizam essa regra gramatical.<br />

Comentário<br />

Questão que requer conhecimento básico<br />

de colocação pronominal, em relação ao uso<br />

de pronomes átonos no início de frases, uma<br />

regra muito pouco respeitada pelo brasileiro,<br />

da qual Oswald de Andrade faz questão de<br />

falar em seu poema. Porém, a questão pode<br />

ser resolvida simplesmente por meio de uma<br />

leitura bem atenta dos textos. Se formos<br />

analisando alternativa por alternativa, a<br />

eliminação é clara e lógica: a alternativa a<br />

fica totalmente descartada devido à<br />

transparência da colocação dos dois autores<br />

(Me dá um cigarro...) e (iniciar frases com o<br />

pronome átono é "lícito" na conversação<br />

familiar ou despreocupada). Já a alternativa b<br />

pode até mesmo gerar um pouco de dúvida a<br />

quem não se atém bem à pergunta. Quanto<br />

às alternativas c e d, ficam descartadas, pois,<br />

em momento nenhum, os autores criticaram<br />

o uso de regras gramaticais em seus textos,<br />

cabendo perfeitamente a alternativa e para<br />

as afirmações do gramático e do poeta.<br />

Comentário do INEP<br />

Essa questão pretendia verificar como o<br />

participante analisa um fato lingüístico,<br />

mediante a comparação da descrição desse<br />

fato em dois textos. Sabe-se que,<br />

normalmente em situação escolar, o uso do<br />

pronome átono no início da frase é julgado<br />

como grave desvio gramatical, e pouco se<br />

analisa esse uso na fala ou escrita informal.<br />

Os dois autores dos textos, com intenções<br />

diferentes, relativizam essa regra gramatical,<br />

destacando e descrevendo o seu uso<br />

coloquial. A maioria dos participantes (52%)<br />

analisou e comparou corretamente as<br />

posições dos autores sobre o uso do<br />

479


pronome átono, e 24% deles reafirmaram a<br />

posição discriminatória da regra, deslocandoa<br />

de seu uso.<br />

história de Van Gogh, ou apropriaram-se<br />

corretamente da informação sobre esse<br />

pintor, fornecida no enunciado.<br />

53) (2000) As histórias em quadrinhos, por<br />

vezes, utilizam animais como<br />

personagens e a eles atribuem<br />

comportamento humano. O gato Garfield<br />

é exemplo desse fato.<br />

54) (2004)<br />

Fonte: Caderno Vida e Arte, Jornal do Povo, Fortaleza<br />

480<br />

Van Gogh, pintor holandês nascido em<br />

1853, é um dos principais nomes da<br />

pintura mundial. É dele o quadro abaixo.<br />

Auto-retrato de orelha cortada<br />

O 3º quadrinho sugere que Garfield:<br />

A) desconhece tudo sobre arte, por isso<br />

faz a sugestão.<br />

B) acredita que todo pintor deve fazer algo<br />

diferente.<br />

C) defende que para ser pintor a pessoa<br />

tem de sofrer.<br />

D) conhece a história de um pintor<br />

famoso e faz uso da ironia.<br />

E) acredita que seu dono tenha tendência<br />

artística e, por isso, faz a sugestão.<br />

Comentário<br />

Outra questão de interpretação de texto.<br />

Muito simples para quem um dia ouviu falar<br />

de Van Gogh, e simplíssima para aqueles<br />

que prestam atenção em todos os elementos<br />

do enunciado. Afinal, quem deu uma<br />

espiadinha na legenda do quadro de Van<br />

Gogh matou na hora a questão.<br />

Esta questão é daquelas rápidas de serem<br />

resolvidas, associando-se os elementos<br />

apresentados.<br />

Comentário do INEP<br />

A significativa maioria (81%) dos<br />

participantes soube perceber o caráter<br />

irônico da fala do Garfield, expressa no<br />

terceiro quadrinho porque, ou conheciam a<br />

A tira "Hagar" e o poema de Alberto<br />

Caeiro (um dos heterônimos de Fernando<br />

Pessoa) expressam, com linguagens<br />

diferentes, uma mesma idéia: a de que a<br />

compreensão que temos do mundo é<br />

condicionada, essencialmente,<br />

A) pelo alcance de cada cultura.<br />

B) pela capacidade visual do observador.<br />

C) pelo senso de humor de cada um.<br />

D) pela idade do observador.<br />

E) pela altura do ponto de observação.<br />

Comentário<br />

Questão reflexiva sobre a forma como<br />

cada cultura vê o mundo sob a ótica dos<br />

limites dados pelos seus costumes e<br />

possibilidades de pensamento inerentes a<br />

cada modelo cultural. A mistura de uma tira e<br />

de um poema amplia a possibilidade de<br />

pensamento por trabalhar com linguagens<br />

diferentes. A alternativa correta é a letra A,<br />

pois ambos (tira e poema) utilizam figuras de<br />

linguagem (metáfora e ironia) para expressar<br />

as diferentes visões de mundo.<br />

55) (2003)<br />

O humor presente na tirinha decorre<br />

principalmente do fato de a personagem<br />

Mafalda<br />

A) atribuir, no primeiro quadrinho, poder<br />

ilimitado ao dedo indicador.<br />

B) considerar seu dedo indicador tão<br />

importante quanto o dos patrões.


C) atribuir, no primeiro e no último<br />

quadrinhos, um mesmo sentido ao<br />

vocábulo "indicador".<br />

D) usar corretamente a expressão<br />

"indicador de desemprego", mesmo<br />

sendo criança.<br />

E) atribuir, no último quadrinho, fama<br />

exagerada ao dedo indicador dos<br />

patrões.<br />

Comentário<br />

A questão pede a interpretação de uma<br />

charge da personagem Mafalda, em que ela<br />

faz referência a seu dedo indicador, que é<br />

usado como substantivo primitivo e que<br />

possibilita a analogia com “indicador de<br />

desemprego”. Dessa forma, ela ironiza os<br />

indicadores sociais. Na charge, porém, não<br />

há menção explícita aos índices<br />

“indicadores”, permanecendo o raciocínio<br />

preso apenas ao dedo indicador. Assim, ela<br />

utiliza, tanto no primeiro quanto no último<br />

quadrinho, a palavra “indicador” como<br />

referência ao dedo, não dando abertura a<br />

outro tipo de interpretação.<br />

56) (2002)<br />

De acordo com a história em quadrinhos<br />

protagonizada por Hagar e seu filho<br />

Hamlet, pode-se afirmar que a postura de<br />

Hagar<br />

A) valoriza a existência da diversidade<br />

social e de culturas, e as várias<br />

representações e explicações desse<br />

universo.<br />

B) desvaloriza a existência da<br />

diversidade social e as várias culturas,<br />

e determina uma única explicação para<br />

esse universo.<br />

C) valoriza a possibilidade de explicar as<br />

sociedades e as culturas a partir de<br />

várias visões de mundo.<br />

D) valoriza a pluralidade cultural e social<br />

ao aproximar a visão de mundo de<br />

navegantes e não-navegantes.<br />

E) desvaloriza a pluralidade cultural e<br />

social, ao considerar o mundo habitado<br />

apenas pelos navegantes.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. Hagar reduz o<br />

mundo a dois tipos de pessoas: navegantes<br />

e não-navegantes. No último quadrinho, diz<br />

que são os navegantes que estabelecem<br />

esses dois grupos. Portanto, quem é<br />

diferente dos navegantes (que estabelecem<br />

o padrão) simplesmente é incluído na massa<br />

única dos não-navegantes. Não importa<br />

quem ou quantos sejam, sua diversidade<br />

social ou cultural em relação aos navegantes<br />

ou entre si. Vemos aí a desvalorização de<br />

outras culturas.<br />

Comentário do INEP<br />

Dentre as habilidades básicas para a<br />

compreensão de um texto destaca-se a<br />

capacidade do leitor de identificar os<br />

pressupostos de cada afirmação que lhe é<br />

apresentada. Nesta questão o participante<br />

deve identificar a posição tanto de Hagar<br />

como de seu filho Hamlet e, em seguida,<br />

avaliar quais os argumentos que justificam a<br />

opinião de Hagar ao definir que no mundo só<br />

existem dois tipos de pessoas. A pergunta de<br />

Hamlet a seu pai explicita a importância do<br />

ato de narrar através do diálogo e do efeito<br />

humorístico contido no episódio representado<br />

na tira. O resultado da compreensão<br />

acertada do diálogo é que o narrador torna<br />

inteligível, para si e para os outros, a lógica<br />

do seu pensamento através do diálogo entre<br />

os dois personagens. É importante observar<br />

que o humor do personagem Hagar é<br />

identificado na postura simetricamente<br />

oposta à de Michel de Montaigne, por<br />

exemplo (ver questão 58): a sua visão de<br />

mundo apresenta-se autocentrada, isto é,<br />

centrada nos seus próprios valores (vikings).<br />

A habilidade requerida do participante nessa<br />

questão, qual seja, "valorizar a diversidade<br />

dos patrimônios etnoculturais", é mobilizada<br />

aqui na sua dimensão negativa: é criticando<br />

a postura chauvinista de Hagar que o<br />

participante é capaz de responder<br />

corretamente a questão. A última alternativa<br />

(E) funciona como um distrator, pois neste<br />

caso não está suposta a crítica do discurso<br />

do personagem. Cerca de um terço dos<br />

participantes assinalou a alternativa correta<br />

B. As demais opções são devidas,<br />

possivelmente, a uma leitura pouco<br />

compreensiva das alternativas associadas a<br />

história em quadrinhos.<br />

481


57) (2009) Para o Mano Caetano<br />

1 O que fazer do ouro de tolo<br />

Quando um doce bardo brada a toda<br />

brida,<br />

482<br />

Em velas pandas, suas esquisitas rimas?<br />

4 Geografia de verdades, Guanabaras<br />

postiças<br />

Saudades banguelas, tropicais preguiças?<br />

A boca cheia de dentes<br />

7 De um implacável sorriso<br />

Morre a cada instante<br />

Que devora a voz do morto, e com isso,<br />

<strong>10</strong> Ressuscita vampira, sem o menor<br />

aviso<br />

[...]<br />

E eu soy lobo-bolo? lobo-bolo<br />

Tipo pra rimar com ouro de tolo?<br />

13 Oh, Narciso Peixe Ornamental!<br />

Tease me, tease me outra vez 1<br />

Ou em banto baiano<br />

16 Ou em português de Portugal<br />

Se quiser, até mesmo em americano<br />

De Natal<br />

[...]<br />

1<br />

Tease me (caçoe de mim, importune-me).<br />

LOBÃO. Disponível em: http://vagalume.uol.com.br.<br />

Acesso em: 14 ago. 2009 (adaptado).<br />

Na letra da canção apresentada, o<br />

compositor Lobão explora vários recursos<br />

da língua portuguesa, a fim de conseguir<br />

efeitos estéticos ou de sentido. Nessa<br />

letra, o autor explora o extrato sonoro do<br />

idioma e o uso de termos coloquiais na<br />

seguinte passagem:<br />

A) "Quando um doce bardo brada a toda<br />

brida" (v. 2)<br />

B) "Em velas pandas, suas esquisitas<br />

rimas?" (v. 3)<br />

C) "Que devora a voz do morto" (v. 9)<br />

D) "lobo-bolo//Tipo pra rimar com ouro<br />

de tolo? (v. 11-12)<br />

E) "Tease me, tease me outra vez" (v.<br />

14)<br />

Comentário<br />

(QUESTÃO: AZUL 98, BRANCA 96,<br />

ROSA 98)<br />

Questão de fácil resolução, pois o<br />

enunciado pede que se indique em qual das<br />

alternativas o autor explora recursos sonoros<br />

e o uso de linguagem coloquial. A resposta<br />

em que isso ocorre é a alternativa D. O que<br />

justifica essa resposta é a presença de<br />

aliterações "lobo/bolo" rimando com "tolo" e a<br />

presença da palavra "tipo", usada em<br />

situações informais com o sentido de "como"<br />

ou "por exemplo".<br />

Alternativa correta: D<br />

58) (2009)<br />

BROWNE, C. Hagar, o horrivel. Jornal O GLOBO,<br />

Segundo Caderno. 20 fev. 2009.<br />

A linguagem da tirinha revela<br />

A) o uso de expressões linguísticas e<br />

vocabulário próprios de épocas antigas.<br />

B) o uso de expressões linguísticas<br />

inseridas no registro mais formal da<br />

língua.<br />

C) o caráter coloquial expresso pelo uso<br />

do tempo verbal no segundo quadrinho.<br />

D) o uso de um vocabulário específico<br />

para situações comunicativas de<br />

emergência.<br />

E) a intenção comunicativa dos<br />

personagens: a de estabelecer a<br />

hierarquia entre eles.<br />

Comentário<br />

(QUESTÃO: AZUL <strong>10</strong>9, BRANCA <strong>10</strong>9,<br />

ROSA <strong>10</strong>9)<br />

Questão de fácil resolução. O tempo<br />

verbal, utilizado no segundo quadrinho,<br />

indica o emprego da linguagem coloquial,<br />

pois a norma culta prevê, nesses casos, o<br />

uso do presente do subjuntivo "Pensei que<br />

você tivesse consertado!"<br />

A alternativa C é a correta.<br />

59) (2009) Teyssier, na sua História da<br />

Língua Portuguesa, reconhece que na<br />

diversidade socioletal essa pretensa<br />

unidade se desfaz. Diz Teyssier:<br />

"A realidade, porém, é que as divisões<br />

‘dialetais’ no Brasil são menos geográficas<br />

que socioculturais. As diferenças na<br />

maneira de falar são maiores, num<br />

determinado lugar, entre um homem culto<br />

e o vizinho analfabeto que entre dois<br />

brasileiros do mesmo nível cultural<br />

originários de duas regiões distantes uma<br />

da outra."<br />

SILVA, R. V. M. O português brasileiro e o<br />

português europeu contemporâneo: alguns<br />

aspectos da diferença. Disponível em:<br />

www.uniroma.it. Acesso em: 23 jun.2008.


¹ isoglossa — linha imaginária que, em um<br />

mapa, une os pontos de ocorrência de<br />

traços e fenômenos linguísticos idênticos.<br />

FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário Aurélio<br />

da língua portuguesa. Rio de Janeiro:<br />

Nova Fronteira, 1986.<br />

De acordo com as informações presentes<br />

no texto, os pontos de vista de Serafim da<br />

Silva Neto e de Paul Teyssier convergem<br />

em relação<br />

A) à influência dos aspectos socioculturais<br />

nas diferenças dos falares entre<br />

indivíduos, pois ambos consideram que<br />

pessoas de mesmo nível sociocultural<br />

falam de forma semelhante.<br />

B) à delimitação dialetal no Brasil<br />

assemelhar-se ao que ocorria na<br />

România Antiga, pois ambos<br />

consideram a variação linguística no<br />

Brasil como decorrente de aspectos<br />

geográficos.<br />

C) à variação sociocultural entre<br />

brasileiros de diferentes regiões, pois<br />

ambos consideram o fator sociocultural<br />

de bastante peso na constituição das<br />

variedades linguísticas no Brasil.<br />

D) à diversidade da língua portuguesa na<br />

România Antiga, que até hoje continua<br />

a existir, manifestando-se nas variantes<br />

linguísticas do português atual no<br />

Brasil.<br />

E) à existência de delimitações dialetais<br />

geográficas pouco marcadas no Brasil,<br />

embora cada um enfatize aspectos<br />

diferentes da questão.<br />

Comentário<br />

(QUESTÃO: AZUL 129, BRANCA 129,<br />

ROSA 129)<br />

Os pontos de vista de Serafim da Silva<br />

Neto e Paul Teyssier convergem quando<br />

ambos afirmam que as delimitações<br />

geográficas não são muito marcadas no<br />

Brasil, o que nos leva a identificar como<br />

correta a alternativa E.<br />

H26 - Relacionar as variedades<br />

lingüísticas a situações<br />

específicas de uso social<br />

01) (2001) O mundo é grande<br />

O mundo é grande e cabe<br />

Nesta janela sobre o mar.<br />

O mar é grande e cabe<br />

Na cama e no colchão de amar.<br />

O amor é grande e cabe<br />

No breve espaço de beijar.<br />

ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e prosa.<br />

Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983.<br />

Neste poema, o poeta realizou uma opção<br />

estilística: a reiteração de determinadas<br />

construções e expressões lingüísticas,<br />

como o uso da mesma conjunção para<br />

estabelecer a relação entre as frases.<br />

Essa conjunção estabelece, entre as<br />

idéias relacionadas, um sentido de<br />

A) oposição.<br />

B) comparação.<br />

C) conclusão.<br />

D) alternância.<br />

E) finalidade.<br />

Comentário<br />

Há três elementos repetidos neste trecho:<br />

o verbo ser, o artigo definido o e a conjunção<br />

aditiva e. A conjunção e estabelece uma<br />

relação entre idéias que, concretamente, são<br />

opostas (ex.: "O mundo é grande e cabe<br />

nesta janela sobre o mar"). A alternativa<br />

correta é a letra A.<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão apresenta, para leitura e<br />

análise, o poema "O mundo é grande", onde<br />

os recursos lingüísticos expressivos<br />

utilizados geram um efeito de oposição entre<br />

as idéias. A análise sintático-semântica é<br />

necessária para a compreensão do valor de<br />

oposição assumido pela conjunção "e":<br />

imagens justapostas estão relacionadas,<br />

contrapondo-se em planos diferentes. Um<br />

percentual significativo (46%) de<br />

participantes considerou que o valor da<br />

conjunção "e", nesse poema, é de<br />

comparação, o que não reflete o sentido<br />

estilístico proposto pelo poeta, mas<br />

corresponde apenas à primeira operação que<br />

se realiza para estabelecer o sentido de<br />

oposição. De maneira análoga, pode-se<br />

analisar os equívocos daqueles que optaram<br />

pelas alternativas C e D.<br />

02) (1999) SONETO DE FIDELIDADE<br />

De tudo, ao meu amor serei atento<br />

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto<br />

Que mesmo em face do maior encanto<br />

Dele se encante mais meu pensamento.<br />

Quero vivê-lo em cada vão momento<br />

E em seu louvor hei de espalhar meu<br />

canto<br />

E rir meu riso e derramar meu pranto<br />

Ao seu pesar ou seu contentamento.<br />

E assim, quando mais tarde me procure<br />

483


Quem sabe a morte, angústia de quem<br />

vive<br />

Quem sabe a solidão, fim de quem ama.<br />

Eu possa dizer do meu amor (que tive):<br />

Que não seja imortal, posto que é chama<br />

Mas que seja infinito enquanto dure.<br />

(MORAES, Vinícius de. Antologia poética. São Paulo: Cia<br />

das Letras, 1992).<br />

A palavra mesmo pode assumir diferentes<br />

significados, de acordo com a sua função<br />

na frase. Assinale a alternativa em que o<br />

sentido de mesmo equivale ao que se<br />

verifica no 3º verso da 1ª estrofe do<br />

poema de Vinícius de Moraes.<br />

A) "Pai, para onde fores, / irei também<br />

trilhando as mesmas ruas..." (Augusto<br />

dos Anjos)<br />

B) "Agora, como outrora, há aqui o<br />

mesmo contraste da vida interior, que<br />

é modesta, com a exterior, que é<br />

ruidosa." (Machado de Assis)<br />

C) "Havia o mal, profundo e persistente,<br />

para o qual o remédio não surtiu efeito,<br />

mesmo em doses variáveis."<br />

(Raimundo Faoro)<br />

D) "Mas, olhe cá, Mana Glória, há<br />

mesmo necessidade de fazê-lo<br />

padre?" (Machado de Assis)<br />

E) "Vamos de qualquer maneira, mas<br />

vamos mesmo." (Aurélio)<br />

Comentário<br />

Nessa questão, uma pequena análise<br />

sintática se faz necessária: mesmo, em<br />

ambos os casos, é conjunção subordinativa<br />

concessiva, introduzindo, portanto, uma<br />

oração subordinada cujo fato expresso é<br />

contrário ao da oração principal. Deve-se,<br />

então, recorrer à oração anterior para se ter<br />

certeza quanto à classificação. Grau<br />

moderado de dificuldade.<br />

Comentário do INEP<br />

Este problema buscou colocar o<br />

participante diante de uma situação que<br />

exigia a mobilização de seus mecanismos de<br />

reflexão sobre os processos lingüísticos em<br />

que um significante (uma palavra) assume<br />

diferentes significados, no enunciado, de<br />

acordo com a intenção do enunciador. Neste<br />

caso, além da compreensão da<br />

transformação de significado, é necessária a<br />

alteração de função morfossintática.<br />

Verifica-se que 62% dos participantes<br />

conseguiram identificar e analisar esse<br />

processo lingüístico, comparando a função<br />

do significante em diferentes enunciados.<br />

Isso demonstrou um domínio parcial da<br />

reflexão sobre a Língua Portuguesa, em<br />

diferentes contextos e textos.<br />

Os 18% dos participantes que<br />

assinalaram a alternativa B identificaram a<br />

diferença de significados mas,<br />

provavelmente, têm dificuldades em analisar<br />

estas mudanças em nível morfossintático<br />

(alternativa B).<br />

03) ( 2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />

poema.<br />

A DANÇA E A ALMA<br />

A DANÇA? Não é movimento,<br />

súbito gesto musical.<br />

É concentração, num momento,<br />

da humana graça natural.<br />

No solo não, no éter pairamos,<br />

nele amaríamos ficar.<br />

A dança – não vento nos ramos:<br />

seiva, força, perene estar.<br />

Um estar entre céu e chão,<br />

novo domínio conquistado,<br />

onde busque nossa paixão<br />

libertar-se por todo lado...<br />

Onde a alma possa descrever<br />

suas mais divinas parábolas<br />

sem fugir à forma do ser,<br />

por sobre o mistério das fábulas.<br />

(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />

Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />

A definição de dança, em linguagem de<br />

dicionário, que mais se aproxima do que<br />

está expresso no poema é<br />

A) a mais antiga das artes, servindo como<br />

elemento de comunicação e afirmação<br />

do homem em todos os momentos de<br />

sua existência.<br />

B) a forma de expressão corporal que<br />

ultrapassa os limites físicos,<br />

possibilitando ao homem a liberação de<br />

seu espírito.<br />

C) a manifestação do ser humano,<br />

formada por uma seqüência de gestos,<br />

passos e movimentos desconcertados.<br />

D) o conjunto organizado de movimentos<br />

do corpo, com ritmo determinado por<br />

instrumentos musicais, ruídos, cantos,<br />

emoções etc.<br />

E) o movimento diretamente ligado ao<br />

psiquismo do indivíduo e, por<br />

conseqüência, ao seu desenvolvimento<br />

intelectual e à sua cultura.<br />

Comentário<br />

A pergunta busca a aplicação do conceito<br />

de "estado de dicionário" (que também foi<br />

desenvolvido por Drummond no poema "A<br />

484


Procura da Poesia"). A literatura busca partir<br />

de palavras em estado de dicionário para,<br />

pelo aprofundamento do sentido delas, criar<br />

um mundo mais denso e particular. Em<br />

estado de dicionário, a dança, conforme é<br />

tratada nesse poema, apareceria na<br />

alternativa B: uma justaposição entre<br />

aspectos físicos e espirituais da expressão<br />

humana. Questão complexa.<br />

soltar, beberá toda a água do nosso<br />

planeta. Os tupisguaranis utilizam o<br />

Cut'uxu para se orientar e determinar a<br />

duração das noites e as estações do ano.<br />

A ilustração a seguir é uma representação<br />

dos corpos celestes que constituem a<br />

constelação da Ema, na percepção<br />

indígena.<br />

04) (2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />

poema.<br />

A DANÇA E A ALMA<br />

A DANÇA? Não é movimento,<br />

súbito gesto musical.<br />

É concentração, num momento,<br />

da humana graça natural.<br />

No solo não, no éter pairamos,<br />

nele amaríamos ficar.<br />

A dança – não vento nos ramos:<br />

seiva, força, perene estar.<br />

Um estar entre céu e chão,<br />

novo domínio conquistado,<br />

onde busque nossa paixão<br />

libertar-se por todo lado...<br />

Onde a alma possa descrever<br />

suas mais divinas parábolas<br />

sem fugir à forma do ser,<br />

por sobre o mistério das fábulas.<br />

(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />

Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />

O poema “A Dança e a Alma” é construído<br />

com base em contrastes, como<br />

“movimento” e “concentração”. Em uma<br />

das estrofes, o termo que estabelece<br />

contraste com solo é:<br />

A) éter. D) paixão.<br />

B) seiva. E) ser.<br />

C) chão.<br />

Comentário<br />

O elemento que contrasta com "solo"<br />

(físico, tangível, perene) é "éter" (espiritual,<br />

intangível, volátil). Questão de nível médio de<br />

dificuldade.<br />

05) ( 2008) O surgimento da figura da Ema<br />

no céu, ao leste, no anoitecer, na segunda<br />

quinzena de junho, indica o início do<br />

inverno para os índios do sul do Brasil e o<br />

começo da estação seca para os do norte.<br />

É limitada pelas constelações de<br />

Escorpião e do Cruzeiro do Sul, ou<br />

Cut'uxu. Segundo o mito guarani, o<br />

Cut’uxu segura a cabeça da ave para<br />

garantir a vida na Terra, porque, se ela se<br />

Almanaque BRASIL, maio/2007 (com adaptações).<br />

A próxima figura mostra, em campo de<br />

visão ampliado, como povos de culturas<br />

não-indígenas percebem o espaço estelar<br />

em que a Ema é vista.<br />

Internet: (com adaptações).<br />

Assinale a opção correta a respeito da<br />

linguagem empregada no texto A Ema.<br />

A) A palavra Cut’uxu é um regionalismo<br />

utilizado pelas populações próximas às<br />

aldeias indígenas.<br />

B) O autor se expressa em linguagem<br />

formal em todos os períodos do texto.<br />

C) A ausência da palavra Ema no início do<br />

período “É limitada (...)” caracteriza<br />

registro oral.<br />

D) A palavra Cut’uxu está destacada em<br />

itálico porque integra o vocabulário da<br />

linguagem informal.<br />

E) No texto, predomina a linguagem<br />

coloquial porque ele consta de um<br />

almanaque.<br />

485


Comentário<br />

A questão é simples, mas requer cuidados<br />

quanto aos conceitos de linguagem<br />

“informal”, “formal” e de “língua”. Se o aluno<br />

tiver noção desses conceitos,<br />

chegará facilmente à resposta. A linguagem<br />

formal ou culta prevalece no texto, e o termo<br />

“Cut’uxu’ não é um termo informal, mas, sim,<br />

uma expressão que pertence a uma língua<br />

indígena — o que justifica o emprego da<br />

palavra em itálico. A resposta correta é,<br />

portanto, a letra "B".<br />

06) (2008) Calcula-se que 78% do<br />

desmatamento na Amazônia tenha sido<br />

motivado pela pecuária — cerca de 35%<br />

do rebanho nacional está na região — e<br />

que pelo menos 50 milhões de hectares<br />

de pastos são pouco produtivos. Enquanto<br />

o custo médio para aumentar a<br />

produtividade de 1 hectare de pastagem é<br />

de 2 mil reais, o custo para derrubar igual<br />

área de floresta é estimado em 800 reais,<br />

o que estimula novos desmatamentos.<br />

Adicionalmente, madeireiras retiram as<br />

árvores de valor comercial que foram<br />

abatidas para a criação de pastagens. Os<br />

pecuaristas sabem que problemas<br />

ambientais como esses podem provocar<br />

restrições à pecuária nessas áreas, a<br />

exemplo do que ocorreu em 2006 com o<br />

plantio da soja, o qual, posteriormente, foi<br />

proibido em áreas de floresta.<br />

Época, 3/3/2008 e 9/6/2008 (com adaptações).<br />

486<br />

A partir da situação-problema descrita,<br />

conclui-se que<br />

A) o desmatamento na Amazônia decorre<br />

principalmente da exploração ilegal de<br />

árvores de valor comercial.<br />

B) um dos problemas que os pecuaristas<br />

vêm enfrentando na Amazônia é a<br />

proibição do plantio de soja.<br />

C) a mobilização de máquinas e de força<br />

humana torna o desmatamento mais<br />

caro que o aumento da produtividade<br />

de pastagens.<br />

D) o superavit comercial decorrente da<br />

exportação de carne produzida na<br />

Amazônia compensa a possível<br />

degradação ambiental.<br />

E) a recuperação de áreas desmatadas<br />

e o aumento de produtividade das<br />

pastagens podem contribuir para a<br />

redução do desmatamento na<br />

Amazônia.<br />

Comentário do portal<br />

Essa questão retrata o problema do<br />

desmatamento da Amazônia, relacionado<br />

principalmente com o desenvolvimento da<br />

pecuária na região. Para resolvê-la, foram<br />

necessários a leitura atenta do texto e o<br />

conhecimento sobre os problemas<br />

ambientais da atualidade. A alternativa<br />

correta é a letra E, pois é mais caro para os<br />

pecuaristas aumentar a produtividade do que<br />

as áreas de pasto, o que acarreta o aumento<br />

do desmatamento da Amazônia.<br />

07) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />

preciso, além de conhecer o padrão<br />

formal da Língua Portuguesa, saber<br />

adequar o uso da linguagem ao contexto<br />

discursivo. Para exemplificar este fato,<br />

seu professor de Língua Portuguesa<br />

convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />

Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />

brinca com situações de discurso oral que<br />

fogem à expectativa do ouvinte.<br />

Aí, Galera<br />

Jogadores de futebol podem ser<br />

vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />

você pode imaginar um jogador de futebol<br />

dizendo "estereotipação"? E, no<br />

entanto, por que não?<br />

- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />

galera.<br />

- Minha saudação aos aficionados do<br />

clube e aos demais esportistas, aqui<br />

presentes ou no recesso dos seus lares.<br />

- Como é?<br />

- Aí, galera.<br />

- Quais são as instruções do técnico?<br />

- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />

trabalho de contenção coordenada, com<br />

energia otimizada, na zona de<br />

preparação, aumentam as<br />

probabilidades de, recuperado o<br />

esférico, concatenarmos um contragolpe<br />

agudo com parcimônia de meios e<br />

extrema objetividade, valendo-nos da<br />

desestruturação momentânea do<br />

sistema oposto, surpreendido pela<br />

reversão inesperada do fluxo da ação:<br />

- Ahn?<br />

- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />

pegá eles sem calça.<br />

- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />

coisa?<br />

- Posso dirigir uma mensagem de<br />

caráter sentimental, algo banal, talvez<br />

mesmo previsível e piegas, a uma<br />

pessoa à qual sou ligado por razões,<br />

inclusive, genéticas?


- Pode.<br />

- Uma saudação para a minha<br />

progenitora.<br />

- Como é?<br />

- Alô, mamãe!<br />

- Estou vendo que você é um, um...<br />

- Um jogador que confunde o<br />

entrevistador, pois não corresponde à<br />

expectativa de que o atleta seja um ser<br />

algo primitivo com dificuldade de<br />

expressão e assim sabota a<br />

estereotipação?<br />

- Estereoquê?<br />

- Um chato?<br />

- Isso.<br />

Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />

O texto retrata duas situações<br />

relacionadas que fogem à expectativa do<br />

público. São elas:<br />

A) a saudação do jogador aos fãs do<br />

clube, no início da entrevista, e a<br />

saudação final dirigida à sua mãe.<br />

B) a linguagem muito formal do jogador,<br />

inadequada à situação da entrevista, e<br />

um jogador que fala, com desenvoltura,<br />

de modo muito rebuscado.<br />

C) o uso da expressão "galera", por parte<br />

do entrevistador, e da expressão<br />

"progenitora", por parte do jogador.<br />

D) o desconhecimento, por parte do<br />

entrevistador, da palavra<br />

"estereotipação", e a fala do jogador<br />

em "é pra dividir no meio e ir pra cima<br />

pra pegá eles sem calça".<br />

E) o fato de os jogadores de futebol serem<br />

vítimas de estereotipação e o jogador<br />

entrevistado não corresponder ao<br />

estereótipo.<br />

Comentário<br />

Quando pensamos em certas profissões,<br />

imaginamos qual seria o padrão de<br />

comportamento de quem as exerce. O texto<br />

está trabalhando uma divergência entre o<br />

que esperamos de um jogador de futebol (o<br />

estereótipo que temos dele) e um jogador<br />

que não se enquadra em nossas<br />

expectativas. Levando isso em consideração,<br />

as duas coisas que destoam do que<br />

esperamos encontrar nessa situação são: 1)<br />

alguém, ao dar uma entrevista de alto<br />

alcance popular, fala de maneira<br />

extremamente rebuscada; 2) um jogador que,<br />

ao falar de maneira rebuscada, acaba por<br />

fugir do estereótipo do jogador de futebol, de<br />

quem sempre é esperado algo menos<br />

rebuscado e mais popular.<br />

08) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />

preciso, além de conhecer o padrão<br />

formal da Língua Portuguesa, saber<br />

adequar o uso da linguagem ao contexto<br />

discursivo. Para exemplificar este fato,<br />

seu professor de Língua Portuguesa<br />

convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />

Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />

brinca com situações de discurso oral que<br />

fogem à expectativa do ouvinte.<br />

Aí, Galera<br />

Jogadores de futebol podem ser vítimas<br />

de estereotipação. Por exemplo, você pode<br />

imaginar um jogador de futebol dizendo<br />

"estereotipação"? E, no entanto, por que<br />

não?<br />

- Aí, campeão. Uma palavrinha pra galera.<br />

- Minha saudação aos aficionados do clube<br />

e aos demais esportistas, aqui presentes<br />

ou no recesso dos seus lares.<br />

- Como é?<br />

- Aí, galera.<br />

- Quais são as instruções do técnico?<br />

- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />

trabalho de contenção coordenada, com<br />

energia otimizada, na zona de preparação,<br />

aumentam as probabilidades de,<br />

recuperado o esférico, concatenarmos um<br />

contragolpe agudo com parcimônia de<br />

meios e extrema objetividade, valendo-nos<br />

da desestruturação momentânea do<br />

sistema oposto, surpreendido pela<br />

reversão inesperada do fluxo da ação:<br />

- Ahn?<br />

- É pra dividir no meio e ir pra cima pra pegá<br />

eles sem calça.<br />

- Certo. Você quer dizer mais alguma coisa?<br />

- Posso dirigir uma mensagem de caráter<br />

sentimental, algo banal, talvez mesmo<br />

previsível e piegas, a uma pessoa à qual<br />

sou ligado por razões, inclusive,<br />

genéticas?<br />

- Pode.<br />

- Uma saudação para a minha progenitora.<br />

- Como é?<br />

- Alô, mamãe!<br />

- Estou vendo que você é um, um...<br />

- Um jogador que confunde o entrevistador,<br />

pois não corresponde à expectativa de<br />

que o atleta seja um ser algo primitivo com<br />

dificuldade de expressão e assim sabota a<br />

estereotipação?<br />

- Estereoquê?<br />

- Um chato?<br />

- Isso.<br />

Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />

487


488<br />

O texto mostra uma situação em que a<br />

linguagem usada é inadequada ao<br />

contexto. Considerando as diferenças<br />

entre língua oral e língua escrita, assinale<br />

a opção que representa também uma<br />

inadequação da linguagem usada ao<br />

contexto:<br />

A) "o carro bateu e capotô, mas num deu<br />

pra vê direito" - um pedestre que<br />

assistiu ao acidente comenta com o<br />

outro que vai passando.<br />

B) "E aí, ô meu! Como vai essa força?" -<br />

um jovem que fala para um amigo.<br />

C) "Só um instante, por favor. Eu<br />

gostaria de fazer uma observação" -<br />

alguém comenta em uma reunião de<br />

trabalho.<br />

D) "Venho manifestar meu interesse em<br />

candidatar-me ao cargo de Secretária<br />

Executiva desta conceituada empresa"<br />

- alguém que escreve uma carta<br />

candidatando-se a um emprego.<br />

E) "Porque se a gente não resolve as<br />

coisas como têm que ser, a gente corre<br />

o risco de termos, num futuro próximo,<br />

muito pouca comida nos lares<br />

brasileiros" - um professor universitário<br />

em um congresso internacional.<br />

Comentário<br />

Essa questão está trabalhando com as<br />

nossas expectativas. Esperamos encontrar,<br />

nas diferentes situações, linguagens que<br />

correspondam à formalidade (ou à<br />

informalidade) delas. Na alternativa E, como<br />

o professor universitário está falando em um<br />

congresso internacional, espera-se que ele<br />

utilize uma linguagem mais formal e não uma<br />

linguagem coloquial como a que usou. Em<br />

todas as outras situações, a linguagem está<br />

de acordo com a situação em que está sendo<br />

empregada.<br />

09) (2007) Texto I<br />

Agora Fabiano conseguia arranjar as<br />

idéias. O que o segurava era a família.<br />

Vivia preso como um novilho amarrado ao<br />

mourão, suportando ferro quente. Se não<br />

fosse isso, um soldado amarelo não lhe<br />

pisava o pé não. (...) Tinha aqueles<br />

cambões pendurados ao pescoço.<br />

Deveria continuar a arrastá-los? Sinha<br />

Vitória dormia mal na cama de varas. Os<br />

meninos eram uns brutos, como o pai.<br />

Quando crescessem, guardariam as reses<br />

de um patrão invisível, seriam pisados,<br />

maltratados, machucados por um soldado<br />

amarelo.<br />

Graciliano Ramos. Vidas Secas. São Paulo:<br />

Martins, 23.ª ed., 1969, p. 75.<br />

Texto II<br />

Para Graciliano, o roceiro pobre é um<br />

outro, enigmático, impermeável. Não há<br />

solução fácil para uma tentativa de<br />

incorporação dessa figura no campo da<br />

ficção. É lidando com o impasse, ao invés<br />

de fáceis soluções, que Graciliano vai<br />

criar Vidas Secas, elaborando uma<br />

linguagem, uma estrutura romanesca,<br />

uma constituição de narrador em que<br />

narrador e criaturas se tocam, mas não se<br />

identificam. Em grande medida, o debate<br />

acontece porque, para a intelectualidade<br />

brasileira naquele momento, o pobre, a<br />

despeito de aparecer idealizado em certos<br />

aspectos, ainda é visto como um ser<br />

humano de segunda categoria, simples<br />

demais, incapaz de ter pensamentos<br />

demasiadamente complexos. O que Vidas<br />

Secas faz é, com pretenso não<br />

envolvimento da voz que controla a<br />

narrativa, dar conta de uma riqueza<br />

humana de que essas pessoas seriam<br />

plenamente capazes.<br />

Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes. In:<br />

Teresa. São Paulo: USP, n.° 2, 2001, p. 254.<br />

No texto II, verifica-se que o autor utiliza<br />

A) linguagem predominantemente<br />

formal, para problematizar, na<br />

composição de Vidas Secas, a relação<br />

entre o escritor e o personagem<br />

popular.<br />

B) linguagem inovadora, visto que, sem<br />

abandonar a linguagem formal, dirigese<br />

diretamente ao leitor.<br />

C) linguagem coloquial, para narrar<br />

coerentemente uma história que<br />

apresenta o roceiro pobre de forma<br />

pitoresca.<br />

D) linguagem formal com recursos<br />

retóricos próprios do texto literário em<br />

prosa, para analisar determinado<br />

momento da literatura brasileira.<br />

E) linguagem regionalista, para transmitir<br />

informações sobre literatura, valendose<br />

de coloquialismo, para facilitar o<br />

entendimento do texto.<br />

Comentário<br />

Questão de nível médio. Algumas<br />

alternativas poderiam levar o candidato a<br />

pensar que o texto de Vidas Secas utiliza<br />

uma linguagem predominantemente coloquial<br />

e regionalista. Entretanto, é na alternativa A<br />

que se encontra o real estilo da linguagem<br />

utilizada por Graciliano Ramos. A linguagem<br />

é, portanto, predominantemente formal e<br />

problematiza a relação do escritor com o


personagem popular. Esta acaba sendo uma<br />

das grandes características do autor, pois ele<br />

buscava sempre dar uma grande densidade<br />

psicológica aos seus romances.<br />

<strong>10</strong>) (2006) Depois de um bom jantar: feijão<br />

com carne-seca, orelha de porco e couve<br />

com angu, arroz-mole engordurado, carne<br />

de vento assada no espeto, torresmo<br />

enxuto de toicinho da barriga, viradinho de<br />

milho verde e um prato de caldo de couve,<br />

jantar encerrado por um prato fundo de<br />

canjica com torrões de açúcar, Nhô Tomé<br />

saboreou o café forte e se estendeu na<br />

rede. A mão direita sob a cabeça, à guisa<br />

de travesseiro, o indefectível cigarro de<br />

palha entre as pontas do indicador e do<br />

polegar, envernizados pela fumaça, de<br />

unhas encanoadas e longas, ficou-se de<br />

pança para o ar, modorrento, a olhar para<br />

as ripas do telhado.<br />

Quem come e não deita, a comida não<br />

aproveita, pensava Nhô Tomé... E pôs-se<br />

a cochilar. A sua modorra durou pouco;<br />

Tia Policena, ao passar pela sala, bradou<br />

assombrada:<br />

— Êêh! Sinhô! Vai drumi agora? Não!<br />

Num presta... Dá pisadêra e póde morrê<br />

de ataque de cabeça! Despois do armoço<br />

num far-má... mais despois da janta?!”<br />

Cornélio Pires. Conversas ao pé do fogo. São Paulo:<br />

Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1987.<br />

Nesse trecho, extraído de texto publicado<br />

originalmente em 1921, o narrador<br />

A) apresenta, sem explicitar juízos de<br />

valor, costumes da epoca, descrevendo<br />

os pratos servidos no jantar e a atitude<br />

de Nhô Tomé e de Tia Policena.<br />

B) desvaloriza a norma culta da língua<br />

porque incorpora à narrativa usos<br />

próprios da linguagem regional das<br />

personagens.<br />

C) condena os hábitos descritos, dando<br />

voz a Tia Policena, que tenta impedir<br />

Nhô Tomé de deitar-se após as<br />

refeições.<br />

D) utiliza a diversidade sociocultural e<br />

lingüística para demonstrar seu<br />

desrespeito às populações das zonas<br />

rurais do início do século XX.<br />

E) manifesta preconceito em relação a Tia<br />

Policena ao transcrever a fala dela com<br />

os erros próprios da região.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil, pois a alternativa<br />

"A" deixa clara a intencionalidade do<br />

narrador. Entretanto, o aluno poderia optar<br />

pela alternativa "B" caso não desse o devido<br />

valor ao sentido da palavra “desvaloriza”, que<br />

a elimina.<br />

11) (2006) Aula de português<br />

Explorando a função emotiva da<br />

linguagem, o poeta expressa o contraste<br />

entre marcas de variação de usos da<br />

linguagem em<br />

A) situações formais e informais.<br />

B) diferentes regiões do país.<br />

C) escolas literárias distintas.<br />

D) textos técnicos e poéticos.<br />

E) diferentes épocas.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil, pois o próprio título<br />

nos dá uma noção da dificuldade de<br />

transformar a linguagem coloquial e de uso<br />

cotidiano em uma linguagem formal,<br />

expressa no poema como “a misteriosa”.<br />

Drummond foi muito feliz em conseguir<br />

demonstrar a dificuldade em entender como<br />

estruturas simples da língua se tornam tão<br />

complexas ao se iniciar o processo de<br />

compreensão da estrutura lingüística.<br />

489


12) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />

preciso, além de conhecer o padrão<br />

formal da Língua Portuguesa, saber<br />

adequar o uso da linguagem ao contexto<br />

discursivo. Para exemplificar este fato,<br />

seu professor de Língua Portuguesa<br />

convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />

Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />

brinca com situações de discurso oral que<br />

fogem à expectativa do ouvinte.<br />

Aí, Galera<br />

Jogadores de futebol podem ser<br />

vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />

você pode imaginar um jogador de futebol<br />

dizendo "estereotipação"? E, no<br />

entanto, por que não?<br />

- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />

galera.<br />

- Minha saudação aos aficionados do<br />

clube e aos demais esportistas, aqui<br />

presentes ou no recesso dos seus lares.<br />

- Como é?<br />

- Aí, galera.<br />

- Quais são as instruções do técnico?<br />

- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />

trabalho de contenção coordenada, com<br />

energia otimizada, na zona de<br />

preparação, aumentam as<br />

probabilidades de, recuperado o<br />

esférico, concatenarmos um contragolpe<br />

agudo com parcimônia de meios e<br />

extrema objetividade, valendo-nos da<br />

desestruturação momentânea do<br />

sistema oposto, surpreendido pela<br />

reversão inesperada do fluxo da ação:<br />

- Ahn?<br />

- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />

pegá eles sem calça.<br />

- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />

coisa?<br />

- Posso dirigir uma mensagem de<br />

caráter sentimental, algo banal, talvez<br />

mesmo previsível e piegas, a uma<br />

pessoa à qual sou ligado por razões,<br />

inclusive, genéticas?<br />

- Pode.<br />

- Uma saudação para a minha<br />

progenitora.<br />

- Como é?<br />

- Alô, mamãe!<br />

- Estou vendo que você é um, um...<br />

- Um jogador que confunde o<br />

entrevistador, pois não corresponde à<br />

expectativa de que o atleta seja um ser<br />

algo primitivo com dificuldade de<br />

expressão e assim sabota a<br />

estereotipação?<br />

- Estereoquê?<br />

490<br />

- Um chato?<br />

- Isso.<br />

Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />

A expressão "pegá eles sem calça"<br />

poderia ser substituída, sem<br />

comprometimento de sentido, em língua<br />

culta, formal, por:<br />

A) pegá-los na mentira.<br />

B) pegá-los desprevenidos.<br />

C) pegá-los em flagrante.<br />

D) pegá-los rapidamente.<br />

E) pegá-los momentaneamente<br />

Comentário<br />

O trabalho que temos aqui é de<br />

compreensão de sentido. Se você nunca<br />

ouviu a expressão "de calças na mão", terá<br />

de imaginar o que acontece quando<br />

pegamos alguém nessa situação. Mas isso<br />

não basta. Se usar somente situações que<br />

pode imaginar, restarão as alternativas B e<br />

C. Esse problema só será solucionado se<br />

você entender bem o texto a que ele se<br />

refere. Como o jogador está falando em<br />

roubar a bola e partir para cima do adversário<br />

rapidamente, imagina-se que o adversário<br />

não esperava perder a bola naquele<br />

momento e, quando isso ocorreu, ele não<br />

estava preparado para receber um contraataque.<br />

Utilizando essa análise, somente a<br />

alternativa B está correta.<br />

13) (2000) Em uma conversa ou leitura de<br />

um texto, corre-se o risco de atribuir um<br />

significado inadequado a um termo ou<br />

expressão, e isso pode levar a certos<br />

resultados inesperados, como se vê nos<br />

quadrinhos abaixo.<br />

(SOUZA, Maurício de. Chico Bento.<br />

Rio de Janeiro: Ed. Globo, n o 335, Nov./99 )<br />

Nessa historinha, o efeito humorístico<br />

origina-se de uma situação criada pela<br />

fala da Rosinha no primeiro quadrinho,<br />

que é:<br />

A) Faz uma pose bonita!<br />

B) Quer tirar um retrato?<br />

C) Sua barriga está aparecendo!<br />

D) Olha o passarinho!<br />

E) Cuidado com o flash!


Comentário<br />

Quem não se lembra de expressões<br />

humorísticas usadas quando se deseja tirar<br />

uma foto, como "Olha o passarinho" ou "Fale<br />

xis"?<br />

Pois é, essa é uma questão fácil e a<br />

interpretação do texto é simples, e não há<br />

por que ter dúvidas quanto à resposta, a não<br />

ser que não se leia a proposta da questão.<br />

Comentário do INEP<br />

Essa questão procurou avaliar se o<br />

participante conseguia inferir, a partir de uma<br />

seqüência narrativa de imagens, a expressão<br />

lingüística adequada à situação de<br />

interlocução, no caso a fala da personagem,<br />

no primeiro quadrinho. A expressão de uso<br />

coloquial 'olha o passarinho!', dependendo do<br />

contexto, tem diferentes significados, que<br />

nesse caso foram associados pelo cartunista<br />

para produzir o efeito de humor. A grande<br />

maioria - 89% - dos participantes realizou a<br />

inferência solicitada, analisando a função da<br />

linguagem e identificando a variante<br />

lingüística adequada à situação de<br />

interlocução, com base na leitura da<br />

seqüência das imagens e da fala da<br />

personagem no terceiro quadrinho. É<br />

interessante notar a abrangência dessa<br />

expressão metafórica no Brasil, criada no<br />

contexto informal da fala com seus<br />

significados correspondentes. Mesmo assim,<br />

11% dos participantes, possivelmente,<br />

desconhecem essa expressão ou não<br />

conseguiram realizar a transposição do<br />

significado humorístico da fala do último<br />

quadrinho.<br />

14) (2006) Aula de português<br />

No poema, a referência à variedade<br />

padrão da língua está expressa no<br />

seguinte trecho:<br />

A) “A linguagem / na ponta da língua” (v.1<br />

e 2).<br />

B) “A linguagem / na superfície<br />

estrelada de letras” (v.5 e 6).<br />

C) “[a língua] em que pedia para ir lá<br />

fora” (v.14).<br />

D) “[a língua] em que levava e dava<br />

pontapé” (v.15).<br />

E) “[a língua] do namoro com a priminha”<br />

(v.17).<br />

Comentário<br />

Questão fácil, pois a alternativa "B" é a<br />

única que faz menção à norma-padrão da<br />

língua. As demais alternativas fogem a essa<br />

norma.<br />

15) (2005) Leia com atenção o texto:<br />

[Em Portugal], você poderá ter alguns<br />

probleminhas se entrar numa loja de<br />

roupas desconhecendo certas sutilezas da<br />

língua. Por exemplo, não adianta pedir<br />

para ver os ternos — peça para ver os<br />

fatos. Paletó é casaco. Meias são<br />

peúgas. Suéter é camisola — mas não<br />

se assuste, porque calcinhas femininas<br />

são cuecas. (Não é uma delícia?)<br />

(Ruy Castro. Viaje Bem. Ano VIII, no 3, 78.)<br />

O texto destaca a diferença entre o<br />

português do Brasil e o de Portugal<br />

quanto<br />

A) ao vocabulário.<br />

B) à derivação.<br />

C) à pronúncia.<br />

D) ao gênero.<br />

E) à sintaxe.<br />

Comentário<br />

Questão de entendimento muito fácil, pois<br />

o próprio enunciado deixa claro que se trata<br />

das diferenças de vocabulário entre o<br />

português brasileiro e o lusitano.<br />

16) (2008) A Lei Federal n.º 9.985/2000, que<br />

instituiu o sistema nacional de unidades<br />

de conservação, define dois tipos de<br />

áreas protegidas. O primeiro, as unidades<br />

de proteção integral, tem por objetivo<br />

preservar a natureza, admitindo-se<br />

apenas o uso indireto dos seus recursos<br />

naturais, isto é, aquele que não envolve<br />

consumo, coleta, dano ou destruição dos<br />

recursos naturais. O segundo, as<br />

unidades de uso sustentável, tem por<br />

função compatibilizar a conservação da<br />

491


natureza com o uso sustentável de<br />

parcela dos recursos naturais. Nesse<br />

caso, permite-se a exploração do<br />

ambiente de maneira a garantir a<br />

perenidade dos recursos ambientais<br />

renováveis e dos processos ecológicos,<br />

mantendo-se a biodiversidade e os<br />

demais atributos ecológicos, de forma<br />

socialmente justa e economicamente<br />

viável.<br />

Considerando essas informações, analise<br />

a seguinte situação hipotética.<br />

Ao discutir a aplicação de recursos<br />

disponíveis para o desenvolvimento de<br />

determinada região, organizações civis,<br />

universidade e governo resolveram<br />

investir na utilização de uma unidade de<br />

proteção integral, o Parque Nacional do<br />

Morro do Pindaré, e de uma unidade de<br />

uso sustentável, a Floresta Nacional do<br />

Sabiá. Depois das discussões, a equipe<br />

resolveu levar adiante três projetos:<br />

— o projeto I consiste de pesquisas<br />

científicas embasadas exclusivamente<br />

na observação de animais;<br />

— o projeto II inclui a construção de uma<br />

escola e de um centro de vivência;<br />

— o projeto III promove a organização de<br />

uma comunidade extrativista que<br />

poderá coletar e explorar<br />

comercialmente frutas e sementes<br />

nativas.<br />

Nessa situação hipotética, atendendo-se à<br />

lei mencionada acima, é possível<br />

desenvolver tanto na unidade de proteção<br />

integral quanto na de uso sustentável<br />

A) apenas o projeto I.<br />

B) apenas o projeto III.<br />

C) apenas os projetos I e II.<br />

D) apenas os projetos II e III.<br />

E) todos os três projetos.<br />

Comentário do portal<br />

A alternativa correta é a letra "A", pois,<br />

analisando-se a situação hipotética sugerida<br />

no enunciado, percebe-se que ela deverá<br />

atender os requisitos tanto da unidade de<br />

proteção integral quanto da unidade de uso<br />

sustentável. Portanto, apenas o projeto I<br />

poderá ser desenvolvido nessas duas<br />

propostas de unidades.<br />

17) (1999) Leia o texto abaixo.<br />

Cabelos longos, brinco na orelha<br />

esquerda, físico de skatista. Na aparência,<br />

o estudante brasiliense Rui Lopes Viana<br />

Filho, de 16 anos, não lembra em nada o<br />

estereótipo dos gênios. Ele não usa<br />

492<br />

pesados óculos de grau e está longe de<br />

ter um ar introspectivo. No final do mês<br />

passado, Rui retornou de Taiwan, onde<br />

enfrentou 419 competidores de todo o<br />

mundo na 39ª Olimpíada Internacional de<br />

Matemática. A reluzente medalha de ouro<br />

que ele trouxe na bagagem está<br />

dependurada sobre a cama de seu quarto,<br />

atulhado de rascunhos dos problemas<br />

matemáticos que aprendeu a decifrar nos<br />

últimos cinco anos.<br />

Veja – Vencer uma olimpíada serve de<br />

passaporte para uma carreira profissional<br />

meteórica?<br />

Rui – Nada disso. Decidi me dedicar à<br />

Olimpíada porque sei que a concorrência<br />

por um emprego é cada vez mais<br />

selvagem e cruel. Agora tenho algo a mais<br />

para oferecer. O problema é que as coisas<br />

estão mudando muito rápido e não sei<br />

qual será minha profissão. Além de ser<br />

muito novo para decidir sobre o meu<br />

futuro profissional, sei que esse conceito<br />

de carreira mudou muito.<br />

(Entrevista de Rui Lopes Viana Filho à Veja,<br />

05/08/1998, n.31, p. 9-<strong>10</strong>)<br />

Na pergunta, o repórter estabelece uma<br />

relação entre a entrada do estudante no<br />

mercado de trabalho e a vitória na<br />

Olimpíada. O estudante<br />

A) concorda com a relação e afirma que o<br />

desempenho na Olimpíada é<br />

fundamental para sua entrada no<br />

mercado.<br />

B) discorda da relação e complementa<br />

que é fácil se fazer previsões sobre o<br />

mercado de trabalho.<br />

C) discorda da relação e afirma que seu<br />

futuro profissional independe de<br />

dedicação aos estudos.<br />

D) discorda da relação e afirma que seu<br />

desempenho só é relevante se<br />

escolher uma profissão relacionada à<br />

matemática.<br />

E) concorda em parte com a relação e<br />

complementa que é complexo fazer<br />

previsões sobre o mercado de trabalho.<br />

Comentário<br />

Não é difícil de se chegar à resposta<br />

correta ao se ler a reportagem. Ao final do<br />

último parágrafo — (...) Além de ser muito<br />

novo para decidir sobre o meu futuro<br />

profissional, sei que esse conceito de carreira<br />

mudou muito. —, o estudante praticamente<br />

fornece a resposta à questão, declarando-se<br />

realista ao não tentar prever seu futuro<br />

profissional devido à pouca idade e às


mudanças no mercado de trabalho. Quanto a<br />

concordar parcialmente com o repórter, veja<br />

que ele, apesar de negar que o prêmio fosse<br />

uma garantia de sucesso profissional, logo<br />

depois afirma que, com ele, terá algo mais a<br />

oferecer ao mercado. Questão de nível fácil.<br />

Comentário do INEP<br />

Nesta situação-problema, o participante<br />

deveria demonstrar que compreendeu as<br />

premissas de um discurso, distinguindo a<br />

diferença de significado de palavras isoladas<br />

ou no contexto em que estão inseridas.<br />

Verificou-se que mais da metade dos<br />

participantes demonstrou possuir essa<br />

compreensão. Aqueles que optaram pelas<br />

alternativas C e D podem ter sido atraídos<br />

pelo significado negativo da expressão inicial<br />

"Nada disso".<br />

romântico a ponto de chorar ao jurar amor<br />

não existe. Tanto Macedo quanto<br />

Bandeira alertam as mulheres dizendo,<br />

com palavras e estilos diferentes, que não<br />

há homem que chore por amor (portanto,<br />

essa figura é uma idealização — e, por<br />

conseguinte, toda imagem que se tem<br />

sobre os relacionamentos<br />

demasiadamente românticos). Note que<br />

Bandeira chega até mesmo a chamar tal<br />

"chorão" de ator ("...É lágrima de cinema /<br />

É tapeação..."). Macedo dá uma imagem<br />

pesada às lágrimas ("...são gotas da<br />

mentira...").<br />

19) (1999)<br />

18) (1998) Texto 1<br />

"Mulher, Irmã, escuta-me: não ames,<br />

Quando a teus pés um homem terno e<br />

curvo<br />

jurar amor, chorar pranto de sangue,<br />

Não creias, não, mulher: ele te engana!<br />

As lágrimas são gotas da mentira<br />

E o juramento manto da perfídia."<br />

(Joaquim Manoel de Macedo)<br />

Texto 2<br />

"Teresa, se algum sujeito bancar o<br />

sentimental em cima de você<br />

E te jurar uma paixão do tamanho de um<br />

bonde<br />

Se ele chorar<br />

Se ele ajoelhar<br />

Se ele se rasgar todo<br />

Não acredite não Teresa<br />

É lágrima de cinema<br />

É tapeação<br />

Mentira<br />

CAI FORA"<br />

(Manuel Bandeira)<br />

Os autores, ao fazerem alusão às<br />

imagens da lágrima sugerem que:<br />

A) há um tratamento idealizado da<br />

relação homem/mulher.<br />

B) há um tratamento realista da relação<br />

homem/mulher.<br />

C) a relação familiar é idealizada.<br />

D) a mulher é superior ao homem.<br />

E) a mulher é igual ao homem.<br />

Comentário<br />

Ambos os autores, ao utilizarem a<br />

imagem da lágrima, estão na realidade<br />

mostrando que a figura do homem que é<br />

(QUINO. Mafalda inédita. São Paulo: Martins Fontes, 1993)<br />

Observando as falas das personagens,<br />

analise o emprego do pronome SE e o<br />

sentido que adquire no contexto. No<br />

contexto da narrativa, é correto afirmar<br />

que o pronome SE:<br />

A) em I, indica reflexividade e equivale a<br />

"a si mesmas".<br />

B) em II, indica reciprocidade e equivale a<br />

"a si mesma".<br />

C) em III, indica reciprocidade e equivale<br />

a "umas às outras".<br />

D) em I e III, indica reciprocidade e<br />

equivale a "umas às outras".<br />

E) em II e III, indica reflexividade e<br />

equivale a "a si mesma " e "a si<br />

mesmas", respectivamente.<br />

Comentário<br />

Mais uma questão que fala por si própria.<br />

Lendo o segundo quadrinho — "Quer dizer<br />

que você também se ama muito mais no<br />

Natal?" —, é fácil de se identificar o pronome<br />

reflexivo. Basta que se troque se ama por<br />

ama a si mesma. O mesmo ocorre no<br />

terceiro quadrinho em "Por que será que as<br />

pessoas se amam muito mais no Natal?" —<br />

Por que será que as pessoas amam a si<br />

mesmas? Questão de grau fácil.<br />

Comentário do INEP<br />

Este problema requeria que o participante<br />

mobilizasse conhecimentos sobre os<br />

significados de "reciprocidade e<br />

493


"reflexividade" e o associasse à<br />

compreensão de linguagem iconográfica.<br />

Cerca de metade dos participantes<br />

demonstrou essa capacidade. A opção de<br />

30% dos participantes pela alternativa D<br />

pode indicar que eles utilizaram as imagens<br />

apenas como ilustração do texto e não como<br />

linguagem capaz de instituir novos<br />

significados.<br />

20) (2001) Os provérbios constituem um<br />

produto da sabedoria popular e, em geral,<br />

pretendem transmitir um ensinamento. A<br />

alternativa em que os dois provérbios<br />

remetem a ensinamentos semelhantes é:<br />

A) “Quem diz o que quer, ouve o que não<br />

quer” e “Quem ama o feio, bonito lhe<br />

parece”.<br />

B) “Devagar se vai ao longe” e “De grão<br />

em grão, a galinha enche o papo”.<br />

C) “Mais vale um pássaro na mão do que<br />

dois voando” e “Não se deve atirar<br />

pérolas aos porcos”.<br />

D) “Quem casa quer casa” e “Santo de<br />

casa não faz milagre”.<br />

E) “Quem com ferro fere, com ferro será<br />

ferido” e “Casa de ferreiro, espeto de<br />

pau”.<br />

Comentário<br />

Questão fácil. A alternativa B apresenta<br />

dois provérbios que tratam de paciência,<br />

perseverança. A mensagem é a mesma em<br />

ambos.<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão propõe uma série de<br />

provérbios agrupados aos pares, para que o<br />

participante demonstre compreender e<br />

comparar os provérbios de modo a identificar<br />

aqueles que traduzem ensinamentos<br />

semelhantes. A organização sintáticosemântica<br />

dos provérbios cria um efeito de<br />

sentido metafórico que deve ser recuperado,<br />

analisado e comparado, o que foi<br />

corretamente feito por cerca de 80% dos<br />

participantes.<br />

21) (2006) No romance Vidas Secas, de<br />

Graciliano Ramos, o vaqueiro Fabiano<br />

encontra-se com o patrão para receber o<br />

salário. Eis parte da cena:<br />

Graciliano Ramos. Vidas Secas. 91.ª ed.<br />

Rio de Janeiro: Record, 2003.<br />

No fragmento transcrito, o padrão formal<br />

da linguagem convive com marcas de<br />

regionalismo e de coloquialismo no<br />

vocabulário. Pertence à variedade do<br />

padrão formal da linguagem o seguinte<br />

trecho:<br />

A) Não se conformou: devia haver<br />

engano (l.1).<br />

B) Fabiano perdeu os estribos (l.3).<br />

C) Passar a vida inteira assim no toco<br />

(l.4).<br />

D) Entregando o que era dele de mao<br />

beijada! (l.4-5).<br />

E) Aí Fabiano baixou a pancada e<br />

amunhecou (l.11).<br />

Comentário do portal<br />

Questão de nível fácil. Bastaria que o<br />

candidato conhecesse o padrão formal da<br />

linguagem e distinguisse-o do regionalismo e<br />

do coloquialismo.<br />

22) (2005) As dimensões continentais do<br />

Brasil são objeto de reflexões expressas<br />

em diferentes linguagens. Esse tema<br />

aparece no seguinte p"Narizinho correu os<br />

olhos pela assistência. Não podia haver nada<br />

mais curioso. Besourinhos de oema:<br />

“(....)<br />

Que importa que uns falem mole<br />

descansado<br />

Que os cariocas arranhem os erres na<br />

garganta<br />

Que os capixabas e paroaras escancarem<br />

as vogais?<br />

Que tem se o quinhentos réis meridional<br />

Vira cinco tostões do Rio pro Norte?<br />

Junto formamos este assombro de<br />

misérias e grandezas,<br />

Brasil, nome de vegetal! (....)”<br />

(Mário de Andrade. Poesias completas. 6. ed. São Paulo:<br />

Martins Editora, 1980.)<br />

494


O texto poético ora reproduzido trata das<br />

diferenças brasileiras no âmbito<br />

A) étnico e religioso.<br />

B) lingüístico e econômico.<br />

C) racial e folclórico.<br />

D) histórico e geográfico.<br />

E) literário e popular.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil, pois a primeira<br />

estrofe, ao enunciar os erres arranhados dos<br />

cariocas e as vogais abertas dos capixabas,<br />

evidencia a diferença lingüística entre duas<br />

regiões distintas do Brasil, dando noção da<br />

variedade. Já na segunda estrofe, as<br />

diferenças econômicas são evidenciadas ao<br />

se mostrarem os réis e tostões variando da<br />

Região Meridional para a Norte.<br />

23) (202) "Narizinho correu os olhos pela<br />

assistência. Não podia haver nada mais<br />

curioso. Besourinhos de fraque e flores na<br />

lapela conversavam com baratinhas de<br />

mantilha e miosótis nos cabelos. Abelhas<br />

douradas, verdes e azuis, falavam mal<br />

das vespas de cintura fina — achando que<br />

era exagero usarem coletes tão<br />

apertados. Sardinhas aos centos<br />

criticavam os cuidados excessivos que as<br />

borboletas de toucados de gaze tinham<br />

com o pó das suas asas. Mamangavas de<br />

ferrões amarrados para não morderem. E<br />

canários cantando, e beija-flores beijando<br />

flores, e camarões camaronando, e<br />

caranguejos caranguejando, tudo que é<br />

pequenino e não morde, pequeninando e<br />

não mordendo."<br />

LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. São Paulo:<br />

Brasiliense, 1947.<br />

No último período do trecho, há uma série<br />

de verbos no gerúndio que contribuem<br />

para caracterizar o ambiente fantástico<br />

descrito. Expressões como<br />

"camaronando", "caranguejando" e<br />

"pequeninando e não mordendo" criam,<br />

principalmente, efeitos de<br />

A) esvaziamento de sentido.<br />

B) monotonia do ambiente.<br />

C) estaticidade dos animais.<br />

D) interrupção dos movimentos.<br />

E) dinamicidade do cenário.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. O dinamismo dos<br />

verbos no gerúndio tem como função<br />

principal dar vida às personagens do mundo<br />

fantástico. Não há estagnação. Cada animal<br />

faz o que lhe cabe.<br />

Comentário do INEP<br />

Essa questão apresenta para leitura e<br />

análise um trecho da obra Reinações de<br />

Narizinho, de Monteiro Lobato, e, nele, a<br />

descrição reflete as fantasias do mundo<br />

infantil. A questão propõe que seja resolvido<br />

um problema de linguagem, que é a<br />

identificação dos sentidos criados no texto<br />

pelo emprego de vários verbos no gerúndio,<br />

alguns dos quais, neologismos criados pelo<br />

autor. Como o texto é uma descrição, temos<br />

o relato de um ambiente que se agita com as<br />

ações simultâneas dos muitos seres que o<br />

habitam. Cabe ao participante perceber que<br />

o efeito dinâmico é criado pelos verbos de<br />

ação no gerúndio, que é a forma verbal da<br />

ação se fazendo. Ou seja, é função típica do<br />

gerúndio traduzir a noção de uma ação que<br />

se desenvolve de modo simultâneo à sua<br />

enunciação. Nesse ambiente retratado por<br />

Monteiro Lobato, os bichinhos humanizados<br />

se agitam, lembrando um burburinho de<br />

crianças. Apenas a alternativa E, assinalada<br />

por 36% dos participantes, responde<br />

corretamente a questão. As outras<br />

alternativas contemplam efeitos ou<br />

significados que, apesar de eventualmente<br />

serem transmitidos pelo emprego do<br />

gerúndio, não se verificam no texto.<br />

24) (1999) Considere os textos abaixo.<br />

(...) de modo particular, quero encorajar os<br />

crentes empenhados no campo da<br />

filosofia para que iluminem os diversos<br />

âmbitos da atividade humana, graças ao<br />

exercício de uma razão que se torna mais<br />

segura e perspicaz com o apoio que<br />

recebe da fé.<br />

(Papa João Paulo II. Carta Encíclica Fides<br />

et Ratio aos bispos da igreja católica sobre as relações<br />

entre fé e razão, 1998)<br />

As verdades da razão natural não<br />

contradizem as verdades da fé cristã.<br />

(São Tomás de Aquino<br />

–pensador medieval)<br />

Refletindo sobre os textos, pode-se<br />

concluir que:<br />

A) a encíclica papal está em contradição<br />

com o pensamento de São Tomás de<br />

Aquino, refletindo a diferença de<br />

épocas.<br />

B) a encíclica papal procura<br />

complementar São Tomás de Aquino,<br />

pois este colocava a razão natural<br />

acima da fé.<br />

495


496<br />

C) a Igreja medieval valorizava a razão<br />

mais do que a encíclica de João Paulo<br />

II.<br />

D) o pensamento teológico teve sua<br />

importância na Idade Média, mas, em<br />

nossos dias, não tem relação com o<br />

pensamento filosófico.<br />

E) tanto a encíclica papal como a frase<br />

de São Tomás de Aquino procuram<br />

conciliar os pensamentos sobre fé e<br />

razão.<br />

Comentário<br />

Nessa questão, é necessária uma<br />

releitura do texto para que se tenha uma<br />

melhor compreensão do tema. Tanto a<br />

citação do Papa quanto a de São Tomás de<br />

Aquino tentam criar uma interdependência<br />

entre a ciência e a fé, a religião. O Papa<br />

incentiva aqueles que exercem a pesquisa<br />

científica ou filosófica a manter a fé cristã.<br />

São Tomás de Aquino, por sua vez, equipara<br />

o avanço da ciência ao aumento da própria<br />

fé, afirmando que a razão natural não<br />

contradiz a fé cristã. Se um cresce, cresce<br />

também o outro, em harmonia e sem<br />

contradições. Questão de grau médio.<br />

(Português)<br />

Nessa questão, encontramos dois textos:<br />

o primeiro, do século XX, foi elaborado pelo<br />

Papa João Paulo II; o segundo, do século<br />

XIII, pelo teólogo e filósofo cristão São<br />

Tomás de Aquino. O conteúdo de ambos se<br />

refere à ligação entre fé e razão, a qual<br />

esteve presente na filosofia escolástica da<br />

Idade Média. Esse campo de reflexão buscou<br />

conciliar o cristianismo com o pensamento de<br />

Aristóteles e teve em São Tomás de Aquino<br />

seu maior representante.<br />

Mesmo sem ter todas essas informações,<br />

você poderia responder tranqüilamente à<br />

questão por meio de uma leitura atenta dos<br />

dois textos, chegando à conclusão de que<br />

"tanto a encíclica papal como a frase de São<br />

Tomás de Aquino procuram conciliar os<br />

pensamentos sobre fé e razão". Resposta<br />

correta: alternativa E. (História)<br />

Comentário do INEP<br />

Para resolver esta situação-problema, o<br />

participante deveria mostrar que, além de<br />

interpretar textos, sabe relacioná-los sendo<br />

que, nesse item, essas operações referem-se<br />

a um texto escrito na época medieval e a<br />

outro escrito recentemente.<br />

Mais de 70% dos participantes<br />

demonstraram facilidade em estabelecer esta<br />

relação.<br />

25) (2008) Assinale a opção que apresenta<br />

um verso do soneto de Cláudio Manoel da<br />

Costa em que o poeta se dirige ao seu<br />

interlocutor.<br />

A) “Torno a ver-vos, ó montes; o<br />

destino” (v.1)<br />

B) “Aqui estou entre Almendro, entre<br />

Corino,” (v.5)<br />

C) “Os meus fiéis, meus doces<br />

companheiros,” (v.6)<br />

D) “Vendo correr os míseros vaqueiros”<br />

(v.7)<br />

E) “Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto,”<br />

(v.11)<br />

Comentário<br />

Nesta questão, basta que o aluno<br />

identifique o pronome oblíquo, presente no<br />

verso um, que chama o leitor para o texto.<br />

Sendo assim, a resposta correta é a letra "A".<br />

26) (2008)<br />

Dick Browne. O melhor de Hagar, o horrível, v. 2. L&PM<br />

pocket, p.55-6 (com adaptações).<br />

Assinale o trecho do diálogo que<br />

apresenta um registro informal, ou<br />

coloquial, da linguagem.<br />

A) “Tá legal, espertinho! Onde é que<br />

você esteve?!”<br />

B) “E lembre-se: se você disser uma<br />

mentira, os seus chifres cairão!”<br />

C) “Estou atrasado porque ajudei uma<br />

velhinha a atravessar a rua...”<br />

D) “...e ela me deu um anel mágico que<br />

me levou a um tesouro”<br />

E) “mas bandidos o roubaram e os<br />

persegui até a Etiópia, onde um<br />

dragão...”<br />

Comentário<br />

Linguagem coloquial é aquela usada no<br />

cotidiano, que tem como característica<br />

principal a oralidade, ou seja, aquela que não<br />

segue o rigor da norma culta.<br />

Entre as alternativas da questão, apenas<br />

a letra "A" apresenta esses traços.


27) (1999) Leia um texto publicado no jornal<br />

Gazeta Mercantil. Esse texto é parte de<br />

um artigo que analisa algumas situações<br />

de crise no mundo, entre elas, a quebra<br />

da Bolsa de Nova Iorque em 1929, e foi<br />

publicado na época de uma iminente crise<br />

financeira no Brasil.<br />

Deu no que deu. No dia 29 de outubro de<br />

1929, uma terça-feira, praticamente não<br />

havia compradores no pregão de Nova<br />

Iorque, só vendedores. Seguiu-se uma<br />

crise incomparável: o Produto Interno<br />

Bruto dos Estados Unidos caiu de <strong>10</strong>4<br />

bilhões de dólares em 1929, para 56<br />

bilhões em 1933, coisa inimaginável em<br />

nossos dias. O valor do dólar caiu a quase<br />

metade. O desemprego elevou-se de 1,5<br />

milhão para 12,5 milhões de trabalhadores<br />

– cerca de 25% da população ativa –<br />

entre 1929 e 1933. A construção civil caiu<br />

90%. Nove milhões de aplicações, tipo<br />

caderneta de poupança, perderam-se com<br />

o fechamento dos bancos. Oitenta e cinco<br />

mil firmas faliram. Houve saques e norteamericanos<br />

que passaram fome.<br />

(Gazeta Mercantil, 05/01/1999)<br />

Ao citar dados referentes à crise ocorrida<br />

em 1929, em um artigo jornalístico atual,<br />

pode-se atribuir ao jornalista a seguinte<br />

intenção:<br />

A) questionar a interpretação da crise.<br />

B) comunicar sobre o desemprego.<br />

C) instruir o leitor sobre aplicações em<br />

bolsa de valores.<br />

D) relacionar os fatos passados e<br />

presentes.<br />

E) analisar dados financeiros americanos.<br />

Comentário<br />

Nessa questão, o que se tem de fazer é<br />

prestar atenção às alternativas das<br />

respostas. Nenhuma delas se apresenta tão<br />

bem contextualizada a uma possível<br />

interpretação quanto a letra D. Partindo-se da<br />

análise do texto, fica claro que a intenção do<br />

artigo é remeter o leitor ao passado para<br />

tentar conduzi-lo a uma reflexão sobre uma<br />

situação presente, não mencionada na<br />

questão. Após a leitura e utilizando-se a já<br />

citada eliminação de questões, torna-se clara<br />

a resposta. Questão de nível médio.<br />

(Português)<br />

Muitas vezes, quando procuramos<br />

entender uma crise econômica ou financeira<br />

de grandes proporções, buscamos<br />

estabelecer relações com crises passadas. O<br />

mesmo ocorre no jornalismo, como prova o<br />

texto encontrado nessa questão. Buscando<br />

entender uma crise ocorrida no início de<br />

1999, o jornalista da Gazeta Mercantil<br />

buscou relacionar a situação dessa época<br />

com a grande crise de 1929 que afetou o<br />

mundo, trazendo desemprego e recessão,<br />

entre tantos outros problemas econômicos e<br />

sociais.<br />

Para responder a essa questão, era<br />

necessário ler atentamente o enunciado, em<br />

que está destacado que "o texto é parte de<br />

um artigo que analisa algumas situações de<br />

crise no mundo" e "foi publicado na época de<br />

uma iminente crise financeira no Brasil". Era<br />

importante também observar a data em que o<br />

artigo foi publicado: 05/01/1999. A partir<br />

dessas constatações, facilmente você<br />

chegaria a conclusão de que a intenção do<br />

jornalista era "relacionar os fatos passados e<br />

presentes". Resposta correta: alternativa D.<br />

(História)<br />

Comentário do INEP<br />

A resolução da questão demandava a<br />

capacidade dos participantes de relacionar<br />

eventos históricos envolvendo crises<br />

econômicas ocorridas em épocas e lugares<br />

distintos. Aproximadamente 2/3 deles<br />

demonstraram essa capacidade. Os demais,<br />

provavelmente, não compreenderam a<br />

exigência expressa no enunciado do<br />

problema – apontar as razões pelas quais um<br />

jornalista traz à tona eventos ocorridos<br />

setenta anos antes –, e apenas interpretaram<br />

o sentido do texto citado, que descreve a<br />

crise mundial de 1929.<br />

28) (2000) “Precisa-se nacionais sem<br />

nacionalismo, (...) movidos pelo presente<br />

mas estalando naquele cio racial que só<br />

as tradições maduram! (...). Precisa-se<br />

gentes com bastante meiguice no<br />

sentimento, bastante força na peitaria,<br />

bastante paciência no entusiasmo e<br />

sobretudo, oh! sobretudo bastante<br />

vergonha na cara!<br />

(...) Enfim: precisa-se brasileiros! Assim<br />

está escrito no anúncio vistoso de cores<br />

desesperadas pintado sobre o corpo do<br />

nosso Brasil, camaradas.”<br />

(Jornal A Noite, São Paulo, 18/12/1925 apud LOPES, Telê<br />

Porto Ancona. Mário<br />

de Andrade: ramais e caminhos. São Paulo: Duas<br />

Cidades, 1972)<br />

No trecho acima, Mário de Andrade dá<br />

forma a um dos itens do ideário<br />

modernista, que é o de firmar a feição de<br />

uma língua mais autêntica, “brasileira”, ao<br />

497


expressar-se numa variante de linguagem<br />

popular identificada pela (o):<br />

A) escolha de palavras como cio, peitaria,<br />

vergonha.<br />

B) emprego da pontuação.<br />

C) repetição do adjetivo bastante.<br />

D) concordância empregada em Assim<br />

está escrito.<br />

E) escolha de construção do tipo<br />

precisa-se gentes.<br />

Comentário<br />

Apesar de essa questão misturar vários<br />

tipos de informação, se você se lembra um<br />

pouquinho dos usos da partícula se, com<br />

certeza não encontrará grande dificuldade.<br />

Segundo a regra gramatical, o verbo<br />

"precisa-se" deveria ir para o plural<br />

(precisam-se), mas essa noção de verbo<br />

concordante com o sujeito há muito<br />

desapareceu na variante popular brasileira.<br />

Mas, caso você não se lembre muito bem<br />

desse assunto ou ficou meio confuso com o<br />

texto e as outras alternativas, o caminho é<br />

responder por eliminação.<br />

A primeira alternativa apresenta palavras<br />

comuns no português brasileiro, mas<br />

nenhuma "invenção" nacional. Na dúvida,<br />

pense em "vergonha": não é uma invenção<br />

brasileira. Todos os que falam português no<br />

mundo conhecem bem essa palavra. A<br />

pontuação no texto não chama nenhuma<br />

atenção. Você provavelmente não viu nada<br />

de estranho nela. Da mesma forma, o<br />

"bastante" da terceira alternativa não é nada<br />

mais que um mecanismo de retórica, usado<br />

para dar ênfase à idéia. Com o "Assim está<br />

escrito", encontramos a mesma situação: um<br />

trecho litúrgico é usado para maior ênfase.<br />

Comentário do INEP<br />

A questão procurou avaliar se o<br />

participante era capaz de, a partir da leitura<br />

de um texto de Mário de Andrade , identificar<br />

e analisar uma variante lingüística de uso<br />

coloquial, utilizadas estilisticamente pelo<br />

autor. O uso estilístico das variantes marcou<br />

a primeira fase da literatura brasileira<br />

modernista. O trecho destaca em seu todo<br />

esse uso da linguagem popular. A escolha da<br />

construção 'precisa-se gentes' é marca desse<br />

uso estilístico. O índice de 37% na alternativa<br />

(A) demonstra, possivelmente, que os<br />

participantes não consideraram a escolha<br />

dos vocábulos, dentro do contexto do texto,<br />

confundindo as palavras que aparecem na<br />

alternativa com '...a feição de uma língua<br />

mais autêntica...'.O percentual de acertos foi<br />

da ordem de 40%.<br />

498<br />

29) (2004) O poema abaixo pertence à<br />

poesia concreta brasileira. O termo latino<br />

de seu título significa "epitalâmio", poema<br />

ou canto em homenagem aos que se<br />

casam.<br />

Considerando que símbolos e sinais são<br />

utilizados geralmente para demonstrações<br />

objetivas, ao serem incorporados no<br />

poema "Epithalamium - II".<br />

A) adquirem novo potencial de<br />

significação.<br />

B) eliminam a subjetividade do poema.<br />

C) opõem-se ao tema principal do poema.<br />

D) invertem seu sentido original.<br />

E) tornam-se confusos e equivocados.<br />

Comentário<br />

Diferentemente, por exemplo, da<br />

aplicação matemática dos símbolos, em que<br />

sinais como "=", "+", "-", "x", etc. servem<br />

como convenções internacionais de<br />

significação objetiva e invariável, em um<br />

poema como "Epithalamium – II" foram<br />

usados símbolos que não são convenções<br />

internacionais, mas, sim, convencionados<br />

apenas para esse texto. No caso, letras do<br />

alfabeto deixam de ser representações de<br />

sons (fonemas) para ganharem nova<br />

significação, principalmente pela construção<br />

visual do poema: unem homem (h) e mulher<br />

(e) pela ação da serpente (s) — libido,<br />

atração — em uma entidade única.<br />

Uma das tendências poéticas da segunda<br />

metade do século XX, resultado de um<br />

diálogo com estéticas já presentes no final do<br />

século XIX, trabalha com a construção de<br />

seu próprio referente, fazendo do poema um<br />

objeto autônomo.<br />

30) (2002) O autor da tira utilizou os<br />

princípios de composição de um<br />

conhecido movimento artístico para<br />

representar a necessidade de um mesmo<br />

observador aprender a considerar,<br />

simultaneamente, diferentes pontos de<br />

vista.


E)<br />

Das obras reproduzidas, todas de autoria<br />

do pintor espanhol Pablo Picasso, aquela<br />

em cuja composição foi adotado um<br />

procedimento semelhante é:<br />

A)<br />

B)<br />

C)<br />

D)<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. O movimento<br />

artístico que previa considerar<br />

simultaneamente diversos pontos de vista<br />

era o Cubismo. Havia a desconstrução da<br />

forma para que se pudesse ver todos os<br />

ângulos concomitantemente. O único quadro<br />

que apresenta essas características é o da<br />

alternativa E. As outras quatro alternativas<br />

pressupõem a manutenção da forma.<br />

Comentário do INEP<br />

O objetivo desta questão é levar o<br />

participante a refletir sobre características<br />

fundamentais de um movimento artístico – o<br />

cubismo – a partir de dados visuais:<br />

quadrinhos e pinturas. A reprodução de dois<br />

quadrinhos da personagem Calvin forneceu<br />

para o participante informações básicas para<br />

a análise que deveria fazer das alternativas<br />

apresentadas. Segundo os quadrinhos, o<br />

movimento artístico abordado pela questão<br />

tinha como procedimento de composição<br />

representar, para um mesmo observador,<br />

diferentes pontos de vista, fazendo com que<br />

"o tradicional único ponto de vista" fosse<br />

abandonado e com que a perspectiva fosse<br />

fraturada. A análise das obras de Picasso<br />

reproduzidas nas alternativas permite que o<br />

participante reconheça a adoção desse<br />

procedimento no quadro "Marie-Thérèse<br />

apoiada no cotovelo" (alternativa E, com 46%<br />

de registros), no qual se pode reconhecer a<br />

representação de diferentes pontos de vista<br />

a partir dos quais é apresentado o rosto da<br />

mulher retratada.<br />

31) (2001) Oxímoro (ou paradoxo) é uma<br />

construção textual que agrupa significados<br />

que se excluem mutuamente. Para<br />

Garfield, a frase de saudação de Jon<br />

(tirinha abaixo) expressa o maior de todos<br />

os oxímoros.<br />

499


Folha de S. Paulo. 31 de julho de 2000.<br />

Nas alternativas abaixo, estão transcritos<br />

versos retirados do poema “O operário em<br />

construção”. Pode-se afirmar que ocorre<br />

um oxímoro em<br />

A) "Era ele que erguia casas<br />

Onde antes só havia chão."<br />

B) "... a casa que ele fazia<br />

Sendo a sua liberdade<br />

Era a sua escravidão."<br />

C) "Naquela casa vazia<br />

Que ele mesmo levantara<br />

Um mundo novo nascia<br />

De que sequer suspeitava."<br />

D) "... o operário faz a coisa<br />

E a coisa faz o operário."<br />

E) "Ele, um humilde operário<br />

Um operário que sabia<br />

Exercer a profissão."<br />

MORAES, Vinícius de. Antologia Poética. São Paulo:<br />

Companhia das Letras, 1992.<br />

Comentário<br />

Idéias que se completam e se excluem<br />

mutuamente são encontradas na alternativa<br />

B: a casa que ele construía era, ao mesmo<br />

tempo, sua liberdade e sua escravidão.<br />

A casa é um símbolo de liberdade para o<br />

homem. Para o homem operário, é também<br />

símbolo de escravidão, pois ele está<br />

"condenado" a jamais usufruir do resultado<br />

do seu trabalho (a casa que faz não é para<br />

ele).<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão propõe ao participante que<br />

estabeleça uma relação entre linguagens,<br />

associando a compreensão de um efeito<br />

semântico produzido pelo uso do oxímoro<br />

nos quadrinhos com o mesmo efeito num<br />

texto poético. O índice (18%) de escolhas da<br />

alternativa D deve-se, possivelmente, a uma<br />

análise parcial da noção de paradoxo,<br />

confundida com inversão.<br />

Sobre a temática dos “Retirantes”,<br />

Portinari também escreveu o seguinte<br />

poema:<br />

(....)<br />

Os retirantes vêm vindo com trouxas e<br />

embrulhos<br />

Vêm das terras secas e escuras;<br />

pedregulhos<br />

Doloridos como fagulhas de carvão aceso<br />

Corpos disformes, uns panos sujos,<br />

Rasgados e sem cor, dependurados<br />

Homens de enorme ventre bojudo<br />

Mulheres com trouxas caídas para o lado<br />

Pançudas, carregando ao colo um garoto<br />

Choramingando, remelento<br />

(....)<br />

(Cândido Portinari. Poemas. Rio de Janeiro:<br />

J. Olympio, 1964.)<br />

Das quatro obras reproduzidas, assinale<br />

aquelas que abordam a problemática que<br />

é tema do poema.<br />

A) 1 e 2 D) 3 e 4<br />

B) 1 e 3 E) 2 e 4<br />

C) 2 e 3<br />

Comentário<br />

O poema apresenta correspondência com<br />

as imagens ao descrever com detalhes a<br />

figura do retirante: pobre, mal vestido,<br />

carregando trouxas e embrulhos.<br />

32) (2005) Cândido Portinari (1903-1962), um<br />

dos mais importantes artistas brasileiros<br />

do século XX, tratou de diferentes<br />

aspectos da nossa realidade em seus<br />

quadros.<br />

33) (2003) No ano passado, o governo<br />

promoveu uma campanha a fim de reduzir<br />

os índices de violência. Noticiando o fato,<br />

um jornal publicou a seguinte manchete:<br />

500


CAMPANHA CONTRA A VIOLÊNCIA DO<br />

GOVERNO DO ESTADO ENTRA EM NOVA<br />

FASE<br />

A manchete tem um duplo sentido, e isso<br />

dificulta o entendimento. Considerando o<br />

objetivo da notícia, esse problema poderia<br />

ter sido evitado com a seguinte redação:<br />

A) Campanha contra o governo do Estado<br />

e a violência entram em nova fase.<br />

B) A violência do governo do Estado entra<br />

em nova fase de Campanha.<br />

C) Campanha contra o governo do Estado<br />

entra em nova fase de violência.<br />

D) A violência da campanha do governo<br />

do Estado entra em nova fase.<br />

E) Campanha do governo do Estado<br />

contra a violência entra em nova fase.<br />

Comentário<br />

O objetivo da questão é eliminar a<br />

ambigüidade da notícia de jornal, que,<br />

originalmente, trazia duas idéias: de acordo<br />

com a primeira, o governo queria combater a<br />

violência, e a segunda ressaltava que o<br />

governo era violento. Nessa questão,<br />

era preciso eliminar a segunda possibilidade<br />

de leitura.<br />

34) (2004)<br />

A polifonia, variedade de vozes, presente<br />

no poema resulta da manifestação do<br />

A) poeta e do colonizador apenas.<br />

B) colonizador e do negro apenas.<br />

C) negro e do índio apenas.<br />

D) colonizador, do poeta e do negro<br />

apenas.<br />

E) poeta, do colonizador, do índio e do<br />

negro.<br />

Comentário<br />

A questão apresenta uma certa<br />

dificuldade, pois, à primeira vista, parecem<br />

confundir-se as vozes do colonizador, do<br />

negro e do índio. Entretanto, os<br />

travessões existentes no poema explicitam<br />

as falas das personagens ao mostrar que<br />

não são apenas as vozes do poeta e do<br />

colonizador que estão presentes. As falas do<br />

índio e do negro são proferidas por eles,<br />

marca expressa pelo discurso direto. A<br />

presença dessa modalidade de discurso<br />

indica a reprodução literal do que as<br />

personagens disseram.<br />

Um ponto interessante em relação a essa<br />

questão é a intertextualidade. O índio<br />

aparece no poema pela remissão a um texto<br />

poético do nosso Romantismo, em um<br />

processo intertextual com “I-Juca-Pirama”, de<br />

Gonçalves Dias; e a presença do negro se dá<br />

pela ligação com Mário de Andrade, em<br />

Macunaíma. Entende-se, portanto, que a<br />

alternativa correta é a letra E.<br />

35) (2002) "A palavra tatuagem é<br />

relativamente recente. Toda a gente sabe<br />

que foi o navegador Cook que a introduziu<br />

no Ocidente, e esse escrevia tattou, termo<br />

da Polinésia de tatou ou tu tahou,<br />

'desenho'.<br />

(...) Desde os mais remotos tempos,<br />

vemo-la a transformar-se: distintivo<br />

honorífico entre uns homens, ferrete de<br />

ignomínia entre outros, meio de assustar o<br />

adversário para os bretões, marca de uma<br />

classe de selvagens das ilhas marquesas<br />

(...) sinal de amor, de desprezo, de ódio<br />

(...). Há três casos de tatuagem no Rio,<br />

completamente diversos na sua<br />

significação moral: os negros,os turcos<br />

com o fundo religioso e o bando de<br />

meretrizes, dos rufiões e dos humildes,<br />

que se marcam por crime ou por<br />

ociosidade".<br />

RIO, João do. Os Tatuadores. Revista Kosmos.<br />

1904, apud: A alma encantadora das ruas,<br />

SP: Cia das Letras, 1999.<br />

Com base no texto são feitas as seguintes<br />

afirmações:<br />

I. João do Rio revela como a tatuagem já<br />

estava presente na cidade do Rio de<br />

Janeiro, pelo menos desde o início do<br />

século XX, e era mais utilizada por<br />

alguns setores da população.<br />

II. A tatuagem, de origem polinésia,<br />

difundiu-se no ocidente com a<br />

característica que permanece até hoje:<br />

utilização entre os jovens com função<br />

estritamente estética.<br />

III. O texto mostra como a tatuagem é<br />

uma prática que se transforma no<br />

tempo e que alcança inúmeros sentidos<br />

nos diversos setores das sociedades e<br />

para as diferentes culturas.<br />

501


Está correto o que se afirma apenas em<br />

A) I D) I e II<br />

B) II E) I e III<br />

C) III<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. Constata-se o<br />

seguinte: a tatuagem já existia no Brasil no<br />

início do século XX (o texto é de 1904 e parte<br />

dele se refere ao Rio do Janeiro) e era<br />

utilizada em diferentes setores da sociedade.<br />

A afirmação de que as tatuagens possuem<br />

apenas finalidade estética entre os jovens<br />

elimina a segunda alternativa. Já a última<br />

alternativa confirma as transformações das<br />

funções da tatuagem ao longo do tempo nas<br />

mais diversas sociedades e culturas.<br />

Comentário do INEP<br />

O texto estabelece uma relação entre a<br />

atualidade da palavra "tatuagem" e a<br />

antiguidade do uso de desenhos como<br />

pintura corporal. Focaliza uma prática social<br />

bastante difundida que adquiriu aspectos e<br />

conotações diversos nos diferentes contextos<br />

históricos e geográficos em que ela pode ser<br />

descrita. Fazendo a descrição da prática da<br />

tatuagem, como uma manifestação comum a<br />

diferentes culturas, e que adquire, inclusive,<br />

significados diferentes dentro de uma mesma<br />

cultura, induz o participante a refletir sobre a<br />

"diversidade dos patrimônios etnoculturais e<br />

artísticos", contextualizando ao mesmo<br />

tempo seus significados "em diferentes<br />

sociedades, épocas e lugares". Ao retomar<br />

as várias origens e usos da tatuagem, o<br />

participante é levado a compreender e<br />

respeitar uma gramática histórica dos<br />

costumes marcada sempre por semelhanças<br />

e diferenças. A questão não exigia, portanto,<br />

nenhum conhecimento prévio sobre as<br />

diferentes formas de manifestação dessa<br />

prática, mas simplesmente constatar, com o<br />

autor do texto citado, a historicidade e a<br />

diversidade das práticas sociais. Os<br />

participantes que assinalaram a alternativa C<br />

(36%), possivelmente, não levaram em<br />

consideração informações do texto. A<br />

questão foi corretamente respondida por 37%<br />

dos participantes.<br />

36) (2004)<br />

Nesta tirinha, a personagem faz referência<br />

a uma das mais conhecidas figuras de<br />

linguagem para<br />

A) condenar a prática de exercícios físicos<br />

B) valorizar aspectos da vida moderna.<br />

C) desestimular o uso das bicicletas.<br />

D) caracterizar o diálogo entre as<br />

gerações.<br />

E) criticar a falta de perspectiva do pai.<br />

Comentário<br />

A construção indica a falta de perspectiva<br />

na vida do pai do personagem. “Pedalar sem<br />

sair do lugar” é uma metáfora muito usada na<br />

cultura brasileira para expressar como é a<br />

vida de uma pessoa que age de forma a não<br />

conseguir qualquer mudança — para melhor<br />

ou para pior — na vida.<br />

37) (2004) As questões de números 26 e 27<br />

referem-se ao poema abaixo.<br />

Entre os recursos expressivos<br />

empregados no texto, destaca-se a<br />

A) metalinguagem, que consiste em fazer<br />

a linguagem referir-se à própria<br />

linguagem.<br />

B) intertextualidade, na qual o texto<br />

retoma e reelabora outros textos.<br />

C) ironia, que consiste em se dizer o<br />

contrário do que se pensa, com<br />

intenção crítica.<br />

D) denotação, caracterizada pelo uso das<br />

palavras em seu sentido próprio e<br />

objetivo.<br />

E) prosopopéia, que consiste em<br />

personificar coisas inanimadas,<br />

atribuindo-lhes vida.<br />

Comentário<br />

A questão trata de um texto de Carlos<br />

Drummond de Andrade em que ele fala sobre<br />

o crescimento urbano e a pobreza que esse<br />

processo traz. Para tanto, o poeta utiliza uma<br />

linguagem irônica, revelando o lado oculto do<br />

desenvolvimento. Dessa forma, temos como<br />

correta a alternativa C.<br />

502


38) (2007) Antigamente<br />

Acontecia o indivíduo apanhar<br />

constipação; ficando perrengue, mandava<br />

o próprio chamar o doutor e, depois, ir à<br />

botica para aviar a receita, de cápsulas ou<br />

pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />

phtísica, feia era o gálico. Antigamente, os<br />

sobrados tinham assombrações, os<br />

meninos, lombrigas (...)<br />

Carlos Drummond de Andrade. Poesia completa e prosa.<br />

Rio de Janeiro: Companhia José Aguilar, p. 1.184.<br />

O texto acima está escrito em linguagem<br />

de uma época passada. Observe uma<br />

outra versão, em linguagem atual.<br />

Antigamente<br />

Acontecia o indivíduo apanhar um<br />

resfriado; ficando mal, mandava o próprio<br />

chamar o doutor e, depois, ir à farmácia<br />

para aviar a receita, de cápsulas ou<br />

pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />

tuberculose, feia era a sífilis. Antigamente,<br />

os sobrados tinham assombrações, os<br />

meninos, vermes (...)<br />

Comparando-se esses dois textos,<br />

verifica-se que, na segunda versão, houve<br />

mudanças relativas a<br />

A) vocabulário.<br />

B) construções sintáticas.<br />

C) pontuação.<br />

D) fonética.<br />

E) regência verbal.<br />

Comentário<br />

Questão fácil. O aluno deveria comparar<br />

os dois textos e verificar as alterações<br />

realizadas na segunda versão apresentada.<br />

Nesse momento, fica evidente a mudança de<br />

vocabulário, o que indica a alternativa A<br />

como a correta.<br />

39) (2001) Nas conversas diárias, utiliza-se<br />

freqüentemente a palavra “próprio” e ela<br />

se ajusta a várias situações. Leia os<br />

exemplos de diálogos:<br />

I - A Vera se veste diferente!<br />

- É mesmo, é que ela tem um estilo<br />

próprio.<br />

II - A Lena já viu esse filme uma dezena<br />

de vezes! Eu não consigo ver o<br />

que ele tem de tão maravilhoso assim.<br />

- É que ele é próprio para adolescente.<br />

III - Dora, o que eu faço? Ando tão<br />

preocupada com o Fabinho! Meu filho<br />

está impossível!<br />

- Relaxa, Tânia! É próprio da idade.<br />

Com o tempo, ele se acomoda.<br />

Nas ocorrências I, II e III, “próprio” é<br />

sinônimo de, respectivamente,<br />

A) adequado, particular, típico.<br />

B) peculiar, adequado, característico.<br />

C) conveniente, adequado, particular.<br />

D) adequado, exclusivo, conveniente.<br />

E) peculiar, exclusivo, característico.<br />

Comentário<br />

Para responder a essa pergunta,<br />

substitua, nos trechos, a palavra próprio<br />

pelos possíveis equivalentes apresentados<br />

nas alternativas. Questão simples que pode<br />

ser resolvida por eliminação.<br />

Comentário do INEP<br />

Nesta questão são apresentados três<br />

textos em que uma mesma palavra é<br />

utilizada com sentidos diferentes. O problema<br />

consiste em observar a variedade de uso de<br />

um mesmo termo e as possibilidades de sua<br />

compreensão, estabelecendo uma relação<br />

comparativa com base em uma análise<br />

semântica. Cerca de metade (49%) dos<br />

participantes estabeleceu essa relação de<br />

maneira correta. Os participantes que<br />

assinalaram a alternativa D (21%),<br />

possivelmente isolaram o termo do contexto,<br />

gerando um equívoco entre "adequado" e<br />

"exclusivo".<br />

40) (2003) Do pedacinho de papel ao livro<br />

impresso vai uma longa distância. Mas o<br />

que o escritor quer, mesmo, é isso: ver o<br />

seu texto em letra de forma. A gaveta é<br />

ótima para aplacar a fúria criativa; ela faz<br />

amadurecer o texto da mesma forma que<br />

a adega faz amadurecer o vinho. Em<br />

certos casos, a cesta de papel é melhor<br />

ainda.<br />

O período de maturação na gaveta é<br />

necessário, mas não deve se prolongar<br />

muito. ‘Textos guardados acabam<br />

cheirando mal’, disse Silvia Plath, (...) que,<br />

com esta frase, deu testemunho das<br />

dúvidas que atormentam o escritor:<br />

publicar ou não publicar? guardar ou jogar<br />

fora?<br />

(Moacyr Scliar. O escritor e seus desafios.)<br />

503


Nesse texto, o escritor Moacyr Scliar usa<br />

imagens para refletir sobre uma etapa da<br />

criação literária. A idéia de que o processo<br />

de maturação do texto nem sempre é o<br />

que garante bons resultados está sugerida<br />

na seguinte frase:<br />

A) "A gaveta é ótima para aplacar a fúria<br />

criativa."<br />

B) "Em certos casos, a cesta de papel é<br />

melhor ainda."<br />

C) "O período de maturação na gaveta é<br />

necessário, (...)."<br />

D) "Mas o que o escritor quer, mesmo, é<br />

isso: ver o seu texto em letra de forma."<br />

E) "ela (a gaveta) faz amadurecer o texto<br />

da mesma forma que a adega faz<br />

amadurecer o vinho."<br />

Comentário<br />

Essa questão exigia a interpretação das<br />

frases. A palavra NEM no enunciado exclui<br />

todas as alternativas que tratam do<br />

amadurecimento ou da importância da<br />

gaveta para o bom sucesso da produção<br />

literária.<br />

A alternativa B é a única que apresenta<br />

um procedimento alternativo para a produção<br />

textual, ou seja, o lixo, e significa a liberdade<br />

do escritor em começar,<br />

interromper, recomeçar ou simplesmente<br />

abandonar a obra, permitindo a ele exercer<br />

seu livre-arbítrio.<br />

41) (2007)<br />

Aqui na floresta<br />

Dos ventos batida,<br />

Façanhas de bravos<br />

Não geram escravos,<br />

Que estimem a vida<br />

Sem guerra e lidar.<br />

— Ouvi-me, Guerreiros,<br />

— Ouvi meu cantar.<br />

O canto do guerreiro<br />

Valente na guerra,<br />

Quem há, como eu sou?<br />

Quem vibra o tacape<br />

Com mais valentia?<br />

Quem golpes daria<br />

Fatais, como eu dou?<br />

— Guerreiros, ouvi-me;<br />

— Quem há, como eu sou?<br />

Gonçalves Dias.<br />

Macunaíma<br />

(Epílogo)<br />

Acabou-se a história e morreu a vitória.<br />

Não havia mais ninguém lá. Dera<br />

tangolomângolo na tribo Tapanhumas e<br />

os filhos dela se acabaram de um em um.<br />

Não havia mais ninguém lá. Aqueles<br />

lugares, aqueles campos, furos<br />

puxadouros arrastadouros meiosbarrancos,<br />

aqueles matos misteriosos,<br />

tudo era solidão do deserto... Um silêncio<br />

imenso dormia à beira do rio Uraricoera.<br />

Nenhum conhecido sobre a terra não<br />

sabia nem falar da tribo nem contar<br />

aqueles casos tão pançudos. Quem podia<br />

saber do Herói?<br />

Mário de Andrade.<br />

504<br />

Considerando-se a linguagem desses dois<br />

textos, verifica-se que<br />

A) a função da linguagem centrada no<br />

receptor está ausente tanto no primeiro<br />

quanto no segundo texto.<br />

B) a linguagem utilizada no primeiro texto<br />

é coloquial, enquanto, no segundo,<br />

predomina a linguagem formal.<br />

C) há, em cada um dos textos, a<br />

utilização de pelo menos uma palavra<br />

de origem indígena.<br />

D) a função da linguagem, no primeiro<br />

texto, centra-se na forma de<br />

organização da linguagem e, no<br />

segundo, no relato de informações<br />

reais.<br />

E) a função da linguagem centrada na<br />

primeira pessoa, predominante no<br />

segundo texto, está ausente no<br />

primeiro.<br />

Comentário<br />

Questão de nível médio. Essa é uma<br />

questão que foca a linguagem dos textos, e<br />

cada qual em seu gênero (poesia e prosa,<br />

respectivamente). O aluno chega à<br />

conclusão que a alternativa correta é a C por<br />

meio da exclusão das demais alternativas.<br />

A resposta correta não é a A, pois há um<br />

receptor que pode ser percebido nas<br />

seguintes perguntas contidas no texto:<br />

Texto 1 – “Guerreiros, ouvi-me;/Quem há,<br />

como eu sou?”<br />

Texto 2 – “Quem podia saber do herói?”<br />

Também não é a alternativa B, pois o<br />

conteúdo dos textos não é discriminatório. No<br />

primeiro texto, há uma idealização do índio e,<br />

no segundo, há uma realidade crítica e<br />

satírica da sociedade.<br />

A alternativa D é excluída, porque o<br />

segundo texto não fala de uma realidade, já<br />

que Macunaíma é um herói fictício e nãoreal.<br />

Por fim, também está errada a alternativa<br />

E. Isso porque não temos no epílogo do texto<br />

de Macunaíma a linguagem centrada na<br />

primeira pessoa, mas sim, na terceira.<br />

42) (2003) Eu começaria dizendo que poesia<br />

é uma questão de linguagem. A<br />

importância do poeta é que ele torna mais<br />

viva a linguagem. Carlos Drummond de<br />

Andrade escreveu um dos mais belos<br />

versos da língua portuguesa com duas<br />

palavras comuns: cão e cheirando.<br />

Um cão cheirando o futuro<br />

(Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP, 24/05/1988.<br />

adaptação)


O que deu ao verso de Drummond o<br />

caráter de inovador da língua foi<br />

A) o modo raro como foi tratado o<br />

"futuro".<br />

B) a referência ao cão como "animal de<br />

estimação".<br />

C) a flexão pouco comum do verbo<br />

"cheirar" (gerúndio).<br />

D) a aproximação não usual do agente<br />

citado e a ação de "cheirar".<br />

E) o emprego do artigo indefinido "um" e<br />

do artigo definido "o" na mesma frase.<br />

Comentário<br />

O fato de Drummond identificar o futuro<br />

como algo que pode ser percebido por um<br />

animal irracional por meio do olfato foi<br />

inovador. A figura de linguagem foi<br />

construída metaforicamente: o futuro torna-se<br />

uma coisa que tem cheiro, contrariamente à<br />

imagem pela qual ele normalmente é<br />

representado: como algo que não se vê e<br />

não se pode pressentir ou tocar.<br />

43) (2002) Só falta o Senado aprovar o<br />

projeto de lei [sobre o uso de termos<br />

estrangeiros no Brasil] para que palavras<br />

como shopping center , delivery e drivethrough<br />

sejam proibidas em nomes de<br />

estabelecimentos e marcas. Engajado<br />

nessa valorosa luta contra o inimigo<br />

ianque, que quer fazer área de livre<br />

comércio com nosso inculto e belo idioma,<br />

venho sugerir algumas outras medidas<br />

que serão de extrema importância para a<br />

preservação da soberania nacional, a<br />

saber:<br />

........<br />

Nenhum cidadão carioca ou gaúcho<br />

poderá dizer "Tu vai" em espaços públicos<br />

do território nacional;<br />

Nenhum cidadão paulista poderá dizer "Eu<br />

lhe amo" e retirar ou acrescentar o plural<br />

em sentenças como "Me vê um chopps e<br />

dois pastel";<br />

..........<br />

Nenhum dono de borracharia poderá<br />

escrever cartaz com a palavra "borraxaria"<br />

e nenhum dono de banca de jornal<br />

anunciará "Vende-se cigarros";<br />

..........<br />

Nenhum livro de gramática obrigará os<br />

alunos a utilizar colocações pronominais<br />

como "casar-me-ei" ou "ver-se-ão".<br />

PIZA, Daniel. Uma proposta imodesta. O Estado de<br />

S. Paulo, São Paulo, 8/04/2001.<br />

No texto acima, o autor:<br />

A) mostra-se favorável ao teor da<br />

proposta por entender que a língua<br />

portuguesa deve ser protegida contra<br />

deturpações de uso.<br />

B) ironiza o projeto de lei ao sugerir<br />

medidas que inibam determinados usos<br />

regionais e socioculturais da língua.<br />

C) denuncia o desconhecimento de regras<br />

elementares de concordância verbal e<br />

nominal pelo falante brasileiro.<br />

D) revela-se preconceituoso em relação a<br />

certos registros lingüísticos ao propor<br />

medidas que os controlem.<br />

E) defende o ensino rigoroso da gramática<br />

para que todos aprendam a empregar<br />

corretamente os pronomes.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. O autor ironiza o<br />

projeto de lei que proíbe o uso de<br />

estrangeirismos no Brasil. Não adianta criarse<br />

uma expectativa ou preocupação em<br />

relação ao uso de termos estrangeiros na<br />

língua e esquecer-se de que a língua é um<br />

organismo vivo, mutável. A dinâmica de uma<br />

língua não pode ser regida por preceitos<br />

legais como quer o projeto.<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão reproduz trechos de um<br />

texto que aborda o polêmico projeto de<br />

proibição de uso de termos estrangeiros no<br />

Brasil. A partir da leitura atenta do texto de<br />

Daniel Piza, o participante é levado a refletir<br />

sobre a postura adotada pelo autor em<br />

relação ao referido projeto. Para<br />

compreender esse texto, o participante<br />

precisa reconhecer o tom irônico que marca<br />

as observações e sugestões feitas por seu<br />

autor. Assim, Daniel Piza, "engajado nessa<br />

valorosa luta contra o inimigo ianque", sugere<br />

a proibição de algumas formas lingüísticas de<br />

uso corrente que contrariam recomendações<br />

da gramática normativa. O participante deve<br />

reconhecer que, com sugestões como essas,<br />

Daniel Piza deixa implícita uma crítica à<br />

utilidade do projeto de proibição dos<br />

estrangeirismos como forma de proteger a<br />

Língua Portuguesa. Nesse contexto, a ironia<br />

torna-se mais clara, bem como o mecanismo<br />

textual que a constrói. Feito tal<br />

reconhecimento, o aluno encontra a resposta<br />

correta na alternativa B, assinalada por cerca<br />

da metade dos participantes. Nenhuma outra<br />

alternativa contempla o aspecto irônico,<br />

essencial para a compreensão do texto.<br />

505


44) (2003) Pequenos tormentos da vida<br />

De cada lado da sala de aula, pelas janelas<br />

altas, o azul convida os meninos,<br />

as nuvens desenrolam-se, lentas como quem<br />

vai inventando<br />

preguiçosamente uma história sem fim...Sem<br />

fim é a aula: e nada acontece,<br />

nada...Bocejos e moscas. Se ao menos,<br />

pensa Margarida, se ao menos um<br />

avião entrasse por uma janela e saísse por<br />

outra!<br />

(Mário Quintana. Poesias)<br />

Na cena retratada no texto, o sentimento<br />

do tédio<br />

A) provoca que os meninos fiquem<br />

contando histórias.<br />

B) leva os alunos a simularem bocejos,<br />

em protesto contra a monotonia da<br />

aula.<br />

C) acaba estimulando a fantasia,<br />

criando a expectativa de algum<br />

imprevisto mágico.<br />

D) prevalece de modo absoluto,<br />

impedindo até mesmo a distração ou o<br />

exercício do pensamento.<br />

E) decorre da morosidade da aula, em<br />

contraste com o movimento acelerado<br />

das nuvens e das moscas.<br />

Comentário<br />

Essa questão aborda o imaginário<br />

decorrente do marasmo trazido pela escola.<br />

O texto enfatiza o arrastar do tempo na<br />

mente de uma aluna, Margarida, que se põe<br />

a pensar em fatos mágicos ou imaginários<br />

que pudessem romper com a lentidão da<br />

aula.<br />

45) (200) O autor do texto abaixo critica,<br />

ainda que em linguagem metafórica, a<br />

sociedade contemporânea em relação aos<br />

seus hábitos alimentares.<br />

“Vocês que têm mais de 15 anos, se<br />

lembram quando a gente comprava leite<br />

em garrafa, na leiteria da esquina? (...)<br />

Mas vocês não se lembram de nada,<br />

pô! Vai ver nem sabem o que é vaca. Nem<br />

o que é leite. Estou falando isso porque<br />

agora mesmo peguei um pacote de leite –<br />

leite em pacote, imagina, Tereza! – na<br />

porta dos fundos e estava escrito que é<br />

pasterizado, ou pasteurizado, sei lá, tem<br />

vitamina, é garantido pela<br />

embromatologia, foi enriquecido e o<br />

escambau. Será que isso é mesmo leite?<br />

No dicionário diz que leite é outra coisa:<br />

‘Líquido branco, contendo água,<br />

proteína, açúcar e sais minerais’. Um<br />

alimento pra ninguém botar defeito. O ser<br />

humano o usa há mais de 5.000 anos. É o<br />

único alimento só alimento. A carne serve<br />

pro animal andar, a fruta serve pra fazer<br />

outra fruta, o ovo serve pra fazer outra<br />

galinha (...) O leite é só leite. Ou toma ou<br />

bota fora. Esse aqui examinando bem, é<br />

só pra botar fora. Tem chumbo, tem<br />

benzina, tem mais água do que leite, tem<br />

serragem, sou capaz de jurar que nem<br />

vaca tem por trás desse negócio. Depois o<br />

pessoal ainda acha estranho que os<br />

meninos não gostem de leite.<br />

Mas, como não gostam? Não gostam<br />

como? Nunca tomaram! Múúúúúúú!”<br />

(FERNANDES, Millôr. O Estado de S. Paulo ,<br />

22 de agosto de 1999)<br />

A palavra embromatologia usada pelo<br />

autor é:<br />

A) um termo científico que significa estudo<br />

dos bromatos.<br />

B) uma composição do termo de gíria<br />

“embromação” (enganação) com<br />

bromatologia, que é o estudo dos<br />

alimentos.<br />

C) uma junção do termo de gíria<br />

“embromação” (enganação) com<br />

lactologia, que é o estudo das<br />

embalagens para leite.<br />

D) um neologismo da química orgânica<br />

que significa a técnica de retirar<br />

bromatos dos laticínios.<br />

E) uma corruptela de termo da<br />

agropecuária que significa a ordenha<br />

mecânica.<br />

Comentário<br />

É necessário para a resolução desta<br />

questão:<br />

- perceber que o texto critica o exagerado<br />

uso de substâncias artificiais nos<br />

alimentos;<br />

- conhecer o significado da gíria embromar e<br />

da palavra bromatologia.<br />

Conhecendo esses significados, você<br />

elimina todas as alternativas erradas: a, c, d<br />

e e.<br />

Você poderá ter dúvida quanto à<br />

alternativa c, que também será eliminada se<br />

souber o significado da palavra lactologia,<br />

que é o estudo do leite e produtos lácteos e<br />

não das embalagens para leite.<br />

Nesta questão, são trabalhados os<br />

conceitos de interpretação de texto, formação<br />

de palavras e conhecimentos gerais.<br />

506


Comentário do INEP<br />

A resolução da questão requeria que o<br />

participante, ao ler o texto vinculasse o<br />

significado de um termo de gíria -<br />

"embromação" - com o da palavra<br />

bromatologia. A resposta correta exigia que o<br />

participante não abrisse mão do sabor<br />

picante contido na linguagem metafórica,<br />

sabor vinculado ao conhecimento específico<br />

contido na palavra bromatologia. Cerca da<br />

metade dos participantes (51%) optou pela<br />

alternativa correta e, os 20% que escolheram<br />

a alternativa C, provavelmente associaram a<br />

referência feita no texto à leite em pacote.<br />

46) (2005) O termo (ou expressão)<br />

destacado que está empregado em seu<br />

sentido próprio, denotativo ocorre em:<br />

A) “(....)<br />

É de laço e de nó<br />

De gibeira o jiló<br />

Dessa vida, cumprida a sol (....)”<br />

(Renato Teixeira. Romaria. Kuarup Discos.<br />

setembro de 1992.)<br />

B) “Protegendo os inocentes<br />

é que Deus, sábio demais,<br />

põe cenários diferentes<br />

nas impressões digitais.”<br />

(Maria N. S. Carvalho. Evangelho da Trova. /s.n.b.)<br />

C) “O dicionário-padrão da língua e os<br />

dicionários unilíngües são os tipos mais<br />

comuns de dicionários. Em nossos<br />

dias, eles se tornaram um objeto de<br />

consumo obrigatório para as nações<br />

civilizadas e desenvolvidas.”<br />

(Maria T. Camargo Biderman.<br />

O dicionário-padrão da língua. Alfa (28), 2743, 1974 Supl.)<br />

Comentário<br />

A definição do dicionário-padrão da língua<br />

utiliza o sentido denotativo da palavra para<br />

explicar o uso de determinado tipo de<br />

dicionário. Em todas as outras alternativas,<br />

as palavras estão sendo empregadas em<br />

sentido metafórico. Na letra A, "cumprida a<br />

sol" pode mostrar o sofrimento e a solidão.<br />

Na alternativa B, "cenários diferentes" são as<br />

diferenças físicas encontradas nas<br />

impressões digitais. Na letra D, "bateria" é o<br />

termo usado para expressar a "energia" do<br />

Menino Maluquinho, que nunca acaba. Por<br />

fim, na alternativa E, "fazer cócegas no<br />

raciocínio" significa expressar graça por meio<br />

de idéias, fazendo com que o cérebro ache<br />

um fato divertido e, por conseguinte, faça<br />

com que a pessoa ria como se sofresse um<br />

ataque de cócegas.<br />

47) (2008) Os signos visuais, como meios de<br />

comunicação, são classificados em<br />

categorias de acordo com seus<br />

significados.<br />

A categoria denominada indício<br />

corresponde aos signos visuais que têm<br />

origem em formas ou situações naturais<br />

ou casuais, as quais, devido à ocorrência<br />

em circunstâncias idênticas, muitas vezes<br />

repetidas, indicam algo e adquirem<br />

significado. Por exemplo, nuvens negras<br />

indicam tempestade. Com base nesse<br />

conceito, escolha a opção que representa<br />

um signo da categoria dos indícios.<br />

A)<br />

D)<br />

B)<br />

E) “Humorismo é a arte de fazer cócegas<br />

no raciocínio dos outros. Há duas<br />

espécies de humorismo: o trágico e o<br />

cômico. O trágico é o que não<br />

consegue fazer rir; o cômico é o que é<br />

verdadeiramente trágico para se fazer.”<br />

(Leon Eliachar. www.mercadolivre.com.br.<br />

acessado em julho de 2005.)<br />

C)<br />

507


508<br />

D)<br />

E)<br />

Comentário<br />

Trata-se de uma questão interpretativa. O<br />

aluno precisa entender o que é “indício” para<br />

respondê-la. Segundo o dicionário Aurélio,<br />

indício é o mesmo que “sinal, vestígio,<br />

indicação”. Das figuras apresentadas,<br />

apenas a alternativa B indica algo: a<br />

passagem de alguém por algum lugar —<br />

pegada.<br />

48) (1999)<br />

Diante da visão de um prédio com uma<br />

placa indicando SAPATARIA PAPALIA,<br />

um jovem deparou com a dúvida: como<br />

pronunciar a palavra PAPALIA?<br />

Levado o problema à sala de aula, a<br />

discussão girou em torno da utilidade de<br />

conhecer as regras de acentuação e,<br />

especialmente, do auxílio que elas podem<br />

dar à correta pronúncia de palavras.<br />

Após discutirem pronúncia, regras de<br />

acentuação e escrita, três alunos<br />

apresentaram as seguintes conclusões a<br />

respeito da palavra PAPALIA:<br />

I. Se a sílaba tônica for o segundo PA, a<br />

escrita deveria ser PAPÁLIA, pois a<br />

palavra seria paroxítona terminada em<br />

ditongo crescente.<br />

II. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />

deveria ser PAPALÍA, pois "i" e "a"<br />

estariam formando hiato.<br />

III. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />

deveria ser PAPALIA, pois não haveria<br />

razão para o uso de acento gráfico.<br />

A conclusão está correta apenas em:<br />

A) III D) I<br />

B) I e II E) II<br />

C) I e III<br />

Comentário<br />

Essa questão exige bom conhecimento<br />

das regras de acentuação. A alternativa A diz<br />

que apenas a afirmação I é verdadeira. De<br />

fato ela é, mas não é a única. Nela, temos a<br />

hipótese de a palavra ser grafada como se a<br />

sílaba forte fosse a penúltima — papália —,<br />

justificando seu acento gráfico. Vejamos o<br />

que dizem as regras de acentuação.<br />

Acentuam-se as palavras paroxítonas<br />

terminadas em: i, is, us, um, uns, l, n, r, x,<br />

ps, ã, ãs, ão, ãos, ditongos orais,<br />

crescentes ou decrescentes, seguidos ou<br />

não de S. Isso valida, portanto, a afirmação I.<br />

A afirmação II pressupõe que a sílaba<br />

tônica seja LI, em hiato com A: no caso de<br />

essa ser a tonicidade da palavra, a sílaba LI<br />

não poderia ser acentuada, pois I, mesmo<br />

sendo a tônica do hiato, não é a última vogal,<br />

portanto, essa afirmativa é falsa.<br />

A afirmação III considera que a sílaba<br />

tônica é LI, não havendo acento por ser o I a<br />

primeira vogal do hiato. Portanto, essa<br />

afirmação é verdadeira.<br />

Concluindo, temos como verdadeiras as<br />

afirmações I e III. Então, a alternativa E é a<br />

correta. Questão de nível difícil.<br />

Comentário do INEP<br />

Dentre os participantes, somente pouco<br />

mais de um terço (35%) demonstrou possuir<br />

a habilidade para identificar as regras de<br />

acentuação corretas, enunciadas na questão.<br />

Chama a atenção o fato de que 73% dos<br />

participantes (alternativas A, D e E)<br />

reconheceram corretamente, pelo menos, a<br />

regra contida no item I, sendo que cerca de<br />

40% desses, contudo, tiveram dificuldades<br />

em analisar as regras II e III.<br />

Em se tratando de palavra não-usual, é,<br />

sobretudo, o domínio do conhecimento das<br />

regras e não a possível pronúncia correta,<br />

pelo uso, o que parece ter sido revelado.


49) (2008)<br />

Exame, 28/9/2007.<br />

Entre os seguintes ditos populares, qual<br />

deles melhor corresponde à figura<br />

acima?<br />

A) Com perseverança, tudo se alcança.<br />

B) Cada macaco no seu galho.<br />

C) Nem tudo que balança cai.<br />

D) Quem tudo quer, tudo perde.<br />

E) Deus ajuda quem cedo madruga.<br />

Comentário<br />

Assim como a questão 37, esta também<br />

envolve interpretação de signos, ou seja, o<br />

aluno precisa estar atento à imagem e<br />

relacioná-la ao dito popular correspondente.<br />

A alternativa "A" é a correta, pois, para<br />

uma lesma “grudenta” e vagarosa conseguir<br />

pular numa cama elástica, é necessária<br />

muita perseverança.<br />

50) (2005) Leia estes textos.<br />

Texto 1<br />

E amanhã se esse chão que eu beijei<br />

For meu leito e perdão<br />

Vou saber que valeu delirar<br />

E morrer de paixão<br />

E assim, seja lá como for<br />

Vai ter fim a infinita aflição<br />

E o mundo vai ver uma flor<br />

Brotar do impossível chão.<br />

(J. Darione – M. Leigh – Versão de Chico Buarque de<br />

Hollanda e Ruy Guerra, 1972.)<br />

A tirinha e a canção apresentam uma<br />

reflexão sobre o futuro da humanidade. É<br />

correto concluir que os dois textos<br />

A) afirmam que o homem é capaz de<br />

alcançar a paz.<br />

B) concordam que o desarmamento é<br />

inatingível.<br />

C) julgam que o sonho é um desafio<br />

invencível.<br />

D) têm visões diferentes sobre um<br />

possível mundo melhor.<br />

E) transmitem uma mensagem de<br />

otimismo sobre a paz.<br />

Comentário<br />

Enquanto o primeiro texto é ácido em<br />

relação à possibilidade de desarmamento da<br />

população (ou seja, à criação de uma<br />

sociedade mais pacífica), o segundo mostra<br />

a capacidade que a humanidade tem de crer<br />

e, por isso, tentar fazer até o que a princípio<br />

parece impossível. Para os autores da<br />

canção, nada é intrinsecamente impossível.<br />

A relação entre eles é de oposição:<br />

descrença x crença. Questão de nível de<br />

dificuldade médio.<br />

Texto 2<br />

Sonhar<br />

Mais um sonho impossível<br />

Lutar<br />

Quando é fácil ceder<br />

Vencer o inimigo invencível<br />

Negar quando a regra é vender<br />

Sofrer a tortura implacável<br />

Romper a incabível prisão<br />

Voar num limite improvável<br />

Tocar o inacessível chão<br />

É minha lei, é minha questão<br />

Virar esse mundo<br />

Cravar esse chão<br />

Não me importa saber<br />

Se é terrível demais<br />

Quantas guerras terei que vencer<br />

Por um pouco de paz<br />

51) (2002) A crônica muitas vezes constitui<br />

um espaço para reflexão sobre aspectos<br />

da sociedade em que vivemos.<br />

"Eu, na rua, com pressa, e o menino<br />

segurou no meu braço, falou qualquer<br />

coisa que não entendi. Fui logo dizendo<br />

que não tinha, certa de que ele estava<br />

pedindo dinheiro. Não estava. Queria<br />

saber a hora.<br />

Talvez não fosse um Menino De<br />

Família, mas também não era um Menino<br />

De Rua. É assim que a gente divide.<br />

Menino De Família é aquele bem-vestido<br />

com tênis da moda e camiseta de marca,<br />

que usa relógio e a mãe dá outro se o<br />

dele for roubado por um Menino De Rua.<br />

Menino De Rua é aquele que quando a<br />

gente passa perto segura a bolsa com<br />

força porque pensa que ele é pivete,<br />

509


trombadinha, ladrão. (...) Na verdade não<br />

existem meninos De rua.<br />

Existem meninos NA rua. E toda vez<br />

que um menino está NA rua é porque<br />

alguém o botou lá. Os meninos não vão<br />

sozinhos aos lugares. Assim como são<br />

postos no mundo, durante muitos anos<br />

também são postos onde quer que<br />

estejam. Resta ver quem os põe na rua. E<br />

por quê."<br />

COLASSANTI, Marina. In: Eu sei, mas não devia. Rio de<br />

Janeiro: Rocco, 1999.<br />

No terceiro parágrafo em "... não existem<br />

meninos De rua. Existem meninos NA<br />

rua.", a troca de De pelo Na determina<br />

que a relação de sentido entre "menino" e<br />

"rua" seja<br />

A) de localização e não de qualidade.<br />

B) de origem e não de posse.<br />

C) de origem e não de localização.<br />

D) de qualidade e não de origem.<br />

E) de posse e não de localização.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. Apesar de não<br />

haver um terceiro parágrafo neste texto, a<br />

troca das preposições ao final do SEGUNDO<br />

parágrafo indica claramente que não há um<br />

menino DE (proveniente de) rua, mas um<br />

menino que está NA (foi levado à) rua.<br />

Portanto, a relação é unicamente de<br />

localização (onde ele está) e não de<br />

qualidade (o que ele é).<br />

Comentário do INEP<br />

A reprodução de um trecho de uma<br />

crônica de Marina Colassanti tematiza uma<br />

importante questão social brasileira: a<br />

presença de milhões de crianças nas ruas do<br />

País. A autora, ao tratar desse problema,<br />

vale-se de recursos lingüísticos específicos.<br />

O objetivo desta questão é justamente<br />

chamar a atenção do participante leitor para<br />

esses recursos e os efeitos de sentido que<br />

eles desencadeiam no texto. Na raiz da<br />

questão destaca-se a troca de "De" por "NA"<br />

e pede-se que se determine qual relação de<br />

sentido essa substituição estabelece entre os<br />

termos "menino" e "rua". Analisar a relação,<br />

nesse caso, significa perguntar-se sobre o<br />

sentido de dois sintagmas criados no texto:<br />

"meninos NA rua" por oposição a "meninos<br />

De rua". O que a autora pretende negar, com<br />

a troca do termo de relação, é a possibilidade<br />

de que existam meninos de rua diferentes de<br />

outros meninos, que não têm na rua a sua<br />

origem. O destaque para a preposição na<br />

nos leva a refletir que a relação dos meninos<br />

com a rua é de localização: eles estão ali por<br />

alguma razão, não porque essa seja a sua<br />

qualificação. Essa reflexão levaria o aluno a<br />

escolher, como correta, a resposta<br />

apresentada na alternativa A, assinalada por<br />

cerca de metade dos participantes.<br />

52) (2000) O uso do pronome átono no início<br />

das frases é destacado por um poeta e<br />

por um gramático nos textos abaixo.<br />

Pronominais<br />

Dê-me um cigarro<br />

Diz a gramática<br />

Do professor e do aluno<br />

E do mulato sabido<br />

Mas o bom negro e o bom branco<br />

da Nação Brasileira<br />

Dizem todos os dias<br />

Deixa disso camarada<br />

Me dá um cigarro<br />

(ANDRADE, Oswald de. Seleção de textos.<br />

São Paulo: Nova Cultural, 1988)<br />

“Iniciar a frase com pronome átono só<br />

é lícito na conversação familiar,<br />

despreocupada, ou na língua escrita<br />

quando se deseja reproduzir a fala dos<br />

personagens (...).”<br />

(CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da<br />

língua portuguesa.<br />

São Paulo: Nacional, 1980)<br />

Comparando a explicação dada pelos<br />

autores sobre essa regra, pode-se afirmar<br />

que ambos:<br />

A) condenam essa regra gramatical.<br />

B) acreditam que apenas os esclarecidos<br />

sabem essa regra.<br />

C) criticam a presença de regras na<br />

gramática.<br />

D) afirmam que não há regras para uso de<br />

pronomes.<br />

E) relativizam essa regra gramatical.<br />

Comentário<br />

Questão que requer conhecimento básico<br />

de colocação pronominal, em relação ao uso<br />

de pronomes átonos no início de frases, uma<br />

regra muito pouco respeitada pelo brasileiro,<br />

da qual Oswald de Andrade faz questão de<br />

falar em seu poema. Porém, a questão pode<br />

ser resolvida simplesmente por meio de uma<br />

leitura bem atenta dos textos. Se formos<br />

analisando alternativa por alternativa, a<br />

eliminação é clara e lógica: a alternativa a<br />

5<strong>10</strong>


fica totalmente descartada devido à<br />

transparência da colocação dos dois autores<br />

(Me dá um cigarro...) e (iniciar frases com o<br />

pronome átono é "lícito" na conversação<br />

familiar ou despreocupada). Já a alternativa b<br />

pode até mesmo gerar um pouco de dúvida a<br />

quem não se atém bem à pergunta. Quanto<br />

às alternativas c e d, ficam descartadas, pois,<br />

em momento nenhum, os autores criticaram<br />

o uso de regras gramaticais em seus textos,<br />

cabendo perfeitamente a alternativa e para<br />

as afirmações do gramático e do poeta.<br />

Comentário do INEP<br />

Essa questão pretendia verificar como o<br />

participante analisa um fato lingüístico,<br />

mediante a comparação da descrição desse<br />

fato em dois textos. Sabe-se que,<br />

normalmente em situação escolar, o uso do<br />

pronome átono no início da frase é julgado<br />

como grave desvio gramatical, e pouco se<br />

analisa esse uso na fala ou escrita informal.<br />

Os dois autores dos textos, com intenções<br />

diferentes, relativizam essa regra gramatical,<br />

destacando e descrevendo o seu uso<br />

coloquial. A maioria dos participantes (52%)<br />

analisou e comparou corretamente as<br />

posições dos autores sobre o uso do<br />

pronome átono, e 24% deles reafirmaram a<br />

posição discriminatória da regra, deslocandoa<br />

de seu uso.<br />

A) desconhece tudo sobre arte, por isso<br />

faz a sugestão.<br />

B) acredita que todo pintor deve fazer algo<br />

diferente.<br />

C) defende que para ser pintor a pessoa<br />

tem de sofrer.<br />

D) conhece a história de um pintor<br />

famoso e faz uso da ironia.<br />

E) acredita que seu dono tenha tendência<br />

artística e, por isso, faz a sugestão.<br />

Comentário<br />

Outra questão de interpretação de texto.<br />

Muito simples para quem um dia ouviu falar<br />

de Van Gogh, e simplíssima para aqueles<br />

que prestam atenção em todos os elementos<br />

do enunciado. Afinal, quem deu uma<br />

espiadinha na legenda do quadro de Van<br />

Gogh matou na hora a questão.<br />

Esta questão é daquelas rápidas de serem<br />

resolvidas, associando-se os elementos<br />

apresentados.<br />

Comentário do INEP<br />

A significativa maioria (81%) dos<br />

participantes soube perceber o caráter<br />

irônico da fala do Garfield, expressa no<br />

terceiro quadrinho porque, ou conheciam a<br />

história de Van Gogh, ou apropriaram-se<br />

corretamente da informação sobre esse<br />

pintor, fornecida no enunciado.<br />

53) (2000) As histórias em quadrinhos, por<br />

vezes, utilizam animais como<br />

personagens e a eles atribuem<br />

comportamento humano. O gato Garfield<br />

é exemplo desse fato.<br />

54) (2004)<br />

Fonte: Caderno Vida e Arte, Jornal do Povo, Fortaleza<br />

Van Gogh, pintor holandês nascido em<br />

1853, é um dos principais nomes da<br />

pintura mundial. É dele o quadro abaixo.<br />

Auto-retrato de orelha cortada<br />

A tira "Hagar" e o poema de Alberto<br />

Caeiro (um dos heterônimos de Fernando<br />

Pessoa) expressam, com linguagens<br />

diferentes, uma mesma idéia: a de que a<br />

compreensão que temos do mundo é<br />

condicionada, essencialmente,<br />

A) pelo alcance de cada cultura.<br />

B) pela capacidade visual do observador.<br />

C) pelo senso de humor de cada um.<br />

D) pela idade do observador.<br />

E) pela altura do ponto de observação.<br />

O 3º quadrinho sugere que Garfield:<br />

511


Comentário<br />

Questão reflexiva sobre a forma como<br />

cada cultura vê o mundo sob a ótica dos<br />

limites dados pelos seus costumes e<br />

possibilidades de pensamento inerentes a<br />

cada modelo cultural. A mistura de uma tira e<br />

de um poema amplia a possibilidade de<br />

pensamento por trabalhar com linguagens<br />

diferentes. A alternativa correta é a letra A,<br />

pois ambos (tira e poema) utilizam figuras de<br />

linguagem (metáfora e ironia) para expressar<br />

as diferentes visões de mundo.<br />

55) (2003)<br />

O humor presente na tirinha decorre<br />

principalmente do fato de a personagem<br />

Mafalda<br />

A) atribuir, no primeiro quadrinho, poder<br />

ilimitado ao dedo indicador.<br />

B) considerar seu dedo indicador tão<br />

importante quanto o dos patrões.<br />

C) atribuir, no primeiro e no último<br />

quadrinhos, um mesmo sentido ao<br />

vocábulo "indicador".<br />

D) usar corretamente a expressão<br />

"indicador de desemprego", mesmo<br />

sendo criança.<br />

E) atribuir, no último quadrinho, fama<br />

exagerada ao dedo indicador dos<br />

patrões.<br />

Comentário<br />

A questão pede a interpretação de uma<br />

charge da personagem Mafalda, em que ela<br />

faz referência a seu dedo indicador, que é<br />

usado como substantivo primitivo e que<br />

possibilita a analogia com “indicador de<br />

desemprego”. Dessa forma, ela ironiza os<br />

indicadores sociais. Na charge, porém, não<br />

há menção explícita aos índices<br />

“indicadores”, permanecendo o raciocínio<br />

preso apenas ao dedo indicador. Assim, ela<br />

utiliza, tanto no primeiro quanto no último<br />

quadrinho, a palavra “indicador” como<br />

referência ao dedo, não dando abertura a<br />

outro tipo de interpretação.<br />

56) (2002)<br />

De acordo com a história em quadrinhos<br />

protagonizada por Hagar e seu filho<br />

Hamlet, pode-se afirmar que a postura de<br />

Hagar<br />

A) valoriza a existência da diversidade<br />

social e de culturas, e as várias<br />

representações e explicações desse<br />

universo.<br />

B) desvaloriza a existência da<br />

diversidade social e as várias culturas,<br />

e determina uma única explicação para<br />

esse universo.<br />

C) valoriza a possibilidade de explicar as<br />

sociedades e as culturas a partir de<br />

várias visões de mundo.<br />

D) valoriza a pluralidade cultural e social<br />

ao aproximar a visão de mundo de<br />

navegantes e não-navegantes.<br />

E) desvaloriza a pluralidade cultural e<br />

social, ao considerar o mundo habitado<br />

apenas pelos navegantes.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. Hagar reduz o<br />

mundo a dois tipos de pessoas: navegantes<br />

e não-navegantes. No último quadrinho, diz<br />

que são os navegantes que estabelecem<br />

esses dois grupos. Portanto, quem é<br />

diferente dos navegantes (que estabelecem<br />

o padrão) simplesmente é incluído na massa<br />

única dos não-navegantes. Não importa<br />

quem ou quantos sejam, sua diversidade<br />

social ou cultural em relação aos navegantes<br />

ou entre si. Vemos aí a desvalorização de<br />

outras culturas.<br />

Comentário do INEP<br />

Dentre as habilidades básicas para a<br />

compreensão de um texto destaca-se a<br />

capacidade do leitor de identificar os<br />

pressupostos de cada afirmação que lhe é<br />

apresentada. Nesta questão o participante<br />

deve identificar a posição tanto de Hagar<br />

como de seu filho Hamlet e, em seguida,<br />

avaliar quais os argumentos que justificam a<br />

opinião de Hagar ao definir que no mundo só<br />

existem dois tipos de pessoas. A pergunta de<br />

Hamlet a seu pai explicita a importância do<br />

ato de narrar através do diálogo e do efeito<br />

humorístico contido no episódio representado<br />

na tira. O resultado da compreensão<br />

512


acertada do diálogo é que o narrador torna<br />

inteligível, para si e para os outros, a lógica<br />

do seu pensamento através do diálogo entre<br />

os dois personagens. É importante observar<br />

que o humor do personagem Hagar é<br />

identificado na postura simetricamente<br />

oposta à de Michel de Montaigne, por<br />

exemplo (ver questão 58): a sua visão de<br />

mundo apresenta-se autocentrada, isto é,<br />

centrada nos seus próprios valores (vikings).<br />

A habilidade requerida do participante nessa<br />

questão, qual seja, "valorizar a diversidade<br />

dos patrimônios etnoculturais", é mobilizada<br />

aqui na sua dimensão negativa: é criticando<br />

a postura chauvinista de Hagar que o<br />

participante é capaz de responder<br />

corretamente a questão. A última alternativa<br />

(E) funciona como um distrator, pois neste<br />

caso não está suposta a crítica do discurso<br />

do personagem. Cerca de um terço dos<br />

participantes assinalou a alternativa correta<br />

B. As demais opções são devidas,<br />

possivelmente, a uma leitura pouco<br />

compreensiva das alternativas associadas a<br />

história em quadrinhos.<br />

57) (2009)<br />

Gerente — Boa tarde. Em que eu posso<br />

ajudá-lo?<br />

Cliente — Estou interessado em<br />

financiamento para compra de veículo.<br />

Gerente — Nós dispomos de várias<br />

modalidades de crédito. O senhor é nosso<br />

cliente?<br />

Cliente — Sou Júlio César Fontoura,<br />

também sou funcionário do banco.<br />

Gerente — Julinho, é você, cara? Aqui é a<br />

Helena! Cê tá em Brasília? Pensei que<br />

você inda tivesse na agência de<br />

Uberlândia! Passa aqui pra gente<br />

conversar com calma.<br />

BORTONI-RICARDO, 5. M. Educação em lingua<br />

materna. São Paulo: Parábola, 2004 (adaptado).<br />

Na representação escrita da conversa<br />

telefônica entre a gerente do banco e o<br />

cliente, observa-se que a maneira de falar<br />

da gerente foi alterada de repente devido<br />

A) à adequação de sua fala à conversa<br />

com um amigo, caracterizada pela<br />

informalidade.<br />

B) à iniciativa do cliente em se apresentar<br />

como funcionário do banco.<br />

C) ao fato de ambos terem nascido em<br />

Uberlândia (Minas Gerais).<br />

D) à intimidade forçada pelo cliente ao<br />

fornecer seu nome completo.<br />

E) ao seu interesse profissional em<br />

financiar o veículo de Júlio.<br />

Comentário<br />

(QUESTÃO: AZUL 92, BRANCA 93,<br />

ROSA 93)<br />

Questão dúbia, pois pode levar a duas<br />

interpretações diferentes.<br />

A pergunta é: devido ao que se observa, a<br />

mudança do tom e do registro na fala da<br />

gerente do banco? A alternativa A aponta<br />

que é a adequação da fala a uma conversa<br />

informal com um amigo, que pode ser<br />

percebida na alteração do tom e<br />

do registro do discurso da gerente.<br />

A alternativa B afirma que foi a iniciativa<br />

do cliente em se apresentar como funcionário<br />

do banco que provocou a mudança no modo<br />

de falar da gerente. A afirmativa é<br />

justificada pelo fato de que se o cliente não<br />

se apresentasse como funcionário, a<br />

gerente não saberia que estava falando com<br />

um amigo e a conversa continuaria sendo<br />

conduzida de modo formal.<br />

No entanto, acreditamos que a<br />

melhor resposta é a alternativa A.<br />

H27 - Reconhecer os usos da<br />

norma padrão da língua<br />

portuguesa nas diferentes<br />

situações de comunicação<br />

01) (2001) O mundo é grande<br />

O mundo é grande e cabe<br />

Nesta janela sobre o mar.<br />

O mar é grande e cabe<br />

Na cama e no colchão de amar.<br />

O amor é grande e cabe<br />

No breve espaço de beijar.<br />

ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e prosa.<br />

Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983.<br />

Neste poema, o poeta realizou uma opção<br />

estilística: a reiteração de determinadas<br />

construções e expressões lingüísticas,<br />

como o uso da mesma conjunção para<br />

estabelecer a relação entre as frases.<br />

Essa conjunção estabelece, entre as<br />

idéias relacionadas, um sentido de<br />

A) oposição.<br />

B) comparação.<br />

C) conclusão.<br />

D) alternância.<br />

E) finalidade.<br />

513


Comentário<br />

Há três elementos repetidos neste trecho:<br />

o verbo ser, o artigo definido o e a conjunção<br />

aditiva e. A conjunção e estabelece uma<br />

relação entre idéias que, concretamente, são<br />

opostas (ex.: "O mundo é grande e cabe<br />

nesta janela sobre o mar"). A alternativa<br />

correta é a letra A.<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão apresenta, para leitura e<br />

análise, o poema "O mundo é grande", onde<br />

os recursos lingüísticos expressivos<br />

utilizados geram um efeito de oposição entre<br />

as idéias. A análise sintático-semântica é<br />

necessária para a compreensão do valor de<br />

oposição assumido pela conjunção "e":<br />

imagens justapostas estão relacionadas,<br />

contrapondo-se em planos diferentes. Um<br />

percentual significativo (46%) de<br />

participantes considerou que o valor da<br />

conjunção "e", nesse poema, é de<br />

comparação, o que não reflete o sentido<br />

estilístico proposto pelo poeta, mas<br />

corresponde apenas à primeira operação que<br />

se realiza para estabelecer o sentido de<br />

oposição. De maneira análoga, pode-se<br />

analisar os equívocos daqueles que optaram<br />

pelas alternativas C e D.<br />

02) (1999) SONETO DE FIDELIDADE<br />

De tudo, ao meu amor serei atento<br />

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto<br />

Que mesmo em face do maior encanto<br />

Dele se encante mais meu pensamento.<br />

Quero vivê-lo em cada vão momento<br />

E em seu louvor hei de espalhar meu<br />

canto<br />

E rir meu riso e derramar meu pranto<br />

Ao seu pesar ou seu contentamento.<br />

E assim, quando mais tarde me procure<br />

Quem sabe a morte, angústia de quem<br />

vive<br />

Quem sabe a solidão, fim de quem ama.<br />

Eu possa dizer do meu amor (que tive):<br />

Que não seja imortal, posto que é chama<br />

Mas que seja infinito enquanto dure.<br />

(MORAES, Vinícius de. Antologia poética. São Paulo: Cia<br />

das Letras, 1992).<br />

A palavra mesmo pode assumir diferentes<br />

significados, de acordo com a sua função<br />

na frase. Assinale a alternativa em que o<br />

sentido de mesmo equivale ao que se<br />

verifica no 3º verso da 1ª estrofe do<br />

poema de Vinícius de Moraes.<br />

A) "Pai, para onde fores, / irei também<br />

trilhando as mesmas ruas..." (Augusto<br />

dos Anjos)<br />

B) "Agora, como outrora, há aqui o<br />

mesmo contraste da vida interior, que<br />

é modesta, com a exterior, que é<br />

ruidosa." (Machado de Assis)<br />

C) "Havia o mal, profundo e persistente,<br />

para o qual o remédio não surtiu efeito,<br />

mesmo em doses variáveis."<br />

(Raimundo Faoro)<br />

D) "Mas, olhe cá, Mana Glória, há<br />

mesmo necessidade de fazê-lo<br />

padre?" (Machado de Assis)<br />

E) "Vamos de qualquer maneira, mas<br />

vamos mesmo." (Aurélio)<br />

Comentário<br />

Nessa questão, uma pequena análise<br />

sintática se faz necessária: mesmo, em<br />

ambos os casos, é conjunção subordinativa<br />

concessiva, introduzindo, portanto, uma<br />

oração subordinada cujo fato expresso é<br />

contrário ao da oração principal. Deve-se,<br />

então, recorrer à oração anterior para se ter<br />

certeza quanto à classificação. Grau<br />

moderado de dificuldade.<br />

Comentário do INEP<br />

Este problema buscou colocar o<br />

participante diante de uma situação que<br />

exigia a mobilização de seus mecanismos de<br />

reflexão sobre os processos lingüísticos em<br />

que um significante (uma palavra) assume<br />

diferentes significados, no enunciado, de<br />

acordo com a intenção do enunciador. Neste<br />

caso, além da compreensão da<br />

transformação de significado, é necessária a<br />

alteração de função morfossintática.<br />

Verifica-se que 62% dos participantes<br />

conseguiram identificar e analisar esse<br />

processo lingüístico, comparando a função<br />

do significante em diferentes enunciados.<br />

Isso demonstrou um domínio parcial da<br />

reflexão sobre a Língua Portuguesa, em<br />

diferentes contextos e textos.<br />

Os 18% dos participantes que<br />

assinalaram a alternativa B identificaram a<br />

diferença de significados mas,<br />

provavelmente, têm dificuldades em analisar<br />

estas mudanças em nível morfossintático<br />

(alternativa B).<br />

514


03) ( 2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />

poema.<br />

A DANÇA E A ALMA<br />

A DANÇA? Não é movimento,<br />

súbito gesto musical.<br />

É concentração, num momento,<br />

da humana graça natural.<br />

No solo não, no éter pairamos,<br />

nele amaríamos ficar.<br />

A dança – não vento nos ramos:<br />

seiva, força, perene estar.<br />

Um estar entre céu e chão,<br />

novo domínio conquistado,<br />

onde busque nossa paixão<br />

libertar-se por todo lado...<br />

Onde a alma possa descrever<br />

suas mais divinas parábolas<br />

sem fugir à forma do ser,<br />

por sobre o mistério das fábulas.<br />

(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />

Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />

A definição de dança, em linguagem de<br />

dicionário, que mais se aproxima do que<br />

está expresso no poema é<br />

A) a mais antiga das artes, servindo como<br />

elemento de comunicação e afirmação<br />

do homem em todos os momentos de<br />

sua existência.<br />

B) a forma de expressão corporal que<br />

ultrapassa os limites físicos,<br />

possibilitando ao homem a liberação de<br />

seu espírito.<br />

C) a manifestação do ser humano,<br />

formada por uma seqüência de gestos,<br />

passos e movimentos desconcertados.<br />

D) o conjunto organizado de movimentos<br />

do corpo, com ritmo determinado por<br />

instrumentos musicais, ruídos, cantos,<br />

emoções etc.<br />

E) o movimento diretamente ligado ao<br />

psiquismo do indivíduo e, por<br />

conseqüência, ao seu desenvolvimento<br />

intelectual e à sua cultura.<br />

Comentário<br />

A pergunta busca a aplicação do conceito<br />

de "estado de dicionário" (que também foi<br />

desenvolvido por Drummond no poema "A<br />

Procura da Poesia"). A literatura busca partir<br />

de palavras em estado de dicionário para,<br />

pelo aprofundamento do sentido delas, criar<br />

um mundo mais denso e particular. Em<br />

estado de dicionário, a dança, conforme é<br />

tratada nesse poema, apareceria na<br />

alternativa B: uma justaposição entre<br />

aspectos físicos e espirituais da expressão<br />

humana. Questão complexa.<br />

04) (2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />

poema.<br />

A DANÇA E A ALMA<br />

A DANÇA? Não é movimento,<br />

súbito gesto musical.<br />

É concentração, num momento,<br />

da humana graça natural.<br />

No solo não, no éter pairamos,<br />

nele amaríamos ficar.<br />

A dança – não vento nos ramos:<br />

seiva, força, perene estar.<br />

Um estar entre céu e chão,<br />

novo domínio conquistado,<br />

onde busque nossa paixão<br />

libertar-se por todo lado...<br />

Onde a alma possa descrever<br />

suas mais divinas parábolas<br />

sem fugir à forma do ser,<br />

por sobre o mistério das fábulas.<br />

(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />

Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />

O poema “A Dança e a Alma” é construído<br />

com base em contrastes, como<br />

“movimento” e “concentração”. Em uma<br />

das estrofes, o termo que estabelece<br />

contraste com solo é:<br />

A) éter. D) paixão.<br />

B) seiva. E) ser.<br />

C) chão.<br />

Comentário<br />

O elemento que contrasta com "solo"<br />

(físico, tangível, perene) é "éter" (espiritual,<br />

intangível, volátil). Questão de nível médio de<br />

dificuldade.<br />

05) ( 2008) O surgimento da figura da Ema<br />

no céu, ao leste, no anoitecer, na segunda<br />

quinzena de junho, indica o início do<br />

inverno para os índios do sul do Brasil e o<br />

começo da estação seca para os do norte.<br />

É limitada pelas constelações de<br />

Escorpião e do Cruzeiro do Sul, ou<br />

Cut'uxu. Segundo o mito guarani, o<br />

Cut’uxu segura a cabeça da ave para<br />

garantir a vida na Terra, porque, se ela se<br />

soltar, beberá toda a água do nosso<br />

planeta. Os tupisguaranis utilizam o<br />

Cut'uxu para se orientar e determinar a<br />

duração das noites e as estações do ano.<br />

A ilustração a seguir é uma representação<br />

dos corpos celestes que constituem a<br />

constelação da Ema, na percepção<br />

indígena.<br />

515


516<br />

Almanaque BRASIL, maio/2007 (com adaptações).<br />

A próxima figura mostra, em campo de<br />

visão ampliado, como povos de culturas<br />

não-indígenas percebem o espaço estelar<br />

em que a Ema é vista.<br />

Internet: (com adaptações).<br />

Assinale a opção correta a respeito da<br />

linguagem empregada no texto A Ema.<br />

A) A palavra Cut’uxu é um regionalismo<br />

utilizado pelas populações próximas às<br />

aldeias indígenas.<br />

B) O autor se expressa em linguagem<br />

formal em todos os períodos do texto.<br />

C) A ausência da palavra Ema no início do<br />

período “É limitada (...)” caracteriza<br />

registro oral.<br />

D) A palavra Cut’uxu está destacada em<br />

itálico porque integra o vocabulário da<br />

linguagem informal.<br />

E) No texto, predomina a linguagem<br />

coloquial porque ele consta de um<br />

almanaque.<br />

Comentário<br />

A questão é simples, mas requer cuidados<br />

quanto aos conceitos de linguagem<br />

“informal”, “formal” e de “língua”. Se o aluno<br />

tiver noção desses conceitos,<br />

chegará facilmente à resposta. A linguagem<br />

formal ou culta prevalece no texto, e o termo<br />

“Cut’uxu’ não é um termo informal, mas, sim,<br />

uma expressão que pertence a uma língua<br />

indígena — o que justifica o emprego da<br />

palavra em itálico. A resposta correta é,<br />

portanto, a letra "B".<br />

06) (2008) Calcula-se que 78% do<br />

desmatamento na Amazônia tenha sido<br />

motivado pela pecuária — cerca de 35%<br />

do rebanho nacional está na região — e<br />

que pelo menos 50 milhões de hectares<br />

de pastos são pouco produtivos. Enquanto<br />

o custo médio para aumentar a<br />

produtividade de 1 hectare de pastagem é<br />

de 2 mil reais, o custo para derrubar igual<br />

área de floresta é estimado em 800 reais,<br />

o que estimula novos desmatamentos.<br />

Adicionalmente, madeireiras retiram as<br />

árvores de valor comercial que foram<br />

abatidas para a criação de pastagens. Os<br />

pecuaristas sabem que problemas<br />

ambientais como esses podem provocar<br />

restrições à pecuária nessas áreas, a<br />

exemplo do que ocorreu em 2006 com o<br />

plantio da soja, o qual, posteriormente, foi<br />

proibido em áreas de floresta.<br />

Época, 3/3/2008 e 9/6/2008 (com adaptações).<br />

A partir da situação-problema descrita,<br />

conclui-se que<br />

A) o desmatamento na Amazônia decorre<br />

principalmente da exploração ilegal de<br />

árvores de valor comercial.<br />

B) um dos problemas que os pecuaristas<br />

vêm enfrentando na Amazônia é a<br />

proibição do plantio de soja.<br />

C) a mobilização de máquinas e de força<br />

humana torna o desmatamento mais<br />

caro que o aumento da produtividade<br />

de pastagens.<br />

D) o superavit comercial decorrente da<br />

exportação de carne produzida na<br />

Amazônia compensa a possível<br />

degradação ambiental.<br />

E) a recuperação de áreas desmatadas<br />

e o aumento de produtividade das<br />

pastagens podem contribuir para a<br />

redução do desmatamento na<br />

Amazônia.<br />

Comentário do portal<br />

Essa questão retrata o problema do<br />

desmatamento da Amazônia, relacionado<br />

principalmente com o desenvolvimento da<br />

pecuária na região. Para resolvê-la, foram<br />

necessários a leitura atenta do texto e o<br />

conhecimento sobre os problemas<br />

ambientais da atualidade. A alternativa<br />

correta é a letra E, pois é mais caro para os<br />

pecuaristas aumentar a produtividade do que<br />

as áreas de pasto, o que acarreta o aumento<br />

do desmatamento da Amazônia.


07) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />

preciso, além de conhecer o padrão<br />

formal da Língua Portuguesa, saber<br />

adequar o uso da linguagem ao contexto<br />

discursivo. Para exemplificar este fato,<br />

seu professor de Língua Portuguesa<br />

convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />

Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />

brinca com situações de discurso oral que<br />

fogem à expectativa do ouvinte.<br />

Aí, Galera<br />

Jogadores de futebol podem ser<br />

vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />

você pode imaginar um jogador de futebol<br />

dizendo "estereotipação"? E, no<br />

entanto, por que não?<br />

- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />

galera.<br />

- Minha saudação aos aficionados do<br />

clube e aos demais esportistas, aqui<br />

presentes ou no recesso dos seus lares.<br />

- Como é?<br />

- Aí, galera.<br />

- Quais são as instruções do técnico?<br />

- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />

trabalho de contenção coordenada, com<br />

energia otimizada, na zona de<br />

preparação, aumentam as<br />

probabilidades de, recuperado o<br />

esférico, concatenarmos um contragolpe<br />

agudo com parcimônia de meios e<br />

extrema objetividade, valendo-nos da<br />

desestruturação momentânea do<br />

sistema oposto, surpreendido pela<br />

reversão inesperada do fluxo da ação:<br />

- Ahn?<br />

- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />

pegá eles sem calça.<br />

- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />

coisa?<br />

- Posso dirigir uma mensagem de<br />

caráter sentimental, algo banal, talvez<br />

mesmo previsível e piegas, a uma<br />

pessoa à qual sou ligado por razões,<br />

inclusive, genéticas?<br />

- Pode.<br />

- Uma saudação para a minha<br />

progenitora.<br />

- Como é?<br />

- Alô, mamãe!<br />

- Estou vendo que você é um, um...<br />

- Um jogador que confunde o<br />

entrevistador, pois não corresponde à<br />

expectativa de que o atleta seja um ser<br />

algo primitivo com dificuldade de<br />

expressão e assim sabota a<br />

estereotipação?<br />

- Estereoquê?<br />

- Um chato?<br />

- Isso.<br />

Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />

O texto retrata duas situações<br />

relacionadas que fogem à expectativa do<br />

público. São elas:<br />

A) a saudação do jogador aos fãs do<br />

clube, no início da entrevista, e a<br />

saudação final dirigida à sua mãe.<br />

B) a linguagem muito formal do jogador,<br />

inadequada à situação da entrevista, e<br />

um jogador que fala, com desenvoltura,<br />

de modo muito rebuscado.<br />

C) o uso da expressão "galera", por parte<br />

do entrevistador, e da expressão<br />

"progenitora", por parte do jogador.<br />

D) o desconhecimento, por parte do<br />

entrevistador, da palavra<br />

"estereotipação", e a fala do jogador<br />

em "é pra dividir no meio e ir pra cima<br />

pra pegá eles sem calça".<br />

E) o fato de os jogadores de futebol serem<br />

vítimas de estereotipação e o jogador<br />

entrevistado não corresponder ao<br />

estereótipo.<br />

Comentário<br />

Quando pensamos em certas profissões,<br />

imaginamos qual seria o padrão de<br />

comportamento de quem as exerce. O texto<br />

está trabalhando uma divergência entre o<br />

que esperamos de um jogador de futebol (o<br />

estereótipo que temos dele) e um jogador<br />

que não se enquadra em nossas<br />

expectativas. Levando isso em consideração,<br />

as duas coisas que destoam do que<br />

esperamos encontrar nessa situação são: 1)<br />

alguém, ao dar uma entrevista de alto<br />

alcance popular, fala de maneira<br />

extremamente rebuscada; 2) um jogador que,<br />

ao falar de maneira rebuscada, acaba por<br />

fugir do estereótipo do jogador de futebol, de<br />

quem sempre é esperado algo menos<br />

rebuscado e mais popular.<br />

08) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />

preciso, além de conhecer o padrão<br />

formal da Língua Portuguesa, saber<br />

adequar o uso da linguagem ao contexto<br />

discursivo. Para exemplificar este fato,<br />

seu professor de Língua Portuguesa<br />

convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />

Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />

brinca com situações de discurso oral que<br />

fogem à expectativa do ouvinte.<br />

517


518<br />

Aí, Galera<br />

Jogadores de futebol podem ser<br />

vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />

você pode imaginar um jogador de futebol<br />

dizendo "estereotipação"? E, no<br />

entanto, por que não?<br />

- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />

galera.<br />

- Minha saudação aos aficionados do<br />

clube e aos demais esportistas, aqui<br />

presentes ou no recesso dos seus lares.<br />

- Como é?<br />

- Aí, galera.<br />

- Quais são as instruções do técnico?<br />

- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />

trabalho de contenção coordenada, com<br />

energia otimizada, na zona de<br />

preparação, aumentam as<br />

probabilidades de, recuperado o<br />

esférico, concatenarmos um contragolpe<br />

agudo com parcimônia de meios e<br />

extrema objetividade, valendo-nos da<br />

desestruturação momentânea do<br />

sistema oposto, surpreendido pela<br />

reversão inesperada do fluxo da ação:<br />

- Ahn?<br />

- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />

pegá eles sem calça.<br />

- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />

coisa?<br />

- Posso dirigir uma mensagem de<br />

caráter sentimental, algo banal, talvez<br />

mesmo previsível e piegas, a uma<br />

pessoa à qual sou ligado por razões,<br />

inclusive, genéticas?<br />

- Pode.<br />

- Uma saudação para a minha<br />

progenitora.<br />

- Como é?<br />

- Alô, mamãe!<br />

- Estou vendo que você é um, um...<br />

- Um jogador que confunde o<br />

entrevistador, pois não corresponde à<br />

expectativa de que o atleta seja um ser<br />

algo primitivo com dificuldade de<br />

expressão e assim sabota a<br />

estereotipação?<br />

- Estereoquê?<br />

- Um chato?<br />

- Isso.<br />

Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />

O texto mostra uma situação em que a<br />

linguagem usada é inadequada ao<br />

contexto. Considerando as diferenças<br />

entre língua oral e língua escrita, assinale<br />

a opção que representa também uma<br />

inadequação da linguagem usada ao<br />

contexto:<br />

A) "o carro bateu e capotô, mas num deu<br />

pra vê direito" - um pedestre que<br />

assistiu ao acidente comenta com o<br />

outro que vai passando.<br />

B) "E aí, ô meu! Como vai essa força?" -<br />

um jovem que fala para um amigo.<br />

C) "Só um instante, por favor. Eu<br />

gostaria de fazer uma observação" -<br />

alguém comenta em uma reunião de<br />

trabalho.<br />

D) "Venho manifestar meu interesse em<br />

candidatar-me ao cargo de Secretária<br />

Executiva desta conceituada empresa"<br />

- alguém que escreve uma carta<br />

candidatando-se a um emprego.<br />

E) "Porque se a gente não resolve as<br />

coisas como têm que ser, a gente corre<br />

o risco de termos, num futuro próximo,<br />

muito pouca comida nos lares<br />

brasileiros" - um professor universitário<br />

em um congresso internacional.<br />

Comentário<br />

Essa questão está trabalhando com as<br />

nossas expectativas. Esperamos encontrar,<br />

nas diferentes situações, linguagens que<br />

correspondam à formalidade (ou à<br />

informalidade) delas. Na alternativa E, como<br />

o professor universitário está falando em um<br />

congresso internacional, espera-se que ele<br />

utilize uma linguagem mais formal e não uma<br />

linguagem coloquial como a que usou. Em<br />

todas as outras situações, a linguagem está<br />

de acordo com a situação em que está sendo<br />

empregada.<br />

09) (2006) Depois de um bom jantar: feijão<br />

com carne-seca, orelha de porco e couve<br />

com angu, arroz-mole engordurado, carne<br />

de vento assada no espeto, torresmo<br />

enxuto de toicinho da barriga, viradinho de<br />

milho verde e um prato de caldo de couve,<br />

jantar encerrado por um prato fundo de<br />

canjica com torrões de açúcar, Nhô Tomé<br />

saboreou o café forte e se estendeu na<br />

rede. A mão direita sob a cabeça, à guisa<br />

de travesseiro, o indefectível cigarro de<br />

palha entre as pontas do indicador e do<br />

polegar, envernizados pela fumaça, de<br />

unhas encanoadas e longas, ficou-se de<br />

pança para o ar, modorrento, a olhar para<br />

as ripas do telhado.<br />

Quem come e não deita, a comida não<br />

aproveita, pensava Nhô Tomé... E pôs-se<br />

a cochilar. A sua modorra durou pouco;<br />

Tia Policena, ao passar pela sala, bradou<br />

assombrada:<br />

— Êêh! Sinhô! Vai drumi agora? Não!


Num presta... Dá pisadêra e póde morrê<br />

de ataque de cabeça! Despois do armoço<br />

num far-má... mais despois da janta?!”<br />

Cornélio Pires. Conversas ao pé do fogo. São Paulo:<br />

Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1987.<br />

Nesse trecho, extraído de texto publicado<br />

originalmente em 1921, o narrador<br />

A) apresenta, sem explicitar juízos de<br />

valor, costumes da epoca, descrevendo<br />

os pratos servidos no jantar e a atitude<br />

de Nhô Tomé e de Tia Policena.<br />

B) desvaloriza a norma culta da língua<br />

porque incorpora à narrativa usos<br />

próprios da linguagem regional das<br />

personagens.<br />

C) condena os hábitos descritos, dando<br />

voz a Tia Policena, que tenta impedir<br />

Nhô Tomé de deitar-se após as<br />

refeições.<br />

D) utiliza a diversidade sociocultural e<br />

lingüística para demonstrar seu<br />

desrespeito às populações das zonas<br />

rurais do início do século XX.<br />

E) manifesta preconceito em relação a Tia<br />

Policena ao transcrever a fala dela com<br />

os erros próprios da região.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil, pois a alternativa<br />

"A" deixa clara a intencionalidade do<br />

narrador. Entretanto, o aluno poderia optar<br />

pela alternativa "B" caso não desse o devido<br />

valor ao sentido da palavra “desvaloriza”, que<br />

a elimina.<br />

<strong>10</strong>) (2007) Texto I<br />

Agora Fabiano conseguia arranjar as<br />

idéias. O que o segurava era a família.<br />

Vivia preso como um novilho amarrado ao<br />

mourão, suportando ferro quente. Se não<br />

fosse isso, um soldado amarelo não lhe<br />

pisava o pé não. (...) Tinha aqueles<br />

cambões pendurados ao pescoço.<br />

Deveria continuar a arrastá-los? Sinha<br />

Vitória dormia mal na cama de varas. Os<br />

meninos eram uns brutos, como o pai.<br />

Quando crescessem, guardariam as reses<br />

de um patrão invisível, seriam pisados,<br />

maltratados, machucados por um soldado<br />

amarelo.<br />

Graciliano Ramos. Vidas Secas. São Paulo:<br />

Martins, 23.ª ed., 1969, p. 75.<br />

Texto II<br />

Para Graciliano, o roceiro pobre é um<br />

outro, enigmático, impermeável. Não há<br />

solução fácil para uma tentativa de<br />

incorporação dessa figura no campo da<br />

ficção. É lidando com o impasse, ao invés<br />

de fáceis soluções, que Graciliano vai<br />

criar Vidas Secas, elaborando uma<br />

linguagem, uma estrutura romanesca,<br />

uma constituição de narrador em que<br />

narrador e criaturas se tocam, mas não se<br />

identificam. Em grande medida, o debate<br />

acontece porque, para a intelectualidade<br />

brasileira naquele momento, o pobre, a<br />

despeito de aparecer idealizado em certos<br />

aspectos, ainda é visto como um ser<br />

humano de segunda categoria, simples<br />

demais, incapaz de ter pensamentos<br />

demasiadamente complexos. O que Vidas<br />

Secas faz é, com pretenso não<br />

envolvimento da voz que controla a<br />

narrativa, dar conta de uma riqueza<br />

humana de que essas pessoas seriam<br />

plenamente capazes.<br />

Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes. In:<br />

Teresa. São Paulo: USP, n.° 2, 2001, p. 254.<br />

No texto II, verifica-se que o autor utiliza<br />

A) linguagem predominantemente<br />

formal, para problematizar, na<br />

composição de Vidas Secas, a relação<br />

entre o escritor e o personagem<br />

popular.<br />

B) linguagem inovadora, visto que, sem<br />

abandonar a linguagem formal, dirigese<br />

diretamente ao leitor.<br />

C) linguagem coloquial, para narrar<br />

coerentemente uma história que<br />

apresenta o roceiro pobre de forma<br />

pitoresca.<br />

D) linguagem formal com recursos<br />

retóricos próprios do texto literário em<br />

prosa, para analisar determinado<br />

momento da literatura brasileira.<br />

E) linguagem regionalista, para transmitir<br />

informações sobre literatura, valendose<br />

de coloquialismo, para facilitar o<br />

entendimento do texto.<br />

Comentário<br />

Questão de nível médio. Algumas<br />

alternativas poderiam levar o candidato a<br />

pensar que o texto de Vidas Secas utiliza<br />

uma linguagem predominantemente coloquial<br />

e regionalista. Entretanto, é na alternativa A<br />

que se encontra o real estilo da linguagem<br />

utilizada por Graciliano Ramos. A linguagem<br />

é, portanto, predominantemente formal e<br />

problematiza a relação do escritor com o<br />

personagem popular. Esta acaba sendo uma<br />

das grandes características do autor, pois ele<br />

buscava sempre dar uma grande densidade<br />

psicológica aos seus romances.<br />

519


11) (2006) Aula de português<br />

520<br />

Explorando a função emotiva da<br />

linguagem, o poeta expressa o contraste<br />

entre marcas de variação de usos da<br />

linguagem em<br />

A) situações formais e informais.<br />

B) diferentes regiões do país.<br />

C) escolas literárias distintas.<br />

D) textos técnicos e poéticos.<br />

E) diferentes épocas.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil, pois o próprio título<br />

nos dá uma noção da dificuldade de<br />

transformar a linguagem coloquial e de uso<br />

cotidiano em uma linguagem formal,<br />

expressa no poema como “a misteriosa”.<br />

Drummond foi muito feliz em conseguir<br />

demonstrar a dificuldade em entender como<br />

estruturas simples da língua se tornam tão<br />

complexas ao se iniciar o processo de<br />

compreensão da estrutura lingüística.<br />

12) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />

preciso, além de conhecer o padrão<br />

formal da Língua Portuguesa, saber<br />

adequar o uso da linguagem ao contexto<br />

discursivo. Para exemplificar este fato,<br />

seu professor de Língua Portuguesa<br />

convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />

Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />

brinca com situações de discurso oral que<br />

fogem à expectativa do ouvinte.<br />

Aí, Galera<br />

Jogadores de futebol podem ser<br />

vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />

você pode imaginar um jogador de futebol<br />

dizendo "estereotipação"? E, no<br />

entanto, por que não?<br />

- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />

galera.<br />

- Minha saudação aos aficionados do<br />

clube e aos demais esportistas, aqui<br />

presentes ou no recesso dos seus lares.<br />

- Como é?<br />

- Aí, galera.<br />

- Quais são as instruções do técnico?<br />

- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />

trabalho de contenção coordenada, com<br />

energia otimizada, na zona de<br />

preparação, aumentam as<br />

probabilidades de, recuperado o<br />

esférico, concatenarmos um contragolpe<br />

agudo com parcimônia de meios e<br />

extrema objetividade, valendo-nos da<br />

desestruturação momentânea do<br />

sistema oposto, surpreendido pela<br />

reversão inesperada do fluxo da ação:<br />

- Ahn?<br />

- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />

pegá eles sem calça.<br />

- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />

coisa?<br />

- Posso dirigir uma mensagem de<br />

caráter sentimental, algo banal, talvez<br />

mesmo previsível e piegas, a uma<br />

pessoa à qual sou ligado por razões,<br />

inclusive, genéticas?<br />

- Pode.<br />

- Uma saudação para a minha<br />

progenitora.<br />

- Como é?<br />

- Alô, mamãe!<br />

- Estou vendo que você é um, um...<br />

- Um jogador que confunde o<br />

entrevistador, pois não corresponde à<br />

expectativa de que o atleta seja um ser<br />

algo primitivo com dificuldade de<br />

expressão e assim sabota a<br />

estereotipação?<br />

- Estereoquê?<br />

- Um chato?<br />

- Isso.<br />

Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />

A expressão "pegá eles sem calça"<br />

poderia ser substituída, sem<br />

comprometimento de sentido, em língua<br />

culta, formal, por:


A) pegá-los na mentira.<br />

B) pegá-los desprevenidos.<br />

C) pegá-los em flagrante.<br />

D) pegá-los rapidamente.<br />

E) pegá-los momentaneamente<br />

Comentário<br />

O trabalho que temos aqui é de<br />

compreensão de sentido. Se você nunca<br />

ouviu a expressão "de calças na mão", terá<br />

de imaginar o que acontece quando<br />

pegamos alguém nessa situação. Mas isso<br />

não basta. Se usar somente situações que<br />

pode imaginar, restarão as alternativas B e<br />

C. Esse problema só será solucionado se<br />

você entender bem o texto a que ele se<br />

refere. Como o jogador está falando em<br />

roubar a bola e partir para cima do adversário<br />

rapidamente, imagina-se que o adversário<br />

não esperava perder a bola naquele<br />

momento e, quando isso ocorreu, ele não<br />

estava preparado para receber um contraataque.<br />

Utilizando essa análise, somente a<br />

alternativa B está correta.<br />

13) (2000) Em uma conversa ou leitura de<br />

um texto, corre-se o risco de atribuir um<br />

significado inadequado a um termo ou<br />

expressão, e isso pode levar a certos<br />

resultados inesperados, como se vê nos<br />

quadrinhos abaixo.<br />

(SOUZA, Maurício de. Chico Bento.<br />

Rio de Janeiro: Ed. Globo, n o 335, Nov./99 )<br />

Nessa historinha, o efeito humorístico<br />

origina-se de uma situação criada pela<br />

fala da Rosinha no primeiro quadrinho,<br />

que é:<br />

A) Faz uma pose bonita!<br />

B) Quer tirar um retrato?<br />

C) Sua barriga está aparecendo!<br />

D) Olha o passarinho!<br />

E) Cuidado com o flash!<br />

Comentário<br />

Quem não se lembra de expressões<br />

humorísticas usadas quando se deseja tirar<br />

uma foto, como "Olha o passarinho" ou "Fale<br />

xis"?<br />

Pois é, essa é uma questão fácil e a<br />

interpretação do texto é simples, e não há<br />

por que ter dúvidas quanto à resposta, a não<br />

ser que não se leia a proposta da questão.<br />

Comentário do INEP<br />

Essa questão procurou avaliar se o<br />

participante conseguia inferir, a partir de uma<br />

seqüência narrativa de imagens, a expressão<br />

lingüística adequada à situação de<br />

interlocução, no caso a fala da personagem,<br />

no primeiro quadrinho. A expressão de uso<br />

coloquial 'olha o passarinho!', dependendo do<br />

contexto, tem diferentes significados, que<br />

nesse caso foram associados pelo cartunista<br />

para produzir o efeito de humor. A grande<br />

maioria - 89% - dos participantes realizou a<br />

inferência solicitada, analisando a função da<br />

linguagem e identificando a variante<br />

lingüística adequada à situação de<br />

interlocução, com base na leitura da<br />

seqüência das imagens e da fala da<br />

personagem no terceiro quadrinho. É<br />

interessante notar a abrangência dessa<br />

expressão metafórica no Brasil, criada no<br />

contexto informal da fala com seus<br />

significados correspondentes. Mesmo assim,<br />

11% dos participantes, possivelmente,<br />

desconhecem essa expressão ou não<br />

conseguiram realizar a transposição do<br />

significado humorístico da fala do último<br />

quadrinho.<br />

14) (2005) Leia com atenção o texto:<br />

[Em Portugal], você poderá ter alguns<br />

probleminhas se entrar numa loja de<br />

roupas desconhecendo certas sutilezas da<br />

língua. Por exemplo, não adianta pedir<br />

para ver os ternos — peça para ver os<br />

fatos. Paletó é casaco. Meias são<br />

peúgas. Suéter é camisola — mas não<br />

se assuste, porque calcinhas femininas<br />

são cuecas. (Não é uma delícia?)<br />

(Ruy Castro. Viaje Bem. Ano VIII, no 3, 78.)<br />

O texto destaca a diferença entre o<br />

português do Brasil e o de Portugal<br />

quanto<br />

A) ao vocabulário.<br />

B) à derivação.<br />

C) à pronúncia.<br />

D) ao gênero.<br />

E) à sintaxe.<br />

Comentário<br />

Questão de entendimento muito fácil, pois<br />

o próprio enunciado deixa claro que se trata<br />

das diferenças de vocabulário entre o<br />

português brasileiro e o lusitano.<br />

521


15) (2006) Aula de português<br />

No poema, a referência à variedade<br />

padrão da língua está expressa no<br />

seguinte trecho:<br />

A) “A linguagem / na ponta da língua” (v.1<br />

e 2).<br />

B) “A linguagem / na superfície<br />

estrelada de letras” (v.5 e 6).<br />

C) “[a língua] em que pedia para ir lá<br />

fora” (v.14).<br />

D) “[a língua] em que levava e dava<br />

pontapé” (v.15).<br />

E) “[a língua] do namoro com a priminha”<br />

(v.17).<br />

Comentário<br />

Questão fácil, pois a alternativa "B" é a<br />

única que faz menção à norma-padrão da<br />

língua. As demais alternativas fogem a essa<br />

norma.<br />

16) (2008) A Lei Federal n.º 9.985/2000, que<br />

instituiu o sistema nacional de unidades<br />

de conservação, define dois tipos de<br />

áreas protegidas. O primeiro, as unidades<br />

de proteção integral, tem por objetivo<br />

preservar a natureza, admitindo-se<br />

apenas o uso indireto dos seus recursos<br />

naturais, isto é, aquele que não envolve<br />

consumo, coleta, dano ou destruição dos<br />

recursos naturais. O segundo, as<br />

unidades de uso sustentável, tem por<br />

função compatibilizar a conservação da<br />

natureza com o uso sustentável de<br />

parcela dos recursos naturais. Nesse<br />

caso, permite-se a exploração do<br />

ambiente de maneira a garantir a<br />

perenidade dos recursos ambientais<br />

renováveis e dos processos ecológicos,<br />

mantendo-se a biodiversidade e os<br />

demais atributos ecológicos, de forma<br />

socialmente justa e economicamente<br />

viável.<br />

Considerando essas informações, analise<br />

a seguinte situação hipotética.<br />

Ao discutir a aplicação de recursos<br />

disponíveis para o desenvolvimento de<br />

determinada região, organizações civis,<br />

universidade e governo resolveram<br />

investir na utilização de uma unidade de<br />

proteção integral, o Parque Nacional do<br />

Morro do Pindaré, e de uma unidade de<br />

uso sustentável, a Floresta Nacional do<br />

Sabiá. Depois das discussões, a equipe<br />

resolveu levar adiante três projetos:<br />

— o projeto I consiste de pesquisas<br />

científicas embasadas exclusivamente<br />

na observação de animais;<br />

— o projeto II inclui a construção de uma<br />

escola e de um centro de vivência;<br />

— o projeto III promove a organização de<br />

uma comunidade extrativista que<br />

poderá coletar e explorar<br />

comercialmente frutas e sementes<br />

nativas.<br />

Nessa situação hipotética, atendendo-se à<br />

lei mencionada acima, é possível<br />

desenvolver tanto na unidade de proteção<br />

integral quanto na de uso sustentável<br />

A) apenas o projeto I.<br />

B) apenas o projeto III.<br />

C) apenas os projetos I e II.<br />

D) apenas os projetos II e III.<br />

E) todos os três projetos.<br />

Comentário do portal<br />

A alternativa correta é a letra "A", pois,<br />

analisando-se a situação hipotética sugerida<br />

no enunciado, percebe-se que ela deverá<br />

atender os requisitos tanto da unidade de<br />

proteção integral quanto da unidade de uso<br />

sustentável. Portanto, apenas o projeto I<br />

poderá ser desenvolvido nessas duas<br />

propostas de unidades.<br />

522


17) (2006) No romance Vidas Secas, de<br />

Graciliano Ramos, o vaqueiro Fabiano<br />

encontra-se com o patrão para receber o<br />

salário. Eis parte da cena:<br />

Graciliano Ramos. Vidas Secas. 91.ª ed.<br />

Rio de Janeiro: Record, 2003.<br />

No fragmento transcrito, o padrão formal<br />

da linguagem convive com marcas de<br />

regionalismo e de coloquialismo no<br />

vocabulário. Pertence à variedade do<br />

padrão formal da linguagem o seguinte<br />

trecho:<br />

A) Não se conformou: devia haver<br />

engano (l.1).<br />

B) Fabiano perdeu os estribos (l.3).<br />

C) Passar a vida inteira assim no toco<br />

(l.4).<br />

D) Entregando o que era dele de mao<br />

beijada! (l.4-5).<br />

E) Aí Fabiano baixou a pancada e<br />

amunhecou (l.11).<br />

Comentário do portal<br />

Questão de nível fácil. Bastaria que o<br />

candidato conhecesse o padrão formal da<br />

linguagem e distinguisse-o do regionalismo e<br />

do coloquialismo.<br />

18) (2001) Os provérbios constituem um<br />

produto da sabedoria popular e, em geral,<br />

pretendem transmitir um ensinamento. A<br />

alternativa em que os dois provérbios<br />

remetem a ensinamentos semelhantes é:<br />

A) “Quem diz o que quer, ouve o que não<br />

quer” e “Quem ama o feio, bonito lhe<br />

parece”.<br />

B) “Devagar se vai ao longe” e “De grão<br />

em grão, a galinha enche o papo”.<br />

C) “Mais vale um pássaro na mão do que<br />

dois voando” e “Não se deve atirar<br />

pérolas aos porcos”.<br />

D) “Quem casa quer casa” e “Santo de<br />

casa não faz milagre”.<br />

E) “Quem com ferro fere, com ferro será<br />

ferido” e “Casa de ferreiro, espeto de<br />

pau”.<br />

Comentário<br />

Questão fácil. A alternativa B apresenta<br />

dois provérbios que tratam de paciência,<br />

perseverança. A mensagem é a mesma em<br />

ambos.<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão propõe uma série de<br />

provérbios agrupados aos pares, para que o<br />

participante demonstre compreender e<br />

comparar os provérbios de modo a identificar<br />

aqueles que traduzem ensinamentos<br />

semelhantes. A organização sintáticosemântica<br />

dos provérbios cria um efeito de<br />

sentido metafórico que deve ser recuperado,<br />

analisado e comparado, o que foi<br />

corretamente feito por cerca de 80% dos<br />

participantes.<br />

19) (1999)<br />

(QUINO. Mafalda inédita. São Paulo: Martins Fontes, 1993)<br />

Observando as falas das personagens,<br />

analise o emprego do pronome SE e o<br />

sentido que adquire no contexto. No<br />

contexto da narrativa, é correto afirmar<br />

que o pronome SE:<br />

A) em I, indica reflexividade e equivale a<br />

"a si mesmas".<br />

B) em II, indica reciprocidade e equivale a<br />

"a si mesma".<br />

C) em III, indica reciprocidade e equivale<br />

a "umas às outras".<br />

D) em I e III, indica reciprocidade e<br />

equivale a "umas às outras".<br />

E) em II e III, indica reflexividade e<br />

equivale a "a si mesma " e "a si<br />

mesmas", respectivamente.<br />

Comentário<br />

Mais uma questão que fala por si própria.<br />

Lendo o segundo quadrinho — "Quer dizer<br />

que você também se ama muito mais no<br />

Natal?" —, é fácil de se identificar o pronome<br />

reflexivo. Basta que se troque se ama por<br />

ama a si mesma. O mesmo ocorre no<br />

terceiro quadrinho em "Por que será que as<br />

pessoas se amam muito mais no Natal?" —<br />

Por que será que as pessoas amam a si<br />

mesmas? Questão de grau fácil.<br />

523


Comentário do INEP<br />

Este problema requeria que o participante<br />

mobilizasse conhecimentos sobre os<br />

significados de "reciprocidade e<br />

"reflexividade" e o associasse à<br />

compreensão de linguagem iconográfica.<br />

Cerca de metade dos participantes<br />

demonstrou essa capacidade. A opção de<br />

30% dos participantes pela alternativa D<br />

pode indicar que eles utilizaram as imagens<br />

apenas como ilustração do texto e não como<br />

linguagem capaz de instituir novos<br />

significados.<br />

20) (2005) As dimensões continentais do<br />

Brasil são objeto de reflexões expressas<br />

em diferentes linguagens. Esse tema<br />

aparece no seguinte p"Narizinho correu os<br />

olhos pela assistência. Não podia haver nada<br />

mais curioso. Besourinhos de oema:<br />

“(....)<br />

Que importa que uns falem mole<br />

descansado<br />

Que os cariocas arranhem os erres na<br />

garganta<br />

Que os capixabas e paroaras escancarem<br />

as vogais?<br />

Que tem se o quinhentos réis meridional<br />

Vira cinco tostões do Rio pro Norte?<br />

Junto formamos este assombro de<br />

misérias e grandezas,<br />

Brasil, nome de vegetal! (....)”<br />

(Mário de Andrade. Poesias completas. 6. ed. São Paulo:<br />

Martins Editora, 1980.)<br />

O texto poético ora reproduzido trata das<br />

diferenças brasileiras no âmbito<br />

A) étnico e religioso.<br />

B) lingüístico e econômico.<br />

C) racial e folclórico.<br />

D) histórico e geográfico.<br />

E) literário e popular.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil, pois a primeira<br />

estrofe, ao enunciar os erres arranhados dos<br />

cariocas e as vogais abertas dos capixabas,<br />

evidencia a diferença lingüística entre duas<br />

regiões distintas do Brasil, dando noção da<br />

variedade. Já na segunda estrofe, as<br />

diferenças econômicas são evidenciadas ao<br />

se mostrarem os réis e tostões variando da<br />

Região Meridional para a Norte.<br />

21) (202) "Narizinho correu os olhos pela<br />

assistência. Não podia haver nada mais<br />

curioso. Besourinhos de fraque e flores na<br />

lapela conversavam com baratinhas de<br />

mantilha e miosótis nos cabelos. Abelhas<br />

douradas, verdes e azuis, falavam mal<br />

das vespas de cintura fina — achando que<br />

era exagero usarem coletes tão<br />

apertados. Sardinhas aos centos<br />

criticavam os cuidados excessivos que as<br />

borboletas de toucados de gaze tinham<br />

com o pó das suas asas. Mamangavas de<br />

ferrões amarrados para não morderem. E<br />

canários cantando, e beija-flores beijando<br />

flores, e camarões camaronando, e<br />

caranguejos caranguejando, tudo que é<br />

pequenino e não morde, pequeninando e<br />

não mordendo."<br />

LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. São Paulo:<br />

Brasiliense, 1947.<br />

No último período do trecho, há uma série<br />

de verbos no gerúndio que contribuem<br />

para caracterizar o ambiente fantástico<br />

descrito. Expressões como<br />

"camaronando", "caranguejando" e<br />

"pequeninando e não mordendo" criam,<br />

principalmente, efeitos de<br />

A) esvaziamento de sentido.<br />

B) monotonia do ambiente.<br />

C) estaticidade dos animais.<br />

D) interrupção dos movimentos.<br />

E) dinamicidade do cenário.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. O dinamismo dos<br />

verbos no gerúndio tem como função<br />

principal dar vida às personagens do mundo<br />

fantástico. Não há estagnação. Cada animal<br />

faz o que lhe cabe.<br />

Comentário do INEP<br />

Essa questão apresenta para leitura e<br />

análise um trecho da obra Reinações de<br />

Narizinho, de Monteiro Lobato, e, nele, a<br />

descrição reflete as fantasias do mundo<br />

infantil. A questão propõe que seja resolvido<br />

um problema de linguagem, que é a<br />

identificação dos sentidos criados no texto<br />

pelo emprego de vários verbos no gerúndio,<br />

alguns dos quais, neologismos criados pelo<br />

autor. Como o texto é uma descrição, temos<br />

o relato de um ambiente que se agita com as<br />

ações simultâneas dos muitos seres que o<br />

habitam. Cabe ao participante perceber que<br />

o efeito dinâmico é criado pelos verbos de<br />

ação no gerúndio, que é a forma verbal da<br />

ação se fazendo. Ou seja, é função típica do<br />

gerúndio traduzir a noção de uma ação que<br />

524


se desenvolve de modo simultâneo à sua<br />

enunciação. Nesse ambiente retratado por<br />

Monteiro Lobato, os bichinhos humanizados<br />

se agitam, lembrando um burburinho de<br />

crianças. Apenas a alternativa E, assinalada<br />

por 36% dos participantes, responde<br />

corretamente a questão. As outras<br />

alternativas contemplam efeitos ou<br />

significados que, apesar de eventualmente<br />

serem transmitidos pelo emprego do<br />

gerúndio, não se verificam no texto.<br />

22) (2008) Assinale a opção que apresenta<br />

um verso do soneto de Cláudio Manoel da<br />

Costa em que o poeta se dirige ao seu<br />

interlocutor.<br />

A) “Torno a ver-vos, ó montes; o<br />

destino” (v.1)<br />

B) “Aqui estou entre Almendro, entre<br />

Corino,” (v.5)<br />

C) “Os meus fiéis, meus doces<br />

companheiros,” (v.6)<br />

D) “Vendo correr os míseros vaqueiros”<br />

(v.7)<br />

E) “Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto,”<br />

(v.11)<br />

B) “E lembre-se: se você disser uma<br />

mentira, os seus chifres cairão!”<br />

C) “Estou atrasado porque ajudei uma<br />

velhinha a atravessar a rua...”<br />

D) “...e ela me deu um anel mágico que<br />

me levou a um tesouro”<br />

E) “mas bandidos o roubaram e os<br />

persegui até a Etiópia, onde um<br />

dragão...”<br />

Comentário<br />

Linguagem coloquial é aquela usada no<br />

cotidiano, que tem como característica<br />

principal a oralidade, ou seja, aquela que não<br />

segue o rigor da norma culta.<br />

Entre as alternativas da questão, apenas<br />

a letra "A" apresenta esses traços.<br />

24) (2004) O poema abaixo pertence à<br />

poesia concreta brasileira. O termo latino<br />

de seu título significa "epitalâmio", poema<br />

ou canto em homenagem aos que se<br />

casam.<br />

Comentário<br />

Nesta questão, basta que o aluno<br />

identifique o pronome oblíquo, presente no<br />

verso um, que chama o leitor para o texto.<br />

Sendo assim, a resposta correta é a letra "A".<br />

23) (2008)<br />

Dick Browne. O melhor de Hagar, o horrível, v. 2. L&PM<br />

pocket, p.55-6 (com adaptações).<br />

Assinale o trecho do diálogo que<br />

apresenta um registro informal, ou<br />

coloquial, da linguagem.<br />

A) “Tá legal, espertinho! Onde é que<br />

você esteve?!”<br />

Considerando que símbolos e sinais são<br />

utilizados geralmente para demonstrações<br />

objetivas, ao serem incorporados no<br />

poema "Epithalamium - II".<br />

A) adquirem novo potencial de<br />

significação.<br />

B) eliminam a subjetividade do poema.<br />

C) opõem-se ao tema principal do poema.<br />

D) invertem seu sentido original.<br />

E) tornam-se confusos e equivocados.<br />

Comentário<br />

Diferentemente, por exemplo, da<br />

aplicação matemática dos símbolos, em que<br />

sinais como "=", "+", "-", "x", etc. servem<br />

como convenções internacionais de<br />

significação objetiva e invariável, em um<br />

poema como "Epithalamium – II" foram<br />

usados símbolos que não são convenções<br />

internacionais, mas, sim, convencionados<br />

apenas para esse texto. No caso, letras do<br />

alfabeto deixam de ser representações de<br />

sons (fonemas) para ganharem nova<br />

significação, principalmente pela construção<br />

525


visual do poema: unem homem (h) e mulher<br />

(e) pela ação da serpente (s) — libido,<br />

atração — em uma entidade única.<br />

Uma das tendências poéticas da segunda<br />

metade do século XX, resultado de um<br />

diálogo com estéticas já presentes no final do<br />

século XIX, trabalha com a construção de<br />

seu próprio referente, fazendo do poema um<br />

objeto autônomo.<br />

25) (2000) “Precisa-se nacionais sem<br />

nacionalismo, (...) movidos pelo presente<br />

mas estalando naquele cio racial que só<br />

as tradições maduram! (...). Precisa-se<br />

gentes com bastante meiguice no<br />

sentimento, bastante força na peitaria,<br />

bastante paciência no entusiasmo e<br />

sobretudo, oh! sobretudo bastante<br />

vergonha na cara!<br />

(...) Enfim: precisa-se brasileiros! Assim<br />

está escrito no anúncio vistoso de cores<br />

desesperadas pintado sobre o corpo do<br />

nosso Brasil, camaradas.”<br />

(Jornal A Noite, São Paulo, 18/12/1925 apud LOPES, Telê<br />

Porto Ancona. Mário<br />

de Andrade: ramais e caminhos. São Paulo: Duas<br />

Cidades, 1972)<br />

526<br />

No trecho acima, Mário de Andrade dá<br />

forma a um dos itens do ideário<br />

modernista, que é o de firmar a feição de<br />

uma língua mais autêntica, “brasileira”, ao<br />

expressar-se numa variante de linguagem<br />

popular identificada pela (o):<br />

A) escolha de palavras como cio, peitaria,<br />

vergonha.<br />

B) emprego da pontuação.<br />

C) repetição do adjetivo bastante.<br />

D) concordância empregada em Assim<br />

está escrito.<br />

E) escolha de construção do tipo<br />

precisa-se gentes.<br />

Comentário<br />

Apesar de essa questão misturar vários<br />

tipos de informação, se você se lembra um<br />

pouquinho dos usos da partícula se, com<br />

certeza não encontrará grande dificuldade.<br />

Segundo a regra gramatical, o verbo<br />

"precisa-se" deveria ir para o plural<br />

(precisam-se), mas essa noção de verbo<br />

concordante com o sujeito há muito<br />

desapareceu na variante popular brasileira.<br />

Mas, caso você não se lembre muito bem<br />

desse assunto ou ficou meio confuso com o<br />

texto e as outras alternativas, o caminho é<br />

responder por eliminação.<br />

A primeira alternativa apresenta palavras<br />

comuns no português brasileiro, mas<br />

nenhuma "invenção" nacional. Na dúvida,<br />

pense em "vergonha": não é uma invenção<br />

brasileira. Todos os que falam português no<br />

mundo conhecem bem essa palavra. A<br />

pontuação no texto não chama nenhuma<br />

atenção. Você provavelmente não viu nada<br />

de estranho nela. Da mesma forma, o<br />

"bastante" da terceira alternativa não é nada<br />

mais que um mecanismo de retórica, usado<br />

para dar ênfase à idéia. Com o "Assim está<br />

escrito", encontramos a mesma situação: um<br />

trecho litúrgico é usado para maior ênfase.<br />

Comentário do INEP<br />

A questão procurou avaliar se o<br />

participante era capaz de, a partir da leitura<br />

de um texto de Mário de Andrade , identificar<br />

e analisar uma variante lingüística de uso<br />

coloquial, utilizadas estilisticamente pelo<br />

autor. O uso estilístico das variantes marcou<br />

a primeira fase da literatura brasileira<br />

modernista. O trecho destaca em seu todo<br />

esse uso da linguagem popular. A escolha da<br />

construção 'precisa-se gentes' é marca desse<br />

uso estilístico. O índice de 37% na alternativa<br />

(A) demonstra, possivelmente, que os<br />

participantes não consideraram a escolha<br />

dos vocábulos, dentro do contexto do texto,<br />

confundindo as palavras que aparecem na<br />

alternativa com '...a feição de uma língua<br />

mais autêntica...'.O percentual de acertos foi<br />

da ordem de 40%.<br />

26) (2001) Oxímoro (ou paradoxo) é uma<br />

construção textual que agrupa significados<br />

que se excluem mutuamente. Para<br />

Garfield, a frase de saudação de Jon<br />

(tirinha abaixo) expressa o maior de todos<br />

os oxímoros.<br />

Folha de S. Paulo. 31 de julho de 2000.<br />

Nas alternativas abaixo, estão transcritos<br />

versos retirados do poema “O operário em<br />

construção”. Pode-se afirmar que ocorre<br />

um oxímoro em<br />

A) "Era ele que erguia casas<br />

Onde antes só havia chão."<br />

B) "... a casa que ele fazia<br />

Sendo a sua liberdade<br />

Era a sua escravidão."<br />

C) "Naquela casa vazia<br />

Que ele mesmo levantara<br />

Um mundo novo nascia<br />

De que sequer suspeitava."


D) "... o operário faz a coisa<br />

E a coisa faz o operário."<br />

E) "Ele, um humilde operário<br />

Um operário que sabia<br />

Exercer a profissão."<br />

MORAES, Vinícius de. Antologia Poética. São Paulo:<br />

Companhia das Letras, 1992.<br />

Comentário<br />

Idéias que se completam e se excluem<br />

mutuamente são encontradas na alternativa<br />

B: a casa que ele construía era, ao mesmo<br />

tempo, sua liberdade e sua escravidão.<br />

A casa é um símbolo de liberdade para o<br />

homem. Para o homem operário, é também<br />

símbolo de escravidão, pois ele está<br />

"condenado" a jamais usufruir do resultado<br />

do seu trabalho (a casa que faz não é para<br />

ele).<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão propõe ao participante que<br />

estabeleça uma relação entre linguagens,<br />

associando a compreensão de um efeito<br />

semântico produzido pelo uso do oxímoro<br />

nos quadrinhos com o mesmo efeito num<br />

texto poético. O índice (18%) de escolhas da<br />

alternativa D deve-se, possivelmente, a uma<br />

análise parcial da noção de paradoxo,<br />

confundida com inversão.<br />

Vêm das terras secas e escuras;<br />

pedregulhos<br />

Doloridos como fagulhas de carvão aceso<br />

Corpos disformes, uns panos sujos,<br />

Rasgados e sem cor, dependurados<br />

Homens de enorme ventre bojudo<br />

Mulheres com trouxas caídas para o lado<br />

Pançudas, carregando ao colo um garoto<br />

Choramingando, remelento<br />

(....)<br />

(Cândido Portinari. Poemas. Rio de Janeiro:<br />

J. Olympio, 1964.)<br />

Das quatro obras reproduzidas, assinale<br />

aquelas que abordam a problemática que<br />

é tema do poema.<br />

A) 1 e 2 D) 3 e 4<br />

B) 1 e 3 E) 2 e 4<br />

C) 2 e 3<br />

Comentário<br />

O poema apresenta correspondência com<br />

as imagens ao descrever com detalhes a<br />

figura do retirante: pobre, mal vestido,<br />

carregando trouxas e embrulhos.<br />

28) (2004)<br />

27) (2005) Cândido Portinari (1903-1962), um<br />

dos mais importantes artistas brasileiros<br />

do século XX, tratou de diferentes<br />

aspectos da nossa realidade em seus<br />

quadros.<br />

A polifonia, variedade de vozes, presente<br />

no poema resulta da manifestação do<br />

A) poeta e do colonizador apenas.<br />

B) colonizador e do negro apenas.<br />

C) negro e do índio apenas.<br />

D) colonizador, do poeta e do negro<br />

apenas.<br />

E) poeta, do colonizador, do índio e do<br />

negro.<br />

Sobre a temática dos “Retirantes”,<br />

Portinari também escreveu o seguinte<br />

poema:<br />

(....)<br />

Os retirantes vêm vindo com trouxas e<br />

embrulhos<br />

Comentário<br />

A questão apresenta uma certa<br />

dificuldade, pois, à primeira vista, parecem<br />

confundir-se as vozes do colonizador, do<br />

negro e do índio. Entretanto, os<br />

travessões existentes no poema explicitam<br />

as falas das personagens ao mostrar que<br />

não são apenas as vozes do poeta e do<br />

colonizador que estão presentes. As falas do<br />

índio e do negro são proferidas por eles,<br />

527


marca expressa pelo discurso direto. A<br />

presença dessa modalidade de discurso<br />

indica a reprodução literal do que as<br />

personagens disseram.<br />

Um ponto interessante em relação a essa<br />

questão é a intertextualidade. O índio<br />

aparece no poema pela remissão a um texto<br />

poético do nosso Romantismo, em um<br />

processo intertextual com “I-Juca-Pirama”, de<br />

Gonçalves Dias; e a presença do negro se dá<br />

pela ligação com Mário de Andrade, em<br />

Macunaíma. Entende-se, portanto, que a<br />

alternativa correta é a letra E.<br />

29) (2003) No ano passado, o governo<br />

promoveu uma campanha a fim de reduzir<br />

os índices de violência. Noticiando o fato,<br />

um jornal publicou a seguinte manchete:<br />

CAMPANHA CONTRA A VIOLÊNCIA DO<br />

GOVERNO DO ESTADO ENTRA EM NOVA<br />

FASE<br />

A manchete tem um duplo sentido, e isso<br />

dificulta o entendimento. Considerando o<br />

objetivo da notícia, esse problema poderia<br />

ter sido evitado com a seguinte redação:<br />

A) Campanha contra o governo do Estado<br />

e a violência entram em nova fase.<br />

B) A violência do governo do Estado entra<br />

em nova fase de Campanha.<br />

C) Campanha contra o governo do Estado<br />

entra em nova fase de violência.<br />

D) A violência da campanha do governo<br />

do Estado entra em nova fase.<br />

E) Campanha do governo do Estado<br />

contra a violência entra em nova fase.<br />

Comentário<br />

O objetivo da questão é eliminar a<br />

ambigüidade da notícia de jornal, que,<br />

originalmente, trazia duas idéias: de acordo<br />

com a primeira, o governo queria combater a<br />

violência, e a segunda ressaltava que o<br />

governo era violento. Nessa questão,<br />

era preciso eliminar a segunda possibilidade<br />

de leitura.<br />

30) (2004)<br />

Nesta tirinha, a personagem faz referência<br />

a uma das mais conhecidas figuras de<br />

linguagem para<br />

A) condenar a prática de exercícios físicos<br />

B) valorizar aspectos da vida moderna.<br />

C) desestimular o uso das bicicletas.<br />

D) caracterizar o diálogo entre as<br />

gerações.<br />

E) criticar a falta de perspectiva do pai.<br />

Comentário<br />

A construção indica a falta de perspectiva<br />

na vida do pai do personagem. “Pedalar sem<br />

sair do lugar” é uma metáfora muito usada na<br />

cultura brasileira para expressar como é a<br />

vida de uma pessoa que age de forma a não<br />

conseguir qualquer mudança — para melhor<br />

ou para pior — na vida.<br />

31) (2004) As questões de números 26 e 27<br />

referem-se ao poema abaixo.<br />

Entre os recursos expressivos<br />

empregados no texto, destaca-se a<br />

A) metalinguagem, que consiste em fazer<br />

a linguagem referir-se à própria<br />

linguagem.<br />

B) intertextualidade, na qual o texto<br />

retoma e reelabora outros textos.<br />

C) ironia, que consiste em se dizer o<br />

contrário do que se pensa, com<br />

intenção crítica.<br />

D) denotação, caracterizada pelo uso das<br />

palavras em seu sentido próprio e<br />

objetivo.<br />

E) prosopopéia, que consiste em<br />

personificar coisas inanimadas,<br />

atribuindo-lhes vida.<br />

Comentário<br />

A questão trata de um texto de Carlos<br />

Drummond de Andrade em que ele fala sobre<br />

o crescimento urbano e a pobreza que esse<br />

processo traz. Para tanto, o poeta utiliza uma<br />

linguagem irônica, revelando o lado oculto do<br />

desenvolvimento. Dessa forma, temos como<br />

correta a alternativa C.<br />

528


32) (2007) Antigamente<br />

Acontecia o indivíduo apanhar<br />

constipação; ficando perrengue, mandava<br />

o próprio chamar o doutor e, depois, ir à<br />

botica para aviar a receita, de cápsulas ou<br />

pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />

phtísica, feia era o gálico. Antigamente, os<br />

sobrados tinham assombrações, os<br />

meninos, lombrigas (...)<br />

Carlos Drummond de Andrade. Poesia completa e prosa.<br />

Rio de Janeiro: Companhia José Aguilar, p. 1.184.<br />

O texto acima está escrito em linguagem<br />

de uma época passada. Observe uma<br />

outra versão, em linguagem atual.<br />

Antigamente<br />

Acontecia o indivíduo apanhar um<br />

resfriado; ficando mal, mandava o próprio<br />

chamar o doutor e, depois, ir à farmácia<br />

para aviar a receita, de cápsulas ou<br />

pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />

tuberculose, feia era a sífilis. Antigamente,<br />

os sobrados tinham assombrações, os<br />

meninos, vermes (...)<br />

Comparando-se esses dois textos,<br />

verifica-se que, na segunda versão, houve<br />

mudanças relativas a<br />

A) vocabulário.<br />

B) construções sintáticas.<br />

C) pontuação.<br />

D) fonética.<br />

E) regência verbal.<br />

Comentário<br />

Questão fácil. O aluno deveria comparar<br />

os dois textos e verificar as alterações<br />

realizadas na segunda versão apresentada.<br />

Nesse momento, fica evidente a mudança de<br />

vocabulário, o que indica a alternativa A<br />

como a correta.<br />

33) (2001) Nas conversas diárias, utiliza-se<br />

freqüentemente a palavra “próprio” e ela<br />

se ajusta a várias situações. Leia os<br />

exemplos de diálogos:<br />

I - A Vera se veste diferente!<br />

- É mesmo, é que ela tem um estilo<br />

próprio.<br />

II - A Lena já viu esse filme uma dezena<br />

de vezes! Eu não consigo ver o<br />

que ele tem de tão maravilhoso assim.<br />

- É que ele é próprio para adolescente.<br />

III - Dora, o que eu faço? Ando tão<br />

preocupada com o Fabinho! Meu filho<br />

está impossível!<br />

- Relaxa, Tânia! É próprio da idade.<br />

Com o tempo, ele se acomoda.<br />

Nas ocorrências I, II e III, “próprio” é<br />

sinônimo de, respectivamente,<br />

A) adequado, particular, típico.<br />

B) peculiar, adequado, característico.<br />

C) conveniente, adequado, particular.<br />

D) adequado, exclusivo, conveniente.<br />

E) peculiar, exclusivo, característico.<br />

Comentário<br />

Para responder a essa pergunta,<br />

substitua, nos trechos, a palavra próprio<br />

pelos possíveis equivalentes apresentados<br />

nas alternativas. Questão simples que pode<br />

ser resolvida por eliminação.<br />

Comentário do INEP<br />

Nesta questão são apresentados três<br />

textos em que uma mesma palavra é<br />

utilizada com sentidos diferentes. O problema<br />

consiste em observar a variedade de uso de<br />

um mesmo termo e as possibilidades de sua<br />

compreensão, estabelecendo uma relação<br />

comparativa com base em uma análise<br />

semântica. Cerca de metade (49%) dos<br />

participantes estabeleceu essa relação de<br />

maneira correta. Os participantes que<br />

assinalaram a alternativa D (21%),<br />

possivelmente isolaram o termo do contexto,<br />

gerando um equívoco entre "adequado" e<br />

"exclusivo".<br />

34) (2003) Do pedacinho de papel ao livro<br />

impresso vai uma longa distância. Mas o<br />

que o escritor quer, mesmo, é isso: ver o<br />

seu texto em letra de forma. A gaveta é<br />

ótima para aplacar a fúria criativa; ela faz<br />

amadurecer o texto da mesma forma que<br />

a adega faz amadurecer o vinho. Em<br />

certos casos, a cesta de papel é melhor<br />

ainda.<br />

O período de maturação na gaveta é<br />

necessário, mas não deve se prolongar<br />

muito. ‘Textos guardados acabam<br />

cheirando mal’, disse Silvia Plath, (...) que,<br />

com esta frase, deu testemunho das<br />

dúvidas que atormentam o escritor:<br />

publicar ou não publicar? guardar ou jogar<br />

fora?<br />

(Moacyr Scliar. O escritor e seus desafios.)<br />

529


Nesse texto, o escritor Moacyr Scliar usa<br />

imagens para refletir sobre uma etapa da<br />

criação literária. A idéia de que o processo<br />

de maturação do texto nem sempre é o<br />

que garante bons resultados está sugerida<br />

na seguinte frase:<br />

A) "A gaveta é ótima para aplacar a fúria<br />

criativa."<br />

B) "Em certos casos, a cesta de papel é<br />

melhor ainda."<br />

C) "O período de maturação na gaveta é<br />

necessário, (...)."<br />

D) "Mas o que o escritor quer, mesmo, é<br />

isso: ver o seu texto em letra de forma."<br />

E) "ela (a gaveta) faz amadurecer o texto<br />

da mesma forma que a adega faz<br />

amadurecer o vinho."<br />

Comentário<br />

Essa questão exigia a interpretação das<br />

frases. A palavra NEM no enunciado exclui<br />

todas as alternativas que tratam do<br />

amadurecimento ou da importância da<br />

gaveta para o bom sucesso da produção<br />

literária.<br />

A alternativa B é a única que apresenta<br />

um procedimento alternativo para a produção<br />

textual, ou seja, o lixo, e significa a liberdade<br />

do escritor em começar,<br />

interromper, recomeçar ou simplesmente<br />

abandonar a obra, permitindo a ele exercer<br />

seu livre-arbítrio.<br />

35) (2007)<br />

Aqui na floresta<br />

Dos ventos batida,<br />

Façanhas de bravos<br />

Não geram escravos,<br />

Que estimem a vida<br />

Sem guerra e lidar.<br />

— Ouvi-me, Guerreiros,<br />

— Ouvi meu cantar.<br />

O canto do guerreiro<br />

Valente na guerra,<br />

Quem há, como eu sou?<br />

Quem vibra o tacape<br />

Com mais valentia?<br />

Quem golpes daria<br />

Fatais, como eu dou?<br />

— Guerreiros, ouvi-me;<br />

— Quem há, como eu sou?<br />

Gonçalves Dias.<br />

Macunaíma<br />

(Epílogo)<br />

Acabou-se a história e morreu a vitória.<br />

Não havia mais ninguém lá. Dera<br />

tangolomângolo na tribo Tapanhumas e<br />

os filhos dela se acabaram de um em um.<br />

Não havia mais ninguém lá. Aqueles<br />

lugares, aqueles campos, furos<br />

puxadouros arrastadouros meiosbarrancos,<br />

aqueles matos misteriosos,<br />

tudo era solidão do deserto... Um silêncio<br />

imenso dormia à beira do rio Uraricoera.<br />

Nenhum conhecido sobre a terra não<br />

sabia nem falar da tribo nem contar<br />

aqueles casos tão pançudos. Quem podia<br />

saber do Herói?<br />

Mário de Andrade.<br />

Considerando-se a linguagem desses dois<br />

textos, verifica-se que<br />

A) a função da linguagem centrada no<br />

receptor está ausente tanto no primeiro<br />

quanto no segundo texto.<br />

B) a linguagem utilizada no primeiro texto<br />

é coloquial, enquanto, no segundo,<br />

predomina a linguagem formal.<br />

C) há, em cada um dos textos, a<br />

utilização de pelo menos uma palavra<br />

de origem indígena.<br />

D) a função da linguagem, no primeiro<br />

texto, centra-se na forma de<br />

organização da linguagem e, no<br />

segundo, no relato de informações<br />

reais.<br />

E) a função da linguagem centrada na<br />

primeira pessoa, predominante no<br />

segundo texto, está ausente no<br />

primeiro.<br />

Comentário<br />

Questão de nível médio. Essa é uma<br />

questão que foca a linguagem dos textos, e<br />

cada qual em seu gênero (poesia e prosa,<br />

respectivamente). O aluno chega à<br />

conclusão que a alternativa correta é a C por<br />

meio da exclusão das demais alternativas.<br />

A resposta correta não é a A, pois há um<br />

receptor que pode ser percebido nas<br />

seguintes perguntas contidas no texto:<br />

Texto 1 – “Guerreiros, ouvi-me;/Quem há,<br />

como eu sou?”<br />

Texto 2 – “Quem podia saber do herói?”<br />

Também não é a alternativa B, pois o<br />

conteúdo dos textos não é discriminatório. No<br />

primeiro texto, há uma idealização do índio e,<br />

no segundo, há uma realidade crítica e<br />

satírica da sociedade.<br />

A alternativa D é excluída, porque o<br />

segundo texto não fala de uma realidade, já<br />

que Macunaíma é um herói fictício e nãoreal.<br />

Por fim, também está errada a alternativa<br />

E. Isso porque não temos no epílogo do texto<br />

de Macunaíma a linguagem centrada na<br />

primeira pessoa, mas sim, na terceira.<br />

36) (2003) Eu começaria dizendo que poesia<br />

é uma questão de linguagem. A<br />

importância do poeta é que ele torna mais<br />

viva a linguagem. Carlos Drummond de<br />

Andrade escreveu um dos mais belos<br />

versos da língua portuguesa com duas<br />

palavras comuns: cão e cheirando.<br />

Um cão cheirando o futuro<br />

(Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP, 24/05/1988.<br />

adaptação)<br />

530


O que deu ao verso de Drummond o<br />

caráter de inovador da língua foi<br />

A) o modo raro como foi tratado o<br />

"futuro".<br />

B) a referência ao cão como "animal de<br />

estimação".<br />

C) a flexão pouco comum do verbo<br />

"cheirar" (gerúndio).<br />

D) a aproximação não usual do agente<br />

citado e a ação de "cheirar".<br />

E) o emprego do artigo indefinido "um" e<br />

do artigo definido "o" na mesma frase.<br />

Comentário<br />

O fato de Drummond identificar o futuro<br />

como algo que pode ser percebido por um<br />

animal irracional por meio do olfato foi<br />

inovador. A figura de linguagem foi<br />

construída metaforicamente: o futuro torna-se<br />

uma coisa que tem cheiro, contrariamente à<br />

imagem pela qual ele normalmente é<br />

representado: como algo que não se vê e<br />

não se pode pressentir ou tocar.<br />

37) (2002) Só falta o Senado aprovar o<br />

projeto de lei [sobre o uso de termos<br />

estrangeiros no Brasil] para que palavras<br />

como shopping center , delivery e drivethrough<br />

sejam proibidas em nomes de<br />

estabelecimentos e marcas. Engajado<br />

nessa valorosa luta contra o inimigo<br />

ianque, que quer fazer área de livre<br />

comércio com nosso inculto e belo idioma,<br />

venho sugerir algumas outras medidas<br />

que serão de extrema importância para a<br />

preservação da soberania nacional, a<br />

saber:<br />

........<br />

Nenhum cidadão carioca ou gaúcho<br />

poderá dizer "Tu vai" em espaços públicos<br />

do território nacional;<br />

Nenhum cidadão paulista poderá dizer "Eu<br />

lhe amo" e retirar ou acrescentar o plural<br />

em sentenças como "Me vê um chopps e<br />

dois pastel";<br />

..........<br />

Nenhum dono de borracharia poderá<br />

escrever cartaz com a palavra "borraxaria"<br />

e nenhum dono de banca de jornal<br />

anunciará "Vende-se cigarros";<br />

..........<br />

Nenhum livro de gramática obrigará os<br />

alunos a utilizar colocações pronominais<br />

como "casar-me-ei" ou "ver-se-ão".<br />

PIZA, Daniel. Uma proposta imodesta. O Estado de<br />

S. Paulo, São Paulo, 8/04/2001.<br />

No texto acima, o autor:<br />

A) mostra-se favorável ao teor da<br />

proposta por entender que a língua<br />

portuguesa deve ser protegida contra<br />

deturpações de uso.<br />

B) ironiza o projeto de lei ao sugerir<br />

medidas que inibam determinados usos<br />

regionais e socioculturais da língua.<br />

C) denuncia o desconhecimento de regras<br />

elementares de concordância verbal e<br />

nominal pelo falante brasileiro.<br />

D) revela-se preconceituoso em relação a<br />

certos registros lingüísticos ao propor<br />

medidas que os controlem.<br />

E) defende o ensino rigoroso da gramática<br />

para que todos aprendam a empregar<br />

corretamente os pronomes.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. O autor ironiza o<br />

projeto de lei que proíbe o uso de<br />

estrangeirismos no Brasil. Não adianta criarse<br />

uma expectativa ou preocupação em<br />

relação ao uso de termos estrangeiros na<br />

língua e esquecer-se de que a língua é um<br />

organismo vivo, mutável. A dinâmica de uma<br />

língua não pode ser regida por preceitos<br />

legais como quer o projeto.<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão reproduz trechos de um<br />

texto que aborda o polêmico projeto de<br />

proibição de uso de termos estrangeiros no<br />

Brasil. A partir da leitura atenta do texto de<br />

Daniel Piza, o participante é levado a refletir<br />

sobre a postura adotada pelo autor em<br />

relação ao referido projeto. Para<br />

compreender esse texto, o participante<br />

precisa reconhecer o tom irônico que marca<br />

as observações e sugestões feitas por seu<br />

autor. Assim, Daniel Piza, "engajado nessa<br />

valorosa luta contra o inimigo ianque", sugere<br />

a proibição de algumas formas lingüísticas de<br />

uso corrente que contrariam recomendações<br />

da gramática normativa. O participante deve<br />

reconhecer que, com sugestões como essas,<br />

Daniel Piza deixa implícita uma crítica à<br />

utilidade do projeto de proibição dos<br />

estrangeirismos como forma de proteger a<br />

Língua Portuguesa. Nesse contexto, a ironia<br />

torna-se mais clara, bem como o mecanismo<br />

textual que a constrói. Feito tal<br />

reconhecimento, o aluno encontra a resposta<br />

correta na alternativa B, assinalada por cerca<br />

da metade dos participantes. Nenhuma outra<br />

alternativa contempla o aspecto irônico,<br />

essencial para a compreensão do texto.<br />

531


38) (2003) Pequenos tormentos da vida<br />

De cada lado da sala de aula, pelas janelas<br />

altas, o azul convida os meninos,<br />

as nuvens desenrolam-se, lentas como quem<br />

vai inventando<br />

preguiçosamente uma história sem fim...Sem<br />

fim é a aula: e nada acontece,<br />

nada...Bocejos e moscas. Se ao menos,<br />

pensa Margarida, se ao menos um<br />

avião entrasse por uma janela e saísse por<br />

outra!<br />

(Mário Quintana. Poesias)<br />

Na cena retratada no texto, o sentimento<br />

do tédio<br />

A) provoca que os meninos fiquem<br />

contando histórias.<br />

B) leva os alunos a simularem bocejos,<br />

em protesto contra a monotonia da<br />

aula.<br />

C) acaba estimulando a fantasia,<br />

criando a expectativa de algum<br />

imprevisto mágico.<br />

D) prevalece de modo absoluto,<br />

impedindo até mesmo a distração ou o<br />

exercício do pensamento.<br />

E) decorre da morosidade da aula, em<br />

contraste com o movimento acelerado<br />

das nuvens e das moscas.<br />

Comentário<br />

Essa questão aborda o imaginário<br />

decorrente do marasmo trazido pela escola. O<br />

texto enfatiza o arrastar do tempo na mente de<br />

uma aluna, Margarida, que se põe a pensar em<br />

fatos mágicos ou imaginários que pudessem<br />

romper com a lentidão da aula.<br />

39) (2005) O termo (ou expressão)<br />

destacado que está empregado em seu<br />

sentido próprio, denotativo ocorre em:<br />

A) “(....)<br />

É de laço e de nó<br />

De gibeira o jiló<br />

Dessa vida, cumprida a sol (....)”<br />

(Renato Teixeira. Romaria. Kuarup Discos.<br />

setembro de 1992.)<br />

B) “Protegendo os inocentes<br />

é que Deus, sábio demais,<br />

põe cenários diferentes<br />

nas impressões digitais.”<br />

(Maria N. S. Carvalho. Evangelho da Trova. /s.n.b.)<br />

D)<br />

E) “Humorismo é a arte de fazer cócegas<br />

no raciocínio dos outros. Há duas<br />

espécies de humorismo: o trágico e o<br />

cômico. O trágico é o que não<br />

consegue fazer rir; o cômico é o que é<br />

verdadeiramente trágico para se fazer.”<br />

(Leon Eliachar. www.mercadolivre.com.br.<br />

acessado em julho de 2005.)<br />

Comentário<br />

A definição do dicionário-padrão da língua<br />

utiliza o sentido denotativo da palavra para<br />

explicar o uso de determinado tipo de<br />

dicionário. Em todas as outras alternativas,<br />

as palavras estão sendo empregadas em<br />

sentido metafórico. Na letra A, "cumprida a<br />

sol" pode mostrar o sofrimento e a solidão.<br />

Na alternativa B, "cenários diferentes" são as<br />

diferenças físicas encontradas nas<br />

impressões digitais. Na letra D, "bateria" é o<br />

termo usado para expressar a "energia" do<br />

Menino Maluquinho, que nunca acaba. Por<br />

fim, na alternativa E, "fazer cócegas no<br />

raciocínio" significa expressar graça por meio<br />

de idéias, fazendo com que o cérebro ache<br />

um fato divertido e, por conseguinte, faça<br />

com que a pessoa ria como se sofresse um<br />

ataque de cócegas.<br />

40) (1999)<br />

532<br />

C) “O dicionário-padrão da língua e os<br />

dicionários unilíngües são os tipos mais<br />

comuns de dicionários. Em nossos<br />

dias, eles se tornaram um objeto de<br />

consumo obrigatório para as nações<br />

civilizadas e desenvolvidas.”<br />

(Maria T. Camargo Biderman.<br />

O dicionário-padrão da língua. Alfa (28), 2743, 1974 Supl.)


Diante da visão de um prédio com uma<br />

placa indicando SAPATARIA PAPALIA,<br />

um jovem deparou com a dúvida: como<br />

pronunciar a palavra PAPALIA?<br />

Levado o problema à sala de aula, a<br />

discussão girou em torno da utilidade de<br />

conhecer as regras de acentuação e,<br />

especialmente, do auxílio que elas podem<br />

dar à correta pronúncia de palavras.<br />

Após discutirem pronúncia, regras de<br />

acentuação e escrita, três alunos<br />

apresentaram as seguintes conclusões a<br />

respeito da palavra PAPALIA:<br />

IV. Se a sílaba tônica for o segundo PA, a<br />

escrita deveria ser PAPÁLIA, pois a<br />

palavra seria paroxítona terminada em<br />

ditongo crescente.<br />

V. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />

deveria ser PAPALÍA, pois "i" e "a"<br />

estariam formando hiato.<br />

VI. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />

deveria ser PAPALIA, pois não haveria<br />

razão para o uso de acento gráfico.<br />

A conclusão está correta apenas em:<br />

A) III D) I<br />

B) I e II E) II<br />

C) I e III<br />

Comentário<br />

Essa questão exige bom conhecimento<br />

das regras de acentuação. A alternativa A diz<br />

que apenas a afirmação I é verdadeira. De<br />

fato ela é, mas não é a única. Nela, temos a<br />

hipótese de a palavra ser grafada como se a<br />

sílaba forte fosse a penúltima — papália —,<br />

justificando seu acento gráfico. Vejamos o<br />

que dizem as regras de acentuação.<br />

Acentuam-se as palavras paroxítonas<br />

terminadas em: i, is, us, um, uns, l, n, r, x,<br />

ps, ã, ãs, ão, ãos, ditongos orais,<br />

crescentes ou decrescentes, seguidos ou<br />

não de S. Isso valida, portanto, a afirmação I.<br />

A afirmação II pressupõe que a sílaba<br />

tônica seja LI, em hiato com A: no caso de<br />

essa ser a tonicidade da palavra, a sílaba LI<br />

não poderia ser acentuada, pois I, mesmo<br />

sendo a tônica do hiato, não é a última vogal,<br />

portanto, essa afirmativa é falsa.<br />

A afirmação III considera que a sílaba<br />

tônica é LI, não havendo acento por ser o I a<br />

primeira vogal do hiato. Portanto, essa<br />

afirmação é verdadeira.<br />

Concluindo, temos como verdadeiras as<br />

afirmações I e III. Então, a alternativa E é a<br />

correta. Questão de nível difícil.<br />

Comentário do INEP<br />

Dentre os participantes, somente pouco<br />

mais de um terço (35%) demonstrou possuir<br />

a habilidade para identificar as regras de<br />

acentuação corretas, enunciadas na questão.<br />

Chama a atenção o fato de que 73% dos<br />

participantes (alternativas A, D e E)<br />

reconheceram corretamente, pelo menos, a<br />

regra contida no item I, sendo que cerca de<br />

40% desses, contudo, tiveram dificuldades<br />

em analisar as regras II e III.<br />

Em se tratando de palavra não-usual, é,<br />

sobretudo, o domínio do conhecimento das<br />

regras e não a possível pronúncia correta,<br />

pelo uso, o que parece ter sido revelado.<br />

41) (2008)<br />

Exame, 28/9/2007.<br />

Entre os seguintes ditos populares, qual<br />

deles melhor corresponde à figura<br />

acima?<br />

A) Com perseverança, tudo se alcança.<br />

B) Cada macaco no seu galho.<br />

C) Nem tudo que balança cai.<br />

D) Quem tudo quer, tudo perde.<br />

E) Deus ajuda quem cedo madruga.<br />

Comentário<br />

Assim como a questão 37, esta também<br />

envolve interpretação de signos, ou seja, o<br />

aluno precisa estar atento à imagem e<br />

relacioná-la ao dito popular correspondente.<br />

A alternativa "A" é a correta, pois, para<br />

uma lesma “grudenta” e vagarosa conseguir<br />

pular numa cama elástica, é necessária<br />

muita perseverança.<br />

42) (2002) A crônica muitas vezes constitui<br />

um espaço para reflexão sobre aspectos<br />

da sociedade em que vivemos.<br />

"Eu, na rua, com pressa, e o menino<br />

segurou no meu braço, falou qualquer<br />

coisa que não entendi. Fui logo dizendo<br />

que não tinha, certa de que ele estava<br />

pedindo dinheiro. Não estava. Queria<br />

saber a hora.<br />

533


Talvez não fosse um Menino De<br />

Família, mas também não era um Menino<br />

De Rua. É assim que a gente divide.<br />

Menino De Família é aquele bem-vestido<br />

com tênis da moda e camiseta de marca,<br />

que usa relógio e a mãe dá outro se o<br />

dele for roubado por um Menino De Rua.<br />

Menino De Rua é aquele que quando a<br />

gente passa perto segura a bolsa com<br />

força porque pensa que ele é pivete,<br />

trombadinha, ladrão. (...) Na verdade não<br />

existem meninos De rua.<br />

Existem meninos NA rua. E toda vez<br />

que um menino está NA rua é porque<br />

alguém o botou lá. Os meninos não vão<br />

sozinhos aos lugares. Assim como são<br />

postos no mundo, durante muitos anos<br />

também são postos onde quer que<br />

estejam. Resta ver quem os põe na rua. E<br />

por quê."<br />

COLASSANTI, Marina. In: Eu sei, mas não devia. Rio de<br />

Janeiro: Rocco, 1999.<br />

No terceiro parágrafo em "... não existem<br />

meninos De rua. Existem meninos NA<br />

rua.", a troca de De pelo Na determina<br />

que a relação de sentido entre "menino" e<br />

"rua" seja<br />

A) de localização e não de qualidade.<br />

B) de origem e não de posse.<br />

C) de origem e não de localização.<br />

D) de qualidade e não de origem.<br />

E) de posse e não de localização.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. Apesar de não<br />

haver um terceiro parágrafo neste texto, a<br />

troca das preposições ao final do SEGUNDO<br />

parágrafo indica claramente que não há um<br />

menino DE (proveniente de) rua, mas um<br />

menino que está NA (foi levado à) rua.<br />

Portanto, a relação é unicamente de<br />

localização (onde ele está) e não de<br />

qualidade (o que ele é).<br />

Comentário do INEP<br />

A reprodução de um trecho de uma<br />

crônica de Marina Colassanti tematiza uma<br />

importante questão social brasileira: a<br />

presença de milhões de crianças nas ruas do<br />

País. A autora, ao tratar desse problema,<br />

vale-se de recursos lingüísticos específicos.<br />

O objetivo desta questão é justamente<br />

chamar a atenção do participante leitor para<br />

esses recursos e os efeitos de sentido que<br />

eles desencadeiam no texto. Na raiz da<br />

questão destaca-se a troca de "De" por "NA"<br />

e pede-se que se determine qual relação de<br />

sentido essa substituição estabelece entre os<br />

termos "menino" e "rua". Analisar a relação,<br />

nesse caso, significa perguntar-se sobre o<br />

sentido de dois sintagmas criados no texto:<br />

"meninos NA rua" por oposição a "meninos<br />

De rua". O que a autora pretende negar, com<br />

a troca do termo de relação, é a possibilidade<br />

de que existam meninos de rua diferentes de<br />

outros meninos, que não têm na rua a sua<br />

origem. O destaque para a preposição na<br />

nos leva a refletir que a relação dos meninos<br />

com a rua é de localização: eles estão ali por<br />

alguma razão, não porque essa seja a sua<br />

qualificação. Essa reflexão levaria o aluno a<br />

escolher, como correta, a resposta<br />

apresentada na alternativa A, assinalada por<br />

cerca de metade dos participantes.<br />

43) (2000) O uso do pronome átono no início<br />

das frases é destacado por um poeta e<br />

por um gramático nos textos abaixo.<br />

Pronominais<br />

Dê-me um cigarro<br />

Diz a gramática<br />

Do professor e do aluno<br />

E do mulato sabido<br />

Mas o bom negro e o bom branco<br />

da Nação Brasileira<br />

Dizem todos os dias<br />

Deixa disso camarada<br />

Me dá um cigarro<br />

(ANDRADE, Oswald de. Seleção de textos.<br />

São Paulo: Nova Cultural, 1988)<br />

“Iniciar a frase com pronome átono só<br />

é lícito na conversação familiar,<br />

despreocupada, ou na língua escrita<br />

quando se deseja reproduzir a fala dos<br />

personagens (...).”<br />

(CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da<br />

língua portuguesa.<br />

São Paulo: Nacional, 1980)<br />

Comparando a explicação dada pelos<br />

autores sobre essa regra, pode-se afirmar<br />

que ambos:<br />

A) condenam essa regra gramatical.<br />

B) acreditam que apenas os esclarecidos<br />

sabem essa regra.<br />

C) criticam a presença de regras na<br />

gramática.<br />

D) afirmam que não há regras para uso de<br />

pronomes.<br />

E) relativizam essa regra gramatical.<br />

534


Comentário<br />

Questão que requer conhecimento básico<br />

de colocação pronominal, em relação ao uso<br />

de pronomes átonos no início de frases, uma<br />

regra muito pouco respeitada pelo brasileiro,<br />

da qual Oswald de Andrade faz questão de<br />

falar em seu poema. Porém, a questão pode<br />

ser resolvida simplesmente por meio de uma<br />

leitura bem atenta dos textos. Se formos<br />

analisando alternativa por alternativa, a<br />

eliminação é clara e lógica: a alternativa a<br />

fica totalmente descartada devido à<br />

transparência da colocação dos dois autores<br />

(Me dá um cigarro...) e (iniciar frases com o<br />

pronome átono é "lícito" na conversação<br />

familiar ou despreocupada). Já a alternativa b<br />

pode até mesmo gerar um pouco de dúvida a<br />

quem não se atém bem à pergunta. Quanto<br />

às alternativas c e d, ficam descartadas, pois,<br />

em momento nenhum, os autores criticaram<br />

o uso de regras gramaticais em seus textos,<br />

cabendo perfeitamente a alternativa e para<br />

as afirmações do gramático e do poeta.<br />

Comentário do INEP<br />

Essa questão pretendia verificar como o<br />

participante analisa um fato lingüístico,<br />

mediante a comparação da descrição desse<br />

fato em dois textos. Sabe-se que,<br />

normalmente em situação escolar, o uso do<br />

pronome átono no início da frase é julgado<br />

como grave desvio gramatical, e pouco se<br />

analisa esse uso na fala ou escrita informal.<br />

Os dois autores dos textos, com intenções<br />

diferentes, relativizam essa regra gramatical,<br />

destacando e descrevendo o seu uso<br />

coloquial. A maioria dos participantes (52%)<br />

analisou e comparou corretamente as<br />

posições dos autores sobre o uso do<br />

pronome átono, e 24% deles reafirmaram a<br />

posição discriminatória da regra, deslocandoa<br />

de seu uso.<br />

Auto-retrato de orelha cortada<br />

O 3º quadrinho sugere que Garfield:<br />

A) desconhece tudo sobre arte, por isso<br />

faz a sugestão.<br />

B) acredita que todo pintor deve fazer algo<br />

diferente.<br />

C) defende que para ser pintor a pessoa<br />

tem de sofrer.<br />

D) conhece a história de um pintor<br />

famoso e faz uso da ironia.<br />

E) acredita que seu dono tenha tendência<br />

artística e, por isso, faz a sugestão.<br />

Comentário<br />

Outra questão de interpretação de texto.<br />

Muito simples para quem um dia ouviu falar<br />

de Van Gogh, e simplíssima para aqueles<br />

que prestam atenção em todos os elementos<br />

do enunciado. Afinal, quem deu uma<br />

espiadinha na legenda do quadro de Van<br />

Gogh matou na hora a questão.<br />

Esta questão é daquelas rápidas de serem<br />

resolvidas, associando-se os elementos<br />

apresentados.<br />

Comentário do INEP<br />

A significativa maioria (81%) dos<br />

participantes soube perceber o caráter<br />

irônico da fala do Garfield, expressa no<br />

terceiro quadrinho porque, ou conheciam a<br />

história de Van Gogh, ou apropriaram-se<br />

corretamente da informação sobre esse<br />

pintor, fornecida no enunciado.<br />

45) (2004)<br />

44) (2000) As histórias em quadrinhos, por<br />

vezes, utilizam animais como<br />

personagens e a eles atribuem<br />

comportamento humano. O gato Garfield<br />

é exemplo desse fato.<br />

Fonte: Caderno Vida e Arte, Jornal do Povo, Fortaleza<br />

Van Gogh, pintor holandês nascido em<br />

1853, é um dos principais nomes da<br />

pintura mundial. É dele o quadro abaixo.<br />

A tira "Hagar" e o poema de Alberto<br />

Caeiro (um dos heterônimos de Fernando<br />

Pessoa) expressam, com linguagens<br />

diferentes, uma mesma idéia: a de que a<br />

compreensão que temos do mundo é<br />

condicionada, essencialmente,<br />

535


536<br />

A) pelo alcance de cada cultura.<br />

B) pela capacidade visual do observador.<br />

C) pelo senso de humor de cada um.<br />

D) pela idade do observador.<br />

E) pela altura do ponto de observação.<br />

Comentário<br />

Questão reflexiva sobre a forma como<br />

cada cultura vê o mundo sob a ótica dos<br />

limites dados pelos seus costumes e<br />

possibilidades de pensamento inerentes a<br />

cada modelo cultural. A mistura de uma tira e<br />

de um poema amplia a possibilidade de<br />

pensamento por trabalhar com linguagens<br />

diferentes. A alternativa correta é a letra A,<br />

pois ambos (tira e poema) utilizam figuras de<br />

linguagem (metáfora e ironia) para expressar<br />

as diferentes visões de mundo.<br />

46) (2003)<br />

O humor presente na tirinha decorre<br />

principalmente do fato de a personagem<br />

Mafalda<br />

A) atribuir, no primeiro quadrinho, poder<br />

ilimitado ao dedo indicador.<br />

B) considerar seu dedo indicador tão<br />

importante quanto o dos patrões.<br />

C) atribuir, no primeiro e no último<br />

quadrinhos, um mesmo sentido ao<br />

vocábulo "indicador".<br />

D) usar corretamente a expressão<br />

"indicador de desemprego", mesmo<br />

sendo criança.<br />

E) atribuir, no último quadrinho, fama<br />

exagerada ao dedo indicador dos<br />

patrões.<br />

Comentário<br />

A questão pede a interpretação de uma<br />

charge da personagem Mafalda, em que ela<br />

faz referência a seu dedo indicador, que é<br />

usado como substantivo primitivo e que<br />

possibilita a analogia com “indicador de<br />

desemprego”. Dessa forma, ela ironiza os<br />

indicadores sociais. Na charge, porém, não<br />

há menção explícita aos índices<br />

“indicadores”, permanecendo o raciocínio<br />

preso apenas ao dedo indicador. Assim, ela<br />

utiliza, tanto no primeiro quanto no último<br />

quadrinho, a palavra “indicador” como<br />

referência ao dedo, não dando abertura a<br />

outro tipo de interpretação.<br />

47) (2009)<br />

XAVIER, C. Quadrinho quadrado. Disponível em:<br />

http://www.releituras.com. Acesso em: 5 jul. 2009.<br />

Quanto às variantes linguísticas presentes<br />

no texto, a norma padrão da língua<br />

portuguesa é rigorosamente obedecida<br />

por meio<br />

A) do emprego do pronome demonstrativo<br />

"esse" em "Por que o senhor publicou<br />

esse livro?".<br />

B) do emprego do pronome pessoal<br />

oblíquo em "Meu filho, um escritor<br />

publica um livro para parar de escrevêlo!".<br />

C) do emprego do pronome possessivo<br />

"sua" em "Qual foi sua maior<br />

motivação?".<br />

D) do emprego do vocativo "Meu filho",<br />

que confere à fala distanciamento do<br />

interlocutor.<br />

E) da necessária repetição do conectivo<br />

no último quadrinho.<br />

Comentário<br />

(QUESTÃO: AZUL <strong>10</strong>1, BRANCA <strong>10</strong>2,<br />

ROSA <strong>10</strong>1)<br />

A alternativa B é a única que está de<br />

acordo com a norma-padrão, pois apresenta<br />

a função do pronome pessoal oblíquo de<br />

retomar um termo já mencionado<br />

anteriormente pelo emissor da mensagem,<br />

nesse caso, “livro”.<br />

48) (2009) Quando eu falo com vocês,<br />

procuro usar o código de vocês. A figura<br />

do índio no Brasil de hoje não pode ser<br />

aquela de 500 anos atrás, do passado,<br />

que representa aquele primeiro contato.<br />

Da mesma forma que o Brasil de hoje não<br />

é o Brasil de ontem, tem 160 milhões de<br />

pessoas com diferentes sobrenomes.


Vieram para cá asiáticos, europeus,<br />

africanos, e todo mundo quer ser<br />

brasileiro. A importante pergunta que nós<br />

fazemos é: qual é o pedaço de índio que<br />

vocês têm? O seu cabelo? São seus<br />

olhos? Ou é o nome da sua rua? O nome<br />

da sua praça? Enfim, vocês devem ter um<br />

pedaço de índio dentro de vocês. Para<br />

nós, o importante é que vocês olhem para<br />

a gente como seres humanos, como<br />

pessoas que nem precisam de<br />

paternalismos, nem precisam ser tratadas<br />

com privilégios. Nós não queremos tomar<br />

o Brasil de vocês, nós queremos<br />

compartilhar esse Brasil com vocês.<br />

TERENA, M. Debate. MORIN, E. Saberes globais e<br />

saberes locais.<br />

Rio de Janeiro: Garamond, 2000 (adaptado).<br />

Os procedimentos argumentativos<br />

utilizados no texto permitem inferir que o<br />

ouvinte/leitor, no qual o emissor foca o<br />

seu discurso, pertence<br />

A) ao mesmo grupo social do<br />

falante/autor.<br />

B) a um grupo de brasileiros<br />

considerados como não índios.<br />

C) a um grupo étnico que representa a<br />

maioria europeia que vive no país.<br />

D) a um grupo formado por estrangeiros<br />

que falam português.<br />

E) a um grupo sociocultural formado por<br />

brasileiros naturalizados e imigrantes.<br />

Comentário<br />

(QUESTÃO: AZUL 121, BRANCA 122,<br />

ROSA 122)<br />

As passagens: "Quando falo com vocês,<br />

procuro usar o código de vocês" e "Nós não<br />

queremos tomar o Brasil de vocês...", deixa<br />

claro que o emissor e o leitor fazem parte de<br />

grupos distintos. Como o texto remete-se à<br />

figura do índio, a alternativa correta é a letra<br />

B.<br />

49) (2009)<br />

Veja, 7 maio 1997.<br />

Na parte superior do anúncio, há um<br />

comentário escrito à mão que aborda a<br />

questão das atividades linguísticas e sua<br />

relação com as modalidades oral e escrita<br />

da língua. Esse comentário deixa evidente<br />

uma posição crítica quanto a usos que se<br />

fazem da linguagem, enfatizando ser<br />

necessário<br />

A) implementar a fala, tendo em vista<br />

maior desenvoltura, naturalidade e<br />

segurança no uso da língua.<br />

B) conhecer gêneros mais formais da<br />

modalidade oral para a obtenção de<br />

clareza na comunicação oral e escrita.<br />

C) dominar as diferentes variedades do<br />

registro oral da língua portuguesa para<br />

escrever com adequação, eficiência e<br />

correção.<br />

D) empregar vocabulário adequado e<br />

usar regras da norma padrão da língua<br />

em se tratando da modalidade escrita.<br />

E) utilizar recursos mais expressivos e<br />

menos desgastados da variedade<br />

padrão da língua para se expressar<br />

com alguma segurança e sucesso.<br />

Comentário<br />

(QUESTÃO: AZUL 125, BRANCA 125,<br />

ROSA 125)<br />

Essa é uma questão bastante fácil. Para<br />

resolvê-la, o candidato deve, com base<br />

no comentário escrito à mão, entender o<br />

porquê de ser apresentada uma posição<br />

crítica ao uso da linguagem coloquial na<br />

escrita.<br />

Dessa forma, a alternativa correta é a<br />

D, que enfatiza serem necessários o<br />

conhecimento e a utilização da norma padrão<br />

e de um vocabulário adequado na escrita.<br />

COMPETÊNCIA DE ÁREA 9<br />

H28 - Reconhecer a função e o<br />

impacto social das<br />

diferentes tecnologias da<br />

comunicação e informação<br />

01) (1999) Leia o texto abaixo.<br />

Cabelos longos, brinco na orelha<br />

esquerda, físico de skatista. Na aparência,<br />

o estudante brasiliense Rui Lopes Viana<br />

Filho, de 16 anos, não lembra em nada o<br />

estereótipo dos gênios. Ele não usa<br />

pesados óculos de grau e está longe de<br />

ter um ar introspectivo. No final do mês<br />

passado, Rui retornou de Taiwan, onde<br />

enfrentou 419 competidores de todo o<br />

537


538<br />

mundo na 39ª Olimpíada Internacional de<br />

Matemática. A reluzente medalha de ouro<br />

que ele trouxe na bagagem está<br />

dependurada sobre a cama de seu quarto,<br />

atulhado de rascunhos dos problemas<br />

matemáticos que aprendeu a decifrar nos<br />

últimos cinco anos.<br />

Veja – Vencer uma olimpíada serve de<br />

passaporte para uma carreira profissional<br />

meteórica?<br />

Rui – Nada disso. Decidi me dedicar à<br />

Olimpíada porque sei que a concorrência<br />

por um emprego é cada vez mais<br />

selvagem e cruel. Agora tenho algo a mais<br />

para oferecer. O problema é que as coisas<br />

estão mudando muito rápido e não sei<br />

qual será minha profissão. Além de ser<br />

muito novo para decidir sobre o meu<br />

futuro profissional, sei que esse conceito<br />

de carreira mudou muito.<br />

(Entrevista de Rui Lopes Viana Filho à Veja,<br />

05/08/1998, n.31, p. 9-<strong>10</strong>)<br />

Na pergunta, o repórter estabelece uma<br />

relação entre a entrada do estudante no<br />

mercado de trabalho e a vitória na<br />

Olimpíada. O estudante<br />

A) concorda com a relação e afirma que o<br />

desempenho na Olimpíada é<br />

fundamental para sua entrada no<br />

mercado.<br />

B) discorda da relação e complementa<br />

que é fácil se fazer previsões sobre o<br />

mercado de trabalho.<br />

C) discorda da relação e afirma que seu<br />

futuro profissional independe de<br />

dedicação aos estudos.<br />

D) discorda da relação e afirma que seu<br />

desempenho só é relevante se<br />

escolher uma profissão relacionada à<br />

matemática.<br />

E) concorda em parte com a relação e<br />

complementa que é complexo fazer<br />

previsões sobre o mercado de trabalho.<br />

Comentário<br />

Não é difícil de se chegar à resposta<br />

correta ao se ler a reportagem. Ao final do<br />

último parágrafo — (...) Além de ser muito<br />

novo para decidir sobre o meu futuro<br />

profissional, sei que esse conceito de carreira<br />

mudou muito. —, o estudante praticamente<br />

fornece a resposta à questão, declarando-se<br />

realista ao não tentar prever seu futuro<br />

profissional devido à pouca idade e às<br />

mudanças no mercado de trabalho. Quanto a<br />

concordar parcialmente com o repórter, veja<br />

que ele, apesar de negar que o prêmio fosse<br />

uma garantia de sucesso profissional, logo<br />

depois afirma que, com ele, terá algo mais a<br />

oferecer ao mercado. Questão de nível fácil.<br />

Comentário do INEP<br />

Nesta situação-problema, o participante<br />

deveria demonstrar que compreendeu as<br />

premissas de um discurso, distinguindo a<br />

diferença de significado de palavras isoladas<br />

ou no contexto em que estão inseridas.<br />

Verificou-se que mais da metade dos<br />

participantes demonstrou possuir essa<br />

compreensão. Aqueles que optaram pelas<br />

alternativas C e D podem ter sido atraídos<br />

pelo significado negativo da expressão inicial<br />

"Nada disso".<br />

02) (1998) Texto 1<br />

"Mulher, Irmã, escuta-me: não ames,<br />

Quando a teus pés um homem terno e<br />

curvo<br />

jurar amor, chorar pranto de sangue,<br />

Não creias, não, mulher: ele te engana!<br />

As lágrimas são gotas da mentira<br />

E o juramento manto da perfídia."<br />

(Joaquim Manoel de Macedo)<br />

Texto 2<br />

"Teresa, se algum sujeito bancar o<br />

sentimental em cima de você<br />

E te jurar uma paixão do tamanho de um<br />

bonde<br />

Se ele chorar<br />

Se ele ajoelhar<br />

Se ele se rasgar todo<br />

Não acredite não Teresa<br />

É lágrima de cinema<br />

É tapeação<br />

Mentira<br />

CAI FORA"<br />

(Manuel Bandeira)<br />

Os autores, ao fazerem alusão às<br />

imagens da lágrima sugerem que:<br />

A) há um tratamento idealizado da<br />

relação homem/mulher.<br />

B) há um tratamento realista da relação<br />

homem/mulher.<br />

C) a relação familiar é idealizada.<br />

D) a mulher é superior ao homem.<br />

E) a mulher é igual ao homem.<br />

Comentário<br />

Ambos os autores, ao utilizarem a<br />

imagem da lágrima, estão na realidade<br />

mostrando que a figura do homem que é<br />

romântico a ponto de chorar ao jurar amor<br />

não existe. Tanto Macedo quanto<br />

Bandeira alertam as mulheres dizendo,<br />

com palavras e estilos diferentes, que não


há homem que chore por amor (portanto,<br />

essa figura é uma idealização — e, por<br />

conseguinte, toda imagem que se tem<br />

sobre os relacionamentos<br />

demasiadamente românticos). Note que<br />

Bandeira chega até mesmo a chamar tal<br />

"chorão" de ator ("...É lágrima de cinema /<br />

É tapeação..."). Macedo dá uma imagem<br />

pesada às lágrimas ("...são gotas da<br />

mentira...").<br />

03) (1999) Considere os textos abaixo.<br />

(...) de modo particular, quero encorajar os<br />

crentes empenhados no campo da<br />

filosofia para que iluminem os diversos<br />

âmbitos da atividade humana, graças ao<br />

exercício de uma razão que se torna mais<br />

segura e perspicaz com o apoio que<br />

recebe da fé.<br />

(Papa João Paulo II. Carta Encíclica Fides<br />

et Ratio aos bispos da igreja católica sobre as relações<br />

entre fé e razão, 1998)<br />

As verdades da razão natural não<br />

contradizem as verdades da fé cristã.<br />

(São Tomás de Aquino<br />

–pensador medieval)<br />

Refletindo sobre os textos, pode-se<br />

concluir que:<br />

A) a encíclica papal está em contradição<br />

com o pensamento de São Tomás de<br />

Aquino, refletindo a diferença de<br />

épocas.<br />

B) a encíclica papal procura<br />

complementar São Tomás de Aquino,<br />

pois este colocava a razão natural<br />

acima da fé.<br />

C) a Igreja medieval valorizava a razão<br />

mais do que a encíclica de João Paulo<br />

II.<br />

D) o pensamento teológico teve sua<br />

importância na Idade Média, mas, em<br />

nossos dias, não tem relação com o<br />

pensamento filosófico.<br />

E) tanto a encíclica papal como a frase<br />

de São Tomás de Aquino procuram<br />

conciliar os pensamentos sobre fé e<br />

razão.<br />

Comentário<br />

Nessa questão, é necessária uma<br />

releitura do texto para que se tenha uma<br />

melhor compreensão do tema. Tanto a<br />

citação do Papa quanto a de São Tomás de<br />

Aquino tentam criar uma interdependência<br />

entre a ciência e a fé, a religião. O Papa<br />

incentiva aqueles que exercem a pesquisa<br />

científica ou filosófica a manter a fé cristã.<br />

São Tomás de Aquino, por sua vez, equipara<br />

o avanço da ciência ao aumento da própria<br />

fé, afirmando que a razão natural não<br />

contradiz a fé cristã. Se um cresce, cresce<br />

também o outro, em harmonia e sem<br />

contradições. Questão de grau médio.<br />

(Português)<br />

Nessa questão, encontramos dois textos:<br />

o primeiro, do século XX, foi elaborado pelo<br />

Papa João Paulo II; o segundo, do século<br />

XIII, pelo teólogo e filósofo cristão São<br />

Tomás de Aquino. O conteúdo de ambos se<br />

refere à ligação entre fé e razão, a qual<br />

esteve presente na filosofia escolástica da<br />

Idade Média. Esse campo de reflexão buscou<br />

conciliar o cristianismo com o pensamento de<br />

Aristóteles e teve em São Tomás de Aquino<br />

seu maior representante.<br />

Mesmo sem ter todas essas informações,<br />

você poderia responder tranqüilamente à<br />

questão por meio de uma leitura atenta dos<br />

dois textos, chegando à conclusão de que<br />

"tanto a encíclica papal como a frase de São<br />

Tomás de Aquino procuram conciliar os<br />

pensamentos sobre fé e razão". Resposta<br />

correta: alternativa E. (História)<br />

Comentário do INEP<br />

Para resolver esta situação-problema, o<br />

participante deveria mostrar que, além de<br />

interpretar textos, sabe relacioná-los sendo<br />

que, nesse item, essas operações referem-se<br />

a um texto escrito na época medieval e a<br />

outro escrito recentemente.<br />

Mais de 70% dos participantes<br />

demonstraram facilidade em estabelecer esta<br />

relação.<br />

04) (1999) Leia um texto publicado no jornal<br />

Gazeta Mercantil. Esse texto é parte de<br />

um artigo que analisa algumas situações<br />

de crise no mundo, entre elas, a quebra<br />

da Bolsa de Nova Iorque em 1929, e foi<br />

publicado na época de uma iminente crise<br />

financeira no Brasil.<br />

Deu no que deu. No dia 29 de outubro de<br />

1929, uma terça-feira, praticamente não<br />

havia compradores no pregão de Nova<br />

Iorque, só vendedores. Seguiu-se uma<br />

crise incomparável: o Produto Interno<br />

Bruto dos Estados Unidos caiu de <strong>10</strong>4<br />

bilhões de dólares em 1929, para 56<br />

bilhões em 1933, coisa inimaginável em<br />

nossos dias. O valor do dólar caiu a quase<br />

metade. O desemprego elevou-se de 1,5<br />

milhão para 12,5 milhões de trabalhadores<br />

– cerca de 25% da população ativa –<br />

entre 1929 e 1933. A construção civil caiu<br />

539


90%. Nove milhões de aplicações, tipo<br />

caderneta de poupança, perderam-se com<br />

o fechamento dos bancos. Oitenta e cinco<br />

mil firmas faliram. Houve saques e norteamericanos<br />

que passaram fome.<br />

(Gazeta Mercantil, 05/01/1999)<br />

Ao citar dados referentes à crise ocorrida<br />

em 1929, em um artigo jornalístico atual,<br />

pode-se atribuir ao jornalista a seguinte<br />

intenção:<br />

A) questionar a interpretação da crise.<br />

B) comunicar sobre o desemprego.<br />

C) instruir o leitor sobre aplicações em<br />

bolsa de valores.<br />

D) relacionar os fatos passados e<br />

presentes.<br />

E) analisar dados financeiros americanos.<br />

Comentário<br />

Nessa questão, o que se tem de fazer é<br />

prestar atenção às alternativas das<br />

respostas. Nenhuma delas se apresenta tão<br />

bem contextualizada a uma possível<br />

interpretação quanto a letra D. Partindo-se da<br />

análise do texto, fica claro que a intenção do<br />

artigo é remeter o leitor ao passado para<br />

tentar conduzi-lo a uma reflexão sobre uma<br />

situação presente, não mencionada na<br />

questão. Após a leitura e utilizando-se a já<br />

citada eliminação de questões, torna-se clara<br />

a resposta. Questão de nível médio.<br />

(Português)<br />

Muitas vezes, quando procuramos<br />

entender uma crise econômica ou financeira<br />

de grandes proporções, buscamos<br />

estabelecer relações com crises passadas. O<br />

mesmo ocorre no jornalismo, como prova o<br />

texto encontrado nessa questão. Buscando<br />

entender uma crise ocorrida no início de<br />

1999, o jornalista da Gazeta Mercantil<br />

buscou relacionar a situação dessa época<br />

com a grande crise de 1929 que afetou o<br />

mundo, trazendo desemprego e recessão,<br />

entre tantos outros problemas econômicos e<br />

sociais.<br />

Para responder a essa questão, era<br />

necessário ler atentamente o enunciado, em<br />

que está destacado que "o texto é parte de<br />

um artigo que analisa algumas situações de<br />

crise no mundo" e "foi publicado na época de<br />

uma iminente crise financeira no Brasil". Era<br />

importante também observar a data em que o<br />

artigo foi publicado: 05/01/1999. A partir<br />

dessas constatações, facilmente você<br />

chegaria a conclusão de que a intenção do<br />

jornalista era "relacionar os fatos passados e<br />

presentes". Resposta correta: alternativa D.<br />

(História)<br />

Comentário do INEP<br />

A resolução da questão demandava a<br />

capacidade dos participantes de relacionar<br />

eventos históricos envolvendo crises<br />

econômicas ocorridas em épocas e lugares<br />

distintos. Aproximadamente 2/3 deles<br />

demonstraram essa capacidade. Os demais,<br />

provavelmente, não compreenderam a<br />

exigência expressa no enunciado do<br />

problema – apontar as razões pelas quais um<br />

jornalista traz à tona eventos ocorridos<br />

setenta anos antes –, e apenas interpretaram<br />

o sentido do texto citado, que descreve a<br />

crise mundial de 1929.<br />

05) (2002) O autor da tira utilizou os<br />

princípios de composição de um<br />

conhecido movimento artístico para<br />

representar a necessidade de um mesmo<br />

observador aprender a considerar,<br />

simultaneamente, diferentes pontos de<br />

vista.<br />

Das obras reproduzidas, todas de autoria<br />

do pintor espanhol Pablo Picasso, aquela<br />

em cuja composição foi adotado um<br />

procedimento semelhante é:<br />

A)<br />

B)<br />

540


C)<br />

D)<br />

tinha como procedimento de composição<br />

representar, para um mesmo observador,<br />

diferentes pontos de vista, fazendo com que<br />

"o tradicional único ponto de vista" fosse<br />

abandonado e com que a perspectiva fosse<br />

fraturada. A análise das obras de Picasso<br />

reproduzidas nas alternativas permite que o<br />

participante reconheça a adoção desse<br />

procedimento no quadro "Marie-Thérèse<br />

apoiada no cotovelo" (alternativa E, com 46%<br />

de registros), no qual se pode reconhecer a<br />

representação de diferentes pontos de vista<br />

a partir dos quais é apresentado o rosto da<br />

mulher retratada.<br />

E)<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. O movimento<br />

artístico que previa considerar<br />

simultaneamente diversos pontos de vista<br />

era o Cubismo. Havia a desconstrução da<br />

forma para que se pudesse ver todos os<br />

ângulos concomitantemente. O único quadro<br />

que apresenta essas características é o da<br />

alternativa E. As outras quatro alternativas<br />

pressupõem a manutenção da forma.<br />

Comentário do INEP<br />

O objetivo desta questão é levar o<br />

participante a refletir sobre características<br />

fundamentais de um movimento artístico – o<br />

cubismo – a partir de dados visuais:<br />

quadrinhos e pinturas. A reprodução de dois<br />

quadrinhos da personagem Calvin forneceu<br />

para o participante informações básicas para<br />

a análise que deveria fazer das alternativas<br />

apresentadas. Segundo os quadrinhos, o<br />

movimento artístico abordado pela questão<br />

06) (2002) "A palavra tatuagem é<br />

relativamente recente. Toda a gente sabe<br />

que foi o navegador Cook que a introduziu<br />

no Ocidente, e esse escrevia tattou, termo<br />

da Polinésia de tatou ou tu tahou,<br />

'desenho'.<br />

(...) Desde os mais remotos tempos,<br />

vemo-la a transformar-se: distintivo<br />

honorífico entre uns homens, ferrete de<br />

ignomínia entre outros, meio de assustar o<br />

adversário para os bretões, marca de uma<br />

classe de selvagens das ilhas marquesas<br />

(...) sinal de amor, de desprezo, de ódio<br />

(...). Há três casos de tatuagem no Rio,<br />

completamente diversos na sua<br />

significação moral: os negros,os turcos<br />

com o fundo religioso e o bando de<br />

meretrizes, dos rufiões e dos humildes,<br />

que se marcam por crime ou por<br />

ociosidade".<br />

RIO, João do. Os Tatuadores. Revista Kosmos.<br />

1904, apud: A alma encantadora das ruas,<br />

SP: Cia das Letras, 1999.<br />

Com base no texto são feitas as seguintes<br />

afirmações:<br />

I. João do Rio revela como a tatuagem já<br />

estava presente na cidade do Rio de<br />

Janeiro, pelo menos desde o início do<br />

século XX, e era mais utilizada por<br />

alguns setores da população.<br />

II. A tatuagem, de origem polinésia,<br />

difundiu-se no ocidente com a<br />

característica que permanece até hoje:<br />

utilização entre os jovens com função<br />

estritamente estética.<br />

III. O texto mostra como a tatuagem é<br />

uma prática que se transforma no<br />

tempo e que alcança inúmeros sentidos<br />

nos diversos setores das sociedades e<br />

para as diferentes culturas.<br />

541


Está correto o que se afirma apenas em<br />

A) I D) I e II<br />

B) II E) I e III<br />

C) III<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. Constata-se o<br />

seguinte: a tatuagem já existia no Brasil no<br />

início do século XX (o texto é de 1904 e parte<br />

dele se refere ao Rio do Janeiro) e era<br />

utilizada em diferentes setores da sociedade.<br />

A afirmação de que as tatuagens possuem<br />

apenas finalidade estética entre os jovens<br />

elimina a segunda alternativa. Já a última<br />

alternativa confirma as transformações das<br />

funções da tatuagem ao longo do tempo nas<br />

mais diversas sociedades e culturas.<br />

Comentário do INEP<br />

O texto estabelece uma relação entre a<br />

atualidade da palavra "tatuagem" e a<br />

antiguidade do uso de desenhos como<br />

pintura corporal. Focaliza uma prática social<br />

bastante difundida que adquiriu aspectos e<br />

conotações diversos nos diferentes contextos<br />

históricos e geográficos em que ela pode ser<br />

descrita. Fazendo a descrição da prática da<br />

tatuagem, como uma manifestação comum a<br />

diferentes culturas, e que adquire, inclusive,<br />

significados diferentes dentro de uma mesma<br />

cultura, induz o participante a refletir sobre a<br />

"diversidade dos patrimônios etnoculturais e<br />

artísticos", contextualizando ao mesmo<br />

tempo seus significados "em diferentes<br />

sociedades, épocas e lugares". Ao retomar<br />

as várias origens e usos da tatuagem, o<br />

participante é levado a compreender e<br />

respeitar uma gramática histórica dos<br />

costumes marcada sempre por semelhanças<br />

e diferenças. A questão não exigia, portanto,<br />

nenhum conhecimento prévio sobre as<br />

diferentes formas de manifestação dessa<br />

prática, mas simplesmente constatar, com o<br />

autor do texto citado, a historicidade e a<br />

diversidade das práticas sociais. Os<br />

participantes que assinalaram a alternativa C<br />

(36%), possivelmente, não levaram em<br />

consideração informações do texto. A<br />

questão foi corretamente respondida por 37%<br />

dos participantes.<br />

07) (2000) O autor do texto abaixo critica,<br />

ainda que em linguagem metafórica, a<br />

sociedade contemporânea em relação aos<br />

seus hábitos alimentares.<br />

“Vocês que têm mais de 15 anos, se<br />

lembram quando a gente comprava leite<br />

em garrafa, na leiteria da esquina? (...)<br />

542<br />

Mas vocês não se lembram de nada,<br />

pô! Vai ver nem sabem o que é vaca. Nem<br />

o que é leite. Estou falando isso porque<br />

agora mesmo peguei um pacote de leite –<br />

leite em pacote, imagina, Tereza! – na<br />

porta dos fundos e estava escrito que é<br />

pasterizado, ou pasteurizado, sei lá, tem<br />

vitamina, é garantido pela<br />

embromatologia, foi enriquecido e o<br />

escambau. Será que isso é mesmo leite?<br />

No dicionário diz que leite é outra coisa:<br />

‘Líquido branco, contendo água,<br />

proteína, açúcar e sais minerais’. Um<br />

alimento pra ninguém botar defeito. O ser<br />

humano o usa há mais de 5.000 anos. É o<br />

único alimento só alimento. A carne serve<br />

pro animal andar, a fruta serve pra fazer<br />

outra fruta, o ovo serve pra fazer outra<br />

galinha (...) O leite é só leite. Ou toma ou<br />

bota fora. Esse aqui examinando bem, é<br />

só pra botar fora. Tem chumbo, tem<br />

benzina, tem mais água do que leite, tem<br />

serragem, sou capaz de jurar que nem<br />

vaca tem por trás desse negócio. Depois o<br />

pessoal ainda acha estranho que os<br />

meninos não gostem de leite.<br />

Mas, como não gostam? Não gostam<br />

como? Nunca tomaram! Múúúúúúú!”<br />

(FERNANDES, Millôr. O Estado de S. Paulo ,<br />

22 de agosto de 1999)<br />

A palavra embromatologia usada pelo<br />

autor é:<br />

A) um termo científico que significa estudo<br />

dos bromatos.<br />

B) uma composição do termo de gíria<br />

“embromação” (enganação) com<br />

bromatologia, que é o estudo dos<br />

alimentos.<br />

C) uma junção do termo de gíria<br />

“embromação” (enganação) com<br />

lactologia, que é o estudo das<br />

embalagens para leite.<br />

D) um neologismo da química orgânica<br />

que significa a técnica de retirar<br />

bromatos dos laticínios.<br />

E) uma corruptela de termo da<br />

agropecuária que significa a ordenha<br />

mecânica.<br />

Comentário<br />

É necessário para a resolução desta<br />

questão:<br />

- perceber que o texto critica o exagerado<br />

uso de substâncias artificiais nos<br />

alimentos;<br />

- conhecer o significado da gíria embromar e<br />

da palavra bromatologia.


Conhecendo esses significados, você<br />

elimina todas as alternativas erradas: a, c, d<br />

e e.<br />

Você poderá ter dúvida quanto à<br />

alternativa c, que também será eliminada se<br />

souber o significado da palavra lactologia,<br />

que é o estudo do leite e produtos lácteos e<br />

não das embalagens para leite.<br />

Nesta questão, são trabalhados os<br />

conceitos de interpretação de texto, formação<br />

de palavras e conhecimentos gerais.<br />

Comentário do INEP<br />

A resolução da questão requeria que o<br />

participante, ao ler o texto vinculasse o<br />

significado de um termo de gíria -<br />

"embromação" - com o da palavra<br />

bromatologia. A resposta correta exigia que o<br />

participante não abrisse mão do sabor<br />

picante contido na linguagem metafórica,<br />

sabor vinculado ao conhecimento específico<br />

contido na palavra bromatologia. Cerca da<br />

metade dos participantes (51%) optou pela<br />

alternativa correta e, os 20% que escolheram<br />

a alternativa C, provavelmente associaram a<br />

referência feita no texto à leite em pacote.<br />

C)<br />

D)<br />

E)<br />

08) (2008) Os signos visuais, como meios de<br />

comunicação, são classificados em<br />

categorias de acordo com seus<br />

significados.<br />

A categoria denominada indício<br />

corresponde aos signos visuais que têm<br />

origem em formas ou situações naturais<br />

ou casuais, as quais, devido à ocorrência<br />

em circunstâncias idênticas, muitas vezes<br />

repetidas, indicam algo e adquirem<br />

significado. Por exemplo, nuvens negras<br />

indicam tempestade. Com base nesse<br />

conceito, escolha a opção que representa<br />

um signo da categoria dos indícios.<br />

A)<br />

Comentário<br />

Trata-se de uma questão interpretativa. O<br />

aluno precisa entender o que é “indício” para<br />

respondê-la. Segundo o dicionário Aurélio,<br />

indício é o mesmo que “sinal, vestígio,<br />

indicação”. Das figuras apresentadas,<br />

apenas a alternativa B indica algo: a<br />

passagem de alguém por algum lugar —<br />

pegada.<br />

09) (2002)<br />

B)<br />

De acordo com a história em quadrinhos<br />

protagonizada por Hagar e seu filho<br />

Hamlet, pode-se afirmar que a postura de<br />

Hagar<br />

A) valoriza a existência da diversidade<br />

social e de culturas, e as várias<br />

representações e explicações desse<br />

universo.<br />

543


B) desvaloriza a existência da<br />

diversidade social e as várias culturas,<br />

e determina uma única explicação para<br />

esse universo.<br />

C) valoriza a possibilidade de explicar as<br />

sociedades e as culturas a partir de<br />

várias visões de mundo.<br />

D) valoriza a pluralidade cultural e social<br />

ao aproximar a visão de mundo de<br />

navegantes e não-navegantes.<br />

E) desvaloriza a pluralidade cultural e<br />

social, ao considerar o mundo habitado<br />

apenas pelos navegantes.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. Hagar reduz o<br />

mundo a dois tipos de pessoas: navegantes<br />

e não-navegantes. No último quadrinho, diz<br />

que são os navegantes que estabelecem<br />

esses dois grupos. Portanto, quem é<br />

diferente dos navegantes (que estabelecem<br />

o padrão) simplesmente é incluído na massa<br />

única dos não-navegantes. Não importa<br />

quem ou quantos sejam, sua diversidade<br />

social ou cultural em relação aos navegantes<br />

ou entre si. Vemos aí a desvalorização de<br />

outras culturas.<br />

Comentário do INEP<br />

Dentre as habilidades básicas para a<br />

compreensão de um texto destaca-se a<br />

capacidade do leitor de identificar os<br />

pressupostos de cada afirmação que lhe é<br />

apresentada. Nesta questão o participante<br />

deve identificar a posição tanto de Hagar<br />

como de seu filho Hamlet e, em seguida,<br />

avaliar quais os argumentos que justificam a<br />

opinião de Hagar ao definir que no mundo só<br />

existem dois tipos de pessoas. A pergunta de<br />

Hamlet a seu pai explicita a importância do<br />

ato de narrar através do diálogo e do efeito<br />

humorístico contido no episódio representado<br />

na tira. O resultado da compreensão<br />

acertada do diálogo é que o narrador torna<br />

inteligível, para si e para os outros, a lógica<br />

do seu pensamento através do diálogo entre<br />

os dois personagens. É importante observar<br />

que o humor do personagem Hagar é<br />

identificado na postura simetricamente<br />

oposta à de Michel de Montaigne, por<br />

exemplo (ver questão 58): a sua visão de<br />

mundo apresenta-se autocentrada, isto é,<br />

centrada nos seus próprios valores (vikings).<br />

A habilidade requerida do participante nessa<br />

questão, qual seja, "valorizar a diversidade<br />

dos patrimônios etnoculturais", é mobilizada<br />

aqui na sua dimensão negativa: é criticando<br />

a postura chauvinista de Hagar que o<br />

participante é capaz de responder<br />

544<br />

corretamente a questão. A última alternativa<br />

(E) funciona como um distrator, pois neste<br />

caso não está suposta a crítica do discurso<br />

do personagem. Cerca de um terço dos<br />

participantes assinalou a alternativa correta<br />

B. As demais opções são devidas,<br />

possivelmente, a uma leitura pouco<br />

compreensiva das alternativas associadas a<br />

história em quadrinhos.<br />

<strong>10</strong>) (2009) A partir da metade do século XX,<br />

ocorreu um conjunto de transformações<br />

econômicas e sociais cuja dimensão é<br />

difícil de ser mensurada: a chamada<br />

explosão da informação. Embora essa<br />

expressão tenha surgido no contexto da<br />

informação científica e tecnológica, seu<br />

significado, hoje, em um contexto mais<br />

geral, atinge proporções gigantescas.<br />

Por estabelecerem novas formas de<br />

pensamento e mesmo de lógica, a<br />

informática e a lnternet vêm gerando<br />

impactos sociais e culturais importantes. A<br />

disseminação do microcomputador e a<br />

expansão da lnternet vêm acelerando o<br />

processo de globalização tanto no sentido<br />

do mercado quanto no sentido das trocas<br />

simbólicas possíveis entre sociedades e<br />

culturas diferentes, o que tem provocado e<br />

acelerado o fenômeno de hibridização<br />

amplamente caracterizado como próprio<br />

da pós-modernidade.<br />

FERNANDES, M. F.; PARÁ, T. A contribuição das<br />

novas tecnologias da informação na geração de<br />

conhecimento. Disponível em: http://www.coep.ufrj.br.<br />

Acesso em: 11 ago. 2009 (adaptado).<br />

Considerando-se o novo contexto social e<br />

econômico aludido no texto apresentado,<br />

as novas tecnologias de informação e<br />

comunicação<br />

A) desempenham importante papel,<br />

porque sem elas não seria possível<br />

registrar os acontecimentos históricos.<br />

B) facilitam os processos educacionais<br />

para ensino de tecnologia, mas não<br />

exercem influência nas ciências<br />

humanas.<br />

C) limitam-se a dar suporte aos meios de<br />

comunicação, facilitando sobretudo os<br />

trabalhos jornalísticos.<br />

D) contribuem para o desenvolvimento<br />

social, pois permitem o registro e a<br />

disseminação do conhecimento de<br />

forma mais democrática e interativa.<br />

E) estão em estágio experimental,<br />

particularmente na educação, área em<br />

que ainda não demonstraram potencial<br />

produtivo.


Comentário<br />

(QUESTÃO: AZUL <strong>10</strong>6, BRANCA <strong>10</strong>6,<br />

ROSA <strong>10</strong>8)<br />

Para resolver essa questão, o aluno<br />

deveria responder sobre o papel das novas<br />

tecnologias no novo contexto social e<br />

econômico.<br />

A resposta correta é a alternativa D, que<br />

aponta que a sua função é contribuir para o<br />

desenvolvimento social, pois ajudam a<br />

democratizar e a disseminar o conhecimento<br />

de maneira interativa.<br />

11) (2009) O “Portal Domínio Público”,<br />

lançado em novembro de 2004, propõe o<br />

compartilhamento de conhecimentos de<br />

forma equânime e gratuita, colocando à<br />

disposição de todos os usuários da<br />

lnternet, uma biblioteca virtual que deverá<br />

constituir referência para professores,<br />

alunos, pesquisadores e para a população<br />

em geral.<br />

Esse portal constitui um ambiente virtual<br />

que permite a coleta, a integração, a<br />

preservação e o compartilhamento de<br />

conhecimentos, sendo seu principal<br />

objetivo o de promover o amplo acesso ás<br />

obras literárias, artísticas e científicas (na<br />

forma de textos, sons, imagens e vídeos),<br />

já em domínio público ou que tenham a<br />

sua divulgação devidamente autorizada.<br />

BRASIL. Ministério da Educação. Disponível em:<br />

http:/www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 29 jul.<br />

2009 (adaptado).<br />

Considerando a função social das<br />

informações geradas nos sistemas de<br />

comunicação e informação, o ambiente<br />

virtual descrito no texto exemplifica<br />

A) a dependência das escolas públicas<br />

quanto ao uso de sistemas de<br />

informação.<br />

B) a ampliação do grau de interação entre<br />

as pessoas, a partir de tecnologia<br />

convencional.<br />

C) a democratização da informação, por<br />

meio da disponibilização de conteúdo<br />

cultural e científico à sociedade.<br />

D) a comercialização do acesso a<br />

diversas produções culturais nacionais<br />

e estrangeiras via tecnologia da<br />

informação e da comunicação.<br />

E) a produção de repertório cultural<br />

direcionado a acadêmicos e<br />

educadores.<br />

Comentário<br />

(QUESTÃO: AZUL 1<strong>10</strong>, BRANCA 1<strong>10</strong>,<br />

ROSA 1<strong>10</strong>)<br />

O texto informativo sobre o "Portal<br />

Domínio Público" apresenta que seu objetivo<br />

é disponibilizar "obras literárias, artísticas<br />

e científicas que sejam de domínio público ou<br />

que tenham a sua divulgação devidamente<br />

autorizada" a qualquer pessoa que deseje<br />

acessá-las.<br />

Portanto, a resposta certa é a alternativa<br />

C, que afirma ser o objetivo do portal<br />

democratizar a informação à sociedade.<br />

H29 - Identificar pela análise de<br />

suas linguagens, as<br />

tecnologias da comunicação<br />

e informação<br />

01) (2001) O mundo é grande<br />

O mundo é grande e cabe<br />

Nesta janela sobre o mar.<br />

O mar é grande e cabe<br />

Na cama e no colchão de amar.<br />

O amor é grande e cabe<br />

No breve espaço de beijar.<br />

ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e prosa.<br />

Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983.<br />

Neste poema, o poeta realizou uma opção<br />

estilística: a reiteração de determinadas<br />

construções e expressões lingüísticas,<br />

como o uso da mesma conjunção para<br />

estabelecer a relação entre as frases.<br />

Essa conjunção estabelece, entre as<br />

idéias relacionadas, um sentido de<br />

A) oposição.<br />

B) comparação.<br />

C) conclusão.<br />

D) alternância.<br />

E) finalidade.<br />

Comentário<br />

Há três elementos repetidos neste trecho:<br />

o verbo ser, o artigo definido o e a conjunção<br />

aditiva e. A conjunção e estabelece uma<br />

relação entre idéias que, concretamente, são<br />

opostas (ex.: "O mundo é grande e cabe<br />

nesta janela sobre o mar"). A alternativa<br />

correta é a letra A.<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão apresenta, para leitura e<br />

análise, o poema "O mundo é grande", onde<br />

os recursos lingüísticos expressivos<br />

utilizados geram um efeito de oposição entre<br />

as idéias. A análise sintático-semântica é<br />

necessária para a compreensão do valor de<br />

545


oposição assumido pela conjunção "e":<br />

imagens justapostas estão relacionadas,<br />

contrapondo-se em planos diferentes. Um<br />

percentual significativo (46%) de<br />

participantes considerou que o valor da<br />

conjunção "e", nesse poema, é de<br />

comparação, o que não reflete o sentido<br />

estilístico proposto pelo poeta, mas<br />

corresponde apenas à primeira operação que<br />

se realiza para estabelecer o sentido de<br />

oposição. De maneira análoga, pode-se<br />

analisar os equívocos daqueles que optaram<br />

pelas alternativas C e D.<br />

02) (1999) SONETO DE FIDELIDADE<br />

De tudo, ao meu amor serei atento<br />

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto<br />

Que mesmo em face do maior encanto<br />

Dele se encante mais meu pensamento.<br />

Quero vivê-lo em cada vão momento<br />

E em seu louvor hei de espalhar meu<br />

canto<br />

E rir meu riso e derramar meu pranto<br />

Ao seu pesar ou seu contentamento.<br />

E assim, quando mais tarde me procure<br />

Quem sabe a morte, angústia de quem<br />

vive<br />

Quem sabe a solidão, fim de quem ama.<br />

Eu possa dizer do meu amor (que tive):<br />

Que não seja imortal, posto que é chama<br />

Mas que seja infinito enquanto dure.<br />

(MORAES, Vinícius de. Antologia poética. São Paulo: Cia<br />

das Letras, 1992).<br />

A palavra mesmo pode assumir diferentes<br />

significados, de acordo com a sua função<br />

na frase. Assinale a alternativa em que o<br />

sentido de mesmo equivale ao que se<br />

verifica no 3º verso da 1ª estrofe do<br />

poema de Vinícius de Moraes.<br />

A) "Pai, para onde fores, / irei também<br />

trilhando as mesmas ruas..." (Augusto<br />

dos Anjos)<br />

B) "Agora, como outrora, há aqui o<br />

mesmo contraste da vida interior, que<br />

é modesta, com a exterior, que é<br />

ruidosa." (Machado de Assis)<br />

C) "Havia o mal, profundo e persistente,<br />

para o qual o remédio não surtiu efeito,<br />

mesmo em doses variáveis."<br />

(Raimundo Faoro)<br />

D) "Mas, olhe cá, Mana Glória, há<br />

mesmo necessidade de fazê-lo<br />

padre?" (Machado de Assis)<br />

E) "Vamos de qualquer maneira, mas<br />

vamos mesmo." (Aurélio)<br />

Comentário<br />

Nessa questão, uma pequena análise<br />

sintática se faz necessária: mesmo, em<br />

ambos os casos, é conjunção subordinativa<br />

concessiva, introduzindo, portanto, uma<br />

oração subordinada cujo fato expresso é<br />

contrário ao da oração principal. Deve-se,<br />

então, recorrer à oração anterior para se ter<br />

certeza quanto à classificação. Grau<br />

moderado de dificuldade.<br />

Comentário do INEP<br />

Este problema buscou colocar o<br />

participante diante de uma situação que<br />

exigia a mobilização de seus mecanismos de<br />

reflexão sobre os processos lingüísticos em<br />

que um significante (uma palavra) assume<br />

diferentes significados, no enunciado, de<br />

acordo com a intenção do enunciador. Neste<br />

caso, além da compreensão da<br />

transformação de significado, é necessária a<br />

alteração de função morfossintática.<br />

Verifica-se que 62% dos participantes<br />

conseguiram identificar e analisar esse<br />

processo lingüístico, comparando a função<br />

do significante em diferentes enunciados.<br />

Isso demonstrou um domínio parcial da<br />

reflexão sobre a Língua Portuguesa, em<br />

diferentes contextos e textos.<br />

Os 18% dos participantes que<br />

assinalaram a alternativa B identificaram a<br />

diferença de significados mas,<br />

provavelmente, têm dificuldades em analisar<br />

estas mudanças em nível morfossintático<br />

(alternativa B).<br />

03) ( 2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />

poema.<br />

A DANÇA E A ALMA<br />

A DANÇA? Não é movimento,<br />

súbito gesto musical.<br />

É concentração, num momento,<br />

da humana graça natural.<br />

No solo não, no éter pairamos,<br />

nele amaríamos ficar.<br />

A dança – não vento nos ramos:<br />

seiva, força, perene estar.<br />

Um estar entre céu e chão,<br />

novo domínio conquistado,<br />

onde busque nossa paixão<br />

libertar-se por todo lado...<br />

Onde a alma possa descrever<br />

suas mais divinas parábolas<br />

sem fugir à forma do ser,<br />

por sobre o mistério das fábulas.<br />

(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />

Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />

546


A definição de dança, em linguagem de<br />

dicionário, que mais se aproxima do que<br />

está expresso no poema é<br />

A) a mais antiga das artes, servindo como<br />

elemento de comunicação e afirmação<br />

do homem em todos os momentos de<br />

sua existência.<br />

B) a forma de expressão corporal que<br />

ultrapassa os limites físicos,<br />

possibilitando ao homem a liberação de<br />

seu espírito.<br />

C) a manifestação do ser humano,<br />

formada por uma seqüência de gestos,<br />

passos e movimentos desconcertados.<br />

D) o conjunto organizado de movimentos<br />

do corpo, com ritmo determinado por<br />

instrumentos musicais, ruídos, cantos,<br />

emoções etc.<br />

E) o movimento diretamente ligado ao<br />

psiquismo do indivíduo e, por<br />

conseqüência, ao seu desenvolvimento<br />

intelectual e à sua cultura.<br />

Comentário<br />

A pergunta busca a aplicação do conceito<br />

de "estado de dicionário" (que também foi<br />

desenvolvido por Drummond no poema "A<br />

Procura da Poesia"). A literatura busca partir<br />

de palavras em estado de dicionário para,<br />

pelo aprofundamento do sentido delas, criar<br />

um mundo mais denso e particular. Em<br />

estado de dicionário, a dança, conforme é<br />

tratada nesse poema, apareceria na<br />

alternativa B: uma justaposição entre<br />

aspectos físicos e espirituais da expressão<br />

humana. Questão complexa.<br />

O poema “A Dança e a Alma” é construído<br />

com base em contrastes, como<br />

“movimento” e “concentração”. Em uma<br />

das estrofes, o termo que estabelece<br />

contraste com solo é:<br />

A) éter. D) paixão.<br />

B) seiva. E) ser.<br />

C) chão.<br />

Comentário<br />

O elemento que contrasta com "solo"<br />

(físico, tangível, perene) é "éter" (espiritual,<br />

intangível, volátil). Questão de nível médio de<br />

dificuldade.<br />

05) ( 2008) O surgimento da figura da Ema<br />

no céu, ao leste, no anoitecer, na segunda<br />

quinzena de junho, indica o início do<br />

inverno para os índios do sul do Brasil e o<br />

começo da estação seca para os do norte.<br />

É limitada pelas constelações de<br />

Escorpião e do Cruzeiro do Sul, ou<br />

Cut'uxu. Segundo o mito guarani, o<br />

Cut’uxu segura a cabeça da ave para<br />

garantir a vida na Terra, porque, se ela se<br />

soltar, beberá toda a água do nosso<br />

planeta. Os tupisguaranis utilizam o<br />

Cut'uxu para se orientar e determinar a<br />

duração das noites e as estações do ano.<br />

A ilustração a seguir é uma representação<br />

dos corpos celestes que constituem a<br />

constelação da Ema, na percepção<br />

indígena.<br />

04) (2005) As questões 1 e 2 referem-se ao<br />

poema.<br />

A DANÇA E A ALMA<br />

A DANÇA? Não é movimento,<br />

súbito gesto musical.<br />

É concentração, num momento,<br />

da humana graça natural.<br />

No solo não, no éter pairamos,<br />

nele amaríamos ficar.<br />

A dança – não vento nos ramos:<br />

seiva, força, perene estar.<br />

Um estar entre céu e chão,<br />

novo domínio conquistado,<br />

onde busque nossa paixão<br />

libertar-se por todo lado...<br />

Onde a alma possa descrever<br />

suas mais divinas parábolas<br />

sem fugir à forma do ser,<br />

por sobre o mistério das fábulas.<br />

(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. Rio de<br />

Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.)<br />

Almanaque BRASIL, maio/2007 (com adaptações).<br />

A próxima figura mostra, em campo de<br />

visão ampliado, como povos de culturas<br />

não-indígenas percebem o espaço estelar<br />

em que a Ema é vista.<br />

Internet: (com adaptações).<br />

547


Assinale a opção correta a respeito da<br />

linguagem empregada no texto A Ema.<br />

A) A palavra Cut’uxu é um regionalismo<br />

utilizado pelas populações próximas às<br />

aldeias indígenas.<br />

B) O autor se expressa em linguagem<br />

formal em todos os períodos do texto.<br />

C) A ausência da palavra Ema no início do<br />

período “É limitada (...)” caracteriza<br />

registro oral.<br />

D) A palavra Cut’uxu está destacada em<br />

itálico porque integra o vocabulário da<br />

linguagem informal.<br />

E) No texto, predomina a linguagem<br />

coloquial porque ele consta de um<br />

almanaque.<br />

Comentário<br />

A questão é simples, mas requer cuidados<br />

quanto aos conceitos de linguagem<br />

“informal”, “formal” e de “língua”. Se o aluno<br />

tiver noção desses conceitos,<br />

chegará facilmente à resposta. A linguagem<br />

formal ou culta prevalece no texto, e o termo<br />

“Cut’uxu’ não é um termo informal, mas, sim,<br />

uma expressão que pertence a uma língua<br />

indígena — o que justifica o emprego da<br />

palavra em itálico. A resposta correta é,<br />

portanto, a letra "B".<br />

B) um dos problemas que os pecuaristas<br />

vêm enfrentando na Amazônia é a<br />

proibição do plantio de soja.<br />

C) a mobilização de máquinas e de força<br />

humana torna o desmatamento mais<br />

caro que o aumento da produtividade<br />

de pastagens.<br />

D) o superavit comercial decorrente da<br />

exportação de carne produzida na<br />

Amazônia compensa a possível<br />

degradação ambiental.<br />

E) a recuperação de áreas desmatadas<br />

e o aumento de produtividade das<br />

pastagens podem contribuir para a<br />

redução do desmatamento na<br />

Amazônia.<br />

Comentário do portal<br />

Essa questão retrata o problema do<br />

desmatamento da Amazônia, relacionado<br />

principalmente com o desenvolvimento da<br />

pecuária na região. Para resolvê-la, foram<br />

necessários a leitura atenta do texto e o<br />

conhecimento sobre os problemas<br />

ambientais da atualidade. A alternativa<br />

correta é a letra E, pois é mais caro para os<br />

pecuaristas aumentar a produtividade do que<br />

as áreas de pasto, o que acarreta o aumento<br />

do desmatamento da Amazônia.<br />

06) (2008) Calcula-se que 78% do<br />

desmatamento na Amazônia tenha sido<br />

motivado pela pecuária — cerca de 35%<br />

do rebanho nacional está na região — e<br />

que pelo menos 50 milhões de hectares<br />

de pastos são pouco produtivos. Enquanto<br />

o custo médio para aumentar a<br />

produtividade de 1 hectare de pastagem é<br />

de 2 mil reais, o custo para derrubar igual<br />

área de floresta é estimado em 800 reais,<br />

o que estimula novos desmatamentos.<br />

Adicionalmente, madeireiras retiram as<br />

árvores de valor comercial que foram<br />

abatidas para a criação de pastagens. Os<br />

pecuaristas sabem que problemas<br />

ambientais como esses podem provocar<br />

restrições à pecuária nessas áreas, a<br />

exemplo do que ocorreu em 2006 com o<br />

plantio da soja, o qual, posteriormente, foi<br />

proibido em áreas de floresta.<br />

Época, 3/3/2008 e 9/6/2008 (com adaptações).<br />

548<br />

A partir da situação-problema descrita,<br />

conclui-se que<br />

A) o desmatamento na Amazônia decorre<br />

principalmente da exploração ilegal de<br />

árvores de valor comercial.<br />

07) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />

preciso, além de conhecer o padrão<br />

formal da Língua Portuguesa, saber<br />

adequar o uso da linguagem ao contexto<br />

discursivo. Para exemplificar este fato,<br />

seu professor de Língua Portuguesa<br />

convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />

Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />

brinca com situações de discurso oral que<br />

fogem à expectativa do ouvinte.<br />

Aí, Galera<br />

Jogadores de futebol podem ser<br />

vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />

você pode imaginar um jogador de futebol<br />

dizendo "estereotipação"? E, no<br />

entanto, por que não?<br />

- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />

galera.<br />

- Minha saudação aos aficionados do<br />

clube e aos demais esportistas, aqui<br />

presentes ou no recesso dos seus lares.<br />

- Como é?<br />

- Aí, galera.<br />

- Quais são as instruções do técnico?<br />

- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />

trabalho de contenção coordenada, com<br />

energia otimizada, na zona de


preparação, aumentam as<br />

probabilidades de, recuperado o<br />

esférico, concatenarmos um contragolpe<br />

agudo com parcimônia de meios e<br />

extrema objetividade, valendo-nos da<br />

desestruturação momentânea do<br />

sistema oposto, surpreendido pela<br />

reversão inesperada do fluxo da ação:<br />

- Ahn?<br />

- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />

pegá eles sem calça.<br />

- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />

coisa?<br />

- Posso dirigir uma mensagem de<br />

caráter sentimental, algo banal, talvez<br />

mesmo previsível e piegas, a uma<br />

pessoa à qual sou ligado por razões,<br />

inclusive, genéticas?<br />

- Pode.<br />

- Uma saudação para a minha<br />

progenitora.<br />

- Como é?<br />

- Alô, mamãe!<br />

- Estou vendo que você é um, um...<br />

- Um jogador que confunde o<br />

entrevistador, pois não corresponde à<br />

expectativa de que o atleta seja um ser<br />

algo primitivo com dificuldade de<br />

expressão e assim sabota a<br />

estereotipação?<br />

- Estereoquê?<br />

- Um chato?<br />

- Isso.<br />

Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />

O texto retrata duas situações<br />

relacionadas que fogem à expectativa do<br />

público. São elas:<br />

A) a saudação do jogador aos fãs do<br />

clube, no início da entrevista, e a<br />

saudação final dirigida à sua mãe.<br />

B) a linguagem muito formal do jogador,<br />

inadequada à situação da entrevista, e<br />

um jogador que fala, com desenvoltura,<br />

de modo muito rebuscado.<br />

C) o uso da expressão "galera", por parte<br />

do entrevistador, e da expressão<br />

"progenitora", por parte do jogador.<br />

D) o desconhecimento, por parte do<br />

entrevistador, da palavra<br />

"estereotipação", e a fala do jogador<br />

em "é pra dividir no meio e ir pra cima<br />

pra pegá eles sem calça".<br />

E) o fato de os jogadores de futebol serem<br />

vítimas de estereotipação e o jogador<br />

entrevistado não corresponder ao<br />

estereótipo.<br />

Comentário<br />

Quando pensamos em certas profissões,<br />

imaginamos qual seria o padrão de<br />

comportamento de quem as exerce. O texto<br />

está trabalhando uma divergência entre o<br />

que esperamos de um jogador de futebol (o<br />

estereótipo que temos dele) e um jogador<br />

que não se enquadra em nossas<br />

expectativas. Levando isso em consideração,<br />

as duas coisas que destoam do que<br />

esperamos encontrar nessa situação são: 1)<br />

alguém, ao dar uma entrevista de alto<br />

alcance popular, fala de maneira<br />

extremamente rebuscada; 2) um jogador que,<br />

ao falar de maneira rebuscada, acaba por<br />

fugir do estereótipo do jogador de futebol, de<br />

quem sempre é esperado algo menos<br />

rebuscado e mais popular.<br />

08) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />

preciso, além de conhecer o padrão<br />

formal da Língua Portuguesa, saber<br />

adequar o uso da linguagem ao contexto<br />

discursivo. Para exemplificar este fato,<br />

seu professor de Língua Portuguesa<br />

convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />

Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />

brinca com situações de discurso oral que<br />

fogem à expectativa do ouvinte.<br />

Aí, Galera<br />

Jogadores de futebol podem ser<br />

vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />

você pode imaginar um jogador de futebol<br />

dizendo "estereotipação"? E, no<br />

entanto, por que não?<br />

- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />

galera.<br />

- Minha saudação aos aficionados do<br />

clube e aos demais esportistas, aqui<br />

presentes ou no recesso dos seus lares.<br />

- Como é?<br />

- Aí, galera.<br />

- Quais são as instruções do técnico?<br />

- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />

trabalho de contenção coordenada, com<br />

energia otimizada, na zona de<br />

preparação, aumentam as<br />

probabilidades de, recuperado o<br />

esférico, concatenarmos um contragolpe<br />

agudo com parcimônia de meios e<br />

extrema objetividade, valendo-nos da<br />

desestruturação momentânea do<br />

sistema oposto, surpreendido pela<br />

reversão inesperada do fluxo da ação:<br />

- Ahn?<br />

- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />

pegá eles sem calça.<br />

549


- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />

coisa?<br />

- Posso dirigir uma mensagem de<br />

caráter sentimental, algo banal, talvez<br />

mesmo previsível e piegas, a uma<br />

pessoa à qual sou ligado por razões,<br />

inclusive, genéticas?<br />

- Pode.<br />

- Uma saudação para a minha<br />

progenitora.<br />

- Como é?<br />

- Alô, mamãe!<br />

- Estou vendo que você é um, um...<br />

- Um jogador que confunde o<br />

entrevistador, pois não corresponde à<br />

expectativa de que o atleta seja um ser<br />

algo primitivo com dificuldade de<br />

expressão e assim sabota a<br />

estereotipação?<br />

- Estereoquê?<br />

- Um chato?<br />

- Isso.<br />

Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />

O texto mostra uma situação em que a<br />

linguagem usada é inadequada ao<br />

contexto. Considerando as diferenças<br />

entre língua oral e língua escrita, assinale<br />

a opção que representa também uma<br />

inadequação da linguagem usada ao<br />

contexto:<br />

A) "o carro bateu e capotô, mas num deu<br />

pra vê direito" - um pedestre que<br />

assistiu ao acidente comenta com o<br />

outro que vai passando.<br />

B) "E aí, ô meu! Como vai essa força?" -<br />

um jovem que fala para um amigo.<br />

C) "Só um instante, por favor. Eu<br />

gostaria de fazer uma observação" -<br />

alguém comenta em uma reunião de<br />

trabalho.<br />

D) "Venho manifestar meu interesse em<br />

candidatar-me ao cargo de Secretária<br />

Executiva desta conceituada empresa"<br />

- alguém que escreve uma carta<br />

candidatando-se a um emprego.<br />

E) "Porque se a gente não resolve as<br />

coisas como têm que ser, a gente corre<br />

o risco de termos, num futuro próximo,<br />

muito pouca comida nos lares<br />

brasileiros" - um professor universitário<br />

em um congresso internacional.<br />

Comentário<br />

Essa questão está trabalhando com as<br />

nossas expectativas. Esperamos encontrar,<br />

nas diferentes situações, linguagens que<br />

correspondam à formalidade (ou à<br />

informalidade) delas. Na alternativa E, como<br />

o professor universitário está falando em um<br />

congresso internacional, espera-se que ele<br />

utilize uma linguagem mais formal e não uma<br />

linguagem coloquial como a que usou. Em<br />

todas as outras situações, a linguagem está<br />

de acordo com a situação em que está sendo<br />

empregada.<br />

09) (2007) Texto I<br />

Agora Fabiano conseguia arranjar as<br />

idéias. O que o segurava era a família.<br />

Vivia preso como um novilho amarrado ao<br />

mourão, suportando ferro quente. Se não<br />

fosse isso, um soldado amarelo não lhe<br />

pisava o pé não. (...) Tinha aqueles<br />

cambões pendurados ao pescoço.<br />

Deveria continuar a arrastá-los? Sinha<br />

Vitória dormia mal na cama de varas. Os<br />

meninos eram uns brutos, como o pai.<br />

Quando crescessem, guardariam as reses<br />

de um patrão invisível, seriam pisados,<br />

maltratados, machucados por um soldado<br />

amarelo.<br />

Graciliano Ramos. Vidas Secas. São Paulo:<br />

Martins, 23.ª ed., 1969, p. 75.<br />

Texto II<br />

Para Graciliano, o roceiro pobre é um<br />

outro, enigmático, impermeável. Não há<br />

solução fácil para uma tentativa de<br />

incorporação dessa figura no campo da<br />

ficção. É lidando com o impasse, ao invés<br />

de fáceis soluções, que Graciliano vai<br />

criar Vidas Secas, elaborando uma<br />

linguagem, uma estrutura romanesca,<br />

uma constituição de narrador em que<br />

narrador e criaturas se tocam, mas não se<br />

identificam. Em grande medida, o debate<br />

acontece porque, para a intelectualidade<br />

brasileira naquele momento, o pobre, a<br />

despeito de aparecer idealizado em certos<br />

aspectos, ainda é visto como um ser<br />

humano de segunda categoria, simples<br />

demais, incapaz de ter pensamentos<br />

demasiadamente complexos. O que Vidas<br />

Secas faz é, com pretenso não<br />

envolvimento da voz que controla a<br />

narrativa, dar conta de uma riqueza<br />

humana de que essas pessoas seriam<br />

plenamente capazes.<br />

Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes. In:<br />

Teresa. São Paulo: USP, n.° 2, 2001, p. 254.<br />

No texto II, verifica-se que o autor utiliza<br />

A) linguagem predominantemente<br />

formal, para problematizar, na<br />

composição de Vidas Secas, a relação<br />

entre o escritor e o personagem<br />

popular.<br />

550


B) linguagem inovadora, visto que, sem<br />

abandonar a linguagem formal, dirigese<br />

diretamente ao leitor.<br />

C) linguagem coloquial, para narrar<br />

coerentemente uma história que<br />

apresenta o roceiro pobre de forma<br />

pitoresca.<br />

D) linguagem formal com recursos<br />

retóricos próprios do texto literário em<br />

prosa, para analisar determinado<br />

momento da literatura brasileira.<br />

E) linguagem regionalista, para transmitir<br />

informações sobre literatura, valendose<br />

de coloquialismo, para facilitar o<br />

entendimento do texto.<br />

Comentário<br />

Questão de nível médio. Algumas<br />

alternativas poderiam levar o candidato a<br />

pensar que o texto de Vidas Secas utiliza<br />

uma linguagem predominantemente coloquial<br />

e regionalista. Entretanto, é na alternativa A<br />

que se encontra o real estilo da linguagem<br />

utilizada por Graciliano Ramos. A linguagem<br />

é, portanto, predominantemente formal e<br />

problematiza a relação do escritor com o<br />

personagem popular. Esta acaba sendo uma<br />

das grandes características do autor, pois ele<br />

buscava sempre dar uma grande densidade<br />

psicológica aos seus romances.<br />

Nesse trecho, extraído de texto publicado<br />

originalmente em 1921, o narrador<br />

A) apresenta, sem explicitar juízos de<br />

valor, costumes da epoca, descrevendo<br />

os pratos servidos no jantar e a atitude<br />

de Nhô Tomé e de Tia Policena.<br />

B) desvaloriza a norma culta da língua<br />

porque incorpora à narrativa usos<br />

próprios da linguagem regional das<br />

personagens.<br />

C) condena os hábitos descritos, dando<br />

voz a Tia Policena, que tenta impedir<br />

Nhô Tomé de deitar-se após as<br />

refeições.<br />

D) utiliza a diversidade sociocultural e<br />

lingüística para demonstrar seu<br />

desrespeito às populações das zonas<br />

rurais do início do século XX.<br />

E) manifesta preconceito em relação a Tia<br />

Policena ao transcrever a fala dela com<br />

os erros próprios da região.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil, pois a alternativa<br />

"A" deixa clara a intencionalidade do<br />

narrador. Entretanto, o aluno poderia optar<br />

pela alternativa "B" caso não desse o devido<br />

valor ao sentido da palavra “desvaloriza”, que<br />

a elimina.<br />

<strong>10</strong>) (2006) Depois de um bom jantar: feijão<br />

com carne-seca, orelha de porco e couve<br />

com angu, arroz-mole engordurado, carne<br />

de vento assada no espeto, torresmo<br />

enxuto de toicinho da barriga, viradinho de<br />

milho verde e um prato de caldo de couve,<br />

jantar encerrado por um prato fundo de<br />

canjica com torrões de açúcar, Nhô Tomé<br />

saboreou o café forte e se estendeu na<br />

rede. A mão direita sob a cabeça, à guisa<br />

de travesseiro, o indefectível cigarro de<br />

palha entre as pontas do indicador e do<br />

polegar, envernizados pela fumaça, de<br />

unhas encanoadas e longas, ficou-se de<br />

pança para o ar, modorrento, a olhar para<br />

as ripas do telhado.<br />

Quem come e não deita, a comida não<br />

aproveita, pensava Nhô Tomé... E pôs-se<br />

a cochilar. A sua modorra durou pouco;<br />

Tia Policena, ao passar pela sala, bradou<br />

assombrada:<br />

— Êêh! Sinhô! Vai drumi agora? Não!<br />

Num presta... Dá pisadêra e póde morrê<br />

de ataque de cabeça! Despois do armoço<br />

num far-má... mais despois da janta?!”<br />

Cornélio Pires. Conversas ao pé do fogo. São Paulo:<br />

Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1987.<br />

11) (2006) Aula de português<br />

551


Explorando a função emotiva da<br />

linguagem, o poeta expressa o contraste<br />

entre marcas de variação de usos da<br />

linguagem em<br />

A) situações formais e informais.<br />

B) diferentes regiões do país.<br />

C) escolas literárias distintas.<br />

D) textos técnicos e poéticos.<br />

E) diferentes épocas.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil, pois o próprio título<br />

nos dá uma noção da dificuldade de<br />

transformar a linguagem coloquial e de uso<br />

cotidiano em uma linguagem formal,<br />

expressa no poema como “a misteriosa”.<br />

Drummond foi muito feliz em conseguir<br />

demonstrar a dificuldade em entender como<br />

estruturas simples da língua se tornam tão<br />

complexas ao se iniciar o processo de<br />

compreensão da estrutura lingüística.<br />

12) (1998) Para falar e escrever bem, é<br />

preciso, além de conhecer o padrão<br />

formal da Língua Portuguesa, saber<br />

adequar o uso da linguagem ao contexto<br />

discursivo. Para exemplificar este fato,<br />

seu professor de Língua Portuguesa<br />

convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís<br />

Fernando Veríssimo. No texto, o autor<br />

brinca com situações de discurso oral que<br />

fogem à expectativa do ouvinte.<br />

Aí, Galera<br />

Jogadores de futebol podem ser<br />

vítimas de estereotipação. Por exemplo,<br />

você pode imaginar um jogador de futebol<br />

dizendo "estereotipação"? E, no<br />

entanto, por que não?<br />

- Aí, campeão. Uma palavrinha pra<br />

galera.<br />

- Minha saudação aos aficionados do<br />

clube e aos demais esportistas, aqui<br />

presentes ou no recesso dos seus lares.<br />

- Como é?<br />

- Aí, galera.<br />

- Quais são as instruções do técnico?<br />

- Nosso treinador vaticinou que, com um<br />

trabalho de contenção coordenada, com<br />

energia otimizada, na zona de<br />

preparação, aumentam as<br />

probabilidades de, recuperado o<br />

esférico, concatenarmos um contragolpe<br />

agudo com parcimônia de meios e<br />

extrema objetividade, valendo-nos da<br />

desestruturação momentânea do<br />

sistema oposto, surpreendido pela<br />

reversão inesperada do fluxo da ação:<br />

552<br />

- Ahn?<br />

- É pra dividir no meio e ir pra cima pra<br />

pegá eles sem calça.<br />

- Certo. Você quer dizer mais alguma<br />

coisa?<br />

- Posso dirigir uma mensagem de<br />

caráter sentimental, algo banal, talvez<br />

mesmo previsível e piegas, a uma<br />

pessoa à qual sou ligado por razões,<br />

inclusive, genéticas?<br />

- Pode.<br />

- Uma saudação para a minha<br />

progenitora.<br />

- Como é?<br />

- Alô, mamãe!<br />

- Estou vendo que você é um, um...<br />

- Um jogador que confunde o<br />

entrevistador, pois não corresponde à<br />

expectativa de que o atleta seja um ser<br />

algo primitivo com dificuldade de<br />

expressão e assim sabota a<br />

estereotipação?<br />

- Estereoquê?<br />

- Um chato?<br />

- Isso.<br />

Correio Braziliense, 13/05/1998.<br />

A expressão "pegá eles sem calça"<br />

poderia ser substituída, sem<br />

comprometimento de sentido, em língua<br />

culta, formal, por:<br />

A) pegá-los na mentira.<br />

B) pegá-los desprevenidos.<br />

C) pegá-los em flagrante.<br />

D) pegá-los rapidamente.<br />

E) pegá-los momentaneamente<br />

Comentário<br />

O trabalho que temos aqui é de<br />

compreensão de sentido. Se você nunca<br />

ouviu a expressão "de calças na mão", terá<br />

de imaginar o que acontece quando<br />

pegamos alguém nessa situação. Mas isso<br />

não basta. Se usar somente situações que<br />

pode imaginar, restarão as alternativas B e<br />

C. Esse problema só será solucionado se<br />

você entender bem o texto a que ele se<br />

refere. Como o jogador está falando em<br />

roubar a bola e partir para cima do adversário<br />

rapidamente, imagina-se que o adversário<br />

não esperava perder a bola naquele<br />

momento e, quando isso ocorreu, ele não<br />

estava preparado para receber um contraataque.<br />

Utilizando essa análise, somente a<br />

alternativa B está correta.


13) (2000) Em uma conversa ou leitura de<br />

um texto, corre-se o risco de atribuir um<br />

significado inadequado a um termo ou<br />

expressão, e isso pode levar a certos<br />

resultados inesperados, como se vê nos<br />

quadrinhos abaixo.<br />

significados correspondentes. Mesmo assim,<br />

11% dos participantes, possivelmente,<br />

desconhecem essa expressão ou não<br />

conseguiram realizar a transposição do<br />

significado humorístico da fala do último<br />

quadrinho.<br />

(SOUZA, Maurício de. Chico Bento.<br />

Rio de Janeiro: Ed. Globo, n o 335, Nov./99 )<br />

Nessa historinha, o efeito humorístico<br />

origina-se de uma situação criada pela<br />

fala da Rosinha no primeiro quadrinho,<br />

que é:<br />

A) Faz uma pose bonita!<br />

B) Quer tirar um retrato?<br />

C) Sua barriga está aparecendo!<br />

D) Olha o passarinho!<br />

E) Cuidado com o flash!<br />

Comentário<br />

Quem não se lembra de expressões<br />

humorísticas usadas quando se deseja tirar<br />

uma foto, como "Olha o passarinho" ou "Fale<br />

xis"?<br />

Pois é, essa é uma questão fácil e a<br />

interpretação do texto é simples, e não há<br />

por que ter dúvidas quanto à resposta, a não<br />

ser que não se leia a proposta da questão.<br />

Comentário do INEP<br />

Essa questão procurou avaliar se o<br />

participante conseguia inferir, a partir de uma<br />

seqüência narrativa de imagens, a expressão<br />

lingüística adequada à situação de<br />

interlocução, no caso a fala da personagem,<br />

no primeiro quadrinho. A expressão de uso<br />

coloquial 'olha o passarinho!', dependendo do<br />

contexto, tem diferentes significados, que<br />

nesse caso foram associados pelo cartunista<br />

para produzir o efeito de humor. A grande<br />

maioria - 89% - dos participantes realizou a<br />

inferência solicitada, analisando a função da<br />

linguagem e identificando a variante<br />

lingüística adequada à situação de<br />

interlocução, com base na leitura da<br />

seqüência das imagens e da fala da<br />

personagem no terceiro quadrinho. É<br />

interessante notar a abrangência dessa<br />

expressão metafórica no Brasil, criada no<br />

contexto informal da fala com seus<br />

14) (2005) Leia com atenção o texto:<br />

[Em Portugal], você poderá ter alguns<br />

probleminhas se entrar numa loja de<br />

roupas desconhecendo certas sutilezas da<br />

língua. Por exemplo, não adianta pedir<br />

para ver os ternos — peça para ver os<br />

fatos. Paletó é casaco. Meias são<br />

peúgas. Suéter é camisola — mas não<br />

se assuste, porque calcinhas femininas<br />

são cuecas. (Não é uma delícia?)<br />

(Ruy Castro. Viaje Bem. Ano VIII, no 3, 78.)<br />

O texto destaca a diferença entre o<br />

português do Brasil e o de Portugal<br />

quanto<br />

A) ao vocabulário.<br />

B) à derivação.<br />

C) à pronúncia.<br />

D) ao gênero.<br />

E) à sintaxe.<br />

Comentário<br />

Questão de entendimento muito fácil, pois<br />

o próprio enunciado deixa claro que se trata<br />

das diferenças de vocabulário entre o<br />

português brasileiro e o lusitano.<br />

15) (2006) Aula de português<br />

553


No poema, a referência à variedade<br />

padrão da língua está expressa no<br />

seguinte trecho:<br />

A) “A linguagem / na ponta da língua” (v.1<br />

e 2).<br />

B) “A linguagem / na superfície<br />

estrelada de letras” (v.5 e 6).<br />

C) “[a língua] em que pedia para ir lá<br />

fora” (v.14).<br />

D) “[a língua] em que levava e dava<br />

pontapé” (v.15).<br />

E) “[a língua] do namoro com a priminha”<br />

(v.17).<br />

Comentário<br />

Questão fácil, pois a alternativa "B" é a<br />

única que faz menção à norma-padrão da<br />

língua. As demais alternativas fogem a essa<br />

norma.<br />

16) (2008) A Lei Federal n.º 9.985/2000, que<br />

instituiu o sistema nacional de unidades<br />

de conservação, define dois tipos de<br />

áreas protegidas. O primeiro, as unidades<br />

de proteção integral, tem por objetivo<br />

preservar a natureza, admitindo-se<br />

apenas o uso indireto dos seus recursos<br />

naturais, isto é, aquele que não envolve<br />

consumo, coleta, dano ou destruição dos<br />

recursos naturais. O segundo, as<br />

unidades de uso sustentável, tem por<br />

função compatibilizar a conservação da<br />

natureza com o uso sustentável de<br />

parcela dos recursos naturais. Nesse<br />

caso, permite-se a exploração do<br />

ambiente de maneira a garantir a<br />

perenidade dos recursos ambientais<br />

renováveis e dos processos ecológicos,<br />

mantendo-se a biodiversidade e os<br />

demais atributos ecológicos, de forma<br />

socialmente justa e economicamente<br />

viável.<br />

Considerando essas informações, analise<br />

a seguinte situação hipotética.<br />

Ao discutir a aplicação de recursos<br />

disponíveis para o desenvolvimento de<br />

determinada região, organizações civis,<br />

universidade e governo resolveram<br />

investir na utilização de uma unidade de<br />

proteção integral, o Parque Nacional do<br />

Morro do Pindaré, e de uma unidade de<br />

uso sustentável, a Floresta Nacional do<br />

Sabiá. Depois das discussões, a equipe<br />

resolveu levar adiante três projetos:<br />

— o projeto I consiste de pesquisas<br />

científicas embasadas exclusivamente<br />

na observação de animais;<br />

— o projeto II inclui a construção de uma<br />

escola e de um centro de vivência;<br />

— o projeto III promove a organização de<br />

uma comunidade extrativista que<br />

poderá coletar e explorar<br />

comercialmente frutas e sementes<br />

nativas.<br />

Nessa situação hipotética, atendendo-se à<br />

lei mencionada acima, é possível<br />

desenvolver tanto na unidade de proteção<br />

integral quanto na de uso sustentável<br />

A) apenas o projeto I.<br />

B) apenas o projeto III.<br />

C) apenas os projetos I e II.<br />

D) apenas os projetos II e III.<br />

E) todos os três projetos.<br />

Comentário do portal<br />

A alternativa correta é a letra "A", pois,<br />

analisando-se a situação hipotética sugerida<br />

no enunciado, percebe-se que ela deverá<br />

atender os requisitos tanto da unidade de<br />

proteção integral quanto da unidade de uso<br />

sustentável. Portanto, apenas o projeto I<br />

poderá ser desenvolvido nessas duas<br />

propostas de unidades.<br />

17) (1999) Leia o texto abaixo.<br />

Cabelos longos, brinco na orelha<br />

esquerda, físico de skatista. Na aparência,<br />

o estudante brasiliense Rui Lopes Viana<br />

Filho, de 16 anos, não lembra em nada o<br />

estereótipo dos gênios. Ele não usa<br />

pesados óculos de grau e está longe de<br />

ter um ar introspectivo. No final do mês<br />

passado, Rui retornou de Taiwan, onde<br />

enfrentou 419 competidores de todo o<br />

mundo na 39ª Olimpíada Internacional de<br />

Matemática. A reluzente medalha de ouro<br />

que ele trouxe na bagagem está<br />

dependurada sobre a cama de seu quarto,<br />

atulhado de rascunhos dos problemas<br />

matemáticos que aprendeu a decifrar nos<br />

últimos cinco anos.<br />

Veja – Vencer uma olimpíada serve de<br />

passaporte para uma carreira profissional<br />

meteórica?<br />

Rui – Nada disso. Decidi me dedicar à<br />

Olimpíada porque sei que a concorrência<br />

por um emprego é cada vez mais<br />

selvagem e cruel. Agora tenho algo a mais<br />

para oferecer. O problema é que as coisas<br />

estão mudando muito rápido e não sei<br />

qual será minha profissão. Além de ser<br />

muito novo para decidir sobre o meu<br />

futuro profissional, sei que esse conceito<br />

de carreira mudou muito.<br />

(Entrevista de Rui Lopes Viana Filho à Veja,<br />

05/08/1998, n.31, p. 9-<strong>10</strong>)<br />

554


Na pergunta, o repórter estabelece uma<br />

relação entre a entrada do estudante no<br />

mercado de trabalho e a vitória na<br />

Olimpíada. O estudante<br />

A) concorda com a relação e afirma que o<br />

desempenho na Olimpíada é<br />

fundamental para sua entrada no<br />

mercado.<br />

B) discorda da relação e complementa<br />

que é fácil se fazer previsões sobre o<br />

mercado de trabalho.<br />

C) discorda da relação e afirma que seu<br />

futuro profissional independe de<br />

dedicação aos estudos.<br />

D) discorda da relação e afirma que seu<br />

desempenho só é relevante se<br />

escolher uma profissão relacionada à<br />

matemática.<br />

E) concorda em parte com a relação e<br />

complementa que é complexo fazer<br />

previsões sobre o mercado de trabalho.<br />

Comentário<br />

Não é difícil de se chegar à resposta correta<br />

ao se ler a reportagem. Ao final do último<br />

parágrafo — (...) Além de ser muito novo para<br />

decidir sobre o meu futuro profissional, sei que<br />

esse conceito de carreira mudou muito. —, o<br />

estudante praticamente fornece a resposta à<br />

questão, declarando-se realista ao não tentar<br />

prever seu futuro profissional devido à pouca<br />

idade e às mudanças no mercado de trabalho.<br />

Quanto a concordar parcialmente com o<br />

repórter, veja que ele, apesar de negar que o<br />

prêmio fosse uma garantia de sucesso<br />

profissional, logo depois afirma que, com ele,<br />

terá algo mais a oferecer ao mercado. Questão<br />

de nível fácil.<br />

Comentário do INEP<br />

Nesta situação-problema, o participante<br />

deveria demonstrar que compreendeu as<br />

premissas de um discurso, distinguindo a<br />

diferença de significado de palavras isoladas<br />

ou no contexto em que estão inseridas.<br />

Verificou-se que mais da metade dos<br />

participantes demonstrou possuir essa<br />

compreensão. Aqueles que optaram pelas<br />

alternativas C e D podem ter sido atraídos pelo<br />

significado negativo da expressão inicial "Nada<br />

disso".<br />

18) (1998) Texto 1<br />

"Mulher, Irmã, escuta-me: não ames,<br />

Quando a teus pés um homem terno e<br />

curvo<br />

jurar amor, chorar pranto de sangue,<br />

Não creias, não, mulher: ele te engana!<br />

As lágrimas são gotas da mentira<br />

E o juramento manto da perfídia."<br />

(Joaquim Manoel de Macedo)<br />

Texto 2<br />

"Teresa, se algum sujeito bancar o<br />

sentimental em cima de você<br />

E te jurar uma paixão do tamanho de um<br />

bonde<br />

Se ele chorar<br />

Se ele ajoelhar<br />

Se ele se rasgar todo<br />

Não acredite não Teresa<br />

É lágrima de cinema<br />

É tapeação<br />

Mentira<br />

CAI FORA"<br />

(Manuel Bandeira)<br />

Os autores, ao fazerem alusão às<br />

imagens da lágrima sugerem que:<br />

A) há um tratamento idealizado da<br />

relação homem/mulher.<br />

B) há um tratamento realista da relação<br />

homem/mulher.<br />

C) a relação familiar é idealizada.<br />

D) a mulher é superior ao homem.<br />

E) a mulher é igual ao homem.<br />

Comentário<br />

Ambos os autores, ao utilizarem a<br />

imagem da lágrima, estão na realidade<br />

mostrando que a figura do homem que é<br />

romântico a ponto de chorar ao jurar amor<br />

não existe. Tanto Macedo quanto<br />

Bandeira alertam as mulheres dizendo,<br />

com palavras e estilos diferentes, que não<br />

há homem que chore por amor (portanto,<br />

essa figura é uma idealização — e, por<br />

conseguinte, toda imagem que se tem<br />

sobre os relacionamentos<br />

demasiadamente românticos). Note que<br />

Bandeira chega até mesmo a chamar tal<br />

"chorão" de ator ("...É lágrima de cinema /<br />

É tapeação..."). Macedo dá uma imagem<br />

pesada às lágrimas ("...são gotas da<br />

mentira...").<br />

19) (1999)<br />

(QUINO. Mafalda inédita. São Paulo: Martins Fontes, 1993)<br />

Observando as falas das personagens,<br />

analise o emprego do pronome SE e o<br />

sentido que adquire no contexto. No<br />

contexto da narrativa, é correto afirmar<br />

que o pronome SE:<br />

555


A) em I, indica reflexividade e equivale a<br />

"a si mesmas".<br />

B) em II, indica reciprocidade e equivale a<br />

"a si mesma".<br />

C) em III, indica reciprocidade e equivale<br />

a "umas às outras".<br />

D) em I e III, indica reciprocidade e<br />

equivale a "umas às outras".<br />

E) em II e III, indica reflexividade e<br />

equivale a "a si mesma " e "a si<br />

mesmas", respectivamente.<br />

Comentário<br />

Mais uma questão que fala por si própria.<br />

Lendo o segundo quadrinho — "Quer dizer<br />

que você também se ama muito mais no<br />

Natal?" —, é fácil de se identificar o pronome<br />

reflexivo. Basta que se troque se ama por<br />

ama a si mesma. O mesmo ocorre no<br />

terceiro quadrinho em "Por que será que as<br />

pessoas se amam muito mais no Natal?" —<br />

Por que será que as pessoas amam a si<br />

mesmas? Questão de grau fácil.<br />

Comentário do INEP<br />

Este problema requeria que o participante<br />

mobilizasse conhecimentos sobre os<br />

significados de "reciprocidade e<br />

"reflexividade" e o associasse à<br />

compreensão de linguagem iconográfica.<br />

Cerca de metade dos participantes<br />

demonstrou essa capacidade. A opção de<br />

30% dos participantes pela alternativa D<br />

pode indicar que eles utilizaram as imagens<br />

apenas como ilustração do texto e não como<br />

linguagem capaz de instituir novos<br />

significados.<br />

20) (2001) Os provérbios constituem um<br />

produto da sabedoria popular e, em geral,<br />

pretendem transmitir um ensinamento. A<br />

alternativa em que os dois provérbios<br />

remetem a ensinamentos semelhantes é:<br />

A) “Quem diz o que quer, ouve o que não<br />

quer” e “Quem ama o feio, bonito lhe<br />

parece”.<br />

B) “Devagar se vai ao longe” e “De grão<br />

em grão, a galinha enche o papo”.<br />

C) “Mais vale um pássaro na mão do que<br />

dois voando” e “Não se deve atirar<br />

pérolas aos porcos”.<br />

D) “Quem casa quer casa” e “Santo de<br />

casa não faz milagre”.<br />

E) “Quem com ferro fere, com ferro será<br />

ferido” e “Casa de ferreiro, espeto de<br />

pau”.<br />

Comentário<br />

Questão fácil. A alternativa B apresenta<br />

dois provérbios que tratam de paciência,<br />

perseverança. A mensagem é a mesma em<br />

ambos.<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão propõe uma série de<br />

provérbios agrupados aos pares, para que o<br />

participante demonstre compreender e<br />

comparar os provérbios de modo a identificar<br />

aqueles que traduzem ensinamentos<br />

semelhantes. A organização sintáticosemântica<br />

dos provérbios cria um efeito de<br />

sentido metafórico que deve ser recuperado,<br />

analisado e comparado, o que foi<br />

corretamente feito por cerca de 80% dos<br />

participantes.<br />

21) (2006) No romance Vidas Secas, de<br />

Graciliano Ramos, o vaqueiro Fabiano<br />

encontra-se com o patrão para receber o<br />

salário. Eis parte da cena:<br />

Graciliano Ramos. Vidas Secas. 91.ª ed.<br />

Rio de Janeiro: Record, 2003.<br />

No fragmento transcrito, o padrão formal<br />

da linguagem convive com marcas de<br />

regionalismo e de coloquialismo no<br />

vocabulário. Pertence à variedade do<br />

padrão formal da linguagem o seguinte<br />

trecho:<br />

A) Não se conformou: devia haver<br />

engano (l.1).<br />

B) Fabiano perdeu os estribos (l.3).<br />

C) Passar a vida inteira assim no toco<br />

(l.4).<br />

D) Entregando o que era dele de mao<br />

beijada! (l.4-5).<br />

E) Aí Fabiano baixou a pancada e<br />

amunhecou (l.11).<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. Bastaria que o<br />

candidato conhecesse o padrão formal da<br />

linguagem e distinguisse-o do regionalismo e<br />

do coloquialismo.<br />

556


22) (2005) As dimensões continentais do<br />

Brasil são objeto de reflexões expressas<br />

em diferentes linguagens. Esse tema<br />

aparece no seguinte poema:<br />

“(....)<br />

Que importa que uns falem mole<br />

descansado<br />

Que os cariocas arranhem os erres na<br />

garganta<br />

Que os capixabas e paroaras escancarem<br />

as vogais?<br />

Que tem se o quinhentos réis meridional<br />

Vira cinco tostões do Rio pro Norte?<br />

Junto formamos este assombro de<br />

misérias e grandezas,<br />

Brasil, nome de vegetal! (....)”<br />

(Mário de Andrade. Poesias completas. 6. ed. São Paulo:<br />

Martins Editora, 1980.)<br />

O texto poético ora reproduzido trata das<br />

diferenças brasileiras no âmbito<br />

A) étnico e religioso.<br />

B) lingüístico e econômico.<br />

C) racial e folclórico.<br />

D) histórico e geográfico.<br />

E) literário e popular.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil, pois a primeira<br />

estrofe, ao enunciar os erres arranhados dos<br />

cariocas e as vogais abertas dos capixabas,<br />

evidencia a diferença lingüística entre duas<br />

regiões distintas do Brasil, dando noção da<br />

variedade. Já na segunda estrofe, as<br />

diferenças econômicas são evidenciadas ao<br />

se mostrarem os réis e tostões variando da<br />

Região Meridional para a Norte.<br />

23) (202) "Narizinho correu os olhos pela<br />

assistência. Não podia haver nada mais<br />

curioso. Besourinhos de fraque e flores na<br />

lapela conversavam com baratinhas de<br />

mantilha e miosótis nos cabelos. Abelhas<br />

douradas, verdes e azuis, falavam mal<br />

das vespas de cintura fina — achando que<br />

era exagero usarem coletes tão<br />

apertados. Sardinhas aos centos<br />

criticavam os cuidados excessivos que as<br />

borboletas de toucados de gaze tinham<br />

com o pó das suas asas. Mamangavas de<br />

ferrões amarrados para não morderem. E<br />

canários cantando, e beija-flores beijando<br />

flores, e camarões camaronando, e<br />

caranguejos caranguejando, tudo que é<br />

pequenino e não morde, pequeninando e<br />

não mordendo."<br />

LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. São Paulo:<br />

Brasiliense, 1947.<br />

No último período do trecho, há uma série<br />

de verbos no gerúndio que contribuem<br />

para caracterizar o ambiente fantástico<br />

descrito. Expressões como<br />

"camaronando", "caranguejando" e<br />

"pequeninando e não mordendo" criam,<br />

principalmente, efeitos de<br />

A) esvaziamento de sentido.<br />

B) monotonia do ambiente.<br />

C) estaticidade dos animais.<br />

D) interrupção dos movimentos.<br />

E) dinamicidade do cenário.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. O dinamismo dos<br />

verbos no gerúndio tem como função<br />

principal dar vida às personagens do mundo<br />

fantástico. Não há estagnação. Cada animal<br />

faz o que lhe cabe.<br />

Comentário do INEP<br />

Essa questão apresenta para leitura e<br />

análise um trecho da obra Reinações de<br />

Narizinho, de Monteiro Lobato, e, nele, a<br />

descrição reflete as fantasias do mundo infantil.<br />

A questão propõe que seja resolvido um<br />

problema de linguagem, que é a identificação<br />

dos sentidos criados no texto pelo emprego de<br />

vários verbos no gerúndio, alguns dos quais,<br />

neologismos criados pelo autor. Como o texto é<br />

uma descrição, temos o relato de um ambiente<br />

que se agita com as ações simultâneas dos<br />

muitos seres que o habitam. Cabe ao<br />

participante perceber que o efeito dinâmico é<br />

criado pelos verbos de ação no gerúndio, que é<br />

a forma verbal da ação se fazendo. Ou seja, é<br />

função típica do gerúndio traduzir a noção de<br />

uma ação que se desenvolve de modo<br />

simultâneo à sua enunciação. Nesse ambiente<br />

retratado por Monteiro Lobato, os bichinhos<br />

humanizados se agitam, lembrando um<br />

burburinho de crianças. Apenas a alternativa E,<br />

assinalada por 36% dos participantes,<br />

responde corretamente a questão. As outras<br />

alternativas contemplam efeitos ou significados<br />

que, apesar de eventualmente serem<br />

transmitidos pelo emprego do gerúndio, não se<br />

verificam no texto.<br />

24) (1999) Considere os textos abaixo.<br />

(...) de modo particular, quero encorajar os<br />

crentes empenhados no campo da<br />

filosofia para que iluminem os diversos<br />

âmbitos da atividade humana, graças ao<br />

exercício de uma razão que se torna mais<br />

segura e perspicaz com o apoio que<br />

recebe da fé.<br />

(Papa João Paulo II. Carta Encíclica Fides<br />

et Ratio aos bispos da igreja católica sobre as relações<br />

entre fé e razão, 1998)<br />

557


As verdades da razão natural não<br />

contradizem as verdades da fé cristã.<br />

(São Tomás de Aquino<br />

–pensador medieval)<br />

Refletindo sobre os textos, pode-se<br />

concluir que:<br />

A) a encíclica papal está em contradição<br />

com o pensamento de São Tomás de<br />

Aquino, refletindo a diferença de<br />

épocas.<br />

B) a encíclica papal procura<br />

complementar São Tomás de Aquino,<br />

pois este colocava a razão natural<br />

acima da fé.<br />

C) a Igreja medieval valorizava a razão<br />

mais do que a encíclica de João Paulo<br />

II.<br />

D) o pensamento teológico teve sua<br />

importância na Idade Média, mas, em<br />

nossos dias, não tem relação com o<br />

pensamento filosófico.<br />

E) tanto a encíclica papal como a frase<br />

de São Tomás de Aquino procuram<br />

conciliar os pensamentos sobre fé e<br />

razão.<br />

Comentário<br />

Nessa questão, é necessária uma<br />

releitura do texto para que se tenha uma<br />

melhor compreensão do tema. Tanto a<br />

citação do Papa quanto a de São Tomás de<br />

Aquino tentam criar uma interdependência<br />

entre a ciência e a fé, a religião. O Papa<br />

incentiva aqueles que exercem a pesquisa<br />

científica ou filosófica a manter a fé cristã.<br />

São Tomás de Aquino, por sua vez, equipara<br />

o avanço da ciência ao aumento da própria<br />

fé, afirmando que a razão natural não<br />

contradiz a fé cristã. Se um cresce, cresce<br />

também o outro, em harmonia e sem<br />

contradições. Questão de grau médio.<br />

(Português)<br />

Nessa questão, encontramos dois textos:<br />

o primeiro, do século XX, foi elaborado pelo<br />

Papa João Paulo II; o segundo, do século<br />

XIII, pelo teólogo e filósofo cristão São<br />

Tomás de Aquino. O conteúdo de ambos se<br />

refere à ligação entre fé e razão, a qual<br />

esteve presente na filosofia escolástica da<br />

Idade Média. Esse campo de reflexão buscou<br />

conciliar o cristianismo com o pensamento de<br />

Aristóteles e teve em São Tomás de Aquino<br />

seu maior representante.<br />

Mesmo sem ter todas essas informações,<br />

você poderia responder tranqüilamente à<br />

questão por meio de uma leitura atenta dos<br />

dois textos, chegando à conclusão de que<br />

"tanto a encíclica papal como a frase de São<br />

Tomás de Aquino procuram conciliar os<br />

pensamentos sobre fé e razão". Resposta<br />

correta: alternativa E. (História)<br />

Comentário do INEP<br />

Para resolver esta situação-problema, o<br />

participante deveria mostrar que, além de<br />

interpretar textos, sabe relacioná-los sendo<br />

que, nesse item, essas operações referem-se<br />

a um texto escrito na época medieval e a<br />

outro escrito recentemente.<br />

Mais de 70% dos participantes<br />

demonstraram facilidade em estabelecer esta<br />

relação.<br />

25) (2008) Assinale a opção que apresenta<br />

um verso do soneto de Cláudio Manoel da<br />

Costa em que o poeta se dirige ao seu<br />

interlocutor.<br />

A) “Torno a ver-vos, ó montes; o<br />

destino” (v.1)<br />

B) “Aqui estou entre Almendro, entre<br />

Corino,” (v.5)<br />

C) “Os meus fiéis, meus doces<br />

companheiros,” (v.6)<br />

D) “Vendo correr os míseros vaqueiros”<br />

(v.7)<br />

E) “Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto,”<br />

(v.11)<br />

Comentário<br />

Nesta questão, basta que o aluno<br />

identifique o pronome oblíquo, presente no<br />

verso um, que chama o leitor para o texto.<br />

Sendo assim, a resposta correta é a letra "A".<br />

26) (2008)<br />

Dick Browne. O melhor de Hagar, o horrível, v. 2. L&PM<br />

pocket, p.55-6 (com adaptações).<br />

558


Assinale o trecho do diálogo que<br />

apresenta um registro informal, ou<br />

coloquial, da linguagem.<br />

A) “Tá legal, espertinho! Onde é que<br />

você esteve?!”<br />

B) “E lembre-se: se você disser uma<br />

mentira, os seus chifres cairão!”<br />

C) “Estou atrasado porque ajudei uma<br />

velhinha a atravessar a rua...”<br />

D) “...e ela me deu um anel mágico que<br />

me levou a um tesouro”<br />

E) “mas bandidos o roubaram e os<br />

persegui até a Etiópia, onde um<br />

dragão...”<br />

Comentário<br />

Linguagem coloquial é aquela usada no<br />

cotidiano, que tem como característica<br />

principal a oralidade, ou seja, aquela que não<br />

segue o rigor da norma culta.<br />

Entre as alternativas da questão, apenas<br />

a letra "A" apresenta esses traços.<br />

27) (1999) Leia um texto publicado no jornal<br />

Gazeta Mercantil. Esse texto é parte de<br />

um artigo que analisa algumas situações<br />

de crise no mundo, entre elas, a quebra<br />

da Bolsa de Nova Iorque em 1929, e foi<br />

publicado na época de uma iminente crise<br />

financeira no Brasil.<br />

Deu no que deu. No dia 29 de outubro de<br />

1929, uma terça-feira, praticamente não<br />

havia compradores no pregão de Nova<br />

Iorque, só vendedores. Seguiu-se uma<br />

crise incomparável: o Produto Interno<br />

Bruto dos Estados Unidos caiu de <strong>10</strong>4<br />

bilhões de dólares em 1929, para 56<br />

bilhões em 1933, coisa inimaginável em<br />

nossos dias. O valor do dólar caiu a quase<br />

metade. O desemprego elevou-se de 1,5<br />

milhão para 12,5 milhões de trabalhadores<br />

– cerca de 25% da população ativa –<br />

entre 1929 e 1933. A construção civil caiu<br />

90%. Nove milhões de aplicações, tipo<br />

caderneta de poupança, perderam-se com<br />

o fechamento dos bancos. Oitenta e cinco<br />

mil firmas faliram. Houve saques e norteamericanos<br />

que passaram fome.<br />

(Gazeta Mercantil, 05/01/1999)<br />

Ao citar dados referentes à crise ocorrida<br />

em 1929, em um artigo jornalístico atual,<br />

pode-se atribuir ao jornalista a seguinte<br />

intenção:<br />

A) questionar a interpretação da crise.<br />

B) comunicar sobre o desemprego.<br />

C) instruir o leitor sobre aplicações em<br />

bolsa de valores.<br />

D) relacionar os fatos passados e<br />

presentes.<br />

E) analisar dados financeiros americanos.<br />

Comentário<br />

Nessa questão, o que se tem de fazer é<br />

prestar atenção às alternativas das<br />

respostas. Nenhuma delas se apresenta tão<br />

bem contextualizada a uma possível<br />

interpretação quanto a letra D. Partindo-se da<br />

análise do texto, fica claro que a intenção do<br />

artigo é remeter o leitor ao passado para<br />

tentar conduzi-lo a uma reflexão sobre uma<br />

situação presente, não mencionada na<br />

questão. Após a leitura e utilizando-se a já<br />

citada eliminação de questões, torna-se clara<br />

a resposta. Questão de nível médio.<br />

(Português)<br />

Muitas vezes, quando procuramos<br />

entender uma crise econômica ou financeira<br />

de grandes proporções, buscamos<br />

estabelecer relações com crises passadas. O<br />

mesmo ocorre no jornalismo, como prova o<br />

texto encontrado nessa questão. Buscando<br />

entender uma crise ocorrida no início de<br />

1999, o jornalista da Gazeta Mercantil<br />

buscou relacionar a situação dessa época<br />

com a grande crise de 1929 que afetou o<br />

mundo, trazendo desemprego e recessão,<br />

entre tantos outros problemas econômicos e<br />

sociais.<br />

Para responder a essa questão, era<br />

necessário ler atentamente o enunciado, em<br />

que está destacado que "o texto é parte de<br />

um artigo que analisa algumas situações de<br />

crise no mundo" e "foi publicado na época de<br />

uma iminente crise financeira no Brasil". Era<br />

importante também observar a data em que o<br />

artigo foi publicado: 05/01/1999. A partir<br />

dessas constatações, facilmente você<br />

chegaria a conclusão de que a intenção do<br />

jornalista era "relacionar os fatos passados e<br />

presentes". Resposta correta: alternativa D.<br />

(História)<br />

Comentário do INEP<br />

A resolução da questão demandava a<br />

capacidade dos participantes de relacionar<br />

eventos históricos envolvendo crises<br />

econômicas ocorridas em épocas e lugares<br />

distintos. Aproximadamente 2/3 deles<br />

demonstraram essa capacidade. Os demais,<br />

provavelmente, não compreenderam a<br />

exigência expressa no enunciado do<br />

problema – apontar as razões pelas quais um<br />

jornalista traz à tona eventos ocorridos<br />

setenta anos antes –, e apenas interpretaram<br />

o sentido do texto citado, que descreve a<br />

crise mundial de 1929.<br />

559


28) (2000) “Precisa-se nacionais sem<br />

nacionalismo, (...) movidos pelo presente<br />

mas estalando naquele cio racial que só<br />

as tradições maduram! (...). Precisa-se<br />

gentes com bastante meiguice no<br />

sentimento, bastante força na peitaria,<br />

bastante paciência no entusiasmo e<br />

sobretudo, oh! sobretudo bastante<br />

vergonha na cara!<br />

(...) Enfim: precisa-se brasileiros! Assim<br />

está escrito no anúncio vistoso de cores<br />

desesperadas pintado sobre o corpo do<br />

nosso Brasil, camaradas.”<br />

(Jornal A Noite, São Paulo, 18/12/1925 apud LOPES, Telê<br />

Porto Ancona. Mário<br />

de Andrade: ramais e caminhos. São Paulo: Duas<br />

Cidades, 1972)<br />

560<br />

No trecho acima, Mário de Andrade dá<br />

forma a um dos itens do ideário<br />

modernista, que é o de firmar a feição de<br />

uma língua mais autêntica, “brasileira”, ao<br />

expressar-se numa variante de linguagem<br />

popular identificada pela (o):<br />

A) escolha de palavras como cio, peitaria,<br />

vergonha.<br />

B) emprego da pontuação.<br />

C) repetição do adjetivo bastante.<br />

D) concordância empregada em Assim<br />

está escrito.<br />

E) escolha de construção do tipo<br />

precisa-se gentes.<br />

Comentário<br />

Apesar de essa questão misturar vários<br />

tipos de informação, se você se lembra um<br />

pouquinho dos usos da partícula se, com<br />

certeza não encontrará grande dificuldade.<br />

Segundo a regra gramatical, o verbo "precisase"<br />

deveria ir para o plural (precisam-se), mas<br />

essa noção de verbo concordante com o sujeito<br />

há muito desapareceu na variante popular<br />

brasileira. Mas, caso você não se lembre muito<br />

bem desse assunto ou ficou meio confuso com<br />

o texto e as outras alternativas, o caminho é<br />

responder por eliminação.<br />

A primeira alternativa apresenta palavras<br />

comuns no português brasileiro, mas<br />

nenhuma "invenção" nacional. Na dúvida,<br />

pense em "vergonha": não é uma invenção<br />

brasileira. Todos os que falam português no<br />

mundo conhecem bem essa palavra. A<br />

pontuação no texto não chama nenhuma<br />

atenção. Você provavelmente não viu nada<br />

de estranho nela. Da mesma forma, o<br />

"bastante" da terceira alternativa não é nada<br />

mais que um mecanismo de retórica, usado<br />

para dar ênfase à idéia. Com o "Assim está<br />

escrito", encontramos a mesma situação: um<br />

trecho litúrgico é usado para maior ênfase.<br />

Comentário do INEP<br />

A questão procurou avaliar se o<br />

participante era capaz de, a partir da leitura<br />

de um texto de Mário de Andrade , identificar<br />

e analisar uma variante lingüística de uso<br />

coloquial, utilizadas estilisticamente pelo<br />

autor. O uso estilístico das variantes marcou<br />

a primeira fase da literatura brasileira<br />

modernista. O trecho destaca em seu todo<br />

esse uso da linguagem popular. A escolha da<br />

construção 'precisa-se gentes' é marca desse<br />

uso estilístico. O índice de 37% na alternativa<br />

(A) demonstra, possivelmente, que os<br />

participantes não consideraram a escolha<br />

dos vocábulos, dentro do contexto do texto,<br />

confundindo as palavras que aparecem na<br />

alternativa com '...a feição de uma língua<br />

mais autêntica...'.O percentual de acertos foi<br />

da ordem de 40%.<br />

29) (2004) O poema abaixo pertence à<br />

poesia concreta brasileira. O termo latino<br />

de seu título significa "epitalâmio", poema<br />

ou canto em homenagem aos que se<br />

casam.<br />

Considerando que símbolos e sinais são<br />

utilizados geralmente para demonstrações<br />

objetivas, ao serem incorporados no<br />

poema "Epithalamium - II".<br />

A) adquirem novo potencial de<br />

significação.<br />

B) eliminam a subjetividade do poema.<br />

C) opõem-se ao tema principal do poema.<br />

D) invertem seu sentido original.<br />

E) tornam-se confusos e equivocados.<br />

Comentário<br />

Diferentemente, por exemplo, da<br />

aplicação matemática dos símbolos, em que<br />

sinais como "=", "+", "-", "x", etc. servem<br />

como convenções internacionais de<br />

significação objetiva e invariável, em um<br />

poema como "Epithalamium – II" foram<br />

usados símbolos que não são convenções<br />

internacionais, mas, sim, convencionados<br />

apenas para esse texto. No caso, letras do<br />

alfabeto deixam de ser representações de


sons (fonemas) para ganharem nova<br />

significação, principalmente pela construção<br />

visual do poema: unem homem (h) e mulher<br />

(e) pela ação da serpente (s) — libido,<br />

atração — em uma entidade única.<br />

Uma das tendências poéticas da segunda<br />

metade do século XX, resultado de um<br />

diálogo com estéticas já presentes no final do<br />

século XIX, trabalha com a construção de<br />

seu próprio referente, fazendo do poema um<br />

objeto autônomo.<br />

30) (2002) O autor da tira utilizou os<br />

princípios de composição de um<br />

conhecido movimento artístico para<br />

representar a necessidade de um mesmo<br />

observador aprender a considerar,<br />

simultaneamente, diferentes pontos de<br />

vista.<br />

C)<br />

D)<br />

E)<br />

Das obras reproduzidas, todas de autoria<br />

do pintor espanhol Pablo Picasso, aquela<br />

em cuja composição foi adotado um<br />

procedimento semelhante é:<br />

A)<br />

B)<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. O movimento<br />

artístico que previa considerar<br />

simultaneamente diversos pontos de vista<br />

era o Cubismo. Havia a desconstrução da<br />

forma para que se pudesse ver todos os<br />

ângulos concomitantemente. O único quadro<br />

que apresenta essas características é o da<br />

alternativa E. As outras quatro alternativas<br />

pressupõem a manutenção da forma.<br />

Comentário do INEP<br />

O objetivo desta questão é levar o<br />

participante a refletir sobre características<br />

fundamentais de um movimento artístico – o<br />

cubismo – a partir de dados visuais:<br />

quadrinhos e pinturas. A reprodução de dois<br />

quadrinhos da personagem Calvin forneceu<br />

para o participante informações básicas para<br />

a análise que deveria fazer das alternativas<br />

apresentadas. Segundo os quadrinhos, o<br />

movimento artístico abordado pela questão<br />

561


tinha como procedimento de composição<br />

representar, para um mesmo observador,<br />

diferentes pontos de vista, fazendo com que<br />

"o tradicional único ponto de vista" fosse<br />

abandonado e com que a perspectiva fosse<br />

fraturada. A análise das obras de Picasso<br />

reproduzidas nas alternativas permite que o<br />

participante reconheça a adoção desse<br />

procedimento no quadro "Marie-Thérèse<br />

apoiada no cotovelo" (alternativa E, com 46%<br />

de registros), no qual se pode reconhecer a<br />

representação de diferentes pontos de vista<br />

a partir dos quais é apresentado o rosto da<br />

mulher retratada.<br />

"condenado" a jamais usufruir do resultado<br />

do seu trabalho (a casa que faz não é para<br />

ele).<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão propõe ao participante que<br />

estabeleça uma relação entre linguagens,<br />

associando a compreensão de um efeito<br />

semântico produzido pelo uso do oxímoro<br />

nos quadrinhos com o mesmo efeito num<br />

texto poético. O índice (18%) de escolhas da<br />

alternativa D deve-se, possivelmente, a uma<br />

análise parcial da noção de paradoxo,<br />

confundida com inversão.<br />

31) (2001) Oxímoro (ou paradoxo) é uma<br />

construção textual que agrupa significados<br />

que se excluem mutuamente. Para<br />

Garfield, a frase de saudação de Jon<br />

(tirinha abaixo) expressa o maior de todos<br />

os oxímoros.<br />

32) (2005) Cândido Portinari (1903-1962), um<br />

dos mais importantes artistas brasileiros<br />

do século XX, tratou de diferentes<br />

aspectos da nossa realidade em seus<br />

quadros.<br />

Folha de S. Paulo. 31 de julho de 2000.<br />

562<br />

Nas alternativas abaixo, estão transcritos<br />

versos retirados do poema “O operário em<br />

construção”. Pode-se afirmar que ocorre<br />

um oxímoro em<br />

A) "Era ele que erguia casas<br />

Onde antes só havia chão."<br />

B) "... a casa que ele fazia<br />

Sendo a sua liberdade<br />

Era a sua escravidão."<br />

C) "Naquela casa vazia<br />

Que ele mesmo levantara<br />

Um mundo novo nascia<br />

De que sequer suspeitava."<br />

D) "... o operário faz a coisa<br />

E a coisa faz o operário."<br />

E) "Ele, um humilde operário<br />

Um operário que sabia<br />

Exercer a profissão."<br />

MORAES, Vinícius de. Antologia Poética. São Paulo:<br />

Companhia das Letras, 1992.<br />

Comentário<br />

Idéias que se completam e se excluem<br />

mutuamente são encontradas na alternativa<br />

B: a casa que ele construía era, ao mesmo<br />

tempo, sua liberdade e sua escravidão.<br />

A casa é um símbolo de liberdade para o<br />

homem. Para o homem operário, é também<br />

símbolo de escravidão, pois ele está<br />

Sobre a temática dos “Retirantes”,<br />

Portinari também escreveu o seguinte<br />

poema:<br />

(....)<br />

Os retirantes vêm vindo com trouxas e<br />

embrulhos<br />

Vêm das terras secas e escuras;<br />

pedregulhos<br />

Doloridos como fagulhas de carvão aceso<br />

Corpos disformes, uns panos sujos,<br />

Rasgados e sem cor, dependurados<br />

Homens de enorme ventre bojudo<br />

Mulheres com trouxas caídas para o lado<br />

Pançudas, carregando ao colo um garoto<br />

Choramingando, remelento<br />

(....)<br />

(Cândido Portinari. Poemas. Rio de Janeiro:<br />

J. Olympio, 1964.)<br />

Das quatro obras reproduzidas, assinale<br />

aquelas que abordam a problemática que<br />

é tema do poema.


A) 1 e 2 D) 3 e 4<br />

B) 1 e 3 E) 2 e 4<br />

C) 2 e 3<br />

Comentário<br />

O poema apresenta correspondência com<br />

as imagens ao descrever com detalhes a<br />

figura do retirante: pobre, mal vestido,<br />

carregando trouxas e embrulhos.<br />

33) (2003) No ano passado, o governo<br />

promoveu uma campanha a fim de reduzir<br />

os índices de violência. Noticiando o fato,<br />

um jornal publicou a seguinte manchete:<br />

CAMPANHA CONTRA A VIOLÊNCIA DO<br />

GOVERNO DO ESTADO ENTRA EM NOVA<br />

FASE<br />

A manchete tem um duplo sentido, e isso<br />

dificulta o entendimento. Considerando o<br />

objetivo da notícia, esse problema poderia<br />

ter sido evitado com a seguinte redação:<br />

A) Campanha contra o governo do Estado<br />

e a violência entram em nova fase.<br />

B) A violência do governo do Estado entra<br />

em nova fase de Campanha.<br />

C) Campanha contra o governo do Estado<br />

entra em nova fase de violência.<br />

D) A violência da campanha do governo<br />

do Estado entra em nova fase.<br />

E) Campanha do governo do Estado<br />

contra a violência entra em nova fase.<br />

Comentário<br />

O objetivo da questão é eliminar a<br />

ambigüidade da notícia de jornal, que,<br />

originalmente, trazia duas idéias: de acordo<br />

com a primeira, o governo queria combater a<br />

violência, e a segunda ressaltava que o<br />

governo era violento. Nessa questão,<br />

era preciso eliminar a segunda possibilidade<br />

de leitura.<br />

34) (2004)<br />

A polifonia, variedade de vozes, presente<br />

no poema resulta da manifestação do<br />

A) poeta e do colonizador apenas.<br />

B) colonizador e do negro apenas.<br />

C) negro e do índio apenas.<br />

D) colonizador, do poeta e do negro<br />

apenas.<br />

E) poeta, do colonizador, do índio e do<br />

negro.<br />

Comentário<br />

A questão apresenta uma certa<br />

dificuldade, pois, à primeira vista, parecem<br />

confundir-se as vozes do colonizador, do<br />

negro e do índio. Entretanto, os<br />

travessões existentes no poema explicitam<br />

as falas das personagens ao mostrar que<br />

não são apenas as vozes do poeta e do<br />

colonizador que estão presentes. As falas do<br />

índio e do negro são proferidas por eles,<br />

marca expressa pelo discurso direto. A<br />

presença dessa modalidade de discurso<br />

indica a reprodução literal do que as<br />

personagens disseram.<br />

Um ponto interessante em relação a essa<br />

questão é a intertextualidade. O índio<br />

aparece no poema pela remissão a um texto<br />

poético do nosso Romantismo, em um<br />

processo intertextual com “I-Juca-Pirama”, de<br />

Gonçalves Dias; e a presença do negro se dá<br />

pela ligação com Mário de Andrade, em<br />

Macunaíma. Entende-se, portanto, que a<br />

alternativa correta é a letra E.<br />

35) (2002) "A palavra tatuagem é<br />

relativamente recente. Toda a gente sabe<br />

que foi o navegador Cook que a introduziu<br />

no Ocidente, e esse escrevia tattou, termo<br />

da Polinésia de tatou ou tu tahou,<br />

'desenho'.<br />

(...) Desde os mais remotos tempos,<br />

vemo-la a transformar-se: distintivo<br />

honorífico entre uns homens, ferrete de<br />

ignomínia entre outros, meio de assustar o<br />

adversário para os bretões, marca de uma<br />

classe de selvagens das ilhas marquesas<br />

(...) sinal de amor, de desprezo, de ódio<br />

(...). Há três casos de tatuagem no Rio,<br />

completamente diversos na sua<br />

significação moral: os negros,os turcos<br />

com o fundo religioso e o bando de<br />

meretrizes, dos rufiões e dos humildes,<br />

que se marcam por crime ou por<br />

ociosidade".<br />

RIO, João do. Os Tatuadores. Revista Kosmos.<br />

1904, apud: A alma encantadora das ruas,<br />

SP: Cia das Letras, 1999.<br />

563


Com base no texto são feitas as seguintes<br />

afirmações:<br />

I. João do Rio revela como a tatuagem já<br />

estava presente na cidade do Rio de<br />

Janeiro, pelo menos desde o início do<br />

século XX, e era mais utilizada por<br />

alguns setores da população.<br />

II. A tatuagem, de origem polinésia,<br />

difundiu-se no ocidente com a<br />

característica que permanece até hoje:<br />

utilização entre os jovens com função<br />

estritamente estética.<br />

III. O texto mostra como a tatuagem é<br />

uma prática que se transforma no<br />

tempo e que alcança inúmeros sentidos<br />

nos diversos setores das sociedades e<br />

para as diferentes culturas.<br />

Está correto o que se afirma apenas em<br />

A) I D) I e II<br />

B) II E) I e III<br />

C) III<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. Constata-se o<br />

seguinte: a tatuagem já existia no Brasil no<br />

início do século XX (o texto é de 1904 e parte<br />

dele se refere ao Rio do Janeiro) e era<br />

utilizada em diferentes setores da sociedade.<br />

A afirmação de que as tatuagens possuem<br />

apenas finalidade estética entre os jovens<br />

elimina a segunda alternativa. Já a última<br />

alternativa confirma as transformações das<br />

funções da tatuagem ao longo do tempo nas<br />

mais diversas sociedades e culturas.<br />

Comentário do INEP<br />

O texto estabelece uma relação entre a<br />

atualidade da palavra "tatuagem" e a<br />

antiguidade do uso de desenhos como<br />

pintura corporal. Focaliza uma prática social<br />

bastante difundida que adquiriu aspectos e<br />

conotações diversos nos diferentes contextos<br />

históricos e geográficos em que ela pode ser<br />

descrita. Fazendo a descrição da prática da<br />

tatuagem, como uma manifestação comum a<br />

diferentes culturas, e que adquire, inclusive,<br />

significados diferentes dentro de uma mesma<br />

cultura, induz o participante a refletir sobre a<br />

"diversidade dos patrimônios etnoculturais e<br />

artísticos", contextualizando ao mesmo<br />

tempo seus significados "em diferentes<br />

sociedades, épocas e lugares". Ao retomar<br />

as várias origens e usos da tatuagem, o<br />

participante é levado a compreender e<br />

respeitar uma gramática histórica dos<br />

costumes marcada sempre por semelhanças<br />

e diferenças. A questão não exigia, portanto,<br />

nenhum conhecimento prévio sobre as<br />

564<br />

diferentes formas de manifestação dessa<br />

prática, mas simplesmente constatar, com o<br />

autor do texto citado, a historicidade e a<br />

diversidade das práticas sociais. Os<br />

participantes que assinalaram a alternativa C<br />

(36%), possivelmente, não levaram em<br />

consideração informações do texto. A<br />

questão foi corretamente respondida por 37%<br />

dos participantes.<br />

36) (2004)<br />

Nesta tirinha, a personagem faz referência<br />

a uma das mais conhecidas figuras de<br />

linguagem para<br />

A) condenar a prática de exercícios físicos<br />

B) valorizar aspectos da vida moderna.<br />

C) desestimular o uso das bicicletas.<br />

D) caracterizar o diálogo entre as<br />

gerações.<br />

E) criticar a falta de perspectiva do pai.<br />

Comentário<br />

A construção indica a falta de perspectiva<br />

na vida do pai do personagem. “Pedalar sem<br />

sair do lugar” é uma metáfora muito usada na<br />

cultura brasileira para expressar como é a<br />

vida de uma pessoa que age de forma a não<br />

conseguir qualquer mudança — para melhor<br />

ou para pior — na vida.<br />

37) (2004) As questões de números 26 e 27<br />

referem-se ao poema abaixo.<br />

Entre os recursos expressivos<br />

empregados no texto, destaca-se a


A) metalinguagem, que consiste em fazer<br />

a linguagem referir-se à própria<br />

linguagem.<br />

B) intertextualidade, na qual o texto<br />

retoma e reelabora outros textos.<br />

C) ironia, que consiste em se dizer o<br />

contrário do que se pensa, com<br />

intenção crítica.<br />

D) denotação, caracterizada pelo uso das<br />

palavras em seu sentido próprio e<br />

objetivo.<br />

E) prosopopéia, que consiste em<br />

personificar coisas inanimadas,<br />

atribuindo-lhes vida.<br />

Comentário<br />

A questão trata de um texto de Carlos<br />

Drummond de Andrade em que ele fala sobre<br />

o crescimento urbano e a pobreza que esse<br />

processo traz. Para tanto, o poeta utiliza uma<br />

linguagem irônica, revelando o lado oculto do<br />

desenvolvimento. Dessa forma, temos como<br />

correta a alternativa C.<br />

38) (2007) Antigamente<br />

Acontecia o indivíduo apanhar<br />

constipação; ficando perrengue, mandava<br />

o próprio chamar o doutor e, depois, ir à<br />

botica para aviar a receita, de cápsulas ou<br />

pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />

phtísica, feia era o gálico. Antigamente, os<br />

sobrados tinham assombrações, os<br />

meninos, lombrigas (...)<br />

Carlos Drummond de Andrade. Poesia completa e prosa.<br />

Rio de Janeiro: Companhia José Aguilar, p. 1.184.<br />

O texto acima está escrito em linguagem<br />

de uma época passada. Observe uma<br />

outra versão, em linguagem atual.<br />

Antigamente<br />

Acontecia o indivíduo apanhar um<br />

resfriado; ficando mal, mandava o próprio<br />

chamar o doutor e, depois, ir à farmácia<br />

para aviar a receita, de cápsulas ou<br />

pílulas fedorentas. Doença nefasta era a<br />

tuberculose, feia era a sífilis. Antigamente,<br />

os sobrados tinham assombrações, os<br />

meninos, vermes (...)<br />

Comparando-se esses dois textos,<br />

verifica-se que, na segunda versão, houve<br />

mudanças relativas a<br />

A) vocabulário.<br />

B) construções sintáticas.<br />

C) pontuação.<br />

D) fonética.<br />

E) regência verbal.<br />

Comentário<br />

Questão fácil. O aluno deveria comparar<br />

os dois textos e verificar as alterações<br />

realizadas na segunda versão apresentada.<br />

Nesse momento, fica evidente a mudança de<br />

vocabulário, o que indica a alternativa A<br />

como a correta.<br />

39) (2001) Nas conversas diárias, utiliza-se<br />

freqüentemente a palavra “próprio” e ela<br />

se ajusta a várias situações. Leia os<br />

exemplos de diálogos:<br />

I - A Vera se veste diferente!<br />

- É mesmo, é que ela tem um estilo<br />

próprio.<br />

II - A Lena já viu esse filme uma dezena<br />

de vezes! Eu não consigo ver o<br />

que ele tem de tão maravilhoso assim.<br />

- É que ele é próprio para adolescente.<br />

III - Dora, o que eu faço? Ando tão<br />

preocupada com o Fabinho! Meu filho<br />

está impossível!<br />

- Relaxa, Tânia! É próprio da idade.<br />

Com o tempo, ele se acomoda.<br />

Nas ocorrências I, II e III, “próprio” é<br />

sinônimo de, respectivamente,<br />

A) adequado, particular, típico.<br />

B) peculiar, adequado, característico.<br />

C) conveniente, adequado, particular.<br />

D) adequado, exclusivo, conveniente.<br />

E) peculiar, exclusivo, característico.<br />

Comentário<br />

Para responder a essa pergunta,<br />

substitua, nos trechos, a palavra próprio<br />

pelos possíveis equivalentes apresentados<br />

nas alternativas. Questão simples que pode<br />

ser resolvida por eliminação.<br />

Comentário do INEP<br />

Nesta questão são apresentados três<br />

textos em que uma mesma palavra é<br />

utilizada com sentidos diferentes. O problema<br />

consiste em observar a variedade de uso de<br />

um mesmo termo e as possibilidades de sua<br />

compreensão, estabelecendo uma relação<br />

comparativa com base em uma análise<br />

semântica. Cerca de metade (49%) dos<br />

participantes estabeleceu essa relação de<br />

maneira correta. Os participantes que<br />

assinalaram a alternativa D (21%),<br />

possivelmente isolaram o termo do contexto,<br />

gerando um equívoco entre "adequado" e<br />

"exclusivo".<br />

565


40) (2003) Do pedacinho de papel ao livro<br />

impresso vai uma longa distância. Mas o<br />

que o escritor quer, mesmo, é isso: ver o<br />

seu texto em letra de forma. A gaveta é<br />

ótima para aplacar a fúria criativa; ela faz<br />

amadurecer o texto da mesma forma que<br />

a adega faz amadurecer o vinho. Em<br />

certos casos, a cesta de papel é melhor<br />

ainda.<br />

O período de maturação na gaveta é<br />

necessário, mas não deve se prolongar<br />

muito. ‘Textos guardados acabam<br />

cheirando mal’, disse Silvia Plath, (...) que,<br />

com esta frase, deu testemunho das<br />

dúvidas que atormentam o escritor:<br />

publicar ou não publicar? guardar ou jogar<br />

fora?<br />

(Moacyr Scliar. O escritor e seus desafios.)<br />

Nesse texto, o escritor Moacyr Scliar usa<br />

imagens para refletir sobre uma etapa da<br />

criação literária. A idéia de que o processo<br />

de maturação do texto nem sempre é o<br />

que garante bons resultados está sugerida<br />

na seguinte frase:<br />

A) "A gaveta é ótima para aplacar a fúria<br />

criativa."<br />

B) "Em certos casos, a cesta de papel é<br />

melhor ainda."<br />

C) "O período de maturação na gaveta é<br />

necessário, (...)."<br />

D) "Mas o que o escritor quer, mesmo, é<br />

isso: ver o seu texto em letra de forma."<br />

E) "ela (a gaveta) faz amadurecer o texto<br />

da mesma forma que a adega faz<br />

amadurecer o vinho."<br />

Comentário<br />

Essa questão exigia a interpretação das<br />

frases. A palavra NEM no enunciado exclui<br />

todas as alternativas que tratam do<br />

amadurecimento ou da importância da<br />

gaveta para o bom sucesso da produção<br />

literária.<br />

A alternativa B é a única que apresenta<br />

um procedimento alternativo para a produção<br />

textual, ou seja, o lixo, e significa a liberdade<br />

do escritor em começar,<br />

interromper, recomeçar ou simplesmente<br />

abandonar a obra, permitindo a ele exercer<br />

seu livre-arbítrio.<br />

41) (2007)<br />

Aqui na floresta<br />

Dos ventos batida,<br />

Façanhas de bravos<br />

Não geram escravos,<br />

Que estimem a vida<br />

Sem guerra e lidar.<br />

— Ouvi-me, Guerreiros,<br />

— Ouvi meu cantar.<br />

O canto do guerreiro<br />

Valente na guerra,<br />

Quem há, como eu sou?<br />

Quem vibra o tacape<br />

Com mais valentia?<br />

Quem golpes daria<br />

Fatais, como eu dou?<br />

— Guerreiros, ouvi-me;<br />

— Quem há, como eu sou?<br />

Gonçalves Dias.<br />

Macunaíma<br />

(Epílogo)<br />

Acabou-se a história e morreu a vitória.<br />

Não havia mais ninguém lá. Dera<br />

tangolomângolo na tribo Tapanhumas e<br />

os filhos dela se acabaram de um em um.<br />

Não havia mais ninguém lá. Aqueles<br />

lugares, aqueles campos, furos<br />

puxadouros arrastadouros meiosbarrancos,<br />

aqueles matos misteriosos,<br />

tudo era solidão do deserto... Um silêncio<br />

imenso dormia à beira do rio Uraricoera.<br />

Nenhum conhecido sobre a terra não<br />

sabia nem falar da tribo nem contar<br />

aqueles casos tão pançudos. Quem podia<br />

saber do Herói?<br />

Mário de Andrade.<br />

Considerando-se a linguagem desses dois<br />

textos, verifica-se que<br />

A) a função da linguagem centrada no<br />

receptor está ausente tanto no primeiro<br />

quanto no segundo texto.<br />

B) a linguagem utilizada no primeiro texto<br />

é coloquial, enquanto, no segundo,<br />

predomina a linguagem formal.<br />

C) há, em cada um dos textos, a<br />

utilização de pelo menos uma palavra<br />

de origem indígena.<br />

D) a função da linguagem, no primeiro<br />

texto, centra-se na forma de<br />

organização da linguagem e, no<br />

segundo, no relato de informações<br />

reais.<br />

E) a função da linguagem centrada na<br />

primeira pessoa, predominante no<br />

segundo texto, está ausente no<br />

primeiro.<br />

Comentário<br />

Questão de nível médio. Essa é uma<br />

questão que foca a linguagem dos textos, e<br />

cada qual em seu gênero (poesia e prosa,<br />

respectivamente). O aluno chega à<br />

conclusão que a alternativa correta é a C por<br />

meio da exclusão das demais alternativas.<br />

A resposta correta não é a A, pois há um<br />

receptor que pode ser percebido nas<br />

seguintes perguntas contidas no texto:<br />

566


Texto 1 – “Guerreiros, ouvi-me;/Quem há,<br />

como eu sou?”<br />

Texto 2 – “Quem podia saber do herói?”<br />

Também não é a alternativa B, pois o<br />

conteúdo dos textos não é discriminatório. No<br />

primeiro texto, há uma idealização do índio e,<br />

no segundo, há uma realidade crítica e<br />

satírica da sociedade.<br />

A alternativa D é excluída, porque o<br />

segundo texto não fala de uma realidade, já<br />

que Macunaíma é um herói fictício e nãoreal.<br />

Por fim, também está errada a alternativa<br />

E. Isso porque não temos no epílogo do texto<br />

de Macunaíma a linguagem centrada na<br />

primeira pessoa, mas sim, na terceira.<br />

42) (2003) Eu começaria dizendo que poesia<br />

é uma questão de linguagem. A<br />

importância do poeta é que ele torna mais<br />

viva a linguagem. Carlos Drummond de<br />

Andrade escreveu um dos mais belos<br />

versos da língua portuguesa com duas<br />

palavras comuns: cão e cheirando.<br />

Um cão cheirando o futuro<br />

(Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP, 24/05/1988.<br />

adaptação)<br />

O que deu ao verso de Drummond o<br />

caráter de inovador da língua foi<br />

A) o modo raro como foi tratado o<br />

"futuro".<br />

B) a referência ao cão como "animal de<br />

estimação".<br />

C) a flexão pouco comum do verbo<br />

"cheirar" (gerúndio).<br />

D) a aproximação não usual do agente<br />

citado e a ação de "cheirar".<br />

E) o emprego do artigo indefinido "um" e<br />

do artigo definido "o" na mesma frase.<br />

Comentário<br />

O fato de Drummond identificar o futuro<br />

como algo que pode ser percebido por um<br />

animal irracional por meio do olfato foi<br />

inovador. A figura de linguagem foi<br />

construída metaforicamente: o futuro torna-se<br />

uma coisa que tem cheiro, contrariamente à<br />

imagem pela qual ele normalmente é<br />

representado: como algo que não se vê e<br />

não se pode pressentir ou tocar.<br />

43) (2002) Só falta o Senado aprovar o<br />

projeto de lei [sobre o uso de termos<br />

estrangeiros no Brasil] para que palavras<br />

como shopping center , delivery e drivethrough<br />

sejam proibidas em nomes de<br />

estabelecimentos e marcas. Engajado<br />

nessa valorosa luta contra o inimigo<br />

ianque, que quer fazer área de livre<br />

comércio com nosso inculto e belo idioma,<br />

venho sugerir algumas outras medidas<br />

que serão de extrema importância para a<br />

preservação da soberania nacional, a<br />

saber:<br />

........<br />

Nenhum cidadão carioca ou gaúcho<br />

poderá dizer "Tu vai" em espaços públicos<br />

do território nacional;<br />

Nenhum cidadão paulista poderá dizer "Eu<br />

lhe amo" e retirar ou acrescentar o plural<br />

em sentenças como "Me vê um chopps e<br />

dois pastel";<br />

..........<br />

Nenhum dono de borracharia poderá<br />

escrever cartaz com a palavra "borraxaria"<br />

e nenhum dono de banca de jornal<br />

anunciará "Vende-se cigarros";<br />

..........<br />

Nenhum livro de gramática obrigará os<br />

alunos a utilizar colocações pronominais<br />

como "casar-me-ei" ou "ver-se-ão".<br />

PIZA, Daniel. Uma proposta imodesta. O Estado de<br />

S. Paulo, São Paulo, 8/04/2001.<br />

No texto acima, o autor:<br />

A) mostra-se favorável ao teor da<br />

proposta por entender que a língua<br />

portuguesa deve ser protegida contra<br />

deturpações de uso.<br />

B) ironiza o projeto de lei ao sugerir<br />

medidas que inibam determinados usos<br />

regionais e socioculturais da língua.<br />

C) denuncia o desconhecimento de regras<br />

elementares de concordância verbal e<br />

nominal pelo falante brasileiro.<br />

D) revela-se preconceituoso em relação a<br />

certos registros lingüísticos ao propor<br />

medidas que os controlem.<br />

E) defende o ensino rigoroso da gramática<br />

para que todos aprendam a empregar<br />

corretamente os pronomes.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. O autor ironiza o<br />

projeto de lei que proíbe o uso de<br />

estrangeirismos no Brasil. Não adianta criarse<br />

uma expectativa ou preocupação em<br />

relação ao uso de termos estrangeiros na<br />

língua e esquecer-se de que a língua é um<br />

organismo vivo, mutável. A dinâmica de uma<br />

língua não pode ser regida por preceitos<br />

legais como quer o projeto.<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão reproduz trechos de um<br />

texto que aborda o polêmico projeto de<br />

567


proibição de uso de termos estrangeiros no<br />

Brasil. A partir da leitura atenta do texto de<br />

Daniel Piza, o participante é levado a refletir<br />

sobre a postura adotada pelo autor em<br />

relação ao referido projeto. Para<br />

compreender esse texto, o participante<br />

precisa reconhecer o tom irônico que marca<br />

as observações e sugestões feitas por seu<br />

autor. Assim, Daniel Piza, "engajado nessa<br />

valorosa luta contra o inimigo ianque", sugere<br />

a proibição de algumas formas lingüísticas de<br />

uso corrente que contrariam recomendações<br />

da gramática normativa. O participante deve<br />

reconhecer que, com sugestões como essas,<br />

Daniel Piza deixa implícita uma crítica à<br />

utilidade do projeto de proibição dos<br />

estrangeirismos como forma de proteger a<br />

Língua Portuguesa. Nesse contexto, a ironia<br />

torna-se mais clara, bem como o mecanismo<br />

textual que a constrói. Feito tal<br />

reconhecimento, o aluno encontra a resposta<br />

correta na alternativa B, assinalada por cerca<br />

da metade dos participantes. Nenhuma outra<br />

alternativa contempla o aspecto irônico,<br />

essencial para a compreensão do texto.<br />

44) (2003) Pequenos tormentos da vida<br />

De cada lado da sala de aula, pelas janelas<br />

altas, o azul convida os meninos,<br />

as nuvens desenrolam-se, lentas como quem<br />

vai inventando<br />

preguiçosamente uma história sem fim...Sem<br />

fim é a aula: e nada acontece,<br />

nada...Bocejos e moscas. Se ao menos,<br />

pensa Margarida, se ao menos um<br />

avião entrasse por uma janela e saísse por<br />

outra!<br />

(Mário Quintana. Poesias)<br />

Na cena retratada no texto, o sentimento<br />

do tédio<br />

A) provoca que os meninos fiquem<br />

contando histórias.<br />

B) leva os alunos a simularem bocejos,<br />

em protesto contra a monotonia da<br />

aula.<br />

C) acaba estimulando a fantasia,<br />

criando a expectativa de algum<br />

imprevisto mágico.<br />

D) prevalece de modo absoluto,<br />

impedindo até mesmo a distração ou o<br />

exercício do pensamento.<br />

E) decorre da morosidade da aula, em<br />

contraste com o movimento acelerado<br />

das nuvens e das moscas.<br />

Comentário<br />

Essa questão aborda o imaginário<br />

decorrente do marasmo trazido pela escola.<br />

O texto enfatiza o arrastar do tempo na<br />

mente de uma aluna, Margarida, que se põe<br />

a pensar em fatos mágicos ou imaginários<br />

que pudessem romper com a lentidão da<br />

aula.<br />

45) (200) O autor do texto abaixo critica,<br />

ainda que em linguagem metafórica, a<br />

sociedade contemporânea em relação aos<br />

seus hábitos alimentares.<br />

“Vocês que têm mais de 15 anos, se<br />

lembram quando a gente comprava leite<br />

em garrafa, na leiteria da esquina? (...)<br />

Mas vocês não se lembram de nada,<br />

pô! Vai ver nem sabem o que é vaca. Nem<br />

o que é leite. Estou falando isso porque<br />

agora mesmo peguei um pacote de leite –<br />

leite em pacote, imagina, Tereza! – na<br />

porta dos fundos e estava escrito que é<br />

pasterizado, ou pasteurizado, sei lá, tem<br />

vitamina, é garantido pela<br />

embromatologia, foi enriquecido e o<br />

escambau. Será que isso é mesmo leite?<br />

No dicionário diz que leite é outra coisa:<br />

‘Líquido branco, contendo água,<br />

proteína, açúcar e sais minerais’. Um<br />

alimento pra ninguém botar defeito. O ser<br />

humano o usa há mais de 5.000 anos. É o<br />

único alimento só alimento. A carne serve<br />

pro animal andar, a fruta serve pra fazer<br />

outra fruta, o ovo serve pra fazer outra<br />

galinha (...) O leite é só leite. Ou toma ou<br />

bota fora. Esse aqui examinando bem, é<br />

só pra botar fora. Tem chumbo, tem<br />

benzina, tem mais água do que leite, tem<br />

serragem, sou capaz de jurar que nem<br />

vaca tem por trás desse negócio. Depois o<br />

pessoal ainda acha estranho que os<br />

meninos não gostem de leite.<br />

Mas, como não gostam? Não gostam<br />

como? Nunca tomaram! Múúúúúúú!”<br />

(FERNANDES, Millôr. O Estado de S. Paulo ,<br />

22 de agosto de 1999)<br />

A palavra embromatologia usada pelo<br />

autor é:<br />

A) um termo científico que significa estudo<br />

dos bromatos.<br />

B) uma composição do termo de gíria<br />

“embromação” (enganação) com<br />

bromatologia, que é o estudo dos<br />

alimentos.<br />

C) uma junção do termo de gíria<br />

“embromação” (enganação) com<br />

lactologia, que é o estudo das<br />

embalagens para leite.<br />

568


D) um neologismo da química orgânica<br />

que significa a técnica de retirar<br />

bromatos dos laticínios.<br />

E) uma corruptela de termo da<br />

agropecuária que significa a ordenha<br />

mecânica.<br />

Comentário<br />

É necessário para a resolução desta<br />

questão:<br />

- perceber que o texto critica o exagerado<br />

uso de substâncias artificiais nos<br />

alimentos;<br />

- conhecer o significado da gíria embromar e<br />

da palavra bromatologia.<br />

Conhecendo esses significados, você<br />

elimina todas as alternativas erradas: a, c, d<br />

e e.<br />

Você poderá ter dúvida quanto à<br />

alternativa c, que também será eliminada se<br />

souber o significado da palavra lactologia,<br />

que é o estudo do leite e produtos lácteos e<br />

não das embalagens para leite.<br />

Nesta questão, são trabalhados os<br />

conceitos de interpretação de texto, formação<br />

de palavras e conhecimentos gerais.<br />

Comentário do INEP<br />

A resolução da questão requeria que o<br />

participante, ao ler o texto vinculasse o<br />

significado de um termo de gíria -<br />

"embromação" - com o da palavra<br />

bromatologia. A resposta correta exigia que o<br />

participante não abrisse mão do sabor<br />

picante contido na linguagem metafórica,<br />

sabor vinculado ao conhecimento específico<br />

contido na palavra bromatologia. Cerca da<br />

metade dos participantes (51%) optou pela<br />

alternativa correta e, os 20% que escolheram<br />

a alternativa C, provavelmente associaram a<br />

referência feita no texto à leite em pacote.<br />

46) (2005) O termo (ou expressão)<br />

destacado que está empregado em seu<br />

sentido próprio, denotativo ocorre em:<br />

A) “(....)<br />

É de laço e de nó<br />

De gibeira o jiló<br />

Dessa vida, cumprida a sol (....)”<br />

(Renato Teixeira. Romaria. Kuarup Discos.<br />

setembro de 1992.)<br />

B) “Protegendo os inocentes<br />

é que Deus, sábio demais,<br />

põe cenários diferentes<br />

nas impressões digitais.”<br />

(Maria N. S. Carvalho. Evangelho da Trova. /s.n.b.)<br />

C) “O dicionário-padrão da língua e os<br />

dicionários unilíngües são os tipos mais<br />

comuns de dicionários. Em nossos<br />

dias, eles se tornaram um objeto de<br />

consumo obrigatório para as nações<br />

civilizadas e desenvolvidas.”<br />

(Maria T. Camargo Biderman.<br />

O dicionário-padrão da língua. Alfa (28), 2743, 1974 Supl.)<br />

D)<br />

E) “Humorismo é a arte de fazer cócegas<br />

no raciocínio dos outros. Há duas<br />

espécies de humorismo: o trágico e o<br />

cômico. O trágico é o que não<br />

consegue fazer rir; o cômico é o que é<br />

verdadeiramente trágico para se fazer.”<br />

(Leon Eliachar. www.mercadolivre.com.br.<br />

acessado em julho de 2005.)<br />

Comentário<br />

A definição do dicionário-padrão da língua<br />

utiliza o sentido denotativo da palavra para<br />

explicar o uso de determinado tipo de<br />

dicionário. Em todas as outras alternativas,<br />

as palavras estão sendo empregadas em<br />

sentido metafórico. Na letra A, "cumprida a<br />

sol" pode mostrar o sofrimento e a solidão.<br />

Na alternativa B, "cenários diferentes" são as<br />

diferenças físicas encontradas nas<br />

impressões digitais. Na letra D, "bateria" é o<br />

termo usado para expressar a "energia" do<br />

Menino Maluquinho, que nunca acaba. Por<br />

fim, na alternativa E, "fazer cócegas no<br />

raciocínio" significa expressar graça por meio<br />

de idéias, fazendo com que o cérebro ache<br />

um fato divertido e, por conseguinte, faça<br />

com que a pessoa ria como se sofresse um<br />

ataque de cócegas.<br />

47) (2008) Os signos visuais, como meios de<br />

comunicação, são classificados em<br />

categorias de acordo com seus<br />

significados.<br />

A categoria denominada indício<br />

corresponde aos signos visuais que têm<br />

origem em formas ou situações naturais<br />

ou casuais, as quais, devido à ocorrência<br />

569


em circunstâncias idênticas, muitas vezes<br />

repetidas, indicam algo e adquirem<br />

significado. Por exemplo, nuvens negras<br />

indicam tempestade. Com base nesse<br />

conceito, escolha a opção que representa<br />

um signo da categoria dos indícios.<br />

A)<br />

48) (1999)<br />

570<br />

B)<br />

C)<br />

D)<br />

E)<br />

Comentário<br />

Trata-se de uma questão interpretativa. O<br />

aluno precisa entender o que é “indício” para<br />

respondê-la. Segundo o dicionário Aurélio,<br />

indício é o mesmo que “sinal, vestígio,<br />

indicação”. Das figuras apresentadas,<br />

apenas a alternativa B indica algo: a<br />

passagem de alguém por algum lugar —<br />

pegada.<br />

Diante da visão de um prédio com uma<br />

placa indicando SAPATARIA PAPALIA,<br />

um jovem deparou com a dúvida: como<br />

pronunciar a palavra PAPALIA?<br />

Levado o problema à sala de aula, a<br />

discussão girou em torno da utilidade de<br />

conhecer as regras de acentuação e,<br />

especialmente, do auxílio que elas podem<br />

dar à correta pronúncia de palavras.<br />

Após discutirem pronúncia, regras de<br />

acentuação e escrita, três alunos<br />

apresentaram as seguintes conclusões a<br />

respeito da palavra PAPALIA:<br />

I. Se a sílaba tônica for o segundo PA, a<br />

escrita deveria ser PAPÁLIA, pois a<br />

palavra seria paroxítona terminada em<br />

ditongo crescente.<br />

II. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />

deveria ser PAPALÍA, pois "i" e "a"<br />

estariam formando hiato.<br />

III. Se a sílaba tônica for LI, a escrita<br />

deveria ser PAPALIA, pois não haveria<br />

razão para o uso de acento gráfico.<br />

A conclusão está correta apenas em:<br />

A) III D) I<br />

B) I e II E) II<br />

C) I e III<br />

Comentário<br />

Essa questão exige bom conhecimento<br />

das regras de acentuação. A alternativa A diz<br />

que apenas a afirmação I é verdadeira. De<br />

fato ela é, mas não é a única. Nela, temos a<br />

hipótese de a palavra ser grafada como se a<br />

sílaba forte fosse a penúltima — papália —,<br />

justificando seu acento gráfico. Vejamos o<br />

que dizem as regras de acentuação.<br />

Acentuam-se as palavras paroxítonas<br />

terminadas em: i, is, us, um, uns, l, n, r, x,<br />

ps, ã, ãs, ão, ãos, ditongos orais,<br />

crescentes ou decrescentes, seguidos ou<br />

não de S. Isso valida, portanto, a afirmação I.


A afirmação II pressupõe que a sílaba<br />

tônica seja LI, em hiato com A: no caso de<br />

essa ser a tonicidade da palavra, a sílaba LI<br />

não poderia ser acentuada, pois I, mesmo<br />

sendo a tônica do hiato, não é a última vogal,<br />

portanto, essa afirmativa é falsa.<br />

A afirmação III considera que a sílaba<br />

tônica é LI, não havendo acento por ser o I a<br />

primeira vogal do hiato. Portanto, essa<br />

afirmação é verdadeira.<br />

Concluindo, temos como verdadeiras as<br />

afirmações I e III. Então, a alternativa E é a<br />

correta. Questão de nível difícil.<br />

Comentário do INEP<br />

Dentre os participantes, somente pouco<br />

mais de um terço (35%) demonstrou possuir<br />

a habilidade para identificar as regras de<br />

acentuação corretas, enunciadas na questão.<br />

Chama a atenção o fato de que 73% dos<br />

participantes (alternativas A, D e E)<br />

reconheceram corretamente, pelo menos, a<br />

regra contida no item I, sendo que cerca de<br />

40% desses, contudo, tiveram dificuldades<br />

em analisar as regras II e III.<br />

Em se tratando de palavra não-usual, é,<br />

sobretudo, o domínio do conhecimento das<br />

regras e não a possível pronúncia correta,<br />

pelo uso, o que parece ter sido revelado.<br />

49) (2008)<br />

Exame, 28/9/2007.<br />

Entre os seguintes ditos populares, qual<br />

deles melhor corresponde à figura<br />

acima?<br />

A) Com perseverança, tudo se alcança.<br />

B) Cada macaco no seu galho.<br />

C) Nem tudo que balança cai.<br />

D) Quem tudo quer, tudo perde.<br />

E) Deus ajuda quem cedo madruga.<br />

Comentário<br />

Assim como a questão 37, esta também<br />

envolve interpretação de signos, ou seja, o<br />

aluno precisa estar atento à imagem e<br />

relacioná-la ao dito popular correspondente.<br />

A alternativa "A" é a correta, pois, para<br />

uma lesma “grudenta” e vagarosa conseguir<br />

pular numa cama elástica, é necessária<br />

muita perseverança.<br />

50) (2005) Leia estes textos.<br />

Texto 1<br />

Texto 2<br />

Sonhar<br />

Mais um sonho impossível<br />

Lutar<br />

Quando é fácil ceder<br />

Vencer o inimigo invencível<br />

Negar quando a regra é vender<br />

Sofrer a tortura implacável<br />

Romper a incabível prisão<br />

Voar num limite improvável<br />

Tocar o inacessível chão<br />

É minha lei, é minha questão<br />

Virar esse mundo<br />

Cravar esse chão<br />

Não me importa saber<br />

Se é terrível demais<br />

Quantas guerras terei que vencer<br />

Por um pouco de paz<br />

E amanhã se esse chão que eu beijei<br />

For meu leito e perdão<br />

Vou saber que valeu delirar<br />

E morrer de paixão<br />

E assim, seja lá como for<br />

Vai ter fim a infinita aflição<br />

E o mundo vai ver uma flor<br />

Brotar do impossível chão.<br />

(J. Darione – M. Leigh – Versão de Chico Buarque de<br />

Hollanda e Ruy Guerra, 1972.)<br />

A tirinha e a canção apresentam uma<br />

reflexão sobre o futuro da humanidade. É<br />

correto concluir que os dois textos<br />

A) afirmam que o homem é capaz de<br />

alcançar a paz.<br />

B) concordam que o desarmamento é<br />

inatingível.<br />

C) julgam que o sonho é um desafio<br />

invencível.<br />

D) têm visões diferentes sobre um<br />

possível mundo melhor.<br />

E) transmitem uma mensagem de<br />

otimismo sobre a paz.<br />

571


Comentário<br />

Enquanto o primeiro texto é ácido em<br />

relação à possibilidade de desarmamento da<br />

população (ou seja, à criação de uma<br />

sociedade mais pacífica), o segundo mostra<br />

a capacidade que a humanidade tem de crer<br />

e, por isso, tentar fazer até o que a princípio<br />

parece impossível. Para os autores da<br />

canção, nada é intrinsecamente impossível.<br />

A relação entre eles é de oposição:<br />

descrença x crença. Questão de nível de<br />

dificuldade médio.<br />

51) (2002) A crônica muitas vezes constitui<br />

um espaço para reflexão sobre aspectos<br />

da sociedade em que vivemos.<br />

"Eu, na rua, com pressa, e o menino<br />

segurou no meu braço, falou qualquer<br />

coisa que não entendi. Fui logo dizendo<br />

que não tinha, certa de que ele estava<br />

pedindo dinheiro. Não estava. Queria<br />

saber a hora.<br />

Talvez não fosse um Menino De<br />

Família, mas também não era um Menino<br />

De Rua. É assim que a gente divide.<br />

Menino De Família é aquele bem-vestido<br />

com tênis da moda e camiseta de marca,<br />

que usa relógio e a mãe dá outro se o<br />

dele for roubado por um Menino De Rua.<br />

Menino De Rua é aquele que quando a<br />

gente passa perto segura a bolsa com<br />

força porque pensa que ele é pivete,<br />

trombadinha, ladrão. (...) Na verdade não<br />

existem meninos De rua.<br />

Existem meninos NA rua. E toda vez<br />

que um menino está NA rua é porque<br />

alguém o botou lá. Os meninos não vão<br />

sozinhos aos lugares. Assim como são<br />

postos no mundo, durante muitos anos<br />

também são postos onde quer que<br />

estejam. Resta ver quem os põe na rua. E<br />

por quê."<br />

COLASSANTI, Marina. In: Eu sei, mas não devia. Rio de<br />

Janeiro: Rocco, 1999.<br />

No terceiro parágrafo em "... não existem<br />

meninos De rua. Existem meninos NA<br />

rua.", a troca de De pelo Na determina<br />

que a relação de sentido entre "menino" e<br />

"rua" seja<br />

A) de localização e não de qualidade.<br />

B) de origem e não de posse.<br />

C) de origem e não de localização.<br />

D) de qualidade e não de origem.<br />

E) de posse e não de localização.<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. Apesar de não haver<br />

um terceiro parágrafo neste texto, a troca das<br />

preposições ao final do SEGUNDO parágrafo<br />

indica claramente que não há um menino DE<br />

(proveniente de) rua, mas um menino que está<br />

NA (foi levado à) rua. Portanto, a relação é<br />

unicamente de localização (onde ele está) e<br />

não de qualidade (o que ele é).<br />

Comentário do INEP<br />

A reprodução de um trecho de uma<br />

crônica de Marina Colassanti tematiza uma<br />

importante questão social brasileira: a<br />

presença de milhões de crianças nas ruas do<br />

País. A autora, ao tratar desse problema,<br />

vale-se de recursos lingüísticos específicos.<br />

O objetivo desta questão é justamente<br />

chamar a atenção do participante leitor para<br />

esses recursos e os efeitos de sentido que<br />

eles desencadeiam no texto. Na raiz da<br />

questão destaca-se a troca de "De" por "NA"<br />

e pede-se que se determine qual relação de<br />

sentido essa substituição estabelece entre os<br />

termos "menino" e "rua". Analisar a relação,<br />

nesse caso, significa perguntar-se sobre o<br />

sentido de dois sintagmas criados no texto:<br />

"meninos NA rua" por oposição a "meninos<br />

De rua". O que a autora pretende negar, com<br />

a troca do termo de relação, é a possibilidade<br />

de que existam meninos de rua diferentes de<br />

outros meninos, que não têm na rua a sua<br />

origem. O destaque para a preposição na<br />

nos leva a refletir que a relação dos meninos<br />

com a rua é de localização: eles estão ali por<br />

alguma razão, não porque essa seja a sua<br />

qualificação. Essa reflexão levaria o aluno a<br />

escolher, como correta, a resposta<br />

apresentada na alternativa A, assinalada por<br />

cerca de metade dos participantes.<br />

52) (2000) O uso do pronome átono no início<br />

das frases é destacado por um poeta e<br />

por um gramático nos textos abaixo.<br />

Pronominais<br />

Dê-me um cigarro<br />

Diz a gramática<br />

Do professor e do aluno<br />

E do mulato sabido<br />

Mas o bom negro e o bom branco<br />

da Nação Brasileira<br />

Dizem todos os dias<br />

Deixa disso camarada<br />

Me dá um cigarro<br />

(ANDRADE, Oswald de. Seleção de textos.<br />

São Paulo: Nova Cultural, 1988)<br />

572


“Iniciar a frase com pronome átono só<br />

é lícito na conversação familiar,<br />

despreocupada, ou na língua escrita<br />

quando se deseja reproduzir a fala dos<br />

personagens (...).”<br />

(CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da<br />

língua portuguesa.<br />

São Paulo: Nacional, 1980)<br />

Comparando a explicação dada pelos<br />

autores sobre essa regra, pode-se afirmar<br />

que ambos:<br />

A) condenam essa regra gramatical.<br />

B) acreditam que apenas os esclarecidos<br />

sabem essa regra.<br />

C) criticam a presença de regras na<br />

gramática.<br />

D) afirmam que não há regras para uso de<br />

pronomes.<br />

E) relativizam essa regra gramatical.<br />

Comentário<br />

Questão que requer conhecimento básico<br />

de colocação pronominal, em relação ao uso<br />

de pronomes átonos no início de frases, uma<br />

regra muito pouco respeitada pelo brasileiro,<br />

da qual Oswald de Andrade faz questão de<br />

falar em seu poema. Porém, a questão pode<br />

ser resolvida simplesmente por meio de uma<br />

leitura bem atenta dos textos. Se formos<br />

analisando alternativa por alternativa, a<br />

eliminação é clara e lógica: a alternativa a<br />

fica totalmente descartada devido à<br />

transparência da colocação dos dois autores<br />

(Me dá um cigarro...) e (iniciar frases com o<br />

pronome átono é "lícito" na conversação<br />

familiar ou despreocupada). Já a alternativa b<br />

pode até mesmo gerar um pouco de dúvida a<br />

quem não se atém bem à pergunta. Quanto<br />

às alternativas c e d, ficam descartadas, pois,<br />

em momento nenhum, os autores criticaram<br />

o uso de regras gramaticais em seus textos,<br />

cabendo perfeitamente a alternativa e para<br />

as afirmações do gramático e do poeta.<br />

Comentário do INEP<br />

Essa questão pretendia verificar como o<br />

participante analisa um fato lingüístico,<br />

mediante a comparação da descrição desse<br />

fato em dois textos. Sabe-se que,<br />

normalmente em situação escolar, o uso do<br />

pronome átono no início da frase é julgado<br />

como grave desvio gramatical, e pouco se<br />

analisa esse uso na fala ou escrita informal.<br />

Os dois autores dos textos, com intenções<br />

diferentes, relativizam essa regra gramatical,<br />

destacando e descrevendo o seu uso<br />

coloquial. A maioria dos participantes (52%)<br />

analisou e comparou corretamente as<br />

posições dos autores sobre o uso do<br />

pronome átono, e 24% deles reafirmaram a<br />

posição discriminatória da regra, deslocandoa<br />

de seu uso.<br />

53) (2000) As histórias em quadrinhos, por<br />

vezes, utilizam animais como<br />

personagens e a eles atribuem<br />

comportamento humano. O gato Garfield<br />

é exemplo desse fato.<br />

Fonte: Caderno Vida e Arte, Jornal do Povo, Fortaleza<br />

Van Gogh, pintor holandês nascido em<br />

1853, é um dos principais nomes da<br />

pintura mundial. É dele o quadro abaixo.<br />

Auto-retrato de orelha cortada<br />

O 3º quadrinho sugere que Garfield:<br />

A) desconhece tudo sobre arte, por isso<br />

faz a sugestão.<br />

B) acredita que todo pintor deve fazer algo<br />

diferente.<br />

C) defende que para ser pintor a pessoa<br />

tem de sofrer.<br />

D) conhece a história de um pintor<br />

famoso e faz uso da ironia.<br />

E) acredita que seu dono tenha tendência<br />

artística e, por isso, faz a sugestão.<br />

Comentário<br />

Outra questão de interpretação de texto.<br />

Muito simples para quem um dia ouviu falar<br />

de Van Gogh, e simplíssima para aqueles<br />

que prestam atenção em todos os elementos<br />

do enunciado. Afinal, quem deu uma<br />

espiadinha na legenda do quadro de Van<br />

Gogh matou na hora a questão.<br />

Esta questão é daquelas rápidas de serem<br />

resolvidas, associando-se os elementos<br />

apresentados.<br />

Comentário do INEP<br />

A significativa maioria (81%) dos<br />

participantes soube perceber o caráter<br />

irônico da fala do Garfield, expressa no<br />

terceiro quadrinho porque, ou conheciam a<br />

573


história de Van Gogh, ou apropriaram-se<br />

corretamente da informação sobre esse<br />

pintor, fornecida no enunciado.<br />

54) (2004)<br />

A tira "Hagar" e o poema de Alberto<br />

Caeiro (um dos heterônimos de Fernando<br />

Pessoa) expressam, com linguagens<br />

diferentes, uma mesma idéia: a de que a<br />

compreensão que temos do mundo é<br />

condicionada, essencialmente,<br />

A) pelo alcance de cada cultura.<br />

B) pela capacidade visual do observador.<br />

C) pelo senso de humor de cada um.<br />

D) pela idade do observador.<br />

E) pela altura do ponto de observação.<br />

Comentário<br />

Questão reflexiva sobre a forma como<br />

cada cultura vê o mundo sob a ótica dos<br />

limites dados pelos seus costumes e<br />

possibilidades de pensamento inerentes a<br />

cada modelo cultural. A mistura de uma tira e<br />

de um poema amplia a possibilidade de<br />

pensamento por trabalhar com linguagens<br />

diferentes. A alternativa correta é a letra A,<br />

pois ambos (tira e poema) utilizam figuras de<br />

linguagem (metáfora e ironia) para expressar<br />

as diferentes visões de mundo.<br />

55) (2003)<br />

O humor presente na tirinha decorre<br />

principalmente do fato de a personagem<br />

Mafalda<br />

A) atribuir, no primeiro quadrinho, poder<br />

ilimitado ao dedo indicador.<br />

B) considerar seu dedo indicador tão<br />

importante quanto o dos patrões.<br />

C) atribuir, no primeiro e no último<br />

quadrinhos, um mesmo sentido ao<br />

vocábulo "indicador".<br />

D) usar corretamente a expressão<br />

"indicador de desemprego", mesmo<br />

sendo criança.<br />

E) atribuir, no último quadrinho, fama<br />

exagerada ao dedo indicador dos<br />

patrões.<br />

Comentário<br />

A questão pede a interpretação de uma<br />

charge da personagem Mafalda, em que ela<br />

faz referência a seu dedo indicador, que é<br />

usado como substantivo primitivo e que<br />

possibilita a analogia com “indicador de<br />

desemprego”. Dessa forma, ela ironiza os<br />

indicadores sociais. Na charge, porém, não<br />

há menção explícita aos índices<br />

“indicadores”, permanecendo o raciocínio<br />

preso apenas ao dedo indicador. Assim, ela<br />

utiliza, tanto no primeiro quanto no último<br />

quadrinho, a palavra “indicador” como<br />

referência ao dedo, não dando abertura a<br />

outro tipo de interpretação.<br />

56) (2002)<br />

De acordo com a história em quadrinhos<br />

protagonizada por Hagar e seu filho<br />

Hamlet, pode-se afirmar que a postura de<br />

Hagar<br />

A) valoriza a existência da diversidade<br />

social e de culturas, e as várias<br />

representações e explicações desse<br />

universo.<br />

B) desvaloriza a existência da<br />

diversidade social e as várias culturas,<br />

e determina uma única explicação para<br />

esse universo.<br />

C) valoriza a possibilidade de explicar as<br />

sociedades e as culturas a partir de<br />

várias visões de mundo.<br />

D) valoriza a pluralidade cultural e social<br />

ao aproximar a visão de mundo de<br />

navegantes e não-navegantes.<br />

E) desvaloriza a pluralidade cultural e<br />

social, ao considerar o mundo habitado<br />

apenas pelos navegantes.<br />

574


Comentário<br />

Questão de nível fácil. Hagar reduz o<br />

mundo a dois tipos de pessoas: navegantes<br />

e não-navegantes. No último quadrinho, diz<br />

que são os navegantes que estabelecem<br />

esses dois grupos. Portanto, quem é<br />

diferente dos navegantes (que estabelecem<br />

o padrão) simplesmente é incluído na massa<br />

única dos não-navegantes. Não importa<br />

quem ou quantos sejam, sua diversidade<br />

social ou cultural em relação aos navegantes<br />

ou entre si. Vemos aí a desvalorização de<br />

outras culturas.<br />

Comentário do INEP<br />

Dentre as habilidades básicas para a<br />

compreensão de um texto destaca-se a<br />

capacidade do leitor de identificar os<br />

pressupostos de cada afirmação que lhe é<br />

apresentada. Nesta questão o participante<br />

deve identificar a posição tanto de Hagar<br />

como de seu filho Hamlet e, em seguida,<br />

avaliar quais os argumentos que justificam a<br />

opinião de Hagar ao definir que no mundo só<br />

existem dois tipos de pessoas. A pergunta de<br />

Hamlet a seu pai explicita a importância do<br />

ato de narrar através do diálogo e do efeito<br />

humorístico contido no episódio representado<br />

na tira. O resultado da compreensão<br />

acertada do diálogo é que o narrador torna<br />

inteligível, para si e para os outros, a lógica<br />

do seu pensamento através do diálogo entre<br />

os dois personagens. É importante observar<br />

que o humor do personagem Hagar é<br />

identificado na postura simetricamente<br />

oposta à de Michel de Montaigne, por<br />

exemplo (ver questão 58): a sua visão de<br />

mundo apresenta-se autocentrada, isto é,<br />

centrada nos seus próprios valores (vikings).<br />

A habilidade requerida do participante nessa<br />

questão, qual seja, "valorizar a diversidade<br />

dos patrimônios etnoculturais", é mobilizada<br />

aqui na sua dimensão negativa: é criticando<br />

a postura chauvinista de Hagar que o<br />

participante é capaz de responder<br />

corretamente a questão. A última alternativa<br />

(E) funciona como um distrator, pois neste<br />

caso não está suposta a crítica do discurso<br />

do personagem. Cerca de um terço dos<br />

participantes assinalou a alternativa correta<br />

B. As demais opções são devidas,<br />

possivelmente, a uma leitura pouco<br />

compreensiva das alternativas associadas a<br />

história em quadrinhos.<br />

H30 - Relacionar as tecnologias<br />

de comunicação e<br />

informação ao<br />

desenvolvimento das<br />

sociedades e ao<br />

conhecimento que elas<br />

produzem<br />

01) (2008) Calcula-se que 78% do<br />

desmatamento na Amazônia tenha sido<br />

motivado pela pecuária — cerca de 35%<br />

do rebanho nacional está na região — e<br />

que pelo menos 50 milhões de hectares<br />

de pastos são pouco produtivos. Enquanto<br />

o custo médio para aumentar a<br />

produtividade de 1 hectare de pastagem é<br />

de 2 mil reais, o custo para derrubar igual<br />

área de floresta é estimado em 800 reais,<br />

o que estimula novos desmatamentos.<br />

Adicionalmente, madeireiras retiram as<br />

árvores de valor comercial que foram<br />

abatidas para a criação de pastagens. Os<br />

pecuaristas sabem que problemas<br />

ambientais como esses podem provocar<br />

restrições à pecuária nessas áreas, a<br />

exemplo do que ocorreu em 2006 com o<br />

plantio da soja, o qual, posteriormente, foi<br />

proibido em áreas de floresta.<br />

Época, 3/3/2008 e 9/6/2008 (com adaptações).<br />

A partir da situação-problema descrita,<br />

conclui-se que<br />

A) o desmatamento na Amazônia decorre<br />

principalmente da exploração ilegal de<br />

árvores de valor comercial.<br />

B) um dos problemas que os pecuaristas<br />

vêm enfrentando na Amazônia é a<br />

proibição do plantio de soja.<br />

C) a mobilização de máquinas e de força<br />

humana torna o desmatamento mais<br />

caro que o aumento da produtividade<br />

de pastagens.<br />

D) o superavit comercial decorrente da<br />

exportação de carne produzida na<br />

Amazônia compensa a possível<br />

degradação ambiental.<br />

E) a recuperação de áreas desmatadas<br />

e o aumento de produtividade das<br />

pastagens podem contribuir para a<br />

redução do desmatamento na<br />

Amazônia.<br />

Comentário do portal<br />

Essa questão retrata o problema do<br />

desmatamento da Amazônia, relacionado<br />

principalmente com o desenvolvimento da<br />

pecuária na região. Para resolvê-la, foram<br />

575


necessários a leitura atenta do texto e o<br />

conhecimento sobre os problemas<br />

ambientais da atualidade. A alternativa<br />

correta é a letra E, pois é mais caro para os<br />

pecuaristas aumentar a produtividade do que<br />

as áreas de pasto, o que acarreta o aumento<br />

do desmatamento da Amazônia.<br />

02) (2008) A Lei Federal n.º 9.985/2000, que<br />

instituiu o sistema nacional de unidades<br />

de conservação, define dois tipos de<br />

áreas protegidas. O primeiro, as unidades<br />

de proteção integral, tem por objetivo<br />

preservar a natureza, admitindo-se<br />

apenas o uso indireto dos seus recursos<br />

naturais, isto é, aquele que não envolve<br />

consumo, coleta, dano ou destruição dos<br />

recursos naturais. O segundo, as<br />

unidades de uso sustentável, tem por<br />

função compatibilizar a conservação da<br />

natureza com o uso sustentável de<br />

parcela dos recursos naturais. Nesse<br />

caso, permite-se a exploração do<br />

ambiente de maneira a garantir a<br />

perenidade dos recursos ambientais<br />

renováveis e dos processos ecológicos,<br />

mantendo-se a biodiversidade e os<br />

demais atributos ecológicos, de forma<br />

socialmente justa e economicamente<br />

viável.<br />

Considerando essas informações, analise<br />

a seguinte situação hipotética.<br />

Ao discutir a aplicação de recursos<br />

disponíveis para o desenvolvimento de<br />

determinada região, organizações civis,<br />

universidade e governo resolveram<br />

investir na utilização de uma unidade de<br />

proteção integral, o Parque Nacional do<br />

Morro do Pindaré, e de uma unidade de<br />

uso sustentável, a Floresta Nacional do<br />

Sabiá. Depois das discussões, a equipe<br />

resolveu levar adiante três projetos:<br />

— o projeto I consiste de pesquisas<br />

científicas embasadas exclusivamente<br />

na observação de animais;<br />

— o projeto II inclui a construção de uma<br />

escola e de um centro de vivência;<br />

— o projeto III promove a organização de<br />

uma comunidade extrativista que<br />

poderá coletar e explorar<br />

comercialmente frutas e sementes<br />

nativas.<br />

Nessa situação hipotética, atendendo-se à<br />

lei mencionada acima, é possível<br />

desenvolver tanto na unidade de proteção<br />

integral quanto na de uso sustentável<br />

A) apenas o projeto I.<br />

B) apenas o projeto III.<br />

576<br />

C) apenas os projetos I e II.<br />

D) apenas os projetos II e III.<br />

E) todos os três projetos.<br />

Comentário do portal<br />

A alternativa correta é a letra "A", pois,<br />

analisando-se a situação hipotética sugerida<br />

no enunciado, percebe-se que ela deverá<br />

atender os requisitos tanto da unidade de<br />

proteção integral quanto da unidade de uso<br />

sustentável. Portanto, apenas o projeto I<br />

poderá ser desenvolvido nessas duas<br />

propostas de unidades.<br />

03) (1999) Leia o texto abaixo.<br />

Cabelos longos, brinco na orelha<br />

esquerda, físico de skatista. Na aparência,<br />

o estudante brasiliense Rui Lopes Viana<br />

Filho, de 16 anos, não lembra em nada o<br />

estereótipo dos gênios. Ele não usa<br />

pesados óculos de grau e está longe de<br />

ter um ar introspectivo. No final do mês<br />

passado, Rui retornou de Taiwan, onde<br />

enfrentou 419 competidores de todo o<br />

mundo na 39ª Olimpíada Internacional de<br />

Matemática. A reluzente medalha de ouro<br />

que ele trouxe na bagagem está<br />

dependurada sobre a cama de seu quarto,<br />

atulhado de rascunhos dos problemas<br />

matemáticos que aprendeu a decifrar nos<br />

últimos cinco anos.<br />

Veja – Vencer uma olimpíada serve de<br />

passaporte para uma carreira profissional<br />

meteórica?<br />

Rui – Nada disso. Decidi me dedicar à<br />

Olimpíada porque sei que a concorrência<br />

por um emprego é cada vez mais<br />

selvagem e cruel. Agora tenho algo a mais<br />

para oferecer. O problema é que as coisas<br />

estão mudando muito rápido e não sei<br />

qual será minha profissão. Além de ser<br />

muito novo para decidir sobre o meu<br />

futuro profissional, sei que esse conceito<br />

de carreira mudou muito.<br />

(Entrevista de Rui Lopes Viana Filho à Veja,<br />

05/08/1998, n.31, p. 9-<strong>10</strong>)<br />

Na pergunta, o repórter estabelece uma<br />

relação entre a entrada do estudante no<br />

mercado de trabalho e a vitória na<br />

Olimpíada. O estudante<br />

A) concorda com a relação e afirma que o<br />

desempenho na Olimpíada é<br />

fundamental para sua entrada no<br />

mercado.<br />

B) discorda da relação e complementa<br />

que é fácil se fazer previsões sobre o<br />

mercado de trabalho.


C) discorda da relação e afirma que seu<br />

futuro profissional independe de<br />

dedicação aos estudos.<br />

D) discorda da relação e afirma que seu<br />

desempenho só é relevante se<br />

escolher uma profissão relacionada à<br />

matemática.<br />

E) concorda em parte com a relação e<br />

complementa que é complexo fazer<br />

previsões sobre o mercado de trabalho.<br />

Comentário<br />

Não é difícil de se chegar à resposta<br />

correta ao se ler a reportagem. Ao final do<br />

último parágrafo — (...) Além de ser muito<br />

novo para decidir sobre o meu futuro<br />

profissional, sei que esse conceito de carreira<br />

mudou muito. —, o estudante praticamente<br />

fornece a resposta à questão, declarando-se<br />

realista ao não tentar prever seu futuro<br />

profissional devido à pouca idade e às<br />

mudanças no mercado de trabalho. Quanto a<br />

concordar parcialmente com o repórter, veja<br />

que ele, apesar de negar que o prêmio fosse<br />

uma garantia de sucesso profissional, logo<br />

depois afirma que, com ele, terá algo mais a<br />

oferecer ao mercado. Questão de nível fácil.<br />

Comentário do INEP<br />

Nesta situação-problema, o participante<br />

deveria demonstrar que compreendeu as<br />

premissas de um discurso, distinguindo a<br />

diferença de significado de palavras isoladas<br />

ou no contexto em que estão inseridas.<br />

Verificou-se que mais da metade dos<br />

participantes demonstrou possuir essa<br />

compreensão. Aqueles que optaram pelas<br />

alternativas C e D podem ter sido atraídos<br />

pelo significado negativo da expressão inicial<br />

"Nada disso".<br />

04) (1998) Texto 1<br />

"Mulher, Irmã, escuta-me: não ames,<br />

Quando a teus pés um homem terno e<br />

curvo<br />

jurar amor, chorar pranto de sangue,<br />

Não creias, não, mulher: ele te engana!<br />

As lágrimas são gotas da mentira<br />

E o juramento manto da perfídia."<br />

(Joaquim Manoel de Macedo)<br />

Texto 2<br />

"Teresa, se algum sujeito bancar o<br />

sentimental em cima de você<br />

E te jurar uma paixão do tamanho de um<br />

bonde<br />

Se ele chorar<br />

Se ele ajoelhar<br />

Se ele se rasgar todo<br />

Não acredite não Teresa<br />

É lágrima de cinema<br />

É tapeação<br />

Mentira<br />

CAI FORA"<br />

(Manuel Bandeira)<br />

Os autores, ao fazerem alusão às<br />

imagens da lágrima sugerem que:<br />

A) há um tratamento idealizado da<br />

relação homem/mulher.<br />

B) há um tratamento realista da relação<br />

homem/mulher.<br />

C) a relação familiar é idealizada.<br />

D) a mulher é superior ao homem.<br />

E) a mulher é igual ao homem.<br />

Comentário<br />

Ambos os autores, ao utilizarem a<br />

imagem da lágrima, estão na realidade<br />

mostrando que a figura do homem que é<br />

romântico a ponto de chorar ao jurar amor<br />

não existe. Tanto Macedo quanto<br />

Bandeira alertam as mulheres dizendo,<br />

com palavras e estilos diferentes, que não<br />

há homem que chore por amor (portanto,<br />

essa figura é uma idealização — e, por<br />

conseguinte, toda imagem que se tem<br />

sobre os relacionamentos<br />

demasiadamente românticos). Note que<br />

Bandeira chega até mesmo a chamar tal<br />

"chorão" de ator ("...É lágrima de cinema /<br />

É tapeação..."). Macedo dá uma imagem<br />

pesada às lágrimas ("...são gotas da<br />

mentira...").<br />

05) (1999) Considere os textos abaixo.<br />

(...) de modo particular, quero encorajar os<br />

crentes empenhados no campo da<br />

filosofia para que iluminem os diversos<br />

âmbitos da atividade humana, graças ao<br />

exercício de uma razão que se torna mais<br />

segura e perspicaz com o apoio que<br />

recebe da fé.<br />

(Papa João Paulo II. Carta Encíclica Fides<br />

et Ratio aos bispos da igreja católica sobre as relações<br />

entre fé e razão, 1998)<br />

As verdades da razão natural não<br />

contradizem as verdades da fé cristã.<br />

(São Tomás de Aquino<br />

–pensador medieval)<br />

Refletindo sobre os textos, pode-se<br />

concluir que:<br />

A) a encíclica papal está em contradição<br />

com o pensamento de São Tomás de<br />

Aquino, refletindo a diferença de<br />

épocas.<br />

577


B) a encíclica papal procura<br />

complementar São Tomás de Aquino,<br />

pois este colocava a razão natural<br />

acima da fé.<br />

C) a Igreja medieval valorizava a razão<br />

mais do que a encíclica de João Paulo<br />

II.<br />

D) o pensamento teológico teve sua<br />

importância na Idade Média, mas, em<br />

nossos dias, não tem relação com o<br />

pensamento filosófico.<br />

E) tanto a encíclica papal como a frase<br />

de São Tomás de Aquino procuram<br />

conciliar os pensamentos sobre fé e<br />

razão.<br />

Comentário<br />

Nessa questão, é necessária uma<br />

releitura do texto para que se tenha uma<br />

melhor compreensão do tema. Tanto a<br />

citação do Papa quanto a de São Tomás de<br />

Aquino tentam criar uma interdependência<br />

entre a ciência e a fé, a religião. O Papa<br />

incentiva aqueles que exercem a pesquisa<br />

científica ou filosófica a manter a fé cristã.<br />

São Tomás de Aquino, por sua vez, equipara<br />

o avanço da ciência ao aumento da própria<br />

fé, afirmando que a razão natural não<br />

contradiz a fé cristã. Se um cresce, cresce<br />

também o outro, em harmonia e sem<br />

contradições. Questão de grau médio.<br />

(Português)<br />

Nessa questão, encontramos dois textos:<br />

o primeiro, do século XX, foi elaborado pelo<br />

Papa João Paulo II; o segundo, do século<br />

XIII, pelo teólogo e filósofo cristão São<br />

Tomás de Aquino. O conteúdo de ambos se<br />

refere à ligação entre fé e razão, a qual<br />

esteve presente na filosofia escolástica da<br />

Idade Média. Esse campo de reflexão buscou<br />

conciliar o cristianismo com o pensamento de<br />

Aristóteles e teve em São Tomás de Aquino<br />

seu maior representante.<br />

Mesmo sem ter todas essas informações,<br />

você poderia responder tranqüilamente à<br />

questão por meio de uma leitura atenta dos<br />

dois textos, chegando à conclusão de que<br />

"tanto a encíclica papal como a frase de São<br />

Tomás de Aquino procuram conciliar os<br />

pensamentos sobre fé e razão". Resposta<br />

correta: alternativa E. (História)<br />

Comentário do INEP<br />

Para resolver esta situação-problema, o<br />

participante deveria mostrar que, além de<br />

interpretar textos, sabe relacioná-los sendo<br />

que, nesse item, essas operações referem-se<br />

a um texto escrito na época medieval e a<br />

outro escrito recentemente.<br />

578<br />

Mais de 70% dos participantes<br />

demonstraram facilidade em estabelecer esta<br />

relação.<br />

06) (1999) Leia um texto publicado no jornal<br />

Gazeta Mercantil. Esse texto é parte de<br />

um artigo que analisa algumas situações<br />

de crise no mundo, entre elas, a quebra<br />

da Bolsa de Nova Iorque em 1929, e foi<br />

publicado na época de uma iminente crise<br />

financeira no Brasil.<br />

Deu no que deu. No dia 29 de outubro de<br />

1929, uma terça-feira, praticamente não<br />

havia compradores no pregão de Nova<br />

Iorque, só vendedores. Seguiu-se uma<br />

crise incomparável: o Produto Interno<br />

Bruto dos Estados Unidos caiu de <strong>10</strong>4<br />

bilhões de dólares em 1929, para 56<br />

bilhões em 1933, coisa inimaginável em<br />

nossos dias. O valor do dólar caiu a quase<br />

metade. O desemprego elevou-se de 1,5<br />

milhão para 12,5 milhões de trabalhadores<br />

– cerca de 25% da população ativa –<br />

entre 1929 e 1933. A construção civil caiu<br />

90%. Nove milhões de aplicações, tipo<br />

caderneta de poupança, perderam-se com<br />

o fechamento dos bancos. Oitenta e cinco<br />

mil firmas faliram. Houve saques e norteamericanos<br />

que passaram fome.<br />

(Gazeta Mercantil, 05/01/1999)<br />

Ao citar dados referentes à crise ocorrida<br />

em 1929, em um artigo jornalístico atual,<br />

pode-se atribuir ao jornalista a seguinte<br />

intenção:<br />

A) questionar a interpretação da crise.<br />

B) comunicar sobre o desemprego.<br />

C) instruir o leitor sobre aplicações em<br />

bolsa de valores.<br />

D) relacionar os fatos passados e<br />

presentes.<br />

E) analisar dados financeiros americanos.<br />

Comentário<br />

Nessa questão, o que se tem de fazer é<br />

prestar atenção às alternativas das<br />

respostas. Nenhuma delas se apresenta tão<br />

bem contextualizada a uma possível<br />

interpretação quanto a letra D. Partindo-se da<br />

análise do texto, fica claro que a intenção do<br />

artigo é remeter o leitor ao passado para<br />

tentar conduzi-lo a uma reflexão sobre uma<br />

situação presente, não mencionada na<br />

questão. Após a leitura e utilizando-se a já<br />

citada eliminação de questões, torna-se clara<br />

a resposta. Questão de nível médio.<br />

(Português)


Muitas vezes, quando procuramos<br />

entender uma crise econômica ou financeira<br />

de grandes proporções, buscamos<br />

estabelecer relações com crises passadas. O<br />

mesmo ocorre no jornalismo, como prova o<br />

texto encontrado nessa questão. Buscando<br />

entender uma crise ocorrida no início de<br />

1999, o jornalista da Gazeta Mercantil<br />

buscou relacionar a situação dessa época<br />

com a grande crise de 1929 que afetou o<br />

mundo, trazendo desemprego e recessão,<br />

entre tantos outros problemas econômicos e<br />

sociais.<br />

Para responder a essa questão, era<br />

necessário ler atentamente o enunciado, em<br />

que está destacado que "o texto é parte de<br />

um artigo que analisa algumas situações de<br />

crise no mundo" e "foi publicado na época de<br />

uma iminente crise financeira no Brasil". Era<br />

importante também observar a data em que o<br />

artigo foi publicado: 05/01/1999. A partir<br />

dessas constatações, facilmente você<br />

chegaria a conclusão de que a intenção do<br />

jornalista era "relacionar os fatos passados e<br />

presentes". Resposta correta: alternativa D.<br />

(História)<br />

Comentário do INEP<br />

A resolução da questão demandava a<br />

capacidade dos participantes de relacionar<br />

eventos históricos envolvendo crises<br />

econômicas ocorridas em épocas e lugares<br />

distintos. Aproximadamente 2/3 deles<br />

demonstraram essa capacidade. Os demais,<br />

provavelmente, não compreenderam a<br />

exigência expressa no enunciado do<br />

problema – apontar as razões pelas quais um<br />

jornalista traz à tona eventos ocorridos<br />

setenta anos antes –, e apenas interpretaram<br />

o sentido do texto citado, que descreve a<br />

crise mundial de 1929.<br />

Das obras reproduzidas, todas de autoria<br />

do pintor espanhol Pablo Picasso, aquela<br />

em cuja composição foi adotado um<br />

procedimento semelhante é:<br />

A)<br />

B)<br />

C)<br />

D)<br />

07) (2002) O autor da tira utilizou os<br />

princípios de composição de um<br />

conhecido movimento artístico para<br />

representar a necessidade de um mesmo<br />

observador aprender a considerar,<br />

simultaneamente, diferentes pontos de<br />

vista.<br />

E)<br />

579


Comentário<br />

Questão de nível fácil. O movimento<br />

artístico que previa considerar<br />

simultaneamente diversos pontos de vista<br />

era o Cubismo. Havia a desconstrução da<br />

forma para que se pudesse ver todos os<br />

ângulos concomitantemente. O único quadro<br />

que apresenta essas características é o da<br />

alternativa E. As outras quatro alternativas<br />

pressupõem a manutenção da forma.<br />

Comentário do INEP<br />

O objetivo desta questão é levar o<br />

participante a refletir sobre características<br />

fundamentais de um movimento artístico – o<br />

cubismo – a partir de dados visuais:<br />

quadrinhos e pinturas. A reprodução de dois<br />

quadrinhos da personagem Calvin forneceu<br />

para o participante informações básicas para<br />

a análise que deveria fazer das alternativas<br />

apresentadas. Segundo os quadrinhos, o<br />

movimento artístico abordado pela questão<br />

tinha como procedimento de composição<br />

representar, para um mesmo observador,<br />

diferentes pontos de vista, fazendo com que<br />

"o tradicional único ponto de vista" fosse<br />

abandonado e com que a perspectiva fosse<br />

fraturada. A análise das obras de Picasso<br />

reproduzidas nas alternativas permite que o<br />

participante reconheça a adoção desse<br />

procedimento no quadro "Marie-Thérèse<br />

apoiada no cotovelo" (alternativa E, com 46%<br />

de registros), no qual se pode reconhecer a<br />

representação de diferentes pontos de vista<br />

a partir dos quais é apresentado o rosto da<br />

mulher retratada.<br />

B) "... a casa que ele fazia<br />

Sendo a sua liberdade<br />

Era a sua escravidão."<br />

C) "Naquela casa vazia<br />

Que ele mesmo levantara<br />

Um mundo novo nascia<br />

De que sequer suspeitava."<br />

D) "... o operário faz a coisa<br />

E a coisa faz o operário."<br />

E) "Ele, um humilde operário<br />

Um operário que sabia<br />

Exercer a profissão."<br />

MORAES, Vinícius de. Antologia Poética. São Paulo:<br />

Companhia das Letras, 1992.<br />

Comentário<br />

Idéias que se completam e se excluem<br />

mutuamente são encontradas na alternativa<br />

B: a casa que ele construía era, ao mesmo<br />

tempo, sua liberdade e sua escravidão.<br />

A casa é um símbolo de liberdade para o<br />

homem. Para o homem operário, é também<br />

símbolo de escravidão, pois ele está<br />

"condenado" a jamais usufruir do resultado<br />

do seu trabalho (a casa que faz não é para<br />

ele).<br />

Comentário do INEP<br />

Esta questão propõe ao participante que<br />

estabeleça uma relação entre linguagens,<br />

associando a compreensão de um efeito<br />

semântico produzido pelo uso do oxímoro<br />

nos quadrinhos com o mesmo efeito num<br />

texto poético. O índice (18%) de escolhas da<br />

alternativa D deve-se, possivelmente, a uma<br />

análise parcial da noção de paradoxo,<br />

confundida com inversão.<br />

08) (2001) Oxímoro (ou paradoxo) é uma<br />

construção textual que agrupa significados<br />

que se excluem mutuamente. Para<br />

Garfield, a frase de saudação de Jon<br />

(tirinha abaixo) expressa o maior de todos<br />

os oxímoros.<br />

09) (2005) Cândido Portinari (1903-1962), um<br />

dos mais importantes artistas brasileiros<br />

do século XX, tratou de diferentes<br />

aspectos da nossa realidade em seus<br />

quadros.<br />

Folha de S. Paulo. 31 de julho de 2000.<br />

Nas alternativas abaixo, estão transcritos<br />

versos retirados do poema “O operário em<br />

construção”. Pode-se afirmar que ocorre<br />

um oxímoro em<br />

A) "Era ele que erguia casas<br />

Onde antes só havia chão."<br />

580


Sobre a temática dos “Retirantes”,<br />

Portinari também escreveu o seguinte<br />

poema:<br />

(....)<br />

Os retirantes vêm vindo com trouxas e<br />

embrulhos<br />

Vêm das terras secas e escuras;<br />

pedregulhos<br />

Doloridos como fagulhas de carvão aceso<br />

Corpos disformes, uns panos sujos,<br />

Rasgados e sem cor, dependurados<br />

Homens de enorme ventre bojudo<br />

Mulheres com trouxas caídas para o lado<br />

Pançudas, carregando ao colo um garoto<br />

Choramingando, remelento<br />

(....)<br />

(Cândido Portinari. Poemas. Rio de Janeiro:<br />

J. Olympio, 1964.)<br />

Das quatro obras reproduzidas, assinale<br />

aquelas que abordam a problemática que<br />

é tema do poema.<br />

A) 1 e 2 D) 3 e 4<br />

B) 1 e 3 E) 2 e 4<br />

C) 2 e 3<br />

Comentário<br />

O poema apresenta correspondência com<br />

as imagens ao descrever com detalhes a<br />

figura do retirante: pobre, mal vestido,<br />

carregando trouxas e embrulhos.<br />

<strong>10</strong>) (2002) "A palavra tatuagem é<br />

relativamente recente. Toda a gente sabe<br />

que foi o navegador Cook que a introduziu<br />

no Ocidente, e esse escrevia tattou, termo<br />

da Polinésia de tatou ou tu tahou,<br />

'desenho'.<br />

(...) Desde os mais remotos tempos,<br />

vemo-la a transformar-se: distintivo<br />

honorífico entre uns homens, ferrete de<br />

ignomínia entre outros, meio de assustar o<br />

adversário para os bretões, marca de uma<br />

classe de selvagens das ilhas marquesas<br />

(...) sinal de amor, de desprezo, de ódio<br />

(...). Há três casos de tatuagem no Rio,<br />

completamente diversos na sua<br />

significação moral: os negros,os turcos<br />

com o fundo religioso e o bando de<br />

meretrizes, dos rufiões e dos humildes,<br />

que se marcam por crime ou por<br />

ociosidade".<br />

RIO, João do. Os Tatuadores. Revista Kosmos.<br />

1904, apud: A alma encantadora das ruas,<br />

SP: Cia das Letras, 1999.<br />

Com base no texto são feitas as seguintes<br />

afirmações:<br />

I. João do Rio revela como a tatuagem já<br />

estava presente na cidade do Rio de<br />

Janeiro, pelo menos desde o início do<br />

século XX, e era mais utilizada por<br />

alguns setores da população.<br />

II. A tatuagem, de origem polinésia,<br />

difundiu-se no ocidente com a<br />

característica que permanece até hoje:<br />

utilização entre os jovens com função<br />

estritamente estética.<br />

III. O texto mostra como a tatuagem é<br />

uma prática que se transforma no<br />

tempo e que alcança inúmeros sentidos<br />

nos diversos setores das sociedades e<br />

para as diferentes culturas.<br />

Está correto o que se afirma apenas em<br />

A) I D) I e II<br />

B) II E) I e III<br />

C) III<br />

Comentário<br />

Questão de nível fácil. Constata-se o<br />

seguinte: a tatuagem já existia no Brasil no<br />

início do século XX (o texto é de 1904 e parte<br />

dele se refere ao Rio do Janeiro) e era<br />

utilizada em diferentes setores da sociedade.<br />

A afirmação de que as tatuagens possuem<br />

apenas finalidade estética entre os jovens<br />

elimina a segunda alternativa. Já a última<br />

alternativa confirma as transformações das<br />

funções da tatuagem ao longo do tempo nas<br />

mais diversas sociedades e culturas.<br />

Comentário do INEP<br />

O texto estabelece uma relação entre a<br />

atualidade da palavra "tatuagem" e a<br />

antiguidade do uso de desenhos como<br />

pintura corporal. Focaliza uma prática social<br />

bastante difundida que adquiriu aspectos e<br />

conotações diversos nos diferentes contextos<br />

históricos e geográficos em que ela pode ser<br />

descrita. Fazendo a descrição da prática da<br />

tatuagem, como uma manifestação comum a<br />

diferentes culturas, e que adquire, inclusive,<br />

significados diferentes dentro de uma mesma<br />

cultura, induz o participante a refletir sobre a<br />

"diversidade dos patrimônios etnoculturais e<br />

artísticos", contextualizando ao mesmo<br />

tempo seus significados "em diferentes<br />

sociedades, épocas e lugares". Ao retomar<br />

as várias origens e usos da tatuagem, o<br />

participante é levado a compreender e<br />

respeitar uma gramática histórica dos<br />

costumes marcada sempre por semelhanças<br />

e diferenças. A questão não exigia, portanto,<br />

nenhum conhecimento prévio sobre as<br />

diferentes formas de manifestação dessa<br />

prática, mas simplesmente constatar, com o<br />

581


autor do texto citado, a historicidade e a<br />

diversidade das práticas sociais. Os<br />

participantes que assinalaram a alternativa C<br />

(36%), possivelmente, não levaram em<br />

consideração informações do texto. A<br />

questão foi corretamente respondida por 37%<br />

dos participantes.<br />

11) (2003) Eu começaria dizendo que poesia<br />

é uma questão de linguagem. A<br />

importância do poeta é que ele torna mais<br />

viva a linguagem. Carlos Drummond de<br />

Andrade escreveu um dos mais belos<br />

versos da língua portuguesa com duas<br />

palavras comuns: cão e cheirando.<br />

Um cão cheirando o futuro<br />

(Entrevista com Mário Carvalho. Folha de SP, 24/05/1988.<br />

adaptação)<br />

582<br />

O que deu ao verso de Drummond o<br />

caráter de inovador da língua foi<br />

A) o modo raro como foi tratado o<br />

"futuro".<br />

B) a referência ao cão como "animal de<br />

estimação".<br />

C) a flexão pouco comum do verbo<br />

"cheirar" (gerúndio).<br />

D) a aproximação não usual do agente<br />

citado e a ação de "cheirar".<br />

E) o emprego do artigo indefinido "um" e<br />

do artigo definido "o" na mesma frase.<br />

Comentário<br />

O fato de Drummond identificar o futuro<br />

como algo que pode ser percebido por um<br />

animal irracional por meio do olfato foi<br />

inovador. A figura de linguagem foi<br />

construída metaforicamente: o futuro torna-se<br />

uma coisa que tem cheiro, contrariamente à<br />

imagem pela qual ele normalmente é<br />

representado: como algo que não se vê e<br />

não se pode pressentir ou tocar.<br />

12) (2003) Pequenos tormentos da vida<br />

De cada lado da sala de aula, pelas janelas<br />

altas, o azul convida os meninos,<br />

as nuvens desenrolam-se, lentas como quem<br />

vai inventando<br />

preguiçosamente uma história sem fim...Sem<br />

fim é a aula: e nada acontece,<br />

nada...Bocejos e moscas. Se ao menos,<br />

pensa Margarida, se ao menos um<br />

avião entrasse por uma janela e saísse por<br />

outra!<br />

(Mário Quintana. Poesias)<br />

Na cena retratada no texto, o sentimento<br />

do tédio<br />

A) provoca que os meninos fiquem<br />

contando histórias.<br />

B) leva os alunos a simularem bocejos,<br />

em protesto contra a monotonia da<br />

aula.<br />

C) acaba estimulando a fantasia,<br />

criando a expectativa de algum<br />

imprevisto mágico.<br />

D) prevalece de modo absoluto,<br />

impedindo até mesmo a distração ou o<br />

exercício do pensamento.<br />

E) decorre da morosidade da aula, em<br />

contraste com o movimento acelerado<br />

das nuvens e das moscas.<br />

Comentário<br />

Essa questão aborda o imaginário<br />

decorrente do marasmo trazido pela escola. O<br />

texto enfatiza o arrastar do tempo na mente de<br />

uma aluna, Margarida, que se põe a pensar em<br />

fatos mágicos ou imaginários que pudessem<br />

romper com a lentidão da aula.<br />

13) (2000) O autor do texto abaixo critica, ainda<br />

que em linguagem metafórica, a sociedade<br />

contemporânea em relação aos seus<br />

hábitos alimentares.<br />

“Vocês que têm mais de 15 anos, se<br />

lembram quando a gente comprava leite<br />

em garrafa, na leiteria da esquina? (...)<br />

Mas vocês não se lembram de nada,<br />

pô! Vai ver nem sabem o que é vaca. Nem<br />

o que é leite. Estou falando isso porque<br />

agora mesmo peguei um pacote de leite –<br />

leite em pacote, imagina, Tereza! – na<br />

porta dos fundos e estava escrito que é<br />

pasterizado, ou pasteurizado, sei lá, tem<br />

vitamina, é garantido pela<br />

embromatologia, foi enriquecido e o<br />

escambau. Será que isso é mesmo leite?<br />

No dicionário diz que leite é outra coisa:<br />

‘Líquido branco, contendo água,<br />

proteína, açúcar e sais minerais’. Um<br />

alimento pra ninguém botar defeito. O ser<br />

humano o usa há mais de 5.000 anos. É o<br />

único alimento só alimento. A carne serve<br />

pro animal andar, a fruta serve pra fazer<br />

outra fruta, o ovo serve pra fazer outra<br />

galinha (...) O leite é só leite. Ou toma ou<br />

bota fora. Esse aqui examinando bem, é<br />

só pra botar fora. Tem chumbo, tem<br />

benzina, tem mais água do que leite, tem<br />

serragem, sou capaz de jurar que nem<br />

vaca tem por trás desse negócio. Depois o<br />

pessoal ainda acha estranho que os<br />

meninos não gostem de leite.<br />

Mas, como não gostam? Não gostam<br />

como? Nunca tomaram! Múúúúúúú!”<br />

(FERNANDES, Millôr. O Estado de S. Paulo ,<br />

22 de agosto de 1999)


A palavra embromatologia usada pelo<br />

autor é:<br />

A) um termo científico que significa estudo<br />

dos bromatos.<br />

B) uma composição do termo de gíria<br />

“embromação” (enganação) com<br />

bromatologia, que é o estudo dos<br />

alimentos.<br />

C) uma junção do termo de gíria<br />

“embromação” (enganação) com<br />

lactologia, que é o estudo das<br />

embalagens para leite.<br />

D) um neologismo da química orgânica<br />

que significa a técnica de retirar<br />

bromatos dos laticínios.<br />

E) uma corruptela de termo da<br />

agropecuária que significa a ordenha<br />

mecânica.<br />

Comentário<br />

É necessário para a resolução desta<br />

questão:<br />

- perceber que o texto critica o exagerado<br />

uso de substâncias artificiais nos<br />

alimentos;<br />

- conhecer o significado da gíria embromar e<br />

da palavra bromatologia.<br />

Conhecendo esses significados, você<br />

elimina todas as alternativas erradas: a, c, d<br />

e e.<br />

Você poderá ter dúvida quanto à<br />

alternativa c, que também será eliminada se<br />

souber o significado da palavra lactologia,<br />

que é o estudo do leite e produtos lácteos e<br />

não das embalagens para leite.<br />

Nesta questão, são trabalhados os<br />

conceitos de interpretação de texto, formação<br />

de palavras e conhecimentos gerais.<br />

Comentário do INEP<br />

A resolução da questão requeria que o<br />

participante, ao ler o texto vinculasse o<br />

significado de um termo de gíria -<br />

"embromação" - com o da palavra<br />

bromatologia. A resposta correta exigia que o<br />

participante não abrisse mão do sabor<br />

picante contido na linguagem metafórica,<br />

sabor vinculado ao conhecimento específico<br />

contido na palavra bromatologia. Cerca da<br />

metade dos participantes (51%) optou pela<br />

alternativa correta e, os 20% que escolheram<br />

a alternativa C, provavelmente associaram a<br />

referência feita no texto à leite em pacote.<br />

14) (2008) Os signos visuais, como meios de<br />

comunicação, são classificados em<br />

categorias de acordo com seus<br />

significados.<br />

A categoria denominada indício<br />

corresponde aos signos visuais que têm<br />

origem em formas ou situações naturais<br />

ou casuais, as quais, devido à ocorrência<br />

em circunstâncias idênticas, muitas vezes<br />

repetidas, indicam algo e adquirem<br />

significado. Por exemplo, nuvens negras<br />

indicam tempestade. Com base nesse<br />

conceito, escolha a opção que representa<br />

um signo da categoria dos indícios.<br />

A)<br />

B)<br />

C)<br />

D)<br />

E)<br />

583


Comentário<br />

Trata-se de uma questão interpretativa. O<br />

aluno precisa entender o que é “indício” para<br />

respondê-la. Segundo o dicionário Aurélio,<br />

indício é o mesmo que “sinal, vestígio,<br />

indicação”. Das figuras apresentadas,<br />

apenas a alternativa B indica algo: a<br />

passagem de alguém por algum lugar —<br />

pegada.<br />

15) (2008)<br />

Exame, 28/9/2007.<br />

Entre os seguintes ditos populares, qual<br />

deles melhor corresponde à figura<br />

acima?<br />

A) Com perseverança, tudo se alcança.<br />

B) Cada macaco no seu galho.<br />

C) Nem tudo que balança cai.<br />

D) Quem tudo quer, tudo perde.<br />

E) Deus ajuda quem cedo madruga.<br />

Comentário<br />

Assim como a questão 37, esta também<br />

envolve interpretação de signos, ou seja, o<br />

aluno precisa estar atento à imagem e<br />

relacioná-la ao dito popular correspondente.<br />

A alternativa "A" é a correta, pois, para<br />

uma lesma “grudenta” e vagarosa conseguir<br />

pular numa cama elástica, é necessária<br />

muita perseverança.<br />

16) (2005) Leia estes textos.<br />

Texto 1<br />

Romper a incabível prisão<br />

Voar num limite improvável<br />

Tocar o inacessível chão<br />

É minha lei, é minha questão<br />

Virar esse mundo<br />

Cravar esse chão<br />

Não me importa saber<br />

Se é terrível demais<br />

Quantas guerras terei que vencer<br />

Por um pouco de paz<br />

E amanhã se esse chão que eu beijei<br />

For meu leito e perdão<br />

Vou saber que valeu delirar<br />

E morrer de paixão<br />

E assim, seja lá como for<br />

Vai ter fim a infinita aflição<br />

E o mundo vai ver uma flor<br />

Brotar do impossível chão.<br />

(J. Darione – M. Leigh – Versão de Chico Buarque de<br />

Hollanda e Ruy Guerra, 1972.)<br />

A tirinha e a canção apresentam uma<br />

reflexão sobre o futuro da humanidade. É<br />

correto concluir que os dois textos<br />

A) afirmam que o homem é capaz de<br />

alcançar a paz.<br />

B) concordam que o desarmamento é<br />

inatingível.<br />

C) julgam que o sonho é um desafio<br />

invencível.<br />

D) têm visões diferentes sobre um<br />

possível mundo melhor.<br />

E) transmitem uma mensagem de<br />

otimismo sobre a paz.<br />

Comentário<br />

Enquanto o primeiro texto é ácido em<br />

relação à possibilidade de desarmamento da<br />

população (ou seja, à criação de uma<br />

sociedade mais pacífica), o segundo mostra<br />

a capacidade que a humanidade tem de crer<br />

e, por isso, tentar fazer até o que a princípio<br />

parece impossível. Para os autores da<br />

canção, nada é intrinsecamente impossível.<br />

A relação entre eles é de oposição:<br />

descrença x crença. Questão de nível de<br />

dificuldade médio.<br />

17) (2004)<br />

584<br />

Texto 2<br />

Sonhar<br />

Mais um sonho impossível<br />

Lutar<br />

Quando é fácil ceder<br />

Vencer o inimigo invencível<br />

Negar quando a regra é vender<br />

Sofrer a tortura implacável


A tira "Hagar" e o poema de Alberto<br />

Caeiro (um dos heterônimos de Fernando<br />

Pessoa) expressam, com linguagens<br />

diferentes, uma mesma idéia: a de que a<br />

compreensão que temos do mundo é<br />

condicionada, essencialmente,<br />

A) pelo alcance de cada cultura.<br />

B) pela capacidade visual do observador.<br />

C) pelo senso de humor de cada um.<br />

D) pela idade do observador.<br />

E) pela altura do ponto de observação.<br />

Comentário<br />

Questão reflexiva sobre a forma como<br />

cada cultura vê o mundo sob a ótica dos<br />

limites dados pelos seus costumes e<br />

possibilidades de pensamento inerentes a<br />

cada modelo cultural. A mistura de uma tira e<br />

de um poema amplia a possibilidade de<br />

pensamento por trabalhar com linguagens<br />

diferentes. A alternativa correta é a letra A,<br />

pois ambos (tira e poema) utilizam figuras de<br />

linguagem (metáfora e ironia) para expressar<br />

as diferentes visões de mundo.<br />

D) conhece a história de um pintor<br />

famoso e faz uso da ironia.<br />

E) acredita que seu dono tenha tendência<br />

artística e, por isso, faz a sugestão.<br />

Comentário<br />

Outra questão de interpretação de texto.<br />

Muito simples para quem um dia ouviu falar<br />

de Van Gogh, e simplíssima para aqueles<br />

que prestam atenção em todos os elementos<br />

do enunciado. Afinal, quem deu uma<br />

espiadinha na legenda do quadro de Van<br />

Gogh matou na hora a questão.<br />

Esta questão é daquelas rápidas de serem<br />

resolvidas, associando-se os elementos<br />

apresentados.<br />

Comentário do INEP<br />

A significativa maioria (81%) dos<br />

participantes soube perceber o caráter<br />

irônico da fala do Garfield, expressa no<br />

terceiro quadrinho porque, ou conheciam a<br />

história de Van Gogh, ou apropriaram-se<br />

corretamente da informação sobre esse<br />

pintor, fornecida no enunciado.<br />

18) (2000) As histórias em quadrinhos, por<br />

vezes, utilizam animais como<br />

personagens e a eles atribuem<br />

comportamento humano. O gato Garfield<br />

é exemplo desse fato.<br />

19) (2002)<br />

Fonte: Caderno Vida e Arte, Jornal do Povo, Fortaleza<br />

Van Gogh, pintor holandês nascido em<br />

1853, é um dos principais nomes da<br />

pintura mundial. É dele o quadro abaixo.<br />

Auto-retrato de orelha cortada<br />

O 3º quadrinho sugere que Garfield:<br />

A) desconhece tudo sobre arte, por isso<br />

faz a sugestão.<br />

B) acredita que todo pintor deve fazer algo<br />

diferente.<br />

C) defende que para ser pintor a pessoa<br />

tem de sofrer.<br />

De acordo com a história em quadrinhos<br />

protagonizada por Hagar e seu filho<br />

Hamlet, pode-se afirmar que a postura de<br />

Hagar<br />

A) valoriza a existência da diversidade<br />

social e de culturas, e as várias<br />

representações e explicações desse<br />

universo.<br />

B) desvaloriza a existência da<br />

diversidade social e as várias culturas,<br />

e determina uma única explicação para<br />

esse universo.<br />

C) valoriza a possibilidade de explicar as<br />

sociedades e as culturas a partir de<br />

várias visões de mundo.<br />

D) valoriza a pluralidade cultural e social<br />

ao aproximar a visão de mundo de<br />

navegantes e não-navegantes.<br />

E) desvaloriza a pluralidade cultural e<br />

social, ao considerar o mundo habitado<br />

apenas pelos navegantes.<br />

585


Comentário<br />

Questão de nível fácil. Hagar reduz o<br />

mundo a dois tipos de pessoas: navegantes<br />

e não-navegantes. No último quadrinho, diz<br />

que são os navegantes que estabelecem<br />

esses dois grupos. Portanto, quem é<br />

diferente dos navegantes (que estabelecem<br />

o padrão) simplesmente é incluído na massa<br />

única dos não-navegantes. Não importa<br />

quem ou quantos sejam, sua diversidade<br />

social ou cultural em relação aos navegantes<br />

ou entre si. Vemos aí a desvalorização de<br />

outras culturas.<br />

Comentário do INEP<br />

Dentre as habilidades básicas para a<br />

compreensão de um texto destaca-se a<br />

capacidade do leitor de identificar os<br />

pressupostos de cada afirmação que lhe é<br />

apresentada. Nesta questão o participante<br />

deve identificar a posição tanto de Hagar<br />

como de seu filho Hamlet e, em seguida,<br />

avaliar quais os argumentos que justificam a<br />

opinião de Hagar ao definir que no mundo só<br />

existem dois tipos de pessoas. A pergunta de<br />

Hamlet a seu pai explicita a importância do<br />

ato de narrar através do diálogo e do efeito<br />

humorístico contido no episódio representado<br />

na tira. O resultado da compreensão<br />

acertada do diálogo é que o narrador torna<br />

inteligível, para si e para os outros, a lógica<br />

do seu pensamento através do diálogo entre<br />

os dois personagens. É importante observar<br />

que o humor do personagem Hagar é<br />

identificado na postura simetricamente<br />

oposta à de Michel de Montaigne, por<br />

exemplo (ver questão 58): a sua visão de<br />

mundo apresenta-se autocentrada, isto é,<br />

centrada nos seus próprios valores (vikings).<br />

A habilidade requerida do participante nessa<br />

questão, qual seja, "valorizar a diversidade<br />

dos patrimônios etnoculturais", é mobilizada<br />

aqui na sua dimensão negativa: é criticando<br />

a postura chauvinista de Hagar que o<br />

participante é capaz de responder<br />

corretamente a questão. A última alternativa<br />

(E) funciona como um distrator, pois neste<br />

caso não está suposta a crítica do discurso<br />

do personagem. Cerca de um terço dos<br />

participantes assinalou a alternativa correta<br />

B. As demais opções são devidas,<br />

possivelmente, a uma leitura pouco<br />

compreensiva das alternativas associadas a<br />

história em quadrinhos.<br />

20) (2009) As tecnologias de informação e<br />

comunicação (TIC) vieram aprimorar ou<br />

substituir meios tradicionais de comunicação<br />

e armazenamento de informações, tais<br />

como o rádio e a TV analógicos, os livros, os<br />

telégrafos, o fax etc. As novas bases<br />

tecnológicas são mais poderosas e<br />

versáteis, introduziram fortemente a<br />

possibilidade de comunicação interativa e<br />

estão presentes em todos os meios<br />

produtivos da atualidade. As novas TIC<br />

vieram acompanhadas da chamada Digital<br />

Divide, Digital Gap ou Digital Exclusion,<br />

traduzidas para o português como Divisão<br />

Digital ou Exclusão Digital, sendo, às vezes,<br />

também usados os termos Brecha Digital ou<br />

Abismo Digital. Nesse contexto, a expressão<br />

Divisão Digital refere-se a<br />

A) uma classificação que caracteriza cada<br />

uma das áreas nas quais as novas TIC<br />

podem ser aplicadas, relacionando os<br />

padrões de utilização e exemplificando o<br />

uso dessas TIC no mundo moderno.<br />

B) uma relação das áreas ou subáreas de<br />

conhecimento que ainda não foram<br />

contempladas com o uso das novas<br />

tecnologias digitais, o que caracteriza<br />

uma brecha tecnológica que precisa ser<br />

minimizada.<br />

C) uma enorme diferença de desempenho<br />

entre os empreendimentos que utilizam<br />

as tecnologias digitais e aqueles que<br />

permaneceram usando métodos e<br />

técnicas analógicas.<br />

D) um aprofundamento das diferenças<br />

sociais já existentes, uma vez que se<br />

torna difícil a aquisição de<br />

conhecimentos e habilidades<br />

fundamentais pelas populações menos<br />

favorecidas nos novos meios produtivos.<br />

E) uma proposta de educação para o uso de<br />

novas pedagogias com a finalidade de<br />

acompanhar a evolução das mídias e<br />

orientar a produção de material<br />

pedagógico com apoio de computadores<br />

e outras técnicas digitais.<br />

Comentário<br />

(QUESTÃO: AZUL 113, BRANCA 112,<br />

ROSA 113)<br />

Nesta questão, o aluno deve escolher a<br />

resposta que melhor defina a expressão<br />

"Divisão Digital".<br />

Portanto, a alternativa D é a que melhor se<br />

aplica ao tratar o termo como o<br />

"aprofundamento das diferenças sociais [...] (e)<br />

torna difícil a aquisição pelas populações<br />

menos favorecidas nos<br />

novos<br />

meios produtivos". Resposta certa: D.<br />

586

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